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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA


SOCIAL
POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA
MILITAR – CFAPM
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS – CAS 2019.1

Polícia Interativa

Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos


(3ª Edição – agosto de 2019)

Natal/RN
2019

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 1


Janildo da Silva Arante1

Polícia Comunitária, Interativa ou de


Proximidade

Conteúdo apresentado ao CFAPM (APM–CFAPM–UERN)


para a disciplina de Polícia Interativa (Polícia Comunitária e
Policiamento Orientado na Resolução de Problemas - 20
horas/aula) junto ao Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos –
CAS 2019.2 como material complementar e/ou embasador às
aulas expositivas dialogadas.

Natal/RN
2019

1Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em
Polícia Comunitária (UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou,
junto ao CFAPM, além dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e Gestão em
Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária (CAS), Fundamentos da Gestão Pública Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz),
Sistemas de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS -
CFAPM).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 2
Parte I - Policiamento Orientado para o Problema
Objetivo: Capacitar os discentes do CAS a que possam potencializar suas tarefas enquanto operadores do
Sistema de Segurança Pública, as quais devem ser focadas na identificação das causas dos problemas de segurança
vividos pela comunidade, bem como em sua decorrente solução, com o apoio de lideranças comunitárias.
Ementa:
1. Conceito e componentes de situações-problema;
2. Diagnóstico de situações problemáticas;
3. Etapas da solução de problemas;
4. Identificação de alternativas;
5. Avaliação de alternativas;
6. Discussão, planejamento e encaminhamento participativo de soluções;
7. Análise de etapas e forma de comunicação;
8. Resposta
9. Avaliação de resultados;
10. Ferramentas de auxílio à tomada de decisão.
Metodologia: Aulas expositivas, práticas e simulações.
Contextualização e Objetivos:
Este curso possibilitará a você, que é operador do sistema de segurança pública, utilizar o método IARA:
➢ Identificar os problemas vividos na sua comunidade;
➢ Analisar as suas causas principais;
➢ Responder com ações criativas; e
➢ Avaliar os seus impactos com o apoio da comunidade.
Além de estudar o conteúdo do curso e realizar os exercícios propostos, verifique as atividades propostas no
ambiente de aprendizagem.
Este curso criará condições para que você possa:
Ampliar conhecimentos para:
➢ Conceituar policiamento orientado para o problema;
➢ Descrever as eras da polícia moderna;
➢ Analisar as estratégias do policiamento moderno;
➢ Descrever o método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação);
➢ Compreender o gerenciamento da rotina de trabalho;
➢ Conceituar a teoria do crime de oportunidades; e
➢ Identificar o processo do “triângulo do crime”.
Desenvolver e exercitar habilidades para:
➢ Utilizar o método IARA para resolver os problemas de segurança pública;
➢ Elaborar o diagrama causa-efeito e plano de ação (5w2h)
➢ Aplicar o “triângulo do crime” na análise do problema;
➢ Utilizar a técnica de prevenção do crime situacional.

Fortalecer atitudes para:


➢ Reconhecer a importância de atuar em grupos de trabalhos orientados para o problema;
➢ Valorizar as opiniões diferentes e convergi-las para solucionar o problema;
➢ Desenvolver atitudes proativas para resolver os problemas em suas causas;e
➢ Reconhecer a importância de atuar como facilitador (protagonista) do processo orientado para o
problema.
Referências:
Ao final da parte I.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 3


Introdução
Texto extraído do livro A Síndrome da Rainha Vermelha
“Vamos imaginar que você esteja passeando ao longo de um rio e que, subitamente, perceba que uma criança está sendo
arrastada pela correnteza. Se você for uma pessoa minimamente solidária, por certo se jogará na água para tentar resgatar a
criança. Suponhamos que você tenha sorte e que seu gesto seja resgatar a criança. Assim, como bom nadador, você consegue trazer
a criança sã e salva em seus braços e tem razões de sobra para comemorar seu feito. Vamos imaginar agora que toda a vez que
você passe por aquele lugar haja uma criança sendo levada pela correnteza, fazendo com que você seja, sempre, obrigado a repetir
a mesma façanha. Certamente, as chances de salvar todas as crianças seriam menores e, ao mesmo tempo, o risco de você ser
tragado pelas águas aumentaria. Mas, se isso ocorresse, pareceria evidente que algo estava acontecendo com essas crianças em um
ponto anterior da correnteza. Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada, pareceria-lhe não apenas o óbvio,
mas urgente, descobrir o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então, você provavelmente iria
percorrer as margens do rio em direção à sua nascente para tentar descobrir a causa de tão chocante e misteriosa sucessão de
tragédias.”
Imagine que o papel desempenhado pelas polícias modernas é superar a “lógica” de agir reativamente, que
obriga os policiais a “nadar” o tempo todo, para tentar salvar “crianças que já estão afogadas” e reflita sobre as questões
a seguir:
1. Essa metáfora aplica-se no serviço de segurança pública?
2. Geralmente, você atua no serviço de segurança pública de forma reativa ou age de maneira proativa aos
problemas diários e repetitivos?
3. É hábito de sua organização pensar ou planejar ações para subir o curso do rio para “salvar as crianças”? O
que impede que isso ocorra?
4. Que tipo de ação dá mais visibilidade na mídia e reconhecimento (prêmios ou medalhas) na sua comunidade
e organização, tentar “salvar as crianças afogadas” ou “identificar o que gera os afogamentos”?
A partir da década de 1960, as cobranças acerca da efetividade do modelo profissional de policiamento, calcado
em uma perspectiva reativa de patrulhamento aleatório e limitada a aplicação da lei, nos Estados Unidos da América,
ensejaram diversas avaliações do desempenho policial (GOLDSTEIN, 1990).
As pesquisas realizadas nesse período, segundo Brodeur (2002, p. 42), fizeram emergir, em uma primeira análise, a
constatação de que o trabalho policial abrange não só o crime, mas comportamentos que não necessariamente envolvem
a esfera penal sendo a aplicação da lei apenas um dos métodos possíveis de ser empregado pela polícia e não o único.
Para o autor, as soluções podem ser tão simples como chamar um departamento de saneamento ou de obras para
relatar um problema de lixo ou de iluminação pública, como desenvolver programas de educação extensiva e
treinamento profissional para jovens, a fim de evitar a violência juvenil no bairro (BRODEUR, 2002).
No mesmo sentido, Oliveira (2006), destaca que um estudo realizado no Kansas entre 1972 e 1973, relativo à eficácia
das patrulhas preventivas, demonstrou que o aumento ou redução das patrulhas de rotina não exerceu incidência alguma
sobre a criminalidade ou mesmo no sentimento de segurança.
Finalmente, destaca-se a verificação de um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade, além de
agressividade nas medidas repressivas e discrepâncias judiciais como fatos geradores de desigualdade:

O relatório constatou haver uma hostilidade profunda entre a comunidade dos guetos e a polícia, fato gerador de
revoltas sociais, porém não o único. Outros fatores apontados pela comissão era o sistema de justiça criminal que
apresentava, em relação aos pobres, grandes discrepâncias nas sentenças, equipamentos e serviços correcionais
antiquados, entre outras desigualdades. A comissão relatou, ainda, comentários negativos acerca das práticas
policiais tendo como destaque o “patrulhamento preventivo agressivo”. (MARCINEIRO, 2009, p. 46, grifo do
autor)

Diante dessas constatações, os pesquisadores bem como os gestores de polícia, concluíram não pela extinção,
mas pela necessidade do aperfeiçoamento do modelo profissional de polícia, dando início ao modelo de polícia de
proximidade e, subsequentemente, à Teoria da resolução de problemas com a comunidade (HIPÓLITO; TASCA,
2012).
A denominada era da resolução de problemas com a comunidade evidencia-se, especialmente, em 1970, com a
realização de experiências de reestruturação dos departamentos de polícia com foco no relacionamento entre polícia e
comunidade, havendo descentralização do serviço policial em nível de comunidade e um sistema cooperativo com a
finalidade de buscar uma solução preventiva para os problemas locais. (GOLDSTEIN, 1990).

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Para Rolim (2009), as propostas em favor da polícia comunitária e do policiamento orientado para a solução dos
problemas partem do pressuposto de que “é preciso procurar o que está acontecendo antes daquele ponto da
correnteza”2.
Esse modelo de polícia enfatiza a necessidade de superar o papel desempenhado pelas polícias no mundo, por
meio do qual os policiais se obrigam a nadar o tempo todo com resultados limitados uma vez que quando são avisados
é sinal de que as crianças já estão afogadas (ROLIM, 2009).
Por fim, importa salientar que a polícia comunitária e o policiamento orientado ao problema embora não
constituam sinônimos, também não se excluem, são, em verdade, complementares um ao outro.
Para Oliveira (2006) o policiamento orientado ao problema trata-se de uma polícia de expertise, na linha da
polícia comunitária, mas dotada de uma ação mais proativa e preventiva na qual a comunidade é convidada a participar.
Com efeito, destaca-se que o policiamento orientado ao problema é uma estratégia moderna que reúne os
preceitos de aproximação da polícia comunitária com o desenvolvimento de uma metodologia pr ática, na qual a
identificação, análise, resolução e avaliação dos resultados são etapas a serem rigorosamente seguidas para que se
alcance uma resposta efetiva ao problema.
Disso se depreende que o policiamento orientado ao problema demanda a implementação de uma estratégia
voltada ao melhoramento do policiamento. Para isso, elege como foco principal a ênfase em fatores preventivos que
atuem sobre a causa dos problemas de forma a saná-los, valendo-se, ainda, de parcerias e proximidade com a
comunidade. Além disso, quando necessário, emprega medidas repressivas para fazer cessar a contingência imediata.
Para implementar essa estratégia John e William Spelman, em 1987, conceberam um modelo com uma
orientação mais específica, aplicado no departamento de polícia de Newport News, com supervisão de Hermann
Goldstein, ao qual se deu o nome de Model Scanning, Analysis, Response e Assentment (SARA) e deveria ser seguido
pela polícia, mediante treinamento de oficiais, para consecução do policiamento orientado ao problema
(GOLDSTEIN, 1990).
Segundo os autores, no Brasil, esse modelo foi denominado I.A.R.A em alusão as letras iniciais de cada uma das
etapas (Identificação, Análise, Resposta e Avaliação), sendo essa metodologia, que passa a ser discriminada, adotada e
disseminada pela Secretaria de Nacional de Segurança Pública.
A primeira etapa desse método consiste na identificação do problema. Contudo, para que se considere a
existência de um problema, Oliveira (2006) elenca a necessidade de análise de dois fatores: existência de incidentes
repetidos e relacionados. Esses incidentes devem ter, pelo menos, um ponto em comum; E, por último, esses incidentes
devem ser uma preocupação comum tanto para a comunidade, quanto para a polícia.
Goldstein (1990, p. 61, tradução nossa) utilizava a seguinte definição para problema:

[...] É um grupo de duas ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos
(procedimentos, localização, pessoas e tempo - PADRÃO), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para
a polícia e, principalmente, para a comunidade”; e acomete, em pouco tempo, grande número de pessoas. [...].

Nesse sentido, destacam-se alguns elementos que tornam esses incidentes comuns, ligando-os, tais como tipo da
infração praticada (furto, lesão, roubo), procedimento modus operandi,ou seja, consulta sobre a operacionalização dos
incidentes, comportamentos, local, contexto físico e social, incidentes que por algum motivo ocorrem sempre no mesmo
local, tempo, horários e dias da semana, pessoas, ou seja, os atores envolvidos no problema, que incluem vítimas,
infratores, e terceiros, e, finalmente, evento, ou seja, incidentes que ocorrem devido a eventos (show, festa, feira), ou em
determinado período do mês, do dia ou da semana (GOLDSTEIN, 1990).
Outro ponto de relevância, nessa etapa, trata-se dos atores a quem se destina a tarefa de identificar os problemas,
ponto em que se reveste de relevância o termo disseminado pela polícia comunitária, qual seja, parceria, já que essa
tarefa não está adstrita a um segmento único de tal forma que Hipólito e Tasca (2012) atribuem a três grandes grupos
essa tarefa (comunidade, gestores de polícia e policiais de ponta).
Já quanto às formas de identificação desses problemas, aponta-se, além de reuniões junto a conselhos
comunitários, para a possibilidade de realização de entrevista, aplicação de questionários, urnas, conversas informais,
queixas em rádios comunitárias, registros de ocorrências. Esse processo é importante para que a identificação dos
problemas não se resuma a visão parcial e simplificada da polícia que possui conhecimentos restritos acerca dos
problemas que afetam a comunidade (GOLDSTEIN, 1990).

2Com a expressão mencionada o autor referencia um caso em que, hipoteticamente, todos os dias crianças caíam na água e eram levadas pela
correnteza, forçando quem passava pelo local a continuamente arriscar-se para salvá-las, parecendo óbvio e urgente que, tão logo a repetição das
ocorrências fosse comprovada, deveria se desvendar o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. (ROLIM, 2009).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 5
Da mesma forma, pode-se utilizar, tanto na fase da identificação quanto na fase da análise dos problemas, de
uma técnica denominada brainstorming, ou seja, tempestade de ideias, a qual visa reunir, de forma preliminar, as
diversas ideias de variados segmentos da sociedade para a identificação e solução dos problemas. (OLIVEIRA, 2006).
Por fim, Hipólito e Tasca (2012) sublinham que, para uma ação eficaz e focada, apresenta-se como relevante a
priorização dos problemas identificados, elegendo, dentre esses, aqueles em que as ações conjugadas serão empregadas
em um primeiro momento, propondo-se, para esse fim, a utilização da matriz Gravidade x Urgência x Tendência
(GUT) e a qual elencará os problemas conforme sua gravidade (impacto do problema), urgência (tempo disponível e
necessário para resolução) e tendência (potencial de crescimento do problema).
Uma vez identificado e priorizado o problema, passa-se à etapa de análise, que consiste em entender, conhecer o
problema de forma que se possa descobrir a sua causa, sendo esta etapa primordial para a eficácia do método,
consistindo, nas palavras de Goldstein (1990), no centro do processo de resolução de problemas.
Para tanto, Oliveira (2006) propõe a utilização de um modelo de análise do problema baseado em
questionamentos referentes a três categorias (atores envolvidos no problema, incidentes que o compõem e ações
empreendidas pela comunidade e demais órgãos), sugerindo o uso de uma tabela para formatação dessa análise de forma
a detalhar os componentes do problema.
Destaca-se, ainda, que, segundo Goldstein (1990), tais informações podem ser colhidas por meio de trabalhos
acadêmicos (artigos científicos, monografias, dissertações), registros policiais, policiais de ponta, vítimas, comunidades,
infratores e outras agências governamentais e não governamentais.
Finalmente, Hipólito e Tasca (2012) sugerem o uso do diagrama de Ishikawa ou diagrama espinha de peixe
(figura 4 – seção 3) para auxiliar na mensuração das causas e efeitos, caracterizando o problema com suas causas prin-
cipais e secundárias.
Na terceira etapa do método I.A.R.A, busca-se o estabelecimento da solução mais adequada ao problema para
posterior implementação, trata-se da fase das respostas. Nessa fase, Oliveira (2006) destaca a importância de
dimensionar objetivos, os quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as causas ou,
ainda, a redução de sua amplitude ou gravidade.
Para cumprir essa meta, Oliveira (2006) ressalta a necessidade de buscar respostas mais amplas do que, aquelas
rotineiramente aplicadas, que, em regra, voltam-se apenas a reprimir um determinado fato delituoso ou prender um
infrator ou, ainda, apenas repassar o problema a outra agência governamental, sem esquecer, contudo, que as respostas
devem ser pautadas por ações adequadas, preferencialmente, de baixo custo e máximo benefício, sem esquecer de
dimensionar objetivos estratégicos, os quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as
causas ou, ainda, a redução de sua amplitude ou gravidade.
Para tanto, destacam-se várias alternativas que podem ser exploradas, tais como: ações voltadas à redução de
oportunidades, alteração na prestação de serviços governamentais, fornecimento de informações confiáveis da polícia à
comunidade (procedimentos de segurança, informação, etc), desenvolvimento de novas habilidades e competências dos
policiais, novas formas de autoridade, mobilização da comunidade etc, evitando o uso exclusivo de técnicas policiais
tradicionais (HIPÓLITO; TASCA).
No mesmo sentido, Bondaruk (2011) destaca as estratégias de prevenção ao crime através do desenho urbano,
envolvendo técnicas como a melhoria da vigilância natural, controle de acesso que permita visualização do ambiente,
bem como reforço territorial, marcado pela presença e vigilância constante de pessoas e habitantes de determinado local.
Para tanto, existem algumas técnicas aptas a facilitar o desenvolvimento dessas respostas, tais como o Triângulo
de Análise de Problemas (TAP), que levam em conta a vítima, o infrator e o ambiente para, com base em ações criativas
e de baixo custo, oferecer respostas relacionadas às causas descobertas na fase de análise dos problemas sem esquecer a
viabilidade econômica da implementação dessas soluções (BONDARUK, 2011).
Essas ideias podem, ainda, ser explanadas por meio de uma ferramenta denominada 5W2H, por meio da qual são
propostas cinco perguntas What? Why? Who? Where? When?, How? How much? (O que será feito? Por que? Quem
vai fazer? Quando será feito? Como será feito? e Quanto custará?) para esclarecer a estratégia adotada na solução de um
problema (CAMARGO, 2014).
Finalmente, Oliveira (2006) destaca que após aplicada a estratégia de solução dos problemas, passa-se à
avaliação do emprego dessa técnica visando auferir o efeito que a estratégia teve sobre a resolução do problema.
A importância dessa fase revela-se em especial por dois aspectos. Primeiro, possibilita o acompanhamento social
do desempenho da polícia e, segundo, permite que a própria instituição policial aprenda sobre a efetividade das
estratégias desenvolvidas para determinados problemas aprimorando-as ou descartando-as (HIPÓLITO; TASCA,
2012).
Para tal análise, segundo os autores, se faz necessária a clara compreensão do pro blema, a concordância sobre
quais interesses serão contemplados por meio da resolução do problema, a definição transparente do que se espera da
polícia em relação ao problema, a determinação acerca dos efeitos esperados de curto ou longo prazo, a certeza de que a
resposta implementada é legal e equânime e, ainda, o padrão de desempenho desejado em relação aos objetivos
estabelecidos.
Diante do exposto, verifica-se que essa metodologia, destaca-se, não só pelo fato de possibilitar seu emprego na
busca para a solução de vários problemas comuns ao cotidiano policial, sejam eles de desordem, crime ou contravenção

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ou medo do crime, mas, ainda, por possibilitar o uso de técnicas e soluções diversas das tradicionalmente utilizadas pelas
instituições policiais. Visa, assim como a gestão e elaboração de projetos, que será doravante analisada, propiciar
mecanismos para que a corporação atinja a excelência no serviço policial prestado melhorando os índices de
desempenho de cada unidade operacional.

1. Conceito e componentes de situações-problema.


O policiamento orientado para o problema é uma estratégia de policiamento moderno, que direciona as
atividades policiais para identificar os problemas policiais repetitivos, analisar suas causas, resolvê-los e avaliar os
resultados alcançados.
Policiamento Orientado para o Problema – POP
O policiamento para resolução de problemas é também chamado de Policiamento Orientado para o Problema –
POP. Seu objetivo inicial é melhorar a antiga estratégia de policiamento profissional, acrescentando reflexão e
prevenção.
O POP, como geralmente é chamado na literatura internacional, pressupõe que os crimes podem ser causados
por problemas específicos e, talvez, contínuos na comunidade, tais como: relacionamento frustrante, grupo de
desordeiros, narcotráfico, dentre outras causas. Para esse tipo de policiamento, o crime pode ser controlado e até mesmo
evitado por ações diferentes das meras prisões de determinados delinquentes. A polícia pode, por exemplo, resolver
problemas ao simplesmente restaurar a ordem em um local. Essa estratégia determina o aumento das opções da polícia
para reagir contra o crime (muito além da patrulha, investigação e detenções).
Características
- As chamadas repetidas geram uma forma de agir diferenciada. Entre o repertório de ações preventivas incluem
alertar bares quanto ao excesso de ruído, incentivar os comerciantes a cumprirem regras de trânsito, proibir a
permanência de menores em determinados locais, etc.
- A comunidade é encorajada a lidar com problemas específicos. Pode, por exemplo, providenciar iluminação em
determinados locais, limpar praças e outros locais, acompanhar velhos e outras pessoas vulneráveis. De igual modo,
outras instituições governamentais e não-governamentais podem ser incentivadas a lidar com situações que levem aos
delitos.
- Essa estratégia de policiamento implica mudanças estruturais da polícia, aumentando a capacidade de decisão,
de resolução de problemas e a iniciativa do policial.
- O POP desafia a polícia a lidar com a desordem e situações que causem medo, visando um maior controle do
crime. Os meios utilizados são diferentes dos anteriores, incluem um diagnóstico das causas do crime, a mobilização da
comunidade e de instituições governamentais e não-governamentais. Eles encorajam uma descentralização geográfica e
a existência de policiais generalistas e capacitados. Mais à frente você verá o método I.A.R.A. utilizado neste tipo de
policiamento.
2. Diagnóstico de situações problemáticas.
A ênfase dada à resolução de problemas é uma estratégia de policiamento eficaz que deriva do trabalho pioneiro
sobre o Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas realizado por Herman Goldstein, em finais da década
de 70, e das experiências realizadas no início da década de 80 em Madison, no Wisconsin; no Condado de Baltimore,
no Maryland; e em Newport News, na Virgínia. Em Newport News, os agentes policiais, ao trabalharem em conjunto
com estudiosos e com membros da comunidade, demonstraram que os problemas decorrentes do crime e da desordem
podiam ser significativamente reduzidos através da implementação de respostas concebidas para o efeito e diretamente
ligadas às conclusões, detalhadas, resultantes das análises efetuadas aos problemas. A polícia e os membros da
comunidade, em Newport News, conseguiram reduzir em 34% os assaltos a residências num bairro de blocos de
apartamentos que serviu de alvo à sua estratégia, reduziram em 39% os roubos relacionados com a prostituição num
distrito-alvo, e reduziram em mais de 50% os furtos no interior de viaturas em duas áreas da baixa da cidade.1 A partir
daqueles esforços desenvolvidos e de outros trabalhos prévios sobre o policiamento orientado para a resolução de
problemas, os defensores do policiamento comunitário reconheceram a eficácia da abordagem orientada para a
resolução de problemas e incorporaram-na na filosofia do policiamento comunitário.
Desde meados da década de 80, as comunidades de todos os tamanhos e as agências policiais de todos os tipos –
incluindo departamentos de xerifes, polícias estatais, patrulhas das auto-estradas e polícias de trânsito – começaram a
usar, com sucesso, aquele tipo de abordagem virada para a resolução de problemas, para lidar com uma infindável
diversidade de problemas. A partir daqueles esforços, tornou-se claro que a Resolução de Problemas é de importância
determinante para o sucesso dos esforços no âmbito do policiamento comunitário. As iniciativas às quais falta uma
componente analítica, por norma, melhoram as relações polícia/comunidade mas, frequentemente, têm pouco impacto
nos problemas decorrentes dos crimes e das desordens específicos.
Problemas Recorrentes
A adoção de uma abordagem solucionadora de problemas, para tratar de um problema criminal específico, obriga
a um estudo abrangente à natureza desse problema em particular. Como parte daquele estudo, muitas equipas de
resolução de problemas, constituídas por elementos da polícia e da comunidade, acabaram por chegar à conclusão que

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era útil a análise aos padrões subjacentes aos pedidos de intervenção recorrentes, relacionados com vítimas, locais, e
ofensores específicos. A pesquisa demonstrou que um número relativamente pequeno de locais e de ofensores estava
envolvido numa quantidade relativamente grande de crimes. De forma similar, um pequeno número de vítimas estava
relacionado a uma quantidade relativamente grande de vitimizações.
Por exemplo, nalgumas áreas, os investigadores descobriram que mais de 60% das chamadas de serviço foram
realizadas a partir de, somente, 10% dos locais.2 De acordo com um estudo, aproximadamente 50% das vítimas de
crimes, na Inglaterra, sofreram repetições de vitimização e 4% das vítimas, as “cronicamente vitimizadas”, contaram
para 44% de todos os crimes.3 Uma grande cidade do sudoeste dos EUA, também, descobriu que as vítimas repetidas –
neste caso estabelecimentos comerciais – contaram para um número desproporcionado de assaltos na jurisdição. Nesta
cidade, 8% dos negócios foram assaltados duas ou mais vezes no decurso de um ano e contaram para, pelo menos, 22%
de todos os assaltos a estabelecimentos. Em Gainesville, na Florida, este padrão repetiu-se. Recuando cinco anos, a
polícia descobriu que 45 das 47 lojas de conveniência da cidade tinham sido vítimas de roubo, pelo menos uma vez
entre 1981 e 1986, mas que metade delas haviam sido roubadas cinco ou mais vezes e que várias haviam sido roubadas,
pelo menos, 10 vezes3.

3. Etapas da solução de problemas (resumo).


Método Iara (Igor Araújo Barros de Morais4 e Thiago Augusto Vieira5)
Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no Posp 6, a polícia deve utilizar a seguinte
metodologia: identificar e especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder
baseada nos dados analisados para eliminar as causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo
(CLARKE; ECK, 2013).
As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da
sigla inglesa SARA, criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas
correspondentes no inglês: scanning, analysis, response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos
EUA, modelo de solução de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem.
Como resultado desse projeto surgiu o método SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.

Etapa Português Inglês


1ª FASE IDENTIFICAÇÃO    SCANNING
2ª FASE ANÁLISE     ANALYSIS
3ª FASE RESPOSTA  RESPONSE
 4ª FASE AVALIAÇÃO ASSESSMENT
                   -                                       

Figura 1 – Método IARA


É importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das
fases. O método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na
atividade-fim, e não compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz
outros métodos, por isso, neste texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito
utilizado na administração de empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento
orientado para o problema (POP).Como primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar
por um padrão ou ocorrência persistente e repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?

3 Clarke, Roland V., e John E. Eck. Crime Analysis for Problem Solvers in 60 Small Steps. Washington, D.C.: U.S. Department of Justice, Office of
Community Oriented Policing Services, 2005.
4 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade
Barddal. Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.igor4444@gmail.com
5 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí.
Especialista em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
6 Policiamento Orientado para a Solução de Problemas
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 8
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário podeser definido como“um grupo de duas
ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos,localização,
pessoas e tempo), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a
comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que
cause alarme, dano ameaça ou medo,ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade” - Fonte: SENASP.

Figura 2 – Fases do Método IARA

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do POSP, um problema
corresponde a um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além
disso, um problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto
polícia como comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA,
2010). É importante também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade
ao serviço policial significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e
considerando as díspares peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,

Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o
‘achismo’, ou seja, deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A
experiência pessoal de cada um que participa na identificação do problema é importante, porém, para se
evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco
importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a experiência pessoal através de
dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).

No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição
primordial à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve
ser desenvolvida e aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados
de instituições de segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer
informações bastante valiosas à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais
avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos
registros de ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de
criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da
comunidade devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições
públicas e privadas. Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é
necessário considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável
de ocorrências policiais. Segundo dados trazidos por Rolim (2009, p. 139) de pesquisa realizada no Estados Unidos

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 9


cerca de 10% das vítimas estão envolvidas em 40% dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos
crimes; e 10% dos lugares formam o ambiente para cerca de 60% das ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto, de acordo
com o qual, geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados
(80%) (TASCA, 2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos
problemas para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO,
TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam
causas em fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e
processos psicológicos ou sociais. Essas constituem teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas
incertas que estão fora do alcance da polícia (CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no
trabalho diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos
eventos criminais, incluindo tentações e oportunidades e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o
triangulo do crime), originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus
Felson, diz que o crime ocorre quando um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de
infrator) no mesmo tempo e lugar, sem a presença de um guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de
problema representada por infrator, alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).

TEORIA DO CRIME 7
Triangulo do crime –Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em
empresários e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que
predominava na época. Com o tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores
estavam certos em sua aposta, pois logo o empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da
cidade de São Paulo. Mais de cinquenta anos se passaram e este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças
conceituais ao longo de todos estes anos, se transformando nos grandes locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que
buscam, em sua grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde
sua entrada e que ali possam resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira
de Shopping Centers –temos hoje no Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem
mensalmente mais de 400 milhões de clientes passando pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo
muito bem cuidados. Essa é a percepção dos clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua
optaram em locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de
forma diferenciada, discreta e segura. Este era o cenário …
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas
cujo foco principal são produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou
completamente o cenário anterior. As ações criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns
empreendimentos, deixando algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um
criminoso como alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros
elementos em prol de um objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto
deixamos de considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta
analisar os dados estatísticos dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das
7 André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I. Gestor de Segurança no segmento varejo , Graduado e Pós-Graduado em Segurança
Privada e Ordem Públicas, Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos, Especialista em Administração de
Segurança, Certificado Profesional em Seguridad Internacional-C.P.S.I, Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R e Master
Business In Risk-MBR
Certificado Internacional em Segurança Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I. AGRADECIMENTOS: Nelson Junior:
Gerente de segurança – São Paulo, Marcelo Cabral: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Tiago Miranda: Gestor de Segurança – Rio de
Janeiro, Djalma Santos: Coordenador de Segurança – Rio de Janeiro e Ubiratan Gomes: Coordenador de Segurança – Rio Grande
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 10
ações nos diferentes períodos da história recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center,
observamos que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as
seguintes modalidades:
 Assalto a agências bancárias;
 Sequestro e sequestro relâmpago;
 Assaltos a casas lotéricas;
 Explosões de caixas eletrônicos;
 Assaltos a shoppings e
 Roubo de cargas.
Não consideramos nesta lista o tráfico de drogas pelo simples fato que este apresenta uma característica
atemporal, ou seja, sempre existiu neste período independente das outras ocorrências e dos impactos causados por
tipo criminal.
Comprovadamente os tipos criminais mudaram ao longo dos anos assim como os objetivos e isto exigiu por
parte dos infratores certa perspicácia e um nível de inteligência capaz de identificar as VULNERABILIDADES em
cada alvo potencial.
As percepções deste breve estudo foram compartilhadas com cinco gestores de grandes administradoras do
varejo Brasileiro e, excetuando-se pequenas divergências sobre os fatores externos e de localização do
empreendimento, as conclusões uníssonas serviram de base para as respostas das perguntas feitas na introdução do
estudo.
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
Os produtos de fácil repasse como celulares, joias, relógios e dinheiro (Casa de câmbio e lotéricas) dentro de um
ambiente vulnerável que não possibilita reação em razão dos impactos que esta pode causar. Algumas administradoras
optam em ter agentes desarmados.
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
Os criminosos planejam muito bem suas ações e, durante as várias visitas a diferentes empreendimentos,
escolhem aquele que apresentar maior vulnerabilidade, facilidade de acesso e saída. Este será fatalmente um alvo
potencial. Rotas de fuga difíceis e proximidade de órgão públicos podem ser inibidores de ações em locais bem
específicos.
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
Para que uma resposta seja assertiva uma combinação de protocolos operacionais e técnicos devem ser
implantados, para isso é necessário que o empreendimento disponha de um aparato tecnológico (meios técnicos ativos)
que permita a rápida identificação de suspeitos, ou seja, um sistema de monitoramento capaz de apoiar a confirmação
de um rosto ou comportamento que denote ação iminente. As equipes de segurança devem passar por treinamentos que
ainda não são considerados em sua forma ampla nos cursos técnicos. Avaliar comportamentos, por exemplo, deve ser
uma das matérias obrigatórias para quem atua na área, afinal um shopping é aberto ao público durante todo o dia e
como identificar que uma ação está em curso? Alguns empreendimentos recebem milhares de pessoas e como saber
quais vão cometer um ato ilícito?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Simples. Se os criminosos estudam, sistematicamente os ambientes, é lógico que optarão pelo que se encontrar
mais vulnerável. Temos casos em que existem
dois shoppings muito próximos, mas apenas um
vira alvo recorrente de ações, justamente pelo
fato de ser encontrado em maior estado de
vulnerabilidade que o outro.
Aprofundado a questão das
vulnerabilidades, adaptamos o triângulo do
crime para o cenário shopping center de modo a
criar uma interface entre os critérios observados
para consumação de um fato criminal e as
variáveis do ambiente interno de um
empreendimento. Basta um olhar mais técnico e
criterioso sobre as nuances do cenário e a
relação sistêmica da teoria do crime, de certo
teremos corroboradas todas as assertivas dos
colegas gestores na figura ilustrativa. Vejamos.
Figura 3 – Triângulo do Crime.
A teoria do TRIANGULO DO CRIME pressupõe a prevalência de três variáveis para que um ato criminoso
ocorra:

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 11


a) O indivíduo motivado
A obtenção de algo que despertou desejo.
Dentro de um shopping temos ótimos atrativos de fácil negociação e ainda dinheiro em espécie, nas casas
lotéricas, casas de câmbio e agências bancárias. Tudo num único lugar.
b) O emprego de técnica
O elemento precisa dominar conhecimento suficiente para ter êxito no seu intento.
O que se confirma após a investigação interna pós crime é que os autores empreenderam várias “visitas
técnicas” a fim de estudar o local, planejar a ação para poder executar o objetivo, ou seja, todas as
vulnerabilidades foram consideradas antes da decisão final dos criminosos.
c) A oportunidade
O momento (cenário) mais favorável para a consumação do ato.
Após estudar todas as possibilidades dentro de um empreendimento os elementos ainda necessitam de um
cenário bem específico. Trata-se de uma combinação de fatores de risco que podem ocorrer em diferentes momentos
ou em um único momento, proporcionando uma “janela” facilitadora da concretização da prática criminosa.
A consumação de um fato criminoso, em mais 70% dos casos, se concretiza por falha ocorrida dentro do sistema
preventivo de segurança, ou seja, o criminoso explorou alguma das vulnerabilidades observadas no empreendimento
e o escolheu como alvo para realizar seu objetivo.

Figura 4 – Diagrama 6M, Causa e Efeito ou Ishikawa.

Figura 5 – Diagrama 6M, Causa e Efeito ou Ishikawa.


Segundo BRASILIANO (2010, p. 42) a identificação dos perigos e de seus fatores significa a compreensão das
origens de cada perigo. Deve-se buscar responder por que o perigo existe na empresa. Quais são as condições que
potencializam a concretização do evento estudado.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 12


A compreensão da origem do perigo é imperiosa para a eficácia no tratamento, na priorização que a empresa vai
poder dedicar para mitigar aquela situação. Somente após o entendimento do porquê da existência de cada perigo, é
que se poderá sugerir medidas eficazes para reduzir riscos.
O DIAGRAMA DE ISHIKAWA (causa e efeito) é a ferramenta que permite a organização identificar, dentro do
contexto da GESTÃO DE RISCOS, quais são os facilitadores na materialização dos riscos e preparar suas defesas,
através de um plano de ação.
Dentro do cenário shopping center, no que tange as variáveis contempladas no DIAGRAMA, cabem algumas
considerações:
1) Um empreendimento que foi projetado para receber milhares de pessoas por dia deve possuir um sistema de
gerenciamento de riscos bem consolidado e atualizado conforme cenários;
2) No planejamento de segurança a aplicação dos investimentos deve observar o equilíbrio entre recursos
humanos e toda a gama de treinamentos e tecnológicos (segurança física e segurança eletrônica). Ambos são
complementares e, neste cenário, um não vive sem o outro;
3) A questão do recrutamento das equipes deve ser vista com muita seriedade, pois esses profissionais devem
possuir competências bem específicas que permitam boa capacidade analítica e rápida tomada de decisão em um
ambiente aberto ao público e acessado por milhares de pessoas diariamente;
4) O investimento em treinamento deve ser massivo e constante com foco na antecipação de fatos típicos, através
de análise comportamental e nas respostas, treinando, mediante a aplicação de exercícios simulados, os protocolos pós
ocorrência.
Atualmente o segmento conta com legislação própria, normas, instruções e vasto conteúdo acadêmico específico
para prover o gestor de riscos de informações suficientes para que não deixe seu empreendimento desguarnecido de um
bom programa de gerenciamento de riscos. Não obstante, Bem antes do cenário atual, Henry Fayol, já defendia em seu
legado literário, o importante “papel da segurança em proteger vidas e patrimônio de problemas”.
Ainda nesta linha o engenheiro apregoava (1990, p. 65) que prever é planejar, investigar profundamente o futuro
e traçar um plano de ação a médio e longo prazo a fim de preparar a empresa ante as adversidades, ou seja, mesmo se
tratando do aludido modelo de administração é possível identificar compatibilidades, principalmente quando pensamos
em cenários prospectivos na segurança corporativa.
Para segurança empresarial, “O objetivo de elaborar cenários, específicos para a área de riscos corporativos, é o
de poder antecipar as variáveis que, por ventura, possam interferir nas metas da empresa”. (BRASILIANO, 2003 p.
47).
Para BRASILIANO (2003, p. 51) a dinâmica das vaiáveis observadas dentro da gestão de riscos delimita a
modelagem de cenários para apenas um ano.
Nesse mesmo diapasão, um dos grandes expoentes da segurança corporativa, o especialista e professor Claudio
Moretti em: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/cenarios-em-seguranca-visao prospectiva/106652/>.
Acesso em: 22 mar 2018. expõe justa e douta crítica ao empirismo dos empresários e profissionais da área que ainda
acreditam em uma implantação e gestão de segurança sem aplicação de metodologia e respaldo cientifico, empregando
seus recursos da mesma forma que vinte anos atrás.
É fato que tudo está em constante mudança, assim como os cenários e, se existe mudança, é salutar que hajam
novos estudos, diagnósticos e análises por parte dos profissionais que cuidam destes grandes centros de entretenimento
e laser, caso contrário, continuaremos a ver alguns shoppings sofrendo com ataques recorrentes e outros, cujos
profissionais entenderam a necessidade de mudança, mantendo seus empreendimentos resguardados das ações
criminosas.
Por isso, nosso QAP total, full time e real time nos estudos da ciência segurança.
RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia enfrenta o desafio de procurar o meio mais
efetivo de lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para isso, a polícia
deve evitar a tentação de respostas prematuras não fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL, 2009).
Deve haver um equilíbrio nas respostas com a utilização de táticas tradicionais e não tradicionais. Normalmente
as primeiras estão relacionadas às atividades básicas de policiamento e sozinhas dificilmente proporcionam soluções
duradouras para os problemas (por exemplo, prisões, intimações e policiamento fixo no local), ao passo que as táticas
não tradicionais ligam-se às ações comunitárias (como organização da comunidade, educação da população, alteração do
contexto físico, mudanças no contexto social e da sequência de eventos, alteração do comportamento das vítimas)
(BRASIL, 2009; HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Frisa-se que essas respostas não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e julgar
infratores. Expande- se, sem abandonar o uso do direito penal. O policiamento orientado à solução de problemas procura
descobrir outras respostas potencialmente efetivas (que podem exigir parcerias), dando grande prioridade à prevenção
(CLARKE; ECK, 2013).

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AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Nesta etapa, os policiais avaliam a efetividade das respostas aplicadas na fase anterior. A avaliação é chave para
o método Iara, pois se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise
devem ser revisitadas e novas hipóteses de respostas devem ser formuladas (BRASIL, 2009).
Esta fase serve também para exportar programas que funcionaram em determinados locais para serem aplicados
em outras localidades cujos resultados de identificação e análise do problema sejam semelhantes. Nesse sentido, em
1977, o Tesouro britânico iniciou uma política de controle e eficiência nos gastos em segurança pública
condicionando o repasse de verbas à demonstração de capacidade de reduzir o crime. Por isso, investiu-se em uma
grande revisão dos estudos disponíveis nos EUA, no Reino Unido e na Holanda. Assim, foi possível identificar
programas que, de fato, funcionavam. Demonstrou-se que os projetos mais eficazes na redução do crime, sem aumentar
o efetivo policial, utilizavam-se da abordagem de Posp e firmavam fortes parcerias com as comunidades (ROLIM,
2009).

As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que
geram efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver
problemas de vizinhança. Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva
como um catalisador para desenvolver maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das
comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).

Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre
a população.
4. Identificação de alternativas.
Identificar e Selecionar um Problema (Identificação)
Um problema pode ser definido como:
➢ Um conjunto de incidentes semelhantes, relacionados entre si e recorrentes, em vez de um único incidente; uma
preocupação comunitária concreta; (ou) uma componente do trabalho policial; 8
➢ Um tipo de comportamento (a vadiagem, o furto de viaturas); um local (um determinado centro comercial); Uma pessoa,
ou pessoas (um perpetrador recorrente de violência doméstica, ou as vítimas recorrentes de assaltos); ou um evento, ou época
especial (um desfile anual, ou os roubos de salários). Um problema, também, poderá ser uma combinação de quaisquer dos
problemas acima referidos;9 e
➢ Informalmente, um problema pode ser entendido como dois ou mais incidentes, de alguma forma semelhantes, e que
constitui motivo de preocupação para a polícia e é um problema para a comunidade.
Métodos de Identificação dos Problemas
Os problemas poderão obrigar-nos a prestar-lhes atenção de diversas maneiras, incluindo quando:
➢ Rotineiramente, analisamos as chamadas de serviço, os dados dos incidentes criminais e os registos de outras
agências policiais, para encontrar padrões e tendências que envolvam locais, vítimas, e ofensores repetidos. (as agências policiais
poderão ter que analisar as chamadas de serviço, recuando no tempo de seis meses a um ano, para conseguir formar uma imagem
precisa das chamadas repetidas relativas a alguns tipos de problemas);
➢ Mapeamos crimes específicos de acordo com a altura do dia, a proximidade a determinados locais, e outros
fatores semelhantes;
➢ Nos aconselhamos com agentes, supervisores, detetives, gestores intermédios e comandantes;
➢ Analisamos os relatórios policiais;
➢ Inquirimos os residentes da comunidade, os comerciantes, os autarcas ou os estudantes;
➢ Analisamos as reclamações e as cartas dos cidadãos;
➢ Participamos em reuniões comunitárias;
➢ Analisamos Informações provenientes das associações de moradores e das organizações sem fins lucrativos
(locais e nacionais);
➢ Consultamos os serviços de segurança social e outros organismos governamentais; e
➢ Seguimos a cobertura noticiosa dos órgãos de comunicação social.
Selecionar um Problema
É importante que, ambos, os membros da comunidade e a polícia dêem contributos para que os problemas sejam
priorizados assim que sejam identificados. Por vezes, os problemas que preocupam os membros da comunidade são algo
diferentes daquilo que são as expetativas policiais. Consultar os membros da comunidade, acerca do que são as suas
prioridades, não só garante que as preocupações comunitárias serão tratadas como, também, desenvolve os esforços de
resolução dos problemas em cada fase do processo. Os contributos dos cidadãos podem ser solicitados de diversas
formas, incluindo através de sondagens, de reuniões comunitárias e de grupos-alvo (por exemplo, um grupo de
estudantes, ou um conjunto de moradores de um bairro). Os contributos policiais para a seleção do problema são,
também, algo de importante, porque a polícia tem a perícia e a informação acerca dos problemas que, por norma, os
cidadãos não têm.
8Disorderly Youth in Public Places. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-05-3
9Loud Car Stereos. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-06-1
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 14
Ao selecionarmos um problema no qual nos deveremos focar, de entre os muitos problemas que a nossa
comunidade enfrenta, poderemos querer ter em atenção os seguintes fatores: 10
O impacto do problema na comunidade – a sua dimensão e custos;
➢ A presença de condições que ameacem a vida;
➢ O interesse da comunidade e o grau de apoio que provavelmente exista, tanto para o estudo como para as
subsequentes recomendações;
➢ As potenciais ameaças aos direitos constitucionais – como as que podem ocorrer quando os cidadãos tomam
posições no sentido de limitar o uso dos meios públicos, quando limitam o acesso às propriedades, ou quando restringem a
liberdade de expressão, de circulação, ou de reunião;
➢ O grau dos efeitos pelos quais o problema afeta negativamente o relacionamento entre a polícia e a comunidade;
➢ O interesse dos agentes policiais de base, e o seu grau de apoio, ao tratamento do problema;
➢ A especificidade do problema, dada a frustração associada ao se tentar entender reclamações que são indefinidas e
difusas; e
➢ O potencial para que surja algum progresso no tratamento do problema a que a exploração do problema,
provavelmente, conduzirá.
Redefinir o Problema
Logo que o problema tenha sido selecionado poderá ser necessário redefini-lo à medida que vão surgindo mais
informações acerca do mesmo. Isto é expetável. À medida que trabalhamos no decurso do processo de resolução do
problema poderemos vir a descobrir que o problema com o qual começamos é demasiado abrangente. Por outro lado,
poderemos vir a concluir que ele é, na realidade, sintoma de outro diferente problema e o qual merecerá a nossa atenção.
Será mesmo possível que aquilo que à primeira vista parecia um problema não seja, na realidade e de maneira nenhuma,
um problema assim que se olha com mais atenção. É normal que o problema venha a ter que ser redefinido à medida que
se avança através do processo de resolução do problema, e isto é uma das razões do porquê de se começar a implementar
as respostas, somente, após se ter analisado o problema na sua totalidade.
Identificar os Interessados no Problema Selecionado
As partes interessadas são organizações privadas e públicas, tipos ou grupos de pessoas (cidadãos idosos,
proprietários de residências, comerciantes, etc.) que beneficiarão se o problema for tratado, ou que poderão vir a sofrer
consequências negativas (devido a ferimentos, por lacunas dos serviços, por perda de rendimentos, devido a uma ação
policial mais rigorosa, etc.) se o problema não for tratado.
Poderemos incluir como partes interessadas:
➢ O serviço de segurança social local e os organismos governamentais com jurisdição no problema, ou com
interesse nalguns aspetos do problema;
➢ As vítimas do problema, e/ou as associações de defesa das vítimas;
➢ Os vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes das vítimas, ou moradores das vizinhanças afetadas pelo
problema;
➢ Os organismos ou as pessoas que exercem algum tipo de controlo sobre os ofensores (pais, parentes, amigos,
funcionários das escolas, funcionários de reinserção social, gestores de edifícios, etc.);
➢ Os estabelecimentos comerciais negativamente afetados pelos problemas decorrentes do crime e da desordem; e
➢ As organizações nacionais ou as associações comerciais com algum interesse no problema [por exemplo, a
“Students Against Drunk Driving” para o problema da condução sob efeito do álcool pelos menores (nos EUA a idade mínima para
conduzir viaturas automóveis é os 16 anos)].
Deveremos identificar o máximo possível de partes interessadas, relativamente ao problema selecionado. Cada
parte interessada poderá contribuir com diferentes conhecimentos e poderá cooperar, à sua maneira, no sentido de
impulsionar os esforços de resolução do problema. Quantos mais interessados forem identificados, tantos mais recursos
estarão disponíveis para tratar do problema.
Contudo, algumas comunidades acabaram por descobrir que os esforços de resolução de problemas progridem
com mais eficácia se, somente, duas ou três partes interessadas – um grupo central – trabalharem no problema ao longo
do projeto. Com frequência, existem outras partes interessadas, mais periféricas, que podem contribuir com algo durante
algumas fases específicas, mas não ao longo de todo o processo.
Segue-se uma breve descrição de um problema exemplificativo e de uma lista de possíveis partes interessadas e
de parceiros.
Problema Exemplificativo (Roubo, Medo)
Uma cidade de médio tamanho do este dos EUA, com cerca de 35.000 habitantes e com taxas de criminalidade
relativamente baixas, sofreu uma série de roubos cometidos contra pessoas que faziam entregas de comida ao domicílio.
Em média, estava-se a registar um roubo, a uma daquelas pessoas, em cada mês. Muitas lojas de pizzas e de outros tipos
de comida rápida começaram a recusar a entrega dos seus produtos em bairros com moradores de baixos rendimentos e
predominantemente de raça negra, onde, segundo parecia, muitos dos roubos estariam a ocorrer. Os responsáveis dos
restaurantes disseram que haviam decidido não proceder à entrega de comida, naquela área, devido ao aumento do
número de funcionários que haviam sido agredidos quando se encontravam a trabalhar e porque, estes, temiam fazer as
suas entregas em áreas com grande criminalidade. Um morador do bairro onde as entregas não se estavam a processar

10 Using Crime Prevention Through Environmental Design in Problem-Solving. Diane Zahm. 2007. ISBN: 1-932582-81-9
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 15
reclamou acerca da não prestação do serviço de entregas e deu início a uma petição pública para que aquela norma fosse
alterada. A assembleia municipal teve em consideração a proposta, que solicitava que as entregas fossem feitas a todos
os moradores, independentemente da sua localização, e o assunto teve cobertura noticiosa nos jornais locais e regionais.
Partes Interessadas
(Para além da polícia)
Os potenciais clientes das entregas ao domicílio, moradores no bairro onde as mesmas estavam suspensas,
assinantes da petição.
Os trabalhadores das entregas de comida rápida (fast food, quentinhas).
Os gestores dos restaurantes de fast food (franchisados locais).
As redes nacionais de entregas de fast food ao domicílio.
A Associação Nacional de Restaurantes.
A secção local da National Association for the Advancement of Colored People - NAACP.
Os legisladores locais.
Os órgãos locais de comunicação social.

5. Avaliação de alternativas;
As eras do policiamento moderno
O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como o
policiamento orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus
elementos de inovação nos Estados Unidos. Devido a influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário
verificar como essas. O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como
o policiamento orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus
elementos de inovação nos Estados Unidos. Devido a influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário
verificar como essas transformações refletem e embasam, até os dias atuais, as estratégias implementadas nas polícias
latino-americanas.
De acordo com Moore, Trojanowicz (1993) e Dias Neto (2003), historicamente, o policiamento nos EUA é
dividido em três períodos fundamentais:

Figura 6 : Eras do policiamento moderno americano11

Era Política (1º período: 1830 – 1930)


Caracterizado, principalmente, por um policiamento que desempenhava diversas funções sociais, muita corrupção
policial e sem profissionalização.
Era da Reforma(2º período: 1930 – 1980))
Momento que surgem as Academias de Polícias, com o objetivo de formar os profissionais de polícia, tendo como foco
combater o infrator e como tática prioritária o rádio patrulhamento.
Era solução de problemas com a comunidade (3º período: 1980 – 2000).
Orienta-se na construção de um relacionamento de cooperação entre a polícia e a sociedade, tendo como base a
participação das lideranças comunitárias e foco na solução dos problemas locais.
A Era Política é caracterizada por um sistema de aplicação da lei, envolvendo um órgão permanente, com
funcionários dedicados em tempo integral ao patrulhamento contínuo visando à prevenção do crime. (MOORE;
KELLING, 1993)Neste contexto a polícia desenvolve um serviço social amplo, pois não está bem definida sua função
social.
A polícia conduzia inspeções sanitárias, zelava por crianças perdidas, checava óleo nas iluminações de rua,
monitorava pesos e as medidas adotadas pelos comerciantes, concedia licença para pedintes de rua, controlava odores

11 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 16
advindos dos curtumes, realizava recenseamento, apreendia animais perdidos, obrigava as pessoas a criar seus porcos
nos quintais e preservava o sabbath. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7)12.
A polícia era uma importante instituição responsável pelo bem-estar social daquela sociedade,o grande objetivo
era atender aos cidadãos e aos políticos locais. Certamente suas ações eram muito influenciadas pelas instituições
político-partidárias locais, o que gerava uma enorme flexibilidade na atuação do policial. Para Dias Neto (2003), esta
postura gerava uma enorme discricionariedade policial e, muitas vezes, hostilidade entre o policial e a própria
comunidade, que para ser resolvida era utilizada a força. Toda esta característica gerava, entre a polícia e a comunidade
local, um vínculo muito forte.Destaca-se que a principal tática de policiamento era o deslocamento a pé ou a cavalo, o
que possibilitava um maior contato entre as pessoas.
Segundo Goldstein (2003),as maiores críticas à Era Política era a violência e corrupção policiais, dentre outros
desmandos, que foram evidenciados pela National Comminssion onLaw Observance and Enforcement ocorrida em
1931, nos Estados Unidos. Outro grave problema era a forma de ingresso na carreira policial, resumida a uma
oportunidade de emprego para protegidos políticos.
Os únicos requisitos necessários para a indicação de um policial eram influência política e força física [...] Não
havia necessidade de treinamento preliminar, os policiais eram considerados suficientemente preparados para o exercício de suas
funções se portassem um revólver, cassetete, algemas e vestissem um uniforme [...] Tratava-se de uma era de incivilidade,
ignorância, brutalidade e corrupção. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7).
Baseando-se nessas contradições, várias críticas surgiram, principalmente dentro da própria polícia, para
aprimorar esse serviço. “Os defensores das reformas lutavam pela incorporação dos métodos gerenciais e operacionais
da iniciativa privada”. (Dias Neto (2003, p. 9). O objetivo era criar um departamento policial “perfeito” – afora
comumente chamado de modelo profissional. Portanto, havia um consenso que era preciso blindar a polícia de
interferências da política externa, centralizar as estruturas internas de comando e controle, delimitar a função do
policial para prender os infratores da lei e formar o profissional de polícia.
As características dessa Era Policial estão num serviço profissional distante da comunidade, focado no
combate repressivo do crime e que utiliza principalmente o automóvel e o telefone para implementar o rádio
patrulhamento. É inegável que surge uma máquina burocrática eficiente e de um corpo profissional treinado, com as
melhores tecnologias para o momento, mas os policiais não conseguem identificar os problemas cotidianos dos
cidadãos. Com essa lógica, o policial fica distante e inacessível às demandas políticas próprias do jogo democrático.
(DIAS NETO, 2003).
Com o modelo profissional surge uma obsessão pela eficiência operacional e administrativa, dificultando o
contato social sobre as decisões policiais. Uma das maiores críticas contra o modelo profissional refere-se à ausência de
controle sobre a conduta policial. Um movimento que aos poucos permitiu aos próprios cidadãos americanos de
representar a sociedade civil na apuração e no julgamento das denúncias contra abusos policiais. Esse foi um
importante passo para ter algum controle externo sobre a polícia, mas acirrou, ainda mais, os ânimos entre os ofendidos
e os policiais.
As atuais reformas na área policial estão fundadas na premissa de que deve haver uma relação sólida e
consistente entre a polícia e a sociedade para que tenha efeito a política de prevenção criminal e na produção de
segurança pública (DIAS NETO, 2003).
Diante das iniciativas frustradas de relações públicas ou de reforma na estrutura administrativa policial surgem
alternativas que fortalecem as ideias de partilhar entre a polícia e a comunidade a tarefa de planejar e implementar as
políticas de segurança pública.
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1).
Nesta síntese é possível perceber quais são as principais características de cada período e como ocorreu essa
transformação que influenciou as principais estratégias de policiamento, que surgiram na Era da Reforma e na Era de
Solução de Problemas com a Comunidade.
Atenção! Deve-se ter o cuidado para não simplificar a análise de uma era policial somente em algumas
características, sob o risco de distorcer todo um contexto histórico-social. Uma característica (total ou parcial), de um
período pode repetir em outro, por exemplo: o relacionamento íntimo entre a polícia e a comunidade, presente na era
política e era da comunidade. Também é importante destacar que essas são características comuns entre a maioria dos
órgãos policiais naquele período, portanto, as datas são parâmetros.
Quadro 1 – Características das eras do policiamento moderno13

12Sabbath,ou sabá, é uma palavra de origem hebraica shabbath,que significa o descanso religioso que, conforme a legislação mosaica, devem os
judeus observar no sábado, consagrado a Deus. (FERREIRA, 2008)
13Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
MOORE, Mark Harrinson e TROJANOWICZ, Robert C. Estratégias institucionais para o policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro:
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro.Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 17
Era soluções de Problema
Era da Reforma 1930 -
Características gerais Era Política 1830 - 1930 com a Comunidade
1980
1980 – 2000
Autorização e Lei, profissionalismo e
Políticos locais e lei Lei e profissionalismo
legitimidade comunidade
Serviço policial amplo e
Função Serviço social amplo Controle do crime
personalizado
Relacionamento com
Íntimo Distante e remoto Íntimo
a comunidade
Patrulhamento a pé,
Patrulhamento motorizado e
envolvimento da
Táticas e tecnologia Patrulhamento a pé acionamento por
comunidade para solução
telefone
de problemas
Satisfação dos
Respostas rápidas para Qualidade de vida e
Resultados esperados cidadãos e dos políticos
controlar os crimes satisfação da comunidade
locais
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1).
Estratégias de policiamento.
(esse item será visto em Polícia Comunitária)

6. Discussão, planejamento e encaminhamento participativo de soluções;


O que é planejamento
Por que planejar?
Para iniciar esta unidade, será proposto a você um desafio. Leia o texto: “O irônico sorrisodo gato”, de
Mário Sergio Cortellae responda as perguntas:
O IRÔNICO SORRISO DO GATO
Mário SergioCortella14
A escolha dos caminhos depende do lugar almejado
Há alguns meses, participando de um congresso sobre o professor e a leitura de jornal, pude debater a respeito
da "overdose" ferramental que invade cada vez mais o cotidiano social e, sem dúvida, também o mundo da escola.
Relembrávamos nesse debate uma das mais contundentes reflexões sobre a vida humana e que não pode ser
esquecida, tamanha é a importância que carrega também para o debate pedagógico: Alice no País das Maravilhas,
escrita no século XIX pelo matemático inglês, Charles Dodgson (que deu a si mesmo o apelido Lewis Carroll).
Nessa obra, Alice cai. Ela está atrás de um coelho e cai em um mundo desconhecido (na verdade, a menina cai
dentro de si mesma). Entre as inúmeras personagens fantásticas da obra, duas delas estão muito próximas de nós: uma é
um coelho que está sempre atrasado, correndo para lá e para cá com o relógio na mão; a outra é um gato do qual
somente aparece o sorriso, somente ficam visíveis os dentes e, às vezes, o rabo. Há uma cena que a gente não deve
ocultar – principalmente quando se fala em ferramentas para o trabalho pedagógico e, muitas vezes, da percepção
equivocada da tecnologia como redentora da educação: o encontro de Alice com o gato. Contando resumidamente, na
cena, Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no alto da árvore o gato. Só o rabão do gato e aquele
sorriso. Ela olha para ele lá em cima e diz assim:"Você pode me ajudar?"Ele falou:"Sim, pois não." "Para onde vai essa
estrada?", pergunta ela. Ele respondeu com outra pergunta (que sempre devemos nos fazer):"Para onde você quer
ir?".Ela disse:"Eu não sei,estou perdida."Ele, então, diz assim:"Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho
serve."
Para quem não sabe para onde vai, serve de qualquer maneira o jornal, a revista, o livro, a internet, o
videocassete, o cinema, etc. E aí, qualquer um de nós, na ansiedade de modernizar o modelo pedagógico, eletrifica
sofregamente a sala de aula ou, mais desesperadamente, sonha em fazer isso, imaginando o quanto o trabalho seria
espetacular com esses instrumentos. Daí, se possível, o professor enche a sala de aparatos tecnológicos, como se, para
fazer algo que interesse às pessoas, precisasse eletrificar continuamente o processo, metendo aparelhos eletrônicos
ligados para todo o lado. Muitos dizem que, como os alunos estão habituados com isso, precisamos modernizar o
ensino. Será?
Depende da finalidade do "para onde se desejar ir". Se você sabe para onde quer ir, vai usar a ferramenta
necessária. O que se deve modernizar não é primeiramente a ferramenta, mas sim o tratamento intencional dado aos
conteúdos trabalhados na escola.

14*Professor de pós-graduação em Educação (currículo) da PUC-SP.


Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 18
Por isso, é preciso trazer sempre na memória o ditado chinês que diz: “Quando você aponta a lua bela e
brilhante, o tolo olha atentamente a ponta do seu dedo.”
Na sua organização, as atividades de policiamento são planejadas envolvendo o nível de execução (atividade de
linha)?
Existe rotina para gerenciar as atividades diárias do policial militar, que está focada no problema?
Resposta:
Uma das características do policiamento profissional (tradicional) é a centralização do planejamento, geralmente
na seção operacional. A estratégia de policiamento orientado para o problema propõe que o planejamento deve envolver
todos os níveis organizacionais, principalmente o nível de execução, para evitar que o policial fique perdido, sem saber
para onde seguir quando deparar com um problema.
Existem várias rotinas de gerenciamento, que facilitam a execução e o acompanhamento das metas propostas
para o policial. Uma organização que almeja executar o policiamento com qualidade tem que focar nesse objetivo
organizacional, para dar um “norte” para as pessoas.
Ao responder a essas perguntas, você refletiu sobre a importância do planejamento, envolvendo principalmente
o nível operacional (atividade linha). Assim como sobre a necessidade de desenvolver formas de gerenciar diariamente
as tarefas, com o estabelecimento de metas, para cada setor do Sistema de Defesa Social/Segurança Pública.
Agora, responda, o que é planejamento?
Observe atentamente a charge abaixo e responda:

Figura 7: Ilustração sobre planejamento

Na figura 7, qual o “assunto” ilustrado: produção, finanças, marketing ou saúde?


1. Quais são os “elementos” necessários para prestar esse serviço?
2. Qual é o “tempo” para sua realização?
3. Quais “unidades organizacionais” precisam ser envolvidas para prestar esse serviço: departamentos,
grupos de pessoas ou divisões de serviço?
4. Quais são as “características” que envolvem esse processo: simples ou complexo; ênfase na qualidade
ou quantidade; estratégico ou tático; confidencial ou público; formal ou informal; econômico ou oneroso?
Respostas:
1. A figura retrata o planejamento de uma cirurgia médica, ou melhor, a sua ausência.
2. O assunto abordado é saúde.
3. Os elementos necessários para planejar este serviço estão vinculados ao objetivo do hospital, às
estratégias utilizadas para prestar o serviço, às políticas internas, aos orçamentos, às normas de conduta médica, aos
princípios éticos, dentre outros.
4. O tempo ou período para executar esse serviço é curto.
5. Para que esse serviço seja executado é necessário o envolvimento de outros setores, dentro do hospital:
Departamento de Enfermaria, Departamento do CTI, Grupo de anestesistas, serviço “terceirizado” de entrega de
materiais (medicamentos, sangue, instrumentos cirúrgicos, etc.).

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 19


É possível inferir que esse planejamento tem a característica de ser complexo, focado na qualidade, operacional,
confidencial (envolve pessoas que devem ter sua identidade preservada), formal e econômico (ou, até mesmo caro, se
imaginar que é um procedimento muito difícil de ser realizado).
Ao responder às perguntas da página anterior, você estabeleceu as cinco dimensões do planejamento, que são:

Assunto Unidade
Elementos Tempo Características
abordado Organizacionais

• Propósitos • Complexo ou
• Departamento de Simples
• Objetivos Negócios • Prioriza a
• Estratégias • Departamento de qualidade ou
• Marketing
• Políticas Investigação quantidade
• Finanças internas • Curto • Seção de • Estratégico,Tát
• Segurança • Programas Finanças ico ou
• Médio
Operacional
•Saúde • Orçamentos • Divisão
• Longo • Confidencial ou
• Normas deCombate ao
• Recursos Público
Crime Organizado
Humanos • Códigos de • Formal ou
Conduta • Seção de
Informal
Prevenção
• Manuais de Criminal • Econômico ou
Procedimentos Oneroso

Para facilitar a estruturação do planejamento é importante contemplar as cinco dimensões descritas.


Afinal, o que é planejamento?
Planejamento é um processo desenvolvido para alcançar uma situação futura desejada de um modo mais
eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços humanos e recursos pela empresa.
Toda empresa (pública ou privada) precisa desenvolver estratégias almejando os seguintes aspectos:

Eficiência É fazer as tarefas de maneira adequada para resolver os problemas, guardar os


recursos, cumprir seu dever e reduzir seus custos.

Eficácia É fazer as tarefas certas para produzir alternativas criativas, maximizar a utilização
dos recursos, obter resultado e aumentar o lucro.

Efetividade É a capacidade da empresa coordenar de forma constante, no tempo, esforços e


energias, tendo em vista o alcance dos resultados globais.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 20


Na verdade, esses aspectos interagem-se. Por isso, a fórmula administrativa para desenvolver o sucesso da
estratégia é:

Figura 8: Fórmula da efetividade

O objetivo do planejamento é desenvolver processos, técnicas e atitudes administrativas, as quais


proporcionam uma situação viável de avaliar as implicações futuras de decisões presentes. Isto é definido em
função do objetivo empresarial, que facilitará a decisão no futuro, de modo mais rápido, coerente, eficiente e eficaz.
O exercício sistemático do planejamento tende a reduzir a incerteza envolvida no processo de tomar a decisão e
aumenta a chance de alcançar os objetivos e desafios enfrentados.
O planejamento pode provocar uma série de modificações nas:

Baseado nesse diagrama, quais são as modificações que você acha que podem ocorrer numa empresa?
Resposta:
As modificações relacionadas às pessoas podem corresponder à necessidade de treinamento, substituições,
transferências, avaliações periódicas, premiação, dentreoutras.
Na tecnologia, as modificações estão relacionadas com a evolução dos conhecimentos para desempenhar aquela
tarefa, uma nova maneira de desenvolver aquele serviço ou produzir o produto, no ajuste do ambiente.
No sistema, as modificações podem ocorrer na divisão das responsabilidades, na desconcentração da empresa,
na descentralização dos serviços, na criação de novas instruções, dentre outros. P ode ser dividido em três níveis,
observe:

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 21


Figura 9: Os níveis de planejamento

Os níveis de planejamento
Planejamento Estratégico
É o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para estabelecer a melhor direção a ser tomada
para uma empresa. Busca otimizar o grau de interação entre os fatores externos – que não são controláveis – e internos para
formular objetivos e cursos de ação.
Planejamento Tático
É o processo administrativo que tem por objetivo otimizar uma determinada área da empresa, setor de finanças, setor
operacional, setor logístico, dentre outros. Portanto, trabalha com a decomposição dos objetivos do planejamento estratégico.
Planejamento Operacional
É o processo de formalizar, através de documentos, das metodologias e implantações estabelecidas. Basicamente, são os
planos de ação ou plano operacional.
O foco são as tarefas cotidianas.

Sistema de Gestão para atingir metas


Conforme foi visto na aula anterior, no planejamento estratégico são definidas as metas que se quer atingir, os
principais produtos ou serviços, tecnologias e processos de produção que serão utilizados numa empresa.
Observe a citação abaixo:
Não se gerencia o que não se mede.…
Não se mede o que não se define…
Não se define o que não se entende…
Não há sucesso no que não se gerencia…
William Edwards Deming
Baseado na citação do professor americano Deming, para você, o que é meta? Dê um exemplo.
Resposta:
Meta é a quantificação do objetivo com atribuição de valores (custos), com estabelecimento de prazos
(tempo) e definição de responsabilidades.
Exemplo: Eu tenho o objetivo de emagrecer para ficar com o peso ideal entre 73-79 kg. Para atingir
esse objetivo “pessoal” vou estabelecer, com ajuda de minha nutricionista, uma meta de perder 3kg por mês.
Para isso vou adotar o seguinte método: modificar minha dieta alimentar e implementar caminhadas diárias
de 20 minutos; e tenho disponível para custear alimentação e academia a quantia mensal de R$250,00.
O que não pode ser quantificado não pode ser definido como meta. Observe que a palavra método é formada
pela união dos termos meta + hodos = caminho. É a maneira de como fazer;é um sistema de práticas, técnicas e
regras usadas pelas pessoas que trabalham em uma disciplina.
De forma simples, uma estratégia define as metas que se querem atingir, os principais produtos ou serviços,
tecnologias e processos de produção que serão utilizados. Por isso, elaborar metas é quantificar cada objetivo,
atribuir valores (custos), estabelecer prazos (tempo) e definir responsabilidades.
A estratégia orienta, ainda, a maneira como a instituição irá se relacionar com seus funcionários, seus parceiros e
seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor maneira de usar sua instituição para
enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades.
Gerenciar a rotina de tarefas é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados esperados de
produtividade e de qualidade pelo nível institucional.
Geralmente, as empresas modernas utilizam o sistema de gestão para formular, desdobrar e atingir metas. Esse
processo de gerência envolve os três níveis hierárquicos.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 22


O nível estratégico é responsável pela formulação estratégica e estabelece metas anuais e a longo prazo para a
empresa. O nível tático tem o dever de desdobrar essas metas, através de diretrizes e normas. O nível operacional tem
como tarefa cotidiana atingir e gerenciar as rotinas de trabalho para cumprir as metas pactuadas.
Perceba como que todas as pessoas, em todos os níveis, devem estar voltadas para atingir esse objetivo.

Figura 10: O sistema de gestão para atingir metas Fonte: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/planejamento-


organizacional-o-que-e-conceitos/
Atenção! O gerenciamento da rotina só pode ser realizado com metas. As metas são os insumos, o início do
trabalho do gerenciamento. Não se atinge metas sem que se façam mudanças.
A relação do PDCA com POP
Conforme foi visto na aula anterior,é no nível operacional que ocorre o gerenciamento da rotina do trabalho
para atingir as metas, visando melhorar a qualidade do serviço prestado ou do produto produzido.
Foi Walter A. Shewhart que deu um salto significativo no conceito de qualidade, pois associou as técnicas
estatísticas à realidade da empresa de telefonia Bell Telephone Laboratories. Shewarth desenvolveu os gráficos de
controle, que utilizam maciçamente os princípios estatísticos, bem como o próprio ciclo PDCA. Perceba que PDCA é
uma sigla formada pelo anagrama das palavras em inglês de cada fase desse ciclo, que direciona as atividades de plan
= planejar, do= fazer, check= verificar e action= atuar.

Figura 11: Diagrama do PDCA

ACTION (atuar)
Atue no processo em função dos resultados obtidos.
PLAN (planejar)
Defina asmetas.
Determine os métodos para alcançá-las.
DO (fazer)
Treine e eduque.
CHECK (avaliar)
Execute o trabalho.
Verifique os efeitos do trabalho executado.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 23
Para detalhar melhor o processo PDCA, observe (figura 12) a sequência de tarefas que deve ser
desencadeada para atingir uma meta e, consequentemente, aperfeiçoar a qualidade de uma empresa.

Problema: Identificação do problema.

Observação: Reconhecimento das características do


problema.
Análise do processo: Descoberta das causas principais.
Plano de ação: Contramedidas às causas principais.
Treinamento dos executores – Comunicação das contramedidas Atuação conforme
plano de ação.
Verificação: confirmação da efetividade da ação sim
Padronização e conclusão

Figura 12: Fluxo de tarefas do PDCA


Baseado na figura 12, para você, qual a correlação que se pode fazer entre a estratégia de POP com o método
PDCA?
Perceba a semelhança da metodologia, observando o fluxo das atividades entre o método PDCA e o método
IARA.

Figura 13: Diagrama do PDCA

Resposta: Conforme pode ser constatado o PCDA, que é uma ferramenta gerencial desenvolvida, em 1924, inspirou aos
professores americanos John Eck e Bill Spelman no desenvolvimento do modelo SARA (modelo IARA), que é uma metodologia utilizada
na estratégia de policiamento orientado para o problema. O método IARA é uma técnica voltada para a melhoria da qualidade do serviço
policial.

7. Análise de etapas e forma de comunicação;


Analisar o Problema Selecionado
Porque é que a Análise é Importante
Analisar um problema, de forma abrangente, é fundamental para o sucesso dos esforços de resolução desse
problema. Não se conseguem desenvolver respostas eficazes, concebidas à medida, a não ser que saibamos o que está a
causar o problema.
Contudo, por norma, muitas pessoas passam por cima das fases do modelo SARA. As razões para isso são
diversas, mas incluem o seguinte: por a natureza do problema, por vezes falsamente, parecer óbvia à primeira vista; por

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 24


poderem existir enormes pressões, internas e externas, para se resolver de imediato o problema; pela pressão para se
responder aos pedidos de intervenção não parece dar tempo a que se realizem estudos detalhados à natureza do
problema; por a investigação ou estudo do problema não parecer ser uma “verdadeira” função da polícia; e por os
supervisores, eventualmente, poderem não valorizar o trabalho analítico, que leva o seu tempo a ser realizado, e que
não resulta em detenções, em autuações rodoviárias, ou em outras medidas policiais tradicionais. Também, em muitas
comunidades, o forte comprometimento com a antiga maneira, de encarar e de lidar com os problemas, impede a
polícia e os cidadãos de encararem os problemas através de novas e diferentes formas.
Apesar daquelas pressões e percepções, os solucionadores de problemas devem resistir à tendência de saltarem a
fase da análise, porque arriscam-se a lidar com um problema que não existe e/ou a implementarem soluções que são
ineficazes a longo prazo.
Por exemplo, os dados informáticos dos despachos do serviço, de um departamento de polícia do sudeste dos
EUA, indicaram a existência de um grande problema relativo ao furto de viaturas num centro comercial local. Contudo,
após um sargento ter revisto os relatórios das ocorrências e os subsequentes aditamentos pelos cancelamentos, tornou-
se-lhe claro que muitos dos furtos de viaturas denunciados eram, na realidade, casos em que os lojistas haviam-se
esquecido do local onde tinham estacionado as suas viaturas e, erradamente, comunicaram o seu furto à polícia. Se ele
não tivesse analisado o problema, o primeiro impulso do sargento, provavelmente, iria no sentido da implementação de
esforços para prevenir os furtos de viaturas, os quais teriam pouco ou nenhum impacto no problema das denúncias de
alegados furtos de viaturas baseadas em pressupostos errados. Após ter analisado o problema, tornou-se-lhe óbvio que
o problema do furto de viaturas não era tão grave como parecia e que era necessário, sim, uma combinação entre os
esforços concebidos para a prevenção do furto de viaturas e uma melhor distinção dos locais de parqueamento, através
da sinalética, no centro comercial.
Fazer as Perguntas Certas
O primeiro passo, na análise, é para se determinar qual o tipo de informação que é necessário. Isto deve consistir
numa pesquisa alargada, não inibida por perspetivas passadas; as questões devem ser colocadas, quer as respostas
sejam ou não obtidas. A abertura do processo e a sondagem persistente de informações, associadas a tal pesquisa, serão
do mesmo tipo da abordagem que seria adotada por um detetive conceituado para resolver um crime intrincado:
procurar em todas as direções, sondar a fundo, e fazer as perguntas certas. Grupos de elementos policiais experientes,
convidados a participar em tal exercício, deverão colocar um amplo conjunto de questões pertinentes. Eles, também,
deverão reconhecer que, exceptuando alguns bons palpites, não têm as respostas para as questões que colocam. 15
O Triângulo do Crime
Geralmente, são necessários três elementos para a constituição de um crime na comunidade: um ofensor, uma
vítima, e uma cena do crime ou um local.16 Os solucionadores de problemas descobriram ser útil, para a compreensão
dos problemas, visualizar-se a ligação entre aqueles três elementos através da construção de um triângulo.

Figura 13– triângulo do crime

Como parte da fase de análise, é importante descobrir-se o máximo, possível, de informações acerca de todos os
três lados do triângulo. Uma forma de se começar é perguntando: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê? E
porque não? Acerca de cada um dos lados do triângulo. 17
Vítimas
É importante focarmo-nos no lado do triângulo referente à vítima. Como referido anteriormente, os estudos
recentes têm demonstrado que uma pequena quantidade de vítimas está relacionada com uma grande quantidade de

15Enhancing the Problem-Solving Capacity of Crime Analysis Units. Matthew B. White. 2008. ISBN: 1-932582-85-1
16 Este conceito foi desenvolvido por William Spelman e John E. Eck em 1989. Ele foi edificado sobre o trabalho prévio de Marcus Felson.
17Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington,
D.C.: U.S. Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 25
incidentes criminais. Acrescentando, os pesquisadores, na Inglaterra, concluíram que as vítimas de assaltos, de
violência doméstica, e de outros crimes têm grande probabilidade de virem a ser revitimizadas a curto prazo, logo após
a primeira vitimização – com frequência no espaço de um a dois meses. 18 19As intervenções eficazes, destinadas às
vítimas repetidas, podem contribuir para uma redução significativa do crime.
Por exemplo, de acordo com um estudo referente a assaltos a residências, levado a efeito na Divisão da Polícia
de Huddersfield, em West Yorkshire, na Inglaterra, as residências que já tinham sido assaltadas tinham quatro vezes
mais probabilidades de voltarem a ser vitimizadas que as residências que nunca haviam sido vítimas, e que muitos dos
assaltos repetidos ocorriam dentro de seis semanas após o primeiro. Consequentemente, a Divisão de Huddersfield
desenvolveu uma resposta tripartida adaptada à medida das vítimas de assaltos repetidos, baseada no número de vezes
que as suas casas haviam sido assaltadas. De acordo com os relatórios iniciais, os assaltos a residências foram
reduzidos em 20% desde que o projeto se iniciou, e não se registou nenhuma deslocalização. 20 De facto, os assaltos a
estabelecimentos comerciais, na mesma área, também, foram reduzidos, apesar de este problema não ter sido um dos
objetivos da resposta. Contudo, a polícia teve alguma dificuldade em identificar as vítimas repetidas, porque o seu
sistema de base de dados não estava concebido para este tipo de pesquisa.
Ofensores
É fundamental, para o esforço de resolução dos problemas, que se encare, de uma forma renovada, o lado do
triângulo referente ao ofensor. No passado, foi colocada demasiada ênfase na identificação e na detenção dos ofensores.
Embora isto possa reduzir um tipo específico de problema criminal, particularmente se os ofensores detidos
contribuírem para uma grande parte do problema, essa redução é, frequentemente, temporária à medida que novos
ofensores substituem os antigos ofensores.
O problema da substituição dos ofensores é particularmente agudo nas atividades relacionadas com a aquisição
de dinheiro: como o tráfico de droga, os assaltos, os roubos, a prostituição, etc. Por esta razão, as polícias chegaram à
conclusão que ajuda aprender-se mais acerca das razões que levam os ofensores a serem atraídos por certas vítimas e
locais, daquilo que eles especificamente ganham ao ofender, e daquilo, se é que existe algo, que possa prevenir ou
reduzir as suas taxas de delito.
Locais
É igualmente importante que se analise o lado do triângulo referente ao local. Como referido anteriormente,
certos locais são responsáveis por uma significativa quantidade de atividade criminal. Uma análise desses locais poderá
indicar-nos a razão porque são tão favoráveis à ocorrência de um determinado tipo de crime e indicar-nos as formas
pelas quais eles poderão ser alterados, para inibir os ofensores e proteger as vítimas. Por exemplo, colocar os caixas
multibanco dentro das agências bancárias poderá fazer reduzir a quantidade de informação que um ofensor pode obter
acerca das suas potenciais vítimas (que elas estão a levantar dinheiro no banco, que elas põem o dinheiro no bolso da
frente do lado esquerdo) e poderá reduzir a vulnerabilidade das vítimas quando estão de costas para os potenciais
ofensores, ao servirem-se nos caixas multibanco.
Supervisores, Gestores e Guardiões
Existem pessoas, ou coisas, que podem exercer um controlo sobre cada um dos lados do triângulo, para que o
crime tenha menos probabilidade de ocorrer. Os ofensores poderão, por vezes, ser controlados por supervisores como a
polícia e os funcionários da reinserção social. Os alvos e as vítimas podem ser protegidos pela presença de guardiões.
Os locais, também, podem ter guardiões ou gerentes os quais poderão exercer influência tanto nos ofensores como nas
vítimas. A resolução de problemas, com sucesso, assenta na compreensão, não só, da forma como todos os três lados do
triângulo interagem mas, também, na forma como os ofensores, as vítimas e os locais são, ou não são, controlados por
terceiros.21
Questões Exemplificativas para se Analisar Problemas
As agências policiais deverão fazer uma lista das questões, acerca da natureza do problema, que necessitam de
ser respondidas, antes de se poder desenvolver respostas novas e eficazes. 22Seguem-se 15 questões exemplificativas
acerca do problema dos roubos, descrito anteriormente na parte “Identificar os Interessados”.
Vítimas
1. Quem são as vítimas (idade, raça, gênero)? Para quem trabalham? Qual foi a natureza das ofensas?
2. Em que altura do dia foram as vítimas ofendidas?
3. Existem alguns funcionários da entrega de comida ao domicílio que tenham sido ofendidos mais do que uma
vez? Existem alguns funcionários da entrega de comida, de determinados restaurantes, que foram ofendidos com mais
frequência que outros?

18 Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington,
D.C.: U.S. Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
19 Farrell, G. e K. Pease. 1993.
20Rave Parties. Michael S. Scott. 2002. ISBN: 1-932582-13-4
21 Módulo de formação não publicado e desenvolvido por Rana Sampson sob os auspícios do Community Policing Consortium do the Bureau of
Justice Assistance, U.S. Department of Justice.
22 Clandestine Methamphetamine Labs, 2.ª edição. Michael S. Scott e Kelly Dedel. 2006. ISBN: 1-932582-15-0
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 26
4. Qual o grau de medo que têm as pessoas que entregam comida ao domicílio? Quais as áreas que mais temem?
Eles têm algumas sugestões sobre formas de cumprirem com mais segurança as suas obrigações? Eles estão munidos
de algum tipo de equipamentos de segurança, ou foi-lhes prestada formação acerca da sua segurança?
5. O que é que outras jurisdições, que enfrentaram o mesmo problema, fizeram para aumentar a segurança das
pessoas que se dedicam à entrega de comida ao domicílio? Quais as normas que se mostraram mais eficazes e porquê?
Locais (Cena do Crime, Localização, Ambiente)
6. Onde é que os roubos ocorreram – no local das entregas, no percurso de ida para o local de entrega, ou perto
do estabelecimento de comida rápida? Qual a conformidade e proximidade entre os locais das ofensas e as áreas em
que as pessoas das entregas não costumam ir?
7. Dos roubos que ocorreram longe do estabelecimento de comida rápida, qual é a distribuição dos locais nos
quais os roubos ocorreram (prédios de apartamentos, condomínios fechados, casas isoladas, habitação social, motéis e
hotéis, parques de estacionamento, edifícios de escritórios, etc.)?
8. Os funcionários das entregas foram roubados perto das suas viaturas, ou longe delas? Qual o tipo de viatura
que os funcionários das entregas conduzem? Estão assinaladas como viaturas de entrega de comida?
9. Onde se encontra localizada a loja de comida rápida em relação ao bairro onde não são feitas as entregas?
Quais os caminhos que os empregados das entregas tomam para fazer as suas entregas?
10. Existem algumas semelhanças ambientais entre os locais específicos dos roubos (iluminação, arbustos,
isolamento ou com áreas escondidas)?
Ofensores
11. Qual é o método empregue nas ofensas? Existem alguns padrões evidentes? Que armas têm sido utilizadas, e
em quantos dos ataques?
12. Como é que os ofensores escolhem as suas vítimas? O que é que torna algumas vítimas mais atraentes ao
roubo que outras? O que é que torna as pessoas que não são vítimas menos atraentes?
13. Os ofensores fazem pedidos de entrega para atraírem a si os empregados das entregas, ou encontram as suas
vítimas por acaso? Se os ofensores fazem pedidos de comida para roubar os empregados das entregas, aqueles pedidos
são feitos no nome dos verdadeiros “clientes” ou são feitos com nomes falsos?
14. Que quantidade de dinheiro costuma ser roubada pelos ofensores numa ocorrência típica? Mais alguma coisa
é roubada?
15. Os ofensores vivem no(s) bairro(s) onde os roubos ocorrem? Se sim, eles são conhecidos dos moradores, os
quais possam ter alguma influência sobre aqueles?
(Para Informações adicionais sobre a análise de problemas, ver o capítulo sete do guia “Problem-Oriented
Policing”, de Herman Goldstein, e o capítulo cinco do guia “Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities”,
publicado pelo U.S. Department of Justice. Uma lista de referências completa pode ser encontrada na pág. 38).
Recursos que Poderão Ajudar a Analisar os Problemas
Existe um número de instrumentos que nos poderão ajudar a recolher dados, e outras informações, acerca dos
problemas criminais e de desordem.
Analistas criminais. Os analistas criminais podem-nos prestar uma grande ajuda na recolha e na análise de
dados, e outras Informações, acerca de crimes específicos e de problemas decorrentes de desordens.
Sistemas de Gestão de Registos. Este tipo de sistemas pode ajudar as agências policiais a recolher, a recuperar
e a analisar informações acerca dos problemas. Em particular, ele deve ser capaz de, rapidamente e com facilidade,
ajudar os utilizadores a identificar as chamadas de serviço repetidas relacionadas com vítimas, com locais e com
ofensores específicos.
Sistemas de informação geográfica/mapeamento. 23Estes sistemas podem-nos esclarecer a respeito dos
padrões, ajudam a identificar áreas problemáticas, e mostram as potenciais ligações entre os hot spots criminais e
outros tipos de estabelecimentos (máquinas multibanco, lojas de venda de bebidas, etc.).
Assistência técnica. Os profissionais ligados à justiça criminal, que se especializaram no uso das técnicas de
Resolução de Problemas, para resolver problemas criminais específicos como os homicídios, os roubos, o tráfico de
droga nas ruas, etc., podem fornecer uma ajuda inestimável às agências de polícia e aos membros da comunidade.
Acrescentando, outras pessoas não ligadas à justiça criminal, com formação numa diversidade de áreas, também,
poderão ajudar nos esforços de resolução de problemas. Por exemplo, um arquiteto poderá ser capaz de ajudar a avaliar
os riscos criminais relacionados com a concepção de um conjunto de blocos de apartamentos, e um perito em saúde
mental poderá ser capaz de ajudar a avaliar a resposta corrente de uma comunidade às pessoas com doença mental e
ajudar a melhorar a resposta.
Inquéritos aos moradores/comerciantes. Estes inquéritos podem ajudar a polícia e as entidades com base na
comunidade a identificar e a analisar os problemas, a calcular os níveis de medo, a identificar as respostas mais
indicadas e a determinar a eficácia real e percepcionada dos esforços de resolução dos problemas. Estes inquéritos,
também, podem ajudar a determinar as taxas de vitimização geral e repetida, particularmente as relacionadas com as
cifras negras e com os crimes raros.

23 Acquaintance Rape of College Students. Rana Sampson. 2002. ISBN: 1-932582-16-9


Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 27
Inquéritos ambientais criminais. Estes instrumentos podem ajudar as agências de polícia e as entidades da
comunidade a, sistematicamente, avaliarem o ambiente físico dos locais problemáticos e as formas pelas quais as
caraterísticas específicas dos locais conduzem ao crime e à desordem.
Entrevistas com as vítimas e os ofensores. As entrevistas, sistemáticas e estruturadas com as vítimas e com os
ofensores, podem fornecer reflexões importantes sobre as dinâmicas de um determinado problema criminal. Por
exemplo, as entrevistas realizadas a ladrões de rua, de uma determinada localidade, forneceu importantes Informações,
à polícia, relacionadas com a seleção das vítimas e com outros aspetos dos roubos que puderam ser usadas para
prevenir futuras vitimizações.
Formação. A formação em Resolução de Problemas, com uma ênfase na análise, pode ajudar a polícia e os
cidadãos a desenvolver e a melhorar as suas competências de resolução de problemas.
Laptops/computadores portáteis. Quando instalados nos carros patrulha, a última geração de computadores
portáteis pode fornecer, aos agentes policiais, acesso direto a dados úteis e atempados sobre o crime e permitir-lhes
analisar problemas criminais e a produzir mapas enquanto de patrulha.
Internet. Ao usarem serviços de pesquisa online sobre assuntos legais e comerciais, o pessoal policial e os
membros da comunidade podem, rapidamente, saber a quem pertence determinada propriedade que se tornou num
paraíso para o tráfico de droga, a apurarem qual a legislação aplicável a um determinado problema e a rever a cobertura
noticiosa das comunidades que enfrentam problemas semelhantes. De forma similar, o pessoal policial e os membros
das comunidades podem usar a internet para a troca de Informações com outros que já trataram de problemas idênticos
e para obterem acesso a redes especificamente dedicadas ao policiamento comunitário e à resolução de problemas.
9. Resposta
Responder a um Problema
Após um problema ter sido claramente definido e analisado, teremos que nos confrontar com o desafio último
do Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas: a procura da forma mais eficaz para lidar com ele. 24
O terceiro estádio do modelo SARA foca-se no desenvolvimento e na implementação de respostas eficazes para
o problema. Antes de se entrar neste estádio, uma agência policial deve ter a certeza de que analisou completamente o
problema. A tentação para se implementar uma resposta e para se “começar a fazer alguma coisa”, antes de a análise
estar terminada, é muito forte. Mas, os remedeios rápidos raramente são eficazes a longo prazo. Provavelmente, os
problemas persistirão se as soluções não forem concebidas à medida das causas específicas do problema. 25
Para se desenvolver respostas à medida dos problemas criminais, os solucionadores de problemas devem rever as suas
descobertas acerca dos três lados do triângulo do crime – as vítimas, os ofensores e os locais – e deverão desenvolver soluções
criativas que tratem de, pelo menos, dois dos lados do triângulo.20 Eles devem fazer uma aproximação ao desenvolvimento de
soluções sem quaisquer noções preconcebidas acerca do que deve ser feito. Frequentemente, os resultados na fase da análise
apontam, à polícia e aos cidadãos, para direções inesperadas. Por exemplo, suponhamos que a agência policial que enfrenta o
problema dos roubos aos empregados das entregas de fast food, descrito anteriormente, acaba por descobrir:
➢ Que 14 (quatorze) empregados das entregas foram roubados no ano anterior;
➢ Que nove dos roubos ocorreram entre as 22h 00 min e as 02h 00 min, nas noites das quintas-feiras, das sextas-
feiras e dos sábados;
➢ Que quatro das lojas de entrega de comida ao domicílio contaram para 10 dos roubos e que o pessoal que trabalha
para aquelas quatro lojas sofreram sete daqueles roubos;
➢ Que o pessoal das duas lojas que foram mais vitimizadas efetuaram entregas até às 02h 00 min, enquanto as
outras duas passaram a deixar de o fazer às 12h 00 min;
➢ Que em sete dos roubos, a polícia foi incapaz de localizar o “cliente” que fez o pedido, o que leva a crer que os
pedidos eram solicitados sob nomes falsos, ou indicando falsas moradas;
➢ Que as festas ao ar livre de grandes dimensões, muitas integrando jovens adolescentes mais velhos, eram
realizadas nas noites de cada fim de semana, em diversos locais públicos, perto de áreas residenciais. As áreas das festas
encontravam-se nas vizinhanças onde ocorreram os roubos. Eram servidas bebidas alcoólicas naquelas festas, e existia alguma
preocupação entre os moradores quanto ao barulho e quanto ao consumo de álcool por menores, naquelas festas;
➢ Que os empregados das entregas de comida ao domicílio referiam que alguns dos roubos eram cometidos por
adolescentes que pareciam estar sob efeito do álcool;
➢ Que vários empregados das entregas de comida, também, referiam terem visto, ou a passar por eles, um grupo de
adolescentes apeados antes de terem sido roubados; e
➢ Que em 11 dos roubos, os ofensores roubaram menos de 40 dólares. Nos outros três roubos, foram roubados entre
40 e 60 dólares.

Uma resposta concebida para este problema poderia incluir o seguinte:


➢ Um acordo entre as duas lojas mais vitimizadas no sentido de terminarem as entregas a partir da meia-noite e
para solicitarem aos clientes o levantamento das suas encomendas, nas suas lojas, entre a meia-noite e as 02h 00 min;
➢ Um acordo entre as lojas para pedir aos clientes em que nome constaria a fatura, ao realizarem o pagamento da
comida, para que os empregados das entregas pudessem levar consigo, somente, a mínima quantidade de dinheiro necessário para
fazer os trocos. O montante exato poderia ser solicitado, mas não exigido;

24 Burglary of Single-Family Houses. Deborah Lamm Weisel. 2002. ISBN: 1-932582-17-7


25Misuse and Abuse of 911. Rana Sampson. 2002. ISBN: 1-932582-18-5
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 28
➢ Um acordo entre as lojas para passarem a usar um sistema melhorado de identificação das chamadas de forma o
cruzar os nomes indicados com os números de telefone. Se os nomes dos clientes não coincidirem com o número e o nome
indicado no mostrador do telefone, através do identificador de chamadas – possivelmente por causa da pessoa que fez o pedido
ser um convidado do residente – o pessoal da loja de comida procuraria o endereço do morador para confirmar se o número de
telefone coincidia com o endereço. O morador seria contatado via telefone, entretanto, para confirmar o pedido;
➢ Um acordo entre as lojas para a implementação de uma norma para a não entrega de um pedido, se isso
implicasse uma caminhada por entre uma grande multidão que estivesse presente na área. Se o empregado das entregas fosse
incapaz de efetuar a entrega por esta razão, o empregado regressaria à loja, telefonaria ao cliente e solicitaria que este se encontre
com o empregado numa zona próxima, mas afastada da multidão; e
➢ Um acordo com os moradores, que deram início à petição por causa da não prestação do serviço de entrega de
comida no bairro, para procederem à comunicação da natureza e as razões das novas normas referentes às entregas de comida
(com exceção da confirmação do identificador de chamadas) aos outros moradores. O responsável pela petição, então, transmitiria
esta informação numa reunião de moradores e através de panfletos entregues a cada morador. Em várias das festas com
adolescentes, os moradores poderiam informar os jovens presentes que os empregados das entregas não transportam consigo, a
todo o momento, mais do que 10 dólares (frequentemente muito menos que isso).
A Tradição Dominante
Desde o início, temos estado, constantemente, a tentar combater a tendência natural de voltar às respostas
tradicionais.26
Tendo sido depositada demasiada confiança nas respostas tradicionais no passado (amplos varrimentos de área,
ou detenções, patrulhamento intensivo, etc.), é natural que as agências de polícia venham a gravitar à volta destas
mesmas táticas para lidar com os problemas no futuro - mesmo que essas mesmas táticas não se tenham provado
especialmente eficazes, ou sustentáveis a longo prazo.
Por exemplo, no caso dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio, é fácil de ver como a polícia
poderia ter decidido avançar com patrulhamentos em viaturas, ou a peados, na área problemática, aos fins de semana,
entre as 22 h 00 min e as 02 h 00 min. Mas esta resposta teria sido relativamente dispendiosa para o departamento de
polícia. As respostas criativas, que vão além do sistema de justiça criminal e que se focam na prevenção de futuras
ocorrências, geralmente, surtem melhores resultados.
Os cidadãos e a polícia são tentados, frequentemente, a implementar programas e respostas usadas noutras
comunidades. Embora possa ser bastante útil aprender-se como foi que outras comunidades foram bem-sucedidas ao
lidarem com problemas semelhantes (e encorajamos as agências policiais a pesquisarem outras abordagens como parte
das suas análises), deveremos ser cautelosos quanto ao adotar soluções tiradas da prateleira, a não ser que a situação
seja, impressionantemente, semelhante.27
A polícia ao enfrentar o problema dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio poderá sentir-se
inclinada a sugerir aos serviços públicos para aumentar a iluminação pública na área problemática, porque isto foi uma
das maneiras que outras comunidades implementaram com sucesso para lidar com o problema dos roubos. Mas, a não
ser que os roubos tenham ocorrido em áreas que são fracamente iluminadas, esta estratégia, provavelmente, terá pouco
efeito no problema dos roubos aos empregados da distribuição de comida.
A chave para se desenvolver respostas propositadamente concebidas é garantindo que as respostas são
devidamente focadas e diretamente ligadas às conclusões que resultaram da fase analítica do projeto.
Para exemplos específicos de resoluções de problemas, consultar a Série de Guias Policiais Orientados para a Resolução
de Problemas, desenvolvida pelo Center for Problem-Oriented Policing (www.popcenter.org) e custeados pelo COPS
Office. Consultar, também, a secção de Recursos Adicionais, a qual lista alguns dos problemas criminais e de desordem
social os quais poderão ser tratados com o uso de abordagens de resolução de problemas.

9. Avaliação de resultados;
Avaliar o Impacto sobre o Problema Selecionado
Nos últimos 20 anos, tornou-se claro para muitos dos que se dedicam ao policiamento que, tanto as abordagens
tradicionais ao tratamento do crime, do medo e de outros problemas, como as avaliações da sua eficácia, ficaram
aquém das expetativas de muita gente. Isto fez com que um número significativo de departamentos de polícia
procurasse novas abordagens para lidar com velhos problemas. Isto, também, levou a que muitos departamentos de
polícia se começassem a interrogar se, e até que ponto, o seu trabalho realmente fazia a diferença, para além de lidar
com as ocorrências imediatas. 28
Medidas Tradicionais
Uma quantidade de parâmetros tem sido usada, tradicionalmente, pelas agências policiais e pelos membros das
comunidades, para avaliar a eficácia das suas medidas. Naqueles incluem-se: o número de detenções, os níveis dos
crimes denunciados, os tempos de resposta policial, a quantidade de autorizações concedidas, as reclamações dos
cidadãos e diversos outros indicadores do trabalho policial, como as chamadas de serviço e o número de entrevistas de
26 Check and Card Fraud. Graeme R. Newman. 2003. ISBN: 1-932582-27-4
27 Stalking. The National Center for Victims of Crime. 2004. ISBN: 1-932582-30-4
28 Gun Violence Among Serious Young Offenders. Anthony A. Braga. 2004. ISBN: 1-932582-31-2
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 29
campo realizadas. 29
Vários daqueles parâmetros poderão ser-nos úteis para se avaliar o impacto de um esforço de resolução de
problemas, incluindo: as chamadas de serviço relacionadas com o problema (especialmente uma redução na repetição
das chamadas de serviço envolvendo locais, vítimas e ofensores específicos); as mudanças na incidência dos crimes
denunciados; e as mudanças nos níveis das reclamações dos cidadãos. Outros parâmetros tradicionais, como as
detenções e o número de entrevistas de campo realizadas, poderão não ser assim tão úteis para os nossos esforços de
resolução de problemas, a não ser que esses parâmetros possam ser diretamente ligados a uma redução, a longo prazo,
dos malefícios associados a um determinado problema criminal.
Mesmo as reduções nas chamadas de serviço e nas reclamações dos cidadãos poderão não ser os melhores
indicadores de, e até que ponto, estarmos a causar um impacto positivo no problema, porque, nalguns casos, aqueles
parâmetros poderão, na realidade, aumentar como resultado do nosso esforço de resolução dos problemas. Nalguns
casos, tal incremento poderá ser um resultado positivo, se isso significar que os moradores se sentem mais à vontade
em registarem as suas reclamações, ou porque acreditam que as suas chamadas serão levadas a sério. Contudo, quando
o esforço de resolução de problemas resulta num aumento das detenções, ou num aumento das chamadas de serviço, as
agências policiais devem encarar aqueles resultados positivos com cautela. Será que eles são os resultados pretendidos
da iniciativa?
Uma Estrutura Não Tradicional
Avaliar o impacto de um esforço de resolução de problemas poderá requerer o uso de uma estrutura não
tradicional para se determinar a sua eficácia. Uma daquelas estruturas desenvolvida por Eck e por Spelman identifica
cinco diferentes níveis, ou tipos, de impactos positivos nos problemas. Eles são: 30
1. A total eliminação do problema;
2. Menos incidentes;
3. Incidentes menos graves ou perniciosos;
4. Melhor tratamento das ocorrências/uma resposta ao problema melhorada; e
5. A remoção do problema como uma das preocupações policiais (transferindo o tratamento para outros mais
capazes em lidar com o problema).
Também, foi sugerido um sexto impacto positivo:
6. As pessoas e as instituições afetadas pelo problema ficam melhor preparadas para lidar com um
problema semelhante no futuro.31
Alguns dos parâmetros listados acima poderão ser adequados para os nossos esforços de resolução dos
problemas. Outros, não listados acima, poderão ser, ainda, mais adequados. Após termos analisado o nosso problema,
poderemos pretender modificar os parâmetros inicialmente selecionados, ou rever os parâmetros. Os parâmetros que
selecionarmos dependerão da natureza do problema escolhido, das preferências da polícia e da comunidade, e da
habilidade da nossa jurisdição em recolher os dados necessários, tanto antes do início do projeto, bem como após ele ter
sido implementado no terreno por algum tempo.
Um número de parâmetros não tradicionais poderão esclarecer-nos sobre a forma como um problema foi
afetado.32 A chave está em nos focarmos nos parâmetros que demonstram o impacto no problema apontado.
Parâmetros Demonstrativos do Impacto no Problema
Quatro casas de crack, existentes numa área de 12 blocos de apartamentos, foram encerradas e as avaliações,
posteriores, indicaram que o tráfico de droga não se havia deslocalizado para os cinco blocos de apartamentos das
redondezas. As chamadas de serviço, relativamente ao tráfico de droga nas ruas da área-alvo, haviam sido reduzidas, de
uma média de 45 por mês par 8 por mês. O número de moradores que relataram ser testemunhas do tráfico de droga,
durante o mês anterior, foi reduzido de 65%, antes dos esforços policiais, para 10% após a intervenção.
Antes da intervenção policial, 40% daqueles que foram vitimizados duas vezes por assaltantes, no período de
seis meses seguinte foram, de novo, revitimizados. Após os esforços policiais, só 14% das vítimas voltaram a ser
revitimizadas. No cômputo geral, os assaltos na área-alvo foram reduzidos, de 68 num ano para 45 no ano seguinte.
Porque os esforços de resolução de problemas conseguiram interromper a venda de armas aos jovens que
procuravam a aquisição de armas de fogo semiautomáticas, mais letais, o comércio de armas, o número e a gravidade
das ofensas à integridade física, resultantes dos tiroteios a partir de viaturas em andamento, foram significativamente
reduzidas, mesmo, apesar do número de disparos com armas de fogo a partir de viaturas em andamento ter decrescido
ligeiramente. Antes da intervenção policial, ocorreram 52 daquelas ocorrências na cidade e que resultaram em 21
ofensas à integridade física graves e 5 homicídios. Após os esforços policiais, ocorreram 47 tiroteios a partir de viaturas
em andamento as quais resultaram em 8 ofensas graves à integridade física e nenhum homicídio.
No ano transato ao dos esforços policiais, a polícia recebeu uma média de 50 denúncias por mês relacionadas
com desavenças entre vizinhos. Uma média de 10 daquelas denúncias ficaram resolvidas com uma única intervenção
de um agente policial, mas aproximadamente 40 das chamadas de serviço eram efetuadas pelos moradores de 22 locais
29 Prescription Fraud. Julie Wartell e Nancy G. La Vigne. 2004. ISBN: 1-932582-33-9
30 Identity Theft. Graeme R. Newman. 2004. ISBN: 1-932582-35-3
31 Crimes Against Tourists. Ronald W. Glesnor e Kenneth J. Peak. 2004. ISBN: 1-932582-36-3
32 Underage Drinking. Kelly Dedel Johnson. 2004. ISBN: 1-932582-39-8
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 30
habitualmente problemáticos. Assim que os esforços de resolução do problema foram implementados, o departamento
policial passou a receber uma média de 12 denúncias mensais. Cinco dos locais repetidamente problemáticos
mantiveram-se sem alteração, mas eles contaram para menos de 25% das denúncias recebidas mensalmente.
Parâmetros Não Demonstrativos do Impacto no Problema
Foram realizadas cinco reuniões entre a polícia e a comunidade no decurso de um ano de projeto. (As
conclusões relativas ao impacto sobre o problema não se podem extrair deste parâmetro. Se um dos objetivos do
projeto for o de melhorar a compreensão da polícia acerca dos problemas comunitários, um dos parâmetros a ter em
conta é o nível de percepção dos moradores acerca dos melhoramentos que resultaram dos esforços desenvolvidos, o
qual poderá ser determinado através de inquéritos realizados antes e após a implementação das medidas.).
Foram realizadas verificações das condições de segurança em 43 residências, pelos agentes policiais, da
urbanização-alvo. (Embora isto possa ser importante para se documentar o número de verificações de segurança a
residências, seria mais importante saber-se até que ponto os assaltos foram reduzidos como resultado da iniciativa.)
Os agentes policiais e os membros da comunidade participaram numa limpeza ao bairro e removeram perto de
500 kg de lixo. (Esta informação não, necessariamente, indica uma redução nos níveis dos problemas criminais e de
desordem em causa, e uma limpeza esporádica poderá ser, somente, um melhoramento temporário. Seria mais
importante demonstrar-se que os problemas criminais e de desordem em causa foram reduzidos como resultado de, ou
em conjunto com, a limpeza realizada.)
A polícia apreendeu para cima de 10 quilos de cocaína durante a iniciativa, a qual procurou alvejar as atividades
ligadas ao tráfico de narcóticos no distrito do sudoeste. (Este resultado não indica até que ponto as vendas de droga nas
ruas e quaisquer outros problemas relacionados – como a prostituição, a vadiagem, os graffiti, o lixo e a intimidação
dos moradores – foram reduzidos.)
Ajustar as Respostas Baseadas na Avaliação
Se as respostas implementadas não forem eficazes, a informação recolhida durante a análise deve ser revista.
Poderá ser necessário recolher-se novas Informações antes de se desenvolver e testar novas respostas. 33

10. Ferramentas de auxílio à tomada de decisão.


Tomada de decisão
TOMADA DE DECISÃO PELA POLÍCIA
Rosângela Pereira de Abreu Assunção[34]
As organizações empresariais modernas se caracterizam pela tomada de decisões baseada em regras e
precedentes, o que possibilita o estabelecimento de rotinas e padrões.
Na organização policial, ao contrário, na maioria das vezes a polícia é direcionada pelos eventos esporádicos com
aparência, duração, extensão e potencial muitas vezes incertos. Por exemplo, é possível predizer que cem roubos vão
acontecer em uma determinada cidade, durante um ano, mas são fatores imprevisíveis saber as datas, os criminosos, as
perdas de bens, os ferimentos nas vítimas e as respostas políticas. Não existe na polícia uma teoria geral que lhe
possibilita prever acontecimentos que justifiquem e racionalizem totalmente suas práticas.
Assim, tradicionalmente, a polícia se caracteriza pela tomada de decisões baseada numa racionalidade situacional,
que leva em conta as datas e os lugares específicos dos eventos, em vez de uma série de regras e regulamentos firmes.
(MANNING, 2003, p. 383).

33Street Racing. Kenneth J. Peak e Ronald W. Glensor. 2004. ISBN: 1-932582-42-8


34Rosângela de Pereira de Abreu Assunção é professora da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 31
Na organização policial o processo de tomada de decisão apresenta algumas peculiaridades:
1. A decisão dos policiais tem por base um processo de triagem de pessoas e eventos para um processamento posterior,
permitindo que a polícia administre a justiça e preserve os recursos organizacionais;
2. as decisões da polícia envolvem os casos e as decisões orientadas politicamente (estabelecimento de precedentes);
3. A visibilidade da tomada de decisões pela polícia varia. Muitas das decisões são virtualmente invisíveis ou de baixa
visibilidade;
4. a tomada de decisões pela polícia está marcada por grande complexidade e heterogeneidade (o objeto da conduta para
controle da polícia varia enormemente, desde o mau comportamento trivial até as grandes violações da lei criminal. Os julgamentos
do policiamento são influenciados pela percepção de trivialidade ou gravidade de um ato ou evento).
5. a escolha de agir é seguida pela pergunta “Como agir?” A polícia pode prender, escolher não fazer nada ou dar conselho,
advertir, ameaçar ou formalizar uma advertência. Pode mandar as pessoas para outros órgãos ou, em brigas domésticas, proceder a
mediação de conflitos.
Devido às peculiaridades acima mencionadas, é importante admitir que para um melhor processo de tomada de decisão na
organização policial deve-se considerar um modelo que possibilite o alinhamento da Gestão do Conhecimento e a Gestão da
Tecnologia da Informação (TI), em prol da Análise Criminal, no sentido de um melhor controle do fenômeno do crime e da
violência.
A INTELIGÊNCIA POLICIAL e a ANÁLISE CRIMINAL, consideradas como instrumentos de produção de
conhecimento, terão como princípio básico a coleta e o processamento de dados, disseminando o conhecimento
produzido sob a denominação de informação.
A) INTELIGÊNCIA POLICIAL: é a informação sistematizada, classificada e analisada, que foi codificada em
categorias relevantes para a polícia. O processo de inteligência descreve o tratamento dado a uma informação para que
ela passe a ser útil para a atividade policial.
O processo de atividade de inteligência envolve o julgamento bem informado, um estado de coisas, ou um fato
singular.
Segundo Manning (2003) a estratégia operacional não só disponibiliza, no tempo e no espaço, policiais e outros
recursos, mas também inclui a avaliação do número de policiais designados para uma certa posição e, ainda, a
distribuição das posições.
As estratégias operacionais podem ser classificadas em:
REATIVA: responder a eventos em seguida ao recebimento passivo de pedidos por serviço.
PROATIVA: quando o policial cria as condições de crime.
PREVENTIVA: ações provenientes da polícia para alterar, prevenir ou intervir antecipadamente nas situações.
Tradicionalmente, a ação da polícia é principalmente reativa. Estas três estratégias se interagem e não são mutuamente
excludentes.
Por outro lado, essas estratégias operacionais estão diretamente relacionadas com as funções de inteligência da polícia.
A Inteligência Policial adquire três formas:
INTELIGÊNCIA PROSPECTIVA: é a informação coletada antes de um crime ou problema, com base na identificação de
alvos selecionados e com o desenvolvimento de alguma “teoria” de base social, ou pela compreensão da natureza, da aparência e da
frequência do fenômeno a ser controlado.
INTELIGÊNCIA RETROSPECTIVA: é a informação que resulta do curso normal do trabalho policial; por exemplo, dos
arquivos de prisões, das violações de trânsito e dos mandados de prisão pendentes.
INTELIGÊNCIA APLICADA: Busca associar nomes de suspeitos já anteriormente conhecidos com atos conhecidos, ou é
usada para conectá-los.
O uso da inteligência aplicada pode exigir dados processados analiticamente, tais como material forense e trabalho de
inteligência ligando suspeito a hora, lugar, oportunidade, motivo e outros.
Qualquer forma de tecnologia da informação vai interagir com as funções de estratégia e inteligência. Por
exemplo:
• Nas estratégias preventivas em que são usadas as inteligências prospectiva e retrospectiva:
As tecnologias são importantes para o armazenamento de dados, sua recuperação e uso
potencial.
• Nas estratégias proativas em que são usadas as inteligências prospectiva e retrospectiva:
É necessário o estabelecimento de alvos. A análise de redes e a tecnologia dos computadores são essenciais para
grandes projetos que envolvam, por exemplo, o mapeamento dos membros de um grupo de traficantes de drogas.
Poderão ser feitas também o uso da informação de modo preventivo ou de análise, com a ajuda de programas de
computador específicos.
• Nas estratégias reativa, com uso de inteligência aplicada e retrospectiva:
O uso estratégico mais importante das tecnologias de informação está associado a essa estratégia. Essas
estratégias usam inteligência aplicada e retrospectiva, obtida através de informações, confissões, admissão de crimes
conhecidos anteriormente, ou entrevistas de suspeitos feitas por detetives.
Assim que um crime possível tenha sido identificado e a polícia tenha informações sobre seu conteúdo, pessoal,
localização e consequências, são usadas tanto a inteligência prospectiva como a retrospectiva. Por exemplo, a
inteligência aplicada é claramente ampliada pela comparação automatizada computadorizada das impressões digitais.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 32


Na medida em que o propósito da tecnologia de informação é organizar e sistematizar dados acumulados e
armazenados existentes, e facilitar sua recuperação, criando formatos com os quais se possa trabalhar, tal tecnologia
combina bem com o policiamento reativo.
Dados sobre veículos roubados, placa de carros, cartas de motoristas, mandados pendentes e fichas criminais
estão entre os tipos sistematizados e rapidamente disponíveis. Para situações onde um policial intervém e fica indeciso
sobre a situação do suspeito, sem saber se o detém ou prende, os sistemas computadorizados podem ajudar na decisão a
ser tomada.
Eles vão fornecer as informações necessárias que permitem à polícia deter, e talvez acusar, uma pessoa que, de
outra forma, poderia não ser questionada nem presa e acusada por um crime ou infração.
B) Segundo Steven Gottlieb (1994) a ANÁLISE CRIMINAL é:
“Um conjunto de processos sistemáticos (...) direcionados para o provimento de informação oportuna e pertinente sobre os
padrões 2 do crime e suas correlações de tendências 3, de modo a apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento e 2
A expressão Padrão corresponde a uma característica da ocorrência de um determinado delito, segundo a qual pelo menos uma
mesma variável daquela ocorrência se repete em outra, ou outras ocorrências ao longo do tempo (antes e/ou depois). Exemplo de
variável repetida: o dia da semana, hora, local, tipo de vítima, descrição do autor, modus operandi , etc... (Cme, DANTAS;
SOUZA ,2007). A expressão Tendência, indica uma propensão quantitativa geral (aumento, estabilização ou diminuição) de um
fenômeno da segurança pública, por exemplo: as ocorrências de um delito específico. Tal distribuição de recursos para prevenção e
supressão de atividades criminais, auxiliando o processo investigativo e aumentando o número de prisões e esclarecimentos de
casos. Em tal contexto, a análise criminal tem várias funções setoriais na organização policial, incluindo a distribuição do
patrulhamento, operações especiais e de unidades táticas, investigações, planejamento e pesquisa, prevenção criminal e serviços
administrativos (como orçamento e planejamento de programas).”
A ANÁLISE CRIMINAL compreende, essencialmente, o ato de separar e examinar as diversas partes do
registro de um atendimento ou ocorrência policial, a fim de conhecer sua natureza, proporções, funções e relações com
variáveis homólogas de outras ocorrências. A análise pode subsidiar uma pronta resposta tática, favorecendo prisões e
esclarecimento de casos. Diferentemente, pode estar voltada para questões estratégicas, caso de potenciais problemas de
segurança pública de médio e longo prazos.
Tipos de Análise Criminal:
ANÁLISE CRIMINAL TÁTICA: Identificam um padrão resultante das ações de um determinado delinquente que comete
uma série de crimes, do mesmo tipo penal, em uma mesma localidade, e em um pequeno espaço de tempo. Provê informação de
apoio às áreas de pessoal (patrulhamento e investigação) na identificação de problemas criminais específicos e imediatos e na
prisão de delinquentes. Os dados da análise criminal tática são utilizados para promover uma pronta resposta para situações
operacionais.
ANÁLISE CRIMINAL ESTRATÉGICA: está voltado para a determinação de um padrão geral de delinquência (por
exemplo: arrombamentos) e que produz uma série de vítimas tipicamente pertencentes a um mesmo grupo de risco (a exemplo, os
comerciantes de uma determinada cidade). Está, pois, voltada para “projeções de cenários”, formulados a partir de variações dos
indicadores de criminalidade. Ela inclui ainda a realização de estudos e respectiva elaboração de planos para a identificação e
aquisição de recursos futuramente necessários. Um dos resultados típicos da análise criminal estratégica é a formulação de
programas preventivos.
ANÁLISE CRIMINAL ADMINISTRATIVA: provê os gestores de informações gerais de natureza econômica, social,
geográfica, ou de outra área qualquer do conhecimento com interface com a segurança pública. Está focada nas atividades
genéricas de produção de conhecimento. Tem como propósito instrumentar a gestão policial, o poder executivo local, conselhos
comunitários e grupos da sociedade organizada.
As bases de dados constituem a matéria prima da Análise Criminal. As análises podem apresentar alto valor tático
ou estratégico se direcionadas para os registros de categorias pontuais de dados sobre os crimes (dados de materialidade,
autoria e modus operandi) ou de informações genéricas (números de delitos, índice ocorridos e respectivas taxas de
propensão deve ser verificada ao longo de uma área geográfica e série histórica, extensas o suficientemente para que a
tendência possa ficar confiavelmente confirmada. (Cfme, DANTAS; SOUZA, 2007) resolução). É de extrema
importância a existência de uma base de dados nacional que funcione como suporte mais abrangente e possibilite
resultados mais confiáveis e inclusivos.
A Análise Criminal pode envolver o processamento de milhares de variáveis com o objetivo de estabelecer as
relações entre os dados constantes de uma base. Para tanto, é preciso o auxílio de ferramentas da Tecnologia da
Informação (TI) indispensáveis para o processamento de grandes quantidades de dados. Várias ferramentas da TI,
destacando-se os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) estão disponíveis para a Análise Criminal:
Crime Watch, Crime Analysus Extension, Crime Info, Crime Analyst, Crime Mapper, Crime Solv, Crime Stat 2.0,
Crime View, Map ALI Desktop, GeoGenie, Rige, S-Plus, Space Stat, Spatial Analyst, STAC, Vertical Mapper, Terrain
Tools, VMS 200 Video Mapping System, etc…
Finalidade da Análise Criminal:
1. Produção de conhecimento relativo à identificação de parâmetros temporais e geográficos do crime, bem como detectar a
atividade e identidade da delinquência correspondente.
2. Identificar e prover de conhecimento sobre a relação entre dados de ocorrências criminais e outros dados relevantes para
os órgãos do Sistema de Justiça Criminal;
3. Subsidiar ações dos operadores do sistema de justiça criminal (policiais – análise criminal tática) bem como dos

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 33


formuladores de políticas de controle (gestores – análise criminal estratégica) “Com a utilização dos produtos de análise,
inquestionavelmente, é possível lidar mais efetivamente com incertezas e ameaças contra a Segurança Pública.” (DANTAS;
SOUZA, 2007)
4 Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) possibilitam o posicionamento espacial de variáveis, incluindo a
espacialização das ocorrências criminais, distribuição de recursos humanos, bens e serviços, características sócio-econômicas, etc.
A utilização de ferramentas de SIG vem apoiando de forma inovadora a gestão da segurança Pública na formulação de novas
políticas, programas e planos no que concerne a prevenção e repressão da criminalidade, através da visualização imediata de
tendências, padrões e outras regularidades do fenômeno. Uma exemplo disso é a identificação de PONTOS QUENTES, locais de
alta densidade da criminalidade. (Cfme. DANTAS; SOUZA, 2007.

Referências

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Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 34


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www.usdoj.gov/cops .

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 35


Parte II – Polícia Comunitária
Plano da Disciplina:
Objetivo: Criar condições para que os discentes do CAS possam identificar estratégias utilizadas na implantação da Polícia
Comunitária, apontar estratégias de mobilização da comunidade por meio de ações que possibilitem a participação da
comunidade, utilizar ferramentas da gestão da qualidade no processo de resolução de problemas e na melhoria dos processos
realizados, bem como aplicar técnicas de resolução de conflitos de forma pacífica.
Ementa:
1. Doutrina de polícia comunitária;
2. Origem do PM no seio da sociedade;
3. O PM e os limites da lei;
4. Experiências de polícia comunitária: internacional e nacional (ronda cidadã);
5. Planejamento: gestão pela qualidade em segurança pública;
6. Mobilização social;
7. Técnicas de mediação de conflitos;
8. Noções de projetos de implantação de policiamento comunitária; e
9. Resposta da sociedade ao modelo de segurança comunitária.
Metodologia: Aulas expositivas, práticas e simulações.
Bibliografia Básica:
SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA – SENASP. Curso Nacional de Promotor de Polícia
Comunitária / Grupo de Trabalho, Portaria SENASP nº 002/2007 - Brasília – DF. 2007.
ANDRADE, S. C. O., Mudanças e oportunidade na Gestão Pública: “ O Novo Cidadão”. RJ, 2001
ARRUDA, L. E. P., O Líder Policial e suas Relações com os Conselhos Comunitários de Segurança em São Paulo, SP: A
Força Policial, nº 16, out/dez, 1997.
BAYLEY, D. H. Padrões de Policiamento: Uma análise Internacional Comparativa. Tradução René Alexandre Belmont. SP.
Ed. da Universidade de São Paulo. 2001.
Série Polícia e Sociedade, nº 1
BONONI, J. C.,. Conselhos Comunitários de Segurança e o Policiamento Comunitário. SP: Direito Militar, nº 15,
Jan/Fev,1999.
BRAGHIROLLI, E. M., Temas de Psicologia social, Petrópolis, RJ, Editora Vozes,1994.
Articulação com a Matriz Curricular Nacional: A presente disciplina leva em conta os princípios da Matriz Curricular
Nacional 2014 e está inserida na área temática das funções, técnicas e procedimentos em segurança pública.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 36


Apresentação
Nancy Cardia 35
O policiamento comunitário, hoje em dia, encontra-se amplamente disseminado nos países economicamente mais
desenvolvidos. Sem dúvida isso é uma conquista desses países, pois essa é a forma de policiamento que mais se
aproxima das aspirações da população: ter uma polícia que trabalhe próxima da comunidade e na qual ela possa
crer e confiar.
Acreditar e confiar na polícia são considerados elementos essenciais para que a polícia possa ter legitimidade
para aplicar as leis, isto é, para a polícia ser percebida pela população como tendo um direito legítimo de: restringir
comportamentos, retirar a liberdade de cidadãos e, em casos extremos, até mesmo a vida.
Ter legitimidade para aplicar as leis significa poder contar com o apoio e a colaboração da população para exercer seu
papel. Isso difere da falta de reação da população às ações da polícia, quer por apatia ou por medo ou, ainda, da reação daqueles
que delínquem. Em qualquer um desses casos a reação da população já sugere que há um deficit de confiança na polícia.
Nos países economicamente mais desenvolvidos, a adoção do policiamento comunitário decorreu da constatação
de que os modelos de policiamento em vigência não eram mais eficazes diante dos novos padrões de violência urbana
que emergiram no fim dos anos 1960 e meados dos anos 1970. Ao longo desse período, cresceram, em muitos desses
países, tanto diferentes formas de violência criminal como também manifestações coletivas (pacíficas ou não) por
melhor acesso a direitos. O desempenho das polícias em coibir a violência criminal ou ao conter (ou reprimir) as
manifestações coletivas adquiriu grande visibilidade e saliência, resultando em muitas críticas. Em decorrência disso,
houve, em vários países, forte deterioração da imagem das forças policiais junto à população.
Uma pior imagem tem impacto na credibilidade da população na polícia. A falta ou baixa credibilidade afeta o
desempenho da polícia no esclarecimento de delitos e, até mesmo, no registro de ocorrências. De maneira geral,
quando não há confiança, a população hesita em relatar à polícia que foi vítima de violência ou, até mesmo, de
fornecer informações que poderiam auxiliar a polícia a esclarecer muitos delitos.
O policiamento comunitário foi adotado nesses países como uma forma de melhorar o relacionamento entre a
polícia e a sociedade. Para isso, procurou reconstruir a credibilidade e a confiança do público na polícia e, desse modo,
melhorar o desempenho dela na contenção da violência urbana.
A adoção desse tipo de policiamento não só exige empenho das autoridades e da comunidade, mas, sobretudo,
mudança na cultura policial: requer retreinamento dos envolvidos, alteração na estrutura de poder de tomada de
decisão com maior autonomia para os policiais que estão nas ruas, alteração nas rotinas de administração de recursos
humanos, com a fixação de policiais a territórios, mudanças nas práticas de controle interno e externo e de
desempenho, entre outros. Essas mudanças, por sua vez, exigem também que a decisão de implementar o policiamento
comunitário seja uma política de governo, entendendo-se que tal decisão que atravessará diferentes administrações: o
policiamento comunitário leva anos para ser integrado pelas forças policiais.
No Brasil, ocorreram, ao longo dos últimos 28 anos, várias tentativas de implementar o policiamento comunitário.
Quase todas as experiências foram, nos diferentes Estados, lideradas pela Polícia Militar:
a) em 1991, a Polícia Militar de São Paulo promoveu um Seminário Internacional sobre o Policiamento Comunitário
abordando os obstáculos para esse tipo de policiamento;
b) em 1997, ainda em São Paulo projetos pilotos foram implantados em algumas áreas da capital;
c) nessa mesma época, no Espírito Santo e em algumas cidades do interior do Estado, também houve experimentos com
policiamento comunitário; o mesmo se deu na cidade do Rio de Janeiro nos morros do Pavão e Pavãozinho com a experiência do
GEPAE.
Apesar de não ter havido uma avaliação dessas experiências, os relatos dos envolvidos, tanto de policiais como da
população, revelam satisfação com o processo e com os resultados e insatisfação com o término das mesmas.
Ao longo desses últimos anos a violência urbana continuou a crescer e passou a atingir cidades que antes pareciam
menos vulneráveis - aquelas de médio e pequeno porte. Nesse período, a população continuou a cobrar das autoridades
uma melhora na eficiência das polícias. Essa melhora não depende só das autoridades, depende também da crença que a
população tem na polícia: crença que as pessoas podem ajudar a polícia com informações e que essas serão usadas para
identificar e punir responsáveis por delitos e não para colocar em risco a vida daqueles que tentaram ajudar a polícia a
cumprir seu papel.
Sem a colaboração do público a polícia não pode melhorar seu desempenho e essa colaboração exige confiança. A
experiência tem demonstrado que o policiamento comunitário é um caminho seguro para se reconstruir a confiança e
credibilidade do público na polícia.
Introdução
CONTEXTUALIZAÇÃO
HISTÓRICO
35 CARDIA, Nancy. O Policiamento que a Sociedade Deseja. Relatórios da Pesquisa. São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência, 2003. Relatório
Técnico. Disponível em: http://www.nevusp.org/portugues/index. php?option=com_content&task=category &sectionid=9&id=51&Itemid=124
(último acesso em 28/08/2008).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 37
O século XIX constituiu-se em marco fundamental para o desenvolvimento das instituições de segurança pública,
com as polícias buscando maior legitimidade e profissionalização. Como referência ocidental, a Polícia Metropolitana da
Inglaterra, fundada em 1829, sob os princípios de Sir Robert Peel, mudou os paradigmas, dando preponderância ao papel
preventivo de suas ações, com foco na proteção da comunidade.
O consenso, em detrimento do poder de coerção, e a prevenção, em detrimento da repressão, reforçaram a
proximidade da polícia com a sociedade, com atenção integral ao cidadão. Tradicionalmente conhecido, o modelo inglês
retirou as polícias do isolamento, apresentando-as à comunidade como uma importante parceira da segurança pública e
fundamental para a redução da violência. Com isso, surgiu o conceito de uma organização policial moderna, estatal e
pública, em oposição ao controle e à subordinação política da polícia, seja por parte do poder executivo, seja por parte de
líderes locais.
Quase que simultaneamente e tão importante quanto a experiência inglesa, perdurando até hoje, no Japão foi
desenvolvido um dos processos mais antigos de policiamento comunitário do mundo. Todo policial japonês, ao terminar
seu curso de formação, inicia suas atividades junto às bases comunitárias denominadas “Koban” ou “Chuzaisho”, sendo a
primeira localizada em áreas com maior circulação de pessoas e a segunda caracterizada por ser, também, residência do
policial e de sua família, com predominância nas áreas rurais. O modelo japonês é reconhecido por suas características
culturais de aproximação, respeito e cidadania.
A polícia comunitária japonesa é extremamente ativa em seu serviço voltado à comunidade, objetivando, dessa
forma, o estabelecimento de laços sólidos com o cidadão. O policial japonês realiza, periodicamente, visitas comunitárias
às casas dos cidadãos, denominadas “Junkai renraku”36, visando estabelecer contato, aproximar-se da população e
levantar dados quanto aos problemas existentes no bairro. Com base no levantamento desses dados é feito um programa
de ação a fim de apresentar respostas às questões.
A polícia comunitária é tão presente e ativa no modelo policial japonês que todo policial é obrigado a fazer parte
da mesma e de conscientizar-se de sua finalidade. A estrutura básica do sistema japonês, datado de 1879, combina a
cultura tradicional com os ideais democráticos do Pós II Guerra Mundial, o que permite que o policial demonstre
claramente sua formação cultural, sendo extremamente educado, polido e disciplinado.
Na América Latina, os anos 1960 e seguintes foram marcados por um considerável aumento da criminalidade,
perturbação da ordem pública e distúrbios urbanos, causando grandes impactos no serviço policial, motivando diversos
cientistas policiais a estudarem de forma minuciosa a função policial de preservação da ordem pública, concluindo que
essa preservação depende preponderantemente de relações comunitárias ativas, apontando a necessidade da íntima
aproximação e identificação da polícia com a comunidade.
No Brasil, as primeiras iniciativas de implantação da Polícia Comunitária iniciaram-se com a edição da Carta
Constitucional de 1988 e a necessidade de uma nova concepção para as atividades policiais, por meio da adoção de
estratégias de fortalecimento das relações das forças policiais com a comunidade, com destaque para a conscientização
interna sobre a importância do trabalho policial e a contribuição da participação do cidadão para a mudança pretendida
por todos.
Atualmente, incentivados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e por meio da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, os entes federados são estimulados à prática policial que esteja em conformidade com os postulados
da Polícia Comunitária, permitindo a constituição de um sistema que se funda na cooperação e visão sistêmica.
Ressalta-se que conforme preceitua a Carta magna, a polícia ostensiva, de competência das polícias militares, e a
polícia judiciária, de competência das polícias civis, bem como as polícias federais, todas previstas no art. 144, incisos I
a V do caput, da Constituição, são as instituições responsáveis pela pela segurança pública em âmbito nacional, sendo
que a presente Diretriz visa fortalecer as relações das polícias entre si e primordialmente com as comunidades locais.
1. DOUTRINA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA;
POLÍCIA COMUNITÁRIA
Com o fenômeno da globalização, a necessidade de intercâmbio entre países passou a exigir a aplicação da
legislação e de regras internacionais, especialmente no que se refere ao cumprimento e respeito aos direitos e
garantias dos cidadãos, tornando essencial o conhecimento dos tratados de Direitos Humanos.
O Brasil, como país emergente, cujas dimensões e características ressaltam ao mundo um futuro promissor entre
as nações, se faz presente praticamente em todos os acordos internacionais de relevância, tornando assim latente a
importância de ter uma Polícia direcionada aos compromissos de defesa da vida e da integridade física das pessoas,
bem como voltada à defesa da cidadania e ao respeito pelos cidadãos.
Voltado a tais objetivos, nos idos do ano de 1992, o Comando da PMESP, atento a essas evoluções, determinou
estudos sobre formas de atuação que firmassem os conceitos de respeito à cidadania por meio da atuação do
policiamento, surgindo então a estratégia doutrinária do policiamento comunitário, a qual em alguns países, como
Estados Unidos, Canadá e Cingapura, já se encontrava em desenvolvimento e aplicação, tendo como alicerce o
exemplo dessa prática no Japão, com experiência desde o ano de 1868.

36Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho,
ocasião em que repassam orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem informações
sobre problemas, solicitações e sugestões da comunidade (SENASP, p. 156).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 38
No Japão, pelas próprias características e cultura, o sistema de policiamento comunitário é baseado em instalações
físicas fixas, denominadas Koban37 e Chuzaisho38, onde os policiais são fixados em territórios delimitados, passando a
fazer parte integrante da comunidade e exercendo uma polícia de defesa da cidadania em estreita parceria com a
própria comunidade.
A principal premissa do policiamento comunitário é o respeito aos princípios dos Direitos Humanos, norteando os serviços
de polícia em conformidade com as expectativas da comunidade, sendo necessária a participação dos cidadãos, além de entidades
públicas e privadas, na identificação e resolução rápida dos problemas ligados à segurança, com um objetivo maior: a melhoria da
qualidade de vida.
O embrião no Estado de São Paulo foi, no ano de 1985, a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG), os
quais, apesar de, na época, não se referirem ao Policiamento Comunitário, tinham e têm como objetivo a gestão participativa da
comunidade nas questões de segurança pública.
Apesar das poucas experiências e do curto espaço de tempo entre o conhecimento da teoria e o planejamento de sua
aplicabilidade, no ano de 1999, foram criadas, em todo Estado de São Paulo, diversas edificações Policiais Militares em locais
onde a maior presença policial militar era necessária, marcando o início da operacionalidade do policiamento comunitário. Tais
edificações Policiais Militares foram denominadas Bases Comunitárias de Segurança (BCS).
As BCS, apesar de objetivarem a presença policial militar junto à sociedade, não atenderam todas as expectativas,
principalmente pela falta de sistematização do emprego do efetivo, do emprego de recursos materiais e, principalmente,
pela ausência de padronização da forma de atuação.
Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão,
na busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do sistema de policiamento comunitário,
baseado no sistema japonês de Koban/Chuzaisho39, porém, não como cópia, mas sim com a adequação dos preceitos
utilizados pela Polícia Nacional do Japão, atendendo às características do Estado e da população de São Paulo,
semelhante ao ocorrido em outros países, como Cingapura, que, se valendo da experiência do Japão, pôde
desenvolver um sistema próprio para atender suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações,
identificou-se as BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de
Segurança Distritais (BCSD), segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
A partir de 2005 o Projeto Piloto iniciou a busca de padronização de procedimentos, onde 08 (oito) Bases Comunitárias de
Segurança (BCS) foram selecionadas e começaram a passar por um processo de padronização e sistematização metodológica.
Para tanto tivemos, em São Paulo a presença de um policial japonês para acompanhar o que consideramos um marco na História
do Policiamento Comunitário. Este policial participou do Grupo de Trabalho formado pelos Comandantes das Companhias, das
BCS Piloto, por Oficiais do Comando de Policiamento da Capital e da Divisão de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos,
para adaptar o modelo japonês à realidade de nossa cultura, da criminalidade do Estado e das condições operacionais da Polícia
Militar, implementando o serviço nas BCS, padronização da escrituração, equipamentos, formas de abordagem e contato com a
comunidade, incentivo do desenvolvimento de projetos conjuntos, a criação de canais de comunicação entre a Polícia e a
Comunidade, buscando eficácia e eficiência na prevenção da criminalidade, missão constitucional da PM e grande objetivo do
Policiamento Comunitário. No final de 2006, em razão dos excelentes resultados obtidos, o Projeto Piloto com o apoio da JICA
foi ampliado para mais 12 (doze) Bases Comunitárias de Segurança, sendo mais 08 (oito) na capital, 02 (duas) na região
metropolitana (Taboão da Serra e Suzano) e 02 (duas) no interior (São José dos Campos e Santos).
Com o final do Acordo de Cooperação Técnica em 2008, em análise técnica e auditoria ao Projeto, elaborados
conjuntamente entre os integrantes do grupo de trabalho da PM, integrantes da JICA (Japan International Cooperation
Agency) e integrantes da Polícia Nacional do Japão, a Polícia Militar do Estado de São Paulo foi credenciada como
polo difusor do policiamento comunitário no modelo japonês, já adaptado à realidade brasileira, aos demais estados do
Brasil, bem como aos países da América Latina e África, onde se iniciaram novas tratativas no sentido de formalizar
novo Acordo de Cooperação Técnica.
Em novembro de 2008 foi firmado o novo Acordo de Cooperação Técnica, entre a JICA e a PMESP, com
duração de 03 (três) anos, onde a PMESP comprometeu-se a ser o polo difusor do policiamento comunitário aos

37Os kobans (sistema de policiamento japonês) eram vistos como bases fixas de patrulhamento - recebiam queixas e solicitações de serviço,
realizavam o patrulhamento a pé, de bicicletas, e de patinetes motorizados, respondendo, quando fosse viável, a chamadas de serviços de
emergência e dando atenção especial para a ligação com a comunidade e para a prevenção do crime. (Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY,
David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do Mundo. p. 89). Os Kobans, localizam-se normalmente nos locais onde haja
grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de serviço,próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto
trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme o fluxo de pessoas na área delimitada como circunscrição do posto,
funcionando 24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. (Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A
Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. Encontro Nacional de Polícia Comunitária, realizado em Brasília/DF, de 13 a 16 de
dezembro de 2001. Disponível em:http://www.estacaodocomputador.com.br.p.1).
38É uma casa que serve de posto policial 24 (vinte e quatro) horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua ausência a esposa atende
aqueles que procuram o posto. Localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade.
(Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira.p.1
39 Antigamente, havia no Japão pequenos postos policiais, chamados “Kobansho”, que em 1881 foram denominados “Hashutsusho” e, em 1994,
a pedido da população, tornaram-se “Koban”, em que “Ko” significa troca e “Ban” vigilância. Logo, “sistema de vigilância por troca”, em
que a instalação física do Koban é referência para a comunidade procurar a polícia, enquanto a polícia oferece atenção à comunidade. Em 1888,
nascia o “Chuzaisho”. “Chuzai” é a residência onde trabalha e “sho” é o local. Ou seja: “instalação em que o policial mora e trabalha” com
a família, geralmente situada em áreas rurais ou cidades menores. Na ausência do policial, a esposa, remunerada para tal, atende aos solicitantes.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 39
demais estados brasileiros e aos países da América Latina. Para a concretização de tais objetivos, foram incorporados
dois novos parceiros ao Acordo: a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), ligado ao Ministério da
Justiça e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores. Como parte do
Acordo, a SENASP responsabiliza-se a implantar e implementar o policiamento comunitário no modelo japonês
(sistema Koban) aos estados brasileiros e a ABC responsabiliza-se com relação aos países da América Latina
(Nicarágua, Costa Rica, Guatemala, Honduras e El Salvador). A PMESP desenvolveu o material didático e o currículo
do Curso Internacional de Polícia Comunitária (Sistema Koban) para formação de Oficiais das polícias militares de 11
(onze) estados brasileiros (Acre, Pará, Alagoas, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do
Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás) e Oficiais de 05 (cinco) países da América Central (Nicarágua, Honduras,
Guatemala, El Salvador e Costa Rica), que após formados estarão encarregados de difundir e implantar a filosofia e
doutrina do policiamento comunitário aos integrantes de suas instituições. O Acordo prevê também a participação da
PMESP na assessoria aos estados brasileiros e países da América Central, para implantação e implementação das BCS,
BCSD e Bases Comunitárias Móveis (BCM).
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário visam o
atendimento aos cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e legislação
vigente. Ressalta-se que o Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal, mas sim atuação de
uma Polícia voltada à cidadania e essencialmente participativa. Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o
Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão, na busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do
sistema de policiamento comunitário, baseado no sistema japonês de Koban/Chuzaisho, porém, não como cópia, mas sim com a
adequação dos preceitos utilizados pela Polícia Nacional do Japão, atendendo às características do Estado e da população de São
Paulo, semelhante ao ocorrido em outros países, como Cingapura, que, se valendo da experiência do Japão, pôde desenvolver um
sistema próprio para atender suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações,
identificaram-se as BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de
Segurança Distritais (BCSD), segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário
visam o atendimento aos cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e
legislação vigente. Ressalta-se que o Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal,
mas sim atuação de uma Polícia voltada à cidadania e essencialmente participativa.
Disponível em: <http://www4.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/dpcdh/index.php/policia-comunitaria/>. Acesso em
13 nov 18.
1.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA COMPARADA – INTERNACIONAL
1.1.1 – Estados Unidos da América
Os principais programas comunitários desenvolvidos nos E.U.A são:
a. “Tolerância Zero – programa desenvolvido dentro do critério de que qualquer delito (de menor ou maior
potencial ofensivo) deve ser coibido com o rigor da lei”. Não apenas os delitos, mas as infrações de trânsito e atos
antissociais como embriaguez, pichações, comportamentos de moradores de rua, etc. O programa exige a participação
integrada de todos os órgãos públicos locais, fiscalizados pela comunidade. Não é uma ação apenas da polícia. A cidade
que implementou este programa com destaque foi Nova Iorque que, devido o excepcional gerenciamento reduziu quase
70% a criminalidade na cidade.
b. “Broken Windows Program”- baseado na “Teoria da Janela Quebrada” de George Kelling o programa
estabelece como ponto crucial a recuperação e estruturação de áreas comuns, comunitárias, ou mesmo a comunidade
assumir o seu papel de recuperação social. Um prédio público preservado, o apoio para recuperação de um jovem
drogado são mecanismos fortes de integração e participação comunitária. É a confirmação da teoria de Robert Putnam
(engajamento cívico). Este programa também preconiza formas de prevenção criminal, reeducando a comunidade;
c. “Policing Oriented Problem Solving” – o “Policiamento Orientado ao Problema” é mais um meio de
engajamento social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime e passa a mobilizar os
seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais; ao invés de reagir contra incidentes,
isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos próprios problemas. A noção do que
constitui um problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o incrível leque de
distúrbios que levam o cidadão a evocar a presença policial. A expectativa é de que ao contribuir para o encaminhamento
de soluções aos problemas, a polícia atrairá a boa vontade e a cooperação dos cidadãos, além de contribuir para eliminar
condições propiciadoras de sensação de insegurança, desordem e criminalidade.
1.1.1.2 – Canadá
A Polícia Comunitária no Canadá teve seus primeiros passos há aproximadamente 20 anos, quando o descrédito na
instituição policial obrigou as autoridades e a população a adotarem providências para a reversão do quadro de
insatisfação. A implantação durou 8 anos e demandou medidas de natureza administrativa, operacional, mas
principalmente a mudança na filosofia de trabalho com nova educação de todos os policiais.
As cidades são divididas em distritos policiais e os distritos em pequenas vizinhanças. Transmite-se à população a
ideia de que a polícia está sempre perto. Em muitos bairros o policial circula de bicicleta.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 40
O Policial deve conhecer as pessoas e todos os problemas do bairro. A população e as empresas fazem parceria com
a Polícia, doam prédios e equipamentos, fora o aperfeiçoamento dos serviços. A divisão territorial está ligada a questões
geográficas e aos tipos de crimes em determinadas regiões. Quando uma modalidade criminosa chama a atenção, os
policiais fazem curso a respeito e são treinados a enfrentar e solucionar os problemas resultantes da ação criminosa
detectada. Na sua ronda o policial visita casa e empresas e demonstra estar trabalhando por prazer. Quando um problema
é identificado, o município, a população e a polícia se unem para solucioná-lo imediatamente. Exemplo: em um bairro
notou-se que os orelhões (telefones) tradicionais, serviam para esconder drogas. A população informou a polícia e em
menos de 30 dias todas as cabinas telefônicas foram envidraçadas ficando transparentes, o que impedia a ocultação das
drogas. Outras providências que demonstram a participação da população referem-se a iluminação de praças e ruas para
evitar ambientes que favorecem o crime.
1.1.1.3 – Japão
O Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de segurança no Japão. 40% do efetivo da polícia é
destinado ao Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo suas funções em atividades administrativas,
investigações criminais, segurança interna, escolas, bombeiros, trânsito, informações e comunicações, bem como para a
Guarda Imperial.
A importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a qual é seguida à risca, se deve a algumas
premissas tidas como imprescindíveis:
a) a impossibilidade de investigar todos os crimes pressupõe um investimento de recursos na prevenção de crimes e
acidentes, para aumentar a confiança da população nas leis e na polícia.
b) impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais importante do que prender criminosos e socorrer
vítimas acidentadas.
c) a polícia deve ser levada aonde está o problema, para manter uma resposta imediata e efetiva aos incidentes
criminosos individuais e às emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando a resolução
do problema antes de que eles ocorram ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, sendo que os maiores
e melhores recursos da polícia devem estar alocados na linha de frente dos acontecimentos.
d) as atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de relações polícia e comunidade, além de incutir
no policial a certeza de ser um “mini-chefe” de polícia descentralizado em patrulhamento constante, gozando de
autonomia e liberdade de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é a garantia de segurança
e paz para a comunidade e para o seu próprio trabalho.
Seguindo estas ideias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou territorialmente sua bases de segurança em mais de
15.000 bases comunitárias de segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas do dia.
Os Kobans e os Chuzaishos são construídos pelas prefeituras das cidades onde estão localizados,
responsabilizando-se também pela manutenção do prédio, pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua
instalação e localização é puramente técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o atendimento
cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a polícia. Estes postos policiais (Kobans e Chuzaishos) estão
subordinados aos “Police Stations”.
Chuzaisho: Instalação e Funcionamento
O policial é instalado numa casa, juntamente a sua família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um
posto policial, existindo mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado diretamente a um “Police
Station” (Cia) do distrito policial onde atua. O policial trabalha no horário de expediente, executando suas rondas
fardado. Na ausência do policial, sua esposa auxiliará em suas atividades, atendendo ao rádio, telefone, telex e as
pessoas, sem que, para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua atividade possibilita ao marido policial
o recebimento de uma vantagem salarial. Quanto aos gastos com energia, água, gás e a manutenção do prédio ficam a
cargo da prefeitura da cidade onde o posto está localizado.
Koban: Instalação e Funcionamento
Os Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados em áreas de maior necessidade policial
(critério técnico). Os Kobans são construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos, com uma sala para o
atendimento ao público, com todos os recursos de comunicações e informática, além de compartimentos destinados ao
alojamento (com camas e armários), cozinha, dispensa e depósito de materiais de escritório, segurança, primeiros
socorros, etc.
No Koban, trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância, cobrindo às
24 horas do dia em sistema de rodízio por turnos de 08, 12 ou até mesmo 24 horas, o que é mais comum.
Há também reuniões com a comunidade, chamados conselhos comunitários (similar aos Conselhos Comunitários
de Segurança – CONSEGs ou Conselhos Comunitários de Cooperação para a Defesa Social - CCCDSs), os quais se
reúnem de 2 a 3 vezes por ano, isto porque, enquanto um ou mais problemas apresentados pela comunidade não forem
solucionados, não se discute novos problemas, para evitar que um problema se acumule sobre outro e não se resolva
nenhum.
As atividades num Koban são intensas e existe uma rotina estabelecida, que varia de dia para dia e de acordo com a situação.
- atendimento às pessoas;
- recebimento e transmissão de mensagens;

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 41


- preenchimento de relatórios de serviço;
- faxina e manutenção do material;
- patrulhamento a pé, de bicicleta ou motocicleta nas áreas abrangidas pelo Koban;
- visitas às residências, casas comerciais e escritórios de serviço;
- visitas a pessoas idosas, escolas, etc.
1.1.1.4 – Polícia de proximidade na Espanha (modelo europeu)
Seguindo os mesmos preceitos da Polícia Comunitária a Polícia de Proximidade adota as mesmas características da
Polícia Comunitária, porém para comunidade latina, dentro de uma terminologia diferente.
A essência é trabalhar próxima a comunidade, interagindo, buscando identificar o serviço policial e atuando de
forma preventiva, antecipando-se aos fatos.
A Polícia de Proximidade, baseia seus programas em objetivos muitos claros. São objetivos estratégicos assim
considerados: reduzir os índices de criminalidade, melhorar a qualidade dos serviços prestados, e a aumentar a satisfação
da população e dos próprios policiais.
Os cidadãos e os membros da comunidade veem os policiais na rua, começam a conhecê-los, e sentem-se mais
seguros. O modelo de uma Polícia Comunitária ou de Proximidade é uma experiência que pode ser extremamente
positiva. A Polícia Comunitária não acabará com o crime. As soluções vão além da Polícia Comunitária.
É evidente que devemos ter também outras alternativas para combater os crimes mais graves e é evidente que
temos a necessidade de uma polícia especializada para sermos capazes de solucionar os problemas que estão afetando o
Estado, que não afetam diretamente o cidadão, mas o Estado. Me refiro ao tráfico de entorpecentes, lavagem de dinheiro,
e também tráfico de seres humanos e outros tipos de crime que se tornaram uma grande preocupação para os governos. E
que exigem um tipo de resposta totalmente diferente.
1.1.1.5 – Argentina
Foi implantada uma Política Criminal baseada na sistematização de dados das casas e dos cidadãos de regiões de
maior incidência, onde se começou a desenvolver atividades policiais para erradicar o crime dessas localidades. À
medida que se recebem as comunicações e informações sobre os fatos trazidos pela comunidade, aumentam-se o
policiamento motorizado e vários tipos de patrulha. A comunidade contribui com os dados a respeito dos próprios fatos e
outras modalidades delituosas que se repetem continuamente. Após, com ajuda da comunidade, a polícia efetua a prisão
dos autores.
Outra política adotada refere-se ao apoio psicológico e sanitário. Quando alguém é ferido por ato criminoso, a
polícia coloca à disposição médicos e psicólogos

2. ORIGEM DO PM NO SEIO DA SOCIEDADE;


Princípios de Robert Peel e a Origem da Polícia Moderna
No início do século XIX, exatamente em 1829, com o aumento da criminalidade e da violência nas cidades da
Grã-Bretanha, ocorreram várias tentativas por parte do governo de criar uma força policial capaz de fazer frente a esses
problemas. Em Londres existia uma forte oposição, pois as pessoas não acreditavam na estrutura de uma força policial,
possivelmente armado. Eles temiam que ela poderia ser usada para reprimir os protestos com violência e criar um clima
impopular para o Governo.
Naquela época Paris tinha a mais conhecida, melhor organizada e mais bem paga força policial na época, dentro
de princípios de proteção da cidade. A chamada Polícia de Paris. A Grã-Bretanha estava em guerra com a França
(1793-1815), e durante a maior parte desse tempo, a França tinha uma polícia secreta e políticos ardilosos. Portanto,
muitos londrinos não gostavam da ideia de ter os franceses por referência, por causa da associação com a França.
Nesta época o público inglês acreditava que o trabalho da polícia deveria ter uma participação da sociedade e não
do Governo Nacional. Robert Peel (Primeiro-Ministro do Reino Unido por duas vezes no século XIX) apresentou em
sua gestão buscou estabelecer princípios de ordem e organização as cidades londrinas. O conceito de policiamento
baseado em um consenso de apoio que decorre transparência sobre seus poderes, sua integridade no exercício das suas
competências e da sua responsabilidade por isso.

Pelos princípios policiais, Sir Robert Peel40 é considerado o pai do policiamento moderno. Ajudou a criar o
moderno conceito de força policial, e, por conta disto, os policiais metropolitanos ingleses são conhecidos
como Bobbies.

40 Sir Robert Peel - Robert Peel, 2.º Baronete (Bury, 5 de fevereiro de 1788 — Londres, 2 de julho de 1850) foi
um político britânico, primeiro-ministro de seu país de 10 de dezembro de 1834 a 8 de Abril de 1835 e de 30 de Agosto de 1841 a 29 de
Junho de 1846.
Ajudou a criar o conceito moderno da força policial do Reino Unido. Seu pai era um fabricante de têxtil na  Revolução Industrial. Peel foi
educado na Escola primária Hipperholme, depois em Harrow School e finalmente na Christ Church, em Oxford.
Faleceu em Londres em 2 de julho de 1850, a consequência de um acidente de cavalo na estrada Constitution Hill. Encontra-se sepultado
em St Peter Churchyard, Drayton Bassett, Staffordshire na Inglaterra ( Robert Peel (em inglês) no Find a Grave ).

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 42


O nome de Peel, é evocado não pelo fato de que Robert Peel tenha elaborado o texto, mas em decorrência de que
enunciou, na conceituação de uma força policial ética, o “espírito” destes princípios.
A lista abaixo, princípios norteadores da ação policial, indica, um caminho ético a qualquer organização de
segurança no mundo, seja nacional, estadual e, principalmente municipal, sobretudo, aos administradores públicos,
eleitos pelo povo, que têm a responsabilidade da administração também da Segurança Pública durante o seu mandato.
PRINCÍPIOS CENTENÁRIOS DE ROBERT PEEL
1.A missão fundamental para a polícia existir é prevenir o crime e a desordem.
2.A capacidade da polícia para exercer as suas funções está dependente da aprovação pública das ações policiais.
3.A Polícia deve garantir a cooperação voluntária dos cidadãos, no cumprimento voluntário da lei, para ser capaz de garantir e
manter o respeito do público.
4.O grau de cooperação do público  pode ser garantido se diminui proporcionalmente à necessidade do uso de força física.
5. A Polícia não deve se manter(criar prestígio e autenticidade) apenas com prisões , não preservando assim o favor público e
abastecendo a opinião pública, mas pela constante demonstração de absoluto serviço abnegado à lei.
6. A Polícia usa a força física na medida necessária para garantir a observância da lei ou para restaurar a ordem apenas quando
o exercício da resolução pacífica, persuasão e de aviso é considerado insuficiente.
7. A Polícia, em todos os tempos, deve manter um relacionamento com o público que lhe dá força à tradição histórica de que a
polícia é o público e o público é a polícia, a polícia é formada por membros do população que são pagos para dar atenção em tempo
integral aos deveres que incumbem a cada cidadão, no interesse do bem-estar da comunidade e a sua existência.
8. A polícia deve sempre dirigir a sua ação no sentido estritamente de suas funções e nunca parecer que está a usurpar os
poderes do judiciário.
9. O teste de eficiência da polícia é a ausência do crime e da desordem, não a evidência visível da ação da polícia em lidar
com ele.

O historiador Charles Reith explicou em seu estudo sobre a História de Polícia (1956) que estes princípios
constituem uma abordagem ao policiamento “único na história e em todo o mundo”, porque é derivada, não de medo,
mas quase exclusivamente da cooperação entre o público e a polícia, induzida a partir de um comportamento total de
sensação de segurança que mantém para todos a aprovação, respeito e carinho do público. É possível implementar essas
ideias no Rio Grande do Norte? Podemos ter uma polícia comunitária cada vez relacionada com o convívio da sociedade
paulistana?
Segundo Cerqueira, não existe um conceito exclusivo de polícia comunitária no Brasil, embora o mais presente
entre as instituições policiais é: Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona
uma nova parceria entre a população e a polícia. Tal parceria baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a
comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, tais como
crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de
melhorar a qualidade geral de vida da área. (TROJANOWICZ e BUCQUEROUX, 1994, p.4-5)
Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/princ%C3%Adpios-de-robert-peel-e-origem-da-pol
%C3%Adcia-moderna-miguel-liborio/>. Acesso em 15 nov 2018.

3. O PM E OS LIMITES DA LEI
Alex João Costa Gomes41
A temática é por deveras instigante e relevante ao serviço policial militar, pois a Lei é quem norteia as ações das
Policias Militares no Brasil, mesmo sendo essas discricionárias, autoexecutáveis e coercitivas, as Polícias Militares
não podem agir em desacordo com o que determina nosso ordenamento jurídico, ou seja, como bem entendem. Desta
feita, existe a necessidade da observância das normas e leis que regulam cada ação do Policial Militar ( PM), desde as
mais simples até as mais complexas. O PM é um dos poucos servidores do Estado que está em quase todo lugar do
país, trabalha diuturnamente para garantir a ordem pública, com o intuito de levar a segurança pública ou ao menos a
sensação dessa a cada cidadão brasileiro. Sendo que por diversas vezes têm segundos para tomar uma decisão em uma
ocorrência nas ruas do país, e essa decisão pode o levá-lo ao banco dos réus com a sociedade ao lado dele, ou
totalmente contra o mesmo. 
 

“Os agentes policiais no exercício de suas funções encontram-se sujeitos ao limites da lei. A atividade policial
possui aspectos discricionários, que são essenciais para o cumprimento das funções de segurança  pública.
O  ato  de  polícia  como  ato  administrativo é que fica sempre sujeito a invalidação pelo Poder Judiciário, quando
praticado com excesso ou desvio de poder.” (Hely Lopes Meirelles, 1972)

Hely Lopes Meirelles coloca muito bem a questão da atividade policial de forma geral, mas que está sujeita a
validação ou não da Justiça brasileira. Podemos inferir que isso reforça a ideia que o PM deve agir conforme as normas
e leis que norteiam a atividade do mesmo durante o trabalho, e podemos afirmar que por ser policial militar mesmo

41Alex João Costa Gomes – Bacharelado e Licenciatura Plena em História (UNIFAP 2001), Policial Militar (Aluno Oficial)
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 43
estando de folga, também deve não estando de serviço observar sua conduta em sociedade respeitando e obedecendo ao
ordenamento jurídico do Brasil. 
A administração pública está sujeita aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência42, logo, os agentes públicos também estão sujeitos a tais princípios, pois são os executores dos serviços
públicos, são os que vão impor a força para manter a ordem ou restabelecer essa. É preciso convir que a segurança
pública é um direito fundamental do cidadão brasileiro, dessa maneira, os operadores da segurança pública devem
garantir esse direito a todos no país, mesmo aos estrangeiros. 

“Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988).

Para Álvaro Lazzarini são esses os limites do poder de polícia, assim, os policiais militares no Brasil devem
considerar tais informações na execução de seus trabalhos durante o serviço policial militar e durante sua folga, para
não incorrerem em omissão, pois ninguém pode alegar desconhecimento de lei, principalmente aqueles que operam
direto ou indiretamente, ou seja, aplicam a lei em nome do Estado em nossa sociedade. 

Pelo exposto pudemos observar o quanto é limitada a atividade do policial militar, pois várias são as normas e leis
que regulam a conduta dos mesmos. Contudo, isso não significa que o trabalho desse esteja engessado, pelo contrário,
o operador da segurança pública deve trazer a lei para o seu lado, fazendo com essa dê respaldo ao trabalho
desenvolvido nas ruas do Brasil diuturnamente. O uso da força, do poder de polícia, devem se distanciar do abuso de
poder, bem como do abuso de autoridade, mas não devem ir ao encontro dos direitos dos cidadãos, na verdade devem
reforçar e garantir a efetivação desses. Não podemos de maneira alguma entender, ou seja, interpretar o trabalho do
policial militar como sendo algo simples e de fácil execução, pois não é, visto a complexidade que o envolve.
Para fixar:
Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são  três:
a ) os   direitos do cidadão;  
b)  as prerrogativas individuais;  
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988)

Disponível em: <https://www.viatucuju.com/products/o-policial-militar-e-os-limites-da-lei/ >. Acesso em 14


nov 18
4. EXPERIÊNCIAS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA:
4.1. INTERNACIONAL E NACIONAL (RONDA CIDADÃ);
Experiências nacionais e internacionais bem-sucedidas de gestão comunitária na área de segurança pública.
Em poucas palavras, a polícia comunitária é a modalidade de trabalho policial preventivo e ostensivo
correspondente ao exercício da função policial definida pelo compromisso inalienável com a construção social da paz e
respeito aos direitos humanos. Equivale também a um aperfeiçoamento profissional, uma vez que implica mais
qualificação e maior eficiência na provisão da segurança pública. Os exemplos brasileiros e internacionais são ricos em
experiências bem-sucedidas, nas quais decrescem as taxas de crimes e outras práticas violentas, enquanto cresce, na
mesma proporção, a confiança popular na polícia. A memória da história recente ajuda a contextualizar a importância
e o sentido desta nova metodologia de gestão. Assim é que, a noção de “polícia comunitária” se estrutura
essencialmente sobre um modelo “pró-ativo” do provimento de segurança pública. Suas ações são resultantes da
formação de parcerias e programas construídos entre o Estado (polícia) e a Sociedade Organizada (em suas mais
variadas expressões). A metodologia aqui denominada genericamente como “comunitária” recebe nomes diferentes,
como “de proximidade” ou “interativa”, conforme os países e as tradições em que ela seja aplicada. Mas o que
realmente importa, mais que o nome que lhe seja atribuído, é seu conteúdo e valores. Esses têm, felizmente,
atravessado fronteiras e se expandido no rastro da extensão da consciência cívica democrática e dos direitos de
cidadania das mais variadas nações.
De acordo com a Associação Internacional dos Chefes de Polícia [X] (International Association of Chiefs of
Police - IACP), as formas e/ou estratégias de provimento do “policiamento comunitário” podem ser classificadas em
seis modelos ou estruturas. O primeiro, intitulado modelo unitário, prevê a existência de um agente de polícia dedicado
exclusivamente ao contato com a comunidade, considerando uma unidade policial pré-determinada. Este tipo de
modelo é normalmente praticado em pequenas unidades policiais. No modelo especializado (segundo modelo) há dois
ou mais policiais dedicados ao “policiamento comunitário” e à solução de problemas na área de atuação de cada
unidade policial. O terceiro modelo, da força mista, compreende a designação de um “policial comunitário” para

42 Saiba mais em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_37_.asp


Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 44
cada área servida por patrulhamento policial (zona, setor, área). De acordo com o modelo temporal, os “ policiais
comunitários” são designados para trabalho comunitário específico, sempre que esse tipo de serviço se fizer
necessário. Tais policiais não se separam da função de patrulhamento ostensivo e desempenham tais funções
concomitantemente às de polícia judiciária, no sentido da formação de parecerias e busca de “resolução de
problemas”. O quinto modelo, definido como policiamento comunitário total, frequentemente chamado de modelo
generalista, pressupõe que todos os policiais da unidade policial considerada estejam diretamente envolvidos ou
apoiando a filosofia do “policiamento comunitário”. Por último, o modelo geográfico (sexto modelo) reflete
diferenças de filosofia de trabalho entre os comandos de área e de vigilância temporal (plantão), cada qual com seu
respectivo supervisor.
Essência e valor da Gestão Comunitária. Disponível em:
<http://www.assor.org.br/wp-content/uploads/2017/06/ESS%C3%8ANCIA-E-VALOR-DA-GEST%C3%83O-
COMUNIT%C3%81RIA-DA-SEGURAN%C3%87A-P%C3%9ABLICA.pdf>. Acesso em 15 nov 18.

SENSIBILIZAÇÃO DO PÚBLICO INTERNO E DA COMUNIDADE

"É preciso educarmo-nos, primeiro a nós mesmos, depois a comunidade e depois às futuras gerações de
policiais e lideranças comunitárias, para esse trabalho conjunto realizado em prol do bem comum…"

Os agentes da segurança pública e/ou defesa social, precisam inicialmente quebrar paradigmas do papel da polícia
na comunidade, respondendo à seguinte questão: O papel é de força, que tem como função principal fazer valer as leis
criminais? Ou de serviço, que tem função principal os problemas sociais?
Ainda que esses dois papéis sejam distintos, eles são interdependentes e deriva de um mandato mais fundamental
de manutenção da ordem - a resolução de conflitos através de meios que mesclam o potencial uso da força e o
provimento de serviços. Esses meios nem sempre precisam ser formais. Isso vale dizer que o trabalho policial não
pode ser conduzido sem uma colaboração organizada dos cidadãos.
A forma mais comum de organização dos cidadãos é a comunidade.
Para FERDINAND TONIES, “a comunidade pode ser definida como conjunto de pessoas que compartilham um território
geográfico e algum grau de interdependência, razão de viverem na mesma área”.

“Comunidade torna-se conceito de sentido operacional; comunidade é um grupo de pessoas que dividem o
interesse por um problema: a recuperação de uma praça, a construção de um centro comunitário, a prevenção de
atos de vandalismo na escola, a alteração de uma lei ou a ineficiência de um determinado serviço público. A
expectativa é que a somatória de experiências bem-sucedidas de mobilização social em torno de problemas possa,
ao longo do tempo, contribuir para melhorar o relacionamento entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de
organização da sociedade” (GOLDSTEIN, 1990, p.26).

O ideal de participação não corresponde ao cenário idílico de uma “comunidade” sem conflitos, mas de uma
sociedade capaz de dar dimensão política aos seus conflitos e viabilizar a convivência democrática entre distintas
expectativas de autonomia em um mesmo espaço territorial. (DIAS, THEODOMIRO).
5. PLANEJAMENTO:
5.1. GESTÃO PELA QUALIDADE EM SEGURANÇA PÚBLICA;
GESTÃO PELA QUALIDADE NA SEGURANÇA PÚBLICA.
É possível até se discutir o que é qualidade, mas não se pode negar que os princípios da gestão pela qualidade,
utilizados com êxito na administração de empresas públicas e privadas, auxiliam muito no planejamento, no
acompanhamento e na avaliação de produtos e serviços. Estes princípios aplicados à Segurança Pública, principalmente
na Polícia Comunitária, contribuirão para a melhoria da prestação do serviço à comunidade.
Estratégias Institucionais para o Policiamento
Discutindo estratégia
Por isso, é de fundamental importância elaborar metas e quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos),
estabelecer prazos (tempo) e definir responsabilidades. A estratégia também orienta a maneira como a instituição irá se
relacionar com seus funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo
descobre a melhor forma de usar sua instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades do meio.
Como observa FREITAS (2003), gerenciar a rotina é garantir meios para que o nível operacional atinja
resultados, esperados, de produtividade e qualidade pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas (ou
pós-modernas), utilizam o sistema de gestão para atingir metas. Este processo de gerência envolve os três níveis de
uma instituição/organização:

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 45


- Nível Institucional – Responsável pela formulação de estratégias e metas anuais para a instituição ou empresa;
- Nível Tático – Responsável por desdobrar estas metas em diretrizes e normas; e
- Nível Operacional – Responsável por atingir as metas.

Observe o diagrama a seguir para compreender melhor:

Figura 14. O Sistema de Gestão para atingir metas.


Principais estratégias de policiamento
De acordo com MOREIRA (2005), os policiais brasileiros que ocupam cargos executivos não costumam considerar as
diferentes estratégias institucionais para o policiamento. Uma grande parcela prefere repetir aquilo que aprendeu nas academias,
com seus professores policiais, sem considerar outros modelos policiais. Entretanto, na tentativa de atingir os objetivos
organizacionais, alcançar uma legitimação e apoio das comunidades acumulou–se, nos últimos 50 anos, diversas experiências
policiais.
Estas experiências podem ser divididas em quatro grandes grupos:
- Combate profissional do crime ou policiamento tradicional;
- Policiamento estratégico;
- Policiamento Orientado para o Problema; e
- Polícia Comunitária.

Uma estratégia de policiamento orienta, dentre outras coisas, os objetivos da polícia, seu foco de atuação,
como se relaciona com a comunidade e as suas principais táticas.
Exemplos de estratégias:
Combate profissional do crime e policiamento estratégico têm como objetivo principal o controle do crime, pelo esforço
em baixar as taxas de crime;
Policiamento Orientado para o Problema e a “Polícia Comunitária” enfatizam a manutenção da ordem e a redução do
medo dentro de um enfoque mais preventivo.
Enquanto o policiamento tradicional mantém certo distanciamento da comunidade (os policiais é que são
especialistas), a Polícia Comunitária defende um relacionamento mais estreito com a comunidade como uma maneira
de controlar o crime, reduzir o medo e garantir uma melhor qualidade de vida.
As características das quatro estratégias de Policiamento
Veja: https://jus.com.br/artigos/28125/policiamento-comunitario-a-transicao-da-policia-tradicional-para-
policia-cidada

- Combate Profissional do Crime ou Policiamento Tradicional


A estratégia administrativa que orientou mundialmente o policiamento a partir de 1950 e, no Brasil, ainda orienta a maioria
das polícias, de todas as unidades federativas, é sintetizada pela frase, que nomeia esta estratégia: “combate profissional do
crime”.
Ela tem como principais características:
- Foco direto sobre o controle do crime como sendo a missão central da polícia , e só da polícia;
- Unidades centralizadas e definidas mais pela função (valorização das atividades especializadas), do que geograficamente
(definição de um território de atuação para cada um dos policiais); e
- Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em tecnologia e em treinamento.
O objetivo da estratégia de combate profissional do crime é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada e

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 46


tecnicamente sofisticada. Os principais objetivos desta estratégia é o controle da criminalidade e a resolução de crimes.
- As principais tecnologias operacionais dessa estratégia incluem a utilização de patrulhas motorizadas, de preferência com
automóveis, suplementadas com rádio, atuando de modo a criar uma sensação de onipresença e respondendo rapidamente aos
chamados, principalmente aqueles originados pelo telefone 190 ou 911 – no exterior.
- Os valores que dirigem o combate ao crime englobam o controle do crime como objetivo importante, investimentos no
treinamento policial, aumento do status e da autonomia da polícia e a eliminação da truculência policial.
A limitação deste modelo em controlar a criminalidade é um dos seus pontos fracos; um outro é o caráter reativo da ação da
polícia, que só atua quando é chamada, acionada.
As táticas utilizadas normalmente falham na prevenção dos crimes, ou seja, não os impedem de acontecer.
Praticamente não há análise das causas do crime e existe um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade. Na
verdade, o distanciamento é incentivado, pois “quem entende de policiamento é a polícia”. O isolamento é uma tentativa
institucional de evitar a corrupção.
− Policiamento Estratégico
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao crime,
acrescentando reflexão e energia à missão básica de controle do crime.
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua
centralizado e, através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego.
O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio para a polícia e
enfatiza uma maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo tradicional.
A comunidade é vista como meio auxiliar importante para a polícia, mas a iniciativa de agir continua centralizada na polícia,
que é quem entende de Segurança Pública.
Os crimes cometidos por delinquentes individuais sofisticados (crimes em série, por exemplo) e os delitos praticados por
associações criminosas (crime organizado, redes de distribuição de drogas (narcotráfico), crimes virtuais de pedofilia, gangues,
xenofobia, torcedores de futebol violentos – como os hooligans, etc.) recebem ênfase especial.
O policiamento estratégico carece de uma alta capacidade investigativa. Para esse fim são incrementadas unidades
especializadas de investigação.
− Policiamento orientado para o problema (Era de resolução de problemas com a comunidade)
O policiamento para (re)solução de problemas, também conhecido com o policiamento orientado para o problema (POP),é
uma estratégia que tem como objetivo principal melhorar o policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção
criminal.
Para diversos autores “[...] o policiamento orientado para a solução de problemas conota mais do que uma orientação e o
empenho em uma tarefa particular. Ele implica em um programa, com sugestões sobre o que a polícia precisa fazer”, segundo
Skolnik; Bayley (2002, p.39).
O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na mesma
localidade. Conclui-se que o crime pode ser minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações preventivas, para evitar que seja
rompida a ordem pública. Essa estratégia determina o aumento das tarefas da polícia ao reagir contra o crime na sua causa, muito
além do patrulhamento preventivo, investigação ou ações repressivas.
− Policiamento Comunitário (Era de resolução de problemas com a comunidade)
A estratégia de policiamento comunitário vai, ainda, mais longe nos esforços para melhorar a capacidade da polícia. O
policiamento comunitário, que é a atividade prática da filosofia de trabalho da polícia comunitária, enfatiza a criação de uma
parceria eficaz e eficiente entre a comunidade e a polícia.
O policiamento comunitário tem a necessidade de deixar a comunidade nomear seus problemas e buscar solucioná-los em
parceria com a polícia. As instituições, como a família, a escola, a igreja, as associações de bairro e os grupos de comerciantes,
são considerados parceiros imprescindíveis da polícia para a criação de um grupo coeso de colaboradores. O êxito da polícia está
não somente em sua capacidade de combater o crime, mas na habilidade de criar e desenvolver comunidades competentes para
solucionar os seus próprios problemas.
A polícia comunitária como filosofia muda os fins, os meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia com a
comunidade. O objetivo finalístico é para além do combate ao crime, pois permite a inclusão da redução do medo do crime, da
manutenção da ordem e de alguns tipos de serviços sociais de emergência.
Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela resolução de problemas (método IARA). O estilo administrativo
muda de concentrado para desconcentrado, de policiais especialistas para generalistas. O papel da comunidade evolui de
meramente informar ou alertar a polícia, para participante do controle do crime e na criação de comunidades ordeiras.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 47


Figura 15. Fonte: MOREIRA, Cícero Nunes.Apostila da disciplina de Polícia Comunitária para o curso de Formação deOficiais.
Mimeo. Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

Resumindo as Estratégias
Experiências acumuladas pelo mundo policial
Ao longo dos últimos 50 anos o mundo policial acumulou experiências de policiamento, na tentativa de atingir seus
objetivos organizacionais e alcançar uma legitimação e apoio das comunidades que policiam. Foram identificados quatro grandes
grupos estratégicos que evidenciam uma evolução até chegar no policiamento comunitário, são eles:
a) Combate profissional ao crime ou Policiamento Tradicional:
O objetivo da estratégia de combate profissional do crime é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada e
tecnicamente sofisticada. Os principais objetivos desta estratégia é o controle da criminalidade e a resolução de crimes.
Características:
➢ Foco direto sobre o controle do crime como sendo a missão central da polícia, e só da polícia;
➢ Unidades centralizadas e definidas mais pela função (valorização das atividades especializadas), do que
geograficamente (definição de um território de atuação para cada um dos policiais);
➢ Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em tecnologia e treinamento.
b) Policiamento estratégico:
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao crime,
acrescentando reflexão e energia à missão básica de controle do crime.
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua
centralizado. Através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego.
O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxilio para a polícia. O
policiamento estratégico enfatiza uma maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo
tradicional.
c) Policiamento orientado para o problema:
O policiamento para resolução de problemas é também chamado de policiamento orientado para o problema (POP). Seu
objetivo inicial é melhorar a antiga estratégia de policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção.
O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na comunidade
tais como relacionamento frustrante, ou grupo de desordeiros, ou narcotráfico, entre outras causas. Conclui que o crime pode ser
controlado e mesmo evitado por ações diferentes das meras prisões de determinados delinquentes. A polícia pode, por exemplo,
resolver problemas ao, simplesmente restaurar a ordem em um local.
A comunidade é encorajada a lidar com problemas específicos. Podem, por exemplo, providenciar iluminação em
determinados locais, limpar praças e outros locais, acompanhar velhos e outras pessoas vulneráveis, etc. Outras instituições
governamentais e não-governamentais, de igual modo podem ser incentivadas a lidar com situações que levem a delitos
Essa estratégia de policiamento implica em mudanças estruturais da polícia, aumentando a discricionariedade do policial
(aumento de sua capacidade de decisão, iniciativa e de resolução de problemas).
d) Polícia comunitária:
No policiamento comunitário as instituições, como por exemplo, a família, as escolas, as associações de bairro e os
grupos de comerciantes, são considerados parceiros importantes da polícia para a criação de uma comunidade tranquila e segura.
O êxito da polícia está não somente em sua capacidade de combater o crime, mas na habilidade de criar e desenvolver
comunidades competentes para solucionar os seus próprios problemas.
➢ Abordagem do Policiamento Comunitário:
➢ Quantidade de ações proativas preventivas;
➢ Busca a ação pela prevenção;
➢ Avalia a qualidade pelo resultado;
➢ Estabelece a sensação de segurança.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 48


43
CICLO PDCA - UNISUL

Figura 16. O Ciclo PDCA. Disponível em: <http://pergamum.unisul.br/pergamum/pdf/restrito/000003/0000036.pdf> Acesso em 12 de ago de


2018.

O Ciclo PDCA
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos em inglês Plan (que significa planejar), Do
(que significa fazer, executar), Check (que significa checar, conferir) e Action, Act (que significa agir, no caso, agir
corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões
para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer uma
estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a
controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.
As etapas que compõem o ciclo PDCA
Plan – Planejamento
Consiste no estabelecimento de metas e do método para alcançar essas metas. Três pontos importantes devem ser
considerados:
• Estabelecer os objetivos sobre os itens de controle
• Definir o caminho para atingi-los
• Decidir quais os métodos a serem usados para atingir os objetivos
Do - Execução
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa anterior e na coleta dos dados a serem utilizados na próxima etapa.
Deve-se considerar também três pontos importantes:
• Treinar no trabalho o método a ser empregado;
• Executar o método;
• Coletar os dados para verificação do processo.
Check – Controle
Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta planejada, considerando-se os pontos a seguir:
• Verificar se o trabalho está sendo realizado conforme o padrão;
• Verificar se os resultados medidos variam e comparar com o padrão;
• Verificar se os itens de controle correspondem com as metas.
Action - Atuação Corretiva
Consiste em atuar no processo de função dos resultados obtidos, verificando os três passos a seguir:
• Se o trabalho desviar do padrão, tomar ações para corrigi-lo;
• Se um resultado estiver fora do padrão, investigar as causas e tomar ações para prevenir e corrigi-lo;
• Melhorar o sistema de trabalho e método

MASP (QC STORY)


O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), também chamado pelos japoneses de QC44 STORY, é peça
fundamental para a melhoria na produção de bens ou prestação de serviços. A vasta maioria das decisões que são tomadas nas
empresas, sejam elas de cunho estratégico, tático ou operacional, são baseadas no bom-senso, experiência, feeling etc. Vale
ressaltar que qualquer decisão gerencial, em qualquer nível, deve ser conduzida para solucionar um problema (resultado
indesejável de uma atividade). Se isso for entendido, fica claro que qualquer decisão gerencial deve ser precedida de uma análise
da atividade, conduzida de maneira sistemática e sequencial pelo Método de Análise e Solução de Problemas.

As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus produtos, além
de prejudicar sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a solução desses problemas

43 PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança
Pública III. UnisulVirtual. Palhoça, 2013
44 QC = Quality Control ou Controle de Qualidade
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 49
somente baseados na experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro
expert é aquele que alimenta seu conhecimento e experiência com fatos e dados, dessa maneira, assegura-se de usar
esse conhecimento, experiência e, principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).

O MASP é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fatos e dados, que objetiva:
1. localizar a causa fundamental dos problemas;
2. mapear as soluções possíveis;
3. implantar as soluções;
4. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
5. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito
desejado).
Método IARA (Igor Araújo Barros de Morais45 e Thiago Augusto Vieira46) - Revisão.
Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no POSP, a polícia deve utilizar a seguinte metodologia:
identificar e especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder baseada nos dados
analisados para eliminar as causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo (CLARKE; ECK, 2013).
As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da sigla
inglesa SARA, criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas correspondentes no
inglês: scanning, analysis, response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos EUA,
modelo de solução de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado
desse projeto surgiu o método SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.

Etapa Português Ingles


1ª FASE IDENTIFICAÇÃO    SCANNING
2ª FASE ANÁLISE     ANALYSIS
3ª FASE RESPOSTA  RESPONSE
4ª FASE AVALIAÇÃO ASSESSMENT

45 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela
Faculdade Barddal. Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com

46 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do
Itajaí. Especialista em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina.
thiagoaugusto.vieira@gmail.com
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 50
É Importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das
fases. O método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na
atividade-fim, e não compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz
outros métodos, por isso, neste texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito
utilizado na administração de empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento
orientado para o problema (POP).Como primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar
por um padrão ou ocorrência persistente e repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário pode ser definido como “um grupo de duas ou mais
ocorrências (cluster47 de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo),
que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que cause
alarme, dano ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade”

Fonte: SENASP
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do Posp, um problema
corresponde a um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública.
Além disso, um problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim,
tanto polícia como comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema
(TASCA, 2010). É importante também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119),
dar qualidade ao serviço policial significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades
e desejo e considerando as díspares peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,

47Um cluster (do inglês TESTE: '‘grupo, aglomerado’) consiste em computadores fracamente ou fortemente ligados que trabalham em conjunto, de
modo que, em muitos aspectos, podem ser considerados como um único sistema. Diferentemente dos computadores em grade, computadores
em cluster têm cada conjunto de nós, para executar a mesma tarefa, controlado e programado por software.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 51
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o
‘achismo’, ou seja, deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A
experiência pessoal de cada um que participa na identificação do problema é importante, porém, para se
evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco
importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a experiência pessoal através de
dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).

No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição
primordial à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve
ser desenvolvida e aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados
de instituições de segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer
informações bastante valiosas à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais
avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo ROLIM (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros
de ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e
violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade
devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas.
Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário
considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências
policiais. Segundo dados trazidos por ROLIM (2009, p. 139) de pesquisa realizada nos ESTADOS UNIDOS cerca de 10% das
vítimas estão envolvidas em 40% dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares
formam o ambiente para cerca de 60% das ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto 48, de acordo com o
qual, geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de
resultados (80%) (TASCA, 2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do
método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas
para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os
efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de
criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas
em fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças,
componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais. Essas
constituem teorias difíceis de validação prática e focam em
políticas públicas incertas que estão fora do alcance da polícia
(CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os
conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho
diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38),
“lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos
criminais, incluindo tentações e oportunidades e proteção
insuficiente dos alvos”.

Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triângulo
do crime), originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o
crime ocorre quando um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e
lugar, sem a presença de um guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator,
alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).
RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia enfrenta o desafio de procurar o meio mais
efetivo de lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para isso, a polícia
deve evitar a tentação de respostas prematuras não fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL,
2009).

48 O princípio de Pareto (também conhecido como regra do 80/20, lei dos poucos vitais ou princípio de escassez do fator afirma que, para
muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas. 

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 52


Deve haver um equilíbrio nas respostas com a utilização de táticas tradicionais e não tradicionais. Normalmente
as primeiras estão relacionadas às atividades básicas de policiamento e sozinhas dificilmente proporcionam soluções
duradouras para os problemas (por exemplo, prisões, intimações e policiamento fixo no local), ao passo que as táticas
não tradicionais ligam-se às ações comunitárias (como organização da comunidade, educação da população, alteração
do contexto físico, mudanças no contexto social e da sequência de eventos, alteração do comportamento das vítimas)
(BRASIL, 2009; HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Frisa-se que essas respostas não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e
julgar infratores. Expande- se, sem abandonar o uso do direito penal. O policiamento orientado à solução de
problemas procura descobrir outras respostas potencialmente efetivas (que podem exigir parcerias), dando grande
prioridade à prevenção (CLARKE; ECK, 2013).
AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Nesta etapa, os policiais avaliam a efetividade das respostas aplicadas na fase anterior. A avaliação é chave para o
método Iara, pois se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise
devem ser revisitadas e novas hipóteses de respostas devem ser formuladas (BRASIL, 2009).
Esta fase serve também para exportar programas que funcionaram em determinados locais para serem aplicados
em outras localidades cujos resultados de identificação e análise do problema sejam semelhantes. Nesse sentido, em
1977, o Tesouro britânico iniciou uma política de controle e eficiência nos gastos em segurança pública
condicionando o repasse de verbas à demonstração de capacidade de reduzir o crime. Por isso, investiu-se em uma
grande revisão dos estudos disponíveis nos EUA, no Reino Unido e na Holanda. Assim, foi possível identificar
programas que, de fato, funcionavam. Demonstrou-se que os projetos mais eficazes na redução do crime, sem aumentar
o efetivo policial, utilizavam-se da abordagem de POSP e firmavam fortes parcerias com as comunidades (ROLIM,
2009).

As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas


que geram efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver
problemas de vizinhança. Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva
como um catalisador para desenvolver maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das
comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).

Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais
sobre a população
Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da
comunidade.
A gestão e as estratégias de Polícia Comunitária
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve
executar um importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert
Peel, em 1829, ao estabelecer os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados
para dar atenção integral ao cidadão no interesse do bem-estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de
segurança. A comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
A percepção de que juntas, polícia e comunidade podem somar esforços na luta contra a violência e a criminalidade
tem possibilitado o fortalecimento de algumas estratégias utilizadas no âmbito da Polícia Comunitária:
- Mobilização das Lideranças Comunitárias
- Policiamento Comunitário
- Gestão de Serviços
- Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia tradicional

Estas estratégias serão descritas nas páginas seguintes


Mobilização das Lideranças Comunitárias
Na década de 80, nos Estados Unidos, cresceu o entendimento de que os meios formais e informais de controlar o
crime e manter a ordem eram complementares e que a polícia e a comunidade deveriam trabalhar juntas para definir
estratégias de prevenção do crime. De acordo com MOREIRA (2005), várias são as teorias sociológicas que
comprovam esta abordagem. E, por acreditar que o medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência
dos bairros, inúmeros programas de redução do medo foram desenvolvidos através da parceria polícia-comunidade.
Estratégias para organizar a comunidade e prover uma resposta coletiva ao crime têm se tornado o alicerce da
prevenção do crime nos Estados Unidos nos últimos anos. A polícia não pode lidar sozinha com o problema do crime.
- Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser apontados como objetivos: a parceria, o
fortalecimento, a solução de problemas, a prestação de contas e a orientação para o cliente.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 53


- A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o
sistema de justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?”
Os membros da comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
Policiamento Comunitário
Fortalecimento da comunidade
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento:
- dos policiais: poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os níveis da polícia.
- da própria comunidade: a Polícia Comunitária capacita e dá competência aos cidadãos para participar das decisões sobre
o policiamento e de outras agências de serviço, visando prover maior impacto nos problemas de segurança.
No âmbito da Polícia Comunitária, o policiamento representa um renascimento da abordagem policial pela
solução de problemas. A meta da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens
para reduzir as taxas de ocorrências e o medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazos.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, as pesquisas e estratégias entre as lideranças e os
executores, a comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas
inovadoras de solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão. Estabelecer e manter confiança
mútua é o núcleo da parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das pessoas na luta contra o crime; os cidadãos
necessitam comunicar com a polícia para transmitir informações relevantes. O processo de parceria comunitária possui três lados: a
CONFIANÇA facilita um maior CONTATO COM A COMUNIDADE que, por sua vez, facilita a COMUNICAÇÃO que leva a
uma maior CONFIANÇA e assim por diante.

Figura 17. Confiança mútua.


As instituições policiais precisam identificar os atores sociais que atuam nas lideranças comunitárias, como
representantes das pessoas que estão enfrentando ou “sofrendo” com o(s) problema(s). Organizações públicas e
privadas, grupos de idosos, proprietários de imoveis, comerciantes, etc. São pessoas importantes para iniciar um
processo de mobilização social e, principalmente, para manter os públicos envolvidos coesos, em torno da causa
social, durante as demais fases que buscam a sua solução.
Gestão de Serviços na Polícia Comunitária e Polícia Tradicional
“Policiamento comunitário e uma filosofia e não uma tática especifica; uma abordagem pró-ativa e descentralizada,
designada para reduzir o crime, a desordem e o medo do crime através do envolvimento do mesmo policial em uma
mesma comunidade em um período prolongado de tempo”. MOREIRA Apud PEAK (1999, p.78).

É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias polícias
ao redor do mundo. O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha
ou postos de policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para
solucionador de problemas e ombudsman49 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização
da estrutura organizacional e mudanças na seleção, recrutamento, formação, treinamento de sistemas de recompensas, promoção
e muito mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para
ocorrências (rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO:
CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES BÁSICAS
A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela, por si só, é particularizada, pertinente a uma
ou outra organização policial que a adota, dentro de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo,

49substantivo de dois gêneros. 1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias
de abuso de poder ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. 2. POR EXTENSÃO em empresas públicas ou privadas,
indivíduo encarregado do estabelecimento de um canal de comunicação entre consumidores, empregados e diretores.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 54


obedecer a critérios técnicos e científicos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da população.
Qualidade de vida da população em um país de complexas carências e um tema bastante difícil de ser abordado, mas
possível de ser discutido quando a polícia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais.

É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o
de PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua
própria segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a
interpretação de que estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos
quadros da polícia como policiais comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da
polícia, erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber
por sua ação protetora e amiga.
O espírito de Polícia Comunitária que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias:
 A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;
 A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será transferida às crianças desenvolvendo-se
um traço na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;
 O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando a
orientar na educação e no sentido da solidariedade social;
 A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à "Ordem Jurídica" e aos direitos fundamentais
estabelecidos na Constituição Federal;
 A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado na preservação do ambiente, no
socorro em calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em
acidentes ou vítimas de delitos, nos salvamentos e combates a incêndios;
 A participação do cidadão se dá de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida.
Antes, porém, de ser apresentadas definições de Polícia Comunitária e Policiamento Comunitário vale a pena verificar os aspectos
que auxiliam caracterizar comunidade e segurança.
a) Comunidade
Para não correr o risco de definições ou conceitos unilaterais, preferimos apresentar alguns traços que
caracterizam uma comunidade:
 Forte solidariedade social;
 Aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais;
 Discussão e soluções de problemas comuns;
 Sentido de organização possibilitando uma vida social durável.
b) Segurança
Jorge Wilheim, diz que a segurança do indivíduo envolve:
 Reconhecimento do seu papel na sociedade;
 A autoestima e a autossustentação;
 A clareza dos valores morais que lhe permitam distinguir o bem do mal;
 O sentimento de que não será perseguido por preconceito racial, religioso ou de outra natureza;
 A expectativa de que não será vítima de agressão física, moral ou de seu patrimônio:
 A possibilidade de viver num clima de solidariedade e de esperança.
Trojanowicz (1994) faz uma definição clara do que é Polícia Comunitária:
“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a
polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para
identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens
físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na
área.”
Dissecando o conceito de Polícia Comunitária:
Elementos de Definição
Estes elementos de definição podem ser facilmente identificados na definição de policiamento comunitário apresentado por
Trojanowicz. Também conhecidos como os nove P’s do policiamento comunitário, ou seja, os nove elementos que o definem.
Filosofia (philosofia). A filosofia do policiamento comunitário baseia-se na crença de que os desafios contemporâneos
requerem que a polícia forneça um serviço de policiamento completo, preventivo e repressivo, envolvendo diretamente a
comunidade como parceira no processo de identificação, priorização e resolução de problemas, incluindo crime, medo do crime,
drogas ilícitas, desordens físicas e sociais e decadência do bairro. Um amplo engajamento do departamento implica em mudanças
tanto nas políticas quanto nos procedimentos.
Policiamento. O policiamento comunitário mantém um forte enfoque repressivo; os policiais comunitários atendem às
chamadas de serviço e realizam prisões como qualquer outro policial, porém, eles se preocupam também com a resolução preventiva
dos problemas.
Patrulhamento. Os policiais comunitários patrulham o seu quadrante de policiamento, obedecendo ao Procedimento

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 55


Operacional Padrão (POP) de sua Corporação, acrescentando as condutas de monitoramento, dos cidadãos e locais mais propensos a
sofrerem ação de agressor da sociedade, de pessoas identificadas como propensas a ações agressivas, de visitas comunitárias e
solidárias e de participar da Reunião Mensal de Segurança Comunitária, voltando a sua atenção mais ao desenvolvimento de ações
de parceria e prevenção junto ao cidadão de bem. Permanência. O policiamento comunitário requer que os policiais sejam alocados
permanentemente a um certo quadrante de policiamento, a fim de que possam ter o tempo, a oportunidade e a continuidade para
desenvolverem esta nova parceria com a comunidade. A permanência significa que os policiais comunitários não devem ser trocados
constantemente de quadrante e que não devem ser usados como substitutos dos policiais que estão de férias ou que faltaram ao
serviço.
ROTINA DOS POLICIAIS MILITARES DO QUADRANTE
Com o advento da inserção do policiamento comunitário, a rotina dos policiais militares muda, sofre uma radical
transformação. Os policiais que antes aguardavam a ocorrência do crime, agora trabalharão para evitar que ele ocorra. Assim,
enquanto não forem acionados para atender a um crime e, consequentemente, realizar um atendimento reativo, os policiais militares
devem alternar os atendimentos proativos. Ao iniciar o turno diurno, os policiais devem colher dos seus antecessores a relação dos
atendimentos reativos para que possam realizar as visitas solidárias. Ainda devem atentar para a relação dos locais a serem
policiados que foram definidos pela análise criminal realizado pelo comandante do quadrante em parceria com a Seção Operacional
da OPM.
Ao iniciar o turno, os policiais militares devem identificar os locais para as visitas solidárias, para que sejam inseridas no
plano de policiamento da guarnição. Posteriormente, deve realizar o monitoramento, principalmente com atenção voltada ao
delinquente. As atividades proativas devem ser realizadas por perímetros dentro do quadrante, sempre iniciando pela saturação com
patrulhamento e abordagens. Após o perímetro estar sob segurança, deve-se realizar as visitas, solidárias e comunitárias.
Durante a varredura do perímetro, a guarnição de RP deve patrulhar vigilantemente para encontrar pessoas em situação de
suspeição, objetivando abordá-los. Após essa primeira etapa do patrulhamento, deverá realizar patrulhamento com "toques de sirene"
e intercalando com as visitas. Durante o patrulhamento, os policiais militares devem realizar visitas comunitárias em
estabelecimentos comerciais, com fim de demonstrar que estão nas imediações e estreitar o relacionamento. Essa dinâmica deve ser
repetida até que cheguem ao momento do atendimento do policiamento estabelecido pelo comandante do quadrante ou da Seção
Operacional.
Enquanto realizam atendimentos proativos, os PM devem dar atenção às escolas, públicas e privadas, ao comércio, aos
bancos, pois são locais sensíveis e carece constantemente da presença policial. Os atendimentos proativos podem ser interrompidos
em caso de emergência, para atendimento reativo.
Posto. Todas as áreas de responsabilidade de uma Unidade Policial (Batalhão ou Companhia Independente), por maiores
que sejam, podem ser subdivididas em bairros ou grupos de bairros constitutivos de um de um espaço geográfico a ser policiado, por
nós denominado de “quadrante”. O policiamento comunitário descentraliza os policiais, fazendo com que eles possam ser “donos”
dos quadrantes para os quais são escalados, atuando como se fossem “mini-chefes” de polícia, adequando a respostas às
necessidades específicas da local o qual estão patrulhando. Além disso, o policiamento comunitário descentraliza o processo de
decisão, não apenas proporcionando ao policial comunitário a autonomia de agir, mas também concedendo poder a todos os policiais
para agirem na resolução de problemas com base no policiamento comunitário.
Prevenção. No intuito de proporcionar um serviço completo de polícia à comunidade, o policiamento comunitário equilibra
as respostas aos incidentes criminais e às emergências, com uma atenção especial na prevenção dos problemas antes que estes
ocorram ou se agravem.
Parceria. O policiamento comunitário encoraja uma nova parceria entre as pessoas e a sua polícia, apoiada no respeito
mútuo, no civismo e no apoio.
Problemas resolvidos. O policiamento comunitário redefine a missão da polícia em relação à resolução de problemas, de
modo que o sucesso ou o fracasso dependam da qualidade do resultado, mais do que simplesmente dos resultados quantitativos
(número de detenções feitas, notificações de multas emitidas etc., conhecidos como “policiamento de números”). Tanto as medidas
quantitativas como as qualitativas são necessárias.
Personalização
CONCEITOS BÁSICOS
Polícia Comunitária: É a corporação policial que é embasada na Filosofia de Polícia Comunitária. É também a Filosofia
de Polícia Comunitária aplicada na gestão da corporação. É uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde
o mesmo policial trabalha na mesma área, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
Policiamento Comunitário: É a aplicação prática da Filosofia de Polícia Comunitária nas atividades policiais. É a
Estratégia de Polícia Comunitária aplicada na execução de policiamento.
Segurança Comunitária: É o resultado positivo do policiamento comunitário na segurança pública da comunidade. É a
melhora da qualidade de vida da comunidade através da participação de todos os parceiros no policiamento comunitário.
Projeto Comunitário: é um empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto ou serviço único.
Programa Comunitário: É um empreendimento com duração indeterminada ou contínua, para interferir na qualidade de
vida da comunidade.
Ainda, de acordo com Cerqueira, qualquer organismo com uma função policial faz parte, na realidade, da
sociedade. A estratégia comunitária vê o controle e a prevenção do crime como resultado da parceria com outras
atividades. Isto significa dizer que os recursos do policiamento, articulados com os novos recursos comunitários, são
agora os instrumentos essenciais para a prevenção do crime. Em outras palavras, os membros da comunidade
assumem seu real papel de cidadãos que atuam junto da polícia para o bem comum.
Entende-se, assim, que a premissa central da polícia comunitária é que o público deve exercer um papel mais
ativo e coordenado na obtenção da segurança. Desse modo, impõe-se uma responsabilidade nova para a polícia, ou

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 56


seja, criar maneiras apropriadas de associar o público ao policiamento e à manutenção da lei e da ordem [...]
(SKOLNICK; BAYLEY, 2002, p.18).
A estratégia de Polícia Comunitária oferece, então, meios para o processo de fortalecimento dos cidadãos, no
sentido de compartilharem entre si e com a polícia a tarefa de planejar práticas para enfrentar o crime. Conclui-se que
a ideia central de Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de
segurança junto à comunidade onde atuam, de modo a dar característica humana ao profissional de polícia e não
apenas um número de telefone ou uma instalação física referencial, por meio de um amplo trabalho sistemático,
planejado e detalhado.
Cabe ressaltar, também, que Polícia Comunitária não é uma atividade especializada, particularizada, para servir
somente a algumas comunidades sem obedecer aos critérios técnicos previamente definidos.
Na prática Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de Polícia, esta pertinente
às ações efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de
segurança junto à comunidade onde atua, como um médico, um advogado local; ou um comerciante da esquina;
enfim, dar característica humana ao profissional de polícia, e não apenas um número de telefone ou uma instalação
física referencial. Para isto realiza um amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.
Já o Policiamento Comunitário, segundo Wadman (1994)18, é uma maneira inovadora e mais poderosa de
concentrar as energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente
dão origem ao crime e a repetidas chamadas por auxílio local.
A Polícia Comunitária resgata a essência da arte de polícia, pois apoia e é apoiada por toda a comunidade,
acolhendo expectativas de uma sociedade democrática e pluralista, onde a responsabilidade pela mais estreita
observância das leis e da manutenção da paz não incumbem apenas à polícia, mas, também a todos os cidadãos.
À medida que se abrem para a sociedade, congregando lideres locais, negociantes, residentes e todos quanto
puderem participar da segurança local, a polícia deixa de ser uma instituição fechada e que, estando aberta às
sugestões, permite que a própria comunidade faça parte de suas deliberações.
Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento
Comunitário exige um comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com
sua filosofia. Ele também desafia todo o pessoal a encontrar meios de expressar esta nova filosofia nos seus trabalhos,
compensando assim a necessidade de manter uma resposta rápida, imediata e efetiva aos crimes individuais e as
emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando à resolução de problemas antes que
eles ocorram ou se tornem graves.
O Policiamento Comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o
mesmo policial trabalha na mesma área, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver
problemas.
OS DEZ PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
Para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que todos na instituição conheçam os seus
princípios, praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:
a) Filosofia e Estratégia Organizacional
A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias preconcebidas,
deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de
segurança;
b) Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade
Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades
envolvidas na identificação, priorização e solução dos problemas;
c) Policiamento Descentralizado e Personalizado
É necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;
d) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo
A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas da
COPOM deve diminuir;
e) Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança
O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no
rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;
f) Extensão do Mandato Policial
Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de
parâmetros rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se:
Isto está correto para a comunidade?
Isto está correto para a segurança da minha região?
Isto é ético e legal?
Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
Isto é condizente com os valores da Corporação?

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Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o
g) Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas
Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um
compromisso inalienável do Policial Comunitário;
h) Criatividade e apoio básico
Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria,
experiência e sobretudo na formação que recebeu. Isso propiciará abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos
da comunidade;
i) Mudança interna
O Policiamento Comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É fundamental a
reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se
projeta para 10 ou 15 anos;
j) Construção do Futuro
Deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não deve
ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para
ajudá-las a resolver problemas atuais de sua comunidade.

O Que não é Polícia Comunitária


Quando não se conhece ou não se prática Polícia Comunitária é comum se afirmar que esta nova forma ou filosofia de
atuação é de uma “polícia light”, ou uma “polícia frouxa” ou mesmo uma “polícia que não pode mais agir”.
Na verdade Polícia Comunitária é uma forma técnica e profissional de atuação perante a sociedade numa época em que a
tecnologia, qualidade no serviço e o adequado preparo são exigidos em qualquer profissão. Mas no nosso caso existe ainda
muita confusão.
Robert Trojanowicz no livro “Policiamento Comunitário: Como Começar?” procura mostrar as
interpretações errôneas sobre o que não é Policiamento Comunitário:
a. Policiamento Comunitário não é uma tática, nem um programa e nem uma técnica
- não é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e sim um novo modo de oferecer o serviço policial à
comunidade;
b. Policiamento Comunitário não é apenas relações públicas
- na melhoria das relações com a comunidade é necessária porém não é o objetivo principal, pois apenas o "QSA" não é
suficiente para demonstrar a comunidade seriedade, técnica e profissionalismo. Com o tempo os interesseiros ou os "QSA 5" são
desmascarados e passam a ser criticados fortemente pela sociedade. É preciso, portanto, ser honesto, transparente e sincero nos
seus atos;
c. Policiamento Comunitário não é anti-tecnologia –
o Policiamento Comunitário pode se beneficiar de novas tecnologias que podem auxiliar a melhora do serviço e a
segurança dos policiais. Computadores, celulares, sistemas de monitoramento, veículos com computadores, além de armamento
moderno (inclusive não letal) e coletes protetores fazem parte da relação de equipamentos disponíveis e utilizáveis pelo policial
comunitário. Aquela ideia do policial comunitário “desarmado” é pura mentira, pois até no Japão e Canadá os policiais andam
armados com equipamentos de ponta. No caso brasileiro a nossa tecnologia muitas vezes é adaptada, ou seja, trabalhos muito
mais com criatividade do que com tecnologia. Isto com certeza favorece o reconhecimento da comunidade local;
d. Policiamento Comunitário não é condescendente com o Crime
- os policiais comunitários respondem às chamadas e fazem prisões como quaisquer outros policiais: são enérgicos e agem
dentro da lei com os marginais e os agressores da sociedade. Contudo atuam próximos a sociedade orientando o cidadão de bem,
os jovens e buscam estabelecer ações preventivas que busquem melhorar a qualidade de vida no local onde trabalham. Parece
utópico, mas inúmeros policiais já vem adotando o comportamento preventivo com resultados excepcionais. Outro ponto
importante é que como está próximo da comunidade, o policial comunitário também é uma fonte de informações para a polícia
de investigação (Polícia Civil) e para as forças táticas, quando forem necessárias ações repressivas ou de estabelecimento da
ordem pública;
e. Policiamento Comunitário não é espalhafatoso e nem camisa "10"
- as ações dramáticas narradas na mídia não podem fazer parte do dia a dia do policial comunitário. Ele deve ser humilde e
sincero nos seus propósitos. Nada pode ser feito para aparecer ou se sobressair sobre seus colegas de profissão. Ao contrário, ele
deve contribuir com o trabalho de seus companheiros, seja ele do motorizado, a pá, trânsito, bombeiro, civil, etc. O Policiamento
Comunitário deve ser uma referência a todos, polícia ou comunidade. Afinal, ninguém gosta de ser tratado por um médico
desconhecido, ou levar seu carro em um mecânico estranho;
f. Policiamento Comunitário não é paternalista
- não privilegia os mais ricos ou os “mais amigos da polícia”, mas procura dar um senso de justiça e transparência à ação
policial. Nas situações impróprias deverá estar sempre ao lado da justiça, da lei e dos interesses da comunidade. Deve sempre
priorizar o coletivo em detrimento dos interesses pessoais de alguns membros da comunidade local;
g. Policiamento Comunitário não é uma modalidade ou uma ação especializada isolada dentro da Instituição
- os policiais comunitários não devem ser exceção dentro da organização policial, mas integrados e participantes de todos
os processos desenvolvidos na unidade. São parte sim de uma grande estratégia organizacional, sendo uma importante referência
para todas as ações desenvolvidas pela Polícia Militar. O perfil desse profissional é também o de aproximação e paciência, com
capacidade de ouvir, orientar e participar das decisões comunitárias, sem perder a qualidade de policial militar forjado para
servir e proteger a sociedade;

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 58


h. Policiamento Comunitário não é uma Perfumaria
- o policial comunitário lida com os principais problemas locais: drogas, roubos e crimes graves que afetam diretamente a
sensação de segurança. Portanto seu principal papel, além de melhorar a imagem da polícia, é o de ser um interlocutor da
solução de problemas, inclusive participando do encaminhamento de problemas que podem interferir diretamente na melhoria do
serviço policial (uma rua mal iluminada, horário de saída de estudantes diferenciado, etc.);
i. Policiamento Comunitário não pode ser um enfoque de cima para baixo
- as iniciativas do Policiamento Comunitário começam com o policial de serviço. Assim admite-se compartilhar poder e
autoridade com o subordinado, pois no seu ambiente de trabalho ele deve ser respeitado pela sua competência e conhecimento.
Contudo o policial comunitário também adquire mais responsabilidade já que seus atos serão prestigiados ou cobrados pela
comunidade e seus superiores;
j. Policiamento Comunitário não é uma fórmula mágica ou panaceia
- o Policiamento Comunitário não pode ser visto como a solução para os problemas de insegurança pública, mas uma forma
de facilitar a aproximação da comunidade favorecendo a participação e demonstrando a sociedade que grande parte da solução
dos problemas de insegurança dependem da própria sociedade.
Sabemos que a filosofia de Polícia Comunitária não pode ser imediatista, pois depende da reeducação da polícia e dos
próprios cidadãos que devem ver a polícia como uma instituição que participa do dia a dia coletivo e não simples guardas
patrimoniais ou "cães de guarda";
k. O Policiamento Comunitário não deve favorecer ricos e poderosos
- a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os mais carentes, os mais humildes, que residem
em periferia ou em áreas menos nobres.
Talvez nestas localidades é que está o grande desafio da Polícia Comunitária. Com certeza os mais ricos e poderosos tem
mais facilidade em ter segurança particular;
i. Policiamento Comunitário não é uma simples edificação
- construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária. A Polícia Comunitária depende
diretamente do profissional que acredita e pratica esta filosofia muitas vezes com recursos mínimos e em comunidades carentes;
m. Policiamento Comunitário não pode ser interpretado como um instrumento político-partidário mas uma
estratégia da Corporação
- muitos acham que acabou o Governo “acabou a moda”, pois vem outro governante e cria outra coisa.
Talvez isto seja próprio de organizações não tradicionais ou temporárias. A Polícia Comunitária além de filosofia é também
um tipo de ideologia policial aplicada em todo o mundo, inclusive em países pobres com características semelhantes às do
Brasil. Portanto, talvez seja uma roupagem para práticas positivas antigas.
Afinal, o que foi que esquecemos?
n. A natureza do policial sempre foi comunitária. Nascida ao início do século XX com o objetivo de proteger o
cidadão de bem dos malfeitores, anos depois, ao final deste mesmo século, se busca este retorno às origens.
Referência Bibliográfica:
TROJANOWICZ, Robert e BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar . Trad. Mina Seinfeld
de Carakushansky. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Editora Parma, 1994.

Diferenças básicas entre a Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária


As polícias militares têm a tarefa constitucional de polícia ostensiva e preservação da ordem pública. Sendo assim,
podemos afirmar que a Polícia Militar pode atuar tanto na prevenção, quanto na repressão imediata de crimes.
Por prevenção, entendemos aquele papel da polícia que visa a coibir que crimes aconteçam, seja pelo patrulhamento
rotineiro ou por atividades típicas de polícia comunitária, como visitas e reuniões. Já quando falamos em repressão imediata,
devemos ter em mente a atuação da polícia assim que um crime ocorre.
Apesar de não ter competência para investigação, a Polícia Militar geralmente atua logo após o acontecimento de um crime,
o que possibilita por diversas vezes, a prisão em flagrante de pessoas que estejam em conflito da lei, o que não configura serviço
investigativo, não sendo, portanto inconstitucional.
Da mesma forma, as polícias civis também cumprem papel preventivo ao circularem com viaturas caracterizadas ou até
mesmo quando realizam projetos de combate às drogas, sem que esse trabalho preventivo possa ser considerado
inconstitucional.
Visto isso, podemos dizer que as polícias tanto podem atuar com a filosofia da polícia tradicional quanto com a
filosofia da polícia comunitária, pois dependendo do caso e da forma de atuação da polícia, pode-se preferir uma ou
outra filosofia.
O que muda na Polícia Comunitária em relação ao que muitos autores denominam de Polícia Tradicional, por não
utilizar a mesma filosofia?
O quadro a seguir é feita comparação entre as atitudes que relacionadas ao modelo de Polícia Tradicional e o
modelo de Polícia Comunitária.
POLÍCIA TRADICIONAL
- A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente, pelo cumprimento da lei; - Na relação
entre a polícia e as demais instituições de serviço público, as prioridades são muitas vezes conflitantes;
– O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
– As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos aqueles envolvendo violência;
– A polícia se ocupa mais com os incidentes;
– O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 59


– O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos crimes sérios;
– A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que devam ser cumpridas pelos policiais;
– As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes em particular;
– O policial trabalha voltado para a marginalidade de sua área, que representa, no máximo, 2% da população
residente no local onde “todos são inimigos, marginais ou paisanos folgados, até que se prove o contrário”;
– O policial é o do serviço;
– Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
– Presta contas somente ao seu superior; e
– As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências
Policiamento tradicional e comunitário
O policiamento ostensivo tradicional objetivo combater o crime assim que o delito foi cometido ou pouco antes
de ser praticado, com princípios fundamentados como a utilização do policiamento fardado, por exemplo.Vejamos
abaixo a diferença básica entre a polícia tradicional e a polícia comunitária.
Vide quadro da página 62.
Polícia Comunitária
A comunidade é aliada no planejamento das políticas de segurança, por meio de campanhas, orientações e
mutirões. Os resultados de todo o procedimento são realizados pela comunidade e pelos policiais. Sendo assim,
segundo o Código Penal Militar:
➢ A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles membros da população que são
pagos para dar atenção em tempo integral às obrigações dos cidadãos;
➢ Na relação com as demais instituições de serviço público, a polícia é apenas uma das instituições
governamentais responsável pela qualidade de vida da comunidade;
➢ O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando à resolução de problemas, principalmente por
meio da prevenção;
➢ A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e desordem;
➢ As prioridades são qualquer problema que esteja afligindo a comunidade;
➢ A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos cidadãos;
➢ O que determina a eficácia da polícia são o apoio e a cooperação do público;
➢ O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a comunidade;
➢ A função do comando é incutir valores institucionais;
➢ As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as atividades delituosas de indivíduos
ou grupos;
➢ O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área, que são pessoas de bem e
trabalhadoras;
➢ O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos problemas com a marginalidade,
que no máximo chega a 2% dos moradores de sua localidade de trabalho;
➢ Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e clientes da organização policial;
➢ O policial presta contas de seu trabalho ao seu superior e à comunidade;
➢ As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da comunidade, ou seja, 24 (vinte e
quatro) horas por dia;
➢ O policial é da área.
Polícia Tradicional
É responsável por planejar e implantar os serviços, tarefas realizadas pelos policiais, podendo haver a parceria
com outras instituições como a polícia investigativa, federal, bombeiros, etc. 
Sendo assim, segundo o Código Penal Militar: 
➢ A polícia é uma agência governamental responsável principalmente pelo cumprimento da lei;
➢ Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço público, as prioridades são muitas vezes
conflitantes;
➢ O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
➢ As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos aqueles atos envolvendo violência;
➢ A polícia se ocupa mais com os incidentes;
➢ O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
➢ O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos crimes sérios;
➢ A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que devam ser cumpridas pelos
policiais;
➢ As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes em particular;
➢ O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua área, que representa no máximo 2%
da população residente no local;
➢ Emprego da força como técnica de resolução;
➢ Presta contas somente ao seu superior;

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 60


As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências.

Tabela 3. Polícia Comunitária vs Polícia Tradicional.


Objetivos da Polícia Comunitária
Prevenir o crime
A essência da segurança pública é a prevenção do crime e o que busca o policiamento comunitário quando insere os
policiais militares do quadrante no processo de resolução de problemas. É bom lembrar que os problemas na segurança pública
tem origem nas causas sociais. As atividades proativas, na verdade, são aquelas voltadas ao combate às causas da violência e da
criminalidade, que já foram tratadas como “ações extraoficiais realizadas pela policia, universalmente designadas como “peace
officers”. No entanto, as ações policiais de caráter preventivas também englobam a categoria de proativas porque figuram como
serviço público e não uso do poder de polícia exclusivamente.
Aprimorar a relação entre a comunidade e a polícia
O policiamento comunitário tem um caráter democrático porque alcança as minorias e busca atendê-las na satisfação das
suas necessidades. A prestação de serviços, como produto, possui uma característica própria que é o consumo do produto no
momento da consecução, o que exige a aproximação do produtor ao consumidor. Por outro lado, a prevenção do crime será mais
eficiente com a contribuição do cidadão.
Independentemente da redução da violência é finalidade do policiamento comunitário melhorar o relacionamento entre a
Polícia Militar e a comunidade.
Resolver problemas comunitários
O policiamento comunitário deve utilizar a criatividade de seus policiais para a resolução de problemas diversos que
incomodam a comunidade. O processo de resolução de problemas implica, primeiramente, na análise das informações contidas
nos relatórios para a identificação desses processos. Muitos problemas, após identificados, podem ser solucionados com a
intervenção policial com medidas proativas, bem como podem ser combatidos com mudança de comportamento das pessoas, a
partir da mobilização comunitária ou com acionamento de outros órgãos públicos.
A Importância Do Policiamento À Pé Para O Policiamento Comunitário
A década de setenta foi marcante para o surgimento do policiamento comunitário ou para a transformação da
polícia em diversos países, graças à incorporação da idéia de qualidades dos serviços públicos na definição do Estado.
Nos Estados Unidos da América uma experiência merece uma atenção especial, pois sugere uma polícia que
alcança sua finalidade.
Os relatos expostos por Trojanowicz e Bucqueroux (2003, p.23 e 24) remontam as experiências de
patrulhamento à pé que iniciaram nas cidades de Flint e Newark, respectivamente, nos Estados de Michigan e New
Jersey-EUA.
Em ambas as cidades, as experiências exploraram o policiamento à pé. Enquanto em Newark utilizou a patrulha
a pé não direcionada, Flint buscou ultrapassar os limites da polícia tradicional dos incidentes criminais, ou seja, das
“ocorrências de delitos tão somente”. Em Flint a polícia recebeu treinamento sobre como “engajar a comunidade na
resolução criativa de problemas, e tinha sido dada uma extraordinária liberdade aos policiais para explorar novas
maneiras de atacar uma série de assuntos [...]” (Trojanowicz & Bucqueroux, 2003, p. 24) .

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 61


Quando analisaram os resultados, os pesquisadores concluíram que as metodologias aplicadas pelos policiais
contribuíram para a ambiguidade dos resultados. Em Flint, que adotou o policiamento à pé direcionado e engajamento
da comunidade houve “uma redução significativa em determinados crimes” (TROJANOWICZ & BUCQUEROUX,
2003, p. 24).
Apesar de que em Newark não houvesse uma redução na violência, em ambas as cidades a pesquisa demonstrou
que, em decorrência do policiamento à pé, as pessoas apresentaram melhoria na relação com a polícia, bem como se
sentiam mais seguras. Por fim, concluíram os pesquisadores:
Houve naqueles anos, várias tentativas de repetir as experiências de Flint e Newark. Enquanto os resultados
iniciais quanto à redução do crime foram ambíguos, pesquisas periódicas realizadas antes e depois da implantação
mostraram uma redução no medo do crime, redução da desordem, aumento da sensação de segurança pessoal e
melhoria do relacionamento entre a polícia e a comunidade – em particular nas vizinhanças onde residiam minorias.
Houve também, em relação aos policiais, um aumento na sensação de segurança pessoal e da satisfação em relação ao
trabalho. (TROJANOWICZ & BUCQUEROUX, 2003, p. 24 e 25).
O estudo serviu para discutir a importância do policiamento à pé e distingui-lo do policiamento comunitário, mas,
sobretudo para reverenciar o policiamento à pé como um valioso instrumento para o policiamento comunitário e para
criar o desafio de extrair dele o diferencial e aplicar ao policiamento por radio patrulha.
OS SEIS GRANDES GRUPOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
Os seis grandes grupos devem ser identificados e trabalhados conjuntamente para assegurar o êxito de quaisquer
esforços de policiamento comunitário, são eles:
1. Organização Policial. Incluindo todo o pessoal, desde o comandante geral ao mais moderno dos soldados.
2. A Comunidade. Incluindo todo mundo, desde os líderes comunitários formais e informais, tais como os
presidentes de associações cívicas, sacerdotes e educadores, até os organizadores de atividades comunitárias e até os
cidadãos comuns da rua. Este último, o mais importante.
3. Autoridades Constituídas e organismos governamentais. Incluindo o prefeito, o administrador da cidade, os
vereadores, e quaisquer outros funcionários federais ou estaduais cujo apoio possa afetar o futuro do policiamento
comunitário.
Todavia, dentro de um relacionamento direcionado para um comportamento não eleitoreiro.
4. A Comunidade de Negócios. Incluindo toda a gama de estabelecimentos comerciais, desde as grandes
empresas até o vendedor ambulante.
5. Organizações Comunitárias. Instituições sem fins lucrativos, desde clube de escotismo até grupos de obras de
caridade e grupo de voluntários, CONSEG’s.
6. A Mídia. Tanto a eletrônica quanto a escrita.
PERFIL DO POLICIAL COMUNITÁRIO
a) Elevado Grau de Iniciativa e Decisão: Espera-se que o policial comunitário possua um alto grau de autonomia,
entendida como a capacidade de conduzir-se sem a necessidade constante de supervisão e controle externos, bem como seja
capaz de decidir com presteza e segurança. Obviamente, esta característica de personalidade será tanto mais desenvolvida quanto
maior a coerência dos escalões de comando em facilitar as iniciativas do profissional e apoiar suas decisões.
b) Elevada Flexibilidade de Conduta: O policial comunitário não pode se prender a formas rígidas de compreender a
realidade que o cerca, sob pena de não ser capaz de dar soluções aos problemas que se impuserem sobre ele;
c) Elevada Criatividade: Um dos pressupostos mais interessantes do Policiamento Comunitário é a liberdade que o policial
deve ter para buscar formas, cada vez mais eficientes e eficazes, de cumprir o seu papel junto à comunidade, valendo-se dos
meios disponíveis no momento;
d) Ótimo Relacionamento Interpessoal: Para um policial militar, manter relações interpessoais em um nível adequado é
um requisito considerado importante. Para o policial militar comunitário, de outro lado, relacionamento interpessoal é mais que
um requisito profissional; é verdadeiramente um valor pelo qual pauta todo o seu proceder.
e) Excelente Receptividade e Capacidade de Assimilação: O policial comunitário no auge de sua atuação representará no
seu bairro o papel de um verdadeiro líder. Será comum, que a população local a ele se dirija para solicitar, reclamar e sugerir.
Assim, uma postura prioritariamente aberta aos contatos favorecerá a colaboração e a participação da comunidade na resolução
dos seus problemas, sendo certo que sem essa parceria com os habitantes da Região não será possível falar em policiamento
comunitário. Também é esperado que ele seja capaz de assimilar com certa rapidez algum mal estar que possa ser gerado em
ocorrências difíceis, para logo em seguida estar novamente apto a se relacionar amistosamente com a comunidade.
f) Boa Autocrítica: Requisito fundamental para o aperfeiçoamento constante do trabalho comunitário. O senso do dever e o
compromisso com os ideais da PM são a certeza de que um eventual momento de glória individual serão divididos e
capitalizados a favor da Instituição e não somente de si mesmo. Um indivíduo com baixa autocrítica ou elevado egoísmo tenderia
a canalizar seus talentos na conquista de posições políticas junto à comunidade. Tal situação poderia colocar todo o projeto em
risco uma vez que o policial perderia a isenção de propósitos tão necessária ao seu desempenho profissional. O policial
comunitário deve ser capaz de observar seu comportamento ao relacionar-se profissional ou socialmente com a comunidade a que
está vinculado, possibilitando a auto-avaliação e, se necessário, a mudança de comportamento.
g) Boa Capacidade de Liderança: Na condução das ações de proteção da comunidade, muitas vezes o núcleo do trabalho
do policial comunitário será o de agregar as forças já existentes na localidade, canalizando-as no sentido de trabalharem de modo
harmônico e coeso na solução de problemas comuns (ligados diretamente ou não à questão da segurança pública). Não raro, o seu
trabalho principal será o de educar os residentes sobre as vantagens de atuar em grupo, como uma verdadeira comunidade. Será
impossível realizar tais tarefas se exercer a liderança com um temperamento inadequado ao profissional de polícia.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 62


h) Boa Capacidade de Mediação de Conflitos: Após algum tempo da implantação bem-sucedida do policiamento
comunitário e havendo conquistado a confiança das pessoas que residem no local, será absolutamente natural que ele seja
procurado, em lugar de qualquer outro representante público, como alguém que detém sabedoria e experiência, além de
autoridade, para mediar conflitos entre os habitantes. Nesses momentos é que ele será mais testado pelos seus clientes, pois será
esperado dele toda a essência do comportamento ético e de bom senso que se pode esperar de um policial militar. Atuando como
mediador nos conflitos para os quais esteja legalmente apto, estará colaborando para a ampliação do respeito e da confiabilidade
da Organização PM.

Gestão de Serviços

Tabela 4. 5W2H
A Polícia Comunitária pede para que os policiais escapem da logica do policiamento dirigido para ocorrências
(radioatendimento) e busquem uma solução pró-ativa e criativa para equacionar o crime e a desordem. O diagrama
5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida nos países de língua
portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), e muito utilizada na administração de empresas para gerenciar um plano
de ação para elaborar um serviço ou produto.
Este diagrama e composto por 7 perguntas que procuram orientar a gerência de um plano de ação.

Figura 18. As sete perguntas essenciais

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 63


As sete perguntas essenciais.

Pergunta
Característica
Inglês - 5W2H Português - 4Q1POC
What? O que será feito? Etapa a cumprir
Who? Quem vai fazer Definição de Responsável
When? Quando será feito? Cronograna
How much? Quanto custará? Investimento
Why? Por quê? Razoes para a sua realização
Where? Onde será? Local de realização
How? Como será? Como atuar (operacionalizar)

Tabela 5. As sete perguntas essenciais (notas do autor)


O 4Q1POC é um método para a definição clara de um problema, causa ou solução, por meio de perguntas
simples e objetivas. Deve ser usado quando necessitar descrever de maneira completa um problema ou um plano de
ação, assegurando que as informações básicas e fundamentais sejam definidas, funcionando como uma lista de
verificação.
As informações devem ser extraídas por meio das seguintes questões:
•O quê ? (What) – É o assunto tratado?
•Quem? (Who) – Quem está envolvido?
•Quando? (When) – Em que momento, duração e frequência?
•Quanto? ( How much) – Custos?
•Por quê? (Why) – Objetivo?
•Onde? (Where) – Onde atuar?
•Como? (How) – Como atuar?
As respostas para perguntas devem ser anotadas em uma tabela, resultando um plano com as informações
coletadas.

Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia Tradicional


Em oposição ao trabalho de um policial tradicional, que faz patrulhamento e prende bandidos, em um dia de trabalho de
um policial comunitário, além das tarefas do policial tradicional, abrange:
- trabalhar em postos comunitários,
- participar de encontros com grupos da comunidade,
- analisar e resolver problemas do bairro,
- realizar pesquisas e entrevistas pessoais,
- encontrar com lideranças locais,
- verificar a segurança das residências e comércios locais,
- lidar com desordeiros, dentre outras.
Veja a seguir o diagrama, adaptado de MOREIRA Apud PEAK (1999, p.80), para compreender e comparar
com o modelo de Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária.
Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn, 50
POLÍCIA TRADICIONAL POLÍCIA COMUNITÁRIA
A polícia é uma agência governamental responsável, A polícia é o publico e publico é a polícia: os policiais são aqueles
principalmente, pelo cumprimento da lei membros da população que são pagos para dar atenção em tempo
integral às obrigações dos cidadãos;
Na relação entre polícia e as demais instituições de serviço Na relação com as demais instituições de serviço publico, a polícia
público, as prioridades são muitas vezes conflitantes; é apenas uma das instituições governamentais responsáveis pela
qualidade de vida da comunidade;
O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime; O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando a
resolução de problemas, principalmente por meio da prevenção
As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e A eficácia da política é medida pela ausência de crime e de
todos aqueles envolvendo violências; desordem;
A polícia se ocupa mais com os incidentes; As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo a

50 Maurício Futryk Bohn, Mestrando em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Graduado
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 64
comunidade;
O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta; A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos
cidadãos
O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do
rápidas aos crimes sérios; publico;
A função do comando é prover os regulamentos e as O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito
determinações que devam ser cumpridas pelos policiais; relacionamento com a comunidade
As informações mais importantes são aquelas relacionadas a A função do comando é incutir valores institucionais;
certos crimes em particular;
O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as
sua área, que representa, no máximo 2% da população residente atividades delituosas de indivíduos ou grupos;
ali onde “todos são inimigos, marginais ou paisano folgado, até
prova um contrário”;
O policial é do serviço; O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área,
que são pessoas de bem e trabalhadoras;
Emprego da força como técnica de resolução de problemas; O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução
dos problemas com a marginalidade, que no máximo chega a 2%
dos moradores de sua localidade de trabalho;
Presta contas somente ao seu superior; Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e
clientes da organização policial;
As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrência. O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à
comunidade;

Tabela 6. Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn
Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/IV/54.pdf> e em
<https://jus.com.br/artigos/28125/policiamento-comunitario-a-transicao-da-policia-tradicional-para-policia-cidada >.
Acesso em 07 de ago de 2018.
6. MOBILIZAÇÃO SOCIAL
6.1. MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade
venha atingir os seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos:
a comunidade geográfica e a comunidade de interesse.
Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a
mesma população. Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário
porque o crime, a desordem e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade
geográfica.
Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os
residentes trabalhem em parceria com o policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade.
(TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994)
Nesta ótica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa
aproximação.
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma
praça, passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de
pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente,
resultados decididos e desejados por todos.
CONCEITO PROPOSTO:
Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido
também compartilhados.
Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a
participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada u m. Essa
decisão depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como capazes de provocar e
construir mudanças.
Fonte: http://www.aracati.org.br/portal/pdfs/13_Biblioteca/Publicacoes/mobilizacao_social.pdf
6.2 – Envolvimento dos cidadãos
Qualquer tentativa de trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir necessariamente a comunidade.
Embora a primeira vista possa parecer simples, a participação da comunidade é um fator importante na democratização

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 65


das questões de segurança pública e da implementação de programas comunitários que proporcionam a melhoria de
qualidade de vida e a definição de responsabilidades.
São poucas as comunidades que mostraram serem capazes de integrar os recursos sociais com os recursos do
governo. Existem tantos problemas sociais, políticos, e econômicos envolvidos na mobilização comunitária que muitas
comunidades se conformam com soluções parciais, isoladas ou momentâneas (de caráter paliativo51), evitando mexer
com aspectos mais amplos e promover um esforço mais unificado com resultados mais duradouros e melhores. A
participação do cidadão, muitas vezes, tem-se limitado às responsabilidades de ser informado das questões públicas
(ações da polícia), votar pelos representantes em conselhos ou entidades representativas, seguir as normas institucionais
ou legais sem dar sugestões de melhoria do serviço.
Outro problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois uma comunidade rica tem
comportamento e anseios diferentes de uma comunidade pobre e comunidades de grandes centros urbanos são
diferentes de comunidades de pequenas cidades do interior, independente de serem ricas ou pobres agrícolas ou
industriais. O que importa é descobrir seus anseios, seu desejo de participação no processo, sua motivação para se
integrar com a polícia.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 253 e 255)
NOTA
Um exemplo bem atual é a REPAS (Rede de Promoção de Ambientes Seguros) – Guarapari/ES, sendo uma
política adotada pela unidade policial em conjunto com a Prefeitura do Município de Guarapari (ES) para implementação
do “Batalhão Participativo” com o objetivo de adotar métodos de gestão participativa operacional técnico/científicos, a
partir da elaboração de um diagnóstico do ambiente interno e externo da cidade com a cooperação efetiva dos policiais.
A criação da REPAS teve esse diagnóstico como marco inicial do trabalho dos policiais militares para fazer
frente às demandas tanto da própria instituição quanto da comunidade, visto que o balneário de Guarapari era a região
mais afetada pela criminalidade. Combinado às questões internas, foi diagnosticado que muitos dos problemas da
criminalidade são situações de complexidades relacionadas a gestão pública municipal.
Nessa perspectiva, o Comando do 10º Batalhão fomentou a participação do público interno e externo na
cooperação e solução dos problemas identificados no balneário e criaram ferramentas democráticas de gestão com apoio
dos parceiros: Prefeitura Municipal de Guarapari e o site popular “Guarapari Virtual”.
O Comando do “Batalhão Participativo” realiza reuniões com diversas representações sociais e da administração
pública para propor soluções nas questões relacionadas à segurança pública e social do município. Essa rede é
autossustentável, constituída por meio de parcerias com a iniciativa privada e o poder público municipal, além da
participação social de moradores, que gerou maior celeridade na realização de ações conjuntas, promovendo o devido
equilíbrio para obtenção de resultados mais satisfatórios à sociedade.
Dentre os resultados atingidos, verificou-se a diminuição dos principais crimes e elevação do sentimento de
segurança da comunidade.
6.3.Organização comunitária
Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidade e os diversos segmentos favoreça uma
melhor integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da
cidadania aos cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das
relações, amplia a percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de
conflito que exigem ações de caráter repressivo das instituições policiais.
Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas
experiências de organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 255)
6.4. A autonomia das organizações em relação à polícia
Um aspecto essencial a ser considerado na avaliação das experiências de organização comunitária é o nível de
autonomia dos grupos em relação aos interesses político-partidários, de Governo (federal, estadual ou municipal) ou da
polícia. Em regra, os grupos comunitários, assumem uma postura passiva e acrítica em relação às ações de governo e da
polícia, respaldando apenas as suas práticas, mesmo quando claramente impróprias ou ilegais. É preciso respaldar as
boas ações da polícia, de interesse coletivo, de respeito aos direitos humanos, dentro da legalidade e dos valores morais
e éticos. Mas deve-se criticar e vilipendiar ações violentas, ilegítimas, que desrespeitam a dignidade humana e que
fogem ao interesse coletivo, responsabilizando o mau profissional e não a instituição como um todo.
51ADJETIVO

1. (1601)
2. ADJETIVO. 1.(1601). 2. que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de medicamento ou
tratamento); anódino. "<medicamento p.> " · "<essa terapia foi apenas um p.> ". p.ext.. 3. que ou que serve para atenuar um mal ou
protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.). "<diante do desastre ecológico, só foram tomadas medidas p.> " · "<a distribuição
gratuita de alimentos foi um p. para a situação causada pela seca> ". ORIGEM ⊙ ETIM paliado (part. de paliar) sob a f. rad. paliat- + -
ivo

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 66


Os representantes comunitários frequentemente temem a polícia e se ressentem da forma como esta exerce sua
autoridade. As ações comunitárias focam mais para o controle da polícia do que para o controle do crime, pois o medo é
predominante.
Acredita-se que a polícia não sabe os problemas do bairro, pois só existe para “caçar bandidos”.
Uma organização comunitária que depende do apoio policial para garantir a mobilização de seus membros e
viabilizar as suas ações acaba convertendo-se em uma mera extensão civil da instituição policial, e não um instrumento
efetivo de participação comunitária.
Organizações que não dependem da polícia para a sua existência podem trazer significativos desafios para a
polícia. No pensamento institucional pode significar entraves administrativos, restringindo a sua discricionariedade; no
pensamento social amplia o controle da polícia; na filosofia de polícia comunitária amplia e aprimora as ações
conjuntas, tanto da polícia como da sociedade.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 219 e 220)
6.5. Fatores intervenientes
Na aproximação da polícia com a comunidade, verificam-se perigos que necessitam ser debelados, conforme
abaixo:
· O planejamento equivocado e sem orientação culminando no surgimento de alternativas econômicas:
segurança privada, sistema de comunicações entre cidadãos de posse (paralelo a polícia);
· Membros das comunidades expostos a marginalidade, colocando em risco suas vidas porque são interlocutores
dos problemas locais;
· A polícia determina tarefas para dissuadir ações participativas sem nenhum resultado prático;
· As campanhas têm um forte conteúdo político em detrimento da prevenção porque é apoiado por um político
ou comerciante;
· Como o apoio governamental é pouco, apenas pequenas ações fazem surgir lideranças com perfil político e
eleitoral, deturpando o processo;
· A instrumentalização de pequenas tarefas pode causar apatia da comunidade, favorecendo os marginais da área
e grupos de interesse que desejam o insucesso de ações coletivas no bairro;
· A polícia não consegue mais atuar na área sem críticas da comunidade.
O certo é procurar os caminhos que abaixo se apresentam:
· Promover uma ampla participação da comunidade, discutindo e sugerindo soluções dos problemas;
· Demonstrar a participação da comunidade nas questões, determinando o que é da polícia e o que é da
sociedade;
· Proteger os reais parceiros da polícia, não os utilizando para ações de risco de vida (não expondo) com ações
que são da polícia ou demonstrando eventualmente que eles são informantes;
· As ações de autoajuda são acompanhadas por policiais. As iniciativas locais são apoiadas. Trabalhos
preventivos, não apenas campanhas devem ser estimuladas.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 224 e 225)
7. TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
Boa Capacidade de Mediação de Conflitos: Após algum tempo da implantação bem-sucedida do
policiamento comunitário e havendo conquistado a confiança das pessoas que residem no local, será absolutamente
natural que ele seja procurado, em lugar de qualquer outro representante público, como alguém que detém sabedoria e
experiência, além de autoridade, para mediar conflitos entre os habitantes. Nesses momentos é que ele será mais
testado pelos seus clientes, pois será esperado dele toda a essência do comportamento ético e de bom senso que se pode
esperar de um policial militar. Atuando como mediador nos conflitos para os quais esteja legalmente apto, estará
colaborando para a ampliação do respeito e da confiabilidade da Organização PM.
O policiamento comunitário constitui uma estratégia relativamente recente utilizada para tratar dos múltiplos
novos problemas que desafiam as forças policiais de hoje. Antes de mais nada, é importante, de maneira a estabelecer a
validade dessa nova abordagem do policiamento, avaliar a evolução da sociedade pós-moderna, a natureza evolutiva do
crime nessa sociedade e até que ponto as atuais estruturas policiais sofrem limitações diante do crime ( FELTES, 2003,
p. 109).
Em janeiro de 1985, a revista Newsweek estampava uma manchete: “Existe algo de novo nas ruas do Brooklyn.
A polícia voltou a fazer patrulhas a pé”. A Newsweek descreve a nova linguagem como “em parte cavaleiro azul em
parte assistente social, que tanto pode organizar uma associação de quarteirão quanto prender um viciado. No fundo, a
estratégia encarna uma ideia que poucos chefes ousaram algum dia admitir em público: os tiras não podem manter as
ruas seguras sozinhos” (e a lei transferindo uma pseudoideia de que o delito preocupa e interessa apenas à sistemática
vigente).
Contrapondo-se ao modelo tradicional (a exemplo dos EUA), surgem novas propostas que apresentam uma
abordagem alternativa, enfatizando o caráter 75 interdisciplinar, transversal (BAYLEY; SKOLNICK, 2006a, p. 223).
Com isso a polícia se volta à comunidade para manter a ordem pública.
No Brasil, a questão da Segurança Pública (Polícia, Justiça e Sistema Penitenciário) tem sido entendida
restritivamente como questão de justiça criminal. Equivocada a compreensão que supõe o crime como um mero

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 67


enfrentamento simbólico entre o infrator a comunidade na problemática da segurança. Esse modelo alternativo partilha
a visão de que “segurança” deixa de ser competência exclusiva das polícias para converter-se em ação plurigerencial
do conjunto das políticas públicas.
É nesse espaço que advém a polícia comunitária, tendo nascido a partir da concepção de que a polícia poderia
responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às comunidades. Esta concepção, através da formação
educacional do profissional de segurança pública, do resgate da sua autoestima, da sua dignidade como pessoa
humana, visa à humanização do policial, que é estimulado a refletir sobre a condição humana, sobre a realidade prática
da sua atividade, sobre a existência de conflitos reais escondidos pelos aparentes. O policial comunitário é orientado
para mediar conflitos, na busca de uma solução resultante da construção do consenso, incentivando uma iniciativa
comunitária de cultura de paz em prol da defesa dos direitos humanos e do exercício real da cidadania.
A premissa central do policiamento comunitário é que o público (a população em geral) deve exercer um papel
mais ativo e coordenado na obtenção de segurança. Desse modo, o policiamento comunitário impõe uma
responsabilidade nova para a polícia, ou seja, criar maneiras apropriadas de associar o público ao policiamento e à
manutenção da lei e da ordem (BAYLEY; SKOLNICK, 2006b, p.18). Porém, mesmo sendo bastante discutido
atualmente como sendo o modelo ideal a ser aplicado no combate à violência e à criminalidade, o consenso acerca de
seu significado ainda é pequeno.
As experiências de policiamento comunitário, implantadas em vários locais do mundo tendem a seguir quatro
normas: 1. Organizar a prevenção do crime tendo como base a comunidade; 2. Reorientar as atividades de
patrulhamento para enfatizar os serviços não emergenciais; 3. Aumentar a responsabilização das 76 comunidades
locais; e 4. Descentralizar o comando (BAYLEY; SKOLNICK, 2006b, p.19).
A polícia comunitária caracteriza-se por ser voltada para a comunidade, para os problemas por esta vividos,
visando à inclusão social, o desenvolvimento tanto humano como estrutural. O intuito é de solucionar os conflitos, com a
ajuda dos membros da comunidade, de forma mais pacífica e harmoniosa possível, por meio do diálogo e,
consequentemente, da transformação do comportamento das pessoas.

Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional fundamentadas, principalmente, numa parceria
entre a população e as instituições de segurança pública e defesa social. Baseia-se na premissa de que tanto as
instituições estatais, quanto à população local, devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver
problemas que afetam a segurança pública, tais como o crime, o medo do crime, a exclusão e a desigualdade social
que acentuam os problemas relativos à criminalidade e dificultam o propósito de melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos. (BRASIL, 2008b).

Esse modelo de policiamento envolve a comunidade e a faz sentir-se responsável por si e por todos. O fato de o
policial estar perto da comunidade, vivenciado a sua realidade e se fazendo presente por meio de conversas, conselhos
e solução de problemas, passa ao indivíduo, além da sensação de segurança, o sentir-se incluído – partícipe de decisões
-, o sentir-se importante para a sociedade. Realizar a atividade da polícia focada nos direitos humanos, em que há
respeito pela pessoa que vivencia os conflitos diretamente e por aquelas atingidas indiretamente. Resumidamente, o
policiamento comunitário adota o aumento da participação civil no policiamento.
A comunidade auxilia o policiamento, apresentando o que a comunidade entende como prioridade para aquela
área, o que mais preocupa e o que entende que deve ser feito para a obtenção de um lugar seguro de se viver. Preserva-
se a ordem com a aproximação entre a comunidade e a polícia, permitindo-se a maior confiança nas instituições
públicas, estimulando a participação ativa nas mudanças.

Dessa forma, a polícia comunitária associa e valoriza dois fatores, que frequentemente são dissociados e
desvalorizados pelas instituições de segurança pública e defesa social tradicionais: i) a identificação e resolução de
problemas de defesa social com a participação da comunidade e ii) a prevenção criminal. Esses pilares gravitam em
torno de um elemento central, que é a parceria com a comunidade, retroalimentando todo o processo, para melhorar
a qualidade de vida da própria comunidade. Na referida parceria, a comunidade tem o direito de não apenas ser
consultada, ou de atuar simplesmente como delatora, mas também participar das decisões sobre as prioridades das
instituições de defesa social, e as estratégias de gestão, como contrapartida da sua obrigação de colaborar com o
trabalho da polícia no controle da criminalidade e na preservação da ordem pública e defesa civil. As estratégias da
filosofia de polícia comunitária têm um caráter preferencialmente preventivo. Mas, além disso, estas estratégias
visam não apenas reduzir o número de crimes, mas também reduzir o dano da vítima e da comunidade e modificar
os fatores ambientais e comportamentais. Tendo em vista que a proposta da polícia comunitária implica numa
mudança de paradigma no modo de ser e estar a serviço da comunidade e, consequentemente, numa mudança de
postura profissional perante o cidadão, este tema também é trabalhado dentro de uma abordagem transversal,
estando presente em todas as práticas pedagógicas. (BRASIL, 2008b).

Essa mudança de proposta de policiamento, do tradicional para o comunitário, age na mudança de atitude da
polícia com a comunidade. Os policiais comunitários aconselham, mediam conflitos, ministram palestras, participam,
cooperam, comunicam-se, são acessíveis e encorajadores, tanto em lugares públicos como em privados.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 68


O Governo Federal, por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), está
investindo nesse novo paradigma para a polícia: a associação entre segurança e cidadania, com o intuito de diminuir os
índices de criminalidade e perpassar para a sociedade um ideal de inclusão social, de cidadania e de desenvolvimento,
sendo esta última ‘todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento’, uma das metas do milênio 13 sancionadas pela
ONU e ratificadas pelo Brasil.

Desenvolvido pelo Ministério da Justiça, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci)
marca uma iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O projeto articula políticas de segurança com
ações sociais; prioriza a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de
ordenamento social e segurança pública.
Entre os principais eixos do Pronasci destacam-se a valorização dos profissionais de segurança pública; a
reestruturação do sistema penitenciário; o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na
prevenção da violência. Para o desenvolvimento do Programa, o governo federal investirá R$ 6,707 bilhões até o
fim de 2012. (BRASIL, 2008a).

O ideal da construção da segurança a partir da participação da coletividade, apontando para uma sociedade mais
justa e fraterna, passa pela educação em direitos humanos, ou seja, “os enfrentamentos atuais para a construção da
democracia no Brasil passam, necessariamente, pela ética e pela educação para a cidadania” (SOARES, 1997, p. 12). A
mediação de conflitos apresenta-se como instrumento hábil para o desenvolvimento desta proposta, por ser um
mecanismo que pratica a educação em direitos humanos, pois busca a resolução de conflitos a partir da participação
ativa das pessoas.
A mediação é um procedimento consensual de solução de conflitos, no qual as pessoas envolvidas resolvem o
conflito. Contam com a participação de um terceiro – escolhido ou aceito pelas partes – que age no sentido de encorajar
e facilitar o diálogo. As pessoas envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor as satisfaça.
A mediação possibilita a visualização dos envolvidos de que o conflito é algo inerente à vida em sociedade,
possibilitando a mudança, o progresso nas relações, sejam elas individuais ou coletivas. A boa ou má administração de
um conflito é que resultará em desfecho positivo ou negativo. Por meio da mediação, buscam-se os pontos de
convergência entre os envolvidos na contenda que possam amenizar a discórdia e facilitar a comunicação. Muitas vezes
as pessoas estão de tal modo ressentidas que não conseguem visualizar nada de bom no histórico do relacionamento
entre elas. A mediação estimula, através do diálogo, o resgate dos objetivos comuns que possam existir entre os
indivíduos que estão vivendo o problema.
Outrossim, a mediação tenta demonstrar que é possível uma solução de conflito em que ambas as partes ganhem,
tentando, por meio do diálogo, restaurar os bons momentos que fizeram parte da relação, reconhecer e conhecer os
conflitos reais oriundos dos conflitos aparentes perfilados pelos envolvidos, suscitar o questionamento da razão real do
desentendimento, provocar a cooperação mútua e o respeito ao próximo ao analisar que cada pessoa tem a sua forma de
visualizar a questão, facilitar a compreensão da responsabilidade que cada um possui em face do problema e na sua
resolução e, assim, encontrar uma saída que todos aceitem, concordem e acreditem que a divergência será solucionada.
A polícia comunitária como uma polícia próxima da população encontra na mediação de conflitos um forte aliado
na consecução de uma política preventiva de segurança.
Percebe-se, assim, a existência de uma convergência de objetivos entre a mediação e a segurança pública sob o
aspecto da proposta de uma polícia comunitária, por possuir um denominador na construção e na vivência dos direitos
humanos, da justiça social, da cultura de paz e do desenvolvimento humano e social.
Mediação de conflitos: 5 técnicas que você precisa conhecer
Paulo é advogado e acabou de se graduar. Pensa em seguir a carreira como advogado, mas sabe que, para isso,
precisa se manter atualizado e aprender como funciona o mercado do Direito.
Assim, encontrou na mediação de conflitos um caminho que lhe interessa e quer aprender mais sobre o assunto
para tentar oportunidades nessa área.
E aí, se identificou com Paulo? Então, neste capítulo nós ensinamos o que é a mediação e apresentamos cinco
técnicas que você precisa conhecer para dominar definitivamente o assunto. Confira!
O que é e como funciona a mediação de conflitos
Basicamente, a mediação é um procedimento voluntário e informal de auxílio às pessoas em conflito, para que
identifiquem por si mesmas alternativas de benefício mútuo. É aplicável no Brasil em relação aos chamados direitos
disponíveis — que admitem transação e se constituem na esfera patrimonial de seu titular.
A mediação de conflitos possui caráter confidencial e utiliza a participação ativa e direta das partes, podendo ser
judicial ou extrajudicial. No primeiro caso, as partes encontram um terceiro — profissional graduado em Direito (há, pelo
menos, dois anos) e capacitado em cursos especializados.
Já na mediação extrajudicial, contrata-se uma pessoa com expertise no assunto tratado, e permite-se que ela
conduza o caso utilizando as leis e os costumes, para que dite a solução que julgue adequada ao caso de  forma eficaz,
econômica e sigilosa.
5 (cinco) técnicas de mediação de conflitos que você precisa conhecer

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 69


Quanto à mediação jurídica, é claro que para se tornar um profissional capacitado, o advogado deve, obrigatoriamente,
realizar um curso de mediação completo, em que aprenderá todo o processo da mediação e suas técnicas.
Quer conhecer algumas das mais importantes entre as técnicas utilizadas na mediação de conflitos? Confira:
7.1. Escuta Ativa
Nessa técnica, o mediador observa a linguagem verbal e não verbal das partes e tenta compreender informações relevantes,
estimulando-as a expressar suas emoções e instigá-las a ouvir uma à outra.
Assim, tenta estimular a validação dos seus sentimentos e o seu engajamento, a fim de apoiá-las na busca pela melhor
solução para o conflito.
7.2. Rapport
Rapport é uma palavra de origem francesa que diz respeito a uma relação de empatia com o interlocutor. Portanto, trata-se
de uma técnica que visa ganhar a confiança das partes, propondo um diálogo aberto e construtivo a fim de influenciar as partes a
alcançarem a autocomposição.
7.3. Parafraseamento
A técnica do parafraseamento consiste na reformulação, pelo mediador, de frases ditas pelas partes, a fim de sintetizá-las ou
reformulá-las sem alterar seu conteúdo. O mediador se esforça em facilitar o entendimento do seu real significado às próprias
partes, que ficam livres para captar novos significados nas proposições.
7.4. Brainstorming
Semelhante à técnica utilizada frequentemente no marketing jurídico, no brainstorming o mediador incentiva a criatividade
das partes e busca capturar ideias que sejam viáveis para o caso em questão.
7.5. Caucus
Com esta técnica, o mediador realiza uma reunião privada com cada uma das partes separadamente, durante a fase de
negociações, para oportunizar o estabelecimento de proximidade e confiança entre elas e o mediador.
Além disso, essa técnica ainda pode ser usada para acalmar os ânimos, auxiliar no fluxo de informações, reunir informações
úteis para a negociação e ajudar as partes a rever a força de seus casos.
Mediar é tendência para o futuro
A mediação pode ser exercida por qualquer pessoa que procure se capacitar para tanto, mas requer algumas habilidades
específicas, como alto poder de negociação e capacidade de ouvir. De fato, trata-se da tendência do mundo moderno, já que
permite que a resolução de conflitos se dê de maneira muito mais rápida e econômica.
Vale destacar ainda que, com a vigência do Novo Código de Processo Civil, a mediação jurídica passa a ocupar espaço de
destaque nos Tribunais. Assim, o não comparecimento à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da
justiça, com fixação de multa de até 2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa.
Conheça a nossa Escola Internacional de Mediação em Orlando, Estados Unidos. São aulas online e presenciais no país que
melhor desenvolveu a mediação no mundo. Faça parte desta nova geração de profissionais do direito de sucesso.
Acesse: mediacao.institutodialogo.com.br
5 (cinco) técnicas de mediação de conflitos que você precisa conhecer. Disponível em:
<http://www.institutodialogo.com.br/mediacao-de-conflitos-5-tecnicas-que-voce-precisa-conhecer/>. Acesso em 13
nov 2018.
7.2. Interação com a comunidade - NATUREZAS CLASSIFICADAS
COMO PROATIVAS
7.2.1 – Visita Comunitária.
Com a expansão das cidades e com o advento importante da radiopatrulha, o policiamento à pé foi sendo
substituído pela mobilidade. Com o fim do policiamento à pé, o contato direto entre a polícia e a comunidade foi
prejudicado e substituído pelo acionamento, via telefone, nos casos de emergência.
O policiamento comunitário pretende não apenas utilizar o poder de prender criminosos, generalizando as
respostas ao crime, mas focar em lugares, pessoas e problemas específicos. Portanto, para alcançar os objetivos do
policiamento à pé, sem perder os benefícios do radio patrulhamento, o policiamento comunitário utiliza-se das visitas,
comunitárias e solidárias, e das reuniões com a comunidade para aproximarse do cidadão.
A Polícia Militar não deve trabalhar sozinha, e toda vez que insiste, tende a falhar. A participação da comunidade
é importante ao combate ao crime e para prisão de criminosos. Aliás, para a conclusão de inquéritos policiais, a Polícia
Judiciária utiliza muito mais informações pessoais (vítima e testemunha) do que por meio de perícias. Igualmente é a
participação da comunidade na prevenção.
Para angariar a participação da comunidade no processo da preservação da Ordem Pública é essencial alcançar a
confiança dos cidadãos, para que os policiais possam trabalhar com as pessoas na prevenção e resolução de problemas.
Para conquistar a confiança dos cidadãos é necessário contato direto entre a polícia e comunidade.
Os locais onde a população está distante da polícia, geração após geração, são os locais onde há mais violência.
A parceria da população é fundamental para a prevenção e elucidação de crimes. Cabe à comunidade fornecer
informações sobre o crime, identificar suspeitos, testemunhar em processos, tomar medidas de defesa pessoal e,
principalmente, criar um clima favorável ao cumprimento da lei.
A visita comunitária é uma das atividades mais básicas do policiamento comunitário e que melhor facilita a
aproximação e contato direto além de contribuir para produzir informações que conduzam a resolução de problemas.
A visita comunitária tem origem no Japão, onde tal atividade é chamada de Junkai Renraku:

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 70


Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de
trabalho, ocasião em que repassam orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de
recepcionarem informações sobre problemas, solicitações e sugestões da comunidade (SENASP, p. 156).

Através dos Junkai Renraku, os policiais comunitários preenchem um cartão, no qual inserem informações úteis
para melhor conhecer o cidadão e acioná-lo no caso de desastre ou acidentes, ou ainda, para repassar orientações que
melhorem a sua segurança.
7.2.1.1 Objetivos da visita comunitária
A visita comunitária tem por objetivo geral estabelecer uma relação de amizade e confiança mútua, por meio de
constantes contatos diretos e pela presença asseguradora de policiais militares.
A SENASP (2010, p. 157) relaciona outros objetivos da visita comunitária:

Traçar perfil sócio-econômico da comunidade; Identificar problemas criminais e situação de riscos às pessoas;
Conhecer a comunidade com a qual trabalha; Interligar a população e demais órgãos públicos para a resolução de
problemas.

A visita comunitária ainda é um importante instrumento na prevenção de crimes, conforme assevera a Secretaria
Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP, 2010, p. 157):

As visitas comunitárias têm o objetivo de proporcionar condições para que o policial militar possa transmitir
informações sobre prevenção de crimes, divulgar os projetos desenvolvidos, a forma de atuação policial militar e os
objetivos do policiamento comunitário, além de ser excelente ferramenta para o marketing institucional.

A busca da prevenção, utilizando a visita comunitária possui dois focos: combater a vitimização através de
orientações que venham a instigar a pessoa a se preocupar com sua segurança, deixando de ser uma vítima fácil e, o
segundo foco, contribuir com a polícia através de informações fidedignas que propiciam a prisão de criminosos, o
combate a crimes e a identificar locais e pessoas vulneráveis.
7.2.1.2 – Estabelecendo uma relação de confiança com o cidadão.
A primeira preocupação na concretização da visita comunitária é estabelecer uma relação de confiança entre a
polícia e a comunidade. Nesse sentido, o policial militar deve:
a) Conhecer como desempenha uma visita comunitária;
b) Ser compromissado com o policiamento comunitário e defender a filosofia;
c) Ser atencioso com as pessoas, ouvindo-as atentamente;
d) Orientar e dar explicações sobre os questionamentos;
e) Superar os obstáculos que historicamente distanciaram a polícia da sua comunidade;
f) Acreditar no seu trabalho, independente dos resultados iniciais não serem compatíveis com o planejamento;
g) Estimular o cidadão a compartilhar a responsabilidade pela segurança e a fortalecer a parceria com a Polícia
Militar.
* Como realizar uma visita comunitária
O policial militar do quadrante deve estar convicto que a visita comunitária é uma rotina de trabalho. O policial
militar deve entender que o cidadão é coparticipante do processo preventivo e nesse sentido, um bom atendimento é
fundamental para construir uma relação saudável. Ao realizar uma visita comunitária, o policial militar deve:
a) Saudar educadamente o cidadão;
b) Apresentar-se como o policial militar do quadrante;
c) Apresentar o novo modelo de policiamento e asseverar a intenção da Polícia Militar em prestar um serviço que
lhe proporciona uma segurança real, verdadeira;
d) Estimular o morador a melhor se prevenir, analisando suas fragilidades e lhe repassando cuidados específicos;
e) Pedir a colaboração do morador para a qualidade de vida do bairro;
f) Entregar o cartão com dados funcionais do quadrante;
g) Despedir com a mesma educação da apresentação.
A visita comunitária é uma modalidade de policiamento preventivo e deve revestir-se da devida formalidade
exigida na relação de um prestador de serviço com seu cliente. A amizade conquistada não deve ingressar no campo
pessoal, sem, contudo, deixar alcançar a empatia com a situação do cidadão.
7.2.1.3 – Visita comunitária residencial
É aquela realizada em residências para:

[...] verificar as carências daquela família, a situação sócio-econômica, identificar as formas mais comuns de
violência a que estão sujeitos, além de colher solicitações e informações pertinentes à criminalidade e aos conflitos

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existentes, a fim de que o policial militar possa resolver, orientar ou encaminhar tais problemas e solicitações aos
órgãos competentes (SENASP, 2010, p. 159).

A visita comunitária em residência, como modalidade de policiamento propicia a infiltração da Polícia Militar
em áreas pouco policiadas e leva ao morador o sentimento de preocupação e zelo que o Estado está denotando a seu
respeito.
7.2.1.4 – Visita comunitária comercial
No comércio, a frequência de visita comunitária é maior e, consequentemente, se repete com maior facilidade
por três motivos:
1) número de estabelecimentos comerciais é menor que de residências;
2) se situa em locais de maior fluxo de pessoas e
3) são mais suscetíveis a furto e roubo.
“Nas visitas comerciais, devem ainda ser observadas as condições de segurança e a vulnerabilidade a eventos
criminosos (principalmente furto e roubo) de modo que o policial militar possa orientar sobre as formas de
prevenção” (SENASP, 2010, p. 160).
No patrulhamento tradicional os policiais militares patrulham distantes das pessoas, executando o equivocado
método de prevenção pela exclusividade do policiamento. Por mais público que seja o policiamento não há
impedimento aos policiais militares de acessarem os estabelecimentos comerciais.
Adentrar ao imóvel, conversar com os comerciários e clientes e aproveitar para transmitir orientações de
prevenção e formas de acionar a PM no caso de emergência, trata-se de um modelo de policiamento eficiente e que
aproxima o cidadão da Polícia Militar.
7.2.1.5 - Visita comunitária em órgão público ou entidade privada.
Os policiais militares do quadrante devem buscar a aproximação do órgão público como creches, escolas,
hospitais e entes privados, como igrejas, Organização não Governamental (ONG), associações, com fim comum da
visita que é a prevenção, por métodos próprios e aproximação com a PM, bem como para “[...] o levantamento de dados
sobre o funcionamento e a atuação de cada órgão [...]” (SENASP, 2010, p. 160) para, através dele, encaminhar
solicitações do cidadão para a resolução de problemas e para ser possível o acionamento do diretor, presidente ou chefe
do órgão em caso de emergência, pois nesses locais, geralmente, estão fechados à noite e finais de semana, estando
vulneráveis ao crime.
7.2.2 - Visita Solidária
A visita solidária ocorre quando os policiais militares visitam as vítimas de crime e incivilidades havidas no
quadrante, para outras providências policiais e orientações sobre prevenção.
É através da visita solidária que o policial militar faz um estudo de caso e conduz a vítima a refletir se o seu
comportamento contribuiu para o desfecho delituoso. Igualmente, o policial militar enriquece sua lista com novas
maneiras de prevenção. A aproximação do policial militar após a ocorrência criminal é importante para renovar a
confiança do cidadão em relação à Polícia Militar, às vezes abalada após a ocorrência de um crime que a PM não
conseguiu evitar. É através da visita solidária que o policial militar se projeta no lugar da vítima e, através da empatia,
possa sentir melhor a aflição da pessoa e, com isso, valorizar o seu serviço e dedicar-se com melhor eficiência.
Por meio da visita solidária o policial militar pode suscitar mais informações a respeito do delito e sobre o
criminoso, propiciando conhecer sua forma de atuação, possibilitando a identificação da autoria e a elucidação de outros
crimes.
O policiamento comunitário é completo, abrangendo a prevenção e a repressão criminal e o modelo fomentado
pelo Governo Federal, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, apóia a “Assistência à Vítima” como
oportunidade ampla para, resgatar a confiança do cidadão, para melhorar a atuação da polícia e até para elucidar o
delito:

Diariamente, o policial deve consultar o banco de dados e relacionar as ocorrências no dia anterior, ou outro período
pré-definido, deslocar-se ao local e fazer contato com a vítima a fim de colher dados necessários para o planejamento
adequado de ações. Desta forma, também, o cidadão sente-se prestigiado, aumentando a sensação de segurança e
criando, acima de tudo, um vínculo entre a polícia e a comunidade (SENASP, 2010, p. 166).

A visita solidária, bem-sucedida, propicia a restauração da Ordem Pública através da possibilidade de


responsabilização do autor do crime e do aumento da sensação de segurança.
7.2.2.1 Objetivos da visita solidária.
A visita solidária, como instrumento do policiamento comunitário, é utilizado para alcançar as finalidades deste e
deve estar ligado a uma “espinha dorsal” para o fim único do policiamento comunitário. Portanto, para alcançar os fins
desejados, os objetivos da visita solidária são:
a) Identificar o autor do delito através de novas informações que a perspicácia do policial militar permite extrair,
bem como após o fim d êxtase provocado pelo impacto, faculta à vítima melhor retratar o episódio.
b) Relacionar o sinistro criminoso a outros eventos para buscar associar autores, através do seu modo de ação;
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 72
c) Conduzir a vítima a refletir sobre seu comportamento para corrigir possíveis falhas que contribuíram para o
crime;
d) Enriquecer o acervo da Polícia Militar sobre novas maneiras de prevenção e sobre o modo de atuação dos
delinquentes com fim de orientar os cidadãos sobre novas maneiras de prevenção;
e) Melhorar o nível de sensação de segurança que a vítima possuía antes do crime, se não puder aumentá-lo;
f) Fazer com que o policial militar possa compreender a vítima e entender sua aflição (empatia) para melhorar
sua atuação e comprometimento com a segurança pública;
g) Corrigir possíveis falhas no atendimento reativo ou sobre o policiamento preventivo;
h) Colher dados necessários para o planejamento adequando das ações policiais.
7.2.2.2 Como realizar uma visita solidária
Após um turno de vários atendimentos policiais militares – proativos e reativos, a guarnição do quadrante deve
relacionar os boletins de atendimentos reativos os quais há vítimas, preenchendo um rol com informações necessárias
para que os policiais militares do próximo turno iniciem o seu labor visitando as vítimas.
O preenchimento da lista deve ser preciso o suficiente para que os policiais possam entender a dinâmica do fato,
mas sucinto para que o PM compreenda o episódio pela narrativa da vítima.
Os policiais militares devem entender que a visita solidária é um método de policiamento e que devem adotar o
comportamento de patrulha e de posicionamento da viatura em estacionamento para garantir a presença asseguradora da
PM no local e propiciar à comunidade imediata a segurança favorecida pela presença da Polícia Militar nas imediações.
A visita deve ser objetiva, tendo a narrativa da vítima no primeiro momento, seguido pela expressão de
sensibilidade do PM, pela análise do fato, pela orientação a respeito da prevenção e pela dedicação da PM no sentido de
evitar futuros delitos.
A visita que não puder ser realizada no período diurno deverá ser agendada para o momento adequado,
considerando, ainda, os picos criminais, os quais deverão ser evitados para que não haja falha no policiamento
preventivo.
O ideal é que o sistema de informações possa agregar no mesmo boletim de atendimento a visita solidária e
complementar, através dela, informações que possa chegar à autoria ou melhorar o conteúdo probatório facultando a
persecução criminal.
7.2.2.3 Quando realizar a visita solidária.
Em regra, a visita solidária é destinada a todas as vítimas de delitos, no entanto, em algumas situações não são
recomendadas e, portanto, devem ser evitadas.
Nos fatos de briga generalizada, vias de fato, a visita solidária não é eficiente, não possibilita facilmente a
autoanálise da vítima, que não raras vezes, é o “pivô” do entrevero, mas que nunca, observou-se como tal. Alguns
crimes em que a vítima é contumaz delinquente, a Polícia Militar geralmente não é bem recebida pela família, pois a vê
como inimiga.
Em outras oportunidades, para coibir o delito e prender os autores, a Polícia Militar usou, seletivamente, dos seus
recursos disponíveis para cessar a agressão ou permitir a aplicação da lei penal. Nesses casos, a Polícia Militar, para os
envolvidos e suas famílias, também personaliza a antipatia.
São casos que antes de realizar a visita solidária, os policiais militares devem consultar o escalão superior e, com
ele, deliberarem a viabilidade da visita.
7.2.3 – Monitoramento
Para que o incidente criminal ocorra, três fatores são essenciais:
a) Vítima;
b) Oportunidade;
c) Delinquente.
Havendo ausência de um desses elementos, o crime não ocorre. A prevenção ao crime não abrange apenas o
policiamento preventivo, pois este ataca apenas a oportunidade. O delinquente está sempre à procura de uma
oportunidade para atacar uma vítima. Quando esta está vulnerável, torna-se vítima fácil.
Uma pessoa prevenida e cautelosa não é uma vítima em potencial. Fatores como idade, deficiência, sexo, físico
e, principalmente, conduta facilitadora, contribuem para o sucesso do delinquente. Senhoras idosas, que vão sozinhas ao
banco e sacam integralmente suas pensões são alvos fáceis.
O ambiente composto pelo aspecto espacial (local) e temporal (horário) cria a oportunidade ao marginal. A
definição de Zona Quente de Criminalidade52 (ZQC) envolve a quantidade de incidências em determinados locais e
horários, exigindo a maior presença da Polícia Militar.
O delinquente, por sua vez, é formando dentro da sociedade e pior, enquanto se formava ninguém nada fez para
mudar essa perspectiva. O delinquente precisa ser conhecido da Polícia Militar como é conhecido pela comunidade.
Com a relação estreita com a comunidade e com permanência dos policiais militares no quadrante ocorre uma
facilitação para que possa conhecer os delinquentes da região.
Atualmente, o cenário é favorável ao delinquente. Primeiramente, a sensação de insegurança inibe a denúncia,
mesmo quando a vítima conhece o delinquente. Ainda, a apatia do cidadão que não confia na polícia fica desestimulado

52 localidade que possuem histórico de atendimentos policiais anteriores, dos quais geram suspeição de atividades criminosas.
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 73
a procurar a polícia por acreditar ser apenas um ato burocrático. Outra razão é a ineficiência investigatória que deveria
se iniciar no momento em que os policiais militares atendem um incidente. Na realidade, quase tão somente aqueles
casos já encaminhados por policiais militares é que geram investigação criminal. Quase nunca as vítimas vão à
delegacia de polícia para registrar algum roubo, por exemplo.
O assaltante que rouba pequenos valores, costumeiramente, é da região, e confia na impunidade para continuar a
agir. Assim, em poucos casos de roubos e furtos a PM é acionada, menor é o número de prisões e ínfimo é a presença da
vítima na delegacia. Esse panorama é favorável ao delinquente.
O monitoramento é um patrulhamento realizado no quadrante pelos policiais militares com foco na vítima,
quando procura identificar suas fragilidades e buscar orientá-la, no ambiente oportuno, com atenção às ZQC, nos
horários de maior incidência criminal. Enquanto isso, os delinquentes conhecidos passam a ser encontrados e abordados
habitualmente com a finalidade de inibir suas ações.
O monitoramento deve ser priorizado aos ZQC e os policiais militares devem estar atentos aos dias e horários de
frequência de pessoas, de incidentes e presença de suspeitos.
Os delinquentes devem ter ciência que os policiais estão patrulhando a região com total atenção a eles. Devem
estar cientes que eles são os alvos da monitoração.
É bom sabermos que os delinquentes são agressores da sociedade e a Polícia Militar é a defensora. Assim, é
totalmente legítima a atenção fiscalizadora sobre o delinquente conhecido no quadrante.
7.2.4 – Mensuração
O policiamento comunitário é um modelo de administração gerencial, e como tal utiliza-se da mesma
metodologia e instrumentos.
Como administração gerencial o foco do policiamento também está na qualidade e a sua definição é dada pela
expectativa do cliente.
A satisfação do cliente sobre determinado produto é que define a qualidade, independente do desempenho do
produto. Nesse sentido, qual seria o produto entregue ao cidadão, seu cliente?
O produto pode ser definido com bem (fungível) ou serviço, e no caso da Polícia Militar, trata-se de um serviço
público. Esse produto é difícil de ser mensurado, pois ele seria composto de valores negativos.
A percepção do cidadão ocorre pela sensação de segurança, melhor sentida pela ausência de crimes (por isso
valores negativos ou decrescentes). Assim, o produto desejado pelo cidadão é a segurança e resposta ao crime.
A segurança desejada pelo cidadão não pode ser medida pelos números crescentes de prisões e apreensões, mas
pelos valores que decrescem não podem estar desassociados de ações. Portanto, determina-se que a Policia Militar deve
promover ações que contribuem para diminuir os crimes. Essas ações denominam-se “proatividade”. A segurança e a
sensação de segurança é produto de um processo, que se chama de processo produtivo. O modelo gerencial busca
atentar ao processo, criando procedimentos padrões para estabelecer a eficiência desse processo.
Para que o produto seja aquele pretendido, o processo deve ser minuciosamente monitorado e isto significa
análise dos dados comparados aos indicadores pré-estabelecidos. O monitoramento do processo é garantia de qualidade
do produto.
Mensurar o processo é uma delicada tarefa. Mais delicado é mensurar o produto ofertado pela Polícia Militar.
Como muitos esperam, a quantidade de prisões e apreensões não são os produtos esperados da PM pela sociedade. O
que se deseja da Polícia Militar seria ações que favorecem a ausência de crime. Trata-se de relação causa e efeito. Aliás,
essa relação é a definição de processo.
O efeito seria a ausência de crime e da sensação de segurança, que se denomina de produto, e quais seriam suas
causas? Para relacionar causa e efeito é necessário mensurar o processo.
Daí pergunta-se: O que a Polícia Militar pode realizar de proatividade para gerar mais segurança e sensação de
segurança?
A Polícia Militar do Estado de Goiás, por exemplo, adotou as seguintes ações:
a) Visita Comunitária;
b) Visita Solidária;
c) Reunião Comunitária;
d) Abordagem Policial;
e) Operações Policiais;
f) Patrulhamento;
g) Monitoramento;
h) Foragido recapturado e outros.
Anteriormente, o serviço policial militar era medido pela quantidade de ocorrências registradas. Os policiais
militares acostumados a “vagar” pelas ruas a espera de um crime para atender, chegavam a dizer que nada fizeram
quando não foram acionados.
Enquanto não são acionados para atendimento reativo, os policiais militares devem estar produzindo segurança
pública.
Medir as atividades é imprescindível para determinar a relação causa e efeito e mensurar o quanto as ações da
Polícia Militar são determinantes para diminuir a criminalidade.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 74


Para facilitar, a Polícia Militar utiliza o mesmo sistema para registrar os “boletins de ocorrências” para registrar
as atividades proativas. A ferramenta tecnológica chama-se RAI - Registro de Atendimento Integrado.
Através do RAI, a guarnição de RP abre o registro assim que iniciar o atendimento. Ao final, insere os dados
pertinentes à atividade desenvolvida e encerrasse o atendimento.
Para que a mensuração ocorra satisfatoriamente, é fundamental que o PM seja honesto em seus lançamentos,
inserindo corretamente os horários, hodômetro da RP, local do atendimento e as providências adotadas.
Quanto melhor for o registro, mais preciso será a análise pela equipe de planejamento da OPM. A mensuração é
um processo linear, que envolve os policiais militares do quadrante, do Centro de Operações, para o registro, como
também envolve a Seção Operacional, na captura de dados e análise para posterior relatório e finaliza novamente nos
policiais militares do quadrante para direcionar as ações conforme orientações da Seção Operacional e do comandante
do quadrante.
7.2.5 - Reunião Mensal
A expansão do policiamento além das atividades reativas e da mera busca pela diminuição de crimes demanda
uma relação confiável e próxima entre a Polícia Militar e a comunidade.
O policiamento comunitário é a aplicação do modelo gerencial e, portanto, exige essa aproximação para que a
polícia possa, como prestador de serviço, definir a qualidade pela expectativa do cliente, que é o cidadão.
O cidadão, no entanto, não é somente cliente, pois lhe exige a responsabilidade pela segurança pública. O cliente,
como tal é desprovido de deveres, enquanto que o cidadão possui esse ônus. Com isso o cidadão, além de cliente – o
qual receberá um serviço – também é elemento ativo na consecução do serviço público prestado juntamente com a
polícia. Aliás, a Segurança Pública é “responsabilidade de todos” (art. 144, CF/88).
O policiamento comunitário vai além da cultura reacionária ao delito. Também transcende o planejamento
estratégico e a polícia de resolução de problemas. Ele mobiliza a comunidade para fins de solução mais ampla dos
problemas comunitários e de angariar sua simpatia para consolidar uma parceria. A confiança e simpatia da comunidade
não se compram antes de tudo se conquista. Para formar uma parceria com a comunidade é necessário construir com ela
um relacionamento pautado na confiança e lealdade.
A reunião mensal com a mesma comunidade propicia essa construção, se observado esses princípios éticos.
A reunião é oportunidade para prestar contas daquilo que a Polícia Militar produziu no mês anterior e reafirmar
que os resultados podem ser melhores se houver a participação efetiva da comunidade.
Para mobilizar a comunidade, antes, porém, é necessário angariar a sua simpatia. Para isso, a honestidade é
essencial, mesmo quando os resultados não sejam satisfatórios.
Tanto o processo quanto os resultados foram gerenciados conjuntamente, portanto devem ser avaliados
igualmente.
Na reunião mensal, além da prestação de contas é oportunidade singular para discutir medidas preventivas e
ouvir as reclamações sobre a criminalidade e da má prestação de serviço, se houver.
Quanto a informações relevantes para a segurança pública, há três fontes: do serviço de inteligência, das
estatísticas e as comunitárias.
É bastante comum o departamento de planejamento não obter dados corretos por falta de registros de crimes,
mas as vítimas que não acionaram a emergência da PM comentam com seus vizinhos. Daí, as situações ocultas às
estatísticas emergem nas reuniões.
Por outro lado, a presença dos policiais militares que compõem o quadrante nas reuniões, propicia o
comprometimento desses com o policiamento comunitário, pois encurtam a distância burocrática que existe entre a
polícia e a comunidade que, historicamente, as separam uma da outra.
É vantajoso que nas reuniões comunitárias os policiais ouçam os flagelos dos cidadãos, bem como ouçam os
elogios e as críticas. O comandante da OPM ou do quadrante deve explorar essa oportunidade para elogiar os PM do
quadrante e destacar as atuações positivas que culminaram em prisões. O destaque é recebido pela comunidade que
valorizam ainda mais os seus policiais.
A reunião mensal deve ser conduzida pelos policiais militares que também devem aproveitar as visitas
comunitárias para reforçar o convite quanto para expandir àqueles que não compareceram a reunião anterior. Na reunião
mensal não há composição de mesa e a frente somente o cerimonial (um policial militar) e aqueles aos quais forem
franqueados. É obvio que o comandante da OPM ou do quadrante será o expositor principal, pois divulgará os
resultados obtidos no mês anterior. A ordem de colocação deve ser conduzida pelo cerimonial que conduzirá a pessoa à
frente. Esse método evita a abordagem desnecessária de assuntos impróprios, bem como limita a pessoa ao seu tempo.
As reuniões devem ser breves para não permitir o retorno das pessoas em horário impróprio, respeitando a
jornada do dia seguinte. Também não poderá ser muito cedo para permitir que haja tempo para os trabalhadores
comparecer.
A reunião do mês seguinte deve ser divulgada na presente reunião, visando facilitar a divulgação. O policiamento
comunitário admite a participação de todos, através de idéias, patrocínio e, principalmente, em tarefas assessórias, como
a confecção de panfletos, jornais, criação de páginas na internet, rede social virtual. Esses informativos tornam-se uma
extensão da reunião, alcançando um público maior e favorecendo a troca de informações que não pode ser amplamente
explorada na reunião.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 75


Resumidamente, a reunião mensal é um instrumento valioso para o policiamento comunitário, pois contribui para
fortalecer a parceria com a comunidade, melhorando a confiança dos cidadãos com respeito à Polícia Militar e uma
oportunidade para a PM prestar contas, para difundir orientações e inspirar um melhor “comprometimento” dos
policiais militares que são confrontados pessoalmente com as aflições das pessoas
8. NOÇÕES DE PROJETOS DE IMPLANTAÇÃO DE POLICIAMENTO COMUNITÁRIO;
Neste capítulo, mostraremos a importância de registrar a experiência de implementação dos projetos de
policiamento comunitário e daremos algumas sugestões sobre como esses registros podem ser realizados. A memória é
a forma que sugerimos para realizar o registro.
O que é?
A memória de um programa de policiamento comunitário registra as diferentes experiências de um projeto, desde
o seu início. Na memória, não é relatado apenas o que deu certo, mas todo o caminho trilhado, inclusive as dificuldades
enfrentadas.
Nesse sentido, uma boa memória de um projeto de policiamento comunitário deve responder às seguintes
questões:
Importância
A memória permite transmitir os conhecimentos aprendidos no desenvolvimento de um projeto. Assim, outros grupos
interessados em desenvolver projetos semelhantes podem não só se inspirar nas experiências já existentes, como também aprender
com os acertos e erros de cada uma delas.
1- Qual foi o problema que deu origem ao projeto?
2- Quais eram as possíveis causas desse problema? (antecedentes)
3- Como o problema foi enfrentado? (objetivos)
4- Quais foram o público-alvo, o local e duração da ação, e a estratégia utilizada para o enfrentamento do problema?
5- Quais foram os obstáculos encontrados e como eles foram superados?
(listar recursos empregados, avaliação, resultados, etc.)Além disso, a memória possibilita que um projeto, uma vez iniciado,
tenha maior chances de continuidade. Destacamos esse ponto porque a experiência tem mostrado que há, muitas vezes, uma
grande rotatividade de pessoas nos grupos envolvidos em um projeto de policiamento comunitário e a ausência de um registro
completo das atividades, ou a perda de informações, dificulta a retomada dos trabalhos pelos novos participantes.
A memória permite, em parte, contornar esse problema. Como registro de um trabalho coletivo, permite a todos os membros
do grupo o acesso e controle das informações. Além de ser um processo mais democrático, ao evitar que informações fiquem
concentradas em apenas algumas pessoas, impede que elas se percam com a eventual saída de membros do grupo.
Outro aspecto a ser destacado é que a memória facilita a integração e o diálogo entre novos membros. Isso porque, ao ser
facilmente acessada e compartilhada, possibilita a qualquer pessoa conhecer os detalhes do caminho já trilhado e,
consequentemente, ter uma melhor compreensão sobre o momento em que o projeto se encontra.
Por fim, a memória também permite que os conhecimentos gerados se acumulem ao longo do tempo, formando um banco
de informações, experiências e ideias que podem ser retomadas, aprimoradas, ou até mesmo desdobradas em outras iniciativas de
policiamento comunitário.
É por isso que a memória também significa um material essencial não somente aos futuros participantes e interessados em
criar outros projetos, mas também aos presentemente envolvidos, que podem utilizá-la como material de referência,
acompanhamento e base para revisões e alterações no andamento do programa.
O que registrar?
Tão importante quanto registrar as realizações do projeto é registrar as dificuldades enfrentadas e as medidas que
foram adotadas para superá-las. Em primeiro lugar, esse registro permite que as pessoas interessadas em projetos de
policiamento comunitário saibam, de antemão, que se depararão com alguns obstáculos em seu percurso. Em segundo
lugar, quando os participantes de novas iniciativas conhecem os obstáculos enfrentados por outras experiências, eles já
podem planejar, previamente, estratégias para contorná-los. Nesse sentido, manter um registro sobre os obstáculos e
como eles foram enfrentados vai além da ideia de ter um histórico do projeto. A função desse registro é acumular os
conhecimentos gerados no enfrentamento das dificuldades, sendo, ao mesmo tempo, resultado do projeto e fonte
privilegiada de consulta para novas iniciativas.
Além dessas informações, nomes e formas de participação das pessoas e entidades envolvidas com o programa
também devem ser registrados. No início de um projeto, essas referências indicam, por exemplo, quais os principais
atores e potenciais parceiros locais que podem auxiliar em sua elaboração e/ou execução.
Outra informação importante de ser registrada é o contato das pessoas ou entidades que deram início ao projeto,
pois facilitam a comunicação com os novos grupos ou interessados para a troca de experiências e informações. Esse
contato possibilita que outros grupos, ao desenvolver projetos similares, possam ter algum tipo de consultoria por
aqueles que já trabalharam com a iniciativa. Procedimentos como esses favorecem uma efetiva troca de ideias,
informações e experiências que contribuirão tanto para as iniciativas locais como também para o fortalecimento das
práticas de policiamento comunitário.
Como fazer?
Para registrar a memória de um projeto, alguns passos podem ser seguidos.
Abaixo, discutiremos alguns deles, com indicações do que se deve registrar em cada um e de como organizar as informações
colhidas.
Responsáveis: registrar o nome, telefones, endereços e e-mails dos principais responsáveis pelo projeto. Essas informações

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 76


podem ajudar muito para que outras pessoas interessadas possam obter mais informações sobre o projeto. Para isso, é importante
informar, além dos nomes, algum meio de contato (celular, e-mail, telefone, endereço, etc.).
Resumo: é um breve relato do projeto. Tem como função apresentar suas principais informações. Para isso, deve relatar o
problema a ser enfrentado, os resultados esperados e a estratégia utilizada.
Objetivo: informa o que o projeto busca alcançar. Além disso, fornece também informações sobre o local onde o projeto
será implementado, o tempo de duração e qual seu público-alvo. Essas informações ajudam a localizar rapidamente o foco
principal do projeto e a compreender de que forma as ações foram organizadas para atingir os resultados.
Problema: relata as situações que, ao serem percebidas como dificuldades ou oportunidades, motivaram a criação do
projeto. Quanto mais claro e delimitado for o problema, maiores serão as chances de compreender os desdobramentos do projeto,
as estratégias adotadas, as dificuldades encontradas e os resultados.
Antecedentes: são as informações sobre como era a situação local antes das iniciativas tomadas pelo projeto. Nos
antecedentes, pode-se também relatar a ocorrência de tentativas anteriores para enfrentar o problema e quais foram seus
resultados.
Área e público-alvo: definem qual a área de atuação do programa e o público a quem ele se destina. Essa demarcação é
importante para que, a partir da área de abrangência do projeto, seja possível avaliar seus resultados. Em relação ao público-alvo,
é interessante também identificar o número e o perfil das pessoas beneficiadas pelo programa.
Planejamento: é um dos itens mais importantes da memória, pois apresenta como, partindo do problema, as ações foram
planejadas e executadas para sua resolução. Nesse item, deve-se fazer uma descrição detalhada do planejamento, das estratégias e
meios escolhidos, dos atores envolvidos e de como as responsabilidades foram divididas na execução do projeto. As mudanças na
metodologia, decorrentes de obstáculos encontrados na execução do projeto, devem ser também aqui registradas.
Cronograma: lista, em ordem cronológica, as tarefas definidas na metodologia para cada um dos atores envolvidos no
programa. Esse item demonstra o tempo de duração de cada uma das etapas do programa.
Resultados: lista os principais resultados alcançados pelo projeto, tanto os positivos e negativos, bem como aqueles que não
haviam sido previstos inicialmente, mas que, durante a execução, tornaram-se objetivos e foram também atingidos.
Recursos: descreve os recursos materiais e humanos utilizados, suas fontes e em que medida se deu o envolvimento de cada
ator durante a implementação do programa. Essas informações são essenciais para aqueles que pretendem dar continuidade a ele e
para outros que buscam referências para implementar seus próprios projetos.
Obstáculos: lista os principais obstáculos enfrentados para a realização do projeto e relata como essas dificuldades foram
enfrentadas.
Avaliação: faz tanto um balanço geral entre os objetivos iniciais e os resultados alcançados, como também relata se houve
ou não outros processos de avaliação ao longo do projeto, como foram essas avaliações, em que períodos e como as informações
geradas foram usadas.
Organização das informações: tem grande importância para facilitar a leitura e a compreensão do projeto. Para isso,
as informações devem ser escritas de maneira clara e ordenadas de forma lógica. Esses cuidados colaborarão tanto para a
boa apresentação do projeto, como também para que as boas ideias sejam devidamente destacadas. O quadro abaixo
apresenta um formato que pode ser seguido para a realização do registro da memória, tendo como exemplo de
preenchimento o projeto Prédios Antenados.
9. RESPOSTA DA SOCIEDADE AO MODELO DE SEGURANÇA
COMUNITÁRIA
Polícia Militar e Comunidade: Uma parceria eficaz no enfrentamento à
criminalidade no Estado da Bahia53
Leonardo Freire
Resumo: Este artigo tem como principal objetivo expor o problema social da segurança pública no Estado da
Bahia sob diferentes óticas: Da população de modo geral; do comportamento do policial em serviço durante o exercício
das suas funções; dos cidadãos que observam tais funções. A análise ótica do abordado, do policial e do cidadão que
presencia tal abordagem. A diferença na abordagem policial de acordo com a região social em que ela ocorra e qual o
método mais eficaz de policiamento a ser executado para prevenção do crime e redução dos índices de criminalidade -
o policiamento comunitário. Falar de policiamento comunitário é falar de ações policiais inteligentes, eficientes e
qualificadas. Uma aliança com a comunidade construindo uma Corrente do Bem, transmitindo paz, segurança e
cidadania Infelizmente, a maioria dos cidadãos não confia na Polícia Militar, por isso há a dificuldade do trabalho
conjunto que seria muito eficaz no combate ao crime. A filosofia de polícia comunitária, de origem norte-americana é
incompatível com os níveis de educação e cultura do povo brasileiro de modo geral. O que ocorre na prática é o
policiamento orientado para o problema, de maneira superficial, para passar a sensação de polícia amigável,
desmistificando o militarismo da era ditatorial no país, onde se registrava uma polícia hostil e inconfiável.
Identificando os principais problemas que impedem a aliança entre polícia e comunidade, surgem ideias de como
resolvê-los, em busca de um objetivo em comum, principalmente na redução dos índices de CVLI - Crimes violentos
letais intencionais e consequentemente os demais crimes de menor potencial ofensivo, fazendo perdurar por mais
tempo a sensação de segurança, paz social e ordem pública.
Palavras-chave: polícia comunitária, policiamento, comunidade, sociabilidade, abordagem.

53 Dispoível em: <https://leonardofreirejus.jusbrasil.com.br/artigos/492848904/policia-militar-e-comunidade-uma-parceria-eficaz-


no-enfrentamento-a-criminalidade-no-estado-da-bahia>. Acesso em 16 nov 18
Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 77
Abstract: This article aims to expose the social problem of public security in the State of Bahia under different
perspectives: From the general population; police behavior in service during the course of their duties; citizens who
observe such functions. Optical approached the analysis, the police and the citizen who witnesses such an approach.
The difference in police approach according to social area in which it occurs and what the most effective method of
policing to be executed for crime prevention and reduction of crime rates - community policing. Speaking of
community policing is to speak of intelligent police actions, efficient and qualified. An alliance with the community by
building a chain well, transmitting peace, security and citizenship unfortunately, most citizens do not trust the military
police, so there is the difficulty of working together that would be very effective in fighting crime. The philosophy of
community policing, of US origin is incompatible with the levels of education and culture of the Brazilian people in
general. What happens in practice is oriented policing the problem, superficially, to spend the feeling of friendly police,
demystifying the dictatorial militarism it was in the country, where it recorded a hostile and unreliable police.
Identifying the main problems that hinder the alliance between police and community, there are ideas of how to
solve them, in search of a common goal, especially in reducing CVLI rates - intentional lethal violent crimes and
consequently the other crimes of lesser offensive potential making endure longer the sense of security, social peace and
public order.
Keywords: community policing, policing, community, sociability, approach.
9.1.Polícia Comunitária
Para entender os objetivos, são necessárias algumas breves conceituações e comparações entre a filosofia “Polícia
Comunitária” e o modelo “Policiamento Comunitário”:

“Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma parceria entre população
e a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar (juntos) para
identificar, priorizar e resolver os problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas,
morais, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida da cidade. Tudo isso baseado na crença de que os
problemas sociais terão soluções cada vez mais efetivas, na medida em que haja a participação de todos na sua
identificação, análise e discussão”. (TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento
Comunitário: Como Começar. RJ: POLICIALERJ, 1994, p.04).

Policiamento Comunitário é o modelo colocado em prática de acordo com a filosofia de polícia comunitária.
No período compreendido de 1985 a 1995, houve uma série de estudos, propostas e projetos de reforma da polícia que
promoviam a implantação de policiamento comunitário, em diversos municípios e estados, mas, geralmente sem apoio
governamental e da própria polícia. Somente em 1996 este tipo de reforma da polícia, passou a receber maior apoio
governamental. No Estado da Bahia, através da Polícia Militar de forma pioneira e ostensiva, o policiamento comunitário
promove uma série de mudanças sistêmicas, as quais têm buscado tratar a Instituição como empresa e a Sociedade como cliente,
que exige e merece um serviço de qualidade. No policiamento comunitário as questões de segurança são tratadas junto com a
população, tanto na definição de quais devem ser as prioridades da polícia, como as estratégias de policiamento que desejam ver
implementadas. Nesse modo de policiamento, a polícia, além de prestar contas de suas atividades e resultados às autoridades
legais, presta contas também aos cidadãos a quem atende.
A filosofia da Polícia Comunitária visa a participação social, de forma que envolva todas as forças vivas da comunidade, na
busca de mais segurança e nos serviços ligados ao bem comum.

9.1.1. Polícia Militar e Comunidade em parceria


Para atender aos anseios de uma comunidade carente de segurança pública, é necessária a contribuição da mesma. Não
compete exclusivamente às polícias a função de prevenir e reprimir o crime. A contribuição do cidadão como um aliado, é de
suma importância para o conhecimento de um fato pelas autoridades, para que estas em suas competências possam agir de
acordo com a técnica a fim de elucidar o problema.
A missão da Polícia também não se restringe a prestar segurança. Há a preocupação em fazer com que as pessoas se sintam
seguras. É muito mais interessante, viável e satisfatório evitar que um crime aconteça do que tentar corrigir ou reprimir a
consequência.
O sucesso na segurança pública depende da parceria entre o Estado e o cidadão. A Polícia Militar age de forma a conhecer
os problemas de insegurança e promover estratégias de se aproximar da comunidade. Por outro lado, cada cidadão deve se
conscientizar de que também é responsável pela segurança, evitando assim que a sensação de insegurança venha possibilitar um
ato pior do que aquele que se pretendia prevenir.
9.1.2. As consequências da união ou desunião
A aproximação entre a polícia e a comunidade depende do esforço e responsabilidade de cada cidadão e cada policial, sendo
que, na polícia militar, o serviço deve ser prestado de forma padronizada e regida conforme os preceitos da hierarquia e
disciplina, geridos por unidade de comando. A consequência de uma polícia unida com a sociedade é o aumento da confiança
recíproca e o fortalecimento dos elos de uma corrente que objetiva a redução da criminalidade, principalmente em relação aos
CVLI (Crimes Violentos Letais Intencionais), CVP (Crimes Violentos Patrimoniais) e o Narcotráfico (principal motivador dos
CVLI e CVP).
Por outro lado, o afastamento, rejeição mútua e desunião entre polícia e comunidade, em nada contribuem para que haja a

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 78


confiança necessária para a promoção da paz social e manutenção da ordem pública. Neste caso, polícia e comunidade podem ser
comparadas como ímãs de mesmo polo: vislumbram o mesmo objetivo de reduzir a criminalidade, porém não se unem (não há
confiança), logo, tendem a se afastar, e este espaço que se forma entre ambos, é o caminho livre que o criminoso encontra para a
prática do delito.
A união gera confiança, torna as entidades mais próximas e isso só traz benefícios. A confiança da população na polícia é
um elemento essencial para a prática do policiamento comunitário, estreitando o caminho do crime, prevenindo a prática de
delitos e aproximando as instituições sociais Polícia e Comunidade.
9.2. Credibilidade e Confiança
Alguns atos de violência e repressão protagonizados por alguns policiais militares maculam a imagem de toda a corporação.
Um simples desvio de conduta decorrente de uma atitude isolada de um policial ou guarnição prejudica a confiabilidade da
população na corporação como um todo. Por vezes, o cidadão é portador de informações valiosíssimas, que poderiam ajudar a
evitar a prática de delitos, porém, não as repassam, devido à incredibilidade na Polícia Militar, por não saber em quem confiar.
Por outro lado, o policial, por muitas vezes não confia no cidadão por acreditar que ele seja conivente com o criminoso que mora
no mesmo bairro e proteja aquele que infringe a Lei, quando na maioria dos casos, o cidadão tem medo do meliante e resolve se
omitir, resultando na impunidade do meliante e o desconhecimento dos fatos pelas autoridades.
A relação de confiança deve ser conquistada de forma paciente e atenciosa, a Polícia Militar deve agir com cordialidade e
não visar apenas o interesse na informação, pois esta chegará aos poucos, quando menos se espera. O objetivo principal é ter uma
relação de proximidade com a comunidade.
9.2.1. Do ponto de vista do cidadão
Por que confiar na Polícia Militar?
A desconfiança na polícia é um problema sério. Ela eleva a sensação de insegurança e também faz com que as pessoas
evitem procurar a instituição quando são vítimas de crimes. Isto abre espaço para que queiram resolver os seus problemas por
conta própria, o que pode gerar mais violência. Além disso, a baixa confiança na polícia, combinada à desconfiança nas
instituições da Justiça, eleva a percepção de que o crime compensa e a impunidade existe.
O cidadão enxerga um mundo diferente daquele que é vivido pelo policial militar. O policial é um ser humano que possui
peculiaridades ao lidar com o público, pessoas de diferentes anseios e classes sociais. O policial tem uma noção bem mais
aprofundada quanto ao crime e as suas motivações em diferentes localidades. Durante o serviço, o policial militar visita diversas
localidades. O cidadão comum, que exerce ocupação lícita e não se envolve com a criminalidade, em sua maioria, tem como
referência a mídia tendenciosa e boatos que se propagam nas redes sociais que em grande parte deturpam a realidade e culminam
por afastar a confiabilidade da polícia. A comunidade precisa enxergar a polícia como uma prestadora de serviço e aliada, ambos
quebrarem a barreira do estranhamento e discutir, conversar, esclarecer pontos, ambos conhecendo um ao outro o seu
funcionamento.
9.2.2. Do ponto de vista do policial militar
Por que confiar no cidadão?
É necessária a confiança no cidadão para transmitir a sensação de segurança. O cidadão vivencia o ambiente, a rua em que
mora, os problemas do bairro. Ao saber desses problemas, o policial deve agir com a técnica a fim de desenvolver estratégias de
policiamento. O cidadão é a melhor fonte de informação para o trabalho eficaz da polícia a fim de efetuar abordagens e prevenir a
ocorrência de delitos em determinadas áreas bem como efetuar prisões em flagrante delito. O trabalho da polícia deve ser técnico
e o tratamento com todo cidadão deve ser feito de forma cortês e respeitosa. Quando um policial é atencioso e executa gestos de
cidadania com a comunidade, ele será bem visto e reconhecido pelos seus bons atos.
9.3. Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial
A abordagem policial é o ato de uma guarnição de Polícia Militar aproximar-se e interpelar pessoa que apresente conduta
suspeita, a fim de identificá-la e proceder à busca pessoal, de cuja ação poderá resultar a prisão, (ou a apreensão, em caso de
menor de idade) ou uma simples advertência ou orientação. É uma das principais atividades realizadas pelos Policiais Militares
em seu trabalho diário, visando a prevenção de crimes e contravenções.
Está amparada legalmente no art. 244 do Código de Processo Penal – “A busca pessoal independerá de mandado, no caso
de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar”.
9.3.1. A segurança e a necessidade da abordagem policial
A abordagem policial é a principal ferramenta para coibir a prática de crimes e contravenções penais. O policial em serviço
deve proceder com abordagens sempre que notar alguma movimentação ou intenção suspeita em transeuntes, veículos
particulares, transportes coletivos e estabelecimentos. Ao realizar uma abordagem em via pública, todas as atenções se voltam
para a mesma, transmitindo uma sensação de segurança para a comunidade. Somente através da abordagem e revista pessoal é
que podem ser encontradas provas que materializem algum crime ou contravenção. Durante a abordagem e revista pessoal, cada
policial é responsável pela sua própria segurança e dos demais componentes da guarnição, bem como a do suspeito e dos demais
cidadãos no perímetro.
9.3.2. A abordagem sob as óticas: do policial, do abordado e do espectador
Normalmente realizada em público, é recomendado ao policial proceder a abordagem somente quando estiver em vantagem
numérica em relação aos abordados, prezando sempre pela segurança a modo geral, embora nem sempre isso seja possível. Desse
modo, a vulnerabilidade existe e o momento é tenso para todos os envolvidos, sejam eles policiais, suspeitos ou demais
transeuntes. Sob a ótica policial, uma guarnição entrosada já sabe se posicionar de modo a garantir a segurança de todos. Caso
seja encontrado algo que configure crime ou contravenção, deve-se dar a voz de prisão em flagrante e conduzir o cidadão infrator

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 79


à delegacia competente para registro do fato e lavratura de termo. Caso não seja encontrado nada, o policial pode inclusive
explicar ao cidadão o motivo pelo qual fora interpelado pela guarnição, demonstrando respeito e cordialidade ao próximo,
amenizando o possível constrangimento que venha a ser percebido naturalmente pelo abordado, nos padrões em que são
realizados.
Sob a ótica do abordado, é natural que este se sinta constrangido. Ninguém gosta de ser revistado, porém, um simples
autoquestionamento é suficiente para entender o trabalho da polícia e a necessidade fundamental da abordagem. O policial não
tem como saber se aquele cidadão é um transgressor da Lei, portanto, somente realizando a abordagem e revista pessoal é que se
eliminará a dúvida.
Sob a ótica dos espectadores é comum que a ação policial desperte a curiosidade dos que estão à volta. As atenções se
voltam para o local da abordagem. A situação durante o procedimento é tensa, porém, ao término, fica evidente a sensação de
segurança transmitida àqueles que presenciaram o fato.
Há controvérsias quanto ao método da abordagem, que é questionado quanto ao padrão de segurança. O policial deve avaliar
as condições de segurança do local da abordagem a fim de evitar confrontos.
9.4. Redução da criminalidade
O trabalho conjunto da polícia com a comunidade é eficaz contra o aumento da criminalidade. A redução dos índices de
CVLI e CVP é benéfica para todos e enfraquece o crime organizado. A ação de presença policial inibe a prática de crimes e
contravenções. O criminoso não sente confiança para consumar um roubo ou homicídio quando percebe que existe policiamento
no local onde ele planejava atuar.
9.4.1. A missão de cada instituição e de cada indivíduo
É preciso um debate sincero, aberto e amplo sobre o problema da violência no país e sobre como cada segmento deve
participar, interferir e ajudar no processo, refletindo sobre todos os seus posicionamentos, colocando abertamente os prós e contra.
É necessário que cada instituição social saiba qual é seu papel no contexto de um problema que afeta todo o país, problema
que nos tem gerado tantas perdas. Costuma-se atribuir a responsabilidade à polícia quando esta executa uma ação definitiva, a
exemplo de um auto de resistência. Quando a situação chega a este ponto, é comum esta instituição representante do Estado ser
rechaçada pela sociedade.
Infelizmente, na situação atual no Brasil, as instituições basilares: Família, Nação, Governo, Escola e Religião não cumprem
seus papéis ou o fazem, na maioria, de forma inadequada, influenciando negativamente na educação de toda uma nação, em
aspectos gerais, recaindo sobre a polícia militar a responsabilidade de interagir e exercer por um papel que não é de sua alçada,
mas tem interesse em contribuir de alguma forma para que se mantenha a ordem.
À Polícia Militar compete à execução, com exclusividade, do policiamento ostensivo fardado com vistas à preservação da
Ordem Pública. Sua ação é tipicamente preventiva, ou seja, atua no sentido de evitar que ocorra o delito. Para tanto, sua
ostensividade caracteriza-se por ações de fiscalização de polícia sobre matéria de ordem pública, onde o policial é de imediato
identificado, quer pela farda, armamento, equipamento ou viatura.
9.4.2. “A paz queremos com fervor”
Intitulando este tópico, um trecho da Canção do Exército Brasileiro, ou hino do Soldado, que traduz a esperança de um
servidor público e sua missão para o sucesso da ordem e da paz. Tudo que um cidadão de bem deseja e quer para o seu país. O
militar é um cidadão fardado e compartilha dos mesmos anseios na sua missão como agente do Estado. Assegura o cumprimento
das leis, e a manutenção dos direitos e deveres de cada indivíduo de acordo com os princípios constitucionais. O soldado da
Polícia Militar é a peça humana que está nas ruas diariamente e interage com a comunidade, deve criar laços de parceria a fim de
evitar que se instale o caos e a desordem, seguindo ambos em parceria em prol de um interesse comum.
Quando um policial calça o coturno e vai às ruas, ele deve ter em mente sempre a possibilidade de prevenção. Sem falsos
heroísmos, ele deve usar a técnica, a legalidade e a criatividade para evitar violências. A sociedade que lhe confiou esse mandato
deve torcer para que tudo dê certo, sem lhe exigir o inevitável, sem permitir intervenções que anulem a sociabilidade.
Ao final do serviço, o policial deve se sentir orgulhoso, e a sociedade agradecida, pois o resultado do conjunto de ações
preventivas realizadas por aquele homem ou mulher é um coletivo de sofrimentos que deixou de existir. Fora disso, há a vida e a
natureza humana, que sempre nos reservará momentos de sofrimento.
9.4.3. Ações de aproximação com a comunidade
Dentre as ações, de aproximação da Polícia Militar, desempenhadas com a Comunidade no Estado da Bahia, merecem
destaque: o incentivo em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, em capacitar os policiais
militares com o Curso de Polícia Comunitária na formação do policial; a criação e atuação efetiva das Bases Comunitárias de
Segurança – BCS nos bairros mais carentes; participação da Polícia Militar nos Conselhos Comunitários de Segurança –
CONSEG e o Programa de Educação e Resistência às Drogas – PROERD.
9.4.3.1. Base Comunitária de Segurança – BCS
A BCS – Base Comunitária de Segurança é uma ferramenta adotada pelo governo e pela Policia Militar que tem como
filosofia o policiamento comunitário. Tem como objetivo a redução da violência e criminalidade em localidades identificadas
como críticas, promovendo assim uma convivência pacífica e harmoniosa, servir como referência aos moradores da região, além
de melhorar e estreitar os laços que integram as instituições de segurança pública com as comunidades locais.
As BCS devem ser o endereço de referência profissional dos policiais militares encarregados da prevenção comunitária e do
policiamento ostensivo e também deve ser amplamente divulgado. Os policiais militares que estiverem lotados na BCS,
procederão ao atendimento normal de ocorrências e prestação de informações e outros serviços, atuando conjuntamente com as
diversas modalidades de policiamento desenvolvidos pela Corporação.
Dentre as atividades de integração e projetos sociais das BCS, destacam-se:

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a) CDC – Centro Digital de Cidadania (BCS Fazenda Coutos / 19ª CIPM - Paripe)
O curso é uma ação que promove a Inclusão Digital através de aulas práticas e teóricas de uso da tecnologia através do
Centro Digital, implantado na Base Comunitária de Segurança de Fazenda Coutos.
Este curso aborda ainda, de forma interdisciplinar o tema Cidadania e Prevenção à Violência, promovendo a disseminação
de valores que fomentem a reflexão e mobilizem os indivíduos à transformação de suas realidades sociais.
b) Projeto Vida Leve (BCS Fazenda Coutos / 19ª CIPM – Paripe)
A Polícia Militar do Estado da Bahia – PMBA, através da Base Comunitária de Segurança – BCS de Fazenda Coutos, com o
fito de mobilizar e interagir com a comunidade local, pôs em prática o Projeto Vida Leve, que busca promover a melhoria da
qualidade de vida das pessoas que compõem a melhor idade através da prática da atividade física. Para tanto, fora estabelecida a
parceria entre as Unidades de Saúde locais para que fossem atendidos idosos já acompanhados e que tenham, dessa forma,
orientação médica para prática da atividade sem riscos à saúde. O projeto é desenvolvido por policiais militares com formação
acadêmica em Educação Física e profissionais dos Postos de Saúde, configurando-se num serviço voluntário que beneficia
moradores da comunidade e dos bairros do Subúrbio Ferroviário.
c) Projeto Primeiro Som (BCS Fazenda Coutos / 19ª CIPM – Paripe)
A música é uma linguagem universal, capaz de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos. É por meio da
música que habilidades e sentimentos são aflorados e colocados à disposição da aprendizagem nas diversas áreas do
conhecimento. A música, além de fazer parte do rol das inteligências múltiplas (H. Gardner, 1985), desenvolve habilidades no
aluno que o ajudarão a conhecer diversas culturas e a criar possibilidades de ação em busca de um mundo melhor.
O projeto Primeiro Som visa formar uma turma com um número máximo de 100 (cem) crianças e adolescentes, moradores
da região do Subúrbio de Fazenda Coutos, divididos inicialmente por turmas de prática de instrumentos musicais, sendo:
teclado, violão, percussão e flauta doce. O curso se desenvolverá com aulas teóricas e práticas de música e conhecimento
específico no instrumento musical.
As aulas serão ministradas na sede do PIM (Projeto de Iniciação Musical) localizada na Rua localizada na Rua 26 C, quadra
75, 118-E, Fazenda Coutos, parceira desse projeto junto a BCS Fazenda Coutos, 19ª CIPM e PMBA.
O projeto será dividido em 03 (três) períodos, sendo: iniciação musical, formação básica de música, e formação técnica de
música; com duração de cada período de 02 (dois) anos, totalizando 06 (seis) anos de formação completa, podendo, o músico
formado pelo projeto, continuar, por tempo indeterminado, participando dos grupos instrumentais que serão criados no decorrer
do projeto. No último período será implantada a prática de Banda de Música e Orquestra.
A Base Comunitária de Segurança/Fazenda Coutos deverá divulgar as inscrições do projeto para toda a comunidade,
conforme for necessário para a divulgação, orientando os interessados no que for necessário, inclusive os critérios de
participação. Havendo procura do projeto, além das vagas oferecidas, caberá ao comando da BCS/Fazenda Coutos criar os
critérios para selecionar os reais participantes.
Ao final de cada período, o aluno receberá em cerimônia pública um certificado de conclusão.
d) Projeto Karatê do Saber (BCS Fazenda Coutos / 19ª CIPM – Paripe)
O Projeto Karatê do Saber beneficia 110 pessoas entre crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, tendo como requisito para
permanência desses alunos a matrícula e a assiduidade na escola ou colégio.
Criado e coordenado pelos Soldados PM Alisson Guimarães e Renan Jesus dos Santos, ambos faixa preta, o projeto
Karatê do Saber teve início em Fazenda Coutos na metade do ano de 2012, com o objetivo de, junto à BCS, reforçar ou ajudar a
criar um elo entre a polícia e a comunidade.
e) Projeto de Manutenção de Microcomputador (BCS Rio Sena / 18ª CIPM – Periperi).
A realização de manutenção de microcomputador visa a integração entre a Polícia Militar e a comunidade do Rio Sena e
Alto da Terezinha. As aulas são destinadas a jovens e adolescentes da comunidade, com idade entre 14 a 20 anos, em situação de
vulnerabilidade social. Funciona no Espaço Criança e Família, na Rua da Bomba, próximo ao curso de mecânica da associação,
desde o dia 8 de Maio de 2013.
f) Multiplicadores de Turismo (BCS Itinga / 81ª CIPM – Itinga)
O principal objetivo desta oficina é a compreensão clara de que a atividade turística constitui-se uma das maiores
possibilidades de resgate e promoção dos valores culturais, de preservação do meio ambiente e geração de renda.
Salvador e sua região metropolitana são repletas de atrativos que todos os anos encantam milhares de turistas. Estes, sempre
saem daqui espalhando aos quatro cantos que a cidade possui muito a se admirar.
É por esse motivo que foi criado o projeto intitulado “Multiplicadores de Turismo”. Com ele pretende-se sensibilizar e
incentivar a comunidade, através de visitações e exposições, a valorização do Turismo na cidade de Salvador e Região
Metropolitana com o intuito de evidenciar os atrativos histórico-culturais, religiosos e naturais. Os alunos têm aula teórica e aula
prática (aula viva) que consiste na visita aos principais pontos turísticos de Salvador e conhecimento de sua história.
Esse projeto-piloto foi realizado com 31 alunos da Escola Solange Coelho e, devido à resposta positiva, estuda-se uma
forma de expandi-lo para incluir outras escolas e alunos.
g) Curso de Informática (BCS Calabar / 41ª CIPM – Federação)
Após inauguração no dia 27/04/2011, a Base Comunitária de Segurança do Calabar, cuja área de atuação compreende as
comunidades do Calabar e Alto das Pombas, foi a primeira base a ser instalada na cidade de Salvador/BA, e desde a sua
implantação o número de ocorrências foi reduzido em 90%.
Além dos serviços de segurança pública, a BCS Calabar promove cursos de capacitação, pré-vestibular, alfabetização para
jovens e adultos e eventos que visam à promoção e valorização das comunidades e seus moradores. Por esse motivo, o
CALABAR.NET, traz aos cidadãos do Alto das Pombas e Calabar, bem como os moradores de comunidades que circundam a
área de atuação desta Base Comunitária, curso de capacitação em informática, tendo como escopo principal que os alunos
aprendam a operar um computador de forma a elaborar trabalhos escolares, currículos, planilhas, apresentações de slides e acessar
a Internet.

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h) Concurso Garota Comunidade BCS (BCS Chapada do Rio Vermelho, BCS Vale das Pedrinhas e BCS Santa Cruz /
40ª CIPM – Nordeste de Amaralina).
A ideia do concurso surgiu em uma reunião para pensar em ações que beneficiassem a região do complexo do Nordeste de
Amaralina. Na visão da segurança pública, este é um trabalho preventivo, porque a partir do momento em que aproximam estas
meninas, suas famílias e a comunidade da Polícia Militar, deixamos de perder estas pessoas para o tráfico de drogas e para a
marginalidade, aumentando sua autoestima.
9.4.3.2. PROERD
A Polícia Militar desenvolve, desde o ano passado, na rede de ensino da Bahia, o Programa Educacional de Resistência às
Drogas e à Violência (Proerd), que oferece atividades educacionais voltadas à prevenção ao uso de drogas e à violência nas
instituições de ensino. O programa já foi aplicado em diversas escolas de Salvador, tendo inclusive extensão ao município de
Feira de Santana, onde estabelecimentos de 17 bairros foram beneficiados.
O Proerd é a versão brasileira do programa DARE (Drug Abuse Resistence Education), implantado inicialmente nos
Estados Unidos e, atualmente, desenvolvido em mais de quarenta países conveniados. A iniciativa é considerada pela ONU como
um dos maiores programas de prevenção as drogas e a violência do mundo.
No Brasil, o programa teve início em 1992 e já foi implantado em 20 estados da Federação. O Proerd visa, sobretudo,
estabelecer uma relação de confiança entre o policial militar e o cidadão. Após quatro meses de curso as crianças recebem o
certificado PROERD, ocasião que prestam o compromisso de manterem-se afastados e longe das drogas e da violência.
Policiais das CIPMs são capacitados para desenvolver atividades lúdicas em sala de aula entre os estudantes. Técnicas e
métodos de ensino infantil, tratamento de dependência de drogas e noções de toxicologia aprendidos no treinamento, capacitaram
os policiais a abordar questões tão delicadas entre os estudantes. Em 17 lições, os alunos aprendem a incrementar a autoestima, a
responsabilidade, o bem-estar social e a cidadania.
Dezenas de policiais militares já concluíram o curso de Formação de Instrutores do Proerd, que consiste na capacitação de
oficiais para atuarem em conjunto com educadores, estudantes, pais e a comunidade em ações voltadas à prevenção ao uso de
drogas e redução da violência entre crianças e adolescentes.
De acordo com a metodologia do curso, o policial deve comparecer fardado à escola uma vez por semana, acompanhado do
professor da turma. Cada encontro com os estudantes têm uma hora de duração. Todo o material apresentado foi compilado numa
cartilha em 17 lições de 60 minutos para distribuição entre os alunos.
9.5.PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
Para que o policiamento comunitário seja implantado, é imprescindível que o modelo se amolde às características
que o define universalmente. Os princípios aqui apontados estabelecem os parâmetros que garantam o sucesso do
desafio a ser enfrentado.
Redefinição estratégica - O policiamento comunitário não é mais um modelo de policiamento implantado na organização
policial ou em uma área definida, trata-se, na verdade, de uma nova maneira de pensar Segurança Pública, que envolve todo o
efetivo policial, independentemente do posto de serviço.
A nova maneira de pensar exige uma transformação da metodologia aplicada, que atualmente privilegia as técnicas reativas
e o isolamento do policial militar em relação às pessoas em razão do uso da radiopatrulha.
Comprometimento - O policiamento comunitário exige o engajamento de todo efetivo policial militar da Organização
Policial Militar (OPM) e dos cidadãos na resolução de problemas da comunidade. Enquanto os policiais militares desenvolvem
atividades proativas de segurança pública, a comunidade se mobiliza para auxiliar a polícia como agente de segurança e, através
de liderança, na resolução de problemas, através do acionamento de órgãos públicos ou dos próprios munícipes.
Policiamento gerencial - O modelo gerencial também atinge a Segurança Pública e encontra no policiamento comunitário
o modelo adequado. O modelo gerencial descentraliza a decisão e busca responder ao anseio do cidadão, na condição de cliente.
Parceria - Os cidadãos devem participar como parceiros da polícia na resolução dos problemas e na prevenção da
violência e criminalidade. Portanto, deve-se construir uma parceria que quebre o isolamento que o radiopatrulhamento instiga,
de modo que os policiais possam manter contato diário e direto com as pessoas da comunidade para solidificar uma parceria de
sucesso.
Confiabilidade - O policiamento comunitário sugere um novo relacionamento entre a comunidade e a Polícia Militar,
baseado na ética e respeito mútuo. A confiança que a Polícia Militar conquistará ante a comunidade será consequência de um
relacionamento ético e fiel em que os sucessos e fracassos também sejam compartilhados.
Setorização - O policiamento comunitário exige a delimitação de uma área geográfica e a permanência de policiais
militares para que possam ter a oportunidade de desenvolver uma nova parceria e conhecer as características do setor. A
descentralização havida sobre a área geográfica deve ser compatível à menor fração de policiamento, que é a guarnição de RP. A
permanência dos mesmos policiais militares que patrulham uma mesma área propicia um ganho considerável na eficiência em
razão da oportunidade de captação de informações que poderá subsidiar as decisões descentralizadas.
9.6. Considerações Finais
Polícia é instituição fundamental para qualquer democracia e os dados sobre a desconfiança da população nestas instituições
são a evidência de que o modelo, de segurança pública brasileiro, precisa de reformas urgentes, tornando-as instituições
efetivamente transparentes e garantidoras de direitos.
A Polícia Comunitária é a alternativa que melhor se adequa ao Estado Democrático de Direito. Ela é uma alternativa ao
modelo tradicional de polícia, cujo enfoque é combater ao criminoso depois que ele tenha vitimado alguém e gerado um dano
moral ou material. É preciso antecipar-se ao crime, agindo sobre as suas causas, para que ninguém sofra dano algum. A segurança
deve ser construída por todos.
A integração entre polícia e comunidade possibilita a percepção de segurança pública como responsabilidade de todos e
estabelece uma relação de confiança entre o policial e o cidadão.

Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 82


A Constituição Federal no seu Art. 144 define as cinco Polícias que tem existência legal, não deixando qualquer dúvida a
respeito.
O mesmo Art. 144, diz que a segurança pública é direito e responsabilidade de todos, o que nos leva a inferir que além dos
policiais, cabe a qualquer cidadão uma parcela de responsabilidade pela segurança.
O cidadão na medida de sua capacidade, competência, e da natureza de seu trabalho, bem como, em função das solicitações
da própria comunidade, deve colaborar no que puder, na segurança e no bem-estar coletivo. A pretensão é procurar congregar
todos os cidadãos da comunidade através do trabalho da Polícia, no esforço da segurança.
O modelo de policiamento deve ser colocado em prática através da divulgação de informações e ações, de comunicação
social, voltadas para os públicos interno e externo da corporação da Polícia Militar, a fim de conscientizar os cidadãos e os
policiais, de forma a acreditarem na parceria e internalizarem a ideia.

Saiba mais:
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação ao que
a filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que aproximassem a polícia
e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios da instituição
passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como a coprodução
da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a comunidade.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois possibilita
compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de forma imparcial e
objetiva, à luz da legislação, apesar de que quase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que compõem a
comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do restante da
população (F).
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas
(F).
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia
convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• A noção de equidade diz respeito ao estabelecimento de mecanismos que diminuam desigualdades de oportunidades ou de acesso a recursos ou direitos
no convívio entre as pessoas em sociedade.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de perceber como deve
ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à comunidade).
Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite as ações efetivas com a comunidade.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes de ser uma
força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a segurança de
cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige um
comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo das conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública
(CONSEG) , constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade, os
trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• "Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para decidir e agir em
direção a um OBJETIVO COMUM"
• A primeira etapa do PDCA exige o estabelecimento de metas e procedimentos técnicos aptos a alcançar os resultados propostos.
• O policiamento comunitário surgiu da necessidade de uma aproximação entre a polícia e a comunidade e “cresceu a partir da concepção de que a polícia
poderia responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às comunidades” (SKOLNICK, 2003:57).
• Tipos de prevenção:
◦ Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também de famílias,
escolas e sociedade civil.
◦ Prevenção secundária Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
◦ Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação
individual e social da vítima.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabin.ete de Gestao ntegrada
• A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das metas estipuladas.
• O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.

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• O ciclo de polícia, que inicia o ciclo de persecução criminal, é composto por:
◦ 1ª fase: Situação normal de paz social. Refere-se ao trabalho ostensivo realizado pela polícia, de caráter preventivo, em prol da preservação
da ordem pública. Quando ocorre a quebra da ordem pública, são efetuadas as demais fases do ciclo policial.
◦ 2ª fase: Restauração da paz social. Consiste no primeiro contato da polícia com a prática criminal, competindo-lhe exercer as primeiras
providências de polícia administrativa e judiciária, como realizar prisão em flagrante, identificar testemunhas, levantar informações sobre o modo como
o crime ocorreu, socorrer vítimas, dentre outras verificações possíveis que se apresentarem necessárias de imediato.
◦ 3ª fase: Investigativa. É exercida pela polícia judiciária, através da escuta do relato das testemunhas arroladas, realização de perícias,
cumprimento de prisões processuais, exercidas por meio da instauração do Inquérito Policial.
◦ 4ª fase: Processual. A partir dessa sequência de procedimentos ocorre a fase processual, que é de competência do Ministério Público e
Poder Judiciário, sendo a última etapa do ciclo de persecução criminal a fase de aplicação das penas, responsabilidade do Poder Judiciário e do Sistema
Prisional (LAZZARINI, 1996).
• A divisão da execução das fases da atividade policial em duas organizações distintas, no ente federativo estadual, de forma que é atribuída à Polícia
Militar o trabalho de preservação da ordem pública, enquanto compete à Polícia Civil a realização da investigação e da apuração dos crimes, caracteriza a
estrutura das polícias estaduais brasileiras como bipartida, dado que ambas apresentam o ciclo policial incompleto.
• Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as questões relativas à segurança pública e à justiça criminal. Uma
verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de propostas legislativas e de produção acadêmica.
• O Bolsa Família pode ser considerado um exemplo de programa de prevenção social, uma vez que atua para atenuar determinados fatores de risco e
promover a proteção social. Por meio da transferência direta de renda, promove o alívio imediato da pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a di reitos
sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que
os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade.
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação ao que a
filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que aproximassem a polícia
e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios da instituição
passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como a coprodução
da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a comunidade, devendo ser
utilizados os recursos de inteligência policial a todo momento.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois possibilita
compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de forma imparcial e
objetiva, à luz da legislação, apesar de que quase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que compõem a
comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de
negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do restante da
população.
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das
pessoas.
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de
moradia convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de perceber como deve
ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à comunidade).
Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite as ações efetivas com a comunidade.
• Câmaras técnicas. As Câmaras Técnicas são espaços permanentes de discussão sobre os assuntos mais importantes para a segurança pública do
município.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes de ser uma
força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a segurança de
cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige um
comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo da conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública ( CONSEG) ,
constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade, os
trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• “Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para decidir e agir em
direção a um OBJETIVO COMUM”
• A corrupção, o desrespeito aos direitos humanos, a herança autoritária e a “insistência no modelo da guerra como metáfora e como refe rência
para as operações de segurança pública” (CANO, 2006, p. 141), também são alguns outros exemplos comuns de deficiências relacionadas às polícias
estaduais. A despeito do panorama de deficiências das polícias estaduais, verificam-se iniciativas recentes de modernização das instituições policiais que

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apontam em direção à mudança de paradigma na gestão da segurança pública.
Nesse contexto, pode-se citar algumas experiências relevantes, tais como:
◦ Tentativas de integração das polícias civil e militar;
◦ Compatibilização do trabalho policial em áreas geográficas coincidentes;
◦ Unificação e informatização dos boletins de ocorrências criminais;
◦ Investimentos em tecnologia, em georreferenciamento e nos sistemas de informações policiais;
◦ Criação de ouvidorias de polícia.
• Os Gabinetes de Gestão Integrada, de forma geral, se fundamentam em três eixos:
◦ I - atuação em rede
◦ II - gestão integrada.
◦ III- perspectiva sistêmica.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabinete de Gestão Integrada.
• GGIM - Gabinete de Gestão Integrada Municipal – GGIM é um instrumento para apoiar os municípios na gestão do Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania – Pronasci. Trata-se de um conjunto de informações teóricas e técnicas relativas ao Pronasci e, em particular, ao
Gabinete de Gestão Integrada Municipal – GGIM, que apresenta desde a concepção, organização e funções do gabinete, dentre outras, as informações
práticas e relevantes para sua implantação e execução.
Referências
ALCADIPANI, Rafael. Respeito e (Des) confiança na Polícia. Anuário Brasileiro de Segurança Pública, São
Paulo, n. 7, p.106-106, ano 2013.
ANDRADE, S. C. O., Mudanças e oportunidade na Gestão Pública: “ O Novo Cidadão”. RJ, 2001
ARRUDA, L. E. P., O Líder Policial e suas Relações com os Conselhos Comunitários de Segurança em São Paulo,
SP: A Força Policial, nº 16, out/dez, 1997.
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Apostila de Polícia Interativa (Comunitária e POP) – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 85

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