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De Ginásio a Colégio: a história e fundadores do Colégio Tiradentes

Corcina Imaculada Paixão1


Gilberto Protásio dos Reis2

Surgido a partir da necessidade de disponibilizar ensino de qualidade aos servidores


militares e seus dependentes, o Ginásio Tiradentes – datado mais precisamente do ano de
1949 – mais que uma escola vinculada a Polícia Militar, surge no seio desta, uma vez que a
lei de criação também determinava que o Ginásio Tiradentes funcionaria nas dependências
do então Departamento de Instrução3 da PMMG no Bairro Prado, na cidade de Belo
Horizonte, hoje sede da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais.

Conforme o site da PMMG, e também dentro da comunidade formada por alunos e


funcionários do Colégio, sua história e origem é sempre ligada a figura do Cel. Argentino
Madeira, à época então Tenente da corporação militar mineira, tendo este sido o segundo
diretor da unidade estudantil e permanecido a frente do mesmo por vinte anos.

O presente artigo tem por finalidade apresentar alguns aspectos relacionados as


origens do Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais – CTPMMG – buscando
dados de quando o citado colégio ainda era Ginásio Tiradentes, criado no final da década de
1940, quando de sua fundação por decreto4 do então governador de Estado, o Senhor Milton
Soares Campos.

Na Imagem 01, segue nota do Comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais,
o Sr. Coronel José Vargas da Silva, publicada na Revista Libertas, instituída pelo referido
coronel e editada pela PMMG, em princípios da década de 1940. A nota publicada na edição
de Outubro de 1949, faz referência a criação do Ginásio Tiradentes, justificando a
necessidade de uma instituição gratuita e de qualidade, uma vez que:

“O custo assustador do ensino agravado com o desequilíbrio do orçamento


doméstico como decorrência do elevado padrão de vida, a cada dia mais

1
Historiadora e Bacharel em Humanidades pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri.
2
Tenente Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais – Comandante do Centro Cultural e Histórico da
PMMG.
3
Artigo 1º do Decreto Lei 480 de 10 de novembro de 1949.
4
Decreto Lei 480, de 10 de novembro de 1949.

1
vexatório, não tem permitido aos pais de família de média situação
econômica proporcionar a seus filhos um traquejo cultural além do
efetuado nos grupos escolares.”(SILVA, 1949, p. )

Imagem 01 – Revista Libertas, de Outubro de 1949.

No mesmo veículo editorial, na Edição de Dezembro de 1949, encontra-se outra


matéria de referência a implantação do Ginásio Tiradentes – como é possível observar na
Imagem 02 – desta vez comemorando sua implantação em outubro de 1949, e da efetiva
instalação do curso de admissão do já citado ginásio.

“Sob a presença do Chefe do Estado Maior e com a presença dos


comandantes de unidades, chefes de serviços, do Dr. Domingos Gusmão

2
Júnior, auditor da Justiça Militar e grande número de oficiais, inaugurou-
se solenemente, o Curso de Admissão do Ginásio Tiradentes, do
Departamento de Instrução, na tarde histórica de 21 de outubro próximo
passado.”(LIBERTAS, 1949, p.76)

Imagem 02 – Revista Libertas de Dezembro de 1949

Na matéria que faz referência à implantação do curso de admissão no ainda Ginásio


Tiradentes, se encontra o nome de importantes figuras em sua história, tais como o professor
e advogado Carlos Porfírio dos Santos – primeiro diretor do recém fundado centro
educacional e também um de seus fundadores– e seus primeiros professores, dentro os quais
o então Tenente Argentino Madeira.

No decorrer do artigo, em alguns momentos será usado o nome Ginásio Tiradentes e


em outros Colégio Tiradentes para se referir a mesma instituição. A duplicidade de nomes
se deve ao fato de quando de sua fundação pelo decreto Lei 480/49, a instituição educacional
ter sido nomeada como Ginásio Tiradentes, tendo permanecido assim até o ano de 1968,
quando entra em vigor a Lei 4.941 de 12 de setembro de 1968, quando era governador de
estado e Senhor Israel Pinheiro da Silva, que altera a designação de estabelecimentos de
ensino médio mantidos pelo governo estadual, passando então ser designado de Colégio.

“Art 1º - Os estabelecimentos de ensino médio, mantidos pelo Estado,


serão designados de acordo com as normas desta lei. Art. 2º - Designar-se-

3
á “Ginásio Estadual” o estabelecimento que ministrar apenas curso ou
cursos de primeiro ciclo; e “Colégio Estadual” o que ministrar, também
apenas, curso ou cursos de segundo ciclo.”(Lei 4.941/68, p.1)

A instituição de um centro educacional no seio da polícia, que não voltado para


educação e formação específicas da carreira militar, pode ser tomada como iniciativa adotada
às margens dos deveres organizacionais da PMMG atribuídos a defesa da segurança pública,
fugindo à características comumente atribuídas aos militares – o uso da força policial para
controle e manutenção da ordem na sociedade, criando assim uma cultura policial com
aspectos puramente atrelados ao uso da força física.

A necessidade de buscar detalhes acerca das origens do CTPM advém da premência


de entender como a ideia da instauração de uma escola dentro da Polícia Militar surgiu,
partindo da iniciativa de pessoas dentro da Polícia Militar ou a estas ligadas, e que
possibilitou a existência hoje de um centro educacional com mais de 20 unidades espalhadas
pela capital mineira e pelo interior do estado, dando a oportunidade de educação gratuita e
de qualidade a filhos de militares e possibilitando ainda o ingresso de alunos filhos de civis,
servidores ou não da instituição.

Parte da história anterior a implantação efetiva do Ginásio Tiradentes, é contada por


Márcia de Sousa Almeida, no livro ‘Semeando e colhendo’, publicado no ano de 2005.
Casada com o então Major Manoel José de Almeida, a autora relembra em seu livro de
memórias a realização de inúmeras reuniões ocorridas em sua casa que serviram de embrião
para a implantação do hoje Colégio Tiradentes.

Conforme o relato da autora, pode-se inferir que a ideia da implantação de uma escola
que oferecesse educação de qualidade aos filhos de militares, advém de um processo de
desenvolvimento e expansão do Serviço Social dentro da polícia mineira:

“Tendo em vista o desenvolvimento do Serviço Social dentro da Polícia Militar, o


Comandante Geral determinou o funcionamento de vários Cursos, como: Curso
Intensivo de Auxiliares de Administração Geral, Serviço Social, com técnica e
atividades práticas; Direito da Família e do Menor; Psicologia, Sociologia,
Educação[...]” (ALMEIDA, 2005, p.167)

Ainda conforme Márcia Almeida, foi o interesse da corporação militar pela área
educacional que possibilitou a implantação do Ginásio Tiradentes. Seu Marido, então Major

4
da polícia mineira, chefe de Gabinete do Comandante Geral da época, Cel José Vargas da
Silva5, teve papel fundamental para a idealização da escola:

“Nas reuniões costumeiras com o Comandante Vargas, Manoel de Almeida,


explanando sobre os recentes eventos, abordava a necessidade de um órgão
especializado, definitivo, dentro da Polícia Militar, para agrupar toda a gama de
atividades espalhadas nos diferentes setores educacionais da Corporação.”
(ALMEIDA, 2005, p.167)

As reuniões ocorridas em casa do Major Almeida e de sua esposa, foram o ponto


culminante da fundação, pelo menos no campo ideológico, do Ginásio Tiradentes, sendo
estas frequentadas pelo Comandante Geral e outros importantes nomes do corpo de oficiais
da PMMG, tais como Saul Martins e Jofre Lellis.

Ao longo de sua escrita, Márcia Almeida não cita o mais ‘famoso’ militar atrelado a
história do Colégio Tiradentes, o Coronel Argentino Madeira, quanto à participação no
processo intelectual que antecipou a efetiva implantação do educandário. Podemos inferir a
partir de seu relato, que a tão importante participação do referido Coronel na história da
instituição educacional não se deu desde os primórdios de sua fundação, e sim quando esta
já estava fundada devido à Lei nº 480/49.

Partindo do pressuposto que há outras maneiras de olhar as instituições e sua


memória, o que buscamos por meio desse artigo, é dar a devida importância as figuras dos
Senhor Cel. Manoel José de Almeida, já acima citado e comprovada sua participação quanto
mentor intelectual na fundação do hoje Colégio Tiradentes e também ao Cel. Manoel Doro
Pereira – cuja participação na história do colégio será mais a frente exposta – quanto
partícipes tão importantes quanto o Cel. Argentino Madeira na história do Colégio
Tiradentes.

A existência do Colégio há quase setenta anos, com uma figura emblemática como a
do Cel. Argentino Madeira a frente, nos leva a pensar na reapresentação da história da
instituição, na tentativa de agregar juntamente a figura do Cel. Argentino Madeira a dos dois
coronéis acima citados.

5
Coronel Vargas permaneceu no posto de Comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais pelo
período compreendido entre 18 de novembro de 1946 a 04 de janeiro de 1951, conforme informação
constante no sítio eletrônico da PMMG - https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-
pm/conteudo.action?conteudo=714&tipoConteudo=subP

5
O propósito deste artigo não é fazer um trabalho de biografia, mas se faz necessária,
até mesmo para sua contextualização, uma breve explanação acerca da vida dos três coronéis
dentro da Polícia Militar de Minas Gerais, focando nosso relato quanto a participação em
campos educacionais dentro da Polícia Militar. Para tanto, serão usadas como fontes além
do livro de Márcia Almeida – esposa do Coronel Manoel de Almeida – as fichas funcionais
dos Coronéis Argentino e Doro. Usaremos o critério de investidura na corporação militar
para o breve relato biográfico das três figuras relatadas.

Nascido em Januária, Manoel José de Almeida, ingressa na corporação militar no 3º


Batalhão, na cidade de Diamantina – MG, em janeiro de 1929, com dezesseis anos de idade,
pois, “Queria antecipar a sua maioridade e o fez assentando praça na Força Pública, no dia
dois de janeiro de 1929, como simples soldado, juntamente com seus novos amigos de
Diamantina.” (ALMEIDA, 2005, p.158).

Dentre os acontecimentos importantes em sua carreira como militar, é importante


ressaltar sua participação, juntamente com o regimento do Terceiro Batalhão na Revolução
de 1930, tendo combatido na cidade de Carinhanha, interior da Bahia. Pode-se destacar
também, a função exercida por Manoel de Almeida, no final da década de 1930, no cargo de
Professor e Instrutor do Departamento de Instrução em Belo Horizonte, localizado no Bairro
Prado.

Quando assumiu a chefia de Gabinete do então Comandante Geral da Polícia Militar,


Cel. José Vargas da Silva, o então Major Manoel de Almeida, possibilita a implantação da
Escola de Instrução Musical: “A Escola foi implantada no Departamento de Instrução, de
onde saíram grandes profissionais que vieram a formar as bases das orquestras sinfônicas de
Minas, Brasília, de São Paulo e do Paraná.” (ALMEIDA, 2005, p.164).

É inegável ressaltar a importância da figura do Cel. Manoel de Almeida, ainda


enquanto Major da corporação mineira, na implantação de outro centro educacional tão
importante quanto Colégio Tiradentes: a Granja- Escola Caio Martins, fundada em 1948, no
município de Esmeraldas – MG, também vinculada à época a Polícia Militar, com a
finalidade de receber e assistir menores carentes em situação de vulnerabilidade social e o
homem do campo. Hoje, conhecida por Fundação Caio Martins – FUCAM – é órgão
vinculado à SEDESE – Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social – de
Minas Gerais.

6
Não se pode afirmar, mas talvez a experiência como professor do DI e a implantação
da Escola de Iniciação Musical tenham sido posteriormente aproveitadas pelo mesmo
quando da ideia de implantação do Ginásio Tiradentes.

Argentino Madeira, nascido na cidade de Desterro de Melo-MG, ingressou na Polícia


Militar mineira no ano de 1937. Assim como o acima citado Cel. Manoel de Almeida, ao
longo de sua carreira como militar, pode-se notar inúmeros feitos que o levaram a ser
reconhecido e respeitado dentro da corporação, mas não nos cabe aqui fazer um relato
extenso acerca de sua vida militar, uma vez que não é esse nosso objetivo.

Faz-se importante ressaltar, que o respeito não era somente de militares de patentes
iguais ou inferiores a sua, mas sim de todos, uma vez que é relatado em sua ficha funcional
os elogios relacionados ao bom aproveitamento quanto as funções exercidas dentro da
corporação.

Em 1944, assume a direção das praças do Departamento de Instrução da PMMG,


logo em seguida passando à carga da Biblioteca do DI, onde ainda no mesmo ano de 1944
assume as funções de Educação Física e assume o cargo como professor de Instrução
Policial, exercendo ambas as funções até o ano de 1945.

Sua história no Colégio Tiradentes tem início em janeiro de 1950, quando exerce a
função de professor, assumindo a diretoria interina do Ginásio Estadual Tiradentes em
setembro do mesmo ano, assumindo a mesma de forma efetiva em maio de 1952:“A 28
conforme ofício nº 107, de 21 comunicou que a Diretoria de Ensino Secundário do
Ministério da Educação e Saúde, aprovou a sua investidura nas funções de Diretor do
Ginásio Tiradentes.”(CQGPMMG, 1974, fl. 03)6

Fato importante que se pode encontrar em sua ficha funcional, é que sua permanência
à frente da diretoria do ainda Ginásio Tiradentes não se deu de forma ininterrupta, uma vez
que reassume a função de diretor em 3 de março de 1966, ocupando o lugar do “Major
Newton de Oliveira, que vinha respondendo deste desde 07/01/1966.”(CQGPMMG, 1974,
fl. 03), entretanto em sua ficha não consta a informação de quando deixou o cargo, ou se
permaneceu a frente da diretoria do Ginásio Tiradentes acumulando outras funções dentro
da corporação militar.

6
A citação é parte da ficha funcional do Coronel Argentino Madeira, do Contingente do Quartel
General da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, datada de 12 de setembro de 1974, assinada pelo então
Tenente Coronel Decio Pereira da Silva, Comandante do referido Contingente a data já mencionada.

7
No ano seguinte, ainda de acordo com sua ficha funcional na PMMG, há novamente
a designação para a mesma função de diretor do Colégio Tiradentes, deixando a informação
de quando novamente teria deixado o cargo que reassume novamente.

“Conforme Ato assinado pelo Exmº. Sr. Governador do Estado, em data


de 18/04/1967, foi designado de conformidade com o paragrafo 2º do art.
138 do Estatuto baixado com a lei, 1803 de 14/08/58 para as funções de
Diretor do Colegio Tiradentes da Policia Militar De Minas
Gerais.”(CQGPMMG, 1974, fl. 04)

Permaneceu a frente da instituição mesmo quando transferido para o Quadro de


Oficiais da Reserva, até 29 de junho de 1970, quando por ato assinado pelo Governador de
Estado, o Senhor Israel Pinheiro, foi dispensado de suas funções na corporação militar
mineira e em decorrência de tal ato, exonerado do cargo de direção da instituição
educacional.

Natural da cidade de Januária, Manoel Doro Pereira ingressou na Polícia Militar


mineira no ano de 1942. Por sua ficha funcional é possível notar a dedicação e empenho do
já falecido Coronel em sua vida militar, constando ainda na mesma elogios feitos em
decorrência dos serviços prestados à Corporação.

Quanto ao aspecto educacional – o que já foi acima citada como foco dessa breve e
reduzida biografia dos coronéis aqui citados – a 28 de janeiro de 1950, designado pelo
Departamento de Instrução, assumiu o cargo de professor de Português no Colégio
Tiradentes, assumindo a função de Secretário e Tesoureiro do Colégio Tiradentes no ano
de1952. Pelos dados constantes de sua ficha funcional, podemos perceber que ao longo de
sua vida militar, exerceu diversas funções dentro da corporação – especialmente a Chefia de
Finanças da corporação – retornando7 a função de professor do Colégio Tiradentes em 1962.

No livro ‘Para sempre Gabriela’ da autora Márcia Eunice Doro Azevedo Rodrigues,
não por coincidência tem o mesmo sobrenome que o Cel. Manoel Doro, mas pelo fato da
mesma ser filha do referido Coronel, escreve um capítulo em que relata a origem do Colégio
Tiradentes, surgido de um desafio proposto pelo professor e bacharel em Direito Carlos
Porfírio ao Comandante Geral da PMMG, Cel. José Vargas, par que fosse implantado na

7
Por sua ficha funcional, não se pode deduzir se entre os anos de 1952 até 1962, dentre as funções
exercidas por Manoel Doro houve de fato um desligamento das funções de professor e tesoureiro do Colégio
Tiradentes, ou se essas foram acumuladas a outros serviços prestados a corporação, pois não se faz referência
ao seu desligamento do referido instituto educacional.

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Polícia Militar uma instituição afim de oferecer educação de qualidade aos filhos de
militares.

Tal ideia teria então chegado aos ouvidos de outro Manoel, este ainda Aspirante a
Oficial.

Tudo começou no ano de 1949, quando Carlos, um estudante de Direito,


desafiou o Comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais, Cel. José
Vargas da Silva, seu colega de classe, a criar uma escola para atender
principalmente os filhos de militares. Parecia um sonho impossível, mas
não foi guardado como deveria, pois caiu nos ouvidos de Manoel, outro
jovem sonhador. [...] Uma escola! Vamos por partes: poderia funcionar em
uma de nossas dependências. Existem uma cavalariças abandonadas que
merecem reforma. Elas podem se tornar salas de aula, secretaria, diretoria
e depósito. [...] Manoel era recém-casado com Gabriela [...] – Gabi, você
me deu sorte! O Comandante autorizou o funcionamento do ginásio
[Ginásio Tiradentes] e, se tudo der, certo, vai ser uma grande escola.”
(DORO, 2016, pp. 23-24)

Percebe-se pelo que até aqui foi exposto, as participações do Cel. Argentino
Madeira, então Tenente que em 19 de outubro de 1949, foi designado para ser professor do
Ginásio Tiradentes – dado constante de sua ficha funcional – e do Cel. Manoel Doro Pereira,
designado em 05 de maio de 1952 para as funções de Secretário e Tesoureiro do Ginásio
Tiradentes – dado este também encontrado em sua ficha funcional - constituíram, por assim
dizer, uma segunda camada de esforços e participações, tendo sido a primeira e mais
profunda a atuação do Major Manoel José de Almeida, como intelectual e idealizador não
apenas do Ginásio Tiradentes, mas também das escolas Caio Martins.

Assim, todas as referências históricas afetas à criação do CTPM, até hoje remetidas
à pessoa desses dois oficiais – Cel. Argentino Madeira e Cel. Manoel Doro, sendo o segundo,
por publicações vindas da própria família do militar – são verdadeiras apenas enquanto
alusivas a algo já decidido pelo Comando-Geral. A camada mais profunda de história do
Colégio é, porém, anterior à própria instalação desse educandário, ainda que como Ginásio.

Partindo do princípio que nos lembramos do que é visto e divulgado, a lembrança em


torno da figura do Cel. Argentino Madeira se deve primordialmente ao fato deste ter estado
à frente da direção e comando da instituição pelo período de vinte anos, tornando sua imagem
conhecida e amplamente difundida não só no Colégio Tiradentes, mas também dentro da
instituição Polícia Militar.

9
Entretanto, mesmo a repetição constante de sua imagem e história a frente do colégio
não significa que “a permanente reprodução [...], transmitidas de geração para geração sob
o manto da legitimidade, não significa que as instituições excluam a mudança.”(THIESEN,
1997, p.8).

A mudança aqui pretendida não busca em momento algum desmerecer ou mesmo


diminuir a importância do Cel. Argentino Madeira teve e ainda tem na história do Colégio
Tiradentes, mas sim a possibilidade de inclusão na história oficial do educandário de duas
figuras de igual importância ao referido Coronel.

Se encararmos como esquecimento a não inclusão dos Coronéis Doro e Manoel de


Almeida como partícipes importantes na história do CTPM-MG, tal silenciamento acerca de
suas imagens nos dá a oportunidade de rememora-los, uma vez que a partir do esquecimento
temos a oportunidade de lembrarmos de algo ou alguém.

“O esquecimento é condição de possibilidade de lembrança e a outra face


da memória. Dito de outra maneira, a memória em funcionamento precisa
tanto da potência da lembrança, quanto da potência do esquecimento, que
são as duas faces da mesma moeda, ou dois momentos de um único e
mesmo movimento.”(THIESEN, 1997, p.126)

Sabemos que a história da instituição não se reduz e não foi escrita somente por estes
três coronéis. Faltando pouco tempo para completar 70 anos, a história do Colégio Tiradentes
foi escrita em parte por seus comandantes militares, mas muito contribuíram todos seus
funcionários civis, professores e principalmente seus alunos, sem os quais não seria possível
a existência de uma instituição educacional forte e respeitada não só dentro da comunidade
militar.

Tratar da história de algo – pessoas ou instituições – é tratar diretamente das


memórias que a cercam. Nesse ponto é importante ressaltar que embora possamos dizer que
haja um consenso acerca da memória do Colégio Tiradentes, que muito está ligada à figura
do Cel. Argentino Madeira, trata-se da memória coletiva de toda comunidade que viveu a
história da instituição. A memória coletiva em torno da instituição serve como um reforçador
das memórias individuais de cada pessoa que por ela passou, o que acaba por possibilitar
uma memória geral acerca de algo, no caso aqui tratado, a memória do Colégio Tiradentes.

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Para Jacques Le Goff:

“A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-


nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais
o homem pode atualizar impressões ou informações passadas[...]”(LE
GOFF, 2003, p.419)

A memória neste caso, mais que somente uma lembrança, exerce uma função social,
de rememorar a figura de Argentino Madeira que mesmo após deixar o cargo de comando
do Colégio Tiradentes em 1970, é tão presente entre os alunos e funcionários da instituição.
Mesmo sendo algo individual, a memória perpetuada na história em torno do Cel. Argentino
Madeira é a expressão da coletividade.

Usando da definição de memória de Le Goff, buscamos a possibilidade de


atualização de impressões passadas, objetivando a inclusão na história do Colégio Tiradentes
das figuras dos Coronéis Manoel de Almeida e Manoel Doro.

Os esforções empreendidos pelo Cel. Manoel Antônio de Almeida, que além da vida
educacional foi figura presente na política mineira como ex-deputado estadual e federal, que
através de sua relação direta com o então Comandante-Geral, na qualidade de seu Oficial de
Gabinete, e sua trajetória intelectual específica de fomento à educação escolar de cunho
assistencial, em mais de um lugar e circunstância – Fundação Caio Martins e Colégio
Tiradentes – são os traços biográficos específicos e particular que o conectam ao momento,
a ideia, e aos detalhes do primeiro “insight” criador do CTPM, na condição de autor
intelectual dessa empreitada educacional.

Ao Cel. Argentino Madeira continuam cabíveis honras de grande entusiasta e


trabalhador incansável, primeiro comandante militar do Colégio Tiradentes, pessoa que se
dedicou a recolher contribuições para a efetiva instalação desse educandário. Ao Cel. Doro,
cabem análogas honras, por também haver atuado como professor e como destinador de
recursos para a estruturação logística do Colégio. Ao verdadeiro fundador, Manoel José de
Almeida, cabe o título de idealizador do referido colégio.

Entendemos que não é possível mudar o passado, nem o pretendemos, mas visto que
é fato comprovado a participação destes dois importantes nomes na história e na concepção
da instituição educacional, atrelar a história do Colégio Tiradentes à história de tão honrosas
figuras, é fato agregador de valor a ambos os lados.

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FONTES

12
MADEIRA, Coronel QOR Argentino – Ficha funcional do Contingente do Quartel General
do Estado de Minas Gerais. 1974

PEREIRA, Coronel QOR Manoel Doro – Ficha funcional do Contingente do Quartel


General do Estado de Minas Gerais. 1974

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Marcia de Sousa. Semeando e Colhendo. Belo Horizonte: Armazém de Ideias,


2005.

DORO, Márcia. Sempre Gabriela. Belo Horizonte: Viote Publicidade, 2016.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Edições Vértice, 1990.

LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e Memória. Trad. Irene Ferreira et al.
Campinas/SP: Editora Unicamp, 2003

ROSA, Alberto. Recordar, descrever e explicar o passado. O que, como e para quem?. In:
Ensino da História e Memória Coletiva. Trad. Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

THIESEN, Icleia.(1997) Memória Institucional: a construção conceitual numa abordagem


teórico-metodológica. T, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, Brasil. Disponível em:
http://repositorio.ibict.br/bitstream/123456789/686/1/icleiacosta1997.pdf

https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-
pm/ctpm/conteudo.action?conteudo=176&tipoConteudo=itemMenu – Acesso em 31 de
outubro de 2016.

https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-
pm/conteudo.action?conteudo=714&tipoConteudo=subP – Acesso em 31 de outubro de 2016.

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