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AS FALHAS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO EM REEDUCAR O APENADO

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Ailton Cunha
ailton.cunha@hotmail.com

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Luciano João da Silva
ljsjoaosilva1984@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste presente artigo é o de detectar a situação contemporânea do sistema prisional
brasileiro e por meio do método dedutivo distinguir os seus maiores e básicos problemas,
fazendo uma analogia superficial deste contexto frente a tantos desencontros, observando
soluções para redução da reincidência de crimes e aumentar a ressocialização do preso.
Iniciou-se pela responsabilidade do Estado, posteriormente, fazendo um discurso sobre as
falhas no sistema carcerário e, na observância da Lei de Execuções Penais, permitindo
alternativas para esta ressocialização. Tendo um olhar, também, dirigido aos direitos humanos
e a condição de ressocialização do preso dentro do sistema carcerário no Brasil. Dentro desta
proposta foi utilizada como metodologia abordagem qualitativa, de cunho exploratório, e
método dedutivo, sendo explanado o tema através das obras recentemente publicadas como,
livros, artigos e através da internet, dispondo-se a explorar o tema através dos doutrinadores e
da jurisprudência. Tendo como considerações finais uma discussão sobre as falhas e
ressocialização de um apenado dentro de um país extremamente violento como o nosso e a
impossibilidade frente à falta de recursos e a inabilidade dos grupos de Direitos Humanos de
agir em prol destes apenados de menor potencial agressivo.

Palavras-chave: Apenado. Falhas. Sistema Carcerário. Segurança Pública. Direitos


Humanos.

ABSTRACT
The objective of this present article is to detect the contemporary situation of the Brazilian
prison system and through the deductive method to distinguish its major and basic problems,
making a superficial analogy of this context in the face of so many misunderstandings,
observing solutions to reduce the recurrence of crimes and increase the re-socialization of the
prisoner. It was initiated by the responsibility of the State, later, making a discourse on the
failures in the prison system and, in compliance with the Law of Penal Executions, allowing
alternatives for this resocialization. Having also a look at human rights and the condition of
re-socialization of the prisoner within the prison system in Brazil. Within this proposal was
used as a qualitative approach methodology, exploratory, and deductive method, being
explained the theme through the recently published works such as books, articles and through
the Internet, preparing to explore the subject through the doctrine and jurisprudence. Taking
as final considerations a discussion about the failures and resocialization of a distressed
person within an extremely violent country such as ours and the impossibility of the lack of
resources and the inability of the Human Rights groups to act in favor of these distressed ones
with less aggressive potential.

Keywords: Distressed. Failures. Prison system. Public security. Human rights.


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1. INTRODUÇÃO

No transcurso histórico que se observada a criação e os métodos implementados para


punir e também de reeducar o apenado e assim devolvê-lo para a sociedade, perpassa uma
série de transtornos ligados a própria situação do Judiciário e das políticas implantadas na
busca da melhor. Embora considerassem justo o modelo de punição aplicado aos que infligem
a lei, este sistema foi também considerado decadente por uma parcela significativa da
população, pois além dos problemas que lhe são inerentes está acrescido de inúmeras falhas,
gerando dúvidas sobre o destino daqueles que estão sob sua custódia do Estado.

O sistema prisional brasileiro há muito deixou de ser um instrumento eficaz de


ressocialização do apenado, há várias falhas. Na atualidade o Sistema é, sem hesitação, uma
das mais sérias dívidas sociais com ruptura de direitos humanos que o Estado brasileiro já
adotou; uma fatura em aberto com a sociedade, pronta para ser cobrada de maneira enérgica
por seus cidadãos. Uma situação alarmante e de impacto profundo e eminente no cotidiano do
nosso país.

Visto que a ineficiência do Estado na gestão das unidades prisionais agravava-se assim
como os problemas com a superlotação, a não ressocialização, e que a reintegração ao
mercado de trabalho era praticamente nula, desenhando-se um grave problema, que são as
falhas na ressocialização do preso ou apenado. Pelos mais diversos fatores não hão,
atualmente, condições de se alcançar o principal objetivo da Lei de Execuções Penais: a
ressocialização do apenado. A realidade prisional brasileira é gravíssima, mas alguns estados
implantaram, há alguns anos, o sistema de gestão compartilhada.

Justifica-se esta pesquisa na perspectiva que aqui se procura explorar, desenvolver e


entender é que há uma crise que está acontecendo com relação ao aumento de criminalidade e
da visão da sociedade quanto a tomada de decisões com soluções imediatas pelos órgãos
competentes para que possa responder à altura, as necessidades prementes desta sociedade
hostilizada por indivíduos que, através de um Código Penal caduco privilegia e liberta
meliantes, devolvendo-lhe a liberdade, expondo a sociedade como todo a um perigo constante
e imediato.

Para o desenvolvimento desta pesquisa houve uma necessidade de fazer uma revisão
bibliográfica para obtenção de dados e informações sobre o tema. Especificamente foi
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desenvolvida uma pesquisa exploratória de abordagem dedutiva, pelo método empírico,


probabilístico e intencional para uma verificação mais específica.

O presente trabalho tem como finalidade efetuar uma análise concisa sobre o sistema
prisional brasileiro a sua origem bem como o processo de evolução e as suas falhas no
tentame de reeducar o apenado. Para que se obtenha uma visão ampla e crítica sobre o
processo de ressocialização dentro do sistema penitenciário é preciso conhecer o sistema
prisional tradicional para compreender o modelo de parceria público-privada e como a
parceria funciona. Desde a Antiguidade que já se buscava uma forma de punição para aquele
que praticasse algum delito.

Encarceravam-se os delinquentes, que aguardavam no cárcere, o julgamento, a


punição ou execução de acordo com o delito cometido. Desse modo, a criação da
penitenciária representou um grande avanço do ponto de vista humanístico, já que a prisão
seria muito melhor que as penas de morte ou as penas corporais.

2. A RESPONSABILIDADE DO ESTADO

2.1. Responsabilidade estatal no direito civil, constitucional, penal.

Percebe-se que a grande preocupação da sociedade brasileira em relação ao aumento da


criminalidade no país cresceu. No entanto, a preocupação da sociedade é bem maior em
relação às punições que devem ser impostas aos criminosos. Assim, há uma parte maior da
população que exige medidas imediatas e repressivas, como penas privativas de liberdade
mais severas com a finalidade de afastar o criminoso do convívio social.

O Direito Repressivo procura acompanhar as mudanças e a evolução da sociedade. No


entanto, ainda que ocorra essa continua mudança, a punição para com aquele que comete um
delito, prossegue sendo a mesma há anos. Nesse sentido, a tentativa de buscar alternativas à
privação da liberdade, surge como uma emergente ideia para solucionar as agruras do atual
sistema penitenciário. Não é difícil perceber que a prisão, por si mesma, acaba sendo uma
violência contra o indivíduo. Contudo, o objetivo da prisão é a ressocialização do preso na
sociedade. Porém, o que se pode observar é que o objetivo raramente é alcançado. E que ao
invés de reinserir o preso na sociedade, a prisão acaba se tornando um impedimento maior
para a tal ressocialização.
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É notória a tendência para a diminuição dos casos de prisão e um aumento para as


chamadas penas alternativas, que visam tirar essa taxatividade do Direito Penal, tão perigosa
para a ressocialização do preso.

2.1.1. O Direito Constitucional contemporâneo

O Direito Constitucional contemporâneo tem como esteio a sujeição de todas as


pessoas, sejam físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, a uma ordem jurídica. Desta
maneira, qualquer lesão a um bem jurídico de terceiro implica na obrigação de reparação por
parte do agente causador do respectivo dano.

Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito, não se deve aprisionar o imputado


sem que ele seja considerado culpado pela prática do fato delituoso. O ordenamento jurídico
brasileiro prevê a possibilidade do ato prisional, mas este deve ocorrer em caráter de exceção,
já que no país o direito à liberdade é um direito fundamental. O cerceamento de liberdade é
uma exceção e este deve ser evitado, quando for possível uma medida menos severa, até
mesmo quando impera uma sentença condenatória com transito em julgado.

Diante dessa realidade, é perceptível que a prisão cautelar é ainda mais excepcional,
tanto que a Lei 12403/11 alterou as disposições do CPP, a fim de estipular requisitos que
dificultam a concessão da Prisão Preventiva e regulando medidas cautelares que podem ser
impostas ao invés da decretação da prisão.

Para alguns autores, como Rangel (2005) e Nicolitt (2012) há violação ao princípio da
inocência e que por isso a norma é inconstitucional, já para Polastri (2010) a norma está em
perfeita consonância com a Constituição. Observa-se que não há muito interesse em estudar
seriamente o direito penitenciário e a sua elaboração doutrinária. Como caracteriza Arminda
Bergamini Miotto (1992):

Com muita frequência, lamentavelmente, questões penitenciárias e de execução


penal são tratadas empiricamente [“eu acho” ...] até mesmo por professores
universitários e ocupantes de altos cargos no campo penitenciário. Entretanto, é pelo
estudo em amplidão e profundidade dos diversos aspectos e temas das realidades e
valores, pelo exame de uns e de outros, conforme os diversos pontos de vista, pela
discussão bem fundada, que a elaboração de uma ciência progride, e que se constrói
sua doutrina. Para isso, fundamentais são, a par de congressos e reuniões análogas,
as publicações - artigos, ensaios, monografias, livros [...]. Pouco é, sem dúvida, o
que tem sido feito nesse sentido. (MIOTTO.1992, p.46-7)

Contraditoriamente, o Poder Público ao desempenhar suas funções estatais gera danos


abrangente, pela falta de preparo de alguns profissionais ainda despreparados. Sendo assim,
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atribui-se ao Estado a responsabilidade por princípios específicos e que devem ser adaptados
as características de cada situação jurídica. Todavia, por força constitucional, a
responsabilização se estende às pessoas jurídicas de direito público e às de direito privado
prestadoras de serviço público e consubstancia-se na obrigação de indenizar pelos danos
patrimoniais e/ou morais que seus agentes, na qualidade de agentes públicos, causarem a
terceiros. A reparação será sempre pecuniária por tratar-se de responsabilização de ordem
civil. Pois a manifestação distende-se às três funções em que se subdivide o poder estatal:
legislativa, administrativa e jurisdicional. Embora a maioria dos casos que possibilitam a
responsabilização emanem da atividade administrativa. Verifica-se, excepcionalmente, que o
desenvolvimento das demais funções também podem ensejar a reparação.

Foi com a Constituição de 1946 que se adotou e consagrou a teoria da


responsabilidade objetiva do Estado. Inaugurou-se assim uma nova era em matéria
de responsabilidade civil estatal no país. Em sua essência, a regra da Constituição de
1946 é a que prevalece até os dias atuais, sendo renovado o texto, com pequenas
alterações, em todas as Constituições brasileiras subsequentes (PINTO, 2008, p.87)

Sendo assim, vale ressaltar, que a regra da Constituição de 1946 teve pequenas
alterações nas Constituições brasileiras posteriores, tendo em vista que apenas reiteraram o
teor do artigo 194 da Carta Magma 1946 (CAVALIERI FILHO, 2009, p.234-235).

A Constituição de 1967 repete a norma em seu artigo 105, acrescentando, no


parágrafo único, que a ação regressiva cabe em caso de culpa ou dolo – disposição
não incluída no preceito da Constituição anterior e a Emenda nº 1, de 1969, a norma
foi reproduzida no artigo 107 (PINTO, 2008, p.87).
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De acordo com Meirelles (2006, p.647), a “responsabilidade civil é a que se traduz na
obrigação de reparar danos patrimoniais e se exaure com a indenização”. Assim, por dar
causa a uma obrigação meramente patrimonial, independe da responsabilidade “criminal e da
administrativa, com as quais pode coexistir sem, todavia, se confundir”. Buscando diferir
entre o ilícito civil e o penal, Cavalieri informa que “no caso do ilícito penal, o agente infringe
uma norma penal, de Direito Público; no ilícito civil, a norma violada é de Direito Privado”
(2009, p.14). Por sua vez, o doutrinador Fiuza (2006) explica que ilícito civil

É toda ação ou omissão antijurídica, em princípio culpável”. Já o ilícito penal seria


“toda ação ou omissão antijurídica, típica e culpável”, de forma que “na
configuração do ilícito penal, a tipicidade e a culpabilidade são elementos essenciais
(FIUZA, 2006, p.743).

Logo, só haverá o ilícito penal se ele antes estiver tipificado em lei, sendo,
obrigatoriamente, culpável.
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Não há diferença ontológica entre o ilícito civil e o penal; há apenas uma escala de
gravidade”. Conclui o autor que “as condutas mais graves, que atingem bens sociais
de maior relevância, são sancionadas pela lei penal, ficando para a lei civil a
repressão das condutas menos graves (CAVALIERI, 2005, p.25).

E de acordo com Pinto, outra diferença reside no fato de que “no direito penal o
desvalor do fato antecedente (conduta do agente) é o fato preponderante; na responsabilidade
civil, o desvalor do fato consequente (dano) tem peculiar realce. ” De qualquer modo, pela
lição de Cavalieri (2005, p.25), nota-se que não há responsabilidade, em qualquer de suas
modalidades, sem a transgressão a dever jurídico preexistente, uma vez que a
responsabilidade conjetura a violação de um dever jurídico.

É claro que os fatos e o intérprete sempre estiveram presentes na interpretação


constitucional. Mas nunca como agora. Faça-se uma anotação sumária sobre cada um:
1. Os fatos subjacentes e as consequências práticas da interpretação. Em diversas situações,
inclusive e notadamente nas hipóteses de colisão de normas e de direitos constitucionais, não
será possível colher no sistema, em tese, a solução adequada: ela somente poderá ser
formulada a corresponde à vontade constitucional.

Entretanto, o resultado do processo interpretativo, seu impacto sobre a realidade não pode
ser desconsiderado: é preciso saber se o produto da incidência da norma sobre o fato realiza
finalmente, o mandamento constitucional. (ENTERRÍA, 1994),

2. O intérprete e os limites de sua discricionariedade. A moderna interpretação constitucional


envolve escolhas pelo intérprete, bem como a integração subjetiva de princípios, normas
abertas e conceitos indeterminado. Feita a advertência, passa-se à discussão de alguns dos
temas que têm mobilizado o universo acadêmico nos últimos tempos e que, mais
recentemente, vêm migrando para a dogmática jurídica e para a prática jurisprudencial.
(ENTERRÍA, 1994)

2.2. Especificações de violações de direitos humanos no sistema carcerário

A Convenção Americana de Direitos Humanos é o instrumento de maior importância


do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

2.2.1. A Convenção Americana de Direitos Humanos


Esta convenção versa sobre um tratado internacional entre os países-membros da
Organização dos Estados Americanos assinado em San José da Costa Rica em 1969, e que
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tem por objetivo comprometer os Estados signatários “a respeitar os direitos e liberdades nela
reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua
jurisdição, sem qualquer discriminação" (GOMES & PIOVESAN, 2000).

Em acréscimo, constitui-se no primeiro documento internacional de direitos


humanos a proibir expressamente, a suspensão das garantia indispensáveis para a
proteção de alguns direitos, enumerados em seu artigo 27:direito ao reconhecimento
da personalidade jurídica, direito à vida, direito à integridade pessoal, proibição da
escravidão e servidão, princípio da legalidade e da retroatividade, liberdade de
consciência e religião, proteção da família, direito ao nome, direitos da criança,
direito à nacionalidade e direitos políticos (MEDEIROS, 2007, p.193).

O Estado brasileiro foi um dos que mais tardiamente aderiram à Convenção, fazendo-o
apenas em 25 de setembro de 1992. Em Buergenthal (1995), apud, Piovesan (2000) a
Convenção Americana assegura “o direito à personalidade jurídica, o direito à vida, o direito a
não ser submetido à escravidão, o direito à liberdade, o direito a um julgamento justo, o
direito à compensação em caso de erro judiciário, o direito à privacidade, o direito à liberdade
de consciência e religião, o direito à liberdade de pensamento e expressão, o direito à
resposta, o direito à liberdade de associação, o direito ao nome, o direito à nacionalidade, o
direito à liberdade de movimento e residência, o direito de participar do governo, o direito à
igualdade perante a lei e o direito à proteção judicial”. Segundo Gomes & Piovesan (2000)

A Convenção Americana não enuncia de forma específica qualquer direito social,


cultural ou econômico, limitando-se a determinar aos Estados que alcancem,
progressivamente, a plena realização destes direitos, mediante a adoção de medidas
legislativas e outras medidas que se mostrem apropriadas, nos termos do art. 26 da
Convenção (GOMES & PIOVESAN, 2000, p.30).

Neste sentido cabe ao Estado-parte respeitar e assegurar o livre e pleno exercício


destes direitos sem qualquer forma de discriminação. Porém, não basta o Estado-parte ter
obrigações apenas de caráter negativo, é necessário o exercício de obrigações de natureza
positiva, conforme aponta Thomas Buergenthal (1995):“Um governo tem, consequentemente,
obrigações positivas e negativas relativamente à Convenção Americana. De um lado, há a
obrigação de não violar direitos individuais; por exemplo, há o dever de não torturar um
indivíduo ou de não o privar de um julgamento justo. Mas a obrigação do estado vai além
deste dever negativo, e pode requerer a adoção de medidas afirmativas necessárias e razoáveis
em determinadas circunstâncias para assegurar o pleno exercício dos direitos garantidos pela
Convenção Americana.

2.2.2. As violações dos direitos humanos dentro do sistema carcerário


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O Brasil é um país onde há uma extrema desigualdade social, que começa pela
concentração de renda e segue com o acesso à educação e saúde. Somado a isso, negros,
mulatos e pobres não têm oportunidades de subsistência, partindo para a criminalidade. O
resultado, visível por todos nós neste limiar do século XXI é um Brasil injusto, doente e
desacreditado. Tais fatos já fazem parte da tradição brasileira, e hoje, mesmo com os
programas de inclusão social e complemento de renda, ocorre uma espécie de banalidade em
relação às desigualdades, como se o próprio povo estivesse acostumado com aquilo que vê e
observa, sem perceber que ele figura, tanto como sujeito ativo desta situação, como sujeito
passivo, vítima futura de sua própria negligência. E esta tradição impregnou todos os setores
da vida brasileira, sendo a mais notória delas o descumprimento das normas no Brasil.

O sistema carcerário brasileiro necessita urgentemente mudanças. Visto que, as


penitenciárias se transformaram em verdadeiras “usinas de revolta humana”, uma bomba-
relógio que o judiciário brasileiro criou no passado a partir de uma legislação que hoje não
pode mais ser vista como modelo primordial para a carceragem no país.

Ocorre a necessidade de modernização da arquitetura penitenciária, a sua


descentralização com a construção de novas cadeias pelos municípios, ampla assistência
jurídica, melhoria de assistência médica, psicológica e social, ampliação dos projetos visando
o trabalho do preso e a ocupação de sua mente-espírito, separação entre presos primários e
reincidentes, acompanhamento na sua reintegração à vida social, bem como oferecimento de
garantias de seu retorno ao mercado de trabalho. Há uma infinidade de conceitos sobre
direitos humanos que foram elaboradas, aperfeiçoadas e divulgadas desde seu surgimento.
Segundo Dallari (1998), direitos humanos vêm representar uma forma abreviada de
mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. No entanto, de acordo com Moraes
(2006), direitos humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano
que visa a preservar sua dignidade, estabelecer condições mínimas de vida e permitir o
desenvolvimento da personalidade humana, protegendo os indivíduos contra o arbítrio estatal.

É dever do condenado ter comportamento disciplinado; cumprir a sentença;


obedecer e respeitar o servidor e qualquer pessoa com quem se relacionar; ter
conduta oposta em relação aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de
subversão de ordem; fazer execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
realizar a higiene pessoal e a limpeza de cela ou alojamento, dentre outros deveres
(Art. 39 da Lei Federal n° 7210, de 11 de julho de 1984).

Entretanto, o condenado também possui direito, e dentre os direitos presentes no art.


41 estão à alimentação suficiente, vestuário, Previdência Social; a distribuição do tempo em
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trabalho, descanso e recreação; à assistência material, saúde, jurídica, educacional, social e


religiosa; visita de parentes em dias determinados; e o contato com o mundo exterior por meio
de correspondência escrita, da leitura e de outros meios e informação, que não venham
comprometer a moral e os bons costumes. Além disso, há o direito de contratar um médico
pessoal para o internado ou de ser submetido ao tratamento ambulatorial, por seus familiares
ou dependente, com finalidade de orientar e acompanhar o tratamento.

Devem-se dar as condições mínimas e necessárias, mostrando-se assim, que existe


outra forma de vida sem terem que voltar para o mundo do crime. Isso só será atingido
quando o Estado cumprir as obrigações assistenciais previstas na Lei de Execuções Penais. A
sociedade brasileira fecha os olhos quando o assunto é sobre aqueles que cometeram algum
tipo de crime, mostrando-se a quão preconceituosa ela é. Toda pessoa que pratica um crime
previsto em Lei deve responder perante a justiça, acontece que o Estado e a sociedade não
entendem que de nada adianta largar uma pessoa em uma cela, isolando-o do resto do mundo,
que ela sairá ressocializada.

2.3 Direitos humanos do preso e garantias legais na execução da pena privativa de


liberdade

As garantias legais previstas durante a execução da pena, assim como os direitos


humanos do preso estão previstos em diversos estatutos legais. Em nível mundial existem
várias convenções como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração
Americana de Direitos e Deveres do Homem e a Resolução da ONU que prevê as Regras
Mínimas para o Tratamento do Preso.

Em nível nacional, nossa Carta Magna reservou 32 incisos do artigo 5º, que trata das
garantias fundamentais do cidadão, destinados à proteção das garantias do homem preso.
Existe ainda em legislação específica - a Lei de Execução Penal - os incisos de I a XV do
artigo 41, que dispõe sobre os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado no
decorrer na execução penal. (BITENCOURT, 2010). No campo legislativo, nosso estatuto
executivo-penal é tido como um dos mais avançados e democráticos existentes.

Ela se baseia na ideia de que a execução da pena privativa de liberdade deve ter por
base o princípio da humanidade, sendo que qualquer modalidade de punição
desnecessária, cruel ou degradante será de natureza desumana e contrária ao
princípio da legalidade (BITENCOURT, 2010, p. 199).
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No entanto, o que tem ocorrido na prática é a constante violação dos direitos e a total
inobservância das garantias legais previstas na execução das penas privativas de liberdade. A
partir do momento em que o preso passa à tutela do Estado ele não perde apenas o seu direito
de liberdade, mas também todos os outros direitos fundamentais que não foram atingidos pela
sentença, passando a ter um tratamento execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos
que acarretam a degradação de sua personalidade e a perda de sua dignidade, num processo
que não oferece quaisquer condições de preparar o seu retorno útil à sociedade. (JESUS,
1997).

É preciso se observar que todos os elementos que se elevam para que o sistema carcerário
funcione de forma coerente, necessitam estar alinhados num mesmo objetivo.

O despreparo e a desqualificação desses agentes fazem com que eles consigam conter os
motins e rebeliões carcerárias somente por meio da violência, cometendo vários abusos e
impondo aos presos uma espécie de "disciplina carcerária" que não está prevista em lei, sendo
que na maioria das vezes esses agentes acabam não sendo responsabilizados por seus atos e
permanecem impunes (THOMPSON, 2002).

Entre os próprios presos a prática de atos violentos e a impunidade ocorrem de forma


ainda mais exacerbada. A ocorrência de homicídios, abusos sexuais, espancamentos e
extorsões são uma prática comum por parte dos presos que já estão mais "criminalizados"
dentro do ambiente da prisão e que, em razão disso, exercem um domínio sobre os demais
presos, que acabam subordinados a essa hierarquia paralela. Contribui para esse quadro o fato
de não serem separados os marginais contumazes e sentenciados a longas penas dos
condenados primários. (BITENCOURT, 2010).

Somam-se a esses itens o problema dos presos que estão cumprindo pena nos
distritos policias (devido à falta de vagas nas penitenciárias), que são
estabelecimentos inadequados para essa finalidade, e que, por conta disso, acabam
sendo tolhidos de vários de seus direitos, dentre eles o de trabalhar, a fim de que
possam ter sua pena remida, e também de auferir uma determinada renda e ainda
evitar que venham a perder sua capacidade laborativa (BECCARIA, 1999).

No entanto, enquanto o Estado e a própria sociedade continuarem negligenciando a


situação do preso e tratando as prisões como um depósito de lixo humano e de seres
inservíveis para o convívio em sociedade, não apenas a situação carcerária, mas o problema
de segurança pública e da criminalidade como um todo tende apenas a agravar-se.
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A sociedade não pode esquecer que 95% do contingente carcerário, ou seja, a sua
esmagadora maioria é oriunda da classe dos excluídos sociais, pobres,
desempregados e analfabetos, que, de certa forma, na maioria das vezes, foram
"empurrados" ao crime por não terem tido melhores oportunidades sociais. Há de se
lembrar também que o preso que hoje sofre essas penúrias dentro do ambiente
prisional será o cidadão que dentro em pouco, estará de volta ao convívio social,
junto novamente ao seio dessa própria sociedade (BECCARIA, 1999).

Chama-se a atenção que a ideia é a efetivação e aplicação das garantias oferecidas pela
Lei quanto à execução da pena, o respeito ao apenado, no cumprimento da Princípio da
Legalidade constante da Carta magna de 1988.

3. IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE EXECUÇAO PENAL.

3.1. As penitenciárias brasileiras

Não é novidade nenhuma que as condições de detenção e prisão no sistema carcerário


brasileiro violam os direitos humanos, fomentando diversas situações de rebelião onde, na
maioria das vezes, as autoridades agem com descaso, quando não com excesso de violência
contra os presos. A Constituição Federal prevê, em seu artigo 5°, inciso XLIX, a salvaguarda
da integridade física e moral LIX). Chamar nossas cadeias e penitenciárias de prisões é um
elogio desmerecido. O que existe no Brasil são verdadeiras masmorras, depósitos humanos de
excluídos formalmente separados dos “presos desviados”, ou seja, aqueles “bons cidadãos”
que por uma razão ou outra cometeram um “equívoco” e tiveram sua liberdade privada. São
os chamados “presos especiais”, com direito a regalias como comida especial, televisão,
jornais, revistas e outras regalias que não cabem ao denominado “povão”.

As causas de tanta desigualdade dentro das prisões brasileiras são muito simples:
faltam recursos para oferecer dignidade aos detentos, seja por meio de melhores condições de
saúde, higiene e espaço dentro das instalações. Vejamos, rapidamente, alguns destes tópicos
que transformam nossas cadeias em verdadeiras fábricas de desumanidade:
a. Superlotação

Estima-se que a capacidade de nossas penitenciárias é tem muito poucas vagas para a
quantidade de detentos, e, surgindo ainda mais todos os dias, inclusive, em sua maioria crimes
violentos ou hediondos. A população carcerária em nosso país está em torno de milhares de
internos, verificando-se que ainda faltam muitas e muitas mil vagas para comportar de forma
mais humana todo este contingente. Como este excesso de presos precisam ser relocados.
Neste sentido, o Brasil carece, hoje, novos presídios para aliviar a pressão das demais
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penitenciárias existentes. Entretanto, estes dados não são confiáveis, pois alguns setores
extraoficiais que trabalham de perto com o sistema carcerário, afirmam que algumas vagas
vêm sendo ocupadas por cerca de cinco ou seis presos, o que configura nossas cadeias como
“depósitos de presos”.

A superpopulação gera os mais preocupantes efeitos, como promiscuidade, falta de


higiene, comodidade etc. Em alguns Estados, devido à superlotação das delegacias de polícia
ou pequenas cadeias públicas, muitas mulheres são colocadas em celas masculinas e terminam
estupradas.

Observando-se que algumas celas possuem apenas 12 metros quadrados e que muitas
chegam a comportar seis presos sentados ou de pé, a situação passa de grave à gravíssima. As
prisões brasileiras encontram-se abarrotadas, sem as mínimas condições dignas de vida,
contribuindo ainda mais para desenvolver o caráter violento do indivíduo e seu repúdio à
sociedade que ele acusa de tê-lo colocado ali.

b. Falta de higiene e assistência médica social

Muitos dos presos estão submetidos a péssimas condições de higiene. As condições


higiênicas em muitas cadeias são precárias e deficientes, além do que o acompanhamento
médico inexiste em algumas delas. Quem mais sofre pela carência de assistência médica são
as detentas, que necessitam de assistência ginecológica. Além disso, muitas penitenciárias não
possuem sequer meios de transporte para levar as internas para uma visita ao médico ou a
algum hospital. Os serviços penitenciários são geralmente pensados em relação aos homens,
não havendo assistência específica para as mulheres grávidas, por exemplo. Sanitários
coletivos e precários são comuns, piorando as questões de higiene. A promiscuidade e a
desinformação dos presos, sem acompanhamento psicossocial, levam à transmissão de AIDS
entre os presos, muitos deles sem ao menos terem conhecimento de que estão contaminados.
Muitos chegam ao estado terminal sem qualquer assistência por parte da direção das
penitenciárias.

Além disso, o mesmo relatório constata que muitos presos não recebem qualquer
assistência visando prover suas necessidades básicas de alimentação e vestuário. Muitos
sofrem com o frio, outros acabam se molhando em dias de chuva e permanecem com a roupa
molhada no corpo, causando doenças como gripes fortes e pneumonias. Para diminuir esta
escassez, muito guardas são “subornados” por parentes dos detentos que lhes providencia
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mais comida e roupas em troca de dinheiro. A possibilidade fática de um acompanhamento


médico adequado evitaria que certas situações de maus tratos, espancamentos e outras
violências contra os encarcerados ficassem sem a devida apuração e socorro.

c. Falta de acesso à educação e ensino profissionalizante

Uma antiga máxima popular diz que “mente vazia é a oficina do diabo”. Este
provérbio não poderia ser mais adequado quando se trata da vida carcerária. O indivíduo
privado de sua liberdade e que não encontra ocupação, entra num estado mental onde sua
única perspectiva é fugir. O homem nasceu para ser livre, não faz parte de sua natureza
permanecer enjaulado. Algumas raríssimas cadeias ainda oferecem certas condições que
superam a qualidade de vida do preso se estivesse do lado de fora. Ainda assim, o sentimento
de liberdade sempre é maior e mesmo estas cadeias acabam vivenciando rebeliões de fuga.
Preso que não ocupa seu dia, principalmente sua mente, é um maquinador de ideias, a maioria
delas, ruins. O presídio é um sistema fechado onde o encarcerado é obrigado a conviver,
permanentemente, com outros indivíduos, alguns de índole igual, melhor ou pior. A ideia de
todo presidiário é que sua vida acabou dentro das paredes da cadeia e que não lhe resta mais
nada. Amparo psicológico é fundamental, pois nenhum ser humano vive sem motivação.
Presídio sem ocupação se torna uma escola “às avessas”: uma formadora de criminosos mais
perigosos.

Por não ter um estudo ou ocupação, consequentemente, carecer de um senso moral que
a vida pré-egressa não conseguiu lhe transmitir, a personalidade do preso passa a sofrer um
desajuste ainda maior. Sua única saída é relacionar-se com os demais presos e intercambiar
com ele suas aspirações, valores e visões de mundo, quase sempre distorcidas. Passa a
adquirir novos hábitos, que antes não tinha, enfim, transforma-se num indivíduo pior do que
quando entrou. Além disso, distúrbios psicológicos que já possuía antes de vir para o presídio
se agravam, justamente por se ver inserido num novo contexto social, repleto de hostilidades
e desrespeito.

Grande parte dos apenados não possuíram escolhas ao longo da vida que tiveram antes
de serem aprisionados, muitas vezes nem estudar ou até mesmo trabalhar, tendo assim, a
chance de traçar um novo rumo para si. Neste contexto, a partir da sentença conferida pelo
juiz, seria coerente que o Estado oportunizasse ferramentas para que este indivíduo tenha
mais chances ao término do cumprimento da sua pena. Sendo dada maior ênfase ao estudar,
em especial aos cursos técnicos, cursos profissionalizantes.
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Além de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os detentos precisam
ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se obscurecidos pelo
estigma do crime. Existem casos de detentos que demonstram dotes artísticos, muitos deles se
revelando excelentes pintores de quadros e painéis de parede, além de habilidades com
esculturas, montagens, modelagens, marcenaria etc. Também, decoram as celas de acordo
com sua criatividade e sua personalidade.

Estas artes devem ser incentivadas, pois é uma forma de ocupar o preso, distraindo-o e
aumentando sua autoestima. É a chance de mostrar a ele de que existe a esperança de um
amanhã melhor além das grades que o separam do mundo exterior. A visão à cerca do
criminoso é que, a partir do delito ele se torna um indivíduo à parte na sociedade, e que seu
isolamento dentro de uma prisão significa a perda de toda a sua dignidade humana devendo,
por isso, ser esquecido enquanto pessoa humana, e ignora-se que os direitos humanos valem
para todos, sejam criminosos ou não. Infelizmente, no Brasil, a vida de pessoas pobres ou
criminosos tem menos valor.

d. Violência Policial

Antes de prosseguir com o estudo da exclusão vivida pelos detentos, analisemos a


violência policial que se faz presente em nosso país e vigora há muito tempo. Tornou-se
realmente explícita durante o Regime do Estado Novo (1937-1945) e no Regime Militar
(1964-1985), onde o alvo desta violência eram todos aqueles que não aceitavam a forma de
poder ditatorial ou questionavam os atos de seus governantes.

Não se pretende aqui justificar a Ditadura, a qual vai imediatamente contra os


princípios universais de liberdade convencionados na Carta de 1948, mas deve-se fazer uma
diferença entre a violência policial atuante num Regime ditatorial e aquela vigente num
Regime democrático. No primeiro, o Estado atua com “mão-de-ferro” e o poder não emana do
povo, pelo contrário, a ele é superior, ferindo todos os preceitos de um ideal democrático e
sujeitando a massa de cidadãos à vontade de um governante dominado pela ideia de conduzir
sozinho o destino de uma nação conforme suas convicções particulares.

Nada mais “natural” que a polícia espelhe na prática o real cumprimento deste
“poder”, estando a ele subordinado e por ele seja atuante, sendo mais particularmente evidente
no Regime militar. Ocorre uma “pressão psicológica” sobre o indivíduo detentor do poder de
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polícia e que cumpre os mandos e desmandos de seus superiores em garantia de sua própria
integridade.

Trata-se, mais ou menos, de um estado de necessidade, porém, sob violência


injustificada, visto que nenhuma forma de violência é justificável, a não ser para a proteção da
vida e da integridade humana. Some-se a isso o fato de que a polícia brasileira sempre foi
indisciplinada e uma das características principais é o despreparo do corpo policial.
(PINHEIRO, 1982)
No regime democrático, a aparente “justificativa” para a prática de atos de violência
policial em prol da própria integridade não existe. O poder emana do povo (ou pelo
menos se espera que emane), a quem cabe escolher seus representantes e em nome
de quem este poder será exercido. À polícia não existe mais o sentimento
“intrínseco” de cumprir ordens que criem atos violentos pelo simples fato de se estar
subordinado a um poder superior, inexistindo também o receio de punição pela
violência “não cumprida”. (PINHEIRO, Paulo Sérgio, 1982, p, 65)

Existe tão somente o “dever legal” de manter a ordem e a disciplina no meio social,
sendo a violência arguida apenas em casos extremos de hostilidade, e não pelo fato do
cidadão usufruir seu direito de liberdade de ir e vir, de expressão etc.

Um ponto essencial que deve ser evidenciado quanto à violência é o fato de que a
maioria de suas vítimas são geralmente os membros das camadas mais pobres e menos
abastadas da população. Estes segmentos da sociedade são considerados classes perigosas por
acreditar-se serem um ameaça às classes mais abastadas, ocorrendo um processo de “seleção”
onde todo criminoso deve ter características como pobreza, desnutrição, inteligência limitada,
preferivelmente negro ou mulato etc.

Tal visão distorcida que impera no meio social, somada à indisciplina de uma polícia
que sempre bateu, espancou e torturou, que repele a violência com mais violência, e que
forma Esquadrões da Morte e grupos de extermínio, demonstra a total ignorância dos
princípios básicos dos direitos humanos, cujas garantais fundamentais foram incluídas na
Carta Magna que completa dez anos. Entretanto, é necessário mais que a promulgação dos
princípios constitucionais, mas vontade política do governo brasileiro para fazer viger as
normas constitucionais. Tanta violência policial que vem à tona revela um dado importante:
antigos e pavorosos defeitos da polícia ainda existem, mesmo depois de sepultada a ditadura
militar. Existe extorsão, tortura, assassinato, sequestro, omissão, mentira, insubordinação e até
envolvimento com tráfico de drogas.
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É necessário, antes de tudo, civilizá-la, reeducando os policiais envolvidos em atos de


violência e reformulando o treinamento dos policiais, da fiscalização de suas ações e no
julgamento destes.

e. Presídios e direitos humanos

Os direitos individuais fundamentais garantidos pela Constituição Federal visam


resguardar um mínimo de dignidade do indivíduo. Depois da vida, o mais importante bem
humano é a sua liberdade.
Seguindo, advém o direito à dignidade. Infelizmente, dignidade não é algo que vê com
frequência dentro de nossos presídios. Muitas prisões não têm mais a oferecer aos seus
detentos do que condições subumanas, o que constitui a violação dos Direitos Humanos. A
realidade nua e crua é que os presidiários, em nosso país, são maltratados, humilhados e
desrespeitados em sua dignidade, contribuindo para que a esperança de seu reajuste
desapareça justamente por causa do ambiente hostil que se lhe apresenta quando cruza os
portões da penitenciária. Tanto a qualidade de vida desumana quanto a prática de medidas
como a tortura, por exemplo, dentro dos presídios, são fatores que impedem o ser humano de
cumprir o seu papel de sujeito de direitos e deveres.

Na verdade, diante da prática, o preso brasileiro possui mais deveres do que direitos. A
realidade cercando a vida dos detentos não mudará da noite para o dia. (NOGARE, 1990).
Esta mudança requer vontade política, técnica e financeira necessárias, visando objetivos a
curto, médio e longo prazo, mas em caráter de absoluta urgência. Se o ser humano é a
essência de todas as instituições, o aperfeiçoamento do aparelho penitenciário exige uma
abordagem humanista, que vise desenvolver e dignificar o presidiário (NOGARE, 1990).

4.2. A Lei de Execução Penal.

A Lei de Execução Penal tem como objetivos primordiais o efetivo cumprimento das
disposições da sentença ou decisão criminal e a proporção ao condenado de condições para a
sua harmônica integração social. O permanente estado crítico em que se encontram as
penitenciárias do país, que por falta de vagas faz com que seres humanos sejam amontoados
em cubículos, como animais irracionais, retirando-lhes a pouca dignidade que porventura
ainda lhes restam.

Ainda que o Código Penal trate dos regimes prisionais em seu art. 33 e seguintes,
positivando as condições de cumprimento da pena e seus respectivos regimes, o que vemos na
17

realidade, é que os sentenciados, a partir do trânsito em julgado da sentença penal


condenatória, não adquirem o direito subjetivo de cumprir sua pena nos exatos termos da
condenação. Diante desses fatos e em atenção ao milenar princípio de que a lei que agravar a
situação do réu deve ser interpretada sempre de modo mais favorável, é que o presente
trabalho tem como objetivo discutir as mazelas do sistema penitenciário brasileiro, assim
como inserir um artigo na Seção V, na Lei de Execução Penal para reverter o tão alegado
constrangimento ilegal e os inúmeros recursos aos Tribunais Superiores.

4.3. O Sistema prisional brasileiro e a sua relação com a violação aos direitos humanos

A mais grave, senão uma das mais Uma das graves violações suportadas pelos
apenados é o caso da superlotação das cadeias e presídios. Temos como exemplos:
Pernambuco, Rio Grande do Norte, e o famoso presídio de Pedrinhas, o melhor exemplo aqui
a ser dado. São celas com pouco espaço, sem local para dormir, muitas vezes, o preso dorme
de pé, encostado na parede, entre outras situações que fogem ao propósito de ressocialização,
além do que facilita aquele preso de pequena periculosidade está em contato bem próximo ao
seu oposto. Nestes termos existe em uma grave falta de respeito no que concerne às
condições mínimas estipuladas na Lei de Execução Penal Brasileira, e, também nos
documentos internacionais emitidos por órgãos responsáveis pelo cumprimento dos direitos
de todo e qualquer ser humano.

As Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos é uma Resolução de 31 de agosto


de 1955. É sempre dito que no Brasil, não há como ressocializar uma pessoa em presídios sem
a mínima condição de higiene, limpeza e divisão por crimes, sem contar a ociosidade absoluta
destes indivíduos, pois cada preso tem seu perfil. Sabe-se que a instituição prisional se
estabelece com a finalidade de punição e ressocialização do indivíduo que cometeu um delito
contra a sociedade. Só que, no caso dos presídios brasileiros, ele sai em piores condições do
que entrou, inclusive não há programas efetivos para que a sociedade o aceite novamente
como um dos seus membros.

É a instituição [prisão] na qual se garantem as violações de diretos básicos da


pessoa. Então, tudo o que vai a favor do direito de alguém é quebrado. A regra está
ali para quebrar os direitos básicos da pessoa. A pessoa é presa para lhe ser retirada
a liberdade de ir e vir. Todos os demais direitos são garantidos pela lei, porém todos
acabam violados por essa instituição (PINTO, 2008, p. 145)
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Ademais, alega normatização a respeito do provimento de “materiais para higiene


pessoal, vestuário e roupa de cama, alimentação, e serviços médicos”. Estas normatizações
fazem parte da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), na Seção II.
Entretanto, a contemporaneidade da situação real no Brasil está bem distante destas
normas. A disparidade é infinitamente gritante. Rebeliões, relatos de apenados, de parentes e
dos próprios agentes carcerários que chegam a correr risco de perder a vida, deixam claro que
nada disso é cumprido dentro do sistema penitenciário do Brasil.

Não são apenas estes fatores que deixam claro o desrespeito aos direitos humanos nas
prisões brasileiras. O indivíduo que cometeu um ilícito é, claro e evidente, que deve pagar
pelo seu erro perante a sociedade com base na lei penal vigente, mas, isso não se torna motivo
para que se possa trata-lo de forma a que seus direitos sejam tolhidos. No caso de um
indivíduo cujo delito não tenha sido algo hediondo, violento ou de alta periculosidade. Todos
erram, todos são humanos; se tratado adequadamente, na forma da lei, ele pode vir a não mais
cometer atos marginais. Direitos humanos não é defender apenados é presar pela dignidade
humana de todo e qualquer indivíduo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Sistema Penitenciário Brasileiro há algum tempo é alvo de críticas e polêmica: a


problemática do sistema carcerário, suas consequências, suas finalidades, nada é recente. Ao
longo do trabalho, pôde-se concluir que a pena privativa de liberdade possui três objetivos,
quais sejam: punir, reprimir e principalmente ressocializar o indivíduo. Porém, é fatídico, que
atualmente, o egresso não possui nenhum auxílio que o ajude a se ressocializar, pelo
contrário, a sociedade o excluí de tal forma que o crime acaba sendo sua única forma de
sustento. O atual modelo penitenciário brasileiro está falido. O preso é submetido a condições
desumanas de encarceramento, delinquentes de alta periculosidade convivem em celas
superlotadas com presos provisórios ou criminosos de menor periculosidade sendo, portanto,
o estabelecimento prisional, indiscutivelmente a melhor escola do crime.

O ócio dentro das prisões é um fator bem agravante do atual sistema penitenciário. A
falta de estabelecimentos que propiciem ao condenado trabalhar é evidente e inaceitável. Se
durante o cumprimento de sua pena, o condenado tivesse oportunidade de trabalhar, com
certeza o índice de reincidência diminuiria consideravelmente, e essa seria a melhor maneira
de ressocializar o indivíduo, pois quando o mesmo tivesse sua pena cumprida ao voltar ao
convívio social, teria uma profissão, não precisando retornar ao mundo do crime.
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Outra maneira também eficaz de ressocialização seria a aplicação de penas alternativas


aos condenados primários submetido a uma pena privativa de liberdade considerada pequena,
pois o indivíduo considerado de baixa periculosidade não possui uma personalidade
totalmente distorcida, mas caso for submetido a uma prisão, convivendo com presos de todos
os tipos, certamente estará cercado por uma influência negativa, acabando dessa maneira por
corromper o caráter daquele que até então era considerado de baixa periculosidade. Desse
modo, a pena alternativa não livrará o delinquente de pagar pelo mal que fez, pois o mesmo
não estará cumprindo à pena dentro da prisão, mas com base na pena que lhe for imposta de
alguma maneira estará retribuindo o mal causado, servindo de lição para não reincidir, sendo
essa a finalidade ressocializadora.

É preciso ter presente que as pessoas presas não foram condenadas a passar fome, a
passar frio, a viver amontoadas, a virar pasto sexual, a contrair AIDS e tuberculose nos
estabelecimentos penais. Toda essa realidade que vigora no mundo dos excluídos significa
inconcebível exacerbação da pena. A sociedade, insegura, clama por penas maiores e mais
duras. O Ministério Público acata, sensivelmente, à pressão, quando atua contra os direitos
dos presos, ou mesmo quando não denuncia as precárias situações dos cárceres. O
crescimento da violência e as novas formas de criminalidade aumentam o estado de
insegurança em uma sociedade marcada pela falência do Estado.

O Direito Penal não pode deixar de acompanhar as mudanças sociais. São as classes
mais desfavorecidas que não se encaixam no contexto social, são elas que, sem advogados,
esperam meses para serem julgados. Esperam encarceradas. Quando criada, a pena de prisão
era a opção mais humana, diante dos castigos cruéis e degradantes que marcaram a história.
Atualmente, ela é prioridade em um sistema falido. Mesmo não comportando mais um Direito
Penal inchado, ela continua forte. As autoridades, legisladores, todos os operadores do
Direito, devem perceber que há alternativas. Penas restritivas de direito, métodos eletrônicos,
suspensão condicional de processos em crimes sem violência são medidas que tem por
objetivo desviar o foco na pena privativa de liberdade. Mudanças que trazem mais
humanidade ao Direito Penal e à vida dos milhares de cidadãos.

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