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ESTUDO VOCACIONAL COMPARATIVO DOS DISCENTES DO CURSO DE

DIREITO DA UFMA EM SEUS ANOS INICIAIS E FINAIS E A INFLUÊNCIA NAS


CARREIRAS JURÍDICAS

Alan Rodrigo Ribeiro de Castro *


José Alberto Lucas Medeiros Guimarães *
Mayckerson Alexandre Franco Santos **

RESUMO

O ensino jurídico está em fase de transição e adaptação. O presente artigo


visa estudar o que leva os estudantes do curso de Direito a optarem pelo exercício
das profissões jurídicas em detrimento da prestação de concursos públicos, mesmo
sabendo de todos os problemas que o nosso judiciário enfrenta constantemente.
Utilizou-se de entrevistas com os discentes que estão no início e no final do curso. A
análise das entrevistas baseadas no referencial teórico apresentado mostrou em que
situação se encontra o Curso de Direito da UFMA no ano de seu Centenário.
Demonstrou-se que a vocação para operadores do Direito e a opção por concursos
públicos não são excludentes em si, dentro da visão dos discentes do Curso de
Direito da UFMA.

Palavras-chave: Escolha vocacional. Curso de Direito. UFMA. Centenário. Judiciário.

1 INTRODUÇÃO

O Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) comemora


seu Centenário, fundado em 28 de abril de 1918, junto com a fundação da
Faculdade de Direito do Maranhão, primeira escola isolada de nível superior do
Estado. Partindo desse ponto, em discussão durante a disciplina de Metodologia da
Pesquisa Científica acerca dos pontos positivos e negativos do curso, foi proposta a
elaboração de um artigo acerca do tema. Nesse diapasão e em virtude das
divergências que pairam sobre o motivo da escolha dos alunos de Direito no Brasil,
partiu-se para o estudo do pensamento dos discentes sobre o assunto.
Inicialmente apresentaremos um breve histórico da criação dos cursos de
Direito no Brasil, passando pela realidade atual dos cursos, chegaremos às ideias
que se contrapõem em relação à crise do ensino jurídico no Brasil e os dilemas para
o futuro nesse contexto. A partir desse referencial serão realizadas entrevistas com
os discentes do curso de Direito na UFMA em seus anos iniciais e finais para buscar
atingir um retrato do pensamento vocacional dos discentes do curso.

______________________________

* Graduandos em Direito pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA


** Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Pós-
graduado em Gestão Pública pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA e Graduando em
Direito pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
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2 HISTÓRIA DOS CURSOS DE DIREITO NO BRASIL

Após a Independência do Brasil ser declarada por D. Pedro I, em 1822, os


dirigentes do 1º Reinado enxergaram a real necessidade da instituição, em território
nacional, de uma escola de Direito, já que a nova nação soberana deveria ter não
apenas o seu próprio ordenamento jurídico, como também seus próprios intérpretes,
sem que isto tivesse que ser importado, sobretudo, da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra.
A necessidade não se restringia somente à formação de operadores de
Direito, e sim, de homens com uma base humanística sólida para atender outras
ciências humanas imprescindíveis para a formação da identidade cultural de um país
ainda em formação. Em verdade, a academia formaria muito mais que bacharéis em
Direito, transformaria os garotos da ex-colônia em literatos, estadistas, poetas,
jornalistas, historiadores, dentre outras figuras cuja vocação humanística é
fundamental. Não obstante, toda necessidade pragmática da iniciativa, bem como
sua aura romântica e intelectual, os brasileiros que estavam estudando na
universidade de Coimbra passaram a ser hostilizados pelos portugueses após a
declaração de Independência.
Mais do que um luxo, a criação das academias de Direito no Brasil era a única
solução viável, para que, num futuro próximo, o novo Império não sofresse ainda
mais de cabeças pensantes com formação técnica para dirigir um Estado.
A necessidade da abertura de uma faculdade de Direito no novo país era tão
grande, que já em 14/06/1823, menos de um ano depois da declaração de
Independência, o assunto já entrou na pauta na assembleia constituinte. Um prazo
extremamente pequeno levando em consideração que estava sendo elaborada a
constituição de um novo país, com tantas prioridades para se tratar na nova lei
maior.
O projeto fora apresentado pelo Deputado José Feliciano Fernandes Pinheiro,
o Visconde de São Leopoldo, que, desde sua primeira manifestação já demonstrava
inclinação pela cidade de São Paulo como sede da primeira academia. A definição
do local de instalação, obviamente, ocasionou diversos debates acalorados,
efusivos, repletos de regionalismo e disputas políticas. Os políticos tinham plena
noção de que sediar uma iniciativa tão grande quanto esta, era uma enorme
oportunidade para o alastramento cultural nas suas regiões, além de fomentar o
comércio local, com pensões, hospedarias, livraria dentre outros vários ramos.
Nas diversas discussões acaloradas que houveram, os mais diversos pontos
fracos dos pleiteadores a sediar as faculdades eram explorados. Contra São Paulo,
por exemplo, chegou-se argumentar que a cidade era muito distante das províncias
do Norte, e que os estudantes teriam que subir a Serra do Mar (o que naquela época
era feito no lombo de burro), os livros não chegariam em razão da distância do porto
e que o sotaque paulista era muito desagradável. Em resposta, foram alegadas as
seguintes vantagens: que o clima frio inibiria a ação das traças sobre a
encadernação dos livros, o baixo custo de vida, a maior concentração dos
estudantes levando em conta a falta de diversão na cidade (ponto muito contestável)
e as proximidade com as províncias do Sul e Minas.
Houve uma tentativa frustrada de iniciar no Rio de Janeiro, em 1825, por
Visconde de Cachoeira, que até redigiu estatutos regulamentando tal instituição.
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Contudo, em 11 de Agosto de 1827, Dom Pedro I definiu que as academias jurídicas


seriam sediadas nas cidades de São Paulo e Olinda.
A primeira aula no largo de São Francisco aconteceu no dia 01/08/1828,
proferida pelo Conselheiro Brocaro, que ensinou Direito das Gentes (atual Direito
Internacional). A turma era formada por 33 meninos, na faixa de 15 anos de idade
(idade mínima para o ingresso), oriundos da capital paulista, interior, Minas Gerais,
Bahia, além, é claro, do estado do Rio de Janeiro, capital do país àquela altura. Já a
Faculdade de Olinda funcionou durante 26 anos, sendo transferida para Recife anos
depois da cidade se tornar a capital de Pernambuco (atual UFPE). Também foi
fundamental na história do país e do Direito brasileiro, com expoentes em todas as
áreas das Ciências Humanas, cumprindo com a expectativa dos que isto
esperavam.
Wolkmer (2006) destaca em sua obra “História do direito no Brasil” que a
Criação dos Cursos de Direito no Brasil dentro de todo esse contexto histórico,
esteve sempre vinculada à formação de uma elite política e administrativa no país,
voltado para um ensino burocrático e técnico, diferente do que era ensinado em
Coimbra, corroborado por Bastos (2000, p. 82) que diz:
Tanto os filhos de famílias remediadas quanto os de famílias
abastadas não apresentavam somente a preferência pelo título
de bacharel em Direito, tradicional na mentalidade
bacharelesca colonial, mas também aspiravam a uma cultura
geral “desinteressada”, de base filosófica e letrada, exercida de
forma supletiva pelas escolas de Direito, que apresentavam
caráter enciclopédico em seus estudos, desvinculados de
elementos econômicos e técnicos.

Dessa forma, desde os primórdios, os Curso de Direito no Brasil tem um


compromisso com o fornecimento de profissionais desvinculados de vocação e
voltados para a manutenção da estrutura de poder existente.

3 SITUAÇÃO ATUAL DOS CURSOS DE DIREITO NO BRASIL

A partir de dados do INEP é possível constatar que no curso de Direito em


nosso país são encontradas uma enorme concentração de vagas disponíveis no
ensino superior, principalmente nas universidades particulares, conforme demonstra
o Gráfico 1, devido tanto ao preço acessível para a maior parte da população de
classe média/média ou média/alta. De acordo com o coordenador geral da pós-
graduação da Fundação Getúlio Vargas Direito Rio, Rafael Almeida, o mercado de
trabalho encontra-se inchado, e a concorrência está cada vez mais acirrado.
Anualmente, formam-se cerca de 85 mil bacharéis (ASENSI; ALMEIDA, 2013).
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Gráfico 1 - Resumo Técnico Censo da Educação Superior de 2010


2,99%
4,50%
4,21%

Instituições Privadas
Instituições Federais
Instituições Estaduais
Instituições Municipais

88,31%

Fonte: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documen-
tos/2010/divulgacao_censo_2010.pdf. Acesso em 12 jul. 2018.

Em função desta situação, um questionamento sempre vem à tona: o que


leva esse contingente tão considerável de indivíduos a escolher este curso, mesmo
sabendo de todas as barreiras existentes para o exercício das atividades dos
operadores do direito? Talvez o interesse nesta área possa ser outro. O que
sabemos é que, desta maneira, este trabalho tem por objetivo geral buscar conhecer
os motivos que levaram estes alunos a optarem pelo Direito e quais são suas
perspectivas. Há ainda os objetivos específicos: aplicar o instrumento de pesquisa
(entrevista); conhecer os motivos que fizeram escolher este curso; por último, quais
as perspectivas na continuidade do curso e depois de concluído.
Alguns entendem que este seja um mercado saturado, haja vista que as
provas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) procuram, de certa forma, “filtrar”
os profissionais para o exercício da advocacia. A maioria dos alunos que se formam
em Direito no Brasil não consegue se tornar advogado. Resultado preliminar do
exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), obrigatório para exercer a
profissão, mostra que dos 128.000 inscritos no de 2018, apenas 24% foram
aprovados (CONJUR, 2018). Não há limite numérico, mas o exame aprova apenas a
quem considera ter aprendido o mínimo (RODRIGUES, 2013). O Ministério da
Educação, através da Coordenadoria de Pessoal de Nível Superior (Capes) em
conjunto com o Instituto de Pesquisas Educacional Anísio Teixeira (INEP), têm
buscado de forma o mais técnica possível avaliar dentre os cursos de ensino
superior, o curso de Direito. Já chegaram a fechar 45 mil vagas de instituições que
apresentaram baixos valores nos critérios avaliados que leva em conta, inclusive, o
índice de aprovação na OAB (RODRIGUES, 2013). Talvez seja um tanto quanto
oportuno dar ênfase ao fato de que o exame da OAB não é um “privilégio” do Brasil.
Provavelmente seja uma mera cópia do sistema americano, onde a American Bar
Association (Associação dos Advogados Americanos), divulgou uma pesquisa nas
20 Escolas de Direito com o maior número de formandos empregados, 83% dos
bacharéis foram trabalhar como advogados. Nas Escolas de Direito que ocupam as
20 últimas posições dessa lista, apenas 31% dos alunos estavam empregados na
área (FGV, 2012).
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Estes dados tornam-se relevantes pelo simples motivo de que ainda é


possível observarmos o constante crescimento no número de novos cursos nos mais
diversos municípios do país. E, para que novos cursos sejam abertos e funcionem
regularmente, entende-se que seja necessário um público mínimo que dê
sustentação.
Conforme o Professor Rodrigo Viana, são em torno de 800 mil profissionais
no mercado de trabalho brasileiro, mas acredita que ainda há espaço para bons
profissionais (VIANA; ALMEIDA, 2013). Trata-se daquela velha questão: podemos
fazer sucesso em qualquer que seja a carreira que escolhamos; para isso, basta que
sejamos bons naquilo que nos propomos a fazer. Infelizmente, a maioria dos
estudantes que se formam em Direito não possuem muita perspectiva, ficando à
mercê do sustento da própria família devido à falta de interesse na busca por uma
entrada num mercado de trabalho cada vez mais competitivo.
Isso dá margem para discutirmos a respeito da falta de testes vocacionais
desde a adolescência. A sociedade impõe aos jovens a tomada de decisões cruciais
que os mesmos atinjam sua maturidade. Em função disso, encontramos muitos
profissionais infelizes com seus cursos superiores ou infelizes em seu trabalho.

4 VOCAÇÃO PARA O CURSO DE DIREITO NOS DIAS ATUAIS

Vocação é uma palavra que em latim “vocare” e possui o significado de


chamado, dessa forma a vocação profissional é aquilo para o qual a pessoa é
chamada a fazer.
Há certo dissenso em relação ao tipo de vocação que os alunos do Curso de
Direito possuem atualmente, Goulart e Elias em seu artigo “Ausência de vocação e
as “necessárias” adaptações mercadológicas: a derrocada do ensino jurídico”
defende que a escolha do curso não está vinculada aos ideais e paixões pela
profissão, mas pelo utilitarismo. Enquanto uma pesquisa da Fundação Getúlio
Vargas, do ano de 2011 entre os discentes da FGV Direito Rio, constatou que,
apesar da pouca idade de ingresso na instituição, 42% dos discentes afirmou ter
escolhido o Direito por vocação profissional (FGV, 2011).
Para Goulart (2010), em nossa sociedade há, em regra, uma pressão familiar
para que a pessoa escolha um curso de formação que tenha uma relevância
histórica, o que recai principalmente no Curso de Direito e em cursos da área
médica. Essa pressão se deve a diversos fatores, entre eles se destacam a posição
social que os graduados nessas áreas possuem e no retorno financeiro que esses
cursos podem proporcionar. Especificamente em relação ao Curso de Direito, há
também a questão dos concursos públicos que trazem, além das duas benesses já
citadas, a estabilidade financeira tanto almejada em um país como o Brasil, que vive
momentos de grande instabilidade econômica.
Essas questões mencionadas acabam colocando em “check” a questão
principal da vocação, do “chamado”. Como vive uma pessoa que escolhe sua
profissão focado na questão do “ter” que é tão atual em nossa sociedade
consumerista e baseada na imagem, em vez de escolher por prazer e identificação
com o exercício profissional. Geraldo Cossalter (2014, p. 92) citando o Professor
Humberto Rocha expõe:
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Situação insuportável é a daqueles que se formam e iniciam


um caminho doloroso e triste, já que não sentem prazer em
realizar o trabalho, não sentem prazer em lidar com pessoas e
passam as horas pensando no final do dia para voltar a suas
casas.

Esse tipo de sentimento acaba por gerar profissionais estressados e


desvinculados das questões inerentes ao Direito que, por fim, ainda que alcancem o
objetivo primevo de ganhar dinheiro, acabará por gastá-lo em remédios e
tratamentos médicos por viver de forma infeliz. Viver sua vocação é encontrar a
felicidade e a realização, enquanto que viver diariamente fora dela é uma tortura.
(COSSALTER, 2014).
O operador do Direito não vocacionado acaba por sem nocivo à sociedade
como afirma Assis Júnior e Resende Neto (2018, p. 12 e 13):
Um advogado (público ou privado) que sucumbe ao primeiro
obstáculo e não exaure as tentativas de impor a sua tese
jurídica, um magistrado que não revela aptidão para os
supremos dons de conciliar e/ou decidir, um promotor de justiça
que não denota habilidade para acusar e perseguir, um
delegado de polícia que não demonstra talento para investigar,
são exemplos de que tais personagens jurídicos, se não
vocacionados, não estarão jamais cumprindo os seus deveres
profissional e social em plenitude.

Para desenvolver a vocação dos discentes, os cursos de Direito poderiam


adaptar seus currículos, para abordar as questões da vocação para as funções
jurídicas, abordando as competências e habilidades do ofício, bem como tratando da
necessidade do operador do direito ser vocacionado para enfrentar os desafios e
responsabilidades intrínsecas ao cotidiano da profissão, além de tratar da
interdisciplinaridade das atividades jurídicas, enfocando os diferentes papéis
desempenhados pelos operadores, como sociólogo, psicólogo, mediador,
comunicador, tudo isso de forma simultânea. Além disso o curso deve focar os
desafios presentes e futuros da profissão, questões como o aumento progressivo da
demanda judicial, morosidade processual, necessidade de capacitação permanente,
além das novas tecnologias de informação, se dedicando acima de tudo à reflexão
acerca da ética profissional, com questões como a utilidade social da atividade de
judiciais, sua legitimidade diante da população e como prestador de um serviço
público essencial.

5 DILEMAS DO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL

O ensino jurídico no Brasil nos dias atuais, sofre as consequências das


mudanças ocorridas nas universidades citadas por Chaui (2014), com uma
instituição voltada para si, influenciada pelo neoliberalismo, buscando sempre
resultados mercadológicos e comparativos a outras instituições. Nesse contexto, o
exame da Ordem dos Advogados do Brasil que permite aos bacharéis em Direito
exercerem a atividade advocatícia, exerce uma função dialética, ao mesmo tempo
que aumenta a exigência sobre as instituições e as forçam para que qualifiquem
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seus professores e melhore a seleção de seus discentes, tende a engessar o ensino


jurídico, levando o mesmo a um ensino positivado, sem reflexão, deixando de lado
duas das funções primordiais do ensino superior, a pesquisa e a extensão.
Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido, define o ensino exposto
como uma “educação bancária”, onde o docente “deposita” o conhecimento nos
alunos para, posteriormente, tirar o “extrato” do que foi depositado através das
provas aplicadas. Segundo o educador, a mudança dessa forma de ensino passa
pela mudança de postura dos docentes, que devem ter uma postura mais voltada
para o diálogo, cooperação em sala de aula, e humanização dos discentes e muito
menos para aulas expositivas e racionalistas. A cooperação em sala de aula e o fator
de humanização, devem estar voltados a uma integração do ensino com a realidade
externa ao ambiente universitário e a um rompimento com a continuação dos
privilégios e desigualdades sociais que vem de longa data, dando aos discentes a
noção exata de sua função social. Visto que “o Direito nada mais é que lidar com
pessoas” (COSSALTER, 2014, p. 92), os egressos do Curso de Direito devem
“voltar” para a sociedade com a consciência profissional ante um cenário nacional de
crise institucional e moral.
Ainda mais a partir do que já foi exposto acerca da explosão do crescimento
dos cursos jurídicos no Brasil nas últimas décadas, que levou a um número de mais
de 1.300 (um mil e trezentos) cursos de Direito contra cerca 1.100 (um mil e cem) no
resto do mundo (ASSIS JÚNIOR, 2018). Essa expansão se deu em sua grande
maioria na em instituições particulares, voltadas para uma mercantilização do
ensino.
Atento a esses fatos o Ministério da Educação através da Câmara de
Educação Superior do Conselho Nacional de Educação deu origem a Resolução
CNE/CES n° 09 de 29 de setembro de 2004 que instituiu as diretrizes curriculares
nacionais do curso de graduação em Direito que traz em seu art. 3° (BRASIL, 2004,
p. 1 e 2), verbis:
Art. 3°. O curso de graduação em Direito deverá assegurar, no
perfil do graduando, sólida formação geral, humanística e
axiológica, capacidade de análise, domínio de conceitos e da
terminologia jurídica, adequada argumentação, interpretação e
valorização dos fenômenos jurídicos e sociais, aliada a uma
postura reflexiva e de visão crítica que fomente a capacidade e
a aptidão para a aprendizagem autônoma e dinâmica,
indispensável ao exercício da Ciência do Direito, da prestação
da justiça e do desenvolvimento da cidadania.

Exigindo do graduando em Direito que, além de possuir domínio sobre o


conteúdo jurídico, habilidades de reflexão e integração social. Porém, entre a teoria
e a prática há uma grande distância a ser percorrida. Apesar de 14 anos passados
da edição dessa Resolução o que podemos observar é que os cursos de Direito
ainda oferecem um currículo extremamente tecnicista.
O ensino jurídico no país então vive um momento de transição e adaptação,
em que medidas devem ser tomadas para que a evolução aconteça. Essas medidas
passam diretamente pelos docentes de acordo com Pimenta e Anastasiou (2010,
p.71):
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Em nosso entendimento, nos processos de formação de


professores, é preciso considerar a importância dos saberes
das áreas de conhecimento(ninguém ensina o que não sabe),
dos saberes pedagógicos( pois o ensinar é uma prática
educativa que tem diferentes e diversas direções de sentido na
formação do humano), dos saberes didáticos(que tratam da
articulação da teoria da educação e da teoria do ensino para
ensinar nas situações contextualizadas), dos saberes da
experiência do sujeito professor(que dizem do modo como nos
apropriamos do ser professor em nossa vida). Esses saberes
se dirigem às situações de ensinar e com elas dialogam,
revendo-se, redirecionando-se, ampliando-se e criando. No
entanto, também contribuem para revê-las, redirecioná-las,
transformá-las.

Com o positivismo arraigado no seio do ensino jurídico, voltado para uma


visão mercadológica e afastada da realidade da sociedade em que está inserido. A
grande maioria dos cursos de Direito insistem em manter um currículo técnico,
distante das necessidades da população, carentes de operadores do Direito
conscientes essência e finalidade principais de sua carreia. O papel dos docentes e
primordial para despertar e desenvolver a formação humanística dos discentes,
fazendo crescer em seu interior a vocação jurídica, favorecendo o retorno social do
ensino que está recebendo.

6 PENSAMENTO VOCACIONAL DOS ALUNOS DO CURSO DE DIREITO NA


UFMA

A pesquisa levantada para o estudo contou com 10 acadêmicos do curso de


Direito da Universidade Federal do Maranhão, campus do Bacanga, sendo cinco
discentes do primeiro período e os outros do décimo período. A escolha dessa
quantidade de entrevistados bem como os períodos escolhidos, dá-se pela
representatividade das turmas (10%, haja vista que as turmas são compostas por 50
alunos) e por comparar mentalidades recém-chegadas ao mundo acadêmico com
outras prestes a entrar no mercado de trabalho.
Considerando a progressão no curso, foram agrupados os grupos por
significância na escolha dos motivos e por período, que foram catalogados de
acordo com a Tabela 1 com a preponderância de uma razão pela outra e sem
descartar a importância da outra. O questionário foi elaborado de acordo com as
pretensões dos discentes, que coincidiam entre si.
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Tabela 1 – Estudo vocacional comparativo dos discentes do curdo de Direito


da UFMA em seus anos inciais e finais e a influência nas carreiras jurídicas.
Motivos do Décimo Período %
Concurso Público 100
Prestígio Social 60
Influência de Familiares 80
Curso de Qualidade 60
Docência 20
Motivos do Primeiro Período %
Concurso Público 100
Prestígio Social 60
Influência de Familiares 60
Curso de Qualidade 80
Docência 0
Fonte: Entrevistas realizadas pelos autores.

A partir da análise dos dados apresentados na Tabela 1, podemos inferir que


não há uma razão ímpar para a escolha acadêmica, já que os motivos foram
elencados pela importância nos interesses de vida do discente. Tal fenômeno é
descrito por Daumas (2007), quando descreve a escolha vocacional como um
produto de influências que circundam o ser (familiares, amigos, acontecimentos de
vida, prestígio, estudos, academia) e refletem os anseios de vida, formando uma
identidade, que se incia no final da adolescência, período em que os jovens
começam a entrar na universidade.
Concurso Público: este foi um motivo que teve total representatividade em
todos os entrevistados. Ainda que não fosse a principal escolha objetiva, que moveu
à vocação, é de caráter oportunista, haja vista a oferta de concursos públicos
somado ao conforto do cargo e a demanda por profissionais de Direito. Para Codo
(1997), a estabilidade provida pelo cargo enseja um prestígio social, uma vez que dá
ao empregado a seguridade e menos temor pela perda de um emprego de inciativa
privada.
Prestígio Social: presente em igual impacto em ambos os períodos, este
motivo dá a perspectiva aos discentes de ascensão social em carreiras de
magistratura, como juízes, promotores, procuradores e advogados, que são
profissões reconhecidamente de prestígio social, o que dá ao profissional
bonificações e status em uma sociedade que tem pouco mais, de acordo com a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (FOLHA, 2016), de
10% de seus habitantes detentores de diploma de nível superior.
Influência de Familiares: a intervenção familiar, embora importante para a
construção da identidade laborativa, que se dá no âmbito familiar e está vinculada a
identidade pessoal (LISBOA, 1997), foi pouco comum entre os entrevistados. Em
todos os casos, os estudantes que se encontram nesse grupo já têm familiares
vinculados à área jurídica.
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Curso de Qualidade: outra razão, foi o curso em si. Completando o


centenário, o curso do Direito da UFMA (UFMA, 2018) lançou ao longo de cem anos
vários profissionais de destaque no cenário local e nacional, como o atual
governador do estado, Flávio Dino.
Docência: esse motivo foi o com menor representatividade. Parte da
explicação para o fenômeno, é que o profissional da docência deve ser dotado de
paixão e vocação pela profissão, que tem uma tarefa a ser cumprida, algo divino e
heroico, que amontoa dificuldades que tornam a prática educativa difícil, haja vista
as dificuldades de relacionar as práticas sociais dos alunos com os conteúdos
ministrados, uma vez que as afeições tomam o espaço do que se quer enxergar e,
assim, tornando o processo de aprendizado mais demorado (LUCIANO, 2013).

7 CONCLUSÃO

De acordo com a análise dos resultados, é possível inferir que os discentes


do curso de direito da UFMA têm variadas motivações para a escolha do curso,
dentre elas, a mais saliente, a opção por concursos públicos e, como menos mirada,
a carreira de docente. Outrossim, os motivos não são excludentes, o que dá a
possibilidade de transitar entre eles e que, futuramente, os mesmos entrevistados
possam a vir ser profissionais de outra carreira diferente daquela aqui investigada
nesse estudo, como a necessidade, ocasião e oportunidades.
Outrossim, há as questões estruturais do curso de Direito no cenário nacional,
como já supracitado, no que tange as questões comerciais e, aliado a elas a
expectativa de bons ganhos futuros. Parte daí a grande busca pelo curso de direito.
Além disso, há os princípios, crenças e pressões sociais que formam a identidade
jovial dos adolescentes saídos recentemente das escolas, que passam por
momentos de escolha e, por causa da remuneração e expectativa de bons ganhos,
optam pelo curso de Direito.

VOCATIONAL COMPARATIVE STUDY OF STUDENTS OF UFMA LAW COURSE


IN THEIR EARLY YEARS AND FINAL AND INFLUENCE IN LEGAL CAREER

ABSTRACT

Legal education is in the process of transition and adaptation. This article aims
to study what makes law students choose to practice legal professions over the
provision of public examinations, even knowing of all the problems that our judiciary
faces constantly. We used interviews with the students who are at the beginning and
at the end of the course. The analysis of the interviews based on the theoretical
reference presented showed in what situation the Law Course of UFMA is in the year
of its Centenary. It has been shown that the vocation to legal operators and the
option for public tenders are not exclusive in themselves, within the vision of the
students of the Law Course of UFMA.

Keywords: Vocational choice. Law course. UFMA. Centenary. Judiciary.


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