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Bibliografia utilizada:
o Machado, Jónatas, Direito Internacional, 4ª Edição, Coimbra Editora;
o PowerPoint’s disponibilizados pelo Dr. Jónatas Machado.
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Limitações/Aspetos Negativos:
o Justiça dos vencedores, politicamente motivada, que, por conseguinte, suscitava reservas
relativamente às suas pretensões de objetividade e imparcialidade;
o Justiça Imperfeita - Ignoraram os crimes praticados pelos Aliados, em especial relevo para a
URSS
o Justiça retroativa -aplicação de leis penais retroativamente – para alguns puristas, e mesmo
tratando-se de atrocidades monstruosa, é decisivamente aniquilador *ler nota de rodapé da
página 450 e entender que este argumento é débil na medida em que parece em termos
radicalmente positivistas
o Justiça de 2ª Linha - sem Müller (Gestapo) e Eichmann e, ainda, sem Hitler, Mussolini, Himmler
(SS) e Goebbels.
o Carácter experimental e improvisador
o Natureza político-militar
o Base jurídica - internacional dúbia
Aspetos Positivos:
o Triunfo da justiça sobre a “execução sumária”
o Primazia do direito internacional
o Aplicabilidade direta do direito internacional
o Responsabilidade internacional individual e coletiva (PNSTA; SS; Gestapo)
o Responsabilização de líderes políticos, militares e industriais
o Pedagogia político-moral internacional
É de notar que o Tribunal de Nuremberga e os seus princípios substantivos (consagrados na
Resolução 95 de 1946, da AG da ONU – confirmação dos princípios de Nuremberga + Comissão do
Direito Internacional - 2ª sessão de 1950*) foram fundamentais para que se afirmasse que violação
das “leis da humanidade” , conceito introduzido após I Guerra Mundial, constitui uma violação do
direito internacional consuetudinário.
*PRINCÍPIOS DE NUREMBERGA:
Princípio I: qualquer pessoa que cometa um ato que constitua um crime sob o direito internacional
é responsável por ele e passível de punição;
Princípio II: o facto de o direito interno não impor uma pena por um ato que constitua crime sob o
direito internacional não exime a pessoa que cometeu o ato de responsabilidade sob o direito
internacional;
Princípio III: o facto de a pessoa que cometeu ato que constitui um crime sob o direito
internacional ter agido como Chefe do Estado ou como oficial responsável do Governo não o exime
de responsabilidade sob o direito internacional;
Princípio IV: o facto de a pessoa ter agido em prossecução de uma ordem do seu governo ou de um
superior não o exime de responsabilidade sob o direito internacional, desde que o mesmo tivesse
de facto a possibilidade de escolha moral;
Princípio V: qualquer pessoa acusada de um crime sob o direito internacional tem o direito a um
julgamento justo em questões de facto e de direito;
Princípio VI: os crimes mencionados subsequentemente são puníveis sob o direito internacional (a)
crimes contra a paz (b) crimes de guerra (c) crimes contra a humanidade;
Princípio VII: a cumplicidade na comissão de um crime contra a paz, de um crime de guerra e de um
crime contra a humanidade, como estabelecido no Princípio VI, é um crime sob o direito
internacional.
A Comissão do Direito Internacional (CDI) considerou possível e desejável a existência de
uma instância jurisdicional internacional com competência para julgar crimes de genocídio. Assim
sendo, foi aprovada a Convenção da ONU sobre o Genocídio, de 1948. É de realçar que na mesma
Convenção no artigo 6º previa a existência de um Tribunal Criminal Internacional com
competências neste domínio. Contudo, a Guerra Fria não contribuiu para a sedimentação de uma
justiça penal internacional. Só no fim da Guerra Fria, com a progressiva generalização das
democracias liberais nos cinco continentes e o recrudescimento dos conflitos étnicos-religiosos, a
justiça penal internacional tornou-se num dos pontos principais nos debates jurídico-internacionais.
Igualmente importante foi o papel desempenhado pelo direito internacional dos direitos
humanos , pela proliferação das ONG’S de natureza humanitária, pela consolidação de uma opinião
pública mundial e pelo incremento da cooperação policial e judiciária entre os estados – aspetos
que contribuíram para subverter o paradigma jus internacional dominante de forma a afirmar o
individuo como unidade primária e sujeito por excelência do direito internacional. O individuo é
sujeito por excelência do direito internacional, tanto nos direitos como na responsabilidade.
OBJETIVOS DA JURISDIÇÃO PENAL:
❖ Pôr termo ao sentimento de impunidade; ❖ Promover a reconciliação e a restauração;
❖ Prevenir e punir as mais graves ❖ Promover a confiança no direito e nos
atrocidades; tribunais;
❖ Garantir primazia do direito (rule of law) ❖ Servir a causa da sustentabilidade da
sobre todos os Estados; democracia e do Estado de direito;
❖ Afirmar a relação entre paz e justiça; ❖ Servir o bem-estar das gerações futura
➢ A jurisdição do TPI, inicialmente, pode definir-se ratione materie, que circunscrita aos crimes
internacionais mais graves – artigo 5º -, sendo eles:
▪ O crime de Genocídio – artigo 6º do ETPI;
▪ Crimes contra a Humanidade – artigo 7º;
▪ Crimes de Guerra – artigo 8º;
▪ Crimes de Agressão – apesar de uma Resolução da AG da ONU de 1974, adotada sem
votação e destituída de relevo político e jurídico, a versão inicial do ETIP não continha uma
definição do crime de agressão, assim sendo, só em 2010, na Conferência de Kampala,
estabeleceu-se uma definição de crime de agressão. Esta só teve a sua jurisdição ativa a
partir de 2017 e esta circunscrita aos Estados que ratificaram o crime de agressão.
Estes crimes consideram-se qualitativamente Jurisdição Pessoal e Territorial do
diferenciados dos crimes de delito comum do direito TPI:
nacional, na medida em que manifesta um tipo de macro
ou maga -criminalidade feito de atrocidades inimagináveis. o Crimes cometidos pelos
Assim, se compreende a sua imprescritibilidade – artigo nacionais de Estados parte (ou
29º do ETIJ. que tenha aceitado a jurisdição
do TPI), mesmo em Estados que
➢ A jurisdição do TPI é delimitada ratione temporis, não reconheceram a jurisdição
aplicando-se o princípio da não retroatividade das suas o Crimes cometidos em
normas quer em geral, quer relativamente a cada territórios de Estados parte (ou
estado parte – artigo 11º do ETIJ. que tenha aceitado a jurisdição
do TPI), mesmo por nacionais
➢ A jurisdição é limitada ratione personae, estendendo- de Estados que não
se, em princípio, apenas aos Estados parte do Estatuto, reconheceram a jurisdição
quer se trate de Estados cujo território, embarcação ou o Crimes cuja prossecução seja
aeronave foram cometidos crimes e ou de Estados da devolvida ao TPI pelo CS das NU
nacionalidade do arguido – artigo 12º do ETIJ. É de
atentar que alguma doutrina nota, porém, que a Objeções de alguns países:
eventual aplicação da jurisdição do TPI a cidadãos de o O ETIP cria obrigações para
estados não partes no ETIP não viola, só por si, a Estados que não ratificaram -
soberania desses estados, na medida em que o mesmo art. 13º ETPI
não tem face ao direito internacional, o exclusivo da o O Procurador do TPI pode
jurisdição sobre os nacionais. iniciar investigações “proprio
moto” - art. 15ºETPI
➢ O TPI é competente para julgar apenas pessoas o O TPI decide as questões de
singulares maiores de 18 anos, independentemente da jurisdição e admissibilidade -
sua qualidade oficial – artigo 25º, 26º, 27º e 28º do art. 19º ETPI
ETIP. Estão, pois, excluídas da responsabilidade o Os Estados partes têm uma
criminal internacional as pessoas coletivas, como é o possibilidade de “opting-out”
caso das empresas transnacionais. No entanto, a durante 7 anos - art. 124º ETPI
responsabilidade criminal internacional abrange os
membros dos órgãos sociais dessas empresas que
*Juízo de Instrução:
❖ Artigo 56º do ETPI; ❖ Atenção aos interesses da justiça;
❖ Garante a integridade e eficácia do ❖ Pedido de autorização ao Juízo de
processo; Instrução.
❖ Controla o Procurador para este não
Críticas ao sistema proprio motu:
violar os direitos dos Estados;
❖ Assegura as garantias dos arguidos. ❖ Dispersão de recursos escassos;
**Investigação proprio motu: ❖ Perda de tempo com crimes de delito
comum;
❖ Base razoável para acreditar: indícios de
um crime grave sob a sua jurisdição; ❖ Politização do processo penal;
❖ Exame das questões de
❖ Violação do primado do CS das NU.
complementaridade na relação com os
tribunais nacionais;
o O TPI tem jurisdição se o Estado não estiver a investigar o mesmo arguido pela mesma conduta;
o O TPI mantém a jurisdição se o Estado não tiver genuinamente vontade e capacidade de
investigar e julgar os suspeitos de crimes;
o O TPI deve avaliar globalmente o sistema nacional e a sua capacidade de aplicar o direito
substantivo e processual pertinente em todos os domínios relevantes do caso. A vontade e a
capacidade podem ser examinadas em conjunto quando dependam dos mesmos factos.
de detenção, dotados de efeito direto, e notificações para comparência ao TPI - artigos 55.º, 57.º,
58.º e 59.º. Permite-se que o mesmo realize operações de investigação no território de Estado que
tenha solicitado auxílio, sem a presença das respetivas autoridades - artigo 99.º/4 -, cabendo ao
procurador poderes significativos no caso de Estados falhados ou desagregados - artigo 57.º/3/d).
Estabelece-se um dever (não coativamente) de cooperação dos Estados partes -artigo 54º e 93º do
ETIP. A cooperação é fundamental, podendo a sua falta repercutir-se na acusação ena defesa,
podendo afetar os direitos de igualdade de armas e julgamento justo, contudo o dever de
cooperação em matéria de entrega de um arguido ou de auxílio é limitado – artigo 98º ETIP.
Durante o inquérito é particularmente importante o conjunto de garantias de processo
equitativo (due process) colocadas à disponibilidade do arguido - artigo 55.º. Este dispõe do direito
de contestar o mandado de captura na instância internacional, de não ser obrigado a incriminar-se,
nem ser objeto de coerção, tortura ou tratamentos degradantes.
Depois do inquérito segue-se a abertura da instrução, podendo o arguido requerer para
aguardar o julgamento em liberdade - artigo 60.º. Nesta fase, a acusação deve ser apreciada e
confirmada pelo juízo de instrução, sendo reconhecido ao arguido um direito de audiência e de
contestação, de acordo com os princípios do contraditório, da igualdade de armas e da igualdade
de tratamentos das partes - artigos 60.º e 61.º. Valem, aqui, inteiramente, os princípios de
julgamento justo (fair trial) e processo equitativo (due process), com implicações no tempo e nas
condições materiais para a preparação e apresentação da defesa.
É de atentar que o grau de convicção durante a acusação é a convicção de que o arguido
cometeu o que lhe é imputado.
1.4.5. Julgamento
O julgamento obedece aos princípios de justiça e imparcialidade, da presencialidade, da boa
administração da justiça, da publicidade e da presunção da inocência – artigos 63º e 66º. De acordo
com este princípio, o ónus da prova cabe ao procurador. Este tem de produzir uma prova para além
de qualquer dúvida razoável - artigo 66º/3 do ETIP. Contudo, é uma questão controvérsia segundo
alguma doutrina. Deve sublinhar-se a proibição de reversão do ónus da prova, juntamente com os
princípios do respeito pelos direitos do arguido e da proteção das vítimas e das suas famílias
através da criação de um Trust Fund para o seu apoio – artigo 79º. O grau de convicção do
julgamento entende que existem provas suficientes de que o arguido cometeu os crimes que lhe
são imputados.
Igualmente consagrado está o princípio do duplo grau de jurisdição.
O direito aplicável no julgamento encontra-se contido no ETIP, Elementos dos Crimes e nas
Regras de Procedimento e Prova, embora também se possa recorrer aos princípios de direito
internacional geral e de direito dos conflitos armados – artigo 21º. Igualmente atendíveis são os
princípios gerais do direito interno do Estado em que os crimes foram cometidos, bem como os
precedentes judiciais.
igualdade, a íntima relação entre o direito probatório e o segredo de Estado e a segurança nacional,
etc. Igualmente relevante é o facto de muitos ataques terroristas serem levados a cabo por
suicidas, esvaziando de sentido os tradicionais fins das penas.
1.5.5. Difícil Acomodação de Meios Alternativos
Alguns autores alertam para a necessidade de explorar outras vias de prevenção e repressão
dos crimes internacionais. As considerações e ações feitas por parte das NU parecem desajustadas
num momento em que o TPI já se encontra em funcionamento. Para alguns trata-se, em muitos
casos, não de meios complementares, mas sim de verdadeiras alternativas ao TPI, dificilmente
compatíveis com a sua existência e atividade, já que, optar nuns casos pela jurisdição penal e
noutros por qualquer um dos instrumentos alternativos é, por si só, passível de gerar controvérsia e
instabilidade.
1.6. O LEGADO DOS TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS E SUAS DECISÕES
A criação dos tribunais internacionais e, por conseguinte, o seu funcionamento e decisões
desenvolveram:
➢ o Direito uma vez que se assistiu a um desenvolvimento da jurisprudência em diversas áreas;
➢ a Memória, Educação e Investigação através da preservação e acessibilidade dos registos, à
pedagogia dirigida à sociedade, ao reforço das capacidades humanas e institucionais na
comunidade e no apoio na realização de ulteriores investigações.
in casu e colaboração com os diretores do BM. O prestígio dos membros do painel de inspeção
embora nem sempre tenha garantido o sucesso da sua intervenção, tem contribuído para a sua
credibilidade, além de não integrar juízes ou especialistas em direitos humanos este fica muito
aquém dos remédios adequados à sua tutela jurisdicional efetiva.
organização dos serviços. O DE funciona em sessão contínua na sede do FMI sendo o responsável
pela gestão das operações gerais do fundo, fazendo a ponte entre os políticos e os burocratas. É
composto por 20 diretores executivos eleitos por 2 anos pela AG por uma maioria de 85% dos
votos, sendo 5 nomeados pelos 5 membros com quotas mais elevadas e 15 pelos outros membros
O DGP é assistido por três vice-diretores, podendo participar na AG sem direito a voto,
exceto em caso de empate.
Na estrutura organizatória do Fundo, tendo em vista a realização das suas operações e
transações, existem:
• Departamentos de Área;
• Departamentos Funcionais e de Serviços Especiais;
• Gabinete de Informação e Apoio.
economia global. Nos últimos anos do FMI, tem sublinhado a importância de adoção de princípios
de Estado de Direito, transparência orçamental e práticas de good governance a nível empresarial,
estadual e global.
➢ Tranche reserva
Um dos objetivos essenciais do FMI consiste na disponibilização de crédito temporário para
fazer face a défices conjunturais da balança de pagamentos. A principal vantagem consiste na
obtenção de liquidez para enfrentar problemas financeiros, sem que o Estado Membro tenha que
financiar-se internamente em termos que comprometam a sua estrutura económica.
Este mecanismo concede aos Estados membros a possibilidade de terem acesso à reserva
de tranches do FMI, sem que este possa levantar objeções, ou a uma quantia que não exceda 200%
da respetiva quota. Admite-se o afastamento destes limites em situações excecionais.
➢ Facilidades especiais de crédito
O AFMI autoriza o fundo a conceber políticas especiais para problemas específicos da
balança de pagamentos. O FMI auxilia os Estados em alterações abruptas dos termos de troca,
situações pós-conflito, combate à pobreza, restruturação da dívida soberana, situações de desastre
natural ou conflito armado. Assim, existem hoje diferentes mecanismos de concessão de crédito,
calibrados em função das necessidades.
O objetivo é desenvolver as facilidades de crédito, a custos comportáveis, adequadas às
necessidades da balança de pagamentos de Estados de alto, médio e baixo rendimento,
permitindo-lhes estabilizar as suas economias e retomar o crescimento sustentado.
➢ Acordos Stand-by
De entre os instrumentos de crédito do FMI merece um relevo especial a figura dos acordos
Stand-by. Esta figura tem como objetivo ajudar os Estados com dificuldades na sua balança de
pagamentos em situação de crise económica. Trata-se de uma linha de crédito não bonificado,
embora, geralmente, com taxas de juro inferiores àquelas que o Estado obteria no setor privado.
Por via dos acordos Stand-by um Estado cujas necessidades de moeda estrangeira perdurem
mesmo depois de esgotadas as tranches de reserva do FMI, pode obter um acesso faseado a novas
tranches mediante a subscrição de uma Carta de Intenções, que pode ser alterada em função das
circunstâncias. Em princípio, trata-se de fazer face a necessidades de liquidez de curto prazo,
embora tenham vindo a ser operados ajustamentos tendo em conta a diversidade de situações
possíveis, nem todas de natureza conjuntural.
Através da Carta de Intenções o Estado dá o seu consentimento à observância de
determinados critérios macroeconómicos de execução, que condicionam o acesso ao crédito.
Estes critérios têm, geralmente, uma forte componente Condicionalidade do FMI:
anti-inflacionária e de retração económica, envolvendo,
normalmente, a redução drástica da despesa pública, a • Aumento de Impostos;
privatização de empresas públicas, a liberalização dos • Redução da despesa
despedimentos e dos preços de produtos específicos, o pública (salários,
aumento das taxas de juro, o agravamento dos impostos, a investimento, prestações
substituição das importações e a limitação do crédito interno e sociais);
externo. • Aumento das taxas de juro
e diminuição do crédito;
Embora as condições impostas não sejam juridicamente
• Privatização de empresas
vinculativas, os Estados tendem a observá-las para garantirem
públicas;
acesso ao crédito. Nisso se consubstancia a tão controversa
• Liberalização dos
condicionalidade do FMI. Esta foi originariamente concebida
despedimentos e de
como meio adequado e necessário para garantir a tomada de
preços;
medidas para a correção do défice da balança de pagamentos
• Substituição das
e para a adoção de políticas de crescimento económico
importações.
sustentado. A condicionalidade temporal visa, além do mais,
garantir de forma adequada o uso temporário dos recursos do Méritos da Condicionalidade:
fundo e assegurar a disponibilidade de liquidez pelo FMI e a
• Uso Adequado do Fundo
respetiva circulação.
• Reformas Estruturais
Principais críticas dirigidas à condicionalidade: • “Good Governace”
o Questionável mérito económico da imposição de condições
excessivamente reacionárias;
o Ausência de um padrão absoluto para as condições do FMI;
o Excessiva ênfase na correção abrupta da balança de pagamentos, descurando outras finalidades
fundamentais do FMI, como sejam o desenvolvimento dos recursos produtivos e o crescimento
económico;
o Insensibilidade relativamente a questões de oportunidade e sequência das medidas de reforma
económica;
o Presença de sinais de favoritismo geopolítico;
o Desconsideração das variáveis políticas e sociais;
o Excessiva dependência de prognósticos cada vez mais difíceis de fazer num contexto de
incerteza;
Uma reforma das instituições de Bretton Woods pode ter grandes implicações ao nível da
soberania económica dos Estados, atenuando a separação entre direito económico e financeiro
interno e internacional e entre estes e o direito internacional geral.
A necessidade de uma maior democracidade interna do BM e do FMI e de uma mais afinada
sensibilidade à realidade concreta do desenvolvimento económico e social e da proteção dos
direitos humanos, não deixará de ter como consequência uma maior preocupação, por parte das
instituições, com o modo como os Estados definem as suas prioridades e conduzem a sua política
económica e financeira.
2.4. COMÉRCIO INTERNACIONAL
obrigados a adotar medidas de execução do acordo, gozam, para o efeito, de uma razoável margem
de manobra.
O Acordo TRIPS estabelece a possibilidade de medidas restritivas à proteção da propriedade
intelectual, sempre que esteja em causa a salvaguarda de bens fundamentais da comunidade,
como sejam a saúde pública, a nutrição, a ordem pública ou o ambiente.
O acordo também prevê a possibilidade de atribuição de licenças compulsórias. A fim de
evitar abusos, a possibilidade de atribuição destas licenças surge fortemente condicionada por
princípios como:
❖ Mérito individual do destinatário da licença compulsória;
❖ Preferência pelo uso autorizado em condições comerciais razoáveis;
❖ Prioridade da proteção em situações de emergência nacional ou extrema urgência;
❖ Limitação temporária;
❖ Não exclusividade;
❖ Não transferibilidade;
❖ Satisfação prioritária das necessidades nacionais;
❖ Remuneração do titular;
❖ Justiciabilidade;
❖ Etc.
Procurando acentuar a dimensão social de proteção da saúde pública, a Declaração de Doha
veio recomendar a adoção de uma lógica de ponderação de bens e regimes flexíveis que, sem
comprometerem o objeto e as finalidades do Acordo TRIPS, consigam uma adequada harmonização
e concordância prática entre a proteção da propriedade intelectual, essencial ao desenvolvimento
de novos medicamentos, e a defesa da saúde pública, nomeadamente através da garantia do
acesso universal aos medicamentos.
2.4.4. A Organização Mundial de Comércio (OMC)
De um modo geral, deve entender-se que o direito da OMC não é um subsistema jurídico
internacional autónomo relativamente aos demais, mas parte de um todo normativo. O comércio
mundial é indissociável dos direitos humanos, da proteção do ambiente ou da delimitação de
fronteiras. Assim sendo, é comum o conflito entre normas convencionais na resolução de litígios da
OMC, de muito difícil solução na medida em que está perante grandezas incomensuráveis entre si.
2.4.4.3.2.2. O Órgão de Resolução de Litígios (ORL)
O ORL tem como função aplicar as normas do MERL (acordo que cria a OMC) e as
disposições de consulta e resolução de litígios previstas nos acordos abrangidos.
Pretende-se que a permanência e regularidade da sua atuação sejam geradoras das
necessárias previsibilidade, segurança e confiança no âmbito do comercio internacional, e
clarifiquem o quadro normativo relevante, de forma a evitar conflitos futuros.
A este órgão, entre outras coisas, compete-lhe criar painéis que o assistam na realização das
suas funções e adotar os respetivos relatórios, bem como fiscalizara execução das próprias decisões
e recomendações. Cabe-lhes ainda adotar os relatórios do Órgão de Recurso. As suas decisões são
tomadas por consenso. O ORL deve informar os conselhos e comités pertinentes da OMC sobre o
andamento dos litígios relevantes.
2.4.4.3.2.3. Procedimento
O objetivo do procedimento de resolução de conflitos é obter uma solução positiva para o
litígio, privilegiando a negociação de boa-fé e o acordo mútuo. Igualmente importante é a
supressão das medidas cujo mérito é questionado.
O processo inicia-se com a apresentação de uma queixa. Têm legitimidade processual ativa
os Estados-Membros, embora a mesma possa ser reconhecida à Comunidade Europeia e a
territórios delimitados (Ex: Hong Kong). Por via de regra, quem alega uma infração deve alegar as
provas correspondentes, de acordo com o princípio geral de que quem faz uma qualquer afirmação
processual deve corroborá-la.
Sempre que se verifique uma violação das obrigações previstas nos acordos abrangidos, a
ação é considerada como um caso de anulação ou prejuízo, havendo lugar a reparação.
2.4.4.3.2.4. Consultas
As consultas são pedidas pelo Estado que se queixa de um prejuízo e visam possibilitar a
discussão do problema com o Estado alegadamente responsável pelo mesmo. Os pedidos são
notificados à ORL e aos conselhos e comités relevantes.
Todos os Estados partes devem estar recetivos a entrar Processo na OMC:
prontamente em consultas quando são solicitados para isso, Normalmente 1 ano entre a
devendo pautar-se pelo princípio da boa-fé, no sentido da ação e a primeira decisão e 15
obtenção de uma solução satisfatória da questão. meses se há recurso. Contudo,
As consultas são confidenciais, não prejudicando os os prazos podem ser
direitos das partes nas fases processuais subsequentes. As flexibilizados. Em situações de
mesmas têm a duração máxima de 60 dias. Existem casos urgência (bens perecíveis) os
urgentes, nomeadamente relacionados com bens perecíveis, prazos podem ser encurtados.
em que são encurtados os prazos pertinentes e acelerado o Existe uma impossibilidade de
processo. É admitida a participação no processo de Estados bloqueio da decisão pelo
terceiros que aleguem ter um interesse comercial no mesmo. O Estado vencido. A decisão é
objetivo destas consultas é resolver o litígio o mais depressa adotada, a menos que seja
possível, de preferência logo nesta fase. rejeitada unanimemente.
compensações com a outra parte no caso de não execução / O ORL pode autorizar sanções
económicas 30 dias depois do “prazo razoável”/ O ORL supervisiona todo o processo
2.4.4.3.2.8. Recurso
Ao Órgão de Recurso (OR), criado pelo ORL, compete apreciar os recursos interpostos da
decisão proposta pelo painel, limitado a questões de direito, cabendo-lhe fixar os trâmites do
restivo processo em consulta com o Presidente do ORL e o Diretor Geral.
O OR é composto por sete juízes, nomeados por quatro anos pelo ORL, ficando três
daqueles com a função de analisar cada caso.
A legitimidade processual ativa para recorrer de um relatório de um painel está circunscrita
às partes no litígio, com exclusão de terceiros, embora estes, se tiverem alegado um interesse
substancial, possam apresentar observações junto do OR. O recurso limita-se às questões de direito
referidas no relatório do painel e às interpretações jurídicas aí desenvolvidas.
O processo de recurso obedece a requisitos temporais, com uma duração entre 60 e 90 dias. As
decisões do recurso podem consistir na ratificação, alteração ou revogação das conclusões jurídicas
do painel, devendo, em regra, ser adotadas pelo ORL, no prazo de 30 dias, e aceites
incondicionalmente pelas partes em litígio. O ORL pode recusar a decisão do OR, mas apenas por
consenso.
As decisões do OR têm efeitos Inter partes, embora acabem por extravasar o caso concreto, na
medida em que constituem fonte auxiliar de direito internacional na resolução de casos
subsequentes.
2.4.4.3.2.9. Execução da decisão
Os relatórios dos painéis e do OR dependem da adoção formal pelo ORL, embora, na prática,
os mesmos assumam uma natureza materialmente jurisdicional. As decisões do ORL são
executórias, não estando dependentes de prévio assentimento da Conferência Ministerial,
retirando, assim, ao Estado prevaricador a possibilidade de vetar as sanções que contra si tenham
sido impostas. No caso de incumprimento, prevê-se a possibilidade de adoção, por parte do Estado
lesado, de medidas de compensação e de suspensão de concessões, como forma de sanção ou
retaliação.
2.4.4.4. A ronda de Doha
Em novembro de 2001, em Doha, no Qatar, teve lugar a IV Conferência Ministerial. Foi,
então, aprovada uma declaração em que, ao mesmo tempo que se reafirma o compromisso com os
princípios da OMC e a confiança nos efeitos sociais e económicos positivos do comércio
internacional, é recomendada a abertura de uma nova ronda de negociações abrangendo o
aprofundamento dos tratados já em vigor e o alargamento da liberalização comercial a novos
setores. Igualmente sublinhada é a necessidade de uma estreita cooperação entre a OMC e
instituições como o FMI, o BM ou o UNEP.
âmbito do desenvolvimento económico e social. O artigo 55º da Carta das Nações, esta
Organização deverá promover a elevação dos níveis de vida, o pleno emprego e condições de
progresso e desenvolvimento económico e social, tendo como pano de fundo a resolução dos
problemas económicos, sociais e culturais e a garantia dos direitos humanos.
3.4. ECOSOC
O ECOSOC é o órgão da ONU responsável pelas questões de política económica e social. Entre
os aspetos centrais da sua atividade contam-se o planeamento económico, a utilização da ciência e
da tecnologia e a apreciação da atividade das empresas transacionais nos países em vias de
desenvolvimento. Para o efeito, entre outras coisas, ele promove o debate das questões
económicas e sociais s realizar estudos, relatórios, pareceres, formula recomendações em matéria
de direitos humanos, prepara projetos de convenções e organiza conferencias internacionais.
3.5. UNCTAD
Da maior importância se revestiu a criação da Conferência das Nações Unidas para o
Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD). A UNCTADI teve lugar em 1964, tendo aprovado uma
declaração contendo os princípios gerais e especiais recomendados para regular as relações e as
políticas comerciais internacionais. As sucessivas conferências UNCTAD procuraram aprofundar, em
diversos domínios, a equidade nas relações entre os Estados ricos e pobres.
Não se está aqui perante uma agência especializada da ONU, mas sim perante uma
organização subsidiária, criada por votação da AG da ONU, e não por tratado.
A UNCTAD tem carácter universal, tem como objetivo promover o comércio internacional
orientado para o desenvolvimento económico, dinamizando a celebração de acordos comerciais
bilaterais.
3.6. A NOVA ORDEM ECONÓMICA INTERNACIONAL (NOEI)
Em muitos casos, relacionados com a saída de processos de descolonização, as nações em
vias de desenvolvimento do Terceiro Mundo, muitas delas integrando o Movimento dos Não-
Alinhados, sustentaram , nas décadas de 60 e 70 do século XX, a necessidade de se criar uma Nova
Ordem Económica Internacional.
Pretendia-se a edificação de um quadro político e jurídico favorável ao desenvolvimento dos
países mais pobres. A ênfase era colocada, de forma ideologicamente carregada, no direito
unilateral dos Estados de procederem à nacionalização dos recursos naturais e à fixação da
compensação devida, e na consequente restrição da atividade das grandes companhias
transnacionais ocidentais;
O projeto da Nove Ordem Económica Internacional viria a sofrer um importante revés com o
colapso do comunismo e dos modelos coletivistas e o fim da Guerra Fria. Apesar da sua retórica
idealista, A NOEI punha em relevo as insuficiências do sistema de Bretton Woods e do GATT na luta
contra o ciclo vicioso de pobreza e subdesenvolvimento de uma boa parte da humanidade.
➢ Serafim de Freitas:
o Defende o Mare Clausum em De Iusto Imperio Lusitanorum Asiático (1625);
➢ UNCLOS I (1956)
o Convenções de 1958: Mar Territorial e da Zona Contígua / Alto Mar / Pesca e Conservação
dos Recursos Vivos em Alto Mar / Plataforma Continental / Protocolo Facultativo de
Resolução de Litígios - Convenção do Alto Mar, Genebra 1958 – art. 2º/1
➢ UNCLOS II (1960)
o Conferência de Genebra – 1960: Não conduz a nenhuma convenção internacional +
Polarização EUA e URSS, com os respetivos aliados, satélites ou dependentes
➢ UNCLOS (1982)
o Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar
o Constituição do Alto Mar
o Quadro regulatório dos oceanos
o Incorpora preocupações de natureza: Ambiental / Desenvolvimento social / Humanitária
_________________________________________________________________________________
4.2. O REGIME DOS ESPAÇOS INTERNACIONAIS
Um importante aspeto para a comunidade internacional é relativo aos desafios sobre a gestão
coletiva dos espaços subtraídos à soberania estadual, como são o alto mar e fundos marinhos; o
espaço aéreo internacional; o continente da Antártica e o espaço extra-atmosférico.
O direito internacional sempre compreendeu este problema, contudo com os
desenvolvimentos mais recentes apontam para a emergência de regulamentação internacional
para a sua utilização, nomeadamente, no que toca aos domínios dos transportes e comunicações,
incluindo a navegação marítima, aérea e espacial e as comunicações (hertziana; cabo e satélite).
4.2.1. O Alto Mar
O mar define-se, geralmente, como o conjunto dos espaços de água salgada em
comunicação livre e natural. O alto mar, propriamente dito, é delimitado a partir da consideração
de todas as partes do mar não incluídas na zona económica exclusiva, n mar territorial, nas águas
interiores ou nas águas arquipelágicas- artigo 86º da CDM.
atribuição de uma bandeira, assentes num critério de conexão Imunidade dos Vasos de
efetiva ou vínculo substancial, da embarcação com o Estado da Guerra: Completa
nacionalidade - artigos 91º e 92 da CDM. imunidade de jurisdição
Deve sublinhar-se o princípio da subordinação dos navios à em alto mar em relação a
jurisdição exclusiva de um Estado, a quem cabe a aplicação das todos os Estados que não o
normas de direito interno e internacional relevantes, e a da bandeira - art. 95º CDM.
imunidade absoluta dos vasos de guerra e dos navios de Estado -
artigos 95º e 96º da CDM.
_________________________________________________________________________________
Dever de Prestação de Auxilio: Este dever deve ser prestado sem atender à nacionalidade – ou
falta dela – das pessoas, ao seu estatuto, meio de transporte ou número dos envolvidos. Este dever
estende-se a migrantes.
Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar, de 1974 (SOLAS 74/78):
Desejando promover a salvaguarda da vida humana no mar pelo estabelecimento de acordos
comuns, princípios e regras uniformes conducentes a esse fim. - Decreto do Governo n.º 32/85 de
16 de agosto
SRR Portugal: A área de Busca e Salvamento sob responsabilidade de Portugal equivale a sessenta
e três vezes o território nacional o que corresponde a cerca de 5 792 740 Km2.
Convenção de Busca e Salvamento, SAR 1979(85) OMI
Emendas de 2004 às convenções SOLAS & SAR:
o Obrigação de assistência independentemente da nacionalidade, estatuto e circunstâncias
em que são encontradas as pessoas em perigo;
o Todas as pessoas embarcadas devem ser tratadas com humanidade
o O desembarque das pessoas deve ser providenciado tão cedo quanto possível.
Soft law: desembarque humanitário
o Leito do mar, fundos marinhos e o subsolo além dos limites da jurisdição nacional; A sua
delimitação considera o fundo dos mares e dos oceanos, para além do limite da plataforma
continental -> Património comum da humanidade - Artigo 1º e 133º ss. e 136º da CNUDM.
Recursos da Área: “«Recursos» significa todos os recursos minerais sólidos, líquidos ou gasosos in
situ na área, no leito do mar ou no seu subsolo, incluindo os nódulos polimetálicos” - Art. 133º
CNUDM
4.2.4.1.1. A Autoridade
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, criada pela CDM(→Art. 158º CNUDM), em
1994, é uma entidade composta pro todos os Estados partes e sediada na Jamaica, cuja organização
assenta numa assembleia, num conselho e num secretariado, numa empresa (pública e
internacional) e nos órgãos subsidiários considerados necessários - artigos 156º da CDM.
À autoridade cabe elaborar as normas, regulamentos e procedimentos de exploração dos
recursos e fiscalizar o seu cumprimento, bem como emitir as necessárias autorizações, atuando
para esse efeito em nome da humanidade - artigo 156º da CDM.
Deve sublinhar-se a importância dos valores da imparcialidade e não discriminação na
atuação da Autoridade, decorrente do princípio da igualdade soberana dos Estados em que a
mesma se baseia, bem como do património comum da humanidade ao serviço do qual ela se
encontra – artigo 152º da CDM.
Empresa: Braço comercial da Autoridade / Habilitada a conduzir a sua própria mineração,
inicialmente através de “joint-ventures” com outras entidades (Estados, empresas privadas)
4.3. TRIBUNAL INTERNACIONAL DO DIREITO DO MAR
O Tribunal Internacional do Direito do Mar (TIDM), sediado em Hamburgo, na Alemanha, é
uma instancia jurisdicional internacional especializado, criado pela CDM, em 1982. Este
instrumento normativo dedica especial atenção à resolução de controvérsia – Anexo VI à CDM.
O TIDM tem jurisdição sobre OI’s, indivíduos e pessoas coletivas. É uma instancia
especializada em direito do mar, especialmente vocalizado para a interpretação e aplicação da
CDM. A arbitragem geral segue as disposições previstas no anexo VII. As arbitragens especiais
(pescas, ambiente, navegação) seguem as normas constantes no anexo VIII.
A secção 1 da parte XV da CDM aponta para uma tentativa de resolução de litígios por
negociação ou conciliação. A secção 2 é aplicável em controvérsias relativas à interpretação e
aplicação da CDM quando esteja em causa o exercício de direitos soberanos de jurisdição por um
Estado costeiro pondo em causa as suas liberdades – artigo 297º CDM. Em algumas matérias, como
os conflitos relativos ao exercício de jurisdição soberana da ZEE, não se aplica secção 2. Os
procedimentos da secção 2 da parte XV da CDM podem ser afastados dentro de certos
pressupostos ou colocadas sob a autoridade do CS da ONU.
O TIDM é constituído por 21 membros independentes, de diferentes Estados, eleitos por 9
anos de acordo com os critérios de idoneidade moral e profissional e representatividade jurídica e
geográfica. O TIDM pode constituir camaras de 3 ou mais juízes, na medida em que considere
necessário para a resolução de determinadas categorias de controvérsias.
Junto do TIDM está previsto o funcionamento da Câmara de Controvérsias dos Fundos
Marinhos (CCFM) – artigo 288º da CDM - , dotada de competência especializada em controvérsias
respeitantes à Área, nos termos da parte XI da CDM, e de poderes de natureza consultiva – artigo
187º e 191º da CDM. A CCFM é composta por 11 dos juízes, escolhidos de entre eles de acordo com
critérios de representatividade, admitindo-se recomendações por parte da Autoridade – artigo
186º da CDM e artigo 35º do ETIDM.
Relativamente à jurisdição, todos os Estados partes e a entidades deles distintas tem acesso
ao TIDM, nos termos da parte XI da CDM (→artigo 188º, 287º, 288º/3, 290º e 292º/2 da CDM;
Anexo VI, artigos 20º e 31º). Admite-se ainda o acesso de Estados que não sejam partes na CDM,
desde que haja um acordo especial expresso. Nos casos em que um acordo atribua jurisdição ao
TIDM requer-se o assentimento de todas as partes do litigio.
A jurisdição do TIDM diz respeito às controvérsias e pedidos que lhe sejam submetidos em
conformidade com a CDM, ou acordo nesse sentido, devendo o TIDM aplicar a convenção e todo o
direito internacional que não seja incompatível com ela. Admite-se ainda a possibilidade de o
tribunal decidir ex aequo et bono - artigo 293º da CDM.
Matérias sob jurisdição:
▪ Nacionalidade das embarcações;
▪ Liberdade de navegação na zona económica exclusiva;
▪ Pronta libertação das embarcações e dos seus tripulantes – artigo 292º CDM;
▪ Prevenção da poluição marinha resultante da disposição de resíduos;
▪ Conservação e gestão dos recursos marinhos;
▪ Preservação dos fundos marinhos – artigo 187º CDM.
No âmbito do processo, o tribunal é que defini os tramites do mesmo. Este inicia-se com a
submissão por escrito de uma questão ao TIDM, mediante acordo ou pedido, apresentando o
objeto e os sujeitos do processo – artigo 24º do ETIDM. O TIDM pode indefinir liminarmente o
pedido se o considerar abusivo ou infundado – artigo 294º da CDM.
➢ “Acordo de Auxílio” (Rescue Agreement), que procura disciplinar juridicamente o dever de auxílio
a astronautas em situações de acidente ou de aterragem de emergência, com a posterior entrega
à autoridade de lançamento. Parte-se da consideração dos astronautas como “mensageiros da
Humanidade”.
➢ Convenção sobre a Atividade dos Estados na Lua e noutros Corpos Celestes (Moon
Agreement), aplicando aos corpos celeste os princípios gerais constantes do Tratado sobre o
Espaço Exterior.
ONU: através dos seus principias órgãos tem contribuído para o desenvolvimento dos princípios
fundamentais que regem o direito espaço
CUPEEA (Comité para a Utilização Pacifica do Espaço Extra-atmosférico): membro da família das
Nações Unidas, tem como função, em ligação com outras organizações internacionais, acompanhar,
nos planos técnicos e jurídicos, os problemas relativos à exploração e utilização pacifica do espaço
extra-atmosférico.
UIT (União Internacional das Telecomunicações): Sendo Portugal um dos seus membros
fundadores, tem vindo a participar ativamente na organização. Fundada em 1932, esta organização
adquiriu , em 1947, o estatuto de organização especializada do sistema das Nações Unidas. A seu
cargo está a harmonização técnica das telecomunicações a nível mundial, incluindo as
telecomunicações de natureza espacial, juntamente com a coordenação e a promoção de esforços
internacionais neste sentido. Com a função de gestão justa e eficiente do espetro radioelétrico e
das posições orbitais, a UIT aprova orientações políticas e regulamentos nesta matéria dotados de
valor jurídico convencional; promulga standarts técnicos; emite pareceres e recomendações
operacionais e promove o conhecimento especializado, com especial atenção junto de Estados em
vias de desenvolvimento.
Em termos jurídicos, a UIT é responsável pela elaboração dos seus Atos Finais, que como
veremos, vigoram em Portugal:
o em 1984, deu-se a Conferencia Administrativa Regional para a Planificação do Serviço de
Radiofusão Sonora em Ondas Métricas, entrando em vigor os respetivos Atos Finais e um
Protocolo Final;
o em 1985, com a Conferencia Administrativa Regional para a Planificação do Serviço de
Radionavegação Marítima (Radiofaróis) na Zona Marítima Europeia, foram igualmente
aprovados um Ato Final com Protocolo Final;
o Os Atos Finais deste tipo de conferencias, valem na ordem jurídica portuguesa, nos termos do
artigo 8º/2, da Constituição de 1976: “As normas constantes de convenções internacionais
regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna (...) enquanto vincularem
internacionalmente o Estado Português.
Podem revestir a forma de acordo ou tratado, consoante o respetivo conteúdo.
De facto, no âmbito das atribuições a UIT desempenha uma importante função de
prevenção, gestão e resolução de conflitos em matéria de telecomunicações.
UNESCO: A UNESCO tem tido um papel especial no desenvolvimento da disciplina jurídica do
espaço exterior, no domínio das comunicações internacionais, já que tem promovido estudos
relativos à utilização dos meios de comunicação via satélite para a promoção da educação e do
desenvolvimento científico e cultural.
Cimeira Mundial para a Sociedade da Informação (WSIS) (Nov. 2005)
Plano de Ação WSIS:
• Promoção da literacia informacional;
• Promoção das Sociedades do Conhecimento;
Este impôs obrigações aos Estados desenvolvidos, de acordo com o princípio de responsabilidade
comum mas diferenciada, atendendo às condições particulares dos Estados industrializados. O
protocolo ainda introduziu o Clean Development Mechanism, um esquema de transação de direitos
de poluição, permitindo aos Estados mais céleres na redução de emissões poluentes transacionar
os seus direitos para Estados menos céleres, obtendo, dessa forma, um benefício económico.
5.5 RESÍDUOS PERIGOSOS E LIXO NUCLEAR
Desde que começou a ser utilizada, a energia nuclear foi objeto de convenções
internacionais tendo em vista regular a responsabilidade pelo risco aí resultante. É o caso da
Convenção de Paris sobre a Responsabilidade de Terceiros no Âmbito da Energia Nuclear, de 1960 e
a Convença de Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos Nucleares, de 1963, baseada na
anterior.
Neste instrumento estabelece-se a jurisdição do Estado lesado e, em regra, a
responsabilidade objetiva do operador da instalação nuclear. Igualmente consagrado é o dever de o
Estado da nacionalidade do operador garantir a compensação dos danos.
5.6. PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE MARINHO
Nos termos da CDM, os Estados têm a obrigação internacional de proteger e preservar o
ambiente marinho, tendo em atenção o aproveitamento dos seus recursos naturais e uma política
ambiental sustentável.
Os Estados devem tomar medidas para prevenir, reduzir e controlar a poluição do ambiente
marinho, bem como o dever de não transferir danos ou riscos e de não transformar um tipo de
poluição em outro.
5.7. PRESERVAÇÃO DA VIDA SELVAGEM
A preservação da vida selvagem é outro importante domínio do direito internacional do
ambiente. O mesmo é objeto, tanto da Declaração de Estocolmo, como da Carta Mundial da
Natureza. Fundamentalmente, pretende-se compatibilizar o desenvolvimento económico e social
com a preservação da vida selvagem.
5.8. DESFLORESTAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO
A desflorestação consiste na utilização não sustentada das florestas e dos respetivos
recursos genéticos, com consequências, não apenas na ocorrência de desastres ambientais graves e
alterações climáticas, mas também no subdesenvolvimento económico e social.
Tendo por objetivo combater este flagelo foram tomadas algumas iniciativas, como a
celebração do Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais, de 1984, que regula e restringe o
comércio internacional destas madeiras.
Também digno de nota é o mecanismo (privado e público) de “troca de dívidas por
natureza”, mediante o qual a dívida dos Estados mais pobres é comprada em troca de projetos
ambientais, com especial relevo para a florestação.
6. RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
No direito internacional e nas relações entre Estados, a responsabilidade internacional tem
um relevo inegável, consequentemente, tem um fundamento material bastante vasto.
Inicialmente, a responsabilidade internacional começa por ser um correlato da soberania
internacional e da capacidade jurídica internacional, uma vez que é um princípio fundamental da
teoria moral, da teoria politica e da teoria jurídica, que a responsabilidade aumenta na proporção
direta da autonomia e capacidade do sujeito.
Além disso, é uma garantia da legalidade internacional uma vez que se pretende afirmar que
a agressão não é uma opção nem um meio alternativo cuja utilização se possa legitimamente
equacionar em ordem à prossecução de fins pré-estabelecidos.
Do mesmo modo, é um corolário da igualdade soberana dos Estados. Os Estados fortes não
podem agredir os Estados fortes nem ter relativamente a eles uma atitude instrumental e
pragmática.
A responsabilidade internacional assenta, ainda, no principio da reciprocidade de direitos e
deveres entre os Estados, sendo que muitos consideram a reciprocidade um dos pilares
fundamentais de toda a normatividade. A responsabilidade é uma decorrência das relações
simétricas de reconhecimento e de cooperação racional que se devem estabelecer entre os
Estados.
_________________________________________________________________________________
Responsabilidade e Justiça Internacional:
▪ Decisões vinculativas;
▪ Direito universalizável;
▪ Decisões baseadas em princípios e não
▪ Independência institucional;
em relações de poder;
▪ Credibilidade dos juízes;
▪ Argumentação jurídica de elevada
▪ Poderes instrutórios independentes;
qualidade.
Apontamentos Históricos Relativos à Responsabilidade Internacional:
• 1929: Projeto de Convenção sobre Responsabilidade dos Estados por Danos Causados no
seu Território à Pessoa e à Propriedade de Estrangeiros
• Anos 30 do séc. XX: Conferências de Codificação da SDN
• 1953 UN pede à CDI um projeto de artigos sobre responsabilidade do Estado
• Roberto Ago e Comissão de Direito Internacional (1963) normas secundárias de
responsabilidade
• CDI: estudos desde 1969
• Relatório da CDI de 1997
• Projeto de Artigos de 2001 – Draft Articles
Projeto de Artigos sobre Responsabilidade Internacional dos Estados (PARIE) = Draft Articles
Art. 1º A responsabilidade do Estado por seus atos internacionalmente ilícitos - Todo ato
internacionalmente ilícito de um Estado acarreta sua responsabilidade internacional.
➢ É igualmente imputável a um Estado um ato praticado por órgão de outro Estado, mas por
este colocado ao seu serviço, isto vale, no caso de uma ação ou omissão, por exemplo, a falta
de medidas para prevenir ou suprimir o terrorismo é imputável a um Estado por efeitos de
responsabilidade, o mesmo sucede no caso de violação, por omissão, de um dever de
proteção contra violações do direito internacional;
• Ajuda ou assistência na
violação de uma
obrigação internacional;
• Conhecimento das
circunstâncias;
• Ilicitude do ato se
cometido pelo Estado.
12
O nexo de imputação é dado pela culpa do agente, abrangendo situações de dolo direto,
dolo necessário, e dolo eventual, bem como negligência simples (mera culpa) e negligência
grosseira. Quando não seja clara a determinação dos elementos subjetivos relevantes, a imputação
poderá depender da existência de um ato intencional imputável a um determinado órgão estadual
ou de uma falha no serviço. No direito internacional torna-se particularmente difícil fazer a prova
dos elementos subjetivos e funcionais da neglicência, pelo que o acento tónico reside na imputação
a um Estado de uma conduta intencional ou perigosa, violadora de uma obrigação internacional. –
Responsabilidade Subjetiva.
Existem, também, as situações em que a violação de uma obrigação internacional é
objetivamente imputável ao Estado, independentemente de se verificar qualquer culpa ou falha de
serviço. Esta responsabilidade está associada à realização de atividades perigosas, geradoras de
risco – Responsabilidade Objetiva.
Vínculo de Imputação:
Tipos de Atos Geradores de Responsabilidade: Ato Pontual / Ato de Execução Continuada / Ato
Composto / Complexo de Atos.
Foro da Invocação:
o Equivalente aos benefícios obtidos pelo Estado lesante: Em alguns casos a equidade poderá
recomendar a consideração, na determinação do montante da indemnização, não, apenas,
o propósito de anular o dano causado, mas também o de sancionar a conduta e a anular o
benefício material que o infrator possa ter retirado da sua conduta ilícita. Isto, de acordo
com o princípio geral do direito nos termos do qual ninguém pode retirar quaisquer
benefícios da sua própria torpeza;
o Superior aos benefícios obtidos pelo Estado lesante: Esta posição sustenta a necessidade de
o direito da responsabilidade impor ao Estado lesante custos superiores aos benefícios que
ele retira da violação de obrigações internacionais, de forma a desincentivar essa violação.
Neste caso, a indemnização teria uma finalidade sancionatória, para além da intenção
compensatória. A doutrina entende que o dever de indemnização, embora visando a plena
compensação dos danos causados e, eventualmente, a anulação dos benefícios auferidos,
deve ser ponderado de forma razoável e proporcional com o propósito de salvaguardar os
meios de subsistência dos habitantes do Estado infrator e o crescimento económico.
O dever de indemnização deve ser ponderado de forma razoável e proporcional, com o
propósito de salvaguardar os meios de subsistência dos habitantes do Estado infrator e o
crescimento económico.
➢ Satisfação Moral
Para além do dever de reparação material, os Estados que incorrem em responsabilidade
internacional encontram-se obrigados a dar uma satisfação pelos danos causados, na medida em
que os mesmos não possam ser devidamente reparados através da restituição e da indemnização -
artigo 37º/1 do DARS.
A satisfação tem como finalidade essencial anular o benefício moral que o Estado infrator
possa ter retirado da sua conduta ilícita e restaurar a dignidade soberana e o sentimento de
respeito próprio do Estado lesado.
A satisfação pode consistir no reconhecimento da violação da obrigação internacional, num
pedido de desculpas formal ou numa outra modalidade apropriada - artigo 37º/2 do DARS.
• Esta deve ser adequada à gravidade do dano, bem como à atitude de dolo ou negligência do
agente - artigo 37º/3 do DARS.
• Os termos empregados não devem ser ambíguos. A expressão utilizada deve permitir ao
destinatário perceber com clareza se o Estado infrator está, apenas, a lamentar o sucedido, se o
mesmo dá mostras de arrependimento sincero pelo sucedido e se pede desculpa ao Estado
lesado pelo sucedido, reconhecendo a sua dignidade.
• A satisfação deve salvaguardar, também, a dignidade do Estado infrator (Artigo 37º/3 do DARS);
• A satisfação moral também pretende ser uma satisfação jurídica, devendo reconhecer que o
dano causado foi o resultado, não apenas da violação de uma obrigação moral, mas sim da
violação de uma obrigação jurídica.
7.2.7. A Efetivação da Responsabilidade Internacional
A intenção de acionar a responsabilidade internacional de ser comunicado pelo Estado
lesado ao Estado infrator, defendo especificar a conduta que considera necessária à cessação da
violação da obrigação internacional, bem como a forma de reparação que se lhe afigura adequada -
artigo 43º do DARS.
A ativação da responsabilidade internacional deverá obedecer às regras relativas à
nacionalidade da pretensão, bem como ao princípio da exaustão dos meios de direito interno, se e
na medida em que forem pertinentes - artigo 44º do DARS.
A instância normal para a efetivação da responsabilidade internacional é o TIJ, embora
possam ser especialmente competentes outras instâncias jurisdicionais internacionais.
No caso de existirem vários Estados lesados pelo mesmo ato, os mesmos podem acionar a
responsabilidade internacional separadamente - artigo 46º do DARS.
No caso de existirem vários Estados infratores, a responsabilidade internacional pode ser
invocada contra cada um deles ou todos, sem que o Estado lesado tenha direito a uma reparação
maior do que o dano efetivamente sofrido - artigo 47º do DARS.
A invocação da responsabilidade internacional pode ser acompanhada do pedido de
cessação da conduta ilícita e de garantias de não repetição, consistindo no pedido de uma
reparação, nos termos expostos, a favor do Estado lesado ou dos beneficiários da obrigação
violada, podendo aqui incluir os indivíduos que beneficiam de tratados de proteção de direitos
humanos – Art. 48º/2 do DARS.
Convenção das Nações Unidas sobre Imunidades Jurisdicionais dos Estados e dos seus Bens,
aberta à assinatura em Nova Yorque em 17 de janeiro de 2005:
Imunidade Relativa:
8.2.3. Negociação
No âmbito da resolução pacífica de litígios, a negociação caracteriza-se por envolver apenas
as partes diretamente envolvidas na controvérsia.
Esta tem, normalmente, uma natureza diplomática, devendo salientar-se, como dimensões
essenciais, a sua flexibilidade e adaptabilidade aos vários tipos de litígios, a subordinação ao
princípio da consensualidade e a abertura a considerações de equidade e oportunidade, não
estritamente jurídicas.
Sublinha-se, ainda, a importância do princípio da Negociação:
boa-fé em todas as fases da negociação, devendo o mesmo
o Envolve as partes no litígio;
manifestar-se na lealdade e na proteção da confiança, na
adequação temporal da negociação, na correção o Método político-diplomático;
procedimental e substantiva, no respeito pelo
o Flexibilidade;
consentimento e pela liberdade de aceitação da solução
alcançada. o Boa-fé: Lealdade / Adequação
Temporal / Correção
A negociação é particularmente útil na fase pré-
procedimental / Justiça
contenciosa de um diferendo, como meio de prevenir a
substantiva.
entrada numa fase contenciosa, sendo imperativo antes da
adoção de contramedidas, sem prejuízo da adoção de
medidas provisórias, de natureza cautelar.
8.2.4. Bons Ofícios e Mediação
Os bons ofícios consistem na intervenção de um terceiro. Podem ser desempenhados por
um Estado, uma OI, uma ONG, uma personalidade de mérito internacionalmente reconhecido ou
mesmo uma confissão ou comunidade religiosas. O objetivo primordial dos bons ofícios é o
estabelecimento ou restabelecimento de contactos recíprocos entre as partes no litígio. Pretende-
se, portanto, resolver os problemas de comunicação que impedem a negociação.
Do ponto de vista da utilização que tem sido a estes Ex.: Quarteto EUA, UE, Rússia e
dois meios de resolução pacífica de litígios, sublinha-se a NU para a o conflito Israel-
frequente combinação de ambos os procedimentos num Palestina
só.
8.2.5. Inquérito
Alguns litígios internacionais têm um forte componente fáctico, isto é, desenvolvem-se a
partir e em torno de questões de facto. Daí a importância do inquérito de resolução de litígios, cuja
finalidade consiste, precisamente, na determinação de factos controversos, na esperança de que
isso torna mais fácil aplicar o direito.
A utilização do inquérito internacional é particularmente adequada à fiscalização do
cumprimento de obrigações internacionais, à verificação da ocorrência dos pressupostos de facto
de uma norma de direito internacional e ao esclarecimento preciso das circunstâncias que deram
origem a um determinado litígio internacional.
À semelhança do que sucede com a negociação, também o inquérito nem sempre surge no
contexto de uma disputa. O inquérito pode ser levado a cabo por um relator especial, por uma
comissão de inquérito ou por um vasto conjunto de inspetores devidamente credenciados para o
efeito.
Os princípios que devem conformar a sua realização consistem na objetividade e na
imparcialidade.
▪ A objetividade traduz-se na procura e na descrição exata da verdade material dos factos.
▪ A imparcialidade implica a procura dos factos relevantes do ponto de vista de todas as partes do
litígio e não de algumas delas.
8.2.6. Conciliação
A conciliação encontra-se a meio caminho entre a mediação e a arbitragem. A mesma
consiste na submissão das posições em confronto a uma comissão especialmente qualificada,
tendo em vista o esclarecimento da questão a partir dos vários pontos de vista.
Arbitragem do TPA:
▪ Arbitragem nos Contratos de Investimento (BIT’s)
Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos
entre Estados e Nacionais de Outros Estados (ICSID) Decreto do Governo
n.º 15/84
Artigo 25.º1 - A competência do Centro abrangerá os diferendos de
natureza jurídica diretamente decorrentes de um investimento entre um Estado Contratante (ou
qualquer pessoa coletiva de direito público ou organismo dele dependente designado pelo mesmo
ao Centro) e um nacional de outro Estado Contratante, diferendo esse cuja submissão ao Centro foi
consentida por escrito por ambas as partes. Uma vez dado o consentimento por ambas as partes,
nenhuma delas poderá retirá-lo unilateralmente.
Funções do TIJ:
▪ Medidas provisórias
de tutela cautelar
▪ Contenciosa
▪ Consultiva
Este não pode decidir uma disputa entre Estados sem o seu consentimento à sua jurisdição,
mesmo que esteja em causa a violação de jus cogens ou de obrigações erga omnes. O TIJ fala a este
propósito, da existência de um “well-established principle of internacional law emboidied in the
Court’s Statue, namely, that the Court com only exercise jurisdiction over a State with its consent”.
Em sede de jurisdição o TIJ continua sintonizado com o paradigma clássico do direito internacional,
edificado em torno da soberania estadual.
Processo:
As línguas de trabalho do TIJ é o inglês e o francês , podendo autorizar a utilização de outra.
O TIJ desenvolve a sua atividade subordinada ao principio inquisitório, traduzido no poder de
ordenar inquéritos e investigações e de solicitar pareceres. O Tribunal também tem a faculdade de
indicar que achar necessário exigir medidas provisórias – artigo 41º do ETIJ. A representação das
partes concretiza-se através de agentes com poderes para o efeito e do patrocínio de advogados
dotados de privilégios e imunidades necessários para o exercício das suas funções.
O processo tem várias fases. (→artigo 43º ETIJ)
A primeira designa-se por fase escrita e Parâmetros Normativos – artigo 38º do
consiste na apresentação de memórias e contra ETIJ: Tratados / Costume / Princípios /
memórias, respostas e documentos de apoio. Doutrina e Jurisprudência / Equidade
Segue-se a fase oral do processo, a qual
compreende a audição de testemunhas, peritos, agentes, conselheiros, etc. Esta fase é regulada
pelo principio da publicidade da audiência, sendo obrigatória a elaboração de uma minuta de todas
as intervenções orais. Nesta fase uma das preocupações é a garantia absoluta igualdade de armas.
O principio de boa-fé manifesta-se neta fase no sentido em que se exige as partes que se
abstenham de comportamentos que agravem o conflito.
Posto isto toma-se a decisão. A tomada de decisão constitui a função primaria e o objetivo
ultimo de qualquer processo jurisdicional contencioso. A decisão traduz-se na deliberação pelo TIJ à
porta fechada, embora com a publicação dos fundamentos da decisão. Esta é tomada por maioria
dos juízes, com voto de qualidade do presidente. A decisão produz efeitos inter partes e é
irrecorrível, executiva (define obrigações concretas para a respetiva execução) e não executória,
isto é, não é dotada de meios coercivos para se fazer executar.
É necessário entender a proibição do recurso à força imposto pela Carta da ONU: esta
aponta inequivocamente para a proibição de recurso à força militar contra a integridade territorial
e a independência de um Estado e, em termos mais gerais, contra os fins da Carta.
9.2.2. O Capítulo VII da Carta da ONU
O sistema de manutenção da paz e da estabilidade internacionais das Nações Unidas
assenta na responsabilidade primordial do CS - artigo 24º/1 da Carta. A este órgão compete a
determinação da existência de uma ameaça à paz ou de uma rotura da paz e a recomendação ou
decisão do recurso à força, nos termos dos artigos 41º e 42º da Carta, operando com autonomia
relativamente à AG da ONU - artigo 39º da Carta. Só as suas decisões revestem caráter obrigatório
para os Estados.
9.3. EXCEÇÕES À PROIBIÇÃO DO RECURSO À FORÇA
Existem algumas exceções à proibição do recurso à força:
➢ Decisão do Conselho de Segurança
Embora o recurso à força esteja vedado aos Estados, isso, de modo algum, preclude o CS de exercer
o seu monopólio da coação legítima. Pelo contrário, quanto maior for a eficácia do sistema de
segurança coletiva das Nações Unidas, tanto maior será o respeito pela proibição de recurso à força
por parte dos Estados. Se o recurso à força pode ser necessário, em derradeira instância, para
garantir a efetividade do direito internacional, importa que essa decisão seja tomada, não pelo
Estado lesado ou ameaçado, mas, sempre que possível, por uma instância tão imparcial quanto
possível, que garanta a observância de todas as normas materiais e procedimentais relevantes.
➢ Legítima defesa
Em face da Carta, mais concretamente do seu Art. 51º, são evidentes algumas
características essenciais da legítima defesa, das quais depende, precisamente, a legitimidade da
defesa. Desde logo, a mesma tem de fundar-se numa ameaça atual e iminente, nomeadamente
uma ameaça que não deixe qualquer escolha quanto aos meios, nem permita um tempo adequado
para deliberação. É o que sucede com a provisoriedade da defesa, até que o CS tome as medidas
necessárias, e com a sua subsidiariedade, já que a defesa só é legítima se não existir uma
alternativa viável sob a égide da ONU.
Igualmente importante é o dever de notificação das medidas tomadas ao CS da ONU. Para
além disso, a legítima defesa está sujeita ao princípio da proporcionalidade em sentido amplo,
desde sempre associado à ideia de guerra justa. Deve ainda indagar-se da legitimidade do fim
prosseguido, aspeto essencial na delimitação da legítima defesa.
➢ Organizações Regionais de Segurança
Alguma doutrina vê na possibilidade de existência de instituições regionais de defesa
coletiva uma terceira exceção ao princípio da proibição do recurso à força.
Estas instituições regionais têm como função assegurar a resolução pacífica dos conflitos
numa determinada região. Nalguns casos, o CS começa por remeter para as mesmas a tarefa de
resolução pacífica de conflitos, intervindo apenas se as mesmas falharem. Estas deverão atuar em
conjunto com a CS em matéria de recurso à força.
➢ Ações contra os antigos inimigos
veio preconizar uma diplomacia preventiva em que a manutenção da paz assumia um papel de
relvo. Nas últimas décadas o numero de operações e o pessoal da ONU nele envolvidos aumentos
exponencialmente.
Este tipo de operações é pautado pelos princípios do consentimento das partes, da
imparcialidade e da proibição do uso da força, exceto em legítima defesa. A ONU, constituído por
militares, operava praticamente desarmado, observando as movimentações militares no terreno,
na medida das suas possibilidades de controlo efetivo. Contudo, nas ultimas décadas esta
orientação tem mudado substancialmente.
9.5.3. Intervenções Armadas Humanitárias
A uma nova conceção emergente dentro das operações armadas em sentido próprio
compreendem intervenções armadas humanitárias. Contudo, outros juristas preferem enquadras
as operações armadas na noção de responsabilidade de proteger. De facto, as intervenções
humanitárias tem um fundamento de natureza humanitária, suscetível de legitimar moralmente
uma intervenção armada, nomeadamente, contra um Estado que cometa crimes contra a
humanidade e genocídio dirigidos aos próprios cidadãos, sem com isso ameaçar diretamente a
integridade territorial de outros Estados. Em causa está a prevenção e repressão de situações de
dano generalizado e intolerável a vidas humanas inocentes. Desta forma, estas intervenções
representam uma substancial restrição à soberania dos Estados baseada na premissa controversa
de que quando os mesmos violam sistemática e muito gravemente os direitos humanos a
intervenção torna-se inevitável.
No entanto, surgem importantes e delicadas questões substantivas e procedimentais
relativas à aplicação normativa deste entendimento, tais como: quais são os direitos fundamentais,
cuja violação se considera legitimar uma intervenção humanitária e qual a intensidade da violação
necessária para esse efeito ou quais os pressupostos institucionais e formais de legitimação das
intervenções humanitárias, entre outras.
Não estando expressamente previstas no Capítulo VII da Carta da ONU, alguma doutrina
tem procurado o fundamento para este tipo de intervenção no direito internacional
consuetudinário emergente. Neste âmbito é relevante salientar a importância que se atribui ao
Conselho de Segurança das Nações Unidas demonstrando fidelidade à titularidade do monopólio da
coação legitima internacional por parte do CS, considerando preferíveis as intervenções
sancionadas pela ONU, na sua qualidade de civitas maxima.
Também é de realçar a insistência da doutrina na tese da existência de um costume em
formação que faz impender sobre a comunidade internacional a responsabilidade de proteger os
cidadãos de um Estado, incluindo a responsabilidade de prevenir, reagir e reconstruir. De facto,
esta tese apoia-se na noção de que a soberania dos Estados implica a sua responsabilidade em
proteger os seus próprios cidadãos, justificando-se a intervenção de terceiros se essa
responsabilidade não for assumida pelo Estado. Neste caso, a intervenção protetiva deve adequar-
se ao espirito da Carta da ONU e respeitar o principio da proporcionalidade em sentido amplo. A
doutrina da guerra justa é bastante importante neste âmbito. Igualmente relevante é a
centralidade dos valores da democracia, do Estado de Direito e dos Direitos Humanos, condições
para o restabelecimento de uma paz mias sólida e duradoura.