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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Educação - FEUSP

Doutorado em Educação – 2019.1


Formação do Professor Universitário – Dr. Helena Coharik Chamlian

Wilton Carneiro Barbosa1

Formação do docente universitário

ZABALZA, A. Miguel. Formação do docente universitário. In: O ensino universitário, seu


caráter e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004, pp. 145-180.

Miguel A. Zabalza é professor Catedrático de Didática e Organização Escolar da


Faculdade de Ciências da Educação na Universidade de Santiago de Compostela (USC).
Possui graduação em Psicologia (1973), em Pedagogia (1973) e doutorado em Psicologia
(1979) pela Universidade Complutense de Madrid (UCM). Pesquisa e atua sobre Didática
Geral, Currículo, Educação Infantil e Educação Universitária.

1. Questões básicas na formação dos professores universitários

A formação dos professores universitários tem muito em comum com vários aspectos,
tais como a ideia do profissionalismo, a formação contínua e a qualidade dos serviços.
Situados em um novo cenário institucional, a formação dos professores universitários deve
enfrentar as seguintes questões que levam a um grande leque de dilemas formativos, a saber:
a) Que tipo de formação? Formação para quê? b) Formação sobre o quê? c) Formação para
quem? d) Quem deve ministra-la? e) Que modelos e metodologias?
No que se refere ao sentido e à relevância da formação, o professor universitário
enfrenta alguns dilemas, tal como se voltar para uma formação para o desenvolvimento
pessoal ou para a resolução das necessidades da instituição. Está claro que o desenvolvimento
do pessoal deve estar intimamente relacionado com as estruturas institucionais: mudanças
estruturais podem demandar uma formação suplementar, e certas estruturas universitárias
colaboram com a eliminação de desajustes e necessidades de formação. Um segundo dilema,

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Doutorando em Educação – FEUSP/USP
que coloca o professor entre a obrigatoriedade e a voluntariedade da formação, põe em
questão a autonomia individual e a pressão, porém é possível estabelecer uma dialética
equilibrada entre sujeito e instituição, comprometendo-os no desenvolvimento de uma
estratégia de melhora do funcionamento e produção da instituição. Por sua vez, o dilema entre
a motivação intrínseca e a motivação pelo reconhecimento, faz o professor refletir sobre seu
envolvimento em processos formativos por interesse próprio e em busca de reconhecimento e
crescimento profissional. Desta forma, a formação não deve ser orientada somente para o
desenvolvimento e para a aquisição de novos conhecimentos e de novas habilidades para
enfrentar e resolver com mais segurança os problemas da docência universitária, mas para
possibilitar que o professor universitário ascenda na própria instituição.
Em relação ao conteúdo da formação, o dilema entre a formação generalista e a
formação específica faz o professor entender que existe um lugar comum para todos. É o
lugar da função docente e seus conteúdos, lugar este que se pode trocar experiências e
conhecimentos. Um outro dilema é o que diz respeito a focar uma formação para a docência
ou focar na pesquisa. Esta ocorre num contexto mais específico e regulado, como na pós-
graduação; e aquela mais desacompanhado e irregular. De qualquer forma, essas duas funções
precisam de formação. Por sua vez, o dilema entre a formação para o ensino ou a formação
para a aprendizagem se constitui num dos debates mais ricos e esclarecedores dos últimos
anos no que se refere à formação dos docentes universitários. Os enfoques atuais sobre a
formação desses profissionais insistem na necessidade de modificar a “formação centrada no
ensino”, dominante até agora, por uma “formação centrada na aprendizagem”, que deverá ser
q que prevalecerá no futuro. Por fim, o dilema sobre a formação para tarefas de gestão, de
relações externas, etc., que mostra que, pelo menos entre os docentes, ninguém recebe
formação específica para essas tarefas.
Quando se aborda sobre os destinatários da formação, alguns outros dilemas vêm à
tona, como uma formação específica para novatos ou uma formação para todos. É preciso que
as universidades ofereçam formação para todos, levando-se em conta os anseios dos novatos e
dos experientes. Um outro dilema é o da problemática específica dos professores associados e
substitutos, os quais compõem um grupo provisório na universidade, não dispondo do mesmo
tempo que os professores titulares dispõem. Neste caso, é preciso buscar fórmulas de
formação flexíveis e abrangentes. Por fim, o dilema das diferentes culturas existentes entre os
professores e o pessoal administrativo da universidade. Tal dilema se constitui num dos
grandes desafios que as instituições tentam enfrentar buscando um sistema formativo
integrado e orientado para a qualificação da instituição como um todo.
Sobre os agentes da formação, há quatro dilemas: o primeiro que diz respeito à
responsabilidade da formação, que, conforme o texto, as principais responsáveis são as
instituições, a quem corresponde projetar as linhas básicas da política de formação e
estabelecer as prioridades; o segundo dilema se refere ao debate sobre as competências dos
formadores, é interessante que se possa contar com uma equipe mista que estivesses presentes
pessoas com uma forte formação pedagógica junto a outras com ampla experiência. Por sua
vez, o terceiro aborda sobre a formação com pessoal próprio ou alheio, fica claro que é
imprescindível contar com uma equipe da própria universidade, a qual deve oportunizar a
existência de instâncias especializadas em formação. Por fim, o dilema da profissionalização
dos formadores, que, na verdade, se trata de uma reivindicação dos próprios formadores que
entendem que melhorariam suas condições de trabalho, reforçariam sua identidade
profissional e estariam em condições mais favoráveis para trocar experiências e otimizar seus
serviços.
Sobre a organização da formação, há também quatro dilemas. O primeiro se refere à
formação fundamentada nos sujeitos ou fundamentada em grupos. A complementariedade das
duas traria um impacto mais generalizado sobre o funcionamento do grupo como uma
comunidade em crescimento. O segundo dilema diz respeito às formações em curto prazo
(cursos, oficinas, etc) e às de longo prazo (programas de pós-graduação). Estas são mais
eficazes em relação à transformação real das práticas docentes; aquelas são mais práticas e de
baixo custo, porém, se não tem continuidade, logo seus efeitos desaparecem. O terceiro
dilema é o que aborda sobre as diversas modalidades de formação e suas contribuições, no
qual o autor traz: o microensino, a reflexão da prática e as formações nos ambientes reais de
trabalho. Por fim, há o dilema da vantagem dos modelos democráticos de formação sobre os
centralizadores, em que os professores têm a tendência de rejeitar os centralizadores por
questões políticas e éticas.

2. Grandes desafios na formação dos professores universitários

O desafio da formação dos professores universitários é ter uma orientação distinta para
sua função, é transformá-los em profissionais da “aprendizagem”, em vez de especialistas que
conhecem bem um tema e sabem explicá-lo. Por sua vez, a incorporação de novas tecnologias
é uma perspectiva sempre será urgente no ensino universitário, enriquecendo os processos de
aprendizagem. É necessário também a incorporação de novas modalidades de aprendizagem
baseada no trabalho com mais programas de formação, a exemplo de estágios práticos, no
entanto, é preciso formar mais pessoas que irão se encarregar por esses estágios.
A flexibilização do currículo universitário se constitui também num dos grandes
desafios para a formação do professor universitário. Tal flexibilização faria com que os alunos
pudesses seguir diferentes cursos e complementá-los acrescentando elementos de formação a
seus cursos originais. Outro aspecto importante dessas inovações curriculares remete a uma
concepção mais interdisciplinar e polivalente dos cursos e dos estudos universitários.
O último desafio diz respeito à busca de qualidade através da revisão das práticas
docentes, o qual coloca diante desses professores alguns compromissos: fazer bem o que se
está fazendo, fazer melhor o que se está fazendo bem e fazer o que não se está fazendo,
fazendo-o bem. É interessante destacar na reflexão sobre a formação dos professores
universitários a importância de uma combinação de esforços e compromissos entre a
instituição e seus profissionais. Sem essa integração, é pouco provável que as iniciativas de
formação prosperem.

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