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AUTORES:

CARLOS JUSTINO DE MELLO


LUIS MAURO ALBUQUERQUE ARAÚJO
Apostila de Intervenção prisional

I - INTRODUÇÃO

O Sistema Penal Brasileiro carece de profissionais capacitados para o exercício


das atividades relacionadas à intervenção em estabelecimentos penais. A Intervenção em
estabelecimentos penais faz-se necessária objetivando a preservação da vida dos que ali
trabalham, dos que cumprem pena e preservação do patrimônio. É decorrente do dever do
Estado a busca da manutenção da integridade física do custodiado e o “controle da
situação”.

Via de regra os criminosos cometem crimes, certos da impunidade. Quando há


falta de “controle do Estado” nos estabelecimentos penais, esta característica é
evidenciada. A cadeia deve ser disciplinada com procedimentos para que sua rotina diária
transcorra normalmente e de forma segura, com operações preventivas e rotinas de
controle sobre as ações criminosas.

Não deve existir qualquer tipo de “acordos” entre custodiados e servidores, tais
como: o custodiado não dá problema e a Direção do estabelecimento penal não o
incomoda. É preciso que haja procedimentos na rotina diária para combater o tráfico de
drogas, inibir a entrada de objetos não permitidos, inibir extorsões de custodiados e
visitantes, feitas por quadrilhas que agem no interior dos estabelecimentos penais.

Quando o poder público não tem o controle do ambiente carcerário, as quadrilhas


se fortalecem a ponto de desafiar o Estado, atacando seus servidores e demonstrando a
deficiência do sistema, uma vez que as maiores fontes de renda para essas facções é o
domínio da própria prisão. Nelas existem o cliente cativo para fomentar o tráfico drogas, as
vítimas de extorsão pelas dívidas geradas e não quitadas e também seus “soldados” que
após alcançar a liberdade são obrigados a contribuir para manter a liderança daqueles que
permanecem custodiados. Isso funciona como argumento para mantê-los “escravos” desse
mundo do crime e gerar renda para as gangues.

Diante disso, não se consegue criar uma estrutura para projetos de


ressocialização, reeducação ou reinserção da pessoa presa na sociedade. A solução é a
implantação de procedimentos e treinamentos dos seus servidores para o Estado ter
condições de dar uma resposta quando houver quebra dos procedimentos e regras,
evitando que facções comandem as prisões, escravizando os custodiados e trazendo
grandes prejuízos, principalmente para a população, que é o alvo das ações criminosas.

Caso a disciplina seja quebrada, é preciso, de imediato, dar uma resposta para
que seja contida a crise, restabelecida a ordem e para garantir que tal fato não se alastre
por outras áreas do estabelecimento penal. Seus causadores devem ser responsabilizados
legalmente, a fim de acabar com a sensação de impunidade.

Para tanto, faz-se necessário manter um grupo tático bem treinado e equipado,
pois assim teremos resultados excelentes, uma vez que a filosofia de trabalho é o uso da
força escalonada e moderada, com o intuito de preservar o máximo a integridade do
custodiado com a utilização dos Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO)

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Sempre que um grupo especial de intervenção é criado, é possível um umento


de ocorrências internas no estabelecimento penal, vez que, em um primeiro momento os
custodiados tentarão resistir às mudanças e cobranças impostas, que pretendem, inclusive
acabar com: tráfico de drogas, extorsão de outros custodiados, comércio de objetos ilícitos
(como celulares e outros), além de perderem parte do contato com o mundo do crime
exterior e a liderança dentro das unidades prisionais.

Procedimentos são fundamentais dentro de qualquer estabelecimento de


custódia, uma vez que por meio deles podemos manter uma rotina e avaliar onde estão
ocorrendo falhas na segurança, na conduta do custodiado e dos agentes, e com isso
diminuir as possibilidades de fugas, brigas e rebeliões. Caso ocorram tais falhar, será de
forma setorizada e não generalizada, o que dificultará a ação dos custodiados e a
corrupção.

Se os procedimentos são aplicados fica fácil seguir o rito da Lei de Execução


Penal, do Código Penal e da Disciplina Interna, a fim de não deixar que só uma pessoa
tenha poder de resolver as ocorrências e sim o dever de comunicá-las. Isso evita que muitas
ocorrências graves deixem de ser comunicadas ao Juízo da Execução.

Atualmente, quando da solicitação de benefício do custodiado, o juiz não tem


como avaliar de forma real o seu comportamento. Assim, acaba concedendo benefícios a
pessoas que não estão preparadas para voltar à sociedade. Isso acontece por falta de uma
doutrina e ausência dos registros de ocorrências.

II - MANDAMENTOS DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS

1 - Agressividade Controlada; 2 - Controle Emocional;


3 - Disciplina Consciente; 4 - Espírito de Corpo;
5 - Flexibilidade; 6 - Honestidade;
7 - Iniciativa; 8 - Lealdade;
9 - Liderança; 10 - Perseverança;
11 – Versatilidade
Trabalho, Legalidade e Honestidade acima de tudo

III - INTERVENÇÃO TÁTICA

A intervenção tática deve ser empregada em ações preventivas, com revistas de


rotina para fazer a segurança das equipes de servidores dos estabelecimentos de custódia,
mantendo os custodiados contidos, conforme a necessidade que a operação requer. Nas
contenções, quando houver brigas nos pátios e celas, ou seja, quando houver toque do
alarme, se o grupo de intervenção estiver bem localizado de um complexo penitenciário, o
tempo de resposta poderá atingir 2 a 3 minutos permitindo a eficiência para conter e debelar
a crise.

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Com isso, vidas são poupadas e há uma diminuição dos danos ao patrimônio
público, e o Estado mantém o controle, que é sua responsabilidade. Essa atuação de
grupos de intervenção gera uma real sensação de segurança para os custodiados, dando
aos mesmos, a opção de fazer ou não parte de facções, visto que a pessoa presa não
estará sujeita a coação do crime organizado. Essa presença do Estado diminui e muito o
poder do crime organizado

A intervenção deve contemplar a formação de uma equipe, com um efetivo de


trinta a cinquenta servidores treinados nas técnicas de armamento e tiro. É necessário,
principalmente, que os servidores sejam especialistas em tiro com a espingarda calibre 12,
conheçam o emprego de munições e equipamentos não letais, imobilização tática, uso do
bastão policial, chefia e liderança, direitos humanos da pessoa presa, lei de execução penal
e código penal, intervenção e contenção em estabelecimentos de custódia.
Equipamentos do grupo tático:

 Espingarda calibre 12 para cada servidor;


 Arma curta para cada servidor;
 Bastão (TONFA) policial;
 Algema;
 Escudo balístico, um para cada cinco servidores;
 Escudo anti-motim 6mm, um para cada três servidores;
 Arma longa tipo carabina .40 ou 5.56mm;
 Lançador M600 cal.37, 38 ou 40 mm;
 Munições usadas pelo grupo;
 Colete balístico, uso individual;
 Capacete anti-motim e/ou balístico, uso individual;
 Caneleira;
 Cotoveleira;
 Máscara contra gases;
 Colete tático

Não letais:
 Munição de borracha monobloco com o som de um tiro real cal.12;
 Munição de borracha com três bolas com o som de tiro real cal.12;
 Munição de borracha 38.1mm;
 Munição de gás lacrimogêneo carga múltipla 38.1;
 Munição de gás lacrimogêneo carga singular 38.1;
 Munição de gás lacrimogêneo detonante calibre.12.
 Munição de jato direto lacrimogêneo.
 Munição de jato direto OC-pimenta. Granadas de feito moral:
 Granadas GL 304efeito moral;
 Granadas GLl305 gás lacrimogêneo;
 Granadas GL 307 luz e som;
 Granadas MB 900;
 Granadas fumigena gás lacrimogênea GL 301;
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 Granadas fumigena gás lacrimogênea GL 302;


 Granadas fumigena gás lacrimogênea GL 303.
 Granadas GA100 (Granada de Adentramento)

Sprays:
 Spray 108 OC
 Spray 108 OC Max.
 Spray 108 OC-espuma

Operações específicas
TASER: 01(um) para cada 6 servidores.

Viaturas para transporte de equipes:


 Viaturas para cinco pessoas
 Viaturas para doze pessoas

O cálculo de viaturas deve levar em conta o efetivo, lembrando que deve haver
pelo menos duas viaturas sobressalentes para o caso de pane daquelas que estão em uso.

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a) Do uniforme:

O uniforme de grupos de intervenção é de cor preta, por ser uma cor que impõe
e gera intimidação quando há a aproximação, ou mesmo o camuflado, que passa a
impressão de que o número de servidores é muito superior ao que realmente é, ou seja,
faz a presença de 10 (dez) agentes parecer bem mais.

O uniforme é composto de:


 Calça tática preta ou camuflada;
 Camisa preta ou camuflada;
 Colete tático;
 Coturno ou similar;
 Cinto tático;
 Boné da instituição.

b) Da Intervenção:
A intervenção será feita com técnicas próprias desenvolvidas e utilizadas pela
DPOE nas ações realizadas em estabelecimentos penais. A equipe de intervenção deve
ser formada por, no mínimo, 12 (doze) agentes e a de contenção por 5 (cinco) ou 6 (seis)
agentes.

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A equipe de contenção será empregada usando as instalações a seu favor, ou


seja, combaterá através das grades e prismas (estrutura de concreto), não entrando em
pátios onde tenha uma população carcerária grande, pois nessa condição terá a quantidade
de armamento pode se tornar desfavorável ao grupo.

c) Da Equipe de Intervenção:
Deve ser empregado um efetivo acima de dez servidores para cada cem
custodiados, diretamente dentro do pátio de banho de sol, nas galerias ou nos locais de
concentração de custodiados.
Uma outra equipe com média de 15 a 20 agentes poderá adentrar em pátios com
mais de duzentos custodiados. Todos os agentes poderão ter em seus coletes e utilizar
equipamentos não letais, tais como: granadas, sprays e taser, o que decorre da
obrigatoriedade do treinamento e especialização de todos os integrantes para o uso de tais
equipamentos.
É de grande importância os agentes estarem bem equipados, haja vista o
trabalho a ser realizado com pouco efetivo e grande quantidade de custodiados.

Observações:
 Poderão fazer parte da equipe de intervenção servidores operacionais
acompanhados de cães. Os cães deverão ser utilizados para a proteção dos

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integrantes da equipe e para a manutenção da disciplina dos custodiados


contidos.
 Deverão, ainda, fazer parte da equipe de intervenção, operacionais
especializados em operações não letais (utilização de granadas de luz e som,
de efeito moral, para proteger o avanço e o recuo da equipe.
d) Da técnica de intervenção:
 O grupo deverá utilizar uma espingarda calibre 12 com munição de menor
potencial ofensivo, spray pimenta (OC), granadas e bastão tonfa.
 Quando for necessário efetuar um disparo contra um custodiado que ofereça
real risco de morte ou grave lesão contra outro custodiado, contra membros da equipe ou
servidores da unidade prisional, será feito de forma a neutralizar a ação agressiva deste.
 Sempre que possível, o disparo deve efetuado abaixo da linha da cintura,
preservando ao máximo a integridade física do custodiado. Geralmente, quando da entrada
da equipe ao se efetuar disparos de advertência e lançamento de granada de efeito moral,
consegue-se resolver a situação sem o disparo direto contra o custodiado.
 Depois de conter a situação é dada voz de comando para que os custodiados
“sentem” no fundo do pátio ou da cela mantendo as mãos sobre a cabeça, voltados para a
parede, e de costas para a equipe, a fim de que se tenha o controle das mãos e que os
custodiados percam o controle visual sobre a equipe.
 Caso os custodiados tentem alguma ação contra a equipe terão que levantar
e virar para frente dos agentes. Enquanto isso, o servidor ganha tempo para poder reagir
com segurança ou até inibir o intento do “agressor” com uma borrifada de spray de pimenta,
diminuindo o potencial agressivo do custodiado e contendo-o com técnicas de imobilização,
sem maiores danos para este, e mantendo também a segurança dos agentes.
 A entrada em pátio deve ser feita em coluna. Após o portão do pátio, os
servidores entrarão de forma intercalada, um para a direita e outro para a esquerda, ou
vice-versa, até concluir uma formação em linha. A função dos dois primeiros servidores que
entrarem é tomar conta dos cantos, um de cada lado, e a do segundo, de cada lado,
proteger o primeiro, e a do terceiro é proteger o segundo, e assim por diante. Ou seja, o de
trás sempre protege o da frente e o último ficará em frente ao portão.
 Depois que o grupo de intervenção estiver posicionado, avançarão em linha,
determinando aos custodiados que:
 Se desloquem para o fundo do pátio,
 Sentem e mantenham as mãos sobre a cabeça,
 Permaneçam de frente para parede e de costas para equipe, evitando o
controle visual do grupo de intervenção.
 Depois, se necessário, deverão ser retirados os custodiados envolvidos na
crise para responsabilização criminal e administrativa de acordo com o fato concreto.

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 Em seguida, os agentes do estabelecimento penal devem revistar os


custodiados e providenciar o recolhimento destes às celas, com posterior revista do pátio,
para procurar possíveis facas, celulares, drogas e outros objetos não

 O grupo de intervenção deverá, sempre que entrar no pátio, deixar uma


reserva tática de pessoal para dar apoio, permanecendo estes nos postos de controle, em
condições de apoiar, com instrumentos de menor potencial ofensivo.
 Após a invasão do pátio deverá ser observado se há feridos em função dada
entrada da equipe ou se há feridos devido ao confronto entre os próprios custodiados,
providenciando o atendimento imediato aos mesmos.

Observação:
A depender do número de agentes que compõe a equipe de intervenção,
poderão ser realizados procedimentos de segurança interna no percurso que vai do pátio
até a entrada da galeria.

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e) Da técnica de sanfona:
Ao invadir o pátio, os agentes devem formar a linha dividindo o pátio em partes
iguais. Se houver alguma reação dos custodiados, deverá a equipe fechar, ficando ombro
a ombro, formando uma muralha de fogo lado a lado, sempre para o lado da porta.
Essa técnica pode ser usada também quando é necessário avançar para
resgatar pessoas que estejam lutando com os custodiados na iminência de se tornar reféns,
para resgatar custodiados com risco de morte ou retirada rápida da equipe.

f) Da retirada de preso(s) problemático(s) do pátio:


Quando os custodiados do pátio estiverem posicionados no fundo do pátio e for
necessário retirar um custodiado que demonstre alteração, será feita a contenção com
“congelamento”. Depois que a massa carcerária estiver contida e “congelada” a equipe de
extração irá imobilizá-lo e conduzi-lo à cela de triagem para que sejam tomadas as medidas
cabíveis.
g) Da equipe de extração:
É um grupo formado no mínimo dois agentes, podendo chegar até quatro
agentes e um escudeiro. Esse grupo deve ter treinamento em imobilização e técnicas com
bastão, escudo e equipamentos não letais, os quais poderão ser utilizados quando

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custodiados resistentes, não atendam aos comandos verbalizados ou estejam envolvidos


em ocorrências e devam ser retirados dos pátios ou celas
Observação
Os agentes do grupo de extração não poderão portar armas de fogo.

h) Função dos membros da equipe de extração:


Escudeiro: proteger a equipe e facilitar a aproximação desta ao custodiado que
oferece resistência.
Responsável também em desarmar o custodiado fazendo uso do bastão e spray
pimenta (geralmente GL-108-OC-MAX), caso o mesmo esteja armado com armas
artesanais.

Primeiro e segundo extratores: responsáveis pela imobilização dos membros


superiores do custodiado resistente.

Terceiro e quarto extratores: responsáveis pela imobilização dos membros


inferiores do custodiado resistente.
A imobilização poderá ser feita com as mãos, com o uso da TONFA, ou, ainda,
usando o “mata leão”. Nesse caso, os extratores dos membros superiores deverão segurar
o imobilizado o tempo todo até o momento de colocá-lo em local adequado. Serão os
últimos a soltá-lo para evitar que o imobilizado se machuque em caso de desmaio. O uso
da algema também é permitido.
Em caso de crises generalizadas em vários ambientes, as técnicas de
intervenção e contenção podem ser empregadas em várias frentes, simultaneamente, não
permitindo que os custodiados conquistem posições estratégicas do estabelecimento
penal, pois o importante é combater os focos de crise e resistência o mais rápido possível,
a fim de não deixar que se alastre.
As ocorrências em estabelecimentos penais se alastram em grande velocidade
se não tiver resposta imediata. Os danos podem ser irreversíveis, por isso faz-se necessário
todo um esquema de procedimentos pré-determinados, desde a identificação da crise até
o toque do alarme, bem como a entrada do grupo tático e o restabelecimento da ordem.
A grande vantagem dos grupos táticos de intervenção penitenciária formados
por servidores do sistema, é a ambientação, ou seja, todos já conhecem a estrutura, os
custodiados, o modus operandi e as lideranças negativas. Quando entram no local de crise,
resolvem as situações sem maiores danos para os custodiados, pois usam a força
escalonada e proporcional.
E os custodiados, sabendo que terão uma resposta rápida do Estado, e serão
responsabilizados pelos atos cometidos, diminuem a incidência de ocorrências no ambiente
prisional.
É dever do Estado manter a ordem, a disciplina e a integridade física dos
custodiados durante a privação de liberdade.

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É inadmissível que custodiados tenham o controle do ambiente de custódia, que


custodiados sejam mortos sob a guarda do poder público, e que aqueles que têm o dever
de impedir, não ajam por falta de treinamento, investimento em recursos materiais e
humanos. Não se pode exigir que o agente se arrisque sem que este tenha as mínimas
condições de segurança, treinamento e equipamento.
A filosofia usada pelo grupo de intervenção é o uso da força diferenciada,
escalonada e moderada, ou seja, somente para resolver a situação, tentando manter ao
máximo a integridade do custodiado, neutralizando a ação agressiva e restabelecendo a
ordem.

i) Da entrada de ala ou galeria:


Será feita em coluna e um agente deverá ocupar a frente de cada cela,
avançando para a próxima cela somente quando o agente que está fazendo a segurança
da cela liberar a equipe para avançar, por meio de comando.
O agente deverá verbalizar para o custodiado: “pro fundo, sentado, mão na
cabeça” (o custodiado deverá estar de frente para a parede e de costas para o agente).
Depois que os custodiados da referida cela estiverem em posição de contenção, será dado
o comando de “limpo, vai”, ou seja, autorizando o agente a avançar e repetir o mesmo
procedimento na próxima cela até que toda a ala esteja controlada e dominada. Após esse
procedimento a operação necessária naquele local, dependendo do tipo de ocorrência
poderá iniciar com segurança e controle.
Exemplo: briga de custodiados, dentro da cela; insubordinação de custodiados
para com os agentes; uso de drogas dentro da cela; danos ao patrimônio público
(destruição da estrutura, etc).
São usadas algumas técnicas nesses casos, como: revista geral de todas as
celas, retirada de custodiados um a um, devidamente imobilizados, retirada de custodiados
uma a um sem imobilização, deslocamento de todos os custodiados para o pátio, dentre
outras. Vale frisar que a depender do ânimo dos custodiados os procedimentos de
segurança serão aprimorados, quanto mais agressivos estiverem os custodiados, mais
procedimentos de segurança serão usados

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Quanto menor o efetivo, mais cautelosa e com empregos de mais


procedimentos de contenção será a ação penitenciária da equipe.

A intervenção em ala poderá ser feita com um só comando, ou seja, um só


agente dá o comando de cela em cela. Essa técnica facilita o controle do Coordenador, pois
ele poderá visualizar quem realmente são os causadores da crise para poder
responsabilizá-los criminal e administrativamente.
Assim sendo, as celas serão tomadas da seguinte forma:
I. Será feita a tomada da entrada para o fundo da ala;
II. O agente dará os comandos: “pro fundo sentado, mão na cabeça” e os
custodiados deverão sentar de costas para a porta, ou seja, voltados para o
fundo da cela;
III. A equipe somente avançará para a próxima cela quando tiver total controle.
Assim, somente após os custodiados terem atendido os comandos é que será
feito o avanço. Se houver somente um “verbalizador”, ficará um agente
responsável pela cela antes de avançar.
IV. A equipe utilizará todos os meios necessários, dentro da técnica de uso dos
Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (IMPO) e de forma progressiva e
seletiva até conseguir dominar a situação;
V. Estando controlada a cela, a equipe avançará para a próxima e assim por
diante até tomar toda a ala.
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j) Ações após a tomada da Ala


Os custodiados geradores de crise serão retirados de suas celas e conduzidos
para local separado da massa carcerária para as providências administrativas e criminais.
É indispensável a lavratura do boletim de ocorrência na Delegacia da área e realização do
exame ad cautelam, corpo de delito, no IML.
Ao retornar ao estabelecimento penal o custodiado deverá ser mantido em
isolamento disiplinar para a aplicação de isolamento preventivo, nos termos da LEP,
enquanto é instaurado o procedimento apuratório. Vale ressaltar que no curso do
procedimento apuratório será assegurado o contraditório e a ampla defesa ao custodiado,
devendo este ser ouvido pelo setor responsável e na presença de um advogado.
Caso seja identificado qualquer custodiado com ferimentos, o mesmo deverá ser
encaminhado para atendimento médico antes de qualquer procedimento administrativo e
ou criminal. Todavia, o custodiado somente deverá ser socorrido quando houver segurança
para tal procedimento.
Os meios de combate a incêndio deverão estar em condições de pronto
emprego, haja vista que a arma mais usada pelos custodiados é o fogo e muitas vezes os
geradores de crise perdem o controle sobre tal recurso, trazendo resultados indesejáveis
para o Estado e para os custodiados. Frise-se bem que a ausência de equipamentos e
preparo para atender a ocorrências envolvendo fogo poderá acarretar em óbitos.

k) Do emprego do tiro de comprometimento:


Criada pelo Decreto 21.226/2000, a Diretoria Penitenciária de Operações
Especiais – DPOE, naquele tempo “Divisão Penitenciária de Operações Especiais –
DIPOE”, foi regulamentada pela portaria nº 3/2001 da Secretaria de Segurança Pública.
Concebida como unidade de Operações Especiais a DPOE possui entre as suas
competências a de garantir a segurança interna dos estabelecimentos penais . Para tanto
o Parágrafo Único do Artigo 7º da referida Portaria prevê o uso de atirador “Sniper”, in
verbis:
Art. 7º (...) Parágrafo Único. Admite-se, em caso de
comprometimento da segurança interna dos estabelecimentos
penitenciários, a utilização de atiradores de elite – “snipers” –
quando necessária à libertação de refém ou quando houver
preso utilizando-se de arma
Cada estabelecimento penal possui arquitetura própria, razão pela qual cabe ao
atirador escolher o local que lhe garanta melhor ângulo de tiro e permita o apoio apropriado
ao grupo tático de intervenção.
Observar, Proteger e Neutralizar são princípios básicos da atividade do “sniper”

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l) Ocorrências de alto risco durante intervenção:

Preso com arma de fogo: Caso o agressor esteja colocando vidas em risco, ele será
neutralizado com força proporcional. Nesta hipótese será utilizado um atirador com munição
letal para neutralizar o agressor. Existindo ocorrência com reféns poderá ser utilizado o tiro
de comprometimento a depender da situação.
Intervenções em caso de rebelião: serão adotados os procedimentos de intervenção e
contenção visando a imediata tomada ou retomada do telhado no local de crise e os
ambientes contaminados. Essa atitude forçará os custodiados a recuar e se render o mais
rápido possível.
Intervenção em caso de fuga: as equipes de intervenção adentram para conter os
custodiados do local onde ocorreu a fuga e outra equipe faz o cerco do perímetro,
objetivando manter os custodiados em fuga numa determinada área para posterior
varredura no intento de recapturá-los.

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O cerco aos foragidos não pode ser desfeito até que se tenha plena certeza de que os
custodiados não estejam na área cercada, podendo aumentar o perímetro de cerco
conforme o tempo e a necessidade.
No caso de fuga, enquanto a operação de cerco do perímetro está em andamento, a equipe
de investigação faz os levantamentos da qualificação dos foragidos, e conforme o tempo
em que ocorreu a fuga, começam a trabalhar os endereços dos foragidos e familiares com
o objetivo de prendê-los caso tenham furado o perímetro de cerco.
m) Tomada de ala com custodiados fora das celas:
Deverão ser adotados alguns procedimentos de segurança para a retomada da
ala ou galeria, como a aproximação da equipe em formação em coluna, portando escudo
para evitar ataque com pedras e tiros. Chegando próximo à entrada da ala ou galeria será
dada voz de comando para os custodiados retornarem para dentro das celas.
O custodiado que não atender o comando será considerado ameaça e será feito
o uso da força diferenciada. O comando será o seguinte: “atenção custodiados, todos
para dentro das celas. Quem permanecer fora será considerado ameaça e será
neutralizado!”. Deve se observar se os comandos foram atendidos por todos os
custodiados ou por parte deles. Provavelmente alguns atenderão e outros não.
Nesse momento será necessário mostrar força, e para tanto, será usada uma
granada de efeito moral, na entrada da ala, próximo a porta de entrada desta, com intuito
de obrigar os custodiados a recuarem e retornarem à cela. Provavelmente cederão e
retornarão às celas.
Depois de fazer com que voltem para celas será dado um novo comando, ainda
sem entrar na ala: “atenção custodiados, todos deverão estar sentados no fundo da
cela com as mãos na cabeça, de costas para a porta. Aquele que não estiver nessa
posição será considerado uma ameaça e será neutralizado!”
Depois desse comando será iniciada a entrada, tomando cela a cela,
observando se os comandos foram executados pelos custodiados e se os mesmo estão na
posição determinada. Estando dentro do procedimento deverá dar o comando para o
próximo agente avançar para a próxima cela. Comando: “limpo, vai!”
O servidor que avançar para a próxima cela deverá dar o seguinte comando:
“para o fundo da cela, mãos na cabeça, de costas para a porta!” Verificado que a cela
está sob controle, será realizado o mesmo procedimento nas seguintes até que todas
estejam controladas. Retomado o controle da ala serão tomadas as medidas necessárias
para cada cela e individualizados os casos a fim de buscar a responsabilização dos
provocadores do evento crítico.

n) Outras situações que podem ocorrer durante a tomada de ala:


Hipótese 01: Os custodiados não obedecem às determinações para entrar nas
celas.
Será usada a força diferenciada e escalonada para fazer com que os custodiados
cedam. Serão utilizadas granadas de efeitos moral, spray de pimenta e tiros com munição
não letal, buscando, da melhor forma possível, manter a integridade física dos custodiados.
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A ação será realizada estritamente dentro do necessário para que os


custodiados recuem e atendam aos comandos. É importante tomar cuidado com os objetos
que normalmente são arremessados pelos custodiados durante esse tipo de confronto e
ainda se há presença de estoques e/ou armas de fogo.
Hipótese 02: os custodiados entram nas celas para não ficarem expostos e
continuam amotinados.
Deverá ser verificado se todos estão dentro das celas e se o corredor da ala está
obstruído. Será iniciada a tomada cela por cela, observando se os custodiados atenderam
aos comandos dados. Caso os comandos não sejam atendidos e o uso da força
diferenciada não surta efeito, mantendo-se os custodiados amotinados, os agentes devem
empregar recursos não letais, com o objetivo da retomada do controle da situação.
Após o restabelecimento do controle, serão extraídos os custodiados que
oferecerem resistência, sendo encaminhados para uma área designada onde
permanecerão isolados do resto da massa.
Se for identificado algum custodiado ferido, deverá ser providenciado,
imediatamente socorro de urgência. Contida a situação e restabelecida a ordem, os
custodiados deverão ser retirados das celas para o pátio, ou local seguro, que possibilite a
realização de revista geral dos custodiados, pertences e das dependências do
estabelecimento penal.
A ala toda, ou parte dessa será solta com controle e segurança durante a revista.
Importa lembrar que a pressa na realização do serviço prejudica a segurança. De outra
forma, poderá ser solta uma única cela, realizar a revista dos custodiados e da cela e, logo
em seguida, recolher novamente esses custodiados à cela.
Existe, portanto, uma infinidade de maneiras de realizar o trabalho dentro do
procedimento de segurança. Importa, ainda, observar que quanto menor for o efetivo de
agentes, maior deverá ser a preocupação com a segurança, com o procedimento de revista
e com a lida com os custodiados.
Por fim, identificados os envolvidos, todas as medidas criminais e administrativas
devem ser tomadas, pois a sensação de impunidade faz com que ocorra incidentes cada
vez mais violentos. Usa-se o princípio básico de gerenciamento de situações críticas
estabelecimentos de custódia: conter, isolar e resolver e, logo em seguida, identificar os
envolvidos e responsabilizá-lo, aplicando a lei.
A situação do local de crise e contenção deve ser avaliada evitando-se a
exposição demasiada ao sol ou ao chão muito quente, para evitar queimaduras; em locais
insalubres; dentre outros locais que possam ferir a dignidade humana e estimular reação
pelo tratamento desumano ou cruel. Todos os procedimentos adotados serão realizados de
forma a priorizar a manutenção da segurança dos custodiados e dos agentes, agindo de
forma a não macular a integridade física ou moral da pessoa presa. Fazendo isso, o Estado
terá o controle das unidades prisionais.
Entretanto, o Estado deverá agir com cautela e prudência, utilizando somente a
força necessária evitando assim a ilegalidade da ação.
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Apostila de Intervenção prisional

Agindo com essa visão o Estado estará respeitando a pessoa presa e isso faz
com que os próprios custodiados respeitem os agentes.
Não se pode confundir energia com violência. Em muitas ações de intervenção
ou contenção de situações críticas é preciso ser enérgico nas operações de entrada, a fim
de desarmar os custodiados violentos e sob efeito de drogas, os quais deverão ser
extraídos do local da crise, isolados e responsabilizados.
Essas medidas de isolamento diminuem muito as ocorrências e visam acabar
com o controle que criminosos e facções criminosas possam vir a exercer sobre outros
custodiados. Vale observar que, para manter a disciplina nos estabelecimentos penais, é
necessário que os agentes sejam bem treinados e valorizados. Isso porque existem
algumas ocorrências de alto risco geradas por um só custodiado.
São os casos, por exemplo, de custodiados portadores de HIV que se lesionam,
outros que cobrem todo o corpo com fezes, com o mesmo objetivo, de evitar a aproximação
dos agentes para imobilização. Existem ainda outros custodiados que misturam fezes com
sangue ou água para arremessá-las contra os agentes.
Em situações dessa natureza poderão ser utilizados água, spray de agentes
químicos, escudo, luvas, bem como outros equipamentos que permitam imobilizar o
agressor. A utilização de recursos de proteção individual e coletiva é muito importante para
evitar contaminação com materiais orgânicos e proteger contra eventuais ataques com
pedras ou outros sólidos pesados.
Cabe ressaltar ainda que o lema da nossa bandeira nacional “Ordem e
Progresso” é fundamental para o desempenho do sistema prisional do nosso país, ou seja,
sem ordem não há como se falar em ressocialização, reeducação ou reinserção, haja vista
que locais de custódia onde a tensão é constante, não há clima para preparar o custodiado
e devolvê-lo a sociedade como um cidadão recuperado, ideal defendido pela Execução
Penal brasileira.

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