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São Paulo
2006
Jorge Rodolfo Lima
São Paulo
2006
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
i
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
lua à vista
brilhavas assim
sobre auschwitz?
(Paulo Leminski)
ii
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
AGRADECIMENTOS
iii
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
RESUMO
ABSTRACT
Forensic biology in the State of São Paulo, Brazil, focuses mainly on forensic
applications of biochemistry, immunology and molecular genetics. In this study, some
forensic applications of organismal biology (here termed Macroscopic Biology) are
presented and briefly discussed. Examples are presented of forensic applications of
zoology and botany, as well as the possibilities of integration between these and with
molecular biology. Some field and laboratory methods are discussed and the need to
integrate field and laboratory procedures is discussed. It is argued that better
communication may result in better and more rewarding results. Some suggestions are
offered toward the implementation of a Forensic Macroscopic Biology laboratory.
iv
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .........................................................................................................iii
RESUMO..............................................................................................................................iv
ABSTRACT..........................................................................................................................iv
SUMÁRIO .............................................................................................................................v
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1
1.1 No Brasil.......................................................................................................................2
1.1.1 Estado de São Paulo ...............................................................................................2
1.2 Local de crime e Laboratório forense...........................................................................5
1.3 A Biologia Forense.......................................................................................................5
1.4 Objetivos.......................................................................................................................7
2 BIOLOGIA MACROSCÓPICA: APLICAÇÕES FORENSES.........................................8
2.1 Biologia Macroscópica .................................................................................................8
2.2 Zoologia Forense ..........................................................................................................9
2.2.1 Aplicações da Zoologia Forense ..........................................................................10
2.2.1.1 Determinação do tempo decorrido desde a morte.........................................11
2.2.1.2 Identificação de possíveis lesões ..................................................................14
2.2.1.3 Identificação de cadáver ...............................................................................14
2.2.1.4 Insetos e Toxicologia ....................................................................................14
2.2.1.5 Caracterização de maus tratos.......................................................................14
2.2.1.6 Procedência de produtos ...............................................................................15
2.2.1.7 Acidentes de trânsito.....................................................................................15
2.2.1.8 Levantamento de características de locais de crime .....................................15
2.2.1.9 Perícias de crimes ambientais .......................................................................15
2.3 A Botânica Forense ....................................................................................................16
2.3.1 Aplicações da Botânica Forense ..........................................................................16
2.3.1.1 Envenenamento.............................................................................................17
2.3.1.2 Identificação de plantas relacionadas ao tráfico de entorpecentes................17
2.3.1.3 Fragmentos de plantas como vestígios .........................................................17
2.3.1.4 Identificação de madeiras .............................................................................17
2.3.1.5 Perícias de crimes ambientais .......................................................................17
2.3.1.6 Sementes como vestígios ..............................................................................18
2.3.1.7 Palinologia forense: o pólen como vestígio ..................................................18
2.3.1.8 Botânica associada à biologia molecular ......................................................19
2.4 Aplicações integradas: Ecologia Forense ...................................................................20
2.4.1 Local de afogamento ou de submersão na água...................................................20
v
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
2.4.2 Contaminação.......................................................................................................21
2.4.3 Levantamento de características gerais de locais de crime..................................21
3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS: COLETA E LABORATÓRIO .................................23
3.1 Coleta e análise para Zoologia Forense......................................................................24
3.1.1 Entomologia .........................................................................................................24
3.1.1.1 Coleta e envio para o laboratório ..................................................................24
3.1.1.2 Procedimentos de laboratório .......................................................................26
3.1.1.3 Identificação dos insetos:..............................................................................27
3.1.2 Outros grupos animais e vestígios de origem animal...........................................28
3.1.2.1 Coleta, embalagem e envio para o laboratório..............................................28
3.1.2.2 Procedimentos de laboratório .......................................................................29
31.2.3 Identificação: .................................................................................................30
3.2 Coleta e Análise para Botânica Forense .....................................................................30
3.2.1 Coleta e envio para o laboratório .........................................................................30
3.2.2 Identificação do material vegetal: ........................................................................31
3.3 Considerações de Ordem Prática................................................................................32
3.3.1 Quando utilizar o Laboratório de Biologia Macroscópica...................................32
3.3.2 Destino do material após as perícias ....................................................................33
3.3.3 Convênios externos ..............................................................................................33
3.3.4 Integração com outros setores..............................................................................35
3.3.5 Coleta de material e requisição de exame ............................................................36
3.4 Limitações das técnicas ..............................................................................................37
3.5 Laboratórios................................................................................................................39
3.5.1 Instalações ............................................................................................................39
3.5.2 Equipamento ........................................................................................................39
3.5.3 Recursos humanos................................................................................................40
3.5.4 Cadeia de custódia................................................................................................40
4 CONCLUSÕES ................................................................................................................42
REFERÊNCIAS...................................................................................................................46
vi
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
1 INTRODUÇÃO
Perícia pode ser definida como a aplicação de uma ou mais áreas do conhecimento
para a elaboração de um exame técnico e especializado1, visando compreender e expressar
a realidade de um fato, ou conjunto de fatos. De uma forma geral, busca-se conhecer a
natureza do fato, sua dinâmica, suas causas, as circunstâncias gerais em que ocorreu e seus
autores, se houver. Por “circunstâncias gerais”, deve-se entender a compreensão do
contexto, do local, do momento em que o fato ocorreu. Naturalmente, procedimentos
periciais variam em sua natureza e objetivos, e a ênfase pode ser maior ou menor em
algum dos aspectos citados.
Há perícias em várias áreas e com vários objetivos, de um modo geral ligados à
investigação de fatos relacionados, direta ou indiretamente à Justiça e aos direitos do
cidadão. Assim, fala-se em perícia trabalhista, perícia médica (por exemplo, para
concessão de benefícios de seguridade social), perícia na área cível e perícia criminal.
A perícia criminal nada mais é do que aquela realizada acerca de fatos de interesse
policial, sendo, provavelmente, a modalidade mais antiga. No ocidente, o primeiro relato
do que se poderia considerar como perícia criminal aparece na Roma antiga. Até o século
XIX os médicos legistas realizavam exames não apenas sobre o corpo humano, mas
também sobre instrumentos de crime e outros vestígios e a perícia criminal pertencia ao
domínio da medicina legal. A partir do século XIX, com o desenvolvimento acentuado de
outros ramos da ciência (particularmente da física química e biologia) e da técnica (em
especial das engenharias e da própria medicina) a perícia criminal adquiriu independência
em relação à medicina legal e tornou-se disciplina específica independente. Esta foi
denominada Criminalística por Hans Gross em 1893 (DOREA, STUMVOLL & QUINTELA
2005), onde também se pode encontrar uma revisão histórica sucinta. Uma discussão
acerca do conceito de Criminalística aparece em ZARZUELA (1996).
Na perícia criminal, portanto, aplicam-se conhecimentos gerais e de natureza
técnica e científica para elucidar a natureza, a dinâmica, as circunstâncias e, idealmente, a
1
A versão eletrônica do Dicionário Michaelis apresenta o seguinte verbete:
pe.rí.cia - s. f. 1. Qualidade de perito. 2. Destreza, habilidade, proficiência. 3. Dir. Exame de caráter
técnico e especializado
A terceira definição é a que nos interessa para conceituar a atividade pericial.
1
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
1.1 NO BRASIL
Na legislação brasileira, a perícia criminal está prevista no Código de Processo
Penal (BRASIL 1941), que diz em seu artigo 158:
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
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1.4 OBJETIVOS
Este trabalho trata da abordagem biológica no nível de organização dos organismos,
especialmente animais e plantas, no que será aqui tratado como “Biologia Macroscópica”.
Os principais pontos de interesse
• Trazer algum apoio teórico a quem vai fazer uso destes conhecimentos,
tanto ao perito que está no campo, coletando os vestígios biológicos, quanto
àquele no laboratório, que muitas vezes não tem uma visão contextual do
caso em que está trabalhando e a quem muitas vezes cabe interpretar os
resultados das análises, e
7
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
de incluí-lo no domínio da botânica, mas por praticidade que por rigor científico, atitude
que será adotada neste trabalho.
Ao dividir de forma arbitrária a Biologia Macroscópica Forense em Biologia de
Animais e de Plantas e Fungos, podemos definir duas grandes áreas, a Zoologia Forense e
a Botânica Forense.
1
As referências citadas para estas obras por BENECKE (2001) e BENECKE & OLIVA (2005) são:
SUNG T’ZU, The Hsi Yüan Lu or Instructions to Coroners (versão de 1843, compilada por Tung
Lien), Proceedings of the Royal Society of Medicine v.17 p. 59-107 (Tradução para o Inglês de H.A.Giles)
1924
SUNG T’ZU, The Washing Away of Wrongs (Título original: Hsi yüan chi lu), Livro 2 Center for
Chinese Studies. Ttradução para idioma inglês de von McNight. Universidade de Michigan, Ann Arbor,
1981. Capítulo 5.
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
2
Alguns autores preferem a sigla PMI, abreviação do termo em idioma inglês “Post Mortem
Interval”
11
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
3
Microclima pode ser definido como o clima numa escala “do ponto de vista do organismo” sob
estudo. No caso específico deste estudo, carcaças em decomposição em locais diferentes, como o meio da
mata, clareiras, beira de rios ou córregos, diretamente sob o sol ou não, sobre solo seco ou úmido, estão sob
condições microclimáticas diferentes, mesmo estando sob um mesmo regime climático na escala regional.
4
Os insetos que têm metamorfose completa (denominados Holometábolos) apresentam larvas que se
assemelham muito pouco (ou quase nada) às formas adultas. Estas larvas não têm patas articuladas, não
apresentam as três regiões típicas do corpo dos adultos e o exoesqueleto é, geralmente, mais delgado e
flexível. Estão incluídas entre os holometábolos, por exemplo, as ordens Díptera (moscas e mosquitos),
Coleóptera (besouros) e Lepidóptera (borboletas e mariposas), grupos de grande importância na entomologia
forense. Estes insetos têm, em seu desenvolvimento, um estágio intermediário entre a larva e o adulto,
denominado estágio de pupa. A pupa pode (ou não) estar protegida por um casulo de seda, como no caso de
alguns lepidópteros. Note-se que as três ordens de maior interesse forense, e que também são as ordens mais
numerosas em número de espécies, apresentam este padrão de desenvolvimento. Ao emergir da pupa, o
adulto deixa para trás o pupário, que é o exoesqueleto da pupa e pode ser um vestígio valioso para dois
propósitos. O primeiro é a identificação da sobreposição de gerações de uma mesma espécie de insetos numa
carcaça. O segundo é verificar que espécies estiveram sobre esta carcaça e já se foram. Naturalmente, o fato
da pupa se alojar fora da carcaça (GOMES,VON ZUBEN & SANCHES, 2003) é um complicador, e um bom
motivo para a coleta de vestígios se estender para o solo ao redor e abaixo do cadáver.
5
“Folhiço” refere-se à camada de matéria orgânica em processo de humificação sobre o solo,
geralmente (mas não apenas) em ambiente composto por vegetação mais fechada. É composto,
principalmente, por folhas, ramos, e outras estruturas de plantas. A matéria de origem animal está presente
em menor quantidade, entre outros motivos porque sua decomposição costuma ser mais rápida. Outros
termos utilizados com o mesmo significado são serapilheira e liteira (corruptela do termo inglês “litter”).
12
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
pupa e ao estágio adulto. Estes adultos podem, em alguns casos, ovipositar6 sobre a mesma
carcaça, gerando assim, uma nova geração de larvas da mesma espécie, que deve ser
sempre investigada, para ser considerada na estimativa do IPM. Uma evidência neste
sentido pode ser a presença de larvas da mesma espécie em diferentes estágios de
desenvolvimento. Outra evidência é a presença de pupas ou de pupários7 de espécies que
ainda apresentam larvas em estágios mais jovens sobre a carcaça. Através de
características do pupário pode ser possível identificar a espécie à qual aquela pupa
pertenceu (AMORIM & RIBEIRO 2001). Isto permite verificar a passagem de espécies sobre
a carcaça, mesmo depois de estas a terem deixado por completo.
Para a estimativa de IPM é necessário conhecer a dinâmica da sucessão sobre
carcaças, as características de desenvolvimento das espécies envolvidas e as variáveis que
podem influenciar este desenvolvimento. Dinâmica de sucessão, aqui, significa a forma
com que a sucessão acontece, a ordem em que ocorre a colonização da carcaça ou cadáver,
quais espécies apresentam mais de uma geração de larvas sobre a carcaça.
A principal variável que pode influenciar o desenvolvimento destas larvas é a
temperatura. Como os insetos são animais que dependem do calor externo para ativar seu
metabolismo, a temperatura pode influenciar muito o desenvolvimento de seus estágios
juvenis. Assim, para a determinação do IPM é preciso conhecer a temperatura do local nos
período que antecedeu o encontro do cadáver, bem como medir a temperatura na superfície
deste, onde as larvas se encontram. Alguns métodos de cálculo de IPM são apresentados
por OLIVEIRA-COSTA (2003), sua exposição detalhada, contudo, foge ao escopo do presente
trabalho.
ANDERSON (1999) relata um caso de caça ilegal cuja solução foi obtida com auxílio
da entomologia forense no Canadá. O IPM de dois filhotes de urso preto (Ursus horribilis
(L.)) mortos ilegalmente foi calculado com o uso de dados entomológicos, e esta
determinação foi importante para conectar os autores ao local e momento da morte dos
animais.
6
Termo consagrado na literatura entomológica no Brasil, que significa “pôr ovos”. Tradução do
inglês “oviposit”. O substantivo relacionado, significando o ato de por ovos é oviposição (“oviposition” em
inglês). Em alguns casos, utiliza-se, em inglês, o termo “larviposit”, nos casos em que o inseto libera larvas já
eclodidas, ao invés de ovos. Neste trabalho, o termo “ovipositar” será usado indiscriminadamente.
7
Pupário é o termo mais utilizado pelos estudiosos de dípteros para se referirem ao exoesqueleto da
pupa, que é deixado para trás após a emergência do adulto.
13
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
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8
Limnologia (do grego “limnos” = lago) é o estudo de ecologia das águas continentais (águas
doces).
9
Charles Lindbergh, aviador norte-americano, adquiriu fama ao ser o primeiro homem a cruzar o
Oceano Atlântico em um vôo solitário, sem paradas em 1927.
16
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
2.3.1.1 Envenenamento
A análise de material de origem vegetal pode ajudar a determinar se houve
envenenamento de pessoa ou animal por uma planta tóxica. Até mesmo a tentativa de
homicídio pode ser esclarecida pelo estudo do material que seria ingerido pela vítima.
10
Taxonomia é a parte da biologia que trabalha com a identificação das espécies. No caso da
palinologia, trata-se de identificar a espécie a que o pólen pertence.
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
Horrocks & Walsh (1999) trazem um exemplo da resolução especial que se pode
obter com a aplicação da palinologia forense. Em Auckland, na Nova Zelândia, uma
prostituta alegou ter sido estuprada em uma viela por um homem que se recusou a pagar
por seus serviços. O local do suposto estupro ficava a apenas sete metros de onde o carro
do acusado estava estacionado. O acusado afirmava não ter se afastado mais do que um
metro do seu carro e não ter entrado na viela. Além disso, afirmava não ter mantido
conjunção carnal com a vítima e dizia que a terra em suas roupas era da área de
estacionamento. Não havia pegadas e nem manchas de fluido seminal no local do crime.
Amostras de terra foram coletadas da roupa do acusado, do solo da viela e da área onde o
carro do acusado estava estacionado. As espécies do pólen coletado eram semelhantes nos
dois locais, mas as proporções da cada espécie eram diferentes. O solo da viela continha
76% de pólen de Coprosma (uma planta arbustiva perene) enquanto o material da área de
estacionamento continha apenas 8%. As roupas do acusado continham cerca de 80% de
pólen desta espécie, indicando que acusado esteve na viela. Embora não permita concluir
acerca da suposta violência sexual, trata-se de um indício importante. E a capacidade de
confirmar ou desautorizar um álibi com uma resolução de sete metros de distância é
impressionante.
COYLE et al. (2001) relatam um caso na Alemanha em que foram encontrados 32
esqueletos não-identificados em uma vala comum, na cidade de Magdeburg, em 1994.
Houve dúvida sobre se seriam vítimas da Gestapo no final da Segunda Guerra Mundial, na
primavera de 1945, ou se seriam soldados soviéticos mortos pela polícia secreta da
República Democrática Alemã em junho de 1953 (verão, na Europa). Seria, portanto,
necessário descobrir se estas mortes correram no verão ou na primavera. Foi analisado o
pólen em 21 crânios, dos quais sete apresentavam, em suas cavidades nasais, grandes
quantidades de pólen de plantas que têm floração em junho e julho, o que trouxe suporte à
hipótese de que estes restos mortais eram de soldados soviéticos mortos em 1953.
O pólen (assim como fragmentos de plantas e até sementes, como veremos a seguir)
pode servir como indicativo da origem e procedência de mercadorias apreendidas.
principal suspeito, foram encontradas algumas sementes desta espécie. Foi possível
concluir que estas sementes provinham da mesma árvore sob a qual a vítima foi
encontrada. Isto foi possível graças a uma técnica de análise denominada RAPD (“Random
Amplification of Polymorphic DNA” na expressão inglesa)11. NASSAR (2004) afirma que
este foi o primeiro caso documentado do uso integrado de botânica e biologia molecular
para a solução de um crime. A mesma técnica de RAPD, associada à análise morfológica
foi utilizada para detectar a comercialização não autorizada de plantas de uma variedade
patenteada de morango ('Marmolada'®), com sucesso inquestionável, dentre as 31 plantas
examinadas, 13 foram identificadas como comercializadas ilegalmente (CONGIU et al.
2000).
NASSAR (2004) menciona ainda a possibilidade de, em integração com a biologia
molecular, identificar geneticamente traços de material de plantas (em especial grãos de
pólen) com a finalidade de identificar a(s) espécie(s) presente(s) no local do crime e
confrontá-las, por exemplo, com as encontradas nas roupas ou no carro do suspeito.
SANTOS (2006) descreve um método para a extração de DNA de Cannabis sativa L.
(maconha) que pode levar à possibilidade da identificação molecular de plantas inteiras ou
fragmentos, da variedade a que pertencem e, se possível, à sua origem.
11
Nesta técnica, são amplificadas regiões aleatórias do DNA, que podem ser comparadas com
aquelas amplificadas do material de confronto. Naturalmente, a seleção de regiões para serem amplificadas
deve seguir os mesmos critérios em ambos os casos. Para tanto, o pesquisador cria (ou seleciona
arbitrariamente) seqüências iniciadoras de amplificação (“primers”, em inglês) e procede a amplificação
usando as mesmas seqüências iniciadoras para as seqüências de DNA a serem confrontadas. O pressuposto
básico é que indivíduos diferentes terão padrões diferentes das seqüências amplificadas.
12
Plâncton (da palavra grega planktos, que significa errante) designação dada ao conjunto dos
organismos que têm pouco poder de locomoção e vivem livremente na coluna d’água, sendo muitas vezes
arrastados pela corrente. Geralmente têm participação ativa muito limitada em sua locomoção por distância
grandes (WIKIPEDIA 2006), embora possam se locomover na coluna d’água com alguma desenvoltura. O
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
distribuição definida. Isto significa que as espécies não estão presentes nas mesmas
proporções em toda extensão dos corpos d’água. KEIPER e CASAMATTA (2001) apresentam
uma revisão das aplicações de organismos bentônicos14 e planctônicos em geral como
indicadores forenses. Estes autores citam as aplicações do uso das algas na solução de
casos de afogamento. Segundo estes, a presença de algas diatomáceas nos pulmões de um
cadáver indica que este morreu afogado em um corpo natural de água. Além disso, NASSAR
(2004) menciona que estes organismos microscópicos passam dos pulmões à corrente
sanguínea sendo levadas aos diferentes órgãos do corpo. KEIPER e CASAMATTA (2001)
afirmam que a composição de espécies do fitoplâncton e seus padrões de distribuição pode
auxiliar na caracterização e até mesmo na identificação de corpos d’água associados a um
crime sob investigação. Os mesmos autores afirmam que até mesmo o tempo após a
submersão do corpo pode ser estimado através da comunidade de algas ali instalada, já que
a diversidade de espécies de algas sem uma carcaça aumenta continuamente até 3 semanas
após a submersão.
2.4.2 Contaminação
A presença de insetos, ou outros organismos, íntegros ou em fragmentos, em
alimentos, remédios, cosméticos, ou outros produtos pode ser uma informação valiosa para
se caracterizar e mesmo investigar a contaminação destes. Esta pode até mesmo indicar a
parte do processo de produção esta contaminação ocorreu.
plâncton é geralmente dividido em Fitoplâncton (porção vegetal do plâncton, composta, em sua maior parte,
por algas unicelulares) e Zooplâncton (composto principalmente por micro-crustáceos e protozoários).
13
Algas diatomáceas são organismos unicelulares, de tamanho diminuto, que compõem grande parte
do fitoplâncton.
14
São considerados bentônicos os organismos aquáticos (marinhos ou de água doce) que vivem
sobre substratos sólidos, geralmente associados ao fundo.
21
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
(entre horas e dias) desde que um determinado objeto ou local foi manipulado. Ninhos de
insetos ou de pássaros podem indicar intervalos ainda mais longos.
22
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
Assim como em toda área técnica, a Biologia Forense Macroscópica vai exigir uma
série de procedimentos técnicos mais ou menos estereotipados, que serão diferentes para
cada tipo de organismo e vão variar de acordo com o objetivo da perícia. Os procedimentos
variam também de acordo com as condições do material, o que não é difícil de imaginar. A
coleta, a preservação e o transporte de um papagaio, encontrado morto durante um
flagrante de tráfico de animais silvestres, exigirão procedimentos bastante diferentes em
relação àqueles necessários se o animal estiver vivo. Também será necessário estabelecer
procedimentos para manter a integridade destas provas e garantir a cadeia de custódia1.
Neste estudo, são propostos procedimentos mínimos para o início do funcionamento de um
laboratório de Biologia Macroscópica Forense. Estes são parcialmente baseados naqueles
propostos pela literatura em Biologia, mas estão, na medida do possível, adaptados para
incluir as particularidades da investigação forense, tanto no que concerne a cadeia de
custódia, como no que diz respeito ao controle burocrático necessário para a tramitação
destes vestígios2. Não há, na literatura em língua pátria, material acerca de zoologia
forense em geral, à exceção da parte de entomologia. A parte de botânica forense também
está deficitária na literatura, principalmente no que concerne aos cuidados de coleta e
preservação de material para análise do ponto de vista forense.
1
A locução “Cadeia de Custódia” se refere ao conjunto de procedimentos necessários e suficientes
para garantir a integridade e a identidade das provas coletados num local de crime. Através da cadeia de
custódia, fica garantido que cada elemento de prova não apenas está em condições de ser examinado, como
também que não houve troca ou alteração no seu conteúdo ao longo dos processos a que foi submetido.
Vestígios simples, mas que não sejam analisados in loco pelo perito, serão submetidos a procedimentos de
como coleta, transporte, protocolo, recebimento e posterior análise no laboratório, guarda de material para
uma eventual segunda perícia (quando possível e/ou necessária) e envio deste material ao Fórum, quando
necessário. A cadeia de custódia é fundamental para garantir à justiça que o não houve troca nem alteração de
vestígios durante sua custódia pelo Instituto de Criminalística. e que, portanto, tal prova está apta a ser
considerada em juízo.
2
O modelo de instituição tomado como base é o Instituto de Criminalística (IC) da Superintendência
de Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo (SPTC). As referências ao Instituto Médico Legal
(IML) aludem ao IML do Estado de São Paulo. A integração entre os institutos refere-se ao IC e ao IML
supracitados.
23
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
3.1.1 Entomologia
As técnicas de coleta e conservação de insetos adultos são bastante conhecidas. No
caso de larvas, há algumas dificuldades e a técnica utilizada pode depender do objetivo da
coleta. A base metodológica para a coleta, conservação e montagem de insetos aqui
apresentada está baseado em ALMEIDA, COSTA & MARINONI (1998).
3 Com o tempo, podem ser desenvolvidas, técnicas de secagem deste alimento, a fim de se
prepararem frascos de coleta já com o alimento, que possam ser mantidos fora da geladeira por
períodos mais longos. Uma vez umedecido o substrato, este deve servir de alimento às larvas tão
bem quanto o fígado fresco.
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J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
lápis. A tampa deve ser fechada com uma etiqueta adesiva, também contendo a
identificação do caso e da amostra. Caso este material vá demorar a chegar ao laboratório,
é ideal produzir pequenos orifícios na tampa do frasco (ou que esta já os tenha). A
finalidade de criar estas até o estágio adulto é facilitar, ou confirmar a identificação
taxonômica destas, já que, muitas vezes, a identificação das larvas é bastante complicada.
Adultos - Caso haja interesse na coleta de adultos, esta deverá ser efetuada com o
uso de uma rede entomológica4, e os adultos acondicionados em frascos semelhantes aos
das larvas ou, o que é melhor, em envelopes entomológicos5. Estes devem ser
transportados com algum cuidado, a fim de evitar o esmagamento completo do inseto em
sei interior. Cada envelope deve ser identificado com o número do caso, perito que efetuou
a coleta, data, hora e outros dados relevantes e os envelopes de uma dada ocorrência
devem ser acondicionados em um saco plástico ou envelope de papel.
Besouros adultos e larvas podem ser coletados com pinças ou mesmo com as mãos
protegidas por luvas. Imaturos devem ser acondicionados em frascos com alimento, da
mesma forma que as larvas de moscas. Os adultos podem ser colocados em frascos
individuais, com um pequeno chumaço de algodão umedecido.
Pupas e pupários – Estes devem ser buscados no solo ao redor e diretamente
abaixo de onde o cadáver se encontrava. Deve-se usar uma espátula, ou pequena pá (ou
colher) para esta pesquisa. Uma vez encontrada uma pupa, esta deve ser acondicionada em
um frasco com um pouco do substrato de onde se encontrava e, se possível, coberta por
este. Pupários devem ser guardados em frascos rígidos, idealmente menores,
acondicionados em algodão, ou em papel macio, a fim de evitar serem esmagados.
Coletas feitas no IML – Muitas vezes, o perito pode não ter condições de coletar
as larvas no momento do exame e pode optar por realizar esta coleta no IML, ou solicitar
que esta seja realizada por funcionário. Em alguns casos, o próprio médico legista pode
solicitar a identificação dos insetos e o cálculo do IPM. Em qualquer destes casos, deverão
4
A Rede entomológica é popularmente conhecida como “rede de caçar borboleta” e pode ser
facilmente produzida em uma serralheria, com um aro na ponta de uma haste metálica, no caso presente, este
cabo pode ser relativamente curto e o aro pode ter um diâmetro de 25 a 30 cm. A rede é confeccionada em
tule ou outro tecido leve de trama espaçada e deve ter a forma de um cone.
5
Um envelope entomológico consiste em um segmento retangular de papel, dobrado ao meio, no
seu comprimento, de forma que a dobra forme um ângulo de 45º com a lateral. Assim, este vai formar um
“L” simétrico e a área onde o papel se sobrepõe (fica “duplo”) delimita um triângulo.o inseto é colocado no
interior do triângulo e as extremidade do papel (“pernas do L”) são dobradas sobre o triângulo central, de
forma a fechar o envelope.
25
J.R. Lima – Organismos como ferramentas na Perícia Criminal
ser enviadas, juntamente com as amostras, os dados do cadáver, local de encontro, hora do
encontro, hora de chegada ao IML, hora da coleta das larvas e a temperatura em que este
foi mantido. Além disso, a temperatura do corpo e da massa de larvas quando da coleta são
também dados importantes.
Acondicionamento e envio ao laboratório - Para envio ao laboratório, todo
material deve ser lacrado em saco plástico adequado. Os frascos com tampa furada devem
ser acondicionados em sacos plásticos com furos pequenos, que permitam a entrada de ar.
Seria interessante também buscar formas de lacrar os frascos sem que seja necessário
acondicioná-los em sacos plásticos para que sejam lacrados.
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animais onde haja animais mortos devem, contudo, resultar nestes sendo enviados ao
laboratório de Biologia Macroscópica. Estes animais (ou fragmentos) devem ser
congelados e enviados em embalagem térmica para o laboratório, acondicionados de forma
a manter ao máximo a integridade destas peças. Naturalmente, a embalagem será devolvida
junto com a peça ao solicitante.
Peles e outras peças curtidas não estão sujeitas à decomposição rápida dos tecidos
moles não tratados e devem ser enviadas em embalagens adequadas, lacradas. Estas podem
ser os invólucros plásticos utilizados corriqueiramente pelos peritos para coleta de
material.
Peixes e outros animais - devem ser enviados em álcool a 70%, em embalagem
hermética, identificados e lacrados.
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31.2.3 Identificação:
Dependendo do organismo e das condições de preservação deste, a identificação
pode ser efetuada com exame do indivíduo inteiro, através de estruturas anatômicas
(principalmente ossos, peles e fragmentos do organismo).
No caso de diligências externas, como, por exemplo, uma apreensão de animais
vivos, o perito deverá fazer a identificação no local ou, no mínimo, obter dados suficientes
para poder obtê-la após a diligência. Nestes casos, a documentação fotográfica obtida no
local deve ser suficiente para dirimir dúvidas dos peritos quando da elaboração do laudo.
Nem sempre será possível uma segunda diligência, já que a autoridade policial tampouco
terá condições de manter uma grande quantidade de animais vivos por um período longo.
Além de identificar a espécie à qual o animal pertence, os peritos de laboratório
devem ser capazes de se pronunciar acerca de sua distribuição geográfica, status de
proteção, e se possível, indicar sinais externos de maus tratos, sempre que esta informação
for solicitada ou sempre que o perito julgar relevante.
Na impossibilidade de precisar a espécie a que pertence o indivíduo, o perito
fornecerá a identificação até o nível taxonômico mais detalhado possível (gênero, família)
e fornecerá as informações disponíveis acerca deste.
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gênero da planta de onde o material foi retirado. Este material, consistindo geralmente em
algumas partes de ramos com folhas, deve ser prensado em papel, da mesma forma que
uma exsicata, e embalado em saco plástico adequado, com lacre.
Madeira – Tomando-se uma tora de madeira deve-se coletar uma “fatia” desta tora,
de cerca de 10 a 15 cm de espessura. Como alternativa, uma parte desta secção pode ser
utilizada, podendo der uma metade, um quarto ou até mesmo um sexto desta. O ideal,
contudo, é que a seção enviada contenha uma secção completa, de algum lado, da casca até
o cerne, o meio, da tora. Estas secções parciais deverão ser, portanto, como “fatias de
pizza”, incluindo desde a casca até o meio.
Sementes e frutos – Estes devem ser coletados e, quando possível, enviados
inteiros ao laboratório. Frutos carnosos devem ser secos, ou embalados de forma a retardar
sua decomposição. Sementes e frutos devem ser embalados em sacos lacrados e, se
necessário, mantidos e enviados em embalagens que evitem o aquecimento, como caixas
térmicas.
Pólen – Como o pólen geralmente é invisível a olho nu, o substrato que se pretende
submeter ao exame (solo, roupas, terra retirada da sola dos sapatos, etc.) deve ser
acondicionado em uma embalagem hermética que pode, por exemplo, ser um saco plástico
lacrável. Este cuidado tem a finalidade de evitar a contaminação deste material, com pólen
externo, o que inutilizaria o vestígio. Material de confronto, quando for o caso, deve ser
enviado em anexo, naturalmente em embalagem separada.
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Morfo-espécie é como se podem tratar os diferentes “tipos” de organismos encontrados em um
determinado local. Mesmo na impossibilidade de se determinares os nomes científicos das espécies, a
proporção de organismos de cada tipo pode dar uma caracterização bastante sólida às amostras, podendo ser
utilizada como parâmetro de confronto para comparações. Naturalmente, se houver a possibilidade de
identificação do material até o nível específico, esta é sempre desejável.
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concluir acerca do modo, do local e do tempo em que o fato ocorreu. Outro exemplo seria
quando o próprio perito é capaz de identificar o animal caçado, em um crime ambiental.
Muitos outros exemplos poderiam ser apresentados neste sentido, mas a idéia
principal é que este laboratório seja utilizado para resolver situações em que os métodos
existentes anteriormente não trazem respostas satisfatórias.
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Várias instituições de ensino, museus de história natural, etc. têm grande interesse em restos
mortais de animais da fauna nativa, a fim de fazer estudos anatômicos, montar peças ou órgãos para exibição
ou, o que é mais comum, montar o esqueleto do animal para fins de aulas ou exposição. Recebendo o animal
inteiro, este pode ser taxidermizado (“empalhado”) e mantido em coleção de pesquisa ou em exposição, ou
ser utilizado em aulas e outras atividades de difusão cultural e divulgação científica.
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Museus de História Natural têm sua própria versão de “cadeia de custódia”, mantida através de um
curador que se responsabiliza pelo acervo da instituição. Será necessário conhecer estes procedimentos de
segurança e verificar se são suficientes para as finalidades forenses, propondo adaptações, caso seja, de fato,
interesse mútuo manter estas peças nos museus.
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• Instituto Butantan;
• Instituto Florestal;
• Zoológico de Sorocaba,
Produção de material didático e de consulta – será certamente necessário
produzir material de consulta, guias de identificação e chaves de identificação, para
distribuição a todos os peritos ou, no mínimo, às equipes e núcleos do interior. O convênio
com estas instituições pode auxiliar muito neste sentido
Pesquisa técnica e científica – Esta deverá ser realizada em parceria com estas
instituições, contribuindo não apenas para o aperfeiçoamento de técnicas periciais, como
também para o conhecimento científico como um todo e possivelmente permitindo a
formação profissional continuada dos peritos envolvidos neste trabalho.
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idéias entre o perito de local e o perito de laboratório, o que pode não ser viável em todos
os casos, dado o grande volume de serviço dos peritos em todas as áreas. Uma solução
viável é a comunicação através da requisição de exame que, se contiver as informações
necessárias para informar o laboratório do contexto do caso. Isso pode auxiliar o perito de
laboratório a decidir sobre a abordagem a ser seguida com maior probabilidade de
contribuir de forma construtiva para a conclusão do aludo pericial e para a elucidação do
fato em questão. Algumas sugestões acerca das informações mínimas necessárias enviadas
com a requisição de exame estão expostas a seguir.
Toda requisição de exame deve vir acompanhada de um histórico da ocorrência, e
uma descrição do contexto em que esta perícia está inserida, bem como, se possível, de
perguntas a serem respondidas pelos peritos. Sempre que possível, a requisição deve vir
acompanhada de uma descrição das condições da coleta, descrição do local, condições
climáticas quando da coleta e quando dos fatos (quando conhecidas). No caso de insetos
necrófagos, a posição do cadáver e de onde as larvas foram coletadas podem ser
informações bastante úteis ao biólogo que vai proceder ao exame. Da mesma forma,
fotografias do levantamento de local, se disponíveis, podem ser de grande valia para o
exame de laboratório. O ideal é que o solicitante possa trocar idéias diretamente com os
peritos do laboratório, no sentido de verificar a viabilidade da perícia e, em caso positivo,
melhor direcionar os exames, escolhendo os melhores métodos e abordagens para se lidar
com o problema proposto.
Toda requisição de diligência externa para identificação de animais ou plantas in
loco deve trazer cópia do Boletim de Ocorrência com um breve histórico da ocorrência, e
uma breve descrição do local e dos animais e plantas a serem examinados. Descrições
sucintas e simples como “uma carga com macacos, papagaios, e passarinhos”, podem ser
valiosas, pois dão aos peritos uma idéia sobre o que vão encontrar e indicam os manuais de
identificação necessários, facilitando em muito a perícia e evitando-se novas diligências.
É necessário haver treinamento para os peritos que atendem locais de crime para a
coleta, manuseio e envio de material para o Laboratório de Biologia Macroscópica. Deve
também haver informação sobre os tipos de exames disponíveis, e suas aplicações.
limitação à aplicação plena das técnicas discutidas. A ausência de estações muito bem
definidas, que já é característica do nosso clima, tem se acentuado nos últimos anos.
Naturalmente, nos países do hemisfério norte, onde os invernos são muito rigorosos, a
diversidade de espécies é menor e todas as espécies são bem conhecidas, torna-se mais
fácil identificar as espécies de insetos e plantas e associa-las com épocas de ocorrência,
floração, etc. Contudo, o conhecimento acerca da flora e fauna brasileiras tem avançado
muito nas ultimas décadas e muitas das aplicações descritas devem ser possíveis de
imediato. Na verdade, ao encontrar espécies não descritas pela ciência ou ao propor
perguntas novas aos especialistas, há um grande potencial de auxílio mútuo e de
desenvolvimento não apenas de novas técnicas, como também de novo conhecimento
científico. A grande diversidade biológica de nosso país, embora possa ser encarada
inicialmente como um desafio, pode se traduzir em uma diversidade maior de tipos de
vestígios disponíveis para os peritos para a realização de seus exames e, portanto, em
oportunidades de se enriquecer o laudo pericial.
Em muitos casos, como foi mencionado para alguns estudos de pólen, pode não ser
necessário chegar à identificação taxonômica das espécies envolvidas, sendo possível o
estudo com base em morfo-espécies, ou “tipos morfológicos” de organismos.
Há, naturalmente, outras limitações de ordem prática. Uma delas diz respeito à
necessidade de se desenvolverem protocolos detalhados de coleta, transporte e
manipulação em laboratório, a fim de garantir a cadeia de custódia dos vestígios evitando
contaminações. Alguns materiais biológicos são bastante passíveis de contaminação e esta
nem sempre pode ser detectada quando do exame. Por exemplo, materiais contendo pólen
que se pretenda examinar devem ser manipulados de forma a não incorporarem, no trajeto
até o laboratório, pólen estranho à sua condição original, quando da coleta.
Alguns dos exames descritos aqui podem ser bastante trabalhosos e demorados, não
raro exigindo diligências ao local dos fatos ou para consulta com especialistas. Da mesma
forma que os crimes aparecem em formas e modos diferentes, também um laboratório tão
diversificado em suas atividades pode ter que adaptar seus procedimentos para situações
específicas. Como na atividade científica, o sucesso de uma perícia pode depender, muitas
vezes, da criatividade com que o perito aborda o problema, na busca de formas de obter
respostas. Daí, aponta-se novamente a necessidade de integração entre os peritos do
laboratório, e destes com os peritos de campo.
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3.5 LABORATÓRIOS
3.5.1 Instalações
As instalações necessárias ao Laboratório de Biologia Macroscópica dependerão,
logicamente, das atividades a serem desenvolvidas por este. Em termos de espaço físico, as
instalações mínimas para a realização de perícias consistiriam em:
• Um laboratório de microscopia;
• Laboratório de botânica;
• Laboratório de zoologia;
3.5.2 Equipamento
Uma lista exaustiva de material permanente e de consumo, além de todo
equipamento necessário para a implantação de um laboratório de pesquisa foge ao escopo
do presente trabalho. Um levantamento completo do equipamento necessário para a
implantação do “Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Perícias em Botânica e
Entomologia Forenses no IC de São Paulo” foi realizado pelo grupo de Peritos Criminais
do Núcleo de Biologia e Bioquímica do Instituto de Criminalística – SPTC – SP (TAKAI et
al. 2005). Este levantamento, com pequenas adaptações, contemplaria as necessidades de
uma seção de biologia macroscópica.
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Micologia é o estudo dos fungos, frequentemente tratado sob o domínio da botânica embora, a
rigor, os fungos não sejam vegetais.
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4 CONCLUSÕES
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apenas deve promover, mas também vai depender da integração do setor com entidades
que trabalham em áreas afins. Esta integração deve promover a pesquisa no próprio IC,
promovendo, com isso, o avanço das técnicas aplicadas à perícia criminal do Instituto.
Trabalhos conjuntos com o laboratório de DNA forense, e mesmo com laboratórios
de outras disciplinas científicas, devem resultar em crescimento criação de novas
modalidades e métodos de perícia, incrementando a eficiência e o serviço prestado pela
instituição à justiça.
A fim de obter o melhor resultado possível destas técnicas, é necessário promover a
integração e a comunicação entre os peritos que fazem levantamento de local de crime e
aqueles que trabalham nos laboratórios. Esta comunicação deve ocorrer nos dois sentidos.
De um modo geral os peritos de local devem expor necessidades e idéias que têm, a partir
da vivência prática do dia-a-dia nos plantões e receberem informações acerca dos métodos
de análise disponíveis, dos melhores procedimentos de coleta, etc. As requisições deveriam
também servir como meio de expor os objetivos precisos dos exames em laboratório, com
informação suficiente para dar ao perito de laboratório informações suficientes sobre o
caso para que este possa também propor abordagens. No caso da biologia macroscópica,
ou de qualquer outro serviço novo a ser implantado, existe a possibilidade de se começar já
no caminho mais produtivo, evitando práticas viciadas que existem com relação a outros
laboratórios. Neste sentido, as requisições (pelo menos as requisições enviadas por outros
peritos) devem ser um meio efetivo de comunicação entre o solicitante e o laboratório. Na
medida do possível, seria muito construtivo se promover o hábito do contato pessoal entre
o perito de local e o laboratório, especialmente dada a enorme variedade de análises
possíveis a partir do uso da biologia macroscópica, especialmente se integrada à biologia
molecular.
As sugestões aqui apresentadas são, em sua maioria, independentes entre si. Por
exemplo, um setor de botânica forense pode funcionar sozinho. Contudo, as instalações
necessárias para um laboratório específico contemplam grande parte das necessidades para
um laboratório completo de Biologia Macroscópica. Desta forma, a um custo adicional
reduzido, pode-se montar um laboratório capaz de realizar exames muito mais variados,
atendendo a uma gama muito maior de ocorrências.
Este trabalho consiste em um breve apanhado das principais aplicações e técnicas
da biologia de organismos (aqui tratada como Biologia Macroscópica) relacionadas ao
contexto das investigações forenses. Não tem a intenção de ser um “guia” para a
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REFERÊNCIAS
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