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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA


ADILSON MICHELLI

DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS: RELAÇÃO ENTRE


ATIVIDADES DE CORREIÇÃO E DE ENSINO

Florianópolis
2010
ADILSON MICHELLI

DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS: RELAÇÃO ENTRE ATIVIDADES DE


CORREIÇÃO E DE ENSINO

Monografia apresentada ao Curso Superior de


Polícia Militar, da Polícia Militar de Santa Catarina
com especialização lato sensu em Gestão
Estratégica em Segurança Pública, como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em
Gestão Estratégica em Segurança Pública pela
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Orientador: Prof. Cleber Pires, Msc.

Florianópolis
2010
ADILSON MICHELLI

DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS: RELAÇÃO ENTRE


ATIVIDADES DE CORREIÇÃO E DE ENSINO

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção


do título de Especialista em Gestão Estratégica em
Segurança Pública e aprovada em sua forma final
pelo Curso de Especialização em Gestão
Estratégica em Segurança Pública, da
Universidade do Sul de Santa Catarina.
.

Florianópolis, 08 de março de 2010.

_______________________________________________
Prof. e Orientador Cleber Pires, Msc.
Polícia Militar de Santa Catarina

_______________________________________________
Ten Cel PM Maria de Fátima Martins, Esp.
Polícia Militar de Santa Catarina

_______________________________________________
Major PM Marco Aurélio Hoffmann, Esp.
Polícia Militar de Santa Catarina
Dedico esta monografia a minha esposa
Sonia Mara, e aos meus filhos Carolina e
Luis Henrique, pelo apoio e carinho
incondicional nos momentos difíceis e por
me fazerem acreditar em um mundo
melhor.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela saúde, pela paz e pela vida que tenho.
Aos meus pais Darsi e Laura, pelo incentivo em ingressar na Polícia
Militar e pelos valores ensinados.
Aos meus irmãos Arlindo (in memorian), Maria Odeth e Evanilde, amigos
e companheiros.
Ao meu orientador, Mestre Cleber Pires, que aceitou o desafio de me
orientar durante os trabalhos do CSPM.
Ao meu amigo Maj PM Marco Aurélio Hoffmann, oficial dedicado e
entusiasta dos direitos humanos na instituição.

Ao Tenentes Coronéis e Majores pela amizade e união demonstrada


durante o CSPM 2009, com certeza um dos melhores da história da Polícia Militar.
Aos Professores e Instrutores que compartilharam comigo seus vastos
conhecimentos.
À Polícia Militar de Santa Catarina, pelos grandes momentos vividos e
pela oportunidade em realizar esta pesquisa.
A Universidade do Sul de Santa Catarina pela parceria que tornou
possível essa especialização, sempre com qualidade e coerência na proposta de
servir a sociedade catarinense através da melhoria do ensino dos profissionais da
Segurança pública.
“O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar de novo com
mais inteligência”. (HENRY FORD).
RESUMO

Com o advento e promulgação da Constituição Federal de 1988, marco jurídico da


institucionalização dos Direitos Humanos e da transição democrática do país,
passamos a viver sob a égide de uma nova carta, determinando uma ordem
fundamentada na valorização da dignidade da pessoa humana e no estabelecimento
de direitos igualitários, alcançando a todos, sem qualquer distinção, marcando
definitivamente a transição de um período ditatorial e repressivo para um período de
abertura democrática e de garantia de direitos fundamentais. A Declaração Universal
dos Direitos Humanos da ONU de 1948 foi essencial na consolidação dos direitos
fundamentais. O objetivo da pesquisa foi ter um conhecimento mais estreito sobre a
matéria, procurando demonstrar a importância dos direitos humanos fundamentais
para a Polícia Militar, os principais ordenamentos jurídicos e sua evolução histórica,
no contexto nacional e internacional, buscando reunir subsídios para aplicação na
área de ensino e nas atividades de correição da instituição. Nesse sentido foi
estabelecido como tema Direitos Humanos Fundamentais: Relação entre Atividades
de Correição e Ensino, analisando a legislação específica e visando estabelecer
aos policiais militares uma nova forma de atuação, pois a mudança constitucional
impõe uma revisão de procedimentos em busca de uma qualificação profissional.
Buscou-se também a quebra de paradigmas, para que as Corregedorias tornem-se,
cada vez mais, órgãos eminentemente correicionais e excepcionalmente punitivos,
onde o enfoque principal seja a orientação e posteriormente, caso não sejam
atendidas as recomendações e orientações, sejam os mesmos punidos de forma
célere e eficaz, dentro do principio do contraditório e da ampla defesa.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Correição. Ensino. Ordenamento Jurídico.


ABSTRACT

With the advent and promulgation of the Federal Constitution of 1988, legal landmark
of the institutionalization of the Human Rights and the democratic transistion of the
country, we start to live under égide of a new letter, being determined an order based
on the valuation of the dignity of the person human being and on the establishment of
equal rights, reaching to all, without any distinction, marking definitively the
transistion of a ditatorial and repressive period for a period of democratic opening
and guarantee of basic rights. The Universal Declaration of the Human Rights of the
1948 ONU was basic in the consolidation of the basic rights. The objective of the
research was to have a narrower knowledge on the substance, being looked for to
demonstrate to the importance of the basic human rights it Military Policy, the main
legal systems and its historical evolution, in the national and international context,
searching to congregate subsidies for application in the area of education and the
activities of correição of the institution. In this direction subject was established as
Right Human Basic: Relation between Activities of Correição and education,
analyzing the specific legislation aiming at to establish to the military policemen a
new form of performance, therefore the constitutional change it imposes a revision of
procedures searching to improve the professional qualification. In addition searched
also paradigms, so that the Corregedorias more becomes each time in an eminently
correicional and bonanza punitive agency, whose main approach is the orientation
and later, in case that to the recommendations and orientation are not taken care of,
is the same ones punished of efficient form celery and, inside of the beginning of the
contradictory and legal defense.

Word-key: Human rights. Correição. Education. Legal system.


LISTA DE SIGLAS

CFSd - Curso de Formação de Soldados


CRFB - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
DH - Direitos Humanos
DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos
LDBE - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MCN - Matriz Curricular Nacional
NGE - Normas Gerais de Ensino
ONU - Organizações das Nações Unidas
PGE - Plano Geral de Ensino
PMSC - Polícia Militar de Santa Catarina
PNEDH - Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 12
1.1.1 Justificativa ..................................................................................................... 12
1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 13
1.2.1 Objetivos específicos..................................................................................... 13
1.3 METODOLOGIA .................................................................................................. 14
1.4 DESCRIÇAO SUMARIA DOS CAPITULOS ........................................................ 14
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS ....................................... 16
2.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS................................. 23
2.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................... 27
2.2.1 Direito à vida ................................................................................................... 28
2.2.2 Direito à liberdade .......................................................................................... 29
2.2.3 Direito à igualdade ......................................................................................... 30
2.2.4 Direito à segurança ........................................................................................ 31
2.2.5 Direito à propriedade ..................................................................................... 32
3 A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS ............................................................ 36
3.1 MATRIZ CURRICULAR NACIONAL....................................................................38
3.2 EDUCAÇÃO POLICIAL MILITAR ....................................................................... .42
4 BREVE HISTÓRICO DAS CORREIÇÕES............................................................ 48
4.1 VISAO GERAL DA ATIVIDADE CORREICIONAL .............................................. 49
4.2 CORREIÇÃO: UMA NECESSIDADE ATUAL...................................................... 52
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
10

1 INTRODUÇÃO

O assunto é preocupação reinante em todos os grupos sociais, estando


em evidência na mídia mundial, tendo por objetivo a contenção do poderio estatal
das autoridades de segurança. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU de 1948 desenvolveu papel fundamental na consolidação dos direitos
humanos fundamentais. É considerado o principal documento internacional e a
principal fonte na área dos Direitos Humanos. O respeito às garantias fundamentais
do ser humano, onde citamos à vida, à liberdade, à integridade física, à segurança e
à propriedade constituem-se num compromisso global, da maioria das nações,
resultando na universalização dos direitos humanos.
A evolução histórica dentro das Constituições brasileiras, desde a
Proclamação da República até a Carta de 1988, que também é considerado um dos
divisores de águas na política de direitos humanos no país, será contemplada neste
estudo, com objetivo de demonstrar que o Brasil também se preocupa com os
direitos e garantias fundamentais do ser humano.
Há pouco tempo atrás, a questão dos direitos humanos em nosso país,
era quase que exclusivamente, um assunto discutido pelos juristas e sociólogos
como um conteúdo diluído nas várias disciplinas curriculares, tais como direto
público, direito penal, direito civil, direito constitucional, direito internacional, etc. O
tema direitos humanos fundamentais recebia uma abordagem sucinta, por juristas,
historiadores, cientistas políticos, cientistas sociais quando estes desenvolviam suas
pesquisas.
A exceção a essa regra competia a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura – sobretudo a UNESCO, que por dever de ofício,
tinha a obrigação de trabalhar o conteúdo dos direitos humanos como eixo central
da sua produção científica e educativa.
Faremos uma breve explanação sobre a evolução dos Direitos Humanos,
a qual teve inicio com o rei da Babilônia, Khammu-rabi, no século XVIII a.c, com
suas 282 cláusulas que ficaram conhecidas como o Código de Hamurabi, passando
pela Carta de João Sem Terra, em 1215, as Revoluções Americana e Francesa, até
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia da
11

Organização das Nações Unidas, em 1948, um longo caminho foi percorrido, com o
objetivo de dotar o ser humano de garantias e direitos fundamentais.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos terá enfoque de destaque,
pois está contextualizada na maioria das constituições dos países que ratificaram
seu texto, sendo também recepcionada em nossa Carta Magna.
A formação policial focada nos princípios de direitos humanos
fundamentais já é uma realidade nos currículos dos cursos de formação dos policiais
militares a qual deverá estar atrelada às atividades de correição da Corporação e de
Revitalização dos conteúdos programáticos, visando minimizar os desvios de
conduta de seus integrantes.
O crescimento de ocorrências policiais envolvendo violação das garantias
individuais dos cidadãos vem causando preocupação aos dirigentes da instituição, o
que nos leva a refletir e apontar sugestões e caminhos a serem trilhados a fim de
resguardar a imagem da instituição policial militar.
O artigo 5° da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988,
terá uma abordagem especifica, no que tange ao direito à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade e à segurança, pois são mais afetos a atividade policial
militar.

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL,1998)

O Constituinte Brasileiro, quando da elaboração da Constituição Federal


de 1988, deu aos direitos humanos fundamentais a importância devida. Destinou,
inicialmente, na 1ª parte do texto constitucional, o Título II – Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, estabelecendo a proteção de direitos individuais e coletivos, de
nacionalidade e direitos políticos.
Por todo o exposto, estudos visando à melhoria nos procedimentos de
polícia ostensiva, sob o foco dos direitos humanos fundamentais em estreita relação
com as atividades de correição e de ensino, fazem-se necessários, viabilizando a
consagração dos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana.
12

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O crescimento alarmante de episódios violentos envolvendo policiais


militares, nos últimos anos, vem trazendo para as policias brasileiras sérias crises de
credibilidade a essas instituições, as quais poderiam ser minimizadas com a
aplicação e acompanhamento constantes da filosofia dos direitos humanos.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, e com o fortalecimento
do regime democrático brasileiro, os direitos e garantias individuais e coletivos
passaram a ter uma posição de destaque no cenário nacional, pois além do povo
estar imbuído dos ideais de igualdade e liberdade oriundos das lutas de classes
sociais, trabalhistas e políticas propiciadas pela ascensão da democracia, a mídia
teve papel fundamental e determinante no enfoque e na veiculação incessante dos
preceitos exarados da Carta Magna.
Assim sendo, podemos perceber que o respeito à dignidade humana,
aliado ao cumprimento da legislação vigente, possibilitará aos policiais militares de
Santa Catarina a aplicação adequada da filosofia dos direitos humanos.
Neste sentido, estudos visando à melhoria dos procedimentos de conduta
dos policiais militares são imprescindíveis, pois sua adequação à realidade jurídica
vigente, torna-se matéria essencial para a subsistência da instituição.
Qual a relação entre os direitos humanos fundamentais e as atividades de
correição e de ensino sob o enfoque da melhoria dos serviços prestados pela Polícia
Militar de Santa Catarina?

1.1.1 Justificativa

Em todo pais democrático, o reconhecimento e o respeito à dignidade


humana são inerentes a todo ser humano e aos seus direitos fundamentais, os quais
constituem o fundamento da liberdade, da justiça e da paz em todo o mundo.
O desconhecimento e o desrespeito a tais direitos conduziram a atos
bárbaros que revoltaram a consciência da humanidade e provocou o advento de
13

novas leis, com o objetivo de garantir a todos os homens, a liberdade de expressão,


de manifestação, de crença, de locomoção e, principalmente, o direito inalienável a
vida digna.
Esta nova visão e com a necessidade do reconhecimento do Brasil como
um país protetor dos interesses sociais de seu povo levou o país a adotar uma
política de proteção dos direitos e da dignidade da pessoa humana. Neste contexto,
a Polícia Militar de Santa Catarina precisa reforçar e difundir a todos os seus
integrantes as noções fundamentais de proteção e respeito aos seres humanos.
O projeto de pesquisa tem sua relevância pela perfeita integração de sua
temática com o direcionamento Institucional que, diuturnamente, busca adequação
aos ditames constitucionais.
Resta claro, pelo acima exposto, que é cada vez maior, quiçá
imprescindível, a necessidade de elaboração de estudos científicos na área de
direitos humanos fundamentais com o intuito de capacitar os policiais militares a
desenvolver suas atividades fins com observância dos preceitos constitucionais.

1.2 OBJETIVO GERAL

Demonstrar a importância e adequação da legislação de direitos humanos


fundamentais aplicada às ações de Polícia Ostensiva, em correlação às atividades
de correição e de ensino.

1.2.1 Objetivos Específicos

Identificar os direitos humanos fundamentais previstos na legislação


magna do país e que também encontram recepcionados na Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
Demonstrar a evolução histórica da legislação de direitos humanos
fundamentais sob a ótica de vários autores, buscando reunir subsídios para sua
aplicação na área de ensino e nas atividades de correição da Corporação.
14

Identificar formas de potencializar a capacitação técnico-profissional dos


policiais militares, doutrinando-os na filosofia e padrões éticos, visando a melhoria
dos serviços prestados pela Polícia Militar.

1.3 METODOLOGIA

Para a consecução do presente trabalho elegemos como método de


abordagem o dedutivo, onde identificamos os ditames constitucionais do país e a
doutrina internacional como o regramento geral.
Segundo Gil (1989, p.19), “A pesquisa deve ser desenvolvida mediante o
concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos,
técnicas e outros processos científicos”.
A pesquisa irá buscar na literatura formal o embasamento para adequar o
modelo de instrução ora proposto, aos utilizados atualmente com sucesso em
grandes corporações mundiais.
O presente estudo apresenta as características de uma pesquisa básica,
com técnica de pesquisa bibliográfica e documental, utilizando a legislação vigente
e doutrinas atinentes, onde poderá gerar novos conhecimentos.

1.4 DESCRIÇAO SUMARIA DOS CAPÍTULOS

O presente trabalho monográfico é estruturado em três capítulos.


No primeiro Capítulo será abordado a Evolução dos Direitos Humanos no
mundo e no Brasil fazendo uma abordagem histórica, passando pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948, apresentada ao mundo na cidade de
Paris, em 10 de dezembro de 1948, constituindo-se o principal diploma legal no
desenvolvimento da idéia contemporânea de Direitos Humanos. Os direitos inscritos
nesta Declaração constituem-se num conjunto indissociável e interdependente de
direitos individuais e coletivos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, sem
os quais a dignidade da pessoa humana não se realizaria por completo. Ainda neste
15

capítulo serão estudados os principais direitos fundamentais da pessoa humana,


destacando-se o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a
propriedade.
No segundo capítulo estudaremos a Educação em Direitos Humanos, a
Matriz Curricular Nacional da SENASP, as normas e técnicas de ensino para a
atividade policial, visando à capacitação dos policiais militares.
No terceiro capítulo estudaremos a Correição no âmbito das instituições
policiais, trazendo um breve histórico das correições, fazendo uma análise e dando
uma visão dessas atividades dentro da instituição policial militar.
16

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

Diversos autores tratam desta matéria, estabelecendo cada qual um


marco para evidenciar o seu surgimento. Porém é certo, que a evolução histórica
dos Direitos Humanos percorreu um longo caminho e ainda continua a ser
implementada até os nossos dias.
Para efeito desse estudo, num consenso entre muitos autores, vamos
estabelecer a origem dos direitos individuais no antigo Egito e na Mesopotâmia, mais
precisamente, no terceiro milênio antes de Cristo, como também os doze
mandamentos (A lei de Moisés) onde já eram previstos alguns mecanismos de
proteção individual para conter os excessos do Estado. As diversas civilizações da
época tinham as suas codificações que estabeleciam um rol de direitos e garantias a
todos os homens.
No século XVIII a.c, o rei da Babilônia, Khammu-rabi, reuniu em 282
cláusulas, os códigos e leis vigentes à época, que ficaram conhecidas como o
Código de Hamurabi, que foi talvez a primeira dessas codificações a consagrar um
elenco de direitos comuns a todos os homens, tais como a vida, a propriedade, a
honra, a dignidade, a família, prevendo igualmente a supremacia das leis em relação
aos governantes. Apesar de ser um código rígido, onde a pena capital era aplicada
em muitos casos, também previa pena aos administradores públicos, quando estes
praticavam ilícitos. MORAES (2000).
Posteriormente, surge na Grécia, de forma mais ordenada, porém de
forma diversa daquela apresentada atualmente, estudos que continham a
necessidade de liberdade e igualdade do homem, destacando-se aí previsões de
participação política dos cidadãos, e a crença da existência de um direito natural
anterior e superior às leis escritas, defendida no pensamento de sofistas e estóicos.
Foi no Direito Romano, segundo MORAES (2000), que se estabeleceu um
complexo mecanismo de interditos, buscando salvaguardar e tutelar os direitos
individuais em relação aos arbítrios estatais dos governantes. A Lei das Doze
Tábuas pode ser considerada a origem dos textos consagradores da liberdade, da
propriedade e da proteção aos direitos do cidadão.
A forte concepção religiosa, trazida pelo Cristianismo, com a mensagem
de igualdade de todos os homens, independente de raça, origem, sexo ou credo,
17

influenciou diretamente a consagração dos direitos fundamentais, enquanto


necessários à dignidade da pessoa humana.
Já na Idade Média, apesar da organização feudal e da rígida separação
de classes, diversos documentos jurídicos, reconheciam a existência dos direitos
humanos, trazendo inserido no seu contexto o mesmo traço básico: limitação do
poder estatal.
Para Hoffmann (2009 apud Silva 2009, p.19) na Inglaterra em 1.215, a
Magna Carta foi imposta ao Rei João Sem Terra pelos Barões ingleses, entre outras
garantias, previa a liberdade da igreja, o devido processo legal, livre acesso a
justiça, liberdade de locomoção e livre entrada e saída do país. A Magna Charta
Libertatum é considerada por muitos historiadores como sendo a primeira
constituição do mundo.

A Magna Carta, assinada em 1215 e levada a efeito em 1225, foi um pacto


entre monarca, Rei João da Inglaterra, conhecido como João Sem Terra,
que concede direitos aos homens livres, aos barões e ao clero e se torna o
símbolo das liberdades públicas e dela são extraídos os fundamentos da
ordem jurídica democrática e o esboço primeiro da limitação do poder
monárquico. Isso foi possível porque os barões, protegidos por tropas
aliciadas, declararam-se desligados de compromissos de vassalagem
assumidos perante o monarca, que praticava violências e arbitrariedades,
mas que, diante da pressão, viu-se forçado a ceder e assim negociou a
assinatura da carta. Direitos foram reconhecidos: a liberdade de fazer ou
não deixar de fazer senão em virtude da lei (16 a 22); o direito à liberdade
de locomoção e de ingressar e sair do país com seus bens; e o fundamental
direito de que nenhum homem livre poderia ser “preso ou encarcerado ou
despojado de seus bens, banido ou exilado ou aniquilado, sem
procedimentos contra ele, a não ser em virtude de julgamento legal de seus
pares ou por intermédio da lei vigente no país”. (SILVA, 2009,p.19)

A Petition of Right de 1628, acompanhando o pensamento de MORAES


(2000), previa expressamente garantias referentes a obrigatoriedade do pagamento
de tributos não previstos pelo Parlamento, ou do consentimento de todos, bem como
vedava o encarceramento, a inquietação ou molestamento daqueles que se
recusavam em pagá-los, prevendo ainda que nenhum homem livre ficasse sob
prisão ou detenção ilegal.
O Habeas Corpus, uma das principais garantias individuais na atualidade,
tem origem há mais de três séculos, sendo um dos instrumentos importantes e mais
significativos da garantia da dignidade humana.

O Habeas Corpus Act, de 1679, regulamentou este instituto, que porém já


existia na common law. A previsão era de que, por meio de reclamação ou
de instrumento escrito, de algum indivíduo ou em favor de outrem, detido ou
acusado da prática de algum crime (exceto se tratar de traição ou felonia,
18

assim declarada no mandado respectivo, ou de cumplicidade ou de suspeita


de cumplicidade, no passado, em qualquer traição ou felonia, também
declarada no mandado, e salvo o caso de formação de culpa, ou
incriminação em processo legal) o lorde-chanceler, ou em tempo de férias,
algum juiz dos tribunais superiores, depois de terem visto cópia do mandado
ou certificado de que a cópia foi recusada, poderiam conceder providência
de habeas corpus (exceto se o próprio indivíduo tivesse negligenciado, por
dois períodos, em pedir a sua libertação) em benefício do preso, a qual será
imediatamente executada perante o mesmo lorde-chanceler ou juiz; e se
afiançável o indivíduo seria solto, durante a execução da providência,
prometendo-se a comparecer e responder a acusação no tribunal
competente. Além de outras previsões complementares,o Habeas Corpus
Act previa multa de 500 libras àquele que voltasse a prender pelo mesmo
fato, o indivíduo que tivesse obtido ordem de soltura.” (MORAES, 2000,p.
26).

O Bill of Rights editado em 1.689, restringiu o poder estatal, fortalecendo o


princípio da legalidade ao impedir que o rei pudesse alterar leis sem o
consentimento do Parlamento. Vedava a aplicação de penas cruéis, demonstrando
respeito a integridade física da pessoa. O Bill of Rights demonstrou avanço no que
tange os direitos individuais, mas expressamente impediu a igualdade e a liberdade
religiosa. MORAES (2000).
O Act of settlement em 1.701 fechou o ciclo inglês desses importantes
diplomas legais de direitos fundamentais. Nesta norma histórica havia proibição do
Estado em declarar guerra sem a aprovação do Parlamento. Impedia o rei de
destituir magistrados. Valorizou e fortificou o princípio da legalidade, em que
obrigava reis e rainhas a governar de acordo com as leis vigentes. MORAES (2000).
O maior desenvolvimento dos Direitos Humanos deu-se a partir do
terceiro quarto do século XVIII até meados do século XX. As idéias dos Iluministas e
Contratualistas terminaram por influenciar as Declarações Americana e Francesa de
Direitos. Vislumbra-se nestas Declarações que os direitos à vida, propriedade e
igualdade também conhecidos como Direitos Civis ou Direitos Humanos de Primeira
Geração eram aclamados como direitos essenciais à pessoa humana.
Para Hoffmann (2009 apud Moraes 2007, p. 9) nos Estados Unidos,
podemos destacar a Declaração de Independência Americana em 1.776 que
ressaltava os princípios da igualdade ao afirmar que todos os homens foram criados
iguais e dotados de certos direitos inalienáveis. A Declaração destacou o direito à
vida, a liberdade e a busca da felicidade.

A Declaração de Independência da América, documento de inigualável valor


histórico e produzido basicamente por Thomas Jefferson, teve como tônica
preponderante a limitação do poder estatal, como se percebe por algumas
passagens: a história do atual rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidos
19

danos e usurpações, tendo todos por objetivo direto o estabelecimento da


tirania absoluta sobre estes Estados. Para prová-lo, permitam-nos submeter
os fatos a um cândido mundo: recusou assentimento a leis das mais
salutares e necessárias ao bem público. Dissolveu Casas de
Representantes repetidamente porque se oponham com máscula firmeza às
invasões dos direitos do povo. Dificultou a administração da justiça pela
recusa de assentimento a leis que estabeleciam poderes judiciários. Tornou
os juízes dependentes apenas da vontade dele para gozo do cargo e valor e
pagamento dos respectivos salários. Tentou tornar o militar independente do
poder civil e a ele superior. (MORAES, 2007, p. 9).

Todos estes documentos tiveram por fim a garantia dos direitos


fundamentais, a dignidade humana e a limitação ao poder estatal, através da
liberdade religiosa, a inviolabilidade de domicílio, o devido processo legal, o tribunal
do júri, o princípio da legalidade entre outros.
Coube à França, nos ensinamentos de Silva (2009), a consagração
normativa aos direitos humanos fundamentais, quando em 26/08/1789, a
Assembléia Nacional promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
com 17 artigos. Dentre as previsões deste documento destacamos os seguintes
direitos humanos: princípio da igualdade, liberdade, propriedade, segurança,
resistência à opressão, associação política, princípio da legalidade, princípio da
reserva legal e anterioridade em matéria penal, princípio da presunção de inocência,
liberdade religiosa e livre manifestação de pensamento.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que a Assembléia


Constituinte da França, em 26 de agosto de 1789, adotou, sob influência da
Revolução Francesa, a liberdade, a igualdade, propriedade e a legalidade,
bem como as garantias individuais, em 16 artigos, carregados do traço
individualista, ao reconhecer somente as liberdades do indivíduo e não o
homem na coletividade. Ela reflete o liberalismo econômico, que produziu
conseqüências sociais e não resulta de um pensador, mas de um conjunto
de pensamentos filosóficos e políticos. Os princípios nela proclamados
foram incluídos nas Constituições de outros Estados, com a respectiva
evolução histórica até nossos dias. Dentre os direitos reconhecidos estão a
igualdade perante a lei; a liberdade em variadas formas, inclusive a de
pensamento e de opinião; admissão em emprego público; segurança da
pessoa; liberdade política individual contra opressão; proibição de prisão,
processo, julgamento e pena, senão em virtude da lei; proporcionalidade
entre delito e pena. (SILVA, 2009, p. 6)

Posteriormente, no final do século XIX e início deste, foram acrescentados


ao rol de direitos humanos, os direitos ao trabalho, à educação gratuita, à
previdência e assistência social e a proteção do Estado, dentre outros. Tais direitos
conhecidos como Direitos Econômicos e Sociais, ou Direitos Humanos de Segunda
Geração, tornaram-se objeto de disciplina jurídica constitucional, seguindo os
caminhos trilhados pelos Direitos Civis e Políticos.
20

Na segunda metade do século XX novos direitos fundamentais se fizeram


acrescentar com as profundas modificações tecnológicas, demográficas e
democráticas advindas: a igualdade de direitos das mulheres igualando aos direitos
dos homens, os direitos à informação, à privacidade, ao ambiente sadio, do
consumidor, enfim os direitos que dizem respeito a uma sadia qualidade de vida,
também conhecidos como Direitos Difusos ou Direitos Humanos de Terceira
Geração, igualmente objeto de proteção jurídica constitucional nos sistemas
ocidentais.
O século XX caracterizado por batalhas e duas grandes guerras mundiais
impulsionou os países a desenvolver uma profunda reflexão sobre as garantias e os
direitos individuais, gerando uma progressiva incorporação dos direitos humanos no
cenário internacional.
Diante deste contexto, o século XX obrigou as nações a uma série de
ações públicas e privadas de grande valor humanitário, onde destacamos a criação
da Cruz Vermelha Internacional, responsável por introduzir as questões de direitos
humanos na política internacional.
O ano de 1945 marcou o final da II Guerra Mundial, onde milhões de
pessoas foram mutiladas e mortas, além de tantas outras desaparecidas. Este
cenário terrível mostrou a face do holocausto, onde milhares de pessoas perderam
seus lares, suas famílias, surgindo aí um sentimento de comoção, medo e
perplexidade com os horrores da guerra. O mundo não conseguia acreditar em
tamanha barbárie, indescritível, chegando a ser criada no vocabulário a palavra
genocídio para tentar descrever, num único vocábulo, as atrocidades cometidas nos
campos de concentrações nazistas. As Nações Unidas reconheceram o genocídio
como sendo crime pela lei internacional que o mundo não tolera e os autores e
cúmplices são puníveis.
No dia 26 de junho de 1945, durante a conferência de São Francisco foi
criada a Organização das Nações Unidas e produzida a Carta da ONU, a qual é
considerada a Constituição da ONU, com natureza jurídica de tratado internacional,
que anunciou princípios de Direitos humanos, em decorrência dos traumas vividos
na II Guerra Mundial
A Organização das Nações Unidas nos dias de hoje já ultrapassou a
duas centenas de Estados soberanos, com objetivo de manter a paz e a segurança
no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social,
21

melhores padrões de vida e promoção dos direitos humanos. Os Estados membros


são unidos em torno da Carta da ONU que enuncia os direitos e deveres dos
membros da comunidade internacional.
Em seu emocionante preâmbulo, a Carta da ONU, deixa de forma clara e
explícita a preocupação com os direitos fundamentais do homem, assim:

Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações


vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa
vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos
direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano,
na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das
nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a
justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes
do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso
social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. (ONU,
1945).

E continua:

E para tais fins, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros,
como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a
segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a
instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no
interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o
progresso econômico e social de todos os povos. (ONU, 1945)

Ainda em seu artigo 55 da Carta da ONU fica evidenciado o compromisso


das Nações Unidas com o respeito aos direitos humanos e garantias individuais,
tornando uma obrigação dos países membros:

Artigo 55 - Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar,


necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas
no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos
povos, as Nações Unidas favorecerão:
a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e
desenvolvimento econômico e social;
b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e
conexos; a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e
c) o respeito universal e efetivo raça, sexo, língua ou religião. (ONU, 1945)

Um grande passo foi dado pela humanidade, com o advento da Carta da


ONU, a qual demonstrou preocupação com as questões de direitos humanos, mas
somente em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tivemos a
consolidação das intenções demonstradas na Conferência de São Francisco.
A partir do término da Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos e
sua proteção tornaram-se objeto de preocupação internacional, uma vez que os
22

Estados esgotados com a guerra e o genocídio, dispuseram-se a criar um


organismo internacional que congregasse todos os povos em torno dos ideais de
paz, justiça e de direitos humanos. Surgiu a Organização das Nações Unidas (ONU)
em 1945 e já em 10 de Dezembro de 1948 foi aprovado no seu âmbito a
“Declaração Universal dos Direitos Humanos”, que já completou o seu jubileu de
ouro, cujo teor faremos uma breve discussão no decorrer deste estudo.
Em 1966 foram adotados dois pactos complementares à Declaração de
1948: o Pacto das Nações Unidas para os Direitos Civis e Políticos e o Pacto dos
Direitos Econômicos e Sociais. Ambos os pactos criaram um sistema próprio para a
implementação dos direitos humanos neles contidos.
Em 1969 foi aprovada a Convenção Americana dos Direitos Humanos -
Pacto de San José da Costa Rica - que entrou em vigor em 1978 instituindo-se a
Corte Interamericana de Direitos Humanos em 1969. São Estados participantes:
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala,
Haiti, Honduras, Granada, Jamaica, México, Nicarágua, Peru, República
Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Mais recentemente, quando da elaboração da nossa Carta Magna, o
legislador constituinte, primando por uma legislação moderna e atual, inseriu no
texto constitucional, mais precisamente no Título II, denominado “Dos Direitos e
Garantias Fundamentais”, basicamente todos aqueles preceitos previstos na
Declaração Universal, tentando cumprir rigorosamente aquela convenção, com isto,
reconhecendo a dignidade inerente a todos os membros da família humana e de
seus direitos iguais e inalienáveis, que constituem o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz mundial, fato esse essencial para encorajar e desenvolver o
relacionamento e amizade entre os povos, que se declararam resolvidos a favorecer
o progresso social e instaurar melhores condições de vida num clima de liberdade
maior, proporcionada pelos Estados Membros, empenhados em assegurar o
respeito universal e efetivo, aos direitos do homem e as liberdades fundamentais
(MORAES, 2000).
Portanto, é imprescindível que os integrantes do Sistema de Segurança
Pública, e em especial os Policiais Militares adotem uma postura de total respeito
aos direitos humanos, cumprindo e fazendo cumprir toda a legislação em vigor,
zelando para que todos esses princípios sejam fielmente observados.
23

2.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Há mais de 60 anos, o mundo inteiro tem um documento claro e objetivo.


Elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Declaração Universal dos
Direitos Humanos sintetiza o que pode e deve ser feito para garantir conforto, bem-
estar, cidadania e dignidade a todos os seres humanos.
A adoção pela Assembléia Geral das Nações Unidas da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, apresentada ao mundo na cidade de Paris, na
França, em 10 de dezembro de 1948, constitui o principal diploma legal no
desenvolvimento da idéia contemporânea de Direitos Humanos. Os direitos inscritos
nesta Declaração constituem um conjunto indissociável e interdependente de
direitos individuais e coletivos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, sem
os quais a dignidade da pessoa humana não se realizaria por completo.
Segundo nos ensina Hoffmann (2009, p. 22) em sua brilhante monografia:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi articulada para um modelo


capitalista de Estado embora incorporassem, dos artigos 22 a 28, os direitos
sociais, sob a influência do russo Bogomolov convidado para auxiliar na
redação, com objetivo de dar maior equilíbrio entre o Estado Liberal e o
Social. A Declaração foi aprovada em 10 de dezembro de 1948 formada por
30 artigos com a finalidade de atingir um ideal comum a todos os povos de
defender a dignidade da pessoa humana, razão dos direitos humanos,
sendo marco mais significante na história dos direitos humanos ao torná-los
universais. Nos artigos 1 a 21 estão os direitos tradicionais: igualdade e
liberdade em dignidade e direitos; não discriminação por raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião pública ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento ou outra condição; direito à vida, liberdade e
segurança; vedada a tortura e o castigo cruel, desumano e degradante,
vedado o incitamento a discriminação. Os direitos econômicos, sociais e
culturais inerentes à dignidade e ao desenvolvimento da personalidade; os
direitos ao trabalho em condições justas; direito ao repouso e ao lazer;
educação e participação na vida cultural da comunidade e proteção de
interesses morais e materiais da produção científica ou artística. No artigo
28, o direito a ter uma ordem social e internacional capazes de proporcionar
os direitos e liberdades expressos e no último artigo, a norma de
interpretação. A Declaração é um marco fundamental na proteção dos
direitos humanos, porque também tornou o homem sujeito de direito
internacional.

É o marco histórico e consagrou-se definitivamente nas nações a


importância pelo respeito aos direitos humanos, reconhecendo definitivamente o
valor da pessoa humana e instaurando melhores condições de vida a todos os
povos.
24

A Declaração transformou-se, nestas últimas décadas, numa fonte de


inspiração para a elaboração de diversas cartas constitucionais e tratados
internacionais voltados à proteção dos Direitos Humanos. Este documento, chave do
nosso tempo, tornou-se um autêntico paradigma ético a partir do qual se pode medir
e contestar a legitimidade de regimes e Governos. Os direitos ali inscritos constituem
hoje um dos mais importantes instrumentos de nossa civilização visando a assegurar
um convívio social digno, justo e pacífico.
No preâmbulo da Declaração Universal de Direitos Humanos
encontramos a seguinte exposição de motivos:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desprezo pelos direitos da pessoa resultou em atos
bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade, e que o advento de
um mundo em que as pessoas gozem de liberdade de palavra, de crença e
de liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado
como a mais alta aspiração do homem comum:
Considerando essencial que os direitos da pessoa sejam protegidos pelo
império da lei, para que a pessoa não seja compelida, como último recurso,
à rebelião contra a tirania e a opressão;
Considerando essencial promover o desenvolvimento das relações
amistosas entre as nações;
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na sua carta,
sua fé nos direitos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa
humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que decidiram
promover o progresso social e melhores condições de vida em uma
liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover,
em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e
liberdades fundamentais da pessoa e a observância desses direitos e
liberdades;
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é
da mais alta importância para o pleno cumprimento deste compromisso. A
Assembléia Geral proclama:
A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como ideal comum
a ser atingido por todos os povos e todas as nações,com o objetivo que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
Declaração, se esforcem, pelo ensino e pela educação, em promover o
respeito a esses direitos e liberdades e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, em assegurar o seu
desenvolvimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os
povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos territórios
sob sua jurisdição. (ONU, 1945)

Os três primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos


são considerados como a essência de toda a declaração:

Artigo 1°
“Todos as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras
com espírito de fraternidade.
25

Artigo 2°
1- Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, de
origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição.
2- Não será tampouco feita nenhuma distinção fundada na condição
política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença, quer
se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer
sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3°
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. (ONU,
1945)

Os Direitos Humanos são os direitos de todos e devem ser protegidos em


todos os Estados e nações, independente de quaisquer convicções políticas, sociais
ou religiosas.
A Constitucional Federal Brasileira de 1988 tratou do tema liberdade, um
dos principais a manutenção da dignidade da pessoa humana, com destaque e
relevância:

A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos,


prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais,
ou seja, todos os cidadãos têm direito a tratamento idêntico pela lei, em
consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa
forma o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações
absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em
que se desigualam, é exigência do próprio conceito de justiça, pois o que
realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o
princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a
serviço de uma finalidade acolhida pelo direito. (MORAES, 2000, p. 92)

Importante também ressaltar que a igualdade se configura como uma


eficácia transcendente, de modo que toda situação de desigualdade persistente à
entrada em vigor da norma constitucional deve ser considerada não recepcionada,
se não demonstrar compatibilidade com os valores da Constituição.

O princípio da igualdade consagrado pela Constituição opera em dois


planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio executivo,
na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórias,
impedindo que possa criar tratamentos abusivamente diferenciados a
pessoas que se encontram em situações idênticas. Em outro plano, na
obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, a autoridade pública, de aplicar
a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de
diferenciações em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou
políticas, raça, classe social. (MORAES, 2007, p. 92)

Os Direitos Humanos não são, portanto, apenas um conjunto de princípios


morais que devem informar a organização da sociedade e a criação do direito.
26

Enumerados em diversos tratados internacionais e constituições, asseguram direitos


aos indivíduos e coletividades e estabelecem obrigações jurídicas concretas aos
Estados. Compõem-se de uma série de normas jurídicas claras e precisas, voltadas
a proteger os interesses mais fundamentais da pessoa humana.
É necessário evitar qualquer forma social, ou cultural de discriminação,
quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por motivo de raça, cor, condição
social, língua ou religião, embora o Apparthaid na África do Sul, o Islamismo nos
países do Oriente Médio, onde mulheres são tratadas em segundo plano, como
objetos manipuláveis pelos homens, assim como na Irlanda do Norte, onde católicos
e protestantes se digladiam por questões meramente religiosas.
O extermínio, os seqüestros, o crime organizado, a desmoralização e o
desmantelamento dos organismos policiais e da própria justiça, o tráfico de drogas e
as mortes no trânsito não podem ser considerados normais, especialmente em um
Estado e em uma sociedade que desejam ser modernos e democráticos.
Direitos Humanos são os direitos fundamentais de todas as pessoas,
sejam elas mulheres, negros, brancos, homossexuais, índios, idosos, pessoas
portadoras de deficiências, populações de fronteiras, estrangeiros e emigrantes,
refugiados, portadores de HIV positivo, crianças e adolescentes, policiais, presos,
despossuídos e os que têm acesso à riqueza. Todos, enquanto pessoas, devem ser
respeitadas e sua integridade física protegida e assegurada.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) entende que os
Direitos Humanos referem-se a um sem número de campos da atividade humana: o
direito de ir e vir sem ser molestado; o direito de ser tratado pelos agentes do Estado
com respeito e dignidade, mesmo tendo cometido uma infração; o direito de ser
acusado dentro de um processo legal e legítimo, onde as provas sejam conseguidas
dentro da boa técnica e do bom direito, sem estar sujeito a torturas ou maus tratos; o
direito de exigir o cumprimento da Lei e, ainda, de ter acesso a um Judiciário e a um
Ministério Publico que, ciosos de sua importância para o Estado democrático, não
descansem enquanto graves violações de Direitos Humanos estejam impunes e
seus responsáveis soltos e sem punição, como se estivessem acima das normas
legais; o direito de dirigir seu carro dentro da velocidade permitida e com respeito
aos sinais de trânsito e às faixas de pedestres, para não matar um ser humano ou
lhe causar acidente; o direito de ser, pensar, crer, de manifestar-se sem tornar-se
27

alvo de humilhação, discriminação ou perseguição. São os direitos que garantem a


existência digna a qualquer pessoa.
Cabe frisar, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos continua
exercendo importante papel jurídico e político no reconhecimento e na proteção dos
direitos humanos em todas as nações, mesmo não tendo natureza jurídica de
tratado internacional, não tendo, portanto, a capacidade de vincular e ou obrigar a
ação dos Estados em termos jurídicos.
A falta de segurança das pessoas, o aumento da escalada da violência,
que a cada dia se revela mais múltipla e perversa, exigem dos diversos atores
sociais e governamentais uma atitude firme, segura e perseverante no caminho do
respeito aos Direitos Humanos. O esforço dos Governos federais, estaduais e
municipais, das autoridades judiciárias, legislativas e da própria sociedade como um
todo, ainda não foram capazes de diminuir o desrespeito diário aos Direitos
Humanos no Brasil.
Portanto, trata-se de construir um mundo em que todos os homens, sem
exceção de raça, religião ou nacionalidade, possam viver uma vida plenamente
satisfatória, livre de servidões. Enfim, um mundo em que a liberdade não seja uma
palavra vã.

2.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Neste item serão abordados alguns aspectos do artigo 5º da Constituição


Federal, de uma forma sintética, e de conteúdo simples, uma vez que no item
anterior, relativo à Declaração Universal dos Direitos Humanos, ficou delineado os
principais direitos e garantias fundamentais. Serão assim tratados tópicos relativos
ao princípio do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
O artigo 5º expressa:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a
propriedade, nos seguintes termos: (BRASIL, 2009,p. 5)

O que se veda são as diferenciações arbitrarias, as discriminações


absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se
28

desigualam, é exigência do próprio conceito de justiça. A igualdade perante a lei


corresponde à obrigação de aplicar as normas jurídicas gerais aos casos concretos,
na conformidade com o que elas estabelecem. (MORAES, 2000).
O artigo 5º, I, da Constituição Federal, afirma que homens e mulheres são
iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição. A correta
interpretação desse dispositivo torna inaceitável a utilização do discrimen sexo,
sempre que o mesmo artigo seja visto com o propósito de desnivelar materialmente
o homem da mulher, sendo perfeitamente aceito quando a finalidade for atenuar os
desníveis.(MORAES, 2000)
Na segunda parte, o artigo também assegura aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade. Embora sejam direitos e garantias
individuais, a Constituição Federal também assegura às pessoas jurídicas brasileiras
e estrangeiras que atuem no Brasil.
No capítulo também são enunciados os direitos coletivos. Ao expressar os
direitos individuais e coletivos, há o entendimento de que a Constituição não tem
declaração de deveres paralela à declaração dos direitos. Os deveres decorrem
destes à medida que cada titular de direitos individuais tem o dever de reconhecer e
respeitar igual o direito do outro, bem como dever de comportar-se nas relações
inter-humanas, com postura democrática, compreendendo que a dignidade humana,
do próximo, deve ser exaltada como a sua própria.

2.2.1 Direito à vida

Consoante o direito à vida, assegurado na nossa Constituição Federal,


devemos considerar o conceito global, no qual estão resguardados os seus direitos
desde a concepção. Vida, no texto constitucional não é considerada apenas no seu
sentido biológico de incessante auto-atividade funcional, peculiar à matéria orgânica,
mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Todo ser dotado de vida é
indivíduo, isto é, algo que não se pode dividir, sob pena de deixar de ser. O homem
é um indivíduo, e mais que isto, é uma pessoa. De nada adiantaria a Constituição
29

assegurar outros direitos fundamentais, como a igualdade, a intimidade, a liberdade,


o bem estar, se não existisse a vida humana entre esses direitos.
O direito à existência consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver,
de defender a própria vida, de permanecer vivo. É o direito de não ter interrompido o
processo vital, senão pela morte espontânea e inevitável. A vida, além de ser um
direito fundamental do indivíduo, é também um interesse que, não só ao estudo,
mas a própria humanidade, em função de sua preservação da espécie, cabe
proteger.
Para MORAES (2000) o direito à vida deve ser entendido de uma maneira
global, mais ampla, como direito a um nível de vida adequado com a condição
humana, ou seja, direito à alimentação, vestuário, assistência médico-odontológico,
educação, cultura, felicidade, lazer, e demais condições vitais.
Inerente à integridade física, cabe ressaltar que agredir o corpo humano é
um modo de agredir a vida, pois esta se realiza naquele. A integridade físico-
corporal constitui, por isso, um bem vital e revela um direito fundamental do
indivíduo. Daí porque as lesões corporais são punidas pela legislação penal.
Qualquer pessoa que as provoque fica sujeita às penas da lei, ou seja, sujeita as
sanções da lei.
É tradição do direito constitucional brasileiro, vedar a pena de morte,
admitida só no caso de guerra externa declarada, nos termos do artigo 84, XIX (art.
5º, XLVII “a”).
A prática de tortura em nosso país, está expressamente condenada pelo
inciso III do artigo 5º da Constituição Federal, segundo a qual ninguém será
submetido à tortura ou a tratamento desumano ou degradante, respondendo
perante a justiça os mandantes, os executores e os que podendo evitá-lo, se
omitem.

2.2.2 Direito à liberdade

O homem é um ser social e suas relações com a natureza e sua ação


sobre ela estão condicionados por suas relações sociais com os seus semelhantes.
Assim, o homem se torna cada vez mais livre, à medida que amplia o seu domínio
30

sobre a natureza e sobre as relações sociais. O homem domina a necessidade, à


medida que amplia os seus conhecimentos sobre a natureza e suas leis objetivas.
A liberdade de expressão constitui um dos principais fundamentos
essenciais de uma sociedade livre, soberana e democrática e compreende não
somente as informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis,
mas também aquelas que possam causar transtornos, resistência, inquietar
pessoas, pois a democracia somente existe a partir da consagração do pluralismo de
idéias e pensamentos, da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo
(MORAES, 2000).
A liberdade consiste na ausência de toda coação anormal, ilegítima e
imoral. Daí se conclui que toda lei que limita a liberdade precisa ser normal, moral e
legítima, no sentido de que seja consentida por aqueles cuja liberdade restringe. A
liberdade consiste na possibilidade de coordenação consciente dos meios
necessários à realização da felicidade. O regime democrático é uma garantia geral
da realização dos direitos humanos fundamentais. Vale dizer, portanto, que é na
democracia que a liberdade encontra campo para expansão. É nela que o homem
dispõe da mais ampla possibilidade de coordenar os meios necessários à realização
da sua felicidade pessoal.

2.2.3 Direito à Igualdade

A Constituição Federal consagra em seu artigo 5º caput, o princípio da


igualdade, garantindo a todos os cidadãos um tratamento igual perante a legislação,
proibindo qualquer tipo de discriminação. Esse princípio é de uma utilidade prática
incomensurável para o policial militar, pois é ele quem atua junto à comunidade,
fazendo com que esse direito seja garantido a todos os cidadãos.
O que se veda terminantemente são as diferenciações arbitrarias, as
discriminações absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida
em que se desigualam, por questão de lógica, é exigência do próprio conceito de
justiça (MORAES, 2000).
O artigo 5º, I, da Constituição Federal, nos ensina que homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição. A
31

correta interpretação desse dispositivo torna inaceitável a utilização do


descriminização por sexo, sempre que o mesmo artigo seja visto com o propósito de
desnivelar materialmente o homem da mulher, sendo perfeitamente aceito quando a
finalidade for atenuar os desníveis (MORAES, 2000).
Conforme prescreve o inciso VIII do artigo 5º da Constituição Federal
(2009, p. 7) “ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada em lei”.
Partindo do princípio de que todos são iguais perante a lei, o policial
militar deve saber que aquelas pessoas, embora tenham convicção religiosa e
filosófica que divergem da maioria, devem ser respeitadas como um todo. Isto
também deve ser aplicado ao racismo, pois todos devem ser tratados de forma igual,
não importando a sua raça ou cor.

2.2.4 Direito à Segurança

O direito à segurança, assim como os outros direitos fundamentais da


pessoa estão assegurados na Constituição Federal em seu artigo 5º, caput. Como o
próprio nome diz, todo cidadão tem o direito de ter os seus direitos e deveres
protegidos pelo Estado.
No inciso XI, da Constituição Federal (2009, p. 7), esta escrito “a casa é o
asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro,
ou durante o dia por determinação judicial”.
A lei protege a inviolabilidade da casa, só podendo alguém adentrar a
mesma conforme o que preceitua o inciso acima. A utilidade prática para o policial
militar, também é de vital importância, sob pena de cometer abuso de poder, caso
descumpra tais exigências asseguradas por lei. A maioria dos juristas delimita o dia
como o horário das 06:00 às 18:00 horas e noite das 18:00 às 06:00 horas. Mas não
vamos nos alongar neste limite, pois é altamente polemico.
No inciso VII do artigo 5º, da Constituição Federal, assegura-se nos
termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
32

internação coletiva. A previsão constitucional encerra um direito subjetivo daquele


que se encontra internado em estabelecimento coletivo. Assim, ao Estado cabe, nos
termos da lei, a materialização das condições para prestação dessa assistência
religiosa, que deverá ser multiforme, ou seja, de tantos credos quanto àqueles
solicitados pelos internos.
Diz o inciso X do artigo 5º da Constituição Federal (2009, p. 7), “São
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”. Os direitos à intimidade e à vida privada, salvaguardam um espaço íntimo
intransponível por intromissões ilícitas externas. A proteção constitucional refere-se,
inclusive, à necessária proteção à própria imagem frente aos meios de comunicação
em massa, tais como televisão, rádio, jornais, revistas, internet, etc.
É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal. Ocorre, porém, que apesar da exceção constitucional
expressa referir-se somente à interceptação telefônica, entende-se que nenhuma
liberdade individual é absoluta, sendo possível, respeitados certos parâmetros, a
interceptação das correspondências e das comunicações, sempre que as liberdades
públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de práticas
ilícitas.
Importante destacar que a previsão constitucional, além de estabelecer
expressamente a inviolabilidade das correspondências e das comunicações em
geral, implicitamente proíbe o conhecimento ilícito de seus conteúdos por parte de
terceiros. O segredo das correspondências e das comunicações é princípio corolário
das inviolabilidades previstas na Carta Magna.

2.2.5 Direito à propriedade

Acompanhando os ensinamentos de Moraes (2000) todas às pessoas, que


possuam personalidade física ou jurídica, tem direito à propriedade, podendo o
ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de aquisição, perda, uso, e
33

limites. O direito de propriedade, constitucionalmente consagrado, garante que dela


ninguém poderá ser privado arbitrariamente, pois somente a necessidade ou
utilidade publica ou o interesse social permitiram a desapropriação.

O direito à propriedade é garantido no artigo 5º, inciso XXII da


Constituição Federal. O direito à propriedade nos dias atuais vem sofrendo vários
atentados, fazendo com que a Polícia Militar interfira para solucionar problemas
relativos à posse. Para tanto, o policial militar deverá sempre agir de forma a cumprir
o que a lei determina através das decisões judiciais, pois tais conflitos são
apreciados no âmbito da Justiça.
Outros incisos, dentro da Constituição Federal também tratam do direito
de propriedade, como é o caso do XXIII (“A propriedade atenderá a sua função
social”.); XXIV (procedimento de desapropriação); XXV (O uso da propriedade
particular por autoridade competente no caso de iminente perigo público assegura a
indenização se houver danos); XXVI (a pequena propriedade rural não será objeto
de penhora desde que trabalhada pela família). Cabe salientar que as situações
descritas neste parágrafo são de difíceis soluções, pois o emprego de força física
deverá ser evitado, ao se retirar os invasores de determinada propriedade, e sempre
agindo em decorrência de um mandado judicial.
O direito da propriedade privada origina-se da natureza humana, que se
estende até sobre os bens de produção. Tal direito constitui-se no meio apropriado
para afirmação da dignidade da pessoa humana e para o exercício da
responsabilidade em todos os campos, sendo fator de estabilidade para a família, de
paz e prosperidade social. A função social é inerente ao direito da propriedade
privada.
Ainda destacamos os incisos abaixo relacionados, os quais também são
de suma importância para a rotina do policial militar e que não foram objeto de
detalhamento:
II - princípio da legalidade;
IV - liberdade de pensamento;
V - direito de resposta;
VI - liberdade de crença e consciência;
X - inviolabilidade da intimidade, da honra, imagem e da vida privada das
pessoas;
34

XV - liberdade de locomoção;
XVI - liberdade de reunião;
XVII - liberdade de associação;
XXXII - direito de informação;
XXXIV - direito de petição e obtenção de certidão;
XXXV - direito de apreciação pelo Poder Judiciário de lesão de direito
ou ameaça de direito;
XXXVI - direito adquirido;
XXXVII - inexistência de tribunal de exceção;
XXXVIII - instituição do tribunal do júri;
XXXIX - princípio da anterioridade da lei;
XL - irretroatividade da lei, salvo para benefício do réu;
XL- punição por qualquer discriminação atentatória dos direitos e
garantias fundamentais;
XLII - torna inafiançável e imprescritível os crimes de racismo;
XLIII - considera inafiançável e insusceptível de graça ou anistia os crimes
de tortura;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados civis ou militares, contra a ordem constitucional ou o Estado
democrático;
XLV - sobre o fato de que a pena não passará da pessoa do condenado,
e a possibilidade de extensão de reparação do dano e perda dos bens,
ser estendida aos sucessores ou contra eles executada;
XLVI - sobre os tipos de penas;
XLVII - sobre as penas banidas do nosso ordenamento jurídico;
XLVIII - sobre o local do cumprimento da pena, e as condições de
natureza do delito, idade e sexo do apenado;
XLIX - sobre a garantia do respeito à integridade física e moral dos
presos (inciso muito importante para o conhecimento do Policial Militar);
L - sobre a garantia às presidiárias de poder permanecer com o filho
durante o período de amamentação;
LIII - sobre garantia de processo pela autoridade competente;
LIV - sobre a garantia do devido processo legal, na hipótese de privação
de liberdade ou de bens;
35

LV - sobre a garantia de ampla defesa, em processo judicial ou


administrativo (inciso amplamente utilizado na Corporação, em todas as
hipóteses de processo administrativo, inclusive na apuração infrações
disciplinares de qualquer natureza);
LVI - sobre a inadmissibilidade, no processo, da obtenção de provas por
meios ilícitos;
LVII - sobre a garantia de não ser considerado culpado até a sentença
penal condenatória com trânsito em julgado;
LXVII - garantia de não haver prisão civil por dívida, bem como as
exceções;
LXXIV - sobre a assistência jurídica integral gratuita aos que
comprovarem carência de recursos;

É claro que se torna inviável a realização de um estudo profundo sobre a


totalidade do artigo 5º da Constituição Federal, uma vez que o assunto muito
extenso é detalhado, e o propósito do nosso estudo não é descer às minúcias, mas
sim abordar aspectos mais importantes à atividade de policiamento.
36

3 A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Com o Estado Democrático de direito, o estudo dos direitos humanos nas


polícias brasileiras tornou-se uma necessidade para as instituições de segurança
pública. As constantes denúncias de violações sistemáticas das garantias
fundamentais do ser humano, principalmente os direitos inalienáveis à vida e a
integridade física, levaram essas instituições de segurança a desenvolverem
mecanismos de ensino e correição, através de suas ouvidorias e corregedorias,
visando à adaptação aos novos parâmetros legais.
A Educação se tornou consciência mundial como fator essencial para a
evolução dos povos e o desenvolvimento de seus mais diversos seguimentos. A
História da Educação no Brasil mostra que desde sua incrementação para todos, na
década de 90, implementou-se uma forma de educação democratizada, com
objetivos não somente de formar a elite, a mão-de-obra especializada e o intelectual,
mas acima de tudo voltada para levar a todos a cultura, o conhecimento e a
disseminação do conhecimento no país.
Dentro de tal contexto, insere-se também a Polícia Militar de Santa
Catarina, que tem a missão constitucional de atender a sociedade, a qual não mais
se contenta com qualquer atendimento, mas que exige, com todo direito, que esse
serviço seja exercido com excepcional qualidade.
A este propósito Balestreri (2003, p. 08) nos ensina: “O policial, assim, à
luz desses paradigmas educacionais mais abrangentes, é um pleno e legitimo
educador. Essa dimensão é inabdicável e reveste de profunda nobreza a função
policial.”
No Brasil duas legislações falam a respeito desses conceitos de
educação, a Constituição Federal de 1988 que prevê em seu artigo 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida


e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2009).

E a Lei nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação, onde no artigo 2º


textualmente prevê:
37

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (LDBE, 1996)

Ainda complementando, a Lei nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da


Educação fala em seu artigo 83: “O ensino militar é regulado em lei específica,
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelo sistema
de ensino”.
Neste campo de ação, o policial militar enfrenta uma série de desafios que
lhe são impostos diariamente, pois além de ser o responsável pela segurança da
sociedade, também deverá ser o transmissor e difusor de conhecimentos entre os
integrantes da Instituição.
Nesta linha temos o pensamento de SCHON ( 2007, p15) onde cita:

Na topografia irregular da prática profissional, há um terreno alto e firme, de


onde se pode ver o pântano. No plano elevado, problemas possíveis de
serem administrados prestam-se a soluções através da aplicação de
teorias e técnicas baseadas em pesquisa. Na parte mais baixa, pantanosa,
problemas caóticos e confusos desafiam as soluções técnicas. A ironia
dessa situação é o fato de que os problemas do plano elevado tendem a
ser relativamente pouco importantes para os indivíduos ou o conjunto da
sociedade, ainda que seu interesse técnico possa ser muito grande,
enquanto no pântano estão os problemas de interesse humano. O
profissional deve fazer suas escolhas. Ele permanecerá no alto, onde pode
resolver problemas relativamente pouco importantes, de acordo com os
padrões de rigor estabelecidos, ou descerá ao pântano dos problemas
importantes e da investigação não-rigorosa?

O Policial Militar, como profissional de segurança, enfrenta este dilema


onde sua atuação concentra-se na maior parte do tempo na parte baixa, pantanosa,
onde afloram os problemas do interesse humano, nos quais poucos segmentos da
sociedade tem interesse na sua resolução.
Ainda acompanhando o pensamento de SCHON ( 2007, p15):

A racionalidade técnica diz que os profissionais são aqueles que


solucionam problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais
apropriados para propósitos específicos. Profissionais rigorosos solucionam
problemas instrumentais claros, através da aplicação da teoria e da técnica
derivadas de conhecimento sistemático, de preferência científico.

É nesse campo de atuação que o Policial Militar utiliza os conhecimentos


recebidos nos bancos escolares durante os cursos de formação específicos de cada
graduação e também daqueles ensinamentos revistos durante as instruções de
38

revitalização constantes dos planejamentos anuais da Diretoria de Ensino e


Instrução da Instituição.
Ainda podemos destacar a metodologia do ensino em direitos humanos,
segundo Silva (2003, p.49) a respeito do grande desafio para a polícia:

A educação em direitos humanos numa democracia se baseia em uma


concepção de ensino-aprendizagem em que se aprende sendo ativo,
analisando, sintetizando, aplicando, comparando, hierarquizando,
dialogando, valorando, enfim, permitindo um processo pessoal de
construção do conhecimento. A assumir a opção de democratizar as
instituições policiais aproximado-as da comunidade, por meio da educação
em direitos humanos em todos os níveis, é necessário adotar estratégias
metodológicas que promovam a convivência democrática, o gosto por
aprender e compartilhar experiências. O aprendizado deverá ser centrado
na resolução de problemas reais dentro da perspectiva do respeito aos
direitos humanos. Neste mister, é indispensável que os professores usem
metodologia que ajude os alunos na construção do conhecimento e não só
na acumulação e memorização das informações. Da mesma forma, que a
escola propicie a vivência necessária em torno dos princípios de direitos
humanos.

A necessidade de adoção destes mecanismos foi devido à necessidade


das Policias Militares tomarem atitudes rápidas e eficientes frente ao rol de
denúncias realizadas por organismos não governamentais nacionais e internacionais
de proteção aos direitos humanos, além da mídia e da sociedade, frente a pratica de
violações das garantias individuais dos cidadãos brasileiros.

3.1 MATRIZ CURRICULAR NACIONAL

A Matriz Curricular Nacional da SENASP surgiu do interesse nacional


como forma de ser um referencial teórico para padronizar as ações na esfera da
educação, tendo por escopo traçar linhas a serem seguidas por todos os segmentos
da Segurança Pública, como assevera adiante:

O termo “matriz” suscita a possibilidade de um arranjo não linear de


elementos que podem representar a combinação de diferentes variáveis, o
que não significa que a Matriz Curricular Nacional expressa um conjunto de
componentes a serem combinados na elaboração dos currículos
específicos, ao mesmo tempo em que oportuniza o respeito às
diversidades regionais, sociais, econômicas, culturais e políticas existentes
no país, possibilitando a utilização de referências nacionais que possam
traduzir pontos comuns que caracterizem a formação em segurança
pública. (BRASIL, 2008, p. 02)
39

A Matriz Curricular Nacional foi apresentada em 2003, num amplo


Seminário sobre Segurança Pública, a qual tinha por objetivo estimular e fomentar
ações no âmbito do Sistema Único de Segurança Publica ( SUSP), cuja razão maior
era garantir a unidade de pensamento e ação dos profissionais da área de
Segurança Pública.
Tem como principal característica ser um referencial teórico-metodológico
para orientar as atividades formativas dos profissionais da área de Segurança
Pública, incluindo a Polícia Militar. A Matriz é formada por eixos articuladores e áreas
temáticas que norteiam os mais diversos programas e projetos executados pela
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP).
No período compreendido entre os anos de 2005 a 2007, a SENASP, em
parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, realizou diversos seminários
regionais denominados Matriz Curricular em Movimento, destinados especialmente
aos docentes dos centros de formação das instituições de Segurança Pública.

Esses seminários possibilitaram a apresentação dos fundamentos


didático-metodológicos presentes na Matriz, a discussão sobre as
disciplinas da Malha Curricular e a transversalidade dos Direitos Humanos,
bem como reflexões sobre a prática pedagógica e sobre o papel intencional
do planejamento e execução das ações formativas. Os resultados colhidos
nos seminários e a demanda cada vez maior por apoio para implantação
da Matriz nos estados estimularam a equipe a lançar uma versão
atualizada e ampliada da Matriz, contendo em um só documento as
orientações que servem de referenciais para as ações formativas dos
profissionais da área de segurança pública. (BRASIL, 2008, p. 02)

A SENASP ao difundir essas diretrizes pretende estimular o


desenvolvimento das ações formativas na área de Segurança Pública, disseminando
e padronizando a cultura pedagógica e contribuindo para a excelência da formação
do profissional de Segurança Pública
A Matriz Curricular classifica os seus princípios em três grandes grupos,
sendo eles o Ético, o Educacional e o Didático-pedagógico. Destacamos a seguir
estes princípios:
Os princípios Éticos tem por escopo as ações na área de Segurança
Pública que tem ligação estreita com os Direitos Humanos, as quais permeiam as
ações dos profissionais da área de segurança pública num Estado Democrático de
Direito.
40

Princípios Éticos:
- Compatibilidade entre Direitos Humanos e eficiência policial: as
habilidades operativas a serem desenvolvidas pelas ações formativas de
segurança pública necessitam estar respaldadas pelos instrumentos legais
de proteção e defesa dos Direitos Humanos, pois Direitos Humanos e
eficiência policial são compatíveis entre si e mutuamente necessários. Esta
compatibilidade expressa a relação existente entre Estado Democrático de
Direito com o cidadão.
- Compreensão e valorização das diferenças: as ações formativas de
segurança pública devem propiciar o acesso a conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais que valorizem os Direitos Humanos e a
cidadania, enfatizando o respeito à pessoa e à justiça social. (BRASIL,
2008, p. 7)

Temos também os princípios Educacionais, os quais conduzem nossas


diretrizes para fomentarmos as ações formativas dos profissionais da área de
segurança pública, retroalimentando com informações e constantes atualizações dos
profissionais docentes.

Princípios Educacionais
Flexibilidade, diversificação e transformação: as ações formativas de
segurança pública devem ser entendidas como um processo aberto,
complexo e diversificado que reflete, desafia e provoca transformações na
concepção e implementação das Políticas Públicas de segurança,
contribuindo para a construção de novos paradigmas culturais e estruturais.
Abrangência e capilaridade: as ações formativas de segurança pública
devem alcançar o maior número possível de instituições, de profissionais e
de pessoas, por meio da articulação de estratégias que possibilitem
processos de multiplicação, fazendo uso de tecnologias e didáticas
apropriadas.
Qualidade e atualização permanente: as ações formativas de segurança
pública devem ser submetidas periodicamente a processos de avaliação e
monitoramento sistemático, garantindo, assim, a qualidade e a excelência
das referidas ações.
Articulação, continuidade e regularidade: a consistência e a coerência dos
processos de planejamento, acompanhamento e avaliação das ações
formativas devem ser alcançadas mediante o investimento na formação de
docentes e na constituição de uma rede de informações e interrelações que
possibilitem disseminar os referenciais das políticas democráticas de
segurança pública e alimentar o diálogo enriquecedor entre as diversas
experiências. (BRASIL, 2008, p. 8)

Por fim temos os princípios Didático-pedagógicos que norteiam as ações


e atividades referentes aos processos de planejamento, execução e avaliação,
utilizados pelo corpo docente, nas ações formativas dos profissionais da área de
segurança pública.

Princípios Didático-Pedagógicos
Valorização do conhecimento anterior: os processos de desenvolvimento
das ações didático-pedagógicas devem possibilitar a reflexão crítica sobre
41

as questões que emergem ou que resultem das práticas dos indivíduos,


das instituições e do corpo social, levando em consideração os conceitos,
as representações, as vivências próprias dos saberes dos profissionais da
área de segurança pública, concretamente envolvidos nas experiências
que vivenciam no cotidiano da profissão.
Universalidade: os conceitos, doutrinas e metodologias que fazem parte do
currículo das ações formativas de segurança pública devem ser veiculadas
de forma padronizada, levando-se em consideração a diversidade que
caracteriza o país.
Interdisciplinaridade, transversalidade e reconstrução democrática de
saberes: interdisciplinaridade e transversalidade são duas dimensões
metodológicas – modo de se trabalhar conhecimento – em torno das quais
o professor pode utilizar o currículo diferentemente do modelo tradicional,
contribuindo assim para a excelência humana, por meio das diversas
possibilidades de interação, e para excelência acadêmica, utilizando-se das
situações de aprendizagem mais significativas. (BRASIL, 2008, p. 8)

A Matriz Curricular é fundamental para ter um “norte”, um caminho, um


referencial a seguir pelas instituições de Segurança Pública, devendo entre tantos
outros conteúdos, abordar os Diretos Humanos, que é objetivo do interesse de
nosso estudo.
Os objetivos da Matriz Curricular Nacional são pautados na cidadania e no
respeito às garantias fundamentais do ser humano pelos profissionais da área de
segurança pública. Preocupa-se com a atividade de Segurança Pública, estimulando
seus componentes à prática da Cidadania e do respeito aos ditames constitucionais,
possibilitando aos profissionais:

Posicionar-se de maneira crítica, ética, responsável e construtiva nas


diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como importante
instrumento para mediar conflitos e tomar decisões;
Perceber-se como agente transformador da realidade social e histórica do
país, identificando as características estruturais e conjunturais da realidade
social e as interações entre elas, a fim de contribuir ativamente para a
melhoria da qualidade da vida social, institucional e individual;
Conhecer e valorizar a diversidade que caracteriza a sociedade brasileira,
posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças
culturais, classe social, crença, gênero, orientação sexual, etnia e outras
características individuais e sociais;
Conhecer e dominar diversas técnicas e procedimentos, inclusive as
relativas ao uso da força e as tecnologias não-letais, no desempenho da
atividade de Segurança Pública, utilizando-as de acordo com os preceitos
legais;
Utilizar diferentes linguagens, fontes de informação e recursos tecnológicos
para construir e afirmar conhecimentos sobre a realidade em situações que
requerem a atuação das instituições e dos profissionais de segurança
pública. (BRASIL, 2008, p. 9)
42

Os objetivos da Matriz Curricular reforçam o senso de justiça, a doutrina


dos Direitos Humanos, o respeito às garantias fundamentais, o respeito à dignidade
humana, proporcionando ao corpo docente trabalhar os conteúdos de uma forma
homogênea e padrozinada aos profissionais de Segurança Pública.

3.2 EDUCAÇÃO POLICIAL MILITAR

Na atualidade, aceita-se que existam três tipos de educação: a informal


que acontece principalmente durante a tenra idade e que tem como agentes ativos o
núcleo familiar, representados geralmente pelas figuras do pai e da mãe; a
educação formal, recebida em instituições de ensino públicas como privadas, cuja
missão principal além de lapidar a educação advinda da família, repassa
conhecimentos; e a informal exercida por outros membros da sociedade que
permeiam dentro do núcleo familiar e estudantil.
De acordo com Ferreira (1986, p.44): “Educação vem do latim educatione,
ato ou efeito de educar (-se), ou seja, processo de desenvolvimento da capacidade
física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua
melhor integração individual e social”.
No Brasil a Constituição Federal de 1988, no artigo 205, trata
especificamente sobre o conceito de educação, prevendo:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida


e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

E também a Lei nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação onde


artigo 2º textualmente prevê:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
43

A educação policial militar utiliza-se primeiramente do conhecimento pré-


adquirido, aquele conhecimento que o futuro policial militar já trás do meio onde vive,
de onde é oriundo. A Instituição, após realizar um bom processo de seleção para
ingressos em seus quadros, capacitará o futuro Policial Militar dentro das normas de
ensino vigentes.

O ingresso nos quadros da Polícia Militar de Santa Catarina faz-se


atualmente somente por dois caminhos distintos: o Curso de Formação de Soldados
e o Curso de Formação de Oficiais, tendo cada um deles formalidades e
peculiaridades distintas.

Para melhorar a educação formativa o policial militar participa, durante


toda a sua vida profissional, de vários treinamentos em que a instituição propicia no
decorrer de sua carreira profissional.

De acordo com Ferreira (2006, p. 44): “instrução vem do latim instructione,


(instruir) e o prefixo in, indica algo que vem de fora para dentro”

O conceito acima é importantíssimo para diferenciarmos o treinamento


utilizado para preparar o policial para o desenvolvimento de novas atividades, do
treinamento usado para aprimorar a execução das atividades que já executa.

No meio Policial Militar, o nome “instrução” serve para aprimorar o


conhecimento adquirido na formação. A Polícia Militar de Santa Catarina atualmente
usa o termo “Revitalização” para definir esse processo da educação, onde todo
profissional independente da área de atuação, deve ser periodicamente submetido,
a fim de relembrar e de atualizar conhecimentos.

A diferenciação acima referenciada é importante, pois como a maioria da


literatura disponível sobre o tema é civil, tornar-se-ia confuso falarmos em instrução,
quando as citações trazem sempre a palavra treinamento.

No Plano Geral de Ensino – PGE/2009, instrução está definida como:


“Toda atividade educacional, com foco técnico-profissional, desenvolvida em todos
os níveis organizacionais da PMSC, visando à manutenção do conhecimento básico
necessário aos assuntos atinentes a atividade policial militar”.
44

Ainda a instrução recebe tratamento diferenciado segundo as Normas


Gerais de Ensino, NGE (2009):

A instrução policial-militar é a atividade desenvolvida pelas organizações


policiais-militares, tendo em vista a manutenção e o desenvolvimento do
preparo individual do policial-militar e do adestramento das Unidades para o
cumprimento de suas missões específicas.

E complementando mais ainda:

A instrução visa mais do que o simples aprimoramento profissional. Ela


corporifica o contato do chefe com os seus subordinados, nos diferentes
escalões, transmitindo seus pensamentos e determinações, fazendo as
observações que se tornam necessárias, elogiando a quem fizer jus,
assistindo e aconselhando, recebendo sugestões e identificando
aspirações. A instrução é um instrumento de interação que tem por
finalidade maior aglutinação, a coesão e, sobretudo, a revitalização da
tropa(NGE, 2009).

As Normas Gerais de Ensino – NGE/09 trazem em seu artigo 11 os


princípios que regulam as atividades de ensino e instrução na corporação, as quais
são:
I - Objetividade – o ensino visa proporcionar os conhecimentos
necessários e indispensáveis ao policial militar, levando em conta a sua efetiva
preparação para o desempenho de suas atividades;
II - Progressividade – o ensino deve partir, em cada curso, do nível de
conhecimentos adquiridos anteriormente, evitando-se repetições desnecessárias;
III - Flexibilidade – o ensino deve proporcionar flexibilidade necessária
para adaptar continuamente a Policia Militar à evolução do Estado e do País;
IV - Continuidade – o ensino deve ser um processo contínuo, evolutivo e
permanente;
V - Produtividade – o ensino deve buscar o máximo de rendimento com o
menor custo.

O Currículo do Curso de Formação de Soldados da PMSC, mais


especificamente na carga horária de cultura jurídica contempla uma carga horária
suficiente para a disseminação da cultura dos direitos humanos, pois conforme
podemos observar no quadro abaixo, diversas disciplinas jurídicas e
complementares à doutrina de direitos humanos são ministradas aos alunos.
45

Área Disciplina C/H


Conhecimento Direito administrativo 15
Cultura jurídica Direito ambiental 15
aplicada Direito civil 15
Direito constitucional 15
Direito da criança e do adolescente 15
Direito penal 60
Direito processual e penal militar 30
Direito processual penal 30
Direitos humanos 30
Legislação de trânsito 60
Introdução ao Estudo do Direito 15
Carga horária de cultura jurídica aplicada 300
Quadro 1 - Grade curricular do Curso de Formação de Soldados da PMSC.
Fonte: Projeto do Curso de Formação de Soldados da Divisão de Ensino da Diretoria de Instrução e
Ensino da PMSC. (2009).

O Plano Geral de Ensino – 2009, onde será analisado rapidamente o


PROMA - Programa de Matéria da instrução “Revitalização”, será apresentado
abaixo, podemos perceber que a carga horária de 35h/a ministrada aos policiais
militares poderia ser aprimorada, com aumento da carga horária da disciplina de
direitos humanos, além da inclusão de fundamentos de saúde mental. O que
precisamos, na visão de muitos profissionais, é que as pessoas que fazem a
transmissão e disseminação desses conhecimentos sejam melhores reconhecidas,
valorizadas pela instituição policial militar. Também seria interessante a
padronização do conteúdo das disciplinas ministradas pelos instrutores, através da
Diretoria de Ensino e Instrução, facilitando e melhorando consideravelmente a
qualidade da informação ministrada e, com certeza, melhorando o nível de
aprendizado dos policiais militares.

Nº Matéria Conteúdo Programático C/H


01 Ações de Polícia 5. Conceito e Tipos de policiamento 10
Ostensiva Preventiva ostensivo
6. Uso da Algema
7. Abordagem de pessoas
8. Abordagem de veículos
9. Abordagem de edificações
10. Uso Progressivo da Força
02 Noções Direito Penal na 1. Principais conceitos no Direito Penal 05
Atividade Policial Militar e Penal Militar.
2 Principais Crimes e Contravenções
3. Lei Maria da Penha
46

4. Orientações sobre Termo


Circunstanciado
5. Orientação - Direito Ambiental
6. Estatuto da Criança e do
Adolescente
03 Direitos Humanos Aspectos da Atividade PM 02
04 Policiamento Ostensivo Legislação de Trânsito; 05
de Trânsito (Teoria e Prática)

05 Tiro Policial Defensivo 1. Normas de segurança 08


2. Fundamentos do Tiro
3. Técnicas de Tiro
4. Práticas de Tiro
06 Atividade Pratica Operação Barreiras (Trânsito) 05
Policial
Total de horas aula 35 h/a
Quadro 2 – Programa de matérias.
Fonte: Plano Geral de Ensino- 2009

O Programa de Matérias apresentado contempla disciplinas


eminentemente técnicas, necessitando que o Estado Maior da PMSC coordene as
várias diretorias, dentre elas a Diretoria de Ensino e Instrução, Diretoria de Saúde e
Promoção Social, a fim de realizar ações para complementar com disciplinas que
abordam a motivação, o estresse, e o bem estar físico do policial militar.
Empiricamente observamos em conversas informais em nossos quartéis,
na rotina da caserna, uma grande parcela de Policiais Militares, sejam eles de
oficiais ou praças, tem graves conflitos de relacionamento familiar, oriundos muitas
vezes de problemas financeiros e principalmente, do stress profissional adquirido ao
longo da carreira.
A inclusão de disciplinas voltadas para o controle do estresse,
relacionamento interpessoal, organização familiar, cultura regional e planejamento
financeiro, entre outras, trariam uma estabilidade emocional elevada, deixando o
policial militar em melhores condições de exercer suas atividades.
Assim, percebemos que existe uma estreita relação de dependência entre
o Ensino e a prática dos direitos humanos, pois necessitamos sempre de continua
atualização dos conhecimentos para que nossos policiais militares aprimorar-se no
atendimento da nossa sociedade.
Destaco também a importância em criar grupos de estudos, com a
participação de uma parcela significativa de instrutores e de Comandantes de
47

Batalhões e Guarnições Especiais, sob a coordenação da Diretoria de Ensino e


Instrução, para que fossem discutidos o Ensino e Instrução dentro da Polícia Militar.
Estas comissões poderiam discutir e analisar as matérias curriculares, os conteúdos
ministrados, a inclusão de novas disciplinas necessárias, formas de avaliação,
visando o aprimoramento do existente na atualidade dentro da PMSC.
48

4 BREVE HISTÓRICO DAS CORREIÇÕES

Os historiadores, entre eles Moraes (2000), discorrem que o instituto da


Correição teve a sua origem, mesmo que precariamente, na longínqua Babilônia, na
dinastia do rei Kham-um-rabi, mais conhecido entre nós como Hamurabi, que além
de guerreiro, contribuiu em muito para reforma do Direito, bem como, da ordem
social de seu país, elaborando no Século XVIII antes de Cristo uma consolidação
das leis babilônicas, titulado hoje em dia de Código de Hamurabi, contendo um
dispositivo que orientava no sentido de aproximar-se do cidadão e ouvir o povo para
direcionar o andamento da justiça.
Ainda na Lei das XII Tábuas, escrita por volta dos séculos I e II a. c.
também contemplava dispositivo semelhante para os plebeus queixosos das atitudes
dos magistrados.
Sob o aspecto etimológico, correger é termo antigo que significa
literalmente eliminar erros, emendar. Na linguagem jurídica, quer dizer realizar
correição, ou seja, realizar exame ou vistoria nos expedientes e documentos de
certo órgão, a fim de verificar se os serviços estão sendo desempenhados com
eficiência e lisura.
No Direito Brasileiro, segundo Meireles (1995), surgiu com as disposições
do Regulamento n.º 737, datado de 25 de novembro de 1850, que aprovou o Código
de Processo Comercial, com o nome de agravo por dano irreparável. E daí em
diante foi estendendo seu conceito e institutos não só no âmbito do Poder Judiciário
mais também para todos os atos administrativos tanto do Poder Judiciário, quanto do
Legislativo e, no caso em estudo, para os atos dos servidores públicos do Poder
Executivo.
Nas Instituições Militares, segundo Moraes (2000), os casos de
transgressão militar ou de crime propriamente militar definidos em lei, os seus
membros estão sujeitos ao Código de Processo Penal Militar e aos regulamentos
disciplinares, pois devido a sua característica especial e devido à maior necessidade
de disciplina e hierarquia do regime castrense.
Ainda na mesma linha de Moraes (2000), no caso de punições
disciplinares aplicados aos militares, observa-se que:
49

Assim, apesar de o art. 142, § 2º, da Constituição Federal estabelecer que


não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares, tal
previsão constitucional deve ser interpretada no sentido de que não haverá
habeas corpus em relação ao mérito das punições disciplinares militares.

Nas Instituições Militares, a hierarquia e a disciplina recebem um


tratamento diferenciado, mais rígido, que nas demais instituições. Afinal, as pessoas
que devem garantir a soberania nacional e segurança pública de um país devem
saber obedecer e respeitar os seus superiores e respeitar as leis previamente
estabelecidas, as quais também seguem regras rígidas de condutas.

4.1 VISAO GERAL DA ATIVIDADE CORREICIONAL

A Correição, desde a sua criação, foi instituída para acompanhar a


adequada prestação dos serviços públicos jurisdicionais ao cidadão, que
analogicamente no âmbito do serviço público em geral e principalmente, adotado
pelas Corregedorias do Poder Executivo, foi no sentido de resguardar os servidores
públicos de possíveis erros, excessos, equívocos ou mesmo atos abusivos e
arbitrários praticados, tendo por escopo a correta administração do serviço público.
Diante dessa premissa, para sanar equívocos procedimentais contrários a
tais conceitos e decorrentes da interpretação e aplicação errôneas destes e de
outros dispositivos legais é que resulta indispensável à presença de uma
Corregedoria atuante e isenta.
Na atividade correicional está contida também a atribuição de expedir
instruções para melhor regulamentar o funcionamento do serviço interno ou externo
prestado ao cidadão. Com isso, a Corregedoria mantém sob constante inspeção as
atividades públicas dos servidores do órgão a que é subordinado.
Na constatação de alguma anormalidade, cumpre ao Corregedor apontá-
la, registrá-la e corrigi-la e, em ação pedagógica, bom-senso e equilíbrio, mostrando
e ensinando a forma correta de agir, seja para o comandante ou diretor da Unidade,
bem como, para os servidores da mesma. Não deve ser escopo da correição,
quando detectada alguma anormalidade, constranger os servidores com
50

observações depreciativas, ameaçadoras ou que desmereçam o seu trabalho e o


seu desempenho.
A atividade correicional, quando desempenhada de forma eficiente e
competente, diminui drasticamente o número de procedimentos disciplinares
instaurados, pois com a devida orientação, os servidores estarão menos suscetíveis
ao cometimento de erros. Lembramos ainda que a atividade correicional não é
instrumento para intimidar os servidores públicos, mas para aperfeiçoamento de
suas atividades junto ao cidadão.
A Corregedoria, não é tão somente um órgão disciplinar ou punitivo, mas
também órgão emendativo, a correição é uma pedagogia, só assim poderá ela
desempenhar um papel construtivo. O Corregedor, ao mesmo tempo, deve
desempenhar as funções de verificador, provedor, emendador e por fim autoridade
punitiva de conduta lesiva ao Estado e ao cidadão, praticada por servidor público.
Portanto, o Corregedor em seu papel correicional, mesmo sem poder
intervir nas relações discricionárias deve orientar, ensinar e conduzir os servidores
sob a sua jurisdição como um educador, ensinar, valendo-se, para isso, de
procedimentos pedagógicos e não dos seus poderes hierárquicos ou punitivos,
devendo atuar sempre no enfoque de um órgão de controle que se serve da
sugestão e da persuasão, ao invés da coerção e da restrição, ferramentas estas
utilizadas somente em última instância.
Assim na constatação de alguma irregularidade, cumpre ao Corregedor
apontá-la, registrá-la e corrigi-la e, em ação pedagógica, bom senso e equilíbrio,
mostrando e ensinando a forma correta de agir, seja para o chefe do setor, bem
como, para os servidores da mesma. Não deve ser escopo da correição, quando
detectada alguma anormalidade, constranger os servidores com observações
depreciativas, ameaçadoras ou que desmereçam o seu trabalho e o seu
desempenho.
O Corregedor e sua equipe devem sempre buscar prover, verificar,
correger e emendar os atos dos servidores públicos sob a sua jurisdição e
competência, realizando, entre outros atos, recomendações por escrito quando das
visitas nas Unidades para corrigir atos administrativos considerados anormais,
orientando verbalmente e por escrito quanto aos corretos procedimentos adotados, a
fim de uniformizar a prestação de serviços. Com estes procedimentos, a
51

Corregedoria mantém sob constante inspeção e controle as atividades públicas dos


servidores do órgão a que tem jurisdição funcional.
O corregedor e sua equipe, além de do conhecimento jurídico e
administrativo, devem possuir também experiência na área aonde desempenharão
suas atividades. Conhecendo a vivencia, a rotina das atividades e os meios em que
as instituições funcionam, podem dar uma visão mais clara do processo a ser
analisado, tornando as suas verificações mais justas.
O autoritarismo, o sarcasmo e o desconhecimento real das condições a
que o servidor público desempenha suas funções, devem ser rechaçadas a todo
custo, pois o preço que a injustiça causa a seus servidores e a sociedade
certamente será extremamente alto.
O estímulo a fazer o correto é a melhor forma de corrigir o ato do servidor
que pode estar na eminência de cometer uma irregularidade ou mesmo já ter
cometido, porém de forma que o dano ao erário ou ao cidadão seja de possível
reparação, buscando ainda a conscientização da necessidade de se manter a
regularidade do processo.
Assim o desvio de conduta ou falta disciplinar, quando envolver servidor
público, deverá ser apurado através de Sindicância ou Processo Administrativo
Disciplinar, respeitando sempre o princípio do contraditório e da ampla defesa,
demonstrando para a sociedade e aos demais servidores que quaisquer desvios de
conduta serão passiveis de sanção.
Portanto, podemos concluir que o Corregedor para prover, deverá saber
prever, para verificar/apurar, deverá ter experiência no órgão sob inspeção, para
emendar, deverá saber agir como um verdadeiro orientador/educador.
De uma forma geral, podemos afirmar que em nosso Estado, e
principalmente em nossa instituição, a função da Corregedoria esta mais voltada a
atividade disciplinar e pouco voltada a atividade correicional. Elas não se
confundem, possuindo funções distintas, porém com uma finalidade única, a
eficiência do serviço público.
52

4.2 CORREIÇÃO: UMA NECESSIDADE ATUAL

A relevância da discussão a respeito da questão ora proposta, subsiste


em razão das Corregedorias serem utilizadas somente como órgão eminentemente
disciplinar, ou seja, unidade responsável pela punição de servidores públicos
quando do cometimento das faltas disciplinares. Na esfera da segurança publica
ainda hoje subsiste este conceito, que é mais voltado à apuração de desvios dos
seus servidores e conseqüente punição.
Porém, na teoria e prática moderna, essas unidades ou órgãos também
possuem o condão correicional, as quais devem procurar corrigir os atos dos
servidores públicos antes que os mesmos venham a acarretar prejuízos ao erário e
ao cidadão que tenha ou possam ter recebido a prestação de serviço público de
forma errônea.
Acompanhando o pensamento de Balestreri (2003, p. 27) a respeito desta
matéria:

Uma organização promotora da cidadania sempre parte do pressuposto de


que em um verdadeiro país democrático a denúncia não é constrangedora
ou antagonista, não devendo, por isso, gerar reações defensivas e
corporativistas. Uma verdadeira democracia preza a denúncia como a
melhor forma de depurar as suas instituições, sejam elas policiais,
judiciárias, legislativas ou executivas. Podemos mesmo dizer que não há
democracia sem o pleno poder de denúncia. Obviamente, não estamos
falando aqui do “denuncismo” sectário, leviano e volúvel. Esse deve ser
eticamente combatido, com todas as armas jurídicas de que dispõe a
própria democracia. A denúncia precisa ser responsável.

Ainda continuando na mesma premissa de Balestreri (2003, p. 28), vemos


a continuidade do seu raciocínio, quando relacionado a ética policial dentro das
instituições de segurança pública, onde os bons profissionais afastam naturalmente
os maus profissionais:
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o primeiro
interessado no “expurgo” dos maus profissionais, dos corruptos, dos
torturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles não é na Polícia, pois,
além do dano social que causam, prejudicam o equilíbrio psicológico de
todo o conjunto da corporação e inundam os meios de comunicação social
com um markenting que denigre o esforço heróico de todos aqueles outros
que cumprem corretamente sua espinhosa missão. Por este motivo, não
esta disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço.
53

Por vivenciarmos um Estado Democrático de Direito, onde devem


prevalecer o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório faz-se
mister que as atuais corregedorias instaladas nas instituições da Secretaria de
Segurança Pública, mais especificamente na Policia Militar de Santa Catarina,
devam ter o foco voltado essencialmente para a área preventiva e corretiva, e
excepcionalmente punitiva.
Nesse mesmo condão, salutar também é a independência que estes
órgãos de correição devem possuir com os demais órgãos da administração pública,
no caso em questão a instituição policial militar. Um órgão correicional forte é aquele
que pauta sua conduta de forma independente e não subserviente ao órgão a que
vai desempenhar suas atividades.
Observa-se também aqui a estreita ligação entre a Correição, o Ensino
dentro da Instituição Militar e as garantias fundamentais do ser humano, pois a retro-
alimentação é necessária e vital para que a capacitação dos Policiais Militares
atendam as exigências legais e aos reclames da sociedade.
54

5 CONCLUSÃO

Os princípios dos direitos humanos estão fundamentados nos ideais


revolucionários franceses da liberdade, igualdade e fraternidade. Todos os direitos
fundamentais estão recepcionados em nossa Constituição Federal vigente, mais
conhecida como Constituição Cidadã.
Os ideais foram conquistados através das lutas de classes, no decorrer da
história da humanidade, não nascendo prontos de uma hora para outra, sendo
desenvolvidos, aperfeiçoados e lapidados no transcorrer dos tempos.
O divisor de águas, principalmente foi as duas grandes guerras mundiais,
onde a atrocidade cometida por diversas nações inspirou a humanidade a consolidar
os principais fundamentos das garantias individuais do ser humano. As Nações
uniram-se e proclamaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU de
1948, composta por trinta artigos, constituindo no principal e mais importante
documento do tema no mundo moderno.
No Brasil, os direitos estão contemplados principalmente no artigo 5º, da
nossa Constituição Federal de 1988.
A história da evolução dos direitos humanos no Brasil passa
obrigatoriamente pelas Constituições Federais, onde as garantias fundamentais do
ser humano foram sendo incorporadas no passar dos anos. O avanço nas
conquistas sociais, políticas e nas garantias e direitos fundamentais trouxeram o
reconhecimento e a dignidade a toda nossa sociedade. A Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, conhecida como Cidadã, reconheceu e consolidou
uma imensidão de direitos humanos no país.
Os direitos humanos em nossa Constituição Federal podem ser definidos
como sendo o conjunto de direitos e garantias fundamentais do ser humano com
base no respeito à vida e a sua dignidade, contra os excessos cometidos pelo
Estado.
Na área da segurança pública, os direitos humanos são os direitos
fundamentais das pessoas, em que os encarregados pela aplicação da lei devem
atuar protegendo à vida, respeitando à dignidade da pessoa humana, sua
individualidade, dentro dos limites impostos pela lei, com a utilização correta da
técnica policial.
55

Precisamos que o país elabore uma política de direitos humanos


exeqüível, real, factível, viável onde se reconheça que não é possível resolver
imediatamente problemas que foram gerados ao longo de décadas. As violações
das garantias fundamentais tem muitas causas, destacando-se as de ordem política,
econômica, social, cultural e psicológica, onde se infere que a Polícia Militar não é a
única responsável. Existem graves desigualdades sociais, injusta distribuição de
renda, problemas estruturais de desemprego, do acesso à terra, da educação, da
saúde e do meio ambiente, entre tantos outros.
O ensino em nossa instituição é voltado para a formação dos profissionais
de segurança pública, tendo seus objetivos pautados na cidadania e no respeito aos
direitos humanos. Os conteúdos e disciplinas tratados nos Cursos e Formação e
Revitalização desenvolvidos dentro da Instituição poderiam ser estendidos,
aumentando a capacitação dos policiais militares.
A educação voltada para a promoção dos direitos humanos e as garantias
individuais deve ser amplamente consolidada através do incentivo à participação de
policiais militares em cursos, seminários, debates, fóruns e outros eventos, pois o
policial militar além de ser um cidadão com iguais direitos e deveres em relação ao
civil, é o principal veículo com que a Corporação conta para o contato com o público
externo
A Polícia Militar de Santa Catarina, procurando adaptar-se aos princípios
de direitos humanos, esta buscando implantar a Correição, visando um processo de
mudança e revisão nos seus conceitos, com a finalidade de acompanhar a evolução
da sociedade. A Corregedoria nos últimos anos, além de realizar a atividade
disciplinar e punitiva, também esta inovando com orientações, ensinando e
conduzindo os policiais militares a seguirem os preceitos legais. Essa retro-
alimentação do Ensino é muito importante, pois as atividades de correição podem
fornecer informações essenciais a continuidade da instituição.
Esta atividade correcional, pedagógica, é fundamental na atividade
policial militar, pois nossos servidores atuam dentro de limites tênues das garantias
fundamentais da pessoa humana, os quais têm que tomar decisões em segundos,
nos mais diversos locais e sem consulta prévia a nenhuma legislação.
A atividade policial compreende o trabalho desenvolvido pela polícia no
campo da Segurança Pública. A Polícia Militar tem a missão Constitucional de
polícia ostensiva e preservação da Ordem Pública. O cumprimento dessa importante
56

tarefa necessita aprimoramento e acompanhamento técnico qualificado de seus


agentes. As ações devem ser naturalmente norteadas no sentido do reconhecimento
pleno da dignidade da pessoa humana e no respeito aos Direitos Humanos, em prol
da paz social e do convívio harmônico.
Finalizando, concluímos que o estudo dos Direitos Humanos e das
garantias fundamentais estão intrinsecamente ligados as atividades de correição,
pois estas alimentam o Ensino e a Instrução da Instituição, sendo essenciais para
elencar o rol dos conhecimentos culturais necessários a formação da cultura jurídica
dos Policiais Militares de Santa Catarina.
57

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