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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

PATRICK CARDOSO DE RAMOS

USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR:


UMA ANÁLISE DAS CRÍTICAS QUANTO AO USO DO
ARMAMENTO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

Araranguá
2020
PATRICK CARDOSO DE RAMOS

USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR:


UMA ANÁLISE DAS CRÍTICAS QUANTO AO USO DO
ARMAMENTO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profª. Fátima Hassan Caldeira Drª

Araranguá
2020
PATRICK CARDOSO DE RAMOS

USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR:


UMA ANÁLISE DAS CRÍTICAS QUANTO AO USO DO
ARMAMENTO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua
forma final pelo Curso de Graduação em
Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina.

Araranguá, 11 de Dezembro de 2020.

______________________________________________________
Professor e orientador Fátima Hassan Caldeira, Dr.ª
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Elisângela Dandolini, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nádila da Silva Hassan, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Eu, Patrick Cardoso de Ramos dedico
este trabalho à minha esposa Verônica
Bristot, aos meus pais Elvio Bauer de
Ramos e Neiva de Fátima Cardoso,
Validia Helena Musskopf, meus irmãos
Elvio Bauer de Ramos Junior e David
Musskopf Aguieiras e a todos meus
familiares e amigos que me apoiaram e
colaboraram para que eu pudesse
concluir este trabalho.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pois, se não fosse a vontade dele, não


estaria concluindo este trabalho.
À minha orientadora, Prof.ª Fátima Hassan Caldeira Dr.ª pela
colaboração, incentivo, apoio, compreensão e dedicação, pois cada orientação fez-
me acreditar ainda mais em meu potencial.
Aos colegas, amigos e professores da turma de Direito da Universidade
do Sul de Santa Catarina, por estarem juntos nessa longa caminhada.
À minha esposa Verônica Bristot, por todo o apoio e compreensão nessa
caminhada que foi longa e cansativa.
Enfim, aos meus pais, familiares e amigos mais próximos por acreditarem
em meu sonho e darem força e coragem para chegar até aqui.
“A justiça é o direito do mais fraco” (Joseph
Joubert).
RESUMO

A segurança pública é um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado de


desenvolver políticas públicas para garantir sua ampla oferta a todas as pessoas, de
forma individual e coletiva. A polícia é órgão que atua diretamente na segurança
pública e, muitas vezes, precisa aplicar força para conter suspeitos que reagem
negativamente à sua abordagem e colocam em risco policiais e cidadãos. Este
estudo foi desenvolvido com o objetivo geral de avaliar o uso progressivo da força
pela polícia militar em face de críticas quanto ao armamento necessário ao exercício
da profissão. Utilizou-se da pesquisa bibliográfica e documental. Concluiu-se que
todos os dados coletados indicam que existem críticas tanto ao uso da força quanto
à falta dele, o que geraria uma situação de insegurança, por conta de os infratores
se sentirem livres para agir sem risco de serem contidos. É essencial que o tema
não deixe de ser debatido, considerando-se sua ligação com os direitos de todos os
cidadãos de viver em segurança, associados aos direitos humanos que não podem
ser ignorados, mesmo em se tratando de um infrator. Outro ponto que merece maior
atenção refere-se ao fato de que os policiais arriscam suas vidas todos os dias para
atuar pela segurança pública e, assim, podem ter a necessidade de fazer uso da
força para protegerem a si e seus colegas. Encontrar uma forma de proteger todas
as parte envolvidas é o desafio que precisa ser debatido e para o qual soluções
deverão ser encontradas.

Palavras-chave: Segurança Pública. Polícia. Uso Progressivo da Força.


ABSTRACT

Public security is a right of all citizens and a duty of the state to develop public
policies to guarantee its wide offer to all people, individually and collectively. The
police are a body that acts directly in public security and often need to apply force to
contain suspects who react negatively to their approach and put police and citizens
at risk. This study was developed with the general objective of evaluating the
progressive use of force by the military police in the face of criticisms regarding the
armament necessary to exercise the profession. All the data collected indicates that
there are criticisms both of the use of force and the lack of it, which would create a
situation of insecurity, due to the fact that the offenders feel free to act without risk of
being contained. It is essential that the topic be debated, considering its connection
with the rights of all citizens to live in safety, associated with human rights that cannot
be ignored, even in the case of an offender. Another point that deserves greater
attention refers to the fact that police officers risk their lives every day to act for public
security and, therefore, they may need to use force to protect themselves and their
colleagues. Finding a way to protect all parties involved is the challenge that needs to
be debated and for which solutions must be found.

Keywords: Public Security. Police. Strength. Progressive use.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Primeiros corpos de polícia militar ..................................................................... 18


Figura 2 - Números e taxa de homicídios no Brasil de 2007 a 2017 ............................ 29
Figura 3 - Óbitos por homicídio de acordo com a faixa etária – Brasil, 2017 .............. 30
Figura 4 - Evolução das taxas de homicídio por região brasileira de 2007 a 2017 .... 30
Figura 5: Taxas de homicídio por UF – 2017 .................................................................... 31
Figura 6: Categorias de uso progressivo da força ........................................................... 40
Figura 7: Modelo FLETC de uso progressivo da força .................................................... 40
Figura 8: Tecnologias não letais ......................................................................................... 48
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10
2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS......................................................................................... 12
2.1 HISTÓRICO DA POLÍCIA NO BRASIL ..................................................................... 12
2.2 DA ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR BRASILEIRA.................................................. 16
2.2.1 A polícia no presente: análise geral e da perspectiva da polícia militar ... 18
3 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA NO CENÁRIO BRASILEIRO ............................. 25
3.1 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA: CONCEITOS E NÚMEROS ............................. 25
3.1.1 Números da violência e da criminalidade no Brasil ....................................... 28
3.2 SEGURANÇA PÚBLICA: NOÇÕES ESSENCIAIS ................................................. 32
4 USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR ................................ 36
4.1 CÓDIGO PENAL ........................................................................................................... 41
4.2 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL .................................................................................. 43
4.3 INICIATIVAS DENTRO DA POLÍCIA MILITAR ........................................................ 46
5 CONCLUSÃO................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51
10

1 INTRODUÇÃO

Desde períodos muito antigos ocorrem, no Brasil, esforços para a


manutenção da ordem, porém, em seu início, o intuito era impedir que diferentes
formas de manifestação fossem usadas como forma de afrontar os governos
atuantes. O que ocorria é que as primeiras forças policiais trabalhavam pelo Estado
e somente seus interesses eram levados em consideração, a população sequer era
vista como destinatária de direitos. Não existe uma data exata a que se atribua o
início dessas atividades, apesar dos diferentes relatos de autores diversos, mas
sabe-se que as polícias antigas não apenas prendiam, como julgavam e
condenavam os que eram considerados infratores (BRETAS; ROSEMBERG, 2013,
p. 163; ROSA, 2003, p. 1).
Já, segundo Ribeiro, com o passar dos anos e com a evolução da
sociedade, surge a percepção de que o Estado existe em prol das pessoas e, assim,
a polícia, como representante do Estado nas ações de segurança pública, também
deve manter esforços para que as pessoas sejam protegidas em todas as situações.
Conforme o autor, as polícias sem qualquer profissionalização passaram a ser
treinadas, receber armamentos e equipamentos específicos e, assim, evoluíram até
as características atuais (RIBEIRO, 2011, p. 1).
Atualmente, para Silva, a polícia é representante do Estado para realizar
ações de vigilância e de atenção, visando manter a segurança pública, resguardar
os direitos das pessoas e evitar que abusos sejam cometidos. Tanto as pessoas de
forma individual quanto a coletividade são foco de atenção e de atuação das polícias
no presente (2002, p. 34).
Bastos afirma que o crime não é um fenômeno recente, existe desde que
o próprio homem surgiu, uma vez que do relacionamento entre as pessoas surgem
condutas consideradas reprováveis, inadequadas (2011, p. 1).
No Brasil, a violência vem crescendo de forma considerável nos últimos
anos e, assim, o tema precisa ser debatido de forma cada vez mais frequente para
que se encontre alguma solução ou formas de mitigar seus impactos.
Fagundes destaca que, em algumas situações, a polícia, enquanto força
integrante da segurança pública no país, tem a necessidade de fazer uso da força
como forma de conter infratores e criminosos que podem colocar em risco sua vida e
dos demais policiais em atuação. O ideal é adotar cautela para que a força aplicada
11

não supere o necessário naquele momento e, assim, venha a causar danos


irreparáveis para a parte atingida (2017, p. 1).
Santos e Urrutigaray (2012, p. 184) esclarecem que

Tecnicamente o encontro entre o agente estatal e o cidadão deve seguir


uma sequência lógica de causa e efeito, onde o agente segue uma
percepção de risco por meio das atitudes tomadas pelo cidadão. Esse
conjunto de ferramentas que auxiliam na escolha de técnicas ou do nível de
força a ser utilizado pelo agente conceitua-se de “uso progressivo da força”.

Boing menciona que o intuito do uso progressivo da força é dar aos


policiais um parâmetro de legalidade, de razoabilidade e de equilíbrio e, assim, evitar
abusos e riscos atrelados a suas condutas, ainda que aceitas em função da
realização de sua atividade profissional (2020, p. 50).
Este estudo desenvolve-se com o objetivo geral de avaliar o uso
progressivo da força pela polícia militar em face de críticas quanto ao armamento
necessário ao exercício da profissão em situações pontuais de estresse.
O trabalho baseia-se em pesquisa bibliográfica e documental.
Procedeu-se a uma revisão da literatura com base no objetivo definido
para, assim, encontrar e agrupar dados de diferentes autores que permitam chegar a
uma esclarecimento mais aprofundado quando ao tema aqui em discussão. A
revisão de literatura permitiu que o acadêmico pudesse avaliar o tema em debate
sob diferentes perspectivas, gerando uma base de conhecimentos mais ampla.
Foi conduzida uma análise jurisprudencial como forma de demonstrar ao
leitor como os tribunais brasileiros posicionam-se ao se depararem com a questão
do uso da força pela polícia militar.
Para alcançar um estudo organizado, ele foi construído a partir de
capítulos, formulados do seguinte modo: o primeiro capítulo traz o histórico da
polícia no Brasil e a origem da polícia militar brasileira; o segundo capítulo aborda a
criminalidade e a violência no cenário brasileiro; e, por fim, o terceiro capítulo expõe
acerca do uso progressivo da força pela polícia militar, mediante uma análise legal e
jurisprudencial, além de expor esforços realizados a partir do desenvolvimento de
tecnologias não letais que permitem conter o suspeito sem colocar em risco sua
saúde e sua integridade física.
12

2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Para que se possa falar em uso progressivo da força, na polícia militar,


inicialmente, considerou-se necessário destacar o histórico de desenvolvimento das
polícias no Brasil, como forma de contextualizar o problema e encontrar maior
organização dos dados apresentados.
O fato é que as polícias não surgiram da forma como existem atualmente,
foram construindo-se e alterando-se ao longo dos anos, acompanhando as
alterações e as demandas sociais, como forma de atender a funções específicas
dentro de cada período e, assim, quando se analisa sua história, percebe-se uma
mudança considerável e importante no perpassar dos anos.

2.1 HISTÓRICO DA POLÍCIA NO BRASIL

Para situar a polícia em um marco histórico quanto à sua criação, buscou-


se inicialmente verificar o que significa a palavra polícia, como forma de
compreender aquilo que representava em sua raiz. Assim, a palavra polícia origina-
se “[...] sucessivamente, das vozes grega, politéia e latina, politia, que procedem do
étimo grego polis, daí a sua conotação à ordem da cidade antiga – à
sua administração” (MOREIRA NETO, 2009, p. 441).
Segundo Bretas e Rosemberg, a origem da polícia, no cenário brasileiro,
não se trata de uma ocorrência recente, porém, os levantamentos históricos a esse
respeito não decorrem de períodos remotos. O interesse acadêmico a respeito da
polícia e de sua origem histórica inicia-se na década de 1960, quando ocorreram
agitações em prol de temas diversos e, assim, a atuação policial passou a ser vista
com maior destaque (2013, p. 163).
Para Rosa, pensar-se em uma data específica para o início da atuação de
forças policiais no país não é possível, todavia, ressalta-se que a polícia e o Estado
eram forças vistas como únicas. Os capitães, além de realizarem prisões, tinham o
poder de julgar os presos, tomando para si o jus puniendi que deveria recair apenas
sob o poder do Estado (2003, p. 1).

Nos seus primórdios, a polícia confundia-se com a magistratura estatal,


tanto que seus juízes eram investidos de poderes de capitão. E seus
capitães, antes de sua integração pelo próprio Estado, investidos de
poderes de juiz. Numa certa quadra da evolução da História Universal,
ambos juízes e capitães, prendiam e julgavam, sendo certo, porém que a
13

manutenção do condenado em calabouço dependia, sempre, do capricho,


ou da vontade imperial, de príncipes e de reis, supostos depositários divinos
de ilimitados poderes de vida e de morte sobre seus súditos. (ROSA, 2003,
p. 1).

Identifica-se, assim, que a polícia do passado tinha tantas funções que


assemelhava-se ao poder do próprio Estado, podendo agir de acordo com sua
vontade, aplicando penas que parecessem adequadas, sem que houvesse, em cada
caso, uma análise da conduta por órgão competente e preparado para tanto.
Bretas e Rosemberg (2013, p. 167) lecionam que durante a estada da
Coroa portuguesa no país, período iniciado no século XVII e que se seguiu até a
independência, criou-se a Intendência Geral de Polícia, em 1808, e a Guarda Real
de Polícia, em 1809, forças que deram início à configuração que, posteriormente,
evoluiu para a polícia como existe no presente. Neste período, a denominação
polícia passa a ser usada, assemelhando-se ao modelo francês de polícia.
Segundo os mesmos autores, naquela época, eram inúmeras as
obrigações das forças policiais e só mais tarde ocorreu uma distribuição de deveres,
para que a polícia tivesse foco nas atividades de segurança. Essas atividades,
porém, baseavam-se na segurança dos poderes da Coroa, sendo esses os poderes
que deveriam ser protegidos, enquanto a proteção dos cidadãos não era um tema
em debate no período e, ainda, por muito tempo depois disso (2013, p. 167-168).
Sobre as alterações relacionadas à atuação policial no passado, pode-se
ressaltar que “as Forças Policiais foram criadas, transformadas e extintas, suas
competências foram alteradas e suas funções, reinterpretadas ao longo da história”
(COSTA, 2004, p. 86).
Compreende-se, assim, que qualquer levantamento histórico sobre o
surgimento da polícia trará dados acerca de quando a ideia de uma força policial foi
desenvolvida, porém, as especificidades eram extremamente diferentes das atuais.
Assim, para Costa, comparar-se a estrutura policial atual com aquela
utilizada em seu surgimento sequer é possível, pois não haviam leis regendo
detalhadamente suas funções, seus objetivos diferiam completamente dos atuais,
não havia uma clara divisão de atividades e deveres, enfim, o cenário sequer tinha
semelhanças com o que ocorre no momento social presente (2004, p. 87).
Segundo Bretas e Eosemberg, “a Intendência de Polícia se associará
fortemente ao nome do primeiro intendente, Paulo Fernandes Vianna, que vai dirigi-
la até 1820, caracterizando-se como um quase prefeito da cidade do Rio de Janeiro”
14

(2013, p. 167). As informações sobre a guarda real de polícia, por seu turno, são
relativamente escassas, mas sabe-se que a força policial da época tinha um poder
considerável em sua área de atuação, inclusive com possibilidade de decisões sobre
questões da cidade (BRETAS; ROSEMBERG, 2013, p. 167).
De fato, a história da polícia pode ser identificada sob a narrativa de
diferentes autores, cada um com dados que diferem sobre o exato momento de sua
criação, conforme destacam Hipólito e Tasca (2012, p. 33) ao afirmar que

O surgimento da polícia não encontra nos relatos dos diversos autores uma
data certa, ou mesmo um determinado período bem delimitado, pois ao
longo da história das civilizações a tarefa de manter a ordem na cidade,
aldeia, clã, este afeita a uma variedade de autoridades, ou mesmo ao
sobrenatural, como os exercícios por meio de tabus, situações hoje
absolutamente dissociadas da atividade que se denominará modernamente
como típica de polícia. Houve uma época, inclusive, que magistrados
acumulavam funções policiais e mesmo aos Deuses foram atribuídas
funções policiais.

O que se percebe é que, desde períodos remotos, existem esforços em


prol da manutenção da ordem, no entanto, é difícil precisar exatamente em que
momento esses esforços se constituíram como a polícia. Esses esforços, porém,
apresentam mais diferenças do que semelhanças com o que se tem de atuação
policial no presente.
Nessa mesma direção, lecionam Souza e Morais (2011, p. 3) que

[...] quanto à data precisa de início da atividade policial brasileira, há uma


discussão teórica sobre seu marco regulatório, uma corrente de
pesquisadores do tema acredita que a polícia brasileira nasceu com a
primeira guarda militar em solo brasileiro, a qual acompanhava o 1°
Governador Geral da Colônia – Martin Afonso de Sousa – início do século
XVI.

A citação acima deixa evidente que existe mais de uma corrente de


análise da questão e, assim, pesquisas mais detalhadas poderão trazer relatos
discrepantes entre si.
Nessa seara, Sousa e Morais acreditam que, ao avaliar dados históricos
disponíveis, as forças existentes nos períodos mais antigos não atuavam para a
garantia da segurança pública e para proteção da coletividade, mas que deveriam
atender aos interesses da Coroa e daqueles cidadãos com mais poderes políticos
em sua época, o que não se assemelha ao papel policial real e, assim, seria
inadequado fazer essa ligação. Era uma polícia repressiva, violenta, sem qualquer
consciência de direitos a serem assegurados aos cidadãos, o papel das pessoas era
secundário, apenas a Coroa tinha valor (2011, p. 3).
15

Em sentido semelhante, Rosa destaca que o Estado, quando ainda se


configurava como República, trazia consigo a ideia de que era preciso deixar os
cidadãos cientes de seu poder sobre eles, de que não eram as pessoas que
tomavam decisões, mas os governantes da época e de que sua vontade era lei.
Nesse diapasão, passam a se delinear forças que deveriam atuar na manutenção da
ordem para evitar dificuldades dessa dominação, ou seja, não se tratava de proteger
as pessoas, mas de colocá-las sob um jugo severo do Estado por meio das forças
policiais por ele constituídas na época (2003, p. 1).
Nos moldes antigos de polícia, conforme Marcineiro e Pacheco, essa
instituição poderia usar a força sem qualquer preocupação com qualquer medida ou
limitação, sempre pensando nos interesses do Estado, que na época seria o centro
de toda a sua atuação. Releva destacar, porém, que posteriormente surge a
percepção de que o dever de punir não caberia à polícia, que deveria dedicar seus
esforços a encontrar os infratores e conduzi-los para que fossem punidos pelas
instituições e poderes competentes. A violência vai, lentamente, sendo substituída
por um papel mais moral e respeitoso, porém isso ocorreu de forma lenta e
progressiva, demorando anos até se concretizar (2005, p. 22).
Conforme Hipólito e Tasca, os registros brasileiros definem que, em 10 de
maio de 1808, D. João formalizou a Intendência Geral de Polícia da Corte, no Rio de
Janeiro, tendo como desembargador intendente Paulo Fernandes Viana,
caracterizando-se como a única instituição policial atuante na nação por vários anos.
Somente mais tarde começam a ocorrer divisões nessa força para que cada uma
delas pudesse cumprir com deveres específicos (2012, p. 49).
Sousa e Morais (2011, p. 5), com alguma diferença na data de criação da
polícia no país, ressaltam que

Outra instituição criada no século XIX foi a Guarda Real de Polícia, que
posteriormente deu origem às Polícias Militares do Brasil. Criada em 1809 e
organizada militarmente, a Guarda Real possuía amplos poderes para
manter a ordem. Era subordinada ao Intendente-geral de Polícia e não
possuía orçamento próprio. Seus recursos financeiros vinham de taxas
públicas, empréstimos privados e subvenções de comerciantes locais. Seus
métodos espelhavam a violência e a brutalidade da vida nas ruas e da
sociedade em geral [...].

A citação em análise ressalta a Guarda Real de Polícia como o primeiro


órgão a se assemelhar com uma atuação de polícia no país.
16

De acordo com Monjardet (2002, p. 161-162), nos períodos mais antigos,


era papel da polícia conter uma possível desordem, zelando pela moral. O foco eram
os interesses do Estado, o cidadão e suas necessidades não eram levados em
consideração, por serem vistos como submissos aos poderes atuantes.
Atualmente, os deveres das polícias diferem grandemente do que ocorria
quando de seu desenvolvimento, conforme será destacado em tópico de estudos
posterior. Na sequência apresenta-se um breve histórico da origem da polícia militar
no Brasil.

2.2 DA ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR BRASILEIRA

Esta etapa visa destacar o percurso histórico até que fosse criada a
polícia militar, ainda que com especificidades totalmente diferentes das atuais.
Segundo Ribeiro, no Império, a polícia não era uma força preparada,
profissional e ciente das demandas e dos limites de sua função. Os então policiais
não passavam por rigorosos processos de seleção, não seguiam padrões rígidos de
disciplina, mas eram a alternativa da época para as necessidades então existentes
(2011, p. 1).

O ponto marcante dessa consolidação da polícia militar no Brasil ocorre no


momento da abdicação de Dom Pedro I e o estabelecimento do período
regencial, momento onde o então ministro da justiça e padre Diogo Antônio
Feijó, ordena em 1831, extinguir todos os corpos policiais existentes e
manda criar um único corpo a Guarda Municipal de Voluntários por
Provinciais, chamado de Corpo de Guardas Municipais Permanentes, que
tinha como função “exercer as funções da extinta Guarda Real, bem como
as tarefas de fiscalização da coleta de impostos” (RIBEIRO, 2011, p. 2).

Na visão de Pedroso (2005, p. 31), a polícia surge, no Brasil, como um


esforço de manter um maior controle sobre as atividades dos cidadãos, caso
agissem em desacordo com as expectativas da época, devendo ser enquadrados
como infratores e receber punições por essas condutas, ainda que não fossem
ofensivas, apenas vistas pelos poderes da época como potencialmente prejudiciais
ao seu domínio. “Por outro lado, procurou-se também conter todo e qualquer tipo de
distúrbio de origem político-social que viesse a desestabilizar o poder nos estados
brasileiros” (PEDROSO, 2005, p. 31).
Pensando-se especificamente na polícia militar, destaca-se que

O que podemos concluir é que no período que corresponde à primeira


República, a polícia militar teve intensa participação na luta contra as
17

rebeliões e revoltas ocorridas no território nacional nesse período, ou seja,


vemos a ação dessas forças de polícia desde os primeiros anos da
República com a luta contra o movimento de Canudos, passando por ações
no Contestado ao sul e na revolução de 1924 em São Paulo e também na
sustentação da Revolução de 1930 (RIBEIRO, 2011, p. 8).

A Guerra do Paraguai exigiu que a polícia atuasse juntamente com as


infantarias do exército, e “[...] é neste momento que estes policiais também
começam a ser parte de uma força aquartelada [...]” (RIBEIRO, 2011, p. 3).

Foi apenas com a Proclamação da República, que os Corpos de Polícia


receberam a designação “militar” na nomenclatura, o que, com o tempo,
delineou características peculiares do efetivo, que já possuía traços do
Exército, a força que servia de exemplo e inspiração. A Constituição
Republicana de 1891 foi o documento que determinou pontualmente a
subordinação dos Corpos Militares de Polícia aos estados. A partir de então,
as unidades milicianas ganharam forma e sofreram ajustes até
determinarem a identidade que possuem atualmente (PM-GO, 2020, p. 1).

Percebe-se, assim, que a polícia militar surge como fruto de esforços


ocorridos ao longo dos anos para o alcance de uma força de proteção e ordem.

As polícias militares [...] têm origem no século 19, com a chegada de D.


João VI, em 1808. Na época, a chamada Guarda Real de Polícia de Lisboa
permaneceu em Portugal. Assim, um ano após a chegada da corte lusitana,
foi criado um corpo equivalente no Rio de Janeiro, batizado de Divisão
Militar da Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro, que adotava o mesmo
modelo de organização da guarda portuguesa, usava os mesmos trajes e
armas e já tinha estrutura militarizada, com companhias de infantaria e de
cavalaria. O estabelecimento de uma força militar permanente na capital
deu-se em função do crescimento populacional do Rio de Janeiro e da
necessidade de garantir a segurança da nobreza recém-chegada de
Portugal. Todavia, no início do século 19, as cidades do interior também
registravam aumento populacional considerável, evidenciando a
necessidade de manutenção da ordem pública. Com isso, foram sendo
criados corpos policiais nas províncias. Minas Gerais foi a primeira (1811),
seguida por Pará (1820), Bahia e Pernambuco (ambas em 1825). Pela
formação e estrutura, esses corpos policiais são os que mais se aproximam
das atuais policiais militares estaduais (BRASIL, 2013, p. 1).

As primeiras forças policiais militares, de acordo com dados históricos,


passam a representar uma melhor organização da polícia, que, no passado, não era
nada profissionalizada e preparada para a tarefa.
Na Figura 1, que segue, pode-se ter uma visão, apenas para
conhecimento, dessas primeiras formações.
18

Figura 1: Primeiros corpos de polícia militar

Fonte: Brasil (2013, p. 1).

Eram forças policiais sem grandes recursos, mas que já recebiam maior
preparação do que aquelas do início dos relatos históricos.
No tópico de estudo que segue, ressalta-se a atuação das polícias com
suas características atuais.

2.2.1 A polícia no presente: análise geral e da perspectiva da polícia militar

No perpassar dos anos, inúmeras foram as alterações no que tange à


atuação e ao acesso ao trabalho na polícia, entre tantos outros fatores. Pensando-se
nos deveres atuais da polícia no Brasil, ressalta-se que

A Polícia, considerada em seu todo, compreende e significa a vigilância


exercida pela autoridade para manter a ordem e o bem-estar público em
todos os ramos dos serviços do Estado, em todas as partes e localidades.
Esta vigilância constante é um dos primeiros deveres de toda a
administração por isso mesmo que a administração é quem deve prevenir
os perigos e os delitos, e resguardar os direitos individuais: é ela também
quem tem o encargo de descobrir os crimes, coligir e transmitir à autoridade
competente os indícios e provas, reconhecer e capturar os delinquentes,
concorrer para que assim sejam entregues aos tribunais e sujeitos à
aplicação da lei (SILVA, 2002, p. 34).
19

Assim, Monjardet afirma que a polícia atual tem foco na segurança pública
para o benefício da coletividade, seu papel não está mais atrelado à defesa de
interesses políticos, como ocorria nos períodos mais antigos, seu dever é contribuir
para que os cidadãos vivem de forma segura, protegida de abusos e ilícitos, com a
presença de profissionais treinados para tal finalidade. Seu dever, além de enfrentar
os perigos das ruas, é atuar de forma educativa, contribuindo para que a população
compreenda que existem deveres e direitos a serem respeitados, seu trabalho deve
ser efetivo e cuidadoso, para que danos sejam evitados ao máximo (2002, p. 163).
Para Bobbio (2004, p. 944), a polícia é uma das funções do Estado,
concretizando-se como:

[...] instituição de administração positiva e visa por em ação as limitações


que a lei impõe a liberdade dos indivíduos e dos grupos para salvaguarda e
manutenção da ordem pública, em suas várias manifestações: da
segurança das pessoas à segurança da propriedade, da tranquilidade dos
agregados humanos à proteção de qualquer outro bem tutelado com
disposições penais.

Tiedemann (2007, p. 208) esclarece que existe uma clara delimitação de


duas competências essenciais da polícia: a) o dever de atuar contra perigos que
possam comprometer a segurança e a ordem pública, em uma ação preventiva; e, b)
atuar para a persecução penal, investigando e elucidando crimes, adentrando ao
seu papel repressivo.
Com foco somente na polícia militar, a Constituição Federal de 1988, no
art. 144, § 5º, destaca seu papel no sentido de proceder ao policiamento ostensivo,
bem como preservar a ordem pública (BRASIL, CRFB, 2020).

A Constituição Federal de 1988 quando incumbiu às polícias militares da


polícia ostensiva, e não mais simplesmente policiamento ostensivo, e pela
preservação da ordem pública conferiu amplos poderes nos aspectos
penais e administrativos. (HIPÓLITO; TASCA, 2012, p. 112).

A proteção dos cidadãos de forma coletiva, para o alcance de uma


sociedade segura, organizada, regrada e justa é, assim, o cerne da atividade da
polícia militar no presente.

A competência ampla da polícia militar na preservação da ordem pública


engloba, inclusive, a competência específica dos demais órgãos policiais, no
caso de falência operacional deles, a exemplo de greves ou outras causas,
que os tornem inoperantes ou ainda incapazes de dar conta de suas
atribuições, funcionando, então, a polícia militar como verdadeiro exército da
sociedade. Bem por isso as Polícias Militares constituem os órgãos de
preservação da ordem pública para todo o universo da atividade policial em
tema da ‘ordem pública’ e, especificamente, da ‘segurança pública’
(LAZZARINI, 2009, p. 235-236).
20

Como as atribuições das polícias diferem entre si, é importante ressaltar


as definições constitucionais estabelecidas. O art. 144 da Constituição Federal
estabelece que a Polícia Federal (PF) deve:

Art. 144 [...] apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei (BRASIL, CRFB, 2020).

Compreende-se, assim, que as atribuições da PF são específicas,


diferindo daquelas que devem ser cumpridas pelas demais forças policiais, conforme
será destacado na sequência.
Sobre a polícia rodoviária federal (PRF), são suas atribuições:

Art. 144 [...]


§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao
patrulhamento ostensivo das rodovias federais (BRASIL, CRFB, 2020).

Entende-se, assim, que todas as ações que envolvem as rodovias


brasileiras devem ser conduzidas pela PRF, por esta encontrar-se preparada para
atuar em situações que podem ocorrer nesses locais.
Poltronieri (2016, p. 1) presta um relevante esclarecimento quanto à
atuação da polícia rodoviária federal, destacando que

A PRF tem a função de patrulhar as rodovias federais, intituladas de "BRs",


exercendo seu poder de polícia, seja por meio de sanções (multa/auto de
infração), ou por prevenção (orientando os condutores e passageiros de
veículos sobre normas de trânsito), dentre outras atribuições.
Logo, a sua principal missão é fiscalizar diariamente mais de 61 mil
quilômetros de rodovias e estradas federais, tutelando pela vida daqueles
que trafegam pelas malhas viárias federais.
Sem dúvida, a base da atuação da PRF é o trânsito. Deste modo, ao longo
destes 61 mil quilômetros de estradas federais, a PRF fiscaliza o
cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97), previne e
reprime os abusos, como excesso de velocidade e embriaguez ao volante, e
presta atendimento às vítimas de acidentes.
Mais do que isso, a PRF busca, diariamente, prevenir e reprimir o tráfico de
drogas, de armas, contrabando, descaminho, pirataria, assaltos a
ônibus, roubo de cargas, furtos e roubos de veículos, tráfico de pessoas,
exploração sexual de menores, trabalho escravo e crimes conta o meio
ambiente, dentre outros.

Já a polícia ferroviária federal (PFF) também é descrita pela Constituição


Federal, assim como suas funções, sendo que a ela cabe:

Art. 144 [...]


§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao
patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. (BRASIL, CRFB, 2020).
21

A PFF deveria ser especializada para atuar na proteção da malha


ferroviária do país, como forma de prevenir condutas ilícitas e prejudiciais,
fiscalizando e prevenindo acidentes, porém, “[...] não existe de fato, não há o órgão
fisicamente formado e não existe quadro de funcionários” (POLTRONIERI, 2016, p.
1).
Poltronieri (2016, p. 1) sobre a polícia federal, rodoviária federal e
ferroviária federal esclarece que “[...] a polícia federal, juntamente com a polícia
rodoviária federal e a polícia ferroviária federal são polícias da União, sendo que
cabe a função de polícia judiciária somente à polícia federal”.
A polícia civil, por sua vez, incumbi:

Art. 144. [...]


§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (BRASIL,
CRFB, 2020).

A polícia civil tem autonomia administrativa e funcional, com dotações


orçamentárias próprias e acumula funções, pois “[...] além de exercer o papel de
polícia judiciária e investigativa, tem as funções de caráter criminalístico e
criminológico, as atribuições pré-processuais, a preventiva da ordem e dos direitos,
e, obviamente, o combate a criminalidade e a violência” (POLTRONIERI, 2016, p. 1).
As atividades da polícia militar e do corpo de bombeiros militar são
elencadas como:

Art. 144. [...]


§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares
e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (BRASIL,
CRFB, 2020).

Neste ponto, adentra-se à uma análise quanto à segurança pública e à


atuação da polícia militar nesse esforço. Para Poltronieri, quando se fala em
segurança pública, esta não se trata de uma ocorrência especial, mas deveria ser a
normalidade, o comum na vida dos cidadãos todos os dias, poderem realizar suas
atividades sem receio de serem vítimas de violência e criminalidade (2016, p. 1).
Faz-se essencial, assim, destacar o fato de que a segurança é um direito
de todos os cidadãos e é dever do Estado atuar para que a mesma se concretize no
22

cotidiano, por meio de medidas, de ações e de políticas públicas efetivas. Nessa


seara, a Constituição Federal esclarece:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição (BRASIL, CRFB, 2020).

A Carta Magna deu à segurança, assim, um papel tão essencial quanto


outros direitos sociais como moradia, saúde, educação, etc. O ideal é que todos
esses direitos sejam conjugados, complementem-se, para que uma vida melhor
possa ser alcançada.
A criminalidade é um fenômeno presente em todas as sociedades do
mundo, porém, diferentes nações apresentam indicadores diversos. Cabe à
segurança pública atuar para mitigar os efeitos nocivos dessa situação sobre as
sociedades, sobre a coletividade e sobre cada cidadão. Carvalho e Silva (2011, p.
60) afirmam que

A segurança da sociedade surge como o principal requisito à garantia de


direitos e ao cumprimento de deveres, estabelecidos nos ordenamentos
jurídicos. A segurança pública é considerada uma demanda social que
necessita de estruturas estatais e demais organizações da sociedade para
ser efetivada. Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de adotar
ações voltadas para garantir a segurança da sociedade, denomina-se
sistema de segurança pública, tendo como eixo político estratégico a política
de segurança pública, ou seja, o conjunto de ações delineadas em planos e
programas e implementados como forma de garantir a segurança individual
e coletiva.

Não se trata de proteger um grupo de pessoas, como já ocorreu no


passado, mas de atuar para que todas, sem distinção, vivam adequadamente dentro
de seus grupos sociais. As políticas de segurança pública devem levar em
consideração as especificidades da nação, as demandas, os fatores incidentes, os
números e estatísticas, bem como delinear medidas efetivas para alterar a realidade
nos pontos considerados inadequados (CARVALHO; SILVA, 2011, p. 60-61).
Pensando-se nos investimentos realizados em segurança pública no país
recentemente, destaca-se que

É importante observar que, segundo dados do Anuário Brasileiro de


Segurança Pública de 2016, houve um incremento no financiamento da
segurança nos últimos anos, principalmente por parte dos estados e
municípios. Em 2015, foram gastos R$ 76,3 bilhões, despesas que
representaram 1,38% do PIB. Entre 2002 e 2015 houve um crescimento da
ordem de 62% nos gastos e a paulatina presença dos municípios nesta
equação, embora a maior despesa ainda recaia sobre os estados.
Atualmente, são quase 700 mil policiais e guardas municipais no país
(SOUZA; MINAYO, 2017, p. 2).
23

Os investimentos na área são essenciais para sua melhoria, todavia, não


podem resolver todos os problemas. Mais ações e políticas precisam ser
constantemente adotadas. O fato é que, apesar de a oferta de segurança pública
para a população tratar-se de um dever do Estado, ele não poderia atuar sem ter
algum apoio. Esse suporte decorre da atuação das polícias, dentro das funções que
cabem a cada uma delas.
Mathias (2010, p. 27) afirma que a polícia militar assume um papel de
grande relevância na garantia de segurança para os cidadãos, as próprias políticas
de segurança pública desenvolvidas nos últimos anos vêm exigindo, cada vez mais,
que a PM tome parte dos esforços dentro de cada cidade para que os espaços de
convivência tornem-se mais seguros para todos.

A polícia militar, um braço do estado federado, é o órgão estadual


encarregado constitucionalmente da polícia ostensiva e da preservação da
ordem pública, competindo-lhe manter o bom estado da coisa pública; dela
espera-se, de forma lacônica, que impeça que ocorram crimes ou quaisquer
outras quebras da ordem; nesse sentido, a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública devem ter caráter preventivo em relação às
ameaças a que potencialmente estão expostas as pessoas (MATHIAS,
2010, p. 28).

Isso não significa que a polícia militar seja o único órgão responsável pela
segurança pública. De fato, todas as forças policiais devem unir-se para tal
finalidade, o que ocorre, porém, é que há uma maior proximidade entre a polícia
militar e as comunidades em todo o país, sejam elas pequenas, médias ou grandes.

A proximidade da polícia militar com o município, frequente em muitos


pontos de interseção de responsabilidades, pode produzir cooperação,
competição ou, simplesmente, nada produzir. Nada produzirá se houver
conflito negativo de competências, se a polícia entender que aquele
problema relativo à organização do espaço físico não lhe compete, por se
tratar de um “problema social”, e simplesmente ignorá-lo, pois “não é
problema seu”. Nessa situação, quem perde é a sociedade, por se ver
privada de ter seus problemas resolvidos. A competição se caracteriza pelo
conflito positivo de competências, pela disputa de espaço, com cada um
querendo dar a sua solução para o problema, desconsiderando a
responsabilidade do outro. Tal situação também é caracterizada pelo
prejuízo à sociedade, que paga a conta por serviços duplicados, e às vezes
conflitantes, para um mesmo fim. A colaboração, por outro lado, pressupõe
cada um cumprindo o seu papel enquanto organização e contribuindo com o
conjunto da sociedade ao buscar, junto a outros órgãos, a solução para os
problemas que não são de sua esfera de competência (MATHIAS, 2010, p.
30).

Percebe-se, assim, que a proximidade da PM com os municípios e os


cidadãos é uma situação importante para a redução da violência, para o controle dos
24

indicadores de criminalidade e para a elevação da qualidade da segurança pública


ofertada.
Na sequência, procede-se a uma avaliação da criminalidade e da
violência de acordo com dados do Brasil nos últimos anos.
25

3 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA NO CENÁRIO BRASILEIRO

Este capítulo dedica-se a avaliar a questão da criminalidade e da


violência no Brasil, apresentando os números relacionados a esse cenário, bem
como procedendo a um esclarecimento geral sobre a segurança pública.

3.1 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA: CONCEITOS E NÚMEROS

A criminalidade e a violência não são fatores isolados, ocorrentes


somente em alguns locais ou entre algumas populações, pelo contrário, existem em
todo o mundo, ainda que sua incidência seja diferenciada.
Pensando-se na origem da criminalidade, Bastos (2011, p. 1) ressalta que

O crime é tão antigo quanto a própria humanidade. Desde os primórdios,


acompanha o ser humano, seja proveniente da discórdia, disputas de poder
ou simplesmente impelido por questões de menor relevo social. O fato, é
que sempre existiu e dificilmente será extirpado, vez que as próprias
relações humanas são dotadas de falibilidade, porque assim é da natureza
dos seus agentes e a sociedade ideal é utopia.

Compreende-se, assim, que mesmo que a intenção seja conviver com um


grupo social pacífico e harmonioso, sempre irão existir comportamentos que fogem
ao que é considerado adequado e aceitável nessa convivência.
De acordo com Sá (2010, p. 30), o crime é uma atividade relacionada ao
homem, assim, no momento em que os homens passam a viver em sociedade, os
crimes têm início. Não se trata de uma conduta recente, mas antiga, no entanto, as
formas como os crimes são cometidos alteraram-se, no presente, tem-se a realidade
de que o homem comete crimes contra outros.
Nessa ótica, a violência, conduta enquadrada como atividade criminosa,
precisa ser compreendida em uma perspectiva mais ampla, voltando-se o olhar para
o mundo, não apenas para um determinado local ou para um único período de
tempo:

Destaca-se que a compreensão do fenômeno da violência deve iniciar com


o reconhecimento de que é um problema mundial, histórico e multifatorial,
sendo sua conceituação, considerada complexa, já que apresenta variações
conforme valores culturais que são vigentes em um determinado período
histórico (TAVARES; SCHEFFER; ALMEIDA, 2012, p. 89).

De modo semelhante, Bitencourt (2018, p. 31) leciona que o delito, a


criminalidade, é uma questão presente em todas as sociedades do mundo onde
existem homens e ações que ferem os direitos de outras pessoas, seja de forma
26

estrita, quando uma pessoa atinge outra, ou ampla, quando uma pessoa ou grupo
atinge a coletividade. Não há que se falar em uma situação menos grave, toda
criminalidade é negativa e causa impactos danosos sobre a vida dos atingidos e,
assim, em qualquer situação, devem haver esforços para evitar que ocorram ou,
ainda, alcançar uma forma de punir para evitar que se repitam.
Na visão de Capez (2017, p. 104-105), a ação do homem, seja de forma
intencional ou não, tem potencial de causar danos a outrem, atingindo a coletividade
e a paz social. Mesmo que haja somente uma vítima de um crime, os reflexos
atingem a sociedade de forma mais ampla, criando uma sensação de insegurança e
de ausência de proteção. Ainda que não haja intenção, que decorra apenas de
descuido, uma ação será criminosa quando infringir o ordenamento jurídico do país.
Outro ponto a se considerar, ainda, é que a violência e a criminalidade
podem fazer parte de condutas já arraigadas em alguns grupos, ainda que não se
trate de uma questão somente social, há relação com o espaço e com as vivência do
cotidiano, assim, “as porções não integradas da violência fundamental, sejam da
criança, sejam de seus pais, sejam dos adultos em geral, vão se manifestar nas
mais diferentes formas de violência, tanto no seio familiar como da sociedade em
geral” (SÁ, 2010, p. 37).
Em face disso, percebe-se que a mudança nos índices de criminalidade
passa pela necessidade de alterar a forma como os indivíduos comportam-se dentro
de seus grupos, por mais estreitos que sejam, tendo-se em mente que suas ações
podem e tendem a gerar reflexos nas pessoas que vivem em seu entorno.
Fernandes (2012, p. 23) apresenta alguns conceitos importantes e
esclarecedores relacionados à criminalidade. De acordo com o autor, existem
diferentes tipos de criminalidade que podem ocorrer em um mesmo espaço, em
momentos simultâneos ou diferentes. A criminalidade pode ser grave, violenta e não
organizada, quando decorre de uma ação não articulada com outros criminosos,
atingindo uma determinada pessoa, como nos casos de roubo, de estupro, etc.
Pode-se, ainda, vivenciar a criminalidade grave, nem sempre violenta e não
organizada, quando os impactos atingem grupos ou mesmo a coletividade, como
nos casos de golpes financeiros, de indução de um grupo de indivíduos ao suicídio,
entre outros.
Segundo o autor, há, ainda, a criminalidade organizada, com
características tão diversas que ainda não foi possível defini-las com precisão,
27

envolvendo grupos que se unem para o cometimento de crimes, como o tráfico


internacional que pode ser de pessoas, de drogas, de armas, etc. Esses crimes são
extremamente graves, pois seus impactos podem ultrapassar as fronteiras entre as
nações e causam uma sensação de insegurança ainda maior, além de serem difíceis
de serem totalmente desvendados, em função do elevado número de pessoas que
podem estar envolvidas nessas ações (FERNANDES, 2012, p. 23).
Assim, segundo Fernandes, qualquer que seja a característica do crime,
seja ele grave, organizado, violento ou se possuir apenas uma dessas caraterísticas,
não deixa de ser crime e, assim, deve ser avaliado pelo dano causado à vítima, da
mesma forma como os impactos que recaem sobre as pessoas no entorno e nos
grupos sociais de forma mais ampla (2012, p. 24).
Damásio de Jesus (2015, p. 44-45) esclarece que, diante da percepção
de que a sociedade contava com condutas ofensivas, iniciou-se um esforço para o
desenvolvimento de normas que pudessem regrar ações e comportamentos e,
assim, contribuir para a organização e para a paz social, iniciando-se o Direito.
Assim, segundo o autor, “o direito surge das necessidades fundamentais das
sociedades humanas, que são reguladas por ele como condição essencial à sua
própria sobrevivência” (JESUS, 2011, p. 45).
Barros (2009, p. 12) afirma que a existência de normas jurídicas é
essencial para que o homem tenha um guia, uma diretriz, para que ele passe a
entender que algumas condutas lhe são inadequadas, que ferem os direitos de
outras pessoas e são passíveis de sanções, tornando-se uma base educativa. É
preciso que o Direito exista para que não se viva em uma sociedade sem princípios,
regras e normas, na qual impera a vontade de cada um, ferindo os direitos de
outrem.
Nesse diapasão, tem-se a clara percepção de que o Direito surge como
fruto de esforços antigos dos homens para que a criminalidade, ação ofensiva
também cometida por homens, pudesse ser devidamente qualificada e para que
medidas para coibi-la ou puni-la fossem adotadas pelo Estado.
Prado, Pereira e Pegoraro (2019, p. 452) ressaltam que, atualmente, tem-
se maior acesso a informações sobre a criminalidade em função do desenvolvimento
de tecnologias de informação e comunicação e, ainda, das mídias que vêm sendo
utilizadas de forma cada vez mais comum. A informação tornou-se um produto que
vem sendo amplamente disponibilizado no mercado e para o qual existe uma busca
28

relativamente elevada, contínua e que tende a seguir em pleno crescimento ao longo


dos anos.
Outro ponto essencial, quando se pensa na criminalidade no período e na
configuração social atual, é que se deve ressaltar que, em um país como o Brasil, no
qual a desigualdade social é extremamente ampla, a criminalidade é um fenômeno
mais comum entre as classes sociais financeiramente menos privilegiadas, aquelas
com menor acesso aos seus direitos essenciais, como educação, trabalho, lazer,
saúde, entre tantos outros. No entanto, conforme Prado, Pereira e Pegoraro afirmam
“[...] é importante salientar que a desigualdade tomada como aspecto único não
explica perda dos referenciais que sustentam as interações entre grupos e sujeitos”
(2019, p. 452).
Não significa, assim, que somente as desigualdades sociais são
suficientes para gerar a criminalidade, mas que essas questões contribuem
ativamente para sua elevação e, até mesmo, para que ocorra, de forma frequente,
mais em alguns espaços do que em outros, por conta das dificuldades vivenciadas
nesses lugares.
Indivíduos cada vez mais jovens vêm sendo percebidos como infratores,

No Brasil, à juventude pobre se relacionam a vulnerabilidade, a violência e a


criminalidade, configurando o que Demo (2006) classifica como “pobreza
política”. Souza e Costa (2013) relacionam conceito à pobreza de cidadania,
ou seja, à impossibilidade de se reconhecer como sujeito de direito (apud
PRADO; PEREIRA; PEGORARO, 2019, p. 453).

Existem populações mais vulneráveis ao cometimento e à vitimização por


rimes do que outras, o que não significa que a criminalidade exista apenas dentro de
uma classe social ou envolvendo um único perfil de criminosos.
Segundo Tavares, Scheffer e Almeida, “estudos indicam que há relação
da violência com a baixa escolaridade, depressão, ansiedade, drogadição, falta de
oportunidade de trabalho, ansiedade e temperamento agressivo” (2012, p. 89).

3.1.1 Números da violência e da criminalidade no Brasil

Nesta etapa, o foco recai sobre os números da violência e da


criminalidade registrados no Brasil ao longo dos anos, visando demonstrar de que
forma estas evoluíram nos últimos anos.
29

Apenas como forma de destacar o crescimento da criminalidade no país


nos últimos anos, ressalta-se que

A violência urbana persiste como um dos mais graves problemas sociais no


Brasil, totalizando mais de 1 milhão de vítimas fatais nos últimos 24 anos. A
taxa de mortes por agressão saltou de 22,2 no ano de 1990 para 28,3 por
100 mil habitantes em 2013, com variações importantes entre diferentes
estados (LIMA; BUENO; MINGARDI, 2016, p. 51).

Verifica-se, a partir da análise do texto acima, que a violência é crescente,


tornando-se cada vez mais impactante, mesmo diante de inúmeros esforços, ao
longo dos anos, para a redução da desigualdade social e para melhorias
econômicas, financeiras e sociais. Enquanto em algumas esferas da vida social
progressos vêm sendo alcançados, em outras o que se percebe é que ainda há
muito a ser feito (LIMA; BUENO; MINGARDI, 2016, p. 51).
O IPEA (2019, p. 5) publicou, em 2019, um Atlas da Violência, publicação
anual que atualiza os dados da violência no país e que indica que, em 2017,
ocorreram no país 65.602 homicídios, 31,6 mortes para cada 100.000 habitantes, o
maior nível de mortalidade por violência do Brasil.

Figura 2 - Números e taxa de homicídios no Brasil de 2007 a 2017

Fonte: IPEA (2019, p. 5).


30

Na sequência são relatados os números de mortes dentro de diferentes


faixas etárias, apenas no ano de 2017.

Figura 3 - Óbitos por homicídio de acordo com a faixa etária – Brasil, 2017

Fonte: IPEA (2019, p. 6).

Percebe-se que adultos jovens de 15 a 29 anos são as principais vítimas


de homicídios no país, especialmente indivíduos do sexo masculino.
Para entender a evolução das taxas de homicídio no Brasil de acordo com
a Região, apresenta-se a Figura 3, na sequência.

Figura 4 - Evolução das taxas de homicídio por região brasileira de 2007 a 2017

Fonte: IPEA (2019, p. 7).

No Sudeste, de 2015 a 2017, verifica-se uma estabilização dessas


ocorrências em comparação com os indicadores brasileiros. Centro-Oeste, Norte e
31

Nordeste são as regiões nas quais essas ocorrências são mais comuns, sendo que,
no Nordeste e no Norte, esses números vêm crescendo exponencialmente.
Por fim, apresentam-se as taxas de homicídios por Unidade da Federação
(UF), conforme a figura 4, na sequência.

Figura 5: Taxas de homicídio por UF – 2017

Fonte: IPEA (2019, p. 13).


32

Destaca-se que:

Possivelmente, o forte crescimento da letalidade nas regiões Norte e


Nordeste, nos últimos dois anos, tenha sido influenciado pela guerra de
facções criminosas deflagrada entre junho e julho de 2016 entre os dois
maiores grupos de narcotraficantes do país, o Primeiro Comando da Capital
(PCC) e o Comando Vermelho (CV); e seus aliados regionais –
principalmente as facções denominadas como Família do Norte, Guardiões
do Estado, Okaida, Estados Unidos e Sindicato do Crime. Tal conflito
ocorreu no rastro de dois fatores. Em primeiro lugar, em decorrência dos
incentivos gerados pela paulatina diminuição da produção de cocaína na
Colômbia desde 2000, e o aumento da participação da produção peruana e
boliviana, que fez com que o Brasil assumisse gradualmente uma posição
estratégica como entreposto para a exportação da droga para a África e a
Europa, conforme apontado pelo UNODC. Em segundo lugar [...], houve um
processo de expansão geoeconômica das maiores facções penais do
Sudeste pelo domínio de novos mercados varejistas locais de drogas, assim
como novas rotas para o transporte de drogas ilícitas, que se iniciou em
meados dos anos 2000 (IPEA, 2019, p. 7).

Havendo-se alcançado uma compreensão a respeito da criminalidade e


da violência no mundo, suas mudanças no perpassar dos anos e tendo em vista os
indicadores verificados no Brasil de acordo com dados oficiais de 2007 a 2017,
parte-se para uma análise acerca da segurança pública.

3.2 SEGURANÇA PÚBLICA: NOÇÕES ESSENCIAIS

Segundo Cruz, os primeiros passos da segurança pública no Brasil


ocorrem quando a família real portuguesa muda-se para o país e, assim, passam a
delinear esforços para a criação de forças capazes de atuar na proteção, que, na
época, era focada apenas nos nobres, sem preocupações voltadas às classes mais
baixas. Essas forças trabalhavam para o imperador ou para pessoas consideradas
importantes na formação social, inclusive atuando para a captura de escravos, caso
assim fosse solicitado (2013, p. 2).
No período da proclamação da Independência, em 1822, ainda não havia
foco na proteção dos cidadãos, a segurança da nação era assim compreendida pela
defesa de seus governantes.

Durante o Período Imperial, o país entrou em conflitos internos e externos, e


a força policial, chamada de Guarda Real, atuou no espaço da defesa
interna e da segurança nacional, agindo conjugadamente com o Exército
Brasileiro, criado desde 1648. Somente poderiam fazer parte dessa Guarda
os cidadãos eleitores, ou seja, indivíduos que possuíam renda mínima,
conforme definição do art. 192 da Constituição Política do Império de 1824.
Observava-se a determinação do grau de direitos através dos bens e,
contudo, a divisão social entre os indivíduos. No Período Regencial (1831),
a Guarda Real foi substituída pelo Corpo de Guardas Municipais Voluntários
33

Permanentes por província, com a finalidade de enfrentar a agitação


inerente à época. Mais tarde, a denominação foi alterada e cada província
determinou seu título conforme a Unidade Federativa (Polícia Militar do
Estado do Rio de Janeiro, Polícia militar do Estado do Ceará e outros).
Nesse mesmo período criou-se a Guarda Nacional, uma organização
paramilitar, ou seja, independente do Exército, com a atribuição de defender
a Constituição e a integridade do Império na manutenção da ordem interna.
Em 1866, no Rio de Janeiro, foi criada a Guarda Urbana, precursora do
Corpo Civil da Polícia: uma força não militarizada com atividades de ronda
(CRUZ, 2013, p. 2).

Somente muitos anos mais tarde percebeu-se que a proteção e a


segurança deveriam atender a todos, não apenas a alguns grupos com maior
influência social.
Para Capez, as sociedades de todo o mundo, formadas por inúmeras
pessoas com diferentes expectativas, necessidades e caraterísticas singulares,
necessitam de um governo que represente a vontade e os interesses de sua
população, além de atuarem para que os direitos sejam assegurados a todos, de
forma igualitária. Tal governo atua a partir do poder público, um poder que não
existe para controlar os cidadãos, mas para representá-los, e, assim, deve atuar
para que as necessidades sejam identificadas e atendidas nas mais diversas áreas,
como saúde, educação, emprego, segurança pública, etc. Compreende-se, assim,
que o Estado é representante dos cidadãos e, como tal, tem inúmeros deveres a
serem cumpridos (2017, p. 50-52).
Dentre esses deveres, destaca-se a questão da segurança pública, que
envolve mais do que garantir que uma pessoa possa ter uma vida segura, protegida
da violência e da criminalidade, devendo ser um esforço para que todos os cidadãos
alcancem uma vida nessas condições.
A Constituição Federal brasileira destaca claramente que as pessoas têm
o direito de viver em segurança e que para que isso se concretize o Estado tem o
dever de atuar ativamente, desenvolvendo formas de controlar a criminalidade e
manter a população dentro de parâmetros minimamente necessários para uma vida
melhor, associando-se a segurança com diversos outros direitos (BRASIL, CRFB,
2020).
O texto constitucional coloca, assim, a segurança como um direito social
tão importante quanto a saúde, a moradia e outros. O fato é que a associação entre
esses direitos é o cenário ideal, pois o acesso a apenas um ou alguns deles não
assegura uma vida digna e protegida.
34

Ressalta-se que o legislador, ao formular a Constituição Federal, dedicou


o Capítulo III à segurança pública, destacando expressamente o dever do Estado e
dividindo as responsabilidades entre a polícia federal, rodoviária federal, ferroviária
federal, civil, militar, corpos de bombeiros e polícias penais.
Fica evidente, assim, que a segurança pública não se trata de um órgão
do poder público, mas da união de suas forças para o benefício de toda a
população.
Lima, Bueno e Mingardi afirmam que a democratização do país, ocorrida
no fim dos anos 80, alterou a forma como Estado e sociedade relacionam-se. As
exigências da sociedade por direitos e esforços para sua garantia tornaram-se
maiores e, em face disso, o legislador evidencia que o Estado não pode eximir-se de
sua função de atuar para o amplo desenvolvimento de políticas públicas nas áreas
essenciais para uma vida com qualidade no que diz respeito à questão da
segurança pública (2016, p. 50).
Na visão de Carvalho e Silva (2011, p. 60), não há que se falar em
garantia de direitos quando uma população vive em situação de riscos de violência e
de vitimização por crimes diversos, pois por mais que a Constituição Federal e as
demais leis do país assegurem um amplo e importante leque de direitos, quando as
pessoas vivem sob o medo e a insegurança, esses direitos também são limitados ou
totalmente tolhidos.
Assim como os cidadãos devem se esforços para cumprir os deveres que
lhes cabem, o Estado não pode, sob nenhuma circunstância, deixar de cumprir com
suas obrigações diante das pessoas. O cidadão, por si só, não tem meios de garantir
a própria segurança, ou de seus familiares e, assim, ele conta com o Estado para
cumprir esse papel com efetividade (CARVALHO; SILVA, 2011, p. 60-61).
Mathias (2010, p. 25) enfatiza que:

Segurança é uma necessidade primária das pessoas e, para que a


sociedade sobreviva e seja saudável é vital que o crime e a violência,
apesar de serem fatos sociais, sejam mantidos sob controle. Esse tema
permeia todas as atividades das pessoas, pois não se concebe saúde,
educação ou trabalho sem segurança, aliás, não se concebe vida em
sociedade sem segurança. Prover segurança aos cidadãos e à sociedade é,
assim, uma tarefa inerente ao Estado, que para esse fim conta com
organizações que fornecem serviços de natureza social e de natureza
policial, as quais atuam segundo um ordenamento jurídico que se destina a
regular as relações entre as pessoas e entre estas e o próprio Estado.
35

Compreende-se, assim, a estreita relação entre as políticas visando


assegurar a segurança pública para todos os cidadãos e a construção de uma
sociedade na qual as pessoas têm acesso aos direitos mais fundamentais para viver
dignamente.
Outro ponto importante é que não se pode confundir a segurança pessoal,
aquela vivenciada por qualquer um dos cidadãos enquanto indivíduo, com a
segurança pública, ou seja, com aquela que se refere à sociedade de forma mais
ampla.
Na visão de Lopes e Lemos (2011, p. 1), as diferenças entre essas duas
esferas da segurança merecem destaque:

A segurança individual está estabelecida no artigo 5º da Constituição da


República: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes...”. Assim, a segurança
individual é a garantia ao cidadão de uma vida plena, com o gozo dos
direitos e liberdades individuais.
A segurança coletiva é mais ampla, e está condicionada à proteção de toda
a sociedade brasileira, através de ações de prevenção e repressão tendente
a alcançar o bem comum, que nos dizeres de Kildare Gonçalves Carvalho
“(...) o bem comum constitui finalidade que legitima o Estado”. O Estado ao
implementar a segurança coletiva efetiva a segurança individual, isto é
segurança pública e tem como objetivo maior a preservação da ordem
pública e a paz social.

Quando o Estado é efetivo na oferta de segurança pública, todos os


cidadãos são beneficiados, as pessoas encontram segurança pessoal e, também,
coletiva, permitindo a construção de ambientes propensos ao desenvolvimento dos
ideais de respeito, compartilhamento e troca, visando o bem comum.
De acordo com Souza e Minayo (2017, p. 2), porém, a segurança
brasileira está em crise, pois faltam investimentos na área, disponibilidade de
efetivo para fiscalizar e atuar diante de condutas criminosas, além de um número
cada vez maior de infratores. Assim, os autores acrescem que
Fica evidente, assim, que os investimentos atuais são insuficientes para
que a população seja beneficiada com uma segurança pública que, de fato, seja
efetiva e ampla alcançando igualmente a todos os cidadãos.
36

4 USO PROGRESSIVO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR

Atualmente, há um amplo debate a respeito do uso da força por policiais


militares no cumprimento de sua função. Ainda que os policiais tenham a seu dispor
viaturas, armas e outros materiais necessários, existem situações em que esses
materiais não são suficientes para alcançar o controle e reduzir riscos para outros
cidadãos.

Para o profissional de segurança pública, que precisa fazer escolhas de


caráter irrevogável em tempo real, deter somente os recursos materiais para
a ação não resolve as demandas complexas envolvidas no processo de
tomada de decisão policial, em cujo centro encontra-se o debate sobre o
mandato de uso da força. Enquanto possibilidade ou realidade concreta, a
força define o próprio lugar de polícia, o que ela é e o que ela faz – ou o que
ela pode e está autorizada a fazer para validar as regras que regem o pacto
social. É porque se trata de uma organização autorizada a empregar a
força, real ou potencial, que chamamos a polícia para mediar conflitos,
buscar soluções pacíficas, legítimas ou para resolver tudo aquilo que “não
deveria acontecer e sobre o que seria bom alguém fazer alguma coisa
imediatamente” (ALBERNAZ, 2009, p. 12).

Assim, compreende-se que a polícia tem a possibilidade de fazer uso da


força para controlar aquelas situações nas quais outros esforços não se fazem
efetivos.
Fagundes (2017, p. 1) conceitua a força como “[...] toda intervenção
compulsória sobre o indivíduo ou grupo de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua
capacidade de autodecisão”. Aquele que é submetido à força não pode proceder da
forma que deseja, porém, quando se pensa na segurança pública, pode ser
necessário impedir um indivíduo de incorrer em uma conduta criminosa ou de seguir
adotando-a.

Assim, o uso da força por parte do servidor público nada mais é do que uma
intervenção compulsória desse agente estatal sobre a pessoa ou grupo de
pessoas, no sentido de se fazer cessar determinada conduta tida como
ilícita, em cumprimento de determinado mandamus emanado por
autoridades, ou ainda para preservar ou proteger direitos e evitar um mal
maior (SANTOS; URRUTIGARAY, 2012, p. 183).

Rodrigues, Sampaio e Oliveira (2015, p. 3) destacam que os debates


sobre o tema do uso da força dentro de uma perspectiva legal vem tornando-se cada
vez mais comuns, não apenas dentro da polícia militar, como esforço para manter
suas condutas dentro dos parâmetros de efetividade, como também em outras áreas
do conhecimento, visando a ampliar o tema e a forma de observá-lo.
Quanto ao uso progressivo da força, tem-se que
37

[...] é a expressão utilizada para determinar, regular e disciplinar o dever


legal do uso da força, atribuído ao Estado por meio da força policial.
Consiste num processo de avaliação prévia do policial em relação ao
indivíduo suspeito ou infrator, passando pela seleção adequada de opções
de força pelo policial, em resposta ao nível de submissão daquele indivíduo,
findando na resposta do policial (FAGUNDES, 2017, p. 1).

O uso da força deve, assim, ser escalonado, elevando-se conforme o


indivíduo que se busca conter reage com mais violência, não segue as ordens
policiais, torna-se agressivo e passa a colocar em risco a vida dos profissionais em
atuação e mesmo de outras pessoas no entorno. Para cada situação, o profissional
deve selecionar seu nível de resposta, sempre procurando ao máximo mantê-las
equilibradas (BOING, 2010, p. 51).

Neste sentido, pode-se afirmar que o uso progressivo da força é definido


como uma ferramenta para ajudar na determinação das técnicas ou níveis
de força apropriados para as várias situações que possam surgir. É uma
lista de técnicas que possuem uma graduação, que vai das mais “fracas” ou
menos violentas, até as mais extremadas, como a força letal (BOING, 2010,
p. 51).

Santos (2014, p. 1) ressalta que a presença da polícia militar é crescente


em todos os contextos sociais. No passado, o uso da força física era constante na
atividade policial, inclusive por não haver uma legislação que coibisse essa
atividade, porém, atualmente, existem limites que precisam ser respeitados para que
não se configure uma situação de abuso entre as partes. O ideal seria que jamais
fosse necessário aplicar a força física, que fosse possível tecer relações sem essa
ação, para que os direitos humanos sejam devidamente respeitados (SANTOS,
2014, p. 79).
Por outro lado, Aguiar (2019, p. 1) esclarece que os policiais, assim como
os cidadãos, muitas vezes percebem seus direitos humanos atingidos pela conduta
de cidadãos que descumprem a lei, mas que não querem ser submetidos à atuação
da polícia para que sejam conduzidos à prisão, a inquéritos, a julgamento, etc.
Para o autor, enquanto existem inúmeros dispositivos legais que visam a
assegurar os direitos humanos dos cidadãos, na profissão policial esses esforços
são limitados, ou seja, poucos são os movimentos que se levantam e exigem
proteção e valorização da vida dos policiais que, muitas vezes, perdem a vida
durante sua atuação (AGUIAR, 2019, p. 2).
Fagundes (2017, p. 1) afirma que zelar pela segurança pública não é uma
possibilidade, mas um dever da polícia, ao mesmo tempo em que deve proteger os
direitos, a integridade, a liberdade, etc. Nesse sentido, o uso da força na atividade
38

policial deverá ocorrer dentro de limites aceitáveis, em situações de extrema


necessidade, cumprindo com seu dever, sem ferir os direitos dos indivíduos.
Santos e Urrutigaray (2012, p. 182), sobre o exercício da atividade
policial, trazem os seguintes dados:

Quando se trata do exercício da atividade policial temos que o objetivo


principal, ao menos em uma visão superficial, é o de prevenção e repressão
ao crime. Entretanto o labor policial envolve muito mais que essa simples
conceituação, envolve ainda o trabalho voltado à proteção e auxílio ao
cidadão, nas mais diversas faces que isso possa representar, desde a
prisão de um criminoso que ameaça à paz social, passando pela prestação
de serviços (por exemplo: ministrar palestras educativas em escolas,
fábricas, etc.), até o socorro às vítimas de acidentes de trânsito. Cremos
que, ao cidadão comum do povo, a entidade “polícia” é a primeira instituição
que lhe vem à mente quando da ocorrência de situações de crise.

Nessa seara, são muitas exigências, muitas situações nas quais esses
profissionais são chamados e é possível que, em algumas delas, os fatos
apresentem-se de forma diferente ao esperado e, assim, os policias vejam diante de
si a necessidade de fazer uso da força para melhor conter as situações de risco.

No contexto do uso da força para garantir a paz social e na perseguição do


bem comum do povo, o Estado detém, por meio de seus agentes – aqui
qualificados como os atores públicos da segurança pública – a legalidade e
a legitimidade para se utilizar da força, se necessário, na busca dos
propósitos legais para a aplicação da lei. É a violência legítima (praticada
pelo Estado de modo a garantir a paz social) na contenção da violência
ilegítima praticada pelo cidadão em detrimento de outros cidadãos
(SANTOS; URRUTIGARAY, 2012, p. 183).

No entanto, o maior questionamento, atualmente, refere-se a em quais


momentos o policial pode fazer uso da força, bem como qual a proporção que se
considera adequada.
Miranda (2009 apud FAGUNDES, 2017, p. 1) afirma que, para entender
esses limites, os policiais devem seguir alguns preceitos quando da avaliação das
condutas a serem adotadas, quais sejam:

Legalidade. O policial em ação deve buscar amparar legalmente sua ação


(legítima defesa, Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de
direito, Estado de necessidade), devendo ter conhecimento da lei e estar
preparado tecnicamente, através da sua formação e do treinamento
recebidos.
Necessidade. O policial, antes de usar a força, precisa identificar o objetivo
a ser atingido. A ação atende aos limites considerados mínimos para que se
torne justa e legal sua intervenção, a partir dos parâmetros julga a
necessidade.
Proporcionalidade. O policial deve avaliar o momento exato de cessar a
reação que foi gerada por injusta agressão, ou seja, a força legal deve ser
proporcional a injusta agressão, o que passa dessa medida pode ser
considerado abuso de autoridade.
39

Conveniência. Esse princípio está diretamente condicionado ao local e


momento da intervenção, devendo o policial observar se sua ação gera
riscos a terceiros que nada têm a ver com a injusta agressão, ou seja, existe
mais risco do que benefício, ainda que fosse legal, necessários e a intenção
fosse proporcional (grifo nosso).

Compreende-se, assim, que o policial deverá levar em consideração se


sua conduta está dentro dos parâmetros legais que regem sua profissão e se é
necessário, na situação específica em que se encontra, optar pela aplicação de
força, qual o montante de força a ser aplicado para conter aquela situação, bem
como a conveniência, para entender se os benefícios de sua conduta são maiores
do que os riscos.
Sobre a legalidade, Boing (2010, p. 52) destaca que “assegura, ao
particular, a prerrogativa de repelir as injunções que lhe sejam impostas por uma
outra via que não seja a da lei”.
No que tange à necessidade, Boing destaca que

O Princípio da Necessidade possui duas vertentes, como se poderá


observar, porque ele está intimamente ligado à utilização dos meios para o
uso da força. Por esta razão, pode-se afirmar que o seu uso somente
ocorrerá quando outros meios não forem eficazes para se atingir o objetivo
desejado. Além disso, ao utilizar-se da força, o policial deve questionar se
naquela situação é necessário ou não o seu uso, e para responder, o
policial “precisa identificar o objetivo a ser atingido (2010, p. 53).

Para o autor, dentro da proporcionalidade, tem-se a necessidade de


equilíbrio, de resposta proporcional ao ato, “[...] funciona como parâmetro técnico:
por meio dele verifica-se se os fatores de restrição tomados em consideração são
adequados à realização ótima dos direitos colidentes ou concorrentes” (BOING,
2010, p. 54).
Outro princípio a ser seguido pelos policiais encampa a razoabilidade, a
análise de suas condutas, da ação ocorrida e da proporção entre ambas, de forma a
verificar se há razoabilidade entre elas. Sobre a razoabilidade, Boing (2010, p. 50)
afirma que “[...] a lei concede ao agente público poderes para que, ao exercer a sua
função, possa aplicar a lei da melhor maneira possível. Por isso, o ordenamento
jurídico brasileiro utiliza-se do Princípio da Razoabilidade [...]”.
Algumas categorias podem ser utilizadas para indicar as ações do
suspeito e as reações do policial de forma proporcional e razoável.
40

Figura 6: Categorias de uso progressivo da força

Fonte: Boing (2010, p. 62).

Existem inúmeros outros modelos, cada um com suas especificidades,


citando-se o modelo acima como um exemplo que pode ser esclarecedor para os
policiais.
A PMSC utiliza-se do modelo apresentado na Figura 7, a sequência:

Figura 7: Modelo FLETC de uso progressivo da força

Fonte: Adaptado de Boing (2010, p. 57) 1

O modelo FLETC de uso progressivo da força também pode ser aplicado


como guia para os policiais:

Nível 1 – Presença: presença física do policial como atitude preventiva que


visa a inibir comportamento incomum ou inadequado.
Nível 2 – Verbalização: através do diálogo o policial interpela o cidadão em
conduta inconveniente, buscando a mudança de atitude a fim de evitar o
afloramento de infração. A mudança de comportamento encerra a ação do
policial.
41

Nível 3 – Contato físico: em caso da verbalização não surtir o efeito


desejado frente a uma conduta inconveniente, como medida de cautela e
como demonstração de força para dissuadir e desencorajar a ação, o
policial verbaliza realizando contato físico (toque no ombro). A mudança de
comportamento encerra a ação do policial.
Nível 4 – Imobilização: em caso de resistência física ao se efetuar uma
condução coercitiva. Caracterizada geralmente pela recusa no cumprimento
de ordem legal, agressão não física ou tentativa de fuga. Para chegar a este
nível, devem ser esgotados os níveis anteriores.
Nível 5 – Força não letal: em caso de resistência ativa ao se efetuar uma
condução coercitiva. Caracterizada geralmente pela agressão física contra o
policial ou terceiros. É admissível que o policial empregue força física,
sempre sem violência arbitrária ou abuso de poder. A verbalização deve ser
mantida sempre no sentido de desencorajar o comportamento do agressor.
Nível 6 – Força letal: só se justifica no caso de legítima defesa e
preferencialmente no estrito cumprimento do dever legal em inevitável risco
de vida do policial ou de terceiros frente a uma ação deliberada do infrator.
A verbalização deve ser mantida sempre no sentido de desencorajar o
comportamento do agressor (BOING, 2010, p. 57).

O ideal, assim, é que a força letal seja a última alternativa, usada somente
quando todas as demais tiverem sido testadas e não tiverem produzido os efeitos
esperados e necessários.
Na sequência, considera-se adequado destacar as questões relacionadas
ao uso da força na atividade policial com base no Código Penal.

4.1 CÓDIGO PENAL

Para que se possa pensar sobre o uso da força e sobre uma possível
ilicitude nessa conduta, considera-se necessário levar em consideração o que define
o Código Penal.
Neste ponto pode-se tomar como base o Código Penal que ressalta:

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:


I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito
(BRASIL, CP, 2020).

A análise do art. 23, supra citado, deixa evidente que não se configura
como crime um fato decorrente de estado de necessidade, de legítima defesa e de
estrito cumprimento do dever legal.
Nessa seara, o policial que, ao cumprir seu dever, tiver a necessidade de
usar a força para a contenção de condutas criminosas potencialmente lesivas para a
coletividade, não poderá ser considerado como infrator.
42

A compreensão do estado de necessidade pode ser alcançada por meio


da análise do art. 24 do CP, cujo texto aduz:

Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para


salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se (BRASIL, CP, 2020).

Assim, o policial que, para salvar a vida dos cidadãos da ação de


criminosos, emprega a força, não comete crime, mas encontra-se em estado de
necessidade diante de uma situação que não foi por ele provocada, já que era seu
dever agir para a garantia da segurança pública ou, nesse caso, sua recuperação.
Já conceito de legítima defesa, segundo o Código Penal, é:

Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem (BRASIL, CP, 2020).

Assim, segundo Fagundes, existem defensores de que os policiais, no


cumprimento de sua função, agem em legítima defesa de vítimas de formas diversas
de criminalidade e, em muitos casos, precisam agir como forma de resguardar a
própria vida, ameaçada pela violência e por criminosos (2017, p. 1).
Fagundes (2017, p. 1) ressalta, ainda, que o Código Penal Militar elenca,
em seu art. 42, as mesmas razões para exclusão do crime que o Código Penal, por
entender que esse profissional, no cumprimento de seu dever, pode vir a ter a
necessidade de usar a força para garantir a vida, a integridade e a segurança dos
cidadãos.
O uso da força, o emprego de algemas e a utilização de armas pelo
policial militar são condutas justificadas no Código de Processo Penal Militar, em seu
art. 234. In verbis:

Art. 234. O emprego de força só é permitido quando indispensável, no caso


de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da
parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la
ou para defesa do executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor.
De tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas.
Emprego de algemas
§ 1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de
fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido,
nos presos a que se refere o art. 242. Uso de armas
§ 2º O recurso ao uso de armas só se justifica quando absolutamente
necessário para vencer a resistência ou proteger a incolumidade do
executor da prisão ou a de auxiliar seu (BRASIL, CPPM, 2020).
43

Nesse sentido, os policiais militares compreendem que existe, no Código


de Processo Penal Militar, a clara descrição das situações nas quais o uso de força
será considerado adequado para o cumprimento da função.
Para que se possa obter uma visão mais ampla e aprofundada do tema, o
tópico a seguir faz uma análise de julgados brasileiros que encampam a questão de
uso da força por policiais militares.

4.2 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Esta etapa do estudo tem o intuito central de conduzir a uma análise


jurisprudencial sobre o tema, como forma de esclarecer como os magistrados vêm
avaliando o tema em discussão no presente estudo.
Inicia-se com um julgado do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais,
de 2019, que define:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE -


PRELIMINARES DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E AMPLIAÇÃO
INDEVIDA DO CONCEITO DE CRIMES MILITARES NÃO ACOLHIDAS -
NO MÉRITO, AS ACUSAÇÕES EM DESFAVOR DOS RÉUS SÃO
ABSOLUTAMENTE INCONSISTENTES - INEXISTÊNCIA DE
ELEMENTOS DE CONVICÇÃO QUANTO À AUTORIA E À
MATERIALIDADE DELITIVA - ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER
LEGAL - ARTIGO 42, INCISO III, DO CÓDIGO PENAL MILITAR -
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA DE PRIMEIRO GRAU -
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. - A sentença proferida pelo
Juiz de Direito Substituto da 1ª Auditoria de Justiça Militar Estadual
(AJME) foi no sentido de que os denunciados agiram no estrito
cumprimento do dever legal, para conter fugitivo encontrado em
flagrante delito, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso
restrito, em local de risco, com intenso tráfico de drogas, e de disputa
de ?gangs?, estando legitimado o uso da força, conforme estabelece o
artigo 234 do Código de Processo Penal Militar (CPPM)- Acertada foi a
decisão de primeiro grau, que concluiu que os denunciados fizeram o
uso moderado e escalonado da força, em ação policial legítima,
compatível com a resistência oferecida pelo ofendido, estando as
condutas praticadas amparadas pelo que prescreve o uso progressivo
e diferenciado da força, adotado pela Polícia Militar de Minas Gerais em
seu Manual de Prática Policial e pelo artigo 124 do CPPM - Sentença
mantida - Provimento negado (MINAS GERAIS, TJMMG, 2019, grifo nosso).

A análise do julgado supracitado, especificamente nos grifos realizados,


deixa evidente que o uso progressivo da força é autorizado quando se faz
necessário para o cumprimento da função, evitando-se que o criminosos venha a
evadir-se do local, ferir outras pessoas, etc.
44

Segue julgado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, de 2018, no qual


há pedido de indenização por dano moral decorrente de suposto uso excessivo da
força:

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. CRIME DE INJÚRIA. ARTIGO 140,


CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. PLEITO ABSOLUTÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO COESO.
INAPLICABILIDADE DA PORTARIA PMDF 843/13. DOSIMETRIA DA
PENA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS CORRETAMENTE VALORADAS.
INDENIZAÇÃO, POR DANO MORAL. MANUTENÇÃO DO QUANTUM
FIXADO. [...] Aduz, ainda, que, enquanto policial militar, utilizou-se do uso
progressivo da força, conforme permissão contida na Portaria PMDF n.
843/13. Subsidiariamente, pleiteia a minoração da pena e dos danos morais
fixados. 3. Na hipótese vertente, restou sobejamente demonstrado que o
apelado, em via pública, perseguiu e bateu na traseira do veículo do
querelante, oportunidade em que desceu de seu carro e, trajado com farda
da Polícia Militar do Distrito Federal, apontou uma arma para o recorrente e
sua esposa, proferindo xingamentos de elevada ofensividade. Ressalta-se
que toda a discussão foi filmada, tendo as imagens e falas sido registradas
no Laudo Pericial n. 26.711/2016, do Instituto de Criminalística da Polícia
Civil do Distrito Federal (fls. 24-33). Tais fatos foram corroborados, ainda,
pela prova oral colhida na instrução judicial (fls. 92-93 e 95), sob crivo do
contraditório, o que demonstra que a negativa de autoria do recorrido
encontra-se isolada e dissociada do conjunto probatório colacionado aos
autos (DISTRITO FEDERAL, TJDF, 2018).

Percebe-se a descrição da conduta do policial militar, atuando em uso da


farda, nesse sentido enquanto representante da segurança pública do país,
aproveitando-se de seu status para coagir a outra parte. O julgado segue
esclarecendo, ainda, que:

4. Também não merece prosperar a tese de que o recorrido utilizou-se do


uso progressivo da força, uma vez que, conforme Portaria PMDF nº 843/13,
essa somente é autorizada para neutralizar agressão do perpetrador, que
não restou comprovada nos autos, uma vez que o laudo pericial não
consignou qualquer provocação da vítima ou a existência de ofensas
recíprocas. Noutro turno, o recorrido agiu com excesso de poder, tendo em
vista que inexiste qualquer permissivo legal que oriente um policial a sacar
uma arma, com nítido caráter intimidador, em um acidente de trânsito
ocorrido fora do exercício de suas atividades laborais, nem tampouco que
autorize a prolação de expressões que ofendam a honra subjetiva de outro
cidadão. 5. No que tange à dosimetria da pena, não se vislumbra qualquer
reparo, uma vez que os dispositivos legais pertinentes à matéria foram
corretamente aplicados pelo Julgador monocrático. Com efeito, a pena-base
foi fixada 01 (um) mês acima do mínimo legal, em razão da mácula da
culpabilidade e das circunstâncias do crime. Nas demais fases, à míngua de
agravantes/atenuantes e causas de aumento ou de diminuição de pena, a
reprimenda foi definitivamente estabilizada em 02 (dois) meses de
detenção. 6. O colendo STJ, em julgamento do REsp n. 1585684, sob o rito
dos recursos especiais repetitivos, confirmou a possibilidade de fixação de
indenização, a título de dano moral sofrido pela vítima, com base no artigo
387, inciso IV, do Código de Processo Penal. In casu, considera-se
proporcional e razoável a fixação do valor mínimo de R$ 3.000,00 (três mil
reais), uma vez que compatível com as circunstâncias do caso concreto,
com a condição financeira do réu e com a extensão do dano experimentado
45

pela vítima, sem que se descure da vedação ao enriquecimento sem causa.


7. RECURSO CONHECIDO e NÃO PROVIDO. Sentença mantida, por seus
próprios fundamentos. 8. A ementa servirá de acórdão, conforme artigo 82,
§ 5º, da Lei nº 9.099/95 (DISTRITO FEDERAL, TJDF, 2018).

No caso acima, o que se percebe é que, de fato, ocorreu uso excessivo


da força, pelo fato de o policial militar ter utilizado-se de sua função para amedrontar
a vítima, não sendo para proteção de direitos ou da integridade da parte.
O próximo caso é do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, do ano de
2019:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL ARTS. 129, § 12º, 329 E 331, NA


FORMA DO ART. 69, TODOS CP RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO -
PENAS-BASE - AUMENTO VIABILIDADE REPARAÇÃO PELOS DANOS
CAUSADOS À VÍTIMA LEI 11719/2008 IMPOSSIBILIDADE MATÉRIAS
PREQUESTIONADAS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Quanto
ao crime de resistência é inegável que a sua culpabilidade extrapola o tipo
penal eis que conforme o depoimento dos milicianos prestados em sede
inquisitorial e confirmados em Juízo, para a consecução da prisão foi
preciso utilizar do uso progressivo da força, com técnica de imobilização,
gás de pimenta e uso de algemas para controlá-lo, tamanha a agressividade
do recorrente contra a ordem de prisão, merecendo sem dúvida uma
valoração negativa quanto à culpabilidade. No tocante ao crime de
desacato, a culpabilidade também merece ser analisada de forma negativa,
eis que extrapola o tipo penal o fato do recorrente se utilizar de deboche e
graves ofensas aos agentes públicos, em plena via pública, perguntando
quem era o comandante daquela palhaçada, chamando de Sargentinho,
que polícia não servia para porra nenhuma, que eram tudo um bando de
bostinhas, famoso cachorros do governo e que na casa dele não tinha osso
para cachorro entre outros insultos proferidos, em franco desrespeito à
função por eles desempenhada, o que sem sombra de dúvidas demonstra
uma maior reprovabilidade em sua conduta. Em relação ao crime de lesão
corporal, conforme laudo de fls. 09, a mão do Policial Militar Fhilipe Furtado
de Lima Monteiro foi lesionada por instrumento perfuro cortante, eis que no
momento em que este estava anotando a ocorrência policial, o apelado, de
forma abrupta, tomou a caneta da mão do agente público o atingindo na
mão, o que demonstra ousadia na sua conduta e total desrespeito e
menosprezo aos bens jurídicos tutelados pelas normas. Em relação à
circunstância da personalidade do agente, não há como inferi-las do
conjunto probatório, até mesmo porque há que se considerar que o réu é
primário devendo, portanto, ser favorável o exame destas circunstâncias
para todos os crimes. 2. É cabível a imposição de valor mínimo para
reparação dos danos, tanto materiais como morais, quando houver pedido
expresso da vítima ou mesmo do Ministério Público no curso da lide e se
tiverem sido assegurados ao réu os princípios constitucionais da ampla
defesa e do contraditório. Entretanto, embora se verifique a presença de
pedido expresso de reparação dos danos morais supostamente causados
pela infração, a questão não fora satisfatoriamente debatida no curso da
instrução processual. Inexistem nos autos os requisitos legais para a
verificação do suposto dano e de sua extensão. 3. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO (ESPÍRITO SANTO, TJES, 2019).

O julgado acima refere-se a um caso de necessidade extrema de uso da


força, inclusive em função da conduta da parte autuada, desrespeitando os policiais
e ferindo um deles, o que obrigou o policial a se defender.
46

O último julgado, aqui apresentado, é do Tribunal de Justiça Militar de São


Paulo, de 2019:

Lesão corporal qualificada pelo resultado morte – Art. 209, § 3º, do CPM –
Policial militar que, durante atendimento de ocorrência de desinteligência
doméstica, agride o civil com socos, chutes e golpes de tonfa, provocando-
lhe lesões corporais que levaram a vítima à morte – Tese de morte
decorrente de doença preexistente não acolhida – Laudo Necroscópico que
atestou morte violenta causada por "Trauma abdominal
Fechado/Hemorragia Interna Traumática", provocada por agente
contundente – Versão da companheira da vítima que, somada ao
depoimento das testemunhas presenciais, integra um conjunto probatório
harmônico e coeso e fortalecem a acusação inicial – Suficiência da prova
para condenação – Recurso ministerial parcialmente provido para condenar
o acusado por lesão qualificada pelo resultado morte – Pena fixada acima
do mínimo legal (arts. 69 e 70, ambos do CPM). (SÃO PAULO, TJMSP,
2019).

No caso acima, ficou definido o uso excessivo da força com condenação


do policial que agrediu a vítima com golpes, chutes e socos, a ponto de causar
lesões corporais graves e levá-la a óbito.
Os julgados analisados evidenciam que existem casos nos quais é
possível perceber claramente o uso excessivo da força, condutas que não condizem
absolutamente com as situações nas quais ocorrem, enquanto, em outros, a força
faz-se necessária para evitar que outros cidadãos sejam feridos.
Na sequência, o último tópico deste estudo traz os esforços atuais da
polícia militar para encontrar formas de equilibrar o uso da força.

4.3 INICIATIVAS DENTRO DA POLÍCIA MILITAR

Rodrigues, Sampaio e Oliveira (2015, p. 3) afirmam que o uso


desproporcional da força pode causar resultados extremamente danosos, muitos
deles irreversíveis.
Os autores seguem, ressaltando que

A observação do uso adequado da força tem função central no papel da


polícia, pois sua finalidade é a de preservar a ordem pública. E qualquer
pessoa, seja por um comportamento suspeito ou pelas próprias atividades
rotineiras, poderá em algum momento ser submetido a algum grau de força
aplicado pela polícia, em seus diferentes níveis. Tratados internacionais
recomendam que a força seja empregada tecnicamente e
diferenciadamente, orientando os países signatários que disponibilizem aos
seus agentes públicos acesso a treinamento permanente a fim de minimizar
possibilidades de erro (RODRIGUES; SAMPAIO; OLIVEIRA, 2015, p. 3).
47

A polícia militar, que no início de suas atividades fazia uso da força de


acordo com sua perspectiva de necessidade, vem, ao longo do tempo, buscando
alternativas para manter a segurança pública, zelar pelos direitos dos cidadãos e,
ainda assim, evitar a aplicação excessiva de força (RODRIGUES; SAMPAIO;
OLIVEIRA, 2015, p. 2).
Albernaz (2009, p. 12) ressalta que profissionais da segurança pública,
como as polícias, precisam ser treinados para compreenderem os limites da
aplicação e uso da força dentro de uma perspectiva de segurança. Quando o uso
excessivo da força causa sequelas graves, e mesmo a morte, é preciso analisar o
cenário sob uma perspectiva mais ampla, para que se possa entender que os
policiais atuam em um contingente insuficiente, não são devidamente treinados, as
políticas de segurança pública são falhas, etc.

Frente à impossibilidade inerente de se prever todas as ocasiões e


domesticar todas as variáveis implicadas na atividade policial, esta lacuna
reflexiva tem seus efeitos negativos exponenciados pela frequente ausência
de manuais de procedimentos, treinamento adequado e de suporte bio-
psico-social ao policial no exercício cotidiano de sua discricionariedade.
Para poder decidir sobre os melhores cursos de ação, muitas vezes em
fração de segundos, é crucial prover ao agente policial todos os recursos
que lhe permita fazer escolhas seguras para si e para o público atendido
(ALBERNAZ, 2009, p. 14).

Segundo o autor, é essencial que os debates sobre o tema sejam


expandidos, uma vez que as bases científicas que analisam essas questões são
relativamente estreitas, em geral, há uma maior preocupação dos policiais ou dos
críticos, quando o ideal seria promover um debate visando a identificar os problemas
e buscar a solução através de diferentes olhares, não apenas condenar ou apoiar,
mas compreender que há muito mais envolvido nesses casos. “[...] a promoção de
uma discussão qualificada sobre os dilemas e desafios do mandato de uso da força
no âmbito das organizações policiais mostra-se de extrema importância”
(ALBERNAZ, 2009, p. 14).
Santos e Urrutigaray (2012, p. 179) esclarecem que, no presente, existem
tecnologias e dispositivos diversos que podem auxiliar na redução da força
necessária para a contenção de um indivíduo e para o cumprimento das funções dos
policiais.
Boing (2010, p. 47) informa que os policiais são esclarecidos de que o
infrator, qualquer que seja sua conduta, não deixa de ser pessoa humana e, como
tal, deve ser tratado. O que ocorre é que, muitas vezes, para cumprir
48

adequadamente com sua função dentro da polícia militar, o policial terá de lançar
mão de um montante considerável de força, para que a falta dela não venha a trazer
prejuízos para as vítimas de crimes, para a população e para a sociedade em geral.
Como destaca Boing, nos últimos anos, as tecnologias não letais
apresentaram grandes evoluções e podem ser aplicadas de forma a conter um
suspeito sem que se coloque sua vida em risco. Essas armas são “[...] projetadas e
empregadas especificamente para incapacitar pessoal ou material, minimizando
mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos indesejáveis à propriedade e
comprometimento do meio ambiente” (BOING, 2010, p. 66).
Por meio delas, é possível imobilizar o infrator, incapacitá-lo por algum
tempo, porém, sem riscos à sua integridade física e à vida. De forma simplificada,
pode-se apresentar a Figura 8, que segue.

Figura 8: Tecnologias não letais

Fonte: Boing (2010, p. 67).

Compreende-se, assim, que, no presente, os policiais militares podem ter


ao seu dispor tecnologias que reduzem o risco de uso exacerbado da força para
alcançar os objetivos de sua atuação.
49

5 CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente estudo permitiu compreender conceitos


importantes a respeito do uso da força e do uso progressivo da força dentro das
atividades da polícia militar no Brasil.
A polícia, que, no passado, representava apenas os interesse da Coroa,
atuando para silenciar a população considerada como isenta de direitos, atualmente,
segue leis e normas de conduta pautadas nos direitos humanos, no dever de
proteção do Estado para com suas vidas e na oferta de segurança pública de
qualidade que permita que os demais direitos sejam também garantidos.
O foco deste estudo foi o uso progressivo da força, compreendendo-se
que se trata de um esforço para que haja equilíbrio entre as ações do infrator e a
resposta da polícia e, assim, sejam evitados abusos de força que podem causar
resultados graves sobre a vida e a saúde dos acusados.
Na atividade policial, que tem como foco manter a ordem e a paz pública,
garantindo a oferta de segurança pública para cada um dos cidadãos e para a
coletividade, muitas vezes, faz-se necessário proceder ao uso da força para conter
acusados que se negam em colaborar de forma pacífica e, assim, colocam em risco
a via do profissional e podem atingir outros indivíduos que estejam próximos da
situação.
O que não pode ocorrer é que essa força seja tão extrema que cause
danos à vida e à saúde do acusado, além do fato de que muitas reações podem ser
contidas com menor força e uso de equipamentos que estejam ao dispor dos
policiais. O simples aviso, em algumas situações, pode ser suficiente, enquanto, em
outras, mostrar uma arma de fogo pode não amedrontar o acusado.
Os debates sobre o tema não são suficientes, existem dados que foram
levantados por profissionais da área que justificam essas condutas, enquanto
estudos de outras áreas condenam o uso da força, porém, uma junção de ideias e
de percepções não é comum, sendo que essa junção pode ser a grande diferença,
representar os melhores resultados, pois levanta diferentes pontos de vista e, a partir
deles, busca encontrar soluções que beneficiam o Estado, a polícia, a sociedade e
cada um dos cidadãos.
Em geral, as críticas existentes defendem a questão dos direitos humanos
dos acusados e, de fato, esses direitos não podem ser ignorados sob nenhuma
50

circunstância, porém, debates que levantem uma preocupação com os direitos dos
policiais e a proteção de suas vidas enquanto defendem a população ainda são
relativamente escassos e precisam ser aprofundados.
Um fato que ficou claro nos estudos é que, cada vez mais, as polícias
vêm buscando formas de encontrar um equilíbrio entre suas ações e as ações dos
acusados. Atualmente, existem padrões que podem ser seguidos e sugerem de que
forma reagir diante de diferentes acontecimentos em uma abordagem, o que pode
nortear as atividades policiais e assegurar melhores resultados.
Além disso, tecnologias não letais foram desenvolvidas e estão ao dispor
de muitos policiais, permitindo conter, imobilizar e neutralizar a ameaça de um
infrator, sem que para isso tenham que usar de força, evitando-se possíveis
desproporcionalidades.
Todos os dados coletados indicam que existem críticas tanto ao uso da
força quanto à falta dele, o que geraria uma situação de insegurança, por conta de
os infratores se sentirem livres para agir sem risco de serem contidos. É essencial
que o tema não deixe de ser debatido, considerando-se sua ligação com os direitos
de todos os cidadãos de viver em segurança, associados aos direitos humanos que
não podem ser ignorados, mesmo em se tratando de um infrator.
Outro ponto que merece maior atenção refere-se ao fato de que os
policiais arriscam suas vidas todos os dias para atuar pela segurança pública e,
assim, podem ter a necessidade de fazer uso da força para protegerem a si e seus
colegas. Encontrar uma forma de proteger todas as parte envolvidas é o desafio que
precisa ser debatido e para o qual soluções deverão ser encontradas.
Como sugestão para estudos futuros, sugere-se proceder a um
levantamento com policiais militares a fim de verificar de que forma eles
compreendem e aplicam o uso progressivo da força, o que poderia demonstrar quais
são os parâmetros atuais na região do estudo.
51

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