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Araranguá
2020
PATRICK CARDOSO DE RAMOS
Araranguá
2020
PATRICK CARDOSO DE RAMOS
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Professor e orientador Fátima Hassan Caldeira, Dr.ª
Universidade do Sul de Santa Catarina
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Prof. Elisângela Dandolini, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
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Prof. Nádila da Silva Hassan, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Eu, Patrick Cardoso de Ramos dedico
este trabalho à minha esposa Verônica
Bristot, aos meus pais Elvio Bauer de
Ramos e Neiva de Fátima Cardoso,
Validia Helena Musskopf, meus irmãos
Elvio Bauer de Ramos Junior e David
Musskopf Aguieiras e a todos meus
familiares e amigos que me apoiaram e
colaboraram para que eu pudesse
concluir este trabalho.
AGRADECIMENTOS
Public security is a right of all citizens and a duty of the state to develop public
policies to guarantee its wide offer to all people, individually and collectively. The
police are a body that acts directly in public security and often need to apply force to
contain suspects who react negatively to their approach and put police and citizens
at risk. This study was developed with the general objective of evaluating the
progressive use of force by the military police in the face of criticisms regarding the
armament necessary to exercise the profession. All the data collected indicates that
there are criticisms both of the use of force and the lack of it, which would create a
situation of insecurity, due to the fact that the offenders feel free to act without risk of
being contained. It is essential that the topic be debated, considering its connection
with the rights of all citizens to live in safety, associated with human rights that cannot
be ignored, even in the case of an offender. Another point that deserves greater
attention refers to the fact that police officers risk their lives every day to act for public
security and, therefore, they may need to use force to protect themselves and their
colleagues. Finding a way to protect all parties involved is the challenge that needs to
be debated and for which solutions must be found.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS......................................................................................... 12
2.1 HISTÓRICO DA POLÍCIA NO BRASIL ..................................................................... 12
2.2 DA ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR BRASILEIRA.................................................. 16
2.2.1 A polícia no presente: análise geral e da perspectiva da polícia militar ... 18
3 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA NO CENÁRIO BRASILEIRO ............................. 25
3.1 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA: CONCEITOS E NÚMEROS ............................. 25
3.1.1 Números da violência e da criminalidade no Brasil ....................................... 28
3.2 SEGURANÇA PÚBLICA: NOÇÕES ESSENCIAIS ................................................. 32
4 USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR ................................ 36
4.1 CÓDIGO PENAL ........................................................................................................... 41
4.2 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL .................................................................................. 43
4.3 INICIATIVAS DENTRO DA POLÍCIA MILITAR ........................................................ 46
5 CONCLUSÃO................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51
10
1 INTRODUÇÃO
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
(2013, p. 167). As informações sobre a guarda real de polícia, por seu turno, são
relativamente escassas, mas sabe-se que a força policial da época tinha um poder
considerável em sua área de atuação, inclusive com possibilidade de decisões sobre
questões da cidade (BRETAS; ROSEMBERG, 2013, p. 167).
De fato, a história da polícia pode ser identificada sob a narrativa de
diferentes autores, cada um com dados que diferem sobre o exato momento de sua
criação, conforme destacam Hipólito e Tasca (2012, p. 33) ao afirmar que
O surgimento da polícia não encontra nos relatos dos diversos autores uma
data certa, ou mesmo um determinado período bem delimitado, pois ao
longo da história das civilizações a tarefa de manter a ordem na cidade,
aldeia, clã, este afeita a uma variedade de autoridades, ou mesmo ao
sobrenatural, como os exercícios por meio de tabus, situações hoje
absolutamente dissociadas da atividade que se denominará modernamente
como típica de polícia. Houve uma época, inclusive, que magistrados
acumulavam funções policiais e mesmo aos Deuses foram atribuídas
funções policiais.
Outra instituição criada no século XIX foi a Guarda Real de Polícia, que
posteriormente deu origem às Polícias Militares do Brasil. Criada em 1809 e
organizada militarmente, a Guarda Real possuía amplos poderes para
manter a ordem. Era subordinada ao Intendente-geral de Polícia e não
possuía orçamento próprio. Seus recursos financeiros vinham de taxas
públicas, empréstimos privados e subvenções de comerciantes locais. Seus
métodos espelhavam a violência e a brutalidade da vida nas ruas e da
sociedade em geral [...].
Esta etapa visa destacar o percurso histórico até que fosse criada a
polícia militar, ainda que com especificidades totalmente diferentes das atuais.
Segundo Ribeiro, no Império, a polícia não era uma força preparada,
profissional e ciente das demandas e dos limites de sua função. Os então policiais
não passavam por rigorosos processos de seleção, não seguiam padrões rígidos de
disciplina, mas eram a alternativa da época para as necessidades então existentes
(2011, p. 1).
Eram forças policiais sem grandes recursos, mas que já recebiam maior
preparação do que aquelas do início dos relatos históricos.
No tópico de estudo que segue, ressalta-se a atuação das polícias com
suas características atuais.
Assim, Monjardet afirma que a polícia atual tem foco na segurança pública
para o benefício da coletividade, seu papel não está mais atrelado à defesa de
interesses políticos, como ocorria nos períodos mais antigos, seu dever é contribuir
para que os cidadãos vivem de forma segura, protegida de abusos e ilícitos, com a
presença de profissionais treinados para tal finalidade. Seu dever, além de enfrentar
os perigos das ruas, é atuar de forma educativa, contribuindo para que a população
compreenda que existem deveres e direitos a serem respeitados, seu trabalho deve
ser efetivo e cuidadoso, para que danos sejam evitados ao máximo (2002, p. 163).
Para Bobbio (2004, p. 944), a polícia é uma das funções do Estado,
concretizando-se como:
Art. 144 [...] apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei (BRASIL, CRFB, 2020).
Isso não significa que a polícia militar seja o único órgão responsável pela
segurança pública. De fato, todas as forças policiais devem unir-se para tal
finalidade, o que ocorre, porém, é que há uma maior proximidade entre a polícia
militar e as comunidades em todo o país, sejam elas pequenas, médias ou grandes.
estrita, quando uma pessoa atinge outra, ou ampla, quando uma pessoa ou grupo
atinge a coletividade. Não há que se falar em uma situação menos grave, toda
criminalidade é negativa e causa impactos danosos sobre a vida dos atingidos e,
assim, em qualquer situação, devem haver esforços para evitar que ocorram ou,
ainda, alcançar uma forma de punir para evitar que se repitam.
Na visão de Capez (2017, p. 104-105), a ação do homem, seja de forma
intencional ou não, tem potencial de causar danos a outrem, atingindo a coletividade
e a paz social. Mesmo que haja somente uma vítima de um crime, os reflexos
atingem a sociedade de forma mais ampla, criando uma sensação de insegurança e
de ausência de proteção. Ainda que não haja intenção, que decorra apenas de
descuido, uma ação será criminosa quando infringir o ordenamento jurídico do país.
Outro ponto a se considerar, ainda, é que a violência e a criminalidade
podem fazer parte de condutas já arraigadas em alguns grupos, ainda que não se
trate de uma questão somente social, há relação com o espaço e com as vivência do
cotidiano, assim, “as porções não integradas da violência fundamental, sejam da
criança, sejam de seus pais, sejam dos adultos em geral, vão se manifestar nas
mais diferentes formas de violência, tanto no seio familiar como da sociedade em
geral” (SÁ, 2010, p. 37).
Em face disso, percebe-se que a mudança nos índices de criminalidade
passa pela necessidade de alterar a forma como os indivíduos comportam-se dentro
de seus grupos, por mais estreitos que sejam, tendo-se em mente que suas ações
podem e tendem a gerar reflexos nas pessoas que vivem em seu entorno.
Fernandes (2012, p. 23) apresenta alguns conceitos importantes e
esclarecedores relacionados à criminalidade. De acordo com o autor, existem
diferentes tipos de criminalidade que podem ocorrer em um mesmo espaço, em
momentos simultâneos ou diferentes. A criminalidade pode ser grave, violenta e não
organizada, quando decorre de uma ação não articulada com outros criminosos,
atingindo uma determinada pessoa, como nos casos de roubo, de estupro, etc.
Pode-se, ainda, vivenciar a criminalidade grave, nem sempre violenta e não
organizada, quando os impactos atingem grupos ou mesmo a coletividade, como
nos casos de golpes financeiros, de indução de um grupo de indivíduos ao suicídio,
entre outros.
Segundo o autor, há, ainda, a criminalidade organizada, com
características tão diversas que ainda não foi possível defini-las com precisão,
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Figura 3 - Óbitos por homicídio de acordo com a faixa etária – Brasil, 2017
Figura 4 - Evolução das taxas de homicídio por região brasileira de 2007 a 2017
Nordeste são as regiões nas quais essas ocorrências são mais comuns, sendo que,
no Nordeste e no Norte, esses números vêm crescendo exponencialmente.
Por fim, apresentam-se as taxas de homicídios por Unidade da Federação
(UF), conforme a figura 4, na sequência.
Destaca-se que:
Assim, o uso da força por parte do servidor público nada mais é do que uma
intervenção compulsória desse agente estatal sobre a pessoa ou grupo de
pessoas, no sentido de se fazer cessar determinada conduta tida como
ilícita, em cumprimento de determinado mandamus emanado por
autoridades, ou ainda para preservar ou proteger direitos e evitar um mal
maior (SANTOS; URRUTIGARAY, 2012, p. 183).
Nessa seara, são muitas exigências, muitas situações nas quais esses
profissionais são chamados e é possível que, em algumas delas, os fatos
apresentem-se de forma diferente ao esperado e, assim, os policias vejam diante de
si a necessidade de fazer uso da força para melhor conter as situações de risco.
O ideal, assim, é que a força letal seja a última alternativa, usada somente
quando todas as demais tiverem sido testadas e não tiverem produzido os efeitos
esperados e necessários.
Na sequência, considera-se adequado destacar as questões relacionadas
ao uso da força na atividade policial com base no Código Penal.
Para que se possa pensar sobre o uso da força e sobre uma possível
ilicitude nessa conduta, considera-se necessário levar em consideração o que define
o Código Penal.
Neste ponto pode-se tomar como base o Código Penal que ressalta:
A análise do art. 23, supra citado, deixa evidente que não se configura
como crime um fato decorrente de estado de necessidade, de legítima defesa e de
estrito cumprimento do dever legal.
Nessa seara, o policial que, ao cumprir seu dever, tiver a necessidade de
usar a força para a contenção de condutas criminosas potencialmente lesivas para a
coletividade, não poderá ser considerado como infrator.
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Lesão corporal qualificada pelo resultado morte – Art. 209, § 3º, do CPM –
Policial militar que, durante atendimento de ocorrência de desinteligência
doméstica, agride o civil com socos, chutes e golpes de tonfa, provocando-
lhe lesões corporais que levaram a vítima à morte – Tese de morte
decorrente de doença preexistente não acolhida – Laudo Necroscópico que
atestou morte violenta causada por "Trauma abdominal
Fechado/Hemorragia Interna Traumática", provocada por agente
contundente – Versão da companheira da vítima que, somada ao
depoimento das testemunhas presenciais, integra um conjunto probatório
harmônico e coeso e fortalecem a acusação inicial – Suficiência da prova
para condenação – Recurso ministerial parcialmente provido para condenar
o acusado por lesão qualificada pelo resultado morte – Pena fixada acima
do mínimo legal (arts. 69 e 70, ambos do CPM). (SÃO PAULO, TJMSP,
2019).
adequadamente com sua função dentro da polícia militar, o policial terá de lançar
mão de um montante considerável de força, para que a falta dela não venha a trazer
prejuízos para as vítimas de crimes, para a população e para a sociedade em geral.
Como destaca Boing, nos últimos anos, as tecnologias não letais
apresentaram grandes evoluções e podem ser aplicadas de forma a conter um
suspeito sem que se coloque sua vida em risco. Essas armas são “[...] projetadas e
empregadas especificamente para incapacitar pessoal ou material, minimizando
mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos indesejáveis à propriedade e
comprometimento do meio ambiente” (BOING, 2010, p. 66).
Por meio delas, é possível imobilizar o infrator, incapacitá-lo por algum
tempo, porém, sem riscos à sua integridade física e à vida. De forma simplificada,
pode-se apresentar a Figura 8, que segue.
5 CONCLUSÃO
circunstância, porém, debates que levantem uma preocupação com os direitos dos
policiais e a proteção de suas vidas enquanto defendem a população ainda são
relativamente escassos e precisam ser aprofundados.
Um fato que ficou claro nos estudos é que, cada vez mais, as polícias
vêm buscando formas de encontrar um equilíbrio entre suas ações e as ações dos
acusados. Atualmente, existem padrões que podem ser seguidos e sugerem de que
forma reagir diante de diferentes acontecimentos em uma abordagem, o que pode
nortear as atividades policiais e assegurar melhores resultados.
Além disso, tecnologias não letais foram desenvolvidas e estão ao dispor
de muitos policiais, permitindo conter, imobilizar e neutralizar a ameaça de um
infrator, sem que para isso tenham que usar de força, evitando-se possíveis
desproporcionalidades.
Todos os dados coletados indicam que existem críticas tanto ao uso da
força quanto à falta dele, o que geraria uma situação de insegurança, por conta de
os infratores se sentirem livres para agir sem risco de serem contidos. É essencial
que o tema não deixe de ser debatido, considerando-se sua ligação com os direitos
de todos os cidadãos de viver em segurança, associados aos direitos humanos que
não podem ser ignorados, mesmo em se tratando de um infrator.
Outro ponto que merece maior atenção refere-se ao fato de que os
policiais arriscam suas vidas todos os dias para atuar pela segurança pública e,
assim, podem ter a necessidade de fazer uso da força para protegerem a si e seus
colegas. Encontrar uma forma de proteger todas as parte envolvidas é o desafio que
precisa ser debatido e para o qual soluções deverão ser encontradas.
Como sugestão para estudos futuros, sugere-se proceder a um
levantamento com policiais militares a fim de verificar de que forma eles
compreendem e aplicam o uso progressivo da força, o que poderia demonstrar quais
são os parâmetros atuais na região do estudo.
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