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PCB: 101 ANOS DA FÊNIX VERMELHA PG.2 PG.4 TRABALHO EM SAÚDE E LUTA SINDICAL
ENTREVISTA DO MOMENTO SE ELES NÃO NOS DEIXAM SONHAR, PRECISAMOS NÃO OS DEIXAR
PG.9 PG.13 DORMIR: REVOGAR O NOVO ENSINO MÉDIO (NEM), AVANÇAR PARA
FRAN REBELATTO A EDUCAÇÃO POPULAR
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EDITORIAL
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Ao completar 101 anos o PCB é uma Fênix da história, Filho (operário), Feliciano Eugênio Neto (operário), Lourenço
com erros e acertos. Esteve ao lado dos revolucionários que Camelo Mesquita (taxista) e José Pinheiro Jobim (diplomata).
construíram as revoluções anticapitalistas pelo mundo, a Mesmo com os equívocos do pré-1964, a luta
exemplo da União Soviética, China, Coréia, Cuba, Vietnam e das desenvolvida pelo PCB na construção dos movimentos
democraciaspopularesdolesteeuropeuedaÁfrica.Combateu populares e proletários, e na articulação da Frente
ao lado da luta anticolonial e das ações revolucionárias pelo Democrática, foram fundamentais para derrotar a ditadura e
mundo. Sempre foi um partido internacionalista que operou plantar um novo tempo de liberdades democráticas com o fim
em defesa da revolução mundial. do regime militar.
Nessa longa história de lutas, é importante reverenciar Os anos 1980 foram tempos de confusão política e
os fundadores, mas também os homens e as mulheres que ideológica, se configuram como o pior momento da história do
lutaram para que o PCB pudesse estar aqui hoje. Figuras PCB, quando o taticismo politicista tentou matar o operador
como Minervino de Oliveira, Octávio Brandão, Elisa Branco, estratégico. No entanto, a Fênix Vermelha soube operar sua
Giocondo Dias, Carlos Marighella, Lyndolpho Silva, Maria depuração e organizar a Reconstrução Revolucionária a partir
Aragão, Mário Alves, José Maria Crispim, Yeda Maria Ferreira, de 1992.
Osvaldo Pacheco, Câmara Ferreira, Antonieta Campos da O PCB voltou à centralidade das lutas proletárias e
Paz, Horácio Macedo, Ana Montenegro, Dinarco Reis, Paulo populares, colocou na ordem do dia a estratégia socialista
Cavalcanti, Iraci Picanço, Gregório Bezerra, Maria Brandão, como formulação central para orientar a ação tática. Construiu
Zuleika D’Alembert, Adalgisa Cavalcanti e o lendário Luiz instrumentos de combate à sociabilidade da ordem capitalista,
Carlos Prestes. a exemplo do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Em um momento de grande simbologia como o (CFCAM), Coletivo Negro Minervino de Oliveira (CNMO) e
presente, é preciso rememorar aqueles militantes históricos o LGBTComunista. Avançou na organização de frentes de
que tiveram seu sangue derramado quando lutaram em massas, a exemplo da União da Juventude Comunista (UJC) e
defesa da classe trabalhadora, das liberdades democráticas a Unidade Classista (UC).
e contra a opressão burguesa. Jamais serão esquecidos os Nesses 101 anos de luta o PCB soube fazer a autocrítica
43 mártires assassinados pela ditadura burgo-militar de necessária e reorganizar bandeiras e ações para operar nas
1964: Ivan Rocha Aguiar (estudante), Antogildo Pascoal Viana batalhas hodiernas das lutas de classes. O partido assumiu
(operário), Carlos Schirmer (operário), Pedro Domiense de seu compromisso histórico com as bandeiras anticapitalista
Oliveira (carteiro), Manuel Alves de Oliveira (militar), Newton antiimperialista, contra a exploração capitalista e as opressões
Eduardo de Oliveira (operário), João Alfredo (camponês), da sociedade burguesa, sempre na perspectiva da revolução
Pedro Inácio de Araújo (camponês), Israel Tavares Roque brasileira e da confirmação do projeto socialista.
(operário), Divo Fernandes D’oliveira (marítimo), Severino Hoje, os comunistas brasileiros, estão completando 101
Elias de Melo (militar), Inocêncio Pereira Alves (Alfaiate), anos de lutas que marcaram a história do Brasil e do mundo.
Lucindo Costa (funcionário público), João Roberto Borges de Afinal, muitos dos militantes comunistas lutaram na guerra
Souza (estudante), José Dalmo Guimarães Lins (jornalista), civil espanhola, na resistência francesa e nas batalhas da
Francisco da Chagas Pereira (militar), Epaminondas Gomes de segunda guerra mundial na Europa.
Oliveira (sapateiro), Ismael Silva de Jesus (estudante), Célio Durante essa longa jornada, o sangue dos militantes se
Augusto Guedes (dentista), José Mendes de Sá Roriz (militar), confundiu com o vermelho da bandeira comunista e adubou o
Davi Capistrano da Costa (militar), José Roman (operário), solo fértil das batalhas que a classe trabalhadora desenvolveu
João Massena Melo (operário), Luiz Ignácio Maranhão Filho no Brasil e no mundo.
(jornalista), Valter de Souza Ribeiro (militar), Afonso Henrique Com essa história e com a confirmação dessas bandeiras,
Martins Saldanha (professor), Elson Costa (caminhoneiro), o PCB ainda não é o maior partido da esquerda brasileira, mas
Hiran de Lima Pereira (administrador), Jayme Amorim de não ocorrerá lutas da classe trabalhadora sem a sua presença
Miranda (jornalista), Nestor Veras (camponês), Itair Veloso convicta. Afinal, o operador político da longeva história
(operário), Alberto Aleixo (operário), José Ferreira de Almeida brasileira, desde o começo do século XX, encontra sentido
(militar), José Maximino de Andrade Neto (militar), Pedro para sua práxis revolucionária na consigna Fomos, Somos e
Jerônimo de Souza (comerciário), José Montenegro de Lima Seremos Comunistas.
(estudante), Orlando Bonfim (jornalista), Vladimir Herzog Viva os 101 anos do PCB!
(jornalista), Neide Alves Santos (propagandista), Manoel Fiel
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litização da economia. Sendo a economia a pro- dicalização entre os médicos e iniciativas clas-
dução material da vida social, e sendo o modo sistas podem tensionar o corporativismo em
de produção capitalista fundamentado em uma direção a propostas de integração sindical com
economia refratária aos desígnios humanos, ou outras áreas da saúde.
seja, estruturada apenas para reproduzir o lu- O trabalho deve ser focado principal-
cro, sua continuação ocorre independente do mente entre trabalhadores do sistema privado,
sofrimento e da destruição das forças vitais da cada vez mais precarizados a partir de tercei-
classe trabalhadora. rizações e privatizações operadas por Organi-
Assim, o capital se reproduz naturalizan- zações Sociais de Saúde. A partir da crítica das
do a ordem social, transformando condições formas atuais de exploração é possível abrir
históricas em condições eternas. A politização vias para questionamentos mais amplos, que
da economia significa a possibilidade de ques- possam inclusive compreender as relações en-
tionar essas formas de naturalização e pere- tre SUS e capitalismo no Brasil ou a centralida-
nização do capital. A partir da organização da de negativa da categoria médica em relação às
classe trabalhadora em instrumentos próprios outras áreas.
de luta e independentes do capital é possível Apesar de ainda ser uma categoria muito
transformar a realidade dada, encontrar as ten- ligada ao “trabalho liberal”, a psicologia tam-
dências inscritas no tecido social que apontem bém possui potencial sindical e iniciativas do
para um modo de vida alternativo. tipo tem crescido no país. Os psicólogos tam-
Percebam que com essas definições não bém caem nos equívocos corporativistas, mas
apontamos para este ou aquele sindicato em os seus campos de atuação abrem a perspec-
particular, que sim podem estar tomados por tiva de questionar a relação entre sofrimento
pelegos e burocratas, mas indicamos uma forma psíquico e sociedade capitalista, além de possi-
imediata de defesa presente na própria socie- bilitar ações conjuntas com as outras categorias
dade capitalista, que tem potencial de criar ra- da saúde.
chaduras nos consensos e avançar para formas O maior potencial ao nosso ver está na
mais complexas de organização como um parti- categoria da enfermagem. Além de possuírem
do revolucionário. Nesse sentido, chamamos de salários inferiores à outras categorias, de viven-
luta sindical aquela que organiza trabalhadores ciarem jornadas extenuantes de trabalho, de
de um determinado setor com o intuito inicial reproduzirem os mecanismos de dominação de
de se defender da exploração capitalista, mas gênero (a inferiorização da mulher na socieda-
que pode avançar na produção de germens de de patriarcal conduz a naturalizações de posi-
uma consciência revolucionária. ções como o lugar do cuidado), a categoria da
Em texto anterior abordamos a impor- enfermagem tem sido cada vez mais atuante
tância do complexo da saúde nas formas con- na conjuntura atual. O enorme contingente de
temporâneas de acumulação de capital e a trabalhadoras da enfermagem, sua importância
necessidade de organizar este setor para uma no sistema privado de saúde, a superexplora-
autêntica ofensiva da classe trabalhadora como ção de sua força de trabalho etc., são motivos
um todo. Não retomaremos os detalhes da ar- que impulsionam as enfermeiras à luta, como
gumentação feita ali. Gostaríamos apenas de observamos nas jornadas a favor da efetivação
ressaltar que a organização sindical do trabalho do piso salarial nacional.
em saúde pode ser um momento fundamental Pela importância do complexo da saúde
dessa ofensiva. A maioria dos sindicatos em na sociedade, pelo grande contingente de tra-
saúde são sindicatos de categorias como mé- balhadores, pelos regimes de trabalho cada vez
dicos, psicólogos, enfermeiras etc. Há também mais precários, enfim pelo potencial organizati-
alguns sindicatos mais gerais como “sindicatos vo do setor saúde como um todo, devemos nos
de trabalhadores da saúde”, que integram múl- inserir cada vez mais nessas lutas, aumentar
tiplas categorias. nossa incidência nos sindicatos, agitar propos-
Os sindicatos de categorias padecem tas classistas, propagandear formulações que
do risco sempre presente de corporativismo. A possibilitem a politização das lutas econômicas
categoria médica é uma das mais afetadas por no sentido de fazer da classe trabalhadora da
esse tipo de perspectiva. Porém, ainda sim é saúde um momento importante da construção
importante ressaltar que nas últimas décadas da vanguarda revolucionária.
há uma tendência crescente de aumento da sin-
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Não é novidade que, no interior baiano, da no passado e perdeu muita vazão. Com
as comunidades tradicionais são violenta- a nova supressão de vegetação, ela vai se-
das por assassinos de aluguel contratados car. Também tem a Cabeceira de Morrinhos,
por latifundiários. que está na mira do agronegócio. O licen-
Há por parte dos grandes empresá- ciamento liberado (pelo governo estadual)
rios o interesse nos 20% de terras latifundi- é de 2.226,9 hectares. Essas nascentes vão
árias que por lei estão destinadas enquanto desaparecer. Isso aqui é um grito de socor-
reserva legal, como é previsto pelo código ro. Já fizemos inúmeras denúncias para os
florestal. Por meio desses interesses, as co- órgãos competentes, e elas não surtiram
munidades são forçadas a se retirar não ten- efeito”. Foi relatado que também houveram
do, muitas vezes, sequer local onde morar. outras áreas na região em desmatamento:
“Os pistoleiros continuam lá, armados. Nós
A intensificação dos atos violentos que não estamos podendo ir aos fechos de pas-
ocorreram durante as eleições são marca- to. Estamos sabendo por informações de
dos por influências políticas. Mas o fator de outras pessoas que as máquinas estão tra-
maior peso é a omissão da polícia que, com balhando dia e noite, sem parar, destruindo
vários meses de operação contra as comu- tudo. Não vai sobrar nada do nosso territó-
nidades, ainda não realizou a prisão de ne- rio.”
nhum responsável pelos atos criminosos.
Graças a impunidade, o terror assola o oeste Para mais informações sobre o caso,
da Bahia. acesse: https://cptba.org.br/
Um morador da região denuncia em
suas redes sociais: “Está acontecendo uma
tragédia. Estão desmatando a Cabeceira
da Onça, local de maior suporte de água
do nosso território. Essa área foi desmata-
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ENTREVISTA DO MOMENTO
FRAN REBELATTO
isso movimenta o mercado criando novos compor o cenário das expressões ‘artísticas’
postos de trabalho, também traz todas as vendidas aos turistas de passagem. O filme
contradições da precarização que segue à coloca lado a lado estas duas realidades:
risca o modo de produção capitalista, o queda mulher trabalhadora informal que car-
fez com que recentemente se organizasse rega mercadoria, com a mulher artista que
a campanha de luta pela #jornadajusta, se carrega sua arte e história do outro lado da
normalizou na produção cinematográfica fronteira. E mesmo massacradas pelo peso
e do audiovisual jornada que ultrapassam, de suas histórias de violência e de explora-
muitas vezes, mais de 12h diárias. É neces-ção, essas mulheres sonham, encontram-
sário estar atentos (as) e organizados (as), e
-se nas histórias de suas avós, mães, filhas
reconhecer que a produção cinematográfi- e seguem na luta e na labuta. O filme está
ca e audiovisual brasileira têm nos ajudadodisponível na Plataforma Itaú Play Cultural
a entender melhor o Brasil! E esse deve serpodendo ser acessado de forma gratuita e
o seu papel. também está à disposição para ser exibido
O Momento - Foi lançado recentemente junto ao bom debate por todo Brasil.
um filme de sua autoria, discutindo a vida O Momento - Para além de cineasta, você
das mulheres na tríplice fronteira. Quais é professora da Unila e militante do mo-
foram as abordagens que apresenta nes- vimento docente. Quais são as questões
se filme? centrais para se pensar a universidade no
Fran Rebelatto - O filme Pasajeras (2021) processo societário atual?
trata da vida das mulheres trabalhadoras Fran Rebelatto - Primeiro, é importante di-
que cotidianamente cruzam a fronteira en- zer que minha história de acesso à univer-
tre o Paraguai e o Brasil, nas cidades de Ciu- sidade pública é uma daquelas que corres-
dad del Leste e Foz do Iguaçu. São mulheres ponde à primeira pessoa da família a entrar
conhecidas como ‘paseras’, ou seja, que tra- num curso superior ou até mesmo a uma das
balham centralmente com o ‘leva e traz’ de poucas jovens de toda uma geração de uma
mercadorias de um país a outro. Há muitos pequena cidade do “interior” que teve pos-
anos pesquiso a relação entre os territórios sibilidade a esse acesso. Filha de trabalha-
de fronteiras e as imagens produzidas sobre dores pobres do campo no Rio Grande do
esses territórios pela imprensa, na fotogra- Sul, a universidade era muito distante, com
fia e no cinema. E nessas andanças por di- isso, algo que estava associado a um proces-
ferentes territórios entre Argentina, Brasil, so de emancipação. De fato, um ‘mundo’ se
Paraguai, Uruguai, Colômbia, dentre outros, abriu quando passei na UFSM no curso de
sempre me chamou atenção o papel das Jornalismo. No entanto, logo foi possível
mulheres trabalhadoras que estão localiza- entender os limites dessa universidade pú-
das nos trabalhos mais precarizados. Quan- blica que carrega em si muitas contradições
do cheguei a Foz do Iguaçu para dar aula na da própria sociabilidade capitalista. Ou seja,
Universidade Federal da Integração Latino- uma universidade, na maioria dos casos, com
-Americana (Unila) de imediato percebi que precárias condições de acesso e permanên-
também nesta fronteira são as mulheres a cia para os (as) estudantes, com infraestru-
carregar nas costas, nas caixas, nas bolsas turas que não dão conta das demandas de
a maior parte da mercadoria dos ‘desca- ensino, pesquisa e extensão, com professo-
minhos’. No entanto, em Foz do Iguaçu te- res (as) reféns do produtivismo ou da produ-
mos algumas outras contradições que se ção de conhecimento voltada aos interesses
colocam, considerando que se trata de um do mercado. Uma universidade ainda muito
dos principais destinos turístico do mundo. branca e elitizada, mesmo que esse quadro
Por ali, as mulheres, com destaque para as já tenha se alterado um pouco nos últimos
de nacionalidade paraguaia, não só cruzam anos, mas ainda de forma insuficiente, em
para transportar mercadorias, mas também especial no corpo docente. Instituições que
tem aquelas que cruzam com sua arte (dan- reproduzem processos de assédio e rela-
ças e músicas tradicionais paraguaias) para ções de trabalho que se alimentam com ló-
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gica da competitividade. Temos muito que sejam, as lutas por moradia, por emprego,
avançar para construir uma universidade por terra, contra a precarização do mundo
popular que vá além do seu caráter público do trabalho. Por isso, precisamos de um sin-
e gratuito, mas que possa ser uma univer- dicato capaz de intervir lado a lado com os
sidade discutida e construída à luz de um movimentos de juventude, movimentos so-
outro projeto societário, a partir de um pro- ciais e populares na realidade e transformar
jeto de emancipação e que, histórias como a nossas universidades, institutos e Cefets em
minha, não sejam exceções à regra, mas que espaços de organização das nossas lutas e
as (os) filhas e filhos da classe trabalhado- de formação humanizadora e crítica.
ra possam ocupar as nossas universidades e
O Momento - O ANDES-SN está come-
que possamos produzir conhecimento cole- çando um processo de disputa eleitoral e
tivo que atenda aos interesses do povo tra-
você está como secretária geral da chapa
balhador e que supere todas as formas de 1. Quais são os eixos gerais que confor-
opressão e exploração. mam a proposta dessa alternativa que
O Momento - Enquanto militante docente quer dirigir o sindicato nacional?
e dirigente do ANDES-SN, como desenvol- Fran Rebelatto - A Chapa 1 reivindica a his-
ver uma participação ativa em defesa dos tória de luta do ANDES-SN nos seus erros e
direitos da categoria? acertos e compreende que nosso sindicato
Fran Rebelatto - Um dos grandes desafios é um instrumento fundamental de luta no
que temos nesta quadra histórica que nos Brasil que tem se consolidado como um sin-
coube atuar como militantes da categoria dicato com independência de classe. Um sin-
docente é a necessidade de ampliar a mo- dicato autônomo, classista e construído por
bilização dos (as) professores (as) para que suas bases que hoje está enraizado em mais
se sintam parte de um processo coletivo de de 120 seções sindicais nas universidades
luta em defesa da universidade pública e federais, estudais e municipais, Institutos
referenciada nos interesses de classe, pela e Cefets em todo território nacional. Arti-
valorização da nossa carreira, por melhores culamos no programa da Chapa 1 as reivin-
condições de trabalho e de vida, com isso, dicações pelas condições de trabalho e de
ser contra as tentativas de transformação vida da nossa categoria docente que está
do espaço da educação presencial humani- na ativa, mas também as condições de vida
zadora e crítica em uma educação voltada dos (as) professores (as) aposentados (as); a
aos interesses exclusivos do mercado, de- defesa da universidade pública, gratuita, lai-
sumanizada, mediada somente por tecno- ca e referenciada nos anseios fundamentais
logias e pela lógica empresarial. Tudo isso do nosso povo trabalhador, para isso, defen-
associado à luta pela ampliação do acesso demos uma ciência e tecnologia popular e
à universidade, em especial, para os estu- com financiamento público, aliás, a questão
dantes negros (as), indígenas, da periferia, da recomposição do financiamento público
filhas e filhos de nossa classe. E isso depen- é algo central. Também, reforçamos a luta
de de instrumentos que tenham a capacida- pelas liberdades democráticas, contra o fas-
de de provocar a consciência crítica dos (as) cismo e pelo reconhecimento da necessida-
professores (as) como é o caso do sindica- de de contribuir para o processo de reorga-
to. Temos o desafio de transformar nossos nização da classe trabalhadora. Para nós, a
sindicatos de base, junto ao ANDES-SN, num classe trabalhadora não é uma abstração,
espaço de luta, debate, acolhimento e lugar tem raça, gênero, sexualidade, território e
de mobilização da nossa categoria. Entendo, cultura e isso nos exige uma atenção espe-
no entanto, que esse movimento não pode cial às lutas contra as opressões que enten-
estar descolado das lutas dos trabalhadores demos como estruturais ao modo de produ-
(as) técnicos, dos estudantes, dos (as) traba- ção capitalista brasileiro, por isso, nossa luta
lhadores (as) terceirizados (as), mais do que anticapitalista é antirracista, antimachista,
isso, tem que estar associado às pautas mais antilgbtfóbica e anticapacitista, pois en-
amplas do entorno da universidade, quais quanto houver exploração e opressão não
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é possível qualquer processo de educação ram pela constituinte. Fui pouco atuante no
emancipadora. Outra questão fundamen- movimento estudantil mais organizado, na
tal da nossa chapa é a compreensão de que universidade acabei me envolvendo muito
não podemos cair no encanto do adesismo mais com projetos de extensão em diferen-
às políticas do novo governo – que apresen- tes realidades de Santa Maria, foi então no
ta muitas contradições -, mesmo tendo re- cinema e na comunicação no RS que me re-
presentado uma vitória importante na luta encontrei com a militância política. Logo ao
contra o fascismo, ao mesmo tempo em entrar na universidade como docente, foi o
que, não podemos deixar de estar alertas à sindicato que me levou ao PCB, ao principal
ameaça permanente do avanço do fascismo operador político das lutas de nossa clas-
e das forças conservadores e de extrema- se nestes últimos 101 anos. Me orgulho e
-direita no país o que demanda esforços de sinto-me muito comprometida com a cons-
construção de unidade em nossas lutas, por trução do nosso partido, mais do que isso,
isso, também não podemos titubear diante movida pelos princípios que balizam nossa
de qualquer projeto político sectário que práxis.
nos impeça de seguir avançando em nosso O Momento - Em um momento de conden-
processo de reorganização. sação da crise capitalista no Brasil, qual
O Momento - Você também é militante e seria a principal bandeira que pode ser
dirigente do PCB, qual é o papel da práxis levantada para colocar a classe em movi-
comunista na sua trajetória? mento no atual cenário político brasilei-
Fran Rebelatto - Se bem o ideário comunis- ro?
ta se consolida em minha vida em período Fran Rebelatto - Precisamos intensificar
recente, fundamentalmente, depois de já nossa presença e intervenção no chão dos
estar organizada no movimento sindical do- nossos locais de trabalho, de estudo, na re-
cente e no PCB, os princípios que movem lação próxima com os movimentos popula-
nossa práxis comunista ancorada na cama- res de luta por moradia, por terra e por pão.
radagem, na necessidade de mudança radi- Estamos numa encruzilhada histórica que
cal deste estado de coisas, no sentimento nos exige esforços militantes e uma leitura
profundo de humanidade e solidariedade de conjuntura que nos levem a movimentos
de classe e internacionalista sempre estive- táticos no sentido da disputa da classe tra-
ram presentes na minha vida. Volto a men- balhadora massacrada pela desesperança
cionar um pouco da minha história: sou filha diante de um brutal cenário de exploração
de uma mulher campesina que sempre este- e opressão e distante dos espaços de orga-
ve envolvida na luta sindical, na organização nização coletiva, como os sindicatos. É mo-
do sindicato rural e das lutas feministas das mento de disputar essa classe trabalhadora,
mulheres no campo, sendo hoje, inclusive, de estar nas ruas, de apresentar com nitidez
presidenta do Sindicato Rural de Charrua. e entusiasmo as nossas bandeiras históricas,
Meu pai também sempre esteve presente com mediação tática, a partir das condições
na luta sindical, na luta pela agricultura fa- concretas da vida. É momento de reorgani-
miliar contra o avanço do agronegócio e no zação das nossas lutas, de assentar nossos
movimento contra as barragens. Me criei esforços na construção de um novo ciclo de
em uma comunidade rural onde os princí- luta, um ciclo que nos afaste do gosto amar-
pios de solidariedade comunitária sempre go da derrota histórica que sofremos e que
estiveram presentes, estudei até a 5º série nos permita avançar na construção de outro
em uma escola rural onde éramos responsá- modo de vida, que, na nossa compreensão,
veis pela autogestão do espaço coletivo da só será possível quando superarmos o ca-
escola. Nasci em 1984 e, como sempre me pitalismo. Até lá temos muito chão e boas
lembra minha mãe, com um ano de idade lutas para pavimentar. É momento de nos
ela me colocava dentro de uma ‘bacia’ e me reorganizar e de disputarmos com mais ên-
levava para os ‘movimentos’, me criei nos fase ainda os corações e mentes.
‘movimentos’ que, na década de 80, luta-
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Criada em 2013, durante o Governo Dilma, como facilitador das condições de exploração.
resgatada em 2016, sob aprovação do Governo A defesa dessa iniciativa neoliberal e anti-
Golpista de Michel Temer e em vigor desde o pedagógica foi apresentada em seu início como
ano passado (2021), a Contrarreforma do En- uma possível solução sobretudo para a "Crise
sino Médio caracteriza-se como um processo do Ensino Médio”. Coloca-se também como me-
pensado, investido e desenvolvido pelos seto- lhor alternativa diante das altas taxas de eva-
res privados a fim de instaurar ainda mais firme- são escolar. Isso parte de uma visão simplista
mente o conservadorismo na educação brasilei- e até mesmo desonesta acerca dos problemas
ra. No ano de 2022, passa a ser implementado enfrentados pelos estudantes brasileiros e dos
amplamente nas escolas, nomeado Novo Ensi- motivos que impedem a permanência dos mes-
no Médio. mos nos espaços educação da educação básica
Sendo uma tragédia para a educação do e técnica.
país, o Novo Ensino Médio existe graças ao in- Baseando-se em uma construção elitista
vestimento de capital de empresas privadas, a de pensamento, que desconsidera elementos
exemplo do Grupo Volkswagen, Fundação Ro- de raça, classe, gênero e ainda os recortes geo-
berto Marinho, Itaú, dentre muitas outras ins- espaciais que determinam completamente a
tituições privadas detentoras de muita riqueza possibilidade do alunado conseguir concluir sua
e que vislumbram benefícios próprios causados formação estudantil ou precisar deixar a esco-
pela Contrarreforma. la, a justificativa do Novo Ensino Médio define
Ou seja, na prática o objetivo atingido como causa da evasão escolar o desinteresse
pelo Novo Ensino Médio, bem como todas es- dos estudantes pelas disciplinas tradicionais,
sas empresas almejam, é eliminar e desarticular considerando-as ultrapassadas.
completamente a possibilidade de construção A partir disso, aponta como solução a maior
de um horizonte crítico na classe estudantil e autonomia dos alunos no processo de escolha
trabalhadora, a fim de formar uma geração de das disciplinas. Portanto, estes podem, em teo-
trabalhadores muito mais afastados das lutas ria, delinearem a grade curricular que seguirão,
sociais e da organização classista, fator que age de acordo com a "aptidão" que possuem por de-
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Silvana dos Santos, mãe de um dos três jovens assassinados pela PM da Bahia na Gamboa,
em Salvador (BA) | Foto: Tailane Muniz/Ponte Jornalismo
Por Matheus Almeida
“Socorro, vão me matar!”, gritou jovem lacrimogêneo, resultando em consequên-
de 20 anos assassinado pela Polícia Militar cias graves sobre a vida de todos os presen-
da Bahia (PMBA)! tes. A Classe Trabalhadora, Negra e Periféri-
Em primeiro de março de 2023 comple- ca baiana pede socorro!
tou-se no Estado da Bahia um ano da Chacina A PMBA, na época comandada pelo ex-
da Gamboa. Na madrugada do dia primeiro, -governador Rui Costa, não relatou quantos
três jovens são assassinados na comunida- policiais participaram da chacina — nem se-
de Solar do Unhão, que se localiza na região quer informou se existia algum planejamen-
da Gamboa, em Salvador. Triste dia para a to que justificasse a dita operação! —, re-
região da Gamboa, que teve as vidas de Ale- correu aos argumentos de praxe, afirmando
xandre dos Santos, Patrick Souza Sapucaia e a necessidade de apurar as circunstâncias
Cleverson Guimarães Cruz ceifadas por uma dos fatos, que um inquérito seria instaura-
ação da PMBA, a qual alega que os jovens do e que os armamentos utilizados seriam
foram mortos em uma troca de tiros. encaminhados à perícia.
Em contrapartida ao costumeiro relato Nenhum dos envolvidos na chacina foi
de “troca de tiros”, os moradores da Gam- afastado de seu posto de trabalho, quanto
boa contestaram a versão e afirmam que a mais expulso da corporação. Além disso,
Polícia Militar da Bahia operou um trabalho para complementar a situação com maio-
truculento, baseado na lógica do confronto res requintes de crueldade e barbaridade, a
direto, atirando e jogando bombas de gás PMBA emitiu uma nota de repúdio no ins-
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tagram chamando os familiares e vizinhos prova abuso do uso da força por parte dos
das vítimas de acusadores irresponsáveis e policiais e que as armas que supostamente
levianos. foram usadas pelas vítimas apresentavam
“A polícia militar da Bahia repudia, ve- defeitos que impossibilitavam seu uso.
ementemente, afirmações levianas e ir- Apesar de tantas provas, nem sequer
responsáveis a respeito de conivência com existe uma ação em escala judicial em anda-
qualquer projetos de natureza criminosa mento. Um ano depois do ocorrido, os poli-
e genocida”, assim afirmou publicamente ciais envolvidos na chacina seguem em liber-
essa instituição, que deveria respeitar e ze- dade e trabalhando. Pior, seguem visitando
lar pelas vidas baianas. Entretanto, qual o a Gamboa! "Os agentes seguem cometendo
raciocínio lógico a ser inferido sobre esses as mesmas atrocidades e amedrontando a
casos recorrentes e desumanizadores se- comunidade", afirma moradora da comuni-
não a conclusão de uma polícia de natureza dade. E os moradores da Gamboa continu-
criminosa e genocida? am sendo vistos como inimigos do Estado.
Naturalmente, um estudo da rede de É preciso que haja justiça! O Estado não
Observatório de Segurança informa que a pode continuar a ser o ator principal da pro-
cada 100 mortos pela polícia da Bahia, 98 moção da violência e insegurança na Bahia.
são pessoas negras. Em 2022, dados graves Urge a desmilitarização da polícia, a cons-
são relatados: todos os mortos pela PM fo- trução de uma segurança pública pautada
ram pessoas negras. Problemática que se no zelo pela vida, com o direito das nossas
agravou graças à política de fortalecimento comunidades estarem envolvidas na sua re-
da polícia militar operada pelos governa- formulação!
dores do Partido dos Trabalhadores (PT), Justiça para todas as vítimas da violên-
sempre oferecendo cargos estratégicos da cia policial!
administração do Estado para os militares.
Além disso, cotidianamente aplaudindo e
fortalecendo o desenvolvimento de uma https://ponte.org/chacina-da-gamboa-mae-de-
polícia extremamente repressiva, pautada -um-dos-jovens-mortos-conta-como-agiu-a-pm-da-
na lógica da repressão e enfrentamento di- -bahia-do-governador-rui-costa-pt/
reto. https://ponte.org/pms-que-segundo-as-familias-
Porque as forças policiais no Estado -executaram-3-jovens-negros-em-salvador-seguirao-
Burguês existem com o propósito de alijar -trabalhando-nas-ruas/
a classe trabalhadora, negra e periférica do https://www.instagram.com/p/CanXsRMur-
nosso país, com a finalidade de conter seus 0J/?utm_source=ig_web_copy_link
impulsos e capacidades revolucionárias. https://revistaafirmativa.com.br/chacina-da-
Baseando-se em estratégias de enfrenta- -gamboa-1-ano-depois-caso-e-marcado-por-blinda-
mento interno, a sua razão de existir não é gem-dos-policiais-responsaveis-que-seguem-visitan-
proteger a população de inimigos externos do-e-ameacando-a-comunidade/
ao país, porém a própria população passa a https://noticiapreta.com.br/observatorios-da-
ser vista como potencial inimiga do Estado. -seguranca-contabilizou-20-mil-acoes-policiais/
Evidentemente, a polícia serve aos interes-
ses do Estado, logo, a classe trabalhadora é https://www.brasildefato.com.
vista como sua inimiga. br/2022/11/17/a-cada-100-mortos-pela-policia-da-
-bahia-98-sao-negros-afirma-relatorio
Na semana em que aconteceu a chacina,
https://www.correio24horas.com.br/noticia/
a Secretaria de Segurança Pública da Bahia nid/bahia-tem-a-maior-taxa-de-mortes-em-acoes-po-
(SSP-BA) informou que fora instaurado um liciais-do-pais/
Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o
caso por meio da Corregedoria da PM. Se-
gundo o parecer dado pela ouvidoria geral
da SSP, pelo menos um dos jovens foi vítima
de execução. Além disso, o inquérito com-
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