Você está na página 1de 16

A aplicação do Direito Internacional

Humanitário nos “conflitos novos”


Conflitos desestruturados e conflitos “de identidade” ou
étnicos

Roberto de Almeida Luquini

Sumário
1. O Direito Internacional Humanitário.
Conceito e generalidades. 2. Conflitos arma-
dos internos. 2.1. Distintos tipos de conflitos
armados. 2.2. A desintegração das estruturas
estatais. 2.3. Os “conflitos novos”: desestrutu-
rados e “de identidade”, ou étnicos. 2.4. As víti-
mas dos “novos conflitos”: população civil.
Deslocados internos e refugiados. 3. O Direito
Internacional Humanitário e os “conflitos no-
vos”. 3.1. Normas aplicáveis aos “conflitos no-
vos”. 3.2. A assistência humanitária. A – Prin-
cípios básicos da ação humanitária. B – A assis-
tência humanitária nos conflitos internos. 4. Di-
reito Internacional Humanitário e Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos. 4.1. O Direito
Internacional dos Direitos Humanos. Generali-
dades e conceito. 4.2. O Direito Internacional dos
Direitos Humanos e o Direito Internacional
Humanitário. 4.3. A convergência entre o Direi-
to Internacional dos Direitos Humanos e o Di-
reito Internacional Humanitário. 5. Conclusões.

1. O Direito Internacional
Humanitário
Conceito e generalidades

Durante séculos, a guerra foi admitida


Roberto de Almeida Luquini é Professor como meio de solução de conflitos entre os
do Departamento de Direito da Universidade
Estados, constituindo um mecanismo de
Federal de Viçosa (MG), Doutorando em Di-
reito Internacional Público na Universidad de sanção das normas internacionais próprio
Valencia (Valencia – Espanha) e Bolsista da de uma sociedade como a comunidade in-
CAPES – Centro de Aperfeiçoamento de Pes- ternacional, carente de mecanismos de coer-
soal de Nível Superior. ção característicos dos ordenamentos inter-
Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 127
nos estatais. O recurso à guerra se baseava A doutrina, geralmente, costuma classi-
fundamentalmente na questão moral, por ficar o Direito Internacional Humanitário
parte dos Estados. O Direito da guerra (jus em dois ramos: o Direito de Haia e o Direito
in bello) compreendia as normas regulado- de Genebra. O primeiro, também denomi-
ras da conduta dos Estados beligerantes nado Direito dos Conflitos Armados, regu-
(leis e costumes de guerra). la a condução das hostilidades e a imposi-
No século atual, a guerra foi formalmen- ção de limites aos meios de fazer a guerra.
te proscrita pelo Tratado de Paris de 27 de Suas normas se vinculam às idéias de ne-
agosto de 1928, também conhecido como cessidade, interesse militar e conservação
Pacto Briand-Kellog, e pelo artigo 2.4 da Car- do Estado. O segundo, também conhecido
ta das Nações Unidas, que proíbe a ameaça por Direito Humanitário Bélico – que nos
ou o uso da força contra outros Estados. interessa mais de perto no presente traba-
Desde 1945, depois da Segunda Guerra lho –, centra sua atenção nas vítimas dos
Mundial, a guerra já não constitui uma ma- conflitos armados e se baseia no homem e
neira aceitável de resolver as controvérsias nos princípios de humanidade.
entre os Estados na órbita internacional. Passemos a uma rápida análise do con-
Apesar disso, a sociedade internacional teúdo dos quatro Convênios de Genebra, de
permanece mergulhada nas convulsões da 12 de agosto de 1949, e seus Protocolos Adi-
guerra. Infelizmente o banimento da guerra cionais, de 8 de junho de 1977. O Convênio
pelo ordenamento jurído não foi suficiente I protege os feridos e os enfermos das forças
para provocar seu real desaparecimento. Por armadas em campanha; o Convênio II pro-
esse motivo, tornou-se necessário o estabe- tege os feridos, enfermos e náufragos das
lecimento de normas reguladoras da con- forças armadas no mar; o Convênio III está
dução das hostilidades, impondo às partes relacionado ao trato dispensado aos prisio-
em conflito um padrão mínimo humanitário neiros de guerra; o Convênio IV trata da pro-
e impedindo o uso descontrolado da força. teção das pessoas civis em tempos de guer-
A partir dessa necessidade, nasceu o Di- ra. O Protocolo I regula a proteção das víti-
reito Internacional Humanitário, que segun- mas dos conflitos armados internacionais e
do o Professor Antonio Remiro BROTÓNS é o Protocolo II trata da proteção das vítimas
“el conjunto de normas internacionales, de dos conflitos armados não internacionais.
origen convencional o consuetudinario, que Na verdade, os dois protocolos são verda-
restringen por razones humanitarias el dere- deiros tratados, pois se trata de textos ex-
cho de las partes en un conflicto armado, in- tensos que atualizam as normas relativas
ternacional o no, a utilizar medios de guerra aos conflitos armados, com a intenção não
y protegen a las personas y bienes (que podrí- de substituir, mas sim de ampliar o conteú-
an ser) afectados por el mismo” (1997, p. 985). do dos Convênios de 1949.
O Direito Internacional Humanitário é, Os Convênios de Genebra são um lega-
portanto, o corpo de normas internacionais do da Segunda Guerra Mundial. A partir
especificamente destinado a ser aplicado da trágica realidade desse conflito, reforça-
nos conflitos armados, internacionais ou se proteção jurídica das vítimas da guerra,
não, e que limita, por razões humanitárias, especialmente dos civis em poder do inimi-
o direito das partes em conflito de eleger li- go. Hoje, praticamente todos os Estados são
vremente os métodos e os meios utilizados Partes nos Convênios de Genebra de 1949,
na guerra, protegendo as pessoas e os bens que foram aceitos pela comunidade de na-
afetados pelo conflito. É um direito realista ções e adquiriram um caráter universal.
em que devem ser consideradas não só as O Direito Internacional Humanitário
exigencias de índole humanitária, mas tam- surge nas relações entre Estados como uma
bém as de necessidade militar. resposta da comunidade internacional aos

128 Revista de Informação Legislativa


horrores da guerra. Raúl Emilio VINUESA Proíbe-se o ataque às pessoas e aos bens ci-
afirma que vis e devem ser tomadas as medidas neces-
“el Derecho Internacional Humanita- sárias à proteção da população civil.
rio nace y se desarrolla como un movi- 4. Proíbe-se o ataque ou a destruição dos
miento no politizado, tomando distan- bens indispensáveis para a sobrevivência
cia de las corrientes del pensamiento da população civil (alimentos, criações de
político en general. La necesidad de li- gado, instalações e reservas de água potá-
mitar los sufrimientos innecesarios de vel, etc.). Proíbe-se o uso da fome como mé-
los combatientes heridos y enfermos en todo de guerra.
el campo de batalla fue el eslabón inici- 5. A assistência aos feridos e enfermos é
al de una cadena de protecciones aco- obrigatória. Os hospitais, as ambulâncias e
tadas a categorías específicas de indi- o pessoal sanitário e religioso serão respei-
viduos afectados por los conflictos ar- tados e protegidos. O emblema da Cruz Ver-
mados. La incorporación de nuevas melha ou da Meia Lua Vermelha será res-
categorías de víctimas de los conflictos peitado em qualquer circunstância e todo
implicó una evolución constante en abuso a esta norma será sancionado.
cuanto a la ampliación del ámbito de 6. As partes en conflito têm o dever de
aplicación personal del Derecho Inter- aceitar as operações de socorro de índole
nacional Humanitario” (1998). humanitária, imparcial e não discriminató-
O Direito Internacional Humanitário se ria em favor da população civil. O pessoal
converteu em um complexo conjunto de nor- dos organismos de socorro será respeitado
mas relativas a uma grande variedade de e protegido.
problemas. Sem sombra de dúvida, os seis Esses princípios correspondem a consi-
tratados principais – os quatro Convênios derações elementares de humanidade, ou
de Genebra e seus dois Protocolos Adicio- princípios gerais de Direito Humanitário.
nais – e o denso entramado de normas con- Constituem o fundamento da proteção que
suetudinárias restringem o recurso à violên- o Direito confere às vítimas da guerra. São
cia em tempos de guerra. O conjunto desses de cumprimento obrigatório em qualquer
textos legais contém algumas normas de circunstância e nenhuma derrogação pode
comportamento de singular importância, ser autorizada.
aplicáveis a todos os conflitos armados. Se- Finalmente devemos assinalar que as
guindo a orientação de Jean-Philippe LA- normas do Direito Internacional se aplicam
VOYER (1995), passamos a enumerá-las: a todos os conflitos armados, independen-
1. As pessoas que não participam, ou que temente de suas origens ou suas causas. Tais
tenham deixado de participar, das hostili- normas devem ser respeitadas em qualquer
dades devem ser respeitadas, protegidas e circunstância, não sendo cabível nenhum
tratadas com humanidade. Devem receber tipo de discriminação às pessoas que são
a assistência apropriada sem nenhuma dis- protegidas por elas.
criminação. Não obstante a aplicação indiscutível
2. As pessoas civis devem ser tratadas dos princípios gerais supramencionados a
com humanidade. Ficam proibidos os aten- todo e qualquer tipo de conflito armado, exis-
tados contra a vida, qualquer tipo de maus tem dois grupos de normas específicas que
tratos e de tortura, a tomada de reféns, as regem, por uma parte, os conflitos armados
condenações sem prévio julgamento eqüi- internacionais, e, por outra, os conflitos ar-
tativo. mados não internacionais. O último grupo
3. Cabe às forças armadas distinguir en- é o que nos interessa mais de perto no presen-
tre as pessoas civis, por uma parte, e os com- te trabalho, e que estudaremos mais adiante.
batentes e os objetivos militares, por outra. São eles o artigo 3º, comum aos quatro Con-

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 129


vênios de Genebra de 1949 e o Protocolo a direção de um comando responsável, exer-
Adicional II de 1977. çam sobre uma parte de dito território um con-
trole tal que lhes permita realizar operações
2. Conflitos Armados Internos militares sustentáveis e organizadas, viabili-
zando, assim, a aplicação deste Protocolo.
2.1. Distintos tipos de conflitos armados
2.2. A desintegração das
Os conflitos armados se classificam em estruturas estatais
internacionais e em não internacionais (ou in- A desintegração das estruturas estatais
ternos). ocorre quando o Estado perde seu terceiro
Os conflitos armados internacionais são elemento constitutivo: um governo que pos-
aqueles cujas partes beligerantes são Esta- sa garantir um controle efetivo do seu terri-
dos independentes. Os quatro primeiros tório. Isso pode ocorrer em diferentes graus
Convênios de Genebra de 1949 e seu Proto- de intensidade, afetando diversas partes do
colo Adicional I de 1977 tratam exaustiva- território.
mente das questões humanitárias relacio- É um fenômeno cujas raízes são bem mais
nadas a esse tipo de conflito. O conjunto de profundas que as de uma rebelião ou de um
normas relativas aos prisioneiros de guer- golpe de Estado. É uma situação caracteri-
ra, seu estatuto e o tratamento que se lhes zada pela implosão da estrutura, da autori-
deve dispensar se baseia na guerra entre dade, do Direito e da ordem política do Es-
Estados (III Convênio). O IV Convênio enun- tado. Ocorre o desmoronamento do conjun-
cia os direitos e as obrigações de uma Po- to de valores nos quais se baseia a legitimi-
tência ocupante, ou seja, do Estado cujas dade do Estado, cuja conseqüência costu-
forças armadas controlam, parcial ou total- ma ser o retrocesso a um nacionalismo étni-
mente, o território de outro Estado. O Proto- co ou religioso como identidade residual e
colo I trata apenas dos conflitos armados viável. Em geral, a manutenção da ordem e
internacionais. do poder passam a ser tema debatido por
Entretanto, atualmente, os conflitos en- diversas facções. Ainda que o Estado não
tre Estados deixaram de ser a regra assu- chegue a desaparecer fisicamente, perde a
mindo o papel de exceção. A maioria dos capacidade de desempenhar suas funções
conflitos armados se desenvolve no territó- normais de governo.
rio de um único Estado, caracterizando os O grau de intensidade e a extensão geo-
conflitos de caráter não internacional. gráfica da desintegração estatal são variá-
As normas essenciais do Direito Huma- veis. Pode ocorrer que o governo siga de-
nitário aplicáveis aos conflitos armados não sempenhando algumas funções, exercendo
internacionais são muito mais simples e es- um escasso controle quanto à população e
cassas que as aplicáveis aos conflitos inter- ao território. Em um nível de desintegração
nacionais. Sua fonte principal é o artigo 3º mais elevado, certas estruturas fundamen-
comum aos Convênios de Genebra e o Pro- tais mantêm um funcionamento formal e o
tocolo Adicional II. Estado continua estando legitimamente re-
O artigo 1º do Protocolo II estabelece com presentado na órbita internacional, mas se
critérios objetivos qual é o alcance material decompõe internamente em várias facções
dos conflitos armados não internacionais, rivais. O último grau do processo de deses-
dizendo que são aqueles não cobertos pelo truturação do Estado implica uma situação
artigo 1º do Protocolo I e que se desenvol- de implosão total das estruturas governa-
vem no território de um Estado, entre suas mentais, de modo que o Estado já não apre-
forças armadas e forças armadas dissiden- senta representação legítima perante a co-
tes ou grupos armados organizados que, sob munidade internacional. Há uma generali-

130 Revista de Informação Legislativa


zação do caos e da criminalidade, sem que Comentando o tema, Marie -José DOMES-
as facções possam exercer qualquer contro- TICI-MET afirma que,
le sobre seus membros, não havendo ordem ”después de las guerras civiles políti-
hierárquica claramente estabelecida. As or- cas, después de las guerras ‘periféri-
ganizações humanitárias já não encontram cas’, más o menos ideológicas pero
interlocutores válidos e a situação de inse- siempre apadrinadas por los ‘super
gurança é alarmante. grandes’, aparecieron las guerras ci-
Diante de um quadro como esse, os con- viles de la tercera generación, amplia-
flitos surgidos são classificados como deses- mente endógenas, en las que se rompe
truturados. la estructura de los Estados y sistemáti-
camente se toma como blanco a las pobla-
2.3. Os “conflitos novos”: desestruturados e ciones. Perseguidas por pertenecer a una
“de identidade”, ou étnicos etnia - no se insistirá en ese fenómeno
A expressão “conflitos novos” abarca, bastante conocido -, pueden ser tam-
efetivamente, dois tipos de conflitos distin- bién un objetivo simplemente porque
tos: os conflitos desestruturados e os confli- representan un envite” [grifos nossos]
tos étnicos. (1999).
Os conflitos desestruturados, segura- Em suas considerações, Domestici-Met
mente conseqüência do fim da Guerra Fria, não só confirma que a maioria dos conflitos
têm como características o debilitamento ou armados atuais ocorre dentro dos territóri-
a desaparição total ou parcial das estrutu- os dos Estados, rompendo sua estrutura,
ras estatais. Nessas situações, os grupos mas também aponta as causas mais comuns
armados aproveitam o vazio político insta- desses conflitos: a intolerência e a persegui-
lado para tentar tomar o poder. A caracte- ção étnica. O objetivo dos conflitos “de iden-
rística principal desse tipo de conflito é, so- tidade” ou étnicos é excluir o outro grupo
bretudo, o debilitamento ou mesmo a desa- mediante a prática de “limpeza étnica”, que
parição da cadeia de mando dentro dos pró- consiste em provocar, forçosamente, o des-
prios grupos armados. São conflitos resul- locamento territorial da população perten-
tantes de situacões de violência descontro- cente a determinada etnia, ou mesmo em
lada que impedem o funcionamento normal provocar seu extermínio. Nesse tipo de con-
das autoridades regularmente constituídas. flito, em virtude de uma espiral de propa-
Entre suas características principais, ganda de medo, de ódio e de violência, desen-
destacam-se as seguintes: volve-se uma dinâmica tendente a consoli-
1. Desintegração dos órgãos do governo dar a noção de grupo, em detrimento da iden-
central, que já não é capaz de exercer seus tidade nacional existente, que termina por
direitos e obrigações sobre seu território e tornar absolutamente inviável qualquer pos-
sua população. sibilidade de coabitação com outros grupos.
2. Presença de inumeráveis facções ar- O certo é que a deterioração da autorida-
madas. de e da legitimidade de numerosos Estados
3. Controle fragmentado, ou nenhum traz consigo a fragmentação dos poderes, o
controle, do território estatal. desmoronamento dos poderes públicos e,
4. Desintegração da ordem hierárquica muitas vezes, situações a tal ponto caóticas
nas diferentes facções e suas milícias. que ninguém pode ser responsabilizado. E
Existe uma relação estreita entre essas o pior é que tampouco é possível encontrar
características, que são essenciais e cumu- alguém capacitado para restaurar um míni-
lativas. Não obstante, só se reúnem, qualifi- mo de ordem. Segundo Jean-Daniel TAU-
cando o conflito, em uma determinada fase XE, existe uma tendência de agravamento
das hostilidades. dessa situação

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 131


“pues cada vez surgen más Estados outro para obter um ganho político ou terri-
en el escenario internacional. En 1963, torial e os civis sofrem apenas o que os mili-
el número de Estados miembros de las tares e o direito dos conflitos armados de-
Naciones Unidas era de 108, en 1983 nominam danos colaterais, que muitas ve-
de 144 y en 1998 de 189. Muchos de zes são consideráveis. Nos conflitos atuais,
estos Estados son débiles e inestables. sobretudo nos conflitos “de identidade”,
Por otra parte, el derecho de los pue- nos quais os civis são o alvo principal dos
blos a la libre determinación deriva beligerantes, a situação é muito diferente. A
hacia tendencias perversas: cada ‘et- prática de uma política de “limpeza étnica”
nia’, cada ‘pueblo’ sueña de manera não tem como objetivo colocar fora de com-
más o menos confusa en erigirse en bate o grupo inimigo, mas sim matar, violar,
Estado-Nación, basándose esencial- queimar suas casas, aterrorizando-o e obri-
mente en su identidad, y este proceso gando-o a abandonar as regiões por ele ocu-
parece no tener fin” (1999). padas. Dentro dessa lógica, as vítimas ideais
Os conflitos já não são mais a expressão são aquelas que deveriam ser melhor prote-
de uma confrontação global entre superpo- gidas pelo Direito Humanitário, pois são as
tências. Até 1989, muitos enfrentamentos mais vulneráveis e as mais incapazes de se
eram classificados como conflitos internos defender. Em tais conflitos, ataca-se prefe-
internacionalizados, pois, ainda que suas cau- rencialmente as mulheres e as crianças. A
sas fossem locais, eram estimulados – ideo- matança selvagem ocorre por ódio e não por
lógica, financeira e militarmente – pelos blo- desconhecimento do Direito e dos princípios
cos comunista, liderado pela extinta URSS, elementares de humanidade.
e capitalista, liderado pelos EUA. Ao me- Ainda que não constituam a causa ex-
nos parcialmente, os conflitos se estrutura- clusiva, seguramente os conflitos armados
vam desde o exterior e isso permitia um cer- internos são a causa principal do apareci-
to controle sobre os mesmos. mento da grande onda de deslocados internos
Hoje, no mundo globalizado, sob as re- e de refugiados, resultado da fuga de grupos
gras da nova ordem internacional, ocorre de pessoas vítimas dos horrores da guerra
justamente o contrário, pois nas guerras ci- civil.
vis predominam os fatores locais e a inter- É importante diferenciar os dois termos.
venção política externa é aparentemente ine- O deslocado interno, como indica o próprio
xistente. É uma aparência enganosa pois nome, abandona sua casa, o lugar onde sem-
não raramente existe uma grande influên- pre viveu, mas permanece dentro dos limi-
cia de fatores externos, que determinam o tes do Estado onde reside. Já o refugiado é
rumo dos conflitos. Como exemplo se po- aquele que não só abandona sua casa, mas
dem citar os casos de Angola, da antiga Iu- que também se vê forçado a deixar o territó-
goslávia, da Colômbia, da região dos Gran- rio do Estado onde reside.
des Lagos na África, Serra Leoa e Libéria, É imprescindível identificar as princi-
onde predomina a influência de aspectos pais causas dos deslocamentos de popula-
econômicos e de identidade. ção para encontrar soluções para o proble-
ma. Sabe-se que a partir do momento em que
2.4. As vítimas dos “novos conflitos”: as operações militares não se limitam às fren-
população civil. Deslocados internos e tes de combate, podem originar movimen-
refugiados tos de população. O Comitê Internacional
A grande maioria dos conflitos contem- da Cruz Vermelha, todavia, pôde compro-
porâneos contradiz os fundamentos do Di- var que as violações às normas do Direito
reito Internacional Humanitário. Em um Internacional Humanitário provocam ou ao
esquema clássico, um exército combate com menos acentuam ditos deslocamentos.

132 Revista de Informação Legislativa


Os civis fogem das zonas de combate em como semillas de muerte en 56 países
função do ataque indiscriminado dos beli- en todo el mundo. Incluso después de
gerantes. Outro caso é o daqueles que são que se ha concertado la paz, como en
tomados como reféns pelos grupos belige- Camboya, El Salvador y Mozambique,
rantes e que tentam escapar do abuso de sigue habiendo un promedio semanal
poder de que são objeto. Quando se deslo- de 500 civiles que mueren o quedan
cam, perdem o acesso às fontes habituais de mutilados por la explosión de minas
abastecimento e essa perda pode ser em si terrestres” (1995).
mesma uma causa essencial da fome, ou esta Para que possamos ter idéia dos efeitos
surge porque as partes em conflito não se de um conflito armado interno sobre a po-
preocupam em tomar as medidas necessá- pulação civil, recorremos a dados veicula-
rias para distribuir as ajudas recebidas em dos recentemente no jornal espanhol El País,
favor da população civil. Quando os belige- relacionados ao mais longo conflito arma-
rantes impedem deliberadamente a distri- do do continente africano, em Angola, con-
buição da ajuda, seu comportamento viola tando com treze anos de combate contra a
as normas do Direito Internacional Huma- colonização portuguesa e aproximadamente
nitário, em particular a proibição do uso da vinte e sete anos de enfrentamentos civis. O
fome como método de combate (Protocolo I, trágico resultado desse longo período de
art. 54, e Protocolo II, art. 14). Impedir a dis- beligerância deixa o país à beira da catás-
tribuição da ajuda pode, sem dúvida, pro- trofe: mais de um milhão de mortos, quatro
vocar novos deslocamentos de população. milhões de deslocados internos (dos quais
Ao analisar as causas dos deslocamentos mais de dois milhões precisam receber ali-
de população durante um conflito armado, mentos para sobreviver) e mais de cem mil
não se pode deixar de considerar o uso in- pessoas mutiladas por minas terrestres
discriminado de minas terrestres, cujas prin- (GARCIA, 2002, p. 6).
cipais vítimas são mulheres, crianças e cam- É preciso esclarecer, todavia, que as au-
poneses. Segundo Anita PARLOW (1995), toridades que se vêem confrontadas com um
existe um número exorbitante de minas que conflito armado interno podem decidir des-
continuam enterradas nos campos de vários locar um grupo de civis de um lugar a outro
países. Para que se possa ter uma idéia da do território nacional com a finalidade de
gravidade do problema, basta considerar que garantir sua segurança ou por razões mili-
em condições ideais, quando se conhece a lo- tares imperiosas. Nesses casos, para que a
calização dos campos de minas, quando exis- decisão esteja de acordo com o Direito Hu-
tem mapas dos mesmos, é necessário dedicar manitário, devem ser tomadas todas as me-
cem vezes mais tempo para retirá-las que para didas possíveis “para que a população civil seja
colocá-las. E como na maioria das vezes essa acolhida em condições satisfatórias de alojamento,
condição ideal inexiste, é possível imaginar a salubridade, higiene, segurança e alimentação”
imensa dificuldade de efetuar a desativação (Artigo 17, parágrafo 1, do Protocolo Adicio-
das mencionadas minas terrestres. Uma vez nal II aos Convênios de Genebra de 1949).
que isolam os camponeses de seus campos As violações do Direito Internacional
de cultivo, as minas os obrigam a abandonar Humanitário podem, portanto, ser causa de
seu povoado, aumentando o número de pes- deslocamentos massivos de populações e
soas deslocadas por causa da guerra. indício da vontade deliberada das autori-
É também Anita PARLOW quem infor- dades de provocá-los. De qualquer manei-
ma que, segundo o Departamento de Esta- ra, uma política de deslocamentos massi-
do dos Estados Unidos Hiddem Killers, vos de grupos de população, como a que
“hay por retirar unos 65 a 110 millo- caracteriza a “purificação étnica”, é abso-
nes de minas antipersonal esparcidas lutamente inconciliável com o respeito ao

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 133


Direito Humanitário. Com respeito a esse estabelecer uma regulamentação mais deta-
tema, convém recordar que o artigo 3º co- lhada dos conflitos internos, o problema está
mum aos Convênios de Genebra proíbe às relacionado mais à aplicação do Direito exis-
partes em conflito o trato discriminatório tente do que à aprovação de novas normas.
baseado em critérios de raça, cor, religião, Araceli Mangas MARTÍN sustenta que
crença, sexo, nascimento, fortuna ou qual- “el art. 3º común a los Convenios de Gine-
quer outro critério análogo. bra de 1949 es la norma mínima aplicable a
la generalidad de los conflictos armados
3. O Direito Internacional internos”(1992, p. 67).
Humanitário e os “conflitos novos” Esse artigo, um verdadeiro convênio em
miniatura, é breve mas contém princípios
3.1. Normas aplicáveis aos essenciais. Determina que as pessoas que não
“conflitos novos” participam diretamente das hostilidades se-
rão, em qualquer circunstância, tratadas com
O princípio de distinção e de proteção humanidade e proíbe a prática de atentados
da população civil é fundamental em toda contra a vida e a integridade corporal (espe-
regulamentação de conflitos armados quan- cialmente homicídio em todas as suas formas,
do se pretende evitar, até onde seja possível, tortura, mutilações e tratos cruéis), a tomada
os efeitos da guerra para as pessoas civis. Essa de reféns, os atentados contra a dignidade
é uma questão que continua sendo preocu- pessoal (especialmente tratos humilhantes e
pante, principalmente quando considera- degradantes), assim como as condenações e
mos o destino, freqüentemente trágico, da execuções sem prévio julgamento por um tri-
população civil vítima de conflitos internos, bunal legitimamente constituído, com as ga-
convertida em próprio objetivo do conflito. rantias judiciais fundamentais. Por outra
Contrariando as disposições do Direito In- parte, determina que os enfermos e os feridos
ternacional Humanitário, as partes belige- devem ser recolhidos e cuidados.
rantes recorrem a atos ou ameaças cuja fi- Essas garantias fundamentais são reite-
nalidade é semear o terror contra essa po- radas no Protocolo Adicional II aos quatro
pulação. Por outro lado, muitas vezes pes- Convênios de Genebra de 1949. Nesse Pro-
soas civis têm participação direta, ainda que tocolo, proíbem-se os castigos coletivos, os
temporária, nas hostilidades, por vontade atos de terrorismo e o roubo; os atentados
própria ou por coação, perdendo a proteção contra a dignidade pessoal, incluindo ex-
do Direito Internacional e dificultando, ou pressamente a violação, a prostituição for-
mesmo impossibilitando, a identificação dos çada e qualquer forma de atentado ao pu-
beligerantes e dos não beligerantes. Diante dor. As pessoas privadas de liberdade se
desse quadro, e para garantir um mínimo beneficiam de garantias suplementárias (ar-
de proteção à população civil, prevalece a tigo 5). O artigo 6 enuncia as garantias judi-
presunção de que toda pessoa é um civil. ciais. Os artigos 7 a 12 garantem o respeito e
Simplesmente o respeito às normas de Di- a proteção aos feridos e aos enfermos e o
reito Internacional Humanitário para a pro- artigo 4, parágrafo 3, estipula uma proteção
teção das pessoas civis poderia evitar mui- especial para as mulheres e as crianças.
tos dos sofrimentos que lhes são infligidos, O Protocolo II protege a população civil
especialmente no caso das crianças, mulhe- contra os efeitos das hostilidades relacio-
res, refugiados e deslocados internos. nados aos perigos oriundos de operações
A eficácia dessas normas depende, prin- militares (artigo 13). Proíbe que a popula-
cipalmente, da boa-fé das partes em conflito ção seja objeto de ataque e de atos ou amea-
e de seu desejo de respeitar as exigências de ças de violência cuja finalidade seja aterro-
humanidade. Ainda que seja necessário rizá-la.

134 Revista de Informação Legislativa


O artigo 14 proíbe a utilização da fome podem ser caracterizadas como conflito ar-
entre a população civil como método de com- mado interno, é flagrante a violação dos
bate. Também são proibidos o ataque, a des- mais básicos direitos humanos.
truição, a subtração ou inutilização dos bens E isso nos confirma Díez De VELASCO,
indispensáveis à sobrevivência da popula- ao afirmar que
ção civil. As obras e instalações que contêm “la protección que se establece para
forças perigosas – as represas, os diques, as las víctimas de los conflictos armados
centrais de energia elétrica – não podem ser sin carácter internacional es menos
objeto de ataques se há o risco de causar completa y detallada que la concedi-
perdas importantes para a população civil da en el caso de los conflictos arma-
(artigo 15). O artigo 16 protege os bens cul- dos internacionales. El Protocolo II es
turais e os lugares de culto. más breve y sucinto que el Protocolo I
O mencionado Protocolo também proíbe y carece de normas sobre los métodos
os deslocamentos forçados da população y medios de combate (...) La protecci-
civil, salvo quando o objetivo seja garantir ón de la población civil se contempla
sua segurança ou quando existam razões de un modo muy sintético, si se com-
militares imperiosas. Nesses casos, serão paran sus disposiciones con las del
tomadas todas as medidas possíveis para Protocolo I, consagrando a la norma
que a população seja acolhida em condições fundamental de que la población y las
satisfatórias de alojamento, salubridade, personas civiles no serán objeto de ata-
higiene, segurança e alimentação (artigo 17). que, y prohibiendo ‘los actos o amena-
Finalmente, se a população civil se vê zas de violencia cuya finalidad princi-
privada dos bens essenciais para sua so- pal sea aterrorizar a la población civil’
brevivência (víveres e provisões sanitárias, (art. 13,3)” (1994, p. 930).
por exemplo), serão empreendidas, com o
consentimento do Estado, ações de socorro 3.2. A assistência humanitária
de caráter exclusivamente humanitário e A – Princípios básicos da ação humani-
imparcial, e realizadas sem distinção algu- tária
ma de caráter desfavorável. Abordando a questão da necessidade de
O simples cumprimento das normas do se encontrar meios de minimizar os efeitos
Protocolo pode, sem dúvida alguma, melho- da guerra sobre a população civil, Marion
rar muito as condições da população civil, HARROFF-TAVEL sustenta que
minimizando os efeitos desastrosos dos con- “el objetivo de la promoción del Dere-
flitos internos. cho Internacional Humanitario y de
Entretanto, esse Protocolo tem seu âmbi- los principios de la acción humanita-
to de aplicação limitado pelo parágrafo 2 de ria es lograr el respeto de ese derecho
seu artigo 1º, que não considera conflitos y el acceso a las víctimas a las que
armados as situações de tensões internas e protege. Dicho de otro modo, la pro-
de distúrbios interiores, como os motins, os moción del derecho es uno de los ins-
atos esporádicos e isolados de violência. trumentos que permite incluir en las
Para merecer a proteção do Direito Huma- actitudes y en los comportamientos de
nitário, os enfrentamentos devem ser de alta quienes están o podrían estar habili-
intensidade, configurando um conflito ar- tados para contribuir a que, en situa-
mado interno. Portanto, se um conflito in- ciones de violencia armada, los medi-
terno não assume grandes proporções, a os de combate no sean ilimitados, las
população civil fica desamparada. Essa é víctimas sean tratadas con humani-
uma lacuna do Direito Internacional Huma- dad y la labor humanitaria pueda re-
nitário, pois, mesmo em situações que não alizarse en favor de ellas” (1998).

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 135


Independentemente do contexto em que nham necessidades mais urgentes. Sem im-
tenha de estar presente, a ação humanitária parcialidade, é grande o risco da perda de
em tempo de conflito armado continua pos- confiança e pode resultar difícil continuar
suindo uma natureza, um objetivo e carac- contando com uma cooperação das partes
terísticas específicas. Como descrevem os em conflito.
Convênios de Genebra e seus Protocolos O princípio de neutralidade significa a
Adicionais, a ação humanitária está basea- não participação nas hostilidades e a não
da nos princípios de humanidade e de im- intervenção nas controvérsias de índole
parcialidade. política, religiosa ou ideológica que tenham
O Direito Internacional Humanitário se provocado o conflito armado. Também é fun-
baseia no princípio de humanidade, que damental a abstenção de qualquer ingerên-
consagra direitos e obrigações a todos os cia direta ou indireta nas operações milita-
afetados por um conflito armado. Entre os res em curso. Não obstante, a neutralidade
sujeitos alcançados pelas normas desse Di- não significa a aceitação de práticas que
reito, podemos enumerar as partes em con- atentem contra os princípios elementares do
flito, as vítimas, os Estados terceiros e as Direito Humanitário, como por exemplo, a
organizações intergovernamentais e não prática de “limpeza étnica”. A neutralida-
governamentais. É mister ressaltar o direito de não é um fim em si mesma, é o meio in-
das vítimas de receber uma assistência hu- dispensável para captar a confiança das
manitária, sendo dever do Estado em cujo partes em conflito para conseguir livre aces-
território se desenvolve o conflito, ou da so a todas as vítimas. Mais adiante, demons-
parte que controla um território, garantir as traremos que a ação humanitária neutra é
necessidades essenciais da população, con- de difícil compreensão e aceitação nos con-
sentindo que se preste uma ação de socorro, flitos que têm por finalidade o extermínio
humanitária e imparcial. Todavia, essas de grupos e que ocorrem nos Estados deses-
ações estão condicionadas ao consentimen- truturados pela violência.
to dos Estados ou das partes corresponden- Finalmente se deve considerar o princí-
tes, e não há previsão de medidas coerciti- pio de independência que expressa a auto-
vas em caso de denegação abusiva. Sendo nomia que devem ter as organizações hu-
assim, as organizações humanitárias cos- manitárias para que possam atuar confor-
tumam requerer o acordo explícito, implíci- me os princípios mencionados anteriormen-
to ou pelo menos tácito dos beligerantes para te, sem estar submetidas a considerações de
que possam, o mais rápido possível, identi- natureza política.
ficar e tentar derrubar os obstáculos à pres- A ação humanitária requer a observân-
tação da assistência humanitária, principal- cia de todos esses princípios e seu fiel res-
mente com relação à segurança do pessoal peito para garantir um mínimo de proteção
humanitário. Recorrer à força, contra a von- às vítimas e a quem as assiste. Caso contrá-
tade das partes em conflito, ainda que por rio, torna-se muito difícil a aceitação da as-
razões de índole humanitária, transforma- sistência humanitária, principalmente
ria a ação humanitária, no sentido estrito quando se discute se ela pode ou não ser
do Direito Internacional Humanitário, em considerada um fator de ingerência ou de
uma verdadeira operação militar. intervenção, colocando em risco a soberania
A imparcialidade, corolário do princípio do Estado. Com respeito ao tema, afirma-
de humanidade, pode ser definida como a nos Mario BETTATI que
ausência de toda discriminação por motivo “todavía se mantiene la tensión entre
de religião, nacionalidade, raça, opinião las exigencias de la soberanía y las de
política, ou qualquer outro critério seme- la acción humanitaria transfronteri-
lhante, dando prioridade às vítimas que te- za, benéfica y desinteresada. La legíti-

136 Revista de Informação Legislativa


ma protección de los intereses del Estado rência relativamente claros. De um lado, as
se opone a menudo a la legítima pro- forças armadas regulares, submetidas ao
tección de la supervivencia de las vícti- controle do poder político estabelecido e, do
mas que podrían recibir asistencia del outro, com uma hierarquia de mando estru-
exterior. Para conciliar estas dos ten- turada e reivindicando uma ideologia bem
dencias contradictorias, se han elabo- definida.
rado una serie de principios que he- Na maioria dos casos, ditas estruturas
mos propuesto a la comunidad de permitiam às organizações humanitárias
Estados y que se han ido consagran- estabelecer os contatos necessários para a
do progresivamente primero por me- realização de sua ação a todos os níveis da
dio de resoluciones de la Asamblea hierarquia política e militar. A proteção do
General de Naciones Unidas, luego pessoal humanitário dependia essencial-
por el Consejo de Seguridad en casos mente da responsabilidade das partes em
concretos de naturaleza bélica. Se ha conflito, mediante um sistema de salvo-con-
denominado a esta doctrina ‘derecho duto e de autorizações que funcionava rela-
de injerencia humanitaria’. Sin recha- tivamente bem, pois estava baseado em uma
zar esta expresión, debemos emplear- clara hierarquia de mando.
la con prudencia en la medida en que Infelizmente, nos conflitos internos
es susceptible de generar mal enten- atuais, a realidade é bem outra, o que difi-
didos y equívocos que pueden susci- culta tremendamente, quando não inviabi-
tar objeciones por parte de los Esta- liza, a atuação dos agentes humanitários. O
dos. (...) Preferimos hablar de ‘derecho sistema tradicional de “apadrinhamento”
de asistencia humanitaria’, que es una bipolar das partes em conflito foi substituí-
denominación peor acogida por los do pelo caos absoluto. Nos Estados deses-
medios de comunicación, pero mejor truturados, não existe hierarquia definida,
por los juristas y diplomáticos. Por não se sabe quem manda e mesmo as partes
otra parte, se observa que los gobiernos envolvidas no conflito se encontram frag-
aceptan más fácilmente estos nuevos prin- mentadas.
cipios cuando no tienen dudas, en cuanto Assim, os agentes se encontram expos-
a la soberanía, sobre la intención, inter- tos aos riscos de uma crescente delinqüên-
pretaciones y aplicación de quienes han cia, cuja finalidade específica, muitas vezes,
propuesto y promovido la idea” [grifos é a subtração dos bens administrados por
nossos] (1994, p. 5-6). eles administrados. A presença de tais bens
B – A assistência humanitária nos con- pode, inclusive, aumentar a intensidade dos
flitos internos conflitos se alguma das partes beligerantes
Como afirmamos anteriormente, hoje consegue apropriar-se dos mesmos.
predominam os conflitos armados internos, A assistência humanitária se converte em
causadores de grandes contingentes de des- uma questão muito delicada e às vezes peri-
locados internos e de refugiados. Muitos gosa para o pessoal humanitário, quando
desses conflitos foram provocados – ou for- se trata de conflitos étnicos, cujo objetivo,
temente influenciados – pelo fim da ordem como já sabemos, é a exclusão e a elimina-
mundial bipolar, sendo que outros são con- ção do suposto adversário. Para chegar ao
seqüência de ciclos históricos de rivalidades poder, um grupo deve destruir, eliminar o
ou de problemas políticos jamais resolvidos. outro, situação que muitas vezes caracteri-
Esses conflitos ocorrem em contextos ni- za um caso de genocídio.
tidamente mais desestruturados que antes, Em situações assim, a assistência huma-
quando as organizações humanitárias eram nitária é considerada um obstáculo para
menos numerosas e tinham pontos de refe- alcançar os objetivos das partes em conflito.

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 137


Tudo aquilo que se opõe à estratégia de eli- O conceito atual dos direitos humanos
minação, de marginalização ou de desloca- se compõe dos clássicos direitos civis e po-
mento de pessoas civis se entende como líticos, ou seja, das liberdades públicas, dos
ameaça contra a consolidação do direito ao direitos econômicos, sociais e culturais que
poder, inclusive para sua existência. Tor- obrigam o Estado a tomar medidas positi-
na-se difícil distinguir os combatentes dos vas para a satisfação das necessidades hu-
não combatentes e passa a ser comum iden- manas no âmbito econômico, social e cultu-
tificar os agentes humanitários como inimi- ral e dos novos direitos que surgiram diante
gos pois, afinal, “quem ajuda meu inimigo é das demandas do mundo atual. Existe uma
meu inimigo também”. O perigo para os interdependência entre esses direitos, pois
agentes humanitários é enorme e também cada um deles e cada uma de suas categorias
se deve considerar que sua presença na re- demanda para sua existência o reconheci-
gião do conflito faz com que assumam a con- mento e a vigência dos demais.
dição de testemunhas oculares perigosas de A existência efetiva dos direitos de cada
práticas brutais contra a parte adversária e pessoa, limitados em seu exercício pelas
de graves violações dos princípios de Direi- contingências da vida em sociedade, está
tos Humanos e de Direito Internacional condicionada à vigência de uma ordem ju-
Humanitário, que, reveladas diante de um rídica que seja o resultado da lei editada em
Tribunal Penal Internacional, poderiam le- função do interesse geral, sem qualquer tipo
var à condenação de seus autores. Essa cir- de discriminação.
cunstância fragiliza ainda mais a condição Em princípio, a declaração, proteção e
do pessoal humanitário, dificultando sobre- promoção dos direitos humanos é compe-
maneira a prestação de uma efetiva assis- tência do Direito interno de cada Estado.
tência humanitária. Cabe ao ordenamento jurídico interno regu-
lar e garantir tais direitos. Entretando, em
4. Direito Internacional alguns casos as violações dos direitos hu-
Humanitário e Direito Internacional manos são resultado da própria atividade
do Estado, o que faz com que seja necessá-
dos Direitos Humanos
rio recorrer ao Direito Internacional, que
também garante e promove a vigência e o
4.1. O Direito Internacional dos Direitos
respeito aos direitos do homem. Portanto,
Humanos. Generalidades e conceito
os direitos humanos deixaram de ser maté-
Segundo Héctor Gros ESPIELL ria exclusiva da jurisdição interna dos Es-
“por derechos humanos se entiende, tados, devendo ser regulados concomitan-
cualquiera que sea la teoría o el siste- temente pelo Direito interno e pelo Direito
ma filosófico, político, o jurídico que Internacional.
sirva de explicación o de base, aque- O conjunto de princípios e normas inter-
llas facultades, atribuciones o exigen- nacionais reguladoras dos direitos huma-
cias fundamentales que el ser huma- nos se denomina Direito Internacional dos
no posee, declaradas, reconocidas o Direitos Humanos e segundo Gros ESPIELL
atribuidas por el orden jurídico, y que, “sus fuentes se encuentran en la Car-
derivadas de la dignidad eminente ta de Naciones Unidas, en la Declara-
que todo hombre tiene, constituyen ción Universal de Derechos Humanos,
hoy el presupuesto indispensable y en los dos Pactos Internacionales de
necesario de cualquier organización Derechos Humanos, en el Protocolo
o sistema político nacional y de la Facultativo al Pacto de Derechos Ci-
misma Comunidad Internacional” viles y Políticos y en una larga seria
(1984, p. 701). de instrumentos, convencionales o no,

138 Revista de Informação Legislativa


elaborados en el ámbito de las Nacio- tro de um esquema institucionalizado de
nes Unidas y de algunos de sus orga- poderes em que o Estado de Direito é a re-
nismos especializados, particular- gra. O Direito Internacional Humanitário,
mente de la OIT y de la UNESCO. Pero ao contrário, aplica-se durante conflitos ar-
a todos estos textos de carácter uni- mados, tanto de caráter interno como de ca-
versal se suman los documentos in- ráter internacional. É essencialmente um
ternacionales de tipo regional, como Direito de exceção.
la Convención Europea de Salvaguar- O Direito Internacional dos Direitos
dia de los Derechos del Hombre y de Humanos goza de maior generalidade, pois
las Libertades Fundamentales, la Car- trata da existência de direitos cujos titula-
ta Social Europea, la Declaración res são todos os homens, em todas as situa-
Americana de Derechos y Deberes del ções. O Direito Internacional Humanitário,
Hombre, la Convención Americana de por outro lado, aplica-se apenas em situa-
Derechos Humanos y, entre otros, los ções específicas, quais sejam, conflitos ar-
textos nacidos de la liga de Estados mados internacionais ou internos, e suas
árabes y de la Organización de Uni- normas alcançam única e exclusivamente
dad Africana” (1984, p. 702-703). às pessoas protegidas como conseqüência
Em uma análise mais abrangente, podem de tais situações nos casos previstos pelos
ser consideradas como parte do Direito In- Convênios de Genebra de 1949 e pelos Pro-
ternacional dos Direitos Humanos todas as tocolos Adicionais de 1977. Conclui-se que,
normas e princípios internacionais que pro- embora exista uma zona comum entre o Di-
tegem e garantem direitos dos indivíduos, reito Internacional dos Direitos Humanos e
independentemente de sua situação jurídi- o Direito Internacional Humanitário, existe
ca em qualquer momento, no território de também um campo de aplicação material e
seu Estado de origem ou em um Estado es- pessoal que não coincide plenamente, o que
trangeiro. determina a necessidade de utilizar meca-
nismos de aplicação e de controle distintos
4.2. O Direito Internacional dos Direitos para ambos ramos do Direito Internacional.
Humanos e o Direito Internacional Entretanto, diante de tudo o que se co-
Humanitário mentou até agora, chega-se à conclusão de
É fundamental reconhecer que a prote- que o Direito Internacional Humanitário e o
ção dos direitos humanos em geral, resul- Direito Internacional dos Direitos Humanos
tante dos instrumentos universais ou regio- não são dois troncos incomunicáveis. Ao
nais vigentes sobre a matéria, e a proteção contrário, sua convergência e complemen-
das pessoas amparadas pelo Direito Inter- taridade se concentram em um interesse
nacional Humanitário são partes específi- compartido, mediante suas normativas es-
cas de um sistema internacional geral, de fun- pecíficas, relativas, em última instância, à
damento basicamente humanitário, que visa proteção do indivíduo em qualquer circuns-
à proteção do homem na forma mais ampla e tância, pois, ainda que o Direito Internacio-
compreensiva, compatível com a existência nal dos Direitos Humanos seja aplicado,
da ordem jurídica e dos direitos legítimos do regra geral, em situações de paz, suas nor-
Estado e da comunidade internacional. mas não são suspensas em períodos de con-
O Direito Internacional Humanitário e o flitos armados. Muito pelo contrário, pois
Direito Internacional dos Direitos Humanos em tempos de guerra é quando sua obser-
têm aplicabilidade em situações fáticas dis- vância se faz mais necessária. É exatamente
tintas. Os direitos humanos são exigíveis em nesse momento que entra em cena o Direito
tempo de paz, suas normas são plenamente Internacional Humanitário com seu caráter
operativas em circunstâncias normais, den- complementário, regulamentando a atuação

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 139


dos grupos beligerantes, no intuito de res- gerais dirigidos à proteção da pessoa huma-
guardar minimamente a defesa dos direitos na são ponto pacífico na doutrina atual.
humanos. Araceli Mangas MARTIN afirma que
Ao abordar a importância da convergên- “ciertamente hay una aproximación
cia entre os dois troncos do Direito Interna- entre el Derecho Internacional de los
cional supramencionados, Antônio Augus- Derechos Humanos y el Derecho In-
to Cançado TRINDADE esclarece que ternacional Humanitario, especialmen-
“ponto central da convergência entre te en el caso de conflicto armado interno,
o direito internacional humanitário e que debe ser contemplada con esperan-
a proteção internacional dos direitos za. No puede haber recelos en la super-
humanos reside no reconhecimento posición de normas jurídicas, porque
do caráter especial dos tratados de todo exceso de garantía y condiciones so-
proteção dos direitos da pessoa hu- bre la vida y dignidad de la persona hu-
mana. A especificidade do direito de mana nunca podrá ser inútil. La regla-
proteção do ser humano, tanto em mentación de los conflictos armados
tempo de paz como de conflito arma- internos y los convenios sobre dere-
do, é inquestionável, e acarreta conse- chos humanos tienen un mismo fun-
qüências importantes, que se refletem damento y propósito: el ser humano.
na interpretação e aplicação dos trata- No puede haber riesgo para uno u otro
dos humanitários (direito internacio- sector del Derecho internacional, pues
nal humanitário e proteção internacio- aunque confluyen en una parte de su
nal dos direitos humanos)” (1996). contenido, su ámbito temporal y ma-
terial es distinto. Cuando la situación
4.3. A convergência entre o Direito de conflicto armado interno no per-
Internacional dos Direitos Humanos e o mite invocar los convenios sobre de-
Direito Internacional Humanitário rechos humanos o se restringe su ám-
Não existe nenhum tipo de incompatibi- bito de aplicación, el Derecho Inter-
lidade entre a aplicação das normas de Di- nacional Humanitario suple esas ca-
reito Internacional Humanitário e as de Di- rencias: en tiempos de guerra, sin
reito Internacional dos Direitos Humanos. derogaciones y sin connotaciones po-
É importante considerar, a respeito, a lição líticas” [grifos nossos] (1992, p. 171).
de Eric DAVID, que nos afirma que Em casos de conflito armado, interno ou
“le droit des conflits armés comprend internacional, dá-se a aplicação concomitan-
des règles propres dont l’aplication te das normas do Direito Internacional Hu-
dépend de la réalisation du fait-con- manitário e do Direito Internacional dos Di-
dition qu’est la guerre. Cependant, si reitos Humanos. O indivíduo goza da prote-
le déclenchement d’une guerre entrai- ção de ambos sistemas jurídicos. É de funda-
ne l’application de règles particuliè- mental importância destacar que em toda e
res, cela n’implique pas la suspension de qualquer circunstância, mesmo em tempo de
toute autre règle juridique. Plus parti- guerra, é dever incondicional de todo Estado
culièrement, les règles relatives aux re- respeitar os direitos fundamentais e inderro-
lations amicales et aux droits de la per- gáveis, como por exemplo: o direito à vida, de
sonne en général peuvent continuer à não sofrer torturas, penas ou tratamentos cru-
s’appliquer” [grifos nossos] (1999, p. 64). éis, desumanos ou degradantes, de não per-
A relação do Direito Internacional Hu- mitir a escravidão ou a servidão e de reco-
manitário com o Direito Internacional dos nhecer a todo ser humano sua personalidade
Direitos Humanos e o reconhecimento de jurídica. Esses direitos constituem o núcleo
que ambos se nutrem dos mesmos princípios essencial do respeito aos direitos humanos.

140 Revista de Informação Legislativa


A convergência entre os dois ramos do latives à l’interdiction du recours à la
Direito Internacional é notória, como ocor- force, au désarmement, au droit au
re, por exemplo, com o artigo 3º comum às développement et à la protection de
quatro Convenções de Genebra, que consa- l’environnement” (1984, p. 500).
gra direitos humanos básicos, aplicáveis
tanto em tempo de conflitos armados como 5. Conclusões
em tempo de paz. Os dois Protocolos Adicio-
nais de 1977 também contêm garantias fun- Ao que tudo indica, as normas de Direi-
damentais da pessoa humana (Protocolo I, to Internacional Humanitário aplicáveis aos
art. 75, e Protocolo II, arts. 4, 5 e 6). A conver- conflitos armados internos não são suficien-
gência não é mera casualidade, pois os ins- tes para resguardar a população civil, evi-
trumentos internacionais de direitos huma- tar os deslocamentos internos e as ondas de
nos exerceram influência no processo de refugiados nos conflitos desestruturados e
elaboração de ambos Protocolos. étnicos, quando se trata de conflitos de mé-
No caso dos conflitos armados internos dia ou baixa intensidade, nos quais não é
atuais, que têm como características a de- aplicável o Protocolo Adicional II.
sestruturação dos Estados e o conteúdo ét- Antônio Augusto Cançado TRINDADE
nico, a combinação das normas do Direito (1996) afirma que faz alguns anos que a co-
Internacional Humanitário com as do Di- munidade internacional pensa em elaborar
reito Internacional dos Direitos Humanos é um instrumento internacional, por exemplo,
um caminho fundamental a ser tomado, um outro protocolo, que possa garantir a
principalmente quando se trata de conflitos proteção das vítimas em situações de con-
internos de baixa ou média intensidade, nos flitos (distúrbios e tensões) internos. A idéia
quais não são aplicáveis as normas de Di- de uma declaração acerca do tema, alenta-
reito Humanitário. Vale lembrar, uma vez da desde 1983 pelo CICV, sugere a consa-
mais, que na raiz do grande número de des- gração de um instrumento declaratório de
locados internos e de refugiados está a vio- um catálogo mais amplo de direitos inder-
lação de direitos humanos e, por isso, tam- rogáveis aplicável em casos de conflitos in-
bém nesse caso é imprescindível a conjuga- ternos, mesmo naqueles de baixa intensida-
ção dos dois ramos do Direito Internacional. de. A declaração teria por base principal as
Richard PERRUCHOUD propõe a cons- normas de Direito Internacional Humani-
trução de uma nova ordem humanitária in- tário, proibindo, por exemplo, a prática dos
ternacional, afirmando que “desaparecimentos”, e as normas do Direi-
“l’ordre en question devrait recouvrir to Internacional dos Direitos Humanos.
non seulement le droit applicable en Por meio da constante e cada vez mais
cas de conflits armés, mais encore le estreita aproximação dos dois ramos do Di-
droit du temps de paix. En effet, réfé- reito Internacional, será possível encontrar
rence est faite à la necesité d’adopter soluções eficazes para os problemas contem-
un ensemble de régles communes tant porâneos a respeito da proteção internacio-
à la protection des victimes de conflits nal da pessoa humana, como é o caso dos
armés qu’à celle des refugiés, des per- deslocados internos e dos refugiados.
sonnes deplacées, des victimes de ca- O Alto Comissariado de Nações Unidas
tastrophes naturelles ou de l’oppresion; para os Refugiados (ACNUR) adotou uma
s’y ajoutent la sauvegarde des droits nova estratégia, buscando não apenas a
de l’homme, la protection des victimes proteção, mas também a prevenção e a solu-
de la famine, de la pauvreté, du sous- ção (duradoura ou permanente) do proble-
développement, du terrorisme et de ma dos deslocados internos e dos refugia-
l’analphabétisme, voire les règles re- dos destacando a importância do respeito

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 141


aos direitos humanos como sendo o melhor DOMESTICI-MET, Marie-José. Cien años después
meio de prevenção desses movimentos de de La Haya, cincuenta años después de Ginebra: el
derecho internacional humanitario en tiempos de
populações vítimas de conflitos internos. guerra civil. Revista Internacional de la Cruz Roja, Gi-
A declaração final da Conferência das nebra, n. 834, jun. 1999.
Nações Unidas sobre Direitos Humanos,
EMILIO VINUESA, Raúl. Derechos humanos y
realizada no ano de 1993 em Viena, convo- derecho internacional humanitario: diferencias y com-
ca os Estados a promover uma coordenação plementariedad. Revista del CICR, Ginebra, Jun. 1998.
de esforços para garantir a observância dos
GARCIA, Javier. La muerte de Savimbi en Angola
direitos humanos durante os conflitos ar- apunta al fin de la guerra africana más larga. El
mados. Raúl Emilio VINUESA (1998) res- País, Madrid, 24 fev. 2002. Cuaderno Internacional.
salta a necessidade de coordenar os avan-
GROS ESPIELL, Héctor. Derechos humanos, derecho
ços e desenvolvimentos logrados tanto no internacional humanitario y derecho internacional de los
sistema de Direitos Humanos como no de refugiados: etudes et essais sur le droit international
Direito Humanitário, viabilizando a mútua humanitaire et sur les principes de la Croix-Rouge
e imediata recepção desses avanços em am- (en l’honneur de Jean Pictet). Genève: [s. n.], 1984.
bos ramos do Direito Internacional. HARROFF-TAVEL, Marion. Promoción de normas
Compartimos a opinião de VINUESA, para limitar la violencia en situación de crisis: un
entendendo que a solução dos problemas reto, una estrategia, alianzas. Revista Internacional
de la Cruz Roja, Ginebra, n. 145. mar. 1998.
que abordamos anteriormente – ou pelo
menos a tentativa de “humanização” dos LAVOYER, Jean-Philippe. Refugiados y personas
conflitos armados internos – passa pela con- desplazadas: derecho internacional humanitario y
cometido del CICR. Revista Internacional de la Cruz
vergência entre o Direito Internacional Hu-
Roja, Ginebra, n. 128, mar./abr. 1995. Disponível
manitário e o Direito Internacional dos Di- em: www.cicr.org.
reitos Humanos. É fundamental que se pro-
MANGAS MARTIN, Araceli. Conflictos armados in-
ceda à criação de mecanismos que funcio- ternos y Derecho Internacional Humanitario. Salaman-
nem como vasos comunicantes entre os dois ca: [s. n.], 1992.
sistemas, permitindo a recíproca extensão e
PARLOW, Anita. Hacia una prohibición mundial
penetração de ambos esquemas jurídicos. Só de las minas terrestres. Revista Internacional de la
assim será possível consolidar a devida pro- Cruz Roja, Ginebra, n. 130, jul./ago. 1995.
teção de todo indivíduo afetado pelo uso da
PERRUCHOUD, Richard. A propos d’un nouvel or-
força armada, independentemente do grau dre humanitaire international: etudes et essais sur le
ou da intensidade dessa força, ou de uma droit international humanitaire et sur les principes
eventual definição de uma situação parti- de la Croix-Rouge (en l’honneur de Jean Pictet).
cular como conflito armado. Genève: [s. n.], 1984.
REMIRO BROTONS, Antonio (et al.). Derecho inter-
nacional. Madrid: McGraw-Hill, 1997.

Bibliografia TAUXE, Jean-Daniel. Lograr que el Comité Inter-


nacional de la Cruz Roja tenga mejor aceptación en
el terreno. Revista Internacional de la Cruz Roja, Gine-
BETTATI, Mario. ¿Injerencia, intervención o asistencia
bra, n. 833, mar. 1999.
humanitaria? [S. l.]: Tiempo de Paz, n. 32-33, 1994.
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direito
DAVID, Eric. Principes de droit des conflits armés. Bru-
internacional dos direitos humanos, direito internacional
xelles: E. Bruylant, 1999.
humanitário e direito internacional dos refugiados: apro-
DIEZ DE VELASCO, Manuel. Instituciones de Dere- ximações ou convergências. mar. 1996. Disponível
cho Internacional Público. Madrid: Tecnos, 1994. em: www.cicr.org.

142 Revista de Informação Legislativa

Você também pode gostar