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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FE

Discente: Letícia Pereira Costa


Disciplina: Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico
Docentes: Luis Gustavo Silva e Suely Ferreira
Data: 21/12/2020

A estrutura de uma escola militar contém e pressupõe a gestão e administração


realizada por militares, por conseguinte, o comportamento e condutas, regras e práticas
usuais dos militares são as que dão um norte às propostas, objetivos e organização de
uma escola militar, pois sendo ela denominada assim, precisa possuir em si princípios
e características fundamentais das ações dos militares.
Um militar que não é formado em Pedagogia, não possui conhecimentos
pedagógicos para desempenhar adequadamente o processo de ensino-aprendizagem,
o que irá aplicar na gestão escolar são parâmetros que advêm da formação militar que
recebeu, que muito se aparta das teorias e práticas desenvolvidas e defendidas pelos
pensadores da Educação durante séculos.
A disciplina rígida muito prejudica a socialização dos professores e alunos,
muito necessária ao processo de ensino-aprendizagem, processo a qual tem objetivo
uma boa gestão pedagógica, que é democrática. Mas para ela existir de fato, é preciso
que haja diálogo entre os indivíduos e que toda a comunidade escolar - pais,
professores, estudantes e funcionários - colaborem com os objetivos da Educação e
na organização escolar de forma ativa. Ou seja, que as decisões e opiniões sejam
democráticas e não centralizadas a um grupo, como ocorre nas escolas militares, onde
esse princípio de centralização é muito presente e intenso, pois há um ataque à gestão
democrática. Esta, que é uma gestão amparada pelas legislações do Brasil, como a
Constituição e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
Nos colégios militares há um regime de normas, em que o descumprimento
resulta em punições ou em exclusão permanente. Deste modo, só se permite o
usufruto dos colégios militares os indivíduos que se adequam de maneira submissa e
obediente às regras impostas. Ademais, muitos alunos permanecem, mas sob
contínuas tentativas de se adequarem, desta maneira sofrendo constantes penas,
repreensões e castigos por parte das autoridade que comandam o colégio. De fato é
exatamente assim, comando, uma maneira correta para referir sobre o governo dos
militares em um colégio, pois não se trata de uma gestão propriamente dita e
educacional, mas um comando, tal como um capitão tem sobre os soldados, pois na
verdade, aquilo que ocorre nos departamentos militares, de modo algum está apartado
do que ocorre nos colégios militares,
A disciplina é conforme explica Foucault, no livro Vigiar e Punir, em que
conceitua a disciplina como algo que visa moldar os sujeitos conforme os parâmetros
estabelecidos na sociedade, coagindo e se utilizando deles:
"O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma
arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas
habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de
uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente
quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das
coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação
calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus
comportamentos."

Desta maneira, se ver o objetivo de tal disciplina nas escolas militares, como
bem também porque vários setores da sociedade desejam o aumento delas e a
substituição das escolas normais por elas, pois consideram que os alunos não
desempenham bem os estudos nas escolas normais, como constatado pelos exames e
avaliações, com critérios arbitrários. E com isto, se critica os professores e os
responsabilizam por estes resultados, já que segundo pensam, os professores não são
capazes de conter e disciplinar adequadamente os alunos para prestarem atenção às
aulas e reterem os conhecimentos. Então, segundo essa ideia seria necessário que
os alunos fossem transferidos para uma escola militar para assim serem aplicados
neles a disciplina própria dos militares, e desta forma alcançar uma suposta qualidade.
Diante de todos esses fatos mencionados é possível constatar como as
escolas cívicos-militares atacam a dimensão intelectual da educação, o trabalho
docente e a gestão democrática, tão importante e indispensável para se alcançar a
finalidade educativa de formar sujeitos enriquecidos com os conhecimentos
importantes e conjuntamente produzidos pela humanidade e ter um pensamento crítico
sobre eles.
Referências

FOUCAULT, M. . ​Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis:


Editora Vozes, 1987.

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