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Salvador
2018
MATHEUS PELETEIRO DA ROCHA
Salvador
2018
TERMO DE APROVAÇÃO
Nome:______________________________________________________________
Titulação e Instituição:__________________________________________________
Nome:______________________________________________________________
Titulação e Instituição:__________________________________________________
Nome:______________________________________________________________
Titulação e Instituição:__________________________________________________
Salvador/BA, ____/____/2018
AGRADECIMENTOS
Arthur Schopenhauer
SINTESE
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 01
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 69
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72
1
1 INTRODUÇÃO
O Direito, assim como qualquer outra ciência, possui uma linguagem técnica
que lhe é peculiar. Neste sentido, a partir do momento em que o estudante que opta
pelo ramo jurídico ingressa no ensino superior, se depara com uma linguagem até
então esdrúxula ao seu cotidiano; consistente na utilização de jargões jurídicos,
termos técnicos específicos do direito e outras expressões até então não habituais,
na maioria das vezes, derivadas do latim e do inglês.
Importará em analisar também, como um dos motivos que obstruem tal relação,
o emprego insistente e desnecessário do “juridiquês” no Brasil, e seu caráter muitas
vezes prolixo e arcaico, seja sob a perspectiva da sociedade, que, desta maneira,
deixa de compreender os seus direitos e as formas de reivindicá-los, seja sob a ótica
de determinados juristas, que, muitas vezes, terminam optando, voluntariamente ou
não, pela monopolização do conhecimento jurídico, e a sua consequente perpetuação
do uso de uma linguagem inacessível aos cidadãos comuns, de forma a manter a
engrenagem do direito elitizada e restrita.
Para tanto, é preciso salientar que a prolixidade jurídica, tema que fora
despercebidamente abordado no novo CPC, dentro da qual, muitas vezes, se insere
também o “juridiquês”, corresponde ao cerne da problemática em questão, consistente
na falta de objetividade por parte dos profissionais da área jurídica, que se utilizam
excessivamente de palavras e termos desnecessários à compreensão das peças e
ofícios.
A justificativa dada para tal dependência dava-se por conta das raízes jurídicas
fincadas no Direito Romano, pois, em razão disso, o Direito que chegou ao Brasil teve
forte influência do Direito Canônico, fazendo com que Estado brasileiro apresentasse
estreitas relações entre os poderes constituídos e a Igreja Católica, desde o
descobrimento e a colonização, no século XVI, até a Proclamação da República, no
final do século XIX5.
5
SANTOS, Op. Cit., Acesso em: 07 jul. 2018.
6 Ibidem.
7 SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça.
Uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar
a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XV, n. 105, out 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24>.
Acesso em 22 de out. de 2018.
7
Ocorre que, com o passar dos anos, o latim foi se tornando ultrapassado e, em
1964, o Brasil assinou um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) do Brasil e a
United States Agency for International Development (Usaid), dos Estados Unidos, que
tirou do currículo educacional matérias consideradas obsoletas, conceito o qual o
idioma fora inserido8. Como consequência disso, somente os profissionais de idade
elevada continuaram a ter o domínio da língua, provocando, com isso, uma certa
admiração à erudição em face daqueles que dominam a língua por parte dos mais
jovens, além de um dever intrínseco de se utilizar do idioma, seja por conta das
correntes jurídicas nominadas de acordo com o idioma antigo, seja por conta da
suposta erudição que a sua utilização infere.
8 Latim E OSPB: conheça 5 disciplinas escolares de outra época. TERRA ON-LINE. São Paulo, 25 fev.
2015. Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/educacao/latim-e-ospb-conheca-5-disciplinas-
escolares-de-outra-epoca,810075ea5f48b410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html/>. Acesso em: 01
jul. 2014.
9
RODAS, Sérgio. Linguagem jurídica é importante e não pode ser banalizada, defendem
especialistas. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-ago-11/linguagem-juridica-nao-
banalizada-defendem-especialistas>. Acesso em: 20 ago. 2018.
10 WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem. Porto Alegre: Fabris, 2ª ed, 1995, pág. 73.
8
11 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999, pág.
17.
12
RODRIGUES, Sérgio. Viva a língua brasileira!: uma viagem amorosa, sem caretice e sem vale-
tudo, pelo sexto idioma mais falado do mundo – o seu. 1a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016,
pág. 14.
9
ao período em que o Estado Brasileiro ainda não possuía o status de Estado, sendo
ainda somente uma colônia de Portugal, sujeita à suas leis e imposições, tendo todo
o seu ordenamento jurídico importado da metrópole lusitana; e, um segundo momento
referente ao período em que o Brasil se estabeleceu como Estado, deixou de se
posicionar sob a égide de Portugal, adquiriu liberdade jurídica e política e, com isso,
conquistou autonomia para que pudesse produzir as suas próprias leis13.
13
LEITE, Marisa Ribeiro. Construção de Direito no Brasil e suas relações de poder. Disponível
em: <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2464/Construcao-de-Direito-no-Brasil-e-suas-
relacoes-de-poder/> Acesso em: 05 de ago. de 2018.
14 Ibidem.
15 Ibidem.
10
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
18 RODRIGUES, Maria da Conceição Carapinha. A situação da linguagem jurídica em Portugal: o
11
De outro modo, a língua pode ser definida como um código que permite a
comunicação através de um sistema de signos e combinações, que concretiza-se
oralmente por meio de atos de fala e pela escrita22. Assim, enquanto a linguagem se
caracteriza como um mecanismo que trata das formas de interação em um panorama
geral, a língua se apresenta como um código verbal característico de um determinado
grupo, concretizado a partir de atos de fala23.
22 Ibidem.
23 OLIVEIRA, Katyucha de. Diferença entre língua e linguagem; Brasil Escola. Disponível em
<https://brasilescola.uol.com.br/portugues/diferenca-entre-lingua-linguagem.htm>. Acesso em 03 de
nov. de 2018.
24
TOMASI, Carolina e MEDEIROS, João Bosco. Português Jurídico. São Paulo: Atlas, 2010, pág. 8.
25
COLARES, Virgínia (Org). Linguagem e direito. Ed. Universitária da UFPE, 2010, pág. 237.
13
26
BAGNO, Marcos. Conquistadores ou estupradores? Descobridores ou genocidas? A língua
como instrumento de poder. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/a-lingua-como-
instrumento-de-poder/>. Acesso em: 25 jul. 2018.
27 COSTA, Marcelo Dolzany da. O estudo da semiótica e a comunicação no Poder Judiciário.
28
SANTOS, Wasley de Jesus. História da língua portuguesa: formação e implantação de uma língua
navegante Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/portugues/0025.html/>.
Acesso em 15 de jul. de 2018.
29
CINTRA, Renato J.; STAMFORD, Catarina. Latim Jurídico, 2002. Disponível em:
<http://www.stamford.pro.br/catarina/Artigos%20e%20Compilacoes/stamford-cintra-latim.pdf/>.
Acesso em 06 de nov. de 2018.
15
30
SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça:
uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar
a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. Disponível em:
<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24/>.
Acesso em: 06 de nov. de 2018.
31
Ibidem.
32
COSTA, Marcelo Dolzany da. O estudo da semiótica e a comunicação no Poder Judiciário.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2003-abr-
30/estudo_semiotica_comunicacao_judiciario?pagina=3/> Acesso em 06 de nov. de 2018.
16
33Ibidem.
34 BAGNO, Marcos. Conquistadores ou estupradores? Descobridores ou genocidas? A língua
como instrumento de poder. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/a-lingua-como-
instrumento-de-poder/>. Acesso em: 25 jul. 2018.
17
aceitam como legítimo o poder que cria as normas e aceitáveis os conteúdos destas,
atribuindo à linguagem jurídica o caráter de manifestação de poder, constatando que
simples limitações às diversas formas de interpretação jurídica, representam, por si
só, uma forma de controle social. Podendo, o vocabulário jurídico utilizado na prática
e na comunicação ser inserido na crítica realizada35.
Portanto, realizando uma análise sob viés sociológico, deve-se perceber que a
linguagem, historicamente, vem sido manuseada como um instrumento de dominação
para a consolidação e manutenção de determinados poderes. No Brasil, não é preciso
muito esforço para observar que a linguagem técnica jurídica e o conservadorismo se
unem como instrumentos para que o poder seja mantido nas mãos daqueles que a
instalaram, de forma hereditária. Neste sentido asseverou Samene:
35 SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça:
uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar
a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. Disponível em:
<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24/>
Apud. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 8ª ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2005.
36 Ibidem.
37 ANDRADE, Op. Cit., Apud BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo:
Muitos dos reflexos da busca pela justiça em um país podem ser identificados
a partir da linguagem que o mesmo utiliza, neste seguimento, não sem explicações
persistem as graves barreiras de comunicação dentro das instituições jurídicas, sendo
a simplificação da linguagem jurídico no viés da prática uma forma de assegurar a
igualdade entre indivíduos. Vê-se então, o quão urgente é aproximar o discurso
jurídico do entendimento coletivo, favorecendo toda a sociedade e não somente um
pequeno grupo.
Do mesmo modo que todo instrumento pelo qual se faz possível a extração de
conhecimento, durante a história da humanidade pós surgimento da filosofia, a
linguagem foi severamente discutida em âmbito filosófico, de modo que, se forem
analisadas as obras completas daqueles tidos como grandes filósofos, ou até mesmo
daqueles que alcançaram menor alcance, em todas elas serão encontradas
elucubrações e ponderações em torno da língua, seja no que diz respeito às suas
formas de utilização, à importância do seu papel, ou até mesmo em relação a sua
ideal forma de atuar.
No entanto, ainda assim, foram necessários séculos para que seu caráter vital
fosse reconhecido. A linguagem somente começou a ter os olhares voltados para ela
no final do século XIX e, somente no século XX, passou enfim a ocupar uma posição
de prestígio.
38
SANTANA, Op. Cit., Acesso em: 25 de jul. de 2018.
19
Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria Geral
e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André Luiz Freire
(coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível
20
Além disso, para finalizar a crítica à conduta que descreveu como detentora de
um tom exaustivamente prolixo, pomposo e esforçadamente erudito, Schopenhauer
escreveu:
44
Ibidem, pág. 73.
45 Ibidem.
22
46 SAMENE, Op Cit., Apud. HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Trad. De
Guido de Almeida. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1989.
47 Ibidem.
48 VELASCO, Juan Carlos. Para ler a Habermas. Alianza Editorial. Madrid, 2003, p. 54.
23
49 ROUANET, Sérgio Paulo. Mal-estar na modernidade. 2º ed. São Paulo: Companhia Das
Letras,1993
50 HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa Racionalidad de la acción y
racionalización social. Versión castellana de Manuel Jiménez Redondo. 4. edición. Tomo I. Madrid:
Taurus Humanidades, 2003, p. 136.
24
51 REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
52 Ibidem.
25
53 Proposta tenta desafogar o Judiciário, hoje com quase 100 milhões de processos. SENADO
NOTÍCIAS. Publicado em 11/01/2018. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/01/11/proposta-tenta-desafogar-o-judiciario-
hoje-com-quase-100-milhoes-de-processos/> Acesso em: 05 de nov. de 2018.
54 REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
55 CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por um advogado. Ed. Martins Fontes, São Paulo,
modo algum, deve ser banalizada e desprezada, haja vista a existência de particulares
que somente termos específicos podem descrever de forma precisa, de maneira que
se possa remontar ao surgimento em outros tempos, como os termos remanescentes
do latim, por exemplo56. No entanto, como muitos juristas e acadêmicos de outras
áreas vem compreendendo, tal qual os professores Paulo de Barros Carvalho e Fabio
Brun Goldschmidt, citados na supracitada matéria, no cenário social globalizado e
corriqueiro é requerido, de forma imprescindível, que o direito acompanhe as
transformações da sociedade, que sugerem mudanças.
56 RODAS, Sérgio. Linguagem jurídica é importante e não pode ser banalizada, defendem
especialistas. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-ago-11/linguagem-juridica-nao-
banalizada-defendem-especialistas>. Acesso em: 20 ago. 2018.
57 Ibidem.
58 Ibidem.
59 MELO FILHO, Hugo. Desemprego estrutural e aspectos críticos do acesso à justiça. Disponível
em <https://www.conjur.com.br/2006-mar-
09/tecnicidade_linguagem_afastar_sociedade_justica>Acesso em 17 de jul. de 2018.
27
que a linguagem jurídica utilizada nos procedimentos comuns judiciários não visa,
acima de tudo, um trabalho juridicamente bem desenvolvido, mas a manutenção de
um sistema em que a linguagem é utilizada por aqueles que detém o poder como
afirmação de cultismo, ou seja, a promoção do distanciamento entre cidadão e justiça.
Nesta perspectiva, novamente, é possível se atentar às palavras de Marcos:
62
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiro Editores. 10ª Edição, 200, pág. 279.
Disponível em <http://unifra.br/professores/14104/Paulo%20Bonavides-
Ciencia%20Politica%5B1%5D.pdf> Acesso em 20 de ago. de 2018.
63
SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça:
uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar
a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XV, n. 105, out 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24>.
Acesso em 22 de out. de 2018.
29
Além disso, o autor também estabelece uma análise crítica sobre o tratamento
não isonômico, se opondo à forma de se comunicar do Estado ao escrever:
64 WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem. Porto Alegre: Fabris, 2ª ed, 1995, pág. 68.
65 Ibidem.
30
66 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999, pág.
17.
67 SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011, pág. 28.
32
Observa-se que o mesmo sugere que seja facilitado o alcance para os cidadãos
em relação à denominada língua padrão e não a sua simplificação, porém,
conjecturando que há uma linguagem arcaica em uso, não seria necessária uma
linguagem não padrão para que os brasileiros pudessem compreender estes
documentos e, assim, fossem incluídos no sistema, mas, um simples bom-senso no
português utilizado, que preze pela simplicidade e universalidade da língua, sem
desconsiderar o contexto daqueles a quem o direito irá de encontro ou ao encontro.
Nas palavras de Cappelletti: "em muitíssimos casos os mais pobres nem sequer
sabem o mínimo a respeito da existência de certos direitos que possuem e da
possibilidade de fazê-los valer em juízo69".
68 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999, pág.
18.
69 CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução Ellen Gracie. Northfleet.
Art. 8º. Toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal contra ela, ou para que se
determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,
fiscal ou de qualquer natureza72.
71
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, pág. 10.
72 OEA - Organização dos Estados Americanos. Convenção Americana de Direitos Humanos, 1969.
Disponível em:
<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm/>. Acesso em
04 de out. de 2018.
34
No Brasil, estes fatores externos que tornam o acesso ao universo jurídico falho
ou restrito a uma parte da população correspondem a questões de ordem econômica,
social, cultural, psicológica, legal e educacional. Tais problemas constituem uma
complicação de raízes profundas, sendo difícil e impreciso de se apontar possíveis
soluções, no entanto, é possível aferir que em quase todos eles uma atenção especial
à linguagem seria capaz de reduzir o imbróglio e contribuir positivamente. A questão
legal, por exemplo, muitas vezes se refere à incompreensão, e não meramente à
desinformação e falta de acesso ao conteúdo de lei; já as questões negativas de
ordem econômica, social, educacional e cultural também contemplam a dificuldade ou
até incapacidade que parte dos cidadãos possuem em relação a compreensão das
instruções e informações dadas para os procedimentos jurídicos.
73 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 482.
74 SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça.
Uma análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar
a linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XV, n. 105, out 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24>.
Acesso em 22 de out. de 2018.
35
75 Ibidem.
76 DE SOUZA. Wilson Alves. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011. págs. 25-26.
77 Ibidem.
36
78
SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011. pág. 61.
79 Ibidem., APUD ARMELIN, Donaldo. Acesso à justiça, pág. 173.
80
SOUZA, Op cit., pág. 61.
81
Ibideim., pág. 62.
38
82 REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
83 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório indica redução de processos em tramitação no
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
39
alvo de desdém por parte de indivíduos que deviam tê-lo como responsável pela
manutenção da lei.
Assim, pode-se concluir que, a morosidade dos processos, também gerada por
conta da prolixidade que causa lentidão nas análises e leituras de juízes sem razão
alguma, atrelado ao distanciamento da compreensão dos tutelados por conta deste
mesmo problema, atuam em conluio como obstáculos ao acesso à justiça, seja
dispersando o interesse através da lentidão e descrença, seja pela incompreensão
dos indivíduos ordinários, que devem ser tratados de acordo com o princípio da
isonomia, ou seja, de forma desigual na exata medida de suas desigualdades.
85 SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011, pág. 26.
86 Brasil ainda tem 11,8 milhões de analfabetos, segundo IBGE. O GLOBO. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/brasil-ainda-tem-118-milhoes-de-analfabetos-
segundo-ibge-22211755/> Acesso em 04 de ago. de 2018.
87 Analfabetismo funcional é resultado de ausência de políticas públicas. GAZETA DO POVO.
Vale ressaltar que, ainda que o problema seja evidente e real, ele também é
relativo, pois, nem sempre a falta de acesso à uma educação coerente torna o sujeito
incapaz de conhecer os seus direitos e tutelá-los juridicamente, afinal, o ser humano
possui a característica da subjetividade, o que possibilita que alguns indivíduos atuem
como autodidatas e consigam desenvolver o seu intelecto através de outros meios,
como os digitais, por exemplo. No entanto, é inegável que, normalmente, há uma
relação inata entre a possibilidade do conhecimento jurídico e a habilidade de buscar
a tutela coerente quando requisitada e o grau educacional de cada cidadão.
88 SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011. págs. 27-28.
41
Tal distanciamento pode ser realçado a partir da relação entre os fatores sócio-
econômicos-educacionais quanto à compreensão do uso do “juridiquês”, bem como o
quanto este promove reflexos negativos na compreensão por parte dos cidadãos
comuns, conforme observa-se no tópico a seguir.
89 COLARES, Virgínia (Org). Linguagem & direito: caminhos para linguística forense. São Paulo:
Cortez, 2016, pág. 79.
90 SANTANA, Samene Batista Pereira. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça. Uma
análise sobre o que é o Direito engajado na dialética social e a consequente desrazão de utilizar a
linguagem jurídica como barreira entre a sociedade e o Direito/Justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XV, n. 105, out 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12316&revista_caderno=24>.
Acesso em 22 de out. de 2018.
42
19.
93
REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
43
tempo: o passado.94
94 NALINI, José Renato. A Rebelião da Toga. Revista dos Tribunais, 2015, pág. 234.
95 Ibid., pág. 235.
96 Ibidem.
97 ANDRADE, Valdeciliana da Silva Ramos; BUSSINGER, Marcela de Azevedo. A linguagem jurídica
como estratégia de acesso à justiça: uma análise do processo de interação lingüística entre o
magistrado e as partes. Panóptica, Vitória, ano 1, n. 1, set. 2006, pág. 39. Disponível em:
<http://www.panoptica.org/seer/index.php/op/article/view/Op_1.1_2006_22-45>. Acesso em:
10/10/2018.
98 Ibidem, p. 43.
44
possível de seu povo. Portanto, a linguagem deve ser-lhe próxima, vale dizer, há de
se privilegiar o emprego da linguagem comum”99.
99 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. – 15. ed. rev. e atual, São Paulo:
Saraiva, 2017, pág. 200.
100 BARROSO, Luís Roberto. A revolução da brevidade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 jul. 2008,
p. A3.
101 Ibidem.
45
Além disso, no que tange a esta garantia do Estado sobre os seus tutelados,
coadunando com os valores sociais na contemporaneidade, é possível interpretar que
se solidificam também direitos fundamentais subjetivos, como, por exemplo, o bem
jurídico do tempo. Sobre ele, discorre André Gustavo Corrêa Andrade:
102 LIMA LOPES, José Reinaldo de. O direito na história. 3. ed. São Paulo: Atlas SA., 2008, p. 213.
103 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, pág. 9.
104 NERY JÚNIOR, Nélson. Princípios do processo civil à luz da Constituição Federal. São Paulo:
107
SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011, pág. 87.
108 Ibidem, pág. 81.
109
Ibidem, pág. 82.
110
Ibidem.
48
111
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, pág. 20.
112 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende, Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev., atual. e
pode ser optimizada por meio de uma linguagem mais inclusiva e que demande de
menos tempo na sua elaboração, por meio do profissional responsável por atos
jurídicos administrativos ou não administrativos.
118
DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. Direito processual constitucional. 8. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018, pág. 20.
119
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, pág. 11.
120 TAVARES, André Ramos, Curso de direito constitucional. 15. ed. rev. e atual, São Paulo:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018
52
125 DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. Direito processual constitucional. 8. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018, pág. 27.
126 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Como expressado pelo jurista baiano Ruy Barbosa na oração de paninfia aos
bacharelandos de 1920 da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
trazida por Alves de Souza:
130 Ibidem.
131 Ibidem, pág. 105.
132 MONTE‑SERRAT, D. M.; TFOUNI, L. V. Literacy and legal discourse. Todas as Letras, São
134 SOUZA. Wilson Alves de. Acesso à justiça. Dois de Julho, Salvador, 2011. Apud BARBOSA, Rui.
Oração aos moços. Cit., pág. 39
135 TAVARES, André Ramos, Curso de direito constitucional. – 15. ed. rev. e atual, São Paulo:
produzir resultados que sejam individual e socialmente justos137”. Porém, ocorre que,
para que ele seja acessível a todos, é preciso que seja dirigido a partir de uma
linguagem igualmente acessível a todos, o que não ocorre, embora uma única
linguagem seja igualmente direcionada a todos. Sobre isto, pontuou Valdeciliana
Andrade e Marcela Bussinger:
137 TAVARES, André Ramos, Curso de direito constitucional. – 15. ed. rev. e atual, São Paulo:
Saraiva, 2017, pág. 603
138 ANDRADE, Valdeciliana da Silva Ramos; BUSSINGER, Marcela de Azevedo. A linguagem jurídica
como estratégia de acesso à justiça: uma análise do processo de interação lingüística entre o
magistrado e as partes. Panóptica, Vitória, ano 1, n. 1, set. 2006, págs. 22-45. Disponível em:
<http://www.panoptica.org/seer/index.php/op/article/view/Op_1.1_2006_22-45>. Acesso em:
10/10/2018.
139 Ibidem.
140
Ibidem.
141
Ibidem.
56
142 BARROSO, Luís Roberto. A revolução da brevidade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 jul. 2008,
p. A3.
143 COLARES, Virgínia (Org). Linguagem e direito. Ed. Universitária da UFPE, 2010, pág. 10.
144 PORTUGAL. Direcção-Geral da Política de Justiça. Programa Simplegis. Disponivel em:
<http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/avaliacao-do-
impacto/anexos9170/programa-simplegis/> Acesso em: 04 de nov. de 2018.
58
145 REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
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146 LIMA, Virna. A celeridade processual no novo CPC. Disponível em:
<https://virnalima20.jusbrasil.com.br/artigos/317221324/a-celeridade-processual-no-novo-cpc/>.
Acesso em: 17 out. 2018.
147 ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS. AMB lança campanha para simplificar
Segundo ela, em 2005, com edição de Maria Cristina Name e Paulo Cortes
Gago (um dos pesquisadores do Grupo Linguagem e Direito), foi lançada uma das
primeiras publicações acerca de pesquisas de linguistas que se dedicam ao estudo
da linguagem em contextos jurídicos, a revista da Universidade Federal de juiz de
Fora intitulada “Veredas - Revista de Estudos Lingüísticos”149, que serviu de pontapé
inicial para que o ramo da linguística forense, já sedimentado em outros países, se
movimentasse a fim de se solidificar no Brasil.
148 COLARES, Virgínia (Org). Linguagem & direito: caminhos para linguística forense. São Paulo:
Cortez, 2016, pág. 265.
149 COLARES, Virgínia (Org). Linguagem e direito. Ed. Universitária da UFPE, 2010, pág. 14.
150 BARROSO, Luís Roberto. A revolução da brevidade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 jul. 2008,
p. A3.
151 Ibidem.
60
152
COLARES, Virgínia (Org). Linguagem e direito. Ed. Universitária da UFPE, 2010, pág. 14.
153 Ibid., pág. 10.
154
Ibidem.
155 GARNER, Bryan. From Legal Writing in Plain English, 2001, pp xiv. Tradução livre. Disponível
156 EAGLESON, Robert. Short Definition of Plain Language. Tradução livre. Disponível em:
<https://www.plainlanguage.gov/about/definitions/short-definition/>. Acesso em 13/09/2018.
157 BALMFORD, Christopher. Plain Language: Beyond a Movement. Tradução livre. Disponível em:
Ainda segundo o autor, embora ainda exista muito a se melhorar no que tange
à clareza dos documentos legais, o movimento obteve um sucesso que repercutiu no
panorama jurídico internacional, notando-se, ao longo dos anos, alguns dos benefícios
sociais de uma comunicação legal e clara, como a rapidez gerada pela facilitação da
compreensão por parte dos magistrados e, mais recentemente, os benefícios
econômicos159, os quais Balmford classifica como principal interesse daqueles de
maior influência no tema, haja vista que a linguagem clara traz melhorias na eficiência,
eficácia e satisfação dos clientes.
Além disso, o autor traz à tona também o fato de que, em países como a
Austrália, escritórios de advocacia já se destacam por conta do domínio da linguagem
clara. A Mallesons Stephen Jaques, por exemplo, maior firma de advocacia da
Austrália e vencedora do “Best Australian Law Firm” em 2001, preparou na última
década contratos de consultoria e serviços de suporte para grandes empresas como
a Microsoft, que a buscou justamente por conta de sua reputação detentora de
domínio da linguagem clara, solidificando este tipo de linguagem como revolucionário
e futurista.
159Ibidem.
160
ADAMS, Cynthia. The Move Toward Using Plain Legal Language. Tradução livre. Disponível em:
<https://www.americanbar.org/groups/young_lawyers/publications/tyl/topics/writing/the_move_toward_
using_plain_legal_language/>. Acesso em 04 de out. de 2018.
63
161 Ibidem.
64
5.2 O SIMPLELEGIS
No entanto, para que fosse dado o pontapé inicial nesta transformação, foram
necessários infindáveis embates em contraposição ao tema. As críticas ao teor
segregador da linguagem jurídica foram postos em evidência durante décadas até
que, enfim, ela fosse observada com a merecida atenção. Neste sentido, entre 1978
e 1980, magistrados publicaram na revista Fronteira diversos artigos em oposição à
linguagem judiciária. Em seu conteúdo, os artigos traziam críticas em busca de uma
ressignificação quanto a prática da magistratura, questionando o seu papel, a sua
imparcialidade a singularidade da linguagem utilizada, sob a crítica de que eram
responsáveis pelo favorecimento de um procedimento extremamente solene e
impenetrável162. Falando sobre esta linguagem no passado os seus efeitos previstos
na época, Maria da Conceição Carapinha Rodrigues escreveu:
162
RODRIGUES, Maria da Conceição Carapinha. A situação da linguagem jurídica em Portugal – o
processo de simplificação das linguagens administrativa e legislativa. Disponível em:
http://valesco.es/justicia/wp-content/uploads/2013/11/A-situa%C3%A7%C3%A3o-da-linguagem-jur%C
3%ADdica-em-Portugal-VALENCIA.pdf/. Acesso em: 07 jul. 2018.
163 RODRIGUES, Maria da Conceição Carapinha. A situação da linguagem jurídica em Portugal –
165
RODRIGUES, Maria da Conceição Carapinha. A situação da linguagem jurídica em Portugal – o
processo de simplificação das linguagens administrativa e legislativa. Disponível em:
http://valesco.es/justicia/wp-content/uploads/2013/11/A-situa%C3%A7%C3%A3o-da-linguagem-jur%C
3%ADdica-em-Portugal-VALENCIA.pdf/. Acesso em: 07 jul. 2018.
166
ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS. AMB lança campanha para simplificar
linguagem jurídica. Disponível em: <http://www.amb.com.br/amb-lanca-campanha-para-simplificar-
linguagem-juridica/> Acesso em: 10 de out. de 2018.
67
167 REIS, Adacir. Simplificação da linguagem jurídica tornou-se uma exigência. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2016-fev-15/adacir-reis-simplificacao-linguagem-juridica-exigencia>.
Acesso em: 07 jul. 2018.
168 BALMFORD, Christopher. Plain Language: Beyond a Movement. Tradução livre do autor.
170ADAMS, Cynthia. The Move Toward Using Plain Legal Language. Tradução livre. Disponível em:
<https://www.americanbar.org/groups/young_lawyers/publications/tyl/topics/writing/the_move_toward_
using_plain_legal_language/>. Acesso em 04 de out. de 2018.
69
6. CONCLUSÃO
Por outro lado, ao que tange à concepção de filósofos e linguistas sobre o tema,
compreende-se que os profissionais do direito devem sim possuir o domínio do
vocabulário técnico-jurídico, porém, a linguagem não deve ser utilizada como um
instrumento de segregação de poder, a compactuar com o estigma do praticante do
direito que opta por dedicar a sua formação profissional a perpetuar a figura
ultrapassada do intelectual de vocabulário ininteligível por puro capricho de ego.
Por este motivo, através do exposto, se clama por uma comoção que contemple
71
todo o meio jurídico, a fim de considerar a linguística jurídica uma matéria a ser
seriamente discutida; acompanhar as constantes evoluções sociais, que valorizam
cada vez mais o tratamento igualitário e a inclusão dos desfavorecidos, e agir de
acordo com as transformações e necessidades que surgem incutindo ao direito as
benesses de uma comunicação com clareza e simplicidade, a qual enseja um número
maior de interlocutores sob a sua alçada.
Conclui-se esta monografia, por fim, com o anseio de que estudos que
busquem a promoção de uma relação entre o Direito e a Linguística possam prosperar
no meio acadêmico de ambas as áreas, na expectativa de que a investigação aqui
realizada possa ser, de alguma forma, proveitosa a todos que se interessem em refletir
sobre o estudo da linguagem jurídica.
72
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