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Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza*

Maria de Cássia Passos Brandão Gonçalves

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.

E-mail: macassia@hotmail.com

O tema referente à formação docente tem sido alvo de estudos e discussões no campo das ciências da educação e
contemplado nos sistemas e nas políticas públicas educacionais. Os estudos têm demonstrado que para uma melhoria na
qualidade de aprendizagem dos alunos é necessária uma formação de qualidade de professores, que os reconheça como
agentes inovadores dos processos pedagógicos curriculares e organizacionais capazes de superar o modelo hegemônico
técnico-racionalista, que privilegia exclusivamente a atuação do professor em sala de aula. Já os sistemas e as políticas
públicas de educação mesmo contemplando a profissionalização do magistério em suas propostas de leis como a LDB de nº.
9.3934/96, o Plano Nacional de Educação e as Normas e Resoluções do CNE, essas não tem sido capazes de romper com as
tensões existentes entre as intenções declaradas e as ações efetivas, visto a lógica contábil e economicista impressa a reforma
educacional.

Tais políticas têm enfatizado os cursos de formação inicial e continuada com um enfoque pautado nas características
históricas de um conhecimento formal, sem levar em conta a especificidade dos contextos em que se educa e a educação
como um compromisso político, ético e moral. Não considerando, portanto, o professor, como membro de uma equipe
docente, como investigador atento às peculiaridades imprevisíveis do ensino, como participante ativo, cooperativo e reflexivo
do Projeto Político Pedagógico da escola. Não considerando ainda, o cenário profissional como espaço primordial para a
formação permanente, fundamental na geração de conhecimento, como afirma os estudos de Francisco Imbernón as
situações problemáticas que surgem nele não são apenas instrumentais, já que obrigam o profissional da educação, a
elaborar e construir o sentido de cada situação.

O estudo desenvolvido por Francisco Imbernón no livro Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a
incerteza tem como objetivo central discutir a formação de professores no âmbito da profissionalização docente. Contribui,
de maneira especial, para o aprofundamento das discussões sobre os processos de formação de professores tendo como
ponto de partida a instituição educativa, como conjunto de elementos que intervêm na prática educativa contextualizada,
devendo ser o motor da inovação e da profissionalização docente.

Sendo assim, o estudo de Francisco Imbernón ao longo de seus quatorze capítulos discute a possibilidade de construção de
uma formação docente profissional que permita o aumento da democracia real e ajude a evitar exclusão social dos
educandos, ou seja, o equilíbrio entre as tarefas profissionais e a estrutura de participação social. Valendo-se deste eixo
central o autor enfatiza alguns aspectos dentre eles: o conhecimento profissional docente em uma sociedade em mudança,
com um alto nível tecnológico e um vertiginoso avanço do conhecimento, mas também uma importante bagagem
sociocultural, o que implica em um novo tipo de formação que vá além de uma preparação, disciplinar, curricular; a profissão
docente diante os desafios da chamada sociedade globalizada, do conhecimento ou da informação, ressaltando a
necessidade de estabelecer um debate sobre a análise das relações de poder e sobre as alternativas de participação na
profissão docente; a formação como elemento essencial, mas não único, do desenvolvimento profissional do professor, vez
que este se dá por diversos fatores: o salário, a demanda do mercado de trabalho, o clima de trabalho nas escolas em que é
exercida, as estruturas hierárquicas, etc.

O estudo desenvolvido pelo autor revela as implicações da formação inicial para a profissão docente e a necessidade dos
programas de formação resgatar a memória de certas práticas vividas como aluno ou aluna, a fim de desmistificar os
estereótipos e esquemas, que como diz o autor, em alguns casos são difíceis de superar. Aborda ainda, a pesquisa como
ferramenta de formação do professor, capaz de ajudá-lo a encontrar respostas para os problemas de ensino, e ressalta, dentre
outras características, que mesmo com a formação permanente os professores só mudam suas crenças e atitudes de maneira
significativa quando percebem que o novo programa ou a prática que lhes são oferecidos repercutirão na aprendizagem de
seus alunos. Discute sobre algumas dificuldades atuais, ou risco de estagnação profissional, apresentando algumas ideias
possíveis de alternativas para a superação.
Por fim, o livro apresenta contribuições significativas para o avanço dos desdobramentos das políticas de formação de
professores e para uma reflexão sobre os atuais currículos dos programas de formação de professores que tem enfatizando
apenas a perspectiva disciplinar, curricular, desconsiderando os projetos individuais dos docentes e coletivos das instituições
escolares, como diz o autor sem centrar-se em um trabalho colaborativo para a solução de situações problemáticas da classe
ou da escola. Alerta para o fato de que a formação permanente se dá ao longo da vida profissional e que existe um conjunto
de fatores que possibilitam ou impedem que o professor progrida em sua vida profissional.

A leitura deste livro me proporcionou uma reflexão sobre os atuais currículos dos Programas de Formação de Professores do
Estado da Bahia, que mesmo objetivando a qualificação dos professores da rede de ensino, seja do estado ou do município
esses desconsideram os cenários profissionais e constituem uma formação academicamente formal, distante das situações
problemáticas vividas individualmente ou no contexto da escola, a exemplo das dificuldades enfrentadas pelos professores do
noturno em pensar e elaborar uma proposta de ensino que possa contemplar as especificidades dos alunos jovens e adultos.
Como afirmam os estudos nesta área à educação para essas pessoas não se refere apenas a uma questão etária, mas,
primordialmente a uma questão de especificidade sócio-cultural. Na elaboração e propostas de formação docente
profissional, vale lembrar que todos somos professores, mas os contextos de trabalhos, os níveis e as concepções são
diferenciados.

* Resenha do livro de Francisco Imbernón, Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza (São
Paulo: Cortez, 2005. 114p).

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