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Livro

Ivan: O soldado Cristão que enfrentou o terror policial soviético


(som do hino soviético ao fundo)
Narrador(a): Quem é Ivan Moiseyev?
Ivan era um jovem soldado do Exército Vermelho. Mas ele era muito mais do
isso, era um genuíno cristão, obstinado na sua fé, e destinado a ser soldado a
serviço de Jesus Cristo! Nada o fazia desistir do seu propósito...
A história de Ivan se passa no período da União Soviética (estado socialista,
originário da união de várias repúblicas, que existiu entre 1917/22 e 1991,
governada pelo Partido Comunista da União Soviética), na década de 30,
época militantemente ateísta que provocava o fechamento de igrejas. Nesse
contexto, Josef Stalin (governante de 1924 a 1953) liderava a morte de
milhares de cristãos em repressão à fé.
A autora dessa literatura, Myrna Grant, arriscou a própria vida para pesquisar
fatos e brutais; para assim narrar a saga do jovem soldado Ivan, que
representa milhares de pessoas – gente simples e hulmilde- com uma
existência cheia de temores, incertezas, cautela, sacrifício, coragem,
inacreditável resistência e triunfo!

PARTE 1 – O velório de Ivan


Descrição da cena e personagens:
*Joanna Constatinova – mãe de Ivan
*Vasiliy Trofimovich – esposo de Joanna, pai de Ivan
Caixão de Ivan (chegou em camionete)
*Ataúde (significa caixão)
* telegrama
* estavam reunidos com um grupo da igreja
* ar quente de julho (verão)
*Cortinas de renda
3 homens – farda cinza do exército russo
 Semyon irmão mais velho de Ivan (usar lenço ou camisa vermelha) –
guiou-os da porta de entrada até à casa.
Narrador (N): Joanna não tinha pressa que o ataúde de seu filho chegasse.
(cenário da sala de uma casa, Joanna está sentada, com uma carta na mão, o
telegrama, um lenço na outra mão e outras cartas próximas a ela;
extremamente entristecida) (som fúnebre ao fundo)
N: Em sua mão um telegrama recebido no dia 17 de Julho de 1972 e outras
cartas. Joanna olha para seu esposo Vasiliy com os olhos inchados e
entristecidos.
(sala cheia de pessoas/ cenário de velório)
(Vasilly olhando para o chão, desolado)
(chega Semyon, seu filho, com 3 soldados e o caixão; Joanna e Vasily trocam
olhares)
(4 amigos de Ivan seguram o ataúde bem alto)
(as mulheres da cena usam panos na cabeça caindo pela testa, lencinhos ...
choro)
(1 dos 3 soldados é o Capitão Platonov, que se dirige ao Sr. Vasiliy)
Capitão Platonov: “Em nome do Coronel Malsin e dos oficiais e soldados do
Pelotão 61968T, quero apresentar condolências aos pais e demais parentes do
soldado Ivan Moseyev, pelo seu passado trágico.”
( Joanna passa os dedos pelas cartas escritas por Ivan e as coloca sobre o
peito)
N: Joanna pensava ... Condolências! Hipócrita!
Vasiliy: Naturalmente vamos querer que o caixão de nosso filho seja aberto.
Capitão Platonov: “Mas não é necessário.”
O corpo dele já foi identificado em Kertch pelo senhor e seu filho, Semyon
Vasilierich.
(Semyon está posicionado do lado de Vasiliy)
Sabemos que este terrível acidente foi um grande choque para o senhor e sua
esposa. A morte por afogamento desfigura muito a vítima.
(Joanna afasta o marido com o abraço)
Joanna: Camarada oficial Platonov, como mãe de Ivan, insisto em que o
caixão seja aberto. Quero ver o meu filho. Desejamos que ele seja enterrado à
paisana. Temos este direito.
(chega Vasiliy com um pé de cabra e começa a abrir o caixão)
(O oficial estende a mão para detê-lo)
Oficial: Sinto muito, camarada Moiseyev. Mas temos uma obrigação a cumprir
e precisamos sair imediatamente. O que o senhor deseja fazer é uma
insensatez.
(Semyon está ao lado do caixão)
(Vasiliy dá sequência à abertura do caixão) (som de pancadas sobre madeira)
(os pastores olham o corpo sem vida e fazem expressão de horror)
(Joanna sente pânico e leva a mão mais uma vez ao peito) (pega na mão da
irmã que estava ao seu lado)
Joanna: “Não é o Ivan!”
N: Era um soldado mais velho, de queixo proeminente, rosto com pisaduras de
luta; boca quebrada, testa e têmporas com manchas escuras, inchaços em
alguns pontos; cabelo ... arrumado para trás como o do seu filho. Na verdade,
era o seu Ivan!
(Joanna tombou ao chão e desabou a chorar)

PARTE 2 - Ivan e sua família


N: Ivan caminhava entre os escuros vinhais, sob o céu gelado de novembro,
com o coração cheio de louvor a Deus ... os hinos do culto daquela noite ainda
estavam em sua mente ...
Ivan: Graças Deus o Senhor, por este jovens, pelo culto de despedida, pelo
pão, as uvas e o mel; pela tua Palavra; pelas mensagens de Stefan e Sasha e
pelo aniversário de Elena Kuminichna que possibilitou essa reunião!
(Joanna observa o seu filho chegar da janela da cozinha)
Joanna: Como será a sua vida no exército?
(Vasiliy soltou um dos calçados ao chão, estava sentado perto de Joanna)
Vasiliy: “Até aqui nos ajudou o Senhor!”
E nós já tivemos dias muito difíceis na época de Stalin.
(Joanna concordou com a cabeça)
(Ivan entra em casa)
Joanna: Muita gente?
(estava preparando um chá/chaleira)
Ivan: Todo mundo. Stefan e Sasha pregaram.
(Semyon surge à porta)
Semyon: Olá Ivan chegando do culto secreto?
Ivan: Hoje é o aniversário de Elena. Você podia ter ido.
Semyon: E o fato de hoje se o último dia que você passa em casa, antes de
seguir para o serviço militar, não teve nada a ver com a reunião?
Ivan: Venha tomar chá, Semyon.
(Joanna, irritada, coloca as xícaras à mesa para servir o chá)
N: Joanna pensa: Será que Semyon iria provocar uma discussão no último dia
que seu irmão passava em casa?
Semyon: Stefan pregou! Isto deve ter afastado os olhares das moças para
Ivan, por algum instante!
(Semyon ri) (E Joanna também)
Joanna: É! Ele vai dar um soldado muito simpático!
N: Semyon era bolchevista (defendiam a revolução socialista), ateu, não
acreditava na bondade e no amor no contexto do sobrenatural, de Deus.
Afirmava ser uma reação essencialmente biológica!
Ivan: Seu amor por mamãe é biológico?
(Colocou a caneca vazia sobre a mesa)
Semyon: Lógico! É um sentimento de dependência! O mesmo sé dá com o pai.
Ivan: “E à Moldávia (país ao leste europeu, pertencente à União soviética)? O
amor que tem por nossa terra, o que ele é?
Semyon: Só estou querendo dizer ... não espere encontrar amor e bondade no
Exército Vermelho. A vida lá não é brincadeira! Você não rirá mais!
Ivan: É lógico que posso rir, Semyon. Não é o governo que deseja que eu vá e
sim Deus! E Ele não me abandonará!
Semyon: Não adianta discutir! Você está resolvido a se enrascar. Então, boa
noite!
(Semyon começa a se retirar, mas volta)
Semyon: Não é questão de cair no ridículo ao falar de Deus e oração. É que
tais coisas são mesmo proibidas.
Vasiliy: Você deve fazer o que Deus lhe ordena, filho. Eu e sua mãe e todos os
irmãos continuaremos a orar por você; sabe disso.
N: Havia em Ivan uma segurança que não parecia normal em um jovem de 18
anos.
Ivan: Deus me ordenou que fale dele onde quer que eu vá, e nunca me cale!
(o pai abraça Ivan) (Joanna emocionada observa)

Parte 3 – Em Odessa
(som de marcha militar ao fundo)
N: Os recrutas chegaram em Odessa, às 2 horas da madrugada, fazia muito
frio. O comboio chegou com 1h de atraso; receberam breve discurso de boas-
vindas e se dirigiam para os alojamentos. Iniciou-se, sem tardar, o primeiro dia
de correria ... aulas, palestras, refeições, ginástica. Ivan pensava, o mais
importante agora, enquanto se dirigia ao refeitório, é procurar um lugar para
orar. Ivan ouviu uma voz a falar: “Confessa-me diante dos homens e eu o
reconhecerei diante dos anjos de Deus.”
(Ivan chega atrasado na fileira para entrar em forma – colocar o hino da União
soviética ao fundo)
Sargento Strelkov: Explique a razão de seu atraso, camarada Soldado
Moiseyev.”
Ivan: Sinto muito Sargento. Estava orando.
(Strelkov fixou o olhar nele)
Sargento: Siga com o treinamento normal, quando terminar, apresente-se a
mim.
N: O Sargento pertencia a uma terceira geração de ateus. Seu avô fora um dos
primeiros bolchevistas; aspirante da marinha e tripulante do couraçado Aurora.
Seu pai fora oficial na grande guerra patriótica com filiação ao Partido
Comunista.
(Ivan se dirige à presença do sargento)
Sargento: Que negócio é este de oração, Moiseyev? Você estava brincando?
Ivan: Não Sargento.
Sargento: Isto não é permitido aqui Moiseyev. Orar. Religião. No Exército
Vermelho, não. Você terá que se modificar! Estou certo de que depois que
começar a apreciar a vida militar, compreenderá a insensatez de tais ideias!
Capitão Zalivako: Você não me parece o tipo de soldado que se atrasa. Que é
que o impede de chegar à hora junto com os seus colegas de pelotão?
Ivan: Estava orando Capitão.
N: O Sargento Strelkov o havia denunciado ao gabinete do Polit-ruk (gerencia o
trabalho político e educacional em subdivisões militares), pois todos soldados
ouviram as suas declarações religiosas. O próprio Lenine (líder da Revolução
Socialista) declarava que o objetivo supremo do Partido Comunista era libertar
as massas operárias da ideia de religião.
Capitão: A quem você ora?
Ivan: A Deus, capitão, o Criador do universo, que ama a todos os homens.
Capitão: Deu um suspiro ... A Deus? Já foi provado pela ciência que Deus não
existe!
Ivan: Isto é o que dizem os ateus, capitão!
Capitão: Você possui uma Bíblia?
Ivan: Não Senhor.
Capitão: A Bíblia é um livro indesejado na União Soviética; ela estimula a
passividade e a subserviência.
Ivan: Ela transforma a vida, Capitão!
Capitão: O Exército é que transforma vidas, Moiseyev!
(o capitão estava impaciente)
Ivan: Estou pronto para servir o Exército da melhor forma possível!
Capitão: Então significa que está disposto a abandonar suas ideias
subversivas a respeito de Deus e a dedicar-se com lealdade ao estado.
Irei acompanhá-lo pessoalmente em todas as atividades ...
Ivan: Tenho prazer em servir à causa do socialismo, mas sou cidadão do Reino
de Deus! É um reino no coração de cada pessoa, de perdão e amor!
Capitão: Já derrotamos outros reinos, Moiseyev. Você tem rejeitado as
orientações de seus superiores. Isto me preocupa!
Capitão: Já que gosta de orar de joelhos, irá lavar o salão de conferencias e
todos os seus corredores, de joelhos. Vai trabalhar a noite toda! Assim vai ter
tempo para decidir se quer mesmo seguir ideias antissoviéticas. Dispensado!
(Ivan faz continência ao capitão e retira-se)
N: A notícia de que havia um soldado crente se espalhou por toda a
companhia, assim como a punição. E o jovem Ivan parecia incrivelmente
disposto, cantando hinos enquanto trabalhava. O soldado que passavam por
ele, olhavam com espanto. Ele era um mistério!

Parte 4 – Em Kertch
N: Ivan estava curioso, olhando tudo, dentro da carroceria do transporte.
Kertch, é uma cidade portuária que penetra pelo Mar Negro, com inúmeros
atrativos. Fora fundada no séc. VI da era cristã, pelos grupos que a chamavam
Panticapaeum. Digna de ser notada era a colina mais elevada da cidade
Mirthadates, onde se encontraram as ruínas gregas de uma acrópole, um
parlamento grego. Foi no quartel de Kerth que as provações de Ivan
começaram a se intensificar. Várias vezes ele orava.
Ivan: “Senhor, concede que eu possa fazer tudo da melhor forma possível; dá
que seja um bom soldado para tua glória.”
N: Ivan tinha esperanças de que, com a sua saída de Odessa, os
interrogatórios cessassem, e ficou tão satisfeito de deixar o lugar, quanto
Zalivako de vê-lo ir-se. Contudo, este enviara um relatório completo para o
Polit-ruk de Kertch, informando da existência de um crente no Pelotão 61968T.
O sub-oficial, Capitão Yarmark, era jovem e impaciente. Estava ansioso para
lidar com sutuações difíceis para o ajudar a alcançar posições mais elevadas.
O caso de Moiseyev seria um “prato cheio”, entre aspas, para seus objetivos
serem perseguidos e alcançados.
Yamark: Já esteve doente, Moiseyev?
Ivan: Não, capitão; nem sei como é um hospital.
(Yamark cruza os braços sobre o peito)
Yamark: Bem, enquanto você não concordar em se submeter ás regras deste
quartel, em obedecer ás ordens, ser de fato um soviético por convicção, ficará
preso, sem direito à alimentação. Está dispensado!
(Cela: pequeno catre, coberta de cor cinza, 1 mesa, 3 cadeiras, 1 estante com
livretos de orientação militar, 1 torneira, 1 vaso sanitário, 1 janela grande com
barras de ferro, porta reforçada, muito frio)
N: Na cela, Ivan, pensou: Que bom poder dormir e depois acordar para oração.
O tempo que passaria em jejum, era deliberação do Senhor e não de Yamark.
Sentiu Gratidão.
Ivan foi acordado por um oficial que o convocou para uma reunião. Foi levado à
sala de interrogatório; olhou para um relógio de parede, era 2:15 da manhã.
Havia um grupo de oficiais fumando e bebendo chá quente. Vários deles lhe
atiravam acusações.
Esta prova durou 5 dias ...
Yamark: E então Moiseyev, mudou de ideia?
Ivan: Numa noite dessas eu estava orando, Capitão; estava com muito frio e
sono, pois já tinha sido acordado 2 vezes para interrogatório; fiquei acordado
orando pela minha família, amigos e em seu favor, Capitão Yamark. “Há um
verso bíblico que diz: Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei e tu me
glorificarás”. É por causa do auxílio divino que não estou com fome e nem
doente.
N: A mente do Capitão Yamark fervilhava de ódio! Com fria solenidade, Yamark
deixou o quarto e deu ordens para tirá-lo da prisão. Durante uma longa corrida
matinal de 15 Km, antes do desjejum, já exausto e com sede, Ivan escutou um
dos recrutas.
Recruta (Sergei): Ele vive! Ele vive!
N: Assim conheceu Sergei, com uma tradicional saudação de Páscoa. Grande
alegria inundou o coração de Ivan! O lugar escolhido para se encontrarem foi
em uma das garagens de veículos do exército. Ter um irmão em Cristo foi um
conforto para ele. Porém, não demorou muito, e foi notificado para comparecer
perante o Major Alexander Petrovich Gidenko do Polit-ruk.
Ao caminhar pelo quartel, rumo ao encontro com o major, orava ao Senhor.
Uma estranha alegria e paz inundava seu ser! Então ouviu uma voz a chamar:
Anjo: Ivan! Ivan! Não tema! Eu vou com você!
N: Ivan sentiu temor e alegria diante do anjo! Ele brilhava mais que o dia e o
aquecia! Com a coragem renovada, continuou a caminhar...finalmente chegou
ao gabinete do Major Gidenko e bateu à porta. O major o recebe e sorri,
pensando que seria mais fácil do que imaginava.
Gidenko: Sente-se filho (estendendo a mão para uma cadeira) Está bem
distante da sua terra não é rapaz?! Ao completar um ano de serviço, você terá
uma folga.
Ivan: Sim, senhor major!
Gidenko: Você tem saudades da sua família? Escreve cartas?
Ivan: Escrevia cartas todos os dias, mas não tenho tido tempo, devido aos
muitos interrogatórios da Polit-ruk.
Gidenko: Nesses muitos interrogatórios ainda não aprendeu a dar a resposta
certa?
Ivan: Existe uma grande diferença entre a resposta certa e a verdade. Deus
não permite que eu dê a resposta “certa”.
Gidenko: Você discorda dos ensinos gloriosos do Exército Vermelho? Não
aceita os princípios do ateísmo científico?
Ivan: Não posso aceitar o que sei não ser verdade. Conheço a Deus e ele está
comigo. Antes mesmo de chegar até aqui, enviou o seu anjo para me encorajar
e confortar.
(Gidenko, furioso, se levante da cadeira e fala)
Gidenko: Moiseyev, já encontramos outros como você. Sinto muito que
proceda de forma incorreta; isto vai lhe trazer muitos aborrecimentos. A partir
de hoje, após o toque de silêncio, você ficará de pé na rua, todas as noites, até
se desculpar e reconhecer as tolices que anda espalhando no quartel sobre
Deus. Está dispensado!
(Ivan levanta-se e anda calmamente em direção à porta)
Gidenko: Camarada soldado, você deverá usar farda de verão. Pode ir!
(Ivan sai cabisbaixo)
N: O frio esperado para aquele inverno seria rigoroso, esperava-se
temperaturas de 25 graus abaixo de zero. Ivan sobreviveria?
Os recrutas souberam do novo castigo dado a Ivan e o encheram de perguntas
e conselhos.
Um dos recrutas: Por que você não guarda a sua fé só para você e não fica
calado?
Ivan: Eu creio que deus deseja que os homens saibam que ele existe e que os
ama, que veio à Terra na pessoa de Jesus Cristo; morreu pelos pecados dos
homens que desejam o seu perdão; morreu por mim e por você!
N: Uns riram, outros debocharam das palavras de Ivan, até ocorrer o toque de
silêncio no quartel.
(soa o toque de silêncio)
O primeiro contato de Ivan com o frio da neve foi como um tapa no rosto, as
suas orelhas ardiam e os olhos lacrimejavam. Teria tempo de sobra para orar,
pensou. Mas o pânico de uma morte lenta por congelamento o
atacava...começou a cantar um hino; lembrava-se da bela visão do anjo e suas
palavras; sentiu o mesmo calor de antes o aquecer e retomou a oração.
Às 3 horas da madrugada, ouviu uma voz...
Oficial: Está bem Moiseyev, pode entrar agora! Que tipo de gente é você que
não é afetado pelo frio intenso?
Ivan: Ah, camarada oficial, sou uma pessoa comum, mas orei a Deus e Ele me
aqueceu.
Oficial: Fale-me mais sobre seu Deus...
N: O Major Gidenko estava grandemente perturbado. O relatório que deveria
enviar ao Coronel Malsin acerca de Ivan Moiseyev era um desafio à razão.
As camas militares tinham uma largura de apenas 50cm e eram duras como
tábuas. Mesmo assim, Ivan estava grato a Deus por se deitar em uma, pela
primeira vez; logo se cobriu todo e dormiu sono profundo.
Anjo (fundo musical instrumental e calmo): Levante-se Ivan!
(Ivan levantou-se imediatamente, conhecia aquela voz e fixou o olhar no anjo,
maravilhado)
N: O anjo e Ivan começaram a elevar-se. O teto e o telhado do dormitório se
abriam e eles voaram, atravessando o tempo e o espaço, em direção a outro
mundo. Viu planetas maravilhosos, cores vibrantes, o apóstolo João, próximo
deles: Davi, Moisés e Daniel. O anjo lhe falou novamente.
Anjo: Viajamos bastante, você deve estar cansado, venha sentar-se. Ainda há
muito trabalho para você realizar na terra. Vamos é hora de voltar!
N: No instante que Ivan tocou o assoalho do alojamento, 3 coisas
aconteceram: a corneta soou, o anjo desapareceu, as luzes do dormitório
foram acesas. Foi então que escutou o riso do colega da Moldávia, Grigorii
Fedorovich Chernych.
Grigorii: Ivan, a onde você foi nesta madrugada?
Ivan: Está querendo dizer que não me viu dormindo?
Outro recruta: Você se deitou, dormiu, mas não por muito tempo; às 3horas da
madrugada a sua cama estava vazia.
N: Ivan ficou muito confuso, pensou: Então não foi um sonho?
Ivan: Vamos perguntar ao oficial de plantão se alguém saiu deste dormitório de
madrugada.
Oficial: É lógico que ninguém saiu desse dormitório, vão andando; querem me
complicar?
(saíram todos calados)
N: Os recrutas, não satisfeitos, insistiram em saber a onde Ivan tinha ido.
Então, ele passou a narrar toda a viagem com o anjo; e sua fama corria pelo
quartel...
-Como era possível alguém ficar 5 dias sem se alimentar e não ficar doente?
-Como um homem poderia ficar exposto a um frio intenso com roupas de verão
e não congelar?
-Se a história da viagem com o anjo fosse fantasiosa, onde ele estaria àquela
hora da madrugada?
Grigorii e os outros não conseguiam compreender...como suportar tantos
interrogatórios e punições, além do programa rigoroso de treinamento militar.
Chegou à conclusão de que os batistas eram simplórios e fanáticos; não se
pode com o Exército Vermelho!

Parte 5 – Na prisão de Sverdlovsk na Sibéria


N: Ivan embarcou de trem, como prisioneiro, para Sverdlovsk, presídio militar
na Sibéria, a 2000km dali, ia por estradas ruins e congeladas. Dois dias antes,
Ivan tinha sido levado ao Comissário da região, o Major Andrei Dolotov, que
estava surpreso por ele estar no serviço militar há 2 meses e ainda não ter se
adaptado. Ivan, tomado de pânico, sentiu falta de ar, orou e declarou ao major:
Ivan: Camarada comissário, peço-lhe que compreenda que presto lealdade a
dois poderes, ao Estado e a Deus. Mas, se eu receber uma ordem para
desobedecer a Cristo, sou obrigado a colocar a minha lealdade, primeiro, a
Deus!
Comissário: Você está amarrado por essas crenças batistas. Pois bem, agora
irá provar o gosto de uma prisão, se muda ou não as suas tolas ideias.
N: A cela da prisão era pequena, escura e fria; ali, junto à parede havia um
catre, assemelhava-se a um túmulo; não conseguia dormir, mesmo após longa
e cansativa viagem. Pensou, mais uma vez, na experiência que teve com o
anjo, então lhe veio um verso bíblico à mente: “Somente em Deus, ó minha
alma, espera silenciosamente; dEle vem a minha salvação. Só ele é minha
rocha, o meu alto refúgio; não serei abalado.”
E foi conduzido, novamente, à sala de interrogatórios.
Comissário: Nestes dois dias, você teve tempo para pensar bastante. Talvez,
agora, já queira ingressar no verdadeiro mundo soviético!
Ivan: Há um verso bíblico, respondeu, que declara que a vida do crente está
escondida com Cristo, em Deus. Para mim tal fato se constitui no verdadeiro
mundo; e eu estou nele.
N: O homem ficou paralisado diante daquelas declarações; arrancou o chicote
e golpeou a mesa, de novo e de novo sem tirar os olhos de Ivan.
(barulho de chicote)
Comissário: O nosso mundo é o real (com voz forte e alta). Pensa que Deus
pode protegê-lo daquilo que o aguarda?
N: Foi empurrado de volta à cela por oficiais que lhe cutucavam as costas com
um rifle. A porta foi batida com grande violência e trancada, escorria água pelas
paredes da cela; logo ficou todo molhado e trêmulo; começou a recitar versos
bíblicos em sua mente...bem sei que Deus é por mim. Caiu ao chão; acordou
em outra sala de interrogatórios; ali havia um aquecedor; não sabia como foi
parar ali. Sentia-se muito debilitado!
Oficial: Estamos decididos a só permitir que retorne a Kertch quando estiver
ajustado aos moldes de um cidadão soviético. Até agora está muito teimoso!
Guarda: Você será enviado ao quartinho dos congelados (falou um velho
guarda). Ceda, senão acabará morto!
N: A cela tinha fina camada de neve nas paredes; a porta se fechou com um
ruído cavo. O medo se intensificava, a dor começou...reiniciou a recitação de
versículos; foi acalmando-se e se deitou no chão; sentiu pressão por todo o
corpo; estava usando um macacão pressurizado; estava sendo asfixiado; não
podia respirar; via anjos indo e vindo...
Durante 12 dias passou por todo o tipo de interrogatório. Haviam usado todo o
tipo de método de reeducação, menos enviá-lo de volta a Kertch num caixão.
Sverdlovsk lavava as mãos a respeito de Moiseyev.

Parte 6 – De volta ao quartel de Kertch


N: Foi devolvido ao quartel de Kertch, sendo designado para ser o motorista do
Coronel Malsin. Os horrores de Sverdlovsk só foram relatados para seu amigo
e irmão em Cristo, Sergei, durante uma partida de xadrez.
Ivan foi à aula noturna de ateísmo científico; estranhamente não se sentia
nervoso. A aula estava demorando a iniciar. Então Vladimir teve uma ideia.
Vladimir: Vamos iniciar a aula nós mesmos. Que tal um debate político?! Qual
é a diferença entre o Deus de Ivan e o nosso, o Estado?
(Ivan estava orando nessa hora)
Ivan: Meu Deus é altíssimo e todo-poderoso!
Sargento: Se o seu Deus é todo-poderoso e pode fazer qualquer coisa; dê-nos
uma prova: Que ele me consiga um passe amanhã para eu ir para casa.
Vladimir: Se o seu Deus conseguir um passe para Pyotr Alexandrovich
Pokhorov, então, acreditarei que existe um deus no céu, vivo que tudo pode!
N: Ivan se inquietou...poderia homens pecadores provarem a Deus?! Então
lembrou-se do profeta Elias e os profetas de Baal em disputa de deuses no
Monte Carmelo. Orou e ouviu uma voz a dizer-lhe: “Diga-lhes que farei isto!”
Ivan: O Senhor falou que amanhã você receberá a licença para ir para casa.
Mas terá que jogar fora todo o seu cigarro.
N: O sargento obedeceu! Jogou fora todos os seus cigarros. A aula finalmente
começou com a chegada de outros oficiais.
Ivan no dormitório: Pokhorov quero lhe dizer várias coisas, camarada. (voz
sussurrada)
Sargento: Por que não está dormindo?
Ivan: Tenho muito a lhe falar já que amanhã você será um crente.
Sargento: Está louco! Volte para a sua cama!
N: Ivan passou a ensinar a bíblia para o sargento; para ele era estranho como
imagens em museus; será que aquele vazio humano é mesmo um anseio por
Deus?! Pokhorov se sentia cada vez mais incomodado; e seguiam em diálogo.
(soa o toque de silêncio)
N: Eles conseguiriam dormir naquela noite?!
(som de corneta)
Ivan despertou imediatamente. Aquele dia seria maravilhoso! Mas precisou ir
apanhar o pão do desjejum; partiu. Uma hora depois retornou e observou certa
agitação.
Um dos soldados: Ivan, o camarada Pokhorov conseguiu a licença para ir
para casa. Já se foi! Estávamos ansiosos para lhe contar isto! Tentaram
impedir quando contamos a história de ontem, mas o trem já havia partido.
N: O Major Gidenko supusera que após o tempo cumprido em Svrdlovsk, ele
se aquietaria. Agora, o rapaz adquirira certa projeção em sua companhia. Os
colegas começaram a se interessar por ele e suas ideias. Então, enviou um
ofício e o Coronel Malsin disse para transferi-lo para outro pelotão. Gidenko
afirma que ele era um excelente soldado e que cumpria com perfeição a função
de motorista e que não cometera infrações.
Coronel Malsin: Se insistir nisto, Gidenko, serei obrigado a duvidar da sua
competência. Eu poderia mandar prender Moiseyev, agora mesmo, por
agitação.
(Ivan foi conduzido á sala e estava diante de Gidenko e Malsin)
(barulho de porta fechando)
Coronel: Sou o Coronel Malsin, o comandante geral deste quartel; você é
suspeito de atividades subversivas e antissoviéticas. Como você ficou sabendo
que Prokhorov iria receber a licença? Exijo uma explicação completa.
Ivan: Camarada Coronel, eu não sabia que o sargento estava para receber a
licença. Deus me falou que ele receberia a permissão de saída; a fim de provar
a sua existência.
(o rosto do coronel ficou vermelho de raiva)
N: E seguiram-se horas de interrogatório. De repente, o coronel dispensou
Moiseyev de volta para o pelotão.
Coronel: E ele come o pão soviético!
N: Ivan Moiseyev procurava ser excelente em todas as atividades,
treinamentos e funções de soldados. Mas, ouvira rumores de que, novamente,
seria transferido, enquanto postava mais uma carta para sua família. Os
soldados se agitaram querendo defendê-lo. Embora seu futuro fosse incerto, o
Senhor era para ele, um porto seguro! Apoiado em uma árvore, olhou para o
céu que parecia arder em chamas; percebeu que algumas letras se formavam.
Letra por letra.
“Eis que cedo venho!”
(um colega pega em seu braço)
Colega: Vamos Moiseyev!

Parte 7 - Hospital Militar de Simferopol


N: O pelotão 6198T recebera a incumbência de trabalhar na colheita em
Zhostena. Era o pelotão de Moiseyev. Para ele, era como estar em sua casa,
naquele clima campestre; quase se rendia á ilusão de que seus pais e seu
irmão estavam ali por perto ... Aquele tempo de renovação física e espiritual
terminou cedo para ele; e voltaram para Kertch. No caminho, o caminhão
quebrou. Ivan foi para baixo do mesmo para olhar o defeito e acabou com a
roda traseira sobre o seu peito, estava escuro, a dor no peito aumentava
terrivelmente...
Quando abriu os olhos estava rodeado de médicos. Mas não conseguia falar,
devido a febre.
Uma médica: Você foi transportado para o Hospital Militar de Simferopol.
N: A médica retira o termômetro do braço do Ivan; a enfermeira passou um
pano úmido e frio no seu rosto; ele tentou chupar á água do pano que tocou a
sua boca; ela sorriu e aproximou um copo dos seus lábios; seu braço estava
acinzentado, inchado, envolto em uma tipóia.
(Ivan fechou os olhos e começou a orar)
Médico: A cirurgia do seu braço será amanhã; deverá ser amputado e a parte
comprometida do seu pulmão também será removida. Sinto!
N: A ideia de um corpo sem braço começou a horrorizar Ivan. A enfermeira o
guiou de volta á cama e sorriu. Acordou ás 6:00 horas da manhã, agora, calmo,
depois do sonho que tivera. Agradeceu a Deus pelo alívio recebido em sonho.
Ivan olhou para os braços e não estavam mais acinzentados, podia mover os
dedos, não sentia falta de ar e não ardia em febre.
Médico (com outros e a enfermeira): Posso verificar a sua temperatura
camarada Moiseyev?
Ivan (com o rosto cheio de alegria): Mas doutor não é necessário tirar a minha
temperatura?
(todos estavam espantados médicos, enfermeiros, pacientes)
Ivan: Como o senhor não poderia salvar meu braço, recorri ao médico celestial,
e nesta noite fui curado!
(Ivan colocou-se de pé com grande alegria)
Médico: Temperatura normal Moieseyev. Mas volte para a cama por favor!

Em Kertch...
(Sala do Coronel Malsin: Malsin atirou o livro de relatório sobre a mesa; ficou
furioso com as notícias da cura de Moiseyev recebidas por telefone)
N: O Coronel Malsin estava esperançoso de que Moiseyev ficasse inválido
para o serviço militar, voltar para a casa e não causar mais problemas para o
quartel.
Médico: Coronel, pela primeira vez estou vendo que Deus existe. Ele curou
Moiseyev!
N: A Polit-ruk estaria à espera de Moiseyev quando chegasse. Parte da viagem
de volta Ivan passou louvando e orando.
O comissário Dolotov enviara uma ordem direta do seu centro de operações na
Criméia; “Moiseyev tem que ser subjugado”. O rapaz já fazia parte do serviço
militar há praticamente um ano e ainda continuava cristão.
Outros erros, e o coronel Malsin e Gidenko estariam acabados.
Mal Ivan desfez as malas e já passou por vários interrogatórios; ameaçado,
interpelado era convocado no meio da noite, durante refeições. A KGB (polícia
secreta da União soviética) estava realizando um inquérito a seu respeito. E
entrou a primaveira de 1972; Ivan derramava o seu coração incessantemente a
Deus.
Ivan: Jesus não sei quanto tempo ainda vou suportar.
N: Então ouviu uma voz a dizer: “Isto é para o conforto de sua alma; amanhã
você não será interrogado. Em breve sairá daqui!” Ivan pela manhã pegou o
furgão, estava satisfeito de estar na estrada novamente. De repente, ouviu a
voz: “Diminua a marcha.” Ivan não deu a devida importância; pacotes de pães
começaram a cair do caminhão; conferiram e a carga estava devidamente
trancada; como poderiam ter caído do furgão!? Pensaram. Pararam o veículo e
foram recolher os pacotes de pão empoeirados na estrada, sem ainda
entenderem aquela situação.
Ivan (disse ao colega no furgão): Deus está tentando nos deter na estrada.
Mas qual seria o motivo?!
O colega: Já ouviu falar dessas fábulas da Bíblia? Então, Deus quer puni-lo,
pois teremos que recolher todo o carregamento de pães da estrada. Vários
camaradas saíram do ateísmo por causa das suas histórias fabulosas, e, estão
sob suspeita.
N: Seguiram viagem; logo a frente foram tomados de louvor e gratidão. Um
ônibus I Karus com turistas com destino ao Mar Negro, que passara por eles,
estava caído numa vala à beira da estrada todo retorcido; os corpos dos
passageiros foram arremessados por todas as direções; haviam, também
outros carros envolvidos nesse terrível acidente.
O colega (espantado): Se não tivéssemos nos atrasado por causa dos pães,
estaríamos envolvidos nesse acidente. Poderíamos estar mortos agora. Deus
salvou a sua vida camarada Ivan!
Ivan (com voz trêmula): Deus salvou as nossas vidas! Ele ama a mim e a você
também!
(saem de cena)
N: Outro relatório acerca de Moiseyev estava diante do Coronel Malsin...o
relato da história milagrosa dos pães pela estrada e de como Deus os haviam
salvado daquele triste acidente. O que ele deveria fazer? Pensou. Malsin tocou
a sineta da mesa; veio um soldado.
Malsin: Traga-me Ivan Moiseyev!
Soldado: Sinto muito coronel! Moiseyev partiu ontem para a Moldávia de
licença; já completou um ano de serviço prestado ao Exército Vermelho.
Retornará em 2 semanas.
Malsin: Com os diabos! (falou com muita raiva) Moiseyev não deveria ter tido
licença como os outros; deveriam ter me consultado antes. Saia daqui!

Parte 8 – Saudades da Moldávia


N: Ivan estava feliz, empolgado, estava em casa, na sua saudosa Moldávia.
Vestiu-se e foi ao culto; a sala daquela casinha de madeira estava cheia de
crentes querendo ouvi-lo; era primavera e uma brisa suave passava por aquele
ambiente. Ninguém faltou neste dia e ainda haviam outros curiosos; todos
queriam ver e ouvir Ivan Moiseyev. A jovem Svetlana Petrorna ficou junto à
janela; olhava o rapaz sentado na plataforma junto com os pastores; parecia-
lhe mais velho. Entoavam hinos da velha Moldávia (todos fingem estar
cantando) para confortar Ivan; sabiam que tinha passado por várias
dificuldades no serviço militar soviético por ser cristão. A família dele estava
cheia de alegria e emoção!
Um mulher supervisora de fábrica (pergunta para Sveltvana): O que está
acontecendo de tão especial para aqui estar tão cheio hoje?
Sveltvana: É o Ivan Moiseyev, aquele entre os pastores, que está nos
visitando hoje; ele recebeu licença do serviço militar e tem muito o que
compartilhar conosco!
N: Após os hinos entoados, a palavra foi entregue para Ivan; pegou uma Bíblia
emprestada e abriu o Antigo Testamento.
Ivan (com a Biblia aberta na mão diante do púlpito): “Então o Senhor abriu os
olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor...”
(Ivan levanta o rosto para a congregação e dá um largo sorriso)
Ivan: Hoje, também, Deus envia seus anjos aos seus seguidores, e nos revela
o seu poder.
(a supervisora estava interessada)
Ivan continua: Vamos ler, agora, Mateus 14:35 (ler o texto diretamente na
Bíblia em mãos)
Assim, também, temos sido provados. Jesus sabia bem o que o aguardava e
orou. Mas, nós de nada sabemos. Vamos orar assim como o Senhor orou.
N: Suas palavras causaram emoção; lágrimas rolaram dos olhos de Sveltvana.
Após o término do culto, os jovens conseguiram se aproximar de Ivan, mas não
tinham coragem de perguntar sobre as histórias que ouvira sobre ele.
Aproximou-se, também, uma velhinha, que lhe sacudiu o braço.
Velhinha: Conte-me meu jovem rapaz como vão as coisas... (com voz
comovida)
(Ivan sorri e inicia as narrativas; a boca dele se mexe e faz gestos com os
braços e mãos diante do grupo curioso)
N: Ivan iniciou as suas narrativas. Foi uma tarde inesquecível para Sveltvana!
Que maravilhas o Senhor operara! O milagre da cura, dos pães pela estrada, a
viagem com o anjo, como suportou o frio congelante, a licença do sargento! Em
retorno para sua casa, após seus testemunhos naquela reunião, pelo caminho,
segurou os braços de seu pai, fixou os seus olhos molhados nos dele e disse:
Ivan: Pai, o que vou dizer agora é muito triste, nunca mais voltarei à Moldávia!
(os demais familiares caminhavam um pouco mais distantes deles; o pai baixou
a cabeça e o abraçou fortemente, e continuaram a caminhar)
N: Ao chegarem em casa, Zheluak, um dos seus irmãos, teve a ideia de usar
um rádio gravador para deixar registradas todas as suas histórias; para, assim,
os pastores testemunharem para os crentes de toda a região, sem perder
detalhes.
Joanna, sua mãe, iniciou um choro sentido, aqueles meses foram de grande
tristeza para ela e Ivan. Ela não tirava os olhos preocupados dele; mal dormia.
Ivan (olhando para a sua mãe): Mãe, acho que a senhora seria capaz de lutar
contra todo o Exército Vermelho por mim.
(lança um olhar carinhoso para a sua mãe e a conforta)
Tudo está nas mãos de Deus; podemos orar intercedendo, mas não decidir
como as coisas devem acontecer. A perfeita vontade de Deus será feita!
N: Joanna tenta sorrir, mas estava dominada por muitos temores. Nada devia
lhe acontecer; ele é o meu querido filho! Pensou.
Agora, em Kertch...
Malsin estava impaciente, andando de uma lado para o outro, em seu pequeno
apartamento.
Galina Ivanova, esposa de Malsin, entra pela porta com a sacola de compras e
larga-a sobre a mesa da cozinha; olhou para seu filho que fazia as tarefas da
escola; depois, para seu esposo.

Galina: Quer tomar chá? (olha pra seu esposo apreensivo)

Malsin: É, um pouco de chá seria bom!

N: Em outro momento, já haviam discutido sobre o caso de Moiseyev; Galina


tinha dito para que deixasse o caso do rapaz.

Malsin: Você vai gostar do vou lhe dizer; estou muito satisfeito com o caso de
Moiseyev agora.

(estavam sentados de frente um para o outro próximos à mesa da cozinha, a


sacola de compras sobre a mesa, chaleira e o chá sendo servido nas xícaras)

Malsin: Preparei um plano de ação que funcionará perfeitamente!

Galina: Um plano de ação?!

N: O casal andava preocupado com o caso de Moiseyev; receavam que


Maksin fosse chamado perante o Spetz-Otdel (KGB) para dar explicações
sobre as irregularidades do caso.

Malsin: Já tomei medidas decisivas. Hoje de manhã retornou a Kertch e foi


detido legalmente. Creio que isso a deixará mais tranquila.

Galina: Não quero saber deste processo, nem de Moiseyev. Já te falei, várias
vezes, não quero conversar sobre ele.

Malsin: Ele, finalmente, chegará ao seu limite! (com a testa franzida)

Galina: Não quero saber! (disse alterando o tom da voz, com raiva nos olhos;
quebrou a xícara ao jogar sobre o aparador – som de vidro quebrando- fez o
mesmo com o pires com mais força, ao jogar sobre o chão)

(Malsin teve um acesso de fúria e lhe deu uma bofetada – som de um tapa; ela
cai de encontro à parede)

(Malsin sai em seguida para caminhar e se acalmar)

N: No quartel, Ivan se inquietava… andando de um lado para o outro, pensava:


“Seria aquela ideia de morte apenas uma fixação da sua mente?” Não era
exatamente a ideia da morte que o agitava, e sim o medo de negar a sua fé.
Temia suas próprias fraquezas! Começou a pensar, ainda inquieto, sobre a
esposa e filhos que não teria…

Ivan: Estou enlouquecendo! (exclamou em voz audível para si mesmo)


N: Desesperadamente, ele fixou o pensamento num trecho das Escrituras
Sagradas: “Salva-me ó Deus...estou atolado em profundo lamaçal...estou nas
profundezas das águas...os meus olhos desfalecem de tanto esperar por Ti;
são poderosos os meus destruidores; não sejam envergonhados por minha
causa os que esperam em ti, ó Senhor, Deus de Israel!”

Ivan (disse a si mesmo): Persevere! Persevere! Segue em frente sob o


comando de Cristo!

Parte 9 – No tribunal

N: De acordo com o artigo 142, ele era acusado de violar as leis soviéticas, por
ser membro de uma igreja batista clandestina na Moldávia. Pelo artigo 190,
parágrafo primeiro, do Código Penal, era acusado ainda de distribuir literatura
difamante contra o Estado Soviético. Adicionava-se a isto uma carta que ele
escrevera aos pais afirmando estar sofrendo por Cristo; fora as reuniões em
secreto no quartel.

Diante do tribunal, o oficial lera:

Oficial (com um livro na mão): Decreto de Lenine, ponto cinco: A observação


de ritos religiosos é garantida a todos os cidadãos, desde que ela não
provoque a subversão da ordem e não interfira com os direitos de outros
cidadãos da República Soviética.

(lançou um olhar severo para Ivan)

Prossegue o oficial promotor: várias vezes, camarada Moiseyev, você


interferiu com os direitos dos seus colegas de pelotão; essa sua mania de orar
e pregar são intoleráveis aos que o cercam. Desobedeceu a todas as ordens
de parar com isso; suas práticas violam diretamente os regulamentos sobre a
separação Igreja e Estado. Não é este tribunal que o condena, e sim suas
próprias ações! Entretanto lhe daremos mais uma oportunidade. Renuncie
publicamente! Te daremos um prazo de 3 dias.

N: Ivan, remexeu-se, impacientemente, no banco de trás. “Porque será que o


tribunal estava indeciso, parecendo não querer setenciá-lo? Sempre disse estar
disposto a ir para a prisão.” (pensou)
Malsin bocejou; a inquirição feita por Gidenko fora demorada. Não voltara ao
seu apartamento desde a briga com Galina, sua esposa.
Mais uma vez, Ivan, vai ao tribunal de Simferopol. Agora, sem noção do tempo,
faminto, pálido, com sono, maltratado…

Ivan (com voz rouca e cansada): Declaro que sou inocente do que me acusam
e rogo para ser ouvido pelo tribunal.

N: O oficial Dolotov acenou, afirmativamente, com certo pesar.


Ivan (pode ler essa parte): Na época do meu engajamento fiz o juramento de
praxe; e tenho me esforçado para não quebrar a minha palavra, minha
promessa de total lealdade e obediência às forças armadas da URSS. Foi-me
impossível obedecer a algumas das ordens recebidas, por serem injustas e
irem de encontro à liberdade de pensamento. Desobedeci, não por querer ser
desleal ao Exército Vermelho, mas porque tenho um vínculo de ordem superior
com Jesus Cristo. Ele me deu mandamentos aos quais não posso
desobedecer.

Dolotov: Como assim ordens especiais de Jesus Cristo? (perguntou curioso)

Ivan: Sim! Como todo cristão, devo testemunhar as maravilhas do Senhor.


Camarada comissário, nunca importunei os outros; só falei a quem tinha
interesse em conhecer a Jesus. Não considero crime oferecer pão ao faminto.
Os senhores ordenam que eu não fale da minha fé, mas o amor de Deus não
pode ser reprimido! Não peço misericórdia, porque ela vem de Deus! Podem
me setenciar!

(Dolotov fez um brusco aceno com a cabeça para o guarda; Malsin estava
irritado e com dor no estômago)

Dolotov: É simplesmente uma questão de tempo, camarada Moiseyev!

N: Ivan foi levado à cela de segurança máxima da prisão. Lá era úmido, não
tinha cama e não recebia o pão. Mas, alguma coisa lhe dizia que a batalha
maior não seria essa prisão. Ouviu uma voz diante angústia: “Jesus Cristo vai
partir para a peleja. Tenha bom ânimo; estou com você. Eu venci o mundo.” O
seu coração, novamente, se aqueceu e adorou!
Ivan suportou toda aquela agonia por 10 dias, no fim dos quais orava em
delírio, pedindo a morte e a libertação que o Senhor lhe prometera.

Parte 10 – Plano terrível

Malsin (leu uma notificação recebida no seu gabinete): é do nosso consenso


que os esforços de persuasão são inúteis. Este prisioneiro deve ser setenciado
e remetido para o presídio.

N: Malsin ficou fora de si; não era da sua intenção deixar Moiseyev regressar
ao quartel enquanto não renunciasse às suas crenças. Então deu sequência ao
seu plano meticuloso. No meio da noite, o encarregado do interrogatório pôs o
pé de Ivan dentro de um aparelho congelador; outro teria congelado
rapidamente. Mas, Moiseyev sentia só um pouco de dor e prosseguia em
oração silenciosa. Malsin bebia bebida alcoólica, buscando seu efeito máximo;
nada mais importava…
aquele seria o último dia. A ação seria levada ao ponto máximo, até que ele
cedesse. Por alguma razão, nunca ocorrera a Malsin que Moiseyev poderia
preferir a morte. Sem acreditar no que seus olhos viam, contemplava o corpo
imóvel de Moiseyev no chão. Agora, teria que dar explicações sobre a morte do
rapaz (suava frio), fazer relatório e notificar os pais.
(Malsin, ainda suando frio, enxuga o rosto com um lenço, senta-se e coloca a
cabeça entre as mãos)

Parte 11 – A triste notícia

N: Joanna recebeu o triste telegrama; parecia ter sido atingida por uma bala de
canhão. Mandou que chamassem seu esposo, Vasilliy e os filhos. Foram para
Kertch, em viagem de trem, ela, seu esposo e o filho mais velho. Preferia que
Semyon não os acompanhasse, pensou: “Ele realmente acreditava na história
de afogamento?” Chegaram ao seu destino, quartel de Kertch.

(o coronel Malsin cumprimentou Semyon com um apertão de mão)

Coronel Malsin: Camaradas Vasilliy e Joanna Moiseyev, eu estava presente


quando seu filho morreu; ele lutou bravamente contra a morte. Demorou para
morrer, mas morreu como um cristão!

N: Demorou para morrer?! Morreu como um cristão?!; pensou Joanna


franzindo a testa, achando aquela declaração muito suspeita e confusa.

Vasilliy: Agradecemos por suas declarações. O Senhor é fiel até a morte!

N: Malsin deu as costas e caminhou, nervosamente, para o seu gabinete.


Semyon, sentado, o esperava. Quanto a este, pensou, não havia incertezas
quanto a sua ideologia política. Já que pertencia à Liga Comunista Jovem.
Voltaram para a Moldávia; aguardariam o corpo de Ivan ser transportado. Eles
o carregariam, num caixão aberto, pela aldeia, como era costume da região. O
pranto de Joanna era audível; o corpo de Ivan chegara trazido por oficiais.
Os pastores trabalhavam, em silêncio, na sala ao lado preparando o corpo para
o enterro; esforçavam-se para vestir o cadáver com seus trajes tradicionais; era
terrível o estado em que o Exército Vermelho deixara o seu corpo! Pediram as
flores para o ataúde…
Um papel estava sendo passado de mão em mão; Vasilliy estava preparando
documentos, com testemunhas, para provar que o cadáver de Ivan não
correspondia ao atestado de óbito, “morte por asfixia decorrente de afogamento
acidental”. As marcas de queimaduras, perfurações, pancadas, seriam
atestadas antes do sepultamento.

(os crentes começaram a cantar o hino “Sou Peregrino”, enquanto se colhiam


as assinaturas)

N: O irmão em Cristo Chapkiy ficou à frente do caixão, com a bíblia aberta em


suas mãos, ele tomou a palavra.

Chapikiy: Preciosa é aos olhos de senhor a morte dos seus santos.

(todos choram)
N: Saíram, todos em fila, para o cemitério; cantavam hinos! Textos bíblicos
haviam sido impressos em russo e no dialeto moldávio.

(figurantes seguram cartazes com os versos)

“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma.”

“Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.”

“Vi debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da
Palavra de Deus.”

N: Seu filho Volodia ia a frente de todos, carregando ao peito uma foto do Ivan
(imprimir a foto que está no livro). Chegaram no cemitério, a cova fora aberta
próxima de um pequeno aglomerado de árvores; todos se protegiam do sol à
sombra delas. O pastor Chelorskii abriu a Bíblia e pregou novamente. Como
hino final, cantaram “Ao Lar Eterno”.

(hino Ao Lar Eterno)

(todos com flores nas mãos colocam-nas sobre o caixão em gesto de


despedida, estenderam suas mãos, fecharam os olhos e começaram a orar de
forma silenciosa – só mexendo os lábios)

N: Doze dias após o sepultamento de Ivan, a família de Moiseyev começou a


divulgar os fatos narrados neste livro. Houve abertura de Inquérito e autópsia
do corpo por 2 médicos cristãos. Não houve respostas! Várias pessoas
próximas a Ivan foram perseguidas, como seu amigo Sergei; documentos
foram confiscados, acusações foram feitas…

Fatos que se seguiram:

O pelotão de Ivan, o 61968T, foi desfeito!

O filho do Coronel Malsin faleceu após complicações de uma queda de


carroça.

Galina, a esposa de Malsin, foi internada numa clínica psiquiátrica.

O Coronel Malsin foi desligado de seu posto; ficou obcecado pela ideia de que
o Deus de Ivan o estava punindo.

Em pouco tempo, a história de Ivan alcançou agências ocidentais, viraram


notícias de ampla circulação por meios de comunicação tanto seculares quanto
religiosos, em 30 países, provocando muitas declarações fraudulentas pelas
autoridades soviéticas. Por volta de 22 pessoas foram detidas na URSS e
Polônia. Lares e igrejas foram investigadas. Em alguns lugares da Moldávia,
agentes arrancaram o Pentateuco das Bíblias, por terem visto a palavra
Moiseyev, que em russo, significa Moisés.
Anotações de um caderno pertencente a Ivan Moiseyev foi deixado nas mãos
de alguns crentes, pouco antes da sua morte. Tudo estava devidamente
registrado!
Compartilhamos duas das anotações:
“Se o seu coração está mais apegado a alguma coisa do que a Jesus, então,
não é digno de segui-lo.”
“Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2:10
(hino Ao Lar Eterno)

FIM

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