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Ailton Cunha
ailton.cunha@hotmail.com
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Luciano João da Silva
ljsjoaosilva1984@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste presente artigo é o de detectar a situação contemporânea do sistema prisional
brasileiro e por meio do método dedutivo distinguir os seus maiores e básicos problemas,
fazendo uma analogia superficial deste contexto frente a tantos desencontros, observando
soluções para redução da reincidência de crimes e aumentar a ressocialização do preso.
Iniciou-se pela responsabilidade do Estado, posteriormente, fazendo um discurso sobre as
falhas no sistema carcerário e, na observância da Lei de Execuções Penais, permitindo
alternativas para esta ressocialização. Tendo um olhar, também, dirigido aos direitos humanos
e a condição de ressocialização do preso dentro do sistema carcerário no Brasil. Dentro desta
proposta foi utilizada como metodologia abordagem qualitativa, de cunho exploratório, e
método dedutivo, sendo explanado o tema através das obras recentemente publicadas como,
livros, artigos e através da internet, dispondo-se a explorar o tema através dos doutrinadores e
da jurisprudência. Tendo como considerações finais uma discussão sobre as falhas e
ressocialização de um apenado dentro de um país extremamente violento como o nosso e a
impossibilidade frente à falta de recursos e a inabilidade dos grupos de Direitos Humanos de
agir em prol destes apenados de menor potencial agressivo.
ABSTRACT
The objective of this present article is to detect the contemporary situation of the Brazilian
prison system and through the deductive method to distinguish its major and basic problems,
making a superficial analogy of this context in the face of so many misunderstandings,
observing solutions to reduce the recurrence of crimes and increase the re-socialization of the
prisoner. It was initiated by the responsibility of the State, later, making a discourse on the
failures in the prison system and, in compliance with the Law of Penal Executions, allowing
alternatives for this resocialization. Having also a look at human rights and the condition of
re-socialization of the prisoner within the prison system in Brazil. Within this proposal was
used as a qualitative approach methodology, exploratory, and deductive method, being
explained the theme through the recently published works such as books, articles and through
the Internet, preparing to explore the subject through the doctrine and jurisprudence. Taking
as final considerations a discussion about the failures and resocialization of a distressed
person within an extremely violent country such as ours and the impossibility of the lack of
resources and the inability of the Human Rights groups to act in favor of these distressed ones
with less aggressive potential.
1. INTRODUÇÃO
Visto que a ineficiência do Estado na gestão das unidades prisionais agravava-se assim
como os problemas com a superlotação, a não ressocialização, e que a reintegração ao
mercado de trabalho era praticamente nula, desenhando-se um grave problema, que são as
falhas na ressocialização do preso ou apenado. Pelos mais diversos fatores não hão,
atualmente, condições de se alcançar o principal objetivo da Lei de Execuções Penais: a
ressocialização do apenado. A realidade prisional brasileira é gravíssima, mas alguns estados
implantaram, há alguns anos, o sistema de gestão compartilhada.
Para o desenvolvimento desta pesquisa houve uma necessidade de fazer uma revisão
bibliográfica para obtenção de dados e informações sobre o tema. Especificamente foi
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O presente trabalho tem como finalidade efetuar uma análise concisa sobre o sistema
prisional brasileiro a sua origem bem como o processo de evolução e as suas falhas no
tentame de reeducar o apenado. Para que se obtenha uma visão ampla e crítica sobre o
processo de ressocialização dentro do sistema penitenciário é preciso conhecer o sistema
prisional tradicional para compreender o modelo de parceria público-privada e como a
parceria funciona. Desde a Antiguidade que já se buscava uma forma de punição para aquele
que praticasse algum delito.
2. A RESPONSABILIDADE DO ESTADO
Diante dessa realidade, é perceptível que a prisão cautelar é ainda mais excepcional,
tanto que a Lei 12403/11 alterou as disposições do CPP, a fim de estipular requisitos que
dificultam a concessão da Prisão Preventiva e regulando medidas cautelares que podem ser
impostas ao invés da decretação da prisão.
Para alguns autores, como Rangel (2005) e Nicolitt (2012) há violação ao princípio da
inocência e que por isso a norma é inconstitucional, já para Polastri (2010) a norma está em
perfeita consonância com a Constituição. Observa-se que não há muito interesse em estudar
seriamente o direito penitenciário e a sua elaboração doutrinária. Como caracteriza Arminda
Bergamini Miotto (1992):
atribui-se ao Estado a responsabilidade por princípios específicos e que devem ser adaptados
as características de cada situação jurídica. Todavia, por força constitucional, a
responsabilização se estende às pessoas jurídicas de direito público e às de direito privado
prestadoras de serviço público e consubstancia-se na obrigação de indenizar pelos danos
patrimoniais e/ou morais que seus agentes, na qualidade de agentes públicos, causarem a
terceiros. A reparação será sempre pecuniária por tratar-se de responsabilização de ordem
civil. Pois a manifestação distende-se às três funções em que se subdivide o poder estatal:
legislativa, administrativa e jurisdicional. Embora a maioria dos casos que possibilitam a
responsabilização emanem da atividade administrativa. Verifica-se, excepcionalmente, que o
desenvolvimento das demais funções também podem ensejar a reparação.
Sendo assim, vale ressaltar, que a regra da Constituição de 1946 teve pequenas
alterações nas Constituições brasileiras posteriores, tendo em vista que apenas reiteraram o
teor do artigo 194 da Carta Magma 1946 (CAVALIERI FILHO, 2009, p.234-235).
Logo, só haverá o ilícito penal se ele antes estiver tipificado em lei, sendo,
obrigatoriamente, culpável.
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Não há diferença ontológica entre o ilícito civil e o penal; há apenas uma escala de
gravidade”. Conclui o autor que “as condutas mais graves, que atingem bens sociais
de maior relevância, são sancionadas pela lei penal, ficando para a lei civil a
repressão das condutas menos graves (CAVALIERI, 2005, p.25).
E de acordo com Pinto, outra diferença reside no fato de que “no direito penal o
desvalor do fato antecedente (conduta do agente) é o fato preponderante; na responsabilidade
civil, o desvalor do fato consequente (dano) tem peculiar realce. ” De qualquer modo, pela
lição de Cavalieri (2005, p.25), nota-se que não há responsabilidade, em qualquer de suas
modalidades, sem a transgressão a dever jurídico preexistente, uma vez que a
responsabilidade conjetura a violação de um dever jurídico.
Entretanto, o resultado do processo interpretativo, seu impacto sobre a realidade não pode
ser desconsiderado: é preciso saber se o produto da incidência da norma sobre o fato realiza
finalmente, o mandamento constitucional. (ENTERRÍA, 1994),
tem por objetivo comprometer os Estados signatários “a respeitar os direitos e liberdades nela
reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua
jurisdição, sem qualquer discriminação" (GOMES & PIOVESAN, 2000).
O Estado brasileiro foi um dos que mais tardiamente aderiram à Convenção, fazendo-o
apenas em 25 de setembro de 1992. Em Buergenthal (1995), apud, Piovesan (2000) a
Convenção Americana assegura “o direito à personalidade jurídica, o direito à vida, o direito a
não ser submetido à escravidão, o direito à liberdade, o direito a um julgamento justo, o
direito à compensação em caso de erro judiciário, o direito à privacidade, o direito à liberdade
de consciência e religião, o direito à liberdade de pensamento e expressão, o direito à
resposta, o direito à liberdade de associação, o direito ao nome, o direito à nacionalidade, o
direito à liberdade de movimento e residência, o direito de participar do governo, o direito à
igualdade perante a lei e o direito à proteção judicial”. Segundo Gomes & Piovesan (2000)
O Brasil é um país onde há uma extrema desigualdade social, que começa pela
concentração de renda e segue com o acesso à educação e saúde. Somado a isso, negros,
mulatos e pobres não têm oportunidades de subsistência, partindo para a criminalidade. O
resultado, visível por todos nós neste limiar do século XXI é um Brasil injusto, doente e
desacreditado. Tais fatos já fazem parte da tradição brasileira, e hoje, mesmo com os
programas de inclusão social e complemento de renda, ocorre uma espécie de banalidade em
relação às desigualdades, como se o próprio povo estivesse acostumado com aquilo que vê e
observa, sem perceber que ele figura, tanto como sujeito ativo desta situação, como sujeito
passivo, vítima futura de sua própria negligência. E esta tradição impregnou todos os setores
da vida brasileira, sendo a mais notória delas o descumprimento das normas no Brasil.
Em nível nacional, nossa Carta Magna reservou 32 incisos do artigo 5º, que trata das
garantias fundamentais do cidadão, destinados à proteção das garantias do homem preso.
Existe ainda em legislação específica - a Lei de Execução Penal - os incisos de I a XV do
artigo 41, que dispõe sobre os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado no
decorrer na execução penal. (BITENCOURT, 2010). No campo legislativo, nosso estatuto
executivo-penal é tido como um dos mais avançados e democráticos existentes.
Ela se baseia na ideia de que a execução da pena privativa de liberdade deve ter por
base o princípio da humanidade, sendo que qualquer modalidade de punição
desnecessária, cruel ou degradante será de natureza desumana e contrária ao
princípio da legalidade (BITENCOURT, 2010, p. 199).
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No entanto, o que tem ocorrido na prática é a constante violação dos direitos e a total
inobservância das garantias legais previstas na execução das penas privativas de liberdade. A
partir do momento em que o preso passa à tutela do Estado ele não perde apenas o seu direito
de liberdade, mas também todos os outros direitos fundamentais que não foram atingidos pela
sentença, passando a ter um tratamento execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos
que acarretam a degradação de sua personalidade e a perda de sua dignidade, num processo
que não oferece quaisquer condições de preparar o seu retorno útil à sociedade. (JESUS,
1997).
É preciso se observar que todos os elementos que se elevam para que o sistema carcerário
funcione de forma coerente, necessitam estar alinhados num mesmo objetivo.
O despreparo e a desqualificação desses agentes fazem com que eles consigam conter os
motins e rebeliões carcerárias somente por meio da violência, cometendo vários abusos e
impondo aos presos uma espécie de "disciplina carcerária" que não está prevista em lei, sendo
que na maioria das vezes esses agentes acabam não sendo responsabilizados por seus atos e
permanecem impunes (THOMPSON, 2002).
Somam-se a esses itens o problema dos presos que estão cumprindo pena nos
distritos policias (devido à falta de vagas nas penitenciárias), que são
estabelecimentos inadequados para essa finalidade, e que, por conta disso, acabam
sendo tolhidos de vários de seus direitos, dentre eles o de trabalhar, a fim de que
possam ter sua pena remida, e também de auferir uma determinada renda e ainda
evitar que venham a perder sua capacidade laborativa (BECCARIA, 1999).
A sociedade não pode esquecer que 95% do contingente carcerário, ou seja, a sua
esmagadora maioria é oriunda da classe dos excluídos sociais, pobres,
desempregados e analfabetos, que, de certa forma, na maioria das vezes, foram
"empurrados" ao crime por não terem tido melhores oportunidades sociais. Há de se
lembrar também que o preso que hoje sofre essas penúrias dentro do ambiente
prisional será o cidadão que dentro em pouco, estará de volta ao convívio social,
junto novamente ao seio dessa própria sociedade (BECCARIA, 1999).
Chama-se a atenção que a ideia é a efetivação e aplicação das garantias oferecidas pela
Lei quanto à execução da pena, o respeito ao apenado, no cumprimento da Princípio da
Legalidade constante da Carta magna de 1988.
As causas de tanta desigualdade dentro das prisões brasileiras são muito simples:
faltam recursos para oferecer dignidade aos detentos, seja por meio de melhores condições de
saúde, higiene e espaço dentro das instalações. Vejamos, rapidamente, alguns destes tópicos
que transformam nossas cadeias em verdadeiras fábricas de desumanidade:
a. Superlotação
Estima-se que a capacidade de nossas penitenciárias é tem muito poucas vagas para a
quantidade de detentos, e, surgindo ainda mais todos os dias, inclusive, em sua maioria crimes
violentos ou hediondos. A população carcerária em nosso país está em torno de milhares de
internos, verificando-se que ainda faltam muitas e muitas mil vagas para comportar de forma
mais humana todo este contingente. Como este excesso de presos precisam ser relocados.
Neste sentido, o Brasil carece, hoje, novos presídios para aliviar a pressão das demais
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penitenciárias existentes. Entretanto, estes dados não são confiáveis, pois alguns setores
extraoficiais que trabalham de perto com o sistema carcerário, afirmam que algumas vagas
vêm sendo ocupadas por cerca de cinco ou seis presos, o que configura nossas cadeias como
“depósitos de presos”.
Observando-se que algumas celas possuem apenas 12 metros quadrados e que muitas
chegam a comportar seis presos sentados ou de pé, a situação passa de grave à gravíssima. As
prisões brasileiras encontram-se abarrotadas, sem as mínimas condições dignas de vida,
contribuindo ainda mais para desenvolver o caráter violento do indivíduo e seu repúdio à
sociedade que ele acusa de tê-lo colocado ali.
Além disso, o mesmo relatório constata que muitos presos não recebem qualquer
assistência visando prover suas necessidades básicas de alimentação e vestuário. Muitos
sofrem com o frio, outros acabam se molhando em dias de chuva e permanecem com a roupa
molhada no corpo, causando doenças como gripes fortes e pneumonias. Para diminuir esta
escassez, muito guardas são “subornados” por parentes dos detentos que lhes providencia
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Uma antiga máxima popular diz que “mente vazia é a oficina do diabo”. Este
provérbio não poderia ser mais adequado quando se trata da vida carcerária. O indivíduo
privado de sua liberdade e que não encontra ocupação, entra num estado mental onde sua
única perspectiva é fugir. O homem nasceu para ser livre, não faz parte de sua natureza
permanecer enjaulado. Algumas raríssimas cadeias ainda oferecem certas condições que
superam a qualidade de vida do preso se estivesse do lado de fora. Ainda assim, o sentimento
de liberdade sempre é maior e mesmo estas cadeias acabam vivenciando rebeliões de fuga.
Preso que não ocupa seu dia, principalmente sua mente, é um maquinador de ideias, a maioria
delas, ruins. O presídio é um sistema fechado onde o encarcerado é obrigado a conviver,
permanentemente, com outros indivíduos, alguns de índole igual, melhor ou pior. A ideia de
todo presidiário é que sua vida acabou dentro das paredes da cadeia e que não lhe resta mais
nada. Amparo psicológico é fundamental, pois nenhum ser humano vive sem motivação.
Presídio sem ocupação se torna uma escola “às avessas”: uma formadora de criminosos mais
perigosos.
Por não ter um estudo ou ocupação, consequentemente, carecer de um senso moral que
a vida pré-egressa não conseguiu lhe transmitir, a personalidade do preso passa a sofrer um
desajuste ainda maior. Sua única saída é relacionar-se com os demais presos e intercambiar
com ele suas aspirações, valores e visões de mundo, quase sempre distorcidas. Passa a
adquirir novos hábitos, que antes não tinha, enfim, transforma-se num indivíduo pior do que
quando entrou. Além disso, distúrbios psicológicos que já possuía antes de vir para o presídio
se agravam, justamente por se ver inserido num novo contexto social, repleto de hostilidades
e desrespeito.
Grande parte dos apenados não possuíram escolhas ao longo da vida que tiveram antes
de serem aprisionados, muitas vezes nem estudar ou até mesmo trabalhar, tendo assim, a
chance de traçar um novo rumo para si. Neste contexto, a partir da sentença conferida pelo
juiz, seria coerente que o Estado oportunizasse ferramentas para que este indivíduo tenha
mais chances ao término do cumprimento da sua pena. Sendo dada maior ênfase ao estudar,
em especial aos cursos técnicos, cursos profissionalizantes.
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Além de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os detentos precisam
ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se obscurecidos pelo
estigma do crime. Existem casos de detentos que demonstram dotes artísticos, muitos deles se
revelando excelentes pintores de quadros e painéis de parede, além de habilidades com
esculturas, montagens, modelagens, marcenaria etc. Também, decoram as celas de acordo
com sua criatividade e sua personalidade.
Estas artes devem ser incentivadas, pois é uma forma de ocupar o preso, distraindo-o e
aumentando sua autoestima. É a chance de mostrar a ele de que existe a esperança de um
amanhã melhor além das grades que o separam do mundo exterior. A visão à cerca do
criminoso é que, a partir do delito ele se torna um indivíduo à parte na sociedade, e que seu
isolamento dentro de uma prisão significa a perda de toda a sua dignidade humana devendo,
por isso, ser esquecido enquanto pessoa humana, e ignora-se que os direitos humanos valem
para todos, sejam criminosos ou não. Infelizmente, no Brasil, a vida de pessoas pobres ou
criminosos tem menos valor.
d. Violência Policial
Nada mais “natural” que a polícia espelhe na prática o real cumprimento deste
“poder”, estando a ele subordinado e por ele seja atuante, sendo mais particularmente evidente
no Regime militar. Ocorre uma “pressão psicológica” sobre o indivíduo detentor do poder de
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polícia e que cumpre os mandos e desmandos de seus superiores em garantia de sua própria
integridade.
Existe tão somente o “dever legal” de manter a ordem e a disciplina no meio social,
sendo a violência arguida apenas em casos extremos de hostilidade, e não pelo fato do
cidadão usufruir seu direito de liberdade de ir e vir, de expressão etc.
Um ponto essencial que deve ser evidenciado quanto à violência é o fato de que a
maioria de suas vítimas são geralmente os membros das camadas mais pobres e menos
abastadas da população. Estes segmentos da sociedade são considerados classes perigosas por
acreditar-se serem um ameaça às classes mais abastadas, ocorrendo um processo de “seleção”
onde todo criminoso deve ter características como pobreza, desnutrição, inteligência limitada,
preferivelmente negro ou mulato etc.
Tal visão distorcida que impera no meio social, somada à indisciplina de uma polícia
que sempre bateu, espancou e torturou, que repele a violência com mais violência, e que
forma Esquadrões da Morte e grupos de extermínio, demonstra a total ignorância dos
princípios básicos dos direitos humanos, cujas garantais fundamentais foram incluídas na
Carta Magna que completa dez anos. Entretanto, é necessário mais que a promulgação dos
princípios constitucionais, mas vontade política do governo brasileiro para fazer viger as
normas constitucionais. Tanta violência policial que vem à tona revela um dado importante:
antigos e pavorosos defeitos da polícia ainda existem, mesmo depois de sepultada a ditadura
militar. Existe extorsão, tortura, assassinato, sequestro, omissão, mentira, insubordinação e até
envolvimento com tráfico de drogas.
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Na verdade, diante da prática, o preso brasileiro possui mais deveres do que direitos. A
realidade cercando a vida dos detentos não mudará da noite para o dia. (NOGARE, 1990).
Esta mudança requer vontade política, técnica e financeira necessárias, visando objetivos a
curto, médio e longo prazo, mas em caráter de absoluta urgência. Se o ser humano é a
essência de todas as instituições, o aperfeiçoamento do aparelho penitenciário exige uma
abordagem humanista, que vise desenvolver e dignificar o presidiário (NOGARE, 1990).
A Lei de Execução Penal tem como objetivos primordiais o efetivo cumprimento das
disposições da sentença ou decisão criminal e a proporção ao condenado de condições para a
sua harmônica integração social. O permanente estado crítico em que se encontram as
penitenciárias do país, que por falta de vagas faz com que seres humanos sejam amontoados
em cubículos, como animais irracionais, retirando-lhes a pouca dignidade que porventura
ainda lhes restam.
Ainda que o Código Penal trate dos regimes prisionais em seu art. 33 e seguintes,
positivando as condições de cumprimento da pena e seus respectivos regimes, o que vemos na
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4.3. O Sistema prisional brasileiro e a sua relação com a violação aos direitos humanos
A mais grave, senão uma das mais Uma das graves violações suportadas pelos
apenados é o caso da superlotação das cadeias e presídios. Temos como exemplos:
Pernambuco, Rio Grande do Norte, e o famoso presídio de Pedrinhas, o melhor exemplo aqui
a ser dado. São celas com pouco espaço, sem local para dormir, muitas vezes, o preso dorme
de pé, encostado na parede, entre outras situações que fogem ao propósito de ressocialização,
além do que facilita aquele preso de pequena periculosidade está em contato bem próximo ao
seu oposto. Nestes termos existe em uma grave falta de respeito no que concerne às
condições mínimas estipuladas na Lei de Execução Penal Brasileira, e, também nos
documentos internacionais emitidos por órgãos responsáveis pelo cumprimento dos direitos
de todo e qualquer ser humano.
Não são apenas estes fatores que deixam claro o desrespeito aos direitos humanos nas
prisões brasileiras. O indivíduo que cometeu um ilícito é, claro e evidente, que deve pagar
pelo seu erro perante a sociedade com base na lei penal vigente, mas, isso não se torna motivo
para que se possa trata-lo de forma a que seus direitos sejam tolhidos. No caso de um
indivíduo cujo delito não tenha sido algo hediondo, violento ou de alta periculosidade. Todos
erram, todos são humanos; se tratado adequadamente, na forma da lei, ele pode vir a não mais
cometer atos marginais. Direitos humanos não é defender apenados é presar pela dignidade
humana de todo e qualquer indivíduo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ócio dentro das prisões é um fator bem agravante do atual sistema penitenciário. A
falta de estabelecimentos que propiciem ao condenado trabalhar é evidente e inaceitável. Se
durante o cumprimento de sua pena, o condenado tivesse oportunidade de trabalhar, com
certeza o índice de reincidência diminuiria consideravelmente, e essa seria a melhor maneira
de ressocializar o indivíduo, pois quando o mesmo tivesse sua pena cumprida ao voltar ao
convívio social, teria uma profissão, não precisando retornar ao mundo do crime.
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É preciso ter presente que as pessoas presas não foram condenadas a passar fome, a
passar frio, a viver amontoadas, a virar pasto sexual, a contrair AIDS e tuberculose nos
estabelecimentos penais. Toda essa realidade que vigora no mundo dos excluídos significa
inconcebível exacerbação da pena. A sociedade, insegura, clama por penas maiores e mais
duras. O Ministério Público acata, sensivelmente, à pressão, quando atua contra os direitos
dos presos, ou mesmo quando não denuncia as precárias situações dos cárceres. O
crescimento da violência e as novas formas de criminalidade aumentam o estado de
insegurança em uma sociedade marcada pela falência do Estado.
O Direito Penal não pode deixar de acompanhar as mudanças sociais. São as classes
mais desfavorecidas que não se encaixam no contexto social, são elas que, sem advogados,
esperam meses para serem julgados. Esperam encarceradas. Quando criada, a pena de prisão
era a opção mais humana, diante dos castigos cruéis e degradantes que marcaram a história.
Atualmente, ela é prioridade em um sistema falido. Mesmo não comportando mais um Direito
Penal inchado, ela continua forte. As autoridades, legisladores, todos os operadores do
Direito, devem perceber que há alternativas. Penas restritivas de direito, métodos eletrônicos,
suspensão condicional de processos em crimes sem violência são medidas que tem por
objetivo desviar o foco na pena privativa de liberdade. Mudanças que trazem mais
humanidade ao Direito Penal e à vida dos milhares de cidadãos.
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