Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Redação Pedagógica
Tito Ricardo de Almeida Tortori
Frieda Marti
Revisão
Alessandra Muylaert Archer
Projeto Gráfico
Fundamentos do direito público e privado : apostila 2 DPP /
Romulo Freitas
coordenação didático-pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa ;
Diagramação redação pedagógica: Tito Ricardo de Almeida Tortori, Frieda Marti ; revisão:
Luiza Serpa Alessandra Muylaert Archer ; projeto gráfico: Romulo Freitas ; coordenação
de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ; conteudistas:
Coordenação de Conteudistas Anvalgleber Souza Linhares, Francisco Cezar Magalhães Saavedra ; revisão
Fernando Velôzo Gomes Pedrosa técnica: Otávio Bravo ; produção: Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro ; realização: EsIE – Escola de Instrução Especializada [do]
Conteudistas Exército Brasileiro. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2013.
Anvalgleber Souza Linhares
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO.
Francisco Cezar Magalhães Saavedra
40 p. : il. (color.) ; 21 cm.
Revisão Técnica Inclui bibliografia.
Otávio Bravo 1. Direito público - Brasil. 2. Direito privado – Brasil. I. Pedrosa,
Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Tortori, Tito Ricardo de Almeida. III.
Produção Marti, Frieda IV. Linhares, Anvalgleber Souza V. Saavedra, Francisco
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Cezar Magalhães. VI. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Coordenação Central Educação a Distância. VII. Brasil. Exército. Escola
Realização de Instrução Especializada.
EsIE – Escola de Instrução Especializada
CDD: 342
Exército Brasileiro
CHQAO
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Boa leitura!
conteudistas
4. Bibliografia 39
1 Introdução ao Direito
Internacional Humanitário
Objetivos específicos
9
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
O Comitê Internacional da O Direito Internacional Humanitário (DIH), também denominado Direito
Cruz Vermelha (CICV) ou In-
Internacional dos Conflitos Armados (DICA) ou Direito de Guerra surgiu
ternational Committee of the
Red Cross (ICRC) disponibi- como uma demanda de especialização do Direito Internacional Público (DIP).
lizou no seu portal em língua
inglesa cerca de 161 regras Do ponto de vista da terminologia, existe uma pluralidade de denominações
de costume internacional
para esse ramo do Direito. Inicialmente denominada de “Direito de Guerra”
que são fontes do DICA. Dis-
ponível em: <http://www. ou “Leis de Guerra”, essa expressão foi abandonada após a Segunda Guerra
icrc.org/customary-ihl/eng/ Mundial, quando o tratado internacional que criou a Organização das Nações
docs/v1_rul>
Unidas (ONU) – Carta de São Francisco – proibiu a guerra como política de con-
duta internacional. A guerra passou a ser ilegal, salvo nas hipóteses de legítima
defesa, do exercício do direito à autodeterminação dos povos e das interven-
ções militares autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU (PALMA, 2010).
10
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
As três expressões – Direito da Guerra, DICA e DIH – são, por-
tanto, equivalentes. As Forças Armadas normalmente em-
pregam a expressão DICA, pois é mais completa e remete às
normas dirigidas aos combatentes de forma mais clara. Já no
meio acadêmico, a expressão DIH é dominante, mas represen-
ta o mesmo escopo de conhecimento.
O DICA ou DIH pode ser definido como ramos do Direito Internacional Público,
que tem por objetivo regulamentar a guerra (PALMA, 2010). Possui normas
convencionais e [consuetudinárias], bem como princípios gerais de Direito que Consuetudinário:
diz-se do Direito que se
visam restringir meios e métodos de combate e proteger quem não partici-
baseia nos usos e costumes
pa ou não mais participa das hostilidades. de uma certa sociedade. Esse
tipo de instituto legal, por ser
Portanto, também é possível definir DICA como: aceito, a priori, não preci-
sa passar por um processo
[...] o conjunto de normas internacionais, de origem con- formal de criação de leis pelo
vencional ou consuetudinária, especificamente destinado poder legislativo.
a ser aplicado nos conflitos armados, internacionais ou
não-internacionais, e que limita, por razões humanitárias,
o direito das Partes em conflito de escolher livremente os
métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege
as pessoas e os bens afetados, ou que possam ser afeta-
dos pelo conflito (SWINARSKI, 1997, p. 18).
11
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
Este Direito, como legislação de tutela de Direitos Humanos, apresenta duas faces:
Manual de Emprego do Direi- Em termos pragmáticos, esses dois universos se fundiram a partir da elaboração
to Internacional dos Conflitos
das Convenções de Genebra pós-Segunda Guerra Mundial, tendo em vista
Armados (DICA) nas Forças
Armadas. Disponível no link: que tais instrumentos internacionais apresentam normas de limitação de meios
<http://www.ccopab.eb.mil. e métodos de combate e de proteção de pessoas fora de combate. A divisão
br/index.php/pt/ensino/
material-de-apoio-ao-ensino/ permanece, no entanto, no meio acadêmico, com o acréscimo de um terceiro
doc_download/128-1-manu- ramo de DIH, chamado, comumente, de Direito de Nova York, que abrangeria
al-de-dica-md-34-m-03>
novas normas relativas à proteção de civis durante os conflitos armados, consa-
grados na primeira conferência das Nações Unidas (daí a referência à cidade de
Nova York, onde se localiza a sede das Nações Unidas), especificamente dedica-
da ao tema dos Direitos Humanos e realizada em Teerã, 1968.
O DICA é dirigido especi- A finalidade do DICA não é impedir a ação de comando ou limitar a eficiência
ficamente aos combatentes
das partes em combate, mas evitar a ocorrência do “caos no caos”. É o que se
e vítimas, e corresponde ao
jus in bello, ou seja, ao direito compreende a partir das lições de Sassoli e Bouvie (apud PALMA, 2010, p. 10)
na guerra. quando afirmam que o DICA tem por objetivo “limitar a violência aos níveis es-
tritamente necessários para que se atinja o objetivo da batalha, que não deve
ser outro além do enfraquecimento do potencial militar do inimigo”. Palma,
além disso, afirma:
Entretanto, apesar dessa tutela, o DICA não proíbe o uso da violência; não
consegue proteger todas as pessoas afetadas pelo conflito armado; não se
refere a quem faz a guerra justa ou às razões do conflito (denominado jus ad
bellum ou ao direito de ir à guerra); além disso, não pode proibir que uma das
partes triunfe sobre o inimigo; entre outras (PALMA, 2010).
12
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Sobre a real possibilidade de regulamentação da guerra, considerando ou não Pensadores como Cícero (inter
armas silent leges – as leis silen-
que regras possam ser respeitadas dentro de um contexto de luta pela sobrevi-
ciam em tempo de guerra),
vência, coexistem duas correntes de pensamento: a realista e a normativa. Clausewitz e Von Liszt são ex-
poentes da corrente realista.
De acordo com a corrente realista, a guerra, pela sua essência, não
pode ser regulamentada, devido à anarquia e violência características dos
confrontos armados.
Já a corrente normativa admite que a guerra é um fenômeno social como O vídeo História de uma Ideia, do
qualquer outro e, por esse motivo, é passível de regulamentação jurídica. Segun- Comitê Internacional da Cruz
Vermelha (CICV) conta a his-
do essa linha de pensamento, existe um mútuo interesse das partes em conflito tória do nascimento da Cruz
no sentido de que, em função da reciprocidade, certas regras sejam respeitadas Vermelha. Disponível no link:
<http://www.youtube.com/
durante os combates. Se um contendor não quer sofrer determinado tipo de ata- watch?v=lhpsQZshEqI>
que ou tratamento, também não deve utilizá-lo contra o inimigo (PALMA, 2010).
O DICA possui três funções básicas que caracterizam sua importância nos Conheça as ações da Cruz
dias atuais: Vermelha Internacional vi-
sitando o portal do Comitê
• Jurídica - Submete os atos de violência às normas. Internacional da Cruz Ver-
melha - CICV. Disponível em:
• Organizadora - Regula as ações durante o conflito. <http://www.icrc.org/por/
index.jsp>
• Protetora - Visa proteger as pessoas e os bens afetados pelos combates.
13
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
Soft law: soft law, droit • Convenções internacionais;
doux ou soft norm significam
direito flexível e designa o • Costume internacional;
texto do Direito Interna-
• Princípios gerais de Direito Internacional.
cional Público que não tem
caráter jurídico em relação Como fontes auxiliares, são listadas, por exemplo:
a seus signatários. Refere-se,
então, às normas facultati- • Decisões judiciais nacionais ou da Corte Internacional de Justiça
vas, em oposição às normas
cogentes, também denomi- (jurisprudência);
nadas de hard law.
• Ensinamentos de doutrinadores de Direito Internacional;
• Equidade.
Para obter mais informações Ao DIH também se aplicam as mesmas fontes formais, visto que é uma ciência
sobre o Estatuto da Cor-
jurídica componente do Direito Internacional Público.
te Internacional de Justiça,
visite o site <http://www.
direitoshumanos.usp.br/
O núcleo do DICA é formado pelo conjunto formado pelas quatro Conven-
index.php/Corte-Interna- ções de Genebra de 1949 mais o Protocolo Adicional I (PA I) e o Protocolo
cional-de-Justi%C3%A7a/
Adicional II (PA II), ambos de 1977.
estatuto-da-corte-internacio-
nal-de-justica.html>.
Os costumes, no Direito Internacional, atuam como fontes primárias, poden-
do, dependendo da hipótese, revogar ou serem revogados por normas con-
vencionais. São fundamentais na interpretação das normas ou na definição de
responsabilidades dos Estados que não ratificaram as convenções de DICA.
Conheça mais sobre esse tema Os princípios gerais de Direito também são citados como fontes do DICA,
a partir do livro digital Direito
posto que são proposições normativas que inspiram e orientam o surgimento
Internacional Humanitário de Mi-
chel Deyra. Disponível em: de novas normas. No caso do DICA, alguns dos princípios mais relevantes são:
<http://direitoshumanos.
gddc.pt/pdf/DIHDeyra.pdf> • Humanidade;
• Necessidade militar;
• Proporcionalidade;
14
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
1.3 Evolução histórica
15
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
O Código Lieber foi criado du- Holanda, e deu origem a três convenções, versando sobre a solução pacífica de
rante a Guerra de Secessão dos
conflitos, e o direito de guerra terrestre e marítima.
EUA, visando regular o com-
portamento dos exércitos em
campanha, e elaborado por
Em 1907 ocorreu a segunda Conferência Internacional de Paz, também em
determinação do presidente Haia, onde se reuniram representantes de 44 Estados, inclusive o Brasil, des-
Abraham Lincoln ao professor
tacando-se a figura de Rui Barbosa como nosso representante. Nesta Confe-
de direito Francis Lieber.
rência, as convenções de 1899 foram atualizadas, enquanto outras dez novas
foram criadas e versavam, em sua maioria, sobre guerra marítima.
16
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Em 1954, foi também aprovada uma Convenção e um Protocolo, em Haia, ver-
sando sobre a proteção de bens culturais durante os conflitos armados.
Além desse núcleo normativo, podem ser citados diversos outros instrumentos
de DICA que limitam a utilização de armas em conflitos, tais como:
17
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
• Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estoca-
gem e Uso de Armas Químicas e sobre a destruição de armas químicas
existentes no mundo (1993);
18
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Contudo, com base nos tratados internacionais de DIDH ratificados pelo
Estado ou nas normas de [jus cogens], existe um limite abaixo do qual não se Jus cogens: de acordo
admite mais derrogações de Direitos Humanos. O Pacto Internacional sobre com o artigo 53 da Conven-
ção de Viena sobre o Direito
os Direitos Civis e Políticos (1966), que faz parte da Carta Internacional dos Tratados de 1969, jus
dos Direitos Humanos, contempla no item 2 do artigo 4º Direitos Humanos congens é a “norma imperati-
va de direito internacional
essenciais e inderrogáveis, mesmo em situações de crise. Entre esses valores geral”,“aceita e reconhecida
essenciais podemos citar: pela comunidade interna-
cional dos Estados no seu
• Direito à vida; conjunto como norma à qual
nenhuma derrogação é per-
• Direito de não ser submetido à tortura; mitida e que só pode ser mo-
dificada por uma nova norma
• Direito de não ser submetido à escravidão;
de direito internacional geral
• Direito de liberdade de pensamento, de consciência e de religião. com a mesma natureza”.
A forte relação conceitual existente entre essas duas espécies de Direito − re-
presentadas pelo DICA e o DIDH − deu origem a três concepções doutrinárias:
a integracionista, a separatista e a complementarista.
• Concepção integracionista: entende que um dos ramos do Direito A Revista do Instituto Brasi-
leiro dos Direitos Humanos
internacional englobaria o outro por conta do objeto em comum dos
proporciona acesso aos exem-
mesmos, qual seja a proteção do ser humano. Majoritariamente, essa plares da publicação eletrônica
corrente entende que o DIDH conteria o DICA. No entanto, os dois através do link <http://ibdh.
org.br/ibdh/revistas.asp>
ramos, por possuírem princípios e regras diferentes, constituir-se-iam em
uma integração forçada, por serem de naturezas distintas.
19
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
A tendência atual é o já evidenciado no Estatuto de Roma,
que criou o Tribunal Penal Internacional, onde são penalizados
crimes de guerra, ligados ao DICA, e crimes contra a humani-
dade, ligados ao DIDH, aproximando os dois institutos.
O Estatuto de Roma criou o No caso do Brasil, a diferença entre essas abordagens é bastante relevante,
Tribunal Penal Internacional,
“instituição permanente com
pois, segundo a tese integracionista, o DICA pode ser considerado parte do
jurisdição sobre as pessoas DIDH em sentido amplo. Nesse sentido, o DICA se tornaria passível de posicio-
responsáveis pelos crimes de namento hierárquico constitucional por força do § 3º do artigo 5º da CF/88 e
maior gravidade com alcance
internacional, de acordo com isso, consequentemente, aumentaria substancialmente a sua importância. No
o presente Estatuto, e será entanto, esse parágrafo foi criado pela Emenda Constitucional 45/2004 e não
complementar das jurisdições
penais nacionais” (Preâmbulo se refere especificamente ao DICA (PALMA, 2010).
do Tratado de Roma).
O quadro 1 mostra, de forma resumida, algumas das principais diferenças
entre DICA e DIDH stricto sensu:
20
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
O Supremo Tribunal Federal
Direito Internacional Humanitário decidiu, em posição majori-
tária, que os tratados de Di-
Contra infrações graves de
Dos indivíduos de viola- reitos Humanos ratificados
instituições do próprio Estado
Defesa ções de agentes de seu pelo Brasil antes da EC 45/04
ou de outros Estados em con- têm natureza supraconstitu-
próprio Estado.
flitos armados internacionais. cional e não pertencem ao
”bloco da constitucionalida-
Apenas alguns direitos
de”. Ver a respeito, o Acórdão
(liberdade de imprensa
do Recurso Extraordinário
Inderrogabilidade Nunca pode ser suspenso ou ou de circulação) podem nº 349.703-1/RS, julgado
(Revogabilidade) derrogado. ser suspensos durante em 3 de dezembro de 2008,
a vigência do estado de disponível em: <http://re-
sítio. dir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=AC
Salvaguardar e manter os &docID=595406>.
Garantir aos indivíduos,
direitos fundamentais das
em tempo de paz, o res-
Função vítimas, combatentes ou não
peito pelos seus direitos e
combatentes em conflitos
pelas suas liberdades.
armados.
21
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
2 Princípios do Direito
Internacional Humanitário
Objetivo específico
23
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
Os principais Instrumentos e A Cláusula Martens (MD-34-M-03, 2011, p. 14 – 15) foi desenvolvida no pa-
Textos Universais do Direito
rágrafo 2° do artigo 1° do Protocolo Adicional I de 1977. Originariamente foi
Internacional Humanitário
podem ser acessados no link: criada pelo professor de Direito russo Fyodor Martens, durante a Primeira Con-
<http://www.gddc.pt/direi- ferência Internacional de Paz de 1899, e introduzida em versão mais atualizada
tos-humanos/textos-interna-
cionais-dh/universais.html> no texto do PA I e no preâmbulo do PA II em 1977:
Segundo seu conteúdo, as partes não estão livres para decidir a seu modo na
escolha de meios e métodos de combate e no tratamento de pessoas em seu
poder durante os conflitos armados. Em outras palavras, a Cláusula Martens
afirma que “o que não é proibido também não está permitido” (PALMA, 2010).
a. Princípio da limitação
24
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
b. Princípio da humanidade
d. Princípio da proporcionalidade
25
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
e. Princípio da distinção
26
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
c. Membros de milícias, corpos de voluntários e movimentos de resistência
organizados não pertencentes às forças armadas das partes em conflito,
que estejam atuando dentro ou fora de seu próprio território (mesmo
que este esteja ocupado), desde que satisfaçam, segundo o artigo 4 (2)
da III Convenção de Genebra III, as condições a seguir:
São equiparados aos combatentes, inclusive com direito ao status de Pri- Sobre a distinção entre com-
batentes e terroristas, ver o
sioneiro de Guerra (PG), por não terem como missão a participação direta nos
texto Why Terrorists aren’t Soldiers,
combates, as seguintes categorias: de Wesley K. Clark e Kal Raus-
tiala, publicado em 2007, na
a. Pessoas que acompanham as Forças Armadas sem fazer parte delas (civis seção Opinion do New York
tripulantes de aeronaves militares e navios mercantes, correspondentes Times. <http://www.nyti-
m e s. c o m / 2 0 0 7 / 0 8 / 0 8 /
de guerra, fornecedores, trabalhadores encarregados do bem-estar dos opinion/08clark.html?_r=0>
militares), desde que autorizados, bem como os tripulantes civis da avia- OBS: Caso tenha dificuldade
ção civil e marinha mercante, caso não se beneficiem de disposição mais na leitura em inglês, sugere-
-se o recurso do tradutor on-
favorável por outros tratados internacionais; -line. Embora a tradução não
b. Membros da população de território não ocupado que, à aproximação seja perfeita, pode contribuir
para que se perceba o sentido
do inimigo, em levante e massa, peguem espontaneamente em armas do texto.
para combater os invasores, sem que haja tempo de se estabelecer e
organizar como tropa regular, desde que ostentem as armas à vista e
respeitem as leis e costumes referentes ao DICA.
27
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
Por exclusão, os civis são aqueles não considerados combatentes. Na história
das convenções de DICA, inicialmente a situação dos civis não era regulada, pois
eram considerados como “fora da guerra” (CICV, 1992). A IV Convenção de
Haia, de 1907, começou a tratar da proteção aos civis, mas somente nos casos
de ocupação militar inimiga e de forma muito sucinta. Com o passar do tempo,
o desenvolvimento de novas armas, o aumento do raio de ação das forças em
combate e o seu aprofundamento reforçaram a ideia de que, em verdade, os ci-
vis estão dentro da guerra, expostos a perigos ainda maiores do que os militares.
Assim, no que tange aos civis em geral, esta Convenção procurou garantir o
respeito à dignidade humana “em caso de guerra declarada ou de qualquer
outro conflito armado que possa surgir entre duas ou mais das Altas Partes con-
tratantes, mesmo se o estado de guerra não for reconhecido por uma delas”.
28
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Mulheres (artigo 76) e crianças (artigo 77) são especialmente protegidos nos
termos do G P I. Jornalistas são considerados civis e são protegidos pela G IV, 79.
Correspondentes de guerra terão tratamento diferenciado, sendo considerados
prisioneiros de guerra se forem capturados (G III, 4 (4)).
29
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
2.5 A independência do Jus in bello (direito na guerra)
em relação ao Jus ad bellum (direito de ir à guerra)
O Direito aplicado aos conflitos armados seguiu uma evolução histórica bas-
tante peculiar. O mais relevante, nas guerras antigas, era a justiça da guerra, ou
seja, a guerra justificada pelos seus motivos. A partir do final do século XIX, a
ideia de guerra justa cede seu lugar à justiça na guerra, buscando-se um míni-
mo de regulamentação dos meios e métodos de combate com a consequente
diminuição dos inúteis sofrimentos impostos a combatentes e não combaten-
tes. Com o passar do tempo, o viés humanitário foi se desenvolvendo, a ponto
de quase absorver a regulamentação especificamente voltada aos combatentes.
Para PALMA (2010), desde 1945, o jus ad bellum passou a ser tutelado
pela ONU, encarregada de manter a paz mundial. Com a Carta das Nações
Unidas, o uso da força passou para a ilegalidade, excetuando-se os motivos
já mencionados, surgindo o jus contra bellum, ou o direito contra a guerra,
segundo alguns autores. Com virtual desaparecimento do jus ad bellum, o que
30
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
resta do antigo direito de guerra está consubstanciado nos grupos de normas
tendentes a tornar o conflito armado um ilícito internacional, numa situação de
fato mais humana: o direito de Haia e o direito de Genebra (SWINARSKI, 1997).
31
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
3 O Brasil e o DIH: panorama das ratificações
dos principais instrumentos do jus in bello
Objetivo específico
Ratificação: ato pelo O Brasil apresenta uma tradição de busca de soluções pacíficas para as con-
qual, após a aprovação legis-
trovérsias internacionais, consubstanciada atualmente na Constituição Federal
lativa, o Chefe de Estado con-
firma a aceitação do acordo (artigo 4º, VII). Observa-se um permanente apoio da política externa brasi-
internacional celebrado em leira às iniciativas defensoras dos princípios humanitários. Esta circunstância
seu nome pelos seus repre-
sentantes e promete fazê-lo predispõe o país à [ratificação] dos tratados que envolvem o DICA. No plano
cumprir. É a partir da ratifi- interno, todavia, existe uma grande defasagem entre a legislação em vigor e os
cação (e não da assinatura)
atos internacionais (JARDIM, 2006).
que, via de regra, o Estado se
obriga no plano internacio-
nal pelo cumprimento de um O artigo 146 da IV Convenção de Genebra, de 1949, já determinava medi-
acordo internacional. das no sentido de prever em suas legislações penais as sanções adequadas às
pessoas que porventura houvessem violado ou mandado violar as prescrições
convencionais aos Estados partes. Em outras palavras, no caso do Brasil, isso
serviria para que fosse satisfeita a exigência constitucional da anterioridade da
lei penal (PALMA, 2010).
Sobre a matéria, ver o estágio Os crimes militares previstos no Código Penal Militar de 1969, particularmente
do atual PL nº 4.038 de 2008, os elencados no Livro II (em tempo de guerra) privilegiam a manutenção da
bem como o artigo A implemen-
tação do Estatuto do Tribunal Penal In- eficiência militar, não possuindo o viés humanitário como prioritário.
ternacional, o caso Lubanga e a trans-
posição ao âmbito interno brasileiro, É fundamental a atualização da legislação penal brasileira referente ao assun-
de Pablo Rodrigo Alflen da
to, principalmente diante do aumento da participação brasileira em missões de
Silva, disponível em: <http://
jus.com.br/artigos/12344/a- paz, quando podem ocorrer conflitos armados. Nesses casos, o mandato da
-implementacao-do-estatuto- ONU não é suficiente para amparar o soldado brasileiro empenhado, devendo
-do-tribunal-penal-interna-
cional-o-caso-lubanga-e-a- ser observada também as normas oriundas dos tratados de DICA. Consideran-
-transposicao-ao-ambito-in- do, principalmente, ainda, que o Brasil ratificou o Estatuto de Roma do Tri-
terno-brasileiro>
bunal Penal Internacional, o assunto toma mais importância, pois se o Estado
brasileiro não processar e punir determinada pessoa por crime de guerra ou
33
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
contra a humanidade, previsto no Estatuto citado, pelo princípio da comple-
mentaridade, esta pode ser submetida ao julgamento pelo TPI, o que configu-
raria grave lesão à reputação da Justiça brasileira (PALMA, 2010).
Data de Ratificação
Ato Internacional
ou Adesão
34
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
Data de Ratificação
Ato Internacional
ou Adesão
35
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
Data de Ratificação
Ato Internacional
ou Adesão
36
Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais
4 Bibliografia
Referências Bibliográficas
Bibliografia complementar
37
FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - u3
CCEAD – Coordenação Central de Educação a Distância
Coordenação Geral
Gilda Helena Bernardino de Campos
Gerente de Projetos
José Ricardo Basílio
Equipe CCEAD
Alessandra Muylaert Archer
Alexander Arturo Mera
Ana Luiza Portes
Angela de Araújo Souza
Camila Welikson
Ciléia Fiorotti
Clara Ishikawa
Eduardo Felipe dos Santos Pereira
Eduardo Quental
Frieda Marti
Gabriel Bezerra Neves
Gleilcelene Neri de Brito
Igor de Oliveira Martins
Joel dos Santos Furtado
Luiza Serpa
Luiz Claudio Galvão de Andrade
Luiz Guilherme Roland
Maria Letícia Correia Meliga
Neide Gutman
Romulo Freitas
Ronnald Machado
Simone Bernardo de Castro
Tito Ricardo de Almeida Tortori
Vivianne Elguezabal