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Justiça Restaurativa
c,NOMA
EDIÇÃO
Howardlehr
Palas Athena
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JUSTIÇA RESTAURATIVA
HOWARD ZEHR —
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aqui. Apesar de ter me esforçado
estrutura que esboçarei bas_
uma abertura crítica, possuo um
tante para manter viés favorável
disso, apesar de meu empenho em contrário
a esse ideal. Além
de minha própria "lente", que se
escrevo do ponto de vista formou
homem branco, de classe
a partir daquilo que sou: um média
descendente de europeus e cristão menonita. Tal biografia e ainda
outros interesses necessariamente modelam minha voz e visão.
Mesmohavendo certo consenso dentro do campoda
Justiça Restaurativa quanto às grandes linhas que demarcam
seus princípios, nem tudo passa sem contestação. Estas pági-
nas retratam a minha compreensão da Justiça Restaurativa,
que deve ser comparada com outras vozes.
Por fim, escrevi este livro no contexto da Américado
Norte. A terminologia, as questões levantadas, e mesmoo
modo como o conceito foi formulado refletem em certa medida
as realidades do meu ambiente. A primeira edição foi traduzi-
da para muitos idiomas, contudo, as traduções para contextos
diferentes ultrapassam o campo da linguagem.
Tendo em vista esse pano de fundo e essas qualificações,
passemos agora à questão: o que é Justiça Restaurativa?
Muitas ideias equivocadas cercam o termo e penso que é cada
vez mais importante definir aquilo que a Justiça Restaurativa
não é. Antes de fazê-lo, entretanto, tecerei alguns comentários
sobre a presente edição revisada.
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A Justiça Restaurativa não implica necessariamente
numa volta às circunstâncias anteriores.
O termo "restaurativo" por vezes suscita
controvérsiapor
que pode parecer que ele sugere um _
retorno ao
como se o mal ou a ofensa não tivessem acontecido.passado
Istonão
é possível, especialmente no caso de danos graves.
Shiner, cujos filhos foram assassinados, afirma Lynn
quepala-
vras com "re" não funcionam: "Não posso reordenar
nada
porque, se o fizesse, seria como pegar os pedaços
embara-
lhados e colocá-los de volta no lugar... É preciso
construir,
criar uma nova vida. Tenho apenas alguns pedaços da
minha
vida anterior que precisei encaixar na vida nova."1
Na verdade, um retorno ao passado em geral não é pos-
sível e nem mesmo desejável. Uma pessoa com histórico
de abusos ou traumas, ou uma vida inteira de comporta-
mento nocivo, por exemplo, talvez não tenha um estado
relacional ou pessoal saudável para o qual retornar.Sua
situação precisa ser transformada e não restaurada.Da
mesma forma, a Justiça Restaurativa visa transformare
não perpetuar padrões de racismo e opressão.
Frequentemente a Justiça Restaurativa requer um movi-
mento na direção de um novo senso de identidadee saúde,
ou novos relacionamentos mais saudáveis. Muitosdefen-
sores da Justiça Restaurativa a veem como caminho para
restaurar um sentido de esperança e um sentidocomunitá-
que a advogada e
rio no mundo. Numa mensagem recente
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De qualquer maneira, para participar de um encontrode
Justiça Restaurativa, na maioria dos casos o ofensordeve
admitir algum grau de responsabilidade pela ofensa, e um
elemento importante de tais programas é que se reconheça e
se dê nome a tal ofensa. A linguagem neutra da mediação pode
induzir ao erro, e chega a ser um insulto em certas situações.
Ainda que o termo "mediação" tenha sido adotado desde
o início dentro do campo da Justiça Restaurativa, ele vem
sendo cada vez mais substituído por termos como "encontro"
ou "diálogo" pelos motivos expostos acima.
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se os princípios da Justiça Restaurativa forem
sério, a necessidade dessas abordagens fica levadosa
aos casos mais muito clara
no tocante graves. As perguntas
doras da Justiça Restaurativa (ver p. 55) podem baliza_
ajudara
criar respostas judiciais sob medida para situações
difíceis. A violência doméstica é provavelmente muito
a área
de aplicação mais desafiadora e, nesse caso,
aconselho
grande cautela. Não obstante, abordagens
restaurativas
bem-sucedidas têm emergido também nesse
campo.
As abordagens restaurativas são desafiadoras em
todasas
ofensas onde se verifica um significativo desequilíbrio
de
poder, incluindo crimes de ódio, bullying e abuso
sexual
de menores. A concepção do programa deve levar isto
em
conta e os facilitadores precisam ter sido treinados minu-
ciosamente quanto às questões subjacentes que gerama
violência. Mas é possível desenhar programas para esses
casos, e muitos sustentam que, quando bem feitos,esses
programas produzem melhores resultados do que o sis-
tema que atualmente tenta resolver tais questões.
Pode parecer que os programas de Justiça Restaurativa
são mais apropriados para os jovens. Contudo, elessão
igualmente aplicáveis para adultos, e muitos programas
foram concebidos para ambas as faixas etárias.
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que seria mais exato dizer que o crime tem uma dimensão
social assim como uma dimensão mais pessoal e interpessoal
O sistemajurídico se preocupa com a dimensão pública,ou
seja, os interesses e obrigações da sociedade representada
pelo Estado. Mas esta ênfase relega ao segundo plano
ou chega a ignorar, os aspectos pessoais e interpessoais
do crime. Ao colocar o foco sobre as dimensões pessoal
interpessoale comunitária do crime, consequentemente
valorizando-as, a Justiça Restaurativa procura oferecerum
maior equilíbrio na maneira como vivenciamos a justiça.
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que isto, vem sustentando que a pun ição não constitui real res-
ponsabilizaçâo. A verdadeira responsabilidade consiste em olhar
de frente para os atos que praticamos, significa esti mular aquele
que causou dano a compreender o impacto de seu comporta-
mento, os males que causou —e instá-lo a adotar medidas para
corrigir tudo o que for possível. Argumenta-se que este tipo de
responsabilidade é melhor para aqueles que foram vitimados,
aqueles que causaram dano, e também, para a sociedade.
Além da sua responsabilidade para com as vítimas e a
comunidade, aquele que causou dano tem outras necessidades.
Dentro dos parâmetros da Justiça Restaurativa, se queremos
que assuma suas responsabilidades, mude de comportamen-
to, torne-se um membro que contribua para a comunidade,
devemos também considerar suas necessidades. O assunto
ultrapassa o escopo deste livro, mas as seguintes sugestões
esboçam o necessário.
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HOWARDZEFIR —-
Comunidade
Os membros da comunidade têm necessidades
advindas
do crime, e também papéis a desempenhar. Defensoresda
Justiça Restaurativa como o antigo juiz Barry Stuarte Kay
Pranis argumentam que, quando o Estado assume o lugardo
cidadão, isso termina por enfraquecer nosso sentidocomu-
nitário. 5 As comunidades sofrem o impacto do crime e, em
muitos casos, deveriam ser consideradas partes interessadas
pois são vítimas secundárias. As comunidades também podem
ter responsabilidades em relação às vítimas, aos ofensorese
aos seus próprios membros.
Quando a comunidade se envol-
Justiça ve com o processo, poderá iniciarum
Restaurativa fórum para discutir essas questões,
está mais atividade que vai, ao mesmotempo,
centrada nas fortalecer a própria comunidade. Este
necessidades assunto é igualmente muito vasto. Os
que na punição. itens a seguir sugerem algumas áreas
que merecem atenção.
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