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Letras em dia, Português, 12 .

° ano Questão de aula – Leitura e Gramática

Nome: N.º: Turma:


LDIA12DP © Porto Editora

Avaliação: O(A) professor(a):

Leitura e Gramática 3
Lê o texto que se segue

Futurismo e Identidade Nacional


Em 1917, quando José de Almada Negreiros, já conhecido pelo público lisboeta como um
dos mais agressivos adeptos da nova estética modernista proposta pelo grupo de Orpheu,
proclamou, no Teatro República, o seu Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século
XX, um ambiente de forte tensão caracterizava a relação do conferencista com o meio em que
5 vivia. Assim, a veemência da sua denúncia do atraso da cultura portuguesa não terá causado
grande admiração, mesmo quando dizia que «O povo completo será aquele que tiver reunido no
seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as
qualidades» (Textos de Intervenção, p. 43). Sete anos mais tarde, ao manifestar uma sensação
de mal-estar muito semelhante em relação ao atraso cultural do seu país, o brasileiro Mário de
1 Andrade, um dos protagonistas da violenta rutura estética que publicamente se deu a conhecer
0 na Semana da Arte Moderna de 1922, também criticou com aspereza a não-aceitação do
Modernismo pelos seus compatriotas.
[...] as visões estéticas propostas por José de Almada Negreiros e Mário de Andrade
estavam, desde o início, informadas por imagens fortemente críticas das respetivas pátrias. [...]
Esta vontade de utilizar a arte e a literatura para renovar a experiência nacional leva quem
1 estuda os dois movimentos a suspeitar que o Modernismo português e o brasileiro, tantas vezes
5 interpretados em função dos modelos paradigmáticos do Modernismo europeu, têm mais em
comum do que o simples entusiasmo por teorias estéticas originadas nas correntes centrais
dessa vanguarda. [...]
Antes de mais, devemos notar que, embora tanto Almada como Mário de Andrade estivessem
conscientes dos elementos temáticos e formais do programa futurista, ambos hesitavam em
2 proclamar-se escritores futuristas. Além de autor do Ultimatum Futurista, apelidou-se Almada durante
0 algum tempo de «Poeta d’ Orpheu/Futurista/e Tudo» (Manifesto Anti-Dantas, Litoral, Mima-Fataxa).
Contudo, quando publicou A Cena do Ódio, já a assinou com a rubrica de «poeta sensacionista e
Narciso do Egito». Parece-me claro que, ao aliar-se à estética sensacionista, também praticada por
Álvaro de Campos e Mário de Sá-Carneiro, desejava identificar-se com um movimento
especificamente português. A transição do Futurismo para o Sensacionismo indica talvez que Almada
2 terá reconhecido que certos elementos da sua obra não se conformavam com os preceitos rígidos do
5 modelo futurista. Sendo uma estética segundo a qual se pretendia «Sentir tudo de todas as
maneiras», o Sensacionismo aceitava a ênfase futurista no novo e no inovador, mas, ao mesmo
tempo, recusava-se a excluir aquele elemento psicológico que fora banido do texto no Manifesto
Técnico da Literatura publicado por Marinetti em 1912. Creio que é exatamente por causa deste
aspeto «libertador» do Sensacionismo que as críticas explícitas de A Cena do Ódio funcionam tão
3 bem [...]. Não restam igualmente dúvidas de que a descoberta do poder da voz na primeira pessoa
0 permitiu que Almada incorporasse no poema aspetos específicos da sua experiência quotidiana;
depois de provada a eficácia desta arma para atacar a mediocridade da sociedade portuguesa, tal eu
«fingido» passou a ser um elemento fundamental em todos os seus subsequentes projetos literários.
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SAPEGA, Ellen W., 1998. «Futurismo e Identidade Nacional nas obras de Almada Negreiros e Mário de
3 Andrade». Colóquio de Letras. Fundação Calouste Gulbenkian (pp. 241-244)
5

1 De acordo com o primeiro parágrafo, Almada Negreiros

(A) criticou duramente o meio modernista do seu tempo.


(B) surpreendeu todos no seu Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX.
(C) influenciou Mário de Andrade no que diz respeito à estética modernista.
(D) e Mário de Andrade expõem claramente a sua crítica à sociedade do seu tempo.

2 A partir da leitura do texto, podemos concluir que


(A) o Sensacionismo se opôs ao Futurismo.
(B) o Sensacionismo era mais rígido do que o Futurismo.
(C) as ideias futuristas incidiam tanto na forma como no conteúdo.
(D) as ideias sensacionistas excluíam a subjetividade.

3 As aspas usadas em «libertador» (l. 31) pretendem


(A) pôr em evidência que a palavra é usada em sentido metafórico.
(B) destacar como foi sentido o Sensacionismo, no caso específico de Almada Negreiros.
(C) evidenciar a ironia aí explorada.
(D) assinalar a citação de A Cena do Ódio.

4 No contexto em que ocorre, a palavra «arma» (l. 34) constitui


(A) uma metáfora associada à ideia de crítica.
(B) um eufemismo associado à ideia de irreverência.
(C) uma metonímia associada à ideia de estética.
(D) uma sinédoque associada à ideia de revolução.

5 Os verbos «terá» (l. 5) e «estivessem» (l. 19) são


(A) transitivos diretos, ambos.
(B) auxiliar modal e transitivo-predicativo, respetivamente.
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(C) auxiliar de tempo composto e copulativo, respetivamente.


(D) auxiliar da passiva e transitivo direto, respetivamente.

6 Indica a função sintática desempenhada pelas expressões:


a. «do atraso da cultura portuguesa» (l. 5)
b. «dos elementos temáticos e formais do programa futurista» (l. 20)
c. «de provada a eficácia desta arma» (l. 34)

7 Identifica o valor modal expresso nas seguintes sequências:


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a. «A transição do Futurismo para o Sensacionismo indica talvez que Almada terá reconhecido que
certos elementos da sua obra não se conformavam com os preceitos rígidos do modelo futurista» LDIA12DP © Porto Editora
(ll. 26-27)
b. «Não restam igualmente dúvidas de que a descoberta do poder da voz na primeira pessoa
permitiu que Almada incorporasse no poema aspetos específicos da sua experiência quotidiana»
(ll. 32-34)
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Leitura e Gramática
(tipologia do grupo II de Exame)

Leitura e Gramática 3, p. 100


1. (D).

2. (C).

3. (B).

4. (A).

5. (C).

6. a. complemento do nome;
b. complemento do adjetivo;
c. complemento do advérbio.

7. a. modalidade epistémica, valor de probabilidade;


b. modalidade epistémica, valor de certeza.

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