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Resumo
No Brasil atualmente a busca por uma educação de qualidade tem como mola propulsora
políticas públicas para valorização das relações entre escolas e universidades. Assim, se têm
buscado superar a desvalorização da carreira docente investindo em projetos e programas de
formação de professores na dimensão inicial e continuada, como o Programa de Consolidação
das Licenciaturas (PRODOCENCIA), o Programa de Formação Continuada (CONTINUUM), a
criação dos Laboratórios Interdisciplinares nas IES (LIFE), e, especialmente, o Programa
Institucional de Iniciação à Docência (PIBID). Num contexto histórico de defasagem da
educação, a região Nordeste e, mais especificamente, o Rio Grande do Norte (RN) têm
empreendido grandes esforços para reverter os índices referentes à educação, os quais
demonstram um baixo desempenho em relação ao país, se for considerado como parâmetro o
índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Assim, além da defasagem de
aprendizagem verificada no contexto escolar, insere-se na problemática da qualidade da
Educação Superior, de modo geral, e, em particular, a desvalorização da carreira docente tanto
no que diz respeito ao status financeiro quanto ao status social. Assim, as licenciaturas abrigam,
em sua maioria, discentes de classes menos favorecidas, que necessitam de incentivos, inclusive
financeiros para permanecer nesses cursos. Ademais, os cursos são eminentemente teóricos,
tornando lacunar a consolidação dos conhecimentos didático-pedagógicos. Neste incentivo para
uso da escola como espaço formativo muitas das ações realizadas nas perspectivas curriculares
das licenciaturas se limitam a intervenções em sala de aula nos espaços escolares. Nesse sentido,
apesar do planejamento ter como sustentação basilar os estudos etnográficos constantes e os
referenciais legais, gerais e específicos de cada área (LDB, PCN, DCN, PCNEM, OCN), é
possível dizer que essas ações não conseguem se firmar no sentido de dar conta de uma
formação mais ampla, humanística e interdisciplinar tanto para professores quanto para
estudantes. Nesse sentido, as experiências vivenciadas aliadas aos estudos teóricos não
conseguem contribuir efetivamente para dirimir a histórica dicotomia entre teoria e prática.
Busco neste trabalho questionar as estratégias de ensino e aprendizagem na Universidade e na
Escola como espaço para formação de professores. Uma pergunta basilar é, como as ações no
âmbito da formação de professores podem ser elaboradas de acordo com os pressupostos da
aprendizagem significativa e visando a auxiliar à produção de conhecimento? Penso que a
inserção de licenciandos em formação inicial no espaço escolar deve, ainda, contemplar
atividades de participação na dinâmica da vida escolar, da sala de aula à gestão, das reuniões
pedagógicas aos conselhos de classe, com intuito de envolver os licenciandos nas diversas
dimensões que permeiam a docência, inclusive contribuindo para a criação, reformulação,
discussão dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) com os sujeitos do espaço em que estão
inseridos.
ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições
materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco
de se amorfinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador
pertinaz, que cansa, mas não desiste. Boniteza que se esvai da minha
prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos,
não canso de me admirar (FREIRE, 1997, p. 115-167).
conscientizem de que a escola é um espaço que pode ser usado para se fazer política, ou
politizar os não politizados.
O iluminismo, tanto na perspectiva kantiana e fichtiana, entre outros, concebia o
projeto de educação global da humanidade na direção do aperfeiçoamento da natureza
humana, entendida como razão e liberdade. Como observa Rodrigo (2009), esse projeto
não deve ser confundido com qualquer proposta de educação de massas; este último é
um desafio tipicamente contemporâneo, com o qual os filósofos iluministas não se
defrontaram no século XVIII.
Esses postulados teóricos assumidos são indissociáveis num projeto educativo que
tenha como horizonte a autonomia intelectual, tanto de formadores, quanto dos
formandos, seja em qualquer nível de ensino. Observamos que, nos cursos de formação
inicial, o licenciando não tem condições de alcançá-la de imediato, há necessidade de
mediações; nessa etapa, a função do professor formador é principalmente de
intermediário entre um saber especializado e os sujeitos que devem ter acesso a ele, mas
que ainda não possuem competência suficiente para fazê-lo por conta própria. Contudo,
o discurso mediador deve ter um caráter necessariamente transitório, sob pena de
prolongar indefinidamente aquilo que Kant denominava de menoridade do homem, quer
dizer, a incapacidade deste de fazer uso de seu próprio entendimento sem a direção de
outra pessoa. (KANT, 2005, p. 63). Sendo assim, nos cursos de formação de
professores, a didática deve ser exercitada na perspectiva de sua própria superação.
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Isso me leva a inferir que a sabedoria não se confunde com a religião nem com a
ciência, mas o modo individual, singular e autêntico com que se usa o pensamento, é ser
autônomo. Freire (1997, p. 24), defende que ensinar pressupõe aprender, e defende que
“a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem
a qual a teoria pode ir virando blablablá e prática de ativismo”. Seguindo esse
pensamento, Nóvoa (1992) também observa que o aprendizado docente e a construção
de específicos saberes profissionais passam por toda sua trajetória de vida. Ninguém se
torna professor por acaso. E também não é sem razão que se simpatiza ou não com este
ou aquele campo de saber. A formação inicial oferece instrumentos e deve preparar-los
no caminho, abrindo horizontes para o exercício pertinente à docência. Mas é no
trabalho pedagógico desenvolvido no chão da escola que efetivamente se configura o
modo peculiar de se atuar, conferindo a identidade, que também se faz em movimento
contínuo e inacabada.
Como observa Mário Sérgio Cortela (2011), de forma caricatural, mas não
menos séria, toda pessoa, e sobretudo todo professor deveria fazer esta pergunta “quem
sou eu?” seguindo esta linha de raciocínio, é preciso ter em mente que nossa relação de
interferência como mundo se dá por intermédio da ação; entretanto, não é uma ação
qualquer o que nos distingue, pois todos os animais tem ação. O que nos diferencia de
fato, é nossa ação transformadora consciente, ou seja, que é reflexiva e se faz capaz de
agir intencionalmente (e não instintivamente ou por reflexo condicionado) em busca de
uma mudança no ambiente que nos favoreça.
Considerações finais
Este trabalho, se fez como ensaio teórico para refletir e provocar o debate sobre
a reconstrução da ação nos Projetos de Formação Inicial e Continuada de Professores.
Uma vez que a escola, como espaço de formação, exige não só que o professor coloque
o aluno em contato com as aquisições e produções científicas e culturais da
humanidade. A escola é um espaço complexo, no qual se desenvolvem cenários e
modos de vida singulares, claramente determinados pelo contexto, com resultados em
grande parte imprevisíveis e carregados de conflitos de valor que requerem opções
éticas e políticas. Nesse aspecto, a formação do professor precisa se basear
prioritariamente na aprendizagem na prática, para a prática e a partir da prática. Assim,
os professores formadores, mais experimentados devem lançar mão de procedimentos
eficazes que requeiram a intervenção criativa e adaptada às circunstância singulares e
mutantes da aula, da vida escolar (Cf. GOMEZ, 1998, p. 363).
Para Gomez, o conhecimento acadêmico, teórico, científico ou técnico só pode
ser considerado instrumento dos processos de reflexão quando for integrado
significativamente, não em parcelas isoladas da memória semântica, mas nos esquemas
de pensamento mais genéricos que o indivíduo ativa ao interpretar a realidade concreta
em que vive e sobre a qual atua, e quando organiza a sua própria experiência. Assim, o
conhecimento nunca é algo “puro”, mas é alguma coisa contaminada pelas
contingências que rodeiam e impregnam a própria experiência vital.
Referência:
KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. 3a. Ed. Piracicaba: Ed. Unimep. 2002.
RPDRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino
médio. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.