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Mário Quintana
A formação do gestor escolar exige novos paradigmas? Eu posso apostar que muitos de
nós, gestores escolares, não só nos fazemos esta pergunta como também nos esforçamos
para continuar acreditando na possibilidade de reinvenção do nosso papel na Educação.
Ainda que apostemos na importância da atuação dos gestores escolares na superação dos
dilemas existentes na Educação brasileira, nós não podemos ignorar dois aspectos que, se
não inviabilizam o nosso trabalho, dificultam imensamente o nosso fazer cotidiano, quais
sejam, a ausência de políticas públicas de longo prazo, com investimentos adequados, e
a quase inexistente política de formação.
Nós sabemos que nos dias atuais já se reconhece a importância da nossa atuação na ação
estratégica da educação, na organização, na administração e na articulação do trabalho
pedagógico da escola. Outro dado importante é o fato de as escolas reconhecidamente
inovadoras e/ou com bons resultados nos indicadores nacionais serem dirigidas por
profissionais que igualmente se destacam e gozam de reconhecimento.
O contexto histórico
Desde 1847, a legislação brasileira reconhece a necessidade do diretor de escola, segundo
estudo da professora Rosmeiri Antunes. Nessa perspectiva, o Manifesto dos Pioneiros de
1932 também exerceu considerável influência para a criação do curso de Pedagogia em
1939, culminando com a habilitação de administração escolar na reformulação de 1969.
No entanto, mesmo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 4.024/61) afirmando no seu Artigo
42 que o diretor de escola deverá ser um profissional qualificado, foi na LDB 5.692/71 que
o cargo de diretor escolar foi instituído.
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No plano mais geral: as políticas públicas
É importante não perdermos de vista que a nossa atuação profissional não está
desprendida das diretrizes políticas da educação nacional. Nesse sentido, se analisarmos o
projeto de Educação de longo prazo usando como parâmetro a galeria dos profissionais
que têm ocupado historicamente o cargo de Ministro da Educação, veremos que há algo,
no mínimo, revelador. Desde o início do processo de redemocratização (1985) até hoje,
considerando uma série histórica de três décadas, as formações dos nossos ministros
variam de advogados a economistas. Desde 1985 até hoje o cargo de ministro da Educação
foi ocupado seis vezes por advogados, quatro vezes por economistas, duas vezes por
administradores, duas vezes por engenheiros, uma vez por um médico, uma vez por um
físico, uma vez por um matemático e uma vez por um filósofo, sendo que este último
permaneceu no cargo por quase seis meses e o matemático foi ministro interino por quase
um mês apenas.
Se por um lado a formação dos nossos ministros não os desabona para o exercício no
Ministério da Educação, por outro, isso evidencia de maneira veemente a descrença na
capacidade dos gestores escolares e dos educadores de carreira para assumirem esta
responsabilidade. De fato, a cadeira de ministro da Educação nunca foi ocupada por um
pedagogo ou por um professor vinculado às faculdades de educação das nossas
universidades. Esta situação instala um paradoxo, porque é precisamente nas faculdades
de educação que é feita a formação voltada para a constituição da identidade desse
profissional.
No campo da formação continuada, além das iniciativas das nossas redes municipais e
estaduais de ensino, muitas vezes em parceria com as universidades públicas, outra
iniciativa de formação continuada que merece destaque é o curso Progestão, criado e
oferecido desde 2001 pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed),
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voltado para a formação de gestores das escolas públicas brasileiras. Esta iniciativa tem
sido objeto de estudo em pesquisas de mestrado e doutorado que apresentam resultados
otimistas.
Apesar disso, sabemos que esses cursos são escassos e de pouca abrangência. Geralmente
não contemplam todos os gestores de uma mesma rede ou de uma mesma unidade. Assim
como eu muitos colegas jamais tiveram a oportunidade de frequentar cursos específicos
de formação de gestores, nem na nossa própria rede e nem no Progestão. Ademais,
devemos questionar se o debate sobre a nossa formação deve versar exclusivamente sobre
o binômio da formação inicial versus formação continuada.
O diretor Claudio Neto e sua equipe na EMEF Infante Dom Henrique Foto: Acervo pessoal
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Outro fator que considero significativo é a formação acadêmica (stricto sensu). O fato de
eu ter me tornado Mestre em Educação e de estar cursando o Doutorado também em
Educação me permitiu ter o olhar informado sobre aquilo que acontece no cotidiano
escolar. Eu sou capaz de apostar mais uma vez que muitos dos meus colegas de profissão
fariam o mestrado e o doutorado, se tivessem essa oportunidade. Contudo, a nossa
realidade não tem sido muito fácil. Estudar e trabalhar 40 horas semanais sem
afastamento do serviço é muito complicado, sem falar na falta do apoio financeiro por
meio de bolsa de estudos.
Levando em consideração todo esse conjunto, é fácil perceber que a minha defesa é pela
perspectiva de uma formação que considere a formação inicial, a formação continuada, a
experiência profissional e a formação acadêmica (stricto sensu). Considero fundamental a
conjugação de todas essas modalidades e acredito em pelo menos três dimensões
importantes na formação dos gestores escolares e dos educadores em geral: a dimensão
técnico-pedagógica, a dimensão política e a dimensão intelectual. A primeira seria
relativa ao conhecimento das técnicas e dos fundamentos da educação e da profissão; a
segunda diz respeito à compreensão de mundo; e a terceira refere-se à erudição, que vai
do acesso e apropriação de outras linguagens como a literatura, o cinema, o teatro etc., até
a formação acadêmica.
Nascer de si mesmo, de sua realidade e da realidade social mais ampla implica, algumas
vezes, em arriscar a fazer política pública para não cair no vazio. Sobre isso, posso dizer
que nos inventamos como gestores e professores quando resolvemos oferecer curso de
português para estrangeiros e pessoas em situação de refúgio, quando os falantes de
língua árabe começaram a chegar à nossa escola. Para assegurar a qualidade e efetivar a
perspectiva da Educação ao longo da vida nós criamos um cursinho preparatório para
ingresso em escolas técnicas de nível médio para todos os alunos do 8º e do 9º ano. Com
o objetivo de superar o preconceito e a discriminação contra os alunos estrangeiros, nós
criamos um grupo de trabalho que se reúne quinzenalmente para discutir a condição
deles na escola.
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espontâneo. São as noções incorporadas a partir das três dimensões de formação que
possibilitam a compreensão dessa função tão primordial na escola. Assim, a construção de
parcerias torna-se fundamental para viabilizar as ações da gestão escolar e da escola de
modo geral.
Agindo desta maneira, o gestor estabelece o sentido do seu papel profissional, o que o
poupa da crítica da “hipertrofia da gestão” e, ao mesmo tempo, reconhece a sua
“importância”, a exemplo do que postulava Ricardo Henriques, superintendente-
executivo do Instituto Unibanco e ex-secretário da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (Secad), no 3º Seminário Gestão Escolar, realizado em
setembro de 2017, ao falar da formação do gestor escolar.
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