Você está na página 1de 17

Bem Viver e Universidade:

saúde, desafios e
possibilidades
Leandro Amorim Rosa – Universidade Federal do Acre (UFAC)
Contexto inicial da apresentação
É possível o Bem Viver na Universidade?
Bem Viver
• Grande variedade e heterogeneidade de definições e
sentidos.

“A satisfação das necessidades, a conquista de uma


qualidade digna de vida e morte, amar e ser amado, e o
florescimento saudável de todos, em paz e harmonia com a
natureza, para o prolongamento das culturas humanas e da
biodiversidade” (Tradução nossa, René Ramírez Gallegos)
Saúde Mental
Definições tradicionais:

• Ausência de doenças;

• Estado de conforto e bem-estar físico, psíquico e social;


Saúde Mental
Definições críticas:

• Dejours (1986):

“A saúde para cada homem, mulher ou


criança é ter meios de traçar um caminho
pessoal e original, em direção ao bem-estar
físico, psíquico e social”.
Saúde Mental

Definições críticas:

• Martin-Baró (1984):

“É evidente que os transtornos ou os problemas mentais não são assunto que


incumba única e exclusivamente ao indivíduo e sim às relações do indivíduo com
os demais. E, sendo assim, também a saúde mental deve ser vista como um
problema de relações sociais, interpessoais e intergrupais, que se expressará, em
cada caso, em um indivíduo, no seu grupo familiar, em uma instituição ou em uma
sociedade inteira”.
Saúde Mental
Definições críticas:

• Saúde ético-política

“Ter saúde é ter a possibilidade de


lutar contra o que nos agride e nos
ameaça, inclusive a doença. Ou seja, a
intervenção em saúde deve fortalecer
a capacidade de lutar” (MST).
Saúde Mental
Definições críticas:

• Alegremia (Camponesas argentinas)

“Assim como existem doenças que são bobas e outras mais graves, a saúde pode ser cada vez mais

bonita... Então não é como os médicos dizem, que há saúde quando tudo está normal... eles tiram sangue

e dizem que você tem glicemia normal, colesterol normal... Somos saudáveis quando há alegria no sangue!

Quando há Alegremia! Quanto mais Alegremia… mais saudável é a saúde! Alegremia não se mede, se vê...

Quando há alegremia, as faces são luminosas e nos olhos dançam as estrelas”. (Julio Monsalvo, 2014).
Bem Viver e Universidade

• Dificuldades e desafios na UFAC


Bem Viver e Universidade
Relato de maio de 68 francês:

“Através da transformação do meio ambiente, as próprias pessoas se


transformaram (...).

Aqueles que nunca se atreveram a dizer nada, de repente sentiam como se seus
pensamentos fossem os mais importantes do mundo – e então os expressavam. O
tímido tornou-se comunicativo. O desamparado e isolado de repente descobriu que
a força coletiva se encontra em suas mãos. O tradicionalmente apático de repente
se engajou intensamente. Uma tremenda onda de comunidade e coesão apanhou
aqueles que anteriormente se achavam impotentes e isolados(...)”.
Bem Viver e Universidade
Relato de 2016 brasileiro:

“Enfrentamos pressões externas, internas, cansaço devido a


inúmeras noites sem dormir pensando em extremas
responsabilidades que adquirimos aqui, mas também foram dias de
alegria que serviram para nos transformar para o resto de nossas
vidas” (Documento do Grêmio ao término da Ocupação).
Bem Viver e Universidade

• Não uma universidade sem problemas ou adoecimentos, mas uma


comunidade universitária potente o suficiente para lidar com tais
desafios;

• Ambientes físicos e sociais promotores de saúde ético-política,


aprendizado, desenvolvimento e organização coletiva e política.

• Minhas palavras para compor a alegremia: autoanálise e autogestão.


Bem Viver e Universidade

• Promover saúde e bem viver é atuar a nível:

- Individual e coletivo: atendimentos, campanhas, acolhimentos etc.

- Institucional: entidades estudantis, sindicatos, colegiados e gestão universitária.

- Político: acompanhar os espaços de decisão e se engajar no processo eleitoral;

- Estrutural: não perder de vista o horizonte de transformação social.


“Quando pensamos na possibilidade de um
tempo além deste, estamos sonhando com um
mundo onde nós, humanos, teremos que estar
reconfigurados para podermos circular. Vamos
ter que produzir outros corpos, outros afetos,
sonhar outros sonhos para sermos acolhidos por
esse mundo e nele podermos habitar”. (Krenak,
2020, p. 24 e 25)

Obrigado!
.

Referências
Dejours, Christophe. 1986. Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira da Saúde
Ocupacional, 54 (14).

Krenak, Aílton. 2020. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras.

Martin-Baró, Ignácio. 1984. Guerra y Salud Mental. Estudios Centroamericanos, 429/430, 503-
514.

Monsalvo, Julio. 2007. Descubriendo la alegremia. Disponível em:


http://www.altaalegremia.com.ar/contenidos/viajero_curioso.html

Solidarity (2008). Paris: Maio de 68. São Paulo: Conrad.

Ramírez Gallegos, René. 2010. Socialismo del sumak kawsay o biosocialismo republicano. In:
SENPLADES. Los nuevos retos de América Latina. Socialismo y sumak kawsay. Quito, 2010. p 55-74.

Rosa, Leandro A. (2019). Ocupações estudantis: um estudo psicopolítico sobre movimentos


paulistas de 2015 e 2016. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em em Psicologia Social,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

Você também pode gostar