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©2014 DCHL-UESB Saberes em perspectiva, Jequié, v.5, n.11, p. 25–36, jan./abr. 2015
26 Aline Prado Atássio
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Militares Civis
Disciplina Displicência
Ordem Desordem
Obediência Desrespeito
Seriedade Falta de seriedade
Profissionalismo Falta de profissionalismo
Competência Incompetência
Boa apresentação pessoal Má apresentação pessoal (desleixo)
Valores morais Ausência de valores morais
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Armas no ano de 1970, 28,5% eram filhos de oficiais superiores e 72,5% eram filhos
de oficiais subalternos e praças; em 1985, 31,9% eram filhos de oficiais superiores
e 68,1% de oficiais subalternos e praça e, por fim, entre os anos de 200-2002, 41,9%
dos ingressantes eram filhos de oficiais superiores e 58,1% de oficiais subalternos
e praças. Tais estatísticas indicam uma mudança no perfil já que o recrutamento
endógeno ganhou força dentro de uma “casta” (os oficiais) que, pela melhor
condição social, optavam por dar aos filhos educação em escolas civis. Entretanto,
a mudança não é bem vista pelos oficiais mais velhos, que acreditam ser esta
“mistura” de habitus dos oficiais e dos praças, bem como de indivíduos vindos
das classes menos abastadas da sociedade, um fator de diminuição do “espírito
militar” que podemos entender como do habitus, ethos e hexis militar e ainda, do
capital simbólico:
Como notado pela fala acima reproduzida, a “mistura” entre civis e milita-
res não é bem recebida em especial para os militares mais velhos, que batalham
pela reprodução do recrutamento endógeno e, portanto, pela manutenção do
habitus de classe e da reprodução social. Abaixo o excerto mostra que, mesmo
quando recrutados entre os integrantes da instituição – em especial entre praças e
oficiais subalternos - há ressalvas, dado o habitus de classe diferenciado, já que
estes ocupam o extrato mais baixo na cadeia hierárquica do Exército:
Por esta maneira de pensar que muitos militares passam a inculcar em seus
filhos o “gosto” pela carreira das Armas, desde a mais tenra idade. Assim para
muitos destes futuros oficiais, a educação primária, recebida no ambiente familiar,
já se encarregou da produção de um habitus primário que corresponderá, em
grande medida, ao habitus do campo militar. Os esquemas de percepção e de ações
transmitidos pelos pais militares serão reforçados com a entrada do estudante
na academia militar. A exterioridade interiorizada pelo convívio familiar é, no
mínimo, semelhante à que o cadete encontrará na instituição.
Este fator facilita a adaptação do indivíduo na vida militar e muitas vezes
é o que define a escolha profissional do filho de militar, afinal, ele tende a perceber
o mundo em função do seu habitus primário, de maneira que as disposições ad-
quiridas em seguida influenciam a aquisição de novas disposições. É desta forma
que muitos filhos de militares chegam às academias alegando serem dotados de
10 A idade média de ingresso nas escolas são, respectivamente, 10-11 anos, nos colégios militares;
14-15 anos nas escolas secundárias (como a ESPCEx) e 17-19 anos na AMAN. Ver Castro (1993).
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CASTRO, C. A origem social dos militares: novos dados para uma antiga
discussão. Novos Estudos Cebrap, n. 37, p. 225–231, 1993.