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Em dezembro de 2013, o comitê organizador do Fó rum Social dos EUA anunciou planos para
realizar o terceiro Fó rum Social dos EUA em 2014. Recebemos esta notícia com grande
entusiasmo. O Fó rum Social dos EUA continua a ser um espaço significativo para os
movimentos de justiça e libertaçã o baseados nos EUA se unirem, partilharem estratégias e
ferramentas e praticarem aquilo que procuramos criar. É com esta intençã o que partilhamos
este documento de reflexã o sobre o trabalho da Justiça de Cura – tanto o espaço de prá tica
como o PMA da Justiça de Cura – do USSF 2010 em Detroit. Sabendo o quanto o impulso vem
crescendo desde Detroit em 2010 e o trabalho crítico de justiça de cura que continua a se
expandir em nossas comunidades (incluindo a Allied Media Conference, o SAGE Collective
em Chicago, etc.), compartilhamos esta reflexã o no início do processo, na esperança de
construir em direçã o uma prá tica de justiça de cura mais integrada e completa no USSF
2014. Refletimos uma equipe nacional de liderança liderada predominantemente por
pessoas de cor indígenas e de cor e pessoas de cor de dois espíritos, queer, lésbicas, gays,
bissexuais, trans e nã o-conformes de gênero.
Não falamos sobre nada no trabalho de construção de movimento que seja apenas uma
“questão”. Estas são coisas que experimentamos. Os nossos corpos, as nossas comunidades, as
nossas memórias carregam todos os momentos em que vivenciamos ou testemunhamos
violência, opressão ou deslocamento sistémico, opressão, desrespeito e marginalização.
Quando trabalhamos juntos para mudar sistemas e crenças, também carregamos dentro de
nós o impacto de longo prazo desses sistemas e crenças. Para todas as comunidades oprimidas
existe uma experiência particular de trauma histórico transmitido pela escravatura e pelo
genocídio. Aprendemos com muitos dos estudos das comunidades das Primeiras Nações e dos
Dois Espíritos que trouxeram este trabalho para o primeiro plano. Para muitos de nós, criar
bem-estar e segurança é manter um espaço que física, emocional, espiritual, mental, ambiental
e psiquicamente possa manter ou testemunhar, ou responder a esta verdade.
Esperamos que este documento seja reflexivo ao mostrar as lições aprendidas, bem como
inspire e incite ações mais críticas para o nosso bem-estar e segurança coletivos. Sabemos que
há um legado de trabalho a ser construído em direção ao nosso futuro e que o que aconteceu
no USSF não reflete toda a amplitude, profundidade e amplitude do trabalho que está
acontecendo em nível global para sustentar tradições e práticas de bem-estar, resiliência e
resposta dentro dos nossos movimentos de libertação. Agradecemos a todos os curadores,
trabalhadores de raízes, trabalhadores culturais, profissionais de saúde e de cura que vieram
antes de nós e aqueles que virão depois de nós.
Tudo o que queremos mudar no mundo que nos rodeia também existe aqui mesmo, nos
nossos corpos. Carregamos as histó rias dos traumas do nosso povo e das nossas lutas
individuais. Eles estã o aqui, fortalecendo-nos com o que nos ensinaram e também
impedindo-nos, pois os nossos medos, ansiedades e estratégias de sobrevivência mantêm-
nos afastados das coisas que mais poderiam apoiar a nossa libertaçã o.
Mas isto nã o é tudo. A indú stria ocidental da saú de e da medicina – ou os sistemas de bem-
estar ou saú de aos quais temos que recorrer quando estamos passando por doença, tristeza
e desespero – sã o eles pró prios, à s vezes, a causa raiz da geraçã o de experiências
traumá ticas através da patologizaçã o e da prá tica de testes involuntá rios. em nossos corpos
em nome do avanço da indú stria da ciência e da medicina – ou, à s vezes, da colonizaçã o. Ao
mesmo tempo, a indú stria médica, através de uma lente opressiva, muitas vezes define
“corpos saudá veis” como cristã os, brancos, masculinos, fisicamente aptos, heterossexuais e
ricos e, portanto, todos os outros corpos sã o dispensá veis, se nã o forem capazes de produzir
trabalho.
A justiça curativa responde a essas coisas. Foi um quadro utilizado no USSF para centrar o
impacto a longo prazo do trauma geracional e da violência nos nossos movimentos. Esta
estrutura foi informada por uma longa histó ria de estruturas políticas libertadoras,
incluindo movimentos de justiça racial e econô mica até movimentos mais recentes de justiça
reprodutiva, estratégias de segurança lideradas pela comunidade/justiça transformativa e
justiça para deficientes sobre como a opressã o sistêmica, a violência e o trauma impactaram
nossos corpos coletivos, vidas e dignidade. Em particular, a justiça curativa recusa-se a
permitir o deslocamento e a cooptaçã o das nossas prá ticas tradicionais e a criminalizaçã o
dos nossos praticantes. A justiça curativa recupera a nossa memó ria colectiva e a infra-
estrutura que construiu a nossa sobrevivência, resiliência e mecanismos de bem-estar e
segurança fora da dependência do Estado.
Resistimos à compra e venda dos nossos medicamentos e prá ticas tradicionais com fins
lucrativos fora das nossas comunidades. Através de um quadro de justiça curativa, fizemos a
pergunta: como pode o nosso trabalho de construçã o de movimentos sustentar-nos e ajudar-
nos a reimaginar como criamos mudanças sociais dentro do nosso bem-estar colectivo e
uma resposta integral ao trauma nas nossas vidas individuais e colectivas? A justiça curativa
diz que se nã o incluirmos um trabalho que aborde esta questã o em todos os nossos
movimentos, só entã o nã o poderemos fazer as mudanças que queremos que aconteçam.
Definições de trabalho
Com o objectivo de trabalhar numa grande colaboraçã o para criar mecanismos de bem-
estar, resposta e segurança no Fó rum Social dos EUA em Detroit, criá mos definiçõ es de
trabalho para que equipas de profissionais de saú de, médicos de emergência, activistas de
saú de, organizadores e curandeiros pudessem trabalhar em conjunto com alguma aná lise
compartilhada. Também criamos princípios e valores de trabalho compartilhados que se
tornaram parte integrante do nosso processo.
Optamos por definir um curador como alguém que trabalha tanto com o corpo individual
como com o corpo coletivo no sentido de mudar padrõ es que causam desconexã o. “Padrõ es”
podem referir-se a diferentes funçõ es do corpo ou funçõ es entre pessoas ou dentro de uma
comunidade, tais como padrõ es sociais, incluindo a opressã o. Um curandeiro de base é um
curandeiro (ou profissional) que está comprometido com uma estrutura anti-opressã o e
prá ticas comunitá rias que buscam integrar a cura individual/coletiva e a resiliência para
transformar e curar nossas comunidades e nossas condiçõ es através de uma justiça
econô mica e racial. lente. A justiça curativa refere-se a um quadro político em evoluçã o
moldado pela justiça econó mica e racial que recentra o papel da cura dentro da libertaçã o
que procura transformar, intervir e responder ao trauma geracional e à violência nos nossos
movimentos, comunidades e vidas e regenerar as nossas tradiçõ es de libertaçã o. e prá ticas
de resiliência que foram perdidas ou roubadas. Embora houvesse muitas críticas e
preocupações sobre o uso do termo “cura” com base em práticas religiosas fundamentalistas e
colonialistas usadas para “curar” muitas das nossas comunidades, fomos intencionais ao tentar
recuperar e redefinir o que “cura” significou para a nossa própria resiliência colectiva. e
sobrevivência. Isso ainda precisará ser mais definido.Trauma coletivo refere-se a quando
qualquer tipo de comunidade de indivíduos compartilha uma experiência de trauma, como
aqueles que compartilham a experiência da instituiçã o da escravidã o, compartilham a
experiência do genocídio ou testemunham um evento de violência estatal ou comunitá ria
contra outro indivíduo ou comunidade e assim sobre. O trauma histórico ou geracional
ocorre quando esse trauma mantido e geralmente coletivo é transmitido de uma geraçã o
para outra, à s vezes aparecendo como prá ticas culturais específicas que apoiam a
sobrevivência sob condiçõ es traumá ticas, à s vezes aparecendo como pressã o alta, diabetes
ou outros problemas de saú de , manifestando-se por vezes como uma histó ria de famílias
“desestruturadas”, elevados níveis de violência ou suicídio, elevados níveis de abuso de
substâ ncias e muito mais. O trauma é uma funçã o de nossas vidas diá rias, pois vivemos
constantemente com o impacto contínuo da opressã o – tanto em termos geracionais quanto
em nosso estado atual. Quando o trauma nã o pode ser integrado e liberado, ele é chamado
de “trauma retido”. Resiliência significa a capacidade de um indivíduo e de uma
comunidade de se recuperar e se recuperar de situaçõ es traumá ticas.
experiências. A transformação (no contexto do bem-estar) é o que acontece quando as
experiências traumá ticas sã o integradas, libertadas e entã o o indivíduo e/ou a comunidade
sã o capazes de mudar para algo mais fundamentado e autodeterminado no bem-estar e na
libertaçã o. Complexo Industrial Médico é a indú stria da medicina que põ e lucro sobre as
pessoas e procura limitar, deslocar e/ou remover completamente a habilidade e capacidade
de nossas comunidades de acessar, criar e sustentar nossas prá ticas e tradiçõ es, e nossos
pró prios sistemas de bem-estar comunitá rio fora de sistemas estatais ou privatizados de
“saú de”.
Saúde e Justiça Curativa no Fórum Social dos EUA em Detroit em 2010: planejando a
visão
A Justiça Curativa forneceu-nos um quadro político que trouxe a aná lise anti-opressã o para o
papel da cura e do bem-estar dentro da libertaçã o. Em particular, a justiça curativa procura
apoiar as nossas prá ticas de resiliência como ferramentas e tradiçõ es de libertaçã o,
sobrevivência e resiliência. Resiliência, neste contexto, significa uma forma de se recuperar e
responder a um incidente que é traumá tico. No quadro da “justiça curativa”, usamos
resiliência para significar a nossa capacidade colectiva e individual de conter, responder,
intervir ou transformar a luta e o sofrimento, ao mesmo tempo que permanecemos
enraizados em quem somos, de onde viemos e como encaramos o nosso futuro. Entramos
acreditando que o quadro de “justiça curadora” pode apoiar os nossos movimentos na
promoçã o de estratégias políticas que compreendam o maior impacto do trauma colectivo
como resultado de geraçõ es de opressã o e genocídio; e centralizar novamente o papel do
praticante e do curador como parte integrante da nossa libertaçã o colectiva. Também
tentá mos enraizar o nosso trabalho como uma extensã o de outros movimentos críticos,
incluindo o Movimento Trabalhista que tem lutado por melhores condiçõ es de trabalho e de
saú de nas fá bricas, aos Movimentos de Justiça Ambiental que têm sustentado uma voz crítica
no desafio à exposiçã o sistémica de toxinas ambientais e incidências de prá ticas
corporativas antiéticas em nossas terras e corpos; os Movimentos Indígenas que lutaram
pela preservaçã o das tradiçõ es de cura e procuraram criar testemunhos e uma narrativa
sobre o impacto a longo prazo do trauma histó rico e do genocídio como uma extensã o do
colonialismo. Bem como movimentos mais recentes de Justiça Reprodutiva, Movimentos
Trans/Nã o Conformistas de Gênero/Dois Espíritos/Lésbicas/Gays e Bissexuais de Cor,
Movimentos de Justiça para Deficientes e Complexo Industrial Antiprisional que lutaram
pela dignidade de todos os corpos; que nã o presumem 'saudá veis' como brancos, homens,
heterossexuais, ricos, fisicamente aptos e valiosos fora da produçã o de trabalho e lucro.
Entramos humildemente neste processo sabendo que, historicamente, muitas comunidades
globais mantiveram prá ticas enraizadas na resposta a traumas histó ricos e geracionais e que
somos apenas uma parte desse legado de trabalho.
Por pouco mais de um ano, o HHJ se reuniu por meio de teleconferências e reuniõ es
presenciais para começar a criar nossa presença no USSF em Detroit. Continuá mos também
a reunir-nos com os organizadores de Detroit e com o Comité Nacional de Planeamento do
USSF para orientar o nosso trabalho. Com base nisso, o HHJ criou duas vertentes diferentes
da lente geral da justiça de cura: o Espaço de Prá tica da Justiça de Cura e a Assembleia do
Movimento Popular de Libertaçã o da Justiça de Cura e Saú de; um processo político liderado
pelo Projeto Sul.
Os espaços de prá ticas de justiça curativa eram literalmente o ponto de prá tica onde nossos
princípios organizadores e a cura comunitá ria se uniriam. Os profissionais estavam lá para
criar uma rede coesa e um sistema de prá tica para o Fó rum Social em geral, e
potencialmente inspirar maneiras para que cada um construísse prá ticas comunitá rias e
mecanismos de segurança em nossas respectivas comunidades e espaços de movimento.
Certamente está vamos a construir sobre um legado de prá ticas que já existia, sabíamos que
os espaços políticos já tinham curandeiros e profissionais de plantã o, apenas queríamos
avançar com uma aná lise específica sobre como a nossa prá tica colectiva abordaria
directamente o trauma e a violência geracionais. Este espaço foi concebido para ser um local
onde as pessoas pudessem entrar e sair do grande estímulo de milhares de organizadores
que partilham conhecimentos e informaçõ es. Deveria ser um local onde qualquer pessoa que
tivesse sido desencadeada, que tivesse sofrido violência física, emocional e/ou espiritual no
passado ou no USSF, ou qualquer pessoa que se sentisse insegura ou em dificuldades
pudesse vir e receber apoio. Fomos muito intencionais ao trabalhar com uma equipe
integradora de curandeiros de justiça social, profissionais de saú de e terapeutas que
buscavam transformar a ideia do que poderiam ser espaços para segurança, bem-estar e
resiliência. Este deveria ser um espaço livre que incluísse todos os gêneros e todos os
corpos, um lugar onde a comunidade, incluindo a comunidade mais ampla de Detroit,
pudesse vir e experimentar prá ticas energéticas, corporais, criativas e baseadas na terra,
incluindo toque, meditaçã o, yoga. , arteterapia e outras formas de movimento. Para muitos,
esta foi a primeira vez que estas prá ticas foram vivenciadas dentro de um espaço de justiça
social onde as prá ticas foram concebidas para apoiar e sustentar as nossas lutas de
libertaçã o e responder a traumas individuais e colectivos. Foi também um espaço onde todos
os profissionais foram treinados em um protocolo norteado pelos princípios organizadores,
trazendo uma estratégia política para o trabalho de encontrar alguém de um local de apoio.
Isso incluiu um grande espaço de prá tica individual e em grupo; espaços de atendimento
para sessõ es individuais e em grupo, bem como profissionais de plantã o para resposta de
segurança.
Tivemos inscriçõ es para todos os profissionais para garantir que todos trouxessem uma
aná lise e compreensã o da justiça racial, de gênero e de deficiência especificamente. Também
consideramos fortemente que todos estivessem enraizados em sua prá tica na comunidade e
entendessem a histó ria de sua prá tica e como ela pode ter sido roubado ou cooptado.
Realizamos um extenso processo de orientaçã o para fundamentar todos os profissionais na
estrutura de justiça curativa (que na época era definida como o deslocamento das tradiçõ es
de bem-estar comunitá rio e procurava responder à construçã o social de 'saudá vel' como
corpos brancos e capazes, homens, ricos, heterossexuais e cristã os baseados em um modelo
de limpeza étnica de saú de pú blica.) Orientamos a todos sobre a histó ria de como chegamos
a Detroit, princípios e protocolo para o espaço e as condiçõ es à s quais os organizadores e
profissionais de saú de de Detroit têm respondido em seu trabalho . Ao final, contamos com
mais de 40 voluntá rios e mais de 450 pessoas recebendo apoio, segurança* e bem-estar
através do espaço. Kindred Collective e outros mantêm relató rios mais detalhados sobre as
atividades reais e a infraestrutura do espaço. ( http://kindredhealingjustice.org/ )
Conseguimos oferecer mais de quinze modalidades. Estima-se que atendemos pelo menos
450 pessoas em aulas de grupo ou terapias individuais, durante 3,5 dias de fó rum. Os
serviços prestados incluíram quatro tipos de massagem (tecidos profundos e outros),
terapia craniossacral, reiki, trabalho energético, cura sonora e vibrató ria, aconselhamento
nutricional, cura de tradiçõ es baseadas na terra, aulas de aeró bica, cinco tipos diferentes de
yoga (em aulas e sessõ es individuais), acupuntura, aulas de movimento de estilo livre, cardio
kick-boxing, estaçõ es de criaçã o de arte de estilo livre, espaço de descanso e oficinas sobre
parto e justiça reprodutiva.
O espaço de prá tica da Justiça Curadora começou com uma equipe de doze voluntá rios e,
quando o Fó rum Social dos EUA começou, nos tornamos uma forte equipe de quarenta
praticantes voluntá rios. Todos foram educados e informados sobre o impacto das questõ es
ambientais e de saú de comuns em Detroit, e todos se sentiram orientados para as condiçõ es
de Detroit e o propó sito do seu papel como curandeiros no Fó rum Social dos EUA devido a
este extenso processo de orientaçã o.
Percebemos que com o passar dos dias, a notícia do Espaço Justiça Curadora se espalhou
mais profundamente no pró prio Fó rum. No final do Fó rum, os profissionais precisavam de
recusar o dobro do nú mero de pessoas com quem conseguíamos trabalhar.
Lições aprendidas
O espaço
Era fundamental ter um local que atendesse a um conjunto mú ltiplo de necessidades para
diferentes prá ticas de bem-estar e segurança (incluindo uma-uma-uma queda em espaços
para diminuir os gatilhos e conflitos). Em Detroit, está vamos localizados no Edifício UAW,
que trabalhou conosco para acomodar da melhor maneira possível; incluindo a tentativa de
manter banheiros neutros em termos de gênero. No entanto, ainda existia uma noçã o mal
interpretada de “segurança” versus “segurança” e houve momentos em que os participantes
foram indevidamente considerados problemas. Em retrospecto, gostaríamos de ter mais
tempo para treinar e desenvolver extensivamente a equipe do UAW para definir segurança e
bem-estar.
A priorizaçã o de todos os tipos de acesso é crucial para qualquer espaço que mantenha a
segurança e o bem-estar. Para a Prá tica de Justiça Curativa isso incluía a acessibilidade tanto
no espaço físico exterior quanto no interior, permitindo a mobilidade de todos os tipos de
corpos, o que permitiu que pessoas com diferentes habilidades tivessem acesso total ao
espaço confortavelmente. Também integramos a interpretaçã o linguística quando possível,
com base nas necessidades dos participantes. A maioria dos nossos materiais estava
disponível em inglês e espanhol. Também priorizamos espaços de descanso, incluindo uma
sala silenciosa para todos os praticantes descansarem entre as sessõ es.
A prática
Ter princípios partilhados para manter um espaço de prá tica, especialmente onde as pessoas
nã o se conhecem, foi fundamental para construir uma equipa e moldar uma visã o partilhada.
Descobrimos que muitos profissionais nã o sã o necessariamente orientados para a justiça
social nem por vezes interessados em responder ao trauma colectivo no contexto de
opressã o e genocídio e esse foi o nosso foco neste espaço. Portanto, fomos francos e
transparentes sobre o que queríamos criar, além de apenas servir ao movimento.
Houve vá rias vezes em que fomos chamados pela equipe do Comitê Nacional de
Planejamento do USSF para a cura e prestamos cuidados a eles da forma mais abrangente e
rá pida possível. Em retrospectiva, teríamos estabelecido um processo separado com os
organizadores do USSF no início do seu planeamento para construir mecanismos de
segurança e bem-estar para os organizadores do USSF.
As pessoas
A experiência de liderança e organizaçã o da equipa de Cura e Justiça Sanitá ria que
coordenou o espaço desde o início criou um contentor político que estava fortemente
enraizado e um quadro de justiça curativa que defendeu valores e prá ticas anti-opressã o, e
sempre regressou a uma situaçã o econó mica, racial. e crítica transformacional de como nos
lembramos do papel do bem-estar e da segurança em nossos movimentos de libertaçã o.
A equipe organizadora do Espaço de Prá tica da Justiça Curativa foi incrível, porque foi sua
capacidade de construir confiança rapidamente, ser adaptá vel, responsá vel e aparecer em
tantos níveis, praticando e supervisionando o espaço. Partilhamos a responsabilidade por
toda a coordenaçã o do espaço físico, agendando os praticantes e mantendo a segurança e o
bem-estar dentro e fora de todos os espaços de prá tica. Se surgisse uma situaçã o de conflito,
pressã o emocional ou gatilhos físicos, os profissionais e voluntá rios de apoio estavam de
plantã o para alternar funçõ es e preencher onde necessá rio, fora dos seus períodos de
descanso.
Assembleia do Movimento Popular de Cura, Saúde, Justiça e Libertação
Em parceria com profissionais de saú de, cura e médicos, criamos uma convergência nacional
sobre o papel da cura e do bem-estar como ferramenta de libertaçã o no Fó rum Social dos
EUA. Procuramos homenagear legados de coletivos e profissionais individuais que detinham
espaço, visã o e libertaçã o em muitos movimentos sociais em todo o mundo, mas que muitas
vezes estavam nos bastidores e nã o eram mencionados. Queríamos homenagear os
trabalhadores das raízes, os trabalhadores do parto, os trabalhadores da energia e do corpo,
e os trabalhadores da medicina que ajudaram a manifestar e sustentar o bem-estar das
nossas comunidades e movimentos, apesar do genocídio, do trauma geracional e da
violência usada para controlar e desaparecer as nossas comunidades. Compreendemos que
nã o seríamos apenas capazes de reconhecer um espaço de prá tica de justiça curativa sem
elevar o papel dos profissionais na transformaçã o social e política. Isto nos levou a ser uma
das mais de 50 assembleias do movimento popular guiadas e inspiradas pela visã o do
Projeto Sul e do Comitê Organizador da Assembleia do Movimento Popular do USSF no
Fó rum Social dos EUA de 2010.
A prática:
Inspirada no modelo da Assembleia do Movimento Social do Fó rum Social Mundial, a
Assembleia do Movimento Popular começou como um apelo a novos planos estratégicos de
acçã o para enfrentar um novo momento político nos nossos movimentos sociais. «Este
processo, através do qual convergimos as nossas comunidades e desencadeamos açõ es, tem
crescido nos EUA nos ú ltimos cinco anos. No 2º Fó rum Social dos EUA, em Detroit, em Junho
de 2010, mais de 100 Assembleias do Movimento Popular reuniram mais de 10.000 pessoas
e produziram uma Agenda de Acçã o do Movimento Social.'
(peoplesmovementassembly.org). Cada assembleia foi encarregada de produzir uma
resoluçã o para açã o coletiva. Está vamos procurando criar uma resoluçã o específica para,
por e sobre o papel da cura e do bem-estar dentro da libertaçã o para todos os nossos
movimentos. Esperá vamos incluir as muitas vozes da reduçã o de danos, da justiça para
deficientes, da justiça reprodutiva e da justiça transformadora que nos trouxeram a um
momento específico para moldar e orientar este processo político.
Nossos objetivos para uma resolução
Metas:
• Para descompactar e transformar a forma como pensamos sobre bem-estar e 'saú de'
• Mapear as condiçõ es e contradiçõ es em torno do bem-estar e da “saú de” em
diferentes esferas.
• Produzir resoluçõ es claras que descrevam as condiçõ es atuais, definam orientaçõ es
para soluçõ es e identifiquem açõ es
As pessoas e o resultado
Mais de 100 curandeiros, organizadores, enfermeiras escolares, médicos, assistentes sociais,
parteiras e outros profissionais de todo os EUA participaram do Healing Health Justice &
Liberation
Através do trabalho em pequenos grupos e do mapeamento de uma linha cronoló gica (ver
desdobrá vel) das injustiças na comunidade de saú de, a assembleia do movimento reflectiu
sobre as condiçõ es actuais e as formas como as pessoas lutaram e/ou transformaram as
injustiças na saú de; incluindo o confronto com qualquer noçã o de instituiçõ es estatais,
comunais e privadas que tenham elogiado apenas um tipo de corpo como “saudá vel”, que é
sempre considerado branco/homem/apto/cristã o/heterossexual e rico. Como um grande
grupo, concentrá mo-nos entã o em valores e prá ticas partilhados que poderiam ser usados
para avançar em estratégias nacionais e regionais. A estratégia e a visã o foram divididas por
regiã o, com cada grupo avaliando a que condiçõ es estavam a responder e que recursos e
respostas eram possíveis dado um contexto regional.
Nos pequenos grupos regionais, para definir o seu panorama político regional e definir uma
estratégia de movimento, foram utilizadas as seguintes questõ es:
· Como podemos redefinir e descompactar o que é “saudá vel” e “curativo”?
· O que os movimentos estatais/familiares/comunitá rios/privados-empresariais estã o
fazendo para promover
bem estar/qualidade de vida?
· Como vamos sustentar/apoiar e construir curandeiros/organizadores/coletivos e
comunidades para manter e recursos de prá ticas de cura dentro de um quadro libertador,
histó rico e político?
· Quais sã o os nossos entendimentos compartilhados, conhecimento de memó ria sobre o
papel das prá ticas de cura dentro da libertaçã o?
· Como transformamos sistemas de medicina e bem-estar em mecanismos de resposta à s
nossas condiçõ es e ao trauma e violência geracionais?
· Qual é o papel do bem-estar e da segurança coletivos na libertaçã o?
Lições aprendidas
Estas reflexõ es sobre os locais de justiça e injustiça nas nossas regiõ es e comunidades
identificaram questõ es como: acesso a cuidados dignos, factores ambientais, o estigma da
saú de mental, as consequências do trauma histó rico nas comunidades-alvo, questõ es de
justiça alimentar, acesso a informaçã o bá sica sobre cuidados e prá ticas medicinais
enraizadas nas nossas comunidades e o contexto histó rico de como as nossas prá ticas foram
roubadas.
Foi acordado que é necessá rio mais trabalho, ou é mais prová vel que surjam diferenças,
sobre a clarificaçã o das modalidades ou prá ticas a que nos referimos sob o termo “justiça
curativa”. Ainda havia uma valorizaçã o em muitas direçõ es de alguns modelos de saú de e
cura em detrimento de outros. Houve desacordo sobre se deveríamos ou nã o depender do
Estado para obter recursos para o trabalho de saú de e justiça. Os grupos regionais
reflectiram as questõ es mais amplas dos danos nas suas comunidades locais/regionais e
também identificaram tipos de estratégias que estavam actualmente a ser implementadas
em cada á rea para criar e promover mú ltiplas formas de bem-estar e cura. A partir daí,
procuramos locais para promover o trabalho – para preencher as lacunas entre o que
precisamos e para fortalecer o trabalho que já fazemos. No final, reconhecemos que havia
mais perguntas do que respostas e nã o está vamos preparados para tomar quaisquer
resoluçõ es. Em vez disso, concordamos em nos concentrar em dois resultados: 1) uma
declaraçã o de visã o e valores para orientar nosso trabalho colaborativo regional e/ou
nacional (ver anexo) e 2) uma declaraçã o da Assembleia do Movimento Popular HHJL a ser
compartilhada na reuniã o mais ampla do Fó rum Social dos EUA. Processo de montagem do
movimento. (Veja abaixo)
Para encerrar, está vamos comprometidos com um processo de princípios que transformaria
nossas formas de fornecer recursos coletivos de bem-estar
emocional/espiritual/físico/psíquico/e ambiental para nossas comunidades e movimentos.
A equipa da Healing & Health Justice Collaborative composta por curandeiros de base,
médicos, assistentes sociais e muito mais, acreditava que poderíamos criar estes espaços
para aprender e honrar os legados de cura e saú de dentro dos nossos movimentos de
libertaçã o. Obrigado à equipe local de Detroit e a todos os profissionais que demonstraram
tremenda liderança e camaradagem no Fó rum, e a todos aqueles que utilizaram o espaço e a
todos aqueles que participaram do PMA. Sabemos que nã o estamos no início nem no fim de
um legado de prá ticas de bem-estar/cura/resiliência dentro da libertaçã o. No entanto,
tivemos a honra de fazer parte da imaginaçã o de outra maneira; outro mundo; outro
princípio e prá tica que lembra e honra os nossos medicamentos e prá ticas comunitá rias que
sustentaram as nossas tradiçõ es de resiliência para sobreviver.
Este relató rio foi escrito por Cara Page e Susan Raffo. Todo o trabalho referido neste
documento e partes do pró prio documento foram elaborados em parceria com o comitê de
planejamento de:
Jacoby Ballard
Mara Collins
Will Copeland*
Stacy Erenberg*
Molly Glasgow
Sá bio Hayes
Caridade Hicks*
Miquéias Frazier Hobbes*
Tanuja Jagernauth*
Daniel Llanes
Telesh Lopez
Tamika Middleton*
Yashna Padamsee
Pá gina Cara*
Jeanette Perkal
Susan Raffo*
Kris Roehling*
Sonali Sadequee
Anjali Taneja*
Alejandra Tobar--‐Alatriz
Agradecimentos especiais ao Projeto Sul, Rita Valenti, aos organizadores do USSF com sede
em Detroit que nos receberam e ao Grupo de Trabalho de Cura, Saú de e Justiça Ambiental do
USSF de Atlanta em 2007 e ao Comitê de Coordenaçã o do USSF.
Um dos objectivos do planeamento inicial do Fó rum Social dos EUA em Detroit foi integrar
prá ticas de cura com cuidados médicos para fornecer cuidados e apoio coordenados durante
toda a reuniã o. Estas observaçõ es foram compiladas por Cara Page e Anjali Taneja sobre o
sucesso desta integraçã o em Detroit com sugestõ es para trabalhos futuros.
Este nã o é um relató rio completo das atividades da Equipe Médica, mas sim um foco na
integraçã o das duas.
Objetivos da Equipe Médica
o Fornecer ajuda de conforto aos participantes do Fó rum Social dos EUA
o Garantir o acesso rá pido a médicos, médicos e outros prestadores de cuidados
de saú de, espalhados pela grande á rea do fó rum social interior e exterior,
bem como em comícios e eventos ao ar livre do USSF.
o Equipar todos os postos oficiais de conforto com suprimentos adequados,
publicidade adequada sobre o espaço e capacidade de comunicaçã o rá pida
(telefones celulares designados, etc.).
o Fornecer aos médicos voluntá rios, enfermeiros e socorristas informaçõ es
apropriadas para permitir que respondam com confiança no campo (isso
inclui ter suprimentos adequados para os médicos mó veis, fornecer
conhecimento sobre quando prestar ajuda de conforto e quando enviar para
atendimento de urgência, fornecendo informaçõ es de contato dos líderes da
equipe médica).
o Garantir que, além do conhecimento e da prá tica em torno da ajuda de
conforto, os prestadores sejam culturalmente apropriados, antirracistas,
amigos dos homossexuais, informados sobre traumas e de coraçã o aberto e
empá ticos.
o Fornecer suprimentos suficientes para ferimentos leves, triagem, repouso e
cuidados médicos
o Interface natural e positiva com os praticantes do espaço Healing Practice
o Estejam presentes nos espaços uns dos outros, tenham boa comunicaçã o uns
com os outros
o Encaminhe os participantes para os espaços uns dos outros
o Criar algoritmo e infraestrutura para transportar imediatamente participantes
doentes ou feridos para o Detroit Medical Center (atendimento de urgência
ou pronto-socorro).
o Fornecer serviços de ambulâ ncia (duas ambulâ ncias), cada uma equipada com
dois paramédicos, fora do centro de convençõ es durante as 10 a 12 horas
mais movimentadas do fó rum todos os dias.
o Fornecer uma ambulâ ncia para o grande comício de abertura do USSF.
o Que analisemos as inscriçõ es e a seleçã o pré-equipe tanto para a equipe médica quanto
para os profissionais de cura em conjunto para compreender a capacidade
compartilhada de fornecer diferentes tipos de cuidados com base na experiência;
bem como uma orientaçã o combinada
o No futuro, é imperativo que haja mais apoio institucional intencional. Precisa ser um
funcioná rio contratado que seja responsá vel por coordenar uma equipe de logística
para trabalhos médicos e de cura.
o Seria ideal ter um mecanismo para fornecer serviços de cura para o pessoal do NPC
também durante todo o processo de preparaçã o para o USSF (em vez de apenas
serem chamados durante o USSF).
o Criá mos equipas de plantã o com pessoas qualificadas na reduçã o da violência, reduçã o
de danos e serviços de resposta ao abuso sexual, mas da pró xima vez é necessá rio
que haja maior valor em torno da necessidade de ter estes mecanismos em
funcionamento. Será importante pensar nestas coisas ao longo de um ano e realizar
alguma formaçã o cruzada sobre temas como reduçã o de danos; traumas físicos e
emocionais; e que tipo de trauma esperamos realizar adequadamente no Fó rum
Social dos EUA?).
o É necessá rio que haja espaços de abandono para casos de abuso, trauma e para lidar
com conflitos. Isso precisa ser uma equipe separada, OU uma maior capacidade dada
à s equipes médicas e de cura (mais pessoal, mais habilidades)
Quais são as implicações políticas do que aconteceu nesta área à medida que
avançamos?
Conhecemos espaços que co-criaram espaços médicos e de bem-estar que foram recebidos
com menos hostilidade do que experienciamos com o primeiro líder médico que se afastou
baseado no medo e na mitologia. Alguns dos melhores comentá rios do USSF foram que
existia um espaço de justiça de cura e que havia comunicaçã o orgâ nica entre as equipas
médicas e os curandeiros. Isto era o que esperá vamos que fosse mais institucionalizado, mas
aconteceu mesmo assim porque as duas equipas queriam criar algo diferente. Nossa visã o
era nã o apenas oferecer cuidados médicos e bem-estar como um serviço, mas também
oferecer uma cultura de bem-estar que interrompa as vidas traumá ticas e estressantes que
vivemos. Imaginá mos ter mais diá logo cruzado entre profissionais médicos e de cura para
compreender a capacidade de construir nas nossas comunidades em torno do bem-estar. A
Assembleia do Movimento Popular tornou-se o ú nico lugar --‐--‐ e um lugar importante --‐--‐
para ter esse diá logo. SE outro mundo fosse possível, queríamos imaginar economias
alternativas elevando e regenerando as nossas tradiçõ es nã o apenas para fornecer serviços,
mas para mudar a cultura sobre o que é a capacidade de honrar e sustentar o nosso bem-
estar colectivo.
Cada mecanismo para o bem-estar, segurança e resposta como parte do Fó rum Social dos
EUA precisa ser político em si, desde a forma como selecionamos nossas equipes de resposta
ao bem-estar até como construímos sistemas de bem-estar, segurança e resposta em
sincronia com a visã o política e prá tica do USSF. Isto inclui apoiar o bem-estar de todos os
funcioná rios e voluntá rios que contribuem para o USSF. Da pró xima vez, deveríamos criar
um sistema de coleta de suprimentos para a busca de doaçõ es, para que estejamos
transbordando de suprimentos (começamos esse processo com seis meses de antecedência,
pelo menos) que possam durar para outras situaçõ es de segurança e emergências no local
comunitá rio local do Fó rum Social.
Está vamos comprometidos com um processo de princípios que transformaria nossas formas
de obter recursos para o bem-estar emocional/espiritual/físico/psíquico/e ambiental
coletivo. A equipe de curandeiros e médicos de base da Healing & Health Justice
Collaborative acreditava que poderíamos criar equipes de bem-estar integrativas que
compartilhassem princípios de organizaçã o de como construir espaços de bem-estar que
sejam mantidos com a honra dos legados de cura e saú de dentro da libertaçã o. (Ver
Princípios e Esquemas Organizadores da Justiça Sanitá ria e de Cura).
Para o futuro, queremos ver mais apoio institucional por parte do planeamento e
implementaçã o do Fó rum Social dos EUA em geral para esta mesma visã o.
Obrigado mais uma vez por esta oportunidade de construir, aprender e moldar uma
visão para outro 'bem-estar' que seja possível!