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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL
POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR –
l CFAPM
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS
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2019
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Natal/RN
2019
1
Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em Polícia Comunitária
(UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou, junto ao CFAPM (CFS e CAS), além
dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e Gestão em Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária
(CAS), Polícia Interativa (CAS – Nova Cruz), Fundamentos da Gestão Pública Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz), Sistemas de Segurança Pública
e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM).
PMRN - Curso de Formação de Sargentos 2020.1. Instrutor: 2º Sgt Janildo da Silva Arante 2
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II – OBJETIVOS
Geral:
* Criar condições para que o profissional da área de segurança pública possa ampliar conhecimentos para ter uma visão
geral de como funciona o Sistema de Segurança Pública, e também como atuar de forma colaborativa e cooperativa no
planejamento de ações integradas e comunitárias.
Específicos:
* Ampliar conhecimentos para compreender a visão sistêmica da segurança pública, os órgãos, as instituições, os
profissionais e as políticas e ações voltadas para a sociedade e o cidadão, mediante o estudo dos seus antecedentes históricos
e da análise de cenários e perspectivas;
* Desenvolver e exercitar habilidades para reconhecer a importância da formulação de políticas públicas e da elaboração
de planejamento na área de segurança pública;
* Ampliar conhecimentos para identificar os fundamentos de gestão integrada e comunitária e as diversas formas existentes
dessa gestão no sistema de segurança pública;
* Identificar o processo do “triângulo do crime” ou “triângulo para análise de problema – TAP”;
* Atuar de forma colaborativa e cooperativa no planejamento de ações integradas e comunitárias;
* Reconhecer a importância de atuar como facilitador (protagonista) do processo orientado para o problema.
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Os temas abordados poderão ser desenvolvidos através de aulas expositivas, debates, atividades em grupo e individuais,
utilizando os recursos didáticos disponíveis para auxiliar na fundamentação do ensino-aprendizagem.
A avaliação deverá ser fundamentada em todo conteúdo ministrado, podendo ser composta por questões objetivas e/ou
subjetivas, valendo 100% da nota, pois se trata de uma única avaliação.
V- REFERÊNCIAS
BAYLEY, David H. Criando uma teoria de policiamento: padrões de policiamento.
Coleção Polícia e Sociedade 1. São Paulo: EDUSP, 2001.
BAYLEY, David H. Padrões de policiamento: uma análise internacionalmente comparativa. São Paulo: EDUSP, 2001.
BECK, Ulrich, Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Editora 34, 2010, 1ª edição.
BERTALANFFY, Ludwig Vo. Teoria geral dos sistemas. BERTALANFFY, Ludwig Von; Ed. Vozes; 1975.
CERQUEIRA, C. M. N. A polícia em uma sociedade democrática. In: Polícia, violência e direitos humanos. CEDOP, [S.l.]. Série
Cadernos de Polícia, n. 20, 1994.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. Violência, crime e sistemas policiais em países de novas democracias. Tempo Social: Revista de
Sociologia da USP, vol. 9, n. 1, 1997.
ROCHA, Luiz Carlos. Organização policial brasileira: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária, Polícias
Civis, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares, Guardas Municipais. São Paulo: Saraiva, 1991.
SAPORI, Luís Flávio. Segurança Pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.
ANDRADE, Sebastião Carlos de O. Mudanças e oportunidade na gestão pública: o novo cidadão. Rio de Janeiro, 2001.
DE OLIVEIRA, Fatima Bayma. (Org.) Política de gestão pública integrada. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV, 2008.
DI PIETRO, Marial Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 24. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
FARAH Marta Ferreira S. et al. Novas experiências de gestão pública e cidadania. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 1999.
PAULA, Ana Paula Paes de. Por uma nova gestão pública. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2005.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1998.
SANTIN, V. F. Controle judicial da segurança pública: eficiência do serviço na prevenção e repressão ao crime. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2004.
TROSA, Sylvie. Gestão Pública por resultados. Brasília: ENAP/Editora Revan, 2001.
Fonte: Plano de Curso – CFS 2017.1 (com adaptações conforme reunião pedagógica datada de 16 de
maio de 2019 – 2º Sgt PM Janildo e S Ten RR Vantuil)
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Epígrafe
DIGNIDADE COM CARÊNCIAS: É POSSÍVEL?
Ricardo Brisolla Balestreri2
Assim mesmo, nessas condições, com esses salários, com essa carência de recursos, com eventuais humilhações internas,
como é possível falar em dignidade?
É possível e é necessário, porque não podemos esperar por melhores salários e melhores condições para ter dignidade,
assim como não é correto dizer que os criminosos são criminosos porque são pobres, coisa que enxovalha a pobreza. A maioria
dos cidadãos brasileiros é pobre e, no entanto, é digna e honesta. Alguns colegas meus de direitos humanos às vezes cometem
essa sandice de dizer, de forma bem-intencionada mas simplista: “A causa da criminalidade é a miséria”. Não é verdade. É
parcial. É claro que a miséria agrava, mas 99% das pessoas que vivem em situação de miséria são cidadãos dignos, honestos,
trabalhadores.
Da mesma maneira, não é possível desculpar comportamentos indignos da polícia por causa dos salários e das condições de
vida. Vamos lutar para melhorar os salários e as condições de vida, mas isso não é pretexto para agir de forma indigna e de
forma brutal — como não é pretexto para o professor, numa analogia, entrar numa sala de aula e dizer: “Dou uma aula relaxada
porque ganho mal”. Não é pretexto! O seu cliente, que é o aluno, não tem culpa se você ganha mal. Vá brigar com o governo
para ganhar melhor, mas não sacrifique o seu aluno. O cliente da polícia é o cidadão. Se você tem problemas com o Estado, vá
lutar e resolver com o Estado os seus problemas. Não sacrifique o seu cliente porque ele não tem culpa direta sobre isso. O dever
de qualquer profissional que atua com o público é ser digno e tratar bem.
A reflexão final que eu faço é esta: que, ao chegar em casa, ao deitar sua cabeça no travesseiro, o sujeito não seja obrigado
à frustração de admitir: “Ganho mal, não me deram condições de trabalho, tive que comprar bala para o meu próprio revolver —
o que é um absurdo — e, além de tudo, fiz um trabalho malfeito”. Pelo menos que ele possa ter o orgulho de pensar: “Apesar de
não ganhar um salário digno, apesar de não ter bala para o revólver, apesar de o carro não ter motor, apesar de todas as
incompreensões e dificuldades, me mantive superior, agi com dignidade e respeito, não me rebaixei à práticas criminosas. Fiz,
por mim e pelos outros, um trabalho que valeu a pena. Isso ninguém me tira.”
BALESTRERI, Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia – Passo fundo-RS, CAPEC, Paster Editora, 1998
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Ricardo Brisolla Balestreri, educador e consultor empresarial e governamental, é graduado em Estudos Sociais (PUCRS-1980) e em História (UNISINOS-1995),
possui especialização acadêmica em Psicopedagogia Clínica (Centro Educacional La Salle de Ensino Superior, março de 1997) e em Terapia Familiar (Universidade
Candido Mendes-UCAM, Rio de Janeiro, 30 de Julho de 2006) e Formação em Hipnologia Clínica Condicionativa (2011). É Presidente do Conselho de Administração
do Observatório do Uso Legítimo da Força e Tecnologias Afins, membro do Conselho Consultivo do Observatório de Segurança e Cidadania da Fundação Getúlio
Vargas e Diretor Presidente da BBalescon, Editoria e Assessoria de Projetos. (Informações coletadas do Lattes em 28/05/2018)
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Apresentação
Este trabalho é parte integrante do Plano de Curso de Sargentos da PMRN-2018.1. Nele temos a junção de duas disciplinas,
a saber Gestão Integrada e Comunitária e Sistema de Segurança Pública, ambas da ÁREA TEMÁTICA I (SISTEMAS,
INSTITUIÇÕES E GESTÃO INTEGRADA EM SEGURANÇA PÚBLICA).
De posse do conteúdo programático a seguir:
MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA:
1.1. Políticas Públicas;
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento;
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual);
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local;
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal;
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública:
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas;
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública;
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública;
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições;
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA:
2.1. Polícia Comunitária;
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária;
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado;
2.2. Policiamento Comunitário:
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
2.3. Mobilização Comunitária;
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no âmbito da
segurança pública;
2.3.3. Policiamento orientado por problema;
2.3.4. Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade; tivemos o cuidado de apresentar
um material o mais contextualizado, interdisciplinar e transversal possível.
Espero que o presente material didático-pedagógico seja de grande valia para vosso aprendizado.
Desde já torço por vocês.
Fica aqui o abraço desse humilde professor, instrutor e, por que não, facilitador do conhecimento.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Sumário.
Item Página
Ementa 3
Apresentação 6
MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA: 8
1.1. Políticas Públicas 8
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento; 13
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual); 22
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local; 25
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal; 30
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública 33
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas; 33
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública; 33
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública; 40
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições; 50
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA 50
2.1. Polícia Comunitária 51
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária; 51
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado; 52
2.2. Policiamento Comunitário 55
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”; 55
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias; 58
2.3. Mobilização Comunitária 60
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária; 60
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e 65
comunitária no âmbito da segurança pública;
2.3.3. Policiamento orientado por problema; 68
2.3.4. Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade; tivemos o 81
cuidado de apresentar um material o mais contextualizado, interdisciplinar e transversal possível.
Referências 86
Glossário 87
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Este grupo exerce uma enorme capacidade de influir nas políticas públicas, visto que podem afetar a economia do país. Os
empresários mobilizam seus lobbies (do termo lobby, que significa a atividade de pressão que tem como objetivo inferir
diretamente nas decisões do poder público em favor de interesses privados) para encaminhar suas demandas aos atores públicos.
Podem se manifestar como atores isolados ou coletivos;
Grupos de interesse e grupos de pressão
Os grupos de interesse são formados por pessoas que compartilham o mesmo desejo e trabalham para conquistar seus
objetivos. Já os grupos de pressão são formados por pessoas que possuem o objetivo de influenciar determinada decisão de
caráter público. Muitas vezes, esse tipo de pressão acontece de forma direcionada ao Legislativo, porém, pode incidir também
sobre os meios de comunicação, o Judiciário e o Executivo. Também é comum tais grupos apoiarem determinados partidos
políticos e alguns possuem recursos financeiros e organizacionais;
Organizações de Pesquisa
Podem ser formadas por universidades ou organizações especializadas em pesquisas relacionadas às políticas públicas.
Com essas pesquisas, eles propõem soluções práticas para problemas sociais e assim, influenciam no processo de políticas
públicas;
Mídia
A mídia possui grande influência quando o assunto é a definição de empasses relacionados ao governo. São formadores de
opinião que possuem credibilidade na sociedade e por isso são capazes de mobilizar um grande número de pessoas. Além disso,
possuem certo domínio sobre as políticas públicas.
Portanto, as políticas públicas envolvem um processo complexo, constituído por um fluxo de decisões e ações praticadas
por diversos indivíduos e órgãos, que acarretará diretamente no equilíbrio - ou desequilíbrio, social.
Fases das Políticas Públicas
O Ciclo das Políticas Públicas apresenta vários estágios:
Agenda, em que são selecionadas as prioridades;
Formulação, em que são apresentadas soluções ou alternativas;
Implementação, em que são executadas as políticas;
Avaliação, em que ocorre a análise das ações tomadas.
Na teoria, são estas as fases que correspondem às Políticas Públicas, mas, na prática, tais
etapas se misturam entre si e nem sempre seguem a sequência proposta, sendo tal segmentação
mais significativa para uma melhor compreensão do assunto.
FORMAÇÃO DE AGENDA
Dada a impossibilidade de que todos os problemas existentes na sociedade sejam atendidos, pois os recursos necessários
para tal ação são escassos em relação à quantidade de problemas, a primeira fase correspondente à formação de agenda é
necessária para que sejam estipuladas as questões a serem discutidas pelo governo. Portanto, este processo de se estabelecer uma
listagem dos principais problemas da sociedade envolve a emergência, o reconhecimento e a definição dos problemas em
questão e, consequentemente, os que não serão atendidos.
O que vai determinar a inserção ou não inserção de um problema público em uma agenda? Dentre uma série de fatores,
pode-se citar por exemplo, a existência de indicadores ou dados, que mostram as condições de uma determinada situação; e o
resultado obtido com ações governamentais anteriores que apresentaram falhas nas providências adotadas. Os desdobramentos
políticos (como por exemplo, as mudanças de governo) também são poderosos formadores de agenda, pois isso está relacionado
à visão dos políticos eleitos sobre os temas que devem ou não receber prioridade.
Cabe ressaltar que, mesmo que uma questão seja listada na Agenda, isso não significa que terá prioridade em relação às
outras, pois tal prioridade ocorre com a junção de diversos fatores, como a própria vontade política, uma forte mobilização social
e a avaliação de custos para a resolução do problema em questão.
FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
A partir do momento em que os problemas são inseridos na agenda, é preciso planejar e organizar as alternativas que serão
colocadas em prática para a solução dos mesmos. É o instante em que se deve definir o objetivos das políticas públicas, as ações
que serão desenvolvidas e suas metas. Sendo assim, muitas propostas de ação são descartadas, o que provoca embates políticos,
visto que determinados grupos teriam tais ações – que foram deixadas de lado, favoráveis a eles.
Pode-se definir como necessários a uma boa formulação de políticas os seguintes passos: a transformação de estatísticas em
dados importantes para a solução dos problemas; identificação dos principais atores envolvidos e a avaliação das preferências
dos mesmos; e ação com base nas informações adquiridas.
A avaliação das alternativas deve acontecer de forma objetiva, levando-se em conta algumas questões, como viabilidade
financeira, legal e política, e também os riscos trazidos pelas alternativas em estudo. Desta forma, opta-se por aquelas que
seriam mais convenientes para o cumprimento do objetivo.
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
É na implementação que os planos e escolhas são convertidos em ações, resultados. Durante este período, as políticas
podem sofrer diversas transformações dependendo da posição do corpo administrativo, que é o responsável pela execução da
política.
Nesta fase, alguns elementos podem prejudicar o processo das políticas, como por exemplo: disputa pelo poder entre
organizações; contexto social, econômico e tecnológico das políticas; recursos políticos e econômicos; treinamento do setor
administrativo responsável pela execução e o apoio político à disposição. Embora seja mostrada uma carência de recursos frente
às necessidades públicas, por muitas vezes, os programas governamentais são falhos, havendo mais deficiência na gestão do que
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falta de recursos propriamente dita. Dentre as disputas entre organizações, é interessante dizer que, quanto maior o número de
organizações estiverem envolvidas no processo de implementação das políticas – dependendo do nível de colaboração entre elas,
maior será o número de ordens a serem resolvidas, o que demanda maior tempo para a realização das tarefas.
Há dois modelos de implementação das Políticas Públicas: o de Cima para Baixo (modelo centralizado, aplicação do
governo para a sociedade) e o de Baixo para Cima (modelo decentralizado, aplicação da sociedade para o governo). No modelo
de Cima para Baixo, poucos funcionários participam das decisões e formas de implementação. Trata-se de uma concepção
hierárquica da administração pública, sendo tais decisões cumpridas sem indagações. No modelo de Baixo para Cima, os
favorecidos pelas políticas, atores públicos e privados, são chamados para participar do processo.
Para o desenvolvimento de um bom processo de implementação, é necessário que, dentre outros fatores: o programa
disponha de recursos suficientes; a política implementada tenha um embasamento teórico adequado em relação ao problema e a
sua solução; haja uma só agência implementadora ou baixo nível de dependência entre elas; exista completa compreensão dos
objetivos a serem atingidos, bem como das tarefas a serem realizadas; e ocorra aprimorada comunicação entre os elementos
envolvidos no programa.
AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Na avaliação ocorre o processo de coleta de dados e análise do programa adotado, o que permite a percepção dos erros e
pode levar ao aperfeiçoamento posteriormente. Portanto, esta fase: analisa os impactos, a eficiência, eficácia e sustentabilidade
das ações desenvolvidas; possibilita a correção, prevenção de erros e a criação de novas informações para futuras políticas
públicas; permite que a administração faça a devida prestação de contas das atitudes tomadas; responde se os resultados
produzidos estão se saindo da maneira esperada e identifica os obstáculos que dificultam o desenvolvimento do processo; além
de fomentar a comunicação e a cooperação entre os diversos atores.
Para se averiguar uma ação, a Avaliação deve responder se os resultados ocorreram em tempo viável, se os custos para a
produção foram adequados e se o produto corresponde aos objetivos da política, sendo estes requisitos relacionados à eficácia e
eficiência do desenvolvimento. Quanto ao impacto, deve-se analisar a relevância de tais modificações, as áreas afetadas e a
cooperação dos componentes políticos na obtenção de seus objetivos. Em relação à sustentabilidade, uma política deve manter
seus efeitos positivos após o fim das ações governamentais direcionadas a tal política.
Em relação aos responsáveis pela avaliação, pode-se dividir de duas formas: avaliação interna – feita pelos responsáveis
pela gestão do programa, e avaliação externa – feita por especialistas não participantes do programa. A avaliação interna é
vantajosa no sentido de que, por estarem incorporados ao programa, além de um maior conhecimento sobre tal, terão também
acesso mais facilitado às informações de que precisam. Já a avaliação externa conta com uma importante imparcialidade, o que
gera uma maior credibilidade em relação ao público externo, mas tem como desvantagem um gasto maior de tempo – e dinheiro,
até que se habituem com o objeto de estudo.
O fato da Avaliação ser colocada como a última fase, não quer dizer que ela deve ser utilizada apenas no fim da atuação
política. A avaliação pode/deve ser feita em todo o processo de Políticas Públicas, contribuindo para um bom desenvolvimento
das ações minimizando as chances de insucesso.
BUROCRACIA NO PROCESSO DE FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
Uma das definições de burocracia, é que trata-se de um grupo ou organização que, hierarquicamente, trabalha de maneira
usual, costumeira; entretanto, não pode ser vista como uma simples realizadora que está indiferente às resoluções políticas, pois
é composta por membros que possuem seus próprios interesses e que os mesmos fogem à neutralidade.
A burocracia possui um domínio da informação sobre o que ocorre nas ações públicas, tem uma fácil acessibilidade por
meio de contatos e consequente influência na estrutura administrativa (principalmente no processo de implementação), além de
estar disposta de uma forma permanente na organização da formulação e implementação das políticas públicas. Tais recursos
proporcionam à burocracia um papel de maior destaque do que é previsto nas avaliações tradicionais.
MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO
Existem diversas maneiras de se considerar soluções em resposta aos problemas públicos. Destacam-se os
modelos: Racional(H. Simon), Incremental (Lindblom), Análise misturada (Etzioni) e Irracional (Cohen, March e Olsen).
Modelo Racional
Este modelo baseia-se no pensamento de que a racionalidade é imprescindível para a tomada de decisão. Considera as
informações perfeitas, as trata com objetividade e lógica e não considera as relações de poder. No modelo racional, primeiro se
estabelece um objetivo para solucionar o problema, depois se explora e define as estratégias para alcançar o objetivo, estimando-
se as probabilidades para tal, e por fim, a estratégia que parecer cabível é escolhida
Modelo Incremental
O modo incremental situa-se na abordagem de racionalidade limitada, retratando as impossibilidades do racionalismo e
praticando o foco nas informações. É um modelo descritivo, reconhece que a seleção de objetivos depende dos valores e a
implementação estará sujeita a intervenções, visto que cada ator envolvido tem sua própria percepção do problema. Este modelo
considera que, por mais apropriado seja o fundamento de uma alternativa, a decisão envolverá relações de poder. Desta forma, a
decisão mais conveniente é formada a partir de um consenso e objetiva garantir o acordo entre as partes interessadas.
Modelo da Análise Misturada (mixed-scanning)
Este modelo combina características dos dois modelos anteriores. Dispõe uma racionalidade bidimensional e prevê dois
níveis de decisão: fundamentais, estratégicas e racionais em relação às decisões a seguir; e incremental, que consiste em uma
comparação das opções selecionadas de forma racional. Esta análise permite mais inovação do que o modo incremental, sem
precisar impor o processo radical do modo racional.
Modelo Irracional (lata de lixo)
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Este modelo trata do processo de decisão em ambientes e objetivos ambíguos, que podem ser chamados
de “anarquias organizadas” e subverte a lógica solução-problema para problema-solução. Para os que
defendem esta ideia, o processo de tomada de decisão é extremamente dúbio, imprevisível, e pouco se
relaciona com a busca de meios para se alcançar os fins. Trata-se de uma abordagem aberta, em que as
decisões resultam dos seguintes elementos: problema, solução, participante e oportunidade; em que as
oportunidades são vistas como latas de lixo, em que problemas e soluções são jogados pelos participantes.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Ainda na década de 20 o Brasil tinha grande parte de sua população vivendo no campo com uma economia fortemente
baseada na agricultura. Mas, em cerca de 70 anos, o país tornou-se um dos mais importantes e influente país na área industrial e
viu sua população migrar em massa para as cidades.
Em todos esses anos, os governos deram mais ênfase na industrialização e não acompanharam da mesma forma as
transformações na sociedade brasileira. O estado não desempenhava um papel regulador e participativo, mas criava um governo
autoritário que também refletia de maneira autoritária nas políticas públicas brasileiras.
De caráter conservador, a política brasileira possui uma maneira peculiar para tratar as políticas sociais. O atendimento é
centralizado, ou seja, atendendo a interesses específicos. Mas o país possui necessidades diferentes em cada região e em alguns
casos elas acabam não sendo resolvidas da forma correta. São todas tratadas da mesma maneira e de forma massiva.
As políticas públicas deveriam ser criadas para distribuir de forma igualitária os recursos de caráter individual e social. Elas
seriam a garantia da qualidade de vida, uma vida desenvolvida de maneira agradável e digna. Entretanto, para ter essa
qualidade de vida é importante diversos fatores, como moradia, vestuário, educação, saúde, segurança e lazer.
A implementação de políticas públicas de qualidade no Brasil não costuma ser tão debatido pelos parlamentares do país.
Além disso, não é feito um estudo aprofundado do assunto e como esses processos podem ser implantados de maneira mais
dinâmica e eficiente. Muitas vezes as políticas públicas são confundidas como prestação de serviço do Poder Público aos
cidadãos. Elas afetam determinados grupos da sociedade fazendo com que o as atitudes governamentais realizadas ou não
atinjam pessoas de diversos grupos.
A partir da década de 30 o país modernizou-se e cresceu o número de direitos sociais. Em 1930 foi criado o Ministério do
Trabalho e anos mais tarde a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ainda nessa década surgiram programas voltados aos
pagamentos de aposentadoria e pensões em diversas profissões.
Com a imposição da ditadura (intervenção militar) – grifo nosso - pelo governo militar, muitos direitos civis, sociais e
políticos foram retirados da população brasileira. Foram criados o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e o Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Na década de 1970 foi criado o Ministério da Previdência que atuava na área de
saúde e na área social.
Apesar de muitas medidas criadas e programas sociais voltados a população, essas decisões eram baseadas no
assistencialismo, na corrupção e na ineficiência desses processos. Ou seja, havia muitos recursos para as políticas sociais, mas
eles eram desviados e por isso passou-se a investir mais no sistema privado (educação e saúde privada, por exemplo).
A partir da Constituição de 1988 o Brasil passou a investir menos nas políticas públicas com o aumento da dependência
internacional, o crescimento da desigualdade social, da pobreza e exclusão. As atuais políticas públicas brasileiras não
conseguem reverter a desigualdade e investem, em sua maioria, em pequenos grupos sociais. Para a população pobre são criadas
políticas de compensação no intuito de “distrair” para os verdadeiros problemas.
Com a abertura democrática brasileira, a descentralização teve apoio no intuito de aumentar os direitos sociais e a
participação da sociedade no processo decisório. Nesse período a população necessitava de mais recursos e mostrava sinais de
crescimento, mas era impedida pelos problemas econômicos em um país refém da inflação.
Apesar de ter sido implementada como uma forma de garantia dos direitos sociais dos brasileiros, a Constituição Federal
de 1988, tem sido pouco eficaz quando se trata do bem-estar da população. Facilitou o acesso a diversos serviços essenciais, mas
não se preocuparam com a questão financeira. O objetivo era reduzir a desigualdade do Brasil.
Essa constituição é considerada redistributiva e instiga o Governo Federal a tornar as necessidades sociais e políticas
públicas eficazes. No início da década de 90 o Governo Federal deixou de ser o principal provedor e passou a fiscalizar
entidades que ofereciam determinados serviços para a sociedade. São diversos programas sociais de caráter municipal, estadual
e federal e muitas vezes eles não são compatíveis entre si. Essa incompatibilidade acaba virando uma desvantagem para a
população que necessita dessa ajuda.
Os gestores públicos ainda não conseguiram identificar as reais necessidades básicas dos cidadãos. Por mais que se ouça
dos políticos promessas relacionadas a erradicação de muitas mazelas, como a pobreza, os programas e atitudes relacionadas a
isso ainda são muito ineficientes. Muitas vezes as soluções são distribuídas entre a população, mas de forma desordenada.
O grande mistério, quando se observa a desigualdade no Brasil, é que o país possui uma das maiores economias do
mundo.
Tal situação pode ser explicada pelo atraso político da população brasileira que muitas vezes teve seu voto influenciado
por militares, coronéis e políticos mal intencionados.
Nas últimas décadas o Brasil tem desempenhado novas atividades relacionadas ao caráter público. É necessária uma
articulação e engajamento da sociedade para debater as propostas de políticas públicas em todo o país. O Estado desempenha um
papel importante para o desenvolvimento social e estrutural do Brasil e é para ele que devem ser direcionadas as cobranças
dos setores sociais do país.
Características das políticas públicas no Brasil
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Uma das características relevantes nas políticas públicas brasileiras é a fragmentação. Muitas vezes essa fragmentação
causa problemas pois há muitas divergências entre determinadas agências de controle quando o assunto é burocrático. Outra
característica das políticas públicas brasileiras é a descontinuidade administrativa, em que as agências responsáveis pelas
políticas públicas muitas vezes pensam nas políticas públicas de acordo com o interesse de seus gestores. Levando isso em
consideração, a cada mudança de cargo, muda-se as políticas implantadas.
Outra característica está ligada principalmente as políticas sociais e dão preferência para o que é ofertado sem considerar as
necessidades dos beneficiados. Essa situação resulta em problemas ligados a credibilidade governamental, frustração dos
cidadãos, desperdícios, etc. Um outro ponto relevante é a separação de política econômica e política social. Nesse caso a política
social assume um papel secundário. Um outro aspecto importante é a focalização e a seletividade, baseados nos direitos
universais.
Novos Arranjos para as Políticas Públicas
A partir da década de 1990 foram realizadas tentativas para criar políticas públicas universais e estáveis. Surgiram leis
como a Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. Além disso, foram introduzidos
benefícios sociais como o bolsa família e bolsa escola. Muitas dessas conquistas são resultados de organizações montadas pelos
civis através de referendos, protestos e manifestos. Seria importante que as políticas públicas fossem integradas para um único
propósito. No entanto, o que se vê atualmente é um processo fragmentado.
Apesar dessa situação, nos últimos tempos a administração das políticas públicas se tornaram mais democráticas, com o
Estado desenvolvendo um papel mais próximo da sociedade. Começa a ser trabalhada uma política menos centralizada em que a
população participa com mais empenho e importância nas políticas públicas brasileiras. Os políticos tentam agora desenvolver
métodos para decisões compartilhadas.
Intersetorialidade
A intersetorialidade busca ultrapassar os resultados das políticas sociais e os problemas enfrentados pela população para ter
acesso aos serviços públicos. Esse caso atribui a ideia de associação e igualdade dos direitos sociais dos cidadãos.
Descentralização
A descentralização é um dos processos que podem ser identificados após a Constituição Federal de 1988. Nos âmbitos
governamentais (União, Estados e Municípios) possuem habilidades e recursos para instituir novas políticas públicas para a
garantia dos direitos dos cidadãos. Ou seja, muitas vezes, os estados e municípios deliberam decisões através de necessidades
próprias.
Tipos de Políticas Públicas
As políticas públicas podem ter vários objetivos e particularidades distintas. São muitos tipos
de Políticas Públicas e apresentaremos os principais modelos que auxiliam na compreensão dos
conceitos relacionados as Políticas Públicas. A princípio, política pública são as atitudes tomadas ou
não pelo governo e os impactos dessas ações e omissões.
Nesse tipo de política, busca-se compreender o que se quer fazer e o que deixou de ser feito.
Além disso, podem explanar regras para ação e solução de possíveis problemas. Sendo assim, as
políticas públicas podem ser divididas, pelo menos, em três tipos:
➢ Políticas Públicas Distributivas;
➢ Políticas Públicas Redistributivas;
➢ Políticas Públicas Regulatórias.
Políticas Públicas Distributivas
As políticas públicas distributivas possuem objetivos pontuais relacionados ao oferecimento de serviços do estado e
equipamentos. Esse caso é financiado pela sociedade por meio de um orçamento público que beneficia grupos pequenos ou
indivíduos de distintas camadas sociais. Esse tipo de política possui pouca oposição na sociedade, mas não é dada
universalmente a todos.
É muito comum no Brasil o uso desse tipo de política e é bastante desenvolvido pelo Poder Legislativo. Primeiramente
porque a camada mais pobre da população brasileira apresenta necessidades individuais e pertinentes devido a falta de recurso
para todos e também porque elas representam a força daquele político que troca esse assistencialismo por votos.
Exemplos:
- A doação de cadeiras de rodas para deficientes físicos;
- Oferta serviço para pavimentação de ruas.
Entretanto, nem toda política distributiva pode ser considerada assistencialista, mas no Brasil é muitas vezes usado em
época eleitoral. Casos de enchentes, por exemplo, são denominadas distributivas, mas não podem ser chamadas de
assistencialista ou clientelistas.
Passaram a aplicar essas políticas de uma maneira mais igualitária após a criação das LOAS – Lei Orgânica de
Assistência Social, criada em 1988, que dá sustentação legal a assistência social. Após a criação das LOAS os programas de
assistência social devem ser contínuos, os cidadãos devem ter acesso aos serviços, os cidadãos devem exigir os direitos
reservados por lei e dá autonomia para os usuários.
Políticas Públicas Redistributivas
Esse tipo de política pública visa redistribuir a renda em forma de financiamento em serviços e equipamentos e na forma de
recursos. Nesse caso, as camadas mais altas da sociedade são as responsáveis por financiar as pessoas rendas menores, os
chamados beneficiários.
Exemplos:
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- Isenção do IPTU para determinados cidadãos em detrimento ao aumento desse imposto para pessoas com maior poder
aquisitivo;
- Programas habitacionais para população de baixa renda.
As políticas redistributivas atingem uma grande parte da população e são vistas como direitos sociais. Nesses casos as
chances de discordância são maiores, pois a parte da população que é “penalizada”, costuma ser mais organizada politicamente.
Muitos governos realizam a redistribuição desses valores não só na forma financeira, mas também como serviços
disponibilizados pelo governo como forma de reduzir a resistência dessas camadas da sociedade.
Políticas Públicas Regulatórias
As políticas regulatórias são criadas para avaliar alguns setores no intuito de criar normas ou implementar serviços e
equipamentos. É essa política a responsável pela normatização das políticas distributivas e redistributivas, ou seja, está mais
relacionada à legislação. Esses casos atingem pequenos grupos da sociedade é não exatamente um grande grupo social. Ou seja,
elas incidem de maneira diferente em cada segmento social. Grande parte da sociedade não tem ciência do que são as políticas
regulatórias e muitas vezes só reclamam quando são prejudicados de alguma forma.
Exemplo:
-Limitação das vendas de determinados produtos.
Política e Políticas Públicas
A política é exercida há muitos anos pelos homens e em poucos países no mundo existe uma desigualdade tão grande como a encontrada
no Brasil. Onde as pessoas não conseguem exercer sua cidadania e são diariamente confrontadas com a falta de dinheiro, saúde, moradia e
educação. A princípio grande parte do governo brasileiro surge com soluções gerais e emergenciais para sanar alguns desses problemas em vez
de implantar políticas públicas no intuito de reduzi-los.
As políticas públicas atualmente não são feitas para cuidar dos problemas e necessidades mais urgentes da população. São usadas como
ações imediatas para conquistar o eleitor que não consegue opinar na divisão orçamentária. Os políticos não pensam em ações que mudam uma
sociedade para sempre e optam pelo caminho mais fácil ao prometer, ainda em campanha, milhares de resoluções que muitas vezes nem são
capazes de cumprir.
A forma despreocupada com que o país é administrado causa descrença na população, pois ela não vê o orçamento sendo investido no
que realmente é necessário. Para a esfera pública, o que é realizado hoje para as áreas de saúde, educação e moradia é o necessário para o
crescimento da população. Entretanto, muitos municípios sofrem diariamente com a falta de oferta das necessidades básicas garantidas pela
Constituição Federal. A implantação de melhorias nas políticas públicas é essencial para aumentar a qualidade de vida dos brasileiros e índices
como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Disponível em:<http://www.okconcursos.com.br/apostilas/apostila-gratis/134-politicas-publicas/1156-tipos-de-politicas-
publicas#.XN4hv25Kg2w >. Acesso em 17 maio 2019.
1.1.1. POLÍTICAS PÚBLICAS: FORMULAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, AVALIAÇÃO E
ACOMPANHAMENTO
POLÍTICAS PÚBLICAS: FORMULAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, AVALIAÇÃO E
ACOMPANHAMENTO
POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DE SEGURANÇA
Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as questões relativas à segurança pública e à
justiça criminal. Uma verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de propostas
legislativas e de produção acadêmica.
Esta última se debruçou sobre as práticas de segurança e de justiça, ao menos no contexto da redemocratização do país.
Não obstante, pouco tem sido feito, no âmbito político, para que se tornasse tangível uma efetiva reforma dessas
instituições, tendo como preâmbulo pesquisas e conhecimentos provenientes tanto da maior participação coletiva na formulação,
implantação e acompanhamento de políticas públicas, quanto da disponibilidade sem precedentes de pesquisadores aptos a
discutir com o universo da política e das instituições criminais as alternativas de reforma, dentro de um contexto de aumento do
quantum de cidadania e participação democrática.
Em outros termos, como bem lembrou Paulo Sérgio Pinheiro, a redemocratização política do Brasil não foi ainda capaz de
lançar suas luzes sobre as práticas de nossas instituições criminais – estas, ao contrário, parecem resistir à democratização,
formando um enclave autoritário no cerne mesmo do Estado democrático.
A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e mortes, os horrores vividos pelos jovens em instituições como a
Febem, o virtual abandono das instituições manicomiais sem a contrapartida de um atendimento ambulatorial, o desalento e a
descrença nas medidas de recuperação dos presos e de cura dos esquecidos dos manicômios judiciários, a tortura em delegacias
de polícia e a eterna lentidão e alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis que apontam para uma crise de longa
data em nosso sistema criminal.
Neste momento, estamos nos perguntamos sobre as razões para todas estas dificuldades e vendo, por toda parte, a expansão
da segurança privada, a disseminação de dispositivos eletrônicos de segurança, o aumento do sentimento de insegurança e a
constituição de verdadeiros enclaves fortificados em que a tolerância em relação às violações das liberdades civis corre de par
com a aceitação das hierarquias e das múltiplas faces da exclusão social.
Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politica> . Acesso em 07 ago 2018.
Políticas Públicas como área de conhecimento
As Políticas Públicas fazem parte de nosso dia a dia e, portanto, é natural que muitos de nós tenhamos uma ideia superficial
deste tema. Esta aula é importante, pois apresentará alguns conceitos utilizados nos estudos sobre políticas públicas,
aproximando você de um saber mais acadêmico e menos vinculado ao senso comum.
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A área de Políticas Públicas é relativamente recente. A década de 1950 pode ser considerada um marco para o
estabelecimento da área disciplinar de estudos das políticas públicas. Contudo, é claro que esta disciplina não surge do nada,
desde a década de 1930 já se observavam contribuições teóricas da Análise Racional das Políticas.
O estudo das Políticas Públicas se vincula como área de estudos não só da Ciência Política, mas também da Sociologia e da
Economia. Posteriormente, nota-se a importância de outras áreas do conhecimento, como a Administração Pública, o Direito,
etc.
A dinâmica de funcionamento das Políticas Públicas apresenta alta complexidade e por isso o olhar multidisciplinar,
envolvendo diversas áreas do conhecimento é muito importante nas análises sobre uma Política Pública.
O conhecimento produzido pelos estudos sobre Políticas Públicas tem grande utilidade para gestores, políticos e demais
atores que lidam com um problema público. O crescimento dos indicadores de violência e criminalidade é um exemplo de
problema público.
Mas antes de dar sequência aos nossos estudos, é interessante parar agora para fazer uma pergunta simples, mas muito
importante: O que são Políticas Públicas?
Definição de Políticas Públicas
É muito difícil responder a esta pergunta simples, porque Política Pública é um conceito abstrato, que se materializa por
meio de instrumentos diversos. Esses instrumentos podem ser programas, projetos, leis, rotinas administrativas, etc.
No caso das Políticas Públicas de Segurança, a instalação de uma unidade policial, a construção e gestão de uma unidade
prisional e o desenvolvimento de oficinas culturais podem ser percebidas como formas de operacionalização de uma Política
Pública.
Mas ainda na tentativa de definir melhor o que seria uma Política Pública, é possível perceber que, de uma maneira geral, as
Políticas Públicas são decisões, ou processos decisórios, que envolvem questões de ordem pública, ou seja, que envolvem um
problema público.
Esses processos decisórios buscam atender ao interesse de uma coletividade, ou seja, de um grupo. Em tese, espera-se que
esse grupo seja toda a sociedade, mas sabe-se que muitas vezes, no interior da sociedade, há interesses diferentes, algumas vezes
divergentes.
No contexto de um Estado Democrático de Direito, esses processos decisórios buscariam atender ao interesse de uma
coletividade, orientando-se pela legalidade e pela mediação de interesses entre os diversos grupos presentes em uma sociedade.
O processo decisório envolvido na definição e implementação de uma política pública é altamente complexo, e por isso, é
difícil estabelecer uma sequência linear e racional entre suas etapas. Entender as Políticas Públicas como um processo decisório
é também muito importante: muitas vezes ouvimos pessoas simplificando o processo de criação de uma Política Pública. É
comum ouvir pessoas dizendo: “ah, resolver os problemas da criminalidade e violência é fácil. E só prender os criminosos! E só
contratar mais policiais!”
Quando se entende Políticas Públicas como processo fica claro que a solução para um problema público não é dada por
uma única decisão. Ou seja, para se prender criminosos é necessário: • construir presídios;
• ter leis que determinem uma conduta como crime;
• estruturar um Sistema de Justiça capaz de garantir um julgamento justo;
• pensar se o fato social que se está criminalizando deve mesmo ser penalizado.
Isto é, deve-se pensar se a prisão de pessoas que comentem este tipo de conduta implicará, de fato, na redução do problema
da criminalidade e violência, etc.
Tipos de Políticas Públicas
Com o intuito de contribuir com a análise das políticas públicas, foram desenvolvidas tipologias, que nada mais são do que
formas de classificar os conteúdos, os atores, os estilos e as instituições - dentro de um processo de política pública.
Dentre as várias tipologias de conteúdo das políticas públicas apresentadas por Secchi (2013), merece destaque àquela
formulada por Theodore J. Lowi. A tipologia de Lowi baseia-se no critério de “impacto esperado na sociedade”. Segundo esse
critério, as políticas públicas podem ser classificadas em quatro tipos, saiba mais sobre elas:
Políticas regulatórias: Estabelecem padrões de comportamento, serviço ou produto, para atores públicos e privados. Exemplos desse
tipo de políticas são: os códigos de trânsito, as regras de tráfego aéreo, a proibição de fumo em locais fechados, a proibição de venda e
consumo de bebidas alcoólicas, e as regras para publicidade de certos produtos.
Políticas distributivas: Geram benefícios concentrados para alguns grupos de atores e custos difusos para toda a
coletividade/contribuintes. Exemplos desse tipo de política pública são: os subsídios, a gratuidade de taxa para certos usuários de serviços
públicos, incentivos ou renúncias fiscais, etc.
Políticas redistributivas: Concedem benefícios concentrados a algumas categorias de atores e implicam custos concentrados sobre
outras categorias de atores. Exemplos clássicos são: as cotas raciais para universidade, políticas de benefícios sociais ao trabalhador e os
programas de reforma agrária.
Políticas constitutivas: São “regras sobre os poderes” e “regras sobre as regras”, ou seja, são aque las políticas que definem as
competências, jurisdições, regras de disputa política e da própria elaboração de políticas públicas. Podemos citar como exemplos: as regras do
sistema político-eleitoral; a distribuição de competências entre poderes, esferas e instituições; as regras das relações intergovernamentais e as
regras da participação da sociedade civil em decisões públicas. Sechi (2013) chama a atenção para o fato de que o analista de políticas
públicas pode realizar sua análise utilizando uma das tipologias já consolidadas na literatura (aplicação dedutiva) ou então pode construir sua
própria tipologia (desenvolvimento indutivo).
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O desenvolvimento indutivo de tipologias se baseia na capacidade do pesquisador em estabelecer um critério diferente para
a verificação de uma variável ou estabelecer novas categorias analíticas para classificação dos fenômenos.
Especificamente no campo de análise das políticas de segurança pública, merece destaque o sistema de classificação
proposto por Filocre (2010) que distingue as políticas nas categorias descritas no quadro a seguir:
Maximalista: É aquela política que enfatiza a adoção de combinações de tipos de ações estatais. Nela, a ação policial é importante, mas
não suficiente, e deve estar conjugada com outras atividades.
Minimalista: Nesse tipo de política, a atuação estatal é fortemente focada em um ou poucos tipos de ações estatais de controle da
criminalidade. Exemplo dessa política é a que enfatiza exclusivamente a ação policial.
Geral (Abrangente): Esse tipo de política prevê uma mesa estratégia sobre todo um território.
Local: Esse tipo de política estabelece ações particularizadas de acordo com as necessidades específicas do território.
Distributiva: Esse tipo de política compreende intervenções estatais de baixo grau de conflito, uma vez que um grande número de
indivíduos se beneficia das ações.
Redistributiva: Esse tipo de política foca o deslocamento de recursos para beneficiar certas camadas ou grupos sociais, gerando
descontentamento e conflito em relação àqueles que arcam com seus custos.
Reguladora: Esse tipo de política é baseada em ordens e proibições. Frequentemente, seus objetivos são evitar comportamentos
considerados negativos.
Constitutiva (Estruturadora): Esse tipo de político refere-se à criação e modelação de instituição, bom como à determinação e
configuração dos processos de negociação, de cooperação e de consulta entre os atores políticos.
Estrutural: É aquela política que visa impactar a ordem pública mediante ações sobre macroestruturas econômicas. Normalmente
demanda longo prazo para operar efeitos e estes efeitos tendem a ser duradouros.
Tópica (Superficial): É aquela política que visa impactar a ordem pública mediante ações sobre condições imediatas. Serve
especialmente a ocasiões de pronta resposta a variação indesejada da criminalidade. Os resultados são colhidos no curto prazo, mas seus
efeitos, normalmente não perduram além do tempo necessário ao reequilíbrio da criminalidade.
Emergencial: É uma política para implementação em curto espaço de tempo e com efeitos imediatos.
Contínua: É uma política que prevê atuação ao longo do tempo, ou seja, considera que a ordem pública seja alcançada e mantida ao
longo de um processo.
Multissetorial: Esse tipo de política compreende ações distribuídas por diversos segmentos, públicos ou privados, seja quanto a órgãos
estatais ou outros agentes envolvidos, seja no que diz respeito a áreas de atuação - educação, família, sistema prisional, etc.
Específica: Esse tipo de política compreende ações acentuadas num único setor ou se vale da atuação destacada de um único órgão.
Atores no Processo de Políticas Públicas
Até agora, você deve ter percebido que o enfrentamento de problemas públicos passa não por uma, mas por uma série de
decisões. E estas decisões não são tomadas por um único ator, mas por uma série de atores presentes em uma política pública.
Mesmo quando estabelecida ou liderada por algum ator específico, uma política pública recebe influências de diversos atores ao
longo do seu ciclo de existência.
De acordo com Rua (1998), os atores em políticas públicas são aqueles elementos envolvidos em conflitos acerca da
alocação de bens e recursos públicos. Usualmente, podem ser identificados como sendo aqueles que têm algo a ganhar ou perder
com tal política, ou seja, têm alguma coisa em jogo, sendo seus interesses diretamente afetados pelas decisões e ações que
compõem a política em questão.
Segundo Secchi (2013), os atores são aqueles indivíduos, grupos ou organizações que desempenham um papel na arena
política. Os atores relevantes em um processo de política pública são aqueles que têm capacidade de influenciar, direta ou
indiretamente, o conteúdo ou os resultados da política pública.
Arena é o lugar onde acontece a disputa política. Secchi (2013, p. 152)
NOTA
A palavra “ator” é importada das artes cênicas para as ciências políticas, porque explicita a conotação de interpretação de papéis. Nesse
sentido, há um entendimento de que os indivíduos, grupos e organizações que influenciam o processo político não têm comportamentos ou
interesses estáticos, mas sim dinâmicos, de acordo com os papéis que interpretam. Os atores interagem, alocam recursos, constroem
coalizões, resolvem conflitos em um cenário político, ou seja, em uma arena política.
A fim de contribuir para o processo de análise das políticas públicas, também são utilizados sistemas de classificação de
atores, que servem para agregar aqueles que possuem características em comum e distinguir aqueles com características
diferentes.
Conforme proposto por Secchi (2013), a primeira forma de distinguir tipos de atores é dividi-los em “individuais” e
“coletivos”:
Atores individuais são pessoas que agem intencionalmente em uma arena política. São exemplos de atores individuais: os
políticos, os burocratas, os magistrados, os formadores de opinião.
Atores coletivos são os grupos e as organizações que agem intencionalmente em uma arena política. São exemplos de
atores coletivos: os partidos políticos, a burocracia, os grupos de interesse, as organi zações da sociedade civil e os movimentos
sociais.
Rua (1998) também propõe duas categorias de classificação dos atores de políticas, que podem ser divididos em “atores
públicos” e “atores privados”, saiba mais sobre cada um:
Atores públicos: São aqueles que se distinguem por exercer funções públicas e por mobilizar os recursos associados a
essas funções, podendo ser divididos em dois subgrupos: políticos e burocratas.
Políticos: São aqueles atores cuja posição resulta de mandatos eletivos, cuja atuação é condicionada pelo cálculo eleitoral e
pelo pertencimento a partidos políticos. São os parlamentares, governadores, prefeitos e membros eleitos do executivo federal;
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Burocratas: São aqueles atores que devem sua posição à ocupação de cargos que requerem conhecimentos especializados e
se situam em um sistema de carreira pública, controlando recursos de autoridade e informação.
Atores privados: São aqueles que não mantêm vínculo com o Estado, e devem contar com recursos privados para fazer
valer seus interesses. Entre os atores privados destacam-se: os empresários, os trabalhadores, os agentes internacionais, atores
transnacionalizados e, embora não atue diretamente, não se pode ignorar o papel da mídia.
Outra forma de categorizar os atores de políticas públicas, proposta por Secchi (2013), é classificá -los em “atores
governamentais” e “atores não governamentais”, que por sua vez, podem ser subdivididos.
Atores Governamentais: Políticos, Designados politicamente, Burocratas e Juízes.
Atores Não Governamentais: Grupo de interesse, Partidos Políticos, Meios de comunicação, Think Tanks, Destinatários
das políticas públicas, Organização do terceiro setor e Outros interessados.
Em uma determinada arena de política pública é possível identificar uma série de atores importantes em um determinado
processo decisório. Cada arena política tem uma configuração de atores bastante peculiar, com a prevalência de alguns e a
ausência de outros.
No campo da Segurança Pública há como exemplos de atores: os policiais, os agentes prisionais, os agentes
socioeducativos, os guardas municipais, o presidente, os governadores, os deputados, os juízes, os promotores, os prefeitos, a
sociedade civil – organizada em associações de bairro e conselhos comunitários de segurança pública – os meios de
comunicação, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as empresas de produção de armamento, viaturas, câmeras de
videomonitoramento, rádios, etc.
As Políticas Públicas influenciam e são influenciadas por princípios e ideais que orientam a relação entre Estado e
sociedade. Ou seja, as Políticas Públicas não são certas ou erradas, e sim, refletem princípios e ideais de atores que possuem a
prerrogativa, ou a capacidade, de definir diretrizes e rumos de uma determinada intervenção sobre um problema público.
No caso das Políticas Públicas de Segurança Pública é possível perceber alguns modelos que se orientam mais por um
paradigma militarizado e repressivo; em outros modelos percebe-se a orientação por um modelo mais preventivo orientado pela
dinâmica social dos fenômenos de violência e criminalidade, mas também é possível perceber uma mescla entre estes modelos.
Em todos estes casos é importante compreender o processo político de escolha e definição do modelo adotado.
Ciclo de Políticas Públicas - Formulação de alternativas.
O processo político de tomada de decisão sobre um - Avaliação.
problema público, ou seja, de definição de Políticas - Implementação.
Públicas, pode ser dividido em etapas ou fases dos ciclos - Tomada de decisão.
de políticas públicas. - Extinção.
Autores como Amabile (2012), consideram quatro Secchi (2013) chama a atenção para o fato de que o
etapas principais: formulação, execução, monitoramento e ciclo de políticas públicas raramente reflete a real dinâmica
avaliação. ou vida de uma política pública. No mundo real, as fases
A identificação destas etapas é didática e contribui geralmente se apresentam misturadas e as sequências se
para análise das Políticas Públicas que, conforme dito alternam. Alguns acadêmicos afirmam que não há um
anteriormente, são altamente complexas. Ao analisarmos o ponto de início ou um ponto de finalização, e que o
ciclo de Políticas Públicas considera-se desde a inserção de processo de política pública é incerto, e as fronteiras entre
um problema público em uma agenda governamental até a as fases não são nítidas.
avaliação de sua real efetividade, conforme o que se Apesar de todas essas ponderações, o ciclo de
propunha inicialmente. políticas públicas tem uma grande utilidade: ajuda a
Outra possibilidade de representação do ciclo de organizar as ideias, faz com que a complexidade de uma
políticas públicas é proposta por Secchi (2013) e política pública seja simplificada e ajuda políticos,
compreende sete etapas: administradores e pesquisadores a criar um referencial
- Identificação do problema. comparativo para casos heterogêneos. (SECCHI, 2013, p.
- Formação de agenda. 44).
Paradigmas de Políticas de Segurança Pública
Nesta aula, você acompanhará a trajetória dos paradigmas de segurança no Brasil e como esses modelos norteiam as
concepções de políticas de segurança pública. Essa trajetória tem início no modelo de Segurança Interna ou Segurança Nacional,
que prevaleceu no período do Regime Militar; passa pelo paradigma de Segurança Pública que orientou o modelo de segurança
instituído no regime democrático, a partir da Constituição de 1988,; e chega ao mais recente modelo inspirado no ideal de
Segurança Pública com Cidadania, que tem se disseminado nos países da América Latina.
Esta aula não tem por objetivo defender um modelo em detrimento de outro. O objetivo aqui é criar condições para a
compreensão de que as políticas públicas são processos políticos, ou seja, que as políticas públicas não nascem prontas, mas,
como você estudou, são construídas em arenas políticas compostas por diversos atores institucionais com diversos interesses,
que em determinados momentos são, inclusive, conflitantes.
Quando se para e olha para a Política Pública de Segurança dos nossos dias, muitas vezes não se considera o processo de
consolidação deste formato de Política Pública. Mas é importante considerar que a Política Pública de Segurança dos nossos dias
“não nasceu de um ovo”. Ela é fruto de um processo decisório político que vem se consolidando ao longo dos anos.
Nesta aula, você estudará um pouco sobre este processo, ou seja, sobre a trajetória das Políticas Públicas de Segurança no
Brasil.
Paradigma de Segurança Interna ou Segurança Nacional
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Sua viagem não terá início nos primórdios de nosso país; começará em um passado mais recente, que ainda deixa marcas na
dinâmica de funcionamento das Políticas Públicas no Brasil. Começará pelo Regime Militar de 1964. Naquele momento, o
paradigma de Política Pública de Segurança girava em torno da imagem de Política de Segurança Interna.
As Forças Armadas eram um importante ator que exercia o papel de concepção e desenvolvimento de alternativas
repressivas, com o propósito de combater um “inimigo interno”, que supostamente era visto como uma ameaça ao Estado e à
ordem pública.
A ideia de “inimigo interno” tem origem no conceito de “inimigo externo” utilizado no combate ao comunismo,
considerando como suspeitos os cidadãos que ameaçassem “a vontade ou interesse nacional”.
Neste contexto, a Política de Segurança Nacional se valia de alternativas como supressão de direi tos constitucionais,
censura, uso irrestrito de força e desrespeito aos direitos humanos.
A centralidade atribuída às Forças Armadas na concepção e execução da política de Segurança Nacional repercutiu na
criação de um aparato militarizado e repressivo composto pelo Serviço Nacional de Informação (SNI) e outros órgãos voltados à
gestão da informação e inteligência como o Destacamento de Operações e Informações de Defesa Interna (DOI – CODI). A
participação de outros atores, neste momento da arena das Políticas Públicas de Segurança, assumia um caráter secundário –
como no caso das forças policiais estaduais – ou inexistente, como no caso das prefeituras.
Paradigma de Segurança Pública
O fim do Regime Militar e restabelecimento da ordem democrática no Brasil têm como marco a Constituição Federal de
1988. Este, marca o estabelecimento de uma nova perspectiva de Política Pública de Segurança no Brasil, orientada pela imagem
de Política de Segurança Pública. Neste novo contexto, os governos estaduais, especialmente por meio de suas forças policiais,
destacaram-se como os principais atores nesta nova configuração de arena de política pública, assumindo um papel importante
na concepção e implementação de ações de enfrentamento e controle dos problemas públicos de criminalidade e violência.
Para Adorno (1999), os processos de centralização do controle e militarização das políticas de segurança, potencializados
durante o regime militar no Brasil, produziram consequências institucionais por meio da disseminação da ideia de controle da
criminalidade como uma questão de Segurança Interna, prejudicando a distinção entre controle civil da ordem pública e a
garantia da segurança nacional. Para o mesmo autor, esta percepção fortaleceu o argumento de que o controle do problema
público da criminalidade é uma questão relacionada às instituições policiais.
A consolidação das Políticas de Segurança Pública em torno deste argumento teria atribuído um papel menos definido a
outros atores institucionais presentes nesta arena de política pública, tais como Ministério Público, Poder Judiciário e Sistema
Prisional, além de impor aos governos estaduais, recém-eleitos após o Regime Militar, um “delicadíssimo problema político, até
hoje mal equacionado: o de reenquadrar suas polícias militares e reconquistar o controle civil sobre a Segurança Pública”
(Adorno, 1999, p. 133). Neste cenário, as polícias estaduais, que já atuavam em papel de destaque na execução da Política de
Segurança Interna, assumiram um papel ainda mais central na formulação e execução de ações de Política de Segurança Pública.
Contudo, destaca-se a importância da Constituição de 1988 para distinção entre políticas de Segurança Pública e de
Segurança Nacional em um contexto de retomada da democracia. A perspectiva de Segurança Pública, ao suceder um paradigma
no qual as Forças Armadas detinham a primazia da preservação da ordem, preocupa-se em diferenciar os papéis institucionais
das polícias e do Exército. Essa separação de papéis transcrita no texto constitucional é importante, pois destaca a distinção entre
Segurança Pública e Segurança Nacional: a primeira voltada para manifestação da violência no âmbito interno do país e a se-
gunda refere-se a ameaças externas à soberania nacional e defesa do território (Freire, 2009, p.104).
Nesse sentido, a Constituição dispõe no Título V a respeito da “Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”,
dedicando o Capítulo II às Forças Armadas e o Capítulo III à Segurança Pública, demonstrando uma clara intenção do
constituinte em diferenciar as duas funções.
Veja o que dispõe a Constituição no caput do art. 142. Capítulo II – Das Forças Armadas.
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são ins tituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.”
Agora, comparem com o que dispõe o caput do art. 144. Capítulo III – Da Segurança Pública.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Apesar dessa diferenciação explícita entre as forças de Segurança Nacional e as forças de Segurança Pública, há que se
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ressaltar, no entanto, que a Constituição ainda prevê que as polícias militares, assim como os corpos de bombeiros militares,
constituem forças auxiliares e reserva do Exército (CF, § 6º do art. 144). Essa vinculação está relacionada ao caráter militarizado
dessas instituições. Note que o mesmo não ocorre em relação às polícias civis dos estados e às polícias federais.
Outro aspecto importante a ser destacado em relação às mudanças decorrentes da Constituição de 1988 é que o paradigma
de Segurança Pública, como uma nova imagem de política pública, abriu espaço para o envolvimento de novos atores
institucionais nesta arena de política pública. O artigo 144 explicita a percepção das Políticas de Segurança Pública como um
dever do Estado, mas ao mesmo tempo, como um direito e responsabilidade de todos.
Contudo, a Constituição de 1988 é precisa ao definir os deveres do Estado, e lacônica ao especificar a responsabilidade de
todos. Ou seja, é explícita ao definir funções de órgãos policiais, mas pouco clara ao definir a forma de participação de novos
atores, como governos municipais e membros da sociedade civil.
A centralidade atribuída às ações policiais, a indefinição quanto às formas de participação dos governos municipais
(limitados à possibilidade de criação de Guardas Municipais para proteção do patrimônio público municipal) contribuiu,
acompanhado de outros fatores, para uma baixa participação da maior parte dos municípios nos primeiros anos das Políticas de
Segurança Pública (GUINDANI, 2004; SOARES, 2005; MESQUITA NETO, 2006; RICARDO e CARUSO, 2007).
A respeito das Guardas Municipais, a Constituição de 1988 traz a seguinte previsão no art. 144:
“§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações,
conforme dispuser a lei.”
Esta forma de distribuição de atribuições e responsabilidade entre os atores presentes na arena de Política de Segurança
Pública começa a ser repensada, especialmente a partir da segunda metade da década de 90.
O aumento exponencial dos indicadores de criminalidade e a generalização da sensação de insegurança nos principais
centros urbanos brasileiros colocaram o problema público da criminalidade não apenas como uma responsabilidade das forças
policiais estaduais, mas de novos atores como os governos municipais.
Autores como Guindani (2004) indicam que a disseminação de experiências internacionais em que novos atores, como os
governos municipais e a sociedade civil, desempenharam um papel importante no controle da criminalidade e violência. Além
disso, fomentou uma nova percepção sobre os papéis que os atores presentes na arena de Política de Segurança Pública poderiam
exercer.
Paradigma de Segurança Pública com Cidadania
Além do crescimento dos indicadores de criminalidade e violência, tem-se uma nova percepção sobre estes fenômenos.
Para Mesquita Neto (2006), a criminalidade e a violência seriam problemas de múltiplas causas: Psicológicas, Culturais,
Econômicas, Políticas e Sociais.
A complexidade das causas destes fenômenos implicaria uma menor tendência de sucesso de ações alicerçadas apenas em
atividades repressivas, ou ações desenvolvidas apenas por um ator, como as instituições policiais.
Neste contexto, ganha força uma nova concepção de Política Pública, representada pela imagem de Política de Segurança
Pública com Cidadania. Políticas de Segurança Pública com Cidadania seriam articuladas em torno da percepção dos problemas
públicos de criminalidade e violência como fenômenos multicausais e territorializados.
Assim, para enfrentar este problema seria necessário um combinado de ações de natureza repressiva e preventiva,
desenvolvidas por diversos atores institucionais, com focos de intervenção em territórios identificados como possuidores de altos
índices de criminalidade e violência. Esta visão mais ampla sobre as alternativas e sobre o problema abriu espaço para inserção
de novos atores nesta arena de política pública.
Contudo, a implementação deste novo paradigma de Política de Segurança Pública com Cidadania é um grande desafio. E
muitas vezes, no processo de concepção e implementação de novas práticas, e possível perceber o exercício de práticas e
conceitos presentes em paradigmas anteriores.
A breve análise da trajetória das Políticas Públicas de Segurança no Brasil é interessante para que você perceba como se
chegou até aqui e para poder fazer algumas perguntas, tais como:
- O que se busca fortalecer do que já existe e que novos caminhos serão traçados?
- Haveria outras possibilidades de Política Pública de Segurança?
- Que lições pode-se tirar deste processo histórico?
- Há a intenção de manter este modelo ou gostaríamos de construir uma nova alternativa?
A consolidação do Estado Democrático de Direito passa pelo aprimoramento das políticas públicas de segurança no Brasil!
Políticas Públicas de Segurança Cidadã
Esta aula criará condições para que você possa estudar sobre como se caracterizam as políticas públicas orientadas pelo
paradigma de Segurança Cidadã, sua interpretação dos fatores explicativos dos fenômenos da violência e criminalidade e as
ferramentas de intervenção social propostas para o seu enfrentamento.
Ao final, você compreenderá que um dos fatores de eficácia da política de Segurança Cidadã consiste na combinação de
estratégias de prevenção, controle e repressão à criminalidade.
Caracterização das Políticas de Segurança Cidadã
Tradicionalmente, as políticas de segurança se concentravam quase com exclusividade na estabilidade estatal e na
conservação do regime. Como resultado do enquadramento no paradigma da Segurança Cidadã, as políticas de segurança
ampliam seu foco de atenção em direção ao bem-estar das pessoas e aos direitos humanos, reposicionando a cidadania como o
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“uma política eficaz deve ser o resultado de uma análise detalhada da situação, considerar metas de médio e longo prazos e
compreender ferramentas ou instrumentos que englobem os diversos tipos de problemas que terá que enfrentar para prevenir e
reduzir os fenômenos de violência e delinquência”.
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Uma política de
Segurança Cidadã...
Parte do pressuposto de
que as ações devem ser
realizadas em um espectro
amplo, que vai do nível
preventivo, entendendo-se
este como a antecipação dos
riscos não só quanto a seu
aparecimento, mas também
quanto ao controle de sua
expansão, até os níveis
legítimos de coerção de um
Estado democrático de
direito. (PNUD, 2007, p.
13.)
O problema que se
pretende resolver, dentro das
quais se encontram áreas, de
trabalho ou de análise,
distintas identificadas tanto pelos executores de políticas públicas, como por acadêmicos e estudiosos do fenômeno. Elas
buscam:
- obter o cumprimento voluntário de normas;
- promover a inclusão social e a diminuição dos fatores de risco;
- melhorar os contextos urbanos associados ao medo ou ao perigo real;
- facilitar o acesso dos cidadãos aos mecanismos institucionais ou alternativos de resolução de conflitos;
- construir, em termos genéricos, capacidades institucionais, bem como melhorar a eficácia policial e das autoridades
executivas ou judiciais e a confiança dos cidadãos nessas instituições. Esta ferramenta é catalogada, por alguns, como sendo de
fortalecimento institucional, não programática, propriamente.
Recomenda-se que a política pública de Segurança Cidadã incorpore, ainda, o enfoque de gênero de forma transversal,
enfatizando, especialmente, a violência de gênero e, em particular, a violência doméstica intrafamiliar.
A combinação de prevenção e repressão qualificada
Segundo Sapori (2007), o debate acadêmico sobre as políticas de segurança evidencia uma dicotomia que distingue
políticas preventivas e políticas repressivas de controle do crime, ou em políticas distributivas, de cunho preferencialmente
preventivo, e políticas retributivas, com caráter mais nitidamente repressivo. Saiba mais sobre cada uma delas:
Políticas preventivas: as políticas de segurança pública preventivas, que podem ser denominadas de distributivas,
destacam a baixa capacidade do aparato repressivo do Estado em reduzir a incidência da criminalidade devido ao erro de foco. A
ação governamental desloca-se para a etiologia do crime, que são fatores socioeconômicos geradores da desigualdade, do
desemprego, da pobreza e da exclusão social de modo geral.
Políticas repressivas: As políticas de segurança pública repressivas, também denominadas retributivas, enfatizam o
enfrentamento à impunidade, privilegiando ações que intensificam a capacidade dissuasória do aparato de justiça criminal, como
o aparelhamento da polícia, aperfeiçoamento da máquina judicial, maior rigor da aplicação da pena e incremento do
encarceramento.
Mas, o que seria mais eficaz para o enfrentamento da violência e criminalidade: a repressão ou prevenção?
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Sapori (2007) responde que “as evidências empíricas disponíveis não permitem afirmar que as es tratégias preventivas de
controle da criminalidade são mais eficazes do que as estratégias repressivas, ou vice-versa”. É o que revela o trabalho
referencial elaborado na segunda metade da década de 1990, por Lawrence Sherman (1996).
À medida que prevenção e repressão são concebidas como polos opostos e excludentes, reduz-se a capacidade do Estado
em prover a ordem pública com efetividade.
Esta dicotomia, ainda persistente entre os tomadores de decisão (decision makers), impõe uma escolha desnecessária no
direcionamento de políticas de segurança pública, evitando que a ação governamental abarque, simultaneamente, as diversas
dimensões do fenômeno criminoso. Políticas públicas abrangentes e que, contemplem a repressão e a prevenção
simultaneamente, são rarefeitas.
A exemplo da política de Segurança Cidadã, políticas públicas de segurança abrangentes, que conjugam estratégias de
prevenção, controle e repressão à criminalidade têm maior potencial de efetividade. Quanto mais capazes forem os gestores da
segurança pública em incorporarem essa racionalidade gerencial às suas atividades cotidianas, maiores são as possibilidades da
sociedade brasileira alcançar sucesso na contenção da violência.
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
- Os conceitos relacionados ao ciclo de políticas públicas nos proporcionam um instrumental analítico muito vasto, ou seja,
nos permitem inúmeras possibilidades de análise de políticas públicas cuja natureza pode ser bastante complexa.
- O conhecimento produzido pelos estudos sobre Políticas Públicas tem grande utilidade para gestores, políticos e demais
atores quem lidam com um problema público. O crescimento dos indicadores de violência e criminalidade é um exemplo de
problema público.
- No caso das Políticas Públicas de Segurança, a instalação de uma unidade policial, a construção e gestão de uma unidade
prisional e o desenvolvimento de oficinas culturais podem ser percebidas como formas de operacionalização de uma Política
Pública.
- Especificamente no campo de análise das políticas de segurança pública, merece destaque o sistema de classificação
proposto por Filocre (2010) que distingue as políticas nas seguintes categorias: maximalista /minimalista; geral/local;
distributiva /redistributiva; reguladora/constitutiva; estrutural/tópica; emergencial/contínua e multisetorial/específica.
- O processo político de tomada de decisão sobre um problema público, ou seja, de definição de Políticas Públicas, pode ser
dividido em etapas ou fases dos ciclos de políticas públicas. Autores como Amabile (2012), consideram quatro etapas principais:
formulação, execução, monitoramento e avaliação. Outra possibilidade de representação do ciclo de políticas públicas é proposta
por Secchi (2013) e compreende sete etapas.
- A exemplo da política de Segurança Cidadã, políticas públicas de segurança abrangentes, que conjugam estratégias de
prevenção, controle e repressão à criminalidade têm maior potencial de efetividade.
A redemocratização e novos arranjos institucionais de gestão de políticas públicas
A Constituição Federal de 1988 colaborou para uma relativa descentralização da gestão de algumas políticas públicas,
refletindo o argumento segundo o qual governos municipais são percebidos como polos de virtuosidade democrática e eficiência
de gestão. Este argumento foi desenvolvido em oposição ao autoritarismo centralizador vivenciado durante o Regime Militar.
A redemocratização do país marcou um novo momento do arranjo federativo brasileiro. A valorização dos municípios pode
ser percebida pelo reconhecimento desta instância, pela primeira vez na história, como um ente federativo. Se de um lado o
fortalecimento de governos estaduais e municipais era um aspecto deste argumento que correlacionava descentralização e
modernização, de outro, elementos como instrumentos de gestão nacional e coordenação federativa ficaram em segundo plano
na construção do novo arranjo federativo brasileiro (ABRUCIO, 2005, p.46).
Ou seja, muito embora tenha ocorrido uma valorização dos governos estaduais e municipais, se compararmos o papel que
estes atores passaram a desempenhar com o que desempenhavam durante o Regime Militar, não houve a criação de mecanismos
que garantissem uma coordenação da ação destes atores, que passaram a compartilhar responsabilidades na execução de políticas
públicas.
A divisão de competências, a definição do papel de cada ente federado (União, estado e município) não ocorre de forma
clara em grande parte das políticas públicas. Em alguns casos, verifica-se a concorrência entre competências (NEVES;
JUNQUEIRA E VECCHIA, 2006).
Importante!
Segundo Arretche (2004) “Os constituintes de 1988 optaram pelo formato de competências concorrentes para a maior parte
das políticas sociais brasileiras (...). Assim, qualquer ente federativo estava constitucionalmente autorizado a implementar programas
nas áreas de saúde, educação, assistência social, habitação e saneamento. Simetricamente, nenhum ente federativo estava
constitucionalmente obrigado a implementar programas nestas áreas (...).
Esta distribuição de competências é propiciada para produzir os efeitos esperados pela literatura sobre federalismo e
políticas públicas: superposição de ações; desigualdades territoriais na provisão de serviços; e mínimos denominadores comuns
nas políticas nacionais.” (ARRETCHE, 2004, p. 22).
1.1.1.2 – A PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO NA GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
SEGURANÇA NO BRASIL
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No caso das Políticas Públicas de Segurança, nos primeiros anos que se seguiram à promulgação da Constituição Federal de
1988, observa-se um protagonismo dos governos estaduais, atuantes principalmente por meio de suas forças policiais, em
contraste com certo distanciamento dos governos municipais e federal.
A participação do Governo Federal em questões relativas à Segurança Pública após a Constituição Federal de 1988 era
indireta, com maior destaque para o estabelecimento de normas e dinâmicas de funcionamento destas políticas.
Soares (2007), destaca a importância do primeiro governo FHC (1995-1998) na ruptura deste silêncio, por meio da
consolidação de princípios democráticos e da modernização das políticas de Segurança Pública. Essa participação do Governo
Federal ganha contornos mais claros com a criação da Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública
(SEPLANSEG) em 1995. Essa Secretaria era vinculada ao Ministério da Justiça e contribuiu para uma primeira tentativa de
articulação dos governos estaduais e federal na condução das políticas estaduais de Segurança Pública.
A SEPLANSEG foi reformulada em 1997 dando origem à Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) que, dentre
outras atribuições, assumia a responsabilidade de definição e implementação de uma política nacional de Segurança Pública,
acompanhando as atividades desenvolvidas pelos atores institucionais envolvidos nesta política (Freire, 2009:105).
A SENASP buscou estabelecer condições para cooperação entre instituições de Segurança Pública, apoiando iniciativas de
qualificação profissional e fomentando o desenvolvimento de planos estaduais de Segurança Pública, dentre outras ações.
As intervenções desenvolvidas durante o segundo Governo FHC (1999-2002) foram orientadas pela criação, em 2001, do
primeiro Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), que tinha o objetivo
de desenvolver e financiar políticas públicas. Essas ações foram uma resposta à comoção social gerada pelo sequestro do ônibus
174, acontecido em junho de 2000, no Rio de Janeiro, conforme ressaltado por Sapori (2006).
A partir da instituição do Fundo Nacional, os governos estaduais passaram a receber recursos para o financiamento de
projetos específicos submetidos à SENASP, dentro das diretrizes previamente formuladas no Plano Nacional. Apesar desta
tentativa de atuação mais expressiva do Governo Federal, autores como Soares (2007) apontam que a ausência de diretrizes
claras e sistematizadas colaborou para que o FNSP financiasse intervenções tradicionais, ou seja, orientadas por ações
repressivas e militarizadas.
O primeiro Governo Lula (2003-2006) desenvolveu sua própria versão do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP),
denominado “Projeto de Segurança Pública para o Brasil”, incorporando novos elementos, como: a consolidação de mecanismos
de controle externo das forças policiais, a tentativa de inserção do poder público municipal em ações de caráter preventivo,
fomento às guardas municipais, dentre outras ações.
O Plano Nacional de 2003 enfatizava uma postura proativa por parte da SENASP, na medida em que o governo federal
deixava claro que tinha diretrizes e objetivos próprios no âmbito da segurança pública, e que os recursos do FNSP passariam a
ser distribuídos mediante o atendimento desses critérios. Isso se traduz numa cobrança mais rígida junto aos estados no sentido
da construção de políticas assentadas nas diretrizes do Plano Nacional (SAPORI, 2006).
Além disto, esta nova versão do PNSP inovou ao assumir a gestão de arranjos institucionais existentes como principal
desafio para implementação de políticas de Segurança Pública (SAPORI e ANDRADE, 200, p. 205). A normatização do
Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) se apresentava como o fio condutor dessa nova versão do PNSP. A criação do
SUSP em 2003 buscou intensificar a articulação e cooperação de atores institucionais envolvidos na arena de política de
Segurança Pública, inspirando-se na experiência do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar da tentativa de avanço, o SUSP não desenvolveu uma estratégia de redefinição institucional de modo a viabilizar a
execução de suas ações, restringindo-se à defesa de uma maior integração entre as organizações policiais estaduais e dessas com
as instituições federais, além dos órgãos do sistema de justiça criminal, como Ministério Público e Poder Judiciário.
Entre as ações propostas, destacam-se a criação de:
- academias policiais unificadas
- órgãos de informação e inteligência unificados
- corregedorias de polícia únicas
- ouvidorias de polícia autônomas e independentes
No que se refere à integração das demais instituições do sistema de justiça criminal, o modelo apre sentava a diretriz de
formação de Gabinetes de Gestão Integrada (GGI) (SAPORI e ANDRADE, 2005, p. 207).
Conforme observa Sapori (2006), o sistema de segurança pública proposto pelo SUSP acabou se mostrando bastante
modesto se comparado ao SUS, e não resolveu um dos problemas centrais da área: a inexistência de recursos orçamentários
vinculados. Assim, frustrou-se a expectativa de que o Plano Nacional se constituiria numa grande inovação institucional. Como
consequência, enquanto a política nacional avançou na concepção programática, o mesmo não se deu quanto à liberação de
recursos do Fundo Nacional. O ritmo do repasse financeiro para os estados diminui progressivamente, revelando uma
desconexão entre o proposto e o executado (SAPORI, 2006, p.112).
Apesar das críticas mencionadas anteriormente, inúmeros avanços foram propiciados pela gestão da SENASP nesse
período, conforme você estudará a seguir:
a) a instituição e reformulação da Matriz Curricular Nacional: desenvolvida em 2003, a Matriz se constitui em referencial
teórico-metodológico para orientar as atividades formativas dos profissionais no âmbito do SUSP – Polícia Militar, Polícia Civil,
ITEP e Bombeiros Militares – independentemente da instituição, nível ou modalidade de ensino.
Em 2005, a matriz sofreu sua primeira revisão, quando foram agregados ao trabalho realizado pela SENASP outros dois
documentos: as diretrizes pedagógicas para as atividades formativas dos profissionais da área de segurança pública - um
conjunto de orientações para o planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades formativas - e a malha curricular - um
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núcleo comum composto por disciplinas que congregam conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Em 2009, foi feita
mais uma revisão. Em 2010, após uma avaliação, foram realizadas mudanças no texto da Matriz Curricular Nacional.
Saiba mais:
• Além de nem sempre ser eficaz na tarefa de promover a convivência pacífica, muitas vezes o Estado é um promotor da violência
da sensação de insegurança;
• O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) preconiza que “ações concretas para a prevenção e redução da violência nos
estados serão prioritárias”. Com estratégia para alcançar este objetivo o SUSP propõe a consolidação da Polícia Comunitária nas
instituições policiais;
• Administração pública é o conjunto de órgãos e seus agentes que exercem a função administrativa;
• Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços e órgãos instituídos pelo
Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade, como Educação, Saúde, Cultura, etc.
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O futuro é imprevisível. Ninguém sabe com total certeza ou clareza o que vai acontecer no futuro, porém é necessário nos
prepararmos para ele e esta preparação fica mais fácil quando temos uma idéia das alternativas possíveis. “Talvez não sejamos
capazes de evitar catástrofes (embora às vezes isso até seja possível), mas certamente podemos aumentar nossa capacidade de
responder e nossa aptidão para detectar oportunidades que, de outro modo, seriam desperdiçadas”. (SCHWARTZ, 2003; 16).
INTRODUÇÃO
O futuro é imprevisível. Ninguém sabe com total certeza ou clareza o que vai acontecer no futuro, porém é necessário nos
prepararmos para ele e esta preparação fica mais fácil quando temos uma idéia das alternativas possíveis.
“Talvez não sejamos capazes de evitar catástrofes (embora às vezes isso até seja possível), mas certamente podemos aumentar
nossa capacidade de responder e nossa aptidão para detectar oportunidades que, de outro modo, seriam desperdiçadas”.
(SCHWARTZ, 2003; 16).
Segundo Schwartz, nossa reação natural em relação a acontecimentos inevitáveis são manifestas através de duas reações
naturais, a negação, que é a recusa em acreditar que existam coisas inevitáveis e a defesa, que é a paralisação, pois não há um
modo possível de reação. Ambas podem levar a decisões ineficazes. Porém a decisão mais arriscada é justamente não fazer
nada.
“Num mundo onde ocorrem crises a intervalos regulares, as quais mudam profundamente as premissas básicas sobre o
funcionamento das coisas, a estratégia mais eficiente é a flexibilidade consciente, isto é, manter o equilíbrio entre reações de
curto prazo e visão de longo prazo, e providenciar a preparação necessária, de modo a poder mudar rapidamente de direção se
houver necessidade” (SCHWARTZ, 2003: 23).
ORIGEM
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
A curiosidade faz parte da natureza do ser humano. Desde o início da humanidade houve interesse em se conhecer o futuro.
Quando os faraós governavam o Egito “seus sacerdotes anunciavam o resultado da colheita antes mesmo do plantio. Faziam
isso observando a coloração e o volume das águas do rio Nilo, no início da primavera. Em The art of the long vew, Schwartz
relata:” Toda primavera, os sacerdotes do templo se reuniam às margens do rio para verificar a cor da água. Se estivesse clara, a
inundação seria branda e tardia, e os fazendeiros teriam colheitas pequenas. Se a corrente tivesse escura, a cheia seria suficiente
para encharcar os campos e proporcionar uma colheita abundante. Finalmente se houvesse predominância das águas verde-
escuras, as cheias viriam cedo e seriam catastróficas. As plantações ficariam submersas e o faraó teria que usar seus armazéns
para reserva de estoques de grãos.”Para Schwartz, esses sacerdotes foram os primeiros futurólogos do mundo a entenderem o
significado de elementos predeterminados e de incertezas críticas.” (MARCIAL, 2002: 23).Na história da Grécia antiga, o
templo de Apolo, incrustado na fascinante paisagem montanhosa de Delfos, abrigava o poderoso oráculo e era o mais
importante local religioso do antigo mundo grego. Os generais buscavam conselhos do oráculo a respeito de estratégias de
guerra. Os colonizadores procuravam orientação antes de suas expedições para a Itália, Espanha e África. Os cidadãos
consultavam-no sobre investimentos e problemas de saúde. As recomendações do oráculo emergem de forma notável nos mitos.
Quando Orestes perguntou-lhe se deveria vingar a morte de seu pai, assassinado por sua mãe, o oráculo encorajou-o. Édipo,
avisado pelo oráculo de que mataria o pai e se casaria com a mãe, esforçou-se para evitar este destino, mas fracassou de forma
célebre. O oráculo de Delfos funcionava em uma área específica, o adito ou - área proibida -, no núcleo do templo, e por meio
de uma pessoa específica, a pitonisa, escolhida para falar, como uma médium possuída, em nome de Apolo, o deus da profecia.
A pitonisa era mulher, algo surpreendente se levarmos em conta a misoginia grega. E, contrastando com a maioria dos
sacerdotes e sacerdotisas gregas, a pitonisa não herdava sua posição pela nobreza de seus vínculos familiares. Embora devesse
ser natural de Delfos, poderia ser velha ou jovem, rica ou pobre, bem-educada ou analfabeta. Ela passava por um longo e
intenso período de treinamento, assistida por uma congregação de mulheres de Delfos, que zelavam pelo eterno fogo sagrado do
templo. “A tradição atribuía a inspiração profética do poderoso oráculo a fenômenos geológicos: uma fenda na terra, um vapor
que subia dela e uma fonte de água. Há mais ou menos um século, os estudiosos rejeitaram esta explicação quando os
arqueólogos, escavando o local, não encontraram qualquer sinal de fenda ou gases. Mas o antigo testemunho está bastante
difundido e provém de várias fontes: historiadores como Plínio e Diodoro, filósofos como Platão, os poetas Ésquilo e Cícero, o
geógrafo Estrabão, o escritor e viajante Pausânias e até mesmo um sacerdote de Apolo que serviu em Delfos, o famoso ensaísta
e biógrafo Plutarco.Estrabão (64 a.C.- 25 d.C.) escreveu: "Eles dizem que a sede do oráculo é uma profunda gruta oculta na
terra, com uma estreita abertura por onde sobe um pneuma (gás, vapor, respiração, daí as nossas palavras - pneumático - e -
pneumonia -) que produz a possessão divina. Um trípode é colocado em cima desta fenda e, sentada nele, a pitonisa inala o
vapor e profetiza".
Plutarco (46-120 d.C.) deixou um extenso testemunho sobre o funcionamento do oráculo. Descreveu as relações entre o
deus, a mulher e o gás, comparando Apolo a um músico, a mulher a seu instrumento e o pneuma ao plectro, com o qual ele a
tocava para fazê-la falar. Plutarco enfatizou que o pneuma era apenas um elemento que desencadeava o processo”.
(SCIENTIFIC AMERICAN Brasil, 2003, ed. 16).
Na bíblia há inúmeras passagens que demonstram a preocupação com o futuro, porém essas visões aparecem como
profecias.
Na Idade Média, havia os bruxos, alquimistas e magos que descreviam suas visões sobre o futuro.
“Até a Idade Média, as principais fontes de previsões eram as profecias e especulações. Segundo Rattner (1979), a especulação
é um discurso sobre o futuro, no qual seu autor admite a incerteza e/ou falta de apoio lógico-racional, substituído por opiniões
vagas e imaginação fértil”. (MARCIAL, 2002: 24).
Em 1902, o escritor inglês George Well, em “O descobrimento do futuro” relata a associação de fatos já conhecidos com o
futuro. Ele propunha que os estudos históricos, econômicos e sociais fossem realizados visando sempre ao futuro.. Essa obra
ainda não era um estudo prospectivo, mas já demonstra preocupação em lidar com os chamados fatos portadores de futuro.
O filósofo e pedagogo francês Gaston Berger foi o primeiro a usar a palavra prospectiva, em sua obra “A Atitude Prospectiva”,
de 1957, estabelecendo como prever futuro desejável para o mundo.
A palavra prospectiva tem origem latina no século XVI. O verbo prospicere significa olhar para longe ou de longe, discernir
alguma coisa que está a nossa frente (Godet, 1993).
Berger relançou a palavra prospectiva porque a palavra previsão estava impregnada do sentido de profecia. Pretendia
separar os conceitos de previsão (que significa construir um futuro à imagem do passado) e de prospectiva (em que o futuro é
decididamente diferente do passado). Autores como Fahey (1998) e Heijden (1996) atribuem a introdução das noções de
cenários e seu desenvolvimento a Herman Kahn, que atuou durante os anos 50 na Rand Corporation - maior centro de estudos
prospectivos americano. Seus primeiros cenários foram desenvolvidos como parte dos estudos de estratégia militar conduzidos
pela Rand para o governo. Em 1967, com a publicação de seu livro "The Year 2000", a palavra cenários foi introduzida na
prospectiva.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
“Na França, a metodologia de cenários foi aplicada pela primeira vez por ocasião de estudo de prospectiva geográfica
realizado por conta da Datar em 1970. A partir daí, esse método foi adotado em setores como indústria, agricultura, demografia,
emprego, etc. e aplicado a diferentes níveis geográficos - países, regiões, mundo (Godet, 1993). Os cenários atingiram uma
nova dimensão no início dos anos 70 com o trabalho do francês Pierre Wack. Trabalhando na área de planejamento da empresa
internacional de petróleo Royal Dutch/Shell desde 1968, desenvolveu sua metodologia com os conceitos obtidos junto à École
Française de Prospectiva. Wack (1985) relata que a partir do início dos anos 70 os erros das previsões tornaram-se mais
frequentes em função da instabilidade mundial, principalmente no que dizia respeito ao mercado de petróleo. Todo o
planejamento tradicional baseado em previsões clássicas perdia rapidamente sua razão de ser. Havia a necessidade do
desenvolvimento de nova ferramenta que auxiliasse no planejamento de longo prazo. Wack (1985) não tinha como objetivo
prever o futuro. Sua meta era a liberação dos insights das pessoas. A finalidade dos cenários exploratórios era “ampliar a
compreensão sobre o sistema, identificar os elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias forças e eventos
que conduziam esse sistema” (Wack, 1985), o que levaria, consequentemente, à melhor tomada de decisão. Os resultados
obtidos pela Royal Dutch/Shell por meio do novo enfoque de ver o futuro tornaram a empresa mundialmente reconhecida pelo
pioneirismo na utilização de cenários, o que resultou na valorização e o reconhecimento da técnica.
Em 1985, Porter, influenciado por Peter Schwartz, discípulo de Pierre Wack, analisa os cenários sob a perspectiva
econômica, adaptando a metodologia utilizada pela Royal Dutch/Shell para realidade mais negocial. Em 1987, Michel Godet
divulga "Cenários e a Administração Estratégica", primeira publicação realmente científica a respeito do assunto. As palavras
do professor Igor Ansoff, contidas no livro de Godet (1987), descrevem a publicação como marco na história dos métodos de
desenvolvimento de cenários prospectivos para definição das estratégias empresariais. Em 1988 inicia-se a popularização dos
cenários como instrumento de planejamento estratégico para as empresas anglo-saxônicas, com o surgimento da Global
Business Network (GBN), empresa de prospectiva criada por Peter Schwartz e Pierre Wack (Godet, 1993).
No Brasil, a prática de elaboração de cenários é recente. As primeiras empresas a utilizarem tal prática foram Eletrobrás,
em 1987, e Petrobrás, em 1989, no final da década de 80, em função de operarem com projetos de longo período de maturação,
o que exigia visão de longo prazo. Também no final dessa década, o trabalho elaborado pelo BNDES, em 1989, de conteúdo
mais econômico, teve grande impacto e abriu grande discussão política sobre os cenários do Brasil (Buarque, 1998). Durante o
final da década de 80 e início da década de 90, surgiram tentativas de estudos prospectivos no Brasil. Buarque (1998) relata as
iniciativas do CNPq em 1989, da FINEP em 1992, e da Seplan/PR com o Projeto Aridas, em 1994, que possuíam diferentes
enfoques e cortes setoriais, temáticos ou espaciais. Nova utilização da técnica prospectiva no Brasil foi coordenada pela
Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE, que inicia, em 1996, o desenvolvimento dos estudos que geraram, em 1997, os
Cenários Exploratórios do Brasil 2020 e os Cenários desejados para o Brasil em 1998, iniciativa que originou a retomada da
discussão do tema no País. Segundo Buarque (1998), outra grande iniciativa foi a do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
- Ipea, em 1997, com o estudo "O Brasil na Virada do Século - Trajetória do Crescimento e Desafios do Desenvolvimento".
Entretanto, o estudo concentra-se na formulação de único cenário para o País.
Com o aumento da incerteza ocorrida durante a década de 90, houve aumento significativo no número de organizações, em
todo o mundo, que passaram a utilizar o método de cenários para definição de suas estratégias. No entanto, não surgiu nenhuma
abordagem inovadora, apenas aperfeiçoamentos dos métodos já existentes. As publicações sobre o tema editadas durante a
década de 90 apenas relataram métodos já desenvolvidos ou forneceram algum aperfeiçoamento sem, no entanto, apresentaram
proposta metodológica revolucionária diferente dos princípios básicos lançados por Gaston Berger e Herman Kahn.”
(MARCIAL, 1999; Dissertação)
CENÁRIOS
O termo cenário tem vários significados, sua origem foi no teatro, e posteriormente como scripts no cinema, mas nossa
abordagem é em relação a outros tipos de conceitos da palavra cenários, os da visão prospectiva..
As definições, apresentadas pelos principais autores, obedecem a um fundamento básico da prospectiva – os futuros são
múltiplos e incertos. Desses autores destacamos os seguintes conceitos:
“o conjunto formado pela descrição, de forma coerente, de uma situação futura e do encaminhamento dos acontecimentos
que permitem passar da situação de origem à situação futura.” Godet (1997), apud (MARCIAL, 2002:43) ele complementa sua
definição afirmando que um cenário não é a realidade futura, mas um meio de representá-la, com o objetivo de nortear a ação
presente à luz dos futuros possíveis e desejáveis.
Para Schwartz (1996), cenários são uma ferramenta para ordenar a percepção sobre ambientes alternativos futuros, nos
quais as decisões pessoais podem ser cumpridas. Ou um conjunto de métodos organizados para sonharmos sobre o futuro de
maneira eficiente. De forma resumida, o autor define cenários como “histórias de futuro”, que podem nos ajudar a reconhecer e
nos adaptarmos aos aspectos de mudança do ambiente presente.
“Porter (1992), apud (MARCIAL 2002:44) define cenários no contexto da indústria como: “..uma visão internamente
consistente da estrutura futura de uma industria. Baseia-se em um conjunto de suposições plausíveis sobre as incertezas
importantes que poderiam influenciar a estrutura industrial, considerando as implicações para a criação e a sustentação da
vantagem competitiva. O conjunto completo de cenários, e não o mais provável, é então utilizado para projetar uma estratégia
competitiva.”
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“Segundo a visão de Rattner (1979), apud (MARCIAL, 2002:44) “.. a construção de cenários visa a um procedimento
sistemático para detectar as tendências prováveis da evolução, numa seqüência de intervalos temporais, e procura identificar os
limites da tensão social nos quais as forças sociais poderiam alterar essas tendências. Essas atitudes envolvem juízos sobre que
estrutura e parâmetros são importantes e que objetivos e metas inspiram e motivam essas forças sociais.”
Para Schoemaker e Heijden (1992), apud (MARCIAL, 2002:45) os cenários são ferramentas que têm por objetivo melhorar o
processo decisório, com base no estudo de possíveis ambientes futuros. Não devem ser tratados como previsões capazes de
influenciar o futuro, nem como histórias de ficção cientifica montadas somente para estimular a imaginação. Os cenários têm
como foco assuntos e informações de grande importância para os tomadores de decisão, assim como os elementos previsíveis e
imprevisíveis do ambiente que afetam o sistema em que a empresa está inserida.
Os cenários são imagens alternativas de futuro que facilitam a tomada de decisões. Eles são ferramentas poderosas
desenhadas para melhorar o processo de planejamento estratégico de uma organização, ao explorar um conjunto de situações "e
se isso acontecer...". Chamado de "pensar cenariamente", este processo incentiva o desenvolvimento de histórias divergentes
sobre o futuro, deixando a organização preparada para as eventualidades que possa enfrentar, "ensaiando para o futuro".
Configuram futuros possíveis ou prováveis mediante a simulação e desdobramentos de certas condições iniciais diferenciadas e
a explicitação dos eventos que levariam à sua concretização. Cenários são ambientes alternativos nos quais os acontecimentos
de hoje surtem efeito. Eles não são predições, nem tampouco estratégias. Ao contrário, são narrativas vivas de futuros diferentes
e divergentes, desenhados especialmente para ressaltar os riscos e oportunidades inerentes às estratégias, enriquecendo o
processo de planejamento. Um leque de cenários alternativos proporciona um caminho para se focar no futuro, porém sem
perder a perspectiva das outras possibilidades.
O horizonte temporal dos cenários prospectivos, que é o período coberto pelo estudo de cenarização, tem, em média, a um
horizonte de dez anos, não é recomendado horizontes inferiores a cinco anos, pois o objetivo principal da elaboração de
cenários é a de auxiliar na definição de estratégias da empresa, o que exige uma visão de longo prazo.
CENÁRIOS PROJETIVOS x CENÁRIOS PROSPECTIVOS:
A principal diferença entre cenários prospectivos e cenários projetivos é que o primeiro diz respeito a um processo
continuado de pensar o futuro e de identificar elementos para melhorar a tomada de decisão, levando-se em consideração suas
inter-relações com o ambiente e suas variáveis incontroláveis. Ele estuda as diversas possibilidades de cenários, preparando a
empresa para enfrentá-los. Nesta visão, não há determinismos, o homem pode influenciar na construção do futuro, há uma visão
holística dos cenários futuros, pois são criados múltiplos cenários com a finalidade de aperfeiçoar as tomadas de decisões a
respeito de um futuro possível, mas que ainda não existe.
Já os cenários projetivos, que eram usados anteriormente para a elaboração das estratégias das empresas, analisavam apenas
o passado e a tendência de futuro baseados apenas no histórico, projetando apenas um cenário futuro, o qual não contemplava as
variáveis incontroláveis. Também não criavam possibilidades para que o cenário futuro fosse modificado ou para que seus
efeitos fossem minimizados. Utilizavam a extrapolação, que é o prolongamento da tendência, ou seja, mantinha a mesma
tendência, criando um futuro único e certo.
MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS
No estudo realizado por Marcial e Lopes foram identificados quatro métodos que se enquadram na definição na filosofia da
prospectiva os quais serão comparados a seguir. São eles o método descrito por Godet, o método descrito por Schwartz –
também conhecido como método GBN -, o método descrito por Porter e o descrito por Grumbach. Esses métodos possuem
várias características comuns como iniciarem com a delimitação do problema que será cenarizado. Godet e Grumbach fazem
essa delimitação ao definirem o sistema, já a GBN e Porter, na questão estratégica. Embora utilizem nomenclaturas e
procedimentos diferentes, o objetivo é o desenvolvimento de cenários múltiplos.
Os quatro métodos também realizam estudos históricos e descrição da situação atual. Isso porque, para elaboração de
cenários, faz-se necessário o conhecimento das diversas variáveis e seus respectivos comportamentos, como também dos atores
que as influenciam, questões que também são comuns aos quatro métodos. Outra característica pertencente a todos os métodos é
a consulta a especialistas ou peritos. Essa fase é muito importante pelo fato de trazer para dentro da empresa a percepção de
outras pessoas que não estão envolvidas com as questões da empresa. A grande diferença entre os métodos situa-se na fase da
análise, pois cada um possui sua respectiva técnica para gerar os diversos cenários. Observa-se, entretanto, semelhança na
metodologia proposta por Porter e pela GBN. A diferença está associada mais ao foco: Porter dirige sua análise para a indústria
e acrescenta ao método o comportamento da concorrência ao final do processo, ao passo que a GBN gera cenários globais.
“Os métodos propostos por Godet e Grumbach utilizam-se tanto de variáveis qualitativas quanto quantitativas, enquanto Porter
e a GBN se caracterizam por utilizarem variáveis qualitativas. O método que possui o detalhamento mais claro do ferramental
em todas as etapas é o descrito por Godet, constituindo-se no mais robusto, com passos a serem seguidos definidos o que se
torna o mais trabalhoso. Em segundo vem o descrito por Grumbach. Apesar de esses métodos serem os mais sistematizados, são
pouco flexíveis. Os métodos de Porter e da GBN são menos detalhados; contudo, são bastante flexíveis. O método da GBN é
subjetivo. Godet e Grumbach usam os fatos portadores de futuro para gerar os cenários; GBN e Porter, a análise “incerteza x
importância” - maneira mais fácil de gerarem cenários.
Os passos sugeridos por Grumbach são mais fáceis de serem executados que os sugeridos por Godet. Na realidade, observa-
se uma pequena lacuna no método de Godet (entre as etapas de seleção das condicionantes do futuro e a geração de cenários
alternativos) que talvez necessitasse ser preenchida para a sua melhor utilização.
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Porter é o único que considera o comportamento da concorrência e foca a questão da indústria; Grumbach, o único que
utiliza o método Delphi, e Godet, o único que não leva em consideração os modelos mentais dos dirigentes durante a elaboração
dos trabalhos. GBN é o único que não trabalha com probabilidade em momento algum. Sua justificativa para não atribuir
probabilidades aos cenários é evitar a tentação de considerar apenas o cenário de maior probabilidade. Schwartz (1996, p. 247)
argumenta também que não faz sentido comparar a probabilidade de um evento em um cenário com a probabilidade de outro
evento em outro cenário, porque os dois eventos deverão ocorrer em ambientes radicalmente diferentes, e a atribuição de
probabilidades depende de pressupostos muito diferentes sobre o futuro.
Todos os quatro métodos preocupam-se com a consistência dos cenários gerados. Nenhum deles, entretanto, tem rapidez na
atualização e comparação dos dados e apresentam dificuldade no manuseio de um grande número de variáveis e suas
tendências.
Finalmente, destaque-se a semelhança do resultado final dos métodos, já que todos geram uma série de futuros consistentes
e plausíveis, os quais são utilizados na elaboração de estratégias.
As técnicas listadas de obtenção de informação e monitoramento do ambiente pertencem ao trabalho de Inteligência
Competitiva e são lícitas e éticas, logo não se trata de espionagem. Assemelha-se mais à investigação jornalística.
O que fica evidente na análise destes métodos empregados para a criação de cenários prospectivos são as semelhanças entre os
quatro métodos, sendo elas: atitudes prospectivas; múltiplos cenários e ênfase nos atores.
Dentre os quatro métodos apresentados, destacaria o Método Grumbach por ter sido desenvolvido por um brasileiro que
estudou o desenvolvimento de Cenários Prospectivos por cerca de dois anos na Espanha e, posteriormente, conseguiu aliar
algumas ideias de autores consagrados como Porter e Godet, às suas próprias conclusões obtidas de consultorias a várias
empresas públicas e privadas no Brasil.
Raul Grumbach, aplicando sua metodologia, desenvolveu uma ferramenta de TI, denominada PUMA, a qual auxilia a
modelar cenários.
O software Puma – Sistema de Cenários Prospectivos é utilizado em apoio à metodologia empregada pela empresa na
elaboração de Planejamento Estratégico empresarial ou de órgãos públicos, com base em modelagem de Cenários Prospectivos.
Esta ferramenta busca a “identificação de diversos futuros possíveis (Cenários Prospectivos), dentro de um horizonte temporal
específico, com o propósito de definir estratégias capazes de alterar, em favor da organização, as probabilidades de ocorrência
dos acontecimentos abrangidos por sua esfera de competência; e/ou prepará-la para enfrentar (ou aproveitar) os acontecimentos
fora de sua competência” (www.brainstorming.com.br).
http://www.unijui.tche.br/dead/epo/documentos/acessado em 20/07/04(O uso de cenários prospectivos na de cenários
prospectivos na estratégia empresarial: vidência especulativa ou inteligência competitiva) Marcal-Lopes-ENANPAD01-ESO-
152.doc
APLICAÇÃO
A elaboração de cenários prospectivos pode ser usada para qualquer tipo de negócio ou para tomadas de decisões pessoais,
segundo Schwartz, “você pode usar cenários para planejar um negócio pequeno, para escolher sua educação, para procurar
emprego, para avaliar um investimento ou até mesmo para examinar seu casamento”. (SCHWARTZ, 2003: 16).
Basicamente, a elaboração de cenários prospectivos é particularmente útil no ambiente de turbulência e incerteza em que vivem
as empresas, principalmente na elaboração do planejamento estratégico da empresa, pois os métodos convencionais são
alicerçados, principalmente na análise de tendências, ou seja, em cenários projetivos, os quais apresentam limitações no seu
emprego.
A elaboração de cenários prospectivos pode ser considerada uma ferramenta da inteligência competitiva, onde os estudos
destes cenários possibilitam, ao tomador de decisões, uma visão acerca do futuro.
Por outro lado, “cenários prospectivos também se utilizam das várias ferramentas descritas no estudo de Inteligência
Competitiva, como por exemplo as redes de informações, a análise automática da informação e outras técnicas de monitoração
do ambiente que melhorem a qualidade de seus resultado” (MARCIAL, 1999: 23).
CENÁRIOS PROSPECTIVOS NA SEGURANÇA EMPRESARIAL
Para segurança empresarial, “O objetivo de elaborar cenários, específicos para a área de riscos corporativos, é o de poder
antecipar as variáveis que, por ventura, possam interferir nas metas da empresa”. (BRASILIANO, 2003: 47).
Especificamente para a área de segurança empresarial, Brasiliano adaptou o método Grumbach,.criando uma metodologia
própria de modelagem de cenários, chamado método Brasiliano de construção de cenários prospectivos, sendo este método o
mais especifico para área da segurança empresarial, descreveremos de maneira mais profunda sua metodologia de elaboração.
“A atividade de planejamento de riscos, envolve, sempre, uma visão prospectiva, uma visão de futuro, mesmo porque os
objetivos a serem alcançados se referem a fatos futuros. Todo planejamento de riscos corporativos é, por conseqüência
prospectivo.(....) O gerenciador de riscos corporativos deve aliar ao domínio das técnicas de prospectiva, sua imaginação e
lógica, pois o planejamento de gestão de riscos corporativo é um processo decisório. Cabe ressaltar que o horizonte temporal na
modelagem de cenários na área de riscos deve ser de no máximo um ano, tendo em vista a dinamicidade de nossas variáveis.”
(BRASILIANO, 2003: 51).
Brasiliano ao usar o método Grumbach para elaboração de cenários prospectivos, especifico para a gestão de riscos
corporativos, é consciente de que está estreitando o horizonte temporal e de amplitude, pois a metodologia original foi criada
para ser aplicada na elaboração do planejamento estratégico, possuindo um espectro de maior amplitude.
O método Brasiliano prevê o emprego de uma equipe multidisciplinar da empresa com foco estratégico e tático, podendo contar
com o auxilio de especialistas externos.
O método Brasiliano pode ser dividido em 3 fases, sendo:
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(*) Cláudio dos Santos Moretti, CES, ASE é especialista em segurança empresarial - MBA – pela FECAP – SP.
claudio_moretti@uol.com.br
CENÁRIOS EM SEGURANÇA: VISÃO PROSPECTIVA. Disponível em: <https://administradores.com.br/artigos/cenarios-
em-seguranca-visao-prospectiva >. Acesso em 06 set 2019.
4
Gilmar Ferreira Mendes (Diamantino, 30 de dezembro de 1955) é um jurista, magistrado e professor brasileiro. É ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde
20 de junho de 2002, tendo presidido a corte entre 2008 e 2010. Foi indicado pelo presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo exercera o
cargo de advogado-geral da União desde janeiro de 2000.
5
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ano 8, 2014.
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Diante de cobranças da mídia e da opinião pública por soluções imediatas, a resposta das instituições tem se concentrado,
em regra, no agravamento de penas e de seu regime de cumprimento, Não é incomum, aqui e em outros países, a chamada
legislação simbólica. Em face do clamor público atiçado por algum crime grave, lança-se mão da fórmula mágica: “vamos
aumentar a pena desse crime”; “vamos transformar a corrupção em crime hediondo” e assim por diante, sem se atentar para o
fato, cada vez mais evidente, de que medidas dessa natureza pouco ou nada contribuem para a superação desse quadro.
Temos hoje, no país, 574 mil pessoas encarceradas em penitenciárias e cadeias públicas, em condições sub-humanas, sem
nenhuma perspectiva de recuperação. Isso, contudo, não quer dizer que o sistema punitivo esteja funcionando a contento, já que
cerca de 40% da população carcerária é de presos provisórios aguardando julgamento, muitos por longo tempo, às vezes anos,
sem sequer condenação em primeira instância.
A questão prática que se coloca são indagações acerca de quantos inquéritos são transformados em denúncia, quantas
denúncias resultam efetivamente em condenação e se as penas fixadas estão sendo adequadamente cumpridas. São indagações
que dizem respeito, em grande parte, ao funcionamento do sistema de Justiça. Seria mais interessante, portanto, aproveitar
momentos assim para um completo diagnóstico sobre a Justiça Criminal, que tem graves problemas de funcionalidade, para que
se possa identificar e corrigir distorções.
Tenho sustentado que a falência crônica do sistema prisional é tema prioritário de segurança pública. Trata-se de assunto,
todavia, indissociável de outros temas que também exigem especial atenção, como, por exemplo, a prevalência de prisões
provisórias em detrimento de outras medidas, a excessiva demora nos julgamentos, a aplicação de penas privativas de liberdade
a crimes de menor gravidade, enfim, a temas que, em última análise, dizem respeito à eficiência e racionalidade da Justiça
Criminal e que, também, estão relacionados à questão da segurança pública.
Nesse sentido, podemos iniciar com algumas considerações sobre a cultura da prisão como remédio à impunidade e os
efeitos adversos que se tem constatado. Cabe observar, desde logo, que a contrariedade à lei e à Constituição escancara-se diante
das péssimas condições dos presídios, em situações que vão desde instalações inadequadas até maus-tratos, agressões sexuais,
promiscuidade, corrupção e inúmeros abusos de autoridade, verdadeiras escolas do crime controladas por facções criminosas.
Não é de se estranhar, portanto, que muitas dessas pessoas, quando soltas, voltam a praticar novos crimes, às vezes bem mais
graves do que o cometido pela primeira vez.
Agregue-se a isso que a progressão de regime no cumprimento de penas no Brasil, concebida como modelo de reintegração
do preso à sociedade, não passa de pura ilusão. Em razão da absoluta escassez de estabelecimentos prisionais apropriados para
os regimes aberto e semiaberto, as penas acabam sendo cumpridas, na prática, em regime fechado, não raro em estabelecimentos
sob o comando dos próprios presos, ou em prisão domiciliar sem nenhum tipo de fiscalização, como se constatou em recente
audiência pública no Supremo Tribunal Federal.
Na outra ponta do problema, a evidenciar ainda mais a iniquidade do sistema, convivemos com o fato de que os
denunciados que respondem a processo em liberdade acabam, muitas vezes, em razão da prioridade conferida a processos de
denunciados presos, não sofrendo punição alguma. Com a excessiva demora no julgamento desses processos, em todas as
instâncias, muitos crimes acabam atingidos pela prescrição. A extinção da punibilidade representa, nesses casos, uma grande
derrota para o sistema e uma irreparável erosão na credibilidade da Justiça.
Sobre o modelo de prisão provisória, travamos uma luta intensa no Conselho Nacional de Justiça, concebendo, inclusive, o
projeto de lei que resultou na Lei 12.403/2011, para que aprovássemos as medidas cautelares alternativas à prisão provisória. Até
hoje, contudo, não se identificam os reflexos dessa alteração.
A toda hora deparamos, no STF, com situações de prisão provisória que poderia ter sido substituída por alguma medida
alternativa. Há uma série de medidas cautelares previstas na referida Lei, entre elas, o monitoramento eletrônico, medida,
contudo, ainda pouco utilizada e que, se adequadamente implantada, poderia reduzir, significativamente, a superlotação
carcerária.
Ainda sobre o tema, tenho insistido, também, na apresentação do preso em flagrante ao juiz, em curto prazo, para que o
magistrado possa avaliar, de forma mais eficaz, as condições em que foi realizada a prisão e se é de fato imprescindível a sua
conversão em prisão preventiva. Trata-se de medida prevista em tratados internacionais já incorporados ao direito interno, mas
que ainda encontra alguma resistência em sua aplicação, por razões atinentes, sobretudo, a dificuldades operacionais. Pensamos,
todavia, que objeções dessa natureza poderiam ser superadas, por exemplo, com a dispensa da apresentação nos casos em que o
juiz, quando da comunicação do flagrante, já puder aplicar, desde logo, alguma cautelar alternativa à prisão.
Há inúmeros casos de prisões provisórias com excesso de prazo, sem conclusão da instrução e sem sentença de primeiro
grau. Muitos desses presos, quando sentenciados, acabam absolvidos ou condenados a penas alternativas, o que denota que o
encarceramento no decorrer do processo, devido à demora no julgamento, acaba por se mostrar, nesses casos, muito mais grave
que a própria pena, em clara dissonância com o princípio da proporcionalidade.
Por outro lado, a demora no julgamento reflete, substancialmente, na própria pauta dos Tribunais Superiores, como revela o
elevado número de habeas corpus em tramitação no Superior Tribunal de Justiça, aproximadamente 200 mil. Como grande parte
desse acervo tem por objeto a concessão de liberdade provisória por excesso de prazo, mostra-se clara, de novo, a necessidade de
se repensar não só o atual modelo de prisão cautelar, como, também, todo o sistema de Justiça Criminal.
A Justiça Criminal é pressuposto imanente a qualquer política de segurança pública. Nenhum programa de redução da
criminalidade terá eficácia se não levar em conta a efetividade de seu funcionamento. Partindo-se dessa premissa, é possível
avançar no entendimento de que o aprimoramento da Justiça Criminal não é tema isolado de responsabilidade exclusiva do
Poder Judiciário desta ou daquela unidade federativa. Um eficaz plano de melhorias do sistema deve englobar o trabalho
harmônico de todos os entes estatais responsáveis pela segurança pública.
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Há na, Constituição Federal, diversos dispositivos sobre segurança pública que indicam essa responsabilidade
compartilhada, como a previsão de que a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos (art. 144),
exercida por intermédio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das polícias civis e
militares e dos corpos de bombeiros militares, a partir de lei que discipline sua organização e funcionamento de maneira a
garantir a eficiência de suas atividades (art. 144, §7º). Prevê a Constituição, ainda, a criação, pelos Municípios, de guardas
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações (art. 144, §8º).
Além disso, cumpre à União legislar privativamente sobre direito penal e processo penal (art. 22, I), sobre requisições civis
e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra (art. 22, III), sobre convocação e mobilização das polícias
militares e corpos de bombeiros militares (art. 22, XXI), sobre competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
ferroviária federais (art. 22, XXII).
União, Estados e Municípios detêm, portanto, nesse campo, atribuições próprias e conexas que podem e devem ser
exercidas de forma coordenada com indispensável senso de cooperação. No caso dos Municípios, podemos citar, por exemplo, a
possibilidade de atuação conjunta entre suas guardas municipais e as demais forças de segurança pública. Nesse contexto, um
sistema integrado de segurança pública e Justiça Criminal poderia ser pensado, por exemplo, em termos de um federalismo
cooperativo, cabendo a União assumir, em razão do seu vasto leque de responsabilidades nessa matéria, a responsabilidade de
coordenar e organizar esse novo enfoque de atuação.
Todo esse quadro legitima o que aqui se propõe: é preciso uma estratégia global de segurança pública que contemple, com
especial prioridade, o inadiável aprimoramento da Justiça Criminal. É preciso pensar, com urgência, em soluções que imprimam
maior celeridade no julgamento das ações penais e uma completa reestruturação do sistema prisional.
Esse seria o caminho. O CNJ já vem fazendo isso, por exemplo, nas ações relativas a atos de improbidade, dando prioridade
ao acompanhamento desses processos. É preciso verificar qual a estrutura adequada para as varas criminais, as condições de
trabalho de juízes e servidores, os recursos matérias disponíveis, entre outros temas relevantes para um melhor funcionamento da
Justiça Criminal. Os próprios juízes, a partir de suas experiências e das dificuldades enfrentadas no exercício da jurisdição
criminal, muito poderiam contribuir com sugestões para melhoria do sistema.
Quando estávamos à frente do CNJ, firmamos, em 2010, com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o
Ministério da Justiça, a Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (ENASP), que teve como foco, inicialmente, os
crimes de homicídio. Após a análise de 135 mil inquéritos que investigam homicídios dolosos instaurados no Brasil até o final
de 2007, descobriu-se que apenas 43 mil foram concluídos. Dos concluídos, pouco mais de oito mil se transformaram em
denúncia. Ou seja, mais de 80% dos inquéritos de homicídios foram arquivados. Com o conhecimento dessa realidade, foi
possível estabelecer metas que hoje podem ser acompanhadas, em tempo real, nos sites do CNJ e do CMMP.
A partir dessa experiência, poderíamos pensar, em relação ao tema deste artigo, na ampliação do foco de atuação da
SENASP, de forma a incluir em seu programa de trabalho, como meta prioritária, o mapeamento dos principais gargalos
enfrentados pela Justiça Criminal, com a indicação de ações concretas que possam reduzir a morosidade nos julgamentos, bem
como uma profunda reavaliação da cultura de prisões provisórias e dos regimes de cumprimento de penas. O CNJ e o CNMP
muito poderão contribuir para as esperadas melhorias nessa área por meio de monitoramento conjunto e mais efetivo em relação
a certos gargalos, coordenando, inclusive, o aporte de recursos.
É claro que ações dessa natureza, em âmbito nacional, devem contar com alguma fonte de recursos específicos. Nesse
sentido, poderíamos, pensar, também, em algum fundo de segurança pública que pudesse atender prontamente, por exemplo, há
situações mais sensíveis em Estados com notória carência de recursos.
Nessa linha, poderíamos pensar, ainda, em uma possível reformulação do Fundo Penitenciário (FUNPEN), gerido pelo
Ministério da Justiça, com a sua transformação em fundo de segurança pública, com alguma forma de incremento em suas fontes
de custeio, redefinição de suas finalidades e proibição de contingenciamento dos recursos disponíveis. É incompreensível que
diante da falta de vagas no sistema prisional, os recursos FUNPEN ainda sejam passíveis de contingenciamentos, como
infelizmente tem ocorrido. Dados recentes do Ministério da Justiça indicam que esse Fundo dispõe de cerca de R$ 1,065 bilhão e
recebe, em média, R$ 300 milhões por ano. Em 2013, o FUNPEN foi autorizado a investir R$ 384,2 milhões, mas apenas 10,6%
desse valor foi efetivamente empregado.
Enfim, a modernização do sistema de Justiça e uma completa reestruturação do sistema prisional são temas prioritários na
busca de soluções que possam reverter, em grande parte, o atual quadro de insegurança pública. Nesse contexto, afigura-se
fundamental que se proceda, sem mais tardar, a uma profunda reavaliação da estrutura e funcionamento da Justiça Criminal para
que possamos ter, também nessa área, um Judiciário bem mais moderno e eficiente.
Esta coluna é produzida pelos membros do Conselho Editorial do Observatório da Jurisdição Constitucional (OJC), do
Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Acesse o portal do OJC (www.idp.edu.br/observatorio).
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-abr-04/observatorio-constuticional-seguranca-publica-justica-
criminal>. Acesso em 07 de ago de 2018.
1.2. SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
1.2.1. SISTEMAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NAS SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS
O SURGIMENTO DA POLÍCIA
A estruturação dos sistemas policiais modernos, baseados no profissionalismo, na administração burocrática e sob o
controle do Estado, é a expressão mais marcante do processo histórico de institucionalização da noção de segurança pública.
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FRANÇA
A França tornou-se a principal referência de formação de sistema policial profissionalizado, conforme análise de MONET
(2001). Ela tinha dois pilares: a Maréchaussée (O marechaussee é o antepassado da gendarmeria francesa. Cavaleiro da
Marechaussee em 1786 Em 1720, o marechal foi colocado simbolicamente sob a autoridade administrativa da gendarmeria da
França, o que explica por que em 1791 foi renomeado como "Gendarmerie nationale". Disponível em: <https://educalingo.com/
pt/dic-fr/marechaussee>. Acesso em 28 dez 2018), nas áreas rurais e a Tenência de polícia, em Paris. A primeira é
intrinsecamente militarizada, sendo um regimento de elite do Exército, e tem sua estrutura territorializada a partir do século
XVI. Ela vigia as populações itinerantes, prende bandidos, assegura regras concernentes ao comércio. Ela é rebatizada de
Gendarmerie (Uma gendarmaria, gendarmeria ou simplesmente guarda (em francês: gendarmerie) é uma força militar,
encarregada da realização de funções de polícia no âmbito da população civil. Os seus membros são designados "gendarmes".
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gendarmaria>. Acesso em 28 dez 2018) em 1791, perdendo gradualmente suas
vinculações com o Exército.
Já a Tenência é criada em 1667, com atribuição de zelar pela repressão da criminalidade bem como deve tomar as medidas
necessárias para evitar incêndios e epidemias além de inundações. Paris é dividida em setores e bairros à frente dos quais atuam
comissários assistidos por inspetores. Todo um sistema de patrulhas a pé e a cavalo funciona durante todo o dia. A montagem de
uma estrutura de informantes foi a característica mais marcante desta polícia parisiense, preconizando a formação de policiais
exclusivamente destinados à investigação. Os tenentes gerais de polícia acabaram sendo nomeados em todas as grandes cidades
francesas.
Fator comum às duas formas de polícia na França é a direção do governo central. O monarca abso luto comandava tanto a
Gendarmerie quanto definia as indicações dos tenentes de polícia, sendo concebidos como oficiais da realeza. Outros países
europeus em fins do século XVIII e início do século XIX implantam suas gendarmeries, todas vinculadas à autoridade central,
orientadas para o policiamento de estradas e campos.
Saiba mais: https://jus.com.br/artigos/25343/a-gendarmerie-nationale-francesa-aspectos-estruturais-e-operacionais
BRASIL
O sistema policial brasileiro, por sua vez, se estruturou no século XIX. E a matriz foi a dualidade policial francesa. Com a
chegada da Coroa Portuguesa em 1808 no Rio de Janeiro, foi criada a Intendência Geral de Polícia, com atribuições de controle
do crime, de urbanização, saneamento, saúde pública e iluminação pública seguindo o modelo policial que vigorava em
Portugal desde o século XVIII.
A vigilância cotidiana das ruas, por sua vez, coube a forças militarizadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, existia a Guarda
Real de Polícia (GRP).
Mesmo na segunda metade do século XVIII já existiam forças militarizadas que realizavam a vigi lância ostensiva das vias
públicas. É o caso de Minas Gerais com o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, criada em 1775, que posteriormente veio
a ser o fundamento da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.
Saiba mais:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Intend%C3%AAncia_Geral_de_Pol%C3%ADcia_da_Corte_e_do_Estado_do_Brasil
INGLATERRA
A Inglaterra, a despeito de sua tradição de gestão descentralizada, também assistiu a intervenção do governo central na
questão policial. Em 1829 o Parlamento assume a responsabilidade pelo policiamento de Londres. É criada uma organização
policial profissionalizada, trabalhando full-time e concebida em termos civis, diferenciando-se do modelo francês da
gendarmerie. É criada a Polícia Metropolitana de Londres.
A disseminação pelo restante do país deste modelo de policiamento eminentemente comunitário, conforme propugnado por
Robert Peel, ocorreu lentamente ao longo da segunda metade do século XIX, abolindo os sistemas paroquiais até então
prevalecentes.
1.1.2.2. ATRIBUIÇÕES DAS INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA
Segundo a nossa constituição (Brasil, 1988) a segurança pública é direito e responsabilidade de todos e deve ser exercida
nas esferas federal, estadual e municipal.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
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Pacto Federativo.
Um dos principais desafios brasileiros é a segurança pública. As autoridades estão mais atentas aos problemas e elegem o
combate à violência como uma das prioridades em seus programas. A segurança pública caminha cada vez mais para a
integração e articulação entre as forças diversas presentes no território.
O tema tem tratamento específico na Constituição Federal de 1988 no artigo 144. O texto dispõe que a segurança pública é
“dever do Estado” e deve ser exercida pelas Polícias Federal, Rodoviária Federal, civis, militares e Corpos de Bombeiros
militares. Qualquer lei precisa respeitar as estruturas previstas na Constituição.
O Supremo Tribunal Federal afirma que a segurança pública trata de “organização administrativa”. Por isso, a gestão em
cada ente da federação fica por conta do chefe do executivo. No caso dos estados, fica sob a chefia do governador de Estado, a
quem estão subordinados as polícias militares e civis. Já o chefe do Poder Executivo Federal tem a competência de organizar as
polícias federais, dentre outros da administração federal.
No entanto, com o aumento da violência, o governo federal passou a repassar recursos para a modernização das instituições
de segurança pública dos estados e do Distrito Federal. A articulação entre as administrações nesse quesito é crucial.
Além desses quesitos, a segurança pública deixou de se pautar unicamente pela de repressão e passou a ser vista sob a ótica
da prevenção e capacitação dos agentes com enfoque na cidadania. Com o governo da presidente Dilma Vana Rousseff, o papel
da União na Política Nacional de Segurança Pública passou a ser maior, com maior integração institucional e as instituições do
sistema de justiça criminal e enfatizando o planejamento, a gestão e o monitoramento.
União
Compete à União a defesa dos seus interesses e dos seus órgãos, o policiamento da faixa de fronteira e o combate ao tráfico internacional
e interestadual de drogas, prevenir e reprimir o contrabando e o descaminho, bem como realizar o patrulhamento das rodovias federais.
A União assumiu ainda a função de articular a integração entre os órgãos de segurança pública e de justiça criminal, que teve seu ponto
alto na Copa do Mundo 2014, e deixou como principal legado a atuação integrada entre os órgãos nacionais de segurança e internacionais e as
Forças Armadas nos 12 (doze) Centros Integrados de Comando e Controle Regionais.
Os locais foram equipados pelo governo federal em todas as cidades-sede da Copa. O governo tem realizado ações como o Brasil
Integrado, operação que já atuou no Nordeste e recentemente transferiu presos entre presídios federais.
Estados
Os governos estaduais e do Distrito Federal realizam a segurança pública direta, organizando e mantendo o policiamento ostensivo, que é
realizado pela Polícia Militar, formada por policiais uniformizados, facilmente identificados, de modo a criar na população uma percepção de
segurança. É de competência dos estados ainda manter e organizar a Polícia Civil e os órgãos técnicos de investigação dos crimes comuns.
Municípios
Já os municípios têm a competência para desenvolver ações de prevenção à violência, por meio da instalação dos equipamentos públicos,
como iluminação e câmeras. Os municípios também podem criar guardas municipais para a proteção de bens, serviços e instalações.
Neste ano, a lei nº 13.022 regulamentou as atribuições das Guardas Municipais na prevenção à violência, proteção dos direitos humanos
fundamentais, exercício da cidadania e das liberdades públicas, preservação da vida e patrulhamento preventivo, dentre outros.
Distrito Federal
O DF possui as mesmas competências dos estados na gestão da segurança pública.
Fonte:
Blog do Planalto: http://www2.planalto.gov.br/
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aéreos, respectivamente, sobretudo, na prevenção e repressão do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas, contrabando e
descaminho.
A polícia rodoviária federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo das rodovias federais. Atua através da presença
policial ostensiva nas estradas federais e repressão imediata dos delitos cometidos nesses espaços.
A polícia ferroviária federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. Contudo, Souza Neto (2008)
observa que, o que há na prática, é a segurança patrimonial desempenhada pelas próprias empresas concessionárias de serviço
ferroviário, e que apesar da previsão constitucional, a polícia ferroviária federal, de fato, nunca existiu.
1.1.2.2 – A gestão estadual da segurança pública
O governo estadual é o principal ente federativo responsável pela preservação da ordem pública, pois nele se concentra a
administração das polícias civil e militar.
A Polícia Militar apresenta como atribuições a função de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, além da
responsabilidade de investigar e julgar os crimes militares (BRASIL, 1988). De acordo com Souza Neto (2008), o policiamento
ostensivo consiste na atividade de prevenção e repressão imediata da ação criminal, realizado por policiais fardados, de forma
que esses profissionais possam ser facilmente identificados, através do uniforme, equipamento, ou viatura, no intuito de
preservar a paz social e de restituí-la sempre que necessário.
O objetivo de tornar aparente a presença do patrulhamento policial nas vias públicas consiste em intimidar a prática de
ações ilícitas, por meio da construção da sensação de repressão imediata ao cometimento de delitos, o que ocasionaria efeito de
prevenção situacional do crime.
Compete à Polícia Civil o encargo de polícia judiciária e de apuração de infrações penais, exceto a investigação de crimes
militares e daqueles de jurisdição da União (BRASIL, 1988). Apurar a prática de delitos, segundo Melim Júnior (2002), consiste
no trabalho policial investigativo, desenvolvido em função de evidenciar o crime sucedido – através da realização de perícias,
interceptação de comunicações telefônicas, reunião de provas, da escuta do relato das testemunhas, dentre outras medidas – no
intuito de identificar a maneira com que o delito ocorreu, suas causas e, sobretudo, descobrir a sua autoria, para que o Estado
tenha condições de desempenhar o seu direito de punição – “jus puniendi”.
Vale lembrar que a efetivação de grande parte dos procedimentos que ocorrem na atividade investigatória depende de
autorização judicial, conforme adverte Souza Neto (2008). É denominada função de polícia judiciária a incumbência de amparo
conferida pela Polícia Civil ao Poder Judiciário, no subsídio da materialidade necessária para o processo e o julgamento dos
autores de infrações penais.
Conforme Lazzarini (1987), a Polícia Militar é classificada como Polícia Administrativa, por ser regida pelos preceitos
jurídicos do Direito Administrativo, enquanto a Polícia Civil é definida como Polícia Judiciária, uma vez que é auxiliar da
Justiça Criminal, regida pelos códigos do Direito Processual Penal. Além do mais, a Polícia Administrativa é preventiva, dado
que o trabalho por ela desenvolvido visa evitar a prática de delito, ao passo que a Polícia Judiciária é repressiva, de vido a sua
atuação suceder o cometimento de crime, operando como auxiliar do Poder Judiciário na aplicação da lei penal. Entretanto, esta
classificação merece ser relativizada, segundo pondera Lazzarini (1987).
A atividade policial desenvolvida na prática, ou seja, o modo de atuação da autoridade no exercício do poder de polícia é o
que efetivamente a qualificará como preventiva ou repressiva. Visto que, em sua rotina de trabalho, o policial pode se deparar
com os dois tipos de funções.
Portanto, a polícia desempenha função administrativa quando age em prol da preservação da ordem pública e da prevenção
da eclosão de delitos, ao passo que quando atua após a prática do crime – elaborando o inquérito, em atividade investigatória de
caráter criminalístico – a polícia exerce função judiciária, o que, apesar do nome, também consiste em exteriorização de
atividade administrativa, e não pode ser confundida com a atividade jurisdicional, exclusiva do Poder Judici ário, de modo que o
profissional público legitimado para efetuar o poder de polícia é uma autoridade administrativa, e não judiciária.
É a eclosão ou não da ação criminal que realmente delimita a diferença entre a prática preventiva ou repressiva. Um agente
que regula o trânsito, uma vez que lavra um auto de infração, passa do exercício da atividade policial administrativa para a
judiciária, assim como acontece na verificação de um acidente automobilístico. Nesse caso, a ação preventiva ostensiva, que
estava desempenhando, passa a se configurar como repressiva, dado que a ação preventiva não logrou sucesso em evitar a
ocorrência do delito.
Se um órgão estiver no exercício da atividade policial preventiva (polícia administrativa) e ocorrer a infração penal, nada
justifica que ele não passe, imediatamente, a desenvolver a atividade policial repressiva (polícia judiciária) fazendo, então, atuar
as normas de Direito Processual Penal, com vistas ao sucesso da persecução criminal. (LAZZARINI, 1987, pp. 36 - 37)
A divisão da execução das fases da atividade policial em duas organizações distintas, no ente fede rativo estadual, de forma que é
atribuída à Polícia Militar o trabalho de preservação da ordem pública, enquanto compete à Polícia Civil a realização da investigação e da
apuração dos crimes, caracteriza a estrutura das polícias estaduais brasileiras como bipartida, dado que ambas apresentam o ciclo policial
incompleto.
O ciclo de polícia, que inicia o ciclo de persecução criminal, é composto por:
1ª fase: Situação normal de paz social. Refere-se ao trabalho ostensivo realizado pela polícia, de caráter preventivo, em prol da
preservação da ordem pública. Quando ocorre a quebra da ordem pública, são efetuadas as demais fases do ciclo policial.
2ª fase: Restauração da paz social. Consiste no primeiro contato da polícia com a prática criminal, competindo-lhe exercer as primeiras
providências de polícia administrativa e judiciária, como realizar prisão em flagrante, identificar testemunhas, levantar informações sobre o
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modo como o crime ocorreu, socorrer vítimas, dentre outras verificações possíveis que se apresentarem necessárias de imediato.
3ª fase: Investigativa. É exercida pela polícia judiciária, através da escuta do relato das testemu nhas arroladas, realização de perícias,
cumprimento de prisões processuais, exercidas por meio da instauração do Inquérito Policial.
4ª fase: Processual. A partir dessa sequência de procedimentos ocorre a fase processual, que é de competência do Ministério Público e
Poder Judiciário, sendo a última etapa do ciclo de persecução criminal a fase de aplicação das penas, responsabilidade do Poder Judiciário e
do Sistema Prisional (LAZZARINI, 1996).
A frouxa articulação do sistema policial brasileiro é um grave problema estrutural de segurança pública.
A disjunção do trabalho policial, em duas organizações distintas, tem sido apontada por diversos estudiosos como um grave
problema estrutural de segurança pública brasileira, uma vez que compromete a eficiência do serviço prestado por essas
corporações.
Ademais, a existência de polícias de ciclo incompleto, conforme ocorre em âmbito estadual, é uma característica exclusiva
do Brasil, pois independentemente da forma com que as polícias são organizadas em outros países, as mesmas instituições
realizam todas as etapas do ciclo policial.
Uma análise sociológica acerca do sistema de justiça criminal brasileiro é efetuada por Sapori (2006), que considera
fragmentada a articulação entre as organizações que o constitui, característica essa, que inviabiliza a eficiência do mesmo.
A frouxa articulação na justiça criminal pode se expressar nos níveis de conflito e disjunção existentes nas relações entre as
organizações do network. Os diferentes segmentos organizacionais tendem a agir segundo lógicas distintas e muitas vezes
conflitantes, contrariando a divisão de trabalho harmoniosa inicialmente prevista. Disputas por espaços de poder são recorrentes,
além da competição por recursos escassos. Críticas recíprocas entre os diversos segmentos organizacionais são comuns,
atribuindo-se mutuamente responsabilidades por eventuais fracassos do sistema. Além disso, a intensidade dos conflitos pode se
constituir em foco crônico de ineficiência do sistema, afetando o desempenho institucional. (SAPORI, 2006, p. 769)
Um dos principais focos crônicos dessa desarticulação, apontado por Sapori (2006), característica singular do desenho
institucional do sistema de justiça criminal brasileiro, consiste na secção do trabalho policial, na esfera estadual, em duas
organizações distintas, de forma que compete à Polícia Militar realizar o patrulhamento ostensivo, enquanto cabe à Polícia Civil
a responsabilidade pelo trabalho investigativo. Diversos problemas decorrentes da disjunção do trabalho policial têm sido
atribuídos a essa peculiaridade do subsistema policial brasileiro.
É o caso, por exemplo, da ausência de mecanismos integrados e articulados de planejamento das intervenções públicas na
área. A divisão de trabalho prevalecente entre as polícias faz com que as tarefas envolvidas no combate à criminalidade sejam
concentradas no âmbito ostensivo, resumindo-se a planos de distribuição dos recursos humanos e materiais das Polícias
Militares. A investigação policial e eventual identificação e detenção de criminosos ocorre em momento distinto e obedece
somente à lógica de elaboração de documento a ser entregue às instâncias judiciais.
Ressalte-se ainda o fato de que cada uma dessas organizações policiais dispõe de um sistema próprio de comunicações e
informações que não dialogam entre si. O registro oficial da incidência criminal, nesse sentido, tem duas fontes distintas,
caracterizadas pela duplicidade e incoerência dos dados. O diagnóstico espaço-temporal da criminalidade na sociedade brasileira
não dispõe, assim, de uma base de dados consensualmente estabelecida, o que suscita frequentes divergências e conflitos quanto
ao provimento da segurança pública, enquanto bem coletivo.
O desenho institucional da segurança pública no Brasil, em suma, provocou a emergência e consoli dação de organizações policiais
que, a despeito do caráter complementar de suas atividades, são dotadas de culturas distintas, com definições muito particulares do interesse
coletivo e, além disso, têm suas inter-relações pautadas pelo conflito e competição intermitentes. Como consequência inevitável dessa
realidade, temos a baixa capacidade do subsistema policial brasileiro de produzir resultados consistentes, em termos de redução dos índices
de criminalidade. (SAPORI, 2006, p. 769 - 770)
Além dos problemas relacionados à divisão do ciclo policial, há outras deficiências comuns a ambas as polícias. O Projeto
Segurança Pública para o Brasil (BRASIL, 2003) destaca as seguintes:
1) coleta, registro, produção, distribuição e processamento precários das informações, gerando dados inconsistentes e pouco confiáveis, e
inviabilizando diagnósticos, análises prospectivas e definição de orientações estratégicas;
2) ausência de planejamento, de avaliação sistemática e de práticas corretivas;
3) atendimento, serviços e produtos de má qualidade; recrutamento deficiente e formação precária;
4) abandono dos cuidados preparatórios, necessários ao trabalho pericial: ausência da cultura técnico-policial nas esferas não envolvidas
diretamente com os setores policiais especializados;
5) correição (correição - substantivo feminino. 1. ato, processo ou efeito de corrigir; correção. 2. conserto, emenda de erro, imperfeição,
defeito etc.) quase inexistente, em decorrência de inércia burocrática, restrições normativas, inoperância administrativa e, em alguns casos,
comprometimento corporativista;
6) controle externo deficiente, em razão dos obstáculos à intervenção investigativa das ouvidorias e dos entraves à afirmação de direção
interna;
7) dissociação conflitiva da outra instituição policial e dos demais profissionais do sistema de justiça criminal (inclusive da Secretaria de
Segurança), dada a autonomização dispersante das unidades (em particular, das delegacias distritais);
8) delimitação irracional (e dissociada das circunscrições da outra instituição policial) dos territórios jurisdicionais;
9) despreparo no enfrentamento de questões específicas, como: a violência contra as mulheres, as crianças, as minorias sexuais e os
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negros - o que determina alguns aspectos lacunares na atuação das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres, por exemplo;
10) despreparo na aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente;
11) formação mais voltada à repressão do que à prevenção (o que caracteriza o conjunto das instituições da segurança pública);
12) grande quantidade dos policiais exerce função extra (bico), para complemento salarial em razão dos baixos salários. (BRASIL, 2003,
p. 29)
A corrupção, o desrespeito aos direitos humanos, a herança autoritária e a “insistência no modelo da guerra como metáfora e
como referência para as operações de segurança pública” (CANO, 2006, p. 141), também são alguns outros exemplos comuns de
deficiências relacionadas às polícias estaduais.
A despeito do panorama de deficiências das polícias estaduais, verificam-se iniciativas recentes de modernização das instituições
policiais que apontam em direção à mudança de paradigma na gestão da segurança pública.
Nesse contexto, pode-se citar algumas experiências relevantes, tais como:
• Tentativas de integração das polícias civil e militar;
• Compatibilização do trabalho policial em áreas geográficas coincidentes;
• Unificação e informatização dos boletins de ocorrências criminais;
• Investimentos em tecnologia, em georeferenciamento e nos sistemas de informações policiais;
• Criação de ouvidorias de polícia.
1.1.2.3 – A gestão municipal da segurança pública
Na década de 1990, os municípios iniciam o processo de assunção de responsabilidades na área da segurança pública,
através da formulação e execução de políticas públicas locais e da criação ou ampliação de estruturas municipais dedicadas a
essa questão, como secretarias municipais, conselhos comunitários e guardas municipais.
É possível a formulação e a implementação de uma política municipal de segurança pública?
É necessário, em primeiro lugar, que o processo abranja a realização de um diagnóstico das dinâmicas criminais, pois para
construir eficientes estratégias de redução da criminalidade, é imprescindível compreender os fatores relacionados à incidência
de crime e violência. Uma vez concluído o diagnóstico, a análise das informações nele contidas deve servir de fundamento para
a elaboração de um Plano Municipal de Segurança Pública, cujas ações podem ser operacionalizadas pelo órgão municipal
responsável pela gestão da segurança pública local, além da guarda municipal, quando houver. Geralmente, a criação do
arcabouço institucional municipal na área da segurança pública objetiva viabilizar o planejamento, implementação, gestão,
monitoramento e avaliação de ações, projetos e programas realizados com o propósito de prevenir a criminalidade e diminuir o
sentimento de insegurança da população.
Os municípios podem instituir Gabinetes de Gestão Integrada Municipal (GGIM). O GGIM é um instrumento que integra e
articula todas as instituições públicas, dos três níveis federativos, responsáveis por prover a segurança pública no âmbito do
município.
Por meio das reuniões do GGIM, as instituições que compõem o sistema municipal de segurança pública, em conjunto,
discutem sobre a dinâmica da criminalidade local, definem prioridades, formulam estratégias, distribuem a responsabilidade de
cada uma das organizações no gerenciamento da segurança pública, monitoram e avaliam os planos de ação implementados,
reformulando estratégias e definindo novas intervenções.
Com a finalidade de integrar a sociedade nas ações de segurança pública, promover o conceito de polícia comunitária,
fomentar a participação e o controle social, conselhos comunitários de segurança pública podem ser criados, no âmbito das
subdivisões territoriais adotadas em cada município.
A Constituição de 1988, no âmbito da segurança pública, confere aos municípios apenas a com petência para constituírem guardas
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações. Entretanto, isso não impede que os municípios extrapolem as ações de
proteção patrimonial e adotem atividades suplementares de prevenção à violência e à criminalidade.
Outra possibilidade de atuação dos municípios na segurança pública, segundo aponta Souza Neto (2008), diz respeito às
ações de regulamentação, como a adoção de leis de controle de bebidas alcoólicas. Restrições de caráter administrativo podem
exercer importante impacto na prevenção de crimes, às vezes mais significativos do que medidas de caráter penal ou policial.
Alguns municípios que delimitaram o horário de funcionamento de bares e restaurantes tiveram a redução do número de
homicídios em 60%, como é o caso de Diadema, e a redução de acidentes de trânsito em 70%, como é o caso de Barueri.
É importante destacar os investimentos municipais em políticas de âmbito preventivo, de tipo situ acional e social,
focalizados especificamente na redução da criminalidade e da violência.
1. Os programas de prevenção situacional, de acordo com Cano (2006), visam atenuar as oportunidades de ocorrência de
crimes ou atos de violência em determinados espaços, através da intervenção direta no ambiente social, especialmente nos
fatores que favorecem a dinâmica criminal. São alguns exemplos de prevenção situacional: o investimento na melhoria da
iluminação urbana, a recuperação de espaços públicos degradados e o videomonitoramento em locais estratégicos.
2. Os programas de prevenção social, conforme esclarece Cano (2006), são intervenções direcionadas para reduzir os
elementos que estruturam a vulnerabilidade, ou seja, os fatores de risco que aumentam a probabilidade de incidência de crimes,
violências, e de suas consequências negativas. São exemplos de fatores de risco: a desigualdade social, a cultura do narcotráfico,
a violência doméstica, a violação de direitos fundamentais, a fragilização dos vínculos familiares e sociais, a defasagem escolar,
a pobreza, o desemprego, dentre outros.
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O Bolsa Família pode ser considerado um exemplo de programa de prevenção social, uma vez que atua para atenuar
determinados fatores de risco e promover a proteção social. Por meio da transferência direta de renda, promove o alívio imediato da
pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações
e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de
vulnerabilidade.
Cano (2006) analisa que, normalmente, os programas de prevenção social apresentam resultados em médio e longo prazo,
pois se fundamentam na transformação das condições de vida ou das relações interpessoais. Entretanto, quando conseguem
alcançar o alvo desejado, seu impacto pode ser mais intenso e mais duradouro do que o impacto dos programas de prevenção
situacional, que obtém resultados em curto prazo, quando bem desenvolvidos. Portanto, é indicado que ambos os programas
preventivos – situacional e social – sejam adotados simultaneamente, de forma complementar. Nesse sentido, importantes linhas
de atuação para o desenvolvimento de políticas de prevenção à violência e criminalidade, que podem ser incorporados pelos
municípios, são sugeridas por Guindani (2004), a saber:
• Programas de acesso à justiça e a mecanismos de resolução pacífica de conflitos, reinserção social de egressos do sistema
penitenciário e do programa de medidas socioeducativas, policiamento comunitário, orientação jurídica e assistência judiciária,
oferta descentralizada de serviços de justiça e cidadania, centros de mediação formal e informal de conflitos, núcleos de
atendimento a vítimas de violência, apoio à reinserção profissional, comunitária e familiar de egressos, etc.
• Programas para a adolescência, a juventude e suas famílias (programas de acesso a atividades culturais e esportivas,
educação e qualificação profissional, geração de trabalho, emprego e renda, saúde).
• Mobilização social, associativismo e promoção de cultura da paz urbana (apoio à formação e for talecimento de
lideranças, organizações e redes comunitárias, campanhas de comunicação social, programas de educação para a cidadania,
promoção de eventos públicos, etc).
• Planejamento urbano e qualificação de espaços públicos (ordenação de áreas de grande circulação de pessoas,
planejamento e controle do trânsito, iluminação pública, criação e requalificação de espaços públicos de convivência e lazer,
qualificação do entorno das escolas e parques públicos, regularização fundiária, adoção de estratégias que previnam a formação
de guetos em zonas urbanas e que evitem conflitos entre grupos vizinhos, etc).
• Enfrentamento de fatores de risco (abuso de álcool e outras drogas, disponibilidade de armas de fogo e outros fatores
identificados em cada local) e aumento dos fatores de proteção (GUINDANI, 2004, pp. 82 – 83).
Diversos gestores municipais, a partir da década de 1990, começaram a investir em segurança pública, com a adoção de
diferentes formatos institucionais, apresentando multiplicidade tanto na estruturação da arquitetura organizacional quanto nas
estratégias de intervenções adotadas.
O atual contexto da gestão municipal da segurança pública revela, segundo Guindani (2004, p. 75), “baixa
institucionalidade, descontinuidade frequente, ausência de trabalhos avaliativos e de sistematização das experiências
existentes”. Além disso, diversos gestores municipais hesitam em assumir responsabilidades nessa área específica, sobretudo
porque não constitui uma obrigação legal do governo municipal.
A assunção de atribuições em qualquer área de políticas públicas, na ausência de imposições constitucionais, está
diretamente associada à estrutura de incentivos oferecida pelo nível de governo interessado e, vale ressaltar, que os incentivos
para a gestão municipal da segurança pública são restritos, ao menos os financeiros. O repasse de recursos financeiros do
governo federal ocorre mediante o lançamento de editais anuais, em que os municípios interessados submetem propostas.
Os projetos que apresentam maior consonância com os requisitos delineados pela SENASP são financiados pelo governo
federal, com contrapartida financeira dos municípios. Apesar disso, a participação dos municípios na gestão da segurança
pública vem crescendo progressivamente, assim como a relevância desse ente federativo na redução da violência e
criminalidade, sobretudo quando se entende que a promoção da paz e da ordem social demanda não apenas ações de cunho
repressivo, mas também ações de cunho preventivo.
Saiba mais:
A redemocratização do país marcou um novo momento do arranjo federativo brasileiro.
A valorização dos municípios pode ser percebida pelo reconhecimento desta instância, pela primeira vez na história, como um ente
federativo.
Tipos de prevenção:
Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também de
famílias, escolas e sociedade civil.
Prevenção secundária: Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação individual
e social da vítima.
Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabinete de Gestão integrada
1.2.3. ABORDAGEM SISTÊMICA DA SEGURANÇA PÚBLICA
Alberto Afonso Landa Camargo 6
Toda vez que se fala em polícia no Brasil idealiza-se a instituição. Tratam-na como se, de repente, vivêssemos num país
onde tudo é maravilhoso e apenas a polícia destoa desta regra. Age-se como se o policial seja um alienígena brutalizado e
6
*Alberto Afonso Landa Camargo é Coronel da reserva remunerada da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Professor graduado em Letras e em Filosofia, escritor com
vários trabalhos publicados, e pesquisa
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incapaz que acabou de cair em um mundo perfeito onde ninguém comete erros. Só ele os cometem. Caídos neste mundo
perfeito, os policiais e suas atitudes passam a ser questionados pelos idealistas do sistema, que não entendem que razões levam a
polícia a, em alguns casos, tratar com violência determinada pessoa. É como se a violência não existisse e a polícia fosse a
responsável por trazê-la ao mundo, fosse causa dela e não sua consequência.
Pretende-se, desta forma, que a polícia brasileira seja diferente de qualquer outra e não trate o criminoso como tal, mas
como alguém que precise unicamente de educação e seja ela o ente preparado exatamente para transmitir esta educação. Vê-se a
polícia como uma instituição destoante da realidade, uma polícia violenta em uma sociedade que não é violenta, uma polícia
corrupta em uma sociedade que não é corrupta, uma polícia despreparada em uma sociedade cujo preparo é exemplo para o
mundo. Queres uma polícia educada e prestativa como se ela não fizesse parte da mesma sociedade que nada tem de educada e
de prestativa.
A polícia não só é um organismo mal conhecido quanto ao seu desempenho, como as pessoas ignoram as suas missões e a
sua capacidade de desempenhá-las em razão dos diversos entraves que existem, sejam de condições materiais, intelectuais ou
humanas. Toda vez que a polícia é procurada por alguém, pretende esta pessoa que ela seja capaz de resolver todos os seus
problemas e não quer saber o interessado se isto está dentro da sua competência ou não. Por não ser uma instituição conhecida, a
sociedade acaba mitificando a polícia e acreditando que ela é aquela instituição retratada em filmes que dão notícia de uma
incomum competência e capacidade em tudo resolver. Não compreendem que a realidade não é aquela dos filmes em que tudo
se resolve em cerca de duas horas, terminando a história com um longo beijo entre o casal de mocinhos. Diante disto, proliferam
as cobranças como se o crime fosse uma atividade a ser combatida unicamente pela polícia. É como se isto não dependesse de
um sistema judiciário ágil e eficiente, de um acompanhamento do preso que lhe permita ser recuperado para a volta ao convívio
social e de medidas preventivas em todos os setores. Nem tudo, portanto, que diz respeito ao crime é problema que deve ser
enfrentado unicamente pela polícia.
O fato é que não existem fórmulas prontas para que se tenha no Brasil uma polícia que atenda os reclamos da sociedade.
Aliás, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas temos visto que polícia nenhuma os atende na totalidade.
Esta idealização, a crença de que uma polícia deve ser capaz de resolver tudo sem, em algum momento, usar a violência e
que deva ser imune a erros e a desvios de conduta, tem feito com que proliferem fórmulas que, sem qualquer estudo, são
apresentadas como milagrosas para que se crie uma polícia ideal.
Como modelo de polícia democrática já se apresentou até a ideia de desmilitarização das polícias militares. Desconhece-se
que a mera adjetivação, seja ela de militar ou civil, não é responsável pela maior ou menor competência policial. O que importa
é a sua destinação. Se ela, apesar de a adjetivação militar não for destinada ou empregada nas atividades que pressuponham
combates e tratos com pessoas vistas como inimigas, mas preparada e empregada efetivamente como polícia e voltada ao bem
das comunidades, pouco importa que a sua estrutura seja militar ou civil. Chega-se a tal contradição que, ao mesmo tempo em
que se invoca a necessidade de desmilitarização das polícias, clama-se pelo emprego das forças armadas, que são militares por
excelência.
A formação dos seus efetivos e a visão de que a sociedade deve sempre ser vista como amiga, mesmo naqueles casos em
que precisam ser coibidos crimes ou simples desvios de conduta, é que vão determinar a sua maior ou menor eficiência e não a
mera adjetivação que unicamente define a sua estrutura como corpo.
Trata-se o Brasil como se o país fosse o único no mundo a ter uma polícia adjetivada de militar. Desconhece-se que na
Itália ainda existem os Carabinieri, a Espanha ainda conte com a sua Guardia Civil (que apesar da adjetivação, é militar), a
França ainda disponha da Gendarmerie, o Chile possua uma das polícias mais respeitadas da América Latina, os Carabineros, e a
Holanda mantenha a Rijkspolitie, todas elas organizações militares voltadas à atividade policial como o é a Polícia Militar
brasileira.
Uma polícia democrática, independente da adjetivação de civil ou de militar, precisa deixar de ser conservadora, de
centralizar-se em conceitos e comandos apegados a tradições que fundamentaram sua criação e abdicar de manter-se destoante
das necessidades sociais como se a polícia não fizesse parte da mesma sociedade que jura defender.
O estudo e a adequação de comportamentos policiais às necessidades e interesses da comunidade tendem a fazer da polícia
uma instituição democrática. Ela assim será à medida que atenda as necessidades individuais e de grupos que requerem seus
serviços da mesma forma que atende os interesses dos governos, desde que estes sejam voltados aos interesses da população,
orientando suas atividades conforme requeira o cidadão. Um policial amigo, prestativo, capaz de resolver conflitos e consciente
de que faz parte da sociedade e não é alijado dos seus interesses, com certeza fará uma polícia democrática.
Não é preciso, portanto, macromudanças nas instituições policiais para que elas sejam democráticas. Basta que se mudem
alguns comportamentos relacionados com o trabalho e que o policial interprete que o crime e o criminoso são coisas
excepcionais e não a regra com que devem ser tratados os cidadãos.
CAMARGO, Alberto Afonso Landa. Uma visão sistêmica da segurança pública.
SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL
Identificar as características estruturais do sistema de policiamento brasileiro;
Reconhecer os critérios de diferenciação entre as forças policiais brasileiras e identificar as consequências da diferenciação
funcional no campo institucional policial;
Identificar propostas referentes a uma reestruturação do campo institucional policial como alternativa para a construção de
um novo modelo do sistema policial;
Reconhecer o “papel” e a “função” das polícias brasileiras na sociedade democrática; e Conscientizar-se da importância de
uma polícia cidadã.
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Introdução
O que seria polícia?
A ação de policiamento e a definição funcional não permitem distinguir claramente o que é polícia.
O conceito moderno de polícia compreende três dimensões:
1) Caráter público.
A organização policial é uma agência pública, formada, paga e controlada pelo governo.
2)Especialização
O policiamento é direcionado, principalmente, à aplicação da força física.
3)Profissionalização
Preparação explícita para a realização de funções exclusivas da atividade policial. A profissionalização envolve recrutamento por
mérito, treinamento formal, evolução na carreira estruturada, disciplina sistemática e trabalho em tempo integral.
A partir dessas três dimensões, é possível definir Polícia como uma instituição especializada e profissional, autorizada pelo Estado
para manutenção da ordem social através da aplicação da força física, cujo monopólio pertence ao Estado.
As características que definem a polícia moderna – caráter público, especialização e profissionalização, não se constituem em
requisitos únicos para a definição de uma força policial.
Afinal, o que define a polícia?
Para Bayley, o termo Polícia se refere a pessoas autorizadas por um grupo para regular as relações
interpessoais dentro deste grupo através da aplicação de força física.(BAYLEY,2001:20).
Tal definição contém necessariamente três elementos definidores para a existência da polícia:
1)Força física;
2) Uso interno da Força
3)Autorização coletiva
A polícia a serviço da comunidade é, portanto, condição definidora de sua própria existência.
Os atributos de força física, uso interno e autorização coletiva definem o conceito de Polícia e estão articulados ao formato
contemporâneo das organizações policiais que remetem ao caráter público, à especialização e à profissionalização, aspectos
estruturais da organização policial no Brasil, cuja constituição se processo um a formação do Estado Nacional Brasileiro.
3.1. A ESTRUTURA DO SISTEMA DE POLICIAMENTO BRASILEIRO.
Sistema de policiamento
O Estado Nacional Brasileiro apresenta um sistema de policiamento moderadamente descentralizado e multiplamente
descoordenado.
SISTEMA DESCENTRALIZADO
Dentre os direitos sociais e individuais assegurados a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição de 1988 (*), destaca-se
a preservação da ordem pública e a defesa das pessoas e do patrimônio.
A preservação destes direitos é dever do Estado, exercida a partir das esferas Federal e Estadual. O controle sobre o
policiamento público é, portanto, exercido independentemente por unidade federativa sobre suas respectivas forças
policiais ,com competência prevista na Constituição Federal, Constituição Estadual e Leis Orgânicas Estaduais, enquanto que a
união possui força policial própria (Polícia Federal) com competência prevista na Constituição.
Organização e Funcionamento das Polícias Civis Estaduais e do Distrito Federal.
Constituição de1988(*)
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV- polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
A direção operacional das forças policiais não parte de um único comando centralizado, uma vez que a constituição de
1988 subordinou a polícia civil, polícia militar e o corpo de bombeiros aos Governadores dos Estados e do Distrito Federal 7.
Dessa forma, o exercício da segurança pública nacional é realizado por intermédio dos seguintes órgãos:
Polícia Federal - É instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira e destinado a apurar infrações penais
contra a ordem política e social ou em detrimento de bens e serviços de interesse da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija a repressão
uniforme. Também é sua função prevenir e reprimir o tráfico ilícito 8 de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho9, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência. Tem ainda
7
No Distrito Federal as polícias militares e corpos de bombeiros foram mantidos como forças auxiliares e de reserva do Exército, no caso de ameaça à
segurança nacional.
8
Tráfico ilícito ou uso indevido caracteriza-se como importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, semear,
cultivar, colher, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, induzir, instigar, auxiliar,
guardar, utilizar local privado de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, contribuir de
qualquer forma para incentivar ou difundir o uso, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que
determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
9
Descaminho é um crime contra a ordem tributária. Importante ressaltar que com o advento da Lei 13.008 de 26.6.2014 o crime de descaminho e
contrabando foram desmembrados. Assim o descaminho manteve-se no art. 334 e o contrabando foi deslocado para o novo art. 334-A, com pena de 2 a 5 anos.
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como incumbência, exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras, além de exercer, com exclusividade, as funções
de polícia judiciária da União.
Polícia Rodoviária Federal - Destina-se ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
Polícia Ferroviária Federal -Destina-se ao patrulhamento ostensivo das ferrovias.
Polícias Civis - Dirigidas por delegados de polícia de carreira, devem exercer, ressalvada a competência da União, a
apuração das infrações penais, investigando os crimes para identificar as bases legais para a acusação de um suspeito, exceto dos
militares; além das funções de polícia judiciária, que auxili ao Ministério Público no processo de construção da culpa legal.
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares - As polícias militares são responsáveis pela polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública. Atuando uniformizada, é responsável pelo policiamento nas ruas, agindo em situações de conflito
e de assistência emergencial. Os corpos de bombeiros militares têm como atribuições a atuação em casos de emergências,
prevenção e combate a incêndios, afogamentos, resgate, além da execução das atividades de defesa civil.
Saiba mais…
Está em fase de elaboração de anteprojeto a Lei Orgânica Nacional (SENASP) -
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=499781
SISTEMA MULTIPLAMENTE DESCOORDENADO
O sistema brasileiro de policiamento caracteriza-se de bombeiros. Não obstante a ausência de considerações
pela existência de forças múltiplas e descoordenadas entre explícitas, suas atividades incluem a participação do Poder
si. Um sistema é multiplamente descoordenado “quando Judiciário, do Ministério Público e do Sistema
mais de uma força tem autoridade sobre a mesma área” Penitenciário. Dessa forma, objetivou-se através da
(Bayley, 2001: 71), gerando na maioria das vezes um interação de órgãos estatais e comunidade, a prevenção e o
processo de “concorrência” e “sobreposição” entre forças controle das manifestações da violência, garantindo o
policiais distintas. exercício da cidadania, bem maior tutelado pelo sistema
Esse processo de “concorrência” e “sobreposição” de democrático.
poderes foi marcante na configuração das forças policiais Entretanto, a gestão independente de cada unidade
nos primórdios da República. Conforme demonstrou federativa sobre suas respectivas forças policiais e as
BRETÃS no início do século XX, transitavam pelas ruas atribuições específicas de cada órgão exige extremo
do Rio de Janeiro policiais civis e militares, guardas equilíbrio na coordenação das diversas políticas públicas
nacionais e noturnos além de militares do exército e da implementadas, para concretizar a interação necessária
armada, todos eles dotados de autoridade sobre a prevista pela abordagem eleita. A omissão da análise deste
população. aspecto contribuiu para o fracasso dos projetos
A disputa de autoridade policial e de atribuições se implementados, bem como a fomentação de discursos
dava também entre as polícias civil e militar, cada qual demagógicos e na retórica vazia segundo os quais a
objetivando fundar o princípio de sua autoridade sobre a brutalidade policial significa, sobretudo, competência
outra. O controle e a guarda de presos são ilustrativos (SOARES, 2006). Com isso, o policiamento brasileiro
desse processo. assumiu as características de um sistema moderadamente
A Constituição Federal de 1988 destinou um capítulo descentralizado e multiplamente descoordenado, haja vista
específico para o tratamento da matéria. No Título V, o exercício de mais de uma força sobre a mesma área,
artigo 144, consagra o dever do Estado, bem como o enfatizando a competição e sobreposição de autoridades
direito e a responsabilidade de todos nas questões relativas (JÚNIOR, 2008).
a essa garantia; destacando o exercício em prol da disponível em:
preservação da ordem pública e da incolumidade das <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?
pessoas e do patrimônio, efetuado pelas polícias federal, n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5157 >. acesso
rodoviária federal, ferroviária federal, civil, militar e corpo em 22 jun 2019.
Polícia Militar - A polícia militar exercia o policiamento ostensivo e controlava aguardados presos nas delegacias, funções
que influíam diretamente no trabalho da polícia civil. As queixas sobre prisões e solturas irregulares eram feitas de parte a parte
a todo momento, acirrando o processo de concorrência de forças. Com o resultado das reformas policiais levadas a efeito nos
primeiros anos do século XX, foi criada a Guarda Civil.
A multiplicidade das forças repressivas atuando no mesmo espaço gerou inúmeros conflitos entre os membros destas forças
exigindo grande esforço por parte da organização policial (polícias civil e militar) no sentido de afirmar o seu monopólio do
exercício repressivo, delimitando suas fronteiras com as demais instituições armadas, ou dotadas de poderes coercitivos
(Exército, Armada, guardas nacionais e noturnos–polícia municipal).
A disputa de autoridade policial e de atribuições se dava também entre as polícias civil e militar, cada qual objetivando
fundar o princípio de sua autoridade sobre a outra. O controle e aguarda de presos são ilustrativos desse processo.
Guarda Civil - Corporação destinada a executar o policiamento ostensivo uniformizado juntamente às Polícias Militares e
que, até 1965, esteve abrigada na estrutura administrativa das Polícias civis dos principais estados brasileiros.
Com a nova redação, os tipos penais (contrabando e descaminho) passam a ser tratados separadamente, recebendo penalidades diversas, sendo coerentemente mais
gravosa para o crime de contrabando do que para o crime de descaminho. CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 (alterado pela lei nº 13.008/14).
Artigo 344
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Essa conformação estrutural e administrativa da Guarda Civil reforçou o caráter múltiplo/descoordenado do sistema policial
brasileiro. Percebemos assim que o padrão histórico do policiamento no Brasil – desde o Império (1822-1889) até os dias atuais,
têm sido o da existência de, no mínimo, duas polícias atuando no mesmo espaço geográfico (o âmbito das províncias e, mais
tarde, dos estados federados).
Autoridade concorrente - No Brasil essa unidade é a Polícia Federal criada em 1967 com poderes para lidar com as responsabilidades
que transcendem às das unidades governamentais subordinadas, tem atuação ampla e ativa nos estados federados não necessitando de obter
permissão local para agir. Ocorre assim, uma sobreposição de autoridade entre a Polícia Federal e as Polícias Civis e Militar, todas com
autoridade conjunta de ação em território comum.
Caráter Descoordenado - Exemplo típico desta situação está no enfrentamento e apuração dos crimes de tráfico de drogas, que embora
seja da competência da Polícia Federal,é apurado de forma contumaz pelas polícias estaduais, através de convênios firmados entre Estados e
a União.
3.2 - Permanências e mudanças do sistema brasileiro de policiamento
A estrutura do sistema de policiamento brasileiro, Exército, e da Justiça – Poder Judiciário, e não as próprias
multiplamente descoordenado e moderadamente polícias que mantiveram-se afastadas uma da outra.
descentralizado, não se alterou ao longo do tempo. O Brasil não é exceção em termos de números de
Atualmente no Brasil há duas polícias por estado, três força policial. Na Alemanha, até 1975, cada unidade
polícias da União, mais uma série de Guardas Municipais federada organizava sua (s) polícia (s). Na França e Itália,
(ou civis metropolitanas). são duas as organizações nacionais, além de forças
No Brasil, distinguimos as forças policiais pelo paramilitares especiais e forças das comunas ou cidades.
critério funcional, identificado por Medeiros como Nos Estados Unidos, em 1980, havia 19.691 forças
especialização “extra-organizacional”. Neste sentido, no registradas no Departamento de Justiça.
mesmo espaço geográfico, uma polícias e ocupa da (MEDEIROS,2004:278). No entanto, o que nos
investigação (Polícia Civil) e a outra executa as tarefas diferenciados países citados é o critério funcional e não
paramilitares e de patrulhamento (Polícia Militar). geográfico das forças policiais.
Divisão funcional, ou especialização extra- Saiba mais...Nos países mencionados (Alemanha,
organizacional das Polícias Civil e Militar é resultado, Itália, França, Estados Unidos) a diferenciação entre as
segundo Medeiros, da formação incompleta do Campo forças policiais ocorre pelo critério geográfico. Em regra
Institucional Policial e consequente adesão das Polícias cada organização realiza as três tarefas policiais: polícia de
Militar e Civil aos campos da Defesa e da Justiça ordem, polícia criminal, polícia urbana. Por exemplo, nos
respetivamente. As trocas institucionais entre as polícias Estados Unidos na mesma organização policial há officers
militar e civil privilegiaram, ao longo dos anos – em patrulhando as ruas e detectives investigando crimes.
diferentes contextos políticos, as organizações de Defesa –
O campo institucional é definido por um processo de isomorfismo entre determinadas organizações, que compartilham
mitos e fontes de legitimidade e que tendem a adotar as mesmas “regras do jogo” devido à intensa troca de recursos (técnicos e
institucionais) que estabelecem entre si.
No Brasil, o campo institucional policial foi definido por um processo de isomorfismo entre a Polícia Civil e o Sistema
Judiciário e entre a Polícia Militar e o Exército.
De acordo com Medeiros, o processo de isomorfismo pode ocorrer por:
Força mimética (mimetismo): consiste na imitação organizacional, ou seja, na adoção – intencional ou não, de uma
organização preexistente como modelo para a criação de uma nova.
Força coercitiva: é o exercício direto – formal ou informal – de controle de uma organização sobre outra.
Força normativa: é aquela do padrão profissional – membros de diferentes organizações, oriundos da mesma
“profissão”, tendem a reivindicar os mesmos direitos e rotinas.
A institucionalização do campo policial no Brasil ainda não se completou, uma vez que as polícias se inseriram na
periferia do campo institucional da Justiça e do Exército em detrimento ao fortalecimento de um campo institucional próprio. 10
CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS PARA O CAMPO INSTITUCIONAL POLICIAL:
Dificuldade na troca de pessoal entre as organizações, visto que os policiais têm “profissões” diferentes (força normativa);
Reforço das relações isomórficas entre a Polícia Civil e Justiça e entre a Polícia Militar e Exército;
A estrutura militar não é vista como adequada às tarefas civis e vice-versa;
10
Campo Institucional próprio (*)
Pode-se falar na institucionalização de um campo quando determinados atores, pertencentes a determinadas organizações e relacionados às mesmas
organizações institucionalizantes, adotam soluções organizacionais consideradas legítimas e apropriadas. As organizações passam a sofrer pressões normativas,
coercitivas e miméticas, no sentido de se parecerem umas com as outras.
A especialização extra-organizacional reforça a adesão das polícias aos campos institucionais da Justiça e da Defesa e traz consequências negativas para o
campo institucional policial.
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Descentralização de comando; e pouca troca de recursos técnicos e institucionais entre as duas polícias.
A relação isomórfica realça alguns mitos institucionais das duas corporações policiais que apesar de ineficientes ainda
permeiam o imaginário policial e fundamentam as práticas policiais.
VEJA OS MITOS INSTITUCIONAIS RELACIONADOS ÀS POLICIAS CIVIL E MILITAR:
Segurança Pública (Polícia Civil)
Diretamente relacionado com o problema do crime e do criminoso. Esta perspectiva tem dificuldade de enxergar o crime no
atacado, como um fenômeno político – social e histórico, e sequer olha para aquelas questões da ordem pública que nada tenham a
ver com crime: Se a violência campeia, seria porque faltam leis mais duras; seria porque “a polícia prende e a justiça solta”; seria por
causa da burocracia dos inquéritos; da falta de pessoal e recursos materiais nas delegacias.
A avaliação da polícia em geral relaciona-se à quantidade de inquéritos realizados e de infratores levados aos
tribunais, pouco importando as ações de prevenção, os crimes que não tenham caído nas malhas do sistema, perdidos na
imensidão das “cifras obscuras”; e os crimes que podem vir a ocorrer.
“Ordem Pública” (Polícia Militar)
Falar de ordem pública é, curiosamente, falar de desordem pública, de combate, de guerra, contra inimigos abstratos que, no
atacado, estariam à espreita em lugares suspeitos e determinados.
Considerando o crime como uma patologia intolerável e os conflitos de interesses como desarrumação da ordem, o modelo
militar tem a pretensão de “vencer” os criminosos, de erradicar o crime, de “acabar” com a “desordem”. Imagina-se que a violência
campeia é porque os efetivos são insuficientes; porque a polícia judiciária fica nas delegacias; porque a polícia está menos armada
que os bandidos; porque falta motivação e “garra” aos policiais.
Quanto maior o número de “cercos”, ”incursões”, “operações”, “ocupações” e blitz (bloqueios policiais), melhor.
Nem pensar em séries históricas das taxas de criminalidade e vitimização.
Polícia Civil (visão penalista)
Conduzida preferencialmente por operadores do direito.
Prevalece a visão segundo a qual os problemas do crime e da ordem públicas e resolvem com a lei penal.
Polícia Militar (visão militarista)
Os problemas do crime e da ordem se resolveriam com a força.
As relações isomórficas geram uma relação de propriedade das Polícias às es feras da Defesa e da Justiça:
A Polícia Militar por força mimética (imitação) adotou soluções organizacionais do Exército;
Já as Polícias Civis possuem uma estrutura análoga à do Poder Judiciário e, sua própria razão de ser, está em atuar
como agência do sistema criminal, destacando-se nesse processo sua função de investigação(*) 11.
Segurança pública e aplicação da lei penal confundem-se com a identificação das polícias Civil e Militar, em relação ao
campo da Defesa e da Justiça. Isso é indicativo de que ainda não está completa a conquista democrática da separação
institucional Polícia-Justiça e Polícia-Exército.
A estrutura do sistema de policiamento brasileiro manteve-se praticamente intacta desde a sua formação, admitindo a
coexistência de duas forças policiais distintas (Polícia “de ordem” - Polícia Militar - e a Polícia “de criminalidade” - Polícia Civil),
que não compartilham recursos técnicos e institucionais e, portanto, não se inserem em um campo institucional próprio(*) 12.
11
A investigação busca menos a apuração do crime e mais a identificação, na “clientela marginal” da organização, de possíveis autores dos crimes. A
função policial não está orientada para a resolução de conflitos e sim para a “inexorável punição dos transgressores”(KANTDELIMA,2003:252)
12
Campo institucional próprio
“No Brasil, as principais agências encarregadas do trabalho de polícia são organizadas e controladas pelos estados-membros da Federação.
Embora existam algumas agências de polícia sob controle do governo federal e alguns municípios mantenham guardas municipais, a maior parte
das tarefas de polícia é desempenhada pelas polícias militares e pelas polícias civis dos estados.
Estudos comparativos realizados sobre o sistema de policiamento em diferentes paísesdemonstraram na maioria dos países contemporâneos
que as características estruturais/práticas administrativas têm permanecido as mesmas desde que eles se tornaram reconhecíveis como Estados.
Mas, será que no Brasil essa tendência também se confirma?
Será que a estrutura policial é adequada ao sistema democrático de direito?
Devido à resistência da tradição burocrática já consolidada no país, é forte a tendência de manutenção do padrão de policiamento estabelecido
no início da formação do nosso Estado.
Propostas referentes a uma reestruturação do “Campo Institucional Policial” parecem ganhar corpo na discussão atual sobre as forças policiais
e suas funções na sociedade em detrimento às discussões que consideram as mudanças estruturais do sistema de policiamento.
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e a elaboração de diagnósticos mais eficientes para a orientação de ações conjuntas de prevenção e repressão com um objetivo
pré-definido, implicando ainda na troca de dados e informações que são trabalhados em conjunto para um policiamento mais
eficaz.
Esse processo, portanto, atua contrariamente aos movimentos de centralização na medida em que pretende aumentar a
eficiência do policiamento local prescindindo assim de um comando policial centralizado que é, em última instância, indicativo
da ineficácia das forças locais.
Por outro lado, o crescente aumento da criminalidade no país vem possibilitando um repensar sobre as funções sociais das
organizações policiais quebrando o “mito” de que a polícia deva ser especializada primordialmente no combate ao crime.
O “mito” da polícia “caçadora de bandidos” tem se sustentado ao longo de sua existência na definição legal de suas
funções, segundo o qual cabe à polícia proteger a vida e a propriedade.
Neste sentido a polícia deveria ser especializada em intervenções de emergência em que a vida e a propriedade estivessem
em perigo e em capturar criminosos após os crimes terem sido cometidos.
Seguindo essa lógica, a prevenção do crime seria atingida através do desencorajamento, da rapidez e da segurança ao levar
os criminosos frente a frente com a justiça, para que fossem julgados e punidos.
Para Bayley, (BAYLEY, 2001:234) este tipo de especialização das funções/atividades policiais gera uma simplificação do
trabalho policial e exige da instituição uma obrigação política: mostrar à sociedade sua eficácia como agente de prevenção de
crimes, comprovando que o que faz resulta num aumento de proteção, em ausência de crimes.
No contexto atual de aumento da criminalidade, surge um paradoxo que coloca em questionamento a própria existência da
polícia: A concentração no combate ao crime ao ser colocado como parâmetro de eficiência do trabalho policial acaba por
desvelar a incapacidade e a ineficiência da ação da polícia em enfrentar e combater o crime já que o ato da prisão e a
investigação de crimes não podem ser considerados por si só indicativos positivos da prevenção e do controle do crime e tão
pouco geram uma segurança efetiva da população.
Delineia-se assim, outra tendência bastante expressiva na conjuntura contemporânea referente à função da polícia numa
sociedade democrática, que é o entendimento de que o papel da polícia está intrinsecamente relacionado com sua inserção na
sociedade como mediadora de conflitos e com a participação e mobilização efetiva da população.
Neste sentido, a polícia não pode desprezar as reivindicações sociais não relacionadas à lei, ou seja, as necessidades da
população geradas a partir da estrutura socioeconômica e das relações interpessoais.
Conforme esclarece Bayley:
O papel da polícia em diminuir a ameaça do crime, portanto, vem não apenas da prisão de criminosos, mas também através
da mobilização ativa da população, de modo a atingir tanto as causas quanto os sintomas do crime. Para fazê-lo, a polícia não
pode se distanciar das reivindicações desagregadas; de fato, precisa encarar essas reivindicações como oportunidade de se
envolver nos processos fundamentais de interação social. Em resumo, a polícia deve se envolver em situações não relacionadas à
lei para proporcionar uma prevenção de crimes mais eficaz. (BAYLEY , 2001:236).
Assim sendo, a especialização no combate ao crime não pode ser considerada como elemento definidor da ação policial
uma vez que a cooperação da população é fator fundamental na prevenção e resolução de crimes. A configuração no cenário
público brasileiro dessa tendência de um policiamento próximo à sociedade começou a ser delineado a partir da constituição
brasileira de 1988 com a instauração do Estado Democrático de Direito e implica uma redefinição do papel da polícia em relação
à sociedade, a descentralização da área de comando e o desenvolvimento da ação civil.
3.3 - POLÍCIA E CONTROLE SOCIAL: O DILEMA ENTRE A LEI E A ORDEM
Conforme esclarece Costa (COSTA, 2004:35), a palavra polícia, deriva do termo grego polis, usado para descrever a
constituição e organização da autoridade coletiva. Tem a mesma origem etimológica da palavra política, relativa ao exercício
dessa autoridade coletiva.
A referência etimológica da palavra polícia é reveladora da íntima relação entre Polícia e Política. Se considerarmos a
“Política” como atividade que se relaciona com o “exercício e a prática do poder” e que “tem relação direta com o Estado e a
sociedade global” (RÉMOND, 2003:444) .
Somos levados a constatar que a atividade de polícia é essencialmente política, uma vez que diz respeito à forma como a
autoridade coletiva exerce seu poder (COSTA,2004:35) .
Para Bayley a política afeta a polícia assim como a polícia afeta a política. O regime político do Estado influencia o
comando policial e a extensão da interferência policial na vida política. Em contrapartida, toda ação policial, por ser política,
acaba moldando os processos sociais, definindo, em última instância, a vida política de uma sociedade :
A atividade policial é crucial para se definir a extensão prática da liberdade humana.
Além disso, a manutenção de um controle social é fundamentalmente uma questão política. Não apenas ela define
poderosamente o que a sociedade pode tornar-se, mas é uma qu estão pela qual os governos têm um grande interesse, porque
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sabem que sua própria existência depende disso . Por to das essas razões, a polícia entra na política, querendo ou não. (BAYLEY
, 2001:203).
A relação entre Polícia, Política e Controle Social apontada por Bayley, orientará a discussão desta aula e será referência
para que você pense na questão da manutenção do controle social por parte das polícias no sistema democrático.
O DILEMA ENTRE A LEI E A ORDEM
É correto pensar que existe uma tensão entre a manutenção do controle social e o exercício democrático do poder por parte
das policias?
O controle social é função central da organização policial numa sociedade democrática?
Essa ideia de incompatibilidade entre a manutenção da ordem/controle social e observância da lei é compartilhada por
grande parte da sociedade brasileira (incluindo policiais, autoridade políticas e jornalistas), favoráveis ao “endurecimento” da
força policial para a realização do controle social, principalmente em momentos de aumento do índice de criminalidade do qual
decorre um cenário de medo e insegurança que acabaria por reforçar o uso mais frequente da força policial na “luta contra o
crime”.
De acordo com Skolnick13 a atividade policial não estaria sujeita à observância das leis, mas sim à necessidade de controle
social que ditaria as necessárias variações de intensidade e uso da força para garantir a “vitória contra o crime” .
No entanto, há um equívoco nessa postura. Não são necessariamente os limites democráticos impostos às polícias, as causas
da sua pouca eficiência, mas sim a forma como a questão do controle social é colocada.
Tradicionalmente, a violência é evidenciada nos termos de Controle Social 14 15exercido pelo aparelho repressivo estatal.
Neste enfoque, a noção de controle social está diretamente associada à relação entre sociedade e Estado, sendo o Estado órgão
central de controle social, conforme os autores:
ÉMILE DURKHEIM
Segundo o controle social e a partir das noções de “consciência coletiva, crime e anomia” de Durkheim, um ato é criminoso
quando este é condenado pela sociedade e fere os elementos da consciência coletiva. Na perspectiva o monopólio estatal da
violência é elemento fundamental para o exercício do controle social, portanto,a violência privada é vista como uma forma de
rompimento do controle social.
THOMAS HOBBES
Para este pensador a violência faz parte do estado de natureza do homem, caracterizado pela ausência da autoridade
política. O “homem é o lobo do homem”, e para evitar a “guerra de todos contra todos” é necessário impor mecanismos de
controle externos à ação humana. Somente por meio de um Estado-Leviatã4 16seria possível a realização deste controle externo,
que também pode ser chamado de coercitivo.
13
Jerome Skolnick (* 3 )(1962) destacou o caráter conflitivo da atividade de controle social por parte das instituições policiais num regime
democrático. Ao mesmo tempo em que as polícias são parte do aparato estatal de controle social, o exercício de seu poder coercitivo está limitado por um
conjunto de leis e códigos de conduta, configurando, segundo o autor, o “dilema entre a lei e a ordem”.
14
Para Skolnick, a preocupação da polícia em interpretar a legalidade, usando a lei como instrumento de ordem, resulta na sua ineficiência no
exercício do controle social. Se as polícias pudessem manter a ordem sem se preocupar com os aspectos da legalidade, suas dificuldades diminuiriam
consideravelmente. Entretanto, elas estão inevitavelmente preocupadas em interpretar a legalidade, uma vez que usam a lei como instrumento de ordem.
(SKOLNICK, 1994:6 – citado por COSTA,2004:37)
15
Controle social é “a capacidade de uma sociedade de se autorregular de acordo com princípios e valores desejados” (COSTA, 2004:38)
16
Leviatã (em hebraico: ; לִ ויְ תָָ ןtransl.: Livyatan, Liwyāṯān) é um peixe feroz citado na Tanakh, ou no Antigo Testamento. É uma criatura que, em alguns
casos, pode ter interpretação mitológica, ou simbólica, a depender do contexto em que a palavra é usada. Geralmente é descrito como tendo grandes proporções. É
bastante comum no imaginário dos navegantes europeus da Idade Média e nos tempos bíblicos. No Antigo Testamento, a imagem do Leviatã é retratada pela primeira
vez no Livro de Jó, capítulo 41. Sua descrição na referida passagem é breve. Foi considerado pela Igreja Católica durante a Idade Média, como o demônio representante
do quinto pecado, a Inveja, também sendo tratado com um dos sete príncipes infernais. Uma nota explicativa revela uma primeira definição: "monstro que se representa
sob a forma de crocodilo, segundo a mitologia fenícia" (Velho Testamento, 1957: 614). Não se deve perder de vista que, nas diversas descrições no Antigo Testamento,
ele é caracterizado sob diferentes formas, uma vez que se funde com outros animais. Formas como a de dragão marinho, serpente e polvo (semelhante ao Kraken)
também são bastante comuns. Leviatã. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Leviatã_(monstro)>. Acesso em 26 mar 2019.
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NORBERT ELIAS
Aponta para a necessidade da realização de um controle interno caracterizado pelas mudanças psicológicas ocorridas ao
longo do processo civilizador. O surgimento de um tipo específico de autocontrole, chamado “civilizado”, não pode ser
dissociado do processo de construção do Estado.
Controle social é “a capacidade de uma sociedade de se autorregular de acordo com princípios e valores desejados”
(COSTA, 2004:38)
É preciso considerar outra linha de discussão sobre a violência que considera o “conflito social” condição para a
estruturação social. Isso implica dizer que o conflito é algo presente em qualquer sociedade e surge em função de elementos de
dissociação tais como ódio, inveja e necessidade.
Sociedade = conflito
Sob esse aspecto é importante ressaltar que a violência é apenas uma forma de manifestação do conflito social. O problema
que surge não é o conflito, mas sim os mecanismos sociais disponíveis para controlá-lo, já que nem a sociedade nem o Estado
podem extinguir por completo os conflitos sociais e a violência decorrente desses conflitos.
“A violência é apenas uma entre as diversas formas de manifestação do conflito social”, portanto, o controle social exercido
por meio da ação repressiva do Estado é apenas uma entre diversas outras formas de controle social. Existe uma variedade de
tipos e mecanismos de controle social, cada um resultante de uma configuração social específica.
Existem inúmeras outras funções desempenhadas pelas polícias que não estão ligadas à função reguladora/coercitiva, tais
como:
Assistência às populações carentes;
Apoio às atividades comunitárias;
Socorro; e
Ações de prevenção conjuntas com as associações comunitárias, entre outras.
A ideia de que as polícias são tão somente órgãos executores dos ditames estatais ou “braços executivos” do Estado e a
atribuição do papel das polícias como instrumentos deste para o exercício do controle social não se sustentam e devem ser
repensados.
Em relação ao controle social, cabe às polícias desempenhar papel complementar ao controle social promovido pela
sociedade civil, desenvolvendo atividades relacionadas à administração dos conflitos sociais.
Assim entendido, podemos afirmar que:
As polícias não são as únicas agências estatais encarregadas de realizar o controle social e tampouco desempenham um
papel central neste controle. Há outras instâncias sociais e estatais encarregadas de realizar o controle social.
O papel das polícias na realização do controle social varia de Estado para Estado. Quanto mais central for esse papel, maior
a possibilidade de conflito entre a lei e a ordem, porque a polícia atribui ao uso da força seu principal instrumento de atuação.
Por outro lado, se o papel das polícias no controle social não for central,ou se o instrumento de atuação das polícias não for
fundamentalmente o uso da força, esse conflito perde intensidade.
Entre as várias atividades que desempenha cabe também a polícia fazer com que as leis e regulamentos estatais sejam
observados.
Quanto mais legítima for percebida a forma como as polícias realizam suas tarefas, mais fácil será a aceitação da sua
autoridade e, portanto, menor a necessidade de recurso à violência. O acatamento da autoridade almejado pelo Estado e seus
agentes diz respeito ao grau de legitimidade de que esta autoridade política desfruta junto à sociedade.
O dilema “entre a lei e a ordem” é válido somente para aquelas situações em que o controle social está baseado
principalmente no aparato repressivo estatal no qual as polícias são os principais instrumentos.
Nas situações em que o controle social se estabelece por meio das relações entre Estado e sociedade civil esse dilema perde
a força:
Uma vez que o Estado e a sociedade civil operam de forma complementar, é necessário que a atividade policial esteja em
acordo com os limites impostos pela sociedade. Nesse caso o dilema “entre a lei e a ordem” deixa de existir e dá lugar ao
imperativo de controle da atividade policial, necessário para legitimar a estrutura de controle social. (COSTA,4:63 )
3.3 - POLÍCIA E SISTEMA DEMOCRÁTICO: POR UM NOVO PARADIGMA
Um sistema democrático configura-se pela ampliação da participação política a um grande número de pessoas, no controle
e discussão da política do governo. Para além dessa característica essencial, a democracia exige um alargamento do debate
público de forma institucionalizada, com mecanismos que integrem os grupos de pressão e a canalização das demandas sociais e
políticas.
Segundo Marshall, a cidadania implica “um status que em princípio repousa sobre os indivíduos e que implica igualdade de direitos e
obrigações, liberdades e constrangimentos, poderes e responsabilidades. Desde a antiguidade até a modernidade, cidadania tem significado
uma certa reciprocidade de direitos e deveres entre a comunidade política e o indivíduo.” (MARSHALL, 1973:84).
Considerando a dimensão ética, o conceito de cidadania admite também a esfera da valorização e do respeito ao ser
humano. A dimensão existencial da cidadania compreende que para ser cidadão é preciso ser respeitado como “pessoa
humana17”.
Considerando a dimensão ética, o conceito de cidadania admite também a esfera da valorização e do respeito ao ser
humano. A dimensão existencial da cidadania compreende que para ser cidadão é preciso ser respeitado como “pessoa humana”.
Saiba mais…
17
ser que distingue ou pretende se distinguir de todos os outros seres vivos
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Marshall aponta para uma cadeia de direitos e obrigações a serem conquistados pelos cidadãos para a construção e estabelecimento da
cidadania, destacando :
Direitos Civis: dizem respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos, como a vida, a propriedade e a igualdade perante a lei. São
baseados na ideia de liberdade individual, que, para ser garantida, pressupões a existência de um sistema de justiça independente, além da
proteção dada pelo Estado a esses direitos.
Direitos Políticos: referem-se à participação de todos, diretamente ou por meio de representantes, nas decisões da polis. Além do voto,
são direitos políticos a possibilidade de associar-se para demandar politicamente o livre acesso aos cargos decisórios na arena política.
Conforme salientado por Costa (2004:27), a efetivação e a consolidação do estado de direito implica a ideia de Accountability 18, termo
que se refere à adequação entre o comportamento da polícia e objetivos das comunidades, segundo os princípios de:
Controle e avaliação pelos cidadãos das ações dos agentes estatais;
Responsabilidade (jurídica, política e administrativa) dos agentes estatais; e
Transparência administrativa dos atos desses agentes.
Uma polícia cidadã deve “centrar sua função na garantia e efetivação dos direitos fundamentais dos cidadãos e na interação
com a comunidade, estabelecendo a mediação e a negociação como instrumento principal; uma polícia altamente preparada para
a eventual utilização da força e para a decisão de usá-la.”
Texto:
“A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã” Jorge Luiz Paz Bengochea; et.al. <www.scielo.br/pdf/spp/
v18n1/22234.pdf>
A polícia cidadã é uma polícia que problematiza a segurança, discute sua complexidade e divide responsabilidades.
(BENGOCHEA, et.al. 204)
As seguintes características identificam a polícia cidadã:
Direciona-se para a efetivação e garantia dos Direitos Humanos fundamentais de todos os cidadãos;
Não adota uma postura maniqueísta (divisão entre o bem e o mal) porque admite a complexidade da sociedade consciente de que a
ilegalidade ou infração perpassa todas as classes e os níveis sociais ;
Compreende e admite a importância da interdisciplinaridade da multiagencialidade, da visão solidária de responsabilidade, da
solidariedade e compartilhamento entre as polícias de competências diversas.
Compreende-se como elemento inicial no processo de persecução criminal em que a decisão final– a aplicação da lei – será feita pelo
Juiz de Direito ;
Entende-se como negociadora e mediadora de conflitos e assume sua responsabilidade em relação à habilidade de organização do
espaço e da composição do conflito para encaminhamento à Justiça;
O papel das polícias na realização do controle social varia de Estado para Estado. Quanto mais central for esse papel, maior a
possibilidade de conflito entre a lei e a ordem, porque a polícia atribui ao uso da força seu principal instrumento de atuação. Por outro lado, se
o papel das polícias no controle social não for central, ou se o instrumento de atuação das polícias não for fundamentalmente o uso da força,
esse conflito perde intensidade .
Admite a participação dos cidadãos no processo externo de controle das atividades policiais (Ouvidorias, Corregedorias externas) ; e
Relaciona-se com a comunidade nos processos de intervenções nas áreas sociais que venham interferir na melhoria da vida em
coletividade
O tipo de “controle social” pretendido pela sociedade brasileira, expresso na Constituição de 1988, fundamenta-se nos princípios de
respeito e valorização do ser humano e permite a participação e o controle dos cidadãos sobre a atividade policial.
Os princípios e valores subjacentes ao controle social no atual sistema político brasileiro apontam para a necessária e
urgente redefinição do papel da polícia, admitindo reformas que visam aumentar o grau de participação e controle dos cidadãos
sobre a atividade policial e estabelecendo, num processo inédito da história política brasileira, a interação entre polícia e
sociedade.
As reformas que visam aumentar o grau de controle sobre a atividade policial não necessariamente implicam a melhoria
da performance dessas instituições no que diz respeito ao controle da criminalidade. Esse não é exatamente o objetivo deste
tipo de reforma. O grande apelo político de tornar as polícias menos violentas e autoritárias é torná-las mais confiáveis e úteis à
população. (Costa, 2004: 82).
A existência de uma polícia a serviço do público é o grande desafio para a construção de um Estado efetivamente
republicano e para a consolidação da democracia.
3.4 AS CONDIÇÕES DA LEGITIMIDADE POLICIAL.
POLÍCIA E SOCIEDADE
São grandes os desafios a serem enfrentados para diminuir o distanciamento, operado ao longo de décadas por meio de um
policiamento autoritário e repressivo, entre a polícia e a sociedade.
Entretanto, esforços no sentido de (re)definição do papel das instituições policiais no Brasil como órgãos públicos a serviço
da comunidade, já podem ser observadas em ações práticas.
É o caso, por exemplo, do “Programa de Policiamento Comunitário – CONSEPS” que vêm sendo desenvolvido em Belo
Horizonte.
18
Accountability é um termo da língua inglesa que pode ser traduzido para o português como responsabilidade com ética e remete à obrigação, à transparência,
de membros de um órgão administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados. Outro termo usado numa possível
versão portuguesa é responsabilização. Também traduzida como prestação de contas, significa que quem desempenha funções de importância na sociedade deve
regularmente explicar o que anda a fazer, como faz, por qual motivo faz, quanto gasta e o que vai fazer a seguir. Não se trata, portanto, apenas de prestar contas em
termos quantitativos mas de auto-avaliar a obra feita, de dar a conhecer o que se conseguiu e de justificar aquilo em que se falhou. A obrigação de prestar contas, neste
sentido amplo, é tanto maior quanto a função é publica , ou seja, quando se trata do desempenho de cargos pagos pelo dinheiro dos contribuintes. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Accountability>. Acesso em 26 mar 2019.
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O Programa, desenvolvido pelo CRISP – Centro de Estudos de Criminalidade e segurança Pública, junto à Polícia
Militar e Polícia Civil de Minas Gerais, tem como objetivo “reinventar” a instituição policial envolvendo o incremento da
confiança da população em relação à polícia e ao direcionamento de sua atuação na sociedade, por meio da participação
das comunidades nas políticas de planejamento e interferência da ação policial.
1.2.4. CONCEITOS DE CIRCUNSCRIÇÃO, REGIÃO E ÁREA DE ABRANGÊNCIA DE OUTRAS
INSTITUIÇÕES;
Circunscrição. Substantivo feminino
O que limita a extensão de um corpo. Divisão administrativa, militar ou religiosa de um território: circunscrição eleitoral.
Matemática Ação de circunscrever uma figura a outra.
Região. Substantivo feminino. Vasta extensão de terreno. Grande extensão do território de um país, de um continente etc.,
que se distingue das demais por suas características físicas, administrativas, econômicas, políticas.
Abrangência. Substantivo feminino. Característica do que é abrangente; próprio do que abarca, compreende, inclui ou
incorpora: empresa vai aumentar a abrangência do uso do celular. Capaz de abranger, de conter em si: relator quer ampliar a
abrangência do processo.
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA
2.1. Polícia Comunitária
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária;
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado;
2.2. Policiamento Comunitário
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
2.3. Mobilização Comunitária
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no âmbito da segurança pública;
2.3.3. Policiamento orientado por problema;
As estratégias de policiamento ou de prestação de serviço, que funcionaram no passado, não são mais eficazes. A meta
pretendida, um aumento na sensação de segurança e bem-estar, não foi alcançada. A sociedade e o cidadão estão mais exigentes.
Tanto o grau e a natureza do crime e o caráter dinâmico das comunidades fazem com que a polícia busque métodos mais
eficazes para prestar o seu serviço. Muitas comunidades urbanas enfrentam graves problemas, como: drogas ilegais (e legais,
como: o cigarro, o álcool, dentre outras), violência de gangues, assassinatos, roubos e furtos.
Nesse ambiente em rápida mudança, em que a polícia lida com problemas epidêmicos de droga, atividade de gangues e
níveis cada vez mais altos de violência, a Polícia Comunitária tem se firmado, como a alternativa mais eficiente e eficaz.
• As organizações policiais devem auxiliar na construção de comunidades mais fortes e autossuficientes, comunidades nas
quais o crime e a desordem não podem atingir padrões intoleráveis. A implementação da Polícia Comunitária e do policiamento
comunitário pressupõe alterações fundamentais na estrutura e na administração das organizações policiais.
• As comunidades devem tomar uma posição unificada contra o crime, a violência e o desrespeito à lei, e devem se
comprometer a aumentar a prevenção contra o crime e as atividades de intervenção.
• O policiamento comunitário difere do tradicional com relação à forma como a comunidade é percebida, e com relação às
suas metas de expansão do policiamento.
• Embora o controle e a prevenção do crime permaneçam sendo as prioridades centrais, as estratégias de policiamento
comunitário utilizam uma ampla variedade de métodos para alcançar essas metas.
A polícia e a comunidade se tornam parceiras no tratamento dos problemas de desordem e descuido (atividade de gangues,
abandono de automóveis e janelas quebradas) que, talvez ainda não sejam necessariamente criminais, mas podem levar ao
cometimento de crimes graves. Na medida em que o laço entre a polícia e a comunidade se fortalece, com o tempo, a nova
parceria se torna mais capaz de apontar e abrandar as causas subjacentes ao crime.
2.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA
Polícia comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma parceria entre a população e
a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e
resolver problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas, morais e até mesmo a decadência
dos bairros, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área. O policiamento comunitário baseia-se na crença de
que os problemas sociais terão soluções cada vez mais efetivas, na medida em que haja a participação de todos na sua
identificação, análise e discussão.
Como pressupostos básicos do policiamento comunitário, ressaltam-se:
Ação pró-ativa. O policiamento pró-ativo age preventivamente para evitar que os delitos aconteçam. Para isso é essencial
serem identificados os locais, horários, pessoas ou circunstâncias propícias à ocorrência delituosa.
Ação preventiva. A presença ostensiva, correta e vigilante do policial estabelece um clima de confiança no seio da
comunidade, e inibe a ação da delinquência.
Integração dos sistemas de defesa pública e defesa social
A parceria e a cooperação entre a polícia e a comunidade potencializam os efeitos positivos. A busca compartilhada de
soluções conjuntas evita a dispersão dos esforços, e auxilia a identificação dos problemas que afetam a todos:
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Transparência. A promoção de reuniões para a exposição das atividades desempenhadas pela polícia, e a troca de
informações com a comunidade para a análise dos seus efeitos; estimulando a participação e o envolvimento do cidadão na
busca conjunta da melhoria da qualidade da segurança.
Cidadania. O policial deve ser propagador da noção de cidadania; solicitando a participação de todos nos problemas que
atingem a comunidade.
Ação Educativa. A orientação, o aconselhamento e a advertência devem sempre anteceder as ações repressivas. As
ações educativas não podem ocorrer apenas no momento das infrações, mas através dos organismos comunitários encarregados
de promoverem a defesa social da comunidade, principalmente junto às escolas e associações; promovendo-se palestras,
campanhas e outras formas de divulgação e orientação
Robert C. Trajanowicz and Bonnie Bucqueroux (1990). Community Policing: A Contemporary Perspective. [S.l.]:
Anderson Publishing Company
2.1.1. BREVE HISTÓRICO DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
SURGIMENTO DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
O policiamento comunitário surgiu da necessidade de tempo para cuidar dos filhos. Cada policial era responsável
uma aproximação entre a polícia e a comunidade e pelas condições sociais de uma rua ou de um bairro.
“cresceu a partir da concepção de que a polícia poderia Devido à alta taxa de desemprego nessa época e a
responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às possibilidade dos desempregados entrarem para o crime, as
comunidades” (SKOLNICK, 2003:57). Esse pensamento delegacias eram utilizadas como lugares para distribuir
surgiu entre 1914 e 1919, em Nova Iorque, com o objetivo informações sobre vagas industriais e sociais e os
de mostrar às camadas mais baixas do policiamento “uma moradores desempregados podiam pedir ajuda a polícia
percepção de importância social, da dignidade e do valor para conseguir emprego.
do trabalho do policial (SKOLNICK, 2003). O Em uma segunda fase, a filosofia do policiamento
pensamento inicial era o de que um público esclarecido comunitário ganha força, o que ocorreu nas décadas de 70
beneficia a polícia de duas maneiras: se o público e 80. Isso se deu quando as organizações policiais em
entendesse a complexidade do trabalho policial passaria a diversos países da América do Norte e da Europa
respeitá-lo e se entendesse as dificuldades e o significado Ocidental começaram a promover uma série de inovações
dos deveres do policial, ele poderia promover recompensas na sua estrutura e funcionamento, principalmente na forma
pelo desempenho policial consciente e eficaz. de lidar com o problema da criminalidade. As polícias, em
O primeiro passo foi atrair os jovens, que eram vários países, promoveram alterações significativas, cada
“presenteados” com distintivos de policial júnior, treinados uma com suas características. Para alguns estudiosos, as
e convidados a ajudar a polícia relatando violações da experiências e inovações são geralmente reconhecidas
ordem em seus bairros, policiais “mais fluentes” visitavam como a base de um “novo modelo de polícia”, orientado
escolas e explicavam aos alunos que “o verdadeiro para uma nova visão de policiamento, mais voltado para a
trabalho policial era mais do que apenas prender pessoas, comunidade. Esse tipo de policiamento difere-se dos
que também significava melhorar o bairro, torná-lo mais demais, pois seu objetivo principal é a aproximação entre a
seguro, melhor e um lugar onde se pudesse viver mais polícia e a comunidade. Uma polícia mais humana e mais
feliz”. (SKOLNICK, 2003). Nessa mesma época, a polícia legítima que busca uma ligação entre anseios e objetivos
criou “ruas de lazer” onde colocavam barreiras durante por meio de ações práticas e efetivas que possam amenizar
várias horas do dia, em cada quarteirão, barrando o os problemas causados pela criminalidade. Disponível em:
tráfego. Os jovens então podiam brincar fora de casa sem o <https://aderivaldo23.wordpress.com/tag/historia-do-
perigo do trânsito. Os locais escolhidos normalmente eram policiamento-comunitario-no-brasil/> Acesso em 04 de
aqueles onde as mães trabalhavam fora e não tinham agosto de 2018.
2.1.2. A POLÍCIA COMUNITÁRIA COMO FILOSOFIA DE UM TRABALHO INTEGRADO;
CONCEITO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA
Autor: Cap. PM Luciano Quemello Borges (PMESP).
Para implantar a Polícia Comunitária é preciso, antes de tudo, entender seu conceito.
“Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a
população e a polícia. Tal parceria se baseia na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas
para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e
morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida da área.” (TROJANOWICZ;
BUCQUEROUX, 1994, p. 4-5, grifo nosso)
É possível abstrair do conceito anterior (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994) que a Polícia Comunitária é uma
filosofia (do modo que se relaciona à maneira de pensar) e uma estratégia (portanto, conecta-se ao modo de agir) organizacional
(de toda a organização).
A Polícia Comunitária provoca uma mudança tanto no campo da abstração (nos pensamentos) quanto na concretude das
ações de todos os membros e da própria organização, no sentido de que polícia e comunidade devem “trabalhar juntas” (unidas)
na identificação, priorização e resolução dos problemas (de crime, medo e desordem), com o objetivo final de melhorar a
qualidade de vida na área.
Ainda de acordo com Trojanowicz e Bucqueroux (1994), a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), por meio da sua atual
diretriz de Polícia Comunitária – DPSSP 3.01.06/2011 (2011, p. 20-21) –, subdivide esse conceito em seis partes fulcrais (clique
nos itens abaixo e conheça cada uma delas):
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Filosofia - Pode ser definida como o estudo geral sobre a natureza das coisas e suas relações entre si, ou ainda, como uma
forma de compreender e pensar sobre determinado assunto.
Estratégia - É a arte de usar os meios disponíveis ou as condições que se apresentam para atingir determinados objetivos –
ou, também, a forma de fazer e de utilizar recursos para atingir certa finalidade.
Organizacional - Da organização, no caso específico, da Polícia Militar. No entanto, como vimos anteriormente, pode-se
aplicar a qualquer estrutura que possua uma função policial, de fiscalização ou de atendimento à comunidade.
Parceria - É a reunião de uma ou mais pessoas para um fim de interesse comum ou ação de mais de um ator para alcançar
um objetivo comum a todos os atores sociais.
Problema - Definido basicamente como uma questão levantada para consideração, discussão, decisão ou busca de solução.
Qualidade de vida - Conjunto de condições ou situações que delineiam o viver e o conviver do cidadão na comunidade.
Observe que o conceito se encerra reafirmando a lógica comunitária, quando fala do objetivo de melhorar a qualidade de
vida geral da área. Isto é, atender às peculiaridades do espaço territorial específico de uma dada comunidade. Assim, a Polícia
Comunitária sai de um modelo fixo-societário (delineado para atender toda uma sociedade, como se essa fosse homogênea), para
assumir um modelo customizado (descentralizado/personalizado) às demandas e aos anseios de cada comunidade em particular.
Dentro dessa perspectiva dialética* de construção do conhecimento, é necessária a apresentação de um novo conceito que
agrega uma compreensão síntese da nossa discussão:
Polícia Comunitária é a cultura de união entre comunidade e polícia, objetivando o desenvolvimento de ações eficientes
para a redução de fatores ofensivos à segurança pública. (Brasil, 2017)
Na prática, Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do policiamento comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Polícia Comunitária deve ser interpretada como:
Filosofia organizacional, indistinta a todos os órgãos de polícia, pertinente às ações efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária é propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança junto à comunidade
onde atua, como um médico, um advogado local ou um comerciante da esquina, ou seja, criar condições para que a polícia possa
ser vista não apenas como um número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isto é isto necessário um amplo
trabalho sistemático, planejado e detalhado.
A POLÍCIA E A MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE
No âmbito da Polícia Comunitária a mobilização não é tarefa fácil, pois exigirá que polícia e comunidade possam trabalhar
integradas.
Quais são os aspectos que colaboram para que esta integração aconteça? O que deverá ser observado? Qualquer tentativa de
trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir, necessariamente, a comunidade, pois a sua participação é um fator
importante na democratização das questões de Segurança Pública, na implementação de programas comunitários que
proporcionam a melhoria de qualidade de vida e na divisão de responsabilidades.
A compreensão da dinâmica da comunidade é essencial para a prevenção e controle do crime e da desordem, bem como o
medo do crime, porque o controle e a participação social informal (do coletivo, do grupo) são mais eficazes.
COMUNIDADE E POLÍCIA
Todas as vezes, que grupos de cidadãos ou moradores se reúnem para encaminhar soluções para problemas comuns, o
resultado é bastante positivo. Na Polícia Comunitária não poderá ser diferente.
Grupo de cidadãos → discutem problemas →Resultado positivo
O problema é interpretar as possibilidades da comunidade e da polícia, por isso, é importante que reflita sobre as questões a
seguir levantadas por ambas:
COMUNIDADE
- Qual o papel da comunidade?
- A participação é total ?
- A comunidade participa apenas consertando viaturas ou reformando prédios?
- Apenas aqueles com recursos da comunidade participam privilegiando o serviço na porta de estabelecimentos comerciais?
- A nossa participação será apenas para endossar as ações da polícia no bairro ou para participar das discussões ou decisões
na melhoria do serviço policial?
- Podemos envolver outros órgãos públicos na questão?
- Podemos elogiar ou criticar a polícia local em seus erros e acertos?
- Seremos apoiados pela polícia nessas iniciativas?
- Enfim, a polícia quer ser mesmo comunitária ou é uma “fachada” política?
POLÍCIA
- Qual o papel da polícia?
- É realizar ações democráticas que otimizem o envolvimento e comprometimento da comunidade?
- A exigência para a participação da comunidade será apenas para consertar viaturas ou reformar prédios?
- Ou melhor, servir de informante ou escudo às ações equivocadas de policiais, ou fonte de receitas para comerciantes em
serviços privilegiados de segurança?
- A polícia estará preparada para ouvir a comunidade (elogios aos seus integrantes, críticas ou sugestões)?
- A polícia admite a participação de outros órgãos públicos na questão?
- A polícia apoia as iniciativas da comunidade em melhorar a qualidade de vida ou é um instrumento apenas de “caça
bandido”?
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- A polícia está preparada para conceder o seu “poder” à comunidade (entenda poder não o de polícia, mas o nome e as
possibilidades que a força policial tem no sentido do controle social informal, sem ser repressivo ou fiscalizatório)?
- Enfim, a polícia quer ser mesmo comunitária ou é uma “fachada” política?
Muitas vezes as comunidades não se mostram capazes de integrar os recursos sociais com os recursos do governo.
Existem tantos problemas sociais, políticos e econômicos envolvidos na mobilização comunitária que muitas comunidades
se conformam com soluções parciais, isoladas ou momentâneas (de caráter paliativo), evitando mexer com aspectos mais amplos
e promover um esforço mais unificado com resultados duradouros e melhores. A participação do cidadão, muitas vezes, limita-
se às responsabilidades de ser informado das questões públicas (ações da polícia), de votar pelos representantes em conselhos ou
entidades representativas e seguir as normas institucionais ou legais sem dar sugestões de melhoria do serviço.
Outro problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois as comunidades possuem
comportamentos e anseios diferentes. Independente de serem ricas ou pobres, agrícolas ou industriais, é importante descobrir os
anseios, o desejo de participação no processo e a motivação da comunidade para se integrar com a polícia.
A participação social no âmbito da segurança pública.
Conforme analisa Souza Neto (2008), a Constituição Federal de 1988, ao abordar a segurança pública como “direito e
responsabilidade de todos”, institui o fundamento jurídico dos arranjos institucionais que admitem a participação social na
concepção e no controle da gestão das políticas públicas nessa área.
A participação social, no âmbito da segurança pública, adquire relevância no contexto em que a preservação da ordem
pública democrática pressupõe uma ampliação dos atores sociais responsáveis pela área de segurança pública, para além das
organizações policiais.
No Brasil, esse novo paradigma de segurança cidadã emerge a partir da década de 1990, sobretudo através da constituição
de conselhos comunitários de segurança, redes de vigilância, políticas de prevenção ao crime, policiamento comunitário e da
realização da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública.
De acordo com Godinho (2014), no âmbito da segurança pública, os arranjos institucionais classificados como
participativos devem cumprir os seguintes requisitos:
1. O fato de preverem a ocorrência de fóruns ou momentos deliberativos;
2. com o objetivo de impulsionar discussões públicas e a resolução coletiva de problemas;
3. reunindo, para tanto, atores estatais e sociais, incluindo profissionais da segurança pública;
4. em estruturas paritárias. (GODINHO, 2014, p. 547)
A mobilização e a participação social, na área da segurança pública, geralmente apresentam efeitos benéficos, segundo
analisa Cano (2006), a saber:
• efeitos sobre a concepção, gestão e acompanhamento dos programas, quanto à sua descentralização, democratização etc;
• o impacto preventivo que o crescimento das redes sociais e a melhora nas relações comunitárias podem implicar com
relação ao temor e à violência, seja de forma indireta, ao reduzir o temor e estimular a ocupação dos espaços públicos, ou de
forma direta, ao promover a resolução pacífica dos conflitos cotidianos;
• uma mudança na percepção social da violência, que interiorize o novo paradigma da prevenção; (CANO, 2006, p.149)
Apesar das vantagens da participação social na segurança pública, há diversos obstáculos para a sua efetiva concretização,
tais como:
• falta de continuidade das iniciativas;
• imprevisibilidade dos resultados;
• restrição da participação apenas na esfera da retórica, nos discursos ou nos documentos oficiais, mas sem aplicação
prática.
• dificuldade de mobilização popular, sobretudo em comunidades com capital social deteriorado;
• problemas relacionados à representatividade - dificuldade de composição equilibrada das instituições e de seus respectivos
membros que efetivamente representam a sociedade e os interesses coletivos. (CANO, 2006).
Os conselhos comunitários de segurança pública
Os conselhos comunitários de segurança pública representam mais um exemplo de esforço governamental na direção da
democratização das políticas públicas dessa área. Configura um arranjo institucional que proporciona aproximar as instituições
policiais da sociedade, restaurando a credibilidade da polícia perante a população e transmitindo o sentimento de confiança e a
sensação de segurança e proteção.
Os Conselhos Comunitários de Segurança Pública são instâncias constituídas para que os gestores das organizações
policiais possam ouvir a população no que diz respeito às suas demandas por segurança ou por ordem pública. Os gestores
policiais, por sua vez, devem encaminhar as demandas apresentadas pela população a quem possui competência para a sua
resolução. A população deve cobrar dos gestores policiais o encaminhamento das providências e ainda os resultados das ações.
(RIBEIRO e CORTES, 2009, p. 13)
Segundo analisa Souza Neto (2008), a busca de soluções comunitárias para os problemas de (in) segurança pode contribuir
tanto para a democratização do setor, quanto para aprimorar o controle do crime e melhorar a eficiência da atuação policial, a
despeito de problemas relacionados à descontinuidade, à baixa institucionalidade e à representatividade.
O policiamento comunitário
O policiamento tradicional, de maneira geral, consiste na resposta imediata a ocorrências criminais e incidentes
emergenciais. Apesar da relevância desse tipo de policiamento para minimizar os danos causados pela violência e criminalidade,
essa atividade isolada é ineficiente para a solução duradoura dos problemas de segurança pública. Para escapar desse ciclo, ao
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invés da polícia atuar de forma pontual, exclusivamente quando o problema já eclodiu, a polícia pode ampliar o seu escopo e
direcionar esforços para encontrar soluções duradouras e prevenir os problemas de criminalidade.
O policiamento comunitário é uma alternativa de resolução de problemas geradores de crime e desordem que engloba a
participação social. O policiamento comunitário se orienta na direção da modernização das polícias. É um modelo de
policiamento em que a comunidade é o fundamento da organização da atividade policial. Pressupõe um relacionamento
cooperativo entre a instituição policial e a sociedade, através da efetiva integração entre policiais e cidadãos, seja para
compartilhar informações, seja para identificar problemas, prioridades e estratégias de resolução.
A comunidade é mobilizada e orientada para realizar medidas de autoproteção e para participar da resolução de problemas
que geram crimes, como, por exemplo, contribuir para a incorporação de iniciativas que visam diminuir os fatores de risco
relacionados à vulnerabilidade social. Ao invés do emprego da força e da prestação de serviços policiais emergenciais,
privilegia-se a mediação de conflitos, a prevenção do crime e o policiamento orientado para a solução de problemas.
O policial se converte em referência para a comunidade, participa das reuniões comunitárias, reivindica providências para
os problemas identificados e presta contas sobre o trabalho realizado, de modo que é necessário conferir ao policial de ponta
maior autonomia e poder decisório.
O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (2009) destaca quatro características comuns ao
policiamento comunitário, a saber:
1ª característica: relação de confiança: O policiamento comunitário só ocorre onde há uma relação de proximidade e
confiança recíproca entre polícia e população. Isso permite a realização de um trabalho conjunto no qual ambos compartilham as
tarefas e responsabilidades. Em locais onde essa relação encontra-se deteriorada ou não existe, o primeiro esforço deve ser para
desenvolver estratégias que favoreçam a aproximação e a confiança entre ambos.
2ª característica: descentralização da atividade policial: Para que o policial contribua para o bem-estar da comunidade, é
necessário que ele esteja integrado às pessoas que nela vivem, conheça o seu cotidiano e tenha alguma autonomia para tomar
iniciativas nas atividades de segurança local. Essa interação com a comunidade permite que o policial conheça as lideranças
locais e levante informações fundamentais para o seu trabalho.
3ª característica: ênfase nos serviços não emergenciais: No policiamento comunitário, as atividades são orientadas,
prioritariamente, para a prevenção do crime e resolução de conflitos na sua origem, tendo como base a comunidade. Através do
trabalho preventivo, tanto a comunidade assume um papel mais ativo em relação à segurança como a polícia assume funções que
não se limitam apenas à repressão ou aos atendimentos emergenciais. O trabalho preventivo é fundamental, porque, quando bem
realizado, suas ações possuem grande poder para minimizar ou, até mesmo, evitar que problemas se desdobrem em situações
mais complexas e de maior perigo. Isso, consequentemente, diminui, inclusive, a demanda da polícia por atendimentos
emergenciais.
4ª característica: ação integrada entre diferentes órgãos e atores: No policiamento comunitário, as ações não são realizadas
apenas pela polícia. [...] Além da participação da comunidade é necessário também buscar a colaboração de outros
representantes públicos, como prefeitura, hospitais, escolas, concessionárias de energia e saneamento, Ministério Público,
Ouvidorias de Polícia, entre outros. Essa coordenação de diversas instituições é fundamental, porque muitos problemas de
segurança exigem providências que não dizem respeito apenas à polícia, mas também a outros serviços públicos. O resultado
desse esforço conjunto acaba sendo um novo olhar e uma nova atitude diante dos problemas de segurança e do próprio trabalho
policial. (NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2009, p. 15 – 16).
2.2. POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
O policiamento comunitário e suas atribuições dentro da sociedade
O policiamento militar comunitário surgiu nos anos 70, no Canadá e em Londres, com a proposta de fazer com que toda a
população participasse das políticas de segurança pública da comunidade. Esse projeto chegou ao Brasil tendo como princípios,
políticas de prevenção e integração entre os órgãos policiais e os cidadãos.
O trabalho policial fica mais viável quando a comunidade contribui para fornecer informações relevantes sobre os casos,
como denunciar suspeitos de um crime ou apontar lugares de riscos.
Podemos concluir que a cidadania não é plena sem a participação da sociedade. Na polícia canadense, os conselhos
consultivos são responsáveis por dar suporte à polícia daquele país, já que são os membros da sociedade que apontam os
problemas e buscam soluções.
Neste contexto, há uma grande necessidade de que novas políticas de segurança pública sejam colocadas em práticas, tendo
como foco a integração comunitária, com a reestruturação da polícia na democracia participativa, no investimento de programas
de prevenção e na qualidade do serviço policial.
Os programas de policiamento comunitário estão voltados para a aproximação entre a sociedade e órgãos públicos, em uma
ação conjunta entre o cidadão e o Estado.
A polícia comunitária é definida também como “uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova
parceria entre a população e a polícia, baseando-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar
juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como o crime, drogas, medo do crime, desordens
físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área”.
O fundamento da polícia comunitária é a integração entre policiais e a comunidade, sendo dever da polícia, nesse caso, agir
preventivamente com os cidadãos para identificar e solucionar os problemas. Essa integração entre a polícia e a comunidade
envolve a participação do policiamento ostensivo e investigativo, cujas políticas são amparadas pela sociedade de maneira
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democrática. Em que tanto as responsabilidades quanto a manutenção da paz social e da ordem pública não cabem somente à
polícia, mas também a todos os cidadãos.
Dessa maneira, as funções são basicamente prestar serviço à sociedade com o auxílio da mesma. Tomamos como exemplo
o policiamento comunitário de Minas Gerais, norteado por:
➢ Visão moderna de gestão da segurança pública;
➢ Mudança da cultura organizacional;
➢ Administração baseada em valores prévia e claramente estabelecidos, com base na responsabilidade social do
Estado;
➢ Descentralização da estrutura dos órgãos de segurança pública;
➢ Processo decisório baseado em estreita parceria com a comunidade (CONSEPs);
Poder decisório aos policiais de linha de frente.O policiamento comunitário e suas atribuições dentro da sociedade.
Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/o-policiamento-comunitario-e-suas-atribuicoes-
dentro-da-sociedade/62919 >. Acesso em 18 maio 2019.
2.2.1. A COMUNIDADE COMO “LOCUS PRIVILEGIADO”;
A complexidade e a fragmentação da realidade social são traços da contemporaneidade impressos nas esferas mundial e
local. Em toda sociedade, porém, há agrupamentos humanos unidos por diversas identidades, dentre elas a territorial, que
confere à comunidade o status de locus privilegiado para o desenvolvimento de programas de transformação social.
Essa identidade territorial, segundo Kisil, é vivenciada onde os indivíduos ou grupos sociais mais facilmente reconhecem
como pertencentes a uma mesma comunidade (...). A fonte mais imediata de autorreconhecimento e organização autônoma é o
território. As pessoas identificam-se com os locais onde nascem, crescem, vão à escola, têm seus laços familiares, enfim se
socializam e interagem em seu ambiente local, formando redes sociais com seus parentes, amigos, vizinhos, organizações da
sociedade civil e autoridades do governo.19
No mesmo sentido, o Programa Justiça Comunitária adota a comunidade como esfera privilegiada de atuação, porque
concebe a democracia como um processo que, quando exercido em nível comunitário, por agentes e canais locais, promove
inclusão social e cidadania ativa, a partir do conhecimento local. É na instância da comunidade que os indivíduos edificam suas
relações sociais e podem participar de forma mais ativa das decisões políticas. É nesse cenário que se estimula a capacidade de
autodeterminação do cidadão e de apropriação do protagonismo de sua própria história.
O conceito de comunidade Em meio à vasta literatura sociológica dedicada a conceituar comunidade, a definição talhada
por Lycia e Rogério Neumann revela-se bastante útil para este trabalho, considerando a sua objetividade: Comunidade significa
um grupo de pessoas que compartilham de uma característica comum, uma <comum unidade> que as aproxima e pela qual são
identificadas.20
Conforme os próprios autores alertam, em geral, a unidade comum é a região onde as pessoas vivem, mas nada impede que
uma comunidade seja constituída a partir de interesses e/ou causas partilhados. De qualquer sorte, no núcleo do conceito está
localizada a ideia de identidade compartilhada. Neste trabalho, a denominação comunidade será atribuída aos agrupamentos
humanos que vivem na mesma localização geográfica e que, nessa condição, tendem a partilhar dos mesmos serviços (ou da
ausência deles), problemas, códigos de conduta, linguagem e valores.
A partilha territorial, entretanto, não leva necessariamente à construção de uma comunidade coesa socialmente. Essa
característica vai depender do grau de conexão entre seus membros e de sua capacidade de promover desenvolvimento local, ou
seja, de seu capital social.
O CAPITAL SOCIAL se verifica de acordo com o grau de coesão social que existe nas comunidades e que é demonstrado
nas relações entre as pessoas ao estabelecerem redes, normas e confiança social, facilitando a coordenação e a cooperação para o
benefício mútuo. 21
Segundo Robert C. Chaskin22 , a aferição da coesão social de uma comunidade se dá a partir da análise de quatro elementos,
a saber:
1) senso de comunidade ou grau de conectividade e reconhecimento recíproco;
2) comprometimento e responsabilidade de seus membros pelos assuntos comunitários;
3) mecanismos próprios de resolução de conflitos;
4) acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locais ou não.
Onde há coesão social, há identidade compartilhada, cuja criação depende da mobilização social e do envolvimento com os
problemas e soluções locais. Há, portanto, segundo Putman 23 , um ciclo virtuoso entre capital social e desenvolvimento local
sustentável. Nesse sentido, desenvolver comunidade é um processo que agrega valores éticos à democracia e constrói laços de
solidariedade.24
CONHECENDO O LOCUS. O MAPEAMENTO SOCIAL
19
KISIL, Marcos. Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2005. p. 38.
20
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns. Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário. São Paulo:
Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004. p. 20-21. (Coleção Investimento Social).
21
AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, Social capital and social wellbeing, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns,
Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 47.
22
CHASKIN, Robert J. Defining community capacity: a framework and implications from a comprehensive community initiative, apud NEUMANN, Lycia Tramujas
Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 24.
23
PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2005. p. 186.
24
KISIL, Marcos, Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado, cit., p. 51.
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Primeiramente, é preciso definir o que se pretende com o mapeamento social, a fim de que os formulários de identificação e
cadastramento dos dados sejam elaborados de maneira a veicular as perguntas adequadas. Nesse sentido, é importante ressaltar
que o mapa a ser confeccionado não se resume a uma fotografia momentânea dos elementos identificados, mas deve ser um guia
para subsidiar o diálogo entre essas informações, para servir de base a uma permanente animação de redes sociais.
Para o Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, a identificação das organizações sociais é fundamental para servir
de referência para:
a) o processo de seleção de novos agentes comunitários;
b) o encaminhamento dos participantes para a rede social, quando a solução do conflito assim o demandar;
c) o conhecimento das circunstâncias que envolvem os problemas comunitários; e,
d) a constituição de novas redes sociais ou o fortalecimento e a animação das já existentes, quando a demanda ostentar
potencial para tanto.
No decorrer da execução do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, as dificuldades enfrentadas na confecção
desse mapeamento foram inúmeras, desde a carência de recursos humanos em especial na fase inicial até a dificuldade de se
traçar uma estratégia de animação de redes sociais, quando toda a prioridade do Programa estava voltada para a capacitação dos
agentes comunitários nas técnicas de mediação.25
Apesar das dificuldades, o Programa conseguiu reunir, com a colaboração de alguns agentes comunitários, informações
relevantes para a confecção do mapa, sem contudo estabelecer uma conexão entre elas. Na ausência de um planejamento prévio
aliado a uma clara estratégia metodológica de conexão entre essas informações, os dados coletados não se comunicaram.
Com o propósito de suprir essa lacuna, o Programa está desenvolvendo um passo a passo 26 como estratégia para a
confecção permanente do mapeamento social das duas cidades-satélites, o qual contém as seguintes fases:
a) definir a área geográfica a ser mapeada com limites claros;
b) definir as fontes de informação e a metodologia adequada (documentos de órgãos oficiais, visitas às instituições,
entrevistas pessoais ou por telefone, entre outras);
c) recrutar os agentes comunitários para a coleta dos dados e estimular que o façam com o auxílio de alguns moradores; 27
d) criar um formulário para a identificação e o cadastramento; 28
e) organizar um banco de dados apto a promover o cruzamento dessas informações.
A fim de adotar uma metodologia coerente com a estrutura do Programa, a equipe interdisciplinar reduziu a área e as suas
expectativas objeto do mapeamento, transformando essa tarefa de difícil execução em algo viável, envolvente e eficiente. A partir
dessa redução e da consciência de que a cartografia social é uma atividade em permanente construção, adequaram-se as etapas
desse processo à capacidade estrutural, para não gerar novas frustrações.
A definição territorial da área mapeada e de suas limitações obedeceu ao critério de local de moradia de cada agente
comunitário, o que possibilitou, inclusive, maior inserção dos agentes em sua comunidade. Optou-se por localizar deficiências e
necessidades, mas também talentos, habilidades e recursos disponíveis. Essa estratégia possibilita que o mapeamento sirva de
espelho para a comunidade que, ao se olhar, tenha consciência de seus problemas, mas também conheça as suas potencialidades,
o que é essencial para a construção de uma identidade comunitária.
Esse método também torna possível investigar em que medida as soluções para os problemas comunitários já existem ali
mesmo, exatamente naquela comunidade que, por razões histórico-estruturais de exclusão social, não enxerga nenhuma solução
para os seus problemas, senão por meio do patrocínio de uma instituição externa àquele habitat. Essa conexão entre problemas e
soluções promove um senso de responsabilidade pela comunidade como um todo, o que cria uma espiral positiva de
transformação social.29
Para que essa conexão efetivamente aconteça, é indispensável que o processo de mapeamento não tenha por objetivo tão-
somente a confecção de um banco de dados, repleto de informações úteis, porém sem ligação entre si. A construção permanente
do banco de dados é, sobretudo, um meio de fortalecer relações e criar parcerias parcerias.
Segundo Lycia e Rogério Neumann, ao identificar os recursos locais, os moradores passam a conhecer o potencial de sua
comunidade e começam a estabelecer novas conexões, ou fortalecer as já existentes, entre os indivíduos, seus grupos e as
instituições locais, assim como entre esses atores, e as causas que são importantes para o desenvolvimento daquela comunidade.
30
Nesse sentido, apresenta-se a seguir as informações a serem coletadas para o mapeamento social do Programa Justiça
Comunitária. Esse processo, sob essa nova formatação, teve início em 25 de agosto de 2006. 31.
25
Hoje, a avaliação é a de que o fato de o Programa ostentar três pilares não significa necessariamente que eles devam ser construídos um a um. Havendo uma estrutura
mínima, o ideal é que os três sustentáculos de um programa de justiça comunitária sejam desenvolvidos em conjunto, uma vez que há íntima relação entre eles. A título
de exemplo, é a partir de uma programação eficiente das atividades voltadas à animação de redes sociais que se podem atrair demandas para a mediação efetivamente
comunitária, com largo impacto social.
26
A formulação desse passo-a-passo foi uma adaptação da experiência desenvolvida pela equipe psicossocial do Programa Justiça Comunitária da sistematização
sugerida por Lycia Tramujas Vasconcellos Neumann e Rogério Arns Neumann (Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais ABCD. São Paulo:
Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004). 20. O Programa Justiça Comunitária conta
27
O Programa Justiça Comunitária conta com alguns amigos do Programa. Em geral, são ex-agentes comunitários que, por alguma razão, desligaram-se do Programa
sem, contudo, deixarem de contribuir para a realização de atividades pontuais.
28
Ver Anexo I.
29
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais ABCD, cit., p. 26.
30
.Ibidem, p. 23
31
. Nessa data teve início o semestre letivo de 2006 da Escola de Justiça e Cidadania, oportunidade em que se apresentou a nova metodologia de captação das
informações relativas à comunidade, a fim de que os agentes comunitários possam contribuir de maneira mais efetiva para a confecção do mapeamento social.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
32
RECURSOS DISPONÍVEIS
Associação de Moradores
Estas organizações são fundamentais por sua capilaridade e pelo potencial de produzir capital social e protagonismo
comunitário, ou seja, por sua capacidade de mobilização em torno de interesses e valores comuns. É um contraponto à cultura de
dependência de apoio institucional externo. É interessante que a identificação das associações inclua a informação sobre seu
funcionamento (local, periodicidade de reuniões, dentre outros) bem assim as suas realizações.
Instituições em geral
Entidades públicas = escolas, hospitais, postos de saúde, parques, bibliotecas, etc.; Associações e instituições = igrejas,
clubes, cooperativas, centros comunitários, etc. O elenco destas instituições deve ser acompanhado de um levantamento quanto
ao acervo de recursos que cada uma delas pode oferecer. Por exemplo, é importante registrar se uma escola pública possui e/ou
está disposta a oferecer salas para reuniões abertas aos finais de semana, computadores, cursos de alfabetização de adultos,
quadras de esportes, educadores voluntários, conselhos de pais e mestres, sinergia entre a escola e a comunidade, organização
estudantil, etc. 33
Habilidades pessoais
Em toda comunidade, é possível identificar líderes, voluntários, bordadeiras, cozinheiras, artistas, educadores, mediadores
natos de conflitos, etc. Essas pessoas, entretanto, muitas vezes estão soltas e poderiam potencializar seus talentos se firmassem
parcerias ou simplesmente se tivessem maiores oportunidades de expressar as suas habilidades. O mapeamento pode auxiliar no
desencadeamento desse processo.
DIFICULDADES
É indispensável que o formulário de informações coletadas para a confecção do mapa tenha um espaço destinado ao
registro dos problemas da comunidade, segundo a perspectiva da própria comunidade. Além disso, é interessante classificar o
problema de acordo com a sua natureza: estrutural, social, pessoal 34. Essa classificação, quando efetuada pelo próprio agente
comunitário, em comunhão com as pessoas entrevistadas, pode provocar uma reflexão importante sobre o contexto nos quais
repousam os conflitos individuais ou coletivos daquela comunidade. Assim, problemas como desemprego, analfabetismo,
ausência de saneamento, falta de hospitais e escolas, violência doméstica, crianças de rua, crime organizado, gangues de jovens,
alcoolismo, evasão escolar, crimes, abuso infantil, problemas psicológicos, dentre outros, comporão um mosaico útil para
impulsionar uma reflexão coletiva acerca de suas circunstâncias.
Embora não haja um momento de conclusão do mapeamento social, eis que se trata de um processo permanente na mesma
medida da dinâmica social, é fundamental que os resultados parciais sejam objeto de partilha e debate na comunidade. Além
disso, é importante que, periodicamente, sempre que possível, haja uma análise dos resultados alcançados a partir da confecção
do mapa, tais como parcerias, empreendimentos ou eventos desencadeados a partir desse processo.
2.2.2. AS REDES SOCIAIS COM FOCO NAS AÇÕES COMUNITÁRIAS;
ANIMAÇÃO DE REDES SOCIAIS
AS REDES SOCIAIS
As redes sociais são a expressão dos contornos da contemporaneidade. Para Manuel Castells, redes constituem a nova
morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados
dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura 35. O padrão de organização em rede caracteriza-se pela
multiplicidade dos elementos interligados de maneira horizontal. Os elos de uma rede se comunicam voluntariamente, sob um
acordo intrínseco que revela os traços de seu modus operandi: o trabalho cooperativo, o respeito à autonomia de cada um dos
elementos, a ação coordenada, o compartilhamento de valores e objetivos, a multiliderança, a democracia e, especialmente, a
desconcentração do poder. 36
Há um processo simbiótico37 entre participação política, exercício da autonomia e solidariedade entre os membros de uma
comunidade organizada em rede. As redes permitem maximizar as oportunidades para a participação de todos, para o respeito à
diferença e para a autoajuda em um contexto de mútua assistência. Participação traz mais oportunidade para o exercício dos
direitos políticos e das responsabilidades. Para se ter acesso aos recursos comunitários, o nível de atividade e de compromissos
dos grupos sociais aumenta e a autoestima cresce, após a conquista de mais direitos e recursos. Há uma reciprocidade entre os
vários componentes dessa cadeia ecológica, na medida que implica retroalimentação. 38
Castells declara que o principal agente da mudança atual é um padrão de organização e intervenção descentralizada e
integrada em rede, característica dos novos movimentos sociais. 39
32
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcelos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais ABCD, cit., p. 53-61.
33
Ibidem, p. 64
34
. Ibidem, p. 24.
35
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venâncio Mayer com a colaboração de Klauss Brandini Gerhardt. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2000. p. 497 (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1).
36
MARTINHO, Cássio. O projeto das redes: horizontalidade e insubordinação. Aminoácidos, Brasília, Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED), n. 2, p.
101, 2002.
37
Simbiose – Ecologia: interação entre duas espécies que vivem juntas.
38
FOLEY, Gláucia Falsarella, Justiça comunitária: por uma justiça da emancipação, cit., p. 123-127.
39
Pelo fato de que nossa visão histórica de mudança social esteve sempre condicionada a batalhões bem ordenados, estandartes coloridos e proclamações calculadas,
ficamos perdidos ao nos confrontarmos com a penetração bastante sutil de mudanças simbólicas de dimensões cada vez maiores, processadas por redes multiformes,
distantes das cúpulas de poder. São nesses recônditos da sociedade, seja em redes eletrônicas alternativas seja em redes populares de resistência comunitária, que tenho
notado a presença dos embriões de uma nova sociedade, germinados nos campos da história pelo poder da identidade. E conclui: o caráter sutil e descentralizado das
redes de mudança social impede-nos de perceber uma espécie de revolução silenciosa que vem sendo gestada na atualidade (CASTELLS, Manuel. O poder da identidade.
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A leitura de que as redes revelam novas formas de relações sociais também é compartilhada por Roberto Armando Ramos
de Aguiar, para quem as redes vão possibilitando a combinação de projetos, o enfraquecimento dos controles burocráticos, a
descentralização dos poderes, o compartilhamento de saberes e uma oportunidade para o cultivo de relações horizontais entre
elementos autônomos. 40
Essa nova estrutura que vai se consolidando como alternativa ao sistema oficial está associada à prática da mediação: Como
a verticalidade e as estruturas piramidais vão sendo confrontadas pelas redes, a solução dos conflitos tende a abandonar as
formas clássicas e judicializadas para admitir novas formas de composição de conflitos como a mediação, que consiste na
possibilidade de discussão mediada dos problemas para se chegar a um acordo final 41. Essas experiências permitem que a lógica
da rígida estrutura da linguagem judicial ceda lugar à retórica, à arte do convencimento, ao envolvimento. É o que ele denomina
direito dialogal, que respeita as diferenças e radicaliza a democracia. 42
Mas, afinal, diante da centralidade do mercado e da retração estatal que marcam os tempos atuais, em que malhas sociais
essas redes são construídas? Quais são os espaços possíveis para a reinvenção da emancipação? Para Sousa Santos, as
sociedades capitalistas são constituídas de seis estruturas, seis esferas de relações sociais, as quais produzem seis formas de
poder, de direito e de conhecimento de senso comum. São espaços centrais para a produção e reprodução das relações de poder,
mas são também suscetíveis de se converterem em lugares centrais de relações emancipatórias 43, a partir de práticas sociais
transformadoras. Apesar de cada esfera guardar autonomia em relação às demais, posto que apresentam dinâmicas próprias, a
ação transformadora em cada uma delas só pode ser colocada em movimento em combinação com as demais. 44
Em cada espaço dessa estrutura multifacetada, a ação transformadora destina-se a construir condições para que os
paradigmas emergentes possam ser experimentados em oposição à reprodução dos velhos padrões de dominação. Esses espaços
são os seguintes:
a) a esfera doméstica, cujo paradigma dominante é constituído pela família patriarcal, em contraposição à emergência da
democratização do direito doméstico, baseado na autoridade partilhada, na prestação mútua de cuidados, dentre outros;
b) o espaço da produção, no qual reina o expansionismo capitalista a ser transformado em um novo padrão pautado em
unidades de produção baseadas em cooperativas autogeridas;
c) o mercado, no qual o consumo voltado para as satisfações individualistas possa ser direcionado para as necessidades
humanas, por meio do estímulo a um consumo solidário;
d) o espaço comunitário propriamente dito, em que a sociedade colonial , representada por antigas formas de organização
pautadas na exclusão das diferenças, possa dar espaço à identidade múltipla, inacabada, valorizando o senso comum
emancipatório orientado para uma ação multicultural e democrática;
e) a esfera da cidadania, constituída pelas relações entre o Estado e a sociedade e entre os membros da sociedade; nesse
espaço, o paradigma emergente é voltado à democracia radical, à realização dos direitos humanos, transformando as relações de
poder em autoridades partilhadas;
f) o espaço mundial, no qual o paradigma do desenvolvimento desigual e da soberania exclusiva seja transformado em
soberania recíproca e democraticamente permeável.
Nesses espaços estruturais, a construção do paradigma emergente pressupõe uma tripla transformação: do poder em
autoridade partilhada; do direito despótico em direito democrático; e do conhecimento-regulação em conhecimento-
emancipação.
Os espaços privilegiados para a formação dessas redes solidárias, na perspectiva do Programa Justiça Comunitária, são três
das seis esferas indicadas por Sousa Santos: o espaço doméstico, o comunitário e o da cidadania. Nesses espaços, é possível
reinterpretar os conflitos, instrumentalizando-os para o exercício da autonomia, sob uma perspectiva solidária.
A autonomia é a capacidade de autodeterminação de um ser humano ou de uma coletividade. Segundo Franco, é o poder de
se administrar por si mesmo, criando as normas nomos, para si mesmo auto. Mas, conforme adverte esse autor, o exercício da
autonomia pressupõe uma relação de poder, de vez que cada um, em sua autossuficiência, não se volta à realização da
humanização. Assim, para romper com a lógica do poder, a autonomia deve se universalizar, por meio da construção de um
mundo unificado por comum humanização. 45
O conceito de autonomia com o qual opera o Programa Justiça Comunitária tem, portanto, essa dimensão da alteridade. O
seu desenvolvimento ocorre nos locais em que as pessoas erigem suas vidas e enfrentam as dificuldades, em comunhão com as
outras. É nessas arenas locais doméstica, comunitária e da cidadania que os cidadãos podem desenvolver a capacidade de
refletir, dialogar e decidir em comunhão os seus conflitos, dando ensejo à realização da autonomia política, no sentido de resgate
do auto nomos e da radicalização da democracia 46. Essa requer mais participação popular, menos exclusão social e,
consequentemente, mais justiça social. São nessas esferas que o cidadão comum sente que é possível intervir na vida política,
Tradução de Klauss Brandini Gerhardt. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 426-427. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 2).
40
E acrescenta: Isso enseja uma profunda revisão tanto no momento da gênese normativa, nas formas de sua construção, como também aponta para novas formas de
aplicação, manutenção e controle dos que vivem no interior dessas relações, onde não há lugar para a lentidão, nem espaço para assimetrias acentuadas, nem
oportunidades de acumulação de poder pelos velhos detentores da máquina burocrática. É uma outra dimensão da democracia emergindo (AGUIAR, Roberto Armando
Ramos de. Procurando superar o ontem: um direito para hoje e amanhã. Notícia do Direito Brasileiro, Nova série, Brasília, Universidade de Brasília, Faculdade de
Direito, n. 9, p. 71, 2002).
41
Ibidem, p. 76.
42
Ibidem, mesma página
43
SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000. p. 271.
44
Ibidem, p. 334-342.
45
FRANCO, Augusto. Ação local: a nova política da contemporaneidade. Brasília: Agora; Instituto de Política; Fase, 1995. p. 61 e 80.
46
MOUFFE, Chantal. Deliberative democracy or agonistic pluralism? Social Research, v. 66, n. 3, p. 745-758, 1999. Disponível em: . Acesso em: nov. 2002.
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exercitando a cidadania. São nesses espaços que as pessoas constroem suas relações e fazem escolhas ao longo da vida. São
esses os espaços em que se tece a teia da vida. 47
As redes sociais em movimento
Conforme já assinalado, o mapeamento social permite a descoberta das vocações, talentos e potencialidades da comunidade
e de seus membros. No decorrer da permanente sistematização e análise dos dados coletados, é importante que haja um
movimento que conecte as iniciativas e organizações comunitárias, colocando-as em permanente contato e diálogo.
A animação de redes sociais tem por objetivo promover capital social, cujo grau, embora não possa ser mensurado 48, pode
ser avaliado a partir da presença dos seguintes elementos na comunidade: sentimento de pertença, reciprocidade, identidade na
diferença, cooperação, confiança mútua, elaboração de respostas locais, emergência de um projeto comum, repertório
compartilhado de símbolos, ações, conceitos, rotinas, ferramentas, estórias e gestos, relacionamento, comunicação, realização de
coisas em conjunto.
Mas, como promover esses encontros em face de uma realidade que estimula o ceticismo na comunidade e até mesmo um
certo grau de resignação de seus membros em relação aos temas afetos à vida política? Conforme Neumann assevera, nas
comunidades de baixa renda, a alta migração de moradores, a violência, a insegurança e a desconfiança de tudo e de todos
tendem a quebrar as relações sociais e a isolar as pessoas em suas casas e espaços. Não permitindo que compartilhem anseios,
dúvidas e medos. Um trabalho de desenvolvimento de uma comunidade de dentro para fora deve começar por aproximar as
pessoas e ajudá-las a construir ou fortalecer as relações e confiança mútua. 49
Nesse sentido, é fundamental que os agentes comunitários e a equipe interdisciplinar mantenham em suas agendas
permanentes contatos com a comunidade, por meio de reuniões previamente organizadas.
Para preparar as reuniões, deve-se: 50
1. verificar se há infraestrutura no local (se o espaço comporta o número de pessoas, se há barulho, etc.);
2. levantar as necessidades de material;
3. definir o facilitador;
4. elaborar a pauta da reunião a ser divulgada com antecedência;
5. elaborar um acolhimento inicial;
6. elaborar uma dinâmica na qual todos possam participar; 51
7. fechar a reunião, amarrando o que foi deliberado;
8. confirmar eventuais tarefas assumidas individualmente ou em grupo;
9. divulgar a data de uma próxima reunião
A reunião também deve propiciar que o tema que a ensejou seja objeto de reflexão, abordagem e troca de saberes
diferenciados, incluídos o dos técnicos que eventualmente participem e daquele produzido localmente. Também deve haver um
espaço para falar do futuro, que é sempre um norteador dos esforços comunitários.
Ao proporcionar esses encontros e promover esses diálogos, os agentes comunitários agem como tecelões, contribuindo
para que essa teia social se revele coesa o suficiente, indicando que aquele aglomerado humano se lançou na aventura de
construir a sua comunidade.
2. 3. MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA
Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade venha atingir os
seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos: a comunidade geográfica e a
comunidade de interesse.
Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma
população.
Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário porque o crime, a desordem e
o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica.
Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os residentes
trabalhem acompanhado do policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade. (TROJANOWICZ e
BOUCQUEROUX, 1994).
Nesta óptica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa aproximação.
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça,
passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma
comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultados decididos e
desejados por todos.
2.3.1 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA;
GESTÃO PELA QUALIDADE NA SEGURANÇA PÚBLICA.
47
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1997.
48
FRANCO, Augusto de. Capital social. Brasília: Instituto de Política; Millennium, 2001. p. 62.
49
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais ABCD, cit., p. 32.
50
Ibidem, p. 30
51
A experiência do Programa Justiça Comunitária revelou que, quando realizadas em pequenos grupos, as reuniões tendem a ser mais eficientes, porque propiciam um
ambiente mais acolhedor e possibilitam maior conexão. As dinâmicas envolvendo grandes grupos tendem a privilegiar somente os mais extrovertidos, o que facilita que
as decisões sejam do tipo assembleísticas, ou seja, prevalecem o argumento e a perspectiva daquele que levar mais aliados e, por consequência, tiver maior número de
adesões.
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É possível até se discutir o que é qualidade, mas não se pode negar que os princípios da gestão pela qualidade, utilizados
com êxito na administração de empresas públicas e privadas, auxiliam muito no planejamento, no acompanhamento e na
avaliação de produtos e serviços. Estes princípios aplicados à Segurança Pública, principalmente na Polícia Comunitária,
contribuirão para a melhoria da prestação do serviço à comunidade.
Estratégias Institucionais para o Policiamento
Discutindo estratégia
De forma simples, uma estratégia define:
as metas que se quer atingir;
os principais produtos (ou serviços);
as tecnologias; e
os processos de produção que serão utilizados.
Por isso, é de fundamental importância elaborar metas é quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos), estabelecer
prazos (tempo) e definir responsabilidades. A estratégia também orienta a maneira como a instituição irá se relacionar com seus
funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor forma de usar sua
instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades do meio.
Como observa FREITAS (2003), gerenciar a rotina é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados,
esperados, de produtividade e qualidade pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas (ou pós-modernas), utilizam
o sistema de gestão para atingir metas. Este processo de gerência envolve os três níveis de uma instituição/organização:
- Nível Institucional – Responsável pela formulação de estratégias e metas anuais para a instituição ou empresa;
- Nível Tático – Responsável por desdobrar estas metas em diretrizes e normas; e
- Nível Operacional – Responsável por atingir as metas.
Observe o diagrama a seguir para compreender melhor:
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federativas, é sintetizada pela frase, que nomeia esta respondendo rapidamente aos chamados, principalmente
estratégia: "combate profissional do crime". aqueles originados pelo telefone 190 ou 911 – no exterior.
Ela tem como principais características: - Os valores que dirigem o combate ao crime
- Foco direto sobre o controle do crime como sendo a englobam o controle do crime como objetivo importante,
missão central da polícia , e só da polícia; investimentos no treinamento policial, aumento do status e
- Unidades centralizadas e definidas mais pela função da autonomia da polícia e a eliminação da truculência
(valorização das atividades especializadas), do que policial.
geograficamente (definição de um território de atuação para A limitação deste modelo em controlar a
cada um dos policiais); e criminalidade é um dos seus pontos fracos; um outro é o
- Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em caráter reativo da ação da polícia, que só atua quando é
tecnologia e em treinamento. chamada, acionada.
O objetivo da estratégia de combate profissional do As táticas utilizadas normalmente falham na
crime é criar uma força de combate do tipo militar, prevenção dos crimes, ou seja, não os impedem de
disciplinada e tecnicamente sofisticada. Os principais acontecer.
objetivos desta estratégia é o controle da criminalidade e a Praticamente não há análise das causas do crime e
resolução de crimes. existe um grande distanciamento entre a polícia e a
- As principais tecnologias operacionais dessa comunidade. Na verdade, o distanciamento é incentivado,
estratégia incluem a utilização de patrulhas motorizadas, de pois “quem entende de policiamento é a polícia”. O
preferência com automóveis, suplementadas com rádio, isolamento é uma tentativa institucional de evitar a
atuando de modo a criar uma sensação de onipresença e corrupção.
− POLICIAMENTO ESTRATÉGICO
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver A comunidade é vista como meio auxiliar importante
os pontos fracos do policiamento profissional de combate para a polícia, mas a iniciativa de agir continua centralizada
ao crime, acrescentando reflexão e energia à missão básica na polícia, que é quem entende de Segurança Pública.
de controle do crime. Os crimes cometidos por delinquentes individuais
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que sofisticados (crimes em série, por exemplo) e os delitos
é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo praticados por associações criminosas (crime organizado,
continua centralizado e, através de pesquisas e estudos, a redes de distribuição de drogas (narcotráfico), crimes
patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de virtuais de pedofilia, gangues, xenofobia, torcedores de
emprego. futebol violentos – como os hooligans, etc.) recebem ênfase
O policiamento estratégico reconhece que a especial.
comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio O policiamento estratégico carece de uma alta
para a polícia e enfatiza uma maior capacidade para lidar capacidade investigativa. Para esse fim são incrementadas
com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo unidades especializadas de investigação.
tradicional.
− Policiamento Orientado Para O Problema (Era De Resolução De Problemas Com A
Comunidade)
O policiamento para (re)solução de problemas, O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo
também conhecido com o policiamento orientado para o causados por problemas específicos e talvez contínuos na
problema (POP),é uma estratégia que tem como objetivo mesma localidade. Conclui-se que o crime pode ser
principal melhorar o policiamento profissional, minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações
acrescentando reflexão e prevenção criminal. preventivas, para evitar que seja rompida a ordem pública.
Para diversos autores “[...] o policiamento orientado Essa estratégia determina o aumento das tarefas da polícia
para a solução de problemas conota mais do que uma ao reagir contra o crime na sua causa, muito além do
orientação e o empenho em uma tarefa particular. Ele patrulhamento preventivo, investigação ou ações
implica emumprograma, com sugestões sobre o que a repressivas.
polícia precisa fazer”, segundo Skolnik; Bayley (2002,
p.39).
− POLICIAMENTO COMUNITÁRIO (ERA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COM A
COMUNIDADE)
A estratégia de policiamento comunitário vai, ainda, os grupos de comerciantes, são considerados parceiros
mais longe nos esforços para melhorar a capacidade da imprescindíveis da polícia para a criação de um grupo coeso
polícia. O policiamento comunitário, que é a atividade de colaboradores. O êxito da polícia está não somente em
prática da filosofia de trabalho da polícia comunitária, sua capacidade de combater o crime, mas na habilidade de
enfatiza a criação de uma parceria eficaz e eficiente entre a criar e desenvolver comunidades competentes para
comunidade e a polícia. solucionar os seus próprios problemas.
O policiamento comunitário tem a necessidade de A polícia comunitária como filosofia muda os fins, os
deixar a comunidade nomear seus problemas e buscar meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia
solucioná-los em parceria com a polícia. As instituições, com a comunidade. O objetivo finalístico é para além do
como a família, a escola, a igreja, as associações de bairro e combate ao crime, pois permite a inclusão da redução do
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medo do crime, da manutenção da ordem e de alguns tipos de policiais especialistas para generalistas. O papel da
de serviços sociais de emergência. comunidade evolui de meramente informar ou alertar a
Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela polícia, para participante do controle do crime e na criação
resolução de problemas (método IARA). O estilo de comunidades ordeiras.
administrativo muda de concentrado para desconcentrado,
Figura 3: Fonte: MOREIRA, Cícero Nunes. Apostila da disciplina de Polícia Comunitária para o curso de Formação deOficiais.
Mimeo. Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
CICLO PDCA
52
UNISUL
52
PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança Pública
III. UnisulVirtual. Palhoça, 2013
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corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões
para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer
uma estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a
controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.
As etapas que compõem o ciclo PDCA
As empresas poxssuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus produtos, além de prejudicar
sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a solução desses problemas somente baseados na
experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro expert é aquele que alimenta seu
conhecimento e experiência com fatos e dados, dessa maneira, assegura-se de usar esse conhecimento, experiência e,
principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).
O MASP é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fatos e dados, que objetiva:
1. localizar a causa fundamental dos problemas;
2. implantar as soluções;
3. mapear as soluções possíveis;
4. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito
desejado).
5. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
Saiba mais:
A primeira etapa do PDCA exige o estabelecimento de metas e procedimentos técnicos aptos a alcançar os resultados
propostos.
A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das
metas estipuladas.
O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.
2.3.2. MECANISMOS DO ESTADO QUE FAVORECEM A IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO
INTEGRADA E COMUNITÁRIA NO ÂMBITO DA SEGURANÇA PÚBLICA;
POLICIA COMUNITÁRIA
A polícia é o publico e o publico é a polícia: os policiais são aqueles membros da população que são pagos para dar atenção
em tempo integral as obrigações dos cidadãos;
Na relação com as demais instituições de serviço publico, a polícia e apenas uma das instituições governamentais
responsáveis pela qualidade de vida da comunidade;
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➢ O papel da polícia e dar um enfoque mais ➢ O policial trabalha voltado para os 98% da
amplo visando a resolução de problemas, principalmente população de sua área, que são pessoas de bem e
por meio da prevenção; trabalhadoras;
➢ A eficacia da polícia e medida pela ausência ➢ O policial emprega a energia e a eficiência,
de crime e de desordem; dentro da lei, na solução dos problemas com a
➢ As prioridades são quaisquer problemas que marginalidade que, no máximo, chega a 2% dos
estejam afligindo a comunidade; moradores de sua localidade de trabalho;
➢ A polícia se ocupa mais com os problemas e ➢ Os 98% da comunidade devem ser tratados
com as preocupações dos cidadãos; como cidadãos e clientes da organização policial;
➢ O que determina a eficacia da polícia são o ➢ O policial “presta contas” de seu trabalho ao
apoio e a cooperação do publico; superior e a comunidade;
➢ O profissionalismo policial se caracteriza ➢ As patrulhas são distribuídas conforme a
pelo estreito relacionamento com a comunidade; necessidade de segurança da comunidade, ou seja, 24
➢ A função do comando e incutir valores horas por dia; e
institucionais; ➢ O policial e da área.
➢ As informações mais importantes são
aquelas relacionadas com as atividades delituosas de
indivíduos ou grupos;
Tenha-o apenas como um referencial para análise e reflexão, pois, no cotidiano, será comum encontrar muitas instituições
que apesar de se pautarem no modelo de Policia Tradicional utilizam algumas orientações apresentadas pela Polícia
Comunitária, mas isto não a legitima como tal.
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Quanto a comunidade:
- A Polícia Comunitária transfere o poder a comunidade para auxiliar o planejamento com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida e as acoes policiais;
- A Polícia Comunitária requer que a comunidade forneça insumos para as gestões que afetam a sua finalidade de vida;
- A comunidade, com poder, compartilha a responsabilidade de melhorar;
- O senso de parceria com a polícia e criado e fortalecido; e
- Uma comunidade com mais poder, trabalhando em conjunto com uma policia com mais poder, resulta numa situação em
que o todo e maior do que a soma das partes.
Quanto aos policiais
- Permitir ao policial “resolver” os problemas, em vez de simplesmente se “desvencilhar” deles;
- Dar o poder de analisar os problemas e arquitetar soluções, delegando responsabilidade e autoridade reais;
- Os recursos da instituição devem ter como foco de atenção auxiliar este policial; e
- Os executivos de polícia devem entender que seu papel e dar assistência aos policiais na resolução de problemas.
A mudança comportamental tanto da polícia quanto da comunidade tende a criar bons frutos, porque aproxima lados que
vivem, de certa forma longe, mas que se encontram nos momentos de ocorrências.
Também cria condições para que aumente a sensação de segurança que tanto anseia a população. Por outro lado, o policial
verifica que seu trabalho se torna mais sólido no que diz respeito a prevenção e tem sua satisfação profissional elevada.
A polícia não deixa de realizar o seu trabalho rotineiro, mas com as medidas de Polícia Comunitária consegue reduzir a
médio e longo prazo, os índices de atendimento de urgência.
O trabalho de Polícia Comunitária deve:
- Ser apartidário e apolítico;
- Envolver a Polícia Militar direcionando a prevenção e, quando necessário, a intensificação do ostensivo;
- Envolver a Polícia Civil para aproximação e familiarização com a comunidade, esclarecendo questões pertinentes ao bom
atendimento do cidadão no Distrito Policial, bem como dar o caráter social e preventivo a investigação criminal;
- Sensibilizar e manter contatos com as autoridades de vários organismos públicos para a garantia do desenvolvimento do
projeto;
- Ser desvinculado de qualquer interesse particular, religioso e ideológico;
- Ter objetivos claros e definidos, sempre prestando contas a comunidade;
- Ser voltado a reeducação da comunidade;
- Evitar confrontos, mostrando sempre o lado educativo em qualquer situação;
- Estar sempre preocupado com a integridade física e moral dos participantes; - Esquematizar formas de proteção aos
participantes do projeto;
- Providenciar apoio as autoridades competentes, a qualquer indicio de exposicao de um dos participantes;
- Ser desenvolvido priorizando o respeito a dignidade humana;
- Priorizar os mais carentes e necessitados; e
- Ser flexível e constantemente reavaliado.
RESUMO
• “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim, o de PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
•Na prática, Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do policiamento comunitário (ação de policiar junto a
comunidade). Polícia Comunitária deve ser interpretada como uma filosofia organizacional , indistinta a todos os órgãos de
polícia, pertinente as acoes efetivas com a comunidade.
• O policiamento comunitário e uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde um policial trabalha
sempre numa mesma área, agindo em parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
• Filosofia e Estrategia Organizacional,
1)Comprometimento da Organização com a concessão de poder a Comunidade,
2) Policiamento Descentralizado e Personalizado,
3) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo,
4) Ética,
5) Legalidade,
6) Responsabilidade e Confiança,
7) Extensão do Mandato Policial,
8) Ajuda as pessoas com Necessidades Especificas,
8)Criatividade e Apoio Básico,
9) Mudança interna,
10) Construção do Futuro, são os 10 princípios que orientam a filosofia e a implantação da Polícia Comunitária.
• As tarefas para implantação da Policia Comunitária devem ser de responsabilidade de todos , mesmo que para cada
grupo caibam atividades específicas. Observe que além de mudanças organizacionais, a implantação de um modelo de
Polícia Comunitária exigira também mudanças comportamentais que, como destacou Silva (1990), estão atreladas a
mudanças culturais.
Saiba mais:
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53
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade Barddal. Aspirante
a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com
54
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em
Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
55
Policiamento Orientado para a Solução de Problemas
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IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do POSP, um problema corresponde a
um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além disso, um problema
deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto polícia como comunidade
devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA, 2010). É importante também nesta
etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade ao serviço policial significa torná-lo mais
próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e considerando as díspares peculiaridade de cada
comunidade no planejamento oferta do serviço policial. Além disso, segundo o autor,
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘achismo’, ou seja,
deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um
que participa na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca de
soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que
possível, comprovar a experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).
No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial à
identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de segurança
pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas à polícia.
Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de
segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade
devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas.
Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário
considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências
policiais. Segundo dados trazidos por Rolim (2009, p. 139) de pesquisa realizada no Estados Unidos cerca de 10% das vítimas
estão envolvidas em 40% dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares formam o
ambiente para cerca de 60% das ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto, de acordo com o
qual, geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados (80%) (TASCA,
2010).
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ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas
para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas em
fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais. Essas
constituem teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas incertas que estão fora do alcance da polícia
(CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho
diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos criminais,
incluindo tentações e oportunidades e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triangulo do
crime), originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o crime
ocorre quando um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e lugar,
sem a presença de um guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator, alvo e
local (CLARKE; ECK, 2013).
TEORIA DO CRIME
Triangulo do crime – Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos 56
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em
empresários e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que predominava na
época. Com o tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores estavam certos em sua aposta,
pois logo o empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da cidade de São Paulo. Mais de cinquenta anos
se passaram e este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças conceituais ao longo de todos estes anos, se
transformando nos grandes locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que buscam, em sua
grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde sua entrada e que ali
possam resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira de Shopping Centers –temos
hoje no Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem mensalmente mais de 400 milhões de clientes
passando pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo muito bem cuidados. Essa é a percepção dos clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua optaram
em locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de forma
diferenciada, discreta e segura. Este era o cenário (...).
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas cujo foco
principal são produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou completamente o
cenário anterior. As ações criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns empreendimentos,
deixando algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um criminoso
como alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros elementos em prol de
um objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto deixamos de
considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta analisar os dados
estatísticos dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das ações nos diferentes períodos
da história recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center,
observamos que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as seguintes
modalidades:
Assalto a agências bancárias;
Sequestro e sequestro relâmpago;
Assaltos a casas lotéricas;
Explosões de caixas eletrônicos;
Assaltos a shoppings e
Roubo de cargas.
56
AUTOR. André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I; Gestor de Segurança no segmento varejo; Graduado e Pós-Graduado em Segurança Privada e Ordem
Públicas; Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos; Especialista em Administração de Segurança; Certificado Profesional em
Seguridad Internacional-C.P.S.I; Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R; Master Business In Risk-MBR e Certificado Internacional em Segurança
Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I.
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Não consideramos nesta lista o tráfico de drogas pelo simples fato que este apresenta uma característica atemporal, ou seja,
sempre existiu neste período independente das outras ocorrências e dos impactos causados por tipo criminal.
Comprovadamente os tipos criminais mudaram ao longo dos anos assim como os objetivos e isto exigiu por parte dos
infratores certa perspicácia e um nível de inteligência capaz de identificar as VULNERABILIDADES em cada alvo potencial.
As percepções deste breve estudo foram compartilhadas com cinco gestores de grandes administradoras do varejo
Brasileiro e, excetuando-se pequenas divergências sobre os fatores externos e de localização do empreendimento, as conclusões
uníssonas serviram de base para as respostas das perguntas feitas na introdução do estudo.
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
Os produtos de fácil repasse como celulares, joias, relógios e dinheiro (Casa de câmbio e lotéricas) dentro de um ambiente
vulnerável que não possibilita reação em razão dos impactos que esta pode causar. Algumas administradoras optam em ter
agentes desarmados.
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
Os criminosos planejam muito bem suas ações e, durante as várias visitas a diferentes empreendimentos, escolhem aquele
que apresentar maior vulnerabilidade, facilidade de acesso e saída. Este será fatalmente um alvo potencial. Rotas de fuga difíceis
e proximidade de órgão públicos podem ser inibidores de ações em locais bem específicos.
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
Para que uma resposta seja assertiva uma combinação de protocolos operacionais e técnicos devem ser implantados, para
isso é necessário que o empreendimento disponha de um aparato tecnológico (meios técnicos ativos) que permita a rápida
identificação de suspeitos, ou seja, um sistema de monitoramento capaz de apoiar a confirmação de um rosto ou comportamento
que denote ação iminente. As equipes de segurança devem passar por treinamentos que ainda não são considerados em sua
forma ampla nos cursos técnicos. Avaliar comportamentos, por exemplo, deve ser uma das matérias obrigatórias para quem atua
na área, afinal um shopping é aberto ao público durante todo o dia e como identificar que uma ação está em curso? Alguns
empreendimentos recebem milhares de pessoas e como saber quais vão cometer um ato ilícito?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Simples. Se os criminosos estudam, sistematicamente os ambientes, é lógico que optarão pelo que se encontrar mais
vulnerável. Temos casos em que existem dois shoppings muito próximos, mas apenas um vira alvo recorrente de ações,
justamente pelo fato de ser encontrado em maior estado de vulnerabilidade que o outro.
Aprofundado a questão das vulnerabilidades, adaptamos o triângulo do crime para o cenário shopping center de modo a
criar uma interface entre os critérios observados para consumação de um fato criminal e as variáveis do ambiente interno de um
empreendimento. Basta um olhar mais técnico e criterioso sobre as nuances do cenário e a relação sistêmica da teoria do crime,
de certo teremos corroboradas todas as assertivas dos colegas gestores na figura ilustrativa. Vejamos.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Segundo BRASILIANO (2010, p. 42) a identificação dos perigos e de seus fatores significa a compreensão das origens de
cada perigo. Deve-se buscar responder por que o
perigo existe na empresa. Quais são as condições
que potencializam a concretização do evento
estudado.
A compreensão da origem do perigo é
imperiosa para a eficácia no tratamento, na
priorização que a empresa vai poder dedicar para
mitigar aquela situação. Somente após o
entendimento do porquê da existência de cada
perigo, é que se poderá sugerir medidas eficazes
para reduzir riscos.
O DIAGRAMA DE ISHIKAWA (causa e
efeito) é a ferramenta que permite a organização
identificar, dentro do contexto da GESTÃO DE
RISCOS, quais são os facilitadores na
materialização dos riscos e preparar suas defesas,
através de um plano de ação.
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- Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser apontados como objetivos: a parceria, o
fortalecimento, a solução de problemas, a prestação de contas e a orientação para o cliente.
- A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de
justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Os membros da
comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento:
- dos policiais : poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os níveis da polícia.
- da própria comunidade : a Polícia Comunitária capacita e dá competência aos cidadãos para participar das decisões sobre
o policiamento e de outras agências de serviço, visando prover maior impacto nos problemas de segurança.
No âmbito da Polícia Comunitária, o policiamento representa um renascimento da abordagem policial pela solução de
problemas. A meta da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas
de ocorrências e o medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazos.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, as pesquisas e estratégias entre as lideranças e os executores, a
comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas
inovadoras de solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão. Estabelecer e manter confiança
mútua é o núcleo da parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das pessoas na luta contra o crime; os
cidadãos necessitam comunicar com a polícia para transmitir informações relevantes. O processo de parceria comunitária possui
três lados: a CONFIANÇA facilita um maior CONTATO COM A COMUNIDADE que, por sua vez, facilita a
COMUNICAÇÃO que leva a uma maior CONFIANÇA e assim por diante.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Qualidade de vida da população em um país de complexas carências e um tema bastante difícil de ser abordado, mas
possível de ser discutido quando a polícia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais.
É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o de
PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua própria
segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a interpretação de que
estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos quadros da polícia como policiais
comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da polícia,
erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber por sua ação
protetora e amiga.
O espírito de Polícia Comunitária que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias:
A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;
A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será transferida às crianças desenvolvendo-se
um traço na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;
O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando a
orientar na educação e no sentido da solidariedade social;
A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à “Ordem Jurídica” e aos direitos fundamentais
estabelecidos na Constituição Federal;
A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado na preservação do ambiente, no
socorro em calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em
acidentes ou vítimas de delitos, nos salvamentos e combates a incêndios;
A participação do cidadão se dá de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida.
Antes, porém, de ser apresentadas definições de Polícia Comunitária e Policiamento Comunitário vale a pena verificar os
aspectos que auxiliam caracterizar comunidade e segurança.
a) Comunidade
Para não correr o risco de definições ou conceitos unilaterais, preferimos apresentar alguns traços que caracterizam uma
comunidade:
Forte solidariedade social;
Aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais;
Discussão e soluções de problemas comuns;
Sentido de organização possibilitando uma vida social durável.
b) Segurança
Jorge Wilheim, diz que a segurança do indivíduo envolve:
Reconhecimento do seu papel na sociedade;
A autoestima e a autossustentação;
A clareza dos valores morais que lhe permitam distinguir o bem do mal;
O sentimento de que não será perseguido por preconceito racial, religioso ou de outra natureza;
A expectativa de que não será vítima de agressão física, moral ou de seu patrimônio:
A possibilidade de viver num clima de solidariedade e de esperança.
Trojanowicz (1994)17 faz uma definição clara do que é Polícia Comunitária:
“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na
premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas
contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o
objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.”
Na prática Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de Polícia, esta pertinente
às ações efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança
junto à comunidade onde atua, como um médico, um advogado local; ou um comerciante da esquina; enfim, dar característica
humana ao profissional de polícia, e não apenas um número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isto realiza um
amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.
Já o Policiamento Comunitário, segundo Wadman (1994)18, é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as
energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a repetidas
chamadas por auxílio local.
A Polícia Comunitária resgata a essência da arte de À medida que se abrem para a sociedade,
polícia, pois apoia e é apoiada por toda a comunidade, congregando lideres locais, negociantes, residentes e todos
acolhendo expectativas de uma sociedade democrática e quanto puderem participar da segurança local, a polícia
pluralista, onde a responsabilidade pela mais estreita deixa de ser uma instituição fechada e que, estando aberta
observância das leis e da manutenção da paz não às sugestões, permite que a própria comunidade faça parte
incumbem apenas à polícia, mas, também a todos os de suas deliberações.
cidadãos.
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Em relação ao Policiamento Comunitário é possível completo, onde o mesmo policial trabalha na mesma área,
dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para
Comunitário exige um comprometimento de cada um dos identificar e resolver problemas.
policiais e funcionários civis do departamento policial com Quando não se conhece ou não se prática Polícia
sua filosofia. Ele também desafia todo o pessoal a Comunitária é comum se afirmar que esta nova forma ou
encontrar meios de expressar esta nova filosofia nos seus filosofia de atuação é de uma “polícia light”, ou uma
trabalhos, compensando assim a necessidade de manter “polícia frouxa” ou mesmo uma “polícia que não pode
uma resposta rápida, imediata e efetiva aos crimes mais agir”.
individuais e as emergências, com o objetivo de explorar Na verdade Polícia Comunitária é uma forma técnica
novas iniciativas preventivas, visando à resolução de e profissional de atuação perante a sociedade numa época
problemas antes que eles ocorram ou se tornem graves. em que a tecnologia, qualidade no serviço e o adequado
O Policiamento Comunitário, portanto, é uma preparo são exigidos em qualquer profissão. Mas no nosso
filosofia de patrulhamento personalizado de serviço caso existe ainda muita confusão.
Robert Trojanowicz no livro "Policiamento Comunitário: Como Começar "procura mostrar as interpretações
errôneas sobre o que não é Policiamento Comunitário:
a. Policiamento Comunitário não é uma tática, nem um programa e nem uma técnica
- não é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e sim um novo modo de oferecer o serviço policial à comunidade;
b. Policiamento Comunitário não é apenas relações públicas - na melhoria das relações com a comunidade é necessária porém não é o
objetivo principal, pois apenas o "QSA" não é suficiente para demonstrar a comunidade seriedade, técnica e profissionalismo. Com o tempo
os interesseiros ou os "QSA 5" são desmascarados e passam a ser criticados fortemente pela sociedade. É preciso, portanto, ser honesto,
transparente e sincero nos seus atos;
c. Policiamento Comunitário não é anti-tecnologia – o Policiamento Comunitário pode se beneficiar de novas tecnologias que podem
auxiliar a melhora do serviço e a segurança dos policiais. Computadores, celulares, sistemas de monitoramento, veículos com computadores,
além de armamento moderno (inclusive não letal) e coletes protetores fazem parte da relação de equipamentos disponíveis e utilizáveis pelo
policial comunitário. Aquela ideia do policial comunitário "desarmado" é pura mentira, pois até no Japão e Canadá os policiais andam
armados com equipamentos de ponta. No caso brasileiro a nossa tecnologia muitas vezes é adaptada, ou seja, trabalhos muito mais com
criatividade do que com tecnologia. Isto com certeza favorece o reconhecimento da comunidade local;
d. Policiamento Comunitário não é condescendente com o Crime - os policiais comunitários respondem às chamadas e fazem prisões
como quaisquer outros policiais: são enérgicos e agem dentro da lei com os marginais e os agressores da sociedade. Contudo atuam próximos
a sociedade orientando o cidadão de bem, os jovens e buscam estabelecer ações preventivas que busquem melhorar a qualidade de vida no
local onde trabalham. Parece utópico, mas inúmeros policiais já vem adotando o comportamento preventivo com resultados excepcionais.
Outro ponto importante é que como está próximo da comunidade, o policial comunitário também é uma fonte de informações para a polícia
de investigação (Polícia Civil) e para as forças táticas, quando forem necessárias ações repressivas ou de estabelecimento da ordem pública;
e. Policiamento Comunitário não é espalhafatoso e nem camisa "10" - as ações dramáticas narradas na mídia não podem fazer parte do
dia a dia do policial comunitário. Ele deve ser humilde e sincero nos seus propósitos. Nada pode ser feito para aparecer ou se sobressair sobre
seus colegas de profissão. Ao contrário, ele deve contribuir com o trabalho de seus companheiros, seja ele do motorizado, a pá, trânsito,
bombeiro, civil, etc. O Policiamento Comunitário deve ser uma referência a todos, polícia ou comunidade. Afinal, ninguém gosta de ser
tratado por um médico desconhecido, ou levar seu carro em um mecânico estranho;
f. Policiamento Comunitário não é paternalista
- não privilegia os mais ricos ou os "mais amigos da polícia", mas procura dar um senso de justiça e transparência à ação policial. Nas
situações impróprias deverá estar sempre ao lado da justiça, da lei e dos interesses da comunidade. Deve sempre priorizar o coletivo em
detrimento dos interesses pessoais de alguns membros da comunidade local;
g. Policiamento Comunitário não é uma modalidade ou uma ação especializada isolada dentro da Instituição
- os policiais comunitários não devem ser exceção dentro da organização policial, mas integrados e participantes de todos os processos
desenvolvidos na unidade. São parte sim de uma grande estratégia organizacional, sendo uma importante referência para todas as ações
desenvolvidas pela Polícia Militar. O perfil desse profissional é também o de aproximação e paciência, com capacidade de ouvir, orientar e
participar das decisões comunitárias, sem perder a qualidade de policial militar forjado para servir e proteger a sociedade;
h. Policiamento Comunitário não é uma Perfumaria
- o policial comunitário lida com os principais problemas locais: drogas, roubos e crimes graves que afetam diretamente a sensação de
segurança. Portanto seu principal papel, além de melhorar a imagem da polícia, é o de ser um interlocutor da solução de problemas, inclusive
participando do encaminhamento de problemas que podem interferir diretamente na melhoria do serviço policial (uma rua mal iluminada,
horário de saída de estudantes diferenciado, etc.);
i. Policiamento Comunitário não pode ser um enfoque de cima para baixo
– as iniciativas do Policiamento Comunitário começam com o policial de serviço. Assim admite-se compartilhar poder e autoridade
com o subordinado, pois no seu ambiente de trabalho ele deve ser respeitado pela sua competência e conhecimento.
Contudo o policial comunitário também adquire mais responsabilidade já que seus atos serão prestigiados ou cobrados pela comunidade
e seus superiores;
j. Policiamento Comunitário não é uma fórmula mágica ou panacéia
- o Policiamento Comunitário não pode ser visto como a solução para os problemas de insegurança pública, mas uma forma de facilitar
a aproximação da comunidade favorecendo a participação e demonstrando a sociedade que grande parte da solução dos problemas de
insegurança dependem da própria sociedade.
Sabemos que a filosofia de Polícia Comunitária não pode ser imediatista, pois depende da reeducação da polícia e dos próprios cidadãos
que devem ver a polícia como uma instituição que participa do dia a dia coletivo e não simples guardas patrimoniais ou "cães de guarda";
k. O Policiamento Comunitário não deve favorecer ricos e poderosos
– a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os mais carentes, os mais humildes, que residem em periferia ou em
áreas menos nobres.
Talvez nestas localidades é que está o grande desafio da Polícia Comunitária. Com certeza os mais ricos e poderosos tem mais
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
e a desordem. O diagrama 5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida nos países
de língua portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), e muito utilizada na administração de empresas para gerenciar um plano
de ação para elaborar um serviço ou produto.
Este diagrama e composto por 7 perguntas que procuram orientar a gerência de um plano de ação.
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
Veja a seguir o diagrama, adaptado de MOREIRA Apud PEAK (1999, p.80), para compreender e comparar com o modelo
de Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária.
Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn, 58
POLÍCIA TRADICIONAL POLÍCIA COMUNITÁRIA
A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente, A polícia é o publico e publico é a polícia: os policiais são aqueles
pelo cumprimento da lei membros da população que são pagos para dar atenção em tempo integral
às obrigações dos cidadãos;
Na relação entre polícia e as demais instituições de serviço público, as Na relação com as demais instituições de serviço publico, a polícia é
prioridades são muitas vezes conflitantes; apenas uma das instituições governamentais responsáveis pela qualidade
de vida da comunidade;
O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime; O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando a resolução de
problemas, principalmente por meio da prevenção
As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos A eficácia da política é medida pela ausência de crime e de desordem;
aqueles envolvendo violências;
A polícia se ocupa mais com os incidentes; As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo a
comunidade;
O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta; A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos
cidadãos
O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do
crimes sérios; publico;
A função do comando é prover os regulamentos e as determinações O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento
que devam ser cumpridas pelos policiais; com a comunidade
As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos A função do comando é incutir valores institucionais;
crimes em particular;
O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as
área, que representa, no máximo 2% da população residente ali onde atividades delituosas de indivíduos ou grupos;
“todos são inimigos, marginais ou paisano folgado, até prova um
contrário”;
O policial é do serviço; O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área, que
são pessoas de bem e trabalhadoras;
Emprego da força como técnica de resolução de problemas; O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos
problemas com a marginalidade, que no máximo chega a 2% dos
moradores de sua localidade de trabalho;
Presta contas somente ao seu superior; Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e clientes da
organização policial;
As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrência. O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à comunidade;
Tabela 3. Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn
Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/IV/54.pdf>. Acesso em 07 de ago de 2018.
Saiba mais:
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação ao que a filosofia
pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que aproximassem a polícia e a
sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios da instituição
passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como a coprodução da
segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a comunidade, devendo ser
utilizados os recursos de inteligência policial a todo momento.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois possibilita
compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de forma imparcial e
objetiva, à luz da legislação, apesar de que rquase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que compõem a
comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um conflito.
58
Maurício Futryk Bohn, Mestrando em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Graduado em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do restante da população.
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas.
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia
convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• A noção de equidade diz respeito ao estabelecimento de mecanismos que diminuam desigualdades de oportunidades ou de acesso a recursos ou direitos no
convívio entre as pessoas em sociedade.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de perceber como deve ser o
trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à comunidade). Aquela
deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite as ações efetivas com a comunidade.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes de ser uma força
pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a segurança de cada
cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige um
comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo da conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG) ,
constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade, os trabalhadores e
os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• "Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para decidir e agir
em direção a um OBJETIVO COMUM"
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a) A participação do cidadão, muitas vezes, tem-se limitado às responsabilidades de ser informado das questões públicas
(ações da polícia), votar pelos representantes em conselhos ou entidades representativas, seguir as normas institucionais ou
legais sem dar sugestões de melhoria do serviço.
b) Outro Problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois uma comunidade rica tem
comportamento e anseios diferentes de uma comunidade pobre e comunidades de grandes centros urbanos são diferentes de
comunidades de pequenas cidades do interior, independente de serem ricas ou pobres, agrícolas ou industriais. O que importa é
descobrir seus anseios, seu desejo de participação no processo, sua motivação para se integrar com a polícia.
2.3.4.2. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA
Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidade e os diversos segmentos favoreça uma melhor
integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da cidadania aos
cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das relações, amplia a
percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de conflito que exigem ações de
caráter repressivo das instituições policiais.
Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas experiências de
organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social, por isto importante conhecer os níveis de
organização comunitária.
2.3.4.2.1. ASPECTOS IMPORTANTES SOBRE OS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO
COMUNITÁRIA
O maior desafio enfrentado pela polícia no modelo comunitário é motivar e sustentar a participação do público. A prática
ensina que o êxito de uma iniciativa policial de organização comunitária passa pelo envolvimento e comprometimento dos
cidadãos na busca de soluções para problemas locais. Um ponto crítico é que as chances de êxito dessas iniciativas tendem a ser
menores nas áreas onde se mostram mais necessárias, ou seja, os problemas são mais graves e abundantes. O contato direto e
permanente com a adversidade e a insegurança social costuma ter um efeito negativo nos esforços de organização e mobilização
social.
Importante!
Em vez de unir as pessoas em torno de sentimentos de indignação e finalidade comum, o crime parece minar a capacidade
de organização comunitária. Por outro lado, a polícia parece mais bombeiro, combatendo emergências (ocorrências criminais) a
qualquer custo, não interessando integração com a comunidade.
Nesses contextos problemáticos, a organização comunitária envolve um árduo e duradouro esforço de superação de
resistência de indivíduos, céticos em relação às possibilidades de melhorias em suas condições de vida, ainda mais quando
dependentes de ações governamentais. Mesmo aquelas iniciativas que contam com investimentos e apoio governamental
(recursos financeiros, implemento de recursos humanos e materiais, treinamento de agentes públicos, informações e até mesmo o
engajamento social) costumam ser prejudicadas pelo desinteresse ou apatia do público, muitas vezes até pela abordagem
equivocada do que seria um programa comunitário de segurança pública.
Confrontada com tais dificuldades, a polícia tende a tomar decisões baseadas em suas próprias percepções: os problemas
são tão latentes e os recursos tão escassos, que as consultas à comunidade podem parecer ineficazes e excessivamente
demoradas, sem nenhum resultado prático.
Em áreas onde haja alguma base de organização comunitária, a polícia tem procurado superar essas dificuldades
estabelecendo contatos com organizações locais, tais como igrejas, associações de comerciantes e de moradores. Esta relação se
transforma na única alternativa possível e tende a viciar o processo, pois organizações locais podem tender para interesses ou
privilégios específicos (interesses comerciais, eleitorais, religiosos, etc) fugindo ao anseio de toda a coletividade.
Importante!
O desafio, portanto, não está apenas em promover trabalhos com grupos organizados da comunidade, de interesses
específicos, mas trabalhar na organização de trabalhos comunitários, de forma constante e permanente.
Pare e Reflita!
O jovem infrator que comete um ato infracional em um bairro rico, com sólida organização comunitária, reside em bairros
carentes, sem nenhuma infraestrutura e organização social. Será que a associação comercial de um bairro rico, realizando
trabalhos de parceria em bairros pobres, não pode conter a violência no seu bairro?
2.3.4. 3. A AUTONOMIA DAS ORGANIZAÇÕES EM RELAÇÃO À POLÍCIA
Em regra, os grupos comunitários, assumem uma repressivas, até investem para isso: compras de viaturas,
postura passiva e acrítica em relação às ações de governo e da reforma de prédios, aquisição de sistemas de comunicação.
polícia, respaldando apenas as suas práticas, mesmo quando Mas não querem desenvolver ações mais preventivas não
claramente impróprias ou ilegais. É preciso respaldar as boas querem se envolver. Por outro lado, buscam desenvolver
ações da polícia, de interesse coletivo, de respeito aos direitos ações “caridosas e filantrópicas” como sopas aos moradores
humanos, dentro da legalidade e dos valores morais e éticos. de rua em dias de frio, cestas alimentares em igrejas, mas o
Mas deve-se criticar e vilipendiar ações violentas, ilegítimas, morador de rua continua na rua.
que desrespeitam a dignidade humana e que fogem ao Em áreas carentes, a experiência cotidiana pode
interesse coletivo, responsabilizando o mau profissional e não tornar os cidadãos mais vigilantes. Em vez de
a instituição como um todo. simplesmente pressionarem por mais presença policial, se
Em áreas nobres, os grupos costumam estar mais mostram mais preocupados com os mecanismos de
preocupados com a resposta aos crimes, ações da polícia mais controle de abusos e corrupção policial.
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Sabemos que muitas das causas da violência decorrem da ausência de uma política pública séria que cerceie o cidadão a
uma vida com dignidade, respeitando a si mesmo e ao seu semelhante. Cada vez mais o cidadão se isola esquecendo que os
problemas inerentes à sua comunidade, também lhe pertence para que tenha qualidade de vida.
Baseado nisso é que se norteia este trabalho de Polícia Comunitária em que as pessoas passem a se conhecer e manter uma
relação de amizade, confiança e respeito, buscando, juntos, soluções criativas para os problemas que afligem a sua comunidade,
cobrando dos órgãos competentes ações mais diretas, como uma forma preventiva, às causas da violência.
Somente assim tiraremos a imagem de que a polícia (instituição) resolve tudo, como se a ela destinassem todos os
problemas como uma obrigação a ser cumprida. Nos dias atuais quando se comenta sobre segurança pública, a polícia aparece
como corresponsável pelo alto índice de criminalidade que enfrentamos, a ela é imputada toda a responsabilidade para garantir a
segurança do cidadão. Para que se crie uma sensação de segurança, o cidadão precisa perceber a necessidade de se atacar as
causas geradoras da violência, tratando-as de uma forma preventiva.
Objetivos gerais:
Integrar a comunidade às várias instâncias governamentais e não governamentais sensibilizando os moradores do bairro no sentido de
resgatar valores morais e sociais para a convivência harmoniosa buscando a melhoria da qualidade de vida local e melhora da sensação de
segurança;
Sensibilizar a comunidade para que saiba buscar soluções criativas para os problemas do seu bairro;
Motivar a participação comunitária almejando uma intensa integração social para que todos participem na melhoria da qualidade de
vida;
Identificar as lideranças naturais para que elas perenizem a proposta.
Objetivos específicos
Buscar soluções para os fatores criminógenos nas áreas de: educação, saúde, habitação, saneamento básico, transporte, segurança
pública, justiça e cidadania;
Envolver os representantes dos serviços públicos, nas suas respectivas esferas de responsabilidade no programa;
Envolver a iniciativa privada nas suas diversas atividades motivando uma participação entre o poder público e o econômico do bairro;
Envolver o poder político local (prefeitos, vereadores, deputados e representantes de partidos políticos, de forma indistinta e imparcial)
mostrando os problemas locais;
Mostrar ao cidadão comum a importância de sua participação, bem como propiciar para que ele identifique os problemas locais.
2.3.4. 6. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA POLÍCIA COMUNITÁRIA
1ª ETAPA: IDENTIFICAÇÃO DAS LIDERANÇAS LOCAIS
Verificação da existência de Sociedade Amigos de Bairro, Entidades Religiosas, Conselhos Escolares, outras Entidades
governamentais e não governamentais, dentre outras;
Através de contato com a Polícia ( Militar e Civil ) da área e Administração Regional;
Anotações de todos os endereços e telefones para contato e agendamento e visita (LEVANTAMENTO ESTRATÉGICO).
2ª ETAPA: CONTATO COM AS LIDERANÇAS LOCAIS
Convite para posterior reunião;
Palestra sobre Polícia Comunitária.
3ª ETAPA: PALESTRA SOBRE POLÍCIA COMUNITÁRIA
Esclarecimento sobre o que é a Polícia Comunitária;
Divulgação de material sobre Polícia Comunitária;
Apresentação da proposta de trabalho junto à comunidade.
4ª ETAPA: IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS DO BAIRRO
Reunião com representantes da comunidade para identificar os problemas do bairro;
Priorização de problemas do bairro;
Indicação de representantes que formarão um comitê (ou conselho) de implantação dos trabalhos de Polícia Comunitária;
Discutir estas questões com as polícias do bairro.
5ª ETAPA: COLETA DE INFORMAÇÕES (CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS,
CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS AMBIENTAIS)
Informações: perfil da área (mapa preciso, número de residências, número e tipo de comércio, escolas igrejas,
associações, postos de saúde, área de lazer etc );
perfil dos habitantes (idade, sexo, grau de instrução, profissão, estado civil, se empregado etc);
Verificação de responsáveis pela coleta e locais a serem coletadas as informações. Estas informações podem ser
fornecidas pela própria polícia, órgãos públicos locais e entidades existentes no bairro;
Tabulação e análise das informações. Sociabilizar as informações com a comunidade.
6ª ETAPA: INDICATIVOS DOS PROBLEMAS LOCAIS
Após traçado o perfil da comunidade local, verificar quais as dificuldades que se enfrentam para o exercício dos direitos e
garantias individuais e coletivas e o grau de segurança;
Registrar e analisar os resultados que implicam as dificuldades de se ter uma qualidade de vida melhor;
Identificar os órgãos envolvidos nas questões;
Desenvolver um plano inicial (esboço) contemplando os problemas locais, os pontos de participação de cada órgão e da
comunidade.
7ª ETAPA: FIXAÇÃO DE METAS
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dentro de três pilares: a prevenção, a repressão qualificada e a promoção No Brasil, as primeiras iniciativas foram desenvolvidas em territórios da
social. Amazônia Legal, e depois se estenderam para outras regiões brasileiras,
Guardia Civil. A Guarda Civil é um instituto espanhol armado de especialmente na área rural. No entanto, já há experiências envolvendo
natureza militar, dependente do Ministério do Interior e da Defesa , nota comunidades urbanas. O mapeamento social geralmente envolve
2 que cumpre, entre outras, funções de segurança. Foi fundado populações tradicionais extrativistas, ribeirinhos, agricultores familiares e
por Francisco Javier Girón e Ezpeleta , II Duque de Ahumada , em 13 de indígenas, e é um instrumentos utilizado para fazer valer os direitos desses
maio de 1844, sendo este o primeiro diretor geral .Nasceu devido à grupos frente a grandes empreendimentos econômicos – como construção
necessidade de ter um órgão de segurança pública de implantação de usinas hidrelétricas e implantação de projetos de mineração -;
territorial nacional, forte, profissional e ampla, que respondesse de forma problemas relacionados à grilagem de terras, ao não cumprimento de
eficiente às necessidades de segurança da Espanha na primeira metade do normatizações referentes às delimitações de terras indígenas e a áreas de
século XIX, o que leva com grande sucesso. Seus mais de 173 anos de preservação/ proteção ambiental.
história contínua, sem alterar seu nome, lhe conferem o status de força Maréchausee. (Polícia) nome feminino 1. tribunal de marechais da
policial mais antiga da Espanha, independentemente de seu alcance França, antigamente 2. ex-cavaleiros encarregados de garantir a segurança
(nacional ou regional). Popularmente também conhecida pública substituída pela gendarmaria nacional 3. a gendarmaria, os
como Benemérita , ela faz parte das forças e órgãos de segurança do gendarmes.
Estado , combinado à Força Policial Nacional . Como tal, a Constituição , MJ. MJ é a sigla para Ministério da Justiça. Trata-se de um
em seu artigo 104, estabelece a missão primordial de proteger o livre organização administrativa responsável pelos assuntos relacionados com a
exercício dos direitos e liberdades dos espanhóis e garantir a segurança ordem jurídica, garantias pessoais e cidadania.
dos cidadãos , sob a dependência do governo da Espanha . Dada a sua Multifacetada. Multifacetado. Adjetivo 1. m.q. MULTIFACE. 2.
natureza militar, seus componentes são considerados de carreira militar, e figurado (sentido)figuradamente relativo a ou que possui características
o corpo também é encarregado de missões de natureza militar, descritas no variadas e peculiares. "caráter m."
Real Decreto 1438/2010. Multiliderança. Não há chefes na rede, mas sim muitos líderes.
Hooligans. A palavra hooligan tem sua origem no sobrenome Network. Networking é uma palavra em inglês que indica a
inventado Hooligan, que designava uma família arruaceira irlandesa capacidade de estabelecer uma rede de contatos ou uma conexão com algo
fictícia, cujo nome era usado na letra de uma música cantada no teatro de ou com alguém.
variedades por volta de 1890. Hoje usa-se hooligan para qualquer pessoa Nomos. Os Nomos são as divisões administrativas do Antigo Egito,
barulhenta e violenta em lugares públicos, que normalmente anda com um ao número de quarenta e dois durante o período ptolomaico.
grupo. Football hooligans se refere aos torcedores de futebol desordeiros e Norteador. /ô/adjetivo substantivo masculino. que ou o que norteia.
violentos, que ficaram famosos, principalmente na Inglaterra, por sua Notória. Notório. Adjetivo. Conhecido por um grande número de
conduta vergonhosa e típica de vândalos, chamada de hooliganism, em pessoas; sabido: é notório seu talento para ensinar. Que não se pode
inglês. contestar, duvidar, refutar; evidente: parlamentar com notório respeito
Idealistas. Idealista. Adjetivo de dois gêneros. 1. relativo ao ou público. Notório Saber.
próprio do idealismo. 2. adjetivo e substantivo de dois gêneros. Partidário Onipresença. substantivo feminino. Qualidade ou condição do que
do idealismo (teoria filosófica). é onipresente; presença em todos os lugares. "a o. de Deus".
Implementaçao. Substantivo feminino. ato ou efeito de Ostensivo.Sinônimos de ostensivo manifesto, franco, evidente, esca
implementar. ncarado, claro, aberto, expresso, descoberto, aparente, conhecido, oficial,
Implementar. Verbo. 1. transitivo direto. Suprir de implementos. 2. ostensível, ostensório, ostentativo, ostentoso, patente, proclamado, sabido,
transitivo direto. Pôr em execução, pôr em prática (plano, programa ou visível.
projeto); realizar. Paradigma. substantivo masculino. um exemplo que serve como
Implemento. substantivo masculino. 1. O que é necessário para a modelo; padrão. 2. GRAMÁTICA . Conjunto de formas vocabulares que
execução de algo; complemento, petrecho, apresto (mais us. no pl.). 2. servem de modelo para um sistema de flexão ou de derivação (p.ex.: na
figurado (sentido)figuradamente. Obrigação de pagar ou cumprir (algo declinação, na conjugação etc.); padrão.
firmado em contrato); cumprimento. Penal. Penal1. adjetivo de dois gêneros. 1. que se refere a penas
Intendência Geral de Polícia. A Intendência Geral de Polícia da judiciais. "sanções p.". 2. relativo à legislação que aplica penas judiciais.
Corte e do Estado do Brasil, foi o órgão instituído em 1808 para implantar "código p."
e dirigir a nova estrutura de polícia e segurança pública da Corte do Rio de Pertinente. adjetivo de dois gêneros. 1. que se refere (a alguma
Janeiro e de todo o território do Brasil. Este órgão seguia, quase coisa); concernente, respeitante. "era um assunto p. ao prefácio do livro"
exatamente, o modelo da Intendência-Geral da Polícia da Corte e do 2. que vem a propósito; apropriado à finalidade a que se destina. "além de
Reino, criada em 1760, com sede em Lisboa. Essa Polícia Real criada sagazes, eram observações p."
pelo Príncipe-Regente Dom João, dois meses após a chegada da Família PLANESP-RN. Plano Estratégico de Segurança Pública do RN
Real Portuguesa ao Rio (em 7 de março de 1808), através do Alvará (com 2017-2020
força de lei) de 10 de maio, reproduziu a instituição existente em Lisboa, Polícia Metropolitana de Londres. A Polícia Metropolitana de
fundamentando-se nos Alvarás de 25 de junho de 1760 e de 15 de Londres (em inglês, Metropolitan Police Service, MPS), também
janeiro de 1780. conhecido como Met é a força responsável pelo policiamento de toda
Intermitente. Intermitente é um adjetivo de dois gêneros a Grande Londres, com exceção da "Square Mile" - a área da City, que
proveniente do latim intermittente. Dizer que algo é intermitente significa possui sua própria força policial, a City of London Police.
dizer que essa coisa cessa e recomeça por intervalos, que se manifesta com Polícia Militar. A polícia militar PM - segundo o conceito usado
intermitências, que não é contínua, que tem interrupções. internacionalmente - é a corporação que exerce o poder de polícia no
Jurisdicionários. Jurisdicionado. substantivo masculino. aquele âmbito interno das forças armadas, garantindo a segurança, a ordem e a lei
sobre quem se exerce jurisdição. no seu seio. Geralmente, a sua ação limita-se apenas às instalações e aos
Jus puniendi. [Jurídico] Trata-se de uma expressão de origem latina membros das forças armadas.
que tem o significado de "direito de punir do Estado". Faz referência à Potencialidades. Potencialidade. Substantivo feminino.1.
autoridade estatal perante os cidadãos. Característica ou condição do que é potencial. 2.
Kaingang. Os caingangues, Kainguangs, kaingang, kanhgág, m.q. POTENCIAL ('conjunto de qualidades', 'capacidade de
guainás, coroados, bugres, botocudos, camés ou xoclengues são um povo realização').Societário. adjetivo substantivo masculin. 1.
indígena do Brasil. Sua língua, a língua caingangue, pertence à família obsoleta/oobsolescente Que ou quem faz parte de qualquer sociedade
linguística jê, a qual, por sua vez, pertence ao tronco linguístico macro-jê. científica ou literária; sócio.2. que ou aquele que faz parte de uma
Lei 12.043/2011. Lei que altera dispositivos do Decreto-Lei sociedade comercial; sócio.
no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à Pró-ativo. Adjetivo. 1. Que visa antecipar futuros problemas,
prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, necessidades ou mudanças; antecipatório. "medidas p."
e dá outras providências. PROERD. O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Locus. Locus é uma palavra do latim, que significa Violência (PROERD) tem como base o DARE. (Drug Abuse Resistance
literalmente “lugar”, “posição” ou “local”. Education), e foi criado pela Professora Rutty Hellen em conjunto com o
Macromudanças. Significado de macro. O que é macro: Termo de Departamento de Polícia da cidade de Los Angeles, EUA, em 1983.
composição que exprime a ideia de grande. Entra na formação de muitas Propiciar. Verbo. 1. transitivo direto. Tentar obter de (alguém) sua
palavras. boa vontade, torná-lo favorável, aplacar a sua ira. "na Antiguidade faziam-
Mapeamento social. A cartografia social permite às populações se sacrifícios para p. os deuses". 2. transitivo direto e bitransitivo.
desenhar, com ajuda de profissionais, mapas dos territórios que ocupam.
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Proporcionar as condições para a realização de (algo); assegurar, permitir. Tangível. adjetivo de dois gêneros. 1. Que se pode tanger, tocar;
"a competência propiciou bons resultados" sensível, tocável. 2. Que se percebe pelo tato; corpóreo, palpável. "bens t."
Repressiva. Repressivo. Adjetivo. 1. Que reprime, que tem a UNODC. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
finalidade de reprimir. (UNODC) implementa medidas que refletem as três convenções
Retroalimentação. substantivo feminino. 1. ELETRICIDADE internacionais de controle de drogas e as convenções contra o crime
ELETRÔNICA INFORMÁTICA m.q. REALIMENTAÇÃO. 2. Qualquer organizado transnacional e contra a corrupção. O trabalho do UNODC
processo por intermédio do qual uma ação é controlada pelo conhecimento está baseado em três grandes áreas: saúde, justiça e segurança pública.
do efeito de suas respostas. Feedback. Dessa base tripla, desdobram-se temas como drogas, crime organizado,
Rijkspolitie. Polícia estadual holandesa tráfico de seres humanos, corrupção, lavagem de dinheiro e terrorismo,
Securitária. Securitário. Adjetivo. 1. relativo a seguros (jur). 2. além de desenvolvimento alternativo e de prevenção ao HIV entre
adjetivo substantivo masculino. Que ou quem trabalha para companhia de usuários de drogas e pessoas em privação de liberdade.
seguros. Vigência. substantivo feminino. 1. Caráter ou estado do que é
Senasp. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) é vigente. "discutir a v. de uma lei". 2. Fato de estar em vigor, de já surtir
um órgão público superior de nível federal, vinculado ao Ministério da efeitos ou não ter sido revogado (decreto, regulamento, lei etc.). "tudo
Justiça. Ela é responsável pela política de segurança pública no país ocorreu apesar da v. da lei".
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