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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

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AVM FACULDADE INTEGRADA

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A Importância da Formação Didática – Pedagógica dos
docentes Universitários
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Por: Eliane Pinheiro de Araújo


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Orientador
EN

Marcelo Saldanha
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Rio de Janeiro
2015
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA

A Importância da Formação Didática – Pedagógica dos


docentes Universitários

ELIANE PINHEIRO DE ARAÚJO

Monografia apresentada ao Curso de Docência do Ensino


Superior da AVM/UCLAM, como requisito para obtenção
do título de Pós - graduação lato - sensu em Docência do
Ensino Superior.

_________________________________
Professor- Orientador
Marcelo Saldanha
3

AGRADECIMENTOS

A minha família por toda ajuda e apoio.


4

DEDICATÓRIA

Ao meu Filho Renan Pinheiro pelo eterno incentivo.


5

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo mostrar a importância da formação


didática – pedagógica dos professores universitários para a valorização do
ensino superior e no prestígio do docente. Não são muitos os estudos nessa
área específica que visa refletir sobre algumas questões referente à formação
do docente universitário. Como ponto inicial da pesquisa temos um breve
resumo da história da educação no Brasil relacionadas às políticas
educacionais do período de 1930 à década de 1980 no contexto da ditadura
militar. Na transição política que marcou o fim da ditadura militar manteve mais
traços conservadores do que mudanças. Num segundo momento prioriza-se a
importância da formação docente para este nível de ensino e na reflexão
crítica da prática educativa que deveria ter por objeto a prática social.

Palavras - chaves: professores de ensino superior, formação docente


6

ABSTRACT

This paper aims to show the importance of didactic training - teaching of university
teachers to the appreciation of higher education and the teaching prestige. Not many
studies in this particular area that aims to reflect on some issues concerning the
formation of the university teacher. As research starting point is a brief summary of the
history of education in Brazil related to the 1930 period of educational policies to the
1980s in the context of the military dictatorship. In the political transition that marked
the end of military dictatorship remained more conservative traits than changes.
Secondly prioritizes the importance of teacher training for this level of education and
critical reflection of educative practice that should have engaged in the social practice.

Key - words: higher education teachers, teacher training


7

METODOLOGIA

O procedimento metodológico que pretendo desenvolver nesta


pesquisa:
-levantamento bibliográfico,
-levantamento de texto e artigo,
-leitura e fichamentos dos livros e textos.
8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - Breve resumo: História da Educação no Brasil 11


1.1. Década de 30 a 64 do século XX
1.2. O regime militar (1964-1985)

CAPÍTULO II - Reflexões sobre a formação de professores


para o ensino superior 20

CAPÍTULO III – Mudar a Educação para mudar o mundo 26

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA 33
9

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa apresenta reflexões acerca da formação didática


– pedagógica dos docentes do Ensino Superior. Através de um breve resumo
da história da educação no Brasil relacionando às políticas educacional a partir
da década de 1930, e se estende até as reformas educacionais no governo do
presidente Lula que investiu na educação superior pública, valorizando
estratégia de inclusão de camadas sociais com menor poder aquisitivo.
No capítulo seguinte destaca-se o cenário contemporâneo, o universo
social, político e econômico globalizado que exige repensar novos desafios
para os docentes do Ensino Superior, respondendo às novas necessidades de
aprimoramento profissional.
Por muito tempo prevaleceu a ideia no âmbito do Ensino Superior que
para se capacitar um bom professor era necessário um vasto conhecimento
relacionado à disciplina que pretende lecionar e uma razoável comunicação.
Então, boa parte desses professores universitários não receberam preparação
pedagógica específica e menos ao longo da sua vida profissional raramente
tem a oportunidade de participar de cursos, seminários ou reuniões sobre os
métodos de ensino e avaliação da aprendizagem. A pedagogia fica, portanto,
ao sabor dos dotes naturais de cada professor.
A falta de formação pedagógica dos professores tem sido apontada,
tanto pelos alunos como pelos próprios docentes, como uma das causas da
baixa qualidade dos cursos superiores. A sala de aula universitária não pode
mais ser vista somente como um espaço físico e um tempo determinado em
que o professor transmite conhecimento aos alunos. A sala de aula é um
espaço de construção conjunta do conhecimento. O professor universitário e
alunos devem buscar juntos o conhecimento, estabelecendo diálogos e trocas.
1
Segundo Behrens (2002, p.60)

1
BEHRENS, Marilda Aparecida. A formação e os desafios do mundo moderno. IN: MASETTO, Marcos. (Org.)
Docência na Universidade. 4 ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2002.
10

Alguns pedagogos, professores universitários, nunca exerceram as funções que


apresentam aos seus alunos. Falam em teoria sobre uma prática que nunca
experimentaram. Esse fato pode trazer alguns riscos para a formação dos alunos,
pois a proposta metodológica que o docente apresenta é fundamentada na teoria e,
muitas vezes, desvinculada da realidade, embora possa ser assentada em
paradigmas inovadores na educação.

Segundo Veiga-Neto (p.4),2 deve existir a superação entre a dicotomia


teoria-prática, tão vivenciada nos espaços acadêmicos.

(...) sem um esquema ou arcabouço teórico, isso que chamamos mundo da práticas –
ou, simplesmente, práticas – não faz nenhum sentido e, assim, nem é mesmo
observado ou visto e nem, muito menos medido ou registrado. Inversamente, se dá o
mesmo: sem alguma experiência, algum acontecimento nisso que chamamos mundo
das práticas, não há como pensar, formular ou desenvolver uma ou mais teorias.

O terceiro momento da pesquisa lança um alerta sobre a educação


que ensina as pessoas a passarem por exames, não em pensar por si
mesmas. É um exame que não se mede a compreensão, mede-se então a
capacidade de repetir. Ao sistema convém que cada pessoa não esteja em
contato consigo mesmas e nem que pense por si mesma. A classe política não
está disposta a investir em educação. Esta é uma questão necessária no
mundo educacional.

2
VEIGA-NETO, Alfredo. Equívocos ou O (falso) problema da relação entre teoria e prática, na formação docente,
(2002). Contraponto- www.ulbra.br
11

Capítulo I – Breve resumo: História da Educação no Brasil:


1.1. Década de 30 a 64 do século XX

Nesse período o Brasil passou por mudanças na economia, passando


do modelo econômico agrário-exportador para industrial urbano e acelerando o
modo capitalista de produção: no período político, a Revolução de 1930 e o
golpe de Estado de 1964, em disputa dois projetos de nação para o Brasil; O
3
nacional-populista com Getúlio Vargas e setores progressistas da sociedade
que defendia a industrialização do País. Em oposição o bloco das oligarquias
tradicionais, ligadas ao setor agrário exportador. Essas mudanças estruturais
recaiu diretamente sobre a construção de um sistema nacional de educação
pública.
A disputa entre a Igreja Católica e setores conservadores que
pretendendo manter a supremacia na condução da política nacional de
educação; e do outro lado setores liberais, progressistas tornaram-se adepto
ao ideário da Escola Nova, um movimento de renovação do ensino que
propunha uma escola pública para todas as crianças e adolescentes dos setes
aos 15 anos de idade.
No Brasil, as idéias da Escola Nova foram inseridas em 1882 por Rui
Barbosa (1849-1923).4 Rui Barbosa considerava a educação necessária ao
progresso do país, sendo uma das alavancas ao desenvolvimento industrial e
nas mudanças das relações sociais e de trabalho, com a passagem do
trabalho escravo para o livre, que a educação contribuiria com eficácia ao
progresso da nação (MACHADO, 2002).5 Ele defendeu um ensino público,
gratuito, obrigatório e laico sem intervenção efetiva de religiões e como
membro da Comissão de Instrução Pública da Câmara dos Deputados

3
Em 1930, Getúlio Vargas liderou a revolução que pôs fim ao domínio de oligarquia agrária representada por Minas
Gerais e São Paulo que governou o Brasil na primeira fase republicana (1889-1930).
4
Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923)- Jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Membro
fundador da Academia Brasileira de Letras.
5
MACHADO, Maria Cristina Gomes. Rui Barbosa: pensamento e ação. Campinas: Autores Associados, Rio de
Janeiro: Fundação casa de Rui Barbosa, 2002.
12

elaborou seus “Pareceres sobre a Educação”, Reforma do Ensino Secundário


6
e Superior (BARBOSA, 1942).
John Dewey (1859-1952), filósofo norte-americano que também
influenciou educadores de várias partes do mundo no movimento da Escola
Nova, liderado por Anísio Teixeira, ao colocar a atividade prática e a
democracia como importantes ingredientes da educação.
Após a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, criou-se o
Ministério da Educação e Saúde Pública, chefiado por Francisco Campos, que
implantou a Reforma de 1931, que estabeleceu em nível nacional a
modernização do ensino secundário brasileiro. A Reforma Francisco Campos
teve como diferencial a criação do Sistema Nacional de Educação, além de ter
criado o Conselho Nacional de Educação (para assessorar o Ministério de
Educação). Aspecto inovador da Reforma Francisco Campos foi ter
empreendido a reforma do ensino superior em que previa a criação de
universidades, organizadas de forma que pudessem criar ciência e transmiti-la.
A influência do movimento Escola Nova nessa Reforma é perceptível, pois
incorporou uma reivindicação exposta no Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova, de 1932,7 sobre a criação de universidades.
Em 1934 foi promulgada a Constituição Brasileira que consagrou o
princípio do direito à educação, que deveria ser ministrada pela família e pelos
poderes públicos e o princípio da obrigatoriedade. Com o golpe de Estado que
instituiu a ditadura de Vargas (1937-1945), uma nova Constituição, a de 1937,
foi adotada no Brasil. Durante os oito anos de ditadura, o governo publicou
uma das reformas mais duradouras do Sistema Educacional Brasileiro, as
chamadas Leis Orgânicas do Ensino, mais conhecida como Reforma
Capanema (1942-1946). Esse conjunto das Leis Orgânicas estabeleceram o
ensino técnico-profissional (industrial, comercial, agrícola); Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial – Senai, e o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial- Senac.

6
BARBOSA, Rui. Reforma do Ensino Secundário e Superior. Vol.IX Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde,
1942.
7
Texto conhecido com Manifesto de 1932, cujo título original é “A Reconstrução Educacional no Brasil ao Povo e ao
Governo”. Redigido por Fernando de Azevedo, constituiu-se em um dos mais importantes documentos da educação
brasileira e representou a influência dos ideais da Escola Nova no Brasil.
13

Terminada a ditadura Vargas, o Brasil editou a sua quarta Constituição


republicana (1946), reafirmando o direito de todos à educação, obrigatoriedade
e gratuidade do ensino primário. Mas seus aspectos democráticos, pouco saía
do papel. A Constituição de 1946, por outro lado, previu, pela primeira vez, a
elaboração de uma lei específica para a educação brasileira: a primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB-4024/61), que viria a ser aprovada
8
apenas em 1961. Em 1951, um novo governo de Getúlio Vargas, dessa vez
eleito pelo povo. De acordo com a sua plataforma nacionalista, no primeiro ano
do novo mandato, criou-se o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, com a
função de fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico no País. No
mesmo ano, teve origem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes).
O Brasil chegou à década de 60 do século XX com quase 40% de
analfabetismo, o que evidencia a ineficiência das reformas, o seu caráter
retórico e a omissão do Estado no cumprimento efetivo das leis que ele próprio
editara. Os números expressam que pouco havia mudado: em 1940, a taxa de
analfabetismo no Brasil era de 56,0%; em 1950, era de 50,5% e, em 1960,
39,35% (RIBEIRO, 1986).9 Diante da alta taxa de analfabetismo na década de
60, teve início a experiência de educação popular, dentre as quais se destacou
o método de alfabetização de adultos de Paulo Freire.10 Freire preconizava
“uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política”.

8
LDB ( 4024/61) incorporou os princípios do direito à educação, da obrigatoriedade escolar e da extensão da
escolaridade obrigatória, “A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola”. A atual LDB -Lei de
Diretrizes e Bases nº 9.394, foi promulgada em 20 de dezembro de 1996. É por meio da LDB que encontramos os
princípios gerais da educação. Desde sua promulgação em 1996, ocorreram inúmeras atualizações e renovações a
cada período, cabendo à Câmara dos Deputados atualizá-la conforme o contexto em que se encontra a nossa
sociedade.
9
RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira: a organização escolar. 6.ed. São Paulo: Moraes, 1986.
10
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 8. Ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.
14

1.2.O regime militar (1964- 1985)

A política educacional da ditadura militar, provocou mudanças


estruturais na história da escola pública brasileira. O modelo econômico
instaurado pelos governos militares, consolidou uma sociedade urbano-
industrial durante o regime transformando a escola pública, porque o que
pretendia o regime militar era necessário um mínimo de escolaridade para que
o País ingressasse na fase do “Brasil Potência”, slogan da ditadura.

A ditadura militar apoiada no pensamento autoritário editou reformas


educacionais que mudaram a face da educação brasileira. A primeira delas foi
a Reforma Universitária, de 1968, a extinção da cátedra.11 No contexto de
repressão política, de um lado, instituiu o modelo da eficiência e produtividade
e, de outro, o controle sobre as atividades acadêmicas. Repressão que se
abateu principalmente sobre o movimento estudantil organizado pela UNE,
proibindo qualquer manifestação de caráter político.
Num segundo momento nesse contexto da política educacional da
ditadura militar, surge uma nova categoria docente que iria se organizar em
sindicados, inteiramente diferente do perfil dos professores até a década de
1960.
A ditadura militar preparou também a reforma do ensino do primeiro
12
grau que duplicou os anos de escolaridade obrigatória. Reformas que o
regime militar visava um caráter terminal no segundo grau de ensino,
imprimindo uma postura profissionalizante, ou seja, para fornecer uma
profissão aos jovens que não ingressasse na universidade.

11
Na década de 1950, e, início da década de 1960, regia no Brasil, o Sistema das Cátedras (de origem francesa) nas
universidades brasileiras. Os professores mais importantes tinham uma cadeira, eram os “Professores Catedráticos”,
e, auxiliados pelos Assistentes, e, pelos Instrutores de Ensino. A partir da Reforma de Ensino Superior do Brasil,
ocorrida em 1968 da Lei Federal Lei n.º 5.540, de 28/11/1968, passou a funcionar nas universidades brasileiras, o
sistema de Departamentos (de origem norte-americanas).
12
Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, (revogada pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) -
transformou o curso primário, de quatro anos, e o ginásio, também de quatro anos, em oito anos letivos
obrigatórios.
15

Mas que escola era essa? Disciplina obrigatória a Educação Moral e


Cívica de caráter doutrinário, mal aparelhada, insuficiência de material didático,
precariamente construída, professores recebiam um salário fora da realidade
da sua jornada de trabalho. Uma escola para as crianças das camadas
populares. O pior, porém, persistia um grave problema que não foi
13
equacionado: o analfabetismo.
Com objetivo de fomentar a pesquisa científica e tecnológica no país,
foi criado na década de 1960 a Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp), bem como a criação dos programas de pós-graduação
14
stricto sensu.
No final da década de 1980, o Brasil promulgou a nova Constituição
(1988). No artigo 208 define que o dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de ensino básico obrigatório e gratuita dos
quatro (4) aos dezessete (17) anos de idade. Esse direito foi um avanço em
termos de políticas públicas educacionais. Entretanto, à transição política que
marcou o fim da ditadura militar no Brasil, manteve traços mais conservadores
do que de mudança.
A universalização da escola pública brasileira recebeu impulso no
governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas diminuiu o papel do
Estado na educação superior ocasionando estagnação das universidades
públicas através da intensificação do processo de privatização da educação.
Uma das principais medidas educacionais desse contexto histórico foi dar
início o processo de elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da
15
Educação (LDB).

Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da República e uma


de suas medidas foi substituir o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do

13
Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Pnad 2013 (IBGE) - O Brasil ainda tem 13 milhões de
analfabetos com 15 anos ou mais; representa 8,3% do total de habitantes do país.
14
Criada em 1980 a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – Faperj.
15
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394, de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional.
16

16
Ensino Fundamental e de valorização do Magistério (Fundef), para Fundo de
Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica e de
Valorização do Magistério (Fundeb),17 que abrange a Educação Infantil, o
Ensino Fundamental e o ensino Médio. O Fundeb resgatou o conceito de
educação básica como um direito.
O governo Lula também investiu na educação superior pública,
valorizando estratégia de inclusão de camadas sociais com menor poder
aquisitivo. Desde 2003, foram criadas 14 universidades públicas federais no
território nacional. Em 2007 introduziu o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que busca
ampliar o acesso e a permanência na educação superior. As ações
pressupõem, além do aumento de vagas, medidas como a ampliação ou
abertura de cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a
redução do custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à
evasão, enfim, a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de
educação superior. 18
Em 2004 o Governo Lula criou o Programa Universidade Para Todos
(ProUni), para possibilitar e ampliar o acesso e a permanência de jovens com
menor poder aquisitivo à educação superior nas Instituições de Ensino
Superior (IES) privadas, com bolsas integrais ou parciais oferecidas pelas
Instituições privadas, além de prever cotas a jovens negros e indígenas.
Conjunto de medidas que mudou o perfil da educação superior no País.
As reformas educacionais feitas nesse contexto histórico nacional,
priorizou a profissionalização para preparar bons empregados para o crescente
desenvolvimento empresarial que tinha o controle econômico do país. A

16
Fundef - (1998-2006) Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério, é um conjunto de fundos contábeis formado por recursos dos três níveis da administração pública do
Brasil para promover o financiamento da educação básica pública.
17
Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação. Fundo especial, recursos provenientes dos impostos vinculados à educação por força do dispositivo do
artigo 212 da Constituição Federal.
18
No site do MEC, o Reuni tem como objetivo principal ampliar o acesso e a permanência na educação superior, no
âmbito das ações que integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE); constitui uma série de medidas
para retomar o crescimento do ensino superior público.
17

divisão do trabalho na sociedade capitalista teve seus reflexos na organização


19
escolar. Nagel (2001) escreveu:

O planejamento internacional para o desenvolvimento da sociedade capitalista implica


não só em generalizar o conhecimento para todos os países do globo como em
selecionar o conhecimento que pode ou deve ser adquirido pelos indivíduos de países “
em desenvolvimento”. Limitando o saber dos cidadãos de segunda classe”,
assegurando uma valorização desmedida à informação, sem interesse em estimular o
conhecimento, quer como processo mental, quer como saber sistematizado, uma nova
forma de exclusão é garantida sob a capa de uma ideologia igualitária. E, nessa
modernidade, a maioria dos cidadãos, sem luta, sem oposição e sem contestação,
pode ser incluída, porque já vem perdendo, gradativa, mas aceleradamente, a
capacidade de formular problemas.

E para legitimar o Regime utilizou propaganda com forte cunho


nacionalista, buscou discurso para erradicar o analfabetismo e valorizar a
educação escolar. Entretanto o Estado atribuiu importância à educação através
da repressão de professores e do controle ideológico e político do ensino. A
reforma não contou com a participação civil, objetivava desmoralizar os
estudantes na oposição do Regime e neste contexto a formação do professor
passou por perdas incalculáveis. A formação do educador na sociedade
capitalista é para atender aos mais variados ramos da educação, formando
professores polivalentes que possam atuar em várias funções no interior da
escola.
O período dos governos militares realizou a expansão quantitativa da
escola que, por sua vez, não veio com condições indispensáveis para
propiciar uma aprendizagem aos alunos de qualidade e portanto, cumprir a
sua função essencial.Terminada a ditadura militar, os governos que se
20
seguiram não cumpriram essa tarefa de interesse nacional. (BITTAR, 2012).
No final da década de 80, no contexto da Assembléia Nacional
Constituinte, o Brasil promulgou a sua nova Constituição (1988). Define em

19
NAGEL, Lízia Helena. A sociedade do conhecimento no conhecimento dos educadores. Texto aprovado e
publicado nos Anais do I Seminário Internacional de Educação, 2001.
20
BITTAR, Mariluce; BITTAR, Marisa. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de
democratização da sociedade. 2012.
18

seu artigo 208 que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante
a garantia de ensino fundamental obrigatório. Concluindo no artigo 205 da
constituição, ”A educação, direito de todos e dever do Estado e da Família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.”
A educação é inerente à sociedade humana. Conforme Brandão
(1981) observa,

a educação está presente em casa, na rua, na igreja, nas mídias em geral e todos nos
envolvemos com ela, seja para aprender, para ensinar e para aprender-e-ensinar.
Para saber, para fazer, para ser ou para conviver todos os dias misturamos a vida
com a educação. Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a
escola não é o único lugar em que ela acontece; o ensino escolar não é a única
21
prática, e o professor não é seu único praticante (BRANDÃO, 1981)

Segundo Brandão, pode-se entender então, que a educação é um


processo natural que ocorre na sociedade humana, e em mundos diversos a
educação existe diferente. A educação pode existir imposta por um sistema
centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas
que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do
trabalho, dos direitos e dos símbolos.

Assim, continua Brandão (1981), “a educação é um dos meios de que


os homens lançam mão para criar guerreiros22 ou burocratas. Ela ajuda a
pensar tipos de homens. Mas do que isso, a educação ajuda a criá-los, através
de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima. Mais
ainda, a educação participa do processo de produção de crenças e idéias, de
qualificação e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e
poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é a sua
força.

21
BRANDÃO, Carlos. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1981.
22
Guerreiros- Nos Estados Unidos, Virginia e Maryland assinaram um tratado de paz com os índios das Seis Nações.
Os governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus índios às escolas dos brancos. Os
chefes responderam e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklin
adotou o costume de divulgá-la.
19

Por isso mesmo, a educação numa sociedade de imaturidade política e


social, um regime de ditadura, que contém o saber de seu modo de vida, ajuda
a confirmar a aparente legalidade e legitimar seus atos de domínio. A
necessidade então de criar uma escola para produzir passividade, disciplina,
ausência de questionamento e crítica, repetições e não criação de conteúdo.
20

Capítulo II – Reflexões sobre a formação de professores


para o ensino superior:

A qualidade de ensino na universidade e o trabalho docente dentro da


sala de aula tem uma estreita relação. Segundo Libâneo a universidade existe
para que os alunos aprendam conceitos, teorias, desenvolvam capacidades e
habilidades, formem atitudes e valores e se realizem como profissionais e
cidadãos .“A função específica da universidade, enquanto produtora de
conhecimento e prestadora de serviço, é o ensino” (LIBÂNEO,1994).23
É na sala de aula que os professores exercem sua influência direta
sobre a formação do aluno, onde ele aprende a ser profissional e cidadão.
Reforçando essa idéia, Cunha escreve:

É nela que, principalmente, se traduzem as ambigüidades e os desafios do ensino


superior. (...) Nela é que se materializa os conflitos entre expectativas sociais e
projetos de cada universidade, sonhos individuais e compromissos coletivos,
24
transmissão e produção do conhecimento, ser e vir-a-ser. (CUNHA, 1997).

Como mostra estudos e pesquisas recentes, os professores são


profissionais essenciais nos processos de mudança das sociedades. Na
sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho,
os avanços nos meios de informação e comunicação vão incidir diretamente na
escola. A democratização do ensino transforma o desafio de educar e começa
com a valorização do profissional e por suas condições de trabalho. Valorizar o
professor significa dar ao docente condições para analisar e compreender o
contexto histórico e social e cultural que faz parte na sua atividade como
25
professor. Como Anastasiou (2002) sustenta, “ ser professor requer saberes
e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade,
indagações teóricas e criatividade para encarar as situações ambíguas,

23
LIBÂNEO, José Carlos. O ensino de graduação na universidade: a aula universitária. Disponível em: www.ucg.br
24
CUNHA, Maria I. da. Aula universitária: Inovação e pesquisa. Campinas. Editora Papirus, 1997.
25
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior. São Paulo:
Cortez, 2002.
21

incertas, conflituosas e, por vezes, violentas, presentes nos contextos


escolares”.
Por muito tempo prevaleceu a ideia no âmbito do Ensino Superior que
para se capacitar um bom professor era necessário um vasto conhecimento
relacionado à disciplina que pretende lecionar e uma razoável comunicação.
Isso se justificava pelo entendimento de que os alunos universitários, por
serem adultos e possuírem uma personalidade formada, não exigia dos
professores mais do que competência para transmitir os conhecimentos.
Portanto, a preocupação das autoridades educacionais era na preparação de
pesquisadores.
Atualmente na sociedade que se transforma aceleradamente
recomenda-se preparar este profissional do ensino superior, para uma prática
docente reflexiva e com autonomia intelectual, assumindo sua importância de
intelectual transformador. É um desafio ser educador numa sociedade da
informação e do conhecimento onde vários são os desafios baseados
essencialmente nas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais que
levam a mudanças na ordem pessoal e coletiva. Blondel (2005) afirma “os
relatórios de todas as organizações internacionais denunciam a crise do ensino
superior: crise de financiamento, mas também crise de sentido” (BLONDEL,
26
2005). Pimenta (2002) complementa, “embora os professores possuam
experiências significativas e trajetória de estudos em sua área de
conhecimento específica, é comum nas diferentes instituições de ensino
superior, o predomínio do “despreparo” e até um desconhecimento científico
do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser
responsável a partir do instante em que ingressam na sala de aula” (PIMENTA
E ANASTASIOU 2002).27

A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9.394/96, que


define as diretrizes e bases da educação nacional explicita à preparação
pedagógica para o exercício da docência no ensino superior.

26
BLONDEL, Danièle. O Ensino Superior: Missão, Organização e Financiamento. Porto Alegre. Artmed. 2005.
27
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior. São Paulo:
Cortez, 2002.
22

a preparação para o exercício do magistério superior far-se-à em nível de pós-


graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único.
O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim,
poderá suprir a exigência de título acadêmico. (LDBEN, art.66)

Observa-se que essa lei não concebe a docência universitária como


um processo de formação político/pedagógica do professor, mas sim como se
preparar para ser um docente de nível superior através da pós-graduação
stricto sensu. Então, boa parte desses professores universitários não recebem
preparação pedagógica específica e menos ao longo da sua vida profissional
raramente tem a oportunidade de participar de cursos, seminários ou reuniões
sobre os métodos de ensino e avaliação da aprendizagem. A pedagogia fica,
portanto, ao sabor dos dotes naturais de cada professor.
O que de fato acontece é que a grande maioria dos professores
universitários ainda vê o ensino como transmissão de conhecimento através de
aulas expositivas.

Sala de aula é espaço e tempo no qual e durante o qual os sujeitos de um processo


de aprendizagem (professor e aluno) se encontram para juntos realizarem uma série
de ações ( na verdade interações), como, por exemplo, estudar, ler, discutir e debater,
ouvir o professor, consultar e trabalhar na biblioteca, redigir trabalhos, participar de
conferências de especialistas, entrevistá-los, fazer perguntas, solucionar dúvidas,
orientar trabalhos de investigação e pesquisa, desenvolver diferentes formas de
expressão e comunicação, realizar oficinas e trabalhos de campo (Masetto,2001, p.
28
85).

Usando o entendimento de Cunha (1989), a exposição oral foi a


técnica a que mais se assisti. O ritual escolar está basicamente organizado em
cima da fala do professor. O professor é a maior fonte da informação
sistematizada. A grande inspiração dos docentes é a sua prática escolar e eles
tendem a repetir comportamentos que considerou positivo nos seus ex-
professores. Há pouca possibilidade de que nossos interlocutores tivessem tido

28
MASETTO, Marcos T. Atividade pedagógica no cotidiano da sala de aula universitária: reflexões e sugestões
práticas. São Paulo: Papirus, 2001.
23

experiências de discussões em classe, com professores que tentassem


construir o conhecimento de forma coletiva.O fato de se achar na condição de
ouvinte é confortável ao aluno. Este comportamento ratifica a tendência de que
o ritual escolar se dê em cima da aula expositiva. É provável que professores e
alunos assim se comportem por falta de vivência em outro tipo de abordagem
29
metodológica (Cunha, 1989).
30
Para Carvalho (1992), o autodidatismo dos primeiros docentes
universitários contribuiu para o surgimento de professores improvisados,
repetidores do conhecimento e para a sua formação, na realidade não havia
qualquer critério formal. Até a década de 1960, com algumas exceções,
somente possuíam o curso de graduação, requisito para o ingresso na carreira
universitária.
A lei nº 5540/68 introduz no país, os cursos de pós-graduação visando
à formação do pesquisador e a preparação do professor do 3º grau. Sem
dúvida o programa de pós-graduação, foi responsável pela alta qualidade da
pesquisa realizada no país, porém a formação do professor de nível superior
não teve o mesmo encaminhamento.

O foco da pós-graduação tem sido na formação de pesquisador. Nesta


linha, a pós-graduação continua a cumprir seu papel de preparar o
pesquisador, mas tratar a docência de nível superior uma atividade menor.
Severino observa, que este modelo responde às necessidades da formação do
docente de ensino superior.

O professor universitário tem que ter um mínimo de convivência com a postura de


pesquisa. Ele precisa dessa prática para ensinar adequadamente, assim como o seu
estudante precisa dessa postura para aprender bem o que lhe é ensinado. E a pós-
graduação strito-sensu tem sido, no contexto brasileiro, o único espaço em que o
31
professor universitário pode ter uma experiência de pesquisa.(SEVERINO, 2002 ).

29
CUNHA, Maria I. da. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1989.
30
CARVALHO, Janete Magalhães. A formação do professor pesquisador Brasil: análise histórica
do discurso do governo e da comunidade acadêmica-científica (1945/1964). UFRJ: Faculdade de
Educação, 1992.
31
SEVERINO, Antônio Joaquim. In: Faculdade de Educação da USP. Introdução. A tradição cultural brasileira
privilegia a condição da Universidade como lugar de ensino.
24

A falta de formação pedagógica dos professores tem sido apontada,


tanto pelos alunos como pelos próprios docentes, como uma das causas da
baixa qualidade dos cursos superiores.
Na Conferência Mundial de Educação, promovida pela UNESCO, em
Paris, em 1998 o documento resultante deste encontro ressalta o despreparo
do professor universitário para enfrentar os desafios do novo milênio (1998
p.440).
Raros são ainda os países em que é obrigatório simplesmente justificar
uma formação para assumir esses postos. Daí esta constatação brutal: “o
ensino universitário é desprovido de profissionalismo”, não existe atualmente
nenhuma norma reconhecida, nenhum conjunto de conhecimento e
competências que os neófitos seriam obrigados a dominar antes de serem
autorizados a praticar, não há nenhum controle dos pares, nenhuma
responsabilização. Está na hora de se perguntar por que essa situação se
instaurou e quais são os obstáculos para o reconhecimento da necessidade de
tal formação. A cultura tradicional dos estabelecimentos será de tal maneira
impermeável à mudança? Será que a lealdade primordial dos professores
universitários em relação à sua disciplina os impede de procurar aprender as
32
técnicas pedagógicas.

Prevalece no campo de ação do Ensino Superior a crença de que, para


se tornar um bom professor, bastaria dispor de comunicação fluente e
conhecimentos relacionados à disciplina que pretendesse selecionar. As
deficiências na formação do professor universitário fica claro que ele necessita
não só de um sólido conhecimento na sua área, como também uma habilidade
didática - pedagógica. Segundo César Bazar, Pode-se constatar que o
professor universitário é o único profissional que entra na sua carreira sem que
passe por qualquer julgamento ou prévio domínio das habilidades de sua
profissão. Portanto o papel do educador universitário não é apenas ensinar

32
ALVES, Maria do Socorro. Dissertação de Mestrado, UFMG. (2005)
25

conteúdo mas ter o preparo para trabalhar com um novo perfil de alunos que
33
está chegando no ensino superior (BAZAR,1988).

Existem professores que vêem os alunos como os principais agentes


34
do processo educativo. Segundo Carl Rogers 1902-1987), os educadores,
facilitadores da aprendizagem, preocupam-se com uma educação para a
mudança em que seus alunos são incentivados a expressar suas próprias
idéias, a investigar com independência e a procurar os meios para o seu
desenvolvimento individual e social. Neste contexto, educar deixa de ser a
“arte de introduzir idéias na cabeça das pessoas, mas de fazer brotar idéias”
(WERNER, BOWER, 1984).35

33
BAZAR, Newton César. A didática e a questão da qualidade do ensino superior.Cadernos Cedes(22). São Paulo:
Cortez, 1988.
34
ROGERS, Carl. Liberdade de aprender em nossa década. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas,1986.
35
WERNER, David; BOWER, Bill. Aprendendo e ensinando a cuidar da saúde. São Paulo: Paulinas,1984.
26

Capítulo III – Mudar a Educação para mudar o mundo:36

Severino (2007)37 sustenta que o futuro da sociedade brasileira está na


dependência da sua transformação em uma sociedade menos excludente.
Construir um futuro, implica investir na educação, mas sempre na perspectiva
de uma política educacional intrinsecamente voltada para os interesses
humanos da sociedade. (...) Aliás, o conhecimento é mesmo a única
ferramenta de que o homem dispõe para melhorar sua existência. No ponto de
vista do estudo, o que conta não é mais a capacidade de decorar e memorizar
milhares de dados, fatos e noções, mas a capacidade de entender, refletir e
analisar os dados, os fatos e as noções (SEVERINO,2007). Conforme Anísio
Teixeira (1957)38 creditava que a educação seria o meio para acabar com
diferenças sociais existentes na sociedade brasileira.
Naranjo (2005) complementa, “O mundo está em uma profunda crise
porque não temos uma educação para a consciência. Esta educação serve
para adestrar as pessoas de geração em geração, a fim de continuar a ser
mais um manipulado pelos cordeiros da mídia. Este é um grande mal social. A
educação ensina as pessoas a passar por exames, não em pensar por si
mesmas” (NARANJO, 2005).39
40
Usando o conceito de Morin (2011), o ser humano é a um só tempo,
físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico. Esta unidade complexa da
natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das
disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano.
É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome
conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e
de sua identidade comum a todos os outros humanos. Deste modo, a condição
humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. Como diria

36
NARANJO, Claudio. Mudar a educação para mudar o mundo. São Paulo: Ed.Esfera, 2005.
37
SEVERINO, Joaquim Antônio. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Ed. Cortez,2007.
38
TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1957.
39
NARANJO, Claudio. Mudar a educação para mudar o mundo. São Paulo: Ed.Esfera, 2005.
40
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Ed. Cortez, 2011.
27

41
Nietzsche, “Nós homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós
mesmos somos desconhecidos”; “No caso do indivíduo, a tarefa da educação
é a seguinte: torná-lo tão firme e seguro que como um todo, ele já não possa
ser desviado de sua rota”.
Segundo Paulo Freire (1996) uma das condições necessárias à prática
educativa em que o educador deve de, reforçar a capacidade crítica do
educando, sua curiosidade, sua insubmissão. A importância do papel do
docente não é apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar,
que demanda profundidade e não superficialidade na compreensão e na
interpretação dos fatos. Assim, por que não aproveitar a experiência que tem
os alunos na sua realidade concreta e estabelecer uma “intimidade” entre os
saberes curriculares fundamentais e a experiência social que eles têm como
indivíduo?
O autor compartilha ainda que, o docente deve rejeitar mais decidida a
qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe,
de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a
democracia. “É na solidariedade social e política de que precisamos para
construir uma sociedade menos feia”. Freire observa também que, ensinar
exige respeito à autonomia e à dignidade de cada um, que é um imperativo
ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua


inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o
professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu
lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se
exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se
furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora
do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.
É neste sentido que o professor autoritário, que por isso mesmo afoga a liberdade do
educando, amesquinhando o seu direito de estar sendo curioso e inquieto
42
(FREIRE,1996).

41
LARROSA, Jorge. Nietzsche e a Educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2009.
42
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra,
1996.
28

43
Parafraseando Viviane Mosé, a escola/universidade tem que se
abrir, retomar a reflexão, construir um ambiente democrático, em que
professores têm que ser respeitados, alunos têm que ser respeitados,
funcionários têm que ser respeitados e ouvidos. A coisa mais importante é
construir um espaço democrático e convívio ético, antes de pensamento e
conhecimento, sem isso não existe possibilidade de produção de
conhecimento. Além do ambiente interno ser um ambiente democrático a
escola/universidade tem que se abrir para o entorno imediato. Ela tem que se
relacionar com os visinhos, e se está ao lado de uma favela ela deveria discutir
a violência cotidianamente. Se o aluno, criança, adolescente e adulto, entende
o processo de exclusão social, é possível se defender dele, mas se o aluno
não entende o processo, ele será vítima. O aluno tem que entender que a
exclusão social é muito maior que ter o cabelo crespo e ser pobre. Questões
como essa deve ser discutidas na escola, “política é assunto de escola”.
Brandão diz:
A educação aparece como propriedade, no controle sobre o saber se faz em boa
medida através do controle sobre o quê se ensina e a quem se ensina; de modo que,
através da educação erudita, da educação de elites ou da educação “oficial”, o saber
oficialmente transforma-se em instrumento político de poder. Onde surgem interesses
desiguais e, depois antagônicos, o processo, educativo, que era unitário, torna-se
partido, depois, imposto. Há educações desiguais para classes desiguais; há
44
interesses divergentes sobre a educação, há controladores (BRANDÂO, 1981).

Já no século XIX, o filósofo Nietzsche criticava o sistema escolar por


ser um reforço da moral de rebanho; ao uniformizar o conhecimento e os
próprios alunos, a instituição se curva às exigências externas do mercado e do
Estado. Nietzsche propunha o aprimoramento individual e uma educação para
a cultura (LARROSA, 2009).

43
MOSÉ, Viviane. Os desafios contemporâneos: A Educação. Café Filosófico – Completo; Youtube, 2013.
44
BRANDÃO, Carlos. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1981.
29

A educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é


influenciada por muitos fatores. Ao longo do seu desenvolvimento físico e
intelectual o aluno passa por várias fases nas quais a escola da vida, isto é, o
ambiente familiar, as condições sócio-econômicas da família, o lugar onde se
mora, o acesso a meios de informação, têm uma importância muito grande.

45
Oliveira (1984, p. 88) escreveu;

É preciso adaptar a escola/e ou/universidade às condições reais vividas pela grande


maioria de alunos que vêm dos lares mais desfavorecidos. No entanto, é preciso ter
cuidado, muita gente acha que se deveria exigir menos dos pobres porque, de
qualquer jeito, eles são menos capazes e não conseguem aprender como os alunos
de classe média. Aceitar isso significa aceitar a existência de duas escolas/e
ou/universidades: uma boa e exigente para os alunos ricos e uma escola de segunda
mão, mais fácil, para os pobres. Uma solução dessas só faria agravar a divisão e a
desigualdade entre ricos e pobres. É evidente que essa escola/e ou/universidade que
instrui uma minoria e elimina a maioria não é democrática nem fraterna. A maneira
como ela está organizada não permite a promoção dos menos favorecidos senão em
casos excepcionais. De fato, muitos poucos são os alunos vindos de lares pobres que
conseguem superar a corrida de obstáculos da escola e chegar até a universidade.
Esses poucos que têm sucesso são sempre mostrados como exemplo de que todos
poderiam ter sucesso se realmente tivessem se esforçado. E esse mito da igualdade
de oportunidades que faz com que os que fracassam se culpem a si mesmos pelo
seu fracasso, se sintam ignorantes e inferiores. Os que têm sucesso, por sua vez,
também acreditam que devem a seus próprios méritos e talentos superiores, o que os
leva a desprezar o povo e a se dar o direito de decidir de tudo em seu nome. Se a
escola não está servindo à maioria e se, ainda por cima, está dando falsas
esperanças e ilusões, ela não está cumprindo com sua missão.

45
CECCON, Claudius; OLIVEIRA, Miguel Darcy de; OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. A vida na escola e a escola da vida.
Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1984.
30

46
Henri Wallon disse; “a escola, meio fundamental para o
desenvolvimento pessoal, deve proporcionar uma formação integral (cognitiva,
afetiva e social)”.
Este ponto de vista é compartilhado por Freire (1967)47 “uma educação
como prática da liberdade só poderá se realizar plenamente numa sociedade
onde existem as condições econômicas, sociais e políticas de uma existência
em liberdade. A visão da liberdade tem nesta pedagogia uma posição de
relevo. É a matriz que atribui sentido a uma prática educativa que só pode
alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre e crítica dos
educandos. É um dos princípios essenciais para a estruturação do círculo de
cultura, unidade de ensino que substitui a “escola”, autoritária por estrutura e
tradição”.
A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) no art. 205, e
a Lei de Diretrizes da Educação- Lei nº9.394/1996 no art. 2º, diz: A educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
O desafio consiste em exercer a cidadania, tendo consciência de seus
direitos e obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Logo,
48
usando o pensamento de Herbert Spencer, “A educação deve formar seres
aptos para governar a si mesmos e não para ser governados pelos outros”.

46
WALLON, Henri. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Editora Manole, 1989.
47
FREIRE, Paulo.Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967.
48
DURANT, Will. História da filosofia. São Paulo: Editora Nacional, 1935.
31

CONCLUSÃO

Durante a elaboração do trabalho proposto pode-se verificar a grande


importância na formação didática - pedagógica no ensino superior, que por
muito tempo prevaleceu a crença de que para se tornar um professor de nível
superior, seria necessário apenas conhecer o conteúdo correspondente a sua
disciplina, entretanto nos dias atuais, a sala de aula é o lugar de
compartilhamento e troca de significados entre o professor e os alunos.
Libâneo (2004)49 destaca;

(...) “a sala de aula é o local da interlocução, de levantamento de questões, dúvidas,


de desenvolver a capacidade da argumentação, do confronto de idéias. É o lugar
onde, com ajuda indiscutível do professor, o aluno aprende autonomia de
pensamento, em atividades compartilhadas com os demais colegas. (...) quer dizer: o
aluno constrói, elabora, seus conhecimentos, seus métodos de estudos, sua
afetividade, com ajuda do professor. O professor é aqui um parceiro mais experiente
na conquista do conhecimento, interagindo com a experiência do aluno. O papel do
ensino – e, portanto, do professor – é mediar a relação de conhecimento que o aluno
trava com os objetos de conhecimento e consigo mesmo, para a construção de sua
aprendizagem”.

“Por quê, para quê educar”? segundo Libâneo (2004); “Pois a


educação se realiza numa sociedade formada por grupos sociais que têm uma
visão distante de finalidades educativas. Os grupos que detêm o poder político
e econômico querem uma educação que forme pessoas submissas, que
aceitem como natural a desigualdade social e o atual sistema econômico. Os
grupos que se identificam com as necessidades e aspirações do povo querem
uma educação que contribua para formar crianças, jovens e adultos capazes
de compreender criticamente as realidades sociais e de se colocarem como
sujeitos ativos na tarefa de construção de uma sociedade mais humana e
mais igualitária”.

49
LIBÂNEO, Carlos José. Didática. São Paulo: Editora Cortez, 2004.
32

De modo que, nosso modelo escolar não está preparando o ser


humano para a sociedade, para os desafios que ele vive, para exercer sua
cidadania. A escola não está preparando para o afeto, para viver
individualmente; nossa escola não fala de morte, da vida cotidiana, de alegria,
perdas, não fala de vida, não fala de afeto e também não prepara para o
mercado de trabalho. Portanto a escola nos desprepara.
A escola tem que abrir suas portas para a cultura, para as artes, para
a dança, para a música, festas, confraternizações, ser um espaço alegre. A
escola precisa ir aos museus, as praças, as exposições de arte; tem que trazer
a arte para a escola e levar a escola para a arte. Por que é tão importante as
artes na escola? Porque a arte conecta todas as coisas imediatamente. A arte
não é segmentada, a arte é aquilo que nos congrega, que nos reúne num
50
ambiente lúdico (MOSÉ, 2013).
Logo, como conseqüência do modelo escolar, nossa escola produziu
imaturos políticos e sociais. Assim, o compromisso da educação com a
construção do futuro da sociedade brasileira, implica no estímulo de uma
tomada de consciência, por parte do estudante, do sentido de sua existência
histórica, pessoal e social. E a educação superior expressa seu destino de
contribuir para o aprimoramento da vida humana em sociedade. E as
instituições de ensino deve dar o mínimo de retorno social ao investimento que
a sociedade faz dela.
Faço minhas as palavras de Severino (1982), 51

(...) a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo. E aprender


a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras mas
numa relação que vincula linguagem e realidade. A educação é um ato
fundamentalmente político. (...) para a construção de uma sociedade na qual não
existirão mais explorados e exploradores, dominantes doando sua palavra opressora
a dominados.

50
MOSÉ, Viviane. Os desafios contemporâneos: A Educação. Café Filosófico – Completo; Youtube, 2013.
51
SEVERINO, Antônio Joaquim. Prefácio. In: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Ed.
Cortez,1986.
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