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Fundamentos

da Docência no Ensino
Superior
1. Da Profissão Docente 4

2. Algumas Contribuições 10
Antropológicas 12
Filosóficas 17
Sócio Históricas 22

3. A Conceituação de Didática 28

4. Referências Bibliográficas 33

02
03
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

1. Da Profissão Docente

Fonte: Pinterest1

D e acordo com Vasconcelos,


Amorim (s/d, p. 3) no contexto
de ampla discussão acerca da forma-
na função de docente do ensino su-
perior, além dos diversos professo-
res que, apesar de esboçarem um ex-
ção do professor universitário e as celente referencial teórico, neces-
condições pelas quais esses profis- sitam, entretanto, rever sua prática
sionais ingressam na vida acadê- pedagógica.
mica, surgem reflexões sob os dife- Conforme Ferenc, Mizukami
rentes enfoques e paradigmas relati- (2005, p. 4) a formação para o exer-
vos aos saberes pedagógicos e epis- cício do ensino superior pode ser
temológicos que mobilizam à docên- vista como um campo em que há
cia gerando assim, uma tensão ex- muito por se fazer em termos de pes-
plícita no bojo das universidades quisas e práticas. Quando existe al-
que cada vez mais têm recebido guma formação para a docência nes-
professores sem experiência prévia te grau de ensino está se encontra

1 Retirado em https://br.pinterest.com/

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

circunscrita “a uma disciplina de Esclarecendo mais Vasconce-


Metodologia do Ensino Superior, los, Amorim (s/d, p. 3) dizem que
nos momentos da pós-graduação, retomar essa temática implica apro-
com carga horária média de 60 fundarmos nossa discussão em tor-
horas”. no das exigências cada vez mais
Situa-se nesta disciplina, mui- complexas na preparação dos pro-
tas vezes, as referências e orienta- fessores universitários para o in-
ções para o professor universitário gresso no magistério superior que
atuar em sala de aula. Não há uma sobre passa a formação inicial numa
exigência de conhecimentos de base área específica do conhecimento. Fi-
para o magistério e nem uma forma- cando nítido, portanto, que a ausên-
ção sistemática propiciadora da cia dessa formação pedagógica vem
construção de uma identidade pro- delegar um peso enorme a esses
fissional para a docência (ANAS- professores frente às interfaces do
TASIOU, 2002, 2003, p.1). Essa au- “que ensinar” “como ensinar” e a
sência da formação dos professores “quem ensinar”, os quais ao transi-
para a docência no ensino superior tarem entre o amadorismo profis-
acaba por justificar que este seja um sional e a profissionalização, com-
lugar de atividade “assistemática, frontam com várias dificuldades que
com escasso rigor e pouca investi- não são previsíveis e passíveis ao
gação”, segundo Marcelo Garcia. O exercício da prática docente.
autor acrescenta que “não existiu até No geral, os professores que
hoje tradição de treino profissional por razões e interesses variados,
no ensino superior, e os professores adentram no campo universitário,
jovens sempre foram deixados sós, são de variados conhecimentos e
exceto talvez um breve curso de ini- áreas de atuação e em sua maioria,
ciação”. (GRAY, HOY apud GAR- não tiveram nenhum contato ante-
CIA, 1999, p.248). Ele se mostra rior com os conhecimentos nas áreas
pouco confiante na possibilidade de das Ciências humanas e sociais, para
que se construa um currículo de for- compreender, interpretar e aplicar a
mação inicial do professor universi- prática, numa perspectiva filosófica
tário. Acredita que seria mais plau- e política de educação como proces-
sível se falar em “programas de ini- so e produto que as várias correntes
ciação na profissão docente”. (GAR- de pensamento dão a esses termos.
CIA, 1999, p.249, apud FERENC, Partindo desse princípio, per-
MIZUKAMI, 2005, p. 4). cebemos a vivência efetiva que as

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

universidades enfrentam quando o cência e do desenvolvimento profis-


seu corpo docente é composto, em sional, mediante a preparação peda-
sua maioria, de principiantes na do- gógica não se dará em separado de
cência do ensino superior e nunca processos de desenvolvimento pes-
tiveram contato com uma formação soal e Institucional: este é o desafio
pedagógica que abarcasse os conhe- a ser hoje, considerado na constru-
cimentos teóricos e práticos relati- ção da docência no ensino superior.
vos às questões do ensino e aprendi- Essa constatação favorece a
zagem em sua contextualização, tais discussão da formação continuada
como: o aluno sujeito do processo de em serviço que deve referenciar a
socialização do saber; o professor pessoa do docente como sujeito que
agente de formação, e o contexto – ocupa espaços determinantes à
lócus onde ocorre o saber e as rela- transformação da sociedade, deslo-
ções que se travam entre suas inter- cando, assim, em primeira instân-
dependências, (VASCON-CELOS, cia, sua preparação pedagógica à
AMORIM, s/d, p. 3-4). conquista desse momento como
Ainda de acordo com Vascon- espaço institucionalizado onde seu
celos, Amorim (s/d, p. 4) dessa for- desenvolvimento pessoal possa per-
ma, no percurso de suas ações e no correr os diferentes espaços univer-
âmago do seu senso comum pedagó- sitários. Para tanto, faz-se necessá-
gico, o docente aloca sua práxis edu- rio considerar, a princípio, que a es-
cativa, desarticulada com as finali- pecialidade da docência oriunda do
dades sócio político e culturais do projeto institucional, cuja habilita-
processo educativo. ção deve vir articulada e legitimada
Sendo assim, é preciso apontar pelo mesmo, concedendo-lhe, assim
algumas saídas entre as quais, o consistência para o cultivo da com-
desenvolvimento profissional, como petência didático universitária.
aporte para o domínio dos saberes (VASCONCELOS, A-MORIM, s/d,
didáticos e o entrelaçamento da p. 5).
competência acadêmica com a com- Já para Isaia, Bolzan (s/d, p. 1)
petência didática. a problemática da profissão docente
Atentos a essa questão, Pi- no ensino superior envolve uma
menta e Anastasiou (2002, p. 259, série de questões que vão desde a in-
apud Vasconcelos, Amorim, s/d, p. dagação sobre qual é a função dos
5), referindo-se ao processo de do- professores, passando pela discus-
cência do ensino superior, dizem são sobre qual a natureza desta pro-
que: o avançar no processo de do-

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

fissão e do processo formativo que a  As estratégias a serem traba-


constitui, envolvendo a concepção lhadas, para desenvolver os
de professoralidade que tem por conteúdos científicos.
pressuposto básico o conhecimento
pedagógico compartilhado. Na formação continuada dos
Na busca de respostas possí- professores em serviço, o enfoque
veis apontamos para trilhas capazes sobre a teoria é considerado excessi-
de elucidar o desenho desse proces- vo, não possibilitando a solução dos
so de formação: primeiro, compre- problemas práticos, pois se fala de
endendo a trajetória docente como um aluno pouco real, sendo descon-
uma rede de relações na qual refle- sideradas informações necessárias
tir, compartilhar e reconstruir expe- sobre:
riências e conhecimentos é essen-  O aluno e sua realidade so-
ciocultural;
cial; segundo compreendendo a im-
 As relações entre a teoria e
portância de um consistente desen-
prática;
volvimento profissional, conside-  Os problemas de aprendiza-
rando que tal desenvolvimento pres- gem;
supõe formação inicial e continuada.  Os problemas sociais (fami-
Com respeito à formação ini- liares, econômicos, culturais,
cial, esta tem sido considerada pelos etc.) que podem intervir sobre
professores demasiadamente teóri- a aprendizagem;
ca, pouco prática, muito afastada da  As formas de atuação/inter-
venção didática capazes de mi-
sala de aula. A queixa principal é que
nimizar os problemas práticos
os professores formadores não ex- encontrados.
plicam o suficiente ou não fornecem
informações precisas sobre: Continuando sua explanação
 As dificuldades a serem en- Isaia, Bolzan (s/d, p. 2-3) explicam
contradas; que nessa perspectiva, é necessário
 O tipo de aluno com o qual proporcionar, aos professores prin-
trabalharão;
cipiantes e em serviço, apoio e re-
 As influências dos problemas
sociais existentes nas classes; cursos dentro das instituições nas
 A psicologia dos alunos e as quais atuam, além de ajudá-los a
técnicas a serem aplicadas pa- aplicar o conhecimento que já pos-
ra promover sua aprendiza- suem ou podem obter por si mês-
gem e, consequentemente, seu mos.
desenvolvimento;

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Logo, pensar a formação como preender os saberes teóricos, a se-


uma rede de relações implica neces- rem ensinados e para podermos en-
sariamente compreendê-la a partir sinar o que são os conceitos, os fatos,
dos seguintes pontos: a atenção ao os saberes da cultura, o saber – sa-
papel da reflexão, as relações entre a ber. Os saberes práticos, que são as-
teoria e a prática pedagógica; a aná- beres sobre a prática e da prática,
lise de situações pedagógicas, a são os procedimentos formalizados,
transformação das representações e as estratégias de ação pedagógica, o
das práticas, as observações entre saber-fazer e as mediações pedagó-
professores, à percepção de como gicas.
acontece a ação pedagógica, o saber- Assim, o desenvolvimento
fazer e o saber-saber, a metacomuni- profissional e pessoal se constitui via
cação entre professores e os profes- rede de relações, permitindo a cons-
sores e seus alunos, os modos de in- trução da professoralidade alicerça-
teração através da rede de relações da na construção do conhecimento
estabelecida para apropriação dos pedagógico compartilhado. (ISAIA,
conhecimentos, as histórias de vida BOLZAN, s/d, p. 2-3).
dos professores - análise das trajeto-
rias docentes, a experimentação e a
experiência, interações e mediações
possíveis sobre o saber e o saber-
fazer.

Fonte: https://cinform.com.br/

Nessa mesma direção, ao re-


fletirmos sobre o desenvolvimento
profissional, precisamos compreen-
der a tipologia dos saberes que cons-
tituem tal desenvolvimento, com-

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

2. Algumas Contribuições

Fonte: Pinterest2

P ensando a incorporação e a
utilização dos fundamentos da
ação docente (Carvalho, s/d, s/p)
pende, enfim, do habitus particular
de cada indivíduo.
Esses fundamentos possuem
nos diz: (tais como os de base filosó- versões diferentes. São como lentes
fica, psicológica, sociológica, antro- ou filtros seletivos através dos quais
pológica e os fundamentos calcados o professor vê o mundo a seu redor.
na experiência e na vivência do pro- É seletivo, portanto. Por isso, é im-
fessor, dentre outros), dependem portante para a sua prática profis-
dos referenciais de cada sujeito no sional os conhecimentos específicos
seu processo de desenvolvimento da sua área de atuação, assim como
pessoal e profissional, além do de- os conhecimentos pedagógicos me-
senvolvimento organizacional do diados pelos fundamentos filosófi-
seu lócus de trabalho. Depende, por cos, psicológicos, sociológicos e ou-
outro lado, da formação técnica, po- tros; aliados a sua experiência do-
lítica e humana do indivíduo. De- cente para que ele vá construindo a

2 Retirado em https://www.pinterest.co.uk/

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base de conhecimento para ensinar. fluências, as observações, as vivên-


Vale lembrar, que a experiência por cias e as experiências cotidianas nos
si só nada ensina, mas, quando o diferentes contextos por onde cir-
professor estabelece um diálogo re- cula o docente, tudo é filtrado pelo
flexivo com esta experiência, quan- seu saber de referência, ou seja, tudo
do o professor interage com a sua é interpretado a partir dos enqua-
própria prática ele aprende na ação. dramentos culturais e teórico-meto-
Realizar um trabalho onde os liames dológicos que o professor vai adqui-
que unem teoria e prática estejam rindo e redimensionando, sendo es-
presentes não é fácil, mas é possível. tes os resultados da aprendizagem
Chega-se a restaurar esses liames pessoal da base de conhecimento
através da experiência e da vivência que se expressa a todo o momento
docente reflexiva, enfim, da reflexão pelas representações pessoais e so-
na e sobre a ação. (CARVALHO, s/d, ciais dos professores e que se vai
s/p). construindo no processo do seu de-
Segundo (Carvalho, s/d, s/p) a senvolvimento pessoal e profis-
bagagem ou base de conhecimento sional.
que cada professor leva ao iniciar Nesse sentido, as relações e as
sua vida profissional vai marcar as interações socioculturais e políticas
diferentes práticas de ensino, as que se estabelecem tanto fora quan-
quais se configuram como “o corpo to no interior do ambiente de tra-
de compreensão, conhecimentos, balho e de aprendizagem são eixos
habilidades e disposições que um importantes que sustentam o pro-
professor necessita para atuar efeti- cesso de formação de professores.
vamente numa dada situação de en- Durante o processo de forma-
sino (...)” (Shulman, 1987, p. 316, ção do indivíduo, tanto pessoal
apud. Mizukami, s/d. p.20). É as- quanto profissional, ele vai enrique-
bido, entretanto, que apoiado nas cendo, alargando e aprofundando
concepções particulares de educa- sua estrutura cognoscitiva, sua vi-
ção e de conhecimento, inclui-se vência social e política, seus conhe-
nesse conhecimento de base para o cimentos, estabelecendo diferentes
ensino todas as influências sofridas relações, vão, enfim, como profissio-
no decorrer da vida social, cultural, nal, ampliando sua base de conhe-
pessoal e profissional do docente. cimento, mobilizando diferentes as-
Na construção do conheci- beres, para atuar no mundo da pro-
mento de base para ensinar, a for- fissão. Nesse caminhar ele adquire
mação acadêmica, as inúmeras in- de diferentes fontes os conhecimen-

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tos que vão ajudá-lo a melhorar/um- com ele vivencia o dia-a-dia na lide
dar sua prática. Nesse caminhar vão do trabalho diário, podendo, desta
construindo representações signifi- forma, transformar sua própria vi-
cativas do mundo, isto é, concepções são de mundo e consequentemente
de mundo e de tudo o que nele há, os rumos da sua ação num trabalho
inclusive da sua prática e da maneira coletivo na perspectiva de uma prá-
como vê a prática, como se percebe e tica pedagógica reflexiva.
como vê os outros. (CARVALHO, Prática pedagógica reflexiva
s/d, s/p). ou prática reflexiva é outro conceito
Enfim, aponta (Carvalho, s/d, que o professor não pode ignorar se
s/p), baseados nas suas experiências quiser melhorar sua prática docente.
e conhecimentos particulares, ba- A prática pedagógica reflexiva é
seados em seus referentes (habitus), aquela enunciada por Freire (1975,
à medida que desenvolve sua estru- p. 9) “ninguém educa ninguém, co-
tura cognoscitiva, que vivem a par- mo tampouco ninguém se educa a si
ticipação social e política (que dura mesmo: os homens se educam em
a vida inteira, ininterruptamente), comunhão, mediatizados pelo mun-
vão incorporando todos os conheci- do”. Significa que o processo de
mentos adquiridos durante essas conscientização desenvolve-se à me-
vivências e mobilizando-os na reali- dida que as pessoas, coletivamente,
zação do seu trabalho; vão também discutem, enfrentam e resolvem
estabelecendo novas relações, o que problemas comuns. (CARVA-LHO,
vai dar novos significados as suas s/d, s/p).
experiências, interesses, enrique-
cendo, enfim seu background. Nesse Antropológicas
processo de construção integral do
indivíduo, a sua prática pedagógica Para Brandão (s/d, p. 8) du-
processa-se em um contínuo, que rante largos anos a antropologia dei-
vai oscilar entre: a consciência prá- xou na penumbra quase tudo o que
tica e a consciência da prática. tem a ver com as estruturas e rela-
A consciência da prática como ções de reprodução do saber através
nível elevado de consciência ou ele- da socialização escolar de crianças e
vado nível de compreensão da rea- de jovens. Isto é: a educação. Algo
lidade, o sujeito da praxis tem plena que as sociologias da Europa, dos
compreensão do trabalho que reali- Estados Unidos da América e mes-
za; conhece as implicações da sua mo das culturas científicas periféri-
ação na vida dos outros sujeitos que cas nunca deixaram de lado, ainda

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que raramente uma sociologia da muito fecundos começou a aconte-


educação tenha sido área nobre nas cer quando a teoria e a pesquisa pra-
ciências sociais. Mais ainda. Por al- ticadas nas faculdades de educação,
gum tempo a antropologia deixou de maneira especial, descobriram,
em segundo plano até mesmo todo ao mesmo tempo: o sujeito pessoal
um repertório essencial de questões na escola (a pessoa que existe dentro
relativas ao sujeito humano, ao lugar do aluno e a mulher subjacente à
da individualidade na cultura e aos professora); o cotidiano escolar, as
relacionamentos interativos entre relações interativas não exclusiva-
pessoas e, não apenas, entre atores mente pedagógicas; as teias e tramas
sociais. Foi quando tudo o que de al- de sentidos, sensibilidades, sociali-
gum modo pudesse parecer uma dades e saberes no interior da escola
abordagem de tipo “psicologista” e nos entrecruzamentos entre ela e
tendia a ser silenciado ou, como di- os outros tempos e espaços que a
zem os próprios antropólogos: rela- educação coabita na e como uma
tivizado. cultura; a identidade social (onde
Apenas nos últimos 20 ou 30 antes se percebia a personalidade
anos a antropologia - herança de genérica do indivíduo) e, por conse-
Émile Durkheim muito mais do que quência, as abordagens interpreta-
de Sigmund Freud, não esquecer - tivas e os estilos qualitativos de pes-
iniciou o caminho de volta ao lugar quisa e de interpretação. Descobriu
da pessoa na cultura. Alguns recen- ainda a diferença e o direito à dife-
tes trabalhos brasileiros são nota- rença na educação e através da edu-
veis neste sentido. No entanto, re- cação. Tempos de multiculturalis-
pito, um interesse da antropologia mo. (BRANDÃO, s/d, p.8).
pela educação e, de maneira espe- Um número grande segundo
cial, pelo mundo da escola, é ainda Brandão (s/d, p. 8) e crescente de
hoje muito pequeno, quase excep- artigos e de livros a respeito da “cul-
cional. tura na escola” e da “pesquisa qua-
Em uma outra direção, nos litativa na educação” é o melhor in-
últimos anos o educador descobriu dicador disto. Uma outra variação
as abordagens de estilo antropoló- tem sido um certo deslocamento ou,
gico. Descobriu as abordagens fun- melhor ainda, uma virada de con-
dadoras ou derivadas do interacio- vergência de focos e de olhares pro-
nalismo simbólico na sociologia do venientes de áreas exclusivamente
cotidiano. Este fato que abre hori- psicológicas, para os intervalos de
zontes inéditos e desafiadoramente um ponto de encontro entre a psico-

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logia e as ciências sociais. Acredito muito pequena de tolerância cien-


que este promissor não significa tífica era deixada aberta para a vida
uma perda de qualidade da contri- cotidiana na escola, assim como pa-
buição das teorias e das pesquisas ra a realidade existencial (e não ape-
empíricas da psicologia na educa- nas pedagógica) das pessoas na es-
ção. Ao contrário, tudo isto aponta cola, e para os jogos misteriosos de
para um enriquecimento e uma suas interações. Uma abertura me-
abertura de horizontes de um gran- nor ainda era dada ao acontecimen-
de valor, pois o que justamente se to imprevisível das culturas na, con-
deve objetivar são estas intercomu- tra e através da escola, e para as ma-
nicações entre campos do saber diri- neiras como as próprias escolas são
gidos à educação. Estas inter e momentos peculiares de culturas em
transdisciplinar idades através das ação, principalmente quando não
quais a própria psicologia redesco- sabem disto.
bre e incorpora ao seu conhecimen- Hoje em dia novos olhares e
to, ao mesmo tempo, as redes dos outros interesses sacodem este uni-
neurônios do cérebro e as teias da verso pedagogizado demais, psicolo-
inteligência da cultura. (BRANDÃO, gizado demais até aqui. Professoras
s/d, p. 9). e professores são chamados a falar
Continuando Brandão (s/d, p. de suas vidas, de suas pessoas totais,
9) coloca: tomemos um exemplo de seus sonhos e de seus projetos
único entre tantos. Que ele seja, de como seres humanos e, até mesmo,
propósito, algo aparentemente mui- como educadores. Aos poucos
to simples e até mesmo secundário. aprendemos com vizinhos de outras
Apenas na aparência, claro. Até pou- ciências, que uma coisa é como se é
cos anos atrás, os sujeitos sociais en- e se comporta dentro da armadura
volvidos nas estruturas e nos proces- de uma situação artificiosamente ex-
sos da educação, eram representa- perimental. Outra é como se vive e
dos ao olhar da pesquisa como agen- como se interage no interior de um
tes das funções dos trabalhos de cenário “natural” de vida cotidiana.
administrar, de ensinar e de apren- Quantos passos gigantescos foram
der. A própria educação e as suas realizados no campo do comporta-
instâncias e regularidades institu- mento animal, quando biólogos e
cionais de trabalho pedagógico, a psicólogos experimentais saíram
começar pela escola, ocupavam todo dos laboratórios e da frente das pe-
o lugar reservado aos “objetos e ob- queninas jaulas de seus macacos, e
jetivos de estudo”. Uma margem foram pesquisar e compreender, la-

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do a lado com os etólogos (lembrar a pre relacionadas ao universo da edu-


montanha dos gorilas) como os se- cação. (BRANDÃO, s/d, p. 10).
res com quem compartimos o mis- De parte do pessoal da antro-
tério da vida são, quando vivem li- pologia, diz Brandão (s/d, p. 10)
vres em seu “meio natural”. Em que surge uma tentativa ainda muito tí-
“jaulas” estão ainda as crianças a mida de pensar o lugar e a dinâmica
quem dirigimos as nossas per- da vida e das intercomunicações so-
guntas? ciais na educação e no lugar escola
Aos poucos o “mundo da edu- como um contexto privilegiado do
cação” se revela na sua inteireza hu- acontecimento cotidiano da cultura.
mana, isto é, cultural. Surgem nele As identidades pessoais e profissio-
então as pessoas inteiras e intera- nais dos atores culturais da escola,
tivas envolvidas na educação. Sur- na escola e ao redor da escola, consi-
gem e podem afinal falar as suas re- derados desde o ponto de vista da
presentações de si mesmos; as suas integridade de suas existências, den-
visões de mundo (algo bastante além tro e fora do exercício de uma função
da simples ideologia política); as pedagógica do eixo ensinar e apren-
suas experiências cotidianas dentro der. Devolver ao todo da pessoa a
e fora do círculo da escola; as suas dimensão parcial da função profis-
vidas de pessoas inteiras, ali onde sional (inclusive e principalmente a
antes a educadora ou o aluno eram do estudante).
vistos e interpretados apenas en- Os imaginários, as vivências
quanto produtores de algum tipo de pessoais profundas, os devaneios, as
trabalho na educação. Ao olhar um visões de mundo (e não apenas da
lado e o outro do pequeno lugar de profissão e do trabalho) dos partici-
encontros de que falo aqui, parece pantes do mundo da educação. A in-
que estamos diante do seguinte. De terpretação densa da cultura esco-
parte dos estudiosos vindos da edu- lar tomada no todo de sua realidade,
cação, há uma redescoberta da es- como sistemas amplos, complexos e
cola como um lugar de cultura. Co- profundos de feixes de relações inte-
mo um múltiplo e fascinante cenário rativas entre teias e tramas de sím-
aberto à pesquisa de interações bolos e de significados. Uma revisita
significativas entre pessoas e entre ao desgastado “cotidiano da escola”,
pessoas e instituições situadas com o olhar ao mesmo tempo arguto
aquém e além de um domínio exclu- e inocente de quem procura desco-
sivamente pedagógico, embora sem- brir e compreender o acontecimento

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

vivo e inesperado das relações inter- Sair do ciclo de vida para os círculos
pessoais, por sob a camada espessa culturais da vida em ciclos, pois não
da estrutura dos relacionamentos se é criança, adolescente, jovem,
institucionais. adulto ou idoso em si e por razões
Para Brandão (s/d, p. 11) a puramente biopsicológicas. Se é e se
abertura desarmada para alguns te- vive a experiência pessoal e parti-
mas tradicionalmente tabus na prá- lhada de cada momento da vida,
tica e na pesquisa da educação: a dentro de mundos de interações
transgressão da norma; a indiscipli- com outros (de mesmo ciclo, de ou-
na; a formação de grupos e de outras tros), de grupos e de círculos de
unidades não previstas de interação idade e de vocação etária conver-
motivada dentro e fora da escola, gente, e também de atribuição social
principalmente entre alunas e alu- e simbólica de identidades e de sig-
nos; a sexualidade a as vivências nificados relacionais a cada catego-
sexuais das pessoas na escola e da ria “cíclica” de pessoas. A análise in-
escola; a droga, a violência. Enfim, o teracionalista e/ou interpretativa de
universo dos processos e produtos temas também essencialmente cul-
para escolares que assustam ao edu- turais como: os processos, mas
cador, mas que devem ser conside- igualmente as estratégias, os rituais,
rados como também constitutivos as alternativas múltiplas nas cultu-
(como acontece no tecido da vida ras, as alianças e os conflitos realiza-
social) de qualquer experiência cul- dos quando da aprendizagem (sem-
tural complexa, como a nossa. Isto pre se aprende uma cultura em uma
significa ousar perguntas novas, de- cultura), da inteligência (o que é ser
sarmadas, e procurar respostas que inteligente para um yanomami?), do
incidam sobre saberes, sensibilida- ensino, da sala de aula, do currículo.
des e socialidades, mesmo quando A pesquisa, a teoria e a crítica
perigosamente transgressivas, antes aberta para a reformulação ousada
de serem pré-julgados como “pro- não apenas de estruturas e de con-
blemas”. teúdos curriculares, mas de todo o
O foco do olhar sobre a ques- complexo de questões e práticas
tão dos ciclos, tão “psicologizada” tratadas e vivenciadas na escola. O
antes e tão relegada a um segundo que deve mudar na educação, quan-
plano fora da psicopedagogia. Des- do a educação é repensada através
locar uma análise mais formal e de todas as suas interconexões so-
mais exclusivamente orientada pela cioculturais e não apenas através de
psicologia para um olhar múltiplo. suas “funções sociais”?

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A direção ampliada do olhar à aluno, temos que admitir que tal


experiência pedagógica de outras formação, à medida que recai sobre
culturas. Não pensar apenas uma as atitudes fundamentais do homem
educação indígena desde o ponto de em face do mundo e de si próprio,
vista de nossas próprias ideias peda- não se refere somente à aquisição
gógicas. Algo como uma “educação de conhecimentos específicos, mas
para os nossos índios”. Ir aos índios, principalmente a opções morais e
aos negros e a tantos outros ouvi-los. escolha de valores. Como defende
Aprender com eles. Saber o que Gusdorf (1970, p. 80), “o ponto
pensam do que nós pensamos como central do ensino não consiste na
classificam o que classificamos e aprendizagem de muitas coisas, mas
como praticam o que praticamos, no autoconhecimento e no autodo-
com ou sem o nome de: educação. mínio que conduzem à plena e
Abrir o leque do que sejam práticas, humana realização, seja qual for o
metodologias e teorias de educação. campo participar de exercício que
Rousseau e Piaget foram grandes escolheu”.
pensadores da educação. Mas, e Tal preocupação reflete-se em
Gandhi? E o Dalai Lama? educadores de diversas épocas, des-
A questão do multiculturalis- de a Antiguidade Clássica. Talvez
mo na educação. A extensão dele e um dos primeiros textos da cultura
de suas consequências aos direitos ocidental onde se perceba uma ní-
humanos. Um esforço para revisitar tida distinção instruir e educar é
os direitos humanos e os direitos à aquele no qual Protágoras de Ab-
educação desde uma perspectiva re- dera, segundo testemunho de Pla-
gida pelo direito à diferença. A res- tão, afirma aos participantes do
ponsabilidade da educação em todo diálogo que o seu objetivo não se
este complexo processo não somen- restringe ao ensino de técnicas par-
te como um direito humano, mas co- ticulares, mas sim o desenvolver em
mo lugar essencial de criação contí- seus discípulos a capacidade de
nua de direitos humanos. (BRAN- orientarem a si próprios e aos outros
DÃO, s/d, p. 12). sobre a administração de suas casas
e de dirigir com êxito os assuntos do
Filosóficas Estado (JAEGER, 1989, apud SIL-
VA, s/d, s/p).
Conforme Silva (s/d, s/p) se Rousseau, por sua vez, reflete
considerarmos que a tarefa da edu- essa mesma preocupação, ao afir-
cação é a formação da pessoa do mar, no Emílio: “Viver é o ofício que

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FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

quero ensinar-lhe. Saindo de mi- nosamente, exigindo constantemen-


nhas mãos, ele não será, concordo, te novas qualificações, tais como:
nem, magistrado, nem soldado, nem conhecimentos teórico - práticos,
padre; será primeiramente homem. capacidade de abstração, decisão e
Tudo o que um homem deve ser, ele comunicação. Ao mesmo tempo,
o saberá, se necessário, tão bem aumentam os conflitos pessoais e
quanto quem quer que seja; e por interpessoais como consequência da
mais que o destino o faça mudar de crise de valores e da complexidade
situação, ele estará sempre em seu das relações sociais.
lugar” (ROUSSEAU, 1968, p.15, No mundo de hoje, cada vez
apud SILVA, s/d, s/p). mais, os muros vão caindo, as redes
Ainda de acordo com Silva informáticas crescem vertiginosa-
(s/d, s/p), a fins do século XIX e mente, o sistema da mídia se impõe
início do século XX, movimentos so- com força crescente, os meios de
ciais e culturais redundaram em am- comunicação entrelaçam o mundo
plas modificações na estrutura esco- de uma forma cada vez mais densa e
lar. O avanço incontrolável da ciên- complexa, sem contar que os gêne-
cia e a crescente especialização dos ros se mesclam e que as fronteiras
diversos conhecimentos levaram o estão cada vez mais vulneráveis. As-
mestre a restringir cada vez mais sim, o conhecimento é um processo
seus saberes a áreas específicas, per- dinâmico que ocorre em sujeitos e
dendo paulatinamente o contato instituições sociais em interação
com o todo cultural de sua época e com seu meio ambiente vital e em
com o aluno como um ser global em permanente transformação. (SIL-
desenvolvimento. VA, s/d, s/p).
A expansão das ideias demo- Neste sentido, Morin (2001,
cráticas e o crescimento de funções apud Silva, s/d, s/p) afirma que os
atribuídas à escola, devido princi- desafios básicos da humanidade no
palmente ao empobrecimento da século XXI, quanto ao ensino-
vida familiar e à complexidade da aprendizagem, podem ser agrupa-
vida profissional, levaram a escola a dos nos seguintes: o desafio da
abranger um número ilimitado de globalidade, que se relaciona à ina-
alunos ao quais fornece um mínimo dequação entre um saber fragmen-
de conhecimentos como bagagem a tado e compartimentado em diver-
ser utilizada num mundo em que no- sas disciplinas de um lado e, de ou-
vas tecnologias se sucedem vertigi- tro, entre as realidades multidimen-

18
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

sionais e os problemas cada vez mais nosso conhecimento, mas um mun-


transdisciplinares; e o desafio da do co-criado em nossa interação
não pertinência de nosso conheci- constante com o ambiente. Trata-se,
mento e de ensino, que nos leva a portanto, de um mundo que criamos
separar as disciplinas umas das ou- e que convocamos a ser em nossa
tras e não reunir aquilo que faz parte experiência interativa com o que
de um mesmo “tecido”. está fora, mas não separado de nós.
Diante desses obstáculos, tor- Este é, pois, o grande desafio
na-se imperativo o favorecimento da da aprendizagem, pois à medida que
aptidão que se disponha a relacionar o mundo no qual vivemos não é um
cada informação e cada conheci- mundo independente de nós, mas
mento ao conjunto do qual é parte um mundo que paulatinamente vai
integrante. Concomitantemente, é sendo construído torna-se funda-
preciso ainda fortificar a aptidão de mental o desenvolvimento de nossa
interrogar e de interrogar-se conti- capacidade intelectual para que o
nuamente, de relacionar o saber à mundo ganhe uma abordagem mul-
dúvida, de integrar o saber parti- tidimensional, imprescindível para
cular em sua própria vida e não so- fugir das dicotomias clássicas. (SIL-
mente em um contexto global e de VA, s/d, s/p).
colocar a si mesmo os problemas Para tanto, segundo Silva (s/d,
fundamentais de sua própria condi- s/p) a formação do jovem crítico,
ção e tempo. Assim, o fato de propi- capaz de avaliar constantemente
ciar ao aluno a arte de organizar seu suas possibilidades, aliadas às várias
próprio pensamento, de religar e, ao alternativas e restrições que se lhe
mesmo tempo, de diferenciar, repre- avizinham nos sucessivos momen-
senta, sem dúvida, o aspecto essen- tos de vida, é sem dúvida um dos
cial do ensino, que, entretanto, está objetivos fundamentais da educa-
quase sempre ausente, como afirma ção. O ensino deve então promover a
Morin (2001). capacidade de tornar o aluno côns-
Em relação à subjetividade da- cio de suas ideias e percepções, sen-
quele que conhece, um novo concei- sibilizando-se ante os problemas
to sobrepõe-se, de acordo com encontrados e intrigando-se com o
Najmanovich (2001), já que o mun- que os outros consideram como ver-
do que nos é dado conhecer, incluin- dades indiscutíveis. Somente dessa
do o nosso “corpo-mente”, não é um forma, será possível ao aluno arris-
mundo abstrato, independente de car-se a pensar diferentemente, cons

19
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

-truindo novas formas de explicar a alunos condições para que se desen-


própria multidimensionalidade ine- volvam através das mediações con-
rente ao mundo no qual interage. cretas de sua existência histórico-
Tais aspectos enfatizam a social? Ainda que regidos por deter-
necessidade de um trabalho coletivo minações próprias da natureza e da
por parte de todos os que participam sociedade, os indivíduos atuam tam-
do processo ensino-aprendizagem, bém sobre esses determinantes num
para que a escola possa transcender processo contínuo de relacionamen-
os objetivos relativos à instrução, to por meio do qual se transformam
contribuindo para o processo de hu- e transformam a natureza e a so-
manização da pessoa do aluno cons- ciedade. (SILVA, s/d, s/p).
ciente de si no mundo. Face ao pro- Seguindo em sua explanação
cesso de fragmentação que envolve Silva (s/d, s/p) aponta que para
pessoas e organizações, a tarefa da alcançar tais objetivos, David
educação relaciona-se ao estudo da Keirsey e Marilyn Bates (1984), pro-
realidade do aluno, trazendo-a para põem um referencial que pode re-
dentro da escola, concentrando-se presentar um subsídio valioso à
na busca da totalidade tanto da pes- atuação do professor e de todos
soa que se almeja formar, como das aqueles que concebem a educação
propostas de trabalho que abranjam como um processo mais amplo do
todos os que dela participam. que o da instrução, principalmente
Neste caso, o currículo funda- porque se preocupam em saber co-
menta-se, de um lado, na concepção mo os alunos percebem e reagem às
de homem em sua totalidade, e de diversas situações de vida.
outro, na realidade na qual se insere Ao considerar a personalidade
a escola, já que a função básica da como “o elemento estável da condu-
educação é a formação do aluno ta humana, a forma habitual de ser
tanto como ser individual como ser do indivíduo e, em última análise,
social. Neste sentido, além de de- aquilo que o diferencia dos demais”
fender a dimensão humana, deve o (Sillamy, p. 243 e 244), os autores
professor comprometer-se com os defendem a noção de temperamento
vários aspectos do ensino-aprendi- como um aspecto fundamental para
zagem, propiciando ao aluno conhe- a compreensão das pessoas, já que a
cer e interpretar as contradições e palavra corresponde ao fato de tem-
conflitos de seu cotidiano. Afinal, o perar tendências opostas, possibili-
que é educar senão propiciar aos tando uma uniformidade de colora-

20
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

ção, uma tematização do todo, uma à análise das diversas áreas voca-
unidade diante da diversidade. cionais e profissionais pelas quais se
É o temperamento que impri- inclina o aluno, como também à re-
me diferenciação ao indivíduo, se- flexão sobre quais tarefas, dentro
melhante à assinatura ou à impres- dessas áreas, podem corresponder
são digital e que determina o com- às principais inclinações demonstra-
portamento individual, uma vez que das pelos alunos na vida profis-
este é o instrumento de que dispõe sional.
para obter o que mais necessita e de- No campo da aprendizagem e
seja, satisfazendo assim suas aspira- da relação entre professor e aluno,
ções em relação à finalidade básica os perfis identificados pelos autores
em função da qual organiza sua vida. permitem esclarecer alguns aspec-
Representa, pois, um poderoso tos altamente relevantes. O princi-
agente determinador em relação à pal deles relaciona-se à necessidade
forma de ser individual que, em sua de se considerar sempre os limites
essência, só pode transformar-se de cada natureza com respeito ao
mediante o uso e o desenvolvimento querer, ao sentir e ao pensar (ethos,
de determinadas características pes- pathos e logos) e que por sua vez
soais, por meio da vontade própria. representa um dos aspectos éticos
(...) (SILVA, s/d. s/p). mais delicados da educação, pois
Quanto às implicações para a entre vontade, sentimento e pensa-
docência Silva (s/d, s/p) pondera mento há sempre uma inter-relação
que as diversas tendências indivi- complexa nem sempre diferenciada.
duais representam subsídios impor- Somente no concreto, segundo a
tantes para o docente, uma vez que natureza pessoal de cada um, é que
se refletem tanto no relacionamento o pensamento pode prevalecer sobre
que se estabelece entre professores e o sentimento e a vontade, ou um
alunos, como nos diversos modos de destes sobre os outros dois.
aprendizagem, nas formas de reagir Neste sentido, será pratica-
ante as adversidades da vida escolar mente impossível um perfeito equi-
e familiar, nos objetivos propostos líbrio entre as três valências, mas a
em relação aos empregos e à vida em busca da harmonia entre os três é
geral e na escolha profissional. sem dúvida a função básica da edu-
As tendências psicológicas cação. Para tanto, é fundamental
apontadas por Keirsey e Bates (1984 que o professor compreenda seus
e 1988) podem servir de base não só alunos, colocando-se no lugar des-

21
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

tes, para ajudá-los a redimensionar outro, sensibilidade essa que impli-


sua situação no mundo, capazes de ca em colocar-se no lugar do outro e
interagir nesse mundo e sendo, con- perceber que ele pode ter uma forma
comitantemente, influenciados por completamente diversa da minha
ele. Entre essas valências, o pensar para reportar-se à realidade.
(logos) se coloca como um objetivo Além disso, o homem é um ser
básico da educação, já que se refere situado, pois ser homem é ter uma
ao desenvolvimento do pensamento, dada condição humana. Por essa
da intelectualidade, da capacidade razão, o situar-se é condição insepa-
de formular juízos e de raciocinar rável da existência. E se não existe,
com a devida coerência. Relaciona- por parte do professor, um esforço
se, entretanto, tanto ao querer contínuo para se colocar no lugar do
(ethos) como ao sentir (pathos) e, outro, dificilmente se forma a ponte
por essa razão, o fato de conhecer o através da qual se estabelece a co-
querer, a vontade e os sentimentos municação que, por sua vez, propor-
dos alunos com os quais interage ciona a construção do conhecimento
assume um aspecto de importância por parte do aluno. (SILVA, s/d,
capital para o decente. (SILVA, s/d, s/p).
s/p).
Para tanto, segundo Silva (s/d, Sócio Históricas
s/p) é essencial tanto o conhecimen-
to como a compreensão do aluno, os De acordo com Medeiros, Ca-
quais Dilthey denomina de explicar bral (2006, s/p) a sociedade atual
(erklären) e compreender (verste- exige, necessariamente, uma educa-
hen) (Silva, 1992). Enquanto o co- ção comprometida com mudanças e
nhecimento se refere à aquisição da transformações sociais.
verdade com base na experiência No bojo dessa sociedade en-
atual, que, por sua vez, se apoia em contra-se uma educação que por ser
experiências passadas, a compreen- social e historicamente construída
são envolve sempre um ato de ade- pelo homem, requer como essência
são ao outro para envolvê-lo num no seu desenvolvimento uma lin-
sentido de reconhecimento, baseado guagem múltipla, capaz de abarcar
numa compreensão elevadora da toda uma diversidade e, compreen-
qual nos fala Spranger (1986). Por- dendo dessa forma, os desafios que
tanto, o ato de compreender envolve fazem parte do tecido de formação
necessariamente a sensibilidade ao profissional do professor. Esta for-

22
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

mação constitui um processo que discussões, análises e reflexões que


implica em uma reflexão permanen- ocorrem no interior dos centros de
te sobre a natureza, os objetivos e as formação profissional do professor
lógicas que presidem a sua concep- podem ser mediadas na sala de aula,
ção de educador enquanto sujeito campo de atuação real do professor?
que transforma e ao mesmo tempo é (...) (MEDEIROS, CABRAL, 2006,
transformado pelas próprias contin- s/p).
gências da profissão. Continuando sua explanação
Nesse sentido, Pimenta (2005, Medeiros, Cabral (2006, s/p) colo-
apud Medeiros, Cabral, 2006, s/p) cam que a preocupação com a rela-
coloca que a educação, não só retra- ção entre teoria educacional e prá-
ta e reproduz a sociedade, mas tam- tica docente, como já falamos ante-
bém projeta a sociedade desejada. riormente, vem ocupando as discus-
Por isso, vincula-se profundamente sões na educação. A propósito, essa
ao processo civilizatório e humano. relação teoria e prática é um tema
A autora complementa seu pensa- presente na história da filosofia, po-
mento com a seguinte afirmação: rém com uma tendência de enfatizar
enquanto prática pedagógica, a edu- a teorização em detrimento da prá-
cação tem, historicamente, o desafio tica. (...) Situando o conceito de prá-
de responder às demandas que os xis dentro de uma visão marxista,
contextos lhes colocam. podemos dizer que esta é a síntese
Com o objetivo de analisar a da teoria e da prática através da ação
formação docente a partir da cons- política. Pimenta (2005) explicita o
trução social e histórica do conheci- conceito de práxis a partir da con-
mento que necessariamente perpas- tribuição de Adolfo Sánchez Vás-
sa por esta formação, optamos por quez, concebendo- a como uma prá-
fazer um recorte que vai das teorias tica que se faz pela a atividade hu-
educacionais desenvolvidas nas uni- mana de transformação da natureza
versidades e institutos de formação e da sociedade, consolidando-se, as-
docente às práticas desenvolvidas sim, em uma práxis, em uma atitude
pelo professor na sala de aula. humana diante do mundo, da socie-
No sentido de trazer reflexões dade e do próprio homem.
acerca desta temática, pergunta- Neste mesmo sentido pode-
mos-nos: como os saberes docentes mos também analisar o pensamento
são elaborados, reelaborados e apro- de Marx e Engels (1989, p.14) quan-
priados pelo professor? Como as do afirmam que:

23
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

“(...) Os filósofos se limitavam a blá” e a prática “ativismo”. Giroux


interpretar o mundo de diferen-
(1997), ao analisar obras de Paulo
tes maneiras; o que importa é
transformá-lo”. Freire, compartilha da ideia deste,
quando afirma que a teoria não dita
Na verdade, com esta afir- a prática; em vez disso, ela serve
mação, estes pensadores chamam a para manter a prática ao nosso al-
atenção para os limites da teorização cance de forma a mediar e compre-
em si, a qual não retém condições ender de maneira crítica o tipo de
suficientes para promover mudan- práxis necessária em um ambiente
ças na realidade concreta, daí ressal- específico, em um momento par-
tar a atitude de intervir no mundo, ticular.
não reduzir a ação humana à pura Diante do exposto, podemos
contemplação. Também podemos concluir que o desenvolvimento de
perceber como essa relação teórico - uma consciência crítica sobre a re-
prática é recente se considerarmos lação necessária entre teoria e práti-
como marco para esta análise a his- ca, seria o diferencial que conduziria
tória da humanidade. dialeticamente tal relação rumo de
A atividade teórica por si só uma nova práxis. Portanto, o exer-
não leva à transformação da realida- cício da docência, enquanto ação
de; não se objetiva e não se matéria- transformadora que se renova tanto
liza, não sendo, pois práxis. Por ou- na teoria quanto na prática, requer
tro lado a prática também não fala necessariamente o desenvolvimento
por si mesma, ou seja, teoria e prá- dessa consciência crítica. E neste
tica são indissociáveis como práxis sentido podemos dizer que o exercí-
(PIMENTA, 2005, apud MEDEI- cio da ação docente requer preparo.
ROS, CABRAL, 2006, s/p). Preparo que não se esgota nos cur-
Neste sentido Medeiros, Ca- sos de formação, mas, para o qual há
bral (2006, s/p) colocam que Freire uma contribuição específica en-
(1996) complementa este pensa- quanto formação teórica (em que a
mento, elegendo uma categoria fun- unidade teoria e prática é funda-
damental para a efetiva realização mental) para a práxis transforma-
da práxis ou de uma nova práxis. dora. A práxis, assim, insere- se na
Segundo este autor, a reflexão crítica atividade docente que, enquanto
sobre a prática se torna uma exigên- uma prática social comporta a se-
cia da relação teoria - prática, sem a guinte observação de Schmied
qual, a teoria pode tornar-se “blá blá

24
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Kowarzid (1983, p. 133, apud Me- dizer, que a tríade: formador, for-
deiros, Cabral, 2006, s/p): mando e conhecimento se faz me-
“Cada vez mais, também a diante uma relação dialética, sendo
prática educacional é presa de pro- esta, uma característica necessária à
cessos de socialização e obrigações realização da práxis. Neste sentido,
sistêmicas “naturalmente” desen- Freire (1996, p.25) nos coloca que:
volvidas, de tal modo que os indiví- “(...) ensinar não é só transferir co-
duos, em vez de serem formados co- nhecimentos”, a nosso ver, o ato de
mo portadores autônomos da práxis ensinar descontextualizado da prá-
social, são determinados como por- xis não transforma, assim, concor-
tadores funcionais das relações so- damos com este autor quando diz:
ciais tomadas como dadas. Portanto, “Quem ensina aprende ao ensinar e
a teoria não pode se vincular dire- quem aprende ensina ao aprender”.
tamente de modo positivo e afir- (...) (MEDEIROS, CABRAL, 2006,
mativo a uma prática de socialização s/p).
anterior, esclarecendo-a acerca de Concluindo Medeiros, Cabral
sua base ética, para fornecer desta (2006, s/p) dizem: concordamos
maneira ao educador possibilidades com Giroux (1986) e Freire (1996)
de uma orientação e realização cons- no sentido de ser necessário e urgen-
ciente de sua prática. Ela precisa, em te que o professor assimile os princí-
primeiro lugar, revelar analítica- pios que orientam a atividade do-
mente de modo crítico as contradi- cente em direção à autonomia. Ten-
ções sociais, os momentos da alie- do-se em vista a formação deste pro-
nação na práxis educacional e de fissional autônomo, o mesmo terá
socialização anteriores, para desta mais condição de compreender e
maneira criar a pré-condição teori- atuar de maneira mais efetiva sobre
camente consciente para uma revo- a diversidade cultural, procurando
lução prática desta alienação”. refletir sobre os aspectos intelec-
Portanto, analisando a forma- tuais e sociais que envolvem o seu
ção docente, a partir de um contexto fazer pedagógico.
de práxis, na perspectiva da constru- A análise desta temática coloca
ção de novos conhecimentos, que em evidência a contribuição da re-
não se limitam ao momento da for- flexão e da crítica no exercício da do-
mação inicial, mas principalmente, cência para a valorização da profis-
estende-se por todo percurso profis- são docente, dos saberes dos profes-
sional do professor, podemos assim sores, do trabalho coletivo destes e

25
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

das escolas enquanto espaço de for- no contexto social, logo envolvendo


mação contínua. Contribui também dimensões epistemológicas, éticas e
para o reconhecimento do professor políticas. (MEDEIROS, CABRAL,
como investigador e produtor de co- 2006, s/p).
nhecimento, ao ressaltar que este
profissional pode refletir sobre sua
própria prática de forma sistemática
e objetiva, orientado por um suporte
teórico-metodológico que possibili-
ta o repensar e a problematização da
ação educativa que desenvolve du-
rante as aulas, em que envolve sa-
beres, técnicas, metodologias e es-
tratégias interativas para que de fato
ocorra a aprendizagem. Podemos
enfatizar então, a necessidade e a ur-
gência de superação do modelo de
racionalidade instrumental pelo de
emancipação e autonomia na forma-
ção de professor, bem como compre-
ender que a formação pessoal e pro-
fissional caracteriza-se como um
devir permanente, envolvendo as
experiências de formação – inicial e
continuada e as experiências do/no
exercício da profissão. Com esta
concepção de formação, temos a
prática docente como algo mais que
um conjunto de procedimentos téc-
nicos e metódicos de transmissão de
conhecimentos estanques, fazendo-
se mesmo como um compromisso
com a sociedade a partir de sua fi-
nalidade de contribuir para a forma-
ção consciente e crítica do cidadão e
do profissional que atua e interage

26
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

3. A Conceituação de Didática

3
Fonte: Solutioninn

P ara Targino (2009, s/p) quem


pela primeira vez se dispõe a
estudar a didática vê-se surpreendi-
na sala de aula e no ambiente de
ensino, mas ela deve estar presente
na vida de qualquer profissional,
do, pois embora em sua vida e du- empresário, líder etc., pois está in-
rante os seus estudos anteriores te- trínseca ao processo de aprendiza-
nha tido contatos com a didática, gem de quem ensina e de quem
nem por isso deu-se conta dela. A aprende. Logo, na vida ou se está
didática em nossa vida professoral ensinando ou aprendendo; portan-
nos é familiar. Todo trabalho huma- to, a didática constitui-se na ferra-
no, técnico e profissional do profes- menta básica do sucesso de qualquer
sor está fundamentado e embasado profissional. (...) (TARGINO, 2009,
na Didática. A didática não se esgota s/p). Ainda conforme Targino

3 Retirado em https://www.solutioninn.com/

28
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

(2009, s/p) em âmbito mundial, O dicionário francês contem-


países como Espanha, Estados Uni- porâneo Larousse (1990, p. 370)
dos da América, França, Alemanha e atribui à didática uma dimensão
Itália vêm realizando trabalhos so- poética, quando anota que a didática
bre as concepções epistemológicas e destina-se a servir de recurso técni-
a problemática que envolve a di- co de memorização, para facilitar a
dática, quanto ao seu conceito e aprendizagem popular da estrofe.
objeto de estudo. Didactique, adj. Se dit de ce qui ex-
Inicialmente, serão evidencia- prime un ensignement: Lês “Georgi-
dos os traços etimológicos e termi- ques” de Virgille sont dês poèmes di-
nológicos da palavra “didática”. No datiques. Un exposé de caractere
Dicionário da Real Academia Espa- nettement didatique. Refere-se
nhola (1970), didática é a arte de também este conceito à seleção e à
ensinar. Por sua vez, ensinar didati- representação de questões ou argu-
camente refere-se ao modo de de- mentos que sejam valiosos por si
senvolver uma atividade de maneira mesmos e, portanto, apresentam-se
didática, saber ensinar. Já didático é como conteúdos a aprender. A lite-
aquele que está apto para ensinar e ratura didática trata de assuntos va-
instruir. Essa dimensão conceitual liosos que, por isso mesmo, deve-
expressa o entendimento de que a riam ser aprendidos. A didática, no
didática é a arte de transmitir conhe- caso, deveria facilitar essa aprendi-
cimento de tal maneira que seja fácil zagem, tendo em vista a disposição
de aprender. É o instrumento de en- lógica de seus conteúdos, conforme
sino próprio do professor. Este, para consta no citado dicionário, o qual
ser didático, deve adaptar-se às con- cita como exemplo, a poesia de Vir-
dições que lhe são impostas pela gílio (poeta romano).
didática. O Dicionário Aurélio define a
didática como “a técnica de dirigir e
orientar a aprendizagem: técnica de
ensino. O estudo dessa técnica”. Es-
se conceito reforça o aspecto instru-
mental, técnico da didática, como se
essa dimensão fosse a única ao esta-
belecer: Didático: relativo ao ensino
ou à instrução ou próprio deles: pro-
blemas didáticos. Próprio para ins-
Fonte:
truir, destinado a instruir: livro di-
https://exame.abril.com.br/

29
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

dático. Que torna o ensino eficiente: sobre como os professores deveriam


bom professor recorre em suas aulas se portar em sala de aula. Tradicio-
a todos os expedientes didáticos. nalmente, os elementos da ação di-
Típico de quem ensina; de professor, dática são: professor, aluno, conteú-
de didata. Tem um modo didático de do, contexto e estratégias método-
se exprimir (FERREIRA, 1990, p. lógicas.
173, apud TARGINO, 2009, s/p). Com o estudo dos paradigmas
Como se vê, estes conceitos educacionais nos cursos de pedago-
enfatizam a didática apenas em suas gia e de formação de professores,
dimensões instrumental e técnica. É amplia-se o conhecimento em rela-
esta a ótica que os perpassa. Omi- ção à didática. Em cada tendência
tem-se as dimensões holística, con- pedagógica diferem visão de homem
juntural e estrutural, acarretando a e de mundo e modifica-se a finalida-
dicotomia fazer sem pensar e pensar de da educação, mudam o papel do
sem fazer. (TARGINO, 2009, s/p). professor, do aluno, a metodologia,
a avaliação, e, consequentemente,
muda-se a forma de ensinar.

Fonte:
https://www.pinterest.co.uk/

Quanto ao termo didática Pa- Fonte: https://medium.com/


cievitch (2009, s/p) coloca que foi
instituído por Comenius (Jan Amos Atualmente, a didática é uma
Komensky) em sua obra Didática área da Pedagogia, uma das maté-
Magna (1657), e originalmente sig- rias fundamentais na formação dos
nifica “arte de ensinar”. Durante sé- professores, denominada por Libâ-
culos, a didática foi entendida como neo (1990, p. 25) como “teoria do
técnicas e métodos de ensino, sendo ensino” por investigar os fundamen-
a parte da pedagogia que respondia tos, as condições e as formas de rea-
somente por “como” ensinar. Os ma- lização do ensino. Segundo Libâneo
nuais de didática traziam detalhes

30
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

(1990, p. 26): a ela cabe converter Esse mesmo autor indica que a
objetivos sociopolíticos e pedagógi- didática “investiga as condições e
cos em objetivos de ensino, selecio- formas que vigoram no ensino e, ao
nar conteúdos e métodos em função mesmo tempo, os fatores reais (so-
desses objetivos, estabelecer os vín- ciais, políticos, culturais, psicosso-
culos entre ensino e aprendizagem, ciais) condicionantes das relações
tendo em vista o desenvolvimento entre docência e aprendizagem”
das capacidades mentais dos alunos. A didática, fundamentada na
(...) trata da teoria geral do ensino. dialética, é um campo em constante
A disciplina de didática deve construção/reconstrução, de uma
desenvolver a capacidade crítica práxis que não tem como objetivo
dos professores em formação para ficar pronta e acabada. (PACIE-
que os mesmos analisem de forma VITCH, 2009, s/p).
clara a realidade do ensino. Articular
os conhecimentos adquiridos sobre
o “como” ensinar e refletir sobre
“para quem” ensinar, “o que” ensi-
nar e o “por que” ensinar é um dos
desafios da didática. Segundo Libâ-
neo (1990, p. 52), a didática é: uma
das disciplinas da Pedagogia que
estuda o processo de ensino através
de seus componentes os conteúdos
escolares, o ensino e aprendizagem
para, com o embasamento numa
teoria da educação formular diretri-
zes orientadoras da atividade profis-
sional dos professores.

Fonte: https://br.pinterest.com/

31
32
FUNDAMENTOS DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

4. Referências Bibliográficas
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