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GLOSSÁRIO DE DIREITO

INTERNACIONAL
HUMANITÁRIO (DIH)
PARA PROFISSIONAIS
DA MÍDIA
GLOSSÁRIO
GLOSSÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO 1

A Artigo 3º comum às quatro Convenções


de Genebra (artigo 3º comum)
Anistia Uma disposição que figura nas quatro
Uma forma de clemência invocada pelo Convenções de Genebra e que se aplica
Direito Internacional Humanitário aos conflitos armados não internacionais.
(DIH) para que as autoridades no Uma “mini convenção”, o artigo contém
poder a concedam de modo mais amplo um conjunto de normas fundamentais do
possível, no fim das hostilidades em um Direito Internacional Humanitário que
conflito armado não internacional, às visam proteger as pessoas que não
pessoas que participaram do conflito ou participam, ou deixaram de participar,
estão detidas ou internadas por motivos ativamente das hostilidades. Também
relacionados. compreende uma referência explícita ao
direito de um organismo humanitário
Armas bacteriológicas (biológicas) imparcial, como o CICV, oferecer os seus
Armas que utilizam insetos nocivos ou serviços às partes em conflito. As normas
outros organismos, vivos ou mortos, contidas no artigo 3º comum são
ou seus produtos tóxicos, para causar consideradas parte do DIH
doenças e mudanças patológicas nos consuetudinário, representando um
seres humanos e animais. Também padrão mínimo que deverá sempre ser
podem ser utilizados para destruir ou respeitado pelos beligerantes.
danificar cultivos. O uso, fabricação ou
armazenamento de armas bacteriológicas Ataques indiscriminados
(biológicas) são proibidos. Os ataques indiscriminados estão
proibidos. São ataques que: (a) não
Armas incendiárias são dirigidos a um objetivo militar
Armas ou munições projetadas específico; (b) empregam um método ou
principalmente para incendiar objetos meio de combate que não pode ser dirigido
ou causar queimaduras às pessoas com a a um objetivo militar específico; ou (c)
ação de chamas, calor, ou a combinação empregam um método ou meio de combate
de ambas, produzidas pela reação cujos efeitos não podem ser limitados
química de uma substância disparada como exige o Direito Internacional
contra o alvo. As armas incendiárias Humanitário; e, consequentemente, em
podem adotar a forma de lança-chamas, cada um dos casos, são de natureza tal
fogaças, projéteis, foguetes, granadas, que atingem objetivos militares e civis ou
minas, bombas e outros dispositivos com bens de caráter civil sem distinção.
substâncias incendiárias (p.ex. napalm,
fósforo). Os seguintes tipos de ataques serão
considerados indiscriminados, não se
Armas indiscriminadas restringindo a estas categorias:
Armas que são incapazes de distinguir (a) um ataque por bombardeio com
entre civis e objetivos militares por um qualquer método ou meio que considere
ou ambos motivos: como único a vários objetivos militares
• não podem ser dirigidas a um objetivo distintos e claramente separados e
militar específico; localizados em uma cidade, povoado ou
• os seus efeitos não podem ser outra área com uma concentração similar
controlados. de civis ou bens de caráter civil; e (b) um
ataque que se pode prever que causará
Armas químicas perdas acidentais de vidas civis ou
Armas que causam diversos tipos de ferimentos na população civil, danos em
ferimentos com diferente gravidade a bens de caráter civil, ou ambas as coisas,
homens e animais pelo uso de e que seriam excessivos em relação à
propriedades asfixiantes, tóxicas, vantagem militar concreta e direta que se
irritantes, paralisantes, de regulação de previa.
crescimento, antilubricantes ou
catalisadoras de um produto químico B
sólido, líquido ou gasoso. As armas
químicas também podem contaminar Bem civil
alimentos, bebidas e materiais. O seu Qualquer bem que não seja um objetivo
uso, fabricação e armazenamento são militar. Quando um bem civil for utilizado
proibidos. em apoio a uma ação militar, perde a sua
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proteção e se torna um objetivo militar e coordena as atividades internacionais


legítimo. Em caso de dúvida se um bem que o Movimento conduz nos conflitos
civil estiver sendo utilizado, de fato, armados e em outras situações de
em apoio a uma ação militar, deverá ser violência.
considerado um bem de caráter civil.
Conflito armado
C Considera-se que um conflito armado
exista quando há confrontos armados
Civis entre as forças armadas de Estados
Um civil é, em um conflito armado (conflito armado internacional) ou entre
internacional, qualquer pessoa que forças governamentais e grupos armados
não faça parte das forças armadas organizados ou entre esses grupos no
de um Estado e não participe de um território de um Estado (conflito armado
levantamento em massa. No caso de não internacional). Outras situações de
dúvida se a pessoa for ou não um civil, violência, como tensões e distúrbios
ela deverá ser considerada como tal. internos, não são consideradas conflitos
Esta categoria abrange, em um conflito armados.
armado não internacional, todas as
pessoas que não sejam membros das Convenções de Genebra de 1949
forças armadas estatais nem membros Quatro tratados que formam a base do DIH
de um grupo armado organizado. moderno, ratificadas universalmente. As
quatro Convenções de Genebra concedem
Combatente proteção a quatro categorias diferente de
No DIH, o termo “combatente” pessoas durante os conflitos armados:
refere-se, nos conflitos armados feridos e doentes das forças armadas
internacionais, às pessoas com direito a em campanha (Primeira Convenção de
participar diretamente nas hostilidades Genebra), feridos, doentes e náufragos
entre os Estados. Os combatentes são das forças armadas no mar (Segunda
principalmente membros das forças Convenção de Genebra), prisioneiros de
armadas de uma parte em conflito guerra (Terceira Convenção de Genebra)
(exceto o pessoal de saúde e religioso) e a população civil (Quarta Convenção de
que têm direito a participar diretamente Genebra).
das hostilidades. Os combatentes são
obrigados a se distinguir dos civis e a Correspondente de guerra
respeitar o DIH. Caso os combatentes Correspondentes acreditados que
caiam em poder do inimigo, eles têm possuem uma autorização especial que os
direito ao status de prisioneiro de guerra. permite acompanhar as forças armadas,
sem fazer parte delas. O seu status deve ser
Comissões da verdade certificado com um cartão de identidade
Organismos oficiais temporários Os correspondentes acreditados
estabelecidos para investigar um padrão capturados são prisioneiros de guerra. Um
de violações durante um período de jornalista incorporado às forças armadas
tempo que finaliza com um relatório e é considerado correspondente de guerra,
recomendações para reformas. segundo o DIH, somente se for acreditado
oficialmente pelas forças armadas.
Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Organização imparcial, neutra Corte Especial para Serra Leoa
e independente cuja missão A Corte Especial para Serra Leoa foi
exclusivamente humanitária é proteger estabelecida em 2002, em decorrência de
a vida e a dignidade das vítimas dos um pedido às Nações Unidas, em 2000,
conflitos armados e de outras situações do Governo de Serra Leoa relativo a uma
de violência, assim como prestar-lhes “corte especial” para lidar com os crimes
assistência. O CICV também se esforça graves contra os civis e os membros das
para evitar o sofrimento por meio da forças de paz da ONU, cometidas durante
promoção e do fortalecimento do direito a guerra civil de uma década (1991-2002).
e dos princípios humanitários universais.
Fundado em 1863, o CICV deu origem às Crimes contra a humanidade
Convenções de Genebra e ao Movimento A definição jurídica de crimes contra
Internacional da Cruz Vermelha e do a humanidade, como entendidos na
Crescente Vermelho. A organização dirige atualidade, pode ser encontrada no
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Estatuto do Tribunal Penal Internacional cuja finalidade é proteger a vida e a


(TPI). Um crime contra a humanidade dignidade humana do comportamento
consiste em um dos atos relacionados a arbitrário dos governos. As normas de
seguir, quando cometidos “no quadro de direitos humanos se aplicam a todos,
um ataque, generalizado ou sistemático, em todas as situações e em todas as
contra qualquer população civil, circunstâncias.
havendo conhecimento desse ataque”:
assassinato; extermínio; escravidão; Direito Internacional Humanitário
deportação; perseguição por motivos Conjunto de normas internacionais,
políticos, raciais, nacionais, étnicos, estabelecidas por tratados e costume,
culturais, religiosos, de gênero ou outros; que, em época de conflitos armados,
apartheid; encarceramento arbitrário; visa limitar o sofrimento causado pela
tortura; estupro; escravidão sexual; guerra ao proteger as pessoas que não
prostituição, gravidez e esterilização participam ou deixaram de participar das
forçadas ou qualquer outra forma de hostilidades e limitar os meios e métodos
violência sexual; desaparecimento de guerra que possam ser empregados
forçado de pessoas; ou outros atos (também conhecido como “Direito
desumanos com a intenção de causar da Guerra”, Direito Internacional dos
grande sofrimento ou ferimentos graves Conflitos Armados” ou jus in bello).
ao corpo ou à saúde física e mental.
Direito Internacional Humanitário
Crime de guerra consuetudinário
O termo abrange as infrações graves e O Direito Internacional Humanitário
outras violações sérias ao DIH cometidas consuetudinário é um conjunto de
em conflitos armados internacionais e normas não escritas, derivadas de uma
não internacionais. Os crimes de guerra prática geral ou comum que é aceita como
incluem ataques deliberados contra civis, lei. É o padrão mínimo de conduta em um
pilhagem, estupro, escravidão sexual, conflito armado aceito pela comunidade
prostituição forçada, gravidez forçada internacional. O DIH consuetudinário é
e uso de crianças menores de 15 com aplicável universalmente, independente
participação ativas nas hostilidades. da aplicação das normas de tratados,
e baseia-se na prática extensa e
D praticamente uniforme dos Estados
considerada lei.
Desaparecimento forçado https://www.icrc.org/en/doc/resources/
Segundo a Convenção Internacional para documents/interview/2014/07-
a Proteção de Todas as Pessoas contra 29-customary-international-
o Desaparecimento Forçado, entende- humanitarian-law-cihl.htm
se “desaparecimento forçado” como
a prisão, a detenção, o sequestro ou Direitos Humanos (ver Direito
qualquer outra forma de privação de Internacional dos Direitos Humanos)
liberdade que seja perpetrada por agentes
do Estado ou por pessoas ou grupos Direitos humanos inderrogáveis
de pessoas agindo com a autorização, Direitos que não podem ser suspensos
apoio ou aquiescência do Estado, e a (p.ex. direito à vida, proibição da tortura,
subsequente recusa em admitir a privação etc.).
de liberdade ou a ocultação do destino
ou do paradeiro da pessoa desaparecida, Distinção (princípio de)
privando-a assim da proteção da lei. Norma do DIH que requer que as partes
em um conflito sempre façam a distinção
Deslocamento forçado entre os civis e combatentes e entre bens
Deslocamento da população civil, por de caráter civil e objetivos militares
motivos relacionados ao conflito, salvo se quando planejarem ou realizarem um
a segurança da população civil ou razões ataque.
militares imperiosas assim o exigirem.
Distúrbios internos e tensões internas
Direito Internacional dos Direitos Ocorrem distúrbios internos, que não
Humanos chegam a um conflito armado, quando o
Conjunto de normas internacionais, Estado utiliza força armada para manter a
estabelecidas por tratados e costume, ordem; ocorrem tensões internas, que não
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chegam a distúrbios internos, quando a Genocídio


força é utilizada como medida preventiva Um crime que pode assumir a forma
para manter o respeito pela lei e ordem. dos seguintes atos, cometidos em
tempo de paz ou em tempo de guerra,
E com a intenção de destruir, total ou
parcialmente, um grupo nacional, étnico,
Emblemas da cruz vermelha / crescente racial ou religioso:
vermelho / cristal vermelho a. matar membros do grupos;
Os emblemas da cruz vermelha, do b. causar danos graves corporais ou
crescente vermelho e do cristal vermelho psicológicos aos membros do grupo;
são a manifestação visível da proteção c. impor deliberadamente condições
conferida aos serviços militares de de vida calculadas para alcançar a
saúde e aos trabalhadores humanitários destruição total ou parcial do grupo;
nos conflitos armados. Além disso, d. impor medidas com a intenção de
os emblemas são utilizados pelas evitar os nascimentos dentro do
Sociedades Nacionais do Movimento grupo;
Internacional da Cruz Vermelha e do e. transferir forçadamente as crianças
Crescente Vermelho em cada país para do grupo a outro grupo.
fins de identificação.
A definição de genocídio compreende a
Emergência pública conspiração e a incitação pública e direta
Uma situação que ameaça a existência para cometer os atos, tentativa de cometê-
de um Estado; uma crise ou emergência los e cumplicidade nos atos. Se cometido
excepcional que afeta toda a população em tempo de guerra, o genocídio é um
e constitui uma ameaça à existência crime de guerra. Não é considerado um
organizada das comunidades que crime político para fins de extradição.
compõem o Estado.
Grupo armado organizado
Escudo humano Grupo de pessoas que portam armas
A expressão “escudo humano” não com uma estrutura organizada de
está definida no Direito Internacional poder e que participam das hostilidades
Humanitário. Contudo, proíbe-se o como ator não estatal vinculado pelo
uso de civis para proteger os objetivos DIH; membros dissidentes de forças
militares de ataques. armadas de um Estado também podem
ser considerados um grupo armado
Estatuto de Roma do Tribunal Penal organizado.
Internacional
(ver Tribunal Penal Internacional). I
Tratado adotado em 1998, em Roma,
que estabeleceu o Tribunal Penal Infrações graves do Direito Internacional
Internacional (TPI). Humanitário
Violações mais flagrantes das quatro
F Convenções de Genebra e do Protocolo
Adicional I, cometidas no âmbito de
Ferimento supérfluo e sofrimento um conflito armado internacional
desnecessário contra certas categorias de pessoas
Dor, sofrimento ou ferimento infligido (combatentes feridos, doentes ou
em um combatente que não cumprem náufragos, prisioneiros de guerra, civis
com uma finalidade militar. que se encontram em poder de um Estado
estrangeiro). As infrações graves são
G consideradas crimes de guerra. As quatro
Convenções de Genebra e o Protocolo
Garantias judiciais Adicional I relacionam os atos que são
Salvaguardas procedimentais e considerados infrações graves: homicídio
garantias fundamentais elaboradas para intencional, tortura ou tratamento
assegurar que os indivíduos recebam desumano, causar intencionalmente
um julgamento justo e sejam protegidos grande sofrimento ou lesão grave
da privação ilegal ou arbitrária da sua ao corpo ou saúde, deportação ou
liberdade e dos seus direitos humanos transferência ilegal e tomada de reféns,
fundamentais. entre outros.
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J M

Jornalista incorporado Meios de combate


Um “jornalista incorporado” é um Os meios de combate referem-se às
termo moderno utilizado para se referir armas e sistemas de armas pelos quais a
aos jornalistas que acompanham as violência é exercida contra o inimigo.
forças armadas. O termo não aparece
em nenhuma disposição do Direito Métodos de combate
Internacional Humanitário e, até agora, Táticas e estratégias aplicadas em
não foi definido. Pode-se afirmar que operações militares para enfraquecer ou
os correspondentes de guerra são conquistar um adversário.
comumente associados aos chamados
“jornalistas incorporados”. Porém, estes Movimento Internacional da Cruz
últimos somente serão considerados Vermelha e do Crescente Vermelho
correspondentes de guerra, se forem Movimento humanitário internacional
oficialmente autorizados pelas forças cuja missão é proteger a vida e a
armadas relevantes a acompanhá-las dignidade humana, prevenindo e
(ver correspondente de guerra). aliviando o sofrimento sem qualquer
tipo de discriminação com base em sexo,
Julgamento justo nacionalidade, raça, religião, classe ou
Processo que inclui todas as garantias opinião política. É composto pelo Comitê
judiciais básicas, como um julgamento Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a
por um tribunal independente, imparcial Federação Internacional das Sociedades
e constituído regularmente, a presunção da Cruz Vermelha e do Crescente
da inocência e a informação sobre a Vermelho e as Sociedades Nacionais da
natureza e motivo da acusação. Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Jurisdição universal Munições cluster (incluindo bombas


Baseando-se na noção de que certos cluster)
crimes são tão graves que afetam a Um cilindro que é lançado de um avião
comunidade internacional como um ou por artilharia e que, a uma altura pré-
todo, o princípio de jurisdição universal, determinada ou depois de um lapso de
que permite a um Estado julgar suspeitos tempo específico, se abre e espalha no
de crimes mesmo na ausência de ar dezenas ou centenas de submunições
qualquer vínculo entre o crime cometido (“pequenas bombas”); essas pequenas
e o Estado que julga, é uma maneira de bombas são projetadas para explodir
facilitar e garantir a repressão desses quando atingem o solo.
crimes. A lógica da jurisdição universal
é evitar a impunidade e prevenir que as N
pessoas que cometeram crimes graves
se refugiem em terceiros países. De Necessidade militar
fato, a jurisdição universal possibilita O princípio de necessidade militar
que todos os Estados cumpram com o estabelece que o grau e o tipo de força
seu dever de julgar e punir os culpados empregada sejam somente aqueles
desses crimes. necessários para alcançar o objetivo
legítimo de um conflito, p.ex., a
Jus ad bellum submissão total ou parcial do inimigo
Termo cujo significado literal é “direito no período mais curto de tempo e
de recorrer à guerra”; refere-se às com o mínimo desperdício de vida e
circunstâncias legais, regulamentadas recursos. No entanto, não permite a
pelas disposições da Carta das Nações adoção de medidas proibidas pelo Direito
Unidas, sob as quais um Estado pode Internacional Humanitário (DIH).
utilizar a força contra outro.
O
Jus in bello
Termo cujo significado literal é “direito Objetivo militar
na guerra”; também conhecido como Objeto que, por sua natureza,
“Direito Internacional Humanitário”, localização, finalidade ou utilização
“Direito da Guerra” e “Direito contribui eficazmente à ação militar
Internacional dos Conflitos Armados”. e cuja destruição total ou parcial,
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captura ou neutralização, ofereça, nas intermediário neutro e independente. O


circunstâncias do caso em questão, uma Direito Internacional Humanitário (DIH)
vantagem militar definida. requer que cada parte em conflito tome
todas as medidas possíveis para prestar
Ocupação contas do paradeiro das pessoas dadas
O exercício da autoridade por forças como desaparecidas em consequência de
armadas estrangeiras hostis sobre um conflito armado, devendo fornecer
determinado território, independente aos familiares todas as informações
da ausência de resistência armada pertinentes.
ou combates. O Direito Internacional
Humanitário (DIH) estipula uma série Pessoa deslocada
de normas para assegurar que a potência Também se usa a denominação
ocupante respeite e proteja a população e “deslocado interno”. O Direito
bens dentro do território ocupado. Internacional definiu estritamente o
termo “refugiado”, mas não “pessoa
P deslocada”. O último aplica-se às pessoas
que fogem das suas casas por causa de
Paneis Especiais para os Crimes Graves um conflito armado, outras situações de
em Timor Leste violência ou desastres naturais, mas sem
Em março de 2000, após o atravessar a fronteira do Estado onde
estabelecimento da Administração moram.
Transitória do Timor Leste pelas Nações
Unidas (UNTAET), foram criados Paneis Pessoa fora de combate
Especiais que funcionavam no âmbito Trata-se de combatente que foi capturado
da Corte Distrital de Dili. Os paneis eram ou ferido, ficou doente ou naufragou,
compostos por um juiz nacional e dois depôs as armas ou se entregou, não
internacionais, com a tarefa de julgar estando mais em condições de combater.
crimes graves cometidos em 1999, Um combatente está fora de combate:
incluindo genocídio, crimes de guerra, a. quando estiver em poder da Parte
crimes contra a humanidade e tortura. adversária;
b. expressa claramente uma intenção de
Participação direta das hostilidades se entregar, ou
No Direito Internacional Humanitário c. ficou inconsciente ou incapacitado
(DIH), o conceito de “participação direta doutro modo por ferimento ou doença,
das hostilidades” refere-se à conduta que, não sendo capaz de se defender.
se realizada por um civil, suspende a sua
proteção contra os perigos das operações Desde que ele se abstenha de qualquer ato
militares. Mais especificamente, um civil hostil nesses casos e não tente escapar,
pode ser atacado diretamente como se ele não poderá ser objeto de ataques.
fosse um combatente durante o período
em que estiver participando diretamente Uma norma fundamental do Direito
das hostilidades Internacional Humanitário (DIH) é que
as pessoas fora de combate não deverão
O DIH não define a participação direta. O ser atacadas, devendo ser tratadas
CICV elaborou Orientações Interpretativas humanamente.
que proveem recomendações sobre a
interpretação do DIH em relação ao Pilhagem
conceito de participação direta. A pilhagem (ou saque) é definida pelo
https://www.icrc.org/en/ Dicionário Jurídico Black (em inglês)
publication/0990-interpretive- como “tomar forçosamente dos
guidance-notion-direct-participation- cidadãos do lado adversário os bens
hostilities-under-international particulares por um exército invasor ou
conquistador”. Os Elementos do Crime do
Pessoa desaparecida Estatuto do Tribunal Penal Internacional
Pessoa cujo paradeiro é desconhecido especificam que a apropriação deve ser
da sua família e/ou, com base em para “uso privado ou pessoal”. Como tal,
informação confiável, foi dada como a proibição de pilhagem é uma aplicação
desaparecida em relação com um conflito específica do princípio geral da lei que
armado ou outra situação de violência proíbe o roubo. Esta proibição encontra-
que possa requerer a intervenção de um se nas legislações penais nacionais do
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mundo inteiro. A pilhagem geralmente Neutralidade. A fim de conservar a


é punível pelo direito militar ou pelo confiança de todos, o Movimento abstém-
direito penal em geral. se de tomar parte em hostilidades ou em
controvérsias, em qualquer momento,
Precauções contra os efeitos dos ataques de ordem política, racial, religiosa e
Medidas específicas que todas as ideológica.
Potências devem tomar no seu próprio
território em benefício dos seus cidadãos, Independência. O Movimento é
ou em território sob seu controle para independente. Auxiliares dos poderes
proteger a população civil, pessoas civis públicos nas suas atividades humanitárias
e bens civis sob seu domínio contra os e submetidas às leis que governam
perigos provocados pelas operações os respectivos países, as Sociedades
militares. Nacionais devem, no entanto, conservar
uma autonomia que lhes permita
Precauções nos ataques agir sempre segundo os princípios do
Na condução das operações militares, Movimento.
um cuidado constante deve ser tomado
para poupar a população civil, as pessoas Voluntariado. É um movimento
civis e os bens de caráter civil. Todas as de socorro voluntário e de caráter
precauções possíveis devem ser tomadas desinteressado.
para evitar e, em última instância,
minimizar a perda incidental de vidas Unidade. Em cada país só pode existir
civis, ferimentos dos civis e danos aos uma Sociedade da Cruz Vermelha ou
bens de caráter civil. do Crescente Vermelho, devendo ser
acessível a todos e estender a sua
Princípios do Movimento Internacional ação humanitária a todo o território
da Cruz Vermelha e do Crescente nacional.
Vermelho
Os Princípios Fundamentais, consagrados Universalidade. O Movimento
em Viena em 1965, unem as Sociedades Internacional da Cruz Vermelha e do
Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Crescente Vermelho, em cujo seio todas
Vermelho, o Comitê Internacional da Cruz as Sociedades Nacionais têm os mesmos
Vermelha e a Federação Internacional da direitos e o dever de se ajudarem
Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, mutuamente, é universal.
garantindo a continuidade do Movimento https://www.icrc.org/eng/assets/files/
e do seu trabalho humanitário. Os sete other/statutes-en-a5.pdf
princípios são:
Prisioneiro de guerra (PG)
Humanidade. O Movimento Internacional Termo utilizado principalmente no DIH
da Cruz Vermelha e do Crescente para descrever um combatente que caiu
Vermelho, que nasce da preocupação de em poder de uma parte adversária em um
prestar auxílio, sem discriminação, a conflito armado internacional. Outras
todos os feridos nos campos de batalha, pessoas, como os correspondentes de
se esforça, nos âmbitos nacional e guerra, podem ter direito ao status de
internacional, para evitar e reduzir PG. No caso de dúvida, qualquer pessoa
o sofrimento humano em todas as capturada que tenha participado das
circunstâncias. Visa proteger a vida e a hostilidades deverá ser tratada como
saúde, assim como promover o respeito à prisioneiro de guerra. Um PG tem direito
pessoa humana. Favorece a compreensão à proteção especial conforme a Terceira
mútua, a amizade, a cooperação e a paz Convenção de Genebra.
duradoura entre todos os povos.
Proporcionalidade (princípio de)
Imparcialidade. Não faz nenhuma O princípio de proporcionalidade proíbe
distinção de nacionalidade, raça, os ataques que se podem prever que
religião, condição social nem orientação causarão perdas acidentais de vidas
política. Dedica-se somente a socorrer civis ou ferimentos na população civil,
os indivíduos na medida dos seus danos em bens de caráter civil, ou ambas
sofrimentos, atendendo às suas as coisas, e que seriam excessivos em
necessidades e dando prioridade às mais relação à vantagem militar concreta e
urgentes. direta que se previa.
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Protocolos Adicionais às Convenções de quando é considerada legal como uma


Genebra medida de aplicação em resposta a uma
violação anterior ao DIH pelo inimigo,
Protocolo adicional I com a finalidade de por fim a esta
Tratado adotado em 1977 que violação. Desse modo, as represálias têm a
complementa a proteção conferida intenção de pressionar o inimigo para que
pelas quatro Convenções de Genebra, cumpra o DIH. São permitidas somente
sendo aplicável em conflitos armados em condições muito restritas, existindo
internacionais. Impõe limites adicionais uma tendência de bani-las do DIH.
no modo em que as operações militares
podem ser conduzidas e fortalece ainda Resíduos explosivos de guerra
mais a proteção dos civis. Munições não detonadas ou
abandonadas, deixadas para trás em
Protocolo adicional II uma área depois do fim dos combates,
Tratado adotado em 1977 que complementa como cápsulas de artilharia e morteiros,
a proteção conferida pelas quatro granadas, munições cluster, bombas,
Convenções de Genebra, sendo aplicável foguetes e mísseis.
em conflitos armados não internacionais
de maior intensidade que as situações Responsabilidade do superior
cobertas pelo artigo 3o comum às quatro O fato de uma violação ter sido cometida
Convenções. O Protocolo Adicional II cobre por um subordinado não absolve os seus
os conflitos armados não internacionais superiores da responsabilidade penal ou
que ocorrem no território de um Estado disciplinar, conforme o caso, se eles sabiam
entre as forças armadas deste e forças ou tinham informação que os possibilitava
armadas dissidentes ou grupos armados saber, segundo as circunstâncias do
organizados que realizam operações momento, que o subordinado cometia ou
sob um comando responsável e que iria cometer a violação, e não tomou todas
controlam parte do território do Estado, as medidas cabíveis ao seu alcance para
com a capacidade de conduzir operações evitar ou reprimir o ato.
militares organizadas e contínuas.
T
Protocolo adicional III
Tratado adotado em 2005 que Tomada de refém
complementa a proteção conferida pelas A apreensão ou detenção de uma pessoa
quatros Convenções de Genebra com a (o refém), combinada com a ameaça de
adoção de um emblema adicional: o cristal matar, ferir ou continuar a detê-la para
vermelho. Este emblema, do mesmo obrigar um terceiro a cometer ou deixar de
modo que a cruz vermelha e o crescente cometer atos como uma condição implícita
vermelho, é um símbolo da proteção ou explícita para a liberação do refém.
oferecida aos serviços religiosos e de
saúde das forças armadas e ao Movimento Tortura
Internacional da Cruz Vermelha e do Como definido pelas Nações Unidas,
Crescente Vermelho. “qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais,
R são infligidos intencionalmente a uma
pessoa a fim de:
Refugiado a. obter, dela ou de terceira pessoa,
A Convenção dos Refugiados de 1951 informações ou confissões;
define um refugiado como alguém que b. de castigá-la por ato que ela ou
“temendo ser perseguido por motivos terceira pessoa tenha cometido, ou
de raça, religião, nacionalidade, grupo seja suspeita de ter cometido;
social ou opiniões políticas, encontra-se c. de intimidar ou coagir esta pessoa ou
fora do país de sua nacionalidade e que outras pessoas;
não pode ou, em virtude desse temor, não d. ou por qualquer motivo baseado em
quer valer-se da proteção desse país.” discriminação de qualquer natureza;
quando tais dores ou sofrimentos são
Represália infligidos por um funcionário público
Uma represália é uma violação ao Direito ou outra pessoa no exercício de funções
Internacional Humanitário (DIH) e é públicas ou por sua instigação, ou com
ilegal, salvo em casos excepcionais, seu consentimento ou aquiescência.”
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Tratamento humano necessidade militar e as exigências


Princípio fundamental das quatro humanitárias.
Convenções de Genebra, segundo o qual
os seres humanos devem ser tratados Violações graves ao DIH
com respeito pela sua dignidade inerente. “Violações graves ao Direito Internacional
Humanitário (DIH)” podem ocorrer
Tribunal Penal Internacional (TPI) em conflitos armados internacionais
Um tribunal penal internacional ou não internacionais. As violações
permanente estabelecido por um tratado são graves e constituem crimes de
adotado em 1998, em Roma, para guerra, se colocarem em perigo pessoas
julgar indivíduos acusados de cometer protegidas (p.ex. civis, prisioneiros
genocídio, crimes contra a humanidade, de guerra, feridos e doentes) ou bens
crimes de guerra e atos de agressão. O TPI (p.ex. bens ou infraestrutura civil) ou se
não possui primazia sobre os tribunais violarem valores importantes. A maioria
nacionais, porém, complementa o labor dos crimes de guerra envolve mortes,
destes quando eles não puderem ou não ferimentos, destruição ou apropriação
quiserem investigar ou julgar as pessoas ilegal de bens. Os atos podem constituir
responsáveis pelos crimes sob sua crimes de guerra porque violam valores
jurisdição. universais importantes, mesmo sem
colocar diretamente em perigo o bem-
Tribunal Penal Internacional para a estar físico das pessoas ou os bens. Entre
Ex-Iugoslávia estes incluem-se, por exemplo, violar
Tribunal estabelecido pelas Nações cadáveres e recrutar crianças menores de
Unidas, em 1993, para julgar indivíduos 15 anos para as forças armadas.
acusados de cometer crimes de guerra,
genocídio e crimes contra a humanidade Violência sexual
no território da Ex-Iugoslávia desde Atos de natureza sexual impostos por
1991. Este tribunal tem primazia sobre as força, ou coerção, como o medo de
cortes nacionais. violência, coação, detenção, pressão
psicológica ou abuso de poder dirigido
Tribunal Penal Internacional para contra qualquer vítima - homem, mulher,
Ruanda menino ou menina. Aproveitar-se do
Um tribunal estabelecido pelas Nações ambiente coercitivo ou da incapacidade
Unidas, em 1995, para julgar indivíduos das vítimas de dar um consentimento
acusados de cometer genocídio, crimes genuíno é também uma forma de coerção.
contra a humanidade e crimes de guerra A violência sexual também compreende:
no território de Ruanda e pelos ruandeses estupro, escravidão sexual e prostituição,
nos países vizinhos em 1994. Este gravidez ou esterilização forçada, ou
tribunal tem primazia sobre as cortes qualquer outra forma de violência sexual
nacionais. de gravidade comparável.

Tribunais ou cortes mistas


Cortes especiais estabelecidas para julgar
crimes nacionais e internacionais.

Vantagem militar
Termo utilizado no Direito Internacional
dos Conflitos Armados para definir
“objetivo militar” e formular as
precauções a serem tomadas nos
ataques, como poupar, na maior medida
do possível, a população civil e as pessoas
e os bens de caráter civil.

A necessidade militar geralmente se


opõe ao princípio de humanidade.
Consequentemente, o propósito do
DIH é chegar a um equilíbrio entre a
Ajudamos as pessoas afetadas por conflitos armados e
outras situações de violência no mundo inteiro, fazendo
todo o possível para proteger a vida e a dignidade delas
e para aliviar o seu sofrimento, com frequência em
conjunto com os nossos parceiros da Cruz Vermelha
e do Crescente Vermelho. Buscamos também evitar
as privações com a promoção e o fortalecimento do
Direito Internacional Humanitário (DIH) e a defesa dos
princípios humanitários universais.

As pessoas sabem que podem confiar que realizaremos


diversas atividades para salvar vidas, trabalhando
de perto com as comunidades para compreender e
atender as necessidades delas. A nossa experiência e
o nosso conhecimento nos permitem responder de
maneira rápida e eficaz, sem tomar partido.

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