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CAPITULO I: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

I. BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO INTERNACIONAL

Não temos uma data exata em que surgiu o Direito Internacional, mas podemos
afirmar que desde que surgiram comunidades mais organizadas, denominadas
civilizações antigas, encontramos acordos feitos entre estas, que nos remetem ao
direito internacional, como a existência do acordo entre o Rei de Elba e o Rei da
Assíria celebrado no 3º milênio antes de Cristo, em que estabelecem regras de
comércio, de sanções contra criminosos e relações de amizade.

Outro exemplo, que encontramos no império romano, conforme Oliveira (2017, p. 8)


ressalta que “também foi encontrado vestígios da existência de um Direito
Internacional, nomeado na constituição da Liga Latina e pela submissão dos povos
estrangeiros em relação às regras jurídicas romanas.”.

Conforme Casella e col. (2012, p. 81) O primeiro tratado que se tem registo se deu “no
sistema das cidades-estado da Mesopotâmia, fixa as fronteiras entre as cidades de
Lagash e Umma, com participação de MESILIM, soberano do vizinho estado de Kish,
normalmente datado por volta de 3100 a.C.”.

Direito consuetudinário já esboçava na época, e conterá, em toda parte, como direito


internacional geral de facto, regras a respeito:
a) Da inviolabilidade de arautos e mensageiros;
b) Da obrigatoriedade, se não mais, da santidade dos tratados
(PactaSuntServanda), incluindo a boa-fé na interpretação e aplicação destes;
c) Do estatuto jurídico dos estrangeiros e estas, na medida em que se intensificam
os intercâmbios, resultam em regras a respeito de comércio internacional, asilo e
relações familiares (commercium et connubium);
d) Das sanções de direito internacional e especialmente em matéria de guerra e
conflitos armados. Desde os mais remotos tempos da história, os registos mostram
a existência de corpos de regras que se caracterizam por conter todas as
características básicas do direito internacional.           
Por exemplo, os gregos, na Grécia antiga, aplicavam regras, mesmo que de natureza
religiosa e não jurídica, que são conhecidas até hoje no direito internacional como: a
arbitragem, o princípio da necessidade de declaração de guerra, a inviolabilidade dos
arautos, direito de asilo, neutralização de certos lugares, troca de prisioneiros de guerra
etc.

A partir da Segunda Grande Guerra Mundial, o Direito Internacional é o que mais tem
evoluído dentre todos os ramos jurídicos, influenciando todos os aspectos da vida

1
humana. Até o início do século XX, o Direito Internacional era bidimensional,
versando apenas sobre a terra e o mar, a partir de então, graças às façanhas de Santos
Dumont, passou a ser tridimensional e, após a Segunda Grande Guerra, passou a
abarcar ainda o espaço ultraterrestre e os fundos marinhos.

O Direito internacional tem de ser compreendido a partir da história, e ele tem uma
história que faz parte da história das sociedades humanas e do Direito. Assim sendo, a
história do Direito internacional interpenetra-se com a história do Estado.

II.CARACTERÍSTICA DO DI CLÁSSICO E CONTEMPORÂNEO


Considerando apenas o moderno Direito internacional, cabe distinguir dois períodos na
sua história:

1º Período, chamado de Direito internacional clássico, dominam as relações entre


os Estados e os Estados os únicos sujeitos de Direito internacional. Além do costume,
quase só havia tratados de comércio, navegação, de aliança e de paz.

É nos XV e XVII que se encontram as origens directa do Direito Internacional


moderno, com o declínio do poder do imperador do Sacro-Império do Papado, o
emergir da expansão marítima (os pioneiros os portugueses e espanhóis), o
Renascimento, a Reforma e as subsequentes guerras politicas e religiosas. E é nos
séculos XVIII e XIX que o mesmo se desenvolve e ganha importância crescente, com
a escola espanhola do Direito internacional com os principais doutrinários Francisco
de Vitória e Francisco Suarez.

Apesar do que vimos acima, e diversos outros exemplos que não foram citados para
que não sejamos redundantes, alguns doutrinadores entendem que o Direito
Internacional Público surgiu com o tratado da paz de Vestefália 1, tratado este que pôs
fim à Guerra dos trinta anos.  

Só se pode falar em Direito Internacional a partir do tratado de Vestefália (1648) ou


da obra de Hugo Grócio.2

As etapas da evolução do DIP3, podem-se identificar em três períodos:


1) Da antiguidade até o tratado de Vestefália (1648);
2) De 1648, a Revolução Francesa (1789) até o Congresso de Viena de 1815;
3) Do Congresso de Viena até à Primeira Guerra Mundial (1914-1918);

1
Os tratados de Munster e Osnabruck, na Vestefália, em 24 de outubro de 1648, marcam o fim da Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648): o fim de uma era e início de outra, em matéria de política internacional, com acentuada influência sobre o
direito internacional, então em seus primórdios. Esses tratados acolheram muitos dos ensinamentos de Hugo Grócio,
surgindo daí o direito internacional tal como conhecemos hoje em dia, quanto triunfa o princípio da igualdade jurídica dos
Estados, estabelecem-se as bases do princípio do equilíbrio europeu, e surgem ensaios de regulamentação internacional
positiva. Desde então, o desenvolvimento do direito internacional marchou rapidamente.       
2
Grócio (Direito de guerra e Direito de Paz- Jus Belly ac jus pacis), o jurista habitualmente considerado o primeiro
grande cultor do Direito Internacional.
3
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público 1, edição: Pedro Perreira, Lisboa, 1995. P. 17-18.

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2º Período, o Direito internacional contemporâneo, que evoluiu a seguir à 1ª Guerra
Mundial, dividia-se em duas fases:

1ª Fase vai da institucionalização da sociedade das Nações até a Segunda Guerra


Mundial;
2ª Fase, após a Segunda Guerra Mundial (1945) traduzida juridicamente na Carta
das Nações Unidas até aos nossos dias.

O Direito Internacional Público surgiu a partir do século XVII, quando se formaram os


Estados-Nação com as características que conhecemos hoje. O ponto limite foi o fim
da Guerra dos 30 anos (em 1648), por meio do tratado de Vestefália, quando nasce a
soberania nacional.

Dessa origem podemos destacar o trabalho de alguns grandes autores, Francisco de


Vitória e Hugo Grócio.

Francisco de Vitória acreditava na liberdade dos mares, na guerra justa, e já admitia a


intervenção humanitária de forma a defender os direitos humanos de homens,
mulheres, crianças, etc. Partilhava a ideia de uma sociedade internacional orgânica e
solidária em que os Estados têm sua soberania limitada. Abominava profundamente as
atrocidades cometidas por Carlos V.

Hugo Grócio acreditava que o homem deseja viver em sociedade de forma ordenada e
pacifica então dessa ideia surge um direito que se internacionaliza para promover
sociabilidade entres os Estados. Defendia a guerra justa, regulamentada e que
acontecesse apenas quando estritamente necessário. Utilizou precedentes bíblicos e da
história antiga, grega e romana para estabelecer normas de direito internacional.

Samuel PUFENDORF (1632-1694), alinhando-se com Grócio, acreditava em um


direito internacional baseado na razão, de forma que o direito natural influi no direito
das gentes. Entretanto, tem como baliza recebida de Hobbes a ideia de igualdade
jurídica entre os Estados. Pufendorf conceituou dois enunciados polémicos e que
foram muitos criticados na época, o primeiro afirma que nenhuma acção pode ser
caracterizada como boa ou má de forma pura, primeiro a acção deve ser
contextualizada.

Afirmava também que todo direito natural deve ser entendido como forma de buscar a
conservação da sociedade. Pufendorf é criticado justamente por dar deveras
importância ao direito natural em detrimento do direito positivo.

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III. CONCEITO, OBJECTO DO DIREITO INTERNACIONAL

1. Conceito do DIP

“O conjunto de regras e princípios destinados a reger os direitos e deveres


internacionais tanto dos Estados, de certos organismos interestatais, quanto dos
indivíduos”.

Os conceitos do Direito Internacional Público dependem das teorias defendidas


pelos diversos estudiosos dessa área, principalmente quanto ao seu fundamento, fontes
e evolução histórica.

Para Jorge Americano, “O Objecto do DI é o estabelecimento de segurança entre as


nações, sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz,
trabalho, liberdade de pensamento e de crença”.

Para Antônio de Vasconcelos Menezes de Drummond (1867). “O DI é o complexo dos


direitos individuais e recíprocos entre as mesmas nações”.

Para Nicolas Politis, DI é o “conjunto de regras que governam as relações dos


homens, pertencentes aos vários grupos nacionais”.

E para ACIOLLY (2002, p.4) o DI é o “conjunto de normas jurídicas que regulam as


relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas
internacionais, como determinadas organizações, e dos indivíduos”.

Entretanto, MAZZUOLI (2009, p.66 e 67) observa que os Estados deixaram de ser os
únicos actores da cena internacional. Daí o entendimento contemporâneo de ser o
Direito Internacional Público aquele ramo do Direito capaz de regular as relações
interestatais, bem como as relações envolvendo as organizações internacionais e
também os indivíduos, ainda que a actuação desses últimos seja mais limitada no
cenário internacional.

2 – Do Objecto do Direito Internacional Público

O Objecto do direito internacional é o estabelecimento de segurança entre as Nações,


sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz, trabalho,
liberdade de pensamento e de crença” (Jorge Americano).

Podemos afirmar que o principal Objecto do Direito Internacional Público é o


relacionamento entre os Sujeitos do Direito Internacional (Estados, Organizações
Internacionais e Indivíduos) com o fim primordial maior de manutenção de paz entre
as nações. No entanto, além disso, os relacionamentos vinculados ao Objecto do DIP
envolvem várias outras áreas tais como: 

a) A delimitação das competências de cada Estado Soberano; 

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b) A limitação do uso da força pelos Sujeitos do DIP;
c) A protecção de interesses universais como os direitos humanos e o meio ambiente; 
d) A implantação de mecanismos internacionais de apuração de responsabilidade
internacional dos Sujeitos do DIP (veremos mais adiante).

A) A delimitação das competências de cada Estado Soberano: antes dos horrores da II


Guerra Mundial o Princípio da Autonomia dos Povos ou da Independência Nacional,
que reflectem diretamente na soberania de cada nação, eram praticamente absolutos e
cada governo tinha autonomia para fazer o que bem entender dentro dos limites de seu
território. No entanto, com os horrores da IIGM isso mudou e a soberania como foi
concebida no tratado de Vestefália que colocou fim à guerra dos 30 anos, ou seja, a
soberania quase que absoluta da lição de Vestefália “Dentro do meu território, minhas
normas, minha religião”, com o advento dos horrores da IIGM caem por terra e com a
constituição da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948 e a criação da
ONU, a soberania das nações, o princípio da autonomia dos povos e o princípio da
Independência Nacional sofrem uma releitura em nome da proteção de valores
universais de proteção aos direitos humanos e ao meio ambiente.

B) A limitação do uso da força pelos Sujeitos do DIP: existem várias convenções


regulamentando as normas da guerra o “Jus in Belly” que é a regulamentação de como
uma guerra pode ser conduzida, as armas que podem ser utilizadas ou não, etc. E o “
Jus ad Belly” é o Direito de Poder fazer Guerra, o direito de ir para a Guerra desde que
seja considerada uma Guerra Justa. Hoje, só pode haver uma intervenção militar justa
depois de autorização do Conselho de Segurança da ONU com excepção de uma
resposta em legítima defesa proporcional à agressão sofrida.

C) A proteção de interesses universais como os direitos humanos e o meio ambiente:


no DIP, temos uma norma de origem do direito natural conhecida como norma “Jus
cogens” que é uma norma que deve ser observada e respeitada por qualquer sujeito do
direito internacional independentemente de compromisso firmado neste sentido, ou
seja, é uma norma cogente naturalmente, que se faz obrigatória desde a sua origem. As
normas que possuem essa força cogente são as normas relacionadas com a proteção
dos direitos humanos e do meio ambiente.

IV. DIREITO INTERNO E DIREITOINTERNACIONAL


O Direito como um todo se subdivide em Direito Interno e Direito Internacional, onde
temos o primeiro se tratando das relações jurídicas no interior do sistema jurídico
nacional e o segundo, as relações entre diferentes sistemas internacionais.

Cada Estado possui o seu direito interno regulando a vida no seu interior, enquanto
tratados e convenções internacionais regulam a convivência entre os Estados.

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V.DIVISÃO DO DIREITO INTERNACIONAL (PÚBLICO E PRIVADO)

Denominações

Em 1780 surge a expressão Direito Internacional (InternationalLaw) com Jeremias


Bentham, utilizada em oposição ao Direito Nacional (Nationallaw). Para alguns
juristas, o mais correcto seria falar em Direito Interestatal, mas a expressão já está
consagrada e não se justifica modificá-la.

A palavra “Público” foi acrescentada para distinguir a matéria de Direito Internacional


Privado.Muitos autores ainda empregam a expressão Direito das Gentes
(LawofNations), utilizada por Richard Zouch (1650). Essa expressão tem, contudo, o
inconveniente de criar confusão com o direito das gentes, do Direito romano.

Segundo Clóvis Beviláqua, adopta a expressão Direito Público Internacional, com o


objectivo de salientar o primado do Direito público sobre o privado. Assim sendo,
retiramos os conceitos de dois grandes autores, para distinção das duas normas. No
entanto, o Direito Internacional Público que é o Direito Internacional Geral ou
Comum, constituído pelo costume geral e os princípios de Direito, enquanto o Direito
Internacional Privado (Particular),formado pelo costume regional e local. Por outro,
Direito Privado é o ramo da ciência jurídica que procura formular os princípios e
regras conducentes à determinação da lei ou leis aplicáveis às questões emergentes das
relações privadas internacionais, e bem assim assegurar o reconhecimento no Estado
do foro das situações jurídicas puramente internas, mas situadas na órbita de um único
sistema de direito estrangeiro (Segundo Ferrer Correia. 1973:12).

Para, Isabel Magalhães Collaço, Direito Privado é o ramo que regula a questão privada
internacional através de remissão para uma das ordens jurídicas locais a que a questão
está ligado, ordem jurídica essa, que é assim declarada competente para a resolver.
Porém, o Direito Privado caracteriza-se em conflitos de leis na sua aplicabilidade.

VI. FUNDAMENTO DA OBRIGATORIEDADE DO DI


O estudo do fundamento do Direito Internacional Público visa determinar o motivo
pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. Há duas teorias: o voluntarista e a
objectivista.

O voluntarismo é uma corrente doutrinária cujo elemento central é a vontade dos


sujeitos de Direito Internacional. Para o voluntarismo os Estados e organizações
internacionais devem observar as normas internacionais porque expressaram
livremente a concordância em fazê-lo. Repousa, portanto, no consentimento dos
Estados, na vontade dos Estados. É também chamado de “corrente positivista”.

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Deve-se destacar que o principal fundamento dos tratados vem a ser um dos princípios
da sociedade internacional: o PactaSunt Servanda, que poderíamos definir
como aquilo que foi pactuado deve ser cumprido. Segue o artigo 26º da Convenção de
Viena Sobre o Direito dos Tratados, estipulaque: Todo tratado em vigor vincula as
Partes e deve ser por elas cumprido de boa-fé”.

O objetivismo sustenta que a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da


existência de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância tal que
delas podem depender o bom desenvolvimento e a própria existência da sociedade
internacional. Nesse sentido, tais normas, que surgem a partir da própria dinâmica da
sociedade internacional e que existem independente da vontade dos sujeitos de Direito
Internacional, colocam-se acima da vontade dos Estados e devem, portanto, pautar as
relações internacionais, devendo ser respeitadas por todos.

VII. RELAÇÃO ENTRE DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO INTERNO.


A QUERELA MONISMO E DUALISMO.

A relação existente entre Direito Internacional e Direito interno pauta-se numa linha
ainda não muito clara de entendimento. Os juristas discutem a possibilidade de conflito
de normas das duas esferas ocorre, a solução é buscada no dualismo ou no monismo,
teorias que explicam a prevalência de um ou de outro Direito. São três sistemas
básicos reconhecidos quanto ao relacionamento entre o Direito Internacional e o
Direito Interno de determinado Estado:

 Dualismo entende que o direito internacional e o direito interno são


completamente independentes e a validade da norma de um não depende do
outro.
 Monismo com primado do Direito internacional, entende que a ordem jurídica é
uma só, mas as normas de direito interno devem ajustar-se ao direito
internacional; e
 Monismo com primado do Direito interno entende que uma única a ordem
jurídica, mas as normas de direito internacional devem ajustar-se ao direito
interno.

Dualismo

Segundo a doutrina dualista, para que uma norma internacional seja aplicada na ordem
interna de um Estado, este deve primeiramente transformá-la em norma de direito
interno, incorporando-a ao seu ordenamento jurídico doméstico. Esta doutrina costuma
ser chamada de teoria da incorporação.

O dualismo permite uma divisão radical entre a ordem interna e a ordem internacional,
pondo-as em patamares equivalentes, incomunicáveis.O Direito Interno é elaborado
pela vontade soberana do Estado e o Direito Internacional na acomodação dessas
vontades; além do que, a ordem interna obedece a um sistema de subordinação, e a
internacional, de coordenação. Segundo esta teoria, não existiria a possibilidade de

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conflito entre as duas ordens jurídicas, por serem completamente independentes.
Formularam-na Triepel, Anzilotti, dentre outros. Em outras palavras, não há conflito
entre as ordens.

O Monismo pode ser monismo com primado do Direito interno e monismo do


Direito internacional

O monismo sustenta que o Direito Internacional e o Direito nacional são dois ramos de
um único sistema, defendendo uns o primado do primeiro, e outros a primazia do
segundo.

Monismo com primado do Direito interno

A ideia de base da concepção monista é que o Direito internacional e o Direito interno


formam um quadro jurídico unitário (um sistema jurídico unitário) baseado sobre a
identidade dos sujeitos (indivíduos) e das fontes. Teoria com raízes hegelianismo,
estateoria entende que o Estado é adoptado de soberania absoluta e que, somente se
sujeita a um sistema jurídico que emane de si próprio. O direito internacional derivaria
sua obrigatoriedade do direito interno, eo fundamento daquele seria apenas a
autolimitação do Estado. Portanto, esta teoria enxerga a existência de uma única ordem
jurídica, mas o direito internacional seria simplesmente a continuação do direito
interno, aplicado às relações exteriores do Estado. Esposaram esta doutrina Georg
Jellinek, Georges Burdeau e outros.

Podemos definir o monismo de primazia do direito interno, como teoria que defende “
a não existência de duas ordens jurídicas (a ordem jurídica interna e a ordem jurídica
internacional) mas, a existência de uma única ordem jurídica, que é justamente a
ordem jurídica estadual”

Os monistas partem do princípio de que todos os Direitos emanam de uma só fonte,


daí ser a consciência jurídica uma só.

Monismo com primado do Direito internacional

A doutrina do monismo com primado do direito internacional, formulada por Hans


Kelsen4 e outros, não considera a existência de duas ordens jurídicas independentes,
afirmando haver apenas um único ordenamento jurídico, no qual o direito
internacional é considerado superior ao direito interno. Baseando-se na pirâmide
normativa Kelseniana, os causídicos entendem que a norma fundamental no vértice da
pirâmide seria uma regra de DI (PactaSunt Servanda) da qual derivariam sua validade
as demais. Nesta perspetiva, os percursores desta doutrina defendem não seria possível
o conflito de norma entre o direito internacional e o direito interno, pois prevaleceria a
norma hierarquicamente superior, as normas do Direito internacional.
É um sistema de escalonamento de normas jurídicas, está baseada no princípio da
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hierarquia existente entre as normas legais, atribuindo ao topo dessa pirâmide a norma
maior, que é a Constituição, seguida das leis completares.

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Tradicionalmente, existem três sistemas ou modelos típicos de incorporação 5 para
conferir a relevância do Direito internacional na ordem interna:

 Sistema de transformação ou de execução, às normas internacionais só vigoram


na ordem interna se convertidas ou for transformada em normas de direito
interno. Neste sistema subdivide-se por sistema de transformação explícita (diz-
se quando as normas internacionais têm de ser conteúdo de lei ou de outro acto
normativo interno, têm de por ele ser repetidas ou reproduzidas) e sistema de
transformação implícita (diz-se quando as normas internacionais têm também
de ser objecto de acto interno para vigorar internamente, mas basta que seja um
acto inserido no processo de aprovação, de natureza idêntica à do acto
legislativo).

 Sistema de recepção- o Estado reconhece a plena vigência do Direito


internacional na ordem interna mediante uma cláusula geral de recepção
automática plena. A ordem internacional vigora na ordem interna mantendo a
sua qualidade de norma de Direito internacional. Este sistema é aquele
adoptado pelos monistas com primazia do Direito Internacional porque
consagra a “ cláusula da recepção plena”.

 Sistema misto- o Estado não reconhece a vigência automática de todo o Direito


internacional, mas reconhece-o só sobre certas matérias. As normas respeitantes
a estas matérias vigoram, portanto, na ordem interna independentemente de
transformação, ao contrário, todas as outras vigoram apenas mediante
transformação. Este sistema é conhecido por sistema da cláusula geral da
recepção semiplena.

Natureza da norma jurídica internacional

Como ensina a ciência política, o Estado é dotado de soberania, e esta se manifesta


de duas maneiras, segundo o âmbito de aplicação. Na vertente interna de aplicação da
soberania, o Estado encontra-se acima dos demais sujeitos de direito, constituindo-se
na autoridade máxima em seu território. Na vertente externa, por outro lado, o Estado
está em pé de igualdade com os demais Estados soberanos que constituem a
sociedade internacional.
Esta dicotomia entre as vertentes interna e externa do âmbito de aplicação da
soberania do Estado reflete-se, também, na natureza da norma jurídica, conforme seja
de direito interno ou de direito internacional. No direito interno, a norma emana do
Estado ou é por este aprovado. O Estado impõe a ordem jurídica interna e garante a
sanção em caso de sua violação (relação de subordinação).

O mesmo não acontece no direito internacional. Neste, os Estados são juridicamente


iguais (princípio da igualdade jurídica dos Estados) e, portanto, não existe uma
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Lukamba, Paulino. Direito Internacional Público, 4ª Edição,Angola.2011. Pag.11

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entidade central e superior ao conjunto de Estados, com a prerrogativa de impor o
cumprimento da ordem jurídica internacional ede aplicar uma sanção por sua
violação. Os sujeitos de direito (os Estados), aqui, diferentemente do caso do direito
interno, produzem, eles mesmos, diretamente, a norma jurídica que lhes será aplicada
(por exemplo, quando um Estado celebra um tratado), o que constitui uma relação de
coordenação. O direito internacional é, portanto, sui generis, peculiar, entre os ramos
do direito.

Discute-se se existe uma hierarquia das normas de direito internacional, se um tipo


de norma seria superior a (e portanto prevaleceria contra) outro tipo de norma.
Embora alguns juristas reconheçam, por exemplo, a superioridade dos princípios de
direito internacional (tais como os princípios da igualdade jurídica dos Estados e da
não-intervenção), grande parte dos estudiosos entende que inexiste hierarquia.

Os conceitos de acto ilícito  (violação de uma norma jurídica) e de sanção 


(penalidade imposta em consequência do ato ilícito) existem no direito internacional,
mas sua aplicação não é tão simples como no direito interno. Na ausência de uma
entidade supraestatal, a responsabilidade internacional e a consequente sanção contra
um Estado dependem da acção coletiva de seus pares.

CAPÍTULO II: FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL E AS NORMAS

1. ASPECTOS GERAIS
Denominam-se as fontes de direito internacional, que constituem o modo pelos quais
se manifesta ou revelam as normas jurídicas, ou seja, as maneiras pelas quais surge a
norma jurídica. São os meios formais do Direito Internacional.

Não se pretende com isto negar a existência das fontes materiais (os elementos
históricos, sociais e económicos). Porém, ao Direito positivo, só interessam as fontes
formais. Exemplo: um tratado é fonte formal do Direito Internacional Público.

Quanto às fontes formais existe a concepção Positivista ou Voluntarista, para essa


corrente a fontes formal é a vontade comum dos Estados, que pode ser expressa nos
tratados e tácita nos costumes. É a concepção mais adoptada actualmente é o que faz
distinção entre as fontes formais e as materiais. As fontes materiais são os elementos
históricos, económicos e sociais que dão origem às fontes formais, que são as normas
que regulam as relações entre as pessoas de Direito internacional.

Entretanto, as fontes materiais são estudadas apenas para sabemos as origens das
fontes formais, porque elas não pertencem ao Direito Positivo, ao qual só interessa a
fonte formal. Assim, a fonte formal é um simples reflexo da fonte material.

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As fontes formais do Direito Internacional encontram-se enunciadas no Estatuto da
Corte Internacional de Justiça (ECIJ) nos traz em seu artigo 38ºno seu nº 1. O
Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional as
controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:

a) As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam


regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;

b) O costume internacional como prova de uma prática geral aceite como direito;

c) Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas;

d) E, excepcionalmente, das disposições do artigo 59º as decisões judiciais e a


doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações como meio
auxiliar para a determinação das regras de direito.

Esta disposição não prejudicará a faculdade de o Tribunal, se as partes estiverem de


acordo, decidir ex aequo et bono.É a decisão por equidade (só entre as partes), mas só
com a concordância das partes.

Ora, facilmente se observa qual na fórmula adoptada, dir-se-ia feita a distinção entre
fontes primárias ou principais (as convenções, o costume e os princípios gerais do
Direito) e as fontes secundárias ou auxiliares (jurisprudência e a doutrina) estas
últimas, podendo ser utilizadas para a resolução de algum litígio que envolva a
matéria.

Existem ainda duas outras fontes não nomeados no artigo 38º do ECIJ que são:
e) Os actos unilaterais
f) As deliberações das Organizações internacionais

Depois de anunciarmos as fontes acima, vamos debruça-los:

2. TRATADOS OU CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Tratados ou convenções internacionaisé umacordo das vontades de dois ou mais


sujeitos de direito internacional, formalizada num texto escrito, com o objectivo de
produzir efeitos jurídicos do plano internacional. Por outras palavras, o Tratado é o
meio pelo qual SDI (Principalmente os Estados nacionais e as Organizações
internacionais) estipulam direitos e obrigações entre si. Como expresso na alínea a) nº1
do artigo 2º CVDT. Ou ainda, um acordo de vontades regido pelo Direito
internacional.

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Por se tratar de um acordo celebrado entre as partes, esse documento não possui
validade para obrigar toda a sociedade internacional, apenas aqueles signatários, ou
sejam, os que assinaram e concordaram com as regras ali estabelecidas.

Os tratados assentam-se sobre princípios costumeiros bem consolidados e, desde o


século XX, em normas escritas, especialmente a Convenção de Viena sobre Direitos
dos Tratados (CVDT) de 1969. Dentre estes princípios, destacam-se o princípio
lógico-jurídico PactaSuntServanda (os acordos devem ser cumpridos) e o princípio do
cumprimento de boa-fé, ambos presentes no costume internacional nos termos do
artigo 26º CVDT.

Portanto, o conceito do tratado envolve, pois:

a) Um acordo de vontades;
b) A necessidade de as partes serem todas SDI e de agirem nessa qualidade;
c) Deve ser regido pelo DI;
d) Deve produzir efeitos jurídicos com relevância nas relações internacionais, e que
os efeitos manifestem nas ordens internas das partes.

Porém, o conceito de tratado não implica, pelo contrário:

a) Que as partes sejam Estados – porque há tratados entre Estados e outros sujeitos
de Direito internacional ou mesmo apenas entre sujeitos de DI que não os
Estados;

b) Que o acordo seja reduzido a escrito – pois a priorinada o impõe e ao longo da


história houve tratados não escritos, embora na actualidade o ónus do registo
pressuponha a forma escrita;

c) Sendo escrito o acordo, deve ser reduzido a um único instrumento, pois pode o
consenso formar-se através de troca de notes.

a) TERMINOLOGIA DOS TRATADOS

Convenção: é o tratado que cria normas gerais (campo jurídico) por exemplo a
convenção sobre o mar territorial, Convenção de Viena, etc…

Declaração: é usada para acordos que criam princípios jurídicos ou afirmam uma
atitude política comum. Exemplo: Declaração de Paris em 1856.

Pacto: é o tratado de aliança militar, mas igualmente político de grande importância.


Exemplo, Pacto Atlântico ou Pacto da Varsóvia.

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Concordata: tratado entre a Santa Sé e um Estado sobre assuntos religiosos. Exemplo,
Angola e o Vaticano.

Protocolo: acta das conferências ou deliberações entre ministros plenipotenciários de


diversos Estados, ou entre congressistas internacionais. Ou ainda, protocolo
diplomático: coletâneas de regras a observar em matéria de etiqueta e procedência nas
cerimónias e relações oficiais, assim como, nas relações com os Chefes de Estados
estrangeiros ou os Representantes desses Estados.

Modus Vivendes: acordo temporário ou provisório.

Troca de notas: é um acto de tipo acessório. Temos ainda: Estatutos, Carta, Convénio.

b) CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS

Os tratados classificam-se de seguinte maneira:

Quanto ao Número de Partes

 Tratados bilaterais; aqueles que são celebrados entre duas partes em que se
presentem a reciprocidade dos interesses.

 Tratados Multilaterais; aqueles que uma pluralidade de partes, em que


avultam interesses comuns. E estes ainda podem ser restritos ou gerais. Nos
tratados gerais ou multilaterais (colectivos), há uma tendência coincidência com
a totalidade dos Estados com acesso à Comunidade Internacional, porque são
tratados entre os Estados. E é neles que se manifesta mais o carácter normativo.

Quanto ao Critério distingue-se: tratado solene e tratado não solene, e prende-se


com um critério formal e alguns resquícios de critério material. Formalmente, as
Convenções solenes distinguem-se as Convenções simplificadas pela exigência, apenas
nas Convenções Solenes, do acto de ratificação. Em relação ao Tratado não Solene o
processo termina aquando da aprovação ou, nalguns casos aquando da assinatura (ou
acto equivalente). Dentro das Convenções simplificadas, pode se ainda distinguir entre
Acordos em forma simplificada e acordos ultra-simplificada. Estes últimos,
caracterizam-se por: a vinculação ocorrer não aquando da ratificação, ou da aprovação,
mas aquando da assinatura ou acto equivalente (por parte do Ministro dos Negócios
Estrangeiros ou do Chefe da Missão Diplomática); e assim neles dispensam-se quer a
ratificação, quer a própria aprovação. Quer dizer, que a ratificação só acontece nos
Acordos de forma simplificada.

Outra classificação de tratados dá-se entre:Tratados Abertos e Tratados Fechados.

Tratados abertos: admitem a integração de qualquer membro;

13
Tratados fechados: não admitem a assinatura, a ratificação ou adesão de sujeitos que
não participaram no seu momento inicial de celebração, na negociação ou na
assinatura.

Por definição, os tratados multilaterais são ou devem ser tratados abertos; os tratados
delimitação de fronteiras, as concordatas e os acordos entre as Nações Unidas e as
Organizações especializadas são tratados fechados.

Ainda existem quatro (4) classificações dos tratados:

a) Tratados Exequíveis por si mesmo e tratados não exequíveis, consoante,


obtêm plena efectividade só por si ou sem prejuízo da sua vigência na ordem
interna, carecem a semelhança das ordens constitucionais programáticas de
outros tratados ou de leis de contemplação (v.g. – Tratados sobre os Direitos
Económicos e Sociais);

b) Tratados Perpétuos e Tratados Temporários, consoante a duração indefinida


ou de duração sujeita à termo final (v.g. – TratadoAtlântico Norte de 1949).

c) Tratados Principais e Tratados Acessórios, sendo esses tratados subsequentes


aos primeiros, deles dependentes e destinados a conferir-lhes concretização (v.g.
– Acordos ou convenções técnicas ou administrativas, Tratados de Adesão e
Organizações Internacionais) e, de certa maneira de tratados multilaterais na
parte objecto de reservas entre Estados que formula reservas e Estado que
aceita;

d) Tratados Públicos e Tratados Secretos, conforme o conhecimento do seu


conteúdo seja relevado ou tornado possível ou fique reservado a quem interveio
na sua conclusão.

a. REQUISITOS DE VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


(ARTIGO 6º CVDT)

 Consentimento mútuo;
 Capacidades das partes contratantes;
 Habilitação dos Agentes signatários;
 Objecto Lícito e Possível.

b. CONDIÇÕES DE CONCLUSÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

O Tratado internacional no seu processo de conclusão obedece algumas fases:


 Negociação (Adopção do texto)
 Assinatura (autenticação do texto)
 Ratificação
 Registo

14
 Promulgação
 Publicação

As quatros primeiras fases pertencem à Direito internacional de conclusão de tratado,


ao passo que as duas últimas fazem partem do Direito interno.

 Negociação

É a fase inicial do processo da conclusão do tratado, acontece na ordem constitucional


do Estado, cabe quanto a cada Estado, às pessoas investidas de plenos poderes 6
(plenipotenciários). No entanto, Negociação é a manifestação do consentimento de um
Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer outro acto relativo a um
tratado. Ou ainda, são conversações diplomáticas entre representantes de Estados para
se definir soluções para um dado problema, estabelecer um acordo ou ajustar um
tratado.7

Quanto ao processo da conclusão do tratado em virtude das funções, compete aos


Chefes de Estado, aos Chefes de Governo e os Ministros das Relações Exteriores.
Ainda os seus representantes acreditados de cada Estado ou seja, os Chefes de Missão
diplomática (Embaixadores) como estipulado no artigo 7º nº2 alíneas a); b) e c).

Um acto relativo à conclusão de um tratado praticado por uma pessoa que, nos termos
do artigo 7º CVDT, não pode ser considerada representante de um Estado para esse
fim não produzir efeitos jurídicos, a não ser que seja confirmado, posteriormente, por
esse Estado. Artigo 8º CVDT.

Especificidade da prática da conclusão do tratado:

a) Nos tratados bilaterais à negociação é desenvolvida na maioria das vezes pelo


Ministro das Relações Exteriores ou seu representante e o agente diplomático
estrangeiro que são assessorados por técnicos nos assuntos em negociação. É a fase
de analisar os plenos poderes dos representantes no tratado bilateral, é o contexto de
adopção do texto de todos os Estados.8
b) Nos tratados multilaterais à negociação acontece nas grandes conferências e
congressos, os negociadores depositam os “plenos direitos” em uma urna e
posteriormente será analisada pela comissão. E termina com a elaboração de um
texto escrito designado por Tratado9.
c)

 Assinatura

6
Artigo 2º e 7º nº 1. CVDT
7
Dicionário Ilustrado de Língua Portuguesa.
8
Artigo 9º nº1.CVDT
9
Artigo 9º nº2 CVDT

15
É a segunda fase da conclusão do tratado, carece de ser assinado ou de autenticação do
texto adoptado o documento (artigo 10º CVDT). A negociação de qualquer tratado
cabe, quanto a cada Estado, às pessoas investidas de plenos poderes (plenipotenciários)
como seus representantes, e esses poderes são os apropriados para o efeito, mas a
representação do Estado pode resultar da prática dos Estados interessados ou de outras
circunstâncias (artigo 7º, n.º 1 CVDT).

No entanto, o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado, pode


manifestar-se (implica que a assinatura não é um meio imperativo mais facultativo)
pela assinatura, troca dos instrumentos constitutivos do tratado, se assim acordarem
(artigo 11º CVDT). A segunda fase de conclusão pode se ler a partir do artigo 7º; 9º e
ss.

 Ratificação

Éa fase em que um Estado consente em obrigar-se por um tratado a manifestação pela


ratificação10.

Aratificação nunca é um acto obrigatório para quem tenha de a emitir, é sempre um


acto livre. Pois, não existe hoje nenhuma regra de Direito das agentes a impô-la quanto
a certos tratados ou sequer a estipular, ou a presumir a sua necessidade em caso de
falta de disposição expressa.Qualquer tratado para submeter-se a ratificação depende
da ordem constitucional interna de cada Estado que estabelece a forma solene,
simplificada, ultra-simplificada que os tratados podem ou não assumir. E é também
ele que determina quais os órgãos competentes para a vinculação internacional do
Estado e os respectivos tipos de actos 11. Estes órgãos e estes actos relevam da função
política e, por isso, as normas de Direito interno que os regem são, naturalmente,
normas de Direito constitucional (trata-se a constituição formal).Normalmente é da
competência do Poder Executivo, exigindo ou não a prévia autorização do Poder
legislativo.

 Registo

Todos os tratados concluídos deverão ser registrados após entrarem em vigor, como
estabelece no artigo 102º nº1 da Carta da ONU, conjugado com o artigo 80º CVDT.
Esse Registo é feito no Secretariado da ONU e seu efeito é dar publicidade ao Tratado
na ordem internacional. Portanto, com o registo termina a fase internacional.

O Tratado sem registo é considerado um Tratado secreto, que não será vinculativo e
reconhecido por outros Estados, mas só será válido entre as partes contratantes. A
única sanção para o Tratado não registado é que não poderá ser invocado perante

10
Artigo 14º (CVDT)
11
Os órgãos com o Treatymakingpower (a não confundir com o jus tractum, que é a capacidade convencional do próprio
Estado.)

16
qualquer órgão das Nações Unidas, como previsto no artigo 102º nº2 da Carta da
ONU.
Historicamente, os tratados secretos revelaram-se sempre perigosos para a paz e para
segurança colectiva, e são inadmissíveis em forma de governo democrático. Por isso,
para maior certeza nas relações internacionais, consagra-se a regra do registo dos
tratados.

Obs. Mesmo os Estados que não são membros (ONU) podem registar Tratados,porque
há um interesse maior de que todos os tratados sejam Reconhecidos.

 Promulgação

Quanto a promulgação é o acto jurídico de natureza interna, pelo qual o Governo de


um Estado afirma ou atesta a existência de um tratado por ele celebrado e o
cumprimento das formalidades exigidas para sua conclusão. Além disso, ordena sua
execução dentro dos limites de sua competência.

A razão da existência da promulgação é que o Tratado não é a fonte do direito interno


e sendo assim a promulgação não atinge o Tratado no plano internacional, mas sim,
apenas sua execução no direito interno.12

 Publicação

A publicação é um acto jurídico de natureza interna d e qualquer Estado. Para o nosso


caso está estipulado no artigo 15 que estabelece a lei n.º 4/ 11, de 14 de Janeiro, sobre
os tratados internacionais que Angola é parte. Este diploma veio regular e disciplina as
políticas externas na sua realização.

É através da publicação se leva ao conhecimento de todos a existência desta norma


internacional. Uma vez publicado no Diário Oficial pelo Poder Executivo, o tratado
ganha execução e eficácia.

c. RESERVAS DOS TRATADOS

A Reserva: é uma declaração unilateral, seja qual for o seu conteúdo ou a sua
designação, feita por um Estado, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um Tratado,
ou a ele aderir, com o objectivo de excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas
disposições do Tratado em sua aplicação a esse Estado (artigo 2º n.º1 al. d) da CVDT).

A reserva deve ser formulado por escrito e comunicado aos outros contratantes.
Portanto, existe esta tipologia de reserva:

 Um Estado põe a reserva porque rejeita determinadas cláusulas do acordo;

12
Lukamba, Paulino, Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.2011, pág. 59.

17
 Um Estado põe a reserva porque aceita o tratado com a modificação de algumas
cláusulas do tratado;
 Um Estado põe reserva porque aceita o tratado, mas com a condição de que
certa clausula seja deste modo interpretado (reserva interpretativa).

III. VÍCIOS DO CONSENTIMENTO

Provém da Teoria Geral do Direito Civil o estudo dos vícios capazes de invalidar o
negócio jurídico, a que o Direito dos Tratados tomou de empréstimo. Neste último
campo é possível falar em vícios que invalidam o consentimento do Estado em
obrigar-se por um tratado, e também em fatos que invalidam o tratado propriamente
dito.

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 intitula toda a Seção 2 da
sua Parte V (que vai do artigo 46º ao artigo 53º) de Nulidade dos Tratados. Tal
denominação, contudo, é imprópria, uma vez que de nulidade convencional
propriamente dita a Convenção não cuida senão em dois dispositivos daquela Seção:
são eles os artigos 52º e 53º, que versam os casos de “coação a um Estado pela ameaça
ou emprego da força” e de “tratado em conflito com uma norma imperativa de Direito
Internacional geral (jus cogens) ”, respectivamente.No que tange ao conflito do tratado
com norma de jus cogens, há também o caso da nulidade superveniente do tratado,
regulado pelo artigo 64º (que está fora da Seção 2 citada). Nos dois primeiros casos
(artigos 52º e 53º) a nulidade é abinitio, ou seja, tem efeito extunc; no segundo caso
(artigo 64º) a nulidade é superveniente (de efeito exnunc).Afora isto, todas as demais
disposições da Convenção (artigos. 46º a 51º) versam casos de vícios relativos ao
consentimento do Estado em obrigar-se pelo tratado (e não de nulidade do tratado
propriamente dito). A Convenção permite seja o consentimento anulável (a depender
da vontade do Estado-vítima) nas hipóteses dos artigos 46º a 50º; e versa apenas um
único caso de nulidade (propriamente dita) do consentimento, disciplinado pelo artigo
51º que diz, quando há coação sobre o representante de um Estado (ou de uma
organização internacional).

Não é, pois, tecnicamente correto nominar o tema de Nulidade dos Tratados,


como faz a Convenção de 1969 e grande parte dos autores. Tampouco é exacto
nominá-lo, como faz outra parte da doutrina, apenas vícios do consentimento
(especialmente quando a nulidade decorre do conflito do tratado com norma de jus
cogens).Talvez à custa dessa impropriedade terminológica da Convenção que a
doutrina confunde-se tanto (há vários anos) sobre o tema.

A Convenção – não obstante em uma rubrica imprópria – regula, porém, as duas


coisas:
(1) Os vícios que podem influir no consentimento do Estado em obrigar-se pelo
tratado, dividindo-os em anuláveis (artigos 46º a 50º) e nulo (hipótese única do
artigo 516º); e

18
(2) Os casos de nulidade do tratado propriamente dito (artigos 52º e 53º). Daí a
necessidade de se estudar o tema sob a rubrica mais apropriada “Vícios do
Consentimento e Nulidade dos Tratados”.

Este ensaio tem exatamente a finalidade de realocar os temas citados em seus devidos
lugares, bem assim diferenciar os efeitos práticos de cada caso que se tratar,
diferenciando os vícios do consentimento da nulidade dos tratados, o que até o
presente momento a doutrina parece não ter feito de maneira adequada.

Pode-se, então, seguindo o estabelecido em toda a Seção 2 da Parte V da Convenção


de 1969 (impropriamente – repita-se – nominada Nulidade dos Tratados), dividir o
estudo que ora nos ocupa em três partes:
a) Anulabilidade do consentimento;
b) Nulidade do consentimento;
c) Nulidade dos tratados.

A primeira hipótese é de nulidade relativa do consentimento; as duas outras são de


nulidade absoluta (pleno jure) do consentimento e do tratado, respectivamente. É
curioso observar que a Convenção de 1969 não versou um único caso sequer de
anulabilidade dos tratados.

No que tange ao consentimento, este pode ser anulável (quando há possibilidade de


convalidação) ou nulo (quando inconvalidável); mas no que tange ao tratado mesmo,
apenas hipóteses de nulidade (nenhuma hipótese de anulabilidade) são colocadas pela
Convenção (artigos 52º, 53º e 64º).

Vejamos, então, cada uma das hipóteses dos vícios do consentimento (casos de
anulabilidade e nulidade do consentimento) e de nulidade dos tratados:

1. Anulabilidade do consentimento

A anulabilidade do consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado,


segundo a Convenção, pode dar-se em quatro hipóteses:
a) Quando o Governo manifesta sua aquiescência ao tratado sem o devido respaldo
do Direito interno;
b) Por erro;
c) Por dolo; ou
d) Pela corrupção do representante de um Estado, restringindo (em ambos os
casos) a invocação do vício ao Estado-vítima.

A primeira causa de anulabilidade (irregular consentimento da parte) ocorre quando o


Poder Executivo ratifica o compromisso internacional em desrespeito a norma
constitucional sobre competência para concluir tratados, ao que também se denomina
ratificação imperfeita ou inconstitucionalidade extrínseca (v. art. 46º). Além desse

19
caso, é também anulável o consentimento que nasceu viciado por erro, por dolo ou
pela corrupção do representante de um Estado (ou de uma organização
internacional). Estas outras causas de anulabilidade é que serão estudadas neste
ensaio.

O erro – considerado “o caso mais claro de vício do consentimento em seu sentido


mais clássico”– pode ser invocado por um Estado (ou organização internacional) como
tendo invalidado o seu consentimento em obrigar-se pelo tratado, desde que ele se
refira a um facto ou situação que esse Estado (ou organização internacional) tivesse
suposto existir no momento em que o tratado foi concluído e que constituía a base
essencial do seu consentimento em obrigar-se pelo mesmo (art. 48º, § 1º). É dizer, para
se anular o consentimento por erro, deve ele (erro) ser essencial, por dizer respeito à
natureza do acto. Pode o erro ser cometido por uma das partes ou por várias
delas.Porém, a regra da Convenção não se aplica se o Estado (ou a organização
internacional) concorreu para o erro em virtude de sua conduta ou se as circunstâncias
forem tais que o Estado (ou a organização internacional) deveria ter se apercebido de
tal possibilidade (art. 48º, § 2º). Exemplos correntes de erro encontram-se nos tratados
sobre limites, envolvendo questões cartográficas (mapas etc.) ou de demarcação de
fronteiras.

O dolo, para a Convenção, ocorre quando um Estado (ou organização internacional) é


levado a concluir um tratado pela conduta fraudulenta de outro Estado negociador ou
organização negociadora (artigo 49º). O dolo implica necessariamente em uma
conduta ilícita de engodo ou engano. Diferentemente do erro, o dolo implica punição
mais severa à luz do Direito Internacional Público, por constituir-se num delito. Daí
entender Reuter que um tratado eivado de dolo é, com efeito, um acto ilícito, com
todas as consequências jurídicas que isso implica.

São praticamente inexistentes exemplos de dolo na conclusão de tratados. Um


exemplo muito remoto foi documentado à época colonial, no contexto especial das
relações entre potências europeias e chefes tribais da África Central, a quem se
mostravam mapas voluntariamente falsificados.

Por fim, é também passível de anulação o consentimento obtido por meio de


corrupção do representante de um Estado ou de uma organização internacional, pela
acção directa ou indirecta de outro Estado negociador ou organização negociadora (art.
50º).A corrupção (que não deixa de ser um dolo de caráter especial) vicia por completo
o aceite do representante desleal mesmo se recair sobre uma ou poucas cláusulas do
tratado, ainda que estas não sejam essenciais ao acordo.

Frise-se que somente o Estado (ou organização internacional) que foi vítima de alguma
dessas causas de anulabilidade do consentimento é que pode invocá-las em seu favor, e
mais nenhum outro, posto terem sido estabelecidas no âmbito de seu interesse
particular. Daí não poder o Estado (ou a organização internacional em causa) alegá-las

20
se, após ter tomado conhecimento de sua ocorrência, aquiesceu, expressa ou
tacitamente, com a validade do consentimento anteriormente manifestado.

A anulabilidade do consentimento (por erro, dolo ou corrupção do representante do


Estado) produz ao Estado-vítima efeitos extunc, ou seja, a declaração de anulabilidade
só começa a produzir efeitos a partir de sua prolação, sem modificar os efeitos
passados que o acto internacional já produziu.

2. Nulidade do consentimento
Em uma única hipótese (a do art. 51º) prevê a Convenção de Viena a nulidade
(absoluta) do consentimento do Estado em obrigar-se pelo tratado. Trata-se do caso do
consentimento obtido por coação do representante do Estado, nestes termos:

 Não produzirá qualquer efeito jurídico a manifestação do consentimento de um


Estado em obrigar-se por um tratado que tenha sido obtido pela coação de seu
representante, por meio de actos ou ameaças dirigidas contra ele.

A Comissão de Direito Internacional da ONU e a Conferência de Viena de 1968-1969


consideraram tal coação mais grave que a corrupção do representante do Estado, a
ponto de nulificar o consentimento abinitio(dizendo que a sua manifestação não
produzirá “qualquer efeito jurídico”). Assim, diferentemente dos casos de
anulabilidade já analisados (especialmente o de corrupção do representante do Estado),
a coação exercida sobre o representante de um Estado anula extunco consentimento,
que passa a ser tido como se nunca houvesse existido.

No caso de ser reconhecida (v.g., pela CIJ) a coação sobre o representante do Estado,
anula-se abinitiotão-somente o consentimento em obrigar-se pelo tratado do Estado
em causa, não se anulando o tratado propriamente, que continuará válido para as
outras partes contratantes, se for multilateral. Evidentemente que no caso dos tratados
bilaterais, por um motivo de facto, o reconhecimento da nulidade do consentimento faz
cessar a relação entre as duas partes (eis que não há como sobreviver para uma das
partes apenas).

Como exemplo de consentimento viciado pelo emprego de coação sobre o


representante de um Estado tem-se o ocorrido em 1526, quando Francisco I, enquanto
prisioneiro de Carlos V, foi obrigado a assinar o Tratado de Madrid, cedendo-lhe toda
a Borgonha; mas, após sua libertação, recusou-se a executá-lo sob a invocação de
coação contra a sua pessoa.

3. Nulidade dos tratados

21
Para além do caso relativo à nulidade do consentimento de um Estado em obrigar-se
pelo tratado, versado pelo artigo 51º, prevê ainda a Convenção duas hipóteses de
nulidade absoluta do próprio tratado, com efeitos extunc. São elas: a coação sobre um
Estado soberano pela ameaça ou emprego da força (artigo 52º) e o conflito de tratado
posterior com uma norma imperativa de Direito Internacional geral – jus cogens
(artigo 53º).

A coação sobre o próprio Estado e o desrespeito ao jus cogens preexistente são


considerados pela Convenção causas de nulidade absoluta do tratado abinitio (o
desrespeito ao jus cogens superveniente, diferentemente, tem efeitos exnunce não
abinitio).Nestes dois casos o tratado, para todas as partes contratantes, há-de ser consi-
derado como se não existisse.Tais causas de nulidade convencionaldecorrem, ainda,
directamente do artigo 45º da Convenção, que as afasta do campo de aplicação da
“regra de confirmação” (tanto expressa como tácita).De fato, o artigo 45º da
Convenção – ao dizer que um Estado “não pode mais invocar uma causa de nulidade,
de extinção, de retirada ou de suspensão da execução de um tratado, com base nos
artigos 46º a 50ºou nos artigos 60º e 62º, se, depois de haver tomado conhecimento dos
factos”, tiver (a) aceitoexpressamente a validade (o vigor ou a execução) do tratado,
ou (b) aceito tacitamente (em virtude de sua conduta) essa mesma validade (ou vigor
ou sua execução) – excluiu do campo de aplicação da regra os artigos 52º e 53º,
relativos à nulidade absoluta do tratado abinitio.

Cabe aqui verificar apenas o caso de coação sobre um Estado estabelecido pela
Convenção, pois o estudo da nulidade dos tratados por desrespeito ao jus cogens (tanto
preexistente como superveniente) foge ao escopo deste trabalho.

Primeiramente é necessário fixar a diferença (notadamente no que tange aos efeitos da


nulidade) entre a coação prevista no artigo 51º da Convenção, daquela regulada pelo
artigo 52º em análise.

Pois bem, diz a Convenção de Viena não produzir “qualquer efeito jurídico a
manifestação do consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado que tenha
sido obtida pela coação de seu representante, por meio de actos ou ameaças dirigidas
contra ele” (art.51º); e diz ser “nulo um tratado cuja conclusão foi obtida pela ameaça
ou o emprego da força em violação dos princípios de Direito Internacional
incorporados na Carta das Nações Unidas” (art. 52º).

Qual a diferença entre essas duas normas no que tange à extensão dos efeitos da
nulidade? A diferença (repita-se) está no seguinte: no primeiro caso (coação exercida
sobre o representante de um Estado) a nulidade atinge não o tratado em si, mas o
consentimento do Estado em obrigar-se por ele, estendendo efeitos apenas às partes
envolvidas, ou seja, coactor e coagido, ao passo que na segunda hipótese (coação de
um Estado pela ameaça ou emprego da força) ela recai sobre o próprio tratado, sendo
então oponível erga omines, por tratar-se de um acto ilícito cometido contra todos os
membros da sociedade internacional entendida em seu conjunto.

22
Tanto na hipótese do artigo 51º, como na do artigo 52º da Convenção, bem assim do
seu artigo 53º (que versa a hipótese de conflito entre tratado e norma de jus cogens
preexistente), a divisão das disposições do tratado não é permitida (artigo 44º, § 5º).
Ou seja, nestes três casos a nulidade contamina o acto por inteiro.

Sem dúvida, a regra que ocasiona a nulidade pleno jure do tratado concluído sob
coação ao próprio Estado (art. 52º) é mais difícil de interpretar do que a regra que
nulifica o consentimento por coação sobre o representante do Estado (art. 51º).

Primeiramente, não é fácil saber até onde chega o alcance dos termos “ameaça” e
“emprego da força”, utilizados pelo art. 52º da Convenção. Calorosos foram os debates
durante a Conferência de Viena acerca da exacta compreensão destes significados.

Vários países (especialmente os do Terceiro Mundo, como o Afeganistão) queriam que


a expressão abrangesse pressões econômicas e políticas. Outras delegações eram da
opinião que a expressão era demasiado vaga, cujo significado poderia abranger
qualquer tipo de pressão exercida por um País sobre o outro, facto este que
comprometeria a estabilidade das relações internacionais em matéria de
tratados.Ocorre que tais propostas não vingaram e o artigo ficou da maneira que se
encontra, sem embargo de alguns autores entenderem que a adopção da frase final
“Direito Internacional incorporados na Carta das Nações Unidas” permitiu a extensão
do dispositivo às pressões econômicas e políticas, como queriam algumas delegações.
De concreto, ao final da Conferência foram incorporados em sua acta final dois textos
a esse propósito:

1. Uma Declaração condenando “solenemente” qualquer “coação militar, política


ou econômica quando da conclusão dos tratados” e,

2. Uma Resolução pedindo ao Secretário-Geral da ONU que dirigisse aquela


Declaração a todos os Estados-membros, aos Estados participantes, bem como
aos órgãos principais das Nações Unidas.

A expressão “força”, por ter ficado sem uma delimitação precisa, requer seja
interpretada segundo os ditames das regras geralmente aceitas de hermenêutica13
internacional. Evidentemente que nem toda “força” é capaz de invalidar um
compromisso internacional: fosse assim (diz Reuter) “todos os tratados de paz seriam
nulos”.Aliás, essa última situação (a dos tratados de paz) é sempre questionada pela
doutrina: se tais tratados seriam ou não nulos por terem sido concluídos pelo uso da
força (do vencedor contra o vencido). Toda a doutrina alemã, v.g., considerou nulo o
Tratado de Versalhes de 1919, imposto à Alemanha pelos vencedores da Primeira
Guerra. Mas, levado a ferro e fogo tal entendimento, seriam também nulos os “tratados
desiguais”, assim chamados os celebrados por Estados em tudo dissemelhantes no que
toca à hierarquia de poder, em que se presume que um (o Estado fraco) é totalmente
13
Interpretação

23
dependente em relação ao outro (o Estado forte) etc.Em suma, apenas o uso ilícito da
força é capaz de invalidar um tratado.Como exemplo de acto internacional celebrado
sob coação ilícita ao Estado tem-se o Tratado Alemanha-Tchecoslováquia, de 1938,
concluído sob ameaça de bombardeio à Praga, tornando patente a coação exercida
sobre a então Tchecoslováquia.

Por fim, cabe indagar (averiguar) quais os efeitos da declaração de nulidade de um


tratado concluído mediante coação ao Estado pela ameaça ou emprego da força. Tais
consequências vêm reguladas pelo artigo 69º da Convenção de Viena. Cabe aqui
apenas dizer que as disposições de um tratado nulo não têm eficácia jurídica. Tal
nulidade é abinitio e não a partir de sua invocação por alguma das partes; ou seja, o
tratado firmado sob ameaça ou emprego da força é nulo desde a sua conclusão, e não
só a partir do momento da descoberta da causa de nulidade.Assim, a declaração de
nulidade de um tratado extingue o acto internacional inválido com efeitos extunc. É
dizer, a declaração de nulidade retroage à data da conclusão do acordo, suprimindo
todos os efeitos que o mesmo já produziu desde então. A decretação de nulidade feita
pela Corte Internacional de Justiça retroage ao momento da elaboração do texto
convencional, a fim de eliminar as consequências danosas à ordem internacional.

IV. O COSTUME INTERNACIONAL

O costume foi a principal fonte do DI, em virtude de a Sociedade Internacional ser


descentralizada. Actualmente, embora a Sociedade Internacional ainda permaneça
descentralizada, com ausência de uma autoridade central, mundial ou regional14,
explica-o, em parte, o costume a regredir, tendo em vista a sua lentidão e incerteza.

O COSTUME INTERNACIONAL: São hábitos, práticas que os sujeitos


internacionais adoptam nas relações entre si com a convicção de obrigatoriedade.

O costume é uma prática que determinado povo realiza em um local específico,


tornando-se assim uma forma de direito, não escrito, mas que costuma ser respeitado
pelos demais daquele mesmo ambiente. Filas são um óptimo exemplo de costumes.

Na sua origem, é uma regra de conduta observada espontaneamente e não em


execução a uma lei posta por uma entidade politica.

Transforma-se em direito positivo quando é adoptado como tal pelos tribunais de


justiça e quando as decisões judiciárias formadas com base nele são feitas valer através
da força do poder do Estado. Antes disso, é apenas uma regra de moralidade positiva
cuja força vem da reprovação geral que recai sobre aqueles que a transgridem. O
costume é uma regra não escrita que tem caracter obrigatório para os sujeitos de
sujeitos de direito internacional de um determinado ordenamento jurídico.

14
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público 1, edição: Pedro Perreira, Lisboa, 1995. P. 62

24
Nota bem: o costume internacional não resulta só prática dos Estados (e de outros
sujeitos) nas suas relações bilaterais e multilaterais. Mas, resulta também da prática
que se desenvolva no interior das OIs (por parte dos respectivos órgãos ou por eles em
relação com Estados membros). Uma grande parte do direito interno, das OIs é ele
próprio o produto do costume. Como porexemplo: o direito de veto dos membros
permanentes do Conselho Segurança, estipulado no artigo 27º nº3 da carta da Nações
Unidas, as deliberações do Conselho de Segurança em questões não processuais são
todas com os votos afirmativos de nove (9) membros (o Conselho de Segurança tem
15), incluindo os votos de todos os membros permanentes. À letra, isto significa que
tanto o voto contrário como a abstenção equivaleriam a Veto, a oposição15.

No direito internacional, para que determinado comportamento seja considerado


um costume internacional,é necessário que atenda a dois requisitos:

1º Um elemento objectivo ou material (a prática reiterada do comportamento


costumeiro) de diversa natureza: actos diplomáticos, actos de execução de tratados,
leis e actos políticos ou de governo dos Estados, actos no âmbito de organizações
internacionais16.

No elemento objectivo do costume temos a repetição constante e uniforme no tempo


do comportamento dos Estados. Para que haja a formação de um costume internacional
os Estados devem manifestar através dos actos ou omissões a vontade de ter um
determinado comportamento. A manifestação desta vontade pode ser feita através dos
actos normativos do direito internacional. Por exemplo: a incorporação das normas
internacionais do Direito do Estado.

Pode dar-se (manifestação) também através de adesão dos tratados, das


correspondências diplomáticas, resoluções de organismos internacionais ou ainda,
através da votação dentro da Assembleia Geral da ONU.

Quanto ao tempo, podemos dizer que não existe um prazo determinado para que surja
um Costume Internacional, sendo suficiente apenas provar que tal regra é reconhecida
como sendo direito.

Para que uma regra costumeira possa afirmar-se e possa fazer sentir os seus efeitos na
Comunidade Internacional é necessário que encontre o seu fundamento num
comportamento comum da maioria dos Estados17.

2ºUm elemento subjetivo ou psicológico (a convicção geral de que ele é


necessário e obrigatório).

15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Lukamba, Paulino. Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.2011, pp 89-90.

25
O Elemento Subjetivo também é denominado de Elemento Psicológico, cujo nome
técnico consistem em "OpinioJuris" ou "OpinioNecessitatis, que dá o
caracterobrigatório que o distinguem dos simples hábitos ou da cortesia internacional.
O hábito tem características individuais. O uso é mera prática social, não obrigatória.
O costume tem o elemento social, mas além disso exigível juridicamente.

O costume, além do uso necessita do elemento subjectivo que forma o costume.


Exemplificando, antigamente consistia em uma cortesia internacional dar imunidade
do imposto aduaneiro sobre os bens dos diplomatas. Mas isto não era uma obrigação.
Entretanto, sua prática reiterada fez com que isto se tornasse um Costume
Internacional, sendo posteriormente codificado pelos artigos 36 e 37 da Convenção de
Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961.

Existem teorias que defendem o fundamento do costume internacional:

Teoria Voluntarista: sustenta que o fundamento do costume se encontra no


consentimento tácito dos Estados.

Teoria Objectivista: é representada por duas teorias: a da Consciência Jurídica


Colectiva e a Sociológica

Ateoria da Consciência Jurídica Colectiva: sustenta que o fundamento do costume é a


consciência social do grupo, o que é na realidade uma noção vaga e imprecisa,
parecendo-nos inaceitável.

A teoria sociológica: é a que melhor explica a obrigatoriedade do costume. Aqui, o


costume é um produto da vida social que visa atender as necessidades sociais. O seu
fundamento é exactamente as necessidades sociais.

Os costumes podem ser gerais, regionais ou locais.

Costume gerais: são tendencialmente universais, são aplicáveis à generalidades dos


Estados.

Costumes regionais: são tendencialmente aos Estados de uma determinada região do


globo.

Costumes locais: surge quando dois Estados que nas suas relações vem observando
duradoiramente certa conduta com a consciência da sua juridicidade (são costumes
bilaterais).

O costume extingue-se:
 Por um tratado mais recente que o codifica ou revoga;
 Pelo desuso;
 Pelo surgimento de um novo costume

26
Obs.: o costume deve ter uma sanção jurídica, caso contrário tornar-se-á uma prática
de uso. No entanto, poderá o tratado revogar o costume e vice-versa.

V. OS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO18.

O recurso aos princípios gerais, constitui uma forma de “analogias iuris” destinada a
colmatar as lacunas das normas pactícias e das normas costumeiras. O recurso aos
princípios gerais consagra uma prática dos tribunais internacionais sobretudo arbitrais,
que visam aproximar o Direito aos princípios de justiça expressos pelos antigos com as
fórmulas.

O Direito Internacional acata certos princípios reconhecidos pela generalidade dos


Estados nacionais como obrigatórios, desde os de fundamento lógico, como o“nemo
plusiuris”, até os de natureza estritamente internacional, como o de autodeterminação
dos povos.

Eis alguns princípios reconhecidos pelas nações civilizadas:


 Nemo judex in re sua (ninguém pode ser juiz da sua própria causa, usado pelo
TPJI na controvérsia entre Turquia e Iraque sobre as fronteiras);
 In claris non fit interpretation;
 Ne bis in idem;
 Princípio da igualdade entre partes no processo;
 Princípio da não-agressão;
 Princípio da solução pacífica das controvérsias;
 Princípio de autodeterminação dos povos;
 Princípio da coexistência pacífica;
 Princípio da continuidade dos Estados;
 Princípio da boa-fé;
 Princípio da obrigação de reparar o dano;
 Pactasuntservanda (os acordos devem ser cumpridos);
 Lex posterior derogat priori (lei posterior derroga a anterior)

Desta forma, podemos esquematizar os princípios gerais de “jus cogens”:

a) Princípios atinentes à comunidade Internacional como um todo:


 Princípio da cooperação;
 Princípio da resolução pacífica dos problemas;
 Princípio do acesso aos benefícios do património comum da humanidade.

18
Miranda, Jorge. Direito Internacional Público-I, edição: Pedro Perreira. Lisboa. 1995. Pág.141-153.

27
b) Princípio atinentes às relações entre os Estados:
 Princípio da igualdade jurídica dos Estados;
 Princípio do respeito da integridade territorial;
 Princípio da não interferência dos assuntos internos os outros Estados;
 Princípio da continuidade do Estado.

c) Princípio atinentes às obrigações dos SDI:


 Princípio do livre consentimento;
 Princípio da equivalência das relações contratuais;
 Princípio da pactasuntservanda;
 Princípio da boa-fé;
 Princípio da responsabilidade por actos ilícitos.

d) Princípios atinentes à pessoa humana:


 Principio da igual dignidade de todos os homens e mulheres;
 Princípio da proibição da escravatura, do tráfico de seres humanos e de práticas
semelhantes;
 Princípio da proibição do racismo;
 Princípio da protecção das vítimas de guerras e conflitos

Os princípios são normas dotadas de generalidade e abstração. Os princípios gerais do


direito portanto, são valores que vão nortear a criação e interpretação de determinada
norma jurídica.

Quando falamos de direito internacional público, entretanto, devemos observar o que


diz o artigo 38º do Estatuto anteriormente mencionado e ele faz referência aos
princípios gerais direito que são aqueles reconhecidos pelos diversos sistemas jurídicos
nacionais, tais como o da boa-fé, do contraditório, dentre outros.
Portanto, são duas condições necessárias para que os princípios estatais ou nacionais
possam ser aplicados a título de princípios de Direito internacional:

1- É necessário que estes existam e sejam aplicados de forma uniforme pela


maioria dos Estados;
2- É necessário que sejam vistos como obrigatórios ou necessários mesmo do
ponto de vista do DI.

VI. A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA

Estas não podem ser consideradas como verdadeiras fontes de Direito internacional ou
do ordenamento jurídico da Comunidade internacional, porque são enquadradas como
meios de interpretação dos conteúdos das normas do Direito internacional, como
afirmava o artigo 38º do ETIJ que serve delas como meio auxiliares para determinação
das regras de Direitos. Sendo:

28
A Doutrina conjunto de teorias ou opiniões de professores e técnicos de Direito sobre a
forma de aplicar, articular e interpretar as normas jurídicas.

A Jurisprudência é o conjunto de decisões dos tribunais e que exercem uma influência


na interpretação das normas do ordenamento internacional de forma particular as
sentenças do Tribunal Internacional de Justiça. E é considerado verdadeira fonte do
Direito.
Em suma, a Jurisprudência e a Doutrina são fontes de Direito, tanto uma como outra,
necessitam que previamente existam as normas jurídicas para poderem, assim,
funcionar como fontes reveladoras do Direito Positivo.

VII. ACTOS UNILATERAIS

São aqueles em que a manifestação de vontade de uma pessoa de direito vai produzir
efeitos na Ordem Internacional. Quem pode formular Actos Unilaterais são
os Estados e as Organizações Internacionais. O Indivíduo não poderá formulá-lo.

Além da pessoa do direito, deve-se observar também se o órgão daquela pessoa é


competente para formular Actos Unilaterais (neste caso, o Poder Executivo), que
deverão por sua vez ter um objecto lícito e possível, além de não conter vícios de
consentimento. Não poderão ferir a moral internacional nem a norma imperativa do
DI  (Jus Cogens).

O Acto Unilateral tem sido considerado pelos modernos doutrinadores do DI como


uma de suas fontes, embora não se encontre entre as fontes a serem aplicadas
pela Corte Internacional de Justiça, conforme a enumeração do art. 38º do seu Estatuto
(CIJ). É considerado fonte de 3º grau, uma vez que eles tiram o seu fundamento do
Costume19.

O ordenamento jurídico internacional é bastante descentralizado, já quecoexistem em


regime de coordenação entidades politicamente organizadas, como os Estados, as
organizações internacionais, dentre outros actores internacionais.

Assim, não é de se surpreender que haja inúmeros actos praticados por esses sujeitos,
com formas e efeitos diversos. Uma questão bastante importante a ser discutida é a
distinção entre o acto unilateral jurídico e o acto unilateral do Estado que não tem a
intenção de estabelecer ou confirmar uma relação jurídica, mas possui natureza
política.

AComissão de Direito Internacional das Nações Unidas, em seu 58º período de


sessões, assinalou que os actos unilaterais jurídicos estão submetidos ao Direito
Internacional, criando, modificando, extinguindo ou reconhecendo obrigações, direitos

19
Lukamba, Paulino. Direito Internacional Publico, 4ª edição. Angola.201. Pp.97-98

29
ou situações legais. Os actos de caráter político, por sua vez, comprometem-no apenas
neste contexto, gerando apenas consequências dessa natureza pelo seu não-
cumprimento.

A Comissão acima referida arrolou alguns actos que exemplificam os actos políticos e
que, portanto, não são submetidos ao Direito Internacional. Entre eles estão as
declarações unilaterais dos Estados possuidores de armas nucleares, denominadas
“declarações de garantia negativa de segurança”, formuladas em diversos níveis e em
distintos órgãos e contextos internacionais. A maioria de seus membros considerou
que se tratava de declarações de natureza política que, em razão disso, não
vinculavam juridicamente o Estado declarante. Do exame dos textos dessas
declarações e das circunstâncias ou contexto nas quais foram formuladas, deduziu-se
que não houve intenção, por parte dos Estados declarantes, de assumir obrigações
jurídicas relacionadas com tais garantias negativas de segurança. Tratavam-se, assim,
de declarações unilaterais políticas que não estão submetidas ao Direito Internacional.

As declarações de guerra são actos unilaterais que obviamente interessam ao mundo


jurídico, criando direitos aos civis e obrigações ao Estado que o proferiu. Entretanto,
não podem ser contemplados no rol das fontes de Direito Internacional, posto que são
actos unilaterais que contrariam o jus cogens, cabendo ao Estado que declarou guerra
ser responsabilizado pela sociedade internacional (veremos mais adiante). Da mesma
maneira, serão excluídas as declarações de aceitação da jurisdiçãoda Corte
Internacional de Justiça, já que, ainda que sejam também declarações unilaterais do
ponto de vista formal, também estão submetidas ao regime de Viena sobre o Direito
dos Tratados, consoante a doutrina e a jurisprudência internacionais. Elas são
declarações facultativas sui generis, às quais devem ser aplicadas de maneira mais
flexível algumas regras, como as relativas à interpretação. Conforme já foi dito acima,
é certo que alguns actos unilaterais se realizamtomando por base e referência de
limites o Direito Internacional, constituindo, aliás,um preceito do “dever ser”.
Entretanto, há outros que decorrem do pleno exercícioda liberdade que os Estados
possuem para actuarem no plano internacional, ainda que eivados de iniquidade e
ilicitude20 através de:

O reconhecimento:é a declaração unilateral de um Estado ou de outro sujeito, aceita


uma determinada situação de facto ou de direito que declara considera-la legítima. É o
acto unilateral de natureza jurídica declaratória.

O protesto:é a declaração unilateral de um Estado ou de outro sujeito, que aceita uma


determinada situação de facto ou de direito, e eventualmente declara considera-lo
legítimo.

A Notificação: é a declaração relativa a certo facto ou certa situação, presente ou


futura, levada ao conhecimento de outro Sujeito do Direito internacional.
20
Carvalho, Najara Sena De. Dos atos jurídicos unilaterais dos estadoscomo fonte de direito internacional.Forteza.ufc, 2006. Pp.
13-15.

30
Promessa: é a declaração unilateral de vontade pelo qual certo sujeito se compromete
a agir ou a não agir de certo modo. Ou ainda, é a declaração unilateral em que um
Estado diz assumir uma certa postura.

Denúncia: surge quando um Estado denuncia um tratado e se retira dele. Pode ser:

 Acto unilateral típico: quando há cláusula de denúncia no tratado;


 Acto unilateral atípico: quando não consta cláusula de denúncia no Tratado e o
Estado mesmo assim o faz.

Renúncia: é o acto jurídico unilateral pelo qual certo sujeito DI declara não exercer
ou, eventualmente mesmo, deixar de ter na sua esfera jurídica certo direito.

VIII. AS DECISÕES DA ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Segundo Jorge Miranda, defendia que existem vários tipos de decisões de


organizações internacionais (nome habitualmente dado aos actos próprios da
competência dos seus órgãos). Sendo assim, os actos das Organizações internacionais
são manifestações de vontade dos seus órgãos que tem como fim criar uma incidência
na vida dos Estados membros.

Os tipos de decisões:

 Decisões de eficácia externa e de mera eficácia interna;


 Decisões políticas, decisões judiciais (decisões dos tribunais existentes no seu
seio “ Tribunal Internacional de Justiça quanto às Nações Unidas”) e decisões
administrativas;
 Decisões normativas e decisões não normativas;
 Decisões imediatamente aplicáveis e decisões não imediatamente aplicáveis, ou
decisões preceptivas e decisões programáticas ou directivas.

Das decisões, enquanto actos vinculativos ou imperativos, distinguem-se as


recomendações (emitida da Assembleia Geral das Nações Unidas nos termos dos
artigos 11º nº2 e 13º da Carta das Nações Unidas) e os pareceres (emitido do Tribunal
Internacional de Justiça estipulado no artigo 96º da Carta).

Só as decisões normativas, sejam de eficácia interna (como os regimentos da


Assembleia Geral e do Conselho de Segurança das NU, segundo os artigos 21º e 30º
da Carta), sejam de eficácia externa são fontes de Direito Internacional. Os Estatutos,
Cartas ou Constituições de organizações internacionais são naturalmente, também, mas
reconduzem-se a tratados não têm autonomia.

No âmbito das Nações Unidas são decisões normativas gerais, embora concretas, as da
Assembleia Geral sobre matéria financeiras- artigo 17º da Carta- e, sobretudo, as do

31
Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e da segurança internacionais
(artigo 39º e ss).

No âmbito de organizações especializadas da “família” das Nações Unidas são


decisões normativas os padrões internacionais de Avaliação Civil Internacional
(artigos 54º e 90º do respectivo tratado constitutivo) e os regulamentos sanitários
adoptado pela OMS (artigo 2º do respectivo tratado).

CAPITULO III – SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL

III.I. ASPECTOS GERAIS


II. ESTADO
 NOÇÃO DE ESTADO.
 CONCEITOS DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO.
 III.POVO, POPULAÇÃO E NAÇÃO
 TERRITÓRIO
 SOBERANIA

Emergem divergências na doutrina quanto ao rol de sujeitos do Direito Internacional,


bem como quanto às suas naturezas. Tal situação justifica-se pela inexistência de fonte
escrita específica definidora de quem ostenta tal posto. Algumas correntes tentam
explicar e dar balizamentos para a definição desses sujeitos.

Facto é que, a despeito de se filiar a uma ou outra corrente, muitos atores, sejam
pessoas físicas ou jurídicas, desenvolvem atividades extrafronteiras e suas
manifestações e deliberações trazem impactos que, materializam poderes que sequer
Estados soberanos conseguem ombrear. A própria Cruz Vermelha, uma organização
não-governamental humanitária, demonstra uma forma de atuação, influência e
credibilidade que inúmeros países nem ao menos conseguem igualar. Ela aparenta ter
muitos atributos pertencentes a tradicionais sujeitos internacionais, todavia, mesmo
assim, há muitos argumentos contrários à sua condição de sujeito internacional. Veja-
se o quão árdua é a missão de definir os entes que possuem personalidade
internacional e que, por consequência, têm capacidade.

Para compreender (e talvez aceitar) essa conjuntura moderna, sempre cambiante, é


preciso reconhecer que a sociedade internacional flutua em uma ordem jurídica cada
vez mais policêntrica. Sendo assim, com mais frequência os tradicionais
manipuladores da convivência mundana perdem espaço para novas origens decisórias.
É conhecido o quadro atual em que muitas multinacionais têm mais poder de manobra
e capacidade de influência na economia global que certos Estados.

32
Com tais premissas, resta, destarte, escorreito afirmar que não há fórmula fechada ou
um tratado que, categoricamente, defina quem são os sujeitos, cabendo à doutrina e à
jurisprudência assim proceder.

Frente a essa exposição, cabe destacar que há três correntes sobre a temática.

Classicamente, o Estado sempre foi considerado o sujeito único, ostentador de


personalidade internacional originária, o que lhe garantia plena capacidade para
dominar o cenário internacional. Esse status teve seu estopim com a instauração da
lógica westfaliana e perdurou até o fim da Segunda Guerra Mundial. Não que os
Estados deixaram de ser sujeitos depois de 1945, mas não são mais os únicos. Sendo
assim, a tese de que somente eles são únicos sujeitos não mais subsiste. A própria
expansão do Direito das Gentes não condiz com essa corrente, que pode ser
denominada de teoria clássica ou estadualista (originada na Alemanha); ela está
ultrapassada.

A teoria clássica foi abandonada devido a vários factores. Pode ser novamente referida
a expansão do Direito Internacional, conjuntamente com a redefinição do conceito de
soberania, o que está conectado com a própria flexibilização da supremacia
constitucional, pois as fontes externas e os agentes não nacionais cada vez mais
influem no cenário externo e nos territórios nacionais. Outros agentes começaram a
povoar os espaços não mais ocupados pelos Estados.

Radicalmente o oposto da corrente estadualista apresenta-se a teoria individualista


(originada da França). Esta prega que o sujeito somente pode ser o indivíduo,
excluindo-se Estados e qualquer outra organização. Sua importância interna transcende
limites fronteiriços, a ponto de galgar o posto de único com personalidade jurídica
internacional. Mais um entendimento que, com máxima vénia, deve ser refutado, haja
vista que ignora todos os papéis fundamentais desempenhados pelos Estados.

Além da clássica e da individualista, como terceiro posicionamento, há a tese eclética


ou heteropersonalista. Ela prima pela existência de mais de um sujeito do Direito das
Gentes, aceitando a co-existência de personalidade internacional dos Estados, dos
indivíduos e das organizações internacionais, permitindo, inclusive, a inserção de
outros dentro desse grupo.

Em síntese: a teoria clássica concebe somente o Estado como sujeito; a individualista


concede personalidade internacional somente aos indivíduos; e a eclética, de caráter
ampliativo e de tendência expansiva, classifica como sujeitos os Estados, as
organizações internacionais e os indivíduos.

Hodiernamente, a mais adoptada é a terceira, a eclética ou heteropersonalista. Mesmo


que se reconheça a existência de algumas dissonâncias, já é maioritário o entendimento
de que são sujeitos do Direito Internacional os Estados, as organizações internacionais
e os indivíduos. Contudo, outros entes que muitas vezes não se encaixam em um

33
desses padrões (Estado, organização internacional ou indivíduo) também assumiram e
passam a assumir a condição de novos sujeitos.

I. ESTADO

Em termos abstractos e formais, diz-se sujeito de Direito quem é susceptivel de


direitos e obrigações, quem pode entrar em relações jurídicas, quem pode ser
destinatário directo de normas jurídicas. Nas relações internacionais os Estados são os
actores principais (não obstante a degenerescência das suas principais atribuições igual
crise do Estado soberano-pós Westfália-resvalando nos “quasi states”), após ter sido
nesse campo o único até ao fim do século XIX. Se, desde então, as organizações
internacionais, as ONGs, os indivíduos e até as mafias têm de igual modo um papel
reconhecido na cena mundial. O Estado ocupou sempre um lugar principal, assim
como acontece com inúmeros povos aspiram também nela ocupar um tal espaço.

OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE ESTADO

O Estado caracteriza-se, no plano internacional, pela soma dos seus elementos


constitutivos: População, Território, poder Político e soberania. Na ausência de um
dos seus elementos, não se pode falar de Estado, pois, a condição essencial da
existência do Estado é a soberania.

O Estado emana de uma forma de organização política da sociedade, resultante de uma


processo social, que compreende um território, uma população e uma entidade
politicamente estruturada. A Soberania é o fundamento jurídico das competências
internacionais do Estado e a independênciaé a tradução política. Esta soberania
confere ao Estado as três prerrogativas: o direito de representação (Jus legatione), de
fazer a guerra (jus belli) e de celebrar tratados (jus tractum).

De facto, hoje nenhum cidadão do mundo escapa à autoridade de um poder capaz de o


obrigar a adoptar uma certa conduta. Esse poder é exercido autoritariamente sobre uma
porção maior ou menor de território onde vive uma determinada população, e encontra
na ideia do Estado o seu verdadeiro suporte político. O mundo está pois dividido em
sociedades politicamente organizadas, nas quais um conjunto de órgãos exerce o Poder
político, isto é, tem a faculdade de definir regras de comportamento social e de impor
eficazmente o seu respeito a todos os membros da respectiva sociedade. O mundo, ou
seja, a comunidade internacional é, portanto, formado por sociedades políticas- Estado.

Noção de Estado

Existem numerosos conceitos do estado, algumas das quais se prestam a grandes


equivocas.

Para alguns autores, o Estado é o conjunto dos órgãos que, numa sociedade,
aparecem a exercer o poder político. Esta definição assenta num critério funcionalista,

34
pois atribui às funções dos órgãos de soberania a verdadeira essência do Estado. O
conceito de Estado assim definido presta-se a alguns equívocos, porque dá azo ao
desenvolvimento da tendência do poder do Estado, pois considerar que o Governo que
exerce o Poder é de facto o Estado, implica pensar-se que, quando se assume o poder
governamental, se adquire também o poder do Estado, o que muitas vezes não
corresponde à realidade, pelo facto de o governo falar em nome do Estado e de estar
oficialmente investido do poder do Estado, não quer dizer que controle efectivamente
esse poder.

Para outros autores, o Estado é uma instituição social equipada e destinada a manter
a organização política de um povo, interna e externamente. Este conceito de Estado
evoca desde logo a ideia de poder, de poder eficaz, protegido, organizado. O Estado é
uma forma de organização social, que garante, contra os perigos internos e externos, a
sua própria segurança, bem como a dos seus súbditos.

O critério estruturo-funcionalista que está na base desta definição foi também


utilizado pelos marxistas para definirem o Estado como: uma instituição comunitária
onde existe uma diferenciação entre fortes e fracos (exploradores e explorados) de
modo que os primeiros mandam e os outros obedecem. O Estado destinar-se-ia,
assim, a preservar a exploração dos pobres pelos ricos. Estes critérios de definição do
Estado deram origem à “ Teoria dos três elementos21” segundo a qual o Estado se
caracteriza pelos seguintes três elementos: território, população e o aparelho do poder.
Assim sendo, o Estado será pois, a organização político-jurídica de uma sociedade
dispondo de órgãos próprios que exercem o poder sobre um determinado território.

CONCEITOS DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO.

POVO

O Povo de um Estado é o conjunto dos indivíduos que se constitui em sociedade


política, para a prossecução de interesses comuns, e se rege por leis próprios sob a
direcção de um mesmo Poder soberano. Ainda pode ser,

O Povo (ou comunidade humana) é o conjunto dos nacionais, isto é, das pessoas
ligadas ao Estado pelo vínculo da nacionalidade. De acordo com a CRA, Angola é um
Estado baseado na soberania popular, nos termos dos artigos 1º e 3º, também o artigo
105º e ss.

Do povo distinguem-se a População e a Nação:


POPULAÇÃO

21
José Fernandes, António: introdução à Ciência Política “Teorias, Métodos e Temáticas”, Porto-Portugal. Editor: Porto
Editora,2008, Pg. 71-73.

35
A população, ou povo22 como mais comummente se designa, é considerada o primeiro
elemento do Estado. Não é possível conceber um Estado sem população. Todavia, nem
toda a população que vive num território sob o controlo de um determinado Poder
soberano constitui o elemento humano do Estado. Somente os indivíduos que estão
sujeitos às normas gerais definidas pelos órgãos do Poder fazem parte da população
do Estado referimos que são os seus nacionais.
A População é o conjunto de pessoas que residem num determinado território. Com
efeito, a população é constituída pelos estrangeiros, pelos apátridas e pelos nacionais
residentes no território nacional, excluindo, portanto, os nacionais que estejam
emigrados. Assim, enquanto o conceito do povo é político, o conceito de população é
meramente económico ou estatístico.

NAÇÃO
A Nação designa um conjunto de pessoas ligadas pelo sentimento de pertencerem a
uma realidade cultural (linguística, religiosa, costumes), éticos (procedência comum) e
políticos. Com efeito, a nação não coincide necessariamente com o povo. Podem
existir Estados que integrem mais do que uma nação (o povo espanhol, por exemplo,
integra os Bascos, os catalães e os Galegos) e podem existir nações divididas por mais
de um Estado (o caso alemão, por exemplo, antes da queda do muro de Berlim).

O vínculo jurídico que liga os indivíduos a uma sociedade politica- Estado- Chama-se
Nacionalidade, portanto, é uma qualidade a que correspondem certos direitos e certas
obrigações para com os outros nacionais e para com a própria coletividade.

Ser-se nacional de um determinado Estado é estar-sesujeito às regras de conduta por


ele definidas e usufruir-se dos direitos políticos que as suas leis fundamentais
prescrevem e salvaguardam.

Ora, os termos “nacional” e “nacionalidade” evocam o conceito de nação. E por isso,


os nacionais de um Estado identificam-se com uma nação, o que na maior parte dos
casos não corresponde à realidade.

TERRITÓRIO
Território é o espaço geográfico onde se exerce o poder do Estado. Sem ele não há
Estado.
Os elementos que compõem o Território:

22
Alguns autores, como Marcelo Caetano, preferem a palavra “Povo” para designar a população do Estado,
argumentando que o termo “População” tem um significado económico, que corresponde ao sentido vulgar, e que
abrange o conjunto das pessoas residentes num território, quer se trate de nacionais, quer de estrangeiros (Marcelo
Caetano, “Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional” Tomo I, 6 ª ed, li. Almedina,Coimbra,1983,p. 123)

36
- Solo terrestre é delimitado pelas fronteiras, e pode ser contínuo ou descontínuo,
ocorrendo a descontinuidade, nomeadamente em Estados que são integrados por
território continental e por territórios insulares.
- O subsolo terrestre corresponde a toda a área subjacente ao solo até aonde a acção
humana seja possível.
- O espaço aéreo é toda a extensão aérea existente sobre o solo terrestre e mar
territorial.
- O mar territorial ou espaço marítimo corresponde à faixa de águas marítimas
adjacentes à costa dos Estados banhados pelo mar.
A maioria parte guerras entre Estados são originados por conflitos de fronteiras. É por
isso que o Direito Internacional põe o princípio da sua Inviolabilidade (interdição de
as modificar pela força), e que a maior parte das organizações internacionais fazem da
integridade territorial dos estados um dos seus princípios constitutivos.

SOBERANIA
Soberania é o poder político do Estado que se manifesta através das competências
atribuídas aos seus diversos órgãos, sendo o Estado que dispõe da faculdade de definir
essas competências. Neste direito se manifesta a Soberania. A soberania manifesta-se
em duas vertentes:
-No plano interno, pelo poder supremo do Estado sobre o povo e o território.
-No plano externo, pelo poder independente e autónomo face aos restantes Estados da
comunidade internacional.
A soberania não é um poder absoluto, mas sim define um Estado limita-lo aos outros
fazendo jus a igualdade soberana dos Estados, o “princípio da igualdade soberana dos
Estados”, que é um elemento de protecção dos pequenos contra os poderosos.
Este princípio de igualdade soberana dos Estados faz com que, no plano internacional,
o Estado tenha apenas iguais e não possa ser submetido a regras que não teria
consentido. Aceitando coligar-se, não abandona a sua soberania, mas exerce as suas
capacidades.
No plano interno, o Estado tem o monopólio da “violência legítima”, isto é, da coação
armada. Quando órgãos não dependentes do Estado estão em condições de exercer a
força, é sinal da deliquescência do Estado, quer seja na Republica de Weimar no
princípio dos anos 30, no Líbano nos anos 80, ou em numerosos países africanos
recentemente flagelados pela guerra civil e anarquia (Somália, Libéria Sudão, etc.).

37
Segundo o princípio da igualdade soberana dos Estados em teoria todos os Estados são
iguais no plano internacional (EUA, Micro-Estados das Caraíbas ou do Pacifico). Na
realidade, as relações de poder permanecem dominantes.
Distinto do conceito de soberania é o conceito de poder político. Na verdade, este
apenas se traduz no poder exercido pelo Estado para aprovar as leis e impor o seu
cumprimento, de modo a regular a vida colectiva.

III. O INDIVÍDUO

1.ASPECTOS GERAIS

A personalidade jurídica internacional do individuo tem caracter excepcional. Há


quem considere que o individuo tem capacidade passiva internacional. Para que o
individuo a pena internacional. Mas para sofrer uma pena internacional, ditada pelos
tribunais de Tóquio e de Nuremberga, o indivíduo teve de agir em nome e no interesse
dum estado (caso de pessoal administrativo, juízes, procuradores) ou prevalecendo-se
da qualidade de elementos da sua estrutura administrativa, ou então teve de agir de
forma a participar acessoriamente na violação organizada pelo Estado de normas do
Direito da guerra (caso de médicos e enfermeiros, industriais e homens de negócio).
Quer dizer, o indivíduo punido internacionalmente é o indivíduo-órgão.

No que respeita a subjectividade internacional “activa” do indivíduo, vejamos os casos


a apontar.

Previa-se, na 12ª Conversão de Haia de 1907, a constituição de um Tribunal de Presas,


ao qual poderiam recorrer directamente os indivíduos de estados neutros e inimigos em
Estado de guerra. A Conversão, todavia, nunca entrou em vigor.

Naquela mesma data, criou-se o Tribunal Judicial Centro Judicial Americano, cuja
existência não ultrapassou 1918, e ao qual os particulares só não podiam recorrer
contra o respectivo Estado nacional.

38
Em 1919, criaram-se os Tribunais arbitrais mistos, cujo estatuto facultava aos
particulares e propositura de acções de indeminização contra os Estados, que, em
virtude da guerra, lhes tivessem causado prejuízos.

Uma vez instintos esses Tribunais, o Direito de petição das minorias, no quadro do
Pacto das SDN, dos habitantes dos territórios sob tutela, no quadro da Carta da ONU, e
de qualquer particular no quadro do Protocolo Facultativo referente ao Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a criação do Tribunal Internacional de
Justiça, em substituição do Tribunal Permanente de Justiça Internacional, não
melhorou a possibilidade de acesso dos indivíduos a órgãos judiciais internacionais.

Assentando na falta da personalidade Jurídica Internacional do indivíduo e no facto de


este encontrar, pelos Tribunais do seu Estado quer pela acção diplomática do mesmo,
os autores dos estatutos daqueles Tribunais Internacionais optaram por não lhe
reconhecer capacidade activa Internacional.

Hoje em dia, o indivíduo tem capacidade judiciária activa, no quadro de


funcionamento do Tribunal da Justiça da Comunidade Europeia e no quadro do
funcionamento dos Tribunais administrativos das organizações internacionais.Também
no quadro da Conversão Europeia dos Direitos do Homem, é reconhecido ao indivíduo
o direito ao impulso de um recurso Internacional, sempre que esteja em parte da
violação dos Direitos do homem e tenham sido esgotados, em sua defesa, os recursos
de Direito Interno.

2. IMPORTÂNCIA DO PROBLEMA E QUESTÃO TERMINOLÓGICA

Saber se o indivíduo é ou não sujeito de Direito Internacional e, se for, em que medida


o é, constitui um dos problemas que maior importância tem obtido na moderna
doutrina do Direito Internacional, essa matéria ganhou relevância acrescida nas últimas
décadas.

No estudo desta problemática continuaremos a falar no indivíduo as vezes também em


particular, como é de tradição mesmo noutras línguas (individu em francês, individual
em inglês, einzelmenschen em alemão, individuo em italiano e castelhano). Mas, se
durante muito tempo esse vocabulário se referia apenas a pessoas singulares, hoje sob
essa designação coloca-se o problema da personalidade Internacional não apernas
quanto a pessoas singulares como também em relação a pessoas colectivas tanto de
Direito Público como de Direito Privado, e até quando as entidades que não se poderão
qualificar de pessoas singulares ou colectivas, como acontece com o povo ou com as
minorias, no que respeita especificamente às pessoas colectivas de Direito Público.

3. CONTROVÉRSIA DOUTRINÁRIA

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A disputa doutrinária acerca da personalidade jurídica de Direito Internacional de
individuo não diz respeito ao estudo do Direito Positivo, nem as disposições deste que
ase referem ao indivíduo; o que sucede é que se defrontam aqui mais uma vez as
grandes concepções filosóficas, que agora divergem na interpretação a dar a situação
do indivíduo e na inserção do problema nas respectivas concepções jurídicas globais.

Assim, para a concepção positivista, define na base do dualismo, e que ainda aqui pode
ser representada por Anzilote, o Direito Internacional afecta apenas directamente os
Estados, seus actores e destinatários, da norma internacional não resulta nunca
modificações na esfera jurídica do individuo, que só será afectada quando o Direito
internacional vigorar na ordem interna, ie, através das acções do Estado.

Para as concepções monistas antivoluntaristas coloca o problema de forma diversa,


assim para a Escola Sociológica Francesa (Duguit, George, Scelle, Politis), o individuo
não é um sujeito do Direito Internacional, mas é até, o seu único sujeito.

Como sabemos é característica desta corrente a negação da personalidade jurídica do


Estado, que é considerado mero processo técnico de gestão de interesses colectivos.

Em Kelsen, o problema surge de forma diversa, ele sustenta que além do Estado
também o indivíduo é sujeito de Direito Internacional na medida em que para ele
derivam directamente obrigações cujo sanção é lhe imputado. Para ele, o professor de
Viena, a imputação da sanção ao autor do crime de pirataria no alto mar, por exemplo,
é feita directamente pela norma internacional, sem que na pirâmide das fontes do
direito, se interpunha uma norma do direito interno.

De uma maneira geral, a tendência do monismo com primado do Direito Internacional,


leva a aceitação da possibilidade de o individuo ser sujeito do Direito Internacional.
Assim entre os jusnaturalistas são frequentes a afirmação de que são invocáveis
também em Direito Internacional os Direitos individuais naturais, que se impõem não
só ao Estado, mas também a Comunidade internacional no seu todo.

Porém, o problema é a técnica jurídica, onde o individuo pode ser o destinatário


directo da norma internacional, ou pode esta pretender atingi-lo através da interposição
do Estado. Esta última é a técnica clássica, aquela que começou a ser utilizada no
nosso século e que tem vindo a obter crescente importância sobretudo a partir do termo
da II Guerra Mundial.

4. INDIVIDUO COMO SUJEITO AUTÓNOMO DO DIREITO


INTERNACIONAL

Ninguém nega que hoje a norma internacional contempla em muitas situações


individuais, isto é, que os seus efeitos se repercutem na esfera jurídica do individuo,
dando a este vocábulo o sentido amplo que atrás indicamos, é o que passa por exemplo
no Direito Internacional humanitário, na protecção internacional dos direitos

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dohomem, incluindo o direito dos povos e das minorias éticas e culturais, do Direito
Internacional social, etc.

Mas nem em todos esses casos, o individuo será sujeito autónomo do Direito
Internacional. Para que o seja, e com fidelidade a noção que a devida altura demos de
SDI, é necessário que da norma internacional decorram directamente direitos e
obrigações para o individuo. Mesmo se essa atribuição directa de direitos e obrigações
não for acompanhada de um poder próprio de reclamação internacional, que em nosso
entender não é elemento essencial na personalidade jurídica internacional. Isto quer
dizer que o individuo não gozará de personalidade jurídica internacional sempre a
única consequência que advier da regra internacional for a de ela obrigar os Estados a
quanto a se tomar medidas na ordem interna e o individuo, portanto, só directamente
for afectado pela norma internacional.

Essas situações não são de personalidade jurídica internacional, já que o indivíduo não
pode ser ele próprio sujeito de relações jurídico-internacionais, ie, não pode agir, por
si, internacionalmente, em relação aos outros Estados – pode apenas dirigir-se ao seu
próprio Estado, que assumirá a sua protecção perante o outro Estado. A este
mecanismo indirecto da tutela internacional dos direitos e deveres dos indivíduos
nacionais de um Estado perante outros Estados, dá-se o nome de Protecção
Diplomática.

Daqui se exclui, portanto, que para averiguarmos que o indivíduo é SDI, temos de
indagar se a norma internacional lhe confere directamente direitos e obrigações.

5. O INDIVÍDUO COMO SDI COMUM

CONCLUSÃO

Acerca da personalidade jurídica internacional do indivíduo, o indivíduo não é hoje


visto pelo ordenamento jurídico internacional, apenas como objecto de simples
protecção diplomática da parte do Estado que é nacional, mas é considera do
verdadeiro sujeito de direitos e obrigações que o DI lhe reconhece de modo directo e
imediato. E isso acontece tanto no plano de DI consuetudinário, como num DI
Convencional.

Por outro lado, quando se fala de personalidade Internacional do indivíduo não se


pensa hoje apenas na pessoa singular, na realidade, um dos traços da evolução referida
tem consistido no facto de, ao lado da pessoa física, terem adquirido personalidade
jurídica Internacional também pessoas colectivas internas, de Direito público ou de
Direito Privado, e de o problema começar a ganhar importância mesmo perante
conceitos difusos com o de povo e o de minorias. A substituição, que se vem notando
há alguns anos na terminologia do Direito Internacional, da expressão Direito
Internacional dos direitos do homem pela de Direito Internacional dos direitos do
homem e dos povos não exprime, portanto, uma mera figura de retórica. Todavia, a

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personalidade internacional conferida a pessoas colectivas ou grupos não atingiu ainda
nem a direcção nem a eficácia na subjectividade internacional a reconhecida ao
indivíduo como pessoa singular.

Continua, porém, muito limitado o acesso do indivíduo a meios internacionais que


assegurem a efectivação dos direitos subjectivos que lhe são conferidos, especialmente
o acesso a garantias de natureza jurisdicionais, nas Nações Unidas, o indivíduo não
tem acesso ao Tribunal de Haia, no conselho da Europa, pode um Estado ser parte da
Convenção Europeia dos Direitos do Homem e, apesar disso, os cidadãos desse e de
outros Estados podem não gozar do direito de queixa para a comissão da violação por
aquele Estado dos direitos reconhecidos naquela convenção.

Recordamos, porém, que na devida altura nos recusamos a exigir para o conceito de
SDI o Direito de Reclamação Internacional. Por isso, temos que considerar que a
proibição ou a restrição de acesso do indivíduo a meios do Direito Internacionalque lhe
permitam efectivar os direitos e as obrigações que a ordem jurídica internacional lhe
confere não afecta a sua subjectividade internacional, mas apenas limita o seu
exercício; é um problema de Capacidade Internacional, não de Personalidade
Internacional.

Este problema assume acuidade especial em relação aos povos e às minorias nacionais,
se o povo de um território não autónomo, no sentido em que se refere o artigo 73º da
Carta da ONU, vê desprezado, pela potência que administra o território (o Estado
colonizador), ou por terceiro Estado, o seu direito a autodeterminação, esse povo
apesar do esforço da doutrina em contrário, não tem, através dos seus representantes,
acesso a qualquer Tribunal Internacional para obter a reparação da ilegalidade
cometida e pode efectivar o direito que lhe foi negado, o mesmo acontece a uma
minoria que é objecto de genocídio, inclusive da parte do próprio estado que
administra o seu território.

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