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Ideias e Revoluções
MILITAR DE 1964
60FOTOS
ANOS EM 64
Golpe de 64 Ideias e Revoluções
CONSULTORA PEDAGÓGICA
E MARKETING: Jussara Irajah H.
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4 IDEIAS E REVOLUÇÕES
60 ANOS DO GOLPE
31/03/1964 6
O Golpe 15
1968 22
AI-5 30
Herzog 43
Greves 48
Diretas-Já 63
IDEIAS E REVOLUÇÕES 5
No contexto internacional,
o Golpe de 1964 fez parte
da Guerra Fria na América
Latina e ocorreu no mesmo
período de vários outros
golpes militares na região.
A
o relembrar os sombrios 60
anos do golpe militar no Brasil, Em 31 de março de 1964,
é uma mistura avassaladora de ocorreu o golpe militar no
tristeza, indignação e increduli- Brasil, marcando o início de um
dade. Uma ferida profunda, mar- regime autoritário que per-
cada pela dor e pelas lágrimas daqueles que durou até 1985. Liderado por
ousaram sonhar com a liberdade, foi aberta militares, o golpe depôs o pre-
em 1964 e perdurou até 1985. Uma era de sidente João Goulart, alegando
trevas, onde a democracia foi brutalmente ameaça comunista. Esse evento
silenciada pelos perversos grilhões de uma teve impactos significativos na
ditadura implacável.
política, sociedade e cultura
Nos porões do regime militar, que se autode- brasileiras, deixando um legado
nominava “revolução”, centenas de almas co- controverso e divisivo na
rajosas foram subjugadas, torturadas e muitas história do país.
delas, tragicamente, perderam suas vidas. São
histórias de resistência, de homens e
mulheres que ousaram levantar a voz
contra a opressão, contra o arbítrio,
apenas para serem silenciados pelo
eco cru e desumano das masmorras da
ditadura.
ORIGENS
O Golpe de 1964 foi realizado por uma coli-
gação de forças e interesses, composta pelo
empresariado brasileiro, por latifundiários – pro-
prietários de grandes parcelas de terras – e por
empresas estrangeiras instaladas no país, sobre-
tudo aquelas ligadas ao setor automobilístico. O
movimento contou com a participação de setores
das Forças Armadas, aos quais a oficialidade aca-
bou aderindo.
A Igreja Católica contribuiu para disseminar o medo
do governo João Goulart entre a população e arras-
tou multidões às ruas, clamando por liberdade, mani-
festações que também serviram de justificativa para
IDEIAS E REVOLUÇÕES 7
o golpe militar contra as liberdades democráticas. discussão entre Jango e Leonel Brizola, se era pos-
Em 31 de março, as tropas começaram a se des- sível resistir a partir do Rio Grande do Sul, mas o
locar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Na presidente não assumiu essa opção. Como muitos
mesma data, teve início a Operação Brother Sam, outros, Jango achava que seria um “golpe passa-
da Marinha dos EUA, para apoiar o golpe que iria geiro” e, dali a alguns anos, novas eleições seriam
derrubar o governo constitucional, situação mili- convocadas. Afinal, fora assim em 1945 e em 1954,
tar que se resolveu internamente, pois não houve nas intervenções militares depois Getúlio Vargas.
resistência organizada. Desde o início a ditadura militar buscou ter um
Esboçou-se alguma resistência no meio sindical e aparato legal como forma de se institucionalizar e
no movimento estudantil, entretanto, essa resis- se legitimar perante a opinião pública, sobretudo
tência foi desorganizada e desestimulada por João a liberal, que tinha apoiado a destituição de
Goulart que, por saber da ameaça de intervenção Jango. Nesse sentido, o golpe contou com apoio
estadunidense no país, não resistiu quando foi do do Congresso Nacional e de juristas, e foi formali-
Rio de Janeiro, local estratégico, para Brasília e, zado na madrugada do dia 2 de abril, no Congres-
dali, para o Rio Grande do Sul. Ainda houve alguma so Nacional.
8 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTOS: ARQUIVO NACIONAL
Em um dos cartazes,
pedia-se “Fartura, Paz, Justiça”.
Tudo o que não houve pelos
próximos 21 anos.
10 IDEIAS E REVOLUÇÕES
Tanques do Exército
a caminho do Palácio
das Laranjeiras, no Rio
de Janeiro, em 1º de
abril de 1964.
Polícia Militar
defende o
Palácio
Guanabara.
14 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: ARQUIVO NACIONAL
Aglomeração no Correio da
Manhã aguarda o lançamento
da edição extra sobre o golpe
FOTO: ANTONIO TEIXEIRA / CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 15
Deslocamento de tropas
militares durante o golpe
militar de 1° de abril de 1964
Depredação e incêndio
do prédio da UNE no
Flamengo, Rio de Janeiro, na
madrugada de 1º de abril
de 1964
FOTO: JORNAL DO BRASIL / MEMORIAL DA DEMOCRACIA IDEIAS E REVOLUÇÕES 17
18 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: MEMORIAL DA DEMOCRACIA
Policiais sobre o
Congresso Nacional.
Foto: Arquivo Nacional,
Correio da Manhã.
Um tenente da Polícia Militar
mata com um tiro o estudante
secundarista Edson Luís de Lima
Souto, de 17 anos. O crime foi
cometido durante invasão po-
licial ao restaurante estudantil
Calabouço, no Rio, onde estu-
dantes protestavam contra a má
qualidade da comida. Outros seis
jovens foram baleados. A violência
policial desencadeou uma onda
nacional de atos contra a ditadura,
que contaram com forte apoio da
classe média. O enterro de Edson
Luís marcou o início da ascensão
do movimento estudantil no país,
que iria culminar na Passeata dos
Cem Mil, em 26 de junho.
22 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: RONALD THEOBALD - CPDOC JB / MEMORIAL DA DEMOCRACIA
Corpo de Edson
Luís é velado na
Assembleia Legis-
lativa do Rio de
Janeiro
Enterro do estudante
Edson Luís.
Foto: Arquivo
Nacional/
Correio da Manhã
FOTOS: EVANDRO TEIXEIRA / ACERVO IMS IDEIAS E REVOLUÇÕES 23
Cavalaria durante a
missa do estudante
Edson Luis. Cande-
lária, Rio de Janeiro
em 04/04/1968
Caça ao estudante.
Sexta-feira sangrenta.
Rio de Janeiro,
21/06/1968
24 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTOS: MEMORIAL DA DEMOCRACIA
Estudante é socorrida
por colegas durante
manifestação reprimida
pela PM
IDEIAS E REVOLUÇÕES 25
Paulo Autran
(sentado à fren-
te), Odete Lara
(ao centro) e
Clarice Lispector
(à dir., em pé)
em concentração
para a passeata FOTO: ALBERTO FERREIRA / CPDOC JB
Chico Buarque (à
frente) e Vinicius de
Moraes (atrás, à dir.)
na concentração que
precedeu a saída da
passeata
26 IDEIAS E REVOLUÇÕES
O líder estudantil
José Dirceu discursa
segurando a camisa
ensanguentada de
José Guimarães, se-
cundarista morto no
confronto na Maria
Antônia
FOTO: ACERVO OESP - MEMORIAL DA DEMOCRACIA
FOTO: ANTONIO TEIXEIRA / CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 29
Geraldo Vandré
durante interpre-
tação de “Pra Não
Dizer que Não
Falei das Flores”
Tropas cercam o
‘CAMINHANDO E CANTANDO...’ Palácio Guana-
‘Sabiá’ vence, mas festival consagra bara, no Rio de
canção de protesto de Vandré Janeiro, após a
“Sabiá”, de Chico Buarque e Tom decretação do Ato
Jobim, vence o 3° Festival Interna- Institucional nº 5
cional da Canção, mas é o segundo
lugar que ganha a preferência do
público. “Pra Não Dizer que Não
Falei das Flores”, de Geraldo Van-
dré, mais conhecida pelo primeiro
verso (“Caminhando e cantando...),
é uma denúncia contra a ditadura
(“Há soldados armados, amados
ou não”) e um hino à resistência
(“Vem, vamos embora, que esperar
não é saber/Quem sabe faz a hora,
não espera acontecer”). “Sabiá”,
interpretada por Cynara e Cybele
e considerada uma das mais belas
composições brasileiras de todos
os tempos, foi vaiada impiedosa-
mente pelo público engajado do
festival.
A censura logo proibiu a divulga-
ção de “Caminhando”. Seu autor
seria perseguido e teria de aban-
donar o país, rumo ao exílio, em
1969, depois do AI-5. Retornaria ao
Brasil em 1973, em plena ditadura,
abandonando a atividade musical e
evitando manifestações de engaja-
mento político.
Soldado monta
guarda no Congresso
Nacional depois da
edição do AI-5.
Brasília, DF.
Dezembro de 1968
(Foto: Coleção
Orlando Brito/
Acervo IMS)
FOTO: CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 33
EXÍLIO É A SAÍDA PARA MILHARES listas, intelectuais, artistas, cientistas e militantes de or-
DE BRASILEIROS ganizações clandestinas de oposição, armadas ou não.
Perseguição política e banimento provocam a maior As estimativas sobre o número de pessoas forçadas a
diáspora da história do Brasil partir durante a ditadura militar variam entre 5 mil e
A edição do Ato Institucional n° 5, em dezembro de 10 mil, mas não há dúvida de que foi a maior diáspora
1968, e o endurecimento do regime militar provo- da história do Brasil. Alguns dos desterrados jamais
cam uma fuga em massa de brasileiros para o exílio retornaram. É o caso de Josué de Castro, médico, pro-
a partir de 1969. É a segunda leva de exilados desde o fessor, cientista político e escritor pernambucano que
golpe de abril de 1964. A primeira era formada basi- dedicou a vida a estudar a questão da fome. Castro
camente por líderes políticos e sindicalistas ligados ao era embaixador do Brasil na ONU em 1964 quando
governo do presidente deposto, João Goulart. teve seus direitos políticos cassados. Morreu no exílio
sem poder voltar ao país.
A segunda leva era constituída por estudantes, sindica-
Em Paris, Gilberto
Gil faz apresentação
durante exílio
34 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: MEMORIAL DA DEMOCRACIA
D. Helder
discursa em
Paris e denuncia
a prática de
torturas no
Brasil
BISPOS CONDENAM
PORÕES DA TORTURA
CNBB denuncia violações O capitão Carlos Alberto levanta a taça na conquista do
dos direitos humanos; tricampeonato mundial de futebol, no México
dom Helder fala em Paris
Durante a 11ª Assembleia
Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), a igreja católica
toma posição contra o autori-
tarismo e divulga documento
em que denuncia os abusos
do regime militar sobre os
direitos humanos e sociais.
A hierarquia religiosa, que
havia apoiado o golpe de
1964, voltava-se agora contra
a violência da ditadura.
Sede do DOI-
-Codi do Rio de
Janeiro, instala-
da no quartel da
Polícia do Exér-
cito, no bairro da
Tijuca
Pasquim nº 300,
que acabaria
sendo recolhido
das bancas pela
polícia; abaixo
do título, um dos
mais famosos
aforismos de
Millôr: “Impren-
sa é oposição. O
resto é armazém
de secos e mo-
lhados”
‘O PASQUIM’ SAI SEM VETO E É APREENDIDO da “distensão lenta, gradativa e segura” dos generais
Liberado de censura, jornal persiste na crítica, Geisel e Golbery.
mas é recolhido das bancas Ela já havia sido interrompida em “O Estado de S. Pau-
A polícia apreende nas bancas o número 300 do jornal lo” em janeiro, mas continuou vigorando para a revista
“O Pasquim”. Era a primeira edição publicada sem “Veja” (até 1976), o semanário “Opinião” (até 1977) e
os cortes feitos pela censura prévia exercida sobre o “O São Paulo”, jornal da Arquidiocese paulistana (até
tabloide humorístico carioca desde 1970. A suspensão 1978). “Movimento” funcionou sob censura prévia de
da censura prévia em jornais e revistas era um gesto abril de 1975 a junho de 1978.
IDEIAS E REVOLUÇÕES 43
Libélulas e baionetas.
Foto de Evandro Teixeira/
Jornal do Brasil
IDEIAS E REVOLUÇÕES 45
Queda da moto.
Foto de Evandro Teixeira/
Jornal do Brasil
46 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: RUBENS BORGES / CPDOC JB
Multidão
acompanha o
funeral do ex-
-presidente em
sua cidade natal
OS TRABALHADORES
ERGUEM A CABEÇA
Assembleia em São
Bernardo inicia movimento
por reposição salarial
Cinco mil trabalhadores
reunidos em assembleia no
Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo e Diadema
aprovam a reivindicação de
reajuste salarial de 34,1%
para recuperar perdas
provocadas pela manipu-
lação dos índices oficiais
de inflação. O movimento
pela reposição salarial foi o
primeiro passo da retomada
do movimento sindical inde-
pendente no país, que iria se
destacar no enfrentamento
à ditadura durante os anos
seguintes.
FIGUEIREDO ASSUME DITADURA deles, Médici e Geisel, com status de ministro. Desde
EM FASE FINAL antes da posse até o final do governo, produziu frases
Último general presidente herda inflação em alta, rudes que traíam sua formação autoritária:
dívida externa e crise política – “Um povo que não sabe nem escovar os dentes
O general João Baptista Figueiredo toma posse para não está preparado para votar.” (abril de 1978, em
um período de seis anos na Presidência da República, entrevista)
recebendo como herança um país em profunda crise – “O cheirinho do cavalo é melhor.” (agosto de 1978,
social, política e econômica, que vai se aprofundar num rodeio em Araçatuba/SP, quando lhe pergunta-
ao longo de seu governo. “Juro fazer deste país uma ram se estava gostando de “sentir o cheiro do povo”)
democracia”, afirma no discurso de posse. Uma se- – “Eu dava um tiro no coco.” (1979, quando um
mana depois, seu governo decretaria intervenção nos menino lhe perguntou o que faria se ganhasse salário
sindicatos dos metalúrgicos do ABC, em greve por mínimo)
reajuste salarial.
– “Você acha que estou brincando de democracia?”
Para controlar e manter a “abertura” nos limites da (1982, quando um repórter lhe perguntou se Leonel
ditadura, Figueiredo contava com a nova Lei de Se- Brizola tomaria posse, se fosse eleito governador do
gurança Nacional e as “salvaguardas constitucionais” Rio)
editadas no final do governo Geisel. Os próximos
passos do projeto seriam a edição de uma anistia – “Bom, o povo, o povão que poderá me escutar, será
restrita e a implosão do MDB, com a criação de no- talvez os 70% de brasileiros que estão apoiando o
vos partidos. Nos dois objetivos, Figueiredo teria de Tancredo. Então desejo que eles tenham razão, que
ceder mais do que o planejado. o doutor Tancredo consiga fazer um bom governo
para eles. (...) E que me esqueçam.” (1985, na última
O novo presidente era um oficial da Cavalaria que entrevista como presidente).
serviu a todos os governos da ditadura – em dois
Geisel transmite a
faixa presidencial
ao seu sucessor,
general João Bap-
tista Figueiredo
FOTO: GILDO LIMA / CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 53
Participantes
do 31º
Congresso da
UNE lotam o
Centro de
UNE RENASCE REIVINDICANDO mente reprimidos em Belo Horizonte e São Convenções
DEMOCRACIA Paulo.
de Salvador
Depois de voltar às ruas, estudantes O 31º Congresso da União Nacional dos Estu-
reorganizam entidade proibida pela ditadura dantes foi realizado no Centro de Convenções
Representantes de estudantes de todo o país de Salvador, com a presença de líderes polí-
elegem abertamente a primeira diretoria da ticos e sindicais. A solenidade foi aberta pelo
União Nacional dos Estudantes (UNE) depois último presidente legal da UNE, o economista
de a entidade ter sido tornada ilegal pela Lei José Serra, que havia acabado de retornar do
Suplicy, em 1964. O acontecimento coroa exílio. Uma cadeira vazia no palco da solenida-
o esforço de reconstrução da entidade, que de denunciava a morte do último presidente
vinha ocorrendo desde 1977. Nesse período, da entidade em sua fase clandestina, Honesti-
dois encontros nacionais haviam sido brutal- no Guimarães, desaparecido desde 1973.
54 IDEIAS E REVOLUÇÕES
Apolônio de Carvalho
assina a ficha número 1
de filiação ao PT
Ato de fundação do
PT no Colégio Sion,
em São Paulo
FOTOS: JUCA MARTINS / OLHAR IMAGENS
FOTO: DEOPS / FAPESP IDEIAS E REVOLUÇÕES 55
FORÇA BRUTA DESABA SOBRE O ABC; ‘PAI NOSSO, O SEU POVO PASSA FOME’
LULA É PRESO Papa atrai multidões no país, prega justiça social,
Exército na rua, prisões, intervenção: ditadura joga mas enquadra as CEBs
tudo contra movimento operário O papa João Paulo 2° chega ao Brasil para uma visita
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de 12 dias, em junho de 1980, a primeira de um sumo
Luiz Inácio da Silva, é preso em casa e indiciado na pontífice ao país. Suas aparições em 14 cidades reu-
Lei de Segurança Nacional, junto com outros dez niram multidões, num total de 13 milhões de pes-
dirigentes sindicais do ABC. As prisões ocorrem no soas. A visita deu visibilidade mundial aos problemas
19º dia da paralisação por reajuste salarial e estabi- sociais do país, como o desemprego e a miséria. O
lidade no emprego, que mobilizava mais de 200 mil papa esteve nas favelas do Vidigal, no Rio, e de Ala-
metalúrgicos. A greve de 1980 marcou o mais longo gados, em Salvador, viu a seca no Nordeste e encon-
enfrentamento entre os trabalhadores e a ditadura trou trabalhadores no estádio do Morumbi, em São
desde o golpe de 1964. Os operários reivindicavam Paulo. Mesmo tendo enquadrado a chamada “igreja
reajuste de 15% acima do índice oficial do governo.
Exigiam também estabilidade por 12 meses para evi-
tar que o reajuste obtido fosse anulado pela prática
do “turnover” – as empresas costumavam demitir O papa João Paulo 2°
funcionários em massa após a negociação, substituin-
do-os por outros com salários menores. abraça o metalúrgi-
A mobilização foi tão intensa que o Tribunal Regio-
co Waldemar Rossi,
nal do Trabalho (TRT) declarou-se incompetente
ao lado de d. Paulo
para determinar a ilegalidade da greve. O TRT esta- Evaristo Arns, du-
beleceu um reajuste de 7%, sem estabilidade. A Fede- rante cerimônia no
ração das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estádio do Morum-
recusou-se a negociar com os sindicatos e o governo bi, em São Paulo
reforçou a intransigência patronal. Para intimidar
os grevistas, helicópteros militares sobrevoaram as
assembleias no estádio da Vila Euclides, em São Ber-
nardo do Campo. No 17º dia de greve, dois dias antes
das prisões, mesmo sem a declaração de ilegalidade,
o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, decretou
intervenção nos sindicatos de São Bernardo e Santo
André.
Como havia ocorrido no ano anterior, Lula e seus
companheiros transferiram o comando de greve
para a igreja matriz, cedida pelo bispo dom Cláudio
Hummes. Mas a prisão dos dez dirigentes sindicais
(junto com dois advogados e um jornalista, liberados
no mesmo dia) mudaria o caráter do movimento,
que passou a reivindicar a libertação de Lula e seus
companheiros. A repressão então caiu sobre a igreja
matriz com tropa de choque, bombas, cães e carros
blindados, que lançavam jatos de água. A Polícia Mili-
tar tomou o estádio de Vila Euclides e foram proibi-
das assembleias no local. Foi proibido também um
show de Chico Buarque e outros artistas em apoio
à greve, marcado para o final daquela semana. Lula
e os demais presos ficaram incomunicáveis por oito
dias numa cela do Dops, em São Paulo, mas a greve
prosseguiu.
FOTO: ARIOVALDO DOS SANTOS / CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 57
Documentos do
Dops gaúcho são
incinerados num
sítio nas imediações
de Porto Alegre
Jogadores do Corinthians
estendem faixa da Democra-
cia Corinthiana em campo
62 IDEIAS E REVOLUÇÕES
FOTO: AGNALDO RAMOS / CPDOC JB FOTO: AGNALDO RAMOS / CPDOC JB E REVOLUÇÕES 63
IDEIAS
Em São Paulo, na praça Charles Miller, COMEÇA A CAMPANHA UNIFICADA PELAS DIRETAS
participantes do primeiro grande comí- Comício em SP encoraja oposição e faz deslanchar
cio pelas Diretas se reúnem em frente ao movimento por eleições diretas
estádio do Pacaembu Cerca de 15 mil pessoas participam de comício na praça
Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, em
São Paulo, exigindo eleições diretas para presidente da
FOTO: J.C. BRASIL / CPDOC JB IDEIAS E REVOLUÇÕES 65
Comício na praça da Sé, em São Paulo, DIRETAS LEVAM MILHÕES ÀS RUAS DO PAÍS
que teve a participação de 300 mil pes- Grandes manifestações ocorrem nas capitais;
soas, em 25 de janeiro de1984 em SP, ato reúne 300 mil na praça da Sé
Depois de realizar grandes comícios em Curitiba, Salva-
dor,Vitória e Campinas (SP), a campanha pelas Diretas-Já
reúne 300 mil pessoas na praça da Sé, no centro de São
Paulo, na maior manifestação popular até então desde o
golpe de 1964. O governador Franco Montoro e os O comício da Sé teve cobertura ao vivo de emissoras
outros oito governadores do PMDB, além de Leonel de rádio e das redes de TV Bandeirantes e Manchete.
Brizola, do PDT, e do presidente do PT, Luiz Inácio A Rede Globo mostrou poucos segundos de imagens
Lula da Silva, estavam no palanque. Consolidou-se ali no Jornal Nacional – a reportagem afirmava que a
a frente de partidos de oposição, sindicatos e movi- multidão estava reunida como parte das “comemo-
mentos populares pela aprovação da emenda Dante rações do aniversário de São Paulo”. A emissora, que
de Oliveira, que instituía eleições diretas para presi- detinha na época dois terços da audiência, boicotou a
dente em 1984. campanha das Diretas em seu noticiário.
68 IDEIAS E REVOLUÇÕES FOTO: A. DORGIVA
CONTRA DIRETAS,
TANQUES AMEAÇAM BRASÍLIA
Ditadura isola capital, censura rádio e TV;
pressão total contra emenda das Diretas
Uma semana antes da votação da emenda
Dante de Oliveira, o general presidente
João Baptista Figueiredo decreta estado de
emergência no Distrito Federal, em Goiânia
e em nove municípios do entorno da capital
do país. A medida tem o objetivo de isolar
Brasília, evitar manifestações pró-Diretas e
intimidar o Congresso Nacional. O direito
de reunião é suspenso e se estabelece a
censura aos noticiários de rádio e TV.
Eleição indireta de
Tancredo é feste-
jada por populares
sobre a cúpula do
Senado Federal
ELEIÇÃO DE TANCREDO PÕE FIM À DITADURA O documento básico da aliança, o Compromisso com
21 anos após o golpe militar de 1964, a Nação, previa mandato presidencial de quatro anos,
regime chega ao fim e começa a transição remoção das leis e regulamentos autoritários e con-
vocação de uma Assembleia Nacional Constituinte a
Tancredo Neves é eleito presidente da República ser eleita no ano seguinte, além da indicação de José
pela via indireta, com 480 votos contra 180 dados a Sarney como candidato a vice. Apelando à participa-
Paulo Maluf e 26 abstenções no Colégio Eleitoral. Sua ção popular, a nova coalizão ressuscitou o espírito das
eleição foi possível graças a uma aliança com os dis- Diretas-Já em comícios e mobilizações por todo o
sidentes do partido oficial, o PDS, que reagiram aos Brasil, em apoio à eleição que poria fim à ditadura.
métodos de aliciamento de Maluf.
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