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UNIP - Curso de Direito - Disciplina: Direitos Humanos


Professor: Edílson Mendes – 2019
DIREITOS HUMANOS
ASPECTOS HISTÓRICOS
I Guerra Mundial – 1914 a 1918 - II Guerra Mundial – 1939 a 1945
Liga das Nações - Foi à criação de um organismo internacional de manutenção da paz, tinha como finalidade promover a cooperação,
paz e segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política de seus
membros.
Criada em 1919 (Genebra/Suíça) pelo tratado de Versalhes, o qual determinou que todas as colônias alemãs passariam para a Inglaterra
e para França, que a Alsâsia e a Lorena voltariam ao domínio francês.
Um dos problemas da Liga das Nações foi ser composta por apenas 63 países, entre as quais não se incluíam todas as nações
poderosas, como por exemplo, os Estados Unidos. Já nasceu com seus dias contados: EUA não aderiram. Em 1929 Crash da Bolsa de
NY. Estava havendo diversas invasões de países.
Organização das Nações Unidas - A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma união de países criada para promover a paz
mundial, a segurança e a colaboração internacional. A ONU foi fundada em 1945, pela carta das nações unidas, assinada em São
Francisco, sua sede é em Nova York após a Segunda Guerra Mundial, o motivo da criação foi que A Liga das Nações foi incapaz de
evitar a Segunda Guerra Mundial e se dissolveu, dando origem a um novo órgão, criado levando em consideração os defeitos e erros
dela. Possui os seguintes órgãos: Conselho de Segurança (É formado por 05 paises EUA/ China/ Inglaterra/ França/Russia)
Unanimidade. Assembléia Geral. Secretarias. Conselhos Sociais e econômicos. Corte Internacional de Justiça (composta por 15 juizes
e com sede em Haia)
A Corte Internacional de Justiça - A Corte Internacional de Justiça não é, nem um corpo legislativo, nem uma academia. Define-se
como um órgão do Direito Internacional, destinado a prestar justiça nos limites que lhe foram prescritos.
O Funcionamento da Corte Internacional de Justiça
A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, obedecendo a seu
funcionamento ao que estipula seu Estatuto, que é parte integrante da Carta da ONU. Todos os membros das Nações Unidas são, ipso
facto, parte do Estatuto. Estados não membros das Nações Unidas podem tornar-se partes do Estatuto, obedecendo às condições
estipuladas para cada caso pela Assembléia Geral, à recomendação do Conselho de Segurança.
Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte podem recorrer a ela sobre qualquer caso. Outros Estados poderão fazê-lo sob
condições estipuladas pelo Conselho de Segurança, que pode encaminhar à Corte qualquer controvérsia jurídica.
Além disso, a Assembléia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas;
também aos outros órgãos das Nações Unidas, assim como as Agências Especializadas, é facultado recorrer à Corte para pareceres
sobre questões jurídicas dentro do escopo das suas respectivas atividades, desde que tenham para isso autorização da Assembléia
Geral. Somente países - nunca indivíduos podem recorrer à Corte Internacional de Justiça.
A competência da Corte se estende a todas as questões a ela submetidas pelos Estados e a todos os assuntos previstos na Carta das
Nações Unidas e nos tratados e convenções em vigor.
Os Estados podem comprometer-se antecipadamente a aceitar a jurisdição da Corte em determinados casos, seja por meio de tratados
ou convenções que estipulem o recurso à Corte ou por meio de uma declaração especial nesse sentido. Tais declarações aceitando a
jurisdição compulsória da Corte podem, contudo, excluir determinados tipos de questões. Para emitir suas sentenças, a Corte, de
acordo com o Artigo 38 do Estatuto, recorre às seguintes fontes de direito: Convenções Internacionais que estabelecem regras
conhecidas pelos Estados litigantes; Costumes Internacionais com evidências de uma praxe geralmente aceita como de direito;
Princípios Gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas; Jurisprudência e pareceres de competentes juristas das várias
nações, como elementos subsidiários para determinar as regras de direito.
A Corte pode decidir ex aequo et bono (segundo o que for justo e bom), isto é, lavrar sentença por eqüidade, se as partes litigantes
estiverem de acordo.
O Conselho de Segurança poderá ser chamado, se necessário, por uma das partes para determinar quais as medidas a tomar, a fim de
dar cumprimento a uma sentença, caso a parte contrária se recuse a acatá-la.
A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados "membros" da Corte. São eleitos pela Assembléia Geral e pelo
Conselho de Segurança em escrutínios separados.
Os juízes são escolhidos em função de sua competência, e não pela sua nacionalidade, observando-se, contudo, o critério de fazer com
que estejam representados na Corte os principais sistemas jurídicos do mundo. Não poderá haver dois juízes da mesma nacionalidade
na Corte.
O mandato dos juízes é de nove anos, podendo haver reeleição. Não podem os juízes dedicar-se a outras atividades durante o exercício
de seu mandato.
Tribunal de Nuremberg - Após a II Guerra Mundial, os países aliados resolveram formar um tribunal internacional com a finalidade
de julgar os "crimes" cometidos pelos inimigos de guerra, o qual ficou conhecido como o Tribunal de Nuremberg que resultou em uma
série de 13 julgamentos, realizados em Nuremberg, na Alemanha, de 1945 a 1946.
Esse tribunal foi criado por um acordo assinado pelos representantes dos E.U.A., Grã-Bretanha, França e ex-U.R.S.S., em Londres, em
agosto de 1945. Juízes e promotores públicos de todos os quatro países tomaram parte no primeiro julgamento, que teve como réus 22
funcionários da Alemanha nazista.
Para muitos um progresso do direito internacional, para outros um tribunal improvisado e arbitrário, onde se observou a espantosa
negação de elementares postulados do direito penal tradicional, como o princípio da legalidade, pois deu efeito retroativo a um Plano
de Julgamento para a incriminação de fatos pretéritos, não considerados crimes ao tempo de sua prática, e impôs aos acusados o
enforcamento e penas arbitrárias, sem direito a qualquer recurso, além de ter sido um tribunal que foi criado e funcionou segundo a
vontade arbitrária dos vencedores, com o exclusivo propósito de uma vingança pura e simples.
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Principal argumentação para criação do tribunal foi de a invocação do direito natural, direito esse que esta acima do direito formal.
O tribunal teve 216 sessões. Funcionou de 1945 a 1946.
Principais penas: Prisão; Prisão perpetua; Pena de Morte – As mortes eram através de enforcamento.
O Tribunal de Nuremberg foi o grande incentivador da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) - A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a
ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais
e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Tratado é todo acordo formal e escrito, celebrado entre Estados e organizações internacionais, que busca produzir efeitos
numa ordem jurídica de direito internacional, maior regulador, conhecido como o Tratado dos Tratados, é a Convenção de
Viena de 1969.

TPI - TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL - ESTATUTO DE ROMA


O TPI, sediado em Haia (Holanda), foi criado em 2002 para investigar indivíduos acusados de crimes de guerra e contra a humanidade.
O Estatuto de Roma, documento no qual se funda, já foi ratificado pelo Brasil.
O Estatuto de Roma considera como graves os seguintes crimes que “afetam a comunidade internacional no seu conjunto” (artigo 5°):
a) O crime de genocídio: com intenção de destruir grupo nacional, ético, racial ou religioso.
b) Crimes contra a humanidade
Artigo 7o. 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “crime contra a humanidade”, qualquer um dos atos seguintes,
quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse
ataque:
Extermínio (compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com
vista a causar a destruição de uma parte da população);
Tortura (entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma
pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente
de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas);
Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência
no campo sexual de gravidade comparável;
c) Crimes de guerra: ex. uso de arma proibida, violação as convenções humanitárias.
d) O crime de agressão: É o planejamento, a preparação, o início ou a execução, por pessoa em posição efetiva para exercer controle ou
dirigir a ação política ou militar de um Estado, de um ato de agressão o qual, pelo seu caráter, gravidade e escala, constitui violação
manifesta da Carta das Nações Unidas.
Tais crimes são imprescritíveis (discussão), conforme artigo 29 do Estatuto de Roma.
Foi criado em 1998 pelo Estatuto de Roma, com sede em Haia, na Holanda, em funcionamento a contar de 1º de julho de 2002.
Os tribunais de: Nuremberg, Ruanda, Iugoslávia eram considerados tribunais de exceção, pois foram criados após o fato (princípio do
Juízo Natural).
O TPI é um Tribunal permanente, autônomo e julga crimes de abrangência internacional.
Penas: Prisão de até 30 anos. Prisão perpétua. Multa. Perda de bens (produto do crime)
Não tem: Pena de morte; Pena cruel e Pena de banimento (tirar nacionalidade)
O Brasil é parte no Estatuto de Roma Decreto Legislativo 112/2002. EC 45/04 incluiu ao art. 5º, § 4º, CF afirmando que o Brasil se
submete ao Tribunal Penal Internacional.

Entrega é diferente de Extradição. Entrega ocorre entre o TPI e um Estado. Extradição ocorre entre Estados.

O TPI surge como forma de evitar a criação de tribunais ad hoc internacionais por motivos meramente políticos, como ocorreu
nos casos dos Tribunais de Nuremberg (1945), Tóquio (1946), para antiga Iugoslávia (1993 – 100mil mortos e 20 mil estupros) e
Ruanda (1994 – 800 mil mortos em 100dias).

Direitos Fundamentais são os direitos do homem previstos na Constituição de um país, enquanto os Direitos Humanos são os direitos
do Homem ou Fundamentais previstos em Tratados ou Direitos Humanos.
Exemplo de Direito à Vida, art. 5º da CF/88 e art. 4º, da Convenção Americana.

Os Direitos Humanos são:


Históricos - Mudam com os tempos, são dinâmicos, passando pelas diversas revoluções e chegando aos dias atuais. Ex: Abolição da
escravidão, direito das mulheres.
Naturais - Essenciais à pessoa humana, mesmo na ausência de Legislação específica
Universais - Independem de fronteiras e leis nacionais, são válidos a todos, indistintamente. Destinam-se, de modo indiscriminado, a
todos os seres humanos.
Indivisíveis e interdependentes – Não se podem defender apenas alguns direitos em detrimento de outros. Os direitos humanos
formam um todo, um dependendo do outro. Não se pode cuidar das mulheres, deixando de lado as crianças, cuidar das crianças e se
esquecer dos problemas raciais, assim sucessivamente.
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Irrenunciáveis - Não se renunciam direitos fundamentais. Alguns deles podem até não ser exercidos, mas não se admite sejam
renunciados.
Inalienáveis - São direitos intransferíveis, inegociáveis, porque não são de conteúdo econômico patrimonial. Se forem conferidos a
todos, deles não se pode desfazer porque são indisponíveis.
Imprescritíveis - A prescrição é um instituto jurídico que somente atinge os direitos de caráter patrimonial, não a direitos
personalíssimos.

As Gerações de Direitos Humanos


Primeira Geração - DIREITOS INDIVIDUAIS; DIREITOS DA LIBERDADE; Declaração da Virgínia (Estados Unidos -1776)
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França - 1789)
Segunda Geração - DIREITOS SOCIAIS; DIREITOS DA IGUALDADE; Século XIX início do Século XX Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais; Constituição Mexicana (1917); Constituição Russa (1919)
Terceira Geração - DIREITOS DOS POVOS; DIREITOS DA SOLIDARIEDADE; Dimensão Internacional; Declaração Universal
dos Direitos Humanos (ONU- 1948); Declaração Universal dos Direitos dos Povos (1976)
Quarta Geração - DIREITOS À VIDA; DIMENSÃO PLANETÁRIA; Direitos a uma vida saudável, em harmonia com a natureza;
Princípios ambientais e de desenvolvimento sustentável; Carta da Terra ou Declaração do Rio (1992). Para alguns. Conforme Norberto
Bobbio, a referida geração de direitos decorreria dos avanços no campo da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria
existência humana, através da manipulação do patrimônio genético e pesquisas biológicas.

Primeira Geração - OS DIREITOS DE LIBERDADE (INDIVIDUAIS)


A grande mudança de rumos na aventura dos direitos humanos foi ditada pelas Declarações do século XVIII. Tais documentos, que
simbolizaram o coroamento das lutas burguesas e consolidaram as transformações que até então se operavam no mundo ocidental,
tiveram o iluminismo (ou ilustração) como referencial teórico imediato.
A filosofia iluminista teve suas raízes no século XVII, através do racionalismo e do empirismo, tendências paralelas representadas pelo
pensamento de Descartes, Spinoza, Leibniz, Newton, Bacon, Berkeley, Hobbes, Locke e outros. E sinalizou uma verdadeira revolução
intelectual, pois seja na atitude de repúdio às certezas consagradas pela autoridade e pela tradição, ou na busca de novas bases para a
compreensão dos fenômenos naturais e sociais, o ser humano passou a ser concebido no estado de pura natureza, mediante uma
dedução exclusivamente racional.
Ora, nesse universo retomou-se a crença num Direito Natural, que nasce com o homem e é inseparável na natureza humana. Porém, ao
contrário da proposta medieval da dupla verdade – uma revelada por Deus e outra conquistada pela razão, a nova escola Jusnaturalista,
que tomou forma a partir do século XVII, sustentava que o homem era titular de certos direitos fundamentais, cuja existência
independia de qualquer justificação metafísica.
Grosso modo, podem ser resumidas em quatro, as proposições esposadas pelos jusnaturalistas da época:
a) considerados eternos e absolutos, existem direitos naturais demonstráveis pala razão, extensivos a todas as pessoas em todos os
tempos e lugares;
b) o Direito Natural consiste num conjunto de regras, verificáveis à luz da razão, que asseguram perfeitamente todos esses direitos
naturais;
c) a existência do Estado se prende, tão só, a garantir aos homens esses direitos naturais;
d) o direito positivo, aplicado e executado pelos tribunais, é o meio pelo qual o Estado realiza essa função, obrigando moralmente
apenas enquanto em concordância com o Direito Natural.
O racionalismo jusnaturalista foi levado ao extremo pelo inglês Thomas Hobbes (na obra “Leviathan”- 1651), que formulou a tese da
origem contratual do Estado, em cujo favor, após o primitivismo caótico da convivência sem ordem, os homens pactuaram renunciar
aos seus direitos naturais, objetivando a segurança de todos – o que daria ao governante um poder absoluto. Essa postura,
modernamente, recebeu forte crítica do jurista italiano Norberto BOBBIO, ao observar que o Direito Natural da Idade Moderna
(contada em Hobbes), com sua “concepção estreita, particularmente privatista e atomista do homem”, deu origem ao liberalismo. Para
BOBBIO, Hobbes tomou como ponto de partida o homem isolado, em estado natural egoísta, enquanto o jusnaturalismo medieval viu
o homem em sociedade e dentro de uma perspectiva comunitária.
Com John Locke, também pensador inglês, em seu livro “Two Treatises of Government” (1689), desenvolveu-se a teoria da liberdade
natural do ser humano. Segundo Locke, divergindo de Hobbes, os homens optaram por constituir-se em sociedade no afã de
alcançarem melhor proteção de seus direitos naturais (a liberdade e a propriedade); eles não renunciaram a seus direitos, mas o
confiaram a uma autoridade comum, mediante um contrato. O poder, pois, era consentido, não sendo lícito ao soberano exercê-lo de
maneira despótica, sob pena, dos súditos retomá-lo pela via da rebelião – “direito de resistência” – para recobrar a liberdade originária.
É curioso notar a relativa identidade entre o trabalho de Locke e o de Francisco Suárez, embora a diferença de mais de cinqüenta anos
que os medeiam, até para mostrar que a futura noção do liberalismo sobre o Estado de Direito limitou-se, insofismavelmente, a apenas
uma das correntes do jusnaturalismo (a “racionalista”). Para o teólogo espanhol Suárez, em sua obra “De Legibus ac Deo Legislatore”
(1612), os homens eram, por natureza, igualmente livres e não súditos uns dos outros. Da natureza a comunidade recebia
automaticamente a autoridade política, e então a transferia ao príncipe. Destarte, a determinação da forma de governo não deriva da
natureza, mas da livre escolha da comunidade. E sublinhava que o poder político era de direito divino, quando considerado em si
mesmo, abstratamente; mas de direito humano, quando considerado concretamente, enquanto exercido por pessoas determinadas.
Essa polêmica adentrou pelo século XVIII, marcado por um confronto direto e definitivo com o carcomido regime absolutista. Nessa
fase, foram da maior alta valia e influência as seguintes contribuições:
a) de Montesquieu, em cuja obra-mestra, “O Espírito das Leis” (1748), prescreveu a suprema necessidade da
separação das funções do Estado em três poderes distintos e independentes (executivo/legislativo/judiciário) denunciando uma
atentatória à liberdade a concentração do poder nas mãos de uma só pessoa ou órgão;
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b) de Voltaire, crítico mordaz das idéias e costumes de seu tempo, dono de vasta publicação (“Cartas Filosóficas”, por ex., em 1734), e
que foi um acérrimo defensor da liberdade individual e implacável combatente de todo tipo de despotismo;
c) de Jean-Jacques Rousseau, em cujo trabalho mais festejado, “Do Contrato Social” (1762), expôs a tese de que os homens se
agregaram societariamente por motivos eminentemente pragmáticos, na soma de forças para sobrepujar a resistência. Essa união era
engendrada pelo contrato social, a se constituir num instrumento que garantia simultaneamente a igualdade e a liberdade – e nisso
diferia de Locke, que associava liberdade e propriedade. Mais que isso, Rousseau condenou a propriedade privada (“causa primeira da
miséria social”), porque a igualdade das massas (o povo como “único soberano”), e, enalteceu a vida do “bom selvagem”
(contrapondo-o à civilização européia);
d) dos “enciclopedistas”, grupo de filósofos e economistas, dirigidos por Diderot e D’Alembert, que resumiram sistematicamente os
esforços do intelecto humano, com a famosa “Enciclopédia” (35 volumes – 1751/1772), e em cujas páginas desenvolveu um fervoroso
programa de reivindicações sociais e políticas;
e) de Cesare Beccaria, autor do livro “Dei Delitti e delle Pene” (1764), onde desfiou – fundado numa perspectiva racional, no direito
natural, no contrato social e no controle do poder – veementemente, seu libelo contra o processo secreto, a desigualdade dos castigos
segundo a qualificação das pessoas, a atrocidade dos suplícios, a tortura e a pena de morte.
Com todas as características já mencionadas e ante o peso de tamanha efervescência cultural, o Jusnaturalismo espalhou-se por toda a
Europa e também pela América, servindo de base doutrinária para a o surgimento da Declaração de Direitos. Tais documentos, que se
mostraram verdadeiros manifestos políticos das novas forças sociais que despontavam, passaram a enunciar formal e solenemente os
direitos fundamentais dos indivíduos. É sobremodo interessante atentar que a expressão “declaração de direitos” deixa transparecer por
completo o espírito que animava a edição desses diplomas: acreditava-se que os direitos individuais não constituíam uma criação do
Estado, posto que existiam antes do advento deste, bastando, pois, para fazê-los respeitados, declarar expressamente a existência dos
mesmos, depois de racionalmente reduzidos da natureza humana.
Muito embora a Inglaterra tenha dado o impulso inicial, e, não obstante situar-se na França o pólo mais ativo da irradiação de idéias,
foi na América do Norte, na ainda colônia de Virgínia, que surgiu a primeira Declaração de Direitos. Tamanho feito, por parte de uma
colônia, não deve causar espanto. Ao darem contornos definitivos à sua luta libertária, as colônias inglesas da América reuniram-se
num Congresso Continental, em 1774, que recomendou a formação de governos independentes. E nisso quem se antecipou às demais
foi justamente à Virgínia, que em 12 de junho de 1776 publicou sua manifestação formal de direitos (“... do Bom Povo de Virgínia”), e
cuja cláusula primeira anunciava “que todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes” – e com certos direitos,
inerentes dos quais não poderiam ser privados. Nesse expediente de 16 cláusulas, inequívoco alicerce do constitucionalismo
americano, percebe-se com nitidez a influência das doutrinas jusnaturalistas e iluministas então em voga, precipuamente das obras de
Locke, Montesquieu e Rousseau. Outras sete colônias, mirando-se nesse exemplo, adotaram constituições radicalistas com semelhantes
dispositivos de proteção individual.
Ainda em 1776, como passo decisivo desse processo emancipatório, o 3º Congresso da Filadélfia aprovou a “Declaração de
Independência dos Estados Unidos”, em 4 de julho daquele ano. O texto, que também traz a herança do mesmo legado entre os
homens, considerados titulares de certos direitos inalienáveis como a vida, a liberdade e a procura da própria felicidade. Seguem-se-lhe
a Constituição Federal de 1787, e, uma “Bill of Rights” (Declaração de Direitos), aprovada em 1789 e ratificada em 1791, contendo
dez emendas à Carta Básica norte-americana. Todos esses acontecimentos e prescrições legais foram de notável significação humana e
social, de grande qualidade sistemática e de inflamada capacidade de estímulo, influindo nas revoluções libertárias da América
hispano-portuguesa e, inclusive, na França iluminista.
Todavia, foi a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, aprovada pela Assembléia Nacional francesa, em 26 de agosto de
1789 que, incontestavelmente, teve desde logo muito maior repercussão do que as precedentes. Para tanto contribuiu, em parte, a
notória condição francesa de centro irradiador de idéias e iniciativas; mas o seu sucesso defluiu, sobretudo, do caráter universal
daquela Declaração, cujos autores souberam enunciar direitos individuais como aplicáveis a todas as sociedades políticas.
A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” instituiu um Estado de Direito e, partindo do pressuposto que se fazia mister
fixar solenemente os “direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem”, tratou de regulá-los em seus 17 artigos, dentre os quais
destacamos: a) a igualdade de todos, quanto aos direitos (art. 1); b) a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão,
como direitos naturais e imprescritível da pessoa humana (art. 2); c) a soberania reside na Nação: o povo é quem delega autor idade
9art. 3); d) a medida da extensão da liberdade de cada um é não prejudicar o direito de outrem (art. 4); e) o princípio da legalidade,
permitindo-se tudo quanto à lei não proíba e estatuindo que ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não manda (art. 5); f) a
proibição de acusação, prisão ou detenção, salvo nos casos determinados opor lei e na forma por ela prescrita (art. 7); g) a presunção de
inocência (art. 9); h) a liberdade de manifestação dos pensamentos e opiniões (art. 11); i) a garantia dos direitos e a separação dos
Poderes através da Constituição (art. 16); j) a propriedade como um direito sagrado e inviolável, salvo caso de necessidade pública e
mediante justa e prévia indenização (art. 17).
A Declaração de 1789, como se sabe, tornou-se uma fonte – obrigatória e permanente – para as novas proclamações do gênero, tanto
na própria França (em 1793, 1795, 1814 e 1848), quanto no restante da Europa e no continente da burguesia, representou o cortamento
de uma longa luta pela afirmação das liberdades públicas e princípios basilares da pessoa humana, dando um novo perfil à sociedade e
acarretando sensível progresso institucional.

SÍNTESE DA 1ª DIMENSÃO - Os direitos da primeira geração ou primeira dimensão inspirados nas doutrinas iluministas e
jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII são direitos de titularidade individual, embora alguns sejam exercidos em conjuntos
de indivíduos. Essa geração inclui os direitos à vida, liberdade, segurança, não discriminação racial, propriedade privada,
privacidade e sigilo de comunicações, ao devido processo legal, ao asilo diante das perseguições políticas, bem como as
liberdades de culto, crença, consciência, opinião, expressão, associação e reunião pacíficas, locomoção, residência, participação
política, diretamente ou por meio de eleições. São os primeiros direitos a constarem do instrumento normativo constitucional, a
saber, os direitos civis e políticos, cujo princípio era a proteção do indivíduo.
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Os direitos fundamentais de primeira dimensão, contemporâneos do liberalismo político, surgem como resposta ao absolutismo
monárquico e objetivavam proteger o homem na sua esfera individual contra a interferência abusiva do Estado. São direitos de
cunho meramente negativo, que visam garantir as liberdades públicas.
Negavam o Estado no seu poder de interferir nas liberdades individuais, por que este era visto como inimigo para o homem.
São direitos civis e políticos como a liberdade de locomoção, de pensamento, inviolabilidade do domicílio, liberdade de religião,
por exemplo. A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (26/08/1789), aprovado pelo parlamento francês, cujo lema:
Um País deve ter uma Constituição escrita, com separação dos Poderes e Previsão dos Direitos Individuais.

Segunda Geração - OS DIREITOS DE IGUALDADE (COLETIVOS)


A primeira metade do século XIX foi marcada pela consolidação do Estado liberal – edificado sobre o ponto de vista dos direitos
individuais – e pelo fenomenal desenvolvimento da economia industrial.
Para o liberalismo, apegado à lição iluminista de supervalorização da lei, o Estado tinha na Constituição a sua mais forte plataforma
jurídica. Note-se que a própria Declaração francesa de 1789, no seu artigo 16, patenteou a obrigatoriedade de um texto constitucional
composto precipuamente da decisão dos poderes e da declaração de direitos, com suas garantias. Aliás, a mentalidade juspositivista do
século XIX, o sentido de Constituição era justamente este: era explícita a legalidade e organiza as garantias. E o Estado Constitucional,
oriundo das teses liberais, não era apenas um Estado não-interveniente, criado pelos interesses burgueses em contraposição ao
absolutismo intervencionista; esse Estado era uma sistemática de explicitações, montada a partir da idéia de que o poder existe com
base no consentimento das pessoas, e que deve garantir a elas uma série de liberdades. Destarte, o Estado constitucional não era apenas
um Estado com limitações, mas sim intrinsecamente limitado. Ora, esse arcabouço ideológico levou, na prática, a existência de um
Estado impregnado de um formalismo que, ao não cogitar da distinção entre legalidade e legitimidade, afigurou-se excludente.
Assim é que a igualdade, solenemente estampada na Declaração de 1789, não passou de expressão retórica. Ou melhor, se chegou a
suprimir os privilégios formais do “antigo regime”, não concretizou quanto à desigualdade econômica patrimonial. Na ordem política
que se instaurou, as pessoas passaram a iguais perante a lei, erigida como padrão de igualdade entre todos os seres humanos, mas que
não operou uma modificação das condições materiais das classes populares, e a liberdade, desvirtuada na prática, passou a ser utilizada
pelo homem burguês como capacidade ilimitada de exercer a sua iniciativa, a sua criatividade e os seus direitos individuais.
Com a ascensão da burguesia à posição de classe dominante, acelerou-se a industrialização e suas implicações sócio-econômicas e
culturais, abrindo caminho para um novo estágio de consciência sobre as necessidades básicas do ser humano. Com efeito, o
desenvolvimento do capitalismo industrial, propiciando a urbanização e concentrando mão-de-obra assalariada, mormente nas fábricas,
fez com que se formasse uma nova classe social – o proletariado, ou a moderna classe operária urbano-industrial.
Justamente com a Revolução Industrial estruturou-se o Estado capitalista Liberal. O Estado do “Laissez-faire”, de não-intervenção, da
liberdade de iniciativa e de contrato; o Estado “gendarme”, que consistiu em garantir a livre atuação das forças do mercado, fundado na
premissa de que, se todos defendessem os seus próprios interesses, o interesse coletivo seria automaticamente defendido. Por fim, o
Estado que privilegiou o capital em detrimento do trabalho, em nome do direito de cada indivíduo contratar livremente com seu
semelhante, sem a proteção e a fiscalização estatal – o que unicamente significou a liberdade dos assalariados se colocarem nas mãos
dos empregadores.
Evidente, pois, a enorme contradição entre os princípios divulgados nas declarações de direitos e a realidade cotidiana de amplos
setores da sociedade, especialmente numa certa fase do capitalismo industrial. O proletariado estava submetido a todo o tipo de
exploração: jornada de trabalho excessiva (de 14 a 16 h/dia), remuneração indigna, condições insalubres e insegurança no trabalho,
abusiva situação trabalhista de mulheres e crianças, desemprego e miséria crescentes, péssimas condições de vida (moradia, saúde,
alimentação, educação), dentre outros aspectos. Ante tais situações cruéis e desumanas, o proletariado reagiu com greves, agitações e
rebeliões por toda parte, como as revoluções de 1848, ocorridas na França e na Alemanha, ou a célebre “Comuna” de Paris (1871),
movimentos primordialmente operários na sua origem.
Esse novo perfil que caracteriza a Europa do século XIX, com todas as suas nuances, possibilitou o desenvolvimento da crítica social,
do ideário socialista de doutrinas alternativas, do sindicalismo e da organização política da classe operária e demais setores populares.
No contexto das lutas operárias, levadas a efeito desde o século anterior, surgiu o sindicalismo. Amadurecido no seio das associações
de auxílio mútuo (séc. XV), o movimento operário fortaleceu-se graças à conquista de liberdade de organização classista,
primeiramente na Inglaterra (através de lei aprovada pelo Parlamento, em 1824), e mais tarde, de modo gradual, no restante da Europa
e nos Estados Unidos. Os sindicatos guardaram pontos em comum com o socialismo e o anarquismo. Na Inglaterra, registre-se, o
sindicalismo assumiu, via de regra, em feição reformista, da qual a “Trade Union” (fundada em 1833) foi típico exemplo – as
reivindicações eram majoritariamente de índole econômica, sem cogitar as alterações das estrutura político-institucional. Na França e
na Itália, porém, a ação sindical adotou tendência predominantemente revolucionária – buscou a emancipação proletária por meio de
mudanças radicais na sociedade.
Por outro lado, do mesmo caldo cultural europeu nasceram o anarquismo e o socialismo. Ambos propugnavam o fim da propriedade
privada – um dos principais valores protegidos pelas declarações dos direitos – e o fim das diferenças de classe. Buscavam,
igualmente, a destruição do Estado, considerado um instrumento de opressão dos trabalhadores a serviço da burguesia. Todavia, para
os socialistas, de um modo geral, o Estado burguês deveria ser substituído pelo Estado proletário, que aplainaria as desigualdades
sociais. Já os anarquistas por seu turno, preconizavam a substituição do Estado pela cooperação de grupos associados (mecanismos de
controle espontâneo da sociedade). Dentre os mais notáveis anarquistas sobressaem os nomes de Pierre Joseph Proudhon (numa 1ª
fase), Michael Bakunin, Piotr Kropotkin e Leão Tolstoi. E, dos socialistas mais importantes, destacam-se: Henry de Saint-Simon,
Louis Blanc, Augusto Blanqui e Charles Fourier – denominados de “utópicos” e, Karl Marx e Friedrich Engels – fundadores do
socialismo “científico”. Mais tarde, os marxistas se dividiram em ortodoxos e revisionistas.
Em fevereiro de 1848, auxiliado por Engels, Marx fez publicar o “Manifesto Comunista”, ardente conclamação à união e à luta
proletárias e inequívocas fonte irradiadora do futuro comunismo. Mas foi a partir do texto “A Questão Judaica”, quatro anos antes,
(1844), que Marx passou a denunciar a concepção liberal-burguesa dos direitos humanos, expressa nas declarações americana (1776) e
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Francesa (1789), negando sua universalidade e identificando-se com os interesses da classe social dominante. O pensamento marxista
se funda na sociedade ocidental de meados do século XIX, extremamente individualista, injusta e desigual, e que converteu o trabalho
num instrumento de dominação. As contundentes investidas de Marx contra a declaração francesa, de 1789, apontavam, aliás, para
uma contrafação do ideal de direitos humanos comuns a todos. O detalhe, aí, é que o problema não era de fundo, e sim de forma. Os
direitos humanos do homem, distintos dos direitos do cidadão, foram apresentados como direitos do homem egoísta, separado dos
outros indivíduos e da comunidade, porque a burguesia do período da alta acumulação capitalista passara a subordinar a liberdade e a
igualdade à propriedade. Também a Igreja Católica se mostrou sensível aos problemas sociais do século XIX, em que pese à reticência
inicial e a leitura imitada daquela realidade. Assim, diante da gravidade da “questão social” (conflito entre capital x trabalho), ao
mesmo tempo em que buscava se contrapor à doutrina marxista e amenizar os efeitos do capitalismo, o Papa Leão XIII denunciava
com veemência os abusos e as injustiças praticados por “um pequeno grupo de ricos e opulentos” e, contrariando a posição liberal-
capitalista de então, defendia a tese do dever do Estado de intervir no campo econômico-social, através de medidas em prol dos
interesses da classe operária – incluindo o direito de organização sindical – e da proteção dos direitos de todos os cidadãos,
especialmente “dos fracos e dos indigentes”.
É claro que o contexto de crise, desigualdade social e concentração da riqueza, tornara insuficientes as interpretações do liberalismo
acerca dos direitos fundamentais, entendidos como inerentes à natureza humana, independentemente de sua condição social ou da sua
classe de origem. Assim, os movimentos de base passaram a questionar o fosso que se alargara entre os postulados de igualdade e
liberdade para todos e a trágica situação vivida pelos trabalhadores, reivindicando a real efetivação de tais direitos declarados; os
sindicatos e os partidos operários foram levados a clamar por mudanças profundas e pela atuação do Estado no plano coletivo,
mormente quanto às relações de trabalho. E algumas melhorias apareceram, pós-1870: direito de greve, regulamentação da jornada
diária, seguros contra acidentes e contra invalidez, inquéritos para responsabilização patronal.
Nessa altura, o próprio capitalismo encontra-se em transformação. O espocar de revoluções nacionalistas (Itália, Alemanha, América
Latina) foi contemporâneo com o surgimento das grandes empresas, dos “trustes” e dos “cartéis”; e o capitalismo em expansão superou
as fronteiras regionais, fazendo renascer a corrida colonialista. Em conseqüência, o mundo desistiu, na antevéspera do novo século, a
partilha da África e da Ásia, bem como a política de alianças entre as potências dessa quadra – era o “Imperialismo” europeu, à procura
de novas fontes de matéria prima, outros mercados consumidores e mais bases geopolíticas.
Por força das pressões da sociedade, cada vez maiores no final do século XIX, acabou se dando a transição do modelo liberal clássico
para o Estado Social, perceptivo pelo paulatino abandono da atitude abstencionista por uma posição intervencionista propiciadora de
meios de acesso aos bens sociais. A questão do conteúdo dos direitos humanos, portanto, foi transferida ao século XX.
Nas primeiras décadas do século XX, a Revolução Mexicana – de 1910 (com sua Constituição socialista), a Constituição de Weimar –
na Alemanha de 1919 (ressaltando os direitos sociais), e a criação da Organização Internacional do Trabalho/OIT – também de 1919
(parte XIII do Tratado de Versalhes), ampliavam na realidade sócio-política a dimensão dos direitos humanos, que deixaram de ser
entendidos apenas como direitos individuais e passaram a abarcar – ainda que restritamente, em muitos lugares – os direitos coletivos
de natureza social. Surgiu, então, a crença de que os indivíduos que não têm direitos a conservar são os que, mas precisam do Estado.
Finalmente, com o findar da II Guerra Mundial o problema dos direitos básicos da pessoa humana foi posto mais uma vez na ordem do
dia. Com a Carta das Nações Unidas, assinada em 26 de junho de 1945, criou-se uma organização internacional (a ONU), voltada a
permanente ação conjunta dos Estados na defesa da paz mundial, incluída aí a promoção dos direitos humanos e das liberdades
públicas (art. 1). Com tais propósitos, ao menos em tese a noção dos Direitos Humanos deixou de ser um compromisso de cada país,
individualmente, para passar ao “status” de princípio internacional a inspirar as ações dos membros – fundadores ou futuros – da
organização. Mas como a experiência já havia deixado claro que não pode haver paz sem justiça social, decidiu-se por uma Resolução
específica sobre tais direitos, vagamente referidos na Carta. Assim é que, na terceira sessão ordinária da Assembléia Geral da ONU,
verificada em Paris, a 10 de dezembro de 1948, foi aprovada a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, seguramente o
documento de maior ressonância no presente século nesse particular.
A declaração, contendo 30 artigos, proclamou os direitos e liberdades fundamentais “como o ideal comum a ser atingido por todos”, e
tratou de exaustivamente enumerá-los com a finalidade de permitir-lhes melhor proteção jurídica, partindo do postulado geral de que
“todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos (...) e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade” (art. 1). É deveras significativo que a Assembléia Geral preliminarmente, tenha dado ênfase ao verbo proclamar, pois
patenteia assim que não houve concessão ou mero reconhecimento de direitos, e com isso os remete à própria natureza humana, razão
pela qual a ninguém (nem mesmo a ONU) cabe legitimidade para retirá-los de qualquer indivíduo.
Nesse ponto, a Declaração Universal avançou a concepção de direitos humanos, quer depreendendo-os também do relacionamento do
homem com o meio social, quer enxergando-os muito além das relações entre os indivíduos e o Estado ou da mera preocupação com a
conservação de direitos. Uma prova disso é o artigo 22 do texto, que faz ecoar categoricamente o direito de todo ser humano à
segurança social e à realização “dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento
de sua personalidade”. Resumidamente, o exame dos artigos da Declaração revela três primaciais características: a certeza dos direitos
(com a prévia e cristalina fixação de direitos e deveres), a segurança dos direitos (impondo normas para sua respeitabilidade) e a
possibilidade dos direitos (exigindo os meios para todos terem acesso ao gozo dos direitos).
A Declaração de 1948, ainda, se fez meritório não só por atualizar o rol dos direitos, em face das características da sociedade
industrial, mas, sobretudo por preceituar como compromissos de todos – Estados e indivíduos, governantes e governados – a tarefa
permanente da construção de um mundo onde todos os homens possam usufruir uma vida digna, com pleno atendimento de suas
necessidades primárias, materiais e espirituais.
Entretanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não possui, tecnicamente, qualquer valor de obrigatoriedade para os Estados.
Ela não é um tratado, mas sim um conjunto de recomendações, conquanto na forma qualificada de “proclamação”. Conseqüentemente,
o seu valor é meramente moral, indicando diretrizes a serem seguidas nesse assunto pelos Estados. Mesmo assim, deve-se frisar que os
direitos e liberdades nela exaltados já são princípios gerais de direito ou direito costumeiro.
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Tais ponderações remetem a uma dupla conclusão: a da ampliação do conceito de direitos humanos e da tibieza daquela Declaração no
que concerne a sua eficácia, notadamente quanto aos direitos coletivos. Verifica-se, pois, que os problemas relativos à
institucionalização dos direitos humanos não se encontram no plano de sua realização concreta e no plano de sua exigibilidade.
Essa preocupação, certamente, esteve presente no cerne dos debates travados na ONU após 1948, levando a uma paciente elaboração
do “Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais” aprovado pela assembléia Geral, em 16 de dezembro de 1966, e
que consagraram a Segunda geração dos direitos humanos, pertinentes ao princípio da igualdade. Ou seja, da fase de reclamar direitos
ou de protegê-los frente ao Estado, que toda pessoa possui por sua qualidade como tal, passou-se a outra, de reivindicar os meios para
que os direitos se tornem efetivos. E, via de conseqüência, entendeu-se um dever do Estado possibilitar amplamente os recursos
devidos à satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais. Com o Pacto, aliás, esses direitos se projetaram acima do patamar de
pretensões individuais e coletivas perante o Estado, cabendo a este o papel de agente promotor das garantias e direitos chamados
sociais (art. 2).
O referido Pacto Internacional, que os especialistas consideram se de “aplicação progressiva”, entrou em vigor em 1976. Dentre os
direitos por ele consagrados, importa destacar: a) direito ao trabalho; b) direito a uma remuneração eqüitativa e que proporcione ao
trabalhador e sua família “condições dignas de existência”; c) direito à previdência social; d) direito às condições de segurança e
higiene no trabalho; e) direito à organização sindical (“fundar e se filiar a sindicatos”); f) direito de greve; g) direito à cultura e ao
lazer; h) proteção e assistência à família; i) cuidados especiais à gestante e à infância; j) direito de toda pessoa a um nível de vida
adequado para si e sua família, inclusive alimentação, vestuário e moradia adequados e uma melhora contínua das condições de
existência; l) direito de toda pessoa estar protegida contra a fome; m) direito de toda pessoa ao “mais alto nível possível de saúde física
e mental”; n) direito à educação, devendo o ensino primário (1º Grau, no nosso caso) ser obrigatório e gratuito, e o ensino secundário
(II Grau) “generalizado e fazendo-se acessível a todos”.
Já a dicotomia entre os direitos proclamados (na Declaração Universal e no Pacto de 1966) e a corriqueira realidade internacional, dá
origem, nestas últimas décadas do século XX, a uma nova etapa no alargamento da noção de direitos humanos, como resultado direto
da preocupante divisão do mundo entre países ricos e países pobres.

SÍNTES DA 2ª DIMENSÃO - Após a 1ª Guerra Mundial, o regime político liberal, caracterizado pela mínima intervenção
estatal, entrou em crise. A sociedade passou a exigir um Estado mais atuante, clamando a substituição da Constituição, antes
apenas garantista, por uma constituição dirigente, que estabelecessem normas instituidoras de programas governamentais.
Surge o Estado do Bem-Estar Social.
Nesse contexto, surgiram os direitos fundamentais de segunda dimensão, denominados de direitos sociais, econômicos e
culturais. Esses direitos impõem ao Estado uma atuação prestacional voltada para a satisfação das carências da coletividade.
Através deles, buscava-se tornar os homens, já livres, iguais no plano fenomênico.
Neste contexto, depreende-se que os direitos de segunda geração ou segunda dimensão, seriam os Direitos da Igualdade, no
qual estão à proteção do trabalho contra o desemprego, direito à educação contra o analfabetismo, direito à saúde, cultura, etc.
Essa geração dominou o século XX, são os direitos sociais, culturais, econômicos e os direitos coletivos. São direitos objetivos,
pois conduzem os indivíduos sem condições de ascender aos conteúdos dos direitos através de mecanismos e da intervenção do
Estado. Pedem a igualdade material, através da intervenção positiva do Estado, para sua concretização. Vinculam-se às
chamadas “liberdades positivas”, exigindo uma conduta positiva do Estado, pela busca do bem-estar social.
São exemplos destes direitos: direito à saúde, ao trabalho, a assistência social, a educação, liberdade de sindicalização, direito
de greve, direito a férias e ao repouso semanal remunerado, vale dizer que nesta dimensão visa à proteção de grupos de
pessoas, tais como trabalhadores e aposentados.

Terceira Geração - OS DIREITOS DOS POVOS OU DA SOLIDARIEDADE


O mundo convive, no século XXI, com o paradoxo da crescente internacionalização dos direitos humanos, cada vez mais entronizados
no direito interno estatal, e a flagrante escalada de novas formas de imperialismo, de dominação e de violação contumaz desses
próprios direitos. Do domínio das armas ao controle econômico, dos boicotes ostensivos aos subornos de todo tipo, da especulação das
empresas transnacionais à cumplicidade de oligarquias locais, das regras unilaterais de mercado ao peso das dívidas externas, do mega-
protecionismo aos impedimentos de uma tecnologia autóctone – tudo conduz a uma realidade profundamente desigual entre as
coletividades organizadas do planeta. E o lado fraco no jogo de interesses desta era pós-industrial, inegavelmente, são os países
subdesenvolvidos, de industrialização periférica e economia centrada na exportação de matérias-primas (uns mais, outros menos).
A bissegmentação mundial entre países ricos (hemisfério Norte) e países pobres (hemisfério Sul) e o desnível entre eles existente,
como se sabe, é um fato histórico relativamente recente. Em todas as sociedades civilizadas do mundo, o nível básico de vida foi
praticamente o mesmo, até o Renascimento (séculos XIV-XV). A revolução comercial (mercantilista) acabou cavando diferenças em
favor dos países que se dedicaram ao comércio externo e ao colonialismo. Com a Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX), as
sociedades industriais passaram a. Ter, em relação às sociedades que permaneceram agrárias, vantagens cada vez mais aceleradas. E a
nova Revolução Industrial, especialmente a sociedade terciária e informacional contemporânea, faz multiplicar essa vantagem, por um
fator altíssimo, em benefício dos membros do restrito clube pós-industrializado.
Ao mesmo tempo, ao longo desse processo, sobressai toda uma tradição de lutas políticas e econômicas de cada povo e cada país pelo
seu livre desenvolvimento, e que progressivamente passaram a ter amparo jurídico internacional. Das batalhas anticolonialistas à
guerra contra o poderio tecnológico-industrial, da resistência frente ao expansionismo personalista à oposição antiimperialista – em
nenhum desses momentos têm faltado contribuições e sacrifícios, a título pessoal ou coletivo, em prol da liberdade, da paz e da justiça
social no plano internacional.
A saga societária para liquidar a opressão – qualquer que fosse sua forma ou pretexto – e pela afirmação soberana dos povos tomou
vulto no século XIX, com o direito de “autodeterminação dos povos” ou “princípio das nacionalidades”. Mais precisamente a partir de
1820, quando uma ordem de movimentos liberais irradiou-se pela Europa. Associados aos ideais de democracia, república ou
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monarquia constitucional, intensificaram-se os anseios e iniciativas de cunho nacionalista. E, ao contraditar-se o princípio do
“legitimismo” – reacionária posição do Congresso de Viena (1815) para conservar o absolutismo -, formulou-se o “princípio das
nacionalidades”: todo povo que se considerasse uma mesma nação (identidade ética-cultural) deveria constituir-se em Estado
independente, livre do jugo estrangeiro; e, da mesma forma, as diversas parcelas de uma nação deveriam fundir-se num só Estado.
O direito de “autodeterminação dos povos”, pois, se forjou na crença da soberania popular, nascida nos embates ideológicos das
revoluções burguesas, que vieram substituir o absolutismo feudal pelo Estado capitalista liberal. Segundo ela, todo poder emana do
povo e, portanto, só ao povo cabe decidir sobre seu próprio destino, estribada em rico filão documental: Declaração de Virgínia – 1776
(art. 2º), Declaração francesa de 1789 (art. III), Declaração francesa de 1793 (arts. XXIII a XXVI). Já na época das revoluções
socialistas e dos movimentos de libertação nacional, que são marcas registradas do século XX, a idéia de soberania popular ganha uma
dimensão incomparavelmente maior e mais concreta, sendo exemplos: as transformações e reformas sócio-econômicas que se efetuam,
a socialização de boa parte da economia, o surgimento de uma economia nacional independente – atualmente, a preocupação central da
maioria dos países do Sul; indubitáveis tentativas de construir, por caminhos diversificados, uma base material ampla, um patrimônio
dinâmico e produtivo de toda a nação, capaz de elevar sensivelmente os padrões de existência, cultura, produtividade e participação de
todos os setores da população ou, pelo menos, de sua maior parte.
Ao término da II Guerra Mundial, após a derrota dos Estados totalitários nazi-fascistas, 51 países reuniram-se em São Francisco (EUA)
e firmaram a Carta fundadora das Nações Unidas, em 26 de junho de 1945. Por via dessa Carta, o princípio da “autodeterminação” se
estabeleceu em definitivo no Direito Internacional, pois faz parte dos propósitos da ONU “desenvolver relações amistosas entre as
nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direito e de autodeterminação dos povos” (Artigo 1, alínea 2). Reconhecendo
o princípio da “autodeterminação”, reafirmado em inúmeros documentos, o Direito Internacional rejeitou toda e qualquer idéia de
estagnação de povos ou Estados e a defesa intransigente do “status quo” (situação vigente). Ademais, aceitou a tese de mobilidade
histórica e progresso social, franqueando a possibilidade aos povos e países de, legitimamente, aspirar e galgar sempre mais elevados
níveis de organização interna e desenvolvimento. Em outras palavras, cotejando tão somente o artigo 55, da Carta da ONU, e o art.
XXVIII, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é válido concluir que: a) os direitos econômicos, sociais e culturais são
direitos do cidadão e dever do Estado; b) o Estado, absorvendo em si os direitos individuais e coletivos, passa à agente prestador dos
direitos humanos, ao tempo em que também ele se torna beneficiário da nova ordem internacional que se preconiza para a realização
de tais direitos. Todavia, conquanto seja responsável pela consecução de medidas que materializem os direitos econômicos, sociais e
culturais, o Estado tem o direito de auto determinar-se nos seus assuntos internos, sem qualquer ingerência externa. Ficam no ar as
perguntas: todos os Estados dispõem dos recursos necessários para tornar efetivos os direitos de Segunda geração? Quantos Estados
têm condições de se autodeterminarem nas relações externas? Onde a nova ordem recomendada?
Talvez seja oportuno descortinar a realidade mundial advinda depois da Última Grande Guerra: a) consolidação da hegemonia norte-
americana no campo capitalista; b) constituição do sistema socialista internacional sob a liderança da URSS (cujo sistema-satélite
recém-desintegrou-se); c) supressão do colonialismo; d) industrialização das periferias; e) formação e consolidação das corporações
transnacionais (ou multinacionais); f) desenvolvimento da revolução científico-tecnológica baseada na contínua automação do
processo produtivo.
Junto com a valorização do ideal democrático, ocorreu a divisão do mundo em dois blocos de poder – Estados Unidos (Ocidental
capitalista) x União Soviética (Comunismo). Com estes, teve início à “guerra fria”, com a instalação de bases militares norte-
americanas na Europa Ocidental, a teoria do “perigo comunista” e a venda de armamentos. Os soviéticos, por sua vez, também
construíram sua bomba atômica e cuidaram de assistir a seus aliados. E a humanidade passou a viver não mais sob a ameaça de
conflitos convencionais, de genocídios e matanças localizadas, mas sob o signo da destruição total.
Por outro lado, a nova relação internacional desse pós-guerra apresentou novos autores, com o processo de descolonização da Ásia e da
África e as lutas contra o racismo e o “apartheid”, ensejando inclusive a oficialização do movimento dos países não-aliados (não
participação em blocos militares), através da célebre Conferência de Bandung (Indonésia), em 1955. Aliás, essa Conferência ratificou o
princípio da “autodeterminação, que desde a Carta da ONU (1945), vinha servindo de base legal para a histórica campanha que fez
soçobrar quase por completo o colonialismo. Nesse ponto, impõe-se um parêntese: é impossível negar que a breve história política
desses povos, vindos de conquistar a independência, demonstra suficientemente que a autodeterminação de cada qual foi, em grande
parte, fictícia. Faltavam-lhes, por certo, os meios para satisfazer as mínimas demandas da população, num sério questionamento aos
solenes enunciados de direitos.
A par disso, o panorama mundial apresentou, nas duas últimas décadas, uma nova e complexa gama de situações, a influir na realidade
e nos anseios do Terceiro Mundo. O risco da solução final, de um descomunal conflito nuclear “sem vencedores”, levou ao câmbio das
regras da guerra fria pelas da coexistência pacífica. No bojo desse arranjo de conveniências – dos anos 70 para os 80 -, o conflito, a
competição e a cooperação vieram operando no quadro de uma ampla confrontação industrial e tecnológica que, nos seus
desdobramentos, mantiveram e ampliaram a repartição do mundo em dois segmentos de países: um desenvolvido (Norte) e outro
subdesenvolvido (Sul). E mais, a rápida modernização do planeta, o domínio da comunicação e da informação, o aumento da
produtividade de uns poucos pela informatização (Japão, Estados Unidos e alguns países europeus), a relativa “Pax Americana” diante
do colapso da URSS), a impraticabilidade de um desarmamento real e a formação de megamercados regionais, são alguns outros
fatores a comprovar o agravamento do desnível Norte-Sul na presente década.
Essa rápida análise, por modesta que seja, revela uma nova etapa na evolução e no conceito de direitos Humanos. Assim, a terceira
geração de direitos surge na paulatina conscientização, por parte das nações menos desenvolvidas, da necessidade de uma mudança de
situação, com condição primordial ao alcance dos meios que permitam a plena vigência dos direitos humanos.
A indissociabilidade dos direitos individuais e coletivos, bem como a consciência de que sua fruição por inteiro é proporcional ao
esforço conjugado do Estado, do indivíduo, dos grupos sociais e das diferentes nações, levaram os países pobres a encetar movimentos
e reivindicações comuns, inclusive valendo-se de eventuais relações multilaterais, como ocorreu com a proposta de “patrimônio
comum da humanidade” quanto aos recursos dos fundos oceânicos, defendida pelo “Grupo dos 77” – número originário do bloco dos
países terceiro-mundistas, articulado dentro da ONU, nos anos 70.
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Foi com esse espírito que, na Conferência de Argel, em 1976, um grupo de países do Sul proclamou a “Declaração dos Direitos dos
Povos”. Nela propuseram a busca de “uma nova ordem política e econômica e internacional, em cujo contexto possa dar-se “o respeito
efetivo dos direitos humanos”. E, no mesmo ano, a V Conferência de Cúpula dos Países Não-Aliados, em Sri Lanka (ex-Ceilão),
definiu – com validade hodierna: “Só uma reestruturação total das relações econômicas internacionais, mediante o estabelecimento de
uma nova ordem econômica internacional, permitirá aos países subdesenvolvidos alcançar um nível aceitável de desenvolvimento”.
Corroborando com tais assertivas, o “Simpósio de especialistas sobre o tema dos direitos de solidariedade e direitos dos povos”,
convocado pela UNESCO, em San Marino (1984), concluiu que os direitos proclamados (através da ONU) são os direitos dos povos à
sua existência, à livre disposição dos recursos naturais próprios, o direito ao patrimônio natural comum da humanidade, à
autodeterminação, à paz e à segurança, à educação, à informação e à comunicação, a um meio ambiente são ecologicamente
equilibrados. O corolário desses direitos todos vem a ser o direito ao desenvolvimento, “de cuja realização se deriva, com efeito, o
respeito da maioria dos demais direitos e liberdades dos povos” (art. 38).
O tema do “direito ao desenvolvimento” tem originado debates e levantado muitas expectativas na conjuntura contemporânea.
Definido como um conjunto de princípios e regras no fundamento dos quais o homem, enquanto indivíduo ou membro do corpo social
(Estado, nação, povo...) poderá obter, na medida do possível, a satisfação das necessidades econômicas, sociais e culturais
indispensáveis a sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade. Quanto a esse direito, que os seus credores são os
indivíduos, os povos e os Estados, enquanto os devedores se resumiriam na totalidade da comunidade internacional. A ONU, em
algumas de suas resoluções, já incluiu o direito ao desenvolvimento nos direitos humanos. Por último, renomados estudiosos
consideram-no, ao mesmo tempo, como um direito do Estado e um direito da pessoa humana.
Para muitos, na sociedade internacional em que vivemos, caracterizada por uma verdadeira “revolução mundial” – composta de uma
série de “revoluções contínuas” – criam corpo às exigências de novas medidas e mentalidades quanto à aplicação dos direitos humanos
na perspectiva dos interesses coletivos. Dessa forma, a redefinição da ordem internacional, no interesse dos povos do Terceiro Mundo,
aponta para os seguintes requisitos:
Reconhecimento do direito a um desenvolvimento livre de ingerências externas, que não implique em qualquer forma de dominação,
hegemonia ou atrelamento, com rigoroso respeito à integridade territorial desses países e inviolabilidade de suas fronteiras;
Reconhecimento de plena soberania dos países do Sul sobre os seus próprios recursos naturais e atividades econômicas essenciais,
também assegurando-se-lhes, de fato, a completa igualdade nas relações econômicas internacionais;
Criação de mecanismos internacionais para firmar uma redistribuição justa das receitas procedentes do intercâmbio econômico em
favor dos países subdesenvolvidos. Isso inclui o direito de controlar as atividades e lucros das multinacionais, uma política democrática
de preços das matérias-primas, e, a ampliação da ajuda financeira e técnica aos países atrasados/dependentes;
O predomínio da cooperação e da multipolaridade entre nações, sujeitando-se o exercício da soberania ao princípio da “função social”;
O direito a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, o que questiona os modelos desenvolvimentistas adotados;
O direito à utilização do “patrimônio comum da humanidade”, ou seja, o acesso compartido dos povos aos recursos do alto-mar, dos
fundos oceânicos, do espaço exterior e das regiões polares.
Assim, tais direitos dos povos ou de solidariedade podem e devem servir às transformações imprescindíveis na conjuntura mundial,
conforme vão se consolidando como instrumento de moralidade política internacional, favorecendo o desenvolvimento de relações
justas, equânimes, pacíficas e solidárias.

SÍNTESE DA 3ª DIMENSÃO - Os direitos fundamentais até então assegurados, tinham como destinatário o homem enquanto
indivíduo. Já o direito fundamental de Terceira Dimensão tem como traço característico o fato de não mais estarem centrados
no homem individualmente considerado, mas sim na coletividade. Surgem os direitos coletivos e difusos.
Neste contexto, depreende-se que a terceira geração ou terceira dimensão, que foram desenvolvidos no século XX, tendo como
marco inicial, o fim da 2ª Guerra Mundial (criação da ONU – 1945) seriam os Direitos da Fraternidade entre os povos, no qual
está o direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, paz universal, etc. Essa geração é
dotada de um alto teor de humanismo e universalidade, pois não se destinavam somente à proteção dos interesses dos
indivíduos, de um grupo ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente,
à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade.
Como exemplo pode-se citar o direito a paz, ao meio ambiente e a conservação do patrimônio cultural.

A PROTEÇÃO INTERNACIONAL - DOS DIREITOS HUMANOS


Os direitos humanos são cada vez menos matéria de jurisdição doméstica dos Estados Unidos, para cada vez mais interessar e obrigar a
totalidade da vida internacional. A solidificação e a prática desses direitos, porém, se estribam em três premissas inconfundíveis: a sua
entronização e respeito na ordem interna de cada país; a sua incorporação no direito internacional; e, a criação de instrumentos de
controle que impunham a sua aplicação.
Na verdade, o problema de fundo dos direitos humanos, hoje em dia, não é tanto o de declará-los ou de encontrar argumentos para
justificá-los – que existem, e muitos -, mas sim o de protegê-los. Vale dizer, a sua realização se situa no terreno político, e não
filosófico.
O primeiro passo, taxativamente, foi à transposição desses valores basilares para as Cartas Políticas que se tornaram praxe com os
movimentos revolucionários do século XVIII, fórmula com que se buscou conferir-lhes o máximo de eficácia. Assim, os direitos
individuais (civis e políticos) e os direitos coletivos (econômico, social e cultural) foram, aos poucos, integrando os textos
constitucionais ou a legislação positiva da maioria dos Estados. Contudo, a experiência tem demonstrado tanto no passado como no
presente, que muito embora afirmadas e garantidas constitucionalmente, as liberdades públicas – assim nominadas a positivação, pelo
poder estatal, das duas classes de direitos – não raramente se apresentam divorciadas da realidade do povo. Essa circunstância
dicotômica, encontrada em muitos países – ontem ou hoje -, deve ser atribuída a um claro desvirtuamento da própria idéia de
Constituição, ardilosamente perpetrada pela classe dirigente, mas que não invalida a contínua necessidade desse instrumento na
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efetivação dos postulados democráticos. Sobre esse tema (Constituição), sua importância e alguns desdobramentos, vejam-se o
capítulo Constituição e Cidadania.
Por outro lado, os desequilíbrios sociais impulsionados pela Revolução Industrial e os efeitos múltiplos das duas grandes guerras da
primeira metade do século XX, sacudiram a consciência mundial e levaram – Estados, grupos sociais e indivíduos – a valorizar o tema
dos direitos e garantias da pessoa humana, na evidência de que ninguém poderia ter ou desfrutar das liberdades enquanto perdurassem
as estruturas sociais injustas. Portanto, a começar com a Carta das Nações Unidas (1945), a explicitação e a defesa dos direitos
humanos ganharam relevo inusitado, cada vez mais merecendo a atenção e mesmo sendo objeto direto de inúmeras declarações e atos
jurídicos internacionais (bilaterais ou multilaterais, celebrados por Estados ou Organizações).
Ora, o prévio reconhecimento do ser humano como sujeito de direito das normas internacionais é a condição “sine Qua non” para se
discorrer sobre a proteção dos direitos básicos na ordem internacional (da Segunda metade do século) – sem desacreditar o acervo
contributivo existente, de maneira especial o gestado no período entre-guerra (1919-1938). Nesse particular, a maior parte dos
doutrinadores contemporâneos defende a posição de que são sujeitos de Direito Internacional: os Estados, as organizações externas, o
próprio homem; isto é, cada ente que possuir direitos e deveres perante o regramento jurídico internacional. Existem duas fortes razões
para o homem ser considerado pessoal internacional:
a) a própria dignidade humana, que leva a ordem jurídica internacional a lhe reconhecer direitos fundamentais e procurar protegê-los;
b) a própria noção de direito, “obra do homem e para o homem”. De fato, com a democratização do Dir Int, não se pode mais negar a
personalidade internacional do indivíduo;
O homem é tão pessoa internacional quanto o Estado, apenas a sua capacidade jurídica e de agir é bem mais limitada. Inclusive, é
expressivo o fato de já se notar inúmeros autores que pregam um Direito Internacional dos Direitos Humanos como uma
especificidade, porque ele é posto em movimento pelo indivíduo, enquanto o Dir Int Geral o é pelo Estado. Assinale-se, igualmente,
que a década de 80 foi caracterizada por um rico desenvolvimento dessa área jurídica, tanto na interpretação dos direitos fundamentais
como na criação e florescimento de mecanismos mais eficazes para sua proteção.
A par disso, tornou-se necessária à instalação de instâncias ou mecanismos controladores da ação dos Estados, quer para fazê-los
respeitar os direitos da população de seu território, quer para impedi-los a honrar os princípios do direito internacional. Esses
organismos se classificam em universais e regionais, diferenciando-se de acordo com sua composição, seus objetivos e métodos de
trabalhos e, por derradeiro, sua competência.
Nessa altura, a questão que se coloca para o Direito Internacional é que lhe faltam o poder coercitivo, por não se vislumbrar
mundialmente um órgão de controle direto e fiscalizador, com aptidão de exigibilidade sobre as ações violadoras de um Estado. Os
atos dos sistemas (universais/regionais) de proteção existentes têm apenas um caráter moral, de repreensão ao Estado infrator e de
alerta à comunidade internacional, intentando fazer cessar a violação. Em outras palavras, o Direito Internacional, contrariamente ao
Direito interno, não tem governo nem polícia, e seus tribunais de justiça não têm jurisdição obrigatória, ou seja, eles só julgam e
decidem se entre as partes envolvidas houver um acordo nesse sentido, aceitando o julgamento e a executoriedade da sentença que for
lavrada.
Ademais, acabam se chocando os mecanismos de controle com o velho conceito limitado de soberania nacional, que tem como
corolário o princípio da “não-intervenção” em assuntos de responsabilidade interna de cada Estado. Essa concepção irrestrita de
soberania impede as ações efetiva dos organismos estabelecidos na sociedade internacional para a defesa dos direitos gerais da
humanidade.
A dificuldade de punir os Estados transgressores, enquanto compreendidos os sistemas de proteção internacional como expressão
exclusiva das conveniências estatais, tem levado não poucos experts” a denunciar uma diferença de tratamento nessa matéria motivada
por uma compreensão bipartida dos direitos humanos. Assim, os direitos individuais (civis e políticos), institucionalizados há mais de
trezentos anos, encontram-se amparados, dentre outros meios, pela faculdade que têm os particulares e os Estados de apresentarem
denúncias de violação a órgãos internacionais (comissões ou tribunais especializados); das investigações pertinentes pode-se chegar à
cessação coativa da ilegalidade e mesmo, à reparação dos danos causados. Os direitos coletivos (econômicos, sociais e culturais),
entretanto, quiçá porque elaborados mais recentemente, gozam de menor arrimo, que consiste em o mais das vezes numa espécie de
controle político do cumprimento das obrigações assumidas pelos Estados; os organismos se cingem a fazer “recomendações” de
caráter geral, pois boa parte das convenções não exige que os países implementem de imediato tais direitos. O procedi mento díspar
dispensado a tais categorias de direitos, lamentavelmente para a população terceiro-mundista, foi reforçado pela própria Assembléia
Geral da ONU, em 1966, quando aprovou dois Pactos Internacionais distintos: um sobre “Direitos Econômicos, Sociais e Culturais” e
outro sobre “Direitos Civis e Políticos” – fórmula na época considerada mais propícia à vinculação dos Estados, sem indicar com isso
uma ordem de precedência entre ambos os tratados.
Ao contrário do que pensam alguns, os direitos de segunda geração e os de terceira, não podem ser vistos como normas secundárias ou
inferiores, esvaziadas de anteparos legais e abandonadas aos casuísmos dos governantes. E aos Estados se inviabilizou, nas últimas
décadas, a possibilidade de esquivarem-se do compromisso/dever de defenderem e de proporcionarem o alcance dos direitos e
garantias essenciais com a surrada cantilena de que os grandes instrumentos nesse campo encerram “efeitos unicamente morais”. Essas
assertivas de há muito deixaram de ser polêmicas, dado o cunho imperativo que a ordem jurídica internacional decidiu conferir a tais
direitos, percebidos no conjunto de suas três gerações. Senão vejamos:
Os sistemas de proteção dos direitos capitais, logrando superar a ortodoxa distinção entre os tratados (como instrumentos vinculantes)
e as declarações (não obrigatórias), sujeitaram ao Estado aos dispositivos destas últimas. Em vista disso, a Carta das Nações Unidas
(1945) contém postulados obrigatórios para os países, uma vez que os direitos do homem é uma das finalidades da ONU; o seu
desrespeito ensejaria uma incongruência na própria sociedade internacional, já que os Estados-Membros poderiam violar um dos
objetivos da referida organização. Por seu turno, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) – que inicialmente carecia de
obrigatoriedade -, teve o seu conteúdo posteriormente incorporado ao direito consuetudinário através da prática dos Estados e dos
organismos (universais ou regionais). A obrigatoriedade da Declaração Universal foi, afinal, reconhecida pela Ata Final da
Conferência Internacional sobre Direitos Humanos, celebrada em Teerã (1968), ao aclamar que “a Declaração (de 1948) enuncia uma
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concepção, comum a todos os povos, dos direitos iguais e inalienáveis da todos os membros da família humana e a declara obrigatória
para a comunidade internacional”. Além disso, a Declaração Universal tem sido aplicada reiteradamente pela Assembléia Geral em
resoluções que condenam violações de direitos e tem exercido uma grande influência na legislação e nas constituições dos países, e
inclusive utilizada por tribunais nacionais. Por outro lado, não há qualquer fundamento válido para os Estados desconsiderarem a
estreita interligação e interdependência de todos os direitos humanos. Pelo contrário, nas últimas décadas intensificaram-se as decisões
e as recomendações sobre a executabilidade global dos direitos, precipuamente os de primeira e Segunda geração (individuais e
coletivos). O veredicto irrecorrível nessa questão foi dado pela Conferência de Teerã (1968), quando a ONU, comemorando o 20º
aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamou: “Sendo indivisíveis os direitos do homem e as liberdades
fundamentais, o gozo completo dos direitos civis e políticos é impossível sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais. Os
progressos duráveis através da aplicação dos direitos do homem supõem uma política nacional e internacional racional e eficaz de
desenvolvimento econômico e social”.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, houve o advento da Organização das Nações Unidas (ONU) em substituição a Liga das Nações
que não foi capaz de evitar os conflitos bélicos vivenciados neste século. Em 1948, foi promulgada a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que traz os chamados direitos humanos de 3ª geração, voltados para a garantia da vida, liberdade, devido processo
legal, juiz natural, ampla defesa e contraditório, princípio da inocência, entre outros.
Conjuntamente com essas garantias decorrentes da Carta elaborada pelas Nações Unidas, encontram-se os chamados sistemas
regionais de proteção dos direitos humanos, destacando-se os sistemas europeu, americano e africano.
O sistema interamericano de direitos humanos possui na Convenção Americana, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, o
seu instrumento mais importante voltado para a proteção dos direitos dos povos da América.
Para garantir os direitos previstos na Convenção, o sistema interamericano possui dois órgãos: a Comissão Americana de Direitos
Humanos, que tem a função de promover a observância e a defesa dos direitos humanos, e a Corte, que exerce funções jurisdicionais e
consultivas.
Apesar da atuação ainda limitada desses órgãos, uma vez que nem todos os países que ratificaram a Convenção Americana de Direitos
Humanos, deram a Corte Interamericana jurisdição para o julgamento de caso de violação dos direitos previstos no Pacto de São José
da Costa Rica, estes têm contribuído para a defesa e garantia dos direitos fundamentais frente às violações praticadas pelos Estados e
autoridades que preferem o arbítrio ao invés da observância da Lei.
Com o retorno da democracia à maioria dos países da América Latina e Central, a Convenção vem ganhando força e importância junto
ao direito nacional de cada Estado membro da Organização das Nações Unidas.
Na atualidade, falta uma maior divulgação do Pacto de São José da Costa Rica, e uma redefinição do papel a ser desenvolvido pela
Comissão, como garantidora dos direitos previstos na Convenção, uma vez que a grande maioria das pessoas desconhece a existência
desse instrumento e o local onde podem apresentar suas reclamações em caso de desrespeito das garantias fundamentais.
A América ainda enfrenta prisões ilegais, violações ao direito à vida, ao devido processo legal, do juiz natural e tantos outras,
relacionadas com o desaparecimento de presos políticos, que muitas vezes ficam no anonimato.
É preciso um aprimoramento no sistema interamericano, para que este possa estar mais próximo das dificuldades enfrentadas na defesa
dos direitos humanos, garantindo o acesso a Corte Interamericana de Direitos Humanos, para se evitar novas violações aos direitos
consagrados na Convenção Americana.
A Comissão e a Corte vêm cumprindo com o seu papel na defesa dos direitos humanos, denunciando os casos mais sérios de abuso dos
direitos previstos no Pacto de São José da Costa Rica. Mas, para se evitar outras espécies de violações se faz necessário uma maior
divulgação desses órgãos, inclusive com a criação de escritórios regionais, para que os nacionais dos Estados Membros da Organização
dos Estados Americanos possam apresentar suas reclamações.
Aos poucos, a América se liberta da opressão das espadas e do julgo dos ditadores, sejam eles de esquerda ou de direita, para que cada
americano em qualquer rincão deste continente possa se sentir um cidadão livre para conduzir sua vida segundo os ditames da lei e da
sua consciência.

No Brasil, essa tendência humanitária só começou a ser efetivamente incorporada após o final da ditadura. Com a Constituição
Federal de 05/10/1988, carta esta cidadã e com os seus preceitos democráticos, o Brasil deu início a ratificar importantes
tratados de direitos humanos; a saber: a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (1989), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1990), o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
(1992), o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1992), a Convenção Americana de Direitos
Humanos/Pacto de San Jose da Costa Rica (1992), Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo (2007) (Decreto nº 6.949/09), dentre outros.

O ALUNO DEVERÁ DIFERENCIAR OS TRIBUNAIS E CORTE. TPI X CIJ X CIDH X AD HOC

O problema dos direitos humanos fundamentais no século XX, sobretudo na sociedade brasileira, não deve ficar de uma teoria da crise
política, cuja análise se faz imprescindível para podermos sondar o alcance e extensão das dificuldades que agora o País atravessa.
Com efeito, a crise política de uma nação pode percorrer três distintos graus nesta escala: em primeiro lugar a crise do Executivo, que
normalmente chega ao seu termo quando se muda a chefia de governo ou advém, de maneira bem sucedida, uma nova política; a
seguir, crise constitucional – de solução ainda possível – mediante uma Emenda à Constituição ou, nos casos mais graves e
excepcionais, por via da reforma total ou da promulgação doutra lei maior; enfim, se converte ela em crise constituinte, a de terceiro e
derradeiro grau quando deixa de ser tão somente a crise de um Governo ou de uma Constituição para se transformar em crise das
instituições ou da Sociedade mesma, em seus últimos fundamentos.
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Crise do Executivo: quando Getúlio Vargas entrou em conflito com o Congresso e, não podendo resolver a pendência, suicidou-se.
Crise Constitucional: a renúncia de Jânio Quadros e a introdução do Parlamentarismo do Ato Adicional. Já não se tratava então de
substituir um Governo, mas de alterar a própria forma de Governo, numa experiência, aliás, sem sucesso.
Crise Constituinte: finalmente, não se resolvendo a crise constitucional, mediante o retorno ao presidencialismo, cedo ela se converteu
na mais funesta de todas as crises: a crise constituinte, que recai sobre o Governo, a Constituição e a Sociedade.
Nessa crise submergimos durante todo o período autoritário em que o País se governou por Atos Institucionais e decretos-leis.
Toda vês que os desesperos coletivos somam os infortúnios gerados pelas três crises, produz-se a desmoralização política da sociedade
e os direitos fundamentais padecem muito com isso.

SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS – ONU E OEA


Carta das Nações Unidas (ONU) – 1945. Trouxe a proteção, mas não definiu o que são direitos humanos.
Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) – 1948.
Complementada por um instrumento internacional que não tem característica de tratado: Declaração Universal dos Direitos Humanos-
DUDH de 1948 com 30 artigos. Só possui normas materiais, não tem normas processuais.
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948, em Bogotá – Colômbia.
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, refere-se 1ª geração, com aplicação imediata e Previsão de Relatórios.
Convenção Americana dos Direitos Humanos ou Pacto de San José da Costa Rica de 1969. Só cuida de direitos civis e políticos. Visou
à proteção dos direitos de 1ª geração, porém, em seu artigo 26, refere-se à 2ª geração (por tratar-se de aplicação programática) –
Previsão da: CIDH e COIDH Ex: vida, liberdade, propriedade, casamento, direito de ir e vir, etc.
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, denominado Pacto de Nova York, refere-se à 2ª geração,
como exemplo, Educação, Cultura, etc. e tem aplicação programática, ou seja, ao longo do tempo.
CRONOGRAMA HISTÓRIO
DATA FATOS|
MARCO DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO 1789 –
REVOLUÇÃO FRANCESA
1914 A 1918 1ª GUERRA MUNDIAL
1919 A 1939 LIGA DAS NAÇÕES – GENEBRA SUIÇA (1ª ONU)
1939 A 1945 2ª GUERRA MUNDIAL
1945 CRIAÇÃO DA ONU
1945 - 1946 TRIBUNAL DE NUREMBERG
1948 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
1948 CRIAÇÃO DA OEA – BOGOTÁ/COLÔMBIA
1969 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS 1969 –
PACTO DE SÃO JOSÉ – COSTA RICA
ONU (NY) - 1945 OEA (W) - 1948
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE
DIREITOS HUMANOS – 1948 DIREITOS HUMANOS 1969 – PACTO
CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS COMISSÃO INTERAMERICANA DE
(GENEBRA) DIREITOS HUMANOS (W)
CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
(HAIA) HUMANOS (SÃO JOSÉ)
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AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1) A Constituição Imperial 1824: A evolução constitucional brasileira tem seu marco inicial na Constituição Política do Império do
Brasil, de 25 de março de 1824, outorgada por D. Pedro I, resgatando, o compromisso que assumira quando dissolveu a Assembleia
Geral Constituinte e Legislativa, em 12 de novembro de 1823.
A Constituição monárquica de 1824 estruturou a organização dos Poderes do Império nos cento e setenta e nove artigos de seu texto
(art. 3o). No tocante à forma do Estado se estabeleceu um regime unitário, sendo as províncias administradas por um presidente de livre
nomeação do Imperador. Em cada província funcionava um Conselho Geral, que tinha competência para iniciar, propor e deliberar
sobre os assuntos da província, depois, apreciados pela Assembleia Geral dos Deputados (art. 71 e seguintes). Aspecto que a
singulariza no conjunto das Constituições brasileiras é a concepção do Poder Moderador, o poder neutro, qualificado de “chave de toda
a organização política” (art. 9, 98 e 101), o quarto poder político, que a Constituição do Império buscou na concepção doutrinária do
publicista Benjamim Constant. O Poder Moderador era exercido pelo próprio Imperador, destinava-se a velar pela independência,
equilíbrio e harmonia dos outros poderes. O Executivo era exercido por um Ministério, de livre nomeação e demissão do Imperador
(art. 131).
O Legislativo obedeceu à organização bicameral, dividindo-se a Assembleia Geral em duas Casas: a Câmara dos Deputados, eletiva e
temporária; e, o Senado, composto de membros vitalícios, oriundos de eleição provincial e escolha do Imperador, em lista tríplice dos
eleitos (art. 13 e seguintes).
O Judiciário estava organizado em órgãos colegiados, o Supremo Tribunal de Justiça, na Capital do Império, os Tribunais da Relação
na Capital do Império e nas demais Províncias, e órgãos monocráticos, os Juízes de Direito, os Jurados - Juízes de fato - e os Juízes de
Paz, que exerciam funções de conciliação antes do início de qualquer processo (art. 151 e seguintes).
A Constituição prescrevia as normas fundamentais da organização das Províncias e do Governo municipal (art. 165).
Encerrava o texto monárquico o enunciado das Garantias dos Direitos Civis e Políticos, uma Declaração de Direitos inspirada nos
princípios do liberalismo, protegendo a liberdade, a segurança individual e a propriedade (art. 179).
Como já vimos anteriormente, a Constituição declarava matéria constitucional, sujeita ao processo de reforma, o que se referisse aos
limites e atribuições dos Poderes Políticos, aos Direitos Políticos e Individuais, tudo o mais poderia ser alterado pela legislatura
ordinária (art. 178).
Na sua longa vigência, que completou sessenta e cinco anos, a Constituição foi emendada uma vez, pela Lei n. 16 de 12.08.1834,
denominado Ato Adicional, que estabeleceu as Assembleias Legislativas Provinciais, substituindo os Conselhos Gerais de Províncias,
dando-lhes ampla expansão, com nítidos sinais de tendência federalista. Este mesmo Ato criou o cargo de Presidente de Província,
eleito pelo Chefe da Nação. A Regência Una era quadrienal e eletiva.
É inegável que o sistema já sinalizava a forma federativa de Estado. O regime parlamentar implantou-se (informalmente) no Império, a
partir da criação do Presidente do Conselho de Ministros, em 1847, à margem da Constituição do Império, surgindo, pois, na prática,
de maneira moderada. Nesse contexto, o Segundo Reinado sustentou-se, em um regime conservador, economicamente baseado na
aristocracia dos cultivadores de açúcar e café, cujo desmoronamento com o abolicionismo acelerou a precipitação do movimento
republicano.
2) A Constituição Republicana de 1891: A crise das instituições monárquicas provocou uma radical mudança no sistema político-
econômico brasileiro. A abolição do trabalho escravo veio acelerar a utilização do braço livre e ampliação da indústria, com a
desagregação do mundo rural, deslocado para os centros urbanos, surgindo ainda, uma agravante, tão conhecida de nós, a inflação, sem
contar o abandono pela república os modelos do parlamentarismo franco-britânico, em proveito do presidencialismo norte-americano.
Esse é o quadro político-econômico à época.
A República foi proclamada pelo Decreto n. 1 de 15.11.1889, que também estabeleceu o regime federal. Pelo Decreto n. 29 de
03.12.1889, o Marechal Deodoro da Fonseca (Proclamador da República), Chefe do Governo Provisório, tendo por Vice Chefe Rui
Barbosa nomeou uma comissão de cinco membros para apresentar um projeto que servisse de exame à futura Assembleia Constituinte.
Em verdade, foram elaborados três anteprojetos, os quais foram corporificados em um único projeto aprovado pelo Decreto n. 510, de
22.06.1890, após modificações feitas por Rui Barbosa. Este projeto vigorou como “Constituição Provisória da República” até as
conclusões dos trabalhos da Assembleia Constituinte.
A Constituição de 24.02.1891 implantou a forma republicana de governo, a forma federal de Estado e o regime presidencial,
estabelecendo a separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), como órgãos autônomos e independentes, inaugurando
novo ciclo constitucional (artigos 1 a 15).
O Executivo era exercido pelo presidente da República, substituído nas suas faltas, impedimentos e vagas pelo vice-presidente. O
prazo de mandato era de quatro anos e a eleição direta, por maioria absoluta. Os ministros eram nomeados e demitidos livremente pelo
presidente (art. 41 e seguintes; 49).
O Legislativo - Congresso Nacional - era composto de “dois ramos”: a Câmara dos Deputados com representantes eleitos pelos
Estados e pelo Distrito Federal, pelo prazo de três anos e por sufrágio direto; o Senado com três senadores eleitos pelos Estados e pelo
Distrito Federal com mandato de nove anos, renovando-se trienalmente por 1/3(artigos 16 e seguintes; 28; e 30).
Enfim, o Judiciário tinha por órgãos o STF, afora juízes e Tribunais Federais espalhando-se pelo país inteiro, quantos o Congresso
criar (art. 55).
O Municipalismo foi amplamente desenvolvido, assegurando-se a autonomia dos municípios pela eletividade dos vereadores e
prefeitos (art. 68).
Capítulo importante foi, ainda, o da declaração de direitos e garantias (art. 69 e seguintes), destacando-se nesse conjunto o habeas
corpus, para reprimir violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder, e a garantia contra prisão arbitrária. Contudo, a
Constituição era puramente liberal. A industrialização do país não tinha se processado; não havia um proletariado organizado e a massa
campesina era absolutamente passiva, manejada pelos prepotentes usineiros e senhores de terra (“coronéis”). Deste modo, era um
documento que só enunciou as clássicas liberdades públicas.
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A Reforma de 1926: Em 07.09.1926, a Constituição de 1891 foi emendada, para introduzir alterações que ampliaram os casos de
intervenção federal, regularam o processo interventivo, criaram ou modificaram atribuições privativas do Congresso Nacional,
incluindo nesse elenco a legislação sobre o trabalho, consagraram o veto parcial, explicitaram a competência do Supremo Tribunal e de
Juízes Federais, excluíram a possibilidade de recurso judiciário, para a Justiça Federal ou local, contra a intervenção federal, a
declaração do estado de sítio, a verificação de poderes e outros casos, vincularam o habeas corpus à proteção da liberdade de
locomoção, dirimindo tendências ampliativas da doutrina e jurisprudência, tornaram expresso que a irredutibilidade de vencimentos
não eximia a obrigação de pagar impostos gerais. Deu também ao governo da União competência para regular o comércio em ocasiões
graves que reclamassem uma atitude de defesa econômica ou de prevenção contra as anormalidades
Percebe-se que o regime de 1891, individualista, a despeito da reforma de 1926, tornara-se inconciliável com as reivindicações
proletárias que empolgavam o mundo do pós-guerra. O Presidente Washington Luiz teimava em considerar a questão social como um
caso de polícia. A severidade de repressão policial não fazia mais do que aumentar a invencível reação da massa espoliada. Estava,
assim, irremediavelmente, fadada à extinção, a filosofia política adotada pela Primeira República. No Brasil e no mundo, o Estado
deveria deixar aquela posição de neutralidade inspirada no romantismo político do século XVIII, para intervir como árbitro na luta
entre o capital e o trabalho; promover a justiça social e humanizar a democracia. Manter os princípios do individualismo político e do
liberalismo econômico seria aceitar a completa falência do Estado democrático.
A Revolução de 1930: A intransigência do governo central brasileiro fez com que a inevitável transformação política viesse de baixo
para cima, partindo das camadas populares que, sob a liderança dos Estados do Rio Grande do Sul (Getúlio Vargas), Minas Gerais e
Paraíba (João Pessoa) empunharam a libertação nacional com a Revolução de outubro de 1930, que se propagou rapidamente, com
apoio do povo, dos estudantes, dos operários e das Forças Armadas, estas últimas depondo o Presidente Washington Luiz e,
compondo-se numa Junta Governativa Provisória. Getúlio Vargas assume o governo provisório, expedindo-se a Lei Orgânica do
Governo Provisório, pelo Decreto n. 19.398 de 11.11.30, a fim de organizar a nova República.
De início, foram instituídos dois ministérios novos: Ministério da Educação, Cultura e Saúde Pública e o Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio.
Saliente-se que o Governo Provisório nomeou uma comissão a fim de elaborar o anteprojeto da nova ordem constitucional. Contudo,
ainda que sua preocupação fosse às justas reivindicações das classes trabalhadoras, pela instituição de um regime baseado na nova
concepção socialdemocrata, já se lhe percebia indisfarçável tendência à perpetuidade no poder, restringindo cada vez mais as
conquistas democráticas da nacionalidade.
Considerando que o Governo Provisório deixou de convocar a Assembleia Constituinte, contrariando os compromissos populares, este
Governo torna-se alvo de uma campanha em favor da restauração da normalidade constitucional, a qual teve apoio em muitos dos
partidários da revolução.
Nesta ocasião, surge a Revolução Constitucionalista de São Paulo (julho de 1932), chefiada por Pedro de Toledo, interventor federal
naquele estado, com objetivo único de retorno à ordem constitucional. No entanto, esta foi vencida por forças do Governo Federal,
fixando esta data para as eleições da Assembleia Constituinte que se instalou em novembro de 1933. Inicia-se, agora a denominada
“Segunda República”.
3) A Constituição de 1934: Mantêm o federalismo, já consolidado no país, avançando, ainda mais no municipalismo, atribuindo-lhe
os impostos municipais e introduz no texto constitucional os direitos econômicos e sociais, que vão compor os novos títulos dedicados
à Ordem Econômica e Social, à Família, Educação e Cultura.
O Estado intervencionista amplia o elenco dos poderes federais. Mantém o regime tradicional da divisão de poderes, como poderes
independentes e coordenados entre si. No entanto, na organização do Legislativo, transforma-o numa organização monocameral,
reduzindo, pois, o Senado em simples órgão de Colaboração dos Poderes, dando à Câmara uma composição mista, semicorporativa, a
qual ficou com duzentos e cinquenta deputados eleitos pelo povo e, cinquenta eleito pelas organizações profissionais. Essa bancada
classista dividia-se em quatro categorias distintas: lavoura e pecuária; indústria; comércio e transporte; e, profissões liberais e
funcionários públicos.
No Executivo, eliminou-se o vice-presidente da República, conservando o exercício monocrático desse Poder pelo presidente da
República. Permitiu-se que os ministros comparecessem ao Congresso para esclarecer ou solicitação de medidas.
No Judiciário, deu-se a integração das Justiças Militar e Eleitoral como órgãos desse Poder.
A instituição do mandado de segurança ampliou a proteção dos direitos individuais. O direito de propriedade passou a sofrer o
contraste do interesse social ou coletivo, reduzindo a plenitude asseguradora da Constituição de 1981.
O intervencionismo econômico conferiu à União a faculdade de monopolizar determinada indústria ou atividade econômica, por
motivo de interesse público.
O texto de 1934 sofreu três emendas, em dezembro de 1935, reforçando a segurança do Estado e as atribuições do Poder Executivo,
para coibir “movimento subversivo das instituições políticas e sociais”. Tais emendas foram: a primeira equiparava o estado d e
comoção intestina grave ao estado de guerra; a segunda permitia a perda da patente e posto, sem prejuízo de outras penas, ao oficial
das Forças Armadas que participasse do movimento subversivo ou praticasse ato subversivo das instituições político-sociais; a terceira
permitia a demissão de funcionário civil, sem prejuízo de outras penas, em idênticas condições à dos oficiais.
O Golpe de Estado de 1937: Getúlio Vargas diante dos receios das mudanças na estrutura socioeconômica vigente não excitou e,
numa violação à ordem constitucional vigente e aos princípios democráticos instalou o regime autoritário com o Golpe de Estado em
10.11.1937, outorgando uma nova Constituição, modificando, pois, as bases da ordem constitucional anterior.
4) A Carta Constitucional de 1937: Em 10 de novembro de 1937, o Presidente da República, Getúlio Vargas, revoga a Constituição
de 1934, dissolve o Congresso e outorga ao país, sem qualquer consulta prévia, a Carta Constitucional do Estado Novo, de tipo
fascista, com a supressão dos partidos políticos e a concentração de poder nas mãos do chefe supremo, ele, Getúlio Vargas.
As modificações foram às seguintes: suprimiu-se o nome de Deus; outorgou-se poderes amplos ao presidente como a suprema
autoridade do Estado, alterando a sistemática do equilíbrio dos poderes; restringiu as prerrogativas do Congresso Nacional e a
autonomia do Judiciário, já que em certas hipóteses, o Presidente podia ir de encontro com aquele, fazendo valer a lei se o Judiciário a
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considerasse inconstitucional(art. 96, parágrafo único); ampliou ao prazo do mandato do presidente da República; mudou o nome do
Senado para Conselho Federal; instituiu o Conselho de Economia Nacional como órgão consultivo; limitou a autonomia dos Estados-
membros; criou a técnica do estado de emergência, que foi declarado pelo art. 186; dissolveu a Câmara, o Senado, as Assembleias
Legislativas e Câmaras Municipais( art. 178); marcou novas eleições após o plebiscito a que se refere o artigo 187, o qual nunca
chegou a se efetivar; restaurou a pena de morte( art. 122 n. 13).
Na realidade, a Carta nunca foi cumprida: o Governo nunca a respeitou, pois, não realizou a consulta plebiscitária nem convocou as
eleições para composição do Legislativo. Acumulando as funções legislativas com a faculdade de expedir decretos-lei, até mesmo
sobre assuntos constitucionais e, exercendo, ainda, controle político sobre o Judiciário, o Chefe de Estado personificava todo o poder
de Estado.
Contudo, o regime de índole fascista, com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra, houve uma profunda crise nas ditaduras
direitistas internacionais e, o Brasil, não podia deixar de acompanhar a derrota daquele regime. Getúlio Vargas tentou, em vão,
sobreviver e resistir. No entanto, diante da reação popular e com apoio das Forças Armadas, o poder é entregue ao Presidente do STF
(José Linhares), após a deposição do ditador, ocorrida em 29.10.45. O novo presidente constituiu logo outro Ministério revogou o
artigo 167(estado de emergência) da Carta Constitucional e pela Lei Constitucional n. 14 de 1945 acabou com o Tribunal de Segurança
Nacional.
As eleições realizadas ao fim de 1945 deram a vitória ao General Eurico Gaspar Dutra, empossado em 1946 e, que governou mediante
decretos-lei, enquanto a nova Constituição não fora votada.
5) A Constituição de 1946: Esta Constituição retomou a linha democrática de 1934. É texto que se distingue pelo equilíbrio das
soluções adotadas, refletindo a homogeneidade que prevaleceu nas deliberações da Assembleia Nacional Constituinte.
Manteve em suas linhas o Regime Representativo, a Federação e a República. De um modo geral, repete os pontos de vista essenciais
existentes na Constituição de 1934. Não aderiu ao socialismo nem tampouco se manteve na linha rígida do individualismo. Inspirou-se
na técnica da democracia social alemã (Weimar - 1919).
Restabeleceu-se o bicameralismo, fundado na equivalência das competências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. O regime
presidencial continuou dominado pela figura solar do presidente da República. Seu vice-presidente retorna à composição do Executivo,
cabendo-lhe a presidência do Senado. Incorporam-se ao Judiciário a Justiça do trabalho e o Tribunal Federal de Recursos.
Consagrou-se a ortodoxia do regime, vedando a organização, o registro ou o funcionamento de partido político ou associação que
contrariasse o regime democrático, fundado na pluralidade dos partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem.
Estipulou-se na Ordem Econômica Social o condicionamento do uso da propriedade ao bem-estar social. Manteve-se a faculdade
intervencionista da União no domínio econômico, limitando a intervenção à exigência do interesse público e o respeito aos direitos
fundamentais assegurados.
A dimensão da matéria constitucional dilatou-se para abranger as disposições sobre a Família, a educação, a Cultura, as Forças
Armadas e os Funcionários Públicos.
A Emenda Parlamentarista: Entre as emendas promulgadas no regime de 1946, destacamos, a Emenda Constitucional n. 4, de
1961(denominado Ato Adicional), motivada por outra crise político-militar com a renúncia de Jânio Quadros, então presidente, a qual
instituiu o regime parlamentarista, que já era conhecido de nós no período imperial. O parlamentarismo admitiu uma dualidade de
Poder Executivo, com o Presidente da República e um Presidente do Conselho de Ministros. Contudo, considerando que a referida
Emenda previa a consulta popular, através de um plebiscito, este realizado em janeiro de 1963, consagra o regime presidencialista,
restaurando-se os poderes tradicionais ao Presidente da República.
A “Revolução” de 1964: João Goulart se empenha nas suas tendências reformistas e as questões sociais deslocam-se para as grandes
massas rurais, onde se inicia um movimento de iniciativa da classe trabalhadora, antes passiva e, agora, atuante reivindicando antigos
pleitos camponeses, como a reforma agrária, entre outras e, nesse clima, setores conservadores da sociedade e militares, receosos das
mudanças pretendidas, depõem, em 31.03.1964, o então Presidente João Goulart e, elegem o Presidente Marechal Castelo Branco,
valendo-se do Congresso Nacional, para legitimá-lo. A partir daí e, especialmente com a edição do Ato Institucional n. 5, de 1968,
surge um novo ciclo na história recente do país: governos (militares) autoritários onde, gradativamente, as liberdades públicas do
cidadão foram ameaçadas e violadas em nome de uma ideologia de segurança nacional.
A pluralidade de emendas - ao todo vinte - constitucionais fragmentou a Constituição em normas esparsas e a expedição de quatro
Atos Institucionais apressaram a ruptura do texto, mergulhando o regime político no autoritarismo incompatível com as fontes liberais
da Constituição de 1946.
6) A Constituição de 1967/ Emenda Constitucional 1/1969: O Governo revolucionário de 64 conservou o Congresso Nacional, em
caráter meramente departamental. Mantinha a Constituição de 1946, como um símbolo da legalidade democrática, havendo-a, porém,
como um instrumento maleável, como era preciso para levar a efeito um enérgico programa de “salvação nacional”.
Contudo, aquele Governo, valendo-se da Constituição de 1946, reuniu as normas editadas a partir de abril de 1964, fez as necessárias
adaptações e, as encaminhou ao Congresso Nacional para promulgar, mas evidentemente, trata-se de constituição outorgada pelo
Governo revolucionário, pois aquele Congresso não tinha, pois, função de constituinte: era sim, poder constituído e não constituinte,
por delegação, daí a discutível legitimidade da Carta Constitucional de 1967. E, o Congresso a promulgou em 24.01.1967 por uma
gestão política do Governo.
A Constituição de 1967 mais sintética que a precedente, manteve a federação, com maior expansão da própria União, exigindo uma
maior simetria constitucional dos Estados-membros.
O processo legislativo abreviou-se com a adoção da legislação de urgência, dentro de prazos constitucionalmente fixados. Outro
acelerador da legislação residiu na delegação legislativa, que não se utilizou, preferindo o Executivo valer-se da legislação de urgência
e da legislação direta por intermédio dos decretos-lei. Esses instrumentos ampliaram os poderes presidenciais e levaram à exacerbação
do presidencialismo.
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A Constituição adotou a eleição indireta do Presidente da República, por colégio eleitoral formado pelos membros do Congresso e
delegados indicados pelas Assembleias Legislativas, suprimindo a eleição popular invariavelmente adotada nas Constituições Federais
anteriores.
O Judiciário sofreu mudanças no tocante à suspensão das garantias dos magistrados.
Contudo, a Constituição de 1967 foi também rompida, como a de 1946, pela sucessiva expedição de Atos Institucionais a começar do
Ato no. 5 de 13 de dezembro de 1968, motivado por uma nova “crise político-militar”, no mesmo modelo do Ato Institucional no. 1, a
que se segui o Ato Complementar n. 38, de 13.12.68, pelo qual se decretou o recesso do Congresso Nacional, substituindo o regime
presidencial pela ditadura presidencial. Durante sua vigência, que durou vinte e um anos, até a promulgação da Constituição de 1988, a
Constituição recebeu vinte e sete emendas.
A Emenda Constitucional n. 1/1969: A Emenda referida constitui verdadeira consolidação do texto único constitucional, que muitos
a confundem com nova Constituição, com as seguintes alterações: elevação do mandato presidencial para cinco anos; eleições indiretas
para Governadores dos Estados, em 1970, entre outras.
Entre as posteriores emendas, destacamos: a Emenda n. 7/1977 introduziu significativas mudanças no Judiciário; a Emenda n. 11/1978
reforçou os poderes extraordinários de crise, instituindo as Medidas de Emergência e o Estado de Emergência; a Emenda n. 15/1980, já
em fase da gradativa liberalização do regime político, restabeleceu o voto direto nas eleições para Governador de Estado e Senador; as
Emendas ns. 22/1982 e 25/1985 restabelecem, respectivamente, as eleições diretas para Prefeitos, Presidente e Vice-Presidente da
República e, finalmente, a Emenda Constitucional no. 26/1985 que dispôs sobre a Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana,
encarregada de elaborar a nova Constituição Federal.
7) A Constituição Federal de 1988: Ao contrário das Constituições anteriores, que consolidaram instituições e deferiram ao legislador
ordinário à incumbência de promover as medidas antecipadoras preconizadas no texto constitucional, a Constituição de 1988 não se
limitou à consolidação e ao aprimoramento das instituições. Desde logo, consagrou cláusulas transformadoras com o objetivo de
alterar relações econômicas, políticas e sociais, dentro de concepção mais avançada sobre os fins do Estado, do Poder, da Sociedade e
da Economia. Ainda não é uma Constituição socialista, mais as regras socializantes são abundantes.
Saliente-se que a Constituição, logo em sua abertura, no Título II, adotou a expressão “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”,
acompanhando o constitucionalismo europeu, procurando dar ao tema, destaque especial, dando-lhe precedência sobre a Organização
do Estado e dos Poderes, invertendo, pois, a técnica formal das anteriores Constituições. Os Direitos e Garantias Fundamentais
expandiram-se nos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, prestigiando uma tendência processual da ação coletiva, de maior
alcance social, e nos Direitos Sociais, aumentando o conteúdo material desse campo constitucional.
Concebeu nova repartição de competências entre a União, os estados e o Distrito Federal. Conferiu ao Município poder de auto-
organização. O Congresso Nacional recebeu amplas atribuições, compatíveis com sua função de órgão ativo na elaboração legislativa e
no controle do Executivo e da Administração Federal. No Judiciário, novos órgãos passaram a integrá-lo, visando à descentralização
jurisdicional e o descongestionamento dos Tribunais. Regras de idêntica inspiração foram endereçadas à Justiça dos Estados, de forma
assegurar a prestação jurisdicional.
No sistema tributário, promoveu-se profunda reformulação na distribuição dos impostos e na repartição das receitas tributárias
federais, com o propósito de fortalecer financeiramente os Estados e Municípios.
Por outro, o conteúdo material da Constituição ampliou-se consideravelmente pela inclusão de temas novos. Na Ordem Econômica
introduziram-se as regras e os novos títulos que designam a Política Urbana, a Política Agrícola e Fundiária e o Sistema Financeiro
Nacional. Na Ordem Social, a temática inovadora acha-se distribuída no capítulo da Seguridade Social e Assistência Social.
Constituem matéria nova, os temas relativos à Ciência e Tecnologia, Comunicação, Meio Ambiente, Criança, Adolescente e Idoso.
Alargou-se, por igual, materialmente, o tratamento dispensado aos povos indígenas e os recursos.
Lembramos, que é função da Constituinte captar e depositar na estrutura normativa da Constituição as aspirações coletivas da época de
sua elaboração. A permanência da Constituição dependerá do êxito do constituinte na recepção das aspirações de seu tempo, de modo a
estabelecer a coincidência entre a Constituição normativa e a Nação que ela deverá servir.
A Constituição Federal é a lei suprema de um Estado, elaborada por uma Assembleia Constituinte, que subordina, limita, orienta todo
o ordenamento jurídico subalterno e estabelece o exercício do poder, tutelando os direitos individuais do homem, definindo seus
deveres para com o Estado e para com a própria coletividade.
Seu papel limitador do poder estatal exerce influência nas relações jurídicas existentes entre os homens e o Estado, restringindo abusos
por parte dos órgãos públicos e garantindo o livre exercício de seus direitos. Assim como também delega competências para todos seus
entes federativos, para que possam elaborar suas constituições, legislando concorrentemente em determinadas matérias com a União e
promovendo a eficácia das normas Constitucionais Federais através do princípio da supremacia.
Toda lei seja, de matéria constitucional ou não, possui vigência, ou seja, nasce e morre. Várias são as circunstancias em que, uma
norma perde sua vigência, entre ela está sua validade formal, ou melhor, eficácia. Através da eficácia as leis produzem os efeitos
almejados pelo legislador, vinculando todas as relações no qual esta abrange, ao seu controle. Extinguindo-se assim, a validade formal
destas normas, não existe motivo para que, determinadas leis continuem ainda a existirem. Assim sendo, através de procedimentos
específicos extinguiu-se a vigência destas normas, pois, a mesma não mais se adapta às novas realidades sociais.
Todas as Constituições devem ter mecanismo de evolução histórica, para que possam evoluir suas normas atendendo assim as
modificações sociais, de maneira que, o ordenamento jurídico vigente, não fique defasado e ultrapassado. Portanto, a Lei Suprema de
um Estado, está sempre em constante modificação, uma vez que, as mudanças sócias a obriga estar sempre adequada às novas
necessidades e anseios da comunidade. Nossa atual Constituição proclamada sobre os princípios de um Estado Democrático de
Direito é fruto dos anseios sociais que, diante da evolução histórica do homem, visa adequar-se às novas necessidades sociais.
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Direitos Fundamentais
O ALUNO DEVERÁ DIFERENCIAR O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO DO DERIVADO (CLÁUSULAS
PÉTREAS ART 60 CF) – CONCEITUAÇÃO DE MAIORIA – EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA (PIRÂMIDE
DE KELSEN)

A EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


A eficácia e aplicabilidade das normas que contém os direitos fundamentais dependem muito de seu enunciado, pois se trata de assunto
que está em função do Direito Positivo. A Constituição é expressa sobre o assunto, quando estatui que as normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Mas certo é que isso não resolve todas as questões, porque a Constituição
mesma faz depender de legislação ulterior a aplicabilidade de algumas normas definidoras de direitos sociais, enquadrados dentre os
fundamentais.
Por regra, as normas que consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade
imediata, enquanto as que definem os direitos econômicos e sociais tendem a sê-lo também, na Constituição vigente, mas algumas,
especialmente as que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada, de princípios programáticos e de aplicabilidade
indireta, mas são tão jurídicas quanto às outras e exercem relevante função porque, quanto mais se aperfeiçoam e adquirem eficácia
mais ampla, mais se tornam garantias da democracia e do efetivo exercício dos demais direitos fundamentais.

OS DIREITOS DE DEFESA E OS DIREITOS PRESTACIONAIS


É clássica na teoria constitucional a divisão dos direitos fundamentais em direitos de defesa e direitos a prestações. Enquanto aqueles
importam em um dever de abstenção do Estado, excluindo a ingerência deste na esfera privada, os direitos a prestações caracterizam-
se, principalmente, por exigirem uma intervenção do Estado, uma ação estatal, que pode significar tanto o dever de elaboração de
normas jurídicas – direitos a prestações jurídicas, como o dever de fornecer determinadas prestações materiais – direitos a prestações
em sentido estrito.
Esta dicotomia, no entanto, tem sido objeto de matizações e reexame, porquanto, além de os direitos sociais também apresentarem uma
dimensão negativa, pois, como adverte Ingo Sarlet (1998), hão de respeitar a autonomia individual, não podem, assim, ser impostos a o
titular em potencial do direito os direitos de defesa, exigem, direta ou indiretamente, uma prestação estatal. Mesmo porque,
hodiernamente, a indevida ingerência nos denominados direitos de primeira geração dá-se muito mais por parte de outros centros de
poder que não o poder público, como econômico, meios de comunicação, digitais, virtuais, exigindo, assim, a intervenção estatal. Por
fim, tem-se ressaltado que todos os direitos – e não apenas os direitos a prestações – possuem custos financeiros.
Tal matização e reexame são de suma importância, porquanto a mera dicotomia abstenção versus atuação estatal tem conduzido a
conclusões apressadas e não raro, distorcidas quanto à efetividade dos direitos sociais. Com efeito, parte da doutrina tem se utilizado a
referida contraposição para, ressaltando o custo financeiro dos direitos prestacionais e sua decisiva dimensão econômica, defender que
eles, em razão de serem conditional opportunities, não possuem a natureza de direitos. Ou então que são satisfeitos segundo as
conjunturas econômicas, conforme as disponibilidades do momento, devendo, portanto, ser entregues à conformação do legislador
ordinário.
Como veremos, mais adiante, a repercussão econômica não pode conduzir à negativa, pura e simples, que os direitos fundamentais
sociais possuam a natureza de direitos ou que devam ser abandonados à liberdade de conformação do legislador ordinário ou à
discricionariedade do agente estatal, impedindo, assim, a possibilidade de qualquer controle.

DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS


Viu-se que o art. 5°, da CF assegura os direitos ali indicados tanto aos brasileiros como aos estrangeiros residentes no País.
A propósito, cabem três indagações: Sendo direitos e garantias individuais, pessoas jurídicas não os auferem a nenhum? Aos
estrangeiros residentes só se reconhecem esses direitos e garantias constantes daquele artigo? Os estrangeiros não residentes, mesmo
estando no País, estão excluídos de incidência de qualquer deles ou delas?

Sendo direitos e garantias individuais, pessoas jurídicas não os auferem a nenhum?


O princípio é o de que os direitos e garantias assegurados nos incisos do art. 5°, da CF se dirigem às pessoas físicas, ao indivíduo, e
não às pessoas jurídicas. Assim pensava Pontes de Miranda, em comentário ao art. 153 da Constituição de 1967/69, conquanto em
outra passagem de sua obra diga que determinado direito ampara também as pessoas jurídicas.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, já em face da Constituição vigente, admitira que beneficiam também pessoas jurídicas brasileiras e
estrangeiras que atuem no Brasil. O princípio é o mencionado acima, mas a pesquisa no texto constitucional mostra que vários dos
direitos arrolados nos incisos do art. 5°, da CF se estendem as pessoas jurídicas, tais como o princípio da isonomia, o princípio da
legalidade, o direito de resposta, o direito de propriedade, o sigilo da correspondência e das comunicações em geral, a inviolabilidade
do domicílio, a garantia do direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, assim como a proteção jurisdicional e o direito
de impetrar mandado de segurança. Há até direito que é próprio de pessoa jurídica, como o direito à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos (logotipos, fantasias, p. ex.). Mas as empresas de capital estrangeiro, incluindo as
multinacionais, não se beneficiam desses direitos e garantias constitucionais individuais, salvo, no que tange a marcas, nomes e signos,
proteção de direito internacional.

Aos estrangeiros residentes só se reconhecem esses direitos e garantias constantes daquele artigo?
Os estrangeiros residentes não têm só os direitos arrolados no art. 5°, da CF apesar de somente ali aparecerem como destinatários de
direitos constitucionais. Cabem-lhe os direitos sociais, especialmente os trabalhistas. Ao outorgar direitos aos trabalhadores rurais e
urbanos, indubitavelmente a Constituição alberga também o trabalhador estrangeiro residente no País, e assim se há de entender em
relação aos outros direitos sociais.
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Os estrangeiros não residentes, mesmo estando no País, estão excluídos de incidência de qualquer deles ou delas?
A posição do estrangeiro não residente em face dos direitos e garantias assegurados no art. 5°, da CF não é fácil de delinear, tendo em
vista que aí só se mencionam os brasileiros e estrangeiros residentes no País.
Se se entender o texto do art. 5°, caput, da CF ao pé da letra, o estrangeiro não residente não gozará de nenhum dos direitos e garantias
nele enunciados.

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS


DIREITO À VIDA; DIREITO À INTIMIDADE; DIREITO DE IGUALDADE; DIREITO DE LIBERDADE; DIREITO DE
PROPRIEDADE.

DIREITOS COLETIVOS
A rubrica do Capítulo I do Título II anuncia uma especial categoria dos direitos fundamentais; os coletivos, mas nada mais diz a seu
respeito. Onde estão, nos incisos do artigo 5°, esses direitos coletivos?
Muitos destes direitos coletivos encontram-se dispostos ao longo do texto constitucional, caracterizados, na maior parte, como direitos
sociais, como a liberdade de associação profissional e sindical (arts. 8° e 37, VI), o direito de greve (art. 9° e 37, VII), o direito de
participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados de órgãos públicos (art. 10), a representação de empregados juntos aos
empregadores (art. 11), o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225); ou caracterizados como instituto de
democracia direta nos arts. 14, I, II e III, 27, § 4°, 29, XIII, e 61, § 2°; ou, ainda, como instituto de fiscalização financeira, no art. 31, §
3°. Apenas as liberdades de reunião e de associação (art. 5°, XVI a XX), o direito de entidades associativas de representar seus filiados
(art. 5°, XXI), e os direitos de receber informações de interesse coletivo (art. 5°, XXXIII) e de petição (art. 5°, XXXIV, a) restaram
subordinados à rubrica dos direitos coletivos. Alguns deles não são propriamente direitos coletivos, mas direitos individuais de
expressão coletiva, como as liberdades de reunião e de associação.

DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS


A rubrica do artigo agora menciona também deveres individuais e coletivos. Os conservadores da Constituinte clamaram mais pelos
deveres que pelos direitos. Sempre reclamaram que a Constituição só estava outorgando direitos e perguntavam onde estariam os
deveres? Postulavam, ate que se introduzissem aí deveres individuais e coletivos. Não era isso que queriam, mais uma declaração
constitucional de deveres, que se impusessem ao povo. Ora, uma constituição não tem que fazer declaração de deveres paralela à
declaração de direitos. Os deveres decorrem destes na medida em que cada titular de direitos individuais tem o dever de reconhecer e
respeitar igual direito do outro, bem como o dever de comportar-se, nas relações inter-humanas, com postura democrática,
compreendendo que a dignidade da pessoa humana do próximo deve ser exaltada como sua própria.
Na verdade, os deveres que decorrem dos incisos do art. 5°, tem como destinatários mais o Poder Público e seus agentes em qualquer
nível do que os indivíduos em particular. A inviolabilidade dos direitos assegurados impõe deveres a todos, mas especialmente às
autoridades e detentores de poder.

DO DIREITO À VIDA
No dizer de Jacques Robert: O respeito à vida humana é há um tempo uma das maiores ideias de nossa civilização e o primeiro
princípio da moral médica. É nele que repousa a condenação do aborto, do erro ou da imprudência terapêutica, a não aceitação do
suicídio. Ninguém terá o direito de dispor da própria vida, a fortiori da de outrem e, até o presente, o feto é considerado como um ser
humano.
O direito à vida, previsto de forma genérica do art. 5°, caput, abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, portanto, o
direito de continuar vivo, como também o direito de ter uma vida digna.
Em decorrência de seu primeiro desdobramento (direito de não ser privado da vida de modo artificial), encontramos a proibição da
pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX. Assim, mesmo por emenda constitucional é vedada a
instituição da pena de ponte no Brasil, sob pena, de se ferir a cláusula pétrea do art. 60, § 4°, IC, da CF).
Por fim, o segundo desdobramento, ou seja, o direito de uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do ser humano e
proibindo qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc.

O ABORTO CONSISTE EM PROIBIÇÃO OU PERMISSÃO?

DOS DIREITOS DE LIBERDADE


O direito de liberdade, de forma ampla e genérica, é afirmado no caput do artigo 5° da CF de 1988. Trata-se da própria essência dos
direitos fundamentais de primeira geração (por isso mesmo também denominados liberdades públicas).
A ideia de liberdade de atuação do indivíduo perante o Estado traduz o cerne de ideologia liberal, de que resultaram as revoluções do
final do século XVIII e início do XIX. A doutrina essencial do estado liberal exigia a redução da esfera de atuação do Estado e de sua
ingerência nos negócios privados a um mínimo absolutamente necessário.
Já se ressaltou que, do lema da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade -, foi sem dúvida a liberdade o axioma mais
encarecido originalmente pelo Liberalismo. Como ideologia da classe burguesa triunfante sobre o Absolutismo, interessava mais aos
capitalistas de então a defesa da liberdade negocial do que uma atuação tendente à obtenção de uma igualdade material, efetiva, no seio
da sociedade.
A liberdade assegurada no caput do art. 5° deve ser tomada em sua mais ampla acepção. Compreende não só a liberdade física, de
locomoção, mas também a liberdade de crença, de convicções, de expressão de pensamento, de reunião, de associação, etc.
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Sendo os direitos de primeira geração direitos de liberdade, resulta que grande parte dos incisos do artigo 5° da Constituição de 1988
reflete desdobramento desse princípio, como veremos passo à frente.
DOS DIREITOS DE IGUALDADE
A igualdade é a base fundamental do princípio republicano e da democracia.
A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de
possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios
albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o
tratamento desigual nos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois
o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento
discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito, sem que se esqueça, porém, como ressalvado por
Fábio Konder Comparato, que as chamadas liberdades materiais tem por objetivo a igualdade de condições sociais, meta a ser
alcançada, não só por meio de leis, mas também pela aplicação de políticas ou programas de ação estatal.
O princípio da igualdade consagrado pela Constituição opera em dois planos distintos:

De uma parte, frente ao legislador ou o próprio executivo, na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórios,
impedindo que possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que se encontram em situações idênticas.
Em outro plano, na obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, autoridades públicas, de aplicar a lei e atos normativos de maneira
igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça e classe social.

Todavia, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma
finalidade razoavelmente proporcional o fim visado.
Importante, igualmente, apontar a tríplice finalidade limitadora do princípio da igualdade: limitação ao legislador, ao
intérprete/autoridade pública e ao particular.
O legislador, no exercício de sua função constitucional de edição normativa, não poderá afastar-se do princípio da igualdade, sob pena
de flagrante inconstitucionalidade. Assim, normas que criem diferenciações abusivas, arbitrárias, sem qualquer finalidade lícita, serão
incompatíveis com a Constituição Federal.
O intérprete/autoridade pública não poderá aplicar as leis e atos normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar
desigualdades arbitrárias. Ressalta-se que, em especial o Poder Judiciário, no exercício de sua função jurisdicional de dizer o direito ao
caso concreto, deverá utilizar os mecanismos constitucionais no sentido de dar uma interpretação única e igualitária às normas
jurídicas. Nesse sentido a inserção do legislador constituinte ao prever o recurso extraordinário ao STF e o recurso especial ao STJ.

Princípio da igualdade e limitação de idade em concurso público: Sumula 683 do STF;


Tratamento isonômico entre homens e mulheres: aceitável somente quando a finalidade pretendida for atenuar os desníveis de
tratamento em razão do sexo.

DO DIREITO DE PROPRIEDADE
O direito de propriedade, tendo em vista o fato de nossa Constituição consagrar o Brasil como um Estado capitalista, encontra-se
assegurado já no caput do art. 5°, ao lado dos outros direitos individuais mais elementares, como a vida, a liberdade e a igualdade.
A par disso, o inciso XXII do art. 5°, a fim de estremar de dúvida o seu caráter de direito autônomo (e não de mera função),
peremptoriamente declara: é garantido o direito de propriedade. Da mesma forma, o inciso II do art. 170 enumera como princípio
fundamental da ordem econômica do País a propriedade privada.
A propriedade privada era considerada um dos mais importantes direitos fundamentais da época do Liberalismo Clássico. Era o direito
de propriedade, então, visto como um direito absoluto – consubstanciado nos poderes de usar, fruir, dispor da coisa, bem como
reivindica-la de quem indevidamente possuísse – e oponível a todas as demais pessoas que de alguma forma não respeitassem o
domínio do proprietário.
No âmbito do nosso direito constitucional positivo, não mais é cabível essa concepção da propriedade como um direito absoluto.
Deveras, nossa Constituição consagra o Brasil como um Estado Democrático Social de Direito, o que implica afirmar que também a
propriedade deve atende a uma função social. Essa exigência está explicitada logo no inciso XXIII do art. 5°, e reiterada no inciso III
do art. 170 (que estabelece os princípios fundamentais de nossa ordem econômica).
Por esse motivo, ao lado dos direitos assegurados ao proprietário, o ordenamento constitucional impõe a ele deveres, essencialmente
sintetizáveis como dever de uso adequado da propriedade (mormente no que concerne a sua exploração econômica). Assim, não pode o
proprietário de terreno urbano mantê-lo não edificado ou subutilizado (CF, art. 182, § 4°), sob pena de sofrer severas sanções
administrativas; não pode o proprietário de imóvel rural mantê-lo improdutivo, devendo atender as condições estabelecidas no art. 186
da CF. O desatendimento da função social da propriedade pode dar ensejo a uma das formas de intervenção do Estado no domínio
privado: a desapropriação (nesse caso dita desapropriação por interesse social).
Além disso, o direito de propriedade deverá ceder quando isso for necessário à tutela do interesse público, como ocorre nas hipóteses
de desapropriação por utilidade ou necessidade pública, de requisição administrativa (art. 5°, XXV), de requisição de bens no estado de
sítio (art. 139, inciso VII). Ainda, quando a utilização da propriedade for feita de forma altamente lesiva à sociedade, o Estado poderá
impor sua perda, tanto na esfera penal, quanto na administrativa (CF, art. 5°, XLVI, alínea b; CF, art. 243).

DIREITOS SOCIAIS
Os direitos sociais, indubitavelmente, são direitos fundamentais dos homens e caracterizam-se como direitos constitucionalmente
previstos a ações positivas por parte do Estado, viabilizando, assim, uma melhor condição de vida as pessoas mais necessitadas,
buscado a concretização da igualdade material, tão almejada em um Estado Democrático de Direito.
20
Neste viés, cumpre transcrever o mestre José Afonso da Silva:

Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propicias ao auferimento
da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade.

Em outros termos, aludidos direitos podem ser conceituados como liberdades positivas que devem obrigatoriamente ser observadas em
um Estado Social de Direito, objetivando uma melhora gradativa nas condições de vida dos hipossuficientes, concretizando, assim, a
igualdade social.
A Constituição da República Federativa do Brasil preceitua acerca dos direitos sociais, inicialmente em seu artigo 6º, da seguinte
forma:

São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

A amplitude da mencionada norma constitucional esclarece que os direitos sociais não são somente os enunciados nos artigos 7º, 8º, 9º,
10 e 11 da Constituição Federal, também podendo ser localizados, no Título VIII, o qual é denominado Da Ordem Social, artigos 193 e
seguintes da Constituição Federal.

DOS DIREITOS DE SEGURIDADE SOCIAL – SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA


A Constituição Federal define a seguridade social como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relacionados à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194), ao estabelecer seus
objetivos (art. 194, parágrafo único) e o sistema de seu financiamento (art. 195). Essa concepção imanta os preceitos sobre os direitos
relativos à seguridade, que hão de ser interpretados segundo os valores que informam seus objetivos e princípios.

DIREITO À SAÚDE: é espantoso como um bem extraordinariamente relevante à vida humana só agora é elevado à condição de
direito fundamental do homem. É há de informar-se pelo princípio de que o direito igual à vida de todos os seres humanos significa
também que, nos casos de doença, cada um tem o direito a um tratamento condigno de acordo com o estado atual da ciência médica,
independentemente de sua situação econômica, sob pena de não ter muito valor sua consignação em normas constitucionais.
A Constituição Federal de 1988 declara ser a saúde direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação, serviços e ações que são de relevância pública (arts. 196 a 197). A Constituição o submete a
conceito de seguridade social, cujas ações e meios se destinam, também, a assegura-lo torna-la eficaz.
Como ocorre com os direitos sociais em geral, o direito à saúde comporta duas vertentes, conforme anotam CANOTILHO e VITAL
uma, natureza negativa, que consiste no direito a exigir do Estado que se abstenha de qualquer ato que prejudique a saúde; outra, de
natureza positiva, que significa o direito às medidas e prestações estaduais visando à prevenção das doenças e o tratamento delas.
A partir da leitura e interpretação dos artigos 196, 198 a 200, vislumbra-se que a nossa Constituição trata o direito à saúde como um
direito de natureza positiva que exige prestações de Estado e que impõe aos entes públicos realização de determinadas tarefas, de cujo
cumprimento depende a própria realização do direito.

DIREITO À PREVIDÊNCIA: previdência social é um conjunto de direitos relativos à seguridade social. Como manifestação desta, a
previdência tende a ultrapassar a mera concepção de instituição do Estado providência, sem, no entanto, assumir características
socializantes, até porque estas dependem mais do regime econômico do que do social.
A Constituição deu contornos mais precisos aos direitos de previdência social (arts. 201 a 202), mas seus princípios e objetivos
continuam mais ou menos idênticos ao regime geral de previdência social consolidado na legislação anterior (Decreto 89.312/84), ou
seja: funda-se no princípio do seguro social, de sorte que os benefícios e serviços se destinam a cobrir eventos de doença, invalidez,
morte, velhice e reclusão, apenas do segurado e seus dependentes. Isto quer dizer que a base da cobertura se assenta no fator
contribuição e em favor do contribuinte e dos seus.

O regime da previdência social, consubstanciado na Constituição, engloba prestações de dois tipos:


BENEFÍCIOS, que são prestações pecuniárias, consistentes:
a) aposentadoria: por invalidez (art. 201, I, da CF), por velhice, por tempo de serviço, especial e proporcional (art. 201, §§ 7° e 8°, da
CF);
b) auxílios: por doença, maternidade, reclusão e funeral (art. 201, I a III da CF);
c) seguro desemprego (arts. 7°, II, 201, IV e 239, da CF);
d) pensão por morte do segurado (art. 201, V, da CF).

SERVIÇOS, que são prestações assistenciais: médica, farmacêutica, odontológica, hospitalar, social e de reeducação ou de readaptação
funcional.

DIREITO À ASSISTÊNCIA: o direito à assistência social constitui a face universalizante da seguridade social, porque, será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição (art. 203, da CF).
No direito à assistência é que, também, assenta outra característica da seguridade social: a solidariedade financeira, já que os recursos
procedem do orçamento geral da seguridade social e não de contribuições específicas de eventuais destinatários (art. 204), até porque
estes são impersonalizáveis a priori, porquanto se constituem daqueles que não dispõe de meios de sobrevivência: os desvalidos em
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geral. É aí que se situa a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados que o art. 6° destacou como um tipo de
direito social, sem guardar adequada harmonia com os arts. 194 a 203, que revelam como direito social relativo à seguridade o inteiro
instituto da assistência social, que compreende vários objetos, e não só aquele mencionado no art. 6°.

DO DIREITO À EDUCAÇÃO E À CULTURA


A Constituição de 1988 deu relevante importância à cultura, tomado este tempo em sentido abrangente da formação educacional do
povo, expressão criadora da pessoa e das projeções do espírito humano materializadas em suportes expressivos, portadores de
referências à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, que se exprimem por vários de
seus artigos (5°, IX, 23, III, 24, VII a IX, 30, IX, e 205 a 217), formando aquilo que se denomina ordem constitucional da cultura, ou
constituição cultural, constituída pelo conjunto de normas que contem referências culturais e disposições consubstanciadoras dos
direitos sociais relativos à educação e à cultura.

OBJETIVOS E PRINCÍPIOS INFORMADORES DA EDUCAÇÃO


O art. 205 da CF prevê três objetivos básicos da educação:
Pleno desenvolvimento da pessoa;
Preparo da pessoa para o exercício da cidadania;
Qualificação da pessoa para o trabalho.

A consecução prática desses objetivos só se realizará num sistema educacional democrático, em que a organização da educação formal
(via escola) concretize o direito de ensino, informado por alguns princípios com eles coerentes, que, realmente, formam acolhidos pela
Constituição, tais são: universalidade (ensino para todos), igualdade, liberdade, pluralismo (de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas), gratuidade de ensino público, valorização dos respectivos profissionais, gestão
democrática da escola e padrão de qualidade, princípios esses que foram acolhidos no art. 206 da CF.

DIREITO À EDUCAÇÃO
O art. 205 da CF contém uma declaração fundamental que, combinada com o art. 6°, eleva a educação ao nível de direitos
fundamentais do homem.
Realça-lhe o valor jurídico, por um alado, a cláusula – a educação é dever do Estado e da família -, constante do mesmo artigo que
completa a situação jurídica subjetiva, ao explicitar o titular do dever, da obrigação, contraposto àquele direito.
Em outros termos: TODOS TÊM O DIREITO À EDUCAÇÃO E O ESTADO TEM O DEVER DE PRESTÁ-LA, ASSIM COMO A
FAMÍLA.

O Estado tem que aparelhar-se para fornecer, a todos, os serviços educacionais, isto é oferecer ensino, de acordo com os princípios
estatuídos na CF;
O Estado tem que ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a exercer igualmente o direito à educação;
Todas as normas da CF sobre educação e ensino devem ser interpretadas em função daquela declaração e no sentido da sua plena e
efetiva realização.

DIREITO À CULTURA
Os direitos culturais não foram arrolados no art. 6° da CF como espécie de direito social, mas, se a educação o foi, aí também estarão
aqueles, até porque estarão explicitamente referidos no art. 215, consoante o qual o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Por aí também se vê que se trata de direitos informados pelo princípio da universalidade, isto é, direito garantido a todos.
Direitos culturais reconhecidos na CF:
Direito de criação cultural, compreende as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
Direito de acesso às fontes de cultura nacional;
Direito de difusão da cultura;
Liberdade de formas de expressão cultural;
Liberdade de manifestações culturais;
Direito-dever estatal de formação do patrimônio cultural brasileiro e de proteção dos bens da cultura.

DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES


Os direitos relativos aos trabalhadores são de duas ordens fundamentalmente:

a) direitos dos trabalhadores em suas relações individuais de trabalho, que são os direitos dos trabalhadores do art. 7°;
b) direitos coletivos dos trabalhadores (art. 9° a 11) que são aqueles que os trabalhadores exercem coletivamente ou no interesse de
uma coletividade deles, e são os direitos de associação profissional ou sindical, o direito de greve, o direito de substituição processual,
o direito de participação e o direito de representação classista.

DA PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA


Está prevista no art. 6° da CF como espécie de direito social, mas seu conteúdo há de ser buscado em mais de um dos capítulos da
ordem social, onde aparece como aspectos do direito de previdência social (art. 201, II: proteção à maternidade, especialmente à
gestante), do direito de assistência social (art. 203, I: proteção à família, à maternidade, à inf6ancia, à adolescência e à velhice; II:
amparo às crianças e adolescentes carentes) e no capítulo da família, da criança, do adolescente e do idoso (art. 227), sendo de ter
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cuidado para não confundir o direito individual da criança (direito à vida, à dignidade, à liberdade) com o seu direito social que, aliás,
salvo o princípio da prioridade, coincide, em boa parte, com o de todas as pessoas (direito à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer), com o direito civil (condições jurídicas dos filhos em relação aos pais) e com o direito tutelas do menor (art. 227, § 3°, IV a VII,
e § 4°). Alguns direitos sociais, reconhecidos no art. 227, são pertinentes só à criança e ao adolescente, como o direito à
profissionalização, à convivência familiar e comunitária e a regras especiais dos direitos previdenciários e trabalhistas (art. 227, § 3°, I
a III).

DOS DIREITOS ECONÔMICOS


As bases constitucionais do sistema econômico encontram-se nos arts. 170 a 192 da CF, compreendidos em quatro capítulos:
Primeiro sobre os princípios da atividade econômica;
Outro sobre a política urbana;
O terceiro sobre a política agrícola e fundiária e sobre a reforma agrária;
O quarto sobre o sistema financeiro nacional.

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA


A ordem econômica adquiriu dimensão jurídica a partir do momento em que as constituições passaram a discipliná-la
sistematicamente, o que teve início com a Constituição Mexicana de 1917.
No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a consignar princípios e normas sobre a ordem econômica, sob a influência da
Constituição alemã de Weimar.

FUNDAMENTO E NATUREZA DA ORDEM ECONOMICA


A Constituição declara que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na vida privada. O que significa isso?
Em primeiro lugar quer dizer que a Constituição consagra uma economia de mercado, de natureza capitalista. Em segundo lugar
significa que, embora capitalista, a ordem econômica dá prioridade aos valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da
economia de mercado. Conquanto se trate de declaração de princípios, essa prioridade tem o sentido de orientar a intervenção do
Estado, na economia, a fim de fazer valer os valores sociais do trabalho que, ao lado da iniciativa privada, constituem o fun damento
não só da ordem econômica, mas da própria República Federativa do Brasil.

FIM DA ORDEM ECONÔMICA


A ordem econômica, segundo a Constituição, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os princípios indicados no art. 170, princípios este que, em essência, como dissemos, consubstanciam uma ordem
capitalista.
A CF 1988 é incisiva no conceber a ordem econômica sujeita aos ditames da justiça social para o fim de assegurar a todos uma
existência digna. Dá à justiça social um conteúdo preciso. Preordena alguns princípios da ordem econômica – a defesa do consumidor,
a defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades regionais e pessoais e a busca do pleno emprego – que possibilitam a
compreensão do que o capitalismo concebido há de humanizar-se. Traz, por outro lado, mecanismos na ordem social voltados à sua
efetivação. Tudo depende da aplicação das normas constitucionais contem essas determinantes, esse princípio e esses mecanismos.

PRINCÍPIOS DA CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA FORMAL – art. 170 da CF

Soberania nacional;
Propriedade privada;
Função social da propriedade;
Livre concorrência (manifestação da liberdade de iniciativa, e, para garanti-la, a CF estatui que a lei reprimirá o abuso de poder
econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário de lucros (art. 173, § 4°);
Defesa do consumidor;
Defesa do meio ambiente;
Redução das desigualdades sociais e regionais;
Busca do pleno emprego (propiciar trabalho a todos quantos estejam em condições de exercer uma atividade produtiva);
(princípios de integração, pois visam resolver os problemas da marginalização regional ou social)
Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no
país.
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Discussão jurisprudencial sobre a incorporação de tratado internacional no ordenamento jurídico nacional.
Há discussão sobre a prevalência ou não de um tratado internacional sobre uma lei ordinária ou complementar. Não há uma previsão
sobre em que posição do ordenamento jurídico eles estarão ineridos, transferindo assim para o campo jurisprudencial.
O artigo 49, I, compete ao Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
O artigo 84, VIII, fixa que compete privativamente ao presidente da república celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
sujeitos a referendo do Congresso Nacional.

Entender como os tratados internacionais sobre direitos humanos ingressam no ordenamento brasileiro, mas precisamente com que
hierarquia.
A jurisprudência tradicional do STF considerava que os tratados internacionais ingressavam no sistema constitucional brasileiro com
força de mera lei ordinária, o que autorizava até a revogação por uma lei posterior.
A EC 45/04, no entanto, incluiu um §3º no art. 5º, prevendo que: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Após a referida Emenda, portanto, passou-se a ter a seguinte situação:


a. Os tratados internacionais que não fossem sobre direitos humanos continuavam a valer com força de meras leis ordinárias;
b. Os tratados sobre direitos humanos e que forem aprovados pelo mesmo trâmite das emendas constitucionais (3/5 dos votos de cada
Casa do Congresso, por dois turnos em cada uma delas) passaram a ter força de emenda constitucional, isto é, força de norma
constitucional (derivada), incorporando-se ao texto da Constituição.

A partir de 2004, os tratados internacionais que versam sobre direitos humanos ingressarão como se fossem emendas à Constituição, se
forem aprovados de acordo com o trâmite de reforma (emenda) previsto no art. 60 da CF: dois turnos de discussão e votação em cada
Casa do Congresso (Câmara e Senado), com aprovação pelo quórum de 3/5 (=60%) dos membros de cada Casa.

Porém, uma questão ficou ainda em aberto: e os tratados internacionais de direitos humanos, mas que tinham sido aprovados antes de
2004, quando ainda não havia o trâmite de aprovação equiparado ao das emendas constitucionais, deveriam ter qual hierarquia?
Após longa discussão, o STF refutou a tese de que esses tratados teriam força de mera lei ordinária. Com efeito, isso seria equiparar os
tratados de direitos humanos aos demais pactos internacionais. Por outro lado, a Corte também se distanciou da tese de que os tratados
de direitos humanos aprovados antes de 2004 teriam força de emenda constitucional. Como observou o Ministro Gilmar Mendes, tal
proceder equipararia esses tratados à Constituição, mesmo sem terem sido aprovados pela regra do art. 5º, §3º.

E então, o que fazer com esses tratados? O STF decidiu que eles teriam uma força intermediária, é dizer, supralegal. Estão acima das
leis, mas abaixo da Constituição. Estão acima das leis porque tratam de direitos humanos; estão abaixo da CF porque não foram
aprovados pelo trâmite das emendas constitucionais. Revogam todas as leis que lhes sejam contrárias, mas não alteram o que está na
Constituição (ver mais à frente transcrição da ementa do julgado).

De modo que, hoje, os tratados internacionais podem ter no ordenamento brasileiro três diferentes posições hierárquicas:
a) hierarquia constitucional (tratados de direitos humanos aprovados pelo trâmite das emendas constitucionais: art. 5º, §3º);
b) hierarquia supralegal (tratados de direitos humanos aprovados antes de 2004 – e, portanto, sem ser pelo trâmite de emenda
constitucional);
c) hierarquia legal, força de lei ordinária (tratados que não sejam sobre direitos humanos).
Alguns exemplos podem tornar mais clara à questão.
1) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção de Nova York52): tratado internacionais de
direitos humanos aprovado em 2007, pelo trâmite de emenda constitucional – hierarquia constitucional.
2) Convenção de Varsóvia sobre indenização tarifada em caso de extravio de bagagem em voos internacionais: tratado que não é de
direitos humanos – hierarquia legal (força de mera lei ordinária.
3) Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica): tratado de direitos humanos, mas aprovado antes
de 2004 (em 1992) – hierarquia supralegal. Surge então a pergunta sobre os tratados ratificados antes desta emenda. Era o caso do
Pacto de San Jose da costa rica, ratificado em 1992.

A controvérsia aumentou na medida em que a Constituição trouxe, em seu artigo 5º, inciso LXVII, a previsão de que não pode haver
prisão civil, com exceção do depositário infiel e do devedor de alimentos. Ora, o Pacto de San Jose fixava o contrário, de que poderia
haver sim prisão civil, mas apenas em caso de dívida alimentícia, nunca no caso do depositário infiel.
Alguns tribunais entenderem que deveria o pacto prevalecia, pois tinha status constitucional. O STF não adotou a posição de que o
tratado revogou a constituição, pois seu status não era de norma constitucional. Como se poderia sustentar que o tratado aprovado com
quórum de lei ordinária poderia modificaria a constituição, logo na parte dos direitos fundamentais. E mais, se fosse modificar a
constituição precisaria de três quintos em dois turnos. Portanto, este não teria forças para revogar a prisão civil.
Já temos um tratado devidamente aprovado pelo congresso nacional, que é a convenção da ONU sobre deficientes físicos.
Foi assinado no ano de 1969, na cidade de San Jose, Costa Rica, por inicialmente 11 integrantes. O Brasil apenas o aprovou, pelo
Congresso Nacional, em 26 de maio de 1992, por meio do Decreto legislativo nº 27, e o ratificou, também em 1992, por meio do
Decreto nº 678, passando a cumpri-lo no seu ordenamento interno. A alegação para a demora residia na argumentação de que éramos
soberanos e estaríamos sendo regidos por normas internacionais. No entanto, com a incorporação, a questão passou a ser o status
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conferido ao Pacto de San Jose da Costa Rica, se este teria ou não caráter constitucional. Como a jurisprudência consolidada do STF
conferia o status de lei ordinária aos tratados internacionais, logo, para a corte, disposições da convenção não poderiam derrubar
normas constitucionais.
A CF/88 apesar do significativo avanço em relação aos direitos fundamentais, previu expressamente a possibilidade de prisão civil,
com a finalidade de coagir o devedor a pagar, em dois casos: o primeiro, referente à dívida alimentícia, muito presente no direito de
família; o segundo, bem mais polêmico, referente ao depositário infiel, muito utilizado por bancos e financeiras, em contratos
chamados de alienação fiduciária. Pessoas adquiriam bens móveis com financiamento, portanto, tendo de pagar mensalmente as
prestações, em muitos casos, por muitos anos. No entanto, na alienação fiduciária o veículo pertenceria ao banco ou instituição
financeira, ficando o consumidor apenas como depositário. Até o ano de 2008, o credor em caso de não pagamento, ingressava na
justiça para a retomada do bem, e caso não devolvido, solicitava-se a prisão civil do devedor (considerado como depositário). O
conflito era claro, pois, de um lado, o Pacto de San Jose da Costa Rica que proibia expressamente, em seu artigo 7º, este tipo de prisão,
ao dispor nos seguintes termos:
O STF adotou a mesma posição, pois a liberdade é um direito fundamental que somente em casos excepcionalíssimos poderia ser
violado. A tese vencedora é a de que estes tratados tinham caráter não constitucional, e sim de supralegalidade, portanto, abaixo da
constituição, mas acima das demais leis, inclusive do Código de Processo Civil, que regulamenta a prisão civil. Em consequência, toda
a legislação empregada, direta ou indiretamente, para possibilitar a prisão do depositário infiel, restou revogada. Com a decisão do
Supremo Tribunal Federal, findou-se a possibilidade de prisão civil por dívida, em todas as hipóteses existentes. Ou seja, na prática,
não existe mais esta prisão. Também foi revogada a Súmula 619 do STF que autorizava a prisão do depositário judicial no próprio
processo em que se constituiu o encargo.
Com a EC nº 45/04 e com a decisão do STF, em 2008, a controvérsia sobre a hierarquia dos tratados, que se estendia há décadas,
chegou a uma solução. Os tratados internacionais que versem sobre direitos humanos, ou terão status constitucional, se aprovados por
quórum qualificado, igual ao exigido para emenda constitucional e em dois turnos, ou terão status supralegal, se a incorporação
ocorreu antes da referida emenda.
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I. Tratados firmados sob os cuidados da ONU
(Declarações, Convenções, Pactos, Cartas)
1. Tratados Gerais:
* Declaração Universal dos Direitos Humanos – aprovada pela Assembléia Geral, reunida em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948,
(por 48 votos a favor e 8 abstenções)
* Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – aprovado pela Assembléia Geral, em 16 de dezembro de 1966
(105 votos a favor e nenhuma contra). Entrou em vigor no dia 30 de janeiro de 1976;
* Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos – também aprovado em 16 de dezembro de 1966. Entrou em vigor no dia 23 de
março de 1976;
* Protocolo Facultativo relativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – os dados são os números são os mesmos do
Pacto já mencionado.
2. Tratados Específicos:
*Proteção da Mulher – Convenção sobre os Direitos da Mulher (1952 e 1963), Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra
a Mulher (1967), Declaração sobre a Proteção de Mulheres e Crianças nas Emergências e nos Conflitos Armados (1974), Convenção
Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (1979);
Contra a escravidão e a discriminação – Convenção de Genebra sobre a Abolição da Escravatura (1953, 1956), Convenção
Suplementar sobre a Abolição da Escravidão, o Tráfico de Escravas e práticas análogas (1956), Convenção da OIT pela eliminação da
Discriminação (1951, 1960 e 1965), Convênio da UNESCO relativo à luta contra a Discriminação na Área Educacional (1960),
Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial(1963), Convenção Internacional sobre
a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (1965), Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais
(1978), Declaração sobre a Eliminação de todas as formas de Intolerância e Discriminação fundada na Religião ou nas Convicções
(1981);
Direito à vida, à integridade física e ao tratamento humano – Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio (1948),
Convenção de Genebra – de 1949 (“Art. 3 Comum”: garantias a toda pessoa que não participa ativamente da guerra), Declaração sobre
a Proteção de todas as pessoas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas e Degradantes (1975), Convenção
contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis ou Degradantes (1984), Protocolo visando abolir a pena de morte (1990);
Proteção aos Trabalhadores – Convenção da Organização da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dentre as quais: nº 87 –
sobre a liberdade sindical e a proteção do direito à sindicalização (1948), nº 98 – sobre o direito de sindicalização e de negociação
coletiva (1949), nº 105 – sobre a abolição do trabalho escravo (1957), nº 110 – sobre as condições de emprego e de trabalhadores nas
plantações (1958), nº 141 – sobre as organizações de trabalhadores rurais (1975), nº 151 – sobre as relações de trabalho na
administração pública (1976);
Direito ao Desenvolvimento – Declaração sobre a concessão de Independência aos Países e povos Coloniais (1960), Carta dos Direitos
e Deveres Econômicos dos Estados (1974), Declaração Universal sobre a Erradicação da Fome e da Desnutrição (1974), Declaração
sobre o uso do Progresso Científico e Tecnológico no Interesse da Paz e no Benefício da Humanidade (1976), Convenção sobre o
Direito do Mar, de 1982 (oficializando o princípio do “patrimônio comum da humanidade”);
Outros assuntos – Convenções de Genebra sobre o Direito Humanitário (1949) e Protocolos Adicionais I e II (1977), Convenção sobre
o Estatuto dos Refugiados (1959), Convenção sobre a Imprescritibilidade de Crimes de Guerra e Crimes Lesa Humanidade (1968),
Declaração dos Direitos dos Deficientes Mentais (1971), Declaração sobre os princípios fundamentais de Justiça para as Vítimas de
Delitos e de Abusos de Poder (1985), Projeto de Declaração Universal dos Direitos Indígenas (1988), Convenção sobre os Direitos da
Criança (1989).
II. Tratados firmados no Sistema Interamericano
* Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) – aprovada pela Nona Conferência Interamericana, reunida em Bogotá
(Colômbia), no dia 30 de abril de 1948. Entrou em vigor em 13/12/1951 e foi reformada pelo Protocolo de Buenos Aires (1967);
* Declaração Americana sobre os Direitos e Deveres do Homem – aprovada pela Conferência de Bogotá, em 02 de maio de 1948
(antecedendo, portanto, a Declaração Universal da ONU);
* Carta Interamericana de Garantias Sociais – também assinada em Bogotá (1948), dispondo sobre direitos do trabalhador;
* Convenções Interamericanas sobre Concessão de Direitos Civis e de Direitos Públicos à Mulher – ambas em 1948;
* Convenção sobre Asilo Diplomático e Convenção sobre Asilo Territorial – ambas aprovadas na Décima Conferência Interamericana,
realizada em Caracas (Venezuela), em 1954;
* Convenção Americana sobre Direitos Humanos, reunida em San José (Costa Rica), de 7 a 22 de novembro de 1969; (CIDH –
CIDH).
* Protocolo Adicional da Convenção Americana sobre Direitos Humanos na área de Direitos Humanos na área de Direitos
Econômicos, Socais e Culturais – concluído em 1988, na cidade de San Salvador (República de El Salvador);
* Protocolo visando abolir a Pena de Morte – concluída em 1990.
III. Tratados firmados no Sistema Europeu e Africano
* Convenção Européia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais – aprovada pelo Conselho da Europa,
no dia 4 de novembro de 1950, tendo entrado em vigor em 1953;
* Carta Social Européia – assinada em 1961, no âmbito do Conselho da Europa tratando dos “direitos coletivos”. Entrou em vigor em
1965;
* Protocolos Adicionais à Convenção Européia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais – aprovados
pelo Conselho da Europa, dentre os quais: o de 1983, abolindo a Pena de Morte em tempo de paz; o de 1984 (Estraburgo), que amplia
os direitos civis e políticos;
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* Ata Final de Helsinque – aprovada pela Conferência sobre a segurança e a cooperação na Europa, em agosto de 1975, na cidade de
Helsinque (Finlândia). Assinada por 33 países europeus (lados Ocidental e Oriental), mais os Estados Unidos e o Canadá, a Ata possui
uma sessão dedicada aos direitos humanos (nº VI);
* Carta Africana de Direitos do Homem e dos Povos – adotada pela Organização da Unidade Africana (OUA), em 1981, na cidade de
Nairobi (Quênia). Ela enfatiza o “direito ao desenvolvimento” e os “valores africanos”.
Naturalmente, atuando como forças sócio-políticas e culturais a influir em matérias de tamanha magnitude aparecem vários
documentos não governamentais e mesmo governamentais alternativos, de que são exemplos: a) Declaração Universal dos Povos –
aprovada em Argel, no ano de 1976; b) Declaração de Princípios para a Defesa das Nações Indígenas e Povos do Hemisfério Ocidental
– aprovada em 1977, na Conferência Internacional das Organizações Não-Governamentais; c) Declaração de Alma Ata – formulada
pela Conferência Internacional (não governamental) sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Ala-Ata, em 1978; d) Textos
conclusivos das diversas conferências do “Movimento dos Países Não-Aliados” – Belgrado (1961), Cairo (1964), Lusaka (1970),
Argel (1973), Colombo (1976), Havana (1979), Nova Delhi (1983), Harare (1986); e) Sentenças do “Tribunal Permanente dos Povos”.
Com base em muitos desses instrumentos arrolados, criaram-se órgãos jurisdicionais em vários níveis, ou seja, tribunais especializados
com o objetivo de tutelar internacionalmente os direitos humanos, importa registrar, sinteticamente, alguns deles:
Na área de abrangência da ONU – a “Comissão de Direitos Humanos”, criada pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC), em
1946; e, o “Comitê dos Direitos Humanos”, proposto pelo Pacto dos Direitos Civis e Políticos, de 1966. Também podem ser citados,
enquanto promotores dos direitos e garantias elementares, os seguintes organismos especializados da ONU: UNESCO (sobre
educação, ciência e cultura), OIT (sobre o trabalho), FAO (sobre alimentação e agricultura) e OMS (sobre saúde);
No âmbito do Sistema-Interamericano – a “Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, estabelecida pela Carta da OEA (1948),
com sede em Washington; e, a "Corte Interamericana de Direitos Humanos”, decorrente da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (1967), sediada em San José (na Costa Rica);
Na Europa Ocidental – a Comissão Européia de Direitos do Homem” e a “Corte Européia de Direitos Humanos”, ambos criados
através da Convenção Européia para a Proteção dos Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais (1950).

Material diverso extraído de diversas fontes, inclusive internet. Direitos Fundamentais da professora Roberta Pacheco Antunes. Além dos Livros pesquisados: Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense. Paulo
Bonavides; Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros. José Afonso da Silva e Direito constitucional. São Paulo: Atlas. Alexandre de Moraes
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Caso prático da Corte Interamericana
Tudo começou em 22 de novembro de 1999, quando a brasileira Irene Ximenes Lopes Miranda exerceu seu direito de petição perante a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, levando ao conhecimento das autoridades internacionais as atrocidades cometidas
contra seu irmão Damião Ximenes Lopes, que culminaram com sua morte dentro de uma clínica psiquiátrica em Sobral-CE.
A denúncia de Irene, que alegou culpa do Estado Brasileiro pela morte de seu irmão, uma vez que a clínica em que ele foi internado
prestava serviços públicos pelo SUS – Sistema Único de Saúde, além de ser injustificável a demora na prestação judicial e omissão na
condução da investigação dos fatos.
Em regra, ao receber a denúncia, a Comissão decide sobre sua admissibilidade, solicita informações ao governo denunciado e, se
entender necessário, pode ainda encaminhar o caso para julgamento pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Após longa análise do caso de Damião Ximenes Lopes (caso nº 12.237), a Comissão Interamericana o apresentou para julgamento pela
Corte em outubro de 2002.
Verificou-se que Damião fora vítima de maus tratos e tortura que o levaram à morte dentro de uma clínica psiquiátrica conveniada ao
SUS onde estava internado para tratamento. Somada a essa barbárie, foi constatada a lentidão da Justiça Brasileira no desfecho dos
processos civil e criminal que, após sete anos depois do ocorrido, ainda não haviam sido concluídos.
Sendo assim, o Brasil acabou sendo condenado por violação dos direitos consagrados nos artigos 4º (direito à vida), 5º (direito à
integridade pessoal), 8º (direito às garantias judiciais) e 25 (direito à proteção judicial) do Pacto de San José.
Esta sentença impôs ao Brasil a obrigação de pagar uma indenização aos familiares da vítima, além de condená-lo às medidas de não
repetição, realizando programas de capacitação para os profissionais de atendimento psiquiátrico do SUS, dentre outras políticas
públicas, a fim de se evitar a ocorrência de fatos similares no futuro.
No entanto, o Brasil ainda não se posicionou legalmente sobre a forma de cumprimento das decisões da Corte, apesar de já ter sido
condenado novamente e ainda existirem outros processos em trâmite contra nosso país para serem julgados.
A despeito da falta de legislação interna orientando a forma a ser seguida, o Estado Brasileiro não se furtou ao cumprimento das
sentenças condenatórias da Corte.
Em relação às políticas públicas que devem ser implementadas pelo Estado como "medida de não-repetição", no caso específico de
Damião Ximenes Lopes, algumas foram adotadas e reconhecidas na própria sentença, com destaque para a aprovação da Lei nº
10.216/2001, a Lei da Reforma Psiquiátrica.
Não obstante, a Corte reiterou a necessidade de o Estado brasileiro continuar desenvolvendo um programa de formação e capacitação
de médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermaria e todo o pessoal vinculado à prestação do serviço público de
saúde mental.
Ainda no caso de Damião, em relação à indenização pecuniária a ser paga pelo governo brasileiro, foi editado um Decreto (nº
6.185/2007) autorizando a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República a dar cumprimento à sentença
exarada pela Corte Interamericana, considerando a criação prévia de uma rubrica orçamentária "para pagamento de indenização a
vítimas de violações das obrigações contraídas pela União por meio de adesão a tratados internacionais de proteção de direitos
humanos".
Convém observar que as sentenças da Corte são sentenças equiparadas à sentença nacional e não se confundem com a sentença
estrangeira, assim considerada aquela proferida por autoridade de outro país e que, para ter força executória no Brasil, deve passar pelo
crivo do Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, I, i, CF).
A homologação de sentenças estrangeiras decorre do princípio costumeiro internacional que desobriga o Estado a reconhecer decisões
emanadas de outras soberanias. O procedimento perante o STJ objetiva certificar que a sentença estrangeira não ofende a soberania
nacional nem a ordem pública e que se reveste dos requisitos extrínsecos indispensáveis à sua homologação.
Diferente é a situação da sentença internacional. Tendo em conta que o tribunal internacional profere sentenças por força de um tratado
assinado e ratificado pelo Estado parte, em que este transferiu parcela do seu poder de imperium quando se sujeitou à jurisdição
daquele, não há que se falar em desrespeito à autonomia e à exclusividade da jurisdição do Poder Judiciário brasileiro ao acatar tal
decisão sem necessidade de homologação.

Casos da CIJ
Casos Contenciosos
2013 – Pesca de Baleias na Antártica (Austrália v. Japão: Interferência da Nova Zelândia)
2013 – Obrigação de Negociar Acesso ao Oceano Pacífico (Bolívia v. Chile)
2013 – Pulverização Aérea de Herbicidas (Equador v. Colômbia)
2013 – Certas Atividades Executadas por Nicarágua na Fronteira (Costa Rica v. Nicarágua)
2013 – Relativo à Delimitação das Fronteiras entre a Plataforma Continental da Nicarágua para Além do Limite de 200 Milhas
Náuticas a partir do Mar Territorial da Nicarágua (Nicarágua v. Colômbia)
2013 – Construção de uma Estrada em Costa Rica ao Longo do Rio San Juan (Nicarágua v. Costa Rica)
2013 – Pedido de Interpretação do Julgamento de 15 de junho de 1962 no Caso Concernente ao Templo de Preah Vihear (Camboja v.
Tailândia)
2013 – Frontier Dispute (Burkina Faso-Níger)
2012 – Questões Relativas à Obrigação de Processar ou Extraditar (Bélgica v. Senegal)
2010 – Certas Atividades Realizadas pela Nicarágua na Fronteira (Costa Rica v. Nicarágua)
2010 – Fábrica de Celulose às Margens do Rio Uruguai (Argentina v. Uruguai)
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Casos práticos do TPI.
Tribunal Penal Internacional profere primeira sentença por crime de recrutamento de crianças-soldado
Em 14 de março de 2012, a Câmara de Julgamento proferiu a primeira sentença do Tribunal Penal Internacional (TPI), no processo
contra Thomas Lubanga Dyilo. Esta é a primeira vez que uma Câmara de Julgamento do Tribunal Penal Internacional emite um juízo
sobre a culpa ou inocência de um acusado.
Thomas Lubanga raptou e treinou crianças que foram usadas como soldados entre 2002 e 2003
Uma série de crimes contra menores, que foram recrutados, treinados e usados como soldados numa milícia rebelde responsável por
massacres durante a guerra civil da República Democrática do Congo valeram a Thomas Lubanga Dyilo, um antigo psicólogo e
reconhecido "senhor da guerra", uma pena de 14 anos de prisão, seis dos quais já cumpridos à espera do julgamento.
Trata-se da primeira sentença do Tribunal Penal Internacional de Haia, na sua versão permanente - na mesma cidade holandesa existem
tribunais especiais para julgar os crimes de guerra no Ruanda, Serra Leoa e ex-Jugolsávia.
Segundo a sentença lida pelo juiz Adrian Fulford, o antigo chefe militar congolês, agora com 51 anos, era um "homem educado e
capaz de compreender perfeitamente a seriedade dos seus crimes", que remontam aos anos de 2002 e 2003 na região de Ituri, rica em
minas de ouro.
Lubanga foi um dos principais organizadores da União dos Patriotas Congoleses, uma milícia que combatia o Exército Popular
Congolês, e da Força de Resistência Patriótica e outros grupos étnicos (no caso, da etnia lendu) envolvidos na guerra civil daquele país
africano. Calcula-se que mais de 60 mil pessoas tenham morrido no conflito. Cerca de 50% dos combatentes tribais em Ituri em 2003
tinham menos de 18 anos.
O tribunal ouviu testemunhos sobre o modus operandi da milícia de Lubanga: crianças, por vezes com apenas cinco anos, eram
raptadas, treinadas para intimidar ou matar, no caso dos rapazes, ou usadas como escravas sexuais, se fossem raparigas. As crianças
eram sujeitas ao uso de drogas para deixá-las mais submissas ou mais agressivas.
A pena relativamente leve aplicada a Lubanga gerou críticas imediatas e comparações pouco abonatórias com o tribunal para a ex-
Jugoslávia (que deteve as principais figuras da guerra dos Balcãs e já produziu mais de 60 sentenças), ou com o desfecho do
julgamento do ex-Presidente da Libéria Charles Taylor, condenado a 50 anos de prisão.
"As vítimas e a sociedade civil lamentam que a acusação não tenha abrangido a totalidade dos seus crimes, como violência sexual,
execuções sumárias ou saques e pilhagens", declarou André Kito, porta-voz de uma coligação de organizações cívicas do Congo.
Na leitura da sentença, o juiz Adrian Fulford rebateu algumas das (previsíveis) críticas com palavras duras, por exemplo para a forma
errática e quase displicente como o antigo procurador-chefe Luis Moreno Ocampo conduziu o processo: a incapacidade de produzir
provas para algumas acusações (como os crimes sexuais) ou o recurso a testemunhas pagas, que reputou como "pressão injustificada"
sobre o arguido - cuja cooperação mereceu elogios. A acusação pedira uma pena de 30 anos.
O Tribunal Penal de Haia, a funcionar desde 2002, é o primeiro esforço internacional de aplicação sistemática de justiça em casos de
atrocidades - genocídios, crimes de guerra e contra a humanidade - que escapam às ordens jurídicas nacionais. Mas a sua jurisdição não
é universal: países como os EUA, China, Rússia e Israel não reconhecem a sua autoridade e mantêm-se fora da sua alçada.
Segundo a ONU, o uso de crianças-soldados é frequente em países como a RDC, Uganda, Sudão, República Centro-Africana, Chade e
Somália. A organização Save The Children contou 33 conflitos armados onde foram utilizadas "brigadas" de crianças - a Unicef estima
que 250 mil crianças estejam no "activo" como soldados. Estas organizações estão actualmente envolvidas numa campanha para elevar
a idade de recrutamento militar para os 17 anos.

2016 - Jean-Pierre Bemba condenado a 18 anos de prisão pelo Tribunal Penal Internacional
O ex-chefe rebelde Jean-Pierre Bemba, condenado a 18 anos de prisão pelo TPI, deixa na República Democrática do Congo (RDC) a
lembrança de um chefe autoritário que permanece ainda muito popular, nomeadamente em Kinshasa.
Um homem de negócios que se tornou chefe de guerra, Jean-Pierre Bemba, de 53 anos de idade, foi condenado pela onda de mortes e
violações cometidas pela sua milícia, o Movimento de Libertação Congolês (MLC), na República Centro-Africana, entre outubro de
2002 e março de 2003.
Ao descrever as violências, ameaças, violações, assassinatos e traumatismos vividos por famílias inteiras de forma repetida, a juíza do
TPI, Sylvia Steiner, destacou na leitura da sentença o que considerou ser "uma crueldade particular" desses crimes contra vítimas
"particularmente vulneráveis".
Em cinco meses, cerca de 1.500 homens do MLC mataram, pilharam e violaram na República Centro-Africana, para onde se
deslocaram em apoio ao Presidente Ange-Félix Patassé em face de uma tentativa de golpe de Estado realizada pelo general François
Bozizé.
Para a juíza Sylvia Steiner, "o fracasso de Bemba em tomar medidas concretas tinha deliberadamente por objetivo encorajar esses
ataques levados a cabo contra a população civil”.
“Sem circunstâncias atenuantes”
Fatou Bensouda, procuradora do TPI
O tribunal não encontrou nenhuma "circunstancia atenuante" que poderia permitir diminuir a pena de Jean-Pierre Bemba.
A procuradora do TPI, Fatou Bensouda, da Gambia, tinha solicitado uma pena de prisão de “pelo menos 25 anos". Com a medida, a
procuradora queria que o tribunal sancionasse, pela primeira vez, as violações e violências sexuais como crimes de guerra.
De qualquer das formas, para os observadores a sentença hoje (21.06.) proferida em Haya é "histórica por várias razões”,
nomeadamente por ser a mais pesada até hoje imposta pelo TPI, sedeado na Holanda e criado em 2002, para julgar os piores crimes
cometidos no mundo. Por outro lado, trata-se da primeira condenação de um ex-vice-presidente na história do TPI, bem como contra
um comandante militar, tendo por base o princípio da "responsabilidade do comndante".
Reações à sentença
Tribunal Penal Inbternacional (TPI), criado em 2002
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Ao reagir à sentença, a ong Human Rights Watch declarou que esta pena representa "uma medida de justiça para as vítimas da
violência sexual" e serve de advertência aos "outros comandantes que, eles também, poderão ser considerados responsáveis pelas
violações e outros sérios abusos cometidos pelas tropas sob seu controle".
Gilles Gilbert Gresenguet, procurador na República Centro-Africana, reagiu da seguinte forma aos microfones da DW África: "Recebi
a notícia com satisfação porque se trata do coroar de uma luta que finalmente terminou com uma decisão muito significativa: A justiça
triunfou e isso é um exemplo típico da luta contra a impunidade".
Por seu lado, Joseph Bindoumi, presidente da Liga Centro-Africana dos direitos humanos disse que a notícia foi recebida e com muita
"satisfação porque quando o processo começou as organizações da sociedade civil, principalmente as da defesa dos direitos humanos
pressiionaram o governo para que o caso Bemba fosse enviado para o TPI. Entre essas organizações a nossa esteve sempre presente".
Jean-Pierre Bemba, na campanha para a eleição presidencial (2006)
Mas Eve Bazaiba, secretária geral do MLC, movimento criado por Bemba, disse esta tarde em Kinshasa que “não iremos parar nunca
de denunciar a justiça seletiva e discrtiminatória bem como a politização do TPI. Não cessaremos de lembrara que as vítimas dos atos
de violencia na República Centro-Africana têm o direito de conhecer os verdadeiros, digo bem, os verdadeiros autores desses crimes".
Entretanto, a equipa de defesa de Bemba já anunciou a sua intenção de recorrer da sentença, na medida em que "os direitos do réu em
nenhum momento foram respeitados e foi acusado com base em especulações", destacou Peter Haynes, um dos advogados.
"Mobutu em miniatura"
Apelidado de "Mobutu em miniatura" e muito autoritário, Jean-Pierre Bemba criou e dirigiu o MLC na República Democrática do
Congo, depois de ter abandonado Kinshasa em 1999 depois da chegada ao poder do chefe rebelde e pai do atual presidente Laurent-
Désiré Kabila.
A sua milícia tinha grandes poderes na região do Equador e numa parte do nordeste do país.
Jean-Pierre Bemba condenado a 18 anos de prisão pelo Tribunal Penal Internacional
No termo da segunda guerra no Congo (1998-2003), Bemba tornou-se vice-presidente do governo de transição de Joseph Kabila, de
julho de 2003 a dezembro de 2006 depois de ter perdido na segunda volta a eleição presidencial contra Kabila.
Instalado na Europa, em seguida foi preso em Bruxelas em 2008 para ser entregue no TPI, onde sempre disse que era inocente ao
longo de todo o processo iniciado em novembro de 2010.
Detido nos últimos oito anos, Jean-Pierre Bemba deve permanecer ainda na prisão nos próximos dez anos.

Genocídios
1. O Holocausto (Genocídio dos Judeus) – 1942-1945
O holocausto é reconhecido como o maior genocídio da historia
É claramente o mais conhecido exemplo de genocídio da história, o Holocausto perpetrado contra o povo judeu pelos nazistas resultou
em cerca de 6 milhões de judeus mortos. Em outras palavras, 67% da população inteira de judeus na Europa.
Após uma década de políticas cada vez mais antissemitas, a Solução Final para a Questão Judaica sancionou o recolhimento e
assassinato sistemático do povo judeu, na Europa ocupada por nazistas.
Os judeus foram mortos por fome e doenças em guetos, por fuzilamento, através de experimentos científicos antiéticos, tortura, e por
câmaras de gás nos campos de concentração infames.

2. O Genocídio Armênio – 1915


Ocorreu onde atualmente se encontra a Turquia. O Genocídio Armênio foi uma tentativa do governo turco para erradicar todos os
armênios e outras minorias, do país. Isso resultou no assassinato de 1.000.000 a 1.500.000 de armênios, a maior parte deles homens, e
a deportação do restante. As mortes foram de diferentes formas, entre eles afogamento, incêndio, uso de armas químicas e biológicas.

3. Genocídio de Ruanda – 1994


Trata-se de um dos mais famosos genocídios da história recente. Foi o genocídio em Ruanda das forças extremistas hutus contra a etnia
Tutsi, onde durou em torno de 100 dias. As mulheres encontradas eram violadas e os filhos nascidos eram mortos. Eram mortes brutais
realizadas através armas brancas (facões importados da China). O genocídio resultou na matança de cerca de 500.000 a 800.000 de
pessoas.

4. Genocídio do Timor Leste – 1975-1999


Timor Leste foi colônia de Portugal, e foi invadida pela vizinha Indonésia somente um ano após ter ganhado a independência. A
indonésia alegava a ocupação para deter o comunismo, assim foram apoiados pelos EUA e Austrália que evitou qualquer condenação
internacional do ataque. O genocídio pode ser dividido em duas eras. A primeira entre 1975 e 1979, foi uma campanha de pacificação
que resultou em 20.000 mortos, em torno de um terço da população leste timorense. De 1979 em diante, foi implantado um politica de
descaracterização da cultura local com proibição do ensino do português e a islamização. Então, em 1999, após a votação de
independência ser um sucesso, mais de 200.000 pessoas foram forçadas a viver em campos de concentração, onde muitos mais foram
mortos pela força ou condições negligentes.

5. O Genocídio Bósnio – 1992-1995


Após a queda da URSS, o Estado comunista da Iugoslávia demonstrava fragilidade também. Composto por múltiplas etnias e povos
religiosos de origem sul eslavo, a Iugoslávia se desfez em uma guerra civil horrível com o poder central.
E durante este processo, a guerra eclodiu no que é atualmente Bósnia-Herzegovina, com bósnios muçulmanos e bósnios croatas de um
lado, e forças sérvias bósnias de outro. Quem sofreu com a divisão da Iugoslávia foram os bósnios, que tinha 90% de muçulmanos. Em
torno de 100.000 pessoas foram mortas e cerca de 20.000 mulheres foram estupradas.
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Evolução histórica dos direitos humanos fundamentais nas Constituições brasileiras:

a) Constituição Política do Império do Brasil (1824) – previa em seu Título VIII – Das disposições gerais, e garantias dos direitos civis
e políticos dos cidadãos brasileiros um extenso rol de direitos humanos fundamentais. O art. 179 possuía 35 incisos consagrando
direitos, tais como, igualdade, legalidade e outros.

b) Constituição Republicana de 1891 – previa em seu Título III – Seção II, a Declaração de Direitos. Previa os direitos já assegurados
na Constituição anterior além de outros, tais como a abolição de pena de morte.

c) Constituição de 1934, 1937 e 1946 – todas destinaram em seus corpos dispositivos legais que resguardassem os direitos humanos
fundamentais. A Constituição de 1946 estabeleceu ainda diversos direitos sociais relativos aos trabalhadores e empregados.

d) Constituição de 1967 – também previu um capítulo de direitos e garantias individuais e um artigo para direitos sociais aos
trabalhadores com vistas à melhora de sua condição social. Dentre os direitos destacou-se a proteção ao preso e competência para o
Tribunal do Júri. A Emenda Constitucional de 1969 produziu inúmeras alterações na CF/67, inclusive, com previsão de excepcionais
restrições aos direitos e garantias individuais.

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