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A HISTÓRIA DOS GRUPOS ESCOLARES NO ESPÍRITO SANTO

VIVIANE LOVATTI FERREIRA1


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

A Inserção dos Grupos Escolares no Contexto Brasileiro


Até o final do século XIX, não só na Europa, bem como no Brasil, a educação
primária esteve sob o domínio das escolas mútuas, que reuniam seus alunos, de diferentes
níveis de aprendizagem, em apenas uma sala de aula, sob a orientação de um professor. Essas
escolas foram baseadas no sistema de ensino do professor inglês Joseph Lancaster, no século
XVIII, onde o docente deveria ser polivalente para atender aos seus alunos.
Com a Revolução Industrial ocorrendo na Europa, em meados do século XIX, a
sociedade, que até então possuía uma economia baseada no campo, passara agora a investir no
trabalho urbano. O processo de industrialização desencadeou a urbanização que, por sua vez,
originou novas formas de vida nos aspectos econômico, político, social e cultural. A
industrialização e a urbanização, grandes características da Revolução Industrial, além de
fazerem surgir a burguesia como nova classe social, fizeram surgir um novo modelo de escola
primária: o Grupo Escolar.
Antes de surgirem no Brasil, os Grupos Escolares já haviam se instalado em outros
países, obtendo êxito na Espanha, França, Inglaterra e Estados Unidos. No Brasil, eles
surgiram na última década do século XIX, com o surgimento das Escolas Modelo, anexas às
Escolas Normais, apresentando novas técnicas administrativo-pedagógicas, além de uma nova
metodologia de ensino. Caracterizados pela sua organização de escolas graduadas, os Grupos
Escolares se apresentaram como padrão de ensino organizado.
O primeiro Grupo Escolar brasileiro foi criado na cidade de São Paulo em 1893. Este
estado sobressaiu-se como pioneiro deste sistema, servindo de modelo para os demais estados
devido às suas condições sócio-econômicas e políticas, favoráveis à implantação do novo
modelo. Essa nova organização de ensino foi reflexo da filosofia positivista que se
estabeleceu fortemente no final do século XIX.
A difusão dos Grupos Escolares foi rápida em todo o país. Dentre suas características,
podemos citar: agrupamento de alunos de mesmo nível de aprendizagem; professores e plano

1
Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito
Santo sob a orientação da Profª. Dr.ª Circe Mary Silva da Silva Dynnikov.
de curso definido para cada série; e aprovação gradual dos alunos. Os Grupos Escolares
instalaram-se nas zonas urbanas, mas escolas mútuas se mantiveram, constituindo-se como
maioria, principalmente no interior dos estados.
Segundo Souza (1998), os positivistas acreditavam que a educação só poderia se
difundir através da ordem social e, para isso, foi necessária a criação de escolas divididas em
séries. Ao serem implantados, os liberais republicanos viam os Grupos Escolares como uma
instituição de escola pública e de qualidade, e tinham o objetivo de elevar o país a nível dos
países desenvolvidos.
De acordo com Araújo e Moreira (1997), a criação dos Grupos Escolares significou e
confirmou a concretização do capitalismo nas sociedades ocidentais rumo ao movimento de
modernização.

Como surgiram os Grupos Escolares no Espírito Santo?


No início do século XX, o Espírito Santo teve Jerônimo Monteiro2 como um de seus
principais governantes, apresentando um extenso programa de governo. De acordo com
Soares (1998), a economia do Estado baseava-se na monocultura do café, e o principal
objetivo do Governo Jerônimo Monteiro (1908-1912) foi industrializar o Estado, oferecendo
uma infra-estrutura necessária à população.
Contando com um precário sistema de ensino, Jerônimo Monteiro providenciou uma
Secretaria da Instrução, nomeando como secretário o professor paulista Carlos Alberto Gomes
Cardim3, que chegou ao Estado em junho de 1908 e logo realizou uma Reforma Educacional
nos Ensinos Primário e Secundário, começando com a criação da Escola Modelo através do
Decreto n.º 108, e sua regulamentação através do Decreto n.º 109. Além de Secretário da
Instrução, Gomes Cardim foi nomeado diretor da Escola Modelo e da Escola Normal.
A Escola Modelo “Jerônimo Monteiro” foi uma instituição de ensino primário que
servia de estágio para os alunos da Escola Normal, além de ser a "modelo" para as demais
escolas primárias do Estado. Algumas normas administrativas e pedagógicas foram criadas a
fim de regulamentar essa instituição de ensino.

2
Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES) em 1870. Filho do capitão Francisco de Souza Monteiro e de D.
Henriqueta Rios de Souza. Seus pais eram fazendeiros e iniciaram em suas terras a cultura do café. Concluiu o
ensino primário no Colégio Manso, em sua própria cidade; cursou o ensino secundário no Colégio São Luís (Itu-
SP) e concluiu o Bacharelado na Faculdade de Direito de São Paulo. Fundou o Partido da Lavoura em sua cidade
e realizou pesquisas de minérios e pedras preciosas em suas terras. Morreu em 1933.
3
Nasceu em São Paulo em 1875. Filho do comendador português João Pedro Gomes Cardim e da gaúcha Ana
Amélia Mont Claro, formou-se normalista em 1894 e se casou com Ignez Lacerda. Foi um dos fundadores da
Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo. Foi professor por mais de 30 anos.
Mesmo sendo pública, a Escola Modelo acolhia filhos da elite, bem como os filhos do
governador, pois era uma instituição de ensino muito sofisticada. Segundo Soares:
(...) as vagas no ensino primário da Escola Modelo, a complementação do ensino
primário no suplementar, e as dos grupos escolares, com quatro anos de estudos,
também eram ocupadas pelos filhos das camadas sociais mais altas. Para a
esmagadora maioria das crianças pobres não havia nem escola. E quando tinham
acesso ao ensino, restavam para elas as escolas isoladas, com apenas três anos de
estudos, ministrados pelos professores que recebiam os piores salários e
lecionavam em salas de aulas precárias. Visto de outro ângulo, eram questões que
nenhum método, sintético ou analítico, poderia resolver. (Soares, 1998, p. 81)

O primeiro Grupo Escolar do Espírito Santo foi criado através do Decreto n.º 166, de
05 de setembro de 1908. O Grupo Escolar recebeu o nome do próprio Secretário da Instrução,
Gomes Cardim. Assim como a Escola Modelo, o Grupo Escolar possuía a mesma estrutura:
compreendia os cursos elementar (4 anos) e complementar (1 ano), era dividido em seções
masculina e feminina, e as mulheres deveriam lecionar somente para as primeiras séries do
ensino primário.
A partir de 1909, iniciou-se a construção de outros Grupos Escolares pelo interior do
Estado, especificamente nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus e Santa
Leopoldina, mas essas obras só ficaram prontas após o mandato do Governo Jerônimo
Monteiro.
Segundo Soares (1998), a reforma de Cardim foi "modernizante, iluminista e
democrático-liberal", pois ficou distante do pragmatismo pelo qual Jerônimo Monteiro
esperava, já que o seu objetivo era ingressar o Espírito Santo num projeto de desenvolvimento
industrial.

Grupo Escolar Gomes Cardim - 1911


A Expansão dos Grupos Escolares no Espírito Santo
Após a implantação dos Grupos Escolares no Espírito Santo (1908), o novo modelo
institucional disseminou-se lentamente pelo Estado. Em 1920, o Espírito Santo contava com
apenas dois Grupos Escolares: um na Capital, denominado "Gomes Cardim"; e o outro no
interior do estado, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim.
De acordo com o Relatório apresentado pelo Dr. Mirabeau Pimentel ao Presidente do
Estado, Sr. Nestor Gomes (1921), durante o segundo semestre de 1920, os Grupos Escolares
"Gomes Cardim" e "Bernardino Monteiro" contaram com uma matrícula total de 551 alunos,
sendo 260 homens e 282 mulheres. Porém, a freqüência nesses estabelecimentos de ensino era
reduzida: 294 alunos freqüentes. Como podemos analisar, os alunos matriculados que não
freqüentavam a escola representavam um total de 53,35%, ou seja, mais da metade dos alunos
matriculados estavam fora da escola. Souza (1998) defende que o número de homens
matriculados nos Grupos Escolares era superior ao número de mulheres. Mas de acordo com
os dados obtidos do Relatório de Governo de Mirabeau Pimentel (1921), tanto em relação ao
número de matrícula quanto ao número de alunos freqüentes, vemos que a classe feminina
representava a grande maioria dos alunos matriculados nos Grupos Escolares. As mulheres
representavam 53,40% nos Grupos Escolares. Na Escola Modelo "Jerônimo Monteiro", anexa
à Escola Normal, o número de mulheres também era superior ao número de homens.
Conforme menciona Souza (1998), os Grupos Escolares proporcionaram um acesso
maior das mulheres à escola, visto que a legislação vigente determinava um número de salas
igual para cada seção (masculina e feminina). Souza (1998, p. 47) ainda relata:
(...) Representa um momento em que aumentaram as possibilidades de inserção
das mulheres no universo público em sua dimensão profissional e sócio-cultural,
haja visto o número expressivo de alunas na Escola Normal e de mulheres
atuando como professoras no ensino primário.

O Presidente de Estado Florentino Avidos (1924-1928), através do Decreto n.º 7.994


de 10/02/1926, deu nova organização didática e administrativa às escolas reunidas. Tais
estabelecimentos de ensino deveriam funcionar como nos Grupos Escolares: divididas em
séries e seções do curso elementar, cada qual em sua sala de aula. Porém, as escolas reunidas
só deveriam oferecer ensino até a 3ª série.
Segundo o Relatório de Governo do Presidente de Estado Florentino Avidos,
apresentado pelo Secretário da Instrução Ubaldo Ramalhete Maia (1927), em 1926 o Espírito
Santo contava com quatro Grupos Escolares: dois na Capital (Escola Modelo e Grupo Escolar
"Gomes Cardim"); um em Cachoeiro de Itapemirim ("Bernardino Monteiro"); e o outro em
Muqui.
Ao abordar a educação de um século, Mattos (1927) referiu-se à situação em que se
encontravam os Grupos Escolares no Estado na década de 1920: "A creação de grupos
escolares em todos os centros de população densa seria a melhor orientação, mas tal
providencia só é realisavel em despeza muito elevada, superior ás forças do orçamento
estadoal. (Mattos, 1927, p. 98)
A partir deste trecho, constata-se que a criação dos Grupos Escolares ainda era algo
difícil de se concretizar pelo interior do Estado, visto que eles requeriam uma grande despesa
financeira, e o Governo não possuía verba suficiente para se encarregar de tais construções.
Alegou ainda que as escolas isoladas eram a melhor alternativa para a população do interior:
Embora representando uma phase transitoria da organisação conveniente, cujo
typo é o grupo escolar, a escola isolada é ainda a unidade escolar de maior
importancia no nosso apparelho pedagogico, por ser a mais disseminada, ao
alcance de todas as populações do interior do Estado.(...) Além disso, mesmo que
pudessemos chegar, sem demora, a essa magnifica situação de abrir grupos
escolares em todos os centros populosos, não poderiamos prescindir das escolas
isoladas para atender ás necessidades dos numerosos nucleos rurais de população
disseminada por logares afastadas uns dos outros, em grandes distancias, sem
meios de transporte e communicação faceis, onde somente a escola isolada póde
levar os beneficios da instrucção. (Mattos, 1927, p. 98 e 99)

Formatura do Grupo Escolar Gomes Cardim logo após as


exéquias do Barão - 1912
O Avanço dos Grupos Escolares
No início da década de 1930, o Presidente da República Getúlio Vargas nomeou o
Capitão João Punaro Bley4 como Interventor Federal no Espírito Santo. Bley governou o
Espírito Santo durante quinze anos. No início de seu governo, extinguiu a Secretaria da
Instrução, criando o Departamento de Ensino Público da Secretaria do Interior em 1932. Mais
tarde, através do Decreto n.º 5 (31/10/1935), criou a Secretaria da Educação e Saúde Pública,
nomeando Fernando Duarte Rabelo para assumir a chefia de tal seção.
Durante sua primeira Interventoria (1930-1935), Bley criou o Jardim de Infância
Ernestina Pessoa e a Escola Agrotécnica de Santa Teresa, equiparou a Escola Normal de
Alegre à Escola Normal Pedro II, e criou o Serviço de Educação pelo Rádio e Cinema. Este
novo serviço estava de acordo com a metodologia de ensino proposta pela Escola Nova.
Em 1936, segundo dados da Mensagem do Capitão João Punaro Bley (1937), o Estado
já funcionava com 25 Grupos Escolares espalhados por várias cidades capixabas. A partir
desse número, percebe-se que houve um aumento considerável de Grupos Escolares na
década de 1930, isto é, um aumento de seis vezes mais do que no início de 1930.
Em 1939, conforme o Relatório das Atividades de Ensino expedido pelo Secretário da
Educação e Saúde, Fernando Duarte Rabelo, o Espírito Santo contava com 52 Grupos
Escolares espalhados por todo o Estado. Os Grupos Escolares eram dotados de aparelhos de
projeção animada para a exibição de filmes educativos e recreativos, além de bibliotecas.
Em 1940, o Espírito Santo possuía com 69 Grupos Escolares espalhados por todo o
Estado, mas ainda possuía 829 escolas isoladas espalhadas por várias cidades capixabas. Por
ser a capital do estado, Vitória era o município que possuía o maior número de Grupos
Escolares. Vila Velha e Afonso Cláudio, respectivamente, foram os municípios que se
sobressaíram após Vitória.
Em 1940, o número de escolas isoladas (92,41%) era predominante em relação aos
Grupos Escolares (7,58%), pois a economia capixaba estava voltada para a agricultura,
especificamente, a monocultura do café. Portanto, não havia um interesse maior por parte dos
pais em manter seus filhos na escola, já que o ensino sistematizado não teria utilidade para o
trabalho da lavoura.

4
Governou o Estado com três mandatos consecutivos. De 1930 a 1935, Bley assumiu o governo do estado como
interventor federal; de 1935 a 1937 como governador constitucional; e de 1937 a 1943 como interventor federal
novamente. Durante seu longo período de governo, preocupou-se em desenvolver as fontes de produção e de
riqueza. Construiu o cais de minério. Quanto à educação, visou a criação do ensino profissional, a nacionalização
do ensino em localidades de língua estrangeira e a criação de faculdades.
Durante o governo do Capitão Bley (1930-1943), houve uma preocupação em se
disseminar o novo modelo escolar por todo o Estado. Os Grupos Escolares encontraram
facilidades para sua expansão no movimento escolanovista.

A Demanda pelos Grupos Escolares


O "I Simpósio sobre o Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo", realizado em
julho de 1968, no Governo de Christiano Dias Lopes (1967-1971), procurou discutir a
realidade das escolas primárias do Estado, sendo os Grupos Escolares o assunto em evidência.
A tese "Plano de Reorganização do Ensino Primário Oficial do Espírito Santo" apresentada
na sétima sessão ordinária, presidida pelo Dr. Alaor de Queiroz Araújo, em 1968 o Espírito
Santo contava com 183 instituições de Grupos Escolares e 56 escolas reunidas. Isto significa
dizer que, em 1968, os Grupos Escolares representavam 76,56% das instituições de ensino
primário, enquanto que as escolas reunidas totalizavam 23,43%. Segundo o Dr. Alaor Queiroz
de Araújo, o Espírito Santo ainda vivia sob as bases de uma economia primária.
As décadas de 1950 e 1960 tiveram uma grande demanda da população pela educação
no Estado, pois as classes desprivilegiadas viram a educação como o meio para se chegar à
ascensão social. A partir de então, surge uma nova concepção de educação por parte daqueles
que governavam, pois viram a educação como uma nova forma de mudar a situação sócio-
econômica de um país subdesenvolvido.

A Estrutura Administrativo-Pedagógica dos Grupos Escolares


Desde o início, os Grupos Escolares tiveram uma estrutura especial para sua
instalação. Quanto à arquitetura dos prédios, Souza (1998) diz que os Grupos Escolares foram
instalados em prédios especialmente construídos para tal finalidade. Sua arquitetura
compreendia belíssimas construções, "...uma arquitetura monumental e edificante que
colocava a escola primária à altura das suas finalidades políticas e sociais e servia para
propagar e divulgar a ação do governo." (Souza, 1998, p. 48)
Os Grupos Escolares também enfrentaram dificuldades diversas devido à falta de
verbas, tais como más condições físicas, falta de manutenção dos prédios, falta de recursos
materiais, má formação e baixos salários do corpo docente, e dificuldades dos professores em
assimilar a nova metodologia de ensino. No Espírito Santo, segundo dados obtidos do
Relatório apresentado pelo Dr. Mirabeau Pimentel (1921), constata-se uma precariedade nos
prédios escolares. Segundo João Loyola Pereira Borges, diretor do Grupo Escolar "Gomes
Cardim" em 1921, tal instituição funcionava em más condições, pois estava situada num
terreno pantanoso e próxima a uma serralheria. No relatório, o Secretário se queixou do
espaço físico do grupo escolar que era imprestável, já que ele não comportava seus alunos
adequadamente.
Quanto à formação dos professores, as Escolas Normais habilitavam docentes para
atuar no ensino primário. A legislação vigente alegava que só poderiam lecionar nos Grupos
Escolares professores com experiência em escolas isoladas.
A demanda dos professores pelos Grupos Escolares ocorreu pela oferta de melhores
salários e condições de trabalho, além do status que tais instituições proporcionavam,
principalmente às mulheres: "O magistério deixava de ser uma desventura e tornava-se uma
profissão digna, reconhecida e edificante. O grupo escolar contribuiu para a reafirmação desse
status constituindo-se em um campo de trabalho e de produção de identidades profissionais."
(Souza, 1998, p. 50, grifo nosso)
O programa de ensino destinado aos Grupos Escolares era diferenciado das outras
escolas. Os Grupos Escolares possuíam um programa mais complexo, com disciplinas
diversificadas, enquanto que as escolas isoladas tinham que se contentar com um programa
simplório e sem muita formação. Isso tornava o programa dos Grupos Escolares ainda mais
sofisticado, uma vez que ele procurava instruir a elite, e às classes desfavorecidas restava
apenas a aprendizagem da leitura, da escrita e do cálculo.
Com a criação dos Grupos Escolares, os seus programas de ensino eram iguais para
ambos os sexos, com exceção nas disciplinas de Trabalhos Manuais e Ginástica. A seção
feminina possuía em seu programa a disciplina Trabalhos Manuais, pois tinha como objetivo
formar a futura dona de casa, já que preparava a mulher para os serviços domésticos. Em
contrapartida, a disciplina Ginástica era oferecida às mulheres, enquanto que os homens
deveriam fazer "Ginástica e Exercícios Militares".
Quanto à metodologia de ensino adotadas, os Grupos Escolares trabalharam com o
Método Intuitivo, oriundo da Alemanha e difundido amplamente pela Europa na segunda
metade do século XIX. Consistia na intuição como base do conhecimento, ou seja, "a
compreensão de que a aquisição dos conhecimentos decorria dos sentidos e da observação."
(Souza, 1998, p. 26). O Método Intuitivo considerava que se deveria ensinar, indo do
particular para o geral, do concreto para o abstrato.
Para estudar nos Grupos Escolares, o aluno deveria ter idade entre 7 e 12 anos. A
legislação vigente determinava que, ao matricular-se, o aluno deveria apresentar um atestado
de boa saúde, devendo comprovar que não apresentava nenhuma doença contagiosa, além do
certificado de vacinação com resultado favorável.
O Fim dos Grupos Escolares
Até 1950, o café representou 50% da economia capixaba. De acordo com Coutinho
(1993), as dificuldades de infra-estrutura, as relações intra-estaduais e a insuficiência de
rodovias foram os grandes obstáculos para a implantação de uma nova economia. A partir da
década de 1950, o Brasil passou a receber investimentos dos Estados Unidos para sua
industrialização. Nos anos 1960, o Brasil começou a investir numa educação
profissionalizante devido à demanda das empresas multinacionais que se instalavam no país.
Essa educação profissionalizante se concretizou com a aprovação da LDB n.º 5.692/71, que
prolongou o ensino primário para oito anos, juntamente com o ensino ginasial, denominando-
o de Ensino de 1º Grau. O curso colegial permaneceu com três anos, sendo denominado de 2º
Grau.
Dessa forma, com a implantação da LDB 5.692/71, foram criadas novas instituições
de ensino para atender aos ensinos de 1º e 2º graus, ficando extintos os Grupos Escolares.

Considerações Finais
Os Grupos Escolares permitiram a possibilidade de participação da mulher na
sociedade, uma vez que tais escolas foram divididas em seções masculina e feminina,
possibilitando um número expressivo de alunas nas Escolas Normais devido à possibilidade
de ingresso nas escolas primárias.
Pedagogicamente, o sistema gradual de ensino trouxe vantagens e desvantagens. A
vantagem foi o rendimento dos alunos em decorrência da divisão da sala de aula, podendo o
professor trabalhar de forma mais homogênea; e a desvantagem foi a reprovação de alunos em
decorrência do ensino gradual, que criou a noção de aluno "fraco" em virtude da repetência.
Foi, então, que o magistério tornou-se uma profissão "digna, reconhecida e edificante"
(SOUZA, p. 50), pois reafirmou o status do professor na sociedade.
A princípio, os Grupos Escolares atenderam aos alunos das camadas elitistas e, mais
tarde, a partir da década de 1950, abriram suas portas para a sociedade, devido à demanda
pela escolarização. No entanto, os pobres, os negros e os miseráveis ficaram excluídos.
Os Grupos Escolares representaram um meio de ascensão social, tanto para alunos que
queriam chegar ao ensino secundário e, futuramente, ao ensino superior, quanto para os
professores que queriam alcançar seu status profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, M.M., MOREIRA, K.C. Grupos Escolares: uma nova forma de cultura escolar da
modernidade. In: Anais do XIII Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste:
história da educação, Natal, 17 a 20 de junho de 1997; organização Maria Inês Sucupira
Stamatto, Martha Maria de Araújo. – Natal: EDUFRN, 1997, p. 109-117.

COUTINHO, J.M. Uma História da Educação no Espírito Santo. Vitória: SPDC/UFES,


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___ . ______ . Atividades de Ensino e da Saúde Pública na Administração do Exmo. Snr.


Interventor Federal Capitão João Punaro Bley, sendo Secretário da Educação e
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In: O Legado Educacional do Século XX. Araraquara: UNESP - Faculdade de Ciências e
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