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HISTÓRIA DA POLÍCIA MILITAR DO PARÁ

Ronaldo Braga Charlet1

Desafios na construção de uma área do conhecimento


histórico.
A Polícia Militar do Pará ao longo de sua história de aproximadamente 190 anos
ainda não teve a devida preocupação com o registro dos fatos que marcaram a sua história,
nem com o magistério da história Policial-Militar.

O ensino de história da PM, via de regra, não tem assumido o status de disciplina
voltada para a educação dos Policiais Militares, mas sim em constituir-se em “instrução”. A
referida instrução, na grande maioria das vezes, foi confiada a Policiais Militares estranhos à
seara da história enquanto ciência, ou seja, com formação em outras áreas do conhecimento,
ou ainda, sem qualquer formação superior.

Por outro lado, como história institucional, a história da Polícia Militar do Pará,
assim com a História Militar, sofreu durante muitos anos forte preconceito por parte de muitos
historiadores, seja por nutrirem em relação aos militares uma visão enviesada, seja por
entenderem a história política e militar como possibilidades ultrapassadas do conhecimento
historiográfico.

O ensino e a pesquisa da história da Polícia Militar deve, então ao nosso ver, ser
construída por historiadores e/ou por policiais militares com formação específica em história,
ambos, possuidores dos conhecimentos técnicos do mister historiográfico possibilitarão, de
fato, a definição da história militar paraense nos moldes científicos almejados e, assim, por
termo ao famigerado ciclo das “instruções de história” policial-militar.

As chamadas “instruções” teriam como objetivo “instruir”, ou ainda “adestrar”


(Bueno, 1972) o aluno e, neste sentido, logicamente, o debate, a discussão, o diálogo, a
reflexão, enfim, a produção do conhecimento estariam relegados a um segundo plano, ou
seriam exercícios inexistentes e desnecessários em sala-de-aula nos cursos militares,

1 Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Mestre em Planejamento do
Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA; Professor da disciplina Brasil Império, na Especialização em Ensino de
História do Brasil da Faculdade Ipiranga; Professor do curso de Licenciatura em História da Universidade do
Vale do Acaraú; Professor de História da Polícia Militar do Pará no Curso de Formação de Soldados PM/2008;
Capitão da PM com Estágios em Controle de Distúrbios e Direitos Humanos, com Cursos de Força Tática,
Polícia Comunitária e Tropa Montada.
resultando em sérios prejuízos na formação dos policiais militares submetidos a esse tipo de
“adestramento”.

A formação policial-militar, nos seus mais diversos níveis, deve ser entendida
como o momento de confrontação dos valores técnicos policiais-militares com os valores
trazidos pelos educandos no processo de suas formações individuais, ao longo de suas
experiências pessoais, individuais, coletivas, sociais, interpessoais que, na Polícia Militar,
devam ser lapidadas no sentido de construir, na instituição, através do debate democrático, a
conscientização do cidadão (policial militar em formação) para com os seus direitos, seus
deveres e, principalmente, o entendimento do seu papel social frente à prestação dos serviços
de Segurança Pública e Defesa Social.

É dentro dessa perspectiva que apresento esta apostila de História da Polícia


Militar do Pará – 2008, direcionada ao Curso de Formação de Soldados PM, acreditando que
as anotações aqui feitas podem ajudá-los a tomar uma postura crítica no debate acerca da
formação histórica de nossa Polícia Militar, entendendo essa história militar como marcada
pelos aspectos culturais, sociais, políticos, geográficos e regionais de nosso povo.

A história da Polícia Militar não é produto de iluminados ou de heróis, mas sim o


produto dos esforços cotidianos de cada policial militar que, ao longo desses 190 anos, se
voltou para a sua instituição com o compromisso pela mudança, pela melhoria das condições
de vida dos seus semelhantes e, principalmente, construindo essa instituição centenária dentro
de conflitos e contradições constantes, marcadamente ligadas aos processos de manutenção do
poder político e da estabilidade do Estado.

É difícil enxergarmos o heroísmo que a tradição policial-militar nos apresenta,


principalmente nos dias de hoje e com as transformações que as ciências humanas tomaram,
colocando em xeque fatos históricos tidos pelos nossos antepassados como heróicos e que,
atualmente, à luz de uma sociedade mais democrática e solidária, se apresentam como fatos
lamentáveis da vivência policial-militar, entre os quais o episódio de Canudos.

O episódio ocorrido no arraial de Canudos aconteceu por vários fatores como a


grave crise econômica e social que se encontrava a região à época, caracterizadas pela
presença de latifundiários improdutivos e por uma crença sob a égide de uma salvação
milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão, dos flagelos do clima e da exclusão
econômica e social.

As lacunas deixadas pelo poder público republicano e pela Igreja católica


souberam ser preenchidas por um místico nordestino que pregava uma mudança social,
mesmo que para isso tivesse que armar um grupo de camponeses pobres e lançá-los contra as
forças policiais.

Onde estaria o heroísmo dessa tropa militar que foi enfrentar os sertanejos? Quais
as possibilidades reais de enfrentamento e reação desse povo miserável? Qual o heroísmo
desse confronto intestino no início do regime republicano?

Esse confronto deixou claro que a República nascia reproduzindo os mecanismos


de violência herdados do Império e que o diálogo, pelo menos nesse primeiro momento, não
era a sua marca, muito pelo contrário, o início da República é traumático e marcado pela
dificuldade de se aceitar a participação popular, fechado aos direitos trabalhistas e alheio às
discussões sobre a reforma agrária. Como exemplo disso, nas eleições, não votavam os
soldados, as mulheres, os analfabetos, entre outros.

Evidentemente que não podemos também execrar a memória e os feitos de nossos


atepassados policiais-militares que construíram essa instituição - mesmo que banhada em
sangue - mas sim darmos novas interpretações e nos colocarmos no lugar deles e, através de
um olhar diacrônico, perceber as dificuldades de escolhas; o cumprimento do dever, numa
instituição policial-militar, acima das vontades individuais e acima de questões sociais; a
pouca autonomia dessa força policial em diversos momentos e, principalmente, a identidade
militar que determina, na grande maioria das vezes, atitudes, comportamentos, ações que não
deixam ao indivíduo – militar – alternativas de ação.

Entender a repressão ao movimento de Canudos como eivado de heroísmo ainda é


trilhar um caminho de análise não mais trilhado por nenhuma das ciências humanas, é
continuar preso à atmosfera de uma polícia guerreira de outrora, é não enxergar a mudança
social e o desenvolvimento democrático nacional.

Contudo, devemos entender que a construção do heroísmo de Canudos pode ser


muito bem inteligível naquele momento, onde uma polícia guerreira se lançou numa aventura
militar e obteve êxito, onde milhares de policiais e militares com garra, determinação, vontade
e ousadia se lançaram num confronto no qual estavam defendendo o futuro do modelo
republicano de governo, embora na sua maioria não o compreendessem dessa forma; entender
o processo das representações da Guerra de Canudos é não deixar se apagar a memória de
muitos homens que construíram a Polícia Militar dos dias de hoje, a partir dos valores da
entrega ao serviço, do cumprimento do dever, da missão Policial Militar.

É oportuno deixar bem claro que a história da Polícia Milita hoje ensinada não
existe como disciplina fora dos limites institucionais da Polícia Militar e, para se chegar a
algum grau de certeza nas afirmações acerca dessa história é necessário se fazer incursões nas
bibliografias da História do Pará, Regional e Amazônica, de forma a cotejar as estruturas
adminitrativas coloniais que permitiram no século XIX a criação de um corpo policial voltado
à atender as necessidades de Segurança Pública.

Esta disciplina se impõe nos currículos de formação policial militar pela


importância de seu estudo, pois contribui no desenvolvimento da cultura organizacional;
permite refletir sobre as práticas policiais-militares ao longo de sua história; proporciona o
conhecimento da história da instituição, possibilitando o aprendizado com os erros e acertos
do passado.

Outra observação oportuna diz respeito à modificação de muitos dos valores que a
instituição cultuou ao longo desses quase 200 anos. Praticamente toda a existência da Polícia
Militar do Pará esteve ligada ao exercício do poder repressivo do Estado na sua mais estrita
acepção do termo e, muito recentemente, bem depois da Consituição de 1988 e,
principalmente, com o amadurecimento político brasileiro é que as Polícias Militares se
voltaram ao exercício do poder de polícia de forma mais democrática, vendo no cidadão,
usuário do sistema de Segurança Pública, um aliado no combate à violência e à criminalidade.

A chamada Polícia- Cidadã possui mais ou menos 20 anos e, sabidamente, que ao


longo desses últimos 20 anos, muitos erros e acertos aconteceram e acontecem. É, dentro
deste quadro de reflexão sobre o nosso papel dentro da sociedade, acreditando que é possível
consolidar uma Polícia-Cidadã, Comunitária, Democrática, defensora dos Direitos Humanos e
mais engajada com os direitos e garantias constitucionais, individuais e coletivas, que
apresentamos esta apostila, evidentemente incompleta e preliminar, dada as condições atuais
da pesquisa histórica policial-militar, mas que apresentam alguns registros de fatos que
ajudam a compreender a Polícia Militar do Pará, no seu fazer-se como uma classe
trabalhadora (Thompson, 1997) na área da Segurança Pública.

Apresentação do Conteúdo Programático.


A carga horária da disciplina História da Polícia Militar é de apenas 20 horas, ao
nosso ver insuficiente para o estabelecimento do debate com os discentes acerca do que se tem
produzido sobre história da PM, contudo a carga horária não inviabiliza o debate que deverá
ser estabelecido acerca dos principais pontos do conteúdo programático.

O conteúdo programático está assim dividido na ementa da disciplina:


• Origem e Evolução: período colonial
• Brasil Império
• Período Republicano
• Participação da PM na história estadual e nacional
• Heróis da Corporação
• Origem e Denominações
• Campanha do Paraguai e de Canudos
• Revoltas de 1891; 1924; 1930; e 1932
• Contexto da Sociedade Paraense
• Polícia Guerreira e Comunitária

Esses tópicos se destinam a dar ao discente uma visão geral de toda a trajetória da
Polícia Militar, ao longo de 190 anos, sem contudo esgotar o assunto, pois sabe-se que ainda
há muito por pesquisar e descobrir acerca da História da Polícia Militar e História Militar do
Pará, em todos os seus momentos.

A abordagem dos tópicos respeita a tradição do ensino da História Policial Militar,


proporcionando-se o debate e a discussão de tema polêmicos e controversos na medida e para
o fim de se avançamos na interpretação e nas representações do passado para a atuação e
consciência Policial Militar como cidadão.

A seguir apresentaremos cada tópico desse, nos seus aspectos fundamentais para a
construção do debate em sala-de-aula:

Origem e Evolução: período colonial


O Brasil, a partir do seu descobrimento, em 1500, foi utilizado pelos portugueses
para a exploração madeireira do pau-brasil, através das expedições de exploração, tendo uma
delas comandada por Martim Afonso de Sousa, em 1532, iniciando a colonização da
Capitania de São Vicente.

Ao longo da faixa litorânea, a fim de preservar o domínio territorial e desenvolver


economicamente a região, o Governo português estabelece as Capitanias Hereditárias (1534),
cobrindo uma faixa de 15 capitanias, entregando-as aos donatários que deviam desenvolvê-las
por seus esforços próprios.

Com a União Ibérica (1580-1640) - a união das coroas portuguesa e espanhola –


cria-se um império de dimensões mundiais. Os portugueses e nativos brasileiros tiveram certa
autonomia, a partir daí, para ultrapassarem os limites do Tratado de Tordesilhas,
principalmente na região Amazônica, devido às incursões de franceses, ingleses, holandeses e
irlandeses que tentavam se apoderar da foz do rio das Amazonas.
A exploração da cana-de-açúcar na faixa de terra entre Pernambuco e a Bahia com
grande produtividade necessitou que o governo imperial metropolitano se instala na colônia
uma estrutura centralizada de governo. Diante disso, em 1549, é instaurado o Governo Geral,
tendo como seu primeiro Governador Geral Tomé de Sousa.

Esse Governador Geral e os seus Capitães Gerais tinham que organizar o Estado,
realizar a defesa do território contra os estrangeiros, enfrentar os índios, realizar a fortificação
do território, expandia a conquista e dinamizar a economia voltada à monocultura do açúcar.

Para essas atividades montaram um embrião do Estado colonial, composto por


militares, clérigos e pequeno grupo de comerciantes e produtores. Era necessário garantir a
sobrevivência física e realizar a missão da empresa colonial e, para isso, muitas vezes se
pagava com a vida, seja contra os invasores estrangeiros, seja contra os indígenas.

A estrutura militar brasileira era composta por três linhas de tropas: a 1ª Linha, a 2ª
Linha, e a 3ª Linha, das quais muitos historiadores, entre os quais Nelson Werneck Sodré
afirma que vieram a constituir-se em Exército, Milícias e Ordenanças.

A estrutura militar colonial se apresenta bastante confusa, mas atendia as


necessidades de segurança com a utilização de cargos policiais herdados das ordenações
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Dentre os cargos destacaram-se os almotacés, os
meirinhos, os quadrilheiros, as milícias e, em sua maioria, comandadas, chefiadas ou
influenciadas por proprietários, latifundiários e comerciantes, tidas como pessoas “boas”,
“bem nascidas”, “homens bons”, “filhos-de-algo” (fidalgos).

A fidalguia vai compor, durante muito tempo, o topo hierárquico das tropas
coloniais e imperiais e, ainda hoje, se nos apresentam algumas distinções militares marcadas
ou assemelhadas com títulos de fidalguia como é o caso das medalhas, comendas e
condecorações.

Ao longo do período colonial franceses se estabeleceram no Rio de Janeiro e no


Maranhão e holandeses em Pernambuco, ambos tentando se apoderar de parte do território
pertencente aos portugueses e do qual julgavam merecedores pelo argumento do UTI
POSSIDETIS.

Ao longo do delta amazônico também foram se estabelecendo estrangeiros, entre


os quais ingleses, franceses, holandeses e irlandeses. E, para enfrentar e desalojá-los foi
montada uma operação militar que teve como comandante o Capitão Franciso Caldeira
Castelo Branco que combateu e desalojou os franceses do Maranhão em 1615 e rumou para a
foz do Amazonas, fundando Belém em 1616.

Fotografia do Forte do Castelo, em Belém

A partir da construção do forte do Presépio, em Belém, em 1616, se inicia a


colonização portuguesa na Amazônia com a expulsão dos estrangeiros e início da
implementação da estrutura colonial, voltada para o atendimento das demandas portuguesas
por drogas do sertão, para o controle da população indígena catequizada e submetida ao
trabalho nos aldeamentos jesuítas.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII se monta na Amazônia uma estrutura


administrativa marcadamente militar do ponto de vista da defesa com inúmeras fortificações,
entre as quais o Presépio, São José de Marabitanas, Príncipe da Beira, São José, Óbidos, e
Gurupá, entre muitos outros. Aliados aos fortins militares, se embrenhavam nas matas os
aldeamentos jesuítas (maioria) que mediante a catequese, aculturavam os indígenas,
preparando-os para assumir alguns postos de serviços na nascente estrutura administrativa
colonial.

A primeira força militar de origem brasileira é a de Minas Gerais, a qual foi


organizada em 1775, de modo regular como Regimento Regular de Cavalaria de Minas
Gerais, com aquartelamento em Vila Rica, atual Ouro Preto. Com objetivo de manter a ordem
pública que se sentia ameaçada pela invasão de uma leva de garimpeiros que invadiram
aquelas terras em busca das riquezas encontradas no ouro e nas pedras preciosas.

Em Minas Gerais, o Corpo de Guardas foi criado a partir do Regimento Regular


de Cavalaria de Minas, em junho de 1775, com sede em Vila Rica, a cujos quadros pertenceu
o Alferes Tiradentes – sendo assim a Primeira Policia Militar do Brasil.

Tiradentes foi figura importante num movimento que no ano de 1789 lutava pela
independência da região da Independência das Minas, num levante conhecido como
Inconfidência Mineira. Personagem de grande evidencia na Historia. É interessante destacar
de que maneira e porque a imagem de Tiradentes, como líder popular, manteve-se ate os dias
atuais, sendo utilizada pelos mais diversos segmentos sociais, desde grupos guerrilheiros,
chegando ate a atualidade como patrono das Policias do Brasil.

As Polícias Militares tiveram origem nas forças criadas durante o período


colonial, as quais durante suas existências foram extintas ou incorporadas em outras
Corporações policiais.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro teve a sua origem na Guarda Real de Polícia,
em 1809, no reinado de D. João VI, ao molde da que foi criada em Portugal.

Com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808, acompanhada da


guarda Real de Policia, sentiu Dom João VI a necessidade de dar a Corte Real segurança e
tranqüilidade.

O Rio de Janeiro, que repentinamente se tornara a capital do Reino de Portugal,


teve sua população aumentada consideravelmente, havendo, portanto, necessidade imperiosa
de criar um organismo que se encarregasse da ordem e do sossego públicos. Surgiu assim,
pelo Decreto de 13 de Maio de 1809 a Divisão Militar da Guarda Real de Policia, origem da
Policia Militar do Rio de Janeiro, a segunda Policia Militar do Brasil.

A Corporação foi criada com o efetivo inicial de 218 homens, distribuídos entre o
Estado Maior e quatro companhias, sendo uma de Cavalaria e três de Infantaria. Como se
observa, a Divisão Militar da Guarda Real de Policia já nasceu com estrutura militar e função
policial.

Essa Guarda era formada pelos melhores soldados escolhidos nos Quatro
Regimentos de Infantaria e Cavalaria de Linha de Guarnição da Corte, dando-se preferência
pela robustez, como também pelo caráter e conduta, qualidades indispensáveis à função que
iriam exercer.

A Polícia Militar do Pará, com origem no Corpo de Polícia, foi criada pelo Conde
de Vila Flor no ano de 1018, retirando-se das tropas de linha um efetivo que colocou ao
comando do Ajudante José Victorino de Amarante2.

Imagem do Conde de Vila-Flor – último Governador Geral do Grão Pará

Brasil Império
O período Imperial brasileiro é inaugurado com a Independência do Brasil por
D.Pedro I, o qual após esse ato teve que formar um Exército nacional, mesmo que para isso
tivesse que se utilizar de mercenários. Para isso contratou os militares mercenários Lord
Cochrane, Greenfell e Labatut, os quais no comando das tropas imperiais, ainda em formação,
percorreram o Brasil obrigando os Estados a aderirem à Independência.

No Pará a adesão à Independência se deu em 15/08/1823, quando o povo tomou o


poder e festejava no interior do Palácio do Governo e nas ruas. Muitas pessoas, em torno de
256, foram presas e colocadas no brigue de guerra “Palhaço”, sob as quais foram jogados cal
virgem e, boa parte destas pessoas, foram encontradas mortas no dia seguinte, demonstrando o
autoritarismo do Genenral Greenfell.

Esse episódio não vai ser esquecido e, inclusive, vai alimentar a semente da revolta
que eclodiu entre 1835-1840, a Cabanagem, no Pará.

Até o ano de 1831, D. Pedro I se desentende com a elite brasileira e portuguesa sob
a forma de comandar o governo e, em meio a diversas pressões e atropelos administrativos,
resolve abdicar em favor de seu filho com apenas 05 anos de idade.

2 Há pesquisas, contudo, que tentam verificar se a Polícia Militar poderia ter sido
originada um ano antes, em 1817, com a criação pelo Conde de Vila Flor de uma
Cavalaria Miliciana, com sede no convento de São José, tendo como seu primeiro
comandante o Major Joaquim Mariano de Oliveira Bello.
A partir daí o governo é entregue a uma junta denominada Regência Trina, com
destacada participação do Padre Diogo Antônio Feijó que, em 1834, através de um conjunto
de medidas denominadas de Ato Adicional, reforma a Constituição de 1824 e assume a
Regência Una.

Entre outras medidas tomadas no ano de 1831 está a de criação da


GuardaNacional, no Brasil, tropa esta que era responsável pelo policiamento das cidades, mas
que era controlada pelos grandes proprietários que, muitas vezes, compravam seus títulos de
coronéis, dando origem ao coronelismo, segundo alguns atores.

Iconografia dos Guardas Nacionais

No Pará, a Cabanagem, movimento político e social liderado por caboclos que


estavam cansados de viver subjugados pelos portugueses assume os matizes de revolta e, para
estudiosos como Pasquale Di Paolo, significa uma revolução na sua mais ampla acepção do
termo.

A Cabanagem por mais de cinco anos provoca uma grande mortandade entre os
paraenses, pois era grande a sanha dos cabanos contra os portugueses e também violenta a
repressão comandada pelo General Andréas, vencendo este último, através da intimidação e
da forte repressão aos cabanos.
Iconografia do líder Cabano – Eduardo Angelim

Ao longo de muitos anos a Província do Pará vai passar por uma intensa crise
econômica, marcada pelas condições de miséria de seu povo e também provocada pela grande
perda demográfica da Cabanagem. O governo organiza os corpos de trabalhadores, espécie de
trabalho servil, no qual era submetida a maior parte da população.

Some-se a isso a necessidade de envio de tropas paraenses para o frote de guerra


no Paraguai, tendo um grande número de combatentes paraenses perecido devido às péssimas
condições climáticas encontradas no Paraguai.

Somente a partir dos anos de 1870 é que a economina começa a se desenvolver


com o crescimento da exploração da borracha, proveniente da seringueira (Hevea brasiliensis)
que no final do século XIX e início do XX vai alavancar a economia do Pará e do Amazonas,
pela grande procura internacional dessa resina para alimentar a indústria, principalmente a de
automóveis.

Fotografia da Loja Paris N’América, Belém


Produção do látex

É com a economia da borracha que Belém e Manaus iniciam um processo de


urbanização nunca visto na região, transformando as duas capitais em Paris nos trópicos.
Vários espetáculos teatrais e óperas, de companhias internacionais, eram primeiramente
encenados no teatro Amazonas, no teatro da Paz e, posteriomente, se dirigiam ao Rio de
Janeiro, demonstrando assim a força econômica da elite da borracha.

É a economia da borracha que proporciona também o envio de tropas das forças


públicas do Pará e do Amazonas para a frente de guerra em Canudos, dada a necessidade
desses dois Estados da Amazônia, mostrarem sua capacidade bélica e se projetarem no
cenário nacional.

Período Republicano
O movimento republicano no Pará tem início com a circulação do jornal
republicano Tiradentes, em 1871 (Feitosa, 1994:41) e com a fundação do Clube
Republicano, tendo entre os seus fundadores o Tenente Lauro Sodré (do Exército) e do
guarda-livros Antônio Sérgio Dias Vieira da Fontoura - (futuro Coronel Fontoura).

Republicanos e abolicionistas dividiam os mesmos interesses, principalmente entre


os militares participantes da Guerra do Paraguai, contudo o movimento republicano ainda
guardas divisões internas e, em determinadas categorias uma visão elitista que vai inclusive
se impor quando da consolidação da política dos Govenadores.

O coronelismo, a degola, o voto de cabresto e a política do Café com Leite vão ser
marcas da chamada República Velha, que vai até o ano de 1930, quando a elite gaúcha e
nordestina se levantam contra a hegemonia de São Paulo e Minas Gerais e, com o apoio dos
tenentes, conseguem tomar o poder.

No Pará, em vários momentos a República Velha mostra sinais de crise, tendo os


momentos conturbados de agitações nas eleições de Lauro Sodré e Paes de Carvalho, além
dos levantes militares de 1891, 1924 e 1930, tendo a figura do Tenente Magalhães Barata se
sobressaído entre os militares tenentistas, tanto assim que recebeu em novembro de 1930 de
Getúlio Vargas a incumbência de ser o Interventor no Pará.

Entre uma das suas primeiras medidas o Tenente Magalhães Barata extinguiu o a
Brigada Militar do Estado (Polícia Militar) como forma de retaliação pelos serviços
prestados pela força pública pela legalidade lutando contra os sublevados tenentes, contudo
dois anos depois Barata teve que se utilizar dos policiais militares, quando em 1932, os
Guardas Civis e os estudantes se levantam contra o interventor e a favor da Revolução
Constitucionalista de São Paulo.

Com a vitória do Interventor e pela participação dos recém-convocados


brigadianos paraenses, Magalhães Barata inicia timidamente o reaparelhamento da força
policial, tendo concluído sua reestruturação em 1935 como Força Pública do Estado do
Pará, quando ela voltou a ocupar o lugar que lhe pertencia como órgão de Segurança
Pública, contudo as diferenças entre a Força Pública e Magalhães Barata permanecem, mas
em níveis controlados.

A partir de 1935 a Força Pública passa a se chamar Polícia Militar do Pará e só a


partir da Constituição de 1.946, (com extinção do Estado Novo) outras corporações policiais
e militares passaram a denominarem-se Polícia Militar, com exceção a do Estado do Rio
Grande do Sul que manteve a denominação de Brigada Militar até os dias de hoje.

O período republicano é marcado pela luta política pelo poder, principalmente,


pelos militares do Exército que passam boa parte do período republicano se envolvendo em
levantes, desde a proclamação republicana, passando pelo movimento tenentista, Revolução
de 30, Estado Novo, a própria deposição de Getúlio Vargas, culminando com o
estabelecimento da Ditadura Militar (1965-1985) e, com muita dificuldade no período
republicano se pode falar em Estado democrático de direito.

Na atual conjuntura as Policias Militares brasileira, são força de segurança pública


das unidades federativas com a função principal de polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública nos Estados e do Distrito Federal (Art. 144 da Constituição Federal de 1988).

São subordinadas ao Governo de seu Estado e Distrito Federal (Art. 144 § 6º da


Constituição Federal de 1988) e são para fins de organização, forças auxiliares e reserva do
Exército brasileiro e integram o Sistema de Segurança Pública e Defesa Social brasileiro.

Participação da PM na história estadual e nacional


A participação da Polícia Militar na história estadual e nacional sempre
acompanhou as forças políticas em jogo no embate das elites, principalmente na chamada
República Velha, onde a política envolveu os quartéis e colocou a Brigada Militar do Estado
como protagonista de diversos movimentos, entre os quais o golpe orquestrado por Lauro
Sodré, em 1916, nos termos seguintes:

“... em dezembro de 1916 houve nova disputa eleitoral, entre Silva


Rosado, candidato apoiado pelo Governador Enéas Pinheiro, e Lauro Sodré,
apontado pela oposição. Foi a mais violenta luta eleitoral travada na República
Velha. Silva Rosado venceu nas apurações simples, mas Lauro Sodré acabou
sendo reconhecido pelo Congresso, mesmo que para isso os lauristas tivessem de
sublevar a Brigada Militar do Estado, para depor o Governador, e sequestrar
um deputado, o médido Orlando Lima, para que, no Congresso, houvesse
‘quorum’ para que depurassem a apuração e dessem a vitória para Sodré (os
parlamentares situacionistas estavam asilados no Arsenal de Marinha).”
(Rocque, 1983:16).
Podemos também fazer referência à sublevação de parte da Polícia Militar em
27/01/1951, sob a liderança de Maurício Ferreira, obrigando ao governador Waldir Bouhid a
renunciar, retirando assim do poder a corrente que dava apoio a Magalhães Barata,
contribuindo assim para a vitória nas eleições do Governador Zacarias de Assunção ((Rocque,
1983:69-70).

Apesar de ter sido extinta em 1930 por Magalhães Barata, de ter auxiliado aos
mesmo a reaver-se no poder em 1932 e de em 1951 ter contribuído para que seu opositor
ganhasse as eleições, Barata entre os anos de 1958 e 1959 preparava uma expedição armada
contra o Estado do Amazonas por divergências quanto à fronteira entre os dois Estados, tendo
o Governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, também preparado sua polícia militar para
esse enfrentamento, que felizmente não aconteceu (Rocque, 1983:87).

Inúmeros outros fatos poderiam ser citados e que marcam a participação da Polícia
Militar na história nacional e do Pará, contudo como a proposta é de apenas apresentar alguns
fatos, deixamos para em outros momentos apresentamos mais detalhadamente os fatos
referentes à Guerra do Paraguai e de Canudos.
Heróis da Corporação
Sob a denominação de heróis da corporação entendamos as destacadas figuras de
Tiradentes e do Coronel Fontoura, os quais pelos exemplos demonstrados em suas vivências
militares alicerçam os valores esperados dos Policiais Militares no Brasil e no Pará, em
particular.

Apresentamos em seguida, de forma resumida, as participações de Tiradentes e do


Coronel Fontoura, nos episódios que garantiram a eles figurar como heróis da corporação,
respectivamente a Inconfidência Mineira e a Guerra de Canudos.

Tiradentes e a inconfidência mineira

Durante o século XVIII a economia do açúcar encontrava-se em declínio, pois não


mais representava a principal fonte de riquezas do governo português. No entanto a descoberta
de metais preciosos na região de Minas, Goiás e adjacências, realizada pelos Bandeirantes,
trouxe um novo fôlego para as finanças de Portugal. Em torno da extração aurífera (do ouro)
formou-se uma sociedade dinâmica, composta por vários núcleos urbanos, bastante
promissores.

Destes núcleos urbanos as famílias mais ricas mandavam seus filhos realizarem
seus estudos superiores na Europa. Quando estes retornaram trouxeram consigo, muitas idéias
do velho continente, principalmente os ideais de liberdade. Na região das Minas a aceitação
dessas idéias deu inicio um movimento que lutou pela independência da região da
Independência das Minas. Destacando-se como um dos seus principais lideres, Tiradentes é
traído pelos membros do grupo revoltoso – principalmente por Silvério dos Reis – foi o único
que tombou, sendo enforcado como exemplo para os que lutavam por liberdade.

A leitura da sentença de Tiradentes – óleo sobe tela de Leopoldina Faria


Tiradentes esquartejado – obra de Pedro Amércio, 1893

Iconografia de Tiradentes
Iconografia de Tiradentes

Iconografia de Tiradentes

A partir de tudo que foi acima exposto é possível afirmar que Tiradentes
representa para as Policias do Brasil:

Um símbolo de unidade; pois sua imagem traz consigo a convergência


dos mais diversos grupos sociais que lutam por uma mesma causa;
Um referencial de liderança; pois esteve a frente de um processo de luta
por liberdade, ficando ate o fim convicto de suas idéias;

A luta por uma causa importante; influenciado pelos ideais iluministas
de igualdade e liberdade, lutou pela independência da região da região das Minas do
domínio de Portugal;

A defesa dos ideais dos menos favorecidos; pois foi o mais popular,
entre os membros da Inconfidência, sendo traído pela delação dos próprios
participantes do movimento; e,

Também um militar; que teve um grande papel de luta pelos direitos de


cidadania;

Neste sentido após conhecer um pouco mais sobre a historia do Patrono das
Policias do Brasil, damos continuidade sobre a abordagem da Historia da Policia Militar
destacando dois fatores que marcaram a especialização da Força Publica no Brasil, com
função distinta do Exército Regular:

a) O primeiro foi a vinda, para o Brasil, da Família Real Portuguesa;

b) O segundo foi a Carta Lei de 1831, que autorizou aos presidentes de Conselho
a criação nas Províncias dos Corpos de Guarda Municipais, com a finalidade de manter a
tranqüilidade publica e auxiliar a justiça. Posteriormente esses Corpos de Guardas Municipais
deram origem a várias Polícias Militares, pelo Brasil afora.

Coronel Fontoura – o Patrono da PMPA.

O Coronel PM Antônio Sérgio Dias Vieira da Fontoura, nascido a 17 de agosto de


1864, na cidade de Belém, sendo filho de Francisco Antônio Dias Fontoura e de Adelaide
Angélica Rodrigues Vieira Fontoura. Batizado, solenemente, na Igreja de Santa Ana, a 1° de
dezembro de 1865, tendo como padrinhos o Marechal de Campo Francisco Sérgio de Oliveira
e sua esposa Malfada e Picaluga de Oliveira. Casou-se com Joana Costa Fontoura.

Ingressou na carreira militar por ato do Governo do Estado, datado de 14/03/1890,


no posto de Capitão para comandar a 3ª Companhia do então Corpo Provisório de Linha.
Graduou-se no posto de Major em data de 08/12/1893, sendo neste efetivado em
29/01/1894, conforme decreto do Presidente da República, em reconhecimento aos serviços
relevantes prestados à nação, por ocasião da Revolta da Armada em1893.
Concederam-lhe as honras do posto de “Major Honorário do Exército
Brasileiro”.

Fora promovido ao posto de Tenente-Coronel em 23/09/1895, e em seguida


destinado a comandar o 2° Corpo de Infantaria do Regimento Militar do Estado.

Foutoura foi agraciado com a medalha de bravura, pela colônia paraense radicada
na Bahia, em atenção à sua participação no combate de 25/09/1897 (Ordem do Dia de
14/03/1898).

Sua promoção ao posto de Coronel deu-se em 09/10/1900, tendo comandado o


Regimento Militar do Estado até 04/08/1911.

Desde cedo, Fontoura revelou ser um intransigente cultor ds virtudes militares.


Mas, foi no governo de Augusto Montenegro que ele demonstrou ser um disciplinador rígido,
dando ao regimento uma modelar e eficiente organização, a qual pelo seu trabalho foi
considerada a mais completa do país.

No decorrer desse período, vários problemas começaram a perturbar Fontoura,


inclusive alguns desgostos que o abalaram profundamente, o que levaram a acometer-se de
uma séria doença nervosa, talvez proveniente da chamada “neurose de guerra”, fato que o
obrigou a deixar o comando da agora Brigada Militar do Estado.

Destarte, por incapacidade física, foi reformado no posto de Coronel, através do


Decreto n° 1816, de 04/08/1911.

O governo do Estado reconhecendo o valor e o caráter de Fontoura mandou


averbar, para fins de melhoria de reforma, todo o tempo de serviço prestado na Guarda
Nacional, como alferes, e no antigo Corpo Provisório de Linha.

Apesar de reformado, ainda permaneceu algum tempo em atividade na


corporação, cercado de admiração e respeito, tudo em função da sua indiscutível envergadura
moral e a auréola de bravura.

Um dado importante de seu caráter era a impecável aparência com que se trajava,
bem como seu espírito sempre alegre, sorridente e jovial. Sobre ele, dizia-se que era possuidor
de um “papo” imperdível. Já na sua intimidade tinha um distração que poucos sabiam, tocava
cavaquinho.

No decorrer dos anos vieram as dificuldades. O governo do Estado deixou atrasar


o pagamento da Brigada Militar do Estado, inclusive seus proventos, com o qual mantinha sua
reforma. Nessa calamitosa situação, o velho herói de Canudos passou por sérios problemas
financeiros.

Eis que, o que fora um dos homens mais garbosos e valorosos de nossa
corporação, senão o mais, passara agora a andar maltrapilho, acabrunhado, com passos
trôpegos, em uma clara demonstração de decadência física. Sabe-se que, durante este período,
passava os dias sentados nos bancos da praça D. Pedro II, onde situa-se o largo do Palácio do
Governo, sempre à espera de algum abono.

Alquebrado e corroído pela doença implacável, Fontoura perdeu a razão. Foi,


então, recolhido ao Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Pará e dias depois fora
transferido para o Hospital “Juliano Moreira”, onde faleceu às 06h00 do dia 25/02/1923.

Atualmentem, seus restos mortais encontram-se no Mausoléu dos Heróis, na


Alameda nobre do Cemitério de Santa Isabel.

Fontoura, foi o paladino do Regimento Militar do Estado, que no dia 25/09/1897,


mostrou aos governantes da época que a guerra de Canudos tinha solução. De fato, ele e seus
companheiros de jornada tinham razão, pois glorificaram o nome do Pará, saindo-se vitoriosos
nesta grande luta.

Fontoura foi o símbolo da grandeza varonil que o projetou no palco da hstória do


Pará.

Não obstante todos os problemas enfrentados na velhice, Fontoura legou à


posteridade, através dos atos que consubstanciaram sua vida, o exemplo de honradez,
bondade, energia, dedicação, firmeza, patriotismo, agindo sempre dentro do equilíbrio entre o
dever do cidadão e o prestígio da função militar.

Seu constante empenho em servir de exemplo aos subordinados no respeito e


acatamento à subordinação e à disciplina, assim como o valor pessoal de que soube dar
provas, grangearam-lhe, da Polícia Militar e do povo paraense, imensa popularidade que o
acompanhou até o túmulo.

Em reconhecimento a esses atributos, o Interventor Federal do Estado do Pará,


atrvés do Decreto n°3574 de 25/09/1940, constituiu Patrono da Polícia Militar do Pará o
Coronel PM Antônio Sérgio Dias Vieira da Fontoura, seu antigo Comandante Geral.

Dia da Polícia Militar do Pará


Através do decreto n°4099, de 24/09/1924, foi designada a data de 25/09 como o
dia da Polícia Militar do Pará.

Por fim, é importante que se ressalte, que esta data deu-se em homenagem ao feito
vitorioso da tropa paraense no Arraial de Canudos.

Origem e Denominações
Instituição Militar de Segurança Pública, criada em 1818 no Governo do Conde
Villa Flor, com a denominação de Corpo de Policia, sob o comando de José Victorino do
Amarante, do Corpo de Artilharia da Capitania do Grão-Pará e Rio Negro e, como já é sabido
a origem das Polícias Militares no Brasil remontam ao período Colonial.

As Unidades armadas chamadas de: milícias, ordenanças, quadrilheiros, eram


comandadas por políticos ou latifundiários que mantinham-nas a seus serviços, mas com o
estabelecimento de novas estruturas policiais, seja sob o nome de corpo de polícia, guarda de
polícia ou outra forma, a profissionalização do soldado e dos Oficiais começa a ser exigida,
mesmo que em vários momentos as promoções militares fossem mais difíceis aos membros
das camadas subalternas.

No Pará a Polícia Militar recebeu diversas denominações ao longo de sua história,


as quais apresentamos abaixo:

► Corpo de Polícia (1818-1822).

► Guarda Militar de Polícia (1822-1831).

► Corpo de Municipais Permanentes (1831-1836).

► Corpo de Policia do Pará (1836-1847).

► Corpo Principal de Caçadores de Policia (1847-1865).

► Corpo Paraense de Voluntários da Pátria (1865-1870).

► Corpo de Polícia Paraense (1867-1885).

► Corpo Militar de Policia do Pará (1885-1894).

► Regimento Militar do Estado (1894-1905).

► Brigada Militar do Estado (1905-1930).

► Força Pública do Estado do Pará (1935).

► Policia Militar do Pará (1935-2008).


Evidentemente que algumas das designações acima podem estar em discordâncias
entre diversos historiadores ou nas apostilas da disciplia, pois a pesquisa sobre a História da
Polícia Militar é descontínua e fragmentada, mas se assegura que desde os anos de 1840 para
cá, ou seja, desde a designação de Corpo de Polícia do Pará as designações respeitam a ordem
acima apresentada.

Contudo, vale a pena a continuidade da pesquisa de forma a esclarecer-se o


passado da Polícia Militar do Pará.

Campanha do Paraguai e de Canudos


Guerra do Paraguai:

O extremo do sul do Brasil tradicionalmente consistia uma região conflituosa,


principalmente na região platina. O Paraguai no século XIX assumiu uma posição de destaque
na região neste período, desenvolvendo sua indústria, buscou erradicar o analfabetismo e
principalmente assumir uma autonomia política frente às potencias que exerciam forte
influência na região, tais como: Argentina, Brasil e mesmo a Inglaterra, que tinham grandes
interesses comercias na América Latina como um todo.

Como o Paraguai necessitava urgentemente de exercer uma livre navegação no rio


da Prata principalmente para ter acesso ao mar. Acabou ocupando regiões do Brasil este –
com apoio inglês unido a Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, realizando uma
tenaz luta contra o exército paraguaio. Na maior guerra- em termos proporcionais que o Brasil
já travou até os dias atuais.

Em 13 de março de 1865 seguia para ambos os combates na guerra do Paraguaio


destacamento precursor do corpo de do Corpo Voluntário da Pátria, composto por 88 homens,
sob o comando do TEN CEL de Exercito Pedro Nicolau Feguerstein, juntamente com 386
homens do 11º Batalhão de Infantaria do Exército.

Em 29 de março de 1865 o 1º corpo Paraense de Voluntários da Pátria sob o


comando do Ten Cel Joaquim Cavalcante de Albuquerque Bello, composto de 520
voluntários, seguiu com destinho ao local do conflito.

Chegando ao teatro de operações o Ten Cel Joaquim Bello foi nomeado Diretor
do hospital ambulante e o corpo sob seu comando ficou prestando serviço serviços ao
hospital.
Posteriormente o corpo de Paraenses foi incorporado a 2ª brigada do coronel
Kelly, pertencente ao 1º Corpo de Exército, comandado pelo General Manuel Luiz Osório,
participando da invasão do território paraguaio.

No dia 16 de fevereiro de 1866 o corpo paraense foi incorporado a 2ª brigada do


Coronel Kelly, pertencente ao 1º corpo de exercito comandado pelo General Manuel Luiz
Osório, participando da invasão do território paraguaio. No dia 16 de fevereiro de 1886 o 1º
Corpo Paraense passou a denominar-se 13º Batalhão de Voluntários da Pátria e até 01 de
março já tinha perdido duzentos homens de seu efetivo, devido aos combates com inimigo, o
clima inclemente, a falta de tratamento médico adequado e de uma boa alimentação.

0 2º Corpo de voluntários Paraenses, com efetivo de 372 voluntários, sob o


comando do Ten Cel José Luiz da Gama e Silva, embarcou com destino ao Paraguai no dia 08
de julho de 1865, chegando no destino dos locais de combate a 29 de novembro, onde foi
agregado ao 2º Corpo de Exercito, comandado pelo General Manuel Marques de Souza
(Barão de Porto Alegre),quando recebeu a denominação de 34º Batalhão de Voluntários da
pátria. A 06 de maio de 1866 o Tenente Coronel José Luiz da Gama e Silva fora dispensado
do serviço devido ao seu grave estado de saúde.

O Ten Cel Joaquim Cavalcante de Albuquerque Bello. CMT do 1º Corpo (13º


Batalhão), fora pelo decreto de 17 de agosto de 1866 condecorado e diplomado em 03 de
outubro com a ordem Imperial do Cruzeiro do Sul, pelos serviços prestados no combates de
16 e 17 de abril, 2 e 20 de maio d e1866.

Novo contingente paraense, sob o comando do Ten Cel Francisco Antônio de


Souza Camisão segui gradativamente para o local de combate, com finalidade de preencher os
claros existentes, sendo que o último contingente paraense a 1º de julho de 1868, era
composto no final de 30 praças completando o total de quatrocentos homens exigidos pelo
Decreto nº 3.714/1866, do governo Imperial.

PARTICIPAÇÃO DOS VOLUNTÁRIOS PARAENSES NOS COMBATES:


Durante a passagem de Humaitá, realizada no dia 19 de fevereiro de 1868, a tropa
paraense revê feridos um alferes e quatro praças.

Por ocasião da batalha para tomada de Sauce, realizando no dia 29 de março d


e1868, coube 34º Batalhão (Tropa Paraense) a glória de ser o primeiro a penetrar a trincheira
inimiga. Nessa batalha morreram Três oficiais e vinte nove praças e as tam feridos dez oficiais
e cento e cinqüenta e cinco praças.
A batalha de Curuzú, realizada no dia 3 de setembro de 1868, custou aos Corpos
de voluntários Paraense 22 mortos, sendo um oficial, um alferes do surubi-y, realizada em 23
de setembro de 1868, a posição paraguaia de pykysyryo 34º Batalhão de teve mortos sete
praças e feridos dois alferes e dez praças.

O combate de Itororó, ocorrido no dia 06 de dezembro de 1868, o 34º Batalhão


teve sete praças mortos e sessenta e seis feridos e mais dois oficiais feridos.

Na batalha de Avahy, realizada em 11 de dezembro de 1868, as baixas paraenses


foram de quatro mortos, todos praças e feridos: um capitão, dois alferes e trinta e cinco praças.

A tropa paraense ainda teve baixas na Batalha de Lomas Valentinas , travada no


dia 21 de dezembro de 1868, mais não foi possível enumerá-los.

Encerrada a guerra do Paraguai, o primeiro contingente Paraense regressou ao


Brasil em 28 de fevereiro de 1870, passando pelo Rio de Janeiro a 26 de março chegando a
Belém no dia 1º de julho. Finalmente em 30 de abril de 1870 os demais integrantes da tropa
Paraense saíram do local do combate, chegando a Belém em 9 de julho de 1970.

Em 12 de julho de 1870, através do Oficio nº 304 o presidente da Província


dissolveu o Corpo de Paraenses Voluntários da Pátria, o que foi efetivado pela ordem do Dia
nº 4 de 14 de julho de 1870 do Comando da Corporação.

Guerra de Canudos:

A situação do Nordeste brasileiro, no final do século XIX, era muito precária.


Fome, seca, miséria, violência e abandono político afetavam os nordestinos,
principalmente a população mais carente. Toda essa situação, em conjunto com o
fanatismo religioso, desencadeou um grave problema social. Em novembro de 1896, no
sertão da Bahia, foi iniciado este conflito civil. Esta durou por quase um ano, até 05 de
outubro de 1897, e, devido à força adquirida, o governo da Bahia pediu o apoio da
República para conter este movimento formado por fanáticos, jagunços e sertanejos sem
emprego.

O beato Conselheiro, homem que passou a ser conhecido logo depois da


Proclamação da República, era quem liderava este movimento. Ele acreditava que havia
sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e também com os pecados
republicanos, entre estes, estavam o casamento civil e a cobrança de impostos. Com estas
idéias em mente, ele conseguiu reunir um grande número de adeptos que acreditavam que
seu líder realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza na qual se
encontravam.

Com o passar do tempo, as idéias iniciais difundiram-se de tal forma que


jagunços passaram a utilizar-se das mesmas para justificar seus roubos e suas atitudes que
em nada condiziam com nenhum tipo de ensinamento religioso; este fato tirou por
completo a tranqüilidade na qual os sertanejos daquela região estavam acostumados a
viver.

Devido a enorme proporção que este movimento adquiriu, o governo da Bahia


não conseguiu por si só segurar a grande revolta que acontecia em seu Estado, por esta
razão, pediu a interferência da República. Esta, por sua vez, também encontrou muitas
dificuldades para conter os fanáticos. Somente no quarto combate, onde as forças da
República já estavam mais bem equipadas e organizadas, os incansáveis guerreiros foram
vencidos pelo cerco que os impediam de sair do local no qual se encontravam para buscar
qualquer tipo de alimento e muitos morreram de fome. O massacre foi tamanho que não
escaparam idosos, mulheres e crianças.

Pode-se dizer que este acontecimento histórico representou a luta pela


libertação dos pobres que viviam na zona rural, e, também, que a resistência mostrada
durante todas as batalhas ressaltou o potencial do sertanejo na luta por seus ideais.
Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, eternizou este movimento que evidenciou a
importância da luta social na história de nosso país.

Quando o Estado do Pará foi solicitado a colaborar com o Exército brasileiro nas
operações de guerra em Canudos, o Senado Estadual em sessão de 8 de março de 1897,
autorizou o Governo a dispor do Regimento Policial Militar. Diante da autorização o
Governado Dr. José Paes de Carvalho, enviou oficio ao General Frederico Sólon de
Sampaio Ribeiro, comandante do 1º Distrito Militar, informando que a tropa teria todo o
apoio do Governo federal, para que a missão fossem coroada de êxito.

No dia 13 de março de l897, o Coronel Sotero de Menezes, Comandante do


Regimento Militar do Estado, comunicou ao Governador do Estado, que, uma Brigada de
Infantaria estava pronta para cumprir a missão e ir a Canudos combater os revolucionários.

Diante do pronto do Coronel Sotero de Menezes, o Governo do Estado do Pará,


através de um telegrama ao Ministro da Guerra, informou que a tropa do Pará já estava pronta.
E no dia 28 de julho, um telegrama do Presidente da República Dr. Prudente José de Moraes
Barros, deu ciência de que a tropa paraense embarcaria no dia 5 de agosto daquele ano para o
Estado da Bahia, onde decidiriam junto ao Exército Brasileiro os destinos da revolta de
Canudos.

A Brigada chegou no dia 16 de setembro, no arraial, acampando o 1ºCorpo nas


antigas posições da Favela, ponto chave da principal estrada que dava acesso para aquele
povoado; o 2º Corpo, juntamente com o Comando e o Corpo de Saúde, foi guarnecer o ponto
fortificado na Fazenda Velha.

Canudos, antiga fazenda de gado, localizada numa curva do rio vasa–Barris, era
naquela ocasião, uma vila de casas vermelhas, com teto de argila, espalhadas
desordenadamente pelo alto de uma colina. Possuía uma praça, na qual existiam em ambos os
lados, duas igrejas: a velha e a nova – esta de forma retangular, de construção sólida, com
duas altas torres, as quais serviam para que: os amotinados pudessem observar todos os
caminhos e a todos os altos dos morros adjacentes e o fundo dos vales.

A tropa paraense, por determinação do Ministro da Guerra, conduziu, de Monte


Santo, para Canudos, um grande comboio de víveres e 350 reses, que foram entregues ao
Coronel Manoel Gonçalves Campelo França, do Quartel Mestre General.

A força do Pará, em Canudos, foi incorporada como 2º Brigada da 2º Coluna da


Divisão Auxiliar, comandada pelo General Carlos Eugenio de Andrade Guimarães: era
constituída pelos 1º e 2º Corpo da Polícia do Pará e pelo 1º Batalhão do Amazonas.

A tropa do Regimento Militar do Estado, atual Polícia Militar do Pará, consagrou-


se em Canudos como uma das tropas mais destemidas, pelo fato de no dia 25/09 haver
empreendido um ataque ao Arraial de Canudos, no qual transpôs um dos flancos mais
ingrimes (Rio Vaza Barris) e ter tomado posse, em combate corpo-a-corpo, de mais de 200
barracos, além da prisão e morte de diversos jagunços que resistiram.
Iconografia de Antonio Conselheiro

Diversos também foram os policiais militares que tombaram mortos ou feridos,


deste se destaca o Cel. Sotero de Menezes que não pode seguir no comando do combate por
ter sido alvejado com um tiro, passando, em seguida o comando ao Ten.Cel. Fontoura.

Essas demonstrações de heroísmo foram saudados por todos, inclusive na capital


bahiana, quando do término da Guerra de Canudos, pois naquela ocasião, valia muito o
espírito militar e bélico de uma polícia guerreira.

As polícias militares de São Paulo e do Amazonas também estiveram na Guerra


de Canudos, apoiando o Exército nas operações militares.

A marca deixada na literatura da época sobre Canudos, por seu mais expressivo
cronista Euclides da Cunha, é a covardia e a miserabilidade dos ocupantes de Canudos. Em Os
Sertões, Euclides da Cunha, tenta interpretar a trajetória do sertanejo que é “antes de tudo um
forte”, por durante todos esses séculos viver numa constante guerra, seja contra a natureza,
seja contra a miséria, seja, naquele momento específico, contra as tropas do Exército e
Policiais Militares, para construir um espaço de autonomia e de melhor divisão de rendas.

Revoltas de 1891; 1924; 1930; e 1932


A história da Polícia Militar do Pará tem um capítuo brilhante, pela grandeza da
atuação de seus componentes, pela bravura e destemor de que deram provas, esse capítulo é o
que se refere aos movimentos de 1891, 1924, 1930 e 1932.

REVOLTA DE 11 DE JUNHO DE 1891


Substituindo o Dr. Justo Leite Chermont que havia sido nomeado Ministro do
Exterior, assumiu o Governo do Estado o Capitão-Tenente Duarte Huet de Bacelar Pinto
Guedes.

A agitação em Belém era um fato irreversível. O Governador não era paraense e,


cabando a ele, promulgar a Constituição do Estado que, em um de seus artigos, preconizava
“para exercer o cargo de Governador a condição principal era ser paraense”. Entretanto Pinto
Guedes queria por todas as formas excluir esse artigo.

Na madrugada desse dia Francisco Xavier da Veiga Cabral, levanta a gloriosa


Polícia Militar contra o Governador.

Trava-se o combate de Cacoalinho – sítio além da Rua Conceição (atual Eng.º


Fernando Guilhon) no bairro do Jurunas, entre 300 homens da Força Pública, comandados por
Veiga Cabral e as forças do 15º Batalhão de Infantaria, do 4º Batalhão de Artilharia, do
Esquadrão de Cavalaria da Força Pública e do Corpo de Bombeiros, comandados pelo
Tenente-Coronel Cláudio do Amaral Savaget.

Os revoltosos tinham em mira depor o Governador do Estado, mas foram


vencidos, após várias horas de cerrado tiroteio e heróica resistência.

As forças legais, depois da vitória, empenharam-se na perseguição aos rebeldes,


que estavam concentrados na chácara Conceição, onde levantaram trincheiras e fortificações
de emergência.

Embranhando-se nas matas adjacentes, muitos conseguiram fugir à perseguição


tenaz dos vencedores que se extremaram em violência de várias espécies.

Discutida e aprovada a Constituição política do Estado, foi a mesma solenimente


promulgada a 22 de junho de 1891.

Em 04 de julho, o Capitão-Tenente Duarte Huet de Bacelar Pinto Guedes, segue


para o sul tendo sido mantido no cargo após a fidelidade inconteste da Cavalaria da Polícia
Militar.

A REVOLTA DE 1924

E no dia 05/07/1924, irrompeu, na capital paulista, o movimento revolucionário


encabeçado pelo General Reformado Izidoro Dias Lopes, o qual, dada sua melhor articulação,
tornou-se, de pronto, mais eficiente e ameaçador em suas primeiras ações, tanto que, já no dia
09/07 estavam os revoltosos senhores da capital e de uma bem razoável parte do interior do
Estado, tendo o governo paulista, acompanhado de seus elementos fiéis, sido obrigado a se
transferir para Guaiaúna.

PARTICIPAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR


Havendo ordens do governo Federal para diversos batalhões das guarnições dos
Estados seguirem a fim de combaterem os revoltosos em São Paulo, corria insistentemente
pela cidade de Belém que o 26° Batalhão de Caçadores (atual 2° BIS) não embarcaria com
destino ao sul do país por não desejar combater seus próprios irmãos.

No dia 26/07/1924, revoltou-se o contingente que devia seguir para a cidade de


Óbidos.

Mais tarde, revoltou-se também a Companhia Mista do Exército.

No dia seguinte (27/07/1924), um destacamento misto da Polícia Militar, partindo


da Praça da República, pela Avenida Governador José Malcher, foi surpreendido por algumas
patrulhas revoltosas, entrincheiradas nas mangueiras, donde fizeram fogo contra as forças
legais que avançavam.

A tropa da Polícia Militar teve que recuar sob o fogo intenso e violento dos
amotinados.

Tentaram, os sediciosos, apoderarem-se do quartel General, tentativa essa que não


deu resultado, por ter o Corpo de Bombeiros, que sem demora às imediações, organizado uma
linha de defesa, a qual não puderam romper.

Os revoltosos após apoderarem-se da sede do Tiro de Guerra, dividiram-se em


grupos, tomando várias direções.

À altura da rua Aristides Lobo com a avenida Assis de Vasconcelos, receberam os


revoltosos uma forte descarga de fuzilaria partida do Batalhão de Infantaria da PM. Nesse
confronto, morreu um soldado do 26° BC e ferido, mortalmente, o Capitão EB Augusto Assis
de Vasconcelos que os comandava.

Do lado da PM morreu o 1º Tenente PM Henrique Ferreira da Silva que


comandava o piquete de Cavalaria da PM. Alguns feridos de ambos os lados.

Sem comandante, de fisionomias abatidas e visivelmente desorientados, os


amotinados recolheram-se ao quartel.

Os canhões da Polícia Militar faziam retroceder os revoltosos para o seu quartel.

Muitas praças fugiam da luta; somente alguns mais destemidos atiravam com o
furor do desespero, mesmo depois da Polícia Militar ter penetrdo no quartel dos amotinados.

O interior do Pará também sofreu as conseqüências da Revolução de São Paulo.


Cidades como Óbidos, Santarém e Alenquer foram atacadas pelos insurretos do Amazonas
que prenderam autoridades e destacamentos policiais militares.

REVOLUÇÃO DE 30
O termo Revolução aqui empregado está ligado à construção historiográfica que
manteve os eventos dos anos 30 como revolucionários à medidad em que representaram uma
ruptura definitiva com a política do “Café com Leite”, da oligarquias.

O movimento revolucionário dos Tenentes de 1922 e 1924, personificado na


Coluna Prestes, mantinha-se irredutível e invencível, percorrendo o interior brasileiro e
levando ao povo, através de suas marchas, não apenas as ameaças de invasões, as solicitações,
ou apropriações de bens e materiais, os apelos às adesões a novos surtos rebeldes, mas,
principalmente, envolta num indiscutível e entusiasta idealismo.

As manifestações de inconformismo e os protestos de grupos de jovens militares


contra a situação política, seus defeitos, seus condenáveis métodos e suas mazelas, lançavam
sementes de revolta e insatisfação por onde passavam, semente essa que iria germinar, brotar
e frutificar numa explosão violenta e irreprimível, em 1930.

O grupo revolucionário, quase que somente de jovens militares, oficiais do


Exército e da Marinha, não perdeu de vista os acontecimentos e mesmo procurava explorá-los
com inteligência, aproveitando o desgaste político das lideranças oligárquicas, sua crescente
impopularidade, o descrédito dos governantes, numa cada vez mais elevada onde de
inconformismo, de revolta latente, a penetrar toda a gente brasileira.

Tais sentimentos acrescidos de desassossego decorrente da crise financeira mundil


de 1929, cujos reflexos viriam incidir no Brasil, mais acentuadamente, no ano de 1930.

Em virtude da revolta que eclodiu no país e da qual resultou a deposição do


Presidente da República Washington Luiz e, consequentemente, a do Governador do Pará, Dr.
Eurico de Freitas Vale, teve a Polícia Militar de garantir a ordem nesta capital.

O 26º BC (atual 2º BIS), sob o comando do Capitão EB Otávio Ismaelino


Sarmento de Castro, acompanhando a revolta, o que deu causa a alguns tiroteios entre o
Batalhão revoltado e a tropa da Polícia Militar, num movimento de menores proporções que o
verificado em 1924.

Assediado pela Polícia Militar, o Batalhão revoltado, embarcou, em trem, para a


cidade de Braganção, de onde os revoltosos passaram para a cidade de Vizeu, seguindo, parte
para o Estado do Maranhão.

O Capitão Ismaelino de Castro, preso pela Polícia Militar, regressou de Bragança


a esta Capital.
Em conseqüência da revolta foi deposto o Presidente da República Dr.
Washington Luiz Pereira de Souza e o Governador do Pará Dr. Eurico de Freitas Valle.
Deposto o Governador e instituída uma Junta de Governo Provisória, foi dada a Força Pública
do Estado, uma nova organização de acordo com o Decreto nº 7 de 5 de novembro de 1.930.

O Decreto nº 9 de 6 de novembro de 1.930, exonera do Comando da Força


Pública do Estado, o coronel Alberto Odorico de Mesquita e nomeia para substituí-lo na
patente de Tenente-coronel o Tenente EB Luiz Geolás de Moura Carvalho.

O Decreto nº 14 de 22 de novembro de 1.930, do interventor federal Tenente


Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, extinguiu a Força Pública do Estado.

No dia 30 de julho de 1.931, foi constituída uma Comissão composta de um


Capitão e dois Tenentes do Exército, para receberem todo o armamento e munição da extinta
Força Pública que é recolhido no 26º.

Revolta de 19323
O movimento constitucionalista de São Paulo foi de uma grandeza ilimitada e sem
similar, em toda a história do Brasil, se focalizarmos tão somente a sinceridade do idealismo,
do desprendimento e da bravura dos jovens tenentes envolvidos que se lançaram numa guerra
contra o resto do país pelos ideais de uma nova Constituição que havia sido prometida por
Getúlio Vargas e até então não cumprido.

De todos os pontos do país, tropas foram enviadas contra São Paulo, na época
uma das forças policiais mais bem equipadas com o uso inclusive de carros de combate e de
aeronaves para o ataque as tropas legalistas.

No dia 22/08/1932, o Interventor Federal do Estado do Pará, o Major EB Joaquim


de Magalhães Cardoso Barata, através do decreto nº 730, fazia reverter ao serviço ativo da
Força Estadual, alguns Oficiais demitidos com a extinção da mesma em 22/11/1930.

A inesperada providência do Interventor deveu-se a situação angustiante que o


país atravessava na época com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, com larga
repercussão em nosso Estado.

Estudantes e componentes da Guarda Civil rebelaram-se contra o governo


estadual, empolgados com as notícias de revolução constitucionalista de São Paulo.

3 Esta parte da apostila foi montada a partir das anotações e das apostilas utilizadas na
disciplina História da Polícia Militar do Pará, no Curso de Formação de Oficiais PM 1998,
pelo Coronel PM R/R Francisco Ribeiro Machado.
Como a Polícia Militar estava extinta, o Interventor fora obrigado a reativá-la
numa emergência, reorganizando, às pressas, um Batalhão constituído de três companhias e
um Pelotão extranumerário e, ainda, o Estado-Maior.

O movimento revolucionário de 1932 eclodiu em Belém no dia 06/09/1932,


quando os estudantes e civis armados tomaram de assalto o quartel da Guarda Civil, a
Chefatura de Polícia, com a conivência dos Guardas Civis, quando foi preso o seu titular, Dr.
Nogueira de Faria.

O Batalhão PM recémo-organizado cooperou de maneira eficaz, sob o comando


direto do Interventor, na reação contra os amotinados, batendo-se em todas as frentes,
prendendo os principais cabeças do movimento.

No dia 11/09/1932 o Batalhão da PM embarcou para o Rio de Janeiro, onde


deveria incorporar-se às forças legalistas organizadas pelo governo Federal, contudo não
chegou a entrar em ação porque os paulistas já haviam se rendido.

Contexto da Sociedade Paraense


O contexto social, político e econômico da sociedade paraense é marcado por
profundas desigualdades sociais quer do ponto de vista das regiões que compõem o Estado,
quer sob o ponto de vista das camadas sociais que compõem nossa sociedade.

A história do Pará é marcada por ciclos econômicos, pela exploração dos recursos
naturais pelo capital internacional, pela economia voltada para a exportação de produtos
agroflorestais e minerais, pela manutenção do abastecimento interno por produtos
industrializados fora da região, alto índice de analfabetismo, de doenças endêmicas, de
subnutrição e desnutrição, além de outros índices negativos que demonstram o quanto o
Estado ainda mantém estruturas rígidas de concentração de renda.

Diante desse quadro é profundo também o descontentamento das regiões menos


integradas a capital do Estado, como é o caso da região de Santarém e de Marabá, onde ambas
as regiões abrigam movimentos de divisão do Estado, o que é entendido pelo esquecimento
dessas regiões no que tange aos serviços de saúde, educação, abastecimento e investimentos,
apesar de serem regiões muito ricas e representarem muito na economia estadual.

Ao longo dos últimos 40 anos as diversas regiões do Estado do Pará,


principalmente a sudeste têm sido acometidas por diversos movimentos migratórios,
ocasionando choques culturais e, principalmente, trazendo para o Estado grande leva de
pessoas de outros Estados, os quais muitas vezes não se identificam com a cultura local e com
os aparelhos do Estado.

Apesar disso, essa massa populacional, em grande maioria nordestinos, entrou em


áreas que os ditos “paraenses” se recusavam a ir ou tinham pouco interesse em colonizar, mas
devido ao grande número de migrantes e também devido a valorização dessas terras,
aumentou-se também os conflitos fundiários, em sua grande maioria com vítimas fatais entre
os trabalhadores rurais.

Polícia Guerreira e Comunitária

Durante os anos 60 e 70, no período denominado de Ditadura Militar, a Polícia


Militar paraense atuou muito como polícia de preservação da ordem pública, no controle de
massas e principalmente na reação aos movimentos oposicionistas ao Governo Estadual e
Federal, mantendo sua atuação guerreira.

São marcas dessa atuação guerreira o envolvimento da PMPA na Guerrilha do


Araguaia, na repressão ao movimento de trabalhadores rurais e de garimpeiros, seja em Serra
Pelada, seja contra os protestos pela construção da barragem de Tucuruí, além dos confrontos
com os grupos armados do gatilheiro “Quintino” ou da quadrilha de “Márcio Rambo”.

Ao longo dos anos 70 a Polícia Militar interioriza o seu efetivo através da


implantação dos Destacamentos Policiais Militares, a princípio nos municípios mais
importantes e posteriormente em todas as sedes de municípios e, em muitos casos, sendo a
única representação do poder público, respondendo muitas vezes até pelas Delegacias de
Polícia Civil.

A Constituição Federal de 1988 marca uma transformação profunda na vida


política brasileira, pois diversos aspectos que tinham sido esquecidos ao longo de 20 anos de
Ditadura Militar são aprovados e fazem parte do texto constitucional.

Houve o entendimento entre os constituintes em apresentar pela primeira vez no


texto constitucional um capítulo específico para a Segurança Pública, definindo claramente as
competências das Polícias Militares.

A chamada Constituição Cidadã começa a dar novas roupagens à Segurança


Pública, colocando-a como “dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”. Assim, a
defesa da sociedade, da cidadania permanece como um dever e encargo estatal, contudo,
cobra-se da sociedade o envolvimento nos problemas de Segurança Pública que lhe afetam.
É fruto do amadurecimento desse contato da Polícia Militar com a sociedade civil
organizada a implantação de vários organismos de participação comunitária tais como os
CISJU – Conselho Interativo de Segurança e Justiça, além do Projeto POVO – Policiamento
Ostensivo Volante4, o qual teve uma vida muito curta.

São exemplos também de uma nova postura da PM frente a sociedade, no Pará, o


desenvolvimento de serviços tais como o “S.O.S Criança” e o projeto “Nossa Escola Pede
Paz”, mobilizações da PM com entidades tais como a FBESP, Fundação Papa João XXIII,
SEDUC e associações de moradores. Essas iniciativas, realizadas no início dos anos 90,
resultou na criação de duas novas unidades na PMPA: a CIPOE (Companhia Independente de
Policiamento Escolar) e no GEPAS (Grupamento Especial de Polícia Assistencial),
transformada posteriomente em CEPAS (Companhia Especial de Polícia Assistencial).

Ainda nos anos 80 a PM do Pará lançava uma forma de atuação nos bairros
inspirada no serviço japonês dos Kobans, tratava-se dos PM-BOX, prédios de estrutura
reduzidas, onde os PMs de serviço em turnos de 24 horas, atenderiam às ocorrências das
comunidades, contudo quando do início os PM-Box não contavam com uma filosofia
comunitária de atuação na sociedade. É ao longo dos anos 90 que várias medidas de
revitalização dos PM-Box vão se adotadas, entre elas a retirada dos “xadrezes” desses prédios,
bem como a mudança de nomenclatura, passando a serem chamados de PAPC e DEPC
(respectivamente, Posto Avançado de Polícia Comunitária e Destacamento Especial de Polícia
Comunitária).

Essas medidas abrem espaço para a tentativa de integrar as polícias Militar e Civil,
instalando-se dentro das Seccionais de Polícia Civil as Zpol (Zonas de Policiamento),
dividindo a responsabilidade pela mesma área de atuação. Os Oficiais de Dia 5 dos Batalhões e
ou Companhias passam a se chamar Oficiais Interativos, atuando a partir daí voltados ao
atendimento das demandas setoriais de Segurança Pública, ou seja, interagindo com a
comunidade quando do atendimento das ocorrências.

No mesmo sentido, a Secretaria de Segurança Pública investiu na formação


integrada de Policiais Militares, Bombeiros Militares e Policiais Civis, com a instalação em
Marituba, do IESP (Instituto de Ensino de Segurança do Pará), bem como no atendimento
4 O Projeto POVO surgiu entre os anos de 1995-1995 no 2º BPM e tinha como filosofia de
atuação o serviço de Assistência às comunidades mais carentes, organizadas em Centros
Comunitários. O Policial Militar era conhecido pela comunidade em que atuava e era
treinado para agir naquela comunidade, encontrando referência entre os líderes
comunitários locais.
5 Serviço realizado pelo 1º e 2º Tenente e extraordinariamente pelos Aspirantes a Oficial
PM.
integrado de ocorrências, juntando no mesmo espaço os Centros de Operações dos
Bombeiros, da PM e da Polícia Civil, sob o nome de CIOp (Centro Integrado de Operações).

Ao longo dos últimos anos a Polícia Militar vem qualificando seus policiais-
militares principalmente com os cursos de Direitos Humanos e Polícia Comunitária, além de
cursos específicos para as tropas de intervenção, procurando minimizar os erros e a atuação
improvisada, grantido por todas as formas a atuação policial-militar pautada pela defesa dos
direitos dos cidadãos, principalmente a partir do conflito de Eldorado dos Carajás em 1996,
que colocou a PMPA em situação difícil em nível nacional.

Apesar de todos os esforços, os setores da segurança, da saúde e da educação se


apresentam como os mais deficitários e problemáticos até pela própria questão dos recursos
do Estado que são escassos, bem como que tais áreas representam gastos sem retorno para o
Estado, diferentemente de outras áreas como a Receita Estadual, o Detran, a Setran, Sead,
entre outras.

A Polícia Militar do Pará, nos últimos anos vem procurando também reduzir certos
gastos que se tornam dispendiosos para o fim de fazer investimentos contínuos na ampliação,
melhoria e manutenção dos serviços de Segurança Pública, contudo ainda necessita de
técnicos em áreas específicas não contempladas pelos quadros atuais de Oficiais e Praças,
demonstrando-se assim a necessidade de crescimento dessa força policial.

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