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A CRISE NO SIST EMA PENIT ENCIÁRIO BRASILEIRO E A AFRONTA A DIGNIDADE DA PESSOA HU…
Sergio Ricardo Fernandes de Aquino

EMBAT ES JURÍDICOS E POLÍT ICOS FRENT E À LEI DE ANIST IA


Eron Vinícius Amorim

A REALIDADE DO SIST EMA PRISIONAL BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Kat ia Camargo
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO

Bruna Rafaela Fernandes1


Luiz Eduardo Cleto Righetto2

SUMÁRIO

Introdução; 1 Breve histórico do direito penal brasileiro e a função da pena; 2 O


Sistema Penitenciário Brasileiro; 2.1 Regimes Prisionais; 2.2 A crise no sistema
carcerário e a infraestrutura ofertada ao preso; 2.3 Assistência à saúde do preso 2.4
As rebeliões; 2.5 O trabalho do preso 3. O princípio da Dignidade da Pessoa
Humana; 4. A ressocialização do detento; Considerações Finais; Referências.

RESUMO

O presente Artigo Cientifico tem por objetivo discorrer sobre a atual situação do
Sistema Penitenciário Brasileiro, analisando o contexto histórico e sua fase de
evolução, bem como elencar as principais crises enfrentadas pelo País nos dias
atuais. No primeiro momento da pesquisa, buscar-se-á identificar a evolução das
penas e a função das mesmas. Enquanto na segunda parte do trabalho, procurar-
se-á abordar a falência do sistema e as causas que levam os presídios a se
tornarem verdadeiros depósitos humanos, acrescentando o trabalho como motivo de
incentivar o preso a resgatar a sua dignidade, uma vez que foi perdida quando da
sentença. A seguir, será abordado o princípio da Dignidade da Pessoa Humana o
qual está previsto da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, como
princípio fundamental ao homem e o respeito a sua integridade física e moral. Por
fim, na terceira e última parte da pesquisa, tratar-se-á de uma das funções da pena,
qual seja, a ressocialização do detento, como forma de reeduca-lo a fim de que este
volte a ser inserido na sociedade sem mais delinquir, e sim aprender a respeitar as
normas e os interesses da população como um todo. Para o desenvolvimento da
pesquisa, utiliza-se o método indutivo, como base lógica, e o cartesiano na fase de
tratamento dos dados colhidos. Após a pesquisa, chega-se ao entendimento de que
o Sistema Carcerário Brasileiro não cumpre a sua função, que é a ressocialização
do detento.

Palavras-chave: Sistema penitenciário brasileiro; Detento; Dignidade da Pessoa


Humana; Constituição Federal; Ressocialização.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto a “Falência do Sistema Carcerário


Brasileiro”, e, como objetivos: institucional, produzir um Artigo Cientifico para a
obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí –

1
Acadêmica do 9º período do curso de Direito da Universidade do Vale de Itajaí – Campus de Balneário
Camboriú, Santa Catarina. Endereço eletrônico: oiebru@hotmail.com.
2
Advogado Criminalista; Mestre em Ciência Jurídica pela UNIVALI.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

UNIVALI; como objetivo geral analisar a função da pena, verificando o seu


desenvolvimento histórico, o conceito legal, e identificar o principal objetivo do
Sistema Penitenciário que é a ressocialização do detento e tendo como fato
relevante e de grande importância, o princípio da dignidade da pessoa humana.
O tema é atual e relevante, uma vez que o País se encontra em crise
quando o assunto é prisão, e vê-se cada vez mais a necessidade de o Estado e a
sociedade incentivar a ressocialização e o trabalho dos detentos dentro das prisões,
assim como oferecer a estes uma estrutura física sadia e necessária para garantir o
cumprimento da Lei, bem como assistência médica, educacional, jurídica e
psicológica, sem deixar de lado os direitos humanos dos presos como cidadãos, que
atualmente foram esquecidos.
Para desenvolver a presente pesquisa foi utilizado o método indutivo, por
meio de pesquisa bibliográfica.
Contudo, parte-se inicialmente da contextualização histórica da pena e sua
evolução na história. Após uma sucinta explanação sobre o histórico das penas e
sua função, a presente pesquisa cuida de analisar o sistema penitenciário brasileiro
e as principais causas da sua ineficácia.
No desenvolvimento da pesquisa, busca-se identificar as causas da falência
do sistema carcerário brasileiro e analisar quais os motivos da revolta dos
presidiários, bem como o reflexo desta crise na sociedade, e, por fim, a aplicação do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que a dignidade é atributo
essencial ao ser humano, e a ressocialização do detento como forma de reintegra-lo
no meio social e diminuir o número de reincidência no País.
Posteriormente, passa-se a analisar o Princípio Da Dignidade Da Pessoa
Humana como direito dos presos, uma vez que estes vivem em condições
desumanas e com o mínimo necessário a sua sobrevivência dentro das prisões.
Por fim, cuidará em abordar sobre a ressocialização como função principal
da pena, destacando-se a sua importância tanto para os condenados como também
para a sociedade, que fica à mercê destes criminosos.

1 BREVE HISTÓRICO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO E FUNÇÃO DA PENA

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

A primeira parte da pesquisa dedicar-se-á à análise do brasileiro em suas


fases históricas, bem como sua evolução, e a função da pena aos condenados.
O Direito Penal brasileiro passou por inúmeras evoluções ao longo dos anos,
onde as práticas punitivas eram mais severas e cruéis e o crime era confundido com
o pecado e ofensa moral, sendo que a morte era a punição mais usada na época.3
A evolução do Direito Penal se fez importante na história da humanidade,
pois diante de tamanha reviravolta, as penas se tornaram mais humanitárias e com
uma aplicação mais proporcional ao condenado.4
A primeira fase da pena foi a chamada vingança privada, que fazia com que
o homem fizesse justiça pelas próprias mãos em razão do direito violado, com
tamanha brutalidade, violência e sem haver proporcionalidade entre a punição que
iria ser aplicada e a conduta do indivíduo.5
STEFAM e GONÇALVEZ6 explicam:
As penas impostas eram a “perda da paz” (imposta contra um membro do
próprio grupo) e a “vingança de sangue” (aplicada a integrante de grupo
rival). Com a “perda da paz”, o sujeito era banido do convívio com seus
pares, ficando à própria sorte e à mercê dos inimigos. A “vingança de
sague” dava início a uma verdadeira guerra entre os agrupamentos sociais.
A reação era desordenada e, por vezes, gerava um infindável ciclo, em que
a resposta era replicada, ainda com mais sangue e rancor.

Surge então o Talião, que foi uma grande conquista para o Direito Penal nos
tempos passados, sendo que este visava equilibrar a pena aplicada ao individuo e o
crime por ele praticado, evitando o excesso entre o crime e o castigo, com o intuito
de obter “justiça” para ambas as partes.7
Surge a vingança divina, onde as penas aplicadas aos indivíduos eram
voltadas à religião, no qual o homem atribuía os acontecimentos como castigo
imposto pelos Deuses, e tudo que acontecia na sociedade era em nome de Deus.8
Com o passar dos anos, a Igreja aos poucos foi perdendo a sua força graças
a uma maior organização social, iniciando então o pensamento político, momento

3
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 468.
4
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 477.
5
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 372.
6
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 67.
7
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 372.
8
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 66.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

em que o Estado passou a intervir na sociedade, instituindo a vingança pública,


sendo que este ficou responsável pela integridade daqueles que praticavam algum
crime, representando os interesses da comunidade em geral.9
O Direito Penal na idade média foi caracterizado pela crueldade, tortura e
intolerância para com os seres humanos, sendo que este período era formado pelo
Direito Germânico, Romano e Canônico, tendo este último proclamado pela
igualdade entre os homens, possibilitando ser a pena mais humana e coerente, no
qual introduziu a pena privativa de liberdade que foi substituída pela pena de morte,
possibilitando ao condenado cumprir pena em penitenciária, a fim de conservar a
vida do mesmo.10
A idade moderna no entendimento de ESTEFAM e GONÇALVEZ11 é de que:
A idade moderna vivenciou uma transição fundamental em matéria de
Direito Penal. Sob o império dos Estados Absolutistas, o Direito Penal
persistia caracterizando-se pela difusão do terror, mas, com o passar dos
tempos, tornou-se mais humano, convergindo para sua feição atual.

Graças a influência de Cesare Beccaria, que se posicionava contrariamente


à tortura, defendendo a ideia de injustiça e ineficácia da mesma, sob a ótica de que
todos os homens são iguais e livres perante as leis, este exerceu influência decisiva
na reformulação da legislação vigente na época, as quais se sucederam inclusive na
Constituição Federal de 1988, que passou a condenar esta prática, fundamentada
na dignidade da pessoa humana e nos direitos humanos.12
Com efeito, após inúmeras mudanças e transformações, o Direito Penal
brasileiro iniciou sua trilha para a humanização, no qual veio a ser regido pelo
Código Penal, que depois de ser alvo de muitas críticas é utilizado até hoje.13
MIRABETE14 ensina:
Com a proclamação da República, foi editado em 11-10-1890 o novo
estatuto básico, agora com a denominação de Código Penal. Logo, foi ele
alvo de duras críticas pelas falhas que apresentava e que decorriam,
evidentemente, de pressa com que fora elaborado. Aboliu-se a pena de
morte e instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional, o que

9
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ; Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 66.
10
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 71.
11
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 72.
12
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ; Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 73.
13
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 5.
14
MIRABETE Julio Fabbrini; FABRINNI, Renato N., Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a
120 do CP – 24. ed. rev. – São Paulo: Atlas, 2008.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
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135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

constituía um avanço na legislação penal. Entretanto, o Código era mal


sistematizado e, por isso, foi modificado por inúmeras leis até que, dada a
confusão estabelecida pelos novos diplomas legais, foram todas reunidas
na Consolidação das Leis Penais, pelo Decreto nº 22.213, de 14-12-1932.
Em 1º-1-1942, porém, entrou em vigor o Código Penal (Decreto-lei nº 2.848,
de 7-12-1940), que ainda é nossa legislação penal fundamental. Teve o
código origem em projeto de Alcântara Machado, submetido ao trabalho de
uma comissão revisora composta de Nelson Hungria, Vieira Braga, Narcélio
de Queiroz e Roberto Lira.

Assim, o surgimento do Código Penal Brasileiro, que delimita sanções a


serem aplicadas ao individuo que praticou um delito, assume um papel
importantíssimo na sociedade, pois deixou de aplicar punições corporais, visando
então a humanização da mesma, dando poder ao Estado para punir o infrator e lhe
dar como consequência a pena, que tem como finalidade a reeducação do mesmo,
a fim de reparar o dano causado, e prevenir o cometimento de outra infração.15
Segundo o entendimento de BITENCOURT16
O Direito Penal se apresenta como um conjunto de normas jurídicas
que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e
suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança.
Esse conjunto de normas e princípios, devidamente sistematizados,
tem a finalidade de tornar possível a convivência humana, ganhando
aplicação prática nos casos ocorrentes, observando rigorosos
princípios de justiça.

Contudo, partindo deste prisma, tem-se que o Código Penal Brasileiro é o


conjunto de normas editadas pelo Estado, em razão do qual se dirá se uma conduta
é correta ou incorreta, os quais são definidos como crimes e contravenções,
impondo ou proibindo determinadas condutas sob a ameaça de sanção ou medida
de segurança ao réu, porém, com o objetivo de reeducar e ressocializar o cidadão
como meta principal da pena, a fim de que o mesmo não venha praticar novas
infrações.17
Portanto, conclui-se que, no mundo do crime, aquele que cometeu algum
ilícito, ou seja, algo que está tipificado como crime em nossa legislação, passará a
ser privado do seu direito para que seja reeducado e futuramente retorne ao
convívio social, prevenindo assim, a prática de outros delitos, ressaltando-se que a

15
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1 – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 106.
16
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1 – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 32.
17
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 461.

119
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

pena deve servir como reeducação do detento e prevenção de futuros delitos, tendo
seu caráter pedagógico e sendo aplicada de maneira harmoniosa.18

2 O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

2.1 Regimes Prisionais

Na sentença penal condenatória, caso seja aplicada ao condenado uma


pena de prisão (reclusão ou detenção), e o local do cumprimento da mesma, a fim
de reprimir a ação delituosa, são observadas as circunstâncias previstas no art. 59
do Código Penal, quais sejam:
Art. 59: O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a
substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.

Todavia, em nosso ordenamento jurídico, existem três regimes a serem


cumpridos quando cometido algum ilícito, os quais dependem da gravidade do
mesmo, sendo que, em qualquer que seja esse regime estará sujeito às progressões
e regressões, quais sejam: regime fechado, regime semi-aberto e regime aberto.19
A LEP (Lei de Execução Penal), traz para cada regime um estabelecimento
diverso:
As Penitenciárias são as casas que abrigam os condenados apenados por
reclusão em regime fechado (art. 87 da LEP e art. 33, § 1º, a(?)).
As colônias agrícolas, industriais ou similares são destinadas ao
cumprimento da pena em regime semi-aberto (art. 91 da LEP e art. 33, § 1º, b(?)).
As casas de albergado são destinadas ao condenado que cumpre pena em
regime aberto. (art. 93 da LEP e art. 33, § 1º, c(?)).

18
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 461.
19
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 482.

120
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Ainda, de acordo com o entendimento sumulado da Suprema Corte


brasileira, sobre a imposição de um regime penitenciário mais gravoso:
Súmula nº 718 do STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em
abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de
regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.”

Súmula 719 do STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo


do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.

Vê-se, assim, que a intenção do legislador ao criar regimes diferenciados


para o cumprimento da pena tem como razão maior a observância dos fatos
objetivos e subjetivos que ocorreram na prática criminosa, devendo ainda ser
executada de modo a permitir que o condenado progressivamente alcance a
liberdade, conforme o tempo de pena cumprido e o mérito que apresente durante o
cumprimento de sua pena.20

2.2 A Crise no Sistema Carcerário e a Infraestrutura Ofertada ao Preso

O Sistema Penitenciário Brasileiro, ou seja, a prisão é o local onde o


condenado cumpre a pena imposta pela Lei e aplicada pelo Juiz e, é sabido que
este é alvo de grandes discussões, críticas e muitos problemas, como a
superlotação, a higiene e saúde, as rebeliões, a não aplicabilidade do princípio da
dignidade da pessoa humana, os quais impossibilitam a ressocialização do detento
ao convívio social, tendo em vista o descaso e a situação em que os mesmos estão
submetidos dentro das prisões.21
O Estado através das penitenciárias materializa o direito de punir todos
aqueles que praticam um crime, porém, o sistema prisional não obtém êxito
satisfatório no emprego de suas sanções, em virtude da falta de estrutura carcerária
ofertada aos condenados, que na maioria das vezes são amontoados nas celas que
não têm capacidade de suportar uma grande quantidade destes.22

20
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 494.

21
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 15 out. 2012.
22
BENEVIDES, Paulo Ricardo, Advogado na área criminal e conciliador do Juizado Criminal, em Salvador/BA.
Disponível em: http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/59/superlotacao-x-penas-
alternativas-213023-1.asp. Acesso em: 28 out. 2012.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Tendo em vista a morosidade e a desorganização dos presídios, onde


muitos detentos ficam presos por tempo superior às suas penas, diante da
vulnerabilidade da segurança pública frente aos condenados há presos que a justiça
não sabe sequer onde estão detidos.23
SILVA ainda acrescenta:
Estatísticas e pesquisas realizadas pelos mais variados órgãos e
instituições não informam com precisão a quantidade de vagas necessárias
para abrigar a população carcerária brasileira, já que os dados são
díspares. Fala-se da necessidade de mais de 50.000 (cinquenta mil) novas
vagas e que existem cerca de 2,5 presos por vaga atualmente distribuídos
em presídios, cadeias públicas e estabelecimentos para menores infratores.
Mas em um dado as pesquisas convergem: o Brasil enfrenta a mais séria
24
crise de superlotação carcerária de sua história.
A superlotação das cadeias, a precariedade e as condições desumanas em
que os presos vivem nos dias de hoje é a maior agravante da falência do
25
sistema.

A Lei de Execução Penal em seu artigo 1º prevê que, além do objetivo da


execução penal ser, efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal, a
mesma tem como função proporcionar condições harmônicas ao condenado para a
integração social do mesmo.26
Deste modo, sabe-se que os presídios são verdadeiros depósitos humanos,
seja por descaso do governo ou pela sociedade, que na sua grande maioria não
mostra interesse em recuperar o cidadão para que este reaprenda a conviver no
meio social.27
É neste sentido que se passa a observar que o preso quando condenado e
encaminhado ao encarceramento, é privado da sua saúde física, mental e
alimentação, que não condiz com aquela que um ser humano necessita ter.28

23
BENEVIDES, Paulo Ricardo, Advogado na área criminal e conciliador do Juizado Criminal, em Salvador/BA.
Disponível em: http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/59/superlotacao-x-penas-
alternativas-213023-1.asp. Acesso em: 28 out. 2012.
24
SILVA, Darlúcia Palafoz. O art. 5º, III, da CF/88 em confronto com o sistema carcerário brasileiro. Jus
Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3145, 10 fev.2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21053>.
Acesso em: 15 out. 2012.
25
SILVA, Darlúcia Palafoz. O art. 5º, III, da CF/88 em confronto com o sistema carcerário brasileiro. Jus
Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3145, 10 fev. 2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21053>.
Acesso em: 15 out. 2012.
26
LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.
27
DROPA, Romualdo Flávio. Direitos humanos no Brasil: a exclusão dos detentos. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 333, 5jun. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5228>. Acesso em: 29 out.
2012.
28
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 100.

122
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Em uma publicação da revista "The Economist" (de 22.09.12), transcrita por


LUÍS FLÁVIO GOMES29, a mesma traz a seguinte crítica:
Os prisioneiros não só são submetidos a tratamentos brutais frequentes em
condições de miséria e superlotação extraordinária, e muitas cadeias são
administradas por grupos criminosos, diz a publicação.

Conforme nos remete o título do presente estudo, o sistema carcerário


brasileiro, ou seja, os presídios não estão preparados para produzir efeitos positivos
no preso, muito pelo contrário, eles pioram o encarcerado, sendo assim
dessocializadores, por culpa do Estado e da sociedade, que são omissos em
assumir suas responsabilidades.30

2.3 Assistência Médica e Saúde

Como parte do objetivo da ressocialização do detento, a Lei de Execução


Penal determina que os mesmos tenham acesso a diversos tipos de assistência,
inclusive assistência médica, porém, a questão relacionada à assistência médica e
saúde do preso é uma das grandes problemáticas do sistema carcerário, pois se
sabe que na prática, este benefício não é oferecido de forma ampla e correta, tendo
em vista que os detentos obtém assistência médica em nível mínimo.31
Inúmeras doenças tomam conta do ambiente prisional, e, ao negar o
tratamento adequado aos presos, o sistema além de ameaçar a vida destes,
também facilita a transmissão de diversas doenças à população em geral, através
das visitas conjugais e o livramento dos encarcerados, representando um grave
risco à saúde pública.32
MARCÃO acrescenta:

Conforme é vontade da Lei e está expresso, a assistência ao preso e


ao internado tem por objetivo prevenir o crime e orientar o retorno à
convivência em sociedade. Até aqui, resta evidente que referidos
objetivos ficaram apenas na frieza do papel, que tudo aceita. A Lei
29
GOMES, Luiz Flávio. Presídios da América Latina: "jornada para o inferno". Jus Navigandi, Teresina, ano
17, n. 3378, 30set. 2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/22715>. Acesso em: 02 nov. 2012.
30
J. B. Libanio, Péssimas Condições Dos Presídios Brasileiros. Disponível em:
http://www.jblibanio.com.br/modules/wfsection/article.php?articleid=1579 Acesso em: 19 mar. 2013.
31
ESTEFAM, André. Direito Penal: parte geral. p. 294.
32
DROPA, Romualdo Flávio. Direitos humanos no Brasil: a exclusão dos detentos. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 333, 5jun. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5228>. Acesso em: 29 out.
2012.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

não cumpre o seu destino; não se presta à sua finalidade; é inócua;


uma simples "carta de intenções" esquecida, abandonada. O
idealismo normativo é excelente; empolgante. A realidade prática
uma vergonha.33

Ainda, esclarece o art. 14 da LEP:


Art. 14 - A assistência à saúde do preso e do internado, de caráter
preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e
odontológico.
§ 1º - (Vetado).
§ 2º - Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a
assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante
autorização da direção do estabelecimento.
§ 3º Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente
no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido.

Dentre os fatores que favorecem a alta incidência de problemas de saúde


entre os presos, está o estresse de seu encarceramento, as condições insalubres
em que vivem dentro das prisões, com celas superlotadas e presos em contato físico
contínuo, além dos diversos tipos de abusos sofridos pelos mesmos.34
DROPA analisa acerca das condições insalubres nos presídio brasileiros:
Sanitários coletivos e precários são comuns, piorando as questões de
higiene. A promiscuidade e a desinformação dos presos, sem
acompanhamento psicossocial, levam à transmissão de AIDS entre os
presos, muitos deles sem ao menos terem conhecimento de que estão
contaminados. Muitos chegam ao estado terminal sem qualquer assistência
35
por parte da direção das penitenciárias.

Vê-se, contudo, que, tendo em vista à precariedade da situação de saúde


em que se encontram os presos nos dias de hoje, as Regras Mínimas determinam
que estes recebam assistência médica básica e, que presos doentes sejam
examinados diariamente por um médico, porém, como as autoridades prisionais
brasileiras geralmente não prestam serviços de assistência médica, sua ausência
acaba se tornando uma das principais fontes de reclamações entre os presidiários.36

33
MARCÃO, Renato. Crise na execução penal (II): da assistência material e à saúde. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 204, 26jan. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4771>. Acesso em: 02 set.
2012.
34
MARCÃO, Renato. Crise na execução penal (II): da assistência material e à saúde. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 204, 26jan. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4771>. Acesso em: 02 set.
2012.
35
DROPA, Romualdo Flávio. Direitos humanos no Brasil: a exclusão dos detentos. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 333, 5jun. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5228>. Acesso em: 29 out.
2012.
36
MARCÃO, Renato. Crise na execução penal (II): da assistência material e à saúde. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 204, 26jan. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4771>. Acesso em: 02 set.
2012.

124
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Conclui-se, portanto que, a assistência à saúde do condenado, é um


trabalho de grande importância, uma vez que se tratam de pessoas que transgrediu
a Lei, seja por má conduta, ou acidentalmente e que perderam sua liberdade, mas
que merecem um tratamento adequado por se tratar de uma assunto tão sério como
a saúde, pois a possibilidade de um acompanhamento médico adequado evitaria
que certas situações de maus tratos, espancamentos e diversas outras violências
contra os encarcerados ficassem sem a devida apuração e socorro.37

2.4 As Rebeliões

As rebeliões constituem a rebeldia, revolta e insurreição dos encarcerados,


resultantes da crise em que o país se encontra em se tratando de cárcere, onde os
mesmos estão sujeitos a todo tipo de desigualdade, tais como, superlotação, maus
tratos, brigas, assistência média e higiene precárias, fugas, entre muitas outras.38
As rebeliões estão ligadas tanto às condições humilhantes em que os presos
se encontram como às deficiências do Estaco em exercer o controle sobre o regime
prisional, os quais de maneira subjetiva acabam permitindo que as organizações
criminosas exerçam seu poder e influencia sobre a massa carcerária.39
Muitas atividades dentro das prisões são organizadas pelos próprios presos,
uma vez que o Estado detém o mínimo de controle sobre eles, os quais acabam se
unindo e utilizando das rebeliões para mostrar sua força e o seu fortalecimento, não
obedecendo às regras estabelecidas pela administração prisional.40
RABELO 41 esclarece:

37
MARCÃO, Renato. Crise na execução penal (II): da assistência material e à saúde. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 204, 26jan. 2004 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4771>. Acesso em: 02 set.
2012.
38
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 02 nov. 2012.
39
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 04 nov. 2012.
40
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 04 nov. 2012.
41
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 04 nov. 2012.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

As rebeliões, embora organizados pelos presos de forma violenta e


destrutiva, nada mais são do que um clamor de reivindicação pelos seus
direitos, chamando a atenção das autoridades e da sociedade para situação
subumana à qual eles são submetidos dentro das prisões.

Os grupos que lideram e organizam as rebeliões, também controlam o tráfico


de drogas, comandam ações criminosas e o narcotráfico de dentro dos presídios,
utilizam telefone celular para se comunicar com quem está fora, e, também, exercem
poder sobre os demais presos, que muitas vezes são submissos e não têm outra
alternativa senão participar da organização, sob pena de sofrerem torturas,
agressões e maus tratos, prevalecendo a “lei do mais forte” e a “lei do silêncio.” 42
Uma vez que as rebeliões causavam medo e desespero tanto para a
população quanto aos funcionários dos estabelecimentos prisionais, que muitas
vezes são feitos de refém pelos próprios sentenciados, surge então o Regime
Disciplinar Diferenciado, que na visão dos doutrinadores STEFAM e GONÇALVES 43
nos traz a seguinte interpretação:
O incontável número de rebeliões sangrentas, o surgimento de
perigosíssimas facções criminosas dentro dos presídios, a existência de
líderes de quadrilha comandando outros criminosos de dentro das
penitenciárias, o tráfico de drogas de dentro das cadeias, dentre outros
motivos, levaram o legislador a aprovar diversas leis que dizem respeito
especificadamente ao cumprimento da pena, modificando, deste modo,
alguns dispositivos da Lei de Execução Penal. Uma dessas providências
surgiu com a Lei n. 10.792/2003, que alterou o art. 52 daquela Lei e criou o
regime disciplinar diferenciado, aplicável aos criminosos tidos como
especialmente perigosos em razão de seu comportamento carcerário
inadequado. Consiste na adoção temporária de tratamento mais gravoso ao
preso que tiver infringido uma das regras legais.

Assim, o referido Regime é utilizado para combater a violência no país, e,


diante desta Lei, os presos que provocarem rebelião, podem ser mantidos até 360
dias em presídios ou alas especiais da cadeia, confinados 22 horas por dia em celas
individuais, sem atividade e com restrições de visitas muito severas.44
CABETTE45 salienta que:
A curto prazo, as constantes rebeliões colocavam, dia a dia, em perigo a
incolumidade dos próprios presos, dos funcionários, da população e do
patrimônio público.

42
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral., p. 475.
43
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral., p. 475.
44
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral. – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 542.
45
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Uma questão penitenciária. Crimes hediondos e progressão de regime.
Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2304, 22 out.2009 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/13721>.
Acesso em: 10 out. 2012.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Porém, há inúmeros posicionamentos acerca da aplicação e da


constitucionalidade do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), já que deixar o preso
à condições com estas características, constitui certamente um ato veementemente
desumano, e, alguns pesquisadores acreditam ser o regime um processo cruel
contra o apenado, o qual fere os princípios da dignidade humana e atinge a
integridade física do mesmo, causando uma maior revolta e fazendo com que estes
se tornem mais violentos, agressivos e hostis pela rigorosa privação no exercício
dos seus direitos.46
Sobre esse prisma, resta claro que o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado)
tem a pretensão de solucionar imediatamente os problemas da massa carcerária,
porém, o mesmo impõe objetivos que na sua grande maioria ferem a essência do
Direito Penal pela sua aplicação muito severa, afrontando diretamente o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana como um todo, o qual ficou proibido
pela Constituição Federal que, teoricamente nos traduz que todas as penas devem
ter efeitos para a reeducação do preso, e não para sua condenação física e mental,
entendendo ser este Regime inconstitucional na visão humanitária.

2.5 O Trabalho Do Preso

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 reconheceu


expressamente o trabalho como um direito social, uma vez que este sempre esteve
inserido na vida da sociedade, garantindo ao indivíduo dignidade dentro do seu meio
social e familiar.47
Não obstante, o trabalho do preso também se encontra inserido dentro desta
ótica, vinculando o trabalho com a existência digna dos mesmos.48
Assim, o art. 28 da Lei de Execução Penal nos traz o seguinte entendimento:
Art. 28 - O trabalho do condenado, como dever social e condição de
dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva.

46
COSATE, Tatiana Moraes. Regime disciplinar diferenciado (RDD). Um mal necessário? Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2112, 13abr. 2009 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12606>. Acesso em: 11
out. 2012.
47
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 399.
48
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 505.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

§ 1º - Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as


precauções relativas à segurança e à higiene.
§ 2º - O trabalho do preso não está sujeito ao regime da
Consolidação das Leis do Trabalho.

Ainda, o art. 39 do Código Penal esclarece quanto à garantia do trabalho dos


condenados:
Art. 39 - O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe
garantidos os benefícios da Previdência Social.

Conforme previsto no art. 126 da LEP, é em decorrência do trabalho que


alguns condenados conseguem diminuir a execução de suas penas, sendo que, a
cada 3 (três) dias trabalhados, correspondem ao desconto de 1 (um) dia no
cumprimento da pena, sendo que a jornada normal não pode ser inferior a 6 (seis)
horas nem superior a 8 (oito) horas diárias, com repouso nos domingos e feriados,
conforme previsão no art. 33 da mesma Lei.49
Ainda, o preso provisório que não está obrigado a trabalhar, se vier a
trabalhar também poderá reduzir parte da sua futura condenação.50
GRECO51 destaca a importância do trabalho nas prisões:
A experiência demonstra que nas penitenciárias onde os presos não
exercem qualquer atividade laborativa o índice de tentativas de fuga é muito
superior ao daquelas em que os detentos atuam de forma produtiva,
aprendendo e trabalhando em determinado ofício.

Destaca ainda que, o trabalho do apenado é uma forma de resgata-los do


meio criminoso e com isso buscar a diminuição da violência, a prática de novos
crimes, com finalidade educativa e produtiva, resgatando a dignidade humana.52
Portanto, vê-se o quão importante é o trabalho para o apenado, pois quando
há falta de ocupação dentro das prisões, estas levam os presos a perderem sua
nobreza e seu valor, dificultando o progresso ao convívio na sociedade da qual
faziam parte.53
Conforme diz o ditado popular, “o trabalho dignifica o homem, mas a mente
vazia é oficina do diabo”, assim, é notório que o vagar dentro das prisões,
49
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 505.
50
MIRABETE Julio Fabbrini; FABRINNI, Renato N., Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a
120 do CP – 24. ed. rev. – São Paulo: Atlas, 2008. p. 260.
51
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 504.
52
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011, p. 504.
53
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 400.

128
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

juntamente com outros condenados, possibilita que os condenados estejam sempre


pensando em diversas outras perversidades, maldades, fugas, suicídios, bem como
a prática de outros crimes.54
Diante disso, o trabalho deve buscar o desenvolvimento do indivíduo, com
caráter ressocializador, sendo um direito fundamental do homem, evitando
transformar a cadeia em um mero local de cumprimento de pena e sim um lugar que
motive a ocupação e, consequentemente a reconquista da dignidade dos
encarcerados.55

3 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da dignidade da pessoa humana é fruto das atrocidades e de


violações aos seres humanos que ocorreram ao longo da história, e que, embora
juridicamente garantido em nossa legislação como um princípio essencial, tais
tratamentos se estendem até hoje.56
O delinquente, qualquer que seja seu grau de decadência, não perdeu a sua
dignidade, atributo essencial ao ser humano, que constitui o supremo valor que deve
inspirar o Direito, bem como o apenado, que mesmo em situação de cárcere não
perde seu status de cidadão, devendo ser respeitado como tal.57
Nesta esteira, STEFAM e GONÇALVEZ58 dispõe sobre a atenção que deve
ser dada ao princípio da dignidade da pessoa humana, por se tratar de um princípio
constitucional muito importante para o ser humano. Senão vejamos:
A dignidade da pessoa humana é, sem dúvida, o mais importante dos
princípios constitucionais. Muito embora não constitua princípio
exclusivamente penal, sua elevada hierarquia e privilegiada posição no
ordenamento jurídico reclamam lhe seja dada a máxima atenção.

A Constituição Federal de 1988, ao inserir em seu ordenamento a Dignidade


da Pessoa Humana, busca garantir aos cidadãos uma existência digna.

54
MIRABETE Julio Fabbrini; FABRINNI, Renato N., Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a
120 do CP – 24. ed. rev. – São Paulo: Atlas, 2008. p. 264.
55
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 402.
56
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral, 1– 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 47.
57
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral, 1. – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p.
58
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 100.

129
FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Logo, o artigo 1º da Constituição assim define:


Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

A prisão com certeza é uma forma de castigo, porém, castigar não significa,
do ponto de vista do Estado de Direito vigente, humilhar, degradar, rebaixar,
desmoralizar, diferenciar etc.59
Portanto, ao observar o descaso do Estado no tocante à dignidade do preso,
ou seja, aos seus direitos essenciais a vida, tais como saúde, paz social entre
muitos outros, torna difícil o processo de ressocialização, deixando mais nítido que a
prisão não conseguiu responder aos anseios pretendidos, tampouco conseguiu
combater a criminalidade no país.60
A prisão é o lugar do desespero e da precariedade, faltando dentro dela
muitas coisas, mas principalmente a piedade e a humanidade.61
No Brasil, o condenado não perde apenas a sua liberdade, perde também a
sua dignidade, uma vez que fica sob o poder de punir do Estado, nos quais são
deixados de lado os direitos que a Constituição garante a eles, sendo tratados de
maneira abusiva e desumana, não atingindo o objetivo maior da pena que é a
ressocialização, uma vez que tendo em vista a maneira com que são tratados nas
prisões, acabam não reaprendendo a viver em sociedade.62
Aprofundando ainda mais o assunto, MARINHO e FREITAS63, esclarecem:
Por outro lado, especificamente no que tange ao Direito Penal, a Lei maior
estabelece regras fundamentais, entre os direitos e garantias individuais, de
que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou
degradante” (art. 5º, III) e de que “não haverá penas: a) de morte, salvo em
caso de guerra declarada; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados;

59
MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABRINNI, Renato N., Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a
120 do CP – 24. ed. rev. – São Paulo: Atlas, 2008. p. 250.
60
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 44.
61
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 44.
62
RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo et al. A privatização do
sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2960, 9ago. 2011 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/19719>. Acesso em: 02 out. 2012.
63
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 42.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

d) de banimento; e) cruéis.” Trata-se, pois, de destacadas limitações ao


exercício do direito de punir do Estado, ligadas diretamente ao respeito à
dignidade humana.

Neste contexto, entende-se que a dignidade da pessoa humana não


desaparece, ela é adquirida pelo ser humano quando nasce e caminha com ele
durante toda a sua existência, sendo dever do Estado de garantir a eficácia do
mesmo.64
No entanto, devido ao estado precário em que se encontram os presos
brasileiros, com a superlotação das cadeias, a falta de higiene, limpeza e assistência
médica, a predisposição à doenças, a falta de estrutura dos estabelecimentos
penitenciários, sem as mínimas condições necessárias, o Estado e o meio social
não os respeitando como pessoas de direitos diante da omissão na concretização
deste princípio fundamental, frente a uma sociedade que não perdoa, que não dá
chances, que excluí quando deveria tentar incluir, ficando os mesmos a mercê do
mais terrível e temido cárcere.65

4 RESSOCIALIZAR PARA NÃO REINCI(N)DIR

Como já visto, uma das principais funções da pena é a ressocialização do


detento, procurando reduzir os níveis de reincidência e fazendo com que os mesmos
reaprendam a viver no meio social não mais como delinquente, e sim de maneira
proba e conforme os padrões estabelecidos pela sociedade.66
A ressocialização vem no intuito de trazer a dignidade, resgatar a
autoconfiança e autoestima dos presos, além de produzir e efetivar projetos que
tragam proveito profissional, entre outras formas de incentivo e com ela os direitos
básicos dos mesmos vão sendo aos poucos novamente priorizados.67
Sabe-se que nos dias de hoje, os presídios brasileiros não trazem aos
presos os efeitos da ressocialização, assim, a ausência desse amparo ao detento,

64
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 101.
65
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral. – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011, p.
47.
66
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 464.
67
ESTEFAM, André; GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal esquematizado: parte geral. p. 464.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

ao internado e ao egresso pode fazer com que estes passem contínuas vezes pela
penitenciária.68
Embora grande parte da sociedade, bem como a Criminologia Crítica,
acreditem que não há possibilidade de ressocializar o delinquente, esta questão
pode ser resolvida com o amparo do Estado e a busca por presídios onde os presos
possam trabalhar, conviver em harmonia, com assistência médica, em locais limpos
e organizados, com alimentação, vestuário e necessidades básicas visando o estrito
cumprimento do mau cometido e não o desrespeito em que estão submetidos nos
dias de hoje, motivo de revoltas, rebeldia e a violação do princípio da dignidade da
pessoa humana, um dos mais importante do nosso ordenamento jurídico.69
Esclarece BITENCOURT70 acerca da criminologia crítica:
Para a Criminologia Crítica, qualquer reforma que se possa fazer no campo
penitenciário não terá maiores vantagens, visto que, mantendo-se a mesma
estrutura do sistema capitalista, a prisão manterá sua função repressiva e
estigmatizadora. Em realidade, a Criminologia Crítica não propõe o
desaparecimento do aparato de controle, pretende apenas democratizá-lo,
fazendo desaparecer a estigmatização quase irreversível que sofre o
delinquente na sociedade capitalista.

Porém, nos dias de hoje existem muitos grupos, organizações e instituições


que lutam e acreditam que aquele que cometeu algum ilícito pode reaprender a
conviver na sociedade sem voltar a delinquir, assim, através da arte, da cultura e do
trabalho, buscam a transformação social, despertando nas pessoas o que ainda de
bom existe, promovendo a ressocialização e a inserção dos ex-presidiários na
comunidade, contribuindo para a redução da violência e da reincidência dos
mesmos, dando a estes oportunidades de emprego, benefícios e resgatando a
cidadania dos sentenciados.71
PINHEIRO 72 acerca da ressocialização:
Nós, tentamos modificar o que é rotina em matéria de discriminação ao
egresso do sistema prisional, para isso, utilizamos o prestigio alcançado
pelo trabalho social que realizamos a mais de 20 anos.

68
MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares. Manual de Direito Penal: parte geral. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 376.
69
MIRABETE Julio Fabbrini; FABRINNI, Renato N., Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a
120 do CP – 24. ed. rev. – São Paulo: Atlas, 2008, p. 12.
70
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de direito penal: parte geral. – 16. ed. – São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 136.
71
PINHEIRO, Chinaider - Coordenador Projeto Empregabilidade do Grupo AfroReggae – GCAR. Rua: Da Lapa,
nº 180 / SL.1205 - Centro - Rio de Janeiro.
72
PINHEIRO, Chinaider - Coordenador Projeto Empregabilidade do Grupo AfroReggae – GCAR. Rua: Da Lapa,
nº 180 / SL.1205 - Centro - Rio de Janeiro.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Temos tido um retorno maravilhoso e muitas pessoas estão sendo


beneficiadas pelo projeto Empregabilidade.
No meu ponto de vista, muita coisa tem mudado, temos desmoronado
muitas opiniões a respeito do egresso, isso na pratica, quando mostramos
que realmente é possível a transformação destas pessoas mediante a
oportunidade dada.

Partindo-se deste prisma, o estudo demonstra que estamos ainda muito


longe de que a pena cumpra com sua função e que os presídios deixem de ser
conhecidos como Universidades do Crime e local onde os que ali ingressam para
serem reinseridos no convívio social e reeducados acabem ficando aperfeiçoados na
prática de diversos delitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objeto investigar a triste realidade vivenciada


pelos condenados dentro das prisões e, registrar a crise que se encontra o País a
qual se fundamenta principalmente pela omissão em relação às principais funções
da pena, quais sejam: reprimir e prevenir.
O interesse pelo tema investigado deu-se em razão das discussões
existentes sobre os motivos que levam os presos a delinquir quando saem da prisão,
e também qual o motivo da revolta e rebeldia de maioria deles.
Para o desenvolvimento harmonioso o trabalho foi dividido em três
momentos:
O primeiro tratou de abordar a evolução histórica da pena, bem como a sua
função.
A segunda parte da pesquisa foi destinada ao estudo do sistema carcerário
como um todo, e, procurou-se fazer esta pesquisa, para investigar e assim melhor
compreender as principais dificuldades enfrentadas pelos presos nos
estabelecimentos prisionais.
No terceiro momento buscou-se esclarecer a importância do Principio da
Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que a massa carcerária é totalmente
desprovida de atenção e consideração, porém, em um Estado Democrático de
Direito é fundamental a efetivação de tal princípio para todos os cidadãos,
tendo em vista que o ordenamento jurídico brasileiro e a Lei de Execução Penal
visam garantir um tratamento digno aos condenados.

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FERNANDES, Bruna Rafaela; RIGHETTO, Luiz Eduardo Cleto. O sistema carcerário brasileiro. Revista
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 115-
135, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: w ww.univali.br/ ricc - ISSN 2236-5044

Já no quarto e último momento da pesquisa, procurou-se abordar a


polêmica acerca da reintegração social do detento em um ambiente extremamente
nefasto, e a preocupação em torno da reinserção, donde os esforços devem ser
também direcionados para se enfrentar os problemas sociais mais graves que o país
apresenta, como a crescente criminalidade, a desigualdade social e a má
distribuição de renda, uma vez que a população vive se perguntando qual o grande
motivo para a criminalidade tão acentuada no país, e, embora não tenhamos todas
as respostas, não podemos deixar calar as perguntas, pois ainda há esperança de a
prisão ser uma escola destinada ao bom aprendizado e um ambiente disciplinar
satisfatório em que ofereça ao aluno entre outras, a possibilidade de construção da
sua identidade e do resgate da cidadania perdida.
Assim, conforme hipótese proposta na problemática restou comprovada que
a deficiência do sistema carcerário advém das condições subumanas em que os
presos se encontram dentro dos presídios, como a falta de estrutura ofertada aos
mesmos, saúde e alimentação precárias, rebeliões, as quais são oriundas das
revoltas dos presidiários em razão do descaso do governo em proporcionar aos
mesmos um local harmonioso ao cumprimento da pena, como forma de reeduca-los,
uma vez que são pessoas de direitos, embora estejam em situação de cárcere pelo
mal cometido, sendo-lhes garantida a dignidade humana, direito fundamental que
assegura à pessoa e deve caminhar com ela por toda a sua existência.

REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/21053>.

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