Você está na página 1de 22

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE

O surgimento da Polícia Militar de Santa Catarina

The emergence of the Military Police of Santa Catarina

Benedito Augusto de Nascimento Neto1


Fabrício Alves Garcia2
Josué Alves Grunow3

RESUMO

Com o delineamento desta pesquisa, traça-se um interessante contexto sobre a


história da Polícia Militar que remonta fundamentos importantes a serem conhecidos.
Hoje, com muitas transformações sociais e a garantia de direitos e deveres, pouco se
conhece sobre mudanças em sua própria narrativa, que promoveu condições
relevantes e proporcionou renome a sua posição na sociedade. Como objetivo geral
buscou-se apresentar a história sobre o surgimento da PMSC. Para tanto, realizou-se
um levantamento de informações bibliográficas, caracterizando os objetivos como
descritivos e a abordagem da natureza qualitativa do problema, atribuições
metodológicas que contribuíram para este desenvolvimento. Com a finalização da
pesquisa foi possível verificar que a história da PMSC ensejou conquistas que fizeram
parte de momentos marcantes no Brasil, realçando sua importância para a segurança
pública até os dias atuais.

Palavras-chave: Conquistas Sociais. História da PMSC. Segurança Pública.

ABSTRACT

With the design of this research, an interesting context is drawn about the history of
the Military Police that goes back to important foundations to be known. Today, with
many social transformations and the guarantee of rights and duties, little is known
about changes in its own narrative, which promoted relevant conditions and provided
renown to its position in society. As a general objective, we sought to present the
history of the emergence of PMSC. To this end, a survey of bibliographic information
was carried out, characterizing the objectives as descriptive and the approach of the

1Aluno Sargento. Policial Militar – ESFAP/APMT, Florianópolis. Especialista em Segurança Pública pela
UNIDAVI. augusto.40ton@gmail.com
2 Aluno Sargento. Policial Militar – ESFAP/APMT, Florianópolis. Graduado em Gestão Ambiental pela

Unicesumar. fabriciobigarcia@gmail.com
3 Aluno Sargento. Policial Militar – ESFAP/APMT, Florianópolis. Especialista em Metodologia do Ensino Superior

pela Uninter. josuealvespg@gmail.com


2

qualitative nature of the problem, methodological attributions that contributed to this


development. With the completion of the research it was possible to verify that the
history of PMSC gave rise to achievements that were part of remarkable moments in
Brazil, highlighting its importance for public security to the present day.

Keywords: Social Achievements. History of PMSC. Public Safety.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade necessita de parâmetros para que a convivência nela seja


possível, para tanto houve a imposição de leis, normas e regulamentos que
promovessem essa possibilidade de relacionamento, pautado em regras que
firmassem os direitos e deveres individuais e coletivos. Todavia, esses direitos a
serem resguardados também exigiram a responsabilidade de um órgão que
contribuísse para sua severidade (LIMA, 2013).
O Estado como responsável pela promoção de direitos, articula suas ações por
meio de outros que o representa e, sobre direitos se destaca a segurança,
indispensável para o bem valer de uma convivência mútua sadia. Atualmente, o
exercício desta é realizado por meio de alguns órgãos determinados no artigo 144 da
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
Porém, retratar sobre a necessidade de intervenção social sob as
circunstâncias que envolva uma atuação direta de um órgão que lida com a promoção
de direitos ao mesmo tempo em que um outro possa ser cerceado, traz uma ressalva
acerca da compreensão do porquê essa imposição acabou sendo necessária
(FABRETTI, 2014). E ainda, os motivos que direcionaram esses moldes e
responsabilidade de atuação à Polícia Militar.
Dada as diversas personalidades que formam a coletividade e sabendo que as
ações mal-intencionadas também fazem parte desse rol de atuações, associa-se hoje,
o posicionamento desta instituição com responsabilidade pelo combate à
criminalidade, munido de equipamentos e procedimentos operacionais que promovam
a segurança, porém, pouco se conhece a respeito desse órgão antes da imposição
de leis que realçassem os direitos e deveres individuais e coletivos (SALINEIRO,
2016).
Na tentativa de compreender como a evolução histórica deste órgão
impulsionou suas funções ao relacionamento direto com a sociedade, seja realizando
3

ações contra o crime ou preventivas a este, além de defender outros direitos


individuais e coletivos, buscou-se responder com esta pesquisa: como ocorreu o
surgimento da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC)?
Com o propósito de responder ao questionamento lançado, teve-se como
objetivo geral apresentar a história que envolveu o surgimento da PMSC. Os objetivos
específicos que contribuíram para o desenvolvimento deste estudo foram: relatar
sobre a história da Polícia Militar; identificar a relação histórica por trás do surgimento
deste órgão no cenário catarinense e demonstrar a importância do policiamento à
sociedade.
Nesse sentido, justifica-se a escolha do tema abordado por trazer uma
aproximação do contexto sobre a narração da Polícia Militar, que remonta
fundamentos importantes a serem conhecidos. Hoje, com muitas mudanças sociais e
a garantia de direitos e deveres, traz relevância discorrer acerca da evolução em sua
própria história, que promoveu condições proeminentes e proporcionou renome a sua
posição na sociedade.
O delineamento metodológico que o estudo seguiu foi classificando os objetivos
em descritivos, permitindo discorrer sobre as características do que se tratou durante
a investigação do tema, analisando o assunto (SEVERINO, 2014). A abordagem do
problema se fez pela natureza qualitativa, descrevendo o conteúdo encontrado de
forma mais ampla, não interferindo nas ideias dos autores nos dados coletados (GIL,
2008).
O método dedutivo foi necessário, pois a conclusão da pesquisa ocorreu após
análises das premissas genéricas, ensejando a um resultado particular. Quanto aos
procedimentos, estes partiram da busca em bases bibliográficas e documentais. Em
relação à pesquisa bibliográfica é aquela que utiliza de fontes e estudos já publicados
para realização de um estudo, já a pesquisa documental se refere à fonte buscada em
leis e normas, por exemplo (GIL, 2008).
Após o término destes aspectos introdutórios o estudo apresenta um capítulo
de desenvolvimento, dividido em três tópicos que contemplam os objetivos específicos
para melhor detalhar a proposta do tema exposto. O primeiro retrata a história da
Polícia Militar em sua evolução, demonstrando os fatores que associaram a
necessidade de profissionalismo na área de segurança.
4

O segundo apresenta do surgimento da PMSC, aproximando este órgão da


sociedade catarinense, demonstrando especialmente, como esta instituição se
apresentou conforme as edições constitucionais, ao passo que se verifica como toda
história anterior pôde complementar sua criação.
E, o terceiro tópico abrange aspectos relevantes sobre as atividades
desenvolvidas por este órgão a toda coletividade, dispondo de justificativas que
reforçam sua imposição necessária. Finaliza-se com a apresentação das
considerações finais, seguido das referências bibliográficas.

2 DESENVOLVIMENTO

Muito se conhece sobre as necessidades de alterar normas e leis que


favoreçam o desenvolvimento social, no entanto, quando se refere às manifestações
mais específicas a órgãos que contribuíram para esta promoção, pouco se expõe.
Deste modo, descrever e relatar sobre a história da Polícia Militar para a sociedade,
aproxima o leitor da experiência que assumiu importantes contribuições para que a
PMSC também pudesse fazer parte deste momento.

2.1 A HISTÓRIA DA POLÍCIA MILITAR

A história por trás do surgimento da Polícia Militar traz uma contextualização


desde a descoberta do Brasil, como menciona Bielinski (2008) para relatar sobre um
acontecimento histórico não basta apenas falar dele, mas sim demonstrar a série de
ocorrências que levaram a este fato.
Com a colonização de Portugal entre 1500 a 1528, as Forças Armadas e a
Marinha Portuguesa foram apresentadas como instituições responsáveis pela
manutenção da ordem e cumprimento das leis que existiam à época. No início das
descobertas pelas terras brasileiras, as expedições portuguesas eram realizadas com
limites estabelecidos para o reconhecimento local (SANTOS; CHAUÍ, 2013).
Naquele período houve maior interesse pelo mercado relacionado ao Oriente,
as especiarias da Índia chamavam atenção desses colonizadores que organizavam
expedições para negociar neste mercado. Contudo, ao explorar a costa do país, houve
cobiça também pelos produtos tropicais e isso fez com que as novas expedições
5

chegassem com propósito do defender este local de outros mercadores


(FERNANDES, 2013).
Foi com o intuito de comercializar esses produtos tropicais, obtidos nas costas
brasileiras que a necessidade de colonização se evidenciou, visto que a terra deveria
se manter protegida. O ano de 1530 marcou a primeira posse de terras colonizadas
por portugueses, a mando do Rei de Portugal em interesse próprio de aspectos
mercantis (FERNANDES, 2013).
Com o objetivo de defender o local, Portugal manteve em prontidão a sua Força
Policial para cuidar das terras brasileiras contra invasão de mercenários estrangeiros.
A Marinha Portuguesa também atuou empenhada em repelir os constantes ataques,
além da necessidade de inferir segurança o país já lidava com os indícios de
desavenças (LIMA, 2013).
Com a continuidade das ameaças e invasões às terras brasileiras, que agora
estavam em posse dos colonizadores portugueses, viu-se em 1618 a necessidade de
aumentar a segurança territorial e, surgiu o Terço da Armada Real de Portugal, com
a finalidade de atuar em navegações para evitar ou cercear os ataques piratas. As
invasões eram combatidas com ataques de canhão, na tentativa de afundar os navios
invasores antes de chegarem às costas tropicais (SANTOS, 2019).
O Terço da Armada Real de Portugal também atuava em terra, efetivando-se
com brasileiros que, em razão de os ataques marítimos conseguirem ultrapassar a
defesa em alto mar, continuava-se a manter o trabalho de segurança com estes
guerrilheiros em terra (SANTOS, 2019).
Dois séculos depois a segurança passou a ser tratada por responsabilidade da
Força Militar, promulgada a Constituição Luso-Brasileira de 1822 e retratando as
devastações sofridas pelas invasões inglesas e francesas. O Brasil sob colonização
portuguesa, emergiu na necessidade de inferir segurança em sua colônia, abordando
no documento legal, artigos que trouxessem a possibilidade de garantir alguns direitos
(SILVA, 2020).
Com o país submergido em derrotas de batalhas incansáveis por países
inimigos, o Preâmbulo da Constituição de 1822 que antecedia os 240 artigos inerentes
ao povo, apresentou quase que uma súplica à necessidade de intervenção à
segurança e defesa de direitos (SILVA, 2020). Observa-se:
6

Preâmbulo - As Cortes Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa,


intimamente convencidas de que as desgraças públicas, que tanto a têm
oprimido e ainda oprimem, tiveram sua origem no desprezo dos direitos do
cidadão, e no esquecimento das leis fundamentais da Monarquia; e havendo
outrossim considerado que somente pelo restabelecimento destas leis,
ampliadas e reformadas, pode conseguir-se a prosperidade da mesma Nação
e precaver-se que ela não torne a cair no abismo, de que a salvou a heroica
virtude de seus filhos; decretam a seguinte Constituição Política, a fim de
segurar os direitos de cada um, e o bem geral de todos os Portugueses
(BRASIL, 1822, 05-06).

Com vistas a defender também as prerrogativas da iniciativa e prevalência da


Força Militar, viu-se em seu artigo 171 que sua competência estava vinculada à
promoção da segurança da corte: “destina-se a manter a segurança interna e externa
do reino, com sujeição ao Governo, a quem somente compete empregá-la como lhe
parecer conveniente” (BRASIL, 1822, p. 67).
Um pouco adiante, os artigos 173 e 174 faziam menção sobre criar Milícias e
Guardas Nacionais, com a imposição de lei especial que regularizassem o serviço e
formações destes (BRASIL, 1822). Nesse primeiro momento é possível observar que
as atividades de Força Policial estariam vinculadas já com a necessidade de
segurança.
Contudo, logo depois com a Constituição Brasileira de 1824 a primeira menção
ao órgão de segurança foi vista no artigo 102, em que atribuiu competência ao Poder
Executivo para: “[...] V. nomear os Comandantes da Força de Terra, e Mar, e remove-
los, quando assim o pedir o Serviço da Nação” (BRASIL, 1824, p. 45).
No que concerne à organização da Força Militar, esta se fez no Capítulo VIII,
tratando dos artigos 145 ao 150, chamando atenção para o fato de que todos os
cidadãos estariam obrigados a defender o país e sua integridade com uso de armas.
Enquanto que a Força Militar, em obediência total, somente poderia atuar sob
ordenação legítima do império e quando fosse solicitado (BRASIL, 1824).
Em 1891, com nova edição da Constituição Brasileira e já proclamada
República, o Brasil se estabeleceu em regime republicano, passando ao sistema
presidencialista de governo. Entretanto, as finalidades da Força Armada se
sustentaram em obediência aos limites legais. Complementando ainda com o que
trouxe o artigo 14: “as forças de terra e mar são instituições nacionais permanentes,
destinadas à defesa da Pátria no exterior e à manutenção das leis no interior”
(BRASIL, 1891, p. 26).
7

Anos foram se passando e a sociedade começou a se manifestar em


reivindicações, marcando o ano de 1932 pela Revolução Constitucionalista, atacando
o governo de Getúlio Vargas e defendendo uma nova alteração no texto constitucional
com maior prevalência de direitos aos cidadãos (HIGA, 2019).
Vencidos em argumentos, houve nova edição da Constituição Federal e em
1934 a redação trazia uma contextualização em conjunto das Forças Armadas e
Polícias Militares. Observa-se então, o que trouxe seu artigo 5°, inciso I, dada
competência à União para: “organização, instrução, justiça e garantias das forças
policiais dos Estados e condições gerais da sua utilização em caso de mobilização ou
de guerra” (BRASIL, 1934, p. 02).
Por conseguinte, firmando competência privativa do Presidente da República,
no artigo 56, parágrafo 8°, para “decretar a mobilização das forças armadas”. E, mais
adiante o artigo 167 apresentou à referida instituição militar, dizendo que: “as Polícias
Militares são consideradas reservas do Exército, e gozarão das mesmas vantagens a
este atribuídas, quando mobilizadas ou a serviço da União” (BRASIL, 1934, p. 34).
A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 1937 trouxe uma
nova relação de artigos, desta vez doze deles destinados às Forças Armadas,
consolidando também, um marco de relações entre o Exército e a Armada, através do
Decreto n° 1.662 que aprovou o regulamento de continências, preservando o respeito
e a honra entre esses militares (HIGA, 2019).
Destaca-se o que se editou no artigo 161 à época: “as forças armadas são
instituições nacionais permanentes, organizadas sobre a base da disciplina
hierárquica e da fiel obediência à autoridade do Presidente da República” (BRASIL,
1937, p. 58).
Anos mais tarde, com a Constituição que sofria sua quinta edição, marcada
pelo ano de 1946, além de abarcar a conquista de alguns direitos, como o voto para
as mulheres e outras questões políticas, o Título VII foi destinado às Forças Armadas,
resultando nos artigos 176 ao 183 sobre esta instituição (BRASIL, 1946).
Em início, percebeu-se que sua constituição se fazia essencialmente pelas
forças brasileiras, Exército, Marinha e Aeronáutica. Adiante, especificou-se que suas
atribuições se dariam em defesa da Pátria e garantia da ordem, lei e poderes
constitucionais (BRASIL, 1946).
8

Neste mesmo Título, viu-se referido à Polícia Militar, que até o momento não
teria voltado em menção nas edições constitucionais anteriores, colaciona-se:

Art. 183 - As Polícias Militares instituídas para a segurança interna e a


manutenção da ordem nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, são
consideradas, como forças auxiliares, reservas do Exército.
Parágrafo único - Quando mobilizado a serviço da União em tempo de guerra
externa ou civil, o seu pessoal gozará das mesmas vantagens atribuídas ao
pessoal do Exército (BRASIL, 1946, p. 101).

Observa-se que as ressalvas estabelecidas à Polícia Militar começaram a


tomar forma ao que se conhece dela hoje. Em continuidade às edições, em 1967 a
Constituição Federal sofreu novo ajuste em meio a um marco histórico da sociedade
brasileira, a ditadura militar, ocorrida em 1964 e com término em 1985 (SILVA, 2020).
Nesta edição apenas três artigos, com onze parágrafos foram destinados às
Forças Armadas, mencionando o que trouxe o artigo 92:

As forças armadas, constituídas pela Marinha de Guerra, Exército e


Aeronáutica Militar, são instituições nacionais, permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei.
§ 1º - Destinam-se as forças armadas a defender a Pátria e a garantir os
Poderes constituídos, a lei e a ordem (BRASIL, 1967).

Relembra-se que durante este período, a ditadura trouxe à sociedade as ações


militares que cercearam direitos individuais e coletivos, fazendo com que este órgão
particularmente da segurança, realizassem atos contra os cidadãos, mantendo o
Estado acima de tudo (SANTOS, 2013).
Por conseguinte, em 1969, nova alteração se fez na Constituição Federal, mas
continuando a busca pela derrubada de regimes democráticos em vislumbre dos
comandos militares que se faziam emergentes. A seção VI, tratava das Forças
Armadas, apresentou pequena alteração no caput do artigo 90, em comparação ao
artigo 92 da Constituição anterior, apenas retirando a referência ‘de guerra” apontada
à Marinha, mantendo todo teor do artigo (BRASIL, 1969).
Subsequente, o artigo 91 fez menção ao fato de esta atividade ser essencial:
“as Forças Armadas, essenciais à execução da política de segurança nacional,
destinam-se à defesa da Pátria e à garantia dos poderes constituídos, da lei e da
ordem” (BRASIL, 1969, p. 85).
9

Lutas e conquistas seguiram fazendo história no país e com o término do


período ditatorial prevaleceu-se a vontade do povo e o Estado compreendeu que a
soberania dali deveria vingar. Em consolidação ao respeito pelos direitos humanos e
a tentativa de resgate social aos anseios da prática militar, promulgou-se a sétima
edição e atual Constituição Federal (LIMA, 2013).
Em seu teor, firmou-se quase que em totalidade as garantias individuais e
coletivas. Quanto às Forças Armadas, estas receberam um capítulo à parte,
desvinculando-se da Polícia Militar que passou a ser tratada no capítulo seguinte, com
competências atribuídas à segurança pública (BRASIL, 1988).
Hoje, vislumbra-se que: “a segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]”, dentre
o que emana o inciso V, cita-se a Polícia Militar (BRASIL, 1988, p. 113).
Todo esse emaranhado de informações, realçadas deste a Constituição Luso-
Portuguesa, trouxe um semblante histórico do que firmou a necessidade da atuação
da Polícia Militar, considerada necessária até os dias emergentes. Ainda, com o que
se expôs, viu-se que a Família Real, em suas expedições, apresentou esse
policiamento no cenário brasileiro. Buscando melhores considerações sobre o
assunto, parte-se agora, para uma contextualização deste assunto, no cenário
catarinense.

2.2 O SURGIMENTO DA POLÍCIA MILITAR EM SANTA CATARINA

Até o momento se deixou evidente de que as transformações sociais,


alterações constitucionais e necessidade de segurança deram ensejo ao surgimento
da Polícia Militar no Brasil. Esta, por sua vez, também teve importante reflexo a partir
da chegada de Dom João VI e a corte imperial no ano de 1808. A expedição na costa
brasileira deu suporte à criação da Guarda Real no Rio de Janeiro (GUERRA, 2016).
Foi por meio desse conhecimento e inicialmente sobre os mesmos moldes que
Santa Catarina viu emergir sua conjectura no cenário destes militares. Em 06 de
agosto de 1831, período em que o governo do estado estava sob o comando de
Feliciano Nunes Pires, o então governador foi protagonista em dois importantes feitos
(AZEVEDO; NASCIMENTO, 2016).
10

O primeiro se refere à instalação da Assembleia Provincial, o Poder Legislativo


da Província catarinense, em 1935. E, no mesmo ano, em 05 de maio, quando pela
Lei n° 12, instituiu a Força Policial. Nesse mesmo período e fazendo um elo com o
tópico anterior, menciona-se que Desterro (hoje Florianópolis), era um território
estratégico da coroa portuguesa, necessário então manter o local em segurança
(SILVA, 2020).
Por tal motivo, a capital se apresenta hoje com pontos em que foram
construídos diversos fortes, locais de permanência das tropas militares para defender
o território enquanto seguia pelo domínio português. Com o término dessas relações
e findando o período colonial, a criação da Força Policial em 1835 resultou na Polícia
Militar que se conhece atualmente (SILVA, 2020).
Todavia, seu efetivo inicial contou com cinquenta e dois homens que
formalizavam a estrutura deste órgão, possuindo a função de manter a tranquilidade
pública com a efetivação das ordens emanadas por estes profissionais quando
houvesse necessidade de intervenção (CÂMARA, 2016).
No ano seguinte, a Força Policial teve seu regulamento aprovado e ampliaram-
se suas missões, possuindo então, legalidade para prender criminosos, atuar em
incêndios, realizar patrulhamento e abordagens com busca pessoal, que naquele
tempo era reconhecida como uma atividade de averiguação (GUERRA, 2016).
Entretanto, como toda história Santa Catarina também foi palco de guerras
comentadas em seu cenário, a Guerra dos Farrapos e a Guerra do Paraguai, atingindo
este território. Sendo assim, logo que a Força Policial se firmou, já se fez presente
atuando nestes eventos em conjunto com o Exército Brasileiro, visto que a
Constituição já previa àquele órgão como auxiliar deste, em situações deste nível
(LIMA, 2013).
A Guerra dos Farrapos teve duração de dez anos, iniciada em 1835 assim que
a Força Policial surgiu, seguindo sua atuação em busca da ordem pública, em
decorrência à situação, até o ano de 1945. Nesse período de lutas a Força Policial
tratou de intervir nas atuações de simpatizantes aos farroupilhas, que invadiam terras
e lutavam contra o governo no estado (LIMA, 2013).
Já, na Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, mesmo que as batalhas destes
conflitos não envolviam a atuação direta da Força Policial como se viu na Guerra
anterior, Desterro acabou sendo uma base para as tropas guerrilheiras e a capital
11

dispensou homens para servir nesse ínterim, unindo-se ao Exército (SANTOS, 2013).
Viu-se que os primeiros anos da instituição das atividades de segurança pública
seguiram conturbados, mas com eminente atuação em prol da incolumidade.
Contudo, em continuidade aos eventos sociais e revolucionários, os anos de
1912 a 1916 ficaram marcados pela Guerra do Contestado, envolveu novamente a
atuação da Força Policial catarinense. Momento este, que marcou a disputa entre os
limites estaduais de Santa Catarina e Paraná (SODRÉ, 2019).
Foi um momento crítico para a unidade policial, visto que os primeiros combates
nessa disputa apresentaram as primeiras baixas na corporação, houve mortes e
feridos, necessitando de reforço do Exército Brasileiro, que agora cedera sete mil
homens para incorporar à Força (SODRÉ, 2019).
Com diversas mudanças ocorridas no século XX, houve a alteração do nome
da instituição, aprovado pela Lei n° 1.137 de 1976, passando a ser chamada de Força
Pública. No ano seguinte, tornou-se força auxiliar de 1ª Linha do Exército, sendo de
suma importância ao ocorrido em 1932, com a Revolução Constitucionalista, em um
conflito que exigiu novamente sua intervenção (SILVA, 2020).
A Revolução em questão, marcou o país com a reorganização político-
administrativa, implicando reformulação da Constituição Federal no ano de 1934,
levando a Força Policial a ser subordinada ao governador e auxiliar do Exército.
Período, como já retratado antes, firmou as competências deste órgão militar e
direcionamento ao cumprimento das leis em favor da sociedade (LIMA, 2013).
Foi em 1946 com mais uma alteração do texto constitucional, que a Força
Policial teve seu nome designado para a Polícia Militar e então adotou-se o que se
conhece hoje, Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) (JESUS, 2005). Outras
denominações a esta instituição ficaram guardadas em uma história que pouco se
conheceu e não se aprofunda em detalhes, mas em um pequeno resumo se tem:

A Força Policial recebeu a denominação de Companhia de Polícia, em 1854;


voltou a ser Força Policial, em 1857; tornou-se Corpo de Polícia, em 1887;
Corpo de Segurança, em 1894; Regimento de Segurança, em 1912; Força
Pública, em 1917; novamente Força Policial, em 1936; finalmente, em 1947,
recebeu a atual denominação, Polícia Militar (BASTOS JÚNIOR, 2006, p. 17).

A PMSC se firmou com a Constituição Federal de 1988, assim como em todos


os demais estados brasileiros, realçando seu valor e competência estabelecida para
12

atuar em prol da ordem pública, com ações ostensivas e preventivas a fim de


assegurar a segurança para a coletividade (BRASIL, 1988).
Compreende-se que o surgimento e evolução da PMSC se marcou pelos
conflitos, guerras e necessidades políticas no país, Santa Catarina e estados vizinhos.
Para chegar a sua verdadeira missão constitucional foi necessário passar por
momentos críticos e diferentes papéis, revelando-se importante órgão para a
sociedade brasileira.

2.3 A IMPORTÂNCIA DA POLÍCIA MILITAR À SOCIEDADE

Para compreensão da importância e necessidade da Polícia Militar à sociedade


é mister reforçar seu papel e função estabelecidos pela Constituição Federal, vigente,
que após várias edições teve o cargo de assegurar direitos e garantias individuais e
coletivas, incluindo a segurança. Ao que traça o artigo 144, em sua cópia fiel, se
verifica: “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos: [..]” (BRASIL, 1988, p. 102).
Tem-se então, estabelecida necessidade de atuação para manutenção da
ordem, além de ser um dever estatal todos possuem a responsabilidade de contribuir
para que esse exercício seja reafirmado, logo, o cidadão tem papel fundamental para
atuar em conjunto com estes órgãos, caso queiram contribuir.
Diante da imposição dos responsáveis para segurança pública, com os órgãos
estabelecidos, designou-se suas competências, estando o artigo 5° da norma
constitucional expressando: “às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública; [...]” (BRASIL, 1988, p. 102).
Observa-se que para a sociedade, a Polícia Militar assume o objetivo de ir
contra a criminalidade, prevenindo a ocorrência de crimes, por meio de suas ações
preventivas, ou atuando em combate deste, com as ações ostensivas, lidando
diretamente com o indivíduo suspeito (SALINEIRO, 2016).
Toda atividade que realça o serviço desempenhado pela Polícia Militar atinge
a sociedade de alguma forma e, esse trabalho realizado em prol da segurança pública
também traz reflexos da evolução que acompanha esse meio social. Com o constante
desenvolvimento tecnológico muitos cidadãos têm passado por situações
13

indesejáveis, ao passo que esse meio também favorece a criminalidade em seu modo
de atuação. Isso porque a facilidade de difusão de informações, seja por meio de
redes sociais, aplicativos ou outros canais de comunicação, tiveram a tecnologia como
ferramenta para estender situações de perigo (MARCINEIRO, 2005).
Diante disso, é possível perceber que a globalização contribuiu para uma maior
vulnerabilidade na questão da segurança, trazendo aspectos ilimitados que não
respeitam fronteiras, cultura ou camadas sociais. Entretanto, a insegurança causada,
que impõe um alerta constante na vida dos cidadãos, acaba atrapalhando o seu
desenvolvimento sadio no meio social (MARCINEIRO, 2005).
Nesse contexto, interagir com uma política que melhore a sensação da redução
de insegurança é indispensável e, quando se trata de combate à criminalidade e
manutenção da ordem pública é a Polícia Militar uma das primeiras referências a ser
lembrada pelo cidadão. Entretanto, essa responsabilidade não necessariamente é um
dever único deste órgão, podendo o cidadão fazer parte desse engajamento à medida
que a simples informação e denúncia, por exemplo, contribuam com novos
mecanismos de combate ao crime (MARCINEIRO, 2009).
Ainda, ressalva-se que, quando se trata de ordem pública a Polícia Militar surge
como a primeira a ser responsabilizada pela falta de manutenção desta, no entanto é
necessário compreender que somente este órgão não terá força para combater todos
os malefícios que levem às ações mal-intencionadas. Em se tratando de manter a
incolumidade em uma sociedade politicamente participativa, importa discorrer sobre o
que significa a ordem pública:

Conjunto de regras formais que emanam do ordenamento jurídico da Nação,


tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse
público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica,
fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição
que conduza ao bem comum (SANTA CATARINA, 1983, p. 32).

Ante ao exposto é possível entender que quando um cidadão deixa de cumprir


com seus deveres legais, quebrando regras e desobedecendo as leis,
consequentemente a ordem pública é violada e é nesse contexto, de ações individuais
e coletivas, que não se tem um controle da manutenção da incolumidade de maneira
eficiente.
Deste modo, compreende-se por ordem pública todas as condições essenciais
para que a sociedade possa usufruir de seus bens e direitos em segurança, ou seja,
14

com tranquilidade e harmonia no decorrer do seu dia a dia. Reforçando também que,
a segurança é um direito individual trazido pela Constituição Federal, sendo dever do
Estado, mas lembrando que também é responsabilidade de todos (GRACIANO;
MATSUDA; FERNANDES, 2009).
Em suma, pode-se verificar que as alterações dessa garantia incólume são
consideradas violações de direitos fundamentais básicos e acabam proporcionando
insegurança e consequente ocorrência da criminalidade. A necessidade de
intervenção policial para retomar à segurança local integra as competências desses
órgãos estatais.
Não há como retratar sobre a Polícia Militar e a atividade policial militar sem
antes corroborar a ordem com a segurança pública. Conforme ressalta Balestreri
(2010) a segurança pública no Brasil é um campo de desafios, não constitui
conceituação específica, mas se refere à harmonia social com que os cidadãos
vivenciam dia a dia.
No entendimento de Barroso (2018) a violência que se verifica em todo território
nacional parece a não ter fim, proporcionando preocupação no setor da segurança
pública, pois os responsáveis por ela enfrentam um colapso que não deixa a força ser
suficiente para o controle total da ordem.
Consoante ao que traz o artigo 144 da Constituição Federal é dever do Estado
promover a segurança, que assume esse compromisso com a transferência dessa
competência a seus órgãos representantes. Todavia, o sistema de segurança pública
brasileiro funciona de forma pouco coordenada, pois teria maior funcionalidade em
ações conjuntas como com o judiciário, promotoria, entre outros, por exemplo
(BARROSO, 2018).
Contudo, as atividades desempenhadas pela instituição em comento, podem
contribuir ainda mais para a sociedade. Outras funções vão além da realização deste
trabalho, como o apoio deste órgão em combate a normas administrativas, violações
no trânsito, cuidados com o meio ambiente, dentre outras especialidades que
vinculam as atividades policiais (JESUS, 2005).
Com o realce que existe em relação aos preceitos constitucionais e respeito
aos direitos humanos, ainda se verifica que a realização destas atividades ostensivas
e preventivas deve considerar o indivíduo como único, respeitando sua integridade e
dignidade humana (MIRANDA, 2020).
15

[...] existem dentro das instituições de Polícias Militares, funções


constitucionais de que deverão zelar pela segurança interna, mais
precisamente, o policiamento ostensivo e repressivo, com técnicas e
armamentos próprios (mormente não-letais), que lida diretamente com o
cidadão; e, ao mesmo tempo, ainda que ocasionalmente, ser força
militarizada subordinada ao Exército brasileiro (auxiliar e reserva), com
equipamentos pesados, de guerra (MIRANDA, 2020, p. 19).

Tais colocações demonstram que diante da evolução social este órgão também
busca promover esses direitos, o que assegura a realização de sua atividade, única e
exclusivamente ao interesse da coletividade, não podendo beneficiar alguns para que
em resultado se prejudique outros, prezando pelo tratamento isonômico (MORAES,
2016).
Ocorre que, se direcionar o contexto atual de uma sociedade que vive à mercê
de situações criminosas, pois infelizmente esta se manifesta amplamente, em uma
abrangência imensurável, a Polícia Militar é um órgão indispensável. Todos os
cidadãos possuem o direito de viverem seguros, possibilitando usufruir de idas e
vindas em vias públicas sem que isso se torne uma ameaça (TÁVORA; ALENCAR,
2016).
O fato de dizer que há promoção da segurança pública, esta somente poderá
ser assim considerada se estes cidadãos não se sentirem ameaçados em seu
cotidiano. Logo, ao analisar o rol de direitos estabelecidos, principalmente pela
Constituição Federal, entende-se que eles somente poderão ser garantidos se a
segurança for o primeiro deles a ser consagrado (CARVALHO; SILVA, 2011).

A segurança pública é considerada uma demanda social que necessita de


estruturas estatais e demais organizações da sociedade para ser efetivada.
Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de adotar ações voltadas para
garantir a segurança da sociedade, denomina-se sistema de segurança
pública, tendo como eixo político estratégico a política de segurança pública,
ou seja, o conjunto de ações delineadas em planos e programas
implementados como forma de garantir a segurança individual e coletiva
(CARVALHO; SILVA, 2011, p. 60).

A importância em torno desse contexto é relacionada diretamente ao Estado,


que deve desenvolver estruturas adequadas para que a segurança assuma suas
finalidades. A sociedade está vivenciando um período de grandes repercussões nesse
quesito, mesmo que a criminalidade não seja uma ocorrência exclusivamente
brasileira, a preocupação dos impactos gerados por ela é uma ressalva importante
direcionada à Polícia Militar (LIMA, 2013).
16

O crescimento urbano e a socialização em espaços compartilhados promovem


a participação também de pessoas mal-intencionadas que não respeitam direitos
alheios e fortalecem aspectos negativos de convivência. Essas colocações levam ao
entendimento de que a segurança pública é uma necessidade e de que a Polícia
Militar assume papel importante nesse meio (AZEVEDO; NASCIMENTO, 2016).
Contudo, reforçando o fato de que este direito é assegurado pelo Estado, mas
responsabilidade de todos, significa dizer que através dos Programas Institucionais e
da busca pela aproximação da comunidade a este órgão, é possível realizar um
trabalho em conjunto, que agilize ações ao cotidiano. O cidadão de bem pode
contribuir com informações que produzam efeitos na redução de ações que devem
ser coibidas no dia a dia (SODRÉ, 2019).
O pensamento cidadão de que o sistema é lento deve ser afastado,
compreendendo que os profissionais que integram a segurança pública, além de
promoverem esse direito, também são integrantes da sociedade e precisam de sua
proteção, pois são afetados pelos autores do crime em uma proporção ainda maior
(SODRÉ, 2019).
É necessária uma constante evolução de políticas públicas que tragam
contribuições ao desempenho das atividades policiais em prol da sociedade, pois são
muitos crimes tipificados, muitos cidadãos mal-intencionados, com ferramentas que
favorecem a sua ação contrária à lei, enquanto que a Polícia Militar se compõe de um
efetivo ainda pequeno em comparação com a necessidade de intervenções devidas
para a sociedade e a manutenção de sua segurança (SILVA, 2020).
Nessa linha de entendimento, tem-se nesse órgão policial a representatividade
do Estado em se esforçar para que a segurança seja estabelecida. Menciona-se que
mesmo o artigo 144 da Constituição Federal poder citar outros como responsáveis
pela função de segurança pública, a Polícia Militar se sobressai por esta
representação, associada à sua importância à sociedade com as finalidades para
promoção desse direito (BRASIL, 1988).
Para complemento dessa colocação, Lima, Bueno e Mingardi (2016) afirmam
que mesmo assim os cidadãos não recorrem a outros órgãos quando têm sua
segurança ferida. Não há como negar que diversas situações acabam refletindo para
atuação desta instituição e que, em quaisquer circunstâncias o primeiro nome a ser
pensado para prestar auxílio é a Polícia Militar.
17

Nessa linha de raciocínio, Barroso (2018) afirma que a sociedade tem a Polícia
Militar como uma ferramenta a seu favor, que utilizam de todo artifício legal e
necessário para intervir em situações conflituosas que afetam a tranquilidade. Com a
fiscalização e constante eficiência em um trabalho direcionado por firmes ações,
mesmo que aos poucos, há restabelecimento do que foi violado.
Contudo, frisa-se que mesmo sabendo das especificidades que os atos policiais
podem ser direcionados, como no caso de necessidade uso da força, diante de
tamanha violação da tranquilidade, cabe a estes profissionais o devido respeito aos
envolvidos, utilizando da proporcionalidade e razoabilidade uma vez que mesmo
abordado, estes possuem direitos (SALINEIRO, 2016).
Na concepção de Gomes (2018) o trabalho desempenhado pela Polícia Militar
assume posição social de também de forma ostensiva quando se apresenta com seu
patrulhamento para afastar desordens que firam a incolumidade pública. Tratam-se
de ações repressivas, que interfere a tranquilidade em ambientes coletivos, mas
também podem atuar da mesma forma em situações provadas, desde que os fatos e
suas competências estejam relacionados.
Observa-se que as atividades estão relacionadas a várias ações desse órgão,
antes da ocorrência delituosa, com trabalho preventivo, durante, através do flagrante
e apreensão, depois, com a realização de fiscalização. Refere-se a uma atividade
continuada, pois assim deve ser (MORAES, 2014).
Na mesma perspectiva, ressalva Lazzarini (1987) que há muito contribuiu com
seus ensinamentos sobre esta função, explicando que o Estado tem o papel de vigiar
a sociedade em suas ações para que a moralidade seja quesito indispensável na
promoção da ordem social, gerando o bem-estar coletivo.
Continua Moraes (2014) que a população em constante evolução sempre trará
o exercício dessa atividade policial, pois é possível que o controle da criminalidade
fique cada vez mais difícil, uma vez que não é possível controlar as atitudes
individuais.
Conforme se retrata a PMSC está sob a égide de uma base hierárquica
disciplinar, exigindo que suas finalidades sejam objetivas em promover a ordem
pública, limitando suas ações em leis que preservam o respeito aos cidadãos e que
ao mesmo tempo promova a atuação ostensiva e preventiva em prol da segurança.
18

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Polícia Militar é uma instituição que compõe o sistema nacional de segurança


pública e busca, com ações repreensivas e preventivas, cumprir com sua competência
constitucional insculpida pelo artigo 5º da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, ou seja, realizar a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública
para levar segurança à sociedade.
Entretanto, com o desenvolvimento desta pesquisa foi possível verificar que
nem sempre foi desta forma, o que remete à resposta do questionamento incialmente
traçado ao estudo, que buscou saber como ocorreu o surgimento da PMSC. Para
tanto, viu-se em um contexto geral, que o Brasil não possuía nenhum policiamento
específico até o século XIX.
Quando direcionado os fatores históricos que ensejaram a criação da PMSC,
observou-se que seus moldes seguiram o que trouxe a Força Policial de Portugal,
chegando exclusivamente à costa brasileira por considerar que as terras aqui,
continham riquezas para o comércio da Família Real.
Antes de firmar a necessidade exclusiva da Polícia Militar para as ações de
segurança, a coroa portuguesa utilizava o Exército para sua serventia. Com os
constantes conflitos e lutas pelas riquezas naturais, formalizou-se a atividade policial,
estando responsável pela segurança.
Com o passar dos anos e as iniciativas de padronizar as estruturas políticas, a
chegada de Floriano Peixoto à Desterro, hoje Florianópolis, considerando ainda, as
estruturas de segurança advindas com a Família Real, o então governador do estado
catarinense, instituiu a Força Policial em Santa Catarina. Esta, por sua vez, passou
por outros acontecimentos que resultaram em dimensões histórias, proporcionando
as mudanças em todos os sentidos, políticos, sociais, legais, permitindo a
denominação da Polícia Militar anos depois.
Deste modo, viu-se que a PMSC traçou um longo período em sua narrativa
histórica, que também promoveu a necessidade de implementar mudanças para o
próprio órgão institucional, com vistas ao direcionamento da sua verdadeira missão,
levar segurança à coletividade.
Outras considerações importantes retratadas nesta pesquisa demonstraram
que foi possível atingir o objetivo geral do estudo, bem como aos específicos, que
19

tornaram este desenvolvimento interessante. Sabe-se que esse trabalho


desempenhado pela Polícia Militar envolve muitos fatores, como a constante luta pela
prevenção da criminalidade em um trabalho com observação nas leis que regem o
ordenamento jurídico.
Também, considerando que os cidadãos são dotados de personalidades
diferentes, compreende-se que a forma em desempenhar as ações de policiamento
ostensivo deve ser levada em conta quanto ao tratamento dos envolvidos, a fim de
que os direitos alheios sejam preservados. Por fim, deixa-se como sugestão para
futuras pesquisas, a continuidade desta, apresentando informações que aqui não
foram possíveis, como documentos históricos que comprovem outros fatos inerentes
ao surgimento da PMSC.
20

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, R. G. de; NASCIMENTO, A. A. do. Desafios da reforma das polícias no


Brasil: permanência autoritária e perspectivas de mudança. Civitas, Rev. Ciênc.
Soc., Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 653-672, dez., 2016.

BALESTRERI, R. B. Direitos humanos: coisa de polícia. Rio Grande do Sul: Gráfica


Editora Berthier, 2010.

BARROSO, L. R. Um outro país. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

BASTOS JÚNIOR, E. J. de. Polícia Militar de Santa Catarina: história e histórias.


Florianópolis: Garapuvu, 2006.

BIELINSKI, A. C. Os fuzileiros navais na história do Brasil. Rio de Janeiro:


Agência 2ª Comunicação, 2008.

BRASIL. Constituição Brasileira de 1824. [1824]. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso em: 10
jul. 2023.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de


fevereiro de 1891). [1891]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em: 10
jul. 2023.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de


julho de 1934). [1934]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em: 07
jul. 2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. [1967].


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm.
Acesso em: 14 jul. 2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República, [1988]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15
abr. 2023.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 18 de setembro de


1946). [1946]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em: 15
jul. 2023.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de


1937. [1937]. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em: 10
jul. 2023.
21

BRASIL. Constituição Política. [1822]. Disponível em:


https://www.parlamento.pt/parlamento/documents/crp-1822.pdf. Acesso em: 10 jul.
2023.

BRASIL. Emenda constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. [1969].


Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc01-
69.htm. Acesso em: 11 jul. 2023.

CÂMARA, P. S. Considerações em torno do ciclo completo da ação policial. Rev.


bras. Segur. Pública. São Paulo, v. 10, n. 15, p. 115-139, fev./mar., 2016.

CARVALHO, V. C.; SILVA, M. R. F. Política de segurança pública no Brasil:


avanços, limites e desafios. [2011]. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-49802011000100007&script=. Acesso
em: 15 jul. 2023.

FABRETTI, H. B. Segurança pública: fundamentos jurídicos para uma abordagem


constitucional. São Paulo: Atlas, 2014.

FERNANDES, A. F. Polícia Militar de Santa Catarina, origens e evolução:


hierarquia, fardamentos, inclusões, promoções e ensino. Florianópolis: Papa-Livro,
2013.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GOMES, A. R. A. O olhar comunitário sobre as ações da política de prevenção


social à criminalidade aos territórios: estudo de caso nas comunidades Jardim
Felicidade e Morro Alto. 2018. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) -
Fundação João Pinheiro, 2018. Disponível em:
http://tede.fjp.mg.gov.br/handle/tede/507. Acesso em: 15 jul. 2023.

GRACIANO, M.; MATSUDA, F.; FERNANDES, F. C. Afinal, o que é segurança


pública? São Paulo: Global, 2009.

GUERRA, M. P. Polícia e ditadura: a arquitetura institucional da segurança pública


de 1946 a 1988. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, 2016.

HIGA, C. C. Revolução Constitucionalista. Brasil Escola. [2019]. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolucaoconstitucionalista.htm. Acesso em:
07 jul. 2023.

JESUS, J. L. B. de. Polícia Militar e direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2005.

LAZZARINI, A. Violência: o policial como vítima. São Paulo: Cotidiano, 1987.

LIMA, D. C. de. Aspectos da formação na Polícia Militar de Santa Catarina e a


síndrome do ornitorrinco. 2013. Monografia (Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais) -Faculdade Ação, Florianópolis: PMSC, 2013. Disponível em:
22

http://biblioteca.pm.sc.gov.br/pergamum/vinculos/00000B/00000B55.pdf. Acesso em:


20 maio. 2023.

MARCINEIRO, N. Introdução ao estudo da segurança pública: livro didático.


Palhoça: Unisul Virtual, 2005.

MARCINEIRO, N. Polícia comunitária: construindo segurança nas cidades.


Florianópolis: Insular, 2009.

MIRANDA, M. G. D. Lei de abuso de autoridade e seus reflexos para atividade


policial militar. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) –
UniEvangélica, Anápolis, 2020. Disponível em:
http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/16866/1/Monografia%20-
%20MUNILDO%20GON%C3%87ALVES.pdf. Acesso em: 11 jul. 2023.

MORAES, A. de. Curso de direito constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

MORAES, A. Direito constitucional. 30.ed. São Paulo: Atlas, 2016.

SALINEIRO, A. Políticas públicas em segurança. Curitiba: Inter saberes, 2016.

SANTA CATARINA. Decreto 88.777. 30 de setembro de 1983. Aprova o


regulamento para as policias militares e corpos de bombeiros militares (R-200).
[1983]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d88777.htm.
Acesso: 25 mai. 2023.

SANTOS, B. de S.; CHAUÍ, M. Direitos humanos, democracia e


desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2013.

SANTOS, R. História da Segurança no Brasil. 13 de maio de 2019. Linked in.


Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/hist%C3%B3ria-da-
seguran%C3%A7a-brasil-manoel-ricardo-silva-dos-santos-
cigr?articleId=6533824269925830656. Acesso em: 22 maio. 2023.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2014.

SILVA, A. C. da; et al. História da PMSC e aspectos culturais de SC. Apostila do


Curso de Formação de Soldados da PMSC. Florianópolis: Faculdade da Polícia
Militar, 2020.

SODRÉ, N. W. A História Militar do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2019.

TÁVORA, N.; ALENCAR, R. R. Curso de direito processual penal. 11. ed. Rio de
Janeiro: Jus Podivm, 2016.

Você também pode gostar