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ESTUDO EXPLORATÓRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA EM PERIÓDICOS

SOBRE A QUESTÃO DA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE NO ENSINO


SUPERIOR APÓS OS ANOS 2000

HELENA COHARIK CHAMLIAN


Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
hcchamli@usp.br

RESUMO
Esta comunicação trata de estudo exploratório, com a intenção de recensear e analisar a
produção, em periódicos especializados, sobre o tema da formação e do exercício da
docência no ensino superior, a partir dos anos 2000. Para tanto, utilizamos como
principal procedimento metodológico o levantamento de artigos constantes da base
SciELO, usando como critério de busca as palavras-chave: Docência no Ensino Superior
e Pedagogia Universitária. Realizamos a análise documental sobre os temas abordados
nas produções, tendo como referenciais as categorias extraídas de pesquisa realizada na
década de 90, sobre professores inovadores na USP. Assim: participação em processo
de reformulação curricular; busca de integração maior entre as atividades de ensino,
pesquisa, extensão; utilização de alternativas pedagógicas em substituição às aulas
expositivas; utilização dos recursos multimídia e a informática e a questão da formação
pedagógica para o exercício da docência foram as categorias utilizadas para esta
descrição e análise dos 35 artigos classificados. Verificamos que essas temáticas
continuam sendo veiculadas nos artigos consultados, com incidência maior sobre a
questão da formação pedagógica, e em trabalhos especialmente oriundos da área da
Saúde. Por outro lado, foi possível apurar que novos temas, como a avaliação (seja
institucional - interna e externa, seja a avaliação da aprendizagem), parecem surgir de
modo emergencial, indicando, talvez, que os pesquisadores são instados a realizar suas
investigações, pressionados pela vivência cotidiana de sua atividade docente no ensino
superior. Porém, por se tratar de estudo exploratório, sugerimos algumas hipóteses a
serem aprofundadas em novas investigações.

Palavras Chave: Formação Docente; Docência no Ensino Superior, Pedagogia


Universitária

Introdução
A questão da formação do professor universitário tem sido objeto de minhas
preocupações desde a década de 90 do século passado. Se, naquela ocasião, já era
previsível a necessidade de contemplar a função de ensino dentre os objetivos de
formação dos programas de pós-graduação oferecidos, não era claro, porém, como e em
que condições essa formação deveria e/ou poderia ser realizada.
As dificuldades para que o debate se avolumasse iam desde a diversidade e a
complexidade de significado do conceito de formação até as formas mais adequadas
para sua implementação.
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Em busca de perspectivas para a o encaminhamento dessas questões, realizamos


uma investigação, em que nos dispusemos a verificar a ótica de alguns professores da
USP, que haviam participado de encontro sobre experiências inovadoras de ensino na
universidade sobre: a função docente por eles praticada e, consequentemente, suas
percepções a respeito da necessidade de formação pedagógica específica para o
exercício dessa função (CHAMLIAN, 2003). Tivemos como pressuposto que o
conhecimento de práticas bem sucedidas no ensino de graduação, concebidas para
solucionar problemas peculiares enfrentados pelos professores, nos auxiliariam a
compreender melhor a natureza do trabalho que desenvolviam e o contexto de suas
preocupações sobre a tarefa de ensino.
Os tipos de inovação apresentados pelo grupo de professores entrevistado
permitiam antever algumas direções, que poderiam indicar inclusive questões cruciais
para a formação futura de docentes naquele contexto. Agrupamos as inovações citadas
naquele contexto (Idem, pp.54-55.) em alguns eixos significativos de análise que
poderiam representar a maneira pela qual a atividade de ensino pode ser exercida na
universidade.
Nesse sentido, o primeiro aspecto a destacar encontra-se na participação em
processo de reformulação curricular, seja dirigindo o processo, seja introduzindo e
trabalhando uma nova disciplina, que poderia significar uma forma de engajamento na
atividade de ensino, refletindo sobre os objetivos da formação realizada.
Outra categoria que pode ser deduzida dos relatos dos professores está na busca
de integração maior entre as atividades de ensino, pesquisa, extensão, elaborado no
âmbito dos departamentos e das unidades e, especialmente, no trabalho particular dos
docentes.
A menção à utilização de alternativas pedagógicas em substituição às aulas
expositivas, mediante a proposição de situações-problema a ser investigadas em
conjunto com os alunos, pode ser considerada como outra categoria de destaque nos
relatos obtidos.
Outro tema presente nos relatos foi o da relação dos professores com a utilização
dos recursos multimídia e a informática, para a solução de questões de ensino
particulares, e para o desenvolvimento de um conteúdo específico. Além disso, tal
utilização servia, também, para responder a exigências de uma população escolar cada
vez mais familiarizada com esses recursos, já evidenciando um fenômeno que vem se
incorporando à atividade universitária nos últimos anos, em volume cada vez maior.
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A questão da formação para o exercício da docência também foi contemplada,


pela pergunta sobre o quanto esses professores se sentiram preparados para a docência
universitária. A maioria revelou não se considerar preparada, no início da carreira, para
assumir a função. Observamos, por outro lado, que para superar sua insegurança, alguns
buscaram imitar professores que admiravam, outros foram instruídos por seus
orientadores ou colegas, outros procuraram fazer cursos extracurriculares, outros, ainda,
foram se iniciando aos poucos como docentes voluntários, ou trabalhando em aulas
práticas e seminários. Porém, quando instados a responder sobre a necessidade de
criação de uma disciplina de caráter pedagógico específico no âmbito da Pós
Graduação, foram reticentes em suas respostas. Pareceu-lhes mais evidente sugerir um
acompanhamento do trabalho do jovem professor e uma introdução gradativa no
assumir a tarefa de ensino.
Quase vinte anos após a realização daquela investigação, consideramos relevante
retomar os aspectos destacados naquela pesquisa, adotando, agora, outra perspectiva de
pesquisa: a de localizar a produção de artigos publicados em periódicos especializados
sobre o tema da formação e do exercício da docência no ensino superior. Temos como
objetivo verificar em que medida os principais temas categorizados naquela
investigação são reiterados, e em que medida novos temas e preocupações sobre a
docência no ensino superior surgiram nesse intervalo de tempo.

Procedimentos: estudo exploratório


Cientes da amplitude da tarefa e dos limites impostos para esta comunicação
foram efetuados alguns recortes, com vistas a este estudo exploratório, concentrando-
me, neste momento, na análise da produção de artigos em periódicos especializados,
publicados a partir dos anos 2000. Para tanto, utilizamos como principal procedimento
metodológico seu levantamento na base SciELO, usando como critério de busca as
palavras-chave: Docência no Ensino Superior e Pedagogia Universitária, que nos
conduziram mais precisamente ao foco de nossas preocupações, diferentemente do
descritor “Formação para o Ensino superior”, que captaria um sem número de trabalhos
não específicos, e requereria uma depuração intensa, nem sempre eficaz i. Realizamos a
análise documental sobre os temas abordados nas produções, baseando-nos,
principalmente, nos resumos e palavras chave, mas recorrendo, também, aos textos
sempre que necessário.
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Para a descrição dos dados, os textos foram classificados a partir das categorias
apuradas na pesquisa anterior, e para efeito desta comunicação tais textos serão
relacionados quantitativamente, com alguns esclarecimentos sobre os respectivos
objetos de estudo. Procuramos, também, perceber e acompanhar as principais
tendências manifestas nessa produção, bem como apontar para o surgimento de temas
emergentes. Na medida do possível, tentaremos compreender o quadro que se
descortina, ainda que sob uma perspectiva parcial, tendo em vista os limites
estabelecidos neste estudo.

Descrição dos resultados


O levantamento feito na Base de Dados SCieloii, usando a expressão “Pedagogia
universitária”, indicou onze (11) ocorrências de registros de artigos em “coleção
selecionada de periódicos científicos brasileiros” conforme a descrição do próprio
endereço eletrônico. O segundo descritor: Docência no Ensino Superior apontou para
trinta três (33) artigos. Desse total de quarenta e quatro (44) textos, nove (9) foram
excluídos para efeito de análise, seja por tratarem de questões precisas e pontuais sobre
cursos e áreas de conhecimento, seja pelo fato de terem como foco outros objetos de
estudo, diferentes dos relacionados à docência de ensino superior.
Os trinta e cinco (35) textos que restaram da primeira triagem foram
classificados do seguinte modo:
-Participação em processo de reformulação curricular: três (3) artigos. O destaque,
nesse caso, consiste na verificação de que todos foram produzidos para o contexto da
área de Saúde, (Medicina, Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Psicologia) apontando
questões e incoerências entre propostas pedagógicas desses cursos e a prática docente,
especialmente no que diz respeito à adesão do ponto de vista dos profissionais dessa
área às reformas curriculares;
-Busca de integração maior entre as atividades de ensino, pesquisa, extensão: três (3)
artigos. Nesse caso o objeto foi o tema da indissociabilidade tanto entre ensino e
pesquisa, quanto na tríade das três principais funções atribuídas à universidade. O Curso
de Pedagogia figura como possibilidade de promoção dessa integração, bem como o
estágio de docência na pós-graduação, surge como oportunidade de praticar a
indissociabilidade;
-Utilização de alternativas pedagógicas em substituição às aulas expositivas: três (3)
ocorrências. Mais uma vez, verificamos que todos os artigos registrados são elaborados
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no contexto da área de Saúde, com referências a experiências inovadoras no âmbito do


ensino, tais como: uso de portfólios, enfoque problematizador e introdução de práticas
pedagógicas consideradas inovadoras e significativas para os alunos;
-Utilização dos recursos multimídia e a informática: três (3) incidências. O contexto
dessa produção está principalmente relacionado à tecnologia digital e ao Ensino a
Distância e sua relação com práticas de comunicação, formação e aprendizagem na
docência do ensino superior;
-A questão da formação para o exercício da docência no ensino superior: quatorze (14)
textos. Nesta categoria recaiu o maior número de artigos, sendo onze (11) deles voltados
a aspectos considerados relevantes para o ensino na universidade, enquanto que três (3)
tratam prioritariamente da formação do pesquisador. A dimensão e variedade de
aspectos e perspectivas verificados justificam uma exploração mais detida dos textos
enquadrados, que apresentaremos adiante.
A análise do conjunto de artigos recenseados levou-nos, ainda, à criação de uma
nova categoria, denominada Avaliação, englobando tanto a institucional (interna ou
externa), como a avaliação da aprendizagem no ensino superior. Foram enquadrados
seis (6) artigos nesta categoria divididos entre os dois aspectos. Do ponto de vista da
avaliação institucional destaca-se o debate sobre a validade e justificativa de
procedimentos dessa natureza e o impacto que tem ou podem ter sobre os cursos
avaliados, as práticas dos docentes e o seu aperfeiçoamento e, inclusive, sobre a própria
construção de uma sociedade mais democrática. Já os textos relacionados à avaliação da
aprendizagem buscaram analisar práticas de avaliação, ou estabelecer princípios para
uma atitude inovadora nessas práticas. Associada a elas, os artigos procuram enfatizar a
necessidade de aquisição de competências pedagógicas para avaliar as aprendizagens,
apresentando, inclusive, sugestões de temas para a formação, tendo em vista essas
competências.
Por fim, do conjunto de trinta e cinco (35) textos selecionados, três (3) artigos
não foram incluídos nas categorias pré-existentes, e nem justificariam a criação de
novas, por apresentarem questões mais abrangentes, ou ainda, por tratarem de temas
bem específicos. Na verdade, em suas considerações retrataram o momento que o
ensino superior brasileiro passava, posterior àquele por nos investigado.
Desta forma, separamos dois (2) textos, que analisaram as questões da docência
no ensino superior a partir de reflexões sobre as políticas públicas e o contexto sócio-
cultural que marcaram as discussões sobre o sistema universitário e de ensino superior
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no país, na primeira década deste século. Tal é o caso do artigo “A precarização do


trabalho docente no Ensino Superior: dos impasses às possibilidades de mudanças”
(SANTOS, 2012), que pretendeu:
(...) analisar o impacto do sistema de acumulação flexível e das concepções
neoliberais no trabalho docente, aprofundando o estudo sobre a
(re)significação dos papéis sociais de professor construídos/ negociados nas
relações que se instauram na docência do Ensino Superior (SANTOS, 2012.
p.229)

Para Santos (2012) a análise do material empírico obtido mediante observações


demonstrou “que nos conflitos e tensões da cotidianidade do trabalho docente emergem
complexos movimentos de fuga, mas também de enfrentamento e ruptura, que
promovem o dissenso resgatando o compromisso social coletivo...” (SANTOS, 2012,
p.229).
Na mesma direção, o artigo de Marilena Chauí (2013) “A universidade pública
sob nova perspectiva”, partindo de conceitos básicos para a compreensão da
universidade e de suas funções, entre os quais destacamos: formação e educação
continuada/permanente, pela relevância para este estudo, a autora convida à reflexão
sobre as questões de organização e funcionamento da universidade pública, no atual
momento da sociedade brasileira.
Finalmente o texto de Lopes e Cunha (2010), “Trajetórias da docência
universitária em um programa de pós-graduação em Saúde Coletiva”, trata das
representações de docência e formação pedagógica presentes no Projeto Político-
Pedagógico de um Curso de Mestrado em Saúde Coletiva. Os autores concluíram que os
participantes da investigação, “mesmo tendo a docência como expectativa de ação
profissional, pouco encontram nas propostas curriculares essa dimensão, havendo
discrepância entre as suas motivações e a proposta de formação” (LOPES; CUNHA,
2010. p. 52). Indicam, com isso, “a fragilidade do campo científico da educação e da
pedagogia universitária nesse contexto, bem como os desafios impostos à docência e os
equívocos provocados pela linearidade entre pesquisa e ensino” (Idem, ibidem).

A categoria: a questão da formação para o exercício da docência no ensino superior


Tendo em vista o quadro configurado pelos resultados do levantamento deste
estudo exploratório consideramos que a discriminação dos textos incluídos na categoria
a questão da formação para o exercício da docência no ensino superior podem nos
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auxiliar a compreender o panorama atual do debate sobre a formação dos docentes para
o ensino superior.
Desse modo, diante da variedade de perspectivas e abordagens verificadas,
destacamos, primeiramente, aqueles artigos que tratam da formação pedagógica, de um
modo geral, e dos procedimentos usuais pelos quais ela tem sido promovida na pós-
graduação. Assim, Corrêa e Ribeiro (2013) sustentam, por exemplo, “a necessidade de
desenvolver uma cultura de valorização do ensino na universidade”, que se desdobraria
na “valorização de um capital pedagógico e na formação de um habitus pedagógico na
pós-graduação stricto sensu” (CORRÊA; BRANT, 2013, p. 319).
Por outro lado, dois (2) outros artigos apontam, segundo suas investigações, para
a necessidade de investimentos institucionais “que alterem dimensões do ensino e da
aprendizagem e sua sustentação teórico-pedagógica” (OLIVEIRA; VASCONCELLOS,
2011, p. 1011); ou procuram compreender como vem acontecendo o “processo de
formação de professores universitários, por meio do Estágio Docência, em duas
instituições de ensino superior, uma pública e outra privada, situadas no estado de
Minas Gerais” (Idem, ibidem). O estudo revelou, por exemplo, “que os professores que
estavam mais motivados apresentaram melhor desempenho” (Idem, ibidem).
Outra questão percebida nesta investigação foi que os professores, de modo
geral, não conseguiram vincular teoria e prática de maneira plena. Porém,
notou-se que os professores estagiários entendiam a importância desta
articulação, mas a falta de prática, muitas vezes, era um limitante. (...)
Percebe-se então que a junção de outras possibilidades de vivenciar a prática,
como em laboratórios de aprendizagem, constituiria uma alternativa à
formação de professores universitários por viabilizar a construção destes
profissionais, de maneira mais completa. (JOAQUIM, 2012, p. 503)

Averiguamos, ainda, que um bom número de artigos trata da importância de uma


formação pedagógica nos cursos de Pós Graduação a partir do ponto de vista específico
de uma área de conhecimento, no caso, a área de saúde, mais uma vez, concorrendo
com o maior número de artigos. A importância dessa formação para a docência na área:
(CASTANHO; 2002); (OLIVEIRA; SEIFFERT, 2007); procedimentos de formação
como a monitoria (NATÁRIO; SANTOS, 2010); e as concepções e práticas sobre
aspectos didático-pedagógicos de pós-graduandos participantes da disciplina “Formação
Didático-Pedagógica em Saúde” (FDPS), usando como recurso para a investigação “as
produções postadas em fóruns de discussão no Moodle” (NASCIMENTO; VIEIRA,
2012, p. 840), foram os aspectos abordados.
Ainda, do ponto de vista específico, destacam-se dois (2) trabalhos organizados
por Ana Luiza Quadros sobre a formação do docente universitário na área de química, a
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partir da narrativa dos pós-graduandos dessa área (QUADROS et. al., 2012a, 2012b).
Os estudos demonstram que, embora os estudantes se ressintam de uma preparação
específica para o ensino, “tendem a valorizar a pesquisa e as atividades que a
dinamizam” (QUADROS et. al., 2012a, p. 389). Os autores acrescentam que: “As
iniciativas oferecidas no programa em questão, a partir da última década, vêm ao
encontro das necessidades descritas pelos pesquisados, mas precisam ser ampliadas,
num processo amplamente reflexivo.” (QUADROS et. al., 2012b, p. 309).
Como já mencionamos na descrição desta categoria sobre a questão da
formação para o exercício da docência no ensino superior encontramos estudos
específicos sobre a formação do pesquisador. Um deles destaca a Iniciação Científica
(PIBIC/CNPq) e os limites desse modo de formação, a partir da prática profissional dos
egressos do programa em uma universidade estadual (PIRES, 2009). Encontramos ainda
outro estudo cujo objetivo foi o de compreender o modo como se dá a iniciação à
pesquisa no Ensino Superior, analisando as entrevistas dos professores que atuam com
as disciplinas relacionadas a essa área (NEUENFELDT et. al., 2011).
Dois (2) artigos analisam essa questão, estudando o destino profissional dos
egressos dos cursos de pós-graduação. O texto de Jacques Velloso (2004) pergunta
sobre o destino profissional de mestres e doutores e como percebem a relevância da
formação em pesquisa obtida, em função do trabalho que realizam. De acordo com o
autor: “O destino profissional de mestres é bastante diversificado e a docência no ensino
superior não costuma ser a ocupação majoritária; o de doutores concentra-se na
academia (universidades e instituições de pesquisa)” (VELLOSO, 2004, p. 583). A
avaliação que fazem de sua formação em pesquisa é sempre mais favorável quando
trabalham na “academia”, nos dois segmentos estudados. Na mesma direção e obtendo
resultados semelhantes, Zaidan (2011) analisou as respostas de 305 egressos do
programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG (1977-2006) e os
resultados demonstraram que a docência no ensino superior é a ocupação majoritária
desses entrevistados. “Mestres e doutores avaliam positivamente a formação em
pesquisa e a sua passagem pela Faculdade de Educação e consideram a pós-graduação
um lugar de formação do pesquisador e de produção de conhecimento” (ZAIDAN,
2011, p. 129). Por outro lado, afirma-se que quanto ao objetivo de formação docente,
muitas questões ficaram em aberto, especialmente, as questões relativas à relação
ensino-pesquisa.
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Na tentativa de buscar certa sistematização dos temas tratados nesta categoria


podemos verificar que há consenso, em grande parte dos artigos sobre a necessidade de
formação pedagógica dos docentes de ensino superior, seja pelos cursos específicos de
pós-graduação, seja pela promoção de disciplinas e práticas, que a favoreçam como: o
Estágio Docência e a monitoria. Há ainda, consenso de que essa promoção deve ser
institucionalizada para ser eficaz.
Nesse sentido, “o desenvolvimento de uma cultura de valorização do ensino na
universidade” (CORRÊA; RIBEIRO, 2013, p. 319) seria a contrapartida necessária para
que a formação pedagógica do docente adquirisse relevância e significado. Esta
percepção pode ser justificada, ainda, pela grande quantidade de estudos gerados no
contexto de cursos específicos, como os da área de saúde, que analisando os problemas
verificados em suas graduações procuram identificar na carência de uma formação
pedagógica as razões dessas deficiências. Muitos sugerem, portanto, procedimentos e
práticas que promovam as competências pedagógicas não verificadas.
Por outro lado, foi possível observar que na maior parte dos casos parte-se do
pressuposto que os cursos de pós-graduação estão consolidados como formação de
pesquisadores. Não é surpreendente, portanto, que tenhamos encontrado, neste reduzido
universo, três (3) artigos dedicados a esta questão, em especial. Neles se reitera,
especialmente pelo acompanhamento do destino profissional dos egressos, que os
estudantes de doutorado terminam por exercer a docência nas universidades.
Podemos dizer que a “tensão” entre as funções de ensino e de pesquisa
percebidas no exercício da docência de ensino superior estão muito presentes nos
artigos que serviram de base para este estudo. Podemos mesmo afirmar que as
reticências que observamos na pesquisa realizada na década de 90, com os professores
da USP, a respeito de uma formação pedagógica inicial para o professor universitário,
ainda permanecem, ou, pelo menos, encontram eco nas atividades e práticas desse nível
do ensino brasileiro.

Considerações Finais.
Este estudo exploratório que procurou localizar a produção de artigos publicados
em periódicos especializados sobre o tema da formação e do exercício da docência no
ensino superior, a partir das temáticas veiculadas em investigação anterior permitiu-nos
verificar que as questões então levantadas continuam presentes nos trabalhos publicados
a partir dos anos 2000.
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Assim, as categorias: a participação em processo de reformulação curricular;


busca de integração maior entre as atividades de ensino, pesquisa, extensão; utilização
de alternativas pedagógicas em substituição às aulas expositivas; utilização dos
recursos multimídia e a informática e a questão da formação para o exercício da
docência no ensino superior; reapareceram nos artigos levantados, demonstrando que o
debate sobre as especificidades da docência nesse nível de ensino continua, e
praticamente nos mesmos termos anteriormente averiguado. Foi possível perceber
também que estão emergindo e ganhando importância novos temas como a questão da
avaliação, principalmente sob a perspectiva institucional, indicando os efeitos que esse
procedimento tem causado sobre a organização dos cursos e as práticas docentes no
ensino superior.
Pudemos apurar ainda alguns textos que embora não pudessem ser enquadrados
nas categorias específicas tratavam de questões importantes para a compreensão do
atual momento que o ensino superior experimenta, sugerindo, inclusive os
pesquisadores tem sido instados a realizar suas investigações, pressionados pela
vivência cotidiana de sua atividade docente. Considerações sobre a “precarização do
trabalho docente” (SANTOS, 2012) e os impasses presentes na atual configuração das
universidades públicas no país (CHAUÍ, 2013), bem como, na análise das
representações sobre a docência, a verificação da “a fragilidade do campo científico da
educação e da pedagogia universitária” (RIBEIRO; CUNHA, 2010) parecem-nos
questões cruciais para alimentar o debate.
Nesses termos, a descrição mais minuciosa dos artigos classificados na
categoria: “a questão da formação para o exercício da docência no ensino superior”,
embora demonstre pelo número de publicações a vitalidade do tema, causou-nos a
convicção de que ainda temos um longo caminho a percorrer para cumprir alguns dos
principais preceitos que determinaram a organização da universidade brasileira na
segunda metade do século passado, qual seja: a indissociação entre ensino e pesquisa
como fundamento da constituição da docência no ensino superior.
Vários autores como Nogueira (1989) e Cunha (2005) tem apontado os desafios
provocados pela indissociação, porém não percebemos ainda como iremos enfrentá-los
seja do ponto de vista institucional, na organização da vida acadêmica e também do
ponto de vista da formação docente, nos cursos de pós-graduação.
Além disso, verificar que a concentração da discussão sobre a formação do
professor para o ensino superior encontre eco principalmente na área da saúde, voltada
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quase que exclusivamente para a formação profissional, sugere a pergunta sobre o que
se tem entendido como competência pedagógica nesse âmbito.
Talvez devamos investir mais em pesquisas no campo e, sobretudo, tenhamos
que rever conceitos básicos que possam sustentar com mais força uma suposta
pedagogia universitária. Nesse caso, está em jogo, a nosso ver, o próprio conceito de
formação, como e quando será oferecida. Está em jogo, também, o próprio modelo
pedagógico a ser forjado, para o exercício da atividade de ensino. Continuaremos a
implementar o “modelo pedagógico tradicional” (BIREAUD, 1995), traduzido pela
“aula magistral” e pelas formas de controle e avaliação, e que ainda não teve sua lógica
rompida, a despeito da incorporação de inovações, de natureza tecnológica,
representadas pela utilização dos meios e recursos audiovisuais e da informática?

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