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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO


ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS
POLICIAIS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA – II/2013

Cap PM Hugo Araujo Santos

OCORRÊNCIAS POLICIAIS COM SUICIDAS:


GERENCIAMENTO, NEGOCIAÇÃO E CONTROLE
DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO

São Paulo
2013
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS
POLICIAIS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA – II/2013

Cap PM Hugo Araujo Santos

OCORRÊNCIAS POLICIAIS COM SUICIDAS:


GERENCIAMENTO, NEGOCIAÇÃO E CONTROLE
DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO

Dissertação apresentada no Centro de Altos


Estudos de Segurança “Cel PM Nelson
Freire Terra” da Academia de Polícia Militar
do Barro Branco, como parte dos requisitos
para a aprovação no Mestrado Profissional
em Ciências Policiais de Segurança e
Ordem Pública.

Prof. Dr. Neury José Botega – Orientador

São Paulo
2013
Cap PM Hugo Araujo Santos

OCORRÊNCIAS POLICIAIS COM SUICIDAS:


GERENCIAMENTO, NEGOCIAÇÃO E CONTROLE
DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO

Dissertação apresentada no Centro de Altos


Estudos de Segurança “Cel PM Nelson
Freire Terra” da Academia de Polícia Militar
do Barro Branco, como parte dos requisitos
para a aprovação no Mestrado Profissional
em Ciências Policiais de Segurança e
Ordem Pública.

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São Paulo, ____ de ____________de 2014.

Orientador e 1º Membro: Prof. Dr. Neury José Botega


Universidade Estadual de Campinas

2º Membro: Ten Cel PM Ib Martins Ribeiro


Polícia Militar do Estado de São Paulo

3º Membro: Maj PM Adriano Giovaninni


Polícia Militar do Estado de São Paulo
A todos os policiais e bombeiros que
diariamente arriscam suas vidas pelas de
quem não suporta mais viver.
AGRADECIMENTOS

Às mulheres da minha vida: minha mãe Célia, irmã Priscila, esposa Andréa,
e filhas Bianca e Gabriela, alicerces da família.
Aos meus melhores amigos: meu pai Hermelino, irmãos Marcos e Celso e,
especialmente, ao Moacyr, por ter me acolhido em sua casa durante o curso.
À melhor banca de mestrado que poderia ter: o Doutor Neury Botega, maior
autoridade em suicídio no país, o Coronel Ib Martins Ribeiro, psicólogo que mudou o
olhar da Corporação para com seus policiais militares e familiares e o Major Adriano
Giovaninni, mestre em gerenciamento de crises e explosivos.
Aos Comandantes do GATE, Major Diógenes Viega Dalle Lucca e Tenente
Fernando Sério Vitória, companheiros de curso em Córdoba-Argentina, pelo orgulho
de ser instrutor de Negociação com Suicidas a policiais de todo o mundo há anos.
Ao Capitão Anderson Teixeira da Silva e à Tenente Lucimara Rossi de
Godoy, do 7º GB, pela honra de ensinar técnicas de Controle de Distúrbios do
Comportamento Suicida a bombeiros e de aprender com eles.
Ao Major Décio José Aguiar Leão, referência policial na área de táticas
especiais, e ao professor de línguas Subtenente Vanderlei Pereira de Souza, pelo
apoio fundamental na concepção deste trabalho.
Aos instrutores, professores e capitães-alunos do Centro de Altos Estudos
em Segurança (CAES), pelo aperfeiçoamento profissional e convívio fraternal.
Aos guerreiros do imortal Pelotão ATAC (1995-2005), que ombrearam
comigo em dezenas de missões envolvendo suicidas.
E a Deus, por me permitir conviver com todas essas pessoas e arquitetar
mais esta oportunidade de evolução pessoal.
"O suicida não quer morrer.
Na verdade ele não sabe o que é morte.
Aliás, ninguém sabe.
O que ele deseja é fugir do sofrimento."

(Roosevelt M. S. Cassorla)
RESUMO

“OCORRÊNCIAS POLICIAIS COM SUICIDAS: GERENCIAMENTO, NEGOCIAÇÃO


E CONTROLE DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO” compreende um estudo,
na área de concentração de Polícia Ostensiva e Direitos Humanos, para
desenvolvimento de doutrina de negociação e controle de distúrbios do
comportamento no atendimento a ocorrências de tentativa de suicídio, visando a
atualização doutrinária, padronização de procedimentos e a inclusão da matéria
“Negociação com Suicidas” nas disciplinas e cursos de Gerenciamento de Crises e
Negociação com Reféns, na área policial, e de “Controle de Distúrbios do
Comportamento Suicida” no currículo dos cursos de Resgate e Salvamento em
Altura e Terrestre, na área de Bombeiros. O autor inicia o trabalho com o estudo do
comportamento suicida, a partir das avançadas pesquisas na área de psicologia
médica e psiquiatria, após, associa-as com a atribuição legal dos órgãos de
segurança em agir de maneira integrada nos casos de tentativa de suicídio, para
então desenvolver a matéria de Gerenciamento de Crises voltada ao atendimento de
situações críticas envolvendo pessoas com tendências suicidas, independente da
natureza da ocorrência, técnicas e táticas de negociação e soluções táticas a serem
implementadas. A concepção final é transformar este material de estudo em
doutrina, esquematizando-o em disciplinas de ensino a serem difundidas aos
profissionais de segurança dos órgãos de Execução da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, em especial aos responsáveis pela atuação em ocorrências de vulto, por
meio de suas matrizes organizacionais de ensino. Aproveitando a fase atual do país
em sediar grandes eventos esportivos, pretende-se desenvolver, também, análise de
contraterrorismo na prevenção a atentados com suicidas. A metodologia proposta é
posta à prova a partir de sete anos de estudos e palestras com profissionais da área
e com entrevistas com profissionais das áreas de Ações Táticas Especiais, Corpo de
Bombeiros e saúde mental. A conclusão, baseada em estatísticas, é a de que os
casos envolvendo suicidas estão aumentando em uma proporção maior do que os
outros casos com violência e que a Instituição deve estar preparada para oferecer
uma resposta especial que garanta a sensação de segurança à população.

Palavras-chave: Comportamento Suicida. Tentativa de Suicídio. Gerenciamento de


Crises. Negociação. Controle de Distúrbios do Comportamento.
ABSTRACT

“POLICE INCIDENTS WITH SUICIDAL PERSONS: MANAGEMENT,


NEGOTIATION, AND CONTROLLING BEHAVIORAL DISORDERS” comprises a
study in the area of ostensive policing and Human Rights, in the development of a
doctrine dealing with behavioral disorders during attempted suicide occurrences.
The article also suggests updating doctrines, standardization of procedures, and
inclusion of the subject "Dealing with Suicide" and "Control of Suicidal Behavior
Disorders" as part of the course in Crisis Management and Hostage Negotiation
courses in the curriculum of police and firefighting courses. The author studies
suicidal behavior from advanced research in medical psychology and psychiatry, and
associating them with the legal requirements of security agencies to act in an
integrated manner in cases of attempted suicide, and then develop the field of Crisis
Management geared to meet the critical situations involving people with suicidal
tendencies, regardless of the nature of the occurrence. Additionally, the intent of the
study is to assist in the implementation of techniques and tactics of negotiation, and
tactical solutions. The final proposal is to transform this study material into doctrine,
outlining it in course curricula being taught to security professionals, including State
Military Police of São Paulo. Taking advantage of the current preparation taking place
in Brazil, while preparing to host major sporting events, the study also attempts to
develop an analysis of suicide terrorism attack prevention. Presentations and
discussions with professionals in the area of police tactics, firefighting, and mental
health in the past seven years, test the proposed methodology. In conclusion, cases
involving suicidal actions are increasing at a faster rate than other violent cases, and
we must be prepared to find special solutions to public safety that will ensure a sense
of security in the public.

Keywords: Suicidal Behavior. Attempted Suicide. Crisis Management. Negotiation.


Control of Behavior Disorders.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

3ª EM/PM Terceira Seção do Estado-Maior da Polícia Militar


3º BPChq Terceiro Batalhão de Polícia de Choque
APMBB Academia de Polícia Militar do Barro Branco
ATAC Ações Táticas de Campinas
B/3 Terceira Seção do Estado Maior do Corpo de Bombeiros
BOPE Batalhão de Operações Policiais Especiais
BPMI Batalhão de Polícia Militar do Interior
Cap PM Capitão de Polícia Militar
CAP Coordenadoria de Análise e Planejamento
CB Corpo de Bombeiros
CCB Comando do Corpo de Bombeiros
CCFP Centro de Condicionamento Físico e Operacional
Cel PM Coronel de Polícia Militar
CF Constituição Federal
COPOM Centro de Operações da Policia Militar
CPI-2 Comando de Policiamento do Interior 2
CPM Comando de Policiamento Metropolitano
DEC Diretoria de Ensino e Cultura
EAP Estágio de Atualização Profissional
EEF Escola de Educação Física
EM Estado-Maior
ENEP Equipo de Negociadores Especiales Policiales (Equipe de
Negociadores Especiais Policiais)
FBI Federal Bureau of Investigation (Secretaria Federal de
Investigações)
GATE Grupo de Ações Táticas Especiais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Maj PM Major de Polícia Militar
Maj Res PM Major de Polícia Militar da Reserva
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
OMS Organização Mundial de Saúde
PM Polícia Militar
11

PM3 Terceira Seção do Estado-Maior da Polícia Militar


PMESP Polícia Militar do Estado de São Paulo
PMPR Polícia Militar do Paraná
POP Procedimento Operacional Padrão
SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública
SINESPJC Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e
Justiça Criminal
SSP-SP Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo
SUPRE-MISS Centro Brasileiro do Estudo Multicêntrico de Intervenção no
Comportamento Suicida da Organização Mundial de Saúde
SWAT Special Weapons and Tactics (Armas e Táticas Especiais)
TEES Tactical and Explosive Entry School (Escola de Entradas Táticas
e Explosivas)
Ten Cel PM Tenente Coronel de Polícia Militar
Ten Cel Res PM Tenente Coronel de Polícia Militar da Reserva
TOC Transtorno obsessivo-compulsivo
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Matéria jornalística sobre terrorismo na Copa ....................................... 388


Figura 2 – Percentuais de suicídios por transtornos mentais ................................. 466
Figura 3 – Taxas de suicídio por 100 mil habitantes no mundo ............................. 509
Figura 4 – Evolução de suicídios no Brasil, de 1980 a 2008 .................................... 51
Figura 5 – Pesquisa sobre suicídios ....................................................................... 533
Figura 6 – Organograma simplificado de Módulo Gerencial de Crise .................... 633
Figura 7 – Pirâmide de Maslow .............................................................................. 777
Figura 8 – Formulários improvisados para negociação .......................................... 922
Figura 9 – Equipe tática do ATAC .......................................................................... 988
13

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Mitos e verdades sobre o suicídio ........................................................ 488


Quadro 2 – Suicídio no Brasil .................................................................................. 522
Quadro 3 – Séries Históricas e Estatísticas do IBGE .............................................. 544
Quadro 4 – Ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros ................................ 555
14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 188


2 COMPORTAMENTO SUICIDA .......................................................................... 21
2.1 Suicídio e tentativa ............................................................................................. 21
2.1.1 O suicídio ...................................................................................................... 21
2.1.1.1 Conceitos.................................................................................................... 21
2.1.1.2 História ....................................................................................................... 22
2.1.1.3 Religião..................................................................................................... 233
2.1.1.4 Ciência ..................................................................................................... 244
2.1.2 Tentativa de suicídio ................................................................................... 255
2.1.3 Mensagens e frases de alerta .................................................................... 266
2.1.4 Nota de suicídio .......................................................................................... 266
2.2 Fases do comportamento suicida .................................................................... 288
2.3 Variáveis do comportamento suicida ............................................................... 299
2.3.1 Tipos de suicídio ........................................................................................... 30
2.3.2 Tipos de suicidas .......................................................................................... 31
2.3.2.1 Suicida clássico .......................................................................................... 31
2.3.2.2 Criminoso suicida com refém ..................................................................... 31
2.3.2.3 Policiais suicidas ........................................................................................ 32
2.3.2.4 Suicídio por policiais ................................................................................. 344
2.3.2.5 Jovens suicidas ........................................................................................ 355
2.3.2.6 Bullycídio .................................................................................................. 366
2.3.2.7 Terrorista suicida ...................................................................................... 377
2.3.3 Fatores de risco e proteção ........................................................................ 409
2.3.4 Patologias relacionadas com o suicídio ........................................................ 41
2.3.4.1 Transtornos de humor .............................................................................. 422
2.3.4.2 Transtornos de ansiedade ........................................................................ 433
2.3.4.3 Transtornos psicóticos .............................................................................. 444
2.4 Suicídio na lei ................................................................................................... 476
2.5 Mitos e verdades ................................................................................................ 47
2.6 Taxas e estatísticas ......................................................................................... 488
2.6.1 Suicídio no mundo ...................................................................................... 498
15

2.6.2 Suicídio no Brasil .......................................................................................... 50


2.6.3 Suicídio em São Paulo ............................................................................... 533
3 GERENCIANDO CRISES COM SUICIDAS ..................................................... 566
3.1 Crises com suicidas ......................................................................................... 588
3.2 Gerenciamento de crises com suicidas ............................................................ 599
3.2.1 Objetivos ..................................................................................................... 599
3.2.2 Medidas iniciais de controle .......................................................................... 61
3.2.3 Organograma de gerenciamento de crises ................................................. 622
3.2.4 Indicadores de progresso e indicadores de violência ................................. 644
3.2.5 Alternativas para resolução ........................................................................ 655
3.2.6 Critérios de ação......................................................................................... 677
3.3 Atribuições constitucionais e administrativas ................................................... 688
3.4 Distinção das ocorrências com suicidas........................................................... 688
3.5 Normas técnicas para atendimento a crises envolvendo suicidas ..................... 70
3.5.1 Resolução SSP-13/2010 .............................................................................. 70
3.5.2 Normas para o GATE ................................................................................... 70
3.5.3 Normas do Corpo de Bombeiros .................................................................. 72
3.6 Conclusão quanto à competência para atuar em crises com suicidas ............. 733
4 NEGOCIANDO COM SUICIDAS ..................................................................... 755
4.1 O negociador de suicidas ................................................................................. 755
4.2 A negociação com suicidas .............................................................................. 766
4.3 Dez passos para desenvolver uma boa negociação com suicidas .................. 788
4.4 Modalidades de negociação............................................................................. 799
4.5 Guia de conduta para análise de riscos ............................................................. 80
4.6 Técnicas de comunicação com suicidas em crise .............................................. 80
4.6.1 Programação Neurolinguística (PNL) ........................................................... 81
4.6.2 Escuta ativa ................................................................................................ 833
4.6.3 Entrevista e análise de riscos humanos ..................................................... 866
4.7 Táticas de negociação com suicidas ................................................................ 888
4.8 Normas gerais ao negociar com suicidas......................................................... 899
4.8.1 Como negociar sempre em equipe ............................................................... 90
4.8.2 Questionário para negociação ...................................................................... 91
4.8.3 Equipamentos para negociação ................................................................. 922
4.8.4 Erros ao negociar ....................................................................................... 933
16

5 CONTROLE DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO SUICIDA .................. 95


5.1 Rendição .......................................................................................................... 955
5.2 Resgate tático .................................................................................................. 966
5.3 Morte ................................................................................................................ 988
6 PROPOSTA DO TEMA “NEGOCIAÇÃO COM SUICIDAS” ............................. 101
6.1 Pesquisas....................................................................................................... 1022
6.1.1 Entrevistas com Oficiais do GATE ............................................................ 1022
6.1.2 Entrevista com negociadores em ocorrências com suicidas .................... 1033
6.1.3 Resultado das pesquisas .......................................................................... 1055
6.2 Proposta de inclusão do tema em cursos de formação.................................. 1055
6.3 Proposta de inclusão do tema em cursos de especialização ......................... 1066
6.4 Proposta de inclusão do tema em estágios de atualização............................ 1077
7 CONCLUSÃO ................................................................................................ 1088
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 111
APÊNDICE A – PROPOSTA PARA CURSOS DE FORMAÇÃO .......................... 1166
APÊNDICE B – PROPOSTA PARA CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO ................ 1177
17
18

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo versa sobre o atendimento de ocorrências críticas,


realizado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, envolvendo causadores com
tendências suicidas de modo a abranger não somente as ocorrências de tentativa de
suicídio, mas também raptos e sequestros envolvendo esses causadores,
abordando desde as medidas iniciais de controle pelo policial convencional que
primeiro chega ao local do fato, passando pela negociação e apoio especializado de
grupos de resposta tática até o atendimento pelos bombeiros.
Em princípio, embora pareçam menos importantes em relação a outras
ocorrências, atualmente, fatos trágicos em São Paulo, no Brasil e no mundo têm
sido provocados por suicidas. Entre 1987 e 2008, a taxa anual de suicídios no Brasil
saltou de 3,4 para 4,9 casos por 100 mil habitantes – um aumento de 44% – e segue
crescendo. Alguns desses acontecimentos, pela perplexidade da atitude ou pela
negatividade do resultado, alcançam notoriedade, revelam a falta de doutrina eficaz
para o atendimento e refletem sobremaneira na sensação de segurança da
sociedade.
Diferentemente das ocorrências com reféns, em que um criminoso
profissional visa basicamente fugir ou garantir a própria sobrevivência, a atuação em
razão de uma tentativa de suicídio tem natureza de atuação direta multidisciplinar –
atendida exclusiva e indistintamente por policiais, bombeiros e equipes de
operações especiais – e indefinida, pois não conta com um padrão único de ação e
negociação e, afinal, um suicida não quer fugir ou necessariamente sair vivo dali.
Essa imprevisibilidade da conduta suicida e a falta de padrão institucional
entre o policiamento ostensivo e o Corpo de Bombeiros, que as consagradas
disciplinas de Gerenciamento de Crises, Negociação, Resgate e Salvamento ainda
não preveem, por vezes geram insegurança nas decisões, protelação desnecessária
da resolução do fato, conflitos entre operadores e, quando não, mortes, o que exige
uma doutrina diferenciada e específica.
O policial militar conhecer os mecanismos do comportamento suicida pode
influenciar positivamente em uma ocorrência crítica (tentativas de suicídio e casos
com reféns ou terroristas)? Pesquisas estatísticas e entrevistas estruturadas junto a
policiais militares que atuaram como negociadores em casos com suicidas e oficiais
especialistas do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e do Corpo de
19

Bombeiros demonstram a melhor forma de atender aos interesses institucionais,


permitindo a elaboração de planos de sessão específicos para cursos, seguindo o
padrão corporativo, com observância estrita de toda a legislação e normas em vigor.
O principal objetivo foi adaptar o conhecimento básico dos mecanismos de
ação do comportamento suicida ao serviço policial-militar e disseminar, entre os
operacionais, técnicas de negociação com pessoas com tendências suicidas e
táticas de controle de distúrbios desse comportamento. Isso complementarmente ao
que já é ministrado pelo GATE, nos cursos de Gerenciamento de Crises e
Negociação em Ocorrências com Reféns, e pelo Corpo de Bombeiros, nos cursos de
Resgate e Emergências Médicas e Salvamento em Altura e Terrestre.
Assim, torna-se possível, nos níveis de formação, especialização e
aperfeiçoamento técnico-profissional, a inclusão da matéria “Negociação com
Suicidas” nas disciplinas de Gerenciamento de Crises e Negociação em Ocorrências
com Reféns, na área de policiamento, e de “Controle de Distúrbios do
Comportamento Suicida” no currículo de Resgate, Salvamento em Altura e Terrestre,
na área de bombeiros, integrando essas modalidades, dentro de suas esferas de
atribuição, para atendimento a ocorrências de tentativa de suicídio visto que a
essência de ambos os temas é a mesma, variando apenas o polo executor e o termo
técnico-profissional.
Por não ser crime, envolver indivíduo que é ao mesmo tempo autor e vítima,
além dos tabus e mitos que envolvem o desagradável tema, geralmente o suicídio é
evitado ou relegado a um plano menor na sociedade. Não cabe à Polícia Militar
prevenir suicídios, porém, como órgão responsável pela manutenção da ordem
pública, deve atuar nas tentativas de suicídio que configurem ocorrências policiais
com vistas à preservação da vida. Essa atuação decorre do poder-dever de agir na
quebra da ordem pública com legalidade, técnica e dentro dos padrões éticos e
morais.
O trabalho foi desenvolvido em cinco capítulos. O primeiro capítulo estuda o
comportamento suicida, suas causas, tipologia e estatísticas. Em seguida, estuda-se
o gerenciamento de crises com suicidas, normas e atribuições dos órgãos
envolvidos. O terceiro capítulo trata da negociação com suicidas, suas
características, técnicas e táticas. O quarto capítulo trata do controle do distúrbio do
comportamento suicida e a finalização da crise propriamente dita, inclusive adotando
medidas para mitigar um indesejável evento morte. Ao final, o estudo propõe a
20

inserção da matéria “Negociação com Suicidas” em cursos de formação e


especialização policiais e de bombeiros, coadunados com os procedimentos
operacionais próprios, integrando todas as estruturas dos Órgãos de Execução e
Especiais, de forma a obter o funcionamento harmônico e eficiente dos sistemas de
policiamento e bombeiros, ampliar a capacidade de atendimento a ocorrências com
suicidas e aumentar o saldo positivo ao final destas, garantindo, sobretudo, a defesa
da integridade física do operacional que as atender, da vida e dignidade da pessoa
humana do suicida envolvido.
O tema, inserido na área de concentração de Polícia Ostensiva e Direitos
Humanos, é inédito no campo da pesquisa científica neste Centro de Altos Estudos
de Segurança “Cel PM Nelson Freire Terra” (CAES) e em todos os organismos
policiais do Brasil, e representa oportuno avanço no desenvolvimento da atividade
profissional de polícia ostensiva e de bombeiro pela Polícia Militar do Estado de São
Paulo (PMESP).
21

2 COMPORTAMENTO SUICIDA

2.1 Suicídio e tentativa

Antes de ser tratada a parte objetiva de atendimento a casos policiais


envolvendo pessoas com tendências suicidas, cabe abordar o componente mais
afeto à área da saúde: o estudo histórico, comportamental e estatístico do suicídio
como patologia comportamental, pois a principal premissa deste trabalho defende
que um atendimento adequado a ocorrências com suicidas pelo policial parte do
conhecimento de como funciona o mecanismo desse comportamento.

2.1.1 O suicídio

O suicídio não tem explicações objetivas. Imperscrutável e desagradável, ele


é tabu popular, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura e
assunto proibido em conversas informais, às vezes até mesmo com o terapeuta.
Embora seja uma das principais causas de morte entre os humanos, o
suicídio torna-se um constrangimento para a família e para quem tentou e não
conseguiu. Tão devastador que ao mesmo tempo em que causa o trauma, depois de
uma semana ninguém mais fala do suicídio, todos querem esquecer.
Porém, como se verá adiante, as estatísticas mostram que o suicídio precisa
ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual,
de um sério problema de saúde pública.
O psiquiatra e psicanalista Roosevelt Cassorla, da Sociedade Brasileira de
Psicanálise, faz uma constatação abrangente e polêmica:
Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um
pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos
morrer – morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a
atenção ou para ficar na história (CASSORLA, 1991, p. 26).

2.1.1.1 Conceitos

O suicídio é, em síntese, a consequência de uma perturbação psíquica


insuportável. Tensão nervosa que envolve e culmina em conflitos intrapsíquicos de
22

gravidade acentuada, transtornando o indivíduo a tal ponto que a morte torna-se seu
único refúgio e a inevitável solução dos problemas.
Na obra de WERLANG-BOTEGA (2004) é possível encontrar 15
conceituações do suicídio, denotando as múltiplas pesquisas, dos mais variados
autores, sobre o tema.
Em 1643, o médico inglês Thomas Browne criou a palavra “suicídio” a partir
do grego autofonos. No seu livro, o médico inglês distinguia o suicídio em duas
formas: “heroica” ou “patológica” (BERTOLOTE, 2012, p.29).
O termo seria usado por Desfontaines em 1737: o significado tem origem no
latim, na junção das palavras ''sui'' (si mesmo) e ''caederes'' (ação de matar). É “o
ato de terminar com a própria vida” ou “a morte de si mesmo”, ou ainda na definição
de Stengel: “Dano fatal feito a si mesmo, intencional e consciente, mesmo que de
modo ambíguo e vago” (WERLANG-BOTEGA, 2004, p.22).
Na célebre obra “O Suicídio”, o pai da sociologia moderna David Émile
Durkheim estabelece o conceito de suicídio consagrado até hoje:
Todo ato de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou
negativo praticado pela própria vítima e que esta sabia dever produzir este
resultado (DURKHEIM, 1897, p.15).

Para Durkheim, o suicídio era um “fato social”, mais forte que o indivíduo,
decorrente da (falta de) integração e controle sociais.

2.1.1.2 História

Desde a antiguidade, o suicídio é uma questão que intriga aqueles que


ficam: o que levaria tamanho rompimento com o primeiro dos instintos humanos?
(BERTOLOTE, 2012, contracapa).
Difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu, mas ele está presente em
toda a história da humanidade. Em quase todos os livros antigos sagrados (a Bíblia,
o Mahabharata, o Gilgamesh etc) e nas mitologias da maioria dos povos antigos há
inúmeros relatos de casos de suicídios (BERTOLOTE, 2012, p.27).
Na Antiga Grécia, o suicídio era condenado politicamente ou juridicamente, o
Estado tinha poder para vetar ou autorizar um suicídio bem como induzi-lo. Exemplo
histórico aconteceu em 399 a.C., quando o filósofo Sócrates foi obrigado por
sentença a envenenar-se.
23

Na civilização romana, a morte não era significativa, importante era a forma


de morrer: com dignidade e no momento certo. Já nos séculos V e VI, os concílios
católicos proibiram as honras fúnebres aos suicidas e o suicídio passou a ser
considerado um crime que poderia implicar na condenação à morte dos que
fracassavam, assim como seus familiares eram deserdados e vilipendiados
enfrentando os preconceitos sociais.
Apenas na Renascença, a humanidade dos suicidas foi reconhecida.
Escolas filosóficas contra a vida floresceram em todo o mundo; os suicídios por
imitação, por amor, por vingança multiplicaram-se na vida real e inspiraram a
literatura e as artes. Shakespeare, Goethe, Dante mostram, em suas obras, heróis
suicidas. Depois, são os próprios escritores que se matam: Anthero de Quental,
Camilo, Hemingway e Raul Pompéia (MELLO-JORGE, 1980, p. 485).
Atualmente, não há um conceito moral generalizado de demonizar a
reputação de suicidas pelo que fizeram ou de incentivo à prática, pois a sociedade
desenvolvida (do século XVIII em diante, a partir de Pinel, Esquirol e Freud) já
entende o comportamento suicida como um desvio psíquico que pode acometer
qualquer pessoa, de diferentes formas, dependendo dos obstáculos que a vida lhe
reserva.
Um ponto significativo a ser analisado é que os casos de suicídios foram
extremamente raros em campos de concentração das guerras e, atualmente, são
baixos em lugares com menos desenvolvimento humano, o que reforça a evidência
de que as condições extremas exteriores, mesmo as mais brutais, não explicam o
fenômeno.

2.1.1.3 Religião

O suicídio é condenado por todas as principais religiões, desde o


Cristianismo, nas suas várias vertentes, até o Judaísmo, passando pelo Hinduísmo e
o Budismo (WERLANG-ASNIS, 2004, p. 59-73). A ideia de que a vida é sagrada,
afinal, é muito religiosa e a religião é um dos maiores fatores de proteção ao
suicídio.
As três maiores religiões brasileiras – católicos, evangélicos e espíritas –
desaprovam o suicídio. A Igreja Católica por três motivos: primeiro, porque atenta
contra o princípio ou instinto natural de autopreservação; segundo, porque o ser
24

humano é apenas uma parte do todo e não lhe é permitido destruir essa porção,
prejudicando a comunidade; e terceiro, porque os católicos encaram a vida como um
dom de Deus e, portanto, só a Ele cabe decidir quando a vida deve cessar.
Os Evangélicos, sejam presbiterianos, metodistas, adventistas ou luteranos,
consideram o suicídio como um pecado mortal. Os espíritas, como uma vertente do
cristianismo, no mesmo sentido condenam o suicídio. Segundo o Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, após o desencarne (morte) os suicidas enfrentam grandes
dificuldades e sofrimentos no mundo espiritual, com sensações de angustia e horror
pós-morte no Vale dos Suicidas até que se encerre seu interrompido ciclo de vida
(SUICÍDIO & SALVAÇÃO, p. 8).
A Bíblia menciona quatro personagens que cometeram suicídio: Saul (I
Samuel 31:4), Aitofel (II Samuel 17:23), Zinri (I Reis 16:18) e Judas (Mateus 27:5).
Todos eram vis, maus ou pecadores. Portanto, a visão cristã é a de que cabe a
Deus decidir quando e como a pessoa morrerá, e tomar este poder em suas próprias
mãos é blasfêmia contra Ele.
Apesar da visão negativa em razão dos atentados terroristas,
paradoxalmente o Islamismo é a religião que mais se opõe ao suicídio. Os
muçulmanos acreditam que sendo Alá o criador de todas as formas de vida, tudo e
todos a Ele pertencem. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, ensina que a vida é
sagrada e ninguém poderá destruí-la, condenando não só o homicídio e o suicídio,
mas também a eutanásia.

2.1.1.4 Ciência

Do ponto de vista biológico, a ciência afirma que o ser humano tem de 20 a


25 mil genes, sendo que mutações em um destes, o gene 5HTT, chamado “gene da
depressão”, podem ser determinantes para indicar uma tendência para o
cometimento de suicídio por parte de alguém. (NEWS MEDICAL. Biossíntese de
serotonina. Disponível em <http://www.news-medical.net/health/ Serotonin-
Biosynthesis-(Portuguese).aspx>. Acesso em 30 dez. 2013) No entanto, o ambiente
tem papel preponderante na manifestação dessas características, de forma que
essa predisposição só se concretizaria se o indivíduo fosse exposto a uma situação
que acionasse esse seu gatilho comportamental suicida.
25

A questão do suicídio é envolta de teorias díspares que questionam ou não o


grau de lucidez e coragem de quem pratica o ato, complexas demais para
aprofundar neste estudo, mas Voltaire1 bem deduz de forma simples que, em geral,
“não é num acesso de razão que nos matamos”.

2.1.2 Tentativa de suicídio

Também chamada de parassuicídio, é considerada tentativa de suicídio todo


e qualquer comportamento no qual há risco de morte ou tentativas malsucedidas de
causar a própria destruição, que não resultem na morte do causador de suicídio. A
simples intenção de morte não deve ser incluída nesta definição, pois nem sempre é
externada, pertencendo apenas ao campo do comportamento suicida.
Em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a tentativa de
suicídio como:
Ato com resultados não-fatais no qual um indivíduo intencionalmente inicia
um comportamento não habitual, sem a intervenção de outros, causando
autolesão ou ingerindo intencionalmente excesso de medicamentos (em
relação à dosagem prescrita ou aceita como normal) com finalidade de
provocar mudanças, em decorrência das consequências físicas ocorridas ou
esperadas (OMS, 1992).

O comportamento não habitual da tentativa de suicídio nem sempre estará


relacionado a uma ação, mas às vezes a uma omissão ou a um processo de
autodestruição contínua. Deve ser sem intervenção de terceiros, (ocasião em que se
caracterizaria o homicídio, mesmo com consentimento da vítima) e não significa
diretamente provocar morte e sim mudanças, pois às vezes ocorre um processo de
autopenitencia em que se deseja o flagelo próprio ou morrer aos poucos. Exemplos
disso podem ser encontrados nas pessoas com doenças crônicas que negligenciam
o tratamento ou do policial com problemas que se expõe ao risco como forma de se
martirizar.
Para a área de segurança, a tentativa de suicídio é mais importante do que o
suicídio em si, pois enquanto esta última é questão de saúde pública, a tentativa de
se matar pode constituir uma ocorrência policial, quebra da ordem pública que exige

1
Pseudônimo de François-Marie Arouet (1694 - 1778), poeta, filósofo e historiador francês, famoso
por introduzir reformas sociais e políticas na França, denominadas iluministas, que influenciaram o
mundo.
26

a adoção de medidas administrativas e operacionais especiais de controle de crises,


como se verá adiante.

2.1.3 Mensagens e frases de alerta

Durante uma negociação com suicidas, cabe ao policial enxergar a vontade


de viver em quem não teve forças para suportar o desejo de morrer e usar deste
mote para tentar demovê-lo da ideia fatal.
Essa vontade é manifesta pelo suicida em três mensagens principais:
a. pedido de socorro: é a exposição pública do sofrimento;
b. desejo de morte: não vale mais a pena viver;
c. tentativa de mudar o ambiente: usa a tentativa ou a morte como meio de
mudar a vida.
Durante as negociações ou até mesmo com pessoas do convívio pessoal,
observar algumas frases de alerta (BOTEGA, 2004, apontamentos de aula) ajuda a
prevenir um suicídio ou a antecipar condutas indesejadas nas ocorrências dessa
natureza:
a. “estou cansado de viver”;
b. “preferia estar morto”;
c. “ninguém pode me ajudar”;
d. “nada mais pode ser feito”;
e. “eu sou um peso para os outros”;
f. “eu não aguento/suporto mais”;
g. “vou me encontra com fulano (alguém já falecido)”;
h. despedidas: “diga à minha mãe que eu a amo muito”.
Quando uma pessoa diz frases depressivas ou relacionadas a suicídio, a
reação natural a elas é, geralmente, rejeitá-las ou obrigá-las a ouvir sermões ou
estórias sobre outras pessoas que venceram dificuldades ainda maiores. O
negociador policial deve ter cuidado para não incorrer nesses erros.

2.1.4 Nota de suicídio

No dia 10 de abril de 2003, um soldado da PMESP suicidou-se com um tiro


na cabeça próximo ao portão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São
27

Paulo. Câmeras da TV Record filmaram o fato desde o início das ameaças de


Domingues até o momento do tiro. O repórter do programa Cidade Alerta tentou
demovê-lo da ideia, sem sucesso. Minutos antes do tiro, ele mostrou uma carta que
teria escrito para ser entregue ao governador.
Uma nota de suicídio é uma mensagem ou carta de adeus deixada por
alguém, seja escrita ou gravada em vídeo ou som, em que manifesta o desejo de se
matar. Segundo Lenora Olson, da Universidade de Utah, as razões mais comuns
para que um indivíduo que contempla o suicídio deixe uma última nota incluem
aliviar a dor dos que ficam, tentando isentá-los de culpa ou aumentar, atribuindo-lhes
culpa; esclarecer as razões do suicídio; angariar piedade ou atenção ou deixar
instruções do que fazer com seu corpo ou seu espólio (OLSON, 2005, p. 28).
Negociadores devem se precaver com suicidas que carregam cartas de
despedida. Elas podem personificar pedidos de ajuda ou compromissos de morte.
Neste último caso, a intencionalidade e a letalidade (WERLANG-BOTEGA, 2004, p.
22) estarão em níveis críticos e dificilmente serão persuadidos com argumentos,
devendo ser consideradas soluções táticas para evitar seu intento.
O Dr. Neury José Botega, coordenador do centro brasileiro do SUPRE-MISS
e orientador desta dissertação, enumera quatro características principais do
comportamento suicida:
a. ambivalência: desejos e atitudes antagônicas, manifestas no desejo de
morrer e, simultaneamente, de ser salvo;
b. pressão excepcional: fonte de estresse e frustração que se expressa por
sentimentos como medo, ansiedade, depressão, negação e revolta;
c. frustração das necessidades psicológicas: Botega defende que todo
suicida tem como característica os chamados três “D”: Desesperança,
Desamparo e Desespero. É o que a psicologia chama de pensamento
automático negativo: “ninguém pode me ajudar”;
d. visão em túnel: o estreitamento das opções disponíveis ao suicida leva a
um pensamento dicotômico de tudo ou nada, “ou muda algo ou me mato”. A
Terapia Cognitivo-Comportamental denomina esta característica como
“estado cognitivo de constrição”.
28

2.2 Fases do comportamento suicida

O comportamento suicida é, sucintamente, todo ato pelo qual um indivíduo


causa lesão a si mesmo, quaisquer que sejam os graus de intenção letal e de
conhecimento do verdadeiro motivo desse ato.
BOTEGA (2004) divide doutrinariamente esse comportamento em quatro
principais manifestações:
a. pensamento: também chamado de ideação suicida, é o grau inicial.
Ocorre quando o indivíduo cogita a simples ideia de acabar com a própria
vida como solução para seus problemas. Apresenta-se, primeiro, de
forma esparsa, para depois adquirir proporções mais frequentes e
significativas, de forma que não consegue ser afastada da mente do
indivíduo;
b. plano: o indivíduo decide pôr fim à vida e delineia como fará, passando a
tramar a própria morte, obtendo informações de como executar e
planejando os detalhes de lugar, hora e método. Por vezes, deixa um
"bilhete" de despedida;
c. tentativa: é a concretização do planejado, principal objeto deste trabalho,
envolve também a ameaça de se matar, podendo ser fracassada ou não.
Muitas tentativas não são levadas a sério, mas é inegável que quem
tenta se matar, mesmo que para expor seus problemas, não está dentro
do juízo pleno das próprias razões;
d. suicídio (consecução): autolesão deliberada que provoca a morte; é o
suicídio em si, o sucesso da tentativa de pôr fim à vida. O suicídio
realizado não é objeto deste trabalho, pois não exige negociação nem
controle de distúrbios do comportamento, sendo de interesse policial
apenas no ramo investigativo.
As fases acima descritas, além de decifrarem a evolução do comportamento
suicida, evidenciam que ninguém se mata de um dia para o outro, uma vez que a
conduta suicida se manifesta de acordo com a progressão de problemas e
transtornos na vida do indivíduo que necessariamente demandam tempo.
Entretanto, ele pode vir de uma forma súbita em que alguns desses sintomas, de tão
rápida evolução, sejam imperceptíveis à análise.
29

2.3 Variáveis do comportamento suicida

Muito do mito relacionado ao suicídio se deve à visão simplista, que têm


inclusive policiais e bombeiros, de que todos os suicidas obedecem a um padrão e
de que ninguém os consegue impedir de se matar se eles quiserem mesmo.
Mas, afinal, por que pessoas pensam em suicídio? Qual problema justifica o
ato de se matar? Perder muito dinheiro? Falecimento de um ente querido? Separar-
se do(a) esposo(a)? Romper com um amigo(a)?
Suicidar-se não resolve nenhum desses problemas, entretanto o suicida
pensa que ao se matar acaba com eles. Na verdade, ele está certo, pois estes
acabam mesmo, todavia os problemas são passageiros, a morte é para sempre e
seus entes queridos carregarão um peso enorme.
A exceção fica por conta da polêmica discussão, na área da bioética, sobre
os casos de doentes terminais ou com sofrimento físico insuportável. Apenas para
estes casos faltariam argumentos solúveis para negociar o prolongamento da vida,
decerto que tais situações não gerariam uma ocorrência policial, mas normalmente
uma decisão necessariamente médica e não policial, entre profissionais de saúde e
familiares em um ambiente hospitalar.
Recente reportagem da revista Galileu mostra que a neurociência defende
que o livre-arbítrio não existe, que as decisões sobre a própria vida seriam tomadas
automaticamente por nosso cérebro e não se teria controle sobre isso (GALILEU,
2013, p. 48-49).
Dos estudos filosóficos da Antiguidade até o encefalograma, exames sobre
como o ser humano toma decisões são polêmicos, mas uma coisa é irrefutável: as
pessoas são influenciáveis, e tornam-se ainda mais em situações críticas como em
uma tentativa de suicídio, daí a importância de uma comunicação hábil por parte do
negociador.
Portanto, saber que há variáveis como tipos diferentes de suicídio, fatores de
risco e proteção, doenças que induzem a esse comportamento, mitos e estatísticas
ajuda o policial a compreender melhor as causas daquele ato, estabelecer padrões
comportamentais, antecipando condutas e elaborando melhores respostas,
orientando as técnicas de negociação para influenciar o suicida a não prosseguir no
seu gesto ou a elaborar táticas de controle daquele distúrbio do comportamento.
30

2.3.1 Tipos de suicídio

O suicida tem uma visão exageradamente negativa de si mesmo, do mundo


e do futuro. Ao premeditar um suicídio, o indivíduo pode buscar, além de dar cabo à
vida, também um significado para sua morte, uma perspectiva sociológica do que o
seu ato irá provocar, ou seja, cometer suicídio não significa apenas deixar se existir,
mas provocar mudanças em algo ou alguém. “Quem vai chorar por mim no meu
enterro?”. Saber a simbologia que aquele que tenta o suicídio quer dar ao seu ato
ajuda a entendê-lo e viabiliza uma negociação eficaz.
Em sua renomada obra, Durkheim propôs uma tipologia de suicídio com
quatro modelos (BERTOLOTE, 2012, p. 32-33):
a. suicídio egoísta: decorre do enfraquecimento da inserção social do
indivíduo, com favorecimento do individualismo mórbido tendencioso ao
suicídio. Surge como consequência de um isolamento excessivo que resulta
em um grau insuficiente de integração na sociedade;
b. suicídio altruísta: em contraponto ao anterior, seria o indivíduo matar-se
por força de um imperativo social nele interiorizado, obedecendo ao que o
grupo social ordena a ponto de asfixiar em si próprio o instinto de
preservação. O principal exemplo é o da cultura dos esquimós em que os
idosos, por vontade própria, afastam-se da tribo para morrer, convictos de
que se haviam tornado um "peso morto" para sua comunidade;
c. suicídio anômico: surge de uma situação de desregramento e falta de
normas que impedem o indivíduo de encontrar uma solução bem definida
para os seus problemas, de sucessivos acúmulos de fracassos e decepções
propícias ao suicídio. Manifesta-se em conflitos sociais internos como a
emigração, desorganização social e dificuldades econômicas, que
frustrariam as aspirações do indivíduo, levando-o ao suicídio. Análise de
estatísticas revelou que os suicídios aumentavam tanto em períodos de
recessão como de crescimento econômico. Um exemplo famoso foram os
numerosos casos em virtude da quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929;
d. suicídio fatalista: contrário ao anômico, o fatalista é desencadeado pelo
indivíduo que se vê cercado por uma série de normas impeditivas e não
consegue contrariá-las, principalmente as que ocasionam mudanças
drásticas em seu cotidiano. O regramento rígido e excessivo neste caso é
31

que é o fator desencadeante do comportamento suicida. Fenômeno bastante


comum entre presos e militares.
Considerando a classificação acima, que o suicida egoísta morre sozinho e
que o altruísta traça um plano certo de morte, dos quatro tipos de suicídio acima
descritos, os que geralmente causam ocorrências policiais são o anômico e o
fatalista, embora isso não siga um arquétipo comportamental.

2.3.2 Tipos de suicidas

A infinidade de biótipos humanos não permite esgotar todos os tipos de


suicidas existentes, mas é interessante para um profissional da área de segurança
que pode deparar-se com uma ocorrência envolvendo suicidas saber distinguir
alguns dos tipos mais comuns, determinado seus modos e maneiras, procedimentos
e reações.

2.3.2.1 Suicida clássico

É aquele que ameaça se matar por algum tipo de problema existencial,


sendo necessária a intervenção policial e de bombeiros. Muitos dos mitos
relacionados ao suicídio (item 2.5) advêm deste tipo, mas mesmo quem acha que
estes suicidas não têm coragem ou não querem realmente se matar são obrigados a
admitir que quem sobe em um ponto elevado e ameaça se jogar, põe uma faca no
pescoço ou uma arma na cabeça não está no pleno juízo de suas razões.

2.3.2.2 Criminoso suicida com refém

Um criminoso profissional que tem frustrada sua ação de roubo pela polícia
pode reter uma pessoa como refém e utilizá-la como instrumento para tentativa de
fuga ou preservar a vida (SSP-SP, 2010). Há, todavia, a situação de criminosos que
se veem sem saída, pois não querem ser presos ou estão constrangidos pela
situação em que foram flagrados e pensam em se matar.
Nesses casos, de uma negociação hipoteticamente simples, em que é
negociada a preservação da vida e da integridade física em troca da rendição,
32

passa-se a lidar com uma situação complexa, com um criminoso tencionado a matar
seu refém e depois se matar (LUCCA, 2002, p. 54)
A tática de negociação, nessas ocorrências, deve ser em escalada, visando,
primeiro, a libertação do refém (que na prática, nunca deverá ser assim chamado
pelo negociador) para depois obter a rendição do criminoso (que também,
obviamente, não deve ser assim chamado). Isso pode ser obtido, inicialmente,
dando-lhe garantias de vida e, depois, esclarecendo ao causador que a retenção de
vítima pode representar um acréscimo ou uma qualificadora em relação ao crime
cometido.
Geralmente, no afã de não deixar o criminoso escapar, os cercos policiais
muito próximos intimidam o criminoso que, ao se ver sem saída e acuado, adquire
pendores suicidas. No gerenciamento da crise, o melhor a ser feito é afastar os
policiais não diretamente envolvidos, criando um clima menos hostil ao criminoso-
suicida e favorecendo sua rendição.

2.3.2.3 Policiais suicidas

A profissão de policial, em função de suas peculiaridades, é considerada


pela OMS a segunda mais estressante do mundo (RESENDE-CAVAZZA, 2002, p.
53). Em virtude do grande número de casos de suicídio envolvendo policiais, das
peculiaridades que envolvem a categoria e do fato que um policial deverá negociar
com outro, o policial suicida merece um tópico à parte.
Submetidos a situações de risco e violência constantes e nem sempre com
acompanhamento psicológico adequado, os policiais são mais propensos a desvios
de conduta, somatizações, nervosismo, alcoolismo, depressão e suicídio (RIBEIRO,
1995, p. 214). O psiquiatra Al Somodevilla, chefe do serviço de psicologia do
Departamento de Polícia de Dallas, afirma que “as chances de que um policial se
suicide são quatro a cinco vezes maiores do que ele morrer no combate”. A
frustração, a desilusão e as contrariedades sofridas nesse meio, podem minar as
resistências e os ideais do sujeito, provocando descontrole emocional, elevados
níveis de estresse e sofrimento mental. Combinado isso ao fácil acesso à arma de
fogo, tem-se uma taxa de suicídio entre os policiais militares do Brasil sete vezes
maior que a dos não-policiais (RESENDE-CAVAZZA, 2002, p. 54).
33

Qualquer pessoa com ideações suicidas deverá elaborar um plano como,


por exemplo, comprar uma arma, o meio mais eficaz. Ao policial basta sacá-la da
cintura ou pegá-la no armário, de modo que ele vai da intenção à tentativa de
imediato, sem planejamento, sem um tempo para se acalmar, pensar, raciocinar,
refletir... arrepender-se. Além disso, o domínio do policial com armas e o
conhecimento da sistemática de procedimentos operacionais tornam as ocorrências
envolvendo policiais suicidas, na prática, as mais complexas e perigosas que
existem e dificultam sobremaneira a adoção de soluções táticas, exigindo um apuro
ainda maior com a negociação.
Para exemplificar como são preocupantes suicídios envolvendo policiais
militares, no dia 22 de março de 2013, na cidade de Sumaré, região de Campinas, o
Maj PM Res Ricardo Miranda, de 50 anos, após uma briga com a esposa, agrediu-a,
andou na rua com um revólver apontado para a própria cabeça e, na presença de
policiais militares, suicidou-se. Segundo relato do jornal Todo Dia do dia 27 de
março de 2013: “No dia do caso, a PM foi chamada por moradores, mas
acompanhou o caso ‘à distância’ para ‘evitar danos maiores a Miranda’, conforme
relataram testemunhas no boletim de ocorrência. A PM informou que enviou cinco
viaturas ao local e que os policiais mantiveram-se a uma distância segura do local
dos fatos para evitar que o major reagisse, ferindo a si próprio ou a terceiros. Ainda
segundo a corporação, houve uma tentativa de negociação no sentido de que ele
entregasse a arma, o que não evitou que ele atirasse contra si”. A mesma edição do
diário informou em manchete de primeira página que uma associação de policiais
militares local representou à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o
comando responsável por “negligência”. Segue a alegação da representante da
entidade Adriana Borgo:
O fato de a polícia acompanhar o caso ‘à distância’ já demonstra
negligência do comando da PM. ‘O major (Miranda) ficou com a arma
apontada na cabeça das 21h às 23h, e em nenhum momento houve a
tentativa de aproximação, com negociadores do Gate (Grupo de Ações
Táticas Especiais), por exemplo. Ele poderia não ter cometido esse crime
contra si’, foi uma ‘omissão a um irmão de farda’.

Mais que a negligência, a falta de conhecimento técnico explica melhor o


“acompanhamento à distância” e a insegurança em agir.
Não é recomendável que colegas e superiores imediatos do policial suicida
atuem como negociadores, exceto se tiverem especialização e elevada ascendência
moral sobre ele. A negociação policial, como uma terapia psicológica, é uma
34

comunicação técnica que deve guardar um cunho profissional e ligações pessoais


podem atrapalhar o processo. Amigos e familiares podem e devem atuar auxiliando
o negociador principal, desde que não diretamente envolvidos no problema e
previamente selecionados e orientados quanto aos limites de suas conversações.

2.3.2.4 Suicídio por policiais

Segundo definição de Richard Rogers em artigo sobre o assunto, Suicídio


por Policial ou Suicídio Assistido por Policial é o ato em que alguém oferece
resistência à execução de uma ordem legal policial, com o intuito de levar os
policiais a usar força letal para extinguir a ameaça, ou seja, ocorre quando uma
pessoa com tendências suicidas propositadamente cria uma situação de risco para
ser morto por policiais (ROGERS, 2008).
O artigo cita um estudo do criminologista Rick Parent a partir de 58 casos de
suicídio por policial no Canadá, por um período de mais de 14 anos, que revelou
que:
a. em 27 desses casos a ameaça feita ao policial foi perigosa o suficiente
para obrigar o policial a usar arma de fogo e que dispositivos menos-
letais resolveram os 31 casos restantes;
b. 70% dos suspeitos de suicídio por policial já tinham sido presos ou
condenados anteriormente;
c. 16% notificaram a familiares e amigos de suas intenções;
d. 60% continuaram a apontar uma arma para os policiais após eles terem
ordenado a não o fazer;
e. 98% eram homens e, obviamente, todos pediram aos policiais para que
atirassem contra eles;
f. ocorrências mais comuns incluem criminosos embarricados com reféns,
indivíduos que mataram pessoas significantes (mãe, pai, filho etc) pouco
antes ou aqueles que praticaram crimes causadores de grave repúdio
social como estupro ou pedofilia.
O sujeito que quer ser morto pela polícia na verdade busca uma saída que
julga gloriosa para um evento anterior inconveniente e do qual pensa que nunca
mais poderá se desvencilhar. O suicida costuma dizer: “eu desejo morrer”, “esta é
minha única saída”, “eu sou melhor morto”, “agora eu vi o quanto machuquei as
35

pessoas”, “eu estou no controle, não você” e “minha vida está acabada de qualquer
maneira, então você deve atirar em mim”. A maioria dos incidentes de Suicídio por
Policial ocorre dentro de 15 a 30 minutos da chegada do policial ao local da
ocorrência e nem sempre o suicida tem uma intenção clara de suicídio por policial,
podendo esta ideia surgir repentinamente em seu pensamento com resultados
trágicos subsequentes.
Portanto, é prudente para um policial considerar a possibilidade de um
suicídio por policial antes mesmo que o confronto real ocorra. Armas menos-letais
são certamente as mais apropriadas para serem utilizadas nessas situações.
Quando inevitáveis, esses incidentes podem ser emocionalmente impactantes para
o policial “usado”, podendo desenvolver estresse pós-traumático, com
consequências no ambiente familiar ou afetar sua capacidade de cumprir suas
tarefas policiais normais.

2.3.2.5 Jovens suicidas

A adolescência é um dos períodos mais propícios ao comportamento


suicida, fase de mudanças nos níveis social, familiar, físico, sexual e afetivo. O
abandono da segurança da infância para que possa ocupar um lugar no mundo
adulto faz com que o jovem experimente níveis crescentes de ansiedade e angústia
e, se outros agentes estressantes são acrescentados, o comportamento suicida
pode ser precipitado.
Em 90% dos casos de morte de crianças e adolescentes por suicídio, foi
identificado como causa algum tipo de perturbação mental (SHAFFER-CRAFT,
1999, p. 70-74). Cabe esclarecer que essa conduta só é escolhida depois que uma
série de alternativas tenham sido ensaiadas e fracassadas, daí então o suicídio
aparece como a única via possível.
No adolescente, o suicídio é a expressão de um desejo de mudança, de
acabar com a situação em que se encontra, de coerção e vingança contra
sentimentos de impotência e incapacidade de mudar uma situação problemática. O
objetivo, na verdade, é mais querer mudar de vida do que pôr fim à mesma. A
negociação eficaz expõe ao jovem suicida alternativas otimistas de uma vida longa
pela frente.
36

2.3.2.6 Bullycídio

Seja físico ou psicológico, o impacto que a violência provocada pelo assédio


escolar gera é tão expressivo que faz com que o bullying2 seja a terceira maior
causa de mortalidade entre crianças e adolescentes em fase escolar.
Pesquisa desenvolvida pela National Association of School Psychologists
(Associação Nacional de Escolas de Psicólogos) aponta que são cerca de 19 mil
tentativas de suicídios ao ano apenas nos Estados Unidos. Também revelou que
19% do total de alunos entrevistados pensaram em se suicidar; 15% traçaram
estratégias para cometer o suicídio; 8,8% executaram os planos suicidas e foram
interrompidos por outrem e, 2,6% foi a porcentagem das tentativas sérias o bastante
que exigiram intervenções e acompanhamento médicos permanentes. (GOMES,
Luiz Flávio. Suicídio é uma das graves consequências do bullying. Disponível em
<http://www.conjur.com.br/2011-set-08/coluna-lfg-suicidio-graves-consequencias-
bullying>. Acesso em 08 jan 2014)
Não há estudo semelhante no Brasil, embora se saiba que o bullying
acontece também por aqui. A constatação é empírica, numérica, porém a gravidade
do tema é evidenciada pela análise real dos fatos e não por um caráter meramente
opinativo. Recentes suicídios de garotas que tiveram cenas de nudez divulgadas na
internet são fato. (GROSSMAN, Luís Oswaldo. Suicídios de adolescentes forçaram
mudanças no Marco Civil. Disponível em <http://convergenciadigital.uol.com.br/
cgi/cgilua.exe/ sys/start.htm?infoid=35611&sid= 14#.UvZs-vldXN0>. Acesso em 11
dez 2013)
Infelizmente, o suicídio é consequência tão natural do bullying que o jurista
Luis Flávio Gomes, autor do livro “Bullying e Prevenção da Violência Nas Escolas”
popularizou o neologismo bullycídio (da junção de bullying com suicídio) para referir-
se à consequência mais tenebrosa desencadeada pela intimidação de um jovem ou
grupo de jovens contra outros (GOMES-SANZOVO, 2013, p. 13). Os danos vão
desde o medo e pânico de ir à escola, faltas sistemáticas, estresse, raiva,
impotência, até o pleno descontrole e desespero. Este último, somado aos demais
sentimentos torturantes e depressivos, podem criar a vergonha tóxica, expressão
criada pelo Ph.D. Allan Beane para definir os efeitos que acometem jovens que têm

2
Palavra em inglês que significa assédio moral, intimidação ou valentia.
37

tanta vergonha de sua condição de vulnerabilidade que se sentem imprestáveis e


questionam a importância e a necessidade de sua existência (BEANE, 2013, p. 17).
Nesse estágio, essa reação psicológica deixa de agir apenas sobre seu
intelecto podendo causar desde a automutilação (ocasião em que a vítima se corta
para aliviar a dor causada pelo bullying) até o suicídio.
Em uma tentativa de suicídio motivada por bullying, negar ou ignorar a
existência da agressão é a pior coisa que pode acontecer para a criança; uma boa
negociação passa pela melhora da autoestima da vítima, sendo que pais, familiares
e melhores amigos podem ser oportunos negociadores auxiliares durante a
ocorrência.

2.3.2.7 Terrorista suicida

A aglomeração de cidadãos de dezenas de nacionalidades é a circunstância


ideal para atingir um grande número de inocentes e garantir ampla divulgação de
suas atrocidades. Foi assim nos Jogos de Munique, em 1972, fato que gerou a
criação da doutrina de Gerenciamento de Crises pelo Federal Bureau of
Investigation (FBI)3; nos Jogos de Atlanta, em 19964; e na Maratona de Boston em
2012.
Às vésperas dos Jogos de Inverno de 2014, em Sochi, na Rússia, grupos
separatistas voltaram a justificar a preocupação mundial após cometerem dois
atentados em menos de 24 horas, matando 34 pessoas na cidade de Volgogrado,
na mesma região do Cáucaso, onde está a cidade-sede (VEJA, 2014, p. 73), o que
obrigou o governo local a investir em segurança uma quantia recorde na história das
competições esportivas.
A tática terrorista é promover atentados em locais que provoquem grande
repercussão na mídia e mobilizem a opinião pública. Em 2014, o Brasil será sede da

3
Em 5 de setembro de 1972, membros do grupo terrorista denominado “Setembro Negro”, ligados à
Organização para Libertação da Palestina - OLP, invadiram o quarto da delegação de Israel na Vila
Olímpica, matando dois atletas e tomando outros nove como reféns, em princípio exigindo a
libertação de presos políticos palestinos em Israel e, em virtude da negativa, tentando fuga através do
aeroporto da base militar de Furstendelbruck. Após uma desastrada operação de resgate da polícia
alemã, morreram todos os reféns, dois policiais e dois terroristas. Os outros três terroristas
conseguiram fugir, sendo dois deles mortos pouco depois pelo Mossad, o serviço secreto israelense,
e o terceiro, Jamal Al Gashey, vive sob nova identidade em algum país da África.
4
Na madrugada do dia 27 de julho, uma explosão no Parque Centenário, no centro da cidade de
Atlanta, deixou dois mortos e mais de 100 feridos. O incidente gerou uma onda de críticas ao sistema
de segurança dos Jogos, pois a presença de 35 mil soldados e o FBI não impediram o ato terrorista.
38

Copa do Mundo de Futebol, um dos eventos mais divulgados do mundo (LEÃO,


2009, p. 10). Se por um lado a geopolítica pacifista nacional e o estereótipo
acolhedor e tolerante do povo brasileiro afasta a hipótese desses atentados, por
outro essas mesmas características propiciam um sistema de segurança
reconhecidamente frágil, situação favorável para terroristas exporem seus
fanatismos político-religiosos com proeminência global. Na Figura 1, a matéria do
jornal Diário de São Paulo bem ilustra essa preocupação.

Figura 1 – Matéria jornalística sobre terrorismo na Copa

Fonte: Jornal Diário de São Paulo, 14 de março de 2013.

Segundo o cientista político israelense Reuven Paz, “mesmo um país


tradicionalmente sem inimigos, como o Brasil, está sujeito a atividade de grupos que
buscam publicidade para suas causas” (VEJA, 2014, p. 73). Não se pode descartar
a radicalização de movimentos ditos “sociais” que incorporaram táticas blackblocs e
até que facções criminosas locais – que agem a partir de presídios –, possam
39

aproveitar a oportunidade inédita para diversificar suas ações terroristas, hoje


limitadas a incendiar ônibus públicos e assassinar policiais.
Sobre o terrorismo internacional, há dois complicadores:
a. diferentemente dos elaborados ataques às torres do World Trade Center
em 11 de setembro de 20015, atualmente, cada vez mais indivíduos
desequilibrados ou manipulados pela idealismo radical islâmico agem por
conta própria, em uma “nova era do terrorismo individual”. (CARTA
CAPITAL. A nova era do terrorismo individual. Disponível em
<http://www.cartacapital. com.br/internacional/a-nova-era-do-terrorismo-
individual-4055.html>. Acesso em 27 mai. 2013) Esse novo quadro
dificulta o trabalho da polícia, visto que não há nem grupos e nem
movimentos que possam ser identificados e, consequentemente, suas
atividades não podem ser facilmente monitoradas pelas autoridades;
b. as atuais estratégias terroristas não são previamente anunciadas nem
geram crises que demandem negociações como antes e sim tragédias
inesperadas com explosões suicidas ou não em locais de aglomeração
pública, sendo que quanto mais vítimas, melhor. O terrorismo sem causa,
inesperado, assusta ainda mais.
Logo, o meio mais eficaz é a prevenção e a melhor ferramenta é a
inteligência policial, por meio de busca por dados de torcedores cadastrados e
cruzamento de dados eletrônicos trocados pela rede mundial de computadores, a
partir de palavras-chave associadas a motivos políticos e religiosos. Como medida
operacional, os bolsões de segurança em locais de grandes aglomerações, com
restrição de acesso a pessoas sem ingresso e revistas minuciosas e periódicas nos
seus pertences são a medida mais eficaz. Se os perímetros de segurança não
conseguem impedir completamente um atentado, pelo menos reduzem o número de
vítimas.

5
Série de atentados suicidas contra os Estados Unidos coordenados por dezenove terroristas da
organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, ao sequestrar quatro aviões comerciais de
passageiros e colidir intencionalmente dois deles contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial
do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, sendo o terceiro avião jogado contra o Pentágono,
a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, perto da capital Washington, D.C. e o quarto
caído em um campo aberto em Shanksville, na Pensilvânia, depois de alguns de seus passageiros e
tripulantes terem reagido contra os sequestradores. Não houve sobreviventes dos voos. Incluindo os
que estavam em terra, morreram cerca de 3 mil pessoas no total.
40

2.3.3 Fatores de risco e proteção

Os comportamentos suicidas são mais comuns em certas circunstâncias


devido a fatores culturais, genéticos, psicossociais e ambientais. Apesar de sua
vastíssima obra intelectual na Psicologia, o interesse de Sigmund Freud pelo
suicídio foi relativamente superficial e definido simplesmente pelo predomínio da
pulsão de morte sobre a pulsão de vida (FREUD, 1923, p. 22).
Se para o pai da psicanálise esses dados não traziam muita relevância, para
a psicoterapia eles se refletem em fatores de risco e de proteção, que, por suas
vezes, podem converter-se em indicadores de violência e de progresso em uma
ocorrência policial, propensão ou não de cometimento de uma ação desfavorável
pelo suicida e um parâmetro objetivo e confiável para prosseguimento da
negociação ou adoção de soluções táticas como decisão no gerenciamento de
crises.
Portanto, é crucial que os policiais, às voltas com um caso envolvendo
suicida, conheçam as causas que podem propiciar o desfecho morte em um cenário
de suicídio tentado para não só delimitar as linhas de raciocínio na negociação,
como vislumbrar com antecedência a necessidade do emprego de um componente
tático para solucioná-lo.
O “Manual de Prevenção do Suicídio – Um Recurso para Conselheiros”, da
Organização das Nações Unidas (ONU), enumera os fatores mais comuns de
propensão ou aversão ao suicídio (OMS, 2006, p. 4-6):
fatores de risco:
a. nível socioeconômico e de educação baixos;
b. perda de emprego;
c. estresse social;
d. problemas com o funcionamento da família, relações sociais e sistemas de
apoio;
e. traumas, como abusos físicos e sexuais;
f. perdas pessoais;
g. perturbações mentais tais como depressão, perturbações da personalidade,
esquizofrenia e abuso de álcool e de substâncias;
h. sentimentos de baixa autoestima ou de desesperança;
41

i. orientação sexual (principalmente a homossexualidade, em razão do


preconceito);
j. comportamentos idiossincráticos (peculiares e de difícil personalidade);
k. pouco discernimento, falta de controle da impulsividade e comportamentos
autodestrutivos;
l. incapacidade para enfrentar problemas;
m. doenças físicas e dores crônicas;
n. exposição ao suicídio de outras pessoas;
o. fácil acesso a meios para conseguir se matar;
p. acontecimentos destrutivos e violentos (tais como guerra ou desastres
catastróficos).

fatores de proteção:
a. apoio da família, de amigos e de outros relacionamentos significativos;
b. crenças religiosas, culturais, e étnicas;
c. envolvimento na comunidade;
d. vida social satisfatória;
e. integração social como, por exemplo, através do trabalho e do uso construtivo
do tempo de lazer;
f. acesso a serviços e cuidados de saúde mental.
Percebe-se que principalmente os problemas econômicos, de saúde,
familiares e profissionais estão na lista de fatores que incidem diretamente nas
condutas negativas de ruína das pessoas. As decepções geradas pela incapacidade
de resolver contradições conduzem ao sentimento de impotência diante das
adversidades que são impostas.
Desafios e dificuldades são confrontados cotidianamente por todos, exigindo
uma autopreservação psicológica natural para não tombar em meio aos obstáculos,
possibilitando uma superação frente a essas inevitáveis pressões. Na verdade, a
tentativa de suicídio decorre da impotência psicológica do indivíduo em face desses
óbices.

2.3.4 Patologias relacionadas com o suicídio


42

Um negociador policial não precisa necessariamente ter formação em


psicologia ou ser psiquiatra para lidar com suicidas, mas deve ter uma visão
abrangente das doenças mentais que podem ocasionar uma tentativa de suicídio
(CAIS, 2004, p. 4).
Apresentam-se, a seguir, os transtornos psíquicos, condições de
anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou
cognitiva, que representam significativo impacto na vida do paciente, provocando
sintomas, como distúrbios de conduta, enfraquecimento da memória, desconforto
emocional e perda da vontade de viver (VEJA, 2001, p. 74).

2.3.4.1 Transtornos de humor

Os transtornos de humor estão relacionados ao estado de espírito do


indivíduo:
a. depressão: é a principal causa diagnosticada em vítimas de tentativa de
suicídio: nove em cada dez pessoas que se suicidaram tinham depressão.
Além da tristeza, do desânimo e da dificuldade em desfrutar atividades
prazerosas, verificam-se lentidão de raciocínio, dificuldade de concentração,
perda de memória e alterações no sono e no apetite. Os casos mais graves
contam com delírios e as inevitáveis ideias recorrentes de suicídio.
Fundamentos errados relacionados ao transtorno, como “depressão só dá
em quem é fraco” e que não dá para diferenciá-la de uma tristeza profunda
ou que o envelhecimento ou outro fator aparentemente negativo levam
naturalmente à depressão a qual o indivíduo deve se conformar, induzem ao
mascaramento dos sintomas ou a não reconhecê-los como sinais de uma
doença e à falta de tratamento. Outro conselho equivocado é o de que só a
força de vontade cura a depressão. Um deprimido não pode sentir-se
constrangido em admitir a doença por ser um “sinal de fraqueza”. Tomar
remédios para manter as crises sob controle, a fim de minimizar o risco de
suicídio e também fazer terapia, nesse caso, funcionam como poderosos
tratamentos auxiliares para diminuir a fragilidade psicológica do deprimido,
equacionar seus conflitos e reinseri-lo na sociedade.
b. distimia: é uma depressão leve e crônica, por isso muitas vezes é
confundida com um simples mau humor, mas o quadro patológico é
43

caracterizado quando a visão negativa torna-se incapacitante ao indivíduo.


Os distímicos podem ter prejuízos importantes na área do trabalho
(demissão) e do relacionamento (divórcio) e cometem suicídio na mesma
proporção dos deprimidos graves.
c. transtorno bipolar: o paciente alterna momentos de depressão e euforia.
Nos picos de tristeza, os sintomas são os mesmos da depressão e é quando
podem ocorrer os suicídios. Nas crises de euforia, o bipolar costuma
apresentar alegria exagerada, hipersexualidade, além de pensamentos fora
da realidade. Durante uma crise, o paciente pode ter, por exemplo, graves
prejuízos financeiros. O transtorno inicia-se principalmente com
adolescentes e adultos jovens e é incurável, podendo ser controlado, mas os
episódios aparecem várias vezes ao longo da vida.

2.3.4.2 Transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade estão relacionados a fatores motivacionais


externos, como a família, atividade ou o ambiente em que vive; não ocasionam
tantas tentativas de suicídio como os transtornos de humor, mas também são
problemáticas que podem influenciar para tanto:
a. síndrome do pânico: recorrência de ataques de ansiedade de curta
duração. Sintomas físicos: taquicardia, falta de ar, tonturas e sudorese.
Alguns pacientes desenvolvem também agorafobia, que é o medo de passar
mal em lugares públicos onde não possam ser socorridos.
b. fobias: crises de ansiedade desencadeadas por situações específicas
como andar de avião ou de elevador, dirigir, ir a lugares altos, interagir com
animais etc. A terapia do "enfrentamento" da linha cognitivo-comportamental
é considerada o tratamento mais eficaz. Consiste em expor o paciente, de
forma gradual, às situações que teme. Nos casos mais graves, a ansiedade
traz efeitos desagradáveis como diarreia, vômitos ou impedem que o
indivíduo realize suas tarefas normais do dia-a-dia.
c. ansiedade generalizada: expectativa, inquietude, dificuldade de
concentração, irritabilidade, tensão muscular, alterações do sono – esses
sintomas devem ser clinicamente significativos, ou seja, a ponto de perturbar
a vida social ou profissional do indivíduo.
44

d. transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): obsessões são ideias,


impulsos ou imagens que se impõem de forma intrusiva à consciência,
contra a vontade do indivíduo, causando sofrimento. Em geral, são
associadas à agressão (medo de ferir ou causar um acidente), contaminação
(medo de tocar objetos, manias de limpeza), dúvidas (se trancou ou não o
carro), ordem ou conteúdo sexual. Por causa das obsessões, o paciente, em
geral, elabora rituais (compulsões) e torna-se escravo deles. Quem tem TOC
é tratado com antidepressivos e terapia, em que a vítima é treinada a resistir
às compulsões.
e. estresse pós-traumático: em geral é desencadeado quando o paciente
passa por uma situação estranha ao ciclo normal da vida: sequestro,
violência sexual, morte de alguém próximo ou querido de forma violenta,
guerra ou catástrofes. As imagens da situação traumatizante voltam de
forma recorrente, gerando crises de ansiedade.

2.3.4.3 Transtornos psicóticos

Os transtornos psicóticos estão relacionados a doenças mentais crônicas,


em que os sintomas são facilmente perceptíveis e não permitem um mínimo controle
do indivíduo quando manifestados. Exigem uso de alternativas táticas, pois é difícil o
convencimento de psicóticos à rendição por meio da negociação.
a. esquizofrenia: é caracterizada por sintomas como delírios, alucinações,
discurso desorganizado ou incoerente, comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico (condição psicomotora caracterizada pela
perda total da iniciativa motora, postura fixa e estática, juntamente com
mutismo e afastamento da realidade) e sintomas negativos (embotamento
ou insensibilidade afetiva). Apenas um dos sintomas será necessário para
caracterizar o transtorno se os delírios são bizarros ou as alucinações
consistem de vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da
pessoa, ou duas ou mais vozes interiores conversando entre si. Podem se
manifestar também pelo alcoolismo, ingestão de entorpecentes ou sintomas
de melancolia ou luto anormal.
b. paranoia: tecnicamente chamada Psicose Delirante Crônica, é um
distúrbio mental caracterizado essencialmente por um delírio duradouro e
45

inabalável. Apesar desses delírios, há uma curiosa manutenção da clareza e


da ordem do pensamento, da vontade e da ação. Ao contrário dos
esquizofrênicos e doentes cerebrais, nos quais as ideias delirantes são um
tanto desconexas, neste os pensamentos unem-se em um determinado
contexto lógico para formar um delírio total, estruturado e organizado que
persiste por pelo menos um mês. As alucinações não são proeminentes e
nem habituais, embora possam existir concomitantemente. A maioria dos
pacientes podem parecer normais em seus papéis interpessoais e
ocupacionais, entretanto, em alguns o prejuízo ocupacional pode ser
substancial e incluir isolamento social.
c. histeria: denominada Transtorno Histriônico de Personalidade, é
caracterizada por um comportamento ao mesmo tempo dramático e
extrovertido do indivíduo que se apresenta sempre exuberantemente. É um
dos poucos distúrbios de personalidade mais frequentes no sexo feminino.
São alterações das tendências comportamentais em busca de atenção,
tendendo a exagerar seus pensamentos e sentimentos e apresentando
acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não
serem o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações.
Frequentemente animados e dramáticos, tendem a chamar a atenção sobre
si mesmos e podem, de início, encantar as pessoas com quem travam
conhecimento por seu entusiasmo, aparente franqueza ou capacidade de
sedução. No afã de representar um papel que lhes é negado pela vida ou
por suas próprias limitações pessoais, os histriônicos representam para si e
para todos os demais. Pode haver fases nas quais já não sabem onde
termina a realidade e começa a fantasia, passando a acreditar em seus
próprios mitos e em suas próprias encenações. Devido a sua excepcional
teatralidade, às vezes, essa tendência em polarizar as atenções é
perfeitamente dissimulada sob o papel de vítima ou de um retraimento social
tão lamentável que é capaz de chamar mais a atenção que uma participação
mais normal. São pessoas que estão sempre a se queixar de
incompreensão, mas jamais tentam compreender os outros ou entender que
os outros não têm obrigação de compreendê-los.
A cura ou a redução de sintomas das patologias acima vai desde
psicoterapias individuais e conjuntas para ajudar o paciente a identificar as situações
46

nocivas e lidar com elas ao enfrentamento do problema ou de aprendizagem a


conviver com o trauma, combinados com o uso de medicamentos antidepressivos e
estabilizadores de humor que agem no sistema nervoso.
Em uma ocorrência policial, boa parte da recuperação psicológica do suicida
pode ser obtida a partir de uma negociação bem sucedida, em que o suicida tentado
é convencido a não se matar, e não agarrado antes que o fizer, frustração que o
levaria a uma nova tentativa, ainda pior, quando não houvesse bombeiros ou
policiais por perto, e que demandaria tanto trabalho ou mais se acaso ocorresse
uma eficaz negociação na primeira tentativa, além do irremediável prejuízo em caso
de ocorrer a morte.
Superar o transtorno na ocorrência e induzir pela negociação o suicida a não
se matar contribui sobremaneira para essa recuperação: o convencimento tem o
efeito psicológico de fazer acreditar que ele é quem não quis se matar, e não que
fora persuadido pelo policial.
A Figura 2 apresenta a proporção e o percentual de suicídios por transtornos
mentais.

Figura 2 – Percentuais de suicídios por transtornos mentais

Fonte: Dr. Neury Botega, Unicamp, 2004.


47

2.4 Suicídio na lei

A legislação brasileira responsabiliza somente a indução, o estímulo ou


auxílio ao suicídio, não imputando crime ao suicida tentado por sua tentativa.
Está previsto no Código Penal, art. 122:
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para
que o faça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave.
Parágrafo único: A pena é duplicada:
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.

No Código Penal Militar, há previsão legal semelhante e, além,


criminalização daquele que, por tratamento desumano a alguém sob seu comando,
provoca ou auxilia direta ou indiretamente seu suicídio:
Provocação direta ou auxílio a suicídio
Art. 207. Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, ou prestar-lhe auxílio para
que o faça, vindo o suicídio consumar-se:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Agravação de pena
§ 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou a vítima é menor ou tem
diminuída, por qualquer motivo, a resistência moral, a pena é agravada.
Provocação indireta ao suicídio
§ 2º Com detenção de um a três anos, será punido quem, desumana e
reiteradamente, inflige maus tratos a alguém, sob sua autoridade ou
dependência, levando-o, em razão disso, à prática de suicídio.
Redução de pena
§ 3° Se o suicídio é apenas tentado, e da tentativa resulta lesão grave, a
pena é reduzida de um a dois terços.

É importante saber que o ato suicida em si não é crime, argumento


reconhecidamente sensível ao suicida a ser usado nas negociações, visto que
alguns indivíduos se matam pelo simples temor infundado de serem presos após a
tentativa. Esclarecer essa situação legal dá ao suicida uma perspectiva positiva de
futuro, facilitando a desistência e a rendição.

2.5 Mitos e verdades

O tabu que cerca o suicídio leva à criação de crenças e ideias falsas e não
exatas que se propagam em meio à ignorância e desconhecimento sobre o tema.
48

Esses mitos são lançados pelas pessoas como proteção, porque o suicídio
coloca a morte, aquilo que não se gosta de lembrar, no centro do palco. Na verdade,
as crenças justificam o modo de agir, aliviam, consolam, servem para liberar da
incômoda situação real e para livrar da responsabilidade pelo fato desagradável.
O professor Neury Botega desmistifica falsas crenças relacionadas ao
suicídio opondo os mitos a explicações científicas, baseadas em experiências
práticas profissionais, que são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Mitos e verdades sobre o suicídio

MITOS VERDADES

"Se eu perguntar sobre Questionar sobre ideias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e
suicídio, poderei induzir franco, aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente acolhido por
o paciente a isso" um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu
sofrimento. Não questionar aumenta a mortalidade.
"Ela está ameaçando o Uma parcela das pessoas que se matam, ou que tentam fazê-lo, havia
suicídio apenas para declarado sua intenção de suicídio para amigos, familiares ou
manipular..." médicos.
"Quem quer se matar, Essa ideia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou a descuido no
se mata mesmo..." manejo de pessoas sob risco. Não se trata de evitar todos os
suicídios, mas sim os que podem ser evitados.
"No lugar dele, eu Há sempre o risco do profissional identificar-se profundamente com
também me mataria..." aspectos do desamparo, depressão e desesperança de seus
pacientes, sentindo-se impotente para a tarefa assistencial. E há
também o perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo para
se decidir pelas ações que fará ou deixará de fazer.
"Veja se da próxima vez O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre a
você se mata mesmo!" equipe de saúde, podendo provocar sentimentos de franca hostilidade
e rejeição. Isso é capaz de impedi-la de encarar a tentativa de suicídio
como um possível marco em uma trajetória pessoal acidentada, a
partir do qual se podem mobilizar forças para uma mudança de vida.
"Quem se mata é bem Diversos estudos epidemiológicos demonstraram que, vistas em
diferente de quem conjunto, as pessoas que tentam o suicídio apresentam características
apenas tenta" diferentes daquelas que chegam a um desenlace fatal. No entanto,
esses achados não deveriam funcionar como álibi para a pouca
atenção dispensada aos que tentam o suicídio, mas não morrem.
Fonte: BOTEGA, 2012.

2.6 Taxas e estatísticas

Por meio dos dados estatísticos, pode-se ter, ao mesmo tempo, uma visão
ampla e geral da geografia do comportamento suicida e específica de cada
localidade, estabelecendo, também, as causas do comportamento suicida, de
acordo com a geopolítica cultural de cada lugar.
49

Partir-se-á dos números globais, passando pelos nacionais até o estudo da


realidade que se tem no Estado de São Paulo6.

2.6.1 Suicídio no mundo

Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS),


quase 1 milhão de pessoas suicidaram-se em 2012 no mundo, ou cerca de 3 mil por
dia, a uma taxa de 16 para cada 100 mil habitantes (OMS, 2013). Isso significa um
suicídio a cada 40 segundos. A estimativa é que em 2020, aproximadamente 1,53
milhões de pessoas morrerão por suicídio no mundo (ÉPOCA, 2013, p. 87).
Nos últimos 40 anos, a “violência autodirigida”, como o suicídio é classificado
pela OMS, aumentou em 60%, e hoje está entre as três maiores causas de morte no
mundo inteiro entre pessoas de 15 a 44 anos (a fase economicamente ativa) de
ambos os sexos.
Muitos dos casos são subnotificados. Historicamente, acredita-se que o
número de tentativas seja de 10 a 20 vezes maior, o que dá uma ideia da dimensão
do problema: uma tentativa de suicídio a cada 3 segundos. Também, o número de
suicídios pode ser maior, especialmente no Brasil, em que os casos, por vezes, são
classificados como homicídio, ficando fora das estatísticas, sendo que as tentativas
que não geram lesão nem sempre são informadas pelos familiares ou registradas
pela polícia.
A OMS considera baixa a taxa de até 6,5 suicídios para cada 100 mil
habitantes, média de 6,5 a 13 casos e alta para taxas acima de 13 mortes auto
infligidas.
A Figura 3 apresenta o mapa-múndi do suicídio a partir de taxas por 100 mil
habitantes.

6
Não há alinhamento dos dados mundo x país x estado, pois as estatísticas são de órgãos de saúde
ou censitários e a área de Segurança Pública, que atende às tentativas de suicídio não contabiliza
nem se predispõe a estudos.
50

Figura 3 – Taxas de suicídio por 100 mil habitantes no mundo

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Suicide_rates_map-en.svg

Pesquisas sobre suicídios da OMS indicam também que:


a. ocorre mais com indivíduos na faixa etária de 15 a 44 anos;
b. homens, em média, cometem de duas a três vezes mais suicídios que
mulheres (índice inverso somente na China, em razão do programa estatal
de controle de natalidade);
c. quando tentam, os homens conseguem o resultado morte mais que as
mulheres;
d. mulheres cometem suicídio usualmente por meios mais trágicos como
envenenamento, uso exagerado de remédios ou cortar os pulsos, enquanto
que os homens preferem meios mais violentos (e eficazes) como armas
brancas ou de fogo e enforcamento;
e. solteiros(as) suicidam-se mais que os casados;
f. a maioria dos casos acontece nas zonas urbanas (novamente se inverte
somente na China, onde existem mais casos nas áreas rurais);
g. a Europa Oriental tem os maiores índices por número de habitantes,
enquanto que a América do Sul os menores. A África não tem índices
referenciais;
h. patologias do humor (depressão, transtorno bipolar, etc.) ou alcoolismo
estão presentes em 57 a 86% dos casos;
i. presença de doença psiquiátrica em pelo menos 93% dos casos.
j. doença terminal em 4 a 6% dos casos;
51

k. cerca de 2/3 dos mortos comunicaram a intenção suicida, sendo que 40%
de forma clara;
l. cerca de 1/3 tiveram tentativas anteriores de suicídio;
m. em média, 30% da população mundial sofre ou sofrerá transtornos
mentais; destes ao menos 1% cometerá suicídio.

2.6.2 Suicídio no Brasil

Embora o Brasil não tenha tradição ou cultura suicida arraigada, de 1987 a


2008, a taxa anual de mortalidade específica de suicídio no país saltou de 3,4 para
4,9 casos – aumento de 44% - e segue crescendo: em 2010 ocorreram 9.448
suicídios no Brasil, ou 5 suicídios para cada 100 mil habitantes, conforme ilustrado
na Figura 4.

Figura 4 – Evolução de suicídios no Brasil de 1980 a 2008

Fonte: Fundação Seade

As maiores taxas ocorreram nos Estados do Rio Grande do Sul (9,7), Santa
Catarina (8,5), Mato Grosso do Sul (7,7) e Roraima (7,5). Todas estas consideradas
taxas moderadas, embora existam taxas altas em várias cidades desses Estados.
No geral, esteve distribuída entre a população masculina (7,9) e feminina (2,1), em
uma relação de 4:1, como ocorre na maioria dos países que possuem dados
52

disponíveis. Esses números são relativamente baixos em relação à média mundial


de 15 casos para cada 100 mil habitantes, porém, autoridades da área, como o
demógrafo da Fundação Seade, Paulo Borlina Maia, reconhecem que a evolução da
taxa, não reflete a realidade. O quadro 2 apresenta essa evolução.

Quadro 2 – Suicídio no Brasil

Fonte: Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) /


Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) /Ministério da Justiça; Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Um dos problemas é a má qualidade dos dados de mortalidade no Brasil em


geral. Das 27 unidades federativas, só oito trazem informações consideradas
confiáveis e mesmo assim o suicídio aparece agregado nas formas tentada e
consumada.
Outra dificuldade é a subnotificação. Segundo a professora da Faculdade de
Saúde Pública da USP, Maria Helena Mello Jorge, por uma série de razões
53

emocionais, religiosas e até securitárias, as pessoas não alardeiam que seus


parentes tiraram a própria vida para evitar que a constrangedora causa conste do
certificado de óbito, com isso as estatísticas não refletem o número real. (FOLHA DE
S. PAULO. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0708201036
.htm>. Acesso em 31 dez. 2012)
A questão é saber se a cifra brasileira – acanhada em relação à média
global – deve-se a diferenças culturais que nos levam a cometer menos suicídios ou
se entra na conta de uma subnotificação maior que a do resto do mundo.
É possível que os dois fatores atuem ao mesmo tempo. O último Mapa da
Violência (2011), divulgado pelo Instituto Sangari e o Ministério da Justiça, corrobora
a estatística anterior e revela que, das três causas de mortalidade violenta, os
suicídios foram os que mais se elevaram na década de 1998-2008: 17%, tanto para
a população total quanto para a jovem. As duas outras causas acima do suicídio são
os homicídios e mortes no transporte. Ainda segundo a OMS, para cada suicídio há,
em média, 5 ou 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem consequências
emocionais, sociais e econômicas.
Outra pesquisa realizada, publicada pela mesma matéria na Folha de
S.Paulo, é apresentada na Figura 5.

Figura 5 – Pesquisa sobre suicídios

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo, 07 de agosto de 2010.

2.6.3 Suicídio em São Paulo


54

Como visto, não há dados sobre suicídios em São Paulo no Anuário


Brasileiro de Segurança, porém, estudo publicado na Revista Brasileira de
Psiquiatria demostra dados coletados no Estado, a respeito de casos de suicídio,
como gênero, faixa etária e métodos de suicídio, entre 1996 e 2009, período em que
houve 6.002 suicídios. (REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Taxas de suicídio
e tendências em São Paulo, de acordo com gênero, faixa etária e aspectos
demográficos. Disponível em <http://www.rbppsiquiatria. org.br/artigosPrelo.asp>.
Acesso em 30 dez 2013)
Estatísticas apontaram diferenças de gênero quanto às oscilações de
incidência masculina, identificando um aumento significativo de 2,5% a partir de
2002, em razão principalmente da elevação de 8,6% ao ano para homens mais
jovens (25-44 anos), a partir de 2004. O estudo não encontrou referências
significativas entre as mulheres. Concluiu a revista que mais ações de prevenção a
grupos de risco ao suicídio precisam ser desenvolvidas pelo Estado de São Paulo ao
passo que o índice vem aumentando gradativamente.
No Quadro 3 são apresentadas as Séries Históricas e Estatísticas do IBGE,
referente à unidade territorial de São Paulo, tendo como parâmetro a taxa de
mortalidade específica por 100 mil habitantes.

Quadro 3 - Séries Históricas e Estatísticas do IBGE

Taxa de Taxa de
Período mortalidade Período mortalidade
específica específica
1990 4,3 2000 3,8
1991 4,4 2001 4,3
1992 4,5 2002 4,1
1993 4,8 2003 4
1994 5 2004 3,8
1995 5,2 2005 4
1996 5,1 2006 4,2
1997 5,2 2007 4,1
1998 5 2008 4,5
1999 4,3 2009 4,8

Fonte: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=1&op=1&vcodigo=MS11&t=obitos-causas-
externas-suicidios-taxa-mortalidade

Não há dados sobre o total de atendimentos de casos envolvendo suicidas


pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, pois, em consulta, o Setor de
55

Estatística do Estado Maior do CCB esclareceu que a contabilização das


ocorrências faz-se pelo resultado e não pela motivação ou natureza criminal, sendo
que vários tipos podem configurar a tentativa de suicídio, como ameaça de salto
para fora de edificação/estrutura, distúrbio do comportamento, pessoas feridas por
instrumentos, ferimentos por armas brancas, de fogo ou explosão, ingestão/inalação
de droga/ medicamento/produto químico, queimaduras, intoxicação por
droga/remédio, ocorrências diversa de queda, ameaça de salto etc, que se
consideradas pelo total podem avolumar indevidamente os números, visto que
alguns casos podem não ter sido autoprovocados.
Porém, para se ter uma dimensão da quantidade de ocorrências atendidas
pelo Corpo de Bombeiros, foram contabilizadas somente as ocorrências que possam
ser diretamente ligadas a comportamentos suicidas, como as de controle de
distúrbios do comportamento, ameaça de salto e de salto para fora de edifício ou
outra estrutura. O Quadro 4 apresenta esses dados quantitativos.

Quadro 4 – Ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros

Natureza da Ocorrência / Ano* 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012**
Ocorrência diversa de Queda /
1639 1500 983 757 672 1055 -
Salto / Ameaça de Salto
Distúrbio do comportamento 1855 1847 1919 2031 1908 294 -
Salto para fora de edifício / outra
171 193 143 177 125 2729 -
estrutura
Total 3665 3540 3045 2790 2705 4078 -
* Dados de 2006 não fornecidos.
** Em 2012 houve mudança na nomenclatura das naturezas pelo Corpo de Bombeiros para readequação às práticas de
atendimento e classificação por grupos de ocorrências, sendo que as naturezas elencadas foram suprimidas.

Fonte: Seção de Organização e Planejamento do B/3 do EM/CB/PMESP.

Desse quadro, infere-se que são 19.823 ocorrências de suicídio/tentativa em


6 anos, mais de 3.300 atendimentos por ano no Estado de São Paulo ou quase dez
casos relacionados a suicídios por dia, sem contabilizar as situações com suicidas
atendidas pelo policiamento ou que vão diretamente para o hospital sem intervenção
dos bombeiros. Também foi consultada a Coordenadoria de Análise e Planejamento
para saber os dados do policiamento, mas a CAP não faz análise individualizada de
casos dessa natureza.
56

3 GERENCIANDO CRISES COM SUICIDAS

Casos nacionais e internacionais envolvendo indivíduos com tendências


suicidas, gerando vulto ou perdas numerosas de vidas inocentes, têm alertado para
a prevenção por parte dos organismos responsáveis pela segurança pública.
A mais longa ocorrência com reféns localizados já registrada em São Paulo,
que adquiriu grande repercussão nacional e ficou conhecida como “Caso Eloá”,
ocorreu em outubro de 2008, quando o motoboy Lindemberg Fernandes Alves,
então com 22 anos, invadiu o apartamento em que estava sua ex-namorada, Eloá
Cristina Pimentel, de 15 anos, em Santo André, na Grande São Paulo, fazendo-a
refém junto a mais três colegas. Após mais de 100 horas de cárcere privado,
intensas negociações e a libertação de dois colegas, uma equipe tática do GATE
invadiu o apartamento, mas Lindemberg teve tempo de atirar nas reféns: Eloá foi
atingida na cabeça e na virilha e morreu depois de socorrida; sua amiga Nayara foi
ferida com um tiro no rosto, mas sobreviveu; o raptor foi preso. A crise deu a
Lindemberg uma visibilidade nunca antes conquistada, proporcionada pela
exploração da mídia televisiva e as negociações evidenciaram sua predisposição
suicida. Após o fato, por sugestão do Cap PM Adriano Giovaninni, negociador
policial na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) alterou a resolução
que disciplina a atuação das polícias em ocorrências com reféns (vide item 3.1.3).
Dois anos antes, em outubro de 2006, em Cidade Tiradentes, bairro da zona
leste da capital paulista, o marceneiro Gilberto Gomes de Lima, de 42 anos,
manteve a esposa Gilvanete da Silva Lima, de 37 anos, e a amante grávida, Andréia
Pereira Santos, de 30 anos, reféns. Após mais de trinta horas de negociação com o
GATE e quando já havia um acordo para que ele se rendesse, foram ouvidos
disparos no interior do prédio. O time tático que invadiu o local encontrou Lima
suicidado com um tiro na cabeça depois de matar a amante com um tiro no pescoço.
A companheira foi poupada por ele.
Antes ainda, no dia 12 de junho de 2000, o assaltante Sandro Barbosa do
Nascimento chocou o Brasil ao fazer reféns onze passageiros em um ônibus,
defronte ao Parque Lage, no Rio de Janeiro, no caso emblemático que ficou
conhecido como “Ônibus 174” (PADILHA, 2002). Durante as negociações,
transmitidas ao vivo pela TV, Sandro dizia que iria “matar geral”, que “tinha pacto
com o diabo” e exigiu, primeiramente, veículos para fuga, depois uma granada para
57

se explodir. Após cerca de cinco horas de negociação e embora o local estivesse


completamente cercado por policiais e curiosos, Sandro decidiu sair do ônibus,
usando como escudo a professora Geísa Firmo Gonçalves. Um policial do Batalhão
de Operações Policiais Especiais (BOPE) saiu detrás do ônibus e tentou alvejar
Sandro com uma submetralhadora, mas acabou errando o tiro, acertando a refém de
raspão no queixo. Na sequência, Geísa levou mais três tiros nas costas disparados
por Sandro e morreu. O criminoso foi asfixiado, enquanto era detido por policiais
militares, dentro da viatura.
Casos como esses acontecem em São Paulo e no Rio de Janeiro como no
restante do país e no mundo. O massacre em Realengo7 em 2011 teve clara
inspiração nos frequentes ataques perpetrados por suicidas em escolas dos Estados
Unidos e por fanáticos nacionalistas na Europa, que, por suas vezes, imitam ações
suicidas de religiosos fundamentalistas do Oriente Médio. O pano de fundo é sempre
o desvio psicológico de seus agentes.
As ocorrências acima são classificadas como “crises” e o Gerenciamento de
Crises, doutrina policial para atuação nesses casos, estabelece como objetivo
primordial a preservação das vidas envolvidas, do que se depreende que se houve a
administração policial e esta não preservou a vida do refém, em tese, a atuação não
fora bem sucedida.
Não obstante, nenhum dos policiais que agiram nessas ocorrências foi
legalmente responsabilizado pelas mortes das vítimas, até porque quem
efetivamente as matou foram os criminosos. Todavia, no campo moral, as ações
policiais não passaram ilesas de censura da mídia e da sociedade, inclusive
contestando o preparo dos mais renomados grupos policiais especiais do Brasil para
atender casos dessa natureza8.
Críticas à parte, o GATE e o BOPE são referências nacionais e
internacionais como tropas de elite. Muito bem treinados e equipados, seus
integrantes estão no nível das melhores equipes táticas do mundo. Por que então

7
Ocorrido em 2011 quando Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a Escola Municipal
Tasso da Silveira, no bairro Realengo, capital do Rio de Janeiro, e armado com dois revólveres matou
doze alunos e depois de interceptado por policiais militares, cometeu suicídio.
8
Revista Época, edição 109 (19/06/2000), reportagem ‘Tragédia Brasileira’, quadro ‘Polícias mal
preparadas’: “Todas as polícias militares do país têm tropas de elite como o Batalhão de Operações
Especiais (Bope) do Rio. Essas tropas, porém, usam equipamentos obsoletos e treinam pouco. Mal
remunerado e mal treinado, o policial erra em situações críticas”.
58

todos esses casos foram administrados por grupos da mais alta credibilidade sem
que se conseguisse que vidas fossem ceifadas?
O componente psicológico é um complicador que desafia o treinamento
policial, hoje tradicionalmente estabelecido para casos envolvendo suicidas, e o
treinamento aqui proposto aumenta a possibilidade de sucesso nesses casos.
Estabelecer uma doutrina atualizada e integrada de atendimento evita o empirismo e
improviso dos procedimentos e privilegia a negociação técnica e a rendição do
causador/vítima, propiciando uma recuperação psicológica mais adequada à vítima,
evitando riscos desnecessários a todos os envolvidos.

3.1 Crises com suicidas

Wanderley Mascarenhas de Souza, precursor da doutrina de atendimento a


ocorrências policiais críticas na PMESP, por meio da célebre monografia do Curso
de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), de 1995, intitulada “Gerenciamento de
Crises: Negociação e atuação de Grupos Especiais de Polícia na solução de
eventos críticos”, adota o conceito da Academia Nacional do FBI: “Crise é um evento
crucial, que exige resposta especial de polícia, buscando uma solução aceitável”
(SOUZA, 1995, p. 10).
Ao elencar as características de uma crise, o mais recente compêndio
nacional sobre crises policiais, a apostila do Curso Gerenciamento de Crises da
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), também baseada nas
doutrinas do FBI, cita a imprevisibilidade, a compressão de tempo, a necessidade de
postura organizacional não rotineira, as considerações legais especiais, o
planejamento analítico específico, a capacidade de implementação e a ameaça à
vida, ressaltando para esta última:
De acordo com a doutrina do FBI, a ameaça de vida deve ser
observada como um componente essencial do evento crítico, mesmo
quando a vida em risco é a do próprio causador da crise. Assim, por
exemplo, se alguém ameaça se jogar do alto de um prédio buscando
suicidar-se, essa situação é caracterizada como uma crise, ainda que
inexistam outras vidas em perigo (JUNIOR-FAHNING, 2007, p. 8).

Ou seja, a SENASP classifica objetivamente a tentativa de suicídio como


uma ocorrência de natureza policial.
59

3.2 Gerenciamento de crises com suicidas

Gerenciar crises é resolver as ocorrências policiais vultosas baseando-se em


probabilidades, em um processo racional e analítico. Novamente, recorre-se à
definição da Academia Nacional do FBI: “Gerenciamento de Crise é o processo de
identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e
resolução de uma crise” (SOUZA, 1995, p. 13-14).
Antes da doutrina de Gerenciamento de Crises, as ocorrências no Brasil
eram resolvidas de forma nada técnica, relegadas apenas à capacidade de
improvisação, ao bom senso, criatividade, experiência ou à habilidade da autoridade
policial encarregada de solucionar as crises, em um tempo em que tais fatos não
eram tão frequentes e os organismos policiais, e porque não dizer a própria
criminalidade, não estavam tão organizados (Ibdem, p. 5-6).
A realidade começou a mudar em 1996, quando a PMESP criou diretriz
própria para o atendimento de ocorrências de vulto e/ou com reféns, adotando a
negociação como primeira e principal alternativa para solução de uma ocorrência
policial crítica, em consonância com a citada doutrina de Gerenciamento de Crises
desenvolvida pelo FBI e importada, no ano anterior, pelo então Cap PM
Mascarenhas.

3.2.1 Objetivos

Como o Cap PM Nelson Villa Junior, da Polícia Militar do Paraná (PMPR),


bem observa em artigo sobre Gerenciamento de Crises, a doutrina trazida em 1995
já rendeu frutos, e, hoje, existe uma linha de ação policial padronizada para lidar
com ocorrências críticas, respeitadas as peculiaridades de cada crise. Os efeitos
desse processo evolutivo, que se aperfeiçoa paulatinamente, podem ser colhidos
pela sociedade, que vê diminuído o risco de situações extremadas e atuações
isoladas. Assim, o excessivo empirismo com o qual policiais do passado agiam
diante de situações com reféns deu lugar a uma atuação técnica, com
procedimentos, atribuições e responsabilidades bem definidos para cada caso
(VILLA JUNIOR, 2009).
Os objetivos fundamentais no Gerenciamento de Crises Policiais são, pela
ordem:
60

a. preservar vidas;
b. aplicar a lei.
Essa ordem é, como apresentada, rigorosamente axiológica, visto que a
preservação de vidas deve estar, para as autoridades policiais responsáveis pelo
gerenciamento de um evento crítico, acima da própria aplicação da lei.
A partir da lógica jurídica, o autor contesta esses objetivos, como
apresentados, para precisar só haver um objetivo, o de aplicar a lei, pois é princípio
fundamental da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana 9 e,
por consequência, sua vida. Argumenta, inclusive, em cima do equívoco de alguns
doutrinadores em traduzir erroneamente, a partir da doutrina do FBI, o primeiro
objetivo como “salvar vidas”, o que significaria que incondicionalmente se deve
buscar salvar todas as pessoas envolvidas. Todavia, em ocorrências policiais,
mesmo que politicamente incorreta, há uma primazia dentre as vidas a serem
preservadas em uma ocorrência e as das vítimas devem vir em primeiro lugar, de
forma que, em último caso, pode-se optar por neutralizar o raptor para se salvar o
refém, em legítima defesa de terceiros.
Nessa valoração, entre a vida mais importante (vítima) e a menos importante
(causador), está a dos policiais. Embora polêmica para muitos policiais, esta
conformidade é a pregada pela doutrina original (FBI, 2004, p. 3) e incorpora a
prática da exposição voluntária da própria vida a risco (diga-se controlada) na ação
de resgate do refém. Se a vida do policial fosse a mais importante, ele nem se
predisporia a ir ao local atender à ocorrência. O lema do Pelotão de Ações Táticas
de Campinas (ATAC) ilustra habilmente esse compromisso: “A liberdade do refém é
a nossa razão de existir”.
Nos casos com suicidas, naturalmente a vida do policial é colocada em
primeiro plano, visto que causador e vítima configuram-se na mesma pessoa, não
sendo então a vida mais indefesa envolvida. Contudo, esse entendimento não
significa que não haverá riscos calculados para o policial tentar salvar a vida do
suicida, nem que a vida desse suicida esteja sendo negligenciada.

9
Constituição Federal, art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: inc. III - a dignidade da pessoa humana.
61

A aplicação da lei, como objetivo fundamental, é outra premissa que indica a


necessidade de atuação especial de polícia em ocorrências críticas, inclusive
tentativas de suicídio. Se um policial ou um bombeiro não especialista, ao tentar
desarmar um suicida com uma faca, é atingido por este, responderá o suicida pela
lesão resultante, devendo a mais alta autoridade no local responder
administrativamente pela sua negligência em não acionar um grupo especializado.

3.2.2 Medidas iniciais de controle

A crise é gerenciada a partir do instante em que é instalada, com as medidas


iniciais de controle adotadas pelo primeiro interventor, normalmente um policial
militar da área territorial. Essas providências preliminares serão fundamentais para
que a crise seja conduzida de forma ordenada e que se consiga sucesso no final.
A doutrina de Gerenciamento de Crises da PMESP, normatizada pela
Ordem de Serviço Nº PM3-007/02/08-CIRCULAR (Medidas Inciais de Controle do
primeiro interventor em crises), recomenda três medidas iniciais de controle ao
primeiro interventor em uma crise:
a. conter a crise;
b. isolar o ponto crítico;
c. estabelecer contato inicial sem concessões.
Conter a crise significa evitar que o fato tome uma proporção maior e torne-
se mais dificultoso de ser resolvido. Um exemplo prático é a retirada de pessoas ou
objetos do alcance do causador que possam potencializar a sua condição.
Isolar o ponto crítico corresponde a evitar que pessoas estranhas à
ocorrência tenham acesso ao local. São normais, nesses casos, aglomerações de
curiosos, repórteres, cinegrafistas, autoridades e também de policiais que nada
podem contribuir para solucionar o ocorrido. Essas interferências são sempre as
mais prejudiciais.
A Resolução SSP-SP nº 13, de 5 de fevereiro de 2010, veio para dirimir esse
problema, determinando a retirada de pessoas não envolvidas diretamente na
operação, “inclusive com restrição de acesso ao perímetro de segurança, de
policiais civis e militares estranhos à operação, bem como de terceiros e da
imprensa”, que podem inclusive serem “instados a se abster de transmitir imagens
e/ou manter contato com os envolvidos na ocorrência se os responsáveis pela
62

operação tática especial vislumbrarem a existência de riscos da respectiva


intervenção”.
A proposta de “estabelecer contato inicial sem concessões” substituiu a
medida anterior de “negociar” que, relegada a não especialistas, gerava
negociações com concessão de itens não negociáveis como colete balístico, drogas,
troca de reféns, veículos etc, o que poderia comprometer a recondução das
tratativas por negociadores treinados. Mostrou-se também oportuna, pois, não raro,
a decisão adotada de forma equivocada por leigos (profissionais de segurança ou
não) em ocorrências com suicidas é atender incondicionalmente às demandas do
causador, como forma de acalmá-lo, ganhar tempo e diminuir o problema. Agindo
dessa forma tem efeito inverso, pois aumenta o “poder” do causador e dá vazão
para que este julgue poder fazer o que bem entender, visto que todos o obedecem.
Outro efeito ainda mais nefasto é o de montar o teatro ideal para sua morte. Serão
abordados, mais adiante, especificamente, os tópicos relativos à negociação.
A Diretriz Nº PM3-001/02/13 estabelece ainda, como providência, coletar as
informações elementares da ocorrência, de acordo com as peculiaridades
existentes, tais como: local, características da pessoa com propósitos suicidas,
detalhamentos sobre a arma ou artefato de posse dessa pessoa, condições do
terreno, características da habitação ou estrutura física.

3.2.3 Organograma de gerenciamento de crises

Para administrar crises policiais, a doutrina de Gerenciamento de Crises


estabelece, também, um Modelo Gerencial em que haja um comandamento único,
de quem partirão as decisões finais. Não será centralizado, pois se servirá de
equipes responsáveis pelas diferentes necessidades de ação no teatro de
operações para assessorá-lo nessas decisões.
Será o Gerente da Crise a mais alta autoridade relacionada ao fato e
presente no local, responsável por tomar as decisões sobre a atuação na ocorrência,
baseadas nas indicações dos comandantes da Equipe de Negociação e do Time
Tático Especial.
O coordenador operacional consiste em um oficial de patente mais baixa que
a do gerente e mais alta que a dos demais, conhecedor das doutrinas de negociação
e ações táticas especiais, a quem cabe coordenar todas as atuações práticas.
63

Terá ao seu dispor um Assessor de Imprensa que servirá como porta-voz da


Polícia, colhendo informações, submetendo-as à autorização dos gerenciadores da
crise e divulgando-as à mídia presente, que sempre acompanha esses casos com
atenção. Vale lembrar que casos envolvendo suicidas requerem cuidados
redobrados em relação à divulgação de informações para preservar a família e a
dignidade do envolvido.
A Equipe de Negociação responderá pela comunicação com o causador da
crise, buscando a solução pacífica da ocorrência, e servirá, dentre muitas outras
funções, de elo entre o causador da crise e o gerente, enquanto que o Time Tático
responderá pelas alternativas táticas para resolver a crise, agindo no caso de as
negociações não surtirem o resultado da rendição pacífica.
Bombeiros, ambulâncias, órgãos de engenharia de tráfego, defesa civil e
outros que possam auxiliar no gerenciamento ficarão subordinados ao comandante
do policiamento da área, responsável pelo isolamento do local e arregimentação dos
órgãos de apoio.
A Figura 6 apresenta um organograma simplificado de Módulo Gerencial de
Crise.

Figura 6 - Organograma simplificado de Módulo Gerencial de Crise

Fonte: desenvolvido pelo autor.


64

Essa é uma estrutura nuclear de gerenciamento de crises policiais. Podem-


se inserir unidades técnicas especializadas às características da ocorrência, núcleos
de outras partes envolvidas ou de aparato policial disponível e especialistas
extrapoliciais nos casos exógenos.
O especialista em segurança Renato Vaz, na obra “Gerenciamento de
Crises no Contexto da Segurança Pública”, trata de organogramas mais difusos para
situações mais complexas, contudo é perceptível que em todas as variáveis são
preservados os módulos iniciais de organização mencionados (VAZ, 2001, p. 70).

3.2.4 Indicadores de progresso e indicadores de violência

Classificação corrente nos estudos de crises para determinar e justificar as


atitudes a serem adotadas no teatro de operações, embora não sejam muito
utilizados no país, os indicadores de progresso e de violência servem como
parâmetros objetivos para o gerente da crise na tomada de decisões em situações
críticas, seja para manter uma negociação, seja para deliberar uma solução tática.
Aplicável também como justificativa legal para o uso legítimo da força na ocorrência
em face da relutância do causador em ceder às negociações e concessões
oferecidas pela polícia (SANTOS, 2004, p. 18-19).
Os indicadores de progresso referem-se a todas as atitudes do causador
que favoreçam uma solução pacífica e negociada como predisposição ao diálogo e
negociação, relaxamento de posições agressivas (dialogar, abaixar a faca,
desengatilhar o revólver, sair do parapeito etc.).
Os indicadores de violência, como o próprio nome indica, são aqueles em
que o causador, irredutível às conversações, usa de constrangimento físico ou moral
contra si ou contra outrem, ocasionando lesões, autolesões ou mortes. Caso não
possam ser contornados, obrigarão o gerente da crise a adotar uma solução tática
para o caso.
Sobretudo estes últimos, deverão ser minuciosamente referenciados (se
possível documentalmente ou com provas testemunhais ou materiais) pela equipe
que assessora o gerente da crise, não só a fim de justificar legalmente o uso de
força, como para assegurar às autoridades judiciárias responsáveis que esse
65

recurso tornou-se inevitável, em face das atitudes agressivas e relutantes do


causador da crise.
Recentemente, em estabelecimentos prisionais, mesmo com indicadores
evidentes de violência, como a morte sistemática de detentos por seus
companheiros de cela, policiais especializados eram desautorizados a adentrá-los,
talvez por receio da repercussão negativa causada pela intervenção no Complexo
do Carandiru, em 1992, mesmo sob pena de omissão e responsabilização pela não-
mediação do conflito.
Também se percebem várias ocorrências que poderiam ser resolvidas com a
utilização de atiradores de elite ou snipers, como em 2000, no caso conhecido como
“Ônibus 174”, no Rio de Janeiro, e, em 2008, em Santo André, município da Grande
São Paulo, no “Caso Eloá”, em um rapaz com claros sinais suicidas, mas foram
desautorizados também, talvez pela memória negativa do desfecho no caso Adriana
Caringi. (O ESTADO DE S.PAULO. Não houve acerto entre as policiais no caso
Caringi. Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,nao-houve-
acerto-entre-policias-no-caso-caringi, 266662,0.htm>. Acesso em 09 jan. 2014)
Refrear o uso das alternativas táticas, por receio em autorizar uma medida
letal contra o causador do ato, acaba refletindo na desabilitação moral e
administrativa da polícia, fato omissivo que acaba sacrificando vidas inocentes e
gerando repercussão política negativa ao invés de vitimar apenas o responsável
pela crise, que afinal assumiu com sua conduta resistente um eventual desfecho
negativo para si.

3.2.5 Alternativas para resolução

Frente a uma crise, o gerente disporá de quatro alternativas táticas para


resolvê-la, também determinadas por ordem de primazia para serem aplicadas. O
Cap PM Diógenes Viegas Dalle Lucca, na monografia “Alternativas Táticas na
Resolução de Ocorrências com Reféns Localizados” (2002), aponta as quatro
opções a serviço da resolução da crise, quais sejam:
a. Negociação;
b. Emprego de Agentes Não-Letais;
c. Tiro de Comprometimento;
d. Invasão Tática.
66

Apesar de apontar as alternativas para situações mais especificamente com


reféns, é fácil associar analogamente à situação com suicida, mesmo sem reféns:
A primeira alternativa, negociação, considerada a única solução
completamente pacífica da crise e prioridade em uma crise policial, merecerá um
capítulo próprio mais à frente. Ocorre quando, por meio de conversações e acordo
intermediado por um policial, o causador da crise desiste do seu intento. É a regra
para resolução, na qual as soluções táticas seguintes serão exceções a serem
justificadas em caso de emprego, pois envolvem considerável risco para eventuais
reféns e policiais, devendo ser adotadas segundo rigorosos critérios de ação e
empregadas somente por grupos táticos especiais.
A partir da decisão de uso de alguma das soluções táticas a seguir, o
negociador será responsável por estabelecer uma comunicação, visando baixar as
defesas do suicida e facilitar o trabalho de intervenção tática do grupo especial,
situação que exigirá ações homogêneas e interação entre a equipe de negociação e
operacionais. Cabe ressaltar que todas as alternativas táticas serão adotadas
também em conjunto com a negociação, que então passará a ter caráter
preparatório para tais opções e não mais visando somente a rendição do causador.
O emprego de agentes não-letais envolve o uso de todas as armas não
letais disponíveis: granadas e ampolas com agentes químicos lacrimejantes,
utensílios de defesa pessoal, dardos tranquilizantes, pistolas eletrificadas etc. Deve
ser cogitado antes do tiro de comprometimento.
O tiro de comprometimento é o disparo efetuado pelo atirador de elite ou
sniper que, no caso da ocorrência com reféns, é efetuado em região vital do corpo
do causador de forma a neutralizar a sua ação, preservando a vida do refém.
Obviamente, em uma ocorrência com suicida sem reféns, o resultado a buscar não
será a morte do causador; nesse caso o atirador poderá visar a arma do suicida ou,
como já ocorreu em São Paulo, a mão de um idoso que, quando fazia o neto refém,
foi atingida por um disparo de munição de borracha realizado pelo sniper do GATE,
que o fez largar a faca. Esta alternativa precede a invasão por não expor a risco a
vida dos policiais.
A invasão tática para resgate de reféns é o último recurso, visto que tomada
a decisão, a ação colocará em risco a vida do refém, de policiais e do causador. Ela
se sucederá após serem concedidas todas as chances de rendição ao causador, se
as alternativas táticas anteriores resultarem infrutíferas, sob um risco insuportável
67

para a vítima se não for adotada e se houver uma possibilidade de sucesso


consideravelmente maior que a de fracasso.
Em tentativas de suicídio sem reféns, esta alternativa é ainda mais
protelada, visto que apesar de não ser uma alternativa letal, pelo contrário, nesse
caso utilizada para salvar a vida do suicida, ela também envolverá riscos e deverá
ser adotada somente quando o suicida estiver em iminência irremediável de se
matar.
Essas intervenções quando realizadas pelos bombeiros são notórias pelas
heroicas imagens de captura de suicidas no parapeito dos edifícios, usando técnicas
de salvamento em altura. Entretanto, com arma de fogo, será extenuada a
negociação real, buscando a rendição como forma de preservar o indivíduo e,
principalmente, os policiais, tanto na integridade física quanto da responsabilização
criminal.

3.2.6 Critérios de ação

Nem sempre a negociação será suficiente para resolver uma ocorrência,


seja pela inabilidade do negociador, seja pela inflexibilidade do causador, situação
em que deverá o gerente optar por uma das soluções táticas.
Decidir pela solução tática em uma crise policial também obedece a critérios
de ação normativos. A doutrina de Gerenciamento de Crises do FBI estabelece três
critérios de ação (SOUZA, 1995, p.17):
a. necessidade: indica que toda e qualquer ação somente deve ser
implementada quando for indispensável. Se não houver necessidade de
se tomar determinada decisão, não se justifica a sua adoção. Em outras
palavras, os responsáveis pelo gerenciamento da crise - e com muito
mais razões o executivo de polícia - deverão, antes de tomar
determinada decisão, fazer-se a seguinte pergunta: “isso é realmente
necessário?”.
b. validade do risco: preconiza que toda e qualquer ação tem que levar em
conta se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados. Na
busca de um parâmetro mais preciso para esse critério de ação, a
academia Nacional do FBI recomenda que a validade do risco é
justificada “quando a probabilidade de redução da ameaça exceder os
68

perigos a serem enfrentados e a continuidade do status quo”. A questão


nesse caso é: “Vale a pena correr esse risco?”.
c. aceitabilidade: implica que toda a ação deve ter respaldo legal (estar de
acordo com a lei), ético (não ferindo nenhuma norma da Corporação) e
moral (dentro dos padrões da sociedade).

3.3 Atribuições constitucionais e administrativas

A PMESP é o braço do Estado responsável pela manutenção da ordem


pública em São Paulo, agindo constitucionalmente como polícia preventiva, evitando
que ocorra qualquer anormalidade e, em havendo a quebra da ordem pública, atuará
repressiva e imediatamente para restaurar a ordem e restabelecer a segurança
pública10.
A Lei Estadual nº 616, de 17 de dezembro de 1974, que dispõe sobre a
organização básica da PMESP, determina, dentre várias competências, o
policiamento preventivo ostensivo fardado e repressivo imediato em caso de
perturbação da ordem, através do policiamento territorial convencional, e a
prevenção, extinção de incêndios, proteção e salvamento pelo Corpo de Bombeiros.
A tentativa de suicídio é considerada quebra da ordem pública, devendo ser
cessada e administrada de forma a ser interrompida a tentativa, proteger,
salvaguardar e socorrer os envolvidos e responsabilizar criminalmente os
responsáveis, se houver.

3.4 Distinção das ocorrências com suicidas

Os tipos mais comuns de ocorrências de tentativas de suicídio podem ser


divididos em dois quanto ao modo de execução pelo suicida:
O primeiro tipo é a tentativa de suicídio a partir da ameaça de precipitar-se
de um ponto elevado. Na prática, atualmente, o Corpo de Bombeiros responde pelo
atendimento de quase todos esses casos. Excepcionalmente, o Policiamento

10
CF, art. 144: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos: (...) V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. (...) par. 5º: Às policiais
militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
69

Rodoviário depara-se com suicidas em passarelas, sendo que policiais e socorristas


das concessionárias agem improvisadamente.
O segundo tipo é o suicídio por meio de armas, brancas (facas, estiletes,
punhais, peixeiras etc.) ou de fogo (revólveres, pistolas, espingardas, granadas etc.),
em que o policiamento ostensivo divide com o Resgate a responsabilidade pela
primeira intervenção. Há participação dos bombeiros quando envolve arma branca e
óbvia e exclusivamente de policiais quando envolve arma de fogo. Quando essa
tentativa abrange reféns ou o autor é um policial (e é fato que o índice de suicídios
entre policiais é proporcionalmente bem maior do que a média do restante da
população), torna-se ainda mais grave, com acionamento de grupo de resposta
especial e gerando reflexos e preocupação que transcendem a figura do suicida.
Hoje, quando há uma tentativa de suicídio, geralmente o cidadão liga para o
Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM), que aciona uma patrulha, que, por
sua vez, solicita o apoio do Resgate. Usualmente, os bombeiros conversam com o
indivíduo até ludibriá-lo e, em um momento de distração, investem contra ele,
dominando-o. Contido, é enviado imobilizado a uma unidade de psiquiatria no
hospital mais próximo. Isso não segue a norma operacional padronizada para
bombeiros.
A sobrecarga de demanda de acionamentos pelo telefone, aliada, algumas
vezes, à impaciência ou preconceito contra pessoas que tentam suicídio, leva o
profissional a atender a ocorrência desse modo, o mais rápido possível, privilegiando
a solução tática em detrimento da negociada, invertendo a lógica doutrinária e
colocando em risco a vida do suicida e a própria. De outro lado, a mídia privilegia a
figura do “herói” em atuações de risco, destacando a ação que se seguirá de elogios
e medalhas no âmbito da Corporação.
O que não se percebe é que quando passa o efeito do medicamento, a
primeira coisa que esse suicida irá pensar é em tentar se matar novamente 11
(BOTEGA-MAURO-CAIS, 2006, p. 3) gerando nova ocorrência.
Ao atender várias tentativas com um mesmo suicida, além de aumentar a
probabilidade deste efetivamente consumar o ato, perde-se tanto tempo ou mais do
que fazendo uma negociação técnica para demovê-lo da ideia na primeira vez e,

11
“Com base em dados da Organização Mundial da Saúde, Botega, Mauro e Cais relatam um dado
importante: 15 a 25% das pessoas que tentam o suicídio tentarão novamente se matar no ano
seguinte, e 10% das pessoas que tentam o suicídio, conseguem efetivamente matar-se nos próximos
dez anos”. Ref.: PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 3, pp. 213-220, set./dez. 2006.
70

nesse caso, além de mais coerente, a prestação de serviço à sociedade será muito
mais segura e eficaz, colaborando para a recuperação psicológica e preservação da
vida. A diferença entre o atendimento empírico e este mais racional é a formação
técnica.

3.5 Normas técnicas para atendimento a crises envolvendo suicidas

3.5.1 Resolução SSP-13/2010

Desde 05 de fevereiro de 2010, a Secretaria de Segurança Pública de São


Paulo disciplina o procedimento por parte das Polícias Militar e Civil para
atendimento de ocorrências com reféns no Estado.
Em síntese, a norma designa o GATE para atender ocorrências com reféns
advindas das atribuições da Polícia Militar na preservação da ordem pública
(prevenção e repressão imediata), ainda que acionado por qualquer outro órgão
(guardas municipais, por exemplo), incumbindo ao Grupo Especial de Resgate da
Polícia Civil (GER) atender ocorrências com reféns decorrentes da atividade de
polícia judiciária e de órgãos de execução da Polícia Civil.
Considerando que não há uma resolução específica para atendimento de
ocorrências com suicidas e que, como foi visto, ocorrências com reféns podem ter
causadores com tendências suicidas, cabe conhecer brevemente os princípios desta
para delimitar, por analogia, as competências de atuação em ocorrências de
tentativa de suicídio.

3.5.2 Normas para o GATE

A partir da resolução acima, a PMESP estabeleceu por meio da Diretriz Nº


PM3-001/02/13, em quais ocorrências o GATE devesse intervir. A diretiva
estabelece como objetivo “aperfeiçoar a atuação em ocorrências que exijam
emprego de recursos complexos e/ou requeiram atenção e ações especiais em
razão da criticidade apresentada”, fundamentado nos aspectos éticos, morais e
legais, devendo as unidades policiais-militares treinar os policiais como primeiros
profissionais interventores e acionar o GATE, elencando, no item 6.1.16, como
“ocorrências críticas” que exijam esse acionamento as ocorrências que envolvam
71

reféns, com artefatos explosivos, ações terroristas e as “que envolvam pessoas com
propósitos suicidas de posse de armas de fogo ou brancas”.
Destarte, pela primeira vez uma norma policial militar inclui as ocorrências
de tentativa de suicídio como atribuição da polícia, especificando inclusive quais os
procedimentos gerais prévios o primeiro interventor policial deverá adotar
previamente à intervenção do GATE:
Coletar as informações elementares da ocorrência, de acordo com as
peculiaridades existentes, tais como: ocorrências que envolvam pessoas
com propósitos suicidas de posse de armas de fogo ou brancas: local,
características da pessoa com propósitos suicidas, detalhamentos sobre a
arma ou artefato de posse dessa pessoa, condições do terreno,
características da habitação ou estrutura física (Diretriz nº PM3-001/02/13).

O item 6.5 delimita quais os procedimentos em ocorrências que envolvam


pessoas com propósitos suicidas de posse de arma de fogo ou brancas, inclusive os
critérios para adoção de soluções táticas:
6.5.1. em razão da similaridade com as ocorrências que envolvam reféns,
deverão ser adotadas, naquilo que couber, as providências catalogadas no
subitem ‘6.3’ e divisões (procedimentos em ocorrências com reféns):
6.5.2. a ressalva fica para por conta dos procedimentos referentes à fase de
negociação, os quais, partindo do pressuposto de inexistência de terceiros e
de vítimas em potencial, poderão se desenrolar de forma mais ponderada e
apaziguadora, com vistas a desestimular o indivíduo de seus intentos
suicidas;
6.5.3. até por esse motivo, ações que se baseiem no uso de técnicas de
intervenção de baixa letalidade ou na invasão da equipe tática no local de
confinamento só serão levadas a efeito, nesses casos, mediante
autorização do gerente da crise efetivo, e se, de fato, comprovar-se a
inquestionável intenção ou o início da autoagressão física (Diretriz Nº PM3-
001/02/13).

A partir dessa norma, o GATE (e, por conseguinte e preliminarmente o


policiamento territorial) seria o responsável pelo atendimento a ocorrências com
suicidas. Entretanto, há as precipitações de pontos elevados que exigem
especialização em salvamentos em altura e as tentativas de suicídio em que uma
vítima ameaça atear fogo contra o próprio corpo, as quais requerem proteção e
táticas de combate a incêndio, isolamento e desocupação do local, sendo estas
ações próprias de resgate por bombeiros e nestas o CB deverá atuar na totalidade,
desde o contato verbal estabelecido inicialmente até a contenção física final.
Ademais, recente decreto estadual atribui ao Corpo de Bombeiros atender tentativas
de suicídio o que, em tese, estabeleceria um conflito de atribuições a ser dirimido.
72

3.5.3 Normas do Corpo de Bombeiros

O Decreto Estadual nº 58.931, de 04 de março de 2013, que define as


emergências próprias de atendimento pelo Resgate do Corpo de Bombeiros do
Estado de São Paulo, considera estre estas a tentativa de suicídio, a saber:

Decreto nº 58.931/2013
Define as atribuições do Sistema de Resgate a Acidentados no Estado de
São Paulo, especificando as emergências que lhe são próprias e dá
providências correlatas
Artigo 1º - Consideram-se emergências próprias de atendimento pelas
equipes do Sistema de Resgate a Acidentados:
(...)
V - tentativa de homicídio, lesão grave e tentativa de suicídio.

A norma, em sentido literal, dá ao CB a competência para atuar


integralmente nos casos de tentativa de suicídio, inclusive com armas e em solo.
Entretanto, durante este trabalho, em esclarecedora entrevista com o Cap PM
Herbert Meyerhof, Chefe da Seção de Organização e Planejamento do B/3 do
EM/CB, com coerência o Oficial interpreta que cabe ao Corpo de Bombeiros o
socorro em emergências médicas decorrentes de tentativas de suicídio, mas não
compete atuar em negociações com suicidas armados, tanto que no rol de naturezas
de ocorrências de salvamento atendidas pelos Grupamentos de Bombeiros e
analisadas estatisticamente pelo B/3 do EM/CB sequer há “tentativa de suicídio”.
Quer dizer, para o CB, não convém o que ocasionou a tentativa de suicídio nem sua
negociação, a lógica atém-se ao socorro que deve ser prestado à vítima em razão
das sequelas físicas ou emocionais consequentes dessa ocorrência policial.
A Lição 23, do Curso de Resgate e Emergências Médicas do Corpo de
Bombeiros, refere-se aos procedimentos para Controle de Distúrbios do
Comportamento, abrangendo qualquer distúrbio do comportamento e não somente
os que determinem propósitos suicidas. A lição visa:
Proporcionar aos participantes conhecimentos e habilidades que os
capacitem a:
1. estabelecer regras de comunicação terapêutica na abordagem da vítima
com distúrbio de comportamento; (grifo nosso)
2. empregar o POP de Restrição no atendimento de vítimas que apresente
distúrbio de comportamento.

Ora, a “comunicação terapêutica” nada mais é do que a negociação com


suicidas aqui proposta. E é importante notar que, em nenhum momento, a lição 23
73

se refere ao uso de armas pela vítima do distúrbio, de onde se conclui que, se


houver, será incumbência do policiamento.
Outra importante doutrina desenvolvida pelo CB é o Manual de
Gerenciamento de Crises envolvendo Suicidas e Atentados Terroristas (MGCESAT),
o 35º Manual da Coletânea de Manuais Técnicos de Bombeiros, ou simplesmente
MTB-35. Seu objetivo é fornecer conhecimento acerca destas duas primordiais
modalidades de crises: envolvendo suicidas e atentados terroristas, abordando
sinteticamente o atendimento operacional por parte das guarnições do Corpo de
Bombeiros.
Organizado em capítulos que versam conceitos sobre Crise, Suicídio,
Atendimento a Crise de Tentativa de Suicídio, Atentados Terroristas e Atendimento a
Crise de Atentado Terrorista, a formidável, vasta e concisa abordagem realizada
pela comissão de bombeiros responsáveis pela elaboração do manual, à época
chefiada pela então Cap Fem PMESP Ana Rita Streinfinger, ao mesmo tempo que
facilita e padroniza o atendimento pelos bombeiros, reduz o comportamento suicida
a uma questão de “livre arbítrio mal dirigido” (CORPO DE BOMBEIROS, 2006, p.
12). A conclusão factual pode levar alguns profissionais a crenças que a psicologia
mais presente neste trabalho pretende desmistificar.
A propósito, o presente trabalho monográfico busca tratar as ocorrências
policiais envolvendo suicidas com a mesma excelência e padronização técnica e
operacional com que o Corpo de Bombeiros lida com seus salvamentos, mas com
um viés distinto, mais calcado no entendimento do funcionamento dos mecanismos
do comportamento suicida e na negociação ou “comunicação terapêutica”, como
recomenda o próprio POP do CB, nos casos de controle de distúrbios do
comportamento, minorando os perigos para os profissionais e para o suicida e
contribuindo com sua reabilitação psicológica.

3.6 Conclusão quanto à competência para atuar em crises com suicidas

O Maj PMESP Adriano Giovaninni, que por 18 anos integrou o GATE, afirma
que antes da atual diretriz de emprego do GATE, não raro oficiais comandantes de
74

policiamento contestavam a competência do GATE em agir em ocorrências de


tentativa de suicídio por não figurar essa atribuição em documento normativo12.
Pelo princípio da especialidade e em uma interpretação residual a partir da
citada diretriz, o policiamento é responsável pelo atendimento inicial de tentativas de
suicídio com armas brancas ou de fogo e o Corpo de Bombeiros seria responsável
por ameaças de salto do alto de edificações ou outras estruturas, bem como outras
relacionadas a suicídio (automutilação, asfixia, envenenamento, atropelamento,
enforcamento, queimadura, incêndio, choque elétrico etc.).
Quando da proposta deste trabalho, fora suscitada a possibilidade de
desenvolver um POP de negociação com suicidas, o que, por pressupor um POP de
Gerenciamento de Crises e um de Negociação, seria impraticável, pois não há como
padronizar procedimentos em casos tão heterogêneos como os envolvendo reféns e
suicidas. Em contrapartida, em vista dos recentes estudos para o desmembramento
do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar, em um futuro próximo as tentativas de
suicídio merecerão também uma resolução que estipule as competências para
atuação da PM e do CB, reservando, em síntese, aos policiais as tentativas de
suicídio com armas de fogo ou brancas e aos bombeiros as ameaças de se jogar de
altura e as envolvendo inflamáveis, a fim de dirimir eventuais divergências que
possam ocorrer no teatro de operações.

12
Comentário durante banca de qualificação no quartel do 4º.BPChq em 13 de dezembro de 2013.
75

4 NEGOCIANDO COM SUICIDAS

Para negociar com suicidas, são usadas, como alicerce, as mesmas


técnicas de negociação das ocorrências com reféns, adaptadas às peculiaridades
inerentes à negociação com suicidas que completam a negociação geral, que é o
mote deste estudo.
Logo, cabe lembrar diferenças fundamentais de casos envolvendo
criminosos profissionais e pessoas que ameaçam se matar, premissas básicas para
compreender a necessidade de se estabelecer uma comunicação técnica específica
para casos envolvendo pessoas com tendências suicidas:
a. os objetivos dos criminosos com reféns são a fuga e a garantia de vida, o
do suicida não é fugir, ele provocou aquilo, é a morte;
b. o suicida sem reféns não é um criminoso profissional e mesmo quando faz
alguém refém, não age com fins criminosos;
c. as comunicações nas tentativas de suicídio são geralmente mais
subjetivas e complexas do que as com criminosos;
d. a solução negociada em tentativa de suicídio, além de não expor a risco
policiais e o suicida, contribui para boa parte da recuperação psicológica do
indivíduo, desmotivando-o a novas tentativas.

4.1 O negociador de suicidas

Na execução das diversas missões de polícia ostensiva e de preservação da


ordem pública, o policial militar deve agir estritamente dentro dos parâmetros legais,
consciente de que é um profissional a serviço da sociedade, devendo atuar sempre
de forma imparcial, abstendo-se de qualquer preconceito ou discriminação. Esses
preceitos embasam o compromisso de atuação profissional da Polícia Militar em
qualquer atendimento, presentes ainda mais nos casos envolvendo pessoas com
tendências suicidas, nos quais o necessário respeito e dignidade estarão
diretamente ligados à proteção do maior direito da pessoa humana: a vida.
Outrossim, características naturais como respeito dos comandantes e
confiabilidade dos colegas, fleuma e paciência, maleabilidade, disciplina,
autoconfiança, perspicácia, espírito de equipe, controle emocional e
condicionamento físico, combinadas com conhecimentos doutrinários de
76

negociação, gerenciamento de crises, fundamentos de psicologia e comunicação,


ações táticas policiais especiais, armas e tiro policial, defesa pessoal, técnicas não-
letais e explosivos, que formam a estrutura do negociador completo, devem estar
presentes no perfil de um profissional tolerante e obstinado em preservar a vida do
suicida independente da circunstância que o tenha levado a tentar se matar.
Mas, mais do que utilizar racionalmente as técnicas na comunicação com
um causador de crises para solucionar o impasse, o negociador deve ser um
“entendedor de gente” nato. Saber as normas de comunicação e negociação é
atributo de qualquer um que se esforce para estudá-las, contudo, como aplicar tais
normas de acordo com o perfil da pessoa é que será determinante para uma
negociação de sucesso. Compreendê-la então, será crucial.

4.2 A negociação com suicidas

Segundo o professor de Negociação da Academia do FBI, Dwayne Fuselier,


a principal função do negociador, além da rendição do causador e a consequente
solução da crise, é a de coletar informações (dentre as fontes disponíveis, como
amigos, familiares, imprensa, colegas e sniper, o negociador é a principal) que
servirão tanto para nortear a própria negociação, como para abalizar as decisões do
gerente e auxiliar no plano de invasão da equipe tática (FUSELIER, 1984, p. 197).
A empatia com o indivíduo estará condicionada à compreensão de todas
essas dimensões existenciais do indivíduo pelo negociador ou, se não puder
explorá-las por completo em uma negociação, que ao menos saiba que estas
existem e que podem ou devem ser exploradas em determinada situação.
Mais especificamente, a situação de uma ocorrência policial crítica, em que
vidas estão em risco, exige um estudo das necessidades envolvidas, essencial
também para nortear a estratégia de comunicação do negociador. Para tanto, outra
tese esclarecedora é a Hierarquia das Necessidades de Maslow. (MASLOW,
Abraham. Maslow's Hierarchy of Needs. Disponível em <http://www.abraham-
maslow.com/m_motivation/Hierarchy_of_Needs.asp>. Acesso em 18 jul. 2013)
A partir de uma pesquisa realizada em 1946, em Connecticut, Estados
Unidos, em uma área de conflitos entre as comunidades negra e judaica, o psicólogo
americano propôs uma divisão hierárquica nos padrões comportamentais humanos
em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das
77

necessidades de nível mais alto, de modo que cada um tem de "escalar" uma
hierarquia de necessidades para atingir a sua autorrealização, classificando as
necessidades humanas em cinco patamares, que são ilustradas pela Figura 7:
a. necessidades básicas ou fisiológicas, tais como a fome, a sede, o
sono, o sexo, a excreção, o abrigo;
b. necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de
sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de
segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro
de vida;
c. necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais
como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;
d. necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o
reconhecimento das capacidades pessoais e o reconhecimento dos
outros face à capacidade de adequação às funções que se desempenha;
e. necessidades de autorrealização, em que o indivíduo procura tornar-se
aquilo que ele pode ou busca ser.

Figura 7 – Pirâmide de Maslow

Fonte: http://www.abraham-maslow.com/m_motivation/Hierarchy_of_Needs.asp

O estudo de Maslow demonstra que cortar água, luz, alimento e telefone


podem ser medidas efetivas de isolamento no Gerenciamento de Crises e que
explorar positivamente na negociação as necessidades básicas do indivíduo, seu
desejo de viver melhor, elevando sua autoestima e projetando um futuro positivo que
78

o fará melhor é, sem dúvida, o mote principal do negociador na comunicação para


incitar todas as motivações existenciais de um indivíduo em crise suicida.

4.3 Dez passos para desenvolver uma boa negociação com suicidas

Importante saber que a atitude interna de um suicida é ambivalente, já que,


quase sempre, o indivíduo quer, ao mesmo tempo, alcançar a morte, mas planeja
uma intervenção de socorro (WERLANG-BOTEGA, 2004, p. 84-85). É a dicotomia
“me mato x não me mato”. O suicida, na realidade, não quer morrer, porque ninguém
sabe o que é a morte, o que ele deseja é escapar de um sofrimento intolerável
satisfazendo fantasias, às vezes inconscientes (CASSORLA, 1998, p. 155). Essa
ambivalência justifica a negociação policial, pois se fosse certa a possibilidade de
suicídio, nem precisaria de intervenção policial.
A maioria das negociações iniciais em ocorrências com suicidas no Estado
de São Paulo serão feitas por um negociador improvisado e a doutrina de
Gerenciamento de Crises reputa o rapport (vínculo de empatia entre o causador e o
negociador) e a Síndrome de Estocolmo (reação que leva reféns a emular seus
malfeitores) como os mais importantes a auferir em uma negociação policial.
Abaixo, algumas dicas que podem ser usadas tanto pelo primeiro interventor
em uma crise como por especialistas para tornar a negociação mais organizada e
eficaz, fortalecendo o elo entre negociador e suicida e facilitando a rendição:
a. ao chegar no ponto crítico, avalie a gravidade da crise e os perigos
físicos imediatos oferecidos pela situação;
b. inteire-se da situação com o suicida em si, coletando dados do causador
de eventuais reféns;
c. organize uma equipe de negociação de acordo com as características da
ocorrência;
d. pré-determine um curso inicial de ação a tomar e compartilhe com a
equipe;
e. identifique-se para o suicida pelo seu primeiro nome (evite “negociador”,
“especialista” ou patentes e graduações como sargento, inspetor, tenente
ou delegado) e chame o suicida e outras partes envolvidas também pelos
nomes delas (evitando “suicida” ou “refém”), isso reforça o vínculo de
empatia;
79

f. descubra o motivo real da sua intenção suicida e trace metas em


escalada para atingir esse problema específico;
g. desenvolva com paciência a negociação, sempre buscando a
participação do indivíduo na solução dos seus problemas;
h. teste novas ideias e comportamentos, avaliando suas técnicas de
enfrentamento e estratégias e, se possível, corrigindo-as durante o curso
da negociação;
i. idealize para o suicida a rendição como uma atitude positiva, de sucesso;
início da solução dos problemas e sob uma ótica futura, de que vai
acontecer;
j. após a rendição, elogie sua atitude colaborando com a recuperação
psicológica posterior.

4.4 Modalidades de negociação

As negociações com suicidas podem dar certo ou não. Quando um


negociador percebe que a negociação está improdutiva e que pode perder o suicida,
ele comunicará ao gerente da crise, o qual deliberará sobre uma solução tática. A
partir de então, não se deve simplesmente suspender as conversações, mas alterar
o foco da comunicação para facilitar essa opção tática. A mudança de viés da
negociação obviamente deve ser imperceptível ao suicida.
As negociações policiais podem ser estratégicas ou táticas:
a. as negociações estratégicas, também chamadas negociações reais,
visam a rendição do causador da crise e são baseadas na franqueza e
confiança nas atitudes;
b. as negociações táticas, ao contrário, também chamadas de
preparatórias, pretendem ludibriar o causador da crise, baixar suas
defesas, facilitando a operação tática especial.

4.5 Guia de conduta para análise de riscos

Durante a coleta de informações acerca do indivíduo, com ele próprio na


negociação ou em entrevista com familiares, algumas situações passadas podem
80

ser indicadoras de comportamento suicida e relevantes para análise de risco de


cometimento em uma ocorrência:
a. fatores de risco sobressaem-se aos de proteção;
b. experiências traumáticas de vida;
c. estar em tratamento médico;
d. presença de modelos de identificação suicidas, como ídolos que se
mataram;
e. histórico de tratamento de saúde mental;
f. eventos estressantes recentes;
g. alteração por uso abusivo de álcool ou drogas;
h. sinais de depressão ou ansiedade;
i. presença de transtornos mentais;
j. pronuncia frases de alerta (item 2.1.4).

4.6 Técnicas de comunicação com suicidas em crise

Quando uma pessoa dá indícios de que pode cometer suicídio, ao contrário


do que muitos pensam, a coisa mais importante a fazer é levá-la a sério e tocar no
assunto. As pessoas que falam em suicídio podem estar, de fato, pensando em
praticá-lo e a maioria dos que tentam o suicídio sempre dão nesses comentários
uma espécie de "aviso" sobre suas intenções.
Na negociação com suicidas tentados, as regras de comunicação dizem
mais respeito às relações interpessoais entre negociador e causador e devem
apresentar o máximo de interesse na problemática, demonstrando uma atenção que
talvez não lhe tenham dado, e, ao mesmo tempo, devem ser cautelosas a ponto de
não aprofundar demais no problema e passar a ser um invasor da sua privacidade.
Para situar o meio termo ideal, seguem tópicos sobre o que valorizar e o que
evitar na comunicação, desenvolvidos por Botega, no curso de Extensão em
Comportamento Suicida da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP):

a. o que valorizar na comunicação:


- ouvir atentamente;
- manter a calma;
- entender os sentimentos da pessoa;
81

- demonstrar aceitação e respeito;


- conversar honesta e autenticamente;
- externar preocupação e cuidado;
- focalizar nos sentimentos da pessoa;
- falar sempre como uma possibilidade futura de acontecer: “quando
você sair daqui vai melhorar...” e não “se você sair daqui pode
melhorar...”.
- ser compreensivo.
b. o que evitar na comunicação:
- interromper sua comunicação;
- ficar chocado ou muito emocionado;
- dizer que você está ocupado;
- inferiorizá-lo ante seus problemas;
- dizer, simplesmente, que tudo vai ficar bem;
- fazer o problema parecer trivial;
- fazer perguntas indiscretas;
- comparar com os seus problemas;
- doutrinar ou emitir julgamentos do tipo “certo x errado”;
- não tente resolver os problemas dele, a saída é mostrar que ele pode
resolvê-los.
Dentre as técnicas e táticas de negociação, seguem, abaixo, algumas das
técnicas de comunicação utilizadas por negociadores mais adequadas para casos
envolvendo pessoas com tendências suicidas.

4.6.1 Programação Neurolinguística (PNL)

O primeiro contato entre o negociador policial e o causador da crise é


considerado o momento mais instável dessa relação e, ao mesmo tempo, o mais
importante da negociação. No início da comunicação é que se verificará se o
negociador conseguirá manter um diálogo eficaz com o causador, percebendo, para
isso, se existirá um vínculo de afinidade entre ambos. Adeptos da Programação
Neurolinguística, ou simplesmente PNL, definem esse vínculo como rapport, palavra
de origem francesa que significa a relação de mútua confiança e compreensão entre
82

duas ou mais pessoas; a capacidade de provocar reações de outra pessoa,


sinônimo de empatia.
Proposta em 1973 como um conjunto de princípios que descrevem a relação
entre a mente (neuro) e a linguagem (linguística - verbal e não verbal) e como a sua
interação pode ser organizada (programação) para afetar a mente, o corpo ou o
comportamento do indivíduo, a PNL desenvolve-se a partir de padrões linguísticos e
comportamentais, construídos por Richard Bandler e John Grinder, a partir de
modelos mentais que pudessem ser usados por outras pessoas. A PNL defende que
as comunicações não se limitam simplesmente à verbalização e que, outrossim, as
pessoas têm diferentes maneiras de absorver, responder e aceitar estímulos
externos. Portanto é interessante o negociador estabelecer o padrão sensitivo do
causador em relação ao seu canal sensorial de comunicação, que pode ser:
a. visual: a maioria das pessoas aciona preferencialmente o Canal Visual
cujo “input”, evidentemente, são os olhos. Reagem favoravelmente a
imagens, ilustrações visuais, gravuras, paisagens e toda forma de beleza
estética. Causadores com este perfil preocupam-se bastante com a
postura do negociador, seu semblante, suas feições, suas roupas, com a
quantidade de pessoas no local da crise, com as viaturas, luzes e outros
aspectos que puder observar visualmente. O gerenciamento deverá
evitar aglomerações, tumultos e presença da mídia que possam perturbar
o causador e o negociador expressará comportamentos que o
influenciem positivamente, evitando posturas incorretas como sinais de
cansaço (sentar-se), impaciência (coçar a cabeça) ou insegurança (não
fitar os olhos).
b. auditivo: atinge nossa ação de ouvir e é característico de pessoas que
gravam melhor o que ouvem e têm especial apreciação por números e
dados precisos. Por isso é primordial ao gerente voltar-se para técnicas
de inquietação, sons externos e sirenes; e ao negociador atentar para o
ponto de vista numérico do que for tratado tal como tempo (“em trinta
minutos, trago-lhe água”) e quantidades (três comprimidos analgésicos).
A verbalização ao negociar para estes será primordial e não só as
palavras a serem ditas, mas também como são faladas, entonação e
dicção.
83

c. cinestésico: são os mais sensibilizados pelo movimento, pela


comunicação sentimental, pela emoção. Ao mesmo tempo que podem
ser mais bem manipulados em um processo de negociação, podem agir
por impulso se perceberem algo negativo. Deve ser privilegiado o acesso
a familiares e amigos durante a negociação e ressaltadas
frequentemente garantias previamente acertadas como, por exemplo, o
compromisso de não invadir o local.
Embora naturalmente um canal sempre se sobressaia, os três são
desenvolvidos em maior ou menor intensidade em todos, motivo pelo qual não se
deve descuidar de outros aspectos da negociação, usando todas as recomendações
presentes, servindo o canal sensorial como importante referencial de perfil do
negociado.

4.6.2 Escuta ativa

Dentre as inúmeras ferramentas de comunicação em negociações, a Escuta


Ativa, técnica de comunicação interpessoal da Psicologia adaptada pelo FBI para
negociações policiais, foi consagrada nas crises por conseguir trabalhar a
comunicabilidade com pessoas de difícil diálogo, como criminosos e suicidas. Ela se
baseia, em princípio, em duas premissas básicas: procure entender e seja
entendido.
Parece óbvio demais, mas há diversas ocorrências em que o negociador não
parece propenso a ouvir, entender e comunicar-se de maneira que seja
compreendido pelo causador. Discutir, desprezar, agir com sarcasmo ou
prepotência, desafiar, gritar ou ignorar o suspeito só o fará acionar seus bloqueios
mentais para pensar outra ideia que não seja a do negociador.
A Escuta Ativa trabalha em uma Escala de Mudança Comportamental que
busca, inicialmente, comunicar-se da maneira correta, usando técnicas próprias que
serão vistas a seguir, primeiro conquistando naturalmente a empatia do causador,
depois estabelecendo um vínculo de confiança com ele para, só após, ter influência
sobre o que pensa e, enfim, mudar suas atitudes.
Pode-se falar qualquer coisa para qualquer pessoa, depende da forma como
se fala, e a forma como se fala depende do entendimento do que se ouve e de quem
ouve. Não é fácil tentar fazer um criminoso ou um suicida pensar formas de se
84

entregar, mas é mais fácil descobri-las quando se compreende como eles pensam.
E parece ainda mais difícil quando você sabe que é o melhor para ele, mas não
consegue fazê-lo entender isso falando diretamente.
Há uma parábola que exprime bem como funciona a escuta ativa. Um velho
sábio viu um jovem camponês tentar puxar sua vaca para dentro do curral para que
ela pudesse comer, mas ela resistia. Quanto mais forte ele puxava, mais a vaca
recuava. Para ajudar o camponês, o frágil sábio, então, pegou um feixe de feno do
curral e o levou próximo à vaca, que começou a andar para comê-lo. Fez isso
diversas vezes até conduzi-la para dentro do curral sem que precisasse obrigá-la.
Ele compreendeu que a vaca estava com fome, mas como ela não via o feno e não
sabia que sua comida estava no curral, não se sentia compelida a andar até lá. O
camponês não a compreendeu e não soube “dizer” a ela que estava ali seu
alimento, o sábio sim.
Pela Escuta Ativa, podem-se utilizar alguns fatores para desarmar o espírito
do suicida e construir um vínculo de confiança mais rapidamente:
a. ouvir e entender;
b. ser educado;
c. ser respeitoso;
d. não ameaçar.
Não basta simplesmente parecer ser agradável ou amigável, mas influenciá-
lo a fazer o que você quer, sem que ele se dê conta disso. Quando a pessoa
compreende a outra ela baixa defesas, estabelece empatia e fica suscetível a ideias.
Na ocorrência, deve-se “entrar na cabeça” do causador para entendê-lo e descobrir
qual a melhor forma de se comunicar com ele e sujeitá-lo a entregar-se.
Importante dizer que, antes de querer influenciá-lo, é importante estabilizar
seu nível emocional, buscando um equilíbrio entre a emotividade instada pelo
ocorrido e a racionalidade para tomar decisões adequadas.
As táticas de comunicação empregadas nesta técnica são:
a. paráfrase: ouvir o que o suicida falou e dizer-lhe com outras palavras,
com um novo significado, para demonstrar que o entende. Ao parafrasear
o que diz, o negociador demonstra que compreende e entende o
causador, mesmo que não concorde. Ex.: suicida diz: “minha mulher fala
toda hora e não presta a atenção no que digo”, negociador responde:
“sua mulher não escuta você”;
85

b. reflexo ou espelho: conhecida também como técnica do papagaio,


consiste em repetir literalmente as últimas palavras do causador. Se não
demonstra tanto entendimento, fortalece o vínculo ao manter o foco e a
concentração e ganha tempo. Ex.: suicida diz: “minha mulher fala toda
hora e não presta a atenção no que digo”, negociador responde: “ela não
presta a atenção no que você diz”. Pode alterar a entonação da voz no
final, para demonstrar compreensão;
c. resumo: consiste em resumir as histórias que falou e seus sentimentos,
para demonstrar que captou tudo o que disse e que sabe o que está
sentindo. Pode ser usada quando houver troca de negociadores (para
que o sucessor tome conhecimento do que foi falado) ou para reforçar o
vínculo quando tiver que falar a ele algo contrário ao que desejava;
d. perguntas abertas: fazer questionamentos que exigem mais do que um
simples “sim” ou “não” são perguntas de resposta aberta. Geralmente
começam com “o que”, “quando” ou “como” e exigem uma resposta
elaborada, que valoriza o causador, pois o negociador quer saber algo
dele, importa-se com ele;
e. mínimo de motivação: enquanto o causador fala, você exprime com
sons concisos, gestos ou acenos que está entendendo o que diz. “Ah, é
mesmo?”, “Sei...”, “Ok...”, motivando-o a falar. Técnica muito usada em
entrevistas de imprensa, pois enquanto o entrevistado fala, o repórter
finge prestar a atenção, mas na verdade está refletindo sobre o que vai
perguntar quando ele terminar de falar. Deve ser usada com moderação,
junto com outras técnicas e quando o causador estiver elaborando
conversação longa e aberto ao diálogo;
f. pausas eficazes: é a técnica do silêncio, em que o negociador para de
falar a fim de criar um suspense e chamar a atenção do causador para
dizer algo importante. A pausa pode ser também ao final de uma fala
sem perguntas, para incitar uma reflexão no causador. Cuidado, no
entanto, para não demonstrar falta de diálogo ou não estar prestando
atenção, e caso assim possa parecer, use a técnica do resumo para
reafirmar o entendimento e retomar a comunicação.
86

4.6.3 Entrevista e análise de riscos humanos

Quase nunca os suicidas reagem como se espera nas negociações e são


raros aqueles que, sem esforço, passam todos os detalhes do seu problema. A
mentira e a dissimulação é um recurso puramente humano, tão privativo da espécie
humana quanto a fala e a negociação. Mas pode ser detectada tanto nas
expressões faciais e corporais como na retórica. Para essas situações, pode-se
adaptar o método para área de segurança empresarial desenvolvido pelo analista de
Qualidade e Inteligência Antônio Carlos Hencsey, a partir de estudos dos
temperamentos humanos da psiquiatria fenomenológica clássica.
Ao conduzir entrevistas investigativas em casos de fraudes empresariais, o
Dr. Hencsey percebeu padrões de conduta nas barreiras de comunicação que o
“oponente” cria visando ocultar ou dificultar o acesso à verdade, e defende que o
entrevistador habilidoso deve ser capaz de enxergar além das palavras ditas,
usando, para tanto, técnicas de análise da linguagem corporal, identificação de
micro expressões e avaliação estrutural do discurso, até o ponto onde há a
necessidade de circundar o interlocutor para obter informações que levem a dados
que permitam encontrar a chave do problema. É uma ferramenta de comunicação
interpessoal eficaz e permite “encontrar brechas em situações nas onde as portas do
nosso opositor parecem estar fechadas”, admissível, portanto, nas negociações em
ocorrências envolvendo suicidas e reféns, visto que, nesses casos, também o
oponente oculta o acesso à verdade de suas intenções (HENCSEY, 2011, p. 28-29).
Os temperamentos descritos na fenomenologia estrutural permitem
identificar traços que conduzem as atitudes e motivações humanas. É possível dizer
que se podem prever em nossos interlocutores, quando bem amparado pela teoria,
ações, reações e comportamentos diante de determinados estímulos, sendo
possível criar condições que favoreçam a obtenção das informações almejadas.
Diversos autores fenomenológicos descrevem a mente e o comportamento
humanos baseados em temperamentos e polos. Estes seriam bases que conduzem
a relação do indivíduo com seu exterior e são mais profundos do que a própria
personalidade.
A teoria de Eugene Minkowski, que alicerça a presente técnica, divide o
caráter humano em três temperamentos básicos:
87

a. sintônicos: movidos pelo reconhecimento social, têm como


característica principal a importância que dão ao seu exterior, ou seja,
aos valores sociais e ambientais e estão mais suscetíveis a pressões que
colocam a sua imagem vinculada a valores morais negativos. São os
suicidas que mostram sinais de ansiedade ao perceberem que poderão
ter prejudicada a percepção que os demais têm dele: o receio de sair
escoltado pela polícia ou de terem que explicar o fato a amigos e
familiares. Exige que o negociador mitigue as consequências sociais do
ato após desistir de seu intento e valorize sua opção pela vida;
b. esquizoides: ao contrário dos sintônicos, estes têm muito mais
interferência de pressões internas do que externas. A interação com o
meio é bem menos significativa para esses indivíduos do que suas
motivações pessoais. Antissociais, normalmente são mais frios e
planejam meticulosidade seu suicídio. São menos influenciáveis pelas
negociações e suas reações emocionais são menos intensas e
perceptíveis, tornando mais difícil a identificação de mentiras e
ansiedade. São capazes de se manter inflexíveis mesmo diante de
situações tensas. Nesse caso, o negociador deve captar a motivação
interna do fraudador, bem como seus pontos fracos que podem ser sua
arrogância intelectual ou sua certeza de ter planejado a fraude nos
mínimos detalhes. Não é incomum tentarem exercer poder sobre o
negociador, e para isso utilizam-se da intimidação, ridicularização e
ameaça;
c. gliscróides: o possuidor deste temperamento é, provavelmente, o
menos habilidoso para planejar tentativas de suicídio. Pode ser explosivo
se tem reações mais agressivas e imediatas ou lentificado se
caracterizado pela vivência mais corporal das emoções, não tendo muito
talento para planejar atos ilícitos. Normalmente seu comportamento é
claro e facilmente compreendido, porém nem sempre digno de empatia.
Em relações interpessoais, frequentemente se envolvem em brigas,
discussões e apresentam tendência a buscar atividades que elevem o
nível de adrenalina.
88

Um ponto importante a ser citado desta técnica é que, apesar de na teoria


original os termos serem usados com base psicopatológica, aqui, em nenhum
momento devem ser utilizados como paralelo às doenças mentais.

4.7 Táticas de negociação com suicidas

Além das técnicas acima, o negociador poderá valer-se também de algumas


táticas para manipular as atitudes do causador, transmitindo tranquilidade ou medo,
sendo confiável ou dissimulado, conforme a necessidade:
a. tranquilização: pode ser a primeira a ser utilizada e visa diminuir a
tensão que cerca o ambiente de ocorrência policial. Isolamento bem feito
e garantia de que o local não será invadido se houver colaboração são os
principais argumentos para acalmar o causador. Com suicidas sem
reféns, nunca é cogitada a invasão, apesar de ser a principal
preocupação do suicida tentado, por isso a importância da tática;
b. medo: quando o causador apresenta autoconfiança exagerada, pode-se
apresentar sutis demonstrações de força com o aparato policial, como o
deslocamento de um esquadrão tático, aparentemente despropositadas,
mas que, ao contrário, são para ser vistas subliminarmente.
Demonstrarão que ele não tem amplo controle da situação como
imagina. Não deve ser utilizada com suicidas sem reféns, pois o medo já
está suficientemente manifesto pela situação que provocou;
c. confiança: tentar ao máximo conquistar a empatia, ressaltando as
semelhanças nas preferências, chamando-o sempre pelo primeiro nome,
elogiando e ressaltando as qualidades pessoais, aumentando a
autoestima. É muito usada com suicidas e ressaltada nas ocorrências
com reféns para estimular o rapport e a Síndrome de Estocolmo13;
d. dissimulação: busca minimizar o ocorrido anteriormente, por pior que
seja a situação, assalto, sequestro ou tiroteio. A não utilização desta
técnica em ocorrências com reféns pode levar o criminoso que já praticou
um grave crime, como ter matado um policial em troteio anterior, a ter

13
Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, em sueco) é um estado psicológico particular
desenvolvido por algumas pessoas que são vítimas de sequestro. A síndrome desenvolve-se a partir
de tentativas da vítima de identificar-se com seu raptor ou de conquistar a simpatia do sequestrador.
89

ideações suicidas, matando a vítima e matando-se em seguida. Aos


suicidas, pode-se explorar a legislação penal que não pune a tentativa de
suicídio, pois estes têm receio da responsabilização criminal se
desistirem;
e. cansaço: contrária à tática de tranquilização, esta busca extenuar ao
máximo o causador, às vezes para facilitar o emprego de uma alternativa
tática. Pode ser intensificada pela manhã seguinte ao dia em que se
iniciaram as negociações, período em que, estatisticamente, os
causadores demonstram maior fadiga física e mental. Há de se ter
cautela para não causar irritação.
O Negociador deverá optar, se necessário, pela tática mais adequada ao
causador, sob pena de conturbar ainda mais o ambiente e complicar as
negociações.
Pelas técnicas apresentadas, percebe-se que a voz é o instrumento número
um do negociador. No início da negociação a postura deve ser defensiva, mais ouve
que fala. Quando falar, o tom da voz será baixo e pausado, com inflexão e
sinceridade, demonstrando que você o entende e sempre que ele reagir de forma
agressiva, responda com tranquilidade. Não diga “você está bravo” e sim “pela sua
voz, parece que você está bravo”. Controle suas emoções e sempre avalie se a
técnica que está usando é receptiva ao criminoso.

4.8 Normas gerais ao negociar com suicidas

Algumas normas gerais próprias para negociação com suicidas armados:


a. chame-o pelo nome e identifique-se pelo seu, evitando funções;
b. seja honesto e transmita segurança pelos sinais, palavras e gestos;
c. não demonstre preocupação exagerada com a arma do suicida;
d. nunca o deixe sozinho, até o término do seu resgate;
e. identifique motivações e/ou patologias;
f. estabeleça fatores de risco e fatores de proteção;
g. não o inferiorize ou minimize seu problema;
h. valorize seus atributos, qualidades e bens;
i. mencione sempre pessoas queridas a ele;
90

j. selecione pessoas para conversar com ele e oriente-as, previamente,


sobre sua conduta e o que devem e não devem falar;
k. mostre outras alternativas além da morte, mas respeite essa opção dele.

4.8.1 Como negociar sempre em equipe

“Duas cabeças pensam melhor do que uma”. O ditado popular serve para
negociações policiais: toda negociação deve ser feita em equipe, e negociar em
equipe pressupõe a participação de dois ou mais policiais.
Equipes de negociação avançadas contam com chefes de time,
negociadores principais e secundários, anotadores, cronometristas, psicólogos,
psiquiatras, motoristas, auxiliares técnicos, de logística e outros. Bem organizadas e
aparelhadas, significam ocorrências mais seguras para os policiais e para os
suicidas, pois têm maior probabilidade de serem resolvidas pacificamente, com
menor necessidade de lançar mão de alternativas táticas, resultando em menos
riscos e menos mortes.
Exceto os grupos táticos especiais, as demais unidades de policiamento que
trabalham por turnos de serviço não têm condições de dispor de equipes com
negociadores especializados e de prontidão para ocorrências, muito menos
equipamentos. Assim sendo, é importante desenvolver-se uma forma simples de
negociar, que possa ser implementada sem muito efetivo e equipamentos, mas que
seja técnica, ordenada e eficaz. Policiais podem não dispor de equipamentos ou
formulários prévios, mas isso não significa que não devam estruturar as
comunicações para organizar as ideias e seguir uma ordem natural das coisas.
A equipe mínima que se pode empregar é composta por dois policiais, os
quais exercem as funções mais importantes são a do negociador principal, o
interlocutor, e a de anotador, afinal a coleta e o registro de dados são os principais
itens em uma negociação. Nada pior em uma negociação do que, por exemplo,
confundir o nome do suicida: “se ele nem sabe meu nome, pouco se importa
comigo”. Esse anotador também atua como segurança do negociador principal.
91

4.8.2 Questionário para negociação

Qualquer policial carrega na viatura uma prancheta com folhas e caneta. E


tendo em vista que suicidas são pessoas que estão emocionalmente perturbadas,
mas em virtude da situação, extremamente suscetíveis e vulneráveis e com
pensamentos negativos, podem-se relacionar esses pensamentos, descobrir e
explorar os positivos, balizando uma comunicação técnica.
O diálogo entre o negociador principal e o suicida fornece informações
importantes das partes na ocorrência, como nome, endereço, filiação, estado civil,
naturalidade, amigos, familiares, parentes e seus nomes, time de futebol que
simpatiza e preferências pessoais, médico, patologia que apresenta, perfil
psicológico, manias e remédios que usa regular ou esporadicamente, ocasionais
(crimes cometidos, situação criminal, histórico de fatos da mesma natureza, fatos
marcantes na vida, etc.), profissionais (onde trabalha ou estuda, com quem trabalha
ou estuda diretamente, nome e telefone do chefe, professor ou advogado, de
colegas mais próximos, etc.) e outros dados que considerar relevantes. Estes devem
ser colocados em uma primeira folha, em que o nome do suicida e de um eventual
refém deverá ser escrito em letras maiores.
Em uma segunda folha, serão distinguidos os aspectos positivos e negativos
percebidos pela conversação com o suicida. Basta separar a folha com um risco
vertical ao meio, formando duas colunas, e no cabeçalho um sinal de mais ( + ) na
coluna esquerda e um sinal de menos ( - ) na coluna à direita.
Na “coluna positiva” serão anotados todos os aspectos construtivos ao
causador, que deverão ser exaustivamente explorados pelo negociador nas
comunicações, facilitadores de vínculo e convencimento (ex.: mãe, filho, carro,
amigos, hobby etc.).
Na “coluna negativa” constarão os aspectos destrutivos que deverão ser
necessariamente evitados (ex.: esposa, sogra, trabalho, chefe, doença, problemas
financeiros etc.) ou ligados a um aspecto positivo quando provocados pelo suicida.
Os exemplos são simples referências, visto que a vida do causador é que
determinará o que lhe é proibitivo ou não e deverão ser anotados em letras
garrafais, de fácil acesso e leitura rápida por parte do negociador do local em que
negocia. Apesar da simplicidade, consideram-se estas duas folhas um importante
92

documento de auxílio da negociação e até de registro para fornecimento à equipe de


especialistas que chegar no apoio.
Se o auxiliar-anotador não estiver visível para o suicida, ele pode ainda usar
outras folhas para escrever sugestões ao negociador principal sem interferir na
comunicação, afinal, como em um jogo de xadrez, quem está de fora consegue
enxergar as melhores jogadas.
Equipes especializadas dispõem de formulários próprios, mais específicos e
detalhados, que norteiam inclusive o roteiro que o negociador deve seguir, de
acordo com suas doutrinas procedimentais. A opção acima é apenas uma alternativa
fácil, prática e eficiente para fugir do completo improviso, conforme ilustrado na
Figura 8.

Figura 8 - Formulários improvisados para negociação

Fonte: desenvolvido pelo autor.

4.8.3 Equipamentos para negociação

Os equipamentos usuais para negociações mais elaboradas podem ser


simples, como pranchetas, canetas para anotação e as para escrever em quadros
de anotação, gravador de pequeno porte (dissimulado), fitas adesivas, relógio a
bateria, lanternas etc. Pode-se paramentar a equipe também com microcâmera
instalada no corpo do negociador, com receptores em aparelhos televisores
93

próximos dali, para que o gerente da crise e o grupo tático possam ver da mesma
forma que o negociador privilegiadamente vê. Não se podem esquecer os
equipamentos de segurança individual, como colete balístico dissimulado e arma
curta em local imperceptível ao causador e de fácil acesso para saque.
Existem acaloradas discussões doutrinárias sobre o negociador atuar ou
não armado. É inegável entre negociadores que, como policiais e habituados a
andar armados, sentem-se mais seguros com uma arma pronta para qualquer
eventualidade, pois o grupo tático nem sempre pode estar próximo o suficiente para
auxiliar de imediato, isso quando a solução tática não deve partir do próprio
negociador para resolver a ocorrência.
Sobre o uso de escudos balísticos, em princípio devem ser evitados, pois
além de constituir uma barreira balística, podem-se tornar também um bloqueio
psicológico para o indispensável vínculo em casos com suicidas. Não obstante, a
prioridade é a preservação da vida do policial e, na falta de um abrigo adequado ao
negociador, deve-se lançar mão de um escudeiro da equipe tática. Há que se
considerar que o suicida só está naquela situação porque tem alguma vontade de
matar, mesmo que seja a si mesmo, então todo cuidado com a segurança pessoal é
válido (SANTOS, 2004, p. 89).
O suicídio é um ato no qual o sujeito é, ao mesmo tempo, vítima e
assassino. Freud defende que a energia necessária para tirar-se a vida deve estar
vinculada, concomitantemente, ao desejo de matar um objeto, assim como com a
volta contra si mesmo de um desejo de morte, antes orientado para outra pessoa.
Para o psiquiatra Karl Menninger, o comportamento suicida envolve três elementos
internos: a vontade de morrer, de ser morto e de matar (MENNINGER, 1970, p. 59).
Nesse caso, é conveniente o negociador de suicidas precaver-se e estar, de
algum modo, sempre protegido.

4.8.4 Erros ao negociar

Agora que toda a doutrina foi passada, para finalizar, é importante relacionar
alguns dos erros mais cometidos em negociações policiais:
a. a mais alta autoridade, que deveria ser o gerente da crise: negociar,
interferir diretamente na negociação ou permitir que outras autoridades
de alto escalão o façam;
94

b. protelar uma negociação sem sucesso por influências políticas, medo do


insucesso, receio de parecer limitado ou pressão de organizações
humanitárias;
c. abortar precocemente uma negociação por pressão da sociedade,
imprensa, de policiais querendo acabar logo ou do grupo tático
interessado em invadir;
d. ter ações complicadas e impraticáveis, ignorando o auxílio de
informações ou sugestões, ou deixando de repassá-las às outras
equipes;
e. fixar prazos definitivos ou aceitá-los de contraparte, como por exemplo:
“você tem dois minutos para se entregar, senão eu vou te buscar”;
f. negociar tecendo opiniões tendenciosas, moralistas, dando sermões e
conselhos ou influenciado por preferências pessoais, religiosas, políticas
ou profissionais;
g. ser inflexível e autoritário, sem analisar as consequências de conceder
uma demanda: se o item a ser fornecido ao causador ou o acesso deste
a determinada pessoa poderá ser benéfico para a negociação.
95

5 CONTROLE DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO SUICIDA

Um conhecido provérbio chinês ensina: “Espere o melhor, prepare-se para o


pior e aceite o que vier”. O pior, em uma ocorrência de suicídio, é a morte, e de
todos os erros que pode cometer um negociador, o mais imprudente é julgar que o
suicida não tem coragem de se matar.
Nunca se deve menosprezar os distúrbios de comportamento suicida e
ignorar a possibilidade de a vítima cometer suicídio. A gama de comportamentos
suicidas é ampla e podem-se distinguir: ameaça, gesto (em que o risco de vida é
nulo e o componente manipulativo predominante), tentativa e suicídio completo ou
exitoso. Por mais evidências de que a vítima queira apenas chamar a atenção,
ninguém, em sã consciência, provoca uma tentativa de suicídio.
Todas as providências tomadas em um teatro de operações, para controle
de distúrbios do comportamento suicida, inevitavelmente resultarão na rendição do
suicida, na sua captura por resgate tático ou na sua morte. A seguir, variáveis sobre
como lidar com essas alternativas no pós-evento.

5.1 Rendição

A rendição é o término da negociação e, como no início, é um momento


crítico em que qualquer precipitação pode pôr todo o trabalho a perder.
Quando se está em via de rendição (e o bom negociador irá perceber), o
principal erro a ser cometido é tentar capturar o indivíduo, em uma ação não
coordenada com o negociador, quando ele abaixar a arma ou cometer alguma
distração. Esses atos podem ser indicadores de progresso que levarão a prolongar a
negociação real. Nesse momento, a paciência é fundamental para a ocorrência ter a
almejada solução aceitável, e o fim pacífico dará ao suicida a expectativa otimista de
ter superado boa parte do seu problema.
Ao contrário das ocorrências com reféns, em que as rendições devem ser
efetivadas por equipes táticas que farão a detenção de criminosos ou o resgate de
reféns com segurança, nas ocorrências com suicidas a rendição é explícita e o time
tático deve ser evitado, cabendo ao próprio negociador ir ao encontro do suicida
quando este não mais oferecer risco para si ou para outrem, aproveitando o
momento para, dissimuladamente, fazer uma busca pessoal visando outras armas
96

que ainda possa ter consigo. Nas ocorrências policiais com suicidas, as invasões
táticas são reservadas aos grupos especializados apenas e se necessária a captura,
conforme se verá no capítulo a seguir.
A rendição deve evitar estardalhaço, humilhação, sermões e divulgação pela
mídia, que busca na polícia sua fonte principal.
A jornalista Paula Fontenelle, autora do interessante livro Suicídio: o futuro
interrompido: guia para sobreviventes, que escreveu para entender as razões que
poderiam ter levado o pai a desinteressar-se pela vida e cometer suicídio, em um
dos capítulos, reflete sobre a ética jornalística, repercutindo a divulgação equivocada
de suicídios no Brasil e no mundo que influenciaram mortes voluntárias, a mudança
de linha editorial de programas sensacionalistas diante de repercussões negativas e
questionando se o suicídio é um fato jornalístico.
O maior dilema, nesse sentido, é quando envolve uma figura pública, em
que é inevitável a publicidade do ato. O manual de redação da Folha de São Paulo,
por exemplo, determina que não se omita o suicídio como causa mortis. No tom da
matéria, ela sugere, como boa cobertura, o uso de eufemismos na redação como
“tirou a vida” ao invés de “suicidou-se”, evitar romancear o assunto, não dar muito
espaço e estimular ângulos, como avanços no tratamento de pessoas com
problemas, histórias semelhantes de superação de adversidades e orientações de
como evitar casos na família (FONTENELLE, 2008, p. 224).
Podem-se emprestar princípios da ética jornalista ao promover um
tratamento reservado à divulgação de informações de ocorrências com suicidas. Da
mesma forma, quem tentou suicídio não deve ser estigmatizado profissionalmente e
a divulgação desses fatos e da recuperação posterior deve ser reservada ao âmbito
da assistência social.

5.2 Resgate tático

Na prática, para atuação tática operacional, as ocorrências com suicidas


dividem-se basicamente pelos locais, a partir de edificações, ameaçando pular, ou
no solo, com armas, explosivos ou inflamáveis.
Para resgate tático em ocorrências em altura, o Corpo de Bombeiros do
Estado de São Paulo conta com avançadas técnicas ensinadas no Curso de
Salvamento em Altura (CSalt), que não vai ser tratado aqui, pois o caráter deste
97

trabalho é de policiamento. No solo, a competência é dos organismos policiais,


exceto quando envolver agentes inflamáveis, ocasião em que a competência volta
para os bombeiros, por evidentes razões.
As invasões táticas convencionais são reservadas para ocorrências com
reféns, porém o Pelotão de Ações Táticas Especiais de Campinas (ATAC)14 foi
pioneiro em desenvolver equipes táticas para captura de suicidas armados nos
moldes dos times táticos de invasão, adaptando funções e equipamentos e obtendo
ótimos resultados. Tais ações são chamadas de intervenções táticas.
No ATAC, as equipes táticas para intervenção tática em ocorrências com
suicidas têm configuração mínima de quatro homens, com a seguinte disposição,
que também é ilustrada na Figura 9:
a. Escudeiro: é o primeiro homem do time e carrega à frente um escudo de
proteção de Controle de Distúrbios Civis convexo, com as alças de
pegada invertidas (os convencionais são côncavos e usados para
proteção da equipe), que serve para imobilizar o indivíduo, pressionando-
o contra a parede ou o chão, no momento da invasão;
b. Segurança do Escudeiro: vem logo a seguir, equipado com luvas de
raspa (de lixeiro) ou de malha de aço (de açougueiro) e tem a função de
controlar e apreender a arma branca de posse do suicida;
c. Líder: terceiro homem, comandante da equipe. Além de coordenar as
ações e definir o momento da invasão, conta também somente com
luvas de proteção, será responsável pela imobilização dos membros
superiores e algemamento do suicida;
d. Full: quarto homem da formação, carrega junto ao corpo
(embandoleirada) uma espingarda ou outra arma com munição não-letal;
responsável pela imobilização dos membros inferiores do suicida e pela
segurança da equipe caso o suicida escape armado da imobilização.
Cabe esclarecer que, em situações envolvendo armas brancas, nenhum
integrante porta arma de fogo de uso letal, exceto o último homem, que carrega uma
arma com munição antimotim. Todos os demais vão desarmados para evitar que em
uma situação de contato físico tenham suas armas apoderadas pelo suicida.

14
Pelotão “Ações Táticas de Campinas”, que de 17 de abril de 1995 a 29 de janeiro de 2005 integrou
a Cia de Policiamento de Choque do 35º BPMI, com sede em Campinas/SP.
98

Figura 9 – Equipe tática do ATAC

Fonte: desenhado pelo autor.

A solução tática é a última alternativa a se considerar para intervir em


tentativas de suicídio. O histórico de atuações do ATAC registra o emprego de
equipes táticas com este fim apenas para indivíduos com perfil psicótico,
esquizofrênico ou outros sérios transtornos mentais que inviabilizem qualquer
comunicação ou outra alternativa tática, e o mais importante, com 100% de êxito:
policiais ilesos e vida do suicida preservada em todos os casos.

5.3 Morte

Espera-se dos policiais que tenham resistência para lidar com os reveses
advindos do exercício profissional, mas são seres humanos, sensíveis ao insucesso
e, portanto, passíveis de traumas que a morte, em uma ocorrência, pode provocar.
Do latim mors, a morte é o evento que encerra o processo de vida de uma
pessoa. Misteriosa, transcende a caracterização de cessamento das atividades
biológicas, suscitando indagações legais, religiosas, sociais e morais. Entre
profissionais das áreas da saúde e segurança pública, que lidam diretamente com a
99

morte no momento em que ela acontece e que podem ter certa influência nesse ato,
o abalo psicológico ocorre após não conseguir evitar o desfecho negativo.
O objetivo aqui é discutir algumas dificuldades enfrentadas pelo negociador
ao lidar com atos autodestrutivos, que vão desde a hostilização e insensibilidade
com o ato até a perturbação da comoção pela morte, ou com o risco de que eles
ocorram.
Partindo do princípio de que os motivos aparentes que levam alguém a
tentar cometer suicídio quase sempre são banais (discussão com pais, separação
amorosa, demissão etc) e o risco de vida é mínimo, perante a inocuidade do método
usado, não raro policiais e bombeiros costumam lidar com esse tipo de suicida com
um desprezo agressivo e, às vezes, até ridicularização da vítima. Explicações
simplistas como “desumanidade”, ou “frieza” não são satisfatórias. Na realidade,
além da popular descrença de que talvez possa se matar “de verdade”, a equipe
local capta a agressividade do ato e a relutância na rendição como um desrespeito à
própria vida e à autoridade de quem tenta evitar e devolve com desdém, que se
torna maior na rendição (CASSORLA, 1991, p. 149-166).
Por outro lado, caso ocorra o suicídio, os efeitos serão danosos para o
policial, sobretudo quando inesperado.
O Cel PM Ib Martins Ribeiro, que tem ampla folha de serviços prestados ao
Centro de Apoio Social da PMESP e estudioso dos agentes estressores dos policiais
militares, destaca a frustração como o principal componente que pode acometer um
policial que presencia um suicídio, refletida pela sensação de impotência e
fragilidade que o leva a também querer se suicidar, como uma “vontade de ir junto”.
Percebeu, em atendimento a policiais que atuaram em casos com suicidas, que, do
outro lado, a vítima testa o sistema e atua como uma espécie de “vampiro”, que
suga as energias do negociador-policial nas ocorrências: “Eu ia me matar na sua
frente”, diz. O policial, por sua vez, torna-se um ‘zumbi’ após o atendimento desses
casos, assumindo aspectos do suicida (fragilidade, desespero, reações agressivas e
violentas) em face do sentimento de impotência diante do fracasso. Confessa o
policial-psicólogo que lidar frequentemente com o tema é penoso: “A gente mesmo
se pega com ideações suicidas”. O psiquiatra Neury Botega concorda e diz também
que, nas terapias, sente-se explorado pelo suicida a cada atendimento.
Durante o fato, o negociador deverá, calma e naturalmente, mostrar ao
suicida que entende seu desespero e desesperança e que, em sua opinião, isso
100

decorre de problemas de ordem emocional aos quais todos estão sujeitos, mas que
esses sentimentos poderão ser alterados se a vítima permitir ser ajudada. Porém,
essa estratégia nem sempre surte o efeito desejado. Em razão disso, sentimentos
como frustração, raiva e revolta são normais em um profissional que “perdeu” um
suicida em ocorrência. A resiliência, capacidade de recuperação diante de
circunstâncias traumáticas ou desfavoráveis, por seu caráter de abrangência, talvez
seja o maior fator de proteção que o negociador deve ter para não se deixar levar
pelo ato de morte não evitado.
O psiquiatra vienense Viktor Frankl, que escreveu “Em busca de sentido”
(1946), após perder toda a família em um campo de concentração da 2ª Guerra
Mundial, defende que há duas forças psicológicas que permitem suportar situações
dolorosas e seguir em frente: a capacidade de decisão e a liberdade de agir. Ou
seja, o indivíduo é quem determina como se deixará influenciar e se der sentido ao
seu sofrimento, deixará de ser sofrimento: “Mesmo uma pessoa que não tem nada
mais neste mundo ainda pode conhecer a felicidade” (O LIVRO DA PSICOLOGIA,
2012, p. 140).
O policial deve saber que é ser humano e falível, que do outro lado tem outro
ser humano senhor de seus atos e que, nesse sentido, empenhou-se ao máximo,
com técnica e esmero, para evitar a morte auto infligida, e se não conseguiu não
fora por falta de capacitação ou esforço.
A plena consciência do dever cumprido em um suicídio ou mesmo nos casos
em que a negociação foi bem sucedida em uma tentativa não dispensam o
acompanhamento psicológico posterior.
101

6 PROPOSTA DO TEMA “NEGOCIAÇÃO COM SUICIDAS”

Foi estudado que o Gerenciamento de Crises visa resolver as ocorrências de


forma racional, analítica e, se possível, pacificamente, e que esta solução está
diretamente ligada à negociação, que, por isso, deve ser a primeira alternativa para
resolver uma crise, principalmente envolvendo suicidas. Assim como, em caso de
atendimento da ocorrência por policiais militares da unidade territorial, se já estiver
estabelecido o vínculo de negociação, este será mantido com o apoio de
negociadores do GATE, que avaliarão a necessidade e oportunidade de assumirem
integralmente a operação.
Conclui-se, então, que o papel do negociador é um dos mais, senão o mais
importante em uma ocorrência de vulto, pois dependerá sobremaneira da sua
capacidade e habilidade o caminho a ser percorrido na ocorrência, sendo que este
negociador pode ser desde um patrulheiro que primeiro intervir na ocorrência até um
especialista do GATE.
A mais recente norma da PMESP sobre Gerenciamento de Crises, que
versa sobre o acionamento do GATE (Diretriz Nº PM3-001/02/13, de 19MAR13),
destaca a importância da difusão doutrinária dessa matéria para credibilidade da
Corporação:
4. OBJETIVOS:
4.7. consolidar o tema “Gerenciamento de Crises” como disciplina de
relevância nos cursos de formação, aperfeiçoamento e de especialização
desenvolvidos pela PMESP, visto que, consoante à evolução das situações
criminosas, mister se faz o preparo adequado do homem, adotando-se um
padrão procedimental para o gerenciamento de crises de maneira a
evitarem-se tratamentos meramente improvisados e empíricos que
coloquem em risco, além das pessoas envolvidas, a imagem e a
credibilidade da Instituição Policial-Militar (Diretriz nº PM3-001/02/13, de
19MAR13).

Além da já difundida matéria de Gerenciamento de Crises, há fundamentos


de negociação com reféns nos cursos de formação, aperfeiçoamento e
especialização, mas, com exceção dos cursos de especialização em Gerenciamento
de Crises e Negociação patrocinados pelo GATE, não há conceitos sobre atuação
com suicidas, embora essas ocorrências sejam mais numerosas que as que
envolvem criminosos com reféns. Mesmo no Corpo de Bombeiros, que atende muito
mais casos com suicidas, a abordagem sobre negociação é tímida em relação ao
treinamento de técnicas de salvamento em altura, subvertendo a lógica de
Gerenciamento de Crises que é a da solução negociada em detrimento da tática.
102

6.1 Pesquisas

Para verificar a oportunidade da inclusão da matéria proposta nos cursos de


formação, aperfeiçoamento e especialização, foram enviadas pesquisas a Oficiais
do GATE, responsáveis pela inclusão e manutenção da matéria de Negociação com
Suicidas nos cursos coordenados pelo grupo especial; a policiais militares
(especializados ou não) que, em 2013, participaram de ocorrências com suicidas,
destacadas no Informativo do Comandante Geral, para saber de suas dificuldades,
bem como saber essa matéria facilitaria sua atuação nos casos; e a Oficiais do
Centro de Assistência Social (CAS), para obter dados sobre suicídios de policiais
militares e se a inclusão do assunto sobre suicídio nos cursos poderia indiretamente
trazer benefícios em relação à redução desses casos. Destes últimos, não houve
retorno, porque as informações solicitadas são resguardadas por necessária
confidencialidade.

6.1.1 Entrevistas com Oficiais do GATE

Foram entrevistados três Oficiais que serviram no GATE a partir do período


em que fora incluído o tema Negociação com Suicidas na unidade didática de
Psicologia Criminal, nos cursos de especialização (pós-2006), e apresentado um
questionário único com perguntas sobre a viabilidade, necessidade e aceitação do
assunto nos cursos já realizados, para verificar a aplicabilidade de aulas de
Negociação com Suicidas em cursos de formação e aperfeiçoamento e se existe
essa especialização em cursos extracorporação.
O Maj Res PM Diógenes Viegas Dalle Lucca, que serviu por onze anos no
GATE, dos quais quase sete deles como Comandante, confirmou a necessidade de
conhecer o comportamento suicida não só para ocorrências de tentativa de suicídio,
mas também para ocorrências com reféns em que o causador manifeste tendências
suicidas:
A história tem demonstrado que o gerenciamento de crises envolvendo
reféns apresenta nuances em que a tentativa de suicídio ou a sua
consumação acaba por ocorrer geralmente ao final da ocorrência quando o
criminoso não concebe a alternativa de ir para a cadeia e a considera pior
do que tirar a própria vida. Outra hipótese são as ocorrências por motivos
103

passionais, onde o risco de suicídio é bastante elevado e, finalmente, o


acionamento da polícia para situações específicas de tentativa de suicídio.

Apontou que havia percebido a indispensabilidade de uma matéria com


abordagem específica sobre suicidas nos cursos do GATE, em razão da experiência
à frente desta equipe, mas a confirmação ocorreu quando fez o Curso de Formação
de Negociador na Polícia de Córdoba, na Argentina, onde instrutores informaram
que a maior demanda de atendimento da Equipo de Negociadores Especiales
Policiais (ENEP) era decorrente desse tipo de incidente. Concluiu dizendo que “a
introdução do tema suicídio e sua manutenção nos currículos especializados do
GATE é fundamental para dotar os operadores dos recursos necessários para
gerenciar esse tipo de crise com mais chances de sucesso”.
Os Tenentes Fernando Sério Vitória e Gustavo Packer Mercadante, com
respectivamente 10 e 6 anos de GATE, concordam, notando que o tema é um tabu e
indicam os benefícios em convencer o suicida a não se matar, evitando recaídas
futuras e consequentemente diminuindo a demanda de ocorrências.
Nenhum dos três entrevistados conseguiu indicar especificamente outra
unidade de ações especiais policiais do Brasil que ministre aulas específicas sobre
técnicas para controle de distúrbios do comportamento suicida em seus cursos,
embora assegurem que estejam preparadas para lidar com ocorrências envolvendo
suicidas.
Sobre a matéria “Negociação com Suicidas” no GATE, todos apontaram que
a recepção dos alunos em relação ao tema foi bastante positiva, sendo uma das
aulas mais elogiadas pelos discentes. Afirmaram que esta deveria ser estendida
para os cursos de formação e aperfeiçoamento, estimando algo em torno de 4 a 10
horas-aula como suficientes para dar uma concepção geral do tema.

6.1.2 Entrevista com negociadores em ocorrências com suicidas

Para avaliar se conhecer os mecanismos do comportamento suicida pode


influenciar positivamente para o policial militar em uma ocorrência crítica (tentativas
de suicídio e casos com reféns ou terroristas), foram entrevistados policiais que
tiveram que negociar com suicidas em casos recentes, em diferentes circunstâncias
e localidades, a partir de notícias publicadas no “Newsletter do Comandante Geral”,
104

no primeiro semestre de 2013. Foi enviado um questionário com as mesmas


perguntas para os policiais diretamente envolvidos na interlocução com o suicida.
A pesquisa buscou colher observações e sugestões de experiências
pessoais, atuais e diferentes, mas sem individualizar as ações, extraindo as
impressões, dificuldades e oportunidades aproveitadas nos casos em geral.
Dos cinco questionários enviados por e-mail, três foram respondidos, um
preferiu não responder, porque apesar de ter sido destacada pelo resultado positivo
no informativo oficial, o meio pelo qual conseguiu obter o resultado teria sido
inadequado e um último não foi localizado pela unidade de origem. Houve
ocorrências em cidades grandes, médias e pequenas como Aracy, Lins, Presidente
Venceslau, São Carlos e São José dos Campos; em lugares como pontes e torres
de alta tensão; dentro de empresas e de casas; suicídios com ameaças de se jogar
de pontos elevados, com arma de fogo e por enforcamento; e negociações face-a-
face e por telefone, a partir do COPOM.
Todas as ocorrências foram negociadas por praças, sendo um Sargento,
dois Cabos, um Soldado operacional e uma Soldado Temporário telefonista. Destes,
desde policiais com pouco mais de um ano de incorporação até os mais experientes,
alguns às vésperas de se aposentarem (reforma) com 30 anos de serviço. Com ou
sem especialização em Gerenciamento de Crises, um deles, inclusive, que já
assistiu à aula de “Negociação com Suicidas” aqui proposta e a pôs em prática no
caso.
Dentre as maiores dificuldades admitidas, citaram: não saber ao certo o que
dizer no momento para acalmá-los; como manter a própria calma; e, em um dos
casos, ter prendido o próprio suicida por uso de drogas dias antes. Paradoxalmente,
apontaram como fator de sucesso na ocorrência ter superado a intranquilidade e
ganhado a confiança da vítima, valorizando sua vida e seus familiares. Relataram
que não usaram um procedimento específico, mas os que tiveram instruções de
Gerenciamento de Crises adotaram conceitos transmitidos nessas aulas, aliados às
habilidades pessoais.
Todos, sem exceção, disseram que facilitaria suas ações terem um
treinamento específico sobre negociação com suicidas e que os treinamentos não
deveriam tampouco se limitar aos cursos de especialização, mas também na
formação e aperfeiçoamento, inclusive de atendentes do COPOM, ressaltando que
perceberam um aumento na demanda por esses casos nos últimos tempos.
105

6.1.3 Resultado das pesquisas

A negociação com pessoas emocionalmente perturbadas em si não é uma


estratégia que possa lançar mão de soluções-padrão para problemas padronizados
que ocorrem em intervalos regulares; trata-se mais de compreender as nuances que
envolvem a sua conduta. Atualmente, não há treinamento e especialização para
atendimento a ocorrências com suicidas que contemple e integre todas as estruturas
dos Órgãos de Execução e Especiais, inclusive do Corpo de Bombeiros, de forma a
obter um procedimento harmônico e eficiente no local da crise.
Para inserção do tema “Negociação com Suicidas” nos cursos de formação e
aperfeiçoamento, bem como nos cursos de especialização em Gerenciamento de
Crises e Negociação para o policiamento e nos cursos de Salvamento e Resgate
para bombeiros, cabe estabelecer planos de sessão específicos, distribuídos em
quatro e oito horas-aula, extraídas da carga de Psicologia Aplicada. As matérias
seguem o padrão da Polícia Militar, com observância estrita de toda a legislação e
normas em vigor e serão desenvolvidas em consonância com o GATE e com o
Comando do Corpo de Bombeiros.
Havendo disciplina inserida na grade curricular da Corporação que
contemple uma comunicação técnica com a vítima e que incorpore as teses
psicológicas de comportamento suicida, espera-se que no atendimento a
ocorrências com suicidas, primeiramente se esgote a negociação antes de adotar
alternativas táticas e que os policiais como negociadores tenham a capacidade de
discernir entre as inúmeras hipóteses de solução, ao invés de apenas ter conceitos
formais, cumprir manuais, procedimentos estanques em distinguir o certo do errado.

6.2 Proposta de inclusão do tema em cursos de formação

Em razão da universalidade de um curso de formação, o ensinamento de


técnicas de Negociação com Suicidas deve ocupar um espaço menor e carga
horária compatível e proporcional ao destinado às matérias de Gerenciamento de
Crises e Psicologia Aplicada, estas, de algum modo, relacionadas com o tema.
A PMESP possui, atualmente, três principais cursos de formação:
106

a. a Escola Superior de Soldados (ESSd) dispõe de 23 horas-aula de


Psicologia e Dinâmica de Grupo, além de outras 11 horas-aula de
Gerenciamento de Crises, totalizando 34 horas-aula acerca do tema;
b. a Escola Superior de Sargentos (ESSgt) prevê 12 horas-aula de
Psicologia Aplicada, mais 19 horas-aula de Gerenciamento de Crises,
perfazendo um total de 31 horas-aula;
c. a Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) determina 30
horas/aula de Psicologia Aplicada e outras 30 horas-aula de Gerencia-
mento Integrado de Crises e Desastres, totalizando 60 horas-aula.
A proposta de inclusão de 4 horas-aula de “Negociação com Suicidas” nas
aulas de psicologia não exigiria alteração da carga horária e teria impacto ínfimo na
grade curricular dos três cursos de formação da PMESP, pois, a partir da soma das
matérias de Gerenciamento de Crises e Psicologia Aplicada (as duas que tem
conexão direta com o tema), a inclusão seria correspondente à média de 10% dos
cursos, ou seja, além de não aumentar a carga horária e da mínima alteração na
grade curricular dos cursos de formação, visa um assunto objetivamente mais
cabível à atividade policial que a psicologia aplicada, de natureza que tem demanda
considerável.
Aliado a isso, tendo em vista que as escolas de formação educam policiais e
bombeiros indistintamente, teria também o benefício de ensinar uma disciplina
universal a essas carreiras, padronizando as ações conjuntas em ocorrências de
tentativa de suicídio e de conscientizar os policiais de sua importância, afastando os
agentes estressores que desencadeiam manifestações na própria carreira policial.
O Apêndice A apresenta a proposta da unidade didática para essa matéria.

6.3 Proposta de inclusão do tema em cursos de especialização

Quanto aos cursos de especialização em Gerenciamento e Negociação de


Crises com Reféns, a matéria já é aplicada, e das 120 horas-aula, 8 horas-aula são
destinadas à negociação com suicidas, com ótimos resultados.
Essa mesma carga de horas-aula poderia ser aplicada também nos Cursos
de Salvamento em Altura, Salvamento Terrestre e Resgate e Emergências Médicas
(REM) do Corpo de Bombeiros, em razão da quantidade de cargas curriculares
serem padronizadas pela PMESP em cerca de 120 horas-aula.
107

Para adequar-se à padronização do Corpo de Bombeiros, a matéria seria


adaptada à atuação do ponto de vista e interesse dos profissionais de salvamento e
denominada “Controle de Distúrbios do Comportamento Suicida”.
De 2007 a 2012, foi feita uma experiência pelo Gabinete de Treinamentos do
7º Grupamento de Bombeiros, sediado em Campinas, de difusão desse tema nos
cursos de Salvamento e Resgate e nos Estágios de Atualização Profissional (EAP),
com ótimos resultados.
Os Apêndices B e C apresentam as propostas de unidade didática para
essas matérias.

6.4 Proposta de inclusão do tema em estágios de atualização

Como já fora discutido, em face da gama de variações de comportamentos e


de ocasiões que podem gerar uma ocorrência policial com suicida, essa natureza
não comporta um POP para o policiamento, mas há condições de difundir a doutrina
de Negociação com Suicidas em alguma das edições anuais dos EAP, assim como
em Instruções Continuadas de Comando (ICC), elaboradas a partir de artigo
científico sobre o mesmo assunto desenvolvido em paralelo a este trabalho
monográfico. Em caso de aprovação, pode ser elaborada uma ICC específica
orientando sobre o assunto.
108

7 CONCLUSÃO

O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento – físico ou


emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. A dor
parece incomunicável; por mais que tente expressar a tristeza que sente, ninguém
parece escutar ou compreender. A vida perde o sentido, o mundo ao redor fica
insosso e o indivíduo sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar em um
mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e se sinta
outro.
Será que a morte é o passaporte para essa nova vida? Atire a primeira
pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de
impotência extremas. É comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez
na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança.
O suicídio, por estar relacionado com o fracasso e a morte, não é um tema
fácil de abordar. A corporação acompanha a sociedade arraigada pelos mitos
envolvendo o tema e não dá grande importância às tentativas de suicídio, ocupando-
se de casos mais relevantes, como crimes contra a vida, o patrimônio e a dignidade
sexual, afinal nem crime o suicídio é.
Mas é quebra da ordem pública, e as matrizes organizacionais e gestões
pela qualidade obrigam a provê-lo de forma tão técnica como a uma abordagem, um
acidente de trânsito ou um roubo a banco.
No Corpo de Bombeiros são raros os profissionais que não se depararam
com casos de suicidas. Esse número é inversamente proporcional aos que lá
tiveram qualquer instrução sobre o assunto. Entre os policiais militares, a
probabilidade é menor e a rotina profissional de um policial “de área” propicia, ainda,
menos oportunidades de instrução. Ocorre que não existia uma normatização
técnica policial para isso e esta pesquisa mostrou que ambos, bombeiros e policiais,
não usam doutrinas técnicas para resolver os casos, dependendo muito da vocação
inata do profissional, do improviso, o que não é adequado.
A dificuldade dos policiais e bombeiros, por desconhecimento teórico, e a
necessidade de inserção do tema ficaram evidentes nas entrevistas e são
perceptíveis no feedback, após submetidos a palestras com a matéria aqui
apresentada, ao revelarem, após as ocorrências, como foi melhor e mais fácil
resolvê-las, afinal uma boa negociação é proporcional ao conhecimento técnico do
109

negociador e evita riscos para os policiais, para o suicida e para eventuais reféns e
promove automaticamente a recuperação psicológica do causador.
O benefício tem mão dupla, pois também os policiais militares, que tem altas
taxas de suicídio, sentem-se valorizados em atender às pessoas em situação limite
de dificuldade com domínio técnico, humanidade e benevolência, com reflexos nos
índices da própria tropa, afinal, como atestou o fundador da Associação Americana
de Suicidologia, Edwin Schneidman, quando na recuperação de veteranos de guerra
americanos: “A educação é o item mais importante na diminuição dos suicídios”.
Ao contrário de outras doutrinas sobre suicídio, ditadas por profissionais da
área de saúde, este trabalho foi desenvolvido do ponto de vista de quem atua
quando uma pessoa ameaça se jogar de um ponto elevado, aponta uma arma de
fogo para a cabeça ou uma faca para o pescoço, resultado de experiências práticas
pessoais em negociação e controle de distúrbios do comportamento reais e
especialização em Comportamento Suicida pelo Departamento de Psicologia Médica
e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.
Não se enveredou pelo óbvio caminho de criar um quadro alarmante para
buscar reconhecimento do estudo e impor sua implementação. A situação não
parece tão ruim a ponto de condenar os sucessos conquistados empiricamente,
porém a conjuntura atual não é a ideal, pois há situações críticas envolvendo
causadores com tendências suicidas que não são atendidos com todo o suporte
técnico apropriado, e estas, se mal sucedidas, podem gerar trágicas consequências
no futuro, comprometendo a credibilidade de toda a instituição.
Diferentemente de um manual sobre como negociar com suicidas, com
regras de conduta operacionais padronizadas, o estudo visa decifrar como funciona
o comportamento suicida para habilitar policiais e bombeiros a negociarem a partir
do entendimento de como funcionam os mecanismos psicológicos envolvidos,
facilitando a rendição.
A proposta de inserção do tema “Negociação com Suicidas” para cursos
policiais ou “Controle de Distúrbios do Comportamento Suicida” para bombeiros, em
módulos de 4 e 8 horas-aula, não pretende criar uma nova disciplina nem que ela
substitua as anteriores; é matéria adicional aos currículos para atuação integrada
nos casos com autores com tendências suicidas, mais voltada aos aspectos técnicos
e psicológicos e privilegiando a solução negociada. Esse novo conteúdo a ser
inserido nas disciplinas de Gerenciamento de Crises e Psicologia Aplicada, dos
110

cursos de formação de Soldados, Sargentos e Oficiais; nas especializações em


Gerenciamento de Crises e Negociação de Reféns, Resgate e Emergências
Médicas e Salvamento em Altura e Terrestre; e até em estágios de aperfeiçoamento
profissional (EAP) e instruções continuadas de comando (ICC) não gera custos,
amplia a capacidade da instituição em melhor atender ocorrências dessa natureza,
em benefício da própria Corporação, dos policiais militares e da população, visando
a melhor prestação de serviços, reflexo da excelência do sistema operacional.
Ressalte-se que já bons os resultados do presente trabalho, visto que o
tema já fora implementado, experimentalmente e com sucesso, nos Cursos de
Especialização de Oficias de Gerenciamento de Crises e Negociação com Reféns
do GATE (na matéria de Psicologia Criminal), desde 2006, e nos cursos de
Especialização de Praças em Resgate e Emergências Médicas, Curso de
Especialização de Praças em Salvamento Terrestre e Estágio de Atualização
Profissional de Oficiais do 7º Grupamento de Bombeiro, desde 2007, com ampla
aceitação dos policiais militares e bombeiros submetidos à matéria, inclusive
versados Oficiais.
Submetidos a palestras, experimentados médicos, psicólogos, enfermeiros e
assistentes sociais aprovaram essa abordagem do tema pela PM. Por certo, ela
refletirá na excelência dos serviços prestados pela corporação à população, da qual
todos os policiais também fazem parte e podem deparar com conhecidos e
familiares nessa situação.
A consequência é que uma solução aceitável, ao final dessas situações
críticas e de vulto, gera credibilidade, reflexos positivos junto à sociedade e
aproxima a Instituição da busca pela qualidade, modernização e excelência na
prestação de serviço de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública.
Sua concepção, portanto, é medida proativa na busca por soluções que
possam ter reflexo positivo na prestação de serviços de qualidade a toda a
população paulista, marca de uma instituição moderna e com servidores
comprometidos e capacitados, contribuindo para prosperar a imagem da Polícia
Militar do Estado de São Paulo como órgão preocupado com o cumprimento de
todas as missões com excelência e melhoria na prestação de serviços,
compromissados com a defesa da vida, da integridade física e da dignidade da
pessoa humana.
111

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Análise do Uso Criminoso de Bombas e Explosivos em São Paulo. Artigo Científico
para o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. São Paulo: CAES, 2009.

LUCCA, Diógenes V. Dalle. Alternativas Táticas na Resolução de Ocorrências com


Reféns Localizados. Monografia para o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. São
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WERLANG, Blanca Guevara & BOTEGA, Neury José. Comportamento Suicida.


Porto Alegre: Artmed, 2004.
116

APÊNDICE A – PROPOSTA PARA CURSOS DE FORMAÇÃO

UD – NEGOCIAÇÃO COM SUICIDAS:


MATERIAL
RELAÇÃO DE ASSUNTOS AVAL ME C/H
DIDÁTICO
Conceitos sobre suicídio e tentativa.
Fatores de risco e de proteção.
Mitos, verdades e frases de alerta.
Legislação e normas sobre suicídio.
Eq.
Gerenciamento de Crises com Suicidas.
Multimídia
Medidas iniciais de controle do primeiro
interventor em ocorrências envolvendo
VC ME Vídeo
pessoas com tendências suicidas. 04
Critérios de ação.
DVD
Indicadores de progresso e de violência.
Ap. Som
Negociação com Suicidas.
Rendição.
Resgate tático.
Morte.
TOTAL 04

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BERTOLOTE, José Manoel. O Suicídio e sua Prevenção. São Paulo, Ed. UNESP,
2012.
CASSORLA, Roosevelt Moises Smeke. Do Suicídio: Estudos Brasileiros. 2ª.
Edição. Campinas, Papirus Editora, 1998.
DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo, Martin Claret, 2005.
FONTENELLE. Suicídio: O futuro interrompido. Guia para Sobreviventes. São
Paulo, Geração Editorial, 2008.
LUCCA, Diógenes V. Dalle. Alternativas Táticas na Resolução de Ocorrências
com Reféns Localizados. Monografia do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
(CAO), CAES, PMESP, 2002.
OMS. Prevenção do Suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra, 2006.
PMESP. Diretriz nº PM3-001/02/13, de 19MAR13 – Ocorrências que exijam a
intervenção do Grupo de Ações Táticas Espceiais – GATE.
RIBEIRO, Ib Martins. Uma Cultura estressante, Suas origens e conseqüências.
Polícia Militar do Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-1995.
SANTOS, Hugo Araujo. Ocorrências Policiais com Suicidas: Gerenciamento,
Negociação e Controle de Distúrbios do Comportamento. Polícia Militar do
Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-2013.
WERLANG, Blanca Guevara. BOTEGA, Neury José. Comportamento Suicida.
Porto Alegre. Artmed, 2004.
117

APÊNDICE B – PROPOSTA PARA CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO

UD – NEGOCIAÇÃO COM SUICIDAS:


MATERIAL
RELAÇÃO DE ASSUNTOS AVAL ME C/H
DIDÁTICO
Conceitos sobre suicídio e tentativa de
suicídio.
Características psicológicas do suicida.
Tipos de Suicídio
Como o comportamento suicida se
desenvolve.
Fatores de risco e de proteção.
Mitos e verdades sobre o suicídio.
Frases de alerta.
Estatísticas sobre suicídio.
Eq.
Legislação e normas sobre suicídio.
Multimídia
Gerenciamento de Crises com Suicidas.
Medidas iniciais de controle do primeiro
VC ME Vídeo 08
interventor em ocorrências policiais com
suicidas.
DVD
Critérios de ação.
Ap. Som
Indicadores de progresso e de violência.
O negociador com suicidas. Seu papel,
riscos, características e responsabilidades.
Conversa com o suicida
Técnicas e táticas de negociação.
Assertivas, condutas adequadas e cuidados.
A utilização tática do negociador.
Rendição.
Resgate tático.
Morte.
TOTAL 08

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BERTOLOTE, José Manoel. O Suicídio e sua Prevenção. São Paulo, Ed. UNESP,
2012.
CASSORLA, Roosevelt Moises Smeke. Do Suicídio: Estudos Brasileiros. 2ª.
Edição. Campinas, Papirus Editora, 1998.
DATTILIO, Frank M. e Arthur Freeman. Estratégias Cognitivo-Comportamentais
de Intervenção em Situações de Crise. Porto Alegre. Artmed, 2004.
DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo, Martin Claret, 2005.
FONTENELLE. Suicídio: O futuro interrompido. Guia para Sobreviventes. São
Paulo, Geração Editorial, 2008.
118

OMS. Prevenção do Suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra, 2006.


LUCCA, Diógenes V. Dalle. Alternativas Táticas na Resolução de Ocorrências
com Reféns Localizados. Monografia do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
(CAO), CAES, PMESP, 2002.
PMESP. Diretriz nº PM3-006/02/01, de 19DEZ01 – Plano de Contingência para
Ações Terroristas.
PMESP. Diretriz nº PM3-001/02/13, de 19MAR13 – Ocorrências que exijam a
intervenção do Grupo de Ações Táticas Espceiais – GATE.
RIBEIRO, Ib Martins. Uma Cultura estressante, Suas origens e conseqüências.
Polícia Militar do Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-1995;[.
SANTOS, Hugo Araujo. Ocorrências Policiais com Suicidas: Gerenciamento,
Negociação e Controle de Distúrbios do Comportamento. Polícia Militar do
Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-2013.
SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gerenciamento de Crises: Negociação e
atuação de Grupos Especiais de Polícia na solução de eventos críticos. Polícia
Militar do Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO-1995.
WERLANG, Blanca Guevara. BOTEGA, Neury José. Comportamento Suicida.
Porto Alegre. Artmed, 2004.

UD – CONTROLE DE DISTÚRBIOS DO COMPORTAMENTO SUICIDA:


MATERIAL
RELAÇÃO DE ASSUNTOS AVAL ME C/H
DIDÁTICO
Conceitos sobre suicídio e tentativa.
Características psicológicas do suicida.
Tipos de Suicídio
Como o comportamento suicida se
desenvolve.
Fatores de risco e de proteção.
Mitos e verdades e frases de alerta.
Eq.
Estatísticas sobre suicídio.
Multimídia
Legislação e normas sobre suicídio.
Distúrbios do Comportamento.
VC ME Vídeo 08
POP – Controle de Distúrbios do
Comportamento.
DVD
Indicadores de progresso e de violência.
Ap. Som
Conversa com o suicida
Técnicas e táticas de negociação.
Assertivas, condutas adequadas e cuidados.
A utilização tática do negociador.
Rendição.
Salvamento.
Morte.
TOTAL 08
119

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BERTOLOTE, José Manoel. O Suicídio e sua Prevenção. São Paulo, Ed. UNESP,
2012.
CASSORLA, Roosevelt Moises Smeke. Do Suicídio: Estudos Brasileiros. 2 ed.
Campinas, Papirus Editora, 1998.
CORPO DE BOMBEIROS. MTB-35 – Manual de Gerenciamento de Crises
envolvendo Suicidas e Atentados Terroristas - MGCESAT. São Paulo, 2006;
CORPO DE BOMBEIROS. POP RES-14-01. Controle de Distúrbios do
Comportamento. São Paulo, 2008.
DATTILIO, Frank M. e Arthur Freeman. Estratégias Cognitivo-Comportamentais
de Intervenção em Situações de Crise. Porto Alegre. Artmed, 2004.
DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo, Martin Claret, 2005.
FONTENELLE. Suicídio: O futuro interrompido. Guia para Sobreviventes. São
Paulo, Geração Editorial, 2008.
OMS. Prevenção do Suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra, 2006.
LUCCA, Diógenes V. Dalle. Alternativas Táticas na Resolução de Ocorrências
com Reféns Localizados. Monografia do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
(CAO), CAES, PMESP, 2002;
PMESP. Diretriz nº PM3-006/02/01, de 19DEZ01 – Plano de Contingência para
Ações Terroristas.
PMESP. Diretriz nº PM3-001/02/13, de 19MAR13 – Ocorrências que exijam a
intervenção do Grupo de Ações Táticas Espceiais – GATE.
RIBEIRO, Ib Martins. Uma Cultura estressante, Suas origens e conseqüências.
Polícia Militar do Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-1995;
SANTOS, Hugo Araujo. Ocorrências Policiais com Suicidas: Gerenciamento,
Negociação e Controle de Distúrbios do Comportamento. Polícia Militar do
Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO/II-2013.
SÃO PAULO. Decreto Estadual nº 58.931, de 04 de março de 2013- Define as
emergências próprias de atendimento pelo Resgate do Corpo de Bombeiros do
Estado de São Paulo.
SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gerenciamento de Crises: Negociação e
atuação de Grupos Especiais de Polícia na solução de eventos críticos. Polícia
Militar do Estado de São Paulo, CAES, Monografia CAO-1995.
WERLANG, Blanca Guevara. BOTEGA, Neury José. Comportamento Suicida.
Porto Alegre. Artmed, 2004.

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