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Não temos uma data exata em que surgiu o Direito Internacional, mas podemos
afirmar que desde que surgiram comunidades mais organizadas, denominadas
civilizações antigas, encontramos acordos feitos entre estas, que nos remetem ao
direito internacional, como a existência do acordo entre o Rei de Elba e o Rei da
Assíria celebrado no 3º milênio antes de Cristo, em que estabelecem regras de
comércio, de sanções contra criminosos e relações de amizade.
Conforme Casella e col. (2012, p. 81) O primeiro tratado que se tem registo se deu “no
sistema das cidades-estado da Mesopotâmia, fixa as fronteiras entre as cidades de
Lagash e Umma, com participação de MESILIM, soberano do vizinho estado de Kish,
normalmente datado por volta de 3100 a.C.”.
A partir da Segunda Grande Guerra Mundial, o Direito Internacional é o que mais tem
evoluído dentre todos os ramos jurídicos, influenciando todos os aspectos da vida
1
humana. Até o início do século XX, o Direito Internacional era bidimensional,
versando apenas sobre a terra e o mar, a partir de então, graças às façanhas de Santos
Dumont, passou a ser tridimensional e, após a Segunda Grande Guerra, passou a
abarcar ainda o espaço ultraterrestre e os fundos marinhos.
O Direito internacional tem de ser compreendido a partir da história, e ele tem uma
história que faz parte da história das sociedades humanas e do Direito. Assim sendo, a
história do Direito internacional interpenetra-se com a história do Estado.
Apesar do que vimos acima, e diversos outros exemplos que não foram citados para
que não sejamos redundantes, alguns doutrinadores entendem que o Direito
Internacional Público surgiu com o tratado da paz de Vestefália 1, tratado este que pôs
fim à Guerra dos trinta anos.
1
Os tratados de Munster e Osnabruck, na Vestefália, em 24 de outubro de 1648, marcam o fim da Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648): o fim de uma era e início de outra, em matéria de política internacional, com acentuada influência sobre o
direito internacional, então em seus primórdios. Esses tratados acolheram muitos dos ensinamentos de Hugo Grócio,
surgindo daí o direito internacional tal como conhecemos hoje em dia, quanto triunfa o princípio da igualdade jurídica dos
Estados, estabelecem-se as bases do princípio do equilíbrio europeu, e surgem ensaios de regulamentação internacional
positiva. Desde então, o desenvolvimento do direito internacional marchou rapidamente.
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Grócio (Direito de guerra e Direito de Paz- Jus Belly ac jus pacis), o jurista habitualmente considerado o primeiro
grande cultor do Direito Internacional.
3
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público 1, edição: Pedro Perreira, Lisboa, 1995. P. 17-18.
2
2º Período, o Direito internacional contemporâneo, que evoluiu a seguir à 1ª Guerra
Mundial, dividia-se em duas fases:
Hugo Grócio acreditava que o homem deseja viver em sociedade de forma ordenada e
pacifica então dessa ideia surge um direito que se internacionaliza para promover
sociabilidade entres os Estados. Defendia a guerra justa, regulamentada e que
acontecesse apenas quando estritamente necessário. Utilizou precedentes bíblicos e da
história antiga, grega e romana para estabelecer normas de direito internacional.
Afirmava também que todo direito natural deve ser entendido como forma de buscar a
conservação da sociedade. Pufendorf é criticado justamente por dar deveras
importância ao direito natural em detrimento do direito positivo.
3
III. CONCEITO, OBJECTO DO DIREITO INTERNACIONAL
1. Conceito do DIP
Entretanto, MAZZUOLI (2009, p.66 e 67) observa que os Estados deixaram de ser os
únicos actores da cena internacional. Daí o entendimento contemporâneo de ser o
Direito Internacional Público aquele ramo do Direito capaz de regular as relações
interestatais, bem como as relações envolvendo as organizações internacionais e
também os indivíduos, ainda que a actuação desses últimos seja mais limitada no
cenário internacional.
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b) A limitação do uso da força pelos Sujeitos do DIP;
c) A protecção de interesses universais como os direitos humanos e o meio ambiente;
d) A implantação de mecanismos internacionais de apuração de responsabilidade
internacional dos Sujeitos do DIP (veremos mais adiante).
Cada Estado possui o seu direito interno regulando a vida no seu interior, enquanto
tratados e convenções internacionais regulam a convivência entre os Estados.
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V.DIVISÃO DO DIREITO INTERNACIONAL (PÚBLICO E PRIVADO)
Denominações
Para, Isabel Magalhães Collaço, Direito Privado é o ramo que regula a questão privada
internacional através de remissão para uma das ordens jurídicas locais a que a questão
está ligado, ordem jurídica essa, que é assim declarada competente para a resolver.
Porém, o Direito Privado caracteriza-se em conflitos de leis na sua aplicabilidade.
6
Deve-se destacar que o principal fundamento dos tratados vem a ser um dos princípios
da sociedade internacional: o PactaSunt Servanda, que poderíamos definir
como aquilo que foi pactuado deve ser cumprido. Segue o artigo 26º da Convenção de
Viena Sobre o Direito dos Tratados, estipulaque: Todo tratado em vigor vincula as
Partes e deve ser por elas cumprido de boa-fé”.
A relação existente entre Direito Internacional e Direito interno pauta-se numa linha
ainda não muito clara de entendimento. Os juristas discutem a possibilidade de conflito
de normas das duas esferas ocorre, a solução é buscada no dualismo ou no monismo,
teorias que explicam a prevalência de um ou de outro Direito. São três sistemas
básicos reconhecidos quanto ao relacionamento entre o Direito Internacional e o
Direito Interno de determinado Estado:
Dualismo
Segundo a doutrina dualista, para que uma norma internacional seja aplicada na ordem
interna de um Estado, este deve primeiramente transformá-la em norma de direito
interno, incorporando-a ao seu ordenamento jurídico doméstico. Esta doutrina costuma
ser chamada de teoria da incorporação.
O dualismo permite uma divisão radical entre a ordem interna e a ordem internacional,
pondo-as em patamares equivalentes, incomunicáveis.O Direito Interno é elaborado
pela vontade soberana do Estado e o Direito Internacional na acomodação dessas
vontades; além do que, a ordem interna obedece a um sistema de subordinação, e a
internacional, de coordenação. Segundo esta teoria, não existiria a possibilidade de
7
conflito entre as duas ordens jurídicas, por serem completamente independentes.
Formularam-na Triepel, Anzilotti, dentre outros. Em outras palavras, não há conflito
entre as ordens.
O monismo sustenta que o Direito Internacional e o Direito nacional são dois ramos de
um único sistema, defendendo uns o primado do primeiro, e outros a primazia do
segundo.
Podemos definir o monismo de primazia do direito interno, como teoria que defende “
a não existência de duas ordens jurídicas (a ordem jurídica interna e a ordem jurídica
internacional) mas, a existência de uma única ordem jurídica, que é justamente a
ordem jurídica estadual”
hierarquia existente entre as normas legais, atribuindo ao topo dessa pirâmide a norma
maior, que é a Constituição, seguida das leis completares.
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Tradicionalmente, existem três sistemas ou modelos típicos de incorporação 5 para
conferir a relevância do Direito internacional na ordem interna:
9
entidade central e superior ao conjunto de Estados, com a prerrogativa de impor o
cumprimento da ordem jurídica internacional ede aplicar uma sanção por sua
violação. Os sujeitos de direito (os Estados), aqui, diferentemente do caso do direito
interno, produzem, eles mesmos, diretamente, a norma jurídica que lhes será aplicada
(por exemplo, quando um Estado celebra um tratado), o que constitui uma relação de
coordenação. O direito internacional é, portanto, sui generis, peculiar, entre os ramos
do direito.
1. ASPECTOS GERAIS
Denominam-se as fontes de direito internacional, que constituem o modo pelos quais
se manifesta ou revelam as normas jurídicas, ou seja, as maneiras pelas quais surge a
norma jurídica. São os meios formais do Direito Internacional.
Não se pretende com isto negar a existência das fontes materiais (os elementos
históricos, sociais e económicos). Porém, ao Direito positivo, só interessam as fontes
formais. Exemplo: um tratado é fonte formal do Direito Internacional Público.
Entretanto, as fontes materiais são estudadas apenas para sabemos as origens das
fontes formais, porque elas não pertencem ao Direito Positivo, ao qual só interessa a
fonte formal. Assim, a fonte formal é um simples reflexo da fonte material.
10
As fontes formais do Direito Internacional encontram-se enunciadas no Estatuto da
Corte Internacional de Justiça (ECIJ) nos traz em seu artigo 38ºno seu nº 1. O
Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional as
controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
b) O costume internacional como prova de uma prática geral aceite como direito;
Ora, facilmente se observa qual na fórmula adoptada, dir-se-ia feita a distinção entre
fontes primárias ou principais (as convenções, o costume e os princípios gerais do
Direito) e as fontes secundárias ou auxiliares (jurisprudência e a doutrina) estas
últimas, podendo ser utilizadas para a resolução de algum litígio que envolva a
matéria.
Existem ainda duas outras fontes não nomeados no artigo 38º do ECIJ que são:
e) Os actos unilaterais
f) As deliberações das Organizações internacionais
11
Por se tratar de um acordo celebrado entre as partes, esse documento não possui
validade para obrigar toda a sociedade internacional, apenas aqueles signatários, ou
sejam, os que assinaram e concordaram com as regras ali estabelecidas.
a) Um acordo de vontades;
b) A necessidade de as partes serem todas SDI e de agirem nessa qualidade;
c) Deve ser regido pelo DI;
d) Deve produzir efeitos jurídicos com relevância nas relações internacionais, e que
os efeitos manifestem nas ordens internas das partes.
a) Que as partes sejam Estados – porque há tratados entre Estados e outros sujeitos
de Direito internacional ou mesmo apenas entre sujeitos de DI que não os
Estados;
c) Sendo escrito o acordo, deve ser reduzido a um único instrumento, pois pode o
consenso formar-se através de troca de notes.
Convenção: é o tratado que cria normas gerais (campo jurídico) por exemplo a
convenção sobre o mar territorial, Convenção de Viena, etc…
Declaração: é usada para acordos que criam princípios jurídicos ou afirmam uma
atitude política comum. Exemplo: Declaração de Paris em 1856.
12
Concordata: tratado entre a Santa Sé e um Estado sobre assuntos religiosos. Exemplo,
Angola e o Vaticano.
Troca de notas: é um acto de tipo acessório. Temos ainda: Estatutos, Carta, Convénio.
Tratados bilaterais; aqueles que são celebrados entre duas partes em que se
presentem a reciprocidade dos interesses.
13
Tratados fechados: não admitem a assinatura, a ratificação ou adesão de sujeitos que
não participaram no seu momento inicial de celebração, na negociação ou na
assinatura.
Por definição, os tratados multilaterais são ou devem ser tratados abertos; os tratados
delimitação de fronteiras, as concordatas e os acordos entre as Nações Unidas e as
Organizações especializadas são tratados fechados.
Consentimento mútuo;
Capacidades das partes contratantes;
Habilitação dos Agentes signatários;
Objecto Lícito e Possível.
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Promulgação
Publicação
Negociação
Um acto relativo à conclusão de um tratado praticado por uma pessoa que, nos termos
do artigo 7º CVDT, não pode ser considerada representante de um Estado para esse
fim não produzir efeitos jurídicos, a não ser que seja confirmado, posteriormente, por
esse Estado. Artigo 8º CVDT.
Assinatura
6
Artigo 2º e 7º nº 1. CVDT
7
Dicionário Ilustrado de Língua Portuguesa.
8
Artigo 9º nº1.CVDT
9
Artigo 9º nº2 CVDT
15
É a segunda fase da conclusão do tratado, carece de ser assinado ou de autenticação do
texto adoptado o documento (artigo 10º CVDT). A negociação de qualquer tratado
cabe, quanto a cada Estado, às pessoas investidas de plenos poderes (plenipotenciários)
como seus representantes, e esses poderes são os apropriados para o efeito, mas a
representação do Estado pode resultar da prática dos Estados interessados ou de outras
circunstâncias (artigo 7º, n.º 1 CVDT).
Ratificação
Registo
Todos os tratados concluídos deverão ser registrados após entrarem em vigor, como
estabelece no artigo 102º nº1 da Carta da ONU, conjugado com o artigo 80º CVDT.
Esse Registo é feito no Secretariado da ONU e seu efeito é dar publicidade ao Tratado
na ordem internacional. Portanto, com o registo termina a fase internacional.
O Tratado sem registo é considerado um Tratado secreto, que não será vinculativo e
reconhecido por outros Estados, mas só será válido entre as partes contratantes. A
única sanção para o Tratado não registado é que não poderá ser invocado perante
10
Artigo 14º (CVDT)
11
Os órgãos com o Treatymakingpower (a não confundir com o jus tractum, que é a capacidade convencional do próprio
Estado.)
16
qualquer órgão das Nações Unidas, como previsto no artigo 102º nº2 da Carta da
ONU.
Historicamente, os tratados secretos revelaram-se sempre perigosos para a paz e para
segurança colectiva, e são inadmissíveis em forma de governo democrático. Por isso,
para maior certeza nas relações internacionais, consagra-se a regra do registo dos
tratados.
Obs. Mesmo os Estados que não são membros (ONU) podem registar Tratados,porque
há um interesse maior de que todos os tratados sejam Reconhecidos.
Promulgação
Publicação
A Reserva: é uma declaração unilateral, seja qual for o seu conteúdo ou a sua
designação, feita por um Estado, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um Tratado,
ou a ele aderir, com o objectivo de excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas
disposições do Tratado em sua aplicação a esse Estado (artigo 2º n.º1 al. d) da CVDT).
A reserva deve ser formulado por escrito e comunicado aos outros contratantes.
Portanto, existe esta tipologia de reserva:
12
Lukamba, Paulino, Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.2011, pág. 59.
17
Um Estado põe a reserva porque aceita o tratado com a modificação de algumas
cláusulas do tratado;
Um Estado põe reserva porque aceita o tratado, mas com a condição de que
certa clausula seja deste modo interpretado (reserva interpretativa).
Provém da Teoria Geral do Direito Civil o estudo dos vícios capazes de invalidar o
negócio jurídico, a que o Direito dos Tratados tomou de empréstimo. Neste último
campo é possível falar em vícios que invalidam o consentimento do Estado em
obrigar-se por um tratado, e também em fatos que invalidam o tratado propriamente
dito.
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 intitula toda a Seção 2 da
sua Parte V (que vai do artigo 46º ao artigo 53º) de Nulidade dos Tratados. Tal
denominação, contudo, é imprópria, uma vez que de nulidade convencional
propriamente dita a Convenção não cuida senão em dois dispositivos daquela Seção:
são eles os artigos 52º e 53º, que versam os casos de “coação a um Estado pela ameaça
ou emprego da força” e de “tratado em conflito com uma norma imperativa de Direito
Internacional geral (jus cogens) ”, respectivamente.No que tange ao conflito do tratado
com norma de jus cogens, há também o caso da nulidade superveniente do tratado,
regulado pelo artigo 64º (que está fora da Seção 2 citada). Nos dois primeiros casos
(artigos 52º e 53º) a nulidade é abinitio, ou seja, tem efeito extunc; no segundo caso
(artigo 64º) a nulidade é superveniente (de efeito exnunc).Afora isto, todas as demais
disposições da Convenção (artigos. 46º a 51º) versam casos de vícios relativos ao
consentimento do Estado em obrigar-se pelo tratado (e não de nulidade do tratado
propriamente dito). A Convenção permite seja o consentimento anulável (a depender
da vontade do Estado-vítima) nas hipóteses dos artigos 46º a 50º; e versa apenas um
único caso de nulidade (propriamente dita) do consentimento, disciplinado pelo artigo
51º que diz, quando há coação sobre o representante de um Estado (ou de uma
organização internacional).
18
(2) Os casos de nulidade do tratado propriamente dito (artigos 52º e 53º). Daí a
necessidade de se estudar o tema sob a rubrica mais apropriada “Vícios do
Consentimento e Nulidade dos Tratados”.
Este ensaio tem exatamente a finalidade de realocar os temas citados em seus devidos
lugares, bem assim diferenciar os efeitos práticos de cada caso que se tratar,
diferenciando os vícios do consentimento da nulidade dos tratados, o que até o
presente momento a doutrina parece não ter feito de maneira adequada.
Vejamos, então, cada uma das hipóteses dos vícios do consentimento (casos de
anulabilidade e nulidade do consentimento) e de nulidade dos tratados:
1. Anulabilidade do consentimento
19
caso, é também anulável o consentimento que nasceu viciado por erro, por dolo ou
pela corrupção do representante de um Estado (ou de uma organização
internacional). Estas outras causas de anulabilidade é que serão estudadas neste
ensaio.
Frise-se que somente o Estado (ou organização internacional) que foi vítima de alguma
dessas causas de anulabilidade do consentimento é que pode invocá-las em seu favor, e
mais nenhum outro, posto terem sido estabelecidas no âmbito de seu interesse
particular. Daí não poder o Estado (ou a organização internacional em causa) alegá-las
20
se, após ter tomado conhecimento de sua ocorrência, aquiesceu, expressa ou
tacitamente, com a validade do consentimento anteriormente manifestado.
2. Nulidade do consentimento
Em uma única hipótese (a do art. 51º) prevê a Convenção de Viena a nulidade
(absoluta) do consentimento do Estado em obrigar-se pelo tratado. Trata-se do caso do
consentimento obtido por coação do representante do Estado, nestes termos:
No caso de ser reconhecida (v.g., pela CIJ) a coação sobre o representante do Estado,
anula-se abinitiotão-somente o consentimento em obrigar-se pelo tratado do Estado
em causa, não se anulando o tratado propriamente, que continuará válido para as
outras partes contratantes, se for multilateral. Evidentemente que no caso dos tratados
bilaterais, por um motivo de facto, o reconhecimento da nulidade do consentimento faz
cessar a relação entre as duas partes (eis que não há como sobreviver para uma das
partes apenas).
21
Para além do caso relativo à nulidade do consentimento de um Estado em obrigar-se
pelo tratado, versado pelo artigo 51º, prevê ainda a Convenção duas hipóteses de
nulidade absoluta do próprio tratado, com efeitos extunc. São elas: a coação sobre um
Estado soberano pela ameaça ou emprego da força (artigo 52º) e o conflito de tratado
posterior com uma norma imperativa de Direito Internacional geral – jus cogens
(artigo 53º).
Cabe aqui verificar apenas o caso de coação sobre um Estado estabelecido pela
Convenção, pois o estudo da nulidade dos tratados por desrespeito ao jus cogens (tanto
preexistente como superveniente) foge ao escopo deste trabalho.
Pois bem, diz a Convenção de Viena não produzir “qualquer efeito jurídico a
manifestação do consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado que tenha
sido obtida pela coação de seu representante, por meio de actos ou ameaças dirigidas
contra ele” (art.51º); e diz ser “nulo um tratado cuja conclusão foi obtida pela ameaça
ou o emprego da força em violação dos princípios de Direito Internacional
incorporados na Carta das Nações Unidas” (art. 52º).
Qual a diferença entre essas duas normas no que tange à extensão dos efeitos da
nulidade? A diferença (repita-se) está no seguinte: no primeiro caso (coação exercida
sobre o representante de um Estado) a nulidade atinge não o tratado em si, mas o
consentimento do Estado em obrigar-se por ele, estendendo efeitos apenas às partes
envolvidas, ou seja, coactor e coagido, ao passo que na segunda hipótese (coação de
um Estado pela ameaça ou emprego da força) ela recai sobre o próprio tratado, sendo
então oponível erga omines, por tratar-se de um acto ilícito cometido contra todos os
membros da sociedade internacional entendida em seu conjunto.
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Tanto na hipótese do artigo 51º, como na do artigo 52º da Convenção, bem assim do
seu artigo 53º (que versa a hipótese de conflito entre tratado e norma de jus cogens
preexistente), a divisão das disposições do tratado não é permitida (artigo 44º, § 5º).
Ou seja, nestes três casos a nulidade contamina o acto por inteiro.
Sem dúvida, a regra que ocasiona a nulidade pleno jure do tratado concluído sob
coação ao próprio Estado (art. 52º) é mais difícil de interpretar do que a regra que
nulifica o consentimento por coação sobre o representante do Estado (art. 51º).
Primeiramente, não é fácil saber até onde chega o alcance dos termos “ameaça” e
“emprego da força”, utilizados pelo art. 52º da Convenção. Calorosos foram os debates
durante a Conferência de Viena acerca da exacta compreensão destes significados.
A expressão “força”, por ter ficado sem uma delimitação precisa, requer seja
interpretada segundo os ditames das regras geralmente aceitas de hermenêutica13
internacional. Evidentemente que nem toda “força” é capaz de invalidar um
compromisso internacional: fosse assim (diz Reuter) “todos os tratados de paz seriam
nulos”.Aliás, essa última situação (a dos tratados de paz) é sempre questionada pela
doutrina: se tais tratados seriam ou não nulos por terem sido concluídos pelo uso da
força (do vencedor contra o vencido). Toda a doutrina alemã, v.g., considerou nulo o
Tratado de Versalhes de 1919, imposto à Alemanha pelos vencedores da Primeira
Guerra. Mas, levado a ferro e fogo tal entendimento, seriam também nulos os “tratados
desiguais”, assim chamados os celebrados por Estados em tudo dissemelhantes no que
toca à hierarquia de poder, em que se presume que um (o Estado fraco) é totalmente
13
Interpretação
23
dependente em relação ao outro (o Estado forte) etc.Em suma, apenas o uso ilícito da
força é capaz de invalidar um tratado.Como exemplo de acto internacional celebrado
sob coação ilícita ao Estado tem-se o Tratado Alemanha-Tchecoslováquia, de 1938,
concluído sob ameaça de bombardeio à Praga, tornando patente a coação exercida
sobre a então Tchecoslováquia.
14
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público 1, edição: Pedro Perreira, Lisboa, 1995. P. 62
24
Nota bem: o costume internacional não resulta só prática dos Estados (e de outros
sujeitos) nas suas relações bilaterais e multilaterais. Mas, resulta também da prática
que se desenvolva no interior das OIs (por parte dos respectivos órgãos ou por eles em
relação com Estados membros). Uma grande parte do direito interno, das OIs é ele
próprio o produto do costume. Como porexemplo: o direito de veto dos membros
permanentes do Conselho Segurança, estipulado no artigo 27º nº3 da carta da Nações
Unidas, as deliberações do Conselho de Segurança em questões não processuais são
todas com os votos afirmativos de nove (9) membros (o Conselho de Segurança tem
15), incluindo os votos de todos os membros permanentes. À letra, isto significa que
tanto o voto contrário como a abstenção equivaleriam a Veto, a oposição15.
Quanto ao tempo, podemos dizer que não existe um prazo determinado para que surja
um Costume Internacional, sendo suficiente apenas provar que tal regra é reconhecida
como sendo direito.
Para que uma regra costumeira possa afirmar-se e possa fazer sentir os seus efeitos na
Comunidade Internacional é necessário que encontre o seu fundamento num
comportamento comum da maioria dos Estados17.
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Lukamba, Paulino. Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.2011, pp 89-90.
25
O Elemento Subjetivo também é denominado de Elemento Psicológico, cujo nome
técnico consistem em "OpinioJuris" ou "OpinioNecessitatis, que dá o
caracterobrigatório que o distinguem dos simples hábitos ou da cortesia internacional.
O hábito tem características individuais. O uso é mera prática social, não obrigatória.
O costume tem o elemento social, mas além disso exigível juridicamente.
Costumes locais: surge quando dois Estados que nas suas relações vem observando
duradoiramente certa conduta com a consciência da sua juridicidade (são costumes
bilaterais).
O costume extingue-se:
Por um tratado mais recente que o codifica ou revoga;
Pelo desuso;
Pelo surgimento de um novo costume
26
Obs.: o costume deve ter uma sanção jurídica, caso contrário tornar-se-á uma prática
de uso. No entanto, poderá o tratado revogar o costume e vice-versa.
O recurso aos princípios gerais, constitui uma forma de “analogias iuris” destinada a
colmatar as lacunas das normas pactícias e das normas costumeiras. O recurso aos
princípios gerais consagra uma prática dos tribunais internacionais sobretudo arbitrais,
que visam aproximar o Direito aos princípios de justiça expressos pelos antigos com as
fórmulas.
18
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público-I, edição: Pedro Perreira. Lisboa. 1995. Pág.141-153.
27
b) Princípio atinentes às relações entre os Estados:
Princípio da igualdade jurídica dos Estados;
Princípio do respeito da integridade territorial;
Princípio da não interferência dos assuntos internos os outros Estados;
Princípio da continuidade do Estado.
Estas não podem ser consideradas como verdadeiras fontes de Direito internacional ou
do ordenamento jurídico da Comunidade internacional, porque são enquadradas como
meios de interpretação dos conteúdos das normas do Direito internacional, como
afirmava o artigo 38º do ETIJ que serve delas como meio auxiliares para determinação
das regras de Direitos. Sendo:
28
A Doutrina conjunto de teorias ou opiniões de professores e técnicos de Direito sobre a
forma de aplicar, articular e interpretar as normas jurídicas.
São aqueles em que a manifestação de vontade de uma pessoa de direito vai produzir
efeitos na Ordem Internacional. Quem pode formular Actos Unilaterais são
os Estados e as Organizações Internacionais. O Indivíduo não poderá formulá-lo.
Assim, não é de se surpreender que haja inúmeros actos praticados por esses sujeitos,
com formas e efeitos diversos. Uma questão bastante importante a ser discutida é a
distinção entre o acto unilateral jurídico e o acto unilateral do Estado que não tem a
intenção de estabelecer ou confirmar uma relação jurídica, mas possui natureza
política.
19
Lukamba, Paulino. Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.201. Pp.97-98
29
ou situações legais. Os actos de caráter político, por sua vez, comprometem-no apenas
neste contexto, gerando apenas consequências dessa natureza pelo seu não-
cumprimento.
A Comissão acima referida arrolou alguns actos que exemplificam os actos políticos e
que, portanto, não são submetidos ao Direito Internacional. Entre eles estão as
declarações unilaterais dos Estados possuidores de armas nucleares, denominadas
“declarações de garantia negativa de segurança”, formuladas em diversos níveis e em
distintos órgãos e contextos internacionais. A maioria de seus membros considerou
que se tratava de declarações de natureza política que, em razão disso, não
vinculavam juridicamente o Estado declarante. Do exame dos textos dessas
declarações e das circunstâncias ou contexto nas quais foram formuladas, deduziu-se
que não houve intenção, por parte dos Estados declarantes, de assumir obrigações
jurídicas relacionadas com tais garantias negativas de segurança. Tratavam-se, assim,
de declarações unilaterais políticas que não estão submetidas ao Direito Internacional.
30
Promessa: é a declaração unilateral de vontade pelo qual certo sujeito se compromete
a agir ou a não agir de certo modo. Ou ainda, é a declaração unilateral em que um
Estado diz assumir uma certa postura.
Denúncia: surge quando um Estado denuncia um tratado e se retira dele. Pode ser:
Renúncia: é o acto jurídico unilateral pelo qual certo sujeito DI declara não exercer
ou, eventualmente mesmo, deixar de ter na sua esfera jurídica certo direito.
Os tipos de decisões:
No âmbito das Nações Unidas são decisões normativas gerais, embora concretas, as da
Assembleia Geral sobre matéria financeiras- artigo 17º da Carta- e, sobretudo, as do
31
Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e da segurança internacionais
(artigo 39º e ss).
Facto é que, a despeito de se filiar a uma ou outra corrente, muitos atores, sejam
pessoas físicas ou jurídicas, desenvolvem atividades extrafronteiras e suas
manifestações e deliberações trazem impactos que, materializam poderes que sequer
Estados soberanos conseguem ombrear. A própria Cruz Vermelha, uma organização
não-governamental humanitária, demonstra uma forma de atuação, influência e
credibilidade que inúmeros países nem ao menos conseguem igualar. Ela aparenta ter
muitos atributos pertencentes a tradicionais sujeitos internacionais, todavia, mesmo
assim, há muitos argumentos contrários à sua condição de sujeito internacional. Veja-
se o quão árdua é a missão de definir os entes que possuem personalidade
internacional e que, por consequência, têm capacidade.
32
Com tais premissas, resta, destarte, escorreito afirmar que não há fórmula fechada ou
um tratado que, categoricamente, defina quem são os sujeitos, cabendo à doutrina e à
jurisprudência assim proceder.
Frente a essa exposição, cabe destacar que há três correntes sobre a temática.
A teoria clássica foi abandonada devido a vários factores. Pode ser novamente referida
a expansão do Direito Internacional, conjuntamente com a redefinição do conceito de
soberania, o que está conectado com a própria flexibilização da supremacia
constitucional, pois as fontes externas e os agentes não nacionais cada vez mais
influem no cenário externo e nos territórios nacionais. Outros agentes começaram a
povoar os espaços não mais ocupados pelos Estados.
33
desses padrões (Estado, organização internacional ou indivíduo) também assumiram e
passam a assumir a condição de novos sujeitos.
I. ESTADO
Noção de Estado
Para alguns autores, o Estado é o conjunto dos órgãos que, numa sociedade,
aparecem a exercer o poder político. Esta definição assenta num critério funcionalista,
34
pois atribui às funções dos órgãos de soberania a verdadeira essência do Estado. O
conceito de Estado assim definido presta-se a alguns equívocos, porque dá azo ao
desenvolvimento da tendência do poder do Estado, pois considerar que o Governo que
exerce o Poder é de facto o Estado, implica pensar-se que, quando se assume o poder
governamental, se adquire também o poder do Estado, o que muitas vezes não
corresponde à realidade, pelo facto de o governo falar em nome do Estado e de estar
oficialmente investido do poder do Estado, não quer dizer que controle efectivamente
esse poder.
Para outros autores, o Estado é uma instituição social equipada e destinada a manter
a organização política de um povo, interna e externamente. Este conceito de Estado
evoca desde logo a ideia de poder, de poder eficaz, protegido, organizado. O Estado é
uma forma de organização social, que garante, contra os perigos internos e externos, a
sua própria segurança, bem como a dos seus súbditos.
POVO
O Povo (ou comunidade humana) é o conjunto dos nacionais, isto é, das pessoas
ligadas ao Estado pelo vínculo da nacionalidade. De acordo com a CRA, Angola é um
Estado baseado na soberania popular, nos termos dos artigos 1º e 3º, também o artigo
105º e ss.
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José Fernandes, António: introdução à Ciência Política “Teorias, Métodos e Temáticas”, Porto-Portugal. Editor: Porto
Editora,2008, Pg. 71-73.
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A população, ou povo22 como mais comummente se designa, é considerada o primeiro
elemento do Estado. Não é possível conceber um Estado sem população. Todavia, nem
toda a população que vive num território sob o controlo de um determinado Poder
soberano constitui o elemento humano do Estado. Somente os indivíduos que estão
sujeitos às normas gerais definidas pelos órgãos do Poder fazem parte da população
do Estado referimos que são os seus nacionais.
A População é o conjunto de pessoas que residem num determinado território. Com
efeito, a população é constituída pelos estrangeiros, pelos apátridas e pelos nacionais
residentes no território nacional, excluindo, portanto, os nacionais que estejam
emigrados. Assim, enquanto o conceito do povo é político, o conceito de população é
meramente económico ou estatístico.
NAÇÃO
A Nação designa um conjunto de pessoas ligadas pelo sentimento de pertencerem a
uma realidade cultural (linguística, religiosa, costumes), éticos (procedência comum) e
políticos. Com efeito, a nação não coincide necessariamente com o povo. Podem
existir Estados que integrem mais do que uma nação (o povo espanhol, por exemplo,
integra os Bascos, os catalães e os Galegos) e podem existir nações divididas por mais
de um Estado (o caso alemão, por exemplo, antes da queda do muro de Berlim).
O vínculo jurídico que liga os indivíduos a uma sociedade politica- Estado- Chama-se
Nacionalidade, portanto, é uma qualidade a que correspondem certos direitos e certas
obrigações para com os outros nacionais e para com a própria coletividade.
TERRITÓRIO
Território é o espaço geográfico onde se exerce o poder do Estado. Sem ele não há
Estado.
Os elementos que compõem o Território:
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Alguns autores, como Marcelo Caetano, preferem a palavra “Povo” para designar a população do Estado,
argumentando que o termo “População” tem um significado económico, que corresponde ao sentido vulgar, e que
abrange o conjunto das pessoas residentes num território, quer se trate de nacionais, quer de estrangeiros (Marcelo
Caetano, “Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional” Tomo I, 6 ª ed, li. Almedina,Coimbra,1983,p. 123)
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- Solo terrestre é delimitado pelas fronteiras, e pode ser contínuo ou descontínuo,
ocorrendo a descontinuidade, nomeadamente em Estados que são integrados por
território continental e por territórios insulares.
- O subsolo terrestre corresponde a toda a área subjacente ao solo até aonde a acção
humana seja possível.
- O espaço aéreo é toda a extensão aérea existente sobre o solo terrestre e mar
territorial.
- O mar territorial ou espaço marítimo corresponde à faixa de águas marítimas
adjacentes à costa dos Estados banhados pelo mar.
A maioria parte guerras entre Estados são originados por conflitos de fronteiras. É por
isso que o Direito Internacional põe o princípio da sua Inviolabilidade (interdição de
as modificar pela força), e que a maior parte das organizações internacionais fazem da
integridade territorial dos estados um dos seus princípios constitutivos.
SOBERANIA
Soberania é o poder político do Estado que se manifesta através das competências
atribuídas aos seus diversos órgãos, sendo o Estado que dispõe da faculdade de definir
essas competências. Neste direito se manifesta a Soberania. A soberania manifesta-se
em duas vertentes:
-No plano interno, pelo poder supremo do Estado sobre o povo e o território.
-No plano externo, pelo poder independente e autónomo face aos restantes Estados da
comunidade internacional.
A soberania não é um poder absoluto, mas sim define um Estado limita-lo aos outros
fazendo jus a igualdade soberana dos Estados, o “princípio da igualdade soberana dos
Estados”, que é um elemento de protecção dos pequenos contra os poderosos.
Este princípio de igualdade soberana dos Estados faz com que, no plano internacional,
o Estado tenha apenas iguais e não possa ser submetido a regras que não teria
consentido. Aceitando coligar-se, não abandona a sua soberania, mas exerce as suas
capacidades.
No plano interno, o Estado tem o monopólio da “violência legítima”, isto é, da coação
armada. Quando órgãos não dependentes do Estado estão em condições de exercer a
força, é sinal da deliquescência do Estado, quer seja na Republica de Weimar no
princípio dos anos 30, no Líbano nos anos 80, ou em numerosos países africanos
recentemente flagelados pela guerra civil e anarquia (Somália, Libéria Sudão, etc.).
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Segundo o princípio da igualdade soberana dos Estados em teoria todos os Estados são
iguais no plano internacional (EUA, Micro-Estados das Caraíbas ou do Pacifico). Na
realidade, as relações de poder permanecem dominantes.
Distinto do conceito de soberania é o conceito de poder político. Na verdade, este
apenas se traduz no poder exercido pelo Estado para aprovar as leis e impor o seu
cumprimento, de modo a regular a vida colectiva.
III. O INDIVÍDUO
1.ASPECTOS GERAIS
Naquela mesma data, criou-se o Tribunal Judicial Centro Judicial Americano, cuja
existência não ultrapassou 1918, e ao qual os particulares só não podiam recorrer
contra o respectivo Estado nacional.
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Em 1919, criaram-se os Tribunais arbitrais mistos, cujo estatuto facultava aos
particulares e propositura de acções de indeminização contra os Estados, que, em
virtude da guerra, lhes tivessem causado prejuízos.
Uma vez instintos esses Tribunais, o Direito de petição das minorias, no quadro do
Pacto das SDN, dos habitantes dos territórios sob tutela, no quadro da Carta da ONU, e
de qualquer particular no quadro do Protocolo Facultativo referente ao Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a criação do Tribunal Internacional de
Justiça, em substituição do Tribunal Permanente de Justiça Internacional, não
melhorou a possibilidade de acesso dos indivíduos a órgãos judiciais internacionais.
3. CONTROVÉRSIA DOUTRINÁRIA
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A disputa doutrinária acerca da personalidade jurídica de Direito Internacional de
individuo não diz respeito ao estudo do Direito Positivo, nem as disposições deste que
ase referem ao indivíduo; o que sucede é que se defrontam aqui mais uma vez as
grandes concepções filosóficas, que agora divergem na interpretação a dar a situação
do indivíduo e na inserção do problema nas respectivas concepções jurídicas globais.
Assim, para a concepção positivista, define na base do dualismo, e que ainda aqui pode
ser representada por Anzilote, o Direito Internacional afecta apenas directamente os
Estados, seus actores e destinatários, da norma internacional não resulta nunca
modificações na esfera jurídica do individuo, que só será afectada quando o Direito
internacional vigorar na ordem interna, ie, através das acções do Estado.
Em Kelsen, o problema surge de forma diversa, ele sustenta que além do Estado
também o indivíduo é sujeito de Direito Internacional na medida em que para ele
derivam directamente obrigações cujo sanção é lhe imputado. Para ele, o professor de
Viena, a imputação da sanção ao autor do crime de pirataria no alto mar, por exemplo,
é feita directamente pela norma internacional, sem que na pirâmide das fontes do
direito, se interpunha uma norma do direito interno.
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dohomem, incluindo o direito dos povos e das minorias éticas e culturais, do Direito
Internacional social, etc.
Mas nem em todos esses casos, o individuo será sujeito autónomo do Direito
Internacional. Para que o seja, e com fidelidade a noção que a devida altura demos de
SDI, é necessário que da norma internacional decorram directamente direitos e
obrigações para o individuo. Mesmo se essa atribuição directa de direitos e obrigações
não for acompanhada de um poder próprio de reclamação internacional, que em nosso
entender não é elemento essencial na personalidade jurídica internacional. Isto quer
dizer que o individuo não gozará de personalidade jurídica internacional sempre a
única consequência que advier da regra internacional for a de ela obrigar os Estados a
quanto a se tomar medidas na ordem interna e o individuo, portanto, só directamente
for afectado pela norma internacional.
Essas situações não são de personalidade jurídica internacional, já que o indivíduo não
pode ser ele próprio sujeito de relações jurídico-internacionais, ie, não pode agir, por
si, internacionalmente, em relação aos outros Estados – pode apenas dirigir-se ao seu
próprio Estado, que assumirá a sua protecção perante o outro Estado. A este
mecanismo indirecto da tutela internacional dos direitos e deveres dos indivíduos
nacionais de um Estado perante outros Estados, dá-se o nome de Protecção
Diplomática.
Daqui se exclui, portanto, que para averiguarmos que o indivíduo é SDI, temos de
indagar se a norma internacional lhe confere directamente direitos e obrigações.
CONCLUSÃO
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personalidade internacional conferida a pessoas colectivas ou grupos não atingiu ainda
nem a direcção nem a eficácia na subjectividade internacional a reconhecida ao
indivíduo como pessoa singular.
Recordamos, porém, que na devida altura nos recusamos a exigir para o conceito de
SDI o Direito de Reclamação Internacional. Por isso, temos que considerar que a
proibição ou a restrição de acesso do indivíduo a meios do Direito Internacionalque lhe
permitam efectivar os direitos e as obrigações que a ordem jurídica internacional lhe
confere não afecta a sua subjectividade internacional, mas apenas limita o seu
exercício; é um problema de Capacidade Internacional, não de Personalidade
Internacional.
Este problema assume acuidade especial em relação aos povos e às minorias nacionais,
se o povo de um território não autónomo, no sentido em que se refere o artigo 73º da
Carta da ONU, vê desprezado, pela potência que administra o território (o Estado
colonizador), ou por terceiro Estado, o seu direito a autodeterminação, esse povo
apesar do esforço da doutrina em contrário, não tem, através dos seus representantes,
acesso a qualquer Tribunal Internacional para obter a reparação da ilegalidade
cometida e pode efectivar o direito que lhe foi negado, o mesmo acontece a uma
minoria que é objecto de genocídio, inclusive da parte do próprio estado que
administra o seu território.
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