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SISTEMA PRISIONAL E MERCADO DE TRABALHO PARA EX-DETENTOS

José Ailton dos Santos1

RESUMO

O presente trabalho tem como escopo a discussão da ressocialização do preso no Brasil visando
demostrar a realidade do sistema prisional brasileiro, Abordando a superlotação dos presídios, a falta
de saúde, de higiene e segurança, fatores que dificultam ou impossibilitam a ressocialização do
apenado. Ressalta-se também o retorno do apenado a sociedade bem como o preconceito vivido por
ele e a dificuldade em ingressar novamente no mercado de trabalho e na vida em sociedade.
Pretende-se também mostrar as leis criadas com intuito de ressocializar o detento e as dificuldades
em aplicá-las.

Palavras chave: Sistema Prisional, Superlotação, Ressocialização, trabalho.

ABSTRACT

The present work has as its scope the discussion of the resocialization of the prisoner in Brazil, aiming
to demonstrate the reality of the Brazilian prison system, approaching the overcrowding of prisons, the
lack of health, hygiene and safety as factors that makes it difficult or impossible to resocialize the
convict. It's also noteworthy the return of the convicted to society as well as the prejudice experienced
by them and the difficulty in re-entering the job market and life in society. It is also intended to show
the created laws in order to resocialize the detainee and the difficulties in applying them.

Keywords: Prison System, Overcrowding, Resocialization, Work.

1. Bacharel em Serviço Social pela Universidade Anhanguera; Possui Licenciatura plena em língua
portuguesa e literatura brasileira pela Universidade Federal do Ceará; Pós-graduado em Psicoterapia
em intervenção em crise em prevenção do suicídio pela Faculdade Serra Geral; Trabalha no sistema
prisional do Ceará, há 34 anos como policial penal.
1. INTRODUÇÃO

Violência em si, significa cometer danos a uma pessoa pelo uso da força
(matar, ferir, prender, roubar, humilhar, explorar trabalho alheio etc.). Além disso, a
desconsideração pelo outro e a transgressão de uma norma social também
caracterizam violência.
Um assunto intimamente relacionado à sociedade brasileira e muitas vezes
esquecido por nossa sociedade é o sistema prisional brasileiro. O Brasil tem a
terceira maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para Estados
Unidos e China. Além da falta de condições de habilidades nos presídios, os
mesmos apresentam um alto índice de vacância.
A taxa de encarceramento no Brasil tem aumentado rapidamente e tornou o
sistema prisional mais instável. Na primeira parte desta monografia, foi discutida a
evolução das penas desde os tempos antigos até hoje, e comecei a falar sobre as
funções da pena.
Posteriormente, descreveremos os problemas enfrentados pelo sistema e
pelos status quo dos presos. Estes presos têm sido tratados de forma desumana e
degradante, chocando a sociedade com crimes mais violentos e cruéis, e reforçando
essa situação, positivamente vem relacionada a ressocialização e redução do crime.
Partindo desse princípio, o trabalho de conclusão de curso traz informações
contrarias a violência e acredita no lado social na humanização do ser. Errar é um
defeito humano que muitas vezes parece não ter mais perdão. Trata-se de uma
pesquisa bibliográfica, uma vez que a natureza das fontes investigadas serão os
livros, revistas, sites eletrônicos e artigos.
O tema em si é extremamente relevante, pois, com o fortalecimento das
organizações criminosas em todo pais, com consequente aumento da violência,
necessitamos encontrar de forma urgente, dentro do sistema prisional brasileiro,
partindo dessa nossa análise, os seus problemas estruturais, suas falhas, mas
também, seus investimentos e acertos na busca de novas formas de tornar o
sistema prisional mais seguro, mais eficiente em suas politicas de ressocialização.
2. CONCEITO E FUNÇÃO DE PENA

Entende-se por pena, segundo a Constituição Federal em seu art. 5º, XLVI,
um rol de penas a serem impostos aqueles que cometem infrações penais:
privação de liberdade ou restrição de liberdade, perda de bens, multa,
prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos.
Considerando que esse rol é exemplificativo, ao legislador cabe cominar as
penas que considerar mais convenientes, devendo somente se ater as
vedações constantes do art. 5º, XLVII: pena de morte (salvo em caso de
guerra declarada), de caráter perpetuo, de trabalhos forçados, de banimento e
cruéis.
Não tem como reconhecer uma data de inicio exata da pena na história
da humanidade, de certa forma é possível se constatar que ela surgiu com
intuito reparar a vingança.
Na era primitiva, o homem criava seu clã (família) e para protegê-lo,
criou o pacto de sangue, que era matar o membro do clã diverso do seu,
porque acreditava que pessoas que não faziam parte do seu clã lhes fariam
mal.
E dessa forma começaram a formar guerras sangrentas onde inocentes
e crianças eram sacrificadas.
A partir dessas guerras sangrentas que surgiu o código de Hamurabi
(1.770 a.C), mais conhecido como “Olho por olho, dente por dente”, esse é
considerado o primeiro código de leis com intuito de punir.
E a partir do Código de Hamurabi foi passado o direito de punir das
comunidades a um ente estatal, ao qual regulamentava a punição de uma
determinada sociedade.
Muitos anos se passaram e com a evolução dos tempos, hoje podemos
falar sobre pena de forma diferente e mais humana.
Durante a passagem de vários anos, surgiram teorias que buscam explicar ou
entender a verdadeira função da pena, comparando-a com os comportamentos
sociais de cada época e sua organização Estatal, e acima de tudo analisar o
condenado como sujeito passivo da atuação dela.
A princípio, a pena era vista com um meio de castigar ao condenado o mal
por ele causado, decorrente do ato ilícito causado por ele. Posteriormente, foi frisado
o caráter preventivo, e após isso surgiu as teorias mistas que buscavam a
conciliação das teorias absolutas e as relativas.
Por fim, podemos afirmar que pena é a forma imposta pelo Estado para que o
indivíduo seja penalizado pelo crime por ele cometido, seja essa penalização a
privação de liberdade ou a restrição de um bem jurídico. Com o intuito de prevenir
de outros crimes e ressocializar o indivíduo para a sociedade.
Para Capez (2012, p. 384):

“a pena é definida como prevenção especial porque, esta objetiva a


readaptação e a segregação sociais do criminoso como meios de
impedi-lo de voltar a delinquir. A prevenção geral é representada pela
intimidação dirigida ao ambiente social, pois acaba por intimar as
pessoas para que não pratique crime, devido receio de ser punida.”

Prevê o Código Penal, especificadamente em seu artigo 59, que as penas


devem ser necessárias e suficientes a reprovação e prevenção do crime, ou seja,
aplicada sirva como resultado justo entre o mal praticado, a conduta realizada pelo
agente e a prevenção de futuras infrações penais, sem, contudo, ofender os direitos
de personalidade e a dignidade humana do condenado.
E neste sentido surgem as Teorias das penas, começamos falando sobre a
Teoria Absoluta, que advogam a tese da retribuição. Deste modo, a pena seria a
imposição de um mal necessário diante de seus atos negativos que prejudicam a
sociedade e a integridade do Estado.
Kant, em suas teses defendia a Teoria Absoluta, dizendo que cada um tem o
castigo segundo a conduta ilegal que cometeu e na medida do mau que causou a
coletividade.
Na mesma linha de pensamento Hegel afirmava que a pena vem para retribuir
a má conduta do Indivíduo, sendo estabelecida conforme a espécie do delito e na
medida do mal causado a coletividade.
Ou seja, para essa teoria a pena é apenas uma punição, servindo apenas de
castigo para pagar o mal feito pelo “mal”.
3. RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

Segundo o dicionário online, ressocializar, significa:

“Inserção em sociedade; processo de ressocializar, de voltar a


pertencer, a fazer parte de uma sociedade: ressocialização de presos
ou encarcerados”

Ressocializar tem origem em sociedade e se refere no retorno do convívio


social de um ex-preso. A pena (punição) tem o fim de reeducar o preso, no sentido
de não vir mais a cometer delitos.
Embora possamos dizer que os estabelecimentos penais brasileiros não
dispõem programas que produza bons efeitos para que a ressocialização realmente
aconteça, ressocializar seria nada mais do que reformar, reeducar, reintegrar um
indivíduo que por algum fator cometeu uma ato ilícito e que depois de cumprido sua
pena e reformado merece voltar a sociedade e ser dignamente tratado com
equidade pela sociedade.
Portanto, é possível perceber que ressocialização é geralmente vista como:
reforma, reeducação e reintegração de pessoas que sabiam viver na sociedade,
porém por algum motivo cometeu uma atitude ilícita (crime) se tornando por esse
lado óbvio objetivo da ressocialização.
O infrator deve ser considerado um indivíduo com o seguinte potencial para
superar possíveis dificuldades que o levaram a cometer aquele crime e capazes de
ser reintegrado à sociedade.
Nesta visão explica Goya que:

Orienta esforços no sentido de dotar tais pessoas com


conhecimentos capazes de estimularem a transformação da
sociedade vigente. [...] a finalidade seria restabelecer ao delinquente
o respeito por estas normas básicas, tomando-o capaz de
corresponder no futuro às expectativas nelas contidas, evitando
assim, o cometimento de novos crimes, a reincidência, mas
deparados com o nosso atual sistema podemos sintetizar uma
diminuição do efeito e alcance da finalidade pretendida”( 1993, p. 18-
20)

Deste modo, ressocialização nada mais é do que reformar reeducar, dar


autoconfiança e prepará-lo para o convívio novamente em sociedade.
A Lei de Execução Penal e a Ressocialização

A LEP tem como objetivo a execução da pena e a ressocialização do detento,


ou seja, essa lei foi criada para assegurar que a lei será cumprida pelo judiciário
através do acompanhamento do juiz da execução, juntamente com os órgãos
competentes e a executividade da pena pelo detento.
A respeito do objetivo da pena leciona Mirabete:

A execução Penal tem como princípio promover a recuperação do


condenado. Para tanto o tratamento deve possibilitar que o
condenado tenha plena capacidade de viver em conformidade com a
lei penal, procurando-se, dentro do possível, desenvolver no
condenado o senso de responsabilidade individual e social, bem
como o respeito a família, as pessoas, e a Sociedade em geral.
(2006 p. 62)

Nesse sentido podemos observar que para a ressocialização acontecer,


precisamos efetivamente da colaboração de ambas as partes, a aplicação da lei
corretamente aplicada pelo judiciário e a doutrina do condenado ao cumprimento da
pena pelo apenado. Ou seja, a LEP dispõe que todos os direitos e deveres do
apenado sejam respeitados no cumprimento da pena e ao Estado o poder coercitivo
de punir aquele que cometeu algum crime.
Além disso, e o mais importante é que a LEP vêm nos trazer as possibilidades
de o sistema penitenciário ressocializar o indivíduo.
É a LEP que dispõe sobre o trabalho como forma de progressão de regime,
para que o detento se sinta como se não estivesse sendo excluído da sociedade.
Assim dispõe a Lei de execução Penal:

Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de


dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva.

Portanto é importante salientar que ao detento que tenha a oportunidade de


trabalhar no cumprimento de sua pena, será remido se 1(um) dia de pena a cada
3(três) dias de Trabalho.
Também a Lei de Execução dispõe sobre a assistência educacional também
como forma de ressocialização. Vejamos:
Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar
e a formação profissional do preso e do internado

Vale destacar que através da Lei 12.433/2011, foi alterado os artigos 126,127,
128 e 129 da LEP para dispor sobra a remissão também por estudo. Esta remissão
acontece de 1(um) dia de pena a cada 12 horas de comparecimento escolar.
Segundo Albergaria, a Lei de Execução Penal visa alcançar a reintegração do
apenado na sociedade:

Inegavelmente, a lei de execução penal será o principal instrumento


jurídico para a realização da política penitenciária nacional. Seu
objetivo maior é transformação do estabelecimento prisional em
escola de alfabetização e profissionalização do preso, para inseri-lo
como força produtiva na população ativa da nação, e, sobretudo,
como cidadão numa sociedade mais humana, fraterna e democrática
(1996 p. 21).
Deste modo, a Lei de Execução Penal dispõe sobre este tema:
Art. 32: Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a
habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do preso,
bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado.
§ 1o - Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem
expressão econômica, salvo nas regiões de turismo.
§ 2o - Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação
adequada à sua idade.
§ 3o - Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão
atividades apropriadas ao seu estado.
Cumpre dizer que, segundo a Lei de Execução Penal brasileira,
sendo obrigatório o trabalho é necessário que este seja remunerado,
de modo que o Estado fica responsável por prever a destinação
deste rendimento.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia
tabela, não podendo ser inferior a três quartos do salário mínimo.
§ 1 O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que
determinados judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a
manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem
prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2 Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte
restante para constituição do pecúlio, em caderneta de poupança,
que será entregue ao condenado quando posto em liberdade.

Destarte, que seria muito bom se realmente isso acontecesse efetivamente,


pois não é o que encontramos, a superlotação carcerária faz com que esses
recursos não cheguem a todos, ou seja, hoje o condenado mesmo possuindo o
direito desses recursos não tem acesso a eles, ficando a maior parte do tempo
ocioso.

Recomendação Nº 44 – CNJ

O CNJ através da recomendação Nº 44 dispõe sobre a possibilidade da


remição da pena por meio do desenvolvimento de “atividades complementares”.
Essas atividades complementares seriam realização de atividades
educacionais não formais, como curso de línguas, práticas esportivas, obtenção de
certificado do ensino fundamental ou médio por meio de exames nacionais e pôr fim
a participação do detento em projetos de leitura.
Prevê o art. 1°, inciso V, “b” e “e”, da recomendação dispõe o apenado
receberá um exemplar de obra literária, clássica, científica ou filosofia e terá o prazo
de 21 a 30 dias para a leitura da obra e apresentação, ao final, de uma resenha a
respeito do assunto. Podendo remir de quatro dias de pena “e ao final de até 12
(doze) obras efetivamente lidas e avaliadas, a possibilidade de remir 48 (quarenta e
oito) dias, no prazo de 12 (doze meses), de acordo com a capacidade gerencial da
unidade prisional”. Vejamos:

V - Estimular, no âmbito das unidades prisionais estaduais e federais,


como forma de atividade complementar, a remição pela leitura,
notadamente para apenados aos quais não sejam assegurados os
direitos ao trabalho, educação e qualificação profissional, nos termos
da Lei n. 7.210/84 (LEP - arts. 17, 28, 31, 36 e 41, incisos II, VI e VII),
observando-se os seguintes aspectos:
b) assegurar que a participação do preso se dê de forma voluntária,
disponibilizando-se ao participante 1 (um) exemplar de obra literária,
clássica, científica ou filosófica, dentre outras, de acordo com o
acervo disponível na unidade, adquiridas pelo Poder Judiciário, pelo
DEPEN, Secretarias Estaduais/Superintendências de Administração
Penitenciária dos Estados ou outros órgãos de execução penal e
doadas aos respectivos estabelecimentos prisionais;
e) procurar estabelecer, como critério objetivo, que o preso terá o
prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para a leitura da obra,
apresentando ao final do período resenha a respeito do assunto,
possibilitando, segundo critério legal de avaliação, a remição de 4
(quatro) dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras
efetivamente lidas e avaliadas, a possibilidade de remir 48 (quarenta
e oito) dias, no prazo de 12 (doze) meses, de acordo com a
capacidade gerencial da unidade prisional;
Conforme o artigo 1º, inciso V, “f”, da Recomendação, os trabalhos
produzidos serão analisados por uma comissão organizadora, que deverá observar
aspectos relacionados à compreensão e compatibilidade do texto com a obra
trabalhada. O resultado da avaliação será encaminhado ao Juiz da Execução Penal
competente, para que decida sobre o aproveitamento da leitura realizada e conceda
ao reeducando a remição da pena, após a oitiva do Ministério Público e da defesa.
Vejamos:

f) assegurar que a comissão organizadora do projeto análise, em


prazo razoável, os trabalhos produzidos, observando aspectos
relacionados à compreensão e compatibilidade do texto com o livro
trabalhado. O resultado da avaliação deverá ser enviado, por ofício,
ao Juiz de Execução Penal competente, a fim de que este decida
sobre o aproveitamento da leitura realizada, contabilizando-se 4
(quatro) dias de remição de pena para os que alcançarem os
objetivos propostos;

Enfatiza-se que o CNJ com essa resolução pretendeu inicialmente estimular a


leitura dentro das penitenciarias, com intuito de acabar com a ociosidade dos
detentos. Lembrando que deve ser feita por livre iniciativa do detento e vale também
para aqueles que cumprem prisão cautelar.

As penas Privativas de Liberdade e as Barreiras da Ressocialização

As penas privativas de liberdade hoje se tornaram o meio mais comum de se


punir um delito.

“A crise da pena de morte deu origem a uma nova modalidade de


sanção penal: a pena privativa de liberdade, uma grande invenção
que demonstrava ser meio mais eficaz de controle social” (Cezar
Roberto Bitencourt 2011, p. 49)”

Com o descaso em que o sistema Prisional Brasileiro se encontra nos dias de


hoje, tiramos a conclusão de que a pena privativa de liberdade não está cumprindo
com seu dever legal de “Prevenir, punir e Ressocializar o criminoso”.
E daí vem a reflexão como queremos que o detento aprenda, se ressocialize
e reintegre a sociedade se o tratamos da pior forma possível, se não garantimos a
ele os direitos que são constitucionais.
Neste sentido leciona Nogueira:

“Pretensão de transformar a pena em oportunidade para promover a


reintegração social do condenado esbarra em dificuldade inerente ao
próprio encarceramento” (1996 P.7)

Podemos destacar que dentro dos presídios se encontram as organizações


criminosas, que ditam a lei dentro do encarceramento e as obrigam a ser cumpridas,
ou seja, o indivíduo passa a ter que cumprir as leis impostas por eles, mesmo sem
querer, sem opção.
Portanto, mesmo não sendo visível muitas vezes pelos olhos da sociedade,
um dos lugares onde as organizações criminosas mais atuam é dentro dos
presídios, começando dentro dos presídios e se expandindo para fora, assim explica
Amorim:

O “crime organizado” também se manifesta nas rebeliões


carcerárias. Presídios destruídos, incêndios, adversários das
gangues enforcados e decapitados, um horror. Depois do conhecido
“massacre do Carandiru” (2 de outubro de 1992, quando 111 presos
foram assassinados pela tropa de choque da PM paulista), nenhum
governo teve coragem de mandar invadir uma cadeia “virada”. Nas
prisões do Rio de Janeiro controladas pelo Comando Vermelho, às
seis horas da tarde, os detentos fazem “a hora da Ave Maria”: alguns
rezam de verdade, todas as atividades são suspensas, mas a
maioria recita numa cantilena o estatuto da organização. Em São
Paulo, nas instituições de menores infratores, a mesma rotina: mas
os garotos presos cantam o hino do PCC. (2010, p. 11)

E aqui nos deparamos com mais uma barreira, pois aí passa a ter
conhecimento do mundo do crime e até se deslumbra com que momentaneamente
ele pode proporcionar, voltando a delinquir.
Vale ressaltar, que mesmo após o cumprimento da sua pena, e sem dever
mais nada, o indivíduo e visto com maus olhos pela sociedade, não tendo muitas
vezes uma oportunidade de recomeçar.
Destarte, de maneira indubitável que diante das condições de precariedade,
violência, superlotação, maus tratos e até a má recepção da sociedade em relação
ao ex-detento é quase impossível uma ressocialização.

4. O RETORNO À SOCIEDADE

A participação da sociedade no bom recebimento ao Ex-detento é


fundamental para que essa ressocialização se concretize. Isso se torna importante
para que o apenado se sinta parte da sociedade novamente.
Infelizmente metade da nossa sociedade ainda leva em consideração aquela
frase “Bandido bom é bandido morto”, essa foi uma pesquisa realizada pelo IBOPE
em 2018. Vejamos:

Os brasileiros também foram questionados se “ir para a prisão é a


melhor forma de se pagar por um crime, não importa a gravidade”.
Mais da metade (54%) concordam com a afirmação, 30% discordam
e 14% não concordam e nem discordam.
Para a afirmação em “certos casos é justificável que a polícia use
métodos violentos para obter a confissão de criminosos”, 46%
discordam, 38% concordam e 14% não concordam e nem discordam.
Os moradores das periferias são os que mais discordam dessa
sentença: 53%. (Ibope 2018)

Para Carnelutti (1995, p.21):

“O encarcerado, saído do cárcere, crê não ser mais


encarcerado; mas as pessoas não. Para as pessoas ele é sempre
encarcerado; quando muitos e diz ex-encarcerado; nesta fórmula
está a crueldade do engano. A crueldade está no pensar que, se foi,
deve continuar a ser.”

A sociedade tem uma visão de que a prisão torna o indivíduo em uma pessoa
pior, não dando a ele a oportunidade de reintegrar à sociedade, olhando para ele
com preconceito, esquecendo de que todos nós estamos sujeitos a erros e que
todos merecem sim uma segunda chance.
Neste sentido leciona Greco (2011 p. 14):

O sistema prisional agoniza, sendo que a sociedade não se importa


com isso, pois acredita que os apenados merecem esse sofrimento.
Entretanto, esquecem que aquelas pessoas que estão sendo
tratadas como seres irracionais, sairão um dia da prisão e voltarão ao
convívio em sociedade. Diante disso, questiona-se até que ponto a
sociedade ajuda na ressocialização do apenado?
Apesar de existir leis que dispõem sobre a obrigação do estado em dar
oportunidade para o indivíduo a reinserção a sociedade, isso não acontece na
prática. A falta de dignidade em que o preso é tratado dentro dos presídios, a
superlotação carcerária, espelha no olhar na sociedade, vendo o ex-detento apenas
como um bandido que merece ser morto e não como um ser humano, ou seja, esse
indivíduo não é aceito novamente pela sociedade , não é reintegrado por ela e por
muitas vezes volta a delinquir.

5. O MERCADO DE TRABALHO

Embora tenhamos muita dificuldade em ingressar o ex-detento no mercado de


trabalho, temos algumas boas ações sendo desenvolvidas pelo Brasil.
Desde 2009 em São Paulo temos um decreto que foi elaborado com intuito de
ingressar pessoas que foram presas, no mercado de trabalho, decreto Nº
55.126/2009, este estabelece programas pró-egresso como cursos de qualificações
profissionais e alocação no mercado de trabalho.
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) também criou em 2009 um projeto
chamado “Começar de novo”, também com intuito de capacitar o ex-detento com
cursos de qualificações e designar a novas oportunidades de emprego.

O Começar de Novo visa à sensibilização de órgãos públicos e da


sociedade civil para que forneçam postos de trabalho e cursos de
capacitação profissional para presos e egressos do sistema
carcerário. O objetivo do programa é promover a cidadania e
consequentemente reduzir a reincidência de crimes.
Para tanto, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou o Portal de
Oportunidades. Trata-se de página na internet que reúne as vagas
de trabalho e cursos de capacitação oferecidos para presos e
egressos do sistema carcerário.
As oportunidades são oferecidas tanto por instituições públicas como
entidades privadas, que são responsáveis por atualizar o Portal.
Além disso, os presidiários de todo o país contam com mais uma
ajuda fornecida pelo CNJ: a produção da Cartilha da Pessoa Presa e
da Cartilha da Mulher Presa. Os livretos contêm conselhos úteis de
como impetrar um habeas corpus, por exemplo, ou como redigir uma
petição simplificada para requerimento de um benefício. Esclarece
ainda sobre deveres, direitos e garantias dos apenados e presos
provisórios.

Também é possível encontrar pelo Brasil várias iniciativas privadas com o


mesmo intuito extra institucional. É o caso da ONG Chamada Responsa. Foi criada
por uma Ex-detenta Karine Vieira, hoje Assistente Social, essa ONG tem o objetivo
de inserir, manter e melhorar o processo de contratação de pessoas egressas do
sistema prisional. Trabalha com monitoramento, supervisão do egresso na empresa
por até 1 (um) ano , consultoria e mentoria ; onde realiza palestras e orientações
sobre a atuação com egressos ; processos seletivos , realizando a seleção de perfis
adequados para a empresa ; Capacitação profissional , para inserção do egresso no
mercado de trabalho ; análise de oportunidades , para combinar o egresso com a
melhor vaga para seu perfil ; Orientação profissional , visando o crescimento do
egresso no âmbito pisco- emocional e profissional. Atualmente tem parceria com 14
empresas e 80 empregados.
Para que realmente a ressocialização do detento aconteça é necessário
existir medidas eficazes que aconteçam desde o momento em que o indivíduo
ingresse ao sistema prisional, durante o período do cumprimento da pena, bem
como após sua saída da penitenciária.
Como já mencionado a LEP foi criada com intuito de reinserção do preso na
sociedade. Dentre as diversas disposições na LEP para esse fim, podemos citar a
remissão da pena, que pode ser alcançada através dos trabalhos e estudos
cumpridos pelo preso no cumprimento de sua pena.
O Trabalho no cumprimento da pena este regulamento no art. 33 da LEP e
não subordinam a CLT, limita-se a 8 (oito) horas diárias para jornada , e deve ser
remunerada pelo Estado , não podendo ter caráter aflitivo , e escravização , visando
a preparação do preso ao mercado de trabalho pós cumprimento de pena , também
regulamentada pela ONU , 1995).
Como um dos métodos para promover a ressocialização dos presos, a Lei
Penal adotou a ideia de que o trabalho prisional deve ser organizado o mais próximo
possível da sociedade, ou seja, os presos gozam de certos direitos trabalhistas no
trabalho, embora como mencionado anteriormente não seja subordinado a LT.
Embora saibamos existir muitos incentivos, os egressos ainda têm muita
dificuldade no momento de serem inseridos no mercado de trabalho. Ainda é muito
difícil acabar com esse preconceito de Ex-detento, exigindo ainda muita
compreensão da sociedade que infelizmente não colabora com a reinserção do
deste Ex-detento.
Importante lembrar, que todo e qualquer tipo de trabalho formal a ser exercido
pelo condenado, quer seja no âmbito interno (interior do presídio) ou no âmbito
externo, tem por objetivo inicial, cumprir com o ordenamento legal da Lei de
Execução Penal em todas aas ações que dizem respeito ao desenvolvimento
educativo e produtivo do preso, mas indo muito, além disso, contribui de forma
majestosa para o processo de ressocialização do mesmo, fortalecendo seus
vínculos, enaltecendo sua dignidade, concedendo-lhe respeito, por parte dos demais
detentos, serve de exemplo para que outros encarcerados busquem também essa
satisfação através do trabalho e do estudo, preparando-os de forma mais justa, mais
digna, e muito menos agressiva, dando-lhes a possibilidade verdadeira de ao findar
sua pena com seu retorno ao convívio social, possa ele se afastar do crime, e
buscar através da qualificação oferecida pelo sistema prisional brasileiro, um novo
caminho, uma nova vida, uma nova mentalidade e um emprego que contribua para
sua subsistência nessa nova oportunidade de vida.
Além do mais, não podemos negar : os benefícios que o trabalho do apenado
pode trazer, principalmente para ele próprio, mas também ajuda em relação aos
cofres públicos, uma vez que no artigo 29 da Lei de Execução penal está previsto
que a remuneração dada ao detento por consequência de seu trabalho, deve
atender à indenização dos danos causados pelo crime, desde sejam determinados
de forma judicial e não reparados por outros meios; valendo ainda para contribuir
com à assistência à família do condenado e ainda relacionada a pequenas despesas
pessoais do preso e por fim vale para ressarcir ao Estado pelas despesas
realizadas com a sua manutenção no sistema carcerário.
Por outro lado, sendo o trabalho um direito e dever do preso, cabe ao Estado
e juntamente com a sociedade civil fomentá-lo, dando condições para que seja
realizado, pois, a historia mostrou que a omissão, tem um custo social enorme,
podendo contribuir para os altos índices de reincidência carcerária no Brasil.
CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou a realidade do sistema prisional Brasileiro e a


possível ressocialização. Pode se destacar a evolução da pena desde a antiguidade
onde se castigava “olho por olho e dente por dente”, passando-se a função da Pena
e as penas no Brasil.
Podemos destacar a importância de se preservar a dignidade da pessoa
humana, que, no entanto, percebe-se que na prática não é preservado, e nem
cumprido os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, submetendo os
apenados ao cumprimento da pena em condições desumanas, sem assistência à
saúde, higiene e trancafiados em celas superlotadas.
Destarte que o único direito retirado do infrator, deveria ser o direito de ir e vir
devendo ser protegido os outros direitos tais como assistência jurídica, alimentação,
dignidade dentre outros. Pois embora o sistema se encontre em uma situação
lastimável deve ser garantida a punição de forma digna, pois sabemos que o
objetivo do encarceramento é punir o comportamento de alguém que cometeu algum
crime, portanto, pretende-se ressocializar para que possa se reintegrar na
sociedade.
É importante destacar que vivemos em uma sociedade preconceituosa e que
não recebe o egresso da melhor forma, não o apoia e não o reintegra à sociedade,
também não se vê esforço do estado para ajudá-lo a ingressar novamente no
mercado de trabalho, lhe deixando sem oportunidade e a mercê de reincidir.
Diante destes argumentos, cumpre observar que a Lei de Execução Penal é
um diploma preocupado com a ressocialização do preso, como manda os
organismos internacionais, entretanto ela não é respeitada no que tange a vários
direitos do apenado. Logo, é difícil ressocializar se faltam, em grande parte dos
estabelecimentos penais as mínimas condições de higiene e saúde, segurança entre
outras dificuldades que podemos encontrar.
Portanto, este trabalho se encerra esperando ter propiciado uma reflexão
sobre este tema, de vital importância para os operadores do Direito, uma vez que
cabe a eles zelar pelos direitos dos presos e, consequentemente pelo cumprimento
da Lei de Execução Penal bem como todas as outras. Neste sentido concluímos que
a Lei de execução penal é um diploma preocupado com a ressocialização do
detento, e que o elevado número de reincidentes no sistema prisional brasileiro não
é de responsabilidade das legislações, haja vista, possuímos legislações excelentes
e se cumpridas alcançariam o proposito ressocializador, porém as faltas de
operacionalização destas leis acabam por inviabilizar a ressocialização do preso.

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