Você está na página 1de 60

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

THIAGO MOTA PEREIRA

O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A JURISDIÇÃO DA CORTE


INTERAMERICANA DE DH: ANÁLISE DO CASO MÁRCIA BARBOSA X
BRASIL

ARACAJU
2023
THIAGO MOTA PEREIRA

O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A JURISDIÇÃO DA CORTE


INTERAMERICANA DE DH: ANÁLISE DO CASO MÁRCIA BARBOSA X BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso –


Monografia – apresentado ao Curso de Direito
da Universidade Federal de Sergipe – UFS,
como requisito parcial para obtenção do grau
de bacharel em Direito.

Orientador: Lucas Gonçalves da Silva.

Data de aprovação: de de______

BANCA EXAMINADORA

Professor Orientador

Professor Examinador

Professor Examinador
RESUMO

O presente trabalho tem como tema principal o ordenamento jurídico brasileiro e a


jurisdição da corte interamericana de direitos humanos, bem como, analisar o caso
Márcia Barbosa x Brasil. Tendo como objetivo central analisar a trajetória dos
direitos humanos e levantar casos como este que traga um retrato prático para
melhor entendimento do ideal universal dos direitos humanos, a partir das
concepções regionais interamericana. Através de pesquisa bibliográfica e revisão
de literatura buscou-se delinear todo o conceito dos direitos humanos em seu
desenvolvimento histórico, fundamental para entender as instituições e os
documentos criados sobretudo no contexto do pós-guerra. Por meio da técnica
qualiquantitativa descreveu-se sobre o sistema de proteção internacional dos
direitos humanos, sendo mais específico com relação às mulheres como exemplifica
o caso concreto a ser estudado neste trabalho. O estudo em questão, demonstrou
a relevância tanto no que se diz respeito aos direitos humanos como também com
relação aos sistemas regionais de proteção, com ênfase no sistema interamericano,
o qual foi profundamente esmiuçado. Por fim, conclui que é de extrema relevância
a presença do sistema regional interamericano como garantia de segundo nível dos
direitos humanos, sobretudo na posição brasileira dentro do sistema interamericano,
apesar do Estado ainda ter significativas lacunas por não aderir de forma eficaz
todas as normas do sistema.

Palavras-chave: Brasil; Direitos Humanos; Sistema Interamericano.


ABSTRACT

The present work has as its main theme the Brazilian legal system and the
jurisdiction of the Inter-American Court of Human Rights, as well as analyzing the
case Márcia Barbosa x Brasil. With the central objective of analyzing the trajectory
of human rights and raising cases like this that bring a practical picture for a better
understanding of the universal ideal of human rights, based on inter-American
regional conceptions. Through bibliographical research and literature review, an
attempt was made to outline the whole concept of human rights in its historical
development, fundamental to understanding the institutions and documents created
above all in the post-war context. Through the qualitative and quantitative technique,
the international human rights protection system was described, being more specific
in relation to women, as exemplified by the 'case' under study. The work
demonstrated the relevance both with regard to human rights and also with regard
to regional systems of protection, with emphasis on the inter-American system,
which was deeply analyzed. Finally, it concludes that the presence of the inter-
American regional system as a second-level guarantee of human rights is extremely
important, especially in the Brazilian position within the inter-American system,
despite the fact that the State still has significant gaps for not effectively adhering to
all the norms of the system.

Keywords: Brazil; Human rights; Interamerican System.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS: NO MUNDO E NO


BRASIL
2.1 Carta Magna de 1215

2.2 Lei de Habeas Corpus (1679) e sua iniciativa no Brasil

2.3 Declaração dos Direitos (Bill of Rights) em 1689

2.4 Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776)

2.5 Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão (1789)

2.6 Cartas das Nações Unidas em 1945

2.7 Declaração Universal de Direitos Humanos (1948)

2.8 Pactos Internacionais de Direitos Humanos (1966)

2.9 Convenção Americana de Direitos Humanos (1969)

2.10 Evolução dos Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico brasileiro

3 DIREITOS HUMANOS
3.1 Conceito de Pessoa Humana

3.2 Classificações dos Direitos Humanos

3.2.1 Por Teorias

3.2.2 Por Funções

3.2.3 Por Finalidades

3.2.4 Por Forma de Reconhecimento

3.2.5 Adotada pela Constituição Federal de 1988.

3.3.6 Fundamentos dos Direitos Humanos


4. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O SISTEMA
INTERAMERICANO
4.1 Contextualização histórica

4.2 A Convenção Americana sobre Direitos Humanos

4.3 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos

4.4 A Corte Interamericana de Direitos Humanos

5. ANÁLISE DO CASO MÁRCIA BARBOSA DE SOUZA

5.1 Os Direitos Humanos das Mulheres no cenário internacional

5.2 Proteção Internacional e o caso Márcia Barbosa X Brasil

5.3 Brasil e a eficácia das decisões da Corte interamericana de Direitos


Humanos

6. CONCLUSÃO

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. INTRODUÇÃO

À priori, destaca a importância dos direitos humanos como sendo requisito


indispensável para a efetividade de uma vida digna, já que estes funcionam como
normas asseguradoras, regulamentadoras e fiscalizadoras dos direitos ligados à
liberdade, igualdade e dignidade humana, sem que haja limitação mínima da
utilização de tais direitos essenciais a plenitude da vida humana. Portanto, alude
que para a implementação do direito é preciso legitimar o polo passivo da demanda,
que poderá ser um particular ou o Estado, para que se possa determinar obrigação
a outrem.
Assim, os direitos humanos são a representatividade de valores essenciais
à vida, que estão amparados de maneira explícita ou implícita na constituição,
tratados ou convenções internacionais que protegem primordialmente o direito à
dignidade da pessoa humana. Além disso, destaca que a fundamentalidade de tais
direitos, podem ser: formal ou material. No entanto, apesar de sua dualidade de
conteúdo, os direitos humanos possuem quatro ideias principais, quais são a
universalidade, essencialidade, superioridade normativa e reciprocidade.
Respectivamente, a universalidade trata-se do reconhecimento dos direitos
humanos a todos, ou seja, em caráter universal. A essencialidade consiste na
natureza indispensável da proteção dos direitos humanos a todos. Já a
superioridade, significa dizer que os direitos humanos são superiores às demais
normas, não sendo admitido a violação de um direito essencial para que sejam
atendidas as preferências do Estado. Por fim, a reciprocidade na qual engloba a
titularidade dos direitos humanos a todos.
Ante ao exposto, destaca que o presente estudo, abordará sobre a evolução
direitos humanos através da historicidade deste, embora não se tenha uma ponto
exato que delimite o nascimento desta disciplina jurídica, o que se tem são pautas
ao decorrer dos períodos históricos que há a luta contra a opressão e a busca do
bem-estar do indivíduo.
Desarte, para André de Carvalho Ramos (2018 p.32), “consequentemente,
suas “ideias-âncoras” são referentes à justiça, igualdade e liberdade, cujo conteúdo
impregna a vida social desde o surgimento das primeiras comunidades humanas.
Nesse sentido amplo, de impregnação de valores, podemos dizer que a evolução
histórica dos direitos humanos passou por fases que, ao longo dos séculos,
auxiliaram a sedimentar o conceito e o regime jurídico desses direitos essenciais. A
contar dos primeiros escritos das comunidades humanas ainda no século VIII a.C.
até o século XX d.C., são mais de vinte e oito séculos rumo à afirmação universal
dos direitos humanos, que tem como marco a Declaração Universal de Direitos
Humanos de 1948.”
Ainda conforme o referido autor, “para melhor compreender a atualidade da
“era dos direitos”, incursionam pelo passado, mostrando a contribuição das mais
diversas culturas à formação do atual quadro normativo referente aos direitos
humanos. Porém, não se pode medir épocas distantes da história da humanidade
com a régua do presente. Deve-se evitar o anacronismo, pelo qual são utilizados
conceitos de uma época para avaliar ou julgar fatos de outra.”
Sucessivamente, será abordado os direitos humanos, inicialmente
delimitando o conceito de pessoa humana através do entendimento de alguns
doutrinadores, como André de Carvalho Ramos e os renomados Fábio Konder
Comparato e Flávia Piovesan. Ademais, serão esclarecidas as classificações de tais
direitos, sendo estas: por teoria (Status e Dimensões/Gerações), funções,
finalidades, formas de reconhecimento e a que fora adotada pelo Constituição
Federal de 1988. Por fim, neste tópico ainda será discutido a respeito dos
fundamentos dos direitos humanos.

Posteriormente, será delineado sobre a proteção internacional dos direitos


humanos e o sistema interamericano, onde tratará sobre compreensão do processo
de internacionalização dos direitos humanos, seus reflexos e a humanização do
direito internacional nesse contexto. Com isso, será tratado da internacionalização
dos direitos humanos, a qual se iniciou no período pós-Guerras, se fundamentando
na uniformização das formas de governo e de estado atuais. Tendo usufruído de
alguns instrumentos normativos para regulamentar, a exemplo a Convenção
Americana de Direitos Humanos, a qual é o instrumento de maior importância do
sistema interamericano.
Portanto, ao decorrer do estudo deste tópico, será aclarado o modo que os
direitos humanos tem sua proteção assegurada ainda que em âmbito internacional,
e ainda como o sistema americano é de suma importância através de suas
convenções e pactos, para que haja a consolidação da proteção dos direitos
humanos, na região americana onde as vítimas são asseguradas das constantes
violações no objetivo de obter a ordem e justiça em âmbito interno.
O último ponto deste estudo é a análise do caso concreto da jovem de 20
anos: Márcia Barbosa de Souza, a qual no dia 18 de junho de 1998 fora encontrada
morta por asfixiada pelo deputado Aércio Pereira de Lima e outras quatro pessoas.
Em suma, o caso foi levado em 14 de março de 2003 ao 1º Tribunal do Júri da
Paraíba e posteriormente ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos, desde
28 de março de 2000.
Em 12 de fevereiro de 2019, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, tendo considerado o Brasil responsável por violações a direitos previstos
na Convenção Americana de Direitos Humanos e na Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, e sendo este Estado
signatário de ambos diplomas internacionais. O Brasil foi notificado pela comissão,
recebendo prazo de dois meses para informar sobre o estado de cumprimento das
recomendações estabelecidas.
Destarte, somente após a tramitação regulamentar do procedimento, com
apresentação de razões pelos representantes das partes envolvidas, realização de
audiências públicas e apresentação de escritos por seis amici curiae (entre
pesquisadores, universidades e centros de ensino brasileiros), em 7 de setembro
de 2021, foi proferida sentença pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Ante a este cenário, além do caso de Márcia Barbosa de Souza em 1998,


ainda serão esclarecidos os Direitos Humanos das Mulheres no cenário
internacional e como foi analisado pelo Brasil e a eficácia das decisões da Corte
Interamericana de Direitos Humanos nas análise e decisão do caso acima referido.
Por fim, ressalta que para a elaboração deste trabalho foram utilizados material
bibliográfico, doutrinário, legislativo, artigos e sites jurídicos.
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: NO
MUNDO E NO BRASIL

Os direitos humanos possui uma longa trajetória até que fosse assim
denominado e aplicado como é nos dias de hoje. Logo, com o intuito de destrinchar
esse percurso e enriquecer ainda mais este estudo, a partir deste momento será
discorrido sobre a historicidade dos direitos humanos e como este tornou-se a
principal proteção do ser humano.
Em confirmação com os dizeres mencionado, inicia-se a pauta com a afirma
do autor Rene Zamlutti (2011), o qual relata que:

Ainda que, como já apontado, as construções teóricas e filosóficas


voltadas à proteção dos direitos do homem remontam à Antiguidade,
a presente análise terá início a partir da Magna Charta Libertarum,
de 1215, por consubstanciar o marco inaugural de um novo período
histórico – a Idade Média – no qual o valor da liberdade atingiu um
grau de juridicidade até então inédito. (...). Os estudiosos dividem a
história da Europa em quatro fases – a Idade Antiga, a Idade Média,
a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.(ZAMLUTTI, René. A
hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos no
ordenamento jurídico brasileiro. p.34)

À priori, com o advento da Alta Idade Média, houve a pulverização do poder


político e pelo surgimento dos feudos. Já a partir do século XI, iniciou a
reconcentração do poder, tendo incitado os abusos por parte da nobreza e do clero.
Esse fato, fez com que houvesse a promulgação da Carta Magna em 1215,
conhecida como Magna Charta Libertatum, tendo sido assinada pelo rei
João-Sem-Terra.
Segundo o autor Comparato (2005), a Magna Carta deixa implícito pela
primeira vez, na história política medieval, que o rei acha-se naturalmente vinculado
pelas próprias leis que edita. Desse modo, o que torna esse documento épico é a
concepção de que os direitos subjetivos dos governados constituem limitações ao
poder do governante, ainda que os direitos reconhecidos tenham sido de natureza
liberal, ou seja, o foco não era a sociedade em geral e sim os segmentos sociais
elitizados.
J.J Gomes Canotilho (2003), traz clareza a este saber quando diz que:
A proto-história dos direitos fundamentais costuma salientar a importância
das cartas de franquias medievais dadas pelos reis aos vassalos, a mais
célebre das quais foi a Magna Charta Libertatum de 1215. Não se tratava,
porém, de uma manifestação da ideia de direitos fundamentais inatos, mas
da afirmação de direitos corporativos da aristocracia feudal em face do seu
suserano. A finalidade da Magna Charta era, pois, o estabelecimento de um
modus vivendi entre o rei e os barões, que consistia fundamentalmente no
reconhecimento de certos direitos de supremacia ao rei em troca de certos
direitos de liberdade estamentais consagrados nas cartas de franquia. Mas
a Magna Charta, embora contivesse fundamentalmente direitos
estamentais, fornecia já “aberturas” para a transformação dos direitos
corporativos em direitos do homem. O seu vigor “irradiante” no sentido da
individualização dos privilégios estamentais detecta-se na interpretação que
passou a ser dada ao célebre art. 39º, onde se preceitua que “Nenhum
homem livre será detido ou sujeito a prisão, ou privado dos seus bens, ou
colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não
procederemos, nem mandaremos proceder contra ele, senão em
julgamento regular pelos seus pares ou de harmonia com a lei do país”.
Embora este preceito começasse por aproveitar apenas a certos estratos
sociais – os cidadãos optimo jure – acabou por ter uma dimensão mais geral
quando o conceito de homem livre se tornou extensivo a todos os ingleses.
É este o significado histórico da leitura de Coke, quatro séculos mais tarde:
a transformação dos direitos corporativos de algumas classes em direitos
de todos os ingleses (just rights and liberties como “birthrights”, como
“inheritance”). (CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da
Constituição, p. 384.)

Frisa-se que a importância de tal documento traz a certeza de um marco


inicial para a sociedade sobre os direitos humanos, já que a época trouxe o
reconhecimento dos direitos que a aristocracia e o clero poderiam opor ao próprio
soberano, não podendo ser por este alterados.
Em decorrência da Carta Magna , surgiu em 1679 na Inglaterra a Lei de
Habeas Corpus, conhecida na época como Habeas Corpus Act. A promulgação
dessa lei visava a garantia da liberdade do súdito para prevenção das prisões no
ultramar, bem como a proteção da liberdade de locomoção.
A principal característica da referida lei, foi o incremento da ordem judicial de
concessão do habeas corpus, cabendo a multa reparatória em favor do indivíduo
que fosse preso, devendo ser paga pelo detentor e no caso deste ser funcionário
público, poderia implicar na perda do cargo.
O autor João Gualberto Garcez Ramos (2003), discorre a respeito, ratificando
que:
A sujeição da autoridade ou particular que custodia alguém à ordem do juiz
ou da corte era tão da essência do writ of habeas corpus ad subjiciendum
que o próprio Habeas Corpus Act previa que a eventual desobediência traria
como conseqüência multa reparatória (isto é, em favor do preso) e, no caso
do detentor ser funcionário público, a imediata perda de seu cargo.

O instrumento do habeas corpus inglês fixava uma ordem para que a


autoridade coatora apresentasse a pessoa detida ao juiz, para que essa o
justificasse legalmente. No entanto, essa prática não foi recepcionada pelos países
de costume divergentes ao anglo-saxã. Entretanto esse fato não diminuiu a
importância dessa norma.
Com base nisso, Comparato (2005) comenta sobre a importância da lei:

A importância histórica do habeas-corpus, tal como regulado pela lei inglesa


de 1679, consistiu no fato de que essa garantia judicial, criada para proteger
a liberdade de locomoção, tornou-se a matriz de todas as que vieram a ser
criadas posteriormente, para a proteção de outras liberdades fundamentais.
Na América Latina, por exemplo, o juicio de amparo e o mandado de
segurança copiaram do habeas-corpus a característica de serem ordens
judiciais dirigidas a qualquer autoridade pública, acusada de violar direitos
líquidos e certos, isto é, direitos cuja existência o autor pode demonstrar
desde o início do processo, sem necessidade de produção ulterior de
provas.

Ainda com base nos saberes do autor supramencionado:

A liberdade política sem as liberdades individuais não passa de engodo


demagógico de Estados autoritários ou totalitários. E as liberdades
individuais, sem efetiva participação política do povo no governo, mal
escondem a dominação oligárquica dos mais ricos.

Dessa maneira podemos visualizar a importância dessa legislação para a


evolução do processo de formação dos direitos humanos, ainda mais com a garantia
da liberdade política e individuais que são alicerce para a existência de uma
sociedade democrática.
Já no cenário nacional, alguns doutrinadores defendiam a ideia de que o texto
constitucional em 1824 trazia implicitamente a aplicação do Habeas Corpus. No
entanto, o habeas corpus só foi incorporado expressamente no Código de Processo
Penal de 1832 no artigo 340, o qual previa que todo idadão que entender que ele
ou outrem sofre uma prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade tem direito
a pedir uma ordem de habeas corpus em seu favor.

Inicialmente, esse instrumento jurídico só era aplicável aos brasileiros,


passando a ser estendido aos estrangeiros através do Decreto nº 2.033 de 20 de
setembro de 1871, tendo também instaurados duas modalidades de aplicação, que
seriam o preventivo e o liberativo.

Com a Carta Republicana em 1891, o habeas corpus brasileiro obteve


modificação em seu texto legal, assim todo aquele que sofresse ou achasse estar
em perigo iminente de violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder,
poderia gozar dessa norma.
As Constituições brasileiras de 1934, 1937, 1946 e 1967 restringiram a
utilização do habeas corpus ao seu sentido restrito, de garantia contra a violação do
direito de liberdade de locomoção.
No entanto, o Ato Institucional nº. 5, de dezembro de 1968, acolhido pela
Emenda Constitucional nº. 1, de 1969, suspendeu a garantia de habeas corpus nos
casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social
e a economia popular, esvaziando o instituto de toda a sua utilidade.
Contudo, felizmente com a atual Constituição Federal promulgada em 1988,
o habeas corpus restituiu sua força constitucional. Já que segundo, Eleazar
Carvalho (2015), além de acabar com as restrições trazidas pelo regime militar,
esculpiu o instituto como garantia fundamental individual e, portanto, cláusula
pétrea, acabando ainda com a impossibilidade de se propor habeas corpus frente a
transgressões disciplinares.
Após o surgimento em 1679 do habeas corpus, o parlamento inglês com o
intuito de que o príncipe Guilherme de Orange fosse aceito na Inglaterra, foi
promulgada em 1689 a Declaração de Direitos, ou popularmente conhecida como
Bill of Rights.
Segundo René Zamlutti, tal declaração foi constituído no momento decisivo
para o fim do absolutismo monárquico, na medida em que determina que os poderes
legislativos compete ao Parlamento e não ao rei, estabelecendo, ainda, garantias
assecuratórias da liberdade do Parlamento perante o soberano, consolidando assim
a separação entre os Poderes Executivo e Legislativo.
Complementa-se o comentário do referido autor, com o entendimento de
Comparato, o qual ratifica que:

Embora não sendo uma declaração de direitos humanos, nos moldes das
que viriam a ser aprovadas cem anos depois nos Estados Unidos e na
França, o Bill of Rights criava, com a divisão de poderes, aquilo que a
doutrina constitucionalista alemã do século XX viria denominar,
sugestivamente, uma garantia institucional, isto é, uma forma de
organização do Estado cuja função, em última análise, é proteger os direitos
fundamentais da pessoa humana. (...) ao limitar os poderes governamentais
e garantir as liberdades individuais, essa lei fundamental suprimiu a maior
parte das peias jurídicas, que embaraçavam a atividade profissional dos
burgueses.(Ob.cit., p.90 e 92).

Esclarece ainda que a Bill of Rights, possuiu como suas principais


característica a submissão do rei perante o Legislativo Inglês, a liberdade de
imprensa, estabeleceu os direitos individuais, garantias processuais, Autonomia do
Poder Judiciário, necessária prévia autorização do Parlamento para sancionar as
leis, o rei não poderá suspender, deixar de cumprir, ou dispensar as Leis e a
cobrança de impostos só será legalizada com o concurso do Parlamento.
Nesse segmento, observa-se que é indiscutível a participação da Declaração
de Direitos para progressão dos direitos universais da pessoa humana. Ante esse
cenário, os Estados Unidos em 1776 impôs a sua Declaração de Independência.
Segundo, Comparato a independência das antigas treze colônias britânicas da
América do Norte, em 1776, representou o ato inaugural da democracia moderna,
combinando, sob o regime constitucional, a representação popular com a limitação
de poderes governamentais e o respeito aos direitos humanos.
Destaca-se que a Declaração de Independência dos Estados Unidos, serviu
de alicerce para outras declarações de direitos dos estados norte-americanos, a
exemplo, em 1776 a Declaração da Virgínia e Pensilvânia, além do Estado de
Massachusetts em 1780. O doutrinador Zamlutti, reconhece a importância dessa
declaração e evidencia que:

Considerada o primeiro documento histórico a afirmar os princípios


democráticos e a assegurar a soberania popular, tais características tornam
evidente a sua importância para o desenvolvimento da positivação dos
direitos humanos, porquanto estes não encontram campo fértil onde não
haja um Estado Democrático de Direito.

Sucessivamente, com a influência da Revolução Francesa e do fim do regime


absolutista, onde a vontade do monarca era soberana Houve em 26 de agosto de
1789 a anunciação da Declaração do Homem e do Cidadão que estabeleceu o ideal
de liberdade, igualdade e fraternidade, acima dos interesses de qualquer particular,
fazendo disso a consolidação de toda base teórica para o estudo e aplicação dos
direitos humanos.
O autor Benigno Nunez Novo (2021), salienta sobre a temática:

Após a Revolução Francesa em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem


e do Cidadão concedeu liberdades específicas da opressão, como uma
“expressão da vontade geral”. O povo de França levou a cabo a abolição
da monarquia absoluta e o estabelecimento da primeira República
Francesa. Ela define direitos "naturais e imprescritíveis" como a liberdade,
a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. A Declaração
reconhece também a igualdade, especialmente perante a lei e a justiça. Por
fim, ela reforça o princípio da separação entre os poderes. A Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (DDHC) foi um marco histórico muito
importante para o mundo ocidental, pois representou a base do sistema
democrático ocidental e que até hoje influencia a vida dos cidadãos,
principalmente porque significa mais do que um sistema de governo, uma
modalidade de Estado, um regime político ou uma forma de vida. A
democracia, inserida na Declaração dos Direitos Humanos, nesse fim de
século, tende a se tornar, ou já se tornou, o mais importante direito dos
povos e dos cidadãos. É um direito de qualidade distinta, de quarta geração
que garante aos cidadãos a liberdade conquistada através da democracia
plena.

Após esse marco, houveram alguns outros documentos históricos


importantes como a Constituição Francesa de 1848 que reconheceu os direitos
sociais e preocupou-se em proteger a classe trabalhadora, teve também a
Convenção de Genebra em 1864 que foi pioneira na temática de internacionalização
dos direitos humanos.
Além da Constituição Mexicana em 1917 que segundo René Zamlutti (2011),
criou as bases do que viria a se tornar o Estado do Bem-Estar Social, na medida em
que foi a primeira a atribuir o status de direitos fundamentais os direitos dos
trabalhadores, incorporando, assim, à já reconhecida dimensão individual dos
direitos fundamentais, também uma dimensão social.
Destarte, a constituição mexicana possui influência na Constituição de
Weimar em 1919 que foi o paradigma adotado pelas Constituições do mundo
ocidental que visavam a construir um Estado social, tendo em vista a forma
estruturada como constitucionalizou direitos sociais.
Posterior a todos esses avanços e a Segunda Guerra Mundial, surgiu a Carta
das Nações Unidas em 1945, tendo sido um dos documentos mais importantes
sobre os direitos humanos, já que mudou a evolução de concepção global e também
revolucionou com criou a Organização das Nações Unidas (ONU).
Antônio Augusto Cançado Trindade, dispara que “hoje já há um consenso
generalizado de que a Carta da ONU não é um tratado como qualquer outra
convenção multilateral nem tampouco uma “constituição”; é um tratado sui generis,
a ser interpretado como tal, que dá origem a uma complexa entidade internacional
que passa a ter “vida própria”.
Comparato também pontua, relatando que:
A ONU difere da Sociedade das Nações, na mesma medida em que a 2ª
Guerra Mundial se distingue da 1ª. Enquanto em 1919 a preocupação única
era a criação de uma instância de arbitragem e regulação dos conflitos
bélicos, em 1945 objetivou-se colocar a guerra definitivamente fora da lei.
Por outro lado, o horror engendrado pelo surgimento dos Estados
totalitários, verdadeiras máquinas de destruição de povos inteiros, suscitou
em toda parte a consciência de que, sem o respeito aos direitos humanos, a
convivência pacífica das nações tornava-se impossível. Por isso, enquanto
a Sociedade das Nações não passava de um clube de Estados, com
liberdade de ingresso e retirada conforme suas conveniências próprias, as
Nações Unidas nasceram com a vocação de se tornarem a organização da
sociedade política mundial, à qual deveria pertencer portanto,
necessariamente, todas as nações do globo empenhadas na defesa da
dignidade humana.(ob. cit. p.210).

No intuito, de demonstrar a relevância das Carta das Nações Unidas de 1945,


Flávia Piovesan esclarece que:

Desse modo, ao lado da preocupação de evitar a guerra e manter a paz e a


segurança internacional, a agenda internacional passa a conjugar novas e
emergentes preocupações, relacionadas à promoção e proteção dos
direitos humanos. A coexistência pacífica entre os Estados, combinada com
a busca de inéditas formas de cooperação econômica e social e de
promoção universal dos direitos humanos, caracterizam a nova
configuração da agenda da comunidade internacional. A Carta das Nações
Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de internacionalização
dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a
promoção desses direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas.
Definitivamente, a relação de um Estado com seus nacionais passa a ser
uma problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do
Direito Internacional.(PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
constitucional internacional, p. 135.)

Embora esse documento tenha abrilhantado a historicidade dos direitos


humanos, houveram algumas dificuldades em sua execução. Neste ponto, Zamlutti
(2011) os evidência:

A Carta das Nações Unidas deparou-se com uma dificuldade inicial,


consistente no fato de que as expressões “direitos humanos” e “liberdades
fundamentais” não tiveram seus conteúdos definidos, o que, evidentemente,
dificultou a atuação dos órgãos criados pelo documento. Essa dificuldade
inicial, contudo, foi superada três anos depois, em 1948, com a Declaração
dos Direitos Humanos em 1948, que veio a suprir tais lacunas. Com efeito,
ao aderirem à Carta, os Estados não apenas reconhecem a existência e a
relevância dos direitos humanos; mais do que isso, reconhecem que o
interesse na proteção de tais direitos extrapola fronteiras nacionais,
regionalismos e questões de soberania, consubstanciando, por
conseguinte, preocupação inerente à comunidade internacional como um
todo.

Nesse segmento, em 10 de dezembro de 1948 foi estabelecido um


documento que delimitaria os direitos fundamentais de todos os seres humanos,
sendo composta por 58 Estados-Membros, inclusive o Brasil. Este documento foi
marcado pela passagem da segunda guerra mundial e teria a finalidade de adotar
novas bases ideológicas, assim foi fixado a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Tal documento traz em seu preâmbulo o reconhecimento da dignidade, a
valorização dos direitos dos homens e alguns outros pontos, vejamos:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem
conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade
e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de
falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais
alta inspiração do Homem; Considerando que é essencial a proteção dos
direitos do Homem através de um regime de direito, para que o Homem
não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a
opressão; Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de
relações amistosas entre as nações; Considerando que, na Carta, os povos
das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos
fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana,
na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram
resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores
condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla; Considerando
que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação
com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efetivo dos
direitos do Homem e das liberdades fundamentais; Considerando que uma
concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância
para dar plena satisfação a tal compromisso: A Assembléia Geral proclama
a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como ideal
comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que
todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a
constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por
desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por
medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu
reconhecimento e a sua aplicação universais e efetivos tanto entre as
populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios
colocados sob a sua jurisdição.

Thomas Buergenthal, enfatiza a relevância deste documento, dizendo que:

A Declaração Universal é o primeiro instrumento de direitos humanos


proclamado por uma organização internacional universal. Por seu status
moral e pela importância legal e política que adquiriu ao longo dos anos, a
Declaração se equipara à Magna Carta, à Declaração Francesa dos Direitos
do Homem e à Declaração Americana de Independência como marco na
luta da humanidade por liberdade e dignidade humana. Seu débito para com
esses grandes documentos históricos é inequívoco.(BUERGENTHAL,
Thomas. International human rights in a nutshell, p. 25-6.)

Desse modo, Flávia Piovesan (2010, p. 148) destaca a inexistência de


qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da
Declaração, bem como de qualquer voto contrário às suas disposições, confere à
Declaração Universal o significado de um código e plataforma comum de ação. A
Declaração consolida a afirmação de uma ética universal ao consagrar um consenso
sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados.
A supra doutrinadora (2010) esclarece também a respeito do valor jurídico
desta declaração, observemos:

Mas qual o valor jurídico da Declaração Universal de 1948? A Declaração


Universal não é um tratado. Foi adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas sob a forma de resolução, que, por sua vez, não apresenta força de
lei. O propósito da Declaração, como proclama seu preâmbulo, é promover
o reconhecimento universal dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais a que faz menção a Carta da ONU, particularmente nos arts.
1º (3) e 55. Por isso, como já aludido, a Declaração Universal tem sido
concebida como a interpretação autorizada da expressão “direitos
humanos”, constante da Carta das Nações Unidas, apresentando, por esse
motivo, força jurídica vinculante.(PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o
direito constitucional internacional, p.148)

Em 1966 a Assembléia-Geral das Nações Unidas consolidou no âmbito


internacional dois pactos internacionais sobre direitos humanos, quais eram: Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais.
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, visa reconhecer direitos,
como: direito à vida; a não ser submetido à tortura; a não ser submetido à
escravidão; o direito à liberdade; a garantias processuais; à liberdade de movimento;
à liberdade de pensamento; à liberdade de religião; à liberdade de associação; à
igualdade política e à igualdade perante a lei.
Já o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais integra
a proteção dos direitos: ao trabalho, à liberdade de associação sindical, à
previdência social, à alimentação, à moradia, ao mais elevado nível de saúde física
e mental, à educação, à participação na vida cultural e no progresso científico.

René Zamlutti (2011) alega que:

Os pactos – que, em seu conjunto, e ao lado da Declaração Universal,


formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos – superam
qualquer discussão acerca da vigência da Declaração de 1948, na medida
em que não apenas reafirmam os direitos nela contidos, como acrescentam
outros (não previstos na Declaração) e estabelecem mecanismos de
monitoramento, aplicáveis a todos os Estados signatários.

O entendimento de Flávia Piovesan (2010) complementa a ideia de Zamlutti,


quando afirma que:

A adoção dos dois pactos inaugura um novo momento na defesa dos direitos
humanos, mormente no que tange à sua juridicidade, pois, como afirma
Comparato, completava-se, assim, a segunda etapa do processo de
institucionalização dos direitos do homem em âmbito universal e dava-se
início à terceira etapa, relativa à criação de mecanismos de sanção às
violações de direitos humanos. (PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o
direito constitucional internacional, p.275)

Subsequentemente, em 22 de novembro de 1969 na Conferência de São


José da Costa Rica foi aprovada a Convenção Americana de Direitos Humanos, a
qual foi criada com objetivo de atribuir a todos direitos civis, políticos, econômicos,
sociais e culturais. Tal convenção possui 23 estados signatários, sendo o Brasil um
deles. Insta destacar que embora o Brasil tenha feito parte das negociações para a
elaboração da Convenção em 1969, na Costa Rica, apenas aderiu ao tratado em
1992, após o fim da Ditadura Militar. Desde então o Pacto de San José da Costa
Rica tem força normativa no Brasil e deve ser cumprido por todas as pessoas e
instituições nacionais.
Ante o exposto, enquanto o mundo havia passado por períodos ímpares e
basilares para a construção e inovação dos direitos humanos, o Brasil encontrava-
se com seus direitos humanos feridos pela ditadura militar ocorrida de 1964 a 1985.
O autor Rilawilson José de Azevedo (2018), acredita que:

A ditadura trouxe consigo um ideal de mudança que, na teoria, mudaria o


país para melhor e que iria fazê-lo avançar cada vez mais. Porém, durante
o regime militar, o Brasil declinou suas metas cada vez mais. Durante essa
época, o aperto no salário de diversos trabalhadores acabou gerando uma
carência de políticas públicas enorme, no qual o governo não colaborou,
deixando os moradores à mercê de suas próprias condições. Além disso,
diversos direitos foram retirados de moradores por não serem compatíveis
com os ideais políticos daquela época. Censura, torturas, perseguições e
suspensão dos direitos públicos foram alguns dos métodos aplicados
pelas autoridades naquela época. Nesse sentido, direitos básicos como
a vida, moradia, saúde e liberdade de expressão foram descartados
durante o regime militar. Um dos Atos Inconstitucionais que mais ferem os
direitos fundamentais da população é o AI-14, no qual torna permitido a pena
de morte em caso de “guerra psicológica” adversa ou da guerra
revolucionária subversiva, fazendo com que o direito fundamental a vida seja
negligenciada, acarretando no aumento de torturas e meios de crueldade
para com a população. Ainda assim, os agentes responsáveis pela dor das
pessoas preferiam se livrar dos torturadores de outra forma, a fim de evitar
qualquer trâmites judiciais – o chamado “desaparecimento forçado”.

Ao fim da era do regime militar, o povo brasileiro estava com sede de


segurança jurídica para poder usufruir de plenitude civil. Com isso, em 1988 houve
a criação da Constituição Federal Brasileira, a qual ainda hoje é um símbolo de
transição democrático e de institucionalização dos direitos humanos, já que após
longos vinte e um anos de ditadura militar, houve o início do Estado de Direito.
George Salomão Leite (2022), esclarece que a constituição resgatou o
Estado de Direito, a separação de poderes, a Federação, a Democracia e os direitos
fundamentais, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, como fundamento
do Estado Democrático de Direito, previsto no artigo 1º, inciso III da referida
Constituição, além de impor como núcleo básico e informador de todo ordenamento
jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar a interpretação do
sistema constitucional.
A carta magna de 1988, ganhou o título histórico de primeira constituição
brasileira a introduzir em seu texto capítulos dedicados aos direitos e garantias
fundamentais, além de serem fixados como cláusulas pétreas. Nesse segmento,
está ainda assegurada a participação popular no processo de sua elaboração
através do recebimento de emendas populares, tendo se tornado a constituição que
representa maior grau de legitimidade popular.
Em suma, George Salomão Leite (2022) aborda de maneira clara o intuito
desta constituição, observemos:

A Constituição de 1988 acolhe a ideia da universalidade dos direitos


humanos, na medida em que consagra o valor da dignidade humana, como
princípio do constitucionalismo inaugurado em 1988. O texto constitucional
ainda realça que os direitos humanos são tema de legítimo interesse da
comunidade internacional, ao inevitavelmente prever, entre os princípios a
reger o Brasil nas relações internacionais, o princípio da prevalência dos
direitos humanos. Trata-se, ademais, da primeira Constituição Brasileira a
incluir os direitos internacionais no elenco dos direitos garantidos. Quanto à
indivisibilidade dos direitos humanos, há que se enfatizar que a Carta de
1988 é a primeira Constituição que integra ao elenco dos direitos
fundamentais, os direitos sociais, que nas Cartas anteriores restavam
pulverizados no capítulo pertinente à ordem econômica e social.

Desse modo, conclui-se a historicidade dos direitos humanos no mundo e no


ordenamento brasileiro, com o intuito de demonstrar todas as transformações e
desdobramentos que este tivera que percorrer e enquadrar-se perante os problemas
existentes à época, bem como também ser aplicável a eventuais e futuras questões
que a humanidade viesse a ter.
3. DIREITOS HUMANOS

A Constituição Federal de 1988, estabelece no artigo 1º inciso III que um dos


fundamentos do Estado Democrático de Direito, é a dignidade da pessoa
humana.No entanto, André de Carvalho Ramos (2018) afirma que a raiz do termo
“dignidade” vem de dignus, que ressalta aquilo que possui honra ou importância.
Desse modo, com o objetivo de esclarecer uma definição para a pessoa
humana, o doutrinador Fábio Konder Comparato (2005) no período axial no século
VIII a.C, discorre que as manifestações ocorridas naquele período resultaram em
uma nova concepção que passou a enxergar o ser humano como possuidor de
direitos, já que ele integra a humanidade, vejamos:

Em suma, é a partir do período axial que, pela primeira vez na História, o


ser humano passa a ser considerado, em sua igualdade essencial, como
ser dotado de liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças de
sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os
fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para a
afirmação da existência de direitos universais, porque a ela inerentes.
(COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos,
p. 11.)

Nesse liame, o respeitado doutrinador, ainda ratifica a ideia de que:

Essa convicção de que todos os seres humanos têm direitos a serem


igualmente respeitados, pelo simples fato de sua humanidade, nasce
vinculada a uma instituição social de capital importância: a lei escrita, como
regra geral e uniforme, igualmente aplicável a todos os indivíduos que vivem
numa sociedade organizada.(COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação
histórica dos direitos humanos, p. 12.)

Sucessivamente, o doutrinador elenca a existência de cinco etapas que em


sua concepção seriam necessárias para a elaboração do conceito de pessoa, sendo
indispensável para o fortalecimento da ideia de direitos decorrentes da natureza
humana.
Portanto, a primeira etapa dá início durante o período axial e com o
desenvolvimento do cristianismo, o qual estabeleceu que nem mesmo a
espiritualidade seria capaz de igualar as distinções existentes na natureza humana.
Desse modo, Comparato reconhece que a igualdade universal:
Só valia, efetivamente, no plano sobrenatural, pois o cristianismo continuou
admitindo, durante muitos séculos, a legitimidade da escravidão, a
inferioridade natural da mulher em relação ao homem, bem como a dos
povos americanos, africanos e asiáticos colonizados, em relação aos
colonizadores europeus. Ao se iniciar a colonização moderna com a
descoberta da América, grande número de teólogos sustentou que os
indígenas não podiam ser considerados iguais em dignidade ao homem
branco.(COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos
humanos, p. 18.)

Ademais, na Idade Média com a influência dos escritos de Boécio tendo seus
conceitos agrupados ao de Santo Tomás de Aquino, ao início do século VI, ocorreu
a segunda etapa. Nesse ponto, Comparato esclarece que:

Sobre a concepção medieval de pessoa que se iniciou a elaboração do


princípio da igualdade essencial de todo ser humano, não obstante a
ocorrência de todas as diferenças individuais ou grupais, de ordem biológica
ou cultural. E é essa igualdade de essência da pessoa que forma o núcleo
do conceito universal de direitos humanos. A expressão não é pleonástica,
pois se trata de direitos comuns a toda a espécie humana, a todo homem
enquanto homem, os quais, portanto, resultam da sua própria natureza, não
sendo meras criações políticas.(COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação
histórica dos direitos humanos, p. 20.)

Já no período da terceira fase, ocorre a elaboração do conceito de pessoa,


que seria o sujeito dos direitos universais, sendo anteriores ou superiores a toda
ordenação estatal que iniciou com a filosofia kantiana, a qual introduz a ideia de que
todo ser racional, ou seja todo ser humano, possui existência com um fim si mesmo,
logo não poderá ser utilizado como simples meio de outra vontade. Desse modo, tal
filosofia, estabelece que as coisas possuem um valor relativo e as pessoas um valor
absoluto, com isso as coisas teriam um preço e as pessoas uma dignidade,
observemos o entendimento do filósofo Kant (2009):

Os seres cuja existência não se baseia, é verdade, em nossa vontade, mas


na natureza, têm, no entanto, se eles são seres desprovidos de razão,
apenas um valor relativo, enquanto meios, e por isso chamam-se coisas; ao
contrário, os seres racionais denominam-se pessoas, porque sua natureza
já os assinala como fins em si mesmos, isto é, como algo que não pode ser
usado meramente como meio, por conseguinte como algo que restringe
nessa medida todo arbítrio (e é um objeto do respeito). Estes, portanto, não
são fins meramente subjetivos, cuja existência tem um valor para nós
enquanto efeito de nossa ação; mas fins objetivos, isto é, coisas cuja
existência é em si mesma fim e, na verdade, um fim tal que não se pode pôr
em seu lugar nenhum outro fim, ao serviço do qual deveria estar como meros
meios, porque, sem isso, não se encontraria absolutamente nada de valor
absoluto em parte alguma. (KANT, Immanuel. Fundamentação da
metafísica dos costumes, p. 241.)

A quarta etapa, surge através desse comparativo entre preço e dignidade, o


doutrinador Kant faz analogia ao período da escravidão, pois conforme sua ética
doutrinaria atribuir preço as pessoas, ao invés de atribuir dignidade, seria
grotescamente violar a dignidade humana.
Portanto, Kant (2009) ratifica firmemente a sua ideia de que:

No reino dos fins tudo tem ou bem um preço ou bem uma dignidade. O que
tem preço, em seu lugar também se pode pôr outra coisa, enquanto
equivalente; mas o que se eleva acima de todo preço, não permitindo, por
conseguinte, qualquer equivalente, tem uma dignidade. O que se relaciona
com as inclinações e as necessidades humanas em geral tem um preço de
mercado; o que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um
certo gosto, isto é, um comprazimento com o mero jogo sem visar fins das
forças de nosso ânimo, um preço afetivo; mas o que constitui a condição
sob a qual apenas algo pode ser um fim em si não tem meramente um valor
relativo, isto é, um preço, mas um valor intrínseco, isto é, dignidade.(KANT,
Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 265.)

Com intuito de atentar-se às consequências jurídicas trazidas pela ascensão


da definição de pessoa, o digníssimo autor Comparato alicerça a ideia de que:

A compreensão da realidade axiológica transformou, como não poderia


deixar de ser, toda a teoria jurídica. Os direitos humanos foram
identificados com os valores mais importantes da convivência humana,
aqueles sem os quais as sociedades acabam perecendo, fatalmente,
por um processo irreversível de desagregação. Por outro lado, o conjunto
dos direitos humanos forma um sistema, correspondente à hierarquia de
valores prevalecente no meio social: mas essa hierarquia axiológica nem
sempre coincide com a consagrada no ordenamento positivo. Há sempre
uma tensão dialética entre a consciência jurídica da coletividade e as
normas editadas pelo Estado. Em qualquer hipótese, no interior de cada
sistema jurídico essa organização hierárquica dos direitos humanos impõe,
para a solução de litígios, a exigência de um juízo axiológico ponderado, em
função das circunstâncias do caso concreto.(COMPARATO, Fábio Konder.
A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 26.)

No século XX, ocorreu a elaboração da última etapa com a elaboração do


conceito de pessoa, baseado na filosofia de vida e do pensamento existencialista,
a qual estabelece que a realidade de cada ser humano é única e insubstituível.
Diante disso, Comparato exprime:

A reflexão filosófica da primeira metade do século XX acentuou o caráter


único e, por isso mesmo, inigualável e irreproduzível da personalidade
individual. Confirmando a visão da filosofia estóica, reconheceu-se que a
essência da personalidade humana não se confunde com a função ou papel
que cada qual exerce na vida. A pessoa não é personagem. A chamada
qualificação pessoal (estado civil, nacionalidade, profissão, domicílio) é
mera exterioridade, que nada diz da essência própria do indivíduo. Cada
qual possui uma identidade singular, inconfundível com a de outro qualquer.
Por isso, ninguém pode experimentar, existencialmente, a vida ou a morte
de outrem: são realidades únicas e insubstituíveis. Como bem salientou
Heidegger, é sempre possível morrer em lugar de outro; mas é radicalmente
impossível assumir a experiência existencial da morte alheia.
(COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos,
p. 27.)

Destarte, tendo superado a evolução do conceito da nomenclatura: pessoa


humana. Far-se-á necessária discorrer a respeito das classificações dos direitos
humanos para contribuir no enriquecimento deste estudo.
A primeira teoria abordada é a do Status, que fora desenvolvida ao final do
século XIX por Georg Jellinek durante os anos de 1851 a 1991. O advento desta
teoria, deu-se pela aversão ao “jusnaturalismo” dos direitos humanos. Na ótica de
Jellinek, os direitos humanos deveriam ser traduzidos em normas jurídicas estatais
para que pudessem ser garantidos e concretizados.
Assim, sua teoria é voltada para a posição do direito do indivíduo em face do
Estado, com a existência da pretensão de garantias invocadas pelo ordenamento
estatal. Em razão disso, a classificação da Teoria do Status, é pautada em:

1) Reconhecimento do caráter positivo dos direitos, ou seja, direitos


previstos e regulados pelo Estado, contrapondo-se à tese de inerência ou
de que seriam direitos natos;
2) Afirmação da verticalidade, defendendo que os direitos são concretizados
na relação desigual entre indivíduo e Estado.

A teoria de Jellinek, dispõe que o indivíduo poderia ser encontrado em quatro


situações diante ao Estado. A primeira situação, ficou denominada de status
subjectionis ou status passivo, onde o indivíduo é encontrado em estado de
subordinação em face do Estado, sendo detentor de atribuições e prerrogativas.

A segunda situação, estabelece o entendimento de que o indivíduo é


possuidor do status negativo. Com isso, o indivíduo exigirá respeito e contenção do
Estado, a fim de assegurar o pleno exercício de seus direitos na vida privada,
criando um espaço de liberdade individual ao qual o Estado deve manter o respeito
e abster-se de qualquer interferência.
Sucessivamente, surge o status positivo que é a terceira situação, que se
trata de um conjunto de pretensões do indivíduo para auxiliar o exercício do Estado
em favor dos seus direitos, ou seja, o indivíduo deve provar o Estado para que
assim, ele interfira em suas demandas e as efetue.
Por fim, a quarta situação denominada como status ativo, consolida-se no
conjunto de prerrogativas e faculdades que o indivíduo possui para participar da
formação da vontade do Estado, gerando efeitos nos direitos políticos, bem como o
direito de progressão de cargos em órgãos públicos. Dessa forma, o poder do
Estado é, em última análise, o poder do conjunto de indivíduos daquela comunidade
política.
Na prática, vislumbra a atuação do Supremo Tribunal Federal que invocou o
status ativo, no caso do direito de nomeação de aprovado em concurso público
classificado entre o número disponível de vagas previsto no Edital. O referido
tribunal alega que a Administração Pública está vinculada às normas do edital,
ficando obrigada a preencher as vagas previstas para o certame dentro do prazo de
validade do concurso, salvo diante de excepcional justificativa. Portanto, o candidato
aprovado dentro do número de vagas tem um direito subjetivo à nomeação, que
vincula diretamente à Administração.
Sendo assim, o Ministro Gilmar Mendes entende que:

A acessibilidade aos cargos públicos constitui um direito fundamental


expressivo da cidadania, como bem observou a Ministra Cármen Lúcia na
referida obra. Esse direito representa, dessa forma, uma das faces mais
importantes do status activus dos cidadãos, conforme a conhecida ‘teoria do
status’ de Jellinek. (RE 598.099/MS, rel. min. Gilmar Mendes, j. 10-8-2011,
DJE de 3-10-2011, com repercussão geral).

Dando seguimento às demais teorias, far-se-á necessária ressaltar a Teoria


das Gerações ou Dimensões, criada pelo jurista francês Karel Vasak no ano de 1979
na conferência realizada pelo Instituto Internacional de Direitos Humanos de
Estrasburgo, onde ficou os direitos humanos em três gerações distintas, embora
posteriormente houve o surgimento da quarta dimensão.
Em conformidade com sua origem francesa, Vasak associou cada geração
aos princípios da revolução francesa em 1789, que são “liberté, egalité et fraternité”
(liberdade, igualdade e fraternidade), portanto, respectivamente, a primeira,
segunda e terceira, estão ligadas a tais princípios.
Logo, vislumbra-se que as gerações ou dimensões, ficam organizadas de tal
forma:

a) 1ª Geração – liberdades públicas e direitos políticos;


b) 2ª geração – direitos sociais, econômicos e culturais;
c) 3ª geração – direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos;
d) 4ª geração – direitos da bioética e direito da informática;
Alguns autores dicorrem sobre a existência da quarta geração de direitos
humanos, advinda de um outro cenário histórico com questões novas enfrentadas
pela humanidade. No oposto, há alguns doutrinadores que discordam de sua
existência. Desse modo, há muitas opiniões polêmicas quanto a esta última geração.
Embora, todos concordem que tal geração, aborda exclusivamente as temáticas
relacionadas aos direitos da bioética e os direitos da informática.
Nesse liame, ratifica-se que a quarta geração engloba a resolução das lides
decorrentes do avanço da biotecnologia e da engenharia genética deram origem a
uma nova categoria de direitos, ou seja, os direitos da bioética. Tendo neste também
a incorporação de assuntos como: suicídio, a eutanásia, o aborto, o transexualismo,
o comércio de órgãos humanos, a procriação artificial, a manipulação do código
genético e a clonagem de seres humanos.
Além do exposto, a referida geração, regula os direitos da informática.
Portanto, tratará de produtos da sociedade da informação e suas respectivas
maneiras de comunicar-se. Sendo plausível observar que as relações
intersubjetivas nascem de atividades relacionadas à informática, telemática e
telecomunicações, bem como a transmissão de dados através de meios eletrônicos
e interativos.
Sucessivamente, as classificações também serão definidas pelas suas
funções de direitos: de defesa, procedimentos e instituições ou prestações. À priori,
o direito de defesa aborda sobre as prerrogativas do indivíduo voltada para defender
determinadas posições subjetivas contra a intervenção do Poder Público ou mesmo
outro particular, assegurando que:
1) Uma conduta não seja proibida;
2) Uma conduta não seja alvo de interferência ou regulação indevida por
parte do Poder Público; 3) Não haja violação ou interferência por parte de
outro particular.

Ademais, os direitos a procedimentos e instituições, possui como função


exigir do Estado que os órgãos sejam estruturados, bem como exista a aptidão do
corpo institucional, por sua competência e atribuição, a oferecer bens ou serviços
indispensáveis à efetivação dos direitos humanos. Por fim, os direitos a prestações,
estabelece que aqueles optam por uma obrigação estatal de ação, para assegurar
a efetividade dos direitos humanos.
As prestações podem ser divididas em jurídicas ou positivas.
Respectivamente, a primeira ocorre através da pela elaboração de normas jurídicas
que disciplinam a proteção de determinado direito. Já a segunda, se dá pela
intervenção do Estado provendo determinada condição material para que o
indivíduo usufrua adequadamente seu direito.
Nesse liame, uma outra classificação ainda a ser abordada, é pela sua
finalidade. Sendo subdivididas em direitos propriamente ditos, que são aqueles
dispositivos normativos que visam o reconhecimento jurídico de pretensões
inerentes à dignidade de todo ser humano e as garantias fundamentais que são as
previsões normativas que asseguram a existência desses direitos propriamente
ditos; são instrumentais, uma vez que visam assegurar a fruição dos direitos,
podendo ser em sentido amplo ou estrito.
O doutrinador André de Carvalho Ramos (2018), em sua obra esclarece a
classificação pela forma de reconhecimento de tal modo:

a) Direitos expressos: direitos explicitamente mencionados


na Constituição;
b) Direitos implícitos: extraídos pelo Poder Judiciário de normas
gerais previstas na Constituição;
c) Direitos decorrentes: oriundos dos tratados de
d) direitos humanos.(Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos
humanos.p.82)

Ainda, ante o ensinamento do referido autor, há também a classificação


adotada pela Constituição Federal de 1988, onde os direitos são separados como:
individuais, sociais, de nacionalidade, políticos e coletivos (difusos, em sentido
estrito, individuais homogêneos e de expressão coletiva).

Além das classificações do direito humano, há a necessidade de elucidar os


fundamentos que corroboram com a existência de tal norma. Assim, a partir deste
momento, será discorrido os fundamentos dos direitos humanos, utilizando o
entendimento de alguns doutrinadores que foram importantes para a construção
desse preceito.
A construção da definição de pessoa humana, trouxe a prioridade das ordens
jurídicas positivadas, do valor da dignidade da pessoa humana e dos direitos
fundamentais. Diante disso, ganhou força a separação da concepção jusnaturalista
dos direitos humanos e a concepção positivista.
Em contrapartida, as concepções jusnaturalistas detém grande influência no
processo de positivação dos direitos humanos nas ordens jurídicas dos Estados.
Afim de confirmação dessa ideia, o autor Ingo Wolfgang Sarlet (2009), traz o
entendimento o qual alega a:

De irrefutável importância para o reconhecimento posterior dos direitos


fundamentais nos processos revolucionários do século XVIII foi a influência
das doutrinas jusnaturalistas, de modo especial a partir do século XVI. Já na
Idade Média, desenvolveu-se a ideia da existência de postulados de cunho
suprapositivo que, por orientarem e limitarem o poder, atuam como critérios
de legitimação de seu exercício. De particular relevância foi o pensamento
de Santo Tomás de Aquino, que, além da já referida concepção cristã da
igualdade dos homens perante Deus, professava a existência de duas
ordens distintas, formadas,respectivamente, pelo direito natural, como
expressão da natureza racional do homem, e pelo direito positivo,
sustentando que a desobediência ao direito natural por parte dos
governantes poderia, em casos extremos, justificar até mesmo o exercício
do direito de resistência da população. Também o valor fundamental da
dignidade humana assume particular relevo no pensamento tomista.
Incorporando-se, a partir de então, à tradição jusnaturalista, tendo sido o
humanista italiano Pico della Mirandola que no período renascentista e
baseado principalmente no pensamento de Santo Tomás de Aquino,
advogou o ponto de vista de que a personalidade humana se caracteriza
por ter um valor próprio, inato, expresso justamente na ideia de sua
dignidade de ser humano, que nasce na qualidade de valor natural,
inalienável e incondicionado, como cerne da personalidade do
homem.(SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais, p.
37.)

De tal modo, analisa que o jusnaturalismo traz a reflexão de que os direitos


fundamentais e direitos humanos, deve considerar o fato de que a positivação de
tais direitos surge, em regra, como reações a determinadas circunstâncias históricas
em que o desrespeito ao valor da dignidade humana ganha maior proeminência.
Como já visto anteriormente, a primeira geração dos direitos fundamentais
que ratificam as liberdades públicas e direitos públicos, surge em detrimento da
reação em face ao absolutismo, os direitos fundamentais de segunda geração que
são direitos sociais, econômicos e culturais, obtiveram espaço justamente frente à
desigualdade material que o princípio da igualdade formal não logrou superar,
configurando-se ainda, em tal contexto, a necessidade de uma atuação positiva por
parte dos entes estatais.
Sendo assim, Bobbio (2004) discorre sobre essas relações como parte da
historicidade dos direitos dos homens:

No plano histórico, sustento que a afirmação dos direitos do homem deriva


de uma radical inversão de perspectiva, característica da formação do
Estado moderno, na representação da relação política, ou seja, na relação
Estado/cidadão ou soberano/súditos: relação que é encarada, cada vez
mais, do ponto de vista dos direitos dos cidadãos não mais súditos, e não
do ponto de vista dos direitos do soberano, em correspondência com a visão
individualista da sociedade, segundo a qual, para compreender a sociedade,
é preciso partir de baixo, ou seja, dos indivíduos que a compõem, em
oposição à concepção orgânica tradicional, segundo a qual a sociedade
como um todo vem antes dos indivíduos. A inversão de perspectiva, que a
partir de então se torna irreversível, é provocada, no início da era moderna,
principalmente pelas guerras de religião, através das quais se vai firmando
o direito de resistência à opressão, o qual pressupõe um direito ainda mais
substancial e originário, o direito do indivíduo a não ser oprimido, ou seja, a
gozar de algumas liberdades fundamentais: fundamentais porque naturais,
e naturais porque cabem ao homem enquanto tal e não dependem do
beneplácito do soberano (entre as quais, em primeiro lugar, a liberdade
religiosa). Essa inversão é estreitamente ligada à afirmação do que chamei
de modelo jusnaturalista, contraposto ao seu eterno adversário, que sempre
renasce e jamais foi definitivamente derrotado, o modelo aristotélico.
(BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. p.4)

Logo, ainda em análise aos argumentos jusnaturalistas verifica que no


contexto histórico há o respaldo inerente aos direitos da condição humana. Com
isso, o doutrinador Bobbio (2004) demonstra seu posicionamento a respeito,
vejamos a seguir:
Sabemos hoje que também os direitos ditos humanos são o produto não da
natureza, mas da civilização humana; enquanto direitos históricos, eles são
mutáveis, ou seja, suscetíveis de transformação e de ampliação. Basta
examinar os escritos dos primeiros jusnaturalistas para ver quanto se
ampliou a lista dos direitos [...]. Ora, a Declaração Universal dos Direitos do
Homem – que é certamente, com relação ao processo de proteção global
dos direitos do homem, um ponto de partida para uma meta progressiva,
como dissemos até agora – representa, ao contrário, com relação ao
conteúdo, isto é, com relação aos direitos proclamados, um ponto de parada
num processo de modo algum concluído. Os direitos elencados na
Declaração não são os únicos e possíveis direitos do homem: são os direitos
do homem histórico, tal como este se configurava na mente dos redatores
da Declaração após a tragédia da Segunda Guerra Mundial, numa época
que tivera início com a Revolução Francesa e desembocaram na Revolução
Soviética. (BOBBIO, Norberto. A era dos direitos.p.32-3)

Alguns outros doutrinadores também, possuem um posicionamento


semelhante, como a exemplo a doutrinadora Flávia Piovesan (2010), a qual alega
que:
Sempre se mostrou intensa a polêmica sobre o fundamento e a natureza
dos direitos humanos – se são direitos naturais e inatos, direitos positivos,
direitos históricos ou, ainda, direitos que derivam de determinado sistema
moral. Esse questionamento ainda permanece intenso no pensamento
contemporâneo. Defende este estudo a historicidade dos direitos humanos,
na medida em que estes não são um dado, mas um construído, uma
invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução.
Enquanto reivindicações morais, os direitos humanos são fruto de um
espaço simbólico de luta e ação social, na busca por dignidade humana, o
que compõe um construído axiológico emancipatório. Como leciona
Norberto Bobbio, os direitos humanos nascem como direitos naturais
universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando
cada Constituição incorpora Declarações de Direitos) para finalmente
encontrar a plena realização como direitos positivos universais
[...].(PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional
internacional, p. 114-5.)

No oposto, Paulo Bonavides (2006) discorre acerca do jusnaturalismo e


positivismo para a fundamentação dos direitos humanos:

A alternativa moderna sempre foi esta: direito natural ou direito positivo. O


primeiro, entregando-se ao subjetivismo idealista para alcançar a Justiça; o
segundo, sacrificando o problema da verdade para obter a Segurança. A
“injustiça legislada” durante as épocas mais agudas do positivismo jurídico
de nosso século (haja visto o período nacional-socialista) marcou o auge da
crise na controvérsia doutrinária entre os dois direitos. O positivismo, ao
contrário do jusnaturalismo – tão fecundo em produção doutrinária – se
asilou, primeiro, no formalismo, para depois esvaziar-se como lógica, teoria
do conhecimento ou simples metodologia. Não logrou justificar-se, não
apresentou nenhuma teoria satisfatória sobre si mesmo e, finalmente, não
delimitou suas próprias fronteiras, segundo Wenzel e Calliess, que
ponderam assim a esterilidade doutrinária do positivismo. Quanto ao
jusnaturalismo, este, por sua vez, teria demonstrado, como sempre, sua
incapacidade para responder, numa determinada situação histórica
concreta, ao problema dos fundamentos de validez do direito.(BONAVIDES,
Paulo. Curso de direito constitucional, p. 124.)

Por fim, ainda que as fundamentações jusnaturalistas e positivistas não


demonstrem serem suficientes para solucionar questões ligadas a outras áreas do
direito, talvez o melhor a se fazer seria harmonizar as duas teorias sem a pretensão
de justificar os direitos humanos com base na prevalência de uma e na refutação de
outra.
4. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O SISTEMA
INTERAMERICANO.

Primeiramente é preciso compreender o processo de internacionalização dos


direitos humanos, seus reflexos e a humanização do direito internacional nesse
contexto. A partir desse contexto que é possível adentrar nos principais desafios e
perspectivas do processo de internacionalização dos direitos humanos na ordem
contemporânea.
A análise do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos
demanda que seja considerado o seu contexto histórico, bem como as peculiaridades
regionais. Trata-se de uma região marcada por elevado grau de exclusão e
desigualdade social, ao qual se somam democracias em fase de consolidação.
Desta forma, dois períodos demarcaram, assim, o contexto latino-americano: o
período dos grandes ditatoriais e o período da transição política aos regimes
democráticos, marcado pelo fim das ditaduras militares, na década de 1980, na
Argentina, no Chile, no Uruguai e no Brasil.
Ao longo dos regimes ditatoriais que assolaram os Estados da região, os mais
básicos direitos e liberdades foram violados, sob as marcas das execuções sumárias,
dos desaparecimentos forçados, das torturas sistemáticas, das prisões ilegais e
arbitrárias, das perseguições político-ideológicas e da abolição das liberdades de
expressão.
É útil conceber o processo de democratização como um processo que implica
em duas transições. A primeira é a transição do regime autoritário anterior para a
instalação de um Governo Democrático. A segunda transição, esta é a mais longa e
complexa, é deste governo para a consolidação democrática, ou, em outras palavras,
para a efetiva vigência do regime democrático (O’DONNELL, 1992).
Isso significa que a região latino-americana tem um duplo desafio: romper em
definitivo com o legado da cultura autoritária ditatorial e consolidar o regime
democrático com o pleno respeito aos direitos humanos, amplamente considerados
(direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) (PIOVESAN,
2013).
A Declaração de Direitos Humanos de Viena em 1993, reitera que há uma
relação indissociável entre democracia, direitos humanos e desenvolvimento. Ao
processo de universalização dos direitos políticos, em decorrência da instalação de
regimes democráticos, deve ser conjugado o processo de universalização dos direitos
civis, sociais, econômicos, culturais e ambientais (PIOVESAN, 2013).
Em outras palavras, a densificação do regime democrático na região requer o
enfrentamento do elevado padrão de violação aos direitos econômicos, sociais,
culturais e ambientais, em face do alto grau de exclusão e desigualdade social, que
compromete a vigência plena dos direitos humanos na região, sendo fator de
instabilidade ao próprio regime democrático.
A internacionalização dos direitos humanos se inicia no período pós-Guerras,
se fundamenta na uniformização das formas de governo e de Estado atuais, sendo
que aqueles entes que visam participar de pactos e tratados de direitos humanos
seguem um padrão mínimo de aceitação e enquadramento, nos moldes dos direitos
humanos e nos direitos que essa área do direito internacional defende (LENCI
PACCOLA, 2017).
Tempos atrás, as nações entendiam que por serem soberanas não poderiam
interferir em assuntos internos de outros Estados, pois feririam a soberania alheia.
Diante disso, os Estados sentiam que poderiam praticar quaisquer atos que
avaliassem como corretos, mesmo que repudiados internacionalmente, e que não
sofreriam intervenção externa nem punição (LENCI PACCOLA, 2017).
Com a evolução das Leis, dos governos, teorias de Estado, conceitos e
princípios positivados como o da dignidade da pessoa humana, e a garantia pelo
Estado de respeitar os direitos fundamentais, o mundo hoje em dia já não entende a
soberania da mesma maneira. Ainda é soberano o Estado, porém, sabe do dever de
atuação e de respeito dos órgãos internacionais de justiça, caso tenham se submetido
aos respectivos pactos e tratados (LENCI PACCOLA, 2017).
Até meados do século XX, o Direito Internacional possuía apenas normas
internacionais esparsas referentes a certos direitos essenciais, como se vê na
temática do combate à escravidão no século XIX, ou ainda na criação da OIT
(Organização Internacional do Trabalho, 1919), que desempenha papel importante
até hoje na proteção de direitos trabalhistas (RAMOS, 2014).
Contudo, a criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos está
relacionada à nova organização da sociedade internacional no pós-Segunda Guerra
Mundial15. Como marco dessa nova etapa do Direito Internacional, foi criada, na
Conferência de São Francisco em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU)
(RAMOS, 2014).
Nessa linha de raciocínio é que fica evidente o quanto os direitos humanos
estão entrelaçados em um caráter universal de modo que tem objetivo de facilitar
garantia dos direitos a todas as pessoas a fim de que haja também a comunicação
entre os países. E, dessa forma, poder celebrar acordos, realizar conferências bem
como vislumbrar a melhor maneira de segurança no que diz respeito à proteção
desses direitos.
O instrumento de maior importância do sistema interamericano é a Convenção
Americana de Direitos Humanos. Convenção esta que foi assinada em San José, na
Costa Rica, no dia 22 de novembro do ano de 1969, entrando em vigor, no entanto
em 18 de julho 1978 (TRINDADE, 1991). Somente os estados membros da OEA
(Organização dos Estados Americanos) podem aderir à convenção. O Brasil ratificou
a Convenção apenas em setembro de 1992 (GOMES, 2000).
Aplica-se nas disposições da Convenção, o princípio da prevalência dos
direitos mais vantajosos para a pessoa humana; ou seja, quando houver
simultaneidade entre mais de um sistema normativo, por exemplo, o nacional e o
internacional, deverá prevalecer e ser aplicado aquele que melhor protege o ser
humano. (COMPARATO, 2001).
De acordo com Flávia Piovesan (2004), em face do catálogo de direitos
contidos na Convenção Americana, cabe aos Estados – parte a obrigação de respeitar
e o livre e pleno exercício desses direitos e liberdades, sem qualquer discriminação.
Cabe ainda ao Estado – parte adotar as medidas legislativas e de outra natureza que
sejam necessários para conferir efetividade aos direitos e liberdades enunciados.
Inicia-se o estudo do Sistema Interamericano de Direitos Humanos a partir da
Nona Conferência Internacional Americana realizada em Bogotá em 1948; nela foi
aprovada a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, primeiro
documento internacional de direitos humanos de abrangência geral e a Carta da OEA
que proclama os Direitos Fundamentais do indivíduo, como princípio da Organização
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS 2011b).
A análise do sistema interamericano necessita que seja considerado o seu
contexto histórico, assim como as peculiaridades regionais, pois se trata de uma
região marcada por alto grau de exclusão e desigualdade social, ao qual se soma a
democracia em fase de consolidação (PIOVESAN, 2015).
A propósito, a região ainda convive com as reminiscências do legado dos
regimes autoritários ditatoriais, que possuem uma cultura de violência e de
impunidade, sem contar a baixa densidade dos Estados de Direito e a precária
tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito doméstico. Assim, dois períodos
demarcam o contexto intitulado latinoamericano: o período dos regimes ditatoriais e o
período de transição política aos regimes democráticos, marcado pelo fim das
ditaduras militares, na década de 1980, na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Brasil
(PIOVESAN, 2015).
O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos se trata de um dos
sistemas de natureza regional mais consolidados do mundo, sendo inclusive formado
por diversos documentos de ordem internacional, sendo eles, em ordem cronológica,
a Declaração dos Direitos e Deveres do Homem (1948); a Convenção Americana de
Direitos Humanos ou Pacto de San Jose (1969); Protocolo Adicional à Convenção
Americana de Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais ou Protocolo de San Salvador (1988); Protocolo à Convenção Americana de
Direitos Humanos para Abolição da Pena de Morte (1990); Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994); Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985); Convenção Interamericana
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras
de Deficiências (1999) e a Convenção Interamericana sobre Desaparecimentos
Forçados (1994) (GRUBBA; NISTLER, 2018).
Cabe lembrar ainda que a Convenção Americana é integrada pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos, sendo que a primeira visa à observância e efetiva proteção dos direitos
humanos na América e a segunda significa o órgão jurisdicional do respectivo sistema
regional, sendo composta por sete juízes nacionais de Estados membros da OEA,
eleitos a título pessoal pelos Estados partes da Convenção (PIOVESAN, 2015).
Ainda de acordo com Gomes (2000, p. 30), dentre os direitos civis e políticos
reconhecidos e assegurados na convenção destacam-se:

O direito à personalidade jurídica, o direito à vida, o direito de não ser


submetido à escravidão, o direito à liberdade, o direito a um julgamento justo,
o direito de compensação em caso de erro judiciário, o direito à privacidade,
o direito à liberdade de consciência e religião, o direito à liberdade de
pensamento e de expressão, o direito à resposta, o direito à liberdade de
associação, o direito ao nome, o direito à nacionalidade, o direito à liberdade
de movimento e residência, o direito de participar do governo, o direito à
igualdade perante a lei e o direito à proteção judicial.

Aplica-se nas disposições da Convenção, o princípio da prevalência dos


direitos mais vantajosos para a pessoa humana; ou seja, quando houver
simultaneidade entre mais de um sistema normativo, por exemplo, o nacional e o
internacional, deverá prevalecer e ser aplicado aquele que melhor protege o ser
humano. (COMPARATO, 2001).
De acordo com Flávia Piovesan (2004), em face do catálogo de direitos
contidos na Convenção Americana, cabe aos Estados - parte a obrigação de respeitar
e o livre e pleno exercício desses direitos e liberdades, sem qualquer discriminação.
Cabe ainda ao Estado - parte adotar as medidas legislativas e de outra natureza que
sejam necessários para conferir efetividade aos direitos e liberdades enunciados .
Os Estados- partes na Convenção Americana têm obrigação não apenas de
“respeitar” esses direitos garantidos na Convenção, mas também de “assegurar” o
seu livre e pleno exercício. Portanto, os Estados têm uma obrigação negativa, como
o dever de não violar nenhum direito individual, e também obrigações positivas, no
sentido de implantar medidas que se façam necessárias para a efetivação desses
direitos garantidos pela Convenção (PIOVESAN, 2004).
Ainda de acordo com Comparato (2001), no que diz respeito aos órgãos de
fiscalização e julgamento, a Convenção criou além da Comissão encarregada de
investigar os fatos de violação de suas normas, também um Tribunal especial para
julgar os litígios daí decorrentes, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja
jurisdição, no entanto, só é obrigatória para os Estados - Partes que a aceitem, de
acordo com o seu artigo 62, em seu parágrafo primeiro.
Nesse contexto é importante destacar que dentre os documentos de proteção
interamericana de direitos humanos que é considerado o de maior importância é a
Convenção Americana de Direitos Humanos, a qual foi conhecida também como
Pacto de San José da Costa Rica em 1969. Esta tomou destaque maior devido a um
leque maior de direitos civis e políticos, citando outros direitos, como por exemplo: o
direito à preservação da honra e dignidade, à liberdade de consciência e religião, bem
como a obrigação dos Estados-partes em respeitar os direitos previstos nele.
É imprescindível destacar é o reconhecimento que dá ao ser humano
propriamente dito, ao citar em seu preâmbulo que os Estados Americanos signatários
da respectiva Convenção, reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa
humana não advêm do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do
fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam
uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar
da que oferece o direito interno dos Estados americanos (Convenção Americana de
Direitos Humanos).
A Convenção Americana de Direitos Humanos foi assinada em San José, Costa
Rica em 1969, porém só entrou em vigor em 1978. Ela só pode ser ratificada por
países membros da Organização dos Estados Americanos. Hoje, sabe-se que 25 dos
35 países membros da OEA, já aderiram a Convenção. (PIOVESAN, 2000).
A Convenção, também chamada de Pacto de San José da Costa Rica baseia-
se na Declaração Universal dos Direitos Humanos. É composta por oitenta e
umartigos, e busca uma consolidação da liberdade e justiça baseada no respeito aos
direitos humanos. Entre os direitos expostos, encontram-se os direitos fundamentais
da pessoa humana e algumas garantias judiciais, como liberdade de religião e
proibição da escravidão humana. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2009).
Pela Convenção Americana de Direitos Humanos foram facultados os dois
órgãos encarregados da proteção dos direitos humanos no sistema americano, são
esses a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que possui sede
emWashington, D.C. e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em
San José, Costa Rica. (LEÃO, 2002).
Os dois órgãos são compostos por sete membros eleitos pela assembleia geral
da OEA. Na Comissão o mandato dos membros é de quatro anos de duração e da
Corte é de seis anos, onde nos dois casos os membros podem ser reeleitos somente
uma vez. (GALLI; DULITZKY, 2000)
Segundo Galli e Dulitzky (2000) “A Comissão é um órgão central da OEA na
supervisão e monitoramento do grau de cumprimento das obrigações internacionais
pelos Estados-membros em matéria de direitos humanos no âmbito regional”.
A competência de examinar as petições que possuam alegações de violações
de direitos humanos funciona da seguinte forma: a Comissão recebe a petição e
decide sobre os fundamentos desta. Se a Comissão reconhecer sua admissibilidade,
ela questiona o Estado sobre o caso. Após o pronunciamento do Estado, a Comissão
analisa se existem motivos para continuidade desta petição. Se não, o caso é
arquivado, caso exista, ela investigará os fatos. (PIOVESAN, 2013).
Após a investigação, a Comissão buscará uma solução amistosa entre o
Estado e o indivíduo. Caso não seja possível, a comissão produzirá um relatório,
apontando os fatos e recomendações para solucionar o problema e encaminhará ao
Estado denunciado, que possui três meses para cumprir as recomendações da
Comissão. (PIOVESAN, 2013)
Uma segunda função da Comissão é a de redação de informes referentes aos
países-membros. A comissão visita os países para estudar sua situação referente à
proteção dos direitos humanos e para recolher informações sempre que achar
necessário. (LEAO, 2002)
A principal função da Comissão Interamericana de Direitos Humanos é
promover a observância e a proteção dos Direitos Humanos na América. Para que
isso seja concretizado, cabe à Comissão fazer recomendações aos governos dos
Estados - Partes prevendo a adoção de medidas por eles adotadas. Além disso, a
comissão deve apresentar anualmente um relatório à Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos.
O artigo 41 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos consagra ainda
algumas das suas funções:

Estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;


Preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o
desempenho de suas funções; solicitar aos governos dos Estados Membros
que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em
matéria de direitos humanos; Atender às consultas que, por meio da
Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem
os Estados Membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos
e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe
solicitarem; Atuar com respeito às petições e outras comunicações, no
exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto no art 44 e 51
da convenção. (CONVENÇÃO).

Em relação à petição inicial, que pode ser encaminhada por indivíduos ou


grupos de indivíduos, ou ainda alguma entidade não governamental, que contenha
denúncia de violação a algum dos direitos consagrados na Convenção Americana de
Direitos Humanos (GOMES, 2000).
No que se refere à possibilidade de petição individual, há um apontamento
muito importante a ser feito, com base nas palavras de Flávia Piovesan (2004), que
afirma ser “indiscutível que a disponibilidade do direito de petição individual assegura
a efetividade do sistema internacional de proteção aos direitos humanos”.
Além do prévio esgotamento dos recursos internos, como requisito de
admissibilidade, também é condição para uma petição ser admitida, que não haja
litispendência internacional, ou seja, a mesma questão não pode estar pendente em
outra instância internacional (PIOVESAN, 2004).
Neste segmento, a comissão ainda encaminha a Assembleia Geral da OEA
anualmente, relatórios com medidas convenientes para um resultado eficiente na
proteção dos direitos consagrados na Declaração e na Convenção. (LEAO, 2002)
Se o Estado - parte não cumprir alguma recomendação feita pela Comissão,
dentro do prazo de três meses, a Corte Interamericana poderá ser acionada. A corte
interamericana de direitos é órgão jurisdicional do sistema regional, que é composta
por sete juízes nacionais de estados-membros da OEA, eleitos a título pessoal pelos
Estados - parte da Convenção. Ela apresenta competência consultiva e contenciosa
(GOMES, 2000).
A Corte Interamericana de Direitos Humanos possui função de interpretar e
aplicar os direitos humanos presentes na Convenção Americana. É o órgão
jurisdicional autônomo do Sistema Interamericano. (ROBLES, 2003).
É composta por sete juízes, de qualquer país membro da OEA, eleitos pela
Assembleia Geral da OEA, para um mandato de seis anos, possíveis de reeleição
apenas uma vez. (ALVES, 1997).
A Corte possui duas funções: uma jurisdicional e uma consultiva. Na função
consultiva, a Corte é responsável por responder e ajudar na interpretação de questões
de países membros referentes à Convenção e Tratados posteriormente adquiridos.
No plano jurisdicional a Corte determina se algum Estado violou algum direito
consagrado na Convenção. (ROBLES, 2003).
No plano contencioso, a competência da corte é limitada aos Estados - parte
da Convenção que a reconheçam expressamente. É importante ressaltar que
somente a Comissão Interamericana e os Estados - partes podem submeter um caso
à corte. No caso brasileiro, a aceitação da competência da Corte Americana ocorreu
recentemente, apenas no ano de 1998. (GOMES, 2000)
Lembrando que no plano consultivo, qualquer membro da OEA - parte ou não
da convenção, pode solicitar o parecer da Corte Interamericana relativamente à
interpretação da Convenção ou qualquer outro tratado relativo à proteção dos direitos
humanos. (PIOVESAN, 2004).
Diferente do sistema de petições iniciais da Comissão Interamericana, a Corte
não recebe caso de indivíduos, somente se for encaminhado pela Comissão. Dessa
forma, como citado no capítulo anterior, após o prazo de três meses de notificação do
caso ao Estado denunciado, se este não cumpriu as recomendações da Comissão, o
caso poderá ser encaminho para a Corte. (GALLI; DULITZKY, 2000).
Contudo, a Corte possui competência para julgar casos de violação expostos
por Estados-membros, caso a matéria do caso seja referente à violação de direitos
explícitos na Convenção. Quando é iniciado um procedimento na Corte, seja recebido
pela Comissão ou por um Estado-membro, a Comissão será sempre solicitada para
atuar como parte. (GALLI; DULITZKY, 2000).
Caso a Corte reconheça a violação no caso, ela determinará a adoção de
medidas para restauração do direito violado, e também poderá ela, condenar o Estado
que violou o direito a pagar indenização à vítima. (PIOVESAN, 2000).
Ao decidir sobre um caso, a Corte profere sua sentença, a qual deverá ser
fundamentada. Caso a decisão dos membros da Corte não seja unânime, existe a
possibilidade de um dos juízes anexar suas opiniões individuais. (BRANT; BORGES,
2015). Jayme (2008) aponta sua soberania e cita seu poder em ser a última a se
pronunciar com efetividade, salientando a impossibilidade de apelação à suas
decisões.
Ensina Luiz Flavio Gomes que (2000):

A corte tem jurisdição para examinar casos que envolvam a denúncia de que
um Estado - parte violou direito protegido pela Convenção. Se reconhecer
que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de
medidas que se façam necessárias à restauração do direito então violado. A
corte pode ainda condenar o Estado a pagar uma justa compensação à
vítima. A decisão da corte tem força jurídica vinculante e obrigatória. Se a
corte fixar uma compensação à vítima, a decisão valerá como título executivo,
em conformidade com os procedimentos internos relativos à execução de
sentença desfavorável ao Estado.

Cabe observar, contudo, dois pontos: que o caso somente poderá ser
encaminhado e analisado pela Corte, na hipótese de o Estado - parte reconhecer
mediante declaração expressa e específica, a competência da Corte no tocante à
interpretação e aplicação da Convenção, e que, antes de encaminhar o caso à Corte
Interamericana, se o caso for de gravidade ou urgência, a Comissão poderá por
iniciativa própria ou mediante solicitação da parte impor ao Estado adoção de medidas
que façam cessar a violação, ou que impeçam a ocorrência de danos irreparáveis
(PIOVESAN, 2004).
Além disso, a Comissão pode solicitar à Corte medidas de urgência, no sentido
de preservar algum direito lesado, ou algum dano irreparável à pessoa, em matéria
ainda não discutida pela Corte (PIOVESAN, 2004)
Vale à pena ressaltar que a Corte não está adstrita à decisão da Comissão. Ela
poderá formular sua decisão com base no seu julgamento. Da mesma forma que é
importante mencionar o modo que a Comissão, a Corte também pode adotar medidas
provisórias, sendo para isso necessários três requisitos: a gravidade da ameaça, a
necessidade de evitar danos irreparáveis às pessoas, e a urgência na medida
requerida. Elas podem ser suspensas ou retiradas por terem deixado de ser
necessárias. (GOMES, 2000).
Desta forma, o a atuação da Corte Interamericana, pode-se afirmar que,
embora seja recente a sua jurisprudência, o sistema interamericano como um todo
está se consolidando como importante e eficaz na estratégia de proteção aos direitos
humanos, quando as instituições nacionais se mostram falhas, o que está a formar
um espaço fértil para futuros avanços. (PIOVESAN, 2004).
Dessa maneira é que se faz mister mencionar mais uma vez que caso um
Estado não cumpra com as recomendações dos relatórios realizados pela Comissão
naquele prazo estipulado, o mesmo poderá ser encaminhado para ser julgado na
Corte.
Até hoje o Brasil foi julgado em cinco processos perante a Corte, os quais serão
apresentados a seguir. São eles: caso Ximenes de 2004, caso Gilson Nogueira de
Carvalho de 2005, caso Escher e outros de 2007, caso Sétimo Garibaldi de 2004 e
caso Lund e outros de 2009. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS,
2011a).
O primeiro caso brasileiro encaminhado da Comissão à Corte foi o Caso
Damião Ximenes de 2004, onde o Brasil foi acusado de colocar Damião, portador de
deficiência mental em situação degradante e desumana em sua hospitalização no
sistema único de saúde (SUS), as quais resultaram em sua morte. O Brasil foi
responsabilizado e condenado a pagar indenização à família da vítima.
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTAODS AMERICANOS, 2011a)
O segundo caso encaminhado à Corte foi vítima Francisco Gilson Nogueira de
Carvalho, onde o Brasil foi acusado por suas ações e omissões nas investigações do
seu assassinato. A sentença neste caso foi favorável ao Brasil, levando ao
arquivamento do caso. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTAODS AMERICANOS, 2011a).
O terceiro caso, denominado caso Escher, a violação dos Direitos Humanos
ocorreu perante membros de organizações ligadas ao Movimento dos Trabalhados
Rurais Sem Terra (MST), que tiveram suas linhas telefônicas interceptadas e
monitoradas ilegalmente. O Brasil foi declarado responsável pelas violações de
direitos assegurados pelo sistema. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOSAMERICANOS,
2011a).
O quarto caso foi encaminhado à Corte em 2007, ele responsabilizava o Brasil
por descumprir a obrigação de investigar e punir o responsável pelo homicídio de
Sétimo Garibaldi. Neste caso, o Brasil foi condenado a pagar indenização à família da
vítima e a conduzir um inquérito para julgar os autores do homicídio de Garibaldi.
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTAODS AMERICANOS, 2011a).
No quinto caso brasileiro apresentado a Corte, o Brasil foi acusado de detenção
arbitrária, tortura e desaparecimento de 70 pessoas, eles eram membros do partido
comunista ou camponês. Neste caso, o Brasil foi novamente condenado por uma série
de violações aos direitos humanos. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTAODSAMERICANOS,
2011a).
Está exposto no Artigo 68 da Convenção Americana de Direitos Humanos que
“Os Estados Parte na Convenção se comprometem a cumprir a decisão da corte
emtodo o caso em que forem partes”. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS, 1969).
Assim, tem-se que a implementação das sentenças proferidas pela Corte no
âmbito interno é obrigatória, a qual não só decorre da ratificação da Convenção, mas
também do reconhecimento do Estado perante a Corte, como já visto no capítulo
anterior. (COELHO, 2015).
Caso um Estado não cumpra com as decisões da sentença prolatada pela
Corte, esta deverá informar no seu relatório encaminhado à OEA anualmente.
Exercendo assim, uma pressão política no Estado condenado, devido à falta de meios
coercitivos existentes para fazer com que os países efetivamente cumpram com as
disposições da sentença estabelecida pela Corte. (LEITE, 2008).
As sentenças da Corte Interamericana possuem em geral o caráter obrigatório,
mas não executório, pois apesar de não existir um mecanismo internacional que force
os Estados a cumprirem coercitivamente a decisão, eles são responsabilizados
internacionalmente pelo fato de terem se comprometido a executar as decisões
quando ratificaram a Convenção Americana (LEITE, 2008).
Mazzuoli (2013), ao citar o exemplo do caso Damião Ximenes, quando diz que
o grande problema do cumprimento das decisões da Corte não está na parte
indenizatória (onde o Brasil teve que indenizar a família da vítima) e sim em executar
os deveres de investigar e punir os responsáveis pelo seu homicídio.
Fica evidente que a maior facilidade está em cumprir a parte da sentença que
possui caráter vinculante e executório, da mesma forma que existem dificuldades em
cumprir a parte que possui caráter obrigatório.
Com isso, observa-se que a apesar do Brasil já ter sido alvo de muitas
reclamações, mesmo assim não se configura um país que mais viola os direitos da
Convenção, entretanto se há uma grande dificuldade na execução das sentenças
proferidas pela Corte no que se diz respeito ao não cumprimento do Brasil com as
medidas expostas por este.
Enfim, o intuito é esclarecer e demonstrar a relevância do sistema
interamericano e como ele contribui para a consolidação da proteção dos direitos
humanos na região americana onde as vítimas são asseguradas das constantes
violações no objetivo de obter a ordem e justiça em âmbito interno.
5. ANÁLISE DO CASO MÁRCIA BARBOSA X BRASIL

A luta das mulheres por direitos humanos tem percorrido um longo caminho por
reconhecimento e efetivação. Parte desta jornada se deteve à promoção de
descolamentos no sentido mesmo do que são e para quem são os direitos humanos.
Críticas contumazes foram feitas à premissa do direito natural, na qual a definição dos
direitos humanos esteve circunscrita, e à sua insuficiente apreensão das diferenças
que, constituídas por meio das relações sociais, configuram o status de sujeito de
direito. As contradições entre os direitos individuais e coletivos, bem como a noção de
gerações de direitos, que implicava na garantia e na expansão dos direitos por etapas,
também foram severamente debatidas e questionadas (Jelin, 1994; Prá e Epping,
2012).
O discurso dos direitos humanos na esfera internacional, como já citado,
ganhou grande força a partir do século XX e do final da 2ª Guerra Mundial. Quando
se trata das lutas em prol dos direitos humanos das mulheres no cenário internacional,
alguns marcos são inegáveis (CRUZ e GARCÍA-HORTA, 2016).
Em 1967 surge a Declaração para a Eliminação da Discriminação contra as
Mulheres, compreendida por diversas autoras (dentre elas: TOMAZONI; GOMES,
2015 e AZAMBUJA; NOGUEIRA, 2008) como a gênese para o posterior surgimento
da CEDAW. Possivelmente, a principal limitação desse documento é seu caráter
recomendatório e, portanto, não vinculativo, que se justifica pelo fato de tratar-se de
uma Declaração.
É em 1975 que a ONU declara o Ano Internacional da Mulher. Essa declaração
ocorre na Cidade do México na Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher,
a primeira Conferência da ONU para tratar sobre os direitos das mulheres. Sendo,
portanto, um marco inegável no cenário dos direitos humanos das mulheres. Além
disso, a Conferência foi um relevante instrumento de mobilização política para
mulheres de diversas partes do mundo e ajudou a fortalecer o relacionamento da ONU
com a sociedade civil e os movimentos feministas, por meio da participação efetiva
na Convenção, de organizações não estatais (GUARNIERI, 2010).
Foi a partir dessa Conferência que três temas ganharam destaque quando se
trata dos trabalhos da ONU em prol dos direitos das mulheres, sendo eles: igualdade,
desenvolvimento e paz. Resultou da Conferência o surgimento da Declaração do
México, que abordava os três temas escolhidos pela Conferência, ou seja, a
igualdade entre homens e mulheres, as contribuições para o desenvolvimento e
a paz (TOMAZONI; GOMES, 2015).
A partir desse momento histórico ocorre uma relevante mudança na
compreensão sobre a importância dos direitos das mulheres, já que não se
compreende mais o desenvolvimento como algo útil ao progresso das mulheres, mas
sim compreende-se que “[...] o desenvolvimento não era possível sem a
participação das mulheres.” (GUARNIERI, 2010)
A CEDAW surgiu em 1979, adotada pela Assembleia Geral da ONU. Pela
doutrina é considerada como uma “[...] verdadeira carta internacional dos direitos das
mulheres (GUARNIERI, 2010) ou ainda como “[...] a Declaração Universal dos Direitos
da mulher” (TOMAZONI; GOMES, 2015).
A CEDAW tornou-se um marco na história dos direitos humanos pois é, até o
presente momento, o mais importante texto internacional que versa sobre os direitos
humanos das mulheres. Essa compreensão sobre a Convenção decorre do fato de
que há nela um agrupamento de diversos princípios que já haviam se tornado aceitos
no cenário internacional acerca os direitos humanos das mulheres, além do fato de
que o texto inclui temas concernentes a diferentes áreas da vida como saúde, família,
trabalho e educação (TOMAZONI; GOMES, 2015)
Devido a isso entende-se que a CEDAW é a principal carta de direito
internacional sobre os direitos das mulheres e sua capacidade de abarcar e compilar
em um só texto questões concernentes a diversas esferas da vida das mulheres.
No que se diz respeito a legislação brasileira na década de 1980 não
assegurava direitos iguais entre mulheres e homens quando de relações matrimoniais,
o país realizou a reserva. Mas que foi retirada em 1994 e o país assumiu o
compromisso de assegurar tal condição igualitária.
Então em 2022, o Brasil, ratificou o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher conhecido como
Protocolo Adicional e, tal texto descreveu sobre o Comitê CEDAW e a sua
competência para receber relatórios dos Estados-Partes.
As conferências sobre direitos das mulheres como a do México, a de
Copenhague e a de Nairobi, bem como a que viria a ocorrer em 1995 em Beijing,
ocorrem paralelamente às conferências mundiais sobre temas globais, também
promovidas pela ONU. Uma delas foi a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos
que ocorreu em Viena em 1993. Foi somente nessa Conferência com a publicação da
Declaração e Programa de Ação de Viena que a ONU expressa tacitamente que “Os
Direitos Humanos das mulheres e das crianças do sexo feminino constituem uma
parte inalienável, integral e indivisível dos Direitos Humanos universais.” (Artigo 18 –
Declaração de Viena).
Assim sendo, é possível perceber como ao longo da segunda metade do século
XX a compreensão sobre os direitos humanos das mulheres no cenário internacional
foi se modificando.
Dessa maneira, as questões de gênero foram, portanto, incluídas
paulatinamente na agenda global de direitos humanos, segundo determinado regime
de visibilidade, a partir dos contextos e da configuração de linhas de forças entre os
diferentes atores políticos que dele fizeram parte e, especialmente, as próprias
mulheres.
Superada essa questão histórica de lutas das mulheres na busca pelo
reconhecimento dos direitos humanos das mulheres e passando a adentrar no
contexto do caso Márcia Barbosa X Brasil, o qual se refere a um dos objetivos desta
pesquisa.
Na intenção de verificar a real eficácia das sentenças proferidas pela Corte,
será realizada uma análise do caso Márcia Barbosa, com a intenção de apontar o
impacto positivo desta no plano interno brasileiro e verificar a existência de obstáculos
no seu cumprimento.
Primeiramente é preciso compreender o caso de Márcia Barbosa que era uma
jovem a qual vivia com seus pais e a irmã mais nova de 17 anos à época, onde
encontrava-se na capital em busca de emprego com o objetivo de ajudar a família.
Nesse contexto, a jovem Márcia de 20 anos, negra, paraibana, estudante,
mudou-se para João Pessoa (PB) com o intuito de continuar os estudos e trabalhar,
por isso aceitou o convite de emprego em uma fábrica de sapatos oferecida pelo
deputado estadual Aércio Pereira.
Na noite do dia 17 de junho de 1998, por volta das 19h, Márcia recebeu um
telefonema e teve um encontro amoroso com o então deputado Aércio Pereira Lima
por volta de 21h daquele mesmo dia no Motel Trevo e nunca mais voltou para casa.
Conforme relatório final da Delegacia de Delitos contra Pessoa, citado na sentença,
às 21h, a vítima fez uma ligação a partir do telefone celular utilizado pelo homem para
um número de telefone residencial na cidade de Cajazeiras. Na ligação, ela contou
para conhecidos que estava naquele momento na companhia do mesmo.
Na manhã do dia 18 de junho, uma pessoa observou que alguém estava
retirando o corpo de uma pessoa, posteriormente identificada como Márcia Barbosa
de Souza, de um veículo em um terreno baldio no bairro Altiplano, em João Pessoa.
A causa da morte foi asfixia.
Em 19 de junho de 1998, a investigação sobre a morte de Márcia Barbosa teve
início formal nos autos do Inquérito Policial nº 18/1998, com a coleta de depoimentos
e provas periciais. Aos 21 de julho de 1998, o delegado de Polícia que presidiu a
investigação concluiu que todos os elementos de informação coletados apontavam
para a autoria dos crimes pelo deputado Aércio Pereira de Lima, com a participação
de outras quatro pessoas. Todos foram indiciados.
Ocorre que Aércio era deputado estadual em exercício, gozando nessa
condição de imunidade parlamentar formal, conforme previsão inserta no artigo 27,
§1º, da Constituição Federal. Esse dispositivo previa, em cotejo com o disposto no
artigo 53, §1º, da Constituição (na redação da época dos fatos), que desde a
expedição do diploma os parlamentares estaduais não poderiam ser processados
criminalmente sem prévia licença de sua casa legislativa.
Em 2001, com a edição da Emenda Constitucional nº 35, o artigo 53 da
Constituição da República teve sua redação alterada. Após a entrada em vigor, no dia
21 de dezembro de 2001, o processamento de ações penais contra parlamentares por
crimes praticados após a diplomação não mais dependeria de autorização prévia da
casa legislativa.
No dia 14 de março de 2003, teve início formalmente o processo-crime em
desfavor de Aércio Pereira de Lima, junto ao 1º Tribunal do Júri da Paraíba, sob o
número 200.2003.800.562-1.
Aos 26 dias do mês de setembro de 2007, o deputado, que sempre negou os
fatos, foi condenado a 16 anos de reclusão pela prática dos crimes tipificados no artigo
121, §2º, incisos II e III (quarta figura) e no artigo 211, ambos do Código Penal pelo
1º Tribunal do Júri Popular da Comarca de João Pessoa, somente após a perda da
imunidade parlamentar, 9 anos depois do crime.
Em 12 de fevereiro de 2008, o então, ex-deputado morreu, aos 64 anos de
infarto do miocárdio e embira Aércio não fosse mais parlamentar do estado da
Paraíba, seu corpo foi velado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa onde foi
decretado luto oficial por 3 dias.
O caso havia sido levado ao conhecimento do Sistema Interamericano de
Direitos Humanos desde 28 de março de 2000, quando a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos recebeu uma petição assinada pelas organizações não
governamentais Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), Movimento
Nacional de Direitos Humanos (MNDH), pela sua Regional Nordeste, e Gabinete de
Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). As entidades apontavam a
responsabilidade internacional da República Federativa do Brasil por diversas
violações de direitos humanos.
Diante dos fatos ocorridos o Movimento Nacional de Direitos Humanos,
regional nordeste, gabinete de assessoria jurídica às organizações e o centro de
justiça e o direito internacional apresentaram denúncia contra o Estado brasileiro à
Comissão Interamericana destacando a falta de diligência do Estado brasileiro em
investigar, processar e julgar o crime.
A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos tem reforçado
um compromisso que há no sistema interamericano de direitos humanos com o
princípio da proteção integral.
Dessa maneira, mais do que condenar um Estado, importa dissolver as razões
estruturais que provocam as violações continuadas, enfatizando a sua obrigação
internacional em reparar e reprimir as violências, como ato de responsabilidade
internacional.
A comissão aprovou relatório de admissibilidade da petição em 26 de julho de
2007 e notificou as partes para apresentarem informações sobre o caso. em 12 de
fevereiro de 2019, considerando o Brasil responsável por violações a direitos previstos
na Convenção Americana de Direitos Humanos e na Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (conhecida como Convenção
de Belém do Pará), sendo o Estado signatário de ambos os diplomas internacionais.
Além disso, foram formuladas diversas recomendações ao país, dentre reparações
devidas às vítimas e garantias de não-repetição.
O Brasil foi notificado pela comissão, recebendo prazo de dois meses para
informar sobre o estado do cumprimento das recomendações estabelecidas.
Apresentou apenas um relatório expressando sua intenção de cumpri-las, sem
apresentar proposta concreta nesse sentido ou solicitação de dilação de prazo.
Em 11 de julho de 2019, o caso foi submetido pela comissão à jurisdição da
Corte Interamericana de Direitos Humanos. Após a tramitação regulamentar do
procedimento, com apresentação de razões pelos representantes das partes
envolvidas, realização de audiências públicas e apresentação de escritos por seis
amici curiae (entre pesquisadoras, universidades e centros de ensino brasileiros), foi
proferida sentença pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 7 de setembro
de 2021.
A petição inicial do caso foi apresentada à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) pelo Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e pelo
Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH)/Regional Nordeste, em março de
2000.A denúncia do Ministério Público perante a justiça brasileira o havia imputado
como autor dos delitos de “homicídio duplamente qualificado” e ocultação de cadáver
(CIDH, 2021b).
Dessa maneira, após os trâmites legais, nos dias 6 e 7 de setembro de 2021,
a Corte deliberou a presente sentença que segue para conhecimento da sociedade
paraibana:
§176: 176. A Corte dispõe, como o fez em outros casos, que o Estado
publique, no prazo de seis meses, contado a partir da notificação da presente
Sentença: a) o resumo oficial da Sentença elaborado pela Corte, por uma
única vez, no Diário Oficial, bem como nas páginas web da Assembleia
Legislativa do Estado da Paraíba e do Poder Judiciário da Paraíba, e em outro
jornal de ampla circulação nacional, com um tamanho de letra legível e
adequado, e b) a presente Sentença na íntegra, disponível por um período
de pelo menos um ano, em um sítio web oficial do Estado da Paraíba e do
Governo Federal, de forma acessível ao público e acessível a partir da página
de início do referido sítio eletrônico. O Estado deverá informar de forma
imediata a este Tribunal uma vez que proceda a realizar cada uma das
publicações dispostas, independente do prazo de um ano para apresentar
seu primeiro relatório disposto na parte resolutiva da Sentença. (IDH, 2021,
p. 51).

A presente decisão revela-se paradigmática em diversos aspectos por ser a


primeira condenação em corte ao estado brasileiro relativo de maneira integral à
temática de violência contra mulher.
É possível verificar ainda da leitura da sentença que a Corte Interamericana,
assim como se nota na postura adotada no âmbito do sistema interamericano, a busca
pela não repetição de novos casos, tal como ocorrera no âmbito da CIDH no caso
Maria da Penha sobre violência doméstica, em que a evidente omissão brasileira no
trato da questão, bem como no silêncio do Estado perante à própria CIDH ensejou
tornar público e exigir um conjunto de recomendações ao Brasil, bem como,
pressionou, em conjunto com a mobilização dos movimentos feministas, a criação da
Lei nº 11.340/2006, que estabeleceu o dever de capacitação de todos os envolvidos
em um caso de violência de gênero, com o objetivo de “mudar a cultura” que revitimiza
e julga as próprias vítimas da violência.
Neste diapasão, a decisão da Corte no caso Márcia Barbosa destaca a
violência contra as mulheres no Brasil, como um problema estrutural e generalizado”
(CIDH, 2021b) na época dos acontecimentos – assim como o é hoje. A Corte pontuou
diversos aspectos para justificar sua afirmação: i) ausência de estatísticas nacionais,
especialmente antes dos anos 2000, sobre o número de mortes violentas de mulheres
em razão de gênero; ii) óbices à formulação e à implementação de políticas públicas
eficazes; iii) compilação mais recentes de dados sobre feminicídio e, por fim, v)
reconhecida tolerância à violência contra a mulher e sua comum ligação com altos
índices de feminicídio (CIDH, 2021b, §§ 47-57).
A Corte reconheceu e evidenciou a violência contra a mulher como sendo um
problema estrutural e generalizado, com altos níveis de tolerância a esse tipo de
violência ligados as altas taxas de feminicídio.
O caso em pauta chama atenção para as para as interseccionalidades que
comumente giram em torno dos casos de violência: pobreza, cor da pele e, no caso
de Márcia, jovem estudante vinda do interior da Paraíba.
Outro aspecto importante ressaltado pela Corte IDH, diz respeito às falhas na
investigação e condenação do responsável, fato que é comum no Brasil, mas que aqui
foram analisados também considerando-se a falta da perspectiva de gênero.
A Corte destacou a falta de dados oficiais sobre a violência contra a mulher,
especialmente em situações interseccionais, tais como as negras e pobres que
“continuam imersas em um contexto de discriminação e violência estrutural” (§185),
razão pela qual a Corte considerou a necessidade de criar um sistema nacional e
centralizado de dados sobre as formas de violência contra a mulher, para
“dimensionar a real magnitude deste fenômeno” e criar políticas públicas direcionadas
para a prevenção e a erradicação da discriminação e violência contra as mulheres
com diversos indicadores, tais como, idade, classe social, perfil da vítima, do agressor
etc (§193).
A decisão é considerada um marco na luta contra a violência contra a mulher,
não apenas expõe a completa falência no sistema investigativo brasileiro, mas
escancara como o modelo está permeado de estereótipos de gênero que determinam
– ou não! -, os rumos da investigação, com a revitimização da violência, por exemplo,
estendida também aos familiares da vítima, com a perpetuação da violência,
especialmente em razão da impunidade e pela tolerância e aceitação social que são
desencadeadas pela falta de perspectiva de gênero que se dá, inclusive, na
investigação.
A violência contra as mulheres é uma violação dos direitos humanos que
ocorre, principalmente, por conta das desigualdades de gênero entre homens e
mulheres, nas relações íntimas de afeto e nos espaços domésticos, muitas vezes
culminando na morte destas mulheres (feminicídio).
A Corte ressalta que é difícil provar que um crime foi motivado por razões de
gênero e por essa razão, é necessária uma investigação efetiva, especialmente se há
suspeitas neste sentido, o que não ocorreu no caso brasileiro (§130-133).
Ressalta e conclui ainda que que o Estado brasileiro violou os artigos 5.1
(direito à integridade pessoal), 8.1 (garantias judiciais), 24 (princípio de igualdade e
não discriminação) e 25.1 (proteção judicial) da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, com relação ao artigo 4 (direito à vida) e com as obrigações estabelecidas
nos artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento, bem como pela violação do artigo 7 da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher (Convenção de Belém do Pará).
Nesta perspectiva se faz mister salientar que o Estado brasileiro assumiu o
dever jurídico de combater a impunidade em casos de violência contra a mulher,
cabendo-lhe adotar medidas e instrumentos eficazes para assegurar o acesso à
justiça para as mulheres vítimas de violência.
O sistema interamericano é visto como o segundo sistema regional mais
completo que existe hoje. Com suas normas e seus órgãos de supervisão, nota-se um
sistema que busca uma proteção completa aos direitos em questão e que está em
evolução. Com isso o Brasil vem fazendo parte desse âmbito de proteção deste
sistema.
A redemocratização brasileira a partir de 1985, consolidada pela Constituição
de 1988, dá início a sua participação no âmbito internacional de proteção aos direitos
humanos. É nesse contexto que o Brasil estreia sua aderência aos instrumentos
internacionais de proteção a esses direitos. (PIOVESAN, 2013)
A adesão brasileira ao Sistema interamericano foi reflexo da democracia que
se instalava no país e, a partir dessa, inúmeros tratados foram ratificados.
A Comissão publicou, entre 2003 e 2014, 92 informes especiais sobre casos
encaminhados a ela, contendo o Brasil como parte. Desses 92 relatórios, 2 envolviam
soluções amistosas, 17 foram arquivados, 12 apontavam sobre a inadmissibilidade
das petições apresentadas e 2 possuíam análise de mérito. (ORGANIZAÇÃO DOS
ESTADOS AMERICANOS, 2011a)
Esses relatórios correspondem aos casos apreciados pela Comissão
Interamericana. Inúmeros casos, porém, ainda se encontram pendentes perante a
Comissão, os quais são considerados confidenciais. (PIOVESAN, 2013)
Até hoje o Brasil foi julgado em cinco processos perante a Corte, os quais serão
apresentados a seguir. São eles: caso Ximenes de 2004, caso Gilson Nogueira de
Carvalho de 2005, caso Escher e outros de 2007, caso Sétimo Garibaldi de 2004 e
caso Lund e outros de 2009. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS,
2011a).
Caso um Estado não cumpra com as recomendações dos relatórios realizados
pela Comissão no prazo determinado, este caso poderá ser encaminhado para
julgamento da Corte.
No Artigo 68 da Convenção Americana de Direitos Humanos que “Os Estados
Parte na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da corte em todo o caso
em que forem partes”. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS,1969).
Assim, tem-se que a implementação das sentenças proferidas pela Corte no
âmbito interno é obrigatória, a qual não só decorre da ratificação da Convenção, mas
também do reconhecimento do Estado perante a Corte, como já visto no capítulo
anterior. (COELHO, 2015).
Caso um Estado não cumpra com as decisões da sentença prolatada pela
Corte, esta deverá informar no seu relatório encaminhado à OEA anualmente.
Exercendo assim, uma pressão política no Estado condenado, devido à falta de meios
coercitivos existentes para fazer com que os países efetivamente cumpram com as
disposições da sentença estabelecida pela Corte. (LEITE, 2008)
Leite (2008) ainda explica que isso acontece, pois:

As sentenças da Corte Interamericana possuem em geral o caráter


obrigatório, mas não executório, pois apesar de não existir um mecanismo
internacional que force os Estados a cumprirem coercitivamente a decisão,
eles são responsabilizados internacionalmente pelo fato de terem se
comprometido a executar as decisões quando ratificaram a Convenção
Americana.

Ele ainda vai adiante, apontando que quando envolvem questões pecuniárias,
isso não ocorre, pois, a sentença possuirá efeito vinculante e executório. Fato
confirmado também por Mazzuoli (2013), quando cita a responsabilidade da União no
pagamento de verbas indenizatórias.
Esse conceito também é exposto por Mazzuoli (2013), ao citar o exemplo do
caso Damião Ximenes, quando diz que o grande problema do cumprimento das
decisões da Corte não está na parte indenizatória (onde o Brasil teve que indenizar a
família da vítima) e sim em executar os deveres de investigar e punir os responsáveis
pelo seu homicídio.
Portanto, observa-se justamente uma maior facilidade em cumprir a parte da
sentença que possui caráter vinculante e executório e dificuldades em cumprir a parte
que só possui caráter obrigatório, mas não executório.
6. CONCLUSÃO

Se a grande guerra foi o período de maior violação institucionalizada de


direitos humanos, o período pós-guerra deveria e deve ser de proteção aos
respectivos direitos. No entanto, essa conquista ainda é mínima diante do que se
pretende e, principalmente, daquilo que foi proposto na trajetória acima delineada
(PIOVESAN, 2015).
Dessa forma, entende-se que a proteção dos direitos humanos ainda
nos atinge atualmente e com base nessa justificativa que se torna tão relevante
criar cada vez mais uma narrativa no sentido de que o núcleo básico dos direitos
precisa ser o humano e sua dignidade.
Ou seja, é evidente que os direitos humanos não passam ilesos dessa
realidade, muito pelo contrário, em análise aos últimos acontecimentos do mundo é
possível identificar uma série de eventos que relatam uma prática de direitos ou
requerimentos de efetivação de determinados direitos.
Diante desse contexto, tais considerações aqui presente deseja demonstrar
que embora o sistema internacional de direitos humanos esteja sempre em
progressão com relação aos fatos, ao seu conteúdo ou até em seu âmbito de
atuação, não se pode deixar de lembrar que o sistema satisfez o que se propôs há
décadas a título de proteção dos direitos humanos.
Devido a isso, se faz necessário sempre abrir aos debates nesse sentido pois
embora haja muitos casos de violações somente tenham sido apurados e aplicada
a penalização de agentes por conta desse mesmo sistema internacional, este
mesmo que decorreu de tantas lutas históricas que evidenciaram os mais severos
exemplos de barbárie.
É a partir de então que se verificam a crescente consolidação da justiça
internacional, mediante a expansão do repertório jurisprudencial da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e da submissão de casos novos à jurisdição
de Tribunais internacionais, por exemplo. Todavia, embora esse sistema represente
grandes conquistas para os direitos humanos, parece não estar sendo suficiente
para a preservação e efetividade dos respectivos direitos.
Após estes breves esclarecimentos, para concluir a pesquisa, faz -se
necessário trazer à tona a grande importância à garantia dos direitos, através dos
sistemas regionais, uma vez que ele aproxima das vítimas de violações de direitos
fundamentais, uma alternativa à sua reparação.
Dessa forma, é importante que os órgãos, como os que constituem o sistema
interamericano, seja nesse sistema, nos outros sistemas regionais e no próprio
sistema global, continue a monitorar a proteção dos direitos fundamentais de forma
efetiva.
O Brasil, apesar de inserido no sistema há vários anos, ainda peca no
seguimento de todas as suas normas, enfatizando o descumprimento de partes das
sentenças proferidas pela Corte.
Contudo, encontra-se uma grande dificuldade na execução das sentenças
proferidas pela Corte, pois o Brasil não vem cumprindo com todas as medidas
expostas por esta.
Finaliza-se este estudo apontando a importância do sistema interamericano,
o qual tem contribuído para a consolidação da proteção dos direitos humanos na
região americana, assegurando às vítimas de violações destes direitos que
obtenham justiça, que não foi encontrada no âmbito interno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, José Augusto Lindgren. Arquitetura Internacional dos Direitos Humanos.


São Paulo: FTD, 1997.

AZAMBUJA, Mariana Porto Ruwer de. NOGUEIRA, Conceição. Introdução à


violência contra as mulheres como um problema de direitos humanos e de
saúde pública. Revista Saúde Soc, São Paulo, v.17, n.3, 2008. p.101-112.

AZEVEDO, Rilawilson José de Azevedo. O regime militar de 1964 e a violação


dos direitos humanos. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/102082/o-regime-militar-de-1964-a-violacao-dos-direitos-
h umanos-e-os-impactos-na-sociedade-atual> Acesso em 25 de abril de 2023.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 2006.

BUERGENTHAL, Thomas. International human rights in a nutshell. Minnesota:


West Publishing, 1988.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das organizações


internacionais. Belo Horizonte, Del Rey, 2002.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed.


Coimbra: Almedina, 2003.

CARVALHO, Eleazar. O histórico do habeas corpus e sua relação com os


direitos humanos. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-historico-
do-habeas-corpus-e-sua-relacao-co m-os-direitos-
humanos/153081337#:~:text=O%20writ%20de%20Habeas%20Corpus,sociedade%
20inglesa%20do%20s%C3%A9culo%20XVII.> Acesso em 25 de abril de 2023.
COELHO, Adriano Fernandes. A EFICÁCIA JURÍDICA DAS DECISÕES DA
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: CASO DAMIÃO
XIMENES LOPES1. 2015. Disponível em:
<&lt;http://www.fa7.edu.br/recursos/imagens/File/direito/ic2/vi_encontro/A_EFICACI
A_JURIDICA_DAS_DECISOES_DA_CORTE_INTERAMERICANA_DE_DIREITOS
_HUMANOS.pdf&gt;>. Acesso em: 30 de abril de 2023.

COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São


Paulo: Editora Saraiva, 2001.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos – 3ª


Ed. Rev. E ampl. – São Paulo: Saraiva, 2003.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 4. ed.


São Paulo: Saraiva, 2005.

Convenção Americana de Direitos Humanos. Disponível em:


<&lt;https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm&gt;> .
Acesso em: 26 de abril de 2023.

CRUZ, José María Duarte. GARCÍA-HORTA, José Baltazar. Igualdad, equidadde


género y feminismo, una mirada histórica a la conquista de los derechos de
las mujeres. Rev. CS. Cali, nº. 18, jan-abril, 2016. p. 107 – 158.

Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponivel em:


<https://www.oas.org/dil/port/1948%20Declara%C3%A7%C3%A3o%20Universal%
2 0dos%20Direitos%20Humanos.pdf>. Acesso em 26 de abril de 2023.

FALCÃO, Bruna Cavalcanti. Caso Márcia Barbosa de Souza e outros vs. Brasil:
análise da sentença da CIDH. Conjur, 2022. Disponível
em:< &lt;https://www.conjur.com.br/2022-jan-03/falcao-marcia-barbosa-
souza-outros-vs- brasil#_ft 6 & gt;>. Acesso em: 25 de abril de 2023.
GALLI, Maria Beatriz; DULITZKY, E. Ariel. A comissão Interamericana de Direitos
Humanos e o Seu Papel Central no Sistema Interamericano de Proteção dos
Direitos Humanos. In: GOMES, Luiz Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord). O Sistema
interamericano de Proteção dos Direitos Humanos e o Direito Brasileiro. São Paulo:
Revista dos tribunais, 2000.

GUARNIERI, Tathiana Haddad. Os direitos das mulheres no contexto


internacional – da criação da ONU (1945) à Conferência de Beijing (1995).
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery. n. 8, jan/jun, 2010. p. 1-28.

GOMES, Luiz Flávio. O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos


Humanos e o Direito Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

GOVERNO DA PARAÍBA. Caso Márcia Barbosa de Souza. Disponível em:


<&lt;https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-mulher-e-da-diversidade-
humana/ noticias/caso-marcia-barbosa-de-souza-1&gt;>. Acesso em: 25 de abril de
2023.

GRUBBA, Leilane Serratine; NISTLER, Regiane. O ideal de direitos humanos nos


sistemas regionais de proteção. REVISTA JURÍDICA DIREITO &amp; PAZ.ISSN
2359-5035. P. 251-268. 2018.

JELIN, E. Mulheres e direitos humanos. Tradução de Irene Giambiagi. Estudos


Feministas, v. 2, n. 1, p. 117‐149, 1994. Disponível em: <https://bit.ly/2FpKmLF>.
Acesso em: 29 de abril de 2023.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo:


Barcarolla, 2009.

LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O MERCOSUL e as Três Vertentes da Proteção


Internacional da Pessoa Humana: Direitos Humanos, Direito dos Refugiados
e Direito Humanitário. In: Ferraz, Daniel Amin; Hauser, Denise (Coord.) A Nova
Ordem Mundial e os Conflitos Armados. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002.
LEITE, Rodrigo de Almeida. AS SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS E A EXECUÇÃO NO BRASIL. 2008.
Disponível
em:<&lt;http://www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index.php/revista_direito_e_liberdade/
article/viewFile/34/26&gt;>. Acesso em: 30 de abril de 2023.

LEITE, Salomão George. Curso de Direitos Fundamentais - Ed 22. Disponível


em:<https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/secao/1introducao-capitulo-iii-constituicao
-federal-de-1988-e-a-protecao-dos-direitos-humanos-sob-a-perspectiva-multinivel-
cu rso-de-direitos-fundamentais-ed-2022/1643176522#a-num1-
DTR_2022_8360>.Aces so em 26 de abril.

LENCI PACCOLA, Amanda Thereza. Proteção internacional dos direitos


humanos. Rev. secr. Trib. perm. revis., Asunción , v. 5, n. 10, p. 227-245, Oct. 2017.
Disponível em:
<&lt;http://scielo.iics.una.py/scielo.php?script=sci_arttext&amp;pid=S2304-78872017
001000227&amp;lng=en&amp;nrm=iso&gt;>. Acesso em 27 de abril de 2023.

MARQUES, Luis Eduardo. Gerações de direitos: fragmentos de uma construção


dos direitos humanos. Disponível
em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp026754.pdf> Acesso em
23 de abril de 2023.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 7. ed. São


Paulo: Revista dos tribunais, 2013.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O sistema regional europeu de proteção dos


direitos humanos (2010). Disponível
em:<&lt;http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/31/Documentos/O%20si
s tema%20Europeu%20de%20DDHH.pdf &gt;> .Acesso em: 30 de abril de 2023.

NOVO, Nunez Benigno. A declaração dos direitos do homem e do cidadão.


Disponível em:<https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-declaracao-dos-direitos-do-
homem-e-do-cida dao-de-1789/1259443861>. Acesso em 25 de abril de 2023.
O’DONNELL, Guillermo. (1992), “Transitions, Continuities, and Paradoxes”, in
S. Mainwaring; et al. (orgs.), Issues in Democratic Consolidation.
Indiana,University of Notre Dame Press.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. O que é a CIDH? 2011.


Disponível em: <&lt;http://www.oas.org/pt/cidh/mandato/que.asp &gt;>. Acesso em:
21 de abril de 2023.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Casos na Corte. 2011a.


Disponível em: <&lt;http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/demandas.asp&gt;>.
Acesso em: 28 de abril de 2023.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção americana


sobre direitos humanos. San José,
1969. Disponível em:
<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>.
Acesso em: 27 de abril de 2023.

PRÁ, J. R.; EPPING, L. Cidadania e feminismo no reconhecimento dos direitos


humanos das mulheres. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 33‐
51,2012. Disponível em: <https://bit.ly/2FrzSv4>. Acesso em: 29 de abril de 2023.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.


8 ed. São Paulo: Max Limonad, 2004.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional.


11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e justiça internacional: um estudo


comparativo dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano. 4 ed.
São Paulo: Saraiva, 2013.

PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.


15ª ed. rev. e atual. Saraiva: São Paulo, 2015.
RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. – 5. ed. – São Paulo
: Saraiva Educação, 2018.

RAMOS, J. G. G. Habeas corpus: histórico e perfil no ordenamento jurídico


brasileiro. Revista da Faculdade de Direito. Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, v. 31, 1999. Disponível em:
<http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewPDFInterstitial/1865/15
60.> Acesso em: 24 de abril de 2023.

ROBLES, Manuel E. Ventura. La Corte Interamericana de Derechos Humanos:


Camino Hacia un Tribunal Permanente. In: TRINDADE, Ântonio Augusto
Cançado; ROBLES, Manuel E. Ventura. El Futuro de La Corte Interamericana
de Derechos Humanos. Costa Rica, 2003.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Notícias STF, 2009. Disponível


em:<&lt;www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=
116380&gt;> . Acesso em: 25 de abril de 2023.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A Proteção Internacional dos Direitos


Humanos, Fundamentos Jurídicos e Instrumentos Básicos. São Paulo: Editora
Saraiva, 1991.

TOMAZONI, Larissa. GOMES, Eduardo B. Afirmação histórica dos direitos


humanos das mulheres no âmbito das Nações Unidas. Cadernos da Escola de
Direito UNIBRASIL. vol. 2, nº 23, jul/dez, 2015, p. 44-59 CAPTURA CRÍPTICA:
direito, política, atualidade. Florianópolis, n.5., v.1., jan./dez. 201679. Recebido:
15/08/2016Aceito: 06/12/2016.

ZAMLUTTI, René. A HIERARQUIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE


DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Disponível
em: <https://mail.google.com/mail/u/0/?tab=rm&ogbl#inbox?projector=1>. Acesso
em 23 de abril de 2023.

Você também pode gostar