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São Paulo
2014
Cap PM Rogério Nery Machado
São Paulo
2014
Cap PM Rogério Nery Machado
A Deus, por ter me dado a vida e permitido minha convivência junto de pessoas que
tanto contribuem para minha evolução.
Ao Cel PM Carlos Celso Castelo Branco Savioli, meu orientador que, desde o
primeiro momento, com paciência e atenção, dedicou seu escasso tempo a me guiar
na realização deste trabalho.
Ao Cap PM Paulo Augusto Aguilar que, prestativa e gentilmente, partilhou grande
parte das fontes de pesquisa utilizadas.
A todos os policiais, brasileiros e estrangeiros, que forneceram seus conhecimentos
e experiência, sem os quais seria impossível a reunião e a lapidação das idéias
referentes ao tema.
A todos que, de alguma forma, concorreram para a conclusão desta dissertação.
“Aquele que quer paz, prepara-se para a guerra.
Aquele que deseja a vitória, treina seus soldados
diligentemente. Aquele que aspira resultados auspiciosos,
luta com estratégia, não aleatoriamente.” (VEGÉCIO; séc.
IV)
Resumo
O presente trabalho versa sobre proposta de inserção do Sistema Dinâmico de
Gerenciamento de Crises, ainda não encontrado, na doutrina e nos protocolos da
Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP).
Desenvolvido em 1993, nos Estados Unidos da América e trazido ao Brasil, por meio
de trabalho produzido na PMESP, em 1995, o Gerenciamento de Crises, que já
demonstrou inúmeras vezes sua eficiência, recebeu inovações, no país criador, em
1999, quando foi dividido em dois sistemas: Estático, adequado para ocorrências
com reféns, suicidas e artefatos explosivos e Dinâmico, próprio para crises geradas
por Atirador Ativo, que é indivíduo armado e engajado em matar o maior número
possível de pessoas, o que demanda resposta policial mais célere e enérgica,
visando a neutralização de sua capacidade letal.
Após análise de todo o conteúdo de Gerenciamento de Crises, ministrado em vários
cursos da Instituição e dos Procedimentos Operacionais Padrão, verifica-se uma
lacuna, no que tange à proposta deste trabalho. Por meio de pesquisa qualitativa e
bibliográfica, foram entrevistadas autoridades de reconhecido saber e experiência
em Gerenciamento de Crises, tanto brasileiras, quanto de outros países, como
também foram pesquisadas obras e artigos de revistas especializadas sobre o tema.
Ao final, conclui-se que, como responsável pela preservação da ordem pública, a
PMESP necessita atualizar o conteúdo doutrinário e seus procedimentos, em
Gerenciamento de Crises, a fim de inserir o Sistema Dinâmico, para casos de
Atirador Ativo, como forma de se manter alinhada com os atuais protocolos
mundiais, concernentes ao assunto.
AK Avtomat Kalashnikova
ANZCTC Australian and Neo Zeeland Counter Terrorism Committee
ATF Alcohol, Tabaco and Firearms
BPChq Batalhão de Polícia de Choque
Cap PM Capitão de Polícia Militar
Cel PM Coronel de Polícia Militar
CF Constituição Federal
COPOM Centro de Operações Policiais Militares
DNA Deoxyribonucleic Acid
EUA Estados Unidos da América
FBI Federal Bureau of Investigation
FEMA Federal Emergency Management Agency
GATE Grupo de Ações Táticas Especiais
HIV Human Immunodeficiency Virus
ICC Instrução Continuada de Comando
IS Incident Solving
MJ Ministério da Justiça
ONU Organização das Nações Unidas
PDCA Plan, Do, Check, Act
PM Polícia Militar
PMESP Polícia Militar do Estado de São Paulo
POP Procedimento Operacional Padrão
SAMU Serviço de Atendimento Médico de Urgência
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública
Sgt PM Sargento de Polícia Militar
SSP Secretaria de Segurança Pública
SWAT Special Weapons And Tactics
Sumário
1 Introdução......................................................................................................... 14
5 Proposta............................................................................................................ 55
5.1 Doutrina .......................................................................................................... 55
5.2 Normatização .................................................................................................. 56
5.3 Resposta Policial ao Atirador Ativo. ................................................................ 58
Conclusão ................................................................................................................ 65
Referências .............................................................................................................. 68
1 Introdução
ocorre, principalmente, por meio da polícia e que exige, por parte desta, estudo e
planejamento, visando à antecipação de novas modalidades de crime.
Ocorre que, em 20 de abril de 1999, na cidade de Litleton, nos EUA, sucede
o incidente que ficou conhecido como Massacre de Columbine, quando dois
adolescentes, alunos da Escola Columbine, a adentraram, portando armas de fogo e
realizaram vários disparos, causando diversas mortes e ferimentos, suicidando-se
em seguida.
Naquela situação, a polícia de Litleton utilizou os protocolos, para
Gerenciamento de Crises, de que dispunha, porém, aqueles adolescentes não
tinham outro objetivo, senão o de causar mortes.
A partir da chegada dos primeiros policiais àquela escola, até a chegada da
equipe especializada local, os adolescentes tiveram 40 minutos para continuarem
livremente em seu intento de matar pessoas.
O Massacre de Columbine, que não foi o primeiro incidente deste tipo e foi
seguido por várias crises com as mesmas características, demonstrou a
necessidade de estudos sobre suas causas e maneiras de resolução.
O FBI realizou estudos específicos e os causadores de tais incidentes
receberam a denominação de Atiradores Ativos e, para sua resolução, observou-se
a necessidade de complementação do Gerenciamento de Crises, dividindo-o em
dois sistemas: estático (que era utilizado até então) e dinâmico.
No Sistema Dinâmico de Gerenciamento de Crises, em casos de Atirador
Ativo, os primeiros policiais a chegarem ao local da crise, após constatarem o
Atirador Ativo, além de acionarem equipe especializada, devem atuar diretamente
com o objetivo de reduzir o número de vítimas potenciais, restringindo a capacidade
letal do atirador, não só contendo, isolando e iniciando atos de negociação.
Importante se faz frisar que o Sistema Estático de Gerenciamento de Crises
continua atual e eficiente, quando utilizado em ocorrências com reféns, suicidas,
explosivos ou marginais embarricados, mas não é o adequado para ocorrências com
Atiradores Ativos, em que o sistema dinâmico já comprovou sua eficácia.
O Brasil já conviveu com situações em que houve atuação criminosa com
características de Atirador Ativo, das quais, duas foram amplamente divulgadas. Em
1999, em um shopping, na cidade de São Paulo e em 2011, em uma escola do
bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro.
16
2.1 Crise
Desta definição pode-se depreender que a crise está ligada a algo que se
encontra fora da normalidade, é grave e gera momentos decisivos.
Pode haver crises nos vários segmentos existentes na sociedade, quando o
termo crise assume diferentes significados específicos, mas sempre dentro dos
parâmetros citados acima.
Em geral uma crise é reconhecida após a ocorrência de uma série de fatos
que desenvolvem um cenário generalizado, envolvendo grande quantidade de
pessoas e, possivelmente, mais de um segmento.
Como exemplo pode-se citar a crise econômica, caracterizada por escassez
em nível de produção, comercialização e consumo, seja de produtos ou serviços.
Isso traz consequências em todas as áreas da sociedade.
Outro tipo de crise, tratada com bastante atenção pelas grandes empresas e
instituições, é a crise de imagem, exemplo disso, é a Diretriz nº PM5-001/55/091, da
PMESP, elaborada para “Neutralizar ou reduzir ao máximo os efeitos danosos de
uma crise de imagem que afete a Instituição Policial Militar” e que traz a seguinte
conceituação:
1) Crise: fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos fatos, das idéias;
um momento perigoso e decisivo;
1
Diretriz que trata do Comitê de Administração de Crise de Imagem (CACI), na PMESP.
20
Porém, fatos pontuais também podem ser considerados crises, pois a sua
simples ocorrência movimenta diversos agentes, devido à probabilidade de grande
repercussão.
As crises sempre trazem apreensão aos envolvidos e curiosidade aos
demais, invariavelmente produzem discussões e diferentes opiniões.
O presente estudo destina-se a discutir um determinado tipo de crise, na
área da segurança pública, que ocorre em vários países, inclusive no Brasil.
Para Souza3:
Crise é um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da
Polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável.
[...]Toda crise apresenta as seguintes características:
2
Conceito de crise da Diretriz PM3-001/02/13, que trata das ocorrências que exigem intervenção do
GATE.
3
Wanderley Mascarenhas de Souza é Coronel da Reserva da PMESP e, em 1995, introduziu a
doutrina sobre Gerenciamento de Crises na Instituição e no Brasil.
21
1. Imprevisibilidade;
2. Compressão de tempo (urgência);
3. Ameaça de vida; e
4. Necessidade de:
a) Postura organizacional não rotineira;
b) Planejamento analítico especial e capacidade de implementação; e
c) Considerações legais especiais. (SOUZA,1995. pg. 11)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (Brasil, 1988)
4
As excludentes de ilicitude são: legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, estado de
necessidade e exercício regular de direito.
24
assaltante, que mantinha uma adolescente como refém, foi autorizado pela polícia a
fugir, levando a refém, inclusive recebeu um veículo para tal.
Na norma aplicada à PMESP e de acordo com o Cap PM Ricardo Orlandi
Folkis5, atual comandante do GATE, inexiste essa diferenciação, pois ao deixar de
aplicar a lei, ocorre uma potencialização dos efeitos da crise, com consequente
aumento da probabilidade de perda de vidas, portanto os dois fundamentos devem
ser obedecidos, mostrando-se complementares.
Permitir a fuga de um criminoso, agravado com a manutenção de um refém
sob seu poder, é ato contrário às duas primeiras ações a serem realizadas, após o
início de uma crise: conter e isolar.
Conter a crise significa:
[...] mantê-la em área controlada e impossibilitar que o(s) infrator(es) da lei
consiga(m) aumentar o número de reféns, tenha(m) acesso a mais
armamentos ou consiga(m) um posicionamento de vantagem em
relação aos policaisi militares interventores. (PMESP, 2013. pg. 04, grifo
nosso)
5
Entrevista constante do anexo D.
27
6
Plan, Do, Check, Act, ciclo que compreende planejamento, prática, verificação e correção, método
utilizado em Gestão pela Qualidade.
28
7
Policial treinado para disparos de precisão, que neutralizem qualquer possibilidade de ação por
parte do causador da crise. Também fornece informações ao Gerente da Crise, devido à posição
vantajosa em que permanece, preparado para o disparo.
8
Equipe de policiais que, de forma coesa, objetiva e incisiva, tem como tarefa adentrar o ponto crítico
objetivando neutralizar a ação do causador da crise.
30
optar pela invasão tática, mas se houver o tiro de comprometimento, este será
sempre seguido pela invasão.
Em situações que demandam o Sistema Estático, existe a possibilidade de
desenvolvimento de uma estrutura para que o Gerente da Crise possa decidir sobre
as alternativas apresentadas.
Por outro lado, o Sistema Dinâmico de Gerenciamento de Crises foi criado
em 1999, fruto de estudos realizados a partir de um fato ocorrido em 20 de abril
daquele ano, na escola Columbine, na cidade de Litleton, nos EUA, onde dois
alunos mataram 13 pessoas e se suicidaram, agindo com as características de
Atirador Ativo, que será mais bem detalhado no capítulo 3.
Esse sistema é o adequado para o gerenciamento de situações, onde o
objetivo do causador seja o de cometer homicídios, podendo até, ser meio para
diversas finalidades, como: resposta por ter sido vítima de bullying9, terrorismo por
motivação religiosa, ideológica ou de preconceito, ou mesmo cometimento de outros
crimes.
Nesses exemplos, a crise evolui rapidamente e pode mover-se, ampliando o
número de possíveis vítimas e uma resposta lenta ou inadequada propicia elevado
número de mortes, pois o causador necessita de poucos minutos para cometer
grande número de homicídios.
No Sistema Dinâmico, a resposta imediata, por parte dos primeiros policiais
a chegarem ao local, é o acionamento de equipe especializada e o deslocamento
diretamente ao ponto crítico, visando contato com o causador da crise, impedindo-o
de provocar mais mortes, conforme corroborado pelo 3º Sgt PM Élio Ramos da
Silva10.
Este contato direto com o causador, que no Sistema Estático é função
exclusiva de equipe tática, ocorre pelo grande número de mortes que o causador
pode provocar, em diminuto lapso de tempo.
Como, nesses casos, o tempo é fator primordial, alguns princípios táticos
deixam de ser obedecidos, como exemplo, não se faz a varredura de todos os
9
[...] conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente,
adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos,
intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, [...] é
atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à
exclusão, além de danos físicos, morais e materiais[...] (Fante, 2005. pg. 28).
10
Entrevista constante do Apêndice F.
31
3 Atirador Ativo
11
Special Weapons and Tactics, equipe policial especializada em Gerenciamento de Crises, presente
nas polícias municipais norte-americanas.
34
12
Ambas estudadas no capítulo 5.
13
Também estudada no capítulo 5.
35
12%
37%
17%
34%
Fonte: Blair e Martaindale. United States Active Shooter Events from 2000 to
2010:Training and Equipment Implications. 2013.
9% 4%
27%
60%
Fonte: Blair e Martaindale. United States Active Shooter Events from 2000 to
2010:Training and Equipment Implications. 2013.
Fonte: Blair e Martaindale. United States Active Shooter Events from 2000 to
2010:Training and Equipment Implications. 2013.
Fonte: Blair e Martaindale. United States Active Shooter Events from 2000 to
2010:Training and Equipment Implications. 2013.
Dos seis eventos em que o policial isolado resolveu a crise, foi baleado em
dois, ou seja, um terço das vezes, o que demonstraria extremo risco da ação
isolada.
Jon Osborn (Single officer response to active shooters, Tactical Edge,
spring 2010. pg. 38) defende a ação do policial isolado, baseado em que agir
rapidamente, sem aguardar a chegada de outros, minimizaria o número de vítimas e
faria com que o plano do atirador (provocar o maior número de mortes possível)
viesse a falhar.
Concorda com essa propositura, Ron Borsch, quando afirma: “Ação rápida e
agressiva, por um operacional solitário, é e tem sido a única resposta efetiva para
um matador ativo” (Active Shooter Response, Tactical Edge, spring, 2012. pg. 36).
40
Segundo Ron McCarthy (Procedures and Tactics for Patrol and SWAT in
response to Active Shooters, Tactical Edge, spring, 2000. pg. 12), todos os
Atiradores Ativos tem o objetivo de matar o maior número possível de pessoas,
grande parte pretende se suicidar, outros têm a intenção de confrontar com a polícia
e quase nenhum tem plano de fuga, pois não visam escapar.
McCarthy indica que a capacidade de os primeiros policais que chegam a
uma ocorrência de Atirador Ativo se organizarem e agirem rápida e energicamente
para impedir a atuação do atirador, é crucial para a resolução da crise.
Cita que a SWAT raramente conseguirá influenciar o resultado do evento,
pois leva, em média, 50 minutos para atuar, após ser acionada.
Afirma que, em todos os casos de Atirador Ativo em que a polícia realizou
contenção e tentou estabelecer diálogo, visando interromper a ação do atirador, este
matou cada pessoa que encontrou em seu caminho, enquanto a polícia mateve-se
do lado de fora.
Ressalta a questão moral envolvida, quando a polícia permite o aumento do
número de vítimas fatais, agindo de encontro ao maior objetivo dela: proteger e
salvar vidas.
Informa que, com o fim de atender corretamente às ocorrências geradas por
Atiradores Ativos, todas as forças policiais dos EUA passaram a prover treinamento
que enfatiza a ação imediata, pelos primeiros policiais que se apresentam nos locais
desses eventos.
Outro importante estudo sobre o tema, de autoria do então Comissário de
Polícia de Nova Iorque, Raymond W. Kelly (Kelly, 2012), analisou 281 eventos com
Atiradores Ativos, entre 1966 e 2010, com ênfase em 202, que resultaram em mortes
e/ou ferimentos de vítimas.
Kelly identificou que mulheres participaram ativamente em 4% dos ataques,
mas faz a ressalva de que o número pode ser menor, pois em alguns casos, houve
apenas relatos sobre a participação de mulheres.
Também verificou que, nos eventos ocorridos em escolas, a média de idade
do atirador variou de 15 a 19 anos e nos que ocorreram em outros lugares, de 35 a
44 anos.
Em 98% das crises estudadas, houve apenas um Atirador Ativo.
Quanto à relação anterior, entre atiradores e vítimas, a maior incidência deu-
se nas relações de trabalho (41%) e a menor na família (5%), conforme gráfico 5.
41
9% 5%
41%
22%
23%
Fonte: Kelly. Active Shooter: Recommendations and Analysis for Risk Mitigation.
2012.
Ao final do estudo, Kelly lista todos os eventos abrangidos pelo estudo, com
suas principais características, mas ressalta a possibilidade dos dados referentes
aos números de feridos serem passíveis de alteração, por ter encontrado diferenças
em dados apresentados por diferentes fontes, quando indica que as mais recentes
são as mais precisas, a respeito desse assunto.
Nicholas Minzghor (Enhanced active shooter training – taking it up a notch,
Tactical Edge, fall, 2007. pg. 45) preocupa-se com o fato de que, na maioria dos
departamentos de polícia, os policiais são submetidos a um curso de 8 horas, para
atuarem em ocorrências de Atiradores Ativos, mas não realizam treinamento de
manutenção e atualização, que entende ser necessário, no mínimo, uma vez ao ano,
contendo:
Atividades em equipe, em áreas confinadas e abertas;
Técnicas de arrombamento;
Diferentes cenários (terrorista, criminal, com mais de um atirador etc);
Inoculação de estresse, por meio de surpresa e reação, com utilização
de armas que com projéteis de tinta ou esferas plásticas.
42
14
O fuzil utilizado neste caso era de calibre 5,56.
43
A situação descrita como Atirador Ativo, apesar de ser mais conhecida por
ocorrer com maior frequência nos EUA, está presente em várias partes do mundo,
como pode ser observado na tabela 1.
15
Active Shooter: What you can do. IS- 907 (tradução nossa).
44
Finlândia 02 Eslováquia 01
India 02 Somália 01
Argentina 01 Suécia 01
Áustria 01 Tailândia 01
Bósnia 01 Iemen 01
Fonte: Kelly. Active Shooter: Recommendations and Analysis for Risk Mitigation.
2012.
Devido a esta abrangência mundial, serão citados alguns dos eventos mais
emblemáticos, seja pelo número de vítimas ou pela repercussão que tenham
atingido.
No dia 1º de setembro de 2004, de acordo com o jornal britânico The
Guardian, iniciou-se na cidade de Beslan, na Rússia, um evento com Atiradores
Ativos que gerou elevado número de mortes.
Na manhã daquele dia, 32 terroristas, oriundos da República da
Chechênia16, invadiram a Escola Secundária Número Um de Beslan, cidade do
Estado da Ossétia do Norte, na Rússia, onde estudavam alunos de 7 a 18 anos.
Logo em seguida houve confronto com a policia local, que resultou em 05
policiais e um terrorista mortos.
A polícia se retirou e iniciou a contenção e isolamento do perímetro,
enquanto ouviam-se disparos no interior da escola, que os policiais acreditavam ser
uma forma de intimidação por parte dos terroristas. Porém, mais tarde verificou-se
que, durante aquele período, os terroristas mataram 20 homens e jogaram seus
corpos ao redor de prédios da escola.
Reforços policiais chegaram, mas permaneceram isolando a área e tentando
dialogar com os terroristas, que levaram mais de 1.300 pessoas ao ginásio da
escola, fazendo-os reféns.
No interior do ginásio, os terroristas montaram dispositivos explosivos
improvisados, junto às entradas e em alguns reféns.
Assim permaneceu a situação até a manhã do dia seguinte, quando houve
um início de negociação, porém os terroristas não permitiam a entrada de água, nem
16
Uma das repúblicas da Federação Russa, situada no Cáucaso, que conta com grande parcela da
população tendente à independência. Que abriga vários grupos terroristas, responsáveis por atos em
diversas partes do globo.
45
de comida para os reféns, como também não concordaram que os corpos dos
mortos fossem recolhidos, enquanto ameaçavam matar 50 reféns para cada
terrorista que morresse por ação da polícia. Nesse ponto, já se encontravam no
local, efetivos de equipes especializadas, tanto da polícia, como do exército russos.
No período da tarde, os terroristas aceitaram libertar 26 mulheres e seus
filhos, logo após terem gravado um vídeo que mostrava as condições no interior do
ginásio, inclusive as armas de que dispunham e os dispositivos explosivos que
estavam montados. Este vídeo chegou à emissora de televisão russa NTV, sem o
conhecimento das autoridades, mas só foi exibido dias após o desfecho da crise.
No dia 3, as negociações aparentavam dar resultados, pois os terroristas
permitiram que equipes de socorristas entrassem na escola, para retirar os corpos
dos mortos no primeiro dia.
Porém, quando os socorristas chegaram aos corpos, os terroristas passaram
a atirar contra eles, enquanto acionaram explosivos no interior do ginásio. Atos que
levaram a polícia e o exército a iniciarem a invasão do local.
Houve intenso confronto, que se findou com 335 reféns mortos (dos quais
156 crianças) e 727 feridos. Além dos 5 policiais mortos no primeiro dia, mais 11
militares morreram no embate final.
Essa situação em si, é exemplo de crise que se iniciou dinâmica e evoluiu
para estática, quando os terroristas cessaram os homicídios e passaram a utilizar as
pessoas na condição de reféns.
Apesar da necessidade de se verificar a capacidade de resposta da polícia
de Beslan, a retirada da escola, após o primeiro confronto, permitiu aos terroristas
matarem 20 pessoas e se embarricarem com explosivos, no ginásio.
Outro exemplo de evento que foi alterado de dinâmico para estático, ocorreu
em 21 de setmbro de 2013, em Nairobi, capital do Quênia. O fato se deu no
shopping Westgate Mall, quando terroristas, armados de fuzis e portando explosivos,
o adentraram e passaram a efetuar disparos contra clientes e funcionários.
A polícia queniana e o exército responderam ao ataque, adentrando o
shopping e confrontando com os terroristas. Cerca de duas horas depois, as tropas
quenianas decidiram isolar a parte do shopping onde estavam os criminosos, que se
embarricaram, utilizando reféns como escudo, o que gerou um cerco de 4 dias.
Ao final, as autoridades quenianas não puderam afirmar quantas vítimas e
terroristas morreram, principalmente pelo desabamento de parte do shopping,
46
17
Rede norte-americana de noticias que cobre eventos em escala mundial.
18
Exame para constatação de filiação ou parentesco, que se funda na comparação de códigos
genéticos de indivíduos.
19
Sítio da rede mundial de computadores, destinado a indivíduos e grupos publicarem atualizações
sobre seus cotidianos.
47
20
Comitê ContraTerrorismo Australo-Neo-Zelandês, tradução nossa.
21
Publicação da ANCTC, voltada à orientação do público que frequenta locais com grande
aglomeração de pessoas, tradução nossa.
49
22
Vírus que provoca a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, popularmente conhecida como AIDS.
51
23
Linhas gerais curriculares, estabelecidas pela SENASP.
52
24
Entrevista constante do Apêndice A.
25
Entrevista constante do Apêndice E.
54
5 Proposta
5.1 Doutrina
Todo esse arcabouço é atual e de emprego eficiente, nas crises geradas por
situações estáticas, mas pode ser ampliado pelos estudos das melhores respostas
possíveis a situações dinâmicas.
Para que os assuntos: Atirador Ativo e Sistema Dinâmico de Gerenciamento
de Crises, venham a ser de conhecimento generalizado do público interno da
PMESP, necessário se faz que sejam inseridos, tanto no curso de especialização
realizado no GATE, como também nos cursos de formação onde já existe a matéria
Gerenciamento de Crises.
A fim de atingir o efetivo já formado, pode ser utilizada a Instrução
Continuada de Comando (ICC)26, apenas como notícia e transmissão da
conceituação teórica, permanecendo a necessidade de instrução prática específica.
Conforme verificado nas entrevistas presentes nos apêndices, em especial B
(Eric Beranger, Comandante Operacional do Recherche Assistance Intervention
Dissuason, da Polícia Nacional Francesa) e C (Edward Lewiss, Chefe de Equipe de
Assuntos Internos, do Departamento de Polícia de Miami), a fonte mais rica de
conhecimentos sobre tais assuntos, é a doutrina geral norte-americana, referencial
bibliográfico deste trabalho e principal subsídio do descrito subtítulo 5.3.
5.2 Normatização
26
Instrução Continuada de Comando, utilizada para atualização e manutenção de instruções, de
modo padronizado, para toda a PMESP.
57
27
Regula o atendimento de ocorrências com reféns, por parte das polícias civil e militar, no âmbito do
Estado de São Paulo.
28
Regula quais ocorrências exigem a intervenção do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), no
âmbito da PMESP.
58
29
Centro de Operações Policiais Militares, responsável pelo atendimento de chamadas no número
telefônico 190, despacho de guarnições policiais e rede de rádio.
60
2012), seria o Ponta, com quem concordamos, por encontrar maior mobilidade,
quando no deslocamento por corredores, como também, por ser quem dará a
direção a ser seguida pelo grupo.
Sempre que possível, pelo menos um dos integrantes da equipe deve se
utilizar de fuzil no calibre 5,56, submetralhadora .40 ou carabina .30, que são as
atuais armas de dotação da PMESP, capazes de propiciar disparos mais precisos,
trazendo menor risco às pessoas próximas.
Outro fator que corrobora o emprego dessas armas é o citado por Blair e
Martaindale (Blair e Martaindale, 2013), sobre a maioria dos confrontos se dar em
distâncias maiores que a do treinamento policial rotineiro, que é de 5 metros para os
policiais militares do Estado de São Paulo, conforme o previsto no Tiro Defensivo
para Preservação da Vida-Método Giraldi.30
Diferentemente da opinião de Osborn (Single officer response to active
shooters, Tactical Edge, spring 2010. pg. 38), entendemos que o policial não deve
agir de forma isolada, pois sozinho, não será capaz de cumprir as tarefas que se
impõe à Equipe de Intervenção, sem deixar de lado sua própria segurança, o que é
condenável, segundo o Cel PM Nilson Giraldi (Giraldi, M-19-PM, 2013. pg. 27) que
entende ser impossível ao policial proteger vidas, enquanto não está em condições
de preservar a sua própria.
Ao se deslocar por corredores, a equipe deve passar para a Formação T, em
que o Ponta e os Alas voltam-se para à frente (dividindo 180º de responsabilidade) e
o Retaguarda permanece de costas para eles (cobrindo os outros 180º), como pode
ser observado na Figura 2.
30
Método de tiro policial desenvolvido pelo Cel PM Nilson Giraldi, adotado pela PMESP.
61
Figura 2 – Formação T.
Logo que seja atingido o objetivo de fazer cessar a ação do Atirador Ativo, é
realizada varredura em toda a extensão da área, em busca de outros possíveis
atiradores e explosivos.
Anterior à chegada do GATE, nenhum outro policial deverá adentrar o local
de crise, além das Equipes de Intervenção e Socorro.
Todo o restante de efetivo deslocado para a ocorrência deverá realizar
contenção e isolamento, como também organizar áreas para o atendimento e
identificação de vítimas que saem do local de crise, Posto de Comando, imprensa,
viaturas de socorro e de outros órgãos que venham a ser empregados, nos mesmos
moldes do que já é realizado durante o gerenciamento de qualquer outra crise.
Para que haja possibilidade de sucesso, no emprego dessa sequência de
ações, se faz necessário amplo conhecimento dos procedimentos, por parte de todo
o efetivo policial.
Em uma crise gerada por Atirador Ativo, enquanto este não tem sua ação
detida, é comum haver pessoas correndo e gritando, feridos graves, mortos e,
portanto a organização da resposta policial é vital para sua eficiência, o que não
será possível sem a realização de instrução, antes da eclosão deste tipo de
ocorrência.
A presença de policiais, além das Equipes de Intervenção e Socorro e do
GATE, no interior do local de crise, principalmente em trajes civis e não identificados,
pode provocar dúvidas ou incidentes, com resultados negativos irreversíveis.
O responsável pela equipe do GATE no local é quem poderá considerar a
crise como resolvida, para que se possa determinar o encerramento da atuação da
PMESP, naquela situação.
65
Conclusão
Referências
Borsch, Ron. Active Shooter Response. Tactical Edge, spring, p. 36, 2012.
_____ Lei 8.429 (1992). Define os atos que constituem improbidade administrativa.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm>. Acesso em: 17
jul. 2014.
br¶ms=itemID%3D%7BE56556EE%2DF7C4%2D4693%2D8DEA%2D49DCBB
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72
APÊNDICE A – Entrevista
APÊNDICE B – Entrevista
31
Traduzida pelo 1º Ten PM Celso Ricardo, intérprete de francês da PMESP.
74
APÊNDICE C – Entrevista
32
Tradução nossa.
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APÊNDICE D – Entrevista
APÊNDICE E – Entrevista
APÊNDICE F – Entrevista
ETAPAS PROCEDIMENTOS
Conhecimento 1. Conhecimento da ocorrência (Vide
POP Nº 1.01.01).
Deslocamento 2. Deslocamento para o local da
ocorrência (Vide POP Nº 1.01.02).
Chegada ao local 3. Chegada ao local da ocorrência (Vide
POP Nº 1.01.03)
Adoção de medidas específicas 4. Atuação no local
Condução 5. Condução da(s) parte(s) (Vide POP
Nº 1.01.07)
Apresentação da ocorrência 6. Apresentação da ocorrência na
Repartição Pública competente (Vide
POP Nº 1.01.08).
Encerramento 7. Encerramento da ocorrência (Vide
POP Nº 1.01.09).
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fim de detê-lo, somente até um ponto em que não deixe o local à mercê de um outro
possível atirador.
11. Após garantir que o Atirador Ativo não tenha mais condições de fazer novas
vítimas, iniciar a desocupação do local, de forma controlada e ordenada.
12. Quando a equipe do GATE chegar ao local, transmitir-lhe a atuação no local.
RESULTADOS ESPERADOS
1. Que toda a ação seja organizada sob critérios objetivos e técnicos e não somente
pautada pelo temor das outras pessoas envolvidas.
2. Que o Atirador Ativo não faça novas vítimas após a chegada da Polícia Militar no
local.
2. Que se neutralize a capacidade letal do Atirador Ativo.
3. Que feridos e outras possíveis vítimas sejam retiradas do local em segurança.
4. Que a ocorrência seja transmitida, de modo técnico e ordenado, ao GATE.
AÇÕES CORRETIVAS
1. Sempre que possível, além de adentrar o local, mantê-lo isolado na maior
distância possível, de acordo com efetivo disponível.
2. Todo o deslocamento, em busca de contato com o Atirador Ativo, deve ser
realizado de forma tática e disciplinada, mantendo a segurança da equipe em todas
as direções, a fim de preservar a integridade física dos policiais militares e de outras
pessoas no local.
3. Quando for possível, as pessoas retiradas do local, não devem ser liberadas,
mas sim direcionadas a uma zona de concentração, previamente determinada, para
revista e qualificação.
4. O oficial responsável pela equipe do GATE é a autoridade técnica para definir o
momento em que o local encontra-se em segurança, para retorno das atividades
normais.
5. Tratando-se de ameaça falsa, orientar para que a pessoa/local ameaçado retorne
à rotina normal, sugerir ao responsável que compareça ao Distrito Policial da área,
para registro de Boletim de Ocorrência.
POSSIBILIDADES DE ERRO
1. Não contatar responsável pelo local, a fim de obter dados suficientes, que
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ESCLARECIMENTOS:
Objetivo do contato: constatar o grau de veracidade da ameaça, se real ou falsa.
Esta é uma conclusão de qualquer policial militar e será sempre subjetiva, pautada
pelas informações que colher. Porém, dependente do conhecimento do policial
militar sobre o significado de Atirador Ativo.
Atirador Ativo: Indivíduo armado e efetivamente engajado em matar, ou tentar
matar, o maior número possível de pessoas. Em geral, provoca grande número de
mortes em curto espaço de tempo, o que determina resposta policial dinâmica.
Formação Diamante: Equipe com, no mínimo, 4 integrantes (Ponta, Ala Direita, Ala
Esquerda e Retaguarda), posicionados no formato de um losango, mantendo sua
atenção voltada para o exterior, o que propicia visualização e segurança em todas
as direções, para utilização pelas equipes de Intervenção e Socorro.
Formação T: Variação da Formação Diamante, em que o Ponta e os Alas voltam-se
para a frente (dividindo 180º de responsabilidade) e o Retaguarda permanece de
costas para eles (cobrindo os outros 180º), para utilização pelas equipes de
Intervenção e Socorro, quando em deslocamento por corredores.
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