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O ETHOS NO COLÉGIO MILITAR

Marcio Vieira Xavier1

Resumo: Este estudo apresenta uma discussão sobre o ethos dos alunos dos Colégios
Militares a partir da identidade no Exército Brasileiro. A pesquisa tem como partida a
origem histórica dos Colégios Militares, através das perspectivas assistencial e
preparatória, assim como considerando os valores, símbolos e ritos desses
estabelecimentos. Por meio da discussão sobre os conceitos de identidade militar,
sociologia das Forças Armadas e processos de socialização em ambientes escolares,
destacou-se os processos de subjetivação e produção de identidades nessas instituições.
Tal discussão parte do conceito de socialização militar através da qual o sujeito, oriundo
da sociedade civil, é apresentado a um novo mundo com destacada interação
significante no meio militar. Por meio da revisão documental sistematizada da literatura
e dos regulamentos de estabelecimentos de ensino militares, foi proposta uma análise
comparativa desses documentos a partir da descrição de direitos e deveres aplicáveis aos
militares e aos estudantes. Observamos que existe uma analogia entre as transgressões
disciplinares previstas no Regulamento Disciplinar do Exército com as faltas
disciplinares descritas no Regulamento Interno dos Colégios Militares. A pesquisa se
traz à tona a compreensão da subjetivação da identidade de um estudante do ensino
médio e fundamental que respeita normas, princípios e valores, e que estão sob regime
da hierarquia e disciplina, mas que, entretanto, não é um profissional militar.
Palavras-Chaves: identidade; ethos militar; Colégio Militar.

Abstract: This study herein introduces a discussion on the ethos of the students of the
Basic Education schools administrated by the Brazilian Army (Colégios Militares) in
relation to the Brazilian Army identity. The research has as its starting point the
historical origin of the referred schools, in accordance with the assistential and
preparatory perspectives, its values, symbols, and rites. By means of the discussion on
the concepts of military identity, sociology of the Armed Forces and the processes of
socialization in school environments, the processes of subjectivation and production of
identities in these institutions were highlighted. The discussion takes as primary concept
the one of military socialization through which the subject, coming from civil society, is
introduced to a new world with significant interaction in the military environment.
Through a systematic document review of the literature and regulations of the
educational establishments of the Brazilian Army, a comparative analysis of these
documents was proposed departing from the description of the rights and duties
applicable to military personnel and students. We observed that there is an analogy
between the disciplinary transgressions observed in the Disciplinary Regulations of the
Army with the disciplinary faults described in the Internal Regulations of the Colégios
Militares. The research brings out the understanding of the subjectivation of the identity
of a high school and elementary school student, the one who respects norms, principles,
and values, and who are under the regime of hierarchy and discipline, although,
however, is not a military professional.
Keywords: identity; military ethos; Militar School.

1
Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias (CEP/FDC). E-mail: marciovx1260@gmail.com
1. Introdução

Os alunos dos Colégios Militares do Exército Brasileiro respeitam normas,


princípios e valores específicos dos profissionais militares da Força. Eles estão sob um
regime de hierarquia e disciplina e lançam mão de gestos e atitudes militares, como a
continência, movimentos marciais, gritos de guerra e canções militares. Entretanto,
mesmo com todas as características militares, são estudantes civis que frequentam esses
estabelecimentos de ensino, que ofertam parte do ensino fundamental e todo o ensino
médio.
O corpo discente dos Colégios Militares é formado por alunos amparados e
concursados. Os amparados são os dependentes de militares, que foram matriculados
por estarem de acordo com critérios previstos no Regulamento dos Colégios Militares
(EB10-R-05.173), enquanto os concursados são os aprovados em concurso público de
admissão para o 6º ano do ensino fundamental e o 1º ano do ensino médio.
O Decreto Imperial nº 10.202 de 9 de março de 1889, assinado por D Pedro II,
criou o Imperial Colégio Militar da Corte, embrião do atual Colégio Militar do Rio de
Janeiro. Desde as primeiras concepções de um Colégio que assistisse os dependentes
dos militares, ainda no século XIX, com as agruras da Guerra do Paraguai, o ensino nos
Colégios Militares teve um contexto assistencial, no sentido de cuidar dos órfãos dos
militares mortos em combate, mas também, um propósito do ensino preparatório, a fim
de atender à necessidade de conteúdo introdutório e preliminar às Escolas Militares de
formação de oficial. “O conceito de ‘preparatório’, além de atender pragmaticamente à
demanda institucional por melhor preparação de quadros às escolas militares, permitiu
ao Exército ombrear com outras iniciativas de escolas de acesso restrito que preparavam
a elite nacional da época” (FREIRE, 2017, p.42).
Para Nogueira (2014), o ensino preparatório de um Colégio Militar faz com que
o indivíduo se descubra, ao perceber que, como sujeito único, está imerso num mundo
cheio de significações e representações. Ele afirma, ainda, que a identidade do aluno do
Colégio Militar, baseado na hierarquia e disciplina, traz conceitos que ultrapassam mera
descrição física.
De acordo com Freire (2017), uma visão de como os alunos se relacionam com a
proposta pedagógica do Colégio Militar do Rio de Janeiro é a discussão sobre a cultura
patronímica que apresenta muitos dos valores e crenças trabalhados juntos aos alunos.
Vultos heroicos, como os patronos das armas, muito trabalhados na formação do oficial
combatente, também fazem parte do ethos do aluno do Colégio Militar.
Quando se analisa o aluno do Colégio Militar, na perspectiva de construção da
identidade, o primeiro momento de socialização se dá pelo período de adaptação.
Momento em que, antes mesmo do início das aulas, o aluno desenvolverá atributos
tipicamente militares, tais como, aprender a marchar, prestar continência e
conhecimento dos postos e graduações. A luz de Berger e Luckmann (2014) veremos
como o processo de interiorização levará o aluno do Colégio Militar a identificação dos
símbolos e valores do Exército Brasileiro, através dos processos de socialização
primária e secundária.
A simbologia do Sistema Colégio Militar do Brasil atravessa a realidade
subjetiva das organizações militares2, razão pela qual buscamos realizar uma analogia
entre os ritos e valores cultuados nos colégios militares com a dos profissionais
militares.
Os Colégios Militares, como estabelecimentos de ensino de nível fundamental e
médio, estão sujeitos ao fiel cumprimento do que prescreve a legislação do Ministério
da Educação (MEC). Já os valores, símbolos e ritos dos Colégios Militares são regidos
por leis e regulamentos próprios dos Colégios Militares. O Regulamento dos Colégios
Militares (EB10-R-05.173) estabelece os preceitos comuns dos Colégios Militares e
delineia o funcionamento e as subordinações dos Colégios Militares. Outro marco legal
de importância dos Colégios Militares é o Projeto Pedagógico do Sistema Colégio
Militar do Brasil (SCMB), que conceitua a finalidade dos Colégios Militares, assim
como descreve o ensino preparatório e assistencial.

2. O ensino preparatório e assistencial dos Colégios Militares


O primeiro dos catorze3 Colégios Militares foi o Colégio Miliar do Rio de
Janeiro. A evolução histórica do Imperial Colégio Militar do Rio de Janeiro, destaca o
ainda Marquês de Caxias, em 1853, propondo ao Senado a criação de um Colégio

2
Organização Militar no sentido de espaço onde o profissional militar desempenha sua função laboral,
como por exemplo, um Batalhão, Regimento ou Grupo de Artilharia.
3
Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ); Colégio Militar do Porto Alegre (CMPA); Colégio Militar
de Santa Maria (CMSM); Colégio Militar de Curitiba (CMC); Colégio Militar de Belo Horizonte
(CMBH); Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF); Colégio Militar de São Paulo (CMSP); Colégio
Militar de Brasília (CMB); Colégio Militar de Campo Grande (CMCG); Colégio Militar de Salvador
(CMS); Colégio Militar de Recife (CMR); Colégio Militar de Fortaleza (CMF); Colégio Militar de Belém
(CMB); Colégio Militar de Manaus (CMM)
Militar, que pudesse amparar a educação dos filhos dos militares que estavam a seu
comando em inúmeras campanhas. Caxias mostrava-se preocupado com a moral de seus
comandados que estiveram em batalhas em meados do século XIX, em território
brasileiro e sul-americano.
Segundo Giorgis (2011), Caxias, que esteve no comando da Guerra contra Oribe
e Rosas, percebeu a necessidade de amparar os militares incapacitados e dependentes
dos militares que se mantinham em campanha. Tal suporte não se daria apenas através
de um sistema remuneratório, mas também na educação de seus filhos e que tal medida
aumentaria a moral da tropa, elevando seu poder de combate. Ainda, de acordo com
Giorgis (2011), foi apenas após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) que o
Conselheiro Thomaz Coelho desenvolveu a proposta que finalmente resultaria no que
hoje é o Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Da primeira concepção de um estabelecimento de ensino voltado para os
dependentes dos militares (1853), até a execução de um colégio propriamente com essa
vocação, levou mais de trinta anos. A Independência do Brasil, em 1822, a Guerra do
Paraguai (1864 – 1870), o processo de abolição da escravidão que culminou na Lei
Aurea em 1888 e o processo da Proclamação da República por Marechal Deodoro da
Fonseca em 1889 estão intrínseca e politicamente ligados à criação do Imperial Colégio
Militar.
A partir da segunda metade do século XIX, a formação da oficialidade do
Exército começa a mudar. Não existiam mais apenas portugueses ocupando postos de
oficiais. Isso, porém não torna o acesso à oficialidade do Exército coisa comum e de
fácil conquista. Cunha (2006) trata do recrutamento de oficial da seguinte forma:

No decorrer do Império, a composição social da oficialidade do Exército vai


se modificando. O oficialato das primeiras décadas, de características
aristocráticas, resultante da tradição militar portuguesa cede lugar,
principalmente a partir da reforma de 1850, a um recrutamento cada vez mais
endógeno à própria corporação, que vai se compor por indivíduos,
predominantemente, das camadas médias da população e até mais pobres. A
lei de 18504 burocratizou as promoções no Exército, sedimentando, aos
poucos, a meritocracia e inibindo o clientelismo, muito embora o favoritismo
e o critério político ainda continuassem pautando, de certa forma, a ascensão
na carreira (CUNHA, 2006, p. 44).

Estava, dessa forma, um cenário propício a um educandário que pudesse


desenvolver a vocação para as armas em brasileiros natos. A necessidade da educação

4
Lei n° 585, de 6/09/1850 e regulamento aprovado pelo decreto n° 772, de 31/03/1851.
básica para acessar um ensino superior, aliado a um recrutamento endógeno para acesso
à Escola Militar da Praia Vermelha, atraindo os filhos dos militares (órfãos e não
órfãos), fizeram parte do cenário que levou à criação do Colégio Militar do Rio de
Janeiro.
A criação do Imperial Colégio Militar está intimamente ligada à assistência de
dependentes de militares e à preparação para ensinos superiores existentes no Brasil do
final do século XIX. Para qualquer um dos cursos superiores então existentes,
necessitava de uma base teórica a fim de acompanhar as atividades escolares dos
ensinos superiores. Diferente do que é hoje, o Estado não tinha responsabilidade na
formação escolar, no que hoje podemos comparar ao ensino fundamental e ensino
médio.
Segundo Freire (2017), a ideia de um colégio para os filhos dos militares
tangenciava tanto a perspectiva filantrópica, como a ideia preparatória, numa analogia
endógena, na qual os filhos perpetuariam a carreira de seus pais.

Amadureceu, então, a ideia de um colégio militar que mesmo se valendo do


apelo assistencialista mais geral, viesse a preencher o vazio de formação
provocado pela ausência do nível escolar médio no Brasil. Os “preparatórios”
eram aquelas escolas cujos acompanhamento do nível superior, fazendo às
vezes do que hoje temos como Ensino Médio. Assim, um colégio militar
prepararia, principalmente dentro do universo de dependentes de militares,
aqueles candidatos à Escola Militar, viabilizando a melhora da formação
intelectual desses quadros (FREIRE, 2017, p.40).

Podemos inferir, que desde o ideário do Colégio Militar do Imperador o ensino


assistencial e preparatório esteve presente nos mais de centro e trinta anos dos Colégios
Militares, no sentido de cuidar dos órfãos dos militares mortos em combate, mas
também, um propósito do ensino preparatório, a fim de atender à necessidade de
conteúdo introdutório e preliminar às Escolas Militares de formação de oficial.

3. O processo de interiorização e a identidade do aluno do Colégio Militar


De acordo com Berger e Luckmann (2014), existe uma relação entre o indivíduo
e a sociedade, em que a realidade que se toma por verdade, esta que é percebida pelos
sentidos humanos, foi construída socialmente. O meio em que um sujeito está inserido
irá definir o modo como ele interage com aquilo que pensa ser a realidade.
Os autores consideram que a sociedade é uma realidade que está fora dos
sujeitos e que os indivíduos não nascem membros de uma sociedade, mas sim com
predisposições para se tornarem membros desta ou daquela. Dessa forma, é que cada
sujeito absorve a realidade que está fora de si.
Esse movimento de absorção da realidade em que o indivíduo é desenvolvido
chama-se de interiorização. É a partir de determinada interiorização que o sujeito se
verá como sociedade e poderá formar sua identidade.

A interiorização, no sentido geral aqui empregado, está subjacente tanto à


significação quanto às suas formas mais complexas. Dito de maneira mais
precisa, a interiorização neste sentido geral constitui a base primeiramente da
compreensão de nossos semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do
mundo como realidade social dotada de sentido (BERGER E LUCKANN,
2014, p.167).

Berger e Luckmann (2014) consideram que a socialização é um processo em que


o indivíduo interage com seu ambiente. Dependendo do estágio em que ocorre tal
interação, podemos falar em socialização primária ou secundária. Num primeiro
momento, onde os seres humanos compreendem a realidade dos seus semelhantes,
teremos a socialização primária. Já, quando o sujeito é capaz de compreender o mundo
como realidade social dotado de sentido, isto é, assumir para si que o mundo no qual
vive, podendo criar ou recriar esse mundo, estaremos lidando coma socialização
secundária.
A socialização primária é, a primeira socialização que o indivíduo
experimenta na infância, e em virtude da qual torna-se membro da sociedade.
A socialização secundaria é qualquer processo subsequente que introduz um
indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua
sociedade. (BERGER; LUCKANN, 2014, p.181).

Compreendemos que os processos de interiorização do profissional militar não


têm a mesma profundidade do que a desenvolvida nos Colégios Militares. Entretanto,
valendo de uma analogia do processo de socialização secundária nos Colégios Militares
com a da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN)5, podemos citar Castro
(2004), que ao analisar o “Espírito Militar, traz um conceito de socialização secundária
apresentado por Berger e Luckmann.

5
Portaria nº 1.357 – Cmt Ex, de 6 de novembro de 2014 - Regulamento da AMAN:
Art. 2o A AMAN é um estabelecimento de ensino superior, de formação, da linha do ensino militar
bélico, diretamente subordinado à Diretoria de Educação Superior Militar (DESMil), destinado a:
I - formar o aspirante-a-oficial das Armas, do Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico,
habilitando-o para os cargos de tenente e capitão não-aperfeiçoado, previstos nos quadros de
organização, em tempo de guerra ou de paz;
II - graduar o bacharel em Ciências Militares;
III - iniciar a formação do chefe militar
A socialização militar fornece um dos principais exemplos sociológicos da
“alternação”, uma forma particularmente intensa de socialização secundária
na qual o indivíduo “muda de mundos” e em que há uma “intensa
concentração de toda interação significante dentro do grupo” (CASTRO,
2005, p.38).

Tendo como base a socialização primária e secundária proposta Berger e


Luckmann (2014), iremos abordar a interiorização dos alunos no Sistema Colégio
Militar do Brasil sob duas formas de acesso aos Colégios Militares: o amparado e o
concursado. O aluno amparado, aquele que estuda no Colégio Militar por ser filho ou
dependente de um militar de carreira do Exército Brasileiro, é esperado que sua
socialização primária tenha sido marcada pela introdução num mundo objetivo da
realidade do dia a dia dos militares, com acesso a símbolos, valores e crenças vividos
por seus pais. No momento do acesso a um Colégio Militar, essa criança ou adolescente,
vivenciou a socialização secundária, quando ele já era socializado com a hierarquia e
disciplina interpretada e vivida por seus pais e responsáveis. Ao ingressar no Colégio
Militar para viver em outro setor do mundo militar, o Sistema Colégio Militar do Brasil,
que mesmo mantendo um diálogo com símbolos e conceitos militares, não o vivem na
mesma situação dos profissionais militares, ou o que vive em casa com seus pais e
irmãos.
Outra situação poderá ser vivenciada pelo aluno concursado. Os Colégios
Militares possuem vagas de acesso através de concurso público realizado no 6º ano do
ensino fundamental e 1º ano do ensino médio. Os alunos aprovados possuem diversas
origens, tanto sociais quanto culturais. Geralmente, os alunos concursados possuem
origem civil, na perspectiva de que seus pais ou responsáveis não são militares de
carreira, ou seja, essa parcelo dos alunos não vivenciaram em suas socializações
primárias a realidade em que desenvolveram um conhecimento relativo da sociedade
militar.
Ao se refletir sobre a socialização primária, imagina-se que todo ser humano
nasce em uma estrutura social objetiva e nessa estrutura existem os estímulos e
indivíduos que se responsabilizarão pela socialização das crianças que ali nasceram, isto
é, quando se nasce já existe uma organização social responsável para realizar a
socialização dos novos. A criança não escolhe os valores e artefatos simbólicos e
quando estes são apresentados tornam-se a realidade de algo que passarão a ser
conhecidos como mundo social objetivo. Assim, o mundo social objetivo é apresentado
pela visão que os pais têm dos símbolos e valores por eles construídos e que defendem
ser os melhores para si e suas famílias. A mesma leitura pode ser feita na socialização
secundária, aqui diferenciada pelo contexto do conhecimento que será interiorizado, isto
é, um novo cabedal de símbolos e significados que serão adotados para uma função
direta ou indiretamente ligada a um ofício, ou no caso dos Colégios Militares, uma
socialização construída a fim de criar um espaço de ensino fundamental e médio com
características militares.
Neste contexto, Berger e Luckmann consideram a identidade uma interseção do
indivíduo e sociedade, num processo de construção que pode ser objetiva e subjetiva.

A identidade é um fenômeno que deriva da dialética entre um indivíduo e a


sociedade. Os tipos de identidade, por outro lado, são produtos tout court6,
elementos relativamente estáveis da realidade social objetiva (sendo o grau
de estabilidade evidentemente determinado socialmente, por sua vez).
(BERGER; LUCKANN, 2014, p.222).

O processo de construção da identidade do aluno do Colégio Militar, pela ótica


da construção social da realidade, proposta Berger e Luckmann (2014), é conduzida
numa relação de desenvolvimento do ethos militar e um dinamismo próprio do SCMB
no processo de interiorização dos alunos nos ritos e preceitos do Exército Brasileiro.
De acordo com Freire (2017), a principal diferença de um aluno do Colégio
Militar para o discente civil7 é o contexto militarizado. Os ritos e valores militares que
são passados nos Colégios Militares desenvolvem em seus discentes o ethos militar.
Nogueira (2014) descreve o ethos militar no cotidiano do aluno do Colégio
Militar da seguinte forma:
Essa aplicação do ethos militar nos alunos dos Colégios Militares pode ser
compreendida se pensarmos como eles se apresentam diariamente: fardados
como militares; possuem e ostentam sistemas de graduações; perfilam em
dispositivos juntos com a tropa de militares profissionais; são-lhes cobradas
atitudes inerentes ao militarismo, como continências e os sinais de respeito
para com os superiores hierárquicos; enfim, os alunos “incorporam” as
atitudes, os gestos, o linguajar próprio e, principalmente, a postura do militar
(NOGUEIRA, 2014, p.74).

No caminho do ensino preparatório, onde o despertar pela carreira das armas é


desenvolvido através da construção de uma identidade baseada no ethos militar, o aluno
do Colégio Militar está imerso numa rica fonte de valores, símbolos e ritos militares,
destacando o aluno do Colégio Militar não é um militar, contudo o caminho
desenvolvido na construção de sua identidade traz uma analogia, dentro da legalidade
6
Tout Court – sem mais nada; simplesmente.
7
Considerando civil a especificidade de Colégio e não a profissão própriamente.
prevista, ao desenvolvimento do ethos militar dos profissionais das carreiras das armas,
neste caso em específico ao militar do Exército Brasileiro.

4. Legislação militar versus Legislação escolar

Segundo Nogueira (2014), os alunos dos CM desenvolvem cotidianamente os


valores patrióticos do Exército Brasileiro, tendo o ethos militar como parte da rotina e
da vida social, não apenas dentro dos muros escolares, como também em conduta com
seus pais e responsáveis, assim como o zelo pelo uso do uniforme quando fora dos
Colégios.

Como Organização Militar (OM), os Colégios Militares são regídos por Leis
de Ensino Específicas, quando os atributos da área específica inerentes à
instrução militar podem ser aplicados de forma adicional ao ensino
aprendizagem dos alunos, sendo que a educação convencional caminha
paripassu com as atividades eminentemente militares (Ethos militar), como
por exemplo, podemos citar a ordem unida, os “gritos de guerra”, o uso de
uniformes (fardas), condecorações, sistema de escola hierárquica, atividades
físicas e competições militares e formaturas etc. (NOGUEIRA, 2014, p.85).

A Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases


da educação nacional (LDBN), traz no art.83: “O ensino militar é regulado em lei
específica, admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos
sistemas de ensino”. Para o ensino nos estabelecimentos de ensino do Exército
Brasileiro de formação bélica, como AMAN e Escola de Sargentos das Armas (ESA), o
Departamento de Cultura do Exército (DECEx), através de suas Diretorias, estabelece
as condições de funcionamento dos cursos, assim como delibera sobre os currículos
didáticos.
O Sistema Colégio Militar do Brasil, subordinado diretamente à DEPA, que é a
Diretoria do DECEx responsável pelo planejamento, coordenação, controle e supervisão
da educação preparatória e assistencial desenvolvida nos Colégios Militares, também
está em ligação, além do Ministério da Defesa, por intermédio da DEPA e DECEx, com
o Ministério da Educação.
A Portaria do Comandante do Exército Nº 1.114, de 5 de abril de 2022, que
aprovou o Regulamento dos Colégios Militares (EB10-R-05.173) estabelece os
preceitos comuns dos Colégios Militares, assim como delineia o funcionamento e as
subordinações dos Colégios Militares.

Art. 5º A missão dos CM é ministrar a educação básica, nos anos finais do


ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e no ensino médio.
Paragrafo único. O ensino nos CM é realizado em consonância com a
legislação federal de educação e obedece às leis e aos regulamentos em
vigor no Exército.
Art. 6º A ação educacional conduzida nos CM é feita segundo os valores e as
tradições do Exército Brasileiro e tem as seguintes metas pedagógicas:
I - desenvolver atitudes e incorporar valores familiares, sociais e
patrióticos que assegurem a formação de um cidadão patriota, cônscio de
seus valores, seus direitos e suas responsabildiades, qualquer que seja o
campo professional de sua preferência;
[...]
VI - despertar a vocação para a carreira militar (BRASIL, 2008, grifo nosso).

O EB10-R-05.173 deixa claro que os Colégios Militares, além de atender os


dependentes dos militares de carreira do Exército enquadrados nas condições prevista
para acesso ao ensino assistencial, deve ter a capacidade de preparar os alunos para o
ingresso em escolas de formação da linha bélica, prioritariamente a Escola Preparatória
de Cadetes do Exército, e também para instituições civis de ensino superior.
O atual Projeto Pedagógico (PP) do Sistema Colégio Militar do Brasil abarca o
quinquênio 2021-2025. Tem como desafio projetar o SCMB para um cenário de
vanguarda educacional sempre fundamentado nos valores e nas tradições do Exército
Brasileiro.
Independente se o ensino preparatório está alinhado ao ensino assistencial, como
previsto no EB10-R-05.173, ou se a educação preparatória capacita à vitória
profissional dos alunos ao final dos estudos nos Colégios Militares com base na ética e
realização pessoal, em ambas as proposições, o acesso à EsPCEx, berço da formação
militar bélica do Exército Brasileiro, aparece como prioridade.

Segundo a Lei Nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, que dispõe sobre o Estatuto


dos Militares (E1-80), os membros das Forças Armadas, Marinha do Brasil (MB),
Exército Brasileiro (EB) e Força Aérea Brasileira (FAB), fazem parte de uma categoria
especial de servidores da Pátria. Estes, denominados militares, possuem como bases
institucionais a hierarquia8 e a disciplina9 (BRASIL, 1980).

8
A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças
Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz
O Estatuto dos Militares traz os seguintes valores como obrigações por parte dos
militares: patriotismo; civismo e o culto às tradições históricas; fé na missão elevada das
Forças Armadas; espírito de corpo; amor à profissão; e aprimoramento técnico-
profissional.
O Projeto Pedagógico do SCMB 2021-2025 considera como valores
fundamentais que perpassam de forma transversal todas as práticas desenvolvidas nos
Colégios Militares: respeito; camaradagem; lealdade; patriotismo; espírito de corpo ou
sentimento de pertença, meritocracia; culto à tradição; princípio da autoridade;
disciplina; valor à família; aprimoramento técnico-pessoal; fé na missão do exército.
Para que seja possível compreender o alinhamento dos valores descritos no PP
SCMB com o Estatuto dos Militares, foi elaborado um quadro de equivalência entre o
que Instituição (Exército Brasileiro) espera dos alunos dos Colégios Militares.

Quadro 1 - Equivalência do PP SCMB com o E1-80


Valor EI-80 Valor PP Descrição PP SCMB
SCMB
Sentimento de amor, devoção e orgulho ao País. É por meio desse
Patriotismo Patriotismo sentimento que o indivíduo valoriza as tradições, seus vultos
históricos, seus patrimônios materiais e imateriais.
Práticas que refletem o patriotismo. Por meio do hasteamento à
Bandeira Nacional, do Canto do Hino Nacional, da presença da
Bandeira Nacional em todas as salas de aula, da valorização dos
Civismo Civismo
feitos e vultos históricos, o civismo é praticado nos CM como
forma de demonstrar a importância da paz, do diálogo, da honra e
da fidelidade do cidadão para com seu País e sua gente.
Culto às Valorização da memória e dos laços que promovem a construção da
tradições Culto à tradição identidade, o estabelecimento de vínculos, dos ritos e permeia a
históricas representação social e o imaginário de um determinado grupo.
Reconhecer a importância do Exército como Instituição que
Fé na missão Fé na missão do contribui para a garantia da soberania nacional, dos poderes
elevada das Exército constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses
Forças nacionais e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-
Armadas estar social.
Termo ‘espírito de corpo’ refere-se à percepção individual que o
Espírito de indivíduo agrega a respeito de seu pertencimento dentro de um
Espírito de Corpo ou determinado grupo, nesse caso, materializado pela ideia de ‘aluno
Corpo Sentimento de do Colégio Militar’. Ser aluno de um CM significa partilhar seus

pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de


acatamento à sequência de autoridade. (§1º do Art. 14 do E1-80).
9
Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições
que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico,
traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes
desse organismo. (§2º do Art. 14 do E1-80).
Pertença hábitos, tradições, e pertencer a uma coletividade, buscando
participar e defender seus interesses.
Aprimoramento Aprimoramento Desenvolver a capacidade de se aperfeiçoar, aprender, crescer não
técnico- Técnico-Pessoal somente no sentido mais comum (afeito ao cognitivo), mas em
profissional. todas as dimensões, através da sua vida.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

O PP SCMB, utilizando de valores análogos dos próprios militares do Exército


Brasileiro, aponta para a busca de uma identidade do aluno voltada a um perfil com
característica que perpassa o ethos militar. Podemos dizer que há por parte do Exército
Brasileiro uma expectativa no comportamento dos alunos de competências e valores
próprios do seio militar.
Um segundo marco legal importante do Exército Brasileiro é o Regulamento
Disciplinar do Exército (R4). Aprovado pelo Decreto Nº 4.346, de 26 de agosto de
2002, tem por finalidade descrever as transgressões disciplinares que os militares do EB
estão passíveis de ocorrer, assim como especificar as normas relativas às punições
disciplinares.
O Regulamento Disciplinar do Exército trata a camaradagem, a hierarquia e a
disciplina como princípios gerais, não cabendo aos militares a opção em cultuá-los, mas
sim a obrigação. O comportamento do militar que atente contra a qualquer um dos três
princípios pode ser considerado uma transgressão disciplinar. Esta, por sua vez, não se
resume única e exclusivamente a ir de encontro a esses princípios.
Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar
contrária aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à
etica, aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação
elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar
e o decoro da classe (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Assim como em outras áreas, o regime disciplinar dos Alunos dos Colégios
Militares está intimamente ligado aos preceitos e ritos militares. Neste caso, o manual
que os Colégios Militares se ampararam para desenvolver o regime aplicado aos alunos
dos Colégios Militares é o Regulamento Disciplinar do Exército.
O Regimento Interno dos Colégios Militares (RICM-2022)10, de
responsabilidade da Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial, traz conceitos
como regime disciplinar, falta disciplinar e, assim como no RDE que apresenta uma
lista das transgressões disciplinares, o RI/CM possui a lista das faltas disciplinares.

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DIRETORIA DE EDUCAÇÃO PREPARATÓRIA E ASSISTENCIAL. Legislação. Disponível em:
http://www.cmrj.eb.mil.br/ricm-2022. Acesso em: 23.jul. 2022
O regime disciplinar, com suas consequências na formação da criança e do
adolescente, deverá ser capaz de influenciar na conduta do aluno, dentro e
fora do universo escolar, criando condições para que o desenvolvimento de
sua personalidade se processe em consonância com os padrões éticos, da
sociedade brasileira e possibilitando que sejam internalizados os atributos
indispensáveis ao crescimento social. (grifo nosso. BRASIL, 2022. p.40)
Falta disciplinar é qualquer violação dos preceitos de ética, dos deveres e
obrigações escolares, das regras de convivência social e dos padrões de
comportamento impostos aos alunos, em função do sistema de ensino
peculiar aos colégios militares. (grifo nosso. BRASIL, 2022.AnexoE p.41)

Para verificar in loco algumas das quarenta e sete faltas disciplinares a que os
alunos dos CM estão passíveis de ocorrer, de acordo com o Apêndice “1”ao Anexo “E”
do RICM/2022, e as transgressões disciplinares previstas no RDE, foi confeccionada o
quadro abaixo:

Quadro 2 – Comparativo de algumas faltas disciplinares oriundas do RICM/2022 e as respectivas


transgressões disciplinares do RDE.
Faltas disciplinares (RI/CM) Transgressões disciplinares (RDE)
Faltar à verdade Faltar à verdade ou omitir deliberadamente
informações que possam conduzir à apuração de
uma transgressão disciplinar.
Utilizar-se do anonimato. Utilizar-se do anonimato.
Comportar-se de maneira inadequada, Portar-se de maneira inconveniente ou sem
desrespeitando ou desafiando pessoas, compostura.
descumprindo normas vigentes ou normas de boa
educação.
Deixar de comparecer ou chegar atrasado às Ausentar-se, sem a devida autorização, da sede da
atividades programadas. organização militar onde serve, do local do serviço
ou de outro qualquer em que deva encontrar-se
por força de disposição legal ou ordem.
Simular doença para esquivar-se ao atendimento de Simular doença para esquivar-se do cumprimento
obrigações e atividades escolares. de qualquer dever militar
Apresentar-se com uniforme diferente do que foi Comparecer o militar da ativa, a qualquer
previamente estabelecido. atividade, em traje ou uniforme diferente do
determinado
Ter pouco cuidado com o asseio próprio ou Ter pouco cuidado com a apresentação pessoal ou
coletivo e com sua apresentação individual. com o asseio próprio ou coletivo

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Percebe-se pelo material apresentado que o RICM/2022 “bebeu da água” do


RDE a fim de elaborar a relação das faltas disciplinares. Brochado (2001) afirma que:
“a justiça militar é um instrumento de preservação dos valores que sustentam o caráter
profissional dos soldados” (BROCHADO, 2001, p.234).
É bem verdade, que os manuais que regulam o funcionamento dos Colégios
Militares não colocam os alunos na posição de militares, mas o caminho percorrido
pelos alunos na formação de suas identidades é um extrato, dentro da perspectiva e
legalidade prevista, de um ethos militar.

5. Conclusão

A identidade dos alunos dos Colégios Militares está consolidada no


desenvolvimento do ethos militar. A história dos Colégios Militares vivenciou
importantes acontecimentos nacionais, que justificaram a perspectiva assistencial:
Guerra contra Oribe e Rosas; Guerra da Tríplice Aliança; Proclamação da República: e,
a I e II Guerra Mundial. É interessante pontuar essas questões militares, pois em razão
delas deram-se início ao ideal de um estabelecimento de ensino que fosse dirigido aos
órfãos e filhos dos mutilados das Guerras.
A criação do Colégio Militar da Corte não resolveria apenas a questão da
assistência aos filhos dos militares, mas também uma carência na preparação para o
acesso ao ensino superior. Há época, o Estado não tinha a responsabilidade na formação
escolar (básica, média e superior), assim como é hoje no Brasil. É neste sentido que o
Colégio Militar, desde sua criação, tem uma missão dual: assistencial e preparatória.
Observa-se que os Colégios Militares atualmente não possuem a configuração
pré-vocacional, mas sim um estabelecimento de ensino mantido pelo Exército
Brasileiro, onde o despertar do interesse pela vocação militar é desenvolvido através da
construção da identidade do aluno baseada no ethos militar.
No caminho do ensino preparatório, onde o despertar pela carreira das armas é
desenvolvido através da construção de uma identidade baseada no ethos militar, os
alunos dos Colégios Militares estão imersos numa rica fonte de valores, símbolos e ritos
militares. Além disso, a hierarquia e disciplina, bases institucionais das Forças
Armadas, são apresentadas aos alunos já nos primeiros dias de contato com o Colégio
Militar.
Os valores previstos no Estatuto dos Militares, o patriotismo, o civismo e o culto
às tradições históricas, a fé na missão elevada das Forças Armadas, o espírito de corpo,
o amor à profissão, e o aprimoramento técnico-profissional, estão entrelaçados ao
Código de Honra dos alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
É importante destacar que o aluno do Colégio Militar não é um militar, contudo
o caminho desenvolvido na construção de sua identidade traz uma analogia, dentro da
legalidade prevista, ao desenvolvimento do ethos militar dos profissionais das carreiras
das armas, neste caso em específico ao militar do Exército Brasileiro. E ainda, o regime
disciplinar do Colégio Militar do Rio de Janeiro não é trabalhado apenas na perspectiva
da punição disciplinar. Os elogios, méritos, medalhas e prémios são praticados com
frequência e em diferentes situações.
A identidade do aluno do Colégio Militar, baseada no ethos militar e num forte
simbolismo consegue amparo numa padronização simbólica caracterizada pelo culto às
tradições do Exército Brasileiro. Neste sentido, entendemos a socialização primária
como o processo em que compreendemos nossos semelhantes, em que, ainda na
infância, o indivíduo se sente membro de uma sociedade e dela traz seus símbolos,
culturas e valores. E a socialização secundária se torna o momento no qual o sujeito
assume um novo papel num mundo por ele escolhido, e nesse nosso cenário o indivíduo
passa pelo processo da interiorização. A interiorização pode trazer elementos da
socialização primária e secundária, mas seu principal objeto é construir um sentido real,
baseado em novos símbolos, ritos, valores e cultura caraterísticos desse cenário pelo
indivíduo escolhido.
Para concluir, podemos afirmar que a socialização dos alunos dos Colégios
Militares do reflete um discente que passa pela construção de uma identidade baseada
no ethos militar, através da assimilação dos valores e preceitos militares. Dessa maneira,
os alunos assumem a identidade proposta para os militares do Exército Brasileiro,
preparando-os para o ingresso na carreira das armas, e o consequente acesso às Escolas
Militares, tal como a Escola Preparatória de Cadetes do Exército.
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