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MINISTÉRIO PASTORAL

Tiago e Júlia entraram para o ministério com um sentimento mútuo de empolgação e


chamado. Eles não podiam crer que haviam sido chamados parao privilégio de viverem pelo
desempenho do ministério. Eles amavam a igreja que frequentavam há anos, o lugar onde seus
dons e seu chamado haviam sido reconhecidos. Eles amavam ser seminaristas e, depois,
membros do grupo de funcionários e, finalmente, a honra de serem escolhidos como líderes da
mais nova congregação da igreja.

Tudo parecia um sonho se tornando realidade. Eles haviam vivido em uma comunidade
vibrante e que ministrava mutuamente. As pessoas haviam falado em suas vidas quase
diariamente. Eles simplesmente nunca eram deixados para terem a sua própria visão de si
mesmos. Nunca havia a expectativa de que eles agissem por si mesmos. O amor protetor e
preventivo estava sempre ao redor - amor que era sincero, encorajador, confrontador, perdoador e
esperançoso.

Devido a terem se tornado tão acostumados a isso, Tiago e Júlia saíram para começar a
nova congregação, subestimando seriamente a importância do ministério da compreensão e
crescimento pessoal que eles estavam deixando para trás. Eles não faziam ideia de que estavam
pisando em uma zona de perigo onde nenhum cristão, muito menos um pastor, deve tentar viver.

Quase imediatamente, as coisas começaram a mudar dentro de Tiago, mudanças que ele
não viu e com as quais não se preocupou. Como jovem pastor com um grupo comprometido e zelo
para trazer o evangelho à sua comunidade, Tiago começou a lidar com questões do coração com
as quais não havia lidado anteriormente, apesar de não reconhecer a importância dessas
questões. E certamente ele não fazia ideia de que essas preocupações o levariam à zona de
perigo e quase se tornariam a destruição do seu ministério.

A primeira vez em que me encontrei com Tiago e sua esposa eles estavam prontos a
desistir. Júlia disse o seguinte: “Tudo o que eu desejo é a liberdade de viver com um homem que
não esteja no ministério. Não consigo suportar o que isso tem causado no Tiago e em nossa
família. Eu desisto. Simplesmente não posso mais suportar isso e creio que o Tiago não esteja em
condições de liderar outras pessoas”.

Como Tiago e Júlia chegaram a esse estado de abatimento e desencorajamento? A jornada


da empolgação ministerial ao perigo pessoal e ao desânimo ministerial começou com as mudanças
no coração do Tiago. Talvez essas mudanças não pareçam significativas ou perigosas para você,
mas elas quase levaram esse homem talentoso à ruína. Praticamente no momento em que
chegaram para plantar a igreja, Tiago começou a sentir um fardo que ele não havia experimentado
anteriormente. Ele não compartilhou isso com ninguém, nem mesmo com Júlia.

Como líder do grupo iniciante das pessoas corajosas que haviam deixado uma igreja
vibrante para se entregarem a esse novo ministério, Tiago sentiu uma enorme pressão em não
fazer nada que resultasse em desapontamento. Ele sentiu mais pressão de ser seguro e sempre
dizer a coisa certa do que havia experimentado antes. Ele não queria que as pessoas ficassem
preocupadas com aqueles momentos em que ele se sentia fraco, abatido, incapaz ou
amedrontado. Certamente ele não queria que Júlia visse aquelas coisas porque, de todas as outras
pessoas, ela havia sido aquela disposta a deixar muito e se arriscar muito para segui-lo nessa nova
situação ministerial.

Ele sentiu a necessidade de agir de maneira encorajadora, inspiradora de esperança e


segura (o termo operativo para isso era agir), mesmo quando ele mesmo não tinha nenhuma
dessas qualidades. Ao fazer isso, ele começou a se sentir confortável com uma desarmonia entre a
pessoa do ministério público e as realidades atuais do seu coração e da sua vida. Ele disse a si
mesmo que isso era importante porque ele não queria que as pessoas começassem a questionar o
envolvimento delas como resultado de duvidar das habilidades de liderança dele. De maneiras
alheias à sua consciência, Tiago começou a se proteger, afastando-se das outras pessoas. Ele se
tornou muito bom em dar respostas evasivas generalizadas a questões pessoais. Ele se tornou
bom em discutir questões bíblicas e teológicas em vez de conversar sobre o que ele realmente
estava pensando ou sentindo.

Certamente um pastor precisa ser sábio acerca do que está revelando e para quem, mas ele
não precisa criar uma cerca ao redor de si mesmo que o afaste completamente do corpo de Cristo
e chamar isso de custo do ministério ao qual foi vocacionado. Mas isso foi exatamente o que Tiago
fez e o que muitos, muitos pastores estão fazendo ao redor do mundo. Eles não somente estão
vivendo em isolamento, mas também estão convencidos de que foi para isso que foram chamados.
Eles denominam seu isolamento não como um perigo, mas como uma escolha boa e madura.

Muitos jovens pastores me dizem que foram aconselhados por pastores mais experientes,
que são seus mentores, a viverem em isolamento. Tiago se preocupava sobre como o
conhecimento das suas lutas prejudicaria a esperança das pessoas no poder do evangelho. Ele
não queria que as pessoas questionassem o evangelho porque não parecia que o evangelho
estava funcionando na vida de seu pastor. Ele se perguntava como eles podiam confiar no auxílio
de Deus se não parecia que Deus estava ajudando seu pastor. Assim, sem haver um momento
consciente de decisão, Tiago entrou em seu esconderijo. Pareceu natural para ele, o custo do seu
chamado. É certo que ele dizia coisas teológicas sobre sua necessidade de graça, mas nunca de
forma a levar outros a pensarem seriamente que o seu pastor era um homem espiritualmente
carente.

Porém, ser o homem que ele pensava que precisava ser, trabalhando para ser mais justo
publicamente do que ele realmente era, era exaustivo e penoso. Até mesmo em encontros mais
informais, Tiago não relaxava. Assim, ele não desfrutava desses encontros e procurava razões
para não participar. Ele havia almejado a liberdade e a alegria de poder usar e expressar seus
dons como pastor titular, mas não se sentia livre e não experimentava a alegria que pensava que
desfrutaria. Tiago estava convencido de algo que eu tenho ouvido de muitos pastores também: ele
estava convencido de que todas as outras pessoas do corpo de Cristo podiam confessar pecados,
mas ele não podia nem devia.

O isolamento de Tiago não somente acrescentou significativamente ao peso do ministério


pastoral, mas também fez algo que era até mais perigoso. Tal isolamento abandonou Tiago à sua
própria cegueira. Eu não estou sendo duro com Tiago aqui. Essas coisas são as tendências de
todo pecador, porque um dos componentes mais poderosos da cegueira espiritual é o engano
próprio. Não há ninguém a quem fraudamos mais do que a nós mesmos. Não há ninguém a quem
corremos para defender mais do que a nós mesmos.

E, como todas as outras pessoas espiritualmente cegas, Tiago estava cego para a sua
cegueira. De fato, a cegueira de Tiago era até mais difícil para ele reconhecer porque seus dons,
sua habilidade e disciplina ministeriais faziam parecer a ele mesmo que o que ele estava fazendo
estava certo. Mas não estava. Progressivamente, Tiago estava permitindo a si mesmo ficar bem
com coisas com as quais ele não devia ficar bem: uma alfinetada em uma ovelha da sua
congregação, fofoca sobre um líder colega de ministério, impaciência no meio de uma reunião,
saindo de uma conversa de modo irado, abrigando amargura contra certas pessoas na igreja,
infrequência em seu tempo de adoração e devoção pessoais e crescentes impaciência, irritação e
isolamento em casa.

Júlia começou a observar o que ela agora caracterizava como um Tiago diferente, mas a
mudança não havia ocorrido instantaneamente. Havia sido um processo no qual Tiago praticara e
dissera coisas que não teria feito anteriormente, mas o que preocupava Júlia era que isso não
parecia incomodá-lo mais. No passado, quando Tiago cedia a essas tentações, o padrão dele
havia sido sempre confessar e endireitar o que precisava ser endireitado. Júlia não estava
preocupada apenas com o fato de Tiago não estar confessando, mas ele também começava a ficar
irado rapidamente quando Júlia tentava apontar os problemas. Ele dizia a ela que grande parte do
seu ministério envolvia ser escrutinado e criticado por pessoas e que ele não precisava voltar para
casa e ver isso acontecendo lá também.

Júlia também notou que Tiago se separou da família. Ele gastava muito tempo relacionando-
se com o mundo por meio do Facebook e uma quantidade considerável de tempo se entorpecendo
em frente à televisão. Parecia não haver qualquer maneira de Júlia falar com ele sobre isso e, se
as crianças o perturbavam, Tiago respondia de qualquer maneira, menos com paciência e graça. A
separação entre a pessoa pública de Tiago no ministério e a sua vida privada se tornou
insuportável para Júlia. Ela começou a sentir que o ministério estava destruindo Tiago e a família
deles. Secretamente, ela começou a esperar e orar para que Tiago atingisse o ponto final de
desejar abandonar o ministério.

Tiago estava em um isolamento pastoral e em um modo de sobrevivência. Ele estava


cumprindo seus deveres, mas a alegria havia se esvaído. Quando Júlia olhava para Tiago e o via
em suas lutas semana após semana, parecia a ela que Jesus Cristo havia abandonado a estrutura.
Ela não podia mais suportar. Ela amava muito Tiago. Ela considerava sua vocação como algo
muito santo. Então, ela lhe deu aquele ultimato: “Será eu ou o ministério”.

Gostaria de poder dizer que a história de Tiago é singular, mas não é. Os detalhes são
individuais, mas tenho ouvido os contornos desta história vez após vez. O problema é maior do que
o pecado individual de um pastor. Há mudanças necessárias a serem feitas na cultura pastoral.

Como podemos pedir que pastores confessem o que eles,


por causa do isolamento, não vêem?

Como podemos pedir que eles confessem, quando estão


convencidos de que a confissão honesta custaria a eles
não somente o respeito, mas também o ministério?

Permita-me sugerir alguns passos que podem ajudar a retirar os pastores do isolamento
para um contato mais regular com o ministério normal e essencial do corpo de Cristo.

1- PEÇA AO SEU PASTOR QUE FREQUENTE UM PEQUENO GRUPO NO QUAL ELE


NÃO SEJA O LÍDER;

2- PASTOR, PROCURE UMA PESSOA ESPIRITUALMENTE MADURA PARA SER O SEU


MENTOR O TEMPO TODO;

3- ESTABELEÇAM UM PEQUENO GRUPO DE ESPOSAS DE PASTORES;

4- ASSEGURE-SE DE QUE 0 SEU PASTOR E FAMÍLIA SEJAM REGULARMENTE


CONVIDADOS PARA FREQUENTAR LARES DA IGREJA;

5- ASSEGURE-SE DE QUE SEU PASTOR E ESPOSA TENHAM RECURSOS PARA


SAÍREM DE CASA REGULARMENTE E PASSAR ALGUNS FINAIS DE SEMANA FORA UM COM
O OUTRO.

Que cada vez menos e menos daqueles que são vocacionados a nos liderar vivam em
isolamento e separação do corpo de Cristo e que isso conduza a mais e mais pastores que sejam
exemplos carinhosos e humildes, em sua vida privada e pública, tanto da necessidade como do
poder transformador da graça do Senhor Jesus Cristo.

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