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AU TO R D O C U R S O
Antoine A. Bouvier
E D I TO R DA S É R I E
PROTEÇÃO DE VÍTIMAS
NO CONFLITO ARMADO INTERNACIONAL
2.1 Introdução
Verificação de Aprendizagem
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 26
OBJETIVOS DA LIÇÃ
2.1 Introdução
Como uma análise detalhada de todos esses dispositivos vai além do objetivo deste
curso, vamos nos concentrar em quatro conjuntos de regras:
“Além das disposições que devem entrar em vigor em tempo de paz, a presente
Convenção será aplicada em todos os casos de guerra declarada ou de qualquer
outro conflito armado que possa surgir entre duas ou mais das Altas Partes
Contratantes, mesmo se o estado de guerra não for reconhecido por uma delas.
Convenção, nas suas relações recíprocas. Além disso, elas ficarão ligadas por esta
Convenção à referida Potência, se esta aceitar e aplicar as suas disposições.”
1) O conflito deve ser armado; tal conflito existe quando forças armadas de dois ou mais
Estados lutam entre si. Mesmo pequenos incidentes fronteiriços entre representantes dos
Estados são suficientes para que o DIH seja aplicável e qualquer uso de armas entre dois
Estados faz com que as Convenções e o Protocolo I sejam trazidos à tona.
2) Os tratados não fazem distinção entre guerras, que devem ser declaradas, e conflitos
armados, um conceito objetivo que deve ser compreendido como qualquer situação em
que a força armada é usada entre dois ou mais Estados. Além disso, as Convenções e o
Protocolo I também são aplicáveis em caso de ocupação, mesmo se a ocupação não tiver
encontrado resistência armada.
3) De acordo com o Art. 1.4 do Protocolo I, as guerras de libertação nacional, que eram
tradicionalmente consideradas como conflito armado não-internacional (ver Lição 3),
agora são consideradas conflitos armados internacionais. No entanto, tal Artigo submete
essa qualificação a condições muito restritas.
Proibição de represálias
15
Ver, por exemplo, o Art. 46 da Primeira Convenção: Represálias contra os feridos, doentes, pessoal e
bens protegidos pela Convenção são proibidas.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 29
Não-renúncia de direitos
N.B. As regras que protegem essas categorias de vítimas aparecem nas Convenções I e II
e na Parte I do Protocolo I.
REGRAS GERAIS
Aplicabilidade a indivíduos
“Os termos ‘feridos’ e ‘doentes’ designam as pessoas, militares ou civis, que, por
motivo de um traumatismo, doença ou de outras incapacidades ou perturbações físicas
ou mentais, tenham necessidade de cuidados médicos e se abstenham de qualquer ato
de hostilidade. Estes termos designam também as parturientes, os recém-nascidos e
outras pessoas que possam ter necessidade de cuidados médicos imediatos, tais como
os enfermos e as mulheres grávidas, e que se abstenham de qualquer ato de
hostilidade.
16
Art. 7o: “Os feridos e doentes, assim como os membros do pessoal do serviço de saúde e religioso, nunca
poderão renunciar parcial ou totalmente aos direitos que lhes são assegurados pela presente Convenção e
pelos acordos especiais referidos no artigo precedente, caso estes existam”.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 30
Serão tratados com humanidade pela Parte no conflito que os tiver em seu poder,
sem nenhuma distinção de caráter desfavorável baseada em sexo, raça,
nacionalidade, religião, opiniões políticas ou qualquer outro critério análogo. É
estritamente interdito qualquer atentado contra a sua vida e pessoa e, em especial,
assassiná-los ou exterminá-los, submetê-los a torturas, efetuar neles experiências
biológicas, deixá-los premeditadamente sem assistência médica ou sem tratamento,
ou expô-los aos riscos do contágio ou de infecção criados para este efeito.
As mulheres serão tratadas com todos os cuidados especiais devidos ao seu sexo. A
Parte no conflito obrigada a abandonar feridos ou doentes ao adversário deixará
com eles, tanto quanto as exigências militares o permitirem, uma parte do seu
pessoal e do seu material sanitário para contribuir para o seu tratamento.”
17
Art. 14 da Convenção I e 16 da Convenção II e infra, Capítulo III.
18
Ver Art. 33 (1) do Protocolo I.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 31
19
Ver o Art. 16 da Convenção I e o Art. 33 (2) do Protocolo I.
20
Ver o Art. 33 (4) do Protocolo I.
21
Ver o Art. 17 da Convenção I e o Art. 34 (1) do Protocolo I
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 32
A proteção garantida às instalações médicas não deve cessar, a menos que elas
sejam utilizadas, em objetivos além de sua função humanitária, para se cometerem atos que
sejam nocivos ao inimigo.26 No entanto, nessas ocasiões, sua proteção pode cessar somente
depois de um aviso que estabeleça, quando apropriado, um limite de tempo razoável e
depois de este aviso não ter sido atendido.
22
Ver o Art. 8o (g) do Protocolo I: “A expressão ‘meio de transporte sanitário’ designa qualquer meio de
transporte, militar ou civil, permanente ou temporário, afeto exclusivamente ao transporte sanitário e
colocado sob a direção de uma autoridade competente de uma Parte no conflito”.
23
Ver Arts. 19-23 da Convenção I, Art. 18 da Convenção IV, Arts. 8 (e) e 12-14 do Protocolo I.
24
Ver Arts. 35-37 da Convenção I, Arts. 38-40 da Convenção II, Arts. 21-22 da Convenção IV e Arts. 8
(g) e 21-31 do Protocolo I.
25
Ver Arts. 33-34 da Convenção I.
26
Ver Art. 13 (1) do Protocolo I.
27
Ver Art 8 (c) do Protocolo I: “A expressão ‘pessoal sanitário’designa as pessoas exclusivamente afetas
por uma Parte no conflito aos fins sanitários enumerados na alínea e), à administração de unidades
sanitárias ou ainda ao funcionamento ou à administração de meios de transporte sanitário. Estas atribuições
podem ser permanentes ou temporárias. A expressão engloba: i) O pessoal sanitário, militar ou civil, de
uma Parte no conflito, incluindo o mencionado nas Convenções I e II, e o afeto aos organismos de proteção
civil; ii) O pessoal sanitário das sociedades nacionais da Cruz Vermelha (incluindo o Crescente Vermelho e
o Leão e Sol Vermelhos), e outras sociedades nacionais de socorro voluntárias devidamente reconhecidas e
autorizadas por uma Parte no conflito; iii) O pessoal sanitário das unidades ou meios de transporte sanitário
mencionados pelo artigo 9, n.º 2
28
Ver Art. 8 (d) do Protocolo I: “A expressão ‘pessoal religioso’ designa as pessoas, militares ou civis, tais
como capelães, exclusivamente votados ao seu ministério e adstritos: i) às forças armadas de uma Parte no
conflito; ii) às unidades sanitárias ou meios de transporte sanitário de uma Parte no conflito; iii) às unidades
sanitárias ou meios de transporte sanitário mencionados pelo artigo 9º, n.º 2; iv) aos organismos de
proteção civil de uma Parte no conflito.
A ligação do pessoal religioso a essas unidades pode ser permanente ou temporária e as disposições
pertinentes previstas na alínea (11) aplicam-se a esse pessoal”.
29
Ver Arts. 24 e 25 (referentes a membros das Forças Armadas da Convenção I, Arts. 36 e 37 da
Convenção II).
30
Ver Art. 56 da Convenção IV, Arts. 15-20 do Protocolo I e Art. 9 do Protocolo II.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 33
Emblemas e símbolos
31
Ver Arts. 28 e 30 da Convenção I, Art. 37 da Convenção II e Art. 33 da Convenção III.
32
Ver Art. 20 (1) da Convenção IV.
33
Ver Art. 38 da Convenção I, Art. 41 da Convenção II, Art. 8 (1) do Protocolo I e Art. 12 do Protocolo II.
34
Ver Art. 44 (2)-(4) da Convenção I.
35
Ver Art. 34 das Regulamentações de Haia e Arts. 37 (1) (d) e 85 (3) (f) do Protocolo I.
36
Ver Art. 53 da Convenção I, Art. 45 da Convenção II, Arts. 38 e 85 (3) (f) do Protocolo I.
37
Ver Art. 54 da Convenção I e Art. 45 da Convenção II.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 34
De acordo com o Art. 1638 do Protocolo I, ninguém será punido por ter exercido
uma atividade de caráter médico conforme à deontologia, quaisquer que tenham sido as
circunstâncias ou os beneficiários dessa atividade. Além disso, ninguém poderá ser
obrigado a praticar atos que sejam contrários à ética médica (p.ex., “assistência” médica
para tortura e outros tratamentos desumanos ou degradantes).
N.B. As regras de proteção dessas categorias de vítimas estão contidas na Convenção III
e na Parte III do Protocolo I.
A proteção dos prisioneiros de guerra tem relação íntima com outros dois
A regra essencial do DIH prevê que, em um conflito armado, o alvo deve ser
exclusivamente o potencial militar do inimigo. Este princípio indica que o DIH deve
definir quem pode ser considerado parte deste potencial e, portanto, quem pode ser
atacado e pode participar diretamente das hostilidades mas não pode ser punido por esta
participação pela lei local ordinária. Pelo princípio da distinção, todos os envolvidos no
conflito armado devem distinguir, por um lado, os civis e, por outro lado, as pessoas
definidas como combatentes. Combatentes devem, portanto, distinguir a si mesmos (isto
38
Ver Art 16, sobre a proteção geral da missão médica:
1 - Ninguém será punido por ter exercido uma atividade de caráter médico conforme a
deontologia, quaisquer que tenham sido os beneficiários dessa atividade.
2 - As pessoas que exerçam uma atividade de caráter médico não podem ser obrigadas a praticar
atos ou a efetuar trabalhos contrários à deontologia ou às outras regras médicas que protegem os
feridos e os doentes, ou às disposições das Convenções ou do presente Protocolo, nem de se abster
de praticar atos exigidos por essas regras e disposições.
3 - Nenhuma pessoa que exerça uma atividade médica poderá ser obrigada a dar a alguém,
pertencente a uma Parte adversa ou à sua própria Parte, salvo nos casos previstos pela lei desta
última, informações afetas a feridos e doentes que trate ou que tenha tratado se achar que tais
informações podem ser prejudiciais a estes ou às suas famílias. As regras relativas à notificação
obrigatória das doenças contagiosas devem, no entanto, ser respeitadas”.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 35
Entretanto, uma distinção precisa ser feita se o DIH deve ser respeitado: as vidas
dos civis podem – e irão – ser respeitadas somente se os combatentes inimigos
presumirem que aqueles que se pareçam com civis não irão atacá-los.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 36
A tabela a seguir esclarece os principais elementos do DIH que diferencia os civis dos
combatentes em tempos de conflito armado internacional:
Figura 2-1
CIVIS COMBATENTES
ATIVIDADES
DIREITOS/OBRIGAÇÕES
PUNIBILIDADE
Podem ser punidos por sua simples Não podem ser punidos por sua
participação nas hostilidades participação nas hostilidades desde
que tenham respeitado as regras do
DIH
PROTEÇÃO
São protegidos porque não participam das São protegidos quando não mais
hostilidades participam das hostilidades
- se estiverem sob o controle do
São protegidos porque não participam da inimigo
defesa - se feridos, doentes ou náufragos
- se caídos de pára-quedas fora de uma
aeronave em perigo (ver Art. 42 do
Protocolo I)
Apesar de a distinção entre civis e combatentes ser essencial, ela é geralmente muito
difícil de ser respeitada, sobretudo nos conflitos modernos.
A definição de combatentes
Figura 2-2
1) Um membro das forças armadas stricto sensu de uma parte do conflito armado
internacional39,
a) desde que respeite a obrigação de distinguir-se da população civil
39
Ver o Art. 4 (A) (1) da Convenção III.
40
Ver o Art. 4 (A) (2) da Convenção III.
41
Ver o Art. 43 do Protocolo I.
42
Ver o Art. 44 (5) do Protocolo I.
43
Ver o Art. 44 (3) do Protocolo I.
44
Ver o Art. 47 do Protocolo I.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 39
A Convenção III contém cerca de 90 normas detalhadas que regem o cotidiano dos
prisioneiros de guerra. Elas vão do interrogatório inicial (Art. 17) às restrições de
movimento (Art. 21), passando por questões relativas aos alojamentos (Art. 25), alimentação
(Art. 26), vestimentas (Art. 27), esportes (Art. 38), liberdade de religião, higiene, trabalho
etc. Todas essas regras estão claramente formuladas; o princípio geral da Convenção III é o
de que os prisioneiros de guerra devem ter uma vida o mais normal possível durante o
conflito internacional.45
Já que os prisioneiros de guerra são detidos apenas para impedir seu retorno às
hostilidades, eles devem ser liberados e repatriados quando sua participação não for mais
possível, seja por razões de saúde ainda durante o conflito, seja quando as hostilidades
ativas já tiverem terminado.46
45
N.B. O papel do CICV em nome dos prisioneiros de Guerra será discutido na Lição 8.
46
Ver o Art. 118 da Convenção III.
“Os prisioneiros de guerra serão libertados e repatriados sem demora depois do fim das hostilidades ativas.
Na ausência de disposições para este efeito num acordo entre as Partes no conflito para pôr fim às
hostilidades, ou na falta de tal acordo, cada uma das Potências detentoras estabelecerá e executará sem
demora um plano de repatriamento conforme o princípio enunciado no parágrafo anterior.
Num e noutro caso, as medidas adotadas serão levadas ao conhecimento dos prisioneiros de guerra.
As despesas de repatriamento dos prisioneiros de guerra serão em todos os casos repartidas de maneira
eqüitativa entre a Potência detentora e a Potência de que dependem os prisioneiros de guerra.
Para este efeito, serão observados os seguintes princípios nesta repartição: a) Quando estas duas
Potências forem limítrofes, a Potência de que dependem os prisioneiros de guerra custeará os
encargos do seu repatriamento a partir da fronteira da Potência detentora;
b) Quando estas duas Potências não forem limítrofes, a Potência detentora custeará os encargos do
transporte dos prisioneiros de guerra no seu território até sua fronteira ou seu ponto de embarque
mais próximo da Potência de que eles dependem. Quanto às outras despesas resultantes do
repatriamento, as Partes interessadas acordarão para as repartir eqüitativamente entre si.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 40
N.B. As regras que protegem essas categorias de vítimas estão contidas na Convenção IV
e na Parte IV do Protocolo I.
1) É considerada como civil toda pessoa não pertencente a uma das categorias
mencionadas pelo artigo 4.º-A, alíneas 1), 2), 3) e 6), da Convenção III e pelo
Artigo 43 do presente Protocolo. Em caso de dúvida, a pessoa citada será
considerada como civil.
Cada vez mais os civis têm se tornado a grande maioria das vítimas dos conflitos
armados, apesar do DIH, que estipula que os ataques devem ser direcionados aos
combatentes e aos objetivos militares, e que civis devem ser respeitados.
Durante a guerra, os civis devem ser respeitados por aqueles que têm autoridade, que
podem detê-los, praticar maus-tratos, incomodá-los, confiscar sua propriedade ou privá-
los de alimentação e assistência médica. Sob o DIH, algumas dessas proteções são
garantidas a todos os civis. No entanto, a maioria delas é específica para “civis
protegidos”47, ou seja, aqueles nas mãos do inimigo – seja porque se encontram no
território inimigo48 ou porque seu território está ocupado pelo inimigo49. Aqueles que não
A conclusão de tal acordo não poderá em caso algum justificar a menor demora no repatriamento dos
prisioneiros de guerra”.
47
Ver principalmente a Parte II da Convenção IV, Arts. 13-26 e Seção II da Parte IV do Protocolo I, Arts.
72-79, mais especificamente as garantias fundamentais contidas no Art. 75.
48
Ver os Arts. 27-46 e 79-135 da Convenção IV.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 41
Durante a guerra, civis também precisam ser respeitados pelas forças inimigas,
que poderiam, por exemplo, bombardear suas cidades, atacá-los nos campos de batalha,
ou dificultar o recebimento de alimentação ou a transferência de mensagens às famílias.
Tais regras sobre a proteção da população civil contra os efeitos das hostilidades,
principalmente encontradas no Protocolo I51, são parte das normas de conduta das
hostilidades52 e beneficiam todos os civis que se encontrem no território das partes de um
conflito armado internacional.53
49
Ver os Arts. 27-34 e 47-135 da Convenção IV.
50
Ver os Arts. 79-135 da Convenção IV.
51
Ver especificamente os Arts. 48-71 do Protocolo I.
52
Ver Lição 4.
53
Ver os Arts. 49 (2) e 50 (1) do Protocolo I.
54
Ver os Arts. 25 da Convenção I; 14-15 da Convenção IV; 59-60 do Protocolo I.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 42
criadas para proteger as vítimas de guerra dos efeitos das hostilidades e para evitar que
elas se encontrem sob o fogo do inimigo, por meio da garantia das forças inimigas de que
não há objetivos militares em determinada área onde as vítimas de guerra estejam
concentradas. Assim, se o inimigo respeita o DIH, as vítimas de guerra nessas zonas não
correm risco de serem feridas ou alcançadas pelos efeitos das hostilidades. As zonas
criadas sob o DIH devem ser diferenciadas das zonas de proteção, corredores
humanitários ou das zonas de segurança recentemente criados sob o Capítulo VII da
Carta das Nações Unidas, de maneira a impedir que essas áreas e as vítimas de guerra ali
encontradas caiam sob o controle do inimigo.
55
Ver as Seções I, II e IV da Parte II da Convenção IV.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 43
De acordo com o DIH, as leis locais continuam em vigor nos territórios ocupados56 e
os tribunais locais permanecem ativos, exceto em relação à proteção da segurança da
potência ocupante57. Além disso, exceto quando absolutamente necessário para as operações
militares, a propriedade particular não poderá ser destruída,58 ela só pode ser confiscada sob
a legislação local. A propriedade pública (outras que não as dos municípios) pode
obviamente não mais ser administrada pelo Estado que antes controlava o território
(geralmente o soberano). Pode, com isso, ser administrada pela potência ocupante, mas
apenas sob as normas do DIH.59 A população local não pode ser deportada;60 a potência
ocupante não pode transferir sua própria população para o território ocupado.61
56
Ver o Art. 43 das Regulamentações de Haia e o Art. 64 da Convenção IV.
57
Ver o Art. 66 da Convenção IV.
58
Ver o Art. 53 da Convenção IV.
59
Ver o Art. 55 das Regulamentações de Haia.
60
Ver o Art. 49 (1) da Convenção IV.
61
Ver o Art. 49 (6) da Convenção IV.
62
Ver o Art. 43 das Regulamentações de Haia.
63
Ver o Art. 56 da Convenção IV.
64
Ver o Art. 55 da Convenção IV.
65
Ver o Art. 73 do Protocolo I e o Art. 70 (2) da Convenção IV.
66
Ver o Art. 47 da Convenção IV.
Lição 2/ Proteção de Vítimas no Conflito Armado Internacional 44
Pessoas deslocadas são civis que fogem do conflito armado para um destino dentro
de seu próprio país.O DIH protege aqueles deslocados por causa de um conflito armado
internacional, por exemplo, a eles garantindo o direito de receber itens essenciais à
sobrevivência.69 Os civis deslocados por conflitos armados internos têm proteção similar,
apesar de ser menos detalhada nesse caso.70
Os refugiados, por outro lado, são os que fogem de seu país. O DIH protege tais
indivíduos, como civis afetados pelas hostilidades,71 somente se eles tiverem fugido de um
país que estiver envolvido em um conflito armado internacional72 (ou se este Estado estiver
gravemente envolvido com um conflito armado interno73). O DIH protege de maneira
específica os refugiados que entram o território do Estado inimigo, impedindo um
tratamento desfavorável (baseado em sua nacionalidade74) Aqueles considerados refugiados
antes do início das hostilidades (incluindo os de um Estado neutro) sempre serão
considerados pessoas protegidas sob o DIH dos conflitos armados internacionais.75 O DIH
também oferece proteção especial àqueles que fogem para territórios que depois são
ocupados pelo seu Estado de origem.76 Por fim, no que se refere à não-repatriação, as
Convenções dispõem, de maneira expressa, que as pessoas protegidas não podem ser
transferidas para um Estado onde haja temor de perseguição por motivações políticas ou por
crenças religiosas.77
67
Ver o Art. 17 do Protocolo II.
68
Ver o Art. 49 da Convenção IV.
69
Ver o Art. 23 da Convenção IV e o Art. 70 do Protocolo I.
70
Ver o Art. 3o comum das Convenções e o Protocolo II (que repete e amplia as regras do Art. 3o comum).
71
A Convenção da ONU Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951) e seu Protocolo de 1967 definem o
refugiado com termos muito restritos (de maneira geral, é aquele que foge de perseguição). Somente a
“Convenção da Organização da Unidade Africana que Rege os Aspectos Específicos dos Problemas dos
Refugiados na África” inclui, em seu conceito de refugiados, pessoas que fogem de conflitos armados. Ainda
assim, no caso de fuga de território que não esteja envolvido em conflito armado, os civis devem confiar em
tais Convenções e no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados para obter proteção e
benefícios, já que o DIH não é aplicável.
72
Ver os Arts. 35-46 da Convenção IV.
73
Nesse caso, aplicar-se-ia o Art. 3º comum às Convenções e o Protocolo II.
74
Ver o Art. 44 da Convenção IV.
75
Ver principalmente o Art. 73 do Protocolo I.
76
Ver o Art. 70 (2) da Convenção IV.
77
Ver o Art. 45 (4) da Convenção IV.