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DIREITOS HUMANOS

Teoria geral dos direitos


humanos

Versão Condensada
Sumário
Teoria geral dos direitos humanos�������������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Apresentação do curso e da matéria���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Conceito de direitos humanos:������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

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Teoria geral dos direitos humanos

1. Apresentação do curso e da matéria

Fala aí, parceiro (a)! Sou Diogo Medeiros, professor de Direitos Humanos, Delegado de Polícia do estado de Santa Cata-
rina. Sim! Isso mesmo! Policial e professor de Direitos Humanos. Ao longo da matéria, vamos desmistificar essa visão
reducionista que os Direitos Humanos seriam “direito dos manos”.

O curso é divido em 07 pontos principais, os quais abarcam a grande totalidade dos concursos atinentes às carreiras
policiais. Vejamos os pontos:

• PONTO 1: Teoria Geral dos Direitos Humanos;

• PONTO 2: Afirmação Histórica dos Direitos Humanos;

• PONTO 3: Direitos Humanos e Responsabilidade do Estado;

• PONTO 4: Direitos Humanos na Constituição Federal

• PONTO 5: Política Nacional de Direitos Humanos;

• PONTO 6: A Constituição Brasileira e os tratados internacionais;

• PONTO 7: Regra Mínima para tratamento dos presos.

2. Conceito de direitos humanos:

Segundo André de Carvalho Ramos, os Direitos Humanos são um conjunto de direitos considerado indispensável para
uma vida pautada na liberdade, igualdade e dignidade da pessoa humana.

Para Antônio Peres Luño: Direitos Humanos é o conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico,
concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positiva-
mente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.

Para Valério Mazzuoli, Direitos Humanos é expressão intrinsecamente ligada ao direito internacional público. Assim,
quando se fala em direitos humanos, está-se tecnicamente a referir a proteção que a ordem internacional guarda sobre
esses direitos.

São, portanto, os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna – expressão da dignidade humana.

Não há um rol predeterminado desse conjunto mínimo de direitos, tendo em vista que as necessidades humanas variam
e, de acordo com o contexto histórico de uma época, novas demandas sociais são traduzidas juridicamente e incluídas
na lista de direitos humanos. Há um movimento pendular: avanços e retrocessos na conquista de direitos.

Uma sociedade dita democrática e pautada em direitos fundamentais reconhece, primeiramente, que o primeiro direito
de todo indivíduo é o “direito a ter direitos” (expressão utilizada por Hannah Arendt e mencionada no discurso da Ministra
do STF Rosa Weber, presidente do TSE na diplomação do presidente Jair Bolsonaro).

No estudo do direito, verificamos que, para cada um direito, corresponde um dever correlato, portanto temos, basica-
mente, a seguinte estrutura:

• Direito de liberdade > Dever de obrigação;

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• Direito de pretensão > ausência de direito (abstenção);

• Direito poder > Sujeição;

• Direito Imunidade > Incompetência;

Adotamos o seguinte conceito de direitos humanos:

• Conjunto de direitos (ideias de dignidade da pessoa humana, liberdade e igualdade);

• Previstos em tratados internacionais;

• Protegidos e promovidos pelo Estado (e também pelos particulares).

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humanos

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Sumário
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1. Terminologia������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

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Teoria geral dos direitos humanos

1. Terminologia

Atenção para as terminologias que são muito cobradas em prova.

O estudo dos direitos humanos se dá em três eixos de proteção internacional: direito internacional dos humanos
(DIDH), direito internacional humanitário (DIH) e direito dos refugiados (DIR).

O primeiro subgrupo refere-se ao estudo específico das matérias, direito humanitário e direitos dos refugiados são
áreas específicas.

Direito humanitário não se confunde com direitos humanos, em que pese a similaridade da expressão, trata-se do estudo
do direito de conflitos armados (guerra), e direito dos refugiados refere-se à proteção internacional dada aos refugiados,
desde a saída do seu local de residência, trânsito de um pais a outro e concessão de refúgio.

Direito internacional dos humanos Direito internacional humanitário


Direito dos refugiados
(DIDH) (DIH)

Lei Especial. Situação específica


de conflitos armados (internacion-
Lei Geral. Incumbe a proteção do ais e não internacionais).
ser humano em todos os aspectos. Surgimento da Cruz Vermelha em Lei especial. Proteção do
Subvertentes: Direito das minorias; 1863 (organização não gover- refugiado.
Direito Penal Internacional. namental que dá assistência às
vítimas de
guerra)

Tem previsão nas


Tratados/convenções/pactos Lei 9474/1997 – estatuto dos
convenções de Genebra, Haia e
internacionais. refugiados.
Nova York.

Registre-se que são áreas independentes, mas não excludentes entre si, só são voltadas para situações específicas
– guerra e direito dos refugiados. O CESPE julgou errada a seguinte questão: A aplicação das normas de direito inter-
nacional humanitário e de direito internacional dos refugiados impossibilita a aplicação das normas básicas do direito
internacional dos direitos humanos.

Cuidado com as diferenças entre as terminologias. Direitos Humanos e Direitos Fundamentais assumem conotação
distinta no que se refere ao plano de positivação, muito embora ambos têm o mesmo significado: direitos inerentes ao
ser humano, ligados a um conjunto mínimo que dá expressão a dignidade da pessoa humana.

• Quando o plano de proteção advém de norma internacional: direitos humanos;

• Quando o plano de proteção advém de norma interna/doméstica: direitos fundamentais;

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Direitos Humanos Direitos Fundamentais

Previsão em ordem externa/internacional – tratados e Previsão em ordem interna/doméstica – Constituição


convenções internacionais. A diferença está somente Federal de determinado país. A diferença está so-
no plano de positivação. mente no plano de positivação. Protegido pela ordem
Protegido pela ordem internacional. interna.

São mais amplos que os dir. fundamentais. Podem ser Mais restritos, englobam tão somente a Constituição
reclamados por todos os cidadãos do planeta e em Federal de determinado país. O direito fundamental
quaisquer condições, bastando que ocorra a violação pode ser restringido pela Constituição Federal, por
de um direito seu reconhecido em norma internacional exemplo, o voto que não é extensível aos estrangeiros
aceita pelo Estado em cuja jurisdição se encontre. e conscritos. (art. 14)

Para reclamar a violação aos direitos humanos, vale-se


de órgãos internacionais de proteção (Exemplo: Corte Para reclamar a violação aos direitos fundamentais,
interamericana de direitos humanos prevista no Pacto utilizam-se garantias judiciais previstas na própria
de São José da Costa Rica). Constituição Federal (exemplo: Habeas Corpus para
Nos temos três grandes blocos em direitos humanos: tutelar a liberdade de locomoção – art. 5, LXIX da CF).
Direitos Civis e políticos (direitos de 1ª geração); Na CF, os direitos e as garantias individuais estão
Direitos economicos, sociais e culturais (direitos de 2ª localizados do art. 5º ao 17, muito embora existam
geração); direitos fundamentais fora desse lapso de artigos e
Direito dos povos, da humanidade (direitos de 3ª direitos fundamentais implícitos.
geração)

A distinção deve ser feita na prova, se assim for cobrada, mas há uma crítica doutrinária acerca dessa diferenciação. Há
uma Intersecção entre o Direito Constitucional e o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Há uma aproximação entre
o direito internacional e o direito nacional, ainda mais pelo fato de que um tratado internacional pode ser incorporado
ao ordenamento nacional (art. 5º, §3º CF).

Além do mais, no âmbito da União Europeia, convencionou-se a utilizar a expressão “direitos fundamentais” para se referir
tanto aos direitos garantidos pela ordem interna como pela ordem internacional, tanto é que o principal instrumento se
chama Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Direitos humanos e Direitos do Homem são expressões sinônimas (no sentido ontológico/da essência), mas com dife-
rentes pontos de vista.

Direitos Humanos Direitos do homem

Concepção jusnaturalista (corrente do pensamento


Expressão utilizada no cenário internacional. Refere-se jurídico que indica um direito que provém da natureza
a direitos previstos em normas internacionais, espe- – direito natural - existente antes do surgimento
cialmente em tratados e convenções. do estado, não positivados e válidos em todos os
tempos).

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Caráter histórico. Exemplos: Declaração Francesa dos
direitos do homem e do cidadão – 1789, Declaração
americana dos direitos e deveres do homem (Bogotá,
1948). Obs.: O STF já entendeu que o direito a fuga
seria um direito natural a despeito da ausência de
Conceito atual. previsão legal. “A fuga é um direito natural dos que
se sentem, por isso ou por aquilo, alvo de um ato
discrepante da ordem jurídica, pouco importando a
improcedência dessa visão.” RHC 84.851/BA, rel. Min.
Marco Aurélio. (Nem todos os ministros compartilham
a existência de um “direito natural a fuga”)1.

Um bom exemplo é o direito à vida, que é considerado um direito do homem (não precisa de positivação). É natural
que todo mundo entenda que a vida é o bem jurídico mais importante que temos. Tem previsão no art. 5º, CRFB/88,
sendo um direito fundamental à vida. E, como tem previsão em tratado internacional, é também considerado um direito
humano à vida.

O direito natural serviu também para ampliar direito previsto na Constituição Federal. O art. 5º, LXIII prevê o direito ao
silêncio, o qual foi transformado, jurisprudencialmente, ao longo do tempo, para um direito a não autoincriminação.
“O direito natural afasta, por si só, a possibilidade de exigir-se que o acusado colabore nas investigações. A garantia
constitucional do silêncio encerra que ninguém está compelido a autoincriminar-se.” (HC 83.943.MG. Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 27-4-2004).

No que se refere, ainda, à terminologia, utilizam-se as expressões direitos individuais, liberdades públicas e direitos
públicos subjetivos. Todavia, as três expressões se mostram incompletas, pois não abarcariam toda a gama de direitos
humanos.

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1.  Características dos direitos humanos�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Universalidade��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.2 Essencialidade�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.3 Relatividade������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 4

1.4 Historicidade����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

1.5 E) indivisibilidade e interdependência������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

1.6 Imprescritibilidade���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

1.7 Inalienabilidade��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

1.8 Irrenunciabilidade����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

1.9 Inexaurabilidade/abertura/não exaustividade�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������6

1.10 Vedação ao retrocesso�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������6

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1. Características dos direitos humanos

1.1 Universalidade

Os direitos humanos conferem titularidade de gozo às pessoas tão somente por ostentarem a condição humana, inde-
pendentemente de sexo, raça, cor, religião, etnia ou outra condição. A universalidade surge no pós-segunda guerra
mundial (se contrapondo à ideia de superioridade de raças proveniente do nazismo), mormente em 1948, com a edição
da Declaração Universal de Direitos Humanos (“Declaração de Paris”) que dispõe que basta a condição humana para
a titularidade de direitos – “ todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. (Art. 1° DUDH).

Há uma relativização da soberania dos países.

Para alguns doutrinadores, transnacionalidade consiste no reconhecimento dos direitos humanos onde quer que o
indivíduo esteja.

A ideia de inerência, ou seja, qualidade de pertencimento à natureza humana, decorre da universalidade.

A tese da universalidade é contrariada pelo relativismo cultural: esta tese se contrapõe ao universalismo e defende que
os direitos humanos não são universais, eis que o direito é produzido de acordo com o sistema político, econômico,
cultural, social e moral, vigentes em determinada sociedade.

Para o relativismo cultural, cada cultura possui seu discurso próprio de direitos fundamentais e que se relaciona com as
específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade.

Para além dessa divergência, a doutrina entende por um forte universalismo e fraco relativismo cultural, ou seja, a cultura
não pode servir de óbice ao desrespeito a direitos humanos que são consenso no mundo.

Veja a Convenção de Viena que fala sobre o forte universalismo e fraco relativismo:

Convenção de Viena, 1993 item 5: Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-
-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa,
em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em
consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econô-
micos e culturais.”

Obs.: A proteção à universalidade não contraria a ideia de que determinados grupos vulneráveis (minorias)
precisam de maiores doses de proteção do Estado, por intermédio da igualdade material. Por exemplo, com o
estabelecimento de cotas para ingresso em universidades públicas.

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1.2 Essencialidade

São direitos essenciais, necessários à existência do ser humano. No que se refere ao plano formal, estão previstos no
topo do sistema normativo de cada país – constituição federal e no plano material refere-se aos direitos mais importantes
para o convívio social, valores supremos do ser humano e a prevalência da dignidade humana.

Deriva da essencialidade a superioridade normativa. Os tratados internacionais de direitos humanos estão acima da
legislação ordinária, equiparados às emendas constitucionais, quando aprovados na forma do Art. 5°, §3° da Consti-
tuição Federal ou quando não aprovados por esse quórum especial têm a natureza supralegal, conforme já decidiu o
Supremo Tribunal Federal.

Obs.: Nos direitos humanos, utiliza-se a expressão “normas de Jus Cogens” significando, basicamente, normas
imperativas que são aceitas e conhecidas pela comunidade internacional e inderrogáveis, salvo por outra norma
de igual hierarquia.

1.3 Relatividade

Por relatividade, entende-se que não há direito absoluto. No caso concreto, os direitos irão colidir. Exemplo: Direito
a imagem x direito a informação jornalística. Estão sujeitos à ponderação, sopesamento entre eles, sendo que um irá
prevalecer sobre o outro em situações específicas, diante de critérios de razoabilidade e proporcionalidade.

O direito à vida, um dos mais importantes bem jurídicos da sociedade, não é absoluto. Falamos de relativização, por
exemplo, no caso previsto constitucionalmente de guerra declarada e, também, no instituto penal da legitima defesa.

No direito constitucional, essa característica é conhecida como princípio da convivência das liberdades públicas.

CUIDADO: Para alguns doutrinadores, a vedação à escravidão e à vedação a tortura seriam direitos absolutos,
eis que, em casos concretos, nunca são relativizados.

No sentido de que a vedação a tortura seria um direito absoluto, o Art. 2° da Convenção da ONU contra Tortura aduz:

Art. 2. Item 2: Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de
guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para tortura.

1.4 Historicidade

Os direitos humanos são históricos, construídos ao longo do tempo, em um movimento pendular de avanços e retro-
cessos. Segundo Hanah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído.

Com o fim da Segunda Guerra e com o nascimento da Organização das Nações Unidas, a partir de 1945, que os direitos
humanos começaram a se efetivar no plano internacional. A partir desse momento – pós 2ª Guerra Mundial –, fala-se
em Internacionalização dos Direitos Humanos ou Direitos Humanos contemporâneos.

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Segundo Bobbio (A era dos direitos), os direitos humanos são históricos, nascidos em certas circunstâncias,
caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e, nascidos de modo gradual,
não todos de uma vez nem de uma vez por todas.

Direitos humanos são mutáveis, adaptáveis, dinâmicos, e não são estacionários.

• CUIDADO: Quando se estuda o fundamento jusnaturalista, verificamos que os direitos humanos são decorrentes da
natureza, fixos, absolutos, imutáveis e preexistente ao surgimento do Estado. No entanto, atualmente, não subsiste
mais o fundamento jusnaturalista, prevalece que os direitos humanos são mutáveis – a sociedade demanda do
Estado novos carecimentos e o Estado, por vezes, reconhece essa demanda criando um novo direito, sobretudo
pela introdução desse direito na Constituição Federal.

• Ex.: As emendas constitucionais que criaram novos direitos sociais (espécie de direitos fundamentais): transporte,
alimentação e moradia e foram introduzidas no art. 6° da Constituição Federal.

1.5 E) indivisibilidade e interdependência

Os direitos humanos possuem mesma hierarquia. são incindíveis entre si e, por consequência, não é possível proteger
alguns direitos e esquecer os outros. não adiantaria garantir os direitos de 1º geração, as liberdades públicas, sem
efetivar direitos sociais (art.6º cf – 2ª geração). portanto, são interdependentes, ou seja, todos os direitos contribuem
para a realização da dignidade da pessoa humana, de modo que o conteúdo de um direito depende e se vincula ao
conteúdo de outro.

1.6 Imprescritibilidade

Os direitos em abstrato não se perdem pelo decurso do tempo. O que pode existir é a prescrição do direito decorrente
do exercício dos direitos humanos. É possível, portanto, desenvolver relações negociais a partir dos direitos humanos
(por exemplo, cedendo o direito à imagem na realização de uma propaganda de televisão).

1.7 Inalienabilidade

Os direitos (em abstrato) não podem ser objetos de contrato. Direitos humanos não podem ser transferidos ou cedidos
(onerosa ou gratuitamente) a outrem, sendo, portanto, indisponíveis e inegociáveis. No entanto, o exercício de direitos
pode ser facultativo, sujeito à negociação.

O art. 14, do código civil, por exemplo, prevê que a disposição do corpo após a morte, seja com objetivo científico ou
com sentido altruístico, somente será possível de forma gratuita.

Art. 14. Código Civil. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo
ou em parte, para depois da morte.

1.8 Irrenunciabilidade

A irrenunciabilidade significa que nem mesmo o consentimento do titular pode validar a violação de seus direitos. Não
é possível, por exemplo, determinada pessoa dispor do próprio corpo, quando isso importar a diminuição permanente
da integridade física, conforme se extrai do art. 13 do código civil.

Art. 13. Código Civil. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

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1.9 Inexaurabilidade/abertura/não exaustividade

Os direitos humanos não constituem um rol taxativo de direitos. Há sempre a possibilidade de expansão em razão do
surgimento de novas demandas sociais. A expansão de novos direitos é desdobramento da característica da histo-
ricidade. O art. 5º, §2º da Constituição Federal estabelece uma cláusula de abertura material de direitos e garantias
expressos na Constituição.

Art. 5, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

1.10 Vedação ao retrocesso

Também chamados de “efeito cliquet”, princípio da proibição da evolução reacionária ou entrincheiramento. Significa
que a proteção conquistada na concretização dos direitos não pode ser suprimida por nosso legislador. É vedado que
os Estados diminuam ou amesquinhem a proteção já conferida aos direitos humanos. Pode-se afirmar, portanto, que a
proteção aos direitos humanos é expansiva.

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humanos

Versão Condensada
Sumário
Teoria geral dos direitos humanos�������������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Estrutura normativa������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Fundamentação dos direitos humanos������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

2.1 Corrente negativista����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.2 Corrente jusnaturalista������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

2.3 Corrente juspositivista\positivista����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

2.4 Corrente existencialista���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

2.5 Corrente da dignidade da pessoa humana – pós-positivista��������������������������������������������������������������������������������������� 4

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1. Estrutura normativa

Os direitos humanos que se positivam em normas internacionais podem provir do sistema global (pertencente à ONU
e por isso chamado de “onusiano”) ou de sistemas regionais de proteção (sistema interamericano, europeu e africano).

Os sistemas de proteção possuem normas, órgãos e mecanismos.

Os sistemas de proteção são dotados dos princípios da coexistência, subsidiariedade, livre-escolha e cooperação.

2. Fundamentação dos direitos humanos

Fundamentar os direitos humanos é buscar as razões que legitimam e motivam o reconhecimento dos direitos humanos,
buscar essa genealogia. Investigar o porquê dos direitos humanos.

“Os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares
para finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais”. (Norberto Bobbio)

2.1 Corrente negativista

A corrente negacionista é defendida por Norberto Bobbio, o qual entende que a grande questão dos direitos humanos
diz respeito à sua efetividade, e não à sua fundamentação. Para o autor, não existe relação entre a proteção e a funda-
mentação dos direitos humanos. Nesse sentido, Bobbio afirma que “o problema fundamental em relação aos direitos do
homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político”.

A expressão direitos humanos é vaga e desprovida de consenso quanto ao seu significado e varia conforme a evolução
histórica. Portanto, existem 03 dificuldades na busca pelo fundamento dos direitos humanos:

Direitos humanos é expressão vaga;

Direitos humanos constituem em classe variável – direitos mutáveis;

A Classe dos direitos humanos é heterogênea.

2.2 Corrente jusnaturalista

O jusnaturalismo é uma corrente do pensamento jurídico que defende a existência de um conjunto de normas vinculantes
anterior e superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado (direito posto). Para a doutrina jusnaturalista, é direito o que
é natural, isto é, a juridicidade é um dado eterno, imutável e universal, que provém e deve ser descoberto da “natureza”.

Os direitos naturais podem ser oriundos de uma divindade superior (escola de direito natural de razão divina) ou da
natureza do ser humano (escola de direito natural moderno).

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2.3 Corrente juspositivista\positivista

Com a consolidação do Estado constitucional (séculos XIX e XX), os direitos humanos tidos como naturais foram inseridos
no corpo da Constituição e das leis, passando a ser considerados direitos positivados.

A Escola positivista traduziu a ideia de um ordenamento jurídico produzido pelo homem de forma coerente e hierarqui-
zada, que teria em seu topo a Constituição (pressuposto de validade de todas as demais normas). Os direitos humanos
foram inseridos na Constituição, obtendo, com isso, um estatuto normativo superior.

Surge o positivismo nacionalista, ou seja, o indivíduo tem direitos porque é nacional de determinado Estado, de modo
que é o Estado que confere direitos as pessoas sujeitas ao seu ordenamento. Portanto, são válidos somente nos Esta-
dos que o reconhecem.

2.4 Corrente existencialista

O existencialismo pode ser entendido como o conjunto de filosofias que se valem da análise da existência, ou seja, que
analisam a existência do homem, a vida.

Diferentemente do jusnaturalismo, para quem os direitos humanos são descobertos, e do positivismo, para quem os
direitos são aplicados, a fundamentação existencialista defende que os direitos humanos são construídos, isto é,
são aquilo que nós fizermos com que eles sejam.

2.5 Corrente da dignidade da pessoa humana – pós-positivista

Os direitos humanos decorrem da dignidade da pessoa humana.

Corrente adotada no pós-segunda guerra mundial e, segundo a qual, a condição de pessoa (ser humano) é o único
requisito para a titularidade de direito, independentemente de qualquer outra condição. O pós-positivismo gera, o plano
interno, o que se denominou como Neoconstitucionalismo.

O Neoconstitucionalismo decorre da ideia de Estado Democrático de Direito. Após as atrocidades cometidas na segunda
guerra mundial, o direito se aproxima da moral, a dignidade da pessoa humana é o valor central da Constituição Federal,
há uma filtragem constitucional, ou seja, uma interpretação das leis conforme os valores constitucionais e aplicação da
eficácia horizontal dos direitos e, por fim, um fortalecimento do poder judiciário, sobretudo com um ativismo judicial,
conferindo direitos e garantias fundamentais aos casos a ele submetido.

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humanos

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Teoria geral dos direitos humanos�������������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Classificação dos direitos humanos����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Geração/dimensão/família de direitos fundamentais ou direitos humanos����������������������������������������������������������������� 3

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Teoria geral dos direitos humanos

1. Classificação dos direitos humanos

1.1 Geração/dimensão/família de direitos fundamentais ou direitos humanos

Teoria desenvolvida por Karel Vasak em 1979. Classificou os direitos humanos em três gerações associando-as aos
lemas da revolução francesa:

• Liberdade: direitos de 1º geração ’ Direitos Civis e Políticos;

• Igualdade: direitos de 2º geração’ Direitos econômicos, sociai e culturais;

• Fraternidade ou solidariedade: direitos de 3ºgeração’ Direito dos povos, da humanidade.

Apresentamos, também, os direitos de 4º e 5º geração, em que pese terem sido reconhecidos por outros doutrinadores
e sob esses não há consenso sobre suas características:

1ª Geração/Dimensão 2ª Geração/Dimensão 3ª Geração/Dimensão

Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave:


Liberdades públicas. Direitos civis Igualdade. Direitos econômicos, Solidariedade/Fraternidade. Direito
e políticos. sociais e culturais. dos povos.

São prestações negativas por São prestações positivas por parte São direitos difusos/
parte do Estado. do Estado. transindividuais.
Não interferir em direitos Assegurar o princípio da igualdade Pertencentes a todos
individuais. material. indistintamente.

Direitos de defesa/direitos Direitos de prestação/direitos


negativos. positivos. Direito a paz, meio ambiente
Direito à vida, igualdade formal, Direito a educação, trabalho, equilibrado, autodeterminação,
liberdade, propriedade, segurança, saúde, moradia, alimentação, direito do consumidor, direito a um
privacidade, personalidade, aces- assistência social, lazer, cultura. serviço público eficiente.
so à justiça, nacionalidade, direitos Referem-se à igualdade material.

Políticos: votar, ser votado. Dire-


itos humanos penais: vedação à
prisão arbitrária, individualização
da pena, direito ao silêncio.

Momento histórico: Passagem do Momento histórico:


estado absolutista para o liberal. Passagem do estado liberal para o Momento histórico: Fim da segun-
Fase do constitucionalismo clássi- estado social frente às desigual- da guerra mundial. 1945.
co. Séc. XVII a séc. XIX. dades sociais existentes. Séc. XX.

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Documentos históricos: Carta
Magna (1215), Habeas Corpus Act,
Bill of Rights (1689), Declaração Documentos históricos:
Americana de Independência Constituição
Documentos históricos: No Brasil:
do Estado da Virgínia (1776), Mexicana (1917), Constituição de
CF de 88.
Declaração Francesa dos direitos Weimar (1919), OIT (1919). No Bra-
do homem e do cidadão (1789). No sil: CF de 1934.
Brasil: CF de 1824 (império) e 1891
(república).

Teóricos: Pesquisas sobre a im-


Teóricos: Iluministas do Séc. portância de se preservar ger-
Téoricos: Marx e Engels
XVIII – Grócio, Locke, Rousseau, ações futuras no que se refere ao
– Manifesto Comunista.
Montesquieu direito ao meio ambiente sadio e
equilibrado.

Existem, ainda, os direitos de 4ª e 5ª geração, em que pese não serem consenso doutrinário e que a teoria clássica de
Vasak abrange tão somente as três gerações supramencionadas.

4º Geração/Dimensão 5º Geração/Dimensão

Para Paulo Bonavides: direito a paz em toda huma-


Para Paulo Bonavides: Resulta da globalização
nidade (a paz era classificada por Karel Vasak como
dos direitos humanos, de sua expansão e abertura
sendo direitos de terceira geração). São chamados
além-fronteiras. Ex: direito a democracia, informação e
pelo doutrinador de Direito da esperança. São enalte-
pluralismo. Direitos da solidariedade.
cidos depois do

Para Norberto Bobbio: direito a manipulação genética. Engenharia Genética


Ataque às torres gêmeas
Para Bobbio, os chamados direitos de quarta dimensão se referem aos efeitos
em Nova York, no 11 de
traumáticos da evolução da pesquisas biológica, que permitirá a manipulação do
setembro de 2011.
patrimônio genético do indivíduo de modo cada vez mais intenso.

Momento histórico: Séc.


Momento histórico: Pós Modernidade. Séc. XXI.
XXI.

Alguns autores classificam a 5ª Geração como o direito eletrônico (direito de acesso e convivência num ambiente salutar
no ciberespaço - Patrícia Peck e Luis Carlos Olivo).

O termo gerações indica uma ideia errada de que uma substitui a outra, de sucessão. No entanto, diante das caracte-
rísticas estudadas de indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, não é possível admitir a substituição
de direitos, razão pela qual a doutrina tem utilizado o termo dimensão ao invés de geração, que dá a ideia de que os
direitos coexistem, dialogam e acumulam ente si.

Portanto, gerações, dimensões ou famílias são termos sinônimos, mas o contexto histórico de integração desses con-
ceitos é diferente.

Teoria geral dos direitos humanos 4

A L F A C O N
Gerações: Denota algo estanque, ou seja, algo que foi abandonado e deixado de usar.

Dimensões: Noção mais moderna dos direitos humanos, ou seja, refere-se a algo que já existe e que eu carrego
para outro momento histórico. Direitos indivisíveis.

Há doutrinadores que ainda citam a 6º Geração/dimensão de direitos fundamentais: Luta e acesso a água potável.

• ATENÇÃO À CRÍTICA: O professor Cançado Trindade critica a teoria geracional no plano internacional, tendo em
vista que, historicamente, no plano internacional é incorreta: os direitos sociais surgem primeiro que os direitos civis
e políticos. A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do Tratado de Versalhes
(1919), que deu fim à Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição corresponde à Parte XIII do Tratado de Versalhes.
Em 1919, nasce a Organização Internacional do Trabalho (OIT – direitos sociais trabalhistas), para só depois – em
1948 (DUDH) e 1966 (PIDCP), surgirem direitos civis e políticos.

• Registra, ainda, que a teoria é juridicamente infundada, pois não há que se separar os direitos em categorias, tendo
em vista que um depende do outro, estão relacionados, ligados. São indivisíveis e interdependentes.

Resumindo, para o doutrinador Cançado Trindade, a teoria geracional é historicamente incorreta e juridicamente infundada.

Teoria geral dos direitos humanos 5

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

Teoria geral dos direitos


humanos

Versão Condensada
Sumário
Teoria geral dos direitos humanos�������������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Outras classificações de direitos humanos������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

1.1 Status de Jellinek���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.2 Classificação de André de Carvalho Ramos������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.3 Eficácia dos direitos fundamentais���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.4 Dimensões objetivas e subjetivas dos direitos humanos/fundamentais:�������������������������������������������������������������������� 4

1.5 Direitos humanos/direitos fundamentais de acordo com as funções:������������������������������������������������������������������������� 4

1.6 Direitos humanos/direitos fundamentais de acordo com a finalidade:������������������������������������������������������������������������5

1.7 Direitos humanos/fundamentais de acordo com a forma de reconhecimento:�����������������������������������������������������������5

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A L F A C O N
Teoria geral dos direitos humanos

1. Outras classificações de direitos humanos

1.1 Status de Jellinek

É uma classificação importante e, às vezes, cobrada nas provas. Tem origem no final do século XIX. O autor Georg Jel-
linek repudia a ideia do jusnaturalismo, reconhecendo o caráter positivo dos direitos.

Na sua classificação, relaciona o indivíduo em quatro situações perante o Estado.

• Status passivo/status subjectionis: o indivíduo encontra-se em posição de sujeição/subordinação com o Estado,


o qual goza de prerrogativas, notoriamente pela supremacia do interesse público sobre o particular;

• Status negativo/status libertatis: Nesse status, há a prevalência das liberdades públicas, de modo que o Estado
não pode interferir em direitos individuais. É a resistência do indivíduo contra o Estado. Trata-se do surgimento
dos direitos civis.

• Status positivo/status civitatis: Nesse ponto, enfatizam-se os direitos sociais, econômicos e culturais, ou seja, a
necessidade de o Estado realizar assistência/prestações positivas para assegurar a isonomia material.

• Status ativo/status activus: Por fim, o doutrinador expressa os direitos políticos, o indivíduo que participa da
formação da vontade do estado, além do direito de asceder aos cargos em órgãos públicos.

1.2 Classificação de André de Carvalho Ramos

André de Carvalho Ramos explica que os direitos humanos podem ser divididos em quatro espécies, quais sejam, (i)
direito-pretensão; (ii) direito-liberdade; (iii) direito-poder; e (IV) direito-imunidade.

• (i) direito-pretensão: consiste na busca de algo e, consequentemente, no dever gerado a outrem de prestar. Como
exemplo, temos o direito à educação fundamental, que gera para o Estado o dever de prestá-la gratuitamente;

• (ii) direito-liberdade: trata-se da faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou pes-
soa. Cite-se, a título de exemplo, a liberdade de credo (o Estado não possui direito de exigir que a pessoa tenha
determinada religião);

• (iii) direito-poder: implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir uma sujeição do Estado ou de outra
pessoa. Exemplo: uma pessoa ao ser presa tem o poder de requerer a assistência da família e do advogado, o que
sujeita a autoridade pública a providenciar esse contato;

• (iv) direito-imunidade: consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa que impede que
outra interfira de qualquer modo. Exemplo: uma pessoa é imune à prisão, salvo nas hipóteses previstas em lei.

1.3 Eficácia dos direitos fundamentais

Eficácia vertical:

Foi pensado para equilibrar a relação do Estado e particular, porque o Estado está acima do particular. O Estado goza
de supremacia em razão de prevalecer o interesse público. A eficácia vertical se assemelha com o status de sujeição
da teoria de Jelinek.

Teoria geral dos direitos humanos 3

A L F A C O N
Eficácia horizontal:

Aqui os direitos fundamentais devem ser observados entre os particulares, já que estes estão em igualdade. Na eficácia
horizontal, não há a presença do Estado.

Eficácia diagonal:

A eficácia diagonal se refere a uma relação entre particulares, muito embora um deles encontra-se em posição de
superioridade, mas não é o Estado. A doutrina fala em eficácia diagonal nas relações trabalhistas e nas consumeristas.

1.4 Dimensões objetivas e subjetivas dos direitos humanos/fundamentais

• Objetiva: Eficácia irradiante, ou seja, os direitos fundamentais irradiam em todo o ordenamento jurídico, existem
para estar presente em todos os direitos, alcançando os poderes públicos em suas atividades.

• Subjetiva: É a possibilidade que todos os indivíduos têm de exigir a prestação dos direitos fundamentais. O “fazer
estatal” e o “não fazer estatal” pode ser exigido pelo indivíduo. Como o indivíduo exigir do Estado a prestação do
direito à saúde, que é direito de todos.

1.5 Direitos humanos/direitos fundamentais de acordo com as funções

Os direitos humanos podem ser classificados, conforme doutrina de André de Carvalho Ramos:

• Direitos de defesa: Transformação dos direitos em uma espécie de escudo contra o poder estatal, concretizando
exigências de abstenção, derrogação ou até mesmo de anulação dos atos do Estado. Os direitos de defesa geram
três subespécies:

ͫ Direito ao não impedimento (liberdade de expressão, por exemplo);

ͫ Direito ao não embaraço (direito a privacidade, por exemplo);

ͫ Direitos a não supressão de determinadas situações jurídicas (defesa da propriedade, por exemplo).

Teoria geral dos direitos humanos 4

A L F A C O N
• Direitos a prestações: exigem uma obrigação estatal de ação para assegurar a efetividade dos direitos humanos.
Instrumentaliza-se por prestações jurídicas ou materiais:

ͫ Prestações jurídicas: Elaboração de normas jurídicas que disciplinam determinado direito.

ͫ Prestações materiais: Concessão de direitos na prática. Ex.: fornecimento gratuito de medicamentos.

ͫ Direitos a procedimento e instituições: Exigir do Estado que se estruture órgãos e corpo institucional aptos a
oferecer bens ou serviços indispensáveis à efetivação dos direitos humanos.

1.6 Direitos humanos/direitos fundamentais de acordo com a finalidade

• Direitos propriamente ditos (visam ao reconhecimento jurídico de pretensões inerentes à dignidade de todo ser
humano);

• Garantias fundamentais (asseguram os direitos propriamente ditos).

As garantias fundamentais se subdividem em:

ͫ a) garantias em sentido amplo - são as chamadas “garantias institucionais”, consistem em um conjunto de


meios de índole institucional (MP, Defensoria Pública etc) e organizacional (Imprensa livre) que visa a assegurar
a efetividade e observância dos direitos humanos.

ͫ b) garantias em sentido estrito - consistem no conjunto de mecanismos processuais ou procedimentais des-


tinada a proteger os direitos essenciais dos indivíduos. Essas garantias são de ordem nacional e internacional
(ex.: remédios constitucionais e o direito de petição na esfera internacional).

1.7 Direitos humanos/fundamentais de acordo com a forma de reconhecimento

• Direitos expressos: explicitamente mencionados na CF;

• Direitos implícitos: São extraídos de normas gerais previstas na CF e que decorrem da dignidade da pessoa humana.
Ex: direito à busca da felicidade;

• Direitos decorrentes de tratados de direitos humanos: Como exemplo, os direitos previstos na Convenção das
Nações Unidas sobre os direitos da pessoa com deficiência, de estatura constitucional, eis que aprovado na forma
do Art. 5°, §3° da CF.

Teoria geral dos direitos humanos 5

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DIREITOS HUMANOS

Afirmação histórica dos


direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Afirmação histórica dos direitos humanos������������������������������������������������������������������� 3

1.  Fase antiguidade����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Fase da idade média:���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.1 Magna Carta, 1215�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

2.2 Declaração das cortes de leão, 1188������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 4

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A L F A C O N
Afirmação histórica dos direitos humanos

Nesse ponto, estudaremos a evolução histórica dos direitos humanos no que se refere aos principais documentos inter-
nacionais que trouxeram proteção à esfera de direitos essenciais. É relevante destacar que o cerne dos direitos humanos
é a luta contra a opressão – limitação de poder – e busca do bem-estar do indivíduo. Lembre-se da característica da
historicidade: os direitos humanos são construídos historicamente, ao longo do tempo.

Segundo André de Carvalho Ramos, a universalização dos direitos é uma obra inacabada, mas que tem como marco a
Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948.

Enquanto reivindicações morais, os direitos humanos são fruto de um espaço simbólico de luta e ação social, na busca
pela dignidade da pessoa humana.

Segundo Bobbio (A era dos direitos), os direitos humanos são históricos, nascidos em certas circunstâncias,
caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e, nascidos de modo gradual, não
todos de uma vez nem de uma vez por todas.

1. Fase antiguidade

• Na antiguidade, destacam-se códigos de comportamento baseado no amor e respeito ao outro;

• Na Suméria antiga, o Rei Hammurabi da Babilônia editou o Código de Hammurabi, que é considerado o primeiro
código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos (1792-1750 a.C.), em especial o
direito à vida, propriedade, honra, consolidando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império.
Chama a atenção nesse Código a Lei do Talião, que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor deveria
receber a mesma ofensa proferida) – o famoso olho por olho, dente por dente.

• No século V a.C., nasce a filosofia, o saber mitológico transforma-se no saber da razão. O ser humano passa a ser
analisado.

• Ciro II editou, no século VI a.C., uma declaração de boa governança, hoje exibida no Museu Britânico (o “Cilindro de
Ciro”), que seguia uma tradição mesopotâmica de autoelogio dos governantes ao seu modo de reger a vida social;

• Grécia: Herança grega na participação política de cidadãos na vida política da “Polis” (democracia direta). Ideário
de liberdade. Glorificavam o homem como a mais importante criatura do universo. Democracia ateniense. Já se
falava em direitos naturais. Lei escrita era fundamento da sociedade política. A lei não escrita era

• fruto da vontade divina. De maneira que a lei escrita não poderia contrariar a lei divina.

• Roma: Consagração de direito como propriedade, liberdade. Surge em Roma a Lei das 12 tábuas; (séc V a.c).
Cícero entendeu que cabia ao homem bom e justo desrespeitar leis postas que contrariassem a justiça universal.

2. Fase da idade média:

• Poder dos governantes ilimitado, fundado na vontade divina. Primeiros documentos de reivindicação da liberdade.

Afirmação histórica dos direitos humanos 3

A L F A C O N
• Cristianismo contribuiu para os direitos humanos: vários trechos bíblicos que pregam igualdade e solidariedade com
o semelhante. Filósofo católico São Tomás de Aquino. A pessoa é uma substância individual de natureza racional,
centro d a Criação pelo fato de ser imagem e semelhança de Deus.

2.1 Magna Carta, 1215

Consistiu em diploma na Inglaterra que limitou os poderes do rei João Sem Terra em proteção ao baronato Inglês.

Características do documento:

Direito de ir e vir em situação de paz;

Direito de ser julgado pelos seus pares e de acordo com a lei da terra (lança a base para o princípio do devido
processo legal)

Bases para o tribunal do júri;

Acesso à justiça e proporcionalidade entre crime e pena;

Respeito à propriedade.

OBS.: A principal inovação na Magna Carta se deu no fato de reconhecer que direitos próprios de dois estamentos livres
– nobreza e clero – existiam, independentemente do consentimento do monarca, e não podiam ser por ele modificado
de forma unilateral.

2.2 Declaração das Cortes de Leão, 1188

Península Ibérica Consistiu em manifestação que consagrou a luta dos senhores feudais contra a centralização e o
nascimento futuro do Estado Nacional.

OBS.: Esses diplomas foram capazes de assegurar o valor liberdade. Essa liberdade NÃO ERA PARA TODOS. Res-
tringia-se a favor de determinados estamentos da sociedade – nobreza e clero.

Afirmação histórica dos direitos humanos 4

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DIREITOS HUMANOS

Afirmação histórica dos


direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Afirmação histórica dos direitos humanos������������������������������������������������������������������� 3

1.  Transição para a fase da idade moderna���������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Petition of Rights, 1628������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

1.2 Habeas Corpus act, 1679�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.3 Declaração de direitos da Inglaterra/Bill of Rights, 1689����������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.4 Act of Settlement, de 1701������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

2.  Constitucionalismo liberal�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

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A L F A C O N
Afirmação histórica dos direitos humanos

1. Transição para a fase da idade moderna

Surgem os primeiros documentos de pedido de liberdade na Inglaterra, mais precisamente no que se refere à limitação
dos poderes absolutos do Rei e à expansão dos poderes do Parlamento.

1.1 Petition of Rights, 1628

Impõe ao rei a obrigação de cumprir a Magna Carta. O baronato inglês estabelece o dever do Rei de não cobrar impostos
sem autorização do Parlamento – “no taxation without representation”.

1.2 Habeas Corpus act, 1679

Efetivou regras processuais para a proteção fundamental do direito de ir e vir. Previsão de entrega do “mandado de
captura” ao preso.

O documento obrigava conduzir o preso em 03 dias a presença de algumas autoridades.

1.3 Declaração de direitos da Inglaterra/Bill of Rights, 1689

O mais importante documento da época. Marca a separação de poderes e fortalecimento do Parlamento como órgão
encarregado de defender os súditos perante o Rei e cujo funcionamento não pode ficar ao arbítrio deste.

Proíbe penas cruéis, fortaleceu o Júri. Súditos têm direito de petição ao Rei. Eleição livre no parlamento.

Obs.: A revolução Gloriosa foi um movimento pacífico inglês, de conteúdo religioso, ocorrido em 1688, substituiu o Rei
Jaime II Stuart por Guilherme III de Orange, resultando no triunfo do Parlamento.

O “Bill of Rights” foi o documento imposto pelo parlamento como condição do príncipe Guilherme III de Orange assumir
o trono inglês.

1.4 Act of Settlement, de 1701

• Reafirma a vontade da lei, resguardando os súditos da tirania.

2. Constitucionalismo liberal

A terminologia decorre da positivação daqueles primeiros direitos – tidos como naturais – e que passam a ser positivados
em documentos em alguns países europeus. É fruto das revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, marcam a
primeira afirmação dos direitos humanos – Direitos Civis e políticos. A revolução inglesa foi a primeira delas.

Portanto, conforme visto, na Revolução Inglesa, tivemos os seguintes documentos:

ͫ Petition of Rights;

ͫ HC Act;

Afirmação histórica dos direitos humanos 3

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ͫ Bill of Rights;

ͫ Act of Setlement.

No EUA:

ͫ Pacto de Mayflower, 1620;

ͫ Declaração de Direitos da Virgínia – 1776

ͫ Declaração de Independência do EUA – 1776

ͫ Constituição Norte Americana de 1787 ( 1º CF)

ͫ 10 emendas à Constituição Americana, 1789;

O Pacto de Mayflower de 1620 foi escrito pelos peregrinos que cruzaram o Atlântico a bordo do navio Mayflower. É uma
espécie de contrato social, um acordo de vontades entre as pessoas que iriam para o EUA para começar a colonização.

A independência das antigas 13 colônias britânicas da América do Norte em 1776, reunidas primeiro sob a forma de
confederação e constituída, em seguida, em Estado Federal, em 1787, representou o ato inaugural da democracia
moderna, combinando sob o regime constitucional a representação popular com a limitação de poder governamentais
e respeito a alguns direitos.

Os governos são instituídos entre os homens para garantir seus direitos naturais, de tal forma que “toda vez que alguma
forma de governo torna-se destrutiva (dos fins naturais de vida em sociedade) é direito do povo alterá-la ou aboli-la e
instituir nova forma de governo”.

Afirmações típicas de promoção aos direitos humanos sob o viés Jusnaturalista. Todos os homens são, por natureza,
igualmente livres e independentes (art. 1º).

Consideramos as seguintes verdades como auto evidentes, a saber: que todos os homens são criaturas iguais,
dotadas pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”

As 10 emendas protegem liberdades fundamentais como a de expressão, religião, a de guardar e usar armas, a de
assembleia e de petição. Assegura a igualdade de todos, de maneira livre e independente como um direito nato. Proíbe
busca e apreensão sem razão alguma, o castigo cruel e a confissão forçada, entre outros direitos.

Na França:

Declaração Francesa dos direitos do homem e do cidadão de 1789:

Consagra liberdade, igualdade e fraternidade. Levou a abolição de privilégios de várias castas e a emancipação de poder
pelo povo em substituição ao monarca.

Liberdade e igualdade entre os homens, necessidade de conservação de seus direitos naturais, ou seja, liberdade,
propriedade, segurança e resistência à opressão, autonomia da nação, legalidade, participação popular, entre outros.

A Declaração Francesa foi referência para diversas Constituições no mundo.

Afirmação histórica dos direitos humanos 4

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DIREITOS HUMANOS

Afirmação histórica dos


direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Afirmação histórica dos direitos humanos������������������������������������������������������������������� 3

1.  Fase do constitucionalismo social�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Constituição Mexicana, 1917��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.2 Constituição de Weimar (Alemã), 1919���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.3 Organização internacional do trabalho, 1919 (OIT):������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Precedentes históricos para a internacionalização dos direitos humanos:���������������������������������������������������������� 4

2.1 Direito humanitário������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

2.2 Liga das Nações���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

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A L F A C O N
Afirmação histórica dos direitos humanos

1. Fase do constitucionalismo social

A fase do denominado constitucionalismo social marca o surgimento dos direitos de 2ª geração: direitos sociais, eco-
nômicos e culturais.

O liberalismo político e econômico à época resultou em desigualdade. Dessa maneira, a sociedade começou a demandar
do Estado uma intervenção – direitos prestacionais – para diminuir tais desigualdades.

O chamado Estado de Bem Estar Social – Estado Social – caracteriza-se:

• Estado intervencionista;

• Tem papel decisivo na distribuição de bens de produção;

• Garante o bem-estar mínimo da população.

1.1 Constituição Mexicana, 1917

Primeira a atribuir aos direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais – positivados na Constituição.

Ex.: Limitação da jornada de trabalho, desemprego, proteção da maternidade, idade mínima de admissão de empregados
nas fábricas e o trabalho noturno de menores.

1.2 Constituição de Weimar (Alemã), 1919

Previsão de direitos civis e políticos e direitos sociais.

Estabeleceu pela primeira vez na história a regra da igualdade jurídica entre marido e mulher, equiparou os filhos ilegíti-
mos aos legítimos (havidos no matrimônio). Família e juventude postas sob a proteção do Estado. Previsão de educação
pública e direitos trabalhistas. Função social da propriedade: “a propriedade obriga”.

1.3 Organização internacional do trabalho, 1919 (OIT):

A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), que deu
fim à Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição corresponde à Parte XIII do Tratado de Versalhes.

A ideia de uma legislação trabalhista internacional surgiu como resultado das reflexões

éticas e econômicas sobre o custo humano da revolução industrial.

A criação de uma organização internacional para as questões do trabalho baseou-se em argumentos:

• Humanitários: condições injustas, difíceis e degradantes de muitos trabalhadores,

• Políticos: risco de conflitos sociais ameaçando a paz, e

• Econômicos: países que não adotassem condições humanas de trabalho seriam um obstáculo para a obtenção de
melhores condições em outros países.

Afirmação histórica dos direitos humanos 3

A L F A C O N
Trata, portanto, de Direitos trabalhistas de cunho universal. Direitos sociais e econômicos.

ATENÇÃO: Perceba que, no plano internacional, a OIT criando direitos trabalhistas, de segunda geração, sur-
gem antes mesmo dos direitos de 1ª Geração, razão pela qual o doutrinador Cançado Trindade critica a teoria
geracional, como historicamente incorreta.

OBS.: É citada a obra: Manifesto do partido comunista de Engels e Marx como documento relacionado ao consti-
tucionalismo social.

2. Precedentes históricos para a internacionalização dos direitos


humanos:

• Direito humanitário;

• Organização Internacional do Trabalho (OIT);

• Liga das nações.

2.1 Direito humanitário

O direito humanitário trata de situações específicas de conflitos armados (internacionais e não internacionais. Surgimento
da Cruz Vermelha em 1863 (organização não governamental que dá assistência às vítimas de guerra).

2.2 Liga das Nações

A Liga das Nações era organizada de uma maneira bem semelhante à da atual ONU. É um embrião da ONU.

Liga das Nações ou Sociedade das Nações era o nome de uma organização internacional criada em 1919 e autodis-
solvida em 1946 e que tinha como objetivo reunir todas as nações da Terra e, através da mediação e arbitragem entre
elas em uma organização, manter a paz e a ordem no mundo inteiro, evitando assim conflitos desastrosos como o da
guerra que recentemente devastara a Europa.

Instalada em janeiro de 1919, pelo Tratado de Versalhes, o mesmo que colocava termo à Primeira Guerra, sua sede era
Genebra, cidade suíça.

OBS.: Alguns doutrinadores citam a luta contra a escravidão, cujo documento de destaque é o Ato Geral da
Conferência de Bruxelas de 1890 como precedente histórico para a internacionalização dos direitos humanos.

Afirmação histórica dos direitos humanos 4

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DIREITOS HUMANOS

Afirmação histórica dos


direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Afirmação histórica dos direitos humanos������������������������������������������������������������������� 3

1.  Internacionalização dos direitos humanos������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

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A L F A C O N
Afirmação histórica dos direitos humanos

1. Internacionalização dos direitos humanos

• Carta de São Francisco – criação da ONU – 1945;

• Declaração Universal de Direitos Humanos – 1948;

• Pacto internacional de direitos civis e políticos – 1966;

• Pacto internacional de direitos econômicos, sociais e culturais – 1966.

O direito internacional dos direitos humanos é aquele que visa a proteger todos os indivíduos, qualquer que seja sua
nacionalidade e independentemente do local em que se encontrem.

A internacionalização significa que os direitos inerentes ao ser humano deixam de ser preocupação meramente interna
e passam a agregar o direito internacional público.

Até meados do século XX, o Direito Internacional possuía apenas normas internacionais esparsas referentes a certos
direitos essenciais, como os precedentes históricos (OIT, Liga das Nações e direito humanitário).

Contudo, a criação do direito internacional dos direitos humanos está relacionada à nova organização da sociedade
internacional no pós-segunda guerra mundial.

Inicialmente, a ONU foi criada pela Carta de São Francisco em 1945 e destinada a manter a paz e a segurança inter-
nacionais, bem como promover relações de amizade entre as nações, cooperação internacional e respeito aos direitos
humanos.

A Carta fala sobre o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, mas não os especifica, como exemplo,
o art. 55, alínea c, que determina que a Organização deve favorecer:

“o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua, ou religião”.

Com intuito de especificar quais seriam esses direitos humanos e liberdades fundamentais, é criada a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos como o primeiro documento internacional - válidos para todos os seres humanos - trazendo,
a um só tempo, direitos civis e políticos.

Ao lado da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Carta das Nações Unidas de 1945 é considerada um
dos principais marcos à concepção contemporânea dos direitos humanos.

No entanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos não tinha mecanismos de fiscalização, razão pela qual, no
intuito de dar juridicidade ao sistema global, foram criados em 1966 o Pacto Internacional de direitos civis e políticos e
o Pacto internacional de direitos econômicos, sociais e culturais.

A internacionalização dos direitos humanos tem as seguintes consequências

• Universalidade dos direitos;

• Indivisibilidade dos direitos;

• Relativização da soberania dos Estados;

Afirmação histórica dos direitos humanos 3

A L F A C O N
• Titularidade de direitos ao cidadão universal → Transnacionalidade.

Se as guerras mundiais significaram a ruptura com os direitos humanos, o pós-guerra deveria significar sua
reconstrução.

As novas obrigações internacionais contidas sobretudo na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 voltam-se
à salvaguarda de direitos do ser humano e não das prerrogativas do Estado.

A internacionalização dos direitos humanos rompe com a noção de soberania nacional absoluta, na medida em que
admitem intervenções no plano nacional, em prol da proteção dos direitos humanos, sobretudo com relação aos tratados
internacionais que os países se obrigaram.

No plano global, existiram três conferências mundiais para reafirmar a internacionalização dos direitos humanos:

• 1ª Conferência de Direitos Humanos de Teerã, 1968: Teve por finalidade avaliar a experiência mundial do surgimento
do sistema global e também da necessidade de implementação dos direitos humanos;

• 2ª Conferência Mundial de Viena, 1993: Afirmou que os direitos humanos são universais, indivisíveis e
inter-relacionados.

Convenção de Viena, 1993 → item 5: Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e
inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa,
em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em
consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econô-
micos e culturais.”

• 3ª Conferência Mundial – Declaração do Milênio de 2000: Teve por finalidade identificar desafios para o novo milênio.

Afirmação histórica dos direitos humanos 4

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos e
responsabilidade do
estado

Versão Condensada
Sumário
Direitos humanos e responsabilidade do estado���������������������������������������������������������� 3

1.  Noções introdutórias����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

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Direitos humanos e responsabilidade do

estado

1. Noções introdutórias

O direito internacional contemporâneo consolidou um catálogo de direitos fundamentais da pessoa e, simultaneamente,


também foram estabelecidos mecanismos de supervisão e controle do respeito, pelo Estado, desses mesmos direitos
protegidos.

A implementação dos direitos humanos ocorre em três fases:

• 1° momento: Consagrar direitos em documentos internacionais;

• 2° momento: Captar os direitos de sua natural zona de flutuação por meio de dispositivos próprios;

• 3° momento: Assegurar a responsabilização de seus contumazes agentes violadores

O terceiro momento trata da implementação dos direitos humanos.

Lembrando que os direitos humanos que se positivam em normas internacionais podem provir do sistema global (per-
tencente à ONU e, por isso, chamado de “onusiano”) ou de sistemas regionais de proteção (sistema interamericano,
europeu e africano).

Cada sistema de proteção possui normas, órgãos e mecanismos.

As normas relacionam-se com os tratados internacionais em sentido amplo. Os órgãos podem ser judiciais, quase
judiciais ou políticos.

Os órgãos judiciais têm função contenciosa – julgarão os Estados que violarem direitos humanos previstos em tratados
internacionais.

Os órgãos quase judiciais são assim chamados pois podem receber petição individual reclamadora de alguma violação
a direito previsto em tratado do qual aquele Estado seja signatário.

Os órgãos políticos têm competência administrativa;

Os mecanismos, basicamente, relacionam-se a fiscalização do cumprimento (ou não) de Estados aos tratados
internacionais.

Os sistemas de proteção são dotados dos princípios da coexistência, subsidiariedade, livre- escolha e cooperação.

Ao Estado incumbe, portanto, respeitar e garantir os direitos elencados nas normas internacionais.

A responsabilidade internacional consiste em obrigação internacional de reparação em face de violação prévia de norma
internacional, sendo considerado por alguns como princípio geral do Direito Internacional.

A responsabilidade internacional chama-se objetiva, ou seja, independe da vontade do Estado em praticar o ato ilícito
– não se discute culpa ou dolo.

Pode-se falar, basicamente, em duas ordens/espécies de obrigações estatais:

Direitos humanos e responsabilidade do estado 3

A L F A C O N
• adequação do direito interno - art. 2, 2 PIDCP, art. 2, 1, PIDESC e art. 2º, CADH) – exemplo da Lei Maria da Penha
(Lei 11.340\2016);

• respeito e garantia por parte dos Estados.

OBS.: Os tratados internacionais têm natureza de regime objetivo, ou seja, quando um país assina um tratado inter-
nacional, obriga-se a respeitar o tratado. Não há qualquer direito estabelecido ao País, só dever. Portanto, a natureza
objetiva dos tratados quer dizer que o conteúdo de tratado não estabelece direitos e obrigações, mas só obrigações.

Por cláusula federal, entende-se que o Brasil é Estado federal uno e, portanto, passível de responsabilização mesmo
quando o fato internacionalmente ilícito seja de atribuição interna de um Estado-membro. A União atua como ente com
personalidade jurídica internacional (art. 21, I, CF – competência para as relações internacionais), sendo responsável.

A prática do direito internacional destaca três elementos da responsabilidade internacional: fato internacionalmente
ilícito, resultado lesivo e nexo causal entre o fato e o resultado lesivo.

Quanto ao fato internacionalmente ilícito ou simplesmente conduta lesiva consiste no descumprimento dos deveres
básicos de garantia e respeito aos direitos fundamentais inseridos nas dezenas de convenções internacionais ratificadas
pelos Estados.

O resultado lesivo é toda a gama de prejuízos materiais e morais causados à vítima e familiares.

A imputabilidade ou nexo causal consiste no vínculo entre a conduta do agente e o Estado responsável. O Estado
comete atos violadores do Direito internacional por intermédio de pessoas e é sempre necessário avaliar quais atos por
elas cometidos podem vincular o Estado. Não importa a natureza ou tipo de ato, o importante será o conceito jurídico
de imputação.

A responsabilidade do Estado pode derivar de atos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

Direitos humanos e responsabilidade do estado 4

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos e
responsabilidade do
estado

Versão Condensada
Sumário
Direitos humanos e responsabilidade do estado���������������������������������������������������������� 3

1.  Responsabilidade por atos do poder executivo����������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Responsabilidade atos do poder legislativo���������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

3.  Responsabilidade por atos do poder judiciário������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

4.  Formas de reparação���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

4.1 Reparação integral (restitutio in integrum ou retorno ao status quo ante)����������������������������������������������������������������� 4

4.2 Cessação do ilícito������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 4

4.3 Satisfação��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

4.4 Indenização�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

4.5 Garantias de não repetição�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

4.6 Sanções internacionais������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

5.  Casos de condenação do brasil perante corte interamericana����������������������������������������������������������������������������� 5

 2

A L F A C O N
Direitos humanos e responsabilidade do

estado

1. Responsabilidade por atos do poder executivo

Atos comissivos ou omissivos: Estado pratica ou deixa de praticar. Cabe ao Estado respeitar e garantir os direitos
humanos, tais obrigações ensejam responsabilização quando seus agentes violam direitos humanos ou se omitem
injustificadamente, na prevenção ou repressão de violações realizadas por particulares.

Atos “ultra vires”: atos praticados com abuso de poder ou abuso de autoridade. Ato que parece legal/legítimo, mas
esconde um abuso de autoridade, os agentes extrapolam a competência legal. Ex. violência policial.

Atos de particulares: exige-se descumprimento do dever de prevenção ou punição por parte do Estado. BRASIL - Caso
José Pereira: trabalhador que procurava oportunidade de emprego, um dia viu proposta para trabalhar em Fazenda no
Pará, só que, na verdade, era praticamente um campo de trabalho escravo. José Pereira, ao tentar fugir, levou um tiro
no olho, enquanto outros trabalhadores morreram. O Brasil reconheceu sua responsabilidade por não ter fiscalizado
corretamente (solução amistosa).

2. Responsabilidade atos do poder legislativo

Todas as leis, inclusive a Constituição, podem ensejar violação aos direitos humanos e à consequente responsabilização
do Estado. Em geral, não são aceitos casos sem elementos concretos de violação de direitos humanos, mas já houve
situações em que este critério foi abrandado.

3. Responsabilidade por atos do poder judiciário

A sentença é ato como outro qualquer, apenas será analisado se aquela sentença, independentemente de seu conteúdo,
viola tratado internacional.

Há ainda um tema muito sensível no caso dos atos do poder judiciário, é o caso da impunidade, que consiste na falta
de investigação, persecução criminal, condenação e detenção dos responsáveis pelas violações de direitos humanos:
há dever estatal de reprimir a impunidade por todos os meios legais disponíveis, evitando repetições crônicas de vio-
lações. O Estado pode ser também responsabilizado, portanto, pela omissão em punir. Lembrando que a obrigação de
investigar e punir é de meio e não de resultado.

OBS.: A responsabilidade internacional é subsidiária, ou seja, só haverá o acionamento de cortes internacionais


na hipótese de esgotamento do direito interno.

Portanto, os órgãos internacionais somente devem atuar de forma subsidiária, quando os órgãos internos forem
ineficientes para promover a tutela dos direitos.

Direitos humanos e responsabilidade do estado 3

A L F A C O N
A responsabilidade tem finalidades preventivas e repressivas.

Por finalidade preventiva entende-se a busca pelo respeito aos direitos humanos pelo Estado de forma prévia, estabelece
limites a atuação do Estado. Tem caráter pedagógico.

Por finalidade repressiva, entende-se que violado um tratado internacional e, desde que esgotado o direito interno, as
cortes internacionais podem condenar um Estado por tal violação.

No Brasil nós temos três sistemas concomitantes de proteção aos direitos humanos/fundamentais:

ͫ Sistema interno de proteção → Previsto na CF → Responsabilidade pela proteção desses direitos é PRIMÁRIA;

ͫ Sistema interamericano de proteção → OEA – Organização dos Estados Americanos. A responsabilidade é sub-
sidiária. Em regra, só atua com o esgotamento do sistema interno de proteção.

ͫ Sistema global ou onusiano → ONU. A responsabilidade é subsidiária. Em regra, só atua com o esgotamento do
sistema interno de proteção.

Portanto, do esgotamento do direito interno que resultar omissão, ineficácia ou ineficiência na reparação do dano, surge
a possibilidade de se postular perante órgãos internacionais a proteção contra a violação de direitos.

OBS.: Via de regra, a responsabilização de um Estado decorre do descumprimento de um tratado internacional.


Todavia, existem as normas de jus cogens que trata diretamente de cláusula ligada à dignidade da pessoa humana,
com relação à violação a tais normas, pode ocorrer responsabilização de um Estado mesmo que este não tenha
assumido compromisso internacional e ratificado o tratado internacional que versa sobre o tema.

4. Formas de reparação

A reparação é a consequência maior do descumprimento da obrigação internacional. Entendendo-se por reparação


toda e qualquer conduta do Estado infrator para eliminar as consequências do fato internacionalmente ilícito, sendo o
retorno ao status quo ante a essência da reparação, sem excluir outras formas.

4.1 Reparação integral (restitutio in integrum ou retorno ao status quo ante)

É a melhor fórmula na defesa das normas internacionais. Permite a completa eliminação da conduta violadora e de seus
efeitos, por isso há preferência sobre a prestação pecuniária.

4.2 Cessação do ilícito

O Estado violador de obrigação internacional deve interromper imediatamente sua conduta ilícita, sem prejuízo de outras
formas de reparação. A cessação é considerada exigência básica para a completa eliminação das consequências do
fato ilícito internacional.

4.3 Satisfação

Conjunto de medidas, aferidas historicamente, capazes de fornecer fórmulas extremamente flexíveis de reparação a
serem escolhidas, em face dos casos concretos, pelo juiz internacional.

Em geral, três modalidades de satisfação são escolhidas:

ͫ Estado violador reconhece a ilegalidade do fato e declara seu pesar quanto ao ocorrido;

Direitos humanos e responsabilidade do estado 4

A L F A C O N
ͫ Fixação de somas nominais e indenização punitiva (“punitive damages”), sendo toda a quantia apurada revertida
à vítima;

ͫ Obrigações de fazer, cuja escolha fica a cargo do juiz internacional, de forma a reparar adequadamente as vítimas,
dentre estas destacamos a reabilitação (apoio médico e psicológico necessário às vítimas), estabelecimento de
datas comemorativas em homenagem às vítimas e inclusão em manuais escolares textos relatando as violações
de direitos humanos.

4.4 Indenização

Pagamento em dinheiro, em geral. Utilizada quando não for possível a eliminação por completo da violação pelo retorno
ao status quo ante. A indenização deve ser utilizada como forma complementar à reparação integral, se esta for insu-
ficiente para reparar os danos constatados.

4.5 Garantias de não repetição

Estado garante que a conduta violadora de obrigação internacional não vai mais se repetir. Apenas nos casos em que
existe risco de repetição da conduta. Pode ser fixado o dever do Estado de investigar e punir os responsáveis pelas
violações.

4.6 Sanções internacionais

São mecanismos políticos. A comunidade internacional se junta e sanciona o Estado. Em regra, são políticas, mas podem
ser econômicas. O problema é que normalmente quem sofre com essas sanções é a população vulnerável do Estado
violador.

5. Casos de condenação do brasil perante corte interamericana

CASO XIMENES LOPES VS. BRASIL DATA DA SENTENÇA: 04.07.2006

RESUMO DO CASO: Damião Ximenes Lopes acometido por uma deficiência mental de origem orgânica, proveniente de
alterações no funcionamento do cérebro, foi internado na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral/CE.

Faleceu em decorrência dos maus tratos sofridos por funcionários da Casa, não tendo recebido qualquer assistência
médica na ocasião.

CASO GILSON NOGUEIRA DE CARVALHO E OUTROS VS. BRASIL

Data da sentença: 28 de novembro de 2006

Resumo do caso: O caso, apresentado à Comissão Interamericana por entidades de proteção de direitos humanos, trata
da suposta responsabilidade do Brasil pela morte do advogado ativista de direitos humanos, Gilson Nogueira de Car-
valho, em 20/10/1996, uma vez que seu direito à vida não havia sido garantido, bem como o Estado não havia realizado
uma investigação séria sobre sua morte.

CASO ESCHER E OUTROS VS. BRASIL

Data da sentença: 06 de julho de 2009

Direitos humanos e responsabilidade do estado 5

A L F A C O N
Resumo do Caso: O caso trata de ilegalidades ocorridas em interceptação telefônica realizada, a pedido da Polícia Mili-
tar do Estado do Paraná, nas linhas telefônicas de Arlei José Escher e outros membros integrantes de entidades que
mantinham relação com o Movimento dos Sem Terra (MST), com o qual compartilhavam o motivo comum de promover
a reforma agrária.

CASO GARIBALDI VS. BRASIL

DATA DA SENTENÇA: 23 de setembro de 2009

Resumo do caso: Despejo extrajudicial manu militari para em desfavor de cinquenta famílias, todas pertencentes ao
movimento sem terra – MST. Um integrante do MST foi baleado, o Sr. Sétimo Garibaldi, que não resistiu aos ferimentos
e faleceu no local, em decorrência de inexistência de atendimento médico, após este fato, o grupo de homens enca-
puzados fugiu do local, sem consumar a ação de despejo.

GOMES LUND E OUTROS VS. BRASIL – “CASO GUERRILHA DO ARAGUAIA”

RESUMO DO CASO: O caso Gomes Lund e outros vs. Brasil, popularmente conhecido como “caso Guerrilha do Araguaia”,
trata da responsabilidade do Estado brasileiro pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de aproxi-
madamente setenta pessoas, entre elas integrantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e camponeses da região do
Araguaia, situada no Estado do Tocantins, entre 1972 e 1975. Ocorre que, no dia 28 de agosto de 1979, o Brasil aprovou
a Lei Federal n°6.683, popularmente conhecida como “Lei da Anistia”. Esse diploma normativo perdoou todos aqueles
que haviam cometido crimes políticos ou conexos com eles no período da ditadura militar, o que acabou gerando a
irresponsabilidade de todos os agentes do Estado brasileiro que participaram dos massacres ocorridos no período da
ditadura, inclusive em relação aos fatos ocorridos na região do Araguaia.

CASO TRABALHADORES DA FAZENDA BRASIL VERDE VS. BRASIL

Data da sentença: 15 de dezembro de 2016

Resumo do caso: O caso trata do trabalho escravo constatado pelas autoridades estatais em fazenda localizada no Pará,
após diversas denúncias entre os anos de 1988 e 1989. O processo penal instaurado em 1997 em razão da condição
análoga à de escravo foi extinto em 2007 em virtude da prescrição.

CASO COSME ROSA GENOVEVA E OUTROS VS. BRASIL (“CASO FAVELA NOVA BRASÍLIA”)

Data da sentença: 11-05-2017

Resumo do caso: O caso trata de vinte e seis execuções praticadas durante operação policial em favela do Rio de
Janeiro nos dias 18 de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995. Algumas das vítimas eram adolescentes, que teriam sido
submetidos a práticas sexuais e atos de tortura antes de serem executados. As mortes ocorridas foram apuradas pelas
autoridades policiais com o levantamento de “autos de resistência à prisão”. Todos os crimes permaneceram impunes
e encontram-se prescritos no ordenamento jurídico brasileiro.

CASO XUCURU VS. BRASIL

Data da sentença: 5 fevereiro 2018

Resumo do caso: Trata-se da primeira condenação do Brasil na Corte IDH por violação de direitos dos povos indígenas.

Direitos humanos e responsabilidade do estado 6

A L F A C O N
CASO VLADIMIR HERZOG VS. BRASIL

Data da sentença: 15 de março de 2018

Resumo: A denúncia em face do Estado brasileiro relatou a ocorrência de prisão arbitrária, tortura e morte do jornalista
Vladimir Herzog em dependências do Exército, ocorridos em outubro de 1975.

Obs.: No caso Maria da Penha, o Brasil não foi condenado pela corte, tão somente cumpriu obrigação de edição
da lei 11.340/06 (entre outras obrigações), pela comissão interamericana de direitos humanos, a qual não tem
competência contenciosa (julgamento).

Direitos humanos e responsabilidade do estado 7

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

A constituição brasileira e
os tratados internacionais

Versão Condensada
Sumário
A constituição brasileira e os tratados internacionais������������������������������������������������� 3

1.  Análise do art. 1° ao 2° da constituição federal������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

 2

A L F A C O N
A constituição brasileira e os tratados

internacionais

Nesse ponto, iremos abordar os principais tópicos de menção aos direitos humanos na Constituição Federal. Aqui, há
um ponto forte de interseção com a disciplina de direito constitucional. Não trataremos de toda a extensão dos direitos
e garantias fundamentais na Constituição Federal, apenas daqueles pontos considerados específicos da matéria de
direitos humanos.

A Constituição Federal de 1988 surge no período de redemocratização após 21 anos de ditadura militar - 1964 a 1985.
A chamada Constituição Cidadã instaura um Estado Democrático de Direito, trazendo o mais longo catálogo de direitos
fundamentais e a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado e valor central do nosso Ordenamento
Jurídico.

Trouxe uma autonomia e independência funcional do Ministério Público e uma missão de defesa de direitos humanos. A
Defensoria Pública inserida como função essencial à Justiça aceita a internacionalização dos direitos humanos, adere
a tribunais internacionais e expõe princípios nas relações internacionais.

Há um movimento constitucional pós-segunda guerra mundial que modifica o fundamento positivista para um pós-po-
sitivismo, o qual é chamado de neoconstitucionalismo.

Segundo Flávia Piovesan, intenta-se a reaproximação da ética e do direito, e, neste esforço, surge a força normativa
dos princípios, especialmente do princípio da dignidade humana. Há um reencontro com o pensamento kantiano, com
as ideias de moralidade, dignidade, direito cosmopolita e paz perpétua. Para Kant, as pessoas devem existir como um
fim em si mesmo e jamais como um meio, a ser arbitrariamente usado para este ou aquele propósito.

Com o Neoconstitucionalismo temos, também, o fortalecimento do Poder Judiciário pela judicialização das políticas
públicas, garantindo o mínimo existencial.

1. Análise do art. 1° ao 2° da constituição federal

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

A constituição brasileira e os tratados internacionais 3

A L F A C O N
III- a dignidade da pessoa humana;

IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

O art. 1º da Constituição Federal já trata da forma de governo republicana que se caracteriza pelo caráter eletivo, repre-
sentativo e transitório dos detentores do poder político, além de responsabilidade dos governantes.

Trata, também, da forma federativa do Estado, com a divisão do poder político em entidades federativas, todas com
autonomia.

O Estado Democrático de direito é o regime político adotado e garantia de uma sociedade pluralista em que todas as
pessoas se submetem as leis e ao direito que são criadas pelo povo, por representantes eleitos.

A democracia é semidireta ou participativa, de modo que há um regime híbrido entre democracia representativa (regra)
e democracia direta, por exemplo, em um referendo, plebiscito.

Os fundamentos da República (art. 1º CF – soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana e valores sociais do
trabalho e da livre-iniciativa) convergem para uma proteção global dos direitos humanos.

No que se relaciona aos fundamentos:

A soberania relaciona-se à independência na ordem externa e a supremacia na ordem interna. O movimento pós-se-
gunda guerra mundial trouxe a ideia de relativização da soberania pela inscrição dos Países a uma série de tratados
internacionais.

A cidadania refere-se à participação política do cidadão na formação da vontade do Estado, votando, sendo votado ou
fiscalizando os atos do poder público.

A dignidade da pessoa humana é o valor central do nosso Ordenamento jurídico e se refere à qualidade intrínseca
e distintiva de cada ser humano. A dignidade pode ser entendida em um sentido negativo – vedação ao tratamento
desumano, arbitrário e degradante e, também, em um sentido positivo – assegurar condições materiais mínimas de
sobrevivência. Trata-se do chamado mínimo existencial.

A dignidade da pessoa humana pode ser utilizada para:

• Fundamentar a criação de novos direitos;

• Interpretação adequada de um determinado direito;

• Limite a atuação do Estado;

• Juízo de ponderação entre direitos fundamentais que estão colidindo entre si;

O valor social do trabalho refere-se à relação capital-trabalho.

O pluralismo político é traço do pensamento liberal, desdobramento do princípio democrático, autorizando em uma
sociedade a existência de uma série de convicções de pensamentos, de planos e projetos de vida, todos devidamente
respeitados. Respeito a alteridade.

A constituição brasileira e os tratados internacionais 4

A L F A C O N
A CF determinou que o Brasil deveria cumprir nas suas relações internacionais o princípio da “prevalência dos direitos
humanos” (art. 4º, II CF), assim como a formação de um tribunal internacional de direitos humanos (art. 7º ADCT – Ato
das disposições constitucionais transitórias).

Cumprindo esse comando constitucional, o Brasil celebrou diversos tratados internacionais e reconheceu em 1998 a
jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos (julga Estados – sistema regional) e, em 2002, a jurisdição do
Tribunal Penal Internacional – Estatuto de Roma (julga pessoas que cometeram graves violações a direitos humanos).

A constituição brasileira e os tratados internacionais 5

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

A constituição brasileira e
os tratados internacionais

Versão Condensada
Sumário
A constituição brasileira e os tratados internacionais������������������������������������������������� 3

1.  Análise dos parágrafos do art. 5° da constituição federal������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Incidente de deslocamento de competência (federalização dos crimes contra os direitos humanos)��������������� 4

 2

A L F A C O N
A constituição brasileira e os tratados

internacionais

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional;

- Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

- Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

- independência nacional;

- prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos;

- não-intervenção;

- igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz;

- solução pacífica dos conflitos;

- repúdio ao terrorismo e ao racismo;

- cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

No que se relaciona aos arts 3º e 4º da CF, basta uma leitura atenta da lei seca.

1. Análise dos parágrafos do art. 5° da constituição federal

ͫ Art. 5º, §1º da Constituição Federal:

As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

O que seria ter aplicação imediata? Segundo André Carvalho, esses direitos são tendencialmente completos, ou seja,
aptos a serem invocados desde logo pelo indivíduo que teve o direito violado.

A doutrina majoritária, portanto, entende que o dispositivo acima é uma norma-princípio, estabelecendo uma ordem de
otimização, uma determinação para que se confira a maior eficácia possível aos direitos fundamentais.

ͫ Art. 5º, §2º da Constituição Federal:

Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte

A constituição brasileira e os tratados internacionais 3

A L F A C O N
É a chamada cláusula de abertura material dos direitos fundamentais, o que expressa, inclusive, a característica de
inexaurabilidade dos direitos humanos.

Os direitos são demandas sociais que podem surgir ao longo do tempo, daí a necessidade de se abrir o catálogo de
direitos fundamentais para abranger outras possibilidades de acordo com a evolução social.

ͫ Art. 5°, §4° da Constituição Federal:

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A CF determinou que o Brasil deveria cumprir nas suas relações internacionais o princípio da “prevalência dos direitos
humanos” (art. 4º, II CF), assim como a formação de um tribunal internacional de direitos humanos (art. 7º ADCT – Ato
das disposições constitucionais transitórias) → Cumprindo esse comando constitucional, o Brasil celebrou diversos
tratados internacionais e reconheceu em 1998 a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos (julga Esta-
dos – sistema regional) e, em 2002, a jurisdição do Tribunal Penal Internacional – Estatuto de Roma. (julga pessoas que
cometeram graves violações a direitos humanos).

O Direito Internacional Penal é ramo do Direito Internacional Público. Rompe-se com a barreira de que só os Estados
podem ser responsabilizados e cria condições para a cidadania universal do indivíduo, sendo sujeito de direitos no
plano internacional.

Vejamos os antecedentes históricos na formação do tribunal internacional:

ͫ Tratado de Versalhes em 1919 previa a criação de um tribunal especial para julgar o Kaise Guilherme da Alemanha,
responsabilizando-o pelo início da primeira guerra mundial;

ͫ Tribunal de Nuremberg de 1945 julgou os crimes praticados por nazistas na segunda guerra mundial;

ͫ Tribunal de Tóquio de 1946 julga integrantes do núcleo militar e civil do governo japônes;

ͫ Resoluções do Conselho da ONU criando tribunais penais para a ex-Iuguslavia e Ruanda;

ͫ Tribunal Penal Internacional – Estatuto de Roma em 1998 Personalidade Jurídica Internacional. Julga os crimes de
genocídio, crimes contra humanidade, crimes de guerra e de agressão. Os crimes são imprescritíveis e possuem
a possibilidade de prisão perpétua e entrega de um nacional para ser julgado.

2. Incidente de deslocamento de competência (federalização dos


crimes contra os direitos humanos)

Trata-se de incidente de deslocamento da competência, da justiça estadual para a justiça federal. (art.109, §5º, CRFB/88–
incluído pela Emenda constitucional n° 45/04).

O art. 109, §5º da CF dispõe que:

Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador- Geral da República, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente
de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A constituição brasileira e os tratados internacionais 4

A L F A C O N
A competência poderá ser deslocada da justiça estadual para a justiça federal em qualquer fase do inquérito ou do
processo judicial, quando estiver diante de caso de grave violação aos direitos humanos.

A competência para suscitar o incidente será do Procurador Geral da República - PGR e será julgado pelo Superior
Tribunal de Justiça (aqui a prova vai tentar te enganar trocando STJ por STF).

Registre-se que há um requisito implícito, muito importante, que pode cair na sua prova:

Não basta que ocorra uma grave violação de direitos humanos para falarmos em deslocamento de competência,
é preciso estar evidenciada uma conduta das autoridades estaduais reveladora de falha proposital por negligência,
imperícia ou imprudência na condução de seus atos que maculem o direito protegido ou ainda que revele demora
injustificada na investigação ou na prestação jurisdicional gerando risco de responsabilização internacional.

Vamos sintetizar os requisitos do IDC previsto no art. 109, §5º CF:

• Legitimidade exclusiva do Procurador-Geral da República para provocar o IDC;

• Competência privativa do STJ para julgamento;

• O caso se refira à grave violação a direitos humanos (ex.: violação à vedação da tortura);

• Abrangência cível ou criminal;

• Deslocamento pode ocorrer na fase pré-processual (investigação) ou processual (ação penal ou cível);

• Relaciona-se ao cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos cele-


brados pelo Brasil;

• Fixa a competência da Justiça Federal uma vez julgado procedente pelo STJ;

• Conduta negligente das autoridades estaduais ou demora injustificada (requisito implícito)

Casos de IDC já julgados pelo STJ:

1º caso: Caso da Irmã Doroty Stang. O STJ não aceitou o incidente, pois não havia provas de que a Justiça Estadual
estava inerte no julgamento do caso.

2º caso: Manoel bezerra de matos – deferido em 2010. Advogado humanista executado na fronteira de Pernambuco
e Paraíba.

3º Caso: Caso de grupo de extermínio e violência policial em Goiás. Julgado parcialmente procedente;

4º Caso: Homicídio do promotor de justiça Thiago Faria Soares julgado procedente.

A constituição brasileira e os tratados internacionais 5

A L F A C O N
DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos na
Constituição Federal

Versão Condensada
Sumário
Direitos humanos na Constituição Federal������������������������������������������������������������������� 3

1.  Análise do art. 5°, § 3º da Constituição Federal������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

2.  Fases dos tratados internacionais (iter dos tratados)������������������������������������������������������������������������������������������� 4

3.  Controle de convencionalidade������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 5

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Direitos humanos na Constituição Federal

1. Análise do art. 5°, § 3º da Constituição Federal

Art. 5º, §3º da Constituição Federal: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem apro-
vados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Internalização
de tratados internacionais sobre direitos humanos, os quais terão status de EC, nos moldes do art. 60 da CF.

Acreditamos que pelo menos uma questão sairá desse ponto. Não podemos errar!!

Inicialmente, cabe destacar que os tratados internacionais têm igual hierarquia no âmbito internacional. Por exemplo, o
pacto internacional de direitos civis e políticos (PIDCP – 1966 – sistema global) tem a mesma hierarquia da convenção
americana de direitos humanos (pacto de São José da Costa Rica – sistema americano OEA).

No Brasil, no entanto, a depender do conteúdo do tratado e a forma como é incorporado no ordenamento jurídico,
temos diferentes graus de hierarquia do tratado. A Carta de 1988 acolhe um sistema misto que combina regimes jurí-
dicos diferenciados, um aplicável aos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos e o outro aplicável aos
tratados tradicionais.

A regra geral é que os tratados internacionais, ditos tradicionais, tenham o status de lei ordinária (art. 59 da Constituição
Federal), quando incorporados ao sistema jurídico brasileiro.

A diferença principal se refere aos tratados internacionais que versem sobre direitos humanos.

O art. 5º § 3º diz que: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Portanto, os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados sob o mesmo rito formal (votação em dois
turnos nas duas casas do Congresso, com maioria de três quintos) daquele previsto para as Emendas Constitucionais
(ver art. 60, §2º CF) serão EQUIVALENTES às emendas.

E os tratados internacionais de direitos humanos que não forem aprovados sob esse rito formal? E os tratos internacio-
nais de direitos humanos incorporados ao ordenamento antes da EC nº 45/2004?

Nesse caso, o STF decidiu que, para todos os demais tratados internacionais de direitos humanos, que sejam anteriores
a EC n. 45 ou que tenham sido aprovados pelo rito comum (maioria simples, turno único em cada casa do Congresso),
terão natureza SUPRALEGAL, estariam acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição Federal.

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Dessa forma, o Brasil adota a teoria do duplo estatuto
dos tratados internacionais: natureza constitucional
Tratados internacionais que versam sobre direitos hu-
no caso do art. 5º, §3 CF e natureza supralegal para
manos aprovados pelo rito comum - maioria simples,
os demais. Tratados internacionais que versam sobre
turno único em cada casa do Congresso ou àqueles
direitos humanos aprovados sob o rito do art. do art.
incorporados antes da EC n. 45:
5º, §3 CF - votação em dois turnos nas duas casas do
Congresso, com maioria de três quintos:

Status Constitucional. Serão equivalentes às emendas


Status supralegal.
constitucionais.

Há três tratados internacionais equivalentes à EC:


Convenção Internacional sobre os direitos da pessoa
com Deficiência, Protocolo Facultativo da convenção
dos direitos da pessoa com deficiência e Tratado de Exemplo: Pacto de São José da Costa Rica.
Marraqueche (Facilitar o Acesso a Obras Publicadas
às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com out-
ras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso).

Os tratados internacionais de direitos humanos não podem ser denunciados, ou seja, retirados do Ordenamento Jurídico
em virtude da proibição do retrocesso e por se constituir como uma cláusula pétrea.

2. Fases dos tratados internacionais (iter dos tratados)

São as fases em que os tratados passam até serem incorporados no ordenamento jurídico brasileiro. A base está na
Convenção de Viena. Temos quatro principais fases.

1ª Fase: Negociação + assinatura

É a fase inicial em que o Estado Brasileiro olha o tratado e verifica se as premissas ali postas têm relação com os objetivos
do país. Análise da forma e do texto do tratado. Firmam um compromisso. A Constituição de 1988, no art. 84, diz que
a competência para a assinatura é privativa do Presidente da República, dessa forma, outras pessoas podem assinar o
compromisso (porque não é assinatura exclusiva). A carta é assinada pelo Presidente da República e referendada pelo
Ministro das Relações Exteriores.

Como é um compromisso, o aceite é precário, indica, tão somente, que o tratado é autêntico e definitivo.

2ª Fase: Referendo congressual/parlamentar

Após a assinatura internacional, o tratado passa pela análise do congresso nacional (art.

49, I CRFB/88), podendo deliberar por sim ou não, com a emissão de um decreto legislativo.

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3ª Fase: Ratificação

Trata-se da fase de confirmação do tratado. A ratificação é a confirmação formal por um Estado de que está obrigado
a cumprir o tratado.

A competência é exclusiva do Presidente da República, ou seja, somente o Presidente poderá fazê-lo, não podendo
repassar a terceiro. Para fazê-lo, o Presidente se pauta no princípio da discricionariedade (conveniência e oportunidade).

Com a ratificação, o Estado assume o compromisso perante a esfera internacional, e não na ordem interna (nessa fase,
a ratificação obriga o Estado em relação às esferas internacionais,

ou seja, perante o mundo).

4ª Fase: Promulgação + Publicação no diário Oficial.

Passa a produzir efeitos internos no ordenamento jurídico brasileiro.

3. Controle de convencionalidade

É a aferição do parâmetro de validade de uma norma com referência ao tratado internacional na qual o Brasil se obrigou
(duplo controle vertical ou duplo controle de verticalidade), em que de um lado a norma deve obediência à constituição
e de outro lado deve obediência ao tratado internacional.

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DIREITOS HUMANOS

Política nacional de
direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Política nacional de direitos humanos�������������������������������������������������������������������������� 3

1. Introdução���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

2.  Programas nacionais de direitos humanos������������������������������������������������������������������������������������������������������������ 3

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Política nacional de direitos humanos

1. Introdução

A política nacional brasileira surge na democratização do país com o advento da CF/88. A partir dessa época, houve a
necessidade de o governo brasileiro tomar como sua a responsabilidade em dirigir uma política voltada à proteção de
direitos humanos.

A política nacional tem por finalidade orientar ações governamentais futuras relacionados ao tema direitos humanos.

O principal mecanismo utilizado para exteriorizar e planejar a Política Nacional de Direitos Humanos é o Programa
Nacional de Direitos Humanos.

2. Programas nacionais de direitos humanos

A origem do programa nacional encontra-se assentada na Declaração e Programa de Ação da Conferência Mundial de
Direitos Humanos de Viena de 1993, organizada pela ONU.

O art. 71 da Conferência Mundial de Viena recomenda que cada Estado pondere a oportunidade da elaboração de um
plano de ação nacional que identifique os passos através dos quais esse Estado poderia melhorar a promoção e a
proteção dos Direitos Humanos.

No Brasil, a competência administrativa comum para realizar políticas públicas de implementação de direitos humanos
é comum a todos os entes federados (art. 23, X, CF).

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

X - Combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos;

Portanto, é possível termos programas de direitos humanos em âmbito federal, estadual e municipal.

A missão dos programas em nível nacional, estadual e municipal é mapear os problemas referentes aos direitos humanos
e, simultaneamente, estipular e coordenar os esforços para a superação das deficiências e implementação dos direitos.

Os programas de direitos humanos não possuem força vinculante, pois advêm de mero decreto regulamentar (dar fiel
execução às leis e às normas constitucionais), editado à luz do art. 84, IV, da CF., contudo, serve como orientação para
as ações governamentais, podendo o legislador ou administrador ser questionado por condutas incompatíveis com os
termos do PNDH.

Atualmente, o Brasil está no PNDH 3, mas existiram o PNDH 1 e o PNDH 2.

ͫ O PNDH-1 (1996 – Governo Fernando Henrique Cardoso) teve como foco a proteção de direitos civis, espe-
cialmente no tocante à impunidade e à violência policial. Adotou como meta a adesão brasileira a tratados
internacionais.

ͫ O PNDH-2 (2002 – Governo Lula), por sua vez, concentrou-se nos direitos sociais, acerca das desigualdades e
carência do mínimo existencial para grande parte da população brasileira. Mencionou grupos vulneráveis (GLTTB)

Política nacional de direitos humanos 3

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e afrodescendentes. Propostas voltadas para educação e sensibilização de toda sociedade brasileira para a
cristalização de uma cultura de respeito aos direitos humanos.

ͫ O PNDH-3 (2009 – Governo Lula) atualmente em vigor e mais importante para sua prova.

Política nacional de direitos humanos 4

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DIREITOS HUMANOS

Política nacional de
direitos humanos

Versão Condensada
Sumário
Política nacional de direitos humanos�������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Programa nacional de direitos humanos n° 03������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

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Política nacional de direitos humanos

1. Programa nacional de direitos humanos n° 03

O PNDH 3 está previsto no Decreto Federal 7.037/2009, estruturado em 06 eixos orientadores, subdivididos em 25
diretrizes, 82 objetivos estratégicos e 521 ações programáticas.

As medidas previstas devem ser implementadas a partir de uma visão de transversalidade, ou seja, deve ser levada em
conta a atuação de diversos órgãos e poderes estatais, além da efetiva participação da sociedade civil. Elaboração e
monitoramento conjunto.

A elaboração do Programa contou com a articulação do governo com a sociedade civil para se chegar a uma redação
comum.

O PNDH-3 inovou em sua forma redacional, aproximando seus enunciados da linguagem adotada pelos movimentos de
direitos humanos no Brasil e pela sociedade civil, em geral. Assim, a técnica de escrita empregada no programa causou
a impressão de afastamento da abstratividade própria de recomendações, favorecendo a interpretação de implementa-
ções iminentes. Essa sensação gerou ampla reação negativa na mídia e inclusive de alguns juristas mais conservadores.

Os temas que mais geraram polêmica foram:

• Descriminalização do aborto;

• Laicização do estado (proibição de símbolos religiosos em repartições públicas);

• Responsabilidade social dos meios de comunicação (protestos contra ranking de emissoras comprometidas (ou
não) com os direitos humanos), penas de perda de concessão do serviço público.

• Conflitos sociais no campo (na reforma agrária o inconformismo foi em relação a exigência de mediação com os
ocupantes antes do pronunciamento judicial nas ordens de reintegração de posse).

• Repressão política na ditadura militar.

A resposta do Governo Federal foi a edição do decreto 7.177/2010. Diante das críticas, o governo voltou atrás e deter-
minou a eliminação de duas ações estratégicas no PNDH-3 (abolição de símbolos religiosos e ranking das emissoras
de comunicação) e, nas demais críticas, alterou os enunciados, neutralizando seus efeitos.

O PNDH-3 assumiu o compromisso do Estado e da sociedade civil (eixo interação democrática) de instituir um Conselho
Nacional de Direitos Humanos (em substituição ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), obedecendo
aos Princípios de Paris, para fins de credenciamento junto ao Alto Comissariado das Nações Unidas.

Para sua prova, ficar os seis eixos orientadores com especial atenção no EIXO IV, memorizando as diretrizes 11 a 17:

Eixo n° 1: Interação democrática (Estado x Sociedade Civil) → agentes públicos e cidadãos são responsáveis pela
consolidação dos direitos humanos no Brasil. Instrumento de fortalecimento da democracia participativa (uma das
características do Estado Constitucional Democrático), criação de um Conselho Nacional de Direitos Humanos.

Eixo n° 2: Desenvolvimento e Direitos Humanos → Garantia do exercício amplo da cidadania, efetivação do modelo
de desenvolvimento sustentável, caracterizado pela inclusão social e econômica, desenvolvimento ambientalmente
equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e religiosamente diverso, participativo e não discriminatório.

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Eixo n° 3: Universalizar direitos em um contexto de desigualdade → dialoga com as intervenções desenvolvidas no
Brasil para reduzir a pobreza, erradicação da fome e da miséria, fomento à aquisição da cidadania plena (Defensoria
Pública como importante instrumento de emancipação do cidadão).

Eixo n° 4.: Segurança pública, acesso à justiça e combate à violência

(ATENÇÃO PARA PROVA)

Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública;

Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal;

Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos criminosos;

Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalidade
policial e carcerária;

Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas;

Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas
à privação de liberdade e melhoria do sistema. penitenciário; e

Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a
defesa de direitos;

Eixo n° 5: Educação e cultura em Direitos Humanos → Fortalecimento de uma cultura em direitos (serviço público,
escolas, família e demais instituições formadoras da personalidade dos cidadãos).

Eixo n° 6: Direito a memória e verdade → Preservar a memória histórica e a construção pública da verdade. Poste-
riormente, cria-se a comissão nacional da verdade, destinada a apurar violações aos direitos humanos ocorridos entre
1946 e 1988.

Quanto à implementação do PNDH-3, verifica-se que cada ação estratégica incumbe a um ou mais de um órgão gover-
namental, o que evita que o programa seja visto como mera carta de intenções.

Inclusive, foi criado um Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, presidido pelo Secretário de Direitos
Humanos e estabelecida a possibilidade de criação de subcomitês temáticos.

OBS.: O Comitê foi revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019).

Chamo a atenção para os seguintes artigos:

Art. 3º As metas, prazos e recursos necessários para a implementação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em
Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais.

Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do
Ministério Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3.

Veja o Decreto 7.037 com os eixos e diretrizes.

Art. 2º O PNDH-3 será implementado de acordo com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes:

- Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e sociedade civil:

Política nacional de direitos humanos 4

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Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia
participativa;

Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação
democrática; e

Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informações em Direitos Humanos e construção de mecanismos
de avaliação e monitoramento de sua efetivação;

- Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos:

Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sustentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente
equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente diverso, participativo e não discriminatório;

Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento; e

Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como
sujeitos de direitos;

- Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto de desigualdades:

Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania
plena;

Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma não
discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação;

Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e

Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;

- Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência:

Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública;

Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal;

Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos criminosos;

Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalidade
policial e carcerária;

Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas;

Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à
privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e

Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa
de direitos;

- Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Humanos:

Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos Humanos para
fortalecer uma cultura de direitos;

Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica,
nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras;

Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;

Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no serviço público; e

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Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação de uma
cultura em Direitos Humanos; e

- Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:

Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do Estado;

Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade; e

Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo
a democracia.

Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos responsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros
órgãos federais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores e suas diretrizes.

Política nacional de direitos humanos 6

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DIREITOS HUMANOS

A constituição brasileira e
os tratados internacionais

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Sumário
A constituição brasileira e os tratados internacionais������������������������������������������������� 3

1.  Sistemas de proteção���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Sistema global ou onusiano����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.2 Sistema regional interamericano�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

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A constituição brasileira e os tratados

internacionais

1. Sistemas de proteção

Os tratados internacionais estão protegidos em sistema global ou regionalizado.

1.1 Sistema global ou onusiano

O sistema global ou onusiano que tem como marco na criação da ONU em 1945.

Registre-se que a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (também chamada de “International Bill of Human
rigths”) abrange três importantes documentos internacionais, os quais compõem o mosaico protetivo mínimo dos direitos
humanos (expressão de Valerio Mazzuoli):

• Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948;

• Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, 1966;

• Pacto Internacional de Direitos Econômicos, sociais e culturais, 1966.

ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS

A Carta da ONU ou Carta de São Francisco de 1945 é o tratado que estabeleceu as Nações Unidas – ONU. A Carta
das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, após o término da Conferência das Nações
Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor a 24 de outubro daquele mesmo ano.

O preâmbulo da Carta de São Francisco já indica que a função primordial da ONU é estabelecer uma cooperação inter-
nacional para assegurar o direito de paz. Vejamos:

Nós, os povos das Nações Unidas, a fim de: preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por duas vezes,
no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do
homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das
nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes
de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores
condições de vida dentro de uma liberdade ampla.

E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças
para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos,
que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para pro-
mover o progresso econômico e social de todos os povos.

A constituição brasileira e os tratados internacionais 3

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Os propósitos das Nações unidas são:

Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar amea-
ças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de
conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias
ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;

Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de auto-
determinação dos povos e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cul-
tural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos,
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e

Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns.

1.2 Sistema regional interamericano

O sistema regional interamericano surge, inicialmente, com a Carta que inaugura o sistema americano, denominado
“Carta de Bogotá” ou Carta da OEA, confeccionada na IX Conferência Interamericana realizada entre 30 de março a 2
de maio de 1948.

Na mesma conferência, foi aprovada a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.

A Carta da OEA proclamou, de modo genérico, o dever de respeito aos direitos humanos por parte de todo o Estado-
-membro da organização. Já a Declaração Americana enumerou quais direitos que deveriam ser observados e garantidos
pelos países.

A OEA é o principal Fórum Multilateral do Hemisfério para o fortalecimento da Democracia, assim como para a Promo-
ção dos Direitos Humanos e, também, para a discussão de problemas comuns das Américas, sendo uma organização
regional integrante do Sistema das Organizações das Nações Unidas, que partilha vários de seus princípios e ideais.
Esta carta já sofreu diversas modificações para a reestruturação da OEA.

O próximo salto no desenvolvimento do sistema interamericano foi a aprovação do texto da Convenção Americana de
Direitos Humanos em São José, Costa Rica, em 19691. A convenção só entrou em vigor em 1978 após ter obtido o mínimo
de 11 ratificações. No Brasil, foi internalizada em 1992.

A Convenção, além de criar novas atribuições à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, criou a Corte Interame-
ricana, como o segundo órgão de supervisão do sistema interamericano.

Após a Convenção Americana dos Direitos Humanos é que ocorreu a estruturação do Sistema Interamericano de Pro-
teção dos Direitos Humanos, nos moldes que temos atualmente.

Também fazem parte do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos vários outros documentos, como
o Protocolo Adicional a Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a tortura, entre outras.

OBS.: A Carta da OEA aplica-se a todos os membros dessa organização, porém a Convenção Americana somente
pode ser aplicada aos seus países. signatários.

A constituição brasileira e os tratados internacionais 4

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OBS.: Perceba que a celebração da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
é contemporânea aos regimes ditatoriais que assolavam a América Latina. Sobre o paradoxo, ANDRE DE CARVALHO
RAMOS expõe: “Assim, se na Europa Ocidental a Convenção Europeia de Direitos Humanos nasceu do esforço dos
Estados Democráticos em demonstrar sua diferença com a ditadura, a Convenção Americana de Direitos Humanos
nasceu do esforço das Ditaduras em demonstrar sua semelhança com Estados Democráticos”. (CARVALHO RAMOS,
Processo internacional dos direitos humanos, pg. 202).

A constituição brasileira e os tratados internacionais 5

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