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CENTRO UNIVERSITÁRIO FADERGS

CURSO DE DIREITO

DAIANA MARQUES POSTIGUILHONE

A VIOLÊNCIA POLICIAL DIANTE DA LEI N° 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE


2019 (NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE)

PORTO ALEGRE
2023
1

CENTRO UNIVERSITÁRIO FADERGS


CURSO DE DIREITO

DAIANA MARQUES POSTIGUILHONE

A VIOLÊNCIA POLICIAL DIANTE DA LEI N° 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE


2019 (NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE)

Artigo científico de pesquisa apresentado para


a avaliação da disciplina de Trabalho de Curso,
com posterior apresentação à Banca
Examinadora, requisitos para a obtenção do
grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Tiago Oliveira de


Castilhos

PORTO ALEGRE
2023
2

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, que me manteve protegida e forte


diante de todas as batalhas até aqui. Foi a fé em acreditar que tudo é possível que cheguei até
aqui, pois, acredito que Deus não plantaria esse sonho em meu coração se não fosse possível.
Agradeço em especial ao meu marido Anderson L Ferraz Prates, que nunca largou a
minha mão em busca desse sonho, que em todos os momentos em que precisei se fez presente,
até mesmo quando eu estive ausente durante essa trajetória, eu pude sentir que este também era
o seu sonho, por todas as vezes que você orou por mim, acreditou em mim, e sorria a cada
conquista alcançada. Saiba que o amor e admiração que sinto por você são incomparáveis.
Agradeço com todo o meu coração aos meus filhos Camylle Beatriz Postiguilhone
Prates e Anderson Raffael Postiguilhone Prates, por compreenderem as minhas ausências, por
todas as vezes que precisaram de mim e eu não estava, por todos os momentos que não pude
lhes acompanhar. Também agradeço por todas as vezes que me incentivaram a não desistir, era
o meu pensamento em vocês que sempre me dava forças, desistir não era uma opção. Bina e
Bino meu amor por vocês é indescritível.
Agradeço a minha amiga, minha dupla e colega de trajetória Ethiane de Souza Pereira,
por compartilhar comigo esses longos anos, saiba que com você tudo se tornou mais fácil e
divertido, que adoro a nossa amizade e cumplicidade, sempre dando suporte uma a outra.
Agradeço pela oportunidade de seguirmos juntas na pós-graduação, continuaremos sendo uma
dupla.
Agradeço a minha querida filha de quatro patas Minnie, que sempre esteve comigo e me
acompanhando nos estudos. Te amo minha companheirinha.
Agradeço a todos os Professores e Professoras que dividiram comigo seus ensinamentos
para que esse sonho se tornasse possível. Agradeço em especial a minha Professora Gabrielli
Francini Amaral de Souza, por me dar o exemplo de um ser humano maravilhoso, aquela em
que eu sempre lembrava em momentos de dúvidas, aquela que me respondia até mesmo nos
domingos. Sempre terei nas lembranças aquele “oi Day”.
Agradeço imensamente ao Professor e também meu Orientador Dr. Tiago Oliveira de
Castilhos, por me guiar durante esse trabalho, por acreditar e me incentivar a sempre evoluir, a
ter pensamentos críticos ao escrever, aquele que me ensinou a prestar atenção nos detalhes.
Gratidão, meu querido.
Por fim, agradeço ao Centro Universitário FADERGS, por me proporcionar um ensino
de excelência no qual me proporcionou uma preparação profissional diferenciada.
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A VIOLÊNCIA POLICIAL DIANTE DA LEI N° 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE


2019 (NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE)

POLICE VIOLENCE UNDER LAW NO. 13,869, OF SEPTEMBER 5, 2019 (NEW LAW
ON ABUSE OF AUTHORITY)

Sumário: Introdução; 1. Evolução do Abuso de Autoridade no Brasil-


O Poder de Polícia Vs o Abuso de Autoridade e A Violência Policial;
1.1. Limite de Atuação das Polícias – Elementos Probatórios; 2. A
Violência Policial e o Abuso de Autoridade Contra as Minorias – A
Farda que Pratica o Mal; 2.1. O Poder de polícia e a Aplicabilidade
da Lei de Abuso de Autoridade; Considerações Finais; Referências.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar a aplicação da Lei de Abuso de Autoridade aos
crimes cometidos em especial pelos agentes de polícia, fazendo uma revisão jurídica das
principais causas do advento da referida norma, e quais os reflexos no contexto atual, em
especial o de provar o abuso de autoridade. Contudo, diante do crescente número de casos de
violência policial, a força de coerção deve ser relacionada com o poder que as autoridades
públicas policiais possuem para agir na sociedade, porém, buscar entender a dosagem desta
necessidade se faz necessário para traçar os motivos que levam a uma ação desastrosa e que
expõem a sociedade brasileira. Questões como a discriminação racial, violência policial contra
as minorias, acesso à justiça e a interseccionalidade devem ser questionadas no presente
trabalho, no sentido de responder o questionamento: há dificuldades ou não para a produção de
prova no abuso de poder na atividade policial? A principal hipótese do artigo é que a formação
contínua e a fiscalização efetiva dos agentes de polícia tem um efeito expressivo, o que pode
reduzir o abuso da força contra a sociedade e melhorar a qualidade geral do serviço policial,
aumentando assim as garantias, tanto para o poder de polícia como para os cidadãos, assim
reduzindo os riscos para ambas as partes e evidenciando a importância do treinamento dos
policiais como método de coibição da prática abusiva, expondo o quão importante é ter
condutas éticas e legais em uma abordagem, destacando a dificuldade em provar o abuso de
autoridade em um cenário onde os próprios policiais são a autoridade. Adotou-se uma
abordagem dedutiva, ancorada na análise crítica de uma diversidade de fontes bibliográficas,
abarcando doutrina especializada, legislação vigente, artigos científicos relevantes e
contribuições disponíveis em meios eletrônicos.

Palavras – chave: Lei de Abuso de Autoridade; Abuso de Autoridade; Violência Policial.


Delimitação Probatória; Limites de Atuação dos Polícias.

Abstract

The present work aims to analyze the application of the Abuse of Authority Law to crimes
committed, especially by police officers, making a legal analysis of the main causes of the
advent of said norm, and what the consequences are in the current context, especially that of
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prove abuse of authority. However, given the growing number of cases of police violence, the
force of coercion must be related to the power that public police authorities have to act in
society, however, seeking to understand the dosage of this need is necessary to outline the
reasons that lead to a disastrous action that exposes Brazilian society. Issues such as racial
discrimination, police violence against minorities, access to justice and intersectionality must
be questioned in this work, in order to answer the question: are there difficulties or not in
producing evidence regarding the abuse of power in police activity? The main hypothesis of
the article is that continuous training and effective supervision of police officers has a
significant effect, which can reduce the abuse of force against society and improve the general
quality of police service, thus increasing guarantees, both for police power and for citizens,
thus reducing risks for both parties and highlighting the importance of training police officers
as a method of curbing abusive practices, exposing how important it is to have ethical and legal
conduct in an approach, highlighting the difficulty in proving abuse of authority in a scenario
where the police themselves are the authority. A deductive approach was adopted, anchored in
the critical analysis of a diversity of bibliographic sources, covering specialized doctrine,
current legislation, relevant scientific articles and contributions available on electronic media.

Keywords: Abuse of Authority Law; Abuse of Authority; Police Violence; Evidential


Delimitation; Limits of Police Action.

Introdução

O Brasil é definido pela Constituição Federal de 1988, como um Estado Democrático


de Direito, e assim são estabelecido um rol de direitos e garantias fundamentais, que são
inerentes a todo e qualquer cidadão, também conhecidos como Direito de Primeira Geração,
que tem como objetivo resguardar os cidadãos contra abusos ou intervenções arbitrarias
praticadas pelos agentes do Estado durante o desempenho das atividades para as quais os
mesmos foram designados, dentre um dos principais direitos fundamentais, encontra-se o
direito à liberdade e o direito à proporcionalidade.
Apesar dos limites estabelecidos constitucionalmente e legalmente pela legislação
infraconstitucional, não são raras as ocasiões em que os direitos à liberdade são violados,
colocando assim os indivíduos em uma situação de fragilidade mediante ao poder do Estado,
que deve buscar controlar suas ações para consolidar um verdadeiro Estado Democrático de
Direito.
Sendo assim, o presente trabalho vai salientar a atividade dos agentes policiais, em
específico as policias militares durante o exercício de suas funções, devendo observar os limites
e exigências desta. Cabendo destacar que a atuação da polícia militar, devido sua natureza
situacional e social, é imprescindível para que as funções de segurança pública sejam
efetivamente cumpridas.
5

A discussão sobre esta temática é de extrema relevância, uma vez que o Brasil enfrenta
frequentes situações de abuso de autoridade por parte de policiais militares, configurando-se,
portanto, como um caso de abuso de poder. Isso levanta a necessidade de analisar se o exercício
do poder de polícia está sendo realizado de maneira abusiva ou não, e identificar aspectos
relevantes sobre sua ocorrência, bem como possibilidades de prevenção para proteger os
direitos e garantias individuais dos cidadãos.
A escolha do presente tema se deu pela importância de se debater a aplicabilidade das
normas do direito penal e o interesse do Estado em punir o acusado de abuso de autoridade,
indiciado no rol taxativo da lei. Neste sentido, compreende-se que referida questão ainda
enfrenta muitos desafios e depende de um debate exaustivo.
Discutir o panorama jurídico e legal, a utilização da base principiológica do abuso de
autoridade é de grande necessidade para estabelecer limites e dados científicos para a aplicação
da lei ao caso jurídico. É preciso considerar a falta de conhecimento da norma por parte da
sociedade, que em muitas situações, este descrédito sobre quem se deve recair o processamento
causa um retrocesso na aplicação da lei ao caso concreto, para tanto, ao se ver diante de um
abuso, o adequado é comunicar aos órgãos competentes.
Dessa forma, o presente trabalho vai contribuir para a compreensão dos argumentos
trazidos pelos juristas, com o fim de trazer uma avaliação dos impactos da medida e proposição
de soluções para os desafios enfrentados pelo sistema judiciário brasileiro.
Assim, a realização de um trabalho científico sobre a aplicação da norma ao caso
concreto é uma oportunidade de trazer à tona as diversas necessidades de análise do corpo de
agentes que faz com que a referida lei seja colocada para funcionar e, portanto, realizou-se uma
busca bibliográfica utilizando um método de dedução hipotética.
Na aplicação da pesquisa bibliográfica, além de leis específicas ou determinadas, o
objeto da pesquisa envolve a busca de livros e artigos que discutam a doutrina do assunto para
analisar através de dados a violência policial e o abuso de autoridade vinculados a questões
raciais e socioeconômicas cometidos por policiais no Brasil, identificando os desafios dos
fatores da fragilidade probatória do abuso de autoridade e da violência policial e demonstrar a
necessidade de uma efetiva fiscalização das atividades policiais que impactam em um ciclo de
impunidade, para assim identificar as lacunas na aplicação da Lei de Abuso de autoridade no
contexto específico dos crimes cometidos por policiais no Brasil.
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1. EVOLUÇÃO DO ABUSO DE AUTORIDADE NO BRASIL – O PODER DE


POLÍCIA VS O ABUSO DE AUTORIDADE E A VIOLÊNCIA POLICIAL

A história não é uma linha reta sem desvios ou com fatos meticulosos que abrem e
fecham ações. Entretanto, alguns fatos podem ser vistos como simbólicos e mais importantes
na formação de um determinado processo histórico do que outros. Se faz necessário a pesquisa
de revisão quanto ao processo de desenvolvimento das polícias no Brasil.
A polícia é uma instituição que nasceu junto com os estados modernos e se consolidou
na sua forma mais moderna e contemporânea a partir dos estados liberais.
A busca pela segurança é algo que sempre existiu nas civilizações de forma geral, onde
se busca uma maneira de mediar conflitos internos de forma segura.
O desenvolvimento das policias, que ainda “Brasil Colônia”, começou a se desenvolver
pela necessidade do Estado Português em fazer valer a sua ordem de segurança, não sendo
polícias propriamente ditas, mas sim, ainda embriões.
Esses acontecimentos predeterminaram contínuas mudanças na administração colonial,
como a abertura do porto as nações amigas e a criação de uma academia militar voltada para a
condução das atividades policiais no Rio de Janeiro.
No entanto, Moacir Almeida Simões (2002), aponta que a gênese da polícia militar no
Brasil remonta ao início da era colonial, pois a necessidade de preservar a ordem e a segurança
não surgiu com a chegada da família real.
Desde a instalação do primeiro conjunto habitacional no Brasil, organizações militares
foram criadas para prestar serviços policiais.
As polícias começaram a existir a partir de uma imposição do Estado a um território e,
em contrapartida, os Estados se consolidam a partir da atividade policial, sendo o exercício de
uma força coercitiva dentro de um determinado território que faz com que as ordens emanadas
de um Estado tenham validade.
Nesse contexto, sobre o processo da história policial no Brasil, Bretas e Rosemberg,
afirmam que:

Até os dias de hoje, o acesso a acervos em mãos das polícias se faz de forma
irregular, possível em alguns momentos e para alguns, impossível noutros
momentos ou para outros. Não existe uma política sistemática em arquivos
policiais e as dificuldades costumam ser enormes, mesmo quando é possível
o acesso, pela precariedade dos arquivos e de seus recursos. Vale notar que os
arquivos onde talvez o acesso seja mais fácil e os recursos de pesquisa mais
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presentes são exatamente os arquivos de polícia política, que passaram a


outras instituições com a democratização dos anos 1980 e que vêm atraindo
um enorme interesse. (BRETAS; ROSEMBERG. 2013, p.164).

Da ditadura para os tempos atuais, muitos autores pontuaram com maestria que durante
a ditadura, precisamente em 1969, houve o ápice de militarização das polícias no Brasil.
O Decreto-Lei no 667/69, alterou substancialmente a essência das polícias, dando a
mesma roupagem do exército brasileiro, este decreto, cita nos seus considerados, o Ato
Institucional Número Cinco (AI-5), de forma expressa, ou seja, sua fonte de expiração é o AI5.
O Ato Institucional nº 5 (AI-5) foi um decreto emitido pelo governo de Arthur Costa e Silva,
que marcou o início do período mais obscuro da ditadura militar no Brasil. É visto como o
processo que resultou na implantação de um regime autoritário como forma de governo depois
do golpe militar de 1964.
A lei contida no Ato Institucional nº 5 determinava a transferência de todo poder ao
regime militar, limitando ainda mais a democracia no país. O AI-5 entrou em vigor em 13 de
dezembro de 1968, resultando em intervenções nos estados e municípios, suspensão de
garantias constitucionais, legalização da tortura e cassação de mandatos de políticos contrários
ao regime.
O documento foi elaborado pelo então ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e
Silva.
Então, houve uma reestruturação das forças policiais militares aos Estados da Federação
dando uma nova roupagem, não só de organização de hierarquia, mas também de razão de ser
às policias militares, havendo um reorganização dessa instituição que está profundamente
enraizada na vida da sociedade, se transformando em uma tropa de ocupação, em mais um
exército, seguindo as orientações, a organização, a doutrina e a razão de ser do exército
brasileiro em seu modo de atuação, porque eles precisavam aquela época combater os inimigos
da nação, inspirados pela doutrina da Segurança Nacional, que estes eram os ditos comunistas,
os ditos subversivos, aqueles que queriam o mal do Brasil.
Esse Decreto foi alterado tempo depois do AI-5, sendo um instrumento jurídico para
permitir a efetividade do que estava contido no AI-5, cumprindo sua tarefa.
Efetivos das polícias militares foram treinados por agentes americanos entre eles a CIA
(Central Intelligence Agency) e agentes franceses, na doutrina de segurança nacional, ações de
contraguerrilha, na guerra revolucionária, que vem da Escola Francesa e na captura e casta dos
ditos subversivos inimigos na nação.
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Na histórica literatura, há demonstração do quanto esses efetivos foram treinados em


capturas, caçadas, mortes e desaparecimentos.
Conforme os registros do memorial da ditadura, disponível em:1

Os militares no poder procuraram sempre atuar a partir de uma “legalidade


autoritária”. Mas para combater qualquer um que contestasse o regime mais
diretamente, os chamados “subversivos”, não deveria haver limite jurídico,
ético ou moral. Assim, principalmente a partir de 1968, o Estado brasileiro
patrocinou uma repressão ao mesmo tempo legal e ilegal, baseada em censura,
vigilância, tortura sistemática, prisões ilegais e desaparecimentos. Com a
promulgação da nova Lei de Segurança Nacional, em 1967, e com o Ato
Institucional Nº5 (AI-5), em 1968, o aparato legal de repressão ganhou novos
tentáculos. A nova lei criou mais de 30 crimes contra a segurança nacional,
entre eles, propaganda contra a ordem, organização de grupos de contestação,
ações armadas ou não contra o Estado, agressão verbal à autoridades, auxílio
a “potências estrangeiras”, ultraje aos símbolos nacionais, aliciamento para
paralisações de funcionários públicos, etc. O AI-5 reforçou os poderes
pessoais do presidente da República, que poderia cassar mandatos e direitos
políticos e decretar “estado de sítio” (quando se suspende as garantias
constitucionais mínimas dos cidadãos) sem consulta ao Congresso. Além
disso, o habeas corpus ficava suspenso para crimes políticos, e o preso poderia
ficar incomunicável por dez dias.

A partir desse momento, começou também a se ter novas reorganizações legislativas


para legitimar essas ações, como exemplo: No Rio de Janeiro, no ano de 1969, por meio de uma
ordem de serviço, do até então, Departamento de Polícia do Estado da Guanabara o que seria a
Secretaria de Segurança Pública do Estado de Guanabara, foi criada uma lei que instituiu o auto
de resistência, ou seja, uma declaração que dava uma roupagem “legal” a uma execução
sumária, quando os policiais militares não sumiam com o corpo, ou eles tinham que apresentar
uma ocorrência oficialmente, fazendo esse registro e esse auto de resistência, que prevaleceu
com essa nomenclatura até pouco tempo atrás.
Isso se baseia em grande parte no conceito positivo da criminologia sob a influência do
conceito de Lombroso (2001), que interpreta o crime por meio de aspectos físicos da
personalidade, deixando as portas abertas para o racismo e discriminação.

1
MEMORIAIS DA DITADURA. REPRESSÃO E RESISTÊNCIA. Disfarce legalista e métodos
ilegais. Disponível em: <https://memoriasdaditadura.org.br/repressao/>. Acesso em: 10. Mai. 2023. No
Estado Democrático de Direito, não há espaço para a falta de limite jurídico, pois, o Princípio da
Legalidade deve proteger os direitos individuais, estabelecendo os limites de punição, pressupondo que
que aquele que age em nome do estado não poderá tomar de ações de punição sem a previsão legal para
tal, conforme explícito no art. 5º, II da CF/88 – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.
9

É interessante, por exemplo, observar as mudanças na legislação penal brasileira da


época. O código penal brasileiro de 1890, por exemplo, criminalizava a capoeira e a "magia"
com clara referência aos negros, e previa a expulsão de "estrangeiros vadios". Artigos do
Código Penal de 1890, ipsis verbis:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade e destreza
corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com
armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando
tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor
de algum mal: Pena – de prisão cellular por dous a seis mezes. Paragrapho
unico. E‟ considerado circumstancia aggravante pertencer o capoeira a
alguma banda ou malta. Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro.
Art. 403. No caso de reincidencia, será applicada ao capoeira, no gráo
maximo, a pena do art. 400. Paragrapho unico. Si for estrangeiro, será
deportado depois de cumprida a pena. Art. 404. Si nesses exercicios de
capoeiragem perpetrar homicidio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o
pudor publico e particular, perturbar a ordem, a tranquilidade ou segurança
publica, ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas
comminadas para taes crimes. (GAMA, 1929, p.462).

Antônio Carlos Wolkmer (2002, p. 170), em “História do Direito no Brasil”, destaca


que a história do direito precisa ser reanalisada:

(...) que a meta é alcançar nova compreensão historicista que rompa com o
culturalismo elitista e o dogmatismo positivista, permitindo que as múltiplas
e diversas disciplinas históricas do Direito (História do Direito, História das
Idéias e/ou do Pensamento Jurídico, História das Instituições) deixem de ter
sentido apologético e ilusório da ordem tradicional dominante, adquirindo
sentido desmistificador e libertário. (...) além de envolver a discussão sobre
uma totalidade específica e regionalizada, pulverizada por conflitos sócio-
políticos, contradições estruturais e mitificações institucionalizadas, busca
instituir, igualmente, um quadro cultural de reordenação do Direito no
conjunto das práticas sociais que o determinam.

De um tempo para cá, houve a alteração da nomenclatura “auto resistência”, ou


“resistência seguida de morte”, não se usando oficialmente, mas sim no dia a dia das polícias,
tendo esses termos uma alteração de nome e conteúdo, mas o registro continua sendo o mesmo,
a forma de tentativa de dar uma roupagem de legalidade a execuções sumárias extrajudiciais
continua a mesma em sua forma de ser.
Em 1988, vem a nova constituição brasileira, e o capítulo da segurança pública é
basicamente o mesmo da ditadura, não tendo alteração significativa, ficando o sistema de
segurança pública como gestado à época da ditadura e turbinado por esse decreto que foi
considerado o ápice do processo de militarização.
10

Nos dias atuais, ainda tem esse decreto que cita o AI-5 expressamente e valendo, ou
seja, a militarização das polícias está ainda bem segmentada, resistindo a toda e qualquer
tentativa de controle da sociedade e, passou por isso durante o processo constituinte,
permanecendo vivo até hoje.
Essa militarização faz com que a interação dos policiais com a sociedade seja uma
interação de confronto, de combate e de estar em um território inimigo, assim persistindo e
massacrando as minorias.
Uma pesquisa feita por Paula Poncioni, realizada nos centros de educação e formação
profissional da polícia militar do Estado do Rio de Janeiro, analisou diversos programas do
curso de formação profissional e foi possível constatar que essa formação é baseada em uma
preparação ostensiva para o combate ao crime com grande destaque na preparação física, que
exige força física e virilidade desses policiais em treinamento.

A formação do policial orientada fundamentalmente para o controle do crime,


com forte apelo ao “combate ao crime”, tem a grande vantagem de fornecer o
que é percebido amplamente pelo público e pelos próprios policiais como a
missão das instituições policiais. Nesta perspectiva, evidencia-se que o ethos
guerreiro é paulatinamente sedimentado na identidade profissional do policial
como um importante requisito para que o policial possa, “com sucesso”,
realizar a árdua missão do “combate real” à criminalidade. (PONCIONI,
2005).

Em compensação, ficou evidenciado na análise várias falhas na área de prevenção, como


exemplo, a importância da perspectiva em tratar a negociação de conflitos e a forma de se
relacionar diretamente com os cidadãos, apontando um baixo percentual ao tratar da área das
ciências humanas e sociais.
Neste sentido, Tavares dos Santos, complementa que a formação atual da polícia
brasileira demonstra dificuldades em suas estruturas organizacionais, especialmente na
distribuição de serviços operacionais, avaliando uma nova cultura jurídica que norteia a
legislação positiva.
Além disso, possui uma metodologia de ensino de enumeração desproporcional dos
conteúdos avaliativos, fundamentalmente memorial:

As instituições de ensino policial no Brasil apresentam um quadro de carência


e necessidades, resquícios de uma herança militarista e juridiscista do passado
e uma segmentação corporativa. As Academias de polícia Militar mantêm
traços de uma cultura organizacional militarizada, com exaltação da disciplina
e da hierarquia militar e de formação em operações de índole militar, aliadas
11

a um arcaísmo pedagógico, com poucas exceções. (TAVARES DOS


SANTOS, 2009).

Michael Foucalt em seu livro Vigiar e Punir, examinou os processos utilizados em


instituições disciplinares para produzir os “corpos dóceis”, conforme explica o autor:

A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A


disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e
diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma
palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”,
uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a
energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de
sujeição estrita. (FOCAULT, 2002, p. 127).

Assim, é na educação policial que a identidade civil se despedaça e se cria uma nova
identidade, a identidade profissional dos integrantes. O professor André Nucci (2019) integra
de forma relevante ao tema, acrescentando que apesar de ser fruto do regime militar, a lei de
Abuso de Autoridade ainda hoje é aplicável, dentro de um marco regulatório.
No ano de 2019, o Congresso Nacional aprovou à Nova Lei de Abuso de Autoridade nº
13.869.
As discordâncias sobre o tema têm sido diversas, o que tem levado a profundas
mudanças, com novas disposições sobre os atos excessivos aplicados por funcionários públicos,
que no exercício de suas funções ou a pretexto do exercício de suas funções, excedam a
autoridade do Estado que lhe foi atribuída, entre esses agentes públicos acusados de abusar de
seus poderes estão os policiais militares.
Desde 2019, a aplicação da lei de Abuso de Autoridade, tem dado enfoque as principais
condutas dos agentes públicos, este poder de dizer o direito e coagir aquele que de fato necessita
de repressão.
A Administração Pública diante do Estado tem o dever final de cumprir com os
interesses coletivos, promovendo o bem comum, neste sentido, o princípio da supremacia do
interesse público sobre o privado conceitua o dever de agir do agente, independentemente da
reação do particular.
O poder de polícia é tão somente a ordem dada por um agente que faz as vezes o papel
do Estado no interesse do ente, que pode ser a União, os Estados/DF ou municípios com o fim
de alcançar a finalidade. Referido poder é denominado de “poderes administrativos”, nos quais
têm o condão de reduzir o interesse da pessoa física para atuação do poder da Pessoa Jurídica
Pública.
12

Para Marinela (2018), nas prerrogativas estabelecidas para a Administração Pública é


que são encontrados os poderes administrativos, elementos indispensáveis para persecução do
interesse público, surgindo assim como mecanismos por meio dos quais o Poder Público
persegue seus interesses.
São servientes do dever de bem cumprir a finalidade a que estão. Portanto, é possível
conceituá-los como um conjunto de prerrogativas ou de competências de direito público,
conferidas à Administração com o objetivo de permitir a aplicação da supremacia do interesse
público sobre o privado e assim a realização do bem comum. Nesse sentido, é possível afirmar
que diante dos poderes possíveis do agente público, cabe aplicar as prerrogativas concedidas
pelo Estado, com o propósito de alcançar o bem comum em suas atividades. Contudo, é
relevante ressaltar que o uso desses poderes pela Administração Pública deve ser proporcional
e considerar a especificidade do caso em questão.
Assim sendo, é responsabilidade do agente público agir de maneira razoável, a fim de
evitar quaisquer danos ou prejuízos aos direitos individuais e coletivos.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2006) ensina que: “o princípio da razoabilidade, como
vetor interpretativo, deverá pautar a atuação discricionária do Poder Público, garantindo-lhe a
constitucionalidade de suas condutas e impedindo a prática de arbitrariedades”.
O poder de polícia é exercido por diversos servidores públicos e entre eles estão os
policiais militares, que cumprem a função de manter a ordem pública e a segurança dos
indivíduos, nos termos do artigo 144, da constituição Federal:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, sob a égide dos valores da cidadania e dos direitos
humanos, através dos órgãos instituídos pela União e pelos Estados.2

Porém, apesar de existir um conjunto de normas e leis que tratam sobre o abuso de
autoridade no país, é notável a persistência do abuso de autoridade e da violência policial no
Brasil.
De um lado tem-se a forma correta de agir desses agentes, conforme exemplifica Marlon
Jorge Teza:

2
BRASIL. PLANALTO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/projetos/PEC/msg975970902.htm#:~:text=de%20seguran%C3
%A7a%20p%C3%BAblica.%22-,%22Art.,pela%20Uni%C3%A3o%20e%20pelos%20Estados>.
Acesso em: 28. Out. 2023.
13

Para que o profissional de Segurança Pública, principalmente o Policial


Militar, exercendo a sua atividade ostensiva e preventiva depara com alguma
situação, em que o cidadão infringindo alguma especificação retro descrita se
faz necessário a utilização dos meios necessários para conter aquele crime. E
se for extremamente necessário o agente público deve utilizar o Poder de
Polícia, isto é a força necessária para o cumprimento do seu dever de proteção.
(TEZA, 2011)

Em contrapartida, Aurélio Wander Bastos expõem uma forma “injusta, exagerada e


inadequada” de uma violência caracterizando o abuso de autoridade:

O excesso de força, diante do cumprimento constitucional poderá ser


caracterizado como o crime de abuso de autoridade. O uso excessivo de poder,
desenvolvido de maneira injusta, exagerada e inadequada, com a aplicação de
violência intensa contra uma ou mais pessoas poderá ser caracterizado o crime
de abuso de autoridade. (BASTOS, 2020).

Visando analisar a forma de tipificação dos atos criminosos praticados pelos agentes
públicos, em especial as polícias militares, é entendível que as mesmas não podem incidir de
maneira intimidatória, mas, o Estado deve limitar com coerção as variadas formas de atuação
desses agentes públicos no exercício de sua função no combate à criminalidade.
De forma abrangente, o abuso de autoridade incide quando o agente público pratica seu
poder, conferido por lei, com excesso de poder ou desvio de finalidade. O jurista Julio de Souza
Dourado, afirma que:

De um modo geral, ocorre abuso de autoridade quando o agente público


exerce o poder que lhe foi conferido com excesso de poder ou desvio de
finalidade. O grande desafio de uma norma penal como esta é encontrar um
ponto de equilíbrio de modo a evitar que, a pretexto de dissuadir os abusos, de
forma colateral, iniba o desempenho de funções públicas ordenadoras da vida
privada, marcadamente impopulares e objeto de insatisfação dos destinatários
alcançados pela ação estatal. (DOURADO, 2019).

No entanto, é importante esclarecer que para ser definido como abuso de poder, o
engano deve ser explícito, ou seja, o engano tem motivação determinada, intencional e pré-
definida e é um “abuso”, negligência.
Consequentemente, para que exista um crime o agente deve ter o intento específico de
prejudicar ou beneficiar a si mesmo ou a outrem.
Além disso, um dos principais pontos de controvérsia é que a nova lei de abuso de
autoridade não criminaliza diretamente certos atos de violência, especialmente física ou
psicológica, que antes eram puníveis pelo revogado decreto nº 4.898/1965.
14

Este comportamento ainda está sujeito a outras infrações penais na codificação Penal.
O abuso de autoridade é testemunho constante de conflito entre liberdade e poder e que sempre
estiveram presentes, conforme versou José Maria Pinheiro Madeira (2005. P.339)
“impulsionado por qualquer caminho, subtrai letalmente direitos básicos das pessoas”.
Estando este comportamento, ainda, sujeito a outras infrações penais na codificação
Penal.
Entende-se que a polícia deve ter um entendimento preciso da lei em relação ao poder
exercido, enfatizando o poder discricionário do crime de abuso de poder.
Todos os procedimentos devem ser considerados como possíveis atos do poder policial
e, no decurso da sua atividade profissional, devem realizar determinados comportamentos
típicos e causando danos a outrem, praticando atos considerados ilícitos de abuso de poder, não
respeitando determinados princípios fundamentais do exercício do poder seu papel em
detrimento de outros indivíduos, caberá ao Estado punir essas condutas, conforme veremos no
subcapítulo a seguir.

1.1. Limite de Atuação do Agente público – Elementos Probatórios

Em relação ao agente público, é importante destacar que, embora o conceito seja amplo,
segundo a lei, este trabalho se concentra naqueles que desempenham atividades relacionadas às
polícias, em principal às policias militares.
Esses agentes têm como missão fundamental garantir a ordem pública e proteger o
exercício dos direitos fundamentais dos cidadãos, sendo-lhes concedidas diversas prerrogativas
para esse fim.
No entanto, é imperativo que essas prerrogativas sejam utilizadas estritamente dentro
dos limites legais, com o objetivo de atender às demandas da sociedade e promover uma maior
segurança para todos.
Entretanto, é importante salientar que esses agentes também possuem uma margem de
discricionariedade em suas atividades.
Isso ocorre porque o legislador, diante da impossibilidade de prever todas as situações
concretas, concedeu às autoridades de segurança a capacidade de escolher a melhor forma de
agir em determinadas circunstâncias.
15

As prerrogativas concedidas a esses agentes, como a discricionariedade e o uso da força,


possuem limitações legais, de modo que não podem ser utilizadas de forma indiscriminada e
arbitrária.
Com esse objetivo, o legislador elaborou a lei de abuso de autoridade, que criminaliza
condutas abusivas e estabelece punições para aqueles que ultrapassam os limites legais.
A partir disso, surge um debate sobre qual seria o limite de atuação do agente público
ao exercer seu poder de polícia e quais parâmetros devem ser seguidos para evitar transgressões
à lei, Valmir Passos Freitas especifica essas condutas:

Destaca-se que a nova norma dispõe que o crime de abuso só sucederá se


cometido pelo servidor com o objetivo específico de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, por mero obstinação ou contentamento
pessoal. Isto é se faz necessário o chamado “dolo específico”, não havendo,
mesmo que em tese, a figura culposa. Ou seja, o servidor público tem que
demonstrar de forma clara e visível a intenção dos intentos expressamente
definidos na lei, sob pena de ocorrer o crime (FREITAS, 2019).

Assim, os meios de acusação devem estar rodeados de elementos sólidos para a


imputação de culpa por abuso de poder a esses agentes, sendo essencial uma definição
motivacional do ato criminoso, pelo menos com elementos suficientes para sustentar a
existência do crime, elementos subjetivos e objetivos comportamentais específicos.
Entende-se, portanto, que o agente deverá exercer seu poder de polícia, utilizando a
força apenas em casos de necessidade extrema, quando não houver outra alternativa para
cumprir seu dever de proteção.
Quando o uso da força ultrapassa os limites razoáveis e legais, como em abordagens
policiais realizadas de forma excessiva e ilegal, caracteriza-se o crime de abuso de autoridade.
Isso ocorre quando o agente utiliza suas prerrogativas para fins distintos daqueles
legalmente estabelecidos.
Embora a referida legislação tenha causado espanto, ao inserir condutas específicas
como condição de abertura do crime, a mesma contribuiu para a proteção social, pois o que
antes era empregado como prática reiterada de excessos, passou a se ter um policiamento claro
e transparente diante da criminalidade.
Seguindo essa reflexão, variados são os percalços à concretização da Nova Lei de Abuso
de Autoridade, no que cerne aos fatores da fragilidade probatória.
O autor Tiago Oliveira de Castilhos expõe que a violência epistêmica ocorre devido à
falta de credibilidade, advindo de rótulos característicos, Lombrosianos:
16

No que se refere a testemunha é preciso entender o que é "violência


epistemológica", que ocorre quando uma pessoa perde a credibilidade na fala,
no depoimento, por conta do descrédito que recebe por alguma característica
própria, algum rótulo, marca, deficiência de qualquer gênero. Logo, sua fala,
seu testemunho, não importa porque sofre uma repulsa, um descrédito natural
por causa de suas circunstâncias pessoais, bem lombrosiano isso, sim, nomes
modernos para maquiar a sua existência.3 (CASTILHOS, 2023).

A prova exigida com a intenção específica do dolo, contra os policiais que infringem a
lei e cometem excessos, tornam o processo criminal mais difícil devido à subjetividade inerente
e, portanto, é uma etapa que deve ser contornada para que os pré-requisitos da nova lei sejam
implementados com efetividade.
Para Miranda Fricker em sua obra sobre a injustiça epistêmica (2007), a justiça é um
dos assuntos mais antigos e centrais da filosofia. Mas para revelar as amplitudes éticas das
nossas práticas intuitivas, o foco deve mudar para a injustiça. Injustiça Epistêmica: O Poder e
a Ética do conhecimento oferecem uma discussão inovadora de uma área crucial da filosofia.
Articulando epistemologia e ética, Miranda Fricker examina como nossos pressupostos sobre
as pessoas como indivíduos e como membros de comunidades influem a credibilidade que
damos ao seu conhecimento. A autora explica como a injustiça se torna sistêmica e comum,
muitas vezes sem notarmos, e descreve detalhadamente a justiça testemunhal e a justiça
hermenêutica e suas reflexões.
São inúmeros os atos violentos e abusivos relatados pela sociedade em denúncias,
filmagens de celulares, reportagens e afins.
Conforme a reportagem publicada em agosto de 2022, o jornalista Luís Gomes, expôs
que, de julho de 2022 até 7 meses após, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da
Defensoria Pública do Rio Grande do Sul (NUDDH), teve 246 denúncias de violações, em sua
maior parte foram a de violência policial praticadas por policias militares em abordagens.
Ainda, “ o medo, dificuldade de provar e disputa de versões dificultam a punição à violência
policial”, conforme noticiado:

(...) “Algumas pessoas já declinam no primeiro momento, falam que não têm
interesse, porque têm receio de que alguma coisa mais grave aconteça, que
haja algum tipo de perseguição, então não querem formalizar”, diz. Uma
segunda dificuldade é em relação às provas, especialmente pelo fato de que
pessoas atendidas pela Defensoria Pública, em geral, moram em regiões de

3
CASTILHOS. Tiago Oliveira de. O cinismo e a audiência de justificação para apuração de falta grave.
Revista Eletrônica Consultor Jurídico — Conjur. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2023-
fev-28/tiago-castilhos-violencia-epistemica-mazelas-carcere >. Acesso em: 22 set. 2023.
17

alta vulnerabilidade social. “Dificilmente vai haver testemunhas e, se há


testemunha, muitas vezes ela não tem interesse em se envolver com a situação,
por também ter receio de se incomodar. Dificilmente a situação foi gravada,
não tem imagens, acaba ficando o relato da vítima da violência, que às vezes
não tem nem marca. (...) a apuração dos casos acaba resultando em uma
disputa de versões, com a palavra das vítimas sendo colocada contra a dos
agentes de Estado. (...). Daí fica uma guerra de versões, a versão da vítima
dizendo que foi uma abordagem abusiva, que foi agredida, e a versão dos 24
policiais dizendo que a vítima resistiu, desacatou, enfim, que foi necessário o
uso da força. E fica bem difícil para distinguir o que de fato aconteceu”, diz.
(...). “Quando nos chega algum relato de óbito, eventualmente nos chega, é
porque ou um familiar procura e tem essa desconfiança de que a morte do seu
familiar tenha acontecido em algum contexto de abuso, de atuação abusiva da
polícia, ou porque algumas ocorrências têm mais de um envolvido e alguns
acabam mortos em confronto com a Brigada Militar e outros continuam vivos
e respondem um processo criminal”, explica. 4

Reportagem esta, que se deu em torno de um caso de extrema violência policial, no


Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de São Gabriel, no qual foi praticada por policiais
militares, ou seja, uma execução sumária que ceifou a vida do jovem Gabriel Marques
Cavalheiro, após uma abordagem realizada por três policiais militares, o jovem desapareceu,
testemunhas relataram que “Gabriel foi atingido por pelo menos dois ou três golpes de
cassetete”, sendo a última vez que o jovem foi visto com vida. A defensora pública Aline
Palermo Guimarães, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do RS,
relatou durante a entrevista que:

(...) Apesar de, em geral, não atender casos em que há óbito, Aline Palermo
avalia que as mesmas dificuldades são encontradas para a responsabilização
de agentes públicos nos casos com vítima fatal, citando como exemplo a
própria morte de Gabriel. “Os policiais admitiram que levaram ele até́ aquela
localidade, mas não se sabe o que aconteceu ali ou o que aconteceu antes, de
que forma que se desenrolou ali o fato. E tivemos já outros acontecimentos, o
do torcedor do Brasil de Pelotas, que felizmente não veio a óbito, mas chegou
perto disso, ficou internado por muito tempo, fez várias cirurgias. Há uns dois
anos atrás, tivemos aquele caso de Marau, que era um engenheiro elétrico que
também acabou sendo morto na abordagem policial. Ao final se concluiu que
teria acontecido no contexto do que a gente chama de legítima defesa putativa,
num contexto em que o policial imaginou que ele sacaria uma arma, mas ele
sequer estava armado, e acabou então atirando. São situações que a gente tem
que reconstituir a partir dos relatos das pessoas que estavam presentes, porque
não tinha imagem”, diz.

4
GOMES. Luís. Medo, dificuldade de provar e disputa de versões dificultam punição à violência
policial. Sul 21. Disponível em: <https://sul21.com.br/noticias/geral/2022/08/medo-dificuldade-de-
provar-e-disputa-de-versoes-dificultam-punicao-a-violencia-policial/>. Acesso em: 14. Abr. 2023.
18

Evidenciando-se uma extrema violência praticada por esses agentes públicos em um


cenário aterrador, afinal, que chances tiveram essas vítimas de produzir prova da violência?
Nenhuma!
Conforme o intuito deste artigo cientifico em investigar os impactos da aplicação da Lei
de Abuso de Autoridade aos crimes cometidos por policiais na relação entre a polícia e a
sociedade, analisando os efeitos nas investigações, trazendo um panorama objetivo e prático
dessa legislação na realidade, tem-se as informações disponibilizadas pela Justiça Militar
Estadual, sobre “Caso Gabriel”, que apesar de correr sob sigilo, foi disponibilizado informações
para que a população possa acompanhar, conforme segue :

Processo: 0070342-18.2022.9.21.0003 (sigilo 1) Auditoria Militar de Santa


Maria
O CASO - Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, desapareceu no dia 13 de
agosto de 2022, em São Gabriel-RS. O corpo do adolescente foi encontrado
no dia 19 de agosto de 2022 em um açude na localidade conhecida como Lava
Pés, interior daquele município. As investigações preliminares indicaram que
a guarnição da BM composta pelos servidores militares Arleu Junior Cardoso
Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, foi chamada
para atender uma ocorrência de perturbação da tranquilidade, que envolvia
Gabriel. A denúncia recebida pelo juízo da auditoria militar de SM no dia 5
de set de 2022 afirma que os integrantes da guarnição agrediram Gabriel, o
que culminou em seu homicídio (fato declinado ao Tribunal do Júri). Também
descreve a peça inicial que os policiais militares acima citados concertaram
entre si a inserção dos dados falsos no sistema da BM. Além disso, a denúncia
narra que após a morte da vítima, depois de previamente acertados, os policiais
militares ocultaram o cadáver de Gabriel levando-o até o interior do município
de São Gabriel descartando-o dentro de um açude.5

Caso este, que restou aos réus, o soldado Raul Veras Pedroso e o segundo-sargento
Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, absolvidos em relação à acusação de falsidade ideológica,
tendo sido condenado o soldado Cléber Renato Ramos de lima a um ano de reclusão pela
falsidade ideológica.
Ainda, tendo sido os três policiais militares absolvidos do crime de ocultação de
cadáver, deixando os pais da vítima com a sensação de impunidade, conforme relaram na
reportagem:

5
JUSTIÇA MILITAR. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Caso Gabriel >> Apresentação. Tribunal
de Justiça Militar/RS. Disponível em: <https://www.tjmrs.jus.br/caso-gabriel/apresencacao>. Acesso
em: 20. Mai. 2023.
19

À reportagem, o pai do jovem, Anderson da Silva Cavalheiro, declarou:


— A única coisa que eu tenho para falar é que é Brigada julgando Brigada.
Isso vai dar sempre o mesmo resultado. É isso que tenho para dizer, a injustiça
sempre vai ser feita dessa forma.

— Agora tu pode abordar um menino, bater, que com a Brigada não acontece
nada. Passa uma esponja e está tudo limpo — comentou a mãe, Rosane
Machado Marques.

Ela ressaltou também que, independentemente do resultado desta sexta-feira,


seu filho não voltará:
— Mesmo com eles ganhando hoje, eu saio sem o Gabriel. Mesmo ele
ganhando, eu perdi o Gabriel. Ganhando ou perdendo, a família já perdeu.
Então não importa. No final das contas, Deus está vendo lá em cima e eles vão
ser condenados.

O promotor do caso Luiz Eduardo de Azevedo declarou:


‘— Estou um pouco surpreso, mas isso faz parte do jogo, não há donos da
verdade. Evidentemente que eu tenho a plena convicção, sou absolutamente
convicto, da culpabilidade desses homens. Então vou entrar com recurso, que
é a única coisa que um operador do direito pode fazer. Vou entrar com recurso
e ver o que vai acontecer’.6

Os réus ainda respondem na justiça comum por homicídio triplamente qualificado e


permanecem presos.
É preciso aprofundar a reflexão sobre o papel da polícia na dinâmica desse cenário, pois,
apesar das limitações expostas, ainda é possível antever o estado de caos e insegurança por
parte da população em relação ao abuso e violência praticados pela polícia, pois, afinal, todos
os atos ilegais praticados pelos policiais são feitos por interesse próprio, pairando a insegurança
que já faz parte do cotidiano das minorias. É o que veremos no próximo subcapítulo.

2. A VIOLÊNCIA POLICIAL E O ABUSO DE AUTORIDADE CONTRA AS


MINORIAS – A FARDA QUE PRATICA O MAL

É importante destacar indicadores de pertencimento social com ênfase em gênero, raça,


classe social e suas ligações, pois estes indivíduos estão dentro de um quadro de excessiva

6
GARCIA. CORREA. VIESSERI. Isadora. Max. Bruna. Caso Gabriel: Justiça Militar condena um
dos três policiais acusados por falsidade ideológica. Gaúcha ZH. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2023/07/caso-gabriel-justica-militar-condena-um-
dos-tres-policiais-acusados-por-falsidade-ideologica-clkc41g0y00e7015lb3urtrf9.html>. Acesso em:
22. Out. 2023.
20

vulnerabilidade, tanto social, quanto de violências, em especial a violência policial, enfatizado


por Andrade:

Na segurança pública, o racismo institucional pode ser observado a partir de


três mecanismos principais: (1) por meio de uma legislação que promove a
segregação, e na atuação direta de seus agentes; (2) por omissão, ao reproduzir
práticas e instrumentos que inviabilizam a consolidação de uma rede de
proteção social, gerando distorções sociorraciais e territoriais; e (3) pela
atuação de indivíduos ou grupos movidos por seus próprios preconceitos
alarmados pelas condições institucionais favoráveis que viabilizam as
violações de direitos, estigmatização e processos discriminatórios. (Andrade,
2014).

Do ponto de vista das relações de segurança pública, independente da estrutura das


policias, essa violência racial e discriminatória, que em sua maioria dirige essa relação entre
polícias e a sociedade das minorias, como um alvo, que em qualquer momento pode ser abatida,
como evidenciou os resultados do trabalho de Filtragem Racial de Geová da Silva Barros:

Compondo estudo detalhado sobre discriminação racial na abordagem


policial, este artigo tem por objetivo verificar em que medida a cor da pele
constitui fator de suspeição, 27 bem como identificar se os policiais têm a
percepção do praticado racismo institucional. Para tanto, foi montado um
banco de dados a partir da aplicação de questionários e da análise de boletins
de ocorrências de sete unidades da Polícia Militar de Pernambuco. Como
resultado, verificou-se que 65,05%dos profissionais percebem que os pretos e
pardos são priorizados nas abordagens, o que corrobora as percepções dos
alunos do Curso de Formação de Oficiais e do Curso de Formação de
Soldados, com 76,9% e 74%, respectivamente. (BARROS, 2008).

O necessário e fundamental periódico levantamento do Anuário do Fórum Brasileiro de


Segurança Pública de 2022, reforça, entre vários dados, que não são novidades, o aumento de
mortes violentas entre a população negra/parda no Brasil, tendo o anuário em sua capa
“Letalidade policial cai, mas mortalidade de negros se acentua em 2021”:

Desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a monitorar o


número de mortes em intervenções policiais, em 2013, ao menos 43.171
pessoas foram vítimas de ações de policiais civis ou militares de todo o país.
Os números não incluem os dados de mortes por intervenções de policiais
Federais e Rodoviários Federais que, embora sejam menos comuns, estiveram
no centro do debate após o brutal assassinato de Genivaldo de Jesus Santos
quando abordado por dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no
município de Umbaúba, em Sergipe, ocasião em que os agentes estatais
fizeram do porta-malas da viatura uma câmara de gás improvisada, matando
Genivaldo por asfixia.
21

Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Apesar do elevado número de mortes em decorrência de ações policiais –


12,9% de todas as Mortes Violentas Intencionais (MVI) do país - o Brasil viu
este número reduzir pela primeira vez em 2021, quando 6.145 pessoas foram
vitimadas, redução de 4,2% em relação ao total de vítimas do ano anterior (e
de 4,9% se considerarmos a queda na taxa de mortalidade). (...). Embora esta
redução mereça ser celebrada, elevadas taxas de mortalidade por ações
policiais permanecem em vários estados, indicando que abusos e execuções
permanecem como prática de algumas instituições policiais1, misturando-se a
casos de uso legítimo da força7.

A avaliação destes dados são de extrema importância para se traçar um caminho de


segurança pública e de políticas de segurança pública no Brasil.
Outro trabalho importante para contextualizar a relação entre violência policial e
racismo no Brasil é a obra de Ana Luiza Flauzina, em sua dissertação (Mestrado em Direito)
“Corpo Negro Caído no Chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado Brasileiro”.
Segundo Flauzina:

A lógica racista que organiza as ações da polícia militar brasileira é baseada


em um projeto de extermínio da população negra, caçado desde a abolição da
escravatura. Porém, essa asserção significa que o Estado brasileiro estaria
praticando uma política de genocídio voltada para o extermínio sistemático de
jovens e negros pobres. (FLAUZINA, 2006).

Nesta senda, é essencial e necessário que haja uma legislação eficiente que controle e
combata os excessos da atividade policial.

7
ANUÁRIO BRASILERO DE SEGURANÇA PÚBLICA 2022. Letalidade policial cai, mas mortalidade
de negros se acentua em 2021. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
<https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/07/05-anuario-2022-letalidadepolicial-cai-
mas-mortalidade-de-negros-se-acentua-em-2021.pdf>. Acesso em: 12. Abr. 2023.
22

A legislação disciplinando os limites de atuação profissional do policial, pode proteger


os direitos dos cidadãos contra os abusos de autoridade e a ampliação, tanto das condutas
descritas como abusivas na legislação anterior, propicia maior segurança a todos em relação
aos direitos fundamentais.
O referido assunto ganha grande relevância quando começam a surgir novas demandas
relacionadas à necessidade de maior especificação da delimitação das ações executadas por
agentes públicos, estes, aos quais, exercem suas funções investidos de autoridade, sendo que,
ao realizar ações dentro de sua profissão, podem ferir direitos fundamentais do cidadão.
Conforme veremos a seguir, estas transgressões refletem diretamente na sociedade
como um todo, e principalmente na administração pública, que também torna-se ofendida,
tornando-se vítima paralelamente ao cidadão que teve seus direitos suprimidos por estes
agentes.

2.1. O Poder de Polícia e a Aplicabilidade da Lei de Abuso de Autoridade

A Lei de Abuso de Autoridade (nº 13.869), que começou a vigorar no dia 03 de janeiro
de 2020, chegou, e com força, impondo 45 tipos de condutas abusivas contra os agentes
públicos de todo o Brasil.
Muito se tem visto, relacionar-se esta lei com o momento atual de grandes investigações,
onde obviamente se encontra a Lava Jato, e um possível oportunismo em sua promulgação, ao
argumento de que seria uma forma de frear os órgãos de persecução penal.
Mas antes é preciso dizer que o seu texto foi aprovado depois de 02 (dois) anos de
debates do Congresso Nacional, e veio substituir uma já existente, de 1965, exclusiva para o
poder Executivo.
Teorias de conspirações à parte, a Nova Lei do Abuso de Autoridade está em vigor, e
cabe ao operador do direito conhecê-la.
O novo texto normativo trouxe mudanças e novas tipificações penais de impacto,
especificando condutas que devem ser consideradas abuso de autoridade e prevendo suas
respectivas punições.
A nova lei amplia tanto a quem, e bem como os comportamentos descritos como
abusivos na legislação anterior se aplicam, compreendendo autoridades e servidores públicos,
tanto militares quanto civis, dos três Poderes – Judiciário, Legislativo e Executivo - como
também dos membros do Ministério Público, sejam, estaduais ou federais.
23

Entre as medidas desta nova legislação estão: promover escuta ou quebrar segredo de
justiça sem autorização judicial; continuar interrogando suspeito que tenha decidido
permanecer calado ou que tenha solicitado a assistência de um advogado; a punição de agentes
por decretar condução coercitiva de testemunha ou investigado antes de intimação judicial; e
procrastinar investigação sem justificativa; divulgar gravação sem relação com a prova que se
pretenda produzir e interrogar à noite quando não é flagrante (SABINO, 2017, p. 12).
De 53 (cinquenta e três) condutas que vieram originalmente com o texto proposto, 45
(quarenta e cinco) tornaram-se efetivas, e as punições por abuso de autoridade podem chegar
agora a 4 (quatro) anos de detenção, multa e indenização de natureza cível.
O ponto forte da nova lei é a punição que mexe até mesmo no “sagrado direito de
estabilidade do servidor público”, prevendo que em caso de reincidência poderá haver a perda
do cargo do serventuário ou autoridade, e a inabilitação para a retomada ao serviço público por
um prazo de até 5 (cinco) anos.

A Administração Pública no sentido complexo de órgãos e entes que desempenham o


poder de Estado, possui diversos instrumentos para que haja o pleno exercício de suas funções,
e dentre eles, estão os denominados poderes administrativos.

Estes são considerados prerrogativas concedidas judicialmente a indivíduos que atuem


como agentes administrativos a serviço do Estado. Os poderes Administrativos estão divididos
em seis categorias distintas a saber: poder vinculado, poder discricionário, poder hierárquico,
poder disciplinar, poder regulamentar e o poder de polícia (SOUZA, 2008).

Na legislação pátria existem inúmeros dispositivos que dão embasamento legal na


melhor forma de interpretar o conceito do conceito do Poder de Polícia. De acordo com o artigo
78 do Código Tributário Nacional, o termo “Poder de Polícia” pode ser compreendido como a
atividade da administração pública exercida em prol do interesse público para efetivar a garantia
da segurança, ordem, costumes, disciplina da produção e do mercado, conservando a
tranquilidade pública, o respeito às propriedades e aos direitos individuais ou coletivos
inerentes a uma sociedade de direito. (ALEXANDRINO. VICENTE. 2021, p. 223 - 224).

Assim é possível dizer que o Poder de Polícia, deve fazer uso de força apenas em
ocasiões onde está for extremamente necessária, ou seja, quando um indivíduo utilizar de força
para atacar outro cidadão, ou ainda, quando em flagrante delito ofertar resistência, de modo a
assegurar a tranquilidade, o policial pode utilizar de força para fornecer a proteção necessária,
24

empregando a violência legítima, de modo a não exercer a medida exigida para o cumprimento
do seu dever de proteção.

Em contrapartida, há a necessidade de evidenciar que os policiais enfrentam crimes


diariamente e, diante desse cenário, esse enfrentamento deve ser resolvido imediatamente,
permeando situações de estresse elevado, e o fato de uma formação inadequada, autoritária e
com o aumento da criminalidade, faz com que a polícia seja um reflexo dessa sociedade
criminosa e violenta, porém, entre o bem e o mal, Rosa e Valla observam que o policial:

(...) terá que decidir entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto e também entre
o honesto e o desonesto (ROSA, 2001; VALLA, 2000). Se faz necessário
priorizar a saúde mental e uma educação de formação mais humanizada a
legalidade e democracia para os policiais, pois ao contrário, os policiais são
afetados por vários aspectos negativos que influenciam ao estresse extremo,
como apontam os autores Santos e Oliveira: O cansaço físico e a falta de
equilíbrio emocional podem levar esses profissionais a assumirem atitudes
irracionais durantes crises e situações caóticas. Assim, tais atitudes podem
levar à falta de eficácia no desempenho do exercício profissional, expondo os
policiais e a população em geral a perigos em potencial. (SANTOS;
OLIVEIRA, 2010).

Se faz necessário priorizar a saúde mental e uma educação de formação mais


humanizada a legalidade e democracia para os policiais, pois, ao contrário, os policiais são
afetados por vários aspectos negativos que influenciam ao estresse extremo, como apontam os
autores Santos e Oliveira:

O cansaço físico e a falta de equilíbrio emocional podem levar esses


profissionais a assumirem atitudes irracionais durantes crises e situações
caóticas. Assim, tais atitudes podem levar à falta de eficácia no desempenho
do exercício profissional, expondo os policiais e a população em geral a
perigos em potencial. (SANTOS; OLIVEIRA, 2010).

Os autores ainda realizaram um estudo onde afirmam que:

(...). As corporações militares, de um modo geral, não possuem em seu quadro


de funcionários um psicólogo ou até mesmo, um setor de psicologia que atue
junto com o médico ou, ainda, que tenha autonomia própria para propor ao
militar algum tipo de tratamento ou suporte clínico, ou ainda, algum trabalho
preventivo para conter os sintomas mais latentes já no início de seu
25

aparecimento. Essa assistência ocorre, na maior parte das vezes, quando a


iniciativa de encaminhamento parte a pedido do militar, o que dificilmente
ocorre, devido à preocupação do mesmo com a postura dos demais membros
ou quando o policial se envolve em alguma ocorrência e passa a demonstrar
problemas decorrentes desta. Diante disso, o militar é afastado de suas funções
por determinado período para que seja possível a realização de uma avaliação
mais detalhada de seu quadro clínico e psicológico. Esse procedimento, muitas
vezes, é considerado pelo policial como uma punição, ou até mesmo como
sinal de fraqueza. Percebe-se que, dentro do militarismo não existem medidas
preventivas ou políticas públicas efetivas e eficazes que proponham uma
melhor estruturação das ações que objetivam a melhoria da qualidade de vida
do policial militar. (OLIVEIRA, K. L. DE.; SANTOS, L. M. DOS .. Percepção
da saúde mental em policiais militares da força tática e de rua. Sociologias, v.
12, n. 25, p. 224–250, set. 2010).

O profissionalismo humanizado e democrático do policial deve ser buscado como forma


de acabar com a tortura e a violência policial, os policiais precisam de salários melhores, maior
número de policiais nas corporações e ferramentas para fazer um trabalho investigativo partindo
do crime ao criminoso e não do criminoso ao crime, como é hoje em dia.

Pois há uma polarização na sociedade brasileira, sobre se a polícia é violenta ou se é


uma polícia de direitos humanos, mas, é necessária uma polícia que respeite os cidadãos mesmo
aqueles que cometam crimes.

Uma forma de controle das atividades policiais seria a implementação geral e


obrigatória do uso das câmeras operacionais portáteis, como forma de diminuir a letalidade
policial e o abuso de autoridade por parte das policias. O estudo realizado pela Fundação
Getúlio Vargas, apontou que:

O uso de câmeras corporais nos uniformes da Polícia Militar de São Paulo


evitou 104 mortes revelou um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV),
divulgado ontem (6). Segundo o estudo, as câmeras corporais tiveram um
impacto positivo, reduzindo em 57% o número de morte decorrentes de ações
policiais em relação a unidades policiais onde ainda não houve a implantação
dessa tecnologia. "Considerando o número de áreas tratadas, isso significa que
cerca de 104 mortes foram evitadas nos primeiros 14 meses de introdução das
câmeras considerando apenas a região metropolitana da capital", apontam os
pesquisadores no relatório. O estudo ainda concluiu que houve uma redução
de 63% no número de lesões corporais decorrentes de intervenção policial
após o uso das câmeras corporais. O estudo foi elaborado pelos pesquisadores
Joana Monteiro, Eduardo Fagundes, Julia Guer (FGV) e Leandro Piquet
(USP). As câmeras operacionais portáteis, conhecidas como câmeras
corporais, começaram a são utilizadas pela Polícia Militar paulista em 2020.
Essas câmeras de lapela são fixadas nos uniformes dos policiais para que suas
26

ações nas ruas sejam monitoradas. O objetivo do governo paulista ao instalar


as câmeras nos uniformes foi o de buscar reduzir a violência policial. 8

Demonstrando uma efetividade e um importante avanço no controle das atividades dos


policiais, pois, uma política de segurança envolve o cultivo de uma cultura de defesa da
legitimidade, que pressupõe um controle estrito do uso da força e da corrupção policial.

Sendo inegável a importância dessas ações, não apenas na advertência ou repreensão


criminal, mas também em seu caráter probatório para a persecução penal, pois, afinal, o
depoimento policial produzirá prova em juízo, pois, na era da virtualidade sistema judiciário de
vídeos simplesmente fáceis de montar - sequências nesse sentido, para reter apenas as palavras
dos policiais em seus depoimentos.

Nesse contexto, o uso de câmeras individuais torna a atividade probatória mais efetiva
e acaba também exercendo uma espécie de controle da atividade policial ao monitorá-la, sendo
mais um elemento de garantia dos direitos individuais, pois tornam a ação policial efetiva,
reduzindo os excessos e abusos no uso da violência progressiva mesmo na necessidade de usá-
la.

Portanto, é fundamental buscar ferramentas que possam tornar as operações policiais


mais eficientes, reduzir os recursos disponíveis para o controle interno da polícia, a
disponibilidade de provas, apurar denúncias contra policiais e redirecionar dados para a gestão
operacional.

A nova lei amplia tanto as condutas descritas como abusivas na legislação anterior,
como a quem essas se aplicam, abrangendo servidores públicos e autoridades, tanto civis quanto
militares, dos três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário-, como também dos membros
do Ministério Público, sejam federais ou estaduais. (FROZI; PESSI, 2020).

Com o advento da nova legislação, cabe o Comando da instituição, por meio de


instruções, reciclagens e inclusão na grade de cursos de formação trabalhar a nova norma para
que o policial não possa ser, por desconhecimento da nova lei, penalizado em detrimento da
nova lei. (FREITAS, 2019).

8
CRUZ. Elaine Patricia. Câmeras instaladas em uniformes da PM de São Paulo evitaram 104 mortes.
Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2022-
12/cameras-instaladas-em-uniformes-da-pm-de-sao-paulo-evitaram-104-mortes>. Acesso em: 28. Abr.
2023.
27

Salienta-se, ainda, que, embora o excesso de poder torne o ato praticado pela autoridade
pública ilegal, este não será considerado nulo em sua integridade.

Isso porque trata-se de um vício sanável, de forma que a conduta que não exceder os
limites legais impostos pela legislação será preservada (SIGARINI, 2009).

Ademais, Mazza (2019), em seus ensinamentos, aponta algumas semelhanças e


diferenças entre os conceitos de abuso de poder e abuso de autoridade. De acordo com o autor,
os institutos se assemelham em alguns aspectos, como o fato de ambas presumirem um uso
anormal da competência dos seus agentes, além de implicarem na prática de condutas ilícitas e
ensejarem a responsabilidade da autoridade.

Com a edição da Nova Lei de Abuso de Autoridade, houve uma considerável mudança
no apenamento dos tipos penais.

Das 24 condutas criminalizadas em suas regras, surgiram duas espécies: aquela que
prevê punições de 6 meses a 2 anos de detenção e multa, e outra que determina penas máximas
e mínimas.

A dupla face do princípio da proporcionalidade: da proibição de excesso


(Ubermassverbot) à proibição de proteção deficiente (Untermassverbot) ou de como não há
blindagem contra as normas penais inconstitucionais.

Dessa forma, Escobar (2019) afirma que, independente da espécie, verifica-se que o
legislador se preocupou em conceder a possibilidade de o infrator ser beneficiado com as
medidas despenalizadoras previstas no ordenamento jurídico brasileiro, quais sejam, a
suspensão condicional do processo, a transação penal e o acordo de não persecução penal.

Ao ultrapassar a força diante os limites previamente impostos, em um ato de abordagem


policial por exemplo, agrava o ato em crime de abuso de autoridade, de acordo com Valdeonne
Dias da Silva (2013) “Quando o policial realiza uma busca pessoal desnecessária, ilegal, por
vontade ou interesse próprio e a realiza de forma excessiva e inadequada da força, ferindo
outrem”.

Assim, o crime de abuso de autoridade é resultando do uso excessivo do poder, por parte
dos agentes públicos, que agem de forma injusta, inadequada ou ainda exagerada na aplicação
da violência intensiva contra um indivíduo ou um determinando grupo. É importante destacar
que a maior parte dos casos de agressão cometidas por policiais não chegam ao conhecimento
da Corregedoria de polícia, em decorrência do medo de retaliações (PINHEIRO, 2013).
28

Para o Desembargador Marcelo Semer (2023), na maioria dos casos de abuso de


autoridade e violência policial, a culpa exclusiva da vítima seria a única causa utilizada pelo
Estado para se eximir de responsabilidade e demonstrar que o seu agir foi regular, estimulada,
por exemplo, pela conduta da vítima, “que disparou contra a polícia”, que reagiram
proporcionalmente e no exercício do seu dever público, porém, como quase não há fiscalização
efetiva dessa atividade policial, num círculo vicioso que começa com a atuação irrestrita do
policial, penetra pela fiscalização fracassada do órgão que deveria exercer o controle externo e
termina com o poder judiciário consentindo muitas vezes um fechar de olhos às ações por abuso
de poder, os protocolos de ação também são praticamente inexistentes, resultando numa espécie
de vazio institucional

Assim sendo, pode-se dizer que o abuso de autoridade é um modo de abuso de poder,
sendo este analisado na legislação brasileira pelas normas do direito penal. Conforme os
ensinamentos de Di Pietro:

No que concerne à sua finalidade a o poder de polícia deve ser exercido


somente para atender o interesse público. Se este está fundamentando
precisamente no princípio da predominância do direito público sobre o
particular, o exercício deste poder perderá a sua justificativa quando usado
para beneficiar ou prejudicar determinados indivíduos; a autoridade que se
afastar da finalidade pública incidirá em desvio de poder e acarretará a
nulidade do ato com todas as consequências nas esferas civil, penal e
administrativa. A competência e o procedimento devem observar as normas
legais pertinentes. Quanto ao objeto, ou seja, quanto ao meio de ação, a
autoridade sofre limitações, mesmo quando a lei lhe dê várias alternativas
possíveis (DI PIETRO, 2018, p; 232).

Por fim, é fundamental que essas escolhas sejam pautadas pela conveniência,
oportunidade, justiça e equidade, de forma a atender às necessidades da coletividade de maneira
adequada, o que não se pode, é que uma sociedade tema aqueles a quem os deveriam proteger.

Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo demonstrar os aspectos da nova lei de abuso de
autoridade quanto à dificuldade em provar o abuso de autoridade e a violência policial, com
enfoque nas polícias militares.
29

A lei 13.869 de 2019, elenca uma série de ações e requisitos que podem ser avaliadas
como abuso de autoridade, desde que a vítima possa provar tal abuso de autoridade/violência
policial.

No decorrer do trabalho, evidenciou-se que a nova lei em relação à provar tais abusos e
violência por parte da polícia, trouxe alterações quanto a lei anterior, porém, as alterações
adotaram uma condição com mais garantias ao agente público, ou seja, para os policiais, vez
que, a nova lei exige que a vítima prove o dolo, ainda, se faz necessário provar a conduta do
agente policial com finalidade de prejudicar outrem, de beneficiar a si mesmo ou terceiro por
capricho ou satisfação pessoal para configurar tais crimes, deixando a sociedade com dever
extremamente penoso, visto que, evidenciado durante este trabalho, que os próprios policiais
são a autoridade na cena, “são a lei”.

O presente trabalho, trouxe como exemplo o caso do “menino Gabriel”, que foi julgado,
sentenciado e executado sumariamente em uma única abordagem policial, o que nos leva a
reflexão, que nenhuma chance teve o Gabriel de produzir provas contra os seus algozes e assim
cumprir os requisitos da referida lei e ter o direito à vida preservado.

Ainda, o presente trabalho instituiu os comportamentos dos policiais militares,


concluindo que a tarefa das polícias é cuidar da sociedade, para que a legislação possa assim
garantir os direitos desta.

No entanto, ficou demonstrado a necessidade de policiar a polícia, pelos elevados casos


de abuso de autoridade e violência policial que culminam em uma insegurança pública no qual
é prestada pelo próprio Estado.

Concluiu-se, para que as atividades de segurança pública prestada pelos policiais, sejam
desempenhadas de modo efetivo para a sociedade, torna-se necessário que a referida lei garanta
aos cidadãos a segurança de poder provar a violência sofrida, condizentes com as exigências
trazidas pelo legislador na referida lei, como exemplo, trouxemos o uso de câmeras corporais,
que como demonstrado, tal uso pelos policiais culminou em uma redução significativa do abuso
e da violência praticada pelos policiais, assim como, violências sofridas pelos mesmos, e que a
formação e o treinamento contínuo e mais humanizado é a melhor forma de garantir os direitos
fundamentais e os interesses sociais ao Estado Democrático de Direito.
30

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