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2. APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS
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Programa PROCAD-DEFESA, 2020.
3 Aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no país – com protocolo de envio
CAAE: 28892719.6.0000.5250.
4 Dados colhidos para pesquisa de Gisele Coelho de Oliveira (2021).
(1996) sobre a profissão militar e aqueles apresentados nos documentos doutrinários das
Forças Armadas sobre os princípios norteadores dessa profissão no Brasil (BRASIL,
1980). Além disso, aborda-se a noção de identidade como explicitada por Hall (2006) e
Woodward (2014). Esses dados serão analisados com base em uma visão investigativa
com aporte teórico que englobe, também, alguma conceptualização de questões sobre a
masculinidade (TICKNER, 1993), já que, como aponta Segal, “O elemento central na
identidade militar é a masculinidade, [e as] Forças Armadas talvez sejam a mais
masculina de todas as instituições sociais” (SEGAL, 1999, p.19).
Em relação à formulação das categorias analíticas, a trabalho ancora-se em
diretrizes apontadas por teóricos da Análise do Discurso como Maingueneau (1998,
2020), Charaudeau (2005, 2009) e Amossy (2011), em articulação com referenciais sobre
deslocamento (ORLANDI, 1999) e inovação (PLONSKI, 2017). Para a direcionamento
da investigação, pretende-se partir de alguns questionamentos, tais como se os novos
paradigmas da sociedade pós-moderna influenciam na conformação identitária dos
militares, quais relacionamentos são possíveis entre os diferentes campos de atuação e de
configuração e, ainda, de que maneira essas questões aparecem no que se refere ao ethos
militar.
Sobre o termo ethos, Geertz expõe que
Cabe atentar para o fato de que as observações deste trabalho não devem ser
entendidas como passíveis de se referirem a toda a Força Aérea, muito menos aos
militares de maneira geral. A limitação do trabalho decorre do fato de que o escopo da
pesquisa faz referência a um determinado círculo de militares. Nesse caso específico, a
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“Os VANTs inserem-se na categoria de armamentos controlados a distância e mediados por interfaces
gráficas e manuais, conhecidos como Stand-off Weapons.” (PERON, 2016, p. 22)
6 Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – protocolo de envio CAAE: 28892719.6.0000.5250.
pesquisa se concentrou no círculo7 de oficiais superiores. O que se busca é montar, a partir
dos depoimentos dos oficiais, algumas indicações de possibilidades de mudanças no ethos
militar. Sendo esse conceito associado a uma abordagem cultural (HOFSTEDE, 2011),
assume-se que o ethos seja mais mostrado do que dito (MAINGUENEAU, 2020), e
residiria na forma pela qual as práticas são interpretadas pelos grupos (OLIVEIRA, 2021).
Assim, foram selecionados, a partir das categorias analíticas do estudo, excertos dos
depoimentos para a exemplificação das questões levantadas no trabalho.
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Segundo o Estatuto dos Militares, “Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre os militares
da mesma categoria e têm a finalidade de desenvolver o espírito de camaradagem, em ambiente de
estima e confiança, sem prejuízo do respeito mútuo.” (BRASIL, 1980)
as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade...”
(WOODWARD, 2014, p. 19)
Por um lado, os indivíduos percebem que alterações nos componentes de um grupo
permitem “um outro olhar, uma outra forma de encarar determinados problemas” (GF4).
Por outro lado, preocupam-se em apontar para o fato de que, no caso, a FAB, “continua
cumprindo a mesma missão, ao longo do tempo”. Ou seja, nada se altera, e isso é visto
como positivo.
Excerto 01 (GF2). a Força aérea continua cumprindo a mesma missão, ao longo
do tempo
Excerto 02 (GF1). A Força Aérea como sendo uma formadora da família, que eu
acredito que seja isso, e como incentivadora da nação como um todo, correto.
Uma das observações que apontam para possíveis alterações na atividade militar
se refere ao piloto de VANT. Pilotos de um esquadrão de veículos aéreos não tripulados
não “voa”, na acepção corrente do termo. Mas sua avaliação, pelo menos no que se refere
à saúde, segue, de acordo com o informante, a legislação de um piloto que “voa”. Pode-
se inclusive argumentar sobre a utilização do termo “piloto” para aqueles que comandam
os aparelhos (CHAMAYU, 2015). Só que ser piloto é uma designação de valor na Força
Aérea. Seguindo a linha apontada por Castro (1997), diferenças são perceptíveis entre
civis e militares em um primeiro nível; entre militares do Exército, da Marinha e da Força
Aérea de outro, e existem as distinções possíveis entre as armas de cada força, como
Intendência e Infantaria. No caso da Força Aérea, os aviadores são considerados os
militares “de ponta” por cumprirem a “missão fim” da força, voar. Há que se salientar,
também, que, dentro da mesma arma, diferenciações são perceptíveis entre os pilotos.
Pilotos de caça são prestigiados de maneira diferente de pilotos de aeronaves de transporte
ou, ainda, de helicópteros. Uma questão a ser colocada em debate seria, portanto, qual a
posição, em uma organização estruturada desse modo, em que ficariam os pilotos de
VANT. Há que se questionar, também, como esse piloto que não arrisca a própria vida
estaria ligado ao ethos guerreiro, daquele que faz o “[...]solene juramento de fidelidade à
Pátria até com o sacrifício da própria vida” (BRASIL, 1980, p. 6).
Excerto 03 (GF1). piloto de VANT não voa (...) O piloto de VANT segue a
legislação de saúde de um piloto que voa.
Outro aspecto apontado diz respeito às estratégias utilizadas pelas mulheres para
imposição do respeito pelo grupo.
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… the realist view of national security is constructed out of a masculinized discourse that, while it is
only a partial view of reality, is taken as universal.” (TICKNER, 1993, p. 43)
Excerto 09 (GF2). a forma delas se imporem não foi uma forma de, vamos dizer
assim, autoritarismo nem nada. Era mais empatia, então ela soube conquistar a
confiança da tripulação, mostrando seu desempenho, mostrando que ela estava
no mesmo patamar de qualquer piloto ali de conhecimento, de psicomotor e
cumprir qualquer coisa que o outro cumprisse.
Excerto 10 (GF3). A mulher traz um outro olhar, uma outra forma de encarar
determinados problemas, eu acho muito positivo
Excerto 12 (GF4). é lógico... vai medir um pouco as palavras quando vai falar
ali, brincar com os outros
Excerto 15 (GF3). o que se tem é essa questão da gravidez né, tanto o tempo que
vai ficar fora, porque a partir do momento que engravida, sai do voo.
Por isso, teriam mais dificuldades em aceitar as inovações, como novos perfis de
combatentes (mulheres, no caso).
Excerto 17 (GF4). você vai encontrar um pensador que vai dizer que os
pioneiros, os desbravadores, é sempre mais difícil pra eles. Os que vem depois
já vai estar num pitch mais adequado.
Excerto 18 (GF3). nos graduados se for essa a sua pergunta, existe sim, existe
uma diferença principalmente quanto ao comportamento, né eu acho que tem
sim.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CASTRO, Celso. Entrevista com Celso Castro. História, Franca (SP), v.4, nº1, p.9-26,
1997.
GEERTZ; Clifford. A interpretação das culturas. 1ª ed., 13ª reimpr., Rio de Janeiro,
LTC, 2008.
MOSKOS, Charles C. Soldiers and Sociology. United States Army Research Institute
for the Behavioral and Social Sciences, 1988.
OLIVEIRA, Gisele Cristina Coelho de. O Ethos Militar na Força Aérea Brasileira: o
ingresso de mulheres na aviação / Dissertação (mestrado) – Orient. Claudia Maria Sousa
Antunes. Rio de Janeiro: Universidade da Força Aérea, 2021.