BRDFANBSS V8.GNC.AAA. ".

Debate: O Partido

as forças que Socialista

disputam a : conseguirá

liderança dos socializar

Í,

professores a França?

P. 16 e 17 P. 12

8
£ _ BOB MARLEY
e
schon

O
I
I
$
%
a
$
o
9
E CJOMNBAEZ
a
i
a
$
Rá
$
£
©
Po
e
R . O pacifismo de
e
x
«é Joan Baez e a
&
r

a
©
a revoltamística
$
$ de Bob Marley:
|
E
3 dois caminhos da
&
4)
o
3 arte e da política
a
E
8
$
é
9 P. 15, 19 e 20
é
yea
y
A
feu
C)

Lua
c©
*
L2)
X
have
Lag]
a
Uh
Len]
Edição Semanal 208
 BROFANBSB VB.GNC.AAA,.©

. NOSSA OPINIÃO

A OPOSIÇÃO E AS BOMBAS Chico

eeoaoeeo
o _________.___Á:::.:_=n

Contra o terrorismo,

a impunidade e o

acobertamento...
exemplo do que já ocorrera no de modo explícito também contra a im-
Rio deJaneiro, realizou-seem .. "punidadn desses atos desta. vez não .hon-
São Paulo, na última quinta- ve este cuidado. Ora, restringir-se ape-

feira, um ato público contra o nas à denúncia do terror fascista equiva-

terror fascista, pela punição le a acobertar o governo Figueiredo, que

dos terroristas e pelo desmantelamento permite a ação dos terroristas; significa

dos DOI-CODIs. A manifestação reuniu abrir mão de realizar uma denúncia de

cerca de duas mil pessoas na Praça da Sé envergadura do regime militar.

e foi promovida por mais de uma dezena

Por falta de uma direção desse tipo,
de entidades democráticas e populares e
pelos partidos políticos que se opõem ao alguns oradores omitiram a conivência

governo Figueiredo. A oposição demo- governamental. Pior que isso: dois deles

crática e popular necessita fazer um - o do PTB e o coordenador das Socie-

grande esforço para multiplicar as mani- dades Amigos de Bairros de São Paulo

festações públicas desse gênero. E neces- - sequer criticaram o terrorismo.

sário, inclusive, considerar a proposta

Apesar dessas limitações, com atos
apresentada por algumas entidades, de
como o da Sé a oposição abre caminho
realização de um Dia Nacional de Luta
para livrar-se da mão comprometedora
contra o terror e contra aqueles que o
do general Figueiredo e avançar na luta
acobertam, pois no próximo dia 31 esgo-
contra o terror fascista e contra aqueles
ta-se o prazo que o próprio regime mili-
que o acobertam.
tar estipulou para a conclusão do inqué-
rito sobre a explosão das bombas no Rio-
Centro. - Nesta edição..
.

O valor desses atos é evidente: na

Praça da Sé, várias entidades fizeram Nas páginas 19 e 20 ahistó
riada cantora

Joan Baez, tendo como pano de fundo as

uma denúncia viva e contundente do ter- lutas e dificuldades do movimento dé pro-
rorismo e da conivência governamental. testo americano após a guerra do Vietnã.

O representante dos jornais populares e Com a invasão do Camboja pelo Vietnã, o

democráticos presente no ato lembrou conflito China-Vietnã, o êxodo de vietnami-

tas do Sul e as notícias de massacres no
que o governo tem-se beneficiado das Camboja pelo governo do khkmer vermelho
dificuldades que os terroristas criam pa- - que precedeu o atual governo titere,
res 2a
ra as forças de oposição, que o governo pró-vietnamita -, não foram poucos os ati-

persegue e apreende os jornais que são vistas americanos que, tendo batalhado A abertura no buraco da fechadura...

pela independência dos povos da Indochi-

vítimas dos terroristas e deixa estes impu- na, mergulharam na frustração e no pessi-
nes, Concluiu que o governo e os terroris- mismo. Joan Baéz, como conta nossa cor-

tas formam no mesmo campo contra a respondente Paula e Silva, de Nova Iorque,

oposição democrática e popular. O re- parece ser um dos que não conseguiram

entender essa fase de dificuldades do movi-

presentante da União Metropolitana dos mento popular no campo internacional e
Campanha
Estudantes Secundaristas lembrou que a enveredou por um caminho de condenação

oposição sempre estará sujeita às bom- genérica da violência: O risco desse cami-

bas enquanto não se desmantelar o apa-
relho repressivo montado pelo regime
militar. Os representantes do Comitê
Brasileiro de Anistia (CBA) e dos sindi-
catos e associações "dos trabalhadores
rurais do Maranhão, afirmaram que a
luta contra o terrorismo é, ao mesmo
tempo, uma luta contra a ditadura mili-
nho é igualar, por exemplo, a resistência he-
róica do povo salvadorenho à política de in- dos Cr$ 6 milhões
tervenção americana.
Da página 5 a 9 o leitor encontrará um
para Movimento
conjunto de artigos que ajudam a conhecer
detalhes da profunda crise econômica e so-
Os resultados da 5a semana da Campanha de Movimento
cial em que o país vai mergulhando. Nas
páginas 6 e 7, as demissões em massa que
não foram muito brilhantes, embora já tenhamos ultrapas-
começam em Volta Redonda; nas páginas 7

tar e levantaram a bandeira da Assem-
bléia Nacional Constituinte, livre e sobe-
rana.
O ato da Sé permite também que a
oposição democrática e popular corrija,
no futuro, equívocos e vacilações que
e 8, as diferentes reações dos vários sindi- sado os 3 milhões de cruzeiros. Por isso Movimento volta a
repetir a seus leitores: precisamos cumprir essa meta, para
catos e movimentos operários às demis-
sões. Na página 9, uma amostra de como
são as soluções para a crise: o mesmo go- repor os prejuízos causados* pelos atentados terroristas
verno que alega não poder subsidiar nem
contra as bancas de jornais e
pão, nem salário para os trabalhadores re-
ganharmos tempo na solução
passa bilhões de subsidios para os moinhos

ainda persistem em seu campo. Ao con-

de trigo, os frigoríficos e os laticínios. E na
de nossos problemas editoriais.
página 10, uma das razões pelas quais o
trário do que ocorrera em agosto do ano movimento operário brasileiro não encontra
NÃO DEIXE
passado, quando a primeiragrande ma- grandes colaborações nos sindicatos dos
ESTA VOZ
nifestação contra o terror foi convocada países capitalistas avançados. Doação de acionistas 1.999.000,00
SER CALADA Doação de leitores 439.500,00
Assinaturas de apoio 607 . 300,00
' Vendas de quadros 100.000,00
SERVICOS Doação de discos 23.000,00
INTERNACIONAIS £e Monde |
Total # 68.800,00

menos amino m veses asno como aero amooo pes memes mesmos momo meio amor sesso cerco mer

Diretoria de Edição S/A

Conselho de Direção A
: Agostinho Gisé, Alcy Linhares, Alvaro Ca-

ropreso, "Antonio C. Queiroz, Armando

Raimundo Rodrigues Pereira (presidente),
| Esta voz vai falar mais alto]
Paulo Koza (diretor de operações), Perseu
Boito Jr., Armando Sartori, Célia R. de

Souza, Conrado Júnior, Deizir A. Matias,

Abramo (diretor adjunto:). Para isto estou enviando Cr$ . . ...... ......... por |
Flávio Cárvalho, Igor Fuser, Jacira Venàn- Diretor Responsável
cio, José C. Alencar, José Crisóstomo de
[] Cheque nominal para [] Ordem de pagamento [ | Vale Postal em nome de
Souza, Lia R. Dias, Luiz C. Antero, Luiz
Raimundo Rodrigues Pereira
Eçlição S/A. Editora de para Edição S/A " Edição S/A, Editora de
Macklouf de Carvalho, Luiz Pedro, Márcio Livros Jornais e Revistas _ conta 13007/9, Bradesco, Livros Jornais e
Bueno, Murilo Carvalho, Paulo Koza, Per-
Movimento é uma publicação de Edição
Ag. Vila Clementino, Revistas, Rua Dr. Virgílio
seu Abramo, Raimundo Rodrigues Perei-
S/A - Editora de Livros, Jornais e Revis-
São Paulo. de Carvalho Pinto, 625, |
ra, Roberto Martins, Roldão Oliveira, Ti-
tas. Administração e redação: Rua Dr. Vir-
São Paulo, SP. CEP: 05415
gilio de Carvalho Pinto, 625, Pinheiros,
bério Canuto e Washington Oliveira.
São Paulo, Brasil. CEP 05415. Telefones: Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento
210-6622 e 210-6744. Distribuição: Abril Nome: ua os i alo esa A eda e ea ada ee e ea e e a eloa Pala e e ae er eo e e o calo oo a
Conselho Editorial de Movimento

Alencar Furtado, Andre Forster, Audálio

S/A - Cultural e Industrial. Rua Emílio | Endereço
Goeldi, 575. Tel. 65-5115. Impresso nas o-
Dantas, Chico Buarque de Holanda, Fer-
ficinas da Cia. Editora Joruês. Rua Gastão Para isto estou enviando o pagamento de 3.200,00 através de
nando Henrique Cardoso, Orlando Vilas
da Cunha, 49. Tel. 531-8900. São Paulo.
Boas, Hermilo Borba Filho (1912-1976). | [J] Cheque nominal 8 Vale Postal [] Ordem de Pagamento
Material internacional via Varig.

Lu
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81
WMA, n aai
a a ao a , o e a M a tao, 5 om eee ee esa A- a
D Nao

BRASIL
rotina
Um documento sigiloso mostra como as
"Ouvir e anotar as decisões nas reu-
niões nos sindicatos, diretórios, ABI,
assembléias etc." provável que o leitor
imagine que esta diretriz tenha sido
traçada por um dos órgãos de polícia
política do País. Será um engano. Esta
orientação consta de uma agenda para
reunião do comando da 5.a brigada de
Cavalaria Blindada, sediada nd bairro de
São Cristóvão no Rio de Janeiro e tra-
cada pela sua II seção. O documento na in-
tegra foi encaminhado a Movimento por
um colaborador anônimo que o,teria en-
contrado na rua.
Através dele é possível conhecer um
pouco do modus operandi dos serviços
de informação das Forças Armadas,
além de demonstrar que elas não abdi-
caram de um dos papéis que assumiram
nos piores períodos do regime, que foi o
de polícia política.
Até recentemente as autoridades mili-
tares alegavam que não interviriam nas
apurações dos atentados porque este pa-
vel caberia aos órgãos específicos tais
como os DEOPS e a Polícia Federal.
Depois das explosões do Rio Centro c
general Gentil Marcondes Filho fez o
obséquio de revelar que esta não é a rea-
lidade, ao alegar que os militares esta-
vam no Rio Centro trabalhando para o
serviço de Informações em missão de ro-
tina. Ou seja, na melhor das hipóteses a
chamada Sociedade Civil continua sob o
estrito controle e vigilância das Forças
Armadas. O relatório em poder de
Movimento confirma esta realidade.
O Exército
age como
polícia
Morar
Mas antes de entrar nas revelações e
análise do documento, é preciso conhe-
cer como funcionam as chamadas II se-
ções. Para quem considerava que os ór-
gãos de informação e segurança conheci-
dos já eram um exagero, uma paraferná-
lia de espionagem fora de propósito,
haverá mais surpresas, e desagradáveis.
Supõe-se cont já conhecidos órgãos
como o SNT, com sua Agência Central e
suas 13 Agências Regionais, os DEOPS
de todas as secretarias estaduais da Se-
gurança, os Serviços Reservados das
Polícias Militares, as DSI (Divisões de
Segurança e Informação) de cada minis-
tério civil, as ASI (Assessorias de Segu-
rança e Informação), que funcionam nas
autarquias e empresas governamentais e
que se subordinam às DST, o CIE (Cen-
tro de Informações do Exército), o CISA
(Centro de Informações e Segurança da
Aeronáutica), o Cenimar (Centro de
Informações da Marinha), os CODI-DOI
(Centros de Operações de Defesa Inter-
na/Destacamentos de Operações e infor-
mações), existentes em todo o território
nacional e subordinados a cada comando
de Exército, e a Polícia Federal, do
ministério da Justiça.
Uma II seção - a do Estado Maior do
1 Exército, tornou-se particularmente
conhecida agora, com o episódio do Rio
Centro, porque se soube que é ela que
coordena as ações dos agentes do DOL.
Mas as II seções, também conhecidas
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81
"y UY BRDFANBSB VB,GONC.AAA,
ESPIONAGEM
da
IIs Seções do Exército vigiam tudo, até
Gilberto Laranjeiras
por SIKServiços de Informação) são nu-
merosíssimas - elas integram e am-
pliâm enormemente e a chamada comu-
nidade de informações e fazem parte do
Estado Maior de cada nível de comando
das Forças Armadas. O Estado Maior,
que se divide em 5 seções, é uma espécie
de órgão de assessoramento de cada
comando. A I.a sessão é a de pessoal; a II
seção, de informações e contra-informa-
ções; a III, de instruções e operações; a
IV, de logística; e a V, de assuntos civis
ou - como é mais conhecida - de rela-
ções públicas. Cada 'comando, desde
cada um dos ministérios militares, até a
simples unidade, ou quartel, possui um
Estado Maior e naturalmente a sua II
seção.
Tomando apenas como exemplo o 1
Exército (Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo), vejamos como são apro-
ximadamente as suas subdivisões. A ele
estão subordinadas a I divisão de Exêr-
cito, a II Divisão de Exército, o I Batalhão
de Guardas, o I Batalhão da Polícia do
Exército, além de duas divisões de ensino e
especialização, às quais estão subordina-
das as escolas militares superiores (Aca-
demia Militar de Agulhas Negras, Escola
Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais,
Escola de Comando do Estado Maior do
Exército etc.)
Apenas à I divisão de Exército estão
subordinadas 4 brigadas e a cada uma
delas praticamente uma dezena de uni-
dades, ou quartéis. Isto dá uma visão, in-
completa, de quantos comandos - e na-
turalmente quantas IIs seções - existem
apenas na área do I Exército. Esta si-
tuação se reproduz com o II, III e IV
Exércitos, além do Comando Militar do
Planalto e do Comando Militar da
Amazônia. Sem considerar que este
esquema se repete com a Aeronáutica e
com a Marinha. As II secções represen-
tam, portanto, um número de Serviços
de Informação talvez maior que todos os
outros órgãos do gênero somados.
Cada II seção tem como norma trans-
mitir informações ao seu comando res-
pectivo e à II seção de nível superior,
partindo dos quartéis até chegar ao mi-
nistro e à II seção de seu Estado Maior e
daí ao SNL.
As áreas de atuação de cada uma são
subdivididas de acorÃo com a localização
das tropas.
delação
os militares ...
atribuições dos S/2 (militares integrantes
das IIs seções) dos quartéis. Eles devem
Militares orientar, coordenar e supervisionar todas
as atividades de informação e contra-
também informação em seu "subseter de defess
interna (Susedi) e na própria OM" de
vigiados acordo com a orientação do comandante
do quartel. Isto significa que os S/2
A agenda para a reunião do Comando da devem cuidar de espionar não apenas a
área (bairro ou município) de sua juris-
5.a Brigada de Cavalaria Blindada a que
dição como também os próprios mili-
nos referimos, foi preparada pela sua II
tares de sua unidade. Outra orientação é
seção. Ela data de 1.o de março de 1979;
no sentido. de que estes agentes secretos
quando a brigada era comandada pelo
devem se relacionar com os agentes de
general Heraldo Tavares Alves, hoje se-
informação e de repressão de todos os
cretário geral do ministério do Exército.
outros órgãos estabelecidos em sua área,
E tinha como chefe da II seção o te-
formando uma espécie de subcomuni-
mente-coronel Zenóbio Cid de Aguiar Bor-
dade de ,informação. Os S/2 devem se
ges, que assina o documerito. A reunião
integrar com agentes das Polícias Fe-
tinha o objetivo de traçar diretrizes para
deral, civil e militar, DOPS, DSI e ASI,
as II seções dos quartéis subordinados a
das Is seções da Aeronáutica e Marinha
esta brigada. Inicia propondo que as II etc. que estiverem sediadas ou que atuem
seções destes quartéis devem apenas "in-
em sua área. o que se pode deduzir do
formar sobre problemas ligados à sub-
seguinte trecho: "estabelecer ligações
versão". No segundo item do ' documento
necessárias com elementos de informa-
fala-se dos "agentes de informação", que
ção e/ou segurança das forças auxilia-
são os informantes e infiltrações planta-
res, dos órgãos federais, estaduais, mu-
das nas escolas, entidades etc. Estes
nicipais, paraestatais ou autárquicos, e
agentes devem - "ouvir e anotar as deci-
os demais órgãos civis ou militares loca-
sões, nas reuniões, nos sindicatos, diretô-
lizados dentro das Susedi respectivas".
rios, ABI, assembléias etc". Suas des-
pesas com transportes e alimentação
serão "indenizadas pela II seção, me- Ninguém
diante apresentação de uma declaração
do CMT ou recibo das despesas efe- está a
madas". OM são as iniciais de Organiza:
ção Militar, que significa unidade ou salvo ...
quartel subordinado à 5.a Brigada. Os
informantes devem ser ligeiros em seu O documento dá orientações também
serviço, pois são obrigados a informar os sobre a feitura de boletins quinzenais e
resultados das reuniões "por telefone ou relatórios mensais de informações, esta-
mensageiro e confirmar através de um belecimento e manutenção de "uma rede
relatório, após 24 horas". Cada II seção de informantes e colaboradores" e a or-
dos quartéis está obrigada a elaborar um ganização de um arquivo sigiloso. Para
RPI (Relatório Periódico de Informa- realizar substituições eventuais, os quar-
ções) mensalmente e dar entrada na II téis devem manter devidamente cadas-
seção da 5.a brigada impreterivelmente trados na II seção da 5.a brigada, um
até o dia 15 de cada mês. Com relação à oficial e um sargento.
imprensa, diz o documento que devem As informações colhidas pelas Jls
ser informados apenas os fatos da im- seções dos quartéis à que se refere o do-
prensa do município ou bairro (da juris- cumento irão sendo selecionadas para
dição do quartel) e também as ocor- serem transmitidas ao comandante res-
rências excepcionais da grande impren- pectivo é remetidas às IIs seções dos
sa. níveis superiores, percorrendo o seguinte
O documento desce aos detalhes das caminho: da Il seção destes quartéis para a
II seção do Estado Maior da 5.a Brigada
de Cavalaria Blindada, desta para a II
seção do EM da I Divisão de Exército,daí
para a do EM do I Exército, daí para a
do EM do Exército e finalmente para o
CIE e para o SNI que está no topo de
todos os órgãos.
Como se viu, as IIs seções, assim com«
todo Estado Maior, não são órgãos inde-
pendentes, mas de assessoramento dos
comandos, fazendo parte deles.
Os dois (órgãos de operação) são ligados
diretamente aos Comandos de Exército.
No caso do Rio de Janeiro, por exemplo,
o DOI da rua Barão de Mesquita está 11
gado diretamente ao comandante do 1
Exército, general Gentil Marcondes Fi-
lho. Para efeito de funcionamento, as
diretrizes e a coordenação das ações do
DOI são feitas pela II seção do comando
do 1 Exército, que tem esta atribuição,
além de ter de coordenar todas as Ils,
seções de níveis inferiores. Essa é a
mecânica de funcionamento desta malha
gigantesca que pretende abarcar todo o
país. recolhendo informações sobre tudo o
que se passa entre seus habitantes.
 510 Ev BRDFANBSO VB.GNC.AAA, 7

Agência Estado
Táticas de déspisiamentó
Uma
tribuna grave
pelo denúncia
deputado lida na
Hélio visando à sucessão de 1984".

' deDuque, nadoterça-feira,

fontes próprio PDSobtida
com
De acordo com esse piano, os

trânsito em setores militares

atuais mandatos parlamenta-

antes
tes seriam prorrogados por
dois anos, sendo que neste
ligados ao ex-ministro : período o Congresso funciona-
do Exército, Sylvio Frota, pare- ria como Assembléia Consti-
ce resumir o plano geral dos tuinte. , ,
cauismos a serem propostos Ainda segundo Hélio
pelo Palácio do Planalto: se- Duque, as emendas de prorro-
gundo Duque, "o objetivo cen- gação que estão sendoapre-
tra! (do Planalto) é realizar par- sentadas agora fazempartede .|
cialmente as eleições de 1982, uma "tática de despistamento"
apenas para os governos esta- © e seriam "pontes de lança para
duais e as prefeituras, manten- a futura negociação" com os
do intocado o colégio eleitoral, partidos de oposição. ,

Unidade em Goiás
O senador Henrique Santillo pa oposicionista, na qual o.
(PMDB/GO) divulgou do- candidato a vice será o empre-
cumento na semana passada sário Onofre Quinan, ligado ao
através do qual desiste formal- grupo Santillo. No documento,
|-mente-de-disputar-comoex-. osenador goianoressarta que |
"prefeito Iris Resende Machado "a unidade não poderá se fazer.
a indicação pelo PMDB de sua ha
em torno da expectativa do po- |
candidatura ao governo do Es-
tado de Goiás. Santillo e Íris der pelo poder. Ela precisará
No círculo, o cel. Job Sant'Ana, no sepultamento do sargento Guilherme
Resende fizeram um acordo ater-se a efetivos compromis-
para manter a unidade da cha- sos populares".
TERROR
Pelegos nafesta de Maluf
Nada menos que o governa- o dr. Expedito, teria ligações
dor paulista Paulo Salim Maluf estreitas com os empresários.
"ofereceu unrcoquete! no apar--Etee ligadoaumaempresa que
tamento do senador do PDS presta serviços ao BNH, e teria
fluminense, uma cobertura da sido o responsável por toda a
avenida Delfim Moreira, no articulação do "plano da casa
bairro carioca do Leblon. própria", através do Prosind,
Cerca de100dirigentessin- que no ano passado foi usado
16 nalanas eb retor] Sin
coquetel, e entre eles uma fi- OS para da-
gura muito falada nos últimos rantir r a reeleição de Oswaldo
dias: o advogado Expedito Tei- Pimentel. E exatamente depois
xeira, que em nome do Sindi- da posse da nova diretoria, o dr.
Durante a semana que passou o Ele esteve pessoalmente nos estu-
cato dos Metalúrgicos do Ri Expedito foi contratado como
dnªmknmá 100
dvogads n. Sindinste...Há.! josdaemissoraexaminand
negociações daFiatdiesel usive-deq Tacionado_ com o espisódio. do Rio -Os-mifitares-que-o-conhecem dizem --mostra-que-o-inquerito está -viciado-
ria sido ele o responsável pelo
Fatos anteriores envolvendo Centro foi sem dúvida nenhuma a que não é um independente, muito de alto a baixo. Disse o procurador:
famoso relatório que foi publi-
o dr. Expedito já vinham crian- substituição do encarregado do in- pelo contrário. Um oficial acrescen- "Sob todos os aspectos os militares
cado originalmente pela revis-
do incidente entre o Comando ta Isto (3.12.1980), através
quêérito militar. De acordo com a ta que ele está na lista para sair atingidos com a explosão até agora
Grevista e a direção sindical, nota do I Exército o coranel Job Lo- general. "Se cometer qualquer des- são apenas vítimas. Não são indi-
do qual uma pessoa prestava
A.Jantoqueo Comando Grevista ..... rena de Sant'Ana assumiu o inquêri- lize será excluído. Basta dizer que ciados e, além do mais, quem ga-
arranjou outros advogados, se- """ to "em virtude de probiíemas de - apenas pouco mais de 10% dos rante que houve atentado terroris-
federal pelas ações que possi- saúde, que serão apurados, apre-
gundo Luis Paulo Giannini, bilitaram a vitória situacionista coronéis atingem o generalato. ta?". A posição foi clara. embora
**por não ter confiança nos ad- sentados pelo cel. Luis Antonio do Principalmente agora ele tem que sua formulação dê margem a uma in-
no Sindicato dos Metalúrgi- Prado Ribeiro". A própria nota, por-
vogados do Sindicato", já que cos... trabalhar muito bem, não fazer nada terpretação completamente diferen-
tanto, já fez o obséquio de colocar de errado, ou seja, nada que con- te, e que o procurador geral não de-
em dúvida a razão alegada. Um ofi- trarie seus chefes". ve ter percebido. Suas palavras po-
é e P L cial ouvido por Movimento no Rio Poder-se-ia dizer em favor do co- dem endossar perfeitamente a tese
Motivos humanitários? de Janeiro disse que "não é normal ronel Job que ele solicitou ao pro- do "acidente de trabalho".
um oficial abandonar uma missão curador-geral da Justiça Militar a
Por "motivos humanitários", * y no meio do caminho. Por orgulho indicação de um procurador* para (Gilberto Laranjeiras)
o ministro Abi Ackei determi- próprio é comum, mesmo que haja
nou a libertação (dia 21) da ve- realmente problemas de saúde, le-
terinária boliviana Carmen del var-se a tarefa recebida até o final".
Pilar Varlenzuela de Zuna (fo- CONSTITUINTE
E acrescentou que em 20 anos de
to), que ficou três dias (fresa carreira militar não tem conheci-
em S. Paulo, ameaçada de ex- mento de nenhum caso semelhan-
pusão do país. Ela terá agora, Uma experiência modelo
te. Um militar da reserva deu opi-
segundo os assessores do mi- S indo como uma experiência para
[E 1 o que "
" tA£ZOGS: entar, dassaform Í ação-deMmetiv -saude -pioneiraemtodoc- Brasil-e- CONHio qã0- lodo [A,
forçar a aprovação do projeto últi o recurso para se desincumbir pela Constituinte do Rio Grande do Montini acha inclusive que a não
ra o CBA/SP, entretantõ, o do governo de reformulação da de uma missão... é deprimente", Sul realiza, neste domingo, a sua I!a participação do PT na luta pela
gesto do ministro teve outras Lei dos Estrangeiros. Mas quem é o coronel Castro? Assembléia unitária. Expressão de Constituinte -- "que é suprapartidá-
Quando ele assumiu, um general de diversas tendências políticas que ria" - fortalece os setores mais li-
4 estrelas, da reserva, discutiu com consideram prioritária a luta pela berais para exercer suas propostas.
Casoy: denuncia rejeitada um repórter em Brasília, afirmando convocação de uma Constituinte,
que o episódio do Rio Centro seria as opiniões sobre a forma em que Já o advogado Tarso Genro, da
Afirmando que "não posso editor da Folha de S. Paulo. Ca- esse processo se dará são muito Comissão Regional do PMDB gaú-
sequer permitir. que se.instaure. estavasenda.proscessado- HI ' Aº 77777777777777777777 S. Cho acha que A itui
a ação penal, por inexistirem por ter publicado, em maio de de que ele jamais "colocaria o ja- FâFe—a'NTI—t'SÃIMóntini —7qué ãpésár só será realmente democrático se,
elementos que ampararem. a E -um relatório LSua base, estiver consolidada..
hecidos.
a

Eleitoral.
Sobre o motivo real de seu afas- te, no seu entender, só se expressa
tamento, um membro da alta cúpula é dever dos dirigentes sindicais de forma mais progressista se for
do PDS confidenciou a jornalistas mostrar aos trabalhadores que a feita em conjunto com .um progra-
Aldo Arantes para deputado uma versão que já estava na cabeça "esolução definitiva de suas reivin- ma que liquide a força econômica e
de todos: "O Coronel recebeu amea- Jicações imediatas, como melhores política das classes dominantes,
' Na semana passada foi lan- cidade goiana de Anápolis, e cas de atentado contra si e contra salários e liberdade sindical, só po- colocando especialmente a reforma
cada em Goiás a candidatura sua candidatura será subordi- seus familiares". | derá ser obtida quando conquista- agrária e a nacionalização dos mo-
do ex-presidente da UNE, Aldo nada às idéias que deram ori- O coronel Job Lorena de Sant' rem um'espaço político, através Ca nopólios.
Arantes, à Câmara dos Depu- Ana, da Seção de Relações Públi- Constituinte.
tados. Arantes é originário da
' gem à Tendência Popular do Também participando do Comitê,
MDB, diz ele. © cas do Estado Maior do | Exército, O dirigente sindical vê duas al- o deputado Carlos Augusto de Sou-
jà é mais conhecido, e por isto ternativas para o processo político za, do PDT, acha que a propaganda
mesmo é o nome menos indicado em que está o Brasil. A primeira é a da Assembléia Nacional Constituin-
Violência em Rondônia para a tarefa. Os jornais estampa- convocação da Assembléia Consti- te deve ser feita da forma em que se
O deputado Jerônimo Santa- co do posseiro Fiorino Alvares ram sua fotografia segurando a alça tuinte por um governo provisório deu a campanha pela anistia, com a
na (PMDB/RO) denunciou na dos Santos e depois incen- do caixão do sargento Guilherme, . que garanta um processo de rede- formação de comitês municipais e
semana passada a grilagem de diou-o. Além disso, tem a co- que foi enterrado com honras mili- mocratização. A outra possibilidade até por vilas, além da divulgação da
60 mil hectares de terra pelo nivência e apoio das autorida- tares. Além disso assinou a nota do apontada por Montini é a persistên- luta pelos parlamentares, tanto nas
grupo Agapito Lemos, no mu- des do INCRA, cujo coordena- Comando do | Exército datada de 1o cia da exclusão de amplas camadas tribunas como nas concentrações e
nicípio de Vilhena. Segundo dor regional em Rondônia é de maio, onde diz textualmente que sociais do processo político, geran- reuniões de que participarem. Ele
Santana, a grilagem tem sido membro do diretório do PDS.- o sargento e o capitão "foram viti- bo profundas contradições, e de- entende, também, que é necessário
feita com muita violência, En- mados no atentado". O desmentido sembocando numa insurreição po- um programa que unifique as oposi-
tre os dias 15 e 20 de abril úl- A área grilada em Vilhena é apresentado pela TV Globo a respei- pular. ções populares e que atenda os
timo, um destacamento da Po- reivindicada por 500 famílias to do filme em que aparecem duas Nessa perspectiva, ele critica a legítimos interesses da população.
lícia Militar metralhou o barra- de posseiros. bombas encontradas no Puma, . posição do PT. Classificando de
também foi obra do coronel Job. "obreirismo" a não indicação de (Vera Flores, de Porto Alegre)
4

MOVIMENTO254 01/75/81
 " BROFANBS
A aaa O !!

GREVE DA FIAT
Mais duas no Rio
No sábado retrasado, entraram em presidente do Sindicato dos Metalúur-
greve 200 operários da Metalúrgica gicos de Niterói, Abdias, a direção da
Morte, uma empreiteira do Estaleiro empresa já estava advertida pelos tra-
Caneno, no Caju, Rio de Janeiro. Dois A empresa manobra,
balhadores de que não admitiriam mais
dias de paralisação, e obtiveram as rei- atrasos no pagamento, o que vinha se
vindicações econômicas pretendidas, e repetindo há vários meses. Ao mesmo
mais: estabilidade de 1 ano para a de- tempo, no estaleiro MacLaren, uma
legação sindical, de 9 trabalhadores, série de medidas repressivas adotadas mas os trabalhadores
eleita durante a greve. pela direção da firma levou os tra-
balhadores às portas da greve: Entre as
Em Niterói, dia 20, quarta-feira, en- medidas, está a instituição de cartões,
traram em greve os 9 mi! operários do de cores variadas, que os operários são
estaleiro Mauá. Motivo: atraso nos pa- continua
obrigados a usar para ir ao banheiro, à m firmes
gamentos dos salários. Segundo o enfermaria, ou a qualquer outro lugar. Num quadro de agravamento" M Eee-"
da crise econômica -- com de- ?
Caminhoneiros/RS: greve e mortes missões em muitas empresas, C a
Um piqueteiro e um fura-greve mor- de várias categorias - e do c - as
dispersavam os piquetes. No dia 20, estouro de diversas greves no < é
reram na semana passada durante a quando se estava perto de um acordo
greve dos caminhoneiros do Rio Gran- setor metalúrgico no Rio e Ni-
entre os patrões e o sindicato (aumen- terói, prosseguiu na sua ter- «
de do Sul, após um crescimento quase to de 50% nos fretes), um fura-greve
incontrolável da tensão, devido à re- ceira semana a greve dos 3 mil <
tentou atravessar a bala o bloqueio dos trabalhadores da Fiat-Diesel
gressao da Polícia e da Brigada Militar. iquetes, ferindo dois motoristas.
Or diversas vezes durante as negocia- em Duque de Caxias. Uma as-
esmo passando, foi alcançado por sembléia dos metalúrgicos do
ções, com cerca de 15 mil motoristas um dos feridos com quem entrou em
parados, os piqueteiros chegaram per- Rio estava prevista para a úl-
luta até cair de um barranco de vinte tima sexta-feira, com o objeti-
to do confronto com os soldados que metros de altura, fatal aos dois. vo de discutir a questão da Fiat
e do desemprego em geral,
- Médicos do Rio suspendem a greve
que atinge toda a categoria.
Depois da decretação da le-
Uma assembléia-geral realizada no minimos e reajustes semestrais. Prevê- galidade do movimento, a dire- )
dia 18 pelos médicos do Rio decidiu, se ainda uma concentração no Rio dia ção da Fiat mudou de tática. *.
por margem estreita, suspender a greve 22, uma assembléia-geral no dia 27 Em primeiro lugar, liberou os *
de quase uma semana da categoria, A trabalhadores na segunda e 4
- para avaliação do movimento grevista
franca» do sindicato aprovada, prevê | que vinha om a legalidad da greve
contando com a adesão de terça-feira da semana passada.
ntensificar as M?ae,ilações com o Na quarta, tentou impedir a
Inamps sobre as exigências dos mêdi- 90%da categoria e garaHsaçào nacio- entrada na fábrica da liderança da greve, e na dessa pequena localidade - acostumados às
| Cos, principalmente o salário de dez - nal dias 3 e 4 de iun 0. É quinta, impediu a entrada de todos os trabalha- históricas atrocidades cometidas contra os tra-
dores, alegando os "incidentes" da véspera. balhadores da antiga Fábrica Nacional de Moto-
Ora, a greve está se realizando dentro da fábri- res (FNM) observavam tudo sob os olhares vi-
Movimento Contra a Carestia ca. Todos entram, batem o cartão, mas não gilantes e ameaçadores dos componentes das
O Movimento Contra a Carestia/ RS çãodo produto àpopulação - foi trabalham. Ao mesmo tempo, é na porta da fá- tropas de choque do 15o Batalhão de Polícia
lançou, no último domingo, a Campa- tirada como resol £: a realização de brica onde se realizam diariamente as assem- militar.
| nha pelo Congelamento dos Preços, manifestações em diversas cidades no bléias. Com estas medidas a direção da empre- A luta dos trabalhadores da poderosa mui-
num ato que reuniu cerca de 300 pes- dia 12 de junho. Se assim mesmo o sa pretende desmobilizar os trabalhadores. Ao tinacional italiana, além da vitória da unidade
soas, vindas de 14 cidades do Estado. leite for aumentado, as cerca de 40 mesmo tempo a empresa procurou ampliar seu de classe, parece encaminhar-se para a con-
| O novo aumento nos preços do leite toi apoio junto aos empresários e abriu negocia- quista de uma das reivindicações: a empresa já
4 o principal assunto discutido e, apesar entidades que compõem o conselho ções, além de ter recorrido ao Tribunal Superior admite reincorporar os empregados demitidos.
de o ânimo geral no encontro exigir desta campanha dirigirão um boicote do Trabalho, contra a decisão do TRT.
iniciativas mais radicais - falou-se até ao produto durante os três dias poste- A comissão interna de empregados denuncia
em tomada de caminhões e distribui- riores ao aumento. Junto à Federação das Indústrias do Rio de a administração da empresa em querer "tirar a
Janeiro - FIRJAN - os empresários da Fiat peãozada da Fiat para poder rearticular a pro-
procuraram mostrar como era perigosa, para o dução e especialmente a exportação de so-
Violência contra posseiros patronato, a decisão do TRT declarando legal a bressalentes". A comissão acha que "ofere-
greve. Se a Fiat, uma empresa poderosa pode cendo migalhas de adiantamentos", "a Fiat
Os jagunços do fazendeiro Edgard onde há 50 anos vivem cerca de seis sustentar uma greve, o mesmo não acontece quer derrubar a nossa dignidade e dividir e en-
Medrado decidiram acabar de modo imit famílias deposseiros. A gleba de com empresas pequenas. O que levou a FIR- fragquecer o movimento". (Rubem Silveira), do
simples comumconflito de terras de 24 mil hectares foi mais tarde "incor- JAN a hipotecar solidariedade à Fiat. Rio de Janeiro).
oito anos em laçu, Bahia. Entre oito porada" à fazenda de Medrado. Depois . O início das negociações, via Delegacia Re- (Veja também, na xá ina 8, à entrevista com
a doze desses homens, ajudados por que o Incra desapropriou as terras, o
fazendeiro, que é ligado à Polícia Civil gional do Trabalho começou na quinta-feira, os líderes da greve da Fiat).
14 policiais, armados de fuzis e metra- em reunião às 11 horas. No dia anterior a dire-
da Bahia, obteve ordem judicial para
Ilhadoras, destruiram no dia 15 as pos- fazer as demolições. Seus empregados ção da empresa marcou uma reunião com a di-
ses e benfeitorias de duas famílias da prometiam destruir 500 casas de uma reção sindical e o comando grevista, mas não
região,segundo denúncia da Frente Na- vez,. obrigando os posseiros a forma- compareceu. Alegou "ordens superiores" para
cional do Trabalho. A gang já teria rem uma vigília de mil homens para não negociar. Estranhamente, a DRT convocou
expuiso outras 16 famílias da região, impedir a arbitrariedade. as partes para a reunião de quinta-feira, a pedi- |_
do da Fiat. (Roberto Martins) PARTICIPE!

III Congresso da UEE/RS A presença de dois batalhões de choque da * "Solidariedade aos Trabalhadores Polone-
Caracterizado pelo aito nível de dis- pelo presidente da UNE, Aldo Rebelo, Polícia Militar e de todo um esquema de segu-ses" - Debate promovido no dia 1o de junho
cussão política, realizou-se nos dias Considerada "vaga". A moção vitorio- - rança interna não impediu que os trabalhadores
pelos jornais O Trabalho e Convergência Socia-
15, 16 e 17 oII! Congresso da UEE /RS. Sa, apresentada pela tendência Cami- da Fiat Diesel do Brasil S/A, reunidos no pátio
lista com a presença de Francisco Weffort,
Um dos pontos que geraram polêmica nhando (Residência, no RGS) posício- da própria fábrica de caminhões, mantivessem Eduardo Suplicy, Djalma Bom, Marcos Faer-
entre os 347 delegados presen foi na-se contra a intervenção soviética e a greve iniciada no último dia 4, contra as arbi-
mann, Raimundo R. Pereira e representantes
a solidariedade internacional que deve qualquer ingerência do imperialismo trariedades da poderosa multinacional auto- do Comitê Brasileiro de Anistia, Tribuna da Lu-
ser dada aos trabalhadores poloneses, além de solidarizar-se com a luta de mobilística. ta Operária e Comitê Brasileiro de Solidarieda-
sendo rejeitada a proposta apresentada senvolvida pelos trabalhadores. De nada adiantou a trama dos dirigentes da de aos Povos do Cone Sul. 20:30 hs, rua Guai-
curus, Lapa, São Paulo.
empresa, ao determinar o * C Nacio:
-Campineirossacoden .pelego cedo
,,,,,,,,,, Coenoa
ações
Gotta Brest bal
Ro ata 20 do
Mais um pelego começa a cair. De-
na segunda e na terça-feira, para provocar uma
1, de oposição, obteve 224 votos. A maio, no Sindicato dos Químicos de São Pau-

pois de 24 anos na presidência do Sin-

paralisação de quatro dias (contando sábado e
Chapa 2, composta pela maioria da lo. Convidam: o Movimento Contra a Carestia,

dicato dos Professores de Campinas e atual diretoria do Sindicato, ficou com

domingo, no sentido de desmobilizar os tra-
Unidade Sindical, União Nacional dos Estudan-

região, o professor José Godoy foi o 182 votos. A Chapa 3, encabeçada pelo
balhadores, conforme ocorreu em São Paulo.
tes eo Movimento de Favelas de São Paulo, 20hs,

principal derrotado nas eleições que se atual presidente, teve apenas 44 votos, Ao serem reabertos os portões da fábrica, às
rua Tamandaré, 348, !

realizaram no dia 20 passado. Três Como nenhuma das chapas obteve 6h30min de quarta-feira, o comparecimento
* "Capitalismo e Agricultura" - José Vicente

chapas concorreram, uma de oposição_ maioriaabsoluta,serárealizadoum| __ dostrabalhadoresfoi maciço: eles queriam ad-..
Tavares UFRGS - Porto Alegre e José Carlos

e duas da situação, 457 dos quase 500 segundo escrutínio, marcado para o vertir que a greve seria mantida, apesar de to-
Barreiro (UNESP-Assis) falam sobre "Formas ""

sócios do sindicato votaram. A Chapa dia 4 de junho. das as formas de pressão engendradas pela
de submissão do camponês ao capital" e "Tra-

balho livre no campo na região de Campinas",

Fiat, como, por exemplo, a retirada dos cartões
respectivamente nos dias 27/5 e 03/06. Esses

Eleição de professores baianos

de ponto ou a colocação da sua guarda pessoal

debates são parte do ciclo acima; promovido

comandada pelo "capitão" Wilson Cerqueira,

Foi eleita, no dia 13 de maio, a chapa conseguiu preencher todo eles, com exatamente o responsável pela seção de ad-
pela História, da Unicamp, realizado na sala do

"União e Luta" para a diretoria da As- uma vantagem em torno de 80 votos em ministração do pessoal.
Mestrado da História ("Barracão"), sempre às

sociação dos Professores Universitá 14:30 hs. Outros expositores foram: Thomás

rios da Bahia, APUB. O processo elei- cada um. Os eleitos tiveram importante Holloway (UFSC - Florianópolis); Roberto Mar-
participação na greve da categoria no
Dada a intransigência da diretoria da Fiat em

toral durou cerca de um mês, sende atender ao pedido de readmissão dos 250 com- tins (UFMG - Belo Horizonte); Ciro Flamarion

que o debate promovido nesse período ano passado e prometem continuar panheiros e de tornar efetiva a estabilidade du- Cardoso (UFF-Niterói).

fez crescer o número de filiados à "em defesa do professor universitário e rante um ano de trabalho, os metalúrgicos e os * As lutas pela libertação de El Salvador - Ly-

APUB de 600 para 1100. A eleição é por uma Universidade voltada para os funcionários administrativos, reunidos em as- sâneas Maciel, Carlos Alberto Muniz, Neiva

feita por cargos, e a chapa vencedora interesses do povo". sembléia no pátio interno da própria fábrica, Moreira e Pepe Fajardo são os debatedores

decidiram manter a greve, que está custando à convidados pelo Comitê de Solidariedade ao

Comunicação em perigo empresa cerca de Cr$ 150 milhões por dia. Povo de El Salvador, para falar sobre este tema

no dia 25 próximo. 19 hs, av. Presidente Var-

"Pela manutenção dos cursos de co- que o fechamento do curso seja o meio A decisão foi comunicada ao "capitão" Cer- gas, 502, 21o andar, Rio de Janeiro.

municação na perspectiva de um novo de resolver suas dificuldades, e já ini- queira, o qual, nomeado porta-voz da empresa, * Ato público contra o terror - Todas as enti-

HFCa ! É a
fechar as escolas de comunicação do r "á

país, a pretexto de sua ineficiência, O thoria dos Cursos (de 1 a 5 de junho), cia do resultado da assembléia, enquanto os punição", a realizar-se dia 29 de maio, às 17

Movimento em Defesa dos Cursos de que terminará com um Dia Nacional de trabalhadores, em coro, alertavam que "a mas- horas, na escadaria da Câmara dos Vereadores,

Comunicação (EMDECOM) não aceita Luta (dia 5). sa unida jamais será vencida". Todos esses Cinelândia, Rio de Janeiro.

fatos ocorreram no portão da fábrica de cami-

nhões em Xerém, onde os pacatos moradores

MOVIMENTO+ 254 31/5/81

 Volta Redonda: a recessão
Os peões falam da recessão como praga misteriosa. Alguns dizem que vão usar o
ESPECIAL
. Uma grave ameaça ronda o
país.",
Começam também a explodir
autênticas bombas econômicas e
sociais. Mas Figueiredo e Del-
fim nem pensam em pedir para
que essas bombas sejam des-
para suas cabeças; elas
vão explodir, sob a forma de
fome£e demissão ná cabeça do
povo,: como mostra a série de
| reportagens. que "publicamos
| nas cinco; páginas seguintes.
! Veja cone o governo não nega
$ para os
. COMO: Os
&dores dão lições de re-
sistêncià (P. 8). E saiba também
uma das razões da pouca soli-
dariedade: dos sindicatos de
países desenvolvidos aos operá-
rios brásileiros. (P. 10).
Baixinho e troncudo, o mulato José
Carlos da Silva não tem papas na língua:
"Já sei o que vou fazer por causa dessa
tal recessão: vou pegar uma metranca e
me juntar à Falange Vermelha. Não
aguento mais dormir nos bancos da
Rodoviária, que virou a minha casa des-
de que fui demitido". As palavras do
mineiro José Carlos são umpouco do es-
pelho do estado de indignação dos 600
peões demitidos pelas ' empreiteiras que
tocam as obras do Estágio III da ex-
pansão da Companhia Siderúrgica Na-
cional, em Volta Redonda, e que estão
parando por falta de verbas. Esse é
apenas o primeiro contingente e no final
dessa semana o exército de desemprega-
dos que tomará conta das ruas de Volta
Redonda, no Estado do Rio de Janeiro,
chegará à casa dos cinco mil. 'A médio
prazo, ele tende a ser formado, no
mínimo, pelos 14 mil empregados das
empreiteiras, pois todo o Estágio III da
CSN está comprometido graças à política
governamental de contenção dos inves-
timentos públicos.
A médio prazo, serão
14 mil desempregados
sÓ nas empreiteiras
A Companhia Siderúrgica Nacional -
principal pólo siderúrgico do país e ou-
trora símbolo da afirmação nacional -
está para o município de Volta Redonda
assim como a água está para o peixe. Se
ela entra em bancarrota, o município
«companha os seus passos, afetando as-
sim a vida dos seus 200 mil habitantes,
de uma forma ou de outra. Por en-
quanto, as demissões que se iniciaram
na semana passada são tão somente uma
bomba de efeito retardado que ainda não
repercutiu intensamente no comércio e
em toda:a vida da cidade. Talvez por
isso, em plená onda de demissões, a sua
população voltou-se mais para vibrar
com os gols de Junior e Toninho contra a
Alemanha, tentando ignorar o fantasma
do desemprego que ronda as chaminés
da siderúrgica de Volta Redonda. Mas
como seguro morreu de velho, Paulo
Herman, o diretor da rede de supermer-
cados "Floresta", o maior do município,
já tomou suas precauções: fez um seguro
contra depredações e conturbações so-
ciais, pois ele ainda tem em mente os
dias de 1979, quando os peões revol-
taram-se contra as suas condições de
vida nos acampamentos e fizeram um
quebra-quebra na cidade.
A recente onda de demissões tem como
ponto de partida imediato a impossi-
bilidade da Companhia Siderúrgica Na-
cional - uma subsidiária da Siderbrás,
de fazer frente aos oito bilhões de cru-
zeiros que deve às empreiteiras e de
continuar à tocar suas obras de ex-
pansão. Como Delfim Netto simples-
menté deu um não ao pedido da diretoria
da Siderbrás para que fossem liberadas
mais verbas para que o Estágio III da ex-
pansão da CSN não sofresse solução de
continuidade, essa empresa não teve ou-
tra alternativa senão parar imediata-
mente as obras em 15 frentes de tra-
balho. Com isso, comprometeu não
apenas o Estágio III, mas até mesmo
obras de reforma da Usina Siderúrgica,
como a de seu alto forno III, que deveria
ser reformado em julho.
Apesar da diretoria da CSN, ao menos
em suas declarações públicas, afirmar
que as demissões não passarão da casa
dos cinco mil, e ficarão restritas aos
"peões", seus efeitos serão muito maiores,
segundo dados do Sindicato dos Enge-
nheiros de Volta Redonda, que desde fe-
vereiro está estudando as consegiências
das paradas das obras da Expansão III.
Segundo o Sindicato, as demissões atin-
girão os próprios funcionários da CSN, e
não apenas as empreiteiras, pelas se-
guintes razões: a Expansão III é supervi--
sionada e dirigida pela Diretoria de Obras
da CSN, que conta nos seus quadros 1.230
engenheiros e técnicos especializados. Tal
diretoria ficará sem função com a parali-
sação da Expansão III e não há como a
CSN absorver esses 1.230 técnicos espe-
cializados em seu quadro normal.
A tal dado, acrescente-se outro divul-
gado pelo Sindicato dos Engenheiros: a
crise da Expansão III afeta também a
Companhia Brasileira de Pesquisa In-
dustrial - subsidiária da CSN que atua
como empresa de projetos siderúrgicos
- que ficará sem novos campos de
atuação. Assim, segundo o sindicato, a
perspectiva é de a Cobrapi demitir 300
Tibério Canuto
engenheiros até o final de 1981. Em fe-
vereiro, por falta de funções, a Cobrapi : que sem entender o intrincadojogo da eco-
começou a demitir 80 engenheiros. O
exército de desempregados será acresci-
do ainda "pelos dois mil operários e téc-
nicos especializados que foram treinados
pela CSN para ser a mão-de-obra que
deveria tocar a Expansão III quando ela
estivesse pronta e que agora não serão
absorvidos nos quadros normais da
empresa", conforme esclarece o sindi-
calista e metalúrgico José Emídio Bar-
celos. Assim, ao todo, o fantasma do de-
semprego atinge cerca de 18 mil pessoas, cerca de arame e num clima que se asseme-
de uma forma direta. E esse quadro que
pode justificar a declaração de um dire-
tor da Montreal, uma empreiteira da
CSN à imprensa: "o desemprego aqui
pode vir a ser bem maior que em São
Bernardo e ultrapassar o caso da Volks-
wagen".
Desemprego será
bem maior que
em São Bernardo...
Medir as consegiiências indiretas da
atual crise da siderúrgica de Volta Re-
donda é tão difícil como procurar uma
agulha no palheiro, pois elas são imen-
suráveis, até mesma do ponto de vista do
desemprego, como evidencia a situação
de Djair Luiz dos Santos, projetista
com formação de técnico de grau médio e
que trabalhava como autônomo: "dancei
nessa. Eu prestava serviço para uma em-
preiteira, semter nenhum vínculo empre-
gatício com ela. Na segunda-feira; fui até a
firma, e não tinha mais trabalho para
mim. Agora fiquei a ver navios
e não vou encontrar projeto para traba-
lhar", diz Djair, que conseguia, até antes
da crise, ter uma rênda mensal de 30 mil
cruzeiros. Casos como o deles se multi-
plicam: Maria Auxiliadora de Souza,
auxiliar técnico, mal conseguiu esquen-
tar a cadeira no emprego que arrumou,
na empreiteira EBE: dois dias depois es-
tava demitida, não tendosido, sequer, fi-
chada como funcionária da empresa.
A crise da Companhia Siderúrgica Na-
cional vem comprovar o velho ditado de
que a corda se rompe no seu lado mais fra-
co; os peões, os principais prejudicados
nomia passam a usar a palavra recessão,
como se ela fosse uma moléstia que até
então eles desconheciam. A esmagadora
maioria deles não tem o menor vínculo
com a cidade, pois vieram de outros Es-
tados e estão acostumados a mudar de
trabalho e de obras como quem muda de
roupa. Vivem em acampamentos das
empreiteiras, amontoados em cubículos
que têm três metros de comprimento e
três de largura, cercados por uma longa
lha ao de um campo de concentração.
Esse é o seu lar, que agora eles não têm
mais:
- O acampamento é o lar do peão. Ele
não vive com a família, não tem casa e
seus parentes são seus colegas. Quando
ele é demitido, ele é botado para fora do
acampamento e vai dormir nas calçadas.
E isso que está acontecendo com muitos
de nós, diz o peão Roque Alves, um mi-
neiro que se encontra em Volta Redonda
há cerca de um ano e que também foi
demitido,
Cabeça chata, alguns fios ralos na bar-
ba, o cearense Luiz Rodrigues Pinheiros
é um protótipo do "peão" e coça a
cabeça quando lhe é perguntado o que
vai fazer se for demitido. "Num sei não.
Dizem que não há emprego nem em São
Paulo nem no Rio e pra enxada eu não
volto". Luiz chegou a Volta Redonda
com seus três primos e agora busca se
segurar no seu emprego na empreiteira
Techinit, como sua tábua de salvação.
Alguns deles foram para Volta Redonda,,
trazidos pelas empreiteiras, que agora os
demitem: "a Pavda foi lá em Muriaé
Minas Gerais, e me trouxe, com mais |
companheiros. Na semana passada ela
me demitiu e nem dinheiro para a
sagem eu tenho", diz José Carlos de
Souza.
* a R
O peão demitido não
tem mais nem
onde dormir
Como trabalhadores nômades, o peão
ao ser demitido pega a sua trouxa e vai
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81
8 ENE s 85 -OTUAMIVOM

"contagiosa"
salário para comprar ""uma metranca*""
embora da cidade. As empreiteiras jo-
gam com isso, lhes promete emprego em
outras obras, sem lhes dar. qualquer
garantia: "Lá na Montreal, os homens
disseram que no Paraná empregavam a
gente, que a gente fosse então para lá. Só tem sido o sindicato da Construção Civil,
que eles não dão sequer uma carta para
que chegando lá a gente encontre empre-
#0", diz Vitorino dos Santos, demitido
na segunda feira passada. Acostumados
a serem demitidos, os "peões" têm um
alto grau de desorganização, o que vem * caso do sindicato dos metalúrgicos,
dificultando qualquer reação sua, como
explica Hernesto Braga, membro da
oposição sindical da Construção Civil: "é
muito difícil organizar uma resis-
tência dos "peões", pois as empresas os
estão colocando para fora dos acam-
pamentos, não pagam o que eles têm
direito e os enganam dizen do que em tal ou go tem partido das Comunidades Ecle-
qual Estado tem trabalho", Sem condi-
ções ainda de dar uma resposta organi-
zada, os que estão sendo demitidos no
máximo dão vazão à sua insatisfação.
Nas conversas entre eles, é comum um
deles afirmar que o único jeito é passar a da uma comissão contra o desemprego,
assaltar. "Vou esperar o dia de pagamen-
to da firma e vou pegar um revólver e
amassalto, pois rão vou morrer de
fome", diz José Carlos de Souza, um
dos mais revoltados.
Acostumados às
demissões, os peões
são desorganizados.
_ A crise da Companhia Siderúrgica
Nacional, e a onda de desemprego que
ela provocou, se dá em plena campanha
salarial tanto dos metalúrgicos como do:
operários da Construção Civil que tra-
balham nas obras da Expansão III. O
grande temor dos operários é que a
empresa se aproveite da crise para negar
as suas reivindicações, como afirma o
líder metalúrgico José Emídio Barcelos.
m ponto que tem provocado revoltas
tem sido a maneita como os operários
foram surpreendidos pela notícia de que
haveria demissões em massa. Eles ficarão
sabendo a partir de notícias divulgadas na
semana passada pelo Jornal do Brasil.
Entretanto, a crise data de mais tempo.
Já em fevereiro o sindicato dos enge-
nheiros elaborou um documento no qual
aborda a questão de desemprego em
consequência da provável desativação
que estava por ocorrer das obras da ex-
pansão da Companhia Siderúrgica Na-
cional, que, à época, ameaçava de
imediato, 80 engenheiros, estes prestes a
serem demitidos. Por sua vez, a Câmara
Municipal encaminhou um manifesto
para o Ministro da Indústria e Comércio,
abordando a crise financeira da CSN e
das consequências do desemprego.
E segundo José Emídio Barcelos, a
crise data demais longe: "já na época da
segunda fase da expansão da Companhia
Siderúrgica Nacional os problemas apa-
receram, quando o Banco Mundial
suspendeu verbas para a CSN, exigindo
que tosse -cunprido o cronograma. Te
nho informações de que se utilizou ver-
luis da 3.a fase de expansão para o cum-
primento da segunda fase, o que fêz com
que a crise estourasse agora. As demis-
sões começaram já em 1980, embora em
escala menor. Desde janeiro, vem sendo
demitida uma média de 300 operários
por mês. Agora, esse número vai chegar
a cinco mil, de imediato".
Pegos de surpresa, os operários e movi-
mentos de oposição deram início a um
movimento contra o desemprego e de
liberação de verbas para Volta Redonda.
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81
, BRDFANBSB V8.G
Imediatamente formou-se uma intersin-
dical onde participam os sindicatos dos
metalúrgicos, dos engenheiros, da Cons-
trução Civil, dos professores e diversas en-
tidades. O elo mais fraco dessa articulação
cujo presidente, José Neto, ""tem tido o
hábito de adoecer nos momentos cruciais
e de tentar negociar em separado", como
denuncia o membro da oposição sindical
da Construção Civil. Hernesto Braga. No
deu-se um fato inêdito: o presidente,
Waldemar Lustosa, acusado de pelego,
fez um.pacto de não agressão com a
oposição sindical e abriu as portas para a
oposição, que tem participado, inclusive,
das negociações.
A principal resistência ao desempre-
siais de Base da Igreja, que contam com
o apoio do bispo da cidade, d. Waldir
Calheiros, que mobilizou toda a sua base
em defesa dos peões ameaçados. Graças
a essa ação, formou-se em Volta Redon-
da qual participam os sindicatos, diver-
sas entida 0 0 s partidos polí-
ate mesmo o PDS Iocal. Essa
comissão copseguiu realizar uma reunião
com 500 pessoas na semana passada e |
marcou um ato público a ser realizado
ainda nessa semana.
Supermercados fazem
_ segurostemendo ___
depredação na cidade
Umfato a chamar a atenção tem sido a
postura da diretoria da Companhia Side-
rúrgica Nacional, que, indiretamente,
tem manifestado simpatia pelas mobili-
rações em -curso.--*Na- reunião -- que-
tivemos com a diretoria da CSN, senti
que ela deixou subentendido que um
movimento de protesto pode levar o go-
verno a liberar verbas para a CSN e
assim se enfrentar o problema do desem-
prego", disse José Emídio, ao dar um in-
forme na reunião de 500 pessoas que se
realizou na semana passada. Essa pos-
tura da diretoria foi confirmada por um
alto assessor da cúpula da CSN e parece
encontrar justificativa na própria pos-
tura do presidente. do sindicato dos
metalúrgicos, Waldemar Lustosa. Ele
sempre foi ligado à cúpula da CSN, com
quem tinha trânsito fácil, e tem tido, no
episódio recente, uma postura positiva,
ao ponto de ser 'o primeiro: a defender
que a estabilidade do emprego seja
incluída nas negociações da campanha
salarial.
Tal movimento pode surtir efeito, como
esclarece Hernesto Braga: "em 1978,
quando da segunda fase da expansão da
CSN, vivemos um problema semelhante
e começou a haver desemprego em
massa, Reunimos quatro mil pessoas na
Igreja Santa Cecília e isso levou o. go-
verno a liberar verbas para a conti-
nuidade das obras. Agora pode aconte-
Cem O Testo . E SC CSSa [DUNPLCÍÍVEÍ'HH—Úm "
sair vitoriosa, não está de todo excluída a
hipótese de que o diretor do super-
mercado que investiu dinheiro para fazer
um seguro contra depredações e quebra-
quebra, tenha investido o seu dinheiro
em vão. O estado de insatisfação dos
"peões" pode levá-los a isso, como já
os levou em 1979. Particularmente se eles
continuarem a perambular pelas ruas de
Volta Redonda à cata de emprego e
tendo de seguir o exemplo de José Carlos
de Souza, de ter que dormir nas marqui-
ses da Rodoviária e das lojas do comércio.
NC.AAA, |
A recessão vai
desnacionalizar
A crise da Compa-
nhia Siderúrgica
Com a liberação do dro técnico", Nessa
Nacional vem con-
firmar o dito clássi- . preço dos carros, a terceira fase, a Co-
co de que há mais brapi foi capaz de
mistério entre o céu CSN está fornecendo definir um projeto
em 98% com tecno-
e a terra, do que po-
logia nacional. Na
de imaginar a nossa aço subsidiado para
vã filosofia. De fa- segunda usina da
as multinacionais...
to, o seu único com- CSN, a ser implan-
ponente não é a tada em Itaguai,
questão social que nós teremos con-
provocará o desemprego em massa. Não dições de fazer o projeto com tecnologia
menos importantes são os seus compo- e equipamentos totalmente nacional, es:
nentes políticos, "pois a atual crise é clarece o assessor da diretoria, mostran-
uma porta aberta para a penetração do do as seguintes consegiiências do es-
capital estrangeiro na CSN por: jogar vaziamento da COBRAPI:
água para aqueles que vivem batendo na
tecla de que as empresas estatais são -A Cobrapi joga um -papel-chave, pois
deficientes «por natureza"", como faz é a empresa de projeto industrial que
questão de afirmar um alto assessor da define se se vai fazer uma expansão de
diretoria da siderúrgica de Volta Redon- uma usina, ou se vai implantar outra. É
da. A esse ingrediente, junte-se outros: a ela também que define 0 equipamen-
crise põe em risco 40 anos de de- to, se ele é nacional, ou não. Ora, como
senvolvimento tecnológico nacional, pro- a Cobrapi é tão somente uma subsidiária
vocará deterioração de equipamentos da CSN e como está proibida de entrar
caríssimos já adquiridos e revela a total em outras áreas siderúrgicas, ela ficará
sem função.: Com isto., em projetos
Tuturos,-voltaremos-a-depender-deem-
nacional, "onde a Siderbrás faz o papel
presas de engenharia ligadas às multina-
da rainha da Inglaterra, limitando-se a
cionais".
ser .uma mera distribuição de verbas",
como diz o mesmo assessor da cúpula da
Para esse técnico, a solução
CSN.
seria ligar a Cobrapi à Siderbrás, mas o
Explicitamente, o Sindicato dos En-
governo veta isto, sem falar na própria
genheiros e as Comunidades de Base que pouca força da Siderbrás, que como hol-
estão empenhadas na luta contra as
dingl estatal do campo da siderurgia,
A demissõeslevantarama questão doriseo
o nais -como uma distri-
da a partir da falta
buidora de verbas. M,
de verbas para a continuidade da III Ex-
pansào da CSN. Preocupado com isto e
O mesmo técnico aponta a falácia dos
com os editoriais que a grande imprensa
planos governamentais para o setor si-
já começou a fazer batendo na tecla da
derúrgico: "o governo está apostando na
inópcia das indústrias estatais, o assessor
possibilidade de captar recursos para to-
da CSN dá a sua versão sobre as razões
car-obras-como Itaqui; Açominas,Tuba-|
da crise: "o governo tabelou o preço do
rão. Acontece que ele esquece que o ca-
aço, sob o argumento delfiniano de que
pital estrangeiro nào está preocupado em
liberá-lo significaria estimular a infla-
investir em nosso setor siderúrgico e que
ção. Acontece que liberou os preços dos quer apenas o nosso minério".
automóveis, o que vale dizer que estamos
vendendo aços subsidiados para as mul- É à luz de tais fatos que mesmotécnico
considera como "essencialmente políticos
tinacionais. Com o aço subsidiado, é na-
tural que empresas como a CSN fiquem projetos do tipo da Açominas e Tubarão,
deificitárias". E dá outro dado: "com a pois não estão sendo determinados de
maxidesvalorização do cruzeiro, a CSN acordo com as prioridades nacionais".
que tinha anualmente um superavit Segundo ele, tudo decorre da falta de
financeiro de quase dois bilhões de força política da Siderbrás, que "é uma
espécie de Rainha da Inglaterra". Tudo
cruzeiros, passou a ser deficitária".
Segundo um levantamento do Sindica- se define, diz ele, à base da pressão
to dos Engenheiros, cerca de 25% dos política". Os mineiros pressionaram e
equipamentos totais da III fase da estão ampliando a Açominas, tendo de
expansào da CSN, e portanto, 25% dos fazer um "serviço de terraplenagem que
cinco bilhões de dólares investidos nesse dava para aterrar a Baia de Guanabara e
empreendimento, estão ameaçados de enfrentando problemas com o abas-
deterioração, pois com a suspensão das recimento d'água qeu é algo fundamental
obras ficarão expostos ao sol e a chuva e para a siderurgia. Enquanto se faz isso,
em locais inadequados.. Atualmente, a vacrifica-se Volta Redonda que produz
III fase já adquiriu 98% dos seus para um mercado interno e tem todas as
«'(/ufipmncmos. grande parte dos quais já condições técnicas". As pressões esta-
esta em Volta Redonda e 50% deles já duais para que se toque tal ou qual pro-
foram implantados. Os outros 50% (que íeto siderúrgico, tam bémforam denuncia-
representam 25% do total) correm o risco las pela Câmara Municipal de Volta Re-
de deterioração sendo, essa, portan- donda, que estranha existirem verbas para
Itaqui, Tubarão e outras obras cujas
to, uma das consegiuiências da crise.
produção voltará .
Ad Taão ae se problema, um outropreoextremo e jJalta Para P
cupa os técnicos da CSN: o esvaziamen- Siderúgica Nacional. É existência de
to da Cobrapi, única empresa brasi- problemas dessa ordem que tem levado a
leira de projetos industriais, que traba- diretoria da CSN a, por debaixo do pano,
Ihando na área de engenharia básica e de ser simpática a qualquer movimento
detalhe, tem um acúmulo de pesquisa de contra as demissões que tenha como
40 anos, capaz de fazer com que o país consegqiiência mais verbas para Volta
hoje seja autosuficiente em termos de
Redonda". $
tecnologia siderúrgica. Esvaziando-se a
expansão da CSN, a Cobrapi fica sem
projetos a tocar e terá, inclusive, de dis-
pensar parte importante do seu qua-
Tibério Canuto

Líderes da greve
na Fiat Diesel do Rio
falam a Movimento
Roberto Martins
"Todo poder ao peão sarapa**. Este é o
lema que move as principais lideranças
dos. 3 mil trabalhadores da Fiat-Diesel
no Rio de Janeiro, em greve há três
semanas, contra a demissão de 250
companheiros e pela estabilidade de um
ano. Movimento ouviu 4 membros do
Comando de Greve - Luís Paulo Giani-
ni, Antonio, Felippe e Alvacir, presen-
te ainda um dos advogados da greve,
José Luis Fontoura, no 4o andar do
Sindicato dos Metalúrgicos do Rio onde
funciona o Comando e o Fundo de
Greve.
29 anos, ajustador, filho de auxiliar de
enfermeira com operário metalúrgico,
ex-estudante universitário da PUC-RJ,
Luis Paulo Gianini é. sem dúvida a
principal liderança do movimento. "Tive
de trancar matrícula duas vezes" - nos
cursos de psicologia, 6 meses e economia,
1 ano - por não ter condições de
aguentar os custos dos estudos, diz
' Gianini, apesar da bolsa que tinha na
PUC, conseguida por um padre amigo.
Sendo o mais discutido lider operário do
Rio de Janeiro, pela sua liderança e suas
posições, Gianini não é filiado a nenhum
partido. Considera o PT ainda muito
pequeno-burguês e fora das mãos dos
trabalhadores
Movimento - Como temsido a vida dos
operários dentro da fábrica durante estes
dias de greve? .
Antonio - A fábrica atualmente virou
uma área de lazer. Os companheiros de-
pois de marcar cartão vão para seu futebol.
Os companheiros vão conversar uns com os
outros, Os documentos que a gente dá
sempre tem um grupinho discutindo lá
dentro.
Movimento - E como está a solidarie-
_ dadeao movimento?--- P ras não queriam, mas a m
Antonio E m
WnTodode
to fraco, porque a nossa greve já está na
terceira semana e a gente tá vendo que o
apoio ainda não está correspondendo.
Nãosei se o trabalhador em geral ainda
i
iv "* " BRDFANBSB Ve.GNC.AAA, R NO
Fiat, "todo
peão sarapa**
não está bem a par da greve, o que sig-
nífica o movimento, porque o movimento
não é só dos trabalhadores da Fiat mas
como para todos os trabalhadores do
Brasil. A Fiat hasteou a bandeira defen-
dendo o direito de trabalhar.... A gente
pede que a população em geral cooperas-
se mais com o Fundo de Greve.
Movimento - Contem agora um pouco
da experiência de vocês nos últimos 3 a 4
anos, com relação à organização interna,
às lutas e conquistas etc.
Gianini - Em geral se fala que ja Fiat
luta hoje porque já tem tradição de luta.
A nossa visão é diferente. A Fiat não che- lia. Aí os caras, a fábrica, através de
gou a esse status hoje porque tem tradi-
ção de luta. Pelo contrário, sempre foi
um antro de peleguismo, sempre elegeu
os pelegos do Sindicato. A nossa filosofia
de trabalho é que realmente, não é mi-
nha não, desse comitezinho de peão, que
tem um objetivo; fazer com que o traba-
lhador possa se manifestar, que o poder
emane do próprio trabalhador. Quer di-
zer, o nosso lema: "todo poder ao peão
sarapa"". (...) Por exemplo, o Comitê pro- da Comissão. Até que nós resolvemos
cura fazer com que o trabalhador possa
se manifestar. E um comitê que qualquer
fábrica tem, não é que seja um troço ex-
tremamente articulado. E um órganis-
mozinho flexível, onde um peão de um
setor conversa com o outro, tiram lutas.
comuns contra coisas simples, outras ve-
zes contra coisas mais importantes,
entendeu, agora o que precisa ficar cla-
ro é o seguinte: a Comissão Interna ape-
sar de eu aparecer, eu não sou coisa ne-
nhuma no movimento, entendeu. Eu sou
um porta-voz de todo um conjunto de
trabalho que realmente é o sustentáculo
do movimento.
Movimento - Contem agora um pouco
da história da greve de 79, quando se deu
a sua demissão e o seu retorno à Fiat,
Gianini - Aquilo ali foi umtroçointe-
ressante. Havia uma manobra do pessoal
do Sindicato, é que o pessoal infiltrou na ve. Chegou na segunda-feira a fábrica
Comissão de Salário um engenheiro, um
membro da administração que não tinha
nada a ver com o movimento... e o pró-
prio engenheiro era presidente da Comis-
são de Salário e era cupincha dos
homens brancos lá, do capitão "Wilson
etc E eu, porcasualidade, foi indicado " poluição. Ninguém ganhavainsalubrida-
é 2...porrado.ame.
A fábrica tinha um bocado de proble-
mas, tinha um clima de demissão muito
grande, de repressão, porra, mais de 70
guardas, peão levava porrada dentro da
fábrica... teve um caso que o peão mor-
poder
reu dentro da fábrica, porque o guarda
disse que estava brincando com o revól-
ver e o peão levou um tiro no peito. Quer
dizer, isso não entrou na cabeça de nin-
guém.
Esse processo de denúncia fermentou
no trabalhador aquela revolta interna
que ele tem, aquela revolta interna que
ele sente, aquele ódio contra a explora-
ção.
Eu vou para a Comissão de Salário e
começo a ganhar a simpatia dos compa-
nheiros do setor que eu trabalhava
FAC-2, que o pessoal chama lá de Brasií-
informações de elementos do sindicato,
me identificou como um cara que estava
fazendo "agitação" dentro da empresa.
E conclusão, o que é que os negos fazem:
pegam e botam um cara da vigilância
para me seguir. Aí eu fiquei conhecido
na fábricatoda, né. Um cara que andava
sempre com um vigilante atrás... Mas
não me mandavam embora, porque eu
era da Comissão de Salário, era relator
que tinha de acabar com aquilo. E a
única forma de parar era com uma greve
dentro da fábrica. Decidimos a greve
aa
"Atira, mas atira
num trabalhador":
A guarda foi
recuando, assustada,
até ser expulsa
da fábrica...
numa sexta-feira. A greve tinha de
começar na segunda, dia 23 de julho, me
lembro até hoje o dia que começou a gre-
quase que toda parou. Mas a chefia pres-
sionou e tal aí voltaram os outros setores
a trabalhar. Mas o nosso setor, a "Brasí-
lia", continua parado. Tinha uns 800
operários... era e é um dos piores setores
da fábrica, em termo de insalubridade,
reito que-"
nós demos em 79, 1850 pessoas começa-
ram a ganhar...
Mas houve uma reunião que eu vim sa-
ber depois, onde nego do sindicato man-
dava a fábrica me prender... às 11 horas
e
...
Agência o Globo
do dia 24 de julho, antes dessa porrada
que teve na assembléia às 15 horas. Ti-
nha 11 pessoas, nego do Sindicato... eu
tenho inclusive o diálogo dessa reunião,
reproduzido depois... O que é que acon-
tece? Eles deram o aval para que no dia
26, ao eu entrar na fábrica, o capitão
Wilson e o cara da Segurança Sidnei, bo-
tam a mão em meu ombro e diz que ""a
gente quer conversar contigo" e me
levam para a sala do major Vitor. E lá
me dão a carta de demissão pedindo que
eu assinasse, ao que respondi: "eu não
estou autorizado pelos trabalhadores"...
Isso já era mais ou menos 8 horas, daqui
a pouco, os peões sabendo o que aconte-
ceu, já acostumados com a porrada de
terça-feira, vem arrastarido a massa da tra-
brica todinha. Eu não sabia de nada eu
só ouvia um barulho surdo, eu tava
numa sala forrada de eucatex preso. De
repente chega o capitão Wilson e fala pro
major: "chefe, vem uma coluna de
operário aí..." eu pensei que era só pes-
soal da Brasília. Daqui há pouco os nego
me levam. Me dão a cartinha e me levam,
por fora da fábrica e quando eu passo ve-
jo aquele pessoal do SP todo branco,
branco assim olhando prás vidraças.
Quandoeu saio do lado de fora; rapaz, tá
aquela massa toda: bahhh!!!
A massa, aquela massa toda;
Háaaa. Aquela expletão... chorei bicho,
chorei...
Aí os companheiros é que podem con-
tar...
Alvacir - Aí eles fizeram aquele cerco
de policiais e de segurança da empresa
com bombas, cassetetes, 'metralhado-
ras... aí a massa foi, né. "Um, dois, três"
é hora, e avançava, né. E eles foram re-
cuando, recuando, até sair fora do por-
tão. Aí expulsamos eles, né aos poucos.
andando, até que eles saíram fora do
portão.
Gianini - Nego conta lance que abria
a camisa e dizia: "atira, mas atira num
trabalhador" e nego foi empurrando. E
aí quando eu entro. Agora aí o negócio já
tinha mudado os parâmetros. A fábrica
estava comos trabalhadores que estavam
parados e queriam que eu falasse, Os ca-
"fala!" subi numa escada -no -----
R J
1504 Pee-
blemas da empresa. (...) Depois forma-
mos um comitê, um comando de greve e
de lá para cá este comando vem se reno-
vando, se enchendo e se deu a minha vol-
ta.
yaMovimento-25a31/5/8),
 AJA hb av "e nuBRDFANBSO VB.GnNC. AAA,

'rise, oh doce crise!

Na crise, muitos vão para o olho da rua, poucos ganham subsídios...

Gondim Caldas Velho
Nos últimos dias a questão dos subsi-
dios dominou o debate econômico brasi-
leiro. Em fins do ano passado o governo
passou a imprimir à economia uma
orientação ortodoxa de estabilização
onômica. Restringiu violentamente o
crédito, aumentou as taxas de juros,
desestimulando a atividade econômica,
Os resultados logo se fizeram sentir.
Uma pesada carga de sacrifício foi
atirada sobre os ombros dos assalaria-
-os. Eliminaram-se milhares de empre-
-3os--Pareelas--cada-vez--maiores- dos
salários passaram a ser consumidas pela
2
Mexer em subsídios é ter de enfrentar
interesses poderosos. No ano passado,
corajoso como ele só, Delfim começou
um programa de retirada gradual do
subsídio ao consumo de trigo. Escolheu a
dedo. Em todo o universo do subsídio
brasileiro, era o único que beneficiava o
consumidor. Mas Delfim não agiu fria e
insensivelmente como um cirurgião que
dispensa a anestesia. Antes disso inun-
dou à imprensa brasileira de detalhada
literatura sobre os inconvenientesde tai
Subhídiu.
Entre agosto do a-

inflação, transferidas para os belsos dos no passado e maio

especuladores. E o governo acenando deste ano retirou Cr$

com a recompensa divina do fim do 42 bilhões dessa con-

Calvário: uma economia com a inflação ta. Mas a conta tei-

debelada, voltando a crescer. mava em não descer

Não precisou muito tempo para se na mesma propor-

desmascarar a tremenda balela que ção. Vai se especular

pretendiam impingir à opimão pública. as razões e descobre-

Ogoverno havia estimado uma expansão se que Delfim havia

de Cr$ 350 bilhões no orçamento mone- instituído um subsi-

tário. Não foram necessárias mais que al- dio creditício aos

gumas contas para se mostrar que as moinhos. O governo ,

metas eram fictícias. Apenas a comple- emprestava. 61% do

mentação a algumas linhas de crédito , preço do trige por 30

rural consumiria, por baixo, Cr$ 78,5 dias, e os restantes

bilhões não previstos no orçamento - 39% por 60 dias, sem

isto é, que exigiriam a emissão de cobrar juros. Régio

moed :s. A garantia para a compra de presente que, segun-

café e açúcar, segundo algumas estima- do as estimativas de

tivas conservadoras, poderia consumir um dono de moinho

mais Cr$ 200 bilhões. (Lawrence Pih, do LA

Esses recursos referem-se apenas a Moinho Pacífico), ele

desembolsos extras do Tesouro. No total, próprio indignado Para tanto, ela conta com um volume
apenas três setores (rural, de exportação com tamanha prote- de dinheiro considerável.
e Proálcool) ão este ção, custaria ao Te- No curto espaço de tempo em que se
ano em torno de Cr$ 630 bilhões tornou Ministro da Agricultura. Delfim
g2
souro este ano cerca

só em subsídios. Esse dinheiro servirá de Cr$ 22,7 bilhões. Netto levou para «a Cobal Antonio
para que o governo banque até 82% do Não há nenhuma ra- Salles Leite, que havia sido presidente
custo do dinheiro para crédito rural. zão plauzível, nem se da Telesp. Passou para o Planejamento
tomar por parâmetro a lógica do mas não deixou seu sucessor, Amaury
A trambicagem do sistema, para justificar tamanha prote- Stábile, mexer com Salles Leite. Assim, a
ção. Esse dinheiro não vai contribuir Cobal continuou sendo praticamente um
subsídio aos donos para baixar em um milésimo os Índices território de Delfim.
de inflação. Não vai baratear o preço ao
de moinhos de trigo
consumidor em um mísero centavo. Não
A incrível carne que
O professor Octávio Gouvêa de Bu- se trata de auxílio-emergência para
apeisas isso, Se entogasse o produto
lhões, que é frio, insensível, mas não é salvar o setor de nenhuma crise. O
diretamente ao comércio, o consumidor engorda e dájuros
bobo, percebeu que nesse ritmo a econo- próprio Pih reconheceu que bastaria que
o adquiriria e misturaria a água em casa. depois de congelada
mia corria o risco de afundar. E ele, que o governo concedesse crédito a juros de
Para poupá-lo de tamanho esforço, a
se arvora em consciência crítica do mercado.
Seplan entregou o produto aos grandes O esquema de comercialização da carne
capitalismo brasileiro, desceu do Olimpo Por que Delfim concedeu tal auxílio? laticínios. Eles se encarregaram de adi- é dos menos fiscalizados desse pais.
para mais uma de suas incursões pelo Normalmente setores do governo e da cionar água e, evidentemente, uma boa Sabe-se lá por que critérios, a Cobal
mundo, e vociferou: se a questão dos grande imprensa criticam o que eles margem de lucros para compensá-ios seleciona um certo número de frigorifi-
subsídios não fosse devidamente equa- denominam de compulsão da imprensa pela água gasta. cos para armazenar a carne dos estoques
cionada, o país corria o risco de fechar.
intimidado, o ministro Delfim Netto
alternativa em desconfiar de trambica-
Não é preciso muito cálculo para saber reguladores. O número de frigoríficos é
articulou algumas explicações, procu-
gens em cada ato oficial. Que eles dêem,
em quanto encareceu o produto final. um segredo de Estado. A Cobal vai
rando livrar o seu da seringa. Como a sua
então, uma única explicação razoável
Um leite hidratado possui cerca de 80% até os frigoríficos e lhes entrega um
credibilidade anda mais elevada que a do
para esta medida.
de água. O consumidor precisou pagar volume de dinheiro correspondente à
encarregado do IPM do Rio Centro, o Del- pela água que a usina colocou, pela carne que vão armazenar. Depois paga
fim rearticulou sua tática favorita. Mar-
A curiosíssima
embalagem que transportou os 20% de uma outra quantia correspondente ao
cou encontros reservados com alguns leite e os 80% de água, pelo caminhão aluguel do frigorífico. A carne perma-
jornalistas econômicos e desabafou sen-
mamata d'água
que precisou transportar 80%a mais de nece por lá por um prazo que pode ir até
tidamente. Vem ele, Delfim, tentando carga - e assim por diante. seis meses. Quando entra a entressafra os
frigoríficos começam a vender a carne
no leite em pó

administrar a economia com o zelo e a

» No ano passado houve uma aguda crise
contenção de uma dona-de-casa criteriosa
na comercialização de leite.
elogo aparece um bando de empresários
pó sumiu das prateleiras dos supermer-
chorões tentando desarrumar tudo, com
cados. Leite in natura, nem pensando. A
suas solicitações de mais subsídios. Onde
crise afetou principalmente o Nordeste.
arranjar dinheiro para adquirir a safra
de café? Como fabricar dinheiro para
Para minorar a situação,
Por que a Seplan assim _ procedeu?
O leite em Burrice? Incompetência? E evidente
que não. Então um órgão assume as
funções de outros órgãos ( do Ministério
da Agricultura, da Cobal) sem ter
absoluta certeza do que está fazendo?
o governo
para os supermercados.: Só depois de
receberem o dinheiro é que irão pagar ao
poverno. a quantia que lhes foi repassa-
da, sem pagar um tostãode juros. Só que
ai ocorre um pequeno detalhe: as carnes
sào vendidas pelo preço do dia, e a
diferença é embolsada pelos frigoríficos.

adquirir açúcar? E um tema para os detetives da Veja,

Perceberama jogada? Vamos supor que
resolveu importar uma partida de leite
que se especializaram em seguir pistas
Sensibilizados pela franqueza do mi-
o governo pague Cr$ 100,00 o quilo da
em pó. Normalmente quem deveria se
em motéis de Brasília, despenderam sua
nistro, e por sua gentileza em convidá-los
carne armazenada. Se a Cobal pagou, a
encarregar dessa importação seria o
energia.
para um cafezinho, os jornalistas logo
carne pertence a ela. Dali há seis meses a
Ministério da Agricultura. Não foi. A

endossaram sua posição. E pintaram a própria Secretária do Planejamento en-

figura de um ministro zeloso, cercado
por perdulários por todos os lados.
Mas será que é isso mesmo? Vamos
tentar redesenhar o perfil do ministro
através de algumas historinhas exempla-
res.
%
MOVIMENTO -25 'a 318/81
A Cobal (Companhia Brasileira de carne estará custando Cr$ 200,00. Neste
carregou-se diretamente da importação.
Alimentos) é encarregada de administrar intervalo a Cobal teve que pagar de seu
Daí, ocorreram duas coisas curiosis- os chamados estoques reguladores. Ou bolso os juros do adiantamento que fez ao
simas. Primeiro, o leite em pó destinado seja, ela adquire produtos em épocas de frigorífico. Daí o frigorífico vende a carne
ao abastecimento do Nordeste foi desem- safra, para colocá-los no mercado nas por Cr$ 200,00, não paga um tostão de
barcado no porto de Santos. Precisou entressafras,* impedindo oscilações vio- juros, e ainda embolsa a diferença, de uma
seguir para o Nordeste de caminhão. Não lentes em seus preços. carne que não era mais dele.
 R$ A "
Lula, Weffort e Loderer:
alguns obstáculos antes da
solidariedade dos alemães.
Tropeços na
Os trabalhadores brasileiros procuram solidariedade
Frederico Fuellgraf
O que impede o aumento da solidariee para não exercer ações mais eficazes de
dade dos metalúrgicos alemães «os solidariedade aos sindicatos de países
«<olegas-brasileiros--nos-mementos-de--dependentes:-a-Lei-Constitucional-de-
crise gra ve? Nosso ex-correspondente na Empresa, que eles assinaram junto com
Alemanha, Frederico Fuellgraf, arual- empresários, e que proíbe este tipo de
mente residindo no Brasil, mostra que iniciativa. E culpam empresas como a
uma das razões é a diferença de estru- Volks pela fraca representatividade ope-
turas sindicais e especialmente o grau de rária no Brasil. Albert Schunk, assessor
ligação que os sindicatos alemães têm de relações internacionais dá IG-Metall
com as empresas. chega mesmo a dizer que não é a CLT ou
a lei 4.413 que manieta a representati-
Enquanto no Brasil a representativida- vidade operária, como alega a direção da
de dos trabalhadores junto às direções Volks, mas a própria linha dura da
das empresas é fraca ou inexistente, -- o Volks,
último diretor sindical que trabalhava na Estas críticas esporádicas formuladas
Volks, Devanir Ribeiro, foi demitido pela 1IG-Metall, esbarram, como é de
depois da greve de 1980 - na Alemanha se esperar, justamente na "linha dura"
a situação é completamente diferente, pe- da Volks. Para Toni Schmucker,um alto
lo menos em termos formais. Entre os funcionário da empresa, por exemplo, as .
chamados "delegados de confiança" a denúncias da repressão praticada pela
nível de setor e delegados sindicais a nível filial brasileira na greve de 1979, levan-
de fábrica, existem na Volkswagen alemã tadas na Assembléia Geral dos Acionis-
cerca de 4.200 representantes, ou seja, tas, em julho de 1979 em Berlim, não
quase 1 delegado para cada grupo de passavam de "kalter kaffe" (papo-fura-
30 empregados da fábrica. do).
Esta representatividade dos trabalha- A IG-Metall, por sua vez, só dispõe de
dores confere forte poder de barganha ao dados relativos à política da Volks do
único sindicato metalúrgico alemão, - a Brasil, quando estes são fornecidos
IG-Metall presidida pelo social-demo- pelos porta-vozes de fábrica de São Ber-
crata Eugen Loderer que também é nardo do Campo. É certo que até hoje,
presidente da Federação Internacional
dos Trabalhadores Metalúrgicos (Fitim) Bernardo do Campo, não puderam
com sede em Genebra. Loderer desem- confirmar, empiricamente, irreguláarida-
penha, ao mesmo tempo, a função de des poyclcs denunçigdas, tais como o
vice-presidente do Conselho Consultivo alto índlcç de rotatividade da empresa,
da MWy-constituído-de-20-nembros, -- quernos os-anos, chegava a atingir
entre os quais 9 sindicalistas da. IG-Me- a média de 30% ao ano. A "meticulosi-
tall. Por sua atuação neste Conselho, dade germânica" da IG-Metall porém,
Loderer percebe, anualmente, um "prê- exigia provas e, estas: em muitos casos,
mio" equivalente, no mínimo, a 220 mil deixaram algo a desejar.
marcos (8.14 milhões de cruzeiros). Mas o entendimento entre São Bernar-
do é a TIG-Metall não se reduz à mera
éé : - falta de provas que satisfaçam a meti-
A "ledICUIOSldade
e ,, e
culosidade germânica. Os sindicalistas
germânica"* e linha
de base brasileiros não entendem muito
bem o que está acontecendo quando são
dura na Volks convidados em visitas-supresa de dele-
gados da IG-Metall, para reuniões em
Com tanto poder de barganha. por-
hotéis de alto luxo em São Paulo. E cons-
tanto, não seria de se esperar maior soli-
tumam ainda achar meio estranho que
dariedade? A IG-Metall alega uma razão
tais viagens sejam, em alguns casos,
10
solidariedade
internacional, mas sabem que ela é difícil.
pagas pela Volks.
te em Wolfsburg, os trabalhadores da
O surgimento do PT, encabeçado pelas
Volks juntaram, numa semana, cerca de
%Wwáfgwâà—ÉBWWWH"WWW?ÉWWW & cvc-..
pretexto utilizado pela IG-Metall alegava não ter recebido o dinheiro.
alemã, para dificultar melhores enten-
dimentos a nível intersindical.
As afirmações feitas por representantes , As "*relações
da IG-Metall, "off the record", sugerem
que "não se deve misturar sindicalismo solidárias" parecem
com atividade partidária" (argumento,
aliás, utilizado por Wolfgang Sauer, bem remotas
pai a justificar a criação da "Comissão de
Representantes de Empregados"), es- Em contrapartida, a presidência da
condendo o fato, de que quase sem IG-Metall bloqueava e proibia, final-
exceção, as lideranças da IG-Metall só se mente, artigo solicitado pela redação da
conseguem eleger e/ou manter-se em revista metalúrgica Der Gewerkschafter
seus postos, se forem membros do SPD a jornalista brasileiro, onde este anali-
- O Partido Social-Democrático de sava exaustivamente a função política da
Willy Brandt e Helmut Schmidt. De "Comissão de Representantes de Empre-
fato: o SPD, por intermédio da Fun- gados" da Volks do Brasil. Além disso, a
dação Friedrich Ebert, representada no revista foi forçada a suprimir, em sua
Brasil pelo (Instituto Latino-ame- edição de fevereiro último, todas as refe-
ricano de Pesquisas Econômicas e rências críticas à Volks do Brasil. A
Sociais) convidara Lula e as lideranças revista Lateinamerika Nachrichten, edi-
do PT para conversações políticas em tada em Berlim pelo FDCL (Centro de
Bonn, em fevereiro último. Mas Eugen Estudos Latino-Americanos), viu-se até
Loderer negava-se a receber o presidente ameaçada por processo judicial, que a
do PT e líder metalúrgico deposto presidência da IG-Metall pretendia mo-
durante a greve metalúrgica de 1980. ver contra a publicação, em virtude da
"Off the record". um representa afirmação da revista de que o Fundo de
Greve de -São Bertardo do Camp
encontro Lula/Loderer acabaria "num havia recebido todo o dinheiro enviado
estardalhaço em 5 minutos". Entre pela IG-Metall ao Brasil, até o final de
outras razões, Lula era criticado dura- 1980.
mente pela IG-Metall por haver se Fica evidente, que a conquista de um
xado da demora da transferência de - "projetoderelaçõessolidárias" entre os ---
meios financeiros oferecidos pela IG- sindicatos de diferentes países, tal como
Metall para o Fundo de Greve de São foi proposto por Edmond Maire da
Bernardo. O dinheiro, assim argumen- contederação sindical CFDT francesa,
tavam os lideres metalúrgicos brasileiros, em 1978, alicerçado em bases anticapi- -
fora enviado paraJorge Norman,Diretor talistas, não - produtivistas, visando a
do Departamento Profissional dos Meta- superação do desemprego e da atual
lúrgicos em Belo Horizonte e repre- divisão desigual de trabalho em escala
sentante da FITIM no Brasil, quando mundial, "parece «remota nestas condi-
deveriater sido entregue diretamente em ções. Antes de mais nada, o poder de
São Berrardo. barganha do movimento sindical bra-
A pedido da presidência da -sileiro- combativo, -inclusive-junte-às ---
foi suspensa também, a nível nacional, poderosas centrais sindicais dos países
na Alemanha, uma campanha pró-Fun- ricos, parece residir na conquista de sua
do de Greve de São Bernardo, lançada total independência política e autonomia
pela revista Der Gewerkschafier. Somen- ideológica.
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81

A Funai
Desde 22 de janeiro, os Xavante de
Sangradouro,mais precisamente da al-
deia Dom Bosco (os da Aldeia Sangra-
douro estão sob o tação conservador e
reacionário dos salesianos), se preparam
para a guerra. Objetivo: recuperar 36 mil
hectares de terra. invadidos por nove
fazendas. No entanto, desta vez, não foi
preciso o uso da borduna, do arco e da
flecha, espingardas e revólveres tomados
a fazendeiros no primeiro ataque, para
que eles conseguissem: a vitória do final
da semana passada.,
Os líderes Xavante deram alta demons-
tração de "civilização", ao conquistar
suas terras, pacificamente, na base do
diálogo, um termo um tanto vago na
atual conjuntura política do país. Isso,
contudo, não significa que os Índios se
enterneceram diante de seus invasores.
Tão) somente eles deram um prazo de 30
dias para que os fazendeiros retirem seus
"cacos", Desde a quinta-feira, dia 14,
eles começaram a preparação para a
guerra acompahhada por este repórter
de Movimento.
Como nos velhos tempos, todos os
membros «da aldeia se reuniram no
centro e aí se deu um momento emocio-
nante: a despedida entre marido e
mulher, namorados e namoradas, noivos
e noivas, crianças e adultos. Algumas
mulheres, as mais novas, tiveram o
privilégio de acompanhar os guerreiros
até as proximidades da fazenda que seria
atacada na manhã de sexta-feira.
Na madrugada, os
Xavante se pintam:
vai começar a guerra
A caminhada pela floresta densa.
entremeada de pântanos, através de uma
picada batida, inicia-se por volta das 15
horas e só termina por volta das 20
horas, quando todos já alquebrados
acampam perto de um riacho, a três
quilômetros de distância da fazenda
Lanca. Acendem -se três fogueiras, onde
MOVIMENTO - 25 a 31/5/81
"aba
49.5V 2 BRDFAN
BSB V8.GNC.AAA,
ÍNDIOS
arma a cilada
José Calixto de Alencar
são assados cará e mandioca. Conver-
sam sem parar sobre a estratégia do
enfrentamento do dia seguinte. Há um
momento de grande algazarra quando os
Xavante mais antigos desejam saber
quem são os dois estranhos que estão ali.
"Estes jornalistas não são nada. Estão
aqui para "curiosar"" para a Funai".
Babatire aefende os dois repórteres.
Rezam parte de um terço católico e por
volta das 22 horas o silêncio desce com o
luar prateado do Centro-Oeste.
Por volta de duas horas da madrugada,
os primeiros Xavante acordam e começam
a pintar seus corpos morenos e robustos.
Com extrema agilidade, o urucum e a
brasavelha vermelha com
a ajuda de espirros d'água, em tintas
rubro-negras que enfeitam seus corpos,
da cabeça aos pés. Esperam clarear um
pouco mais e, com os primeiros sinais da
manhã, avançam. Dois batedores, que
seguem à frente, vêm informar que
todos na fazenda estão dormindo ainda.
Os 110 guerreiros da aldeia Dom Bosco
tomam de surpresa a sede da fazenda
Lança. A princípio, seu dono, Livingsto-
ne Dorcelino Venâncio, tenta reagir, mas
o cabo João Vieira de Souza, que
protegia com mais dois soldados a sede
da fazenda, aconselha o fazendeiro a se
render. Da mesma forma ocorre com os
oito restantes fazendeiros que, diante da
superioridade Xavante, depois de quase
duas horas de conversações, conseguem
um acorde com o cacique Babatire: os
fazendeiros têm um prazo de 30 dias
para retirar sua produção de arroz e as
famílias de seus empregados.
O cacique Babatire faz um discurso
inflamado, chamando a Funai de "la-
drona que rouba e enrola a vida do
índio" e fala para os fazendeiros que
procurem aquele órgão para receber
indenização. Esclarece também que não
têm nada contra os empregados . da
fazenda e que eles podem retirar suas
galinhas, seus porcos, "porque nós só
queremos a terra". Eles ficam alegres
quando os fazendeiros dão como "pre-
sente" os porcos e as galinhas da fazenda
e. para demonstrar boa vontade, seus
or Domingos Sávio ameaça
m pé de guerra: "sesairem
e,
ótratados como
Digi bran1C0S
nada demetralhadora
| |
guerreiros ajudam os invasores a carre-
gar o caminhão com a mudança.
Mas a Funai não aceitou o "acordo"
firmado entre índios e fazendeiros, em
Sangradouro, que garantiria uma solu-
ção pacífica. Com a nítida finalidade de
indispor os Índios Xavante perante a
opinião pública nacional, o coronel
Nobre da Veiga, presidente da Funai,
afirmou pela televisão e pelos jornais que
a reserva de Sangradouro não será am-
pliada e que o segundo ataque dos
Xavante ocorreu em virtude de insufla-
mento de ex-funcionários do próprio
orgão e de "pessoas estranhas".
As pessoas estranhas; a que se referia o
coronel Nobre da Veiga, eram certamente
os Jornalistas - Roseli Cordeiro dos
Santos, da TV Centro América, Lúcio
Cesar Tadeu Pires, correspondente de O
Estado de S. Paulo e José Calixto de
Alencar, da Folha de S.. Paulo e Movi-
mento. O presidente da Funai pediu ao
governador de Mato Grosso que man-
dasse abrir inquérito.
E para completar, o secretário Domin-
gos Sávio Brandão de Lima, do Interior e
Justiça, jogou, no meio da semana, mais
lenha na fogueira: além de considerar o
índio posseiro, "porque as terras são da
União que as utiliza a seu bel-prazer' ,
reforça o contingente de 23 policiais
militares que se encontram na região
desde a semana atrasada e promove, com
a ajuda da Funai, o retorno dos fazendei-
ros expulsos na semana anterior.
Do alto da ultradireita, o desembar-
gador Domingos Sávio Brandão de Lima
que durante a visita do Papa João Paulo
ao Brasil foi considerado, juntamente
com outras duas personalidades políticas
mato-grossenses, "inimigos dos índios",
proclama: "Já mandei avisar: se os
Xavante sairem da reserva, eles serão
tratados como brancos pelos policiais
militares que estão lá armados de
metralhadoras. E os senhores sabem que
uma metralhadora vale mais do que
duzentos revólveres e bordunas".
Antônio Carlos Moura/ Arquivo
- materna é superior; propõe também que
_ Reflexos da crise
A produção industrial brasileira no pri-
meiro trimestre deste ano registrou uma
. queda de 0,03% em relação ao mesmo
período do ano passado. A produção de
bens de capital sofreu uma redução de
3,94% e a de bens de Consumo duráveis
11,65%. Esses números, ao lado da alta
taxa de desemprego dos últimos meses
e da inflação, são claros indicadores da
crise econômica vivida pelo país. A se-
guir, alguns reflexos dessa crise sobre
os trabalhadores e o povo.
* O consumo de alimentos no primeiro
trimestre do ano sofreu uma retração de
44%. Comia-se pouco; com a crise,co-
me-se menos. 3
* O consumo de leite caiu em 19% em
Pernambuco, após o último aumento do
preço do litro para Cr$ 36. A Cia. de In-
dustrialização de Leite de Pernambuco,
tentando ampliar as vendas, lançou este
mês a embalagem de meio litro, já bati-
zada de "leite de pobre".
* Identificada a causa do aumento de
acidentes de trabalho no metrô paulista,
toda quarta-feira por volta das 13 ho-
ras: a feijoada, que era servida naquele
dia da semana. Sem ela, os acidentes
das quartas-feiras reduziram-se em
70%. Na Saab-Scania verificou-se que,
como no metrô, a maioria dos funcioná-
rios ficava sem se alimentar por um in-
tervalo de até 15 horas. Comapenas um
cafezinho pela manhã, por volta das dez
horas aumentava a taxa de acidentes. No
almoço todos se empanturravam, e os
acidentes voltavam a acontecer no perio-
do da tarde. Para contornar o problema,
a Scania passou a servir um desjejum.
* Os governadores nordestinos enca-
minharão um documento reservado à
presidênciadaRepública. O documento
mostra que naregião só20% da popu-
lação pode se considerar adequadamen-
te alimentada. ! É
_
| Crime e castigo
| O notório aumento da violência poli-
cial,aolad©daação isolada de algumas
| autoridades, ver , permitido ultimamente .
ato “ZW“,MWSM
turaramdurante dezdias
| o menoré JoãoIsidorodeOliveira co
choques elétric a" e
| trossuplícios. 2) O secret
ircos Hensi Net
presosnaIlhaGrande.C
rn
Depois de terestimulado o pipocar de |
cursos superiores por todos. os lados,
muitas vezessem as minimas condições -
"de funcionamento, o assume
agora a posição contrária. No dia 13 de
maio,Figueiredo assinou um decreto
suspendendo por um ano e oito meses a
concessão de autorização para funciona-
mento, na área pública ou privada, de
cursos e escolas superiores e universi-
dades. Por outro lado, o projeto do go-
verno de transformação das universida-
des federais em fundações tem gerado
numerosos protestos de estudantes e
professores. Para eles, a União quer
desobrigar-se do ensino superior, dei-
xando à míngua a pesquisa e alargando
as condições para a implantação do en-
sino pago.
- g e - Pa tª
Leite em pó ma
A Organização Mundial da Saúde
(OMS), órgão da ONU, aprovou na se-
mana passada um documento que re-
. comenda a restrição do comércio de leite
em pó e outros produtos 'que substituem
a amamentação materna. O. documento
propõe a proibição, por lei, da propa-
ganda de leite em pô e recomenda a in-
dicação nos rótulos dos produtos co-
mercializados de que a amamentação
se ja proibida a distribuição de amostras
grátis. Por sua vez, o diretor do Fundo
da ONU para as. Crianças (Unicef) de-
nunciou que a substituição do leite ma-
terno provocou, em um ano, a morte de
um milhão de bebês do Terceiro Mundo.
11
 Lnã 20BRDFANBSB
Rr RA VB.GNÇ;AAA,

agor
a, os

soci
alis
tas

. vão
tent
ar

_ S
soci
aliz
ar? -

Mário Pereira entre aspas foram reti

rados do Manifesto
A eleição de François Mitterrand, diri-
Socialista, adotado
gente do Partido Socialista, para a presi-
em: 24 de jêneiro é”, !

dência da França é sem dúvida um fato 7

$ "QB ra
wu

de grande importância no atual momen- deste ano pelo congres, |Mitterrand na Internacional Social
ista: os problemas só começaram...
to político internacional. Diante de uma
so do PS, ou de di-

versas declarações
lara tendência à direitização do governo
do próprio François
neocolonialismo". Defesa das aspirações aumento das baixas rendas. Programa
Mitterrand durante a
nos grandes países capitalistas -- cujos
sua campanha.,
específicas dos povos de além-mar, Rea- de investimentos públicos e privados,

exemplos mais destacados são a ascensão Liberdade

firmação do direito de cada um poder com atenção particular à construção ci-
e moralidade

de Margareth Thatcher, na Inglaterra, e escolher seu próprio destino. Estrito res- vil, aos serviços públicos e à habitação.

de Ronald Reagan, nos Estados Unidos na política interna

peito às liberdades democráticas. Aber- Nacionalização de nove grupos indus-

-, a vitória de Mitterrand pode ser to- Regionalização administrativa. Cria-

tura dos meios de informação locais "ao triais da siderurgia, e dos setores nucle-

mada no mínimo como uma reversãolo- conjunto das formações representativas, ar, espacial e do armamento.
1
Participa-
ção de umestatuto especial para a Córse-

calizada dessa tendência direitista. ga. O mandato presidencial será reduzi-

políticas e sociais, sem discriminação ção do Estado no grupo Peugeot-Citro-

O plano de governo proposto por Mit- do de sete para cinco anos, renovável
cultural, lingúística ou étnica". Se os en. Nacionalização dos bancos e das

rerrand se coloca, em vários pontos, no uma vez, ou limitado em sete anos sem
povos de além-mar "exprimem o desejo grandes companhias de seguros. Na eco-

extremo oposto ao programa de Ronáld de chegar à independência", o Partido nomia popular, nenhum controle de pre-
possível renovação. Revogação das leis
Reagan. Enquanto este pretende realizar Socialista no poder "lhes assegurará essa ços, exceto nos setores em que não exista
e dos procedimentos de exceç aboli-

pesados cortes nos programas sociais e ção da pena de morte e extinção dos
possibilidade, segundo as formas por a concorrência. Manutenção do controle

aumentar as despesas militares, Mitter- eles escolhidas, oferecendo-lhes tudo pa- sobre os produtos farmacêuticos e os
tribunais militares. Moralização da vida

rand propõe-se a incrementar a ajuda ra o estabelecimento de vínculos com a derivados de petróleo. P

social e criar mais empregos através da

pública, com as declarações da renda e
França dentro de condições mútuamente Política fiscal - Elevação do teto de
do patrimônio dos candidatos aos cargos
redução da jornada de trabalho e dimi- consentidas", isenção do imposto sobre a renda. Im-
de presidente da República, deputado e
nuição dos encargos sociais para as em- posto sobre as grandes fortunas a partir
senador, assim como dos ministros de

presas que absorvem grandes contingen- Estado.

Crescer e nacionalizar
de três milhões de francos por família,

tes de mão-de-obra. a economia do país

com taxa progressiva de 0,5 a 8%. Re-

No que se refere à política externa, Autodetermin

ação para dução do imposto sobre o exercício da

Mitterrand declara-se a favor da paz e do os ©"povos

Crescimento de 3% ao ano, de imedia-
profissão. Isenção dos bens de primeira
de além
desarmamento, e que trafegará por um
mar"
to (1981-82) e maior nos anos seguintes.
necessidade e diminuição das taxas refe-

caminho independente dos dois blocos. Ruptura com "as práticas herdadas do Revisão seletiva do consumo através do
rentes aos serviços ligados à cultura.

T propostas nesse campo apresentam

algumas contradições. Por exemplo, pa- Suspensão e debate

ra os povos ""de além-mar" que vivem As repercuss

ões no Brasil

sob o domínio francês, ele - presidente

do programa nuclear

de um país imperialista - propõe-se a No Brasil. a vitória de François Mit- de Giscard e de seus antecessores". A Suspensão do programa nuclear, por-
romper com as práticas herdadas do terrand encontrou: as mais variadas TLO, no entanto, afirma que o socialis-
que "é incerto e dispendioso", finalizan-
neocolonialismo" e defende o direito da- reações e opiniões. Entre os políticos, mo de Mitterrand é "de fachada" e do, porém, as centrais atualmente em
queles povos à autodeterminaçãàãoe à in- vegundo os jornais, o ex-governador objetiva "salvar o capitalismo da cri- construção. Aproveitamento da suspen-

dependência, embora faça questão de Miguel Arraes enviou a Mitterrand um se". Lombra ainda que a ação política
são do programa para lançar um amplo

que eles mantenham vínculos com a

telegrama de congratulações. de Mitterrand
Brizola, foi "sempre marcada
debate e um referendum sobre a utiliza-
França em condições "mutuamente con- que mantém contatos com a social-de- pelo oportunismo e pela ambição", e
ção da energia atômica.

sentidas". Outra contradição é que, mocracia curopéia (posição de que se que, diante da acusação de ter colabo-
Instituição de um conselho nacional

sendo contra a corrida armamentista, ele proxima o PS de Mitterrand), também rado com os nazistas na última guerra
de ciência e cultura, de caráter perma-

diz que é preciso modernizar a "força de

estaria bastante satisfeito mundial,
com a vitória ele nào deu explicação satis- nente, ligado diretamente à presidência
dissuasão nuclear" francesa. vocialista. O general Milton Tavares, co- tutória.
da República. Criação do Ministério da

De qualquerforma, o plano de Mitter-

mandante do II Exército, O
declarou que Hora do Povo considerou que o
Pesquisa. Dotar o parlamento de um
: rand foi seguramente um dos principais é "um evento de excepcional importân: povo francês "disse não ao desemprego
organismo de estudo e avaliação das

lutores de sua vitória. Algumas de suas

cia, que pode até mudar a face e a demagogia"
do mun- e que "a boa vida dos
alternativas tecnológicas. As despesas
propostas. vão inequivocamente ao en- deo" especuladores vai acabar: bancos e 11
nacionais com pesquisa deverão corres-
contro das aspirações dos trabalhadores Na grande imprensa, O -Estado de monopólios passarão às mãos da popu- '
ponder, em 1985, a 2,5% do PNB, de-

e do povo francês. Isso enquanto progra-

S.Paulo considera que na França lusão ". O
"tudo HP também deu destaque à
vendo ser promulgada uma lei que regu-
ma. Resta saber se na prática ele é reali- lependerá das próximas
eleições parla- promessa de nacionalização da multi-
lará a programação dessas
despesas para
cável. 3 mentares e das alianças que
forem esta- nacional Rhône-Poulene (Rhodia, no
períodos de cinco anos.

No campo econômico, por exemplo, a helocidas depois". O Estado acha que Brasil).

política salarial prevista por Mitterrand

ve Mitterrand fizer alianças O fornal
com o PC e Em Tempo acredita que as

criará um aumento na procura de bens.

Política social: menos
colocar comunistas em ministérios-cha- questões decisivas para Mitterrand se-

A dúvida dos especialistas, inclusive os ve, seu mandeto poderá significar

a ruí-
rão o programa de governo e a compo- tempo no trabalho

do Partido Socialista, é saber se haverá na de tudo que a França construiu sição de forças em que ele se apoiará

oferta suficiente para fazer face ao novo depois da 2.a Guerra Mundial. para a aplicação do programa. Para o
Habitação e urbanismo - "Governar

nível de procura, Em caso negativo, de- Também na imprensa alternativa as fornal, "as aspirações populares de há
0 solo", generalizando o direito de prio-

sequilíbrios econômicos como a inflação reações foram diversificadas. O jornal nruito pendem por um governo PC-PS,
ridade de compra ao locatário do imóvel,

interna é os déficits. externos tenderão a Voz da Unidade considerou que a vi- único capaz de começar a implementa-
e criando um imposto fundiário. Cessar

acentuar-se, tória de Mitterrand Joi uma conquista cão das reformas" prometidas
por Mit-
o privilégio do exercício liberal da arqui-

Mas o próprio Mitterrand parece estar das esquerdas francesas, e que o povo rerrand. .. tetura e criar, a serviço das coletivida-

consciente dessas dificuldades. Após a votou nas "reformas econômicas, polí- Para o jornal O Trabalho, "os gran-
des, escritórios públicos de arquitetura e

confirmação de sua eleição, ele repetiu a ricas e sociais que as forças vencedoras des derrotados: nas eleições presiden-
urbanisme, com a participação dos cida-

lrase: "Ganhamos, e é agora que os pro- se propõem a executar". ciais francesas foram "a burguesia
dãos.

hlomas começam". No artigo a seguir, A Tribuna da Luta Operária analisa imperialista (que ficou em pânico na
. . Reforma do sistema de aluguéis subsi-

Movimento apresenta os "principais que a eleição de Mitterrand "demons- Bolsa de Valores jrancesa) e sua aliada,
diados pelos Estado. Aumento de 50%

pontos do programa do governo Mit- tra o desejo de mudanças do povo «a burocracia stalinista" (os soviéticos,
na oferta de habitações subsidiadas. Do-

terrand. organizados com base num re- francês, vítima da política de arrocho que apoiavam Giscard).
tação de 300 milhões de francos ao setor

sumo feito pelo Le Monde. Os. trechos de ajuda social em favor dos beneficiári-

os desse sistema.

raro v
12.
0000

MÓVIMENTO -- 25 a 31/85/81

Querem reduzir
a semana de
trabalho para
35 horas, sem
redução de
salário e
com
aumento de
empregos...
Medidas contra o desemprego - Cria-
ção de 210 mil empregos, dentre os quais
150 mil no setor público, nas áreas edu-
cacional, social e de saúde. Favoreci-
mento da criação de empresas.
Negociação com as empresas de uma
redução progressiva da duração do tra-
balho até 35 horas semanais, sem dimi-
nuição dos salários. Criação de um quin-
to turno nas empresas que trabalham
ininterruptamente. Criação, em conse-
qiuência, de novos empregos. Redução
dos encargos sociais para as empresas
que absorvem grande quantidade de
mão-de-obra.
Organização do sistema de integração
entre a escola e a vida profissional para
todos os jovens de 16 a 21 anos. Alocação
mínima para todos esses jovens. Au-
mento do salário mínimo. Implantação
da quinta semana de férias. Aposenta-
doria aos 60 anos, para os homens, e aos
55 para as mulheres, com direito a pen-
são integral.
Saúde - Renegociação do convênio
entre a medicina privada e a previdência
social. Criação de centros integrados de
saúde, nos quais os médicos serão remu-
nerados conforme as suas funções. Na-
cionalizar três grandes grupos farmacê-
ticos, a fim de criar um pólo nacional de
pesquisa. Estimular a medicina preven-
tiva. Oferecer serviços hospitalares gra-
tuitos.
Política cultural:
maior autonomia
Educação - Maior autonomia para o
sistema educacional. o Eliminação das
medidas antidemocráticas existentes nas
universidades. Serão mantidos os atuais
convênios com colégios particulares, mas
só será concedida subvenção estatal para
a educação pública. Serão contratados
mais professores e estimulada a educa-
ção escolar de adultos.
Cultura - Aumento da participação
da cultura no orçamento nacional. Con-
trole dos preços dos livros. Manutenção
do monopólio estatal do rádio e da tele-
visão, embora se permita o funciona-
mento de estações particulares. Limita-
ção da publicidade,
Política externa: ficar
ainda na OTAN...
Europa - "A Europa atual faltam
alma, ideal e convicção". (...) Sou favo-
rável à manutenção dos dez países que
hoje fazem parte do Mercado Comum
Europeu, mesmo que alguns desses paí-
ses não se comportem como eu deseja-
ria",
"A aliança atlântica (Organização do
Tratado do Atlântico Norte - OTAN)
vê a separação de seus membros sempre
que cada um persegue as suas própriás
ambições. O Pacto de Varsóvia existe sob
Ve R a EET?) 7394 àguª—'
7/9 V "
ve.GNC.a
aA, O !:
a tutela da União Soviética. Sou contrá-
rio aos dois blocos militares. Bem que eu
gostaria de me desligar da OTAN. Mas
seria um pouco como os poloneses em
relação ao Pacto de Varsóvia. Se alguém
se afasta desse tratado, fica desarmado
diante de um mundo hostil. Eis porque
mantenho a aliança".
Diálogo franco-soviético - "A União
Soviética é um tanto conservadora e gos- ALEXANDRAKOLLONTA!I MARTA HARNECKER
ta das pessoas que estão no poder. (...) Autobiografia de uma mulher Conceitos elementares do
Ela tratará comigo e eu tratarei com ela Emancipada, Cr$ 210,00 materialismo histórico Cr$ 490,00
sem a menordificuldade".
Polônia - "Cabe aos próprios traba- DRUMMOND DEANDRADE
A paixão medida, Cr$ 220,00
lhadores poloneses decidir o que é útil à MOEMA VIEZZER
sua causa. (...) Em caso de intervenção Se me deixam falar..., Cr$ 450,00
dos russos, a França denunciaria uma FERNANDO GABEIRA
série de acordos que mantém com a Uni- Entradas e bandeiras, Cr$ 480,00
NICOS POULANTZAS
ão Soviética, porque esta deve saber que O estado, o poder, o socialismo,
não pode ser a polícia do mundo". FREIBETO Cr$ 700,00
Afeganistão - "É a primeirá Vez que Nicarágua livre!, Cr$ 300,00
a Rússia soviética corre o risco de desen- " PAULO SCHILLING
cadear um conflito de caráter imperia- JOVER TELLES Expansionismo brasileiro,
lista com um país do Terceiro, Mundo", O movimento sindical no Cr$ 580,00
O papel da China - "Nossa política Brasil, Cr$ 550,00
externa não tem que escolher entre a WLADIMIR POMAR
China e a Rússia", apesar de "os diri- JULIO JOSÉ CHIAVENATO Araguaia: o Partido e a
gentes chineses desejarem uma tomada Bolívia: com a pólvora na guerrilha, Cr$ 600,00
de posição marcando um certo fecha- boca, Cr$ 685,00
mento para a União Soviética. (...) A VÁRIOS AUTORES
KARL MARX
URSS é expansionista - hegemonista, A igreja dos oprimidos,
O capital, seis volumes,
como dizem os chineses. Nada demais, Cr$ 460,00
Cr$ 4.000,00
portanto, que os EUA, a China e a
Europa se unam para fazer frente a seu
MANOEL DEALBUQUERQUE
poderio".
Pequena história da formação
O conflito árabe-israelense - "O tra-
social brasileira, Cr$ 1.000,00
tado de Camp David é um bom tratado,
e 0 Partido Socialista é o único dos
grandes partidos que o aprovou. Mas um MARCIO SOUZA
bom tratado assinado entre Egito e Israel Mad Maria, Cr$ 460,00
não poderá contribuir, por si só, para o
restabelecimento da paz no Oriente Pró- MARCIO MOREIRA ALVES
ximo. Ele contém, no entanto, os ele- A força do povo Cr$ 360,00
mentos que permitem superar os obstá-
culos presentes. (...) A OLP - Organi- MARGUERITE YOURCENAR
zação para a Libertação da Palestina - Memória de Adriano, Cr$ 690,00
hoje é verdadeiramente a organização
mais representativa das aspirações dos meca
palestinos".
Dois alicerces para
a segurança e defesa.
"A França deve desenvolver uma polí-
tica de independência no que se refere ao
seu pensamento, sua ação e sua diplo-
macia, no interesse da paz mundial. (...)
A organização da segurança coletiva é
uma necessidade; ela deveria nascer de
discussões, de amplo diálogo entre os
países europeus do Leste e do Oeste, ao
invés de se fecharem num silêncio que
não levará a nada, a não ser à guerra".
"Desejamos criar dois alicerces para a
nossa segurança: uma capacidade de de-
fender nosso território e uma melhor
definição das obrigações de cada um dos A mais independente
membros da OTAN. E urgente que se
reúna a cúpula dessa organização para
redefinir essas obrigações (...) Se existe
e melhor informada
uma aliança, através da qual vamos dis-
cutir, os Estados Unidos, que represen-
tam a primeira força militar, dificilmen-
te poderão ausentar-se da Europa". revista semanal brasileira
"A estratégia francesa de dissuasão
nuclear é a única que atualmente pode
afastar o perigo do conflito. Convém que
modernizemos nossas forças estratégicas
e táticas". A força de "dissuasão nucle-
ar'' francesa compreende basicamente
mísseis, aviões e bombas nucleares espa-
lhados por diversos pontos do país.
Desarmamento - "Não aprovo que a lame
e no oo no o e ar ** Ao ** R 71
uma superpotência adicione poderes a |O) Anexo ao FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00
todas as ditaduras do mundo; as super- | cupom, em
| envelope Cr$ 7.920,00 à vista Cr$ 4.680,00 à vista
potências fariam melhor se acelerassem | fechado, meu 2 anos 1 ano
[Cr$ 2.870,00 3 pagamentos ]Cr$ 1.660,00 3 pagamentos
o desarmamento, ao invés de criar múl- | cheque nominal
tiplas oportunidades para a eclosão de | à Caminho Nome _
| Editorial Ltda.
guerras locais" (...). | Rua da Endereço ___ Telefone
Venda de armas - "A exportação de | Consolação Bairro _ Cidade . Estado
| 293 -- 8o -
armamentos deve obedecer a novos crité- I São Paulo Profissão
CEP -_-
rios, especialmente com relação ao Ter- | CEP: 01301
ceiro Mundo. Recusaremos toda venda | Pagarei Assinatura
| após receber
de armas aos governos racistas e fascis- Oferta válida por tempo limitado
tas".

Joan Baez
trabalhadores
violência. Lula
A visita da cantora norte-americana Joan
Baez a São Paulo perdeu o caráter de um
acontecimento artístico, para converter-se
numa pregação pela não-violência. Embora
seus shows tenham sido cancelados, por
falta de organização e de entrosamento en-
tre seus representantes e os escritórios que
estavam promovendo sua apresentação em
São Paulo, ela não deixou de ter um conta-
to com o público brasileiro: apareceria num
showdo Zé Ramalho, no Parque Anhembi e
faria uma apresentação, bem menor do que
as inicialmente previstas, no Tuca, em São
Paulo.
Ela fez questão de conhecer Luiz Inácio
ca Silva, com quem se entrevistou na quin-
ta-feira passada. Em seguida, teve uma en-
trevista coletiva com a imprensa. Sérgio
Lessa, repórter de Movimento, autor da nota
seguinte, acabou servindo como intérprete
entre Baez e seus interlocutores.
'Em todos os lugares onde vou, tento fa-
zer com que o povo, as pessoas reajam à
realidade social em que vivem, reajam con-
tra os governos repressivos. Como cantora,
para mim é muito mais importante e inte-
ressante quando estou envolvida politica-
mente com o povo", disse a cantora ameri-
cana Joan Baez ao lider metalúrgico brasi-
leiro Luiz Inácio da Silva, no encontro que
mantiveram no sindicato de São Bernardo,
na quinta-feira passada.
Joan Baez, que está visitando a América
Latina, chegou a São Paulo no dia 19, a
convite do Secretariado Nacional de Não
Violência, procedente da Argentina, e ficará
até este dia 25. Nessa sua viagem pela
América Latina, a cantora pretende realizar
um documentário mostrando as condições
de vida do povo latino-americano. Ela foi
primeiramente ao Chile, onde o, governo
militar resolveu ignorá-la, e ela pôde parti-
cipar de um show que reuniu 7 mil pessoas
em uma igreja de Santiago. Entretanto, no
aeroporto da capital chilena, a polícia con-
fiscou parte das gravações e filmagens que
ela havia feite das conversas que teve no
Chile e do show.
Do Chile ela foi para a Argentina, onde
não pôde realizar seu show, proibido pelo
governo. Recebeu ameaças de bombas, foi
impedida de subir ao palco de um show do
Gilberto Gil, e até a pronúncia de seu nome
durante a apresentação foi proibida. Joan
Baez e-sua equipe tiveram inclusive dificul-
dades para encontrar hotéis em Buenos Ai-
res: muitos deles simplesmente colocaram-
na porta afora, Depois do Brasil, ela visitará
a Nicarágua e a Venezuela.
Veja como assistir e promover a luta
do povo salvadorenho e a batalha
da clandestinidade no Chile de hoje
Dois filmes militantes, nos quais câmara
e personagem se misturam, numa realidade
vizinha nossa, embora às vezes inacreditá-'
vel: Revolução oa Morte e Recado do Chile,
o primeiro sobre à luta do povo de El Salva-
dor e o segundo rodado na clandestinidade
chilena.
Revolução ou Morte é uma reportagem de
50 minutos realizada em meio a uma batalha
em El Salvador. Na linha da denúncia, Re-
volução ou Morte - produzido em janeiro
deste ano para a televisão holandesa, cum-
pre de forma perfeita seu objetivo: atingir o
espectador através do impacto que as
cenas reais provocam.
Personagens da batalha do povo salvado-
renho contra as marionetes que massacram
o seu povo a mando dos. EUA, os realiza-
dores do filme viveram todas as contingên-
cias da luta de libertação daquele povo ir-
mão. Um integrante da equipe foi ferido du-
rante as filmagens, o que basta para ilus-
trar a coragem do filme - um documentário
recém-chegado ao Brasil, obrigatório para
quem se interessa por cinema ou pela liber-
tação dos povos oprimidos.
14
, «BRDFANRSS VB8.GN
PACIFISMO
queria saber
pensam
respondeu...
|
| ao ministro um memorial com 100 mil
ula a Joan Baez: a violência parte da polícia e do Estado..
Além do Secretariado Nacional de Não
ViolenCIa a viagem, os contatos e a perma-
nência de Joan Baez no Brasil estão sendo
promovidos pela Pastoral Operária e pela
Comissão Justiça e Paz. Evitando qualquer
contato com partidos políticos, Baez entre-
tanto fez questão de conhecer Luiz Inácio da
Silva, numa entrevista de caráter estrita-
mente particular. Durante o encontro, Baéz
quis conhecer os principais problemas dos
trabalhadores brasileiros, do movimento
sindical, saber como foi a participação das
mulheres nas greves recentes, qual a atua-
ção das multinacionais contra o movimento
sindical, e sobre a posição dos trabalha-
dores a respeito da não-violência.
Lula informou-a de que "os trabalhadores
não gostâm de violência e tentam realizar
seu movimento da forma mais pacífica pos-
sível. No entanto, quando os trabalhadores
se organizam, encontram sempre a polícia e
a repressão para proteger os patrões. A vio-
lência parte do regime e do Estado, e não
dos trabalhadores".
Baez é uma defensora intransigente da
não-violência, como deixou claro na entre-
vista coletiva que deu em S. Paulo, na tarde
CINEMA
A violência que o filme denuncia desmas-
cara de forma incontestável o cinismo da
Junta inventada pelo vizinho do Norte para
frear o processo de independência nacional
de El Salvador. Nas cenas do funeral de
Dom Romero, por exemplo, as imagens
mostram a participação do Exército no mas-
sacre da população - embora o democrata-
cristão Napoleão Duarte afirme numa entre-
vista que tudo não passou de provocação de
grupos esquerdistas.
Entrevistas com combatentes, com per-
sonalidades representativas, com vítimas
inocentes da violência juntista, .com tra-
balhadores, ilustram e dão ao filme um valor
histórico que servirá como documento para
os filhos desta revolução que terão nestas
imagens um retrato do que foram os dias
que antecederam a aurora que eles certa:
mente viverão.
Duas sequências didáticas de desenho de
animação - uma sobre o processo históri-
co em El Salvador, outra sobre a formação
da Frente Democrática Revolucionária -
acompanham as cenas de batalha de Revo-
lução ou Morte.
Ç.AAA, V
o que os
da não-
da quinta-feira, onde condenou todo tipo de
violência, de esquerda ou de direita. "Um
bebê morto é um bebê morto, não importa
quem o tenha matado", disse. Ela acredita
que a violência institucionalizada a ni-
vel mundial, é um dos fundamentos da atual
sociedade, e que portanto não adianta utili-
zar a violência para modificar a estrutura,
porque não se dá modificando o funda-
mental, que é a ela própria, a violência. Meu
trabalho declarou, tem o objetivo de modifi-
caro comportamento das pessoas e desco-
brir novas formas de ação que façam com que
a violência se torne desnecessária. Até
mesmo em El Salvador existiria, segundo
ela, uma maneira de fazer a revolução não
violenta.
Ela está impressionada com o grande nú-
mero de pessoas que têm lutado pela não
violência em todo o mundo, e considera
que o Brasil é um dos países onde isso está
mais avançado. As greves passadas de-
monstraram para ela que as táticas de luta
não violenta ("'que a gente pode chamar por
este nome, ou por qualquer outro"), estão
penetrando no movimento de massa.
Sérgio Lessa
P
Recado do Chile, que é baseado em entre-
vistas com familiares de desaparecidos,
tem o valor de ser o primeiro filme realizado
no Chile depois do golpe militar que, em
setembro de 1973, pôs fim à experiência re-
volucionária da Unidade Popular. As limita-
ções técnicas do filme se justificam pelas
condições em que ele foi realizado - sob o
clima de terror e medo imposto ao povo chi-
leno pela Junta fascista. Recado do Chile é
o cinema chileno na resistência, colocado
acima das divergências das forças revolu-
cionárias. O cinema chileno também resis-
te. (Ilma Santana)
Os dois filmes poderão ser encontrados
nos seguintes locais:
-- Revolução ou morte: CBS (Comitê
da..
América Latina), que se reúne todas as quar- ”Em""Pontes acusadade ofensas no
tas-feiras no Sindicato dos Jornalistas de
São Paulo, Rua Rego Freitas, 530, fones:
257-1633 e 256-7191.
- Recado do Chile: Dinafilmes, Rua do | toria Militar vestindocaçascommit-af
Triunfo, 134, salas 84 e 85, Cep 01212, São
Paulo - fone 221-3641.
Mais censura à TV
O ministro da Justiça, Abi Ackel,
anunciou (no dia 20) que irá propor uma
modificação na legislação sobre censu-
ra, visando ampliar a fiscalização nas
emissoras de TV e alterar a composição
do Conselho Superior de Censura, in-
cluindo nele mães de família e repre-
sentantes religiosos, Atualmente, o
Conselho é formado por representantes
de órgãos do governo, do cinema, tea-
tro, televisão e imprensa.
O anúncio foi feito a um grupo de
"mães preocupadas com a salvaguarda
mora! de seus filhos", que encaminhou
assinaturas pedindo "medidas urgentes
contra a onda de pornografia na tele-
visão, revistas, filmes, cartazesde cine-
ma e publicações". O grupo é formado
fundamentalmente por donas-de-casa de
«classe média do bairro de Santana, na
capital paulista, e o movimento por elas
iniciado acabou ramificando-se por vá-
rios Estados.
A preocupação maior do grupo é com
a programação de TV, e - segundo
Marlene Schmidt Rodrigues, 40 anos,
uma das líderes do grupo, "não quere-
mos ser obrigadas a assistir novelas
com beijos exagerados, onde o rapaz
parece estar mordendo amoça". Além dos
"beijos ' exagerados", elas estão preo-
cupadas com "a mais profunda inversão
de valores: valoriza-se a infidelidade
conjugal (que ascrianças jáaceitam co-
mo rotina),-o desamor familiar, onde são
mostradas cenas de,estupro, masturba-
ção, troca de casais".
Um dos alvos da campanha são as ex-
planações sobre sexo feitas pela psicó-
loga e sexóloga Marta Suplicy no progra-
ma TV Mulher, transmiti doy todgsºgas
manhãs ?ela Rede Globo, que está sen-
do examinado também pelo Dentel (De-
partamento Naciona! de Telecomunica -
gwS, órgão responsável pela censura a
3. Para o Dentel, o horário do quadro
de orientação sexual de Marta Suplicy é
"inadequado", e o programa está amea-
cado de sofrer sanções - advertência,
suspensão temporaria ou mesmo supres-
são - determinadas pelo Dentel.
Justiça premiada
Dizeéndo ver na escolha de seu nome
"um sinal inequivoco de aprovação e
adesão ao trabalho que tenho desenvol-
vido em favor da justiça social, da liber-
dade e da paz", o jurista Dalmode Abreu
Dallari recebeu (no dia 20) o troféu "Juca
Pato" e o título de "Intelectual do Ano"
de 1980. A escolha é feita anualmente
pela União Brasileira de Escritores,
Teatro no ABC
A Federação Andreense de Teatro |
Amador (Feanta) está realizando uma
mostra do teatro amador do ABC paulis-
ta, iniciada no último dia 9, apresentan-
do espetáculos produzidos pelosgrupos
amadores da região, - “gm pos Caroço,
Forja (do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo), Libertá, Teatro Debate do
ABC, Taca, Háháhá noAmedelê. A mos-
tra Sima—se. segundo seus organizado-
res, na "busca de uma expressão teatral
que assuma postura definida frente ao
movimento popular, discutindo o modo
de criar um novo modelo teatral. um
procedimento que passa necessariamen-
te pelo questionamento da estética tea-
trail dominante",
A mostra terá continuidade nos dias
16, 17, 30 e 31 deste mês, e 6, 7, 13, 20 e
.21 de junho, na sede da Feanta - Rua
Newton Prado, no 76, em São Bernardo,
e a entrada é franca.
No trem já pode...
Desde o último dia 14 qualquer casal
pode viajar tranquilo nas cabinas duplas
dos trens da linha Brasília - S. Paulo. Por
ordem do ministro Eliseu Resende, dos
Transportes, a Rede Ferroviária Federal
suspendeu a exigência de certidão de ca-
samento para os casais usuários das ca-
binas.
O otimismo provocado por essa medida
liberatória contrasta com a atitude de uma
juiza da Justiça Militar de Recife, dra, lara
Dani, que - no último dia 20 - resolveu
*suspender uma sessão doprocesso movª
general Figueiredo _
A atitude da julza fói provocadapelo
fato de Maria Isabel comparecer à Audl-
MOVIMENTO -25 a 31/58/81
 BRDOFANBSB VB.,GNCAAA, -
'

Bob Marley

(1945-1981)

Desaparece um pregador

contra a babilônia

do capitalismo

Tárik de Souza

Robert Nestor Marley, o jamaicano de negra jamaicana, Bob Marley foi criado veio a consolidação do prestígio e o início numa posição de sentinelas da "Barbá-
Rhoden Hall, Bob Marley, morto por um em Trenchtown, bairro de Kingston, nos da febre do reggae tomando também os rice". subdesenvolvida. Mas, no bojo
câncer generalizado dia 11 de maio, con- guetos pobres da cidade, onde a música e EUA: o jornal Rolling Stone elegeu o desses supérfluos culturais também en-
seguiu uma façanha incomum no univer- a religião Rasta confundem -se. Os rasta- grupo o melhor do ano. Eric Clapton, viou a substanciosa músicá de seus
so multinacional do rock, controlado farianos são vegetarianos e consideram- guitarrista branco de rock, identificado negros descendentes da mesma mãe Á-
pelas superpotências EUA e Inglaterra. se hebreus negros. Para eles o falecido com as formas musicais negras a partir frica que pariu os da América Central. E
Com ele o reggae jamaicano (produto da imperador da Etiópia, Hailé Selassie era do blues gravou entusiasmado "I Shot a fusão produziu variadas formas como o
fusão de ritmos locais com o rock negro descendente direto do rei Salomão e da the Sheriff"' de Marley, alcançando su- mento ylhas (50), o ska (60) e o reggae,
americano) devolveu aos colonizadores a rainha de Sabá. A Etiópia seria a terra cesso até no Brasil. Mas, confessou não produto do calipso difundido pelo ame-
influência dos colonizados. Tal como prometida a esta raça espoliada interna- entender nada da letra, assim explicada ricano ativista Harry Belafonte, na déca-
Tom Jobim e João Gilberto fizeram, em cionalmente. O rastafarianismo que en- por seu autor: "Eu atirei no xerife é da de 50. Seu ritmo concêntrico e hipnó-
65, com o misto de samba e jazz (bossa contrava em Bob Marley «um adepto como dizer, eu atirei na perversidade. A tico corresponderia no Brasil entre os gê-
nova) impondo-se ao mercado america- ortodoxo, condena o álcool e prega o imagem não quer dizer um xerife de ver- neros descendentes do afro, ao partido al-
no. No caso brasileiro, a bossa não resis- consumo maciço da ganja ou marijuana, dade, mas o que ele representa em ter- to com sua melodia repetitiva (tal o blues
tiu à engrenagem, talvez por ser o produ- a popular maconha brasileira. mos de perversidade. Os elementos da primitivo americano) a serviço dos dis-
to ideologicamente elitista, distante da letra são as pessoas julgando você até cursos da letra. E o reggae tanto falou até
filosofia de resistência cultural que im- que você não aguenta e explode. E atira". cansar de reivindicações as platéias desen-
pregna o reggae. A bossa nova acabou No começo as letras Outra canção marcante deste disco foi volvidas. Hoje está praticamente expulso
diluída pelo consumo (virou marca de sa- cantada em São Paulo por Peter Tosh, dos EUA onde o nível de conscientização
pato, foi transformada em rótulo musical das músicas não
autor em parceria com Marley. A partir das platéias a respeito da miséria foi bem
usado até por Elvis Presley) e seus cria- do título, dispensa metáforas: "Acordem
tinham concessões retratado pela pacifista Joan Baez que nos
dores, inexperientes e desamparados ju- e Levantem -se" (Get Up Stand Up), diri- visita: "Há uma espécie de inconsciência
ridicamente, acabaram explorados pelos gida à juventude negra de todo o mundo. com relação a tudo nos EUA. Nem o mais
"versionistas" e "adaptadores". Bob Marley formou seu grupo, The Além das músicas, Bob e seu grupo (que pobre dos pobres americanos tem uma
Ao contrário da bossa, de ascensão Waylers (de onde sairia Peter Tosh que
iria se desmembrando e dando origem a idéia mesmo aproximada do que seja a
fulminante (lançada num show múltiplo esteve no II Festival de Jazz de São Pau- múltiplas carreiras individuais) espar- verdadeira pobreza".
do Carnegie Hall, em novembro de 62, lo), em 64: ainda em Trenchtown. Gra- giam um comportamento próprio, dis-
tomaria os EUAcom "Garota de Ipane- vou o primeiro disco no sistema de som tante dos padrões colonizados. Roupas
ma" três anos depois), o reggae levou precário criado em Kingston para apro- coloridas, mas surradas, eles também Um retrato cru dos
perto de uma década para consolidar-se veitar a latente musicalidade da cidade. não usavam o armado cabelo afro que
internacionalmente. Tudo começou com O primeiro forasteiro a interessar-se pelo caracterizou o estilo agressivo dos Black flagelos do
Jimmy Cliff, ainda na década de 60. Ele reggae foi um cantorzinho americano Panthers americanos dos 60. Preferiam
Terceiro Mundo
que esteve no Brasil num dos festivais da que a partir do nome tinha sido lançado deixar o cabelo crescer agrupando-o em
canção promovidos por Augusto Marza- como uma espécie de carbono de Johnny longas e desordenadas tranças. "Natty
Marley e o reggae provieram deste
gão e passou quase despercebido apesar Mathis, um certo Johnny Nash. Ele gra- Dread", lançada a seguir, estimula os jo-
flagelo típico do Terceiro Mundo e não
do sucesso de sua concorrente "Water- vou "I can see clearly now", que se
vens negros a não mais cortar o cabelo se furtaram a retratá-lo com tintas cruas.
tall", este mesmo Cliff iria chamar a aten- transformou no cartão de visita do ou esticá-lo (como pedia o modelo "Pai
Inimigo do capitalismo, da opressão, o
ção para o reggae com o filme "The reggae também mencionado superfícial- Tomás" americano). Deviam usar as
misticão Marley acreditava em coisas
harder they come". O roteiro conta uma mente no sucesso "Obladi Oblada", dos
tranças rasta. Na mesma época Marley
bem concretas; "Para mim religião é
história típica: a mesma do samba de Zé Beatles. Depois de chegar a dissolver-se, lança "No Woman No Cry'"* um hino de
política. É uma força que nos leva a
Ketti em "Rio 40 graus", a do ritmo de The Wailers voltou a atuar com força no fé transformado por Gilberto Gil, com
lutar contra tudo que existe de errado,
origem popular (preferencialmente ne- fim dos 60. Mas apenas em 73, o produ- grande sucesso, numa das canções da
tudo o que o homem criou para a
gra) explorado pelas multinacionais e a tor inglês Chris Blackwell animou-se a anistia, em 78.
satisfação do seu egoismo e não para
superestrutura do show-bizz. Cliff conse- investir no reggae como produto expor-
trazer benefícios à humanidade". Mili-
guia alguns êxitos nas vozes de cantores tável, O LP. **Catch a Fire", de Bob e seu
tante do Partido Socialista jamaicano; --"
brancos americanos, tal como vaticinava grupo foi gravado na Jamaica e mixado
--- Nasceumfilhoda---
sua ligação estreita com o ex-primeiro
"The harder they come" e sua ascensão na Inglaterra, com o acréscimo de partes
ministro da Jamaica, Michael Manley,
foi mais tortuosa e demorada até chegar de teclados do pianista Rabbit do con- mãe Africa e dos
amigo de Fidel Castro, valeu-lhe um
ao Brasil na condição estelar, dando as junto Free, que de certa forma tornavam
cartas, numa excursão nacional de am- o selvagem ritmo mais assimilável aos transistores dos EUA atentado em 76. Duas balas o atingiram
e ele jurou nunca mais voltar à Jamaica.
m Gilberto Gil. ouvidos roqueiros. Entre as letras, no en-
tanto, não haveria concessões: "Concrete Mas não se recusou a fazer um grande
: ritmo que tomava. de assalto. o.. show no estádio nacional de <ingston ao ----------
Jungle" pregava contra as megalópoles e
t-parade em contraposiçã lado de Marley.-Apesar de
"Slave Di CT lalava da escra idão da
ulho da disçotheque, n pouco suas letras mais rec N
s, Marley
sultado: identificação
r ssão de gêneros jamais não cansou de pregar cont 1 babilônia
imediata do público de emigrados jamai-
dados pela música negra que come- decadente do capita “*?le Ainda que,
canos na Inglaterra e ótima recepção da
ortado" P.dm—. a emprenhar os transistores das
crítica. Numa excursão nacional, apadri- contraditoriamente, residisse em Miami,
centros de influência até deixar de ser favelas jamaicanas após a II Grande
nhados pelos Rolling Stones, Bob Marley paraíso dos contra-revolucionários do
exótico e começar a incomodar pela con- Guerra. Nesse período os EUA exporta-
e The Wailers foram considerados "*reve- Terceiro Mundo, numa mansão milioná-
tundência de suas letras. ina *a 1, de
ram à : sioiôseoutras bugigangas
lação do (um,,,,Çumno,,LPWBupmw7414 47,”"Eªsmnºlªdª outras bugigangas ria
ria ao
ao lado
lado da
da esposa
esposa que
que acompa
acompanhou ___.
Filho de um inglês branco com uma para o Terceiro Mundo encastelando-se _seus 18 meses deluta contra o câncer.

15
Al

As opiniões emitidas nesta página não representam
necessariamente o ponto de vista # jornal
excluaiva de sous autores.
A disputa pela
Três chapas concorrem à eleição que,
10 próximo dia 29, escolherá a nova
liretoria da APEOESP - Associação
dos Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo -, que congrega
professores do 1o e 2o graus.
A atual diretoria da entidade está
tpoilando a chapa B, Solidariedade, cuja
candidata a presidente é Rosiver Pavan
(Rose). que também é apoiada pelos
fornais O Trabalho e Convergência
Socialista.
Embora a oposição à atual diretoria
pretendesse apresentar-se unida nesta
eleição, não foi possível a formação de
uma chapa única. Assim, surgiram duas
chapas. A primeira delas é a Chapa A,
Renovação e Fortalecimento, cuja candi-
data é a professora Lilian Pereira
Maurtins, que é apoiada pelos jornais Tri-
buna da Luta Operária e Hora do Povo,
pela educadora Maria Nilde Mascellani e
por professores independentes. A outra
chapa de oposição, chapa C, Novo
Tempo, é encabeçada por Gumercindo
de Souza Milhomem Neto, e é apoiada
pelo jornal Companheiro e, por profes-
sores independentes.
Embora com visões muito distintas de
sindicalismo, as três chapas têm plata-
formas muito parecidas, baseadas que
foram em reivindicações históricas do
professorado paulista. Para tornar pos-
sível a identificação das diferenças entre
suas propostas de luta sindical e para a
condução da entidade, Movimento en-
trevistou os três candidatos., (José Carlos
Ruy)
Movimento - O sindicalismo dos
professores é o mais dividido do pais.
Possui quatro entidades nacionais - a
Unate (União Nacional dos Trabalhado-
res em Educação), a CPB (Confederação
dos Professores Brasileiros), a Federação
(que congrega todos os Sinpros do país) e
a ANDES (Associação Nacional dos
Docentes do Ensino Superior). Na base,
existem os Sinpros (Sindicatos dos Pro-
fessores que congregam os professores
da rede particular), entidades como a
APEOESP, as ADs (Associações de
Docentes Universitários) etc. Essa situa-
ção do sindicalismo dos professores
chama a atenção para a necessidade de
se refletir melhor sobre o tratamento que
deve ser dado ao problema da unidade
sindical?
Lilian - Não acho que se possa
colocar no mesmo pé de igualdade a
*Unate, a CPB, as Federações nacional e
estaduais e a ANDES.As Federações
respondem a uma estrutura imposta pelo
ministério do Trabalho, através da CLT.
O caso da CPB e da Unate é bastante
diferente. A proibição dos funcionários
serem sindicalizados impôs a criação das
associações estaduais, e o crescimento da
luta gerou a necessidade da CPB, que foi
fundada em 1963. A CPB surgiu assim,
como resposta à necessidade de organi-
"ação desse movimento todo, exemplifi-
cada pela greve do magistério paulista de dizer que a organização dos professores
1963.
A criaç io da ANDES, de certa forma é sindical representativa. De imediato
uma rosposta muito semelhante dos
prot. :ores de 3o grau a uma situação
parecida, de crescimento das lutas e
necessidade de organização no momento
de 1978, 1979 e 1980. A criação da
Unate parece um caso bastante diferen- - chapa?
ciado. Ela nasce da oposição que parte
das direções estaduais dos professores da
rede oficial fazem à CPB, porque ela
estava se configurando como uma enti-
16
119.84 ECBRDOFANBSB VB.GNC;A
jorr e são de responsabilidade
PROFESSORES/SP
Três chapas, complataformaparecidas,disputa
dade pelega, e é fruto de voltar as costas
à luta contra o peleguismo, luta que deve
ocorrer dentro das entidades reconheci-
das pelas categorias.
Rose - A unidade é uma necessidade
dos trabalhadores para a conquista de
suas. reivindicações. Porém, não pode-
mos confundi-la com unicidade porque
muitas vezes a existência de apenas uma
entidade que se diz representante da
categoria não garante O princípio da
independência. Embora a unidade seja
necessária, ela é uma conquista da
categoria no processo de luta. É o
movimento real, vivo, de uma categoria
que impõe a forma de organização.
Nesse sentido, hoje existem a Unate e a
ANDES, a primeira representando os
professores de 1o e 2o graus, e a outra os
professores universitários, e isso se deu
porque essas categorias viveram movi-
mentos diferentes. Ter uma entidade
única dessas categorias seria artificial.
Para nós, da chapa Solidariedade, o
método de unificação se dá no processo
de lutas a partir das bases, e não pelas
cúpulas.
Gumercindo - Temos aprendido nos
últimos anos que o questionamento às
articulações cupulistas não passa ne-
cessariamente pelo abandono das arti-
culações entre as direções de entidades
sindicais. No entanto, essas articulações
com vistas à unificação das lutas e da
própria organização devem estar referen-
ciadas na unificação das bases do
movimento. A situação organizativa do
professorado hoje reflete a situação de
fracionamento profissional em que se
encontra a categoria. No caso dos
professores das redes públicas existe
uma complexidade a mais: o fato de
estar vetada a sindicalização aosfuncio-
nários ou servidores.
Por esta razão, estes professores são
representados por entidades civis que
foram criadas em grande número tendo
por referência o fracionamento da
categoria.
Dada esta situação, não basta apenas
para a luta passa pela sua entidade
coloca-se a pergunta: Qual delas?
Movimento - Sua chapa apóia a
Unate ou a CPB? Qual a política que
pretende levar em relação à entidade
' dar cada vez mais a discussão no interior
nacional que não goza do apoio da
Lilian - Minha chapa apóia a CPB.
Para nós, qualquer organização de
trabalhadores pertence à totalidade das
categorias, sendo portando fruto de sua
AA D !
AP
m a eleição
luta por melhores condições de vida e
trabalho, ou seja, da sua luta econômica,
Então, nós não podemos apoiar as
formas organizativas que nascem como
fruto do posicionamento ideológico de
parcelas restritas dos trabalhadores e
entendemos que a Unate é isso.
Portanto, devemos lutar para que as en-
tidades que hoje estão na Unate se incor-
porem às formas organizativas cuja pre-
missa é serem entidades de massa.
Rose - Minha chapa coloca clara-
mente no programa o fortalecimento da
Unate e a filiação da APEOESP a ela. A
CPB nunca existiu para a nossa catego-
ria. Desde a nossa primeira greve foi
iniciado um processo que culminou com
a fundação da Unate e a APEOESP foi
fundamental para impulsioná-lo. Nesse
sentido, a Unate é fruto do movimento
da categoria, do movimento nacional dos
professores, nasceu de suas lutas, para
dirigi-las e centralizá-las, e tem feito
isso, na medida do possível.
Além disso, a Unate tem chamado
a CPB e todas as entidades filiadas a
levarem em conjunto essas campanhas
definidas, inclusive formando coordena-
ções. Nossa política é essa - chamar ao
Lilian: ""os professores
tem duas opções: ou
aceitam baixos salários
e péssimas condições de
ensino, ou lutam pela
redemocratização do país,
que passa pelo fim do
regime autoritário e anti-
popular e pela convocação
de uma Assembléia
Nacional Constituinte
Livre e Soberana"
combate unitário.
Gumercindo - No caso da organiza-
ção nacional dos professores, a situação
de fracionamento e multiplicidade de
representação persiste. Quando aconte-
ceram as primeiras mobilizações de
professores, nos diversos Estados, que
resultaram nas primeiras tentativas. de
troca de experiência e de solidariedade
entre os diversos estados, o único espaço
que encontramos foi o dos congressos
anuais da SBPC - Sociedade Brasileira
para O Processo da Ciência. Daí surgi-
ram as primeiras articulações, com um
caráter exploratório das possibilidades
de unificação.
Em S. Paulo, onde havia uma aparente
unanimidade em relação à Unate, há
hoje uma chapa que concorre às eleições
à APEOESP e que propõe a filiação da
nossa entidade à CPB. Por estas razões,
o aparecimento destes fatos novos e o
reconhecimento de que a unificação não
se faz por caminhos pré-fixados, faz com
que embora publicamente identificados
com o processo de construção da Unate,
sejamos contra afiliação automática da
APEOESP à Unate com a nossa vitória.
Movimento - Existe um projeto de lei
de autoria do senador Franco Montoro
que revoga o artigo da CLT que proibe a
sindicalização dos funcionários públicos.
ESP.
Qual a posição da chapa frente a esse
projeto de lei?
Lilian - O direito de sindicalização,
no entender da chapa A, é inquestioná-
vel. Entendemos que todas as categorias
de trabalhadores têm o direito de se
sindicalizar e todos os sindicatos devem
gozar de uma plena autonomia e total
desatrelamento do Estado.
Rose - Esse projeto não atende aos
interesses da categoria, porque visa a fazer
com que nos organizemos em sindicatos
atrelados ao Ministério do Trabalho.
Por outro lado nós não achamos que é
mudando o nome de associação para
sindicato que vamos impor negociações
salariais ou trabalhistas ao governo, que
é nosso patrão. Para nós, a APEOESP é
uma associação de caráter sindical,
porque é ela que leva a luta da categoria.
em defesa dos seus interesses.
Gumercindo - Fundamentalmente,
junto com os outros sindicatos, lutamos
contra a legislação que rege a atual
estrutura sindical brasileira. Portanto,
nós lutamos pela autonomia sindical. Ao
mesmo tempo, lutamos para ter o
reconhecimento da representação sindi-
cal e por ter uma vida sindical que
nenhuma dessas associações tem na sua
plenitude. Gostariamos de ter um dissí-
dio coletivo, por exemplo, não esse que
está na legislação, que diminui o poder
de barganha do trabalhador. Uma carta
sindical, hoje, para a APEOESP, não
garantiria que ela fosse um sindicato,
desde que entendemos o sindicato como
a instância de organização dos trabalha-
dores, que deve ser ampla e portanto
independente não apenas do aparato
legal mas de partidos e tendências de
pensamento político.
Movimento - Como a chapa pretende
articular a luta de resistência econômica
da categoria com a luta política pela
derrubada do regime militar?
Lilian - 'No caso dos professores a
luta política assume um claro papel de
luta por melhores condições de vida e
trabalho. Quer dizer, o regime implan-
tado no país após 1964 tinha como
finalidade ampliar ao máximo a acumu-
lação de capitais para as empresas
monopolistas implantadas no país e seus
associados nacionais, e não interessava
ao Estado uma educação preocupada em
permitir uma visão crítica e criadora dos
alunos. Podemos portanto "ministrar"
oito ou dez aulas diárias, percebendo
salários irrisórios, não precisando, no
entendimento do governo, de nenhuma
preparação ou aperfeiçoamento.
Frente a essa situação os professores
têm duas opções -ou aceitar os baixos
salários e péssimas condições de ensino,
inerentes ao modelo político-econômico,
ou lutar pela redemocratização do país,
que para nós da Chapa A passa pelo fim
do regime autoritário e antipopular e
pela convocação de uma Assembléia
Nacional Constituinte Livre e Soberana.
Rose - A luta pelas reivindicações da
categoria já é uma luta pela derrubada
do regime militar, porque a cada
reivindicação a categoria se choca com a
ditadura, cuja política é de total descaso
com relação à educação e à saúde.
Achamos que é importante aprofun-
da categoria sobre as questões políticas
gerais,
Gumercindo - Não consideramos que
exista necessariamente uma dicotomia
entre a luta econômica e a luta política,
que já vem sendo travada pelo professo-
MOVIMENTO - 25231/5/81

Três visões
rado. Hoje, nossa principal tarefa,
quando pensamos nas alternativas ao
regime militar que possam a vir a serem
colocadas para o conjunto da sociedade,
é a de trabalhar para que os prófessores
coloquem-se frente a essas alternativas
de maneira organizada.
Movimento - Como a chapa vê a
Conclat (Conferência Nacional das Clas-
ses Trabalhadoras)? Quais as bandeiras
que pretende levar para esse encontro?
Qual é a avaliação que faz da experiência
do ENTOES (Encontro Nacional dos
Trabalhadores em Oposição à Estrutura
Sindical)?
Lilian - Para nós, a Conclat será um
dos mais importantes acontecimentos do
movimento sindical brasileiro, já que
aponta para um processo de organização
nacional e geral dos trabalhadores e é
consenso entre os sindicalistas que
devemos apontar para a criação da
Central Unica dos Trabalhadores. O
nosso apoio a essa proposição é coerente
com o entendimento de sindicalismo que
temos, ou seja, o sindicalismo autêntico,
contra o peleguismo e contra o paralelis-
mo. Para isso, é necessário que consiga-
mos ter o maior número de trabalhado-
res eleitos em instâncias de massa e
abertas.
As principais bandeiras a serem
tiradas pela Coneclat passam pelo atual
momento de luta dos trabalhadores: o
desemprego, a carestia de vida, a
liberdade e autonomia sindical, e a luta
pela redemocratização do país, logo, pela
participação dos trabalhadores na luta
pela convocação da Assembléia Nacional
Constituinte.
Quanto ao ENTOES ele foi marcado pela
visão sindical que prioriza as parcelas
mais combativas e mais mobilizadas dos
trabalhadores, desprestigiando a grande
massa dos trabalhadores. Isso se explici-
ta na forma de convocação do ENTOES,
feita sem nenhum critério.
Sua realização marcou, no nosso
entendimento, o fim do paralelismo
sindical como resposta ao peleguismo,
pela incapacidade demonstrada pelos
grupos não referendados pelo voto, de
mobilizar os trabalhadores. | Maluf, o veto foi derrubado pela
Rose - A chapa B acredita que o
ENTOES, foruma possibilidade de articu-
lação de sindicatos e sindicalistas enga-
jados na luta pela independência e
autonomia dos sindicatos.
A a nosso ver, é um
aprofundamento do ENTOES. O impor-
tante é o critério de participação dos
delegados, que deverão ser eleitos por
categoria, em assembléias, o que permite
a participação realmente de base.
Sônia Parma
' 'MOVIMEÉNTO - 25 a0178/81
12%
"BR DFANBSB VB.GNC;AAA,
de sindicalismo
Quanto às bandeiras, em primeiro
lugar nos colocamos pela convocação de
uma assembléia para aprofundar o
debate entre os professores e eleger os
delegados. Nossas bandeiras para a
Conclat, acho que já ficaram explícitas
- hoje, a luta contra o desemprego, é a
questão central. A nível de organização,
a construção de uma Central Unica dos
Trabalhadores, independente do Estado,
ou seja, a unificação dos trabalhadores
pela conquista de suas reivindicações
numa forma de organização indepen-
dente.
Gumercindo - Em primeiro lugar,
vemos a realização da Conclat como um
momento privilegiado dos trabalhadores
para a construção de uma instância
organizativa nacional. A Conclat deve se
posicionar pelo método de participação
democrática de base que temos defendi-
do e praticado no professorado.
Quanto à experiência do ENTOES
consideramos como uma tentativa de
articulação intersindical que falhou por
expressar no seu interior um conjunto de
contradições que não conseguiu resolver,
fruto da própria desarticulação que os
trabalhadores vem tentando superar, a
meu ver de forma bastante justa, com a
realização da Conclat.
Movimento - Qual é a plataforma da
chapa para a luta sindical ée para forma
de organização sindical da categoria?
Lilian - A plataforma da chapa A
tem por eixo a luta por salários sempre
acinia da inflação, pela redução da
jornada de trabalho, reajustes semestrais
e pela ampliação do mercado de trabalho.
A luta pela ampliação do mercado de
trabalho está ligada à luta em defesa do
ensino público e gratuito. Outrô ponto
fundamental de luta, para nós, é a
democratização das escolas através do
direito de participação de professores,
alunos e pais nos mecanismos de
decisão. Cristalizamos essa luta pela
viabilização do Conselho de Escola com
poder deliberativo, conquistado "pelos
professores na greve de 1978 e vetada
pelo governador Paulo Egydio Martins.
Posteriormente, já no governo Paulo
Assembléia Legislativa mas, estranha-
mente, isso não foi publicado no Diário
Oficial do Estado.
O terceiro aspecto fundamental é a
questão da melhoria das condições de
ensino, que estão intimamente ligadas à
situação salarial do professor, determi-
nada pelo atual modelo político-econô-
mico, cujas prioridades não levam em
conta as necessidades de educação e
saúde do povo. A chapa A entende que a
Rose: "A unidade é uma
necessidade dos
trabalhadores para a
conquista de suas
reivindicações, mas não
podemos confundi-la com
unicidade, que não
garante a independência.
A unificação dá-se
no processo de lutas,
a partir das bases,
e não das cúpulas".
( '
luta por melhores condições de ensino
passa pelo estabelecimento da dotação
orçamentária de 12% das verbas da
União e 25% das verbas dos Estados e
municípios para a educação e pela
revisão da atual política educacional
sintetizada na lei 5692.
Para viabilizar estas lutas, é necessário
uma estrutura organizativa da
APEOESP que permita a atuação da
maioria dos professores. e necessária
também uma política específica em
relação às outras entidades que congre-
gam parcelas do magistério e o conjunto
do funcionalismo. Nessa perspectiva, a
APEOESP deve basear sua organização
nas escolas. Ou nós criamos represen-
tantes por escolas, com uma figura
estatutária dentro da APEOESP ou não
conseguiremos a participação dos profes-
sores.
Rose -- A plataforma de luta é
consenso nas chapas, porque são reivin-
dicações aprovadas nos congressos, encon-
tros e assembléias da categoria. Para
nós, a luta sindical dos professores tem
dois eixos - o primeiro diz respeito a
questões salariais e estatutárias, e nesse
ponto ressaltam a luta pelo reajuste
semestral, a aposentadoria aos 25 anos
de serviço, a luta contra a implantação
da atual jornada de trabalho, e o
pagamento da hora atividade, que são as
horas utilizadas para trabalho extra-
classe, como a preparação de aulas, etc.
O segundo eixo é a luta por melhores
condições de ensino, onde se destacam a
lutapelo ensino público e gratuito.
Com relação ao primeiro eixo, a
jornada de trabalho dos professores hoje
é irreversível. Isto é, um professor que
escolher uma jornada de 40 aulas
semanais para 1981, por exemplo, ficará
com essa mesma jornada nos anos
seguintes, não podendo mudá-la, a não
ser que'se remova de escola. O Estatuto
do Magistério dá ao professor o direito
de 20% de horas atividade, e o
professor com mais de 2a anos de serviço
tem direito a 30%. Porém, hoje, só os
professores de níveis II e III é que têm
hora atividade, e apenas 10%.
A respeito do segundo eixo, quero
destacar a luta pela democratização da
escola. O primeiro passoé a existência
de um Conselho de Escola, em cada
escola, constituido pelos representantes
da comunidade escolar - professores,
pais, alunos e funcionários. Destaco
também a luta contra a lei 5692, que é
contrária a uma educação voltada para
os interesses da maioria da população.
Comrelação à organização dos profes-
sores, nós colocamos a importância de
organizarmo-nos a partir das escolas,
criando comissões, elegendo represen-
tantes por período, o que significará
fortalecer as nossas regionais e subsedes
e portanto fortalecer o Conselho de
Representantes da APEOESP e assim, a
nossa própria entidade estadual.
Gumercindo - A plataforma de luta
sindical apresentada tanto pela nossa
chapa como pelas outras é composta por
um conjunto de reivindicações históricas
Gumercindo:
©"O reconhecimento de que
a unificação não se faz
por caminhos pré-fixados
faz com que, embora
publicamente identificados
com o processo de
construção da Unate,
sejamos contra a
filiação automática da
APEOESP à Unate
com a nossa vitória".
do professorado, da luta por melhores
condições salariais e de trabalho à Iuta
por melhores condições de ensino. Isto
inclui aumentos salariais acima do custo
de vida, reajustes semestrais, aposenta-
doria aos 25 anos de serviço com
equiparação dos inativos, hora atividade
paga no mínimo de 20%, e 12%
das verbas da União e 25% das verbas
do Estado e do Município, no mínimo,
para a educação.
A forma de organização para a
conquista dessas reivindicações começa
pela conquista do status de entidade de
caráter sindical, ou seja, que a associa-
ção deve ter uma postura de sindicato no
relacionamento com o patrão. Além
disso, a entidade deve ter também uma
prática organizativa voltada para as
questões educacionais 'e culturais que
dizem respeito ao dia a dia do professor
enquanto agente reprodutor de ideolo-
gia. Isto significa, por exemplo, promo-
ver cursos de extensão cultural, de
prática de ensino de desenvolvimento de
materiais didáticos alternativos, coeren-
tes com a visão de que a escola, com o
conjunto de contradições que a caracte-
riza, é também o espaço privilegiado
para o questionamento do seu próprio
caráter de reprodutor da ideologia
dominante. .
Outra questão para a qual a
APEOESP deve voltar o melhor de sua
atenção é a questão da organização dos
professores dentro do seu local de
trabalho, que deve resultar na conquista
definitiva do caráter deliberativo do
Conselho de Escola. Propomos que esse
conselho seja formado pela comunidade
escolar - alunos, professores, funcioná-
rios e pais, de forma equitativa. Outra
necessidade é uma representação de base
por escolas, pela qual também devemos
lutar.
, Contudo, não devemos entender a
organização de base dos professores
como sendo alguma coisa incompatível
com o atual Conselho de Representantes
que tem sido a instância mais represen-
tativa da entidar

CARTAS ABERTAS
MOVIMENTO
Solidariedade
contra a
apreensão
A Comissão Diretora Provisória do Partido
dos Trabalhadores do Jabaquara vem soli-
darizar-se com este jornal pelo atentado
que sofreu, dias atrás, quando, ao informar
corretamente a população sobre o atentado
terrorista do Riocentro, foi recolhido das
bancas.
Vem também protestar contra mais esse
ato de arbítrio da ditadura, onde fica eviden-
te que na prática ela protege os terroristas e
persegue aqueles que se colocam ao lado
do povo.
Odilon Júnior __ São Paulo
p/Comissão Provisória
PROSTITUIÇÃO
Moças bonitas
para homens
sozinhos
Em notícia publicada no Jornal do Brasil
de 30 de abril último, sobre proteção aos
turistas contra assaltos e exploração, a- ge-
rência do Hotel Méridien informa que utiliza
os serviços da Locadora Meridiano para
transportar seús hóspedes, "a preços tabela-
dos, pagos na recepção do hotel". Por sua
vez, o diretor secretário da locadora, Lou-
renço Pierre da Costa, esclarece: "Conhece-
mos os endereços mais finos onde encami-
nhar gente fina e conseguimos moças inte-
ligentes e bonitas para cavalheiros sozi-
nhos, de todos os tipos: louras para os
africanos, mulatas para os alemães".
Chamamos a atenção das autoridades
para essas atividades que configuram delito
de aliciamento, intermediação, favoreci-
mento e, exploração do lenocínio, conforme
o Código Penal, Além dessa denúncia con-
tra a Locadora Meridiano, achamos neces-
sário investigar o grau de participação da
, direção do Hotel Méridien.
Desejamos saber, enfim, se a própria
Embratur, com dinheiro de nossos impos-
tos, não estará indiretamente financiando
atividades ilegais.
Centro da Mulher Brasileira, Brasil Mu-
lher, Coletivo de Mulheres do Rio de Janei-
ro, Grupo Ceres, APEM, Grupo Revista "Ma-
ria Semvergonha", Comitê Violência Contra a
Mulher - Rio de Janeiro.
TERROR
Atentado só é
perigoso se
de esquerda
O jornal O Globo, do último dia 8, publi-
cou uma notícia com a seguinte manchete:
"Deputados do PDS acusam a oposição de
explorar o atentado contra o Riocentro".
Ora, pergunto: o que aconteceu com o
atentado da rua Tonelero, no Rio, ao tempo
de Getúlio? A exploração foi tal que levou o
presidente ao suicídio. Mas esses "demo-
cratas" da direita acham, certamente, que
atentado só é perigoso quando praticado
pela esquerda.
Para os "democratas" da direita chamada
radical (fascistas empedernidos), os fins
justificam os meios, Assim, os atentados
praticados por eles é serviço prestado à
pátria; mas qualquer reação da esquerda
oprimida é crime e deve ser punido sem
piedade. Para essas pessoas, a afirmação
de que o homem não pode ser explorado
pelo homem, por exemplo, é um crime
que
justifica até pena de morte. Para eles
o nheiros demitidos e estabilidade no emprego
capitalismo é intocável,
A situação é tão duvidosa que uma
per-
gunta fica no ar: para onde vamos? É
a hora
do salve-se quem puder? Não pode
ser.
Silvio Ramos -- Rio de Janeiro
18
BR DFANBSB VB.GNC.AAA, -
#
As cartas deverão ser enviadas para "Cartas Abertas",
para eventual comprovação. Aqueles que quiserem publicar com
sob pseudônimo, poderão indicá-lo. sem prejuízo de sua correta identificação na carta.
Carta dos
grevistas
da Fiat
A greve dos três mil operários da Fiat,
pelo direito ao trabalho, contra a demissão
de 250 companheiros, deverá completar um
mêsno final desta semana, caso não haja
acordo com os patrões. Dias atrás, a comis-
são interna da greve divulgou uma carta
aberta à população, explicando os motivos
da greve e manifestando a disposição dos
trabalhadores de prosseguir até a vitória.
A seguir publicamos os principais tre-
chos desta carta, lembrando que as pessoas
interessadas em contribuir com o Fundo de
Greve podem dirigir-se ao Sindicato dos
Metalúrgicos do Rio de Janeiro, na rua Ana
Neri, 15, São Cristóvão. As contribuições
em dinheiro de outros estados devem ser
enviadas para a conta bancária no 106781-4
Unibanco je os recibos dos depósitos ban-
cários para João Leal Araújo, rua Sudão, 45,
Bangu, CEP 21150). - os periódicos publicaram "matéria ofensi-
Companheiros trabalhadores,
Virou moda neste pais demitir os traba-
lhadores ou reduzir nossos salários. De
repente, como se fôssemos "sucata velha",
vamos parar no olho da rua para favorecer a
sede vampiresca dos patrões.
Na Fiat, são os patrões italianos, os
Armelines, Balestras, Reinaldis, Polis. São
nossos algozes, Possuem sua polícia pró-
pria, agridem e punem arbitrariamente para
criar um clima de terror. Controlam elemen-
tos na Justiça Trabalhista, não cumprem
acordos salariais. O sr. Poli inventa "técni-
cas científicas" e nos obriga a trabalhar em
várias máquinas ao mesmo tempo. Através
da Riga somos mal alimentados. Não res-
peitam nossos operários mais idosos ou
mesmo aqueles que, trabalhando para es-
ses vampiros, aqui se acidentaram ou con-
trairam doenças profissionais que marcam
para toda a vida.
Somos, em três anos e meio, 3.382 demi-
tidos. E a violência praticada impunemente
contra o trabalhador brasileiro. São 3.382
operários, dos quais sugaram o sangue e
agora jogam fora, como se fôssemos lixo.
Neste país temos que dar um basta a essa
mania patronal de demitir seus funcionári-
os. Nunca dividiram seus lucros, e agora
querem dividir seus prejuízos.
O desemprego é o início de uma vida de
miseráveis e o início da marginalidade e da
prostituição.
Por isso é que os 3.083 trabalhadores da
Fiat estão em greve, por tempo indetermi-
nado. E greve para mais de um mês. Come-
remos mal, ficaremos endividados, mas
uma coisa é certa: garantiremos o direito ao
emprego de nossos demitidos e de nós
mesmos.
Esperamos que o governo não favoreça a
Fiat ainda mais. No ano passado a Fiat
ganhou 800 milhões em incentivos fiscais.
O que equivale a toda a folha de pagamento
de 1980. E Em Movimento no 306 (NR - apreendido
Não é justo transferir benefícios tributári-
os da população para empresas bilionárias
que desgraçam a vida do operáriado brasi-
leiro. Da mesma forma esperamos que a
polícia não se lance contra nós, os trabalha-
dores. Devem, sim, combater esses patrões
que vivem no luxo enquanto os trabalhado-
res têm que se resignar com sua vida mise-
rável.
Nós estamos aí, firmes na luta, cabeça
erguida até a vitória final! Queremos de volta
nossos dois representantes, os 250 compa-
durante um ano.
Companheiros: é melhor ser grevista den-
tro da fábrica do que se tornar um marginal
na rua.
Comissão Interna e Delegação - Rio de
Janeiro
nome e endereço completos,
cartas
IMPRENSA
Nenhum gesto
contra o
Mas apreensão dos que informam sobre
ele
O deputado estadual Gabriel Mallmann,
do PMDB gaúcho, ocupou a tribuna da
Assembléia Legislativa no último dia 14
para protestar contra a apreensão dos jor-
nais alternativos Movimento e Hora do Po-
vo. Segundo o deputado, estas apreensões
definem o rumo que o governo pretende dar
às investigações.
A seguir, os principais trechos do discur-
so pronunciado por Mallmann, onde ele des-
tacou particularmente a cobertura jorralis-
tica de Movimento em relação aos aconteci-
mentos do Riocentro.
Minha intenção é, em primeiro e principal
lugar, comprometer minha solidariedade e
meu apoio aos jornais alternativos Movi-
mento e Hora do Povo, mandados apreender
pelo governo do General Figueiredo. A cau-
sa a'e5ada para mais este arbítrio foi a de que
vas às autoridades constituídas, buscando
desacreditá-las perante a opinião públi-
ca". Mas que matérias são essas, Sr. Presi-
dente, Srs. Deputados? Nada mais nada
menos do que aquelas referentes aos episó-
dios ocorridos no Riocentro, a bomba que
explodiu nas mãos de militares. E, desde já,
é preciso dizer que não há nelas nenhuma
ofensa a nenhuma autoridade constituída.
mas, como é caso de Movimento, a tentati-
va de contribuir para o esclarecimento da
opinião pública, como tem sido a praxe
deste semanário, sem dúvida um dos mais
respeitados órgãos da imprensa deste Pais.
Assim, seguindo sua tradição, Movimen-
to ao longo de 8 páginas não apenas se po-
siciona editorial e politicamente sobre os
episódios, como também aponta as contra-
dições destas mesmas autoridades que a
portaria do Ministro Abi Ackel afirma que o
jornal pretende desacreditar.
Mas onde está expressa esta tentativa?
Na matéria em que são apontados os absur-
dos paradoxos e contradições que os gene-
rais, Waldir Muniz, Secretário da Segurança
Pública do Rio de Janeiro, e Gentil Marcon-
des Filho, chefe do I Exército, entraram ao
tentar explicar os fatos acontecidos.
Ora, o periódico apenas publicou uma ver-
são que já havia sido veiculada por pratica-
mente todos os órgãos de imprensa. E se a
MOVIMENTO
A "excelente
Cobertura"
2 a
- apreendida
pela Polícia Federal) foi publicado artigo de
minha autoria sob o título "Biggs e abertu-
ra". Alguns leitores estranharam o fato de o
artigo não mencionar o atentado do Riocen-
tro, que se transformou no pólo catalisador
da conjuntura, precipitando a agonia já pre-
visível da abertura palaciana.
Gostaria de esclarecer que o artigo foi
escrito um mês antes da explosão das bom-
bas do Riocentro, que vem confirmar as
'denúncias do artigo.
- Finalmente, gostaria de congratular-me
com Movimento pela excelente cobertura
dada naquele número à ofensiva terrorista,
sobretudo o artigo "Contra o terror e contra
quem o acoberta".
Liszt Benjamin Vieira
(sociólogo e informação não foi exata.
advogado, defensor público) - Rio.
6
terror
versão, por si só, caiu no descrédito, tal seu
absurdo, isto não pode ser absolutamente
imputado a quem a publica.
_Assim, fica muito difícil provar a acusa-
ção contra Movimento. Se o Secretário da
Segurança Pública insiste em afirmar que
não havia outras bombas no carro, contra
todas as evidências, contra todo o bom
senso, isto é questão que diz respeito so-
mente a ele. E não se peça ao povo brasilei-
ro para representar o papel de ingênuo ou
tolo. Todos viram, claramente, pela televi-
são, que havia outras duas bombas no inte-
rior do carro. Movimento apenas registrou
este fato. /
Tampouco é possível perceber onde se
esconde essa "sibilina" tentativa de desa-
creditar as autoridades em outros momen-
tos da reportagem. Seria talvez pelo fato de
o jornal ter conseguido apurar que o des-
mentido da Rede Globo de televisão, sobre
a existência de outras bombas ocorreu por
"mera coincidência" no mesmo dia em que
o
coronel Job Lorena d> Santana, chefe da
Quinta Seção do | Exército, visitou suas
dependências? Ou ainda as revelações de
que os funcionários da Secretaria da Segu-
rança foramterminantemente proibidos de
passar quaisquer informações sobre o as-
sunto?
Os terroristas continuam impunes, os
DOI-GODI continuam aí, ativos, as bombas
continuam a explodir e a causar inseguran-
ça em toda a sociedade, a ultradireita conti-
nua de mãos desatadas para tramar um
possível retorno ao fascismo, Figueiredo
proclama dificuldades para investigar os
atentados, e nisso tudo, o governo toma
sua primeira medida concreta: APREENDE
OS JORNAIS ALTERNATIVOS QUE PUBLI-
CARAM___REPORTAGENS SOBRE OS
ACONTECIMENTOS. Nenhum gesto contra
o terror, porém, apreensão dos que preten-
dem informar sobre ele. Eis ai a escolha que
o governo fez. Nosso repúdio a ela, nossa
solidariedade a Movimento e HP que, de
dentro das trincheiras populares, buscam
informar sempre com seriedade. Temos cer-
teza de que saberão com a coragem de dem-
pre, resistir a mais essa violência.
Deputado Gabriel Malmann __ Porto Alegre
PETROBRÁS a
Demitidos do
cargo, e não
da empresa
A notícia publicada na página 9 de Movi-
mento no 305, sob o título "Demissão Ideoló-
gica", encerra uma incorreção. Informa que
o engenheiro Wilson Barbosa e o geólogo
Francisco Celso Pontes foram demitidos da
Petrobrás por pressão do ministro .Cêsar
Cais e do presidente da empresa, Shigeaki
Veki, devido "a suas posições contrárias
aos contratos de risco", conforme "denún-
cia do secretário do PDT, Euzébio Rocha".
Na verdade, o engenheiro Wilson Barbo-
Sa, presidente da Associação dos Engenhei-
ros da Petrobrás, foi demitido do cargo de
confiança que ocupava e não demitido da
empresa. E o mesmo parece ter ocorrido
com o geólogo.
A notícia expressou a real existência de
pressões para demissão ideológica, mas a
;
José E. P. de Andrade - Rio de Janeiro

entusiasmo pela capacidade de resis
tência deste povo pobre aos poderosos
americanos superarmados, que in-
|- vietcong.Achoque Fane TFornda)era
"defesa da paz e da liberdade". A
carta de Joan Baez, filmes como
"Deer Hunter" pintamos vietnamitas
como os "maus" e os americanos
como os arautos do bem. Contra isso
se manifestaram os 266 que antes
tinham sempre estado lado a lado
com a Joan Baez em suas lutas e
crenças.
Joan Baez desembarca na América
Latina, e escreverá uma página da
história. São poucos os brasileiros,
argentinos, chilenos ou uruguaios que
acompanharam sua evolução nos
! própria indústria do cinema onde há
| aos palestinos foi visto. como anátema
R$ uma boa atriz. "Eh, temos Vanessa
' Baez também quis dizer que Jane
EUA. Ela será aclamada com toda a
auréola dos anos 60. Mas Baez chega
com documentários de tortura perpe-
trada pelos comunistas vietnamitas.
Chega para terminar o que os ameri-
canos do tempo de Reagan chamam
de "síndrome do Vietnã" ou *"*"com-'
plexo do Vietnã", para esclarecer que
afinal de contas os maus não eram os
americanos, eram os vietnamitas.
. A objeção mais forte aos depoi-
mentos de Joan Baez para os brasilei-
ros e latino-americanos é que ela che-
ga fora do contexto histórico, esco-
lhendo os vietnamitas para maus num
continente em que houve muitas tor-
turas e repressões políticas e econô-
micas que ela talvez conheça - mas
sobre as quais nunca pôs um anúncio
no New York Times.
Tudo é possível. Seria até possível
que ela protestasse contra a repressão
em El Salvador e a morte de 15. mil
salvadorenhos, sobretudo vítimas do
regime militar-civil que não querem
ter, e que os EUA apóiam. Isso seria
ótimo.
Joan Baez é acusada por alguns da
esquerda de estar sendo manipulada
para fazer a propaganda anticomu-
nista dos EUA. Diz ela que é "contra
a guerra onde houver guerra" e que
por ser pacifista tem que cantar con-
tra o governo do Vietnã.
Em entrevista à revista conserva-
|_ dora U.S.News and WorldReportde
1 de outubro de 1979, (revista bem
esquisita para dar 4 páginas e várias
fotos a uma figura da oposição) Joan
Baez acusou Jane Fonda, a ativista dos
anos 60 que hoje: é muito mais res-
peitada nos EUA de esquerda do que
Jane Fonda e Tom Hayden: política por outro caminho
Joan Baez, de não ser "realmente
, MOVIMENTO -25 3 31/5/81
V BR DFANBSB VB.GNÇ AAA, -!
antiguerra no sentido extenso da pa-
lavra".
"Muita gente se disse ahti, mas
era contra uma só guerra, e não
contra todas. Muitos não eram anti-
guerra mas antiimperialismo e pró-
forças revolucionárias, eram antivio-
lênciaamericana, mas pró-violência ..
uma destas. Mas quando uma pessoa
é pró-violência nunca o diz. Só diz
que é a favor da justiça». "Justiça"
disse Joan Baez à U.S. News and
Workd Report de 1 de outubro de
1979, "é a palavra de esquerda para
gente que é a favor da violência de
esquerda".
Joan Baez na mesma entrevista a-
tacou também a atriz Vanessa Red-
grave, que defendeu publicamente
nos EUA e na Inglaterra a Organi-
zação para a Libertação da Palestina
(OLP) e por isso foi muito atacada
tanto pelos americanos como pela
muita influência judaica e seu apoio
a poder ser uma boa pessoa e mesmo
Redgrave. Ela está desequilibrada.
Mas ela é uma atriz de tanto talénto
que o resto do que ela faz fica isolado, _
e não creio que ela seja realmente
perigosa," (Será que na comparação,
Fonda nem é boa atriz?)
Enfim, esta é Joan Baez de hoje,
que com sua voz de rouxinol encan-
tará certamente O Brasil. Ela acha
que "justiça" é uma palavra para
disfarçarque a esquerda é a favor de
violência. Está fora de contexto, fora
do que a tornou um mito nos anos 60,
e talvez o período de desequilíbrio
tenha conseguências muito negativas,
uma vez que, como ela gosta de re-
petir, "com 23 anos de ativismo polí-
.M
tico, quem pode duvidar de mim?".
Mahatma Ghandi e Martin Luther
King continuam sendo seus heróis, e
ela poderá ser extremamente bem in-
tencionada. Talvez não se dê conta
exatamente das distorções e dos sim-
plismos em que está incorrendo.
Quando declarou que a esquerda é
contra algumas violências, mas não
todas, talvez tenha deixado escapar
que ela é contra certos abusos de
direitos humanos mas não todos. O
foi posto porsuaprópriaboca
nela mesma.
Jane Fonda, que desde os idos d
convenção republicana, e dos Chica-
go's 7, se casou com o ativista político
Tom Hayden, e continua trabalhando
politicamente sem parar desde sua
posição anti-vietnã dos anos 60 era
amiga de Joan Baez nos anos do |
protesto anti-vietnã.
Ela se opôs abertamente a Baez no
episódio da carta-anúncio denun-
ciando o governo vietnamita, e daí |
para cá nos muitos concertos que |
Joan Bàez promoveu pedindo dinhei- |
ro para os refugiados.
"Me senti consternada com o anún-
cio de Joan. Foi incorreto, não subs-
tanciado, nem em tom nem em acu-
sações, nem nos números que cla ci-
tou, Devido a estas circunstâncias não
senti que devia ligar meu nome a uma
declaração que os especialistas no as-
sunto não aceitaram '".
Jane Fonda não concorda com Joan
Baez, que prega o envio de uma "de-
legação neutra" americana para jul-
gar a situação do Camboja, e se os
vietnamitas deveriam ser forçados a -
retirar seu apoio ao governo cambo-
jano ou ao Vietnã, temos a obrigação
de pagar aos vietnamitas as compen-
sações pelos danos de guerra que nun-
ca pagamos, e estabelecer "rela-
ções diplomáticas com os vietnamitas,
coisa que nunca fizemos.
Jane Fonda também rejeita as acu-
sações de Joan Baez que lhe atribuem
duas atitudes, uma de não-violência e
outra de endosso de violências só por-
que vêm da esquerda.
éé foz = -
Várias acusações estão sendo
plantadas na imprensa para me pin
tar como uma violenta, que diz coisas
s
vidades acemonstram que sou uma
humanista dedicada a trabalhar lado
a lado com comunidades de base".
É fato sabido nos EUA, e também
no Brasil, que ,a população de maior
número de refugiados não é vietamita
ou cambojana, mas sim palestina.
A maior diferença entre Fonda e
Baez é que a primeira soube conduzir
"
de forma independente e eficiente, a
liderança de para onde queria ir poli-
ticamente, lado a lado com muitas
associações, usando sua carreira ci-
nematográfica para angariar fundos
para e CED (Campaign for Economic
© Democracy) fundada pelo seu marido
e muitos outros. PP
Perto de 11 mil pessoas na Califór-
nia fazem parte da Campanha para
Democracia Econômica de Hayden-
Fonda, com 30 diretórios regionais, e
capacidade de mobilização junto às
mais de 200 mil comunidades de base
que varam os EUA hoje 'de costa a
costa, Essa capacidade de formar
alianças com grupos como SHAD,
Clamshell, Accorn e outros grupos
"grassroots" é uma prova viva de que
os anos 60 podem ter mudado, sofrido
algumas perdas, como tàálvez a de
Joan Baez, mas também algumas vitó-
rias.
Tudo está lá longe de ser mar de
rosas, e protestos após protestos têm
convencido as pessoas de que a força
do status (iuv é imensa. "Acho no
entanto" diz Tom Hayden "que há
duas soluções: ou temos economia
democrática para todos, e temos
paz e distribuição de renda, ou temos
guerra, genocídios, cataclismas so-
ciais e o fim do mundo".
"Deus está com vocês, a bondade "
está com quem defende as causas
justas" disse Dom Helder Câmara 'a
grupos de comunidades de base no sul
do Bronx quando veio aqui em abril
de 1981. Justo significa com casa,
comida, emprego .e respeito aos direi-
tos humanos, e no Bronx, em Nova
Iorque, EUA , há genté sem teto, sem
emprego e desrespeitada.
Joan Baez é maravilhosa, canta
bem, pode encontrar e até mudar no
Brasil mas a palavra justiça significa!
algo per se.

Joan Baez está no Brasil desde o dia
16 de maio, com todas as fanfarras de
superestrela da supercompanhia
Columbia Broadcasting System (CBS)
e com toda a auréola de um mito do
protesto anti-sistema dos anos 60 nos
E U A. ! fazendeiros "Farmworkers" sobre os
Infelizmente a Joan Baez de hoje
não é mais a mesma de 60, quando se,
vestia de vestidos floridos.
Naquele tempo, Joan Baez era
límpida como sua voz, e protestava
contra a guerra do Vietnã, ajudava os
trabàlhadores rurais que desejavam
sindicalizar-se. Era amiga de Bob
Dylan, e uma figura importante ne
esquerda americana.
A finalidade da viagem de Joan
Baez ao Brasil não é meramente
musical. Ela leva consigo o disco
"European Tour", gravado em
alemão, espanhol, francês, árabe e
inglês para difusão internacional (e
que não foi lançado nos EUA onde
seu mais novo LP é ""Hones!
Luiady ') mas também leva o. flime
"Music is Not Enough" (não basta a
música) contendo documentários so-
bre os campos de refugiados dc
Camboja e da Tailândia, para onde
fugiram vietnamitas, cambojanos e
outros asiáticos que sofreram entre
outras coisas de fome.
+
Joan Baez foi muito importante na
a&cada de 60.
Durante a guerra do Vietnã a jo-
vem cantora tornou-se famosa, parti-
cipando de sing-alongs pela paz,
aprendendo as técnicas de Mahatma
Ghandi de protestos pacíficos, tornan-
do-se antiguerra, antiviolência, e re-
jeitando a explicação oficial america-
na de que era preciso defender o
direito à democracia no Vietnã do
Sul. Para ela e muitos da esquerda
americana, o Vietnã significou o mas-
saere dos vietnamitas em sua própria
terra, bombardeios de napalm, des-
truição de vilas, morte de crianças e
civis, sangue, crueldade.
Depois do término da guerra do
Vietnã, Joan Baez e muitos outros
ativistas da época entraram num pe-
riodo de certo esvaziamento.
Nessa época Joan Baez se separou
do marido, dedicou-se a seu filhc
Gabriel, e começou a cantar rock,
com acompanhamento de guitarras
elétricas e saxofones.
Quando ela fez uma tournée nos
EUA para promover o album "Blowin
Away", de canções populares e auto-
biográficas, fez uma espécie de auto-
crítica de seu passado de radical.
Em vez da imagem simples de antes,
apareceu de roupas de chiffon ver-
melho, unhas longas, cabelos enrolá-
dos, perfume francês. Incluiu canções
de Woody Guthrie que são parte de
seu passado, entre elas "Pastures of
Plenty"? (pastos da fartura) em honra
à vitória do sindicato autêntico dos
"Teamsters" (motoristas de cami-
nhão que eram então os mais reacio-
É nários dos sindicatos norte-america-
nos, bem como famosos por violência
e corrupção, inclusive ligações com a
máfia).
Cantando numa ocasião em Nova
Hampshire, perto da usina nuclear de
Seabrook, contra a qual o grupo co-
munitário de base Clamheell Alliance
protesta há anos, Joan Baez dedicou-
lhes uma canção. Mas a cantora, em!
Joan Baez que chega ao Brasil é difer
ente daquela de 1960, a
"entrevista, então declarou: "Hoje pre-
firo fazer apenas referências à políti:
ca. O que prego é a não-violência de
Ghandi", mas ela também disse que
com sua idade, aprendera a dizer não
a "demandas políticas" porque "pre-
ciso de uma pausa".
Quanto à sua coerência, Joan Baez
declarou que tinha que ter credibili-
dade. "Após 23 anos de átívismo po-
lítico, não acho pôssível que duvidem
de mim". Senioridade foi seu argu-
mento.
Em 1977, Joan Baez declarou que
havia mudado, estava mais solta, me-
nos exigente consigo mesma, e com os
outros também.
"Sabe, meu pai era hispânico, de
um lado, e do outro era puritano.,
Quando comecei a cantar achei que
estava fornecendo uma justificativa
retroativa à intervenção norte-ameri-
na na guerra do Vietnã.
inicialmente caracterizado pela sim-
patia ao Vietnã do Norte, e mesmo
'era um pecado ter um contrabaixo
tocando comigo num disco. Seu ritmo
fazia dançar, dançar dava vontade de
fuder e eventualmente você podia
acabar no inferno. Por outro lado, se
você canta canções políticas, está fa-
zendo o bem, então está bem". Essa
foi sua explicação para ter entrado no
pop-rock.
No mesmo ano, Joan Baez declarou
à revista New York Magazine que era
favorável a "swing com ambos os se-
xos". Como muitos que antes coloca-
vam sua energia vital em várias cau-
sas entre as quais uma era o sexo,
Joan Baez, recém-divorciada de seu
marido e ativista político - antiviet-
nã, parecia ter registringido a meta de
sua busca deliberdade à busca mais in-
dividual de vencer barreiras de repres-
são sexual.
" E importante no entanto o fato de
que quando Joan Baez retornou ao
campo político-ideológico, o fez atra-
véz da publicação em cinco grandes
jornais nacionais americanos de um
anúncio de página inteira condenan-
do o governo do Vietnã' do Norte pelos
abusos aos direitos humanos de sua
gente (vietnamitas) e do povo do
Camboja.
Neste mesmo período, o governo
dos EUA havia condenado fortemente
à "invasão do Camboja pelo governo
vietcong", e na ONU o príncipe Siba-
nouk foi revivido, retirado de seu
exílio em Pequim, para acusar os
vietnamitas de imperialistas aliados
aos russos, posição que foi cem por-
cento endossada pelos norte-america-
nos. E pelos chineses também. Essa
foi a época da grande lua-de-mel dos
EUA com a China.
i
Joan Baez acusou o "regime do
Vietnã do Norte" de prender e tortu-
rar milhares de vietnamitas inocen-
tes. "Para muitos a vida é um inferno,
e rezam pedindo a morte", dizia ela
em carta enviada a 350 ativistas dos
protestos antiguerra do Vietnã dos
anos 60. Mas 266 se recusaram a
assinar.
Entre os 84 que assinaram estavam
I.F. Stone (jornalista), Daniel Berri-
gan (padre), Allen Ginsberg (poeta),
e William Styron (escritor). Entre os
que não assinaram, Noam Chomski, e
Jane Fonda.
Daí para cá Joan Baez é uma figura
que muitos repudiaram na esquerda
americana. Por que não assinaram
sua carta?
1 - porque consideram que ela
não substanciou as acusações feitas
ao governo do Vietnã do Norte.
2 - porque não forneceu provas de
que houve torturas de prisioneiros no
Vietnã do Norte.
3 - porque com esta carta ela
O período pús-Vietnã nos EUA foi
Continua na página 19
 "!
BR OFANBSO VB.GNC.AAA.

ENTREVISTA +". rEpÚltacens

Paulinho da Viola fala do 4 PP Movimento viu no local dos

samba dos negros e do crivo 8 - acontecimentos:

que a classe médiaimpõe

Ronda Alta, RS
à cultura popular. ARG os O inferno dos Sem-Terra,
P. 19 2 20 oa i o abraçando o diabo.

apo ( P. 10 e 11

DEBATES uh - # Araguaia

ReformaAgrária Amal Umano depois da morte

Por José Eli Veiga, do ©"Gringo"* , uma eleição

Paulo Sandrom Wiladimat: A0 i ao a , no sindicato dos

paa. camponeses—P 9
lnêeríor de São Paulo
s últrajantes acordos
sendo impostos
Y Etalúrgicos do
É .
Edição Semanal 316 - 98 a 14/0/81 - Cr$ 1 10,00 - NMansas, Santarém, Macapá, Porto Velho, R.o Branco«via aérea) --

2:15?

Todaáhimona 44
'" da revolta e *
indignação do 2.o
Batalhão de

daytenanstasdo
" Rio Centro é a
punição dos mllztdres' ,
 BR DFANBSB V8.GNC.AAA.,"

E Chico
TERRORISMO

E dos militares liberais,

não dos duros, que

Figueiredo tem medo. ..

m fato auspícioso para a ao inquérito oficial do I Exército, numa

oposição democrática e popu-
Jar: setores da oficialidade co-
meçam a tomar iniciativas
contra a política governamen-
tal de acobertamento do terror fascista.
Até aqui, no desenrolar da crise desenca-
deada pelo escândalo das bombas do Rio
Centro, o governo tem acenado com o
fantasma da linha dura e do retrocesso,
para chantagear a oposição, tentando
obrigá-la a suspender a sua luta. Na
semana passada, os líderes do governo
no Congresso Nacional assopravam nos
ouvidos dos parlamentares opósicionis-
tas que o melhor que tinham a fazer era
atitude de evidente desconfiança para
com o governo e para com o generál
Gentil Marcondes.
Fatos como esses não significam que
os débeis núcleos dissidentes de tendên-
cias liberal-democrática estejam a pique
de reverter a seu favor a correlação de
forças no interior da oficialidade: Não
significam, tampouco, que todos os ofi-
ciais dispostos a pressionar para que o
Episódio do Rio Centro seja esclarecido
estejam, por causa disso, dispostos a se
Opor ao governo ou ao regime militar.
Mas é inegável que iniciativas desse tipo

| ) mimi:
absorver as tramóias da reforma eleitoral
dificultam a ação da linha dura e a
da "gang do Planalto", já que, a partir
atitude conivente do goverho frente aos

R
das bombas do Rio Centro, o fundamen-
tal seria garantir as eleições de 1982, in- terroristas, e favorecem a oposição de-

""|".“
dependentemente das normas, casuísti- mocrática e popular.

NN)
cas ou não, que regessem essas eleições.

N
NN NO
Agora, contudo, fica claro que não é ape- governo quer fazer crer

nas a linha dura que procura influir na
política governamental de acobertamen-
to dos terroristas do Rio Centro. Há
também oficiais que, movidos por consi-
derações de ordem tática ou mesmo por
idéias liberais, exigem seriedade na inves-
tigação do episódio do Rio Centro. Já há
alguns dias, surgiam os primeiros sin-
tomas de que um inquérito-farsa não
Encontraria o apoio do conjunto da ofi-
cialidade. A nota do I Exército, dirigida
à oficialidade, na qual a oposição e a
imprensa eram acusadas | de [distorcer
os fatos não teria sido distribuída entre
os oficiais caso as denúncias da oposição
não estivessem encontrado receptivi-
dade. Já no decorrer da última semana,
aos sintomas somaram-se as evidências.
Soube-se que uma delegação de oficiais
da IV Região Militar (PE) fez saber ao
general comandante da Região que os
oficiais temiam que o inquérito do Rio
Centro encobrisse a verdade e não apu-
rasse nada. Na Amazônia, o tenente-co-
ronel Nivaldo de Oliveira Dias foi afas-
tado do comando do 2o Batalhão de
Infantaria da Selva (veja o artigo que
"onçaná aoado).--va,. aãoósilencio,queajudamà"OdossiepodenãoservirparaRCPFdo-
No Rio de Janeiro vários oficiais esta- oposição a conquistar aliados e chegar a terror, mas tem com certeza o objetivo de
riam organizando um inquérito paralelo seus objetivos.
AA“.
que, no seio das Forças Ar-
©
madas, o seu principal pro-
blema é a linha dura. Mas Engolir, eles engolem... o problema é: como peparar?
essa é uma manobra diversio-
nista. Com a linha dura o governo -
apesar de divergências reais - pode CPI 130 TERROR.
chegar a um acordo, como tem demons-
trado o tratamento que vem dispensando Confusão mentirosa
ao episódio do Rio Centro. No seio das
Forças Armadas, o principal problema general da reserva Italo sileiro de Análises e Planejamento (Ce-
do governo é a repercussão das teses opo- Conti, que é deputado federal brap), orgão que congrega comunistas
sicionistas entre os militares. Figueiredo pelo PDS e relator da CPI do de diversos partidos", e "signatário do
acena com o fantasma da linha dura terror, pediu, e o coronel manifesto de fundação do Centro Brasil
mais para uso externo; o que lhe tira o Moacyr Coelho, diretor do Democrático (Cebrade), orgão de frente
Departamento de Polícia Federal, não
sono são, sobretudo, as iniciativas de se- do PCB". Na quinta-feira, Suplicy en-
deixou por menos: preparou um detalha-
tores da oficialidade contra o acoberta-
viou uma carta ao Coronel Moacyr Coe-
mento dos terroristas. do dossiê sobre a "imprensa alternati-
va''. No dia 25 de março, ao depor na lho, lamentando que a Polícia Federal
A oposição deve considerar os múlti- CPI do terror, Moacyr Coelho fez algu- preste informações incorretas à opinião
plos efeitos da sua pregação e das suas mas acusações aos jornais independen- pública". Para restabelecer a verdade,
denúncias. É fato que elas enfurecem a tes e Italo Conti pediu-lhe que esclare- Suplicy informa que não é membro do
linha dura do Exército; mas isso é inevi- cesse suas afirmações. Cebrap, "embora tenha apreço pelos tra-
tável. E, de resto, no episódio/do Rio Esse dossiê, entretanto, não terá "qual- balhos desenvolvidos por aquela institui-
Centro, a conciliação e a timidez nas quer serventia para o objetivo da CPI", ção e por seus membros", que o Cebrade
manifestações de massa apenas têm fa- disse Ítalo Conti, pois não prova que"essa - no seu entendimento - não faz "par-
vorecido a linha dura. Mas a divulgação imprensa colabore para a derrubada do te de qualquer partido político"", e que
das teses comprovadamente justas da regime, embora seja comunista e como ele próprio não é, "nem fui, membro de
oposição têm um outro efeito. São as tal queira tomar o poder, a exemplo de qualquer partido comunista".
denúncias amplas, vivas e fundamenta- todos os "partidos".
-Célia ReginadeSouza..quefoichefede.....
vendas de Movimento, teria participado,
segundo o dossiê, do segiiestro do em-
confundir a opinião pública a respeito
baixador norte-americano em 1969
dos jornais. O editor de Movimento,
quando tinha apenas 14 anos; o pecado
Raimundo Pereira, por exemplo, é ali
do desenhista Jaime Leão é usar sua arte
acusado de manter ligações com partidos
SERVICOS
INTERNACIONAIS Le Monk clandestinos. "Os fatos citados -- diz
Raimundo - são mentirosos: nunca per-
em benefício da luta popular e demoerá-
tica; Clóvis Moura, que escreveu o pre-
fácio do "Diário da Guerrilha do Ara-
tenci à Aliança Libertadora Nacional e

Conselho deGisé,Direção Diretoria de Edição S/A nunca fui ouvido no DOI;CODI ou qual-
guaia", é citado como autor do livro;

Agostinho
ropreso, Antonio Alcy Linhares,
C. Sartori, Álvaro
Queiroz,CéliaArmandoCa- Raimundo Rodrigues Pereira (presidente),
quer outro local sobre possíveis ligações
João Saldanha, segundo o dossiê, come-
teu a temeridade de felicitar o líder
Boito
Souzia,Jr., Armando
Conrado Igor Júnior,Fuser,
DelzirJacira R.
A. Matias, de Paulo Koza (diretor de operações), Perseu
Abramo (diretor
com o Partido Comunista do Brasil. O
objetivo da polícia ao enviar essas infor-
comunista Gregório Bezerra pelos seus

Flávio
cio, Carvalho,
José C. Alencar, José Crisóstomo Venàn-de Diretor Responsável
mações falsas à CPI do terror é confun- 80 anos de idade. A lista de informações
incorretas é extensa - ela reproduziria
Souza,
MackIouf LiadeR.Carvalho,
Dias, LuizLuizC.Pedro,
Antero,Márcio
Luiz Raimundo Rodrigues Pereira
dir a opinião pública, numa hora em que
o que a imensa maioria efetivamente
quase a totalidade do longo relatório.

Bueno,
seu MuriloRaimundo
Abramo, Carvalho, Rodrigues
Paulo Koza,Perei-Per- Movimento é uma publicação de Edição
S/A - Editora de Livros, Jornais e Revis-
quer é a prisão e punição dos terroristas Entretando, é na acusação feita ao

ra,
bérioRoberto
CanutoMartins,
e WashingtonRoldãoOliveira.
Oliveira, Ti- tas. Administração e redação: Rua Dr. Vir-
gilio de Carvalho Pinto, 625, Pinheiros.
do Rio Centro, dos. que atentam contra
os jornaleiros e entidades democráticas e
Jornalista Dilair Fernândo de Aguiar, do
Tribuna da Luta Operária, que a men-
São Paulo, Brasil. CEP 05415. Telefones:
Conselho Editorial
Alencar|Furtado, de Movimento
Andre deForster, Audálio
210-6622 e 210-6744. Distribuição: Abril
S/A - Culturalle Industrial. Rua Emílio
populares". E
O deputado estadual Eduardo Supli-
talidade medieval que informa o relatô-
rio fica mais evidente. Na falta de qual-
Dantas,
nando Chico
Henrique Buarque
Cardoso, Holanda,
Orlando Fer-
Vilas
Goeldi, 575. Tel. 65-5115. Impresso nas o-
ficinas da Cia, Editora Joruês. Rua Gastão
cy, do PT de S.Paulo, que fez parte do quer acusação contra Dilair, o dossiê

Boas, Hermilo Borba Filho (1912-1976). Material
da Cunha, 49. Tel. 531-8900. São Paulo.
internacional via Varig.
Conselho de Direção de Movimento até
julho de 1980, é citado no relatório como
diz, candidamente: "seu pai,
Fernandes de Aguiar, é membro do PC-
Dyneas

"comunista" e "membro do Centro Bra- do B".

MOVIMENTOd' 14/6781

BRASIL
O "público
A história da indignação, protesto e
Quando tomou posse do cargo de co-
mandante do 2o Batalhão de Infantaria
da Selva, no dia 3 de fevereiro deste ano,
o tenente-coronel Oliveira Dias já acom-
pan..ava com preocupação os atentados
terroristas, procurando obter informa-
ções sobre seus autores. E tinha bons
motivos para acreditar que seus autores
estivessem dentro do Exército.
Mas não falava nada sobre o assunto.
Em 1978, por muito menos, havia sido
punido. Naquela ocasião foi afastado do
comando de tropa, preso e transferido de
Recife para Belém, -por manifestar sim-
patias pela candidatura do general Euler
Bentes à presidência da República e
protestar contra as punições aplicadas
aos seguidores do general.
No ano seguinte passou mais uma se-
mana na prisão porque protestou junto
aos superiores contra os critérios que es-
tavam sendo adotados para escolha de
comandantes de tropas, e que contraria-
vam frontalmente os regimentos do
Exército.
aaa
©"O Exército não pode
acorbertar atos
e e
criminosos"
MO
O tenente-coronel acabou chegando
ao comando do 2o BIS, a principal uni-
dade da 8a Região Militar, não só por
causa de sua posição (pelo regulamento,
não pode ficar indefinidamente afastado
do comando de tropas), mas também pelo
prestígio que tem entre os oficiais. E tido
como um tipo "caxias", dedicadíssimo
às suas atividades.
Ouando ocorreu o acidente do Rio
Centro, a 30 de maio, cessaram todas as
Tenente Coronel Nivaldo Dias: um "bicoroado"
O tenente-coronel Nivaldo Mello de
Oliveira Dias, 45 anos, pernambucano,
em quase 30 anos de Exército sempre
fez questão de manter um comporta-
mento exemplar. Na linguagem da ca-
serna é um "*bicoroado", ou seja: foi o
primeiro aluno de sua turma na Aca-
demia Militar das Agulhas Negras e
também na Escola de Comando do Es-
tado Maior.Entre seus comandados é
conhecido por duas características par-
ticulares: não gosta de mordomias e sa-
be manter bom rfelacionamento com
Outros oficiais sob seu comando.
Quando assumiu o comando'do 2o BIS,
em fevereiro deste ano, uma de suas
primeiras-providências foi dispensar va
sentinela que ficava na porta da resi-
dência do comandante do Batalhão. E
também determinou que a comida ser-
vida aos oficiais fosse a mesma dos sub-
oficiais, soldados e praças.
O coronel sempre insiste em dizer que
não está ligado a nenhum grupo dis-
sidente dentro do Exército, afirmando
inclusive que o espírito de grupismo é o
responsável pela situação atual, em que
a corporação é utilizada em benefício
de uma minoria que só pensa nos seus
interesses pessoais. Cita particularmen-
«MW mama.“bag/sn
"BROFANBSB VB.GNC.AAA. "
FORÇAS ARMADAS/TERRORISMO
interno"
punição ao "público interno"* das
Lúcio Flávio Pinto e Antonio Carlos Queiróz
suas dúvidas sobre o envolvimento de
militares nestes atentados, particular-
mente do Departamento de Operações e
Informações do Exército, o DOI. A par-
tir daí, Oliveira Dias passou a falar
abertamente com os oficiais sobre o pro-
blema.
No dia 5 de maio, quando o Estado-
Maior da 8a Região Militar visitou o
quartel do BIS, em inspeção administra-
tiva, o tenente-coronel Oliveira Dias ex-
pôs suas idéias. Num momento em que
estavam reunidos todos os oficiais, in-
clusivé o general Waltencir Costa, co-
mandante da Região, ele disse que não
alimentava mais dúvidas sobre a respon-
sabilidade de elementos do Exército no
episódio do Rio Centro, cabendo às auto-
ridades revelar com urgência toda a
verdade.
Dias depois, quando o coronel Luís
Antonio Prado Ribeiro, que presidia o
Inquérito Policial Militar do Rio Centro,
pediu seu afastamento alegando motivos
de saúde, o coronel voltou a manifes-
tar-se publicamente sobre o assunto, in-
clusive através de um boletim interno.
Para ele, o afastamento do coronel Ri-
beiro deveu-se às pressões do pessoal de
informações do 1o Exército no Rio, preo-
upados com o rumo das investigações,
apontadas cada vez mais em sua direção.
O pessoal que pressionou o coronel
Ribeiro acabou cometendo um erro, se-
gundo Oliveira Dias. Ao quererem humi-
lhar o coronel, em vingança pelo que ha-
via apurado, acrescentaram à portaria
que o excluiu do IPM um tópico dizendo
que os motivos alegados, de saúde, se-
riam mvestlgados Esse detalhe desacre-
ditou mais o IPM e, segundo Oliveira
Dias, mostrou que se trata de uma farsa.
Num documento distribuído entre os
oficiais, no dia 19 de maio, o tenente-co-
<
Ten. Coronel Nivado: sem
dúvidas quanto ao Rio Centro
ronel disse: "Sinto-me na obrigação de
declarar que não é soltando bombas que
vamos construir uma democracia e com-
bater o comunismo. E nem o Exército
pode acobertar esses atos criminosos que
atentam contra a instituição e a pátria,
quaisquer que sejam seus autores. Não
alimento dúvidas de que as duas explo-
sões do Rio Centro foram de responsabi-
lidade de integrantes de um órgão de in-
formação do Exército; e de que esta con-
clusão, bem como outras de igual im-
portância, já são do conhecimento das
autoridades competentes".
L L..
Desfile quase não
e
se realiza em
e L
solidariedade
o terno a Brasília.
Além disso, o documento interno, do
qual se conhecem apenas trechos, apon-
tava nomes e dizia que as autoridades
conheciam o responsáveis por todos os
atentados.
O documento, que circulou entre toda
a oficialidade, acabou na mesa do mi-
nistro do Exército, general Walter Pires;
e na quinta-feira, dia 28, um telex de
Brasília anunciou o afastamento do co-
ronel do comando de sua tropa.
Na segunda-feira, dia 1o, Oliveira
Dias passou um radiograma ao ministro
do Exército solicitando explicações sobre
sua demissão e ingressou com um pedido
de reconsideração do ato. Como resposta
recebeu nova punição: 20 dias de prisão.
Desde quando começou a falar publi-
camente sobre o assunto, o coronel Oli-
veira Dias encontrou apoio para suas
idéias, segundo ele mesmo. E há nesse
te a "gang" do Planalto destacando os
nomes de Heitor Aquino e Golbery do
«Couto e Silva. (Não inclui aí o presi-
dente Figueiredo, que, no seu entender,
está sinceramente empenhado rna aber-
tura.)
Outras informações, porém, dão con-
ta de que o tenente-coronel! faz parte do
grupo Centelha Nativista desde sua
fundação, em 1968. Esta sua ligação à
Centelha é que explicaria um encontro
que manteve há quase dois meses, em
Belém, com o coronel Tarcício Nunes
Ferreira, que também seria do grupo,.
Por causa desse encontro, Ferreira foi
punido há 15 dias com prisão de três
dias; e na semana passada foi trans-
ferido para a 3a Divisão do Exército em
Santa Maria, Rio Grande do Sul.
A primeira punição que Oliveira Dias
sofreu foi em 1962; quando era tenente,
por criticar a participação de militares
nas manifestações políticas promovidas
por João Goulart.
Mais tarde foi preso em Recife, depois
de afirmar que o general Antonio Ban-
deira era corrupto. Durante o processo
que teve que responder sobre isto, foi
até a Paraíba procurar provas da cor-
rupçào do general. Diz que encontrou,
reage
forças Armadas.
período, alguns aspectos que merecem
destaque.
O primeiro deles é a reaçãode seu su-
períor, o general Waltencir Costa, quan-
do ocorreu o primeiro pronunciamento,
perante oficiais reunidos no 2o BIS. O
general ouviu em silêncio e depois expe-
diu uma nota oficial dizendo que os ofi-
ciais não deviam fazer pré-julgamentos,
esperando a conclusão do IPM. Porém,
não afastava de todo a idéia do coronel
Oliveira Dias, afirmando: "Se o atenta-
do saiu do nosso meio, em cumprimento
de missão, os responsáveis aparecerão,
sem sombra de dúvida".
Há também uma dúvida importante
envolvendo o general Waltencir, conside-
rado um elemento "neutro" nas dissi-
dências do Exército. O coronel Oliveira
Dias acredita que não foi ele quem soli-
citou seu afastamento da tropa, mas ou-
tra pessoa, que enviou o documento in-
Outro fator importante: quando foi
anunciada a exoneração de Oliveira Dias
do cargo, o tenente-coronel Julio Cesar
Monte, subcomandante, negou-se a
substituí-lo. Por insistência de seu com-
panheiro, acabou aceitando, interina-
mente.
Durante a cerimônia de transmissão
do cargo, o capitão Monte, comandante
de uma das suêunidadcs, ameaçou reti-
rar o seu pessoal do desfile. Convencido
pelo coronel exonerado, acabou desfilan-
do, mas, ao passar pelo palanque oficial
não comandou a ordem de "olhar à di-
reita", como sempre se faz.
No sábado, dia 29, segundo o mesmo
informante, todos os capitães foram à re-
sidência do tenente-coronel substituído
hipotecar solidariedade. Oliveira" Dias
agradeceu, mas disse que nada mais po-
deria fazer.
mas nos últimos dias não quis falar so-
bre o assunto.
Outra vez foi punido pelo general
Monção, quando este ocupava a chefia
do Estado Maior do IV Exército, com
sede em Recife, porque se recusou a
mudar o parecer quetida dado num In-
quérito Policial Militar. Neste IPM,
que apurava o atentado contra o presi-
dente Costa e Silva, o tenente-coronel
recusou-se a condenar Ricardo Zaratti-
m que nem se encontrava em Recife na
época. Instado a mudar de parecer, re-
cusou-se e foi punido,
Oliveira Diasacredita.que-só-a.demo-..
cracia pode salvar o Brasil frente aos
problemas que enfrenta, Defende uma
mudança no atual estado decoisas a
partir de dentro dá corporação militar e
não através de um golpe de Estado,
"porque seriam mais 10 anos destruin-
do o que foi feito e tentando construir
outra coisa". Acha que a maioria do
Exército não é apenas a favor da demo
cracia, como condena os atentados e es-
tá disposta a acabar com a minoria que
os pratica., Por isso, achava que sua
denúncia teria o poder de desencadear
essa reação por dentro.

Uma bomba
As repercussões
As declarações do tenente-coronel Ni-
valdo explodiram nas hostes do governo
como uma granada e chegaram às filei-
ras da oposição como um fio de luz no fi-
nal de um. túnel. De um lado, o governo
ficou em polvorosa, já que de certa ma-
neira, protesto do militar frustrou a
sua tática de ganhar tempo, esperando
pela conclusão do IPM.
Do outro lado, as oposições se conven-
ceram de que uma ponderável parcela
das Forças Armadas está consciente de
que o IPM que investiga o caso Rio Cen-
tro é um engodo. Na Câmara e no Sena-
do: vários parlamentares elogiaram a ati-
tude do tenente-coronel. Na Câmara, os
Golbery tentou sabotar o manifesto de iniciativa de Airton
deputados Airton Soares, (PT-SP), Frei-
tas Diniz (PT-MA) e Francisco Pinto
(PMDB-BA) articularam um manifesto
intitulado "A Nação e o Terrorismo", de
solidariedade ao militar punido. Num de
seus trechos, o documento afirma que a
postura de Nivaldo, "que não é isolada
- demonstra claramente que as insti-
tuições militares não se posicionam ao
lado do terror, da tortura e da violação
dos direitos humanos. Ao contrário, re-
vela um inconformismo generalizado e
desmascara todos os que desejam com-
prometer o papel das Forças Armadas
como terrorismo". O manifesto começou
a ser subscrito por volta das 16:30 da
quinta-feira e em menos de uma hora
Golbery tentou
barrar o apoio ao
comandante punido
mais de 30 deputados já o tinham as-
sinado.
Sua leitura em plenário pelo deputado
Airton Soares, pegou a liderança gover-
nista de surpresa, mas a reação foi ime-
diata. O líder do PDS de plantão, Djal-
ma Bessa (BA), acusou a oposição de
pregar e estimular a quebra da hierar-
quia e da disciplina nas Forças Armadas.
O contra-ataque mais pesado, contudo,
foi deflagrado uma hora mais tarde e te-
leguiado diretamente do gabinete do ge-
neral Golbery do Couto e Silva.
Golbery foi alertado sobre o manifesto
pelo deputado Nelson Marchezan, por
BRDFANBSB VB.GNC.AAA. 5
REPERCUSSÓES DA PUNIÇÃO
e um
políticas do protesto
Antonio Carlos Queiróz
telefone. Imediatamente o assessor par-
lamentar da Casa Civil, Alberto Cunha,
foi enviado ao Congresso e entrou em
contato com Marchezan e com o senador
Jarbas Passarinho. A missão a ser cum-
prida seria desencorajar os autores do
manifesto a continuar coletando assina-
turas e retirar o apoio dos que já o ha-
viam subscrito.
A primeira providência de Marchezan
foi chamar o deputado Airton Soares a
seu gabinete e dizer-lhe que, segundo lhe
dissera Golbery, a iniciativa do manifes-
to "não serve ao país". Disse também
que "está é uma crise militar e nós polí-
ticos não temos que nos envolver nela".
Soares respondeu que a estratégia das
"oposições era outra e que portanto não
iria desistir do manifesto.
Marchezan respondeu, então, que iria
comunicar-se com as demais lideranças
partidárias para aconselhar o esfriamen-
to do apoio ao tenente-coronel Nivaldo
de Oliveira Dias. Articulado com o líder
do PDS, Cantídio Sampaio, Marchezan
conseguiu atrair apenas o líder do PP,
Thales Ramalho, embora vários pepistas
continuassem a assinar o manifesto.
Como foi ressaltado no manifesto "A
Nação e o Terrorismo", a atitude do te-
nente-coronel Nivaldo não foi isolada.
Tanto assim que o coronel Tarcísio
Ferreira Nunes - antigo líder de Ni-
valdo, quando servia no IV Exército -
expressou a sua solidariedade através de
um comentário publicado pelo jornal O
Estado de S. Paulo, na edição de sex-
ta-feira. Nivaldo - disse Tarcísio - "é
um oficial de aguda inteligência, exce-
lente caráter, destemido, lúcido, muito
respeitado por todos que lá (Belém) com
ele serviam e a quem me liguêi por laços
de amizade e de ideal".
O próprio Tartísio havia sido punido
no final da semana retrasada, com três
dias de prisão, acusado de ter se au-
sentado de Brasília - onde serve no
Departamento de Pesquisa e Ensino do
Exército - sem autorização do seu che-
fe, general Geraldo Alvarenga Navarro.
A acusação não tem nenhum fundamen-
to pois o coronel - cuja família mora no
Rio de Janeiro - tinha autorização per-
manente de Navarro para viajar tanto
nos fins de semana como na tarde de
quarta-feira, quando não há expediente
no ministério. O verdadeiro motivo, por-
tanto, foi político.
fio
do tenente coronel Nivaldo Dias
A verdade é que Tarcísio - um antigo
dissidente, que conseguiu projeção de-
pois da sua conferência no Lions Clube
de Ponta Grossa - PR, e que apoiou
abertamente a candidatura do general
Euler Bentes Monteiro quando pregou a
democracia e criticou o "Pacote de
Abril"" - começou a ser vigiado com re-
dobrado esforço depois das explosões do
Rio Centro, já que ele também está con-
vencido da culpabilidade do sargento e
do capitão atingidos no atentado. Agora
Tarcísio será transferido para a unidade
militar de Santa Maria, no Rio Grande
do Sul.
Mas assim como Nivaldo e Tarcísio
existem outros oficiais que estão dispos-
tos a não deixar passar em branco o epi-
sódio do Rio Centro. Nos próximos dias
Três movimentos
militares querem a
punição ao terror.
um outro oficial deverá fazer um pro-
nunciamento público, de crítica» às au-
toridades que procuram entobrir a ver-
dade sobre o caso, enquanto oficiais
da reserva - o chamado "Quinto Exér-
cito" - estudam a possibilidade de lan-
car um manifesto externando a preocu-
pação sobre o envolvimento das Forças
Armadas com o terrorismo.
Foi com esta preocupação, também,
que um grupo de oficiais pára-quedistas
do Rio de Janeiro saiu a campo logo de-
pois das explosões do Rio Centro para
realizar um inquérito paralelo ao IPM
oficial.
Movimento apurou que esse inquérito
já está concluído, e será divulgado na hi-
O "velho sonho do finado ministro
da Justiça Petrônio Portela de o regime
militar contar com um partido tipo "regra
três" capaz de entrar em campo face a um
eventual malogro do PDS, pode.tornar-se
realidade a partir da fusão doPP com o
PTB.
A fusão desses dois partidos tornou-
se maisviável a partir do encontro entre
Tancredo Neves, presidente nacional do
PP, e o principal cardeal do trabalhis-
mo: Jânio Quadros (foto), que de sua par-
te não escondeuo objetivomaior de tal
fusão: "fazer frente à ação aos radicais, que
se encontram fundamentalmente no
PMDB". da
E Os maiores defensores desse ca-
samento são: Ivete Vargas e Jânio pelo
PTB, e Olavo Setúbal! pelo PP, que varie
assim aumentarem as suas chances de
conquistar o governo de São Paulo. A fu-
'são, entretanto, encontra obstáculos sé-
rios: a começar pela própria desconfiança
de Tancredo de que ela seja um *cavalo de
Tróia" para inviabilizar a sua candidatura
em Minas e fortalecer o nome de josé
Aparecido, ex-secretário de Jânio e ho-
mem de confiança de Magalhães Pinto.
Além disso, manifestam-se resistências
do PP na Bahia, Rio Grande do Sul, Ma-
ranhão e outros Estados, onde diversos
de luz
pôtese de o IPM oficial concluir pela ino-
cência das pretensas vítimas do atenta-
do.
O atentado do Rio Centro, sem dúvida,
é um divisor de águas. Da sua solução
dependerá, em grande parte, os rumos
da "abertura" política do regime.
No momento, segundo informações ob-
tidas por Movimento, existem três grupos
militares em fase de articulação: o pri-
meiro, certamente o mais forte, é a tra-
dicional Centelha Nativista, da qual faz
parte o tenente-coronel Nivaldo de Oli-
veira Dias. A Centelha, como se lembra,
originou-se em 1968, como um grupo de
extrema-direita, e evoluiu para posições
liberais e democráticas, assumindo, du-
rante a campanha eleitoral do general
Euler Bentes Monteiro, bandeiras como
a anistia ampla e a Constituinte. O se-
gundo grupo, de caráter civil-militar, é o
que está sendo articulado pelo general
Antonio Carlos de Andrada Serpa. o ex-
ministro. Severo Gomes, entre outros,
em torno de bandeiras econômicas na-
cionalistas. Uma das opiniões dominan-
tes neste movimento é a de que a re-
núncia do general Figueiredo e a in-
vestidura de Aureliano Chaves na presi-
dência da República poderia ser uma so-
lução para o impasse político. O terceiro
grupo, até agora desconhecido, é o Mo-
vimento Nacionalista Popular (MNP),
que prega uma ideologia dita "Caste-
lista" (inspirada nas idéias do marechal
Humberto de Alencar Castello Branco).
O MNP também é de caráter civil-mi-
litar.
Todos os três movimentos, que têm vá-
rios pontos programáticos em comum,
segundo afirmação de um oficial que ser-
ve em Brasília, "estão extremamente
coesos num ponto especial: exigem a pu-
nição dos responsáveis pelo atentado do
Rio Centro e o desmantelamento da co-
munidade de informações"
pepistas não vêemvantagemna fusão e se
opõem a ela porque o PTB é visto hoje
como um partidaQÍICIOSO dogoverno. %
Ewdentemente não-deforma nebulosa,
como começa aser, aventado por enquanto
timidamente, por alguns setores do regi-
me. Há duas semanas a notícia deque o
governo pensa em acabar tom os DOl-
CODI publicada nosemanário Relatório
Reservado. Na semana passada, outros
jornais repicaram a informação, sem
acrescentar novidades,A idéia expostaéa
de aproveitar o estadode espírito da opi-
nião pública para introduzir mudanças se-
cundárias nos órgãos de segurança ein- .
formação, "dando-lhes um caráter estrita-
mente profissional". Diz -o Relatório Re-
servado: "as mudanças não serão brusças
nem violentas igualmente não "atingindo
as 2a s Seções dos Exércitos. O importan-
te será a implantação de um espírito pro-
fsssconal na área deInformaçao e repres-
são"
Ou, traduzindo em linguagens menos
diversionista mudando-lhes a forma e
preservando o conteúdo, pois não é sério
acreditar que essas sucursais do inferno
possam ser desmanteladas sem o des-
mantelamento do regime militar.
MOVIMENTO 8, 9 14/6/81

TERRORISMO
Quem era o
dono
do Puma?
O Puma destruido pela explosão de
uma das bombas do Rio Centro e que era
ocupado pelo capitão Wilson Machado e
pelo sargento Guilherme Pereira, enqua-
dra-se perfeitamente dentro das caracte-
rísticas dos veículos pertencentes ao
DO. Seus agentes utilizam os carros
mais estapafúrdios possíveis, sobre os
quais dificilmente poderá recair alguma
suspeita. E o diz um perito da comunida-
de de informações. O Puma, por exem-
plo, é visto como um carro de playboy
despreocupado, e nunca como uma via-
tura de agentes secretos. Outros tipos
de carros usados são Rural Willys, Kom-
bis com inscrição de padarias ou de tintu-
rarias-fantasmas, veículos de compa-
nhias telefônicas ou de energia elétrica,
Veículos destas. últimas costumamserre-_ :motempo, para não ser envolvido em
quisitados pelo Órgão para operações. "probiemas
Quem poderia desconfiar de dois traba-
lhadores da Light, um na escada e outro
dentro do veículo, fazendo consertos na
rede elétrica?
"Já li muitas vezes - diz a fonte -
pessoas contando que perceberam clara-
mente que estavam sendo seguidas por-
que notaram que havia um carro com
antenas enormes "ao lado do seu, ou
parado perto de sua casa. Isto é besteira.
Carros com grandes antenas externas
são de rádio-amadores. Os veiculos usa
dos pelo DOI usam as antenas enroladas
ie e embutidas. Ninguémpercebe
tamente nada de anormal". O- DO! pode
ser comparado com uma geladeira: Tudo
lá é frio - nomes, armamentos; chapas
de carros e os próprios carros: As placas
frias são registradas por lotes no Detran
que remete, pr exemplo, 20 placas ao
Comando do I Exército, mas não sabe a
que "carros vão servir, evitando que o
esquema seja conhecido fora dos órgãos
de informação.
Uma forma usada durante a. fase da
guerrilha urbana para awmentar a frota
destes órgãos, foi a incorporação dos
veículos dos" guerrilheiros mortos em
combate; ou que possuiam carros com-
prados com dinheiro roubado. Quando o
carro era roubado fazia-se uma consulta
ao proprietário, para saber se ele já havia
recebido do seguro. Em caso positivo, o
MOVIMENTO 8 a 14/67/81
órgão de segurança ganhava mais um vei-
culo: Outro método foi revelado recente-
mente com o vazamento de documentos
neiro. O Cenimar (Centro de Informações
da Marinha), estava utilizando veículos
roubados que haviam sido recuperados
pela Delegacia de Roubos e Furtos.
O "veículo pode ser "legalizado" de
várias maneiras. Uma delas é registrá-lo
em um nome frio. Outra é registrá-lo em
nome de um dos integrantes do DOI,
Para evitar que no futuro o agente venha
a dizer que é o seu legitimo proprietário,
há uma troca de documentos. O agente
deixa em poder de seu superior um do-
cumento assinado em que atesta que o
veículo pertence ao Comando. E ao mes-
dade, fica com um documento assinado
pelo seu superior atestando que o carro
está sob a responsabilidade do Coman-
do: Estas medidas servem também para
manter sob sigilo o verdadeiro proprietá-
rio e naturalmente a destinação do vei-
culo.
O conhecimento desta mecânica de
funcionamento pode explicar a contro-
vérsia surgida em torno do Puma. O
Comando do | Exército repetiu várias
vezes, inclusive em notas oficiais, que o
carro pertencia ao capitão, apesar de sua
- Aoricacressemu chegou
De acordo com a fonte, o capitão não iria
para uma missão oficial com seu próprio
carro, muito menos com chapa fria,
Qualquer problema que surgisse seria de
sua exclusiva responsabilidade. O mais
provável é que o Comando do | Exército
não quis sofrer o constrangimento de
aparecer como o proprietário de um vei-
culo que devia estar todo irregular. O
Detran do Rio, depois de alguns dias e
sem exibir a documentação, confirmou
que o carro pertencia ao capitão Wilson.
Segundo fontes militares de Brasília, a
adulteração dos documentos foi conse-
guida com a ajuda de alguns fucionários
do Detran, o- que não apresentou muita
dificuldade, já que o órgão é conhecido
como uma verdadeira central de corrup-
ção. (Gilberto Laranjeiras, do Rio).
BR DFANBSB V8.GNC.AAA, |-
CORRUPÇÃO
Os malufistas armam
represas contra
lamas passadas
funcionários mais graduados não têm feito loteamentos ilegais.
outra coisa nos últimos dias senão fotocopiar, O juiz chegou a acolher parte da denúncia,
discutir e divulgar um amplo dossiê sobre uma mas no caso de Walber Guimarães setenciou
querela na Justiça do Paraná envolvendo o que sua responsabilidade no episódio já estava
relator da CPI da Corrupção, deputado Walber prescrita. Inconformado, o suplente do verea-
Guimarães (PT-PR). dor deu entrada a um recurso.
O processo foi descoberto pelo presidente da
EBCT coronel Advaldo Botto - o primeiro A revelação de todo o processo foi como uma
depor na CPI - depois de uma pesquisa minu- omba de o ua "L
PT-Ai e ao o PD PDS a
ciosa que se iniciou em Colinas, no Maranhão, princípio era a convocação de uma sessão
terra natal do deputado, onde se procura saber secreta - embora sabendo que nada fica
até detalhes de parentesco, amizades de in> secreto dentro da Câmara dos deputados e,
fância e qualquer informação capaz de levar o nela, ler toda a documentação sobre o relator
governo ao contra-ataque, de forma a inibi-lo para o exercício do cargo e
Desde que a "CPI da Corrupção" foi instala- ainda obtendo dele o compromisso do sigilo.
da, no ano passado, ó3 desmandos administra- Ae-saberdamanobraWalberGuimarãespreci
tivos, as irregularidades e corrupção em geral pitou os acontecimentos: procurou-o presiden
vêm sendo denunciadas por um grupo de te da Câmara, denunciou o processo de coação
oposicionistas sempre municiados por Walber e intimidação e ofereceu-lhe uma amplia procu-
Guimarães, que diante de manobras governis- ração conferindo todos os poderes para fazer
tas alterando várias vezes o roteiro dos traba- uma devassa em toda a sua vida pública,
lhos, sentenciou: "Podem escolher o caso que inclusive levantando seus bens e propriedades.
quiserem, pois qualquer que seja a direção Do episódio espera sair vitorioso o governa-
indicada sempre se descobrirá um mar de la- dor Paulo Maluf que era o principal alvo quando
ma". os trabalhos da CPI tiveram início e até agora
Assim, os malufistas vêm procrastinando continua preservado, na medida em que esta
as investigações do caso Lutfalla, mas, para não chegou a entrar no caso Lutfalia. Aliás,
tanto, ofereceram ao sacrifício o caso dos logo após o debate parlamentar da acusação
gastos da EBCTcom a realização de um Con- contra Walber Guimarães, o representante de
gresso Postal no Rio de Janeiro e o escândalo Maluf na Comissão, deputado Edison Lobão
dos cheques administrativos do Banco Econô- (PDS-MA) não teve dificuldade para que fosse
mico no valor de Cr$ 198 milhões, recusados votada mais uma vez a alteração no roteiro dos
pelo estabelecimento em1976. _... trabalhos, de forma que opróximo caso a ser
Agora que se aproxima cada vez mais o dia investigado não seja maisoescândalo Lutfalia
de entrar no caso Lutfalia, a liderança do e sim o caso do derrame das ações da Vale do
governo recebeu uma das muitas cópias contra Rio Doce na Bolsa de Valores.
o deputado Waliber Guimarães, e, encami» A proposta também acolhida pelo grupo dos
nhou-as ao presidente da Câmara, Nelson Mar- baianos liderados por Antonio Carlos Maga-
chezan para as "providências cabiveis".
lhães, deixa mal o general Figueiredo em cujo
O processo refere-se a uma ação popular que governo se deu o caso da Vale. Dos dez itens
um desafeto político de Walber Guimarães, sob apreciação da CPI apenas este último
suplentedevereador José Moreno -Júnior;- do-
"refere-se a- problemas - do- governo atual:
PDS, impetrou contra ele, em 1978, acusando-o demais, são apenas águas (lama) passadas,
de haver em 1973, na condição de secretário da ainda rolando. (Milton Gouveia, de Brasília)
"Voz Israelita", transmitido há 26 anos pela
DOS ESCANDALOS, 0 MENOR Rádio Copacabana, no Rio. Uma voz, dizendo
ser do Comando Delta, ameaçou explodir os
' O presidente do PDS de Maraba(Pará); transmissores da emissora caso o programa
Osvaldo dos Reis Mutran, é o virtual prefeito não fosse suspenso. Amedrontada, a direção
do município, apesar de graves acusações que da rádio acabou definitivamente com o pro-
, pesam contra ele (como corrupção, assassi- grama. Além da ameaça à liberdade de ex-
natos, estupro e tortura de uma menina de pressão contida nesta manobra terrorista, fi-
Oito anos). Marabá é área de segurança nacio- ca evidenciada mais uma vez a necessidade
na! e, na semana passada, o governo federal de unidade no combate ao avanço daqueles
|L para:seu:prefeito 0% querepresentam oretrocessopolítico. Ares-
então presidente da Câmara Municipal, Sa- posta às ameaças não deve ficar circunscrita
muel Monção, um fiel cumpridor de ordens de somenteà comunidade judaica uma vez que
Osvaldo Mutran. i são as forças democráticas, judias ou não,
A nomeação abriu uma crise política no que têm compromisso de uma solidariedade
município: a presidência da Câmara, com a. ativa aos ameaçados.
| saída de Monção, iria para o peemedebista
João Chamon Neto que, juntamente com
quatro vereadores dissidentes, formaria uma '
maioria incômoda ao prefeito, que é partidá-
rio do senador Jarbas Passasinho e adversá- O Grupo Especial de Prevenção (GEP),
rio do governador Alacid Nunes. Monção che-. espéciede "elite" da polícia baiana, criadahá
gou a, irregularmente, tentar assumir a prefei- cerca de dois anos pelo governador Antonio
tura, sem renunciar ao mandato de vereador., gãrlos Magalhães, assassinou (no último dia
cogitar V)o mecaniconegro. fanaisen.Assig.b..
de um ato público oposicionista, até que o Souza, 37 anos, que não tinha antecedentes
senador Passarinho autorizou Mutran a não criminais e era empregado numa concessio-
boicotar mais a posse de Chamon, para "não nária de automóveis 'de Salvador. Ele foi
criar mais escândalo", morto pelas costas, aotentar fugir ao espan-
Camento,a que foi submetido pelo simples
fato de estar na rua, às 20h00, a 50 metros de
sua casa, sem documentos. Com este, já são
TERROR ANTISEMITA | quase vinte os assassinatos cometidos pelo.
. GEP. O crime provocou grande reação popu-
Coincidindo com as noticias da invasão do . lar, e mais
5 de mil pessoas - juntamente com
o. quedao perten-
sitio Mirafior, em Nova Friburgo, en- Seus colegas detrabalho - compareceram ao
ce àdona da Livraria Leonardo da Vinci,no enterro do mecânico, onde muitasfaixas pe-
diam a punição dos assassinos. Embora o
| Rio de Janeiro, por 30 policiais, que pratica-
mente saquearam a propriedade, ressurgiu na governador Antonio Carlos tenha anunciado,
semanapassada um dos pretextos prediletos Com alarde, a prisão da equipe responsável pe-
. dos mentores da escalada de violência fascis- .
to crime, comentava-se nos bastidores da polí-
tá em curso no país: o anti-semitismo. cia baiana que a punição ficaria restrita so-
mente aos dois policiais que efetivamente
A intimidação dirigiu-se contra o programa atiraram no mecânico.
 BR DFANBSB VB.GNC.AAA, -

mTUIIT
mw»; sea

CRISE/METALURGICOS

nterior: Caem os salários,

sem resistência

Flávio Dieguez

não dar mais entrevistas. E sabe por de Limeira representa apenas um extre- trangido e contrariado", foi aos jornais
Desde meados de abril tornou-se co-
que? Porque essas entrevistas, essas mo dos abusos entre os trabalhadores anunciando que teria que fazer novos
mum ver funcionários do Sindicato. do:
Metalúrgicos de São Paulo apregoaren. manchetes sobre demissões estão assus- desorganizados, no interior de São Pau- cortes (mais 40% de dispensa) no quadro

na porta das fábricas que não havia risco tando os trabalhadores, estão fazendo lo. da CBT, a menos que fosse aceita a

de demissões em massa ou de redução de eles assinarem documentos aí para as O gesto de impotência de Sebastião proposta feita por "vários de seus fun-
jornada de trabalho, por que nesse caso o firmas. Pereira se repete por exemplo em Bauru, cionários": a implantação de um acordo
governo teria que reagir para que a si- E o presidente desabafa, desanimado, Um funcionário do sindicato dos meta- com redução de 25% dos salários e da
tuaçãosocial'não piorasse.Aimprensa tem lúrgicos local - que não sabia se havia ornada de trabalho, em troca da garan-
enquanto explica seus motivos:
divulgado notícias de que haveria um ou não uma Comissão de Salários em tia de estabilidade por 90 dias.
crescente desinteresse das empresas nes- O jornal O Diário de São Carlos,
Sindicatos não falam funcionamento... - explicou a imposi-
se tipo de solução para a crise e a Fede-
ção da jornada menor de trabalho na publicou no dia 4 de abril uma matéria
ração dos Metalúrgicos também procura
para não "apavorar"* Metalúrgica Pereira, dizendo simples- de capa sobre o assunto, sob o título:
fornecer um quadro menos sombrio des-
mente que "os empregados são burros, "CBT Dá Exemplo de Compreensão
sa situação, afirmando que os acordos os trabalhadores
assinam uma coisa que contraria seus Mútua". Segundo a reportagem, o pre-
feitos no interior de São Paulo não esta-
'riam sendo reconhecidos pelos sindica- - Os trabalhadores estão apavorados, interesses". Sendo assim, "o que o sin- sidente do Sindicato dos Metalúrgicos,

tos, e que o único posto em prática até com medo de perder o emprego, e as dicato pode fazer?". Antônio Cabeça Filho, pediu na época

agora seria em Taubaté, pela Volkswa- firmas estão se aproveitando disso. Caso Em São Carlos - onde, segundo a autorização para reunir-se com os tra-
gen. Mas nào é isso o que se vê em Bau- Federação dos Metalúrgicos, o sindicato balhadores dentro da fábrica, onde re-
como esse, eu nunca vi igual. Mas como
ru; Limeira e São Carlos, onde já há havia iniciado uma disputa para anular o cebeu um abaixo-assinado dos operários
é que eu vou convocar uma assembléia se
acordos em prática e outras empresas acordo entre a Companhia Brasileira de sugerindo a aprovação do acordo.
"'eles' me mostram um documento assi
avançam abusivamente nesse sentido. Em seu pronunciamento ao jornal, o

Os problemas do Sindicato dos Meta----- do que já concordaram com a redução de
lúrgicos de Limeira (SP) com os acordos
de redução de jornada de trabalho co-
meçaram há cerca de um mês.
ocasião a diretoria recebeu um comuni-
cado da Vigorelli do Brasil, fabricante de
máquinas de costura, informando que
reduzira os salários dos funcionários
fábrica que tem na cidade, em 16%, no
' mês de abril. E que pretendia reduzir
outros 8,5%, em maio.
A diretoria do sindicato foi informada
ainda de que a Vigorelli tinha um do
cumento, assinado por 90% dos traba-
lhadores, onde estes não só aceitavam o
acordo, como faziam de maneira inédita:
no país: sem a correspondente redução
do período de trabalho e "independente
de qualquer assembléia" que o sindicato
viesse a realizar para confirmar (e lega-
lizar) o acordo!
O caso é tão triste para os trabalha-
dores, que, Sebastião Pereira, presidente "" ==Epararcom essasentrevistas ecome-"
do Sindicate dos Metalúrgicos de Li-
meira, preferiria nem falar sobre o as-
sunto.
- Você não me leve a mal - explica o
presidente que é do PT local e está
visivelmente constrangido por ter que
falar do assunto. Mas nós fizemos uma
reunião da diretoria aqui e resolvemos
balanço da luta também é extremamente presidente disse que embora já tivesse ___ .
desanimador. Embora a Federação ain- em mãos o abaixo-assinado, seria neces
salário?
da não reconhecesse o resultado final até sário um escrutínio secreto. Mas que
- Nós chamamos um pessoal aqui -
continua - porque a gente queria saber a semana atrasada, o sindicato admitia "entendia como válida a propositura...
Nessa
melhor o que estava acontecendo. Mas que estava afastada qualquer possibili- porque já havia tomado conhecimento
não veio ninguém, nenhum trabalhador. dade de mobilização dos trabalhadores da necessidade da empresa de reduzir
Então nós preparamos um boletim para e que o acordo, já assinado por ambas as de 40% seu quadro funcional". Disse
partes, seria implantado. ainda que "embora o salário fosse redu-
da distribuir na porta da fábrica. Mas mes-
mo assim, para chegar no trabalhador, Antes de Movimento visitar a cidade zido... ainda assim perceberiam mais,
as informações sobre o desenvolvimente diante do aumento recentemente con-
ainda tivemos que entrar na fábrica es-
desta disputa entre o sindicato e a CBT quistado em dissídio". E finalizam: "vo-
condido, dentro do ônibus da empresa.
eram confusas. Segundo dados dos jor- cês, companheiros, sabem perfeitamente
Quando o gerente viu, a gente já estava
lá dentro, e eu até entreguei um boletim nais e da Federação, a empresa havia que na madrugada vários são os traba-
realizado uma primeira assembléia, den- lhadores que ficam à procura de cami-
para ele.
tro da própria fábrica, em que o acordo nhões para trabalhar na lavoura. A-
Esse boletim informava aos traba-
fora vitorioso com 98% dos votos. O queles que foram dispensados, até agora
lhadores que a redução de salário não
sindicato, alegando que esta assembléia não conseguiram outro emprego".
havia sido aceita e os convidava a visi-
tar o sindicato em defesa de seus interna era ilegal, teria conseguido rea-
direitos. lizar outra, fora da fábrica, obtendo a "O sindicato não fez
Sebastião Pereira até agora está con- anulação do acordo com 71%dos votos.
No entanto, comose núma visita, a pró- nada para mobilizar
fuso. Ele acredita que a saída esteja em
outro lugar: pria diretoria do sindicato corrige esta
os trabalhadores""*
-versão;©queaconteceufei-oseguinte: a
ofensiva da CBT começou em março, A diretoria do sindicato disse a Movi.
car a fazer alguma coisa lá em cima. A
quando despediu 750 'dos seus 3 mil mento que depois de realizada a primei-
Federação (dos metalúrgicos) já conver-
funcionários, alegando que a recessão ra votação secreta na fábrica, tentou uma
sou com o ministro do Trabalho, com
reduzira os créditos rurais, levando a reunião com os trabalhadores no sindi-
gente do governo, e agora nós vamos vei
uma queda na venda dos tratores e con- cato: e a conclusão foi de que era im-
o que nós vamos fazer...
seguentemente a uma redução do seu possível uma nova assembléia fora da
Embora não haja indicação de ne-
faturamento. Em abril, o presidente da fábrica. Portanto foi realizada nova vo-
nhum outro lugar onde a ofensiva das
empresa, Mario Pereira Lopes, "cons- tação nas dependências mesmo da CBT,
empresas tenha sido tão violenta, o caso

Você conhece a
sem
Acompanhe o repórter
e veja esta e outras
sendo o acordo definitivamente firmado,
inclusive com a assinatura do advogado
trabalhista Almir Pazzianoto, que acom-
panhou o processo.
Existe um amplo consenso nos meios
políticos em São Carlos de que a luta
contra a CBT teria que ser árdua em
qualquer circunstância. "São Carlos é um
feudo", afirmou um militante do Partido
dos Trabalhadores da cidade. E o senhor
desse feudo seria justamente Ernesto Pe-
reira Lopes, irmão do presidente da CBT
e ele mesmo proprietário da outra gran-
de empresa da cidade, a IPL (Indústrias
Pereira "onde tematé - cadeado
nas torneiras para os operários não
tomarem água fora de hora" A família
teria interesses em outras empresas além
de controlar um bom número de empre-
sas menores (Ernesto Pereira Lopes, que
foi presidente da Câmara Federal durante
Ogoverno Médici, foi também responsável
pela instalação na cidade da Universi-
dade Federal).
Como São Carlos tem cerca de 8.500
operários metalúrgicos, a família Pereira
Lopes emprega uma considerável parcela
da categoria na cidade. E o sindicato
assim teria que se erguer contra uma
força poderosa. Para alguns trabalha-
dores, o presidente Antônio Cabeça Fi-
lho, no entanto, favoreceu a posição da
empresa. Diz um operário (ex-funcioná-
rio da CBT) e militante do PT:
- O Cabeça só fez a reunião no sindi-
cato porque já tinha dito que era preciso
fazer uma votação secreta. Ele depois foi
pressionado por alguns operários. O Ca-
beça tinha que fazer a reunião porque ele
é candidato a prefeito pelo PMDB na
próximaeleição (ele é vice-presidente do
PMDB local). Ele tinha prometido fazer
uma campanha de fundos para alimen-
tação dos despedidos, mas não fez, não
fez nada para mobilizar os operários... .
- O nível de consciência dos trabalha-
dores - continua - é muito baixo mes-
mo. Mas o Cabeça é secretário-geral da
Federação. Veio de lá "mandado" para
fundar o sindicato em 60, 62 e está aí até
hoje. Ele é amigo e "braço direito"" do
Joaquim (Joaquim Andrade dos Santos,
presidente do Sindicato dos Metalúrgi-
cos de São Paulo). Nas eleições que teve
aí nos sindicatos do interior, ele estava
em todas, como "enviado" da Federa-
ção, "vistoriando". Em São Carlos nun-
4. 3 14i / Lile
MOVIMENTO 8 a 14/6/81
geoa
Ro de.
aa
história de uma
redução da jornada de
de Movimento pelo
tristes histórias da crise.
ca houve oposição - a não ser uma
tentativa, uma vez - porque ele não
deixa. Existem velhos operários da re-
gião que tentaram opinar dentro do sin-
dicato e ficaram desiludidos, rasgaram
suas carteiras de filiação. Recentemente,
alguns grupos tentaram participar (in-
clusive eu mesmo), mas foram todos
demitidos nas fábricas, porque o Cabeça
trabalha junto com o Departamento
Pessoal.
Segundo a vereadora Mírian Schiel
(PT), os operários foram "compelidos" a
assinarem abaixo-assinado "sob ameaça
3)
-- deseremdispensados"";-Avotação secre-- ''''Essas informações ainda não parecem " apósoacordo,voltou ao normal, naCBT-
ta, segundo ela, não merece confiança,
de vez que foi realizada "sob a mira de
tantas pessoas a favor dos patrões". En-
fim, o argumento usado pela empresa
agora, diz ela, é o da divisão dos prejuí- dos trabalhadores em São Carlos.
zos, mas "na época do florescimento
econômico desta empresa nunca se falou
na participação nos lucros pelos traba-
lhadores". E acrescenta: "pelo contrá-
rio, a empresa investiu seus lucros em
obras faraônicas, como demonstra a e-
xistência de um grande aeroporto par-
ticular para os executivos da CBT".
Como em Limeira, onde os presidentes
dos três principais sindicatos (Metalúr-
gicos, Alimentação e Calçados) são
membros do PT, também em São Carlos
o trabalho dos partidos junto aos traba-
lhadores parece ser mínimo. O presiden-
te do diretório do PT em Limeira, José
Lombardi, diz que o trabalho do partido
é feito principalmente através dos sindi-
catos, sendo difícil uma aproximação
maior com os operários. O presidente do
PMDB local, Pedro Bom, além da posi-
ção oficial do partido, contrária às redu-
ções de jornada admite também que não
existe nenhuma proposta concreta de
luta contra elas.
O presidente do PMDB de São Carlos,
Celso Augusto Soares, membro do Con-
selho de Redação do Hora do Povo e que
apóa Antônio Cabeça Filho, considera
no, entanto, que o sindicato "comeu bar- - Quando o pessoal viu já tinha até despedir 5% do seu quadro por mês. Os
riga" na questão da redução. Ao contrá-
rio do sindicato, ele considera que havia quela reunião já tinham decidido tudo,
condições para se convocar uma greve,
para mostrar à empresa, inclusive, que
"ela também saiu perdendo com á redu-
ção", porque esta "significa entrar com
os dois pés na recessão", de onde só as
uno
redução de salários,
trabalho?
interior de São Paulo,
grandes empresas e multinacionais sai- de "autocoação", porque estava todo
rão com vantagem "". mundo com medo. Teve um empregado
Mirian Schiel, que não trabalha junto que resolveu votar "sim" e assinar a
com o sindicato devido à discordância do cédula - "porque se o "não" ganhar,
PT com sua forma de conduzir a luta dos pelo menos a empresa sabe que votei
trabalhadores, afirma no entanto que o pelo "sim".
seu partido vem realizando uma panfle-
tagem bastante regular e abrangente
junto às fábricas informando inclusive Operários ficaram
sobre a luta dos trabalhadores, como na
sabendo da votação
Volks de São Paulo, onde os operários se
opuseram com sucesso à redução da dois dias antes...
jornada, e mais recentemente, sobre a
greve na Fiat Diesel do Rio de Janeiro.
Os operários dizem que a produção,
ter atingido os trabalhadores, segundo um e na Cardinale.
grupo de operários da CBT e da Cardi- Em Limeira, a Vigorelli não se deu
nale (produtora de tubos de plástico), que sequer ao trabalho de recorrer ao sindi-
acha muito baixa a disposição de luta cato. Conforme um dirigente sindical,
comentava-se na empresa que a redução
- tinha-por-objetivo-simplesmente-""apro-- -.
Tanto na CBT. como na Cardinale - A),
veitar a maré": "Está todo mundo apro-
onde também foi assinado um acordo de
veitando, por que só nós vamos ficar de
redução -- os operários só ficaram sa-
fora?".
bendo do plebiscito um ou dois dias
Os trabalhadores, enquanto isso, es-
antes. Alguns deles só souberam através
tão "completamente abandonados",
da convocatória nos jornais. Nenhum
entregues à sua sorte, na palavra de um
deles tinha a menor idéia do que fosse
operário. Um advogado fez uma pe-
um representante dos trabalhadores. Os
quena análise do contrato com a Cardi-
operários da Cardinale dizem que o acor-
nale, que poderia comprovar essa afir-
do saiu depois de uma reunião entre
mação.
representantes da fábrica, do sindicato e
Primeiro que a data de validade
dos trabalhadores; mas que estes últimos
do acordo toi fixada em 1o de junho,
foram escolhidos de passagem pelo chefe
deixando a empresa livre para despedir
de seção. ..
quem quiser a partir do dia 20 de maio,
A Cardinale, como a CBT, também
quando se deu a redução de salário. A
começou despedindo em março uma boa
renovação do contrato por mais um mês,
parcela de seus empregados. Suas alega-
independe de assembléia, podendo ser
ções: os operários que mais incorriam em
acertada apenas com o sindicato. Como
baixa produção, atrasos, faltas etc., ti-
condição de volta à normalidade, a Car-
nham que ser despedidos, coisa que nun-
dinale estipula uma produção de mil
ca havia feito antes. De cerca de 800
toneladas por mês e a manutenção do
empregados, ela despediu 130, Repenti-
estoque em 500 toneladas - só que o
namente, no final do mês passado, afir-
estoque já está em 1800 toneladas, e com
mou que tinha em mãos uma lista de
uma produção de mil toneladas ao mês,
mais 300 funcionários - "ninguém sa-
já difícil com as horas de trabalho redu-
bia quais" - e que estes seriam despe-
zidas, será quase impossível reduzir o
didos. A menos que se aprovassé um
excesso de produção. Mesmo com o
acordo de redução de jornada.
acordo, a empresa se arroga o direito de
contrato pronto! diz um operário. Na- operários da produção perderam o quar-
to turno, onde ganhavam 20% a mais do
porque o sindicato só diz "sim senhor". seu salário. E como esse adicional pode
Mas nossos "delegados" não eram com- facilmente ser caracterizado como inte-
petentes para discutir a proposta. E nin- grapte do salário, isso quer dizer que
guém sabia que eles eram delegados estes operários serão reduzidos em 45%
nossos. Ninguém escolheu. Eles sofriam de seus vencimentos!
 . BRDFANBSB V8.GNC.AAA,

MOVIMENTOS POPULARES

JUSTIÇA DO TRABALHO POSSEIROS TRABALHADORES

Na Fiat e na McLaren O governador Uma estratégia

os trabalhadores
entre a crise contra o

e o judiciário desemprego

continuam em greve Por ter determinado a suspensão de um

mandado judicial contra 128 famílias de
Com o objetivo de absorver dados e ele-
mentos informativos a respeito do desem-

Outravezacena seemrepetiu: Osram operários da Fiatdatfica-ar-

posseiros, no município de Araputanga, o prego, sistematizar tais contribuições e ten-

peões da Fiat, greve porl á até ofinal

governador Frederico Campos, do Mato tar traçar, junto às demais categorias, uma

asdesde4 de maio,e a ocuparam de, aguardando o término

Grosso, está não só ameaçado por um estratégia comum, desde o interior das fá-

escadarias rua fron- dojulgamentodocasoMac-

"impeachment", já apresentado na Assem- bricas até o nível parlamentar, foi realizado

teiraao prédio onde funcio-do Laren. A grevedodosestaleiro

1.400
bléia Legislativa, como também está sendo nos dias 30 e 31 de maio o 1o Seminário So-

naTrabalho
o Tribunal Regional trabalhadores
acusado de "subversivo e revolucionário". bre Emprego, promovido pelo Sindicato dos

(TRT), no Rioo jul-de filegal

oi considerada totalmente
Tal acusação lhe foi feita pela deputada Sa- Químicos do Estado de São Paulo.

Janeiro. Aguardavam pelo TRT. O estopim

rita Bacart, do PP, baseada numa represen-

gamento do mérito de suas da greve fora a instituição,

tação entregue pelos juízes da comarca do O Seminário promovido pelo sindicato

vereivindicações, jáqueagre- por partededavariadasempresa,coresde

município de Cáceres, Mário Ateye e Juran- dos químicos considerou como fundamen-

havia sido considerada cartões

dir Florêncio. O governador, após uma con- tais as seguintes medidas econômico-so-

legal. Ao doladoestaleirodeles, MacLaren,

os de7 queos operáriosserãoobri-
sulta a Brasília, suspendeu uma diligência ciais, para que se conquiste a efetiva esta-

operários Nite- gados a usar, para qualquer circulação

judicial de despejo contra os posseiros, que bilidade no emprego: a estatização do setor

raóilegalidade
, também daaguardavam julgamento sobre dentro da fábrica. Cartãovermelho paraetc.ir
anteriormente já tinham reagido à bala, con- financeiro como forma de dirigir os investi-

greve que mantêm desde o àenfermaria; amarelo, para o banheiro

tra tentativas de expulsá-los de suas ter- mentos sem encarecê-los; a necessidade de

diaO21primeiro
de maio.julgamento foi o da Fiat. O Além disso protestavam contra a punição
ras. uma reforma tributária através da adoção de

que receberam em fevereiro em decorrência

A decisão do governador Frederico Cam- impostos que venham a gravar as grandes

mesmotribunal que haviadeclaradoagreve deTerminada

paralisaçãoa porconcentração,
uma hora. os operários
pos criou um conflito entre o Poder Executi- rendas; a necessidade de se renegociar a

legal agora,julgandoo méritodas reivindica-

vo e o Poder Judiciário do Mato Grosso, dívida externa; controle da automatização

ções no(readmissão dos demitidosimproceden-

eestabilida- danasexta-feira,
Fiat foram preparar o piquete decididosa
que fariam
uma vez que este poder, insensível á ques- da indústria e da agricultura; a adoção de

detes,emboraagrevecontinuassesendolegai.
emprego) considerou-as diantedafábrica,
tão social, deu ganho de causa aos fazen- uma política de produção que vise essen-

nãoOsdeixar ninguémdaentrar.MacLaren realizaram

deiros e mandou expulsar as 128 famílias cialmente ao consumo interno; a adoção de

DessaformaoTRTempurrouadecisão para trabalhadores

das fazendas "Alvorada", "Xavante", "São uma política de fixação do homem no cam-

oTribunal Superiordo Trabalho.indignada.

A resposta uma assembléia noe decidiram
Sindicato voltar
dos Metalúr-
José da Promissão" e "Rancho Grande". A po e a estatização de setores fúndamentais,

dosoperáriosfoi imediatae Luiz gicos de Niterói aonovostra-

atitude do governador foi tomada a partir do tais como: educação, transportes e sanea-

Paulo Giannini, líder da greve, falando nas balho, mas, prosseguir na luta com
momento em que o deputado Márcio Lacer- mento básico.

escadarias do TRT aos perguntou:

quase mil trabalha- métodos, desmoralizando o cartão de cir-
da, do PMDB-MT, lhe fez ver a gravidade do

doresqueaguardavam, "Alguém
Analisando a questão do fenômeno do

culação paranãopermitirsua institucionali-

conflito social. Após ter recebido um tele-

aceita voltartrabalhadoresem
ao trabalho?" "Não" foiE alia aca-res- zaçãoenãoaceitando
desemprego no momento atual, o seminário

nenhumanegociação
fonema do Ministério da Justiça, Frederico

postados coro.
não chegou a uma conclusão precisa se a

sobreos
ralisados. O resto da categoria,porestarem
diasque perderam pa-
Campos não teve outra atitude: chamou o

bou acontecendo umapeõesassembléia improvi-sin- darámeiodiadetrabalhodo

atual crise atingirá ,os principais ramos da

em Niterói,
comandante da 4a Companhia Independen-

sada, onde falaram e dirigentes salário decada

te da Polícia Militar, sediada em Cáceres, economia ou se ficará localizada no setor

dicais.
automobilístico e de eletroeletrônica. Fo-

um para compensar os dias perdidos pelos

determinando que o oficial suspendesse o

Sebastião Athaide, presidente do possi-

Sindi- zando
ram apresentados, entretanto, alguns dados

operáriosum dafundoMacLaren. E já estão organi-

cerco policial à área em conflito.

cato dos Rodoviários, informou da

importantes sobre a situação da categoria

de grevelutas.permanente, pre-
Os juízes Mário Ateye e Jurandir Florên-

bilidade de greve dos motoristas nesta se-

química. Nos municípios que compõem a

parando-se para outras

cio tentaram explicar ao governador que sua

mana. Roberto Martins, do Rio de Janeiro.

atitude estava "desmoralizando o poder que Grande São Paulo;, mais da metade dos tra-
representamos". Mas Frederico Campos balhadores das indústrias químicas, farma-
não transigiu e disse aos dois juízes: "dian- cêuticas, de perfumaria, sabão e velas, não

. Campanha dos Cr 6 milhões para Movimento

te da desmoralização do poder judiciário e a conseguem atravessar um ano de trabalho
solução de um problema de ordem social, na mesma empresa. As rescisões de contra-
eu fico com o segundo". Em função do con- tos homologadas pelo Sindicato dos Qui-
flito, os dois magistrados decidiram fechar micos entre os meses de janeiro a abril, que

Falta 1,9 milhão

o fórum de Câceres e, através de seus advo- haviam diminuído em 17% entre 1979 e
gados, entraram com um pedido de "impea- 1980, aumentaram este ano de 14,5%, ten

paraA parte
do diminuído também a geração de novos

repormais difícil da deixadoscampanha de Movimento

chment" na Assembléia Legislativa.
O conflito entre o governador e o poder empregos (ver quadro ao lado).

os prejuízos
pelos atentados
terroristas nas bancas de jornais, já foi superada. || 6 milhões
judiciário repercutiu na Assembléia Legis-
lativa, que se encontra dividida diante do fa-
to. O PDS apóia incondicionalmente a ati-
tude do governador, enquanto o PP coloca-
O seminário debateu também a postura
da FIESP, que aparentemente tem denun-
ciado a situação de desemprego e suas
Mas ainda nos falta um bom peaaço para garantir se do lado dos juízes. Já o líder do PMDB, conseguências para o setor secundário da
deputado Dante de Oliveira, considera que o economia. Debateu-se, particularmente, até
que Movimento não se calará. Por isso é mais do seu partido conseguiu o que era fundamen- que ponto a situação de desemprego dos
i 5 milhões
que nunca importante a colaboraçao dos leitores. tal: evitar a expulsão dos posseiros, "não trabalhadores não estaria sendo usada co-

faça uma assinatura de apoio.

Contribua com qualquer quanna que você puder ou mo meio de pressão para a obtenção, por
( 4 milhões
importando a forma que o governador utili-
zou para isso". Para Dante Oliveira, o gover- parte dos empresários, de benefícios gover-

RESULTADOSDA7a semana
namentais.
|| nador "talvez esteja se penitenciando pelos

| 3 milhões
erros cometidos contra os posseiros". Um

Doaçõesdeacionistas
indicativo da mudança da atitude do gover- Sobre tal questão, o seminário

Doaçõesdel eitores
no federal no tratamento de conflitos de posicionou-se favorável à adoção de um

Assinaturasdeapoio
2.219.000,00 * terras em áreas profundamente tumultuadas "salário-desemprego". desde que seiam ob-

Vendadequadros
619.200,00 é o fatode queo INCRA estáprovidencian- servado os seguintes critérios: deverá ter

Doaçãodediscos
f ae 2)
1.123.300,00
| 2 milhões do a desapropriação da área ocupada pelas como Tonte geradora a contribuição das

Total
100.000,00 128 famílias do município de Araputanga. empresas; tal contribuição não poderá ser

Totaldasemanaanterior
23.000,00 (José Calixto de Alencar, de Cuiabá). repassada para o produto final; a renda de
4.084. 500,00 diversas loterias deveria também ser fonte
3.500.700,00 geradora do "salário-desemprego"; e,

tremularmaisalto.
Mude-nos a chegar 20 topo. A bandeira da imprensa independente precisa
PARTICIPE!
finalmente, a administração dos fundos obti-
dos para o "salário-desemprego" deverá ser
exercida exclusivamente pelas entidades
sindicais. (José Eli Veiga)
«Está marcada para o dia 26 de junho,
às 18:30 horas, na Praça da Sé, em São
Paulo, uma concentração de trabalhado—

| Esta voz vai falar mais alto, res em protesto contra o desemprego. A
manifestação está sendo convocada pe-
lo Sindicato-dos-Metalúrgicosde-São3 -
| Para isto estou enviando Cr$ , , , ,...... u...... Bernardo e outros sindicatos paulistas.
7777777|-) Cheque rrennnalfmarwmí"1-Grdem depagamento --------- |- ValePostal em nome de ---" tá 777777<-- Sete-cartunistas-em exposiçar':
Edição S/A. Editora de para Edição S/A Eaição S/A, Editora de Agostinho Gisé, Alcy, Jaime Leão, Jota,
| Livros Jornais e Revistas conta 13007/9, Bradesco, Livros Jornais e Luiz Carneiro, Marlene, Paulo Caruso; a
Ag. Vila Clementino, Revistas. Rua Dr. Virgílio partir desta terça—feira no bar Velha Bor-
São Paulo. de Carvalho Pinto, 625, | ba Gato, rua Virgílio de Carvalho Pinto
São Paulo, SP. CEP: 05415 605, PInheIFOS São Paulo.
1
Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento * O filme "Greve", de João Batista de
Nome Andrade, que aborda o movimento gre-
vista do ABC em 1979, será exibido no
próximo domingo, dia 14, no Sindicato
Para isto estou enviando o pagamento de 3.200,00 auravés de dos Têxteis (Rua Oiapoque 80, no
Brás). Em seguida haverá uma palestra
| [] Cheque nominal [] Vale Postal CJ Ordem de Pagamento |
sobre o tema "O que é Sindicato".

MOVIMENTO 8 a 14/67/81

EM AÇÃO
O tenente-coronel do Exército Sebas-
tião de Moura, também conhecido por
"major Curió" desde que atuou como
oficial de informação durante a guerrilha
do Araguaia, acrescentou à sua folha de
serviço prestados ao regime militar uma
nova missão bem inglória: às vêsperas
da eleição para a diretoria do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Conceição
do Araguaia, foi enviado à região para
trabalhar como cabo eleitoral do inter-
ventor e candidato a presidente Bertoldo
Siqueira. Como **cabo"*, o outrora "*"ma-
jor" percorreu em helicóptero do Exérci-
to as principais cidades e povoados do
município paraense, distribuindo bom-
bons, ameaças e promessas. Mas apesar
de Bertoldo ter sido eleito num pleito
cheio de fraudes e pressões realizado no
dia 25 de maio, o "major" não parece
ter-se saído muito bem da missão, pois
no Baixo Araguaia, região onde atuou
durante vários anos e onde se acreditava
que sua influência fosse maior, a chapa
de oposição ganhou as eleições e Bertol-
do recebeu apenas 7 minguados votos.
--- - A-intervençãodiretadeumoficial do- --------
Conselho de Segurança Nacional na vida
interna de um pequeno sindicato rural
não foi a únicá arbitrariedade ocorrida
nessa disputada eleição. O Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Conceição do
Araguaia está sob intervenção desde
1976. Naquele ano, a diretoria que havia
organizado o sindicato e era formada em
geral de trabalhadores pouco experientes
foi acusada de várias irregularidades e
afastada pelo Ministério do Trabalho.
Em seu lugar, foi posto um grupo de
péssima fama, encabeçado por Bertoldo
Siqueira de Lira, ex-pracinha da FEB na
Itália e posseiro rico do município, onde
já se envolveu em casos de grilagem e
possui hoje, segundo versões correntes
na região, aproximadamente 400 alquei-
res de terra. Bertoldo e seu grupo trata-
ram de manter o sindicato em banho-
maria, prestando apenas algum serviço
médico e dentário a pequeno círculo de
de forma
sócios e não se preocupando
alguma em apoiar as lutas pela terra,
que cresciam em toda a região.
Mas à medida que essas lutas se es-
tendiam, os posseiros foram compreen-
promo
""Gringo"", candidato
da chapa de oposição,
sequestrado e morto.
o
dendo a necessidade de se unir e orga-
nizar melhor e começaram a pressionar o
sindicato para que assumisse a defesa
dos trabalhadores, ampliasse o número
de sócios e democratizasse seu funciona-
mento. Foi assim, sobpressão, que a di-
retoria criou delegacias sindicais em vá-
rios povoados e acabou convocando elei-
ções no começo de 1980. Os lavradores
mais combativos trataram de formar
uma chapa de oposição, a Chapa 2, en-
cabeçada por Raimundo Ferreira Lima,
conhecido entre seus companheiros por
Gringo. Veio, então, a primeira medida
sanguinária contra a Chapa 2: quando
voltava de São Paulo, onde fora parti-
cipar de um encontro de oposições sin-
dicais, Gringo foi sequestrado e morto
por pistoleiros no dia 29 de maio de
1980, em Araguaína, no Estado ' de
Goiás. $ do-lhes o direito de votar. Enquanto isso,
"MOVIMENTO 8,a 14/6/81,
u No BRDFANBSO Va.GNG
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA/ELEIÇÓES
Por Duarte
Pereira
Os pelegos
do Araguaia
e seu cabo
eleitoral
do Conselho
de Segurança
Nacional
& 7777777777Nacomemoração
Mas, ao contrário do que poderiam
estar imaginando fazendeiros, grileiros e
policiais, o assassinato não desarticulou
a Chapa 2. Davi dos Perdidos substituiu
Raimundo Gringo como candidato a
presidente e na eleição, afinal realizada
no dia 29 de junho de 1980, a oposição
saiu vitoriosa. No entanto, a diretoria se
recusou a colocar urnas na maioria das
delegacias; no sul do Pará as distâncias
são enormes e os meios de transporte
precários e caríssimos; assim, o número
de votantes não atingiu o quórum mi-
nimo exigido por lei. Como outras irre-
gularidades haviam sido cometidas pela
diretoria, a Delegacia Regional do Tra-
balho, com astúcia, anulou todo o pro-
cesso eleitoral. Passou quase um ano até
que nova eleição fosse realizada.
Nesse intervalo, o governo federal
criou o GETAT (Grupo Executivo de
Terras do Araguaia e Tocantins), após a
grande manifestação de Xinguara. No-
vos coronéis do Exército e agentes da
Polícià Federal foram enviados para a
região. E o advogado Sérgio Guimarães,
um dos organizadores do PDS no munici-
pio, passou praticamente a dirigir o sin-
dicato. Pouco a pouco, foi ficando claro
que um plano estava sendo executado
para inverter a qualquer preço, o resul-
tado eleitoral.
Em primeiro lugar, foram destituídos
os delegados sindicais independentes ou
alinhados com a oposição. Em segundo
lugar, foi modificado o sistema de co-
brança de mensalidades, com a criação
de carnês especiais, que a diretoria pas-
sou a não enviar em quantidade sufi-
ciente para as delegacias supostas de
oposição; o objetivo era, como ficou cla-
ro em seguida, impedir que os sócios
mais conscientes se quitassem, retiran-
)
AAA O NA C
da e Mu roer va
URIO
cionários do GETAT. Quem esteve em
Conceição nas vésperas do pleito, pôde
observar que as decisões mais importan-
tes eram tomadas por coronéis do Exér-
cito, agentes da Polícia Federal e pelo
«fotos de Nair Benedicto/ Agência F4
advogado Sérgio Guimarães; Bertoldo se
limitava a andar de uma sala para outra,
servindo cafezinho a seus chefes. Por is-
so, os trabalhadores passaram a chamá-
lo, com desprezo, "Bertoldo-Boneco".
A chapa de oposição ainda, tentou
depositar em juízo as mensalidades re-
cusadas pelo sindicato mas, por uma
manobra do cartório, não o conseguiu.
Enquanto isso, a diretoria alistava ile-
galmente novos sócios, com datas atra-
sadas. E no dia da segunda votação,
viaturas oficiais, com base em listas do
Funrural, chegaram a recolher em casa
velhos aposentados para votar.
Cartazes e panfletos bem impressos
tpor quem?)foram espalhadosnaregião,---
de um ano da morte com as acusações mais torpes à Chapa 2
de "Gringo", a e à Igreja Católica. Poucos dias antes do
presença de d. Balduino, pleito, a Polícia Federal tirou a Rádio
d. Casaldálliga. Diocesana do ar, alegando falta de re-
gistro no Dentel; enquanto isso, a Rádio
Nacional de Brasília, muito ouvida na
região, divulgava diariamente notícias e
comentários favoráveis à Chapa 1. Agen-
tes federais percorreram os povoados
ameaçando os posseiros de não recebe-
rem títulos de terra se votassem na opo-
sição. Finalmente, nos dias 23 e 24, o
"major-cabo Curió" fez comícios em
a diretoria aliciava novos sócios eritre Conceição, Floresta, Rio Maria, Xingua-
ra e Mata Geral, prometendo títulos de
peões de fazendas de gado e empresas
madeireiras, entre garimpeiros controla- terra e catas de garimpo em Serra Pelada
e Cumaru para quem votasse em Bertol-
dos pela Polícia Federal e até entre moto-
ristas de táxi. do. em São Geraldo, "Curió" apareceu
A polícia intensificou também as pres- no próprio dia da eleição, conversando
sões contra outros setores sociais que com pequenos grupos e jogando, como
apoiavam a chapa de oposição. No come- de praxe, bombons para a criançada.
Ao cabo dessa verdadeira guerra de
co de abril, três posseiros foram presos,
levados para a fazenda de um grileiro e vários meses, a chapa de Bertoldo obteve
torturados para acusarem o padre Aris- 1.032 votos e a chapa de Davi dos Per-
tides Camio, vigário de São Geraldo, o didos, 684. Mas calcula-se que, ao todo,
advogado Paulo Fontelles, da Comis- 600 sócios, dos mais antigos, foram im-
são Pastoral da Terra do Araguaia e pedidos de quitar-se e votar, enquanto o
Tocantins, e Oneide Lima, agente pas- sindicato inscreveu ilegalmente outro
tanto de "sócios" novos. Assim, os la-
toral da diocese e viúva de Raimundo
Gringo, de serem mandantes de várias vradores da região estão certos quando
invasões de terras e execuções de pisto- comentam que Bertoldo levou, mas não
leiros e grileiros. Com base nessas "pro- ganhou.
vas'' forjadas, o promotor de Conceição E em todas essas arbitrariedades, o
solicitou a prisão preventiva dos três, pe- governo elevou o nível de revolta e cons-
dido ainda não julgado. ciência política em toda a região, como
demonstrou a tocante comemoração do
o aniversário da morte de Gringo, realiza-
da no dia 29 demaio em. Itaipavas, o
Pelego ganhou com
povoado;onde ele morava. Comparece-
ram aproximadamente 500 lavradores,
trapaça e repressão,
representantes das comunidades do mu-
nicípio. Vieram também delegações de
mas não vai levar... Marabá, de Goiás, de Mato Grosso. Foi
a concelebrada uma missa por dom Tomás
Além disso, no próprio dia da eleição, Balduino, de Goiás Velho, dom Pedro
10 de maio, a diretoria se recusou a en- Casaldáliga, de São Félix, e frei Henri-
viar a urna de São Geraldo, no Baixo que, representando o bispo de Concei-
Araguaia, embora ela estivesse prevista ção, que se encontra enfermo em Goiá-
no edital de convocação. Apesar de tudo, nia. Depois, foi feita uma procissão até o
segundo dados ofíciosos, a chapa de túmulo de Gringo, onde sua viúva Onei-'
oposição saiu novamente vencedora; no de com seus seis filhos pequenos deposi-
entanto, como o quórum mínimo não foi taram uma coroa de flores. Por fim, foi -
atingido, novo escrutínio foi marcado realizado um ato público, quando fala-
para o dia 25 de maio. ram líderes das comunidades de base,
AÍ é que as pressões se tornaram bru- membros da chapa de oposição, um ve-
tais. O sindicato foi praticamente toma- reador local, o advogado Paulo Fontel-
do por agentes da Polícia Federal e fun- les e, finalmente, a brava Oneide Lima.
 BR DFANBSa V8.GNC.AAA. -

CENA BRASILEIRA

I - O inferno

dos Sem-Terra

Um corredor de miséria, em Ronda Alta, RS.

Vera Flores e Sérgio Weigert

"O preço da paz é terra e justiça para
todos". Esta faixa, sustentada por duas
estacas de bambu, demarca o Centro do
acampamento dos colonos que, na beira
da estrada, há mais de três meses, aguar-
dam, no município de Ronda Alta (300
quilômetros de Porto Alegre), o cumpri-
mento das promessas de distribuição de
terras feitas em 1978, pelo governo do
Estado do Rio Grande do Sul.
Em torno se estendem os barracos. Te-
tos baixos de capim, de lona plástica e,
no melhor dos casos, de telhas de pape-
lão, se prolongam por dois quilômetros,
abrigando 2.500 pessoas. Uma singular
fila indiana, onde os barracos pratica-
mente se amontoam uns sobre os outros,
nos escassos metros que separam as pro-
priedades cercadas pelo arame farpado,
da RS 324, que conduz a Passo Fundo, a
única cidade próxima com recursos mé-
dicos e hospitalares. A primeira dessas
propriedades-Éé-a- granja-Macali--com
1.500 ha, na beira da qual os colonos se
encontram acampados agora. Ao longo
dos 76 quilômetros que os distanciam de
Passo Fundo, existem apenas outras
duas propriedades. As primeiras tentati-
vas de invasão foram prontamente repri-
midas pela Brigada Militar. Apesar dis-
so, os colonos afirmam que "era preciso
tentar, pois toda aquela terra ali, verdi-
nha, dando água na boca, e a gente sem
nada, era até uma injustiça". Depois a
mento dos outros, mas todos sofrem mais
ou menos igual". Salvador Pinheiro, fala
pausado, sem nenhuma nota trágica na
voz, aspirando forte o palheiro para avi-
var a brasa ameaçada pelo vento. Ele é
um dos mais recentes moradores do
acampamento. Sua história é quase ré-
plica das demais. Até chegar aqui onde,
com capim e taquara, construiu também
um barraco, andou de cá para lá, arras-
tando seus 4 filhos, conseguindo biscate,
na melhor das hipóteses trabalhando de
agregado. O que juntou neste tempo to-
do, não foi suficiente sequer para com-
prar alguns metros de lona plástica gros- Ao lado de terras ociosaso medo da morte por subnutrião
sa, que cobre alguns barracos. Quando
chove, Salvador, simplesmente, acocora- inutilmente. tinua sendo bebido, "lavado e relavado"
se com a família no canto mais seco do Inutilmente também os colonos já via- porque a erva-mate é escassa. A cruz de
barraco, e permanece com um cobertor iaram três vezes a Porto Alegre. Ouviram pau a pique erguida ao lado da faixa
sobre os ombros à espera deque cesse o as promessas dos políticos e do governa- exigindo terra e paz, indica, no cotidiano,
aguaçeiro. dor, Amaral de Souza, inutilmente. a extensão da tragédia: os lençóis bran-
As doenças se multiplicam. Os próprios No acampamento, nestes dias que pre- cos que a envolvem simbolizam as crian-
médicos nomeados pelo_governoeeeaido Es- teia (mezoconcedido à auto- --cas.que morreram,
N .AISNOSICA
admitem que o "círculo vicioso que se
faz-se a
repartição dos alimentos, distri- queiros"" não se encontra nestes repeti
formou é muito difícil de ser rompido bui-se as tarefas do dia, lê-se as notícias dos sinais do dia-a-dia, mas num breve
Todas as doenças, segundo ele, têm ori-
sobre a situação. Até mesmo a fumaça provérbio popular: "para que está no in-
gem nas péssimas condições de moradia que persiste, todo o dia esfiapada sobre ferno, o que custa abraçar o demônio?"
e na desnutrição generalizada, não se
os barracos indica que o chimarrão con- .ahrmou
constltumdo portanto propriamente em
"casos médicos".
A confirmar isto, o acampamento é po-
II - Invasão dos latifúndios:
voado por quase 2 mil crianças, de perna
finae barriga em ponta, sinal inequivoco
""só sairemos mortos de lá?
da vcrminose. Não há leite de espécie al-

pé das áreas em
lmglo
"Ninguém pode medir quanto é o sofri-
Jair Krisch: a redescoberta
da dignidade
Jair Krisch, do Movimento de Justiça
e Direitos Humanos de Porto Alegre,
acompanha o Movimento dos Sem-Ter-
ra desde a sua formação. Ele localiza o
problema num projeto que vem sendo
implantado no país, controlado pelas
grandes empresas multinacionais, e
que tem como estratégia a produção
de monoculturas em larga escala para
exportação. Assim, o Brasil seria um
ponto central para os grandes monopó-
lios estrangeiros por ter imenso poten-
cialfundiário. "O mundo passa fome",
| acrescenta. e o alimento será a vedete
da nossa década, assim como o petróleo
foi na de 70".
Dentro desse projeto os Sem-Terra e
minifundistas foram excluídos, porque
a produção de monoculturas exige
grandes áreas para o plantio e com in-
tensa mecanização. Então, não seria o
caso de fracionar a terra, mas ao con-
trário, mantê-la em médias e grandes
áreas produtivas.
Dessa forma, este "fabuloso" projeto
consegue, ainda, mais duas vantagens.
A primeira é que mantendo pequenos e
con ammada e umaçudepr:óximo. Na
expectativa, pelo menos, de iludir o pala-
dar as mães misturam açúcar à água,
médios produtores aumenta o mercado
de consumo para suas mercadorias.
Hoje, apenas 15% da população brasi-
leira compõem este mercado e a pró-
pria construção de tantas barragens pe-
lo país afora, despejando milhares de
minifundiários,visa à eletrificação para
possxbthtar maior consumo. A segunda
vantagem"apontadaporJairéqueestes
camponeses que perdem 'suas terras
formam o exército de mão-de-obra das.
grandes cidades, contribuindo de for-
ma decisiva para baixar os salários dos
operários.
Reflexo de toda essa situação, o
acampamento dos Sem-Terra, na opi-
nião de Jair Krisch, se tornou um pro-
blema para o governo porque os colo-
nos resistem em não endossar uma ro-
tina que já era considerada "natural"
para eles. "O novo deste problema é
que estes agricultores redescobriram a
própria dignidade de nào querer se trans-
formar em sub-homens. E inacredi-
tável que ao se apagarem as luzes do sé-
culo XX ainda persistam condições tão '
desumanas de vida", finaliza Jair. (V.F.
e S.W .) +
ermina sexta-feira o prazo dado pelo
2.500 Sem-Terra. Ou o governador cede, mento".
ou as terras das proximidades serão in-
vadidas. Essa promessa, feita na semana
passada quando sepultavam uma meni-
na de quatro meses, a terceira vítima em
dois meses, da subnutrição, também veio
junto com um recado: a próxima criança
que morrer será enterrada dentro do Pa-
lácio Piratini.
A tensão social entre os agricultores co- ganhando um salário mínimo. Mesmo
meçou a se agudizar em 78 quando 1.100 que a fome, o frio e a falta de mínimas
famílias foram expulsas da Reserva Indí-
gena de Nonoai. E, negando-se a rumar
para as cidades, passaram a se organizar cultores se alistaram e acabaram desis-
para reivindicar terra. Nestes anos, mui-
tas destas famílias ficaram perambulan-
do pelas estradas à espera do cumpri-
mento da promessa recebida: reassenta-
mento. Aos poucos, perdendo a esperan-
ça, tomaram medidas mais decisivas, co-
mo a invasão da Granja Macali - pró-
ram expulso
Militar. Se faltou experiência e astúcia a
estes colonos quando fizeram esta pri-
meira invasão, agora, dois anos depois,
estes dados jáse som: m na grande dis-
posição em que eles estão.
Acostumados com a presença de polí-
ciais no acampamento, eles sabem a re-
pressão que sofrerão quando invadirema
área. Como diz Raul de Vargas, 30 anos,
três filhos, da comissão dos sem-terras:
"Nós invadiremos os latifúndios da
região e só sairemos mortos. a nossa rei
vindicação é uma só: terra para traba-
lhar que pagaremos atravé de financia-
Vestindo roupas surradas, todas doa-
das pela campanha de solidariedade que
se desenvolveem todo o Estado, estes agri-
cultores já deram uma mostra do que
pretendem. Há poucos dias, o governo
montou uma barraquinha ante o acam-
pamento para inscrever os que quisessem
trabalhar em fazendas experimentais,
condições/desobrevivência fossemum pro-
blema comum a todos, apenas seis agri-
tindo depois.
"A reforma agrária só está no papel
agora tem que ser feita pelo povo", repe-
tem eles frequentemente referindo-se ao
Estatuto da Terra, que agora estudam pa-
ra saber onde a lei os protege.
Por trás da indiferença do governo gaú-
ser usado: a exportação de colonos para E
o Mato Grosso. Só que dessa vez os colo-
nos se "apreviniram". Todos ouviram
bem as histórias contadas por 16 famí-
lias, expulsas da Reserva Indígena de
Nonoai, que retornaram do Mato Grosso,
e se juntaram a eles. São histórias que fa-
lam na malária se alastrando, na fome, e
em crianças que morriam frequentemen-
te.
Contam também do sistema "sutil" de
escravidão montado pela cooperativa
que administrava a área de Terra Nova
(MT). Os colonos desmatavam toda a,

MOVIMENTO 8 a 14/6/81 10

Miséria em Ronda Alta: do outro lado da cerca o latifúndio
área, e quando a terra se tornava produ-
tiva, eles estavam tão endividados que
eram obrigados a vender seus lotes. O úni-
co mercado na zona, por exemplo, era de
propriedade da cooperativa que vendia
os produtos a preços escorchantes. Além
do que o valor pago pela produção dos
agricultores era a metade do real. Quan-
do a área estava com toda a infra-estru-
tura montada, pelo trabalho dos colonos,
eles tinham que deixá-la.
Mas este tipo de exploração não é novi-
dade. No Rio Grande do Sul, em Bagé
(380 quilômetros de Porto Alegre) onde
foram reassentadas 120 famílias expul-
sas da Reserva Indígena, o problema se
repete. Os absurdos cometidos por parte
da Camal - Cooperativa Mista Acégua
- que administra a área são tão evi-
dentes que uma comissão da Secretaria
da Agricultura do Estado, num relatório
reservado que preparou para o governo é
Até o Exército é latifundiário
e o Incra não sabe...
Em uma década, de 1970/80, no Rio
Grande do Sul, foram expulsas de suas
terras, 500 mil famílias. Atualmente
existem 100 mil famílias sem terra no
Estado e, apenas no ano de 1980, 130
milfamílias "incorporaram-se" ao êxo-
do rural.
Por trás destes números está o acele-
- áreas comercializáveis naquela regiào.
rado-procêsso -de -concentraçãoda pro---
propicdade rural. Segundo dados do IN-
CRA, em 1976, 16% dos proprietários
detinham7?4% das terras do Estado, sen-
| doquequase a metadedoterritório en- -- Graz as
contra-se concentrada na mão de 8.650
obrigada a reconhecer que "não atingire-
mos nossos objetivos. Porque a Camal
está se aproveitando da infra-estrutura
montada pelo governo e afastando os co-
lonos da área".
Teobaldo da Silva, SO anos, com mu-
lher e dois filhos de colo, é apenas um
exemplo: expulso de Nonoai, mas com
um documento que lhe garantia a posse
de um lote em Bagé ele ali se instalou. A
Camal exigiu o seu despejo. Tal era a mi-
séria da família que 0 o icial de justiça ne-
gou-se a cumprir o mandado. Não sátis-
feita, a direção da cooperativa entrou no-
vamente na justiça, conseguindo dessa
vez que a família fosse expulsa da área.,
Outras famílias expulsas pelos Índios
foram para Palmeira das Missões, algu-
mas para fazendas - Brilhante e Macali
-, próximas ao acampamento dos Sem-
Terra, e cerca de 90 iniciaram este acam-
pamento.
calizados outros 28 mil 930 ha, tam-
bém próxima à área, enquanto um
terceiro, realizado pela Igreja Luterana,
assinalava quase quatro mil ha que
estão à venda na região. Esse dado,
aliás, contraria frontalmente as afir-
mações governamentais que, reiterada-
mente, têm afirmado a inexistência de
"Alémdisso existem 120 milha, de
posse do Exército, que são utilizados,
segundo os militares, para instrução e
adestramento, No entanto, ao justificar
puta el a teal
.a Eee 'I, ll'llldlll Ct 7 Cree terre Cree te
"colonos" nestas terras,
Oescândalo da loja
*maçônica P-2 (Propa-
ganda 2) dirigida pelo
" ex-fascista Lício Gelll,
Oto), passou nos úl-
centro de toda a vida
lítica italiana, ge-
ndo uma crise que
resultou na demissão
ªo governo chefiado
"por Arnaldo Forlani,
_- porque três de seus
ministros «uma P-2. Entre os sócios da
P-2, conforme as revelações, estão pes-
soas envolvidas, desde a década de 60, em
grandes casos de vigarice, de tentativa de
golpes fascistas, de propinas ilegais, de |
empresas fantasmas, de especulação imo-
biliária, de máfia e, segundo especula-
ções, até de terrorismo.
Dos três ministros acusados de serem
membros da P-2, dois são . democrata-
cristãos e o terceiro é socialista. A Justiça
italiana, que possui uma lista de 1720 no-
mes de membros da P-2, divulgou até
agora apenas 962 nomes. Entre os reve-
lados, encontram-se os de altos dirigentes
de quase todos os partidos, com exceção
do PC, entre os grandes, e, entre os pe-
quenos, do Partido Radical e do Partido da
Unidade Proletária. No entanto, segundo
informações não oficiais, entre os 758 no-
mes restantes, encontram-se o do ex-pri-
meiro-ministro Giulio Andreotti e de vá
rios dutros expoentes políticos, inclusive
comunistas. Porém a maior bomba da
parte desconhecida da lista é a revelação
de que alguns cardeais - entre eles o se-
cretário de Estado de Santa Sé, Agostino
Casaroli - também seriam sócios da P-2.
As acusações ao grão-mestre da loja,
Lício Gelli, atualmente foragido da Itália,
dão cônta de que, através de influentes
"irmãos" da P-2 (ministros, generais, par-
lamentares), ele procurava intervir nos as-
suntos do Estado, baseando seu poder
nos documentos secretos do Ministério da
Defesa, a que tinha acesso. "
Em meio às expectativas de divulgação
do resto da lista, e às vêsperas de impor-
tantes eleições administrativas parciais
(em Roma, Gênova problema dos
partidos no poder, o PDC e o PS, tem sido
tentar. compor um novo governo centra!
com um minimo de credibilidade, já que
ªmbos têm "rabos de palha" com relação à
2.
O ministro da Justiça dos EUA, William
Franch Smith, anunciou que está prepa-
rando um esquema de segurança contra
possíveis insurreiçõesdas minorias ame-
ricanas, quando o povo começar a sentir
os problemas do orçamento Reagan, no
próximo ano. Este orçamento, comose
sabe, prevê violentos cortes nas verbas
dos programas sociais (educação, saúde,
previdência etc,), e inclui um espantoso
aumento das despesas militares. O esque- sas científicas: "É uma idiotice continuar»
ma de segurança de Smith é uma prova de | mos trabalhando apenas com ratos. Por-
que Reagan sabe bem o arrochoquesig- que não utilizarmosfetos humanos que
.nificará seu orçamentopara os trabalha- É são envnados diretamente para o lixo?"
dores e as camadasmais pobresda socie—
' dade americana, e espera deles uma res-
posta explosiva.Por outro lado, o presi-
dente americano pretende incrementar a
fabricaçãodearmas.inclusive novos mo-...
Mwm-emm
o deputado Al
delo de misseis eaviões. Quem
uma plataforma conjunta nas eleições le-
fabrica
pagamento dos 41 dias parados, uma bo-
nificação de 450 dólares (Cr$ 38.700), e
salários dobrados em caso de doenças ou
acidentes de trabalho, Dois outros sindi-
catos continuaram em greve, mantendo
conversações com a Corporación del Co-
bre -- Codelco, empresa proprietária da
mina. Ei Teniente tem dez mil trabalha-
dores e é a maior mina subterrânea de
cobre do mundo, produzindo anualmente
cerca de um terço do total de um milhão
de toneladas da cobre fino exportado pelo
Chile. EA
FRANÇA: NOVO MÍNIMO
Aumentado em dez
Pa por cento, o salário
E minimo francês.
sob o novo governo
, de François Mitter-
irand (foto) passou
a ser, desde o dia 2
| de junho, 2.644
!francos (43,5 mil
cruzeiros). Direta-
mente, o aumento
beneficia apenas 840 mil pessoas, uma
parcela bastante pequena (3,7%) dos as-
salariados franceses. No entanto, segun-
do os empresários, a majoração do salário
mínimo tende a empurrar para cima todo o
sistema de salários, gerando um verdadeli-
ro aumento geral. No setor sindical, a CGT
- Confederação Geral dos Trabalhadores,
próxima aos comunistas, considerou pe-
quena a elevação de 10%, argumentando
que, para recuperar o atraso da França
frente aos demais países da Comunidade
Econômica Européia, seria necessária
uma porcentagem duas vezes maior.
CONTRABANDO MACABRO
Recentemente, na fronteira entre a
França e aSuíça, dois guardas alfandegá-
rios detiveram uma estranha carga: um
caminhão frigorífico carregado de fetos
humanos congelados e destinados a labo-
ratórios de produtos de beleza. Logo de-
pois, porém, os espantados guardas tive-
ram que liberar a carga, pois seu trans-
porte não é proibido por lei nenhuma.
O fato, de qualquer forma, foi denun-
ciado ao Ministério da Justiça da França,
onde não causou o mesmo espanto que .
nos guardas, Afinal, não era a primeira
denúncia, Em toda a Europa os fabrican-
tes de cosméticos estão negociando o "!i-
xo" das clínicas de aborto para produção
de cremes que, garantem, fazem as rugas
desaparecer, devolvendo à pele sua elasti-
cidade. Se
Segundo o professar André Boue, do
Centro Internâácional da infância, com se-
de na França, "fazer as pessoas acredita-
rem que as células de embriões podem
devolver sua juventude, é o mesmo que
dizer que loções à base de crina de cavalo
impedem a queda de cabelos. É ridículo".
O mesmo professor, porém, defende a
"utilização dos fetos humanos ém pesqui-
"'ªiI'GEÍ'SSEElIEIBEM
e comunist asdefenderão|-
-

famílias. armas, no mínimo pensa na guerra -

| gislativas que ocorrerão este mês na Fran-
e

umdos permanentes de " ça. Depois de três dias de negociações, o

do Pinto, (PDT), presidente da Assem-
este parece ser
_No mês passado, enquanto o presi- bléia Legislativa, afirmava que elas es-
Reagan.Mole [u ria a P
dente do INCRA, Paulo Yokota, tenta- PS e o PCF chegaram a um acordo, crista-
lizado em um documento onde são rela-
tão sendo usadas de forma especulativa

va provar aos agricultores que não ha-

cionados 24 pontos de política externa e
e que, portanto, se poderia dar aos lotes

via terras disponíveis, uma pesquisa, uma destinação social.

interna como a quinta semana atual de fé-
realizada por diversas entidades que in- Dessa forma, mesmo num levanta-
rias; aposentadoria aos 60 anos (hoje é
tegram a campanha de solidariedade mento superficial, é possível já identifi-
Seis sindicatos mineiros, que represen- aos 65); jornada de trabalho de 35 horas
dos Sem-Terra, indicava que, apenas car uma área de aproximadamente 200
tam 8.200 trabalhadores da mina El Te- semanais (hoje é de 40 horas), sem dími-"
nas proximidades do acampamento dos mil ha, onde os Sem-Terra poderiam niente, controlada pelo governo chileno, nuição do salário; tim da discriminação
colonos, em Ronda Alta, existem 41 mil ser reassentados. E como suas reivindi- assinaram na semana passada um acordo das mulheres e migrantes nas empresas, e
hectares, classificados. segundo os cri- cações não ultrapassam os 20 ha, de- para terminar a greve que vinham fazendo democratização das decisões regionais,
térios do próprio INCRA, como latifân- há 41 dias , Os trabalhadores, que rei- com a criação de espécies de parlamentos
locais. Existem também alguns pontos de
pois de instaladas as 500 famílias de

dios. vindicavam aumentos salariais de : 10 a

Ronda Alta, ainda sobrariar: 190 mil...
16%, aceitaram um contrato que prevê um desacordo, que não foram especifi-
Num segundo levantamento foram lo- iN.F. e SMW .)
cados na plataforma.
aumento salarial de 2% acima da inflação,

MOVIMENTO 8 a 14/6/81
 .. . BRDFANBSB 5 M!

OS ERROS DA ULTR

O que aconteceu de errado no Camboja? Por que a invasão vietnamita e as represálias da China?:

Após janeiro de 1979, com a inter- tas das que apoiavam o governo de Pol ver o problema dos refugiados. No en- O que aconteceu depois foi que cada

venção militar do Vietnã no Camboja, e Pot, é o que aconteceu de errado no tanto, o oposto é que era verdade. vez que havia uma tentativa de centrali-

a instalação do regime pró- vietnamita de Camboja. Para começar, foi mesmo ne- P - Como resultado das evacuações, zação ou uma tentativa de uma das par-

Heng Samrin, a imprensa internacional cessária a transferência de milhares de muitas pessoas morreram. Muitas foram tes do poder regional de implementar

divulgou diversas acusações de genocídio pessoas de Phnom Penh e outras cidades submetidas a extremos constrangimen- uma mudança na linha geral, haveria

atribuídas ao regime então derrubado, para o campo logo após a libertação do tos físicos. Você diria que foi um justo também um golpe ou manobras no senti-

liderado por Pol Pot, principal dirigente país? sacrifício? do de prevenir um golpe. O último to-

do Khmer Vermelho (pró-China). De lá Heder - Sim. A experiência de coope- mou a forma de um golpe no sentido de
Heder - Acredito que a transferência
para cá, possaram-se mais de dois anos, ' rátivização rural em outras áreas indica esmagar qualquer espécie de oposição ou
já estava planejada desde 1971, ou no
os fatos ainda nào fitarêm devidamente que são necessários no mínimo cinco sugestão de mudança antes que pudes-
mínimo desde 1973. A idéia básica era
esclarecidos. No sentido de contribuir anos até que uma população urbana seja sem transformar-se em ameaça à política
controlar os elementos burgueses de
para esse ' esclarecimento, Movimento capaz de produzir o bastante para ali- geral e às intenções centralizadoras das
Phnom Penh, colocando-os sob o contro-
tem divulgado diversas interpretações e mentar as próprias pessoas que partici- lideranças. -
le direto de uma estrutura cooperativa
opiniões conflitantes a respeito do que pam de uma estrutura cooperativa. P - Você poderia falar sobre a linha
que havia sido implantada no campo em
ocorreu no Camboja (oficialmente, Kam- Aos que vinham das cidades era dado o geral e as mudanças defendidas pelos lí-
maio de 1973, na base do que se supunha
puchea). Assim, já publicamos, por que correspondia a um cidadão de ter- deres regionais?
ser o poder dos camponeses pobres e da
exemplo, artigos a entrevistas de Noan ceira-classe nas cooperativas. Eles não ti- Heder - Isto não é muito claro. Os
camada média inferior.
Chomsky, Jean Lacouture, Wilfred Bur- nham direitos políticos dentro da coope- conflitos ficaram bastante restritos ao in-

chett e Norodom Sihanuk (principe de A questão do arroz e de seu abaste- rativa, e eram postos em último lugar nas terior do partido, e jamais se admitiu que

país, derrubado pelas forças pró-ameri- cimento - a solução do problema da ali- listas de distribuição. Na verdade, eram havia divergências com relação à linha

canas de Lon Nol, em 1970). mentação - foi um fator que concorreu considerados inimigos, no sentido de que geral. Eu gostaria de enfatizar que, a

Agora, quando a questão do Camboja para essa decisão, mas ela não foi apre- eles criavam contradições nas cooperati- partir das evidências disponíveis, a ques-

volta ao noticiário, com a convocação, sentada corretamente pelas lideranças. vas. Eram também sujeitos a execução tão principal não deve ter sido sobre se

pelo secretário geral da ONU, de uma De fato, havia arroz em Phnom Penh; a sumária, existia ou não ameaça do Vietnã. Neste

Conferência Internacional sobre o Cam- questão era saber quem iria comer esse ponto todos concordavam. A questão

boja, marcada para julho próximo. Mo- arroz, O arroz capturado. em Phnom maior era definir qual o melhor caminhe
Penh depois de abril de 1975 era usado Os principais líderes
vimento publica mais uma opinião sobre de se opor ao Vietnã, em termos da cons-

os problemas daquele país. para alimentar o exército enmtodo o país, trução nacional, da revolução socialista e
não tinham base, mas
A matéria a seguir é um resumo dos Se você olha historicamente essa ques- da defesa nacional.

principais pontos de uma entrevista com tão, a idéia de evacuar as zonas libertadas controlavam o Eventualmente, Pol Pot e outros da li-

Stephen Heder, uma das maiores autori- ou as áreas temporariamente livres do derança central faziam um acordo com o

dudes da esquerda americana no tema controle do inimigo é um ponto básico da Comitê Militar Khmer. Sudoeste. Sempre que havia- oposição à

da revolução cambojana. Heder, que fala estratégia de guerra. A evacuação objeti- linha geral partindo das outras regiões,

o idioma Khmer e passou três anos em vava livrar fisicamente aquela população P- Qual era a estrutura do Kampu- ou alguma tentativa destas de resistir à

Phnom Penh cobrindo a guerra, recente- do controle do inimigo. A idéia de eva- chea Democrático? E centralização, o Centro e o Sudoeste in-

mente realizou entrevistas ao longo da cuar Phnom Penh indica que de fato as Heder -No período da guerra (1968- tervinham e expurgavam os quadros das

fronteira do Camboja com a Tailândia forças do Khmer sentiram que ainda es- 1975), o partido se estruturava em bases regiões envolvidas.

com mais de 600 refugiados, antigos tavam'em uma situação de guerra. Já regionais. Havia um certo número de co-
O Sudoeste em geral é a parte mais po-

membros do Partido Comunista do Cam- que o inimigo principal, no caso Lon .Nol, mitês regionais: um para o Nordeste, no bre do Camboja, possuindo as mais altas

boja (Khmer Vermelho), soldados e qua- havia sido vencido, o estado de guerra Norte, no Leste e no Sudoeste. Cada um porcentagens de camponeses pobres e da

dros do regime liderado por Pol Pot. A continuada, por implicação, envolvia o desses comitês possuía uma organização camada média inferior. Possui também o

entrevista foi publicada originalmente Vietnã. política e administrativa específica e suas

mais baixo nível de produtividade e, por

em Tóquio, e depois reproduzida nos próprias forças armadas. As principais conseguinte, o mais alto grau de pobre-
Ironicamente, a evacuação de Phnom
EUA pelo jornal The Guardian. (Carlos lideranças (Pol Pot e outros) não tinham za. Uma política reclamando a transfe-

Machado) Penh refletiu, em certo sentido, uma su- rência total e absoluta do poder ao cam-
realmente nenhuma base própria, embo-
perestimação da força do Khmer. Acho pesinato pobre e da camada média in-
"P - Uma questão que está sendo colo- que eles avaliarama estrutura cooperati- ra estabelecessem a linha política geral e
ferior era, portanto, mais viável no Su-
cada por muitas pessoas, inclusive mui- va que haviam criado no campo mais dirigissem o comitê militar.
doeste.
forte do que era na realidade e que a in- Depois de 1975, as lideranças tentaram
P - Então a questão interna era a
fra-estrutura rural seria capaz de resol- centralizar toda a estrutura. A medida
principal fraqueza do Kampuchea De-
que ficava cada vez mais claro que a po-
mocrático, mais do que as ameaçàs ex-
lítica geral era inexeqiuivel as diversas re-
ternas ou pressões da Tailândia ou do
giões começaram a reclamar sua modifi-
Vietnã. Seria esta uma avaliação corre-
cação.
14?

Heder - Penso que seria correto dizer

que as falhas internas contribuiram no

ms 1 e a %
...iª Bain pe ma ao, 2 uu'—lw

MOVIMENTO 8/2

ESQUERDA
Stephen Heder, especialista americano em Camboja dá uma versão dos fatos e da derrota do Kmer.
mesmo nível ou mais que as pressões ex-
ternas para a queda do regime. Em ou-
tras palavras, os erros na linha gerabke os
erros ao se tentar corrigir os erros na li-
nha geral criaram uma situação que faci-
litou ao Vietnã fazer o que fez no Cam-
boja. O que eu estou realmente dizendo é
que a orientação da liderança central era
jetivamente ultra-esquerdista, e levou
duas coisas: de um lado. destruiu de tal
modo as forças da burguesia nacional
que não havia qualquer possibilidade de
reuni-las contra o invasor; de outro,
criou tanta hostilidade entre as forças re-
, Volucionárias que elas também tinham
pequenas possibilidades de enfrentar o
agressor extermto.
P- Qual foi a extensão das revoltas
regionais e quais foram suas consegiên-
cias?
Heder - As revoltas regionais nunca
foram amplas, principalmente porque
Todos concordavam
. que a maior ameaça
vinha do
Vietnã do Norte
elas foram abafadas com sucesso. Não
porque faltasse o desejo de se revoltar,
mas porque toda vez que havia uma re-
volta. desbaratavam-se as forças da re-
gião revoltosa. Por exemplo, os campo-
neses pobres e da camada média interior
que apoiavam as forças revolucionárias
originais no Noroeste foram totalmente
desarticulados quando massivos expur-
gos foram realizados contra eles eni
1977. A mesma coisa ocorreu de novo no
Leste em 1978. Parece que depois da co-
lheita da estação chuvosa, no final de
1977, e outra vez no início de 1978, a
região Leste não conseguiu cumprir a co-
ta de arroz acertada com o poder central.
Este acusou-a de incompetência e trai-
ção,
Ao mesmo tempo, acho que a região
Leste, que havia sofrido mais duramente
os choques com o Vietnã, reclamava que
diplomaticamente se devia ganhar algum
tempo frente àquele país, no sentido de
preparar melhor as forças para enfrentá-
lo, Isto também foi considerado traição.
Em consegiência, o Centro avançou con-
tra o Leste, expurgando muitos dos qua-
MOVIMENTOS a 14/76/81
BRDFANBSB VB.GNC.AAA, -
NO
dros básicos dessa região. Assim, quando
os vietnamitas invadiramas forças revo-
lucionárias do Leste, que haviam sido or-
ganizadas desde 1970 ou mesmo antes,
estavam basicamente em oposição à lide-
rança central do partido.
P- Como você vê a figura de Heng
Samrin? Você o classificaria como um ti-
ere dos vietnamitas?
Heder - Bem, no final é o que ele se
tornou, Mas eu diria que ele foi forçado a
isso, que essa não era sua intenção ori-
ginal. As entrevistas que eu fiz indicam
que, depois do expurgo de maio de 1978
no Leste, Heng Samrin passou à guer-
rilha e, a princípio, tentou organizar a
oposição ao Centro na base de uma auto-
confiança independente. Em reuniões,
ele explicata ao povo que havia coman-
dado pessoalmente tropas contra o Viet-
nà e queele tinha certeza do perigo viet-
namita. No entanto, depois que as forças
do comitê central intervieram na área, e
a fome e as doenças se abateram sobre
seus seguidores, ele enviou emissários ao
Vietriã, e possivelmente um acordo se es-
tabeleceu.
P - Que conflito levou aos primeiros
expurgos. em 1970-712
Heder - Um número relativamente
grande de quadros comunistas cam-
bojanos tinha estado no Vietnã por um
extenso período, principalmente a partir
de 1954. Eles retornaram ao Camboja
em 1970. Os quadros que estavam no
Camboja consideravam os recém-chega-
dos comoforasteiros. Aparentemente,ha-
via uma concordância geral dentro do
partido em que esses quadros não de-
viam ser aceitos e que eles não deviam
assumir poderes no partido... O método
de expurgo desenvolvido para enfrentar
esse problema tornou-se padrão no par-
tido. Na maior parte dos casos, esses
quadros eram secretamente liquidados.
Eu penso que se podia, com legitimida-
de, considerar os quadros que retorna-
vam em 1970 e de um extenso período
em Hanói uma ameaça à independência
do partido. Entretanto, o método desen-
volvido para se livrar deles foi mais tarde
usado contra pessoas que não podiam le-
gitimamente ser considerados como tal.
Após 1975. quem quer que se opusês-
'
CAMBOJA
se a algum ponto da linha imposta pelo
centro era considerado como estando ab-
jetivamente do lado dos vietnamitas e
tratado como tal. Não se fazia nunca
uma análise racional das verdadeiras po-
sições dessas pessoas.
P- E o que levou o Vieinà a invadir o
Camboja?
eder - A posição dos vietnamitas é
de que a sua revolução não pode ter su-
cesso sem "a cooperação da revolução
cambojana. Isso in plica a aceitação des-
se princípio por parte dos revolucioná-
rios cambojanos. E eu penso que foi ésse
princípio o ponto básico da discordância
dos cambojanos. Eles sentiram que a re-
volução camboanos não poderia ser bem
sucedida se estivesse constantemente su-
bordinada às necessidades da revolução
vietnamita. Os problemas de fronteira
eram, penso eu, secundários; mais uma
expressão da contradição geral do que
sua causa,
Na maior parte dos
casos os militantes
simpáticos ao Vietnã
eram liquidados
A análise vietnamita de fatos internos
do Camboja, como todos sabem, está in-
timamente ligada à Chiria e à visão viet-
namita do papel da China no Camboja.
Olhando a situação interna do Camboja
depois de 1975, e especialmente em 1977
e 1978, eu acho que objetivamente o go-
verno cambojano estav a destruindo a re-
volução e pondo em risco a independên-
cia do país. Do ponto de vista dos vietna-
mitas, parecia que as coisas caminhavam
para um domínio dos chineses no Cam-
boja.
P - Qual o papel dos vietnamitas no
Camboja hoje?
Heder - Os vietnamitas exercem uma
influência direta sobre o Camboja e, com
efeito, o controlam em todos os níveis, do
central ao provincial, do distrito ao sub-
distrito. Nos mais altos postos o regime
inclui os sobreviventes dos expurgos con-
tra os que retornaram em 1970 do Viet-
nà. Inclui também os sobreviventes dos
expurgos de 1978 nas regiões do Leste;
sobreviventes da frente Unida - intelec-
tuais que voltaram ao, Camboja após
1975; simples refugiados, burgueses em
sua maior parte, elementos não-comu-
nistas que fugiram para o Vietnã depois
de 1975; e intelectuais burgueses recru-
tados localmente depois da chegada dos
vietnamitas.
Como se pode bem imaginar, esses gru-
pos não se dão muito bem juntos. Há
muitas contradições entre eles, e se os
conselheiros e as tropas vietnamitas fos-
sem retirados, penso que as coisas se en-
redariam num tempo bastante curto.
Mas, com essa retirada, não acho que o
Khmer Vermelho retornaria ao poder ou
que um regime não comunista se está-
beleceria imediatamente. Ao invés disso,
haveria caos e anarquia. Ninguém con-
trolaria o país. Todos os grupos do Cam-
boja, incluindo o regime de Heng Samrin
e seus opositores, iriam dividir o país em
pequenas zonas de controle e mover a
guerra umas aos outros.
P - O Khmer Vermelho é viável?
Heder - O Khmer Vermelho, no pre-
sente momento, tem muito poucas possi-
bilidades de organizar uma larga e pro-
funda resistência aos vietnamitas. As coi-
sas que foram feitas em 1975 e 1978
hostilizaram tantos setores da população
que as forças do Khmer não podem ex-
pandir-se além do que restou no final de
1979: um corpo de tropas severamente
dizimado, não só pelos ataques militares
dos vietnamitas, mas também pela fome
e as doenças. Agora, como resultado da
ajuda internacional, eles readquiriram
certo poder, mas não têm sido capazes de
expandir-se para além dos limitados se-
tores da população que constituíam sua
base no final de 1979,

É o pogresso!
O deputado Eduardo Suplicy mostra os últimos
progressos nos índices de analfabetismo no Brasil.
O progresso nos Índices de aliabeti-
zação alcançado nos últimos cinco
anos, conforme assinalam os dados le-
vantados pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios, realizada pela
Fundação IBGE, de 1976 a 1979, foi
população analfabeta em idade de
saber ler e escrever no Brasil aumentou
em termos absolutos.
Extremamente grave: quase não tem
havido progresso na proporção de
crianças de 7 a 14 anos, portanto em
idade definida constitucionalmente
como de escolarização compul-
sória, que sabem ler e escrever,
no período de 1976 a 1979.
Entre a população de 15 anos
ou mais, se houve moderado
progresso na alfabetização nos
anos sessenta e na primeira me-
tade da década de setenta, hou-
ve quase estagnação a partir de entre os
1975. O Censo Demográfico de
1970 acusava a existência de entre os
33,0% de analfabetos entre os entre os
de 15 anos ou mais. Essa pro-
porção havia baixado para 24,
Fonte: PNADs 1976, 1977, 1978 e 1979 - IBGE.
3%, em 1976, segundo o PNA -
(1) Os valores absolutos estão em 1.000 dpossoas
D. A expectativa governamen- (2) essa porcentagem se refere ao total e pessoas nessa faixa etária.
tal expressa em diversos pro-
nunciamentos e planos era baixar esse
índice para 10% ao final da década.
Todavia, a partir de 1976 a propor-
ção entre os de 15 anos ou mais que não
sabem ler e escrever pouco se modifi-
cou: 23,7% em 1977; 23,9%, em 1978 e
23,1%, em 1979. Dessa forma o nú-
mero dos analfabetos de 15 anos ou
mais passou de 15.605.000, em 1967,
para 16.124.000, em 1979. Em São
Paulo, a proporção dos que não sabem
ler e escrever entre os de 15 anos ou
mais passou de 13,5%, em 1976, para
12,7%, em 1979, progresso pouco sig-
nificativo, enquanto o número de anal-
fabetos passou de 1.942.000, em 1976,
para 2.004.000, em 1979.
Verificamos ainda que não houve
progresso algum, entre 1976 e 1979, no
grau de alfabetização entre a popula-
ção que deveria estar aprendendo a ler
e a escrever na escola. Entre as crianças
de 7 a 9 anos, a proporção dos que não
sabem ler e escrever passou de 47,0%,
em 1976, para 45,5%, em 1977; para
48,4%, em 1978, e para 47,6% em
1979. Em números absolutos, os que
não sabem ler e escrever nessa faixa de
idade passaram de 3,830.000, em 1976
para 3.801.000, em 1977, para 4.110.
000, em 1978, para 4.168.000, em1979.
Entre os de 10 a 14 anos, a proporção
dos que não sabem ler e escrever passou
de 18,4%, em 1976, para 19,3%, em
m fer
1978; "Zi?sm1970,Emtermes
- filme como ba-
solutos o numero de pessoas de 10 a l4
anos que não sabem ler e escrever passou
de 2.526.000, em 1976; para 2.562.000,
em 1977; para 2.730, 000 em 1978, para
2.748. 000 em 1979.
No Estado de São Paulo, entre os de
7 a 9 anos, a proporção passou de
24,9% em 19 tá 21,6%, em 1977;
para 23,0% emn1978; e para 220% em
1979, O número absoluto passou de
342.000, em 1976; para 306.000 em
14
" BRDOFANBSB VB.GNC;AAA, '
ALFABETIZAÇÃO
P
E o pogresso!
PEscrava Isaura, d
j Rede Globo, rec
1977; para 336.000, em 1978; para 1976 para 6.916.000, em todo o Brasil;
339.000, em 1979, situação pratica- e ficou quase estagnado em São Paulo, Ns n
mente tão má quanto a de quatro anos passando de 429.000, em 1976 para
antes. Entre os de 10 a 14 anos a 428.000, em 1979. M centavo a ma E
proporção dos que não sabem ler e Na verdade, diz o educador Paulo
escrever passou de 3,1% em 1976; para Freire, uma campanha de alfabetiza- É. Segundoa atriz Ester Góes, (fotoy
presidente do Sindicato dos Artistas e |
3,3%, em 1977; para 3,6%, em 1978; ção para ser bem sucedida precisa estar
* % + *1* " Técnicos de São Paulo, esse é um exem-
para3,5%-em1979. Onúmero absolu------- relacionada.apossibilidade de o- povo - "plo do tipo de exploração a que está
to passou de 77.000, em 1976, para poder transformar estruturalmente a . submetido o trabalho dos artistas no .
81.000, em 1977; para 90.000 em 1978; sociedade, Em especial, para que não país. E é também um argumento forte a
e para 89.000, em 1979. haja o fenômeno de regressão ao anal- favor da reivindicação de que as emisso-
Assim, entre as pessoas em faixa de fabetismo e para que o aprendizado se ras de rádio e TV paguem os direitos "
escolarização obrigatória, de 7 a 14 torne relevante, a alfabetização precisa autorais de 3,5% sobre a metade da
anos, o número dos que não sabem ler e estar relacionada ao processo de de-
receita que auferem das suas rendas
brutas presumidas.
escrever aumentou de 6.356.000, em mocratização. (Eduardo Suplicy)
Essas reivindicações foi apresentada
pelo Escritório Central de Arrecadação e
O progresso do analfabetismo Distribuição e aprovada pelo Conselho
Nacional de Direito Autoral, mas encon-
tra-se novamente em discussão, uma vez
1976 1977 1978 que a Associação Brasileira de Emisso-
%
ras de Rádio qualificou-a de ilegal.
% %
95,2 SOCIALIZANDO 0 QUE? -
48,4
19,3 Diversos compositores estão se recu-
23,9 sando a receber do Escritório Central de
Arrecadação (ECAD) os cheques de pa-
gamento dos direitos autorais corres-
pondentes ao primeiro trimestre do ano.
O motivo é bem simples: recentemente,
o interventor do ECAD, Luis Roberto
Fontoura, decidiu distribuir 30% da arre-
dação bruta de direitos autorais entre
, CINEMA todos os compositores cadastrados,
igualmente, Isso significa o seguinte:
O cinema vai aos sindicatos um compositor que teve uma só música
executada apenas uma vez no primeiro
O Sindicato dos Têxteis de São Paulo mudaram nada, o governo continua trimestre, pode receber o mesmo que
começa a utilizar o cinema como ins- apoiando os patrões, a polícia reprimin- Chico Buarque, Roberto Carlos e outros
trumento político, promovendo na sua de grande audiência.
do e nós continuamos sem eira nem
sede a projeção de filmes que, por seu beira". Outros operários presentes lem- Entre os compositores que já manifes-
conteúdo, estão excluídos do mercado braram que muitas das reivindicações taram discordância absoluta da nova me-
oficial. A primeira experiência foi "Li mostradas no filme são ainda hoje ban- dida estão Roberto Carlos, Tom Jobim,
berários", filme de Lauro Scorel, Luiz Gonzaga Júnior e Páulo Cesar Pil
deiras de luta dos trabalhadores, por nheiro. Este último disse: "É um proces-
mostrado para um público de 100 operá- exemplo, a estabilidade no emprego. so que eles devem ter pensando ser
rios têxteis e de outras categorias, prece- Aqui se poderconstatar toda a força do socializante, mas não é. Trata-se de uma
dendo uma palestra sobre desemprego cinema como instrumento de conscien- previdência social feita às custas e sem
Montado com material antigo das fá- tização. Como o próprio Barelli observou consulta dos autores".
bricas Crespi, Matarazzo e Votoratim de durante o debate sobre o desemprego, "é
Sorocaba - alguns filmes foram encon- muito melhor ver um filme - imagens
trados em latas enferrujadas na velha do que realmente aconteceu - do que PRESTES NO CINEMA
cabine de projeção desta fábrica - "Li- ouvir um barbudo (no caso ele próprio)
bertários'" documenta as primeiras for- falar". Ilma Santana Hector Babenco,
mas de organização e de luta do proleta- (toto) o diretor dos
riado brasileiro, no começo do século, O filme "Libertários" pode ser conse- filmes Rei da Noi-
que se desdobraram na formação do guido na Dinafilmes, rua do Triunfo, te, Lúcio Flávio __
134, salas 84 e 85, São Paulo. , O Passageiro da
Partido Comunista. O filme destaca c ;Agonia e Pixote, a
"boom" do ca- * 'Lei do Mais Fraco,
fé e a conse- à está se preparando
quente imigra- + agora para recons-
ção estrangeira- "_ tituir -no cinema a
italianos, es- longa marcha da Coluna Prestêés, um dos
mais importantes fatos históricos do
panhóis e por- país. Para isto já manteve mais de um
tugueses, que contato com o ex-secretário do Partido
trouxeram Comunista Brasileiro e lider daquela co-
consigo idéias luna, Luis Carlos Prestes.
libertárias 2 Gªnham ainda nãosabe domo finan-
Tomando o
recursos até no exterior, se for necessá— f
se para discus- "rio, diante dosaltos custos: Será neces- .
são, o operário
têxtil Aristides
José Rodri-
gues, compa-
rando as duas
épocas - aen-
focada
mé e a atual -
concluiu: que aªª:
"as coisas não Paulistas em1917 amemóna operária
do ade doi da au Ala1 usa ária 6bes
A2 ad
MOVIMENTO 8 a 14/6/81
 . BROFANBSB VB.GNC.AAA,

QUESTÃO AGRÁRIA

UM DEB
QUAL

REFORMA AGRARIA

A qtas tela bre o e o vo ere En

stem
M u praca Ma Ceres Cos om »
Ar Ltda C sra Cep a A/T ALA A

HAI

a necessidade da reforma agrária seja vista no Estatuto da Terra"", desapro-

contornada, é que os outros setores da
economia possamabsorver um gigantesco
Reforma Agrária, uma opção até êxodo rural. A modernização da agricul-
tura impõe uma redução constante das
oportunidades de emprego no setor, pois
para as classes dominantes...
transforma muitos postos de trabalho
permanentes - arrendatários, parceiros,
José Eli Veiga moradores etc.. em ofertas de trabalho
sazonais. Ora, a simples manutenção da
tendência do quúinqgiúênio 1970-1975 pro-
duzirá um fluxo de 900 mil migrantes poi
Erminio Brauns Fo
priando-se "latifundiários improdutivos
por interesse social".
Está claramente em gestação um projeto
de aplicação "seletiva" do Estatuto da
Terra, que pode se materializar numa
reforma agrária bem moderada, capaz de
amortecer a reação dos grandes proprie-
tários rurais.

inguém ignora que, no Bra- única solução do problema agrário nacio-

sil, uma enorme massa de pá-
rias migra pelos. campos, cer-
rados, sertões, caatingas, ma-
tas e lorestas, em busca:de tra-
balho. A Constante concentração da pro-
priedade fundiária lhes proíbe, cada vez
mais, o acesso a seu pfincipal ganha-pão.
Os dados são alarmantes: as propriedades
classificadas oficialmente como latifún-
dios - isto é, mantidas inexploradas ou
subaproveitadas - detinham, em 1978,
85,5% das terras cadastradas pelo IN-
CRA. Ao mesmo tempo, o número de
trabalhadores agrícolas sem terra ultra-
passava os 11 Milhões, se se consideram
todas as famílias de pequenos posseiros,
rendeiros e assalariados.
Encontramo-nos, portanto, numa situa-
ção semelhante à que engenderou quase
todas as reformas agrárias de que se tem
notícia. Todavia, seria apressado concluir
que ela esteja prestes a se impor como
Autor do livro "O que é a Reforma Agrária" e
professor na PUC de São Paulo.
nal. Não é uma fatalidade do desenvolvi-
mento capitalista a adequação das estru-
turas fundiárias atráves da distribuição de
terras desapropriadas por estarem impro-
dutivas. Ele oferece aos latifúndios a
alternativa de se transformar em mo-
dernas empresas agrícolas ou pecuárias.
Para que esta via prevaleça é necessário,
entretanto, que se cumpram, pelo menos,
duas condições fundamentais.
A primeira é que o investimento produti-
vo no setor agropecuário se torne mais
rentável que a simples imobilização de ca-
itais na compra de vastas extensões com
ªns meramente especulativos como "re-
serva de valor". Ou seja, é necessário que
os investimentos patrimoniais deixem de
dar mais renda que o aproveitamento pro-
dutivoda terra. Acontece, que até agora, a
terra, enquanto ativo imobilizado, vem
garantindo a seus proprietários uma ex-
pectativa de rentabilidade superior à da
produção agrícola e bem próxima a dos
retornos do mercado financeiro.
A segunda condição necessária para que
ano,. Isto corresponde à necessidade de 360
mil novos empregos anuais nas cidades
sem contar a própria demanda urbana.
Não poderá ser acusado de pessimista
quem afirmar que estes dois requisitos são
de dificílimo cumprimento pelo atual
"modelo econômico". Parece-nos, por-
tanto, que a transformação dos latifúndios
em modernas empresas capitalistas conti-
nuará a ser uma miragem, por mais que
apareça entre as principais diretrizes dos
planos governamentais.
Se não houver equivoco nesta previsão, a
reforma agrária aparecerá, mais cedo do
que se imagina, como uma opção de
setores das próprias classes dominantes.
No último dia 20, o ministro do Interior
entregou ao presidente do Senado, um
documento no qual são sugeridas medidas
para "atenuar o problema das migrações
internas e, desta forma, colaborar para a
diminuição da violência urbana" ( FSP,
20/5/81). Uma das sugestões feitas por
Mario Andreazza, nesse documento, é a
fixação de mão-de-obra em áreas agrícolas Eli Veiga: movimento popula
através da "reestruturação agrária pre- pode "transbordar" reforma

_MOVIMENTO 8a 14/6/81 ......

18 o bi e 8 OTAAHMIVOM
 "BR DFANBSO VB.GNC;AAA,'

Em um ponto todos concordam: o proletariado tem

o maior

*Não se deve esquecer que tal projeto faz

a eliminação do setor territorializado da
parte das primeiras iniciativas do regime
burguesia.
militar. Alguns dias após o golpe, o
Os latinfundiários de velho tipo, prêé-ca-
Marechal Castello Branco confiou a seu
pitalistas ou semifeudais, que viviam fun-
ministro do Planejamento - Roberto
damentalmente da renda fundiária, fo-
Campos - a missão de preparar um
ram substituídos por latifundiários de
projeto de lei de reforma agrária. Se ele
novotipo, capitalistas. Hojeem dia tanto a
ficou na gaveta até agora, isto se deve ao
terra quanto a produção agropecuária são
pavor dos empresários e banqueiros de
dominadas pelo capital monopolista.
criar conflitos com os latifundiários e ao
Em tais condições, nenhuma transforma-
considerável controle destes sobre o IBRA
ção democrática na agricultura -será possí-
e o INCRA.
vel se não atingir profundamente o setor
monopolista da burguesia. E, consegiien-
A questão que se coloca hoje é a de saber
temente, se não forem realizadas pro-
se o fortalecimento da burguesia indus-
fundas transformações democráticas no
trial e financeirae a forte recessão econô-
Estado e na sociedade em seu conjunto,
mica em que se encontra o país, poderão
também dominados pelos setores mono-
levar a uma redefinição dos termos desse polistas da burguesia.
ssim, a proposta camponesa
pacto. Evidentemente, não há motivo para

de reforma agrária, capitalis-

se pensar numa verdadeira ruptura da
"Santa Aliança" que, há pelomenos meio
ta democrática por seu con-
teúdo econômico, diferencia-
século, garante a dominação burguesa.

-se dos projetos de setores li-

berais e reformistas da burguesia funda-
Não se trata, portanto, de imaginar que
venha a ser desencadeado um enfren-
mentalmente pelo fato de que esses seto-
res pensani ser possível realizar algumas
tamento entre interesses industriais e

mudanças na estrutura agrária semtocar

agrários. Mas sim, de uma renegociação

ou ferir em nada o sistema capitalista

dessa aliança que custará alguns sacriftií-

dominante no país. A vida tem mostrado

cios políticos à ala mais parasitária das

que todas as tentativas conciliadoras des-

classes dominantes, os que vivem da renda

ses setores burgueses resultaram sempre,

fundiária.

eisto ocorrer, a burguesia bra-

inevitavelmente, na intensificação da via
monopolista de desenvolvimento do ca-
Umaluta contra o Estado e a |
sileira desarquivará o Estatuto da
Terra e encetará a execução de
b pitalismo. Nesse sentido, o Estatuto da
umareforma agrária semelhante à - burguesia monopolista _
Terra é um marco.
esmagadora maioria das que já
As lutas pela terrae pela refroma agrária
foram realizadas em países capitalistas.
Ma Wlªdlmªpºmªf camponesa só podem realizar-se chocan-
Poderá ser localizada, como a da Itália do
do-se violentamente contra os setores
pôs-guera, conciliadora como a da Vene-
ara o campesinato a questão da a cabo. por grileiros, monopolistas da burguesia e contra o
zuela, em 1959, tecnocrática como as do
da reforma agrária é, basi- capitalis tas.com latifundi ários e Estado que os representa. E as trans-
Japão e Formosa durante a "guerra fria"
camente, a questão do direito de Estado. a cumplic idade do poder formações democráticas na agriculura só
etc. 2 podem
à propriedade. Não do direito E é contra a expropriação capitalista, e transformações de cunho popular e mes- realizar-se em combinação com
Mais difícil ésaber se tais planos poderão
à propriedade capitalista, po- não contra a exploração capitalista de sua mo socialista em outros setores. da socie-
ser efetivados com a trangililidade social rêmdo direito à propriedade privada de força de trabalho, que o camponês luta. dade. Esses aspectos da luta política no
esperada por seus autores e defensores.
suas próprias condições de trabalho. O Apesarde muitos camponeses serem obri- Brasil - a luta do campesinato contra o
Além de modificar a distribuição da
que coloca em primeiro plano a demo- gados eventualmente a se assalariar, en- latifúndio capitalista ou o capitalismo la-
propriedade da terra, uma reforma agrá- cratização da propriedade fundiária, do grossando as fileiras de um crescente tifundizado e a luta da classe operária e
ria,tem quasesempre,o poder de mudar as direito de acesso à terra, de sua posse ou semiproletariado rural, é ainda e princi- demais trabalhadores assalariados contra
relações de força entre as classes sociais. propriedade efetiva. Em outras palavras, palmente como camponês que ele está o capitalismo em geral e o capital mono-
Ela incentiva a ação de forças subalternas, os camponeses querem ter a propriedade subordinado e dominado pelo capital, em qual polista, em particular - é a base sobre a
como os camponeses e assalariados agri- individual ou familiar do solo, querem particular pelo capital monopolis ta. convergem os interesses do prole-
colas. E a posição combativa do movi- manter a propriedade privada de seus Economicamente, nas atuais condições tariado e do campesinato.
mento sindical dos trabalhadores rurais meios de produção. E, se possível, ter o de desenvolvimento das forças produtivas
poderá modificar bastante as condições de direito e a condição de explorar o traba- sociais, a produção camponesa tende a aspiração do campesinato
aplicação do Estatuto da Terra. lho assalariado de peões e bóias-frias. criar capitalismo. Isto pelo fato de manter não é a mesma do proletaria-
Em virtude dessas aspirações reais, os a propriedade privada dos meios de pro- do: ele quer a propriedade
Desde o Congresso de Belo Horizonte,
camponeses têm dificuldade em compre- dução. Entretanto, há uma profunda di- privada de seus meios de tra-
em novembro de 1961, os trabalhadores do
propostas que falam em socializar ferença entre uma via camponesa ou alho, inclusive a terra. Os in-
campo exigem abertamente uma reforma
seus meios de produção. E, compreender, democrático-capitalista de desenvol- teresses históricos do proletariado o em-
que "liquide o monopólio da terra exer-
cidos pelas forças retrógradas do latifún- aqui, não deve ser tomado em seu
formal, mas sim no de seus interesses de vimento sentido do capitalismo e a via monopo- todos os meios de produção. Entretanto,de
purram para a socialização completa
dio e estabeleça o livre e fácil acesso à terra
classe. lista que atualmente assistimos no Brasil a classe operária não pode ignorar ou
dos que a queiram trabalhar"; O IIIo Con-
Suas decondições de trabalho e seus inte- monopolista: de forma predominante. Enquanto a via saltar por cima das aspirações e reivindi-
gresso da Contag, em maio de 1979
resses classe não lhes permitem enten- representa uma crescente cações dos camponeses. Além disso, o al-
reiterou essa aspiração fundamental. Exi-
deralém das medidas quegarantam o usu- concentração fundiária, o estabelecimen- cance histórico dessas reivindicações
giu a criação de um Conselho Consultivo a
fruto individual ou familiar da to de preços de monopólio
terra e a tos agrícolas, a expropriação para os produ- camponesas é revolucionário e se volta,
nível nacional junto ao INCRA com a
propriedade de seus meios de trabalho, de massas no momento, contra os mesmos inimigos
participação ativa e contínua de represen-
Essas
certo
limitações
modo, ainda
do
mais
camponês são, de outras mazelas conhecidas da série
crescentes das zonas rurais e uma
crônica
de do proletariado,
tantes dos trabalhadores, com o objetivo
compreensíveis
se leva em conta que sua maior parte diária se dos últimos anos, a via camponesa com Eis porque a aliança do campesinato
de influenciar e fiscalizar os programas
ou democrática
sempre foi mantida esmagada, primeiro fúndio, contra o monopólio da terra; concreta. volta-se contra o lati- o proletariado é uma possibilidade
nacionais de reforma agrária.
pela subordinação aos latifundiários que volta-se para a eliminação das formas de se os camponeses Istosetorna ainda mais evidente
Propôs a elaboração de uma lei criando o
lhe arracavama renda territorial e, agora, exploração e das cargas e obrigações nada podem esperar se derem conta de que
instituto da perda sumária da propriedade
pelo capitalista que, além de continuar extra-econômicas que entorpecem maioria capitulou da burguesia, cuja
pela não utilização e pelo menos 70% de
extraindo a renda territorial, encontra caram o processo da luta de classes e mas-no tornando-se sócia menor ante a via monopolista,
sua área agricultável. E assumiu o com-
mil e um meios diferentes paraexplorá-lo e das massas trabalhadoras na exploração
promisso de "desenvolver trabalhos de
campo e para a ampla participação do
espoliá-lo. Exploração e espoliação que o campesinato na vida econômica e política lios capitalistas nacionais e estrangeiros. pelos monopó-
base de organização e mobilização dos
capitalista realiza permitindo que o cam- do país. i O proletariado é a única força social que,
trabalhadores rurais no sentido de ocu-
ponês mantenha a posse efetiva de suas mesmo discordando da proposta do cam-
parem as terras improdutivas nelas fixan-
condições de trabalho mas que, além de Eis porque, apesar do caráter capita- pesinato, por achar que a via socialista é a
do residência e tornando-as produtivas..
certo limite, conduz inevitavelmente à lista-democrático da via camponesa, que que melhor atenderia aos interesses mais
Seo movimento popular for capaz de pôr expropriação. se expressa concretamente em suas pro- profundos dos trabalhadores do campo,
em prática as resoluções do último Con- A expropriação transformou-se no gran- postas de reforma agrária, ela não é pode garantir aos camponeses que res-
gresso da Contag, os planos burgueses de perigo para o campesinato brasileiro. retrógrada ou reacionária. Nas atuaiscon- peitará suas aspirações
serão transbordados e a reforma agrária - Em especial a expropr e fará tudo que
iação violenta, leva- dições do Brasil, inclusive, ela possui uma estiver a seu alcance para
poderá se assemelhar mais às que foram
conotação revolucionária e progressista democrática se viabilize e paraquequea viaao
realizadas no Chile a partir de 1965, no
Autore dode livro
lha" um "Araguaia:do olivroPartido
prefácio de e a Guerri-
Lênin sobre: mais acentuada em virtude de,ao se voltar campesinato seja aberta uma alternativa
Peru, a partir de 1969, em Portugal, a
agricultura nos EUA. contra o monopólio da terra e exigir sua de desenvolvimento não capitalista, cujos
partir de 1975 etc.
extinção, se voltar automaticamente para males todos conhecemos.
' 16 MOVIMERTO F14/6078

ara a burguesia, a questão agrá-
ria já foi em grande medida re-
solvida no Brasil. Por um lado, o
capital já se assenhoreou da
maior parte da produção agrico-
la destinada ao mercado interno, e o setor
agrícola não representa na atualidade um
obstáculo para o processo geral de acumu-
lação de capital no que se relaciona com o
abastecimento das cidades de alimentos e
matérias-primas. Poroutro,a) ainexis- . quivadas......
tência de um movimento camponês pode-
roso e estruturado sobre raízes culturais e
Étnicas sólidas (como acontece em outros - sentar a chispa de conflitos urbanos cada
países latino-americano, b) a tendência
declinante em termos relativos e em al-
guns casos também em termos absolutos
da população rural, e c) a possibilidade
de estenderas fronteiras agrícolas sem
esbartar necessariamente nas fronteiras «Ó principal aliado do proletariado urba-
nacionais, são características que ao
mesmo tempo em que determinam um
movimento camponês relativamente dé-
bil no Brasil, permitema absorção da
luta. pela terra e o amortecimento das
pressões sobre o Estado no sentido da
realização de uma reforma agrária que
alterasse substancialmente a estrutura
7a
agrária do país.
No entanto, mesmo que a questão
agrária venha sendo resolvida na medida
em que o capital penetra na produção
agrícola, para o socialismo ela gviden-
temente segue sendo vigente. É! Orçoso
reconhecer que na sociedade Brasileira,
as formas não imediatamente capitalis-
tas de produção como a camponesa ou
pequena produção mercântil vêm per-
dendo importância econômica. Isto é, no
conjunto da produção agrícola brasilei-
ra, tanto a voltada para o mercado in-
terno como a destinada ao mercado ex-
terno, a participação da pequena produ-
ção mercantil vem perdendo terreno pa-
ra a produção capitalista.
Portanto, o que vai restando de questão
agrária para a burguesia tem menos uma
Autor de "Questão Agrária e Campesinato",
professor da FGV e PUC em São Paulo.
MOVIMENTO 8 a 4/64/81
BRDOFANBSB VB,ONC,AAA, |
dimensão econômica, do que um caráter
social e político. Ou melhor, a burguesia
já não necessita realizar uma reforma
agrária para que as cidades sejam me-
lhor abastecidas ou para formar uma
ampla classe média rural. Isto já está
feito. Mas, os conflitos nas zonas de
fronteira agrícola ao invês de diminuir se
intensificam e, as preocupações com a
guerrilha rural não estão totalmente ar-
Além disso, não interessa também à
burguesia que tais focos possam repre-
vez mais agudos.
Mas, da perspectiva socialista, é o cam-
pesinato (posseiros, pequenos arrendatá-
rios, parceiros, etc.) a força social que luta
difetamente pela terra, a que representa
no e das massas populares em geral na
luta pela democracia e o socialismo. A
base objetiva dessa aliança é que os
últimos defendam em toda a linha as
reivindicações básicas dos primeiros: a
conquista da terra e de liberdades demo-
cráticas no campo.
ortanto, a possibilidade de
transformar a agricultura capi-
talista em socialista supõe a
reunião de forças cujos interes-
ses imediatos embora possam
ser comuns - a luta pela democracia -
não necessariamente assim permanece-
rão durante toda a trajetória daquele
processo, Ou melhor, as reivindicações
do campesinato pela terra não necessa-
riamente terão um desdobramento
socialista, pois, uma vez conquistada a
terra é conformando-se um imenso setor
de pequenos proprietários, o princípio da
proprieclade privada -- agora defendido
pelos aliados do proletariado - poderá
constituir um obstáculo importante para
o prosseguimento da caminhada,. E nesse
sentido que um ministro da Agricultura de
Vargas no início dos anos 50, dizia que
longe de ser uma "invenção comunista" a
reforma agrária era ao contrário a melhor
maneira deimunizar o país contra o co-
munismo. É importante examinar, por-
tanto, nas condições brasileiras, quais são
as contradições que tenderão a aparecer
ou a aprofundar-se no interior dessa
aliança durante o processo de realização
da reforma agrária.
A materialização da palavra de ordem
"terra para quem a trabalha", implica evi-
dentemente um enfrentamento dos que a
proclamam, com a propriedade territorial
em geral e especialmente com os latifún-
dios. No entanto, como a agricultura
brasileira vem se desenvolvendo funda-
mentalmente pelo aburguesamento dos
proprietários territoriais, isto é, pela
transformação destes últimos em capi-
talistas agrários, conjunção que recebe a
denominação genérica de "fazendeiro",
esta luta implica também o enfrenta-
mento com o capital agrário. Ou melhor,
ela se opõe também ao capital agrário
pois encontra a propriedade territorial já
entrelaçada com o primeiro.
pesar do duplo enfrenta-
mento, esta luta tem um ca-
ráter democrático, pois, não
nega a rigor a propriedade
da terra nem o capital en-
quanto relação social de
produção. Seu caráter democrático e
progressista consiste em que se desfecha
contra um dos sustentáculos do atual re-
gime de dominação política - os fazen-
deiros - contribuindo para destruir o po-
der econômico e político dos mesmos,
substituindo-o por um infinitamente mais
democrática. (Esta dimensão política da
reforma agrária é razão suficiente para
que os defensores da democracia e do so-
cialismo a apóiem sem vacilação). Isto é,
esta luta se desfecha contra os responsá-
veis diretos pelo atraso, pela ignorância,
pela miséria, pela opressão e pela desen-
freada exploração exercida sobre os tra-
balhadores rurais. Do ponto de vista
político, portanto, a luta pela terra tem
um caráter democrático e progressista,
e contribui decisivamente para o desen-
volvimento da luta pelo socialismo.
Porém, como a luta pela terra não se
opõe ao princípio da propriedade priva-
da, mas a umtipodeapropriação,istoé;-
a grande propriedade territorial, seu im-
pulso pode esgotar-se uma vez conquis-
tada essa primeira trincheira. A partir
dessa conquista a aliança operário-cam-
ponesa pode enfraquecer colocando em
risco o desdobramento da luta pela re-
forma agrária em luta pelo socialismo.
Quais são as contradições que podem
contribuir para debilitar ainda mais essa
aliança, núcleo central da força social
que?) poderá destruir o poder da burgue-
sia?
m primeiro lugar, a realização
da reforma agrária tende a
reforçar um setor de pequenos
proprietários que poderão se
opor tenazmente a qualquer
tentativa de transformação no sentido de
uma agricultura coletivizada. Mas talvez
o problema maior tenha origem no plano
econômico. Que acontecerá com a pro-
dução, a produtividade e os preços dos
produtos agrícolas, particularmente os
gêneros alimentícios? Creio que o pri-
meiro mito que devemos abandonar é
que a reforma agrária, pelas forças pro-
dutiva que libertará, provocará inevita-
velmente um aumento da produção a
curto prazo.
Considerando o processo de luta pela
terra no fragor da batalha, a subdivisão
que toda reforma agrária implica, não
necessariamente se limitará aos "latifún-
dios improdutivos", podendo alcançar
fazendas capitalistas onde praticamente
a totalidade da área é utilizada eficaz-
mente para a agricultura e a pecuária.
Por exemplo, se o processo de trabalho
numa grande fazenda se realiza através
da subdivisão de pequenos lotes entre vá-
rias famílias de parceiros, cada uma po-
derá reivindicar a posse e/ou a proprie-
dade da parcela que cultiva, dividindo
efetivamente a terra mesmo onde a ges-
tão administrativa é satisfatória e a pro-
dutividade elevada.
É ilusório pensar que nas fazendas
mais capitalizadas e onde existe um am-
plo proletariado rural, a coletivização ou
qualquer outra forma de socialização se-
rá um processo automático e fácil. Mes-
mo entre os assalariados a tendência de
subdividir a terra e a conformação de
pequenas parcelas individuais poderá
prevalecer em grande parte dos casos.
É certo que existem fatores que pode-
rão contribuir para que a produção au-
mente, embora o mesmo não tenda a
acontecer com a produtividade do tra-
balho a curto prazo: a utilização de
terras ociosas (o que não parece ser signi-
ficativo nas áreas de maior renda dife-
rencial) e a livre utilização de novas áreas
poderão contribuir para o primeiro pro-
cesso. Mas, o que acontecerá com os pre-
ços? Se hoje o camponês é espoliado,
pois vende seu produto a baixos preços,
se amanhã o seu poder político aumen-
tar, isso inevitavelmente se traduzirá nu-
ma redefinição de suas relações econê-
micas com o resto da sociedade. Os
camponeses poderão preferir trabalhar
um pouco menos e ganhar um pouco
mais, o que necessariamente se traduzirá
em preços mais elevados dos produtos
agrícolas, e inclusive uma redução da
produção - por unidade proautiva -
na medida em que ele menos.
No entanto, essa tendência a diminuir a
quantidade. de trabalho empregada na
agricultura, poderá ser mais do que com-
pensada pelo aumento da produção se
por exemplo, os arrendatários não capi-
talistas passam a ser proprietários - o
mesmo valendo para os parceiros - e
portanto mais interessados em aumentar.
a produção. E
# arriscado discutir de antemão
se os aspectos negativos supe-
rarão os positivos ou vice-ver-
aa|-sanoquese-refere-ao-aumen----
to ou redução da produção.
Mas, para que a aliança en-
tre trabalhadores do campo e da cidade
se mantenha é necessário que os traba-
lhadores não se desorganizem pelo desa-
bastecimento (de alimentos e matérias»
primas) e pelo encarecimento dos ali-
mentos. Para os camponeses e trabalha-
dores rurais em geral, é crucial que o
preço de venda de seus produtos aumen-
te e que suas condições de trabalho e de
vida melhorem. Mas isso poderá com-
prometer o desenvolvimento da luta do
conjunto dos trabalhadores pelo socia-
lismo, pelos motivos assinalados anterior-
mente. Como conseguir preços mais ele-
vados para o produtor e ao mesmo tempo
mais baixos para o consumidor? Uma
das vias é retirar essa diferença da inter-
mediação, isto é, reduzindo os custos de
distribuição dos produtos e eliminando a
especulação que ocorre nesse âmbito, o
que é o mesmo que dizer, atacando o
capital comercial e o financeiro que se
encontram encastelados nessa esfera de
atividades. Talvez isso seja uma tarefa
mais complexa de realizar do que a pró-
pria reforma agrária. Outra via, que não
exclui a primeira e pode ser encaminha-
da simultaneamente com ela, é a redução
da renda diferencial ou melhor a redução
da fração de renda embutida no preço de
qualquer produto agrícola. Mas, estarão
os camponeses que obtiverem as melho-
res, terras, dispostos a ceder uma parte
substancial da renda diferencial ali gera-
da, em nome do barateamento dos preços
dos produtos agrícolas nas cidades, e
portanto em nome da aliança operário-
camponesa?
217
 CARTAS ABERTAS
TRIBUNAkIVRE o
A urgência
do diálogo
Contra o espírito de "igrejinha"
"O diálogo repousa sopre dois pos-
tulados: temos algo a aprender do
outro, mesmo que seja um adversá-
rio; e a verdade(provisória) quelnasce
de nosso encontro seráoutra coisa a
mais do que a soma de nossas certe-
zas: um ponto de vista superior as
integrará como momentos parciais de
uma sintese mais rica.
É por isso que o diálogo perturba as
forças do passado que preferem con-
servar-se na oposição maniqueista do
bem e do mail absolutos".
Palavra de Homem __ R. Garaudy
enteruimento maior da reali-
dade brasiléira e a atuação
dentro dela exi-
gem ae todos nós o máximo de
estudo e criatividade. Estamos
aa diante de fatos novos num pais
continental, com caracteristicas impa-
res, onde um processo aceieradao de
modernização se dá dentro de um
quadro de atraso secular.
O muito que nos dizem os clássi-
cos, com suas variadas interpreta-
ções, é de longe insuficiente para
responder às necessidades minimas
do processo de conscientização, or-
ganização e luta de nosso povo.
Por tudo isso, volto a insistir na
necessidade
de maior com-
preensao entre os que querem trans-
formar o mundo, acabar com a misé-
ria, garantir um futuro de participa-
ção, !iberdade e democracia.
Não podemos nos dar ao luxo de
ignorar ou deformar experiências e
contribuições. Somos poucos, ae
beis e precisamos da colaboração de
toaus osaue assumem como bata-
inadores na construção ao caminho
brasileiro para a democracia e o so-
cialismo Mas. essa não tem sido a
prática
£m geral as posições ditas de van-
guarda se bombardeiam sem que a
massa entenda as| divergências, sem
que os ditos militantes tenham clare-
ga de quais são, de fato, as chamadas
divergências.
é o movimento estudantil é co-
mum, por exemplo, se instalar
a confusão no meio da massa
ao apreciar, das arquibancadas]
de longe, a guerra fratricida
aum entre os mais valorosos, os
mais combativos, os mais dispostos;
guerra que a maior parte dos estudan-
tes não está compreendendo.
A mesma análise pode ser feita do
papel das vanguardas no movimento
operário e sindical, onde alinhamen-
tos automáticos substituem a luci-
dez. Sindicatos mais combativos,
embora ainda pouco representativos,
têm suas diretorias disputadas acir-
radamente em eleições com três,
quatro chapas. Todas são contra o
governo, defendem a liberdade sindi-
cal, o direito de greve e se compro-
metem na luta contra o arrocho sala-
rial e pela estabilidade no emprego.
Mas o que se assiste é uma verda-
deira guerra entre elas,
O sectarismo não tem sido mono-
nolizado pelos que atuam no ME e no
O. Em outros campos também tem
omo mom mo o e m eeo oa eeoaio o eae a a ease
#4
estado presente, como entre os novos
partidos, feitos de dentro do Con-
gresso, numa tentativa do governo de
dividir a oposição.
Minha análise de conjuntura me
deixou firme na opção pelo PMDB,
para mim o grande continuador, no
novo momento, da histórica luta do
MDB, opção em que se manteve uni-
do
o essencial da frente que
vitórias tem trazido à nossa gente.tantas
também vejo em outras opções queMas se
apresentam a presença de valorosos
companheiros, testados na luta pela
democracia, como Lula e Leonel Bri-
zola.
prática, a história vai indicar e
opção mais correta. Insisto,
porém, na necessidade de uma
política de companheiros, para
encontrarmos os melhores
2a caminhos para o nosso povo.
Nesse ano de 1981, estou certo, o:
laboratórios do Planalto criarão fór
mulas para tentar impedir a derrotu
eleitoral de 82: da eleição distrital :
vinculação em! todos os níveis, de
sublegenda ao distritão. A necessi-
dade de forjar uma unidade maior da
oposição se apresenta cada dia mais
claramente; a importância de garan-
tirmos a eleição de 82 e conquistar-
mos para a oposição alguns gover-
nos-chave me parece óbvia; a justeza
de juntos enfrentarmos a política de
recessão, de desemprego e de entre-
guismo é evidente.
Porém, companheiros de luta têm
centrado mais fogo nos chamados
liberais que no governo autoritário;
têm gasto mais munição no nosso
PMDB que no partido do governo. A
imprensa dos patrões tem reservado
menos espaço em suas páginas e
manchetes para nos atacar que nós a
nós mesmos, através da chamada
imprensa alternativa.
Não é possível ter ilusão: "política
não é uma ação entre amigos". É
necessário evitar a diluição de posi-
ções, a mistura, sem critério, de co-
locações diferentes.. Defendo a expli-
citação a mais clara possível de posi-
ções, de divergências. Mas, ao lade
dessa firmeza é necessário que haja
humildade, é preciso saber que as
demais posições também têm contri-
buições a dar.
A mudança pela raiz do método de
trabalho, da maneira de nos relacio-
narmos, é condição para não pagar-
mos altíssimo preço, mais uma vez,
pela incompetência aliada ao secta-
rismo, ao mandonismo, à política de
clichês.
Raymundo Oliveira __ Ric de Janeiro
Deputado do PMDB
(trechos de um documento enviado 2
Movimento para publicação)
J
“A“, , % ª
xx
2
CRÍTICA AO JORNAL
direitista
teria cantado
Pela matéria de Movimento no 308
Joan Baez") chega-se à conclusão
("Qual é a de
Baez seria mesmo uma reacionária
de que Joan
de direita. De fato, a realidade não
e capitalista
é bem esta.
Venho acompanhando o trabalho da Joan Baez
há muito tempo e cheguei a outra conclusão.
Joan Baez não é de direita nem de esquerda,
mas apenas uma humanista, pacifista e apartidá-
ria. Tanto é perseguida por governos de extrema
direita como de esquerda. Vejam os problemas
que â mesma enfrentou na Argentina, Rússia e
Brasil. Se a Joan Baez fosse de fato de direita
como dá a entender Movimento, ela não teria sido
importunada ou proibida na Argentina ou Brasu,
como foi.
A citada matéria de Movimento contém muitas
informações interessantes, porém suas conclu
Bões são errôneas. Se elas fossem corretas, Baez
não teria sido proibida de fazer seus sh: 'ws no
Brasil.
Luiz Rebouças Torres -- OVNI
UNIVERSIDADE
RS
Mackenzie,
um castelo
mal-assombrado
O que acontece por dentro dos muros da
Universidade Mackenzie?
Aparentemente, aqueles velhos prédios, ro-
deados de jardins são o centro da calmaria e do
desenvolvimento do ensino na Universidade bra-
sileira. Porém, a realidade é outra: tudo não
passa de um castelo mal assombrado, onde
campeia a repressão interna e o acobertamento e
patrocínio da direita, principalmente nas entida-
des estudantis.
Eis alguns fatos que atualmente açoitam este
oelo campus, rodeado por seu muros feudais, e
que merecem ser relatados:
1. Usando como desculpa a reformulação ad-
ministrativa do instituto, foram demitidos cerca
de 200 funcionários em três semanas,
entre
faxineiros, secretários e bibliotecários.
2. O corpo de segurança, porém, foi reforçado.
São homens que muitas vezes trabalham em
órgãos de segurança, como o DOPS, e que em
suas horas vagas se divertem dedurando, proi-
bindo e garantindo a direita em todos os níveis
da Universidade. Eles são a arma do Instituto,
3. O Reitor tenta proibir bancas de filiação ao
PT, desejando reviver o seu centro real, o 477;
4. Murais de algumas entidades ou mesmo de
estudantes oposicionistas a este esquema du-
ram algumãs horas; todos são arrancados
mando da administração,
5. Ameaças telefônicas são feitas constante
mente a lideranças da oposição.
Mariana da Silva Campos - São Paulo - Capital
TRABALHADORES
Demissão
lembrou
o nazismo
Reconhecendo em Mcvimento um jornal de-
mocrático e defensor dos interesses operário-po-
pulares, encaminho-lhes uma carta que recebi de
um amigo, engenheiro em Belo Horizonte, rela-
tando sua demissão, no último dia 30 de abril,
véspera do Dia do Trabalho. Eis algumas coisas
que a carta conta:
"Depois de trabalhar mais de seis anos na
!
Usimec, metalúrgica aqui de Belo Horizonte, fui
demitido sem maiores explicações, juntamente;
com outros 350 funcionários. Em Ipatinga dizem
que chega a 400 o número de demitidos pela
empresa.
No dia 30 de abril, à tarde, o negócio ficou feio
lá na Usimec. A portaria ficou vigiada por dois
policiais armados. Todos os ramais do PABX
foram bloqueados e ninguém podia telefonar ou
receber telefonema externo e nenhum funcioná-
rio podia sair da empresa. Veja só: ficamos
presos durante quatro horas. As três horas da
tarde, cinco novos gerentes, nomeados pela ma-
nhãà, percorreram os vários departamentos com
listas de demitidos, lendo-as em ordem alfabéti-
ca: Foi a mesma coisa que conhecer o terror
nazista. Este negócio de ler lista em voz alta,
com nomes em ordem alfabética, lembra as cha-
madas para campos de concentração. Lembra
daquele filme A Pequena Loja da Rua Principal?
Nunca pensei que seria demitido de forma tão
humilhar.*e. O mais grave é que a empresa nos
deu duas horas para retirar todos os pertences
pessoais do prédio. Então você imagine: tode
mundo carregando caixas, livros; apostilas etc.,
saindo pelo portão dos fundos. Foi um sufoco.
Muitas lágrimas toram derramadas.
Não consegui entender ainda-o que o tenente-
coronel Sérgio Vale, presidente nomeado em
Brasília quis mostrar com essa demissão em
massa.
Depois de um período de muita preocupação,
hoje estou com a cabeça no lugar. Tenho ido a
reuniões dos sindicatos envolvidos onde a pane-
la está fervendo. Nestas reuniões têm aparecida
pessoas que ocupavam altos cargos na Usimec e
também foram demitidas, aproveitando para de-
nunciar sujeiras, escândalos e negócios não
muito lícitos que ocorrem lá dentro".
Eu acredito que esta carta de meu amige
demonstra muito bem o que é a nossa "democra-
cia relativa", ou como dizem outros, "ditadura
disfarçada". ,
Carlos Roberto da Silva __ Salvador __ Bahia
DENUNCIA
Artesãos não
agradeceram
mera promessa
Nós, abaixo-assinados, artesãos de Lagoa
Se-
ca, Estado da Paraíba, fomos surpreendidos
por
uma notícia publicada no jornal Diário de Borbo-
rema, no último dia 21 de maio, onde se informa
- -
va que teriamos agradecido ao ministro Murillo
Macedo, do Trabalho, por ter prometido ao
sr.
Adailton Coelho, secretário do Trabalho e
Assis-
tência Social, a liberação de uma verba
de 63
milhões de cruzeiros, para a Fundação de Arte-
sanato.
Queremos esclarecer que não poderiamos
ter
agradecido nada pelo seguinte: 1) porque de
tal
promessa só tomamos conhecimento pela leitura
daquela notícia; 2) porque teria sido apenas uma
promessa; 3) porque se tal promessa houve
ela
não foi feita a nós e sim ao sr. Adailton Coelho;
4)
porque, de acordo com nossa experiência,
esses
recursos, uma vez em poder da Secretaria,
não
viriam nos beneficiar. Jamais recebemos
coisa
alguma daquele órgão, além de negaças e
hosti-
lidades.
Não temos motivos para agradecer a ninguém
,
principalmente a esses pretensos protetor
es de
nossa categoria, que vive do seu próprio esforço,
a enfrentando toda sorte de dificuldades, uns
por
falta de recursos para aquisição das matérias-pri-
mas e outros por falta de mercado par:. a venda
de seus produtos.
Lagoa Seca __ Paraiba (seguem 20 assinaturas)
Do - asMQNIMEDTO;a Jedg/81
 "BR OFANBSB VB8.GNC.AAA, -

interpretar suas coisas, de mudar. Afinal, o quilo de

feijão está caro para todo mundo...,

são é-outro diferente, independe das classes intelectuais, época de carnaval, Todo ano a mesma coisa, aí o pessoal sepressões,
tornar perdea
uma agremiação alternativa ela sofre todas as
subvenção,alémdissoumaagremiação
nego vai discutir e se tiver que quebrar o pau quebra
mesmo.
começa a cansar. E hoje em dia a gente percebe que é um
processo que não podia ser de outra maneira, as escolas amassa.
gente Enãoacontece
faz datambém
noite paraque oparadia osemsambista,
contar para
com oa
Mas parece que grande parte da nossaintelectualidade
tomou consciência de que a visão crítica fora da coisa é
não são um organismo fechado, há anos que elas vêmas-
sumindo uma série de compromissos, que elas vêm mu- homem quetem
miação- "eu amormangueirense",
sou àquilo ali o que"euconta sou é a sua agre-
portelense'"",
uma e dentro é outra, e procurou uma aproximação
maior com as classes populares não só para dar a sua
dando, com uma certa dinâmica. E esta dinâmica que a
gente quer denunciar hoje, que não beneficia em nada o a escolasimpatia
com paraeleésagrada..
a "Quilombos" Agora
ele por maissairque doele Sal-
não,vai veja |
contribuição, pas para aprender, esse é que é o aspecto
mais importante. Normalmente o que acontece é que
pessoal do samba, para este pessoal não retorna nada, no
linal todo mundo come, todo mundo vende roupa, todo gueiro para ensaiar
Movimento Durante em aCoelho
época Neto.
da fundaçào da "Qui-
uma pessoa que vem da classe média, que teve condições mundose dá bem, todo mundo transa, eo sambista tá ali,
as escolas ficam reunindo as pessoas, faturando milhões, lombos"comentou-se
Paulinho - Foi sobre
amplamente o perigo do
divulgado racismo..
que o eraobje-só |
discutir, que não
de chegar a uma faculdade, que nunca teve grandes pro-
blemas na vida, e que começa a se relacionar com a mas- dizem que investem no carnaval, fazem um carnaval ca-
da vez mais luxuoso, pelo menos apresentam umas notas tivo maior
umaescoladesamba,da "Quilombos" era
massim,dasumaescola desamba que |
escolasemsi, autonmia
sa, é que ela se surpreende, fica perplexa diante da
realidade porque não tem aquela experiência de base fantásticas, mas parao cara do samba não sobra nada. O
pretende discutir o problema onde noproblemadas bases
daticamentevocêvaiesbarrar
cara que começou aquilo ali, o filho do cara que começou

escola desamba, certo? queeram osnegros. que fize-en-

mesmo. Está acostumada a lidar com valores puramente
aquilo ali, que carregou tijolo, cimento, tomou cacete,

ramas primeiras escolas de samba, e os problemas

abstratos, subjetivos, fórmulas, teses, linguagemsofis-
que sempre foi discriminado de todas as formas não vê o

frentados pordo negro eles. Aíe você acaba discutindoA oquê? O

ticada e de repente entra numa realidade completa-
resultado.

problema suas manifestações. idéia foi

mente diferente, conheço muita gente que fundiu a cuca
Antigamente a escola de samba era uma comunidade

formar um grêmio recreativo de arte negra,comisto juntandovocêo

nessa.
Eu acho que a formação de uma pessoa na sua totalida- onde as pessoas se reuniam, aí começaramas infiltra-
de, tanto comoser intelectual, criador, como operário, a
formação de um homem , de uma mulher, exige a prática
ções, tudo bem, faz parte do processo porque uma co-
munidade quese fecha morre: O que a gente denuncia é a pessoaldacapoeira,dojongo,domaculelê,
jáestáao mesmotempotendo uma atitude crítica em re-de
da vida, exige colocar as mãos nas coisas mesmo. Exige direção desse processo, que faz com que a agremiação do
cara, que ficou só com o copo de cerveja, sirva a tudo e a laçãoa própriacultura
todosquesediscute istoamplamente negra, e éjá do conhecimento
noEscola todos
Brasil,deemSamba
oscampos.EntãooGrêmio Recreativa
estar ali dentro. Se o cara ficar fora daquilo, vivendo de
certos privilégios e se abstendo de uma relação mais dire- todos e o expulse da avenida no domingo de carnaval,
ta, ele fica louco, ou então se individualiza de tal forma
que fica sozinho.
uma hora e trinta depois que botou.o pé no asfalto.
Foram anos de denúncia dos detalhes:novos que leva- Quilombosnadamaisfezdoque
estas agremiações que hoje tentam discutir ladoo problema
de todas
Movimento: Paulinho você aderiu a "Quilomibos"" uma
escola de samba que contesta o esquema dos grandes
vam a esta direção, mas o processo avançou muito, o pro-
blema da mudança foi tão rápido, tão forte, tão fa- doAínegrosurge noa seguinte
Brasil. coisa - "Esses caras são racis-
desfiles por uma descrença nas atuais agremiações?
Paulinho - É, eu acho que está cada vez mais difícil.
dical, que nos leva a dizer que não tem saída. O compro-
misso das escolas de samba hoje é irreversível. E o resul- tas"... O queCandeia
"Dizem a deu énaracista,
gente ocasiãoengraçado,
a seguinte noresposta:
Brasil
Mas isso é uma discussão que já vemsendo travada há
anos e não só por mim, pelo Elton, o Carlos Elias, o Cân-
tado éo que a gente vinhafalando. As escolas continuam
sem dinheiro, sem sede própria, acho que só a Portela sempre
gueses, tevecolônia
colônias dejaponeses,
israelitas, de
gruposnegros alemães,
que têmse reúnem de portu-
agremiações
deia, uma porção de gente dentro das escolas, não só na
Portela, que sempré foi a mais polêmica, um núcleo vivo
tem sede própria, porque orestotá todo mundo devendo,
cé sempre aquela farsa para enganar as pessoas, fazer fechadas,
formar umaagora quando
agremiação, alguns
onde aconteçam para
manifesta-
de discussões. Há muitos anos a gente vem denunciando
este processo de transformação das escolas, o compro-
com que todo ano elas continuem batendo surdo, desfi-
lem durante uma hora e meia. Até apologia disto está çõesligadasasuaformação,asuacultura,asuaetnia
chamadosderacistas". Nãotem nadaaver,nunca sedis-são
metimento delas com o turismo, com esa pompa, com es-
sa farsa. Mas as discussões esquentavam mesmo era na
existindo, que o grande sonho do cara é isso.
Agora 6 grande problema da "Quilombos" é que ao seque branco não podia participar,

(IEE po L EM DEFESA DA CAUSA INDÍIG&NA.

Se você se interessa pela causa indígena, informamos que existe

o jornal PORANTIM, editado pelo CIMI. E o único jornal do Bra-
sil que denuncia as injustiças que sofrem os povos Indígenas. A
mais são os próprios índios que dão a versão dos fatos.
Assinatura anual: Cr$ 700,00 para o Estado de São Paulo, Cr$
1.000,00 para os demais Estados (via área) e Cr$ 1.500,00para assi-
A mais independente
natura de apoio. Para outras informações, escreva a CIMI-PO-
RANTIM, Caixa Postal 58041, 01397, São Paulo- S.P.

e melhor informada

LEIA N.o 71 dos

revista semanal brasileira

Cadernos do

295
- Saúde
emo eee e e a e e oo o "1
- Segurança Nacional FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00
- Política Fundiária cupom, em
DCr$ 7.920,00 à vista L'Cr$ 4.680,00 àvista
- Multinacionais e Operários envelope 2 anos 1 ano
fechado, meu C Cr$ 2.870,00 3 pagamentos C1Cr$ 1.660,00 3 pagamentos
- Ideologia e Delinquência cheque nominal
- Cabranagem à Caminho Nome
Editorial Ltda. _ Telefone
Rua da Endereço
Centro de Estudos de Ação social
Rua Aristides Novais, 101 * Federação 40.000 Consolação Bairro __ e
Cidade . ___ ___--- Estado
Salvador Bahia 293 8o - __.Profissão
São Paulo Cera ...... ... DMS
Assinatura 1981 (6 numeros): normal 750,00 CEP: 01301
estudante Cr$ 600,00 (J Pagarei Assinatura
após receber
Numero Avulso: Cr$ 150,00 - nas melhores livrarias Oferta válida por tempo limitado

O 'moVIMENTOB 14/6/8310
 Valquíria Coelho da Paz

Paulinho da Viola, cantor, compositor, instrumentis-

'a autor de um dos mais ricos trabalhos da música po-
pular brasileira, fundador do Clube do Choro do Rio de
laneiro, é um dos principais articuladores da Escola de
Samba "alternativa "Quilombo. Foi também um impor-
tante elo de ligação entre a chamada "geração universi-
tária" (Nara Leão, Carlos Lira e outros) que saindo da
bossanova buscavam uma renovação de seu trabalho no
retorno às fontes originais do samba de morro, represen-
tadas por Cartola. Zé Ketie outros compositores de
escolas de samba,
Falando a Walquíria Coelho da Paz, para Movimento,
Paulinho da Viola recupera um pouco das suas memó-
tas culturais e conta algumashistórias interessantes que
reiletem a importâneia e as dificuldades da penetração
da música popular na classe média brasileira.
Movimento-Por volta de 1963 os poetas e os músicos do
povo encontram-se tom uma geração de músicos suídos
da universidade e o restaurante Zi Cartola joi o símbolo
desse encontro. Fale um pouco. dessa ligação dos
intelectuais com a música popular. A "mistura" deu
resultados positivos? Como ficou o meio do samba
depois desse momento?
Paulinho - Bem, eu acho o seguinte. Não tenho uma
visão muito clara e muito crítica dessa época, porque eu
estava apenas começando, saindo de uma e entrando em
outra. Mas eu já pensei muito sobre isso, e o que eu mais

(A cultura popular da, com as pessoas e tudo que você encontra, que leva
ou menos sinto, é que havia um distanciamento, que há,
que existe hoje ainda. Esse distanciamento,. em termos você a exercer o poder do pensamento seu, criativo,
crítico.
Querdizer, eu nãoquevejoo assim umaintelectual
regra, não avançou
sei falar
assim mesmode classe de culturas de classes diferentes,
que se chocam pela própria natureza de cada classe.
passa sempre pelo dessa forma. Acho processo
Cada uma tem seus valores, suas formas, sua maneira
muito com
dentro do relação dentro
cinema, a arte dapopular, muito coisadentro
foifeitado
mesmo de ver as coisas. A Bossa Nova já estava assim
numafase quase de declínio, de busca de novas formas, a
crivo de valores teatro,demuitomuito coisa tempo., música
foi feita naHouve popular,
própriaessaliteratura e issojá
Nara, o Carlinhos e outros foram procurar o pessoal
vem
consciência, esse encontro, tomadaque del
ligado a samba, Zé Kéti. Antes do Zi Cartola essas
da Classe Média, aprofunda na medida em que
que éas uma coisa
constradições se
na
reuniões aconteciam muito na casa do Cartola e essa fase .
cu não peguei, eu já peguei o Zi Cartola. O Cartola

que controla os sociedade

Houve aumentam: da nossa história mais recente
umperíodo emde
morava ali perto mesmo, no centro da Cidade. Alí o
pessoal reunia-se, o Carlinhos Lira ia lá, para curtir
que a intelectualid
crítica, dede criação ade estava
emrelação excercendo seu poder
a tudo,àemculturarelaçãopopular.
a seus
samba mesmo, era aquele negócio de pegar samba de
autores populares para gravar, a Nara fez isso.
veículos de valores classe
Esse processofoi média,
reprimido, em relação
Então eu acho que esse foi um primeiro contato e o que
aproximou mesmo, porque antes havia um buraco,
de,eoquevai acontecer essa équedispersão.
éumagrande éa grandeA verda-
partir
pessoal de música não se misturava com pessoal de escola
difusão da arte , deram1973/74 adiscussãofoi retomada, as pessoas começa-
de samba,

m a parar e pensar. Em 1974 a revista Visão chegou

a"Quemsomo
publicar ums nós?número sobre culturabrasileira
brasileira--A
Aí surge tudo aquilo que a gente já sabe, que toda ten-
tativa de colocar-se a chamada arte popular ao nível do
grande públicoencontra uma barreira. O autor enfrenta
muitacoisaquesejulgava, é, ocomportamentoouéesse as- preocupaçãoera a em O que
seguinte: éa cultura
nãoquersobrou nada, não está
essa barreira. A arte tem que ser depurada emfunção dos
sim,logonósmesmoperdemos,comomúsicos,
comointelectuais. Vocêperde nesse processo outros
todo,reali-
você acontecendo nada música, dizer, está aconte-
valores da classe média. Porque é ela, a classe média que
detém esses veículos, é ela que veicula seus valores.
perdemuitoos seus pontosde identidade comessa cendo, mas nós não estamos trazendo isto que
umadiscussãomaisgeraleoquesepercebeé ao nível
os de
valo-
Então qualquer manifestação de natureza popular, de
dade.
tere, No momentoemque
então eu acho muito vocêeria
difícil atravésdisso,
estabelecer uma inter-
regra, resestãosendosubstituídosaíporcoisasquevêm defazer?
fora.
caráter e linguagem populares, passa sempre pelo crivo,
quenofinalviraumaregra decomo ointelectual deve se Istoestá
Ocultura acontecendo
que aconteceu em todos
entãodefoiditadura,os setores.
uma repressão O que
muitosériefortede
comportar diante disso,
pelo filtro dos valores da classe média. Isso sempre
aconteceu e acontece até hoje.
Outro dia surgiu uma discussão sobre o papel do napressõesda nesses anos
própriaderealidadea e por uma
Ao longo desse processo alguns artistas conseguiram
engajamento domuitos
artista,anos,quando
eu me lembreiLukacs de umainda
artigoestava
que verno no sentido permitir a lgumas
discussão. concessões
Alguma dogo-
impor-se, Cartola foi um caso, Nelson Cavaquinho, o,
próprio Zé Keti mesmo, eles tiveramde ser reconhecidos
tinha lido há estáacontec endo. Nós voltamos a fazerpreves, a coisa
discutir
porqueeram bons demais, nãotinha jeitomesmode não
muito naaqui,moda,
editada todo quando
mundo alia,"Estética"
só se dedisso.
falava LukacsEntãofoi oproblema dosgente
salários, aí eu achovaique isto e toda expe-
reconhecer os caras.

euCivilização
peguei esseBrasileira"",
artigo, queum saiu no n.o2 daprá"revista da viência
lectualidadeque a para tem passado amadurecer a einte-
Movimento-E o intelectual nesse processocomo é que
negócio velho cachorro, cutir. Eu acredito uma
que o nova visão.
processo É preciso parar dis-e,
fica? Qual é a o seu papel?
Paulinho - Olha, eu não sei, eu confesso a você que já
falando do daintelectual, donaengajamento dointelectual na diferente do que foi há anos, vai ser completament
1 muito sobre isso, já discuti muito sobre isto,
formação
porquemuito,
as questõescultura,
mais mudaram luta. Achei
importantesalguns interessante
não tinham mu-até Nãopodemo sesquecer queexiste umadiscuss ãodequedis-é
olha eu não sei não, sabe? Eu acho que a própria

dado quer dizer, fatores, dentrodopo

cutirporqueem vo
assuas coisas, mesmo, o povo
de interpretar tem a sua maneira
realidade, a gente quando pensa em termos da inte-
. objetivos as suascoisas, de mu- |:
muito. mesmo, mas a grande realidade não mudou dar, últimainstâ ncia oquilodof eijãoestá ca-
lectualidade em relação à cultura popular, à cultura do
povo, a gente, a gente senipre pensa nointelectual dentro

Oconsciência
que havia naépoca dessa discussão eradaumrealidade,
processo ro prá todo mundo, e a experiência tem mostrado que o
poderaquisi
de uma realidade, é muito difícil perceber como essa rea-
lidade muda, quer dizer, em 17 anos de ditadura aqui no
dediante que o sujeito tem diante que a tivodaé uma
tendência classeproletarizaç
média caiuãomuitonesses
dessa classe,anos,eu
país a realidade mudou muito, muita coisa aconteceu,
desa um estudo, de um amadurecimento com a vi- não sou economista, mas vejo isto. Esse nível de discus-
All aa ed kde kd iss CET RIO
Gr OranNB$a va.GnNc.aaAa. -!!

> Caem SÃO BERNARDO:

SANDINO E

do vas OPOSIÇÃO CONTRA

FARABUNDO

U? PM I OPOSIÇÃO
Você conhece as diferenças?

M a aa Falam líderese didas duas chapas

1
NOSSA
S OPINIÃO "Homem de Ferro
a rebelião premiada
",
que disputam o mais
Os entreguistas querem |
lucrar até na crise combativo sindicato do país

TERROR:;emação _ "*

| | o serviço oficial d

desinformação
33
4©bel
|
.,
é

é9-
2
#
2
Rá | R$
£$ P
"©
>|
Ée |B
ª!
Edição Semanal 309 - 01 a 07/7/81 - Cr$ 110.00- Manaus, Santarém, Macapá,

o que se passou no
encobrir

Centro. Mas as notas do

Rio

Exército não convencem oficiais

dissidentes.P. 3
|

NOSSA OPINIÃO
NÁCIONALISMO E DEMOCRACIA
Os entreguistas
e suas propostas
velhas e injustas
ex-ministro da Fazenda e
atual membro do Conselho
Monetário Nacional, Octávio
Gouvêa de Bulhões, em de-
2 poimento à CPI dos Juros no
Compresso, declarou este mês que o Bra-
sil corre o risco de "insolvência absolu-
ro" dentro de dois anos, se. mantiver o
atual ritmo de captação de empréstimos
para financiar o equilíbrio de
«eu balanço de pagamentos. Além de fa-
"er este diagnóstico, Bulhões apressou-se
em prescrever o remédio: para ele,. a
selnção é, ão invês de se contrair
nmopróstimos externos, estimular os in-
vestimentos diretos do capital estrangei-
vo no país.
Apesar de divulgada amplamente pelos
jornais com uma certa aura de "achado"
econômico, a proposta de Bulhões não é
justa nem original. Afinal, ele não é o
primeiro- ecertamente não será o último
- a defender a tese de que só o capital
estrangeiro é capaz de salvar do caos a
economia rmacional.
De fato, a situação do balanço de paga-
mentos é alarmante e vexatória. Cam-
peão dos devedores internacionais, o
Brasil ostenta o triste troféu da mais alta
dívida externa do mundo, avaliada no
final do ano passado em 54,4 bilhões de
dólares. Enquanto o montante da dívida
externa de 1974 a 1980 multiplicou-se
por três, o valor dos juros ficou -multipli-
cado por nove! (Veja o quadro). Com is-
so, chega-se ao descalabro de, nos últi-
mos três anos, quase 70% das exporta-
ções brasileiras terem sido empregadas
apenas para fazer face aos compromissos
da dívida. Para este ano, as tendências
não parecem indicar melhoras. Na se-
nana passada, o Ministério do Planeja-
mento anunciou que os juros da dívida,
previstos para 6,7 bilhões de dólares, sal-
taram para 7.6 bilhões de dólares, em
lhinção do aumento das taxas de juros no
mercado financeiro internacional. Esses
aumentos, por incrível que pareça, têm
eteito retroativo, isto é, incidem também
sbre as velhas dívidas.
O) quadro é realmente desolador, mas a
«lução proposta por Bulhões se, num
primeiro mstante, poderia trazer um cer-
ro desafogo para a economia, num se-
vundo momento reproduziria as difícul-
Jades atuais em escala superampliada.
Menhum monopólio estrangeiro se esta-
Poleceu ou se estabelecerá aqui com o
Conselho deGisé, Direção
AlcyC. Linhares, Álvaro Ca-
Agostinho
ropreso, Antonio Queiroz, Armando
Armando
Boito Jr.,Conrago Sártori, Célia
Souza, Júnior, Delzir A. Matias,
Jacira Venàn-de
FlávioJoséCarvalho, Igor Fuser,
cio,
Souza, C. Alencar,
LiadeR.Carvalho,
José Crisóstomo
Antero,Márcio
Dias, LuizLuizC.Pedro,
Macklouf
Bueno, MuriloRaimundo
Paulo Ko0za,Perei-
Carvalho, Rodrigues
seu Abramo,
Oliveira, Ti-
RoldãoOliveira.
CanutoMartins,
bérioRoberto
ra, e Washington
Conselho EditorialAndre de Movimento
Alencar!Furtado, Forster, Audálio
Holanda,
Dantas, Chico Buarque
Cardoso, de Orlando
nando Henrique
Boas, Hermilo Borba Filho (1912-1976).
fim altruístico de ajudar a nação a resol-
ver seus problemas. A entrada maciça de
investimentos externos criaria a obriga- "
ção de novas remessas de juros e lucros e
levaria as contas externas do país a con-
dições incomparavelmente piores do que
as de hoje.
Na verdade, a ampla abertura para o
capital internacional - como propõe
Bulhões - deixaria o país muito mais
atado ao exterior por laços de dependên-
cja econômica, financeira e tecnológica.
Infelizmente o ex-ministro não é uma
voz isolada na defesa dessa abertura
para o capital monopolista internacio-
nal. Fazem coro com ele o próprio gover-
no e diversos jornais da imprensa mais
reacionária, que ultimamente tem dedi-
cado reiterados editoriais à "ineficácia"
das empresas estatais. Articula-se uma
verdadeira campanha, tentando identifi-
car as empresas estatais como sinônimo
de fracasso econômico e administrativo e
objetivando inculcar no grande público a
idéia de sua "inviabilidade". Daí à con-
clusão da necessidade de "ágeis e efica- - para mais nove mil. No entanto, o gover-
yes" corporações multinacionais para
substitui-las é um curtíssimo passo, que
vai no mesnio sentido da proposta de
Bulhões.
a realidade, o próprio gover-
no, através de sua política
econômica, debilita as empre-
sas estatais. Na semana pas-
sada, um assessor da Com-
panhia Siderúrgica Nacional (CSN) de-
nunciou a Movimento (veja matéria
"Volta Redonda: a recessão "contagiosa' **)!
que, a pretexto de combater a inflação,
o governo tabelou o preço do aço e li-
berou os preços dos automóveis, de for-
ma que a CSN está vendendo aços sub-
sidiados às multinacionais Relega-se
assim a estatal do aço à condição de me-
ra auxiliar das múltinacionais, contri-
buindo com estas na.obtenção de suas al-
tas taxas de lucro.
O mesmo assessor revelou que, "com a
maxidesvalorização do cruzeiro, a CSN
que tinha anualmente um superavit f1-
nanceiro de quase dois bilhões de cruzei-
ros, passou a ser deficitária". No mo-
mento, as obras de expansão da siderúr-
gica estão sendo desativadas, apesar de
boa parte dos investimentos necessários
já ter sido realizada. Com isso, o equi-
pamento já adquirido corre o risco de
SERVICOS
INTERNACIONAIS Ie No“?
Diretoria de Edição S/A
Raimundo Rodrigues Pereira (presidente),
R. de Paulo Koza (diretor
Abramo (diretor-adjunto:) de operações),
Diretor Responsável
Luiz
Raimundo Rodrigues Pereira
Per-
Movimento é uma publicação
S/A
tas. - Editora
Administração de Livros,
e Jornais
redação: Rua
gilio de Carvalho
São Paulo,e Brasil.
Pinto, 625,
CEP 05415. Telefones:
210-6622
S/A - 210-6744.
Cultural e Distribuição:
Industrial. Rua
Fer- Goeldi, 575.Cia.Tel.Editora
65-5115. Impresso
Vilas ficinas da Joruês. Rua Gastão
da Cunha,internacional
49. Tel. 531-8900.
Material via Varig.São Paulo.
. 5!
BR DFANBSB VB.GNCAAA
Chico
ajudar na "ampliação do mercado de
trabalho interno".
perder-se, exposto ao sol e à chuva, en-
quanto cinco mil trabalhadores são jo-
O governo, com sua postura dita prag-
mática, e exibindo a pose de "indepen-
gados no desemprego, com igual ameaça
dente" do imperialismo americano, bus-
no concentra sua atenção em outros pro-
ca desesperadamente carrear para o país é
capitais das mais variadas procedências.
jetos siderúrgicos, como os de Itaqui.
Açominas e Tubarão, cuja produção es-
Criam-se, assim, oportunidades para ita- ca-
pitais alemães, japoneses, franceses,
tará voltada para o mercado externo.
lianos, etc. e ultimamente até soviéticos.
No caso da Petrobrás, o entreguismo
Desta forma, ao invés de independência,
tem-se pautado por essa mesma linha de
ação. De um lado, o regime, movido por
cria-se de fato uma multidependência,
comichões de "potência emergente", re-
multinacio-
uma terra de ninguém dasconvidadas
nais, onde todas elas são dos jurosa
solveu dispersar recursos, sonhando
transformar a empresa numa poderosa
desfrutar de seu pedaço. Além
escorchantes, das fraudes das multina-
multinacional, para explorar petróleo em
outros países, como o Traque. De outro
cionais e da sangria de recursos para o
lado, contraditoriamente, o próprio go-
exterior, o que é pior e mais grave é esta
verno passou a alegar que a Petrobrás
desarticulação e o esquartejamento da
não tinha condições de achar petróleo no
vida nacional, que passa a funcionar ao
Brasil. Assim, em 1975, Geisel, Shigeaki
e Cia. desferiram um profundo golpe no sabor de interesses externos.
monopólio estatal do petróleo, instituin-
do os contratos de risco para sua explo- importante notar que os
avanços conseguidos pelos en-
treguistas estão profunda-
ração por empresas multinacionais.
Agora, com as dificuldades do regime
mente relacionados com a fal-
ta de democracia e coma anu-
em equacionar os problemas da crise
econômica e do desemprego, o capital in-
ternacional e seus aliados internos têm lação de diversas conquistas democrá-
pela frente uma bela oportunidade de brasi-
ticas dos trabalhadores e do depovooposição
avançar, e procuram empurrar como no- feiro. Isto mostra às forças nacional,"
que a luta pela independência
contra o entreguismo e a édesnaçionalt-
va a idéia de que a desnacionalizaçãoé a
fórmula mágica para a redenção da eco-
nacional. O próprio general Fi- vação de nossa economia inseparável
defesa dos %
da luta pela democracia e pelaa defesa
nomia
queiredo, em sua recente visita à Alema-
dos
que
interesses populares. Eportanto,
interesses nacionais é, regime. também
nha, declarou que os capitais externos
"são bem-vindos entre nós**, e inclusive
considerou que esses capitais poderiam . umaluta contra o atual
Endividamento externo
e serviço da dívida
(1974-1980)
(US$ milhões)
Perseu Serviço da Dívida Serviço da
dívida
Ano Dívida Juros Total Exportações sobre
bruta (líig.) Amortizações Export.
dee Edição 1974 17.166 652 1.920 2.572 7.951 0,32
Revis-
Dr. Vir- 1975 21.171 1.464 2.120 3.584 8.670 0,41
Pinheiros,
1976 25.985 1.810 2.992
1977 32.037 2.104 4.060
4.802
6.164
10.128
12.120
0,47
0,51
Abril
Emílio 1978 43.511 2.696 5.324 7.865 12.659 0,62
nas o- 1979 49.904! 4.186 6.540 10.728 15.244 0,70
! 12.870 20.132 0,64
[1980 * 54.400 | 5.870 7.000
* DadosRevista
preliminares.
Fonte: Conjuntura, Fundação Getúlio Vargas, fevereiro, 1981
MOVIMENTO - 177/6/81
 41 65 F/A BR DFANBSO VB.GNG.AA
A,

TERRORISMO

EM AÇÃO OS SERVIÇOS

************************************************
a

Veja como é feito o trabalho de encobrir o que se passou no Riocentro

Oclimanosquartéis,conforme
apurar de fontes militares ouvidas sepôdeem
Brasília e no Rio de Janeiro, continua
sendo.edeperplexi s
vista concedida na véspera, diz que tem o

_maioriadeseusoficiais.Deao.
objetivo de confirmar "declarações

umnãosabem
informante "ossãoosúnicos quedo ainda
pesssoalmente prestadas à imprensa".
4% É SALES dp te

tado são o quem

encarregado autores
do inquérito aten-e o
contradição um - trecho-diz-

general oficiaisGentildemonstram
Marcondes bastante Filho". Mes-
que "o fato de os laudos técnicos não te-

moservadores considerados con-

rem sido elaborados/ desaconselha quais-

sua inquietação
quer conclusões apressadas" e em outro
apresenta a conclusão de a ue seus. s uDAOr-------------

com os rumos queestavasesentindo

dos acontecimentos. Umum
E 1

delesobservou
dinados foram vítimas de "inominável
atentado".

idiota por ser totalmente

explicações obrigado a ouvir e aceitar
incompatíveis
commenteosofatos.mesmo"Elesqueestãoeu faria fazendose tivesse
exata-
Em missão de rotina

algoApesardestasopiniõesogeneral
para esconder".
a equipe abandona os

Gentil
chefes feridos???

jáExército
chegouestavam
a dizer indignados
que os militares com asdoin-I 8) O sigilo em que é conduzido o in-

sinuações
capitãoparaemalévolas, queAincriminavam
quêérito e o sigilo imposto a todas as tes-

ocação oistosargento. únicaum oficial

expli-
temunhas do episódio e a todos os pa-

- comentou
rentes dos militares, além de ser inex-

-dosésobreque oso moral

chefesdasestãotropassendopelainforma-
plicável contraria o próprio posiciona-

comu-dis-
mento do general Gentil no dia seguinte

nidade de informações, que estaria

ao do atentado: "O que for apurado será

torcendo deliberadamente a opinião do

divulgado. Temos interesse nisso".

pessoal de baixo.
9) O general Milton Tavares de Souza,

Para doumI oficial dacrioureservaumao situação

coman-
comandante do II Exército, é conhecido

dante Exército
por acusar habitualmente a esquerda

quenãotem mais-saída. Atravésdenotas

mesmo quando as vítimas são da opo-

eopinião
de declarações o comando orientou a
sição. Por que teria emudecido, exata-

pública para aceitar'a inocência

tificativas aceitáveis, tendo sido distri- ral Muniz, foram deslocados às pressas mente quando foram atingidos "covar-

dosdadedosdoismilitaresaofinaldo
envolvidos. Concluir pela culpabili-
buídas até agora quatro notas a todas as para o local, depois do telefonema anôni- demente" dois militares em um "inomi-

inquê-
organizações militares, tem reforçado mo do "Comando Delta". nável atentado"?

ritoque significará um desmentido de tudo

. neles a certeza do envolvimento do DOT.
10) De acordo com a nota preparada

disseram, e isto eles jamais farão.

A primeira e a segunda nota foram as- ©" Impacto maior é o
pela II seção do I Exército e distribuída

Por outro lado,inumeráveis

concluir pelaevidências inocênciae
sinadas pelo chefe do CIE, general de
ao "público interno", o capitão e o sar:

serátodaa contrariar
impacto da mentira"
Brigada, Geraldo de Araújo Ferreira
gento estavam no local supervisionando

nãoopinião públicaNonacional. Conelu-a

Braga, e as outras duas pelo ministro
(Gal. Gentil Marcondes) a missão de uma equipe do DOT, que es-

são:estaaltura,osresponsáveispeloinquérito
têm saída. seu entender
Walter Pires. A primeira dizia que, "ten-
tava cobrindo o evento. Por'que até agora
do em vista que a imprensa tem divul- 4) O clima do Rio de Janeiro torna os não se esclareceu que estranha missão

devem:! estar escolhendo entreridícula.

a explica-Co-
gado versões adrede preparadas, que fo- seus habitantes suficientemente avessos era esta? Sabe-se que a atividade de

çãomaisridícula e a menos
mentam a cizânia entre os militares, , ao uso de luvas, como a que foi encon-
recolher informações têm características

nhecedordoes
cumpre esclarecer que nenhum indício trada no Puma.
completamente diferentes.

dizquea grandeterrorismo
maioriadaindiscriminado,
oficialidade
aponta 'as vítimas do Riocentro como 5) No carro foi encontrado um rolo de 11) Que chefia de equipe era esta, com-

nãomas aprovao
responsáveis". As demais insistiram nos fita adesiva do tipo usado para prender posta por dois militares de patentes tão

que umacontraparteumanão oucriariaoutraobjeções

seguintes pontos: "Somente a união e objetos até em supertície lisa e que tam-
distintas como as de capitão e de sar-

aindividualmente.
atentados pessoa,
coesão das Forças Armadas podem levar bém pode ser usada para cintar bombas. gento?

Masoqueiam fazerno
o presidente da República a continuar 6) No dia 1.o de maio o general Gentil
12) O que aconteceu com a equipe do

Riocentro Osnãomilitaressabem se aceita "dequemaneira

com a abertura. A união e a coesão das Marcondes concedeu entrevistas à im-
DOL depois que seus supervisores

nenhuma. pode-
Forças Armadas são a única garantia de prensa durante o enterro do Sargento
foram atingidos? Sabe-se perfeitamente

riam terfilhos, parentesou amigos assis-do

sua sobrevivência, a instituição não pode Guilherme e posteriormente no Hospital
que a equipe nem "defendeu" seus che-

tindo o show, e isso já é motivo mais

ser arranhada". Miguel Couto. Eis alguns trechos:
fes e nem sequer prestou socorros ao

dequeação.suficiente para repudiarem este tipo

Alguns destes oficiais têm se mostrado
particularmente incomodados e até mes-
mo irritados com o encaminhamento que
P- Se as investigações levarem ao fato
de que o capitão está envolvido em aten-
tados terroristas, isso criaria um
terido, que ficou um tempo considerável
na entrada do pavilhão, implorando que
impas- alguém o socorresse.

Dissidentes militar
o comandante do I Exército vem dando se?
13) O documento preparado pela II
ao caso. Informações colhidas neste mes- R - Impacto maior é o impacto da Seção do I Exército para o "público in-

se sente insultada
mo meio dão conta também de que o mentira. O que for apurado será divulga-
terno"], classifica o episódio como crime
IPM do I Exército não é o único a cuidar do. Temos interesse nisso. terrorista. O próprio cabeçalho do do-

e não quer farsas

desse caso que já produziu mais desin- P- Ele (o capitão) estaria com explo-
cumento diz que o assunto é: "Atentado
formações que investigações, como se ve- sivos dentro do carro?

Depois do episódio do Riocentro al- __Exército. Nous os dais+ uz

terrorista no Riocentro", Já o documen-
rá a seguir..

-gunsofretaisqueseempertraraninacan
R - E prematuro. Não posso afirmar.
to da mesma origem, preparado no dia

didatura dogeneral EulerBentes àpres

P- Mas esta hipótese está descartada? 27/5/81 para difusão livre, tem como ti-
1) De acordo com as notas oficiais do I
arrêôncia r Rinçe tt

dência da República voltaram a se con- -

zªgª-11041» R - gente não descarta nada até

tactar. Estãodecididamente interessados

-- mo cmi Fimrento -de missões normais = E epi ii ao Fe

emfatosquee onãoIPMfarsastragaouà luzencenações.

a verdade Umdos
de rotina. No entanto, usavam um carro 2 de maio, justificando a presença dos
P - O inquérito do Exército está cor- dois militares no local;: "(sua presença)
particular do capitão e não um veículo

deles asseguraque a maior parte. .

rendo paralelo ao da Polícia Federal? objetivava acompanhar e contribuir, da
do órgão a que pertencem, como é rotina

Exercito,de-ofrciais-a-praças,éformada
R - Eu acho que vão ser feitos dois melhor forma, para reprimir, se necessá-
em missões militares.

depessoasinteligentesetodosos indícios
inquéritos, até se chegar à conclusão se rio, ações de agitadores e subversivos". _______

estão apontando para o comprometi-

-S Hara € nd de car Eitunstido Coroneriveutor Cerquer
- gurança, general Waldir Muniz,e--©Co---

mento do capitão e doquesargento coma teo-

civil ou se enquadra numcrime militar. 'a, publicada pelo Jornal do Brasil no dia
mando Delta" ligou com uma hora de

terrorismo. ""O pessoal defende

No dia seguinte, antes de concluída 26/5, em que justifica o não envio do
antecedência avisando que jogaria bom-

seda inocência ainda nãoconseguiu pro-

qualquer fase de inquérito e antes que os policiamento: especial solicitado pelo
bas no Riocentro. Nem assim ele se dis-

duzir um álibi convincente, particular-

peritos tivessem elaborado qualquer lau- Riocentro: "No local havia vários estu-
pôs a enviar o policiamento especial soli-

mente para nósmovimentação

militares", dos escalões
do, o general Gentil emitiu uma nota ofi- dantes, pessoas com responsabilidade, A
citado pela sua segurança.

Asuperiores
própria
cial em que já apresenta uma conclusão PM no local poderia até mesmo inibi-
3) De acordo com o general Gentil

do Exército à procura dejus-

sobre o episódio: seus subordinados fo- las".
Marcondes o capitão e o sarg-nto esta- ram vítimas de um "inominável atenta- Veja na página seguinte o outro alvo dos
vam no local cumprindo uma missão do". E ao mesmo tempo em que a nota do
serviços de desinformação: a imprensa e

_MQVIMENTO-1a7/67/81
normal de rotina e de acordo com o gene-
general contraria frontalmente a entre- 0 "público externo").
 TERRORISMO
A imprensa,
a ser indiciada
atentados
Catilinárias dos órgãos de segurança e de
militares de alta patente contra a imprensa
acusando-a de estar "infiltrada de esquerdistas e
de formar uma opinião pública contra as Forças
Armadas", apreensão de jornais alternativos e
"processos contra órgãos da imprensa indepen-
dente, atentados como o que foi realizado
contra o jornal capixaba A Tribuna, pressão
sobre os jornaleiros para que não vendam os
semanários alternativos e até pressões de órgãos
como o Conselho de Defesa Econômica - Cade
- indicam que está em curso uma nova onda
contra a liberdade de imprensa. A caça às bruxas
levou a que, na semana passada, o jornal
alternativo Tribuna da Luta Operária fosse
apreendido pela segunda vez em menos de 15
dias e que o Hora do Povo fosse colocado sob a
ameaça de ser suspenso por 30 dias pela Justiça
Militar, & brasileiros para bancos sulços:
A perseguição da qual a imprensa está
sendo vítima veio a público quando o Jornal do
Brasil divulgou um "relatório reservado" da 2.a
Seção do |.o Exército, para ser distribuído
apenas no interior das Forças Armadas, onde a
2.a Seção acusa a imprensa de ter sido
"tendenciosa ao divulgar os acontecimentos do
Riocentro"' afirmando ainda que a "imprensa
Infiltrada vem trabalhando no sentido de formar
uma opinião pública desafavorável às Forças
Armadas". Tal relatório, que vazou para a
imprensa, foi confirmado posteriormente pelo
comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro,
coronel Nilton Cerqueira, e provocou reações
indignadas da Associação Brasileira de Imprensa.
Em nota pública, a ABI rechaçou a acusação de
que a imprenda tenha desvirtuado as notícias
sobre o atentado do Riocentro, afirmando ainda
que se os órgãos de repressão têm a sua imagem
desgastada é exatamente porque os atentados
terroristas de direita continuam impunes.
Na mesma esteira de raciocínio, o jornal O
Estado de S. Paulo fez um editorial intitulado
"Guerra contra a Imprensa", onde mostra que há
uma coerência entre o documento da 2.a Seção
do 1 .o Exército, e declarações recentes do Chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas, general
José Ferraz, que recentemente também acusou a
imprensa de estar infiltrada de "esquerdistas".
que há uma orquestração com o objetivo de
reinstaurar a censura à imprensa.
BAHIA
Pacto das
O encontro de Roberto com Pinto, Roberto
Santos com Chico Pinto, dois possíveis nomes
para O governo da Bahia em 82, realizado na
__Assembléia Legislativa do Estado provocou um ... teria dificuldade de atrair os se
impacto nos. meios políticos baianos. Acompa-
nhados de suas bases (toda a bancada do PP na
Assembléia e na Câmara Federal, deputados e
dezenas de presidentes de diretórios do PMDB
no interior estavam presentes) os dois líderes
oposicionistas selaram um pactopara a formação
de uma frente dos partidos de oposição na Bahia
para derrotar Antonio Carlos Magalhães e
"implantar um governo democrático, seriamente
comprometido com os interesses populares".
A convocação de uma Assembléia Constituin-
te, a luta pelo fim do autoritarismo e a
implantação de um regime que assegure amplas
liberdades, coma realização de eleições livres e
diretas em todos os níveis e a condenação dos
atos terroristas foram os principais pontos da
declaração conjunta. Mas, foi no âmbito da
sucessão estadual que foram dados os grandes
passos políticos. Além de definirem que os
candidatos a cargos majoritários devem ser
únicos e escolhidos dentro de critérios pré-fixa- Pinto porque só assim, com a oposição unida,
dos em reuniões conjuntas de todos os partidos
oposicionistas ficou definida a fusão dos
partidos de oposição no caso da ditadura efetivar importante não só por representar setores
sua reforma eleitoral.
Do lado do PMDB ainda existe a possibilidade
de uma outra candidatura, a de Valdir Pires. Os
defensores de candidatura do ex-procurador geral
de República no governo João Goulart argumen-
tam dizendo que ele significaria um consenso
4
a primeira
pelos
terroristas
Tem sido a imprensa alternativa que mais tem
sido vítima da guerra -que o regime vem
declarando à imprensa. Há três semanas
foram apreendidos os jornais Hora do Povo,
Movimento e Tribuna da Luta Operária, cujas
edições mostravam que o governo encobria os
terroristas do Riocentro, ao não levar às últimas
consequências as investigações. Na semana
passada, a Tribuna da Luta Operária voltou a
ser apreendida pela Polícia Federal por ter batido
na mesma tecla. No Rio, a Polícia Federal
chegou a prender dois colaboradores da Tribuna
da Luta Operária. Por sua vez, a Procuradoria
Geral da Justiça Militar pediu ao Superior
Tribunal Militar que o jornal a Hora do Povo seja
suspenso por 30 dias e que seja aumentada a
pena de seus diretores que foram condenados
por terem denunciado a, evasão de dólares
E quando se trata de perseguições à imprensa
alternativa, todos os trunfos são válidos, mesmo
que sejam inusitados. Um exemplo disso tem
sido a ação do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica, que teoricamente teria a
função de investigar os abusos econômicos de
grandes grupos econômicos. O Cade listou 500
empresas brasileiras que deveriam ser investiga-
das e dessas, todas sairam da lista, à exceção
da Edição S/A. Por coincidência, essa é a editora
responsável pelo jornal Movimento que agora
se vê sob a folclórica suspeita de praticar abusos
econômicos. O presidente do Cade está
intrigadíssimo de como é possível o jornal
Movimento sobreviver sem anúncios. Ou seja,
em vez de apurar o boicote das grândes
empresas anunciadoras que não circulam. seus
anúncios na imprensa alternativa, o Cade vai
perseguir essa mesma imprensa.
As perseguições vão até os jornaleiros, como
conseguiu apurar o jornal Movimento. Em São
Paulo, o jornaleiro Pedro Lamana, que tem uma
banca no centro da cidade, foi intimado a
comparecer ao DEOPS por vender o jornal
Movimento. Segundo Pedro Lamana, outros
onze jornaleiros também foram intimados pelo
DEOPS paulista por vender jornais alternativos.
Denunciou ainda que alguns fiscais os ameaçam
com multa de até 40 mil cruzeiros, pelo fato de
venderem ese tipo de imprensa.
Tibério Canuto
oposições
entre as oposições. O principal obstáculo que
esses setores colocavam, tanto a candidatura de
Pinto com a de Roberto Santos, é que o primeiro
i i
causa de suas posições políticas mais compro-
metidas com a esquerda e o segundo por ser um
dissidente da ditadura e com fortes restrições na
área mais "radical" da oposição. Assim, o nome
de Valdir Pires surgia como o "meio termo" das
duas candidaturas.
O deputado Francisco Pinto diz que seu
encontro com Roberto Santos visa a objetivos
imediatos de luta contra o regime e que ainda
mantém divergências com o ex-governador. Com
o encontro procurou miostrar que sabe compor,
fazer concessões, sem que isso siginifique recuo.
O ex-governador Roberto Santos, por seu lado,
embore discorde das posições estratégicas de
Pinto, avança consideravelmente na sua posição
inicial de simples opositor a Antonio Carlos Maga-
lhães e já assume uma postura mais ofensiva de
combate à própria ditadura. Ele diz que foram
suas bases que incentivaram o encontro com
será possível derrotar o esquema do PDS na
Bahia. A nova postura de Roberto Santos é
consideráveis da área liberal oposicionista, mas
principalmente porque sua influência política
maior é justamente junto ao eleitorado mais
conservador, formado por ex-bases governistas
que começam a romper com a ditadura. (Jadson
Oliveira de Salvador)
Comitês pela Constituinte, já.
, A estruturação de comitês unitá-
rios pela Constituinte nos municípios
gaúchos, por categoria profissional e
setoriais foi a principal resolução
tirada na |I Assembléia Unitária pela
Constituinte, realizada no último
domingo, em Porto Alegre. Estrutu-
rado para dar um caráter organizativo
a esta luta, o Encontro reuniu cerca
de 300 pessoas de diversas cidades, e
contou com a participação do sena-
dor Pedro Simon, deputado Odacir
Klein, militantes do PT, PDT e PMDB
e 40 entidades de oposição. A |I
Assembléia declarou como tarefas
RIO DE JANEIRO
Saturnino
Durante a manisfestação do último
1.o de Maio no Rio de Janeiro, uma
palavra de ordem despropositada para
o momento dividiu particularmente as
forças oposicionistas que participavam
do ato: "tem que ser governador". Era o
que se ouvia sempre que era citado o
nome do senador Saturnino Braga
irônico da história é que esta palavra de
ordem era puxada exatamente pela
corrente dos partidários do jornal Hora
do Povo, a mesma corrente que agora é
denunciada pelo senador como "radi-
cal" e "estreita", que procura impor
decisões de minoria ao PMDB, insis-
tindo na realização de "uma passeata
estreita, com slogans radicais, (que
pode fortalecer os focos terroristas, em
vez de enfraquecê-los." r senador Saturnino, por outro, não
As declarações do senador Saturni-
no, da segunda-feira passada, domi-
Elas foram feitas a pretexto de cancelar
a participação do PMDB do Rio de
Janeiro numa manifestação pública
que estava programada para o último
dia 29, data que assinalou um mês do
acidente terrorista que vitimou um dos
agentes do DOI-COD! do I Exército. O
ato pretendia marcar uma vez mais a
exigência de apuração dos.responsá-
veis pela ação terrorista e, naturalmen-
te, protestar contra a marcha das
"investigações": O ato contava com a
promoção inicial de diversas entida-
des, entre elas a Executiva da Unidade
Sindical, a UEE e a UNE) Centro
Brasil Democrático e as Federações de
Favelas e Moradores do Rio, Da parte do
PMDB já havia o apoio da bancada de
parlamentares estaduais. Mas por ou-
tro. lado, havia resistências ato,
tanto de parte da cúpula edebis-
tas no Estado, como de certos liberais.
Daí ele ter sido adiado, antes mesmo
das declarações do senador Saturnino
Braga.
Mas as declarações do senador
cairam como uma bomba no meio
político.
Parecia que estavam sendo espera-
das por certos setores, ávidos de
R
destes comitês, a serem criados, a
finalidade de levar diretamente às
bases populares, especialmente jun-
to aos trabalhadores da cidade e do
campo, o debate sobre a Constituin-
te.
Ao mesmo tempo, propõe tam-
'bêm, para as correntes populares, a
discussão de um programa baseado
na reforma agrária radical, expropria-
ção das empresas monopolistas na-
cionais e internacionais e colocá-las
sob o controle popular, e a mais
ampla liberdade política e organizati-
va. (Ver Flores, de Porto Alegre)
radicaliza
encontrar "radicais" que atrapalham o
processo de abertura. E isto num
"momento em que fervilham os boatos
acerca da "operação pente fino" contra
os "radicais", ameaças de golpe e
fechamento da "abertura". Os "*radi-
cais" do PMDB .Jogo foram identifica-
dos como o MR-8 e o passado de luta
trazido à tona em editoriais de 0 Globo
Outros setores condenaram as de-
clarações do senador, que "quase
chegou ao limite da delação", como
escreveu o jornalista Hélio Fernandes,
da Tribuna da Imprensa.
A direção do PMDB, nas palavras de
seu presidente Ulisses Guimarães, teve
uma atitude no bom estilo pessedista.
Por um lado, não desautorizou o
disse que o PMDB era contrário a
manifestações contra os terroristas,
mas apenas a manifestações estreitas,
que não mobilizassem massa. De
qualquer forma, «não endossam o
sentido "MacCartista" das declarações
do senador.
O episódio não se encerrou na
semana passada. Por um lado a
questão do terrorismo continua de pé;
novas bombas e ameaças de bombas
continuam com a mesma frequência as
pistas que levavam aos terroristas.
Assim, só a ampla mobilização popular
pode pressioriar o goverro a apurar
realmente os fatos e identificar os
responsáveis.
Por gutro lado, as forças de extre-
ma direita continuam pressionando se-
tores liberais com suas ameaças de
golpe e fim da abertura. E alguns
destes setores - como deixou bem
claro a atitude do senador Saturnino -
preferem se apresentar como confiá-
veis aos duros, que pugnar pela
mobilização da sociedade contra o
terror. A candidatura do senador, em
contrapartida, se enfraquece. Amplia
pela direita, mas perde campo junto ao
eleitorado oposicionista do Rio de
Janeiro. (Roberto Martins, do Rio de
Janeiro)
MOVIMENTO - 1a 7/6/81
6 Po e 1 - EA XP VO
 seo
BR DFANBSB VB8.GNC; AAA, | 1900NCGCOAFO Aa.| *%
U Em a ever

CRISE SOCIAL

Cecato/ Agência F 4
Sarmentode
smente At
30 mil Apresentado pelodeputadofederal Genival il a -
Tourinho
como a fonte que lhe informou Sobre a operação
terrorista intitulada "Operação Cristal" (na qual estariam
Envolvidos três generais), o ex-polícial NelsonSarmento
disputam 352 Conseguiu provar na semana passada que realmente foi
"agente do Cenimar. Nelson Sarmento apresentou a sua
carteira de polícia! - datada de 14 de janeiro de 1965,
Onde está registrado que ele era agente do Cenimar,
vagas no Rio desmentindo assim o porta-voz do Palácio do Planalto
GarlosAtila, que afirmou que Nelson jamais pertenceu
Enquanto governo e empresários discutem a existência ao Cenimar de Minas Gerais, A denúncia da existência da
"Operação Crista!" ainda vai dar panos para as mangas: o
ou não do desemprego - o ministro Murilo" Macedo
| deputado Genival Tourinho anunciou ter uma outra tes-
afirmou recentemente que ele existe apenas no ABC
paulista -, uma iniciativa da Rede Ferroviária Federal testemunha-bomba: um militar reformado que também lhe
confirmou a "Operação Cristal". - _
deu motivo a uma verdadeira manifestação ao vivo, no
e A. E .
Rio de Janeiro, da gravidade da crise econômica que o
país atravessa. - Anistia estrangeira

A RFFSA publicou, nos jornais cariocas, a abertura de Com a realização de um ato público no Sindicato dos
um concurso para preencher 352 vagas, com salários que Jornalistas do Estado de São Paulo, foi lançada na
variavam de Cr$ 14 mil a Cr$ 23 mil; o anúncio prometia semana passada a Campanha pela Anistia aos Estrangei-
ainda "admissão imediata". Isso foi o suficiente para ros refugiados no Brasil. A campanha é uma
iniciativa do
uma verdadeira corrida à estação Barão de Mauá, no Rio Comitê Brasileiro de Solidariedade aos Povos da América
de Janeiro, local das inscrições: cerca de 30 mil pessoas ,2 Latina. quevemdenunciando a situaçãoem quese.
- 85 para cada vaga - apareceram no local na manhã do encontram os 500 mil estrangeiros refugiados no
Brasil.
dia 27. Tinha desempregados de várias profissões - Segundo o Comitê, desde que foi aprovado o "Estatuto
serralheiros, mecânicos, eletricistas, serventes e até dos Estrangeiros", uma média de quatro pessoas vem
domesticas -, parados há vários meses, e que dispu- sendo expulsa do Brasil a cada semana, Pari o Comitê
tavam vagas de manobradores de trem, auxiliar de de Solidariedade, tal situação só terá um fim s» for
maquinista, auxiliar de eletricista e agente auxiliar de conquistada a anistia para todos os estrangeiros
estação. refugiados no Brasil, seja por motivos políticos ou
Se a "corrida dos desempregados" cariocas é um econômicos.
sinal eloquente da extensão da crise e do desemprego, - a *
outros indícios completam o quadro de caos social exis- De autêntico a dedoduro
tente no país. Em São Paulo, conforme mostrou um
levantamento feito pelo jornalista Carlos Alberto Luppi, De autêntico a moderado do MDB, de moderado a

145 pessoas foram mortas pela polícia nos últimos 10. adesista do PDS malufista, e de adesista a dedo-duro, eis

meses e 500 nos últimos 3 anos, 95% dos quais pela Vetada na Argentina, URSS e Brasil
a trajetória de Joaquim Bevilàâcqua, prefeito do município

ROTA, que juntamente com o Tático Móvel é conhecida Paulista de São José dos Campos, que na semana

entre os policiais como o "pelotão da morte". Atualmen- . passada acusou o Partido Comunista do Brasil de in-
suflar os
te, a polícia mata mais do que entre 1968 e 1971, anos do favelados do município. A vociferação do
JOAN BAEZ
auge do Esquadrão da Morte, sob a invariável alegação prefeito de São José dos Campos contra os "radicais que

de tiroteio e resistência à prisão. tentam jogar o povo contra o prefeito" deveu-se, na

Finalmente, o relatório da comissão especial do PMDB Um tiro pela culatra verdade, ao fato de ele não ter nada a dizer aos 60o

que visitou as zonas do Nordeste atingidas pela seca, %

favelados que foram até à Câmara Municipal, exigindo.

divulgado na semana passada, diz que "poderá ocorrer Se o objetivo do governo gentina, União Soviética e luz, água e esgoto, reivindicações que certamente o

uma violenta explosão social naquela área" depois do brasileiro era evitar que a Brasil". ex-autêntico e hoje dedo-duro Joaquim Beviláâcqua julga

próximo dia 31, quando serão desativados os planos de j viagem de Joan Baez ao No Rio de Janeiro, ela foi mo próprias dos comunistas.

emergência do governo. O relatório revelou várias irregu- / Brasil tivesse maiores reper- seguida por dois agentes, em
laridades na utilização das verbas de socorro aos flage-! cussões políticas, com a um fusca branco, que de-
lados e arbitrariedades cometidas pelos fazendeiros, - 0! proibição : de seus shows em pois, lhe _comunicaram a
ex-ministro Armando Falcão, por exemplo, não paga o São Paulo e Rio de Janeiro, proibição de sua apresenta-
salário mínimo aos empregados de sua fazenda no conseguiu justamente o con- ção no Show Conclave de
Ceará mas apenas Cr$ 3 mil mensais -, e mostrou a "trário. Sol, Organizado pelas asso-
extensão da fome que atinge a população, cuja renda
No dia 22 de maio, à noite, ciações ecológicas Harmonia
stação por mais verbas, exa
f jªm/qr" [ P 2 e | A a

média mensal é de Cr$ 800,00. Segundo o deputado

estavam programadas três Ambiente e Co-Natura para
Oswaldo Macedo, que fez parte da comissão, "a maioria
apresentações da cantora em protestar contra a instalação
"cidade deBotucatu. O

da população não tem onde trabalhar e passa fome,

São Paulo. No entanto, às de usinas nucleares. Seus
do episódio Fre

enquanto há grandes extensões de terra sem qualquer

18:05 horas, ela foi procurada organizadores haviam sido
aproveitamento". (José Carlos Ruy) em seu apartamento r.o Hotel intimados a prestar depoi-
Comodoro por agentes da mento. na Polícia Federal no
MOVIMENTO/CADE Polícia Federal que lhe comu- dia anterior à sua chegada ao
Silva" protestaram em nota )

nicaram a proibição das apre- Rio de Janeiro.

| terrorista da segurança particular
do Governa

repercussõesnão selimitaram
Além dos problemas com o
aisso e na Assembléi

sentações «por falta de um

Vivemos de quê? alvará. Depois de um contato governo, Joan Baez, tal como
| Legislativa do Estadoo deputado Fernando Mor

(PMDB-SP) reivindicou que seja

com o deputado Eduardo fez em São Paulo, concedeu

instalada uma comissão.

O deputado peemedebista Ronan Tito, de Minas especial deinvestigação,

Suplicy, a cantora dirigiu-se à uma entrevista coletiva à

pois em tudo o episódio de

Gerais, denunciou da tribuna da Câmara Federal, na Botucatu lembrou

Polícia Federal com o pro- imprensa, onde defendeu

o caso da Freguesia do ! Ó, quando

semana passada, as pressões que Movimento vem agentes da segurança

dos shows, que o suas opiniões contra a vio-

do governador e policiais

sofrendo por parte do CADE (Conselho Administra- grama espancaram populares eparlamentares,. "-

tivo de Defesa Econômica), por não ter respondido ao delegado de plantão - se- lência. "Os atentados contra
questionário em que o órgão exige até mesmo infor- gundo declarações do depu- John: Lennon e Reagan,
tado- "não quis aceitar", assim.como o do Papa, estão
no o
mações sobre as esposas dos diretores de Edição
Auréliopreso
___

S/A, a editora de Movimento. afirmando ser impossível relacionados. Aconteceram . Num flagrante aosrespeito a suas imunidades parta-

Ronan Tito lembrou que o presidente do CADE, o àquela hora conceder o alva- dentro de uma sociedade que mentares, o deputado Aurélio Peres foi
detido ilegalmen-

ex-deputado Eduardo Galil (da ex-Arena carioca), "era rá. prega a violência, e que a te pela políciapaulistanaúltima
sexta-feira. Aurélio, que .

conhecido nesta casa (a Câmara Federal) pelo elogia desde que seja come-
Na saída do prédio da
disputa a presidência do Sindicato
dos Metalúrgicos de

tida de forma institucionali-

carinhoso apelido de Deduardo Galil, porque seu Polícia Federal, Joan Baez
© São Paulo! encabeçando a chapa União Metalúrgica, foi

zada!
cantou, como protesto, "Gra-
preso
trabalho era dedurar como passa agora a fazer contra
às 12h30 quandofazia campanha nas portas da

Quanto ao trabalho da
os jornais alternativos". "Vejam o pretexto -- afirmou cias a la vida", de Violeta
Meridional, uma indústria localizada no bairro de

Tito - que Galil agora está usando para intervir no Fundação Humanitas, orga-
Parra, e se dirigiu ao TUCA.
Pinheiros, em São Paulo, e conduzido ao 14.o DP,

jornal Movimento: esses jornais não tem nenhum nizada por ela, disse que
Emocionada, e sob muitos
juntamente com seu companheiro de chapa, José

anúncio. Vivem de que?" Em resposta, Tito disse procuram conversar com os

aplausos, entrou no palco e
Vambérto, e uma operária simpatizante da União

que era "assinante do jornal, além de acionista, a jovens antes que eles entrem Metalúrgica.
explicou o que estava acon-
Aurélio não admitiu que os materiais de

conta perdida, porque não estou esperando nenhum para correntes de direita ou L Propagandá
tecendo. A platéia, revoltada,
fossem apreendidos, e foi liberado horas

dividendo". de esquerda. "Nós sentimos

iniciou, de pé, uma vaia que
mais tarde. A polícia, segundo os operários, teria sido

"Deduardo Galil que, repito, é presidente do CADE, que sempre que as pessoas
se prolongou por vários mi-
chamada pela direção da Meridional, onde ocorreram

se limitam a uma ideologia,

nutos e só terminou quando
recentemente
e como tal teria a obrigação de verificar a cartelização,
greves para pagamento de salários

os trustes, os "dumpings", está agora fiscalizando o passam através da vida,

ela começou a contar os
.atrasados. - Ri A dao

jornal Movimento. Que ameaça poderá trazer Movi- enxergar com um só olho. Na
detalhes de seus contatos ; im Joa

mento à economia dos outros jornais? Será que está verdade, não existe diferen-
com a polícia brasileira. Educação, um logro -
ça entre a violência revolu-
ameaçando O Globo, ou o Estado de S. Paulo, ou o
Visivelmente emocionada, cionária e a contra-revolucio- "Por iniciativa do deputado Nival
Kruger (PMDB-PR);foi
Estado de Minas, ou a Folha de S. Paulo?
cantou uma música de Bob nária". Relacionando Gandhi, criada na Câmara dos Deputados
Não posso crer. As razões do sr. Deduardo Galil
, na semana passada,

Dylan (Blowin' in the Wind) e Luther King e Tolstoi como uma Comissão Parlamentar de Inquérito
são realmente inconfessas. Todos sabemos bem
para apurar as

outra de John Lennon. Apa- pessoas que combateram a causas e identificar os responsáveis

quais são as suas intenções: deixar que fiquem em

pela crise do ensino :

nhando um cravo vermelho violência venha ela de que de 1. o e 2.o graus.

circulação apenas os jornais mantidos por anúncios,
A justificativa do deputado
para a

jogado por um espectador, lado vier, citou o último: "A instalação da CPI
e anúncios de multinacionais, que passam a dirigir a
é exposta em quase cem páginas de

linha do jornal: E quando faltam os anunciantes ao som de "Prá não dizer que diferença entre a violência análise do fracasso da reforma
que o governo começou a

não falei de flores", saiu revolucionária e a violência implantar em

multinacionais, temos um outro, frequente e sempre
1971, Para Kruger, o ensino de 1.o e 2.o

pródigo - o governo brasileiro", concluiu Ronan deixando uma frase no ar: reacionária é a mesma que graus "transformou-se num logro para o jovem, para o

Tito. "De todos os países onde me existe entre os excrementos aluno, para o professor, a família e a sociedade".

apresentei somente tive pro- do cachorro e os excremen- . Segundo ele apenas 14% dos alunos
(Antônio Carlos Queiroz, de Brasília)
que começam a

blemas em três deles: Ar- tos do gato". (Sérgio Lessa) estudar concluemaoitavasérie. - E PR:

MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
 BR DFANBSO V8.GNC.AAA.? '
CIDADES
Um milagre
em Montes
Claros...
E o preço da industrialização selvagem
Reginauro Silva
Desde o início da década de 60, quando
se habilitou a receber incentivos fiscais
para criação de seu parque industrial, a
outrora bucólica cidade de Montes
Claros, no norte de Minas, vê crescer o
número de loucos, toxicômanos, meno- . orfão do fazendeiro José Rocha e
res abandonados, mendigos e se sente
impotente para absorver os problemas
decorrentes dessa explosão.
Ao mesmo tempo torna-se palco de
acontecimentos inéditos e chocantes:
No dia 13 de março deste ano,
desesperado pela demora na liberação de
verba de 80 milhões que salvaria da
iminente falência a empresa, Juarez
Ferreira, presidente da Tok S/A Manu-
fatura de Roupas, fábrica da cidade,
sacou seu revólver e disparou contra o
diretor da Sudene em Recife, Marlos
Jacob. Dias após, dava entrevista expli-
cando que sua intenção não era matar o
homem que vinha protelando a liberação
da verba mas suicidar-se.
Dois dias depois, a população de
Montes Claros amanhecia assustada com
o encontro, nas proximidades do parque
municipal, do cadáver,crivado por seis
tiros calibre 38, de Wilson José Gonçal-
ves, o "Chapisco".
O motivo do crime: tráfico de entor-
pecentes, mal que a cidade só passou a
conhecer nos últimos anos.
A cidade voltaria às manchetes nacio-
nais no dia 10 de maio deste ano, com a
divulgação de inédita e curiosa sentença, cento quando a média nacional é de 6,5).
na qual o juiz Tibagy Sales Oliveira
colocava termo a um casamento que
durava dez anos, embora jamais pudesse
ter sido realizado. Apresentando docu-
mentos falsos, casaram-se nesta cidade,
perante o juiz de paz, em 7 de outubro de Dinamarca, Estados Unidos e Japão.
1971, as mulheres Terezinha de Jesus
Veloso e Maria Nazaré Duraes (esta
falsificara uma segunda certidão de
nascimento, passando a usar o nome de
José Veloso Duraes). A declaração de
nulidade fora proposta pelo pai de Maria
Nazaré, o rico fazendeiro Galdino da
Fonseca Duraes, que temia ver sua
fortuna desviada para Gilson Veloso
Duraes, registrado em 1975 como filho
do "casal". Na realidade, o pai da
criança, como confessaria a própria
Terezinha, era o pedreiro conhecido por
Sinvaldo.
Filhos do milagre
se viram no
A e e A C
tráfico e violência
A comunidade ainda teimava em
assimilar esse escândalo quando se viu
abalada, na madrugada do dia 20, com o
bárbaro assassinato a tiro e marteladas,
do casal de namorados Fábio Martins
Rocha e Cláudia Maria Athayde Soares,
representantes de abastadas e tradicio-
nais famílias da aristocracia local. Até o 91% dos 64 projetos aprovados para a
fim da semana passada a polícia
reforçada por detetives de Belo Horizon-
te, ainda lutava com hipóteses.
Fábio Martins Rocha, 24 anos, repre-
sentava a dinastia da família Martins,
voltada para a pecuária de corte. Era
sobrinho de Américo Martins Filho,
dono do Jornal do Norte, um dos três
diários de Montes Claros. Tido como a
ovelha negra da família, desde os 15 anos
se afastara de casa, passando a sobrevi-
ver com o tráfico de tóxicos e a venda de
imóveis que herdara do pai. Cláudia
Maria Athayde, 18 anos, era filha do
fazendeiro e empresário Getúlio Soares,
dono de imobiliárias em Minas Gerais e
no Espírito Santo e candidata potencial a
todos os concursos de beleza e desfile de
moda que se realizavam na cidade.
O duplo assassinato ensejou a desco-
berta de uma poderosa rede de tráfico
de drogas e entorpecentes, com ramifi-
cações na cidade de Pirapora, a 180
quilômetros, nos Estados de São Paulo,
Bahia, Santa Catarina e Pernambuco, e
até nas fronteiras com a Bolívia e o
Paraguai.
Esse problema veio juntar-se a outros
que vem enfrentando Montes Claros
desde que começou a crescer em ritmo
acelerado. A população, que em 1960
era de pouco mais de 50 mil habitantes,
pulou para 180 mil em 20 anos, (uma
taxa anual de crescimento de 12 por
Os grandes fazendeiros, que garantiam a
sustentação econômica do município,
foram substituídos pelos homens de
indústria, vindos de outras partes do país
e do exterior, principalmente França,
Empresário foi em
Recife levantar
grana a bala...
A presença de executivos e empresá-
rios, cada vez mais exigentes, proporcio-
nou o surgimento de atividades até então
não exploradas. Há dez anos, houve
reação de setores conservadores quando
se anunciou a instalação do primeiro
motel da cidade. Hoje, Montes Claros
tem quatro motéis. Cresteu também o
número de barzinhos e boates, prolife-
rou o consumo de drogas. A comunida-
de, enfim, se sente despreparada para
coabitar com os 20 mil estranhos que
fazem sua população flutuante.
Ano passado, as 21 grandes empresas
industriais em funcionamento foram
responsáveis por 50% do ICM arrecada-
do pelo município. Juntas, tiveram
faturamento da ordem de Cr$ 4 bilhões,
o dobro do faturamento da pecuária.
Preocupada com a concentração de
indústrias em Montes Claros, onde estão
área, a Sudene passou a adotar nova
lavrasR 9 á 3.
A vítima Cláudia;
numa cidade que s * Dumont
aa,É le Focajuiz © PP ©Lespo
acorda para o
diretriz, visando a criação de outros
pólos nas cidades de Várzea da Palma,
Janaúba, Pirapora e Bocaiuva. Mas já aí
o desenvolvimento de Montes Claros,
agregado à soma dos conflitos sociais,
se tornara irreversível.
Atraídos pelo chamariz da industriali-
zação, começaram a aportar na cidade,
nos últimos 15 anos, não apenas técnicos
especializados, mas moradores da pró-
pria região. Vindas de pequenas cidades,
sem qualificação profissional, essas pes-
soas, frustradas pela falta de opção de
trabalho, passaram a integrar um con-
tingente de mendigos e desempregados
que perambula pela cidade.
Favela deixou de ser apenas privilégio
das capitais. Hoje, Montes Claros conta
mais de uma centena dessas habitações
miseráveis, localizadas próximas ao
distrito industrial e nas saídas da cidade.
Segundo dados oficiais, 70% dos favela-
dos são oriundos de outras cidades do
norte de Minas e da zona rural do
município. Vivem de pequenos serviços
braçais e de biscates, trabalhando como
"quebra-galhos". Outros partem para a
criminalidade.
Maria Eliene Carvalho, coordenadora
do Núcleo de Empregos, orgão do
ministério do Trabalho, diz que, apesar
de ser responsável por 70% da mão-de-
obra local, o parque industrial de
Montes Claros não gera tantos empregos
como imaginam aqueles que o procu-
ram:
- O número de vagas criadas pelas
indústrias - disse - chega a ser
irrisório, mesmo para a mão-de-obra não
especializada.
Ressalta que há muita rotatividade
nas empresas, em decorrência principal-
mente de crises financeiras:
- Para equilibrar seus orçamentos, a
primeira coisa que fazem é reduzir o
número de empregados. A Sudene injeta
um pouco de dinheiro e as empresas
voltam a admitir.
No primeiro trimestre deste ano, a
procura de empregos aumentou em
31%, em relação ao mesmo período do
ano passado. Nem tudo anda bem, no
entanto. Enquanto a oferta aumentou no
setor da construção civil, no industrial
reduziu-se sensivelmente a admissão de
empregados. De janeiro a março do ano
passado, 7.613 pessoas procuraram o
Núcleo em busca de emprego, tendo sido
atendidas 391. No primeiro trimestre
deste ano, o número de desempregados
saltou para 11.022 (31% mais) com 562
conseguindo colocação.
Nanuque *É#
rel <+$
Conselheiro
jet
""à
> Santos ©ias
38
- cdi
O problema foi agravado com a
paralisação de duas indústrias que
juntas, empregavam 465 pessoas. Fe-
chada desde agosto de 1980, a Transit
Semicondutores S/A, uma das mais
sofisticadas empresas da América Lati-
na, pioneira no Brasil na produção de
transistores, encontra-se abandonada,
com seu equipamento entregue à poeira
e teias de aranha. Seus 397 empregados,
a exemplo dos 68 da Companhia Mineira
de Doces e Laticínios, também fechada
desde o ano passado, continuam sem
trabalho, à espera da decisão de suas
reclamações na justiça trabalhista.
Quando chegou ao extremo de dispa-
rar uma arma no escritório da Sudene
em Recife, o diretor da Tok, Juarez
Ferreira, refletia o desespero dos empre-
gados de sua fábrica de roupas em
Montes Claros.
Instalada com investimentos da ordem
de Cr$ 446.024.698,00, a Tok emprega-
va, há seis anos, 1.662 pessoas. Atingida
sucessivamente por três crises financei-
ras, a empresa inicialmente reduziu a
jornada de trabalho, passando poste-
riormente a realizar dispensas e, hoje,
tem pouco mais de 400 empregados.
Ex-empregadas,
desempregadas,
prostitutas...
Quando foi implantada em 1975 a Tok
provocou pânico entre as donas-de-casa.
Sua mão-de-obra se constituia essencial-
mente de antigas empregadas domésti-
cas atraídas pela elevação do padrão
salarial. Essa situação desesperou as
donas-de-casa, momentaneamente priva-
das de suas empregadas, tendo que recru-
tá-lasnazonarurale atéém outras cidades.
O passar dos anos se incumbiu de
reverter o processo. Enquanto o proble-
ma doméstico era resolvido com a
"importação" de mão-de-obra para o
trabalho caseiro, as ex-domésticas e
ex-operárias estão hoje engrossando o
número de desempregados, pois não
encontram colocação na sua ocupação
original. Sem outra opção, algumas
seguem inevitavelmente o caminho da
«prostituição.
E assim a nova Montes Claros vai
levando sua vida, Os leitores dos jornais,
já não se assustam com a divulgação de
batidas policiais como a de terça-feira da
semana passada, quando em poucas
horas a polícia deteve 19 "mariposas"
que faziam trotoir nos já tradicionais
"pontos" das principais ruas da cidade.
A nova Montes Claros torna-se, dessa
forma cruel, mais uma cidade grande
desse triste e falado milagre brasileiro.
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
» à Ai sa pia #03?

MOVIMENTOS POPULARES
Serapicos (*)
Pela primeira vez
desde 1972, e depois
de ter se tornado o
mais combativo cen-
tro de lutas operárias
nos últimos anos, a
disputa pela direção
sindical dos metalúr-
gicos de São Bernar-
do do Campo e Dia-
dema não se fará
com chapa única,.
Duas chapas foram
registradas e apre-
sentadas à imprensa
para concorrer às
eleições que irão se
realizar de 3 a 7 de
Agosto.
A Chapa 1, apoiada.
pela diretoria cassa-
da do sindicato, é encabeçada pelo
ferramenteiro da Ford Jair Antonio
Menegueli, um dos 16 membros do
comando da greve de 80, membro da
comissão de salários escolhido pelo seu
setor, e responsável por diversas tarefas
de sustentação da greve de 41 dias. Junto
com ele alinham alguns membros da
comissão de salários e outros metalúrgi-
cos menos conhecidos pela categoria.
Além dele, da diretoria executiva fazem
parte Vicente Paulo da Silva, da
Mercedes-Benz, Osvaldo Martines Bar-
gas, da fábrica Kentinha, Humberto
Aparecido Domingues, da Volkswagen,
João Paulo de Oliveira, da Sulzer-Wei-
zer, Paulo Tarcisio Okamoto, da Com-
mander e João Justino de Oliveira,
integrante da atual junta governativa, da
. Ford. ©
A Chapa 2 tem como presidente
Osmar Mendonça, conhecido pela sua
destacada participação na greve de 80.
Ele trabalha desde 1976 em São Bernar-
do e já passou pelas fábricas Schuler,
(*) Foi membro da comissão de salários em 1980.
Técnico mecânico, era funcionário da Volks quan-
do foi demitido depois de 41 dias de greve. For-
mou-se jornalista ainda como funcionário da
Volks. E militante e filiado ao Partido dos Tra-
balhadores de São Bernardo desde o seu lança-
- mento.
A cisão em São Bernardo,
Wagner Lino Alves é torneiro mecà-
nico, membro da Comissão de salários, ' também do conjunto de trabalhadores
um dos 16 representantes do Comando
de greve, já trabalhou em diversas fá-
bricas de São Bernardo e Diadema,
passando pela Termomecânica, Kubota,
Feba e outras. Está sendo processado
pela Lei de Segurança Nacional por
sua participação durante a greve de 80,
tendo sido condenado, em primeira ins-
tância, a 2 anos de cadeia, e era apon-
tado como um dos mais fortes concorren-
tes à presidência do Sindicato. Por
discordar do processo de formação das
chapas, se recusou a compor qualquer
outra que não contasse com o apoio da di-
retoria cassada, Assim Wagner explicou
sua posição para Movimento:
"Muitos se questionam do porque da
cisão de um movimento que nos
últimos anos caminhou de forma
unitária. Esta interrogação não é só dos pesar em cima dessa realidade. Não
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
_BRDOFANBSB VB.GNC.AAA, |
. W 94
SÃO BERNARDO DO CAMPO
vão ter de escolher entre
opções. A escolha será difícil...
Batista (chapa 2) e
Jair (chapa 1): o
risco da divisão.
3 É
MGM, Ratro, Mayer estando registrado
na pequena oficina mecânica Autora-
ma, pois não consegue arrumar emprego
em, Penhuma outra fábrica grande da
região.
Lembranças de
velhos tempos do
sindicalismo
Junto com ele concorrem à diretoria
executiva: João Batista Lemos, orador
nas assembléias da greve, ex-funcionário
da Volks e da Mercedes e que também
foi obrigado a se empregar em uma
pequena oficina,- Serralheria Assis -
para poder concorrer às eleições do
sindicato; Enilson Simões de Moura, o
Alemão, outro líder da greve de 80 já
passou pela Volks, Sulzer-Weiser, Me-
rinco e trabalha também na oficina
Autorama pelos mesmos motivos que os
outros dois. Ele e Osmar foram respon-
sáveis por um documento que considera-
va a greve derrotada, divergindo em
muito da diretoria do sindicato; Jaime
Vicente Ferreira, da Commander; Emí-
dio dos Santos, da Ford; Geovaldo dos
Santos, da Volks; e Manoel Ferreira de
Lima, da Mercedes, todos membros da
comissão de salários.
vista por dentro
que assistem de "fora" o processo, mas
de São Bernardo e Diadema.
Por que se dividiram aqueles que
estiveram sempre unidos nos piquetes,
nas prisões, nos processos e nas greves?
Seria difícil analisar em poucas linhas
todo um processo que culmina com as
duas chapas. É importante ressaltar, no
entanto, que a falta de uma discussão
ampla junto à grande massa de
operários da nossa base, ou pelo menos
da participação do conjunto da comis-
são de representantes de fábricas
(comissão de salários) foi a permissão
ara que prevalecesse o sectarismo e a
givisão. ' integrantes de ambas as chapas sim-
A comissão de salários foi chamada a
opinar quando a divisão já era um fato
consumado. Foi chamada apenas para
constatar a divisão. A massa foi a
grande ausente, e agora temos que
duas
As chapas mal tinham acabado de
ser apresentadas, quando, a disputa e
a troca de ofensas começou. Esse fato
trouxe para muitos metalúrgicos ali
presentes a preocupação e a lembrança
daquilo que de pior existe no sindicalismo
brasileiro. Palavrões foram proferidos e
criou-se um clima nada parecido com o
sindicalismo que até algum tempo atrás
era símbolo de unidade sindical conse-
guindo, por pior que fossem as divergên-
cias políticas, levar uma única palavra de
ordem para toda a categoria.
Na verdade, a apresentação das
chapas foi o momento de aflorar
divergências cultivadas desde a campa-
nha salarial de 1980 entre duas concep-
ções de trabalho sindical que acabaram
se cristalizando e se chocaram. Até o
início da campanha salarial de 80, as
pessoas que hoje encabeçam a chapa 2
gozavam de prestígio e influência junto à
diretoria do sindicato. Eram apontados
por Lula comoseus legítimos sucessores.
A disputa pela liderança do movimen-
to, a avaliação dos resultados da
greve, a instalação de uma casa para
receber o Fundo de Greve, e com isso a
desconfiança de que se pretendia montar
um outro sindicato paralelo e indepen-
dente do sindicato atrelado, como
podemos deixar que de maneira algu-
ma a atuação de qualquer chapa baixe
o nível da campanha, pondo em
segundo plano as questões da catego-
ria, prejudicando o encaminhamento
diário dos problemas e das lutas que
devem surgir. Frente a qualquer pro-
blema que atinja os trabalhadores, as
disputas, as chapas, as divergências
devem ser colocadas de lado para
resolvê-lo de forma unitária.
Os ataques pessoais, o baixo nível irão
afastar os trabalhadores de suas líde-
rânças e o prejuízo será comum.
O grande inimigo dos trabalhadores
não deve ser procurado entre os
plesmente porque o grande inimigo é a
ditadura militar, é o imperialismo.
Existem coisas importantes a serem
contadas, e elas devem ser contadas a
seu tempo".
Wagner Lino Alves
[- m
P.
chegaram a cogitar alguns membros da
diretoria, fez as coisas se dividirem.
Osmar e Alemão defendiam a volta ao
sindicato a todo custo, com, ou sem
intervenção, mesmo que isso obrigasse a
convivência com o mais terrivel pelego.
Alguns diretores disseram na época, e
dizem até hoje: "nós não aceitamos
ninguém que concilie com pelegos".
Outros pontos de divergência aflora-
ram entre as duas correntes neste início
de ano: a participação na comissão de
representantes dos funcionários da
Volkswagen defendida principalmente
por Osmar e Alemão, que a diretoria
resolveu negar pedindo aos operários que
votassem contra ela e a interferência no
processo de escolha da junta governativa
que iria substituir a intervenção, tam-
bém defendida pelos dois, e da qual Lula
nega ter participado.
Uma semana antes do término do
prazo para registro das «chapas, Osmar,
Alemão, Batista, Wagner e Romel (estes
dois últimos também membros da
representatividade junto à categoria),
procuraram a diretoria e lançaram um
documento para toda a categoria pro-
pondo uma chapa unitária. Eles tenta-
ram também abrir o processo de
discussão da chapa com os membros da
comissão de salários, que teve sua
representatividade questionada pela di-
retoria, pois diversos de seus membros
eram desempregados.
Mas a argumentação definitiva usada
pela diretoria para excluí-los de uma
chapa, além de considerar impositiva a
forma como foi proposta essa unificação,
foi o fato deles pertecerem a determina-
dos grupos político-idêológicos que
não se afinavam com a diretoria do
sindicato.
O risco de divisão e o consequente
enfraquecimento da luta sindical existe e
deve ser evitado. O processo eleitoral
precisa ser politizado, deixando de lado
todo e qualquer tipo de mentira ou
perseguição ideológica, para que a ele se
incorporem os grandes ausentes do
processo de formação das chapas. Ou
seja, a grande massa metalúrgica aflita
com o problema do desemprego, a
carestia e as péssimas condições de vida
que só uma justa e consegiiente direção
saberá enfrentar.
 BR OFANBSB V8.GNC.AAA,

SINDICATOS

D que es)

à cm jogo em

O que está em jogo na eleição para o Sindicato dos quanto aos rumos gerais do movimento sindical brasi- pontos de vista quanto às questões polêmicas de São
Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (veja matéria leiro. Bernardo e do movimento sindical como um todo. O
na página 7) não é apenas a questão de quem irá Como se verá no debate a seguir, as 2 chapas pensamento da chapa 1, apoiada por Lula e pela atual
controlar o mais importante e combativo sindicato do representam visões distintas e que tendem a se confron- diretoria, vai exposto pelo ferramenteiro Osvaldo Mar-
Brasil. Na verdade, as duas chapas que concorrem, tar na Conclat, o leito natural para tais divergências e tines Bargas, candidato a 1o secretário. Pela
ambas combativas, representam não só visões diferen- que será realizado também em agosto como as eleições chapa 2, fala o candidato a presidente, Osmar Mendon-
ciadas quanto aos complexos problemas que o ABC de São Bernardo. ça, o Osmarzinho, um dos 13 sindicalistas condenados
paulista enfrentou nos últimos três anos __ por ser o Para entender tais divergências, Movimento abriu as na Lei de Segurança Nacional em decorrência da greve
carro-chefe do movimento operário - como também suas páginas para que ás duas chapas apresentem seus do ABC do ano passado.

Quanto à questão do pluralismo

otos de Maurício Simonetti/ Agência F4

sindical ou unicidade sindical, é difícil

Se não houve um amplo movimento responder-a - priori qual - deve- ser-a---- --
de apoio à greve de 1980, foi por alternativa à atual estrutura sindical. Se
vacilação do movimento oposicionista.
os trabalhadores se posicionarem favora-
vel ao pluralismo, nós teremos de
Não foi culpa de São Bernardo. :
defendê-lo.

E impossível avaliar a greve de 1980

_/ ALIANÇAS E PELEGOS
sem levar em consideração a expe-
riência da greve do ano anterior, quando E impossível um acordo com
a diretoria decretou uma trégua de 45 ospelegos, paisjgles
i ' após esse prazo; n 10.

Sobre essa questão, faço ate uma

Em 1980, havia a necessidade de que a ressalva pessoal a alguns erros cometidos
categoria levasse a sua luta até o fim, até pela diretoria em sua prática passada.
as últimas consegiiências. Se a diretoria Desde 1978, os "sindicalistas combati-
não agisse assim, ela seria atropelada
vos'* tendo à frente Lula, Olívio Dutra,
pelos trabalhadores, que continuaram João Paulo Vasconcelos e outros, busca-
em greve, indepedentemente de sua
ram uma aliança com os sindicalistas
liderança. É verdade de que não obtivemos
nenhuma conquista econômica. Do ponto atrasados, visando à formação de uma
de vista político, de elevação do nível de Ca/ Wa. © vao % sa intersindical. Creio que isto foi um erro,
» e h
consciência dos metalúrgicos de São Ber- que veio desembocar numa unidade
Osvaldo (chapa 1) - chapa unitária seria composição prejudicial cupulista. Em vez de puxar os pelegos
nardo, a greve foi vitoriosa e esse é o seu
saldo principal. Quanto à crítica ao iso- para cima, creio que os sindicalistas
como também pelos que combatem tal combativos buscaram um nivelamento
lamento de São Bernardo, se não houve proposta.
JUNTA GOVERNATIVA por baixo. Assim sendo, creio que o que
maior unidade com o resto do movimento
sindical do Brasil, foi por limitação do | A nomeação da junta governativa se coloca hoje é uma política de alianças
movimento sindical e não de São Bernar- gra um trâmite normal para baseada nos sindicalistas combativos e
do. a retomada do sindicato, através nas "oposições sindicais", com vistas a
A proposta da Unidade Sindical se tornar uma articulação que dê o tom
F se não se soldou um amplo do processo eleitoral.
tem o grave erro de do movimento sindical. Não podemos
mento oposicionisa de apoio, foi porque há
vacilações no movimento oposicionista. Nós, que defendemos o ponto de vista colocar essa unidade pela esquecer que é impossível o acordo com o
Isso não é culpa de São Bernardo. da diretoria, entendiamos que a nomea- cúpula, esquecendo a unidade real. peleguismo, pois estes representam os
ção de uma Junta Governativa pelo patrões, e que há uma luta a ser travada
ministério do Trabalho era o trâmite A proposta da Unidade Sindical tem desde hoje: a luta contra o peleguismo.
/. COMISSÃO DA VOLKS normal para.a retomada do sindicato o grave erro de colocar essa unidade Nada justifica uma aliança com os
endemos o boicote às eleições da através do processo eleitoral. E sabíamos como uma unidade de cúpula, esquecen- pelegos e devemos nos diferenciar deles.
que o ministério do Trabalho tinha do-se da real unidade dos trabalhadores,
Volks porque os sindicatos seriam - dificuldades para nomear uma junta que para ser efetiva tem que se dar em
| enfraquecidos comum . pelega. A Junta, 'ao assumir, mostrou cima de uma proposta de greve geral. Se formassemos uma chapa que
sindicalismo paralelo de direita. que não era moleque de recado do
ministro do Trabalho. Creio que tanto a Unidade Sindical não tivesse unidade, isso
como a proposta do ENTOES tinham o provocaria "rachas" futuros e nos
A. proposta de participação no proces-
so eleitoral da Comissão da Volks ajudou
mesmo defeito: ambas não nasceram das ' colocaria em dificuldades.
- ESTRUTURA SINDICAL bases. A primeira é essencialmente
a nos dividir, pois membros da chapa 2
A luta contra a estrutura sindical cupulista e a segunda é umisavo de gatos,
A existência de duas chapas quer dizer
defendem o ponto de vista de que deveria: que existem propostas diferentes tanto
mos lançar candidatos. Nós fomos atual será feita hoje, não amanhã, para São Bernardo como para o movi-
Desde o 3o Congresso dos Metalúrgicos
contrários a isso e defendemos o boicote organizando os trabalhadores de São Bernardo que levantamos a mento sindical como um todo. Nós
porque a proposta da Volks era a de pela base. pretendemos dar continuidade ao traba-
bandeira de uma Central Unica dos
enfraquecer os atuais sindicatos e criar lho da diretoria cuja atuação de três anos
Trabalhadores, que deve ser defendida a
um "paralelismo sindical" de direita, mostrou ser essencialmente correta. A
Aqui em São Bernardo temos uma todo custo. Mas a CUT. não poderá ser
procurando esvaziar a proposta de
delegado sindical. O fato de uma parte linha sindical essencialmente justa, com- controlada pelo peleguismo e não poderá outra chapa, na verdade, sempre fez
dos trabalhadores da Volks ter votado provada por uma prática de três anos. ser cupulista. Nesse sentido, a Conclat de- oposição à diretoria, e se em algum
em candidatos para a Comissão não é Temos feito a luta contra a ditadura, ve ser um embrião da Central Unica, mas momento esteve junto com a diretoria, o
um indicativo de que esses operários pois nossas greves chocavam-se com o não deve formá-la. Se defendemos uma esteve só para conquistar espaços, para
estão contra nós, ou que nós dividimos a regime e sempre combatemos a atual Central Unica dos Trabalhadores, não mais para frente vir a ser diretores do
estrutura sindical, por considerar que podemos ignorar a realidade atual do sindicato. Por outro lado, achamos que a
categoria,
essa não é uma luta para amanhã, mas movimento sindical; que está muito atual diretoria só conseguiu sucesso
A maior prova da justeza da para hoje. Compreendemos que ao lado dividido. porque teve uma unidade interna muito
posição da diretoria foi o próprio do combate à ditadura, temos que fazer Nesse sentido, se a Conclat forte. Se nós formássemos agora uma
resultado do plebiscito posterior para a "organização dos trabalhadores pela marchar para uma CUT cupulista, é chapa que não tivesse essa unidade, isto
saber se os operários aceitavam, ou não, base, pois é assim que se rompe com a possível que venham a surgir no Brasil provocaria rachas futuros e nos colocaria
a proposta de redução da jornada de atual estrutura sindical. Tanto acerta- duas centrais sindicais. Isto não significa numa situação difícil. Se fizêssemos uma
trabalho feita pela empresa. Mais de mos que a nossa orientação sempre foi que eu defenda a divisão, mas pode ser chapa unitária, isso não seria sinônimo da
70% dos operários da Volks apoiaram a respeitada tanto pelos que se articulam que esta seja uma realidade que se unidade, mas sim de uma composição
proposta de não, acenada pela diretoria. em torno da chamada Unidade Sindical, imponha. ty política que seria prejudicial à categoria,

L MOVIMENTO - 1 a 7/06/81

As divergências iniciam-se pela própria avaliação kswagen, pois Osvaldo defende o boicote e Osmar, a
da greve do ano passado: para Osmarzinho, o ABC opinião de que se deveria participar dessa comissões.
findou por isolar-se do conjunto do movnmento
sindicalrrr
brasileiro e não contoucom
to democrático e oposicionista como umtodo. Para
Osvaldo, tais problemas ocorreram em escala secundá-
ria e não se deveram à orientação das lideranças de São
Bernardo. As opiniões conflitantes passam ainda por
questões como a Comissão de representantes criada pela Vol
Do ponto de vista econômico, a greve
não pode ser considerada vitoriosa, pois
além dos prejuízos que tivemos, nenhuma
reivindicação foi atendida.Do ponto de
vista político a greve demonstrou o
quanto é forte o nível de consciência e
de organização dos trabalhadores do
ABCe estes sentiram o caráter antide-
mocrático do Estado o caráter antinacio-
nal do patronato. Há algumas observa-
ções que devem ser feitas sobre a greve: a
primeira é que ficamos isolados do con-
junto do movimento operário e sindical,
pois outras categorias não se mobiliza-
ram em torno de nossas reivindicações.
Politicamente também ficamos isolados
do conjunto da oposição democrática e
popular, na medida em que o apoio que
nos foi dado não se traduziu numa ação
de massas nacional capaz de barrar a
intensa repressão que o governo jogou
sobre o ABC. Num documento que ela-
boramos logo após a greve, mustwnms
que em próximas campanhas salariais
teríamos de conseguir três metas: unir
as nossas reivindicações com as de outras
categorias também em dissídio coletivo,
conseguir a unidade do conjunto do mo-
vimento sindical nacional e inter catego-
ria, em apoio a nosso movimento e soldar
melhor a unidade com as oposições de
mocraticas.
GUMISSMI DA
O sindicato venceria qualquer
| eleição na Volks. O boicote
" dividia o que era nosso,
os trabalhadores da Volks,
Não temos uma avaliação como chapa.
Adianto a minha posição pessoal, que é
| seguinte: se o nosso sindicato tivesse
I.,“.ado candidatos para concorren ***** 3
eleição da comissão da Volks, eles seriam
vitoriosos e se derrotaria assim a inten-
ção da empresa de querer formar uma
comissão de operários para defender os
interesses das multinacionais, Aproposta
de boicote a essa eleição lançada pela
diretoria do sindicato ignorou que uma
parte dos trabalhadores que antes estava
conosco, estava querendo participar da
eleição para a comissão da Volks. A nossa
tática, portanto, levou a dividir o que era
nosso: os trabalhadores da Volks pois
uma parte fez o boicote e outra partici-
pôu das eleições .e, assim, caímos na
armadilha da empresa.
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
DMAE)
""BRDFANBSB va.GNC
mterventona do Mimsterio do Trabalho
Quanto às questões gerais do movimento sindical, as
duas chapas, apesar de em seus programas defenderem
pontos comuns - luta pela estabilidade e contra o
desemprego, por salário mínimo nacional unificado,
hapa 2): bandeiras acima da disp sta eleitoral
& ido ditatorial. Não se acaba com
enim
agita
intervenção |
"ara os trabalhadores, depois da inter-
venção do Ministério do Trabalho, a
questão principal era a retomada do
sindicato, a expulsão do interventor e sua
gang. A atitude da diretoria e de alguns
sindicalistas diante da junta que substi
tuiu a interventoria foi a de garantir que
a direção do nosso sindicato ficasse nas
mãos da categoria e não do Ministério
do Trabalho. Nesse sentido, a atitude da
Junta foi essencialmente positiva, ao le-
vitimar'a antiga diretoria como direção
do Sindicato. Mas, se era um "passo
necessário para a retomada do sindicato,
ela era também, até certo ponto e até
certo grau, uma continuidade da inter-
venção, na medida em que seus membros
também foram indicados pelo Ministé-
rio do Trabalho.
ter pia. M $i HGH«mchfkªãn1%eraciona
A luta central dos"
trabalhadores não é uma luta
abstrata contra 0 atrelamento.
E a luta contra a ditadura.
Para nós, a luta contra uma estrutura
sindical atrelada não se dá no abstrato e
nem está separada da luta para resolver
os reais prvbkmas da classe operária, da
luta contra a ditadura e pela democracia.
Quem sustenta e mantêm a atual estru-
tura sindical é o regime ditatorial e é ele
também que mantém os trabalhadores
.AAA,
ampo
pela liberdade sindical, etc. - apresentam várias con-
cepções distintas. Estas dizem respeito à questão unici-
dade versus pluralismo sindical, o papel da Unidade
smdlcal e pela alteração da atual estrutura sindical.
mia
Há ainda visões diferenciadas quanto a articulação da
luta econômica com a luta contra a ditadura. Eis as
opiniões de Osvaldo e Osmar, sobre esses diversos temas
recolhidas por nosso repórter Tibério Canuto:
de cabeça na luta pela democracia, com-
batendo a ditadura. Falar hoje no Brasil
em criar duas centrais sindicais, em plu-
ralismo sindical é desarmar os trabalha-
dores na sua luta pela estabilidade do
emprego por melhores salários e por de-
mocracia.
É errado construir correntes no interior
do movimento sindical, dividindo-o, arti-
ficialmente, em "combativos" e "atrasa-
dos". Isto é mais grave quando se faz isto
abrindo mão da construção da unidade
nacional dos trabalhadores, que tem de
partir do seu cstagn real.
O peleguismo é filho dileto da concilia-
ção de classes, para favorecer e facilitar a
exploração dos trabalhadores. Ele é um
sus
untácukx da ditadura e é sustentado
1 acabar com A ditadu-
, a luta central! dos "E2 tam fª] não se
Testa
ias a partir do momen-
lireciona os trabalhadores
fazer frente à di dura. Na medida
em que se varrer esta, também se varrer?
08 DEICAOS,
Nã Singlcal deve ser 1
Umªruda: através de suas
mudadas de classe, A Conclat PoraQue DUAS CHAPAS
".)
"é o passo inicial para unidade A categoria deve continuar
unida em torno de
A classe operária mundialmente sem- bandeiras que estão acima
pre lutou pda sua unidade e unicidade da disputa eleitoral
sindical e política, Onde os patrões. e o
governo conseguiram dividir os trabalha- Nós somos por uma chapa unitária em
dores, esses se disfanciaram até mesmo São Bernardo, Achamos que as diferen-
dos seus objetivos históricos. No Brasil, cas partidárias institucionais,ideológicas,
fortalecer a Unidade Sindical, construir religiosas ou pessoais devem estar fora
uma Central Única dos Trabalhadores, da questão sindical e o sindicato deve
representativa e combativa, é uma con- estar acima de tudo isto. A chapa 1, ao
dição para que os trabalhadores saiam contrário, não pensou assim e considera
da miséria, conquistem a estabilidade fundamental a unidade em questões ex-
do emprego e ponham fim à causa de teriores ào movimento sindical propria-
suas aflições: a ditadura.
A Unidade Sindical deve ser constituí-
mente dito. Agora, mesmo existindo duas
chapas. não podemos perder de vista o
da através de suas entidades de classe. A seguinte: os trabalhadores de São Ber-
Conelat é o passo; imediato na constru- ".um!" assim como os de ndo o Brasil,
trabalhadores quç Com Td O xiííãw ao tirada"
não tiverem como haac a sua representa- lho, a melhores salários, um ataque à
nossa família e aos nossos lares. Nesse
ção de classe, através de sua entidade,
sentido, independentemente dos resulta-
viram no máximo fóruns de debates que
dos da eleição, nós da chapa 2 estaremos
não se traduzem em perspectivas práticas
e organizativas. Foi o que aconteceu com dispostos a somar com a chapa 1 na luta
pela estabilidade do emprego, por salário
o ENTOES. Hoje forja-se a unidade dos
,nunm10 nacional, real e unificado, con-
trabalhadores da seguinte maneira: 1)
tra a alta do custo de vida, por aumentos
levando em conta os interesses econômi-
trimestrais, pelas liberdades políticas e
cos e políticos dos trabalhadores; 2)
pela conquista do delegado sindical.
construindo uma representação nacional
Achamos que a categoria deve continuar
e unitária de todo o movimento sindical,
unida em torno dessas bandeiras, que
combativa e representativa; 3) estabele-
estão acima do próprio processo eleitoral
cendo as reivindicações sociais do con-
junto dos trabalhadores; 4) mergulhando para o sindicato.

-_- Tática
patrões
dos metalúrgicos
Na semana passada a Fiat Diesel, do
'Rio, usou de todos os meios repressi-
vos e persuasivos para dividir e
esvaziar a greve dos seus trabalhado-
res, que entrou na 5.a semana. Mas os
trabalhadores continuaram firmes em
sua decisão de ir até a vitória. A tática
da empresa tem sido múltipla. De um
lado articulou um grande apoio no
meio empresáriai - tanto na FIRJAN co-
mo na FIESP - com vistas a ganhar o re-
curso contra a decretação da legalidade
da greve, que será decidido pelo Tribunal
Superior do Trabalho. Ao mesmo tempo
resistiu enquanto pôde à negociação,
mas cedeu. Quanto ao enfrentamento
dos grevistas, a empresa abre todos os
portões da fábrica,-mas- impedea- en- --- A-contraproposta dos lideres-grevis---- foram trazidos -por -membros- da- direto=-- -"
trada das lideranças. Paga a gasolina
dos chefes (cerca de 280), para irem
buscar operários em casa. E divulga na feito, desde o início do movimento:
imprensa diariamente o número de
funcionários que teriam voltado ao
trabalho, mas não permitem «que a
imprensa investigue a situação dentro
da empresa. Na porta da fábrica foram
instalados "possantes aparelhos de
som para impedir que o comando
grevista se comunique com os operá-
rios com seus magafones. Na quarta-fei-
ra, o lidergrevistaPaulo Gianini-integrat-dos diasparado:
bo ai l n
A União Nacional dos Estudantes
está promovendo dois concursos
nacionais com temas livres : literário
e de artes visuais. No concurso
literário - contos, crônicas e poe-
sias, cada autor poderá inscrever até
no máximo três trabalhos. Os origi-
nais deverão ser apresentados em
papel tamanho ofício, de um lado só
e em espaço dois, em limite máximo
de três páginas (crônica e poesia) e
seis páginas (conto). Os trabalhos
deverão ser assinados com pseudô-
nimos. Para o concurso de artes
visuais - fotografia, charges e
desenhos - cada autor poderá
apresentar fotos em preto e branco
constituidas de uma série de até seis
fotos que apresentem unidade ao
nível da visão e do pensamento, ou
até quatro fotos ind
st ser m os
papel cartão ou outra moldura rigida,
com tamanho máximo de 30 x 40
cm. As charges e desenhos deverão
ser apresentadas também em preto e
branco, com especificações seme-
lhantes às das fotos. Todos os
trabalhos deverão ser enviados até o
dia 30 de junho, para o Centro
Acadêmico de Filosofia e Comunica-
ção da PUC - São Paulo, rua Monte
Alegre, 984, Perdizes (05014), em São
Paulo. Os autores deverão enviar
documentos do seu Centro ou Diretô-
rio Acadêmico ou Diretório Central
comprovando a condição de univer-
sitário,
Em assembléia marcada para o dia
17 de junho, deverá ser eleita a
primeira diretoria da Associação dos
Vigilantes da Bahia. Depois dos des-
contos com fardamentos e outras
invenções dos patrões, não chega a
quatro mil cruzeiros o salário desta
categoria que já fez uma greve de um
dia - sem ainda a organização
suficiente e que acabou reprimida
pela polícia.
A revista "Erva Daninha", que se
define como . umapublicaçãoauto-
NC.A AA. |-
BR OFANBSB;VB.G
GREVE DA FIAT
- Médicos num impasse
múltipla dos
Depois de uma intensa movimentação em todo o pais,
a luta dos médicos por melhores condições de salário
chegou, no final da semana passada, num impasse
não abate a firmeza difícil, ' é
Algumas das 18 reivindicações que faziam foram
atendidas por decreto presidencia! assinado na 5. a feira e
que prevê gratificação de insalubridade, gratificação de
cariocas interiorização (40 a 60% do salário) e gratificação de nivel
superior, além do aumento do piso salarial. Mas outras
foi agredido pela segurança da empre- Segundo o comando grevista o
reividicações importantes deixaram de ser atendidas.
sa quando tentava entrar na fábrica, movimento continua firme, e com
Com tudo isso, a greve que já havia sido marcada para
enquanto um carro da segurança fôlego para durar ainda muito. Esclare- todo o país, dias 3 e 4 de junho, foi prejudicada e 1
atropelou um operário e saiu em dispa-
cem que o único setor que está
praticamente todos os sindicatos, com exceção do Rio
rada, temendo a represália da massa. entrando na fábrica é o de administra-
de Janeiro, optaram pelo seu cancelamento, até pelo
Na 5.a feira, em outra agressão, cinco menos uma reunião marcada para o dia 27 de junho, em
ção. Mas a produção, garantem, conti-
operários foram espancados por segu- nua totalmente paralisada. Por outro
São Paulo. e f noa
ranças da empresa. lado, tem aumentado o apoio à greve.
Mas depois destes graves incidentes
O Fundo de Greve, até fins da semana
- e da matéria paga publicada nos passada, já havia arrecadado quase um Motoristas do ABC
jornais dizendo que os trabalhadoresmilhão de cruzeiros, fora os alimentos
"interromperam as negociações" - a Finalmente, vinte anos após sua fundação, o Sindicato
que estão sendo distribuídos. Do total
direção da Fiat convocou Gianini e arrecadado 300 mil cruzeiros foram
dos Condutores Rodoviários do ABC e outras cidades
demais membros da delegação sindical vizinhas, em São Paulo, está nas mãos dos tra-
doados pelo Fundo de Greve de São
para uma reunião, onde solicitaram balhadores: nas eleiçõesrealizadas há duas semanas a
Bernardo do Campo, e mais 137 mil
dos trabalhadores a feitura de uma arrecadados nas portas da Mercedes,
"chapa 2 - Oposição Sindical, encabeçada por Oswaldo
contraproposta. * Cruz Júnior, venceu por maioria esmagadora a chapa
Volks e Ford, no ABC paulista, que
liderada porJoséVicente, representante daJuntaInter
tas, que ainda será discutida em ria cassada do Sindicato dos Metalúr- ventora, e também à chapa de Aloísio de Oliveira, que
assembléia, é a mesma que já haviam gicos. havia feito um acordo com José Vicente.
A vitória da Oposição aconteceu a partir do trabalho
readmissão de 50% dos demitidos, Outro aspecto é o aumento do sério de diversos sindicalistas autênticos, apoiados por
numa escala que dá preferência aos apoio, tanto no Rio de Janeiro, como entidades populares e pastorais. E foi uma vitória exem-
que tenham mais de 5 anos de casa,
nacionalmente. Um manifesto de apoio plar contra pelegos notórios, apoiados por empresários e
aos casados, aos que sofreram aci-
à greve e de convocação do ato do dia até mesmo por policiais, o que ficou claro durante a
dentes de trabalho, etc; garantia de
1.o foi assinado por sindicatos do Rio apuração dos votos, quando agentes do DOPS coagiram e
e São Paulo. Entre outros pontos o ameaçaram de prisão a vários sindicalistas. ©
emprego por um ano (estabilidade), em
documento aponta a "greve contra as
troca do Índice de produtividade de
agosto; readmissão dos representan- demissões" como caminho de "luta
pela garantia de emprego".
tes Leal e Juvenal; e pagamento . "Inspiração divina"
oberto
Martins, doRio de Janeiro) Uma greve que já atinge mais de dos mil alunos das
escolas municipais, junto a protestos de pais e profes-
SUL DO PARÁ sores, são as consequências ua demissão de dez
professores pelo prefeito de Santa Maria (RS), Osvaldo
Nascimento da Silva, do PDT. Os demitidos lutavam pela
aplicação de um plano de carreira do magistério aprovado
Pelego vence em 1978, por uma lei municipal. Numa reunião ocorrida
pa a tp ] na Câmara Municipal, o prefeito foi duramente criticado
com ajuda do pelo PMDB, PT, PP e até pelo PDS. Em sua defesa, ele|
nomista", foi lançada no Hio de Moídhomewde-Denis—sa afirma que procura agir
Janeiro, no último dia 22, com um Sempre " por inspiração divina", _- é
debate sobre "A Nova Major Curió
Polonesa". O debate, que cor
cerca de 150 pessoas foi co Os "vícios" da Anatag .
A luta" dos trabalhadores rurais do
pelo antropólogo Rubens C município de Conceição do Araguaia,
A Associação Nacional de Advogados de Trabalhado-
nandes, do Museu Nacional e no Sul. do Pará; por um sindicato
res na Agricultura (Anatag) está com dificuldades para
economista Wagner Cardoso, independente e que defenda realmente
os interesses dos seus associados criar sua seccional na Bahia. Depois de quatro reuniões
participa do jornal "Em Tempo".
A Campanha Nacional Pelo Con-: contra os grileiros, sofreu um golpe na " -paradiscutir-o reconhecimento-deentidade;amaioria "
semana passada. dos advogados baianos que atuam no momento sindical
gelamento dos Preços foi lançada,
rural decidiu propor a convocação de uma nova assem-
em São Paulo, neste fina! de semana, Terminadas as eleições, a chapa de
bléia nacional, afim de "corrigir os vícios acontecidos na
como resolução do I Encontro Nacio- oposição, apoiada pela CPT (Comissão
Assembléia Nacional de Goiânia (onde a Anatag foi
nal de Luta Contra a Carestia realiza- Pastoral da Terra) e presidida or fundada) e construir a tão almejada entidade que nos |
do no ano passado. O ato de lança- David dos Perdidos, foi derrotada pela
congregue nacionalmente" !
mento estava marcado para o dia 29; âo, tiderada pelo ex-
às 20 horas, no Sindicato dos presidente Bertoldp e apoiada aberta-
Químicos de São Paulo e foi convo- mente pelo governo e pelo Exército. O
resultado, segundo avaliação da chapa Protesto irlandês em SP
cado pelo Movimento Contra a Cares-
de David - 1032 contra 684 votos - não foi
tia, Unidade Sindical, UNE e Movi- tão ruim, na medida em que o aparato
Portando faixas com os dizeres "Chega de violências
n'
monstruoso. cerca de 50 irlandeses do Comitê Bob Sands realizaram
de Comunicação -
um ato de protesto de 24 horas (do dia 25 ao dia 26) nas
EMDECOM - promoverá no dia 5 de
Peruas do Inca, da Polícia Federal e escadarias da Catedral! da Sé, em São Paulo, com o
junho, às 20 horas, na sede do carros fretados por fazendeiros trans-
Objetivo de "desmentir os pronunciamentos dás autori-
Sindicato dos Jornalistas de São portavam lavradores das fazendas e Iu-
Paulo, um ato público em defesa e
dades inglesas, amplamente veiculados pela grande im-
garejos para os locais das urnas, e o prensa" (ver Movimento n.o 307). Além de reivindicar a
pela melhoria dos cursos de comuni- trabalho de boca-de-urna era feito
cação. Este ato encerrará a Semana pelos próprios policiais. E, para com- solidariedade da opinião pública brasileira, a manifes-
de Luta de Comunicação, marcada de pletar o quadro em que essas eleições tação colocou-se a favor da não-violência e exigiu a
foram realizadas, não faltou nem garantia do status de presos políticos aos militantes do
1 a 5 de junho.
Os metalúrgicos do Rio estarão mesmo a presença do famoso "Major IRA em greve de tome.
Curió", homem do Conselho de Segu-
preparando um ato público para o dia rança Nacional num fulgurante heli-
3 de junho, em frente à Assembléia cóptero, em todos os povoados onde
egislativa, em apoio à greve da Fiat e estava havendo votação. Mínimo de 10 mil no PR
contra o desemprego. Para os dias 30
de maio e 1.o de junho estavam O Tribuna! Regional do Trabalho no Paraná decídiu
marcados uma roda de samba, na fixar o salário de ingresso (minimo) na área do Sindicato
sede do Sindicato dos Metalúrgicos e dos Empregados de Jandaia do Sul em Cr$ 10.123.90,
um show com Zezé Motta, Zé Rodrix decisão que poderá ser o parâmetro para o dissídio de
e outros artistas, cuja renda reverterá cerca de 140 sindicatos rurais. Ela foi contestada pelo
para os grevistas da Fiat. advogado da Federação da Agricultura do Estado do Pa-
No próximo dia 2 haverá uma raná, para quem o TRT não tem competência legal para
reinião de líderes sindicais paulistas "criar um novo salário minimo", diferente daquele que
na Sede do Sindicato dos Metalúr- vigora no meio urbano.
gicos de São Paulo. Nesta reunião O piso salarial aprovado pelo TRT corresponde a um
deverá ser discutida a proposta de salário minimo acrescido de 15% , fato que é considerado
uma concentração de desemprega- uma vitória" pelo Presidente da Federação dos Trabalha-
dos de todo o Estado, em frente ao dores na Agricultura do Paraná (FETAESP), Agustinho
Raimundo Ferreira Lima, Bukowski, embora ele reconheça que a reivindicação da
Palácio dos Bandeirantes, ainda sem
data-marcada.... morto por lutar pela entidade fassa da 20% sabre n salário minimo
Chapa de Oposição.
MOVIMENTO -1a7/6/8
 voce BRDOFANBSS VB.GONC;AAA.

Dag tao CHINA POLÓNIA

- Anti-apartheid
| " Foi realizada nos meados de maio uma
conferência das Nações Unidas com o
PC analisa o
| objetivo de propor sanções internacionais
período de O Solidariedade
"contra a África do Sul, em virtude de sua
política de discriminação racial e "apar-
theid". A conferência não contou com o
apoio dos Estados Unidos nem da Mao Tsetung provoca mudanças
Inglaterra,que estariam "apavorados", A reunião plena do comitê central do
. porcausade seus investimentos na África Partido Comunista da China poderá ocorrer
doSul.Esses dois países emais a França em Pequim neste mês de junho. Esta no PC polonês
vetaram em abril, no Conselho de reunião será decisiva para a orientação do
Segurança da ONU, uma proposta de' regime chinês, pois um balanço aprofunda-
sanções contra a Africa do Sul que tinha do do perído "maoista" deverá ser apresen- O Partido Operário Unificado Polonês -
sido feita por diversas nações africanas, tado pela direção atual. Também nessa POUP anunciou no final de abril sua
após a África do Sul ter rejeitado um plano ocasião o presidente Hua Guofeng, suces- vontade de estabelecer estruturas mais
para a independência da Namíbia, sor de Mao, depois de vários meses no democráticas - um fato inédito no Leste
poder, poderá ser oficialmente afastado. Europeu - e redefinir seu programa e sua
Pa E)
Governar na centro-direita, eliminando os identidade política. Algumas das proposi:
Sim ao aborto
dois extremos: esta parece ser a "linha" de ções adotadas na noite de 29 para 30 de
| Os resultados oficiais da votação em Pequim. Ser "de esquerda" é continuar a abril pelo comitê central do POUP jamais
cinco referenduns mostraram +que os incensar Mao Tsetung; ser "de direita" é foram sequer imaginadas, antes da entrada
criticá-la com muita insistência. Embora em cena desse novo centro de poder
não seja mais o Grande Timoneiro, Mao
italianos rejeitaram esmagadoramente a
mudança da lei do aborto e da legislação
permanece no centro de todos os debates, representado pelo sindicato Solidariedade.
sobre prisão, armas de fogo e terrorismo.
de todos os afrontamentos. O partido polonês marcou para 14 de
erca de 70% dos votantes rejeitaram a
A "esquerda", encontra-se outra vez Hua julho a data de seu congresso extraordiná-
Oposta do Movimento pela Vida - liga-
Guofeng, presidente do partido, que Deng rio, no curso do qual 1.700 delegados,
0 à democracia-cristã, com o apoio da
Xiaoping, o homem forte do regime, gos- eleitos democraticamente por escrutínio
lgreja - que tornaria o aborto legal
taria de ver longe, mas que ainda não afas- secreto e sem limitação de candidatos,
"praticamente impossível. Porém a pro-
tou completamente. Continua-se a lançar remodelarão suas estruturas para adaptá-
posta do pequeno Partido Radical no
duras críticas sobre o "clarividente lider" las à nova realidade da sociedade polonesa.
sentido de maior liberalização das leis foi
caído em desgraça, com grave acusação Stanislas Kania e outros dirigentes fa-
rejeitada por88% dos votos. As propostas
de ter reafirmado, em 1977, que "tudo o voráveis a essa renovação, com Kazimierz
desse partido visavam à extinção da
que Mao disse é bom". Segundo o mensário Barcikowiski à frente, optaram por esta
| prisão perpétua, à restrição ao uso de
armas de fogo e à revogação das leis chinês "Saber Enciclopédico", o programa
solução não tanto para desafiar o Kremlin,
mas para evitar a desintegração do partido e
antiterror. 2 de modernização lançado por Hua em 77-78
constitui "um dos três grandes males" da a multiplicação dos conflitos locais, cada F"d
economia chinesa contemporânea, ao lado vez mais explosivos, com o Solidariedade.
doRevolução
Grande Salto para a Frente (1958) e da Eles -se encontram em uma situação que
" Caos e anarquia"
Cultural (196676 - com 100 não lhes permite mais escolher o ritmo e a
natureza das reformas a efetuar: entre
O jornal soviético lzvestia traçou na milhões
em dia).
de vitimas, conforme se diz hoje agosto de 1980 e fevereiro de 1981 , o partido Jaruzelski e Kania: mudanças
semana passada um quadro sombrio da
Não se trata, portanto, de "luta entre duas perdeu, conforme dados oficiais, 92 mil postos de responsabilidade. Os tempos em
economia polonesa, e criticou a atitude
linhas" no seio do partido, afirmou o Diário militantes e, depois de fevereiro, 170 mil que o secretário geral do partido era ao
"defensiva" do governo frente às reivin-
do Povo de 11 de maio último: "ainda que outros
bros. devolveram sua carteira . de mem- primeiro-ministro
mesmo tempo presidente da República e
dicações do sindicato Solidariedade,
alguns tenham cometido erros, não se pode -como
Mas isso não é tudo: no ano passado, por mente na maior parte dos países acontece atual-
Este é apresentado uma vez mais como
uma organização política que se recusa a
falar de luta entre duas linhas, nem aplicar iniciativa de um certo Ivanov, em Torun, os parecem estar acabando na Polônia, do Leste -
etiquetas de "esquerdista! ou 'direitista' a militantes descontentes dessa cidade cria-
ram uma estrutura paralela, independente nãoO pode problema da democratização do POUP
trabalhar pela recuperação econômica
do país. "A atmosfera é tal na Polônia
quem quer que seja;" precisou o "comenta- ser separado do desenvolvimento
|Brar uma reação em cadeia da tensão,. rista especial " (um alto dirigente) do jornal. do aparelho no poder. O comitê central do Solidariedade,
reagiu, excluindo Ivanov do partido - ao congresso, o mais que terá também seu
- que o menor incidentelocal pode defla-
Nada de expurgos, portanto. tardar
do caose da anarquia", estima o jornal,
Paracompreenderam
os que não sãoque"denãodireita" e aindana menos em teoria, porque na prática. seu claro que o comportamentoemdesta agosto. Está
organiza-
| que apela ao governo polonês no sentido .
organismo de base rejeitou o veredito, e ele ção será em grande parte determinado
não está mais continua em suas funções. Hoje essas posição de seus interlocutores oficiaispelae
de "reagir resolutamente contra aqueles
que tentam sabotar as posições do moda criticar Mao, as advertências se
multiplicam. O "caso Bal Hua" é bem estruturas paralelas, inventadas pelos co- pelo quadro institucional em que se derem
socialismo".
munistas que não se identificam mais com
representativo do novo clima. Este escritor
e cenarista foi criticado violentamente na as instâncias oficiais do PC, existem em asrestritoconversações. Se o sindicato livre ficar
a negociar a portas fechadas com os
Tumulto em Kosovoa toda a Polônia e parecem englobar o altos responsáveis
imprensa oficial por causa de seu último conjunto de seu setor operário. Desta possibilidade de dodebate partido, sem qualquer
Cerca de mil estudantes da Universi-
dade de Pristina (lugoslávia) manifesta- pessimista filme "Amor amargo", julgado "muito
com relação ao socialismo". Só forma, Stanislas Kania não pode excluir próprias estruturas acabarãopúblico, ficando
suas
cada
ram-se na semana retrasada, gritando alguns funcionários tiveram o privilégio de dois terços
partido, dos membros de seu próprio vez mais hierarquizadas e suas bases
Blogans pela melhoria das condições de perderão a confiança nos atuais lideres
vida e pela criação de uma "república do . se pode fazer uma idéiafosse
ver o fime antes que
de
censurado. Não
seu conteúdo, a Eis porque o grupo Kania está propondo carismáticos.
um sistema de funcionamento interno que Lech Walesa Aliás, a atitude com relação a
Kosovo". Foi dessa Universidade «que não ser através das críticas que
Partiu o movimento autonomista que dirigidas. o Diário do Exército de Libertação lhe são permita aos militantes controlar, através de setores operários, não porbastante
evoluiu
causa
em certos
do alegado
motivou, no mês passado, graves tumul- | diz que o filme é evidentemente voltado suas instâncias eleitas, todos os funcioná- (por Walesa "extremismo" da base,
tos nessa região rios do partido, o que constituirá uma porque esta nem sempre sabe muito bemmaso
No dia 18 de maiodeabriu-se
população albanesa, contra Mao, pois conta a história um
um homem endeusado e depois rejeitado por inversão completa da situação existente até que o general Jaruzelski eWalesa se dizem
contra cinco habitantes de processo Kosovo seus compatriotas. hoje. Os mandatos desses funcionários, do cara
mais alto ao mais baixo nivel, terão tempo são, aportanto,
cara. Democratização e participação
duas palavras-chave de que
acusados de terem criado uma organiza- Os estudantes da Universidade de Pe- limitado - provavelmente três anos, a dependem a unidade
ção "nacionalista e irredentista"visando quim,
àoutro integração provincia à Albânia. Por | por méiointrigados como desejo
o caso,deexprimiram julgar pelo gistema já adotado pelas do Solidariedade. tanto do POUP como
lado, adarádio de Pristina acusou a de cartazes assistir ao Juventudes Comunistas da Polônia. Tam-
bém não será mais possivel acumular (De um artigo de K.8. Karol, Le Nouvel
Albânia de incitar a população da região filme a fim de poder jugá-lo. Além disso, Observateur)
"insurreição" contra o poder federal tomaram
àiugoslavo. por suas
a defesa de Bai Hua, conhecido
idéias progressistas e corajosas.
% Foi a primeira vez, em vários meses, que os
"dazibaos" apareceram nos muros de Pe- EDITORA MESTREJOU
Novo PC cambojano| quim - após o direito desse recurso ter
"O mais novo dos partidos comunistas passado. na constituição desde o ano
sido abolido
chama-se "Partido Popular Revolucio- Nesse clima de retorno à ortodoxia, não Venda especial
nário do Kampuchea" (PPRK), queestá
realizando seu 4.o Congresso desde os constitui surpresa o fato de novas prisões
últimos dias de maio, em Phnom Penh, de contestadores terem sido realizadas.
Primeiro foram Xu Wenli e Yang Jin, de uma de livros estrangeiros
conforme
SPK. anunciou a agênciacambojana revista
Trata-se de Pequim, a Tribuna do 5 de Abril.
do décimo PC cambojano, Eles enviaram no ano passado uma mensa-
| e toma o lugar do anterior, o PCK gem de felicitação aos sindicalistas polo- Agropecuária, Antropologia,
(Khmer Vermelho) de Pol Pot. Até o neses do Solidariedade. História, Economia, Educação,
presente, o PPRK tinhaficado sempre na Fu Shengi, da revista VozDepois foi a vez de Esporte, Filosofia, Física
sombra da Frente Unida de Salvação He Qiu, de A Ruz do Povo.daPorDemocracia fim, veio ae
Nacional, que assumiu o poder no prisão de Wang Xizhe, o mais radical dos Matemática, Química, Literatura
Camboja depois da intervenção vietna- contestadores do grupo Li Yizhe. E possível Medicina,Psiquiatria, Política,
mita de janeiro de 1979. Esta aparição que Wang tenha sido preso por causa de um Sociologia, Psicologia, Tecnologia.
| pública dos comunistas pró-Vietnã se artigo publicado em fevereiro por uma
explica pelo anúncioda realização de revista de Hong Kong, em que ele acusava
uma Conferência Internacional sobre o
Camboja, de 13 a 17 de julho em Nova deMaoterdelançado não ser "um marxista autêntico" e
a Revolução Cultural para
Torque. Esta reunião é convocada pelo estabelecer na China
secretário geral da ONU, apesar da utópico". Essas prisõesseuprovam "socialismo rural
os limites
Oposição do Vietnã e seus aliados, da "liberalização" do regime chinês. (Marie* Exclusivamente na Rua Martins Fontes, 99 - Centro - São Paulo
Holzmann, Liberation).
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81

untamente com a ofensiva
político-militar, econômica e
diplomática americana des-
de a chegada de Reagan à
Casa Branca, cresceu o tra-
balho de desmformação para
confundlr a realidade de El Salvador.
Comparou-se de forma simplista o que
acontece em El Salvador com o que
ocorreu na revolução nicaraguense. O
assassinato de Mons. Romero foi iguala-
do ao crime contra Pedro Joaquim Cha-
morro, embora o primeiro tenha sido cal-
culado e o segundo uma estupidez políti-
ca de Somoza. Falou-se de "ofensiva
final" quando a frente Farabundo Martí
de Libertação Nacional e sua expressão
política, a Frente Democrática Revolu-
cionária (FMLN-FDR), iniciaram no dia
10 de janeiro a "ofensiva geral", e des-
creveu-se como um fracasso o que na
realidadefoi um triunfo político-militar.
Poderiamos citar muitos outros casos e
seria muito longo comentá-los.
O certo é que as revoluções em ambos
os países têm marcadas diferenças, em
que pese um passado histórico semelhan-
te e as estruturas sócio-econômicas que
2 as mesmas em toda a
portava produtos agro-
industriais, mas não dependia Julªlcntc
de um item; junto ao modo de produção
capitalista dominante, conviviam fortes
setores prê-capitalistas. O poder estava
nas mãos de uma dinastia feudal. O
inimigo principal era Anastácio Somoza,
e as contradições entre a burguesia per-
mitiam uma aliança de classes para (ªri
rotar o inimigo comum e o imperial
mo queo sustentava. A Nicará gua wieu
mundsmtmuzçú s amerricanas diret
as lutas populares sempre foram anti
imperialistas. Sandino foi um patriota
nacionalista, não um comunista. A clas-
se operária é pouco numerosa e não se
organizou em torno de seus interesses
históricos. Foi liderada por setores radi-
cais da pequena burguesia. A unidade
que derrubou a ditadura, liderada pela
Frente Sandinista de Libertação Nacio-
nal, baseou-se em critérios amplos e num
programa democrático. O apoio interna-
cional foi sólido por causa da atitude
antiditadura de governos burgueses de-
mocráticos e revolucionários.
A contradição em El Salvador é bur-
guesia-proletariado. Vejamos por que.
Na formação social salvadorenha o
modo de produção capitalista é domi-
nante; e manifesta-se também no rcgmlc
de propriedade da terra, que não está
nas mãos de um grupo, mas de uma
classe (2% da população têm 60% das
terras).
AS leis de 1882 extinguiram os "eji-
dos" (terrenos comunitários) e as comu-
nidades indígenas para viabilizarem as
12
" !BRDFANBSB V8.GNC AAA
Salvador,
"*fincas" dos plantadores de café, provo-
cando graves cmfiiíns sociais, como a
ªvo ta dº Pinºt. io Aquino em 1883.
S a Lei de Vagância
( amente os camponeses
sem terra a trabalhar de diaristas ou a
emigrar.
Ate 1932 apenas as lendárias "14 fa-
mílias" dominaram diretamente o poder
político. Em 1930, a vitória de
Araujo quebra essa continuidade.
jo é burs mas promete reforim:aº SO
i m os interesses da
so só dura 9 meses
'"íe é 1andado pelo Gal
ernadez Martinez e desde er
quia manobra o poder político
através dos militares
Ainda no“ o pus(k,;ªnu em 60%
Guaifma IlaeLayne
De mv") lado, os programas econômi-
ocaram
cos do Cel. Osório em 1
uma “(fªlaram expansão imªm rial que
dotou o país do maior parque industrial
e da classe operária mais Jr,envolvida da
América Central, concentrada e organi-
zada.
m fator distingue El Salva-
dor dá Nicarágua e de toda a
América Latina: a densidade
de sua população, que sem-
pre se considerou uma
"bomba de tempo". Frente
aos 3,5 habitantes por cunlometro qua-
drado na Nicarágua, há 210 em El Salva-
dor. Em um território de 21.393 km2, o
menor da América, vivem 4.500.000 pes-
soas, das quais 57% são dexemprcªados
6% da população não sabem ler nem
escrever. Perto de 70% dos trabalhado-
res agrícolas se encontram em sítios de
menos de 5 hectares, Embora esses da-
dos sejam de 1981, essa situação sempre
predominou no país.
,
u
à f
Em El Salvador a luta é
Nicarágua sandinista
e tem objetivos bem mais
ambiciosos no caminho do
A crise econômica dos anos 30 e a
queda dos preços do café provocaram
aumento do desemprego e uma situação
de miséria intolerável para as massas
pobres. Em 1932 iniciou-se um movi-
mento popular dirigido concretamente
contra a classe oligárquica. A luta foi
liderada por um partido operário, o Par-
tido Comunista. S dorenho, que ao
contrário. de seus imilares emou tras
partes, foi organizado e presidido por
Lz*.«l>.x3i,.._“;x,="* Cerca de 75 mil operários
estavam or anizados em uma central
única classista e também os camponeses
tinham suas organizações.
Farabundo Martí, secretário geral do
PC e líder do movimento, havia lutado
em 1929 juntamente com Sandino, na
Nicarágua, mas se distanciou dele quan-
do percebeu que não podia convertê-lo
ao marxismo. Isso não o impediu de
gritar "viva Sandino!" ao morrer fuzila-
do. A insurreição abortada em 1932 que
custou a vida de 30 mil camponeses,
tinha um caráter muito diferente do da
luta antiimperialista do "General dos
Homens Livres". Quando foi fuzilado o
dirigente Feliciano Ama, obrigou-se o
povo a presenciar tude, para que "não
esquecesse o que sucede aos comunis-
tas que se levantam contra seus patrões e
a autoridade constituída"
As organizações revolucionárias fun-
dadas na década de 70 reivindicam esse
tipo de luta, declaram-se marxistas e
favoráveis à instauração do sotíalismo
andino
Bac Meme vz
mais àrdua que a da
socialismo, porque as
duas revoluções têm
características bem
diferentes.
Alexandra Caxias
como única saída para a crise estrutural
do país. A Frente Popular de Libertação
Farabundo Martí, liderada pelo lendário
Salvador Cayetano Carpio Éque hoje co-
manda a FMLN) é uma dissidência do
PC acontecida em 1970; em 1975 foi
criada sua organização de massas, o Blo-
co Popular Revolucionário (BPR). Em
1972 nasce o Exército Revolucionário do
Povo (ERP), de tendência maoista, que
em 1975 se divide em Forças Armadas de
Resistência Nacional iFARL, e sua org
nização de massas, as I max 28 de Feverei-
ro (LP 28). Em 1978, o PC a tachava de
aventureiras essas organizações, cria a
União Democrática Nacional. Em segui-
da aparece em cena o Partido dos Tra-
balhadores (trotskista).
m 11 de janeiro de 1980 as
organizações de massas, os
sindicatos operários e cam-
poneses, os estudantes, os
universitários, os profissio-
nais, se uniram na Coorde-
nadoria de Massas, e em 8 de março
chegou-se à Direção Revolucionária Uni-
ficada (DRU) que dotou o povo salvado-
renho de umsó instrumento de vanguar-
da político-militar. Certamente que esse
processo de unificação não foi fácil, teve
contradições (por exemplo para interpre-
tar o golpe de 15 de outubro de 1979)
mas pouco a pouco se consolidou e é o
fator essencial para as sucessivas crises
da Junta presidida por José Napoleon
Duarte, em suas diversas etapas, e para
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81

FARABUNDO
EL SALVADOR
Farabundo Martí foi: secretário de Augusto
Sandino por dois anos, mas- tinha concepções
sociais mais -avançadas na direção do socialis-
mo, Ele ajudou a fundar "o Partido: Socialista
Centro-Americano (1925) em El Salvador, o
país da "América Central onde as relações de
produção capitalistas se desenvolveram mais
rapidamente que nos vizinhos.
o início das Ofensivas de janeiro deste
ano.
Em 2 de abril de 1980, setores dissi-
dentes da Democracia Cristã, a social-
democracia, personalidades e outros dão
respaldo à Coordenadoria e se funda a
Frente Democratica Revolucionaria
(FDR). Deve-se destacar que a FDR
adota o programa revolucionário da Co-
ordenadoria, em que se estabelece o ca-
ráter da revolução e se dá a liderança à
aliança operário-camponesa, apoiada
por outro setores sociais. Entre seus ob-
jetivos está "acabar com o poder políti-
co, econômico, social dos grandes senho-
res do capital e da terra, liquidar a
dependência do imperialismo, nacionali-
zar os meios de produção fundamentais:
terra, eletricidade, refinarias, indústrias,
serviços e comércios monopolistas, ban-
cos, transportes, e o sistema financeiro".
Criar-se-ia um Exercito Popular e uma
política externa de total respeito pela
autodeterminação dos povos. Medidas
de transição para uma mudança total
das estruturas.
caso de Enrique Alvarez
Cordova ilustra o tipo de
apoio do FDR à FMLN; não
é um "acordo" como aquele
que se estabeleceu na Nica-
rágua, mas sim o reconheci-
mento da liderança das correntes revolu-
cionárias. Alvarez pertence às oligar-
quias por sua origem e foi Ministro da
Agricultura da primeira Junta. Por isso
- ele dizia - conhece o problema
a fundo, "que não é uma crise de governo
e sim uma crise do sistema'*". Não
adere ao FDR para garantir-se no poder
depois do triunfo revolucionário, mas
sim por suas convicções profundas de
apoio total à causa do povo. Por isso o
seguestraram e assassinaram.
Da mesma maneira, não são pactos
com os setores militares, mas sim um
apoio que se dá reforçando as forças
guerrilheiras, como sucedeu com o major
Navarrete e outros militares em janeiro
passado. Não confundir com o outro
setor "democratizante" que atua dentro
dos "marcos institucionais" das Forças
Armadas (apesar da corrente predomi-
nantemente fascista).
Atualmente, a FDR é presidida pelo
social-democrata Guillermo Ungo, do
MNR, o que permitiu a ofensiva diplo-
---mática-iniciada-em janeiro-e- o-apoio
decidido da Internacional Socialista.
O caráter classista da luta salvadore-
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
BR DFANBSB V8.GNC.AAA.
LIVRARIA
Basta escrever pedindo
ALEXANDRA KOLLONTAL MARTA HARNECKER
Autobiografia de uma mulher Conceitos elementares do
Emancipada, Cr$ 210,00 materialismo histórico Cr$ 490,00
DRUMMOND DEANDRADE
A paixão medida, Cr$ 220,00 MOEMA VIEZZER
Se me deixam falar..., Cr$ 450,00
FERNANDO GABEIRA
Entradase bandeiras, Cr$ 480,00 NICOS POULANTZAS
O estado, o poder, o socialismo,
FREI BETO Cr$ 700,00
Nicarágua livre!, Cr$ 300,00
PAULO SCHILLING
JOVER TELLES Expansionismo brasileiro,
& O movimento sindical no Cr$ 580,00
Brasil, Cr$ 550,00
Augusto Sandino foi lider de uma revolta essen- - WLADIMIR POMAR
cialmente antiimperialista, na Nicarágua, num JULIO JOSÉ CHIAVENATO Araguaia: o Partido e a
país onde o povo era oprimido mais por um Bolívia: com a pólvora na guerrilha, Cr$ 600,00
grupo de tiranos que por uma.classe, A revolu- boca, Cr$ 685,00
ção sandinista teve portanto, nos dias atuais,
objetivos bem mais modestos 40 que se VÁRIOS AUTORES
KARL MARX
propõe em Fl Salvador, onde o proletariado é A igreja dos oprimidos,
mais numeroso, mais organizado e com tra- O capital, seis volumes,
Cr$ 460,00
dição histórica, Cr$ 4.000,00
nha assusta a burguesia, mesmo a "de- MANOEL DEALBUQUERQUE
mocrática". O ex-chanceler venezuelano Pequena história da formação
e firme apoio de Duarte, esclareceu esse social brasileira, Cr$ 1.000,00
medo em suas declarações de janeiro
passado: "em El Salvador se joga o MARCIO SOUZA
destino de toda a América Latina, de Mad Maria, Cr$ 460,00
nossos governos", E certo, o triunfo de
El Salvador implicará o aceleramento MARCIO MOREIRA ALVES
do triunfo na Guatemala, a consolidação A força do povo Cr$ 360,00
da Nicarágua e um fortalecimento dos
movimentos revolucionários na América MARGUERITE YOURCENAR R. Cesário Mota Jr. 285,
Latina. Memória de Adriano, Cr$ 690,00 tel. 222-2861 - CEP01221 - SP
Esse temor se reflete em fatos conêre-
tos: países como o Panamá, Colômbia, <--
Costa Rica, Equador, que deram seu
apoio total à Nicarágua, pouco fazem
pelos salvadorenhos; ao contrário, os re-
fugiados ou exilados são amedrontados e
inclusive presos. Torrijos, que liderou a
solidariedade internacional anti-somo-
zista, considera que a Junta é a fórmula
de pacificação e que a esquerda não
deixa fazer as reformas. Turbay Ayala
convidou Duarte para a reunião da "Cú-
pula Democrática" de Santa Maria.
Fortalece-se o argumento de "guerra
dos extremistas" para confundir a opi-
nião pública internacional. Com isso os
Estados Unidos justificam sua crescente
intervenção militar e preparam o am-
biente para uma agressão mais aberta.
"Nunca deixaremos que se instaure um
governo marxista" declarou o ex-embai-
A mais independente
xador Robert White.
ntretanto, a luta do povo sal-
vadorenho e a influência de
e melhor informada
setores democráticos impe-
diram, até agora, que Rea-
|gan cumpra seus planos. A
FMLN está em condições de revista semanal brasileira
derrotar militarmente a Jun-
ta, mas não tem forças para consolidar-
se e muito menos para repelir uma agres-
são de mariners. Tem demonstrado que
em qualquer momento pode tomar ci-
dades, ameaçar a capacidade estratégica
do Exército; faz dois meses que o gover-
no bombardeia com napalm e fósforo
branco seu quartel general do Vulcão
Guazapa, sem poder desalojá-los. Suas | Anexo ão [FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00
cinco frentes permanecem intactas e os cupom, em
envelope JCr$ 7.920,00 à vista Cr$ 4.680,00 à vista
14 mil mortos deste ano eram, em sua 2 anos 1 ano
maioria, da população civil. Mas há a
fechado, meu
cheque nominal
L Cr$ 2.870,00 3 pagamentos ]Cr$ 1.660,00 3 pagamentos
à Caminho Nome
desvantagem das fronteiras com Hondu-
Editorial Ltda.
ras e com a Guatemala. Já em janeiro, os Rua da Endereço ______ Telefone
exércitos de ambos os países prepararam Consolação
293 - 8a -
Bairro Cidade Estado
uma invasão e estão dispostos a agir se São Paulo CEP __ Profissão
EnE Salvadorse O pelo desti- Assinatura
no de um país, mas pelo futuro de todos | Oferta válida por tempo limitado
os latino-americanos. m eof
 | BRDFANBSB VB.GNC.AAA. ©
IA fo CNYto

CULTURA

FESTIVAL DE CANNES

O exercício da liberdade

O cinema polonês ganha a notoried

ade de Lech Walesa e a Palma de
Ouro
Durante uma entrevista coletiva logo por exemplo, do soberbo Kagemusha, movimento estudantil de 1968; e da de- distribui flores brancas
após a exibição do filme O Homem de cuja ação transcorre no século XVI. O
aos noivos com
cisão de Tomezyk de abandonar a uni- votos de um
Ferro, na segunda-feira da semana pas- crítico do jornal Liberation, Gilbert Ro-
casamento democrático
e
versidade e ir trabalhar nos estaleiros, feliz.
sada, em Cannes, um jornalistà húngaro chu, disse: "A cena em que Lancelot, como operário. Segundo Wajda, a idéia
perguntou ao seu diretor, Andrzej Waj- inteiramente nu, se bate com a morte,
do filme sur-
Winkel, que se conduz como um es-
da: giu durante uma visita
de solidariedade
em sua armadura vazia, é sem dúvida a pião, acaba renunciando ao seu papel, que ele fez aos grevistas,
- Você não acha que ele será visto como mais bela de todo o filme, mas também a
no ano passado.
dizendo ter encontrado "gente formidá- Num encontro
um filme anticomunista? mais característica de uma obra onde
com os operários, um
vel", a quem não poderia trair. . deles lhe perguntou:
Wajda. que minutos antes havia sido cada plano constitui um exercício de
"Quando é que o
Lech Walesa aparece no filme, inter- senhor vai nos filmar a
delirantemente aplaudido por críticos de virtuosidade. Excalibur é uma armadura pretando ele mesmo, Ele se integra à
história de um

homem de ferro?".
Quase todo o mundo, emocionado com as vazia, um relógio sem ponteiro, uma história de Wajda - que mistura ficção Wajda saiu dali
imagens de seu filme, sobre as greves da coleira sem cachorro",
convencido de que
e realidade, inclusive filmes documentá- deveria começar com urgênc
Polônia, respondeu trangiilamente: Mesmo assim, para alegria dos que
ia um filme
rios da greve - participando da cena de sobre a rebelião dos operári
- Não. Todos os que aparecem no filme lucram com as superproduções, ao filme casamento de Tomcezyk e Agnieszka. Co- deles já havia me dado até o título"
os: "Um

comooposição estão empenhados na hu- de Boorman ganhou um prêmio especial mo padrinho do casamento na Igreja,
,

manização do socialismo... de melhor "contribuição artística". O

Gabriel Adurra
* r 1 LA Autaca
Na'quarta-feira, quando o júri do Fes- > af i
mesmo porém, não ocorreu com o filme 08 4
tival Cannes anunciou que decidira Heaven's gate (O Portão do Paraíso), de
entregar a Palma de Ouro para O Ho- Michel Cimino (de O Franco- Atirador),
meni de Ferro, rodado no ano passado que custou 36 milhões de dólares, isto é;

Co ao doo doo o o too. B olhos . Meier os

em Gdansk; em meio à rebelião dos
operários pôloneses, a dúvida do jorna-
lista emergiu novamente. Qual teria si-
do, afinal, a intenção do juri do Festival,
que nos últimos anos premiou o cinema
dos países ricos ou de mestres reconheci-
dos, como Apocalypse Now (Coppola), O
Show Deve Continuar (Fosse), Meu Tio
da América (Resnais, em exibição em São
Paulo) e Kagemusha (Kurosawa, tam-
bém em São Paulo)?
A resposta não está, certamente, no
rumo apontado por aquele jornalista.
Em primeiro lugar porque a arte de
Wajda, como ele mesmo disse, não é
anticomunista ou antisocialista. Quem
viu seu filme O Homem de Mármore,
240 mil dólares por cada minuto de
filme, considerando que a projeção dura
150 minutos. Não ganhou nenhum prê-
mio, apesar da bela fotografia. Cimino
fez um filme "brilhantemente enfado- ©
nho", segundo Rochu, que ainda disse:
"Depois de ter qualificado como fascis-
ta, por ocasião do filme Deer Hunter
(Franco-Atirador), Cimino realizou o
primeiro faroeste socialista".
Lech Walesa
« A
interpreta É [++r "
9 Ex N
ele mesmo Eisenstein, na montagem de Outubro,
agora liberado
Entre os poucos filmes elogiados da
CLÁSSICOS

ainda em exibição no Cine Belas Artes, mostra oficial estão A Pele, de Liliana
de SãoPaulo, pôde constatar seu efetivo Cavani (conhecida no Brasil através do
empenho em discutir, através da arte, a discutível Porteiro da Noite), que se ba- Outubro
já pode ser
realidade dos países tidos como socialis- secou numa obra de Curzio Malaparte;
tas em apontar os seus desvios. O crítico ec Mephisto, do húngaro Itsvan Szabo, que
Jacques Sicler, do Le Monde, escreveu: conta a história de um ator que não saiu
visto e
"O que há de belo e de admirável no da Alemanha quando os nazistas ocupa- aplaudid
o

filme de Wajda é a reivindicação, sem ram o poder (ficou com os prêmios de O filme Outubro, dos diretor
es soviéti- tador recriar a imagem de acordo com

ódio e sem furor, do exercício das liber- Melhor Roteiro e da Crítica Internacio- cos Sergei M. Eisenstein e G. sua própria imaginação e chegar ao co-
Alexandrov

dades democráticas na democracia po- nal). (concluido em 927 para as comemora- nhecimento e à percepção efetiva do

pular da Polônia". Mas, dentro da mostra oficial (há uma

ções do primeiro decênio da tomada do tema.

poder
Em segundo lugar, se o júri negasse o outra, paralela, chamada Quinzena dos
pelos bolcheviques) teve grande A montagem expressiva dá vida ao

prêmio ao representante do cinema po- Realizadores), nada parece ter chegado

Sucesso em suas primeiras
- e concorri- filme. Por exemplo, os soldados de Ke-
das
lonês estaria negando uma evidência: ou perto de O Homem de Ferro, uma obra
- exibições no Brasil, depois de renski são visualmente comparados a
ficar muitos
seja, não havia nenhum concorrente, na feita sobre o "ferro-quente" dos proble-
anos proibido. O filme foi copos de vinho e soldados de chumbo; o
exibido em dois
mostra oficial, à altura d' O Homem de mas que afligem uma nação e seus cida-
fins de semana no deposto regime czarista é simboliza-
Sindicato dos Jornalistas
de São Paulo, e do por planos de medalhas e unitor-
Ferro, que é uma continuação d'O Ho- dãos. teve um público de no mínimo !.700 mes: Kerenski é comparado a um pavão.
mem de Mármore. Foi um Festival mor-
no em termos de idéias, segundo vários O Homem de Ferro adota a mesma pessoas.
O tema da Revolução e as idéias co-

forma narrativa de O Homem de Már- O cinema soviético revelou as possibi- munistas guiaram o jovem cinema sovié-
críticos internacionais, marcado pelà
preocupação como o preciosismo formal. more. Quando eclodem as greves nos lidades imensas da linguagem poética na tico e Outubro entusiasma ainda hoje

canteiros navais de Gdansk, Winkel, um tela, porque estava penetrado da idéia de porque nasceu de uma força inspiradora

jornalista da radiotelevisão do governo é libertação revolucionária. Ela dava vida fecunda: a vitória da Revolução de Ou-

Um filme que custa

enviado ao local com a missão de reunir à poesia cinematográfica. As metáforas tubro de 1917. O filme dá ênfase às

240 mil dólares informações comprometedoras sobre um - generalização de fenômenos sociais - palavras de ordem da Revolução bolche-

são abundantes nos filmes soviéticos e

certo Maciek Tomezyk, a quem a polícia vique, que em língua materna procia-

*têm força porque estavam solidamente mava: pelo pão, pela paz, pela terra,
por minuto... observa e classifica de "agitador", apoiadas na realidade, pela fraternidade.

Em Gdansk, o jornalista descobre que No filme Outubro - que Eisenstein Depois da cena impressionante da to-
Este era o caso do filme Excalibur, Tomezyk é o filho de Birkut; o "homem dedica ao proletariado revolucionário
de mada do Palácio de Inverno pelos revo-
produção norte-americana, dirigido por de mármore"; e que ele é casado com Petrogrado - a densidade dos aconte- lucionários, as imagens de relógios mos-
John Boorman (o mesmo de Amargo Agnieszka, a agitada jornalista que, no cimentos é representada através de me- trando a hora em diferentes partes do
Pesadelo e Zardoz) e que chegou a Can- primeiro filme, tentava realizar um filme táforas e de ritmos. De forma condensa- mundo, assinalam a importância dos 10

nes precedido por uma bem orquestrada sobre o período stanilista na Polônia. da, o pensamento está expresso, às ve- dias que abalaram o mundo. O filme

campanha de entusiasmo, como se fosse Através das pesquisas e entrevistas do zes, por um só detalhe colocado em termina com material da época- Lênin

o ganhador certo da Palma de Ouro. O-

jornalista, o espectador fica sabendo da relevo, por um toque rápido ou por uma aplaudido pela massa - e o letreiro: "A

filme, que narra aventuras dos Cavalei- morte de Birkut, em 1970, vítima da alusão. Eisenstein considerava a "parte Revolução operário-camponesa de que

ros da Távola Redonda, na corte do Rei repressão policial a uma greve de tra- dada em lugar do todo" um estímulo falavam os bolcheviques, realizou-se".

Arthur, foi unanimemente apontado co- balhadores de Gdansk; das divergências para a imaginação , recurso que atua ima Santana

mo belíssimo. Mas só isto. Passou longe, eficazmente por "repercussão" * Outubro pode ser conseguido através da Dina-
entre operários e estudantes durante o
ou pôr
filmes, rua do Triunfo, 134, salas 84 e 85, telefone
"analogia", possibilitando a cada espec-
2213641, São Paulo,

14

MOVIMENTO - 1 a 7/6/81

© 4 Eo
int?!“ E 7
ARTES PLÁSTICAS
e e
O pªbllcº
es 'ggºà'a'"mõdam 'àzííiéhªíwird?umaTama*õííªªªª'tgtrmãsªhmffvrfêamvrfporquvfámõe '**farrãtftiffnªfeªlfffííâêºhe?mãfª':(ãsªhõffíehs
p de outra, foram responsáveis por eles.
barª Éc'l
Usar muito bem as palavras, como
humorista, poeta ou dramaturgo, não
impediu Millôr Fernandes de fazer
alguns dos melhores desenhos de humor
do Universo. É o que agora os milioná-
rios poderão ter num livro (Millôr Fernan- encadernado
des. desenhos, Raízes, Artes Gráficas, seis Sido proibido por ordem direta do
mil cruzeiros) lançado dia 26 no Museude
Arte de São Paulo, e o resto do povo
poderá. talvez, consultar em bibliotecas.
Órfão de pai aos três anos de idade,
perdeu a mãe aos dez, sendo então
7 ! Aobr
criado, junto com outros três irmãos,
pelo tio Viola, gerente da gráfica de O
Cruzeiro, e que estimularia sua entrada
nas artes gráficas. Nessa época, duas
grandes emoções: os desenhos de Flash
Gordon feitos por Alex Raymond, que o
garoto Milton copiava com régua e
compasso; e o lápis no 2, que para um
desenhista pobre apareceu como uma
revolução no grafismo. Seu primeiro
desenho, 9 publicado em 1934, L aos dez a
anos, já mostra um artista sensível e
poético, talvez tocado pela tristeza da
vida pessoal: uma menina chorando a
lado de um carneirinho. * sempre as vozes, construindo penosa-
"Nessa época eu sabia desenhar",
ironiza a respeito. Começando como
contínuo em O Cruzeiro, só não senouR
praça no Exército, onde o soldo era mais
ae et
convidativo, por obra e graça de Alceu
Penna, na época o desenhista mais
famoso da revista, que o encarregou da
tarefa de pintar os fundos de sua seção:
As garotas do Alceu, "E você não sabe
como eu sofria para fazer aquilo, pra não
estragar aqueles desenhos cuidadosos do
Alceu". Mas ainda não dava para manter
a sobrevivência, o que só conseguiria ao
passar a redator da revista, após um
concurso de contos que o ex-continuo
panhou. Aí começa a sua trajetória rumo
Zona Sul: do Meyer para uma pensão na
Rua das Marrecas. ("Pensãoé fundamen-
tal, Todo o jovem devia morarem pensão, é
mais importante que vestibular"). Daí
para a Avenida Atlântica, num aparta-
mento de 6 quartos junto com Freud Cha-
teaubriand, segundo Millôr, o grande res- _
ponsável pelo período áureo de OCruzeiro,
e finalmente, o apartamento na Vieira
Souto e o estúdio de cobertura em Ipane-
NN.
Nessa trajetória, Millôr teve um papel
importantíssimo na transformação do
jornalismo, do humorismo, do desenho
de humor brasileiro. Em 1964, cria o
Pif.Paf, "catorzenário humorístico" que
o Serviço de Informação do Exército
considerou, em 1979, o precursor da
imprensa alternativa; em 1968, nas
páginas de Veja e em 1969 no Pasquim.
Nessa primeira coletânea pode-sé ver o
grande desenhista que Millôr é; O
momento de Ravena, os Conformistas,
as Arvores, O Nascituro, o painel da
Casa da Moeda merecem reproduções
maiores. (Chico Caruso).
MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
! BROFANBSB VB.GNC.AAA.
Horror
Trechos de um prefácio censurado, sobre tempos nebulosos...
O porto de Santos foi palco de grandes
manifestações de massa nos anos que
precederam a deposição do presidente
Goulart, em 1964, por isso mesmo,
assistiu a violenta repressão depois do
golpe militar de abril. Essa história
constitui o pano de fundo do romance Os
Vira-latas da Madrugada, do jorna/Qm
Adelto Gonçalves, publica-
do pela Livraria José Olímpio Editora.
Tudo indica que os acontecimentos
posteriores ao golpe militar ainda inco-
Assim, Os Vira-latas da Madrugada,
publicado por uma editora que está sob
intervenção do Banco Nacional de
Desenvolvimento Eª'º'lºm'f'º. (BNDE),
saindo sem o prefácio que fora
Preparado pelo jornalista Marcos Faer-
man, embora tenha sido impresso e
normalmente. Ele teria personagens; e é assim que um tempo vai bondes,. correndo pçlas ruas em que
interventor militar na editora, e foi
arrancado de todos os exemplares.
'O prefácio foi-vetado. por problemas
técnicos. Essa foi a explicação do editor
!Va" Cavalcanti Proença, que prometeu
uma nova edição, em alguns meses,
f - CHO+ 8 2 :
Incluindo o prefácio. Entretanto, apesar
de desmentir qualquer conotação políri-
Ca "0 veto, Proença faz questão de frisar Que já
que a José Olímpio é uma editora em
S!luação peculiar, insinuando que a
intervenção do BNDE não lhe permite
!04a! autonomia operacional. Abaixo,
trechos do prefácio proibido:
Este é um romance de sons delicados e
"de histórias tristes. Em suas páginas,
sopra o vento, bate a chuva, se ouve a
ressaca do mar --e as vôzes dos homens,
mente a narrativa e a vida de persona-
gens que nos desafiam pela sua não
linearidade: marinheiros , prostitutas,
! !
malandros do cais, gente que vive no
porto de Santos e que é subitamente
cercada por um desses momentos-limites
da História, como foi o ano de 64 nessa
cidade (...).
Nessa história nos comove o desejo de _
Do navio
calabouço em 1961,
0 horror de
nqma silhueta
cinzenta.
MEMÓRIAS
na beira do cais
Seu autor de reconstituir um circuito da bicho e os homens parecem caminhar
vida de nossa Nação, da vida de alguns para algum lugar indefinido, sem forma.
homens em um certo espaço. A memória É neste aparente caos que emerge,
de Adelto se abre para o abismo do poderoso, o golpe militar de 64, e a
momento em que o autoritarismo se Ordem se impõe e carrega os anônimos,
impla'nFa violentamente no país. ,E a os anti-heróis para a perplexidade e o
memória do autor passa a ser também a horror de uma silhueta cinzenta que se
memór_m 'dps outros, personagens 'de vê da bein? do cais; signo do Novo Estado
uma história densa como o mitológico é esse navio-calabouço e limite, cheiran-
Nego Orlando, célebre no porto por sua do "mijo, suor e merda".
arte na dança e na briga; homem que as E quando a existência passa a ser um
grã-finas de São Paulo buscavam para calabouço, não pensemfjueuo mundo se
Nisso ele era bom, famoso... Por onde maldiziam o dia em que haviam entrado
passava no porto, se abriam alas de naquela merda de política e o que
reverência... --- 1 A2 queriam era só uma oportunidade para
Esta é uma história de muitas hlstórlaf voltar ao lar, leoªseguir um novo
e algu-mas, confissões. O contraponto à emprego esobreviver () Os prisionei-
narrativa é o discurso tímido do autor; ros do navio-calabouço estão condenados
breve interferência na vida que sopra aolhar para a cidade onde viviam, a ver
aqui e ali, nos dcsyllhm do cenário e silhuetas da natureza, das casas, dos
Se construindo para os que o viveram e construiram as suas vidas. E o que pode
nãoo viveram. Adelto - como um Jorge ser mais comovente do'que esses homens
Semprún - se coloca na postura de cgmmhandq p'elp navio e olhanflq essa
quem usa a l'lqguagem para cavar no eldaqe - história brasxlelrg, próxima e
poço da memória, If perdida em umas poucas vidas que vão
Eu era muito pequeno", conta desaparecendo, assim como a lembrança
Adelto, "quando algumas destas histó- dessa época?
F i.)
Tias aconteceram. Mas, enquanto as Adelto Gonçalves é um dissidente
escrevia, ouvi vozes. Vozes de pessoas brasileiro. A sua história não vai agradar
não estão mais entre nós -- àqueles que venceram em 64. Não por
perdidas por aí, por esse mundo imenso, acaso, no começo dos anos 60, um desses
numa cova rasa e sem lápide, ou no generais vencedores disse que a história
fundo do mar". Personagem e autor era escrita por quem ganhava. Mas para
vasculhando a memória fazem deste os nossos e outros dissidentes, num
romance uma obra contemporânea, munQo em que a palavra. se coqcentra
implicada no discurso que busca resga- em círculos cada vez mais restritos, o
1a" o tempo e a possibilidade até ode -
Poder +
R se fecha, a palavra é negada aos .
sermos humanos. Porque, se Merleau intelectuais e aos homens comuns. Mas
4 a7à i é S dat a a A E
pº?“ fem 12586 quando diz que Uta: sas Não ficam ªl'<?9_ºflthº da
souegiaçie vale pelo que nela valem as memória, da história, das rases, há uma
relações do homem com o hognem - o guerra que nunca termina. Não disse um
valera'a $a Sººlffdªçlº'l i ª'sªldºmº tcheco, Milan Kundera, que
Envoltas na neblina (º! jelra-mar) a luta do homem contra o Poder é a luta
caminhamestas vidas confusas em que o da memória contra o esquecimento"? ,
anti di iá é hoje. P O mt termas
AUNUBo militante comunista
? , recolhedor de apostas
-'
dojogo do
Não nos diz um personagem
seur manuscrito o
ded
nuscrit encontra
)
ontem | A delto, em obscuro
do depois de sua morte (no qual poderia
falar com toda a sinceridade) que, "às
vezes, penso que essa capacidade de
discordar é a única possibilidade que
a humanidade tem de não ser levada
! irremediavelmente para o abismo obscu-
rantista"? Marcos Faerman

ECONOMIA
Combinações
originais e
controversas
OSKAR LANGE - Artigos, conferências e
ensaios. Editora Ática, São Paulo, 1981. 214 p.
Na coleção Grandes Cientistas Sociais, da
Editora Ática, o volume 18 reúne trabalhos
do economista polonês Oskar Lange, sele-
cionados e introduzidos por Lenina Pome-
ranz, que também fez a revisão técnica da
tradução. Os artigos, conferências e en-
saios reproduzidos, em número de dez,
dizem respeito a questões da teoria econô-
mica, do planejamento e dos métodos
quantitativos.
A peculiaridade de Lange consistiu em
que sua capacidade criadora se exerceu
tanto no domínio da economia marxista
como no da economia burguesa. Sua evolu-
ção mostra combinações e oscilações entre
ambas. Na fase madura, a decidida opção
ideológica pela primeira não impediu de
conservar os desenvolvimentos instrumen-
tais da segunda e daí que se empenhasse
em introduzir no planejamento da economia
socialista as técnicas quantitativas elabo-
radas nos centros acadêmicos do Ocidente.
Ao mesmo tempo, aproveitando os ventos
da desestalinização, manifestou-se a favor
dos métodos de gestão econômica apoia-
dos na intervenção democrática dos traba-
lhadores. Tendo sido um dos pioneiros nes-
sa perspectiva; dispôs de pouco tempo para
desenvolvê-la e, se considerarmos o que
hoje se passa na Polônia, evidencia-se o
pequeno efeito prático que alcançaram seus
ensinamentos na própria terra natal.
_ O leitor encontrará nesta coletânea da
Atica um cientista social original, que sabia
combinar grande abertura de espírito com
rigor metodológico. Sua obra é certamente
controversa, mas de muita atualidade.
Jacob Gorender
MEMÓRIAS
Adolescentes
tratados
como gente
EXERCÍCIO DE VIDA - Henriette de Hollanda
Amado. Editora Codecri, Rio de Janeiro, 1981
Este livro não é meramente uma biogra-
fia, simples exercício de memória de uma
mulher que é admirável porque um ou outro
de seus feitos tenha sido grandioso mas
porque foram cotidianamente bons.
Pedagoga incansável, rebelde à estagna-
ção, Henriette Amado procurou dentro de si
e no círculo de seus colaboradores os meios
para fazer do magistério um processo ativo,
indagador, peregrino de novas experiências
na formação global do adolescente. E este
tem aqui reconhecida sua dignidade, ao ser
tratado não como número, como rebanho a
ser dominado, mas como gente.
Henriette Amado escreve com simplici-
dade cativante e o leitor descobrirá nas
despretenciosas abordagens que faz dos
grandes temas da vida (amor, liberdade) um
propósito de neles se aprofundar, sem o
pedantismo daqueles que aborrecidamente
desfiam teorias sobre teorias.
A autora propõe uma educação global de
tal modo que o jovem evolua emocional e
mentalmente, atingindo maior grau de ma
turidade que lhe permita opções conscien-
tes. No entanto, na concepção desta edu-
cadora brilhante, a escola não pode preten-
der tomar o lugar da família, mas apenas
insistir para que os pais participem dessa
educação. . presso dez anos mais tarde pela Unicamp,
O livro apresenta uma compreensão no-
tável do problema do tóxico e suas causas.
O mesmo se dá em relação ao papel da
escola que deve ter um clima "de estimulos,
propício à iniciativa e independência do
aluno". Considera indispensáveis: a meren-
da escolar (da qual a autora tem o mérito da
iniciativa) e o ensino religioso ("há sempre
perguntas eternas para a angústia da soli-
dão e para as perplexidades da existência
humana")
16
- 0n2BCv VB.GNG AAA, P.!
HISTÓRIA POPULAR
Um romance sobre
Espartaco, herói
preferido de Marx
ESPARTACO - Howard Fast. Editora Abril,
São Paulo, 1981. Coleção Grandes Sucessos.
Na história do homem, em qualquer so-
ciedade, as aspirações de alguns sempre
se têm oposto às de outros; e dessas con-
tradições têm sempre surgido lutas. A 'his-
tória do homem, sabemos, é a história
destas lutas,
Nem sempre, porém, é possível ver cla:
ramente estas contradições, por uma razão
também conhecida: no fim, quem escreve a
história é o vencedor, ou dominador. A
história dos povos" indígenas da América,
por exemplo, foi escrita por aqueles que
mais violentamente os odiaram, por aqueles
que nada sabiam a seu respeito - os ho-
mens brancos
Resgatar do limbo a história dos vencidos
é uma tarefa pouco incentivada em nossa
sociedade, pois implica resgatar a sub-
versão, ou o espírito de luta que existe nela.
Mas é justamente a esta tarefa que se
entrega Howard Fast no romance histórico
Espartaco, reeditado pela Abril em sua co-
leção Grandes Sucessos (que ainda pode ser
encontrado nas bancas).
Fast, conhecido no Brasil principalmente
pela obra Sacco e Vanzetti, narra em Espar-
taco, misturando ficção e realidade, uma
luta pela liberdade ocorrida quase um sécu-
lo antes de Cristo ser crucificado, quando o
Império Romano dominava o mundo civili-
zado. Os romanos, sabemos, representaram
considerável avanço na história da civiliza-
ção, não só pela República e o Senado, com
suas idéias sobre o direito e a democracia,
mas também pelo impulso que deram ao
desenvolvimento econômico, pela sua ar-
quitetura, engenharia etc. Aprende-se bas-
tante sobre isto na escola; mas pouco ou
quase nada se aprende a respeito das multi-
dões de escravos, um suprimento ilimitado A rebelião de escravos comandada por seram abaixo o poder de Roma.
de trabalho, sobre os ombros dos quais Espartaco foi a maior entre as que já haviam
K. Marx disse certa vez que via em Espar-
erigiu-se o poderio romano.
eclodido na República. Durou quatro anos taco "o mais belo tipo que encontramos em
O herói de Fast é o escravo Espartaco, um e chegou a reunir 45 mil homens, que toda a história antiga... Um grande chefe de
dia escolhido por seus senhores para se esmagaram cinco exércitos, compostos pe- guerra, um nobre caráter e um autêntico
tornar gladiador, ou seja: passa a treinar las tropas mais disciplinadas e melhor ar- representante do proletariado antigo".
com outros homens para se estraçalharem madas que o mundo já conhecera. Roma foi O autor consegue pintar neste romance,
mutuamente nas arenas, propiciando riso e tão ameaçadas que, para preservá-la, o Sena- utilizando vigorosa e agradável narrativa,
prazer aos romanos. Escravo de três gera- do cruficou seis mil homens ao longo da Via um grande painel sobre a época, de sua
ções, isto é, nascido e neto de escravos, Apia. moral à sua organização econômica. E con-
Espartaco acaba aprendendo algo além das Espartaco aparece no romance de Fast segue ser um desses escritores apaixona-
artes da guerra em seu treinamento diário. como simbolo da rebelião, da ânsia do dos, capazes de mergulhar fundo nos mo-
Aprende a odiar seus opressores e sonhar novo que já estava sendo gestado, mas que vimentos que narram, ao mesmo tempo que
com a liberdade. Até descobrir que, para só triunfaria cinco séculos depois, quando tomam partido, sem medo de queimar os
realizar seu sonno precisaria destruir Ro- as rebeliões de escravos e camponeses, dedos.
ma. juntamente com as invasões bárbaras, pu- Roldão Oliveira
UM CLÁSSICO DE ECONOMIA
Obra de consulta finalmente acessível
cias modernizadoras e o arcaismo institu-
Ennio Brauns Fo
15 ANOS DE POLÍTICA ECONOMICA - cional; a inflação estrutural e as constantes
Carlos Lessa. Editora Brasiliense, São Paulo, pressões no balanço de pagamentos são
1981. 2a edição. 173 p. características da economia brasileira que
não surgiram em 1964, mas já existiam
Antes mesmo de ter sido publicado sob a antes. O regime ditatorial surgido do golpe
forma de livro, este trabalho já constituía daquele ano apenas se encarregou de refor-
um clássico sobre o tema que aborda: a cá-las, e, nunca é demais assinalar, ele não
política econômica do Brasil no após-guer- teria sido possível se as condições fossem
ra, mais especificamente no período 1948- outras.
. 1963. Tratava-se, porém, de uma dessas Nada melhor, portanto, do que voltar ao
obras muito citadas e pouco lidas, devido à passado para entender o presente. Neste
relativa exiguidade de suas edições anterio- sentido, o livro de Carlos Lessa é um ins-
res .Originalmente elaborado como relatório trumento precioso. Pelas suas páginas des-
do Centro de Desenvolvimento Econômico filam as políticas econômicas sugeridas e
CEPAL/BNDE e publicado no início da dé- adotadas no final do governo Dutra e no
cada de 60, ele só chegou a ser reim- inacabado mandato de Getúlio, a. prepara-
ção e a execução do Plano de Metas do
sob a forma de fascículo para uso escolar. governo JK , bem como a crise resultante do
Seu autor é um dos melhores e mais co- seu pleno êxito.
nhecidos economistas brasileiros, especia- importante realçar que o autor não se
lista na matéria do livro e profundo conhe- limita a descrever e interpretar as estraté-
cedor de nosso desenvolvimento econômi- gias e-suas consequências, mas brinda o
co recente. leitor com um rico referencial empírico e
Neste seu trabalho de juventude, ele ana- com um esquema de análise inteligente.
lisa o período em que praticamente se com- Mesmo discordando de algumas das suas
píetou a industrialização do País, e no qual colocações, é impossível deixar de reco-
este “adquiriu suas atuais características
ec iai
MOVIMENTO-1 a7/6/81 __...
 - VB.GNC.AAA, -
" ENTREVISTA COMIVAN ANGELO
Continuação da página 20

Hoje, nessa meia abertura,

a necessidade de buscar nos "Romper a tradição da dependência"

Tem-se a impressão, às vezes, de que muitos in- cão de paternalismo, e de dependência do intelectual
livros um conteúdo
telectuais acham que a democratização é algo que deve com relação ao poder, ficando-lhe reservado o papel de
ser feito para eles, e não um produto da sua luta e do * "áulico da sociedade cartorial", para usar uma ex-
político mais agudo já
seu trabalho. E como se houvesse uma autoridade su- pressão de Fábio Lucas - e estas coisas não mudam
prema, uma espécie de pai, que fosse concedendo de um dia para o outro. Enquanto não houver uma
está um pouco mais aliviada...
graus maiores ou menores de liberdade -. ou então, mobilização mais efetiva dos escritores, contin uaremo
s
borla uma troca, passando-se do pai terrível, autoritário, presenciando esta miséria que está aí: um país com
no mel, o sujeito estava ao mesmo tempo protegido pelo para um pai benévolo. 50.000 leitores regulares de livros, umas poucas cente-
Estado, tinha em prego, e tambémpodia fazerseu discurso Estes anos todos de ditadura, somados a nossa tra- nas de livrarias, tiragens infimas de edições, e políticas
nacionalista através da arte, então calhava com ogovernoe dição histórica de autoritarismo, parecem ter embo- culturais desligadas dos reais interesses da sociedade.
vivia na santa paz. tado a cabeça de muita gente, que perdeu de vista a planejadas de forma burocrática e centralizadora. E
verdadeira natureza da própria Democracia., Um es- estejam certos que ninguém vai fazer qualquer coisa
De 64 para cá não é mais ético você colaborar assim, de tado democrático caracteriza-se; não pela presença de por nós, ou nos dar algo de graça: o desapreço pela
uma maneira ideológica, com o governo. Você às vezes dá um poder mais ou menos opressivo, mais ou menos be- palavra escrita permeia todos os setores da nossa so-
uma colaboração técnica, mas ninguém mais defende eti- nóvolo para com seus súditos - mas sim, pela par- ciedade, e os. partidos de oposição, as organiz
camente o governo. Então, o escritor está de novo sozinho e ações
ticipação de todos neste poder, e na condução de as- progessistas e de esquerda, são igualmente cúmplices e
tem de novo que ter seus empregos. Não sobrou para ele suntos de interesse da coletividade. A UBE - e omissas na tomada de medidas em defesa do escritor
muita área de em prego a não ser na televisão, no rádio, na e
quaisquer outras entidades representativas da Socie- né formulação de políticas culturais adequadas.
propaganda, na imprensa, ele está mais ou menos jogado dade Civil - são o reflexo do nível de consciência e de Quaisquer avanços e alterações neste "status quo" se-
dentro desta indústria cultural, tendo que produzir para participação dos seus integrantes. rão conseguidos através de um trabalho conjunto e de
esta indústria cultural, e vive da melhor forma possível, Há um atraso dos escritores, como categoria, em ter- uma mobilização que, por ora, ainda se encontra em
hoje- embora isto tenha levado muita gente para um ca- mos de participação, e de mobilização efetiva em de- um estágio incipiente, meramente esboçado através de
minho de uma certa dispersão. Há muita dispersão dentro lesa dos seus interesses e também pela democrati- iniciativas como esta recente Conferência Paulistana
do trabalho doescritor, hoje, as horas de trabalho que ele zação do país. As causas deste atraso são apontadas - de Escritores.
3 a outrotipo de patrão que não a arte são muito longas.. corretamente, a meu ver - na entrevista do Ivan CLAUDIO WILLER
Angelo. Há uma tradi- (Poeta, editor do jornal da União Brasileira de
Cláudio Willer - £! todo escritor tem que levarem conta
Escritores),
este panorama histórico, senão vamos cair naquela lógica aaa
do tipo "quando o carnaval chegar". Isto é, de que vamos
derrubar a ditadura, acabar com o arbítrio, e aí tudo bem, nha falado nada, e ninguém queria saber da minha opi- a obra estética em si... Essa necessidade de buscar nos
quando, na verdade, a coisa é muito mais complicada... nião sobre nada... livros um conteúdo político mais agudojá está um pouco
mais aliviada, e hoje, neste meio processo de abertura, on
Ivan Angelo - Enestive trabalhando em 'São Paulo du- Cláudio Willer - Quer dizer que a imagem de Escritor
de já é possível ao leitor ter uma forma de atuação fora da
rante uns dez anos sem publicar nada, e aí publiquei umli- Mineiro Recluso é improcedente... palavra do escritor, eo escritor não tem mais que ser o por-
vro, umlivro de denúncia da opressão, um livro que estava Ivan Angelo - Nãofoi uma reclusão voluntáriá, eu não ta-voz da angústia desse leitor. Entãoele vai ser porta-voz
sendo escrito em 74, 75, quando um colega nosso, jor- me escondi. Agora, tam bém tem um outro aspecto, que é o do que? Dos seus sonhos, das suas reivindicações ao nível
nalista, estava sendo morto no DOI-CODI. Era uma épo- aspecto do leitor. No leitor de 1974, 76, havia uma avidez do prazer. Então, acho que o escritor, hoje, tem maior pos-
ca bastante pesada, acho que criou um certo tipo de identi- maior poralguém que falasse por ele. Toda a sociedade es- sibilidade de trabalhar seu texto. A luta dele é uma luta na
ficação da minha atuação dentro da literatura com a possi- perava do escritor um discurso coerente contra a opressão, linguagem, poruma liberdade de linguagem, e porumali-
bilidade de atuação fora do livro. Então começaram as so- um discurso que falasse por ele leitor. Comisso, ele perdeu berdade social. E que ele, até para o próprio público, crie
licitações para falar para estudantes... Creio que o silêncio muito da feitura em si, o que o escritor quis dizer escre- uma abertura, crie um desejo de que a linguagem seja mais
era devido aosilêncio geral, eu não tinha publicado, não ti- vendo daquelejeito... O leitor não se preocupou muito com livre.

Campanha dos Cr$ 6 milhões para Movimento

AINDA FALTAM 2,5 MILHOÓES

Prossegue a campanha para obter
os 6 milhões necessários para repor os prejuizos
que sofremos com os atentados terroristas
às bancas de jornais e ganharmos tempo. para
equacionar nossos problemas editoriais.
Faltam 4 semanas para o encerramento
da campanha, por isso você ainda pode ajudar
Movimento: contribua com qualquer quantia que
você puder ou faça uma assinatura de apoio.
A sobrevivência da imprensa democrática e
independente está baseada exclusivamente em
seus leitores. Não deixe esta voz se calar.

NOTÍCIAS DA
Bazar da pechincha
O Clube de Mães da Vila Campestre,
na zona de São Paulo, realizou dia 9 de
maio um bazar da pechincha - roupas
usadas, calçados, brinquedos, etc - e
por decisão coletiva enviou a Movimen-
to Cr$ 2.650,00 (dois terços da renda)
em apoio à campanha de sobrevivência
do jornal.
Shows e festas
CAMPANHA
Um grupo de cineastas, músicos,
compositores e artistas plásticos está
montando um conjunto de promoções
culturais que irá marcar o encerramen-
to da campanha de apoio a Movimento,
A data e os locais serão anuriciados
brevemente. Desde já todos os amigos e
leitores de Movimento estão convida-
dos.
Seçao especial
O cineasta Wladimir Carvalho, dire- ...—6 milhões
tor de País de São Saruê, promoveu
uma apresentação de seu filme, em
Brasília, com toda a renda dos ingres-
sos doada à campanha de Movimento.
L. milhões
Amigos de Caruaru
Um grupo de jovens trabalhadores
dos bairros de Vassoural e Sta. Rosa,
em Caruaru, Pernambuco, organizou
_L4 milhões
umalista de colaboradores para Movi-
mento e está promovendo uma campa-
nha de assinaturas em sua região.

| Esta voz vai falar mais alto 3 milhões

| Para isto estou enviando Cr$ . . ...... u...... por |
| [[ ] Cheque nominal para [ ] Ordem de pagamento [ ] Vale Postal em nome de
Edição S/A, Editora de "* para Edição S/A Edição S/A, Editora de
Livros Jornais e Revistas conta 13007/9, Bradesco, Livros Jornais e
Ag. Vila Clementino, Revistas. Rua Dr. Virgílio | Doações de acionistas 2.219.000,00
219. h
São Paulo. de Carvalho Pinto, 625, Doações de leitores 466.800,00
São Paulo, SP. CEP: 05415 Assinaturas de apoio 691.900,00
| Vendas de quadros
Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento | 100.000,00
*Nome ............................................................................ Doação de discos 2,3 .000,00
| Endereço Woe o aa ia ta de sa ia a aa e a ea ea oa e e a e ea dae a ee r ese e c ll da e va so, TOTAL 3. 500.700,00
| Total da semana anterior 3.168.800,00
Para isto estou enviando o pagamento de 3.200,00 através de
Ajude-nos a chegar ao iopo. A bandeira da
ij Chêque nominal [] Vale Postal L] Ordem de Pagamento , imprensa independente precisa fremular mais
alto.

MOVIMENTO - 1 a 7/6/81
MONT 2 C - OTWAMIVOLA
7
 1
"BR DFANBSB AAA, | N(

CARTAS ABERTAS

TRIBUNA LIVRE IMPRENSA

Baez: patrulha :
infgrtggr
é crime
indevida

DélioNo dos
últimoSantos dia 22,(PMDB-RJ)
o deputadofez
Leitora critica artigo "sectário"*
um
Federalbreveprotestando
discurso nacontra Câmaraa

ce
-R Aaaa
EssaReac-3
apreensão dos Hora jornaisdo PovoMovi-e
A última página do jornal provam sua militância política

mento (n.o 306)

Movimento n.o 308 apresenta por algo mais que discursos de

bes
bro---
Tribuna Operária, decretada pe-
um artigo da correspondente protesto, isto é, letras de es-

lo Aministro Ibrahim Abi-Ackel.

deste . semanário em Nova lor- querda apresentadas dentro do

chos«Osseguir, os principais tre-

que, Paula e Silva, sob o título mesmo esquema consumista da

do democratas
discurso:
"Qual é a da Joan Baez nessa indústria cultural,

brasileiros
tournée pela América Latina?". O Agora vem o problema mais

repudiam a apreensão dosliberda-

jor-
artigo choca, contrastando com importante da crítica a Joan

nais e defendem a total

a linha anti-sectarista de Movi- Baez, o da não-violência. A

de de expressão e manifesta-
mento, e revela também uma autora critica Baez por antes

RR
« ea
ção".
atitude gasta de certas esquer- defender o Vietnã e agora de-

Qualtrêsfoi semanários?
o crime cometido por
das, manifesta em ataques e senvolver um ataque a este país

estes Fizeram
chavões quando o inimigo é por sua invasão do Camboja.

reportagens acusando alguns

outro. Mas esta foi realmente uma

militares de estar envolvidos

De início, a articulista se atitude contraditória que deixou

no atentado terrorista ado«coni-Rio

contradiz, Coloca Joan Baez pasmados milhares de comu-

Centro e denunciando
praticamente a serviço da pro- nistas no mundo inteiro! Se

vênciano doméritogoverno. Não entran-

paganda anticomunista ameri- vamos fechar os olhos à invasão

domatérias, do conteúdo das

cana, ao mesmo tempo. em que do Vietnã no Camboja, devere-

é inegável o direito
revela que o disco European mos ser coerentes e aprovar

destes jornais noticiarem os

Tour, que Baez trouxe em sua também Israel, justificando sua

fatos e opinarem. A expressão

viagem pela América Latina não política belicista contra os pa-

"publicação ofensiva éàsvagaautori-

foi editado nos Estados Unidos. lestinos. O fato dos judeus

dades constituídas" de-

Além disso, o fato de Baez ter terem sofrido nas mãos do
GREVE DA FIAT
mais. Tudo pode ser considera-
sido proibida de cantar na nazismo não justifica sua políti-

dosegurança
uma ofensa, uma ameaça à
Argentina e no Brasil é signifi- ca contra os palestinos. Da

nacional.
cativo. Fosse ela enquadrada de mesma maneira que o sofrimen-

Semhá democracia
liberdade dee respeito imprensaà
maneira tão simplista de an- to do Vietnã não é argumento

não
ticomunista manobrada pelos para que repita no Camboja a Assalariados

dignidade humana. asOcorrem, no

Estados Unidos, teria a Polícia ação de que foi vítima.

entanto, pressões mais va-

Federal proibido que cantasse "Mahatma Ghandi e Luther

riadas, desde que as oficiais até ase

no Brasil? King continuam sendo seus

econômicas, dificultam
Mais adiante o artigo focaliza heróis... talvez não se dê conta do campo

impedemcoma imprensa compro-

a "pausa e o esvaziamento" de exatamente das distorções e

metida os interesses na-

Joan Baez após sua militância dos simplismos em que está
contra a guerra do Vietnã. O que
a autora quer criticar aqui? Será
incorrendo". Com este trecho a
autora veste as roupagens da apóiam greve cionais
ver. e populares
Os jornais de sobrevi-
oposicionistas
sofreram, nos últimosdois anos,
que o abandono por Baez das "patrulha ideólógica", com co-

uma série de atentados terroris-

roupas simples por vestidos de branças indevidas de atitudes Os participantes do II Encontro grandes empresas nacionais e

tas, nãograndes apurados,prejuízoscausan-fi-

chifon vermelho, cabelos enca- comunistas que Joan Baez nun- Nacional Sobre Assalariados Ru- multinacionais.

do-lhes
colados, unhas pintadas e per- ca teve. rais, realizado em Belo Horizonte, Os trabalhadores rurais

nanceiros. Os culpados conti-

fume francês? Igto cheira|a certo Pela primeira vez, a autora faz no período de 21 a 25 de maio, sob a manifestam sua certeza de que o

nuam soltos".
moralismo pequeno-burguês, uma crítica justa. E quando promoção da Confederação dos caminho para impedir as

Délio dos Santos - Brasilia/DF

tão comum à direita. Me lembra lembra que, fazendo uma via- Trabalhadores na Agricultura - demissões e a redução do salário
a atitude da direita chilena, que, gem pela América Latina, contra Contag-, vêm manifestar integral dos trabalhadores é o da resistên-

após assassinar Allende, inva-
diu sua residência e exibiu,
triunfante, centenas de garrafas
de whisky escocês como prova
de que o presidente não passava
de um comunista disfarçado.
Ou será que Paula e Silva quis
atacar Baez por ela cantar a
favor de um sindicato autêntico
(Farmworkers), ao invés de de-
fender o sindicato corrupto e
reacionário dos motoristas de
caminhão (Teamsters)?
Continuando, a articulista, ao
falar dos problemas existenciais
de Baez (separação do marido,
volta para o filho e para ela
mesma), revela não estar bem
informada sobre os problemas
sociais do nosso tempo. Ela
deveria ler mais o semanário que
representa, principalmente o ar-
tigo de Patrick Benquet (Movi-
mento n.o 305), que constata
um problema social sério: a
crise do antimilitantismo, : cau-
sada, de um lado, pela inade-
quação dos partidos ditos "do-
gmáticos" às necessidades
reais de nossa década; e por
outro lado, pelo distanciamento
dos países do "socialismo real"
de uma democracia socialista.
Quanto à cobrança deprecia-
tiva da coerência de Baez, a
autora chama de senil a argu-
mentação dos 23 anos de mili-
tância da cantora. Se esta
argumentação não é válida,
acrescento outras: enquanto
Mercedes Soza, por exemplo,
cobra grandes cachês e ingres-
sos altos, Baez aceita cantar
sem cobrar cachê. E mais: exige
que os ingressos sejam vendi-
dos a. preços acessíveis. Em
suma, Baez faz parte do grupo.
de uns poucos músicos que
HOMOSSEXUAIS
a violência, Joan Baez acaba apoio e solidariedade aos operários cia coletiva, ao mesmo tempo que
ficando nas generalidades, sem metalúrgicos da Fiat Diesel, do Rio se associam à reivindicação dos
nada mencionar sobre os de Janeiro. metalúrgicos do Rio de Janeiro,
milhares de desaparecidos pela
violência no cone sul; e, princi-
palmente, sem fazer a denúncia
Os companheiros metalúrgicos
da Fiat Diesel, empresa instalada
em Xerém, município de Duque de
exigindo a readmissão de todos os
trabalhadores demitidos, dos dois
delegados sindicais afastados e
A favor
do genocídio e o extermínio de
El Salvador.
Caxias, expressaram a posição dos
trabalhadores brasileiros, dando
estabilidade por um ano.
Belo Horizonte do sexo
na TV
Na mesma edição de Movi- resposta firme à tentativa de im- (Seguem-se as assinaturas dos
mento foi publicada uma con- plantação de uma política de representantes da Contag, de 10
versa de Baez com Lula, onde
ela afirma que "até mesmo em
desemprego em massa, cujo obje-
tivo é garantir novos lucros às
federações estaduais e 42 sin
dicatos de trabalhadores rurais) Nós,
decimento homossexuais
São Paulo, ao organizados
tomarmos conhe-
El Salvador existiria uma manei-
ra de fazer uma revolução sem
entidades de e pressões
grupos exercidas
contra o por
exce-
lente trabalho de orientação da se-
ABORTO NACIONALISMO
violência". Aqui não só Joan
Baez erra, como revela um
desconhecimento imperdoável, A vida Todo apoio
xóloga
TVpoderiamos Marta Suplicy,
Mulher, dadeixarRededeGlobo,no programa não
total sobre a origem da violência
em El Salvador. Erro que é
contra mais aoestemêsmoato de tempoprotestar
ignorância
repetido quando ataca a violên-
cia vietcong. Sem comentários.
vale menos a Eusébio
perniciosa,
nos solidarizamos com Marta que
nesta
Para terminar, a comparação
de Baez com Jane Fonda. Que
que o sexo? Rocha iniciativa.
Trabalhos comodeveriam
esse, predomi-
de alto
Jane Fonda exerce uma militàn-
cia mais abrangente, identifi-
Por que a maior parte dos esquer-
distas defende o direito ao abor-
LI com grande satisfação a entre-
vista do sr. Eusébio Rocha, ex-de- nível educativo,
narpoderiam
em nosso vídeos, poisas sóterríveis
assim
cando não-violência a algo mais
que as guerras, é indiscutível.
to? Como podem aqueles que lutam
pela vida, pela qualidade de vida
putado federal, publicada em Movi-
mento no 305, onde ele pretende avi-
consegiências ser evitadas
que aa toda
desinforma-
Seu trabalho e o de Tom Hayden
refletem uma sintonia maior
dos homens, negar tão decidida-
mente o direito à vida? #
var a chama do verdadeiro nacio-
nalismo. O nosso povo anda ca- ção
dade neste
e aos setor traz
homossexuais aemsocie-
par-
com a nossa realidade atual,
identificando como violência o
rente de movimentos políticos que
Se a concepção de um ser depen- transmitam uma consciência pa-
ticular.
fato de milhões não terem
acesso a salários dignos, ali-
de essencialmente da relação se- triótica sadia.
Sempre houve entreguistas, mas Outra Coisa,- Grupo
Homossexual São deAção
Paulo / SP
(com o apoio de mais cinco grupos)
xual, por que então, em vez de des-
mentação, saúde e habitação. truir o ser concebido, não se evitar parece que agora a entrega está
Joan Baez foi realmente esta relação no período fértil de bem maior. Por isto é necessário in-
"aclamada com toda a auréola uma mulher? Será que destruir um centivar campanhas de caráter na-
dos anos 60" no Tuca. Senti ser é uma violação menor da liber- cionalista, como faz o sr. Eusébio
emocionada os 1.500 jovens que dade do que evitar uma relação Rocha. Vamos apoiá-lo: Nossa ju-
esperaram pacientemente sua , sexual? ventude necessita com urgência
liberação pela Polícia Federal. uma consciência voltada para os in-
Conheci jovens que viajaram teresses nacionais.
mais de mil quilômetros para Conheço tantos casais que con- Espero que esse bravo jornal
ouvi-la. Só que, graças à pronta trolam de forma natural e eficiente ajude na campanha nacionalista e
ação da Polícia Federal, tele- o nascimento de filhos, que para continue divulgando informações
guiada pela "Gang do Planalto", mim isto é uma prova da viabilidade, corretas para o povo brasileiro so-
sua "voz de rouxinol!" não destes meios naturais de controle. bre o que se passa nos bastidores
encantou o Brasil. de nossa política econômica.
Betina Schusmann __ São Paulo %
S. A. Berem - Antonio Carlos/SC Annibal D' Hortas - S. Dias/SE

"48 MOVIMENTO --Ta.7/6/81

 BR DFANBSB VB.GNÇ;AAA, "

ARA

TRIBUNA LIVRE

O PT na hora do

canto da sereia

Desafios e tentações antes do registro.

dos os Núcleos daquelas zonas e mu-
Nos últimos meses e até o dia 6 de
nicípios onde não foi atingido o quo-
junho o Partido dos Trabalhadores terá
rum legal de filiações e, assim, não se
filiado milhares e milhares de operá-
realizou a Convenção, bem como os
rios, camponeses, assalariados urba-
Núcleos de Categoria Profissional. A-
nos, intelectuais, estudantes. Estará
grava-se o fato de que para as Conven-
assim apto a realizar as convenções no
ções Regionais será eleito apenas um
prazo previsto pela lei, o que Ihe permi- / an
delegado de cada Zona ou Município,
tirá obter o registro definitivo. Terá “I",/If,” |
independente do número de eleitores
assim alcançado uma grande meta para
filiados, o que iguala a representação
alegria de todos os trabalhadores que
de cem a mil ou dois mil filiados.
almejam a constituição de um partido
Por tudo isso, a realização de encon-
próprio independente, amplo e de mas- POSSEIROS
tros regionais compostos de represen-
sas, democrático e inserido nas lutas
tação proporcional ao número de filia-
populares e umà sociedade sem
dos e participação de todos os Núcleos
exploração e sem opressão. Terá assim
de Base, são necessários para se criar
derrotado todos os que apostaram na Juíza e jagunços

o espaço democrático onde serão dis-

inviabilidade do PT: desde os artífices
cutidas as questões políticas e indica-
da "abertura", para os quais o PT não
da a chapa ou chapas para a formação.
estava previsto, até todos aqueles que,
do "diretório regional, bem como dos
mesmo situados no campo da oposi- param reforma
delegados à Convenção Nacional. Não
ção democrática, não admitiram que os
proceder assim, é não se diferenciar dos
trabalhadores pudessem se organizar Mais violência contra posseiros na Bahia
demais partidos; é não se ater ao caráter
de forma independente da oposição
liberal. amplo e democrático do PT , um partido
' * A Frente Nacional do Trabalho foi procurada Pois bem, esse mesmo Edgar Cavalcanti
que nasceu das bases. É alimentar
Mas a batalha pela construção deste pelo companheiro Andrelino Souza Sena, Medrado entrou com uma petição na comarca
meramente os entendimentos de cúpula
partido amplo e de massas, de luta e presidente do Sindicato dos Trabalhadores na de Itaberaba e conseguiu da Dra. Valquiria
para a formação das chapas aos diretó-
democrático, ainda não está vencida. Agricultura de laçu-Bahia, para denunciar o Sampaio Lacerda, titular dessa comarca,
rios.
Longe disso. Além de visões errôneas despejo arbitrário de 16 famílias de possei- despacho favorável a ele.
O mesmo procedimento deve ser
que aqui e acolápredominam, existem ros. Naquele local, duas famílias já tiveram Com esse despacho a Dra. Valquiria põe
adotado a nível nacional.
todas as limitações antidemocráticas suas posses e benfeitorias destruídas por em execução uma liminar concedida a Me-
Por outro lado, o momento das reu-
impostas pela lei. Como preservar a oficiais de justiça, um pelotão de 12 homens drado em 79, num procêsso de interdito que
niões e encontros preparatórios das
democracia interna no momento das da polícia de choque de Salvador e & jagunços corre na Comarca de Itaberaba, em desres-
Convenções e as próprias Convenções
convenções, é o grande desafio agora do fazendeiro e homem ligado à polícia civil peito ao próprio INCRA que sequer fora co-

colocado. não devem ser meros atos burocráticos da Bahia, Edgar Cavalcanti Medrado. municado desta decisão, considerada crimi-
e formais. Há que se discutir um sem
E o ponto de partida para isso é a
Essa área onde se localizam as posses nosa pelo advogado dos posseiros. Um de-
número de questões importantes que
incorporação na vida política doparti-
dessas 16 famílias faz parte de uma gleba de talhe para o qual este advogado Carlos Al-

afligem hoje o povo brasileiro e dizem

do da grande massa de novos filiados..
24.000 hectares da Fazenda Sítio Novo, no berto Oliveira: chama a atenção é o de que o
município de laçu, distante cerca de 300
respeito à vida e aos objetivos do PT. A
A lei nos concedeu um prazo muito
processo se encontrava parado e sumido no
km de Salvador. Ali vivem cerca de 6 mil fa- cartório desde 1979. E reapareceu agora,
começar pelo balanço de nossas ativi-
exíguo para fazer as filiações. Assim, mílias há mais de 50 anos e o conflito já dura misteriosamente, já com a petição dos Me-
dades -- e de nossa omissão - em
elas não puderam ser feitas com todos 8 anos, com a marca constante de casas in- drados, a liminar e o mandado prontos.
torno de questões tão candentes como
os requisitos que pretendiamos. De cendiadas, cercas destruídas, prisões arbitrá-
o terrorismo, a crise econômica e a
qualquer modo, deve-se notar que as rias de trabalhadores pela polícia militar da
Diante desta situação de violência, em que o

questão sindical, bem como a necessi-

filiações do PT se diferenciaram das Bahia e os jagunços dos Medrados.
poder judiciário é transformado em instru-
mento de serviço de interesses escusos, a
dade de uma tática eleitoral que atenda
que foram feitas pelos demais parti- Há cerca de dois anos, o governo federal
Frente Nacional do Trabalho vem de público
aos interesses dos trabalhadores.
dos. Ninguém assinou as fichas do PT desapropriou os 24.000 hectares, atendendo
manifestar o seu repúdio. É mais um ato de
Diante do terrorismo originado nos
sem tomar contato mínimo com o seu às reivindicações dos posseiros, com a par-
violência contra quem vive na terra e nela quer
porões do regime militar o PT precisa
programa e suas idéias. Sem se iden- ticipação do INCRA, que passaria a ser o re-
trabalhar.
adotar uma posição firme de exigência
tificar um pouco com ele, na condição presentante do governo na implantação da
da apuração das responsabilidades e
de trabalhador. Mas agora é preciso
reforma agrária no local. Frente Nacional do Trabalho - São Paulo

de fim dos órgãos de repressão políti-

incorporar a massa de filiados à vida
ca, sem cair no canto da sereia da
do partido, iniciando, desde já, a cria- HOMOSSEXUAIS
conciliação. Esta questão deve ser dis-
ção de centerias de novos Núcleos de
cutida em todo o partido como forma
Base e reativando todos os núcleos
existentes. de prepará-lo para a ampla mobilização
popular, único meio que pode pôr em
As Convenções Zonais e Municipais
recuo os terroristas.
de 21 de junho devem ser precedidas
A crise econômica mal está come-
desse esforço e, onde não for possível, a -
cando. Mas os primeiros efeitos da
ao menos de reuniões que incorporem
recessão já se fazem sentir no lar de
estes novos filiados ao processo das

xlx
%w(“(lemx
milhares de trabalhadores desempre-
convenções e à própria formação dos
gados. Mas esta não é a única verdade.
diretórios. Estas reuniões preparató- Nós, os grupos Somos, Alegria - Alegria,
Também os operários já começaram a
rias das convenções devem ser as mais Ação Lésbico - Feminista e Facção Homosse-
mostrar o seu caminho de resposta à
amplas, com a convocação de todos os xual da Convergência Socialista, realizamos d)
crise. Os trabalhadores da Volks no
novos filiados. Ora, a lei determina que nosso | Encontro Paulista dos Grupos Ho-
ABC e agora os da FIAT, no Rio, mos-
a inscrição da chapa para a formação
mossexuais Organizados nos dias 25 e 26 de

traram que é possível resistir à dimi+

do diretório municipal ou zonal, se dê
abril na Faculdade de Ciências Sociais da

ECOLOGIA
nuição dos salários e ao desemprego
até o dia 11 de junho, isto é, até 10 dias
Universidade de São Paulo. E, neste docu-
mento, procuramos, em linhas geráàis, colo-
com a mobilização e a greve. Também
antes da Convenção. Além disso há car as questões e propostas tiradas no En-
este ano será realizada a CONCLAT,
tantos requisitos para se inscrever uma - contro.
espaço para elaborar a resposta dos
"Alternativos"
chapa, que apenas os ativistas políti- A primeira proposta aprovada foi a de pro-
trabalhadores à crise. Há também a
cos terão condições de fazê-lo. Assim, mover manifestações no dia 13 de junho,
proposta de greve geral a 1o de outu-
se queremos constituir um partido de proposto como dia de luta homossexual, pois

procuram
bro, caso o governo não atenda às
massas, precisamos dar oportunidade em maio do ano passado iniciou-se uma re-
reivindicações dos trabalhadores nos
a todos os filiados de se candidatarem pressão generalizada sobre as bichas, lésbi-
próximos 6 meses, que foi aprovada no
aos diretórios ou, ao menos, de parti- cas, travestis, prostitutas, negros e margi-

contatos
ato do 1o de maio em São Bernardo do
ciparem do processo de escolha das nalizados em geral; e contra essa repressão

chapas. Campo. foi organizada a primeira manifestação dos

Finalmente, é preciso aproveitar o
Até o dia 7 de junho estas reuniões
espaço das Convenções para discutir a
amplas - verdadeiras convenções de-
grupos homossexuais organizados através de
um ato público e uma passeata pelo centro da Foi formada,
perativas há 5 anos,
(ECOOPS), que umacomo
tem rede deativida-
coo-
questão eleitoral. A começar por uma
mocráticas -- deverão ser realizadas, a
campanha de defesa das eleições de
cidade.
A segunda proposta foi a realização de reu- des: agricultura
reciclagem, e alimentação
artesanato (madeira, biológicas,
tecelagem,
cerâmica), centro de documentação (revistas,
nível de cada município ou zona eleito-
1982 e contra as manobras casuistas niões mensais entre as lésbicas participantes

jornais, livros etc.), música, teatro, artes grá-

ral. Assim estará garantido um mínimo ou não dos diversos grupos organizados.
do regime militar, e a terminar pela
ficas... A ECOOPS não tem objetivos comer-
de democracia na vida interna do PT e a Durante os debates foram levantadas al-

ciáis ou empresariais,
cooperação,emdemastodaa
é uma formade par-
definição da tática eleitoral mais ade-
incorporação da massa de filiados à gumas indicações de trabalhos a serem le-

ticularde organização mo-

quada ao PT. Sem uma ampla discus-
escolha dos órgãos de direção. vados: 1) importância da união com outros

vimentosecológicos Europa, Japão,

são a começar das bases, corremos o
A nível regional, as dificuldades para setores oprimidos como as mulheres e os

IndiaEm epleno
Quebec.
, risco de cair no mais puro eleitoralismo
realizar um processo democrático são negros; 2) possibilidade de realização de de-

coração
dos domuros
sistema sem coração
(mesmo que seja "de esquerda").
ainda maiores. A lei determina que a bates contra a discriminação homossexual
Todas estas são questões funda-
chapa para o Diretório Regional seja
mentais postas na ordem do dia da
inscrita um mês antes da Convenção,
nas escolas, sindicatos e
3) importância do gueto como mais um espa-
demais entidades;
eserisoladoeresistirnãoécoisafácil.
dentro mesmo da cidade-prisão,
A solução
situação política nacional e da vida dos
isto é, até o dia 16 de julho, já que as
trabalhadores. Discuti-las profunda-
ço de interação nas lutas contra a repressão,
écarcontra-atacar.
uma Terra entrarJuntos, queremos
Nova. em contato e trocaragir, bus-
Queremos
Convenções serão a 16 de agosto. discriminação e a violência em geral contra
mente e adotar justas resoluções sem
experiências com grupos semelhantes do Bra-
Além do mais, as exigências legais nós, homossexuais.
dúvida contribuirá para a construção Finalizando, acreditamos ser importante a

sil, com grupos "alternativos". E por isso

para registro de uma chapa são tais,
do PT como um partido de massas, de realização de encontros regionais e nacional,

estamos escrevendo a Movimento, para que

que em muitos estados, como no Rio
lutas e democrático. a fim de que possamos juntos encontrar for-

divulgue nosso endereço, em Paris.

de Janeiro, dificilmente poderá ser ins-
Roberto Martins mas de acabar com todas as padronizações

ECOOVIE
75013 -__Paris163, -rueFrança
du Chevaleret
crita mais de uma chapa. Pesa ainda o que buscam homogeneizar e massificar.
( militante do PT no Núcleo da Saens
fato de que das Convenções Regionais
Pena, no Rio de Janeiro)
estarão automaticamente excluídos to-
Encontro Paulista dos Grupos
Homossexuais Organizados (fone: 586.35.33)
/ MOVIMENTO -t a7/6/81 , 19

. O)
Rã x..“
NRMAN
ARIS
'o:.:','0:':;'c, Ip
Moado palera1094
OA28
Recentemente, a UBE - União Brasileira de Escritores
- promoveu uma Conferência de Escritores que chegou a
conclusões, cujo conteúdo é marcadamente progressista.
Elas incluem desde a exigência de plena redemocratização
do país, dejustiça social, de revogação da LSN e da legisla-
vão sindical paternalista. e do repúdio a qualquer forma
de censura e opressão, até questões bastante específicas e
tócnicas, tais*"como a reivindicação de uma legislação de
direito autoral que favoreça o escritor, e de reformas nc
ensino da nossa língua e literatura.
A Conferência teve a participação de escritores
pertencentes aos quadros de direção da UBE, como Clóvis
Mourad. Abguar Bastos, Péricles Prada e também de inte-
loctuais que atéentàão tiveram pouco contato Icom a UBE,
como Fábio Lucas, Walnice Galvão, Marcos Faerman,
Caio Graco Prado, Rodolfo Konder, entre outros.
Uma das participações de maior destaque foi a de Ivan
Angelo, que compareceu a dois dos debates: o das Rewin-
dicações do Escritor, e o do Escritor e Sociedade. Aqui,
Ivan,autor de A Festa e Casa de Vidro fala a Cláudio Wil
lor, para Movimento, das perspectivas de mobilização do
escritor, e também do papel social da sua obra, e da sua
participação na luta por uma sociedade mais aberta e de-
mocrática. +
Os escritores só se reúnem
em noites de autógrafo...
Para defender os direitos
profissionais poucos
aparecem e trabalham. ..
olaa Ivan à ngeio, entrevistado por
Cláudio Willer: Como você vê a categoria dos escritores
no Brasil?
Ivan Angelo - Eu vejo uma desunião total. Ninguémse
reúne para coisa alguma, exceto para as chamadas "noites
de autógrafo". E umgrupinho daqui, um grupinho dali...
"Derrubar
Mas quando você faz umtrabalho voltado para alguma
atuação como categoria profissional, você vê que aparece
pouca gente, poucos dos que dão entrevistas nos jornais e
revistas clamando por mais direitos, mais espaço... Na ho-
ra de atuar formalmente por estes direitos, em cima da rea- a ditadura
lidade, as pessoas não comparecem... É preciso fazer com
que os escritores sintam que participar ativamente de uma
conferência voltada para suas reivindicações, também é
uma forma de atuar paralela à-atuação dentro da litera-
tura. "
Cláudio Willer -Admitindo que haja um crescimento da
mobilização do escritor, que tudo que foi ventilado, agi-
tado nesta recente Conferência da União Brasileira dos
resolver
Escritores, adquira um grau maior de concretude e de pre-
sença, você daria uma prioridade, uma im portância espe-
cial para algum tipo de questão?
Ivan Angelo- A questão principal não está só na mão do
escritor, é uma coisa de todas as camadas da população
brasileira, é a luta contra qualquer forma de opressão.
poa a ao a a a de d + x H aaa a a a od ca dodo asa a a ala Ila la a lala lala sata
h)]
| ET
Bo70ara
Aeaa 00ia
I Parr
Mis :
UAUL
I'llílllji'1;hl
r elmra pra do o
mes
etes
AR Eae
tenes
ess
ABR
Bo
| WI»|!
iv. Lª,)!ubilm|
AAo N
Agora, vejo a opressão tanto no plano social quanto no
plano da linguagem. O escritor tem que trabalhar pelos
seus direitos de cidadão, por mais justiça, digamos até por
uma justiça maior no plano dotrabalho, da renda, do pra-
zer que você pode tirar nas suas horas de folga -o direito a
esse prazer, todo esse tipo de reivindicação o escritor deve
fazer.
E acho que também tem que lutar contra essas for-
mas de opressão que existem dentro da linguagem. Você é
obrigadoa escrever de uma determinada maneira, você é
obrigadoa escrever sobre determinado assunto, então vo-
cê não é livre. A atuação do escritor por maior liber-
dade deve implicar a liberdade nos direitos de cidadão, e
a liberdade de criação, de colocara forma e conteúdo que
ele quiser. É
O escritor tem de lutar
também contra as formas de
opressão que existem dentro
da linguagem, para colocar
forma e conteúdos livres
Mas isso não envolve mobilização, é uma atuação indivi:
dual do escritor. Agora, dentro da sua profissão - se é que
se pode falar em profissão, porque ninguémé profissional-
mente escritor nesse país exceto 4 ou 5 pessoas - se ele se,
mobiliza, dentrodeuma entidade, da UBE, sindicatos, se-
4 Aim. ja onde for, ele deve, sempre que houver algum atentado à
liberdade, promover imediatamente a reunião da sua enti-
dade, propor, tomar partido em relação a essas operações
Cláudio Willer, fala da que surgem no dia-a-dia. E também contra todas as opres-
sões generalizadas ao longo da história deste país, e que
arte e da abertura:
muita gente esquece. Tem muita gente achando que as
opressões no país são resultado do golpe de 64 - quando
sabemos pela história do Brasil que estas opressões sempre
existiram. é
O escritor tem que estar atento, se não vai-se
chegaràconclusão de que quandosederrubaresta ditadura
que está aí, vai estar tudo resolvido - quando não está...
Cláudio Willer - Acho que essa relativa apatia da classe
"é porque ela é objeto desse processo...
Ivan Angelo -A situação do escritor no Brasil é compli-
cada, é algo que vem de muito tem po. O escritor fica meio
perdido entre o nacionalismo - que para ele é uma coisa
não vai atávica, genética, ele herdou este nacionalismo - entre o
nacionalismo e o paternalismo. Desde o século XVIII, te-
mos o indianismo, o nativismo, que noséculo XIX resultou
no romantismo, eno plano ideológico, na independência.
No plano da linguagem estavam preocupados com o na-
cionalismo, e no plano da sobrevivência dependiam da
aristocracia e da burguesia. Então, eletinha que tratar dos .
problemas políticos mais ou menos sem ofender a classe
que o pagâva para ser escritor, da qual ele dependia... E
tudo... "" - depoissurgiu o regime nacional-populista- aí caiu a sopa
Côntinua na página 17
la dias d grál erp rrenan nda a eoand e a e no adso da e lo a 0 asa á e d o o asa o
 BR DFANBSB P. ! ") !!

!
F» |
rea) - Cr$ 140,00

R>
&
«El

A
3
&
$
4CJ
P
e
a
o
As
É
&
às 1
$!
3
E
Rr
%
es
E
[7
#
e
3
e3
£
a
ba
&
E-
E-)-
<
pit
poa
A
Ea
C

---------

gmem,Gólbrye Delo
©

Y> arquitetaram tudo e o

" vão por as mão no A
famoso Ouro de €"
#29Moscou.Para ajudar R$/ ©
<-- na pagar a divida !
& pexterna doBrasil (Z

15 Todos os detalhes N
do negócio e das negociações
parao acordo com a URSS nas páginas 12 e 13.

NOSSA OPINIÃO
COMPORTAMENTO
As "mães de
filhas da
um passado
udo indica que a iniciativa das seja aprovada por unanimidade dos vo-
"mães de Santana" caiu em
terreno fértil, Declarando-se
"preocupadas com a salva-
guarda moral de seus filhos",
esse grupo de senhoras de um bairro da
classe média de São Paulo entregou um
documento com 100 mil assinaturas ao
ministro Abi Ackel, solicitando maior
rigor na censura aos meios de comunica-
ção. Contrariamente à atitude oficial em
relação ao abaixo assinado do Movimen-
to do Custo de Vida (entregue ao governo
em agosto de 1978, com 1,2 milhão de
assinaturas, e que até hoje não teve respos- Um filme como "O Império dos Senti-
ta) a iniciativa em favor da censura mere-
ceu resposta imediata. Assessores do mi-
nistro disseram que ela partia de "setores
influentes da sociedade", e seu resultado
foi um imediato endurecimento da cen-
sura.
Uma série de indícios comprova esse
endurecimento: em sua primeira reunião
secreta, depois de dois anos de existên-
cia, o Conselho Superior de Censura
proibiu sumariamente a exibição de oito
filmes; um episódio da série "Amizade
Colorida", da TV Globo foi tirado do ar
pois os cortes feitos pela censura torna-
ram-no incompreensível; outra série des-
sa emissora, "O Bem Amado", já vem
sofrendo uma marcação constante, por
motivos claramente políticos. Além dis-
so, o ministro Abi Ackel decidiu que da-
qui para a frente, somente irá liberar os
filmes aprovados pela unanimidade dos
--" votos do CSC. Outras provas evidentes
desse endurecimento: a multa de 72 mil
cruzeiros imposta pelo Dentel à Rede
Globo em virtude de expressões utiliza-
das pela sexóloga Marta Suplicy no qua-
dro sob censura prévia desde o começo de
junho - que ela apresenta no programa
TV-Mulher.
O jornalista Pompeu de Souza, repre-
sentante da Associação Brasileira de Im-
prensa no CSC, garante que o manifesto
das "mães de Santana" não chegou a
impressionar os conselheiros. "Não ha-
verá mudanças no CSC", disse ele, des-
mentindo notícias de sua eventual am-
pliação com inclusão de representantes
das famílias e da religião. Para ele, a lei
5536, que criou o CSC, "é uma lei con-
traditória como toda lei de transição de
--- de ãlfãíiúq aAUSGiu UEDara un 7
estado de arbítrio relativo". Essa lei exi-
ge que toda obra submetida ao CSC só
Conselho de Direção i crise é real, generalizada e fruto do
Agostinho Gisé, Alcy Linhares, Alvaro Ca-
ropreso, Antonio C. Queiroz, Armando
Boito Jr., Armando Sartori, Célia R. de
Sour'a, Conrado Júnior, Delzir A. Matias,
Flávio Carvalho, Igor Fuser, Jacira Venâàn-
cio, José C. Alencar, José Crisóstomo de
Souza, Lia R. Dias, Luiz C. Antero, Luiz
Macklouf de Carvalho, Luiz Pedro, Márcio
Bueno, Murilo Carvalho, Paulo Koza, Per-
seu Abramo, Raimundo Rodrigues Perei-
ra, Roberto Martins, Roldão Oliveira, Ti-
bério Canuto e Washington Oliveira.
Conselho Editorial de Movimento
Alencar Furtado, Andre Forster, Audálio
Dantas, Chico Buarque de Holanda, Fer-
nando Henrique Cardoso, Orlando Vilas
Boas, Hermilo Borba Filho (1912-1976).
_BR DFANBSB V8.ONG.AAA, ro oX
Santana"
moral de
negro
tos; caso contrário, a decisão cabe ao
ministro da Justiça. Essa mecânica não
será mudada, segundo Pompeu de Souza,
porque, "para isso, seria preciso mudar
a lei". *
A declaração de Pompeu de Souza,
jornalista combativo e democrático, cor-
responde, a rigor, à sua posição pessoal,
de quem votou a favor em todos os pro-
cessos de liberação de filmes e outras
obras julgados pelo CSC. ;O Conselho,
porém, pode não ter mudado, mas o mi-
nistro da Justiça, com certeza,» mudou.
dos", que não foi liberado por un
dados, por exemplo, hoje não passaria
por Ackel. E, por trás dessa sua nova
atitude muito mais coisas podem vir já
que as leis, como o decreto 1077 de 1980,
que permitem ao ministro da Justiça a
censura prévia às publicações, não foram
revogadas.
A situação que o Brasil vive hoje nessa
área é um exemplo claro das contradi-
ções que existem na abertura promovida
sob controle do regime militar, da sua
incapacidade de resolver os problemas
em qualquer área da vida brasileira. Da
mesma forma como na área política, on-
de usa o terrorismo de seus aliados para
acuar a oposição, o regime militar tenta
aproveitar-se da reação moralista dos ul-
traconservadores - como os que guia-
ram as "mães de Santana" - para pro-
mover um retorno à censura mais rígida.
este debate, há um falso dilema
que a oposição democrática e
popular deve evitar. Aparente-
mente, duas são as posições em
confronto. De um lado estaria o
moralismo primário e hipócrita dos ultra-
conservadores, que combina a repressão
sexual com o gosto pela pornografia (é cla-
ro que a repressão sexual, ao esconder to-
das as coisas ligadas a sexo, provoca esse
gosto, que é explorado pelos grandes mo-
nopólios da informação, com a tolerância
do governo). De outro lado, estaria um li-
beralismo absoluto, onde literalmente
valeria tudo, não há nenhuma espécie de
compromisso principalmente nas rela-
ções entre os sexos,
"""<Aams - Fios-
Para a professora Maria Nilde Mas-
cellani, uma educadora experiente e pro-
4e Monde | domovimentosindical.têmfacilitado.adoneaidéiaequivocadade queacrise
Diretoria de Edição S/A
Raimundo Rodrigues Pereira (presidente), |
Paulo Koza (diretor de operações), Perseu :
Abramo (diretor adjuntos).
Diretor Responsável
Raimundo Rodrigues Pereira
Movimento é uma publicação de Edição
S/A - Editora de Livros, Jornais e Revis-
tas. Administração e redação: Rua Dr. Vir-
gilio de Carvalho Pinto, 625, Pinheiros.
São Paulo, Brasil, CEP 05415. Telefones:
210-6622 e 210-6744. Distribuição; Abril
S/A - Cultural e Industrial. Rua Emílio
Goeldi, 575. Tel. 65-5115. Impresso nas o-
ficinas da Cia. Editora Joruês, Rua Gastão
da Cunha, 49. Tel. 531-8900. São Paulo.
Material internacional via Varig.
|
gressista, o caminho, no entanto, é ou- facetas de seu comportamento, sente-se
tro. "No tipo de sociedade em que vi- pertencente a um conjunto chamado so-
vemos - diz ela - reina o mais absoluto ciedade e projeta-se como um ser histó-
individualismo, expresso de modo parti- rico isto é, aquele que persegue uma tra-
cular pela defesa da liberdade indivi- jetória de vida motivado pela crença de
dual". Esse individualismo impede que seu poder de transformação ao lado de
as pessoas desenvolvam todas as suas po- muitos outros sujeitos".
tencialidades humanas, com reflexos
Essa formação, entretanto, pressupõe
desfavoráveis ao aprofundamento do re-
a liberdade. Não aquela liberdade que,
lacionamento sexual. Ao enfatizar o in-
enfatizando o indivíduo, afasta-o da par-
dividualismo, a educação impede que as
ticipação social e política, mas daquela
pessoas possam - para usar uma ex-
liberdade que entrosa o indivíduo em sua
pressão corrente entre os pedagogos -
comunidade, dando-lhe oportunidade de
colocar-se dentro do outro, isto é, colo-
florescer como pessoa, no contato com
car-se no lugar do outro. O jovem perde
seus semelhantes e na luta comum para
o sentido geral, e surgem assim compor-
superar os problemas vividos pela maio-
tamentos escapistas, expressos através
ria.
do consumo de tóxicos ou de uma desen-
freada e superficial liberdade sexual. Essa liberdade aponta para o futuro;
"*Na medida em que se despersonaliza os ideólogos das *mães de Santana" e
uma juventude, - diz Maria Nilde - seus defensores, como o ministro Abi
acaba-se com uma geração. Pessoa é Ackel, não a podem compreender - eles
aquele sujeito que se assume em todas as estão presos ao passado.
CRISE
Trabalhadores já pagam a crise
rejeição da proposta de redu- dores de que não é necessário lutar contra
ção dos salários pelos operá- as demissões porque o governo iria resol-
A
a à- G0 -a
»
operários da FIAT e algumas outras Os sindicalistas comprometidos com
iniciativas semelhantes mostram que os os interesses econômicos das classes tra-
trabalhadores procuram resistir aos efei- balhadoras necessitam realizar um gran-
tos destrutivos da crise econômica. Po- de esforço para reverter essa situação
rêm, situações desfavoráveis no interior desfavorável. E necessário que se aban-
política do governo. Na verdade, os tra- econômica é um artifício criado pelos
balhadores já estão pagando pela atual grandes empresários para pressionar o
crise econômica. Prova disso é o cresci- governo. Todos os dados mostram que a
mento da inflação, do número de desem-
pregados e dos acordos que estabelecem modelo econômico monopolista e depen-
redução nos salários. dente. A idéia de que a crise é artificial,
Frente a esse quadro, os pelegos têm além de errônea, só favorece a ação do
governo e dos pelegos, pois, para eles
procurado desinformar e desorganizar os
trabalhadores. A diretoria da Federação não interessa "alarmar" os trabalhado-
dos Metalúrgicos do Estado de São Pau- res. Com base numa compreensão corre-
lo afirma que somente em Taubaté teria ta da crise, é necessário denunciar, para
as massas trabalhadoras, o caráter anti-
sido implementado um acordo de redu-
ção salarial, quando a reportagem do popular do atual modelo econômico, a
número 310 de Movimento mostra que ação nefasta dos pelegos e divulgar, jun-
esse tipo de acordo está sendo posto em to aos trabalhadores de todo o país, as
experiências de resistência encetadas até
prática em várias cidades do interior, O
pelego Joaquim dos Santos Andrade, dos aqui - a luta da Volks, da FIAT, dos
metalúrgicos de São Paulo, tem enviado trabalhadores de Volta Redonda etc. Ca-
membros da sua diretoria às portas de so contrário, os trabalhadores seguirão
| "fábricas para convencerem os trabalha- pagando pela crise que não criaram- -
I. 7
MOVIMENTO 15 a 21/6/81

BRASIL
estilhaços
Mais
Está cada vez mais difícil montar a farsa
A bomba que matou o sargento Gui-
lherme e feriu gravemente o capitão
Wilson estava dentro de uma bolsa gran-
de de couro sintético, do tipo que se usa a
tiracolo. Esta informação, divulgada
recentemente pelo jornal O Estado de S.
Paulo, pode ser facilmente comprovada
observando-se a foto nesta página, onde
aparecem com nitidez a alça da bolsa e o
forro de proteção ao ombro, que não
foram destruídos pela explosão. De
acordo com a autoridade militar que teve
acesso aos laudos, a bolsa ficou em
frangalhos e os fragmentos recolhidos
apresentam vestígios de pólvora no re-
vestimento interno, podendo-se concluir
que a bomba explodiu no seu interior. A
bomba estava acondicionada em uma la-
ta de óleo de automóvel. Em um dos
fragmentos da lata aparece a inscrição
"vol", que foi o que restou da marca
Havoline. O petardo era de Trotil-tri-
nitrotolueno (INT), em pequena quanti-
dade, revestida com pólvora e Bom bril,
para aumentar o poder explosivo. O
Bom bril serve também para dar a im-
pressão de bomba caseira.
Esta revelação pôe por terra a tese de
que a bomba teria sido jogada dentro do
Puma, pois o terrorista teria que atirar
pela janela uma bolsa de grandes dimen-
sões e ao mesmo tempo enlaçá-la no om-
bro do sargento. Outro dado que reforça
esta argumentação é a informação da
mesma fonte, de que o mecanismo de de-
tonação era um relógio, ligado a uma
pequena pilha e que fechava o circuito.
Uma bomba, para ser atirada contra um
alvo qualquer, tem que ser de percussão e
não de tempo.
Outras informações divulgadas na se-
mana passada contribuiram para que o
quadro em que se deu o episódio vá ad-
quirindo contornos mais definidos. Pela
primeira vez em sua história o Riocentro
não foi atendido em seu pedido de po-
liciamento especial para um evento. O
ofício, datado de 14 de abril, e enca-
minhado pessoalmente pelo chefe da se-
gurança, tenente César Vaschuelec, pe-
dia uma tropa de 60 homens para um
show que deveria reunir cerca de 30 mil
pessoas. As informações agora divulga-
das, dão conta de que a ordem de sus-
Oficiais descontentes
também preparam
relatório paralelo.
pender o envio do policiamento especial
foi dada pelo comandante da PM,
coronel Nilton Cerqueira, diretamente de
Brasília, onde se encontrava no dia 30 de
abril. O coronel se comunicou com o
chefe do Estado Maior da PM, coronel
Fernando Antonio Pott, que transmitiu a
ordem ao major Ayrton Sotto-Maior
Quaresma. através de um bilhete em que
dizia, porém, que "os 60 homens do ba-
talhão de choque deveriam ficar embar-
cados". Isto significa que eles deveriam
permanecer de prontidão, para qualquer
eventualidade. Esta ordem foi trans-
mitida ao tenente Curíllo, do 18.o.
BPM (de Jacarepaguá). que a anotou em
seu livro de registros.
Procurado na semana passada para es-
clarecer estas informações o coronel Nil-
ton Cerqueirarecusou-se a receber a im-
prensa. alegando que já havia dito tudo
MOVIMENTO 45 a 24/6/814
BR DFANBSB VB.GNG.AAA, ". !)
TERRORISMO
do IPM do Riocentro, tantas são as contradições
Gilberto Laranjeiras
continha a bomba
A é
que tinha a dizer sobre este assunto. Por
este motivo não foi possível saber o ro-
teiro cumprido por Cerqueira em Bra-
sília no dia 30 de abril e nem, na-
turalmente, se procedem as informações
de que estivera com o chefe da agência
central do SNT, general de brigada New-
ton Araujo de Oliveira e Cruz. Outras in-
formações (ou informes, de acordo com a
linguagem militar), que ficaram por ser
confirmadas é, se alguns setores da se-
cretaria da Segurança mantiveram-se de
plantão no dia do show.
A Grande
No último dia 26 de maio, a Loja Sim-
bólica Libertas No 38, de Belo Horizonte
- sob a responsabilidade do venerável
mestre José Eymard Monteiro - enviou
um manifesto para apreciação de todas
as Lojas jurisdicionais à Grande Loja de
Minas Gerais. O manifesto, segundo
Monteiro, "objetiva indicar aos poderes
constituídos o posicionamento da nação
maçônica quanto ao atual quadro só
cio-econômico: do país". No final da
semana que passou haveria uma reunião
na Loja No 38 - com a presença dos
delegados das demais lojas e de um re-
presentante da Grande Loja - para que
fosse elaborada a redação final do mani-
festo, -
A seguir, trechos desse documento inê-
dito, onde os maçons pela primeira vez se
posicionam claramente contra o modelo
econômico e pedem até uma Reforma
Agrária.
"A maçonaria, que prega a liberdade
e a tolerância, sabe que toda evolução
material tem seu preço em sacrifícios
individuais ou coletivos e, por isso mes-
mo, não julga a experiência histórica por
outros balizamentos que o da liberdade e
garantia da dignidade mor-
humana,
mente no que tange à promoção do
bem-estar social.
Ela sabe que os sacrifícios individuais,
em nome desse bem-estar geral, só po-
dem ser tolerados na medida em que
representem opção individual consciente
na luta contra formas históricas atrasa-
das ou ilegítimas, ainda que erigidas em
nome da manutenção da paz social.
Nesse particular, tem feito de seus
!
do Riocentro
.
ses
» wªke—L
Vem crescendo nas últimas semanas o
número de militares tanto do serviço
ativo quanto da reserva, empenhados em
reunir dados sobre o episódio do Rio-
centro. Esta investigação paralela, ex-
pressa a discordância da maioria da
oficialidade com relação ao encaminha-
mento que vem sendo dado ao IPM sob o
controle do I Exército. /Atinal, embora as
autoridades militares venham reagindo
inclusive com prisões aos que concluem
pela culpabilidade dos ocupantes do
Puma, o comando do 1 Exército já con-
MAÇONARIA
Loja protesta. E
ensinamentos um manancial de suporte
dos sacrifícios do cidadão pelo progresso
da humanidade, que levou inúmeros de
seus membros, através dos tempos, a
derramar seu sangue generoso no pro-
gresso da justiça social, contra o despo-
tismo econômico, político ou moral.
A nacionalidade brasileira não nasceu
sem o concurso de seus mártires, na
Independência, na Abolição ou na Repú-
bica, assim como em episódios menores,
ligados à inconfidência, à revolução per-
nambucana, à constitucionalista de 32
ou à epopéia do monopólio estatal do
petróleo, entre outros.
Em torno do movimento de 64 suas
galerias igualmente se enriqueceram, se-
ja em apoio aos propósitos maiores
anunciados, seja procurando conter ex-
cessos do lado institucional, seja comba-
tendo a excepcionalidade, quando into-
lerável, seja resguardando a integridade
de inocentes, injustamente acusados e
perseguidos,
Os negros dias dessa repressão irres-
ponsável e desatada, mercê do esforço de
toda a sociedade civil, estão felizmente,
sepultados.
A nação pode constatar a enormidade
de sua crise política, moral e financeira.
Não nos basta, por isso mesmo, apenas
vigiar para o aperfeiçoamento demoecrá-
tico, com eleições limpas e tempestivas,
segundo as promessas do Estado e as
reivindicações de toda a população.
É preciso que o novo pacto social a ser
gerado não se enraíze em desigualdades
econômicas intoleráveis, que bloqueiam
o usufruto do direito a educação, a saú-
de, a assistência social, a residência, a
cluiu pela sua inocência desde as pri-
meiras notas oficiais.
Mas enquanto os novos elementos reu-
nidos pela imprensa e pela equipe empe-
nhada em investigações à parte, apon-
tam para o envolvimento dos dois mi-
litares e a existência de um esquema
muito mais abrangente, o Palácio do
Planalto, através de seus porta-vozes vem
mostrando que irá se satistazer com a tese
da inocência. O deputado Alcides Fran-
ciscato (PDS-SP) que mantém estreitas
ligações com Figueiredo, fez um pronun-
ciamento na semana passada, em que faz
coro com o 1 Exército ao condenar a
intoxicação ideológica da imprensa. Este
recado informal foi confirmado mais tar-
de pelo ministro da Aeronáutica, briga-
deiro Délio Jardim de Mattos, que após
uma audiência com o general Figueire-
do, também falou contra o comporta-
mento da imprensa. O ministro defendeu
uma tese que já vinha sendo brandida
pela Polícia Federal no caso Watters, e
que pode ser resumida no seguinte: se
um criminoso não confessa seu crime
não é possível provar nada - não há
nenhum método de investigação eficiente
quando não se pode lançar mão da tor-
tura. E o que se pode concluir de suas
palavras. 1
"A imprensa nos acusou, durante a
repressão aos atos terroristas de esquerda,
de sermos violentos, até torturadores.
Hoje, se fizermos isso, num regime aber-
to. nos acertarão a cabeça no dia
seguinte".
r eivindica
di
alimentação, a vestuário e a transporte
dignos, em que novos opressores se
apóiem para novamente golpear direitos
institucionais duramente adquiridos.
Não será possível conviver harmonio-
samente com as conquistas tecnológicas
do átomo e da informática com as rela-
ções de caráter feudal relacionadas com
a estrutura rural, que expulsa a popula-
ção do campo para as cidades, pressio-
nando os organismos de assistência so-
cial e de manutenção da ordem.
E necessário, pois, que juntamente
com o esforço de redemocratização, a
que está ligado por juramento o insigne
presidente João Figueiredo, se executem
os estudos e se tomem as providências no
sentido de proceder à imediata redistri-
buição da renda, através da Reforma
Agrária, bem como a gestão dos fundos
públicos com a educação e a saúde em
formas estatais de atendimento gratuito.
Com este propósito e com o mesmo
escopo, os maçons mineiros nos insurgi-
mos contra o aumento da violência urba-
na, da inflação, da dívida externa, da
corrupção administrativa, da alienação
do território, da desnacionalização etc
como causas mais imediatas, preocupa-
dos com os possíveis desdobramentos da
crise brasileira, que pode extravasar os
marcos da tradição pacífica, que têm
caracterizado a história da nação.
Em nosso consenso, o descalabro geral
na administração, nas finanças, na polí-
tica e na mora da sociedade não é proble-
ma de recursos financeiros, mas de esco-
lha de prioridades, ou seja, de modelo
econômico".

TERRORISMO
O PMDB
naufraga na
conciliação
Uma parcela ponderável do PMDB não
Está disposta a permitir que o partido
entre no barco da conciliação com o
regime militar. É esta a conclusão central
da última reunião da Executiva Nacional
do PMDB, que causou viva polêmica ao
fazer uma dura crítica às posições do
deputado Marcelo Cerqueira, membro
de uma comissão do partido.; O deputado
fluminense que analisava aspectos jurí-
dicos do atentado do Riocentro dera
entrevista à imprensa sugerindo que o
PMDB aceitasse mesmo uma conclusão
negativa do inquérito militar que o in-
vestiga, a fim de evitar a radicalização
política. O debate interno do partido
transbordou para os jornais e provocou
intenso debate,
A briga teve início com a nomeação por
Ulysses Guimarães, de uma comissão
com os deputados Marcelo Cerqueira,
Eloar Guazelli(R$S)e Rosa Flores (RS)
para elaborar um parecer técnico-jurídi-
co sobre a legalidade do sigilo que as
autoridades estariam dispostas a manter
depms da conclusão do IPM que in-
vestiga o atentado Riocentro. A data
para a entrega do parecer foi fixada para
a terça-feira da semana passada e o
documento seria discutido na reunião da
Executiva Nacional. Na vêspera, porém,
Cerqueira adiantou pontos do documen-
to em entrevista concedida ao Jornal do
Brasil. Na entrevista - que depois foi
elogiada pelo Senador Jarbas Passarinho
como "extremamente sensata" - Cer-
queira afirmou: - ©"O caso do Riocentro
1a está apurado. Quem o levantou e
solucionou foi a imprensa. O relatório
final, o resultado, enfim do IPM, é que
pode originar outra versão". Seja qual
for o resultado do IPM o PMDB "jogará
bem para longeos dados que possam con-
figurar dentro deste estreito universo
polmm qualquer ameaça de retroces-
$U «
E sobre sua não-adesão ao manifesto
articulado pelo deputado Airton Soares
de apoio ao tenente-coronel Nivaldo
Mello de Oliveira Dias: "Não sou favorá-
vel a pronunciamentos de militares,
sejam quais forem os seus termos e o que
visem, porque a Constituição proibe que
eles falem sobre temas [&
políticos.
chego a censurar, contudo, os que assi-
naram o manifesto tambem por uma
questão de princípio".
A entrevista foi o estopim. Na reunião
da Executiva a primeira intervenção par-
tiu do deputado Francisco Pinto (BA).
Pinto estranhou que Cerqueira tivesse
dado como fato consumado, o resultado
de um estudo que antes de chegar aos
jornais deveria ter sido entregue "à
direção do partido".
Foi nessa mesma tônica que expuseram
suas opiniões os deputados Tarcísio Del-
gado (MG) ("O PMDB precisa acabar
com esta história de que não se pode
discutir os assuntos que envolvem os
militares"), Euclides Scalco (PR) e Fer-
nando Cunha (GO), além do 2.o vice-pre-
sidente do PMDB, o ex-governador
Miguel Arraes. Nenhum membro da Exe-
cutiva levantou a voz para defender o
deputado e o assunto foi praticamente
liquidado com a seªumtc sentença de
Ulysses Guimarães: "o que solicitamos à
comissão foi um estudo jurídico e não
um parecer político".
A Executiva decidiu, então, criar uma
outrá comissão - composta pelos depu-
4 MOVIMENTO 15 a 21/6/81
quase
calmaria da
com o terror
tados Tarcísio Delgado e Freitas Nobres
(SP) e pelo senador Roberto Saturnino
Braga (RJ) - destinada, desta vez sim, a
elaborar um estudo político sobre a
situação do país, com destaque para o
papel desempenhado pelas Forças Ar-
madas. O prazo concedido à comissão
encerra-se no dia 30 de junho, quando
coincidirão o prazofatal para o IPM que
Investiga o caso Riocentro e a próxima
reunião ordinária do PMDB,
Como Movimento pôde apurar, o pa-
recer terá pouca validade, no entanto.
Segundo uma pessoa que teve acesso a
ele "Nele não há nenhuma conclusão
importante e tampouco uma sugestão. A
questão jurídica sobre o sigilo do IPM,
por exemplo, nem chegou a ser
analisada".
Quanto à questão da destituição da
| B. A Tribuna de Debates traz, na sua Tribuna numa cooperativa da qual parti-
comissão, Ulysses Guimarães talvez te-
nha razão. Afinal, não se pode destituir o
que não chegou a ser constituído. O fato
é que o parecer é de autoria exclusiva do
deputado Cerqueira, escolhido para a
comissão por ser advogado e por ter sido
uma das vítimas dos atentados. Já o
jurista Eloar Guazelli só soube que era
membro da Comissão às 16h20 de
terça-feira, quando foi chamado ao gabi-
nete de Marcelo Cerqueira. (A reunião já
havia começado às 15 horas) Quando lá
chegou, Cerqueira estava datilografando
o documento, que só então foi lido pelo
deputado gaúcho enquanto fazia algu-
mas correções de erros datilográficos. O
deputado Rosa Flores, por sua vez, já
sabia de sua condição de membro da
comissão desde sexta-feira anterior, avi-
sado por um telefonema de Cerqueira,
um pouco mais tarde do que Guazelli.
Os dois parlamentares, gaúchos, por-
tanto, assinaram o documento mas não
participaram da sua elaboração.
Eloar Guazelli não concorda com vá-
rias posições defendidas por Cerqueira.
"De início eu coloco sob suspeição
qualquer resultado do IPM, inda mais
depois do misterioso afastamento do seu
primeiro presidente. Comojurista, é meu
dever não esperar qualquer condução sa-
tisfatória do inquérito". Segundo Gua-
zelli, Marcelo Cerqueira comete um erro
ao não invalidar o IPM como instrumen-
to de investigação do caso Riocentro. O
IPM, ensina próprio para a
investigação sumária de fato que tipifica
um crime militar. "O crime militar
ocorre quando o fato é praticado num
lugar sujeito à administração militar - o
que não era o caso - ou quando é pra-
ticado por militar ou contra militar, mas
que esteja em serviço - o que também
não era o caso, já que o capitão e o
sargento do atentado estavam à paisana
e portanto escondiam a sua condição de
militares".
Lembrado por Movimento de que o
Comandante do I Exército, . general
Gentil Marcondes Filho afirmou que os
dois militares estavam em serviço, Gua-
zelli insistiu em dizer que, do ponto de
vista jurídico, isto não tem validade.
"Acontece que os órgãos do tipo DOT-
CODI - onde estavam o capitão e o sar-
gento - não são organismos legais, pre-
vistos na legislação militar. Eles pode-
riam estar em serviço mas se fossem
membros de uma segunda seção do
Exército, que é prevista na lei".
Antônio Carlos Queiróz
V8.GNGAAA, >
-1
com o governador. A razão do suborno é
simples: em Santa Luz, o PP conseguiu "
fazer 500 filiações, enquanto o PDS só
Comarealização de uma seção secreta
conseguiu 325, mesmo com o ápoio da
que durou trêshoras, o Superior Tribunal máquina governamental.
Militar julgoua apelação dos jornalistas -
Cláudio Cardoso, Pedro Camargo e Aicar-
do Lessa, todos do jornal Hora do Povo,
que tinham sido condenados em primeira
PRESSÓES CONTRA 0 PT
instância, pela 1a Auditoria Militar daAe- |
ronáutica do Rio de Janeiro, aum ano e Além das dificuldades "naturais" que o
seis meses de reclusão. O STM manteve o Partido dos Trabalhadores vem enfrentan-
sigito de sua decisão até o fim da semana do para se legalizar na Bahia - um dos
Estados onde provavelmente o partido não .
passada, o que faz supor que ou manteve
apena ouampliou-a,pois, dentro dapraxe vai atingir o número mínimo de diretórios
E 2aJustiça Militar, o sigilodasdecisõessó municipais até a sua convenção - os
N gªma se pretendª, emse- seus organizadores enfrentam também a
guid 1 para aprisão repressão policial. Na semana passada,
dos condenados. Talhipóteseestá colo- por exemplo, o delegado de polícia do
cada pelofato de os jornalistasaindaes- município de Ipiau, a 350 quilômetros de .
Salvador, fechou a porta de um clube lo-
tarem mim liberdades,Elesforamconde-
nados porque denunciaramaevasão de cal, onde se realizaria um encontro do PT,
com duas viaturas e soldados armados, e
um hmmm: para Mas suíços
sentenciou: "comunista não pode falar
aqui". Tudo isso porque iá falar o ex-pre-
TRIBUNA DE DEBATES sidente da União Nacional dos Estudan-
tes, Rui Cesar Costa e Silva, queé filho da
Foi divulgada na semana passadaa pri- cidade.
meira Tribuna de Debates que pretende
ser o fórum para a discussãodos temas
que serão abordados no Congresso Ex-
traordinário do Partido Comunista do Bra-
sil, porsua vez convocado por uma conte- O senador peemedebista Teotônio Vile-
rência da qual participaram cinco comitês la encontrou uma fórmula para continuar
estaduais e os dirigentes do comitê cen- com o seu jornal Tribuna de Alagoas, sem .
tra! afastados de suas funções pela maio- ter que demitir funcionários em virtude da
ria do principal órgão dirigente do PC do crise econômica: pretende transformar a
primeira edição, o "comunicado da Con- cipem jornalistas e gráficos como sócios
ferência Nacional" que decidiu pela con- : proprietários. O jornal do senador alagoa-
vocação do Congresso, a proposta de te- no tem atualmente um déficit de dois mi-
mário desse mesmo encontro e um artigo lhões de cruzeiros mensais e sobrevive |
sobre os congressos que o PC do B já rea- sem propaganda governamental. Em vir-
lizou. Por outro lado, o último número do tude da crise, o senador considera que "o
jornal classe Operária, o órgão oficial fundamental. é o jornal continuar com sua
do PC do B publicou um artigo da maioria linha de independência". Mas se for trans-
do Comitê Central, comunicando a expuli- formado em uma cooperativa, seus fun-
são definitiva de quatro dirigentes e a de cionários terão de abdicar aos reajustes
mais um outro, cuja expulsão definitiva salariais à base do INPC e ao seu Fundo.
dependeria da ratificação de "órgão supe- de Garantia. Tal solução tem encontrado a
rior". (se supõe que seja um Congresso). oposição de setores do PMDB que se-
Segundo o artigo da Classe Operária, guem a linha do jornal A Tribuna da Luta
esses dirigentes são "renegados da causa Operária. Defendendo-se, Teotônio Vilela
proletária revolucionária", e foram afasta- diz que o jornal é viável economicamente e
dos após mais de um ano de luta interna, que não "está entregando um rabo de
Só contariam com o apoio de algumas de- > foguete a ninguém".
zenas de militantes, que também foram
"desligados" do Partido. #
ZAPAITA DENUNCIADO
A história do grupo armado do antigo
Mais uma ponta de PTB, em Porto Alegre e as tentativas dos
ivêu que cobre o ne- brizolistas de articular um movimento in-
gro passado do hoje surrecional de resistência ao golpe mili-
tenente-coronel do tar de 1964, estão sendo contados agora
lExército José Riba- pelo ex-jornalista e velho militante do tra-
mar Zamith (foto) so- balhismo Índio Vargas, em seu livro
bre quem recai a sus- "Guerra é Guerra, dizia o Torturador", lan-
peita de ter coman- cado na semana passada pela editora Co-
dado o segúestro do decri. O livro é também mais um depoi-
bispo de Nova Igua- mento sobre as torturas que|fizeram o dia-
N u, Dom Hipólito - a-dia dos patrões de repressão no início da
acaba de ser levantada pelo jornalista Al- década de 70.
vero Caldas, autor do livro "Tirando o Ca-
puz" - lançado na semana passada pela
editoraCodeecri. Em seu livro, Caldas rela- BOICOTE NO BNH
taas torturas que sofreu no quartel da
Polícia do Exército no Rio de Janeiro, Criada am janeiro deste ano, a Associa-
onde oentão capitão, Zamith aparece co- ção dos Mutuários da Habitação do Brasil
moumdos principais torturadores. Zami- (Asmuth-Brás), com sede em Belo Hori-
th é descfito como um "obcecado pela efi- zonte (MG), já tem 30 mil filiados espa-
ciênciaqueo uso continuado da força e da ilhados por oito Estados e no Distrito Fe-
violência podem produzir". Álvaro Caldas, deral. A entidade nasceu para defender os :
que àépoca foi preso com mais algumas interesses dos mutuários do Sistema Fi-
dezenas de militantes do "Partido Comu- nanceiro da Habitação, e a primeira prova
umª Brasileiro Revolucionário" diz que que enfrentará será a luta contra o au-
Zamith, aocontráriode outros torturado- mento de 72% nas prestações doBNH,
recentemente anunciado. Na sexta—feira
"res, mantinhao sangue frio e a calma nas
passada, se realizaria em Belo Horizonte
mais violentas seções de torturas.
uma reunião nacional para discutir os ru-
mos dessa luta e propostas como pagar
prestação na Justiça, sem aumento; pa-
gar, também na Justiça, as prestações
O governador da Bahia Antônio Carlos com 50% de aumento; finalmente, uma
Magalhães tentou subornar três vereado- proposta mais radical quer a "extinção
res do Partido Popular do município de do BNH" e sua transformação "na maior
Santa Luz, oferecendo-lhes equipamentos agência bancária locatária de imóveis do
comunitários e distribuição de cargos pú- mundo". ;
blicos, desde que eles trabalhassem para Enquanto isso, em Londrina (PR), os
a extinção do PP e ingressassem no PDS. mutuários do BNH também lutam contra o
O intermediário para a tentativa de subor- aumento. de 72%, e propõem um boicote
no foi o deputado federal Ruy Bacelar que puro e simples no pagamento das presta-
levou os três vereadores uma audiência ções, a partir de julho próximo.
 /> SOR DFANBBBVB.GNÇ AAA, !

TERRORISMO
MALUF AS SOLTAS
Três procuradores do Estado de
São Paulo que haviam adquirido
puneea UNE qr, a fama de "incorruptíveis" por
O regime
- sua atuação honesta na apura-
ção das corrupções em diversas
áreas do governo, - Ronaldo
Marzagão, Edson Garcia e José
defende os militares 5 - de Arruda Silveira Filho-- foram
2 |
. ] afastados de seu trabalho junto
à Caex - Centro de Acompa-
--- . nhamento e Execução. A deci-
dissidentes
da candi- são do Procurador-Geral Severino Peres - nomeado
O coronel Tarcísio Ferreira que desde a época diretamente pelo governador Paulo Maluf (foto), cau-
Bentes à presid ência da Repú-
datura do genera l Euler sou estranheza, pois não veio acompanhada de ne-
blica tem se revela do um dissid ente militar do regime , nhuma justificativa.
acaba de receber uma "punição branca", em decorrência Por isso o deputado Luís Máximo, lider do PMDB
de suas declarações à imprensa de elogios ao tenente-co- na Assembléia, apresentou um projeto de lei - que já
ronel Nivaldo Oliveira Dias: o coronel Tarcísio foi trans- - conta com o apoio da OAB - que determina a eleição
| doProcurador-Geral através de votação dos membros
ferido do seu cargo em Brasília e pelas normas militares
| da Procuradoriado Estado e não mais pela simples.
teria direito a ficar em trânsito por 30 dias, para cuidar _ imposição do governador, "pois isso significa uma
dos seus problemas particulares. Acontece que seus su- ência absurda do poder executivo no poder le- .
períores resolveram restringir o período de trânsito a que ". O que sósejustifica por uma tentativa de .
ele tem dirieto a apenas quatro dias e que deve ser cumpri- çorrupcõeç; D s Eu i 2
do em Brasília, quando a família do coronel mora no Rio
de Janeiro.
o e do seu
O motivo da redução do seu período de trânsit
a parece ter um objeti vo claro: | Aviolência no país -- em todas as áreas - parece
confinamento a Brasíli | estar se tornando cada vez mais sofisticada é
do Rio de Janeir o exatam ente nos dias em que
afastá- lo
o atenta- " nizada. O roubo de 71 milhões de cruzeiros 3a um
será concluído o inquérito policial militar sobre carroforte, no Rio de Janeiro, foi uma perfeita ope-
onde morre u um sargento e
do terrori sta do Riocen tro, ração militar, planejada exaustivamente, segundo
ência de
ficou ferido um capitão do Exército, em decorr |declarações da polícia, que se mostrou surpresa pela
de trabal ho"". As autori dades temem que - qualidade das armas portadas pelos assaltantes: me-
um "acidente !
se articule num movi- | tralhadoras, escopetas e carabinas.
Tarcísio Ferreira
mento milita r que visa contes tar o IPM oficial . Desde que - Mas a própria Polícia Federal dá uma pista da como
s, o coronel essas armas estão chegando à mão de assaltantes
punido com três dias de prisão, há três semana Tarcisio: viagem apressada | brasileiros: no final da semana foram apreéndi-
foi vítima de outras perseg uições : Por exemplo:
Tarcísio das várias partidas de scfisticadas armas de fa-
tos que introd uziram
seu carro foi sabotado por elemen _ bricação americana e mesmo russas, nasmãos de
na. Enqua nto isso, o manife sto DOLCODI no sinistro episódio" .O govêrno, no entre tan-
açúcar no tanque de gasoli | pistoleiros que estariam se organizando para a expul-
solidariedade to, procura reduzir a dimensão dos fatos, investindo ""com
articulado pelo deputado Airton Soares de | são de índios e posseiros no alto Solimões, próximoà
ra Dias, con- a fúria da prepotência e do autoritarismo contra todos os
ao tenente-coronel Nivaldo Mello de Olivei fronteira com o Peru financiadas pelos grandes lati-
al, ao mes- que denunciam os responsáveis pelo terror e a causa da
tinua recebendo adesões no Congresso Nacion sua existência". Como exemplo dos setores perseguidos, a
fundiários da região. i
esse docum ento parece não ter sido in-
mo tempo em que
regime: o bri- UNE cita a apreensão de jornais e as acusações caluniosas
teiramente absorvido em certos setores do contra a imprensa, além "da prisão de militares insatis-
o, Ministro
gadeiro Délio Jardim de Mattos, por exempl feitos com o acobertamento do terrorismo", como o
2 Apesar da propaganda oficial de que o governo estaria
ato impensa-
da Aeronáutica, referiu-se à ele como "um tenente-coronel Nivaldo Mello de Oliveira Dias.
' seriamente empenhado em ajudar os favelados bra-
do", no começo da semana passada. . sileiros a possuirem moradias mais dignas, a situa-
Até a sexta-feira, 61 parlamentares de todos
os partidos cão é bem outra. Eos fatos falam por si mesmos. Ao.
assina do o docume nto, a tendência "O comportamiento do governo - diz a UNE - e das | mesmo tempo em que o presidente João Figueiredo
de oposição já havia m
disse o pre- autoridades militares abre espaço para a sanha terrorista | faziadistribuição- com larga cobertura da imprensa
é aumentar as adesões, ao contrário do que
Airton ha- e alimenta os desejos de retrocesso dos saudosos da tor- de 302 títulos de propriedade para os favelados de
sidente da Câmara, Nelson Marchezan, de que
riedade ao tura, do terror político e do fascismo". Depois de alertar Maré, no Riode Janeiro, - não longe dali, no lotea-
via recuado na coleta das assinaturas. A solida mento Iracema, no subúrbio de Campo Grande, deze-
u-se ainda em outros setores . Na que, "estamos vigilantes" e que **as conquistas democrá-
tenente-coronel amplio . nas de famílias estavam sendo expulsas por jagunços
em ticas do povo serão defendidas resolutamente em cada sa-
sexta-feira, a União Nacional dos Estudantes lançou armados e policiais, com uma violência extremada até
já subscri ta por seis UEEs, duas la de aula, em cada escola, em cada universidade", a UNE
São Paulo uma nota mesmo para a notória Baixada Fluminense.
centrais e afirma "a unidade é necessária contra o terror. Por esta
uniões municipais de estudantes e 67 entidades Armados de pistolas e espingardas de cano serra-
a novas adesõe s. A nota da UNE afir- razão, fazemos pública a nossa solidariedade, à atitude do, invadiram as casas, espancando os moradores e
que continua aberta
mesmo para corajosa e patriótica do tenente-coronel Nivaldo Mello de atirando seus móveis na rua. Depois um trator que
ma que "para a opinião pública nacional e
dúvidas Oliveira Dias e de todos aqueles que levantem a voz pela haviam trazido derrubou dezenas de casas. E sob
setores do próprio governo, não restam mais
capitão do identificação e punição dos terroristas". ameaças de morte, os moradores tiveram de sair do
ouanto ao envolvimento do sargento e do
local. Um cabo e três soldados que utilizavam a rá
dio-patrulha 52/0173 comandavam a operação.
ministros

A ultra direita ataca Ackel?
Uma espécie de dossiê sobre a vida do ministro Ibraim Abi
Ackel, desde o dia 16 de dezembro de 1945, data em que parti-
sipou, como filiado, de uma assembléia do P2e:tido Comunista
jo Brasil, na seção de Manhuaçu, em Minas Gerais, foi ela-
borado em nome de seus velhos camaradas que, agora, estão
o a matéria para os escaninhos de parlamentares opo-
sici tas em Brasília.
Há suspeitas de que os documentos tenham sido prepara-
es dos próprios órgãos de informação oficiais,
interessac os em atacar o ministro da Justiça.
Alguns dos deputados que o receberam vêm buscando
confirmação de todos os documentos nos cartórios de Minas
e do Paraná, onde o atual titular da Justiça foi denunciado por
venda de terras inexistentes na região de Apucarana-Grande à
viúva Maria do Carmo Nogueira.
O dossiê inicia-se com uma certidão expedida pelo cartório
do 2o Ofício Judicial da comarca de Belo Horizonte, onde
Ibraim Abi Ackei é citado em ação executiva de aluguel mo-
vida contra ele pelo cidadão Luciano Leal. Também há outra
C jão expedida pelo juiz de direito Jorge Andreguetto em 22
de janeiro de 1959, em Manhuaçu, terra natal do titular da
pasta da Justiça, certificando a existência de precatória expe-
dida pelo ;m'zo de Apucarana, Paraná, para que seja ouvido o
réu Ibraim Abi Ackel, que, juntamente com,o cidadão Álvaro remetentes dos documentos, sendo difícil precisá-los, em-
Batista, envolveram-se em transações ilícitas.
Segundo explicaç ão do juiz, o rêu Alvaro Batista teria ven- do Partido Comunista do Brasil em 1945, há possibilidade
Carmo Nogueira 100 alqueires de terra em que sejam oriundos
dido a Maria do
, fez governo pretendendo passar por velhos camarad
Porecatu. Porém, por ocasião da passagem da escritura
"constar terras inexistentes no lugar denominado
Apuca-
com à
rana-Grande, desta comarca, contando para tanto,
cumplicidade do 2o denunciado (Ibraim Abi Acke!), o qual,
MÁ PREVIDENCIA
Todos os serviços da Previdência Socia! devem ser
congelados; nenhum programa novo deve ser iniciado
a " neste ano; o sistema financeiro do setor deve ser
usando de procuração passada pela vítima, não só aceitou onerado pela redução do tempo de permanência dos
preço da
transação ilícita, e também fez constar na escritura o recolhimentos na rede bancária para diminuir os juros
),
venda como sendo de C$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros previdenciários em 25 bilhões por ano. Estas fóram
Cr$
quando na verdade a vítima foi lesada na importância de algumas das propostas apresentadas pelo grupo de
a
471.000,00 dos quais Cr$ 371.000,00 a este último denunci técnicos da Seplane Previdência Social que estudam
ele
do foram pagos por intermédio de um cheque emitido por as fórmulas de elevar a receita do sistema previden-
próprio, usando de poder procuratório". ciário e diminuir o déficit atual de 80 a 90 bilhões
texto
O documento seguinte do dossiê Abi Ackel é um Analisando essas propostas, o deputado Álvaro Valle
manuscrito de instalação em Manhuaçu da representação
le-
sua
(PDS-RJ), com números da própria Dataprev, pro-
gal do Partido Comunista do Brasil, então localizado em curou demonstrar, que o déficit da Previdência Social
sede provisória à avenida Sete de Setembro naquela cidade.
A
decorre, na verdade, da "má administração dos recur-
vai subscrit a pelos membro s militante s,
ata deste encontro sos" Pois "gasta-se com saúde pequena porcenta-
entre os quais salienta-se o nome do ministro
Ibraim Abi
gem das verbas destinadas à Previdência, não se evita
Ackel. que o brasileiro adoeça, não se o alimenta e, depois,
O dossiê prossegue com informações e reportagens de
jor-
gasta-se cem vezes mais para curá-lo. Assim não há
nal em 1971 relatando a ocorrência inédita na sede da Ordem orçamento que resista".
de
dos Advogados do Brasil, em Minas Gerais, de uma sessão
repúdio a Ibraim Abi Ackel, em 18 de dezembro de 1971,
quando então já era deputado estadual. POSSEIROS AMEAÇÃDOS
da
A sessão visou a desagravar o advogado Claudio Vieira Em Uberlândia, Minas Gerais, várias famílias de
deputado
Costa, "ofendido moralmente e insultado pelo posseiros vêm sendo perseguidas e ameaçadas de
regi-
Ibrahim Abi Ackel! durante os estudos em torno do novo despejo da área de expansão do Distrito Industrial. O
as contra
mento de custas do Estado". As acusaçõ es levantad
problema, que a Prefeitura tenta encobrir para dar
m os
o titular da Justiça devem ampliar-se segundo anuncia uma visão "progressista" da cidade, vem sendo aba-
fado também pela imprensa local, ligada aos interes-
bora, pelo teor dos trabalhos fotocopiados, como a certidão ses de grupos econômicos. Apenas a Fetaemg - Fe-
de
deração dos Agricultores de Minas Gerais - procura
das próprias agências de informações do denunciar e defender os posseiros que têm sofrido
as de Ibraim
vários tipos de violência: as cercas de suas proprie-
Abi Ackel. dades são sistematicamente derrubadas, e eles rece-
tem sérias ameaças pessoais.
Milton Gouveia, de Brasília

MOVIMENTO 15 a 21/6/81

Promoções
A É novembro próximo, a guerra das promoções; mas já há novidades no front.
Fotos da Agência F4
O silêncio do Palácio do Planalto sobre
as explosões do Riocentro gerou mil es:
peculações. Uma delas é a de que o
general João Batista Figueiredo não te-
ria suficiente respaldo militar para a
hipótese de punir os oficiais responsáveis
pelo atentado terrorista. ª que até no-
vembro terão saído para a reserva dois
dos generais mais controvertidos da
atualidade política nacional: o coman-
dante do I Exército, Gentil Marcondes
Filho e o comandante do II Exército,
Milton Tavares de Souza.
O do alto comando co-
meça com as promoções de julho. Três
vagas para general-de-Exército (o posto
mais alto da carreira militar) serão aber-
tas com a passagem para a reserva dos
generais Gentil Marcondes Filho, do I
Exército, Florimar Campello, coman-
dante do IV Exército e Ruy de Paula
Couto, chefe do Departamento Geral de
Serviços (DGS). É praticamente certo
que esses lugares sejam ocupados pelos
três oficiais que encabeçam a lista por
antigúldade no almanaque do Exército:
Henrique Beckmann Filho, comandante
da 2a Divisão de Exército, em São Paulo,
Enio Gouvêa dos Santos, comandante da
1a Região Militar, no Rio de Janeiro e
Sérgio de Ary Pires, chefe de gabinete do
ministro do Exército.
Uma quarta vaga poderá surgir se, pa-
ra o lugar do chefe do Estado Maior das
Forças Armadas (EMFA), Jorge Ferraz
da Rocha, que também passa para a re-
serva em julho, for nomeado um general
de quatro estrelas, que assim ficaria na
condição de agregado. No caso contrário,
a quarta vaga só seria aberta em novem-
bro. De qualquer modo, o mais provável
ocupante desta vaga é o general Euclydes
Figueiredo, comandante da Vila Mili-
tar, no Rio de Janeiro, o irmão do ge-
-neral João Figueiredo.
Os "duros"* querem
novos postos na
hierarquia militar
O mais provável substituto do coman-
dante do 1 Exército, Gentil Marcondes
Filho, segundo fontes militares de Brasí-
lia, é o general-de-Exército, Heitor Luís
Gomes de Almeida, chefe do Departa-
mento Geral do Pessoal (DGP) e o ho-
mem de confiança de Figueiredo. Para o
lugar do comandante do IV Exército,
ªnimar Campello deverá ir o general
io Gouvêa dos Santos, também amigo
de Figueiredo. Entretanto, o comando do
II Exército, que ficará vago em novem-
bro com a passagem do general Milton
Tavares de Souza para a reserva, será
objeto de uma interessante disputa entre
os generais Henrique Beckmann Filho e
Euclydes Figueiredo. Se Euclydes conta
com a vantagem de ser irmão do presi-
dente da República, Beckmann conta com
a dupla vantagem de ser cunhado do ex-
presidente Ernesto Geisel e de estar co-
mandando a 2a Região Militar, em São
Paulo, há muitos anos, além de ser muito
mais afinado com o projeto de "aber-
tura" do que seu adversário.
Não restam dúvidas de que a escolha dos
novos integrantes do alto comando obe-
decerão a estratégia política do grupo do
, BR DFANBSB VB.
MILITARES
à vista
Antonio Carlos Queiroz
Lui
Gentil Marcondes e Milton Tavares passam à reser va, e podem ser acompanhados por Walter Pires.
Palácio do Planalto. Acontecimentos im-
ponderáveis, contudo, poderão obrigar a
mudança dos planos originais.
Uma grave complgáçào. por exemplo,
poderia surgir com o afastamento - não
muito improvável - do ministro do
exército, general Walter Pires, por causa
dos seus graves problemas de saúde.
P %
Correm rumores de que Walter Pires
já teria, inclusive, solicitado a Figueiredo
oseu afastamento do Ministério, mas foi
convencido do contrário. De qualquer
forma já existem especulações sobre o
general Túlio Chagas Nogueira, coman-
dante do III Exército, e Alacyr Frederi-
co Werner, diretor da Escola Superior de
Guerra (ESG), ambos amigos de Figuei-
redo.
Outros fatores que poderiam modificar
os critérios do Paqàcio do Planalto para a
escolha dos novos chefes militares seria o
crescimento das pressões dos setores
"duros" do regime, em favor de um "fe-
chamento político". Os "duros" reivin-
dicariam novos postos na hierarquia mi-
litar e de início tentariam garantir o co-
mando do II Exército para a "comunida-
de de informações". Poderiam até mes-
mo concordar com a indicação do gene-
ral Euclydes Figueiredo, já que Euclydes
- juntamente com seu outro irmão,
Diogo, da Escola de Comando e Estado
Maior (ECEME) - de fato têm diver-
gências com João Figueiredo, apesar do
seu recente desmentido pela imprensa. A
informação desmentida, publicada pela
revista Veja, dava conta de que Euclydes
e Diogo escolheriam ficar com o Exército
num confronto com o presidente da Re-
pública. Um indício de que os "duros"
não querem largar mão do II Exército foi
a recente nomeação do general Manuel
Augusto Teixeira, que serviu durante
muito tempo ao SNI e que estava diri-
indo a Escola Nacional de Informações
&SNI) para o comando da 11a brigada
de infantaria blindada de Campinas.
Um posto de importância estratégica
- o Estado Maior do Exército - tam-
bém será ocupado por um general que
poderia se compor com os "duros": tra-
ta-se do chefe de gabinete do ministro do
Exército, Sérgio de Ary Pires. Ary Pires é
quem substituiria interinamente o mi-
nistro, no caso do seu afastamento.
")"!
no Exercito
OPOSIÇÓES
O namoro do PP e do PTB,
que não deu em casamento
€
O namoro assumido entre o Partido gada de Magalhães atenderia aos propó-
Popular e o Partido Trabalhista Brasilei- sitos do seu correligionário José Apare-
ro não vai dar em casamento. As nego- cido de Oliveira de ser eleito governador
ciações que visavam à fusão dos dois de Minas Gerais. Na proposta de Ma-
partidos foram enterradas na semana galhães o PP entraria com seu peso elei-
passada com uma pá de cal, ao que pare- toral e o PTB com a força de sua sigla
ce definitivamente. junto à opinião pública. Com estes dois
As pressões das chamadas "bases" ingredientes, José Aparecido esperava
contra a fusão foram intensas nos dois vencer com facilidade o seu principal
partidos. Do lado do PP as mais fortes concorrente, o senador Itamar Franco,
reações partiram de políticos preocupa- do PMDB,.
dos com a imagem da agremiação e que Foi também para atender a interesses
desenvolvem o seguinte raciocínio: "Nós eleitorais regionais que o ex-prefeito de
lutamos durante todo este tempo para São Paulo, Olavo Setúbal, defendeu a fu-
apagar a imagem de que somos um par- são. O principal objetivo de Setúbal -
tido confiável ao governo. A união com o reconhecido pelo próprio senador Tan-
PTB só faria confirmar esta imagem an- credo Neves - era atrair o ex-presidente
terior, já que são notórias as ligações da Jânio Quadros para lançá-lo numa sub-
Ivete Vargas e do Jânio Quadros com o legenda, ao lado de sua própria candi-
general Golbery". Houve quem se preo- datura, à disputa pela governadoria de
cupasse também com a possibilidade de São Paulo. No raciocínio de Olavo Setú-
o PP ter em suas fileiras o petebista bal somente com o concurso de Quadros
histórico Gilberto Mestrinho, que reina -e esta é uma análise endossada por se-
absoluto no Estado do Amazonas, em tores com trânsito junto ao Palácio do
termos eleitorais, mas que é tido como Planalto - será possível derrotar a can-
contrabandista. Das bancadas parla- didatura do senador Franco Montoro, do
mentares do PP com força na Câmara PMDB, Já que não houve a fusão, Setl-
dos Deputados, duas foram as vozes bal espera agora que Jânio Quadros adi-
mais veementes em repudiar a fusão: a ra ao PP - o que, segundo o próprio
da Bahia - onde os petebistas gozam de Quadros, não está na sua cogitação.
péssima reputação por causa do fisiolo-
gismo do antigo PTB baiano e a do Rio Há quem diga que Tancredo entrou no
de Janeiro, onde os petebistas são inimi- jogo da fusão apenas com o propósito de
gos dos chaguistas. esvaziá-la, numa típica manobra pedes-
As reações no PTB vieram principal- sista. Vários políticos, como o paulista
mente de um grupo de sindicalistas que Claudio Lembo, acreditam, inclusive,
se reuniram com a presidenta do partido, que o veemente discurso que o senador
a ex-deputada Ivete Vargas, na terça-fei- pronunciou há dois domingos, durante a
ra, e lançaram um manifesto de repúdio convenção nacional do PP, serviu para
à fusão, com o argumento de que o PP é refrear os impulsos de fusão da parte do
um "partido de banqueiros", não po- PTB, Verdade ou não, o certo é que a
dendo, portanto, contemplar os interes- novela da fusão entre PP e PTB termi-
ses dos trabalhadores, que seriam, afi- nou. O asunto "fusão", no entanto, não
nal, o principal objetivo do PTB... sairá da pauta dos políticos enquanto o
O deputado Magalhães Pinto foi quem regime não definir as regras eleitorais
iniciou a novela da fusão do PP com o para 1982. Ná semana passada mais um
PTB. Segundo alguns pepistas ligados ao documento propondo a união dos parti-
senador Tancredo Neves - que no mo- dos de oposição passava pelas mãos das
mento procura esconder graves divergên- várias lideranças partidárias do Congres-
cias com seu adversário histórico - a jo- so. (A.C.Q).
Y
" MQVIMENTO 152 24/6/81,.;
 BRDFANBSO VB.GNÇ.AAA. ©.

METALÚRGICOS/FIAT

O amargo fim da greve

Chega ao fim a mais longa greve contra o desemprego

Dia 11 de junho, 5 horas da tarde, 42o
dia de greve dos trabalhadores da Fiat-
Diesel. No quarto andar do Sindicato
dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, vá-
rios membros do Comando de Greve dor-
mem no chão, ou em cima de cadeiras, e
usando como travesseiros pacotes de ali-
mentos: feijão, arroz, doados aos grevis-
tas. O dia fora duro. Há pouco chegaram
da fábrica, onde se encontravam desde
as 5 da manhã. A noite anterior e a ma-
drugada passaram em reunião do co-
mando, discutindo os rumos do movi-
mento, virtualmente derrotado.
Luís Paulo Giannini, o principal líder
grevista, perambulava pelos corredores
o sindicato. Depois de chegar, dera al-
guns telefonemas, almoçara, quando os
jornalistas se acercaram. A esta hora, lá
na Fiat, já havia se encerrado a votação
secreta promovida pela DRT no interior
da fábrica, onde foi aprovado o encer-
ramento da greve por 1232 votos, contra
137.
O comando se reunira a noite toda,
após o culto ecumênico realizado na As-
sociação Atlética Piauí, em Xerém, bair-
*) onde se situa a Fiat. Uma análise rea-
ista da situação levou o Comando a pro-
gor o fim da greve. Melhor forma de
ontinuar a luta; não aceitando nenhu-
Os peões não eram
fura-greve: resistiram
Roberto Martins
oportunidade perdida pelo movimento
operário e sindical.
Enquanto isso, nesta mesma quinta-
feira, no interior da fábricª, poderosas
forças se conjugavam para pôr fim à gre-
ve a qualquer custo. Luís Carlos de Bri-
to, delegado regional do trabalho lá es-
tava acompanhado de vários fiscais, se-
gundo ele a convite do próprio sindicato
dos Metalúrgicos, mas segundo informa-
ções procedentes de Brasília, a mando do
ministro do Trabalho, para servir como
"mediador". É realizada então uma reu-
nião que conta com a participação da di-
reção da Fiat, de representantes do Sin-
favea (Sindicato Patronal da Indústria
Automobilística) e da Firjan (Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro). Com-
parece o presidente do sindicato dos Me-
talúrgicos, Oswaldo Pimentel e o advo-
gado Expedito Teixeira, representando
os trabalhadores, já que àquela altura, a
direção da Fiat negava-se a negociar com
o comando de greve, por considerá-lo to-
do demitido da empresa.
A reunião resulta numa "ata de 6
pontos" em que a Fiat recua em alguns
pontos, de acordo com proposta que já
havia feito na semana anterior, introduz
um item ambíguo. Com relação aos úl-
timos 49 demitidos. Isto é: não assegura
o retorno dos mesmos, mas a empresa
apenas se "compromete" a rever as de-
missões, caso comprove a inexistência
das razões que as determinaram.
ipi trazidapeladiretoriado
maioria destes itens ficaram assegura-
dos.
Depois a Fiat endureceu e chamou a
polícia, usando a decisão do TRT que
considerara improcedentes as reivindica-
ções operárias - readmissão dos demiti-
dos e estabilidade no emprego - muito
embora a greve tenha continuado legal,
aguardando julgamento de recurso no
TST. Na segunda-feira a Fiat resolveu
suspender todas as negociações enquan-
to não houvesse retorno ao trabalho.
Sentia as dificuldades do movimento,
mas, ao mesmo tempo, já não conseguia
mais suportar os elevados prejuízos: há
mais de 40 dias com a produção parali-
sada, prejudicando inclusive contratos
de exportação de caminhões.
Forças poderosas se
conjugaram para pôr
fim à greve.
Na terça-feira os operários reafirma-
ram a continuidade da greve mas quan-
do a Fiat abriu os portões, um grande
número de operários entrou e prosseguiu
de braços cruzados. A PM foi introdu-
zida dentro da fábrica e formou um cor-
dão de isolamento para conter 1800 ope-
rários, que ficaram até às 13:30 horas
num virtual campo de concentração,
quando finalmente foram libertados. Du-
ante os incid tiveram present
Presospartar micosquen
cumprimento da sentença (judicial), com
organização de assembléias e piquetes na
área interna da fábrica".
Na quarta-feira a Fiat endureceu mais
ainda. O policiamento foi reforçado a
partir das 4 da manhã para evitar o pi-
quete e garantir a entrada dos ônibus
que traziam operários. Os soldados da
PM portavam escudos com viseiras e
usavam cassetetes, enquanto a segu-
rança da empresa aumentava sua violên-
cia, inclusive ameaçando de morte o li-
der grevista Luís Paulo Giannini.
Com o bloqueio policial impedindo o
piquete e a diminuição da capacidade de
resistência da massa, o movimento foi se
enfraquecendo. Um número maior de
»perários - não mais que 300, na produ-
ção, segundo o comando grevista - vol-
tou a trabalhar. A empresa dava uma
estatística bem maior (57%), mas o co-
mando lembrava a existência do setor
administrativo e dos chefes. De fato a
produção continuava paralisada. Neste
dia a empresa volta novamente atrás e
manobra, rebate as negociações, mas,
desta feita, apenas com a direção do sin-
dicato, e não mais com o comando gre-
vista, demitido.
Apesar do reconhecimento da derrota
nos objetivos maiores da greve (readmis-
são dos demitidos e estabilidade no em-
prego) e mesmo obtendo, no fim, algu-
'mas vantagens parciais, a liderança não
considerava derrotada. Afinal haviam
- gr
%%; :» ºff? R% o m a

sindicato para a Assembléia fora da fá- der do PT, José Eudes e Raimundo de São Bernardo em 1980. E com uma uni-

até onde podiam. brica, é rejeitada. A maioria exige o re- Oliveira, do PMDB. Em apoio aos gre- dade relativamente maior, apesar de

torno dos 49. Daí então, a organização vistas. mais isolados. De qualquer forma a cer-

ma migalha do patrão. Voltariam à fá- da votação secreta, por parte da DRT, Mais tarde, enquanto nova assembléia
teza de que foi a greve que pode ter

brica e no dia 17 fariam uma nova as- apenas com os trabalhadores que se en- se desenrolava fora da fábrica, o serviço aberto novos caminhos de luta para o

sembléia para discutir a minuta do dissí- contravam dentro da fábrica, onde se de alto-falantes da empresa anuncia as movimento operário e sindical no enfren-

dio coletivo de 81 e a situação dos novos dão 1232 votos favoráveis ao fim da greve 49 demissões. A alegação do diretor da tamento da crise econômica: a greve

demitidos, entre os quais todos os mem- e 37 contrários à proposta. Entre os vo- Fiat, Fernando Guimarães, era o "des-
contra o desemprego.

...bros do comandogrevista. A propostafoi.... tantes, estão, além dos quase 300 chefes
levada para a assembléia na porta da fá- do setor, todo o pessoal administrativo, todo o patronato

cerca de 700 funcionários e o pessoal da

A Fiat defendeu

brica, mas a maioria dos operários a re-

jeitou. segurança e os estagiários, o que e não abriu o preceaente da

constitui prática ilegal, reconhecida pelo readmissão de demitidos.

Neste dia, quinta-feira, a assembléia próprio delegado regional do trabalho. E

estava menor. A avaliação era de que
1/3 dos operários estava ali fora; outro
terço permanecia em suas casas. O terço
restante entrara na fábrica. Mas os que
entraram, cerca de 900, contando ape-
nas o pessoal de produção, não eram
considerados fura-greve. Eram peões
combativos que resistiram até enquanto
puderam. Não tinham mais forças. Fal-
tava dinheiro e alimento, e mesmo uma
perspectiva mais ampla de vitória. Para
sustentar a greve, explicava Giannini,
seria preciso, naquele dia, distribuir
entre mil e mil e quinhentos cruzeiros
para cada operário. Dinheiro até mesmo
para pegar transporte e voltar ao piquete
no dia seguinte. Mas isto implicava ter
pelo menos 3 milhões de cruzeiros, e
o fundo de greve, até aquele dia, havia
arrecadado pouco mais de 2 milhões
quase todo já consumido.
Assim era melhor encerrar a greve de
cabeça erguida e prosseguir a luta por
outras formas, do que permitir seu esva-
ziamento. A força conjugada dos patrões,
da Justiça do Trabalho, do governo e sua
polícia, de um lado, de outro, a pouca soli-
dariedade a até mesmo as vacilações da
direção sindical e sua assessoria jurídica,
tinham derrotado a greve. A primeira
greve contra o desemprego, uma grande
sobre a votação não pôde influir o co-
mando grevista que se encontrava fora
da fábrica, impedido de entrar pela se-
gurança da Fiat, além do cordão de iso-
lamento formado pela Polícia Militar.
O motivo principal da rejeição das
propostas de fim da greve pela assem-
bléia era a exigência do retorno à fábrica
dos últimos 49 demitidos, entre os quais
11 membros do comando, demissões que
foram efetuadas na última terça-feira,
dia 9. Nos últimos dias a empresa variou
a sua tática. Num dia queria negociar e
chegou a propor estabilidade de 4 meses,
um adiamento por conta dos dias para-
dos, a concessão de bolsas de estudo no
Senai a parte dos demitidos. E ainda
admitia doar o montante dos salários dos
dias parados, cerca de 80 milhões, que
seriam descontados 15% a cada mês,
até dezembro, para uma bolsa de alimen-
tação a ser administrada por uma asso-
ciação a ser criada pelos próprios operá-
rios. Mas quando este ponto foi divulga-
do ela voltou atrás e disse sempre ter
considerado o não pagamento dos dias
parados uma questão de honra. Afinal,
estava em jogo a solidariedade de classe
capitalista e uma medida desse tipo po-
deria estimular o movimento grevista.
Mas ao fim, com a "ata dos 6 portos" a

MOVIMENTO 15 3 21/76/81 '

 BR DFANBSA V8.GNC.AAA, _º? !

HABITAÇÃO

0S FAVELADOS DO ABC
Operários do maior centro industrial do país pagam a crise mudando para
""casas'"" mais baratas nas favelas
João Vidal
O que está acontecendo com os milha- raco e devagar tudo se ajeita". Para por trabalhadores empregados (metalúr- sado Nas
em resolver nossos problemas".
favelas onde as comissões de mo-
res de demitidos da mais rica região do Eduardo, não é apenas pelas favelas que gicos, pedreiros, faxineiros etc.) e outros
despejados das casas onde moravam. radores buscam essa independência de-
país, que concentra quase todas as fábri- pessoas de um padrão de vida outrora As autoridades, conta um meta- fendida por Raimundo, há conflitos fre-
cas de automóveis, a espinha dorsal de satisfatório estão trocando as antigas re- quentes entre elas e aquelas criadas pela
modelo industrial brasileiro? Eles estãe sidências: "Em qualquer lugar vemos lúrgico, agem cautelosamente. Há inte- Promoção Social.
sendo forçados a cortar gastos para pa- famílias passando de uma casa para resses políticos e econômicos na questão:
gar essa crise e esses gastos não são mais outra menor e bairros mais precários. A "Se desalojarem indiscriminadamente os No início deste ano os favelados estive-
o que se poderia chamar de supérfluo; insegurança no emprego, o corte de ho- favelados, criarão problemas com a ôpi- ram na Prefeitura e entregaram a Tito
eles estão cortando custos essenciais de ras extras ou a perda completa de salário nião pública. Geralmente, promovem Costa uma lista de reivindicações básicas
moradia, mudando-se para favelas. Mes- coloca o trabalhador num impasse sério. uma ação judicial que demora, no míni- e um abaixo-assinado com mais de duas
mo para os que estão empregados a fa- Ele sabe que a moradia e a alimentação mo,dez anos". As autoridades percebem mil assinaturas. O prefeito, relembram os
vela é uma opção imediata. Essas casas são fatores básicos para sobreviver, e tem que, se expulsarem os favelados, aumen- moradores, prometeu atendê-los, mas
miseráveis, que Movimento visitou, des- que optar: ou mora em algum lugar ou tarão o descontentamento em torno do o que se viu até agora foi o início de uma
troem o mito de que o metalúrgico é um obra para a construção de uma caixa
operário privilegiado. morre de fome; daí, porque muitos pro- problema salarial e do desemprego. "Pa- d'água para as favelas. "A falta de água
curam as favelas". ra o governo é preferível manter as fave-
odos os dias, novas famí- foramDas 62 favelas de São Bernardo, 52 las a que aumentar os salários" - diz o famílias servirem-se é um problema grave..., dizem. Para 180
cadastradas pela Prefeitura e as
lias chegam às 62 favela: dez restantes metalúrgico. diariamente há ape-
espalhadas em São Ber- começaram a sesãodesenvolver
pequenos núcleos que A maioria das famílias faveladas, cer- nas duas torneiras "e cada família paga
nardo do Campo, cuja po- dois anos. Conforme o último há menos de ca de 70%, tem uma renda 30% mensal infe- pelo consumo de água 40 cruzeiros por
pulaçãojá ultrapassa o nú- levan- rior a três salários mínimos; ganham mês". Além das torneiras e poços cava-
acima de três salários e, segundo o Sin dos
mero de 120 mil pessoas - tamento oficial sobre as favelas de São dicato dos Metalúrgicos, são consti- das, um caminhão pipa distribui a apenas alguns palmos das priva-
um terço da população to- Bernardo, quase 50% de sua população tuídas por empregados da Volks, Scania, semanalmente, nos barracos. "Maságua, há
Lui do município, têm menos de 14 anos; a média de Mercedes e Ford. A grande maioria da períodos em que ele fica até um mês sem
"Hoje, chegam quase cinco famílias ocupação
há
por barraco é de seis pessoas e mão-de-obra favelada é empregada em aparecer".
domícilios que abrigam até duas fa- metalúrgicas ou empreiteiras de meta- Também não existe rede elétrica nas
por dia ao Jardim Silvina, mais do dobro mílias. Há mais de 30 mil analfabetos
do que se via até o início do ano pas- com mais de 7 anos. úrgicas. favelas, mas na maioria das casas há
sado'"*" - conta Raimundo Barbosa, me- Silvina, Vila São José, e Enco nardo do Campo, alguns a elogiam, por lâmpadas
Em relação à prefeitura de São Ber- acesas durante a noite. O re-
talúrgico e presidente da comissão de sãoJardim algumas das maiores favelas de SBC curso é simples: usam luz "emprestada"
mercadores de Silvina. "É difícil acredi- e estão localizadas nos arredores da nunca tê-los molestado ou ameaçado de das casas localizadas em terrenos parti-
tar que somos nós, favelados, que cons-
Volkswagen. Grande parte de seus mo- remanejamentoDepartamento de promo- lar no máximo, dois bocaispodendo
truímos, nas fábricas, à riqueza deste radores dos terrenos públicos. A culares nas vizinhanças,
e uma
insta-
toma-
Comissão do
são empregados da própria Vol- ção social da Prefeitura vem fazendo da.
país, em troco de um salário que não nos ks ou demitidos
permite outra vida.. - completa. por essa empresa. Em visitas sistemáticas às favelas, promo-
diversos barracos, pedaços de caixas de
Os novos habitantes das favelas che- embalagens para automóveis, de culiná- igrantes de quase todos
gam, quase sempre, quando anoitece, o símbolo da VW gravado, ainda com vendo reuniões ou cursinhos preocupando-se os estados brasileiros
trazendo velhos pedaços de madeira. Na paredes, portas ou janelas. Aoservem de ria, corte e costura,as erédeas dos movi- - das regiões Norte e
manhã seguinte o barraco está pronto, a seis as favelas que ilham a Volks, todo são também em tomar "Se perceberem Nordeste especial-
família instalada e uma nova vida se fenômeno repetido nas cercanias de cada um mentos que ali surgem.
que as comissões criadas por nós, para mente - são encon-
inicia - sem água encanada, sem luz, grande fábrica do município. Próximo à discutir nossos reais problemas, estão trados nas favelas de
sem esgotos, escolas ou postos de saúde. Mercedes Benz há duas favelas; e ao lado atraindo mais pessoas do que eles, então São Bernardo do Cam-
Não há nada nas favelas que garanta as da Nestlé mais três. Os impérios multi- tentam fazer alianças com o intuito de po. Muitos têm histórias longas e ge-
'mais elementares condições de sobrevi- nacionais crescem na mesma medida em desmobilizar nosso trabalho : isso tem ralmente tristes a contar.
vência. dificultado nosso trabalho, pois comis- Quando Eunice, o marido e uma filha
"Para onde estão indo os 40 ou 50 mil que as favelas. sões que deveriam funcionar como asso- de cinco anos deixaram o sertão da Ba-
trabalhadores desempregados nos últi- estão sendo ma-
mos meses?" - indaga preocupado o legitimidade de posse dos nipuladas pelas autoridades" - diz Rai- trar hámais
ciações representativas hia, sete anos, não esperavam encon-
sofrimento em 'São Paulo:
metalúrgico Eduardo, demitido há me- terrenos públicos e parti- mundo. E continua: "Devemos ser inde- "Vendemos nossa casa por Cr$ 1.500 e
nos de um mês da fábrica de carro: culares invadidos é o maior pendentes porque ninguém está interes- com esse dinheiro viemos "vara cá. Meu
esporte "Dardo", juntamente com 50% problema que o faveladc
do corpo de empregados. "Muitas famí- enfrenta. É um drama que
lias, às vezes, chegam aqui sem nada, começa na noite da chega- Em pleno coração do
mas conhecem um companheiro da fá- da da família e dura todos "milagre econômico"
brica que também é morador da favela e os anos que ali passam, sob a ameaça de um arquipélago
alojam as crianças em sua casa. Depois expulsão. Há em São Bernardo 23 fave- de miséria...
fazem um mutirão, constroem um bar- las sobre terrenos particulares, ocupados
Fotos de Ennio Brauns Fo

F MOVIMENTO 15 à 21/6/81

eo a" I FMB i pr
I documento básico de reivindicações.
Joana D'Are e Cicero: sem alternative
Nasce uma favelada
JoumtD'are de Almeida, 17 anos, tra-
balhava como homem na metalúrgica
Brastemp, carregando peças pesadas
durante o dia inteiro. Mas, por ser mu-
lher, era registrada como ajudante, re-
cebendo muito menos do que qualquer
operário que fizesse o mesmo serviço.
Trabalhou um ano como ajudante de
montagem, até que foi demitida, numa
leva com mais 900 empregados. "Alega-
ram crise para fazer as demissões"
- diz Joana. "Mas que crise é essa se,
logo depois, chamaram outras pessoas
para trabalhar? Por que não readmiti-
ram a gente? No ano passado, em maio,
quando entrei para a fúbrica, eles de-
mitiram muito grevista e empregaram
outras pessoas em seu lugar. Eu mes-
ma. fiquei sabendo mais tarde, tinha
ocupado o lugar de uma menina man-
dada embora logo após a greve. Na ver-
dade é tudo uma cachorrada".
Joana D'are tem motivos de sobra pa-
ra manifestar seu rancor. Afinal. está
cada vez mais difícil encontrar empre-
go. Recentemente, na própria Bras-
temp foram abertas 80 vagas para tra-
halhadores e, no dia marcado para os
testes. apareceram duas mil pessoas,
que chegaram a entrar em conflito nas
'ilus de espera. Também por causa do
lesemprego, Joana foi obrigada a mo-
rar numa favela. Ela e a família.
Joana é filha de Cícero José de Al
meoida, que ergueu seu barraco há dois
meses no Jardim Silvina, depois que
lois de seus dez filhos foram demitidos
de seus empregos.
Quundo o aluguel da casa 69 da ave-
nida Minas Gerais, no bairro de Ferra-
cópolis, passou de 4 para 8 mil cru-
<eiros, Cicero nào viu outra alternativa
marido arranjou emprego numa fábrica
de cerâmica e trabalhava de domingo a
domingo. Quando nossa segunda filha
nasceu, no chão frio do barraco, Manoel
passou para outro emprego, na Volks.
Tamos buscar o leite da criança no posto
de saúde. Hoje, porque ele recebe 20 mil
cruzeiros numa fábrica de tintas, o [] Anexo ao
nosto deixou de dar o leite, alegando que
só fornecem para pobres".
Trabalhando numa gráfica, Denisete
Barbosa ganha apenas o salário mínimo,
quase a metade do que recebia antes de
ser demitido por "justa causa" da Volks-
wagen, após a greve do ano passado.
Desde essa época já morava no Jardim
Silvina. e agora não vê muitas perspec-
tivas de sair dali. Seu rancor profundo
pela forma ardilosa com que o demitiram
depois de assinar um documento com
n MOVIMENTO 15 a 2176/81
Favelados vão à prefeitura
Nesta sexta-feira, dia 19, os favelados tro, conforme lhe pedimos" - disse um
de São Bernardo do Campo e Diadema dos organizadores.
irão às prefeituras destas cidades para Quanto ao problema da água, os fa-
exigir a posse das terras que ocupam, velados aprovaram no encontro a rei-
uléêm de saneamento básico, escolas, vindicação de que cada barraco tenha
sua própria torneira, ao contrário do
postos de saúde e cre 'hes. Esta foi uma
das decisões tomadas no I Encontro dos que a Prefeitura lhes tem oferecido, Em
Moradores em Favelas de São Bernar- relação à luz elétrica, reivindicarão a
do e Diadema, realizado dia 31, no Sin- instalação de uma rede dentro das fave-
dicato dos Metalúrgicos de Sào Bernar- las.
do. Também foi discutida e aprovada por
O encontro, que durou um dia inteiro, unanimidade a proposta de uma greve
reuniu cerca de 800 pessoas, represen- peral de trabalhadores para o mês de
tando 42 favelas. Foram discutidas qutubro,
questões específicas das favelas e tam-
béôm dos trabalhadores que nelas mo-
Fam, como baixos salários e o aumento
do desemprego. No final, as propostas
aprovadas foram transformadas num
depois da dem
O prefeito de São Bernardo, Tito Cos-
ta, compareceu ao encontro por alguns
minutos, quando disse ter colocado
água em 32 favelas durante um curto
senão correr para a favela. Naquela espaço de tempo, além de garantir que
mesma época, além de Joana, sua filha continua trabalhando em função do
Ruth Maria, 16 anos, havia sido demi- bem-estar de seus moradores. Pouco
tida do Café Seleto. depois, porém, saiu da reunião, antes
Há menos de dois meses, quando que sua explanação fosse avaliada pelos
cinco dos irmãos trabalhavam, a renda favelados presentes. Estes queriam re-
da família de Cícero era de quase 37 clamar, por exemplo, da falta de cre-
mil cruzeiros. Hoje não chega a 20 mil. ches: "Queremos creches nas favelas,
Telma trabalha num centro lotérico para deixar nossos filhos seguros e po-
Cr$ 6.500 por mês; César Ci- dermos trabalhar".
cero recebe Cr$ 8 mil como balconista Se o prefeito tivesse ficado teria ou-
vido críticas pelas faixas que colocou
de uma padaria; e Jonatas, de 14 anos,
nos arredores do Sindicato e que desta-
é office-boy com um salário que não
chega a três mil. cavam o seu nome. "Ele preferiu gastar L
"Ninguém está aqui por acaso" - com faixas o que poderia ter gasto com
lanches para os participantes do encon- elas exigem creche
observa Severino Marcos de Almeida,
27 anos, filho mais velho de Cicero,
operário de uma fábrica de embalagens
e dono de um barraco vizinho ao de seu
pai. "Ganho um salário razoável, mas
insuficiente para pagar uma casa de
um ou de dois cômodos. E não quero
viver toda a minha vida nesta favela,
passando por todas estas dificuldades".
Severino, casado e pai de uma meni-
na, foi quem trouxe a família da Paraí
ba para São Bernardo do Campo, há
seis anos. Ele veio na frente, conseguiu
emprego como metalúrgico e depois foi
buscar os outros.
O seu pai, Cicero de Almeida, era re-
tratista lá na Paraíba; "Fazia amplia-
ções, retoques, mas nunca ganhei mui-
to dinheiro. Aqui nunca tive coragem
de mexer com esse ramo".
Católico fervoroso, nos últimos meses
Cicero trocou a Bíblia por um velho li- A mais independente
vro do Código Penal, onde procura inu-
tilmente justificativas para as demis-
sões de seus filhos e seus direitos traba-
e melhor informada
[Ihistas depois disso. Cicero quer enten-
der por quefoi parar numa favela, da
"qual quer sair o mais rápido possível.
revista semanal brasileira
abreviaturas do tipo pp (participação em
piquetes), no Departamento de Seguran-
ça da Volks - transformou-se em força
para lutar contra as injustiças, segundo
ele. Essa luta começa a tomar corpo
dentro das favelas: "Outro dia, quando
faziamos o serviço de terraplenagem nu-
p ae -e e es e- soe eso e o - ee =
ma área da favela para construção da
FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00
igreja, apareceu o advogado do proprie-
cupom, em Cr$ 7.920,00 à vista 2:Cr$ 4.680,00 à vista
tário do terreno e um delegado, pergun- envelope
fechado, meu 2 anos C1Cr$ 1.660,00 3 pagamentos
tando aos brados quem era o cabeça de [Cr$ 2.870,00 3 pagamentos
cheque nominal
todo aquele trabalho. "Somos todos nós, Nome des-
respondemos. E se quiserem parar nosso Endergço, tis ciaoeeo
serviço terão que tirar as enxadas, foices Bairro Cidade ._.
e terçados de cada um! "Não se atreve- CEP L-Deta -..
ram e sequer voltaram outra vez".
As favelas crescem em São Bernardo, Assinatura ___
e em cada um dos 37 mil barracos há Oferta válida por tempo limitado
Rca, a aoseo em eo eses e em ea a oo a aa o as es ess e -s m
pelo menos três crianças, um pai su-
bempregado ou desempregado e a luta
desigual pela sobrevivência..

MOVIMENTOS POPULARES
TRABALHADORES
Antes da
os caminhos
levar à greve
Depois de ter sido lançada pelos 20
sindicatos que convocaram o 1.o de maio
para. São Bernarun du Campo. entre 05
Iurgmrs de São BLrnardn e Santo Andle
o sindicato dos Metalúrgicos de São
Caetano e o sindicato dosBancários de
São Paulo, a proposta de Greve Geral a
partir de 1.o de outubro começa agora a
ganhar contornos melhor definidos.
Segundo Luís Inácio - Lula -, desig-
nado por esses sindicatos para lançar a
proposta, ela nasceu de um congresso
realizado em 1979 na cidade de Niterói,
do qual participaram 300 sindicalistas.
Nele, foi deliberada a decretação de uma
Greve Geral todas as vezes que o Go-
verno tomasse medidas recessivas que
prejudicassem o trabalhador. Para Lula,
o dia 1.o de outubro foi designado
apenas como referência, não significan-
do que ela deva sair nesse dia. Como ele
mesmo reconhece, não existe tempo há-
bil para isso.
Os sindicatos consultados por Lula nas
viagens que ele vem fazendo pelo Brasil
e para os quais ele está levando a propos- operária, de São Paulo e candidato à
ta, concordam que é preciso unificar os
trabalhadores brasileiros em torno de
uma bandeira de luta comum. Mas,
segundo ele, a maioria se mostra bastan-
te cautelosa em assumir de imediato esse
proposta.
Para Jair Menegueli, candidato a presi- mente a uma confrontação com o Gover-
dente pela Chapa 1 ao Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo, essa
proposta vemaoencontro de tudo aquilo
que o ABC propõe já há algum tempo,
visto que isoladamente nenhuma catego- . estão namãoda"pelegada"..
ria mnqulstou suas principais reivindi-
cações. Jair afirma que dentro da Ford,
fábrica onde trabalha, todos estão dis-
. cutindo essa proposta. Alega porém, que
a definição de como e quando fazer a
Greve Geral deve sair da Conelat, pois
ali será a hora de cobrar de todos os sin-
dicatos o que eles têm feito em defesa do
trabalhador.
O Sindicato dos Bancários de São
Paulo, um dos responsáveis pelo lança-
mento da proposta, inicia agora a sua
campanha salarial e irá colocar nas reu-
níões que pretende fazer com os mem-
bros de sua base a questão da prepara-
ção para a Greve Geral. Para sua dire-
toria a deflagração da Greve Geral foi
colocada a partir da greve dos metalúr-
gicos de São Bernardo em 80. Está sendo
colocada todos os dias, quando os tra-
balhadores da Volkswagen recusam o
acordo de redução da jornada de traba-
lho e dos seus salários; quando os tra-
balhadores da Fiat do Rio fazem greve
Lula: grevegerala 1o de outubro data de referencm. Para Rosal,
a dinamização levará naturalmente à greve, e Aurélio quer antes
unificar o movimento operário.
10
BRDOFANBSB V8.GNC.AAA. Y
Conclat,
que podem
geral
| solicitação, mas de maneira totalmente it-
regular, expedindo um edital fixando elei-
exigindo a estabilidade no emprego. Se-
*horário
gundo eles, é chegada a hora de cobrar
do Governo as suas rmpnnsxbilidadcs
Ab awWAlQªMiº,J&aIMHQQSQ_Qm_thÃ[ÍQ...,*trointernacionalrealizadonesemanapas-
exigindo empregoé salário digno para
todo mundo.
No entanto, essa certeza de que ama-
durecem todas as condições para a de-
creação da Greve Geral não é comum a
todos os setores populares.
O deputado federal e candidato a pre-
sidente pela Chapa 3 ao Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, Aurélio
Peres, concorda com a necessidade da
deflagração de uma Greve Geral. Mas,
aponta antes a busca da unificação do
movimento operário brasileiro como ta-
refa prioritária. Segundo ele, essa unifi-
cação só se dará em cima de bandeiras .
concretas de luta, que deverão ser pro-
pagandeadas e pelas quais os trabalha-
dores irão à Greve Geral.
Alguns setores da oposição metalúrgica
de São Paulo queixaram-se também de
que não foram- consultados sobre essa
questão.
Waldemar Rossi, membro da pastoral
presidência do Sindicato dos Metalúr-
gicos de São Paulo pela Chapa 2, afirma
que o momento é de definição de ban-
deiras de luta, de organização das cate-
gorias a partir das bases. A dinamização
dos movimento operário irá levá-lo fatal»
no e os patrões, obrigando-o a decretar a
Greve Geral, diz ele. Acredita airida na
ação dos sindicatos combativos, mas tem
dúvidas com relação 20s sindicatos que
Para Rossi, dizer eagora que a Concelat
irá assumir a decretação da Greve Geral
é impossível, mas pelo menos irão se de-
finir aqueles que defendem a atual
estrutura sindical e o modelo econômico
do Governo. Para ele, alguns passos
concretos começama ser dados quando a "confundida comuma organização ou parti- Compõem
campanha contra o desem prego é assumi-
da por diversos sindicatos que resol-
veram convocar Ato Público para o dia
26 de junho na Praça da Sé.
Essa discussão irá fatalmente desaguar defendidos
na realização do Conclat, a ser realizado
em agosto. Mas o que se pretende com
ela, é fazer com que todos os dirigentes
sindicais ali reunidos tirem formas con- | cionamento comum dessas entidades, que |
cretas de barrar os resultados da reces- ;:emeteram a discussão paraSuas mapeou
são econômica, forjando a criação da
Central Unica de Trabalhadores com
base num processo de lutas, evitando
assim que isso aconteçàá nas articulações
das cúpulas sindicais.
Mário Serapicos
ses": Os manifestantes concordaram com
isso, e condenaram qualquer interferência
soviética naquele país. Embora não tenha
O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo negado que essa ameaça exista, o cônsul
André viveu dias de extrema confusão acredite quenão ocorrerá uma invasão da
nestas últimas semanas. Seu ex-presidente Polônia pelos russos.
cassado e deputado federal! Benedito Marci- Para apoiar a luta dos trabalhadores polo
. Ho impetrou mandado de segurança exigin- neses, os manifestantes estão discutindo a
doque a junta governativa publicasse o edi- criação, em São Paulo, de um Comitê de
- talde convocaçao de eleições para a entida- Defesa dos Trabalhadores Poloneses.
de. Sob pressão desse mandado O presu—
dente dá junta Antonio Moórales, atendeu à
une não PARTICIPOU
ções para 6 a 10 de outubro deste ano, com
de votação das 15 às 21 horas.
A União Nacional dos Estudantes não
Pela lei, as eleições deveriam ser convo
participou, apesar de convidada, do encon-
comercial. Para os metalúrgicos da região,
sada em Paris e que foi convocado pela
"essa é mais uma manobra da junta para se
União Nacional dos Estudantes Franceses
manter no cargo por mais três meses, já que - de linha trotsquista, que tinha como ob-
no horário por ela proposto o quorum só
jetivo fundar uma outra entidade internacio-
seria conseguido na terceria votação. Novos
nal para se contrapor à União Internacional
| protestos estão sendo feitos e a situação
dos Estudantes. A UNE é contra a formação
poderá complicar-se ainda mais nos próxi de outra entidade internacional e é filiada a
"mos dias.
UIE, posição que foi aprovada noseu último
congresso. Do encontro internacional parti-
ciparam entidades de 37 países, que acusa
ram a UIE de ser atrelada à União Soviética..
ATROPELO NO SINDICATO
Não bastassem as dificuldades sofridas
durante a campanha eleitoral, que perdurou
por quase dois anos, na qual sofreram coNTAA PACOTE LUDWIO:
pressões de todos os tipos, a Chapa 2 (de Três pontos básicos foram definidos
oposição) do Sindicato dos Motoristas do pelos estudantes secundaristas brasileiros
ABC deparou-se no dia de sua posse com em seu II Encontro Nacional, realizado no
'mais um atropelo.
© Atendendo a um pedido da junta governa- final de semana retrasada em Salvador (BA),
Com mais de 500 delegados de 15 estados. O
tiva que presidiaosindicato, o ministériodo Os pontos são: 1) realizar,aindaesteano,no
Trabalho adiou aposse, que deveria aconte- Paraná, um congresso para reorganizar a
cer dia 9 deste mês, para o dia 19 alegando União Brasileira dos Estudantes Secunda-
| que a apontadoria efetuada pela junta ainda ristas (UBES) desarticulada desde 1968; 2)
nãoestava completa. combater o chamado "pacote Ludwig"; 3)
Para os membros da Chapa 2 essa futár por mais verbas para a educação.
alegação é falsa; eles apontam como prin-
cipal motivo para esse adiamento o fato de
que a partir do dia 10 de junho entra nas
"contas do sindicato o recolhimento do im-
"posto sindical de toda a categoria, que a - REINADO DO PELEãO
junta pretende usar.
Termina no próximo dia 15 de junho o
reinado do pelego José Godoy no Sindicato
dos Professores da Rede Particular de En-
sino de Campinas e região, A chapa 1, de
MOVIMENTOS POPULARES Oposição sindical, venceu as sleições reali-
zadas, já em segundo escrutínio, no início
Gontando com a participação de quase 80 deste mês, derrotando - duas chapasda-
: entidades, entre sindicatos, associações, eltuação que haviam se formado devido à
comunidades de base e pastorais, foi rea- desentendimentosentre os diretores da en-
lizado em Vitória (£S), nos dias 5, 6 e 7de
junho, o 1H!o ENAMP -- Encontro Nacional tidade. A oposição assume a diretoria do :
Sinpro-Campinas defendendo a realização
de Articulação de Movimentos Populares. " deumaampla
Dizendo-se uma articulação de movimerr
campanha desindicalização, ..
jos populares e sindicais, que não pode ser criação de sub-sedes nas oito cidades que
sua base territorial, realização de
dopolítico, nem como corrente ou tendência assembléias
autonomia e
amplamente convocadas, a
independência do movimento
do movimento sindical e popular, é defen- sindical e a efetiva democratização do país.
dendo o princípio da autonomia para os
mesmos, este encontro elaborou um "Docu-
-mento de Vitória", que reafirma princípios .
em outros dois documentos an-
teriores, definindo sua atuação e discutindo
temas como o desemprego, a Greve Geral, a
Goneclat ea CUT, ficando acertado um posi-
LHA EASSINE
Representantes de enuóadqs estudantis,
' 19 sindicatos de trabalhadores, dos jornais
_ Convergência Socialista e O Trabalho, além
"do socilogo Francisco 'Weffort, que
representava o PT, tentaram entregar ao
MOVIMENTO
consulda Polônia em São Páulo, na semana
passada, uma moção onde apóiam o sin-
dicato independente Solidatiedade e exigêm
""totalliberdade de movimentos para Jacek
Kutror© e "Adam Michnic", :membros do
Comitê de Autodefesa Social (KOR), que
estão em liberdade vigiada. "
O cônsul recebeu somente uma comvssáo
| dos manifestantes e, dizendo que oconsu-
"lado não é correio, aconselhou-os a envia "
rem o documenta diretamente ao KOR, ao
Solidariedade eao governo polonês."Ele
disse que"a questão interna daPolônia
odes
serlresºivlda”um próprios polme- E
MOVIMENTO 15a 21/6/81
 BR DFANBSB V8.GNC.AAA ! ! (

CAPITAL ESTRANGEIRO

Festival de entreguismo

Na semana que passou o Brasil foi palco Neste mesmo dia, em Washington, falan-
de um verdadeiro festival de entreguismo. do a empresários reunidos no Conselho das
Na terça-feira o Ministro das Minas e Ener- Américas, o Ministro Camilo Penna da In-
gia, Cesar Cais, o Ministro da Fazenda, Er- dústria e do Comércio, afirmou que o Brasil
nane Galvêas e o presidente da República se é um país "cheio de possibilidades", com
encontraram com 30 empresários perten- um povo "trabalhador, ordeiro e pacífico,
centes ao Brazilinvest (que reúne cerca de que vive num clima de paz social." "Nós re-
80 grandes investidores nacionais e estran- cebemos de bom grado os investimentos
geiros) para a apresentação de um audiovi- norte-americanos no Brasil", afirmou.
sual preparado pelo Banco Itaú sobre o Por seu turno, os investidores, perceben-
"Grande Projeto Carajás". Depois de assina- do a ânsia do governo por dólares, come-
lar que o novo projeto envolve não só a ex- cam a multiplicar as exigências. Willian Si-
ploração de diversos minerais, mas também mon, ex-Secretário do Tesouro americano
de madeira e projetos agropecuários, Cesar e membro do Brazilinvest, declarou esperar
Cais anunciou que os investimentos reali- que, assim que o governo for vencendo a
zados na área receberiam incentivos fiscais crise econômica, sejam reduzidas as medi-
ília,os rizicultores esperavam aumento e receberam aPM e isenção do Imposto de Renda.Segundo o das "de controle burocrático sobre os inves-
Ministro, o projeto pode "gerar uma receita timentos, principalmente sobre o capital
de 14,6 bilhões de dólares por ano, "cons- estrangeiro."
tituindo-se na grande oportunidade mundial
PREÇOS MÍNIMOS
para os empresários aqui presentes." O Mi- A despeito do Brasil ter uma lei sobre
nistro terminou sua palestra com um so- remessa de lucros das mais liberais do
noro: "Benvindos ao Projeto Carajás!" mundo, o Ministro Cesar Cais, respondendo
Para os cafeicultores, Respondendo ao Ministro, o presidente a Simon admitiu a alteração da lei referente
do Brazilinvest Mário Garnero (antigo porta- à remessa de lucro de multinacionais sedia-
voz do capital alemão, que caiu em des- das no Brasil, conforme recomendação da
graça depois que se divorciou da filha de Câmara de Comércio Brasil-Estados Uni-
quase tudo; para os Monteiro Aranha, o maior acionista brasilei- dos.
ro da Volks, e que agora se aproxima do ca-
pital americano) foi breve: "O Brazilinvest Como último ato do grande festival de
está à disposição do governo para levar entreguismo, o Ministério das Minas e Ener-
rizicultores, a PM adiante o Projeto Carajás". E já no dia se- gia anuncia a disposição de abrir ao capital
guinte era formada uma comissão de em- estrangeiro a exploração de jazidas petroli-
A política de preços mínimos para os ra, os agricultores que estão acampados presários para capitalizar os recursos ne- feras de pouca profundidade (até 400 me-
produtos agrícolas foi responsável por em Brasília resolveram que lá perma- cessários e servir de ponte entre o capital tros) no Ceará e Rio Grande do Norte.
necerão até o atendimento de suas rei- estrangeiro e o governo. (£ curioso notar Abre-se assim mais uma possibilidade para
uma intensa movimentação reivindicatô-
que um dia antes alguém do governo havia o capital estrangeiro explorar as reservas de
ria em Brasília, na semana passada, vindicações. Eles não aceitaram a pro-
passsado para a Folha de S. Paulo a man- petróleo brasileiro. Para se perceber a im-
quando produtores de arroz e de café posta do governo de prorrogar por chete de que a URSS seria o principal portância que essas pequenas jazidas pos-
exigiram do governo a fixação de preços um ano as dívidas de custeio e inves- parceiro do Brasil em Carajás. Quase como suem, basta citar que 60% da produção de
justos para suas mercadorias. timento dos produtotes que sofreram uma chantagem do tipo, se vocês não leva- petróleo dos EUA provêm de bacias petroli-
Os cafeicultures, que realizaram no dia frustração de safra; complementação do rem, entregamos para os russos...) feras de pouca profundidade.
10 seu terceiro encontro nacional, em preço mínimo através da indenização do
Brasília, exigiam preço mínimo de frete e da sacaria; liberação de maior
garantia de Cr$ 13.038,33 a saca; finan- volume de recursos para financiar a
ciaâmentos mais flexíveis em todos os comercialização; e retirada dos estoques
níveis, desde a produção até o porto; oficiais do fornecimento de arroz para o
política agressiva para reconquistar os comércio varejista do Rio e de São Paulo.
mercados externos; fim do subsídio ao O preço mínimo do arroz é Cr$ 800,00
mercado interno; reformualção do Insti- a saca; com as indenizações do frete e da
tutoBrasileirodoCafé,transformando-o---sacaria--proposta,-ele--passaria-a-um...
A Comissão Pastora! da Terra, num do- ,,,,,,A coordenaçãodaConclatrealizará um
cumento de mais de 100 páginas, faz um debate sobre desemprego, na 3a feira, dia
num órgão de defesa -da lavoura, Sua máximo de Cr$ 941,00, muito abaixo dos resumo detalhado das violências e arbitra- 16, no Sindicato dos Jornalistas de São
reunião realizou-se no Hotel Nacional e, Cr$ 1.480,00 exigidos, que foi o custo da riedades sofridas por centenas de famílias Paulo, às 20 horas. Os debatedores serão
liderados pelo ex-governador paulista produção da saca de arroz no ano de posseiros no Norte de Goiás e demons- Alberto Goldman, Eduardo Suplicy e H.
Roberto de Abreu Sodré, eles foram rece- passado. Além disso, o governo nivela os tra o envolvimento de policiais, juízes de Melo. No dia 23, reunem-se os sindicalis-
bidos pelos ministros Delfim Netto, Er- preços, segundo o deputado federal direito e políticos governistas interessa- tas Hugo Pires, Arnaldo Gonçalves, Dante
nane Galvêas, e o próprio Golbery do gaúcho Carlos Bezerra, membro e ex- dos em lucrar a qualquer preço. Pellacani e Lula para um novo debate.
Couto e Silva, que atendeu um deputado presidente da Comissão Agrícola da A publicação custa Cr$ 180,00, e os pe-
representante dos cafeicultores. Além Câmara Federal, vice-líder do PMDB e didos podem ser feitos à CPT, à Rua Capi- Uma festa de São João será promovida
um dos defensores dos interesses dos tão Chaves, 60, sala 16 - Nova Iguaçu, pela Livraria Livre, no dia 24 de junho, às
dos ministros, altas autoridades da área Rio de Janeiro (CEP 26.000). 20 horas. Entre um quentão e outro, serão
econômica, como José Flávio Pécora e rizicultores. Os preços de custo do arroz
são muito diferentes no Rio Grande do lançados livros de Ricardo Maranhão, Car-
Carlos Viacava (secretários gerais dos los Alberto Dória e José Eli da Veiga. A li-
ministérios do Planejamento e da Fazen- Sul e no Centro-Oeste, disse ele. No A Comissão Organizadora da Concen-
tração Contra o Desemprego que será rea- vraria fica na rua Alagoas, 671, Higienó-
da) tiveram vários encontros com os Mato Grosso, por exemplo, o custo é polis, em São Paulo.
mais alto pois a produtividade do solo é lizada em São Paulo, no dia 26, está con-
produtores de café. vocado as entidades interessadas para
Enquanto isso, os rizicultores acampa- mais baixa, não existem estradas, arma- uma reunião nesta segunda-feira, dia 15, A Associação dos Sociólogos abrirá sua
ram em Brasília, e encontraram grandes zéns ou secadores, e muitas vezes as às 19:30 horas, no Sindicato dos Condu- campanha eleitoral no dia 17 de junho, 4a
dificuldades para conseguir uma audiên- agências bancárias ficam a 200 ou 300 tores de Veículos Rodoviários de São Pau- feira, com um debate sobre a construção
cia com o ministro Amaury Stabile, da km de distância das fazendas. lo, na rua Pirapitingài, 75. O objetivo da do sindicato da categoria. Foram convida-
Agricultura. Um exemplo claro da ma- Os cafeicultores, cujas associações são reunião é organizar e convocar o ato do dia dos para relatar suas experiências de tra-
neira como o governo tratou os riziculto- controladas por grandes fazendeiros que 26. balho representantes dos Sindicatos dos
res foi o reforço do policiamento pela PM destinam seus produtos para a exporta- Médicos, Engenheiros, Jornalistas e da
Associação dos Metroviários. O debate
na Esplanada dos Ministérios, para ção, tiveram melhor sorte em seus Nesta 2a feira, dia 15, às 14 horas, pos-
será na Rua Augusta, 719, às 20 horas.
"evitar tumultos". contatos com o governo, embora sua seiros de várias regiões do Estado do Rio
Os produtores de arroz querem preço reivindicação básica (saca a Cr$ de Janeiro se reunirão em frente ao IN-
mínimo de Cr$ 1.480,00 para a saca; 13.038,33) não tenha sido atendida. O CRA, na rua Santo Amaro - entre as ruas Os profissionais em processamento de
prorrogação de 60 dias no prazo de preço mínimo do café foi elevado a Cr$ do Catete e Beneficência Portuguesa,no dados promoverão, em Curitiba (PR), o I!
9.200,00 a saca a partir de 1.o de julho e Rio. A concentração dos posseiros como Congresso Nacional dos Profissionais de
pagamento dos financiamentos de cus- forma de protesto contra o INCRA é apoia- Processamento de Dados, que ocorrerá no
teio que se encerra no próximo dia 30; Cr$ 12.000,00 a partir de 1.o de janeiro.
da pela FETAG, CPT e Contag. período de 18 a 21 de junho próximo. O
100% de financiamento para custeio e Outras reivindicações atendidas foram: Congresso, que representa uma categoria
investimento; e redução dos juros para os fim do subsídio ao consumidor; de quase 200 mil profissionais discutirá
as linhas de financiamento foram tor- No dia 21 de junho, domingo, comple-
investimentos, cujos níveis estão hoje tará um ano que os moradores da Fregue- a Política Nacional 'de Informática.
acima de 70%. O movimento dos rizicul- talecidas para que os produtores possam sia do O, em São Paulo, apresentaram
tores é nacional. Ele começou com a reter o produto "estocado por mais Programa de atividades a ser desenvol-
suas reivindicações ao governo itinerante vido no Brasil pelo Dr. José Renán Esquivel:
mobilização dos produtores gaúchos e tempo; o confisco cambial será extinto de Paulo Maluf e receberam como respos-
mato-grossenses e hoje envolve produto- gradualmente; cotas de exportação mais ta a violência física de policiais e funcio- Locais: Estados de São Paulo, Rio de
res de Goiás e Rondônia, que estão se elevadas serão impostas à Organização nários do governo. Como protesto pelas Janeiro e Bahia. ,
deslocando para Brasília, para engrossar Internacional do Café, e se não forem violências impunes e pelo não atendimen- Período: de 24 de junho a 12 de julho de
o protesto. No mesmo dia em que foi aceitas o Brasil romperá com ela; final- to das reivindicações até hoje, serão bene- 1981. Programa coordenado por- Renov -
instalado o acampamento em Brasília, mente os preços foram liberados, medida ficiados neste dia, na Freguesia, um Culto Relações Educacionais e do Trabalho e
na segunda-feira passada, os rizicultores que terá reflexos imediatos no bolso dos Ecumênico e um Ato Público promovidos visita auspiciada pela UNICEF, - o
pelos partidos de oposição e entidades da São Paulo - dia 24 de junho (4a feira)
de Tapes (RS) realizaram um protesto consumidores. Especula-se inclusive que área. às 20 horas.
pública. brevemente o preço do quilo do café em
Numa assembléia realizada quinta-fei- pó irá para Cr$ 400,00. (Gosé C.Rnv),

MOVIMENTO 15 a 21/6/81
 Foram Delfim e Golbery que planejaram como botar a mão no lendário ouro
União Soviética, quem diria, se-
rá talvez o mais importante sócio
do governador Paulo Salim Ma-
luf em sua aventura para tentar
descobrir petróleo em São Paulo. Através
de um acordo com a Paulipetro, os sovié-
ticos fornecerão tecnologia especial para
prospecção na bacia do Paraná, onde a
empresa paulista está fazendo explora-
ções. E já informaram que, segundo suas
experiências, são grandes as possibilida-
des de encontrar petróleo em regiões que
apresentam características geológicas se-
melhantes às da bacia do Paraná.
Apesar de sua particular importância
para o Estado de São Paulo, especial-
mente se de fato contribuir para concre-
tizar o sonho petrolífero de Maluf, este
convênio da Paullpuroé apenas um dos
pequenos negócios que fazem parte do
amplo acordo comercial que está sendo
a e 14
pelas suas dimensões, também recebeu a
chancela de "pacote" - mais específica-
mente, "pacote vermelho".
O grande acordo será selado com gran-
des pompas durante a visita do ministro
Delfim Netto a Moscou, entre os dias 6 e
8 do próximo mês. A visita promete se
transformar em um acontecimento his-
tórico: foram tantos os pedidos para in-
tegrar a comitiva, partidos não só de fun-
cionários do governo
g e empresários, mas
até de respeitáveis personalidades polí-
ticas, que a secretaria do Planuamcnm
lá cogita de fretar um avião para a viagem.
Será, sem dúvida, a. maior missão
comercial enviada pelo Brasil a um país
socialista desde 1964. E a mais im-
portante: além de Delfim e seus prin-
cipais auxiliares, integram a comitiva re-
presentantes das principais empresas
estatais do país e dezenas de dirigentes
de empresas nacionais de primeira gran-
deza, como a construtora Camargo Cor-
reia, a Villares e a Mendes Júnior. Por
outras razões, a missão de Delfim Netto
também representará um acontecimento
histórico: os acordo a serem assinados ti-
rarão a União Soviética do lugar se-
cundário que ocupa atualmente no co-
mércio exterior brasileiro (atrás, por
exemplo, do pobre Paraguai) paracolo-
cá-la quase no mesmo nível dos mais tra-
dicionais parceiros do Brasil, algo ini-
maginável há alguns anos. Estes en-
tendimentos também levarão a outras
consegiiências igualmente impensáveis
até recentemente, como, por exemplo, a
presença no Brasil de técnicos russos
ajudando o governo a desenvolver seus
programas energéticos alternativos mais
complexos. Ou a associação de estatais
russas e grandes corporações privadas
brasileiras para a formação de joint ven-
tures,
Embora ainda falte definir detalhes
importantes, o "pacote" já está delinea-
do. O seu "carro chefe" é o fornecimen-
to, por parte da União Soviética, de
equipamentos para as hidrelétricas de
Ilha Grande, que está sendo construída
pela Eletrobrás no Rio Paraná, e Ca-
choeira Porteira, que está sendo proje-
tada para o rio Trombetas, na Amazô-
nia. As importações serão financiadas
712
de Moscou
Marcos
pela União Soviética, que ainda forne-
cerá um montante adicional de financia-
mentos em moeda para a realização de
investimentos nestas usinas,
valor. destes 'financiamentos é
um dos pontos principais das
discussões que estão se realizan-
, do: Delfim quer arrancar dos so
vícticos, em moeda, pelo menos o mesmo
valor dos créditos comerciais para aqui
sição dos equipamentos. O montante dos
equipamentos a serem importados, por
sua vez, constitui im ponto de discussão
à parte: enquanto os soviéticos querem
vender o máximo de equipamentos, as
indústrias de bens de capital nacionais e
estrangeiras instaladas no país lutam
com todas as suas forças para convencer
o governo a reduzir estas importações à
menor quantidade possível. Segundu o
!Iltlllu ©P llllllllllltllll 9C CHT d
fogo Gonçalves, as importações
tes à usina dellha Grande deverão
entre 20% e 25% do total
pamentos previstos para sua
ção. Em valor isto representa
US$ 150 milhões. Quanto
Cachoeira Porteira, a definição
mais algum tempo pois falta
Eletrobrás definir o projeto de
trução.
O .. pacote" também inclui
As vantagens
Incluindo as transações que serão
concretizadas agora e as que estão em
negociação preliminar, o "pacote" que
o ministro Delfim Netto deverá assinar
em Moscou corresponderá, em valor, a
muis de US$ 2 bilhões. Entretanto, não
passa de um "pacotinho" perto do
ucordo que está sendo negociado pela
Argentina - o qual inclui a elevação
das exportações daquele país para a
União Soviética para 150 mil toneladas
de carne e 18 mil toneladas de grãos
por ano, além de sua transformação em
permanente", o que lhe
assegurará a garantia do mercado,
Em relação ao atual nível de inter-
câmbio Brasil- URSS, contudo. o "pa-
cote"" a ser sacramentado em Moscou
erá um efeito extraordinário. Os con-
tratos a longo prazo que serãofirmados
elevarão substancialmente as trocas co-
merciais entre os dois países, aue nos
últimos anos têm variado pouco - em
1980 as exportações brasileiras àquele
país atingiram US$ 370 milhões e as
importações nào passaram de US$ 31
milhões. Já em 1981 a URSS tomará da
Polônia a posição de principal parceiro
comercial do Brasil no Leste Europeu
mas isto também se deverá, em parte, à
retração das compras de minério de
[erro por parte da Polônia em conse-
qucncm da monumental crise econô-
mica que atravessa,
A longo prazo o Brasil vai ter que pa-
Paiva
gociação do acordo comercial entre os
dois países de 1975, pelo qual a cada
importação brasileira de equipamentos a
JRSS se obriga a comprar do Brasil
igual valor do que vendeu, sendo um
terço de produtos manufaturados e semi-
manutaturados. A proposta brasileira é
separar as quotas para manutaturados
e semimanutaturados e, além disso au-
mentar o índice de exportação dos manu-
faturados para pelo menos 50%.
Outro importante "subconjunto" da
negociação, como define José Botafogo,
aa
As indústrias de bens
de capital instaladas
no Brasil querem um
credito em dinheiro
1P201HS
referen-
ficar
e o minimo possível
dos equi-
implanta-
em crédito
cerca de
à usina de
para
importação
demora
ainda a
de máquinas
sua cons-
a rene-
ao
imediatas do "pacote vermelho"
gar por esse tipo de acordo feito com o
objetivo prioritário de pegar créditos
para equacionar a dívida externa e que
não levam em conta o real interesse de
um desenvolvimento autônomo nacio-
nal.
As vantagens imediatas para o Brasil
com a ampliação do comércio com a
URSS são várias. A começar pelo Jato
de gerar eréditos para o pagamento da
dívida, Alémdisso, os soviéticos não fa-
cem questào de equilíbrio entre as ex-
portações e importações, embora dese-
jom diminuir um pouco a proporção do
déficit - afinal, no ano passado as ex
portações ao Brasil sequer atingiram
um décimo. das suas importações de
produtos brasileiros. Da mesma forma
que no caso do Brasil. a Argentina
também tem alcançado grandes supe-
ravits no comércio com os soviéticos -
apenas entre 1976 e 1979 o superavit
argentino somou cerca de US$ 1 bilhào.
Ao contrário do que acontece com os
países capitalistas do Ocidente, a
União Soviética consegue absorver es-
ros déficits nas trocas comerciais com
outros países sem grandes dificuldades
porque o comércio exterior tem um
sentido principalmente complementar
na economia do país.
O maior atrativo para as aquisições
de equipamentos sào as condições dos
créditos comerciais e Jinanciamentos
consiste na realização de contratos a lon-
go prazo para a venda de produtos pri-
mários por parte do “&.le em troca do
aumento de suas importações de insu-
mos qmn icos, especialmente amônia e
uréia. "O princípio do fornecimento plu-
mmm tem 3 ou S anos) está aceito, o
que dará certa estabilidade à exportação
de primários brasileiros à URSS", diz
Botafogo. "Até agora as operações eram
feitas isoladamente, o que resultava em
grande inconstância nas transações". Os
negócios "serão fechados diretamente
pelas empresas mas já estão pratica-
mente acertados contratos para a venda
du soja, cacau e bauxita.
Também estão praticamente prontas as
minutas para a assinatura de contratos
de assistência técnica por parte dos so-
víéticos a Paulipetro e à mais nova em-
presa estatal brasileira, a Coalbra, criada
perro peerOsporrtar-<
ra. O valor de cada um destes contratos
deverá ficar emtorno de US$ 5 milhões
e ambos prevêemo envio de técnicos ao
Brasil. Detentor de tecnologia para pro-
dução de álcool da madeira desde a es-
cassez energética provocada pela Segun-
da Guerra Mundial, a ajuda soviética ao
programa brasileiro será mais ampla:
além da assistência técnica, também for-
necerá equipamentos para a implanta-
ção da usina piloto que a Coalbra cons-
truirá na cidade mineira de Uberlândia.
em moeda que oferecem: juros mais
baixos e prazos para pagar muito mais
longos que os dos financiamentos que o
Brasil tem conseguido junto aos seus
tradicionais parceiros comerciais. Com
isso, o Brasil, também abre uma nova
fonte de financiamentos além do mer-
cado de curodólares. Da mesma forma,
o Brasil também está conquistando um
novo e grande mercado para a coloca-
cão de seus produtos agrícolas. Até
«gora a. maior parte dos produtos
brasileiros que chegam à União Soviéti-
ca são levados por tradings multinacio-
nais que os compram no Brasil e os
revendem por preços muito superiores.
Estes interesses contrariados, por si-
nal, são a fonte das manifestações con-
rrárias à ampliação. do. intercâmbio
Brasil- URSS que tem surgido ultima-
mente em diversos órgãos de imprensa.
Os financistas internacionais, princi-
palmente. parecem enormente preo-
cupados com a perspectiva do Brasil
encontrar na União Soviética um novo
mercado para sua demanda sempre
crescente de capitais. Os outros adver-
sários do "pacote vermelho" sào locali-
zados entre os militares, Mas estes di-
minuiram bastante suas restrições e
desconfianças depois que a Argentina
do general Viola negociou um acordo
comercial com os soviéticos muito
maior e mais vermelho,
"MOVIMENTO 15 a 21/6/81
 BR DFANBSB VB.GNÇ.AAA, !.!

A cor do dinheiro, para o pragmático Delfim, não faz diferença

enxofre). Com a Tchecoslováquia foi assi- setor estatal. As discussões foram apro- pagamentos períódicos de royalties,
Como no caso das hidrelétricas, a URSS
nado um acordo prevendo sua colabora- fundadas em Moscou, em abril, durante com o que não concordavam alguns
ainda financiará a aquisição destes equi-
ção na construção de uma termoelétrica de a reunião da comissão mista Brasil- membros do governo.
pamentos, além de conceder outro crê-
dito em moeda em valor semelhante para carvão em Santa Catarina. W URSS. Ali apareceram grandes diver-
aplicação na construção da usina. A investida junto à União Soviética gências entre as partes. Entre outros erros A participação de Delfim nestas ne-
A declaração conjunta que o ministro mereceu uma atenção toda especial - a de avaliação, os soviéticos imaginavam gociações tem sido fundamental. Ele já
Delfim Netto assinará em Moscou- ou ampliação das relações comerciais com que o Brasil pretendia comprar usinas demonstrou, por mais de uma vez, que
melhor, o "pacote" - também deverá aquele país foi cuidadosamente estu- completas e ficaram visivelmente decep- quer a realização do acordo de qualquer
incluir outros negócios cuja discussão dada, planejada e executada sob a coor- cionados quando o representante da Ele- jeito. O seu interesse é claro: além dos
ainda está numa fase bastante preli- denação do chefe do Gabinete Civil da trobrás explicou que estava interessado reflexos positivos na Balança Comercial
minar e, por isso, dificilmente serão fe- Presidência, general Golbery do Couto e apenas em adquirir alguns conjuntos brasileira, o "pacote vermelho" também
chados em julho, como ajuda técnica e Silva. Num trabalho que demorou meses, turbina-geradores. De outro lado, os representa a entrada de recursos - tanto
financeira por parte da URSS aos pro- a secretaria do Planejamento e o Itama- soviéticos não concordaram com a pro- na forma de financiamentos em moeda
gramas da gaseificação do carvão das raty levantaramum elenco de transações posta brasileira para aumentar sensivel- como por meio de suppliers credits -
minas de Santa Catarina e Rio Grande que poderiam ser concretizadas. Ao invês mente as vendas de manufaturados em essenciais para o fechamento do camba-
do Sul, de aproveitamento energético da de tentar negociar cada uma sepa- contrapartida à importação de equipa- leante Balanço de Pagamentos do país. A
turfa existente na região do vale do rio radamente, o Palácio do Planalto optou mentos. Alegaram que, embora conside- cor do dinheiro, para o pragmático mi-
Paraíba, em São Paulo, e do xisto das
minas de São Mateus, no Paraná.
O último mas não menos importante
item desse diversificado conjunto de
negócios trata das possibilidades de
associação entre empresas brasileiras e
soviéticas para a formação de joint ven-
tures no setor de engenharia e constru-
ção civil para atuar emterceiros países. A
idéia é de que o Brasil entre com a parte
referente à realização das obras civis e a
URSS com o fornecimento de equipa-
mentos. De acordo com esse modelo, já
há pelo menos um negócio em andamen-
to: a Norberto Odebrecht, uma das
maiores empreiteiras do país, deverá
participar da construção de uma hidrelé-
trica de pequeno porte no Peru, cuja
concorrência foi ganha pela União Sovié-
tica.
história dessa nova fase nas rela-
ções comerciais entre o Brasil e a
União Soviética remonta ao final
de 1979, mais precisamente ao
mês de novembro de 1979, quando o
Coleste, órgão do Itamaraty responsável
pela coordenação do comércio com os
países socialistas da Europa, apresentou
ao Conselho de Comércio Exterior (Con-
cex) um conjunto de documentos onde
demonstrava que, na atual situação de
crise econômica internacional e aguda
disputa de mercados, o Leste Europeu
constitui uma das poucas regiões para
onde o Brasil poderia expandir suas ex-
portações num prazo relativamente cur-
to. Nesse sentido, propunha o estabele-
cimento de uma nova política de comér-
cio para a região, que deveria contem- nistro do Planejamento, é o que menos
rassem "coisa do passado" o déficit de
plar a reorientação de parte das impor-
US$ 15 bilhões que calculam ter acumu- importa.
tações brasileiras para o Leste Europeu,
lado nas transações comerciais com: o
de forma a reduzir o grande desequili- Foi Golbery quem e sua parte, os soviéticos tam-
Brasil nos últimos 30 anos, estavam
brio no intercâmbio do Brasil com os bém têm demonstrado enorme
planejou e executou preocupados em reduzir o grande dese-
países da região -- fator apontado pelo interesse em superar os obstácu-
quilíbrio registrado atualmente no co-
estudo como um dos principais entraves los à realização do acordo. Com
os acordos que mércio entre os dois países. Por causa
ao aumento das exportações brasileiras sua produção dé alimentos e bens de
desses desencontros, os resultados con-
para a área. consumo popular se revelando cada vez
Delfim quer realizar cretos da reunião se limitaram à assina-
A proposta foi aprovada sem maiores mais insuficiente para atender à crescen-
tura de um acordo de colaboração tecno-
dificuldades. Havia razões de sobra para a qualquer custo te demanda interna, a União Soviética se
lógica e h elevação do status da comissão
isto: com a tendência claramente con- vê obrigada a recorrer sempre mais ao
mista para "comissão intergovernamen-
figurada de déficits crescentes na Balan- para conseguir mais mercado externo - as suas importações
tal".
ça Comercial, o Brasil não tinha mais já estão em torno de US$ 80 bilhões por
condições de continuar selecionando divisas para Além disso, ainda toi assinado um ano. Dentro desse quadro, a diversífica-
parceiros comerciais de acordo com protocolo para fornecimento de assistên- ção dos fornecedores desses produtos
critérios de identificação ideológica. A saldar cia técnica à Coalbra. transformou-se num dos principais obje-
primeira consequência dessa decisão do a dívida
Após o insucesso de Moscou, as nego- tivos de sua diplomacia. Com o boicote
Concex foi a ativação dos contatos com ciações foram reabertas por iniciativa ao fornecimento de alimentos à União
os países do Leste Europeu, através do externa pessoal do ministro Delfim Netto, que Soviética tentado pelo ex-presidente nor-
envio de diversas missões comerciais enviou uma carta ao vice-ministro do te-americano Jimmy Carter, o êxito dessa
para a região, ao longo de 1980. Ao dermos Comércio Exterior da URSS relacionan- estratégia tornou-se mais imperioso. A
mesmo tempo a Carteira de Comércio por propor uma negociação global. A do os negócios que gostaria que fossem vertiginosa ampliação das relações com a
Exterior do Banco do Brasil (CACEX) proposta foi apresentada aos soviéticos, resolvidos antes de sua viagem a Mos- Argentina representa o maior sucesso da
passou a induzir as empresas estatais a re- através de sua embaixada em Brasília, cou. Nas negociações que se sucederam, aplicação dessa política na América
partirem com o Leste Europeu parte de em junho do ano passado. Somente me- os brasileiros se mostraram menos in- Latina. Mas para ser completa será pre-
suas compras no exterior. Os resultados ses depois é que veio a resposta: a União flexíveis em relação ao aumento signifi- ciso repetir a dose em relação ao Brasil.
dessa nova política foram imediatos: Soviética concordava com a idéia de cativo das contrapartidas de exportações E as autoridades soviéticas parecem con-
ainda em 1980 foram assinados contra- negociar um pacote com o Brasil. em manufaturados, enquanto os sovié- vencidas de que, se perderem a atuul
tos de longo prazo com a Romênia (ex- A 11 de março desembarcava em Bra- ticos também desistiram de vender usi- oportunidade, demorarão mais alguns
portação de produtos agricolas em troca sília uma missão comercial soviética para nas completas e ainda fizeram outras anos para ter outra chance igual para es-
de fertilizantes), com a Alemanha Federal iniciar as conversações. Algumas sema- concessões, como a venda de tecnologia treitar o intercâmbio com o Brasil. O que
(produtos agrícolas por cloreto de potás- nas depois chegava outra missão, esta in- ao invés de seu fornecimento através de não está nos planos de Moscou e "muito
sto) e com a Polônia (manufaturados por tegrada exclusivamente 'por técnicos do licença -de utilização; "o que implicaria menos nos de Brasília.

"MOVIMENTO 15 9176/81

Bomba
O terrorista Menahen Begin manda agred
Ironicamente, no final do domingo,
dia 7, quando em Israel se comemorava
o Shavuot - a entrega dos dez manda-
mentos de Deus a Moisés -, aviões da
força aérea isralense bombardearam a
central nuclear iraquiana de Tamuz, a
17 km de Bagdá, destruindo-a completa-
mente e causando a morte de um técnico
francês que lá trabalhava. A agressão
israelense colocou mais um problema
para os intrincados meios das relações
internacionais,
O primeiro-ministro israelense justifi-
cou o ataque como "essencial e preventi-
vo", e até de "legítima defesa", uma vez
que Israel possuía "informações segu-
ras" de que o Iraque em breve produziria
bombas nucleares para serem usadas
contra Israel. Autoridades israelenses
declararam ainda que foi melhor ter
destruído a central nuclear agora do que
fazê-lo quando já estivesse em funciona-
mento, "pois provocaria uma imensa
nuvem radioativa que poria em perigo a
população de Bagdá, fazendo milhares
de vítimas inocentes", O governo israe-
lense afirmou também que escolheu um
domingo para o ataque porque os técni-
cos não estariam trabalhando nesse dia.
No entanto, sabe-se que nos países ára-
bes não se trabalha na sexta-feira, e o
domingo é um dia normal de trabalho.
A notícia do bombardeio causou sur-
presa em todo o mundo, inclusive para o
próprio povo israelense. Para os aviões se
deslocarem de Israel até Bagdá, teriam
que sobrevoar os territórios árabes da
Síria, da Jordânia ou da Arábia Saudita,
além de extensa área no território ira-
quiano. Como puderam passar sem se-
rem detectados pelo radares sírios ou
jordanianos? Como não se fizeram notar
pelos hipersensíveis avides-radar Awacs,
que voam permanentemente na Arábia
Saudita, pilotados por americanos? Fi-
cavam então as dúvidas: seriam . os
Avwacs ineficientes? Ou haveria
alguma articulação no sentido de não
detectar propositadamen-
te a passagem dos israe-
lenses?
Posteriormente, as pró-
prias autoridades milita-
res israelenses tentaram
responder a estas ques-
tões, dando sua versão de
que foram utilizados en-
tre 12 e 15 aviões Phan-
tom, modelos F-4, F-15 e
F-16, de fabricação ame-
ricana. A rota, segundo
as mesmas autoridades,
teria sido contornando o
sul da Jordânia e norte da
Arábia Saudita, viajando
por regiões desérticas. O
general Eitan, chefe do
Estado-Maior do Exérci-
to israelense, diz que os
Avwacs sauditas não esta-
vam operando no dia do
ataque. Além disso, se-
gundo ele, os bombardei-
ros estavam pintados com
as cores jordanianas, e os
pilotos - treinados du-
rante seis meses para a
operação falavam árabe.
Mesmo tendo consti-
tuído uina surpresa para
o mundo, a verdade é que
4 er
"v" "." 'gRDOFANBSB V8.GNÇIAAA, *
ISRAEL/IRAQUE
na usina,
ir outro país como propaganda eleitoral
Carlos Machado
o ataque à central nuclear não era algo
absolutamente imprevisível. Em agosto
do ano passado, Begin declarou que
Israel tudo faria "para destruir o poderio
atômico do Iraque", Quando começou a
guerra entreo Iraque e o Irã, o Departa-
mento de Estado americano previu: "os
Estados Unidos temem um ataque pre-
ventivo de Israel à central nuclear ira-
quiana". Por outro lado, este não é o
primeiro ataque à central de Tamuz. Há
informações de que, no ano passado,
depois do início da guerra Iraque-Irã,
um Phantom F-4, pertencente a Israel,
teria atacado o edifício central da usina
nuclear, sem destruí-lo. Na confusão da
guerra, ficou-se sem saber qual a proce-
dência do bombardeiro.
No plano da política internacional, o
atentado israelense acabou envolvendo,
direta ou indiretamente, diversos países.
Os Estados Unidos condenaram "vee-
mentemente"o ataque e suspenderam
temporariamente a entrega de quatro
aviões Phantom F-16 a Israel, conside-
rando que a ação israelense, realizada
com aviões da fabricação americana",
pode ter violado" o acordo pelo qual
l David". E até para o Brasil sobrou uma
O ataque vinha sendo
planejado há
mais de seis meses
Id
Washington vende armas a Tel-Aviv. A
suspensão, além de temporária, é irrele-
vante, pois os israelenses já receberam 53
dos 75 F-16 e 25 dos 40 F-15 encomenda-
dos.
A França e a Itália, que ajudavam a
construir a usina iraquiana em troca de
petróleo, foram duramente criticadas pe-
lo governo israelense Nas palavras de
teia
voto na
Begin, esses países, "antes de nos con-
denar, devem é se envergonhar do que
fazem".
Para o presidente francês, François
Mitterrand, o bombardeio resultou em
uma situação bastante embaraçosa, um
verdadeiro teste prático de suas promes-
sas eleitorais. Durante a campanha, ele
prometeu suspender o envio de urânio
enriquecido para o Iraque, comprome-
tendo um acordo assinado em 1975, no
valor de 300 milhões de dólares. A Fran-
ça qualificou o ataque como "absoluta-
mente inaceitável", mas não se sabe se
Mitterrand, nas novas circunstâncias,
cumprirá suas promessas.
Entre as condenações e acusações mo-
tivadas pela agressão ao Iraque, a União
Soviética fez questão de lembrar que o
"ataque bárbaro" fora realizado com
aviões americanos; o Iraque, ainda em
guerra com o Irã, acusou Israel de "agir
em conluio com o Irã", desde o início da
guerra no Golfo Pérsico; o Egito, em
trégua com Israel desde o encontro de
Camp David, condenou a agressão israe-
lense, considerando-a "contraditória
com o espírito dos acordos de Camp
ponta de envolvimento: fontes israelen-
ses também o condenaram, porque man-
tém um acordo para fornecimento de
urânio enriquecido ao Iraque, em troca
de petróleo.
Apesar das maciças condenações em
todo o mundo, o governo de Israel - que
chega a invocar para o atentado "moti-
vos humanitários" - assumiu uma posi-
ção de tranquila rejeição às críticas. Al-
gumas fontes militares árabes acreditam
que o Iraque dificilmente deixará passar
a humilhação sem tentar represália. No %.
entanto, suas condições são extrema-
mente limitadas. Primeiro, porque sua
força aérea teria que enfrentar os pode-
tosos F-15 e F-16 israelenses; segundo,
O eleitorado direitista
vibra com a bárbara
façanha de Begin
urna
porque ainda está em curso a guerra com
o Irã. Quanto ao programa nuclear, o
Iraque promete continuar a desenvolvê-
lo, enquanto os israelenses ameaçam
destruir de novo, a central nuclear que
seja reconstruída.
Na política interna, três dias após o
atentado, Israel perdeu a unidade com
que enfrentava a condenação do mundo:
o líder trabalhista Shimon Peres, provo-
cado por Menahen Begin, revelou ter
advertido o governo ""a não se lançar em
uma operação impulsiva antes de explo-
rar todos os meios diplomáticos". Peres
acusou Begin de ter realizado o ataque
para obter dividendos eleitorais, com
vistas às eleições governamentais israe-
lenses, marcadas para o final deste mês
(Begin e Peres são candidatos).
Agressão criminosa
com fins eleitorais
para Menahen Begin
roteiro
Peres revelou ainda que Mitterrand,
seu amigo pessoal, concordara em res-
tringir as atividades nucleares franco-
iraquianas, e que, se Begin não tivesse
precipitado as coisas, voltaria a conver-
sar com Mitterrand, para cobrar-lhe a
promessa. Peres afirma que, com certe-
za, até setembro o reator do Iraque não
estaria carregado.
_O cínico
terrorismo
de Begin
Após bombardear a usina nu-
clear iraquiana, o governo de
Israel apresentou seu ataque
terrorista Como uma ação de
"legítima defesa". Isto: porque
"tinha informações". de que
a intenção dos iraquianos
era fabricar bombas nucleares,
que seriam lançadas contra o povo de
Israel.
Esta argumentação é, ao mesmo
tempo, perigosa e cínica. Seguindo a
mesma linha de raciocínio de Mena-
hen Begin e seus pares, pode-se, sem
muito esforço, chegar à conclusão de
que os Estados Unidos teriam pleno
direito de bombardear a União Sovié
tica, por presumir que esta tem a in-
tenção de atacá-los; do mesmo modo,
a URSS teria justos motivos para
bombardear a China, e assim por
diante. Qualquer país poderia devas-
tar os seus inimigos, e cada ação fica-
ria justificada pelo cômodo estatuto
da "legítima defesa prévia", agora in-
ventado pelo governo israelense.
Mas o pior de tudo é que, segundo
especialistas americanos, o país que
mais possui armas no Oriente Médio
é o próprio Israel. Assim, aplicando a
teoria. de Begin àquela região, só
Israel é que destruiria seus inimigos.
|
MOVIMENTO 15 a 21/6/81 '

BOLÍVIA
Por trás da
de
Uma vez mais há ruído de sabres na
Bolívia; algum novo general se prepara
para encerrar sua carreira militar na ca-
deira presidencial. Será um militar pou-
co mais ou menos corrupto que o general
Luiz Garcia Meza, mais ou menos re-
pressivo, mais ou menos respaldado pelo
imperialismo e pelos governos do Cone
Sul. Durará 10 dias, três meses, um ano.
Tal como as agências apresentam" o
panorama, somente os militares decidem
o destino desse país. O povo permane-
ceria alheio a todo esse bater de botas e
tanques.
Se bem que, apesar de a esquerda
boliviana não ter ainda capacidade de
organização para capitalizar essa crise,
mantém uma resistência constante e é
um fator importante para que a ditadura
não se consolide, juntamente com as
pressões internacionais.e com o bloqueio
econômico e diplomático aos "narcofas-
cistas".
Essa mesma resistência impediu o capitalizar a crise
mestre de Garcia Meza, o ex-presidente
Hugo Banzer, de implantar uma ditadu-
ra semelhante às do Cone Sul. Não por-
que não quis, mas porque não pôde. Ele
contava com a aprovação do Pentágono,
o apoio dos países vizinhos, o respaldo da
burguesia agroexportadora e financeira e
durante seu governo as matérias primas
exportadas pela Bolívia tiveram os pre-
ços mais altos de sua história (estanho,
petróleo e gás). Ainda assim, durante
seus sete anos de governo teve que
enfrentar greves nacionais de trabalha-
dores (1972, 74, 75, 76, e 78), de estu-
dantes (1973, 74, 76), protestos campo-
neses (Massacre de Tolata, 1974). So-
mente em 1976 as tropas conseguiram
penetrar nas minas, consideradas "re-
publiquetas livres", depois de uma greve
geral de 25 dias, que fracassou.
Em 1977, pressionado pela adminis-
tração Carter, Hugo Banzer convocou
eleições "controladas". A resposta do
MOVIMENTO152 --
BR DFANBSB
e
4
troca
jc...
povo foi uma massiva greve de fome
(1.500 em todo o país e 300 bolivianos
exilados em capitais européias e latino-
americanas), manifestações, piquetes,
greves de mineiros e operários e o deci-
dido apoio da Igreja, até que se arrancou
a Anistia Geral e Irrestrita. Com essa
ofensiva, as eleições de 1978 tiveram de
ser fraudadas para a esquerda não ven-
cer por ampla maioria.
A ofensiva se repetiria em 1979 e em
1980, mas os militares negaram-se a
entregar a presidência aos civis (não o
poder, que eles continuariam mantendo
com a força das armas) e se sucederam os
golpes de Perenda, Natusch Busch e
Garcia Meza, nenhum dos quais logrou
consolidar-se.
A esquerda ainda não
tem organização para
Nos anos de "abertura democrática"
ficou evidente que no país havia duas
forças polarizadas: as Forças Armadas e
a Central Operária Boliviana, COB, que
agrupava todos os partidos de esquerda
representados por seus quadros sindi-
cais: mineiros, operários, da construção,
bancários, professores, estudantes, etc).
Foi a COB que organizou a resistência
ao golpe de novembro de 1979 e lhe deu
um caráter préinsurreicional diante da
incapacidade e das contradições da
frente política. É a COB que alerta a
opinião pública para os preparativos gol-
pistas e é declarada "inimigo número
um "* das Forças Armadas. Alguns gene-
rais desafiam para duelos os dirigentes
operários. É a COB que preside e or-
ganiza o Comitê de Defesa da Demoecra-
cia, CONADE, que agrupa o Parlamento
Nacional, as igrejas, todas as associações
AAA, * ,
ricardo Malta/AF-4
Como se
organizou a
Frente Unica
Em dezembro de 1980, a direção da COB
(Central Operária Boliviana), ainda clan-
destina, concitou os partidos de esquerda
a formar uma frente úriica e abandonar
osectarismo eas críticas destrutivas; ela:se
ofereciacomo liderança dessafrente apro-
veitando a unidade dos partidos e de prole-
tários, camponeses e estudantes em seu
seio. Depois de três meses de discussões e
após receber muitosgolpes (entre eles o as-
vassinato de 9 dirigentes nacionais da
UDP na clandestinidade), os partidos de-
ram um primeiro passo unitário: a reor-
ganização do CONADE, (Comité de Defe-
sa da Democracia), dando-lhe um conteú-
do ofensivo e não simplesmente defensivo,
"O CONADE reorganiza sua direção
nacional, a liderança da COB, adota uma
estrutura de maior capacidade executiva
para canalizar a resistência de todos os ci-
dadàãos contra os fascistas e ao mesmo
tempo mobilizar asforças sindicais e polí-
ticas do país para conseguir a restituição
das liberdades democráticas, sindicais e
políticas, vigência da autonomia universi-
tária, devolução das emissoras de rádio
sindicais e religiosas, liberdade para todos
os presos políticos, retorno dos exilados,
por um aumento geral de soldo e salários,
salário mínimo. vital com escala móvel,
pela derrubada da ditadura fascista e
abrirum caminho até um processo revolu-
cionário, democrático, popular e antiim-
perialista. Nessa luta convergem a classe
operária, camponeses, a pequena burgue-
sia, os intelectuais e religiosos identifica-
dos com a causa do povo". Esse é o pará-
grafo principaldo documentofirmado pe-
lo Partido Comunista (tendência soviéti-
ca), pelo PO "Combate" (trotkistas) o
profissionais, além dos sindicatos, de or- MNR de Esquerda, o Partido Socialista, o
ganizações de mulheres, de direitos hu- PRIN o MRTK (camponeses) e os "inde-
manos. etc.) É o único que trata de con- pendente".
seguir armamento através de sua secre- Esse parágrafo demonstra que os traba-
taria de "defesa armada", que havia an- lhadores bolivianos não apóiam o golpis-
tigamente organizado as milícias operá- mo, nem uma simples troca de guarda,
rias e camponesas. Teve que assumir pa- mas aproveitam a debilidade do regime e
péias de partido político, ante a incapaci- suas contradições para avançar no proces-
dade da esquerda de organizar uma so revolucionário.
frente única reclamada pelas bases em É a resposta a certa esquerda "nucional"
diversos congressos de trabalhadores e que apóia o golpismo e um governo de
que se empenhou nas campanhas eleito- transição dos militares, comoforma de re-
rais sem preparar a resistência ao golpe solver a grave crise econômica boliviana.
evidente.
Por isso, a primeira ação dos golpistas
de 17 de junho foi a tomada da COB, on- tou o triunvirato que lhe ofereceu Na-
de estava reunido a CONADEe a prisão tusch Busch, nem co-governar com Lidia
de seus dirigentes. Somente algumas Gueiler.
horas mais tarde tomam o palácio do
governo. Sem direção e sem armas, a
Embora não seja a mesma coisa um go-
verno de militares fascistas e outro de
resistência é espontânea e heróica, mas
militares "institucionalistas", os traba-
cede após 6 dias de greve geral. Só os mi-
neiros resistem 10 dias mais. O movi-
lhadores bolivianos desconfiam dos mili-
tares. É o caso do major Rubem Sanches,
mento operário e popular opta por uma
retirada tática que preserva sua integri-
que logo depois de ser aprisionado e
dade. Em apenas dois meses consegue
doutrinado por Che Guevara, passou
reconstituir todas as direções na clandes-
para o ELN (Exército de Libertação Na-
tinidade. Genaro Flores, camponês, fica
cional), e muitos companheiros suporta-
à frente da COB e Artemio Camargo (as-
ram torturas para não delatar seu es-
sassinado a 15 de janeiro) na direção da
conderijo, mas depois ele apoiou o golpe
Federação dos Mineiros, FSTMB.
de Garcia Meza, em troca deser read-
Assim, foram organizadas as primeiras
mitido no exército. Os institucionalistas
que deram o golpe em novembro de
greves de mineiros (Huanuni, Século XX,
Bolívar) e a greve geral de 48 horas que
1978, embora tenham convocado eleições
paralisou o país entre 12 e 13 de janeiro e
enão patrocinassem repressões, negaram-
que teve êxito, apesar de dirigida da
-se a retirar as tropas das minas como
pedia a COB.
clandestinidade.
A COB tem como princípio fundamen- Os setores da esquerda que cpoiavam
tal a "independência de classe" e por uma aliança com os militares, termina-
isso não apââ nenhum militar nem ram como golpistas (ALIN, Outubro,
um democrata - burguês. Em sua "tese alguns do MNR-I e da UDP).
Política" ratificada em cinco congressos, Não é o mesmo o caso dos oficiais in-
assinala que só respaldará um governo feriores e soldados que desertam e
de trabalhadores. Por isso não aceitou os passam para a fileiras do povo, às vezes
ministérios que lhe foram oferecidos roubando armas e munições, ou o caso
pelo nacionalista Gal. Juan José Torres, da polícia que em 1971 entregou armas à
em 1971, e formou o poder-dual através COB e em 1979 colocou-se às suas
da Assembléia Popular. Tampouco acei- ordens.
15 ri

Brejnev
Com esclusividade, a carta de
Datada de 5 de junho de 1981, o
Comitê central do PC da União
Soviética enviou uma carta à direção
do PC polonês, em que apresenta
umasérie de advertências. Os.sovié-
ticas afirmam que os fatos em curso
na: Polônia atendem a interesses
imperialistas estrangeiros, [3]
consideram que há uma ameaça à
independência polonesa e à coesão
da "comunidade socialista". O PC
polonês (POUP) é concitado a "*rever-
ter o curso dos acontecimentos",
utilizando para isso, entre outras
medidas, o "reforço da autoridade"
dos órgãos de segurança.
Essas advertências surgem no
bojo de uma crise em que estão cla-
ramente colocadas as
possibilidades de uma intervenção
soviética na Polônia. De conformi-
dade com seu programa, que se
posiciona a favor da independência
e da autodeterminação dos povos,
Movimento denuncia essas pres-
sões soviéticas e se coloca firme-
mente contra qualquer tipo de inter-
venção, pressões e ameaças.
A carta do PCUS ao POUP, não foi
divulgada oficialmente nem na UR:-
SS nem na Polônia. Uma cópia dela
foi obtida pelo correspondente do Le
Monde em Varsóvia. Movimento
apresenta a seguir o texto integral da
carta, um importante documento:
para que os leitores possam compre-
ender a evolução da questão polone-
"Prezados camaradas, o Comitê Central
do Partido Comunista da União Soviética se
dirige a vocês, através desta carta, sentindo
uma profunda inquietação quanto à sorte do
socialismo na Polônia e quanto à Polônia
como país livre e independente.
Como membros do partido, nossa atitude
é determinada, pelo interesse que temos
nos problemas do partido dos comunistas
poloneses, da nação-irmã polonesa e da
Polônia socialista como parte integrante do
Tratado de Varsóvia e do Conselho de As-
sistência Econômica Mútua (Comecon). Os
comunistas soviéticos e poloneses têm lu-
tado ombro a ombro no combate ao fas-
cismo e estão ligados durante todos os
anos do após-guerra. Nosso partido e o povo
soviético têm ajudado os camaradas polo
neses na construção de uma nova vida. E nós
não poderiamos ficar indiferentes diante do
16
"-" BR DrANBSé
POLÓNIA
dá
Brejnev aos poloneses, na integra
perigo mortal que ronda atualmente as
conquistas revolucinárias da nação polone-
sa.
Nós declaramos abertamente: certas ten-
dências no desenvolvimento da República
Popular da Polônia, em particular no campo
da ideologia e da política econômica de sua
direção anterior, já haviam provocado nossa
inquietação durante vários anos.
De pleno acordo com o espírito das
relações existentes entre o PCUS e o POUP,
temos advertido os dirigentes em conversa-
ções do mais alto nível. Infelizmente,
nossas advertências amigáveis, como tam-
bém as declarações profundamente críticas
no seio do próprio POUP, não foram levadas
em cosideração e até mesmo ignoradas. Em
consequência, uma grave crise eclodiu na
, Polônia, estendendo-se a toda a vida política
e econômica do país.
A mudança de toda a direção do POUP; o
esforço desenvolvido para reforçar a demo-
cracia socialista e para corrigir os graves
erros ligados à violação das regras da cons-
trução de socialismo, a fim de readquirir a
confiança das massas; e, antes de tudo, a
confiança da classe operária no partido,
todas essas medidas encontraram nossa
plena compreensão.
Desde os primeiros dias da crise, julgamos
importante que o partido se oponha de forma
decidida às tentativas dos inimigos do socia-
lismo de tirar vantagens das dificuldades sur-
gidas como vistas a seus objetivos de longo
prazo. Porém isso não foi feito. As conces-
sões incessantes às forças anti-socialistas
e às suas exigências têm levado o POUP a
recuar, passo a passo, sob a pressão da con-
tra-revolução interna, que encontra apoio jun-
to a centros estrangeiros imperialistas.
Atualmente, a situação, além de perigosa,
conduz o país a um ponto crítico. Não é mais
possível fazer-se outra avaliação. Os
inimigos da Polônia socialista não se escon-
dem e, o que é pior, não escondem suas in-
tenções. Eles combatem pelo poder, e já o
estão conquistando. E vão adquirindo o con-
trole de uma posição após outra. A contra-
revolução usa a ala extremista do Solidarie-.
dade como ponta de lança. Escarnecendo-os,
ela arrasta os operários que participam de
um sindicato profissional para um complô
criminoso contra o poder popular. Desenvol-
ve-se uma onda de anticomunismo e de anti-
sovietismo. As forças imperalistas promovem
tentativas cada vez mais audaciosas de inge-
rência nos assuntos internos da Polônia.
O sério perigo que pesa sobre o socialismo
na Polônia constitui igualmente uma ameaça
para a existência mesma do Estado polonês
independente, Se o pior acontecesse, e os
inimigos do socialismo chegassem ao poder,
se a Polônia não contasse mais com a defesa
dos países socialistas, então as mãos ávidas
do imperialismo se lançariam sobre ela.
Quem, nesse caso, poderia garantir a in-
dependência, a soberania e as fronteiras da
Polônia enquanto Estado? Ninguém.
Vocês devem ter em mente, camaradas, o
encontro dos dirigentes dos partidos irmãos
da comunidade socialista, ocorrido em
Moscou em 5 de dezembro de 1980. Em 4 de
março de 1981, realizaram-se as conversa
ções da direção soviética com a delegação
do POUP presente no 26o Congresso do
PCUS. Em 23 de abril deste ano, uma dele-
gação do PCUS reuniu-se com a totalidade da
direção polonesa. No curso desses encon-
tros, como também em outros contatos, ex-
ternamos nossa crescente inquietude diante
do comportamento das forças contra-revolu-
cionárias na Polônia. Falamos da necessida-
de de eliminar a confusão dentro das fileiras
do POUP, de defender decididamente os seus
quadros contra os ataques dos inimigos, e
de defender o poder popular lutando como
um só homem.
Emparticular, chamamos a atenção para o
fato de o adversário ter colocado sob seu
controle os meios de informação de massa
que, pelo seu grande número, transformaram-
D'
a carta...
se em instrumento das atividades anti-socia-
listas e são portanto utilizados para minar o
socialismo e decompor o © "tido. Chama-
mos a atenção para o fato de que não se ven-
ceu a luta pelo partido, tanto que a imprensa,
o rádio e a televisão trabalham não para o
POUP, e sim para seus inimigos.
Defendemos com vigor a necessidade de
reforçar no país a autoridade dos organismos
de ordem pública e do exercito, e de defendê-
los contra as ambições das forças contra-
revolucionárias. Deixar aproximar-se do
sucesso as tentativas de caluniar e decom-
por os órgãos de segurança, da milícia e do
exército implica praticamente o desarma-
mento do Estado socialista e seu abandono à
mercê de seus inimigos de classe.
Desejamos sublinhar que, em todas as
questões abordadas, S. Kania, W. Jaruzelski
e os outros camaradas poloneses declara-
ram-se de acordo com nossos pontos de
vista. Porém, na prática, nada mudou, e não
se introduziu qualquer retificação na política
de concessões e compromissos. Cede-se
uma posição após outra, sem levar em conta
os documentos das últimas reuniões plenas,
que constatam uma ameaça contra-revolu-
cionária. Até o presente, nenhuma medida
prática foi tomada, nem se designam dire-
tamente os organizadores da contra-revolu-
cão.
Nos últimos tempos, a situação no seio do
próprio POUP também tornou-se objeto de
preocupação particular. Não falta muito mais
de um mês para o Congresso. Apesar disso,
â0 as forças hostis ao socialismo que estão
z mais dando o tom da campanha
| . Não serão raras as pessoas escolhi
das ao acaso, que defendem abertamente
pontos de vista oportunistas, que entrarão
para as direções locais do partido e partici-
parão como delegados das Conferências e do
Congresso. Este fato não pode deixar 'de
inquietar. Como resultado das múltiplas ma-
nipulações dos revisionistas e oportunistas,
inimigos do POUP, ativistas experimentados,
plenamente devotados à causa do partido, e
donos de uma reputação irreprochável, são
postos no isolamento.
O fato de, entre os delegados eleitos para
o. próximo Congresso, encontrar-se um
núcleo extremamente débil de comunistas
provenientes do meio operário também
preocupa profundamente. O curso dos prepa-
rativos para o Congresso é conturbado pelas
autodenominadas "estruturas horizontais",
que constituem o instrumento de destruição
do partido, utilizado pelos oportunistas para
10 C resso as pessoas que lhes
são indispensáv seus trabalhos
no sentido que lhes favoreça.
Não se pode excluir que, no decorrer do
próprio Congresso, pode-se tentar um golpe
decisivo contra as forças marxistas-leninis-
tas do partido, a fim de liquidá-las.
Queremos dizer, que, em particular depois
dos últimos meses, as forças da contra-re-
volução difundem ativamente o anti-sovietis-
mo de todos os tipos, destinado a apagar os
resultados da atividade de nossos dois par-
tidos, e a ressuscitar os sentimentos nacio-
nalistas e anti-soviéticos nas diferentes
camadas da sociedade polonesa. Esses
caluniadores e mentirosos não recuam dian-
te de nada. Eles sustentam que a União
Soviética, nas palavras deles, "saqueia a
Polônia". Ao dizerem isso, não levam em con-
ta o fato de que a União Soviética forneceu e
fornece uma enorme ajuda material suple-
mentar neste período difícil. Dizem isto do
país que, com suas vendas de petróleo, de
gás, de minérios, de algodão, a preços uma
vez e meia mais baixos que os preços mun-
diais, de fato aprovisiona os principais ramos
da indústria polonesa.
Respeitáveis camaradas: ao nos dirigirmos "
a vocês através desta carta, move-nos
apenas a inquietação com a situação da
Polônia irmã e com as condições e perspec-
tivas futuras da cooperação soviético-
polonêsa. Em um grau não menos elevado,
estamos, do mesmo modo que os partidos
irmãos, preocupados com o fato de que a
ofensiva das forças anti-socialistas inimigas
na República Popular da Polônia ameaçam
os interesses de toda a nossa comunidade,
sua coesão, sua integridade e a segurança de
suas fronteiras. Sim, nossa segurança
comum.
A reação imperialista apóia e estimula a
contra-revolução polonesa e não dissimula
sua esperança de mudar em seu favor o
equilíbrio de forças na Europa e no mundo. O
imperialismo utiliza ativamente a crise
polonesa para caluniar o sistema econômico,
os ideais e os principais do socialismo. Ser-
vem-se dela para novos a ataques ao
movimento comunista internacional.
Assim não repousa sobre o POUP somente
uma responsabilidade histórica com a sorte
de seu próprio país, sua independência, seu
progresso, pela causa do socialismo na
Polônia. Uma enorme responsabilidade pelos
interesses comuns da comunidade
socialista repótisa igualmente sobre vocês,
camaradas.
Estimamos que existe ainda a
possibilidade de não se chegar ao pior e de
evitar uma catástrofe nacional. Dentro do
POUP há muitos comunistas honestos e
decididos, prontos a combater em atos pelos
ideais do marxismo-leninismo, pela Polônia
independente. Na Polônia há númerosas
pessoas devotadas isa do socialismo. A
atiraram por engano às
igo -, feitas todas as
reflex C
Trata-se agora de m
saudáveis da sociedad
ersário de class
vontade revolucionária do
militantes e de sua direção.
direção. O tempo nãoespera. O partido pode
e deve achar em si mesmo as forças para
reverter o curso dos acontecimentos e, antes
mesmo do Congresso, conduzi-los ao bom
caminho.
* Queremos ter a convicção de que o Com-
mitê Central do partido comunista da
Polônia, irmão, saberá colocar-se à altura de
suas responsabilidades históricas! Assegu-
ramo-lhes, camaradas, que nestes dias difí-
ceis, como sempre o fomos no passado o
CC do PCUS, todos os comunistas soviéti-
cos e toda a nação soviética estão solidá-
rios com a luta de vocês. Nosso ponto de
vista foi exposto com precisão na declara-
|
ção do camarada L.L. Brejnev
do 26o Congresso do PCUS:
mos que prejudia
abandonaremos
ais irmão".
MOVIMENTO 15 a 21/6/81

LIVROS
FICÇÃO :
Retratos
sensíveis
e cáusticos
O BEIJO DA MULHER ARANHA -
Manuel Puig. Editora Codecri, Rio
de Janeiro, 1980. 246 p.
THE BUENOS AIRES AFFAIR-
Manuel Puig.Editora Codecri, 1981.
218 p.
A classe média argentina,
com seus tabus sexuais e o
contraste entre uma existência
cinzenta e sonhos de ascensão
em tecnicolor, encontrou um
grande cronista em Manuel
Puig.
Em The Buenos Aires Affair,
agora reeditado no Brasil, Puig
retrata a solidão sexual de Gla-
dys Hebe e Leopoldo e sua
luta febril em busca do status
social. E o faz numa montagem
de estilos e experiências narrati-
vas que talvez só encontrem
paralelo na literatura latino-
americana, em Vargas Llosa. O
Beijo da Mulher Aranha relata o
diálogo fantástico entre o ho-
mossexual Molina, preso por
corrupção de menores, e o preso
político Valentin, na pequena
cela que dividem.
Em ambos os livros, a influên-
cia do cinema é clara -- Puig
trabalho algum tempo como as-
sistente de direção. No primeiro,
o neo-realismo de algumas pas-
sagens, propositalmente sim-
ples e repetitivas, vai de encon-
tro ao mundo hollywoodiano
dos trechos de filme que abrem
cada capítulo. Em O Beijo, o
isolamento dos dois prisionei-
ros é compensado pela memória
exata de Molina, que enche a
cela com longas lembranças dos
filmes que assistira.
Mas, o que ressalta em Ma-
nuel Puig não é o domínio do
estilo. Como num quebra-cabe-
ças, o cotidiano de seus perso-
nagens vai sendo montado para
resultar num retrato sensível e
humano, embora cáustico. E é
nos personagens femininos -
Molina, Gladys Hebe - que
Puig penetra com. mais huma-
nismo.
Como pano de fundo, apenas
delineada, a realidade política
argentina condiciona os aconte-
cimentos dos dois romances.
Aliás, The Buenos Aires Affair foi
proibido na Argentina de 1973,
por criticar, de passagem, a fi-
gura de Perón. A justificativa:
pornografia e obscenidade. Foi
também o único livro a ser cen-
surado na Espanha, após a morte
de Franco.
João Roberto Martins
Puig: cronista
da classe média
MOVIMENTO 15 a 21/6/81
É ia 9
PESQUISA
Sexo na adolescência:
povoado
As respostas de 600 jovens sobre o sexo
A - e certamente de maneira deformada e
SEXUALIDADE NA ADOLESCENCIA - Aaron
Hass. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janei-
ro, 1981. 240 p.
No Brasil, entre professores progressistas, a
educação sexual é um tema doloroso, difícil de
ser tratado e entendido, recoberto por camadas e
camadas de tabus inventados por uma moral
conservadora. E não é para menos: pouco se
sabe, por exemplo, do comportamento sexual
dos jovens adolescentes. Suas angústias. Seus
medos. Seus prazeres. O que acaba acontecendo
- regra geral -- é enquadrá-los nos mesmos
esquemas repressivos em que fomos educados.
E dessa maneira reproduzir os mesmos precon-
ceitos que mantêm grande parte das pessoas
distanciadas de seu próprio corpo, absolutamen-
te ignorantes de uma sexualidade saudável e
aberta. a mesmo "suja" e que portanto não precisa ser
A pesquisa Sexualidade na Adolescência do
psiquiatra americano AAro Hass, que dirige a
Clínica Americana de Sexualidade da Universi-
dade da Califórnia, editada recentemente no
Brasil é uma importante contribuição para o
debate sobre a educação sexual nas escolas, que
tem-se mostrado particularmente difícil.
Realizado durante o ano de 1979, Sexualidade
na Adolescência baseou-se em questionários e
entrevistas pessoais com cerca de 600 rapazes e
garotas americanos, de 15 a 18 anos. Procurando
compreender os conceitos dos jovens a respeito
dos principais momentos e da sexualidade, a
pesquisa reflete um universo relativamente dis-
tante dos estereótipos que se costuma utilizar
para falar de sexo aos jovens.
Qual a importância do sexo na adolescência?
A idéia de que o jovem adolescente "pensa em
sexo o tempo todo", e portanto deve ser
severamente admoestado sobre isso, muito
arraigada nos meios conservadores, revela-se
claramente falsa. Praticamente iniciando a pes-
quisa foi feito aos adolescentes o seguinte
pedido: classifique as seguintes atividades na
ordem de importância que elas têm para você:
progredir nos estudos; manter amizades com o
sexo opsoto, manter relações sexuais com
alguém; praticar esportes, ter um envolvimento
muito romântico com alguém.
Surpreendentemente, tanto as meninas como
os rapazes, colocam o item "manter relações
sexuais" em último lugar entre as seis opções
apresentadas, dando primazia a "progredir no
estudo", "manter amizades com pessoa do
memo sexo", "praticar esportes" etc.
A partir daí a pesquisa procura aprofundar a
compreensão do motivo e das expectativas dos
jovens em relação ao sexo, ao companheiro
ideal, à masturbação, ao sexo oral, à homose-
xualidade. E o que se vai descobrindo ao longo
das respostas é um universo cheio de receios e
mitos, cheio de incompreensões e más explica-
ções.
Meninos e meninas acabam aprendendo mais
BR DFANBSB V8.GNÇ AAA, * (
de receios
opressiva - em revistas pornográficas e em
conversas de esquina, do que com pais ou
professores, que aliás são vistos pela maioria
dos adolescentes entrevistados como os últimos
a serem consultados sobre suas dúvidas, como
diz por exemplo uma menina de 16 anos:
"Meus pais nunca falaram de sexo comigo. Pa-
receram aliviados que eu tivesse aprendido a res-
peito do processo com amigas. Minha mãe me
disse certa vez, que se eu precisasse de controle
de maternidade te-lo-ia, mas que ela não queria
ficar sabendo".
"Não ficar sabendo", ignorar, fazer de conta
que não existe, Essa tem sido, na verdade, a ati-
tude de pais e educadores, refletindo uma
tendência da sociedade tradicional, que consi-
dera o sexo alguma coisa "pessoal" ou até
discutida, nem aprendida nas escolas.
Murilo Carvalho
REPORTAGEM
Além do samba
e do carnaval
FAVELA - RESISTENCIA PELO DIREITO DE VI-
VER - Guida Nunes. Editora Vozes, Petrópolis,
1980. 168 p.
Juntamente com a crônica do carnaval, os
muitos filmes e sambas que foram feitos sobre
as favelas do Rio de Janeiro contribuiram para
fixar a imagem de vida boa e mansa de seus
habitantes. Imagem falsa, que não tem nada a
ver com o duro sentido que esses operários,
domésticas, biscateiros e isubempregados em
geral que moram nas favelas, dão não só para
ganhar a vida como também para defender seu
direito de morar.
O livro de Guida Nunes, Favela __ resistência
pelo direito de viver traça a história dessa luta,
atravessando um período que vai do final do
Estado Novo até nossos dias. Através de
entrevistas com favelados, padres, freiras, estu-
dantes, sociólogos, professores, médicos, ar-
quitetos, ela reconstitui uma história que abarca
coisas aparentemente pequenas, como a luta por
bicas d'água e pela urbanização dos morros, até
os congressos de favelados, suas organizações
gerais, a luta contra os políticos profissionais e
contra as remoções, que se intensificaram
depois do golpe de 1964.
Essa história toda é reconstituída dando voz
ao favelado, e isso, embora seja uma das
grandes qualidades do livro, parece responsável
pela falta de uma reflexão crítica da autora sobre
a experiência relatada, que poderia enriquecer o
livro e facilitar sua leitura.
José Carlos Ruy
POLÍTICA
Análises
incoerentes
da democracia
A QUESTÃO DA DEMOCRACIA - Vários
autores. Co-editado pela Paz e Terra é
Cedec, Rio de Janeiro/ São Paulo, 1980. 172 p.
A influência crescente das tendências
social-democrata e'eurocomunista sobre
os intelectuais oposicionistas brasileiros
fez com que renascesse, em nossos circu-
los de esquerda, um velho conceito: o
Conceito de "democracia em geral". As
conhecidas formulações de Eduard Berns-
tein, Karl Kautsky e Max Adler sobre a
"democracia política" reapareceram, com
novas roupagens ou não, em numerosos
artigos, textos políticos etc. A concepção de
Lênin (definição das instituições democráti-
cas dos países capitalistas como democra-
cia burguesa, isto é, como forma particular
de organização do Estado burguês) passou
a ser qualificada como "estreita"; e isto, a
despeito de Lênin avaliar com cuidado as
possibilidades de ação proletária no quadro
das instituições democráticas burguesas e
de reconhecer a maior amplitude da demo-
cracia burguesa com relação às democra-
cias pré-burguesas (escravista antiga, me-
dieval).
Essa tendência antileninista é o aspecto
predominante na coletânea A Questão da
Democracia. Cabe, entretanto, ressalvar
que alguns dos artigos ai reunidos apresen-
tam um grau reduzido de coerência interna e
resiste;n, por isso, a uma caracterização
taxativa. O melhor deles é, sem dúvida, o
ensaio do norte-americano Alan Wolfe
sobre "As contradições do capitalismo
avançado". Nele, o autor, depois de uma
confusa teorização sobre a "democracia em
geral", empreende uma discutível porém
interessante análise sobre o que qualifica
como quatro fatores de deterioração da
democracia nos países capitalistas avança-
dos: internacionalização do capital, cresci-
mento da divisão internacional do trabalho,
desacumulação nos países centrais, e des-
legitimação.
O artigo de | Teotônio dos Santos se limita
a estabelecer, com escassos argumentos,
que a revolução tem duas fases nos países
dependentes; democrática e antiimperialis-
ta, socialista propriamente dita. Igualmente
superficial é o artigo de Herbert de Souza
que, ao analisar a luta democrática no Brasil
atual, limita-se a estabelecer a distinção
entre oposição liberal e oposição democrá-
tico-popular, para, a seguir, postular como
necessária da oposição liberal na atual fase
de luta.
O artigo de Pablo Casanova sobre "A
reforma política no México" é prolixo não
contém informações suficientes sobre a
reforma política de 1978, desconhecida pela
maioria do público leitor brasileiro.
Em entrevista sobre a luta socialista na
América Latina, o argentino Ernesto Laclau
critica genericamente todas as experiências
de luta armada no continente e reafirma sua
filiação às teses eurocomunistas, embora
avançando pouco no campo. da reflexão
estratégica. Finalmente, em ensaio de
formato caracteristicamente acadêmico,
Marilena Chaui discorre sobre "A Questão
Democrática" (em geral). Embora contenha
um amplissimo inventário de teóricos da
democracia, dos gregos antigos até Mac-
pherson, o texto deixa no entanto a desejar
quanto à clareza das conclusões.
Resumindo: quer pela orientação teórica
dominante, quer pela qualidade dos artigos,
o tivro em questão não é de muita valia para
aqueles que queiram aprofundar a análise
teórica da democracia burguesa e da demo-
cracia proletária (ditadura do proletariado),
bem como a análisé concreta das demaecra-
cias burguesas atuais.
Décio Saes
17

CAMPO
Aviso: governo
será o culpado
A luta dos posseiros contra o Proálcool
A diretoria do Sindicato dos Trabalhado-
res Rurais de Pitimbu, Paraiba, depois de
tomar conhecimento das arbitrariedades
que vêm sendo cometidas contra os ágricul-
tores da Fazenda Camucim, por parte da
Destilaria Tabu, vem denunciar esta situa-
ção ao público, em geral e às autoridades.
Queremos dizer que de hoje em diante o
governo é o único responsável pelo que
aparecer dentro da Fazenda Camucim. Já
estamos cansados de esperar providências.
A Destilaria Tabu, vem tentando expulsar
os agricultores de suas posses, onde moram
há muito tempo, produzindo alimentos de
primeira necessidade, para sobreviver e
JOVENS
legal
é a terra
concentrada
A Pastoral da Juventude da Diocese de
Presidente Prudente, reunida no último dia
17 de maio, debateu o Problema da Terra,
através do documento no 18 da Assembléia
Nacional dos Bispos do Brasil. Os debates,
dos quais participaram 103 jovens, de
diversas comunidades, serviram para tomar-
mos consciência de diversas situações de
injustiça relacionadas com a questão da
terra no Brasil e particularmente em nossa
região. Á os atingiu. As razões da greve estão
Eis alguns fatos e idéias levantados na
reunião:
- muitas das grandes propriedades
brasileiras estão em poder de poucos, mal
distribuidas, ou dominadas pelas multina-
cionais e seus projetos fabulosos, como o
Jari, reconhecidos por um governo que não
foi eleito pelo povo,
- aos olhos do sistema é ilegal greve de
trabalhador, mas não é ilegal a má distribui-
ção das terras, não é ilegal a existência de
10 milhões de agricultores sem terra e a
não-realização da reforma agrária.
Ao final, foram tiradas do encontro
algumas reivindicações: 1) aplicação das
leis, para todos aqueles que cometem des-
mandos e arbitrios contra os trabalhadores;
2) uma justà distribuição agrária; 3) melho-
res salários, para todos os trabalhadores; 4)
aplicação do Estatuto da Terra; 5) criação de
lhadores, possibilitando maior consciência
aos bóias-frias e demais trabalhadores
rurais.
Pastoral da Juventude _. Presidente
Prudente - SP
18
#1
BR DFANBSB VB8.GNÇ;AAA, P.!
abastecer o município de Pitimbu. A Desti-
laria Tabu, financiada pelo Proáleoo!l, quer
de qualquer maneira ampliar o plantio de
cana-de-açúcar, ameaçando os agricultores
até de morte.
Já faz dois que os agricultores vêm
reclamando uma providência e apelando
para a Justiça. Mas nada foi feito. E
enquanto isto a Tabu continua se aprovei-
tando da Força Pública para novas ameaças
físicas e destruição das lavouras.
As autoridades serão responsáveis pelo
que acontecer de hoje em diante.
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Pitimbu __ Paraíba
PRESOS POLÍTICOS
Anunciando
greve de fome
em Portugal
Os presos políticos
antifascistas de
Portugal anunciam
que entrarão em
greve de tome por
tempo ilimitado no
'dia 20 de junho,
data que marca os
'três anos da grande
vaga repressiva que
expostas numa carta que dirigiram aos
meios de comunicação (aplicação imediata
da anistia a todos os presos condenados por
"crimes exclusivamente políticos", confor-
me a lei da anistia; julgamento do processo
das sevicias que sofreram, instaurado há
três anos eaté hoje sem resultado; a anulação
de todos os julgamentos onde foram pro-
nunciadas condenações, devido às ilegali-
dades cometidas).
Toda a responsabilidade pelo que possa
ocorrer cabe exclusivamente ao Poder Polí-
tico e Judicial, que Se tem mantido Indife-
rente à existência da Lei da Anistia de 1979,
multiplicando a prática de ilegalidades para
mantê-los na prisão.
Mas a vitória só é possível pelo desenca-
dear da mais ampla solidariedade. Dai o
nosso apelo para o seu desenvolvimento,
quer pela divulgação da situação dos presos
políticos do "Caso PRP", envio de fundos,
alerta de organizações nacionais e interna-
cionais-de defesa dosDireitos - do-Homem,.. ..... AmandaPerezEsquivel-- Espanã 890. -
quer por outras ações concretas. Esta
Comissão apela à vossa solidariedade.
Comissão Nacional de Solidariedade e
Luta pela Libertação dos Presos Políticos
Antifascistas __ Lisboa __ Portugal.
TRIBUNA LIVRE
BD €)
nova constituição
Leitores defendem a Constituinte
tual
uma modificação meramente jurídica, que
em nada alterária a situação da grande
maioria da população.
Mesmo concordando em que a Consti-
ras, vamos procurar mostrar o que ela
pode representar para o povo brasileiro.
Todos nós sabemos que o sistema que
ai está interessa apenas a uma parcela
ínfima da população brasileira e às multi-
nacionais, que controlam cada vez mais as
riquezas produzidas pelo nosso povo e
ainda recebem todo o apoio econômico do
governo. A atual política governamental
gera miséria e falta de serviços públicos,
tais como escolas, hospitais, redes de
água e esgoto. Gera também a falta de
crédito para os pequenos produtores do
campo e péssimas condições de vida para
a grande massa oprimida e carente.
Enquanto este governo autoritário con-
trolar a vida da nação a ferro e fogo e não
tivermos liberdade de organização; en-
quanto os sindicatos não forem livres para
defender os direitos dos trabalhadores;
enquanto o governo continuar desmarcan-
do eleições, com medo de novas derrotas;
enquanto, enfim, não houver democracia,
essa situação de riqueza para poucos e
miséria para muitos se manterá.
Assim, devemos tomar consciência de
que não basta lutar apenas economica-
mente, contra o aumento do custo de vida,
por melhores salarios etc. É preciso lutar
também politicamente, levantando a ban-
deira das liberdades democráticas, por-
que um povo livre e organizado tem muito
mais força para lutar.
As leis que existem foram feitas para
ajudar os exploradores. Precisamos, antes
de tudo, mudar a lei mais importante, à
qual todas as outras estão subordinadas:
a Constituição. Mas, para que ela atenda
aos interesses do povo, terá que ser feita
por pessoas que defendam este povo, que
DIREITOS HUMANOS
Um apelo:
cartas para
Prêmio Nobel
Neste momento, a crise econômica está
provocando um recrudescimento da repres-
são na Argentina, contra todos aqueles que
lutam em favor dos Direitos Humanos.
Dentre os perseguidos e ameaçados está o
nosso irmão e companheiro Adolfo Perez
Esquivel, Prêmio Nobel da Paz/80, sua
família e toda a equipe do Serviço Paz
Justicia.
A direção do Secretariado Nacional de
Justiça e Não-Violência vem por meio desta
carta convidar todas as pessoas a cerrar
fileiras, a nivel individual ou do grupo a que
pertençam, em defesa desses irmãos injus-
tamente perseguidos. Decida vocêmesmo ou
com seu grupo, a melhor maneira de parti-
cipar: 1) enviando carta ao Adolfo e família
com cópia para este Secretariado e ao Ser-
viço; 2) enviando carta ao Consulado da Ar-
gentina, emsua cidade; 3) manifestando-se
através da imprensa e outros meios de
comunicação.
Os endereços são estes: 1) Adolfo e
San Isidro - Buenos Aires - Argentina; 2)
Servicio Paz y Justicia - México 494 -
cod 1097 - Buenos Aires - Argentina; 3)
Secretariado Nacional __ Av. Ipiranga, 1267
- 9o andar - Cep 01039 - São Paulo.
[]
serão o pontofinal daslutasdo-povo;-nem-|-
trarão imediatamente a solução de todos
os problemas da grande maioria da popu-
lação. Porém, serão passos importantes,
podendo o povo defender melhor seus
oder-se-ia argumentarqueasimples
mudança de leis não significa que
serão cumpridas, necessariamente.
Porém, se o povo estiver conscien-
te, organizado e mobilizado a ponto
EEESA 35 exigir e conseguir a convocação
de uma Assembléia Nacional Constituin-
te, livre e soberana, contra a vontade dos
donos do poder, este povo terá condições
não só de fazer com que melhorias
politicas e sócio-econômicas estejam ins-
critas na Constituição, como também que
as mesmas lhe sejam asseguradas de
fato.
Podemos crer que a campanha em
defesa de uma Constituinte é um fator
importante de conscientização, organiza-
ção e mobilização do povo. Cremos que
essa campanha traria ao povo um alto grau
de consciência de sua força quando este
se une em defesa de seus direitos. E seria
também um exercício de organização e
mobilização populares, pois tal Constitui-
ção surgiria de baixo para cima, sendo
uma conquista popular.
Uma prática verdadeiramente democrá-
tica da parte dos politicos oposicionistas
supõe a conscientização e mobilização
das massas em torno da Constituinte, e
não apenas uma pregação verbal da sua
necessidade. Para que isso aconteça, tal
campanha terá que ir além dos muros das
assembléias legislativas e do Congresso,
chegando às ruas, às praças, aos síndica-
tos, às associações profissionais.
Enfim, ao trabalho.
Maria Margarida Leite Domingos __ pro-
fessora
José Álvaro Domingos __ estudante (Ara-
raquara)
PROFESSORES
Depois das
tentativas,
a associação
Levamos ao conhecimento da comunida-
de universitária e do público em geral que,
depois de vários meses de tentativas,
conseguimos fundar a Associação dos
Docentes da Universidade de Feira de
Santana, em assembléia gera! realizada em
27 de maio do corrente ano. Também já foi
eleita uma diretoria provisória para a Asso-
ciação, sob a presidência de Naidison de
Quintella Baptista, e o Conselho Fiscal,
commandatodeseismeses. __.
Neste momento estamos empenhadosna
implantação da Associação e participando
do processo de regulamentação da carreira
do magistério.
ADUPS __ Feira deSarntana __ BA
MOVIMENTO15221681;
 BROFANRSB VB.GNC AAA,

Fotos de Ennio Brauns Fo

L
Renato Tapajós, Alain Fresnot e Aluisio Raulino, três dos novos cineastas

operário Santo Dias em fins de 79 até a Alain Fresnot participa da Tatu desde mo tendo obtido verba para realizar seu res, não toi o governo! Eu tenho um

campanha salarial de 81. a sua criação há quatro meses, tra- longa-metragem "Noites Paraguaias", filme. "Teremos Infância" (prêmio dos

- O "Luta" tinha um potencial bem zendo para ela sua experiência de ou- sobre a migração de paraguaios que cineastas no Festival de Oberhausen

maior. Ele teve uma primeira experiên- tra produtora, a Acauã. vêm cantar nas noites paulistanas. em 74) que foi vetado na comercializa-

cia positiva no Congresso da Carestia A Tatu nasceu de "uma reunião - Eu tenho certeza de que "Noites Pa- ção, não pôde passar pela lei de obriga-

em Belo Horizonte, onde ficou conhe- pragmática - explica ele - com raguaias"" não será exibido correta- toriedade do curta-metragem, e está na

cido nacionalmente. Daí partiram soli- «realizadores já profissionalizados, vin- mente, porque a Embrafilme está "de- prateleira. De três em três meses "eles"

citações e ele já foi passado em as- dos de outras empresas ou não, A idéia 'marcando" o mercado. "Eles" pegam me dão mil cruzeiros, dizendo que o fil-

sociações, sindicatos e bairros até no era ter nossa própria infra-estrutura, es- "Eu Te Amo e dizem: "é isso o me ficou três dias em cartaz em

Acre, Piauí, Maranhão. Foi ele que paço, uma secretária, equipamento: cinema brasileiro", Mas isso é um Teresina, precedendo o "Kung Fu".

criou também a idéia nova de levar o poder enfrentar a crise. Nós somos fru- massacre! Essa gente está muito arro- Isso não é uma coisa que me atinge, só,

filme à porta da fábrica. tos de um mesmo filão, ligado à gante! Nós queremos trabalhar, cada atinge todo o cinema brasileiro, e nós

É significativo que as experiências de universidade (mais especificamente à um com sua tendência, beleza, mas es- , temos que cobrar.

Renato Tapajós tenham acompanhado Escola de Comunicação e Artes, que te- sa gente não quer, não quer a plurali- Quanto aos filmes ligados aos movi-

o ascenso do movimento popular a par- ve um papel importante na formação dade no cinema, e acha "*uma irres- mentos populares, Raulino tem uma

tir de 76. Outros filmes mostram tam- dessa geração -N. do R.). Era gente ponsabilidade" dar dinheiro para São visão bem particular a respeito:
bém que o cinema foi "puxado" por esse que se reuniu para produzir para o Paulo, para os novos. - É preciso que surja unia nova fase

crescimento da luta social, como o mercado, a baixo custo, garantindo a Há um ponto porém em que há no cinema, com uma nova reflexão
"Greve" de João Batista de Andrade, um sobrevivência do realizador e da produ- unanimidade absoluta entre os novos estética. Eu sou solidário com esta

curta-metragem sobre a greve dos me- ção. cineastas: as críticas não devem levar a tendência de popularização; apóio,

talúrgicos de 79 que obteve o prêmio A força que se adquire dessa maneira, um afastamento da Embraftíilme, que acho que tem de pintar, mas eu tenhoes-

especial do júri no Festival do 3.o Mun- diz Fresnot, já começa pelo simples tem uma responsabilidade para com o sa preocupação estética. Acho que na

do em Havana,. Existe também o "ABC ajuntamento das pessoas: cinema brasileiro, como explica Rau- medida em que surge uma vinculação

da Greve", um longa-metragem de - Cada um tem um círculo de conta- lino: mais política, o cinema pode se tornar

León Hiszman. tos e isso aumenta a chance de se - A Embraftilme deve ser apoiada ou utilitarista e vir a reboque da ideologia,

Finalmente, há o primeiro filme sobre conseguir trabalho. Abrem-se então vá- criticada, mas é uma coisa nossa, nós é que eu acho que não pode, chega uma

greve depois de muitos anos, o "Braços rias "frentes", tornando possível fazer que fizemos, não foi a Columbia Pictu- hora em que o cinema estoura.

Cruzados, Máquinas Paradas", com desde filmagens para o Globo Repór-

uma hora de projeção, de Roberto Ger- ter até documentários para a indústria,
vitz e Sérgio Segall. Feito em 78, co- longas-metragens e os filmes que a
brindo o movimento sindical e a greve gente quer fazer, os que, se as coisas

dos metalúrgicos desse ano, o filme foi fi- forem boas, poderemos vir a fazer...
Campanha dos 6 milhões para Movimento
nanciado através da compra de cópias - A questão mais geral do cinema
pela. Oposição Metalúrgica de São brasileiro - diz Alain Fresnot, explo-

Paulo. Depois foi vendido para sete ca- rando as dificuldades da nova geração Ainda falta 1,3 milhão
pitais do país. - é de modelo. Dá-se como questão de
Faltam apenas duas semanas para terminar a
Renato Tapajós não acredita que com fato que a distribuição e a importação
campanha de apoio a Movimento. Estames beim
essa ligação aos movimentos populares, de filmes estrangeiros não se discute. E

o cinema passe a ficar a reboque da dessa omissão fantástica procura-se perto de atingir a meta necessária para repor os pre-
política, em detrimento da preocupa- tornar o filme nacional competitivo Juízos que os atentados em bancas de jornais tas

ção estética. Pelo contrário, ele acha com o produto estrangeiro, o que exige deixaram, Mas é desse pequeno final que dependo -
6 milhões
que o cinema brasileiro carece de uma financiamentos dez vezes maior do que
sucesso de todo esforço feito pelos leitores is
abordagem mais política nesse sentido: seria em caso contrário. A tendência
até agora. Se você ainda não deu sua contribuição,
- É inocência achar que o cinema natural dos responsáveis oficiais pelo
5 milhões
faça-o logo. Mande qualquer importância que você
não é político. É claro que o cinema é cinema brasileiro é ter uma visão mer-

uma arte, mas também é um instru- cantil do cinema, logo deduzem que é puder, não importa quanto. Ou então faça uma as-
mento que é usado pelos detentores do mais vantajoso gastar 50 milhões em sinatura de apoio. A bandeira da imprensa dem 4 milhões.,
poder. O fato desse, instrumento ser cinco filmes do que os mesmos 50 mi-
crática precisa tremular mais alto. Isto só dependo
usado pelos trabalhadores não impede lhões em dez filmes: o que está correto,
de seus leitores, 3 milhões
que ele tenha uma preocupação estética. segundo esta ótica, porque você pode

O próprio Renato está tentando expe- gastar mais em propaganda, lança-

riências novas, como ele conta a respei- mento bem feito etc.. A Embratfilme Resultados da 8a semana
2 milhões
to do seu longa-metragem, "Linha de procura contemporizar, estabelecendo
Doações de acionistas 2.776.187,00
Montagem", financiado inicialmente uma carteira de cineastas especiais que Doação de leitores 626.500,00
pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São querem fazer este tipo de cinema, e Assinaturas de apoio 1.123.300,00 1 milhão
Venda de quadros 100.000,00
Bernardo, e depois da intervenção, pelo uma verba como válvula de escape para
Doação de discos 23.000,00
Fundo de Greve, que continuará com a o resto.
4.648.987,00
© XBR
Total
tareta. Total da semana anterior 4.084.500,00 I

Aluísio Raulino

Alain Fresnot
"Eu Te Amo": cinema
| Esta voz vai falar mais alto !
A sobrevivência do
brasileiro é isso?
Para isto estou enviando Ci$ . .. . ...... .. ..... por
autor e da produção |.
Cheque nominal para [ Ordem de pagamento [ | Vale Postal em nome de |
As críticas à Embrafilme são revor- Edição S/A. Editora de para Edição S/A Edição S/A, Editora de '
| Livros Jornais e Revistas conta 13007/9, Bradesco, Livros Jornais e
Nem todos os cineastas da chamada rentes entre os novos cineastas de São
Ag. Vila Clementino, Revistas. Rua Dr. Virgílio
"geração emergente" se ligaram de Paulo, embora não tenham a mesma
|
São Paulo. de Carvalho Pinto, 625, |
forma direta ao movimento popular. intensidade entre todos. Aluísio Rauli- São Paulo, SP. CEP: 05415
o caso dos grupos criados para entren- no, colaborador em vários filmes dessa 1
Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento
tar as dificuldades de produção, por geração, como fotógrafo (por exemplo L eai ee a Vesa eta ea ca da ear vela e e e

exemplo, a Gira, Barca, Tatu, Corsina no "Greve" de João Batista de Andra- | nio i ee ia a da ee a v ea rt ma v e
(Cooperativa de Realizadores Cinema- de, e no "Braços Cruzados, Máquinas
Para isto estou enviando o pagamento de 3.200,00 através de
- tográficos) em São Paulo, e o Centro de Paradas", de Roberto Gervitz), é um

Produção Cinematográfica (CPC). no' dos que têmuma opinião das maisáci- a | (2) Cheque nominal () Vale Postal [.] Ordem de Pagamento |
Rin... a RP a je aê n s s a das sobre o-órgão. governamental, mes-
de mero esmo ento sentem emir mato --e . eram macas |. unto munido seua matos "endro eas mao
não sue a

&

MOVIMENTO 18 1 21/6/8381
 d.
Os cineastas fora
Ilma Santana e
Flávio Dieguez (texto final)
Renato Tapajós é um dos novos ci-
neastas brasileiros para quem está aca-
"bada a época em que o autor sala com
seu filme debaixo do braço para mos-
trá-lo onde fosse possível. Ao invés de
fazer isso, descobriu e encontrou uma
alternativa que não era nem o circuito
comercial, onde concorreria inevitavel-
mente, e com poucas chances, com as
grandes produções nacionais e interna-
cionais, nem as pequenas salas impro-
visadas, semi-ócupadas por diletantes.
Seu filme, "A Luta do Povo", foi pas-
sado nos bairros da periferia de São
Paulo, em escolas, casas paroquiais,
sindicatos e portas de fábrica. Sua dis-
tribuição foi feita de maneira total-
mente independente, pela Associação
Popular de Saúde, e em seis meses de
apresentação, Tapajós acredita que ele
já tenha sido visto por cerca de 150 mil
pessoas. O custo da produção está pra-
ticamente pago e se o filme continuar
nesse ritmo por mais seis meses, pode
criar um precedente extraordinário no
cinema nacional: será a primeira vez
que uma produção desse tipo gera
fundos para uma nova produção!
Com "O Homem que Virou Suco",
João Batista de Andrade obteve um
resultado semelhante ao de Renato Ta-
pajós: lançou o filme na rede comercial,
através da Embrafilme, e simultanea-
mente fez circular uma cópia em 16 mi-
límetros através da Dinafilmes, distri-
buidora alternativa de São Paulo. O
resultado foi que o esquema paralelo
acabou rendendo mais que as exibições
no "grande circuito", e isso, mesmo em
cidades pequenas como Bauru.
"Jari", de Wolf Gauer e Jorge Bo-
danski, também se pagou, e ainda deu
lucro, num sistema independente. Os
autores além de enviarem uma cópia
para que a Dina distribuísse o filme em
cineclubes, ficaram com outras três cô-
pias para distribuir por eles mesmos.
"Iracema", dos mesmos autores, tam-
© bém terá uma distribuição alternativa,
assim que sair de cartaz no Rio de Ja-
nosa vo vovo a, »
3000006
fo
do esquema
neiro, onde está sendo levado no circui-
to comercial.
Entre estes realizadores há uma preo-
cupação comum: a de viabilizar a dis-
tribuição de seus filmes, considerando
que é cada vez mais difícil ficar anos na
fila à espera de financiamento para
realizar um filme que provavelmente
será feito com dificuldades incalculá-
veis e que dificilmente será um sucesso
no circuito comercial.
Eles têm recorrido seja à distribuição
através das entidades ligadas aos movi-
mentos populares, como é o caso de Re-
nato Tapajós, ou à Dina, distribuidora
alternativa que surgiu em 76 ligada ao
movimento cineclubista: um fato novo
e de muita importância para os cineas-
tas que tinham a preocupação de dis-
tribuir esse tipo de filme - sem espaço na
tevê e no circuito comercial.
As experiências colocadas em prática
até aqui poderão continuar com o
balanço positivo que demonstraram?
Alain Fresnot, da Tatu, concorda que
teoricamente a distribuição alternativa
é uma saída, e que isso vem sendo
comprovado pelas realizações já feitas.
Mas salienta que, salvo a possibilidade
revelada por "A Luta do Povo", não há
nenhum núcleo existente que tenha
pago nova produção com a renda de
um esquema alternativo.
Felipe Macedo, administrador da
Dina, faz um balanço positivo da distri-
buidora - reconhecido aliás pelos ci-
neastas. Mas admite: "não é segredo
que ela não funciona muito bem", e diz
que ela "só pôde sobreviver porque foi
sustentada politicamente pelos cineclu-
bes, estabelecendo custos irreais por:
que obteve trabalho de graça e recebeu
doações de equipamento". Lembra
ainda que a Dina foi prejudicada pela
"perseguição desenfreada da censura"
e pela apreensão ilegal de mais de 150
filmes...
Para Renato Tapajós, o circuito al-
ternativo é frouxo e acaba sendo defi-
nido "por exclusão do oficial". O pro-
dutor, muitas vezes, tem que se tornar
também distribuidor para garantir o
retorno para o filme, porque "não
VA s
28%
ficíf'aê da Embrafilme
deo Rio1965sobreuma
Amazonas,
existe uma distribuidora profissio-
nal que ataque o mercado alternativo".
favela
já
mostra uma outra
ªcupação temática. E com "Fimde- |-
Assim, se os realizadores preten-
dem realmente ultrapassar a fase de
sair com o filme debaixo do braço,
terão que resolver o problema de criar
uma estrutura profissional que distri-
bua os filmes e discuta a projeção,
rocurando os exibidores potenciais
igrejas, escolas, sindicatos, associações
etc.). Existe grande empenho em pro-
curar essa solução. Não há dúvida de
que existe um grande mercado poten-
cial. Fresnot e Tapajós concordam que
a produção dos novos realizadores, por
er uma preocupação crítica, de refle-
xão social, não entram com fatilidade
no esquema oficial. Além disso, existe a
questão crucial do preço, que pode ser
reduzido bastante através da produção
e distribuição alternativa, que trabalha
com filmes em 16 milimeros, muito
mais baratos que os filmes em 35. Ro-
berto Gervitz (Braços Cruzados, Má-
quinas Paradas"), acrescenta outras di-
ferenças entre os dois tipos de esquema
que favorecem o alternativo. Este altera
o contato entre a platéia e o realizador,
porque "a exibição em 16 milímetros
na periferia, sem equipamento sofis-
ticado, salas imensas etc, possibilita um
maior contato" e os temas interessam
diretamente o público.
RenatoTapajós
Cinema na periferia
e porta de fábrica
Renato Tapajós começou a se interes-
sar por cinema quando entrou para a
Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo. Ele começou a fazer filmes
logo depois, como a "Vila da Barca",
"1%" e "Universidade em Crise", este
realizado a partir da greve dos estu-
dantes contra o serviço do restaurante
da USP, e que terminou em 68 com a
invasão do campus pelo exército. O
- "Vila da Barca", um curta-metragem
& 4e
Afeto 4
no Parásobre
ana", realizedo mais dé dez anos
depois (76), Renato Tapajós aprofunda
sua experiência, falando sobre a cons-
trução de residências na periferia pelos
próprios moradores, aproventando o
domingo.
Em 76, o trabalho de Renato Tapajós
ganhou um novo impulso:
- Nessa época eu comecei um curso
de artes no Lasar Segall, - explica Ta-
pajôs - do qual participavam vários
operários de São Bernardo. Como o
"Fim de Semana" já havia circulado no
Sindicato dos Metalúrgicos, isso gerou
alguns contatos que mais tarde foram
ampliados, através de outro curso do
Lasar Segall, desta vêz dentro do pró-
prio sindicato. Alguns dos alunos eram
gente da atual diretoria (deposta).
-- Isso foi no começo de 77 e pos-
teriormente, depois de um Congresso
de Acidentes de Trabalho (Conpat), o
sindicato quis fazer um filme sobre
isso. Havia outros filmes anteriores,
mas que davam uma visão do empresá-
rio, atribuindo a culpa dos acidentes ao
descuido do operário. Nós fizemos uma
mesa redonda e fizemos um curta-me-
tragem, "Acidente de Trabalho", dan-
do a visão do operário sobre a questão,
Esse filme foi todo pago pelo sindicato.
No mesmo esquema Renato realizou
também "Greve de Março" sobre a
greve de 1979 no ABC.
A continuação do trabalho de Tapa-
js tomaria outros rumos, pela sua
aproximação posterior com a Pastoral
da Saúde da Zona Leste. Renato foi
convidado a fazer um curta-metragem
sobre saúde: "Um Caso Comum", que
foi inteiramente pago pela Pastoral,
ue também decidiu distribuir o filme.
sucesso de "Um Caso Comum" -
que foi visto por cerca de 150 mil pes-
soas em três anos -- é que levou à idéia
de fazer "A Luta do Povo", um docu-
mentário abarcando todas as etapas do
movimento operário desde a morte do
Continua ná página 19
 BR DFANBSB VB.GNG AAA, C | "

W IME

MF EIS AQUI 0
©SAWE,0H

EDICOS 'ESPIAO' DO MOSSAD

GRANDE CESAR"

DEBATE: Duarte Pereira, A lºnga greve - O jornalista Bernardo Kucinsky,

jornalista político e "explica porque parte da imprensa
ista
plica :a entrevist
replica a do ] d aracterizá-lo como agente
tentou carac
ex-presidente da UNE. pe a sau e do serviço secreto de Israel.
Páginas 16 e 17 Página 7 Páginas 4 e 5

E
e
3
pol
Q
3é
B
E-
31
e
$E
s
a
F
©£a
e a
-o
&
é&
aa
«
pa
-o[1W
-R
#
ÉE
E-
£|:
- r
em
- ©
**% 1
e
qua
Rel
L))
"M

ce
&
F.

7%

[4

e
&

o a

| I

Lag
im

A
F 7 à ição

NOSSA OPINIÃO
CONJUNTURA
O falso
defender
ou punir
regime militar pretende con-
fundir- a oposição com um
falso dilema: propõe que es-
colhamos entre os interesses
das forças democráticas e o
combate ao terror fascista e àqueles que
o acobertam. Esse falso dilema tem sido
apresentado pelos ministros do governo
nos seguintes termos: esqueçamos os
atentados terroristas do Riocentro, acei-.
temos qualquer resultado que o Exército
venha a apresentar, e procuremos garan-
tir as eleições de 1982.
O que 'a oposição deve destacar nessa
proposta cínica é, em primeiro lugar, que
se trata de uma confissão pública de que
o governo não pretende apurar os aten-
tados terroristas. Isso prova que tinham
razão aqueles que afirmavam que não
adianta aliar-se a Figueiredo para com-
bater o terror fascista. Em segundo lu-
gar, tal confissão enseja uma pergunta:
pode-se confiar na promessa de realiza-
ção de eleições em 1982, quando essa
promessa é feita pelo mesmo . governo
que, depois de prometer apurar os aten-
tados, vem a público afirmar que não
mais irá fazê-lo? Não. Na verdade, o re-
gime ápenas especula com as eleições de
1982. Um compromisso sério e conse-
quiente que tem no momento não é com
essas eleições, mas sim com o acoberta-
mento dos terroristas.
Infelizmente, em alguns setores da
frente oposicionista, tem-se proposto a
aceitação dessa chantagem governamen-
tal. O deputado Marcelo Cerqueira, por
exemplo, propôs que a frente oposiício-
nista faça vistas grossas frente à farsa
que se desenha como resultado do IPM
que - diziam - iria apurar o atentado
do Riocentro. Afirma que denunciar
esse IPM equivale a "radicalizar" a luta
política, fazer o jogo dos terroristas fas-
cistas e comprometer a realização das
eleições de 1982. Ora, os fascistas não
soltam bombas apenas para vê-las explo-
dir. O seu objetivo consiste, exatamente,
em intimidar as forças oposicionistas, fa-
zE-las recuar e, num plano secundário,
alterar a política de abertura do governo
- da qual faz parte a possibilidade de
realização de eleições manietadas (sem
* liberdades partidárias, sem liberdade de
propaganda) em 1982. A conivência go-
vernamental só tem estimulado as bom -
Conselho de Direção
Agostinho Gisé, Alcy Linhares, Álvaro Ca-
ropreso, Antonio C. Queiroz, Armando
Bolito Jr., Armando Sartori; Célia R. de
Souza, Conrado Júnior, Delzir A. Matias,,
Clávio Carvalho, Igor Fuser, Jacira Venân-
cio, José C. Alencar, José Crisóstomo de
Souza, Lia R. Dias, Luiz C. Antero, Luiz
MackiIouf de Carvalho, Luiz Pedro, Márcio
Bueno, Murilo Carvalho, Paulo Koza, Per-
seu Abramo, Raimundo Rodrigues Perei-
ra, Roberto Martins, Roldão Oliveira, Ti-
bério Canuto e Washington Oliveira.
Conselho Editorial de Movimento
Furtado, Andre Forster, Audálio
Dantas, Chico Buarque de Holanda, Fer-
nando Henrique Cardoso, Orlando Vilas
Roas, Hermilo Borba Filho (1912-1976).
" BR DFANBSB ©"
dilema:
as eleições
o terror.
bas e, inclusive, o que o governo está fa-
zendo é usar o episódio do Riocentro pa-
ra tentar falsear ainda mais as regras do
jogo eleitoral. Os terroristas já estão atin-
gindo os seus objetivos e, exatamente
porque a oposição não os está denun-
ciando - nem a eles nem àqueles que os
acobertam, com o vigor e a amplitude
necessários. Abrir mão dessa denúncia
significa fortalecer não só o regime, mas
também a sua linha dura.
s forças que integram a opo-
sição democrática e popular
não podem aceitar esse falso
dilema:fazer vistas grossas
E ao terror, ou pôr em risco as
eleições de 1982. E, ao rechaçar esse di-
lema, devem fazê-lo pela raiz Há os que
rejeitam a proposta de se fazer vistas
grossas frente à farsa do Riocentro A ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE DA UNE
mas argumentam que se deve exigir "a
verdade na apuração dos fatos" porque
"sem a liquidação do terror comprome-
te -se (...) o próprio projeto político do go-
verno" (Voz da Unidade , editorial do nú-
Não confundir
mero 61). Ora, o problema da oposição
nãoé defender o projeto político do go-
verno, inclusive porque-esse projeto polí- a realidade com a
tico já deu mostras - e agora acaba de
anunciar publicamente - que não com-
porta a "liquidação do terror". Argu-
mentam, ainda, que, para a oposição, é legalidade ditatorial
importante "assegurar a lisura do pleito
de 1982", Ora, eleições livres implicam, Ovimento publicou, em para organizar essa luta, mesmo sabendo
para a oposição, plena liberdade de or- sua última edição, uma queisso implica o risco de deposição pelo
ganização partidária e de propaganda entrevista com o ex-presi- Ministério do Trabalho. Em segundo lu-
para todas as correntes populares e de- dente da União Nacional gar, as forças de oposição não podem, sob
mocráticas, coisa que o governo exclui de dos Estudantes. Os nos- pena de trabalharem contra os seus pró-
sos leitores puderam ver que
Ruy Cesar, hoje em dia, dedi- prios interesses, restringir a sua atuação às
saída na sua proposta de eleição para
1982. E nem poderia ser de outra forma:
eleições livres são impossíveis num re- ca-se ao teatro, continua preocupado organizações permitidas pelo regime mili-
gime ditatorial. coma luta democrática e tema disposição tar. Por acaso foi errado o movimento es-
Rachaçar o falso dilema pela raiz sig- elogiável delutar para que as camadas po- tudantil criar a UNE, as UEEs, os DCEs e
nífica, portanto, rechaçar o próprio pro- pulares elaborem uma política conse- os CAs, em vez de limitar a sua atuação aos
jeto de abertura política de Figueiredo. quente diante de problemas específicos organismos estudantis criados pelo re-
Afirmar claramente que não há nada que atir gemvastas camadas e minorias da gime militar? E claro que não.
nesse projeto que compense abrir mão do população - as mulheres, os negros e os Outra questão suscitada pela entrevista
combate ao terror. Significa - sem, evi- homossexuais, por exemplo. Algumas de de Ruy Cesar refere-se à avaliação dos er-
dentemente, abrir mão da participação suas declarações, contudo, surpreende- ros e das limitações das correntes que
ativa as eleições mesmo manietadas - ram. atuam no movimento popular e das orga-
denunciar o terror fascista, a
farsa do IPM do Riocentro e as Ruy Cesar incorre numerro, comum em nizações que esse movimento logrou cons-
próprias eleições realizadas sob esse re- alguns setores da oposição, que consiste truir. Aqui Ruy comete um erro inverso:
gime. Eleições que os ministros do go- em confundir a necessidade do trabalho a em vez da aceitação do que existe, rechaça,
verno querem fantasiar de livres e demo- partir da realidade existente com a acei- , quase que em bloco, a realidade do movi-
cráticas. tação da "legalidade" imposta pelo re- mento popular E o faz com base numa
gime ditatorial militar. E claro que su deve crítica apressada sugerindo, inclusive, que
intervir no parlamento, nas eleições, nos o aspecto dominante nas organizações po-
sindicatos oficiais, enfim, em inúmeras pulares é a "manipulação" das massas.
institilições que fazem parte da própria le- Ora, a própria UNE, citada por Ruy, prova
mªmª.“ £? mªilªt galidade do regime. Inclusive porque, a falsidade desse tipo de idéia. E sabido
tendo em conta o atual estágio de organi- que a UNE possui várias instâncias deci-
zação e consciência do povo, essas insti- sórias que vão da base até a cúpula da
Diretoria de Edição S/A tuições são pontos de referência para entidade. Essa organização interna, sem
amplos setores populares. Porém, essa dúvida nenhuma democrática, foi o que
Raimundo Rodrigues Pereira (presidente), intervenção tem por objetivo substituir permitiu, por exemplo, que as bases rejei-
Paulo Koza (diretor de operações), Perseu essas instituições por outras, efetivamen- tassem a proposta de greve geral formula-
Abramo (diretor
te democráticas e conforme ao interesse da inicialmente pela própria diretoria da
Diretor Responsável da grande maioria da população. Desse
Raimundo Rodrigues Pereira objetivo daluta oposicionista decorrem UNE; isso foi feito num vasto processo
Movimento é uma publicação de Edição duas conseguências práticas. democrático, através de assembléias estu-
S/A - Editora de Livros, Jornais e Revis- dantis realizadas por todo país.
tas. Administração e redação: Rua Dr. Vir- Em primeiro lugar, quando se atua Por último: Movimento cometeu um er-
gilio de Carvalho Pinto, 625, Pinheiros.
numa instituição não se pode limitar a o de encaminhamento na entrevista. Re-
São Paulo, Brasil. CEP 05415. Telefones:
210-6622 e 210-6744. Distribuição: Abril ação as normas de funcionamento impos- ferimo -nos à apresentação de questões na
S/A - Cultural e Industrial. Rua Emílio tas pelo regime militar. Uma diretoria de forma: "quem você levaria para uma ilha
Goeldi, 575. Tel. 65-5115. Impresso nas o-
ficinas da Cia. Editora Joruês. Rua Gastão umsindicato, por exemplo, não deve, para deserta, Lennon ou Mao? Grande Otelo
da Cunha, 49. Tel, 531-8900. São Paulo. assegurar o seu próprio cargo, voltar-se ou João Amazonas?" Esse tipo de formu-
«Material internacional via Varig. contra a luta grevista da categoria, por lação não ajuda avançar na compreensão
exemplo. Deve, ao contrário, contribuir dos problemas. !
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
 _BR DFANBSB vacuum.

BRASIL

MILITARES

A direita
perde um
líder
A morte do comandante do II Exér-
cito, general Milton Tavares de Souza,
no início da semana passada, não
constituiu surpresa, sequer para ele
próprio, que inclusive, escolheu o uni-
forme de gala com o qual foi enterrado.
Combatente da Força Expedicionária
Brasileira na I! Guerra, Milton Tavares
ganhou a Cruz de Combate de Primeira
Classe e a medalha Sangue do Brasil,
esta por ter sido ferido em batalha. Sua
aversão ao comunismo nasceu antes,
em 1935, quando se opôs ao levante
armado da Aliança Nacional Libertado-
ra.
Miltinho era capaz de detectar agen-
tes do movimento comunista interna-
cional nos lugares mais inimagináveis
e contra eles considerava lícito usar
quaisquer métodos. Golpista de pri-
meira hora em 1964 - era membro do
Estado Maior do Exército do governo
Castelo Branco - Tavares teve a opor-
tunidade de desenvolver plenamente
tais métodos depois de sua promoção
a general de Brigada, no final de 1969,
quando assumiu a chefia do Centro de
Informações do Exército (CIE). Em se-
guida acumulou tal cargo com o de
! d
Golbery cochicha na convenção: mais casuismos.
CONVENÇÃO DO PDS
' O ex-presidente Jânio Quadros (foto), não dá muita
sorte com o número sete. Ao sétimo mês do seu governo,
renunciou à Presidência da República. Agora, sete meses
depois de ter aderido ao PTB, renunciou a esse partido e
divulgou um bombástico "manifesto aos brasileiros".
Aparentemente, a gota d'água que levou Jânio a sua se-
gunda renúncia foi a decisão da Justiça Eleitoral que
dificulta a transferência de filiados de um partido com
registro definitivo para outro partido.
© A saída de Jânio praticamente inviabiliza o PTB e teve
como consequência a saída imediata do deputado federal!
Rafael Baldacci, que ficou na agremiação petebista
apenas uma semana. +
NOVAVIA PERVANA
Informação divulgada pelo especialista em assuntos
militares, jornalista Evandro Paranaguá, em sua coluna
no jornal O Estado de S. Paulo, de quarta-feira da
semana passada: o aparelho de repressão do regime:
militar teria condições técnicas para efetuar 40 mil
prisões em 24 horas no eixo Rio-São Paulo no caso de
uma convulsão revolucionária.
*
PORNO-SESSÃO VETADA
A personagem Pô-Francineide.- atriz de shows porno
5
eróticos -, do programa "Viva o Gordo", da Rede Glogo
de telewsao foi censurada na segunda-feira da semana
passada. Na semana anterior a Globo havia anunciado
que no quadro que não foi ao ar, Pô-Francineide invadiria
o plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, onde

chefe de gabinete do então ministro do
Exército, Orlando Geisel. Nesta época
ele reestruturou e modernizou o Servi-
ço Nacional de Informações e implan-
tou os DOI-CODI em todo o país, Foi ele
um dosprincipais executores e planeja-
dores da Operação Bandeirantes, em
São Paulo, e foi ele também quem diri-
giu a "Operação Marajoara", que pre-
parou o terreno para a intervenção do
Exército contra a guerrilha do Ara-
guaia, em 1972.
Por causa dos bons serviços pres-
tados à "Gang do Planalto", Milton
Tavares foi promovido a general de
Exército em julho de 1979, quando deu
"carona" em dois generais que estavam
na sua frente da lista de promoções.
Foi no comando do II Exército, a
partir de agosto de 1979, que ele se re-
velou servidor de dois senhores: do
grupo palaciano e dos setores que de-
fendem o fechamento do regime. Em
maio do ano passado, Milton Tavares
tornou-se um virtual interventor militar
no Estado de São Paulo, durante a gre-
nesga 40 dias dos metalúrgicos do
Por esta época campeavam também
os atentados terroristas em São Paulo.
O sangrento sequestro do jurista Dal-
mo Dallari continuava insolúvel quando
bombas começaram a explodir em
bancas de jornais, livrarias e sedes de
partidos políticos da oposição. Uma
trégua surgiu somente depois que o
general João Figueiredo, numa atitude
inusual, visitou o general Milton Ta-
vares em seu quartel! general. Fontes
militares disseram na época que a trê-
gua aconteceu em cumprimento a um
acordo firmado entre o governo e seus
setores "radicais".
O general Milton Tavares de Souza
completaria 12 anos de generalato no
mês de novembro, quando passaria,
compulsoriamente, para a reserva do
Exército. Ele deixa viúva, três filhos,
cinco netos e vários discípulos, o mais
fiel do quais é o general. José Luis
Coelho Neto, comandante da Quarta
Região Militar, com sede em Belo
Horizonte. Coelho Neto - Coelhão
para os amigos - ganhou notoriedade,
depois de ter sido acusado pelo depu-
tado Genival Tourinho (PDT-MG) como
um dos chefes da "Operação Cristal",
que estaria empenhada em praticar
atentados terroristas dentro da estra-
tégica de um golpe militar fascista.
(A.C:Q.)
--re-r->- nv- «,ra
,;
MOVIMENTO 39/2
CASUÍSMOS
JUNINOS
O PDS lança balões
Em Brasília os políticos estão
polvorosa, à espera das definições do
Palácio do Planalto quanto às
regras do jogo eleitoral. O governo vai
devagar com o andor, pois não há con-
senso em seu Partido sobre o pacote
ideal de casuismos a ser adotado.
Quem melhor definiu esta situação foi
o chefe da Casa Civil da Presidência,
general Golbery do Couto e Silva, ao
sair da reunião do Diretório Nacional
do PDS, na terça-feira da semana pas-
sada: "nosso partido é um balaio de
gato, e um choque permanente de opi-
niões. Melhor seria se a gente pudesse
fazer uma lei para cada Estado. AÍ daria
para agradar a todos" (Jornal de Bra-
sília, 24/6/81).
Como não vai dar para agradar a
todos, o governo tratara de agradar a
maioria de seus acólitos, pois sabe ser
vital ganhar as eleições de 1982 para
garantir o domínio do Colégio Eleitoral
que escolherá o sucessor do general
João Baptista Figueiredo. As regras,
porém, só serão anunciadas oficial-
mente no começo de setembro, como
assegurou Nilo Coelho, o líder do PDS
no senado. Até lá, é bem provável que
'o Palácio do Planalto continue vivendo
em clima de festa junina, soltando ba-
|ões... de ensaio.
Foi o que fez na semana passada
principalmente através da imprensa,
pois na véspera de São João, terça-fei-
ra, a reunião do Diretório Nacional do
PDS só serviu mesmo para excitar a
curiosidade dos políticos. "A nossa
reforma tem que incluir casuismos,
porque não podemos perder o poder
nem perder a eleição em lugar ne-
nhum". Esta frase, retirada do discurso
que o senador Nilo Coelho pronunciou
durante a parte secreta do encontro,
mas que foi ouvida por um repórter de
O Globo, foi a única definição do en-
contro. Uma anódina nota oficial divul-
gada pelo PDS, recomendou que qual-
quer decisão a respeito da reforma
eleitora! "deverà obedecer as tendên-
, naquele dia houvese quórum qualificado.
Reizinho, que, segundo os anúncios da Globo, estaria de
"saco cheio" com os problemas do reino. O teizinho,
como se sabe, é uma paródia do general João Fi-
gueiredo, com eminência parda de tudo.
de ensaio casuísticos.
em cias majoritárias do partido em seus
diferentes níveis" eratificou a criação da
novas comissão partidária destinada a propor
o pacote dos casuismos, presidida
pelo senador Aloysio Chaves e tendo
como relator o deputado Prisco Vianna
(PDS-BA), que, como todo mundo sa-
be, tem ido frequentemente ao Palácio
do Planalto para receber instruções.
Embora de resultados pifios, a reu-
nião do PDS teve o efeito da explosão
de uma cabeça-de-nego entre os par-
tidos de oposição. O presidente do
Partido Popular, senador Tancredo Ne-
ves, reagiu com uma violenta nota, na
qual afirma que "o que se pretende,
de maneira a mais despudorada é fazer
um pleito que deveria ser a mais
vibrante demonstração do espírito
democrático do nosso povo, uma elei-
ção manipulada, desmoralizada e
vilipendiada pela insaciável ambição de
poder dos que o empalmaram pela
força e nele insistem em permanecer
pela fraude, e o embuste". Como é de
seu estilo nesse mesmo dia porém,
Tancredo foi um do mais ardentes de-
fensores da queda da obstrução que o
Partido Popular e o PMDB vinham fa-
zendo no senado desde o dia 27 de
março para obrigar a definição do
governo.
Mais do que nunca, as idéias da
fusão dos partidos oposicionistas vol-
taram à baila. Os membros do PP e os
moderados do PMDB têm sido os mais
smpolgados na defesa da idéia, pois
para eles "sem fusão não há salvação"
diante dos casuismos, Setores pro-
gressistas do PMDB são simpáticos à
fusão, mas desde que houvesse a par-
ticipação do PDT e do PT, para evitar o
predomínio «político dos liberais
conservadores. Esta alias, certamente
por outras razões, tem sido também a
posição do presidente do partido,
deputado Ulysses Guimarães e prova-
velmente será aprovada como a posi-
ção oficial do PMDB.
Antonio Carlos Queiroz
realizaria uma porno-sessão. Isto não aconteceu, embora
Outro quadro censurado - trocado por outro - foi o
DESMORONAMENTOS
A construção de uma estrada ligando o Brasil ao Peru
foi o principal saldo da visita do general Figueiredo ao
Peru, na semana passada. Para o Brasil, o projeto faz
parte da sua ofensiva comercial. O acordo firmado só foi
possível graças às alterações ocorridas nesse pais,
desde que os militares nacionalistas que deram o golpe
de 1968 foram substituídos pelo governo pró-capital
estrangeiro de Belaunde Terry. Antes os militares pe-
ruarios temiam a presença "imperialista" brasileira.
Autor do livro "Os Carbonários", no qual! dá sua versão
sobre a esquerda armada na década de 70, o carioca
Alfredo Sirkis voltou à cena política na semana passada
ocupando o destacado espaço das "páginas amarelas" da
Veja. Definindo-se como um "social-democrata" que
descrê de qualquer via insurrecionial e cOnsiderando a
experiência recente de François Mitterrandcomo um
modelo "para o Terceiro Mundo e para o Brasil", Alfredo
Sirkis faz coro com a onda de depoimentos que carregam
tintas contra a esquerda organizada, qualificando-a de
"sectária", carpideira, cisuda, maniqueista e dogmática.»
Entretanto, não usou a mesma destemperança verbal em
relação ao regime. Segundo ele, não vivemos mais numa
ditadura e o seu desejo é que "o general! Figueiredo seja
uma espécie de Ramalho Eanes brasileiro" e cumpra com
sua palavra de fazer do Brasil uma democracia. Alfredo
Sirkis está para lançar um novo livro, "A Roleta Chilena",
que segundo ele representa“ o "desmoronamento dos
seus sonhos esquerdistas". O lançamento do livro parece
ter um claro papel político: a sua editora, a Record,
promete fazer um lançamento com estardalhaço.
Foi lançado, na semana que passou, o primeiro
número do Jornal do Povo, editado pela mesma empresa
que publicava o Hora do Povo, suspenso por 30 dias em
decisão do STM que envolveu também a condenação de 3
de seus diretores a três anos' emeio, de prisão.
Uma ordem de apreensão foi imediatamente emitida
pelo Ministro da Justiça, Ibrahim 'Abi-Ackel. Em Salva-
dor, agentes da Polícia Federal apreenderam na Sucursal
do Hora do Povo 1.300 exemplares do novo jornal.
O dado hilariante: dois agentes federais invadiram a se-
de do PMDB em Contagem, Minas, e apreenderam 85
exemplares do Jornal do Povo, publicação local do Par-
tido.

Para servir ao governo, alguns
O Brasil não exportou urânio escondi-
'do para o Iraque. Essa **mentira" foi
"plantada" entre a imprensa brasileira
pelo serviço secreto israelense, o famoso
Mossad, para desviar a atenção mundial
do raíde perpetrado pela força aérea de
Israel contra uma usina nuclear iraquia-
na, em clara violação das leis internacio-
nais.
Essa parece ter sido a conclusão final
de alguns .dos maiores órgãos de
imprensa do país, entre os quais o Jornal
do Brasil, isto E e Veja - depois de ler,
investigar e transformar em capas,
manchetes e enorme número de páginas,
uma série de reportagens publicadas por
O Estado de S. Paulo, que levantava
exatamente a denúncia. que abre o
parágrato acima, emais uma: a de que o
Brasil desenvolve um programa nuclear
com o fim de fabricar a bomba
atômica sem: ser pilhado pela supervisão
internacional:
Eisso a despeito de no final da semana
passada ter ficado praticamente confir-
mado que os dois aviões iraquianos que
pousaram em São José dos Campos em
janeiro, realmente levaram urânio -
entre sua carga, O próprio JB, apesar de
suas diatribes, reconhece que havia nos
FotosEnnio Brauns Filho
aviões uma "carga misteriosa.. Na
quinta-feira passada, ainda, O Estado de
S. Paulo, obteve confirmação de que a
Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) empregou nove carretas para
transportar "material sigiloso"' para São
José dos Campos entre dezembro e
janeiro passados...
Nada deve ter causado maior satisfação
ao governo - que ficou em posição
extremamente desconfortável devido às
' denúncias - do que ver a manchete do
JB de 20/6/81: "Mossad passou a
informação sobre a venda de urânio".
Tanto que o porta-voz do Itamaraty,
Ministro Bernardo Pericás, saiu a campo
dois dias depois para reclamar das
"calúnias" do serviço secreto israelense
contra O Brasil. Ao mesmo tempo
ameaçou chamar de volta o embaixador
brasileiro em Israel e interpelou o
embaixador israelense em Brasília, arris-
cando inclusive um rompimento diplo-
mático.
O correspondente do
JB recebe cópiadas -|-
minhas matérias...
Afinal, em meio a tantas toneladas de
urânio, plutônio, peças de reposição,
«conexões internacionais, interesses de
governos e segredos, quem se mostrava
menos satisfeito no final da semanà
passada era o repórter Bernardo Kucins-"
ki (1), que levantou inicialmente ds dados
- depois fartamente aproveitados por
toda a imprensa - e que acabou
apontado pelo JB como uma espécie de
"agente do Mossad" no Brasil.
Segundo o jornal, seu correspondente
em Tel Aviv, Mario Chimanovitch, teria
sido procurado por um informante do
Mossad, que lhe passou. as mesmas
informações publicadas por Kucinski
três dias antes no The Guardian
londrino. O JB se recusou a publicar as
inforniações, no seu entender cheias de
"equivocos " e sem contirmação, Acusou
amda Kucinski de ter prometido exclusi-
vidade ao Estado e depoóis telefonar à
Folha de S. Paulo mostrando que
poderia evitar o "furo" apenas recorren-
do ao Guardian...
A Folha na verdade, logo após a
primeira reportagem de O Estado, deu
grande destaque aos desmentidos das
denúncias de Kucinski, e publicou um
artigo de Paulo Francis que acusava O
4
... da pranBS8 V8.G
Vejam
ernardo
o agente
OSS
Flávio Dieguerz
Estado de publicar "fantasias do lobby
israelense". A revista Veja, apesar de
revelar que o Brasil produz secretamente
em São José, peças de reposição para os
Migs iraquianos, conseguiu o prodígio
(assim como a Isto E) de fazer sua
cobertura sobre o levantamento do
Estado, sem citar uma única vez o jornal
ou o repórter que deu o "furo" inicial.
Na verdade, pôs de lado as denúncias e
afirmou que as versões sobre a venda de
urânio "começavam a assumir contornos
cômicos "".
Bastante chateado, em seu escritório do
(Tube dos Correspondentes Estrangeiros
em São Paulo, Bernardo Kucinski
respondeu às acusações feitas contra ele
e analisou extensamente o papel da
imprensa na cobertura do programa
nuclear brasileiro. Propôs apenas que a
conversa fosse num bar: "estou um
bagaço", explicou. E de fato, só depois
dos primeiros copos de cerveja é que a
entrevista saiu. Ele ficou inclusive à
vontade para interromper o fotógrafo
quando este se levantou e preparou a
máquina para trabalhar. "Eu vou te dar
uma foto minha", disse ele, vasculhando
NC.AAA, -
órgãos de imprensa tentam negar
foram apenas cópia da minha matéria,
que saiu três dias antes, assim como
parece que forneceram cópia também da
segunda matéria... Portanto ele que se
prepare para receber cópias das minhas
matérias, sempre três dias depois...
E emenda:
- É tudo muito simples, eles é que
usaram o caminho complicado, usaram o
caminho complicado acredito que inten-
cionalmente, e o resto da imprensa, em
maior,ou menor grau, acompanhou, com
a honrosa exceção de O Globo. Foi um
escândalo. O dia nacional da vergonha
para a imprensa.
Para a opinião pública no entanto não
parece tão simples: o «próprio JB
argumenta que não publicou a matéria,
sugerindo de certá forma uma irrespon-
sabilidade de Kucinski. Ele responde
que é natural, "porque eles acham que
receberam a informação do Mossad, o
que não foi o meu caso". Mesmo assim,
havia circunstâncias políticas envolvidas,
comoo fato de que Israel - intencional-
mente ou não - foi favorecido com as
notícias, tendo por outro lado o interesse
do governo brasileiro em esconder os
dados relativos à sua política nuclear.
Qual deve ser a atitude do jornalista
diante disso?
E mais seguro ficar
com a verdade do que
com a omissão dela
- Se você entra no caminho de
condicionar a divulgação de informações
importantes aos usos que elas podem ter
- cxplica Kucinski - você pode perder
o sentido: do que é próprio ou impróprio.
FÉ sempre "mais seguro ficar com a'
só:
verdade, e nãoo com a omissão da
verdade.
Alémdisso, ele acredita que seu caso é
bastante particular.
era É fácil compreender esse episódio,
acompanhando a gênese dessa matéria
- avança ele. - As informações que eu
enviei para o Guardian eu já tinha
comigo há tempos. Conversando com as
do minhas fontes sobre o episódio de
janeiro, veio a informação sobre o
embarque do urânio (para o Iraque). Não
|. dei importância na ocasião, primeiro _
mÍÍÉÍÍÍÍIÚWÍ("STÃÍVÍÍW'ÚÍÍÍÍÍÃÍÓÍÍWVCGÍ'ÍÍ'"ÚUÚTÉ a
assuntos prementes, como a matéria que
fiz para a revista Exame sobre agricul-
tura, que, aliás, também tem furos que
ninguém se lembra de checar, para ver se
a carteira e tirando um retrato 3x4 seu, foram plantadas pelo Mossad. E estava
mas com barba, que ele não usa mais. E
também atrás dos episódios do Rio-
explicou; "esse sou eu disfarçado, como
centro.
agente do Mossad. Agora você tira as
- Além do mais - prossegue - eu
fotos para mostrar como eusou realmen-
tot imaginava que era urânio para laborató-
rio, pequenas quantidades, sem maiores
A primeira pergunta, naturalmente, é
implicações. Também não sabia da
exatamente sobre essa questão, Como
estocagem do urânio no Brasil, o que
Bernardo Kucinski responde às "suges-
agora o Estadão levantou. O bombardeio
tões" do JB?
me fez criar vergonha. Fui procurar
- O Jornal do Brasil diz que o seu outra fonte que confirmou a informação
correspondente em Israel recebeu, três da minha fonte antiga, regular. Eu não
dias após a publicação da minha matéria tinha a mais remota motivação, nem me
no Guardian, informações iguaizinhas às passou pela cabeça que essas informa-
que eu escrevi, inclusive com os mesmos ções podiam ter sido "plantadas", exata-
erros; e disse que essas informações mente porque a minha fonte era antiga e
vieram do Mossad. Daí, os brilhantes sólida. A fonte era «melhor que a
jornalistas do JB concluiram que as informação.
minhas informações também vieram do
"Mossad. O JB acredita que se o corres- Por que essas acusações? Para Bernar-
pondente dele tem contato com o do Kucinski, o comportamento da
Mossád, todos os correspondentes do imprensa se deve, primeiro, à sua
mundo também têm. própria incapacidade.
- Mas eu coneluo diferente: primeiro, - Em primeiro lugar a imprensa
é elaro que o correspondente do JB tem entrou em pânico, porque descobriu
contato com o Mossad, como eles mes- cinço "anos depois do acordo com a
mos admitiram ; segundo, concluo que as Alemanha que não tinha fontes na área
informações que derani ao Chimanoviteh nuclear. Então só existem dois jornalis-
o-MOVIMENTO29/6a5/7/81--

os fatos e incriminar um jornalista
tis com fontes nessa. área, o Paulo
Andreoli. do Estadao, e eu, agente do
Mossad? É possível isso?
- Em segundo lugar, houve uma
batalha entre as empresas gigantes pelo
prestígio. Como o Estado tinha fontes
novas e diferentes, a Folha passou a se
preocupar em desmentir o Estado, muito
mais do que em descobrir a verdade. E
também enfatizou o aspecto ideológico,
que beneficia o governo, e daí começou a
fazer ilações. O Jornal do Brasil fez. tudo
isso, só que pior, chegando a tentar
queimar as fontes do Estado.
Mas o comportamento da imprensa foi
ainda mais longe, segundo diz Kucinski;
- A coisa mais importante nisso tudo,
loi a ação política do governo à partir
dessa atitude de alguns órgãos da
imprensa. O que aconteçe é que o
governo precisava de uma desculpa,
precisava reforçar o desmentido, e a
história do Mossad foi muito conveniente
- embora essa seja a verdadeira
falsificação. E pior que isso, só o caso da
IstoÉ,
Ele explica melhor,
- O problema com a IstoÉ foi o
seguinte. A revista aceitou uma oferta
minha de escrever uma matéria. Depois
de minha argumentação em reunião de
pauta, resolveram dar capa sobre esse
assunto. Eu fiz a matéria, dez laudas, e
entreguei à revista. Depois viajei. Teleto-
nei à IstoÉ perguntando se havia dúvidas
e me responderam:; "tudo bem" etc. Daí
Eu era assim...
Bernardo Kucinski, jornalista de longa experiência e tradição oposicionista, embora
chateado, não perdeu o bom humor com os ataques que sofreu. Na entrevista, ofe-
receu ao fotógrafo um retrato seu de barba (que não usa mais): ""olha, esse aqui sou
eu disfarçado, como agente do Mossad... Agora você me fotografa para mostrar
como eu sou?".
pegaram a minha matéria, jogaram no
lixo e encamparam a tese do Mossad.
Esse tipo de gente eu não quero ver mais.
Esse episódio, mais o artigo do JB, me
convenceram de que houve uma ação
fulminante entre sexta: e sábado da
semana atrasada, que decidiu o compor-
tamento da imprensa.
Bernardo reconhece no entanto que
pode ter havido alguns exageros na
torma como sairam as primeiras infor-
mações, tanto por culpa sua como do
Estado, Mas diz que nas matérias
seguintes, a clareza foi maior, e ele
inclusive considera que a-matéria sobre o
transporte do urânio "foi um êxito maior
que o meu "furo" inicial: enquanto os
outros caçavam bruxas, eu e o Paulinho
caçávamos fontes". Ele também acha
correta a ilação do Estado sobre o
programa paralelo:
- O programa paralelo já está em
andamento. O programa oficial já tinha
tins bélicos; como encalhou: o govenro
passou a estimular projetos que já
existiam, O governo por exemplo deu
($ 300 milhões para uma usina piloto
no IPEN, para produzir o hexathuoreto,
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
"* BR DFANBSB VB.GNC.AAA,
sem o qual -não se pode enriquecer o
uráânio. Ora, já foram assinados contra-
tos para uma usina em Resende. a ser
construida pela Pechinev francesa a um
custo de US$ 180 milhões. Por que fazer
outra em São Paulo? Eu digo: porque os
franceses seguraram o contrato até o
Brasil assinar novas salvaguardas, coisa
feita só no final do ano passado. Outro
exemplo é o enriquecimento. Nem no
programa oficial as perspectivas eram
muito promissoras, porque o método Jet
Nozzle alemão é caríssimo e talvez nunca
permita o enriquecimento na proporção
necessária. Mas o governo está estimu-
lando a tecnologia a laser no IPEN e,
parece, na Unicamp. E existêm outros
projetos. Enorme quantidade de dinhoi-
ro está sendo aplicada na construção de
um foguete, que possa Tançar um
satélite: o objetivo é a obtenção do vetor,
o lançador da bomba.
Um "furo"* para
Movimento: para não
perder o costume
Para encerrar a entrevista, Kucinski,
"para não perder o costume", resolveu
conceder a Movimento nada menos que
un "furo" sobre o programa nuclear
brasileiro;
- O professor Goldenberg, físico
nuclear da Universidade de São Paulo e
presidente da SBPC, há mais de um ano
e fiquei assim
vem negociando com o governo a
constituição de um novo" programa
nuclear, e eu não acredito que a opinião
pública brasileira esteja a par disso.
Essa proposta, em princípio aceita
pelo governo através do general Venturi-
ni, tem os seguintes pontos, já por
escrito: 1) parar com o programa oficial
dos alemães em Angra 11 e HH; 2) não
montar os reatores em Peruíbe; 3) criar
um instituto de pesquisa nuclear para o
desenvolvimento alternativo de uma
linha de reatores -a urânio natural,
visando a garantir a Jongo prazo a
independência caso sejam insuperáveis
as dificuldades de enriquecimento; 4)
programar novas centrais só para depois
de 1990; 5) fazer um estorço junto aos
institutos de pesquisa: e universidades
para se obter maior domínio tecifológico
no campo e adotar maiores índices de
nacionalização para Angra 11 e 14,
inclusive revendo os contratos existentes.
1) Bernardo Kucinski é atualmente correspon-
denge do The Guardian londrino e colaborador do
Latin american Weekly Review. Foi fundador e
ex-repórter de Movimento.
A família do tenente Valmir Alcântara,
assassinado por fuzileiros navais durante
a greve da PM baiana no mês de março,
está sofrendo. pressões do governador
Antônio Carlos Magalhães. O pai do
tenente assassinado, Vivaldo Patrocínio
dos Santos, entregou uma carta na
' semana passada à Comissão de Direitos
Humanos da OAB denunciando que foi
forçado a desmarcar a missa de 90o dia
pela morte de seu filho por imposição do
governador.
* - A missa deveria ser celebrada na Igreja
do Bonfim, mas foi cancelada porque
Vivaldo Patrocínio ficou com medo de
represálias contra seu outro filho, tenente
Waltércio Alcântara, e sobre sua nora,
viúva do tenente morto. Na carta que
enviou à OAB, Vivaldo conta que no dia 12
de junho, ante vêspera da missa, a casa de
sua nora foi invadida pelo capitão Carva-
lho da PM, que ameaçou a todos, dizendo
que o governador Antônio Carlos Maga-
lhães não daria a "prometida ajuda" à
viúva (que até hoje não seconcretizou), se
a missa fosse realizada.
Além disso, o pai do tenente assassina-
do foi procurado pelo coronel João
Mansur de Carvalho, que tentou convencê-
lo a não realizar o ato religioso, pois
| desagradaria o governador do estado.
O coronel Mansur inventou inclusive,
para impressionar o velho, que políticos
de oposição estariam programando uma '
manifestação política durante a missa.
TORTURA NA PM
o exato momento que
se preparava para lan-
gar seu livro "Capitão
O Senhor Está Preso",
o ex-sargento da PM
José Carlos Carneiro
toi preso arbitraria-
mente e torturado du-
[/ rante 3 horas na 6a
/ ;) delegacia de polícia de
é -: - i / 7 Salvador. a expectativa, só que agora não mais
cidente aparentemente não tem
nada a ver com o livro, mas todo mundo
achou estranho. Carneiro viajava num
ônibus urbano, quando o motorista parou
para brigar com um passageiro e o
ex-sargento quis saltar do coletivo, mas
foi impedido por um soldado da PM que o
conduziu preso para a delegacia, onde foi
mantido no xadrez por três horas e
torturado.
O sargento Carneiro, que ficou conhe-
cido na Bahia por ter detido um capitão da
PM, que dirigia embriagado, lança seu
livro, "Capitão O Senhor Está Preso" na
próxima terça-feira, dia 30, em Salvador,
na literarte, Por ironia, o livro de Carneiro
chama atenção principalmente para as
condições em que vive o soldado da PM,
ganhando baixos salários e sendo orien-
tado para massacrar a população. é seja, como praças e locais de ajardina-
GRANDE PROSTITUIÇÃO
O bispo de Piracicaba, em São Paulo, d.
Eduardo Koaick, apresentou, na semana
passada, durante uma reunião de dirigen-
tes da CNBB, um estudo sobre o papel
dos veículos de comunicação no Brasil.
O texto faz severas críticas aos donos
das grandes empresas de comunicação.
Afirma entre outras coisas que "estes
empresários e os seus anunciantes são os
que realmente promovem a grande prosti-
tuição da cultura brasileira". D. Eduardo
ressalta ainda ainda que o fato de os
meios de comunicação social terem se
constituído em grandes e "poderosas
empresas os fazem sofrer as limitações
que lhes impõe os interesses do capital e,
sob o ponto de vista político,* acabam
sendo subservientes ao Estado.
CAVALO ESTAPEADO
O Chefe da Casa Civil, Golbery do
Couto e Silva, aconselhou ao presidente
Figueiredo que tire seu filho Antônio
Jones Figueiredo do emprego que ele tem
atualmente na Sharp. Tudo isso porque o
presidente do Jockey Club do Rio de
Janeiro, Francisco Eduardo de Paula
Machado reclamou a Golibery do papelão
que Antonio Jones teria feito no Jockey ao
" estapear um cavalo, num arroubo de
proteção ao seu patrão Matias Machine,
que tem estado às turras com o presidente
do Jockey desde a polêmica vitória de
Dark Brow (de Machline) no último Grande
Prêmio Brasil. Machilne não parece ser boa
companhia, pois seu nome anda atual-
mente ligado a um rumoroso caso de
sonegação de Imposto de Renda.
IGREJA EXPERIMENTA
O planejamento familiar começa a ser
implantado finalmente em Curitiba, numa
experiência piloto, que mais tarde deverá
ser estendida a outras regiões. A partir de
1o de julho a Secretaria da Saúde vai
distribuir gratuitamente pílulas anticon-
cepcionais para a população pobre. O
programa é dirigido pela médica Zilda
Arns Neumann, que também é membro da
Pastoral da Família e irmã de D. Paulo
Evaristo Arns.
CALOTE NAS TYS
Depois de bancar durante anos 2insclvên-
cia da TV Tupi, acabando por fecha-!a e
deixando seus funcionários desemprega-
dos, recebendo empréstimos da Caixa
Econômica Federal, o governo parece
inclinado a bancar outra vez os novos
empresários que ganharam as concessões
- Silvio Santos e Adolfo Block. Os
empresários recusam-se a assuimir O
pagamento dos salários atrasados, dizen-
do que estão comprando uma empresa e
não suas dívidas. E surpreendentemente é
o próprio governo, através do ministro das
Comunicações Haroldo de Matos que vem
em defesa deles, afirmando desconhecer a
sucessão trabalhista como obrigatorieda-
de.
O acordo entre governo e empresários
ficou adiado, por isso, para daqui a 60
dias. E os empregados continuam na
recebendo os pagamentos da Caixa Eco-,
nômica que foram suspensos. 0 ministé-
rio da Previdência está planejando pagar-
lhes o salário desemprego - 80% do
salário mínimo, ou seja cerca de 6.400,00
por mês.
FAVELADOS PERDEM
O prefeito da cidade paulista de
Campinas, Francisco Amaral, havia desti-
nado, através de decreto, 82 áreas
municipais para resolver o problema de 70
mil favelados, que reivindicavam
terrenos para moradia.
Mas na semana passada, para desapon-
tamento dos favelados, a câmara dos
vereadores através de outro projeto anulou
a doação do prefeito, reintegrando as
áreas no "domínio comum do povo" "ou
mento.
AMEAÇAS DE SAQUES
A crise continua nas manchetes dos
jornais e alguns dos seus indicadores
parecem acentuar-se:
No Nordeste a desativação das frentes
de trabalho tem provocado novos saques e
ameaças de invasões. Na cidade cearense
de Iracema, no vale do Jaguaribano, a
300km de Fortaleza, cerca de mil flagela-
dos invadiram a cidade exigindo comida.
Tropas da PM cercaram as ruas e os
expulsaram com certa violência. Espalha-
dos pela caatinga eles certamente voltarão
nos próximos . dias,. engrossados por
outras fileiras de sertanejos acossados
pela seca que ainda persiste em boa parte
do sertão.
Atá mesmo a indústria funerária entra
em baixa. Uma das principais fábricas de
urnas funerárias do país, localizada em
Dois Córregos, no interior de São Paulo, a
Indústria Goçói Santos, reduziu em 50%
sua produção, sendo obrigada até mesmo
a cortar as horas extras de seus emprega-
dos.
a. ..30)

dla "C a da Câmara", disse ele. "Do depoimento do.
Depois de realizar com êxito suas con-
venções municipais o PT inicia agora as
discussões para definir melhor a ideologia
que deverá orientar sua ação política. A
iniciativa foi tomada por Luiz Inácio da
Silva (foto), presidente nacional do PT,
que, numa entrevista publicada pela Folha
de S, Pauls nc dia 21 , fala que o PT "é um
partido que tem efetivamente um objetivo
Socialista". "oi a primeira vez que Lula fez
.uma clara profissão de fé no socialismo.
Essa iniciativa teria o objetivo, segundo
fontes ligadas à direção nacional do PT,
de "esquentar o partido, colocando o so-
cialismo em discussão". Pode ser que
isso explique a forma vaga da proposta
socialista avançada por Lula, que não defi-
ne o tipo nem a forma de luta para se
alcançar esse regime. "Quem vai definir
isso é a própria classe trabalhadora" disse
ele. Para Lula, o atual regime militar deve-
rá ser substituldo por um novo regime
com maioria trabalhadora, ("os trabalha-
dores devem governar porque são a maio-
ria desta Nação" disse), mas onde as
forças democráticas brasileiras devem
estar representadas.
Outra notícia que circulava nos bastido-
res do PT, na semana passada, era a
provável filiação do líder comunista Luiz
Carlos Prestes (foto) ao partido. Essa
filiação esbarrava, entretanto, na resistên-
cia de setores da direção nacional do PT,
para quem essa filiação seria um desastre
político, pois poderia criar problemas com
os religiosos que militam no partido.
APOSENTADORIA
Apesar da clara oposição do governo,
dos pareceres contrários do MEC, das
ameaças do ministério da Previdência, aca-
bou sendo aprovada na última 5a feira,
>
_PARTICIPE!
* Mulheres __ A frente de Mulheres Fe-
ministas promoverá na Casa da Mulher, rua
Marques Leão 807, sempre às 21 horas:
Exposição de fotos da mulher
29/6 - Debate "O que é o feminismo"
30/6 - Filme "Mulheres em Armas", de
1/17 - Noite de autógrafos de mulheres
autoras
2/7 - Filmes de várias mulheres cineas-
tas e os melhores momentos da TV Mulher.
O ingresso único para todas as atividades
custa200 cruzeiros.
E
nacional de médicos contra a intervenção
no Sindicato da categoria no Rio de Janeiro.
Em São Paulo haverá Ato Público às 11
horas, em frente à Faculdade de Medicina
da USP e 70 entidades paulistas vão a
Brasília apresentar seu protesto.
e Africa Colonial - O "Sistema Colonial em
África" é tema de debate entre professores
universitários de Gana, Guiné, Senegal,
Zaire, Moçambique e Africa do Sul. No Sin-
dicato dos Jornalistas de São Paulo (Rego
Freitas, 580), 20 hs. Promoção da Abrasso
pelo Congresso Nacional, a emenda cons-
titucional que prevê a aposentadoria com
salário integral para o professor após 30
anos de atividades e para a professora
depois de 25 anos.
A reivindicação de uma aposentadoria
especial para professores por ser uma
atividade muito desgastante é antiga. Ela
já existia na Constituição, e foi extinta em
1987, através de uma emenda. Desde essa
época os professores reclamam, mas
nunca haviam conseguido articular um
movimento nacional de pressão como foi
feito este ano e que acabou dando resulta-
do.
Desde 1975 que o Deputado Alvaro Dias
(PMDB-PR) vem apresentando emendas a
favor da aposentadoria especial, constan-
temente derrotadas pelo partido do gover-
no. No ano passado, além da emenda de
Álvaro Dias outros oposicionistas (Iranil-
do Pereira e Júnia Marise) também apre-
sentaram emendas nesse sentido e até
mesmo o deputado Álvaro Valle do PDS
resolveu comprar a briga dos professores.
No final do ano a emenda quase foi apro-
vada, apesar da posição contrária do go-
verno, e só foi recusada por 3 votos de
senadores do PDS.
Este ano os deputados voltaram à carga
e ajudados pela grande pressão que os
professores organizaram, conseguiram
mobilizar praticamente todo o Congresso
Nacional a favor da medida. O Palácio do
Planalto só recuou no último momento,
mesmo assim para fazer aprovar a emenda
de Álvaro Valle, do PDS, e dessa forma
bloquear a votação da emenda Álvaro
Dias, que era mais ampla.
Logo após a votação, o Ministro da Previ-
dência, Jair Soares - que acaba-
ra de denunciar o desvio de um bilhão de
cruzeiros de seu ministério para Itaipu
afirmou que não terá condições de arcar .,
com mais essa despesa, pois a Previdên-
cia está perto do colapso.
- Associação Brasileira de Solidariedade
ao Povo Moçambicano.
*e Festivale -Dias 17, 18 e 19 de julho, em
Pedra Azul, Minas Gerais, |I Festival da
Canção Popular do Vale do Jequitinhonha,
com a música da região, Décio Marques,
do Centro Cultural do Vale.
* Fotógrafos __ "Política Profissional e
Produção Fotográfica" é tema do Encontro
Nacional de Fotógrafos, em Salvador, 13 e
14 de julho, durante a SBPC. Informações
Barra Avenida, em Salvador, com o Grupo
de Fotógrafos da Bahia.
* Movimento Negro __ Dia? de julho o MNU
- Movimento Negro Unificado --
mora seu terceiro ano. Palestras, debates e .|
filmes, no Teatro Oficina, rua Jaceguai 520,
19 horas. S
* O PT e a crise - "O PT e as questões
econômicas: crise e desemprego" debate
no dia 4 de julho, no Escritório Político do
deputado Sérgio Santos, av. Itaberaba
1564, Freguesia do O.
BR OFANBSA V8.GNC.AAA, '
FALENCIA NO INAMPS
O ministro Jair Soares compareceu à
Câmara dos Deputados na segunda-feira
da semana passada para depor sobre a
quase falência da Previdência Social. Na
ocasião, disse que a Secretaria do Plane-
jamento liberou o pagamento, por parte da
União, de 50 bilhões de cruzeiros, que
correspondem à metade de sua dívida para
com a Previdência. O deputado Jorge
Vequed (PMDB-RS), analisou, para Movi-
mento, o extenso depoimento de Jair
Soares, que durou quase quatro horas.
"Jair Soares tomou inultilmente o tempo
Ministro ficaram apenas três fatos alta-
mente negativos: 1) a defesa calorosa de
que se deve limitar a aposentadoria à ida-
de do cidadão, pondo-se fim à aposenta-
doria por tempo de serviço; 2) o exagerado
otimismo pela implantação da assistência
médico-hospitalar privada, tipo Chile, dei-
xando o ministério de prestar esse serviço
a um grande número de contribuintes; 3) e
o que é mais grave, o Ministro não tem
nenhum estudo e não sabe nada sobre
alteração da forma de contribuição para a
Previdência. Prefere deixar como está,
O tenente coronel! Nivaldo de Oliveira
Dias, recentemente punido com vinte dias
de prisão por ter dito que os militares
vitimados no atentado do Rio centro são
os culpados do sinistro, tem sido apresen-
tado pelo governo com um sujeito indisci-
plinado. No entanto, ele é elogiado por
seus companheiros e mesmo por seus
comandantes diretos.
No dia 11 de setembro de 1979. o gene-
ral Vinicius Lemos Kruel, comandante da
8a Região Militar, mandou publicar o se-
guinte elogio do tenente-coronel: "Obser-
Leia na edição
Cadernos
eas
JOVINIANO
A
Os partidos políticos
J |
SÃO FÉLIX
Sugestões para atuação
DULCE MARIA
Conflito de terra em
CEAS
Assessoria ao movimento
DUARTE PEREIRA
Os ricos cada vez mais
O projeto Carajás
come-
Correspondências, colaborações e assinaturas devem ser enviadas para CADER
+ NQS DO. (i'm -=-Rua--Aristides - Novis, :-104 - (Federaçã
Salvador, Bahia, Assinatura anual: Cr$ 850,00 - Operários Camponeses e
Estudantes: Cr$ 650,00 - Exterior: US$ 15.
CENTRO DE ESTUDOS E AÇÃO SOCIAL
vei este oficial no exercício de suas fun-
ções e verifiquei tratar-se de um oficial de
Estado Maior de grande valor profissional,
austero, aguda inteligência, grande capa-
cidade de trabalho, acendrado sentimento .
do cumprimento de seus deveres, dotado
de forte personalidade, franco, leal".
Outro elogio a Nivaldo veio do general
de brigada Luis Pires Uruahy Netto-que
também comandou a 8a Região Militar -,
publicado no dia 12 de novembro de 1980,
num boletim militar: "oficial de Estado
Maior, com grande capacidade de tra-
balho, dotado de marcante personalidade,
muito franco e austero. Exerceu, durante
meu comando da 8a Região Mili-
tar, a chefia da SSMR/8 com muito acerto,
dedicação e acentuado sentimento do
cumprimento do dever",
SEGUESTRO NO BRASIL
Outro caso de sequestro político, tão
grave quanto o dos uruguaios Lilian Celi-
berti e Universindo Diaz, foi denunciado
na semana passada pelo advogado Luis
Eduardo Greenhalgh. Trata-se do sequestro
do paraguaio Remígio Gimenez, ocorrido
no dia 19 de dezembro de 1978, em Foz do
Iguaçu. Gimenez vivia no Brasil há vinte
anos, casado com a brasileira Dirce
Mecchi Gimenez desde 1962, e com título
de permanência definitiva no Brasil desde
1968. Ele morava em S.Paulo em dezem-
bro de 1978, foi a Foz do Iguaçu, como
fazia regularmente, para visitar os filhos
do primeiro casamento, um dos quais de
nacionalidade brasileira. Lá foi abordado
por agentes da Polícia Federal brasileira, e
conduzido até acidade paraguaia de Portó
Stroessner, sendo entregue ao Destaca
mento Naval paraguaio, e está preso até
hoje em Assunção, no Guardia de Seguri-
dad.
de maio/junho dos
do
CARVALHO NETO
no Brasil
pastoral na política partidária
B. CANTALICE
Alagoa Nova
popular urbano
ricos
MOVIMENTO20/6,3ÃA/681
O
 GREVE DOS MÉDICOS NO RIO
"CONDUTA IMORAL©

A General Motors traiu o sindicato,

denunciou João Lins Pires, presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Ca&-
A repressão em apuros tano, em um documento lido durante a
assembléia realizada dia 23, para discutir
"a demissão, seis dias antes, de mais de -
Até parlamentares do PDS edoPP reagem à1ntervençao 1400 operários pela.General Motors, que
pretendia dispensar mais 700 emprega-
Roberto Martins dos em prazo imediato.
A reunião decidiu enviar uma denúncia

A intervenção no Sindicato dos Médi- Mas na verdade, a intervenção ainda médicos que são parlamentares pelo
ao Congresso com base neste documen-

cos do Rio de Janeiro decretada na ter- não estava decretada. O Ministro Muril- "PDS. ameaçam deixar o partido em pro-
to, relatando a "conduta imoral" da GM no

ca-feira da semana passada pelo Minis- lo Macedo a desmentia, para efetivamen- testo contra as punições e a intervenção,
caso: ela procurou o sindicato para acertar

tro do Trabalho Murillo Macedo, como te decretá-la no dia seguinte, 23. Teria entre os quais Léo Simões (PDS-RJ).
as férias coletivas de quatro mil traba-

forma de tentar acabar com a greve da havido um "vazamento" de informação.

lhadores no final de abril, como meio de
compensar a queda nas vendas alegada
categoria (que entra hoje em seu 27o dia) Dia 23, com a intervenção efetivada, a O médico João Carlos Serra, ex-presiden" pela empresa. O sindicato, "de boa fé",
teve um efeito inverso: a greve ampliou- solidariedade não se faz esperar. Em São teNacional
do Sindicato, renuncia à Executiva aceitou, inclusive acertando novas férias
se. A unidade na categoria aumentou: Paulo, uma reunião convocada pelo Sin- através dodogovernador
Partido Popular que no Rio, em 90 dias "se a situação não melho-
novos hospitais aderiram: nacionalmente dicato dos Médicos tira
decidiu-se por uma paralisação geral da dariedade assinada poruma nota de soli- o mais intransigente emChagas Freitas, é rasse".

86 entidades e
categoria no dia 30; e a solidariedade envia, no dia seguinte, uma delegação de com os grevistas.
não negociar Agora, além de não pagar a compen-
sação de um terço das férias em dinheiro
do movimento sindical e do movimento mais de 30 sindicalistas ao Rio de Ja- (direito trabalhista), ignorou o acordo e
popular tornou-se maior. neiro, composta por vários presidentes fezas dispensas, dizosindicato, segundo

A greve começada no dia 3 de junho, de sindicatos, entre os quais o dos médi- due são pressionados pelo governo para o qual, nesse "pacote" havia operários a

havia chegado a um ponto de provável 0cos,Lula.Hélio Fisbem , e Luis Inácio da Silva, "menosdeumanodaaposentadoria;aci-
dentados, doentes etc. (todos com direito
solução no início da semana passada, reprimirem a greve, colocam seus car- a estabilidade).
mesmo depois das primeiras punições de Entre Outras medidas, é anuncia- > gos à disposição, em solidariedade ao
grevistas adotadas pelo governo na se- da a paralisação nacional dos médicos no tadual),
movimento. No Hospital do IASERJ (Es-
mana anterior. Um entendimento tácito dia 30. No mesmo dia, no Rio, será rea- 12 restantes 50 dos 62 chefes de serviços (os DESEMPREGO E SEGREDO

com o governo havia chegado a uma lizado um Ato Público de Solidariedade dos no dia danãoassembléia) haviam sido encontra- Aparentemente foram desativadas as

pauta mínima de reivindicações que se- convocado pela Unidade Sindical, às 18 coletivamente em face da punição, demitem-se "minipassseatas" que segundo informa-

riam aceitas. A diretoria do Sindicato horas, na Cinelândia. « do co- ram os jornais, seriam realizadas até

publicou nota em que dispunha a pauta lega Gilberto Ribeiro. Enquanto as co- setembro, todas as quartas-feiras, pelo

mínima em 4 pontos: 1o - revogaçãoO.. Um outro tipo de problemacomeça a missões de triagem que funcionam na Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo,
porta de cada hospxtal para averlguar os na última quarta-feira, ao contrário, o
E-
dos, engrossam enormemente. Se antes
sobre o desemprego,naquaraimprensa
de elevação de três níveis no Plano de poa aramomemm -->
havia Sa 6 médicos em cada comissão, foi proibida de entrar "para não assustar
Agênci O:. tobo

Classificação de Cargos dos médicos do agora temos 30 a 40, explicam diretores os companheiros".
_Serviço-PúblicoFederal; declar
ção expressa do governo federal manifes-
ooate o oo o e o
* * *CReunidos
OMISSÃOORGANIZADA|:
no Sindicato dosdasemana
Metalúr-
gicosdePortoAlegre, nofinal
tando a disposição de efetivação dos mé-
Diante deste quadro, o governo intensi-

passada, cerca de mil delegados repre-

dicos precários; 4o - divulgação, pelo
fica a repressão. Dia 25, policiais arma-

to, invadem a Sociedade de Medicina e sentando entidades

governo estadual do cronograma de re-
classificação dos Médicos. Quanto ao dos de metralhadora, em grande apara-

dadente,do Roberto
sindicato.Chabo,
e prendem seu presi-
ponto pendente, o fim da greve,opresi

parae. uma futura Central Regional de Tra-

dente do Sindicato, Dr. RobertoChabo;
declarou que ela terminaria assim que a
pauta mínima fosse aceita. E haveria
_ é0 enquadrado
DPPS,onde depõe que é
durante levado
todo o dia balhadores.OEncontro Estadualaprovou
-uma assembléanodia22;às21horas-
Durante todo o dia 22, a resposta não
no artigo 35contra
dem de prisão éexpedida da LSN.o 1oOr-se- também um documento onde reivindica
umaAssembIéia Nacional Constituinte, a
---vela-E-poucoantesda-assemb
horas, o Jornal Nacional da TV Globo
anunciava a intervenç
Os 4 mil médlcos reunidos, gritavam a rança,em nota pública, ameaça todosgos
trabalhadores na previdência social e

'com processo na LSN. E

uma só voz: "a greve continua". Não
houve nem votação, tão unânime fora a
manifestação.
Como e por que os médicos param
Condlções da greve - Numa greve de
operarzos quemsente a conseguência .... municipal.estadualefederal -No:
-=Cimediara éopatrão, poisa produção-é jorrar,
paralisada, Mas no caso de médicos, de atendimento do
em especial do serviço público, o gran-
de prejudicado é a população. Dai toda
a peculiaridade de uma greve de médi-
cos. Dat porque os médicos em greve no
Rio de Janeiro já lançaram 3 milhões de
- cartas- à-população,-explicando-as-ra-----
zões de seu,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
movimento. É todo u
empenho junto a Sindicatos e Associa-
ções de Moradores - que atenderam
prontamente ao apelo - no sentido de
auxiliar os médicos nesta tarefa. E sem-
pre a greve é parcial. Uma Comissão de
Triagem funciona em cada Hospital fa-
zendo uma seleção daqueles casos em
que é necessário um pronto atendimen-
to, que é efetuado. Os demais, são dis-
pensados.
O presidente do INAMPS, Harri
Graeff. deu uma de detetive policial e
se pôs de doente, na fila do Hospital da
Lagoa e depois no de Ipanema. Foi
barrado por ambas as Comissões. Esta-
va esbanjando saúde...
Os números da greve - Dos cerca de
30 mil médicos cariocas, 20 mil estão
No Rio, a greve continua...
em greve, abrangendo o setor público
E pifais epos
INAMPS Calcula-
se em cerca de 200 mil consultas diárias
que não são realizadas.
As reivindicações' - O movimento
reivindicatório dos médicos, a nível na-
cional, começou em Janeiro de 1981
ca a 5€
iG se reunem -em Eo rtaloza.-2
Trim J,.
-e -Ge
[memuma pauta de reivindicações: sa-
lário mínimo profissional equivalente a
10 mínimos para uma jornada de 20
horas de trabalho semanais; reajuste
semestral para todos os médicos assa-
lariados (serviço público); 13o salário
para os médicos estatutários; correta '
inserção da categoria no Plano de Clas-
sificação de Cargos do Governo.
Em torno destas reivindicações, a par-
tir de março, os médicosjá realizaram 3
paralisações nacionais, sendo que no
Rio a atual greve é a 5a. Duas paralisa-
ções nacionais de uma dia; uma parali-
sação nacional de 2 dias, que no Rio se
estendeu a 7 dias; 4a paralisação, 7
dias, só no Rio.
médicos e todos os que apoiarem a greve
o pagamerito
dos salários é suspenso.
ameaçados de pªrdersuas terras com a
constuiçã
Quantos são os médicos que
trabalham por contra própria
(liberais) e os que são
assalariados.
AGCA! ADIAhnO
PAQOAXE-AATUA RSSelsa o
68 polis casos"..... 457%
Quem são os médicos * O médico ho-
je não é mais o profissional liberal de an-
tigamente. um assalariado, em sua es-
magadora maioria. E um assalariado mal
pago, que na maioria das vezes busca 2
ou 3 empregos para melhorar seus rendi-
mentos. E naturalmente, trabalhando
tanto assim, não pode atender bem a po-
pulação. O salário atual de um médico no
Rio de Janeiro, pouco ultrapassa os 3
mínimos: Estado e Município, 30 mil cru-
zeiros por 24 horas semanais; INAMPS,
28.700, por 20 horas.
Segundo dados de uma pesquisa por
amostragem realizada pelo Sindicato em
1979, 28,7% dos médicos do Rio de
Janeiro, têm apenas 1 emprego; 34,4%, 2
empregos; 28,7%, 3 empregos; e 8,2%, 4
ou mais empregos.
congelamento dos preços de gêneros de
1.a necessidade.
EXEMPLO DEITAIPU
Lavradores da região de Santo Inácio,
no Noroeste de São Paulo, começam a or-
ganizar um movimento semelhante ao dos
colonos de Itaipu, pois encontram-se
de-
Taquanglib-
pe
Paulo. Cerca de 2 mil famílias serão de-
sapropriadas, mas segundo informações
do presidente do Sindicato dos Tra-
balhadores Rurais de Santo Inácio,
Ademar Lazarin, até agora a CESP não
definiu os critérios de mdemzaçao e nem
VIGILANTES EM GREVE
Após uma greve que durou quatro dias e
sofreu muita repressão, com a prisão de 5
trabalhadores e mesmo alguns jornalis-
tas, os vigilantes bancários e industriais
de Minas Gerais continuam as negocia-
ções com seus patrões, mantendo todas
as exigências iniciais.
A greve foi conduzida pela Assomaçao
Profissional dos Vigilantes de Minas
Gerais e seu presidente Zulmar da Costa
Aguiar afirma que as reivindicações dos
vigilantes chegaram a encontrar oposição
até mesmo do presidente da Federação
dos Trabalhadores no Comércio do Es-
tado de Minas Gerais,vEdmo Andrade.

- MOVIMENTO29/6a5/7/81 -

RIOCENTRO
Termina essa semana
cerramento do inquérito oficial sobre o aten-
tado mentado contra o "show do 1o de maio"
no Riocentro, Rio de Janeiro.
praticamente nada espera
oficiais. Movimento
| PorGilberto Laranjeiras
xcesso de confiança na
Operação e na situação
ou uma indiscrição im-
perdoável. Dificilmente
se encontrará outras hi-
póteses para explicar a
presença daqueles ho-
mens em uma das me-
sas de um restaurante muito agradável,
cercado de árvores frondosas, à beira da
estrada Grajaú-lacarepaguá. O restau-
rante é o Cabana da Serra (foto nesta
págitra), situado no ponto mais alto da
estrada que é passagem obrigatória para
quem val da [nuca (onde esta locallzadom
o Riocentro.Enquanto comiame bebiam
no fim da tarde do dia 30 de maio,
aqueles homens chegaram a abrir sobre
a mesa, mapas que seriam do Riocentro.
peitas. Dois policiais a paisana foram
alertados, mas se limitaram a anotar as
placas dos carros dos clientes suspeitos,
entre os quais estava o Puma OT-0297.
Estas informações, vazacias da Secretaria
de Segurança Pública, não puderam ser
confirmadas diretamente, principalmen-
te depois do silêncio imposto a todos que
tiveram alguma relação com o episódio.
|Masenquanto-oscanaisdeinformação--
não estavam totalmente obstruídos, os
vazamentos iam permitindo compor um,
quadro e o episódio foi adquirindo cores
mais , significativas. É possível desta
forma, juntar vários dados que antecede-
ram o fatídico 30 de abril. Recentemen-
te, por exemplo, soube-se que a ordem de
suspensão do policiamento especial que
a PM enviaria ao Riocentro, partiu do
comandante da PM, coronel Newton
Cerqueira, no dia 30, diretamente de
Brasília, onde se encontrava no dia do
show. O telefonema foi dado ao chefe do
Estado Maior da PM, coronel Fernando
Antonio Pott, que a fez transmitir ao 18o
BPM, localizado em Jacarepaguá, de
onde sairiam os 79 homens solicitados
pelo Riocentro. Tanto o comando da
PM, quanto o comando do 18o BPM
«BR DFANBSB VB.GNG.AAA.
NOSSO
elatorio
o prazo para o en-
A oposição
das conclusões
apresenta, nas quatro
anotaram em seus respectivos livros de _ _ diante de qualquer irregularidade. Mas leitas exatame ite 10 dia do show. Ela só
registros, a ordem partida do coronel
Newton Cerqueira. Segundo informações
correntes em meios militares, o coronel
Newton teria feito a ligação do gabinete
de seu xará, general Newton Cruz, chefe
da agência Central do SNL.
O vazamento da informação sobre o
telefonema e posteriormente o vazamen-
to de um boletim preparado pelo II
Exército para o público interno da PM
têm uma explicação fácil. A corporação
nunca se conformou emestar subordina-
da ao Exército. Ela se subordina à
Inspetoria Geral das Polícias Militares,
do Exército, ao Secretário da Segurança,
que €e umgencral de Exército e tem como
Alcm disso as atitudes do coronel com
relação à PM têm gerado profundos
descontentamentos, ferindo seu espírito
de corpo. O coronel não tem vacilado em
promover- expulsões--e--em
Miciais de comandos de batalhões,
Rogério Carneiro
No restaurante Cabana da Serra, clientes suspeitos.
páginas seguintes, o resultado de dois meses |
de investigações sobre o caso e um quadro
de três hipóteses que o explicam, formula-
das por militares com altos conhecimentos e
experiência nas "questões de segurança"
seus objetivos, conforme alguns oficiais.
são muito mais políticos do que morali-
zantes, Ele pretende se fortalecer diante
da população para ficar com as mãos
livres" para 1ªdgsãszadear -a repressão nar-queas-pichaçõesforam a-primeira| ---
política. Seus antecedentes nesta área
são bastante conhecidos: é acusado por
diversos ex-presos políticos como tortu-
rador e foi o chefe do comando que
promoveu o cerco e o assassinato do
capitão Carlos Lamarca no interior da
Bahia: "
Mas há vários outros fatos, relaciona-
dos de alguma forma com o episódio,
que o antecederam. Várias placas de
[ldl'lSllOdas estradas de acesso ao, Rio- ,mnsidçmdo o porta-voz da linhadura,
chadas-eor
Iniciais da cxtmta Vanguarda Popular
Revolucionária). A esposa de um oficial
residente no Recreio dos Bandeirantes,.
que passa diariamente pelo Riocentro na
iqu-ee na volta do trabalho,assegurou a
Movimento que as pichações foram
as notou quan do voltava do trabalho no
começo da noite do dia 30, chegando a
vomentar o fato com o marido. Não é
difícil entender o objetivo e nem imagi-
tarefa depois da passagem pelo Cabana
da Serra. Pouco tempo antes um outro
atentado havia sido atribuído à esquer-
da. Os terroristas que mandaram pelos
ares as oficinas do jornal Tribuna da
Imprensa, deixaram no local panfletos e
pichações, em que se autodenominavaml
*'Comando Herzog". |
Durante o mês de abril, quem lesse a
coluna do jornalista Adirson de Barros,
ora, játeriz
motivo para se preocupar. Adirson é
considerado muito bem informado no
que dlZ respeito aos militares ultradlrel-
lnlormdçõcs do Exército) promovia uma
dura campanha contra a candidatura do
yeneral Euler Bentes Monteiro, uma das
"olunas de Adirson chegou a ser repro-
duzida em um boletim do órgão.
Durante o mês de abril, Adirson vinha
alertando que algo fria acontecer, através
da cartomante "Madame Karmisa", um
personagem que inventou para passar
seus recados. Antes do atentado do 1o de
emsua wlund "Dois Pontos": "Madame
Karmisa prevendo acontecimento nas
próximas semanas, Sua bola de cristal
>stá brilhando. (...) Novidades à vista".
Sua última coluna transmitindo recadi-
nhos foi às vésperas do show. Ele elogia
Maluf e seus elogios a Médici, acusa os
marxistas, como sempre, e termina:
"Todo cuidado é pouco. Madame Kar-
misa avisa: o desfecho está prôxmm
Tembrai-vos de 64".
Mas enquanto o jornalista transmitia
as antevisões de uma cartomante extre-
mamente eficiente (sua única falha é não
prever tiros pela culatra), alguma coisa já
começava a acontecer no Riocentro. O
coronel da reserva, Dickson Menges
Grael, diretor do Departamento de
_ MOVIMENTO-29/6 a 5/7/81
Iautia e Ms OTFTA/AMIVONM
 BR DFANBSB V8.0,

A ordem de suspensão do anotada tanto no comando da

policiamento do Riocentro PM como no 18o BPM.

partiu do comandante da PM, O telefonema teria sido dado

coronel Newton Cerqueira, no diretamen e do gabinete do

general Newton Cruz, chefe
dia 30, diretamente de Brasília.
A ordem de cancelamento está da Agência Central do SNL..

em que se realizou o snow, apenas 2 estava péssima, obrigando a secretária a

país. Sua trangiliidade somente voltou
Administração há mais. de um ano, foi depois « e ouvir as respost?2© negativas de
demitido do Riocentro um mês antes do permaneceram abertos, ao contrário do pedir a seu interlocutor que repetisse

ano passado, quando todos eles permi- pessoes que estariam, por dever de
show. A ele estava subordinado o setor
diversas vezes o que estava dizendo.

tiam a evacuação fácil do local, em ofício, vevidamente informadas sobre

de segurança, para o qual havia levado o
Mesmo assim ficou sem compreender

qualquer eventualidade. boa parte do que disse. Ela conseguiu qualquer anormalidade. Mais tarde, ao
tenente da reserva, Cesar Wachulec. O tomar conhecimento das explosões, não
entender o primeiro nome da pessoa, que
Coronel Dickson se destacou em 1978, teve como não associar as coisas.
Angela Capobiango é tida por alguns
quando ainda estava na ativa, por ser um
não reproduzimos por não haver motivos

dos principais articuladores, ao lado dc de seus conhecidos como uma pessoa sufícientes para isso, que estava falando

Depois da explosão das bombas o

extremamente inescrupulosa. Foi uma
pen. Hugo Abreu, do apoio militar ao
de Niterói e que tinha algo a ver com a

modesta funcionária do Ministério de UFRJ, podendo ser aluno ou professor.

detalhe que mais polarizou as discussões
general Euler Bentes. Em grande parte e que continua provocando desdobra-
loi por sua influência que se reuniram os Aeronáutica, no Rio (viria daí sua Disse que era leitor e amigo do jornal e

ligação com militares), onde o marido que queria alertar seus jo.naiistas e
mentos sérios - conforme se verá mais
diversos grupos democráticos das Forças adiante - é se existiriam ou não mais
Armadas, como a Centelha Nativista e o era massagista. Trabalhou posterior- funcionários para que tomassem precau-

mente na CEHAB e na Embratur, onde ções naquela noite. Ele teria tido a
bombas no interior do Puma. ComoÁ—É já
Movimento Nacionalista dos Coronéis, não houvessem, mesmo sem considerar
foi demitida após alguns problemas que informação de que seria desencadeada
na frente denominada "Movimento Mili- ot 'ras bombas, indícios suficientes e até
acumulou com seu presidente, Said naquela noite em São Paulo uma tal
tar Democrático - MMD". O show de em. excesso, que apontam para a
Fahrat. Hoje desfruta de uma situação "Operação Gaiola", que seria um pro-
1o de maio do ano passado se realizou culpabilidade dos dois militares. Mas
confortável, sendo co-proprietária do cesso de prisões generalizadas, no qual
devido à sua insistência. Os organizado- para um oficial da reserva do Rio de
restaurante Charlie's, na zona sul do Rio estariam com certeza incluídos os jorna-
res e o Riocentro receberam várias Janeiro, o capitão Wilson somente
ameaças de bombas e estavam propensos encontrou forças para se afastar mais de
Rogério Carneiro

a suspendê-lo. O coronel não concordou 100 metros do Puma, mesmo com o

e elaborou um plano de segurança braço dilacerado e com as vísceras à
extremamente eficiente, que previa até mostra, devido ao temor de que explodis-
uma espécie de armadilha para os que se sem outras bombas. Além disso pelo
aventurassem a cometer qualquer aten- menos três policiais que compareceram
tado. Neste ano ele já havia se decidido a ao Riocentro. declararam a vários jorna-
se demitir do Riocentro logo após o listas que haveria mais bombas no carro.
show, para deixar o governo do Estado O Delegado Petrônio Romano da 16a
em liberdade para o reequacionamento DP foi um dos que informaram que
político da empresa, Mas de forma "havia outra bomba arrecadada intacta.
surpreendente e inusitada o Riocentro No outro dia desmentiu a informação e
demitiu-o cerca de um mês antes do show e nem a colegas seus se dispõe a comentar
da data que havia estipulado para o assunto. Quando perguntado sobre o
entregar o cargo. caso limita-se a sorrir e diz que jamais
deveria ter comparecido ao Riocentro
onforme se descobriu naquela noite.
posteriormente as ges-
tões para a demissão do Outro policial que falou sobre a bomba
coronel Dickson Grael, foi o detetive-inspetor Humberto Guima-
partiram da gerente de rães, do DGIE. Aproximadamente à
vendas do Riocentro, meia noite ele sé aproximou de uma
Maria Angela Lopes viatura que estava fora do cordão de
Capobiango. De acordo isolamento. O repórter Ubirajara Moura
com funcionários do! Riocentro, MRM aihr, Neme do Jornal do Brasil e outros jornalistas se
envolveu completamente o s aproximaram tentando obter informa-
Angela M——w._

mulher do prefeito Júlio Guilherme ções. Alegando impedimento e manten-

a das famílias do Sarg.
vigilância a residência
Até hoje sob

do a prancheta de anotações colado ao

Coutinho, D. Rosa Coutinho, que a visita
assiduamente no Riocentro. Através do
corpo o perito se recusava a responder às
perguntas. Somente quando um dos
listas e funcionários de Movimento. De

relacionamento com a mulher do prefei-

e de outro em São Paulo, além da Apex,

jornalistas perguntou sobre as duas

uma longa e tumultuada conversa foi o

to, Angela conseguiu a interferência do

Gráfica e Editora Ltda, no bairro de

bombas ele respondeu para corrigi-lo,

que a secretária conseguiu reter. Poste-

próprio prefeito para a demissão de

Ramos. Possui também uma mansão em

dizendo que havia apenas mais uma

riormente um oficial da reserva, com

Dickson. Mas até aí sua manobra

Vila Isabel e uma casa de praia na região

bomba, que fora recolhida pelo DGIE,.

passagem pelos órgãos de informação,

poderia ser considerada simplesmente

Riocentro é acusada de
dos Lagos. No

Olhando para o chão e balançando

disse a um repórter de Movimento que o

uma manobra ou luta pelo poder dentro

diversas transações irregulares.

negativamente a cabeça o detetive não se

nome "Operação Gaiola" fazia sentido.

da empresa, Ocorre, que no dia do show

dispôs a dar qualquer informação sobre
No seu tempo era desta forma que se

Angela afastou da chefià da segurança

Depois das explosões Angela foi re-

as características da bomba. Em segui-

denominavam as operações que se

também o tenente César Wachulec.

preendida duramente pelo diretor-técni-

da, com o rosto muito sério, demons-

sucediam a um fato grave. Havia
homem do grupo de 'Dickson pára- co do Riocentro, Nilton Nepomuceno,

trando preocupação, disse aos r2pórte-

inclusive as subdivisões em "Gaiola-1",

quedista, qué'serviu no Palácio do Planal- que a acusou de não ter tomado

res: "Aqui hoje, aconteceu algo de muito

"Gaiola-2" e "Gaiola-3". A primeira

to e integrou a tropa de combate à guer- nenhuma providência diante da ausência

sério. Se eu fosse você, iria embora"

seria para prender os comunistas mais

rilhado Araguaia. Como coordenadora do, Em seguida reinvestiu César

da PM.
notórios e assim sucessivamente, até

espetáculo, Angela convenceu o vice-pre-

Wachulec em suas funções de chefe de
atingir - disse ironizando - vocês da
Ao retornar ao Riocentro, o detetire-
sidente da empresa, Geraldo Reis Carva-
Uma de suas primeiras
segurança.
imprensa, que seriam enquadrados na
inspetor Humberto Guimarães, o Cauby,
lho, de que precisaria de Wachulec para
foi determinar que se
providências
operação "G2iola-3"
fez um relatório, entregue ao delegodo
tomar conta das bilheterias. A ordem foi
os portões laterais do
abrissem todos

Borges Fortes, da Delegacia de Polícia

lhe transmitida e Wachulec que antes
show. Posteriormente, quan-
pavilhão do

outro aviso foi dado no Política e Social - DPPS -, onde

exigiu a confirmação pelo vice-presiden-
chamado para depor no
do Wachulec foi

Rio de Janeiro, onde um narrou o que seria, caso o inquérito

te - entregou-lhe o plano de segurança,
Angela convenceu um dos diretores
IPM,

ficasse na área policial, o início de uma

elaborado com base no pl 10 aplicado
seu técnico cujas atividades
que a poupasse em
a lhe pedir

o obrigariam a compa- sindicância. Pela manhã, já no dia 1o de

pelo Coronel Dickson no show do ano
deste pedido conti-
depoimento. Apesar

maio, ele foi tomar café em uma

anterior. Feito isso, Angela transferiu as
do recer ao Riocentro na-
junto a diretores
nuou articulando

lanchonete da Rua da Relação, defronte

responsabilidades pela segurança para o
quela noite, recebeu de
D. Rosa Coutinho, a
Riocentro e a

um parente militar um ao prédio velho da Secretaria de Segu-

funcionário conhecido por Jadir e nem
de Wachulec da
definitiva

rança Pública, local frequentado por

demissão
recado curto e grosso:

sequer lhe repassou o plano de seguran-

empresa.

retire todo o dinheiro do banco e não saia policiais. Lá ele seria a grande atração,
ça. Mas antes das bombas, pelo menos à noite. O militar teria tomado
pois todos queriam saber como haviam
de casa

Estava assim completado o plano de dois avisos davam conta de que algo de
esta iniciativa depois de tomar conheci- ocorrido as explosões do Riocentro.
insegurança do Riocentro. Sem a presen- grave estaria para ocorrer. Um deles foi
mento de uni telex ou rádio, no local em
Nesta ocasião ele confirmou aos colegas
ça do policiâmento da PM, demitido o um telefonema à sede do jornal Mevi-
que trabalhava, que naturalmente não
a existência de mais uma bomba no
coronel Dickson e afastado o tenente mento, em São Paulo, atendido pela
anunciava uma noite clara, estrelada e interior do Puma. Após essa conversa no
Wachulee, tudo podia acontecer ou ter secretária às 20 horas e 30 minutos, de lua cheia. Intrigado com um aviso tão
bar, Cauby foi cercado por um "cordão
acontecido. Nem sequer o pedido de portanto 1 hora antes da explosão das
misterioso e aparentemente oportuno, o
de isolamento", intransponível até para
ambulâncias e apoio médico à Secretaria bombas, ela atendeu um telefonema técnico entrou em contato com a redação seus próprios colegas.
de Segurança, como é rotina, foi feito qual resolveu "'HGB)“”[iéfi'ôdiõo"dirRíU'pum"Sâbcrse
Supondo que se tratasse das bombas a
estranho, para o
bastante

naquele dia. Dos 20 portões do Pavilhão, não dar maior importância. A ligação
estava ocorrendo alguma coisa grave no

9
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/8381
 R DFANBSB V8.GNGAAA, -!

O esquema de policiamento foi

Sem policiamento da PM,
feito por um oficial ligado
sem um plano e com os dois
aos "dissidentes" militares
oficiais demitidos, estava
que apoiavam Euler Bentes,
completado o ©"plano de
e previa até ciladas para insegurança do
prender possíveis terroristas.

Sergio Sbragia/ Abril Press

S.Cvtrynowicz/ Abril Press

NEWTON CERQUEIRA NEWTON CRUZ CAPITÃO WILSON SARGENTO GUILHERME

Comandante da PM, que mandou General, do SNI. De seu gabinete teria Queimou as mãos na explosão de
suspender o policiamento no local. Um silêncio quem nem a família
partido o telefonema de Cerqueira. um fogão que ninguém viu...
consegue romper.

que se referiram os policiais, a TV Globo

acabou jogando no ar as imagens de
Um "absurdo" que explica tudo... duas bombas de gás lacrimogêneo, que
aparecem. em uma sacola de plástico,
Para tentar explicar qual o esquema cito, além de um telefone em linha a esquerda seria acusada, seus líderes presa ao cinturão de um soldado da PM
que estaria envolvido nestes episódios, direta com Brasília. Ele assegura que presos e alguns eliminados. O esquema que trabalhava no local, Posteriormente,
Movimento ouviu a opinião de três meia hora depois do ocorrido, o general passaria pelos generais da linha dura, por interferência do Coronel Job Lorena
militares com grande conhecimento das Gentil deve ter entrado em contato com ulém do ex-presidente Garrastazu Mé- de Sant'Ana, atual encarregado do
questões envolvidas. O primeiro deles Brasília, e tudo que fez foi em sintonia dici e do governador de São Paulo, inquérito, a emissora foi obrigada a
apresentou uma hipótese que classifi- com 0 Planalto. Paulo Salim Maluf. A articulação já apresentar o desmentido. Todo o mate-
cou de "absurda", ressalvando no viria de longa data e incluiria um rial gravado naquele dia está guardado a
entanto que ela permite que todas as Prosseguindo ele mostra que o Rio é poderoso esquema de financiamento, sete chaves pela direção da empresa.
peças se encaixem. Enquanto dava a todo do general Figueiredo. A Vila Alguns dias após um jornalista de O
que estaria servindo inclusive para
opinião, exibia um quebra-cabeças Militar, a mais poderosa concentração Maluf" erguer as pilastras de sua Globo foi informado por um senador em
montado, fazendo a comparação com a de tropas do país, é comaridada pelo sustentação política. Além de varrer a Brasília. que o relatório preparado pela
hipótese que apresentava, Para ele é seu irmão, Euclydes Figueiredo, e a esquerda, o plano incluia apear o Polícia Federal mencionava aexistência
possível que lá em cima, no topo, se ECEME (Escola de Comando do governo, brandindo-se contra ele todas de 2 bombas mo Puma. Como o caso| '
tivesse chegado à conclusão de que já Estado Maior do Exército) é comanda- as informações © sobre corrupção e havia se tornado delicado, principalmen-
era hora de fazer alguma coisa para da pelo outro irmão, Diogo. O coman- negociatas em poder dos órgãos de te após o desmentido da TV, resolveu-se
mostrar. que :o projeto de abertura dante da 1 Região Militar, Enio informação. A senha para a articulação consultar o dr. Roberto Marinho, dire-
precisava ser apoiado, que estava Gouveia dos Santos, que deverá assu- da operação final teria sido dada por tor-presidente da empresa. Ele pediu um
havendo reação da extrema direita: e mir o Comando do IV Exército, Malu] durante 'a visita que fez ao tempo para fazer suas consultas e voltou
que por isto não era possível avançar também. é do esquema Figueiredo. ex-presidente Médici, de "onde saiu autorizando a dar a notícia em destaque.
mais. "As bombas explodem de Belém Todos os. generais de Brigada do 1 dizendo que tinha saudades de seu No dia seguinte O Globo estampava em
«a Jaguarão e isto. não pode acontecer Exército também são, pró-Figueiredo, governo, quando havia progresso eco- manchete: "LAUDO CONFIRMA QUE
sem diretriz. Ou há um movimento de tendo sido promovidos por ele, A fonte nômico etrangiiilidade social. Embora . HAVIA DUAS BOMBAS NO PUMA.
direita organizado nacionalmente ou é faz mais .uma pausa para explicar que a o tirotenha saído pela culatra, uma E O texto não erá menos enfático, ao
o governo, ""No seu entender, portanto, hipótese é absurda e prossegue: Figuei- parte do plano estaria einda engatilha- dizer que o laudo pericial confirma
os órgãos de segurança estariamsendo redo não teria a menor dificuldade para da contra o governo, caso, este. resolva outras bombas encontradas e desativa-
usados como uma espécie de braço controlar a manifestação de um capitão aplicar qualquer punição, A comunida- das 'dentro 'do Puma, de acordo com
clandestino da abertura política., Du- e. um sargento. que agissem à sua de de informações desencadearia uma informações de "duas fontes dignas de
rante sua exposição o oficial faz inter- revelia. Ele teria o apoio incondicional onda de atentados e seguestros. crédito, uma delas política". Quem
rupções para reafirmar que a hipótese é de todos os comandantes de tropa da
área, de toda a imprensa nacional, de Outra hipótese, apresentada : por um conhece a filosofia de Roberto Marinho,
ubsurda. "Eu pessoalmente não acredi-
militar da ativa, é de que o general sabe que ele jamais daria um passo
10 nela, mas é interessante que ela todos os partidos políticos (que se
reuniram em Brasília para apoiá-lo), de Gentil e "o general Walter Pires destes sem estar muito bem respaldado.
permite o encaixe de todas as peças". E
estivessem totalmente alheios à articu- F pelas suas ligações deduz-se que ele foi
segue mostrando que no Rio todos os toda a oficialidade das Forças Armadas
ta maioria está revoltada com o lação. buscar confirmaçãojunto ao Palácio do
comandantes são homens de Figueire-
ocorrido), além do apoio geral da
Planalto. A matéria informava ainda que
do. Waldir Muniz, Secretário de Segu- O general Gentil lanç: sido o laudo não foi entregue a Figueiredo,
rança, foi chefe da Seção de Operações população. Qualquer medida que to- "convencido" da inocência dos agentes
mas por- decisão sua, encaminhado
do SNI e posteriormente chefe da masse contra os envolvidos, levaria a do DOL pelo seu assistente, Coronel diretamente ao Comando do I Exército,
agêneia/Rio do órgão, enquanto Fi- um crescimento político fora do co- Paes, que foi chefe da II seção de
gueiredo era chefe do SNI. É amigo mum, para ele e seu governo. Mesmo Informações do II Exército, na época No mesmo dia por volta das doze horas,
pessoal e fã de Figueiredo, chegando a úe todo o DOI estivesse envolvido, não do assassinato de Vladimir Herzog. o diretor de o Globo foi chamado ao
Seeretário por sua ordem. Não faz nada Zm'vriu a. menor. dificuldade. Basta Para ele, o esquema deve envolver comando do I Exército, de onde voltou
vem ouvi-lo. Ele deve ter recebido a uma das mais de 40 tropas sediadas na inclusive membros do setor da abertura com a orientação de publicar também na
orientação de "livrar a cara" dos dois Vila Militar para varrer o DOT, em caso política. Os órgãos envolvidos seriam a capa a informação de que não havia mais
agentes, mas, como não prima pela de qualquer resistência. Mas porque agência central. do SNL; de onde o bombas. E assim toi feito. Mas desta vez
inteligência, acabou fazendo aquela Figueiredo não fez nada? E ele mesmo coronel; Newton Cerqueira ligou para o jornal não assumia a informação como
veção de mediunidade. "O general responde que se nào fez é por que não suspender o policiamento ao Rios sua, ao contrário da anterior. Em um
Gentil, da mesma forma é homem de pôde, "apesar da hipótese ser absur- centro, a II seção do I Exército, o canto da primeira página, o título
confiança pessoal de Figueiredo. "Am da'", DOT, além da Secretaria de Segurança anunciava que "fontes do 1 Exército"
bos (Gentil e Muniz) podem ser compa- e da PM do. Rio, Para dar mais peso a asseguram que não havia mais bombas
rados com planetas e não com estrelas, Outra hipótese ouvida por Movimen- esta hipótese ele diz que o general Luiz no Puma.
que "têm luz própria", diz nosso to também partiu de um general da Ururfahy Neto, que entrou recentemen-
informante. Na sua opinião eles não são reserva. De acordo com ele estava Hoje. fontes da área militar asseguram
te para a cúpula do SNL em um cargo
montado todo o esquema de um golpe que a fonte consultada por Roberto
como o falecido general Milton Tava- recém-criado, foi destacado para com-
res, que tomava a iniciativa e depois que levaria de cambulhada toda a Marinho foi o ministro da Justiça,
. parecer ao Rio de Janeiro no dia 1o de
mandava dizer: "fiz isto". Explicou oposição e o setor que defende a Ibraim Abi-Ackel. Afinal de contas a
maio, para coordenar o enterro. com Polícia Federal atuou imediatamente no
que a sede do 1 Exército possui um abertura política, Depois da comoção honras militares do sargento Guilher-
provocada pelo massacre no Riocentro, caso. Durante toda a noite do dia 30 para
rádio direto com o ministro do Exér- InC.
o dia 1o de maio, a Polícia Federal
carioca informou o diretor-geral, Coro-

16 MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81


O auge da montagem da farsa
foi a troca de encarregados
do inquérito. Por duas vezes
o coronel Luiz Antonio Prado
ameaçou abandonar o IPM, até
que foi substituído pelo
Agênêia O Globo
Agência O Globo
WALDIR MUNIZ
Secretário da Segurança no Rio:
fez versões mediúnicas do atentado.
nel Moacyr Coelho, que transmitia as
informações imediatamente por telefone
ao ministro da Justiça. "Poucos dias
depois a PF ultimou o relatório encami-
nhado ao ministro, onde fala explicita-
mente em outras bombas no interior do
Puma. A indiscrição do ministro parece
que já está lhe rendendo represálias dos
órgãos de informação. Recentemente os
parlamentares de Brasília começaram a
jreceber um dossiê sobre sua vida, onde
são relacionadas inúmeras transações
ilícitas praticadas por ele desde a década
de S0, incluindo vendas de terras inexis-
tentes nos Estados de Minas Gerais e
Paraná (Movimentono 311.de 15/6/o
81); Entre as acusações, que são feitas
por supostos "velhos camaradas", há a
ata de instalação do Partido Comunista
do Brasil em Manhuaçu/MG, em 1945,
que contém entre outras., a assinatura de
Ibraim Abi-Acket.
Mas nem tudo é união entre os agentes
dos órgãos de informação. Segundo as
contidências de um ex-agente do DOI da
Barão de Mesquita, que ainda mantém
relações com o pessoal "da ativa", a um
jornalista de sua confiança, o tempo
esquentou depois do episódio. Os que
participaram da operação foram dura-
mente criticados pelos demais, pela sua
falta de iniciativa. Eles jamais poderiam
ter abandonado o local depóis da
explosão "no interior do Puma. Eles
deveriam imediatamente retirar os docu-
mentos do sargento e retirar o capitão do
local, o que evitaria todas as dores de
Cabeça que surgiram: Afinal decontas o 7
capitão Wilson permaneceu de 10 a 20
minutos na entrada do pavilhão implo-
rando socorro, sem que ninguém se
dispusesse a ajudá-lo. Um dos agentes de
segurança se recusou porque estava
abalado com a cena e não teria condições
emocionais para dirigir. Um outro que se
dispunha a socorrê-lo foi desestimulado
por um terceiro: "É rabo".
utro que mereceu duras
críticas dos agentes de
segurança foi o próprio
Secretário da Segurança
do -Rio, -gerneral-Watdir
Muniz. Com sua ataba-
lhoada entrevista coletiva
que concedeu no dia se-
quinte. no afã de defender os militares
envolvidos, ele só fez dificultar as
tentativas de se produzir uma versão com
um minimo de credibilidade.
Mas nada disso é surpresa quando se
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
dia aa e É
DICKSON GRAEL
Coronel demitido para não aplicar
seu esquema antiterroristas
observa o esquema que vem sendo
montado no Rio pelo general Muniz. Ele
próprio já foi chefe da II seção de
Informações do 1 Exército (a seção que
coordena as ações do DOI e na qual se
encontram hoje o coronel Cinelli e o
tenente-coronel Zamith), na época em
que o comando estava a cargo do general
Syzeno Sarmento. Posteriormente che-
fiou a Seção de Operações (nacional, mas
sediada no Rio) do SNI e em seguida a
agência Rio do SNI. Depois que assumiu
a Secretaria da Segurança do Rio, o
general Muniz foi buscar em Recife o
coronel Newton. Cerqueira para coman-
dar a PM.E paráo DPPS reconduziu o
não menos conhecido del lo Borges
Fortes, de famosa atuação no mesmo
órgão, na época da repressão mais feroz.
Para assessor de imprensa da Secretaria,
Waldir Muniz nomeou recentemente o
jornalista Emiliano Castor, que tem uma
folha de serviços prestados muito seme-
lhante à do colunista da Última Hora,
Adirson de Barros.
' A tulminância da farsa foi atingida
dom? a trocadoencarregado do inquérito.
Por duas vezes o Coronel Luiz Antônio
do Prado Ribeiro ameaçara abandonar o
IPM, e por duas vezes houve recusa de
generais convidados de umi-lo. Até
que se nomeou 'o coronel sub Lorena de
Sant'Ana para substituí-lo. A nota do I
Exército informou que o coronel Prado
deixava o IPM, por apresentar motivos
de saúde "que serão apurados". Depois
disso, passados cerca. de 40 dias, o
Comando. do. LExéreito ainda não -se
preocupou em informar qual o resultado
da apuração dos motivos de saúde, se
procediam ou não. O Coronel Job, assim
que assumiu o IPM, solicitou ao
procurador-geral da Justiça Militar um
procurador para acompanhar o inquêéê-
rito. Foi nomeado o procurador Gilson
Ribeiro Gonçalves que, em Brasília,
fazendo coro com o procurador-geral,
considerava normal que o capitão não
houvesse sido indiciado. Como se os
flagrantes mais claros não tivessem
nenhuma validade para indiciar culpa-
dos. Ainda em Brasília, Gilson Ribeiro
disse que era normal a missão para a
qual tora designado. rãoescondendo, no -
entanto, que "às vezes a gente tem que
rir para não chorar". Ao chegar à sede
do I Exército, Gilson Ribeiro recusou-se
a falar com a multidão de repórteres que
o aguardavam. Com expressão patética
toi conduzido pelos braços por dois
oficiais, como se estivesse preso, e
colocado no elevador que o aguardava
R DFANBSA V8
,GNGC.AAA,
Coronel Job Lorena Sant'Ana.
Esse episódio foi determinante
para o protesto do tenente-
coronel Nivaldo Dias, que ficou
convencido definitivamente de que
a troca era para encobrir.
ANGELA CAPOBIANGO
Gerente de vendas do Riocentro
e articuladora das demissões
para conduzi-lo até a sala do coronel Job.
Mais tarde o general Gentil apareceu no
saguão e respondeu irritado aos repórte-
res: ""O que posso dizer é que o
procurador chegou, foi apresentado ao
encarregado do inquérito e vai começar a
trabalhar".
Esta troca de encarregado foi conside-
rada o ponto culminante da farsa que se
prepara, já que é raríssimo=deacordo
com vários oficiais - qualquer militar
abandonar uma missão no meio do
caminho. Foi depois disso que o coronel
Nivaldo se pronunciou no Pará e foi
destituído do Comando do 2o Batalhão
de Infantaria da Selva, recebendo 30 dias
de prisão que foram duplicados 'na
semana passada.
Absurdas ou não, as hipóteses e versões
apresentadas são as únicas possibilida-
des de explicação para um episódio que
está sendo tratado como um segredo de
Estado. Na Secretaria 'da Segurança a
ordem é de que não se deve comentar o
episódio nem sequer com os colegas. O
próprio general Muniz, após sua desas-
trada entrevista coletiva, nunca mais
recebeu a imprensa. O detetive-inspetor
Humberto Guimarães nunca mais foi
visto em seu local de trabalho.
A própria reclusão em que se encontra
o capitão Wilson Machado não tem a
menor explicação, a não ser que...
Percorrendo as residências dos familia-
res depois de quase dois meses é possível
constatar que o esquema de policiamen-
to ainda continua funcionando. Defronte
ao prédio em que morava o sargento
Guilherme os policiais informam que a
viúva, Dona Sueli, não está em casa. O
prédio fica em frente ao conjunto
residencial do IAPI. 'O sargento não
devia ficar nada satisfeito quando saía de
seu prédio e se defrontava com a
inscrição na parede do prédio defronte
ao seu: "FIM DA DITADURA". No
térreo do edifício está localizada a loja
"Iramar Modas e Presentes", de proprie-
dade da viúva. A seu lado os policiais
reclamam que são chamados para aten-
der todas as ocorrências do local,
inclusive os acidentes de trânsito Quan
Ia aae erre str parce o Co E- plc io oir ie --- -sapateria-e-deo-barbeiro- da- paleria-sob-
do se recusam, dizendo que sua missão
não permite que saiam daquele local, os
moradores dizem que são omissos. Há
várias turmas se revezando dia e noite no
local. Um comerciante do local informa
que o sargento sofreu queimaduras
graves nas mãos no ano passado, di
que explodira-seu bujão de gás. Nenhum
N
CÉSAR WACHULEC
Tenente, demitido no dia do show,
por ser ligado a Dickson Grael
vizinho no entanto chegou a ouvir a
explosão. Quem tratou de seus ferimen-
tos foi o Batista, empregado da farmácia,
e considerado seu melhor amigo. Mas ele
tem 'se recusado a conversar com a
imprensa, negando-se a dar qualquer
informação e naquele dia não havia ido
trabalhar. Batista apareceu no enterro
do sargento, ajudando o general Gentil e
militares aconduzir o caixão. ......|....
Diante do prédio em que reside o
capitão outra dupla de policiais está de
plantão e informa que D. Sônia raras
vezes aparece em seu apartamento. Um
deles reclama das condições de trabalho,[ :
dizendo que estão ali para proteger D.
Sonia, mas quem alivia sua situação com
água e cafezinho são os vizinhos. Na
praçà: Warnhagen, o pai de Sônia, José!
Agostinho, um senhor humilde e aparen-
tando continuar um pouco assustado, já
está novamente trabalhando. Sem «<<
apresentar como jornalista, o repor r
pede um saquinho de pipoca e pergunia
se "ele: é "o sogro: do capitão, "José
Agostinho diz que sim, olhando meio
desconfiado. "Como é que ele está?"
"Não sei, eu não posso visitar. Nem]:
minha mulher, que trabalha há 12 anos
10 HCE, não pode falar com ele. Só
minha filha é que fala." Depois diz que
ela lhe tem informado que ele já está
melhor, e encerra a conversa com a
chegada de alguns amigos.
o prédio dos pais do
capitão Wilson, Theófi-
lo e Jupira Chaves, não
há nenhuma segurança
ostensiva, mas o portei-
ro diz que eles não estão
recebendo jornalistas.
Este prédio fica na Rua
Major Ávila, no bairro da Tijuca.
Exatamente na mesma rua, a pouco mais
le 100 metros há uma pequena sapata-
ia, que foi propriedade até bem pouco
tempo de um sapateiro conhecido por
"seu" Antonio. Até hoje ele costuma
requentar com assiduidade o local, por
ser amigo do atual proprietário da
tado. Não é nada improvável que os pais
1o capitão Wilson já tenham se utilizado;
los serviços de "seu" Antonio. Ele
ambém tinha um filho que era capitão
do Exército, mas que não chegou a
receber a proteção que o capitão Wilson
y # tios!
:AMaIca.
 BROFANBSB VB.GNC.AAA,

IRA A revolução iraniana

atingiu nos últimos dias um
de seus momentos críticos. Na
semana passada, o presidente Abolhassan
Bani Sadr, que se encontra foragido, foi
oficialmente afastado de suas funções pelo
Parlamento, ao mesmo tempo em que se
iniciou uma verdadeira caçada a ele e a
seus colaboradores, 23 dos quais foram
executados.
Bani Sadr, eleito por esmagadora
maioria (75% dos votos) no ano passado,
loi o braço direito do aiatolá Khomeini
durante seu exílio em Paris, e é
considerado um dos teóricos da "revolução
islamítica"". Que teria ocorrido para que o
presidente, com tal currículo, passasse a
ser acusado de "conspiração contra a
República" e "violação das leis do Isla?
A verdade é que Bani Sadr semprefoi
«alvo de acusações semelhantes. Seus
udversários não são poucos, e localizam-se
tanto à direita como à esquerda de suas
posições,
Sadr se diz um "socialista islamita",
lavorável à modernização da sociedade
franiana, posição que se contrapõe à do
elero xiita mais conservador, representado
no governo pela ala radical do Partido
Republicano Islâmico. Considerado um
liberal, ele de fato gozava do apoio de
«alguns partidos de oposição, e até
mantinha conversações com um
deles, os Mujahidins. Sua destituição
parece ter sido o resultado de uma
«acumulação de forças por parte dos setores
mais conservadores,
O quadro das lutas pelo poder no Ira é
extremamente complexo e contraditório, e
«agravou-se particularmente com a eclosão
da guerra com o Iraque, ainda em curso.
No sentido detentar esclarecer o leitor
sobre a "revolução islamítica", M ovimento
apresenta a seguir uma caracterização dos
principais partidos que participam da
cena política no Ira,
Os
A queda de Bani Sadr
é só um aspecto de
uma acirrada luta
Carlos Machado
Bani Sadr, x-bruço direito do aiatolá K hoini
partidos
Maioria e dos Fedahin-Minoria ajudam
a caracterizar, de um modo geral, os dois
grupos de partidos oposicionistas.
Emjunho de 1980, os Fedahin, a mais
importante organização marxista do Irã
- que arrastava até 500 mil pessoas
para manifestações em
e o poder
cem também em sua atitude frente à
puerra com o Iraque. Entre os partidos
que combatem o regime, o Peykar
declarou que se trata de uma guerra
imperialista reacionária, e conclama vou, no final de maio, uma lei que re-
para sua "anulaçãorevolucionária". ou. gulamenta a organização sindical
Teerã -, sofreu seja, a não-participação
O Partido Socialista, vitorioso nas
eleições legislativas francesas, firmou na
semana passadaum acordo com o Partido
Comunista Francês, o que permitiu o
ingresso decomunistas para a chefia de
quatro ministérios. Para tanto, o PCF teve
que mudar sua posição com relação à
Polônia e ao Afeganistão. No caso do
Afeganistão, o PCF, que defendia a in-
vasão russa, passou apedir "a retiradados
soviéticos e o fimde toda a ingerência
estrangeira".
A URSS e os países do Leste Europeu
estão isolandoa Polônia, como sanção à
sua política de "renovação socialista". As
- Excursões depolonesesà Russiaforam
canceladasaté o fim de julho. A fronteiras
com a Alemanha Oriental e a Bulgária
estão fechadas. A Checoslováquia, a Ro-
mênia e a Hungria aceitam turistas polo-
neses, mas impõem inúmeras restrições.
Pressionado, oPC polonês admitiu queos
países do Comecon têm razão em des-
confiar de sua política, porque não têm
garantias de que a renovação não trará
prejuizos paraa "comunidade socialista".
Enquanto isso, persistem as dificuldades
econômicas da Polônia, cuja divida total
para com o Ocidente éde 23 bilhões de dó-
lares.
VIOLÉNCIA ARGENTINA
O jornalista Manfred Schonfeld, do
jornal La Prensa de Buenos Aires, foi
agredido na semana passada por um
desconhecido que o golpeou no rosto,
provocando-lhe ferimentos nos lábios e a
perda de cinco dentes. O La Prensa é um
jornal de oposição, onde Schonfeld man-
têm uma coluna na qual já denunciou até
casos de corrupção do regime. A autoria
do atentado foi assumidapor um grupo
chamado "Comando Nova Argentina"."
Por outro lado, os bispos argentinos, que
se mantinham alheios à política, redi-
giram um documento em que condenam
sem o regime militar.
O Conselho de Estado uruguaio apro-
na guerra.
pais. A lei desconhece o direito de greve,

um "racha". Os Fedahin-Maioria vêem nega a sindicalização aos professores e

Todas as outras forças de oposição, no
O Partido Republicano Islâmico (PRI), o regime iraniano como "predominante- entanto, estão participando da guerra
funcionários públicos e visa à atomização

criado pelo aiatolá Khomeini, é o partido mente pequeno-burguês", mas "essen- defensiva, embora de diferentes manei-
do movimento operário, pois propõe a or-

que detém o poder no Irã. Defende, cialmente antiimperialista", e como tal ras.
ganização dos sindicatos por empresa e

está indicado em seu próprio Em sua

não por categoria profissional, além de

, a formaçãodeuma"república
--AMaioriaFedahinofereceu-seusservi-
exigir seu registro perante o poder execu-
aniana pos
islamítica", que repudiaria, ao mesmo
qs ao regime, da mesma forma que o
tivo.
uma "natureza dual", o que significa
tempo, o capitalismo e o' socialisnio. que esta classe é, ao mesmo tempo,
'artido Tudeh. Em contraste, a Minoria

Dentro do PRI existe uma acirrada antidemoerática e antiimperialista, sen-

Fedahin e os Mujahidin mobilizaram
LJ

disputa pelo, controle do poder entre a suas forças contra o Iraque independente ©
BOLÍVIA: LÍDER PRESO
eo :ªjai dºgg ffradíc zig! L,, ,ngª'd,ª 'ae'jélé'f'o' mªiª Rod- tica,
do esta última sua principal
quedeveser apoiada
caracte los órgãos regime. Apesar. disso,o..
Oibpresoeml PazGenaroFlores,
regime criticou acidamente a estas forças
conservador, e à ala dos "liberais", principal dirigente da Central! Operária
Os críticos dessa análise acusam o
(traição. covardia, colaboracionismo),
sempre acusada de uma postura *"*dócil", programa Boliviana (COB) e da Confederação
da Maioria de, na prática, mesmo as que o apóiam, como a Maioria
que favoreceria o imperialismo e o Bazar Sindical Única dos Trabalhadores no
subordinar o movimento autônomo dos Fedahin e o Tudeh.
ta burguesia). Campo (CSUTC). De origem camponesa,
trabalhadores às demandas e interesses
Outro ponto de divergências
Os partidos de oposição podem ser Genaroseencontrava naclandestinidade --
do poder. Ao contrário, -a Miner """,do estárem suaatitade-e, 1-6
são et
apresentados emdois grandes grupos. O - Fedahin afirma que a Juta antiimperia-
Bani Sadr. Os Mujahidin defendiam as
líticos do Comitê de Defesa da Demo-
primeiro inclui organizações que, embo- lista não se separa da luta democrática, principais teses do presidente e gozam da cracia têm organizado ações contra o
ra na oposição, apóiam o regime. É o Porém suas divergências com a Maioria simpatia dos liberais do PRI, possível golpe de estado e contra a inten-
caso do Partido Tudeh (PC de linha são ainda mais profundas, O partido Tudeh ocupa um lugar à ção do governo de maxidesvalorizar o
soviética), do Partido Ranjbaran (PC de A Minoria sustenta que a burguesia faz
- parte: é totalmente contrário a Bani.. pesobolivianoem 90%......
--- linha chinesaeos-guerrilheiros-Fedahinm -parte-do - bloco de- poder
. cuja política externa era analisada
MKhalk-Maioria. As forças do segundo especificamente a média burguesia (Bani
como "aventureira", na medida em que
grupo caracterizam -se por.uma gama de Sadr e o aiatolá Beheshti, este do
o presidente assumia uma postura anti- AUTOGESTÃO ROMENA
atitudes frente ao regime que vão desde a PRI, representando dois setores dela), soviética e o Tudeh considera a URSS
crítica acerba até a oposição total. Entre O presidente da Romênia, Nicolas
que é a principal tração de classe no como "aliada natural" do Irã, Simpati-
estes encontram-se os Mujahidin Khalk Ceausescu, anunciou na semana passada
poder. Esta média "burguesia exerce
zante do "Islã revolucionário", o Tudeb
(Combatentes do Povo), organização que os gerentes das empresas estatais
influência sobre a pequena-burguesia
toi o único partido marxista formal
romenas serão eleitos pelas Comissões
pucrrilheira muçulmana, com inclinação (aiatolá Khomeini) e a grande burguesia mente legalizado (em 1979) e também e
socialista (mas de Pessoal. Seguindo o modelo de
não marxista), criada (cujo principal instrumento é o exército). único não criticado nominalmente pel autogestão iugoslavo, Ceausescu reve-
antes da deposição do xá; há também os Como resultado desse "*"compromisso" aiatolá Khomeini.
lou também que, de agora em diante, os
_Pedahin_Khalk - Minoria, o Partido entre a pequena burguesia tradicional e --- No-
sindicatosdo pais terãouma participação
Peykar (maoista), o Partido dos Operá- a média burguesia durante a revolução, a Ranjbaran, simpático aos chineses, che
mais intensa nas Comissões de Pessoal.
rios e Camponeses (linha albanesa) e sociedade iraniana não passou por uma gou a saudar Bani Sadr. quando de su; Esta decisão, ao que parece, foi inspirada
outras formações de esquerda de menor transformação estrutural.
eleição, como "um campeãq da lut. pelos acontecimentos na Polônia.
porte. Os pontos de vista dos Fedahin- As diferenças entre a oposição apare- contra o social-imperialismo da URSS"

12

Um
Na Guatemala não há presos políticos: há políticos assassinados. ..
"Nad Guatemala
C não háE presos políti-
cos, há políticos assassinados; aí o Triân-
gulo das Bermudas não é ficção, as
pessoas desaparecem; os censos não bus-
cam saber quantos somos, mas quantos
ainda permanecemos; país dos generais.
Assim os enaltemàltecos descrevem seu
país submergido numa espiral sangrenta
desde 1954. O sàdismo e crueldade dessa
violência "institucionalizada somente se
comparam com os da Colômbia dos anos
40, mas com um conteúdo/de luta muito
diferente. Por isso também se diz "Gua-
temala, o furação que se avizinha".
"Se a Nicarágua venceu, El Salvador
vencerá e a Guatemala será o seguinte",
não é somente uma avaliação, mas pode
ser também uma realidade que se avizi-
nha, principalmente desde março de
1980, quando as organizações de massas
e a guerrilha passaram à ofensiva e
constituiram uma direção político-mili-
tar unificada, após 20 anos de luta.
A United Fruits
espirra e cai
um presidente
A Guatemala é um país de economia
atrasada - em 1940 era chamada
República das Bananas - dependente,
que baseia suas exportações na agroin-
dústria: café, algodão, açúcar, milho,
feijão. Desde 1975 também exporta mi-
nérios (cobre, níquel, urânio) e no ano
passado exportou pela primeira vez 120
mil barris de petróleo. Seu comprador
mais importantes são os Estados Unidos e
em menor medida o Mercado Comum
Furopeu. Cerca de 52% da população são
cam poneses. Embora produza manutatu-
ras, alimentos processados, medicamen-
tos, essas indústrias não pesam prepon-
derantemente na economia. 72%das ter-
ras cultiváveis estão nas mãos de 2,6%da
população. Os 3, Smilhões de indios maias
eladinos (mestiços ) somente possuem 18%
das terras cultiváveis. Isso os obriga a
trabalhar nas fazendas de café, algodão,
açúcar, produtos que "por sua carac-
terística necessitam de grande quanti-
dade de mão-de-obra, mas apenas duran-
te uma parte do ano,
Muitos recursos estão nas mãos de
multinacionais. Por exemplo, a United
Fruit Company ("Mamita Yunai, Mãe-
zinha Unai: diz uma palavra e compra
uma república, espirra e cai um presi-
dente") é dona do maior latifúndio do
país. Em 1954, quando o presidente
Jacobo Arbens confiscou 250 mil hectares
não cultivados da United Fruit, estava
financiando o golpe que o derrubou.
Nessa época o diretor da. CIA, Allen
Dulles, era um dos seus principais ácio-
nistas.
A usurpação das terras dos habitantes
originais da Guatemala (maias-quichês,
divididos em 22 grupos étnicos) data dos
tempos da colonização espanhola. Até
1906 permitia-se a venda de camponeses.
A Lei de Renda Forçada (1949) obrigou
muitos deles a arrendar parcelas de
terra nos latifúndios. Arbens beneficiou
40 mil famílias com a Reforma Agrária
(1954), mas logo elas perderam nova-
MOVIMENTO29/6a5/7/81
La i ea Aa d Re 574 o ivos EnÃ
279 EV P'BROFANBSBVB.GONC.AAA,' ( d 25 em eeo petas
GUATEMALA
furação se avizinha
Alexandra Caxias
Y)
'?íâ C Eo aa aa o mente as terras. A situação se agra ou
0a) Na 2 * ; f nos últimos anos com a expulsão -m
massa de camponeses, principalmente
nas zonas ricas em petróleo e minérios.
Aos indígenas são pedidos os títulos de
propriedade, que eles nunca tiver: n,
pois suas terras foram herdadas de s us
antepassados.
Os verdadeiros donos da terra es ão
obrigados a viajar centenas de quilôr e-
tros desde as montanhas do Norte ato a
costa, durante as safras, condenado a
um salário de fome. Muitos somente
comem 3 ou 4 dias na semana, e passam
alimentando-se de ervas. Outros emi-
gram pàra as cidades, indo engrossar as
filas de desocupados (30%) ou caem na
delinquência. A maioria é desnutrida
e analfabetos. Só lhes resta deixar-se
morrer ou romper os grilhões.
"Até agora ninguém organizou os
índios, mas se alguémo fizer, que Deus
nos ampare'", declarou um industrial
guatemalteco ao New York Times. Suas
palavras parecem proféticas. Os protes-
tos dos camponeses foram sempre cala-
dos com sangue e metralhadoras, seus
mínimos desejos de organização acaba-
ram em massacres e com o sequestro,
tortura e morte de seus dirigentes: Um
caso recente é o massacre dos Panzos
(1978) quando o exército assassinou 100
camponeses, (inclusive mulheres e crian-
cas) reunidos para protestar porque ha-
viam sido confiscadas as terras onde
trabalhavam há mais de 30 anos. Ali, em
Alto Verapaz, o presidente Lucas Garcia
possuia 78 mil acres e havia projetado
estradas e um oleoduto que cortariam a
região. Além disso, a presença de petrô-
leo e níquel, havia valorizado de tal
maneira a terra que a disputavam feroz-
mente especuladores e grandes proprie-
tários. Em 31 de janeiro de 1980 foram
queimados vivos 30 camponeses que
protestavam pelo mesmo motivo dentro
da embaixada espanhola. Houve, além
disso, dispensas em massa nas fazendas.
Esse era o panorama de março de 1980
quando 70.000 trabalhadores dos cana-
viais e 40 mil dos algodoais entraram em
greve por melhores salários. O. governo
respondeu com metralhadoras e muitos
camponeses foram torturados e despeda-
cados por paramilitares. Mas eles tam-
bém desenvolveram ações de autodefesa
armada e métodos inteligentes para bur-
lar a repressão. Em 3 de março o governo
concedia um aumento de 244% extensi-
vo aos 240 mil trabalhadores dos cafezais
que não haviam aderido à greve.
O movimento foi a primeira ação
ofensiva do Comitê de Unidade Campo-
nesa (CUC), com amplo respaldo dos
operários e de estudantes. Desde então
as invasões de terras são coordenadas e
também a defesa contra a "Operação
Limpeza" iniciada pelo exército, aten-
dendo a um compromisso com as empre-
sas petroliferas estrangeiras e de extração
de minérios. Povoados inteiros negam-se
a participar de festivais turísticos (o
turismo é a terceira fonte de receita), que
desde 1980 diminuiu cerca de 60%, por
causa do clima de violência). Os jovens
desertam do serviço militar obrigatório
(que só é obrigatório para os indígenas) e
SC ilIÍCl'l1íllll nas montanhas CIIgl'USSZHHLI
38

Depois de cinco anos de luta para formar um sindicato nas
fábricas da Coca-Cola,
morrido ou
as fileiras da guerrilha e adotando o
provérbio maia: "Do pânico ao ataque".
"Doze cadáveres sem identificação";
"Dois jovens feridos a bala"; "Morre
motorista baleado"; "Empregado muni-
pal assassinado"; "Pede a seguestrado-
res que lhe devolvam sua família"; "Tiro-
teio diante do terminal aéreo"; "Busca
na costa Sul por causa de atentados a
militares"; "Tenente do exército e dois
guardas de fazenda mortos"; "Ameaçam
residência de dirigente estudantil". Es-
sas são as manchetes do jornal conserva-
dor, "Prensa Libre", num dia qualquer
(4 de agosto de 1980) mas que dão bem a
"idéia do clima de violência enm que se vive.
E o mesmo clima desde 1954, quando
Carlos Castillo Armas derrotou o gover-
no nacionalista de Jacobo Arbens. Ar-
bens, protagonista da Revolução de Ou-
tubro de 1944 que derrubou o tirano
Jacobo Ubico, limitou os lucros da United
Fruit, da Railways of C.A., da Electric
Bond and Share e por isso foi acusado de
"comunista"; um exército de mercená-
rios pagos pelas multinacionais o derru-
bou. Castillo fundou o ultradireitista
Movimento de Libertação Nacional
(MLN) einicioua época do terror; ele
mesmo foi baleado por dissidentes de seu
partido, em 1957. Sucederam-se gover-
nos militares do mesmo calibre. Em 1978
subiu ao poder o Gal. Fernando Lucas
Garcia (somente 15% da população se
deram ao trabalho de votar), apoiado por
dissidentes do MLN, pelo Partido Insti-
tucionalista Democrático e pelo Partido
Revolucionário (PR) e por pequenos
grupos ultradireitistas.
Calcula-se que desde 1954 foram mor-
tas no país por razões políticas 80 mil
pessoas (o pior ano foi 1966 quando
morreram 6 mil pessoas no governo de
Mendez Montenegro). Aperfeiçoaram-se
os métodos de fazer desaparecer os
opositores do regime, inaugurado por
Peralta, em 1963, através de segilestros
individuais ou coletivos (por exemplo, os
27 sindicalistas da CNT em agosto de
1978).
Além do Exercito (20.000 homens,
«om forças especializadas e da polícia
militar, ambulante, de fazendas, Pelotão
modelo etc.) atuam grupos paramilita-
res. Nem todos esses grupos são contro-
lados pelo governo; e por contradições
entre os grupos muitos deles também se
matam.
O mais terrível grupo é o MANO
Movimento de Ação Nacionalista Orga-
nizado) que data de 1966, quando,
segundo eles mesmos, "o Exército estava
desmoralizado pela guerrilha"; Há ou-
tros como a NOA - Nova Organização
Anticomunista,, de 1966, o Comite Anti-
comunista Guatemalteco - CADEG -,
e menores. A Anistia Internacional pro-
vou que pelo menos os paramilitares do
ESA - Exército Secreto Anticomunista
e do CAS - Comitê Anticomunista do
Sul - estão ligados ao governo. O ESA
assassinou entre agosto de 1979 e junho
de 1980, 90 dirigentes sindicais, 45
líderes camponeses, 15 professores, 60
estudantes. Em 1980 a média de mortos
por dia foi de 34 pessoas.
As primeiras organizações guerrilheiras
surgiram em 1960 com a rebelião de 200
oficiais nacionalistas contra a presença
14
., a BROFANBSO VB.GNC.AAA,
127 trabalhadores da
simplesmente desaparecido ...
de mercenários estrangeiros e assessores
norte-americanos. Em 1961 passam à
clandestinidade e dão origem ao Movi-
mento Revolucionário 13 de Novembro
- MR - 13 sob o comando de Alejan-
dro de León, Lúcio Turcios, Yan Sosa,
Trejos e Chacón. Contataram o Partido
Guatemalteco do Trabalho (comunista),
que apóia a luta armada. Nasce a
organização estudantil MR 12 de Abril. -
Em 1962, as três organizações fundam as
Forças Armadas Rebeldes (FAR) e criam
duas frentes de combate. Em 1963 Sosa
rompe com o PGT (Comunista) acusan-
do-o de postura eleitoreira. Esse é o
primeiro de uma série de problemas e
contradições internas; em 1966 a guerri-
lha é praticamente aniquilada. Em 1968
sobrevivem a organização de Yan Sosa
(simpatizante trotskista), as FAR Rebel-
des de Turcios e as FAR Revolucionárias
do PGT, restos que em 1970 praticamen-
te desaparecem, Em 1972, todo o coman-
do político do PGT, que reafirmou a via
armada, foi segiiestrado e assassinado.
Nesse ano aparece a Nova Organização
Revolucionária de Combate que agrupa
restos isolados da antiga guerrilha e
funda o Exército Guerrilheiro dos Pobres
(EGP), atualmente a força mais poderosa
da pucrrilha,
Em 1979 atuam no EGP, as FAR, o
PGT e a Organização do Povo em Armas
ORPA, um grupo- que se preparara
durante oito anos e tinha origem entre os
índios maias. As 4 organizações são pró
Moscou e é a guerrilha centro-americana
mais alinhada com a União Soviética.
Nunca tiveram grandes diferenças e o
processo unitário foi curto. Desde 1980
coordenam-se algumas ações e a guerri-
Pobre Guatemala...
População: 6,8 milhões, 55% indíge-
nas Maias - quichêés; 3,9 milhões,
maiores de 14 anos; 2,1 milhões de
população economicamente ativa; 52%
trabalham na agricultura, silvicultura e
nescea: 5% da população recebem 34% da
receita nacional. 25% da população
recebem 66,5% da receitanacional; 2,6%
da população possuem 72% das terras
cultiváveis; 3 milhões dos descendentes
os mais só dispõem de 18%das terras;
70%da população têm uma receita anual
igual ou menor de $ 75 dólares (1)
6,4% dos assalariados ganham mais de
500 dólares anuais.
* Salário mínimo agrícola: 3,50 dólares
(2)
e Salário Mínimo industrial 2,00 dólares
5% da população não lêem nem escre-
vem (3).
* Perspeetiva de vida: #1 anos (campo) 56
anos (cidade)
#81 'de cada mil crianças morrem ao
nascer
e Há um médico para cada 4 mil habitan-
tes
60% das casas não 'êni água nem luz
* Exportações: café, algodão, carne, açú-
car, bananas, cacau, mandioca, feijão.
e Petróleo cru: 120.000 barris/ano desde
1980, níquel, cobre, urânio.
eO turismo é sua terceira fonte de
recursos (4)
Taxa de crescimento - 1980: 3,1
(1977: 7,8)
empresa haviam
lha passa à ofensiva com combates em
quase todo o país. Em janeiro de 1981
dá-se a unificação formal em um docu-
mento que faz um balanço que diz que a
situação do movimento operário e popu-
lar não está ótima, rechaça os triunfa-
lismos e acerta uma política de alianças
"com os setores democráticos e progres-
sistas, reconhecendo a classe operária
como classe dirigente do processo de
libertação nacional". Adotam a tática de
"Guerra Popular Prolongada"" apóiam o
povo de Belize, sobretudo, ressaltam a
luta dos indígenas (oprimidos econômi-
ca e culturalmente); "somente se não há
opressão étnica e econômica se poderá
falar em triunfo revolucionário".
As organizações guerrilheiras formam
parte da Frente Democrática Contra a
Repressão (FDCR), fundada em 1o de
março de 1979. Primeiramente foi defen-
siva e se propunha a coordenar as denún-
cias, a solidariedade, usar meios legais.
Mas após um ano seus documentos
mudam de tom e passam a falar "de uma
mudança de estrutura do sistema" de
"rechaçar o oportunismo reformista pe-
quenoburguês"* e pregam a necessidade
de converter-se em uma frente política,
"revolucionária, popular; democrática;
antiimperalista". Essa- evolução da PF-
CR mostra a evolução dos aconteeimen-
tos na Guatemala.
O FDCR agrupa 100 sindicatos, 100
organizações camponesas, 40 organiza-
ções estudantis, associações profissio-
nais, religiosas, comitês de bairro, cen-
tros culturais, o PSD e o FUR (social-de-
mocratas) e a guerrilha.
O grande impulsionador do FDCR é o
movimento operário, através de sua or-
-
MÉXICO $ A cada 20 dias
GUATEMALA «<
e cionários guatemaltecos. O exército teve
GUATEMALA HONDURAS
EL SALVADOR
e Reservas monetárias 1980: 547 milhões
de dólares (1978: 1.242 milhões de
dólares) (5)
e/n/luaçàão 1980; 35%(1973 14,4%)
*Desemprego: 30%
(1) Um dólar tem paridade de câmbio com um
quetzal (Moeda guatemalteca)
(2) Depois da greve de 110 mil bóias-frias em
março de 1980
(3) Em 1980 o governo iniciou uma campanha
obrigatória de alfabetização.
(4) Em 1980 decresceu para 62%.
(5) Calcula-se que nos 6 meses que se seguiram à
vitória sandinista, sairam do país 122,8 milhões
de dólares.
Fontes: Boletim Estatístico do Banco da Guate-
mala, Documento FAR.
(Ganeiro/março, 81) Sugar World (Abril 1980)
FCDR (CEPAL).
ganização principal, o Comitê Nacional
de Unidade Sindical, (1966) - CNUS,
que agrupa a Central Nacional dos
Trabalhadores, a Federação Autônoma
Sindical, o CUC e todos os sindicatos do
país. Somente 30% do proletariado estão
organizados, mas ele é bastante combati-
vo.
Isto é que é a
Coca-Cola:
um sabor de morte
O caso do sindicato da Coca-Cola
mostra essa combatividade e por sua vez
a irreversibilidade do processo guate-
malteco. Em 1968 morre assassinado
César Barriles, o primeiro que tratou de
organizar o sindicato. Em 1976, 152
trabalhadores da engarrafadora são des-
pedidos por teptarem formar o sindicato.
Apesar disso, o movimento continua,
acelera a criação do CNUS (seu dirigente
Israel Marquez era secretário geral da
CTN) e mobilizações de solidariedade.
Cerca de 30 subsidiárias da Coca-Cola
em todo o mundo, tiveram suas ativida-
des paradas por greves de solidariedade e
se fazem boicotes do consumo da bebida.
Em fins de 1980, após 5 anos de luta, a
empresa aceitou trocar o executivo John
Trotter, reconheceu o sindicato e read-
mitiu os despedidos que sobreviviam.
'O conflito custou a vida de 100 traba-
lhadores e 27 desapareceram. Em 1978,
por exemplo, assassinam o dirigente
Pedro Quevedo, metralham seu sucessor
e matam um vizinho por equivoco, as-
sassinam o novo sucessor, Manuel Lo-
pez Balan e logo o próximo Marlon
Mendizabal. É criado então um comitê
executivo, mas em junho de 79 é assassi-
nado o dirigente Renê Alana e 27 diri-
gentes são sequestrados. Assassinam
também o advogado do sindicato. Entre-
tanto a luta continua; antes do triunfo
estavam filiados 94% dos trabalhadores.
um jornalista morre
ou desaparece...
Este ano foi decisivo para os revolu-
que mobilizar todas as suas forças para
enfrentar a guerrilha. A imprensa busca
as maneiras de informar e por isso a
cada 20 dias um jornalista é assassinado
ou então desaparece. A Igreja se nega a
oficiar missas em El Quichêé, região de
grandes conflitos. Os estudantes conse-
guiram o primeiro êxito da greve de
Quetzlteriago; mesmo à custa de dois,
dirigentes assassinados.
O país está pagando um preço atroz
por sua libertação, mas como diz um
canto de Popol Vuh: "Se perguntarem
aos senhores de Xicalba a respeito de
nossa morte, que estão arquitetando e
preparando porque até agora não fo-
mos mortos, nem nos puderam vencer,
nem .pCl'CCCIHOS em suas torturas, nem
nos atacaram de verdade seus animais,
temos o pressentimento de que dirão:
vamos usar a fogueira para matá-los,
mas a verdade é que nós não morre-
remos nunca".
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81

CULTURA
A censura ataca com as muletas das
senhoras de Santana
As "mães de Santana" devem estar sur-
presas com os frutos suculentos que deu
seu manifesto contra a licenciosidade na
. televisão. Apartirdeleesempreapoiadosem. __. uma vezquea peça nãoteria condiçõesde ...
seu nome, os censores voltaram a todo
pano, recrudescendo sua ingerência no tea-
tro, no cinema, na televisão.
Em poucos dias capitulos da novela Rosa
Bahiana, da TV Bandeirantes, tiveram que
ser totalmente reescritos. Programas de
humor consagrados como o de Jô Soares
foram mutilados e algumas peças de teatro
censuradas. "A Fula de Mutulão" de Bráulio
Pedroso e a peça 4 x 1 de Bernardino Carrar
foram vetadas. E mesmo um espetáculo de
Balé, baseado na ópera de Arrigo Barnabé,
Clara Crocodilo, teve uma parte censurada.
Tudo em nome dos "bons costumes".
Mas a vontade é bem outra. Amparados
na muleta das "senhoras de Santana" os
censores estão investindo, na verdade,
contra os trabalhos mais políticos e con-
sequentes, reveladores de realidades que
não costumam agradar ao sistema. Luiz
Carlos Moreira, membro da atual diretoria
Artistas e Técnicos de São
do Sindicato de
Paulo, num depoimento a Movimento,
explica um pouco como as coisas estão
acontecendo de fato. Luiz Carlos é diretor
da peça "Ferro e Fogo", uma criação do
Grupo Apoena censurada na semana pas-
sada.
"Em setembro do ano passado o grupo
começou a fazer discussões sobre a monta-
gem da peça "A Ferro e Fogo", que havia
sido criada coletivamente e partiu para uma
pesquisa de campo. Fomos à periferia, a
reuniões de associações de bairros, oposi-
ções sindicais, tomamos os trens na hora
do pique, enfim tentamos nos aproximar
daquela realidade que seria o dia-a-dia do
trabalhador. A idéia, bastante audaciosa,
era produzir uma peça capaz de ao mêsmo
tempo interessar ao público da pequena
burguesia que vai ao teatro e ser atrativa
Clara encontra o crocodilo
"Clara Crocodilo não é só um espetáculo;
é um jeito de ser, é a busca da integração,
da pessoa se encontrar de novo com ela
mesma. Vivemos numa estrutura cindida,
regida pelo lema "dividir para reinar": se você dade sem quem haja também uma mudança
está dividido, você é facilmente dominável.
Ciara Crocodilo é a tentativa de juntar os
dois lados que a gente tem: o lado Clara,
que é o lado mais aceitável, mais bonitinho,
racional, é o lado Cracodilo, que é o lado
inconsciente, o lado escuro, o lado animal".
assim que Laia Deheinzelin define o
espetáculo que montou, a partir da música
de Arrigo Barnabé, e que está sendo apre-
sentado em São Paulo com absoluto suces-
so.
Clara Crocodilo é uma mistura de dança
musica! e teatro, em que a denúncia e a
crítica da sociedade em que vivemos são
comunicadas num evento de alta energia e
forte impacto sonoro e visual.
Essa busca da integração está presente na
própria estrutura da equipe de Clara Croco-
dilo que «reúne 43 pessoas, desde os
bailarinos até uma psicóloga e um acupun-
turista, e em que nomes consagrados,
como os de Kiauss Vianna (preparação
corporal) e Mirian Muniz (preparação tea
al), na faixa dos 50 anos, se misturam
m os de jovens estreantes de 19 anos: O
extraordinário é que essa equipe (que,
e da modéstia dos espetáculos. de
ca .montados no Brasil, define Clara
codilo quase como uma .superpro-
foi formada sem o menor recurso
financeiro inicial,
"Fazer Clara Crocodilo foi uma grande
escola para todos nós", diz Lala. "As
pessoas tiveram que sé transformar muito
para realizar um trabalho coletivo. Eu, por
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
[TNê ,as GTWXMIVOM
a£1
* BROFANBSS V8,GNGÇ;AAA, ©
ARTES E ESPETÁCULOS
para o pessoal da periferia. Nesse sentido
tinhamos programado a fórmação de cara-
vanas nos bairros para assistirem a peça,
se deslocar para a periferia devido à sua necessário-para-voltar;-requeremos-
montagem. No palco, nós praticamente
reproduzimos uma fábrica, com seis moto-
res em cena, polias, roldanas etc. E os
atores, durante a peça, vão fabricando
diversas peças que serão utilizadas durante
a apresentação.
A partir de uma recriação das condições
de vida do cotidiano da classe trabalhadora,
no qual transparece, para o próprio operá-
rio, a contradição fundamental do capitalis- porque
mo, pretendemos fazer uma reflexão sobre
os rumos do movimento operário no Brasil e
questionar se nós, enquanto povo
Sola
TEATRO
exemplo, tive que aprender muito a ouvir os
outros, a aceitar críticas e sugestões. Esta é
uma coisa em que eu acredito, que não é
possível nenhuma mudança real na socie-
nos indivíduos, sem que as pessoas sejam
capazes de tomar iniciativas, de serem elas
mesmas. A gente é meio capitalista em tudo
o que faz, só se preocupando com o resul-
tado, com o produto, sem levar em conta o
processo.
"Esta é uma coisa que está pintando em
toda uma geração de artistas. E o lance de
continuar sendo crítico, inteligente, com
preocupação social, só que sem aquela
rigidez, tristeza, sentimento de culpa dos
anos 70. É uma coisa que tem muito no
Arrigo, no Itamar Assunção, no pessoal do
Premeditando o Breque e do Asdrúbal
Trouxe o Trombone".
" Eu era muito criança na década de 60 e
não vivi diretamente o que ocorreu, só
assisti; mas o que eu acho é que havia na-
quele momento duas coisas distintas: de
um lado, o movimento hippie, com a redes-
coberta do corpo, trazendo a questão da
libertação sexual, mas dissociado de qual-
quer preocupação política e que acabava
sendo meio falso; do outro lado, os mili-
tantes, que percebiam o social, mas não a si
próprios, e se comportavam então como um
monte de livros, não como pessõas. Agora,
eu sinto que as duas coisas estão come-
cando a se juntar, eu sinto que a década de
80 pode retomar a de 60 num nível
superior".
E essa junção está preserite no próprio
jeito de Lala trabalhar, que combina uma
alta dose de impulso, de energia, de
DEU PRÁ Ti, ANOS 70?
Primeiro lomga-metragem em super-8
produzido no Rio Grande do Sul, entre
novembro de 1979 e fevereiro de 1981,
"Deu prá ti anos 70", de Giba Assis
Brasil e Nelson Nadotti, é um filme
sobre a década que passou de um ponto
de vista que não consta na historiografia
oprimido, estamos nos preparando para a oficial: "o ponto de vista dos jovens que
"cena final". cresceram e viveram nos anos 70 em
Pois bem, enviamos o texto para censura Porto Alegre, onde se passa a maioria
demorasse maistempo do que o _ das histórias do filme".
77777777Lembrandoe"sufoco"dos-anes/U,-
sura uma vistoria sobre o visual da peça, Os autores comentam que "em 1972, a
como de praxe. No entanto a Censura se gente assistia ao "Programa Flávio Ca-
negou a assistir a peça, que já estava toda valcanti" e nem desconfiava de que havia
montada, com um custo de 500 mil cruzei- tortura. O arrocho salarial era um fato,
ros. E a poucos dias da estréia nos chegou a mas falava-se muito mais do milagre
confirmação de que a peça estava proibida, econômico
por motivos políticos. Eles acham que a partir daí é possível
Consideramos importante não deixar que fazer uma análise sobre a alienação da
essas arbitrariedades passem em branco, juventude como consequência da repres-
se trata da defesa do direito da livre são, mas o importante é mostrar "como
manifestação que é fundamental para a as coisas acontecem apesar da repres-
democracia". são".
$.L./M.C. Nelson e Giba começaram seu tra-
balho em cinema fazendo parte do grupo
Humberto Mauro, que em 1976 exibia
filmes brasileiros e ao mesmo tempo era
um centro de criação. Daí surgiu o grupo
decinema unido a mais dois grupos
- de teatro e de música,
"Deu prá ti" foi premiado no Festival
de Gramado deste ano.
ORGULHO HOMOSSEXUAL
O começo da "Semana Nacional de
Orgulho dos Homossexuais", na terça -
feira passada, superlotou o centro de
Miami, onde 75 mil homossexuais, ho-
mens e mulheres, realizaram uma mani-
festação monstro. Os homossexuais
americanos celebraram sem incidentes
o que pretendiam fazer novamente no dia
28, em São Francisco. Entre os grupos
que se manifestaram, o de maior desta-
que foi o dos "Pais de Filhos. Homos-..
sexuais".
PORNO-RESTRITAS
O Conselho Superior de Censura
criou, no último dia 24, as "salas de
exibição cinematográfica restrita". Es-
sas salas somente serão criadas em ci-
dades com mais de 1 milhão de habitan-
tes ou capitais, e a elas ficarão restritas
as fitas "pornográficas" ou que conte-
nham cenas de "exarcebadas violências
vontade, com uma construção muito meti- e crueldades".
culosa. Antes de começar a montar Clara Para Roberto Machado, presidente do
Crocodilo, ela escreveu mais de 300 pági- Sindicato Nacional da Indústria cinema-
nas, buscando entender o trabalho de tográfica, "esta medida somente benetfi-
Arrigo Barnabé e encontrar um fio capaz de ciará o capital estrangeiro, que já tem
ligar as várias músicas. A linha mestra do pronto e acabado o estoque necessário
espetáculo é a música Office-boy, que
que acumulou todos esses anos na pro-
conta a estória de Durango, que "trabalhava dução pornográfica mundial. Para Me-
que nem um desgraçado a semana inteira"
molo Júnior, produtor, "as salas espe-
e, "no sábado, porém, estava duro", e que, ciais são perigosas. Se a gente tivesse
um dia, ao ligar a TV, descobriu que sua realmente a certeza de que nelas seriam
antiga namorada, Perpétua, ex-caixa de um somente enclausurados os filmes que
supermercado, havia se transformado numa exploram o sexo com má fé, tudo bem.
"chacrete". Para ter acesso a ela nova- Mas eu receio que comecem a ocorrer
mente, ele precisava ganhar muito dinheiro. injustiças na hora de separar o joio do
Então, seguindo um anúncio de jornal, trigo".
Durango alugou seu corpo para testar um
novo produto, sem saber que "estava POLÍCIA MUITO LOUCA
sendo transformado num terrível monstro Desta vez, foi "Amante Muito Louca",
mutante, meio homem, meio réptil, vítima de Denoy de Oliveira. Mais um filme
de um poderoso laboratório multinacional". apreendido ilegalmente pela Polícia Fe-
"O office-boy", diz Lala, "simboliza toda deral. Interceptado dias atrás na BR-262,
a impotência que estamos vivendo. Ao entre Vitória e Cachoeira do Itapemirim,
nm posto policial, quando a caminho
tentar reconquistar Perpétua, Durango se
torna a vítima total. E aí, então, que ele rea- de uma feira cultura! em Porto Alegre.
ge, juntando a força do crocodilo, com parte Espírito Santo.
O filme pertence à Dinafilmes de São
da sua consciência humana. O espetáculo
não apresenta soluções, mas mostra uma Paulo, que distribuiu nota assinada pelo
Conselho Nacional de Cineclubes assi-
realidade, mostra que Clara Crocodilo não é
o facinora, o inimigo público número um, nalando que "ainda que seja quase corri-
mas uma coisa que existe dentro de cada queira - já são 157 vezes e todas ilegais - é
necessário o mais veemente repúdio a
um de nós. Foi então que entrou a Censura,
vetando a parte final do espetáculo, quando essa arbitrariedade".
"Amante Muito Louca" é um filme de
desciamos do palco para a platéia, procu-
rando integrar todos espectadores numa crítica à pornochanchada, várias vezes
premiado, bastante conhecido e devida-
dança ritual, primitiva, numa coisa de
todos". mente liberado pela Censura Federal.
José Tadeu Arantes

___ ORA,
O GRANDE
A entrevista do ex-presidente da UNE,
Ruy Cêsar, publicada na nossa edição
passada provocou uma longa resposta de
Duarte Pereira, jornalista e polític
recentemente-anistiado-eaté-há N -- porque,paralelament e, vêm-se desenvol-
to.
Como o conteúdo e a forma das
colocações de Ruy Cesarlsão contro-
versos - veja à página 2 que mesmo a
redação de Movimento tem críticas a ele,
- a "réplica de Duarte Pereira é
publicada a seguir com igual destaque.
Movimento não aceita, no entanto, a
afirmação de Duarte - apressada, não
comprovada, injusta - de que venha se
convertendo num "veículo privilegiado"
de "certas correntes políticas" e o espaço
que sempre lhe garantimos é prova
contra essa acusação. (Raimundo Rodri-
ques Pereira)
Em sua edição de no 312, o jornal
Movimento publicou com destaque,
em duas páginas, uma entrevista com
Ruy César Costa e Silva, na qual o
. ex-presidenteda UNEe ojornalista que __
o entrevistou, a pretexto de um espetã-
culo teatral, investem contra todas as
forças de esquerda, indiscriminadamen-
te, e em particular contra o partido de
esquerda que, apesar de seus erros e
deficiências, é o mais avançado e conse-
Partido.ComunistadoBrasi
se de umaentrevistalonga,
ela inclui, de passagem, observações e
constatações procedentes, que podem
induzir a uma leitura eclética e concilia-
come-anda-em-moda em determ
nados círculos, intelectuais e políticos.
Por isso, para avaliar o verdadeiro signi-
ficado político e ideológico da entrevista,
é preciso levar em conta não só o que o
entrevistador e entrevistado afirmam
expressamente mas também o que insi-
nuam, destacar qual é a linha dominante
do pensamento de ambos e ponderar
qual é a conjuntura política e ideológica
em que a entrevista se insere - e como
da se insere nesta conjuntura.
A esse respeito, cabe lembrar que o
país atravessa uma séria crise econômi-
ca, que tende ainda a agravar-se, acen-
tuando os já dramáticos problemas
sociais da maioria trabalhadora da
população. Essa maioria, como é natu-
ral, resiste a que se continue jogando o
peso da crise sobre suas costas e luta por
uma vida nova, aprofundando as difícul-
dades políticas do regime ditatorial-mili-
tar, o que tanto pode levar a sua
derrocada completa, abrindo um período
de transformações sociais no país, como
pode conduzir a um grave retrocesso
político e social, se o movimento popular
é democrático não conseguir em tempo
acumular forças suficientes para levar
adiante, vitoriosamente, sua luta. A
conjuntura impõe às forças populares,
portanto, graves e inadiáveis tarefas.
77777777
desafioé-cinda-maissé o porquese
inclui no quadro de uma crise profunda
- econômica, política, cultural e militar
- do capitalismo mundial, tanto em sua
versão ocidental quanto em sua versão
burocrático-soviética. Esta crise, desen-
cadeada pela resistência antiimperialista
dos povos oprimidos e pelas lutas
crescentes da classe operária nos países
desenvolvidos, e aprofundada com a
conjuntura econômica de "estagflação"
*
16
NG.AAA, >
x EAÁÚ . BRDFANBSO V8.G
SALVE,
CESAR!
Duarte Pereira
que vem se delineando desde 1971, hoje práticas rião-democráticas que emper- luta ideológica implacável, sem quartel,
se acentua com as disputas interimperia- ram uma luta mais eficaz contra as 'de nível filosófico e científico cada vez
listas cada vez mais descaradas das ideologias não-operárias. mais apurado, contra todas as manifes-
grandes potências e em particular das Esse panorama só não é sombrio tações ideológicas não-proletárias e não-
revolucionárias, . de modo a forjar
trêssuperpotências,-os-Estados-Unido
aUnião Soviéticae a gente China; vendo asocializaçãoea internacionaliza- anguarda operária
ção das forças produtivas, premissas sem a qual não haverá eixo para nenhu-
essas disputas, se não forem barradas
materiais do socialismo; vem crescendo o ma unificação popular ou antifascista de
pela luta revolucionária dos povos,
podem arrastar brevemente a humanida- peso social e político da classe operária e cunho revolucionário. Foi nesse contexto
de a um novo e devastador conflito dos trabalhadores semiproletários, pre- que Emiliano José e Ruy César recebe-
mundial. missas políticas objetivas do socialismo; ram duas páginas de Movimento para
Mas o avanço da luta revolucionária é o aumento da opressão nacional e das publicar uma entrevista de pretensões
tendências fascistas está conduzindo a teóricas; como se inseriram na luta
hoje dificultado pelas crises sucessivas
por que passou o movimento operário e uma ampliação e aprofundamento da política e ideológica em curso?
popular nas últimas décadas, as quais luta antiimperialista e democrática; e as A primeira constatação a fazer é que as
geraram uma situação imediata séria de próprias crises recentes do movimento perguntas e as respostas da entrevista
não estão dirigidas contra o reginc
militar e seus prepostos, ou contra o
imperialismo, ou contra os ideólogos
A partir de análises apressadas, Ruy Cêsar
burgueses; não, o fio da entrevista está
rejeita as correntes de esquerda em bloco e, voltado contra as "forças ditas de
de forma especial, as marxistas- "esquerda" e em particular contra sua
corrente mais avançada, conforme já "oi
leninistas. E o que nos oferece, em troca, assinalado. Cabe ressaltar que, na en-
nosso grande teórico e político baiano? trevista, em nenhum momento o regime
dos generais é denunciado como au o-
-- ritário e tirânico; "autoritária"naentre-. _- ___
vista é apenas a esquerda brasileira". O"
leitor tem, por conseguinte, o direito
(e o dever) de se perguntar: proceden-
do assim , entrevistado e entrevistador se
colocaram em que campo objetivamente,
sar de suas intenções?
críticas dirigido contra os inimigos
principais do povo brasileiro, a entrevista
poderia analisar, em seguida, de forma
construtiva, as deficiências e erros das
Torças populares; mas ainda aí seria """""
justo esperar de um opositor conseguen-
te e destacado que procedesse com
ponderação, com rigor, com objetívida-
de. O próprio Ruy César declara na
entrevista que "um verdadeiro revolucio-
nário procura conhecer a fundo todo e
qualquer fenômeno social estranho antes
de qualificá-lo". No entanto, ao abordar
a situação do movimento operário e po-
Cena da peça "Yes, nós temos cordel"
pular, a entrevista de Ruy César está
Ruy César nos oferece uma série de divagações ambiguas infestada de superficialidade, generaliza-
ções, conclusões não-demonstradas.
sobre a importância do "trabalho legal nas instituições
Já na apresentação, o entrevistados
capitalistas"? e nem uma palavra sobre as formas ilegais, taxa a "esquerda brasileira", em bloco,
e divagações triviais,a la Gabeira, sobre a política, de "autoritária", sem estabelecer dife-
renciações, gradações ou sem sequer
o homem, a cultura, o lazer e o prazer. explicar o que entende por "autoritaris-
mo". No mesmodiapasão, ao referir-se
fragmentação política e confusão ideolôo- operário e popular encerram lições aos países que fizeram revoluções p: pu-
lares e iniciaram a construção do
gica. Hoje os operários e seus aliados negativas valiosas que, se forem apren-
socialismo, Ruy César contenta-se em
«enfrentam a barragem da ideologia didas, elevarão consideravelmente o nível
afirmar que "vários reajustes estão sendo
burguesa e pequeno-burguesa não só em ideológico e político de seus militantes. O
perder o rumo e feitos na teoria e na prática de dirigentes
suas versões clássicas, mas também "essencial, porém, é não
socialistas no mundo inteiro" e que
nessas suas modalidades dissimuladas saber enfrentar os problemas novos a
que são o revisionismo (em suas variantes partir das posições teóricas e das normas "todos os exemplos de revolução que
social-democrática, iugoslava, soviética, organizativas marxistas-leninistas já es- conhecemos atravessam dificuldade,
tabelecidas e comprovadas pela expe- atualment e". Escapa assim, pela tango .-
eurocomunista, chinesa etc.), o trots-
riência histórica (o que não tem nada a te e coloca no mesmo saco proble es
quismo (com suas diversas facções,
reestimuladas pelo ataque conjugado dos ver com uma "Bíblia Sagrada", como bem distintos. Para ficar apenas num
ideólogos liberais e revisionistas a Stálin insinua capciosamente o jornalista Emi- exemplo: pode-se identificar as "diHicui-
hlibinternacionalleoanarquismolem... 2 ve dades,"dos dirigentes. socialistas da c-
suas versões anarco-terrorista, anarco- pressionada dc
sindicalista e anarco-comunitarista, rea- Portanto, o momento exige dos operá- todos os lados, com a traição RO
limentadas em particular pelo revisionis- rios conscientes e dos socialistas revolu- socialismo dos dirigentes da poderosa
mo chinês, com suas práticas esponta- cionários, por um lado, uma tática União Soviética?
neistas«e ultrademoeráticas); e há ainda política ao mesmo tempo combativa e É a partir de análises como ess.is,
correntes que, embora mantendo-se fiéis flexível, que saiba identificar os inimigos laramente insatisfatórias, que Ruy Cê
aos princípios ideológicos e organizativos principais, dirigir contra eles o fio da sar se considera em condições de rejitas
básicos do socialismo científico, marxis- luta e mobilizar todos os fatores que as correntes de esquerda em bloco e da
ta-leninista, não eliminaram radicalmen- possam ser utilizados para facilitar o forma especial o movimento marxis
te certas concepções dogmáticàs e certas avanço popular; por outro lado, uma ta-leninista que, na sua "grande maio
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
 VB.GNC.AAA, '

* Roo
"Ruy César prefere Grande "Embora "curta! Rosa "Ruy César devia reler a "Lennon foi um jovem cantor
Otelo, porque o diverte Luxemburgo, grande correspondência de Lênin e compositor de sucesso,
muito... E aqui mais um dado revolucionária e com Clara Zetkin ou as muito rico e moderadamente
revelador: por que o marxista, Ruy prefere Lula, cartas a Inês Armand, nas progressista. Sua perspectiva
entrevistador compara Grande um dirigente operário ainda quais ele expõe sua concepção era, no máximo, liberal-
Otelo com João Amazonas, sem definição político- de "casamento proletário com progressista. Mao, mesmo sem
(comparação que os editores ideológica precisa amor": O comunismo deve ter sido jamais um marxista,
de Movimento pressurosamente e com militância levar não ao ascetismo... como hoje sustenta Henver
puxaram para o "olho" da progressista sim à alegria de viver e ao Hodja, foi indiscutivelmente
matéria) e não com Prestes?" ainda recente." conforto..." um grande revolucionário"
elel Erra aaa aaa
revolucionária. as páginas de ternura e carinho incom- velmente um grande revolucionário. Por
ria", segundo ele, não passaria "de uma
E claro que os n.“;lhzfllmdnrcs ppdem (e paráveis que Fuchik dirigiu à esposa às que preferir Lennon a Mao?
grande droga". E que nos oferece, em
troca, nosso grande teórico e político devem) arrancar vitórias econômicas, po- vésperas de ser enforcado? Ruy César também prefere-Grande---|
baiano? : !íÍÍCZIS e culturais parciais - limitadas e Eu tive a felicidade de conhecer pes- Otelo, porque o diverte muito; João
Em primeiro lugar, um rosário de instáveis - ainda sob a dominação soalmente revolucionários, grandes revo- Amazonas certamente não o diverte. E
divagações ambíguas sobre a importân- burguesa seus problemas só poderão jucionários, que não tinham nada de " aqui mais um dado revelador: porque o'
cia do "trabalho nas instituições capita- começar a ser solucionados a fundo e de "sombrios" ou "moralistas". Cito um entrevistador compara Grande Otelo
listas". Já faz tempo que o movimente forma duradoura quando eles conquista- exemplo: o operário Carlos Danielli; com Amazonas (comparáção que os
operário revolucionário, "partindo da rem o poder político. Do contrário, para __ dirigente destacado do PC do Brasil, _ de Movimento, pressurosa-
lidad italista". estabeleceu como que seria necessária a revolução? Isto se mente, puxaram para o "olho" da
inchamo cor des 7 Eita E
dados o a Dias, ou alguma outra figura da
necessidade de combinar sempre as trabalhadores. Ela não é uma questão
formas legais de luta e organização com apenas de mentalidade, como julgam os Janeiro. Era um homem alegre, brinca- "esquerda"?
as formas ilegais, cumprindo dar ênfáse idealistas (e mesmo a mudança de lhão, que conservava o bom humor até "É também revelador que Ruy César,
escala de massas exige nas horas mais difíceis daqueles anos embora "curta" Rosa Luxemburgo,
a umas ou outras de acordo com a mentalidade em
transformações políticas e econômicas sombrios do governo Médici. Na última grande revolucion ária e marxista polone-
conjuntura política"de cada país, e hoje sa, prefira Lula, que expressaria ""muito
profundas); é também uma questão de vez em que o encontrei, pouco dias antes
no Brasil está claro que todas as corren-
tes de esquerda dão ênfase ao trabalho condições materiais. -Como-transar--deeleserpresoeassassinado, lembro-me__bem.a...realidade:daclasse.operária......
corpo numa mice" em um barraco de
de que ele me .comunicou, alegre, que brasileira neste momento". Lula é um
legal. Que traz, então, de novo Ruy César
favela, de um só compartimento, dividin-
finalmente ia conseguir alguns dias de dirigente operário ainda sem uma defini-
com suas divagações ambíguas sobre o
"trabalho nas instituições capitalistas"? do casal com.osfilhosMenores . folga,Adurante
aio eua
os quais pretendia ""tirar o ção político-ideológico precisa e sua mili-
-rna éoTorenteae re- -
Só dá para perceber uma coisa:. ele fala e cercado, ELgªtu-ªpê. maiores?., MO:
dentais sobre as formas legais de luta e pode "unir política é prazer", se não 0 desejo da companheira". cente; porque ele é mais representativo
organização e não diz uma palavra sobre estamos brincando com as palavras, um F a memória de homens como esses que da classe operária brasileira do que :
as- formas ilegais. -Que pensa-o-novo" - revolucionário. preso.. e.. submetido a Ruy César agora enxovalhada. E por que? tantos outros operários, que lutam há
Ruy César sobreo processode "transtor: Simplesmente: porqueeles_não..têm...da......muito...mais...tempo....e....têm....posições..
mação de capitalismo em socialismo": sexual das massas trabalhadoras e de liberdade sexual, como de qualquer político-ideológicas mais avançadas ?
ele pode se dar de forma puramente seus revolucionários não pode, portanto, outra liberdade, a mesma visão liberal- Enfim, Ruy César não vê "nada de
legal, pacífica, gradativa, trabalhando ser desvinculada de uma democracia individualista da burguesia. Simples- novo" em Vandré; prefere o "rebolado
apenas nas tentadoras "instituições capi- nova e popular e de transformações mente porque eles combatem a moral de Ney Matogrosso". Não se trata de
profundas na base econômica da socie- sexual burguesa, com sua hipocrisia de questionar as preferências sexuais de
talistas"?
A nova receita social de Ruy César dade. casamentos sem amor e adultérios Ney Matogrosso, mas sim o conteúdo
inclui, em seguida, uma série de divaga- E é aqui que se desnuda. todo o também sem amor, mas se- opõem político-ideológico de suas músicas, para
ções triviais, a TaGabeira,sobre"a -signifirado-dessa-pretensa -revolução--ipualmenteao-fa lse-"amor-livre"peque--e-qual-sua-forma-artística-de-interpre-----
política, o homem, a cultura, o lazer, o integral", do prazer, elitista, a que adere no-burguês, ou a qualquer concepção tação é apropriada. Quanto a Vandré, o
prazer" que, segundo ele, "são coisas agora Ruy César. Seu sentido concreto é individualista e orgiaca da vida, em que que o distingue na música brasileira é o
que têm de ser enfrentadas a um só diluir a tarefa, revolucionária central na à busca do prazer pessoal vai se tom marcadamente popular e combativo
presente etapa, que é a luta pelo poder sobrepondo a tudo o mais. Ruy César de seu cancioneiro. Por isso, ao contrário
tempo". Faz parte do abe do socialismo
político, ou seja, nas condições atuais do concorda que "Lênin foi um grande de Ruy César, e apesar de toda a
científico, estabelecido há muito tempo,
a compreensão de que a revolução Brasil, a luta pela derrocada completa do mestre"; - devia, «então, reler a célebre contrapromoção, as massas operárias,
regime militar e pela conquista de entrevista de Lênin com Clara Zetkin ou camponesas e estudantis guardam na
proletária tem que ser não só política,
amplas liberdades e, no bojo dela, a luta suas cartas a Inês Armand, nas quais ele memória algumas das canções mais
mas também econômica e cultural. Só
por um regime democrático novo, basea- expõe sua concepção do "casamento expressivas de Vandré e "preferem"
que este abe ensina também que, entre
do na aliança operário-camponesa e proletário com amor". entoá-las em suas manifestações. Ainda
as numerosas tarefas de caráter político, Mas, as posições de Ruy César em recentemente, na comemoração do as-
dirigido: pela classe "operária e seu
econômico-social e ideológico da revolu-
partido marxista-leninista. Ora, diluir! matéria de comportamento e sexo não sassinato de Raimundo Gringo, os
ção, em cada uma de suas etapas são casuais. Ele põe em dúvida a posseiros do longínquo Araguaia Entoa-
predomina a realização básica de uma essa tarefa, seja qual for o pretexto, é
impedir não só a libertação política e existência de uma "moral proletária". vam com emoção Não Dizer Que
tarefa central: na primeira etapá, a Raciocina basicamente com categorias Não Falei de Flores".
tarefa política; na segunda etapa, a econômica das massas trabalhadoras,
mas também sua libertação cultural e humanistas e não de classes. Está Fazendo-se um esforço para situar o
tarefa econômico-social no donínio da pensamento atual de Ruy César na
sexual. enleado com a problemática idealista-
propriedade sobre os meios de produção; histórica da natureza humana abstrata e história das idéias políticas, talvez se'
na terceira etapa, a tarefa ideológica e Ainda a propósito da vida afetiva e
sexual, Ruy Cêésar faz uma série de quer uma revolução, não que liberte a possa afirmar, por tudo que foi breve-
cultural. E isto por uma/Ã razão bem os classe operária e as massas trabalhado- mente exposto, que ele está involuindo
incursões, pretendendo insinuar que
simples: não se pode cônstruir uma ra, mas que "aperfeiçoe o homem como de um marxismo mal assimilado para
revolucionários, sobretudo os "grandes
economia socialista, que implica proprie- ser vivente". umanarquismo também mal assimilado.
revolucionários", são homens que não
dade estatal dos meiosde produção e Os farrdarmentos ideotópicos-e políticos Foprave é que sem itimerário tema ver
planificação centralizáda, se o Estado "choram, não sorriem, não dançam, não
pode e'abora r a ejaculam. Não sei em que dados Ruy da visão do mundo de Ruy César ficam com a trajetória de certas correntes
nãoé proletário; e não se
César se baseia para extrair tais conclu- ainda mais claros quando ele aceita o políticas, que agora têm a oportunidade
nova cultura socialsta, em escala nacio- jogo leviano das comparações provocati- de observar, claramente, para onde estão
e transfo rmar sões; poracaso, ele fez alguma pesquisa
nal e depois interhacional, vas sugeridas por seu entrevistador. ajudando a conduzir, com suas concep-
a ideologia das/massas no conjunto, se o minuciosa sobre a vida Íntima e sexual
econômi ca diária, dos grandes revolucionários, para afir. Assim, ele prefere Lennon a Mao. ções ecléticas e seus métodos liberais,
poder político/e a vida
mar que eles são homens sombrios e que Lennon foi um jovem cantor e composi- segmentos importantes da juventude.
que condicfonam a criação e difusão tor de grande stcesso, muito rico e Tem a ver também com a trajetória do
ideológicyi. não foram ainda transfor - não sabem trepar? Ruy César devia ser
mais sério e mais prudente. Já leu as moderadamente progressista; sua pers- prnal. Movimento. que cada vez mais
madas. pectiva política era, no máximo, liberal- se afasta de seu projeto inicial e das
A teoma eclética da "revolu ção integral páginas que o comunista checo Júlio
Fuchik, um grande revolucionário, escre- reformista. Mao, mesmo que jamais decisões de sua última Convenção, para
simultânea" se afasta, portanto, dos tenha sido um marxista-leninista, como converter-se num veículo privilegiado
dialétic o e veu sobre a forçá e a alegria da vida
fundâmentos do materialismo hoje sustenta Enver Hodja, foi indiscuti- dessas correntes.
histórico e de uma genuína perspectiva mesmo numa masmorra nazista? Já leu

MOVIMENTO,29/6a 5/7/81 7
 ,BRDFANBSBVB.GNC.AAA,©

Campanha dos Cr$ 6 milhões para Movimento

CARTAS ABERTAS

Faltam apenas
TRIBUNA LIVRE
972 mil cruzeiros
Estamos entrando na última semana da campanha de Há um vazio
Movimento e falta bem pouco para conseguirmos atingir
os 6 milhões de que precisávamos para repor os prejuízos
. Causados pelos atentados terroristas às bancas de jornais e a Constituinte
ganhar algum tempo para equacionar nossos proble- 6 milhões
mas editoriais e administrativos. As idéias de dois militantes sobre o tema
Mas esse pouco é fundamental para que Movimento saia A questão da Assembléia Nacional
dessa crise fortalecido, com sua voz falando cada vez mais 5 milhões Constituinte tornou-se assunto obrigató-
alto. Por isso aproveite esta última semana e contribua com rio entre os diferentes partidos de oposi-
qualquer quantia que você puder. Só assim a imprensa de- 4 milhões
ção. Ela não surge artificialmente. É
mocrática pode manter sua independência. produto do desenvolvimento da luta de
classes no Brasil. A medida que essa luta
avança, exige-se das oposições um posi-
Resultados da 10a semana )| 3 milho cionamento mais claro sobre o tema.
O presente artigo visa a contribuir ao
Doações de acionistas 2.776.187,00 2 milhões debate interno no Partido dos Trabalhado-
Doações de leitores 934.524,00 res sobre essa questão.
Assinaturas de apoio 1.123.300,00 | - Posições Contrárias
Vendas de quadros 100.000,00 à Constituinte
Direitos autorais 70.626,00 1 milhão
Doação de discos 23.000,00 Certas correntes defendem que o PT não
Total 5.027.637,00 deve assumir a luta pela ANC porque esta
não é uma questão levantada pelos movi-
Total da semana anterior 4.893.113,00 |B mentos de base. Mas na medida em que
evitam. se posicionar sobre as questões
referentes ao poder político e resistem em
levá-las aos movimentos de base, estão na
prática dando espaço para o regime * bre outras propostas de poder político) de
manobrar.
| Esta voz vai falar mais alto ! Outra -corrente critica as limitações do
Para isto estou enviando Cr$ ... ...... (..por Parlamento burguês, propõe como alter-
nativa à Constituinte, a luta por liberdades democráticos.
í [] Cheque nominal para | Ordem de pagamento | Vale Postal em nome de | políticas e só se dispõe a abordar a
| Edição S/A. Editora de " para Edição S/A Edição S/A, Editora de' | questão do poder político quando a classe
Livros Jornais e Revistas conta 13007/9, Bradesco, Livros Jornais e operária estiver organizada e preparada
Ag. Vila Clementino, Revistas. Rua Dr. Virgílio para lutar por ele.
|” São Paulo.
%
de Carvalho Pinto, 625, . | Acontece que, se o proletariado não
São Paulo, SP. CEP: 05415
está com forças para impor seus interes-
Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento ses, isso em parte ocorre porque ele ainda
Bom l a c o o de a m aa e e a a ai la oca e e aaa da Pa e ee cados a la Pa cer l vn a edo, eu oo esta sob o domínio ideológico da burgue-
| Endereço , i o ici oc o o a o a a aaa a ca sia. Numa situação dessas, é puro doutri-
o o e a al a ço La eo c vo io a |
narismo de esquerda criticar as propostas
Para isto estou enviando o. pagamento de 3.200,00 através de de poder da burguesia sem levantar, parale-
àamente, uma proposta alternativa de po-
| [A Cheque nominal (] Vale Postal (3) Ordem de Pagamento | er.
moroso norco eeo rena mesmoo eo More emo remo , eve rio ra imei sue runs amics as I! - O Projeto do Governo
e o Projeto da Burguesia Liberal
Entre as classes dominantes existem
certos setores que buscam HOJE trans-
formações limitadas na ordem política.
Usando a tática de se antecipar às
iniciativas da oposição, levantam a possi- contra a ditadura; com clara hegémonia
ASSINE bilidade de transformar o atual Congresso
(com senadores biônicos e tudo) em
Constituinte para "legitimar" a atual legis- camente amplas liberdades para o povo e
lação ditatorial.
Esta proposta de Constituinte que o
Governo apresenta deve ser desde já de-
nunciada pela oposição popular.
O conjunto de forças que constitui a
716 Oposição liberal burguesa é prejudicado
pelo regime e luta contra ele. Nessa luta
busca o apoio da oposição popular, mas
resiste à idéia de fazer ampla mobilização
do povo. As profundas mudanças neces-
sárias para melhorar as condições de vida
do povo nunca estiveram em seus planos.
Sua proposta para o momento é a ANC
formalmente livre. Alguns setores dessa
A mais independente oposição admitem até que ela seja convo-
cada pelo Figueiredo.
Será suficiente?
Hoje o Estado no Brasil representa
e melhor informada basicamente os interesses do capitalismo
internacional aqui instalado, em associa-
ção com a grande burguesia monopolista
e os latifundiários. Nesse sistema capita-
revista semanal brasileira lista dependente, incompatível com as
liberdades democráticas, a conquista de
liberdades políticas só terá consequência
se vinculada à luta contra o grande capital
nacional, o imperialismo e os grandes
proprietários rurais.
As medidas necessárias contra o grande
capital não serão tomadas pela oposição
da média burguesia, que é vinculada e
dependente desse grande capital, espe-
cialmente do capital financeiro. Muito
fe eo e uia oa tias esa d om ho em antes cem led "
no PT:
ser mais explícito, deve levar em conta
que: - as classes que têm interesse
radical no-fim da ditadura - a classe
operária, o campesinato, a pequena bur-
guesia urbana - ainda estão muito
imbuídas do democratismo burguês, que
se reflete, por exemplo, na fê no processo
parlamentar; - é generalizada a repulsa à
ditadura. Mas essa repulsa se dá ainda de
forma muito espontânea, sem que as
massas tenham clara consciência de
seus interesses políticos mais globais;
após tantos anos de tutela, ora ditatorial
ora populista, as massas têm um forte
anseio de independência e participação
política. Mas não têm experiência recente
de formas superiores de organização e
participação.
Numa situação dessas, a bandeira da
Constituinte tem a grande vantagem (so-
que sua convocação e funcionamento se
dão através de métodos que são reconhe-
cidos pelas massas como amplamente
Mas uma Constituinte por si só não
quer dizer nada. Aos trabalhadores inte-
ressa, antes de mais nada, que seja
convocada por um governo efetivamente
comprometido com as liberdades demo-
cráticas e com suas reivindicações econô-
micas fundamentais. Por isso, em contra-
posição à proposta de um governo que
apenas "garanta as mais amplas liberda-
des", defendemos a proposta de um
Governo Provisório que esteja vinculado a
um programa econômico e político míni-
no.
Assim, uma Constituinte realmente li-
vre, democrática e soberana só será
realizada se for convocada por um Gover-
no Provisório: resultante da luta vitoriosa
popular; e que esteja vinculado a um
programa mínimo que compreende basi-
melhoria radical das suas condições de
vida. Com o fim da ditadura é função do
Governo Provisório providenciar a reorga-
nização da vida nacional e a consolidação
das vitórias alcançadas pela luta organi-
zada do povo. Isso se fará através da
convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte de todo o povo, que estabe-
lecerá as bases jurídicas e políticas de um
novo regime e facilitará o avanço das
transformações em curso.
Não descartamos a possibilidde de,
durante a luta, as massas evoluirem em sua
consciência politico-ideológica a ponto de
subtituir a Constituinte por formas de
participação mais elevadas, superando de
vez o democratismo burguês.
Obviamenté essa proposta dé Consti-
tuinte não é viável na atual correlação de
forças. Mas é com essa proposta que a
oposição popular poderá enfrentar as
manobras tanto do regime como da
opósição liberal burguesa.
IV - Da Importância do PT
Assumir a Constituinte
É muito positiva a atitude do P.T. em
não aceitar as propostas de Constituinte
que impliquem conciliação com a
ditadura ou que subordinem os interesses
do povo ao projeto da burguesia liberal.
Contudo, seu programa sofre de uma
grave lacuna ao não apresentar nenhuma
proposta política alternativa.

[J Anexo ao FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00 menos pelos setores do grande capital O Partido dos Trabalhadores criará
cupom, em hoje na oposição. Seu papel oposicionita condições muito mais favoráveis ao avanço
envelope J Cr$ 7.920,00 à vista LiCr$ 4.680,00 àvista é limitado e tende para a conciliação. da luta política das classes populares
fechado, meu 2 anos 1 ano
C Cr$ 2.870,00 3 pagamentos LICr$ 1.660,00 3 pagamentos I!!! - O Projeto da quando superar os entraves de natureza
cheque nominal
Oposição Popular economicista e doutrinária e assumir, de
à Caminho Nome ___
Editorial Ltda. Numa sociedade de classes, as classes forma consequente, a bandeira da Assem-
Rua da Endereço Telefone bléia Nacional Constituinte Livre, Demo-
dominantes controlam ideológica e politi-
Consolação Baixo +- Estado crática e Soberana, convocada por um
camente as demais classes. Para combater
293 - 8o -
São Paulo CEP _ Profissão esse domínio, bem como as manobras que Governo Provisório e vinculada a um
CEP: 01301 as classes dominantes usam para manter programa econômico e político minimo.
Pagarei Assinatura esse domínio, a oposição popular tem ne- Odilon Junior
| após receber | i Lua cessidade de uma proposta alternativa de
Lênsuuções , Oferta válida por tempo limitado Presidente da Comissão
poder político. <
no to o ea melo em eros eo nero em meses ee emo ei ema em em emo oee eo sea somo emos e ema emm eo ema Provisória do PT Jabaquara
Essa propostá deve levar em conta o César Menezes
atual nível de consciência do Para militante do PT |
senao emos mecenas - _:

Itamar: Porque o que eu faço atrai a
polícia pela própria natureza, o meu
significado independente, uma coisa
marginal, não institucional. A greve
dos metalúrgicos é isca de polícia, as-
sim como qualquer manifestação que
contrarie o poder também é "Isca de
Polícia".
Movimento: A banda "Isea de Polt-
ta" faz parte de seu trabalho, como é
CNNO I'('l(l('[A!)II(IHI('N/() e como l'UCôS man-
têm, dada a precariedade,
uma banda
dentro desse esquema independente?
Itamar: Essa banda é uma das coisas
mais importantes na realização desse
trabalho. Sem a banda "Isca de Polí-
cia" não existiriam os elementos que es- disco, como foi que ele se transformou
tão no show, o clima das interpretações,
que está presente também no disco,
mas de forma diferente. Há um tra-
balho coletivo de qualidade. Pode-se
até dizer que no disco ele seria dis-
pensável, por causa do play-back, mas
não é o caso. A linguagem do trabalho é
minha, mas ela só o torna realidade
porque existe uma unidade, todos os 12
membros da banda estão identificados
com a proposta. Eu sou um instru- desse esquema independente, Não há o
mento, como qualquer de seus partici-
pantes, mesmo porque esse trabalho é
uma coisa aberta. Nós temos uma cri-
tica sobre isso: o músico de jazz só cur-
te jazz, são competentes, tecnicamente
perfeitos, mas se fecham e não se
abrem para outro tipo de música. Isso
ERRO TCORoDAnNda,tOdOS ETA - eadataoPole ivaseeo edar edotoeleeeteosa o0a o iiaoee eeoSmileo J do -so
preocupação muito grande com
quer som.: Agora, montar uma
não é fácil, e mantê-la ainda menos. Os
cachês que nós-estamos recebendo pe-
las apresentações são destinados, quase
que exclusivamente, para melhorar
organização; aparelhos de som, roupas
etc. Nas apresentações nós nos respon-
sabilizamos pelo som: temos
cupação de apresentar o trabalho
melhor forma possível. Nesse
músicos que trabalham comigo o fazem
por amor e competência.
Movimento: Antes de gravar de forma
independente, houve tentativas de che-
gur até o público através de uma gran-
de gravadora, ou você optou
caminho acreditando que ele
mais próximo de uma proposta aberta,
ven interferência no seu trabalho,
se dirigir a um público de-
*ninado?
Itamar: Eu sempre tentei gravar este
meu disco nas grandes gravadoras.
optei pelo esquema independente
pois de rodar quase todas essas grava-
doras, depois de muitas cabeçadas.
telizmente não deu. Eu me apresentava
numa gravadora, e explicava que estava
ali na condição de mostrar
balho. Eles mandavam gravar uma fita
cassete com 4 a 5 músicas,
para voltar depois de uns dez dias.
começava a ladainha. Esses dez dias na
verdade se transformavam em
porque sempre estavam %cupqdns. nin-
guém sabia de nada, tinham ido a não
sei onde, essas desculpas; e até que de
tanto dar desculpas, eles resolviam
atender. Respostas eles não tinham, en-
tão eles pediam para que eu cantasse
ali mesmo umas 4 ou 5 músicas. Uma
falta de respeito total. Enquanto eu
cantava, atendia -se telefone, conversava-
se de problemas internos, etc. Invaria-
velmente ao acabar a minha apresenta-
ção, diziam: "Até que as músicas são
"Não preciso da Globo para sobreviver musicalmente"
MOVIMENTO 29/6 a 5/7/81
*. BR DFANBSB VB.GNG;AAA, -
"Existe um processo liberalizante
aigritando contra a ditadura. O importante é ocupar o espaço
político que existe. Claro que não sou nem
bonitinhas. Agora, tem que dar mais
um molho. Você não faz uns sam-
binhas, uns partidos altos?" Em todas
elas a mesma história, pude mudar
uma coisa ou outra, mas é sempre a
total falta de respeito. Fui até no pro- portas das gravadoras não se abriram
grama do Silvio Santos, mas lá eles só
t
queriam pessoas que estivessem dispos-
tas a fazer alguma coisa excepcional,
como andar de cabeça para baixo,
compositor não interessava. Quer dizer
me restou gravar de forma indepen-
dente.
Movimento: Você não tinha e não tem
condições de bancar a produção desse
em realidade? : maior interesse. Eu não posso acreditar
Itamar: Eu participei do Festival de
Vila Madalena no ano passado, e lá fi-
quei conhecendo o pessoal do Lira Pau-
listana, que é um espaço aberto à pro-
dução independente. Eu já tinha um
projeto de juntar alguns amigos para
bancar essa produção, mas não foi pre-
eiso porque o Lira topou a parada. Esse
disco já vendeu duas mil cópias dentro
interesse imediato de faturar, o projeto
é divulgar ainda mais essa minha mú-
sica. A perspectiva é boa, mas a divul-
gação do trabalho independente é a
parte mais difícil,
Movimento: Voltando à pergunta do
esquema marginal da música indepen-
qual-
banda
a
a preo-
da
ponto os
por este
estava
foi
Só
de-
In-
meu tra-
e pediam
Aí
trinta,
e não adianta ficarpor
voto pelo PDS."
dente, e até acrescentando; Os dois mil
discos do "Isca de Polícia" nàoirão in-
terferir no mercado, e mais como você
só houve a gravação do seu disco
de forma independente porque as
para o seu trabalho, inclusive porque
queriam que seu trabalho fosse enxer-
tado com mais molho, em outras pala-
vras, que você o descaracterizasse, Como
você pretende superar essas coações a
veu trabalho, como é esse pulo do es-
gquema marginal para o esquema
comercial, no bom sentido?
Itamar: Se a Globo me quiser no
Fantástico, muito bem, eu tenho o
que o caminho será sempre de forma
marginal. Eu tenho uma banda com 12
pessoas, eu tenho uma estrutura pra
movimentar, é uma forma de sobrevi-
vência sair desse esquema marginal.
Por outro lado, o pessoal que fregiienta
o meu show, do Arrigo, curte muito, es-
se pessoal tem 16,18 anos, eles não
aceitam o tipo de música do Cor do
Som. Meu compromisso é fazer boa
música. Eu não gravei na Philips não
oranretes que não
quiseram. Eu vou participar para in-
verter essa situação. Se o que eu faço não
se encaixa no Fantástico, no Globo de
Ouro, não posso fazer nada, eu não vou
mudar minha linguagem por isso. A
independência do meu trabalho é a
Su
ninha alma. A partir do momento que
em um público que aceita o meu ti
balho, que eu não sou desprezado, pc
sa a haver interesse para aqueles qi
distribuem a cultura, essa é a invers:
do processo. A rádios e as TVs não pó
dem ficar alheias a isso, e prova disso
a minha participação em um progran
novo de música na Bandeirantes, "M«
cidade Independente". Eu não me sul
meto a fazer qualquer tipo de pra
grama que interfira no meu trabalh«
Vou ser mais claro; eu não preciso do
'Globo pra sobreviver musicalmente.
Claro que eu tenho interesse em apare-
cer nela, porque a Globo agiliza o pro-
cesso de divulgação, o meu trabalho na
Globo aparece "para o grande pú-
blico em seis meses, enquanto "em
outra estação isso leva dois anos. Ago-
ra, a minha preocupação é ter o meu
trabalho apresentado nas rádios na fai-
xa de AM, onde tem muita coisa ruim.
Movimento: Houve um corte na
história recente de nosso país, primeiro
em 64, depois de forma mais dura em
AS, que retirou dos meios de comu-
não encontrou acolhida a seus anseios,
entre eles na própria forma cultural,
mas como não poderia deixar de ser, ele
'ontinuou consumindo um produto
propositalmente de baixa qualidade,
como você vê isso? 5
Itamar: Pois é, SidneyMagalvende
«discoporquê?-OElomar,porexemplo;
tem a preocupação de fazer música lá
ani ereto ele- - a 1. 1
produção para uma elite, na medida em
que fica se apresentando em teatro, que
é veículo de expressão para poucas pes-
soas, por isso seletivo. A minha preo-
"upação por isso é ter minha música to-
rada nas rádios na faixa AM, é uma
batalha eu sei. Se eu estivesse ligado a
uma dessas grandes gravadoras, eles já
stariam procurando me definir em re-
lação a um público, já tam estabelecer
uma faixa de público padrão para as
minhas músicas. Eu acredito na sensi-
bilidade do povo, ese existe alguma insu -
ficiência para discernir é porque eles
sempre foram marginalizados, mas as
pessoas que têm acesso aos meios de
comunicação têm mais facilidade de
julgar, têm mais disposição para en-
tender o meu trabalho, de Arrigo. Eu
acredito que nós estamos passando por
um processo de transformação, e eu es-
tou empenhadíssimo nisso. Eu acredito
num outro gosto, numa outra visão
estética, que começa a tomar força.
Movimento: O Arrigo em entrevista a
Movimento mostrou-se simpático ao
PP, e você que opção faria entre os vá-
rios partidos que estão se formando?
Itamar: Existe um processo liberali-
zante, e não adianta ficar gritando por
aí contra uma ditadura. O importante é
ocupar o' espaço político que existe.
Claro que eu não sou e nem voto no
PDS, nem me defino como militante
em relação aos partidos de oposição,
não sou nem PT, nem PMDB. Votarei
na oposição em 82 e espero que através
do voto haja mudanças. Eu procuro
contribuir à minha maneira, com a
minha música, que eu sei tem uma
grande identidade com as greves e ou-
tras reivindicações dos trabalhadores, e
pra dar essa contribuição eu não pre-
ciso ser militante, por enquanto, de ne-
nhum partido.
 BR DFANBSB V8.GNCAAA, © /

ENTREVISTA COM ITAMAR ASSUNÇÃO

FALA BELELÉUUM _

COMPOSITOR QUE E

"ISCA DE POLÍCIA"

Entrevista a Paulo Roberto Ribeiro

vamente à música. A Zená, minha mu- outras expériências estão nas minhas
Itamar Assunção, negro, 31 anos. Um anos, sou um autodidata. Toco vários
músicas, meus clementos partem de
compositor que "apareceu quase de instrumentos: piano, guimrru. CON- lher , é quem agienta a barra, a estrutura
uma realidade. Se eu falo mal da polí-
trabaixo, bateria. Minha vida está li- da casa: aluguel, o leite dos meus
repente em São Paulo, fora dos cir- cia, é porque essa repressão não está
gada a uma transação com a cultura dois filhos e tudo mais. A minha forma-
mitos comerciais, mas que chegou com com nada. Eu abro o jornal, ligo a te-
ma força incrível, capaz de ocupar negra: meu pai era pai-de-santo no in- ção vem dessa síntese, minha música
levisão, lá estão os fatos, e eu procuro
rapidamente um lugar na música terior paulista, o que vale dizer que esfá intimamente ligada ao que aprendi
ser criativo ao falar disso tudo. A mi-
popular brasileira. Sua música é dife- convivi com o batuque e as danças do na vida, mais que no banco de escola.
nha preocupação política vem a ser o
rente, sonora, apressiva, mas profunda- candomblé. Agora, a minha formação
Movimento: Você mora há algum produto final, Meu trabalho tem que
nente bem humorada. de banco escolar vai até o 2o ano do
rempo na periforia de São Paulo, na ver com São Paulo, a solidão, a batalha
Paulista de Ticré, filho de pai-de-san- técnico de contabilidade, e posso dizer Lona Leste, e define seu trabalho como do diaa- dia. A vida. cultural aqui é
o, criado em Londrina, norte do Pa- que não sou uma pessoa com o hábito
música-reportagem, no que se presume mais aberta, há pessoas empenhadas
«Imá, ftamar Assunção foi jogador de de Ter: leio jornal e já 1i muitos ro-
'vivta. um relato de acontecimentos, em criar coisas novas.
Pirebol, biscateiro e fundamentalmente mances, entre eles muita coisa do Jorge que inevitavelmente irá se voltar. para Movimento: Apesar de ressaltar a
músico., Amado. Já fiz teatro amador e quase vma postura frente aos problemas so-
nreocupação com as letras de suas mu-
Ser trabalho é indissoluvelmente liga- tui jogador profissional de futebol. Taix, como é esse processo de captar es-
vicas, você tem a atenção voltada, prin-
do ao grupo Isca de Polícia, que o Aliás, foi o futebol que deu a pedra de vis experiências? palmente, para a elaboraçào da har
roompanha nos sáows toque em minha decisão para me dedi-
monia, por quê?
Irumar Assunção ainda não é tocado car à música, Um amiga me convidou Itamar: Exatamente, são. experiên-
Itamar; Eu vejo música não como
o rádio, e mesmo seu disco Belelêu e a para vir treinar na Portuguesa: era uma cias. Eu já fui preso duas vezes, a pri-
compositor de melodia, como composi-
Randa Isca de Polícia- produzido por época de muita chuva o que impedia meira no Paraná, outra aqui em São
tor de samba. E claro que posso fazer
en erupo independente ligado ao teu que a gente saísse daquele negócio hor- *aulo, fora as blitz. No Paraná, foi
até um samba, um baião. Mas eu acho
vo Lira Paulistana- só é vendido de nível de ficar nà concentração. Isso não quando eu voltava de um ensaio e me
que a partir do momento em que eu deci-
nao em mão, batia com os meus princípios. Por outro prenderam porque eu estava com um
di fazer música, a ter consciência, uma
F larido a Paulo Roberto Ribeiro, pa- lado, o teatro nunca foi a minha pai- gravador, instrumento de trabalho de
cultura musical, passei a fazer alguma
- Movimento, tamar Assunção conta xão, nunca fui bom ator, quer dizer, todo. compositor. Depois tem aquele
coisa que acrescentasse para música.
rn pouco das razões que o Tevaram a não deu outra: fiz minha opção por nepúcio: preto à noite e ainda niais com
Ser intérprete me deixava insatisfeito,
plotar este apelido: Belelêu, Isca de música. Em 73 instalei-me definitiva- um gravador... Fiquei cinco dias e só
eu mesmo acho que não sou bom intêér-
Ea Melo mente em São Paulo, e trabalhei em saí graças à interferência do Domingos
prete. Eu olho por ai em volta e vejo 0
serviços temporários até 76, quando me Pelegrini Jr. Aqui em São Paulo foi
João Gilberto. o Gilberto Gil, Milton
Movimento: Muitas pessoas que co- osso sa medo t tie dcdiçur uma experiência mais tranquila. Essa e
ahocem o seu trabalho musical não têm Nascimento, o Jorge Ben; eles tocam
mn" definição precisa, uns afir- violão muito bem, e êsse "não é
mean que é *música-louca", "som- mero meu caso. Eu comecei a me definir,

diferente. qual a sua definição depois de constatar isso, para criar

desse trabalho presentes no show "O que eu faço em música.

e no disco "Isca de Polícia"? Movimento: Itamar, você se refe-

ltamar. Eu chamo meu traba- atrai a polícia re constantemente a compositores

lho de música jovem. E uma lin- negros, talvez de forma incons-

pela própria
guagem musical de múltiplas situa- ciente, quando dá exemplos da boa

ções, trabalhada em cima de per- natureza: uma música, inclusive porque tem uma

sonagens basicamente da nossa educação, na infância ligada aos ri-

realidade; eu posso chamá-la coisa marginal, tos da cultura negra, comoé que vo-

de "música-reportagem ". Quan- cê encara a questão do racismo?

to à linguagem musical, faço não- institucional. Itamar: Eu não fico me detendo

uso de todo o universo queestá ao nisso. Existe o racismo, mas o pre-
meu aleance, esse arsenal de infor- A greve dos conceito na sociedade emque vive-

mações: o baião, o rock, o reggae mos não é só racial, é principal-

etc. Fica difícil definir de forma metalúrgicos é mente social. Não são somente os
precisa. Na minha música cada negros que estão marginalizados.
instrumento assume uma frase di- isca de polícia, Por exemplo: minha mulher teve
ferente. não tem aquela arrumação uma crise de cistite, isso a noite, e eu
bonitinha; a partir daí eu descrevo como qualquer tive que ir às pressas ao Hospital
situações fiéis, traduzo o cotidiano, do Tatuapé; entre a cadeia que eu
livado sempre à temática urbana. coisa que fiquei e o Hospital não havia muita
Usando o Humor, fugindo sempre diferença tal a imundicie, Euacho a
que possível da agressividade, contrarie maior mesquinhez ficar me deten-
Agora, não é uma música que ata- »
do nisso, quando tem outros pro-
ea o ouvido, não é atonal como a o poder. blemas mais sérios nesse país.
música de Arrigo Barnabé, parece pora Movimento: Por queo show, o dis-
estranho, mas tem movimento, o, a banda, tudo, "Isca de Polí-
tem muito *"swinging", apesar de não cla?
ser uma música para se dançar.é mais
Continua na
para ser ouvida.Fenho uma preocupação Fotos de Ennio Brauns Fo
página 19
com a qualidade do som, não excluindo
at o texto. Essa preocupação estâno cui-
dado da elaboração do showe do disco,
inclusive, com uma concepção de mi-
xapem diferente. Quando estava fazen-
do o disco, o pessoal reclamou que as
vozes ficavam muito baixas em relação
aos instrumentos: eu não me preocupo
em colocar as vozes em primeiro plano,
elas ficam sempre no mesmo nível do
arranjo.
Movimento: Qual a sua trajetória,
sua formação em música e de banco de
escola, d opção para a música se deu de
que fôrma e como a mantém?
Itamar: Eu componho desde os 15
BR DFANBSa Va.GNC.AAA, ) |

E
E
%VL

3
é
i
«e
-l

E
?

£
£
a
E
É
e

E
4 Movimento analisa, com os
é
$

E-!
CJ
# dissidentes militares,

£
|-
os resultados oficiais do
a
k
%
2
inquérito no Riocentro.
b

E
O
I
E
Páginas 3 a 5
#

El
s
£
2.
a
06 130.004
Cr$
12/7/81-
Edição Semanal 314

uii—«ª
era lª_!"atar309
ce dess

" 55" "

)-

T- v
[131111/
mmadore"-
Las

. NOSSA OPINIAO
! IPM DO RTOCENTRO
E o jacaré,
se sabia, não
a própria cauda
aras vezes a Nação assistiu a
um espetáculo tão degradan-
te! A tragédia do Riocentro
terminou numa vergonhosa
farsa. O resultado do IPM do
Riocentro é algo assim como um divisor
de águas. Antes, nos atentados contra os
jornaleiros que vendem jornais oposicio-
nistas, contra os políticos e sindicalistas
democratas, contra entidades liberais,
em todos esses casos, não parecia muito
difícil despistar a opinião pública e man-
ter impune o terror fascista. Porém, no
caso do Riocentro, a situação era dife-
rente. Havia indícios demais, pistas de
sobra; parecia impossível, ao governo,
insistir na mesma omissão. E, no entanto,
o governo ousou manter a mesma linha.
Como foi possível que chegássemos a
tanto? Como prosseguir a luta, após esse
desfecho parcial desfavorável?
0 início, logo após o atentado,
aimpressão dominante era a
de que o governo iria "punir
algumas pessoas. Não que
se Esperasse uma investi-
gação em profundidade e a punição de
todos os responsáveis pelo terror da di-
reita. Esperar algo assim, seria o mesmo
que pretender que um jacaré devorasse a
sua própria cauda. Porém, setores « do
governo pareciam dispostos a encontrar
algum meio de dar uma satisfação qual-
quer à opinião pública. Prova disso
foi
a manifestação do líder do governo
no
Senado, assegurando que tudo estaria
esclarecido em poucas horas. Apenas
al-
guns dias depois é que se tornou eviden
te
que o governo optara por seguir
outro
rumo.
Essa opção representou a consolidação
de um pacto entre os militares que de-
fendem a abertura e aqueles que, por di-
vergências táticas,pleiteiam maiores res-
trições às forças oposicionistas. A linha
dura parece ter aceitado, por ora, a pro-
posta governamental de se manter, salvo
imprevistos, as eleições de 1982. Em tro-
ca, o governo parece ter-se comprometi-
do a, de um lado, assegurar a impunida-
de dos membros do aparelho repressivo
e, de outro lado, restringir o que aliás
Conselho de Direção h Diretoria de Edição S/A
Agostinho Gisé, Alcy Linhares, Álvaro Ca-
ropreso, Antonio C. Queiroz, Armando
Boito Jr., Armando Sartori, Célia R. de
Souza, Conrado Júnior, Delzir A, Matia
s,
Flávio Carvalho, Igor Fuser, Jacira Venàn-
cio, José C. Alencar, José Crisóstomo de
Souza, Lia R, Dias, Luiz C. Antero, Luiz
Macklouf de Carvalho, Luiz Pedro, Márcio
Bueno, Murilo Carvalho, Paulo K0za, Per-
seu Abramo, Raimundo Rodrigues Perei-
ra, Roberto Martins, Roldão Oliveira, Ti-
berio Canuto e Washington Oliveira,
Conselho Editorial de Movimento
Furtado, Andre. Forster, Audálio
Dantas, Chico Buarque de Holanda, Fer-
nando Henrique Cardoso, Orlando Vilas
Boas, Hermilo Borba Filho (1912-1976)
Material internacional via Varig.
"A
P/NV|
BR DFANBSB V8.GNC.aAA,
como já
comeu
fará com muito bom grado - mais ainda
as possibilidades de propaganda e de vi-
tória das forças oposicionistas nas elei-
ções manietadas de 1982.. Esse pacto
tornou-se possível graças, fundamental-
mente, a três fatores.
Os diferentes setores representados no
governo manobraram tendo como pano
de fundo um refluxo momentâneo da lu-
ta popular. Se as bombas do Riocentro
tivessem explodido, não em 30 de abril
deste ano, mas em 30 de abril de 1980,
em pleno curso da grande greve do ABC,
seguramente o governo teria muito mais
dificuldades em impor a solução que im-
pôs para o caso do Riocentro. Em se-
gundo lugar, os militares que defendem
0 projeto de abertura de Figueiredo não
parecem querer, nem podem, ir muito
longe na sua estratégia de promover alte-
rações secundárias nos métodos de go-
verno. Revelaram a sua unidade funda-
mental com a linha dura e fizeram, am-
bos, uso do estrito controle que as Forças
Armadas possuem do conjunto do Esta-
do para impor a sua solução. ENTREVISTA DE RUY CÉSAR
A partir dessa situação favorável o go-
verno pode encetar uma operação políti-
ca com o objetivo de dividir a frente opo-
Movimento
sicionista e de neutralizar os seus setores contribui
mais atrasados. Conseguiu confinar boa
parte do protesto contra o terror e contra
aqueles que o acobertam à área parla-
para ©"desencamin
mentar e, inclusive, obteve adeptos para har
a sua tese segundo a qual seria necessá-
rio recuar frente ão terror fascista para
assegurar as eleições manietadas de a juventude"
?
1982. Quando obteve isso, sentiu-se se-
guro para apresentar a sua versão sobre m sua última edição, Movi-
ligados ao regime. Procuramos desc
o atentado, mento publicou um longo arti- obrir
e destacar as iniciativas e as lutas
go de Duarte Pereira, no qual das
s forças oposicionistas não classes. e camadas democráticas e
este critica as posições que Ruy - lares que a popu -
podem, porém, aceitar 'o César, ex-presidente da UNE, imprensa ligada ao poder
desfecho do IPM do Riocen- esconde ou relega a um plano secu
defendera numa entrevista ao nosso jor- ndá-
tro como coisa do passado. É rio. Movimento tem, também,
nal. A crítica de Duarte veicula várias mostrado
preciso tomar iniciativas pa- as contradições e a crise do atual
idéias que consideramos procedentes e, modelo
ra denunciar, desmascarar e repudiar econômico, alertando os seus leito
o ademais, levanta questões novas que res pa-
resultado apresentado pelos militares. A ta a falácia da tese do governo segu
contribuem para o aprofundamento ndo a
teunião dos partidos oposicionistas para da qual à crise se deve a dificuldad
discussão. Sustenta, com razão, por es super-
se decidir como encaminhar a luta daqui exemplo, que na luta ideológica em curso ficiais e passageiras. -
para a frente pode ser um primeiro passo no país na área cultural, os setores ligados E por fazer isso que Moviment
o de-
para se rejeitar a afirmação do governo ao regime estão movendo uma camp sencaminha a juventude? É
a- claro que
de que esse episódio é assunto encerrado. nha visível destinada a despolitizar os não; seguindo a própria argu
jo- mentação
vens. Defende ainda, com acerto, desenvolvida por Duarte contra
que Ruy, o
não se pode pretender uma "política que mais vai contribuir para a
do elevação
Corpo", como está em moda, sem do nível de consciência política,
levar organi-
em conta, em primeiro lugar, a reali zação e mobilização dos jovens será
SERVICOS dade aqui-
| sócio-econômica do país; de que mane lo que o encaminhe principalmen
INTERNACIONAIS 4+ Monde ira te na
| 0 favelado e sua companheira pode luta contra o regime militar, mes
riam mo que
"curtir o corpo numa nice", na cama ele não tenha uma política cultu
ral, do
onde estão empilhados e rodeados corpo, feminista e etc. mais cons
de fi- eguen-
lhos?, ele afirma brilhantemente, te.
Porém, Duarte Pereira conclui seu
ar- E evidente que podemos cometer -
| tigo com uma acusação grave: e
Raimundo Rodrigues Pereira (presidente) afirma de fato cometemos -- muitos erros.
So-
Paulo Koza (diretor de operações); Perse, que Movimento contribui para desen
ca- bre a forma correta de se tratar as
ques-
u minhar os jovens que o lêem. E lança
Abramo (diretor adjuntos) tal tões culturais, por exemplo, há uma
acusação de passagem, no final do dis-
Diretor Responsável arti- cussão na redação de Movimento.
80, e sem desenvolver uma argument Mui-
Raimundo Rodrigues Pereira a- tos entendem que o tratamento
ção que vise a justificá-la. dado
pelo jornal a essas questões é corre
Movimento é uma publicação de O equivoco dessa afirmação, no to; al-
Buns, ao contrário, entendem que
S/A - Editora de Livros, Jornais Edição tanto, está demonstrado em nossa
en- esse
e
tas. Administração e redação: Rua Revis- s pá- tratamento não contribui muito
para a
Dr.
gilio de Carvalho Pinto, 625, Pinhe Vir. ginas. Cerca de 80% de Moviment
o são resolução dos problemas existentes
nessa
São Paulo, Brasil. CEP 05415. Telefiros, dedicados aos fatos e opiniões refer
entes área, Nosso debate interno, porém,
210-6622 e 210-6744. Distribuição: ones: às áreas política, econômica e social bém reflete o fato de que a questão
tam-
S/A - Cultural e Industrial. Rua Abril formamos, sistematicamente,
. In- cul-
Goeldi, 575. Tel. 65-5115. Impresso Emílio sobre as tural é um problema para: grande
parte
ficinas da Cia. Editora Joruês . Rua nas o- arbitrariedades do regime militar,
sobre do movimento popular.
da Cunha, 49. Tel. 531-8900. São Gastão as suas manobras, e procuramos
mostrar O companheiro Duarte deveria levar
Paulo,
de modo vivo que o Brasil não
vive sob em conta esses fatos e problemas
um regime democrático, ao contrário antes
do de acusar-nos de, como Sócrates, o
que afirmam ou sugerem os órgão filô-
s mais sofo grego, desencaminhar a juventude,
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81

O relatório do IPM sobre o Riocentro,
divulgado na semana passada, abre um
precedente. Algum lunático que
cometesse a desafaçatez de acreditar nas
conclusões do IMP teria também de
uceitar, imediatamente, que pela
primeira vez no-Brasil. a esquerda teria
cometido um crime perfeito, pois o re-
latório afasta solenemente a
possibilidade de apuração das
responsabilidades dos autores do
"atentado" de que teriam sido vítimas os
dois militares,
A esmagadora maioria da população
preferiu desacreditar no realtório: Até
mesmo no PDS as reações foram dúbias,
da parte das lideranças, enquanto o
ex-secretário de Segurança de São Paulo,
Erasmo Dias, simplesmente rejeitou o
relatório por considerar a hipótese oficial
a "menos provável e amena possível". O
conservador cardeal arcebispo do Ri de
janeiro, d. Eugênio Salles, se confessou
decepcionado: **minha expectativa não
era essa". Entre os militares a reação não
foi menos adversa. O coronel Tarcísio
Forreira, militar que é constantemente
punido por suas idéias, ao tomar
conhecimento do relatóriofez um pedido
de passagem para a reserva, "para não
comprometer a farda com esta farsa". A
seguir Movimento apresenta as oito
falhas principais do IPM e as reações dos
partidos políticos e de militares ao
relatório oficial.
Ao espetáculo teatral encenado pelo
coronel Job Lorena de Sant'Anna na
apresentação do IPM, não faltou sequer
um ensaio, que foi realizado de manhã
para oficiais que servem ao comando do
I Exército. Alguns deles objetaram que a
apresentação poderia gerar muitas dú-
vidas. E estavamabsolutamente certos.
Talvez por isto mesmo os jornalistas fo-
ram proibidos de fazer quaisquer per-
guntas, antes, durante ou depois da
apresentação.
Da versão apresentada, conclui-se que
o inquérito preocupou-se em tecer uma
história que levasse em conta pelo menos
as informações já divulgadas pela im-
prensa. Um dos laudos que havia "va-
zado" para a imprensa há algum tempo,
adiantava as seguintes informações: a
bomba estava acondicionada em uma
lata de óleo Havoline e dentro de uma
bolsa de couro. Seu mecanismo de de-
tonação era um relógio. Na versão do
IPM, a bolsa passou a ser estranhamente
o invólucro de uma armadilha colocada
entre o assento do sargento e a porta
direita. Mas sendo relógio, ele explodiria
naquele local e não teria a menor possi-
bilidade de atingir o capitão. Então ela
foi puxada um pouco -para-cima-pelo--- Colodosargento",Na verdade esta "pro:
sargento e somente estourou porque (eis
a saída) tinha, além do relógio, também
um detonador mecânico. A lata de Ha-
voline foi reduzida para apenas um quin-
to de seu tamanho. O suficiente para se
encaixar no exíguo espaço que lhe foi re- querdo do sargento. Nada além disso.
servado.
Mas mesmo assim houve dois grandes
erros. O primeiro foi não ter sido consi- genitália do sargento não foi destruída.
derado o laudo cadavérico do. sargento,
que já havia sido divulgado pela Folha de montada pela divulgação do laudo cada-
S. Paulo no dia 12 de maio. Pode ser que
este furo tenha passado despercebido. O
fato é que o inquérito contraria frontal-
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
__ BR DFAN
ESPETÁCULO
ENSAIADO
Oito mentiras do IPM que só convence seus atores
Gilberto Laranjeiras
P
Diz o Exército: a bomba não
explodiu no colo do sargento
pois destruiria seu rosto
Não é verdade;: veja ao lado
como ficou o rosto de Ribamar
mente os dados do laudo, ao dizer que o
pênis do sargento permanecera intacto.
Para isto cobriu-se o corpo do sargento
com uma tarja negra, alegando-se cons-
trangimento em exibir suas vísceras. Na
verdade a tarja estava ali para encobrir
as inverdades do IPM. Outro erro foi
descoberto pela reportagem do Jornal do
Brasil. A bolsa, pelas suas dimensões,
não poderia estar no local indicado por-
que seria perfeitamente visível, dificul-
tando inclusive a entrada do sargento no
carro.
Mas antes de enveredar pela monta-
gem de sua versão, o coronel Job se es-
tendeu longamente na refutação das ver-
sões até hoje veiculadas pela imprensa, o "prova" a afirmação de que, "com o
coronel alinhou e fez o que pôde para
combater oito destas versões.
""O sargento - disse o coronel
1 Job - levava a bomba no colo.
Se assim fora, o capitão que
viajava a seu lado teria recebido
ferimentos inorais". E, mostrando no
slide os ferimentos na barriga, à direita,
quatro no braço esquerdo, um no dorso
direita - deduz que o corpo do sargento
bloqueou a bomba. E mostra qual de-
veter sido o posicionamento da bomba
(entre o assento e a porta direita, no as- fossem feitas dentro de um carro em mo-
soalho). "Essa é uma das provas - diz
ele - de que a bomba nãoexplodiu no ... Tegulagensdebombas comcarroem... ......
va" indica apenas que a bomba estava
localizada à direita do capitão, não esta- xam...
va tão próxima para ser mortal para ele,
que houve algum tipo de barreira, que o
salvou e, que pode ter sido o braço es-
Em seguida diz que a 2a prova de que a
bomba nãoestava no colo é de que a
Esta afirmação do coronel Job foi des-
vérico, que diz textualmente: "a genitá-
ga externa é masculina e está dilacera-
a".
BSB VB.GNÇC;
AAA |
TERRORISMO
Agência O Globo
Diz o encarregado do inquérito
não ser verdade também a ver-
são de que o sargento estaria
regulando a bomba sobre o joelho quan-
do houve a explosão. E apresenta como
rosto voltado para baixo, olhando a re-
gulagem, e assim tendo havido uma ex-
plosão tão próxima (o sargento) teria
tido o rosto dilacerado". A esta afirma-
ção pode-se contrapor o fato de que o
funcionário da Câmara Municipal do
Rio, José Ribamar de Freitas, que estava to tempo antes de 30 de abril já adotara a
efetivamente manuseando uma carta-
bomba, também não teve o rosto dilqiw
cerado(veja fotos nesta página). """
Mais adiante o coronel Job diz, pro-
curando reforçar sua argumentação, que
"não seria crível admitir que regulagens
vimento". Talvez não seja crível fazer-se
movimento sem causar sua explosão, se
ocorre a explosão, as coisas se encai-
Diz o encarregado do inquérito
que a versão de que o sargento
segurava a bomba nas mãos é
combatida com os mesmos argumentos
da que dizia que o sargento a carregava
no colo (e naturalmente invalidada pela janelas do Puma. Esta explicação não pro-
preservação "constatada" da genitália).
O coronel acrescenta outra "prova: o
polegar da mão direita ficou preservado.
Esta argumentação também não proce-
de. D. Lyda Monteiro da Silva manusea-
va a carta-bomba. A explosão arremes-
sou sua mão no terraço do prédio da
OAB, sem destruí-la.
A quarta versão é a de que
havia mais bombas no Puma. A
prova apresentada de que isto
não era verdade, é de que houve. atritos
entre policiais e Os repórteres
mais >afoitos, levando os pri-
meiros (de acordo com várias testemu-
nhas) a gritar que havia risco de novas
explosões, "para afastar os curiosos".
Esta argumentação também não se sus-
tenta porque vários repórteres ouviram
de pelo menos um perito e um delegado,
quando os trabalhos ainda se desenvol-
viam, que "uma bomba havia sido desa-
tivada e encaminhada ao DGIE". Se
houvesse a preocupação de evitar a apro-
ximação da imprensa e de-curiosos, eles
diriam que ainda havia bombas no
Puma.
Esta se refere à versão de que o
carro não era do capitão. O
coronel Job exibe em slides o
certificado de propriedade de um Puma
em nome do capitão Wilson. A chapa é
outra mas ele diz que isto é normal, que
não há nenhuma irregularidade no fato
de agentes de informação usarem chapas
' sigilosas, e que têm o controle do coman-
do do I EXército. Mas há um detalhe
evidenciando que o certificado não cor-
responde ao Puma destruído. No certifi-
cado está registrada a cor marrom, en-
quanto o Puma destruído é cinza-metá-
lico.
O coronel Job procurou contes-
tar a opinião de que os militares
a paisana não poderiam estar
de serviço, dizendo que em si mesma a
versão se desmancha. "Não podemos
admitir que agentes que cumprem ser-
viço reservado, se apresentem fardados".
Neste caso o coronel deveria pelo menos
ter apresentado a legislação que permite
a membros das Forças Armadas desen-
volverem serviço de espionagem, o que
não foi feito.
A sétima versão que o coronel
Job contesta é de que a PM se
negou a policiar o Riocentro,
acrescentando que a PM, "mui-
decisão de não mais prestar policiamento
para
espetáculos com ingressos pagos em
recintos
O- fechados
do "--Muiuito-te mpoantes
não foi, porque a PM esteve no Riocen-
tro policiando o Baile da Aleluia, reali-
zado no dia 18 de abril, portanto, de
duas semanas antes do show de 1o de
maio.
duziria a bomba emsua bolsa foi
a oitava que o encarregado do in-
quérito se propôs a contestar. Exibindo
slides, ele procurou mostrar que o que foi
mostrado em fotos pela imprensa, como
sendo a alça da bolsa do sargento, na ver-
dade tratava-se das juntas de borracha
que fazem a guarnição dos óculos ou das
va que a bomba não estava na bolsa do
sargento. Prova talvez que ele não a es-
tava usando a tiracolo, o que é perfeita-
mente normal para quem está sentado.
O próprio IPM admitiu que a bomba ex-
plodiu dentro de uma bolsa. !

CAPITÃO DO PMDB. NÃO
O capitão da Polícia Militar Joaquim Luiz
dos Santos Monks foi preso no último dia
30 em Porto Alegre por ter criticado publi-
camente a Lei de Segurança Nacional, rei-
vindicando que ela sêja alterada no sentido
de dar "segurança ao povo e não ao Estado
Opressor". O capitão Monks fez tais decla-
rações ao participar da inauguração de um
Diretório do PMDB gaúcho, quando tam-
bém lançou a sua candidatura a deputado
estadual..O capitão defendeu ainda a auto-
nomia das polícias militares, reivindicando
'o fim dos "órgãos espúrios como a Inspe
toria das Polícias Militares". 5a
. A tentativa do senador Juthay Maga
lhães (PDS-BA), de considerar como dese
quilibrado mental o contínuo José Arcelino
- testemunha do episódio das falsas
bombas no Senado e da invasão do gabine-
te do senador Itamar Franco -- não foi con-
firmada pelo diretor do Hospital da Base de
Brasilia. O médico Eugênio Sarmento, dire-
tor do Hospital, considerou Arcelino como
portador de um comportamento normal, o
que dá crédito ao seu depoimento, segun-
do o qual foi recentemente sequestrado
por elementos que se diziam da Polícia Fe-
deral, para que ele não identificasse quem,
invadiu o gabinete do senador. Na semana
passada, Arcelino narrou para Itamar Fran-
co o episódio que aconteceu no Piauí em
1976 e que foi utilizado por Jutahy para pro-
var sua "insanidade". Ségundo Arcelino,
ele só reconheceu, nessa época, que tinha
simulado um assalto por ter sido espanca-
do pela polícia do Piauí.
Os deputados Euclides Scalco e Pimen-
ta da Veiga manifestaram na semana pas-.
sada a solidariedade da bancada do PMDB
na Câmara Federal ao bispo de São Félix
de Araguiana, Dom Pedro Casaldáliga, em
virtude de tentativa de sua expulsão do
país a partir de pressões de deputados do
PDS. Segundo os deputados o que moti-
vou o pedido de expulsão do bispo da
prelazia de São Félix foi o fato de ele
ter se colocado ao lado dos índios e pos-
seiros que estão sendo ameaçados por gri-
leiros. Justificam isto com um dado: dois
dos deputados do PDS que solicitaram a
Expulsão do bispo, Romeu Martineli, do
Rio Grande do Sul e Júlio Campos, de Ro-
raima, são ligados a grupos econômicos
gue'pretendem tomar terras dos indios Ma-
ds. .. 3 a / -
A extensão do direito de votoaos anal-
fabetos, o estabelecimentode eleição dire-
ta para Presidente da República já em 1984,
a eleição de três senadores e seis deputa- .
dos federais pelo Distrito Federale a modi-
ficação do códigoeleitoral com vistas a
proibir o uso desublegendas
Coligações partidárias,
dos partidos deoposição
poràs medidas casuisticas que
pretende imprimir para garantir é
PDS em 1982. As reformaseleitorais, :
apoiadas pelo PMDB,PDT, PPe PTforam "
Comissão pluripartidária.A proposta dos.
partidos de oposiçãoapresentaalgumas li-
| mitações: estende o direito de voto ao anal-
fabetosemlhedaro direitode servotado e.
exclui os soldados e marinheirosdo direito -
devotar, além denãodefender a legaliza |
. cão de todos os partidos, inclusive os co- |
s e
- BRDOFANBSB VB.GNC.AAA.
"É uma
farsa,
Perto das 18 horas da terça-feira, o
vice-líder do PDS, o ex-peemedebista e
ex-petebista Carlos Alberto (RN), que
estava lendo na tribuna o resumo do
relatório do coronel Job Lorena, foi in-
terrompido por parlamentares da opo-
sição com pedidos de aparte. "Isto é
uma farsa", gritavam. Os apartes não
foram concedidos, o tumulto cresceu e
os oposicionistas preferiram retirar-se
do plenário. Terminado o discurso de
Carlos Alberto, a oposição voltou à
carga, aproveitando o espaço de tempo
destinado à discussão de outras matérias
e às comunicações de lideranças. O de-
putado Jorge Uequed (PMDB-RS) foi
censurado pelo presidente da Câmara,
Nelson Marchezan, quando afirmou
que "a bomba foi colocada pelo Saci-Pe
rerê e encontrada pelo Batman e pelo
Homem Aranha".
Nesta hora realizava-se no escritório
do deputado Ulysses Guimarães a reu-
nião da Executiva Nacional do PMDB,
convocada com dias de antecedência,
justamente para analisar os resultados
do IPM Riocentro. Depois de acirrada
discussão, novamente provocada pela
tentativa da ala conservadora do par-
tido de impedir a "radicalização" do
Figueiredo e o mal. Hermes
'A comissão nomeada por Ulysses Gui-
marães para fazer um estudo sobre as
Forças Armadas, que serviria de base
para o posicionamento do PMDB diante
do IPM Riocentro entregou seu relatório
a Ulysses na quinta-feira da semana re-
trasada. Poucos minutos antes de come-
car a reunião da executiva, na tarde do
dia 30, o senador Roberto Saturnino
trouxe a Ulysses um outro documento,
preparado no Rio pelo vice -presidente
regional do partido, Raphael de Almeida
Magalhães, assessorado pelo deputado
Marcelo Cerqueira. Antes do início da
reunião Ulysses chamou Tarcísio Delga-
do e Freitas Nobre( que, junto com Satur-
nino, formaram a comissão) para tomar
conhecimento do novo documento. Ulys-
ses defendeu a sua apresentação na reu-
nião por ser "mais enxuto, objetivo e ati-
nente ao relatório do coronel Job há
poucos minutos divulgado..." Tarcísio
protestou e ameaçou renunciar à comis-
são.
A reunião começou, então. Ulysses
leu a nota de Saturnino. Chico Pinto
interveio, perguntando se era o do-
cumento elaborado pela comissão. In-
formado que não, pediu a leitura da-
quele. Ao final, disse que o apoiava,
apenas mudando o tempo do verbo pa-
ra adaptá-lo à atualidade do resultado
do IPM.
Num clima neryoso, começou a dis-
cussão 'dos dois documentos. A idéia
central de Saturnino é a de que as
eleições de 1982 são a melhor resposta
aos terroristas. A da comissão é uma
ampla análise do papel das Forças Ar-
madas e a exigência da apuração do
episódio Riocentro.
Chico Pinto lembrou
o "Riocentro"* de
1910 em Pernambuco
Chico Pinto criticou o PMDB por
não ter uma política definida e sempre
LA
I
RMC
OS PARTIDOS E O IPM
farsa,
é uma farsa...
à realidade, escapa à responsabilidade
processo político, a direção do PMDB
divulgou uma nota que seria a mais fir-
me dos partidos de oposição. "O go-
verno declara repudiar o terrorismo -
afirma o documento - mas o alimenta
de duas formas: primeiro, quando foge
da apuração clara e rigorosa, multipli-
ca a impunidade. Segundo, quando
utiliza implicitamente as ações terro-
ristas para tentar impor a deformação
do pleito eleitoral através de casuísmos,
conformando-se aos seus interesses e
não à vontade popular". Acatando
proposta do deputado Francisco Pinto,
a direção do PMDB afirmou que foi
frustrado o apoio das oposições ao pre-
sidente Figueiredo para a apuração do
atentado, e deixou em aberto a possi-
bilidade de sua incriminação judicial,
por prevaricação e condescendência
criminosa: "A nação aguarda que o
chefe do governo não aceite as conclu-
sões divulgadas para não se tornar por
elas responsável. O PMDB, sintoniza-
do com a opinião pública, continuará
promovendo, além das denúncias, me-
didas definidoras das responsabilida-
des procuradas".
A liderança do PT também elaborou
aceitar os fatos consumados do regime,
só reagindo depois que acontecem. Em
seguida fez duas propostas: a) que o
PMDB fizesse uma autocrítica, retiran-
do o apoio dado a Figueiredo para que
punisse os terroristas; b) que o PMDB
aprovasse a decisão de incriminar ju-
dicial e politicamente o presidente Fi-
gueiredo, por crime de prevaricação e
condescendência criminosa. (Artigo 82,
incisos 3 e 4 e Artigo 86, da Constitui-
ção Federal, combinados com Artigos
319 e 320 do Código Penal). Isto por-
que, segundo Chico, a responsabilida-
de pelo atentado do Riocentro não é só
dos que o praticam e dos que o ordena-
ram, mas também daquelas autorida-
des que deixam de punir os seus auto-
res.
Impacto. O senador Teotônio Vilella
intervém. Diz concordar com Chico
mas acha não ser prudente levar o
PMDB a tão altos píncaros. O ex-go-
vernador Miguel Arraes também con-
corda, mas diz que seria preciso um
profundo estudo da situação, por con-
siderar que não está configurado o cri-
me do general Figueiredo. Chico Pinto
pede um aparte. E conta uma história.
A história é a seguinte: No dia 25 de
dezembro de 1910, saiu do Rio de Ja-
neiro o navio "Satélite", carregado com
quatrocentos prisioneiros, com destino
ao Amazonas,; O navio era da Marinha
e tinha uma guarnição responsável pe-
los presos do Exército: O navio parou
na Bahia e no Recife, no dia 31 de de-
zembro, pela madrugada, quando sur-
gia o ano novo, oito prisioneiros são le-
vados ao tombadilho onde tombam fu-
zilados, acusados de planejar uma sub-
levação. Instaura-se um IPM para apu-
rar o caso. O IPM, como no caso Rio-
centro, foi sigiloso. Francisco de Melo,
tenente que comandava a guarnição do
Exército, foi elogiado por ordem do dia
publicada a 12 de fevereiro de 1911,
antes que a mensagem do presidente
marechal Hermes da Fonseca fosse
é uma
uma nota de protesto, que se ateve a
considerações técnico-jurídicas. No fi-
nal, a nota pede que "o representante
do Ministério Público, com base no ar-
tigo 26 do Código de Processo Penal
Militar, requeira a devolução do inquê-
rito à autoridade policial militar para
que o refaça". Posteriormente, o de-
putado Airton Soares anunciou o apoio
do PT à proposta de Chico Pinto de
processar o presidente da República e
adiantou que fará a representação con-
tra o general Figueiredo, tão logo ter-
mine o recesso parlamentar.
O líder do PDT, Alceu Collares (RS)
preferiu a cautela. Collares propôs que
os partidos políticos, "juntamente com a
OAB e a ABI, se reúnam para examinar
com detalhes o resultado do IPM e dizer
à nação se estão ou não de acordo com o
resultado",
Os partidos oposicionistas de
fato vão se reunir na segunda quinzena
deste mês, no Rio de Janeiro, -para dis-
cutir a fusão. A outra discussão, porém,
será em torno da proposta de se retirar o
apoio dado ao general Figueiredo para a
apuração do atentado do Riocentro, que
foi encampada pelo deputado Ulysses
Guimarães.
enviada ao Congresso. O resultado, co-
mo era de se esperar, inculpou os pri-
sioneiros assassinados. Um ' deputado
da oposição, Barbosa Lima (ao que pa-
rece, parente do nosso atual presidente
da ABI) levantou a questão da respon-
sabilidade do presidente Hermes, já
que os indícios eram claros demais
contra os verdadeiros culpados. Ruy
Barbosa, senador baiano, a Aguia de
Haia, resolve entrar com a representa-
ção contra o marechal Hermes no dia
30 de maio, sob a acusação de prevari-
cação e condescendência criminosa.
Dia 2. Hermes da Fonseca é denuncia-
do. Não foi possível apurar o resultado,
mas deve ter sido absolvido o réu.
Ulysses prefere não
retirar o apoio e vai
consultar os outros
A reunião terminou assim: o do-
cumento de Saturnino 'foi aproveitado
, pela metade mas teve suprimido os tre-
' chos que diziam que as eleições são
mais importantes etc. Em vez de se re-
tirar o apoio de Figueiredo - Ulysses
prefere consultar os demais partidos, o
que acontecerá na reunião do Rio, na
segunda quinzena de julho - a nota
oficial do PMDB disse que ficou "frus-
trado" o apoio dado. E os dois pará-
grafos finais dão a chance a Figueiredo
de se livrar da pecha de responsável-co-
nivente com o atentado do Riocentro,
não aceitando os seus resultados.
Chico Pinto foi apoiado em suas pro-
postas por Euclides Scalco (PMDB-PR)
Paulo Rattes (PMDB-RJ), Alencar
Furtado (PMDB-PR) e Tarcísio Del-
gado (PMDB-MG). O deputado Fer-
nando Cunha (PMDB-GO) citou o úl-
timo exemplar de Movimento, a res-
"peito do nosso relatório Riocentro. Dis-
se que o jornal já dera toda a solu-
ção... (Assis Moreira)
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
pb asd da Ngm R 2 a # a

As respostas de três coronéis ao IPM oficial:
"*A Nação não pode
aceitar este
scândalo inominável"
A esposa do coronel Tarcisio Nunes
Ferreira, deu uma entrevista a Movi-
mento, como porta-voz de seu marido.
Antes pediu para contar mais uma per-
seguição sofrida por ele assim que che-
gou a Santa Maria, no Rio Grande do
"Sul, transferido" de Brasília porrazões -- BM
políticas. Tarcísio foi advertido pelo co-
mandante, general Sebastião Ramos de
Castro - ex-chefe da Agência Central
do SNI - que não mantivesse contato
com as demais guarnições militares, nem
vom jornalistas, políticos ou membros do
clero, mantendo-se nos limites da disci-
lina. O coronel Tarcício reagiu dizendo
que "o sr. vai me desculpar mas o que
condiciona as minhas relações com o
clero são as minhas convicções espiri-
uais""., é a bomba na casa de força. Daquela dire-
A professora Icléa Nunes Ferreira, 51
anos, mãe de três filhos, respondeu às
seguintes perguntas:
1) Qual a sua opinião sobre o resul-
tado do IPM?
- Um escâqdalo inominável, que a
ração não pode aceitar.
2) Qual foi a atitude de seu marido
quando soube dos resultados do IPM?
- Indignado com os resultados, sua
decisão imediata foi entrar com o reque-
rimento de reforma. Ele me disse que vai
sair do Exército para não comprometer a
sua própria farda. Mas este fato não
exclui a possibilidade de meu marido
continuar sua luta pelos interesses do
povo brasileiro em outras trincheiras.
3) Qual era a sua expectativa inicial
em relação ao IPM?
Eu tinha esperança e confiança, que
eram compartilhadas pelo Tarcísio, de
que fosse apurada a verdade. Era o míni-
mo que se podia esperar de um presi:
dente da República que se propõe, prome-
teejura fazer deste país uma democracia.
4) A sra. acha que vai haver outras
reações contra o IPM no meio militar?
- E muito difícil dizer, pois os milita-
res são sujeitos a uma série de coações
por parte de seus superiores hierárqui-
cos... Haja vista o que aconteceu com o
tenente-coronel Nivaldo Dias e com o
meu marido.
3) De que maneira a sra. interpreta as
apreensões de certos setores, temerosos
de que a exigência da completa apuração
do atentado do Riocentro poderia radi-
calizar o processo político e impedir a
realização das eleições de 1982?
, iria me acovardar diante do dever de
- Compreendendo as eleições como
um marco de retorno à democracia, acho
que elas são uma conquista do povo, que
só vai se efetivar na medida em que o
povo souber fazer valer as suas exigên-
cias, o que independe dos arranjos pala-
cianos. Não há nada mais absurdo do
que considerar que a impunidade de ter-
roristas é condição para a democracia.
6) Na sua opinião, quem são os res-
ponsáveis pelo atentado do Riocentro?
- Aqueles dois militares que estavam
lá, mandados por outros superiores hie-
rárquicos que não estavam lá.
O coronel Dickson Grael deu uma en-
trevista coletiva à imprensa na qual acres
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
MILITARES DISSIDENTES
um deles
Antonio Carlos Queiróz e Márcio Bueno
Dona leléia (com seu marido Fareisio): Os"
expulsaveis são os dois militares e seus
Comandantes. Cel Dickson: que fazia um
pelotão de 70 so dados, um camburão e vários
carros perto do Riocentro, no dia??
O Coronel que dirigia
o Riocentro
fez suas investigações
centou novas e sérias revelações sobre
caso Riocentro, além de confirmar as in-
formações divulgadas por Movimento na
semana passada, a respeito do "Plano de
insegurança" montado para o show do
1o de maio.
Os dados fornecidos pelo coronel são
frutos de uma investigação que ele reali-
zou por sua conta sobre o atentado do
Riocentro, do qual era diretor.
De início, ele ressaltou que por causa
da postura independente que sempre
adotou, não se flexionando diante de um
poder discricionário, já foi vítima de vá-
rias perseguições. "Por isso - disse -
não seria agora, já na reserva do Exér-
cito, após ter exercido durante um ano o
cargo de diretor do Riocentro, que eu
contribuir para o esclarecimento do
grande público".
O coronel esclareceu que como diretor
do departamento de administração e fi-
nanças do Riocentro ficou responsável
pelo setor de segurança, cujo chefe ainda
é o seu ex-comandado na tropa de pá-
ra-quedistas da Vila Militar, o tenente
César Wachulec. O esquema de segu-
rança do show do 1o de maio, realizado no
ano passado no Riocentro, foi montado
por Dickson, que frustrou as ameaças
terroristas feitas naquela ocasião. No
início de abril deste ano, Dickson disse
ter recebido com surpresa a sua exonera-
ção.
BR DFANBSB VB8.GNC.AAA,
deixa o Exército indignado com o resultado
Ele considera, a propósito, que sua
demissão é um dos indícios do compro-
metimento de membros da diretoria do
Riocentro com o atentado, principal-
mente o da gerente de vendas e coorde-
nadora do show do 1o de maio, Angela
Capobiango. Outros indícios, que seriam
"coincidências suspeitas", foram alinha-
das pelo militar:
1) O afastamento do tenente Wachu-
lec da chefia de segurança do Riocentro,
justamente na tarde do show. Wachulec
recebeu ordem de Angela Capobiango de
tomar conta do estacionamento, a 600
metros do pavilhão onde se realizava o
show.
2) O não comparecimento da PM para
policiar o show, embora todas as provi-
dências tivessem sido tomadas com an-
tecedência por Wachulec. Diante dessa
situação, a óbvia solução de emergência,
que seria a improvisação de um esquema
de policiamento, com os bombeiros e os
agentes de segurança de firmas parti-
culares que lá estavam de serviço, não foi
dada. Fato estranho foi que um oficial
da Marinha, que passou pelo Riocentro
antes das 19 horas, tenha visto, a mais
ou menos um quilômetro do pavilhão,
vários carros e um camburão da PM, que
formavam um pelotão de aproximada-
mente 70 homens. .
3) O plano de segurança que Angela
Capobiango recebera de Wachulec foi
alterado. O novo plano não previu a vi- -
gilância da casa de força do Riocentro, o
que é uma evidente temeridade. No show
do ano passado a casa de força foi guar-
necida por 12 seguranças.
4) Dos 22 portões, apenas dois ficaram
abertos, assim mesmo um deles parcial:
mente. Em todos os shows anteriores os.
portões sempre estiveram abertos para
permitir uma rápida evacuação das pes-
soas, em caso de tumultos.
5) Quando chegou ao local das explo-
sões, um dos diretores do Riocentro or-
denou, sob os protestos de Angela Capo-
biango, que o tenente Wachulec reassu-
misse imediatamente a chefia da segu-
rança. Dias depois um outro diretor pe-
diu. a. Wachulee que não. fizesse carga
contra Capobiango durante o seu depoi-
mento no IPM.
Outra informação relevante a respeito
das circunstâncias em que se deu o aten-
tado foi obtida por Dickson de um peão
que estava fazendo a guarda de
tão e que, inexplicavelmente, não foi ou-
vido no IPM. Minutos antes de ocorrer a
explosão do Puma, três carros - um
Fiat branco, um Passat branco e um
Volks bege,-todos ocupados por duas
pessoas, passaram diante do portão em
fila indiana, atravessaram alguns can-
teiros e mimaram para o pavilhão. perto
de onde, algum tempo depois, explodiria
o Puma dos terroristas.
Mais alguns minutos depois explodiria
ção surgiu um Opala branco, ocupado
por quatro homens, que entrou pelo
portão, embora esta fosse uma entrada
privativa para ônibus e táxis. O peão pe-
diu que o Opala parasse, mas não foi
atendido. Do interior do automóvel um
sujeito barbudo gritou-lhe; "isto não é
nada. O pior vai acontecer lá dentro". O
Opala dirigiu-se para o pavilhão.
O coronel Dickson não quis tirar ne-
nhuma ilação destes incidentes mas a
principal hipótese para explicá-los é a de
que todos os quatro veículos estavam no
local para dar cobertura à ação terrorista
dos ocupantes do Puma.
Finalizando a entrevista, o coronel
Dickson Grael se colocou à disposição da
justiça, em benefício "daquilo que deve
interessar a todos: a verdade pura e in-
questionável".
Coronel Serpa: uma
nódoa mancha
parte do Exército
O coronel Luís Gonzaga de Andrada
Serpa, irmão do general Antônio Carlos
de Andrada Serpa, deixou vazar uma
extensa carta de 120 linhas, que havia
enviado no dia 11 de junho para mais de.
100 oficiais, inclusive o general João Fi-
gueiredo, na qual exige que a verdade
do atentado seja apurada para preser-
var a unidade e a imagem do Exército.
""A nação não pode perder a confiança
em seu Exército. Os homens passam, a
instituição permanece, não pode ser de-
negrida pela nódoa que mancha alguns
de seus integrantes". Andrada Serpa ex-
pressou, contudo, a confiança de que
"existirão chefes militares capazes de se
impor aos acontecimentos, controlando:
os com dignidade e determinação. Espe-
ramos que as evidências de culpabilidade
se esclareçam de forma incontestável.
Ou, então, que a aparente fantasia, ima-
ginada no nascedouro pelo Secretário de
segurança (gen. Waldyr Muniz) seja ani-
quilada, na cadeia das responsabilida-
des, pela ação de alguns homens de
bem".

Bahia: a oposição
esquerda as opções da oposição baiana
Otto Filgueiras
As oposições na Bahia estão discutindo
neste momento o lançamento de candi-
daturas únicas ao governo do Estado e
Senado. Com o objetivo de contribuir
com o debate por entender que as elei-
ções de 1982 têm grande importância
para o movimento democrático e popular
ovimento traça um quadro da situação
no Estado e faz um levantamento da his-
tória política dos três nomes apontados
como candidatos - Roberto Santos,
Valdir Pires e Francisco Pinto - e as
posições que defendem para um governo
de oposição.
Encontrar saídas para enfrentar o "Pa-
cote Eleitoral" do PDS nas eleições de
1982 não é o único problema a ser re-
solvido pelas oposições na Bahia para
vencer o todo poderoso Antonio Carlos
Magalhães. Além de não poder utilizar a
coligação por imposição "legal" e possi-
velmente não ter tempo de fazer a fusão,
as oposições baianas terão de decidir
neste momento se estão dispostas a fazer
de fato sua unidade para lançar candida-
tos únicos ao governo do Estado e Sena-
do.
Logo de saída a discussão sobre a uni-
dade fica comprometida com a decisãe
tomada pelo PT na Bahia de ter candida-
tos próprios em todos os níveis. Mesmo
não sendo ainda uma força eleitoral ex-
pressiva, o PT pode bagunçar o coreto já
que aglutina setores importantes da es-
uerda e boa parte do pouco que existe
e lideranças de trabalhadores no Esta-
Santos, Valdir e Chico: os
ROBERTO SANTOS
O ex-governador Roberto Santos vem
de uma experiência política mais recen-
te e até pouco tempo vinculada ao
regime militar. Filho do professor Ed-
gar Santos, uma das famílias mais ricas
e tradicionais da Bahia, o presidente do
PP surge no cenário político como Rei-
tor da Universidade Federal da Bahia e
carrega o fardo de ter implantado a
reforma universitária do Ministério da
Educação. Em 1973 foi escolhido pelo
Palácio do Planalto para suceder a Anto-
nio Carlos Magalhães no governo do
Estado com o objetivo de pacificar a
Arena regional. Antes de terminar o
mandato, diverge do governo federal
por não aceitar ACM como seu suces-
sor. Mas até o final do governo não
explicita nenhuma crítica mais geral à
política do governo. Permanecendo na
Arena como dissidente até sua extin-
ção, Roberto Santos aos poucos avança
e deixa de ser um simples opositor do
seu arquiinimigo el passa a defender
bandeiras mais gerais da oposição. É o
período que coincide com sua escolha
pelo Partido Popular.
VALDIR PIRES
Valdir Pires tem uma longa experiên-
cia de batalhador pela democracia no
BRDFANBSB V8.GNC.aAA, Ú)
ELEIÇÓES1982
Assim, a discussão trava-se hoje em
torno do PMDB, PP e PDT (o PTB não é
nem computado, porque além de não ser
de oposição inexiste politicamente) em-
bora ainda exista a possibilidade de a po-
sição do PT ser revista nas convenções
que realiza em agosto.
A esta altura já existe um campo bem
delimitado de apoio aos três nomes
apontados como candidatos: Valdir Pi
res, Francisco Pinto e Roberto Santos.
Este último joga solto e é apontado como
um dos candidatos mais fortes já que
tem apoio de seu partido e muitas simpa-
tias tanto no PMDB como no PDT. Embo-
ra nunca tenha sido testada eleitoralmente
sua força estaria em ser um dissidente do
governo que divide o bloco dominante e
encarna o anticarlismo no Estado.
Dentro do PMDB -- partido majoritá-
.rio da oposição - existe uma linha
divisória mais clara ainda entre os que
apóiam Valdir Pires e Francisco Pinto. O
ex-consultor geral da República realiza
uma verdadeira campanha eleitoral pelo
interior do Estado. Em menos de um ano
visitou 130 municípios e coloca-se aber-
tamente como candidato - "só deixarei
de sê-lo por decisão da convenção do
partido". Sua confiança é baseada no
controle que detém hoje da máquina
partidária e no apoio de praticamentetoda
a cúpula do PMDB. Calcula-se que dos
180 diretórios organizados pelo Partido,
cerca de 60% estão com Valdir. Essa
maioria é compreensível na medida em
que Francisco Pinto até agora não se colo-
candidatos a
país. Sua vida política começa aos 15
anos quando se engaja ao movimento
estudantil secundarista de Nazaré das
Farinhas na luta para que o governo
Getúlio Vargas apoiasse as forças de-
mocráticas que lutavam na II Guerra
contra o nazifascismo. Em 1951 depois
de ter combatido a candidatura de Ju-
racy Magalhães ao governo é escolhido
pelo Governador Regis Pacheco para
ser Secretário de Estado. Em 1954, é
eleito deputado estadual pelo PSD e
quatro anos mais tarde, deputado fede-
ral. Sua atuação na Assembléia Legis-
lativa e posteriormente na Câmara Fe-
deral o habilitam para disputar o go-
verno pelo PSD contra as forças rea-
cionárias que apoiavam Lomanto Jú
nior. O resultado do pleito é surpreen-
dente: Valdir é derrotado por apenas
40 mil votos (5% do eleitorado da épo-
ca). Consultor Geral da República de
João Goulart, é cassado no golpe mili-
tar logo na primeira lista a 9 de abril,
quando se exilou no exterior até 1970.
Mas só voltou à atividade política insti-
tucional em 1979 com a extinção do
AI-S5.
FRANCISCO PINTO
Possuidor de grande carisma pessoal,
Chico Pinto como ficou conhecido no
A ! de:
meio do povo, iniciou sua vida política
em busca
Valdir (com Rámul um defeãf do socialismo com democracia
cou como candidato e não fez trabalho de
articulação, preferindo o método de es-
perar um pronunciamento das bases.
Na área parlamentar Valdir conta com
apoio praticamente unânime de toda a
bancada da Câmara dos Vereadores de
Salvador e da maioria da bancada da
Assembléia Legislativa - apenas Lucia-
no Ribeiro, Adelmo Oliveira e Gerson
Gomes estão com Chico Pinto. E na
Câmara Federal o ex-consultor da Repú-
blica só não conta com o apoio de Elquis-
son Soares (que taticamente apóia Pinto
mas parece preferir mesmo é Roberto
Santos) e dos indecisos como Roque Aras
e Raimundo Urbano. Na área da esquer-
da organizada, ao que parece o PCB e o
MR$8 estão com Valdir e o PC do B com
Pinto.
candidato
como vereador de Feira de Santana
pelo PSD. Eleito prefeito da cidade em
1963 desenvolveu uma experiência inêé-
dita na história brasileira: quando as-
sumiu a prefeitura de Feira negou-se a
fazer qualquer obra se o povo não se
organizasse. Para incentivar a organi-
zação, criou uma farmácia e um centro
de abastecimento vendendo mercado-
rias pela metade do preço a quem esti-
vesse filiado a um sindicato ou associa-
cão de bairro. As obras administrativas
só eram realizadas depois de indicadas
e aprovadas pelas comunidades locais.
Essa experiência custou-lhe o mandato
em 1964, quando foi preso por 60 dias e
processado.
Em 1970 foi eleito deputado federal
com 35 mil votos. De prefeito de uma
cidade do interior da Bahia destacou-se
na Câmara Federal como um dos arti-
culadores do grupo autêntico, o mais
combativo do MDB. Sua postura com-
bativa contra o regime e o discurso que
pronunciou contra a presença do ditador
do Chile no Brasil, general Pinochet,
custou-lhe mais uma vez o mandato.
Enquadrado e condenado pela Lei de
Segurança Nacional cumpriu pena de
seis meses de prisão. Impedido de con-
correr à reeleição, Chico Pinto assumiu
em Brasília a chefia da sucursal do
jornal Movimento de 1975 a 1978 quan-
do se elegeu novamente deputado fede
ral com 118 mil votos.
de
io Sm
Evidentemente o campo de apoio
não é definido principalmente pelo pres-
tígio eleitoral dos candidatos e sim a
partir da avaliação política e propostas
para o "momento brasileiro que cada
corrente tem na Bahia. Pelo critério ex-
clusivamente eleitoral o que tem maior
prestígio é o deputado Francisco Pinto,
porque o próprio Roberto Santos nunca
foi testado eleitoralmente e Valdir Pires
vem de uma experiência de 17 anos pas-
sados e terá de fazer nome junto aos
jovens que representam hoje 85% do
eleitorado. i
No fundo o que se discute não é tanto
as chances eleitorais de cada nome (em-
bora esse seja um dos argumentos for-
mais) e sim a situação política no Estado.
Emiliano José, candidato pelo PMDB e
deputado estadual justifica seu apoio a
Valdir Pires a partir da avaliação que faz
do :momento político brasileiro com os
setores populares debilmente organizados
. e mais deficientes ainda na Bahia. Fala
da pouca expressão do reduzido proleta-
riado fabril no Estado, da desorganiza-
ção do proletariado rural e do resultado
das últimas eleições que configuraram o
coronelismo e uma sociedade patriarca-
lista utilizada pelo PDS, que na política
de favores ganha as eleições.
O deputado Domingos Leonelli é bas-
tante claro ao definir porque apóia Val-
dir: "não se pode esperar de uma eleição
na Bahia que seja decisiva em termos de
_ ruptura. Assim como não podemos ante-
por um projeto antiburguês, por outro
lado não podemos aderir a um projeto
genuinamente das classes dominantes".
Daí, avalia que Pinto encontra resistên-
cia na área liberal e conservadora.
O compromisso com a burguesia des-
'contente proposto pelas forças que
apóiam Valdir é também contemplado
pelos que apóiam Francisco Pinto que sé
não concordam com as restrições que são
feitas ao ex-prefeito de Feira de Santana.
Haroldo Lima, dirigente do PC do B na
Bahia e candidato a deputado federal
pelo PMDB defende o nome de Pinto
para o governo do Estado por entender
que é a melhor opção para "levar à
frente a luta pelas liberdades políticas no
País e a convocação de uma Constituin-
te". Entende que predomina hoje no
eleitorado "uma sede de mudança e Pin-
to como governador é a garantia de que is-
so vai ocorrer". Também não concorda
com restrições na área liberal e conserva-
dora da oposição e aponta como exemplo o
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
am candidato para o governo

entendimento que houve com Roberto gu

Santos e Pinto.. Para ele as. restrições
feitas a Pinto são truto de "forças con-
servadoras,- reformistas e manobristas
dentro da esquerda como o PCB que joga
no plano nacional e estadual pela conci-
lação com o regime como forma de
crescer politicamente e vê em Pinto um _
empecilho". De qualquer forma também
não descarta a possibilidade de o candi-
dato ser Valdir -ou até Roberto Santos
que poderia avançar politicamente como
ocorreu com Teotônio Vilela,
O presidente do PMDB, Rômulo Al-
nicida faz unta avaliação mais precisa da
situação política do , Estado embora
aponte resistências que o nome de Pinto
encontraria nas áreas mais atrasadas da
oposição, reconhece que o deputado de
Feira empolga o eleitorado e pode remo»
ver os obstáculos. Valdir Pires. seria o
nome ideal mas tem de enfrentar um
eleitorado jovem que nunca votou para 5 a # a E & *
governador, diz ele. Sobra, portanto, Ro- Santos: um liberal clássico. Pinto: um governo com os camponeses, operários, intelectuais
berto Santos que segundo Rômulo teria
mais chances eleitorais por encarnar o
anticarlismo no Estado.
Diante deste quadro é fácil concluir Três democracias bem diferentes
que se a unidade das oposições é possível
emtorno de um candidato único, difícil- Roberto Santos é um liberal tipo clássi- Pará Chico Pinto o governo Figueiredo rio da grande centralização que caracte-

mente haverá unidade completa. Dentro co que quer realizar um governo com é "incompetente, sua equipe é fraca e
riza o atual regime", o ex-governador

do PT, por exemplo, as forças que consi- diálogo e voltado para o setor social na leva o país à bancarrota". Vê a "abertu-
limita a participação popular no governo

deram equivocado o partido lançar can- área de educação e saúde. Valdir Pires, ra" como resultado de um lado das
à representação de prefeitos e parlamen-

didatos próprios e vão tentar reverter a define-se pelo socialismo. democrático, pressões do Acordo Trilateral e de outro tares. Admite também uma participação

situação nas convenções, não apoiariam defende firmemente a liberdade de orga- das pressões da organização popular no "no contato informal e espontâneo com

emhipótese alguma Roberto Santos para nização: para o movimento popular e Brasil. Não acredita em nenhuma
das in- o povo nas frequentes manifestações de

governador. O vice-presidente do PT An- quer: implantar na Bahia -um governo tenções ""demoecráticas" dos representan- que sempre participei",

tonio Jorge Almeida, um dos defensores democrático que assegure a mobilização tes do regime militar,
Num governo de oposição, a participa- "
da unidade das oposições diz que seu para transformação da estrutura econô-
partido só deve lançar candidatos em mica injusta e arcaica. FFan- TERRORISMO
ção popular tem de ser garantida e muito

último caso, se Roberto Santos for esco- "cisco Pinto, um homem de esquerda que
bem definida no entender de Valdir Pi-

lhido. Para ele o ex-governador é "ina- combate o reformismo e quer um gover-

res. As liberdades políticas e de organi-
Francisco Pinto considera o terrorismo
ceitável porque não luta contra a ditadu- no de oposição sustentado por um cole- intimamente vinculado ao
zação estariam garantidas, Prega um

regi já
está-no-jogo-de-regime,no-esseim- vii t ( TAT ie 'A'W i "DO
verno _aue avance D | te...

cial", ses, estudantes e intelectuais.

plano político e cultural e que assegure a
lho do Estado. No último discurso que mobilização popular para transformação
tez na Câmara defendeu que as oposi- das estruturas econômicas "que são injus-
PRINCÍPIOS
ções retirem o apoio que deram a Figuei- tas, irracionais é arcaicas. A luta contra

1982 não será Roberto Santos está hoje no campo do

redo por ocasião das bombas do Rio- o grileiro é uma tarefa do governador,
"Centro. Para Chico Pinto
liberalismo clássico. Seu pensamento - governo e ter- assim como a luta pela liberdade e de
ror fazem parte de um corpo só, que
diz ele- aproxima-se muito da social-de- organização do trabalhador rural, assis-
como 1978 pretende impedir o avanço das forças
mocracia européia. Vê com interesse a tência técnica ao pequeno e médio pro-

Em 1978, o economista Rômulo Al- experiência do "socialismo francês" co-

democráticas.
dutor rural pondo a seu serviço os instru-

mcida, candidato pelo MDB ao Sena- mo um caminho novo a ser observado

O ex-governador Roberto Santos é cau-
mentos de crédito de que o Estado dis-

do foi derrotado por 500 mil votos em atentamente. põe". No plano insdustrial Valdir Pires de-
teloso ao abordar o terrorismo que inter-
grande parte graças aos expedientes Valdir Pires, um liberal progressista fende a construção de.um processo vineu-
preta como sendo uma ameaça de retro-
utilizados por Antônio Carlos M aga- aproxima-se bastante da esquerda. Ele
cesso e que "provoca uma timidez no
lado à produçãoe consumo: "não tem sen-

Mhàães. No interior ele ameaçou os che- próprio define-se pelo socialismo demo- tido que sejamos um entreposto industrial
governo no preparo das eleições".
fes políticos de seus currais, de deixar crático. Refere-se ao socialismo francês das grandes empresas multinacionais e

a "pão e água"" todos aqueles que não com entusiasmo. Considera as liberdades Valdir Pires tem receio de que o terror
nacionais do sul do país".

votassem no seu candidato Lomanto populares e a legitimidade do poder consiga fazer o país retornar aos tempos
O deputado Francisco Pinto critica a
Júnior. No dia da eleição, além de ter oriundo do povo dois pontos inegociá- de Médici. Considera o terrorismo como
forma como os políticos tradicionais pre-
chovido em Salvador, os empresários veis. uma demonstração da fragilidade do
tendem resolver o problema do povo: "é
de ônibus vinculados ao governador Francisco Pinto aproxima-se muito das modelo do governo Figueiredo: "Isso for-
muito comum entre os políticos reunir
«boicotaram o sistema de transporte. posições das esquerdas chamadas leni- talece minha convicção de que é inviável
meta dúzia de -técnicos-e preparar um
Depois da apuração, surgiu um resul- nistas. Não acredita em socialismo do um projetode abertura sem a participação
programa e soluções". Embora também
tado êurioso nas cidades do interior tipo francês: "Ou se faz a revolução popular".
tenha propostas para o Estado, Pinto
do Estado: enquanto na capital o proletária ou não se faz".
prefere o método do povo governando e
indice de votos nulos e brancos che- PARTICIPAÇÃO POPULAR
apontando as soluções para seus proble-
gou a 12%. no interior estranhamente FIGUEIREDO

mas: "O problema da terra tem que ser

esse índice não ultrapassava os 6%. Há consenso entre os três oposicionis-
O grande divisor de águas das posições discutido pelos camponeses que apresen-
Como em 1978 já não existia mais tas de que O governo Figueiredo não
tariam soluções. Com os operários, estu-
campanha de voto nulo ficou evidente permite alternância no poder e que não
dos três oposicionistas fica claro quando

talam sobre a utilização do governo do dantes e todos outros setores repetiria-

que os votos em branco do eleitorado se pode ter ilusões com o processo de mos o mesmo processo". Para garantir a
menos. esclarecido do interior foram abertura. Há contudo algumas diferen-
Estado pela oposição e particularmente a

participação popular. As propostas do participação popular no governo, Pinto

com certeza "preenchidos para Lo- cas de interpretação. Roberto Santos diz
mento".E muitos votos nulos, simples- presidente do PP sobre a política a ser defende a constituição de um colegiado
que "frustraram-se as expectativas de
dleito pelas comunidades com a presença
mente validados.. Em 1982 a situação aperfeiçoamento democrático com que o
desenvolvida no Estado e sobre a relação

do movimento popular com o poder rigo- de operários, camponeses, estudantes e

deve mudar: só o PMDB, que nas candidato Figueiredo acenou".
rosamente se situam nos limites de um intelectuais com a função de legislar e
eleições passadas possuia apenas em Por Valdir Pires a "abertura" de Fi-
torno. de 150 diretórios, deve com- governo democrático tradicional. Preten- executar. Como teria de obedecer .as

gueiredo não permite a alternância de regras existentes a Assembléia Legislati-

pletar pelo menos 300. O PP tem poder: "Há uma concessão de liberdade,
de simplesmente repetir a atuação de seu

governo anterior, voltado para o setor va atual desempenharia o papel de apre-

atualmente 160 e deve chegar a mais supressão da tortura, redução das prisões
social na área de saúde e educação. ciar as propostas encaminhadas pelo co-
de 200.0 PDT e o PF devem fazer em políticas, mas sem se permitir a par- legiado. A burguesia segundo Pinto não
torno de 70 diretórios cada um. - ticipação popular no processo de constru+
Embora avance ao defender a escolha

direta dos governadores porque "repre- participaria do colegiado: "já está repre-
ção do governo e das instituições". sentada na Assembléia Legislativa".
senta a participação de muitos ao contrá-

MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
 JUSTIÇA MILITAR
E

Maria E ourenco
aposição à LSN,
a/0I0,
PE
PACTO ANTICASVÍSMO

his xªmã”?a,?? Um pacto das oposições que preserve

a autonomia dos partidos já existentes

instrumento do
será proposto pela Comissão Executiva
Nacional doPMDB a todas as agremiações
oposicionistas, como único caminho de
derrotar o governo nas eleições de 1982

terrorismo
caso ele imponha seu casuismo eleito
ral. A proposta foi iniciativa do deputado
paranaense Euclides Scalco e teria uma
| vigência até 1982, a partir de quando as

legal vigente"
diversas correntes voltariam a desem-
penhar o seu papel de partidos definidos
segundo suas concepções programáti-

A realmsolida
ização deriedadeum atoaostpúblico em São
cas. De acordo com a proposta, os par-

Pauloe r ê s jornalist as
tidosdeoposição deveriam concorrer às

docondenaHoradosdo Povoe váriosque foram recente mente

es de uma maneira unificada sem

POLÍCIA MILITAR
protestoucano s contra
sociação Brasileira de Imprensa, através de

a
que percam a sua autonomia; eles se

condena çãodo padre pernamb

seu presidente regional Ricardo de Carvalho

Regi-
,Ízaííçpiazrafiam Togo após as eleições.

naldo Veloso avosdoisdequeoanos enquadr

de p
© todos os oradores foram unânimes no

claros i n d i c a t i r i s ã o , são A partir de

repúdio à condenação dos jornalistas.

amento
| COOJORNAL JULGADO

deoposicionista smamplo
naLei deSegur ança
Falando em nome do jornal Hora do Povo,

Na-
. Por terem divulgado no Coojornal um

cionalen contrau repúdiod

o jornalista Franklin Martins agradeceu a

eimpor- agora, Rota relatório do Exército sobre as operações

tantess egmentoars daa LSNsociedadcomoe, profunda que

ajuda dada pelo prefeito de Piracicaba, Her-

pas-
antiguerrilheiras no Vale do Ribeira, e na

sammenteia consider
man Neto, pelo ex-deputado Davi Lerer, e

-
Bahia, quatro jornalistas gaúchos foram

l e g í t i m a . Umsint omadiss nos Estados

pelo jornal Tribuba da Luta Operária, que

oforam as
julgados na semana passada pela Just|-

palavrasd opreside ntedaComceseissãode

contribuiram para tornar possível o ato. Seis

Jus- Invasão de áreas e funções que são da ca Militar de Porto Alegre. Os quatro

tRecife,
iça e PazPedroEu da Arquidio de Olinda
ônibus do Rio de Janeiro, com manifestan-

e competência da polícia civil, um processo de jornalistas são: Carlos Rafael Guimarães

ricode B a r o s , que, incon-

tes, principalmente jovens, vieram assistir o
militarização que a transforma num mero Filho, Elmar Bones da Costa, Osmar

formadoc omificaconden açãodo padre

ato. Franklin Martins concluiu dizendo que

Regi- apêndice do Exército, impunidade para os

Béssio Trindade é Ecsvita Sauerssig.

natdo,q u a l o u aL e i deSegur ançaNac

o regime nunca esteve tão isolado. política

io- crimes que seus membros

desempenham a sua missãocometam quando
Além de divulgação de "segredo militar",

nterroris
al como"umolemgal verdadei ro instrume
e socialmente, como no atual momento, e

nto de de policiamen- eles foram acusados também de terem

vigente nop a í s " .

que não tem condições para reunir num
to,
ção mesmo
indefesa.queEssas
as vítimas sejam a popula-
mesmo recinto o que Hora do Povo reuniu corrompido o cabo do exército que lhes

são as consegiiências
O padre ReginaldoVelosofoi enquadrado
para receber solidariedade. (T.C.) passou o documento.

de um processo de desvirtuamento
naLSNporterescritohinoemhomenagemao ções das polícias militares, que tendedasagorafun-
(*) Participaram da mesa do ato em soli-

padreV
aís); noit'odtiraMêisdoseujulgamento,
racapil o, (quefoi expuiso do
dariedade a Hora do Povo: Ricardo Car- __ PCB DEFINE APOIO
se agravar: para enfrentar a briga polícia
ppassada, nasemana
valho, representante da ABI, José Gregori, O secretário-geral do Partido Comu-
versus marginais, o Exército cederá a partir
mil pessoasagiomeraram-se
Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese nista Brasileiro, Giocondo Dias, anun-
dessa semana
nasJustiçaM
proximidades da 7a Circunscrição da cias militares -armas pesadas para as polí-
de São Paulo, Joaquim Santos Andrade, ciou que o seu partido apoiará a candida-

i l i t a r , em R e c i f e , para prestar-l he
fuzis, metralhadoras, gás e
presidente do sindicato dos Metalúrgicos

solidariedade.
tura de Franco Montoro ao governo de
de São Paulo, Aurélio Peres e Waldemar bazucas, um arsenal estimado em um bi- São Paulo, a de Valdir Pires, também do
Rossi, candidatos à presidência do Sindica- lhão de cruzeiros. E como se
bastasse, a Inspetoria das Polícias isso não PMDB, na Bahia, e a de Gilberto Mes-
to dos Metalúrgicos, Mário Covas, presi-
- do Exército ao qual se subordinam Militares trinho, do PTB, no Amazonas. Segundo

as órgão
—
dente do PMDB -SP , Eduardo Suplicy, PT-SP,
PMs
Giocondo Dias, o PCB ainda não tem

estimularEstaduais - já anunciou que vai

Já em São Paulo, cerca de mil pessoas
participaram de um ato público na futura
sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em
solidariedade aos jornalistas Cláudio Cam-
pos, Ricardo Lessa e Pedro Camargo, que
foram condenados pela Lei de Segurança
Nacional (ver Movimento 312).
- A manifestação foi presidida pela As-
CONSTITUINTE
Amazonas: "um clamor nacional"
Abrindo o 1o Ciclo de Debates Sobre a
Constituinte, promovido pelo Comitê Unitá-
rio do Rio Grande do Sul, o secretário geral
do Partido Comunista do Brasil, João Ama-
zonas, ex-constituinte de 1946, falou para E
mais de mil pessoas no último dia 29, na
Assembléia Legislativa gaúcha.
Amazonas defendeu uma constituinte re-
presentantiva das forças democráticas e da
unidade popular, que seja convocada por
um governo provisório - composto pelos
setores que derrubarem o regime militar - e
que garanta a mais ampla liberdade política
para a classe operária e as camadas popula-
res. Ressaltou, entretanto, quea constituinte
"não salva a Pátria", mas se coloca, hoje,
como a principal palavra de ordem, pois
questiona a questão do poder e, dentro
dessa luta, os setores consequentes lutarão
para Obter a hegemonia sobre os liberais.
Segundo ele, a constituinte já se transfor-
mou num clamor nacional.
Sobre as atuais agremiações de oposi-
ção, João Amazonas disse que se trata
de
"partidos de estufa", já que se formam
mais
em cima de interesses regionais do que por
definição de um programa claro e caract
e-
rístico destas posições. Nesse sentid
o,
observou como exemplo o caso do Estado
da Paraíba, "onde o Partido Popular reúne
pessoas mais progressistas que o PMDB
de
lá. No Rio Grande, talvez isso ocorra em
relação ao trabalhismo, mas é preciso uma
análise mais aprofundada para esta afirma
ti-
va".
Por isso, o apoio do PC do B a um
determinado partido de Oposição seria,
na
sua opinião, prematuro, até mesmo porque
Eusébio Rocha, PDR, representantes do PP
e PTB, Aldo Rebelo, presidente da UNE,
representantes da CONTAG e da Federação
de Favelados do Rio de Janeiro, OAB, Tere-
zinha Zerbine, José Duarte, líder operário,
Bernardo Joffily , editor da Tribuna da Luta
Operária, Raimundo R. Pereira, editor de
Movimento.
João Amazonas
sequer as próximas eleições estão garanti-
das.
No seu entender, a reformulação partidá-
ria não contempla o conjunto das forças que
têm expressão no país e, a exemplo do bi-
partidarismo, é uma camisa de força", só
que do partido de governo contra vários da
oposição". Finalmente, abordando a possi-
bilidade de legalização do Partido Comunis-
ta do Brasil, Amazonas afirmou que "para
sermos legalizados teriamos que fazer mui-
tas concessões. E não vamos gritar menos
para não ferir os ouvidos delicados dos
generais".
O 1o Ciclo de Debates, que se desenvol-
verá nos meses de julho e agosto, trará ainda
nomes como Euzébio Rocha, Luiz Carlos
Prestes, Lisâneas Maciel, Francisco Weffort
e outros. (Vera Lúcia Flores, de Porto Ale-
gre)
nos a
Batalhõesformação de grupos especiais
paulista, que só de choque
nesse tipo a ROTA
"suspeitos" de serem ano assassinou
marginais.
As medidas
Ramos anunciadas
de Alencar pelo general José
- inspetor geral
Polícias Militares - indicam que o governo
pretende enfrentar a questão da marginali-
dade como uma verdadeira operação militar
regular; em vez de utilizar o Exército, po-
rêm, pretende utilizar as PMs, preservando
a
imagem das Forças Armadas regulares,
Como se isso não bastasse, pretende-se
dar livre curso às truculências da própria
polícia militar: um indicativo disso é a deci-
são de permitir que os membros da COrpo-
ração possam andararmados mesmo quando
não estejam em serviço. Ao invadir áreas
que seriam da competência da Polícia Civil,
a PM cria o conflito entre essas duas
corporações.
As polícias civis reclamam da situação
desigual criada. Um exemplo disto: em São
Paulo, um delegado de polícia (Raul Careca)
foi condenado pela Justiça Comum a 12
anos de prisão, por ter assassinado um
Soldado do Exército, Poucos dias depois,
cinco PMs foram absolvidos pela Auditoria
Militar de São Paulo, no famoso caso da
"Rota 66", quando fuzilaram três jovens no
elegante bairro paulista de Jardim América.
O tratamento desigual é explicável: um
membro da polícia comum ao cometer um
crime na sua missão de policiamento é
julgado pela justiça comum. Um membro da
PM ao cometer o mesmo tipo de crime
é
julgado pela Justiça Militar.
A partir de 1969, com a criação da Inspetoria
das Polícias Militares, deixaram de ser uma
espécie de braço armado dos governos
estaduais, (o que lhes dava maior autono-
mia em relação ao poder central,) para se
transformar num apêndice do Exército, que
nomeia seus comandantes.
Tal si-
tuação gera protestos como o do capitão
gaúcho Joaquim Monks, que foi preso na
semana passada, porque, além de ter criti-
cado a Lei de Segurança Nacional, reivindi-
cou a "autonomia para as PMs", (Tibério
Canuto)
posição sobre quem apoiar em determi-
nados EstadosAcomo é o caso do Rio de
Janeiro, apesarde haver uma tendência
100 | de apoiar o senag
das
existe apoio, ele é espontâneo e é preci-
so saber em que termos ele está coloca-
do", Já Gilberto Mestrinho, candidato do
PTB ao governo do Amazonas, afirmou
explicitamente que não quer o apoio do
PCB e relembrou o seu passado antico-
munista,
INVESTIGAÇõES NO SW!
O deputado José Costa (PMDB - AL)
pretende que a Câmara Federal investi-
gue a evolução da dívida pública assim
como a estrutura do SNI e as suas fun-
ções. Para conseguir o primeiro objeti-
vo. José Costa vai propor, para o segun-
do semestre, que seja formada uma CPI
que investigue tanto a divida externa
como a dívida interna brasileira. Em re-
lação ao SNI, ele requereu formalmente
que o chefe do SNI, general Otávio Me-
deiros, seja ouvido pela Câmara Federal,
Esse seu requerimento sumiu da mesa
da presidência da Câmara e só apareceu
na semana passada, em virtude de o
deputado alagoano ter ameaçado entrar
com um mandado de segurança para
garantir a presença do chefe do SNI.
2 DE JULHO VIOLENTO
O desfile cívico dv 2 de julho em
Salvador, comemorando os 158 anos da
vitória brasileira na guerra da indepen-
dência naquele Estado, foi marcado este
ano pelas violências do governador
Antonio Carlos Magalhães. Enciumado
com os aplausos que os membros do
PMDB recebiam, o governador mandou
os policiais rasgarem a faixa - com os
dizeres "PMDB na luta pela democracia
que virá" -, que era carregada pelos
líderes oposicionistas Rômulo de Almei-
de e Valdir Pires, candidato ao: governo
do Estado. E a 22

8
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81

Vitória,
# % + *
Assembléia de 4 mil suspende movimento mas mantém ""estado de greve
No 28o dia de greve, os médicos do Rio
de Janeiro resolveram suspender o mo-
vimento, decisão adotada na maior as-
sembléia já realizada pela categoria: 4
mil participarrtes. A decisão, de acordo
com proposta" encaminhada pela «di
retoria afastada do sindicato, prevê a
realização de uma próxima assembléia
nesta semana, sexta-feira, quando será
discutida a possibilidade de retomada da
greve caso o governo federal não atenda
alguns pontos da pauta mínima de rei
vindicações, ou o governo estadual 'não
reveja sua posição intransigente.
A assembléia foi aberta por Roberto
Chabo, presidente afastado do sindicato,
no seu primeiro contato com a categoria
depois de libertado da prisão, no do-
mingo à noit& Em sua tôrga exposição,
Chabo historiôu os entendimentos entre
os governos federal e estadual e a "co-
missão médica de alto nível" (veja na
página seguinte) e, diante das promessas
a nível federál, propôs a suspensão da
greve. A atitude do governador Chagas
Freitas, que praticamente não atendeu
nenhuma das reivindicações, foi ampla-
mente vaiada.
O recuo do governo
O governo mudou muito sob a pres-
são. do movimento grevista, que é
antigo. Logo de início, quando das pri-
meiras paralisações, eles diziam que
não seria feita nenhuma concessão. O
presidente do INAMPS, Harri Graeff.
chegou a dizer a diretores do sindicato
que nada seria atendido, mesmo por-
que aquilo era **'greve de fim de se-
mana". O governo apostava na in:
capacidade dos médicos de realizarem
uma greve efetiva e duradoura.
Mas o governo se enganou. Da quinta
vez, a greve veio firme, para ficar até a
vitória. Noutro ponto o governo tam-
bém perdeu. Esperava jogar a popu-
laçõo contra os médicos, mes-
mo porque, é a população a maior
prejudicada com a suspensão dos ser-
viços médicos públicos. Mas também aí
perdeu. A greve teve um grande apoio
das entidades populares e a população
carioca compreendeu seu sentido justo.
A Secretaria da Saúde do Estado não
recebeu uma única reclamação de al-
guém que nào tivesse sido atendido por
causa da greve, e isto com a suspensão
de quase 200 mil consultas diariamente,
durante 28 dias.
Restava a repressão. E o governo a
tentou. Primeiro demitiu servidores,
inclusive diretores do sindicato. De-
cretou a greve ilegal e interveio no
sindicato. Prendeu seu presidente e
cassou vários outros diretores e ati-
vistas sindicais. "Preparou uma ar-
madilha para prender Lula, o pre-
sidente do PT, que tinha vindo ao Rio
prestar solidariedade ao movimento
grevista, mas este escapou por acaso.
Mas a repressão resultou na amplia-
ção e fortalecimento da greve. Não ha-
via como acabar as comissões salariais
e as comissões de triagem nos hospitais.
Neste ponto, variam as interpreta-
ções. Segundo fontes da própria di-
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
BRDFANBSA
GREVE DOS MÉDICOS
depois
7 %
Roberto Martins
Depois vieram informes de diversos
hospitais, onde as assembléias haviam
discutido a questão, No hospital Cardoso
Fontes, em Jacarepaguá, após pressões
do INAMPS e da polícià, a assembléia
hospitalar votara, a favor da conti-
nuidade da greve por 78 votos, contra 15
que apoiavam de antemão a proposta da
diretoria. Outros hospitais, como os da
Lagoa, Ipanema, e Bonsucesso, também
apoiavam de antemão a proposta da di-
retoria. O Miguel Couto e Salgado Filho
decidiram pela continuidade do mo-
vimento, acentuando que *'*a pauta mi-
nima era inegociável" e que a greve só
deveria ter fim com o seu atendimento
explicito.
Passada a discussão, diversos diretores
do sindicato defenderam a suspensão da
greve, considerando uma vitória as pro-
messas de atendimento de pontos da
pauta mínima. Até então, no plenário,
especialmente durante os informes das
assembléias nos hospitais, as palmas se
equilibravam, entre os que propunham a
continuidade da greve e os que de-
fendiam o seu fim. Foi o discurso do
A afastada.
principal líder da oposição à atual di-
retoria do sindicato, a partir do mo-
mento em que a repressão se acentua, a
greve se torna um problema de "'se
gurança nacional"", sob o comando di-
reto do I Exército, que preparava, na-
queles dias, o relatório de IPM do Rio-
centro. O secretário da Segurança se
esmerou em medidas repressivas e em
notas de ameaças, inclusive de prisào.
A partir de um dado momento,
quando entra em cena a comissão de
alto nível, visivelmente há um recuo do
governo - com manobras, natural
mente - procurando tirar vantagens,
desgastando inclusive o governador
Chagas Freitas, do PP.
O primeiro recuo foi a retomada das
negociações, mantida a greve, segundo
da soltura do dr. Chabo, depois a pro-
messa de aceitação. de três. pontos da
pauta. mínima e a cogitação de re-
vogação das punições e suspensão da
intervenção no sindicato. Com isso o
governo ganhou o fim da greve, mesmo
que provisoriamente, Poupou-se de um
desgaste maior, num ano pré-eleitotal.
E as concessões econômicas, no fundo,
são demagógicas. As reivindicações ini-
ciais dos médicos de reajuste semestral
e piso profissional de 10 mínimos já
haviam sido postas de lado com a ela-
boração da pauta mínima. Finalmente
o governo impediu um fortalecimento
dos setores da oposição à diretoria do
sindicato, mais combativos. Se a cassa
cão da diretoria atual for mantida, os
líderes da oposição [que perderam as
eleições em novembro passado por
apenas pouco .mais de 100 votos es-
tarão em bem melhores condições hoje.
E.o general Figueiredo, saiu-se como
"bom moço" em sua política de aber-
tura: nas declarações do dr. Chabo, ele
diz que sua soltura se deveu à "parte
do governo que representa uma espe-
rariça de democracia" (RM).
(. ".
de 28
39
retoria do sindicato, Luiz Tenório, um
dos punidos e cassados para SEF preso,
que reverteu a situação. Orador mais
aplaudido da noite, Tenório chamou a
atenção para a necessidade de , uma
análise política fria. Acentuou os êxitos
do movimento - principalmente sua
força e organização e citou "um velho
sábio: "é preciso saber dar um passo
atrás para amanhã dar dois adiante".
Dedendeu a suspensão da greve Rf)? uma
semana, mantendo no entanto O estado
de greve", com a mobilização da cate-
goria, assembléias hospitalares etc.
"Ao fim, a proposta da diretoria do
- afastada. O ministro Murillo Macedo, em
sindicato teve apoio quase unânime.
as" do governo Nas di-
As "promess
versas conversações com O g0verno
federal, a comissão de alto. nível obteve
promessas de atendimento de 3 pontos
da pauta mínima: extensão do benefício
de elevação de 3 níveis funcionais para
todos os médicos do serviço público fe-
deral, realização de um ióvo concurso
para o preenchimento de mil vagªs no
INAMPS ( o concurso anterior, realizado
em meio à greve, foi boicotado pelos
médicos).
Agência E4
A instituição do dia 30 de junho como Dia
Nacional de Paralisação dos médicos, decorreu
das medidas repressivas adotadas pelo governo
contra os grevistas do Rio de Janeiro. Em
primeiro lugar vieram as Opiniões de diversos
médicos, inclusive diretores dosindicato, demiti-
dos de seus cargos; depois veio a intervenção no
sindicato e, finalmente, a prisão do dr.
Roberto Chabo, seu presidente, Tudo isso fez
aumentar a solidariedade a nivel focal e nacional.
Vários Sindicatos, representando 11 Estados e
17 cidades, reuniram-se no Rio junto à Federa-
ção Nacional dos Médicos e programaram para-
lizações e outras formas de protesto e solidarie-
dade no dia 30. Mas na medida em que a comissão
de alto nível começou a atuar e que se dei a
soltura do Dr. Chabo, a mobilização nacional
começou a perder força. Para isso contribuiu não
dias
No plano estadual e municipal, os
médicos reivindicam, na pauta mínima,
o enquadramento definitivo, num prazo
não superior a 9 meses. O governador
Chagas Freitas propôs o enquadramento
em 3 anos, a começar em 1o de dezembro
de 1981, para os que possuam mais de 30
anos de serviço público. A proposta foi
rechaçada unanimemente pela assem-
bléia e é um dos motivos que poderão
levar de novo à greve.
No plano político, a reivindicação
mínima e a suspensão das punições com
o retorno dos demitidos às suas funções,
e a devolução do sindicato à diretoria
entrevista coletiva no dia 30, depois de
acentuar que as negociações só seriam
abertas com o fim da greve, disse que os
punidos estariam apenas "respondendo a
inquérito", o que poderia significar que,
depois de ouvidos, caso nada fosse "apu-
rado" poderiam retornar a suas funções;
quanto à intervenção, a interventoria
ainda não teria sido nomeada oficial-
mente, o que deixaria também uma por-
ta aberta para o retorno da diretoria
k
apenas a atuação da comissão, mas até a própria
diretoria cassada do sindicato no Rio.
Na véspera do Dia Nacional de Paralisação, o
próprio Dr. Chabo, em declarações à imprensa,
recomendou a possível suspenção do movimento,
na medida em que o governo deu mostras
de atendimento da pauta mínima. Na impossi-
bilidade de comunicação com todos os sindica-
tos do país sobre a suspensão do Dia Nacional, o
Dr, Chabo, sugeriu que o próprio governo ga-
rantisse a divulgação da sua decisão. Ao mesmo
tempo, a diretoria do sindicato revolveu não
comparecer ao ato público convocado para as
18 horas na cinelândia, no Rio de Janeiro.
O Dia Nacional, que antes ganhara força,
perdeu um certo terreno, mas mesmo assim
houve paralisação e atos públicos em vários
Estados. (RM),
 BR DFANBSB V8.GNC.AAA,

senador que estava ausente, comprimindo

RITMO DE RECESSÃO o botão de votação eletrônica. Nilo, ao

No Hospital de Ipanema Apesar das tímidas notícias na impren-

ver-se denunciado perdeu as estribeiras e
chegou a perguntar aos jornalistas: "cadê

Aindadosnosmédicos
primeiros diasde Janeiro,
sa de que o mercado automobilístico co-
desta 5ao
aquele fotógrafo . d p.?

greve
meça a se recuperar da crise, a verdade é
no Rio
presidente do INAMPS, Harri Gracf
que a maioria das grandes empresas ainda
está em ritmo total de recessão. A General
Os expedientes de Nilo Coelho vêm
incomodando até mesmo seus correligio-
Motors, em São José dos Campos, já nários do PDS. O senador Luiz Cavalcanti
adotou uma tática repressiva através da demitiu nas últimas semanas cerca de 1 (PDS-AL), por exemplo, ocupou a tribuna
qual pretendia acabar com o movi- mil funcionários, em sua maioria horistas. ameaçando deixar opartido "que julga in-
mento. Visava acabar com as "co- Mesmo a Mercedes Benz que havia dito fringir o sétimo mandamento" (não furtar)
missões de triagem" que eram por ele e não ter necessidade de dispensar, por de! [beradamante
pelo; orgaos de repressão consideradas enquanto, um número elevado de empre-
"piquetes" grevistas. Ele próprio deu gados, está com o pátio superlotado de Na verdade a escolha de Nilo Coelho
ônibus e caminhões, Por isto decidiu con- © para líder do governo não se deu à tua nes-
uma de detetive policial e se colocou
ceder férias coletivas aos seus operários a se tempo de cásuismos e relatórios fal-
numa das filas do Hospital de Ipa- partir deste mês. Também a Volkswagen, sós. Coelho - ve!ho cacique do sertão de
nema, como doente. A Comissão de apesar de todas as demissões já feitas nas Pernanbuco - é useiro e vezeiro na prá-
zeca Guimarães/ Agência F4

Triagem, depois de examiná-lo breve-
mente, como fazia com todos os que
Chegava, negou-lhe atendimento por
não se tratar de caso de emergência.
Harri Graefentendeu toda a força das
comissões, isto é, da organização dos
médicos nos seus locais de trabalho e o
bom atendimento dado pelas comissões
à população, o que granjeou a simpatia
generalizada do povo carioca. Assim,
para acabar com a greve haveria de
acabar com as comissões e, o caminho
para isso, seria a pressão através dos
diretores dos hospitais.
Harri Graeff chamou cada diretor
individualmente, e instou-os a acabar
com as comissões. Aqueles diretores
que se diziam impossibilitados de
fazê-lo - e foram praticamente todos
- eles os demitia, automaticamente.
Em pouco tempo grande número de
diretores de hospitais estavam demiti-
dos e a grita começou entre os
deputados do PDS. O governo sustou
85 “lllllddlltd "'ÍIKJ
Os grevistas queriam negociar.
(Posto de Assistência Médica) do
INAMPS no subúrbio de Campo
Grande, relutou a assumir o cargo na
condição de interventor. Depois chegou
ao Hospital com voz macia, dizendo-se
apenas "um médico para se juntar aos
companheiros",
Não pôde adotar nenhuma medida
repressiva. Segundo ele, não era essa a
sua - intenção. Mas mesmo que o
quisesse, enfrentaria imensas dificulda-
des. Os médicos do Hospital de Ipa-
nema se uniram em torno do diretor
demitido, Waldemar Colli. Os 26
l!“? CIC») fre
chojes de seção se demitiram
últimas semanas, anunciou que continua tica de fraudes efenufals & É
com um estoque muito grande e por isso
também concederá férias coletivas a 10
mit funcionários, esperando assim deses-
tocar um pouco, enquanto aguarda uma
possível recuperação do mercado. Caso -MORTES
NA PLATAFORMA:
contrário, deverão ocorrer novas demis-
sões, a empresa diz quehá mais de 5 miª - Dois mergulhadores brasileiros- Júlio
operáriosociosos! _ César Espindola e Dominique Robert
Chantais - morreram na semana passada
no Rio de Janeiro quando desciam ao fun-
2 Me, © E m ml do do mar para tamponar o poço Rio de
"lªs ,Janeiro Submarino 167, operado pelo
Na-.
vio sonda "Tainaron" de uma empresa
norte-americanacontratada pela Petro-.
Váriasmanobras estão sedelineando n É [mas Esse acidente é la para15onúme-
ama do Ministério daPrevidência, pai
cºbrir os rombos queseampliamcada vez
mais,Delfim Netto, ministro do .ànaja-
na, játeria umasolução: aumentar a
mªmªdapmvim ampliandoer
. 1% os descontosdee
"dunsdeputadosdo PDS,reunidos
: nodoprojeto de CarlosChiarelli, preten- |
dem aumentaros descontos, mas W
da»WWque«caganamªmm têm|
coletiva-

sido oficializadas em sua maioria.

mente. Os 300 médicos assumiram o

No caso do Hospital de Ipanema -

compromisso coletivo de não aceitarem

um dos exemplos de unidade e comba-

substituir os chefes de seção. As 17

tividade na greve - a demissão se

chefias de enfermagem, igualmente se

consumou. O Dr. Waldemar Colli -

demitifam.

no:atendimento médico aos um

que era diretor interino, em face da

licença para tratamento de saúde do No dia 1o, durante a assembléia geral

efetivo, Nicolau Manfredi, - se recu- da classe, corria a notícia de que o

para verse dmiogaumDªm
sou a adotar medidas repressivas para brigadeiro deixaria a direção do Hospi-
_ O Ministro já não”bªmesmo | and
acabar com a comissão de triagem e foi tal de Ipanema, devolvendo a cargo ao
rar dinheiro para pagaros preju
demitido. Para seu lugar foi designado, seu diretor efetivo, Nicolau Manfredi. E certamente irão se é
que o governaawriºu aumentospara m
"dicos do Inampse a aposentadoria: m
iterinamente, o brigadeiro médico Ar- os médicos preparavam uma recepção

25anos para professoras eaos 30pc

tur Borges Dias. Mesmo o brigadeiro, para o retorno do diretor. Era uma

vitória dos grevistas.

que anteriormente dirigia o PAM

O "Comando de Alto Nível"

Com a intervenção no Sindicato dos Chabo, o que teria ocorrido através da

Médic dia 23 de junho IHH'VÍW'CHCM dmru do genera

2a
adotada pelo governo de que "só
negociaria com o fim da greve", a
direção do Sindicato iniciou gestões no
sentido de encontrar intermediários
que prosseguissem os entendimentos
com o governo. Daí a origem da
"Comissão de Alto Nvel", composta
por representantes da Academia Nacio-
nal de Medicina, do Colégio Brasileiro
de Cirurgiões e da Academia Brasileira
..de-MedicinaMilitar-médicos-de-livre..
trânsito nas altas esferas do governo.
Também a Comissão era do interesse
do governo. Seria o meio através do
qual poderia interferir na greve, já que,
pela repressão, não estava obtendo
êxito.
Em sua dupla missão, na qualidade
de intermediária, a Comtssão defendeu,
junto ao governo, em mumeras reu-
A a
?o dap
<A N
E assim defendia" a nvcvsstdudv do
? Rio deJaneiroque o governo jàestáo
arrefecimento e do fim da greve, ao fim,
prºmo para fixªçªºçªºªafªvªlªªºª
obtidos.
São os seguintes os membros da
Comissão de Alto Nível:
Dr. Aloysio Salles, presidente da
Comissão. Representa a Academia
Nacional de Medicina, diretor do
Hospital dos Servidores do Estado, um
dos hospitais em greve.
Br:PauloNemeSE Representunte
do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Neurocirurgião famoso. Entre seus pa-
cientes teve o ex-presidente Costa e vive 'O“cortinaWhomás C ' ..Noultima aka de junho, 3.500 flagel
Silva, quando da doença que o vitimou. "desua moradia".Ao que pareceagem * | dosinvadiramacidade, exigindo
É dos membros mais ativos da "Co- "decidiuinvestir pravaler em seunamºro "trabalhoparatodos, só
missão, e esteve diretamente com o C endo-se
general Figueiredo.
Dr. Valdir Jazbick - também do
o
Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

Sindicato, e acentuava a necessuiade da “daAcademia Naczonal de Medtcma É

soltura: do Dr. Chabo. Neste caso,
médico particular do general Golbery'
argumentava com os efeitos da prisão,
do Couto e Silva, ministro chefe da

Junto ao comando grevzsta a Comissão representante daAcademiaBraszlexra

no Senado, toi fotogratado emfNagrante viço - uma manobra 2 E
pelo jornalista Alencar Monteiro, na se- nas eleições de-1982, segundd-dlrígentes
procurava mostrar a "boa vontade" do de Medicina Militar, pessoa de livre mana passada, enquanto votava por outro "de sindicatos rurais.
governo, que começou por soltar o Dr. trânsito nos meios militares.

MOVIMENTO- 06 a 12/7/81
 sm a BRDFANBSBVB.GNC AAAÉ !

MOV IMENT

Separata314de- Movimento
Edição 06a 12/7/81

RMTo
Mram Piau e inhozlnh (de barba. Mas a luta continua pª ra Zé Cicero, jurado de mo

[4 |. m a u o (1.a parte)
Em um ano e meio apenas, os "barões da terra""
mataram 15 líderes de trabalhadores rurais.
Movimento desvenda este drama oculto
pelos sertões
" Para mima morte do Gringo é como a casos,
mandantes os criminosos
- são -. pistoleiros,
conhecidos; alguns e érecurso
o senãoprocesso
próprio oda legítima
do defesa, Este trabalhadores
campesinato dente que o rurais jogou
Estado do país.sempreE evi-no
de um cachorro". 'O curto e grosso
comentário do delegado e fazendeiro de chegaram
Mas até a soltos,
continuam seus crimes.la- encaminhar
confessarperseguindo lam, procuram sua resolver
luta, Conversam,
suas ape- * sentido
pendên- ladas e desobmanter
seu essas entidades
controle, atre-
imprimin-
Araguaínd, Almir Alves Correa, feito
à viúva de Gringo - Raimundo Fer- vradores.
quando osEháos-processos
são na Justiça - ciasnão édepossível,
arquivados. modo pacífico
eles "vãoe legal;
para o isso do-lhes
sepau'', um caráter
sistencialista, em eminentemente
especial através as-do
reira Lima, líder camponês assassinado
nesta cidade goiana no ano passado - O pano de fundo
assassinatos é a de quasedatodosterra:os como
questão voltam costumam
a conversar. dizer; e logo depois inúmeros Funrural. sindicatos,
Entretanto,sejae porque
apesar têmdisso,à
expressa muito bem a filosofià de boa
parte das autoridades e fazendeiros posseirosaoeresistir
mortos pequenosà expulsão
arrendatários
das são forma
terras Os trabalhadores
bastante rurais mesclam
criativa as diversas de frente
seja verdadeiros
porque suas líderes camponeses,
diretorias pelegas
brasileiros face aos camponeses e seu
movimento. nasondequais trabalham.
perderam Já
a condição nas situações
camponesa, formas
cerca de luta. Em 1980, por exemplo, foram
um milhão eemmeiotododepaís,lavra-de têm-se
de mobilizaram, pressionadas
postovemà frente pelos associados,
deperseguida
diversas lutas.
Nesta página, nas 3 seguintes, e em
mais 4 páginas na próxima semana, passando
lariado, a
como viver
nas do
zonastrabalho assa-
canavieiras, dores
diferentesse maneiras: concentrações, A Contag
enquadramento sendo
de-seu presidente, pelo
José
Movimento apreserita 15 casos de as-
sassinatos de líderes como Gringo, sãoreitosmortos aqueles
trabalhistas que reivindicam
elementares. di- passeatas
xo-assinados, coloridas de faixas,
resistências coletivas abai- Franciscoda
na doNacional. Silva, na
Esta entidade Lei de Segurança
vem retoman-
além de outras denúncias de morte e
violências contra os trabalhadores ru- Não importa
delatifundiários o
luta dos lavradores,nível de
a resistência
boa parte dos e terra,
Nestas greves,
lutas acampamentos
o sindicato etc.
aparece como agora a bandeira
não só da
radical, reforma
mas ampla,agrária,
mas-
rais, entidades e pessoas , que Os
apóiam, desde o Acre até Alagoas, do
mais modernos, e grileiros,
têm um mesmo
método os
de um dos
decepcionandomais importantes
os setoresinstrumentos,
dos fazen- siva e
Congressodrástica,
dos como estabeleceu
Trabalhadores o 3o
Rurais,
Pará ao Paraná. Contados apenas a
partir de 1980, esses 15 casos são parte ação
Preferem preferido:
gastar a violência
milhões ecomo suborno.
pisto- deiros,
mularam do ogovernoe da Igreja
surgimento dos que esti- | promovidopelaContagem
primeiros 1979. Brasília, em
de um quadito de lutas dramáticas, que
se desenvolvem longe das vistas do leiros e corrupção de autoridades a aoster sindicatos
oorgulhoferidofazendoconcessões 1963. Nesta de época,
trabalhadores
tinham rurais
o intuito Outras formas
em vradores são as de organizaçãodedosbase,la-
comunidades
movimento democrático e popular das
cidades, onde aparecem apenas em pe- lavradores.brasileiro,
campo Esta é aumlei século
que vigora após noa declarado
esvaziasse deas Ligas
criar Camponesas.
um organismoEsses que organizações
cial. Há tambémde reflexãoreligiosa
os clubes de mães,e so-de
quenos registros nas colunas dos
jornais. abolição da escravidão.
Otem-semovimento camponês, por sua vez, latifundiários
riam, hoje, não supunham
assassinando os que esta-dos | jovens,
líderes dades os círculosdebáíblicos,
religiosas diversos comuni-
tipos,
São histórias de líderes de traba-
lhadores rurais que foram assassinados
depois caracterizado pelo legalismo.
de recorrertodosà leosi, canais
percorrendo Só sindicatosque elespróprios ajudaram
criar.Ossindicatos englobam, atualmente, destas a cooperativas
Oslatifundiáriose associações.
receiam que, atravésos
quando dirigiam, legal e pacificamente,
exaustivamente com- formas de organização,
petentes,
da morte,e ovendo-se camponêsdiantenãodovê perigo 2.447 entidadescom quase cerca total de camponeses
de 7 milhões direitos. Por seissoconscientizem de seus
lutas «pelo cumprimento dos tímidos
direitos que a lei lhes garante. Nenhum
culpado foi punido. Na maioria dos outro deassociados, metadedo costumam espalhar
MOVIMENTO-06a12/7/81
 BRDOFANBSBVO.GNC.AAA.

Cortar cabeças e titular posses: duas táticas

SEBASTIÃO MEARIM + 07/01/81
JOSÉ MANOEL DE SOUZA, o "Zé Piau'* + 02/01/81
JOAO NASCIMENTO RAIMUNDO LIMA, o "Gringo"* + 29/05/80
Posseiro da periferia de Rio Branco FRANCISCO OLIVEIRA, o "Sinhozinho" + 02/06/81
+18/02/81
WILSON DE SOUZA MARCELO DOS SANTOS
Presidente do STR de Brasiléa Delegado sindical do STR de Codô
427/07/80 10/05/81

f teo e FRANCISCO SOBREIRA LIMA

Ativista do STR de Tauá
431/08/80 _
Amazonas JOSE DOS SANTOS
Presidente do STR de Correntes
15/08/80
JOSÉ BEZERRA
Delegado sindical do STR de Bonito
416/01/81
Correntes a Bonito
AP Capela

MA JOSÉ PEDRO DOS SANTOS

Presidente do STR de Capela
Rondônia +28/03/81

AGENOR MARTINS D e 1980 para cá, Movimento relacionou 15 casos de

Barta do assassinatos de líderes rurais. Não há dúvidas de
Advogado da Conti, e tirares
em Porto Velho que os assassínios ultrapassam esta cifra. Isto por-
a/ o Jussara que, apesar de numerosa, a população camponesa vive
4 09/11/80 dispersa e isolada, Esse fato dificulta a sua organização, o
que, de certo modo, facilita a ação violenta e impune de
PEDRINHO MARCENEIRO Minas Gerais latifundiários, grileiros e da própria polícia contra suas
Líder rural de Barra do Garças reivindicações,
. -|- 21/04/80 O mapa dos crimes mostra apenas os casos de que a
imprensa deu registro e os conhecidos por fontes locais
9 com que se pôdeter contato,
JOAQUIM FERREIRA ABADIA A maior incidência de assassinatos ocorre em regiões
São Paulo Rio de Janeiro onde os trabalhadores lutam pela posse da terra. No sul
Advogado da CPT e do STR de Jussara
do Pará, por exemplo, o governo criou o Getat para -
+ 21/10/80 através da demagogia e de algumas desapropriações -
Naviraí
. atenuar a explosividade da região onde ocorreu a Guer-'
e Paraná
rilha do Araguaia e, ao mesmo tempo, resguardar os in-
teresses dos grandes projetos ali implantados. Neste sen,
tido, é clara a correspondência entre os conflitos e as
JOAQUIM DAS NEVES NORTE € Sant áreas desapropriadas pelo governo. No sul do país, trata-
Advogado da CPT e do STR de Naviraí Catarina se mais da regularização de posses dos trabalhadores que
lutavam há dezenas de anos.
+ 12/06/81
#
O Rio Grande do Sul
e
Z o Locais onde foram assassinados os líderes rurais.
E © Locais de desapropriação ©"por interesse social" e regularização de posses (*)
%
o # Area de atuação do GETAT (Grupo Executivo de Terra do Araguaias - Tocan-
80
< tins).
(*) Fonte: Boletim da CONTAG -- jan/fev. 1981.
Abreveaturas: STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais) CPT (Comissão Pastoral da
1.
Terra) CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).

gue frio, de "defesa da honra" dos fa-
zendeiros Paulo Biduet e seu pai. Estes
atiraram em Sinhozinho quando ele já
deixava a terra disputada, logo após
acordo efetuado entre as partes com a
ajuda do Getat. A reação foi imediata:
cinquenta e nove entidades do Pará
enviaram carta de protesto ao governa-
boatos de que "são coisas de co-
dor, exigindo punição dos culpados e
munistas", e procuram bodes expia-
reafirmando que "só a força da união e
tórios nas lideranças mais ativas, nos
a organização popular evitarão a longo
setores progressistas da Igreja, nos ad-
prazo o rosário de assassinatos que
vogados solidários aos lavradores. Eli-
fazendeirsos e grileiros impõem ao po-
minando as cabeças, esperam matar o
vo.
movimento. Nos locais onde este ainda
é pouco organizado, dependendo mais Também nas regiões de ocupação
da combatividade de alguns elementos maisantiga ainda há bolsões de pos-
do que das ações coletivas dos campo- seiros em terras cobiçadas pelos gri-
neses, os golpes dos latifundiários con- leiros. Em inúmeros locais estão ocor-
seguem arrefecer, pelo menos momen- rendo casos como o tratado por Dias
taneamente, as reivindicações. Mas em Gomes em recente episódio do seriado
regiões onde as lutas são antigas, e a da televisão "O Bem Amado". Em
participação da massa é efetiva, a vio- poucos anos, um sobrinho de senador
lência só consegue eliminar as alterna- Nilo Coelho, que tem o mesmo nome do
tivas de acordo para solucionar os tio, grilou quatrocentos mil hectares no
conflitos. sul da Bahia, região de Guanambi. Em
Este é o caso por exemplo, do Pará, Varzelândia, norte de Minas, os lati-
Estado "privilegiado", com 4 mortos. fundiários estão ameaçando de morte e
Aqui os fazendeiros mantêm milícias tentando expulsar o vigário local,
particulares abertamente, e nem a acusando-o de estimular a invasão de
atuação conciliatória do Getat tem con- terras pelos lavradores, invasão esta
seguido eliminar a violência em torno que não houve. O fato é que dezenas de
da posse da terra. No saldo de mortes posseiros foram expulsos da terra há
de ambos os lados, há quem afirme que alguns anos por um conhecido grileiro e
os posseiros já estão levando vantagem policial da região. Os antigos posseiros,
sobre os grileiros e pistoleiros. hoje bóias-frias morrendo de fome,
O episódio mais recente na região - foram e voltaram em passeatas até a
o assassinato do ativista sindical e pos- terra de que haviam sido expulsos. E lá
seiro Sinhozinho - foi um crime a san- gritando "fome, fome, fome...", plan-
taram simbolicamente algumas mudas
de mandioca, bananeiras, laranjeiras,
logo arrancadas pelo grileiro.
Nessa região, com o ritmo de expulsão
de lavradores da terra, aqueles que
conseguem uma parcela em arren-
damento ou parceria consideram-se
privilegiados, mesmo pagando altas
rendas aos proprietários. A maioria dos
fazendeiros está colocando o boi no
lugar do homem, estimulados por
financiamentos e temerosos de manter
trabalhadores morando na terra. Por-
que levavam à justiça os fazendeiros
que expulsam ilegalmente os arren-
datários, foram assassinados José Fran-
cisco dos Santos - presidente do sin-
dicato de Correntes, Pernambuco - e o
advogado Joaquim das Neves Norte, em
Naviraí, Mato Grosso do Sul.
Nas regiões onde predomina o tra-
balho assalariado, como na zona ca-
navieira do Nordeste, as oligarquias do-
minantes herdaram dos seus antepas-
sados, com ligeiras modificações, o
tratamento da senzala e da chibata,
auxiliadas pelos exércitos particulares
de pistoleiros protegidos pelas auto-
ridades legais. Este aparato repressivo é
utilizado não só para facilitar a ex-
ploração dos trabalhadores como tam-
bém para mantê-los submissos aos
patrões, formando os significativos cur-
rais eleitorais do partido do governo.
A situação em Alagoas é bastante
representativa. José Pedro, presidente
do sindicato dos trabalhadores rurais
de Capela, foi morto a tiros, compondo
uma lista de 5 oposicionistas da região
mortos em menos de 3 meses. Vários
outros presidentes de sindicatos já so-
freram atentados ou estão jurados de
morte.
O padre Patrocínio, de Quipapá,
município da fronteira de Pernambuco,
está sendo ameaçado de morte ou ex-
pulsão do país. O "crime" de todos
eles é um só: ajudar os trabalhadores
a exigir o cumprimento do Estatuto do
Trabalhador Rural - pagamento do
saláriomínimo, 13o Salário, assinatura
de carteira de trabalho. --' direitos
elementares há muito alcançados pelos
trabalhadores da cidade.
Como se nota facilmente, todos esses
asassinatos, embora em lugares e datas
distintos, configuram uma política
sistemática de eliminação física dos di-
rigentes do emergente movimento cam-
ponês. Conforme denunciou em nota
oficial o Conselho de Representantes da
Contag por sindicalistas de 19 Estados,
"tais fatos constituem mais que ati-
tudes criminosas isoladas. Represen-
tam a violência como forma insti-
tucionalizada e organizada de ação dos
senhores feudais".
A preparação de "O Latifúndio Arma-
do "foi feita pelos repórteres Elson Mar-
tins da Silveira (Acre), Luiz Makiouf
(Pará), Lia Furtado (Pernambuco e Ala-
goas), Marcos Soares (Maranhão),
Montezuma Cruz (Rondônia) e pelos re-
datores Murilo Carvalho, Osvaldo Higa
e Wiademir Pomar.

12 MOVIMENTO- 06 a 12/7/81

A história
26 Vaquelro
0 crime de buscar
J
Depois da morte o medo
acabou com a luta
O sindicato está vazio
No agreste meridional pernambucano
é tempo de chuva. Após alguns anos de
seca, agora está tudo verde. Os lavrado-
res aproveitam para semear em todo
pedaço de chão ainda livre do capim:
beira de estrada (terra do DER), sítios
próprios e a terra que se consegue ar-
rendar. O feijão, o milho, a mandioca,
brotam viçosos. Sob a fria chuva cor-
tam os arados puxados a boi. Esta terra
vem sendo cultivada há séculos: por
pequenos agricultores, que consegui-
ram coexistir com o latifúndio até re-
centemente. De 5 anos para cá, princi-
palmente, os financiamentos baratos
para a pecuária estimularam os fazen-
deiros a expulsar os foreiros (arrenda-
tários) e pequenos proprietários. E toca
boi na roça! Na terra do sindicato do
crime, boi que come roça fica trangii-
lo, enquanto o dono da roça come bala
se reclamar.
O pessoal expulso da terra migra para
São Paulo. Não há uma família que não
tenha pelo menos um membro no sul
do país. Mas muitos já estão começan-
do a voltar, por falta de emprego. Como
João Alves dos Santos, 17 anos, filho do
presidente do Sindicato dos Trabalha-
dores Rurais de Correntes, cidade pró-
xima a Garanhuns e a 350 km de Re-
cife. João encontrou o pai morto, e a
família perseguida pelos pistoleiros e
seus mandantes. O crime de seu pai, o
Zé Vaqueiro: levar na justiça os casos
de destruição das lavouras pelo gado,
exigindo dos fazendeiros indenização
justa para os lavradores.
Em uma região dominada por oligar-
quias seculares, é uma afronta recorrer
à lei contra elas. "Prefiro jogar fora
duzentos mil cruzeiros a pagar
dez mil a um caboclo que ousa me levar
à justiça", é o que dizem os orgulhosos
fazendeiros. Mesmo aqueles latifundiá-
rios que arrendam suas terras e peque-
nos foreiros, não os deixam morar na
propriedade, a fim de facilitar sua ex-
pulsão quando julgarem conveniente.
Em carta ao governador, na qual pede
punição para os assassinos do presiden-
te do sindicato, o bispo de Garanhuns,
D. Tiago Postma, denuncia a situação
social da região, "onde os pobres são
substituídos pelo boi e passam a viver
como trabalhadores alugados ou clan-
destinos; parece que não há lugar para
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
BR DFANBSB V8
de
José Francisco, Raimundo e José Pedro.
Lavradores pobres, sindicalistas corajosos,
assassinados pelos grandes que denunciaram
os que defendem uma justa reparti-
ção das terras, para os que lutam pe-
lo direito de nela permanecer ou de ser
com justiça indenizados". % e um membro da central sindical de
José Francisco dos Santos, 46 anos,
casado, 4 filhos, era conhecido em Cor-
rentes, sua cidade natal, pelo apelido
de Zé Vaqueiro. Criava algumas vacas e
bois de carro em seu belo sítio, cortado
pelas cabeceiras do rio Mundaú, que
vai desaguar daí 150 quilômetros, na
lagoa do mesmo nome, em Maceió.
Apesar de só ter as primeiras letras,
ZÉ Vaqueiro gostava de estudar, princi-
palmente a legislação agrária e o livro
da CONTAG sobre o terceiro congresso
dos trabalhadores rurais. X
Nos seis anos em que presidiu o sindi-
cato, era grande a movimentação de
lavradores à procura de orientação
frente aos abusos dos fazendeiros, e
também para tratamento de saúde. Em
sua administração, Zé Vaqueiro insta-
lara na sede do sindicato gabinetes
médico e dentário.
"Zé Vaqueiro ia até o fim em tudo
que pegava", é o comentário de seus
companheiros. Através de um alto-fa-
lante, cedido todo dia de feira por um
comerciante local, denunciava os fazen-
deiros que se negavam a indenizar os
lavradores de acordo com a lei. Fazia
propaganda da reforma agrária, como
única maneira de acabar com a miséria
e a humilhação dos camponeses. Seus
discursos arrebatados arrancavam pal-
mas onde quer que estivesse. Nem
mesmo nas festas ele perdia a oportu-
nidade de usar o microfone para "lutar
pela lei dos pobres", Várias vezes houve
quem o mandasse calar, cortasse o som,
mas Zé Vaqueiro não recuava.
Além dos fazendeiros, o presidente do
sindicato atraíra sobre si o ódio do
ex-chefe do Funrural local, o qual fora
demitido do cargo após uma série de
denúncias de corrupção feitas pelo in-
cansável Zé Vaqueiro.
Assim, quando na noitinha de 15 de
agosto de 1980, Zé Francisco foi assas-
sinado em uma emboscada, ninguém
duvidou de que havia mais de um man-
dante do crime. Confiantes em sua
impunidade, os pistoleiros, após o cri-
me, passaram a ameaçar de morte a
Floriano e o retrato de
seu amigo Zé Vaqueiro.
.GNÇ aaa, U
três heróis
viúva, seus filhos e mais duas testemu-
nhas, um lavrador vizinho de Zé Fran-
cisco que flagrou o próprio assassinato
Garanhuns que presenciou a tentativa
de emboscada à viúva, Da. Quitéria.
Graças à eficiência do delegado de
Garanhuns - coisa rara no império do.
Zé Pedro, assassinado com 5 tiros,» em Capela, Alagoas
Seu nome foi escolhido para patrono do último Enclat
sindicato do crime - os dois jovens
pistoleiros foram presos, e denuncia-
ram o primeiro elemento da cadeia de
mandantes, o fazendeiro Carlos Silva
que lhes teria oferecido 90 mil cruzeiros
pela cabeça de Zé Vaqueiro. Com isto,
se tornou difícil a prªtica corriqueira
nos casos de prisão de pistoleiros - seu
sumiço, a fim de não denunciarem os
mandantes. Mas o inquérito não pôde
ir mais à frente devido à lei Fleury, que
obrigou à soltura dos três réus, poucas
semanas após sua prisão. Passados 10
meses do crime, ainda não foi marcado
o julgamento. A viúva e as testemunhas
do crime tiveram que fugir da região,
devido às ameaças.
A missa de 7o dia pela morte de Zé
Vaqueiro foi assistida por mais de mil
pessoas, que saíram em passeata, por-
tando faixas de protesto.
Celebrou -a o bispo de Recife, D. Hêl-
der Câmara; no sermão, pediu calma
aos lavradores, insistindo para que não
usassem a violência. A missa também
compareceram parlamentares da oposi-
ção, sindicalistas, representantes da
FASE e da igreja da região. "Foi a
missa mais bonita que já teve em Cor-
rentes para um particular" comentou
seu Floriano, pequeno foreiro, antigo
amigo de Zé Vaqueiro.
O ambiente em Correntes atualmente
é de muito medo. As pessoas custam a
falar sobre o acontecido. O sindicato
vive às moscas. De agosto para cá, mais
nenhuma queixa contra fazendeiro foi
levada à justiça. O nível de organização
dos trabalhadores 'alcançado no tempo
de Zé Vaqueiro foi insuficiente para
que a luta persistisse após a morte do
líder. Afinal, não é fácil romper a domi-
nação dos fazendeiros e enfrentar o
sindicato do crime, que tem o próprio
apoio oficial. Circulam em toda a re-
gião e em Alagoas os boatos de que
Correntes é o principal ninho de onde
se retiram os pistoleiros para atender os
chamados desde Exu até Maceió. Por
coincidência ou não, o secretário de
Segurança de Alagoas, coronel José
Amaral, que está sendo alvo de denún-
cias de que estaria acobertândo e até
chefiando ações do sindicato do crime,
é natural de Correntes.
psi m
%
26 Pedro
Uma vida contra
a misória
A mesma velha história:
sem autores, o processo
vai ser arquivado
O Crime - As 18:30 do dia 28 de
março de 1981 foi assassinado, em Ca-
pela, Alagoas, o presidente do Síndica-
to dos Trabalhadores Rurais, José Pe-
dro dos Santos, 38 anos, casado, 1 filho.
He voltava do sindicato para sua casa,
localizada num conjunto da COHAB,
nos arredores da cidade. Recebeu 5
tiros de um desconhecido, que correu
em direção a um matagal próximo.
Passados 3 meses, o processo sobre o
crime está para ser arquivado, porfalta
de acusados.
O Cenário do Crime - Capela, peque-
no município da Zona da Mata ala-
goana, é dominado pelo latifúndio ca-
navieiro. A maioria dos trabalhadores
rurais mora na "rua" (zona urbana) e
desloca-se diariamente - quando há
trabalho - para os canaviais, receben-
do por tarefa, o que resulta, em média,
Cr$ 200 por dia. São os bóias-frias,
aqui chamados de clandestinos, em
oposição aos empregados que ainda
moram nas fazendas, os quais ainda
gozam, em tese, dos direitos trabalhis-
tas. Gozam apenas em tese, pois quase
20 anos após a promulgação do Estatu-
to do Trabalhador Rural, ele é seguido
por 1% dos patrões em Alagoas, confor-
me constata à advogada da Federação
Estadual dos Trabalhadores na Agri-
cultura, dra. Maria do Carmo Costa.
Se levam a sério a defesa dos direitos
13

dos trabalhadores, os sindicalistas cor-
rem o risco de ser assassinados, im-
punemente. Somente em Pernambuco e
Alagoas, nos últimos 5 anos, foram
mortos pelo menos 6 presidentes de
sindicatos de trabalhadores rurais, sem
contar os atentados, prisões, espanca-
mentos e ameaças de que são vítimas
quase todos os que tentam fazer cum-
ir a própria lei. Toda a estrutura
jurídica e policial deve servir à oligar-
quia. O deputado peemedebista Renan
Calheiros denunciou, na Assembléia, a
remoção do delegado de Murici, muni-
cípio vizinho de Capela, porque este:
tentou prender Antônio Lindraz, o ca-
pataz da usina São Semeão, a maior da
região, quando ele arrastava pela cida-
de um trabalhador amarrado pelo pes-
coço a um cavalo. Neste ano de 1981,
foram assassinados 5 oposicionistas na
região de Murici e Capela, e toaos os
crimes continuam impunes. Renan Ca-
lheiros acusa como mandantes a "oli-
garquia dos Freitas e a usina São Se-
meão"
A Vítima - Zé Pedro nasceu numa
fazenda em Capela, e trabalhou na la-
voura até 1970, quando começou a
participar do sindicato, mudando-se
para a cidade. Aí cursou o ginásio e
iniciou o técnico em contabilidade. Sua
atuação no sindicato intensificou-se nos
últimos 4 anos, quando assumiu a pre-
sidência, tendo sido eleito por dois
mandatos consecutivos. Era candidato
em chapa única, mais uma vez, às elei-
ções que iriam se realizar em maio. Sua
atividade sindical: combinava "diligên-
cias" às fazendas, para apurar irregula-
ridades contra os trabalhadores, e fazia
reuniões nas fazendas e na sede do
sindicato, estimulando maior participa-
ção.
ZÉ Pedro ia com frequência a Maceió
divulgar junto aos jornais e estações de
rádio denúncias contra os patrões. Na
última peregrinação à capital, dois dias
antes de sua morte, distribuiu uma
nota condenando "vários proprietários
que, na época do 13o salário, matam
uma vaca velha e repartem as ossadas
para seus empregados, e dizem que
com isso, já pagaram o abono natalino,
usando de má fé para ludibriar a ino-
cência do homem mais sofredor do
nosso país".
As consegilências do crime - Não hou-
ve investigações para apurar o assassi-
nato de Zé Pedro, apesar de o próprio
governador, Guilherme Palmeira, ter
prometido insistir junto ao secretário
da Segurança. O delegado de Capela faz
coro com o padre - a Igreja em Ala-
goas não está do lado do povo - na
tentativa de descaracterizar o crime
como político. Acusam Zé Pedro de
"desordeiro e tarado". Durante a pró-
Juca Martins/Agência F 4
pria missa de 7o dia, o padre Tertulia:
no pediu aos presentes, durante o ser
mão, que não exigissem a punição dos
culpados. Cassou a palavra do presi-
dente da Contag, José Francisco da
Silva, e impediu os outros sindicalistas
presentes de prestar a última homena-
gem a Zé Pedro. Contrariando costume
local, o padre já havia impedido que o
velório fosse realizado dentro da igreja,
alegando que "o cadáver cheira mal".
, 14
MariaJosé SolidartaSaudade
de um homem corajoso.
Mas em compensação, centenas de
pessoas foram às ruas de Capela, no
enterro e na missa, segurando faixas
com os dizeres: "Estamos de luto";
"Pela elucidação do crime e punição dos
criminosos"; "Povo unido jamais será
vencido". E seunome foi escolhido como
patrono do Enclat (Encontro Na-
cional das Classes Trabalhadoras), rea
lizado em Maceió de 1o a 3 de maio.
Toda a divulgação e denúncias do
crime não conseguiram evitar o clima
de medo que passou a dominar Capela.
Nem as eleições para renovação da
diretoria do sindicato puderam se reali-
zat, por falta de quórum. Os presiden-
tes dos sindicatos vizinhos, de Viçosa e
de Branquinha, José Cicero e Severino
Tenório, vêm sendo ameaçados por es-
tarem custeando um advogado para
acompanhar e investigar o processo so-
bre a morte de Zé Pedro.
Apesar de sua qualidade diferente -
trata-se de um dos poucos crimes políti-
cos recentemente cometidos no Estado
-o assassinato de Zé Pedro aparece,
nos números oficiais, como mais um
entre os dois mil e trezentos crimes
"insolúveis" ocorridos sob a gestão do
atual secretário da Segurança. Para o
sindicato do crime e a oligarquia do-
minante da Zona da Mata alagoana,
trata-se de mais uma cabeça cortada, e
não se espera vingança, pois não se
trata de brigas tradicionais entre famí-
lias importantes, e sim da união dessas
famílias contra os que ousam desafiar
sei poderio e lutar contra a exploração.
3 co de repúdio ao assassinato de Gringo.
Em Conceição do Araguaia, os posseiors no ato contra
o assassinato de Gringo. "Esse sangue reforça nossa
BR DFANBSB VB8.GNC. AAA. "
Gringo.
Um sangue que
reforçou a lula
Um pistoleiro recebeu
90 mil para matar. Mas a
polícia não sabe nada.
No final de maio do ano passado um
motorista de caminhão encontrou um
cadáver numa estrada estreita, no inte-
rior do município de Araguaína, norte
de Goiás. Duas balas calibre 32 lhe ha-
viam penetrado as costas, um braco esta-
va quebrado e havia marcas de panca-
das na cabeça.
Havia terminado ali, no meio da poei-
ra, a história de Gringo, Raimundo
Ferreira Lima, um dos principais líde-
res camponeses do Pará e candidato a
presidente do Sindicato dos Trabalha-
dores Rurais de Conceição do Araguaia
pela chapa de oposição.
Gringo estava retornando de São Pau-
lo onde havia participado de um encon-
tro de líderes sindicais e voltava para
Conceição levando no bolso 17 mil eru-
zeiros como doação para a oposição sin-
dical. A viagem é longa e por isso resol-
veu pernoitar em Araguaína. Saiu bem
cedo do hotel e só foi visto novamente
depois de assassinado. Todo o dinheiro
que tinha no bolso, seus documentos,
ficaram intactos. Ninguém havia tenta-
do roubá-lo.
Em Itaipavas, povoado de Conceição
do Araguaia, a família de Gringo ouviu
a notícia pelo rádio. Pedro Barreira,
seu sogro, viajou até a Delegacia de
Polícia de Araguaína e depois levou o
corpo de volta para Itaipavas.
Já então se sabia o que a polícia não
sabe ou não quis saber até hoje: que o
principal suspeito pelo assassinato era
o pistoleiro José Antonio, capataz da
fazenda Vale Formoso. Várias pessoas
ouviram quando, dias antes; ele prome-
tera acabar com Gringo, em vingança
da morte do fazendeiro Fernando Lei-
tão Diniz, assassinado por posseiros no
dia 8 de maio. Mesmo com Gringo
ausente, estando há muito tempo em
São Paulo, o pistoleiro acreditava que
fosse ele o responsável pela morte.
Da mesma forma pensavam os fazen-
3iros da região, especialmente grilei-
tos e latifundiários. desde . que
Gringo havia se tornado agente pasto-
ral da Prelazia e passara a desenvolver
um intenso trabalho de conscientização
Cef
luta"
dos posseiros envolvidos na dura luta
pela terra.
Gringo nasceu em Marabá. Pouco se
sabe de sua infância e juventude, a não
ser que em 1967, quando trabalhava
numa fazenda ele conheceu e casou-se
com Maria Oneide. Fez curso de madu-
reza por correspondência e estudou
prática veterinária, com um médico de
Marabá. Procurando um pedaço de
terra mudou-se para Conceição do Ara-
guaia, indo morar em ltaipavas. Tem-
pos depois, no Lote 7, testemunharia a
tentativa de despejo de um cunhado, as
violências e a injustiça. Foi aí que nas-
ceu para a luta, tornando-se um líder
natural dos posseiros.
Oneide, sua viúva, lembra que desde
o início ele atraiu o ódio dos grileiros e
da polícia. Em 1976, por exemplo, a
polícia invadiu sua casa "e me botou
um fuzil no peito pra dizer onde o
Gringo estava escondido. Ele sempre
me dizia: olha tu te prepara, porque a
qualquer hora tu recebe notícia que eu
morri. Na luta em que estou, pelo povo,
a qualquer hora me matam por aí".
Não era difícil imaginar esse perigo
quando se conhecia e ouvia o Gringo.
Baixinho, franzino, nele se destacava,
forte, a vivacidade dos olhos e o jeito
altivo de falar de igual para igual com
qualquer um. Antes de viajar para São
Paulo ele saiu pelo sertão afora, em
campanha pela chapa 2, reunindo as
comunidades, os lavradores e contando
sua larga experiência de lutas - que
inclusive incluiu até mesmo duas pri-
sões no tempo da guerrilha do Ara-
guaia, quando a Polícia Federal ficou
intrigada com uma velha arma de caça
que ele possuia. Tinha clareza e procu-
rava transmitir aos seus companheiros
que a questão da terra estava ligada a
outra mais profunda, e só se resolveria
com a união dos pequenos contra os
grandes.
E foram os grandes que o mataram.
Recentemente, conforme a CPT Ara-
guaia- Tocantins, o pistoleiro José Anto-
nio, principal suspeito do assassinato,
teria dito a uma pessoa de Xambioá,
que recebera 90 mil cruzeiros para li-
quidar Gringo. Com efeito, naqueles
dias do final de maio, o pistoleiro esta-
va hospedado em Araguaína e também
saiu cedo do hotel no mesmo dia do
assassinato, voltou rapidamente e su-
miu.
Aquela altura, faltava ainda um mês
para as eleições sindicais, marcadas pa-
ra 29 de junho. Se os grileiros pensa-
vam diminuir o ânimo dos lavradores,
enganaram-se. No dia 8 de junho mi-
lhares de posseiros reuniram-se em
Conceição do Araguaia num ato públi-
E afirmando aos gritos "o sangue de
Gringo anima nossa luta", marcharam
pelas ruas de Conceição, apoiados por
personalidades democráticas chegadas
de todo o país. A chapa 2, de Gringo,
com esse apoio, ganhou as eleições, mas
numa manobra foram anuladas, por
"falta de quórum". Mais tarde, realiza-
da no dia 25 de maio, depois de muitas
ilegalidades, uma nova eleição deu a
vitória à chapa do pelego Bertoldo
Siqueira. Uma eleição bem ao gosto de
latifundiários e grileiros: os cabos elei-
torais eram agentes da Polícia Federal,
da polícia civil e até mesmo o triste-
mente famoso Major Curió visitou as
urnas e ajudou a pressionar os possei-
ros.
Quatro dias após as eleições, 29 de
maio, quando completava um ano da
morte de Gringo, os lavradores volta-
ram às ruas de Conceição. E repetiram
o mesmo grito de esperança: "O sangue
de Gringo reforca à nossa luta".
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81

* Casaldas Américas - Até 30 de no-
vembro estão abertas as inscrições ao
Prêmio Casa das Américas 1981, para li-
vros de ficção, ensaio e testemunho e li-
vros para crianças ou jovens. Poderão
participar autores latino-americanos e ca-
raíbas, naturais ou naturalizados. Ensais-
tas de qualquer outro país com obras so-
bre temas latino-americanos e caraíbas,
devem enviar seus textos em espanhol. Os
livros deverão ser inéditos e cada autor só
poderá enviar um por gênero. O prêmio de
1.000 dólares será único a cada gênero ou
categoria. Informações junto à Casa das
Américas (Bra. y G, El Vedado, Ciudad de
La Habana, Cuba ou Case Postal 2, 3000
Berna, Suiza)
* Concurso - A revista Escrita, de |i-
teratura, mantém um concurso permanen-
te de contos, poemas e ensaios, destináa-
do à publicação destes trabalhos. Cada
conto deve ter o limite de até 200 linhas;
poema, até 100 e o ensaio, 300 linhas. In-
formações na Editora e Livraria Escrita,
rua General Jardim, 570, São Paulo, fone
230-4710.
MOVIMENTO 06 a 12/7/81
. Au! 54 é à llç'ulvll » ig)
I
t
Amt me r mm n um me ms o m om m n ser rnme m riem «:
ano ago,... sm Pr ua rar
* Transportes - No Sindicato dos En-
genheiros, dia 7, às 20 horas, debate so-
bre "As Alternativas de Transporte para a
Cidade de São Paulo", com Odon Pereira e
Adriano Branco. O Sindicato é na Rua Ge-
nebra, 17, Bela Vista.
* Enclat - Dias 18 e 19 de julho, reu-
niões do | Enclat - Encontro das Classes
Trabalhadoras, em 11 regiões do Estado
de São Paulo preparatórias para a Conclat
(dias 21, 22 e 23 de agosto, no Estado de
São Paulo).
* Conclat e democracia - O debate
com os sindicalistas Lula, HugoPerez,
Arnaldo Gonçalves e Dante Pellacani -
suspenso devido à intervenção no Sin-
dicato dos Médicos do Rio no dia em que
estava previsto - finalmente será realiza-
do. Dia 7, às 20 horas, Sindicato dos Jor-
nalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas
530).
Sua a): MMM Sa
t - n --
e o oe ap mo sm m m m commo mimmer m o s o o o o o s lr omio sorosseemeo e m e eo e omesa eo o perene nio a a emo esa em aee sema ema e met<
NOSSA OPINIÃO
AS ELEIÇÓES DOS METALÚRGICOS DE SÃO PAULO
O pelego
Joaquim continua
o mesmo
campanha das chapas de luta dos trabalhadores. Pelo contrário,
ele e os seus parceiros procuram desor-
oposição à atual diretoria do
Sindicato dos Metalúrgicos ganizar e ludibriar os trabalhadores. A
de São Paulo enfrenta múl- sua diretoria tem ido às portas de fábrica
tiplasdificuldades. Algumas jogar água na fervura. Aconselham os
delas são insuperáveis no curto espaço trabalhadores a ficar sossegados, pois
de tempo dessa campanha eleitoral. É o governe iria, segundo apregoam, rê-
este o caso, por exemplo, do refluxo . solver o problema do desemprego. Fatos
momentâneoda luta reivindicatória e do como esse foram presenciados pelo re-.
atrelamento dos sindicatos ao aparelho pórter de Movimento. Recentemente, in-
de Estado, fatores que jogam, ambos, clusive, um nosso repórter foi até a sede ,
contra as chapas mais combativas. A do Sindicato para presenciar uma pas- .
ausência de grandes manifestações de seata de trabalhadores contra o desem-:
massa e de amplas lutas grevistas, dentre prego prometida, com grande alarde,
"outras coisas, obscurece, aos olhos do por Joaquim. Lá chegando, constatou
grande público, a necessidade de inicia- que a promessa de passeata era apenas.
tivas mais ousadas e consegientes no um lance promocional e eleiçoeiro de
plano da luta sindical. Não se encontra Joaquim.: Não havia passeata
em curso nenhuma grande greve, como v à.a
aquela realizada pelos metalúrgicos de Foi informado de que haveria apenas uma,
São Bernardo em 1980, quando fica mais reunião secreta e se viu ameaçado pelos
fácil de se perceber quem está do lado seguranças do sindicato que exigiam a
dos trabalhadores, arrecadando fundos sua imediata retirada do local.
para manter a greve e tomando iniciati- a
vas políticas, e quem, ao contrário, está A história também ensina. Joaquim já
contra eles. Esse obscurecimento abre um tentou algo parecido em 1968 Naquela
campo fértil para os pelegos e para os época, ele também procurou "renovar a.
seus aliados exercerem a sua demagogia sua imagem". Como crescia a luta.con-
junto aos setores mais atrasados da cate- tra o arrocho salarial, Joaquim viu-se na
goria. De outro lado, o controle do sin- obrigação de falar algo sobre o assunto,"
dicato pelo governo e pelo seu preposto, de posar de sindicalista. Porém, bastou40.
o pelego, facilita a corrupção e a detur- governo endurecer o jogo, ameaç
pação do processo eleitoral. O pelego e intervir no Sindicato dos Metalurgzcos
os seus aliados têm nas mãos a mais po- Osasco, para que ele e os seus viessem
derosa máquina sindical da América La- público apoiar a deposição da diretoria.
tina para fazê-la funcionar contra as combativa que dirigia aqucie sindics
chapas de oposição.
Outras dificuldades, ao contrário, po- Conclusão: quando a situação exnge, J
dem ser vencidas, permitindo que cres- quim, como um pelego experiment
cam as possibilidades de um desfecho que é, procura falar algo que desp
favorável nas eleições da próxima sema- simpatia de alguns trabalhadores,
na. Se se faz um esforço sistemático, não réêm, continua no seu trabalho prátic
é impossível demonstrar, para os setores desorganização da categoria e, na pá
intermediários do corpo de votantes, o meira oportunidade, joga fora a máscafa.
verdadeiro conteúdo da prática da atual da renovação e se perfila abertamente ªo
diretoria encabeçada por Joaquim dos lado dos patrões e do governo. O pelego é
Santos Andrade, e esclarecer a impor- algo assim como um camaleão. De I
tância de se desalojar esses indivíduos da do com o ambiente ou com a época &
muda de cor, mas a sua condição de'
direção do sindicato.
réptil obediente ao governo permanece a
mesma.
oaquim e seus pares teriam
mudado? Eles e os seus alia-
dos afirmam que sim. O seu necessário uma propaganda
passado não é nada abonador. sistemática e baseada em
Joaquim e mais três membros exemplos vivos para desmas-
de sua chapa já foram interventores do carar a hgura do pelego Joa-
governo militar em diferentes entidades ©
quim. É preciso também que
sindicais.
as chapas de oposição per-
maneçam firmes no seu pro-
Inclusive, se se encontram, pósito de derrubar a atual
atualmente, na direção do sindicato, tal
diretoria do sindicato dos metalúrgicos.
se deve, em boa parte, ao fato de as
No segundo turno das eleições, é neces-
eleições sindicais de 1978 terem se reali-
sário que se obtenha a unidade das cha-
zado, como é praxe no sindicato de
pas oposicionistas. sabido que a
Estado, sob estrito controle governamen-
FIESP conta com a permanência de Joa-
tal. Mas, hoje, Joaquim seria outro? De
quim à testa do sindicato para poder
modo algum.
continuar repassando, com facilidade, os
prejuízos da crise para os trabalhadores.
Ele e os indivíduos que o cercam têm
dado, através da imprensa, tímidas de: A derrubada de Joaquim não será, é cer-
clarações contra o desemprego. Mas é to, uma vitória definitiva. Enquanto os
evidente que apenas isso não prova nada.
sindicatos forem órgãos integrados ao
aparelho de Estado, o governo poderá
De um lado, à própria FIESP, perse- depor, pela força, uma diretoria eleita
guindo objetivos que nada têm a ver com pelos trabalhadores. Mas a vitória de
os interesses dos trabalhadores, também uma das chapas de oposição reduzirá a
fala contra o desemprego. De outro lado, margem de manobra do governo e da
Joaquim apenas fala contra o desempre- FIESP e facilitará muito a organrºção
go, mas não faz nada para organizar a da luta dos metalúrgicos.
15
"*
923231
CP Ric 1 om xe < fan ) IVA Ben o
059 O a
OD 1hr£da
O0A&QIG ]
32

P. . Irene
Um encontro privado deMurillo Macedo com Joaquim Andrade em um restaurante paulista
A nova cara de Joaquim
Ela não consegue
esconder o verdadeiro
rosto do pelego
José Carlos Ruy
O presidente do Sindicato dos Meta-
lúrgicos de São Paulo, Joaquim dos
Santos Andrade é, sem dúvida, uma
importante peça na atual estratégia
sindical do regime militar. Ele está em
seu sexto mandato consecutivo como
dirigente do sindicato - e conseguiu seu
atual mandato vencendo, com muita
trapaça e fraude, na eleição de 1978.
Isso não é novidade, pois desde 1965 -
quando foi eleito pela primeira vez para
a presidência do sindicato - ele vem se
reclegendo utilizando-se destes métodos,
e do apoio constante do ministério do
Frabalho, A capacidade de Joaquim
trapacvar e trair a categoria é conhecida.
A partir da greve dos metalúrgicos de
São Paulo de 1979, entretanto, Joaquim
dos Santos Andrade formou uma asses-
soria sofisticada, com a função de recu-
perar Sua imagem muito desgastada
junto à categoria.
O trabalho dessa assessoria logo surtiu
eus efeitos. Atuando preferencialmente
nas 303 maiores empresas metalúrgicas
de São Paulo (que empregam 70%-da
categoria), ela reativou um antigo curso
de formação sindical, conduzindo os
trabalhadores para ele. Em 1980, esse
curso formou 2 mil "Décios Malhos",
como passam a ser conhecidos esses
operários,
Além de adaptar o sindicato aos novos
tempos da "abertura política", Joaquim
passou a definir-se como admirador da
social-demotracia alemã. A nova ma-
quilagem de Joaquim, entretanto, não
consegue esconder seu verdadeiro rosto,
mesmo porque seu passado não pode ser
escondido assim tão facilmente: Logo
após o golpe militar de primeiro de abril
de 1964, Joaquim foi nomeado interven-
tor no sindicato,, dos metalúrgicos de
Guarulhos; Em entrevista a Movimento,
o sindivalista José Matias acusa-o de ter
prestado "todo o trabalho em benefício
dessa turma que assumiu o poder e nos
cassou". Matias foi fundador e primeiro
presidente do sindicato de Guarulhos,
16
CARRETEIROS
Já se fala
em nova greve
no RS !
No Rio Grande do Sul existem 40 mil cami-
nhões de propriedade de pouco mais de 30 mil
carreteiros autônomos. Apenas dois mil cami-
nhões são de propriedade de empresas parti-
culares (médias e grandes). Existem também
aquilo que se chama de "empresas fantas-
mas", ou seja, pequenos picaretas que pos-
suem de 5 a 10 veículos que disputam tam-
bêm fretes.
No setor estabeleceu-se uma verdadeira ba-
gunça, onde se confundem os interesses do '
governo, grandes empresários e autônomos,
além das indústrias, também interessadas na
fixação dos fretes. A partir dos últimos anos,
as ferrovias e hidrovias (que eram muito for-
tes no Estado) foram deixadas de lado, sendo
estimulado o transporte rodoviário, num Esta-
do onde a grande produção agricola torna
absolutamente necessário o transporte de
cargas para o resto do país.
Oscaminhões surgiramem grande número
*a
no Estado. Eles têm atividade principalmente
na época das safras, e isso explica o pequeno
número de veículos que pertencem às empre-
sas particulares - elas preferem contratar
autônomos, na época das safras, e repassar
METALÚRGICOS/SP para eles os grandes pedidos de transporte
que conseguem.
As indústrias, por seu lado, pressionam pa-
ra que os fretes baixem de preço, enquanto os
autônomos querem que o valor aumente, e os
empresários do transporte ficam no meio des-
ta briga. A na greve de maio passado, os em-
cassado em 1964 e Substituído pelo to, consultado por Movimento, funcio-
presários do transporte tomaram a dianteira, e
interventor Joaquim dos Santos Andra- nários do sindicato informaram que a
foram os primeiros a pedir ao governo que li-
de. A atuação de Joaquim como inter- entidade não tem, nem nunca teve, um
mitasse o preço do frete.
ventor foi marcada pela subserviência terminal de telex! Apesar do acordo formalizado depois da
aos militares e pela traição aos traba- greve, algumas empresas negaram-se a pagar
Joaquim dos Santos Andrade prestou
lhadores. Ele fez várias acusações no os novos preços fixados, e alguns autônomos
bons serviços ao regime militar. Isso
IPM que investigou as atividades da aceitaram carregar por um preço inferior ao fi-:
talvez explique a preocupação com sua
diretoria cassada, e a mais espetacular xado. Com isso, o movimento foi desmobili-
desmoralização perante a categoria que
delas foi a "descoberta" de um verda- zado, pelo menos por algum tempo. Agora,
o ministro Murillo Macedo manifestou a
com o aumento do combustível, já se fala em
deiro arsenal escondido no sindicato, que um deputado do PMDB paulista, antes
nova greve, que poderá ser iniciada, desta
se destinaria a atividades subversivas. da campanha salarial do ano passado.
vez, pelo sindicato das Empresas de Trans-
Em seguida, ajudou a elaborar um "Você não acha que um bom acordoportes de Carga, isto é, pelo sindicato dos
dossiê, acusando 1800 sindicalistas de empresários. (Vera Flores, de Porto Alegre)
salarial pode salvar o Joaquinzinho",
subversão; com as deduragens, Joaquim teria dito o ministro. Idêntica preocupa-
"limpou" sua área e pôde reinar ção teria sido manifestada recentemente CAMPONESES
tranquilo esses anos todos. Em 1975, as por um empresário da FIESP, para
coisas começaram a mudar. O jornalista
Vladimir Herzog fora assassinado pelo Em Quixadá, o
quema presença de Joaquim à frente do
sindicato é essencial para a realização de
DOI CODI paulista e. no dia 31 de um pacto social que garanta o nível de
outubro daquele ano, ocorreu a primeira
grande manifestação de massa contra o
empregos rebaixando os salários.
Não foi para fazer avançar as lutas
sistema de
regime militar depois do AI-S. Antonio
Carlos Felix Nunes - um dos mais meia" acabou
operárias que Joaquim assumiu sua nova
postura oposicionista; ele visa apenas
dará),Hátrês anos, as Castelo,
27 famíliasemdeQuixadá
camponeses
experientes jornalistas sindicais de S. perpetuar-se à frente do sindicato para
Paulo - diz que, naquele dia, o deter essa luta. Quando as propostas fazenda
botaram Monte
as enxadas no canto, pegaram (Cea-as
sindicato realizou uma assembléia, onde
Joaquim conseguiu aprovar uma moção foices e,quedecididos,
patronais 'de redução da jornada de
car-lhe
trabalho com redução dos salários esta-
a partir foram aodatapatrão
daquela a comuni-
mamatado
de apoio à polícia.
Três meses depois -no dia 20 de janeiro "sistema
vam na moda, várias empresas paulistas
fica
tentaram obrigar seus trabalhadores a
com de meia"
50% da - em que- ohavia
produção donoacabado.
da terra
de 1976 - outro assassinato cometido
pelo DOL COD "obrigou Joaquim a Aprodução,
aceitar acordos desse tipo, sem o partir daquele
conhecimento do sindicato (que é exigido como dia eleEstatutodaTerra.
rezao só receberia 10% da
tomar uma posição que aparentemente
denunciava a ditadura militar; dessa vez,
pela lei). Apesar de toda a pregação de
trolea
Joaquim contra a redução da jornada,
O dono da fazenda,
guarnição quede mantém
policial Quixadá, sobprimeiro
con-
o morto era o metalúrgico Manoel Fiel ameaçou
não houve nenhuma denúncia pública
ocorreram
desse fato. Os operários levaram esses
com
- e prisões Depois
açoites. - que cercou
efetivamenteascance-
pro-
Filho. Antonio Carlos Felix Nunes conta
priedades e reforçou os cadeados das
telasseudaconvicção
com jagunçosdosarmados. Finalmente, dian-
que assim que a notícia se espalhou, um acordos irregulares ao conhecimento do
grupo de jornalistas correu ao sindicato e
Joaquim - que, com certeza, ainda não
sindicato, que preferiu - diz Ricardo
Paoletti, assessor do sindicato - ques-
legítimos direitos, camponeses em lutarpor
resolveu pelaexpulsálos.
sabia da morte chegou até a insultar a
memória do morto, dizendo que não era Nãoconseguiu:
tionar juridicamente as empresas. Outro
vezde suaaJustiça
indicador de que, apesar de todas as e
aplicou provavelmente
o Estatuto da primeira
Terra, des-
metalúrgico. e devia ser um agitador
sem-vergonha. No dia seguinte, Joaquim
mudanças, a essência da diretoria do
normalizar
sindicato continua a mesma, é a presen-
criação,
o em
pagamento novembro
da de
renda. 1964,
A ação parade
mudou de atitude, e convocou a impren-
sa para uma entrevista coletiva, referin:
despejo
ça do "trio de ouro" da diretoria -
rantidos
Joaquim, Orlando Malvezzi e Bernardi-
foiapenas
considerada
os 10% improcedente,
do que produzem e ga-os
do-se de maneira diferente ao operário
assassinado, chamando-o de até "com-
camponeses
- para o dono-daalgodão,
no Testa, companheiros de diretoria e de
trajetória desde a época da oposição fazenda milho,
Monte feijão,
Castelo.arroz
panheiro"". sindical democrática de antes de 1964 -
putado Semanapassada,
Iranildo naCâmara
Pereira (PMDB-CE),Federal,queode- nos
Anos depois, em uma entrevista ao
Pasquim (24 de agosto de 1979), Joaquim últimos
na chapa 1. que "coneorre 'à reeleição.
teCastelo
Aparentemente, Joaquim abriu mão de três anos
protegido só entrava nafazenda
por umamandar
políciamatarindispos-Mon-
teve o despudor de afirmar, que naquele
dia, permaneceu na sede do sindicato, de ta(o
muitos cargos importantes. Entretanto,
passasse
ele próprio ficou com a presidência, fazendeiro
por ameaçou
suas cancelas para i r quem
"agitar"
onde enviou "telex para o presidente da
República, para o ministro do Exército, osoutrascamponeses)
Malvezzit está no Conselho Fiscal e
Bernardino no Conselho dé Represen- regiões do disse
Cearáquetambém
ocamponeses
começam dea
para o ministro da Justiça, ministro do
Trabalho, tantos quanto eu pude man- organizar-sea quee conscientizar-se
tantes à Federação -- uma estratégica
ploração
distribuição do trio, garantindo o contro- vivem submetidos. do grauE deprevêex-
dar, sabe, denunciando o fato e pedindo
justiça (...). E foi o que ocasionou a saída
mudanças
lo menos o nas
le das decisões em todos os níveis da
direção do maior sindicato operário da fim darelações de produção,
Idade Média na(Assis
região"."ou pe-
do (general) D'Avilla Mello". Entretan- América Latina. 2 Moreira)
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81

A divisão,
A opinião de líderes baianos que lideraram
Qual das duas afirmações a seguir é a
verdadeira?
1. O surgimento de diversas Chapas
entre as correntes de oposição nas dispu-
tas sindicais é inevitável e reflete o ávan-
ço político das lutas dos trabalhadores.
2. A tendência à divisão dentro da opo-
sição nas disputas sindicais é burrice,
decorre da estreiteza política das corren-
tes e das práticas hegemonistas da es-
querda.
Esta é uma das polêmicas do movimen-
to sindical. Para ajudar no seu esclareci-
mento e sem pretender apontar uma
conclusão do debate, Movimento apre-
senta a seguir a opinião de um conjunto
de sindicalistas da Bahia, que lideraram
processos de formação de chapas únicas
entre as importantes categorias dos pe-
troquímicos, bancários e engenheiros.
(Nota da redação)
As divisões entre sindicalistas de oposi-
ção, no atual quadro do sindicalismo
brasileiro, não devem ser vistas como
inevitáveis, nem tampouco como de-
monstração de avanço político. Elas são,
de modo geral, importadas de fora para
dentro do movimento sindical, fruto da
incompetência política, do sectarismo,
do cupulismo e da busca desenfreada da
hegemonia das correntes de pensamento
que atuam nos Sindicatos e na oposição.
Este é um apanhado das opiniões de
seis sindicalistas baianos, todos eles inte-
grantes de três chapas de oposição: a dos
engenheiros, que venceu eleições há pou-
cos dias pelo placar de 527 a 51; e as dos
petroquímicos e dos bancários, que vão
disputar em setembro e outubro próximos
a diretoria de suas entidades (no caso dos
petroquímicos, trata-se de chapa única
situacionista). Mesmo que, em alguns
casos, alguns deles ressalvem as peculia-
ridades locais e de categorias, a fim de
demonstrar as limitações na compreen-
são dos constantes rachas no sindicalis-
mo de oposição, sobretudo em São Paulo
e no Rio de Janeiro, eles falam com a
autoridade de quem conseguiu, depois
de meses de articulações e de interminá-
veis reuniões, formar chapas únicas de
oposição.
Claro que as divergências de fundo
político existem e os apóstolos baianos
das chapas unitárias não negam. E enor-
mes dificuldades apareceram no próces-
so, durante o qual não faltaram concha-
vos, brigas, trocas de acusações e até
crises de choro de alegria. Mas predomi-
nou entre a maioria dos ativistas de cada
categoria uma obcecada perseguição a
um objetivo: não confundir os trabalha-
dores com divergências que só importam
no momento a pequenos grupos, somar
forças, não dar vez à direita e aos pele-
gos. Pelas suas avaliações, a favor desta
estratégia contou o fato de nenhuma das
correntes que perseguem mais ostensiva-
mente a hegemonia no movimento ope-
rário ter peso significativo entre os ativis-
tas de suas categorias.
Somar forças,
não dar vez à direita
e nem aos pelegos
O caso dos engenheiros talvez seja o
mais exemplar, pelo método amplo e
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
h A 6a AA
" BRDFANBSA
V8.GNÇC AAA .
SINDICALISMO
em
processos de chapa única para seus sindicatos.
Jadson Oliveira
democrático que conseguiram imprimir
na formação da chapa e durante a cam-
panha. Paulo Jackson Vilas Boas é dele-
gado junto à Federação na diretoria elei-
ta do Sindicato, que além de engenhei-
tos, representa também geólogos, agri-
mensores e agrônomos, em torno de 10
mil pessoas Etiam atualmente cerca de
2.508 associados e estava em poder de
um mesmo grupo há 14 anos). Ele conta
que o trabalho por ganhar o sindicato
começou há um ano, primeiro com a
sindicalização, depois com a escolha de
um programa unitário e, finalmente, a
composição da chapa, com base nos se-
guintes critérios: adesão ao programa
mínimo, disponibilidade, representativi-
dade e participação no trabalho político.
As definições, inclusive dos nomes e
cargos, foram tiradas em sessões plêná-
rias, que envolveram de 60 a 80 pessoas,
sendo rechaçadas as tentativas de incluir
nomes com base em supostas representa-
tividades não explicitadas amplamente.
A chapa inclui gente filiada ao PT, ao
PMDB, simpatizantes de jornais de es-
querda, pessoas ligadas a instituições re-
ligiosas. E, o que mais? Dos outros parti-
dos, PP por exemplo? "Deve ter, porque
não?", diz Vilas Boas, explicando que o
importante é apreender a realidade da
categoria que o Sindicato pretende re-
presentar e refletir nos seus anseios.
: É aí que está o segredo da condução de
umprocesso o mais amplo e democrático
possível, tendo como prioridade ganhar o
sindicato para a categoria e não para
utilizá-lo na propaganda de suas posi-
ções político-partidárias, como explica
outro membro da diretoria, Raul Klier.
E José Olívio Oliveira, eleito presidente,
diz que não se pode levar em conta, num
processo desse, credencial de supostos
representantes de tendências políticas,
na medida em que muitas de suas pro-
postas, nascidas fora do movimento da
categoria, não têm condições nem de
ser traduzidas de forma compreensi-
vel para um auditório mais anplo. "É
preciso se passar pelo crivo da massa",
diz Olívio.
Fle considera que o racha entre os
geral,
ValterRibeiro
metalúrgicos de São Bernardo talvez de-
vesse ser olhado de maneira diferente, já
que lá "o processo está mais avançado e
talvez a divisão seja natural"". Mas enca-
ra a existência de duas chapas de oposi-
ção entre os metalúrgicos de São Paulo
como prejudicial e um erro dos oposício-
nistas.
Neste caso, Vilas Boas é mais enfático:
para ele o que houve em São Paulo foi
"incompetência e ambição de poder ao
se agir com base em divergências de
fundo político e fomentar divisões em
benefício do pelego. O método correto
seria a discussão política do programa da
chapa e não querer empurrar um discur-
so pronto pela goela a dentro da catego-
ria". Ele não vê como "natural" o racha
em São Bernardo, mesmo lembrando
que "não devemos idealizar que vamos
caminhar unidos o tempo todo".
A inabilidade dos
ativistas levou ao
racha em São Paulo
Mais ou menos neste rumo é a avalia-
ção de dois membros da chapa de oposi-
ção dos bancários: Osvaldo Laranjeira,
candidato a presidente - é funcionário
do Banespa e trabalhava em São Paulo,
tendo participado há três anos do pro-
cesso eleitoral que resultou na vitória de
Augusto Oliveira Campos, no Sindicato
de São Paulo - e Pedro Barbosa, secre-
tário geral na chapa. Laranjeira disse
que só consegue explicar o racha entre a
oposição metalúrgica de São Paulo pela
"inabilidade dos ativistas, pela incompe-
tência em compreender que a prioridade
número um é tirar Joaquim Andrade da
diretoria do Sindicato e não a busca da
hegemonia de tendências".
Tanto Laranjeira como Pedro Barbosa
acham que o grande problema a ser
enfrentado hoje pelo movimento sindical
é a pequena participação do conjunto
das categorias. "A grande tarefa, dizem
eles, é criar canais de participação, atra-
vés de formas múltiplas e diversificadas.
é burra
Faltam propostas receptivas, inclusive a
nível de concepção de mundo dos traba-
lhadores e elas só vão ocorrer de fato na
medida em que aumentar a participação
na vida sindical".
Foi com base nestas preocupações que
os bancários baianos perseguiram tenaz-
mente e terminaram conseguindo, depois
de cinco meses de luta, fazer uma aliança
com todas as tendências presentes entre
os ativistas da categoria: membros do
PT, do PMDB, pessoas sem filiação par-
tidária explicitada, independentes, sim-
patizantes do jornal Tribuna da Luta
Operária. Predominou entre parcelas
majoritárias da oposição a visão de
que a divisão iria beneficiar a diretoria
do Sindicato, de onde deve nascer uma
ou duas chapas. E também a avaliação
de que ""a categoria está mais preocupa-
da com salários, com o desemprego e ter
um Sindicato combativo em suas mãos e
não com os diversos matizes políticos
entre os militantes sindicais", como disse
Barbosa. "O contrário seria criar confu-
são entre os bancários".
""E preciso
heterogeneidade
de opiniões"?
O caso do Sindicato dos Petroquímicos
é ligeiramente diferente. Ele representa a
importante categoria dos operários nas
indústrias do Pólo Petroquímico de Ca-
maçari e sempre esteve, desde sua cria-
ção há três anos, em poder de sindicalis-
tas combativos. Assim como os bançcá-
rios, são em torno de 10 a 12 mil traba-
lhadores, com Índice de sindicalização
em cerca de 50 por cento. Nesse síndica-
to, uma chapa única, que não vai ter
realmente concorrente, foi composta
com membros da atual diretoria e ativis-
tas que já atuavam na entidade, tendo na
cabeça Nilson Bahia, que é hoje secretá-
rio geral.
No entanto, uma corrente política - a
dos simpatizantes do jornal Hora do
Povo - ficou de fora, como explica o
atual presidente do Sindicato, Valter Ri-
beiro, que vai se reeleger agora como
secretário geral. Ele disse que todos os
ativistas e atuais diretores que participa-
ram do processo de escolha da chapa -
cerca de 30 pessoas, incluindo indepen-
dentes, adeptos do PT e do Voz da Uni-
dade - vetaram os poucos simpatizantes
da linha do HP e eles não tiveram condi-
ções de formar sua própria chapa.
Ribeiro estende sua crítica também a
outros grupos de oposição que atuam no
movimento sindical, dizendo que "ape-
sar das diferenças de visão política, o que
se deve fazer prevalecer são as propostas
que se têm no movimento e apresentá-las
para as massas". "Para se desenvolver
um trabalho mais amplo, precisa-se da
heterogeneidade de opiniões". Ele afir-
mou que "a esquerda continua errando,
é muito vanguardista e ainda tem o
problema da hegemonia", ao falar da
divisão da oposição sindical metalúrgica
de São Paulo, culpando tanto os simpati-
zantes do jornal 'IPrIbuna da Luta Operá-
ria, como militantes ligados ao trabalho
da Igreja. "No fim, completa ele, Joa-
quinzão vai faturar mais uma vez".

Três polêmicas
diretórios
O CONEB, órgão da UNE, debate: Em 82, a oposição deve lançar
candidatos únicos? A UNE está
A política em relação às eleições de
R2, as formas de luta contra os aumen-
tos extorsivos das anuidades e o alinha-
mento internacional da União Nacional
los Estudantes serão os principais pon-
»s polêmicos da 2a reunião do Conse-
ho Nacional de Entidades de Base
CONEB) marcado pela diretoria da
UNE para 29 de julho, em Campinas-
Cp
Cerça de 700 Diretórios e Centros
Acadêmicos debaterão no Ginásio de
-eEsportes do Taquaral (cedido pela Pre-
feitura Municipal) as grandes questões
que hoje dividem opiniões dentro do
movimento estudantil. A importância
da reunião é grande, na medida em que
o CONEB é uma das principais instân-
cias de deliberação da UNE, sendo
superado apenas pelo Congresso anual
da entidade,
As propostas que a diretoria da UNE '
levará ao encontro foram definidas em
reunião realizada há duas semanas na
PUC-SP. A primeira delas encontra
grande resistência nas áreas estudantis
ligadas ao Partido dos Trabalhadores e
consiste no lançamento de um mani-
festo a todos os partidos que a diretoria
considera de oposição (PMDB, PT,
PDT, PP, PTB) no sentido de que estes
articulem candidatos unitários aos car-
gos majoritários nas eleições de 82,
particularmente no caso dos governa-
dores de Estado. Na opinião de Aldo
Rebello, Presidente da UNE, esta seria
a forma mais correta de a oposição
combater os "casuísmos" do governo e
do PDS, em sua tentativa de ganhar as
eleições, mesmo sem conseguir a maio-
ria dos votos populares.
Esta proposta, em princípio, conta
com a posição contrária de setores do
movimento estudantil, ligados ao PT.
Cleusa Turra, a "Pituca", Presidente
do DCE da USP e militante do Partido
dos Trabalhadores afirma que esta pro-
posta, se aprovada, significará um
compromisso inaceitável para os traba-
lhadores e estudantes que, ao invés de
votarem em candidatos próprios, do
PT, teriam de apoiar candidatos "bur-
gueses", o que comprometeria a sua
18
. BRDOFANBSB
ESTUDANTES
para
debaterem
numa entidade pró-soviética?
Alon Feuerwerker
independência. "Pituca" propõe que os
estudantes apóiem o PT e lutem para
que este partido lance candidatos em
todos os níveis nas eleições,
Apesar disto, mesmo no PT, a pro-
posta de Aldo encontra adeptos. Patri:
cio Prado Fo, Presidente da UEE-SP e
membro do PT, além de concordar com
a unidade dos partidos de oposição nas
eleições, vai mais além: propõe que o
PT, em São Paulo, assuma como sua
a candidatura de Franco Montoro ao go-
verno do Estado, afirmando que a divi-
são das oposições interessa apenas ao
regime e a quem o apóia.
A greve não é um fim
em si, diz um; dizer
não já, diz outro
A avaliação da greve de três dias no
primeiro semestre e a perspectiva da
greve geral por tempo indeterminado
como forma dos estudantes alcançarem
as suas reivindicações, é outro ponto
controverso da pauta de discussão do
CONEB. O dado curioso neste debate é
que as entidades e lideranças estudan-
tis que mais defenderam esta proposta
no primeiro semestre, avaliam hoje que
não seria desejável a marcação de uma
data no CONEB para a deflagração da
greve. Luís Alencar Marinho Falcão,
"Lula", secretário geral da. União Na-
cional dos Estudantes, afirma que "o
central hoje é deflagrar a luta: 1) contra
os aumentos de 50,9% autorizados pelo
MEC para as mensalidades das escolas
particulares no segundo semestre deste
ano; 2) contra os projetos de trans-
formar as Universidades públicas em
Fundações; e 3) por subsídios do MEC
para as escolas particulares, no valor
necessário para que os estudantes não
tenham de pagar nenhum aumento nas
mensalidades deste semestre. Afirma
"Lula" que estas lutas, o seu grau de
amplitude e radicalização, é que vão
definir a data para a deflagração da
greve. "O nosso objetivo não é a greve
em si, mas sim o atendimento das nos-
|
V8.GNC.AAA,(
70
sas reivindicações. Só iremos à greve
geral se o MEC permanecer na sua luta
de intransigência com os estudantes e a
UNE", termina "Lula". ;Por outro la-
do, Patrício, frontalmente contrário à
proposta da greve no primeiro semestre
deste ano, afirma que "a greve geral
das escolas particulares, visando rene-
gociar o aumento de 50,9%, autorizado
pelo MEC, é a única forma.de impedir
que 30% dos estudantes brasileiros dei-
xem de estudar por falta de condições
de efetuar os pagamentos, na medida
em que estas mensalidades são altas
demais para as suas possibilidades eco-
nômicas. Não podemos esperar para
ver no que vai dar. Temos de dizer
imediatamente um não à tentativa de
impedir o estudante carente de recursos
de continuar seus estudos",
"Pituca", por sua vez, apresenta ou-
tra proposta: marcar um Congresso da
UNE para Setembro, no sentido de que
a greve geral seja deflagrada e organi-
zada pela instância máxima de delibe-
ração da entidade. Avalia, inclusive,
que a ausência desta proposta no pri-
meiro semestre foi um fator fundamen-
tal para que os estudantes sofressem
derrotas e o MEC tivesse possibilidades
de colocar abertamente seu projeto de
implantação do ensino pago nas Uni-
versidades Públicas.
O ponto da pauta que, certamente,
trará as maiores polêmicas do
CONEG será a discussão sobre a filia-
ção da UNE à União Internacional dos
Estudantes (UIE) e sobre a recente
proposta de criação de uma nova enti-
dade internacional, a Associação Inter-
nacional dos Estudantes (AIE), delibe-
rada em reunião realizada em Paris,
convocada pela UNEF (democrática e
independente), uma das duas entidades
estudantis de caráter nacional existente
na França. A outra, UNEF (Renov'auxz
está filiada à UIE.
A controvérsia sobre esta questão
vem de longe e, no ano passado, foi
motivo de exaustivos debates no Con-
gresso da UNE realizado em Piracica-
Ui
Patrício: candidatos únicos -
ba. Neste Congresso foi deliberado que
a União Nacional de Estudantes volta-
ria a participar, em caráter de filiada,
da UIE, na medida em que havia se re-
tirado de um Congresso da entidade
realizado em 1967 na Mongólia, tendo
sido representada naquela ocasião por
Altino Dantas Jr., na ocasião enviado
especial da UNE e hoje dirigente do
PF,
As principais críticas feitas pela
UNEF (I&D) à UTE residem no fato de
que esta entidade "defende a linha po-
lítica adotada pelo Partido Comunista
da União Soviética no plano interna-
cional e de que a maioria das entidades
a ela filiadas não passaria de um ins-
trumento desta política, derivando daí
o seu caráter burocrático e imobilista".
Em virtude desta avaliação foi convoca-
da uma Conferência Internacional para
Paris, com. o intuito de se discutir a
criação de uma nova entidade. Partici-
param desta Conferência cerca de 27
Entidades "Nacionais de Estudantes,
sendo que 6 delas são unitárias, isto é,
representam o conjunto dos estudantes
de seus países (Irlanda, Senegal, Ira-
que, Polônia e Peru), além de mais 37
Associações não nacionais, entre elas o
DCE-USP, representado por Cleusa
Turra. A diretoria da UNE foi convi-
dada, tendo deixado de comparecer por
falta de recursos, segundo informações
da própria diretoria. Apesar deste ar-
gumento, o certo é que o DCE da Uni-
versidade Federal de São Carlos repro-
duziu e distribuiu uma nota da UNEF
(I&D) que caracterizava a UNE como
sendo dirigida por uma diretoria "pró-
stalinista", tendo este tipo de argumen-
to sido utilizado pela UNEF (I&D) pa-
ra justificar a sua não adesão à criação
da nova entidade.
A UNE está com a
UIE; os poloneses,
com a outra entidade
O certo é que muita água vai ainda
rolar nesta discussão. A diretoria da
UNE apesar de ainda não ter uma po-
sição definitiva sobre o caráter da ida
do DCE-USP a Paris mantém e defen-
de a posição aprovada no Congresso de
Piracicaba, Luís Falcão afirma que a
diretoria repudia qualquer tentativa de
caracterizar a UNE como sendo dirigi-
da por "pró-stalinista", na medida em
que a entidade, como afirma sua pró-
pria carta de princípios, é unitária,
apartidária e aberta a estudantes de
qualquer linha político-ideológica, afir-
mando ainda que a UNE promoverá
uma série de atividades, no sentido de
estreitar os laços com a UIE, prevendo
inclusive a realização de um "Fórum
Latino-Americano em defesa da Dmo-
cratização da Universidade", a ser pro-
movido no segundo semestre deste ano
em São Paulo, em conjunto pelas duas
entidades. "Lula" avalia que a UIE
deve ser mantida como única entidade
internacional dos estudantes, caracte-
rizando qualquer tentativa de formar
uma nova entidade como divisionista.
A UIE, afirma ele, congrega cerca de
115 entidades estudantis nacionais, re-
presentando a ampla maioria dos estu-
dantes do mundo.
A UNE deve deliberar sobre a ques-
tão no CONEB e no seu Congresso des-
te ano. Em Novembro, o NZS (entidade
estudantil polonesa, criada no mesmo
processo político em que surgiu o Sin-
dicato "Solidariedade") sediará o Con-
gresso de fundação da AIE e, até lá,
prevê-se uma intensa disputa entre ela
e a UIE, no sentido de dirigir o movi-
mento estudantil no plano internacio-
nal.
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
€

Aco INCRÍVEL ve
A /A 5 IUDADE COM
W COVE Voc FAZ
h, A COISA!
E possível
Estrangeiros querem mudar a já liberal lei de remessas de lucro.
=* doque papar osaltissiaros juros dos em
no ano passado uma conta de juros de
US$ 6,3 bilhões, que poderá facilmente
ultrapassar esse ano a casa dos US$ 7,5
bilhões, duas propostas encaminhadas
na semana passadapara facilitar a re-
messa de lucros poderão encontrar ter- :
renafértilparagerminar:
O próprio ministro da Fazenda, Erna-
ne Galvêas, se encarregou de pintar a si-
tuação do país em cores dramáticas: "os
aumentos de taxas de juros internacio-
nais são hoje quatro vezes maiores que os
aumentos dos preços do petróleo", até
algum tempo atrás o bode expiatório dos
fracassos do modelo brasileiro. A pri-
meira dessas duas iniciativas que vêm de
encontro às preocupações do ministro
partiu, sem subterfúgios, da reunião do
Conselho de Empresários Brasil-Estados
Unidos, que reuniu em Brasília 125 em-
presários ligados ao capital estrangeiro
no país. A seção americana do Conselho
propôs simplesmente que a atual lei de
remessa de lucros fosse alterada, aumen-
tando de 12 para 20% do capital o per-
mitido para remessas de lucros. A razão
alegada pelos empresários ligados ao ca-
pital estrangeiro é simples. A atual lei foi
feita quando os juros internacionais
eram da ordem de cinco por cento, taxa
definitivamente caduca hoje quando se
pagam juros de 20%. Não seria justo,
portanto, dizem eles, nem atrativo em
termos de captação de investimento, re-
munerar investimentos diretos com mo-
destos atuais 12%, quando um emprés-
timo bancário internacional paga 20%.
A esta primeira proposta o governo rea-
giu com aparente indiferença e inflexibi-
lidade, mas o caminho da concessão não
parece estar totalmente fechado. Conce-
dendo facilidades ao capital estrangeiro reivindicações,que foiencaminhado à
em áreas menos sensíveis - permitindo,
por exemplo, que fosse revogada a proi-
bição de subsidiária brasileira pagar
compra de tecnologia às matrizes - co-
mo sugere o Estado de S. Paulo, o go-
verno poderia viabilizar a transformação
de empréstimos captados no exterior em
capitais de risco, que só começaram a
remeter lucros após um período razoável
de maturação, representando assim, a
curto prazo, uma solução mais possível
MOVIMENTO- 06 a 12/7/81
BR DFANBSB VB.GNC AAA
CAPITAL ESTRANGEIRO
ceder
préstimos.
Foi nesse sentido que partiu a segunda
tentação do capital estrangeiro, com
uma cumplicidade ainda inexplicada de
setores da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP), através de
“%%—êªêªí⪪âê »»»»» Besrne-
gal. A FIESP havia montado uma comis-
são de representantes das maiores em-
presas estrangeiras no país (47 se fizeram
representar) para estudar uma possibili-
dade de as empresas estrangeiras trans-
formarem empréstimos obtidos no ex-
" terior em capital de risco. Parece, no
entanto, que este foi o caminho de os
empresários estrangeiros tentar obter
aí mais alguma vantagem adicional na já
liberal lei brasileira de remessa de lucro.
O resultado final é que o presidente Vi-
digal acabou encaminhando às autorida-
des do governo federal um documento de
reivindicações de cinco pontos que alte-
ram na prática o limite de 12% de envio
de lucros. Assim, a FIESP se viu metida
numa manobra que pode ser considera-
da antipatriótica - vejam só - até mes-
mo pelos funcionários do governo e por
setores da própria FIESP. O ex-ministro
da Fazenda Karlos Rischibieter, atual-
mente um gerente ligado à multinacional
sueca Volvo, ficou espantado ao ponto
de acreditar existir por trás da iniciati-
va de Vidigal "muito casuiísmo e interes-
ses inconfessáveis", pois a "economia ,,4pçesarladn aO nacional 10
brasileira já está aberta o suficiente para
capitais externos". Sem entrar no mérito
do documento levado por Vidigal às auto-
ridades, o primeiro-vice-presidente da
FIESP, Nildo Masini, também protes-
tou: ele afirmou e reconfirmou que a
FIESP nunca aprovou tal documento de
revelia por Vidigal. Até o final da se-
mana Vidigal não havia conseguido pro-
duzir uma desculpa satisfatória para o
encaminhamento do documento e se viu
flagrado na ignorância de alegar que as
reivindicações encaminhadas não altera-
riam a lei de remessa de lucros, no que se
refere aos 12% de limite. Contas realiza-
das pelo professor Denisard "Alves, da
Fundação Instituto de Pesquisa da Uni-
versidade de São Paulo mostram, no en-
mais?
ó, que duas das reivindicações apre-
sentadas por Vidigal levam, na pratlca e
imediatamente, a um envio maior de lu-
cros para o exterior, sem que sirvam pa-
ra atrair mais capitais - o que não ser-
ve, em absoluto, ao que seria o propósito
orlgmal da comissão de empresános li-
s a0ra, Ustra“???:?"-
desafogar a curto prazo o balanço de pa-
gamento do Brasil. Uma dessas reivindi-
cações se refere ao pagamento de impos-
tos suplementares ao imposto de renda
sobre o valor líquido das remessas e não
ao valor bruto, como é atualmente. Na
remessa bruta, o imposto de renda su-
plementar incide sobre o imposto de
renda, o que equivaleria a uma distri-
buição. Mas o resultado final é que, efe-
tivamente, se vai enviar mais dinheiro
para o exterior, não importando sob qual
firula jurídica a remessa se esconda. Ou-
tra reivindicação do capital estrangeiro,
de registrar os capitais aplicados antes
da aprovação da lei, também leva dire-
tamente a um aumento do capital, e
portanto, a um aumento do volume do
que poderia ser enviado "legalmente"
para o exterior.
Até meados da semana passada o ex-
ministro Karlos Rischbieter não havia
sido alcançado pela imprensa para ex-
plicar quais seriam os "interesses incon-
fessáveis" de um setor da FIESP, mas
parece claro que parte do chamado
CHE andando de na-
vem
moro sério em busca de associações com
o capital estrangeiro.
Do lado governamental, o episódio foi
uma ótima oportunidade para uma pre-
sepada nacionalista. O ministro da Fa-
zenda Ernane Galves posou de mflex1vel
rançosamente apmado em proleções
Banco Central de o Brasil de captar US$
2 bilhões neste ano em investimentos
trangeiros.
Mas essa esperança contrasta com a
evidência empírica da queda dos investi-
mentos diretos no país. Em 1977 os in-
vestimentos foram de US$ 1,866 bilhão,
reduzidos no ano passado a apenas 912
milhões de dólares, uma queda de
46,6%, portanto. (Octávio Senna)
e aa
Embora haja fome no país, uma crise de
fartura - inerente à produão capitalista
com objetivos apenas de lucros - assola
mais uma vez o Brasil. Asautoridades go-
vernamentais não sabem direito o que fa- .
zercom umestocado de carne da ordem de
90mil toneladas. Não se cogita de abaixar
o preço da carne para não prejudicar o
criador e os frigoríficos, que têm podero- .
sosrepresentantes em Brasília. Devido ao
aumento de preço nos últimos quatro
anos, o consumo per capita de carne caiu
no Brasil de 21 para 18 quilogramas.
Já os suinocultores do Rio Grande do
Sul, que têm de vender leitões a ÍHQOÍIÍICOS
u
sim praca
u M proa UIÇIIVI quº O KJBDXU Mal Or GVGU
preferiram distribuir os animais à popula-
ção da cidade de Frederico Westphalen.
Também um excesso de produção de so-
ja, somada à inesperada grande safra
americana deste ano criou um grande pro-
blema. O leite também está dando crise: há
um estoque de 63 mil toneladas de leite em
pó e laticínios além do consumo ter caido
em 15%
Esse tipo de crise não é propriamente
novidade no capitalismo, que nunca soube
como resolvê-la. Na vês pera da grande cri-
se e do pânico da Bolsa de Nova Yorque
em 1929 os produtores de lei elavavama
&
Danonede muitos desmentida o minis.
tro do Trabalho Murilo Macedo começa a
admitir mudanças na tei salarial. A lei, que
foi produzida num momento de crescimen-
to das lutas operárias, incorpora algumas
conquistas que poderiamagora ser rever-
tidas. Mais especificamente a periodici-
dade dos reajustes, que poderiam voltar a
ser anuais, e a concessão de 10% à mais
paraa faixa de até três salários mínimos. A
razão alegada, por Delfim Neto e admitida
por Macedo, para a mudança, é a de que a
em-
lei salarial posta em prática desde 1979 é
inflacionária. A mudança poderá ser deci-"
didaapenas "a nivel técnico", uma vez que
a lei faculta ao presidente da República
substituir o reajuste semestral por qual-
quer outro Npode reajustea partir de 1a—
neiro de 1982
espe--!- Enquanto isso,.e DIEESE independmta
do das ameaças de mudança na lei, já prevê
uma diminuição no salário real deste ano,
uma vez que não há grandes evidências de
es- diminuiçãodoindice do custo de vida, O
Estudo do DIEESE mostra também que
desde 1940 OSalário mínimo caiu de 100
para 61,66enquanto O PIB aumentou de
um indice 100 para 465,25. Ou seja, en
quanto a produtividade aumentou mais de
4,5 vezes, o valor real do salário mínimo
quase foi à metade.

Nada de
Mesmo que a oposição vença as eleições, muito pouco mudará
Depois de uma campanha marcada por
uma violências sem precedentes, realiza-
ram-se no dia 30 de junho as eleições
parlamentares em Israel. Votaram 2,4
milhões de eleitores, em candidatos de 33
partidos que concorreram às 120 cadei-
ras do Knesset, o Parlamento israelense.
Os resultados oficiais deveriam ser divul-
gados até o final da semana passada,
porém uma projeção feita no primeiro
dia de apuração indicava que haveria um
quase empate das duas principais coliga-
ções em disputa, ficando o Likud, de
Menahen Begin, com 48 cadeiras e o
Partido Trabalhista, de Shimon Peres,
na oposição, com 49. Se confirmada esta
projeção, e (através de coalizões com
partidos «menores) não for possível
formar um novo governo com maioria
parlamentar, novas eleições poderão ser
convocadas, No entanto, é mais provável
que O Likud consiga articular uma
maioria, porque tem o apoio dos partidos
religiosos.
Begin: mesmo com menos votos, pode continuar no poder
Uma economia militarizada
A intervenção de Israel no Libano, a
"crise dos mísseis sírios", e, mais
recentemente, o bombardeio da central
nuclear iraquiana relegaram ao último
plano o agravamento da crise econômi-
ca israelense, marcada por um recorde
mundial de inflação nos últimos dois
anos. Depois da instalação do Likud no
poder, há quatro anos (antes a oposição
governou, durante quase trinta anos), a
inflação acumulada atingiu nada me-
nos que 1168%. Em 1979, a taxa de
inflação foi de 111,3% e, em 1980,
saltou para 132,7%. Segundo informa-
ções sobre o custo de vida publicadas
em maio deste ano, os preços aumenta-
ram 10,7% somente no mês de abril. O
departamento central de estatística
informa que os salários reais diminui-
ram 9% em 1980, e o nível de vida
baixou em 5,5% - taxas inéditas na
história do país. Em contrapartida, os
impostos sobre os salários tiveram um
aumento de 106% em 1979 e de 159%
em 1980. Neste último ano, a balança
de pagamentos acusou um déficit de
3.8 bilhões de dólares, e a dívida
externa atingiu 19,2 bilhões de dólares,
contra 13,2 bilhões em 1977. Para um
BR DFANBSB VB.GNC AAA
ISRAEL
novo nas
Carlos Machado
Apesar da acirrada disputa eleitoral,
não existem diferenças fundamentais
entre a situação e a oposição. O Likud
reúne a direita nacionalista, que reivindi-
ca para Israel plenos direitos sobre os
territórios árabes ocupados.
O Partido Trabalhista, social-democra-
ta e membro da Internacional Socialista,
é a favor da divisão com a Jordânia dos
* contentou em acusar o primeiro-ministro
territórios ocupados da Cisjordânia, mas
contraditoriamente opõe-se à desmobili-
zação das colônias israelenses implanta-
das na região. Quanto aos palestinos,
tanto a direita como os social-demoecra-
tas partilham da mesma atitude: não à
sua autodeterminação; não à criação de
um Estado palestino; não à negociação
com a OLP (Organização para a
Libertação da Palestina).
Durante as conversações egípcio-israe-
lenses que precederam o tratado de
Camp David, os trabalhistas criticaram
Begin por ter aceito muito depressa
país que tem apenas três milhões de
habitantes, trata-se da maior dívida
externa do mundo,
Apesar de tudo, o desemprego cresce
a um ritmo moderado. 75 mil pessoas
encontram-se agora sem emprego, o
que representa 5% da força de traba-
lho. O exército, seguramente, absorve
boa parte da mão-de-obra. No ano
passado, o orçamento da Defesa repre-
sentou cerca de 65% do orçamento total
-do Estado (incluindo as amortizações
da dívida externa). A indústria militar
permanece sendo uma das atividades
mais rentáveis da economia. As expor-
tações de armas renderam ao Estado
1,45 bilhões de dólares em 1980,
correspondendo a aumento de 341%
em dois anos. Segundo o Ministério da
Defesa, essas exportações atingirão
cerca de dois thhões de dólares em
1981.
62 mil famílias vivem hoje em Israel
abaixo do limiar da pobreza, e repre-
sentam 14% das famílias de assalaria-
dos, Este número cresceu 78% de 1977
a 1979, com o recrutamento de grande
parte das novas vítimas da crise sendo
feito entre os sefardins, judeus originá-
,
urnas
evacuar as implantações israelenses do
Sinai. Durante a "crise dos mísseis si-
rios" (Israel abateu helicópteros sírios
nos céus do Líbano e a Síria instalou
mísseis na região), os trabalhistas não
fizeram críticas ao governo, porque
haviam sido eles próprios, quando esta-
vam no poder, os iniciadores da inter-
venção política no Libano. A oposição se
por ter divulgado segredos militares do
Estado e por ter feito declarações
"inúteis".
As críticas ao governo feitas pela
oposição detêm-se geralmente em ques-
tões secundárias. Como disse Ytzhak
Ben Aharon, secretário geral da central
sindical Histadrut, "o Partido Trabalhis-
ta não se propõe a modificar a sociedade
israelense".
No que se refere à segurança, o
nacionalismo, em tonalidades diversas,
acaba sendo um ponto comum. A manu-
tenção de relações privilegiadas com os
Estados Unidos - o único aliado de peso
- suscita acaloradas polêmicas com
cada parte desejando obter maiores
garantias.
Ultimamente os israelenses perderam a
exclusividade do recebimento de armas
americanas no Oriente Próximo. Interes-
sado em ampliar a frente anti-soviética,
os EUA passaram a fornecer armas
também à Arábia Saudita, inclusive
aviões de bombardeio com os mesmos
recursos dos F-15 e F-16 fornecidos a
Israel. Assim, ao mesmo tempo em que
se reforça a frente anti-soviética, ali-
mentam-se também as bases materiais
para um conflito árabe-israelense. Do
ponto de vista dos interesses expansio-
nistas de Israel, essa condlção de ataque
e defesa concedida a um país árabe só
pode causar preocupação. Por isso, tanto
o governo como a oposição desejam
"garantias" dos EUA.
rios da Africa e da Asia, Os "orientais"
representam agora 65% da população
judia total, mas no ensino, por exem-
plo, sua taxa de frequência está longe
de corresponder a essa evolução demo-
gráfica: 56% nas escolas primárias,
39% no curso secundário, e 17% na
Universidade (dados de 1980). E mais:
só 5% deles concluem estudos supério-
res. Em compensação, 90% dos jovens
delingiientes são sefardins.
Paradoxalmente, até com as difícul-
dades econômicas - que poderiam
significar votos para a oposição --'
Btgutcoleud conseguiram manobrar
em seu Javor., Este ano, o governo
adotou uma série de medidas inespera-
das para baixar certos preços como o
dos automóveis, dos televisores e dos
aparelhos eletrodomésticos. Também
foram reduzidos os impostos diretos,
sobretudo para os pequenos contri-
buintes. Chegou-se, assim, ao mais
baixo índice de preços dos últimos dois
anos (3,3%), ainda que um mês depois o
índice voltasse a ultrapassar os 10%.
Somente esses "artifícios". provocarão
um déficit em conta corrente da ordem
de 350 milhões de dólares.
ATENTADO NO IRÃ
A cúpula dirigente do Partido Republi-
cano Istamítico (PRI), que controla o go-
verno iraniano, foi praticamente dizima-
da, no domingo retrasado em Teerã, por
uma bomba que destruiu a sede do par-
tido. Morreram 72 pessõas, entre as
quais quatro ministros, quatro subse-
cretários e 20 deputados. Agora a situa-
ção das lutas políticas do Irã se torna
extremamente complicada. Além *da
guerra com o Iraque, dos conflitos com
as minorias nacionais (curdos e turco-
manos) o governo está movendo feroz
repressão aos partidos de esquerda, que
já tiveram quase 100 de seus militantes
fuzilados desde a queda de Bani Sadr. O
partido Mujahidin Khalk, muçulmano e
socialista, foi acusado por Khomeini
como responsável pelo atentado.
PGC DESCARTA MAO
O PG chinês divulgou na semana pas-
sada um documento em que crítica ofi-
cialmente os erros de Mao Tsetung. O
documento foi divulgado logo após a
"renúncia" de Hua Guofeng, sucessor de
Mao na presidência do partido, e acusa-
do de continuador de sua política errd-
nea. O PCC pondera que Mao teve muito
mais acertos do que erros, embora seja
responsável pela "tragédia" da Revolu-
ção Cultural, cujos princípios "não estão
de acordo nemcom o marxismo-leninis-
mo nem Com a realidade chinesa". Mao
- afirma o PCC - "colocava toda a
ênfase nas questões ideológicas, em
detrimento dos problemas materiais, e
deu muito mais atenção à luta de classes
do que ao crescimento econômico".
PRESSÓES A NICARÁGUA
A Nicarágua vem sofrendo uma série
de pressões econômicas e políticas. A
cúpula da Igreja nicaraguense, em con-
flito com o governo sandinista, determi-
nou que os padres que servem ao gover-
no abandonem suas funções e retornem
ao trabalho eclesiástico, 0 Conselho da
Empresa Privada da Nicarágua acusou a
Frente Sandinista de desejar destruir a
empresa privada, Esta acusação surge
paralelamente ao anúncio do Banco
Mundial, em Washington, de que irá
conceder uma ajuda de US$ 30 milhões
para financiar a recuperação da indústria
nicaraguense. Esta ajuda pode fazer par-
te da "doutrina Reagan" para a América
Central, cujo objetivo é reforçar, sob a
influência dos EUA, as burquesias. lo-
cais. Neste mesmo sentido age a social-
democracia européia que, através da
Internacional Socialista, dispõe-se a aju-
dar a Nicarágua, "desde que sejam man-
tidos o pluralismo político e a economia
mista".
POLÓNIA: MAIS CARTAS
A poucos dias do início de seu con-
gresso, marcado para o próximo dia 14,
a direção do PC polonês (POUP) conti-
nua afirmando seu objetivo de aumentar
a democratização do país. Por outro
lado, continuam as pressões da URSS e
dos países do Leste Europeu, Na sema-
na passada, o exército russo iniciou na
Silésia manobras conjuntas com o exêr-
cito polônes e as tropas húngaras entra-
ram em prontidão. Ao mesmo tempo, o
POUP recebeu mais três cartas de
advertência: da URSS, da Hungria e da
Bulgária. Entre os países do Leste, só a
Romênia expressou apoio à "renovação
Socialista" polonesa
MUDANÇA NA ESPANHA
| O governoespanhol determinou a
é.«batam de um processocontra todos os
militares participantes da tentativa de
golpe de 23 de fevereiro, quando foi
tomado oParlamento. A decisão reflete .
uma muáança naorientação do governo,
que até então vinha conciliando com a
direita gapiata, o
Y
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
CULTURA
CENSURA
Operário
pode,
classe
operária
não pode.
Na semana retrasada a censura federal
vetou (ver Movimento no 313), entre outras, a
peça "A ferro e fogo" do Grupo Poena, por
"motivos políticos" segundo a própria cen-
sura.
A peça foi censurada, segundo um in-
tegrante do Grupo Apoena, porque inova em
diversos aspectos, e acima de tudo, porque
nesta conjuntura onde as peças teatrais abor-
dam cada vez mais o aspecto individual e
"não político", o Grupo pretende trazer de vol-
ta ao palco o movimento operário.
O Grupo Apoena, uma cooperativa for-
mada por 13 artistas e técnicos, vem traba-
Ihando no projeto da peça "A ferro e fogo"
desde setembro de 1980. Começaram uma
com uma pesquisa de campo junto ao povo
da periferia de São Paulo. Viajaram nos trens
de subúrbio, participaram de reuniões de clu-
bes da periferia, da oposição operária, visi-
taram uma enorme indústria metalúrgica etc.
Depois de 3 meses de pesquisa de campo,
com constante trabalho de improvisação em
cima das experiências. Luis Carlos Moreira,
integrante do 'Grupo, foi encarregado de es-
crever a peça. E ele quem fala:
"A peça possui um tema essencialmente
político. E a categoria, e não o indivíduo, que
nos interessa. E não uma categoria qualquer,
mas a vinculada diretamente com a grande in-
dústria. Para nós isso é impossível de ser co-
locado no plano individual da vida de um ope-
rário. Por isso resolvemos romper com uma
determinada concepção de teatro que consi-
dera o artístico como algo misterioso, que
não se define claramente e que trabalha so-
mente com personagens psicológicos a nível
individual. Para nós a arte deve ser definida,
DEIXANDO A MARGINÁLIA
"ltamar Assunção,
o compositor paulis
ta que apresentou re-
centemente um show
em São Paulo - Be
leléu e a Banda Isca
de Polícia - e teve seu
disco produzido pelo
selo Lira Paulistana,
está começando a dei-
k3 -! xar de ser "marginal".
Apesar de alguns de seus amigos julgarem
arriscado, ele está se propondo a produzir
seu próprio disco, que seria depois distri-
buído por uma grande gravadora multina-
cional, conforme alguns contatos já inicia-
dos. E já foi também convidado a fazer um
espetáculo para a Rede Globo, que deverá ir
ao ar no próximo mês. E deixará assim, bre-
vemente, o chamado "mercado alternativo".
LUDWIG VOLTA ATRÁS
A cobrança da tabela de preços fixada
pelo ECAD - Escritório Central de Arre- -
cadação e Distribuição - para pagamento
de direito autoral de 3,5%, foi suspensa na
semana passada pelo Ministro da Educação
Ruben Ludwig. Essa nova tabela, consegui-
da depois de intensa luta de músicos, com-
positores 'e "artistas, desagradou aos "pro-
prietários de rádios, televisões, cinemas e
mesmo hotéis,: que pressionaram. o minis-
tério até que a medida fosse suspensa.
Um grupo de artistas, liderados por
Grande Otelo, Hermínio Belo de Carvalho e
João Nogueira procurou o ministro, em Bra-
sília, solicitando a manutenção da portaria, .
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
3007 2
(yo - Cana e v CPat,
, . BRDFANBSB VB.GNC.AAA,
TRIBUNA LIVRE
Até tu, Brutus?
Resposta ao artigo de Duarte Pereira.
Interessante, muito interessante a ré- tivo principal, o regime militar. Um absurdo
(.).
plica do sr. Duarte Pereira à minha entrevista
nas páginas deste jornal. Na construção de
4 - "Grande teórico e político baiano",
sua matéria muito há de teatral. Sem dia-
afirma Duarte ironicamente. Político? Com
logar com a platéia, ele mostra aos espec-
muito gosto, sou tarado pela política; porém,
tadores passivos o seu texto decorado, sua
grande teórico não, nunca fui. Uma pena,
criação acabada (...). Pensei comigo, ao ler o
deve descer do muro, Por isso a peça não te- mas não posso reler as correspondências de
texto de Duarte: será que ele não entendeu
ria meias palavras, meios tons." Lênin a Olara Zetkin, pois ainda nem as li.
nada? Então resolvi comentar a sua respos-
"Resolvemos tratar o conflito (base de Minha teoria é um pouco escassa. Mas se
ta.
toda arte dramática) do ponto de vista dialé- tentou insinuar que eu não posso abrir a bo-
tico, em movimento constante. Para isso pul- Duarte parte de uma análise da situação ca por causa disto, tá errado. Ou será que so-
verizamos a contradição fundamental do ca- político-social do país e internacional cheia mente os grandes teóricos têm o direito de
pitalismo em todos os aspectos do cotidiano de adjetivos e com pouco conteúdo (...) Qua- falar?
e a peça é um entrecuzar de situações que lifica de "descaradas" as disputas interim-
5 - Duarte classifica minhas decla-
acontecem simultaneamente e que se in- perialistas, e além das duas superpotências
rações como "ateoria eclética da revolução
fluenciam de forma constante, dando a im- (EUA e URSS) elege mais uma, a China. Ve-
integral simultânea". Calma, seu Duarte.
pressão de um caos que, na verdade, é um jam, toda esta grande avaliação de conjun-
Não precisa ter medo, não é isso tudo não.
caos organizado para a reprodução do capi- tura para qualificar o quadro de onde surgem
Eu ainda nem sei direito o significado desta
tal". as minhas frágeis declarações.
O Grupo Apoena reproduziu no palco o
tal classificação teórica que o sr. me impu-
Ao falar das dificuldades do operariado tou.
ambiente da fábrica através de uma estrutura nesta conjuntura, Duarte (...) diz que "há ain-
de tubulações, com seis motores, polias, rol- 6 - Não estou buscando enxovalhar a
danas, cabos de aço, instalações elétricas on-
da correntes fiéis ao socialismo científico
memória de Carlos Danielli e de nenhum
que só "não eliminaram radicalmente certas
de tudo funciona e produz. Durante a peça os grande revolucionário. Pois tenho por estes
concepções dogmáticas e certas práticas
atores fabricam instrumento e ferramentas homens grande admiração e respeito. Duarte
não democráticas" Gostaria muito de saber
que irão compor o cenário durante a apresen- Pereira tenta utilizar a memória de mortos,
que práticas e concepções são estas, pois é
"tação". apoderando-se dela para chegar a conclu-
justamente isto que mais abordo na minha
A montagem de uma peça dessas pro- sões pessoais e muito duras, tipo a de que
entrevista. E Duarte Pereira passa por cima
porções ficaria, segundo Moreira, ao redor de eu estou com uma "concepção individualis-
dessa discussão, achando que são detalhes
2 milhões de cruzeiros. No entanto consegui- ta e orgâsmica da vida". Respeito, seu Duar-
. superficiais a serem corrigidos por estas
ram reduzir esta quantia a um quarto, subs- te. Combata as minhas idéias com suas
correntes.
tituindo o capital pelo trabalho coletivo. Mui- idéias. (...)
tas coisas foram compradas de ferro velho e E aí, ele afirma que "o essencial é saber 7 - "Leviano e revelador" o jogo de
recuperadas pelos atores e o cenário foi mon- enfrentar os problemas novos a partir das comparações sobre "quem eu levaria para
tado quase completamente por integrantes posições teóricas e das normas marxistas- uma ilha deserta". Concordo que é leviano,
da cooperativa. lenistas já estabelecidas e comprovadas porém não tão revelador. Escuta aqui, sr.
Na semana passada o Grupo Apoena de- pela experiência histórica". Que normas, sr. Duarte, João Amazonas o diverte? o sr. sabia
veria entrar com recurso junto à Polícia Fe Duarte? As do Partido Bolchevique na Re: que Grande Otelo, um cara preto, pobre, bai-
deral para conseguir a revisão da Censura. E volução de 17, ou as de 19 com Lênin, Stálin xinho, tá aí dando duro há mais de cinquenta
se a revisão não for concedida, levarão o caso e Trostski num mesmo comitê central? As anos, afirmando: "Ganho pra ser palhaço, é
até o Ministro dá Justiça, passando pelo Con- de 22 ni X Congresso doPartido - onde o disso que como, respeitem. minha profis-
selho de Censura Federal, numa luta que con- confronto com a "oposição operária" e ou- são"? Curto ele muito. As outras pessoas?
sideram como parte integrante da luta pela tras idéias divergentes levou à famosa "Re- No meu quarto tenho discos de Lennon, um
conquista das liberdades democráticas no solução pela Unidade do Partido", que proi- retrato de Rosa Luxemburgo; e Lula é o pre:
país. bia as frações - ou as posteriores à morte sidente do partido ao qual estou filiado. Não
de Lênin, quando Trotski foi 'êxpulso da entendi por que o sr. não gosta do rebolado
URSS?. As normas do PC chinês, antes ou de Ney Matogrosso e por que tudo isso é tão
mas não téêrn-muitas esperanças, pois na for depois da Revolução Cultural? O sr. prefere revelador para o sr. Olha, se quer saber a ver-
ca de pressão das empresas é muito grande. as posições teóricas da Albânia quando esta dade, eu não levaria nenhum destes para
considerava Mao Tsetung um "grande mar- uma ilha deserta, Quem eu levaria mesmo eu
xista-leninista", ou agora que o considera nem conto quem é, pois muita gente ia que-
um "revisionista traidor do marxismo"? rerir junto.
NAS ASAS DA REVISÃO
Creio que é bem aí que eu e o Duarte Pereira 8 - Duarte diz ainda que o meu
estamos engasgando. Provavelmente devo
Raul Seixas, depois de um longo afas- rário tema ver coma trajetória de certas cor-
estar ferindo alguma norma que não sei qual
tamento do público, retorna com um show rentes políticas que estão conduzindo com
é, na qual ele está se baseando (...).
em São Paulo e um novo disco, seus métodos liberais, importantes seg-
mentos da juventude brasileira" Chega a ser
Partindo desta forma dogmática de
Seixas, que se tornou conhecido: por um moralista esta afirmação. Mas fique tranqui-
analisar as questões, é que Duarte Pereira
estilo agressivo e contestador, e que era lo, seu Duarte. Não tem ninguém me condu-
faz as afirmações que eu comento a seguir:
apontado como o "guru revolucionário" da zindo, não; eu tô indo junto porque quero e
juventude, volta agora bem mais comporta- 1 - Duarte afirma que eu rejeito em blo- gosto.
do, sem roupas extravagantes, e como afir- CO as correntes de esquerda e o marxism
o
O texto de Duarte levanta ainda outras
ma "muito mais dedicado à família", numa «Jeninismo, o que não é verdade. Tem muita questões. Ele afirma que, "A pretexto de um
revisão dos anos 70, agora sob as asas da gente séria tentando encontrar a verdade
espetáculo teatral, investem contra todas as
"abertura". Seu próximo projeto é gravar um neste país. Rejeitoo bloco que dança com o
forças de esquerda e em particular contra a
novo disco "Opus 66" nos Estados Unidos. Duarte: o meu bloco samba de outra manei- mais avançada e consequente, o Partido Co-
E completou de vez sua "revisão". ra. munista do Brasil". Quem investe? Eu, o
2 - O Duarte Pereira (...)diz que "o novo jornalista Emiliano José e até o jornal Movi-
Ruy César pensa passar do capitalismo ao mento que abriu suas páginas para a entre-
socialismo de forma puramente legal, paci- vista? Como, Duarte? Entrevista com este
E'º fica, trabalhando apenas nas instituições ca- mesmo conteúdo saiu em "O Globo" "Jor-
pitalistas". Ora, Duarte, onde é que você me nal do Brasil" e outro jornais. Não é
viu falando isto? Tá parecendo provocação, privilégio nem concessão de Movimento, é
Ainda dentro da onda de "revisão das
esquerdas dos anos 70", a revista Veja deu viu? Tá querendo um duelo, é? notícia. Onde os ataques. Duarte? tá fican-
do visionário? Em toda a entrevista (que,
destaque na semana passada a um exilado 3 - Continuando, ele escreve que o
por sinal, acho incompleta) só fiz críticas
que vive em Paris - Herbert Eustáquio de ABC do socialismo ensina há muito tempo
genéricas, não mencionei e nem me interes-
Carvalho - que prepara seu livro de memô- que se deve tratar ao mesmo tempo dos pro-
sa mencionar partido nenhum. Alguém
rias, "Autobiografia de uma piada"! Segundo blemas políticos, econômicos e culturais.
tomou a carapuça? (...). Vamos deixar de
Eustáquio, que decidiu assumir publica- Concordo, mas 'o próprio Duarte, logo de-
mania de perseguição. Entra pro camarim,
mente sua condição de homossexual casado pois, estabelece três etapas em uma revolu-
toma um calmante, um excitante e um
com outro brasileiro, Cláudio Mesquita, está ção, onde somente na terceira se trataria dos
bocado de gin. E tira a fantasia.
de malas prontas para retornar ao Brasil, problemas ideológicos e culturais.: Acho
Uma última coisa: apesar da violência
pois os ventos da abertura parece que libe- óbvio que só podemos dar tratamento à
verbal de sua réplica, gostei do debochedo .
ralizaram mais a "cabeça" das esquerdas. questão afetiva e sexual a nível das amplas
título. Só que não tenho nenhuma pretensão,,
Seu grande desejo, como o do personagem massas com a tomada do poder. Mas não
de ser o "Grande César" e nem acho você":
Sebá, interpretado por Jô Soares na tele- podemos discutir isto agora? A- vanguarda
tão "Brutus" assim.
visão, é apagar as lembranças de seu pas- também se educa em três etapas, seu Duar-
sado de militante de organizações de ex- te? E quase isto que ele diz quando afirma Ruy Cesar Costa Silva
trema-esquerda. que esta discussão, agora, desvia do obje- (ex-presidente da UNE)
 BR DFANBSO V8.GNGC.AAA.

TRIBUNA LIVRE

O PT e as eleições de 1982
Um% programa popular para derrotar a ditadura e acumular forças
A incapacidade do regime militarem debe
laracrise econômica, políticae social tem si-
do postaanu pelos fatos. Internamente o go-
vero Figueiredo não tem tido condições para
deter a ação do terror de direita que parte de
seus aparelhos repressivos. Externamente
JÉJI Í ÍZÍ ÍWÍ M tem sido impotente para negociarcom o mo-
vimento de massas quando este questiona
radicalmente caráter de sua política econ&-
candidaturas e unidade avaliadas e sus-
tentadas por acordos em cada Estado; 4.
A derrota eleitoral expressiva do PDS; 5.
Isolamento político crescente dos setores . políticavoltadapara
que busquem o compromis
co aprofundar a crise do Estado Capitalista
ainda que restrita aos marcos estaduais e
municipais na medida em que realize uma
osinteressespopula-
res.
2. Trata-se de aplicar desde já o programa
de unidade popular. Os partidos de oposição
devem estar comprometidos com as lutas

POSSEIROS
O PT deve ser o pólo mais avançado da po-
mica como na greve de 1980 no ABC paulis- lítica de frente para derrotar a ditadura em 82.
quotidianas das massas trabalhadoras, prin-
ta. Isto passa por três questões básicas: 1. O
cipalmente com a luta contra o terror, a luta

O fim do regime militar permanece na or- programa popular para as eleições de 82 que
contra o desemprego, a realização da Con-

100 famílias dem do dia tanto do ponto de vista da bur- deve basear a política de acordos entre os
clat, a luta contra a LSN, a luta contra os ca-

guesia quanto do ponto de vista operário e partidos de oposição para os cargos executi-
suismos eleitorais etc. O compromisso do

popular. Mas no quadro de crise permane vos (governo e prefeitura) 2; Fazer a política
partido com essas lutas deve se dar não ape-

ameaçadas em cem os ziguezagues da ditadura que com nas ao nível do parlamento, mas principal-
eleitoral para 82 calcada nas lutas quotidia-
enorme
sobre o dificuldade popular
movimento combinacom a repressão
uma bur-
po-
nas do movimento operário e popular desde
mente através da mobilização de suas bases
para grandes manifestações de massas.

Teodoro Sampaio gquesa.

já; 3. Critérios minimos para a escolha de
lítica de acomodação com a oposição candidatos para a escolha dos cargos execu- 3. O compromisso dos candidatos de opo-
tivos em 82. sição para os cargos executivos com o pro-
O traçar uma política popular passa, hoje,
Teodoro
Estadoregião Sampaio (o
de S.ondePaulooconflito
em extensãomaiormunicípiodo
territorial) é que pelo enfrentamento no plano da política real.
Este plano é o da eleições de 82. A questão
1. O programa norteará a prática dos can-
didatos do PT e também de candidatos de
grama de unidade popular não basta para
que um candidato seja aceito como um can-

uma
, $baconstante. Antes eram os pela posse
posseiros da
daterra
gle- se coloca é a de como, nestas eleições
que permitirão o confronto político global
outros partidos efetivamente vinculados ao
movimento popular. Isto não quer dizer que o
didato de unidade. É preciso que este candi-
didato, para além das condições reais de

Santaecontinuam
despejo Rita, que nãoresistindo.Agpra,
aceitaram a órdema Fade ainda que limitado ao plano Institucional, im-
por uma derrota à ditadura e acumular forças
PT deixará de agitar suas bandeiras próprias
e sim que o PT propõe um compromisso com
concorrer seriamente às eleições, tenha um
passado e um presente de compromissos e

zenda
famílias,Ribeirão Bonito quer expulsar
com aproximadamente mais 100 nodossentido
700 pessoas. da organização
trabalhadorese do povo.independente
todos os candidatos que se querem vincula-
dos ao movimento popular em cima de um
lutas com o movimento popular. É preciso,
também, que os acordos entre os partidos
sobre os postos executivos sejam abertos. A

O fazendeirmaso possui mais Este objetivo passa por garantir a realiza- programa comum. Neste sentido o programa

queires, só tem ou
registrad menos
o no 8 mil
INCRAal- cão das eleições assegurando seu caráter
democrático. A luta contra o terrorismo de
deve além de refletir as questões de interes-
se nacional contemplar duas questões: 1.
escolha de nomes, distribuição de cargos, as
razões dos acordos devem ser feitas a partir
2.339 alqueires, sendo que
pelos lavradores é de 400 alqueires, a área ocupada direita e contra todos os reacionários que conquistas políticas sociais e econômicas de grandes públicos que atinjam para além
das bases dos outros partidos, a grande
buscam impedir a realização das eleições é pára os trabalhadores e o povo; 2. proposta
massa popular.
.jadas
Essas100famíliasestãoparaser despe- . . essencial.
"e união Maissetores
dos- do quedemocráticos
isso a mobilização:
deve;
de gestão da política estadual e municipal no
interesse dos trabalhadores e do povo. Por RicardoSalles e Pedro Cláudio

julho e já têm
próximo. data
Há marcada
poucos para
dias o dia
quatro 31 de
famí- também
torais do visar
regimeimpedir
(voto os casuismos
distrital, voto elei-
vin-;
fim este programa ainda exequivel nos mar- Bocayuva (Cunca),

lias foram expulsas, suas casas e lavouras

cos do capitalismo tem como objetivo bási- Rio de Janeiro, RJ

foramdestruídasequeimadascom aajudade culado,

são proibição
daeleitoral
sublegenda, de coligações,
restrições permis-.
à propa-
doze
famílias policiaiseumoficial
vivem na miséria dejustiça.
nas cidadesHoje, as
vizi- ganda
maimente as etc.)
eleições,que, sem
buscam impedir
assegurarfor-'
nhas. Após várias reuniões com a presença
dodeputado Mario Bragato, os lavradores re- É?)ªntemão um resultado positivo para o;
solveram
ossedaterra,que a única solução de
jáqueofazendeironãoaceitoulutar pela O PT enfrentará no teste de 82 a questão; ASSINE

azer acordo
naarroz,áreamilho, com
ocupadamamona,eles. lavradores,
pelos É bom lembrar que
planta-se
de se apresentar como uma alternativa
global para o conjunto dos trabalhadores.

oficial, jáque possuem feijão, sem

contrato ruralamparo
verbal.da
Uma alternativa que se contraponha ao
caciquismo e reboquismo que sempre ca-
Esses
Igreja, lavradores
sindicatos, estão buscando
partidos para
políticoseapoio
outros
racterizaram a política reformista no Bra-
sil. O PT deve demonstrar a possibilidade
segmentos
alerta da sociedade
frentesóasituação que que
é fruto fiquem
de umEstare-
real da classe operária e dos demais tra-
balhadores realizarem uma inter-
gime que favorece a
situação mostra também que sem uma re-uns poucos. venção no cenário político nacional, política,
orgânica e ideologicamente independente
formaagráriaosproblemascontinuarãoacon-
tecendo. $
dos diversos setores burgueses.
Os objetivos populares nestas eleições

AntonioCarlos Machado
Presidente Prudente, SP
deverão ser os seguintes:
1. Uma vitória do PT nos vários níveis com
a criação de uma bancada expressiva no le-
gislativo; 2. A conformação de um importan-
ESTUDANTES te bloco das forças populares ligado atra-.
vês de um programa de unidade proposto
pelo PT e composto pelos elementos mais,
combativos dos outros partidos; 3. A con-,
quista dos postos executivos por candida-,
Sem apoio tos da oposição popular ou' comprome-
tidos com seu programa que assumam: e melhor informada
compromissos democráticos através de
gaúchos podem

ficar na rua
revista semanal brasileira
Nós, membros do Conselhoríªlscal da Ju
ventude Universitária Católica, Casa 7, de Por- Tempo Integral
to Alegre, vimos a público denunciar as amea-
cas que pairam sobre a nossa Casa, que luta ou meio período
com vários fatores para conseguir sobreviver,
sendo os principais:
Movimento está recrutando prt.qttoTo
vendedores para seu Departa-
ce e i a sa eses c s s esa - - -- 7
- a política gera! do MEC em relação às ca-

mento de Assinaturas. Contra-

sas de estudantes, cortando as pouquissimas 1 FAÇA JÁ SUA ASSINATURA E ECONOMIZE ATÉ Cr$ 6.640,00
verbas existentes;
2anos
I

to de trabalho, salário fixo +

L) Cr$ 7.920,00 à vista L;Cr$ 4.680,00 à vista
| 1 ano

comissões. Falar com Paulo

|
- o fato de não termos uma casa própria, C ** ..870,00 3 pagamentos C1Cr$ 1.660,00 3 pagamentos
|
pagando um alto aluguel e não tendo seguran-
Barbosa, NO HORÁRIO CO-
1 NW
ça quanto à renovação do contrato de loca | Enel

MERCIAL. Rua Dr. Virgilio I Telefone

ção. O Estado continua nos negando uma ta
I
de Carvalho Pinto, 625, Pi-
Bairro Estado
sa, por comodato ou não. I
1 CEP Profissão
Nós estudantes, precisamos de uma casa.
nheiros, São Paulo, CEP 05415 | CEP: 01301 i
E solicitamos o apoio concreto de todos na
obtenção de nossos objetivos. Telefone 210.6622. | C Pagarei
| após receber
Linstruções 2
Assinatura

Juventude Universitária Católica

Rua da República, 359, Porto Alegre - RS

.221
MOVIMENTO - 06 a 12/7/81
 " BRDOFANBSB VB,GNC.AAA,.

CIENCIA

A SBPC recua

Os cientistas sob a liderança do "moderado" Crodowaldo Pavan

Flávio Dieguez

A vitória do geneticista Crodowaldo
Pavan para a presidência da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) na semana passada, pôs no mes-
mo pé de igualdade o órgão máximó de
representação dos cientistas com outras
entidades como a Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) e a Conferência Na-
cional dos Bispos do Brasil (CNBB), que
recentemente elegeram direções "mode-
radas" em comparação com as suas di-
reções anteriores.
"Eu interpreto a eleição de Crodowaldo
como uma vitória da posição conserva-
dora e ortodoxa -- diz o sociólogo Jo-
viniano de Carvalho Neto, que acrescen-
ta - Crodowaldo encarna a figura do
cientista: um biólogo de prestígio inter-
nacional e que ajudou Darcy Ribeiro a
implantar a Universidade de Brasília.
Ele é um dos defensores de reuniões se-
toriais da SBPC que, na minha opi-
nião, tirariam o caráter mais geral da
SBPC.
Essa figura de "cientista de laboratô-
rio" - junto a um certo autoritarismo
que lhe é atribuído - é considerada um
aspecto que tornaria difícil o trabalho
dos cientistas mais progressistas junto
com Pavan. Luís Carlos Menezes, do
Instituto de Física da Universidade de
São Paulo, considera que Pavan "é um
democrata convicto", e que sua "contri-
buição na SBPC o qualifica completa-
mente para exercer a liderança desta So- '
ciedade". Ele porém fez campanha e vo-
tou no seu adversário, o fisiologista Al-
berto Carvalho da Silva, porque o cien-
tista aposentado pelo AI-5 em 69 "mos-
tra um alinhamento nítido com a oposi-
ção contra o autoritarismo, seja em nível
nacional como acadêmico",
Para Menezes, a questão da dicotomia
entre ciência pura e política é importante
para a SBPC. Ele diz que "seria lamen-
tável se, eliminada a pressão maior para
o uso da SBPC como um veículo de pro-
teção, essa Sociedade se voltasse unica-
mente para as questões internas da ciên-
cia, dando as costas ao social".
Pavan: apmxnwr do [gove
A eleição de Pavan ocorre num perío-
do de transição, em que a SBPC parece
estar perdendo o papel de grande mo-
bilização política, como foro de debates
para a oposição e tribuna de denúncias
contra a arbitrariedade no país. A 32a
Reunião do ano passado já revelava uma
significativa despolitização da entidade,
e a preparação da reunião de Salvador, a
ser realizada entre os dias 8 e 15 de ju-
lho, não recebeu praticamente nenhuma
atenção, se comparada com o período de
grande politização entre 74 e 79.
Concorreu para esse esvaziamento,
com certeza, a mudança política no país,
com a "abertura", a reestruturação dos
partidos, a organização efetiva das enti-
dades estudantis, o trabalho das asso-
ciações de docentes, a liberalização da
imprensa etc. ,que ocuparam o espaço da
SBPC. Mas o fato é que os cientistas pa-
recem estar ficando para trás à medida
que a conjuntura exige o avanço da opo-
sição. São significativas as gestões que
vêm sendo feitas por eles para se aproxi-
mar do governo, e avançar nessa direção
será, segundo Pavan, sua proposta prin-
cipal após sua posse.
possível que, perdendo o caráter po-
lítico, a SBPC perca o caráter de comba-
te ao governo que a marcou por muitos
anos: embora fosse cedo para isso, pois,
como diz Menezes, "nós ainda estamos
muito longe da democracia que almeja-
mos. E abandonar o campo de batalha
agora seria um recuo imperdoável, num
momento em que outros setores sociais
se preparam para avançar".
IPEN Cr$ 300 milhões, no ano passado,
é outro elo do programa alternativo. A
Nuclebrás já contratou a construção de
uma fábrica de hexafluoreto que será
construída pela empresa francesa Pe-
chiney, em Resende, a um custo de uns
80 milhões. Mas os franceses segura-
ram o contrato até que o Brasil
assinasse novas e severíssimas cláusu-
las de salvaguardas, que proibem o uso
da instalação e seus produtos e
subprodutos para fins militares. Foi
então retomado simultaneamente o
projeto do IPEN, que já havia sido
engavetado como antieconômico (3).
Finalmente, foram alocadas grandes
verbas - a maior fatia do bolo de
recursos para pesquisa em 1981 para o
chamado "projeto missão espacial
completa," que está sendo desenvolvido
no Centro Técnico da Aeronáutica, em
São José dos Campos. Esse projeto visa
ao mesmo tempo a colocar um satélite
brasileiro em órbita, e a dar ao Brasil o
que a Argentina ainda não tem na área
da estratégia nuclear; o vetor da bomba
atômica.

- Onde está se metendo Goldenberg?

Não cabe mais. criticar o acordo
nuclear Brasil-Alemanha "apenas"
porque é necessário ter tecnologia
própria na área, e não importada.
Acreditam muitos cientistas que hoje é
imprescindível perguntar se a implan-
tação de usinas nucleares é conveniente
para os interesses populares. Ganham
importância por isso as negociações
Ricardo Azoury/Agência F4
da população que não concordam com
a sua estratégia geral (expressa com
clareza por ele na Revista Brasileira de
Tecnologia, abril/junho de 81), que é
não combater o governo, mas "atrair
aliados para os elementos mais esclare-
cidos do governo", que estaria "aberto
às soluções propostas pela comunidade
científica",
Mesmo os que apóiam Goldenberg
exigem que as negociações sejam
abertas para uma discussão democrás
tica. O sociólogo Joviniano de Carvalho
Neto, por exemplo, afirma que "Gol-
denberg está apenas levando (ao A questão do partido e o autonomismo
governo) a proposta defendida pela * A ideologia do populismo sindical

sigilosas que vêm sendo conduzidas própria SBPC, São reivindicações feitas . ! - A democracia burguesa e o luta
proletária * Direito burguês e relações
entre o governo e os cientistas, pelo pelos cientistas há muito tempo", de produção capitalistas " - O anti-
físico nuclear José Goldenberg da Mas diz que "pode-se criticar o engelsismo: um compromisso contra o
Universidade de São Paulo. aspecto sigiloso dessas negociações, na materialismo ** - O erro da crítica a um
Há informações de que ele já teria medida em que considero muito difícil
acertado uma "minuta" (veja Movi- conseguir algo do governo sem respaldo
mermto 7 o 313) com o governo, visando a ; popular".
substituir o programa alemão por uma O físico Luís Pinguelli, da Universi-
alternativa nacional. Ele não nega nem dade Federal do Rio deJaneiro, diz que
confirma. Apenas disse a Movimento é preciso ir além "das críticas genêéri-
na semana passada: "não é hora de cas", já feitas pelos cientistas "desde
da) é R

-falarsobre-isso 07,

visando
e- apresentar

ao
projeto

"desmantelamento
71h! IATA

do pro-

As negociações são perigosas inclusive grama nuclear".

porque Goldenberg, embora com Por exemplo: a "transformação de

"boas intenções" podeestar colaboran- órgãos como a Nuclep em produtora de

do cegamente na construção de um equipamentos para hidrelétricas". Ele

programa nuclear para fins militares - afirma desconhecer qualquer programa

intenção que vem sendo insistentemen- alternativo, Sabe apenas que :;Golden-

te atribuída ao governo. Além disso, berg vem negociando medidas "muito

mesmo que ele tenha representativida- Pedidos também pelo reembolso postal: Editora

de, certamente existem muitos setores Ofísico, com planos

positivas" para atenuar o problema da
Brasil Debates, Rua pedroso de Moraes, 658,
política nuclear brasileira,
SALA 4 - 050420 - SP.

, MOVIMENTO - 06 a 12/7/81

Delfim fez seu assessor o
A energia nuclear nasceu sob a égide
da maior guerra de todos os tempos, a
Segunda Guerra Mundial, e mantém
até hoje os traços que marcaram a
operação "Manhattan, "' pela qual Es-
tados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha
desenvolveram em segredo as duas
bombas atômicas experimentadas ao
vivo sobre as populações civis de
Hiroshima e Nagasaki. Esses traços
são: 1) processo decisório extremamen-
te fechado; 2) execução protegida pelo
mais absoluto segredo; 3) subordinação
dos custos do processo a considerações
de ordem estratégica, muito mais
que de ordem econômica; 4) finalidade
principal é obter plutônio, a matéria-
prima para bombas atômicas, que não
existe em estado natural.
Cada um dos três sócios originais da
operação "Manhattan," desenvolveu
no após-guerra sua própria linha de
reatores. Mas todos esses reatores,
inclusive as famosas unidades de Cal-
der Hall, na Inglaterra; inauguradas
pela Rainha Elizabeth em 1956, como
as primeiras centrais nucleares de po-
tência construídas com o fim exclusivo
de produzir energia elétrica, foram
projetados para otimizar a produção de
plutônio, e não a de energia. A energia;
elétrica de origem nuclear, muito cara
devido à baixa eficácia dessas máqui-
nas, é apenas o subproduto da fabri-
cação de plutônio.
Hoje, em alguns países, a pressão da
opinião pública vem forçando a realiza-
ção de plebiscitos, e outros exercícios
de avaliação da vontade popular, para
determinar se centrais nucleares devem
ou não ser construídas em determi-
nados lugares. Mas esse procedimento
interfere apenas no estágio final de
algumas parcelas dos programas nu-
cleares,
A maior parte dos grandes programas
nucleares como o americano, o soviéti-
co, 0 chinês, e todos os programas de
potências regionais, como os do Brasil e
Argentina, na América do Sul, os do
Irã e Iraque, no Oriente Médio, os da
India e Paquistão, no subcontinente
indiano - todos eles vêm sendo
desenvolvidos com base em decisões
fechadas e inspirados em considerações
estratégicas. Também a produção de
plutônio continua se dando em larga
escala como objetivo principal desses
programas - agora sob o pretexto de
que a próxima geração de reatores, (os
fast breeders) usa plutônio para "dar
a partida" na reação nuclear.
A inspiração militar
do programa não é
exceção no mundo
O programa nuclear brasileiro não
escapou. a essa lei da história da energia
nuclear. As primeiras gestões do Al-
mirante Alvaro Alberto para o desen-
volvimento de uma tecnologia nuclear,
nacional ainda nos anos 50, tinham
inspiração claramente estratégica. A
questão energética nem se colocava na
época. A decisão do general Costa e
Silva de comprar uma central completa
e já montada dos norte-americanos, em
1969, também se inspirou em razões de
ordem estratégica. Foi a maneira
encontrada, na ocasião, de superar a
dianteira dos argentinos no campo
nuclear. (1)
No início dos anos 70, entram no
cenário dois elementos novos. Em
primeiro lugar a ilusão, nascida nos
Estados Unidos, de que com a reação
nuclear o homem descobrira a fonte de
energia eterna, inesgotável. Essa força
mágica, que faria do homem um
super-homem, e que a humanidade
persegue desde os tempos mais antigos.
BR DFANBSB V8.GNC.AAA, O!
maior crítico do programa nuclear
stá nascendo
um programa
nuclear novo .
Kucinskl
Bernardo
Não é por acaso que o reator desen-
volvido.por De Gaulle para produzir o
plutônio das bombas atômicas da
"Force da Frappe", tinha o nome do
Deus - Sol dos egípcios, Osiris (esse é
o reator vendido ao Iraque). A ilusão
alimentava-se, principalmente, nos de-
senvolvimentos da nova geração de
reatores, os "fast breeders", já mencio-
nados, que produzem mais combustíve
do que a carga inicial - assim como
um forno a lenha que além do calor
produzisse carvão vegetal. Daí o nome
de Fênix para esses reatores, o pássaro
que renasce das cinzas. Mas outros
mitos prevaleceram. O medo das
mutações genéticas, mais profundo do
que qualquer outro medo do homem,
levou à revolta contra a energia
nuclear, às paralisações nas constru-
ções. Os custos, que já não eram
baixos, explodiram.
O segundofator que entraria em cêna
nos anos setenta, no Brasil, era o
crescimento econômico acelerado, o
"milagre econômico." O programa de
construção de oito centrais, ligava-se,
por um lado, à idéia do crescimento
acelerado do Brasil como potência, e
de outro, diretamente ao desejo de
obter plutônio (2). O programa era
grande para justificar a instalação do
ciclo completo do combustível, e facilt-
tar o desvio de plutônio, pois torna-se
virtualmente impossível contabilizar
todas as quantidades de combustível já
mente a tese de que a Argentina já
possuía materialpara uma bomba atô-
mica, e poderia construí-la a curto
prazo dependendo apenas da vontade
política de fazê-lo. As "hipóteses de
guerra" com a Argentina foram for-
malmente modificadas, incorporando
essa nova concepção.
A partir daí começa um movimento
multidirecional das cúpulas militares,
procurando atalhos que levem ao plutô-
nio, tendo em vista que o programa
nuclear desenvolvido em cooperação
com os alemães havia afundado, esma-
gado pelo seu próprio peso.
Geisel telefonou ao
Palácio e vetou o
nome de Goldenberg
Esse movimento coincide com a
mudança de guarda no Palácio do
Planalto; o descenso relativo do grupo
Geisel, em relação ao grupo Médici.
Geisel relegara ao desprezo a Transa-
mazônica; e forçara Delfim ao "doce
exílio de Paris, frustrando seus planos
de ser governador de São Paulo (como
degrau para a presidência), Delfim irá
agora dar o troco, solapando o progra-
ma nuclear de Geisel. Um programa,
além do mais, absurdo do ponto de
vista econômico. A primeira tentativa
de Delfim, indicando o mais marcado
dos críticos do programa nuclear, o
professor Goldenberg, para presidir o
Conselho Nacional de Pesquisas, é
frustrada por Geisel - que se dá ao
trabalho de telefonar ao Palácio vetan-
do a nomeação, já anunciada pelos
jornais. Delfim contra-ataca colocando
o "antinuclear"* Costa Cavalcanti na
presidência da Eletrobrás, e nomeando
o próprio Goldenberg seu assessor "
. especial para assuntos de energia. E
neutraliza o meio militar abrindo os
cofres a um programa alternativo, que
efetivamente poderá levar à produção
de plutônio emtempo muito mais curto
e a um preço que seria uma fração
ínfima do custo do programa nuclear
original. E os militares descobrem que
alienar cientistas era a maneira mais
fácil de nunca fazer a bomba. E com a
mistura de todos os ingredientes, Del-
fim assusta os alemães o suficiente para
queimado num parque comoito reato- que abram mais uma vez seus cofres, e
res. sem sequer a garantia de que o
Mas deu tudo errado. Ao enfiar as programa nuclear prosseguiria. Os
estacas de sua primeira central. de alemães são incapazes de perceber o
potência, os alemães afundaram tam- grau de complexidade atingido pela
bém os alicerces de Angra I (a central política palaciana no Brasil. Possível-
comprada por Costa e Silva e que até mente foi por esses motivos além de
hoje enfrenta dificuldades para entrar suas próprias motivações militares que
em operação). Nenhuma central nuclear os alemães "presentearam", o Instituto
de potência funciona no Brasil e nosso de Pesquisas Energéticas e Nucleares
único reator de pesquisa tem apenas 5 (IPEN) com peças de uma usina para o
Megawatts de potência nominal e 2 de reprocessamento - que permite extrair
potência efetiva tem comparação com o plutônio do material já queimado.
os 70 Megawatts do Osirak do Iraque). Assim vai nascendo, nos escombros
do programa oficial, um programa
Os militares acabam nuclear alternativo. A existência de um
vasto estoque secreto de urânio, quan-
afundando o acordo do oficialmente o Brasil não tinha urà-
nio e precisou comprar 140 toneladas
com os alemães da Argentina em sistema de "leasing"
(para devolver depois), é mais uma
Em fins de 1977 a distância entre comprovação desse programa. A uni-
Brasil e Argentina havia aumentado em dade de produção de hexafluoreto de
vez de diminuir. O drama dos estra- urânio, para a qual Delfim deu ao
tegistas do Estado Maior em Brasília
chegou ao auge quando os argentinos
ligaram as chaves de sua primeira continua na página 23
central de potência, Atucha. E com a
derrota da oposição armada, e a (1) Segundo fontes da época, ao ser infor-
imposição da "paz dos cemitérios", os mado de que os argentinos já tinham um rea-
militares argentinos puderam mais tor, e qual era o seu preço, Costa e Silva bateu
tranquilamente reacelerar suas pes- na mesa e disse (profeticamente); "então vamos
quisas nucleares. Em fins de 1979 comprar uma merda dessas", (2) Segundo o ex:
após uma visita à Argentina do general ministro Severo Gomes. (3) O IPEN está tam-
Bento de Mello, subchefe do Estado bém acelerando os trabalhos de pesquisa com
enriquecimento de uranio, e metalurgia de ma-
Maior do-Exército, foi adotada oficial- teriais nucleares.
A