Você está na página 1de 12

INTENSIVO REGULAR ROTATIVO

Disciplina: Direito Penal


Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

Índice:
1. Artigo correlato: Princípios Penais de Garantia – p. 01.
2. Artigo Correlato: Princípios que regem a aplicação da pena – p. 02.
3. Julgado citado em aula: HC 83515 / RS – p. 10.

1. Artigo Correlato:

PRINCÍPIOS PENAIS DE GARANTIA

Fonte: http://valescarodrigues.blogspot.com/2006/04/princpios-penais-de-garantia.html

O Princípio da Intervenção Mínima também denominado Subsidiariedade e Direito Penal


Mínimo estabelece que o Direito penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à
coexistênica pacífica dos homens. Significa que o Direito Penal só deve atuar como ultima ratio
deixando para os demais ramos a proteção dos outros bens jurídicos. Trata-se de perfeita
orientação político-criminal restritiva do ius puniendi e da própria concepção material de Estado
Democrático de Direito, onde reconhecemos a liberdade como regra e direito fundamental e a
prisão verdadeira exceção diante de intoleráveis formas de agressão. Além de menor intervenção
do Direito Penal é necessário também que se observe que não há delito sem que haja lesão ou
perigo de lesão, é o que denominamos Princípio da Ofensividade, Lesividade ou da Exclusiva
Proteção dos Bens Jurídicos. Este Princípio, segundo a melhor orientação jurídica, apresenta
determinados desdobramentos consideráveis, tais como: a cogitationis que é a fase subjetiva do
iter criminis, em que não se observa a possiblidade de punição por não haver lesividade,
igualmente as condutas desviadas em que se destacam as intolerâncias de grande parte da
sociedade porém não geram lesão, como o incesto. Ainda se destacam como esferas de
desdobramento as condutas que só atingem o autor de tal maneira que não comprometem, não
lesionam os demais seres da sociedade, citamos a auto lesão, o suicídio. Outro ponto relevante é
quanto a verdadeira função do Direito Penal, este não pode ser instrumento de punição do ser por
suas características pessoais e sim do fazer. Deve se levar em conta também a avaliação do
Princípio da Proporcionalidade. Este impõe a verificação de compatibilidade entre os meios
empregados pelo legislador e os fins que a norma busca atingir. Consideramos também a
existência de três subprincípios: a adequação, necessidade e a proporcionalidade em sentido
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

estrito. A adequação determina que a sanção penal deve ser instrumento capaz de atender às
fianlidades pretendidas pelo legislador, a necessidade é o meio escolhido, isto é, não há meio
menos gravoso e de igual eficácia. E, finalmente, a proporcionalidade em sentido estrito que
constitui o liame entre crime praticado e sanção penal, evitando assim excessos.

______________________________________________________________________

2. Artigo Correlato:

PRINCÍPIOS QUE REGEM A APLICAÇÃO DA PENA

Francisco de Assis Toledo


Fonte: http://www.cjf.gov.br/revista/numero7/artigo1.htm

RESUMO

Examina de que maneira os juízes aplicam as penas abstratamente previstas no Código


Penal. Para esses juízes, na grande maioria, ainda prevalece a concepção clássica e ultrapassada
de a pena criminal ser essencialmente retributiva. Com isso, os presídios se encontram cada vez
mais abarrotados, os mandados não são cumpridos e o índice de criminalidade aumenta.

Indica os princípios básicos que o juiz deve seguir ao aplicar a pena, ressaltando, além dos
aspectos retributivos, os aspectos preventivos da pena: o princípio da igualdade, o da reserva legal
e o da culpabilidade, dentre outros.

Conclui que os juízes brasileiros, apesar das inovações existentes na lei, pouco se têm
valido da faculdade de substituir as penas tradicionais por penas alternativas.

I - A PENA A SER APLICADA

Vamos tratar da individualização da pena. Irei, entretanto, fugir da rotina consistente em


comentar preceitos do Código Penal, fartamente conhecidos e largamente analisados em manuais e
comentários publicados. Faço um convite para refletirmos um pouco sobre o sentido das idéias que
estão por trás e constituem a razão de ser desses preceitos. Com isso, talvez possamos encontrar
significados latentes em normas existentes, ainda não utilizados em sua plenitude pelos juízes na
aplicação da pena criminal.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

Retornando a um velho tema, relembremos sumariamente que, segundo concepção


clássica, apoiada principalmente em Kant e Hegel, a pena criminal é essencialmente retributiva. É a
retribuição do mal pelo mal, ou seja, um castigo proporcional à conduta ilícita e culpável do agente.
O grande mérito dessa concepção está na adoção do princípio da culpabilidade, na rejeição da idéia
de vingança e na introdução no sistema penal de medida limitadora ao poder do Estado, de sorte
que o tamanho da pena a ser aplicada corresponda sempre à gravidade, ao tamanho, do crime
cometido.

Essa teoria da pena, que prevaleceu por longo tempo e ainda possui adeptos retardatários,
não obstante suas inegáveis virtudes, parte de uma concepção metafísica da pena,
desconsiderando sua função social e aspectos pragmáticos, utilitários. Assim, para essa corrente
retributivista, a punição do crime não só constitui pressuposto do sistema penal como também, e
principalmente, uma exigência inarredável de sua legitimidade e da própria idéia de Justiça. É
conhecida a afirmação de Kant segundo a qual, mesmo que os membros da sociedade civil
deliberassem um dia dissolver-se (por exemplo, se a população de uma ilha resolvesse abandoná-
la e espalhar-se pelo mundo), ainda assim, antes que isso fosse feito, deveria ser executado o
último assassino que se encontrasse na prisão.

Essa idéia de pena, como realização implacável da Justiça e expiação da culpa, desconhece
por completo o fato de que a pena pode, em certas circunstâncias, ser uma expiação
desnecessária, inútil, para o agente que, por outros meios mais eficazes, já reparou ou remediou
as conseqüências danosas do crime. Além disso, pode significar um ônus dispensável para a
sociedade.

Tomem-se, como exemplo, algum crime de lesão patrimonial (dano, furto, apropriação
indébita) no qual o agente espontaneamente tenha reparado satisfatoriamente o dano. A
imposição, nessa hipótese, de uma pena criminal incutirá no espírito do agente o sentimento
contraditório de exagero ou até mesmo de injustiça, desestimulará outros eventuais agentes de
crimes patrimoniais a reparar o dano e, por último, acarretará para o Estado os ônus resultantes
dos custos do processo e da execução da condenação, numa hipótese em que as conseqüências do
crime já desapareceram.

Tais questões do mundo terreno, nada metafísicas, infelizmente aí estão para complicar as
soluções clássicas e, portanto, não podem ser desconsideradas.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

Contra as doutrinas da retribuição surgiram as da prevenção (geral e especial), muito


conhecidas, pelo que me dispenso de examiná-las com detalhes. Seja dito apenas que, para as
últimas, a pena criminal deve voltar-se para o futuro, não para a retribuição do passado,
prestando-se para evitar novos delitos, por parte do próprio agente, por meio de sua segregação e
ressocialização ou por parte de outros indivíduos, pelo efeito exemplar da condenação.

Essa nova concepção da pena teve como seu maior expoente o penalista alemão Franz Von
Liszt, autor de aula inaugural na Universidade de Marburgo (Der Zweckgedanke im Strafrechet), na
qual fez a famosa afirmação básica de seu programa: a pena correta, a pena justa, é a pena
necessária.

Em nossos dias, predominam as doutrinas ecléticas, que adotam as contribuições essenciais


das correntes doutrinárias anteriores, afastando os seus aspectos contestáveis. Mas, sem dúvida,
de tempos para cá, percebe-se uma nítida influência de Von Liszt, entre penalistas
contemporâneos, ante o beco sem saída a que nos tem conduzido um ordenamento penal
predominantemente retributivista, com a pena de prisão profusamente cominada e aplicada, com
os presídios abarrotados, milhares de mandados de prisão não cumpridos e os índices de
criminalidade crescendo nos centros urbanos.

É chegado, pois, o momento de termos de repensar, no Brasil, o que realmente desejamos


com a pena criminal e se esta deve, efetivamente, desempenhar um papel predominantemente
social, tendo como medida um juízo pragmático de sua necessidade.

Filio-me à corrente eclética, mas tenho feito concessões importantes aos adeptos da
prevenção. Em conferência proferida na Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul,
logo após a vigência da reforma penal de 1984, afirmei a certa altura:

(...) a pena justa será somente a pena necessária (Von Liszt) e, não mais, dentro de um
retributivismo kantiano superado, a pena compensação do mal pelo mal à luz de um pensamento
que não esconde o velho princípio do talião. Ora, o conceito de pena necessária envolve não só a
questão do tipo de pena como o modo de sua execução. Assim, dentro de um rol de penas
previstas, se uma certa pena apresentar-se como apta aos fins da prevenção e da preparação do
infrator para o retorno ao convívio pacífico na comunidade de homens livres, não estará justificada
a aplicação de outra pena mais grave, que resulte em maiores ônus para o condenado e para a
sociedade. O mesmo se diga em relação à execução da pena. Se o cumprimento da pena em
regime de semi-liberdade for suficiente para aqueles fins de prevenção e de reintegração social, o
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

regime fechado será um exagero e um ônus injustificado. Se, entretanto, o delinqüente se


apresenta como ameaça à paz social e à tranqüilidade dos homens livres, o regime fechado em
estabelecimento de segurança máxima estará a sua espera1.

A experiência brasileira dos últimos anos não recomenda mudança nesse posicionamento. O
sistema penitenciário vai de mal a pior. O número de mandados de prisão não cumpridos cresce. A
superlotação dos presídios é cada vez mais insuportável, acarretando problemas de toda natureza.
E a criminalidade continua aumentando.

Não podemos, obviamente, desconhecer esse panorama nada alentador ao tratar do tema
deste artigo.

II - A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA NA SENTENÇA

O legislador estabelece as sanções passíveis de serem aplicadas aos acusados de infração


penal e estabelece parâmetros para a fixação judicial da pena, em concreto. Dentro desses
parâmetros, goza o juiz de relativa liberdade. Todavia, nessa importantíssima tarefa de
estabelecer, em cada caso, as conseqüências jurídico-penais de determinado crime, em concreto, o
juiz, além das regras legais preestabelecidas, não pode deixar de observar certos princípios
fundamentais, expressos ou implícitos no ordenamento jurídico.

Sobre esses princípios, freqüentemente relegados nos manuais e comentários correntes,


concentraremos nossa atenção.

O primeiro é, sem dúvida, o princípio da igualdade perante a lei. Assim, por exemplo, a
condição de estrangeiro, preto ou branco, rico ou pobre, posição social etc. não devem influir na
dosimetria ou na agravação da pena.

O segundo princípio tem em vista o caráter retributivo da pena, impondo ao juiz a estrita
observância do grau da culpa, de modo que cada um receba a punição de "seu" crime, na medida
de sua culpabilidade, não da culpabilidade de outrem.

O terceiro princípio tem a ver com o caráter preventivo da pena. Na lição de Jescheck, a
fixação judicial da pena deve ajustar-se à sua função retributiva, para que sirva de uma justa
retribuição do injusto e da culpabilidade, mas deve também, a um só tempo, ajustar-se ao fim de
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

prevenção especial, contribuindo para a reinserção social do delinqüente e procurando não agravar
a sua situação social além do estritamente necessário2.

Esses princípios estão contidos, explícita ou implicitamente, no ordenamento jurídico


brasileiro.

O princípio da igualdade consta do art. 5º, caput, da Constituição Federal. Por ele o
tratamento desigual não é permitido senão em consonância com os critérios albergados ou ao
menos não vedados pelo ordenamento constitucional3.

Assim, a dosimetria da pena, a concessão ou negativa de benefícios não devem resultar de


considerações de ordem pessoal do juiz a respeito da fortuna, da posição social ou da condição de
pobreza do acusado, como por vezes ocorre. O juiz penal, mais do que outros, está adstrito ao
princípio da reserva legal. Trabalha dentro dos espaços que lhe são traçados pela lei. Não é o herói
vingador da Justiça, de filmes policiais americanos, que, para aplicar o seu talião aos infratores,
segue os próprios instintos, rompendo as regras e as normas legais existentes.

O segundo, o princípio da culpabilidade, está expressamente referido no art. 59


(...atendendo à culpabilidade...) como circunstância judicial da fixação da pena. Temos sustentado
que:

A vinculação da culpabilidade ao fato singular enseja, por outro lado, a graduação da


censurabilidade em função da gravidade do injusto. Corretamente, afirma Bacigalupo que a "maior
ou menor gravidade da culpabilidade dependerá da maior ou menor gravidade do injusto".

Estabelece-se, assim, uma perfeita correspondência entre o injusto e a culpabilidade4.

Assim, o juiz, para observar a função essencial, limitadora da culpabilidade, deve procurar
graduar a censurabilidade da conduta em função da gravidade do injusto, extraindo daí
conseqüências práticas para a dosimetria da pena. E não é difícil perceber, por exemplo, que um
furto de valor reduzido não é do mesmo tamanho que um roubo à mão armada. Logo, a
censurabilidade do agente na primeira hipótese é bem menor do que na segunda. E assim por
diante.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

O terceiro e fundamental princípio é o da pena necessária, posto à luz pelo gênio de Von
Liszt. O Código Penal vigente adotou esse princípio, na reforma penal de 1984, ao incluir, na parte
final do art. 59, caput, esta recomendação:

(...) conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.

A pena insuficiente e desnecessária, desajustada ao agente do fato, não é, portanto, a pena


correta, a pena justa, perante esse dispositivo da legislação penal vigente. Assim, criticáveis são as
sentenças que, ao individualizar a pena do acusado, ficam aquém ou vão além do suficiente e
necessário para a retribuição e prevenção do crime cometido. Nessa linha de idéias, merece
correção tanto a sentença que impõe pena insuficiente, deixando, por mera benevolência, de
afastar perigoso delinqüente do convívio social, como a que, por mão pesada, aplica pena
excessiva ou nega benefícios a que faz jus o condenado.

Nesta altura poder-se-á indagar: como traduzir em termos práticos essa pena ideal, correta
e justa, se os conceitos de suficiência e necessidade são bastante vagos?

O legislador, no art. 59 do Código Penal, fornece critérios para essa quantificação, ao


recomendar ao juiz que examine a culpabilidade, a conduta social, a personalidade do agente, os
motivos, as circunstâncias e conseqüências do crime, bem como o comportamento da vítima.
Desse exame resultará a fixação da pena base, sobre a qual incidirão as circunstâncias agravantes
e atenuantes e, depois, na terceira e última fase, as causas de aumento e de diminuição,
eventualmente existentes.

Por último, não é demais lembrar que, nessa tarefa de dosimetria da pena, quando o juiz
efetivamente torna um fato concreto à sanção de Direito Penal, é preciso ter presente o
ensinamento de Goethe, citado por Radbruch: quer se tenha de punir, quer de absolver, é preciso
ver sempre os homens humanamente5.

III - A ESCOLHA DA PENA E DO REGIME INICIAL

A reforma penal de 1984, nos incs. I, III e IV do art. 59 do Código, ampliou


consideravelmente os poderes do juiz criminal, permitindo-lhe, em certos casos, escolher a pena
dentre as cominadas, substituí-la por pena alternativa, bem como fixar o regime inicial de
cumprimento.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

Essa inovação se fez para permitir ao juiz maior autonomia na individualização da pena que
se completará no curso do procedimento executório, em função do exame criminológico6.

Não obstante, a experiência brasileira tem revelado que os juízes criminais pouco ou quase
nada têm-se valido dessa faculdade. Preferem, salvo honrosas exceções, permanecer no
automatismo de preceitos revogados do velho Código de 1940, consistentes em "crime tal, pena tal
e ponto final". As alternativas são raramente utilizadas, a pena de prisão e o sursis são a tônica.

Tem-se a impressão de que, em certas áreas do Poder Judiciário e do Poder Executivo,


ainda não se tomou consciência da importância de dados estatísticos recentes revelando um déficit
de vagas nos estabelecimentos penais da ordem de 70.000, ao lado de cerca de 275.000
mandados de prisão não cumpridos.

Fala-se muito na impunidade de crimes. Maior impunidade é condenar e não poder executar
a sentença condenatória. Isso atesta a inutilidade das sentenças ou dos mandados judiciais, pondo
por terra o caráter preventivo da pena, salientado no início deste artigo. A legislação penal do país
passa a ser um autêntico tigre de papel.

Pretendemos que essa situação, já insustentável, ainda mais se agrave?

Tenho dito — e aqui vou repetir — que verdadeira reforma penal está, no presente
momento, nas mãos da magistratura. Enquanto esta permanecer aferrada às idéias clássicas de
um retributivismo desajustado à sociedade contemporânea, as leis inovadoras terão vigência —
mas não eficácia — e os esforços do legislador e dos juristas cairão no vazio, servindo apenas para
exposição nas vitrines das universidades.

Penso ser necessário, no momento atual, termos sempre presente, na aplicação da lei
penal, a noção simples de que o Direito Penal não é, como parece ao leigo, ao grande público e à
parcela significativa da mídia, um pequeno território habitado somente por bandidos, objeto de
nossa repulsa.

O Direito Penal, sabemos nós pela experiência cotidiana, é um grande território onde
existem realmente delinqüentes perigosos. Mas, ao lado desses, há um grande número — talvez a
grande maioria — de infratores ocasionais, primários, passionais, menores abandonados etc.,
impelidos por circunstâncias adversas, autores de delitos sem muita gravidade, que não podem
nem devem receber sanções idênticas ou análogas às aplicadas aos delinqüentes perigosos.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

E essa distinção é, segundo penso, uma tarefa da qual os julgadores não podem abrir mão.

Na conferência de Porto Alegre, inicialmente citada, salientei o seguinte:

A lei, qualquer lei, como todo conjunto de normas, é a expressão de um dever ser. Isso
significa que, por meio das leis, procura-se estabelecer roteiros, caminhos e preceitos que
permitam ao homem alterar, de certa forma, o mundo da realidade, sobre ele construindo uma
ordem social mais valiosa. Assim, a lei, por si só, nada pode modificar. Quem pode fazê-lo é o
destinatário de seus mandamentos, ou seja, o homem que a torna eficaz no meio social. Por isso é
que não estaríamos exagerando se disséssemos, para concluir, que, com a edição das leis de
reforma, a reforma penal está apenas começando, pois a reforma efetiva, a verdadeira reforma do
sistema criminal brasileiro, essa inapelavelmente, só poderá ser realizada por aqueles que se
incumbem da administração da Justiça Criminal7.

Naquela ocasião, apenas entrava em vigor a reforma de 1984. O auditório se compunha de


membros do Ministério Público e da magistratura, além de advogados.

Decorridos mais de dez anos dessa reforma, numa época em que, nos grandes centros
urbanos, a criminalidade mostra cada vez mais a sua face cruel, reafirmo aquelas palavras,
repetindo que a reforma penal, a verdadeira reforma penal, continua nas mãos dos juízes.

NOTAS

1 TOLEDO, 1985. p. 7 e ss.

2 JESCHECK, 1981? p. 1.194-1.195.

3 BASTOS e MARTINS,1992. p.7.

4 TOLEDO, 1994. p. 89.

5 GOETHE apud RADBRUCH. 1961. p. 313.

6 Exposição de Motivos do Ministro Abi-Ackel, item 50, in fine.

7 TOLEDO, 1985. p. 17.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil promulgada
em 5 de outubro de 1988. v. 2. São Paulo: Saraiva, 1992.
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

JESCHECK, Hans-Heinrich. Tratado de derecho penal. Tradução espanhola e adições de Direito


espanhol por S. Mir Puig e Muñoz Conde. Barcelona: Bosch, 1981? 2 v. 1.321 p. 25 cm.

RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. Tradução por L. Cabral de Moncada. 4 ed. Coimbra:
Armenio Amado, 1961. 2 v.

TOLEDO, Francisco de Assis. Direito Penal e o novo Código Penal Brasileiro. Fabris Editor, 1985.

3. Julgado citado em aula:

HC 83515 / RS - RIO GRANDE DO SUL


HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. NELSON JOBIM
Julgamento: 16/09/2004 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

PACTE.(S) : JUAREZ MARIN


PACTE.(S) : WILSON JOSÉ LOPES
PACTE.(S) : ISABEL MEDEIROS MARIN
PACTE.(S) : DIONES FELIPE MARIN
PACTE.(S) : HELTON CESAR MARIN
PACTE.(S) : MIRIAM ANTÔNIA MARIN
IMPTE.(S) : ANDREI ZENKNER SCHMIDT
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. PRAZO DE VALIDADE. ALEGAÇÃO DE


EXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO DE INVESTIGAÇÃO. FALTA DE TRANSCRIÇÃO DE CONVERSAS
INTERCEPTADAS NOS RELATÓRIOS APRESENTADOS AO JUIZ. AUSÊNCIA DE CIÊNCIA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ACERCA DOS PEDIDOS DE PRORROGAÇÃO. APURAÇÃO DE CRIME PUNIDO
COM PENA DE DETENÇÃO. 1. É possível a prorrogação do prazo de autorização para a
interceptação telefônica, mesmo que sucessivas, especialmente quando o fato é complexo a exigir
investigação diferenciada e contínua. Não configuração de desrespeito ao art. 5º, caput, da L.
9.296/96. 2. A interceptação telefônica foi decretada após longa e minuciosa apuração dos fatos
por CPI estadual, na qual houve coleta de documentos, oitiva de testemunhas e audiências, além
do procedimento investigatório normal da polícia. Ademais, a interceptação telefônica é
perfeitamente viável sempre que somente por meio dela se puder investigar determinados fatos ou
circunstâncias que envolverem os denunciados. 3. Para fundamentar o pedido de interceptação, a
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

lei apenas exige relatório circunstanciado da polícia com a explicação das conversas e da
necessidade da continuação das investigações. Não é exigida a transcrição total dessas conversas o
que, em alguns casos, poderia prejudicar a celeridade da investigação e a obtenção das provas
necessárias (art. 6º, § 2º, da L. 9.296/96). 4. Na linha do art. 6º, caput, da L. 9.296/96, a
obrigação de cientificar o Ministério Público das diligências efetuadas é prioritariamente da polícia.
O argumento da falta de ciência do MP é superado pelo fato de que a denúncia não sugere
surpresa, novidade ou desconhecimento do procurador, mas sim envolvimento próximo com as
investigações e conhecimento pleno das providências tomadas. 5. Uma vez realizada a
interceptação telefônica de forma fundamentada, legal e legítima, as informações e provas coletas
dessa diligência podem subsidiar denúncia com base em crimes puníveis com pena de detenção,
desde que conexos aos primeiros tipos penais que justificaram a interceptação. Do contrário, a
interpretação do art. 2º, III, da L. 9.296/96 levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade de
interceptação para investigar crimes apenados com reclusão quando forem estes conexos com
crimes punidos com detenção. Habeas corpus indeferido.

Decisão

O Tribunal, por votação majoritária, indeferiu o pedido de hábeas corpus, nos termos do voto do
Relator, Ministro Nelson Jobim, Presidente, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, que o deferia.
Ausentes, justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Carlos Velloso e a Senhora
Ministra Ellen Gracie. Ausentes, ocasionalmente, após proferirem seus votos, os Senhores Ministros
Sepúlveda Pertence e o Presidente. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Celso de Mello.
Falaram, pelos pacientes, o Dr. Cezar Roberto Bitencourt e, pelo Ministério Público Federal, o Dr.
Cláudio Lemos Fonteles, Procurador-Geral da República. Plenário, 16.09.2004.
Indexação
- INDEFERIMENTO, PEDIDO, LEGALIDADE, RENOVAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA, COMPROVAÇÃO, NECESSIDADE, MEIO, PROVA, APURAÇÃO, FATO COMPLEXO,
CIRCUNSTÂNCIA, CRIME, EVASÃO DE DIVISAS, FORMAÇÃO, QUADRILHA, LAVAGEM, DINHEIRO,
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA // PEDIDO, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, REALIZAÇÃO, BASE,
ANTERIORIDADE, INVESTIGAÇÃO, POLÍCIA, PROVOCAÇÃO, VIRTUDE, (CPI), CRIME ORGANIZADO,
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, (RS), REDE, FARMÁCIA ECONÔMICA // LEGISLAÇÃO, EXIGÊNCIA,
PEDIDO, RENOVAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, RELATÓRIO, POLÍCIA,
SÍNTESE, CONVERSA, GRAVAÇÃO, INFORMAÇÃO, APURAÇÃO, NECESSIDADE, CONTINUIDADE,
INVESTIGAÇÃO, DESNECESSIDADE, TRANSCRIÇÃO, TOTALIDADE, CONTEÚDO //
IMPOSSIBILIDADE, (HC), CONFRONTO, DIRETO, DEFESA, ACUSAÇÃO, DESCABIMENTO, ANÁLISE,
ALEGAÇÃO, FALTA, CIENTIFICAÇÃO, (MP), SUPERAÇÃO, CIRCUNSTÂNCIA, DENÚNCIA,
INTENSIVO REGULAR ROTATIVO
Disciplina: Direito Penal
Aula 10
Prof.: Rogério Sanches
Datas: 30/10/2007 e 01/11/07

DEMONSTRAÇÃO, CONHECIMENTO, "PARQUET", PROVIDÊNCIA, REALIZAÇÃO // LEGALIDADE,


UTILIZAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, EMBASAMENTO, DENÚNCIA, CRIME, PENA,
RECLUSÃO, CONEXÃO, CRIME, PUNIÇÃO, DETENÇÃO // INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA,
CARACTERIZAÇÃO, INTERVENÇÃO, PRIVACIDADE, CIDADÃO, JUSTIFICAÇÃO, BASE, APURAÇÃO,
CRIME GRAVE, PUNIÇÃO, PENA, RECLUSÃO. - (FUNDAMENTAÇÃO COMPLEMENTAR) , (MIN.
SEPÚLVEDA PERTENCE) , CRITÉRIO, PRORROGAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA, NECESSIDADE, OBEDIÊNCIA, PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE // CRIME
PRINCIPAL, FORMAÇÃO, QUADRILHA, BASE, FUNDAMENTAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, PRORROGAÇÃO,
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, CONSEQÜÊNCIA, RESULTADO, DESCOBERTA, DIVERSIDADE, TIPO
PENAL, PUNIÇÃO, DETENÇÃO.
- (RESSALVA DE ENTENDIMENTO) , (MIN. GILMAR MENDES) , RESSALVA, EXAME,
POSTERIORIDADE, MATÉRIA, LEGALIDADE, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, APURAÇÃO, CRIME,
PUNIÇÃO, DETENÇÃO, CONSIDERAÇÃO, CLAREZA, TEXTO CONSTITUCIONAL, RELAÇÃO, RESERVA
LEGAL QUALIFICADA.
- (VOTO VENCIDO) , (MIN. MARCO AURÉLIO) , DEFERIMENTO, PEDIDO, ENTENDIMENTO,
RENOVAÇÃO, ILIMITAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, CARACTERIZAÇÃO,
QUEBRA, SIGILO, INDIVÍDUO // CARACTERIZAÇÃO, REGRA, SIGILO, COMUNICAÇÃO
TELEFÔNICA, PRESERVAÇÃO, PRIVACIDADE, DIREITO CONSTITUCIONAL, CIDADÃO //
EXCEÇÃO, QUEBRA, AFASTAMENTO, SIGILO // RAZOABILIDADE, CONSIDERAÇÃO, AUSÊNCIA,
LEVANTAMENTO, DADOS, PERÍODO, TRINTA DIAS, INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, RESULTADO,
EVIDÊNCIA, IMPOSSIBILIDADE, PERMANÊNCIA, DILIGÊNCIA.

Você também pode gostar