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São Paulo
2021
Cap PM Thiago Hideyuki Pedreira Chiyo
São Paulo
2021
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DE
SEGURANÇA CAES “CORONEL PM NELSON FREIRE TERRA”
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS – II/20
Beginning in June 2013, Brazil and, above all, the State of São Paulo experienced the
strength and harmful consequences of a new form of protest. Driven by globalization,
the internet, technological advances promoted by the fourth industrial revolution and,
under the influence of violent protests experienced by the world, such as the Battle of
Seattle in the USA and the Arab Spring started in Tunisia, São Paulo society took to
the streets. In São Paulo, which began with dissatisfaction with the increase in public
transport tickets, quickly became a generalized demonstration of repudiation of the
economic, political and social situation in the country, with the engagement of various
sectors of society, social classes, ages, ideologies, the demonstrations were
heterogeneous and had no structure or formal leadership to guide them, unlike
traditional protests already well known. Countless groups using the black bloc tactics
infiltrated the demonstrations and, with their smartphones, rapid communication,
decentralized and violent actions caused great damage to public and private assets, in
addition to intense confrontations with the Military Police, who are used to managing
traditional demonstrations, had a hard time guaranteeing the maintenance of public
order. Through this work, we sought to identify the characteristics of these
contemporary manifestations and to analyze the feasibility of using policing with
motorcycles to maintain public order in this scenario, through the development of
Crowd Control actions. In the search for elements and answers to these questions,
bibliographic searches, document analysis, questionnaires submitted to motorcycle
police officers, interviews with commanders with experience in crowd control actions
and who acted directly in the June 2013 demonstrations were carried out. The results
of the study indicated that the use of policing with motorcycles, due to its
characteristics, although it presents some restrictions for its use, can be very efficient
in Crowd Control, especially those in which there is the participation of groups that use
the black bloc tactic to the practice of violent acts. As there is no regulation in the
Military Police of the State of São Paulo that deals specifically with the subject, a
proposal of tactics, techniques and procedures for the use of Motorcyclist Police
Officers in Crowd Control is presented at the end of this work, with possible
complementation of the Multitudes, of the Institution (M-8-PM).
Key words: Military police. Crowd Control. Policing with Motorcycles. M-8-PM.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19
1.1 Problema ............................................................................................................... 21
1.2 Hipóteses............................................................................................................... 23
1.3 Objetivos gerais e específicos ........................................................................... 24
1.4 Justificativa ........................................................................................................... 25
1.5 Metodologia .......................................................................................................... 27
1.6 Distribuição de capítulos .................................................................................... 28
2 ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E JURÍDICOS DAS MANIFESTAÇÕES
PÚBLICAS.................................................................................................................... 30
2.1 Breve histórico dos movimentos sociais pelo mundo ................................... 33
2.1.1 A Revolução Russa de 1917 .............................................................................. 33
2.1.2 O “Apartheid”, de 1960........................................................................................ 34
2.1.3 O Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989 .............................................. 34
2.1.4 Movimento Occupy nos Estados Unidos (2011) ................................................ 35
2.2. Breve histórico das manifestações no Brasil ................................................. 37
2.2.1 Revolta da Vacina (1904) ................................................................................... 37
2.2.2 Greve Geral de 1917 ........................................................................................... 38
2.2.3 Marcha da Família (1964) ................................................................................... 38
2.2.4 Marcha dos 100 mil (1968) ................................................................................. 39
2.2.5 Greve de 1979 ..................................................................................................... 39
2.2.6 Diretas Já (1984) ................................................................................................. 40
2.2.7 Os Caras Pintadas (1992) .................................................................................. 41
2.3 As “novas” manifestações dos séculos XX e XXI ........................................... 43
2.3.1 A Batalha de Seattle (1999) ................................................................................ 43
2.3.2 A Primavera Árabe em 2010............................................................................... 45
2.3.3 Os Coletes Amarelos em 2018 ........................................................................... 47
2.3.4 A jornada de junho de 2013, no Brasil ............................................................... 48
2.3.5 A greve dos caminhoneiros ................................................................................ 52
2.3.6 Impeachment de Dilma Roussef......................................................................... 55
2.4 As manifestações públicas na atualidade ........................................................ 58
2.5. Fatores que redesenharam as manifestações públicas .............................. 64
2.5.1. Os efeitos da globalização ................................................................................. 64
2.5.2 Os efeitos da internet .......................................................................................... 67
2.5.3 Quarta Revolução Industrial ............................................................................... 70
2.6 Características das “novas” manifestações públicas .................................... 71
2.6.1 Estrutura horizontal ............................................................................................. 75
2.6.2 Heterogeneidade ................................................................................................. 77
2.6.3 Presença de grupos radicais e o emprego de violência .................................... 78
2.6.4 Pautas difusas ..................................................................................................... 83
2.6.5 Manifestações tecnológicas e em rede .............................................................. 84
2.6.6 Incidentes dinâmicos ........................................................................................... 86
2.6.7 Imprevisibilidade/volatilidade .............................................................................. 90
2.7 Os desafios da Polícia Militar do Estado de São Paulo diante das “novas
manifestações” ........................................................................................................... 92
2.8 Aspectos jurídicos das manifestações públicas ............................................. 96
3 A GESTÃO DE MULTIDÕES NA PMESP ............................................................. 106
4 O EMPREGO DO POLICIAMENTO COM MOTOCICLETAS NO CONTROLE DE
MULTIDÕES............................................................................................................... 113
4.1 Breve histórico do policiamento com motocicletas na PMESP................... 115
4.2 Fatores favoráveis ao uso de motocicleta no Controle de Multidões ........ 118
4.2.1 Mobilidade ......................................................................................................... 118
4.2.2 Flexibilidade....................................................................................................... 119
4.2.3 Ostensividade .................................................................................................... 119
4.2.4 Capacidade responsiva..................................................................................... 120
4.3 Limitações ao uso de motocicleta no Controle de Multidões ...................... 121
4.4 O potencial do policiamento com motocicletas no controle de multidões 124
5. DAS PESQUISAS E RESULTADOS ALCANÇADOS ......................................... 131
5.1 Questionário enviado aos Policiais Militares motociclistas ........................ 131
5.2 Entrevista com Cel PM Alexandre Monclus Romanek .................................. 137
5.3 Entrevista com Cel PM José Balestiero Filho ................................................ 139
5.4 Entrevista com o Major PM Aparecido Denami Júnior ................................. 141
5.5 Entrevista com o Major PM Luís Humberto Caparroz ................................... 143
5.6 Entrevista com o Capitão PM Valdinei Arcanjo da Silva .............................. 145
5.7 Pesquisa em Polícias Militares de outros Estados ....................................... 146
6 PROPOSTA DE ATUAÇÃO DO POLICIAMENTO COM MOTOCICLETAS NO
CONTROLE DE MULTIDÕES ................................................................................... 148
6.1 Princípios de Controle de Multidões por tropa de policiais motociclistas 149
6.2 Finalidade do emprego do pelotão de motociclistas no Controle de Multidões
......................................................................................................................... 151
6.3. O emprego de policiais duplamente embarcados ........................................ 152
6.4 Adaptações de materiais e equipamentos...................................................... 154
6.4.1 Fardamento ....................................................................................................... 155
6.4.2 Porta bastão ...................................................................................................... 157
6.4.3 Suporte para arma longa .................................................................................. 157
6.4.4 Transporte de granadas policiais e munições de emprego não letal .............. 162
6.4.5 Escudos portáteis .............................................................................................. 162
6.5 Simbologia das funções nos pelotões de resposta rápida .......................... 164
6.6 Equipe de Resposta Rápida (ERR) .................................................................. 165
6.6.1 Divisão de funções enquanto embarcado ........................................................ 165
6.6.2 Divisão de funções desembarcados................................................................. 166
6.6.3 Logística ............................................................................................................ 167
6.7 Grupo de Resposta Rápida (GRR) ................................................................... 168
6.7.1 Grupo de Resposta Rápida com 2 ERR .......................................................... 168
6.7.2 Grupo de Resposta Rápida com 3 ERR .......................................................... 170
6.7.3 Grupo de Resposta Rápida com 4 ERR .......................................................... 172
6.8 Pelotão de Resposta Rápida (PRR) ................................................................. 174
6.8.1 Deslocamentos .................................................................................................. 175
6.8.2 Formações......................................................................................................... 176
6.9 Treinamento ........................................................................................................ 178
7 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 179
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 182
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO AOS POLICIAIS MOTOCICLISTAS ................. 192
APÊNDICE B – ENTREVISTA COM OS COMANDANTES DE TROPA ................ 193
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM O CEL PM ALEXANDRE MONCLUS
ROMANEK ................................................................................................................. 196
APÊNDICE D – ENTREVISTA COM O CEL PM JOSÉ BALESTIERO FILHO ...... 200
APÊNDICE E – ENTREVISTA COM O MAJ PM APARECIDO DENAMI JÚNIOR 205
APÊNDICE G – ENTREVISTA COM O CAP PM VALDINEI ARCANJO DA SILVA214
19
1 INTRODUÇÃO
1
A Batalha de Seatlle foi uma série e de confrontos violentos entre ativistas e Policiais, ocorridos na
cidade de Seattle, no mês de novembro de 1999, ocasião em que milhares de pessoas foram às
ruas para se manifestar contra a a realização da terceira conferência ministerial da Organização
Mundial do Comércio (OMC). Disponivel em: https://www.cafehistoria.com.br/a-batalha-de-seattle-
antiglobalizacao. Acesso em 15 dez. 2020.
20
em contato com o público alvo, que é o cidadão receptor dos serviços da polícia
militar (sic).” (PMESP, 2010. p.61)
Nesse sentido, baseia-se também na diretiva de Inovação dentro da
Gestão do Conhecimento e Inovação prevista no Sistema de Gestão da PMESP
(GESPOL) que busca:
1.1 Problema
de forma mais relevante a partir dos eventos ocorridos em junho de 2013 e vem
perdurando ao longo dos anos, gerando a necessidade de que as forças de
segurança, sobretudo a PMESP, desenvolvam e aprimorem ações de preservação
da ordem pública com intuito de combater a violência nessas situações, preservar a
integridade física das pessoas e mitigar danos ao patrimônio público e privado.
Nesse sentido, tem-se que tática black bloc, segundo HERINGER:
[...] é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista,
empreendida por grupos de afinidade que se reúnem, mascarados e
vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da
propaganda pela ação da violência como forma de protesto, é basicamente
uma estrutura temporária, informal, não hierárquica e descentralizada[...]
(HERINGER, 2014. p. 53).
1.2 Hipóteses
2
Ação de Controle de Multidões com o apoio de viaturas leves. É assim conhecido por proporcionar
ao pelotão de choque, nessas condições, maior velocidade na ação, garantida pela grande
mobilidade e flexibilidade pelo uso de viaturas leves para se deslocar.
3
Define-se Controle de Multidões como sendo o “conjunto de procedimentos destinados à
restauração da ordem pública, quebrada pela ação da turba, subdividindo-se em: Intervenção
Indireta, realizada através da ação de presença, contenção, acompanhamento ou negociação; ou
Intervenção Direta, realizada por meio das táticas de repelir ou de dispersar” (PMESP, 2018, p.18).
25
1.4 Justificativa
4
As informações são baseadas em experiência e conhecimento próprio do autor, pois era o
comandante da 4ª Cia, do 2º BPChq – ROCAM, cujo efetivo atuou diretamente na liberação da
Rodovia Mário Covas – Rodoanel, durante a Greve dos Caminhoneiros em 2018.
27
1.5 Metodologia
Nos dias de hoje, verifica-se uma participação muito ativa da sociedade nas
discussões e cobranças dos destinos da nação.
As manifestações públicas ocuparam as ruas das cidades sem temer
qualquer autoridade pública, formas de governo, ideologias ou repressão. As
diferenças sociais, culturais, econômicas e políticas existentes entre os povos foram
diminuídas, para não dizer eliminadas, diante de um mundo cada vez mais
globalizado. A assustadora demonstração de força de uma massa decidida a fazer
ser ouvida, muitas vezes com emprego de violência, tornou-se cada vez mais
frequente e voltou a ser uma grande preocupação para as autoridades políticas e,
sobretudo, as de segurança.
Ditadores estão sendo depostos, líderes políticos sendo obrigados a fugirem
para outros países ou a renunciarem seus cargos, governantes são pressionados
por novas políticas públicas ou por anulação de outras. A luta por direitos a simples
demonstração de insatisfação em relação a uma fala, atitude ou decisão contrária ao
conceito próprio de um grupo a respeito do justo, correto ou satisfatório virou rotina
das grandes e, até mesmo, pequenas cidades.
Nesse ponto, questiona-se: o que são os movimentos sociais e as
manifestações públicas?
Gohn (2007), conceitua movimentos sociais como “ações sociais coletivas
de caráter sócio-político e cultural que viabilizam distintas formas da população se
organizar e expressar suas demandas”. E ainda, ao falar de suas formas de
atuação, complementa que:
5
Sem paginação.
6
Idem.
32
8
Sem paginação.
35
O movimento nasceu pela internet e redes sociais e foi igualmente por meio
deles que foi amplamente difundido e sedimentado. Esse ativismo no espaço digital,
porém, foi dividido pela contundente tática de ocupação dos espaços públicos que
propiciou a formação de uma comunidade ativa em debates na busca de soluções
para o que consideravam injusto.
9
Sem paginação.
10
Idem.
39
A marcha dos cem mil foi uma manifestação realizada no Rio de Janeiro, em
26 de junho de 1968, promovida pelo movimento estudantil, com a participação de
intelectuais, operários, profissionais liberais, religiosos e populares contra o regime
militar.
O movimento reivindicava o restabelecimento das liberdades democráticas,
a suspensão da censura à imprensa e a concessão de mais verbas para a educação
e entrou em confronto com a Polícia Militar na Avenida Rio Branco, após embate
ocorrido entre Policiais e manifestantes em frente à embaixada norte-americana, que
foi depredada.
O confronto na avenida Rio Branco durou horas e resultou em viaturas
policiais queimadas, centenas de feridos, mil prisões e três mortos, segundo versão
oficial, ficando conhecido como “sexta-feira sangrenta”. (LAMARÃO, 1999)
“Diretas Já” foi um movimento que reivindicava o retorno das eleições diretas
para presidente da república, tendo início em 1983 e ganhou força nos primeiros
meses de 1984.
A última eleição direta para presidente no Brasil havia ocorrido no ano de
1960, porém foi substituída por eleições indiretas durante o Regime Militar.
A instabilidade econômica e, sobretudo, política vivenciada no 1983 foi
acompanhada pelo fortalecimento e acordos entre os partidos de oposição, que
passaram a se mobilizar em torno da causa. O movimento ganhou força com o
projeto de Emenda à Constituição apresentada pelo deputado federal Dante de
Oliveira.
Nos primeiros meses de 1984, os comícios e passeatas iniciadas em 1983,
tomaram grande dimensões e passaram a ocorrer com maior frequência em diversas
capitas e cidades em todo Brasil, com grande engajamento de artistas, intelectuais,
políticos e a participação de centena de milhares de pessoas que reivindicavam a
“Diretas Já”11.
O movimento perdurou por meses, até que em 25 de abril de 1984 o projeto
de Emenda Constitucional proposto pela Deputado Dante de Oliveira foi posto em
votação no Congresso Nacional, ocasião em que não recebeu os 2/3 de votos
favoráveis necessários para sua aprovação
No entanto, em 1985 a oposição consegue eleger Tancredo Neves a
Presidente e José Sarney a vice. Entretanto, Tancredo Neves adoece e falece na
véspera da assunção do cargo que é ocupado pelo vice, José Sarney, até 15 de
março de 1990, chegando ao fim o regime militar. As Diretas Já, até hoje, é
considerado um dos maiores movimentos sociais e políticos da história do Brasil
(MOREIRA, 1999).
11
Conforme informação presente no Registro das Sessões, da Câmara dos Deputados (Disponível
em: https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-de-materias/diretas-ja. Acesso em 15
nov. 2020.), estima-se que manifestações ocorridas no Rio de Janeiro reuniram cerca de 1 milhão
de pessoas e em São Paulo, 1,7 milhão.
42
12
Sem paginação.
45
seus nós pode reconfigurar uma rede de suas afinidades e objetivos, com
superposições parciais e conexões múltiplas. O movimento antiglobalização
não é simplesmente uma rede, é uma rede eletrônica, é um movimento
baseado na internet. E como a internet é seu lar, não pode ser desarticulado
e aprisionado. Nada como um peixe na rede”. (CALTELLS apud
CARVALHO, 2019)13
A utilização do ciberespaço em Seattle demonstrou ser uma grande arma
dos movimentos sociais contra o controle das autoridades, que se veem diante da
impossibilidade de impedir a coordenação dos protestos e o engajamento de cada
vez maior número de participantes os quais, incentivados pelo sentimento de
pertencimento e incentivos presentes nos discursos das redes sociais, são
encorajados a comparecerem nos espaços públicos para apresentarem suas
indignações.
Para Castells (2017) “é essa conexão entre o ciberespaço público, ignorando
a controlada mídia convencional, e o espaço público urbano, cuja ocupação desafia
a autoridade institucional, que está no cerne dos novos movimentos sociais.”
Ao final, a conferência da OMC para a qual era esperada a participação de
representantes de aproximadamente 134 países teve sua abertura cancelada pela
primeira vez na história. As delegações não conseguiam chegar ao teatro
Paramount e aquelas que chegavam tinham outra impressão dos movimentos
sociais, resultando e rodadas de negociações fracassadas.
Com a utilização de tecnologia, novas estratégias, novas formas de
organização e planejamento das manifestações, o que ocorreu nas ruas de Seattle,
no dia 30 de novembro de 1999, foi algo inédito na história e exerce influência nas
manifestações públicas até os dias de hoje. A Batalha de Seattle foi o grande
impulsor do ativismo digital.
13
Idem.
14
Idem.
46
15
Idem.
47
sociedade tunisiana nos protestos (embora o papel mais ativo tenha sido
desempenhado por jovens desempregados com instrução superior), ausência de
liderança definida, ausência de uma organização formal (os partidos políticos de
oposição ao governo foram ignorados pelos ativistas), o papel da rede de TV Al
Jazeera e, sobretudo a internet, redes sociais e a tecnologia que possibilitaram que
os protestos focem realizados, coordenados e ampliados. (CASTELLS, 2017)
Para Castells (2017) “foi a conexão entre as redes sociais da internet e as
redes pessoais que se forjou o protesto. E ainda:
obrigatório em todo carro francês e deve ser utilizado pelo condutor como
equipamento de segurança em caso de acidente ou pane do veículo.
Embora a concretização das manifestações tivesse início em 17 de
novembro de 2018, a ideia do movimento teve sua origem após a ativista ambiental
Priscilla Ludovsky, em maio de 2018, ter criado uma petição online contra o aumento
dos combustíveis e questionado uma série de informações sobre a transição
ecológica. Mas foi a partir de setembro, após o compartilhamento em inúmeros
grupos e redes sociais, que sua petição adquiriu notoriedade e repercussão de
forma que Priscila passou a ser procurada por diversas pessoas e pela mídia para
falar sobre a causa. (BAPTISTA, 2019)
Com a notoriedade proporcionada pelas mídias, por meio das redes sociais,
o movimento ganhou força, diante a insatisfação de diversos setores da sociedade
que se viam injustiçados pelas medidas anunciadas pelo Governo, provocando um
interessante engajamento de uma massa heterogênea que foram às ruas, colocando
lado a lado pessoas de diversas linhas de pensamento desde de extrema direita à
extrema esquerda, liberais e ambientalistas. (BAPTISTA, 2019)
Seguindo a mesma linha da Batalha de Seattle em 1999, e o Occupy Wall
Street, em 2011, o movimento se fortaleceu pelo uso intenso da internet e redes
sociais, uma organização horizontal, sem a definição de líderes ou organizações
formalmente constituídas, massa heterogênea e evolução no decorrer das
manifestações para pautas difusas.
O movimento que se iniciou para contestar o aumento da taxa de
combustível, aos poucos teve suas reivindicações ampliadas, passando pelo
questionamento de diversas políticas públicas do Governo francês e busca por
melhores condições sociais.
Os protestos continuam até os dias de hoje e segundo o site El País (2019)
as ações e confrontos com a força policial, desde seu início em novembro de 2018
até novembro de 2019, já teriam causado a condenação de 3.100 manifestantes,
1.268 policiais e 2.448 manifestantes feridos.
16
Sem paginação.
50
17
Na ocasião da desinterdição da Rodovia Mário Covas – Rodoanel, o autor era o comandante da 4ª
Companhia do 2º BPChq - ROCAM e atuou diretamente no comandamento da ação realizada pelos
pelotões de policiais motociclistas.
55
iniciou-se uma série de manifestações públicas por todo país. Com o slogan “Black
Lives Matter”, os protestos romperam as fronteiras da América, repercutindo em atos
no mundo todo, inclusive com forte engajamento de autoridades públicas e
personalidades da música, arte, esporte. Com relação ao incidente, Guimon (2020)
escreveu que:
Segundo The Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED),
organização que pesquisa protestos no mundo todo:
18
Sem paginação.
19
Idem.
62
Existe um grande desafio por parte das autoridades públicas de todo mundo,
as quais encontram pela frente um imenso trabalho no sentido de criar políticas
públicas e preparar suas instituições, de forma que seja garantido o exercício dos
direitos fundamentais por seus cidadãos, ao mesmo tempo que sejam possíveis
ações de preservação da ordem públicas eficientes.
E a Instituição que desempenha o papel de protagonismo nesse cenário,
certamente é a Polícia.
O que se verifica é a grande quantidade de manifestaçõs que, muitas vezes,
geram confrontos. Geralmente, “são manifestações que começaram por motivos
bastante específicos, mas que acabam por refletir a insatisfação da população com
a situação geral de seu país, um descontentamento com a classe política e aqueles
que ocupam o poder” (PROTESTOS..., 2019)20.
Esse contexto de instabilidade social, política e econômica faz surgir a
pergunta: o que mudou nas manifestações públicas e movimentos sociais do mundo
atual?
Mas o que as manifestações públicas atuais têm de diferente? Por que
fazem parte do foco de atenção e preocupação de diversas autoridades públicas e
principalmente líderes políticos?
Pode-se dizer que, diante de uma análise superficial e pragmática, ao
analisar os apontamentos dos diversos estudiosos citados até aqui, três fatores
contribuíram efetivamente para que as manifestações públicas em todo o mundo
fossem redesenhadas, seja na sua forma de convocação, organização,
planejamento, alcance, ação e “poder”, na sua maior dimensão: i. a Globalização; ii.
a Internet; e iii. Quarta Revolução Industrial.
20
Sem paginação.
65
21
Sem paginação.
67
AOL, Yahoo, com suas salas de bate papo e mensageiros instantâneos, Hotmail,
serviços de e-mail gratuito e sites de busca como o Google. (BARROS, 2013)22
A computação mainframe (década de 1960), a computação pessoal (década
de 1970 e 1980) e a internet (década de 1990), fazem parte da terceira revolução
industrial, também chamada da revolução digital ou do computador. (SCHWAB,
2016, p. 15-16)
Tem-se que internet é onipresente e móvel, operada por aparelhos cada vez
menores e mais acessíveis, além de inteligência artificial e aprendizado de máquina.
Os sistemas, software e redes estão cada vez mais sofisticados e integrados. As
inovações tecnológicas e as descobertas, ocorrem, simultaneamente, de uma forma
ampla e com uma velocidade incrível, nas mais diversas áreas de conhecimento,
acompanhada de uma igual e impressionante velocidade e amplitude de difusão. “O
que torna a quarta revolução industrial fundamentalmente diferente das anteriores é
a fusão dessas tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitais e
biológicos.” (SCHWAB, 2016, p. 16-17)
A figura a seguir mostra a vista a partir da Praça de São Pedro em dois
momentos diferentes quando foi anunciado o novo Papa. Interessante observar a
quantidade de smart phones e tablets no ano de 2013 em comparação a 2005.
22
Sem paginação.
69
forma mais ativa no mundo digital e no mundo físico (nas ruas). Concedeu corpo e
força a indivíduos isolados e grupos, mesmo que pequenos, que passaram a
acreditar na sua capacidade de fazer ser ouvido, de fazer sua voz ultrapassar
barreiras antes intransponíveis e influenciar pessoas.
23
Sem paginação.
73
24
Idem.
25
Ibidem.
74
26
Atualmente é o Comandante da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, porém possui vasta
experiência na atividade de Controle de Multidões, pois serviu por muitos anos nos BPChq, da
PMESP. Em 2013, era Coordenador Operacional do 3º BPChq e atuou diretamente nas ações de
controle de multidões.
75
2.6.2 Heterogeneidade
Conceitualmente:
“Vestir preto permite que você ataque e depois volte para o Black Bloc,
onde é sempre só mais um entre muitos outros”, explica um veterano de
diversos Blacks Blocs, comentando que o anonimato possibilita frustrar, ao
menos em parte, a vigilância da polícia (DUPUIS-DÉRI, 2014, p. 13).
A tática black bloc teria sido utilizada pela primeira vez no início dos anos 80
pelo movimento denominado “autonomen”, em Berlim ocidental. Tem como origem
ideológica o marxismo, feminismo radical, anarquismo e ambientalismo e
“praticavam uma política igualitária e participativa “aqui e agora”, sem líder ou
representantes; a autonomia individual e a autonomia coletiva eram, em princípio,
complementares e igualmente importantes. ” (DUPUIS-DÉRI, 2014, p. 40)
A tática black bloc foi difundida para o mundo por meio de contatos entre
ativistas, caracterizados pela cultura punk e de extrema-esquerda. Mas foi nas
manifestações antiglobalização de Seattle em 1999, por meio da grande cobertura
da mídia que a tática foi divulgada, efetivamente, para o mundo inteiro,
apresentando suas características bem singular: roupas pretas, máscaras nos rostos
e ataques contra alvos econômicos e políticos (DUPUIS-DÉRI, 2014, p. 41-52).
Nas manifestações de 2013, em São Paulo, verificou-se também algumas
referências a grupos ANTIFAS, ou antifascistas, termo mais utilizados nas
manifestações atuais, sobretudo naquelas de pautas contrárias ao Governo atual,
presidido pelo Sr. Jair Messias Bolsonaro que se apresenta como ideologicamente
voltado à direita conservadora.
Bray (2020, p. 32), apresenta o antifascismo como “um método de política,
um lócus de auto identificação individual e de grupo, de um movimento transnacional
que adaptou correntes socialistas, anarquistas e comunistas preexistentes a uma
súbita necessidade em reagir à ameaça fascista”. E ainda acrescenta que:
Ainda que os Antifas sejam classificados por analistas distintos como uma
organização de esquerda ou extrema-esquerda, seus integrantes fazem
antagonismo à ideologia de extrema-direita, mas não promovem iniciativas
que representem a um determinado setor do sistema político.
Diferentemente dos grupos políticos ou partidos tradicionais, os Antifas não
almejam participar de eleições nem influenciar a aprovação de leis no
Congresso.
Com um forte discurso anticapitalista, eles empregam táticas mais similares
às de anarquistas do que às da esquerda tradicional.
Nesse sentido, parte dos Antifas consideram a violência um método válido
durante protestos populares, inclusive a destruição de propriedade privada
e, em determinados casos, o enfrentamento físico contra seus opositores.
Guimón (2020)27, ao retratar os Antifas, descreve que:
27
Sem paginação.
82
a identificação do grupo pela polícia. Desta forma, como exemplo a ser dado, os
Antifa de Madri marcham sem máscaras em grandes manifestações, e “guardam
bandanas e balaclavas para ações de confronto” (BRAY, 2020, p. 341-343).
Bray (2020, p. 32) conclui:
[...] a redução do termo à mera negação obscurece a compreensão do
antifascismo como um método de política, um lócus de auto identificação
individual e de grupo, de um movimento transnacional que adaptou
correntes socialistas, anarquistas e comunistas preexistentes a uma súbita
necessidade em reagir à ameaça fascista.
Fonte: https://www.facebook.com/AcaoAntifascistaSaoPaulo.
28
Sem paginação.
83
A era digital prejudicou muitas das barreiras que eram usadas para proteger
a autoridade pública, tornando os governos muito menos eficientes ou
eficazes, pois os governados, ou o público estão mais bem informados e
86
cada vez mais exigentes em suas expectativas. [...] a tecnologia, cada vez
mais, tornará os cidadãos mais aptos oferecendo uma nova maneira de
expressar suas opiniões, coordenar seus esforços e possivelmente
contornar a supervisão estatal.
[...] Estruturas paralelas serão capazes de transmitir ideologias, recrutar
seguidores, coordenar ação a favor – e contra – os sistemas de governos
oficiais (SCHWAB, 2016, p. 73).
29
“A ideia central da teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer
pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais
eventos seriam praticamente imprevisíveis – caóticos, portanto” (O QUE..., 2011).
90
2.6.7 Imprevisibilidade/volatilidade
30
Na ocasião, o Autor participou da referida reunião, pois exercia a função de Oficial de planejamento
de operações no Comando de Policiamento de Choque.
92
sua quebra. Isso é uma certeza. A grande luta é em quanto tempo essa resposta
desejada será eficaz? Quantos cidadãos e policiais serão lesionados até lá? Quais
os danos patrimoniais se efetivarão até que a ordem seja reestabelecida?
A imprevisibilidade dificulta o planejamento e emprego dos ativos da PMESP
no terreno.
Esse período que a ordem pública permanece sangrando até que seja
reestabelecida é, talvez, o grande desafio a ser enfrentado. Trata-se de um
problema complexo que exige uma estrutura policial flexível e veloz o suficiente para
se adaptar às demandas que vão surgindo tempo a tempo.
2.7 Os desafios da Polícia Militar do Estado de São Paulo diante das “novas
manifestações”
[...]
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o
próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem
por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da
sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser
determinados pela lei.
[...]
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública
estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais
preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever,
imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade
nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma
força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para
utilidade particular daqueles a quem é confiada
[...]
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público
pela sua administração (FRANÇA, 1789).
Nesse documento é exposto de modo claro e objetiva o “direito natural” do
cidadão à livre comunicação de ideias e opiniões sobre todas as formas de
expressão, impondo limite ao Estado em coibir essas manifestações, desde que o
exercício dos direitos naturais de determinado cidadão não prejudique o gozo dos
mesmos direitos por outro membro da sociedade.
Note-se, porém, que, embora sejam impostos limites à atuação do Estado
para garantir a liberdade do cidadão, ao mesmo tempo, a Declaração impõe alguns
“limites” ao cidadão que exercita esse direito, qual seja: não prejudicar o gozo do
mesmo direito de liberdade por outro cidadão. E ainda declara a necessidade de
estabelecimento de uma força pública responsável por garantir os direitos do homem
e do cidadão.
Na mesma esteira segue a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
adotada e declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de
dezembro de 1948:
Artigo 13
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência
dentro das fronteiras de cada Estado.
[...]
Artigo 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e
religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
99
Artigo 19
1. ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a
liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer
natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente
ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio
de sua escolha.
3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará
deveres e responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar
sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente
previstas em lei e que se façam necessárias para:
a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública.
Artigo 21
O direito de reunião pacífica será reconhecido. O exercício desse direito
estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam
necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança
nacional, da segurança ou da ordem pública, ou para proteger a saúde ou a
moral pública ou os direitos e as liberdades das demais pessoas. (ONU,
1948)
E o Pacto de San José da Costa Rica, adotada em 22 de novembro de 1969
e ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de 1992, assegura:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
[...]
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos
ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;
[...] (BRASIL, 1988).
Assim, cabe ao Estado brasileiro garantir o direito de manifestação do
pensamento das pessoas, desde que esta não use de anonimato para se expressar
101
32
Sem paginação.
33
Idem.
103
34
Sem paginação.
104
35
Idem.
36
Ibidem.
37
Ibidem.
105
38
Idem.
106
39
Em 2014, um grupo de Oficiais da PMESP, composto pelo então Cap PM Razuk, Cap PM Arcanjo,
Cap PM Galhardo e 1 Ten PM Casabona, viajou até Santiago do Chile, onde passaram dias na 27ª
Comissária das Forças Especiais dos Carabineros, recebendo informações sobre a doutrina,
técnicas, táticas e procedimentos de atuação em ações de controle multidões, acompanhando,
inclusive ações reais.
40
Realidade acompanhada de perto pelo autor, enquanto frequentou Curso de Operador de Canhão
d’água nas Forças Especiais dos Carabineros do Chile, ocasião em que acompanhou a rotina da
tropa responsável pelo controle de multidões na capital Santiago, durante 15 dias do ano de 2015.
41
Expressão encontrada na tese de Racorti (2019).
42
Tais como o Aguilar et al (2017), Silva (2019) e Racorti (2019).
107
43
Tais como: Poder Judiciário, Ministério Público, Secretarias de Governo, Ouvidoria, Companhia de
Engenharia de Tráfego, Metrô, Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, São Paulo Transportes
S/A, Guarda Civil Metropolitana, Polícia Civil, Comando de Policiamento de Área e comandos de
policiamentos especializados (Comando de Policiamento de Choque, Comando de Policiamento de
Trânsito, Comando de Aviação) e Corpo de Bombeiros.
108
Segundo o M-8-PM:
“[...] foi nos idos de 1985 que dois alemães, Nikolaus August Otto e Gottlieb
Daimler, inventaram o motor de combustão interna. Esse motor, de dois
tempos, foi adaptado em uma bicicleta tendo surgido, então, a primeira
motocicleta do mundo. Note-se que tal fato ocorreu antes da criação do
automóvel.”
No meio militar, Silva (2017, p. 24) aponta que as motocicletas foram muito
utilizadas nas duas grandes guerras mundiais para o desenvolvimento de diversos
serviços, quais sejam, atividades de reconhecimento, controle de trânsito,
fiscalização em geral (inclusive de polícia) ou, ainda, como fogo de apoio, com uma
metralhadora instalada em um sidecar (carro lateral).
Ainda segundo Silva, o emprego de motocicletas nas atividades policiais é
herança, principalmente, da Primeira Guerra, ocasião em que essas máquinas
substituíram os cavalos como meio de transporte. (SILVA, 2017, p.24)
Na PMESP, as motocicletas surgiram na década de 30, quando o Corpo de
Bombeiros realizou aquisição com o objetivo de realizar escoltas dos seus
caminhões e apresentações.
Na década seguinte, mais especificamente em 30 de outubro de 1947, foi
criado o Pelotão de Escolta de Motociclistas (P.E.M.) ao qual foi atribuída,
primordialmente, a missão de realizar a escolta e segurança do Governador do
Estado de São Paulo, sendo, posteriormente tal atividade estendida a outras
autoridades nacionais e estrangeiras que visitavam o estado. Entre inúmeras
autoridades de destaque mundial escoltadas pelo Pelotão de escolta é possível
mencionar Papa João Paulo II, Rainha Elizabeth, Príncipe Charles e Princesa
116
Dianna e presidentes como George Bush, entre outros. Em 1999, por meio do
Boletim Geral PM 061 de 31 de março do mesmo ano Pelotão foi transferido ao 2
BPChq, compondo a 3ª Companhia – ROCAM, passando a realizar além das
atividades de escolta, o policiamento tático com motocicletas. (SILVA, 2017, p.26)
O emprego de motocicletas na atividade de policiamento surgiu na PMESP
no ano de 1982, ocasião em que o então Comandante Geral da Instituição, General
de Brigada Arnaldo Bastos de Carvalho Braga, por meio da Nota de Instrução n
3EMPM-005/32/82 criou as Rondas Ostensivas com o Apoio de Motocicletas,
conhecidas pela sigla ROCAM, que passou a compor a 4ª Companhia do 1º BPChq
– Batalhão Tobias de Aguiar, sob comando do, então, Cap PM Renato Cesar Melo a
quem coube a missão de recrutar policiais motociclistas de diferentes unidades da
Instituição para compor seu efetivo. (MONTINI JÚNIOR, 87, p. 7)
Após o período de seleção, os Policiais classificados permaneceram adidos
ao CSM/MB, sob comando do então 1º Ten PM Pedro Rezende de Oliveira Melo, do
pelotão de escolta, que ficou responsável pelas instruções de pilotagem, legislação,
primeiros socorros e técnicas policiais. Muitos policiais que iniciaram o curso não
conseguiram terminá-lo, sendo devolvidos às unidades de origem. (MONTINI
JÚNIOR, 87, p. 8)
O efetivo inicial da Companhia de ROCAM era de 134 (cento e trinta e
quatro) Policiais Militares, 100 (cem) viaturas tipo motocicleta marca Yamaha modelo
RX-180 e 12 (doze) viaturas marca VW/Gol, sendo a entrega das viaturas realizadas
pessoalmente pelo então Governador do Estado de São Paulo José Maria Marim.
(MONTINI JÚNIOR, 87, p. 8)
Criada com finalidade principal de atuar nos centros comerciais e bancários
visando apoiar os batalhões territoriais, o policiamento com motocicletas
rapidamente ganhou notoriedade pela sua agilidade, versatilidade e mobilidade no
desempenho de atividades de combate à criminalidade. (SILVA, 2017, p.27)
Montini Junior (1987, p. 13) já naquele ano escreveu que:
Pela sua versatilidade e fácil mobilidade no trânsito, em regiões sujeitas a
congestionamentos, calçadões e vias sem pavimentação, as patrulhas
conseguem multiplicar a ostensividade do policiamento, inibindo a ação de
vilões e consequentemente reduzindo o índice de criminalidade.
Complementa Merlo que a ROCAM foi:
4.2.1 Mobilidade
4.2.2 Flexibilidade
4.2.3 Ostensividade
surpreendidos pela polícia, presos ou dispersos é muito grande e esse “medo” pode
contagiar outros indivíduos dos demais grupos.
ii. as manifestações contemporâneas e o método terrorista de ataques múltiplos
coordenados ou simultâneos
O conceito de ataques múltiplos coordenados surgiu a partir do ataque
terrorista ocorrido em novembro de 2008, na cidade de Mumbai na Índia. Na ocasião
os terroristas dividiram-se em grupos e saíram pela cidade efetuando disparos de
fuzis, lançaram granadas e artefatos explosivos improvisados em diversos locais e
pessoas, o que resultou em, pelo menos, 173 mortos e mais de 350 feridos.
(AGUILAR, 2016, p. 46-47)
Acredita-se que, dentro da devida proporção e finalidade, alguns dos
métodos e táticas utilizados pelos grupos radicais nas manifestações
contemporâneas, sobretudo aqueles que se utilizam da tática black bloc,
apresentam grande semelhança ao apresentado acima.
Nesse sentido, pode-se identificar que as manifestações públicas
contemporâneas reforçaram sua característica de incidente dinâmico. E, mais uma
vez, motivado pela participação de grupos radicais, deslocam-se pelas ruas da
cidade em busca de oportunidades para implementar suas ações. São imprevisíveis,
atacam locais e pessoas (quase sempre policiais), utilizando-se de diferentes armas
(estilingue, artefatos explosivos, artefatos incendiários, corrente, pedras etc.). Agem
de forma simultânea e dispersa, fora dos limites geográficos tradicionalmente
definidos. Agem de acordo com o método de ataques múltiplos coordenados ou
simultâneos.
E como enfrentar esse método no qual se desenvolve o incidente crítico?
Aguilar (2016, p. 47) explica que a partir da ocorrência em Mumbai, a
comunidade policial passou a discutir forma de responder a essas ameaças híbridas,
resultando no surgimento da estratégia de MACTAC (Multi-Assalut Coubter Action
Capabilities), “designada, na tradução em português, como ‘Capacidade de
Resposta Contraterrorista Frente a Múltiplos Ataques’.”
Citando estudo do Departamento de Polícia de Los Angeles, nos Estados
Unidos da América (LPDA), Aguilar complementa que:
parados inclusive nos acostamentos tornando impossível acessar o local por meio
de viaturas quatro rodas, sobretudo com veículos pesados de transporte de pelotões
de Choque. Para chegar ao local, o pelotão de choque foi obrigado a desembarcar
da viatura a 4 Km de distância da manifestação e percorrer todo caminho correndo
entre os carros, carregando todos os equipamentos, como escudos, armas,
munições químicas etc. Nessa ocasião, a atuação de um pelotão de motocicletas,
permitiria um acesso rápido dos policiais ao local, e o desenvolvimento, ao menos
inicial, das medidas de desobstrução da via, para que fosse possível a chegada dos
pelotões de choque regulares. Outro exemplo refere-se às manifestações ocorridas
também em 2013 no aeroporto internacional de Guarulhos. Nessa ocasião, os
Pelotões de Choque foram acionados por volta das 18h e tiveram muita dificuldade
de chegar ao local pois as vias de acesso estavam totalmente obstruídas. O
emprego de um pelotão de motos permitiria uma resposta rápida e a desobstrução
da via para a chegada de apoio.
também a presença dos ativistas de tática black bloc, os quais incrementaram mais
violências às manifestações.
Em termos de dificuldade operacional, relata que houve problemas no
monitoramento, acompanhamento e detenção dos ativistas de táticas black bloc
antes da quebra da ordem, ou o mais rápido possível após a quebra da ordem, para
minimizar os impactos causados.
O Oficial registra que a PMESP acertou no monitoramento das redes sociais,
antes, durante e depois das manifestações, no treinamento constante do efetivo de
gestão de multidões e na criação de protocolos de gestão de multidões. Por outro
lado, entende que houve falta de equipamentos, falta de treinamento do efetivo de
apoio que era escalado para operar nas manifestações advindos de Unidades de
outros Batalhões que não os do Centro de São Paulo e falta de integração de
comunicação, por rádio, de todos os comandantes que eram empregados nas
grandes manifestações.
Relativamente à estratégia da PMESP, relata que antes de 2013, havia
somente treinamento de Controle de Multidões e, após 2013, iniciaram-se
treinamentos de Gestão de Multidões e intensificaram-se os treinamentos de
Choque Motorizado integrando as ROCAM com as Forças Táticas, além da criação
da Companhia de Ações Especiais de Polícia (embrião do 7º BAEP). Ademais, após
as manifestações de 2013, houve atuação integrada no planejamento das ações de
Gestão de Multidões e Controle de Multidões.
Destaca que houve um tempo de adaptação para que se pudesse criar uma
doutrina de Gestão de Multidões integrando os efetivos empenhados na gestão e
controle de multidões, o que pode ser considerado uma importante dificuldade.
Especificamente com relação ao emprego do policiamento com motocicletas
nas ações direcionadas à Gestão de Multidões, informa que já existe treinamento
para isso integrando as ROCAM às viaturas de 4 rodas, sejam FT ou BAEP.
Atualmente, seria necessário treinar as ROCAM e FT que apoiam as operações na
área central, pois em outras Unidades da PM esse treinamento ainda é
desconhecido.
Notou que antes de 2013 essas tropas atuavam separadamente e a partir de
2013 passaram a trabalhar de maneira integrada às viaturas de FT e, hoje, BAEP,
sendo considerada uma importante contribuição para a atuação da PMESP nas
manifestações públicas.
145
Resposta Rápida (ERR) que atuam de forma autônoma, porém sob comando, contra
grupos menores e dispersos de manifestantes.
É possível o emprego de policiais motociclistas diretamente no controle de
grandes multidões, no entanto, nessas ocasiões, devem-se utilizar os princípios,
técnicas e táticas relacionada ao emprego de pelotão de choque a pé convencional,
ou seja, as motocicletas devem ser estacionadas em local seguro com relação à
área imediata, e os escudos e equipamentos fornecidos pela viatura de apoio, que
os acompanhará.
O emprego do policiamento com motocicletas no Controle de Multidões é
uma entre diversas atividades operacionais que deve compor, sistematicamente, o
complexo processo de gestão de incidentes críticos relacionados às manifestações
públicas na PMESP. Visa, portanto, fornecer ao Comandante uma ferramenta ágil e
contundente, que deve ser capacitada a acompanhar e combater a velocidade e a
grande violência desencadeadas por grupos de ativistas extremistas que atuam nos
protestos contemporâneos.
Como parte do sistema de controle de multidões da PMESP, respeitadas as
adequações necessárias para garantir a eficiência e segurança dos policiais, as
ações desenvolvidas pelas tropas que realizam o policiamento com motocicletas,
certamente, devem seguir os princípios e conceitos descritos no manual que trata
do assunto na Instituição, o M-8-PM, como necessária medida de padronização e
sedimentação de objetivo institucional único de preservação da ordem pública, pela
atuação sistêmica dos ativos operacionais disponíveis.
Também vale ressaltar que tais inovações permitirão melhor atuação dos
policiais militares ao serem empregados em manifestações públicas, além
da diminuição dos riscos desses policiais militares, que já estão impactados
pela própria vulnerabilidade da motocicleta em meio à multidão que, muitas
vezes, pode adotar comportamento hostil com a presença da policial, além
de melhorar a própria sensação de segurança das pessoas que participam
153
6.4.1 Fardamento
considerada mais viável uma vez que ser para o emprego em ações de Controle de
Multidões de patrulhamento tático com motocicletas.
6.6.3 Logística
6.8.1 Deslocamentos
6.8.2 Formações
6.9 Treinamento
7 CONCLUSÃO
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Acesso em: 14 jan. 2021.
191
Data:
Nome: Posto:
Período:
OPM que serviu Periodo:
Período:
( ) década de 80
( ) década de 90
( ) década de 2000
( ) manifestações de 2013
( ) manifestações Impeachment Dilma
( ) manifestações após eleições presidenciais de 2018
( ) outra:
3) O que mudou?
a) forma de organização e condução das manifestações
b) características dos manifestantes
c) estratégia de atuação utilizada pelos manifestantes
13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado
nas ações direcionadas à gestão de multidões, tanto na Administração (prevenção)
e Controle de Multidões (repressão)?
Data: 23/10/2020
OPM que serviu:
Serviu nas Unidades subordinadas ao Cmdo Pol Chq de 1993 a 2019
Função que exercia nas manifestações de 2013: Coordenador Operacional do 3º
BPChq
3) O que mudou?
R: Nas manifestações tradicionais, antes de 2013, a intenção primária dos
manifestantes era buscar maior exposição das suas reivindicações na mídia e de
forma secundária, atingido seus objetivos, dispersavam-se, mas não com a intenção
inicial de praticar atos de violência, ao menos não de forma coletiva.
A partir das manifestações de 2013, parte dos manifestantes, principalmente
aqueles que se utilizavam-se da tática black bloc, deslocavam-se para os locais de
reunião com a intenção primária e secundária de praticar atos de violência, durante
197
13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado nas
ações direcionadas à Gestão de Multidões? Tanto na administração (prevenção) e
controle de multidões (repressão)?
R: Sim, desde que acompanhada de forte capacitação e treinamento dos policiais
motociclistas. Adequação dos Equipamentos de proteção individual às
199
peculiaridades da missão e uma prévia análise dos perigos que o operacional vai
combater.
Ressalta, porém, que não é conveniente empregar pelotões de policiais
motociclistas diretamente contra grandes massas, nem mesmo em bailes funks.
Data: 29/10/2020
OPM que serviu: Regimento de Polícia Montada “9 de Julho”, 2º e 3º BPChq.
Função que exercia nas manifestações de 2013: Comandante do 2º BPChq.
3) O que mudou?
R: As manifestações urbanas, antes de 2013 eram concentradas. Embora houvesse
ocasiões de confrontos, não havia um enfrentamento direto dos manifestantes
contra os Policiais. Não havia ações contínuas de danos a lojas, ônibus. O foco das
manifestações eram reivindicações determinadas e não haviam ações
indiscriminada de violência.
201
13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado nas
ações direcionadas à Gestão de Multidões? Tanto na administração (prevenção) e
controle de multidões (repressão)?
R: Sim, desde que capacitada por meio de um intenso e constante treinamento.
Como exemplo, pode ser citado o ano de 2013, uma manifestação na Rodovia
Castelo Branco, na região de Carapicuíba, interditou os dois sentidos da via, com
veículos parados inclusive nos acostamentos tornando impossível acessar o local
por meio de viaturas quatro rodas, sobretudo com veículos pesados de transporte de
pelotões de Choque. Para chegar ao local, o pelotão de choque foi obrigado a
desembarcar da viatura a 4 Km de distância da manifestação e percorrer todo
caminho correndo entre os carros, carregando todos os equipamentos, como
escudos, armas, munições químicas etc.
Nessa ocasião, a atuação de um pelotão de motocicletas, permitiria um acesso
rápido dos policiais ao local, e o desenvolvimento, ao menos inicial, das medidas de
desobstrução da via, para que fosse possível a chegada dos pelotões de choque
regulares.
Data: 16/10/2020
OPM que serviu: 1º BPCHQ - 1991/2004 e 2006/2009; 3º BPChq - 2004/2006; 2º
BPChq - 2010/2013; e CPChq - 2013/2020.
Função que exercia nas manifestações de 2013: Oficial Adjunto de Inteligência na
Agência Regional, do Comando de Policiamento de Choque.
3) O que mudou?
R:
a) forma de organização e condução das manifestações;
b) características dos manifestantes;
c) estratégia de atuação utilizada pelos manifestantes.
13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado nas
ações direcionadas à Gestão de Multidões? Tanto na administração (prevenção) e
controle de multidões (repressão)?
R: Sim. Principalmente no acompanhamento do grupo e caso ocorra na realização
de uma atuação rápida aos pequenos grupos.
18) Na opinião do senhor, como o policiamento com motocicleta pode contribuir para
a manutenção da ordem pública em manifestações públicas.
R: Utilizado em número superior a dois condutores (ideal patrulha com três ou mais),
o policiamento com motocicletas poderia ser utilizado como apoio da tropa territorial
no deslocamento dos manifestantes (atuação mais distante, porém com plena visão
do movimento), atuação em patrulha para dispersar grupos menores de
manifestantes (repressão).
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Data: 19/12/2020
OPM que serviu:
• 13º BPM/M: de 1996 a 2002;
• 7º BPM/M: de2013 a 2015;
• CPA/M-1: de 2018 a 2020.
Função que exercia nas manifestações de 2013: Comandante de Companhia
Matricial.
3) O que mudou?
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13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado nas
ações direcionadas à Gestão de Multidões? Tanto na administração (prevenção) e
controle de multidões (repressão)?
R: Já existe treinamento para isso integrando as ROCAM às viaturas de 4 rodas,
sejam FT ou BAEP. Atualmente, seria necessário treinar as ROCAM e FT que vêm
em apoio, pois em outras Unidades da PM esse treinamento ainda é desconhecido.
Data: 10/12/2020
OPM que serviu: 2º BPChq (de 2001 aos dias atuais)
Função que exercia nas manifestações de 2013: Oficial de Inteligência do 2º BPChq.
3) O que mudou?
R: Devido à imprevisibilidade do momento da quebra da ordem e da dispersão no
terreno em que grupos menores davam continuidade à prática da violência, a Polícia
Militar precisou adequar o seu planejamento e lançar mão de atuação de diversas
Unidades Operacionais, além do CPChq.
b) a partir de 2013: emprego de tática black bloc, gestão da crise de imagem devido
às críticas pela ação e/ou pela omissão e oportunidade para se discutir o assunto e
identificar necessidade de mudanças.
13) O senhor acredita que o policiamento com motocicletas pode ser empregado nas
ações direcionadas à Gestão de Multidões? Tanto na administração (prevenção) e
controle de multidões (repressão)?
R: Sim, pois é uma ferramenta que permite agilidade na resposta tanto para ocupar
terreno quanto para atuar em pequenos focos de quebra da ordem.