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CUIABÁ-MT
DEZEMBRO/2003
1
Cuiabá - MT
2003
2
Banca Examinadora:
EPÌGRAFE
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Palavras-chave:
Cultura organizacional, história da polícia militar, capacitação continuada, política de
educação na segurança pública.
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SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8
CAPÍTULO 1
1 - Da recaptura de Escravos à Defesa do Cidadão....................................................... 16
1.1. A Polícia na Antiguidade.................................................................................. 17
1.2. A Evolução da Polícia Militar no Brasil........................................................... 18
1.3. História dos “Homens do Mato” em Mato Grosso........................................... 20
1.4. A Polícia Militar no Período Republicano: Continuísmo................................. 24
1.5. Polícia Militar pós Constituição de 1988: Ambigüidade e Redefinição do
Papel.................................................................................................................. 28
CAPÍTULO 2
2. Educação como Mecanismo de Mudança Institucional............................................. 35
2.1. Ensino Superior na Polícia: “PM de Faculdade”?............................................. 39
2.2. Desejo por Mudança.......................................................................................... 44
2.3. Conhecer: uma necessidade para transformação do cotidiano........................... 45
2.4. Conceitos e Tipos de Educação......................................................................... 51
2.5. Política Inovadora de Educação na Segurança Pública...................................... 52
2.5.1. Diretrizes de Políticas Educacionais........................................................ 53
2.5.2. Diretrizes de Políticas Pedagógicas......................................................... 54
CAPÍTULO 3
3. Diagnosticando o continuísmo na Polícia Militar: “Falta de Capacitação e
Valorização Profissional”........................................................................................... 57
3.1. Política de Ensino na PMMT.............................................................................. 58
3.2. Da Pesquisa de Campo........................................................................................ 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 81
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 84
ANEXOS........................................................................................................................ 86
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INTRODUÇÃO
A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, com quase dois séculos de existência, é uma
instituição pública estadual que tem sua missão delineada na Constituição Federal, em seu
artigo 144, Parágrafo 5º: “Às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública (...)”, tendo, portando, a PMMT, um compromisso nobre com a sociedade
mato-grossense.
Escrita de uma forma aparentemente simples, a missão da Polícia Militar de Mato Grosso
é ampla e complexa, passando pela polícia ostensiva, que seria a presença fardada nos
diversos espaços sociais e institucionais para proporcionar a sensação de segurança, e pela
preservação da ordem pública, que seria o exercício dinâmico do poder de polícia no campo
da segurança pública, visando prevenir e reprimir ações que contrariem os preceitos legais e
costumeiros de determinada comunidade.
E isso se torna mais complexo à medida que em nosso país, a comunidade convive, no
seu cotidiano, com problemas sérios decorrentes das desigualdades sociais, tais como:
desemprego, educação desvalorizada, e uma saúde doente, o que leva a população a uma
instabilidade social e emocional, refletindo em seus comportamentos e atitudes, que, muitas
vezes, culminam nas já citadas ações antijurídicas, aumentando, conseqüentemente, o trabalho
repressivo da polícia militar, além de exigir um planejamento preventivo inteligente, que
preveja todas essas variações pela qual, a sociedade em questão, atravessa.
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Para que esse planejamento de ações da Polícia Militar tenha êxito, necessário se faz a
implementação de políticas que visem acompanhar todas essas movimentações sociais,
aliadas ainda às alterações tecnológicas e culturais, devendo estar aberta a estabelecimento de
novos objetivos, e a rever os velhos, além de ter uma noção macroscópica e sistêmica, em
termos organizacionais e globais, com expectativas a longo prazo, e não a curto e médio como
tem sido feito ultimamente.
ou seja, com baixa capacidade intelectual, que o leva a uma ação defensiva de truculência por
encontrar dificuldades em argumentar. Além do problema de falta de capacitação profissional
que o deixa inseguro no cumprimento de sua missão.
Pode-se observar que a demonstração concreta de mudança feita pela Polícia Militar
podemos ver pelo “novo” conceito da sua missão, foi a elaboração do Planejamento
Estratégico da Polícia Militar, em janeiro deste ano de 2003, por componentes da instituição e
de outros órgãos públicos e pela sociedade civil organizada, que define como sua: “Missão:
Proporcionar proteção à sociedade, preservando a ordem pública, assegurando o bem
comum e garantindo os direitos individuais e coletivos.”
A evidência para a mudança nesse texto está no foco dessa nova missão, que valoriza a
proteção da sociedade/cidadão e não a do Estado, sendo este um fator condicionante da
sobrevivência da própria instituição na atual democracia. Porém, a única forma de mudar de
fato e concretizar a nova missão preestabelecida, será através da mudança de sua cultura
organizacional, isto é, mudar os sistemas dentro dos quais os policiais trabalham e vivem,
mudando comportamento. E acreditamos que isso se alcança através da Capacitação
Profissional Continuada. Daí problematizamos:
Isso por observar que em ações policiais militares, principalmente quando isoladas, não
possuem fundamentações legais e técnicas atualizadas, e algumas contêm vícios há muito
superados da prática profissional, fazendo com que o resultado operacional fique aquém do
esperado pela cúpula da Corporação e pela sociedade. A eficácia de uma mesma operação
praticada por uma equipe de policiais capacitados, executando plenamente o que foi
transmitido em uma instrução, pode ser a mesma de uma outra que não tenha passado pela
capacitação, porém, em termos de eficiência, a equipe capacitada dará melhor resposta. Fato
este observado em nossa pesquisa de campo com amostras do efetivo da Polícia Militar.
11
Pois bem, acostumada a trabalhar sempre do lado do Estado, como seu braço forte, se vê
hoje numa obrigação diferente: proteção do cidadão. Isso, além de ter que “combater o crime”
cada vez mais violento, ou seja, agir numa mesma profissão de duas maneiras bem distintas:
amiga e forte. É essa ambigüidade que a PM tem de trabalhar doravante para atingir, de fato,
os objetivos da nova missão, e o melhor caminho para isso é trabalhando a mudança de sua
Cultura Organizacional através da Educação do seu efetivo. A Educação como ferramenta
para mudar comportamento e atitude rumo ao desenvolvimento institucional.
Temos ainda, como objetivo específico apresentar, através dos dados levantados, que:
b- O policial militar capacitado tem sua auto-confiança melhorada, contribuindo para
execução de sua missão operacional e satisfação profissional.
Uma pessoa bem qualificada em sua profissão tem a possibilidade de executar o serviço,
para o qual é designada, de uma forma muito melhor que outra que não possui essa
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qualificação. Além dessa melhor execução, esse funcionário se desempenhará com muito
mais confiança, segurança, e satisfação, pois tem a certeza de que o que está praticando se
trata de uma técnica recente e aceita no meio profissional para o desenvolvimento de sua
função. Quando falamos em policial essa situação é ainda mais marcante, pela especificidade
e por se tratar de defesa de vidas, tanto as suas próprias como a de terceiros. Isso seria motivo
suficiente para que o policial esteja auto-confiante, seguro e satisfeito no seu trabalho, para
que possa desempenhá-lo a contento. Esses dados foram confirmados em nossa pesquisa de
campo, além de apresentar o anseio dos entrevistados por capacitação, vendo-a como um
direito e não como uma concessão da instituição.
A pesquisa foi feita em duas etapas, uma bibliográfica para nos dar sustentação teórica
sobre nossas proposições, e uma outra de campo, onde procuramos diagnosticar nossas
hipóteses, sob o embasamento teórico.
Tendo definido, através do Projeto de Pesquisa, nosso objeto de estudo, surge, então, a
necessidade de delinearmos as formas de investigar esse objeto. Sendo nossa área de
investigação a Educação como ferramenta de Mudança Comportamental na Polícia Militar de
Mato Grosso, com a finalidade de alcançar plenamente os objetivos propostos no
Planejamento Estratégico da PMMT/2003, elegemos duas unidades da Capital para
trabalharmos com pesquisa quanti-qualitativa, para posterior análise comparativa entre uma
que prioriza a educação constante e outra que não valoriza tanto (diagnóstico), utilizando o
formulário como instrumento de coleta. A opção pelo formulário (Anexo A) foi pelo fato dele
possibilitar colher, além dos dados quantitativos, informes contidos na fala dos atores sociais,
através de fatos vivenciados numa determinada realidade que está sendo focalizada,
informações estas mais difíceis de se verificar num questionário, por exemplo.
A Academia de Polícia Militar Costa Verde, situado nas antigas instalações do CFAP, no
bairro Jardim Costa Verde, em Várzea Grande, é responsável pela formação dos oficiais
(CFO) da Corporação, ou seja, o aluno-oficial que se forma e é declarado Aspirante-a-oficial
e, após esse período de estágio, é promovido a 2º Tenente, primeiro posto de oficial na polícia
militar. A Diretoria de Ensino é encarregada ainda de promover os Cursos de
Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), para Capitães, como requisito para a promoção ao
próximo posto no oficialato: Major, e o Curso Superior de Polícia (CSP), para os oficiais
superiores (major, tenente-coronel e coronel).
O Curso de Formação de Oficiais (CFO), cuja seleção atual é feita pelo vestibular da
UFMT, é reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura como Curso de Graduação e os
cursos de aperfeiçoamento e superior de polícia como pós-graduação.
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O Grupamento Aéreo é uma das unidades mais novas da Polícia Militar. Ele é
responsável por dar cobertura aérea nas operações de “grande vulto” em todo Estado de Mato
Grosso.
responsáveis pelo aval de compra do equipamento, com a alegação repetida de que o lucro
com o patrulhamento aéreo para a sociedade seria de muita valia.
Desde então, o Grupamento Aéreo, com seu helicóptero denominado “Águia Uno”, vem
cumprindo as mais variadas missões aéreas em todo o Estado, instrumento pelo qual muitas
vezes apenas sua presença inibe o ato ilícito ou, como nas últimas ocorrências, os meliantes
abandonam os veículos após notarem a presença da aeronave.
Dessa forma este trabalho visa contribuir com os planejamentos e execuções dos
trabalhos da Polícia Militar de Mato Grosso, no campo do desenvolvimento da Política de
Educação Continuada, subsidiando com os diagnósticos que aqui apresentamos. Não temos a
pretensão do alcance da verdade na área, mas sim de trazer à tona as discussões sobre o
assunto que muito tem para definir os caminhos presentes e futuros da instituição policial
militar do nosso estado de Mato Grosso.
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CAPÍTULO 1
A nova missão da Polícia Militar de Mato Grosso foi instituída dentro do Planejamento
Estratégico da Corporação, intitulado como participativo, por envolver a “sociedade civil
organizada”. Elaborado no ano de 2002, entrou em vigor no início deste ano de 2003. Diz, o
planejamento, que a definição da missão visa expor ao público a razão da existência da
organização e do seu campo de atuação. Diz ainda que a definição dessa missão serve de
subsídio para obtenção do sucesso institucional, pois favorece quanto ao esclarecimento dos
rumos que devem ser tomados por ela.
Dessa forma, a missão da Polícia Militar de Mato Grosso ficou sendo o seguinte:
“Proporcionar proteção à sociedade, preservando a ordem pública, assegurando o bem
comum e garantindo os direitos individuais e coletivos”. (Planejamento Estratégico/2003).
Numa primeira análise, podemos destacar a mudança de foco que a instituição apresenta
quanto a quem ela pretende proteger. Pois tínhamos até bem pouco tempo que a proteção era
para o Estado, e agora, envolvida pela própria exigência dos cidadãos mato-grossenses, o foco
é a sociedade.
Essa é uma mudança radical no sentido de que se trata de uma instituição com quase dois
séculos de vida, tendo em seus quadros funcionais mais de seis mil homens e mulheres, que
há meio século atrás recrutava até analfabetos pela falta de candidatos, detentora de uma
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cultura policial formada numa concepção de governos autoritários e regime militar. Então,
para compreendermos a introdução da nova missão da PMMT, se faz necessário a
compreensão da cultura organizacional da instituição que tratamos.
Podemos observar que a polícia foi criada pelo poder soberano, para o poder soberano,
como ferramenta estatal de controle social. Veremos a seguir a evolução da polícia no Brasil e
analisar se essa função foi alterada.
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É importante salientarmos que na época do Brasil Colônia, até a chegada de Dom João
VI, em 1808, a organização do país era eminentemente militar. Isso nos ajudará a
compreendermos melhor algumas passagens da formação da polícia militar neste país.
Foi uma época em que Portugal vivia sua expansão colonial e, diante de tamanha
extensão de terras, como era o Brasil, se via em dificuldades em alicerçar a ocupação, vigiada
de perto por outros países exploradores. Dentre essas dificuldades, estavam:
Por esse motivo é que nos primeiros trinta anos de colonização houve um certo descaso
com a nova “descoberta”, pois, até então, limitava-se à exploração do pau-brasil. Isso acabou
por facilitar incursões de outros países, como a França, ameaçando o domínio português na
região. Vendo essa situação crescer, Portugal não viu outra alternativa senão a colonização,
aos moldes de Açores e Madeira, através das capitanias hereditárias, que consistia na divisão
do território em grandes faixas de terras administradas por pessoas com condições financeiras
de investir no local, concedidas pelo Rei de Portugal. Com isso, pretendia-se ocupar o
território, povoar, defender e produzir.
muita, até que, em 1752, insatisfeito com o que vinha ocorrendo, o ministro de guerra da
época confeccionou um relatório dizendo: “o Exército não poderá atingir aquela perfeição
desejada, enquanto for ele na sua quase totalidade servir como polícia” (CORRÊA, 1999:
207).
Mesmo assim, somente em 1808, com a chegada da família real no Brasil, é que passos
concretos para a criação de um corpo policial para exercer oficialmente a função de fazer
policiamento foram tomados. Em 13 de maio de 1809, foi criada a Guarda Militar de Polícia
do Rio de Janeiro, desincumbindo o Exército da tarefa.
A Guarda Nacional constituiu-se a principal força no período do Brasil Império (de
18/08/1831 a 1922), fazendo parte do seu efetivo todos os cidadãos eleitores, que, pela
Constituição de 1824, eram aqueles proprietários que possuíam uma renda mínima definida
nessa Carta.
A ocupação do interior da Colônia fazia parte das intenções de Portugal, com a finalidade
de aumentar sua capacidade territorial e defender suas fronteiras contra os espanhóis que
colonizavam a outra parte do continente recém descoberto. Essa pretensão ganha força mesmo
em meados do século XVIII, momento que acende as discussões acerca dos limites territoriais
das colônias espanholas e portuguesas. Alheio a isto, a partir da segunda metade desse século,
a descoberta do ouro dá a Mato Grosso especial destaque aos aventureiros que sonhavam com
riquezas daquele país ainda selvagem. Entre os anos de 1718 e 1734, as descobertas de ouro
em Cuiabá e Vale do Guaporé (Vila Bela) foram fundamentais para o povoamento da região.
Para Portugal interessava tanto o ouro arrancado das minas em Mato Grosso, quanto a questão
de defesa da fronteira oeste do país. Por isso, que a partir da segunda metade do século XVIII
foi montado em Vila Bela um aparato militar e administrativo para guarnecer o território
contra a invasão espanhola, o que transformou a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade,
em 1751, na primeira capital do Estado de Mato Grosso.
Para assegurar essa defesa da fronteira, foram construídos vários fortes e núcleos de
povoamento, que serviam também de pontos de abastecimento de toda região através da
Companhia de Navegação do Grão-Pará e Maranhão, que penetravam o rio Guaporé pelo
Amazonas e Madeira. Posteriormente, passou-se também a vir para Cuiabá, através dos rios
Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Paraná e Paraguai, as Monções (mercadores), que, segundo
relatos, eram freqüentemente atacadas por índios e animais selvagens.
Até o ano de 1772, o número de escravos na capitania era de 15.380, sendo empregados
nas minas de ouro, agricultura e construção civil, quando o total de habitantes era de
aproximadamente 23.000. Depois desse período do auge da exploração do ouro surge a
primeira crise econômica da província, pois a quantidade de ouro retirada daqui era bem
menor que as retiradas em minas de outras capitanias auríferas, como Minas Gerais. Parte
desse declínio deve-se a forma de extração que era bastante rudimentar que não permitia
extrações mais elaboradas.
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Dado a essa crise (por volta de 1819), a região não permitiu o surgimento de outra
atividade vantajosa, fato que contribuiu para que os imigrantes europeus não vissem na
capitania a possibilidade de investimento e, conseqüentemente, a densidade demográfica ficou
estagnada, enquanto outras províncias davam largos passos no sentido do povoamento.
A crise econômica atingiu também a administração pública, fazendo com que os salários
dos funcionários, civis e militares, atrasassem, propiciando um clima de instabilidade e
indisciplina militar. “(...) contribuíram para revelar as situações de abandono das regiões de
fronteira e de penúria em que vivia a população de Mato Grosso.” (ibidem: 28). A
instabilidade culminou com a Rusga (Rebelião Cuiabana) que consistia na expulsão dos
portugueses (bicudos), que monopolizavam o comércio de importação, especulando gêneros
de primeira necessidade.
(...) Art. 1º - Criar-se-á desde já, nesta Cidade, um Corpo Policial com a
denominação de “HOMENS DO MATO”, que será distribuído pelos distritos do
Município, como melhor convier ao Governo Provincial. (...)
Art. 4º - Além dos vencimentos (...), ficam pertencendo aos indivíduos deste corpo,
as tomadas de escravos estipulados no antigo regimento de Capitão do Mato, que
lhes serão pagos pontualmente pelos respectivos senhores. (...)
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Tanto a criação de um corpo policial, quanto a existência desse artigo se explica pelo fato
de que nessa época, em todo o mundo, nascia o modelo de Estado Moderno, e uma de suas
prerrogativas era o monopólio do uso da força, ou seja, somente ele, o Estado, poderia,
através de seus representantes legais, exercer a força (violência). Além do que, o Exército,
que fazia as vezes de polícia em alguns locais, não queria continuar com essa incumbência.
Para tanto, foi necessário, além de criar legalmente esse corpo no Brasil, também acabar com
as atribuições conferidas aos Capitães do Mato, que era a de recaptura de escravos fugitivos,
onde faziam valer a força para o cumprimento desse ofício, sem, no entanto, ir contra
qualquer norma legal do Estado até aquele momento. Esse corpo, Homens do Mato, conforme
o artigo acima, passou a exercer às vezes dos Capitães do Mato no que tange a recaptura de
escravos, percebendo dos senhores proprietários, por tal façanha, os mesmos valores que seus
precedentes nessa missão, além da função do controle social e da defesa do regime
governamental vigente.
Destacamos dois objetos marcantes nesse trecho que trata da Força Pública: o primeiro
deles é o fato da proteção às instalações republicanas em detrimento aos direitos dos cidadãos
brasileiros, significando que as instalações citadas ficariam num patamar acima dos direitos e
garantias individuais. O segundo ponto é quanto ao caráter verdadeiramente militar, que não é
de se estranhar pelo momento histórico, pois a revolução (Proclamação da República) fora
feita, a exemplo da Independência do Brasil, pelos militares, então, como fato esperado, teve
como objetivo vincular a força armada interna (Força Pública) às suas “batutas”, com os
mesmos regulamentos, com as mesmas punições militares, mesmo em tempo de paz, e
colocando a maior autoridade dessa força, o comandante geral local, numa patente
intermediária em relação a do exército, ou seja, numa patente inferior hierarquicamente à
cúpula do exército, devendo, portanto, toda subordinação ditada pelas normas e regulamentos
internos. Além disso, as Forças Públicas foram declaradas forças auxiliares do exército, o que
a deixava como reserva em caso de guerra (defesa externa).
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Com o golpe militar de 1964, mais uma vez ganha força a atuação repressiva da polícia,
no qual a tortura utilizada desde o período imperial agregou novas técnicas e passou a ser
utilizada em larga escala. Em dezembro de 1969 foram extintas as Guardas Civis do Brasil,
momento que foram anexas às Forças Militares Estaduais. As Polícias Militares, que
continuavam como forças auxiliares do Exército, passaram a responder isoladamente pelo
policiamento preventivo e ostensivo.
Tendo a “Revolução” ocorrida em 1964, foi somente em 1976 que começou uma
mobilização do empresariado por uma liberalização econômica, porém, viram que se
necessitava de algo além disso; que implicava, pois, em mudanças políticas maiores que as
até então pretendidas.
Na classe média, as opiniões formadas eram sobre a anistia de presos e exilados políticos,
liberdade de imprensa, democratização dos serviços públicos e fim da violência policial.
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A sociedade brasileira pode ser considerada uma sociedade autoritária, pelo fato de ter
conhecido a cidadania através de uma figura imediata: o senhor-cidadão, pessoa que
conservava a cidadania como um privilégio de classe e a fazia como uma concessão da classe
dominante às demais classes, podendo, inclusive ser retirada quando lhe conviesse (como
aconteceu durante a ditadura).
Nessa mesma sociedade, as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são transformadas
em desigualdades, e isso, em relação à hierarquia, mando e obediência, fato que vemos dentro
das famílias, do Estado, das instituições públicas e privadas, além de se instalar na cultura e
nas relações interpessoais, onde os indivíduos se dividem em superiores e subordinados,
ainda que alguém seja inferior em determinada situação e superior em outra, a depender dos
códigos hierárquicos ali estabelecidos. As relações tomam forma de dependência, tutela,
concessão autoridade e favor, o que faz da violência simbólica uma regra da vida social e
cultural. E ainda:
É uma sociedade que as leis sempre foram armas para preservar privilégios e o
melhor instrumento para repressão e a opressão, jamais definindo direitos e
deveres. No caso das camadas populares, os direitos são sempre apresentados como
concessão e outorga feitas pelo Estado, dependendo da vontade pessoal ou do
arbítrio do governante.” (CHAUI, 1986: 54).
No Brasil, as leis sempre foram consideradas inoperantes e inúteis, à medida que são
violadas e pouco transformadas e contestadas. Os trabalhadores dizem que “a justiça só existe
para os ricos”, e a transgressão popular, como “roubar galinhas”, é violentamente reprimida e
punida, enquanto a violação pelos ricos e poderosos do país, os chamados “crimes do
colarinho branco”, permanecem, em sua grande maioria, impunes.
aspiração, vontade ou desejo, nós não sabemos, normalmente, que isso ocorre dentro de plano
maior do qual somos apenas representantes onde repetimos conceitos e vontades que já
existiam anteriormente, determinando nossas ações de forma partidária e responsável.
(...) o caráter militar dos serviços policiais é anterior à criação das PMs, e que estas
são utilizadas pelas oligarquias regionais não só para combater a criminalidade
comum, mas também para reprimir os movimentos sociais e políticos, mas também
como receito capaz de dificultar e até mesmo impedir que o poder central se torne
incontestável de forma a anular a autonomia das unidades federadas. Tal situação
denota o modelo hierarquizante e autoritário que molda a sociedade brasileira, onde
o controle social por parte da classe dominante adquire os contornos do Estado,
pois as instâncias da justiça e da coação ficam em suas mãos. Assim, a lei e a ação
policial predominantemente repressiva sobre os segmentos populares têm
constituído-se historicamente em importantes elementos que ajudam manter os
laços de obediência e deferência das classes subalternas em relação às elites,
aprofundando o processo de exclusão social, política e econômica ajudando na
manutenção do status quo. (CORRÊA, 1999: 210).
O autoritarismo político nos apresenta a luta de classes, que é identificada apenas como
os momentos de confronto direto entre as classes, como uma “questão política”, e a forma de
resolver isso é através das técnicas de disciplina, vigilância e repressão, normalmente
utilizando-se da força policial.
Para CORRÊA (1999: 203), passado mais de uma década de abertura política ouvimos
discursos que enaltecem a “democracia” no país, apesar de termos conseguido a participação
política (através do voto), grande avanço em relação ao período ditatorial, não estamos livres
da repressão política praticada pelo Estado. E isso, vinculado à manutenção do aparelho
repressivo desse Estado nos leva a questionar quanto à consolidação efetiva da democracia, à
medida que assistimos o desencadeamento da violência policial em nosso país.
nº 32 (1892: Capítulo II), notamos que não houve uma mudança significativa no que diz
respeito à política de segurança pública como um todo, e também com relação às atribuições
da Polícia Militar. (MONTEIRO, 1985: 32).
Esse fato acabou contribuindo para continuidade da Cultura Organizacional tal qual à
época da constituição da polícia militar (Homens do Mato), que ainda recapturava escravos
para negociar com os senhores.A prova da presença dessa Cultura nos dias de hoje são as
torturas, prisões ilegais, o estereótipo de marginal dado ao pobre e ao negro, principais
vítimas desse sistema.
Essa cultura é responsável por atrasar ou deslanchar uma organização, pois as atitudes e
comportamentos das pessoas que a compõe é determinado pelo modo como percebem essa
organização. E para mudar e se impor novas formas e comportamentos, será necessário
intervir nos indicadores que condicionam tal percepção, ou seja, formulação clara e objetiva
da Missão, que dimensionarão os valores e as crenças e das Políticas Gerais, promovendo a
abertura de caminhos para a ação transformadora, que não dispensará o controle efetivo de
seus resultados.
Analisando, pois, a evolução histórica das polícias militares e sobre o conceito de Cultura
Organizacional, podemos dizer que a Cultura presente em nossa polícia é ainda a da
repressão, do difícil relacionamento com a sociedade, do preconceito e da defesa das elites (a
mesma elite que sempre ditou o conceito da sua missão para se manter no poder); do
militarismo (que exige obediência cega aos regulamentos e aos superiores e prega o ataque
constante e desprendido ao inimigo). Essas características formam o conjunto de valores,
crenças e comportamentos dos policiais militares vistas nos dias de hoje, compondo a
Cultura Organizacional da Polícia Militar de Mato Grosso. Nesse sentido temos:
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Com a mudança de foco na nova missão da polícia militar neste estado, convém também
insistir na mudança de foco da polícia para o próprio policial, como propõe o ex-secretário de
segurança do Distrito Federal citado anteriormente, pois os detentores da transmissão da
Cultura Organizacional são os homens e mulheres que a compõe, portanto, se se pretende
mudar essa cultura, é preciso antes mudar essas pessoas, mudar seus comportamentos e
atitudes dentro do campo proposto na missão institucional. Ainda mais que com essa visão
social ao trabalho policial criou-se uma outra linha de ação, fato que é uma novidade na
Corporação, pois, até então, era conhecido somente o trabalho pela força:
Dentro da Policia Militar de Mato Grosso existe uma política antiga de capacitação, aos
moldes da cultura tratada anteriormente, onde se prioriza a qualificação dos oficiais que
geralmente faziam os cursos fora do Estado de Mato Grosso, retornavam após o encerramento
desses cursos e poucos (re) transmitiam os conhecimentos adquiridos ao efetivo da PM. Outro
tratamento político dado à capacitação é o conceito que somente o pessoal das unidades
especializadas deve manter-se capacitado, pelo fato do emprego desse grupo ser em situações
especiais, como é o caso do CIOE (Companhia de Independente de Operações Especiais) e do
GRAER (Grupamento Aéreo). O emprego dessas Companhias é feito somente sob ordem do
Comandante Geral, normalmente em situações de crises em que hajam contenção, ou seja,
com os infratores cercados, ou de fuga com risco ou alta periculosidade, e seja necessário o
uso tático da PM, para preservar vidas e trazer a ordem pública rompida.
CAPÍTULO 2
Numa visão não positivista do conhecimento, este é tido como uma desconstrução, pois à
medida que se conhece, mais incerteza se tem sobre aquilo que imaginava conhecer
anteriormente. Por esse motivo, quanto mais se conhece mais se questiona.
Isso não significa dizer que não devemos buscar o conhecimento, mas sim o contrário,
devemos buscar incansavelmente o conhecimento para que tenhamos condições, ao menos, de
questionar sobre aquilo que nos é apresentado como verdade. Se não procurarmos conhecer,
ficaremos indefesos aos acontecimentos, aos fatos e aqueles que se dizem detentores da
verdade. Fica mais aparente essa necessidade de conhecer quando tratamos do nosso mundo
atual, onde o “e-mail”, o fax, a digitalização, a internet e o “via satélite” são termos comuns
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no nosso vocabulário; onde profissões desaparecem da noite para o dia, assim como surgem
outras novas da noite para o dia, exigindo qualificação rebuscada e conhecimentos, que a
pouco, era restrito a cientistas do “mundo eletrônico”. Esse episódio não é mais um assunto de
filmes futuristas, mas sim o nosso presente, e, se não quisermos viver em um outro mundo,
temos que nos inserir nessa modernidade buscando conhecimento nessa área.
Essas novas necessidades levam a sociedade a uma situação cuja exigência em inovação
faça parte do seu cotidiano:
(...) impondo que avalie conceitos e práticas para definir o que precisa ser mudado.
Ter de ‘acompanhar’ essas mudanças e transformações faz com que sejam tomadas
decisões sobre novas práticas e conteúdos institucionais de gestão e de vida. Inova-
se, por se ter de inovar, intencionando acertar. Embora inovações venham sendo a
tônica no campo educacional e nas diversas áreas da vida humana, seu sucesso tem
sido limitado e insuficiente, visto o grande número de analfabetos, de crianças de
rua, de toda forma de violência, de exclusão e de discriminação que se alastra a
cada dia, bem como corrupção, fraudes, desemprego, miséria e todas as demais
‘aberrações’ da vida humana que compõe os setores de nossa vida social
(FERREIRA, 1999:205).
É bem verdade que fomos invadidos por computadores, robôs e equipamentos eletrônicos
de última geração, mesmo assim os seres humanos continuam sendo a principal “ferramenta”
para manipular toda essa “parafernália”, independentemente, ao menos por enquanto, de todo
desenvolvimento na área da cibernética e robótica. O que é inevitável são as mudanças nas
relações e valores sociais e culturais no mundo; fato que leva as organizações a se adaptarem,
quase que o tempo todo, nesse “jogo das ondas”. E a melhor fórmula para essa adaptação
(para não ficar num outro mundo, e com o sentido de que a principal “ferramenta” da
instituição são os recursos humanos) é através da Capacitação Continuada na organização.
Às vezes uma organização para alcançar seus objetivos de maneira mais eficaz,
concentra-se com maior ênfase naqueles recursos que lhe são mais problemáticos, difíceis e
escassos, em detrimento da preocupação e atenção dada aos recursos mais fáceis e acessíveis:
os recursos humanos, argumenta CHIAVENATTO (2003: 9).
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Isso significa dizer, que enquanto os dirigentes das corporações policiais militares, aí
incluímos os da polícia militar de Mato Grosso, alegam problemas estruturais e de falta de
pessoal (dinheiro e efetivo), quando questionados sobre o crescimento vertical das estatísticas
criminais e operações policiais mal sucedidas que vêm contra o anseio da população, quando
o assunto é segurança pública, como o uso de violência arbitrária e da corrupção policial, se
esquecem de trabalhar o elemento principal de sua estrutura: o pessoal.E pelas afirmações
anteriores sobre a busca constante do conhecimento e da valorização da principal
“ferramenta”, que são os homens e as mulheres que compõe essas organizações, nós, em
Mato Grosso, corremos sérios riscos da missão da instituição Polícia Militar ficar somente em
intenções do Comando da Corporação. É importante reafirmar, que essa Missão está assim
definida: “Proporcionar proteção à sociedade, preservando a ordem pública, assegurando o
bem comum e garantindo os direitos individuais e coletivos”, e compõe o Plano Estratégico
de 2003 da PMMT. Isso expressa também o desejo da sociedade mato-grossense, que pela
primeira vez na história da PMMT, participou, através de representantes da sociedade civil, na
elaboração do Plano. Essa inovação, garantida na Constituição Brasileira, reforça a
necessidade de insistirmos na (re) significação do papel da polícia, tanto para a sociedade
como para a própria polícia, ou seja de ter o cidadão e a cidadã como seu principal foco de
atuação; que ela, sociedade, possa, de fato, ser protegida pela polícia, e não ter uma instituição
de segurança pública voltada à proteção do Estado.
Vimos no capítulo anterior, que não só a sociedade brasileira foi “vítima” dos quase
quarenta anos do “regime de exceção” que o país atravessou há pouco mais de duas décadas,
38
Diante disso, enquanto vemos a democracia no nosso país se consolidando após longo
período de ditadura, onde, hoje, podemos eleger livremente os nossos representantes no
Legislativo e Executivo nas esferas federal, estadual e municipal, temos as polícias militares
em transição. Retrato disso é a existência da ambigüidade citada acima, já que antes, no
período de exceção, tal situação não existia pelo simples fato de se praticar somente a “força”
(violência). Para o exercício da função policial militar, nesses parâmetros, não exigia muito
mais que robustez física e alguma destreza no manuseio do armamento e equipamentos
disponíveis para o trabalho. Agora, porém, para prestar o serviço de segurança pública, que
atenda os desejos da comunidade e a nova missão da instituição, é necessário muito mais que
“braço forte”: é preciso humanizar e compreender melhor o mundo em que vive.
que o serviço policial pode ser feito por qualquer um, que basta “braços fortes” para cumprir a
missão de policial. A conclusão, infelizmente, tem muita razão de ser, pois há até pouco
tempo, na década de trinta, aqui, no nosso Estado, recrutava-se homens analfabetos para o
cargo, pois o número de candidatos era abaixo das vagas oferecidas.
Para ilustrar a reflexão anterior, relatamos uma história contada pelo Capelão da Polícia
Militar, Padre Firmo Rodrigues, conforme citação de MONTEIRO (1985:209) ao tratar da
evolução histórica da Polícia Militar de Mato Grosso, que em um desses recrutamentos, um
tanto arbitrários e comumente utilizados no passado, encontraram um jovem forte que fora
agarrado de surpresa em um rancho distante e o levaram para o quartel. Lá perceberam que o
rapaz andava dando encontrões em quem vinha à sua frente, além de tropeçar em tudo que
estava em seu caminho. O Tenente achava que aquilo era uma manobra para dispensa e
continuou com o jovem desse jeito. Porém, um dia após dar a seguinte ordem: “Em frente...
Marche!”, onde o jovem tinha de passar por uma porta com degraus, este, ao obedecê-lo,
despencou escada abaixo, chegando a ter escoriações pelo corpo. Diante disso mandaram-no
embora, pois descobriram que o rapaz era cego.
Mas, para o exercício pretendido pelo Estado, há até duas décadas atrás, esse perfil de
policial era perfeitamente tolerável, porém, na atual democracia, o diálogo e o bom argumento
são fundamentais para consecução da nova missão da instituição. Nos Estados Unidos da
América algo semelhante ocorreu há alguns anos, quando se passou a exigir curso superior
para ingresso na polícia de lá. ejamos como isso ocorreu, com base em Herman Goldstein
(1999: 349):
Nos Estados Unidos a idéia de incluir na polícia homens com curso superior completo
data de 1917, com August Vollmer, quando recrutou estudantes da Universidade da
Califórnia. Essa idéia fazia parte de um movimento profissional associado às reformas que
Vollmer queria implantar. Porém, esse movimento ficou mais restrito a essa região. Somente
após a Segunda Guerra Mundial, na agência de polícia da Califórnia, foi que cresceu o
40
número de ingresso de pessoal com o curso superior, fato que levou os policiais que já se
encontravam nos quadros a procurarem se diplomar também.
Tinham que a exigência do curso superior para ingresso na polícia fosse a forma mais
drástica dela tentar tirar de si concepções persistentes e erradas sobre seu trabalho: o de
constituir uma tarefa fácil e que pode ser executada por qualquer um. Os que apóiam a idéia
dessa exigência argumentam que o policial com curso superior se iguala à parte mais
esclarecida da população, fazendo com que ganhem em argumento quando da abordagem. E
que isso deixaria o policial menos na defensiva e, conseqüentemente, menos agressivo quando
lhe falta argumento (menos limitado e mais tolerante).
Outra observação feita nesses estudos foi o distanciamento entre o desejo daqueles que
queriam ver pertencente aos quadros policiais pessoas com o mesmo perfil desafiador,
questionador e crítico sobre as instituições, como saíam normalmente os formandos, e o que
acontecia na verdade quando ingressavam na polícia, onde, o que se via, era a perpetuação do
“status quo”:
42
Eles procuravam mudar a polícia – seus valores, sua orientação, suas políticas e a
natureza do serviço que ela presta ao público. Mas, em esforço aparente para evitar
ofender o pessoal da polícia, eles têm sido relutantes em reconhecer que o desejo
por mudanças é seu objetivo primeiro. Ao contrário, o objetivo é usualmente
determinado de uma maneira sutil, como se os reformistas quisessem seduzir a
polícia para o ensino superior ao anunciar um conjunto de objetivos enquanto
espera por outro. Seus subterfúgios tornam difícil manter o movimento no alvo.
Alguém pode alegar sucesso com base na redução de objetivos, tais como aumento
do número de pessoas formadas em faculdade no serviço policial, sem ter havido
nenhuma melhoria significante no funcionamento da polícia e na qualidade do
serviço policial (GOLDSTEIN, 1999:361)
A busca por mudança na instituição policial, como vimos, foi o principal motivo de
tornar obrigatório o nível superior para os candidatos a uma vaga nas agências de polícia.
Tinham a esperança de que o conhecimento mais avançado dos membros da polícia faria com
que tivessem uma compreensão mais ampla, criatividade, motivação para proporcionar
mudanças, nas políticas e nas operações policiais, e resolver situações conflitantes que
emperravam sua eficiência.
(...) a função policial não tende a ser redefinida da noite para o dia. Qualquer nova
definição vai desenvolver-se após um longo período de tempo e será resultado de
muitas influências. E a educação superior de pessoas entrando no campo policial,
ou já estando nele, tende a ser um dos principais fatores a contribuir para esse
processo. Daí fica claro que é mais importante que os estudos da faculdade sejam
relacionados ao processo de mudança, que a polícia seja educada de forma a
possibilitar que ela inicie e responda flexivelmente às mudanças tanto da polícia
como, mais amplamente, da sociedade (GOLDSTEIN, 1999:361).
43
No Brasil, as polícias federais já fazem seus concursos tendo como um dos requisitos o
diploma de curso superior completo. Assim como nos Estados Unidos, não existe estudos que
trata das diferenças sobre a eficácia de policiais com curso superior e policiais sem o curso
superior, bem como do tratamento com a sociedade. Quanto a isso, ficam na crença de que as
faculdades tenham passado conhecimentos necessários para tornar seus formandos pessoas
dignas, honradas e críticas para mudarem, para melhor, a estrutura de suas polícias e a visão
que a sociedade tem dos mesmos.
De uma coisa temos certeza: o status social do policial federal, seja ele rodoviário ou
agente federal, é maior que do policial militar, principalmente na camada que possui mais
tempo na escola. Têm nesses policiais como mais inteligentes e maior salário, por isso os
valoriza mais. Enquanto os policiais militares são tidos, a exemplo dos Estados Unidos, o
estigma do “policial burro”, desprovido de raciocínio, que age somente pela força.
Hoje a Polícia Militar de Mato Grosso “ainda” exige somente o Ensino Fundamental para
ingresso como Soldado (menor posto da Corporação), apesar de várias tentativas de colocar o
Ensino Médio no Edital de seleção e ter que voltar atrás por haver contrários à essa idéia
alegando exclusão social à minoria da população. Esse fato ocorreu também nos Estados
Unidos quando se regulamentou a exigência do curso superior, por políticos que alegavam o
mesmo motivo. Nos últimos concursos públicos para soldados realizados pela Polícia Militar,
apesar da exigência de estudo ser o Ensino Fundamental, são raros os aprovados que não
possuem pelo menos o Ensino Médio completo, e um considerável número de recrutas com o
Ensino Superior completo.
que nos propomos. Porém, quando conhecemos os aspectos teóricos e tecnológicos daquilo
que nos propomos a fazer, as chances de se cometer erros e equívocos são minimizados.
Talvez essa seja uma visão um tanto quanto positivista sobre conhecimento, quando o
autor trata como poder de agir com certeza, segurança e previsão. Estudiosos vanguardistas
tratam a atualidade como a era da incerteza, mas o conhecimento serve como parâmetro para
contestar, criticar com fundamentação e propor mudanças através do diálogo. Se pensássemos
da forma positivista sobre o conhecimento, como sendo um mecanismo que tornasse nossas
ações lógicas e previsíveis, seria até de certa forma simples as soluções para os problemas da
polícia. Porém, não foi esse retrato que se apresentou com a elevação de nível de estudo na
admissão de novos policiais nos Estados Unidos e nas polícias federais no Brasil, que exigem
curso superior completo, pois continuam tendo problemas em suas ações. A validade de tal
exigência é a elevação do status social alcançado.
A polícia militar é um órgão que depende eminentemente das ações de seus homens e
mulheres que constituem o recurso dinâmico de sua estrutura, e o resultado dessas ações é que
vai determinar o sucesso ou o fracasso de seus trabalhos de promoção da segurança pública.
As pessoas têm enorme capacidade para aprender novas habilidades, captar informações,
adquirir novos conhecimentos, modificar atitudes e comportamentos, bem como desenvolver
conceitos e abstrações. E um dos meios mais eficazes é através do Treinamento e
Desenvolvimento de Pessoal (educação continuada). Assim será possível agregar valor aos
policiais militares e torná-los cada vez mais capacitados e habilitados para a missão da
instituição, além de contribuir para a satisfação pessoal de cada componente, dada a
valorização intrínseca advinda desse meio.
Da atual política de capacitação da polícia militar de Mato Grosso, observamos que esses
critérios de análise de ambiente para se detectar a necessidade de treinamento específico, com
o intuito de atingir o compromisso maior da instituição, que é a sua missão institucional com a
sociedade matogrossense, não vem sendo levado em consideração; deixando-se de focalizar
aquilo que realmente é determinante para se atingir os objetivos que justificam a própria razão
de existência da corporação.
Em um estudo feito no Rio de Janeiro, no ano de 1997, por MUNIZ (1997: 197), para
analisar o fracasso da instalação da Polícia Comunitária no bairro de Copacabana foi notado
que essa experiência não integrou um plano mais abrangente de transformação política de
48
segurança que compreendesse outros bairros, outras unidades operacionais e outros policiais
militares. Esperava-se que somente com o apoio da sociedade civil e os resultados do
programa, em si mesmos, pudessem garantir a continuidade da experiência e, quiçá, expandi-
la gradativamente a todo o Rio de Janeiro. Mas, os obstáculos encontrados foram muito
grandes, ao invés de impulsionarem mudanças no projeto-piloto, determinaram progressivo
insulamento e esvaziamento. O projeto ficou tão fragilizado, tanto dentro quanto fora da
instituição, que em 1995, com a troca do secretário de segurança pública do estado, não foi
difícil decretar o encerramento desses trabalhos. O estudo revela que:
Na análise feita, é lembrado que não basta supor que o aumento do efetivo e/ou
modernização do equipamento físico bastariam para ampliar a eficácia no combate ao crime,
pois a estrutura interna da PM se apresenta como um dos principais fatores para essa
consecução. Dentre essas falhas estruturais e conjunturais da organização policial militar
estão a rigidez do regimento interno em vigor, no qual atribuem como uma herança da
ditadura militar, e o pouquíssimo investimento na qualificação e capacitação dos policiais de
ponta.
externos. Essa movimentação toda pode gerar uma reorganização modernizadora em toda a
estrutura, ou pelo menos uma adaptação evolutiva dos demais segmentos e da cultura
institucional ao novo modelo, tendo como resultado um acréscimo na racionalidade, na
transparência e na eficiência.
Essa é uma prova da política praticada na contramão dos discursos e atos documentais
que apresentam desejos de mudança e aproximação com a comunidade, além do
desprendimento dos vícios históricos incursos na Cultura da Organização, imperadores da
evolução e do desenvolvimento da instituição policial militar.
A Polícia Militar de Mato Grosso, além de instituir a nova missão como parâmetro de seu
planejamento e forma de agir oficializou, pela Portaria nº 002/PM-3/2003, o Plano de
Modernização denominado Polícia Cidadã para a obtenção da satisfação da sociedade, e, para
conquistar de fato essas intenções terão que observar os episódios ocorridos na Companhia de
Polícia Comunitária de Copacabana no Rio de Janeiro e com a Companhia de Polícia
Comunitária do Parque do Lago, que tinham basicamente os mesmos interesses propostos na
missão da Polícia Militar de Mato Grosso. Quando se tem por objetivo o verdadeiro trabalho
comunitário, onde o foco é o cidadão, o policial de ponta deve ter um elevado grau de
autonomia, passando a exercer as tarefas de identificar e analisar problemas, organizar a
comunidade, planejar e implementar soluções. Trata-se de um modelo que valoriza a
descentralização decisória, a autoridade e competência dos policiais de ponta, a flexibilização
do controle interno e a atenuação das distâncias hierárquicas tradicionais. Isso posto, vemos
que a figura do policial de ponta, aquele que desenvolve o policiamento ostensivo, exerce,
nessa nova concepção de segurança pública, um papel importantíssimo para o sucesso do
programa. Por esse motivo é que a política que regulará sua capacitação, que deve ser
freqüente por toda carreira policial, deve ser uma das principais vertentes (política) no
planejamento e na canalização de recursos da corporação, além da revisão os critérios de
valorização pessoal desse homem e dessa mulher policial militar.
Desde o nascimento até a morte, o ser humano vive em constante interação com o meio
ambiente, recebendo e exercendo influências em suas relações com ele. Educação é toda
influência que o ser humano recebe do ambiente social, durante toda sua existência, a fim de
adaptar-se ás normas e aos valores sociais vigentes e aceitos, afirma CHIAVENATTO
(2003:28). O ser humano recebe influências, assimila-as de acordo com suas inclinações
pessoais e predisposições e enriquece ou modifica seu comportamento dentro de seus próprios
padrões.
Nessa proposta ele vislumbra em seu trabalho o ensino policial unificado, envolvendo
todo sistema de segurança pública do Estado, quais sejam: polícia militar, polícia civil, corpo
de bombeiros militar, coordenadoria geral de perícia e identificação e Detran. A abordagem e
o enfoque dado nessa nova linha de ensino seriam mudados substancialmente, diz ele, pois
canalizaria: o humanismo, a tecnologia, o conhecimento dos princípios que presidem a
produção moderna, o exercício da cidadania plena, a formação ética e a autonomia intelectual.
E para concretizar essa proposta, apresenta as diretrizes que se quer alcançar na formação
profissional da Segurança Pública do Cidadão:
53
Para tanto, deve ser um profissional ativo, crítico, consciente e capaz de se posicionar
como “sujeito” no exercício de sua função. Deve também estar preparado para se inserir na
sociedade de onde retire subsídios para a construção e reconstrução do conhecimento em sua
área de trabalho e que saiba analisar o contexto e as diferentes situações para valorar de
acordo com os princípios da solidariedade, da ética e cidadania e se posicionar com firmeza
na sua atividade cotidiana. Daí, segue as diretrizes:
VII- Optar por uma tendência crítica no ensino que visualize a totalidade da
Segurança Pública e a sua inter-relação com a sociedade combinadas
numa visão dialética – totalidade versos especificidade de cada unidade:
BM, PM, PC E CGPI.
b) Voltar sempre a estudar, não apenas nos eventos programados, mas como atitude de
vida. A educação permanente não é fineza de gente especial, mas questão de sobrevivência de
qualquer profissional e de sua categoria.
c) Exercer uma profissão e estudar para renova-la é a mesma atividade e precisa ser
entendida como componente do dia do trabalho. Será necessário “reinventar” o direito de
estudar e concretiza-lo no dia-a-dia da administração institucional na relação de troca de
experiências e (re) descoberta.
CAPÍTULO 3
Neste capítulo, onde consta nossa pesquisa de campo, faremos um diagnóstico da atual
Política de Capacitação da Polícia Militar de Mato Grosso como articuladora da nova missão
da instituição, transcrita no Planejamento Estratégico/2003.
O Objetivo Geral proposto para essa pesquisa foi fazer um diagnóstico que evidenciasse,
que: A atual Política de Capacitação Profissional da Polícia Militar não tem habilitado os
policiais militares na execução dos trabalhos operacionais que levem à concretização da
nova missão, pelo fato de ainda não ter trabalhado essa política no sentido de mudar a
Cultura Organizacional . E como objetivo específico, demonstrou, através de dados, que: O
policial militar capacitado tem sua auto-confiança melhorada, contribuindo para execução
de sua missão operacional e satisfação profissional. Sobre a questão e os objetivos
apresentados é que trabalhamos nossa Pesquisa de Campo, tomando o cuidado teórico-
metodológico com a temática explorada, pois a teoria informa o significado dinâmico daquilo
que ocorre e que buscamos captar no espaço que escolhemos como base de estudo, enquanto
58
o trabalho prático de campo nos proporciona , não só aproximar do objeto estudado, mas
também criar um conhecimento.
Nosso levantamento inicial foi sobre a Política de Ensino, da Diretoria de Ensino (DE),
aplicada na instituição:
A Política de Ensino hoje do Comando Geral, a mesma praticada há muito tempo, tem
vislumbrado basicamente a “formação” de seus agentes, ou seja, o ensino que dá a primeira
capacitação para a profissão policial militar. Daí para frente exerce o papel de encaminhar
alguns policiais, basicamente oficiais, para alguns cursos, sem ter claro a perspectiva futura de
resultados para a Corporação, assim como não compromete o detentor do conhecimento
daquele que foi patrocinado pelo Estado, para tal capacitação, em compartilhar esse
conhecimento ou de apresentá-lo de uma outra forma.
Analisando os cursos oferecidos pela Diretoria de Ensino do ano de 1999 até este ano de
2003, conforme Anexo B, vemos que foi um total de 394¹, sendo que 69,8% desses foram
feitos por oficiais, enquanto as praças fizeram somente 30,2% desse total, levando-se em
conta as vagas para o Curso de Habilitação de Oficiais, ou seja, habilitar praças antigos à
função de oficiais, que corresponde a 67,2% dessas vagas dadas às praças.
____________________
¹ Nesse total não está computado o Curso de Formação de Oficiais de Mato Grosso – alunos-oficiais – que são
60 ao todo.
59
Gráfico 1 – Cursos oferecidos pela PMMT, segundo dados da Diretoria de Ensino – 2003
100
91
100
70
80
Nº CURSOS
57
60
28 35 OFICIAIS
40
10 5 PRAÇAS
3 1
20
0
1999 2000 2001 2002 2003 ANO
Quando tratamos da evolução histórica das polícias no Brasil, vimos por uma citação de
MARIANO apud PIETA, (1994: 45), que:
A visão que se tinha a respeito de comandantes militares e oficiais sempre foi ligado a
poder e riqueza, enquanto as bases eram formadas por brancos pobres. Portanto, quem não era
rico, mercador de escravos ou branco para ter um posto militar era a parte vigiada e
controlada pela elite: negros, índios, bastardos, mamelucos e ciganos. Revela-nos também
certa discriminação quando vemos a composição da parte mais baixa de
hierarquia, justamente por aqueles, brancos, que não tinham poder ou dinheiro suficiente para
os cargos de oficiais, o que os tornava mero executores das ordens destes.
Outra herança dessa cultura militar é que os oficiais fazem cursos e esses oficiais
instruem “seus homens” para a missão determinada. Significando que as praças terão contato
com o conhecimento somente através dos oficiais da corporação. No Exército essa medida
pode dar certo pelo fato da maioria do seu efetivo (os recrutas) ficar no máximo por um
período de um ano, sendo as instruções básicas para aquele determinado período, e a missão
do Exército é de “guerra”, mudando pouco a filosofia com o passar do tempo, a não ser o de
novos armamentos que são facilmente aprendidos pelos oficiais comandantes das companhias
e retransmitidos ao contingente.
Já, com relação às instituições policiais, tais procedimentos são questionáveis, pelo fato
das funções serem diferentes das do Exército. Vejamos, a Polícia Militar de Mato Grosso, por
exemplo, trabalha hoje com o conceito de proteção do cidadão como indivíduo e como
componente da coletividade, sendo, portanto, muito mais dinâmico como sistema social e, por
isso, sujeito a constantes mudanças, o que obriga a PM a adaptar-se a isso no
desenvolvimento de suas funções de prestação de segurança pública, enquanto o Exército não.
Relembrando a nova missão da PMMT: “Proporcionar proteção à sociedade, preservando a
ordem pública, assegurando o bem comum e garantindo os direitos individuais e coletivos”
(PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, 2003). Isso dá uma nova ordem em sua
fundamentação filosófica de trabalho, almejada não só pelo comando da Corporação, mas
principalmente da sociedade que busca a concretização plena da democracia tendo uma
polícia democrática, uma polícia verdadeiramente cidadã.
Acreditamos que a Polícia Militar traz com ela uma Cultura Organizacional que a
estagna, pois, devido à sua estrutura e regime militar, que, por si só, possui características
61
Então, para que a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso possa implantar de fato esse
novo conceito na Corporação, e vê-lo ser executado nas ruas, é importante trabalhar seu
profissional, no sentido de favorecer seu reconhecimento da existência de uma nova
concepção do seu papel como profissional da segurança pública, para, assim, mudar a Cultura
Organizacional que ainda impera na instituição policial do nosso Estado.
Conforme fora apresentado, a nossa amostra da pesquisa foi composta por praças do 1º
BPM e GRAER, além de utilizarmos dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança
Pública (SEJUSP), de uma pesquisa de opinião pública que subsidiou a elaboração do
Planejamento Estratégico de 2003, colhida junto a alguns representantes de segmentos da
sociedade, tais como: entidades patronais, sindicatos, conselhos, diretores de escolas, dentre
outros (COLETÂNEA DE INFORMAÇÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA, 2003: 61).
62
Primeiramente vamos ver alguns dados sobre a visão que a população tem sobre os
órgãos de segurança pública:
Perguntado como avaliava a atuação dos órgãos que compõe a segurança pública,
tivemos:
Gráfico 2 – Pesquisa de opinião pública com relação aos órgãos de Segurança Pública –
2003.
BOM
PÉSSIMO
52%
REGULAR
RUIM
Mostra-nos que 88% dos entrevistados reconhecem que os órgãos de segurança pública
do Estado estão num nível de péssimo até regular, e somente 12% acham que os trabalhos
estão num nível bom. Significa que os órgãos de segurança pública do Estado, bem como os
governantes têm que repensar segurança pública, já que esta é feita para o povo e este está
insatisfeito, algo precisa ser feito, e urgentemente.
Gráfico 3 - Pesquisa de opinião pública com relação aos órgãos de Segurança Pública – 2003.
SIM
4%
NÃO
96%
FONTE: SEJUSP MT
A população acredita, que pela prestação de serviços que vem recebendo dos órgãos de
segurança pública, os profissionais necessitam tanto de melhores equipamentos para o serviço
como de capacitação para que esses serviços possam ser melhorados.
Tabela 1 - Pesquisa de opinião pública com relação aos órgãos de Segurança Pública – 2003.
NOME FREQUÊNCIA PORCENTAGEM
Treinamento/Qualificação 11 33,3
Melhores salários 2 6,1
Investimento 3 9,1
Equipar e reativar a polícia comunitária 2 6,1
Equipamento e melhorar a eficiência no atendimento 3 9,1
Não respondeu 2 6,1
Atendimento de ocorrências 2 6,1
Qualificação do detento 1 6,1
Unificação 1 6,1
Policiamento preventivo/mais viaturas 1 6,1
Outros 5 15,15
TOTAL 33 100
Complementando os dados onde 96% da população pesquisada diz não acreditar que os
profissionais de segurança estejam equipados e bem treinados, os dados acima mostram que
1/3 da população acredita que para melhorar os serviços de segurança pública deve-se treinar,
qualificar, enfim, capacitar os profissionais para que ela, população, se sinta
verdadeiramente segura.
28
30
25
20
15
5 MACULINO
10
2 1 FEMININO
5
0
1º BPM GRAER
FONTE: SEJUSP MT
Constatamos que o efetivo do GRAER é mais “jovem” que o do 1º BPM, pois tem
66,66% do seu efetivo com menos de 30 anos de idade.
1
BRANCA 6
2
NEGRA 4
GRAER
0
MORENA 3 1º BPM
3
PARDA 17
0 5 10 15 20
Ficou um pouco variável pelo fato da pessoa se declarar ter uma cor ou outra, mas,
basicamente, a variação “real” é bem semelhante, sem predominância desta ou daquela cor em
uma unidade ou em outra.
Fazendo uma relação com a idade, constatamos que 100% dos policiais com idade abaixo
de 25 anos de idade, no 1º BPM, têm, no mínimo, o 2º grau completo, apesar dos concursos
públicos para soldado exigirem somente o 1º grau. Outra constatação é que no GRAER 100%
dos policiais têm o 2º grau completo, o que dá uma característica intelectual diferente do 1º
BPM, que equivale às demais unidades operacionais da PMMT.
Nesse item sobre religião, não encontramos relação entre o tipo dessa com as respostas
emitidas, independentemente da religião do policial os pensamentos sobre o serviço, no geral,
se equivaliam.
O tema Punição Disciplinar constou nas duas próximas perguntas, e a primeira delas era
se o policial já havia sido punido alguma vez:
SIM
SIM
33%
50%
NÃO NÃO
67% 50%
Vale ressaltar que as punições dos policiais do GRAER foram todas fora dessa unidade,
ou seja, no período que pertenciam a outras unidades da PM. E a pergunta que seguiu foi para
aqueles que já haviam sido punidos, se consideravam essas punições justas ou injustas:
68
JUSTA
0%
JUSTA
INJUSTA 40%
60%
INJUSTA
100%
Para a maioria dos punidos do 1º BPM e para a totalidade dos punidos do GRAER, pelo
menos uma das punições que sofreram foi injusta, e os comentários que mais se destacaram
ou tiveram maior incidência foram:
_________________
¹ policial militar com muitas punições disciplinares.
69
c) Serve para punir quem erra e merece, como serve também para ser usada por
certos oficiais contra certos praças;
d) Não influencia no serviço de rua, pois em determinadas situações se é obrigado a
fazer coisas que vão contra as normas;
e) Não influencia em nada;
f) Serve para diferenciar quem tem proximidade com superior.
Nos surpreendeu o fato de que, apesar de alguns acharem o regulamento uma arma
nas mãos dos oficiais para punir o PM quando quiser, não cogitam, por exemplo, a
possibilidade de extinção dessa norma. Chegando a ponto de alguns vê-la como algo
necessário, do “errou – pagou”. Mas isso, apesar da surpresa, nos revela o quão está enraizada
a Cultura Organizacional com predomínio militar do estrito cumprimento de ordens, do
castigo e da repressão. Vale recordarmos do que foi tratado no capítulo sobre a evolução das
polícias militares, onde dizia que na sociedade brasileira as diferenças e assimetrias sociais e
pessoais são transformadas em desigualdades, e isso, em relação à hierarquia, mando e
obediência, fato que vemos dentro das famílias, do Estado, das instituições públicas e
privadas, além de se instalar na cultura e nas relações interpessoais. Onde os indivíduos se
dividem em superiores e subordinados, ainda que alguém seja inferior em determinada
situação e superior em outra, a depender dos códigos hierárquicos ali estabelecidos. As
relações tomam forma de dependência, tutela, concessão, autoridade e favor, o que faz da
violência simbólica uma regra da vida social e cultural. Onde, para a camada popular mais
inferior, os direitos são apresentados sempre como uma concessão e outorga do “bom”
governante.
Significa que a sociedade brasileira como um todo tem essa visão
hierarquizada/militarizada sobre as relações na vida, o que faz os policiais militares
acreditarem de que o fato da existência de um regulamento que puna os erros seja normal, que
“errou tem que pagar”, pois sabia que não poderia agir assim. Esse pensamento se reflete
ainda na forma de agir desse policial em suas ações de trabalho, quando vê nas normas e
regulamentos a “mecânica” das relações sociais, não podendo, sob nenhuma hipótese, aqueles
serem confrontados. Talvez isso explique a pouca, ou nenhuma tolerância, do policial militar
quando é convidado a argumentação, respondendo, a lei é assim, você a contrariou, e, por
isso, será punido, não dando margem à razoabilidade.
70
Outro fato que nos chamou a atenção, foi a resposta: “Não influencia no serviço de rua,
pois em determinadas situações se é obrigado a fazer coisas que vão contra as normas”. Isso
equivale a dizer que o policial militar da área operacional age, em muitas situações, de acordo
com seu “bom senso”, como apresentamos em uma de nossas hipóteses, pelo fato de
desconhecer a maneira correta e legal de atuar. Graças a continuidade do sistema “emperrado”
e “arcaico” de agir das instituições policiais, que repetem atos reprováveis, vistos ainda na
formação do primeiro Corpo Policial, como, por exemplo, excesso de violência e extorsão.
Continuísmo este favorecido pela ausência de uma Política de Educação Continuada bem
planejada e bem executada, como propomos neste trabalho.
SIM
40%
SIM
100%
Dos que fizeram curso de capacitação, deram a seguinte avaliação a respeito, decidindo-
se entre ótimo, bom, regular, insuficiente e ruim:
Para esses policiais que fizeram curso de capacitação, foi perguntado quais cursos
haviam feito, e os cursos citados no 1º BPM foram:
a) Tiro;
b) Polícia Comunitária;
c) Credenciamento de Motorista;
d) Direitos Humanos;
e) Informática;
f) Relações Públicas;
g) Uso de Tomfa;
h) Interdição ao Narcotráfico;
i) Identificação visual de veículos.
a) Tripulante Operacional;
b) Tiro;
c) Credenciamento de Motorista.
Para esse mesmo público que teve a oportunidade de fazer o curso de capacitação foi
perguntado há quanto tempo tinha feito o último curso. Respondeu que:
Deixou clara a diferença entre o tratamento dado à capacitação de uma unidade e outra,
onde no 1º BPM, dos 40% do efetivo que já fez alguma capacitação, somente 42% o fez há
menos de 1 ano, enquanto no GRAER, além de 100% do efetivo ter sido capacitado, 100% o
foi pela última vez há menos de 1 ano. Há de se salientar que o 1º BPM, tradicionalmente, faz
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A questão seguinte era se o policial achava que tinha alguma diferença entre o Policial
Militar com capacitação profissional e um outro sem essa capacitação As respostas, em
síntese, foram:
NÃO
10% NÃO
SIM 0%
SIM
NÃO
NÃO
SIM
90% SIM
100%
SIM NÃO
60% 0%
NÃO
40% SIM
SIM
NÃO
NÃO
SIM
100%
d) Saiu há pouco tempo do CFAP e o que aprendeu ainda está fresco na mente;
e) Age do seu jeito, da forma que aprendeu nos serviços de rua, na prática;
f) “Às vezes existem cobranças sobre coisas que a gente ainda não aprendeu”.
Os que alegaram não ter condições técnicas e emocionais para o trabalho, disseram:
Outro dado espantoso é ver um policial militar com aproximadamente 7300 dias de
serviço, dos quais somente três foram utilizados para sua capacitação, um profissional
esquecido ao acaso, confiado ao “bom senso” dos seus trabalhos e dos seus princípios
familiares, porque tecnicamente será difícil estar bem preparado como espera o comando da
PM e a sociedade a quem presta seus serviços.
“Essa experiência tive durante meu comando na Companhia em Tangará da Serra quando
implantamos a instrução continuada de tiro e defesa pessoal, além de capacitação em relações
humanas, atendimento ao público e informática, entre outras, onde os resultados foram
surpreendentes, pois notei a melhora da auto-confiança, da segurança e da satisfação no
desenvolvimento dos trabalhos policiais, e um orgulho de ser ‘profissional policial militar’,
visto somente em unidades especializadas onde o treinamento e capacitação são priorizados. E
isso se refletia nos resultados dos serviços prestados e na satisfação da população, que
chegava a comentar da diferença dos serviços e da forma com que era tratada em Tangará da
Serra em relação a outras cidades que conheciam do próprio Estado de Mato Grosso, e nos
parabenizavam pela evolução. Mesmo tendo os mesmos problemas de falta de pessoal, de
material, de equipamento e de armamento que essas outras cidades comentadas tinham.¹”
SIM NÃO
47% 0%
NÃO
53% SIM
100%
SIM
100%
Dentre os que não sugeriram do 1º BPM, disseram que foi pelo fato de que:
a) Acha que sua sugestão não será levada em consideração porque é um soldado;
b) Não se sente à vontade de chegar no oficial e sugerir algo;
c) “Não adiantará sugerir, pois serei ignorado”;
d) Não é dada oportunidade para isso;
e) “Os oficiais pensam diferente da gente”;
f) “Não temos relação aberta com os oficiais, é só ‘Sim senhor’ e ‘Não senhor’”.
Os policiais do GRAER, onde todos responderam ter sugerido, os comentários foram:
Isso nos revela o quanto é importante abrir as instituições ao diálogo, não só ao público
externo, mas também com o público interno que tem muito para oferecer, além do que ele se
sentirá útil e, efetivamente, parte integrante do sistema de segurança ao qual pertence, além de
contribuir para a elevação da auto-estima desse policial e, conseqüentemente, do seu
rendimento no trabalho.
NÃO
53%
NÃO
100%
Quando perguntados se acreditam que existe uma política de capacitação praticada pela
PMMT, responderam:
SIM
30%
NÃO
70% NÃO
100%
A grande maioria disse que não acredita nessa existência de política de capacitação, e os
motivos alegados foram:
E para os que acham que existe uma política de ensino, argumentaram que:
a) Já fez curso;
b) É só para oficiais;
c) É o mesmo grupo que faz sempre;
d) Já viu alguns fazendo;
e) Existem os cursos, mas não são para quem está na rua, aquele que é o prejudicado
em tudo.
Tanto os que argumentaram que existe, como os que argumentaram que não existe a
política de capacitação por parte do Comando da PMMT, foram no sentido de protestos, pois
trataram a capacitação como sendo um direito do profissional de segurança pública, e não
como sendo uma concessão ou outorga do superior. Reclamaram que a grande maioria dos
cursos são disponibilizados para oficiais, o que se comprova com os dados da Diretoria de
Ensino, onde quase 70% dos cursos oferecidos de 1999 para cá foram destinados a oficiais,
lembrando que a grande maioria da população policial militar é formada por praças, com
cerca de 91% de todo efetivo.
Comprova também que o policial quando é treinado, capacitado, ele sente que existe uma
preocupação do Estado e de seus comandantes para com sua pessoa, pois melhorando sua
capacidade de trabalho está diretamente melhorando a capacidade pessoal do policial, em
termos de conhecimento e em termos de consideração, porque não existe nada pior para o ser
humano do que a indiferença.
O último dado levantado foi com relação às sugestões para melhoria da política de
capacitação na PMMT, onde obtivemos:
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a) Aumentar investimento;
b) Capacitar o PM para ele gostar do que faz;
c) Mesma oportunidade para todos quanto à capacitação;
d) “Curso de relações públicas, pois tem PM que não sabe conversar, é bruto com a
população”;
e) O Batalhão deveria dar cursos e palestras para melhorar o “comportamento” do
PM para com a população;
f) Curso de tiro, defesa pessoal, direito, oratória, abordagem e imobilização;
g) “É importante que tenha o curso, porque às vezes pensa que está agindo certo e
não está”;
h) O crime evolui em técnicas, e é obrigação da PM em andar nesse sentido;
i) Regulamentar a capacitação profissional em Lei.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Cultura Organizacional da Instituição Policial Militar de Mato Grosso, foi toda ela
formada dentro desses parâmetros militares e, por imposição legal, do controle social e da
defesa das elites no poder, o que a faz ter dificuldades em sair desse processo de continuísmo
que impera até os dias de hoje. Porém, a sociedade cônscia de seus direitos constitucionais,
cobra uma polícia mais cidadã, assim como cobra também um “combate” efetivo ao crime
que segue numa jornada progressiva de violência.
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Vendo a necessidade de repensar “polícia”, para atender a toda essa cobrança, e produzir
um novo alicerce para trabalhar com a ambigüidade de ser cidadã e “combater”,
concomitantemente, o crime, como elemento fundamental de sobrevivência da própria
instituição policial militar, foi que o Comando Geral da PMMT reuniu, juntamente com
oficiais da Corporação, representantes da Comunidade para “escrever” os passos de uma
Polícia Cidadã.
Para que a PMMT possa de fato mudar é preciso antes de tudo querer “quebrar” o que a
emperra nos dias de hoje, sua Cultura Organizacional, essa medida marcará seu ponto de
partida rumo à formação de uma polícia cidadã. E isso deverá ser atingido através de uma
Política de Capacitação Profissional cônscia dessa missão, e que seus planejamentos e ações
visem atingir a todos os profissionais de segurança pública do Estado, política bem diferente
da adotada atualmente, buscando:
BIBLIOGRAFIA:
BRETAS, Marcos Luiz. Observações sobre a falência dos modelos policiais. Revista de
Sociologia da USP. São Paulo: Edusp, 1997.
CHIAVENATO, Ildalberto. Recursos Humanos. 5. ed. São Paulo: Atlas Editora, 1998. Parte
VI.
FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o trabalho científico. 11. ed. Porto Alegre,
2002.
GOLDSTEIN. Herman. Policiando uma sociedade livre. Traduzido por Marcello Rollemberg.
São Paulo: Edusp, 1999.
HUGGINS, Martha K. Polícia e Política: Relações Estados Unidos / América Latina. Revista
de Sociologia da USP. Traduzido por Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Edusp, 1997.
Inspetoria-Geral das Polícia Militares. Manual básico de Policiamento Ostensivo. Rio Grande
do Sul: Brigada Militar, 1995.
85
LUCENA, Maria Diva da Salete. Avaliação de Desempenho. São Paulo: Editora Atlas, 1992.
MARIANO, Benedito Domingos. Criar uma polícia democrática. Porto Alegre: Corag, 2002.
MATOS, Francisco Gomes de. Fator QF – Ciclo de felicidade no trabalho: Makron Books do
Brasil Ltda, 1997.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social – Teoria, método e criatividade. 19 ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2201.
OLIVEIRA, Juarez de. Constituição da República Federativa do Brasil. 8 ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 1993.
PERARO, Maria Adenir. Bastardos do Império. São Paulo: Editora Contexto, 2001.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. Prefácio à Edição Brasileira. Polícia e Política: Relações Estados
Unidos / América Latina Revista de Sociologia da USP. São Paulo: Edusp, 1997.
SANTOS, José Vicente Tavares dos. A arma e a flor. Revista de Sociologia da USP. São
Paulo: Edusp, 1997.
SEJUSP, Sec. Est. Justiça e Segurança Pública. Coletânea de Informações sobre Segurança
Pública. Cuiabá: SEJUSP, 2003.
ANEXO A
1 - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
04 - Em caso positivo, acha que foi justa tal punição? ( ) Sim ( ) Não. Por que?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________
0 5 - Na sua opinião, para que tem servido o uso das punições nos quartéis da PM?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10 - Para você, existe alguma diferença em fazer ou não fazer cursos de capacitação para
desempenhar bem a profissão policial militar? Sim ( ) Não ( ) Por que?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________
12 - Você já participou com alguma sugestão para melhoria dos trabalhos nos
planejamentos da sua unidade? Sim ( ) Não ( ). Por que?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
15 – Você acredita que existe uma política de capacitação na PM? ( ) Sim ( ) Não. Por
que?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________________