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RESUMO
Esta comunicação trata de estudo exploratório, com a intenção de recensear e analisar a
produção, em periódicos especializados, sobre o tema da formação e do exercício da
docência no ensino superior, a partir dos anos 2000. Para tanto, utilizamos como
principal procedimento metodológico o levantamento de artigos constantes da base
SciELO, usando como critério de busca as palavras-chave: Docência no Ensino Superior
e Pedagogia Universitária. Realizamos a análise documental sobre os temas abordados
nas produções, tendo como referenciais as categorias extraídas de pesquisa realizada na
década de 90, sobre professores inovadores na USP. Assim: participação em processo
de reformulação curricular; busca de integração maior entre as atividades de ensino,
pesquisa, extensão; utilização de alternativas pedagógicas em substituição às aulas
expositivas; utilização dos recursos multimídia e a informática e a questão da formação
pedagógica para o exercício da docência foram as categorias utilizadas para esta
descrição e análise dos 35 artigos classificados. Verificamos que essas temáticas
continuam sendo veiculadas nos artigos consultados, com incidência maior sobre a
questão da formação pedagógica, e em trabalhos especialmente oriundos da área da
Saúde. Por outro lado, foi possível apurar que novos temas, como a avaliação (seja
institucional - interna e externa, seja a avaliação da aprendizagem), parecem surgir de
modo emergencial, indicando, talvez, que os pesquisadores são instados a realizar suas
investigações, pressionados pela vivência cotidiana de sua atividade docente no ensino
superior. Porém, por se tratar de estudo exploratório, sugerimos algumas hipóteses a
serem aprofundadas em novas investigações.
Introdução
A questão da formação do professor universitário tem sido objeto de minhas
preocupações desde a década de 90 do século passado. Se, naquela ocasião, já era
previsível a necessidade de contemplar a função de ensino dentre os objetivos de
formação dos programas de pós-graduação oferecidos, não era claro, porém, como e em
que condições essa formação deveria e/ou poderia ser realizada.
As dificuldades para que o debate se avolumasse iam desde a diversidade e a
complexidade de significado do conceito de formação até as formas mais adequadas
para sua implementação.
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Para a descrição dos dados, os textos foram classificados a partir das categorias
apuradas na pesquisa anterior, e para efeito desta comunicação tais textos serão
relacionados quantitativamente, com alguns esclarecimentos sobre os respectivos
objetos de estudo. Procuramos, também, perceber e acompanhar as principais
tendências manifestas nessa produção, bem como apontar para o surgimento de temas
emergentes. Na medida do possível, tentaremos compreender o quadro que se
descortina, ainda que sob uma perspectiva parcial, tendo em vista os limites
estabelecidos neste estudo.
auxiliar a compreender o panorama atual do debate sobre a formação dos docentes para
o ensino superior.
Desse modo, diante da variedade de perspectivas e abordagens verificadas,
destacamos, primeiramente, aqueles artigos que tratam da formação pedagógica, de um
modo geral, e dos procedimentos usuais pelos quais ela tem sido promovida na pós-
graduação. Assim, Corrêa e Ribeiro (2013) sustentam, por exemplo, “a necessidade de
desenvolver uma cultura de valorização do ensino na universidade”, que se desdobraria
na “valorização de um capital pedagógico e na formação de um habitus pedagógico na
pós-graduação stricto sensu” (CORRÊA; BRANT, 2013, p. 319).
Por outro lado, dois (2) outros artigos apontam, segundo suas investigações, para
a necessidade de investimentos institucionais “que alterem dimensões do ensino e da
aprendizagem e sua sustentação teórico-pedagógica” (OLIVEIRA; VASCONCELLOS,
2011, p. 1011); ou procuram compreender como vem acontecendo o “processo de
formação de professores universitários, por meio do Estágio Docência, em duas
instituições de ensino superior, uma pública e outra privada, situadas no estado de
Minas Gerais” (Idem, ibidem). O estudo revelou, por exemplo, “que os professores que
estavam mais motivados apresentaram melhor desempenho” (Idem, ibidem).
Outra questão percebida nesta investigação foi que os professores, de modo
geral, não conseguiram vincular teoria e prática de maneira plena. Porém,
notou-se que os professores estagiários entendiam a importância desta
articulação, mas a falta de prática, muitas vezes, era um limitante. (...)
Percebe-se então que a junção de outras possibilidades de vivenciar a prática,
como em laboratórios de aprendizagem, constituiria uma alternativa à
formação de professores universitários por viabilizar a construção destes
profissionais, de maneira mais completa. (JOAQUIM, 2012, p. 503)
partir da narrativa dos pós-graduandos dessa área (QUADROS et. al., 2012a, 2012b).
Os estudos demonstram que, embora os estudantes se ressintam de uma preparação
específica para o ensino, “tendem a valorizar a pesquisa e as atividades que a
dinamizam” (QUADROS et. al., 2012a, p. 389). Os autores acrescentam que: “As
iniciativas oferecidas no programa em questão, a partir da última década, vêm ao
encontro das necessidades descritas pelos pesquisados, mas precisam ser ampliadas,
num processo amplamente reflexivo.” (QUADROS et. al., 2012b, p. 309).
Como já mencionamos na descrição desta categoria sobre a questão da
formação para o exercício da docência no ensino superior encontramos estudos
específicos sobre a formação do pesquisador. Um deles destaca a Iniciação Científica
(PIBIC/CNPq) e os limites desse modo de formação, a partir da prática profissional dos
egressos do programa em uma universidade estadual (PIRES, 2009). Encontramos ainda
outro estudo cujo objetivo foi o de compreender o modo como se dá a iniciação à
pesquisa no Ensino Superior, analisando as entrevistas dos professores que atuam com
as disciplinas relacionadas a essa área (NEUENFELDT et. al., 2011).
Dois (2) artigos analisam essa questão, estudando o destino profissional dos
egressos dos cursos de pós-graduação. O texto de Jacques Velloso (2004) pergunta
sobre o destino profissional de mestres e doutores e como percebem a relevância da
formação em pesquisa obtida, em função do trabalho que realizam. De acordo com o
autor: “O destino profissional de mestres é bastante diversificado e a docência no ensino
superior não costuma ser a ocupação majoritária; o de doutores concentra-se na
academia (universidades e instituições de pesquisa)” (VELLOSO, 2004, p. 583). A
avaliação que fazem de sua formação em pesquisa é sempre mais favorável quando
trabalham na “academia”, nos dois segmentos estudados. Na mesma direção e obtendo
resultados semelhantes, Zaidan (2011) analisou as respostas de 305 egressos do
programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG (1977-2006) e os
resultados demonstraram que a docência no ensino superior é a ocupação majoritária
desses entrevistados. “Mestres e doutores avaliam positivamente a formação em
pesquisa e a sua passagem pela Faculdade de Educação e consideram a pós-graduação
um lugar de formação do pesquisador e de produção de conhecimento” (ZAIDAN,
2011, p. 129). Por outro lado, afirma-se que quanto ao objetivo de formação docente,
muitas questões ficaram em aberto, especialmente, as questões relativas à relação
ensino-pesquisa.
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Considerações Finais.
Este estudo exploratório que procurou localizar a produção de artigos publicados
em periódicos especializados sobre o tema da formação e do exercício da docência no
ensino superior, a partir das temáticas veiculadas em investigação anterior permitiu-nos
verificar que as questões então levantadas continuam presentes nos trabalhos publicados
a partir dos anos 2000.
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quase que exclusivamente para a formação profissional, sugere a pergunta sobre o que
se tem entendido como competência pedagógica nesse âmbito.
Talvez devamos investir mais em pesquisas no campo e, sobretudo, tenhamos
que rever conceitos básicos que possam sustentar com mais força uma suposta
pedagogia universitária. Nesse caso, está em jogo, a nosso ver, o próprio conceito de
formação, como e quando será oferecida. Está em jogo, também, o próprio modelo
pedagógico a ser forjado, para o exercício da atividade de ensino. Continuaremos a
implementar o “modelo pedagógico tradicional” (BIREAUD, 1995), traduzido pela
“aula magistral” e pelas formas de controle e avaliação, e que ainda não teve sua lógica
rompida, a despeito da incorporação de inovações, de natureza tecnológica,
representadas pela utilização dos meios e recursos audiovisuais e da informática?
Referências
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